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APceu SOB O ASFALTO DO PROGRESSO: OS RIOS.INVISIVEIS DA ZONA URBANA DE BELO HORIZONTE UNDER THE PROGRESS OF ASPHALT: THE INVISIBLE RIVERS OF BELO HORIZONTE URBAN AREA i Alessandro Borsag Brenda Melo Bernardes"* RESUMO 5 ti6s desempenhavam, inicialmente, um estratégico papel proporcionando a sobrevivéncia © 0 transporte, induzindo a formacao de nécleos popillacionais nas suas proximidades, Contudo, a partir da final do- século XIX iniciaram-se a canalizagio de importantes cursos ¢agua com o objetivo de proporcionar expansio’ urbana ¢ salubridade dos ceittos utbanos. No caso de Belo Horizonte capital plansjada, foi mocessdria a retficago ¢ canalizagio dos cursos dégua pelo Poder Piblico para a mposigio de tragade viitio, Nesse. sentido, 6 presente artigo fem como objeiv & analise do piocessa de insoreao ¢ cobertura dos rios na zona plancjada da capital mineira, Seri foco de investigacdo o ribeirao Arudas ¢ dois dos seus alluentes da margem diveita, as cérregos do Aeaba Mondo e Leitia, stualmente ‘esconidos sobre: mall vidria de Belo Horizonte, a partir da possiilidade futura da reabtitagio € reinsergio dos mesmos na paisagem urbana, efomando-os como um importante clemento estruturador surbano, Palayras chave: Rios urbane’, Espago urbiano, Paisagem urbana, ABSTRACT ‘The tivers pliyed a strategie’ role, providing survival and transpott; inducing the Formation af settlements around it, However, from the late 19 century began channeling of major water courses. aiming at the: urban sprawl and urban health. In the ease of planned capital Belo Horizonte, was necessary rectification sand piping the watercourses by the Government for the imposition of the rod circuit. In this sense, the article aims at the insertion process analysis and coverage of the rivers in the arca planned from the ‘capital of Minas Gerais. Iwill be investigation focus the Armudas' River and two of its tributaries on the ight bank, Acaba Mundo. and Leite, currently hidden on Belo Horizonte roads, and their future: rehabilitation possibility and reinsertion at urban landscape; itis returning them as an important urban initiator. ‘Keywords; Urban rivers. Urban space. Urban landscape, Introducio Os rigs urbanos das cidades brasileiras em sua maioria so vistos como entraves para 0 “processo de expaiistio da malha vidtia baseado, sobretudo, na politica * Graduado em Geografia pela PUC Minas e autor do site www curraldelrey.comy destinado ao resgate e construgo a memoria urbana de Helo Horizonte @do lvro Ras invisvels de Metrdpale Minera * Graduada-em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitario Metodista Izabela Hendrix e pés-graduada na Especializacae, em Sistemas “Tecnoldgicos @ Sustentabilidade Aplicados 20. Ainbiente Construldo pela ‘UFMG; professora do curso de Arquitetura no CUMIH. 25 READCHH — Revista Eetravica do Arai Pabicods Gad de Belo Horizonte, v.34, seeiroide 2016 -1SSN: 2987-8519 APCpH rodoviarista, sindnimos de degradagdo ambiental ¢ desprezados pela sociedade pelo Poder Publico. A cidade de Belo Horizonte ¢ mais um notivel exemplo dessa telagaio negativa estabelecida entre 0 desenvolvimento das cidades € os cursos ddgua. Construida pelo Governo Estadual para abrigar a capital de Minas Gerais, desde sua inauguragio em 1897, até a atualidade presencia-se um process de retificagto, canalizagio e cobertura dos cursos ¢’sigua de-maneira mais intensa em determinados periodas, ‘como entre 1925 ¢ 1944, ¢ com menor intensidade Como nos primeiros anos da capital, Essas modificagbes levaram & erradicagiio de. importantes cursos d’igua da paisagem urbana da capital coiespondente a bacia do ribeiro Arrudas, Nos tiltimos anos esto ocotrendo diferentes reflexdes sobre o processo de, ocultagéio dos cursos d’égua em Belo Horizonte, j4 que a continua impermeabilizagao do sola, 0 intenso adensamento populacional e a ininternupta veiticalizagao, itradiando da regidio central para as zonas mais afastadas da vidade planejada, sobreeaegam os rios urbunos cofvertidos ‘em emisséirios de esgotos e receptores de toda a agua pluviil das vertentes impermeabilizadas. Os problemas decorrentes desse erescimento urbano acelerada podem ser constatados, nos periodos: chuvosos, quando as vias construidas sobre © leito dos cursos digua se transformam em verdadeiros rios, acarretando: intimeros transtornos. para a populacaio ¢ trazendo.