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[Founo 25635. a) Yoana j Sumario rn gmt Theor of cea Tet abindeon oper Moto ee Apresentagto dedigao brasla oe e 7 peo Yeh Enos Union an : ‘ arr 015, Monty Reon Pees ' ric 020 tte bie PARTE Versdeshistricas da transigae ue 1.0 modelo mercantile seu legado a tas asta) a sts 2. Debates marzstas es oa eer some 3. Altemativas marxistas. fC) “ae wwmnincconbe ado ioe rer PARTEML A origem do capitalism A mpd aut or pas, igem do cap ‘Sar conta ldo capri 9810) 4. Aorigem agrévia do eapitaliema .......ceecee 75 SS 5. Do capitalismo agririo a captaismo industrial: ae : esboco suciato..... : aio 6. Modernidade e pés-modernidade........ 00.0. 113 Concusto... bute 1s Exe Soto Nein doe Etre de Le, RI ey . . oa Venki an in Watt | Agradecimentos. oe oe 137 | niin: opm, isda "Ride Indice emissivo. sees 139 {Tong aba A 2001 BEN SS 71Ies90-1 ‘opp 10208 oso cou 3303421405 | Capitulo 4 A origem agraria do capitalismo A emergéncia do capitalismo certamente pressupés 0 feudalismo ‘ocidental, para ndo falar do desenvolvimento de algumas formas de propriedade da Antigtidade greco-romana Mas, uima coisa é dizer ‘que o feudalismo eutopeu foi uma condigio necessiria do surgimen- {0 do capitalismo (0 que, als, outros fatores também foram, como, & existéncia de uma rede de comércio que inclafa um mundo muito além da Europs Ocidenta),e outra bem divers é dizer que ele foi suficente. O feudalismo na Europa, mesino na Europa Ocidental, «era internamentevariad e produziu diversos resultados diferentes, apenasum des quais foi ocapitalismo. Naose trataapenas deindices diferentes de “desenvolvimento conjunto e desigual”, ou mesmo de fases transicionais diferentes. As cidades-estados autOnomas que emergiram na [dla renascentista, por exemplo, ou\o Estado absolu- tista na Franca, foram formagbes distinta, cada qual com sua l6gica interna de funcionamento, que nao precisariam ter dado origem a0 «apilalismo. Nos casos em que elas desembocaram no capitalismo, {sso se deu somente go entrarem na érbita de um sistema capitalista jf existente e das pressdes competitivas que ele conseguin impor a seus rivais politico, militares ou comercisis, Depois desse momen- ‘o, nenhuma entrada na economia cepitalista pide ser igual as ante- rlores, & que todas fcaram sujeitas a um sistema capitalists maior € cada vee mais internacional,” A tendénciaa presumir que o capitalismo foi um produto inevi- tével do feudaismo europeu, ainda que antagonico- ele, enraiza-se, como vimos, nt convicca de que as cidades auténomas que cresce. Fam nos intersticios dss “soberanias fracionadas” do feudalism fo- = enon 76 Aovgem do capiisene ram nfo apenas o inimigo natural que viria a destruir 0 sisterna feudal, mas a semente dentro dele que datia vida ao =epitalismo, Desligarmo-nos dessa pressuposicao implica, em primero lugar, se- pparacmos capitals de burgués capitalism de cidade. Capitatismo agrario ‘A associagao do capitalsmo com as cidadles € uma das convendes ‘mais firmemente estabelecidas na cultura ocidental, Supoe-se que o capitalismo tenha nascido ese criado na cidade. Mais do que isso, en- tretanto, a implicagio € que qualquer cidade —com suas priticas ca- racteristicas de intercimbio e comércio — era, por sua prépria natureza, capitalist desde sempre,e que somente obstécuos externos impediram que qualquer civilizacao urbana desseorigem 20 capitals- smo. S6 a eligi errada, o tipo errado de Bstado ou outros grilhoes ideol6gicos, politicos ou cultutais, que atavam as maos des classes ur- bbanas, é que impediran o captalismo de emergir em todo e qualquer lugar, desde tempos imemoriais — ou, pelo menos, desde que atec- nologia permitiu a produyio de excedentes suficientes. Segundo ess vsdo,o que explica o desenvolvimento do capitalis- ‘mo no Ocidente éa autonomia singular de suas cidades. de sua classe ‘quintessencial —osburgueses. Em outras palavas, ocapialismo sut- sitrmo Ocidente menos pelo que estava presente do que pelo que esta- va ausente: o cerceamento das priticas econdmicas urbanas. Nessas condig®es, foi preciso apenas que houresse urna expansio mais ou ‘menos natural do comércio para desencadear o desenvolvimento do ‘apitalismo até sua plena maturidade. $6 se precisow de um cresci ‘mento quantitativo, que ocorreu, como secia quase inevitivel, com 0 passar do tempo (em alguimas versbes,& claro, ajudado, mas nfo ori ginalmente causado, pela “stca