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Bioquímica

Aula 1: 08/02/18
Ph, água, tampão, titulação e aminoácidos.

1. Estabilidade de átomos

 Átomos se unem para formar moléculas porque necessitam de estabilidade.


Assim, eles se mantêm em equilíbrio no meio em que estão inseridos.
 É imprescindível considerar o meio (contexto) em que se insere a molécula,
pois o meio é seu espelho: se as moléculas se modificam, o meio se modifica e
vice-versa.
 Para controlar o meio, é necessário controlar suas variáveis (temperatura,
pressão, etc) para que as moléculas não se comportem de maneira atípica e
fiquem sempre em equilíbrio.
Exemplo: Temperatura alta  Proteínas e enzimas se desnaturam, mudando sua
conformação e causando um desequilíbrio em uma rota metabólica.

2. Potencial Hidrogeniônico (PH)

pH = -log [H+]

 Mede a quantidade de prótons totais (H+) em uma solução, ou seja, mede o


MEIO e não a molécula
Cálculo de PH não cai na prova, mas sim ele na forma qualitativa!!!!!!

 A variação do ph é exponencial inversa: quanto maior é a [H+] na solução,


menor será o ph do meio.
Exemplo: o ph do estômago é 1,5 ~ 2,0, isso significa que ele possui grande
concentração de prótons H+. Já o intestino delgado, é um pouco mais básico, com ph
entre 6 e 8, dependendo da região, contendo então menos H+. O esôfago e a saliva
possuem ph 7, sendo neutros.
2.1. Escala de PH:

Quando a concentração de prótons no meio é alta, o meio é considerado ácido, ou


seja, o ph será < 7.
Quando a concentração de prótons no meio é baixa, o meio é considerado básico, ou
seja, o ph será > 7.
Quando a concentração de prótons no meio é igual (equimolar) a da base conjugada
do ácido, o meio é considerado neutro, ou seja, o ph será = 7.
Exemplo de solução neutra: dissociação da água.

H2O  H+ + OH-

H2O = forma associada

H+ e OH- = forma dissociada

Se a [H+] aumenta, a [OH-] diminui proporcionalmente.

 A água pura não altera o ph da solução, pois ao mesmo tempo que as


moléculas de água se dissociam, os íons H + e OH- se unem novamente,
formando a forma associada. Dessa forma, o sistema fica sempre em equilíbrio.
 Em uma outra solução, se adicionar íons H +, o valor de ph diminuirá e a solução
ficará mais ácida, porém no caso da água, os íons a mais de H + se associarão
com os íons OH- e irá formar H2O, mantendo-se no mesmo PH. Mesma coisa
acontece com a adição de íons OH -, o que deixaria outras soluções mais básicas
e, no caso da água, nada acontece.

2.2. PH Fisiológico

O ph fisiológico ideal é 7,4, porém pode haver variação entre 7,35 e 7,45. Existe uma
pequena variação entre o sangue venoso e arterial, que está estabelecida dentro dessa
faixa. Caso o paciente esteja com o ph fisiológico < 7,35, possui um quadro de acidose
e se estiver > 7,45, alcalose. Estes quadros, quando severos, podem levar a óbito.

3. Ácidos

Ácidos são moléculas que tendem a doar H+ no meio (definição de bronsted lowry).

AH  A- + H+
AH = ácido associado

A- = base conjugada

H+ = próton

Este sistema está em equilíbrio

Exemplos:

Se uma molécula dissociou em uma solução, ela se comportou como ácido naquele
meio específico, mas isso não significa que ela é realmente um. No laboratório não se
observa a dissociação molecular, por isso existem meios que comprovam essa
dissociação indiretamente: medição de ph antes e depois de inserir a molécula no
meio e titulação. Se o ph tiver diminuído, é realmente um ácido.
 A medição de ph pode ser feita por meio de fitas de ph e por phmetro (método
muito sensível de detecção de ph). Já a titulação é um método mais complexo
onde se visualiza valores de tampão e variação de ph.