& lembranga que “sob a rua ainda existe tim rio”, A partir das mazelas causadas pelo emprego do método da retificagiio da canalizagdo, surgem todos os anos trabalhos ¢ movimentos" questionando, entre: outras coisas, 0 ininterrupto, emprego de uma técnica em desuso em paises que agora feabilitam. os ‘seus ios urbanos, a partir da compreensio da importincia das dguas urbanas ¢ do conhecimento adquirido pela populagio, que em muitos casos desconhecia aexist@ncia de ui iinporiante curso d”aigua dentro da sua cidade, Dessa forma, 0 objetivo do presente artigo ‘é colaborar para a alguns dos rios “invisiveis* de Belo Horizonte que foram retificados, canalizados escondidos para 2/expansio da malha urbana da capital, procurando contribuir pata (reJconhecimento da rede hidrografica da capital ¢ das profundas modificagdes ocorridas no espago urbane da urbe, que culminaram no ocultamento desse importante jemtificagdo de elemento natural, Antes considerados elementos referenciais ¢ integradotes da paisagem urbana, os cursos d’gua ainda so vistos como entrave para a mobilidade ¢ para o desenvolvimento urbano de Belo Hotizonte, 6 que tem ocasionado o esquecimiento ¢ *S Destacammse 08 trabalhos académicos em diferentes ateas do conhecimente © as ages dos Coletivos, aquestionando a solu ile lenalzagdo) para ae dguas urbanas entre outras clea. 26 READCHH — Revista Eetravica do Arai Pabicods Gad de Belo Horizonte, v.34, seeiroide 2016 -1SSN: 2987-8519 APceu proprio desconhecimento da sua existéncia por grande parte da sociedade, colocando Belo Horizonte na contramio das atuais politicas de’ gestiio dos recursos hidricos. Nesse caso, toma-se necessirio recorrer aos mapas produzidos desde a construgio da capital até a década de 1960, perfodo’ da produg%o do tltimo mapa nio qual figutam os trios urbanos abordados nesse estudo para identificagio dos caminhos seguidos por eles dentro da zons urbana planejada da capital mineira. ‘A escolha da andlise do ribeiriio’ Arrudas e de dois dos seus principais afluentes, diante.de quase 700 km de cérregos existentes no municipio de Belo Horizonte'®, & justificada pelo fato dese: ribeitio atravessar a zona urbana planejada pela CCNC destinada ao abrigo dos funciondrios piiblicos, que dispde- de toda a infraestrumura necesséria para o desempenho da funcdo administrativa da cidade, além de concentrar comércios, ‘servigos © eqipamentos comunititios, caracteristicas. constatadas desde a inauguracao da capital em 1897, Além disso, a érea ventral, inserida nas bacias. dos ebrregos do Leitdo e do Acaba Mundo e do proprio ribeiro Arrudas € a que-apresenta volume significative de documentagio disponivel para pesquisa, assim como intimeras imagens e plantas permitindo a compreensio das transformagées no,espaco urbano ao Tong das décadas, Os rios urbanos no tragado vidrio de Belo Horizonte: erradicago para o progresso da capital As terras atravessadas, pelos rios, ribeirdes © cdregos sempre foram locais ‘attatives para 0 agrupamento humane némade ou permanente por fornecerem bons solos para 0 cultive de alimentos, vérzeas proporeionando melhor ocupagiio, além de outras condicionantes como a possibilidade de transporte pelo curso dos tios, que facilitavam © desenvolvimento das aglomeragSes huttianas ao longo dos séculos. Ainda deve ser considerado o fato de que esses cursos d’4gua foram e so utilizados como demarcacio territorial, protegio e coredores