protestante”) H& muitas coisas questiondveis nessas suposigdes sobrea liao natural entre as cidades e capitalism, porém a que maisse destaca entre elas deve sera tencencia a dar a0 capitalsmo ume feigfo natu- ral, a disfarsar sua singtlaridade como forma social historicamente ‘specifica, que teve um comeyo e tem potencigimente um fim. A {endéncia a identifci-lo comas cidades eo comércio urbano, como ‘Aorigem agetia do caps ” vimos, costume ser acompanhada por uma inclinago a fazt-lo pac reoer uma consequéncia mais ou menos automética de praticas io antigas quanto ahistoria humana, ow até conseqiéncia de urna incl hnagdo “natural”, nas palavras de Adam Smith, a “comerciar, perma. tare trocar”, Talver ocorretivo mais salutar desses pressupostos e de seas im- plicagdes ideolégica seja 0 reconhecimento de que 0 capitilismo, com todos os seus irapulsos smamenteespecificos de acumulagaoe maximizacao do Iuero, nao nasceu na cidade, mas no campo, Hum {ugar muito espectfico¢ em época muito recente da historia huma- na. Nio precisou deuma simples extenstio out expansio do escambo ‘eda troca, mas de wma transformacio completa das relagoes erat. ‘as humanas mais fundamentei, de um ompimento com antiqis. simos padeées de interagdo humana com a natuireza. Durante milénios, os seres humanos proveram suas necesside- «des materiais trabalhando a terra. B, provavelmente por quase tanto {tempo quanto se dedicaram & agricaltura, dividiram-se em dasses, ‘entre os que trabalhavama terra eos que se apropriavam do trabalho atheio. Fssa divisto entre apropriadores e produtores assumiv mi {as formas, porém uma catacteristica comum foi que, tipicamente, 9s produtores dizetos eram camponeses. Esses camponeses prod tores permaneciamn de posse dos mncios de produsto,particulacmen. te da terra. Como em todas as sociedades pré-capitalistas, eses produtores tinham acesso dreto aos meios de sua reprodugde. Sig. niffca que, quando seu trabalho excedente era apropriado por explo. adores, isso era feito através, do que Marx chamou de meios “extra-econdmicos” — ou seja, através da coersio direta, exercida por grandes proptietéios ou Estados que empregavam sua forsa su. perior, seu acesso privlegiado a0 poder militar, juridico e poltico, Essa ¢, portanto, a diferenca basica entre todas as sociedades pré-capitalistas eo capitaismo. Fla nada tem a ver com o fate de = producao er urbana ou rural, etem tudo aver comas telagdes parti- ‘ulares de propriedade entre produtorese apropriadores, soja na in. lstria, sea na agricuttura. Somente no capitalismo é que o mode se apropriagdo dominante baseia-se na desapropriagio dos produ. toresdizetos legaimente ives, cujo trabalho excedente €apropriado ” Acrigrn do capitalazno 1por meios puramente “econémicos", Como os produtores dicetos, 1o capitalsmo plenamente desenvolvide, sto desprovids de pro- priedade © como seu nico acesso aos mes de prodisio, aos te- uisites de sua prépria reprodusfo e alé aos meios de seu préprio trabalho €a venda de sua capacidade de trabalho em troca de um sa- litio, os capitalisas podem apropriar-se do trabalho excedente dos ‘rabalhadores sem uma coagto direta. ssa relacio singular entre produtores e apropriadoresé medi da, obviamente, pelo “mercado”. Houve viios tipos de mercado a0 ‘Tongo de toda a historia escrita da humanidade, e sem dhivida antes dela, jé que as pessoas trocam e vendem seus excedentes de muitas smaneitas diferentes e para varios fins diferentes. No capitalismo,en- ‘tretanto, o mercado tem uma fungao distintiva e sem precedentes, Praticamente tudo, numa sociedade capitalista, € mercadoria pro- duzida para o mercado. E,o que éainda mais fundamental, o capital 0 trabalho sto profundaimente dependentes clo mercado para ob- ter as condigbes mais elementares de sua reprodugso. Assim como 65 trabalhadores dependem do mercado para vender sua mio-de- ‘obra como mercadora, os capitalists dependem dele para comprar a forga de trabalho e os meios de produgio, bem como para realizar seus lucros, verdendo os produtos au servigos produzidos pelos tra- balhadores. Fssa dependéncia do mercado confere a este um papel sem precedentes nas sociedades capitalisas, nfo apenas como wm Spl mecnio de os ow dru, mas ome odetermi- nante e regulador principal da reprodusao social. A emergéncia do tmerido somo determinants da eprouytosocal presupos sun penetra¢io na producio da necessidade mais bésica da vida: 0 ai- mento. Ese sistema singular