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Centro Universitário

Bacharelado em Psicologia

ANDRÉ LUÍS MATOS ALMEIDA


ERILSON OLIVEIRA DA SILVA
LARA MORAIS CONCEIÇÃO SILVA

TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS:
uma revisão de literatura narrativa das contribuições da
Neuropsicologia com ênfase na Doença de Alzheimer

Paripiranga
2021
ANDRÉ LUÍS MATOS ALMEIDA
ERILSON OLIVEIRA DA SILVA
LARA MORAIS CONCEIÇÃO SILVA

TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS:
uma revisão de literatura narrativa das contribuições da
Neuropsicologia com ênfase na Doença de Alzheimer

Monografia apresentada no curso de graduação


do Centro Universitário AGES como um dos pré
requisitos para obtenção do título de bacharel
em Psicologia.

Orientadora: Profª. Catiele dos Reis Santos

Paripiranga
2021
ANDRÉ LUÍS MATOS ALMEIDA
ERILSON OLIVEIRA DA SILVA
LARA MORAIS CONCEIÇÃO SILVA

TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS:
uma revisão de literatura narrativa das contribuições da
Neuropsicologia com ênfase na Doença de Alzheimer

Monografia apresentada como exigência parcial


para obtenção do título de bacharel em
Psicologia à Comissão Julgadora designada
pela Coordenação de Trabalhos de Conclusão
de Curso do Centro Universitário Ages.

Paripiranga, __09_ de dezembro de _2021_.

BANCA EXAMINADORA

Profª. Catiele dos Reis Santos


Centro Universitário Ages

Profª. Bruno Felipe Santana Santos


Centro Universitário Ages
RESUMO

Os Transtornos Neurocognitivos (TNCs), em sua ampla etiologia, apresentam-se em


grande parte com declínios cognitivos e funcionais, bem como com alterações
anatomofisiológicas. Assim, a Neuropsicologia abrange uma teoria multidisciplinar e
contribui em avaliar sinais, sintomas e níveis do TNC, além de em seu diagnóstico,
nas pesquisas e nas estratégias de intervenção. Nesse viés, esta monografia é uma
revisão de literatura integrativa e tem como objetivo discutir acerca dos TNCs, com
ênfase na Doença de Alzheimer (DA), considerando suas características de
neurodegeneração e impactos na memória e outros domínios cognitivos e funcionais.
Ao discorrer sobre tais aspectos, propõe-se discutir as possíveis intervenções do
neuropsicólogo neste eixo, como se avalia os processos para o diagnóstico e a
reabilitação, os impactos emocionais provocados no sujeito e em seus cuidadores,
considerando os multifatores envolvidos nos TNCs. Desse modo, a compreensão do
desenvolvimento dos TNCs pelo neuropsicólogo é essencial, portanto, este estudo
discute acerca de aspectos anatômicos, biológicos, químicos, sociais e psicológicos.
PALAVRAS-CHAVE: Doença de Alzheimer. Neuropsicologia. Transtornos
Neurocognitivos.
ABSTRACT

Neurocognitive Disorders (NCDs), in their extensive etiology, present themselves


largely along with cognitive and adaptive declines, as well as with anatomical and
physiological changes. Consequently, Neuropsychology encompasses a
multidisciplinary theory and helps to assess signs, symptoms and levels of TNC, in
addition to its diagnosis, research and intervention strategies. In this bias, this
monograph is an integrative literature review and aims to discuss about TNCs,
emphasizing on Alzheimer's Disease (AD), considering their neurodegeneration
characteristics and impacts on memory and other cognitive and functional domains.
When discussing these aspects, it is proposed the discussion of the possible
neuropsychological interventions in this axis, how to evaluate the processes for
diagnosis and rehabilitation, the emotional impacts provoked on the subject and on
their caregivers, considering the series of factors involved in TNCs. Therefore, the
understanding of the development of TNCs by the neuropsychologist is essential,
hence, this study discusses about anatomical, biological, chemical, social and
psychological aspects.

KEYWORDS: Alzheimer's Disease. Neuropsychology. Neurocognitive Disorders.


LISTAS

LISTA DE QUADROS

1: Fatores de risco para TNC maior em pacientes com TNC menor............................13


2: Critérios de diagnóstico de TNC maior....................................................................16
3: Subtipos etiológicos e principais alterações cognitivas ......................................... 17
4: Critérios diagnósticos para TNC maior ou leve, decorrente de Doença de Alzheimer
.................................................................................................................................. 20
5: Envelhecimento normal e a DA ............................................................................. 24
6: Critérios diagnósticos de DA com biomarcadores ................................................. 26
7: Escala para avaliação das incapacidades nas AIVDs, desenvolvida por Lawton e
Brody e adaptada ao contexto brasileiro ............................................................... 40
8: Protocolo de estimulação cognitiva utilizando música ........................................... 43

LISTA DE TABELAS

1: Etiologias de TNCs e prevalência por faixa etária ................................................. 18


2: Valores de referência na avaliação de tireoide ...................................................... 22

LISTA DE SIGLAS

AA Alzheimer’s Association
AIVD Atividades Instrumentais de Vida Diária
AVC Acidente Vascular Cerebral
ADRSA Alzheimer’s Disease and Related Disorders Association
APP Proteína Precursora de Amiloide
CDR Avaliação Clínica da Demência
CFP Conselho Federal de Psicologia
DA Doença de Alzheimer
DSM Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais
HTs Hormônios tiroideanos
MCL Comprometimento Cognitivo Leve
MEEM Miniexame do Estado Mental
NIA National Institute on Aging
PBE Prática Baseada em Evidências
TNC Transtorno neurocognitivo
TSH O hormônio tireoestimulante
T3 Tri-iodotironina
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8

2 MÉTODO................................................................................................................ 14

3 PSICOPATOLOGIA DO TRANSTORNO NEUROCOGNITIVO ............................ 15

4 HISTÓRIA DA NEUROPSICOLOGIA .................................................................... 27

5 INTERVENÇÕES E ATUAÇÃO DO NEUROPSICÓLOGO ................................... 35


5.1 Avaliação Neuropsicológica ............................................................................ 36
5.2 Processo de Reabilitação................................................................................ 41
5.3 Alternativas de Prevenção .............................................................................. 44

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 48

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50

ANEXOS ................................................................................................................... 57
8

1 INTRODUÇÃO

O Transtorno Neurocognitivo Maior é a nomenclatura atual para a demência,


ao passo que a modificação do conceito esteve ancorada às variações do Manual
Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM) (DSM V, 2014). Assim, a
demência é um termo um tanto genérico, que, popularmente, era utilizada para
representar sujeitos que manifestavam algum déficit em suas funções cognitivas,
sendo a doença de Alzheimer o primeiro caso. Uma vez que essa tem como critério
de diagnóstico o comprometimento da memória, dentre outros domínios cognitivos,
além de estar associada a alterações comportamentais e funcionais do indivíduo
(PESSOA et al., 2016).
Com o avanço das tecnologias e os estudos nos serviços de saúde, novas
descobertas de patologias que se enquadravam como sindrômicas deram
embasamento à reformulação dos critérios, que passou a considerar a deterioração
em qualquer outra função cognitiva, e não apenas o comprometimento da memória,
que antes era tido como o referencial e inicial (BOLETIM SBNp, 2020). Tornando,
assim, o diagnóstico menos restrito a uma patologia e mais amplo na descrição do
quadro.
Desse modo, o Transtorno Neurocognitivo Maior envolve várias patologias que
estão relacionadas a um declínio cognitivo acompanhado de alterações
comportamentais e a um prejuízo funcional, que o caracteriza como síndrome clínica
(MAYORAL, 2018). Os transtornos neurocognitivos maiores são assim chamados
devido ao fato de os déficits cognitivos comprometerem a independência e a
autonomia do sujeito em atividades cotidianas. Logo, quando o transtorno é leve, não
há interferência na capacidade de independência na realização de tarefas do dia a dia
(PESSOA et al., 2016). Conquanto, é importante ressaltar que os termos maior e leve
designam apenas o nível do transtorno (DSM V, 2014).
Hoje, a Neurociência tem os tipos de memórias como processos cognitivos
definidos em grupos e subgrupos. Quanto ao conteúdo ou à natureza das memórias,
são agrupadas em episódica, semântica, declarativa ou explícita, processual ou
implícita (MOURÃO; FARIA, 2015). Quanto à sua temporalidade, são definidas em
memória de curto prazo, memória operativa ou de trabalho e memória de longo prazo
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(COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA CLÍNICA, 2020). Assim, a doença de Alzheimer


descreve seu quadro, em geral, com perda de memória como o primeiro sintoma (DSM
V, 2014). É cabível, então, considerar a memória como um dos processos cognitivos
afetados com alta prevalência nos transtornos neurocognitivos, e é importante ao
propósito desta produção científica descrevê-la em sua complexidade, em especial na
doença de Alzheimer.
O desenvolvimento do transtorno neurocognitivo ocorre pelo subtipo etiológico
que lhe é respectivo, isto é, varia conforme a patologia que o precede, em que
domínios cognitivos são afetados (DSM V, 2014). Cada subtipo possui elementos
etiológicos próprios que correspondem aos critérios diagnósticos. Ou seja, o
Transtorno Neurocognitivo Maior devido à doença de Alzheimer apresenta fatores que
não se enquadram no acidente vascular cerebral (AVC) ou com o Corpos de Lewy,
mesmo que todos estes sejam considerados transtornos neurocognitivos (DSM V,
2014).
A doença de Alzheimer é um dos subtipos que pode ocasionar o transtorno
neurocognitivo maior, além de que é uma patologia que acomete grandes números
populacionais, pois apresenta aumento nas taxas de mortalidade, estando
intimamente relacionada à longevidade da população (TEIXERA et al., 2015), de
modo que não é específica a uma região ou cultura. Não há cura conhecida, todavia,
há métodos preventivos que amenizam as sequelas que a acompanha. Nessa
direção, os impactos para o indivíduo e para o seu círculo social podem abranger
múltiplas esferas, uma vez que o comprometimento das funções cognitivas carrega
também alterações motoras e funcionais a depender do estágio da doença (ZIDAN et
al., 2012).
A memória se constrói com as vivências do sujeito e permite que a
singularidade da sua história seja pessoal, pois afeta todos os aspectos de nossa vida,
como a forma como pensamos, como reagem nossos sentidos e nos comportamos
(PROVENSI et al., 2018). Na etiologia do TNC maior, pode-se identificar sua causa
por doenças, lesões ou uso de substâncias, sendo a Doença de Alzheimer uma das
condições, dentre outras, que geralmente emerge o transtorno neurocognitivo maior,
caracterizando-se em curso e prognóstico de acordo com a sua etiologia,
apresentando diferentes graus de déficits cognitivos (DSM V, 2014).
Os transtornos neurocognitivos podem interferir na atenção, no funcionamento
executivo, no aprendizado e memória, na linguagem, na percepção motora, na
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cognição social, tais domínios são importantes para a vida do sujeito em suas relações
sociais e em suas atividades ocupacionais (DSM V, 2014). A cognição social
prejudicada submete o sujeito com TNC leve ou maior a dificuldades, como a de
compreender regras, normas e procedimentos sociais, de entender as intenções e as
crenças das pessoas, as quais permitem uma socialização qualitativa (PESSOA,
2016). Além dos déficits cognitivos, os aspectos socioeconômicos por acometimento
da doença tendem a desgastar os cuidadores e os familiares por conta do alto
investimento de tempo, dinheiro e privações para se atentar aos cuidados do sujeito
dependente (MATTOS; KOVACS, 2020).
Os sujeitos com transtorno neurocognitivo precisam de cuidados, assim, além
dos profissionais envolvidos no tratamento, a família é um suporte social importante
ao sujeito doente, este, que se torna dependente para realizações de atividades
básicas e/ou mais complexas. O surgimento de um membro da família com
adoecimento crônico implica em desgastes físicos, emocionais, psicológicos,
repercute no aspecto econômico e relacional dos familiares (SILVA; MARQUES
2019). Diante dessa condição, além de se atentar ao paciente, profissionais com essa
demanda deve orientar a família quanto aos cuidados do doente, e os cuidados
consigo mesmo, com a promoção de autonomia e o crescimento do sistema familiar
(SILVA, 2012).
Para identificar os primeiros sintomas do transtorno neurocognitivo devido à
doença de Alzheimer, observam-se as dificuldades nessa síndrome clínica, que cursa
com a deterioração dos domínios cognitivos, tais como: alterações de comportamento,
prejuízos funcionais, de afazeres e atividades cotidianas (FERNANDES; ANDRADE,
2017). Com o envelhecimento da população, o número de casos de doenças
relacionadas ao TNC maior tem aumentado principalmente com as perdas cognitivas
oriundas do Alzheimer (DADALTO; CAVALCANTE, 2021). Medidas de detecção do
transtorno em estágios inicias, prevenção e tratamento são importantes para diminuir
o número de casos ou reduzir os prejuízos (FERNANDES; ANDRADE, 2017).
Levando em conta que as principais alterações cognitivas na DA sejam a
memória e a aprendizagem, outros TCN’s apresentam manifestações clínicas
diferentes, a diferenciação vai ser feita com base nas manifestações clínicas
(PEREIRA; ROSA, 2018). Nesse sentido, é relevante que a investigação de um
transtorno neurocognitivo maior considere e avalie a história clínica do paciente
associada ao relato do acompanhante, uma vez que o paciente pode não ter
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compreensão tão perceptível da doença, o que faz com que este não perceba o
declínio da função cognitiva (FERNANDES; ANDRADE, 2017.). Alguns estudos
discorrem sobre a associação existente entre nutrientes, principalmente a vitamina D
na prevenção da DA (SANTOS; BESSA; XAVIER, 2020).
Na Doença de Alzheimer, mais especificamente, além da alteração das funções
cognitivas, o indivíduo pode apresentar também sintomas não cognitivos, como
depressão, apatia, sintomas psicóticos e agitação (MOL, 2019). Exames
complementares são essenciais na elaboração de um diagnóstico diferencial, para
assim enriquecer ainda mais a obtenção dos dados coletados na anamnese. Há testes
simples ou a aplicação de conjunto de testes, como o rastreio cognitivo, por exemplo,
além da avaliação funcional e a neuropsicológica, em que na primeira haverá a
investigação dos déficits cognitivos a partir do relato do acompanhante e do paciente
que impacta no cotidiano de ambos e a última que investiga o funcionamento cerebral
do indivíduo a partir de um estudo comportamental (SILVA; MARQUES, 2019).
Um ponto importante a ser mencionado em relação ao TCN maior devido à DA
é sobre os comportamentos financeiros, visto que a tomada de decisão financeira é
uma das primeiras capacidades funcionais a serem perdidas (NICHOLAS et al., 2021).
Eventos financeiros prejudiciais, como o esquecimento ao pagar contas, perda de
dinheiro, pagamentos perdidos em contas de crédito, podem evidenciar a DA anos
mais tarde na vida do indivíduo, embora seja pertinente lembrar que este não é um
fator determinante, mas um fator que pode ajudar na progressão lenta da doença e
em formas de lidar (NICHOLAS et al., 2021).
Nesse contexto, a Neuropsicologia, dentre suas várias interfaces sobre o ser
humano, atuará dentro destes contextos de mudanças biopsicossociais em dois
parâmetros de atendimento, tanto com o indivíduo com a Doença de Alzheimer,
quanto com os cuidadores e familiares (BONDI; SMITH, 2014). Com o paciente no
momento inicial da descoberta da doença, o neuropsicólogo ajudará discutindo
significados para tal momento em sua vida, e pode trabalhar em seus medos, dúvidas,
dentre outros sentimentos que podem surgir em consequência do diagnóstico,
ajudando, assim, a ressignificar a manutenção da sua própria identidade (BONDI;
SMITH, 2014).
Desse modo, entende-se a reabilitação cognitiva como um método interventivo
que busca o reaprendizado de habilidades cognitivas que foram perdidas devido a
alguma alteração cerebral. Entretanto, caso as habilidades não puderem ser
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reaprendidas, outras capacidades serão usadas para compensação das funções