Phmetro. Ele possui um eletrodo de


vidro extremamente sensível que
consegue medir o ph de uma solução
com muita precisão.

Agora que se sabe que essa molécula é um ácido, é necessário saber se ela é um ácido
fraco ou forte. Se essa molécula se dissociar totalmente, ela é um ácido forte (ph altera
bruscamente) e se ela não se dissociar completamente, é um ácido fraco (ph não muda
consideravelmente).

A bioquímica se interessa por ácidos fracos, pois eles são os tampões.

O que significa ph = 0? O ácido pode se dissociar neste caso?

Ao medir o ph e ter valor 0, significa que naquela solução existe 100% de H + dissociado
e 0% de A-. Caso adicione-se um ácido AH, este não se dissocia, uma vez que o ph é 0 e
o meio não permite mais dissociações.

E se adicionar base conjugada nesta solução?

Caso tenha adição de A-, o H+ vai se associar a ele e formar a forma protonada (AH),
assim, o ph vai aumentar, pois não haverá mais 100% de H +. Nessa situação, o ácido
pode se dissociar, porém como o ph aumentou, não houve dissociação, pois não houve
liberação de prótons.

O que implica o ph ter alterado?


O fato do ph ter alterado com uma quantidade de base conjugada quer dizer que o
que estava dentro da solução não impediu a modificação do meio, ou seja, não
funcionou como tampão.

Como saber se o ácido se dissociou?

Só se sabe que o ácido se dissociou consideravelmente quando o ph não se altera. Isso


quer dizer que o que está presente na solução impediu a variação do meio,
funcionando então como tampão (ácido fraco). O valor de PH que faz com que o ácido
se dissocie 50% (contendo 50% da forma ionizada e 50% da forma associada é
denominado de PKa. Na bioquímica Pk = Pka.

Em caso de comparação de dois ácidos fracos, como saber qual é o mais forte?

É só comparar os pkas. O menor pka é do ácido fraco mais forte. Exemplo: pka ácido 1:
3; pka ácido 2: 5. Neste caso, o ácido fraco mais forte é o ácido 1, pois no ph > 3 ele já
se comporta como um ácido, enquanto o ácido 2 somente tem esse comportamento
no ph > 5.

Importante: o pka de uma molécula indica o ph em que ela fica tamponada (em
equilíbrio)

PKa < 7  moléculas ácidas

PKa > 7  moléculas básicas

4. Tampão

É um mecanismo que impede variações bruscas de ph quando adiciona-se naquele


meio pequenas quantidades de ácidos ou de básicos.

Zona de tamponamento: faixa aceitável para administrar tampões em soluções já


tamponadas sem que mude bruscamente seu meio. Essa faixa precisa estar entre um
ponto abaixo ou um ponto acima do tampão referência.

 Caso Clínico:
Paciente está no hospital e é necessário administrar um medicamento que é um
ácido fraco, via endovenosa (EV), o qual não se sabe o valor do ph e do pka dele. O
que fazer nessas condições para evitar que o ph fisiológico do paciente altere de
forma brusca?

Injetar gradativamente (funciona, porém não é um método rápido) ou usar o


medicamento tamponado (associado à um tampão), pois assim impede que esse ácido
altere o ph de forma brusca e pode ser administrado de forma mais rápida. O ideal é
que este tampão administrado tenha o mesmo pka que o tampão sanguíneo (7,4),
porém se não for, tem que está numa faixa um ponto abaixo ou acima do tampão
sanguíneo (6,4 ou 8,4).

4.1. Tampão Sanguíneo Bicarbonato – Ácido Carbônico

 O ácido carbônico é o principal responsável por manter o ph do sangue em 7,4.


