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ESBOo, ‘A PRODUGAO DA CASA NO BRASIL fs10 te nonce de ort FAUUSP nos anos 1988/69 6 ¢ um primeira esbago de “O canteiro 6 0 desen carlo pelo GFAU em 1972, com o nome "A casa popular” (0 primeiro subtit adotado como titulo provisério). Apresantamos aqui a versio original, mir a 1968, revista o robatizada por Sérgio Ferro em 2008, 6 A CASA POPULAR consrRuTOR Em qualquer bairro operario, Limo, Americanépolis, Veleiros, Vila Carrio, Laranjal, Itaquera, Taguatinga, Nitcleo Bandeirante, etc. a maio- ria das residéncias foi construida pelos proprios moradores. Mesmo em Osasco, bairro de operariado qualificado, estudo realizado para a elaboragio de seu Plano Diretor revelou grande porcentagem desta regra. Outra pesquisa, orientada pelo professor Carlos Lemos sobre casas populares em Sio Paulo, fornece as seguintes informagGes: de 122 moradias levantadas, 108 (88,5%) foram construidas pelos proprietarios; para as restantes 14, empreiteiros ou pedreiros foram contratados enquanto os proprietarios “As vezes, até se trans- formavam em serventes solicitos.” Geralmente sés, com filhos ou a mulher, raramente em mutirdo, os operarios mesmos levantam para si, nos fins de semana, feriados, ou férias, seu abrigo.* MATERIAIS Os materiais, sempre os mesmos, sio os de menor prego: 0 tijolo ea telha de barro, feitos manualmente nas olarias neoliticas, 0 barro, como 1A pesquisa do professor Carlos Lemos, em andamento (1969), ainda niio foi publicada ‘Seus resultados provisérios aparecem resumidos no relatério feito para o var (Fundo de Amparo a Pesquisa), cuja cbpia esta no Departamento de Historia da ravusr.(A pesquisa ‘coordenada por Carlos Lemos ¢ Maria Ruth Sampaio foi publicada em 1978, pela FAUUSP, com o titulo Habitagdo popular paulistana autoconstruida. (N.0.)} pao cnne ‘a estrutura do telhado parelhada de 5" 1 vidro2 Algumas vezes, Jo professor Carlos Lemos empregaram ma atijolado, raramente cimentado, outros materiais pod aglomerante, a madei Portas, janelas de tabuas, s¢ pesquisadas pe 51 das 122 casas solic. Chiio apiloado, por ve cestimento. Em tese, orienta a escolha: 0 prego reduzide rial de det Nenhum embogo ou an a los. Mas uma série de restrigde SE eg precisa esr disponivel pero para evar gneroso, deve possibilitar compra parcelada com as reservas de cada salério oy com ¢ pequeno crédito do depbsito suburbano, verdadeiro mNitzinho popula nao pote requerer mais do que um individuo para sua manipulagio e, final mente, nao deve exigir nenhuma técnica especial no seu emprego. F evidente que todas estas limitagdes se resume na estreita margem e nica que envolve 0 operdrio. A vinculagio, portanto, de tais materia hao é questdo de gosto, higiene, estabilidade ou conforto: é resultado do baixo nivel de consumo permitido por seu salario. sport a casa popular sta, vivida, absorvida -rEeNIcA A técnica utilizada, mais do que aprendida, 6 por continua vizinhanga. Faz parte do conhecimento popular quase neo, que todos herdam, simples pratica compativel com nenhuma especia Iizagio, A pesquisa referida mostrou pequena impossibilidade dos operiios enfrentarem, eles sozinhos, a construgao da propria moradia, apenas 11.5%. Entre os 88,5% capazes, havia de todas as areas de produgio, téxteis, meci nicos, carpinteiros, serventes, faxineiros. Nao hi empenho, ou melhor, opor tunidade, para ousar alteragdes. Geralmente casados e com filhos, a casa do arrabalde é a alternativa as s6rdidas condigdes dos pordes e quartos dos bair ros centrais em decadéncia. A urgéncia elimina a inovagio, que poder custar tempo. Além disso, 0s poucos tijolos obtidos devem seguir o modelo garan tido, afastado de experiéncias potencialmente perigosas. Como na cozinha popular, as receitas tradicionais poupam cuidadosamente os ingredientes da casa, Contradi¢ao menor que repete as maiores: continuamente, este mesmo operario lida com os mais avangados meios de produgao, ao responder ds suas caréncias particulares, entretanto, dispoe somente de si e de pouquissimos instrumentos. Recorre ao que ja foi largamente provado no local, adaptando ponta 2 Onosso subdesenvolvimento est espelhado nestes materiais. A forga do trabalho ainda 0 meio de produgdo mais barato, nio porque sua manutengio, com o avango das ta “manutengio” é forcas produtivas, tenha baixado de custo, mas porque o nivel di baixissimo. A respeito de sua insuficiéncia, ver Josué de Castro, Geopolitica da fome. Si Paulo: Brasiliense, 1965, pao cnne 65 somente a raquitica técnica aos mater parcelado, ni que pode obter. Dispée do tempo © emprega processo algum que exija trabalho continuado, init terrupto, mas aceit 2.0 velho modo que ¢ apropriado A renovagio completa em cada etapa da construgho, o empilhar de tijolos, D de produgao, é operario, recolhe mais complexo, Devendo cont provido de qualquer meio @ experiéncia feita sem equiparn ‘ar somente com ele proprio, sem qualquer folga para aprendizado, reencontra, cada vez, a mesma técnic pré-histéric PRODUTO Os préprios usuarios, portanto, com a técnica absorvida, dispdem do material de menor prego ou usado do melhor modo conhecidlo, 0 que, evi dentemente, é sempre precirio, 0 produto obtido com tais limi ser padrao, A casa minima (entre Goes s6 pode as pesquisadas, 84 (70,5%) possuiam uni camente um quarto e 40,9%, apenas dois cémodos) é o utensilio abrigo puro eelementar dotado exclusivamente do indispensivel. A rudeza dos materiais, a primariedade técnica geram o miicleo restrito ao atendimento franco, ime diato. A precisio imposta pela economia na produgio ressurge como preci S20 no produto, preciso amarga, nao resultado de engenho programado ¢ escolhido, mas depésito obrigatério de infinitas caréncias. Nenhum enfeite, marea do “status” sobreposta: sua situagao é evidenciada, exatamente por sua auséncia, uso O utensilio elementar encaminha a uma utilizagio imediata, exata: assim como 0 supérfluo nao aparece na construgio, o uso dispensa cuidados. Res tando no minimo, nao hé excessos que se interponham entre objeto e sua serventia. Da casa, 0 operario requer, inicialmente, pouco mais que protegao contra chuva e frio, espago e equipamentos suficientes para o preparo de ali mentos e descanso. Enfim, tem com ela a relagio direta e ndo mediatizada, como sé surge entre homem e seu instrumento de trabalho pessoal. Nao é envolvido por qualquer fetiche, usa simplesmente, sem mistério ou respeito exagerado. A casa é feita para servi-lo e serve-se naturalmente dela. Organiza as areas conforme sua utilizagao, A maior ¢ prioritaria é reservada ao local onde prepara alimento, descansa, convive, os filhos brincam ou estudam: a cozinha (65 casas (54.8%) entre as estudadas possuem cozinha com area superior a 11 m?), O modo de usar evidencia a classe, tal como 0 produto usado, Limitado econdmica e tecnicamente, o produto gera sua forma de con sumo, direta, eficaz. Interiorizado, o produto retorna como habitos ou com portamentos que o confirmam. A eficcia forgada na produgio corresponde A eficacia no consumo, que se propde como mével ideal para qualquer nova produgdo. E a heranga inevitavel sera transmitida integra, imutada. ott omenme nbém um eum objeto para o sujeito, mas ta te, 0 objeto do consumo, » ] Produz, por conseguin le consumo.” A produgio nifo eras ujeito para o objeto [ modo de consumo ¢ o instinto d primério por presses econdmicas, orgado ao impe a permanén (© VALOR DE USO SOCIAL Ora fo atinge o social: a efickcia, requerida ao pouco que tem, impoe 0 Pe da construglo em torno do esquema valido quase universalmente para om a wrodugo artesanal e arcaica os de sua classe. Portanto, apesar da forma de pt ; ‘ Saas : ‘is suas necessidades basicas parti apesar de construir para si, para atender ¢ h culares, despreocupado com possivel utilizago por outros, 0 valor que cria é um valor de uso social. O valor mente um valor de uso social entre os danados da terra: nic permitam a objetivagio de idiossincrasias, a particularizago, E como 0 nive| a que se deve ater é 0 da satisfagao tinica de imperatives vitais elementares, os resultados so praticamente os mesmos, sempre € em qualquer parte, estigio histérico dos materiais primérios variando somente em fungio do iais (isto & qual o mais barato a cada momento e local)* compativeis com a pro de uso particular na miséria é intrinseca ra: niio ha excessos que dugao artesanal e individual. A PEQUENA PROPRIEDADE Como ser em transigdo, 0 operario se determina ‘como sucessio de realizagées (efetivas ou apenas aspiradas) gradativamente ‘superiores’ de ser mercadoria, no operariado e na categoria dos trabalhadores nao manuais assalariados; e, quando vem a participar da categoria dos peque. 5K. Marx, Contribuigdo é critica da economia politica. S80 Paulo: Martins Fontes, 2005, 337. 4 Em certas zonas, como Santa Catarina e Parand, a madeira substitui o tijolo. A tinica constante na casa popular, com relagao aos materiais, é seu baixo prego e possibilidade de aquisigao parcelada, Em pafs subdesenvolvido, isto é sindnimo de produtos com baixissima composigao organica do capital, isto é, muita forga de trabalho. A taipa, por sua ver, s6 foi superada pelo tijolo depois que este foi suficientemente provado aqui e de escassearem os bambuzais. A cobertura da casa popular fornece étimo exemplo do conservadorismo técnico, A passagem do sapé a telha e da taipa ao tijolo foi suave, continua, sem grandes inovagdes. O tijolo, entretanto, permite a cobertura em abébada, mais barata e eficaz que a telha. A técnica disponivel na tradigio, entretanto, nao possibilitou o seu surgimento, Novamente, 0 compromisso popular com determinada técnica é baseado em condigdes histricas de formagio desta camada, no nivel sixples {do hé uma técnica popular: a abébada, aqui ‘que possua, nos materiais disponiveis. desconhecida, foi a cobertura tipicamente popular na Argélia, pao cnne 65 ‘noe proprietarios urbanos ou almeja dela participar, oontinua ‘outros, 0 ser mercadoria® 4 aceitar para os A pesquisa do professor Carlos Lemos revela a propria casa como temporiria. 