cognitivas comprometidas (CICERONE et al., 2005).
O diagnóstico de TNC maior devido à Doença de Alzheimer deve ser
sindrômico, topográfico e etiológico, de acordo com as orientações do DSM-5 (2014).
É importante, pois, seguir as etapas do diagnóstico para usar-se de intervenções
válidas para tal. Sabendo que não existe uma cura para DA, hoje, a ciência investe
em conhecimentos estratégicos para prevenção, e, mesmo que um dia exista a cura,
os métodos preventivos continuarão sendo importantes fatores para reduzir a
incidência da doença (LIVINGSTON et al., 2017).
Estudos recentes de combinação estratégica de prevenção mostram boas
evoluções, como o estudo de intervenção geriátrica finlandês para prevenir
deficiências e deficiências cognitivas, que consiste em uma intensa mudança de estilo
de vida (dieta, atividade física, treino cognitivo e gerenciamento vascular) e o ensaio
MAPT RCT161, que combinou atividade física, treino cognitivo e nutricional, além de
três sessões preventivas e o aconselhamento (LIVINGSTON et al., 2017).
A melhora da reserva cognitiva tem tido uma importante influência para a
redução de desenvolvimento para a DA. Segundo Livingston et al. (2017), em adultos
mais velhos sem demências, o aumento das atividades cognitivas em 1 ponto implicou
na redução de 33% de risco de DA. Esses estudos mostram que a intervenção
cognitiva, junto a outros fatores que envolvem a saúde do paciente, pode ser
estratégias de intervenção e de estudos para os próximos anos.
Assim, esse trabalho detém do que pode ser visto até os dias atuais na literatura
dos Transtornos Neurocognitivos, bem como a atuação neuropsicológica frente às
implicações desta condição de saúde. Dentro dessa discussão, os aspectos principais
do transtorno são discutidos com uma visão ampla, de cunho biopsicossocial.
Exceto em quadros agudos, como em trauma cranioencefálico ou AVC, todo
paciente com TNC maior passou por TNC menor (ALÓE; BRASIL NETO;
TAKAYANAGUI, 2013). Marcadores neurorradiológicos de conversão do TNC menor
para Doença de Alzheimer mostram, durante dois anos de seguimento, maior atrofia
no hipocampo, córtex entorrinal esquerdo, giro temporal superior bilateral e giro frontal
inferior direito (ALÓE; BRASIL NETO; TAKAYANAGUI, 2013). Apesar do quadro de
TNC menor trazer declínios cognitivos maiores do que os esperados para o idoso,
estes declínios não interferem na autonomia do paciente.
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Mesmo que a idade avançada seja um fator ligado à demência, ao


isoladamente, ela não é a principal causa, pois, vários outros fatores de risco podem
estar associados, além dos citados no Quadro 1, diabetes mellitus, depressão e
baixos níveis de vitamina D, que se considera o último um fator modificável (SANTOS;
BESSA; XAVIER, 2020). Observam-se fatores de risco para conversão de TNC menor
ao TNC maior no Quadro 1.

Fatores de risco para TNC maior em pacientes com TNC menor


Sedentarismo
Idade avançada
Baixa escolaridade
AVC passado
Hipertensão arterial
Atividade intelectual empobrecida
Viver sozinho
Pouco contato social
Tabagismo
Quadro 1: Fatores de risco para TNC maior em pacientes com TNC menor.
Fonte: Alóe, Brasil Neto & Takayanagui (2013).

Nesse contexto, esta produção tem como objetivo discutir acerca dos TNCs,
com ênfase na Doença de Alzheimer (DA), considerando suas características de
neurodegeneração e impactos na memória e outros domínios cognitivos e funcionais.
Ao discorrer sobre tais aspectos, propõe-se discutir as possíveis intervenções do
neuropsicólogo neste eixo, como se avalia os processos para o diagnóstico e a
reabilitação, os impactos emocionais provocados no sujeito e em seus cuidadores,
considerando os multifatores envolvidos nos TNCs.
14

2 MÉTODO

O estudo será pautado em uma revisão de literatura narrativa acerca das


possibilidades atuais na avaliação, prevenção e reabilitação neuropsicológica dos
Transtornos Neurocognitivos. A revisão de literatura consiste em uma fundamentação
teórica crítica, em que o processo de investigação sobre o tema irá se basear na
busca, na análise, na sintetização e na interpretação de trabalhos já publicados,
visando tanto a definição precisa do problema tratado no tema como a obtenção de
uma noção deste na atualidade (BENTO, 2012). Ademais, é de característica
integrativa, a qual a partir de estudos científicos sintetiza disciplinas amplas numa
metodologia de Prática Baseada em Evidências (PBE), que, por sua vez, diante da
problemática, busca resoluções com confiabilidade e validade na literatura (SOUZA;
SILVA; CARVALHO, 2010).
Para a delimitação de artigos, dissertações, livros e revistas científicas na
pesquisa, será utilizada as seguintes bases de dados: SciELO – Scientific Electronic
Library On-line (Biblioteca Científica Eletrônica On-line), Health Science Journal,
Repositório Institucional UNESP, Sociedade Brasileira de Neuropsicologia – SBNp,
PubMed, AILANCYP, Google Scholar, Nature Reviews, The Lancet e eNeuro.
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3 PSICOPATOLOGIA DO TRANSTORNO NEUROCOGNITIVO

Cada transtorno neurocognitivo apresenta uma alteração clínica associada a


algum déficit cognitivo adquirido, que, por sua vez, baseia-se em domínios cognitivos
(DALGALARRONDO, 2019). Os critérios específicos de cada um dos transtornos
neurocognitivos alinham-se a estes domínios cognitivos, pois tendo a sua definição, o
diagnóstico do TNC, levando em conta o nível e o subtipo correspondente, pode ser
elaborado de forma mais precisa (DSM V, 2014).
Com o avanço das tecnologias e os estudos nos serviços de saúde, novas
descobertas de patologias que se enquadravam como sindrômicas deram
embasamento à reformulação dos critérios, passando a considerar a deterioração em
qualquer outra função cognitiva, e não apenas o comprometimento da memória que
antes era tido como o referencial e inicial (BOLETIM SBNp, 2020). Tornando, assim,
o diagnóstico menos restrito a uma patologia e mais amplo na descrição do quadro.
Os domínios cognitivos compreendem a função executiva, a aprendizagem e
memória, a linguagem, a atenção complexa, o perceptomotor e a cognição social
(DSM V, 2014). Ademais, o diagnóstico deve ser feito por meio de anamnese e de
uma avaliação cognitiva que apresente prejuízo em pelo menos dois domínios
cognitivos (MCKHANN et al., 2011).
Na memória, os sintomas irão incluir a repetição de perguntas, esquecimento
de compromissos, eventos, lugares e rotas habituais; na função executiva, a qual é
caracterizada pelo raciocínio, julgamento e realização de atividades complexas, os
sintomas inclusos são compreensão empobrecida de situações de risco, redução da
capacidade de cuidado das finanças, na tomada de decisões e no planejamento de
tarefas difíceis ou sequenciais; os sintomas no domínio perceptomotor apresentam
dificuldades com as atividades que outrora eram familiares, como o uso de
instrumentos, além de desorientação e dificuldade de navegação em ambientes
conhecidos; a linguagem caracteriza-se pela expressão, leitura, escrita e
compreensão, o prejuízo na linguagem é identificado por erros na fala e escrita,
havendo troca de palavras ou fonemas, aparentando uma dificuldade para encontrar
e compreender palavras; na cognição social, o comportamento tende a ser fora das
variações sociais aceitáveis, tanto o comportamento como a conduta ficam à mercê
16

de alterações do humor, perda de empatia e desinibição, desinteresse (MCKHANN et


al., 2011; DSM V, 2014).
Os TNCs podem ser caracterizados, quanto ao seu nível, em leve ou maior.
Com foco nos TNCs de nível maior, os critérios diagnósticos envolvem o declínio ou
a perda de alguma função cognitiva, em que é constatado uma redução da função ou
do domínio em relação aos estágios anteriores da vida do indivíduo, em que antes era
considerado normal e que se nota uma redução no desempenho
(DALGALARRONDO, 2019). Desse modo, abaixo no Quadro 2 é apresentado os
critérios referentes ao Transtorno Neurocognitivo Maior, segundo o Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5).

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
A. Evidências de declínio cognitivo importante a partir de nível anterior de
desempenho em um ou mais domínios cognitivos (atenção complexa,
função executiva, aprendizagem e memória, linguagem, perceptomotor ou
cognição social), com base em:
1. Preocupação do indivíduo, de um informante com conhecimento ou do
clínico de que há declínio significativo na função cognitiva; e
2. Prejuízo substancial no desempenho cognitivo, de preferência
documentado por teste neuropsicológico padronizado ou, em sua falta,
por outra investigação clínica qualificada.
B. Os déficits cognitivos interferem na independência em atividades da vida
diária (i.e., no mínimo, necessita de assistência em atividades instrumentais
complexas da vida diária, tais como pagamento de contas ou controle
medicamentoso).
C. Os déficits cognitivos não ocorrem exclusivamente no contexto de delirium.
D. Os déficits cognitivos não são mais bem explicados por outro transtorno
mental (p. ex., transtorno depressivo maior, esquizofrenia).
Quadro 2: Critérios de diagnóstico de TNC maior.
Fonte: DSM V (2014).