de dependéncia do mercado acarretarequi- sitos e compulsdessistémicosespecificos, que nao sio compattilhados or nenhur outro modo de produ: os imperativos da competi 80, da acumulagio e da maximizagio do Incro. esses imperaivos, por sua vez, significam que 6 capitalismo pode e tem que se expandit constantemente, de maneiras em graus que nfo se parecem cam os 4e nenhuma outra forma socal. Ele pode e tem que acamular cons- tantemente, buscar constantemente novos mercados, impor constan- ‘Arig spied capitate ” femente seus imperativos a novos teritios e novas esferas da vida, todos os seres humanos ¢ ao meio ambiente natal Quando reconhecemos qudo dstntiva so essa relagBesepro- ‘ess08 sociais, quao diferentes sao das formas sociais que domina ‘am a maior parte da histéria humana, torna-se claro que é preciso ‘mais, para explicar 0 surgimento dessa forma social caractristica, do que opressuposto paralogistico de que la sempre exist sob for. ‘ma embrionaria, precisando apenas ser libertada dos cerceamentos ‘fo natursis. A questao de sua origem pode ser assim formulada: ‘dado que os produtoresforain explorados pelos apropriadores du- ante milénios, de maneiras nao capitalistas, antes doadvento do ca. Pitalismo, e dado que os mercados também existiram “desde tempos Jmemoriis”e em quase toda parte, como foi que produtorese apro- priadores, assim como as relagdes entre eles, passaram a ser tio de ppendentes do mercado? Ora, € 6bvio que os longos e complexos processos historices que acabaram levando a essa situagio de dependéncia do mercado pode- tiam se indefinidamente recuados no tempo até suas origens. Mas Podemostornara questio mais ci de manejar, dentficando a pri ‘eira época e lugar em que ume nova dindmica social de dependén- cia do mercado foi claramente discemtvel, Mesmo depois do século XVIl a maior parte do mundo, inclu ve a Europa, estava livre dos imperativos de mercado que aqui rest mimos. Por certo existia um vasto sistema de comércio, que se «stendia por todo o globo. Mas em parte algums, nem nos grandes centros de comércia da Europa nem nas vasas redes comeseais do ‘mundo jslimico ou da Asia satividade econémica ea produgzo, em particular, eram guiadas pelos imperativos da competi e da aeu- mulagie. O principio dominante do coméicio, em toda parte, era “comprar baratoe vender caro”, © comércio internacional era, ssencialmente, umn cométcio de transporte, no qual os mercadores compravam produtos mum local para endé-los com luero em outro. Contudo, mnesmo num incor ho europen poderoso relativamente unifcado, como a Franca prevaleciam basicemente os mesmos principios do comeércio nio-ct, lista. Nao havia um mercado nico ¢ unificado, um mereado em ” ‘Acrigem do coptaiana «que as pessoas auferssem Iucros nde por comprarem barato e vende- sem caro, no por transportarem mercadorias de um mercado para jutro, mas por produzitem por um custo mais eficente, em concot- renciadireta com outras pessoas no mesmo mercado. ‘0 comércio ainda tendia a ser de mercadorias de Iuxo, ou, pelo menos, de mercadorias destinadas as familias mais présperas, ou que atendessem as necessdades e aos padres de consumo das clas- «es dominantes, Nao havia um mercado de massa para produitos de ‘consumo baratos ¢ cotidianos. Tipicamente, os produtores campo- neses produziam no apenas seus alimentos, mas outros produtos do cotidiano, como o vestuério, Podiam evar seu excedeate para os rmercados locais, onde a renda oblida era trocada por outzas metca- doris. Os prodntesagricolas podiam até ser vendidos emmercados ‘mais distantes. Mas, também nesse caso, os principios do comércio ‘ram basicamente idéntieos aos dos produtos manufaturados. [Neste ponto, os leitores poderao recordar esclarecedora argu- :mentagao de Karl Polanyi sobreo comércio antes do advento da "so- ciedade de mercado”, sobre seu cardter fundamentalmente nao competitive. Mas, permitam-meesclarecer alguns pontosque talvez iio fiquem inteiramente claros na exposigio de Polanyi, Tomemos ‘exemple do comércio de longa distincia, a forma particlar de ati vidade econdmica que definiu os grandes centros comeciais que, segundo todas as versdes do modelo mercantil,teriam sito os pre= carsores do capitalismo, Esse tipo de comércio assumia« forma de ima “arbitragem comercial entre mercados separados".! Comprar Darato num mercado e vender caro em outro era o princiio opera

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