Porém, o pk sanguíneo é bem mais baixo que 7,4 e para que esse tampão
funcione, é necessário que haja um sistema aberto.
O principal ácido carbônico utilizado no tampão é derivado do “lixo metabólico”.
Células realizam um mecanismo de obtenção energética denominado de respiração
celular, que consiste no recebimento de uma molécula oxidável (glicose) e através de
mecanismos metabólicos a célula converte a glicose em CO 2, O2, água e energia. Como
CO2 e água não são interessantes pra célula, eles são liberados na corrente sanguínea.
No momento que o CO2 e H2O se associam, formam o ácido carbônico (H2CO3), porém
ele não é estável. Esse processo ocorre muito rápido, porque existe uma enzima que se
chama anidrase carbônica presente nas hemácias que transformam o ácido carbônico
em bicarbonato (HCO3-).

Se a [CO2] aumenta, a [H+] também aumenta, deixando o ph do sangue mais baixo e


o indivíduo entra em um quadro de acidose.

Se a [CO2] diminui, a [H+] também diminui, deixando o ph sanguíneo mais alto e o


indivíduo entra em um quadro de alcalose.

Quando acontece um desses quadros, o corpo manifesta um mecanismo de defesa:


hiperventilação ou hipoventilação. O principal responsável por manter a pressão de
CO2 estável é o pulmão, então se a [CO 2] está alta, o paciente começa a hiperventilar e
se a [CO2] está baixa, o paciente hipoventila.

Então:

[CO2]  [H+]  ACIDOSE  Hiperventilação  ALCALOSE  normalização do


tampão.

[CO2]  [H+]  ALCALOSE  Hipoventilação  ACIDOSE  normalização do


tampão.

 Caso Clínico:

Um paciente chega inconsciente no pronto socorro e você percebe que ele está
hiperventilando. Qual o possível diagnóstico? Por que a respiração dele está dessa
forma?
O paciente está com acidose. Ele está hiperventilando pois é um mecanismo de defesa
do organismo para tentar normalizar o ph sanguíneo, pois a hiperventilação procova
alcalose, provocando então um equilíbrio no sistema tampão.

O gato da vizinha está hipoventilando e a vizinha relatou que deu bicarbonato para o
gatinho depois de observar ele vomitando. Qual o diagnóstico e porque ele está
hipoventilando?

O gato está com alcalose. O tampão está tentando se normalizar, por isso o gato está
hipoventilando, uma vez que assim ele retém CO 2 e H+ e normaliza o ph e pk
sanguíneo.

 Outro órgão fundamental para o controle do pk sanguíneo são os rins, pois


esses controlam [HCO3-] e [H+]. Então se o paciente tiver uma disfunção renal
ou esteja tomando algum fármaco com efeito adverso de diurese, pode ocorrer
alteração do Ph e Pk do sangue.
 Indivíduos que tem doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) tendem a reter
CO2 com mais facilidade, então é comum essas pessoas terem acidose. Quando
a DPOC não está sendo tratada, é normal encontrar pressão de CO 2 alta e
pressão de O2 baixa, causando um quadro de acidose respiratória.

Um exame bom para ser feito é a gasometria, pois com ele dá para saber dados como
ph plasmático do paciente, concentração de bicarbonato, relação de ácido e base,
pressão de CO2 e de O2 arterial. Esse exame dá segurança para o profissional para tirar
o paciente de um respirador, por exemplo.

 Quando a pessoa está muito nervosa, ela tende a hiperventilar. Dar água para o
paciente ajuda, pois ao deglutir a água, o indivíduo não consegue respirar ao
mesmo tempo, o que retém um pouco de CO2 e cessa a hiperventilação.
 Indivíduos diabéticos podem ter um quadro agudo denominado cetoacidose.
Isso ocorre quando existe um desequilíbrio entre a formação e degradação de
corpos cetônicos. É comum esse indivíduo estar hiperventilando porque a
produção de ácidos é excessiva, assim como a [CO 2] no sangue. E com a
hiperventilação ele libera CO2 mais rápido, fazendo com que o sangue volte a
ficar com o ph 7,4.