O comprometimento da função cognitiva no TNC maior interfere na realização


de atividades cotidianas do sujeito, estando a independência e a autonomia deste à
mercê da assistência de outrem para tarefas mais complexas do dia a dia (PESSOA
et al., 2016). É importante que o subtipo seja determinado no TNC, subtipo é a
patologia associada, pois cada uma relaciona-se a um declínio cognitivo
acompanhado de alterações comportamentais e de prejuízo funcional em um dos
domínios (MAYORAL, 2018). Além disso, a especificação de se há ou não
17

perturbação comportamental e da gravidade do transtorno se faz necessário para um


diagnóstico mais efetivo.
O Quadro 3 a seguir demonstra alguns dos subtipos etiológicos e a principal
alteração cognitiva que é comprometida.

SUBTIPO ETIOLÓGICO PRINCIPAL ALTERAÇÃO COGNITIVA


Doença de Alzheimer Memória e aprendizado
Degeneração lobar frontotemporal Conduta e planejamento
Doença com corpos de Lewy Alucinações e delírios
Doença vascular Sinais neurológicos
Doença de Parkinson Movimento
Quadro 3: Subtipos etiológicos e principais alterações cognitivas.
Fonte: Elaborado pelos autores (2021).

Na doença de Parkinson ou na doença vascular, o diagnóstico depende da


identificação de uma entidade potencialmente causadora da doença, diferentemente
das doenças degenerativas, como a doença de Alzheimer, a degeneração lobar
frontotemporal e a com corpos de Lewy, em que o diagnóstico é apoiado nos sintomas
cognitivos, comportamentais e funcionais (DSM V, 2014).
A grande maioria dos transtornos surge no período senil do indivíduo (após os
65 anos), mas também há a possibilidade mesmo que menor e menos frequentes
desses transtornos surgirem numa fase pré-senil (entre 50-65 anos). Devido a isso, é
pertinente que os transtornos neurocognitivos não sejam confundidos com os
transtornos do desenvolvimento que surgem na infância, na adolescência ou na
juventude (DALGALARRONDO, 2019).
Levando em conta que maioria dos transtornos em questão é mais frequente
numa fase senil e que a população idosa no mundo tem seguido em crescente
significativa nos últimos anos, devido a maior expectativa de vida, o número de casos
de idosos com doenças crônico-degenerativa vem sendo mais constante,
principalmente quando a doença de Alzheimer entra em questão, uma vez que a idade
avançada se constitui como um dos fatores de risco (DADALTO; CAVALCANTE,
2021). Dessa maneira, na Tabela 1 é possível identificar as principais causas de TNC
em ordem de frequência, por faixa etária.
18

DOENÇA OU CONDIÇÃO FAIXA FAIXA INDEPENDENTEMENTE


QUE CAUSA DEMÊNCIA ETÁRIA ETÁRIA DA FAIXA ETÁRIA
<65 ANOS >65 ANOS

Doença de Alzheimer 27-39% 55-71% 35-75%

Doença cerebrovascular 6-29%1 11-30% 15-30%

Doença com corpos de 2,0-7,5% 7-20% 5-15%


Lewy e doença de
Parkinson

Degeneração lobar 4-25%2 2-11% 3-10%


frontotemporal

TNC por álcool 5-12% 1-3% 2-8%


(alcoolismo)

Outras 19% 5-20% 11-20%


Tabela 1: Etiologias de TNCs e prevalência por faixa etária.
Fonte: Degalarrondo (2019).

O médico alemão Alois Alzheimer relatou o primeiro caso de doença de


Alzheimer em 1907 (MCGIRR; VENEGAS; SWAMINATHAN, 2020). Em 1901, ele
conheceu Auguste Deter, de 51 anos, pela primeira vez, quando o marido de August,
Carl, a levou em um hospital psiquiátrico ao perceber um comportamento incomum
em sua esposa, incluindo esconder coisas, acusar seu marido de adultério e ameaçar
vizinhos (MCGIRR; VENEGAS; SWAMINATHAN, 2020). Ela também perdeu a
capacidade de cozinhar, fazer o trabalho doméstico e outras atividades diárias
(MCGIRR; VENEGAS; SWAMINATHAN, 2020).
August foi atendida por Alzheimer em um hospital psiquiátrico em Frankfurt. Lá,
ele observou e registrou seus padrões de comportamento: ela falava, mas não sabia
escrever seu próprio nome; ela conseguia se lembrar de objetos como um lápis, mas
não a comida que ela comia; ela era às vezes educada, mas às vezes barulhenta e
ofensiva. Alzheimer diagnosticou August com "demência presenile” (MCGIRR;
VENEGAS; SWAMINATHAN, 2020).
Em 1906, Auguste morreu, e uma biópsia de seu cérebro foi feita por Alzheimer.
O exame mostrou atrofia cortical difusa e mudanças peculiares nos agrupamentos de
células corticais (MCGIRR; VENEGAS; SWAMINATHAN, 2020). O que os
pesquisadores identificaram e nomearam na década de 1980 como hoje são
conhecidas foram as placas beta amiloides e emaranhados neurofibrilares da proteína
19

TAU. Alzheimer descreveu, há quase oitenta anos deste feito, como placas e
emaranhados de fibras nervosas (MCGIRR; VENEGAS; SWAMINATHAN, 2020).
Ademais, naquele ano, numa conferência Psiquiátrica Alemã, Alzheimer fez um
relato do caso de August, alegando que essas lesões corticais eram a causa de seus
sintomas. No ano seguinte, ele publicou um artigo de pesquisa, e em 1910 um livro
psiquiátrico chamado "Doença de Alzheimer" foi publicado (MCGIRR; VENEGAS;
SWAMINATHAN, 2020).
Em 1984, nos Estados Unidos, foram padronizados os critérios de diagnóstico
clínico para DA. Em 2011 e 2018, os critérios diagnósticos foram revisados e
separados para o estágio pré-clínico da DA, comprometimento cognitivo leve (MCI) e
demência, e denotar o papel dos biomarcadores na identificação fidedigna da doença
de Alzheimer (MCGIRR; VENEGAS; SWAMINATHAN, 2020).
Desse modo, a doença de Alzheimer descreve seu quadro, em geral, com
perda de memória como o primeiro sintoma (DSM V, 2014). É cabível considerar a
memória como um dos processos cognitivos afetados com a alta prevalência nos
transtornos neurocognitivos, e é importante ao propósito desta produção científica
descrevê-la em sua complexidade, em especial na doença de Alzheimer.
Além do mais, essa doença dispara em número de casos que acomete a
população mundial, possuindo grande relevância epidemiológica e de impacto social,
sendo uma doença neurodegenerativa progressiva (MOREIRA; MOREIRA, 2020). O
TNC devido à DA possui uma condição progressiva e gradual, com início insidioso e
evolução lenta, tendo em seu processo neurodegenerativo a manifestação de déficits
de memória episódica e da aprendizagem (DALGALARRONDO, 2019).

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
A. São atendidos os critérios para transtorno neurocognitivo maior ou leve.
B. Há surgimento insidioso e progressão gradual de prejuízo em um ou mais
domínios cognitivos (no caso de transtorno neurocognitivo maior, pelo menos
dois domínios devem estar prejudicados).
C. Os critérios são atendidos para doença de Alzheimer provável ou possível,
do seguinte modo:

Para transtorno neurocognitivo maior:

Provável doença de Alzheimer é diagnosticada se qualquer um dos


seguintes está presente; caso contrário, deve ser diagnosticada possível
20

doença de Alzheimer. 1. Evidência de uma mutação genética causadora de


doença de Alzheimer a partir de história familiar ou teste genético.
2.Todos os três a seguir estão presentes:
Critérios Diagnóstico (Continuação)
a. Evidências claras de declínio na memória e na aprendizagem e em pelo
menos outro domínio cognitivo (com base em história detalhada ou testes
neuropsicológicos em série).
b. Declínio constantemente progressivo e gradual na cognição, sem platôs
prolongados.
c. Ausência de evidências de etiologia mista (i.e., ausência de outra
doença neurodegenerativa ou cerebrovascular ou de outra doença ou condição
neurológica, mental ou sistêmica provavelmente contribuindo para o declínio
cognitivo). Para transtorno neurocognitivo leve: Provável doença de Alzheimer é
diagnosticada se há evidência de alguma mutação genética causadora de doença
de Alzheimer, constatada em teste genético ou história familiar. Possível doença de
Alzheimer é diagnosticada se não há evidência de mutação genética causadora de
doença de Alzheimer, de acordo com teste genético ou história familiar, com
presença de todos os três a seguir:
1. Evidências claras de declínio na memória e na aprendizagem;
2. Declínio constantemente progressivo e gradual na cognição, sem platôs
prolongados;
3. Ausência de evidências de etiologia mista (i.e., ausência de outra doença
neurodegenerativa ou cerebrovascular ou de outra doença ou condição
neurológica ou sistêmica provavelmente contribuindo para o declínio
cognitivo).
D. A perturbação não é mais bem explicada por doença cerebrovascular, outra
doença neurodegenerativa, efeitos de uma substância ou outro transtorno
mental, neurológico ou sistêmico.
Quadro 4: Critérios diagnósticos para TNC maior ou leve, decorrente de Doença de Alzheimer.
Fonte: DSM V (2014).

O preenchimento dos critérios no diagnóstico do TNC devido à doença de


Alzheimer compõe a história completa do paciente, bem como a avaliação clínica
deste, que integra a avaliação clínica da demência (CDR), o rastreio cognitivo, o
Miniexame do Estado Mental (MEEM), exames laboratoriais, exames de imagem
cerebral e ressonância magnética (FERREIRA; ESTEVES, 2020). Além disso, a
depressão, a deficiência da vitamina B12 e o hipotireoidismo são tidos como os
principais diagnósticos diferenciais na doença de Alzheimer (FERREIRA; ESTEVES,
2020). Na anamnese, deve-se investigar a função cerebral na avaliação do idoso, leva
apenas alguns minutos e deve ser incluída no exame médico (SILVA, 2011). Na coleta
de dados dos pacientes que buscam o consultório devido a alterações cognitivas
devem incluir a busca por evidências de alterações cognitivas nos últimos anos e os
indícios de que esses possíveis déficits possam estar relacionados à perda funcional
21

(SILVA, 2011). Normalmente, ao observar cuidadosamente o relato do paciente, é


preciso verificar se ele tem a capacidade de fornecer uma história coerente e na ordem
adequada, sem muita limitação para encontrar as palavras necessárias, as
informações valiosas já podem ser coletadas (SILVA, 2011).
Ademais, os relatos dos sintomas por pessoas próximas (cuidadores, parentes,
amigos ou outras pessoas que estão em contato frequente com o paciente) são
essenciais, porque ajuda a mensurar o quanto o indivíduo passa por mudanças em
suas próprias capacidades, e é especialmente útil no diagnóstico diferencial de um
déficit questionável (SILVA, 2011).
Em uma análise dos micronutrientes, observa-se que, em especial, o folato e a
vitamina B12 estão associados ao bom desempenho cognitivo e a sua homeostase,
porque podem atuar no bom funcionamento dos neurotransmissores associados aos
processos da DA (CAMPOS et al., 2020).
Comparações feitas entre pessoas com DA, transtorno neurocognitivo leve e
idosos saudáveis possibilitaram observar significativa redução nos níveis de folato e
vitamina B12 nas condições de Alzheimer ou comprometimento cognitivo (CAMPOS
et al., 2020). Além disso, as baixas desses nutrientes aumentam a concentração de
homocisteína, que é a substância neurotóxica (CAMPOS et al., 2020). Os sintomas
de DA e da baixa desses nutrientes são parecidos, sendo identificadas e reparadas
as deficiências dos mesmos e havendo remissão dos sintomas descarta-se o
diagnóstico de DA (CAMPOS et al., 2020).
No hipotireoidismo, é possível detectar um aumento da presença de proteína
precursora de amiloide (APP), então, de Aβ (beta-amiloide), e maiores chances de
desenvolver a DA (REIS, 2020). Isso é provocado pela alteração de hormônios
tiroideanos (HTs), no caso do aumento de Aβ, é possível observar a redução de
atividade da tri-iodotironina (T3), que auxilia na regulação de secreção de APP (REIS,
2020).
Dentre os exames endocrinológicos possíveis para mensurar os níveis de T3 e
outros hormônios relacionados que podem interferir na DA são os exames de TSH e
a dosagem de hormônios da tireoide, feito por coleta de sangue. Ademais, os valores
de indicadores e interpretação de resultados do exame variam em cada pessoa, a
depender de fatores como idade e presença de gravidez, mas, no geral, os números
são os citados na Tabela 2 a seguir (LEMOS, 2017).
22

Hormônio Tireoide Valor de Referência


TSH 0,3 e 4,0 Um/L
T3 Total 80 a 180 ng/dl
T3 Livre 2,5 a 4 pg/ml
T4 Total 4,5 a 12,6 mg/dl
T4 livre 0,9 a 1,8 ng/dl
Tabela 2: Valores de referência na avaliação de tireoide.
Fonte: Lemos (2017).