de circulagio comercial ¢ populacional, entre outras atividades necessirias ndo 86 para a manutengaio da sociedade, assim como para_o fortalecimento comercial de uma determinada regio. Além disso, uma cidade geralmente desenvolve e estrutura sua malha urbana a partir do eixo de um curso 4 4gua, os quais.em alguns casos determinam ¢ norteiam o seu erescimento. A dgua é a garantia da sobrevivéncia de um néicleo urbano. Nesse sentido pode-se dizer que até meidos do século XVII os cursos dagua eram vistos como elementos integradores da * Datios obtidas a partir da publicaga do DRENURBS (2002). 27 REAPCEH ~ Revita Eletdica uo Araui Pabicoda Gala de Beta Horizonte, v.94, seeiroide 2036 SSN: 2987-8519 APCpH paisagem urbana, desempenhando importantes fungies na delimitagdio territorial, na fettilizagdo dos solos, rio comércio fluvial, abastecimento ¢ no exercicio de atividades cotidianas como nadar, banhar ¢ pescar. Nese ‘contexto, ao se analisat a expansdo urbana dos niicleos urbaitox’ das cidades de $20 Pauilo, Rio de Janeiro € mesmo de Belo Horizonte, apesar do:surgimento recente em relacdo as duas capitais, depara-se com uma estruturagiio urbana semelhante no que tange’ 0 crescimento no sentido centro-periferia a partir da definigio de um modelo de expansio, concéntrica (VILLAGA, 2001, p.38). Entretanto, para que esses niicleos fossem consolidados houve a necessidade de sobreposigdo pelo sistema vistio, tanto. das. barreiras fisieas representadas por ferrovias, quanto As barreiras. naturais conformadas por rios (VILLACA, 2001, p.40). Apesar de tais expanséies resultarem em, desenhos urbanos.distintos, vesifica-se ino processo de ocupago e crescimento dos centros. urbanos a partir do século XIX uma negacio dos cursos d"dgua integrantes das Cidudes, apoiado em ideias ‘higienistas e em uma politica que privilegiavam. a conformago de ruas ¢ avenidas largas para a modernizaco das cidades, surgido a partir da reforma de Paris empregada por Georges Eugtne Haussmann, entre os anos de 1852 e 1870. Assim, 9s cursos d'dgua que antes eram vistos como. elementos indutores da ocupagiio urbaria passaram a Ser vistos como entraves para o desenvolvimento das sidades ¢ ainda como os principais causadores das epidemias, as quais assolavam os nascentes nticleos urbanos industriais que despejavam todo o efluente gerado nas dguas, agora urbanas. No surgimento de Belo Horizonte, excegio feita ao ribeiriio Armudas, € notério.0 descompasso enlte 6 percurso dos leitos naturais dos detnais cursos d'dgus & 0 tiagado urbano da nova capital, projetada pela equipe do Engenheiro Aariio Reis”. A zona urbana delimitada pela Avenida do Contoro foi definida a partir de. uma malha quadriculada, ortogonal, entrecortada por vias diagonais que convergiam para pontos focais onde eram, previstas’ as pragas principais. A valorizagdo de largas avenidas arborizadas evidenciava a preocupagéio com aspectos relacionados com a salubridade da nova capital, em razio dos problemas oriundos dos processos de industrializagio nos centros urbanos europeus. 7 Deverse ressaltar que a regido ohde se assentou © sitio urbano da nova capital que abrigava anteriormente & arraal do Cura del Rey, que-atéentlo conviva em harmonia om os cursos agua que nascem nas encotas da Sed Grates, ene us ators releras por cus abundica ii da bac do beso 28 READCHH — Revista Eetravica do Arai Pabicods Gad de Belo Horizonte, v.34, seeiroide 2016 -1SSN: 2987-8519 APCpH E importante mencionar que antes da produgio da planta definitiva de Belo Horizonte, foram deserivolvidos estudos de viabilidade para a construgio da nova cidade em cineo logalidades distintas, a partir da andlise de caracterfsticas espectticas das localidades considetadas relevantes para sediar a capital, a saber: arraial de Belo Horizonte, Varzea do Margal (S40 Joao del Rei), Juiz de Fora, Barbacena e Paratina. ios considerados para a escolha do local que deveria