Respirar em sacos de papel não é mais utilizado com frequência, porém ajuda a
controlar a respiração e regularizar o tampão fisiológico, pois ele torna o sistema de
respiração fechado e, ao respirar CO2, o indivíduo acalma. Porém essa técnica não é
recomendada, pois se o paciente estiver tendo uma crise asmática, ele morre.

5. Titulação e Aminoácidos

Na titulação é possível quantificar o ph de uma solução e saber o valor de tampão, ou


seja, o valor em que o ácido ou a base se dissociou 50% (AH 50% e A - 50%).

5.1. Gráfico de Curva de Titulação:

As setas vermelhas são os valores de ph que fez com que essa solução funcionasse
como tampão.

5.2. Gráfico de Titulação de Aminoácidos


Geralmente os aminoácidos possuem no mínimo dois Pk, pois sua estrutura possui no
mínimo dois grupos: grupo carboxílico e grupo amina. O grupo carboxílico é ácido e o
amina, é básico. Portanto neste gráfico o pk1 é o pk do ácido carboxílico e o pk2 é o pk
da amina. Quando o aminoácido possuir outras moléculas que se dissociam na sua
estrutura, será sempre PK3 ou pkR, independente do valor do pk.

6. Aminoácidos

Existem 20 tipos de aminoácidos.

Podem ser essenciais (advindos da dieta) e não essenciais.


Tipos de aminoácidos

NOME SIGLA CÓDONS QUE CODIFICAM


Alanina ALA GCU, GCC, GCA, GCG
Asparagina ASN AAU, AAC
Cisteína CYS UGU, UGC
Aspartato ASP GAU, GAC
Glutamato GLU GAA, GAG
Felilalanina PHE UUU, UUC
Glicina GLY GGU, GGC, GGA, GGG
Histidina HIS CAU, CAC
Isoleucina ILE AUU, AUC, AUA
Lisina LYS AAA, AAG
Leucina LEU UUA, UUG, CUU, CUC,
CUA, CUG
Metionina MET AUG  Códon de
iniciação da síntese
proteica
Prolina PRO CCU, CCC, CCA, CCG
Glutamina GLN CAA, CAG
Arginina ARG CGU, CGC, CGA, CGG,
AGA, AGC
Serina SER UCU, UCC, UCA, UCG,
AGU, AGC
Treonina THR ACU, ACC, ACA, ACG
Valina VAL GUU, GUC, GUA, GUG
Triptofano TRP UGG
Tirosina TYR UAU, UAC

O carbono quiral presente na maioria dos aminoácidos é importante pois sofre


isomeria óptica, ou seja, produz enantiômeros dextrógenos (D) e levrógenos (L). O
organismo só metaboliza aminoácidos L.
O grupo Amina fica na esquerda Grupo amina fica na direita

Exercícios:

Supondo que um ácido fraco é colocado em uma solução onde a curva de titulação
informa que o pka dele é = 4.

Qual é o ph que ele funciona como tampão?

Ph = 4.

Qual o ph que ele se comporta como um ácido?

Qualquer valor acima de 4.

Qual é a zona de tamponamento desse ácido?

Entre 3 e 5.

Qual a forma predominante do ácido AH em ph 0? Justifique.

Forma predominante AH, porque como o pk dele é 4, ele não dissociou ainda.

Qual a forma predominante do ácido AH em ph 4?


50% AH e 50% A-.

Qual a forma predominante do ácido em ph 14?

A-, porque ela dissociou desde o ph 4 e se transformou em base conjugada. O H + vai


associar com o OH- da água e virou H2O.

Um paciente está com muita acidez estomacal e o médico lhe passou limão com água
como forma de diminuir a acidez, a conduta foi correta ou incorreta? Justifique

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