Em pacientes com hipotireoidismo, os sintomas cognitivos são semelhantes à


DA. Logo, em uma avaliação clínica, deve ser considerada a possibilidade de uma
reversão do quadro demencial, já que o hipotireoidismo provoca uma demência
reversível. Se os sintomas persistirem e progredirem, é válido considerar o diagnóstico
de DA (FERNANDES et al., 2011).
No transtorno depressivo maior, especialmente em TNC leve, o diagnóstico
diferencial inclui até depressão maior. A existência de depressão pode estar
relacionada à diminuição das funções executivas diárias e à falta de concentração,
semelhante ao TNC. Melhorias no tratamento da depressão podem ajudar a distinguir
(DSM-5, 2014).
Dentre os neurônios mais afetados na DA, os responsáveis no funcionamento
da memória e das funções motoras são comumente os mais envolvidos, e o glutamato
(principal neurotransmissor da memória) tem uma perda progressiva de sinapse, a
qual se deve pela deposição de placas amiloides extracelulares (FERREIRA, 2016).
Alguns sintomas precoces incluem a dificuldade de lembrar nomes, eventos e
conversas, enquanto que a dificuldade de comunicação, de expressar, de falar,
deglutir, caminhar, bem como a desorientação e a confusão mental, as alterações
comportamentais, a capacidade de julgamento prejudicada são sintomas tardios
(BURLÁ, 2015).
Na fase inicial da doença de Alzheimer os primeiros sinais constatados são de
amnésia, no entanto, como esquecimentos são tidos como “normais” no dia a dia não
se dá tanta atenção e importância a tais queixas, sendo que a problematização dos
sintomas se dá a partir do momento que atinge os membros da família, em que é
perceptível uma desordem do cotidiano (SILVA, 2012). As perdas cognitivas
decorrentes de um TNC são mais prevalentes em mulheres, e entre pessoas que
23

possuem baixa escolaridade, que não praticam atividades físicas, com baixas
condições econômicas, idade avançada e em situação de fragilidade (SANTOS;
BESSA; XAVIER, 2020). Para além disso, é importante ressaltar que as perdas
cognitivas são de natureza gradativa e varia de indivíduo para indivíduo (SILVA,
2012).
Detectar um TNC pode ser mais difícil nos espaços em que a cultura e as
condições socioeconômicas considerem a perda de memória normal ao envelhecer,
onde idosos se veem expostos a poucas demandas cognitivas em sua rotina, ou em
que baixos níveis de educação demandem maiores desafios à avaliação cognitiva
(DSM-5, 2014).
Existem testes genéticos que identificam mutações na proteína precursora de
amiloide e da presenilina 1 (DSM-5, 2014). Quando os depósitos de beta-amiloide 42
ocorrem cedo no cérebro, na cascata fisiopatológica, testagens diagnósticas com
base amiloide, como tomografia cerebral com imagens por emissão de prótons e a
redução de níveis de beta-amiloide 42 no líquido cerebrospinal, servem como
marcadores diagnóstico (DSM-5, 2014).
Alguns sintomas do transtorno depressivo maior se assemelham aos da classe
de transtorno neurocognitivo. Neste, o paciente pode se mostrar com pessimismo,
tristeza, autocrítica, sentimento de culpa, perda de interesse, inutilidade, indecisão,
agitação e dificuldade de concentração, além disso, estudos indicam a depressão
como fator de risco para a DA (DALPUBEL et al., 2016). Existem escalas de rastreio
para auxiliar a identificar a depressão, e o diagnóstico diferencial ou comorbidade
entre DA ou outro TNC (GORENSTEIN; WANG; HUNGERBÜHLER, 2016). Além de
baterias de rastreios cognitivos, deve-se utilizar de administração psiquiátrica e de
exames de imagem (GORENSTEIN; WANG; HUNGERBÜHLER, 2016).
Outros fatores que podem causar esquecimentos são estados emocionais
intensos, como na ansiedade, no estresse e a própria depressão (NATIONAL
INSTITUTE ON AGING, 2018). Em um momento de luto, por exemplo, o sujeito pode
se sentir solitário, preocupado, desorientado, e isso pode contribuir para o
esquecimento e para a confusão. Entretanto, esses sintomas normalmente são
temporários, e somem quando o sujeito lida melhor com as emoções (NATIONAL
INSTITUTE ON AGING, 2018).
Como visto, existem diversas condições de saúde e emocionais que acometem
a memória e outras características da DA. Para além, existem condições normais do
24

envelhecimento que também podem se assemelhar a um adoecimento, mas em uma


análise funcional, é possível diferenciar essas características de condições normais
ou patológicas (NATIONAL INSTITUTE ON AGING, 2018).

Envelhecimento normal Doença de Alzheimer

Tomar uma decisão ruim de vez em Fazendo julgamentos e decisões ruins


quando na maior parte do tempo

Faltar um pagamento mensal Problemas para cuidar das contas

Às vezes esquecendo qual palavra usar Problemas para conversar

Perdendo coisas de vez em quando Perdendo coisas com frequência e


sendo incapaz de encontrá-las.

Quadro 5: Envelhecimento normal e a DA.


Fonte: U.S DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES (2018).

No processo da fisiopatologia de DA, o aparecimento clínico da doença


demonstra os primeiros sintomas cognitivos (tipicamente déficit de memória
episódica) décadas depois de se iniciarem as perdas neuronais graduais, de sinapses
e axônios (FROTA et al., 2016). Apesar dos marcadores cognitivos de memória
apresentarem um grau intermediário nesse estágio anterior à demência, e o paciente
ter uma autonomia preservada, é possível identificar a fase pré-demencial sintomática
para Alzheimer, chamada de “DA prodrômica”, “Comprometimento cognitivo leve
devido a DA”, ou “DA pré-demencial” (FROTA et al., 2016).
Nesta fase, o exame de biomarcadores no líquor contribui com uma alta eficácia
para o diagnóstico (FROTA et al., 2016). Os pacientes que convertem o CCL para
Alzheimer já apresentam níveis baixos de Aβ42, e um nível mais alto de Proteína TAU
(FROTA et al., 2016). O estudo longitudinal para essa conclusão apresenta uma
sensibilidade de 95%, quando se compara o grupo de conversão CCL à DA com o
que mantém sua cognição estável (FROTA et al., 2016).
Os biomarcadores de neuroimagem molecular também são uma opção que
demonstra eficácia no auxílio ao diagnóstico (FROTA et al., 2016). Neste exame,
usam-se componentes químicos para identificar placas amiloides no cérebro, e
resultam em informações semelhantes ao exame post mortem (FROTA et al., 2016).
É importante ressaltar a importância da cautela na interpretação desses exames de
25

biomarcadores, pois existem pacientes sem expressão de comprometimento


cognitivo, com biomarcadores positivos. Além de habilidade e domínio nos padrões
de cortes fundamentais para a validade do exame (FROTA et al., 2016).
Em 2011, o National Institute on Aging (NIA) e o Alzheimer’s Association (AA)
publicaram uma recomendação de critérios novos para os diagnósticos de DA,
partindo da revisão dos critérios dos National Institute of Neurological and
Communicative Disorders and Stroke (NINCDS) e da Alzheimer’s Disease and
Related Disorders Association (ADRDA) (FROTA et al., 2016). O diagnóstico de DA
pode ser visto em fases continiuum (que se dão em sequências): fase pré-clínica,
assintomática; fase sintomática, pré-demência e a fase da Demência de Alzheimer
(FROTA et al., 2016).
Foram também amplificados nos critérios diagnósticos flexibilizados para
profissionais de saúde e avaliações neuropsicológicas, e com considerações
pertinentes aos biomarcadores de liquóricos e aos exames de neuroimagem
avançados, que passam a ser incluídos no processo de diagnóstico (FROTA et al.,
2016). No Quadro 6 a seguir estão descritos alguns desses critérios revisados.

1. Demência da DA provável com evidência de processo fisiopatológico


da DA:

Pessoas que preenchem os critérios clínicos essenciais para demência da


DA provável e que tenham evidências de biomarcador, presentemente:
(a) Biomarcadores de deposição peptídeo Aβ no cérebro: Aβ42 baixo no
líquor e neuroimagem com PET para amiloide positiva; e
(b) Biomarcadores de degeneração neuronal e disfunção sináptica:
proteína tau total fosforilada (p-tau) elevadas no líquor; PET-FDG com
captação reduzida no córtex tempoparietal e RM com atrofia
desproporcionada no lobo temporal medial, basal e lateral e no córtex
parietal medial.
Nota: presentemente, demência da DA é fundamentalmente um
diagnóstico clínico. Não é recomendado o uso de testes de
biomarcadores na rotina diagnóstica da prática clínica; eles podem ser
utilizados como ferramenta opcional, a juízo do clínico ou em pesquisa.

2. Demência da DA possível com evidência do processo fisiopatológico


da DA:

Pessoas que apresentam critérios clínicos para uma demência não-


Alzheimer, mas que tenham evidência de biomarcador de processo
fisiopatológico de DA, ou que preencham os critérios neuropatológicos
para DA.
26

3. Demência da DA fisiopatologicamente comprovada:

Em um paciente que preenche os critérios para demência da DA


especificados anteriormente e o exame neuropatológico demonstre a
presença de patologia da DA.
Quadro 6: Critérios diagnósticos de DA com biomarcadores.
Fonte: Frota et al. (2016)

Pode-se dizer que os diagnósticos dos TNCs devem considerar sintomas


cognitivos e funcionais, ou seja, seu desempenho em linguagem, atividades básicas
e complexas que necessitam de raciocínio, compreensão e interpretação (MCKHANN
et al., 2011; DSM V, 2014). Consoante a esses critérios, o diagnóstico deve passar
por avaliações dos padrões do sujeito, atentando-se às mudanças comportamentais
e às suas características de curso, e os níveis desses sintomas que podem se
enquadrar em TNC maior ou leve (MCKHANN et al., 2011; DSM V, 2014).
Portanto, o neuropsicólogo, ao conhecer de forma ampla o que pode se
caracterizar como sintomas semelhantes dos TNCs, como hipertireoidismo,
deficiências de vitaminas B12 e folato, contribuiu com maior eficiência no processo
diagnóstico, fazendo uso das possibilidades de encaminhamentos e de intervenção
em conjunto a outros profissionais (REIS, 2020).
27

4 HISTÓRIA DA NEUROPSICOLOGIA

A saber, o campo da Neuropsicologia marca épocas desde a antiguidade


egípcia. Apesar de inicialmente não surgir como uma disciplina ligada à Psicologia,
através dos rituais de mumificação, os egípcios possuíam noções básicas de
neuroanatomia e algumas hipóteses da interação entre cérebro e comportamento
(RAMOS; HAMDAN, 2016).
A linha do tempo da Neuropsicologia perpassa grandes eventos da história, no
entanto, o termo foi cunhado pela primeira vez por Sir William Osler, em uma
Conferência ocorrida na Escola de Medicina Johns Hopkins, já no século XX
(WAJMAN, 2021).
Sua segunda aparição se deu anos mais tarde, vindo à tona como subtítulo da
obra “The Organization of Behavior: A Neuropsychological Theory”, de Donald Hebb.
As abordagens metodológicas fincaram raízes, primeiramente, numa ênfase
anátomo-clínica, seguindo a lógica de estrutura-função, posteriormente segue uma
perspectiva psicométrica, com uma atenção maior em dados quantitativos, para
finalmente focar em estudos de caso clínico único e em atividades experimentais
(PEREIRA, 2017).
Ao longo do tempo, a relação entre Psicologia e o Sistema Nervoso foi
atravessada pelas mais diversas perspectivas e teorias. Duas delas foram fortemente
presentes durante o século XIX, tendo um embate entre localizacionistas e holistas
em relação se as partes separadas ou a totalidade do cérebro eram responsáveis
pelas funções mentais (DIAS; LOPES; CARVALHO, 2020).
Os conhecidos por localizacionistas acreditavam na ideia da existência de
áreas funcionais, de que era possível responsabilizar estas a diferentes capacidades
(FUENTES et al., 2014). Um dos principais seguidores desta hipótese foi o médico
Franz Gall, o qual defendia que traços de caráter estavam associados a distintas
estruturas cerebrais e que o desenvolvimento destas causavam assimetrias
cranianas. A identificação dessas assimetrias em indivíduos, na época do Positivismo
Biológico, correlacionava-se a uma tendência comportamental que levava a uma
maior predisposição a crimes e agressividade, sendo essa uma pseudociência, a qual
era conhecida por Frenologia (DIAS; LOPES; CARVALHO, 2020). Por outro lado, os
28