0 que geralmente 0 operario vé casa maior. A possibilidade concreta para alguns de ir acurnulando lenta mente a area ocupada, por sua vez, permite explicar a constatagio da exi téncia de mais de uma casa no terreno ou de quartos que sio postos a aluguel. Entio, 0 operirio “ser em transigio” atinge exemplarmente 0 que para a maioria permanece aspiragio irrealizada: a categoria do “pequeno proprieth rio urbano” e passa a usufruir de renda nao proveniente de sua venda, mas da venda de seus “bens”. Constitui cortigos de péssimas condigies: 0 valor de uso social que obtivera pensando em si, é visto e manipulado como mercadoria, Entretanto, afirma o relatério da pesquisa, “raros sio os que, a priori, j proje tam no proprio corpo da casa 0s cémodos destinados a locagio”. O excedente eventualmente produzido, ¢ explorado como valor de troca. Em oposigao ao funcionamento habitual da economia capitalista, nio é valor de troca que estimula a produgio de valores de uso, mas valores de uso excedentes sio empregados como valor de troca. E.0 operirio que teve a opor tunidade de acumulé-los realiza 0 pressuposto de suas aspiragdes de ascensio “categoria dos pequenos proprietarios urbanos”: sua personalidade basica capitalista nao negadora do sistema, mas unicamente do status proletario.* Pois bem, voltemos ao inicio, Nos feriados, fins de semana ou férias quando ergue sua casa, 0 trabalhador produz para si. Nao como o fax diaria mente, como forca de trabalho vendida, empenhada na valorizagio do capital Nao como mercadoria abstrata ~ forca socialmente necessiria ~ a produ zir valores genéricos encarnados em valores de uso a ele indiferentes, niio enfrentando os meios de produgio como poderes mater Ao contrario, produz com seus instrumentos seu abrigo, meios de produgio proprios guiados por sua vontade e diregio a construir um objeto para seu uso. 0 guia da produgao, seu motor interno, a caréncia que ate is hostis e alheios de sio partic 5 Lui Pereira, Trabalho c desenvolvimento no Bras Sto Peto: Difusto Europea do Livro, 1965, p. 208 6 Ch Luiz Pereira, o ap. gus omonsame de produgio neyar, an que estas condici, anto assa Jares ¢ proxies que encontra eng Pois ¢ como tr ersalidade atingida, ddugio em massa, nee 4 na 0 principio da propriedae produz espelha, também ariado pere " abalhador isolado, 86, rerhrio semi-qualificado, q, que enfrenta 0 que g fl 14 Ihe permitem miséria. Vendo-s parte do trabalhador eo) superar, $00 solidariedade orginieg proteger-se s6. Nega aw de pro atuando com meio ee Jetiva fruto do. trabalho comum ¢ T* ti quanto assalariado E o que prody ‘ indispensavel para sua subsisténcia, resultado tose ‘uto-suficiente, ¢ a miniatura frustrante do lar burgués vo nftidos os contornios de sta posse. Vai buscar as es e precarias regides, esquecido de toda higiene conquistas jstantes jais, para poder manter resguardada a unidade obrigatoriamente destejr, socials, ‘mil i justiante moradia lentamente de, ide sua familia e a propriedade de sua ang via i trans! sitada na expectativa de : Stat iad a pequeno burgués senior de capitalzinho, Sem divide, tig ‘ impele a esta solugio: a impossibilidade de sobreviver nos cortigos centri, ode a relagao proxima com outros operarios é mediada pela promiscuidade 1 pressdo econ6mica dos salrios insuficientes, habits rurais, fruto da vida segreguda ainda presentes na sua formagio, a especulagio imobiliéia,o sindicalismo ausente e oficial, 0 peso divida: a solugio que encontram, talvez a tinica disponivel, tem as marcas ie sofrida adaptacio. eco que Ihe é negada en agora, como produ: de individualismo a jsolada, fechada, marean' mais dis pordar sua racionada necessidade e afirmar enorme do sistema, enfim, Mas nio ha BAIXA DE SALARIOS As conseqiiéncias sao imediatas: 0 barateamento da rmoradia que obteve recorrendo a todas as suas minimas habilidades e dispo nibilidades, o seu sacrificio, teré como recompensa automatica o abaixamy relativo dos salarios, sempre determinados pelo custo menor do absoluta mente indispensavel A sua manutengio, Seguramente, a economia feita na obtencio da casa seguira a redugio de seu salrio real. fa lei do sistema. E o antagonismo ¢ insuperavel dentro dele: ndo pode permanecer sem casa, ¢ levado a construi-la, Faz. com 0 que tem: nada, mil “jeitinhos”, economizando na ja magra mesa, Portanto, faz com pequeno custo ~ nao paga adiministra gio, empreiteiro, mao-de-obra, adota materiais rudimentares ou usados, area minima, sem banheiro, pia, esgoto, agua corrente, luz. E120 baixo 0 custo que nem as barbaridades minuciosamente programadas no BNH conseguem co! petir. Como conseqiiéncia da multiplicagao desta microscépica sub-produgs%, associada & deterioragao crescente das zonas centrais “modernas” baixa # eo! do salirio destinada a moradia. E, progressivamente, disfarcado sob auments nominais totalmente inflacionados, baixa correspondentemente 0 salario real pao cnne do operario — baixa acentuada por novo gasto, o da condugiio. Bastam como indicagio deste fato as seguintes informagées do pizese (Departamento Inter sindical de Estatistica ¢ Estudos Sdcio-Econémicos): no Boletim Informativo n. g, de Janeiro de 1968, p. 2, lemos “Levantamentos efetuados pelo DIEESE ‘mostram que 0 aluguel médio de casas na cidade de Sao Paulo, em Janeiro (de 1968) foi de Ncr$ 174,19, muito diferente da quantia de Nor$ 34,65 deter minada pelo referido decreto (sobre o salario minimo)”. Ora, tal discrepancia somente se explica pela enorme economia marginal que 0 operario consegue a0 produzir a propria casa, justificando uma redugio em relagdo a média que © governo decreta com satisfagio. RESUMO Em resumo, encontramos na casa operaria uma excegdo aparente ao sistema. A produgio, aqui, no é guiada pelo lucro, pelo valor de troca. O seu imével 6a produgio de um valor de uso. Entretanto, o sistema ¢ 0 modo de produgio capitalista esto presentes sob varias outras formas: no fato do valor de uso particular na miséria tornar-se valor de uso social, e aparecer como valor de troca, apontando a existéncia de mercado de outros miserdveis; na contradicao entre ser operirio, expressio social de um sistema de produgio avangado, eo fato de ter que recorrer, no atendimento a pressies vitais, as formas mais atrasadas, e mesmo reacionarias, de produgao; na resultante de sua poupanga, 0 pouco conforto imediato, acarretando desconforto e prejt- iz0 mediatos maiores. A producio aparentemente marginal revela 0 sist totalmente inclusive. A MANSAO INTRODUGAO No outro lado da escala social, no Morumbi, por exemplo, 0 “fazer sua casa” significa aplicar capital. E, ao invés do minimo indispensivel, a construgao contém 0 maior actumulo de elementos supérfluos compativeis com 0 funcionamento e a sanidade mental. Os materiais, a mao-de-obra especializada e a técnica nao mais constituem limitagGes, ao contrario, se 0 deus capital existe, tudo é permitido, tudo e todos esto disponiveis. Pedras de Ouro Preto, tijoldes desenhados, tabuas de jacaranda da Bahia de 50 cen timetros, marmores, granitos polidos, formicas, vidros de 2 metros, metais especiais, ago, aluminio, ladrilhos portugueses, massa corrida, “spots”, lumi narias suecas, torneirinhas em forma de peixe ~ materiais de tradigao nobre ou requintadamente industrializados ou artesanais alimentam a imaginagio esgotada do decorador. Lajes, balangos, pergolados, rampas, abdbadas, robus- tas laminas de concreto de madeirit lixado, motores, engenhos eletronicos, treligas, taipas, pedrinhas — tecnicamente, qualquer ousadia é realizavel. pao cnne 68 omo banheiros de teto de vidro, vaga gay Ses sutis, desejos remotes (com tte deve, ‘hetalhadas subvlivisées de fungbes didfanas, efeitos y, cos enncontrario Sngest fngio exibicionista), “designers” especializados 4. cos, surpresas, arranjos lid sik ? 108 apt para ofetiv’-los uma gleba grande sanhemos a produgio, Adquire uma gleba grande em yoy, PRO P= Myalorizagio” que nfo rerulta de melhoramenn: altamente “valorizada” racic... extraordinérios ou da localizagto economicamente estratégica, mas da g tida selegao da vizinhanga. A seguir contrata, isto é, compra varios géneroy de forga de trabalho ¢ servigos, desde o engenheiro, o calculista, © arquiteto, até serventes e vigias, passando por pedreiros, carpinteiros, mestres, técnicg, em hidraulica, eletricidade, eletrénica, decoradores, paisagistas, etc. Soma, obra, quantidade elevada de conhecimentos, téenicas, habilidades ¢ energ:,. dliversificadas, Fornece-Ihes todo material pedido em qualquer instante, sen, pre com a melhor qualidade. Enfim, reclama dos custos, pressiona nos cont, tos e salarios, mas pée na obra o desejado. Guarda, proximos de si, 0 arquiteto, o decorador, o engenheiro, o paisa gista. A eles impde o que quer, com a impressio de aspiragio ainda nio rea lizada. Faz com que convivam com ele, jantem, conversem com sua farnlia, revela pequenos hibitos, eventuais idiossincrasias, preferéncias estéticas, ow amor a eficiéncia de alguns pormenores, frustragdes domésticas que recla mam atendimento, Arquitetos e decoradores tiram suas medidas, interpretam sua vontade, elaboram sua imagem. E tragam com largueza e generosidade tndo o que puderem captar. Debates, alteragies, redugio de ousadias excess; vas. Neste momento o proprietario recebeu educago suplementar, pois pode desconhecer a si proprio, as exigéncias de bom gosto e das normas sociais convenientes a seu “status”. Sob medida, os planos recebem sett “imprima tur”, Engenheiros e caleulistas pdem suas equipes a dimensionar, precisar a construgio. Operarios, supervisionados pelo mestre, transportam, levantam wis Enquanto a mansio cresce, o proprietirio, insatisfeito com efeitos nio pre tos e descobrindo habitos nao atendidos, faz derrubar, modificar, acresce: Em dois anos a obra esta terminada. A sua casa, fruto de sua vontade, foi § 4 sua imagem e semelhanga. Passa a usd-la. A CASA COMO MERCADORIA Mas, olhemos melhor esta imagem, esta seme Ihanga. Para “fazer sua casa”, comprou matéria-prima, técnica, projetos &, sobretudo, forga de trabalho, Esse procedimento nao lhe é descouhecido ou novo: as relagdes de produgao da mansio esto proximas da que estabelece na sua indistria ou outro negécio qualquer. Como aqui, lA a mercantilizagio esta implicita na produgio, Mais-valia acumulada compra os meios para ficar gr pao cnne sob a forma da produgio de um objeto vida de nova mais-valia, s6 que aq especifico, seu lar, doce lar. A semelhanga de atuagio nos dois casos traz, como automatica conseqiiéncia, comportamento semelhante diante dos produtos. Ambos sio, para ele, mercadorias. As de li, hé que vender imediatamente, « de ca, permanecerd em seu poder. Se for necessério ou conveniente, vender, Mas para garantir esta possi vel venda, deverd zelar para que o produto, sua casa, possua um valor de uso social. Nas discusses com o arquiteto, nas modificagées que introduz na obra, tem sempre um olho no mercado. E, consciente da dignidade de sua pow Panga, restringe o que fez de extremamente pessoal para que nao contagie a validade social de sua mansio, Restringe mas nao elimina todas as original dades: afinal, a mercadoria é feita sob medida, © Uso consPicuo A sua imagem e semelhanga também tem que atentar para as conveniéncias sociais. ff homem de prestigio, posse e visdo. Sua aparéncia a de seus objetos precisam responder as imposigdes de sua posigdo. E mesmo forgado a isto. Aos olhos da comunidade, os homens de prestigio precisam ter atingido um certo padrao convencional de riqueza, embora tal padrio seja de certo modo indefinido [...] Para obter e conservar consideragio alheia, nao é bastante que © homem tenha simplesmente riqueza ou poder. E, preciso que ele patenteie tal riqueza ou poder aos olhos de todos, porque sem prova patente nio lhe dardo os outros tal consideragio? Nos primérdios histéricos do modo de produgio capitalista — ¢ cada parvenu capitalista percorre individualmente essa fase ~ predominam a sede de Tiqueza e a avareza como paixdes absolutas, Mas 0 progresso da producio capitalista nao cria apenas um mundo de prazeres. Ele abre com a especulacio € 0 sistema de crédito milhares de fontes de sitbito enriquecimento. Em certo nivel de desenvolvimento, um grau convencional de esbanjamento, que é ao mesmo tempo ostentagio de riqueza, e portanto, meio de obter crédito, torna se até uma necessidade do negécio para o ‘infeliz’ capitalista. O luxo entra nos custos de representagio do capital.* 7 Thorstein Veblen, 4 teoria da classe ociosa. Sio Paulo: Pioneira, 1985, pp. 45 ¢ 48. Paulo: Abril 8 Karl Marx, O capital, Tradugio de Regis Barbosa e Flavio Kothe omistas, 1985, vi, 2, p.175, Cultural, col. Os Es pao cnne yo foram fartamente deseritas poy mo conspiel As formas particulares do cons alas se especificarn numa sit Jplen, Evidentemente ¢ 1o suas abservagbes (a soci y of the Leisure Class é de iedade norte-americ ‘Thorstein. 899). Mas, no modelo d 0 livro The Theory port da que usw no fim do séeulo Xt nos interessa aqui, pouca iin} as de nossa sittag com a internacional, buse {ncia tem esta especific para oqu alteragées superficiais derivada procurando sempre identifiear-se portugueses os ares de aristocratizaglo pretend ida, tudo ent de inquietagdo que a propria porigdo intermedidria entre as cor'es da meta ‘vel populagto brasileira provoca. Como todo objeto pela classe A (burguesia), a ma ‘suntudrio é diferenciador de classe, j4 Ja riqueza, A fartura de ma rrante a obra, ex; io colonial, nossa burguesia ndo nos restos fatizado com traces pole ¢ 0 resto da miserd ou servigo consumido exclusivamente p torna-se objeto de uso suntuitrio, 0 uso que 0 objeto luxuoso é a materializagio d ‘a complexa equipe mobilizada ja mesmo dv sua aparéncia, dimensio ¢ cuidado leriais requintados, © poder do proprietirio. A obr. prosseguem revelando-o. Esta é fundamental, no esquegamos, para 0 bom erédito na praca, igdes do bom burgu a concluida, demonstragio, além das vantagens psicologicas que proporciona, Receber bem, hospedar bem, divertir bem, sao obriga Quem esbanja e pede empréstimos niio pede para si, pede para ampliar sua poténcia, que a mansio prova, Logo merece o empréstimo. Mas, o consumo conspicuo ¢ 0 uso suntuario tem suas reg! lugar, as coisas usadas exclusivamente por uma classe e que se prestam a um a vida privada: como todos ras, Em primeira uso suntuario nao envolvem, evidentemente, possuem —a nio ser os que esto excessivamente afastados na escala social, “]umpens” e baixos proletarios com os quais nem importa competir ~ nio serve como diferenciagdo importante? Como conseqiiéncia, a vida privada, que eliminaria o efeito da distingio, ja que é elemento comum, é escondida, Assim, na mansio burguesa, grande porcentagem da area se destina a exposigdo de poder e riqueza: entrada social, “hall”, sala de visitas, sala de jantar, biblioteca, lavabo social, jardins, terracos, ‘9 “Ao mesmo tempo, o efeito sobre o consumo é de concentra-lo sobre as linhas mais eviden tes aos observadores, cuja opinido favordvel é almejada, enquanto as inclinagdes ¢ aptidcs ‘cuja pritica nfl envolve gastos honorificos de tempo e de substincia tendem a ser religa das ao desuso, Através desta discriminago em favor do consumo visivel se verifica que a doméstica da maioria das classes ¢ relativamente mesquinha em comparagio com a parte ostensiva da sua existéncia que se desenrola perante os olhos do observador. Co uuna segunda conseqiéncia da mesma discriminagio, a pessoas geralmente escoucers da observagio piblica a sua vida privada.” T. Veblen, op.cit, pp. tuna, pao cnne salas de jogos, de musica, muros ete. Outra par destinada a disfargar a inevitivel vida privad: irculagio paralel sala de almogo, entrada e pitio de servigo, sala intima ete. Not Rio Pretende simplesmente esconder empregados — que, afinal, sio demons tragao moével de ri¢ e substancial, entretanto, ¢ de servigo, se que isto iqueza, mas suas ocupagdes ligadas A vida privada. Agora, o instrumento abrigo — que malgrado a sobrecarga suntuiria, & ainda fungao da casa—é intruso componente de um todo maior, o ambiente demonstrador de riquezas, A exibigio segue regras de comportamento radi calmente distintas das espontaneas maneiras de viver, Os milhares de tiques, Géstos, etiquetas, euja fungio é demonstrar que quem os exibe possui suficien tes recursos para desenvolver estas atividades totalmente intiteis, tem cenario determinado: salas, exspagos, méveis, tapetes, quinquilharias que nao deve ser usadas, Aos caros comportamentos aleatérios, correspondem depésitos de trabalho dirigidos para a produgio de objetos sem serventia, A prodigalidade se manifesta melhor quando nao é necessiria. Mas, se objeto por sua intrinseca razio servir, deveri servir contrariado: se for obrigado a sentar ou habitar, deve ficar patente que se senta ou habita Tevestido de normas e desconforto especificos: surge ébvia uma riqueza que pode diluir-se em objetos e espacos absurdos. Mas, 0 industrial contemporineo sabe o valor e o prestigio da técnica efica da automagio que dispensa a presenga desagradavel do operario e 0 explora somente através de mediagdes complexas. E 0 trabalho desperdigado terd duas oportunidades preferenciais de surgimento: nos produtos de mérbido artesanato e nos produtos de tecnologia avangada, empenhados em servicos dispensaveis. Paredes figurando taipa, formas minuciosamente desenhadas de concreto, molduras de gesso patinadas escondem alto-falantes mudos, “high-fidelities”, interfones, controles remotos. Tudo em tom morno, discreta mente aparente, Discrigao para evitar o “nouveau-richismo”, aparéncia para afirmar riqueza mormago para espalhar fastio e indiferenga. O tema ¢ imenso e asquerosa mente variado. Bastam essas referéncias. Percebemos j, com maior acuidad a imagem e semelhana que a casa reflete: a sua casa, como ele proprio, existe, para os outros. Ou melhor, para oferecer aos outros uma imagem de si, ima. stabelecida, Nao uma imagem real, atual, mas a imagem gem esperada, pr do papel social a que pode, por sua situacdo econdmica, pretender. A casa ¢ 0 cenario convencional para a representacio de seu triunfo, Imagem e original comegam a inverter suas posigées. Pois sua “imagem e semelhanga”, seu lar, 6 componente essencial de sua definigao mesma e Ihe empresta 0 sucesso e honrabilidade que espelha. ont omenme nm joria. Declara no imposte sobre, Je realita-la quando bem Ja contra a usura gue ad o, vimos, ¢ mere resoumo Ora. a manatee Pe o seu empre ca do imével © mesmo a contin, renda entre 08 in do valor de troe Jer poate pebscae te Yeleirs jamais penetrars ete ser 0, 0 “soeig Como 0 oF ere em Veleitos, é sindn 1 que ocorre em . aqui, em oposigto ee aa oe os vits, Conseqiiéncia: ha originalnda a mansio sb tem valor ivaveis, agora, Mas que nig ¢, . weompletamente obje Teo yo requerido a uma casa Por qUAisqUET das fam, goes permite = com sea eae vsen. o que podem ser tais originalidades Possiveis? Vimnog bas sie mina, Sobram gracios0s jogos de Sal80, 0% talver yy ae See hs suas flores preferidas, as orquidleas parasitas 9 Sai ee? para livros reais on uma galeria para seus pris mice do género. Tas originalidades, entrennn ,alquer outro “hobby . tives, ou qualgu na organizagio da casa, de modo algum interferirio no seq se transpirarem ee : Eos por outros, mesmo ao contritrio, poderio ser somadas ds outs, = jd que, para o novo proprieti . anifetages de consumo conspieuo, jf que, para o novo proprietirio, rip lade intrinseca dos gastos honorificos e suntns a mesma esséncia, a inut c i Portanto, a originalidade nao corromperd sua mercadoria ¢ isto possibilita « concregao de sua aspiragao: que a casa seja diferenciadora, particular ‘Mas, ndo basta afirmar-se como parte de uma classe, deseja afirmar se dentro dela, na hierarquia menor, incluida na maior, como superior aos outros membros. Uso parcimonioso de um valor de uso de alto valor de troea, retido em sua posse: éa definigio de tesouro, Sua casa € uma reserva substancial, poss 4 margem da circulagao. Ouro feito concreto, conhece a alquiiia que devo! verd 0 ouro—a venda, O aspecto ostentatdrio colabora com a fungi tesoure porque a ostentacao é basicamente a exposicao de trabalho inutilizado, mas concentrado, O tesouro em qualquer de suas formas tem valor determinade pelas horas de trabalho médio social posto nele. 0 objeto suntuuirio ¢ denso e farto em trabalho coagulado, sem prestimosidade imediata, & mas sempre procurando pelos aspirantes ao prestigio social. [mesmo sou resultado. Dai, inclusive, o horror, entre eles, a qualquer objeto produsida em série, 0 que indica, quase sempre, baixo custo unitirio, comparado com © artesanalmente produzido. As formas ousadas ou rebuscadas, revestitn tos dificeis, caixilhos especiais etc,, como arcas, cadeitas ¢ santos vellios Prova de producao artesanal, com alto dispéndio de forga de trabalho e, pot excelente aciimulo de riqueza verdade, tanto, valiosas, Porque é suntudria, a casa é pao cnne Er social, isto é, trabalho, i excelente tesouro, portanto, (Ha razées mais deter minantes para que 0 proprietirio da mansio a veja como tesouro, Adiante voltaremos a isso). “O tesouro nao tem somente uma forma bruta, tem também uma forma estética”: os objetos, espagos e requintes todos repletos de trabalho social depositado, constituem os componentes da mansio, tesouro suntuariamente exposto. Se 0 consumo conspicuo procura o que no tem serventia, 0 tesouro exige 0 consumo cuidadoso, reduzido. Casamento perfeito: a riqueza reser- vada est depositada no que nao estimula o uso, na inutilidade imediata, que constitui a maior parte da mansio. 0 entesourador nao precisa ter cuidados maiores: como a casa, que fez para si, é fundamentalmente inutil, seu con- sumo sera, forcosamente, minimo. E 0s criados, estas outras corporificagées de riqueza, encarregar-se-do de retocar e arrumar quaisquer desarranjo provocado pelo raro uso. A sua casa, fruto de sua vontade, feita a sua imagem e semelhanga, des- tinada basicamente a assinalar no somente a sua classe, mas sua posigio dentro dela, sua personalidade, sua originalidade, para cuja produgio criou equipe a seu gosto, que comandou e submeteu, que fez penetrar na sua inti midade A procura de seus desejos especificos, a sua casa, na parte visivel, nao 0 particulariza, PARTICULARIZAGAO Nela, representa personagem anterior a si mesmo, mais do que vive. La, como em todo tesouro, nio é 0 uso que garante a troca, mas a troca possivel justifica o uso limitado. Seu maior valor de uso é 0 valor de troca contido. No tesouro suntuario do lar ~ templo burgués ~ predomina 0 valor sobre o uso, a forma abstrata do trabalho social puramente quantitativa, sobre a conveniéncia pessoal. O ser medido, interpretado pelos projetistas, & reflexo animado de suas coisas. Sua intimidade exposta, preferéncias estéticas, frustragdes, habitos, idiossincrasias, so somente desvios, mais ou menos pr5- ximos, da fundamentagao de seu ser, a magnitude do proprio capital. Mas a casa hibrida do Morumbi se compe de duas partes, a visivel e a privada, Ora, ada nao fosse largamente contaminada seria pouco provavel que a vida pri pela ostentada: seus padrées sao apenas pouco menos rigidos do que os pibli .s. A superioridade a ser provada diante de criados, a ostentagio diante dos intimos, 0 comportamento tradicional entre os proprios membros da familia, enfim, toda a ideologia burguesa comparece também aqui. A estereotipia da familia burguesa e seus habitos internos gera uma configuragéo esteriotipada da parte usavel da casa que compe, nio esquegamos, parte irremovivel do tesouro. E 0 dispéndio conspicuo se aproxima da esteriotipia privada pela rigi dez anénima de seus contetidos. pao cnne ™ ate de commectagto de F088 Hho, aa eee peonforto, sO Atravessa COMPTON yyy, sin de toe pee an reagent 8 ULL presen ° arent Dut ja privada, do con aoa diferenciagao: a cotersoupia de oe lites rages. Ha iferenianle: SET vel coesietom com a diereng, sig, esttaglo, ¢austncia do PET PT ago do esquema a uma poss, , raves personificagto nm se dark SAT eapecais, mas pela simples variagh fon su ari, ses NAN ea, sal, nfo utensiio particular e sia ign do peo Sean cencional, isto puramente juridica, A dig. Jago a tal propre dois capitalistas, tantos wexs es @ a mesa que SEAT s entre duas mansies ¢4 Agoaar, portant, guts egy > 9 the interessa a riqueza na sua forma social 6 6 por igo : iedade sua sede de ‘0 fora do alcance da sociedade (..) a a ee ree a ae spovessidades soviais, quase milo satisfax as suas recessidades doe as primeira ordem."* [Ao entesourador) : jetirio 6 a mola ea chave deste enigma. Ele posse o pate et aanes ‘suas mies, As forgas varias de trabalho e servigos ay Fidos nada mais sio que a forma nova, agora atuante, de parte deste poder es adquire porgue ja possuia, Mas ¢ possuidor caracterizado, pois o que f ‘sua mansig, indica que pode isolar parte do que possi da prodiugio e pila, seu servigo. Reine equipe e materiais para atendé-lo e no empreender ums tarefa qualquer. Material e equipe devem servi-lo acompanhando sia espe cificidade. Ora, o que 0 define sto suas possibilidades diferenciais, o que se pode permitir e outros nao, conseqiiéncia de sua posigio na produgio. E suas possibilidades diferenciais sio todas do mundo, proprietirio que é do coring, universal, o oure, Sua esperificidade niio é marcada por tm ow outto poss vel, mas pela generalidade de seus possiveis, por suas quantidades e excess Sto tantos que qualquer enumeragdo nao os esgota, Somente sua opulaicia os exprime, o ouro em excesso. A especificidade do proprietirio, o que dove ser atendido, é a mesma causa visivel nas dimensdes e qual materiais que adquire, mais-valia ociosa. Origem da equipe, do material excessivo, o capital sobrante ¢ a alma do proprietirio retratado, a estrutura do objeto produzido, A ostentagio da riqueza é 0 mesmo que riqueza exce: ~eliminagio do util, do necessério — sio meras manife Je da equipee mansio. va e suas 1 gdes de seu to Karl Marx. Contribuigiio d critica da economia politica, op.cit.. p 158 pao cnne 75 icin do Sx: Rotehild, eujo « Mas nem todo burguds tem a clarividé eram notas de nio sei quantos milhares de libras. Ha que atribuir uma jereto, Mas qualquer forma frustra, Sua par A forma limita forma qualquer ao oure feito &« tioularidade estreita nega aw © contetido, Mas o conteiido espocifico do proprietirio, para euja capt © configuragio tanto empenho requintado foi posto, ¢ precisamente aquela universalidade, Na auséncia de forma concisa que a expresse, 0 € amultiplicagio de sua especificidade, a neutralidade anénima da riqueza invade sua moradia inteiva ‘Tudo fez para que a imensa gama de seus possiveis, todos os prazeres do mundo, fosse revelada e concretizada, Mas 0 triunfo final é de sua externa aig, a abstrata riqueza impessoal, revelada em cada canto de seu desandado movimento, Gerado pelo capital, é Midas, irrecupervel, reproduz eterna mente sua origem, E, mora na sua esséncia: no tesouro. lidade latente no our cedaineo © ESTREITO MERCADO DE MASSA femos agora os extremos, Motivos diversos nos forgaram seu exame, par itdrias — que coexistem, entretanto, Dei ticularmente a nitidez de posigdes contra na classe média, O extremo Morumbi pouco nos interessa em si, mas pes nas expectativas que a pequena burguesia alimenta, O outro, Veleiros, o que mais pede atengio, 6, por algum tempo, ainda marginal, Mas hoje, é na marginali dade que se refugia a pouca verdade sobrante, Importa-nos como contraste de amarga autenticidade em meio & pantomima, Examinaremos a mercadoria resultado da construgio civil em sua forma mais pura, isto & onde & produ zida em massa para mercado massificado, a produgio para o consumo pela classe média. REVESTIMENTO Todos os padres de consumo derivam, por gradagdes percep tiveis, dos habitos de raciocinio e dos usos da classe social e pecuniiria mais bastada,"* elevada, a classe ociosa Na Consolagao, na Aclimagio, na Vila Buarque, os canteitos de obras exper do Morumbi, se bem que largamente grupos: os basicos materiais menos “nobres” que o superiores aos de Veleiros ou Caxingni. Dois grande ~ ferro, cimento, brita, tijolos, tubos galvanizados et =e uma boa mostra roria da classe oviosa, Sio Paulo: Pioneita, 1965, P. 105, ont omenme nntos e pastilhinhas, tacos, Jay, .s materiais ~ eX dapés, granilite etc. Nao ta, ne, leen8 eT odo ETUpO,fundane brs, anulejos, cerdumica, &2PT sdo fartos, os de segun’e Epo, Fundam 4 “qualidade” do Morasbi 9° ivel, nas suas dimensées: poucos talmente. A anarquia da Progen ox. 0 tijolo de barro tem 11 centimetr, medidas compativeis com 35 os e a ceramica 15, 04 10, ,, 5, 08 ladrilh de largura, © ere 95" no de nada. As madeiras so cortadas , m, Os vidros sio multiplo de 5- caixilho eo O sistema métrico predo; s ‘oem polegadas. i mina centers abu de pinho em Po Os restos inevitéveis fregiiens, ‘mas a tubulacio é fil m. 1 4 polegada de origem: Os . mae ee en Ae designers”, arquitetos enchem pigin. 