abrigar a nova. capital foram 88 coridigdes. topogrificas Iocais, a existéncia de propriedades Os principais crit particulares © de terrenos devolutos e as caracteristicas da rede hidrogrifica existente para estudo de compatibilidade da rede para abastecimento, geragdo de energia © para escoamento de esgotos, A salubridade de cada localidade. era de suma relevancia pata a comissio, assim como 0 abastecimento de agua ea disponibilidade de captagio, distribuigio e a construgao de redes de esgotos. No qué diz fespeito & Agua o arraial de Belo Horizonte, banhado por iniiieros mananciais de excelente qualidade se destacaria dos demniais, a0 mesmo tempo em que 0 relevo info favorecia a construgiio das redes sanitétias. Com a definigao do’arraial de Belo Horizonte, em. 1893, como o'local que deveria abrigar a nova sede, foram conduzidos: outros estudos para planejamento da ocupagao & para fins de desapropriagées do antige arraial, Nesse contexto, tendo em. vista o cariter sanitarista da proposta com a consolidagdo de Targas e aiborizadas avenidas na rea planejada de Belo Horizonte, no foi priorizado, na definigdo do tragado urbano, 0 percurso natural dos cursos d°4gua existentes, que logo foram vistos como barreiras a expansio do tecido urbano, ficando a. cargo das administragdes posteriores & inauguragaio da capital @ insergao na malha urbana planejada. E importante ressaltar que desde‘o inicio do processo de consolidagaa da nova capital tanto 0 cérrego do Leitio quanto 0 eértego do Acaba Mundo foram desprezados pelos planejadores, tendo em vista a limitagio de suas varies para.abastecimento de. Belo Horizonte. Dessa forma, com exee¢%o do ribeitio Arrudax, que era reconhecida como um importante curso d’dgua devido a sua capacidade de drenagem a partir dos cOriegos procedentes da Serra do Curral, os demiai ceriam retificados, canalizadlos a eéi aberto ¢ posteriormente cobertos para privilegiar a implantagiio do sistema viiirio em fundos de vale, j4 que eram reas que apresentavam condigdes topogrificas menos * Ngo seri abordado no presente aitigo o importante cértego da Serra, primeira manantial responsive! pelo stecimerito da nova capital, cujo curso atravessa unta parte da Zona urbana planejada, Por estar coberta desde o Inicio da década de 1930, optou-se por analisar os cursos gua canalizados a céu aberto na dita zona, 29 READCHH — Revista Eetravica do Arai Pabicods Gad de Belo Horizonte, v.34, seeiroide 2016 -1SSN: 2987-8519 acidentadas e mais favordveis para a solugio dos estreitamentos viirios entre as zonas urbana e Suburban, assini como a alegagio di Construcio dos interceptores de esgotos, que acompanhariam 0 curso d°4gua até 0 seu destino final. Nesse contexto, énecessirio ‘© conhecimento do atual tragadlo dos cursos d°4gua aqui abordados (Figuta 1), a saber: Figura 1 — Pate do caminho percorrido na-zona urbana planejada pelo tibeirie Amudas pelos cétregos do Acabs Mundo ¢ do Leitao. Fonte: Google Earth (moditieado por BERNARDES, 2015). Cérrego do Leitiio O cérrego do Leitéio situava-se na porgio oeste do antigo arraial do Curral Del Rey. Procedente das tertas das antigas Fazendas do Leitio, Capio'e do Cereadinho, 0 cémego desigua no ribeirio Arudas, nas reas comespondentes as terras da antiga Fazenda do Sacco. A ccupagio do vale do Leitio teve inicio na década de 1920, a partir da incorporagio da colénia agricola Afonso Pena & zona suburhana da capital em 1914. As coldnias agricolas, que conformavam um cinturio veide & envolviam a zona suburban, ‘eram destinadas go abastecimento alimentar da cidade. & importante mencionar que as reas situadas no vale do Leito eram destinadas pelo poder pablico as familias que apresentavam melhores condigies finaneciras para a compra de lotes, assim a ocupagdo de suas matgens ocorren de forma lenta quando comparada a qutras regiGes situadas na zona suburbana, as quais apresentavam lotes com pregos mais acessiveis, coma eta 0 ‘aso dos bairros Lagoinha e Carlos Prates. 