holistas defendiam a atuação do cérebro como um todo e que as funções mentais não
apresentavam um fator de dependência entre partes específicas. Para eles, toda a
região cortical poderia assumir qualquer função, um dos expoentes desse modelo
calcado nos princípios da Equipotencialidade foi o médico Jean Pierre Flourens
(FUENTES et al., 2014).
Com toda a controvérsia existente entre os localizacionistas e holistas, a
história pendeu mais para o Localizacionismo, ganhando força a partir do trabalho de
Pierre Paul Broca (1824-1880) sobre um caso de um paciente com a capacidade de
produção de fala comprometida, em que a ocorrência de uma lesão no terço posterior
do giro frontal esquerdo estava relacionada a uma perda da capacidade da fala
expressiva (LURIA, 1981). Com a descoberta de Broca, indicativos de uma correlação
entre disfunções cognitivas com padrões de lesões no cérebro foram ganhando
espaço.
Assim, é nos estudos na área da Neurologia e da Linguística, impulsionada pela
inauguração do método anátomo-clínico, que a ciência neuropsicológica vai se
constituindo com enfoque em localização de funções mentais (DIAS; LOPES;
CARVALHO, 2020).
Com a grande parcela de combatentes feridos devido à Primeira Guerra, os
primeiros centros de pesquisa de lesões cerebrais foram surgindo, as áreas de
avaliação e reabilitação desenvolveram-se mediante a tais acontecimentos históricos
trágicos da humanidade. Em períodos anteriores aos das guerras, entre parte do
século XIX e início do século XX, a Neuropsicologia amadurece como ciência sob a
perspectiva do Localizacionismo, entretanto, o processo referente ao de se constituir
como uma ciência independente se deu quando passou a investigar e utilizar técnicas
de quantificação do comportamento ao invés da observação de uma alteração do
comportamento (DIAS; LOPES; CARVALHO, 2020).
Ainda que a busca de uma relação entre o comportamento com áreas
específicas do cérebro fosse a visão predominante na época, estudiosos, como Luria,
defendiam a desconstrução dessa ideia de função, pois em sua complexidade, a
função não pode simplesmente estar imputada a um órgão ou tecido,
desconsiderando o contexto social do sujeito e o dinamismo cerebral (HAMDAN et al.,
2011). Para esses, era preciso considerar o sujeito em seu contexto social com um
olhar para a dinâmica das interações sociais, das atividades mentais e do
desenvolvimento cerebral (MIOTO; LUCIA; SCAFF, 2012). No entanto, o método
29

átomo-clínico muito presente no campo neuropsicológico favorecia o


Localizacionismo, pois centrava-se na identificação de alterações cerebrais,
principalmente a detecção de lesões, para assim, auxiliar os procedimentos
diagnósticos, ou seja, o campo de atuação era limitado à clínica (DIAS; LOPES;
CARVALHO, 2020).
Com o avanço tecnológico no século XX e o surgimento de técnicas de
neuroimagem, a perspectiva de localizar alterações cerebrais para fins diagnósticos
perde cada vez mais o sentido, uma vez que a funcionalidade e a organicidade não
devem ser vistas separadamente. O Localizacionismo passa a iniciar um processo de
desuso, perdendo espaço frente à crescente utilização das técnicas de imageamento,
as quais permitem uma compreensão melhor da função neural e da atividade
cognitivas (FUENTES et al., 2014). Para além da localização de funções, a
Neuropsicologia vai em direção ao entendimento do funcionamento do sistema
nervoso, da cognição e do comportamento, alinhada aos estudos de lesões e avanços
nas técnicas de imageamento (DIAS; LOPES; CARVALHO, 2020).
Durante todo o período do século XX, os estudos de lesões fundamentaram a
abordagem neuropsicológica. Ultimamente, com a amplitude no campo da Neurologia
Clínica e das Neurociências Cognitivas, é possível utilizar-se de procedimentos de
neuroimagem de alta resolução espacial. Estes, por sua vez, fornecem uma
localização mais precisa das lesões cerebrais, além de que auxiliam na investigação
da atividade cerebral mediante tarefas cognitivas realizadas pelo sujeito (RAMOS;
HAMDAN, 2016; HAZIN et al., 2018).
Lezak definia a Neuropsicologia como uma ciência voltada para o estudo do
aparecimento comportamental das disfunções cerebrais (LEZAK, 1995), enquanto
Luria a defendia como uma disciplina científica que objetivava a investigação da
função dos sistemas cerebrais nos moldes mais complexos da atividade mental
(LURIA, 2005). A investigação dos distúrbios de personalidade ocasionados por
lesões cerebrais, assim como dos distúrbios cognitivos e emocionais, constitui o
objeto de estudo da Neurociência com a Psicologia (GIL, 2012).
Ainda que seu histórico seja longo, a prática clínica desta é recente, a qual era
limitada a programas de Doutorado e a Estágios clínicos. É em 1996 que a
Neuropsicologia clínica passa a ser reconhecida como uma área de especialidade do
psicólogo pela APA (HAZIN et al., 2018). No contexto brasileiro, o CRP juntamente
com o CFP, mediante processo de debates e discussões acerca do credenciamento
30

dos títulos de especializações em Psicologia, passa a oficializar a partir da resolução


nº 02/04 o credenciamento da especialização em Neuropsicologia, sendo publicada
pelo Diário Oficial da União em 05/03/2004 (CFP, 2004). Ou seja, através dessa
regulamentação, o CFP passa a reconhecê-la como especialidade da Psicologia.
Ela passa a integrar o vasto escopo das Neurociências, visando ao
desenvolvimento de novas hipóteses pautadas nos processos de interação entre o
cérebro e o comportamento, para assim viabilizar um levantamento de dados na
condução do diagnóstico, da intervenção, da reabilitação e na pesquisa (HAASE et
al., 2012). Ademais, é um campo de saber que integra pesquisas nas áreas da
Neurociência e da Psicologia cognitiva, apresentando uma correlação destas a fim de
entender a ligação entre o cérebro e o comportamento, o que representa o caráter
interdisciplinar dessa área (WAJMAN, 2021). A interação entre modelos neurais e
modelos cognitivos formam a base da Neuropsicologia, em que o primeiro se encontra
nos conhecimentos da Biologia (anatomofisiologia); e o segundo em áreas como
Psicologia Cognitiva, Linguística, Psicolinguística e Neuropsicolinguística (HAASE,
2012).
É uma área que conversa com diversas disciplinas, apresentando um caráter
interdisciplinar e plural, visto que incorpora conhecimentos e técnicas, tanto de
disciplinas básicas como de aplicação, sendo a neuroanatomia, a neurofisiologia, a
neuroquímica e a neurofarmacologia básicas, enquanto que as de aplicação
compõem a psicometria, a psicologia clínica e experimental, bem como a
psicopatologia e a psicologia cognitiva (RAMOS; HAMDAN, 2016). Na formação de
capacitação do profissional é importante que haja a prática em um contexto de equipe
interdisciplinar, para que o desenvolvimento de estratégias de avaliação e intervenção
sejam trabalhadas a partir dos olhares convergentes da equipe, evitando uma
perspectiva limitante e isolada, pois a qualidade da intervenção é atrelada a qualidade
da interação interdisciplinar (HAZIN et al., 2018).
No cenário brasileiro, a Neuropsicologia tem a interdisciplinaridade como uma
característica fundamental, de forma que o estudo não deve ser restringido apenas a
uma classe profissional. Desde os anos iniciais, a formação ocorria por meio de grupos
de estudo compostos por profissionais de diversas áreas, seja da Neurologia, da
Psicologia, da Psiquiatria, da Fonoaudiologia, da Fisioterapia e da Terapia
Ocupacional (HAZIN et al., 2018). Em um panorama atual, é perceptível essa
interdisciplinaridade e a multiplicidade de áreas que a Neurociência junto com a
31

Psicologia abrange, seja nos múltiplos campos de atuação, nos fundamentos da


avaliação e na reabilitação neuropsicológica, bem os instrumentos utilizados para a
intervenção (HAASE et al., 2012).
Para a obtenção do título de especialista em Neuropsicologia, é requisitado que
o profissional possua experiência declarada por tempo de atuação, perfazendo um
total de dois anos ou por curso de especialização ou prova-concurso para concessão
de título (CFP, 2007). Levando em consideração que a realização de uma avaliação
neuropsicológica componha noções teóricas e de aplicabilidade de testes, para que
seu manejo seja fidedigno, é solicitado que o profissional avaliador seja um psicólogo
especialista em neuropsicologia. No entanto, isso gera críticas e acusações ao
Conselho, por não haver uma delimitação mais precisa de teste psicológico e teste
neuropsicológico, de modo que a avaliação se torna restrita a uma categoria
profissional (HAZIN et al., 2008). Contudo, ainda que a ciência neuropsicológica
possua uma herança interdisciplinar, atualmente enfrenta disputas de conselhos e
entidades que, estando longe de um consenso entre as partes, alimenta um
enfraquecimento da área que tem o trabalho cooperativo como principal aspecto
(HAZIN et al., 2018).
No que concerne ao papel do neuropsicólogo, este faz uso de instrumentos
padronizados, visando a avaliação das funções, as quais englobam habilidades de
atenção, percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem,
habilidades acadêmicas, processamento da informação, visuoconstrução, afeto,
funções motoras e executivas (CFP, 2004). Com a regulamentação da especialidade
de Neuropsicologia pelo CFP, em 2004, o psicólogo especialista nessa área atua no
diagnóstico, no acompanhamento, no tratamento e na pesquisa da cognição, das
emoções, da personalidade e do comportamento com foco na interação desses
elementos com o funcionamento cerebral (CFP, 2004).
Além disso, o profissional faz uso de teorias respaldadas pelas neurociências
e pela prática clínica, como também determina critérios na elaboração de laudos
clínicos com propósitos de perícia, clínicos ou jurídicos; inteira no diagnóstico no cerne
do desenvolvimento e da aprendizagem, tendo em vista que o objetivo teórico da
neuropsicologia e da reabilitação é expandir cada vez mais os conceitos e modelos já
conhecidos, para assim possibilitar a criação de novas hipóteses sobre a relação
cérebro-comportamento (CFP, 2004). Assim, o psicólogo especialista nesta área, seja
no diagnóstico ou na reabilitação, também elabora e cria instrumentos, sendo testes,
32

jogos, guias, livros, software de aplicação que contribuam tanto na avaliação quanto
na reabilitação neuropsicológica dos pacientes (CFP, 2004).
Com o crescente reconhecimento da Neuropsicologia, a prática de atuação
deixou de ser apenas limitada à clínica, passando no momento atual ao espaço
hospitalar também, embora esteja consolidando-se em outros âmbitos, como, por
exemplo, a atuação do(a) neuropsicólogo(a) escolar, jurídico e forense, do esporte,
do desenvolvimento e do envelhecimento (DIAS; LOPES; CARVALHO, 2020). Esse
trabalho acontece de forma sincrônica com equipes interdisciplinares, atuando em
diferentes áreas de atuação, como instituições de saúde e de educação.
O neuropsicólogo desenvolve seu trabalho em diversos espaços, seja em
instituições acadêmicas através da pesquisa, do ensino e da supervisão; ou em
instituições hospitalares, forenses, consultórios, atendimento domiciliar e clínicas,
elaborando diagnóstico, reabilitação, orientação aos familiares e ao trabalho conjunto
em equipe multidisciplinar (CFP, 2004).
Numa primeira vertente, o neuropsicólogo, dentre seus objetivos atuando na
área clínica, trabalha para identificar o perfil de déficits cognitivos dos clientes com
lesões cerebrais (HAZIN et al., 2018). Igualmente, em uma segunda vertente, segue
uma abordagem neurocientífica, que consiste em estabelecer correlações anátomo-
clínicas, tornando possível uma compreensão acerca de operações elementares, do
processo e plasticidade de funções cognitivas (HAZIN et al., 2018). Em sua terceira
vertente, tem como característica uma atuação cognitiva, considerando o
desempenho em tarefas e testes obtidos por pessoas com lesões cerebrais,
desenvolve testes de hipótese baseados em teorias cognitivas, projetados com
embasamento nos estudos feitos com indivíduos saudáveis, contribuindo em
compreender melhor a cognição humana (HAZIN et al., 2018).
A intervenção é baseada em dois processos que envolvem duas grandes áreas
da Neuropsicologia, sendo a avaliação e a reabilitação neuropsicológica (HAASE et
al., 2012). A avaliação neuropsicológica diz respeito a um processo contemplado por
entrevistas, observação, escalas e testes com fins investigativos sobre o
funcionamento, saudável ou deficitário, das funções cognitivas e comportamentais e
a relação que é estabelecida por ambos através do sistema nervoso central (MIOTO;
LUCIA; SCAFF, 2012; HAASE et al., 2012).
Dentre as diversas situações em que se pode atuar, a avaliação funcional em
Cuidados Paliativos é fundamental para a observação do curso e da evolução do
33