1e 0 modulo existe. Mas 0 disperso capital constante, posto e, aoa Ce Jo, esta muito acima destes problemas secundarios. Dize:, Se i clive tama baixo rendimemto, coven de 70%. Baraca que 0 operario ee ce diversidade dos materiais de acabamento que se dispoem oat médiaéatamente strativa da clase média, Faz pate = cone da burguesia fugir do padrio, do que ¢ produzido industrial. coo E yulgar:2A classe média também se preocupa com a ostentagdo, Mas 4 faz nos limites de sua disponibilidade pecuniaria menor Tem que aceitar ‘aindustrializagio. Ora, assim como a mania da burguesia da colénia é ser Jrurguesa metropolitana —o que faz com que se comporte quase como classe media metropolitana —a mania da classe média é ser burguesia. A burguesa tsa produtosartesanais, a classe média os copia industrialmente: formica Jmitando jacaranda, fechaduras coloniais da La Fonte, portas Polidor almo fadadas no lugar do portal de igreja, lustres também coloniais da Pelotas etc Como a propria palavra afirma, a regra do revestir é a mascara e a mascara, no caso, é moldada nas originalidades do Morumbi e reproduzida em série. ‘A mascara nao tem originalidade. Logo, a mais precaria também serve, Dai varias conseqiiéncias sobre os materiais de revestimento, 0s bisicos, comunsa quase todas as obras, assim como a vida privada a quase todas as classes, nio se prestando a ostentagao: a) ficam limitados ao poder aquisitivo desta classe. isto implica em pequena producao ou mais freqiientemente em péssin re revestime! dos incontavei 12 Aqui, evidentemente. O produto industrializado no estrangeiro serve. Afinal, a burguesia norte-americana é a mais alta classe brasileira. A nossa burguesia pode, port consumir os produtos da classe média abastada de la. O seu “status” relativamente ¢0 ‘mesmo, descontadas pretensdes aristocraticas que se satisfazem com a arca ou 0 santo velho e a imitagao do colonial pao cnne produgio, por nao atingir quantidade compativel com boas instalagdes;"* b) substituem qualidade por efeito, a repetigio enfatica na propaganda de que sto duraveis ¢ a melhor prova de que nao sio; ¢) quando sio contrafagio de produtos industriais que a burguesia importa, justificam 0 emprego de maquinario velho e j4 amortizado fora do pais, concorrendo vantajosamente com eventuais similares nacionais. Se so patentes metropolitanas baseadas, Portanto, em uma tecnologia desenvolvida — que no é e, provavelmente, nio sera a nossa —, sio aqui produzidas em condigées inferiores de “know-how”, mio-de-obra, organizagao de trabalho, equipamentos, matéria-prima ete., sio obrigatoriamente de qualidade precaria;!* d) multiplicam-se ininterrupta- mente, de acordo com os tiltimos figurinos nacionais, subproduto dos interna- cionais;'* e) ete. E bom lembrar: tais revestimentos so, na maioria, absolutamente dispen- saveis do ponto de vista técnico, Raros sao objetivamente necessarios. Mas consomem de 20 a 40% do orgamento de uma casa ou apartamento ~ a varia- go acompanhando os niveis da classe média atendida. O tema revestimento parece detalhismo de critica indqua. Mas exa minemos seu papel econémico: em primeiro lugar, dizer que 30%, em média, do capital empregado em construgio civil massificada vai para “acabamentos”, em pais de imenso déficit habitacional, ¢ caracterizar a irracionalidade nuclear do sistema. A produgio da construgio representa cerca de 10% do PtB. Destes 10%, metade é de construgio civil. Desta metade, 30% é revestimento, isto é, 15% do pis. E muito. Em seguida, este mesmo fato pode ser associado a outro: nao ha déficit de materiais de cons trugao no Brasil. As industrias deste setor trabalham com 48% de capaci dade ociosa, em média.** 13, Servem como exemplo as primeiras tintas e colas plisticas aqui produzidas. Desde 0 iio conseguia aderir as paredes; e a cola, precursor do Epox, fabricado pelo Sr. Pini, que ni de belo nome Dupont AE 704, que nao cola, ds pequeninas industrias que pululam. Exemplos: “pumex” (concreto expandido), “eternit” (fibro-cimento), vidos, lougas ete copia. A Casa & 4 15. O burgués do Morumbi compra Lbeil ou 0 Connaisseur. lipor de revestimentos pode surgir get faliu, passou a Jardim fotografa e traduz, ¢ disso uma original industr trangiiilamente, Veja-se azulejo pintado, pedrinhas coladas (a F moda). 16 Vé-se que agora sob inv ‘a recente “crise do cimento” (em 1968) foi artificial. 0 cartel de produtos, ar o prego. vestigagio, fez desaparecer 0 produto pi ont omenme sa MEDIA % capaciDADE 0010 SETORES 80 Vidro Plistico 0 7 Metal zi Cimento Gerimica eolaria 6 Madeira 36 Marmore e granito 51 MEDIA supra Plano Habitaional— amt Exo. Dados extaidos do Relatiro da Cooperasio Indus 130.266 A capacidade ociosa elevada, de 48%, outra vee relacionada com o déficit A capaci i Jbem: s6 com habitacional, exprime o que todos sl mei ; cado brasileiro de 10 (dizem os pessimistas) @ 30 (dizem os otimistas) milhoes de pessoas dentro de uma populago de 85 milhdes de habitantes."” Nao i verdade, comparec: comparecem ativamente, Tepetimos, Pordiie, na verdade, comparecem pas éncito de reserva de 56 (diziam os otimistas) a 7 de miserdveis a garantir baixissimos salarios Sub-habitagao e déficit habitacional de cerca de g milhoes (850 mil de défi cite 8 milhides de sub-habitagbes, diz 0 Relatorio citado da ciPHs®, p. 269) mente arqui-otimista: 8.850.000 X § pessoas por casa niimero bem inferior ao otimista. De outro lado, uma 5 do Pm, em revestimento, Além de exprimir parece ativamente no mer. sivamente num imenso ex (diziam os pessimistas) milhées ‘um cilculo efetiv 4.250.000 marginais, capacidade ociosa de 48%, 01 1 4 irracionalidade do sistema, sua monstruosa oligofrenia, revela que o estreito mercado esti abarrotado, Subdesenvolvimento doido: ao lado da fome imensa superprodugdo acompanhando a morte lenta da maioria nas chogas, a publi cidade nao consegue impingir todas as pastilhinhas ao consumidor saturado Mas surge o generoso BNH para atender aos milhdes de desabrigados. Compre ende-se: os industriais de materiais para construgo civil devem estar forme dos com 0s construtores no mesmo horror, seu dcio se esvai nesta capacidade ociosa. Mas a abundancia de materiais superficiais nao é somente indice da economia ilhada: os materiais so a base da produgo, o receptaculo do traba Iho transformador. A produgio os transfigura, mas também guarda algunas 17 Dados da revista Conjuntura Econdmica de dezembro de 1968, artigo de fundo pao cnne de suas caracteristicas, as fundamentais sobretudo, O que sio transpareceri na obra que os incluir. A maioria é dispensivel, concluiriamos, se fizéssemios tuiria trabalho inutili um exame rigoroso de sua razio de ser técnica. Co! zado nao fosse a constituigio do consumidor, sempre preparado para consumir qualquer absurdo, desde que preencha alguma fungio magica ou compensa toria, dita “estética” O que sao estes materiais: produgao Aspera como qualquer outra em nosso sistema, resultado de trabalho pesado reunido superfluamente em merca doria de nenhum valor de uso real. Eles escarnecem o hipotético contetito humano genérico que deveria animar qualquer trabalho ¢ o atendimento de necessidades objetivas. Somente o trabalho que preenche lacunas reais pode pretender a dignidade em sua definigao. E bem verdade que na produgiio capi talista nenhum trabalho atinge esta dignidade, est sempre distante, ¢ mediato, imposto, em si aleatorio. Mas em nenhum local se espelha com tanta nitidez a indiferenga direta pela utilidade, a sua estima somente como trabalho social meédio, como valor (de troca) perseguido na mercadoria, que nas ocasides em que sua fungao preenchedora de caréncias reais inexiste ou é muito ténue. o sistema aparece em sua nitidez pornogratica, capital fornicador em gestacio Permanente, que aniquila os pais desconhecidos que o semearam e sb quer filhos para alimentar-se. Sem finalidade, 0 trabalho, puro denominador comum, € apreciado por sua quantidade. Emprega 0 produto de sua vacuidade que res. surge, como contraponto obrigatério, na aparvalhada indecisio do consumidor, ciscando nas banalidades do pseudogosto, motivagdes para o gratuito. Contraditoriamente, estes produtos de miicleo vazio, consumidos pela aparéncia, na obra nada importam enquanto exterioridade, sua razio est na sua esséncia. Pois, o trabalho coagulado nos produtos sera ai empregado Precisamente: na mascaragao do trabalho significativo. Tudo se passa como se fosse questo de gosto. Mas que gosto? O gosto hoje esta morto, nao ha mais subjetividade livre que o sustente, nota Adorno.'* Agora é sindnimo de reconhecimento, re-afirmagao, principalmente na classe média: importa “O fetichismo na miisica a regressio da audiglo”, em Os (Paulo: Abril Cultural, 1980 pensadores: Benjamin, Adorno, Horkheimer, Habermas. “0 proprio conceito de gosto est ultrapassado (..)jé nfo ha campo para escolha; nem sequer se coloca mais o problema, ¢ ninguém exige que os canones da convengio sejam subjetivamente justificados; a existéncia do proprio individuo, que poderia fundamentar tal gosto, tornou-se to problematica quanto, no polo oposto, o direito a liberdade de ‘uma escolha, que o individuo simplesmente nio consegue mais viver empiricamente | Ao invés do valor da propria coisa, 0 critério de julgamento é 0 fato de a cangio > pao cnne sportneo reencomtrar as NOrmas do status 5 ‘ente acumulados pela maciga interiorizags foase questo de gosto, mas é problema de segyyrs” To Su revesmentos hi conereto clunas, vgn, afey An Por baixo dos W mplicidade tosea da estrutura calculada, 1 indica de® Ha teense romissos com a estaitica, COM A resistancia dos ‘ato ssbrias decom re enfim. E, associado a esta racionalidag gn a spo necessrio, do empento, do esforg, da hays? 0 que faz, ndo se desfaz na aparéncig que sua sensibilidade complementary ache fen, conte fosto £0) Se aiyehivendiecll sinais conv passa como se com a raci cisas do trabalho net ririo. 