declínio cognitivo ou de outra doença, pois se faz valioso em prognóstico tomadas de


decisões, diagnóstico e possibilidades de prevenir efeitos adversos que se associam
ao declínio funcional (SANVEZZO; MONTANDON; ESTEVES, 2018).
Em outras possibilidades de atuação, o neuropsicólogo é legítimo a se inserir
atuando no esporte, onde pode executar avaliação neuropsicológica, oferecendo
estratégias objetivas e possibilitando acompanhar as possibilidades de
comprometimentos cognitivos em casos de concussão aguda (BOLETIM DA SBNP -
ATUALIDADES EM NEUROPSICOLOGIA DO ESPORTE, 2019). Consoante a isso,
numa perspectiva não clínica, avaliar funções cognitivas superiores contribui em
identificar novos talentos esportivos. Para além, possibilita compreender melhor o
perfil cognitivo dos atletas (BOLETIM DA SBNP - ATUALIDADES EM
NEUROPSICOLOGIA DO ESPORTE, 2019).
Em um contexto hospitalar, o neuropsicólogo pode atuar em regime
ambulatorial, se colocando em seus serviços clínicos e investigativos (SANTOS,
2015). Faz uso de exames clínicos os quais avaliam funções superiores e
desenvolvem protocolos e programas de reabilitação junto ao cliente com lesão
cerebral, e os profissionais dos quais o serviço dispõe (SANTOS, 2015).
A reabilitação neuropsicológica configura uma abordagem de tratamento com
foco a recuperar uma função cognitiva que apresente declínio ou falhas, ou então,
tentar adaptar o cliente aos déficits cognitivos (HAASE et al., 2012). Na reabilitação,
os profissionais desenvolvem estratégias para o cliente e para os familiares, buscando
amenizar, reduzir, que sejam funcionais e adaptativas frente às dificuldades
apresentadas na convivência de déficits cognitivos adquiridos resultantes de alguma
lesão neurológica ou neuropsiquiátrica (CFP, 2004; HAASE et al., 2012).
As avaliações neuropsicológicas têm por suas características mensurar e
mapear a cognição do sujeito avaliado, processos mentais como atenção, habilidade
visuoespaciais, memória, linguagem, etc. (FIGUEIREDO FRAGA, 2018). Neste
processo, o avaliador deve ter bases teóricas amplas e uma prática que envolva
raciocínio clínico minucioso, com o objetivo de identificar alguma alteração
comportamental devido às disfunções neurológicas, às lesões neuronais ou ao
transtorno do desenvolvimento (MICHALICK-TRIGINELL, 2018).
Na população idosa, a diminuição ou perda do status funcional (vestir-se, tomar
banho, transferir-se no ambiente e realizar atividades instrumentais) tem forte
associação com mais uso dos serviços de saúde, alojamento e isolamento em
34

instituições. Dessa forma, uma boa avaliação é importante para planejar uma
intervenção nos reajustes de funcionalidade para qualidade de vida entre idosos
(SANVEZZO; MONTANDON; ESTEVES, 2018).
São notórias as amplas possibilidades de atuação do neuropsicólogo, tendo
em vista que as contribuições, com avaliações e planejamentos de estratégias para
desenvolver melhor o desempenho cognitivo e funcional, adentram em vários
contextos, como os mencionados neste capítulo (BOLETIM DA SBNP -
ATUALIDADES EM NEUROPSICOLOGIA DO ESPORTE, 2019). Portanto, nos
próximos capítulos, são descritos conceitos teóricos, práticas e ferramentas do
neuropsicólogo, lidando com os TNCs.
35

5 INTERVENÇÕES E ATUAÇÃO DO NEUROPSICÓLOGO

O Transtorno Neurocognitivo (TNC), mais conhecido por demência, é uma


doença heterogênea, ou seja, não possui uma única natureza, sendo a evolução da
patologia a deterioração funcional progressiva, que compromete as funções cognitivas
de memória, orientação, compreensão, linguagem (COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA
CLÍNICA, 2020). A demência se enquadra em um grau maior do transtorno
neurocognitivo e pode ser causada por diversas doenças de curso lento, progressivo,
evolutivo, de caráter crônico e que afeta funções cognitivas, impactando na autonomia
do sujeito (BURLÁ, 2015).
Por ser de natureza crônica, progressiva e irreversível, o TNC maior tem
impacto não apenas na vida do indivíduo que apresenta a patologia, mas na vida de
todos aqueles que estão à sua volta, como os cuidadores e a família (MATTOS;
KOVACS, 2020). Em alguns contextos culturais e socioeconômicos, a perda de
memória é vista como algo normal que acompanha o envelhecimento, e, nisso, a
identificação do transtorno neurocognitivo pode ser mais difícil e tardia (DSM V, 2014).
Na doença de Alzheimer, com o desenvolvimento dos sintomas para a fase
maior, cuidados especiais de outras pessoas surgem como uma forte demanda no
processo, sendo os cuidadores os responsáveis por desempenhar tal papel, estes
podem ser formais (profissional remunerado pela prestação do serviço) ou informais
(um familiar ou amigo próximo) (MARIGLIANO et al., 2015). A responsabilização pelos
cuidados ao paciente está conecta às relações de parentesco dele, bem como os
vínculos familiares e a proximidade física/afetiva (SILVA, 2012).
Ademais, a população idosa mundial tem crescido muito nos últimos anos
devido a maior expectativa de vida. Consoante a esse fenômeno, o número de casos
de idosos com doenças crônico-degenerativas torna-se cada vez maior,
especialmente com a doença de Alzheimer (DA) (DADALTO; CAVALCANTE, 2021).
A idade avançada configura-se como o maior fator de risco para a incidência da
doença, mas também há a relação existente por suscetibilidade genética ou alguma
lesão traumática que possa a vir a desencadear o aumento do risco (DSM V, 2014).
A progressão de um transtorno neurocognitivo para a fase maior implica
maiores cuidados e atenção, havendo a necessidade de uma equipe multiprofissional
36

capaz de trabalhar interdisciplinarmente, considerando tanto o paciente de maneira


integral como os familiares e cuidadores, além de que, a depender da etiologia do
transtorno, o tratamento pode contemplar medidas farmacológicas e não-
farmacológicas (PESSOA et al., 2016). Todas as implicações de um TNC maior, como
por exemplo na DA, geram mudanças na rotina doméstica, uma vez que os impactos
não são limitados somente na esfera psicossocial, mas também na socioeconômica,
de modo que retroage na atividade social da família (PESSOA, 2019).
O trabalho do psicólogo no contexto da Neuropsicologia tem interseções com
muitas áreas de conhecimento, estando a atuação desse profissional respaldada pelo
olhar da interdisciplinaridade, abrangendo espaços de pesquisa (instituições de
ensino), de prevenção, de avaliação (diagnóstico de funções cognitivas e funções
deficitárias) e de reabilitação neuropsicológica (HAASE et al., 2012). O neuropsicólogo
faz uso de instrumentos padronizados no processo diagnóstico e de avaliação das
funções neuropsicológicas, como também possui saberes teóricos alicerçados nos
estudos das neurociências e da prática clínica (CFP, 2004).
Para diagnosticar um transtorno neurocognitivo maior é necessário ao menos
a apresentação de indicativos de declínio cognitivo importante, de modo que interfira
na autonomia do sujeito em realizar sozinho atividades cotidianas mais complexas,
precisando constantemente de ajuda (BURLÁ, 2015). Mesmo que a idade avançada
seja um fator de risco, isoladamente, ela não é a principal causa, pois, vários outros
fatores podem estar associados, como a hipertensão arterial, a diabetes mellitus, a
depressão e os baixos níveis de vitamina D, considerada esta última um fator
modificável (SANTOS; BESSA; XAVIER, 2020).
De modo didático, dividir-se-á em 03 (três) tópicos para melhor compreensão
do que será abordado sobre como o profissional neuropsicólogo realiza a avaliação
neuropsicológica em casos de demenciais, como ocorre o processo de reabilitação e
quais alternativas preventivas podem ser tomadas.

5.1 Avaliação Neuropsicológica

A avaliação compõe-se em testes, dentre eles, os psicométricos e outros que


condicionam o avaliado a realizar tarefas que necessitam da utilização de funções
37

isoladas. Interpretar os resultados perpassa por análise quantitativa e, com mais


afinco, qualitativa das execuções dos testes (FIGUEIREDO FRAGA, 2018). O
procedimento de avaliação inicia-se a partir da anamnese, pela qual se investiga
aspectos, como o grau de escolaridade, antecedentes familiares, trabalho e o histórico
de doenças. Estes parâmetros têm utilidade para compreensão dos impactos
cognitivos do adoecimento neurológico (FIGUEIREDO FRAGA, 2018).
Em clientes com suspeita de comprometimento cognitivo leve, na avaliação
psicológica, se busca em anamnese coletar dados do cliente referente ao início dos
sintomas e à evolução destes ao decorrer do tempo (FUENTES et al., 2008). Diferente
de uma pessoa com funcionalidade normal, a piora ou as mudanças nas funções
cognitivas do idoso podem sugerir CCL, mesmo sem grandes perdas funcionais
(FUENTES et al., 2008). Ao examinar pacientes idosos com sinais de CCL, Transtorno
Neurocognitivo Maior, é preciso ter equilíbrio entre a bateria de testes utilizada pelo
profissional, as funções cognitivas em questão, as limitações e as capacidades do
paciente, suas características particulares, a disponibilidade para realizar os exames
e o teste da hipótese diagnóstica (FUENTES et al., 2008).
As técnicas de neuroimagem podem ser úteis no manejo clínico das demências
em geral, analisar e estudar as estruturas do cérebro têm um papel importante para o
diagnóstico e a elaboração de estratégias para o tratamento (PHILIPE; BARROS,
2017). A ressonância magnética é uma das ferramentas de neuroimagem com mais
eficiência, além de ser um método não invasivo, é capaz de entregar imagens
detalhadas, favorecendo as condições de análises de diagnóstico diferencial
(PHILIPE; BARROS, 2017).
Adicionalmente, para o diagnóstico de provável Alzheimer, é necessário
identificar um comprometimento na memória, a avaliação dessa função pode ser
realizada com instrumentos neuropsicológicos válidos (FIGUEIREDO FRAGA, 2018).
As áreas mais afetadas no início da DA são o hipocampo e o córtex entorrinal, os
quais têm função direta nos processos de armazenamento de memória, e com o
avanço da doença, outros circuitos em declínio de funcionamento vão caracterizar o
TNC maior (ISQUIERDO, 2013). Para avaliar a memória imediata, pode-se utilizar
repetição de letras, palavras ou números, e na memória remota (longo prazo), o
terapeuta pede para o cliente relatar eventos históricos e marcantes de sua vida
(FIGUEIREDO FRAGA, 2018).
38

A memória se constrói enquanto o sujeito experimenta sua vida, e permite que


este tenha uma história única, pois afeta sua vida em diversas facetas, como a forma
como pensamos, como reagem nossos sentidos e nos comportamos (PROVENSI et
al., 2018). Para ampliar a compreensão dos tipos de memória que podem ser
avaliadas, a seguir são descritos quatro tipos delas dentro da classificação em suas
estruturas neurais: as memórias de trabalho, episódica, semântica e de procedimento
(GUIMARÃES, 2018).
As memórias de trabalho se passam pela atividade de hipocampo e córtex
entorrinal, além delas a amígdala e o córtex pré-frontal têm um papel importante na
aquisição e na evocação de memória, quando ouvimos uma instrução e a colocamos
em prática, por exemplo (ISQUIERDO, 2013). As memórias episódicas são o processo
de lembrar de algo em determinado contexto e momento, como lembrar o que foi feito
ontem pela manhã em seu trabalho, e também se passa por mecanismos no
hipocampo, no córtex entorrinal e perirrinal (GUIMARÃES, 2018).
As memórias semânticas são as de aprendizagem e linguagem, nelas se
armazenam os conteúdos e os significados sobre o mundo e o próprio sujeito, tendo
o hemisfério esquerdo e o inferior do lobo temporal como principais responsáveis
(GUIMARÃES, 2018). Nas memórias de procedimentos sua evocação é implícita,
como digitar em um notebook sem precisar olhar as sequencias das teclas, o cerebelo,
os gânglios da base e os sistemas motores sensoriais específicos das atividades
praticadas são os principais envolvidos nesse tipo de memória (GUIMARÃES, 2018).
Dentre os neurônios mais afetados em DA, os responsáveis no funcionamento
da memória e das funções motoras são comumente os mais envolvidos, e o glutamato
(principal neurotransmissor da memória) tem uma perda progressiva de sinapse, a
qual se deve pela deposição de placas amiloides extracelulares (FERREIRA, 2016).
Entre as ferramentas de testagem neuropsicológica possíveis, pode-se citar
algumas como a ADAS, composta por 21 itens (GORENSTEIN, 2016). O instrumento
é dividido em duas partes, tendo um total de 120 pontos de escore: a parte cognitiva
(ADAS-Cog), composta por itens de 1 a 11, e 70 pontos de escore total, e a parte não
cognitiva, a qual possibilita avaliar distúrbios comportamentais, incluindo itens de 12
a 21, e 50 pontos de escore total (GORENSTEIN, 2016). A aplicação é feita entre 30
a 45 minutos, considerando o grau do transtorno neurocognitivo, sendo possível
avaliar, principalmente, as áreas cognitivas em memória, linguagem, comandos e
39

praxia, considerando uma relação inversamente proporcional nos resultados, quanto


maior o escore, o desempenho cognitivo é considerado ruim (GORENSTEIN, 2016).
O público-alvo do ADAS-Cog é direcionado ao uso como método de avaliação
clínica dos transtornos neurocognitivos (GORENSTEIN, 2016). O ADAS-Cog pode ser
utilizado para detectar precocemente a demência como também seu
desenvolvimento, contribuindo com a documentação e a confirmação de suspeitas e
hipóteses ao exame clínico (GORENSTEIN, 2016). O teste não tem uma
administração complexa, tem uma média de tempo curto, poder estatístico e com
simplicidade na aplicação (GORENSTEIN, 2016).
Na aplicação, precede uma conversa não estruturada e aberta, objetivando
avaliar as expressões e as recepções de linguagem (GORENSTEIN, 2016). Após o
término da aplicação, são dados os resultados da aplicação, com resultados obtidos
em competências de: problemas em encontrar palavras na fala espontânea e na
compreensão, habilidade em linguagem falada (GORENSTEIN, 2016).
Ademais, o Miniexame do Estado Mental compõe-se em uma bateria de 20
testes, com um total de 30 pontos, os quais permitem avaliar a orientação temporal e
espacial, a atenção e o cálculo, o registro, a memória de evocação, a repetição de
palavras, a nomeação de objetos, o comando de estágios, a leitura, a escrita, a cópia
de desenho e execução (FALCÃO et al., 2019). O teste tem uma adaptação de escore
para diferentes graus de escolaridade, bem como modificações adaptativas para
pessoas com comprometimento sensorial, auditivo ou visuais (GORENSTEIN, 2016).
Podem ser observados alguns itens a seguir:
● Orientação. (1 ponto para cada resposta correta) – Na orientação temporal,
pergunta-se o ano, estação, dia da semana, dia do mês, e o mês daquele
momento. Na orientação Espacial, pergunta-se sobre o país, Estado, cidade,
rua/local e Andar de onde estamos (UFRJ, [s/d]).
● Registro. Dizer três palavras: Pente, rua, azul (1 ponto por palavra lembrada na
primeira vez) – solicita atenção do paciente ao dizer as palavras, em seguida,
ele terá que as repetir (UFRJ, [s/d]).
● Atenção e cálculo. (Pontos de 0 a 5) - Solicita ao paciente fazer um cálculo de
subtrações seriadas, a partir de 100-7, até chegar na quinta subtração. Caso
não tenha êxito na segunda tentativa, solicita que o paciente soletre a palavra
MUNDO de trás para frente (UFRJ, resumo clínico, [s/d]).
40

A Escala de Avaliação Clínica da Demência, na sigla inglesa CDR, incorpora-


se com um protocolo clínico de entrevistas semiestruturadas direcionadas ao paciente
e ao informante, objetivando a obtenção de informações suficientes para a avaliação
do desempenho cognitivo em seis domínios: orientação, memória, solução de
problemas e julgamento, passatempos, atividades na comunidade, lar e cuidados
pessoais (GORENSTEIN, 2016).
Os domínios são avaliados em cinco escores de comprometimento: 0 para
nenhum comprometimento, 0,5 para questionável, 1 para leve, 2 para moderado e 3
para comprometimento cognitivo grave (GORENSTEIN, 2016). O domínio de cuidado
pessoal é uma exceção, que é avaliado em escala de 4 pontos, assim, não existe o
escore 0,5. Mesmo utilizando as orientações de aplicação protocoladas para verificar
o declínio do desempenho, a interpretação clínica é fundamental para determinar o
melhor nível para cada domínio (GORENSTEIN, 2016).
A escala de Lawton tem sido a escala mais utilizada em avaliação de Atividades
Instrumentais de Vida Diária (AIVD), a qual é atribuída como instrumento para avaliar
a funcionalidade (ISIK et al., 2020)

[A] Em relação ao uso de telefone: 3 = [E] Em relação ao trabalho doméstico 3


recebe e faz ligações sem assistência 2 = realiza tarefas pesadas 2 = realiza
= necessita de assistência para realizar tarefas leves, precisando de ajuda nas
ligações telefônicas 1 = não tem o hábito pesadas 1 = não tem o hábito ou é
ou é incapaz de usar o telefone incapaz de realizar trabalhos domésticos

[B] Em relação às viagens: 3 = realiza [F] Em relação ao uso de medicamentos


viagens sozinho 2 = somente viaja 3 = faz uso de medicamentos sem
quando tem companhia 1 = não tem o assistência 2 = necessita de lembretes
hábito ou é incapaz de usar de viajar ou de assistência 1 = é incapaz de
controlar sozinho o uso de
medicamentos

[C] Em relação à realização de compras: [G] Em relação ao manuseio de dinheiro


3 = realiza compras quando é fornecido 3 = paga contas sem auxílio 2 =
transporte 2 = somente faz compras necessita de assistência para o pagar
quando tem companhia 1 = não tem o contas 1 = não tem o hábito de lidar com
hábito ou é incapaz de realizar compras dinheiro ou é incapaz de manusear
dinheiro, contas

[D] Em relação ao preparo de refeições


3 = planeja e cozinha as refeições
completas 2 = prepara somente
refeições pequenas ou quando tem
41

ajuda 1 = não tem o hábito ou é incapaz


de preparar refeições Pontuação Total: ___________
Quadro 7: Escala para avaliação das incapacidades nas AIVDs, desenvolvida por Lawton e Brody e
adaptada ao contexto brasileiro.
Fonte: Santos & Virtuoso Junior (2008).

Nota-se que a avaliação neuropsicológica abrange um olhar clínico minucioso


aos relatos e à evolução de sinais e sintomas do paciente (FIGUEIREDO FRAGA,
2018). Ao se tratar de suspeita ou provável DA, é preciso avaliar amplamente as
funções de memória e motoras, considerando-os como os principais domínios
afetados neste quadro, mas também utilizar de ferramentas que avaliem e outras
funções cognitivas e funcionais (FERREIRA, 2016).

5.2 Processo de Reabilitação

A avaliação neuropsicológica precede o plano de reabilitação, esta consiste em


um processo de investigação que engloba a formulação de hipóteses após a
realização da anamnese, considerando as particularidades do indivíduo e os aspectos
do quadro clínico deste, para que assim sejam definidos instrumentos e
procedimentos propícios para o caso (CADERNO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA,
2016). Ademais, a intervenção deve ser multidisciplinar, farmacológica e não-
farmacológica, estes são complementares no manejo dos sintomas
neuropsiquiátricos, podendo incluir psicoeducação do cuidador, terapia de apoio,
modificação do entorno domiciliar para adaptação do nível da funcionalidade do
paciente, correção de deficiências sensoriais, atividades físicas, recreativas e
ocupacionais supervisionadas (COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA CLÍNICA, 2020).
No TNC maior causado por doença de Alzheimer, a reabilitação
neuropsicológica e a psicoterapia também são alternativas de intervenção
neuropsicológicas complementares, sendo a primeira focada em procedimentos e
métodos de tratamento das disfunções cognitivas, comportamentais e emocionais,
enquanto que a segunda visa possibilitar acolhimento, orientação e auxílio diante de
todas as mudanças biopsicossociais implicadas no adoecimento (SILVA; SOUZA,
2018).
42

Na reabilitação neuropsicológica, junto ao paciente, o profissional busca


proporcionar uma melhor qualidade de vida e bem-estar para o sujeito, bem como a
otimização das funções cognitivas que se encontram ainda preservadas, para assim
possibilitar um nível satisfatório do funcionamento cerebral e a possível utilização de
recursos cognitivos para a aplicação em tarefas do dia a dia do paciente (SILVA;
SOUZA, 2018). A melhora da reserva cognitiva tem tido uma importante influência
para a redução de desenvolvimento para DA. Segundo Livingston et al. (2017), em
adultos mais velhos sem demências, o aumento das atividades cognitivas em 1 ponto
implicou na redução de 33% de risco de DA. Esses estudos mostram que a
intervenção cognitiva, junto a outros fatores que envolvem a saúde do paciente, pode
ser estratégia de intervenção e de estudos para os próximos anos.
Apesar do crescimento em números de pessoas idosas no mundo, as
intervenções para o tratamento ainda se limitam ao retardamento da progressão da
doença e contribui na preservação das funções cognitivas (KIM et al., 2021). O
tratamento medicamentoso mais usual envolve inibidores da colinesterase
(donepezila) e memantina (N- metil- D- aspartato) (KIM et al., 2021). As estratégias
utilizadas pelo neuropsicólogo devem suceder uma avaliação das habilidades e das
dificuldades do cliente, as quais são importantes para ele e para os seus cuidadores
no dia a dia (GERMAIN et al., 2018)
Entre as atividades mais usuais que podem ser adaptadas, pode-se utilizar o
desenvolvedor de auxiliares de memória como uma agenda, notas para recordar suas
tarefas, calendário e compromissos diários, afazeres na cozinha, utilização de
dispositivos eletrônicos, ou adaptação de tecnologias de comunicação (GERMAIN et
al., 2018).
A Reabilitação cognitiva é uma possibilidade dentro da reabilitação
neuropsicológica, dentre suas estratégias, a utilização da música mostra bons
resultados para a estimulação da cognição (CAMPOS, 2019). A música envolve-se
com o sujeito em sua percepção, cognição, córtex motor, áreas corticais e subcorticais
implicadas em reações emocionais (CAMPOS, 2019). A seguir, vê-se um protocolo
de estimulação cognitiva no Quadro 8, o qual pode ser aplicado em média de 30
minutos, em uma sessão.
43

FUNÇÃO COGNITIVA DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE


ESTIMULADA

MEMÓRIA Inicialmente, mostrar o som de 04 instrumentos


musicais diferentes. Ao final da atividade, a
pessoa terá que identificar o nome do
instrumento que produz e o som característico.

FUNÇÕES EXECUTIVAS O paciente deverá realizar o movimento que a


música que está tocando no momento
demandar.

MEMÓRIA, ATENÇÃO E Ouvir trecho de uma música (escolhido, de


LINGUAGEM acordo com a história de vida da pessoa).
Posteriormente, o paciente deverá cantarolar a
parte que falta.

INTELIGÊNCIA E ATENÇÃO Identificar, no conjunto de várias palavras,


aquela que está errada, que não completa a
parte que falta na música

ATENÇÃO E FUNÇÕES Com controle de tempo, reproduzir o som, com


EXECUTIVAS marcação musical, feito com as palmas das
mãos batidas entre si, nos braços, tronco e
pernas.

MEMÓRIA, FUNÇÕES Ouvir uma estrofe de uma letra de música e


EXECUTIVAS E LINGUAGEM cantar acompanhando. Reproduzir sem
acompanhamento a estrofe cantada
anteriormente

ATENÇÃO E MEMÓRIA Identificar, no conjunto de várias palavras,


aquela que está errada ou não existe na letra da
música

MEMÓRIA, ATENÇÃO E Ouvir atentamente uma canção, dividida em


LINGUAGEM estrofes. Cantarolar cada estrofe parcialmente.
Cantarolar a canção completa.

ATENÇÃO, INTELIGÊNCIA E Fechar os olhos e identificar cada som


MEMÓRIA apresentado. Apresentar sons diversos (chuva,
pássaros, mar, chama de fogo, vento...)
Quadro 8: Protocolo de estimulação cognitiva utilizando música.
Fonte: Campos (2019).