0 homem aparece gua mao e sua inteligéncia, em ilusées. Jo permitem i se, dos revestimentos a obra revela densa cooperagig a que or baixo I racionalidade, trabalho em pureza despreocupada. Mesmo ¢ aa nio destri o impacto inevitavel desta revelagay aa ao * MUito jevantado 1 Fie cxalacdo que a visso do cnjunto de Marca do's Gage provoca vem da inequivoca presenga do abalho que a obra conserva, inde rendentemente do conecimento de seu desenho interno. A enicy qn revpuierépraticament, a didatizagfo da técnica, do process dew sepia elias das sida lags entre a necesidade extrutiay trtva ede uso em suas ene dimensBes/ A densidadeexpressiva do ons Greta aparente (do concreto realmente aparente como Artigas emprepi ns casa Bitencourt e néo do conereto bem arranjadinho da moda) é consediitnei, datinaldade com que rexistra 0 modo de execug, os azares,a matérig tenteamoldads a um projetoracional, a cooperagao entre aforgafsear dominio intelectual, a finalidade evidente. Ora: revestimento no & questo de gosto ~ao mesmo tempo, écomum «toda as casas. Caos: este componente aparentementedesnecessra nig suprimido, como fariam se pudessem com a vida privada aos que procurany, distingo social Sua varingio superficial é pequena se descontarmos dludg intervalos que separam a massa corzida do reboco, oartesanal da contrafag industrial, ao passarmos de classe para classe. A semelhanga que aproxima todos os revestimentos & mais forte que as oscilagdes que os distinguem, Nao servem, portanto, a nfo ser em casos excepeionais ao tesouro expost, Logo, cida de todos; gostar de um disco de sucesso é quase o mesmo que 3 de sucesso ser conh mento valorativo tornou-se uma fiegéo para quem se vé reconhecé-lo. O comportan sereado de mercadorias muisicais padronizadas” (p. 165). -peao do convento de La Tourette”, pp.2u4-21 4 Tlusio, ver “Desenho e o canteiro na concey desta coletinea (Nota do autor em 2005] ont omenome devem corresponder no que é forma mereador comum As casas da burgue ene, dia classe médias h readorin pare que ela é uma coisa muito complicada, cheia de sutilezi metafisica © manhas teolbg) misteriow nela, q sidades hum propri por ‘as, Como valor de ui or cua observe sob 0 ponto de vista qu #* pelas suas propriedades, ou que ela somente recebe essa redades como produto do trabalho humano, f4 evidente que o homem 10 de sua atividade modifiea as formas um modo que the as matérias naturais de Wil. A forma da madeira, por e nplo, é modifi faz uma mesa, Nio obstante a mesa continua sendo madeira, uma coisa ordinéria fisiea, Mas logo que ela apar cadoria, ela se transforma numa coisa fisicamente metafisica, Alé Por com os pés no chiio, ela se pde sobre a cabega perante todas as outras mercadorias e desenvolve de sua cabega de made’ stranhas do que se ¢ n de se cismas muito mais a comegasse a dangar por sua propria iniciati A mereadoria, para Htinuar seu reinado, esconde o que é toma empres tado 0 que nio Esconde as relag faz parecer as relag humanas de que ¢ pura intermediaria & * humanas como conseqiiéneia de sua auténoma movi mentagio, Adquire ares de independéncia, O valor, reflexo do trabalho social genérico, se transforma em sua propriedade intrins Ff fetichismo da mercadoria o nome destes seus Esta inversio, plenamente justificada pela aparén pizarros caprichos” do mercado, tem importante fung o entretanto, Pois é ela que permite as abulagdes da forma mantenedora do sistema, Ela alicerga a falsa a-historicidade da forma merea doria, pois o valor e suas leis surgem como propriedades aturais das coisas & nao como dos modos transitérios das relagdes humanas. Sua importineia é tal que, na proporgi desagrega, a mereadoria faz gind trabalho humano, ¢ pei 0 mesma em que o sistema se sticas para no mostrar que é produto do egue a aparéncia dos obje 0s industriais afastados de qualquer presenga humana. “Argucias teoldgicas”. Dai este desenho exato, de geometria perfeita moldada em irrepreensiveis supertic tos naturais ou de objetos resultado dos prove: metalicé 8 dos produtos mais avangados, tipo Ulm e Cia. Procedentes de misteriosa e sobre-humana tecnologia, ni > vem 20 Karl Marx. O capital, op-cit, vit, typ. 70. ott omentme 1a sua vizinhanga, Or ao ha homens 1 jramento: nil jemer 0 desmascarame™™ ais embaragosos de sua indubitaye) . yimos, va ind Frientemente atabalhoadd, 0 e480 das rg a Jitante paz do consumidor, cria problemas de th Jos andnimos ¢ repelido respeito dos ee erguntas @ porque t por tras do revestiment presenga. Mesmo do operario incomoda & consciéncia, pois levanta Pt res do tesouro apropriad®. 9 sistema. Num tempo em que as cj ee ae Jar que as coisas encobrem relagdes humanas sas definem o homem, fev" ®’ pagar o trabalho revelador, e para isto nad, é subverter a ordem. Ha que apagi er em melhor que o trabalho inutil, 0 revestiment 0 : ente adaptada: nele 0 homem oper’! ‘0 esta ausente, 86 com, nte ad hi a tho abstrata a depositar valor nos materiais ini. finalidade objetiva, estes méveis de trabalho am na sua producdo. A palavra mesma diz: re mascarar, Ou a outra, acabamento, com é magnificam parece a forga de trabal teis. Necessidade, caréncia, humano significativo ja faltavs i 4 eto, vestir, cobrir 0 que ja esta completo, res ressonéncias fimebres. O revestimento que fantasia cada classe de suas aspiragdes é o mesmo que encobre as marcas das razes que fundamentam a mascarada: a alienagdo do produto da forga de trabalho alienada. Voltare. mos ao tema. MANUFATURA A areia, a brita sdo descarregadas. Um servente organiza os montes no canteiro; outro transporta parte para o ajudante de pedreiro que os mistura com cal ou cimento, trazido do depésito por um servente diferente; co quinto poe a argamassa em latas ou carrinho; leva ao pedreiro que assenta tijolos, reboca, fixa ou preenche uma forma, assistido por seu servente que carrega o vibrador ou recolhe o excesso caido. Em cima, o carpinteiro prepara outras formas com a madeira empilhada perto, depois de caminho semelhante ao da argamassa com seus ajudantes e serventes. 0 armador dobra as ferragens assistido do mesmo modo, ¢, por toda a obra, vidreiros, marceneiros, pintores, eletricistas, encanadores, imper meabilizadores, taqueiros, faxineiros, sempre acompanhados de serventes mais serventes. Divisdo mitda do trabalho, em cada etapa, divisdo hie rarquica de fungdes. Pas, picaretas, talhadeiras, colheres, desempenadeiras, baldes, varas, prumos, metros, niveis, linhas, serrotes, goivas, formées, enxés, martelos, escadas, brochas, soldadores, rosqueadores ete. ete. Instrumentos rudimentares adaptados as operagdes diversas, Raramente, uma betoneira um elevador, um guincho, um vibrador, uma serra elétrica, uma raspadeira Poucas maquinas de fungio auxiliar nas tarefas mais pesadas, nenhuma operatriz. Um mestre transmite instrugées, organiza a cooperagio, fiscaliza. impede demoras, aperta: é, também, feitor. Caracterizamos a tipica manuf pao cnne 33 tura serial. Simplesmente, na construgao civil, a manufatura é deslocada, nao seus produtos*! A maquinaria especifica do periodo manufatureiro permanece 0 proprio ‘trabalhador coletivo, combinagio de muitos trabalhadores parciais”” Uma quantidade enorme de operdrios subdividem as fungdes motora e operacional. A forga do servente alimenta a operagio manual do pedreiro carpinteiro, armador ou qualquer outro. 0 objeto imenso, 0 utensilio abrigo em massa nasce em dezoito a trinta meses gerado pela energia pura do ser- vente, a habilidade tosca dos semi-qualificados acompanhando as ordens do projeto. Coluna e viga moldadas em tabuas individualmente, apesar de iguais, sustentam milhares de tijolos diariamente acumulados; formando as figuras desenhadas no projeto, tudo encapado, alisado, para parecer rigorosamente produzido. Caixilhos, vasados, tubos, portas, tacos um a um, transportados, encaixados, amarrados, adaptados, disfargados. A forga de trabalho, meio de produgdo mais barato, ¢ abundante, cria a massa uniforme de moradias com técnica retrégrada. A produgio massificada dos alveolozinhos particulares ¢ feita pela exploragdo em massa da energia individual. A produgio nao se destacou, ainda, de seus fatores humanos, nao adquiriu a independéncia da linha de montagem automatica e mecinica. Seu micleo é 0 trabalhador coletivo, trabalhadores individuais em cooperacio. DIVISKO DO TRABALHO A divisio do trabalho, mais do que as exigéncias do pro- duto, segue as conveniéncias dos produtores proximos. Assim, cada etapa da obra pressupde outra terminada, os servigos se sucedem no tempo. Ha que terminar as tarefas do pedreiro, antes que encanadores e eletricistas entrem na obra. A 21 O processo da construgio civil € complexo, havendo combinagio da manufatura serial com a manufatura heterogénea e a indistria. Por exemplo: ha sinais da manufatura heterogénea na sucessio das varias etapas, quando saem os pedreiros da obra e entram 0s pintores, ou ainda quando pecas produzidas fora do canteiro so montadas na obra (caixilhos, armérios, tc), Os produtos industrializados também comparecem, ou como incluidas na obra (metais, ratéria prima (ferro, cimento) ou como pegas ase ferragens, lougas de banheiro, umindria, etc). A produgio no seu conjunto, ou no é dominantemente do tipo da manufatura serial. E 0 interior de cada etapa, entretant que caracteriza a forma de produgio da construgio ci é sua forma dominante, e no a do componente mais avangado técnica e historicamente a2 Karl Marx, O capital, op.cit, ¥.1,t-1)P-275; pao cnne 85 simultaneidade raramente é pos vel e as varias equipes se alternam, ¢ cada uma deve completar seu servigo de uma s6 vez. A div siio de fungdes, quando é estabelecida no projeto, responde a este principio econdmico. Ora, dai surgem varias conseqiiéncias, Em primeiro lugar, 0 género de divisio do trabalho. industria adivisio é guiada pelo processo objetivo de produgio det pela linha de montagem mecanica. O que a de plementares da maquina, aqueles fatores de ou que requerem escolha, decisio, etc, nante é a destreza, a erminado termina so as necessidades com produgio ain¢ Ao contrario, nam ahabilidade ea quantidade de Uunidade de produgio, 0 operario, A divisio nio é mais a do tri renciada, la nao automatizados, anufatura, o determi trabalho compativel com a dada uma velocidade ‘adicional of subdivisaio d do processo geral. 