A terapia não farmacológica SAIDO Learning demonstra validade e eficácia em


estudos recentes, como o de Laduke (2020). Trata-se de um processo de
aprendizagem, o qual estimula áreas cognitivas importantes que geralmente declinam
44

em transtornos neurocognitivos com o uso da escrita, aritmética, leitura, contagem


recepção e elogios (LADUKE, 2020).
No mesmo estudo, pacientes submetidos a terapia SAIDO learning durante seis
meses, com 1 sessão por dia e 5 dias por semana, tiveram um declínio médio reduzido
nos escores do Miniexame do Estado Mental (MEEM), comparados ao de grupo
controle, em 0,6 e 1,7, respectivamente (LADUKE, 2020). Para o autor do estudo, os
resultados são favoráveis às estratégias de treino cognitivo utilizando da terapia em
casos de demências.
A considerar sua complexidade, reabilitar o sujeito em suas funções
neuropsicológicas envolve um trabalho multidisciplinar, podendo incluir
medicamentos, acompanhamentos periódicos com avaliações e implementação de
atividades estimulantes à cognição e às funções executivas (SILVA; SOUZA, 2018).
Manejar os sintomas do cliente com TNCs inclui trabalhar estratégias para a sua rotina
e orientar seus cuidadores, buscando desacelerar a evolução negativa do quadro
(COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA CLÍNICA, 2020).

5.3 Alternativas de Prevenção

O processo que envolve o tratar no TNC maior não resulta uma cura, visto que
em sua maioria são doenças neurodegenerativas que acometem grande parcela da
população idosa, mas ainda assim há a possibilidade de retardar o declínio das
funções cognitivas e, consequentemente, dificultar o desenvolvimento do transtorno,
visando a uma prevenção deste (ASSUNÇÃO; CHARIGLIONE, 2020). Há fatores de
risco modificáveis e não modificáveis, sobretudo na doença de Alzheimer, que é o
TNC com mais números de casos mundialmente, sendo que o uso de estratégias de
prevenção rege às intervenções desde cedo nos fatores modificáveis (SANTOS;
BESSA; XAVIER, 2020).
Alguns autores abordam sobre o estado nutricional, enfocando sobre uma
alimentação mais saudável e possíveis nutrientes que possam vir a auxiliar na
redução do risco de demência, como, por exemplo, a vitamina C, D, E, complexo B,
ômega 3, zinco, fibras, ferro, selênio (BIGUETI; LELLIS; DIAS, 2018). Ter uma
alimentação considerada saudável desde o nascimento não anula a possibilidade do
45

desenvolvimento do TNC na velhice, no entanto, a longo prazo ajuda na proteção dos


neurônios (CORREIA et al., 2015). Em referência à nutrição do indivíduo, essa se
apresenta como um fator de risco modificável, os estudos nessa área estão voltados
para a atuação dos nutrientes e os componentes bioativos (BIGUETI; LELLIS; DIAS,
2018). Ademais, a vitamina D vem ganhando destaque ultimamente, pois está
associada ao funcionamento cerebral, bem como na neuro proteção, a deficiência
desse nutriente no organismo tem fortes indicadores de maior prevalência em
indivíduos com demência, vindo a ser um fator de risco, que é também modificável
(OLIVEIRA et al., 2017).
Ainda sobre a vitamina D, os estudos não esclarecem de maneira precisa ainda
se a demência afeta a concentração do nutriente, levando a baixos níveis ou se o
déficit da vitamina D já ocorre antes do início da doença (BIGUETI; LELLIS; DIAS,
2018). É válido ressaltar que a deficiência da vitamina em questão não é um elemento
determinante para o sujeito vir a desenvolver demência, é somente um fator
modificável marcado pela suscetibilidade, mas que ainda assim é relevante pensar
como um possível mecanismo de intervenção preventiva (SANTOS; BESSA; XAVIER,
2020). O desenvolvimento de um transtorno neurocognitivo maior possui natureza
multifatorial, não basta analisar apenas um fator para identificar e diagnosticar qual
patologia está agindo, muitos dos fatores têm base, tanto no estilo de vida como na
dieta que o indivíduo leva ao decorrer do tempo (COCHAR-SOARES; DELINOCENTI;
DATI, 2021).
Outras estratégias interventivas podem ser pensadas a partir do viés da
prevenção, muito se discute acerca da prática dos exercícios físicos e de quais efeitos
podem ter na limitação funcional/dependência nas atividades de vida diária, no
equilíbrio e na mobilidade do idoso, uma vez que este quando tem a demência perde
a autonomia de outrora ao realizar as tarefas cotidianas (COSTA, 2017). Os exercícios
físicos proporcionam benefícios e melhora no funcionamento físico do sujeito, como
também auxiliam na melhora da limitação funcional e no equilíbrio, de modo que
minimizam as complicações ocasionadas pelo declínio cognitivo e funcional
(ASSUNÇÃO; CHARIGLIONE, 2020).
Pessoas que manifestam ao longo do tempo um transtorno neurocognitivo
maior, seja por doença degenerativa ou não degenerativa, optam pela mudança de
hábitos mais saudáveis, pois a longo prazo ações preventivas são uma boa forma de
tratamento para uma doença de base já instalada (GONÇALVES et al., 2020). Os
46

benefícios provenientes da atividade física para o cérebro são muito importantes, pois
agem tanto no funcionamento motor como no cognitivo, auxiliando na mobilidade, na
redução do estresse, na prevenção do aparecimento de doenças crônicas, e
englobam também o melhoramento do humor, bem como no aumento da motivação,
que de certa forma ajudam na neuroplasticidade (LIMA, 2021).
Nos últimos anos, tem-se falado acerca da ginástica cerebral como um bom
aliado na prevenção demencial, que diz respeito ao uso de jogos com fins
terapêuticos, abarcando em seu repertório atividades eletrônicas que agem
proporcionando alterações distintas nas áreas corticais, promovendo o dinamismo e
a potencialização dos domínios cognitivos (CHAGAS, 2019). Entretanto, há muitas
controvérsias no meio cientifico, uma vez que não há evidências suficientes que
comprovem que tais benefícios previnam a demência, podem diminuir a possibilidade
de desenvolvimento, mas é importante ressaltar que transtornos neurocognitivos têm
caráter multifatorial (SANTOS; BESSA; XAVIER, 2020).
A estimulação cerebral decorrida da ginástica cerebral pode sim ser precisa na
evitação de agravos e na promoção de uma melhor qualidade de vida, porém, muitas
empresas usam dessa ‘ideia’ de que a ginástica cerebral é uma ferramenta que
objetiva a uma estimulação cerebral, a qual leva a um melhor desempenho cognitivo
e, consequentemente, age evitando o avanço de doenças que comprometam funções
cognitivas, no entanto, as pesquisas voltadas a essa abordagem ainda estão em
processo de ampliação (CHAGAS, 2019). Alguns dos procedimentos abarcam
atividades que envolvam ação, estratégia, quebra-cabeça e jogos “sociais”,
respectivamente, cada um desses gêneros ajuda na cognição, na flexibilização
mental, na destreza espacial e na resolução de problemas e, por fim, no
beneficiamento das relações interpessoais estabelecidas (BAVELIER; GREEN,
2016).
O processo de envelhecimento acompanha várias mudanças, é uma fase que
há a manifestação de alterações cognitivas, especialmente a memória, tornando os
esquecimentos muito frequentes e vistos como ‘comuns’ à velhice (COCHAR-
SOARES; DELINOCENTI; DATI, 2021). Há estudos que abordam possíveis ações
interventivas que possam amenizar o declínio da função cognitiva (CHARIGLIONE;
JANCZURA, 2013). Algumas pesquisas sugerem métodos de intervenções variados,
como, por exemplo, o uso de tablet como uma ferramenta específica para treino da
memória em idosos, jogos eletrônicos como uma forte opção que contribui no
47

desempenho de multitarefas, como também a prática acarreta melhorias nas funções


mentais (ZIMMER; MARCHI; COLUSSI, 2017).
Como a cognição fica comprometida com o avanço da idade, o treinamento
cognitivo torna-se pertinente devido às suas atividades serem voltadas para a
estimulação do cérebro, de modo que influenciam a plasticidade neuronal, a qual é
responsável na recuperação de funções (PESSINI et al., 2018). É importante citar que
a estimulação cognitiva está relacionada com a diminuição do risco de declínio
cognitivo, sendo que algumas intervenções englobam técnicas de memorização,
relaxamento e atenção, que podem ter efeito positivo para o idoso (CHARIGLIONE;
JANCZURA, 2013). De modo geral, o treino cognitivo se enquadra como uma
estratégia não farmacológica muito interessante na atenuação dos impactos oriundos
do envelhecimento (GOLINO; FLORES-MENDOZA, 2016).
Ainda que todas essas alternativas apresentadas anteriormente possuam bons
resultados, é relevante levar em consideração que mesmo utilizando destas não é
garantido imunidade ao desenvolvimento de um transtorno neurocognitivo, pois os
fatores são variados e não serão todos os casos em que o agente etiológico será o
mesmo, uma vez que pode ser tanto por uma doença degenerativa ou não
degenerativa (DALGALARRONDO, 2008). A longo prazo, pode-se diminuir
consideravelmente a probabilidade de risco, mas é interessante notar que pesquisas
no ramo dos transtornos neurocognitivos ainda estão em andamento, não há uma cura
para recuperação de funções cognitivas, o comprometimento é irreversível, no entanto
pensar numa prevenção auxilia no processo de diminuição do agravamento do
declínio (COCHAR-SOARES; DELINOCENTI; DATI, 2021).
Dessa forma, entende-se que as medidas de prevenção adotadas ao longo da
vida possuem variados benefícios para o sujeito, no entanto, no transtorno
neurocognitivo não se configura como uma garantia ao não surgimento da patologia,
devido a seus fatores de risco não modificáveis, mas que possivelmente ajuda no
retardamento do declínio cognitivo (ASSUNÇÃO; CHARIGLIONE, 2020). No mais, é
preponderante entender quais causas originam o TNC e como ocorre o processo para
o estágio maior, como também quais os impactos podem ser advindos com a
manifestação deste.
48

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o aumento da expectativa de vida devido ao avanço de


tecnologias e pesquisas nos serviços de saúde, o envelhecimento populacional vem
se tornando um fenômeno contundente na sociedade atual, o qual está atrelado à
ampliação de casos relacionados à demência. O campo da Neuropsicologia
juntamente ao das neurociências contribuem para um melhor entendimento da
interação entre cognição e comportamento, buscando entender através da atividade
cerebral as particularidades que envolvem as funções cognitivas em associação ao
comportamento.
Compreender os critérios envolvidos no desenvolvimento de um TNC maior é
essencial para o profissional neuropsicólogo, visto que para a realização de um
diagnóstico preciso e fidedigno demanda conhecimentos acerca do funcionamento
cognitivo, de como prováveis alterações resultam em comprometimento em um ou em
mais domínios, para assim pensar estratégias de intervenção objetivando a
lentificação do declínio, de modo a dificultar o rápido progresso deste.
Com foco em casos de DA, o uso de instrumentos específicos pelo profissional
torna-se pertinente, tanto no processo de avaliação neuropsicológica quanto no de
reabilitação, sendo estas duas grandes áreas de intervenção da Neuropsicologia.
Estar a par das consequências que alterações cognitivas têm no comportamento
humano se faz necessário para identificar e traçar quais impactos e adversidades
podem vir a gerar na vida do indivíduo e daqueles que fazem parte do seu círculo
social.
Nota-se que estudos voltados para a Neurociência e a Neurologia se
encontram em abundância nas mais diversas bases de dados, entretanto, os que
focam numa perspectiva mais neuropsicológica são um tanto escassos, e, em sua
maioria, discutem acerca dos processos cognitivos e do funcionamento cerebral.
Artigos científicos que abordem sobre a atuação do neuropsicólogo de forma mais
detalhada em solo nacional e o uso de ferramentas orientadas para o diagnóstico das
demências são mínimos e alguns não tão recentes, além de que muitos possuem
acesso restrito, no que tange aos materiais da prática do profissional, como, por
49

exemplo, testes e escalas traduzidas e adaptadas para o Brasil, configurando-se


como uma das limitações na produção deste trabalho.
Transtornos Neurocognitivos Maior ou, então, demências, possivelmente,
serão cada vez mais diagnosticadas no mundo, tendo em vista o crescimento da
população idosa, bem como os avanços no processo de diagnóstico acompanhado
de medidas interventivas para o tratamento e a prevenção desses transtornos. No
mais, é importante que a Neuropsicologia se desenvolva junto com as atualizações
neurocientíficas, em especial os estudos que envolvem a cognição, os aspectos
funcionais e a saúde mental. Nessa perspectiva, pode-se considerar estudos de
possíveis novas etiologias para os transtornos neurocognitivos, como a infecção por
Sars-CoV-2 e as suas variantes.
50

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ANEXO A - TERMO DE RESPONSABILIDADE DO REVISOR


DE LÍNGUA PORTUGUESA
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ANEXO B - DOCUMENTO COMPROBATÓRIO DE


HABILIDADE COM A LÍNGUA PORTUGUESA
59

ANEXO C - TERMO DE RESPONSABILIDADE DO


TRADUTOR
60

ANEXO D - DOCUMENTO COMPROBATÓRIO DE


HABILIDADE COM A LÍNGUA ESTRANGEIRA

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