0, um campo de técnica dife B como se houvesse stes oficios — mas gua Caracteristica sua, a condensagio de habilidades parci exteriorizada na maquina, A ee see on mesmas operagdes parciais di ispensa a generalidade eae a pes conseqiientemente em maior escala 0 operario ™ etapas parciais, Cada etapa é reduzida a ‘dando uma ais no individuo, nio Condensagio é menos ampla que no oficio—a é S suas formas mais simples e ideal sempre pro curado é 0 de absoluta aur: i choque ~ encanadores colocador de © economia qUebrande na. Os incomtaveis choques entre estas craps Servigo do pedreiro, 0 azulejista o do encanador, ae Cte. ~se origina nesta tendéncia de autonomia inca deg ended, que le-residéncia, que Fido). A prs, i cquipe PF organiza ‘ quand aes 6 serealioa pela ou eRtra, seu contato miituo & minimo, ¢ praticam™ 3 Aqui 0 trab; 0 do mestre. Ao contririo da manufatura habit a abalhador coleti Totalizacig ; ive nao chega a formar uma totalidade organic, i & fungio 4, Portas ae “um operario especifico, o mestre- + Ineompatibi ho © a gue re Patibill ‘Wer a industrial pe encontra poderosa resister exi é io produ ‘ige a aparéncia do nio prod i a uma. So do trabalho favorece esta autonomia, pois Pela mediag ratureira do t idade entre a divisio manufatureira d liza . Aqui, niio haveria razde foe! : Osis80 das etapas atualmente distintas ¢ sucessivas Ei cletricistas poderiam estar presentes em torno de ¢ vida ininterruptamente et 2 ee trabay beta 2 simultaneidade, Além dis, st it Ada bela mane gs Scenbuada, completando a decom sot dot a entuacay nufatura: a atual semi qualificagiio tenderia 0, pase eParAGio entre tiva pay, PaS*@gem espontar Aa indiiss tn Thos, termi Nao bi 2 as de face sunt tarefas de pensar © as de et est nea, organica ¢ continua di te 7 i a inte 4a da construgiio, Seri necessiria ua pao cnne Mas a propria manufatu atual nfo apresenta seu melhor rendimento. Entre suas virtualidades t cnicas ¢ de eficacia, e sua atuagio presente, interfe rem as intimeras determinagées da mer Joria que produz. A necessidade falsa de pseudo-individualizagio pela posse do objeto dife rente, o fetiche da mercadoria e a aparéncia de nao produzida geram “poro enormes na produgio. A diferenciagio indtil e parcialmente formal reclama ‘uma continua adaptagao das equipes 4s pequenas mutagdes e, cons sqiien- temente, gasto de tempo na compreensio dos desenhos especificos. A falsa varéncia exige cuidados suplementares que nada tém a ver com produto mesmo, Por outro lado, a estrutura urbana de lotes desiguais, o proprio sistema de propriedade privada do solo e a subdivisio anarquica dos negécios impoe deslocamentos, distncias, arranjos, atrasos, ete» todos geradores de novos “poros” a diluir a j4 precdria racionalidade da manufatura da construgio civ ‘A técnica disponivel na construgao civil massificada é toda a técnica do mundo absorvida ¢ aplicivel. Métodos testados, aprovados, garantidos, entre- tanto, s6 sio incorporados em empreendimentos excepeionais e se difundem testrebuchando, vencendo a imensa inércia sintomatica. A aplicagao de um progresso técnico a um ramo da produgio depende de varios fatores, 0 mais Anémico sendo o genio ou generosidade do empreendedor e os fundamentais G mercado, o sistema, as condigBes da forga de trabalho e 0 meio de producao. Enquanto houver a possibilidade ide venda de um produto produzido com meios arcaicos baseados na forga animal, 0 due significa, enquanto nao for redugio do valor da unidade produ- forcas produtivas mas imposto pelas regras da concorréncis * vide, nao haver& progresso. © capital faz avangar as “na marra” ea contragosto. Por que 5¢ arriscariam os capitalistas se, com 0 “know-how” adquirido, habitos depositados, equipamento amortizado, admi nistragdo e operdrios com comportamen’® conhecido e controlado produzem 10229 Além disso, a industria ‘¢ vendem? Para que tentar © ousar temerariamen! ar integral te a construgio se Baxpriacin ripen. Hb ahganeanon® O°? pretendia financiar inte ebivacinats em Coun A populagio urban dle Cotia era, enti, de quatro va iad dormitrio teria de 30 8357 ura, tet feo ces prvara qo svaplienro proprio capital par instalae uma instr de de 7 mil unidades sil babitant a pré-fabricagio total ® financiados pelo res? sto vetting ober, 00 Hh AIS massa de Iveros que a obtida pelo processo eaicjanal de coorageoe mules cle inddstria total te do wes, a proposta d nites. O pi to permitia preendedores, mnortizada. Aj wr de 0 risco pré-fabricago foi rejeitada, A construgto seria 8 ‘ale atada tradicional uras no desconhecido”. Ni njgres construtoras paulisat iw e modernidade. pao cnne & Iinagio, o avango tecnol6gico da produtividade do trabalho introd igen em contrecidas:erbora diminus a manutenglo da forga de trabalh positando delcioso aumento na xa de sua exploragéo, aumenta a com Peo crgnica 2 ait diminuindo criminosamente aquina substitui operatios, econo 0 Lee ge meer a taxa de lucto, vnio-paga endo da maquina, freqiientemente é preciso aumentar a produgin complicar a administragio, ete. para produzir o mesmo lucro absoluto (massa de mais-valia) para wm capital maior (com conseqtiente diminnigio da taxa de lucro). Bata resistencia é mais operante na mamufatura do que na indiistria. Den trode determinados limites, a industria é obrigada a avangar: aplica capita em méquinas, por vezes custosissimas, ¢ @ cada substituicao imposta pela ‘usura escolhe as mais avangadas, de maior produtividade, As novas maquins aplicadas por uma indiistria, penetram necessariamente nas outras do mestr yamo enas dependentes, forgadas pela concorrénciay impiedosa coveira da “jua de mel” da primeira. A manufatura aplica seu capital somente em mats ria-prima, pouquissimas maquinas auxiliares para trabalho excessiv amente pesado e muita forga de trabalho. A base da ‘manufatura é, ainda, 0 traba Thador coletivo isto é, trabalhadores em cooperagao. B trabalhador, force de trabalho, é sempre o mesmo, ou melhor, sua produtividade decresce com as geragées, na mesma proporgao de permanéncia de sua exploragao, para teza dos tayloristas* ‘Ania possbilidade de avango automético fica restita As maquines auxiliares. ,, Pz rana em rab blend pea avusny anaisa 0S i dustrilizagdo da construgio civil em alguns paises da Europa dep ee Grande Guerra e aponta os seguintes Bene a sep itesidade de reconstrugio das moradias destruidas pel ficit habitacional sério; guerra, is y ie a5 ) poucos capitais disponiveis, dada a prioridade de aplicagies «iris! : para setores basi asicos que também necessitavaim reconstUGl> 24 Arespeito, Peito da progressiva decadéi eral motoae ro ‘rica ea ub ii : Tegra ibslimentato prolongs por gers Ye mipras da Josué ae C8 Fone. $i Geografia da Fome, Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1948 © — Ho Paulo: Brasiliense, 196s, 45 Posteri tein lo pela Perspectiva, 1 A sane industrializagao Blea ra 0. Se acne ott omentame © cos eriais e ) poucos materias e equipamentes, também prejudicados pela guerra p) urgéncia na superagio do déficit habitaciona E) caréncia de mao-de-obra, guerra outra vez habitacional pitais. Quanto 7) mas, Ora, no Brasil valem integralmente os itens a) e b): déficit somos quase campedes mundiais) ¢ pouquissimos a hd excesso (vimos: 48% de capacidade ociosa em 196: grio da CIPHSB mencionado, insuficientes se tivermos em quipamento quase inexistente. Temos que reconhecer superagao do déficit habitacional: o operario que imenso (: aos materiais, como nota o relat vista 0 nosso déficit. Es que nao hé urgéncia na more onde puder. Entretanto, o pré-requisito do pés-guerra é o relativo dma pre houve: candango nao falta. sabemos, ¢ mi que mais distingue a nossa situagao da europeia ‘o-de-obra2* Ha excesso de mao-de-obra, sem- Principalmente hoje: um dos cuidados maiores do nosso governo, anter exércitos e, com especial carinho ¢ silen- pudor, o exército de reserva de mio-de-obra — desarmado, l6gico. pustivel basico da manufatura esté garantido numa quantidade ea um sreocupagdes quanto a sua substituigao. tal preco que dispensa quaisquer P vmmente pressionado por violento empanturraments do mercado restrito as faixas superiores, & classe média alta, poderiamos esperar all significativas na construgao civil (Perdio, ha uma alternativa: um gringo Beer qualquer, forgado a saben méaquinas na metropole pelas asBes vistas, pode, a qualquer momento: desembarcé-las em Santos, aliando se ao nosso progresso). Mas, antes que i mm providenciadas medidas preventivas: 0 BNH foi criado. ‘Com a possivel aproximagio da ors® mere 6, de classe média abastada, aproveitando a grita que 0 social purgués sempre desenvolves desde Proudhon, em torno da ha simunn prechrias condigées) como fosse mal isolado de todos 0s outros da Fendigses proletéria, este argentino surgi. Oportunamente: permite stgerir i ae po, afastar as manichas de dentincia das cioso O com! jteragoes sto ocorra, ja forai ado imobiliério normal, isto jismo pequeno abitagao operiria este ‘ao mesmo tern] generosas intengo favelas. Afastar, nao apagar la mio-de-obra « abundancia e o prego baixo di Jo, além disso, 26 “Nos paises ditos nfo incitam a subst quadros de diregio ¢ de ¥ ae ire. Paris: NRF 1004 P 210 ubdesenvolvidos’[ wuito custoso, exigind Georges Friedmann, Le Travail pao cnne fi do interes da burguesia dissimull criado pelas condighe manutengio2” ar a existéncia de um proletariado ¢ da produgio capitalista e que indispensivel & sua Mas, deixemos as intengoes. Import 1 aqui o fato de o BNH criar, com os recur sos extraidos do operariado pelo Fundo de Garantia por jmenso mercado novo e relativamente artificial de classe média-média, (E bom Jembrar: apesar das ofertas, quase niio houve sindicato de trabalhadores que coh seguisse formar cooperativas habitacionais. Os ope! Tempo de Servigo, wm Arios nao suportariam as cont ces do “financiamento” feito com seus proprios recursos do Fundo) mente, os imensos recursos, que facilmente equipariam indistrias a superagio real do déficit habitacior ). Sintomatice suficientes part ait em poucos anos, com qualidade, si red vidi nabs 8 los, encaminhados a grandes empreendedores ¢ construtore a sean debe e garantia do “desenvolvimento do nosso subdesenvolvimento Os quiais, eo" de nenbun didegichns E " gringo a vista com suas méquinas usadas, ¢ da impraticabilid ade de nova gle riosa guerr y ante ‘a.com o Paraguai, espalham, em doses homeopiticas lespenhhadeiros, suas casinhas, impulsionando com em salutares? e desuma ! io processo tradicional da construgao civil. absurd ovo vigor 0 absurd Mas ha raza : dos que dis ‘azes mais determinantes para a traniiilidade na contradigi? cu aE irsam desenvolvimento e estipulam processos arca Poh seins os de pre An =e tuo Antes de mensions entetanta hq exnniat9°8 0 da construgio civil. rbustivel:? FORGA DE TRABALA Ho A manufatura mével que constitui a con docwil emprega operas trugiio el ios que fe a que podem ser reunidos em trés géneros: um ped i 27 Friedria 7 Friedrich Engels, 4 questo da hy mesmo trabalho de Malberga Engels, cote Alagelo isolav labitagao, Sho Paulos Ac: Hinen de artigos qu wads as rela a dos de ages entre a questilo da trae eablemas do prletriade oo acai vite apn ip ey ttsinados (pe necessidade a pro io capita Aabinagto ou nate pea a oy aus “os foooe de epidemins, oe mis imundos por? edo de produgiio capitalist. Hy daquuele tempo) rnoseos trabalhador™ a de luge Ws apenas... udados aqui como La, K, engi on omenme cy grupo de semi-oficiais, seus ajudantes ¢ grande quantidade de serventes. Na proporcio de 30% dos dois primeiros grupos para 70% do dltimo (informa cao do Senai). A manufatura desenvolve uma hierarquia das forcas de trabalho, 4 qual corresponde uma escala de salarios** 0 sindicato patronal da construgio civil em Sio Paulo forneceu os seguint dados sobre salarios horarios, no ano de 19687” que ilustram a composigio ¢ 4 hierarquia dos trés grupos: MEDIA DE SALARIOS HORARIOS EM NOR$ EM 1968 FUNGKO JULHO ovrvsKo SETEMBRO DEZEMBRO Pedreiro 1,02 1,06 Ajudante de pedreiro 071 o7t Carpinteiro 1,08 1at Ajudante carpinteiro 0,7 077 Armador 1,03 1,06 Ajudante armador 0,75 0,73 Servente 0,58 0,58 Os serventes, cuja ooupagio é ser pura enerEi® fisica auto-movente, sao alta- mente instaveis, trabalhando dias, mes?s, numa empresa. Ultimo dos empregos, sal a Thista respeitado, sua posigao & disputadissima: constitut ponto privilegiado de pressdo do exército de reserva de forga de trabalho. A manufatura particular, seguindo seus cronogramas © réficos “Pert” contrata e descontrata inisiet= ruptamente os operarios desta ‘rea sem preocupagdes, pois sabe que a oferta ¢ raramente anos em uma obra € ‘ario-minimo, nenhum direito traba Be irariniarx 0 capital, op-cita teint: 276. ag O salirio horério médio do servent (sca$ 0,58) corresponde 20 sal ‘Os semi-oficiais portanto, reecbem 2 formagbes do piEest, 0 sal 42,52 (Boletim citado). aproximadamente mensais, Segundo i” em 1968, foi de NS civil, pao cnne maciga a qualquer momento com a vantagem suplementar de escapar ds leg trabalhistas mais facilmente. Além disso, a mobilidade é reforgada pelo com portamento do proprio servente: restrito as tarefas primarias para as quai nenhum aprendizado é necessario, mas sempre se vendendo como “ser em transicdo”, impossibilitado, portanto, de aumentar o valor de sua forga de tra balho pela aquisicao de maior qualificagio no proprio trabalho, procura rea lizar um valor maior para sua forca de trabalho desqualificada deslocando-se entre setores e ramos de produgao.** Ora, objetiva e subjetivamente instavel, sem nenhum laco forte ou interesse especifico em relagao 3 construgio, li sb permanece enquanto sua animalidade, sua forga, serve. A radical negagiio de sua humanidade no trabalho impede qualquer vinculagao nao contratual com ela ou com o ramo. Constitui, assim, 0 operario-padrao, somando a alienagio objetiva dos produtos de seu trabalho a alienag&o subjetiva com relagio a pro dugdo especifica em que esta envolvido.* Os outros operdrios tém fungées especificas na obra. Estas, entretanto, sao parte de oficios decompostos: por exemplo, nao ha um offi sial que trabalhe madeira em geral, nas empresas médias e grandes. Ha o carpinteiro para ® formas de concreto, o especialista em tesouras e coberturas, outro em escadas que nao rangem, 0 marceneiro que faz armarios, outro caixilhos, 0 colocador de pisos de tabuas, o taqueiro, o aplicador de lambris, etc. A divis fo do traba- F vel Iho desta manufatura mével fragmenta os campos tradicionais, ainda v8" em casos mais restritos nas pequenas empresas. Note-se que esta s© lificagao é distinta da semi-qualificagao industrial. Neste, conheciment? adquirido no manejo do maquinario é generalizavel em muitos #4808 dentro de certos limites tecnolégicos. Permite a ampliagao e a transladag! mi-qua 0 sem pate 0s da maiores dificuldades. Entretanto, a semi-qualificagao de alguns oper’? on 4 a 6 pre: coustrugio civil é intransferivel para outros campos da produgao ~ °F pria industriali: oi : ‘Marx & manuscritos, pao cnne 4 revolucionaria, enquanto a de todos os modos de produgio anteriores era conservadora.” O mais dramatico exemplo deste comportamento operario surgiu em Brasi Tia. Alguns quilometros separam a tentada harmonia de Lucio Costa e Nie meyer da caréncia completa. A miséria se espalha nos lodagais das cidades savélites (“cidade” no ¢ a palavra apropriada para designar estes montes de Vixo, “satélite”, é: sub-homens gravitam em torno dos que tém o privilégi a humanidade). O nucleo Bandeirantes, antes acampamento vivo dos reais construtores de Brasilia, campo de experiéncias e expansio de vida de retirantes que des cobriam em si aberturas novas, hoje é am processo interrompido: guarda uni Conheceram 0s operdrios o que sio capazes de fazer e como fazer: antes da inauguragao, no isolamento do chapadio, elancélica e doida marca de wn camente 0 cendrio decomposto do que fo! ensaiaram as primeiras possibili dades da criagio coletiva, do projeto em que se empenharam todos. Fantas deslocada, no ha divida. Mas que a todos percorria diariamente, nas 24 horas de gigantesco ¢ ininterrupto trabalho. Havia empenho maior que 0 esperado de assalariados ~ ingénuo cempentio sordidamente estimulado pelo poder. A festa acabou, os donos chegara® A burocracia governamental, as agéncias do capital ocuparam a cidade O ritmo das construgées diminuiu. Mas os candangos, que pressentiral™ através da ilusdo uma possibilidade concreta, nao se arredaram. 8 volta vida crua do Nordeste nao mais seria suportavel, nem 0 “novo-horizonte” margens infernais da Belém-Brasila. Emtretanto,o capital nfo requens ® seu entusiasmo ¢ aborrecia, a sua racionalidade gelada, @ jinsisténcia do oP ririo: j4 havia roubado 0 que desejava. Por meses, os alpendres das capelas > do trabathador sob apenas um de seus aspectos, qual seja, a sua relagdo com °F eS tosdo seu trabalho. Maso estranhamento nko ve mostra somente no resulta também, prnipalmenta no at da pro dene da pron a ee © poderia o trabalhador defrontar-sealheio ao produto da sua atividad® - ‘mesmo da produgio ele no se estranhasse a si mesmo? O produto 6S S000" rem tp rnin ae oo = 10, apesar de tecnicamente conservador na 0% ya for ae “pesto determinane porque) no tem apse dos meios de Pd a0 Drofugi impie, em cera medida compativel com 0 mpree® d® ** Cae snes quanto ao produ sas rates. 37 Karl Marx, Ocapital op.cit, 1,2, p.89. pao cnne das superquadras abrigaram centenas de familias de candangos sem ocupaga co untigos e 08 egal a informados das antigas condigdes. Pouco a pouco se retiraram para as favelas chamadas cidades satélites, Retirantes, haviam apreendido um pedago do oficio. Aguardam, definhando, que voltem a ser necessirios, que o capital os compre, novamente, e como magia propiciatéria, enfeitam suas chogas com as colunas do Alvorada. O tragico lumpesinato oscila entre duas mortes: por miséria em Brasilia, por miséria no Nordeste ou outro inferno qualquer. A politica brasileira foi desenhada no espago: branca — ordem e conforto calculado para o senhor do capital e do pode re 08 que cabem em suas reservas — € morte, marginalizagao, fome, afastamento para os excedentes, E ainda assim, o candango conserva 0 que fez, prova de sua capa- cidade, nao pisa na grama. Voltaré.** (0 que houve? O candango veio do campo-latifiindio ~ solidao, doen¢a, seca, terras boas cercadas, trabalho irregular quando havia.® Em Brasilia, wm salario e o aprendizado de uma ocupagio que garantia 0 salério, esforgo cole- tivo cujo vazio dissimulado e o hipécrita feitio nao percebia, a vida gostosa do vvicleo Bandeirante, com sua gente, cachaga e prostitutes importadas. Tée- nicos, arquitetos, operarios, ¢ até o presidente em aparente cooperagao con sentida, Na imprensa, nos discursos, o elogio pomposo, enganador. Depois, a erminada a exploracio, danem- verdade do sistema, sua imensa indiferenga: se os candangos. O candango resiste mudamente na amBYE® frustragio: achando-se possuidor de habilidade ontem prezada, espera novo chamamento. Exige, por vezes, quando seu sindicato existi®: O raquitico pegou elefantiase ea exibe supondo satide. Para nada mais serve: E se soma, enquanto aguarda impotente novo capricho do capital, ao enorile exército de reserva de mao-de- obra subocupada e desocupada, garantindo, exclusivamente, baixos salérios para os sorteados que conseguem cocupagdo. Estima pelo trabalho feito, vai dade pelo sub-oficio apreendido, vinculo insubstituivel e intransferivel com sua subsisténcia, impoténcia diante das determinacies do capital, colaboracao mediata na manutengio do processo de produgio obsoleto ¢ de alto grau de exploragio do trabalho. ericamente as relagdes operario-empresitrio. MAts-VALIA Estudemos num’ : ‘ = Apesar de serem simples indices, estes niimeros jndicam a média do funcio- Be ca real daexpaculacso imobitiéria ene inés, hoje. Como poderiamos Payee mice expertnci cr Brat. Rio i ate oe 8296 Bre ccee choices vane: Ov +m <8 rigas camponesas? Sto Paulo: Civilizagio Brasileira, 1962 pao cnne

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