30 REAPCEM ~ Revita Fetorica uo Argus Pablico da Cidade Bala Mevzonte, v3. seid de O16 BSN: 2357-8513 APCpH ‘Tendo em vista os idesis de progresso que estavam.vinculados & possibilidade de expansio.da malha urbana de Belo Horizonte, as canalizagdes dos cursos d’agua eram vistas, muitas vezes, como solugo ndo s6 para liberar érea para abertura de vias, mas também para minimizar 0 problema das enchentes qué ocorriam nas suas margens ¢-0 saneamento das bacias. Essas agdes, que etam empreendidas pelo poder priblico, ndo contemplavam os riseos futuros, no que tange a probabilidade de ocorréncia de enchentes proximas a foz dos rios devido do aumento de sua velovidade & de sua vazI0, consequéncia do desvio do curso natural associado & impermeabilizagdo do sole ¢ a supressdo vegetal de suas matas ciliares, Alinhado’a tais diretrizes, teve inicio o processo de’ canalizagio do eérrego do Leitiio a partir de 1925, perioda no qual foram instalados os emissiitios de esgoto na sua ‘margem direita, saneando por um cito periodo de tempo a fegiao atravessada por ele. Com a retificagdo do e6rrego, seu curso foi alterado para as Ruas Tupis, Padre Belchior - que ino existia no projeto oficial da nova capital, e Rua Sdo Paulo, limitado a0 cruzamento desta Tua coma Alvarenga Peixoto, término da canalizag%o aberta do curso d’4gua. Como consequéncia do alto. grau de adensamento ¢ da insuficiente capacidade dos. emissétios de esgotos instalados na margemt do cérrego para atender a demanda dos bairros da bacia, tornaram-se frequentes os despejos de diguas residuais: no curso d’dgua, optando pela cobertura do canal e extensio da canalizagio alé as proximidades de suas nascentes, no final da década de 1960. Esse curso dagua corre atualmente, desde as suas nascentes, pelas Ruas Kepler © Cénsul. Antinio Cadar, desembocando na Barragem Santa Lifcia que foi construfda com o objetive de) propiciar © controle da. sua cheia nos periodos chuvosos. Em. Sequénicia, o cérrégo Segue peli Avenida Prudente de Morais, Ruas Marilia de Dirceu, Barbara Heliodora, Sdo Paulo, Padre Belchior, Tupis ¢ Mato Grosso, desaguando no Ribeiro Arrudas no cruzamento dessa via com a Avenida do Contorno. c6rrego tem como principals afluentes 0 cérrego do Zool6gico (Rua Felipe dos Santos, Rio de Janeiro ¢ Alvarenga Peixoto) ¢ edtrego-da Barroca ou Barro Preto (Rita Araguati e Mato Grosso), Cérrego do Acaba Mundo Com suas nascentes situadas nas vertentes da Serra do Curral, 0 eérego. do Acaba Mundo, assim como 0 eérrego do Leitso, também passou pelo proceso de aL READCHH — Revista Eetravica do Arai Pabicods Gad de Belo Horizonte, v.34, seeiroide 2016 -1SSN: 2987-8519 APCpH retificagin e canalizagdo de seu trajeto para ampliagio da malha urbana de Belo Horizonte ainda na déeada de 1920, De maneira semelhante, como ovorride na bacia do cérrego de Leitiio, direcionada pelo Poder Piblico para execugHo de obras de éanalizago devide. a0 interesse: do destino das terras para ocupagiio por classes mais abastadas, no céttego do Acaba Mundo foram executadas obras similares, apresentando apenas. diferengas estéticas, Até esse periodo as intetvengdes urbanas na bacia Se limitavam X manutengao de pontes nos perfodos chuvosos ¢ eventualmente era feita a limpeza do cOrrego, que atravessaVa uma patie da porcHo destinada A primeira ocupagdo urbana da capital ¢ a regio do extinto atraial, em frete a0 Largo'da Boa Viagem. A partir de 1925, foram iniciadas as obras de-tetificagio e canalizacio aberta do eétrega do Acaba: Mundo no tiécha compieendido entré a Avenida do Contarno ¢ 0 Parque Municipal. O trajeto do curso d”dgua foi alterado para 0 canal construido na Rua. Professor Morais'e Avenida Afonso Perla, mantendo-se a sua fungdo de abastecimento dos lagos do Parque Municipal. © material escayado. do, Morro. do Cruzeiro (atual Praga Milton Campos) foi utilizado para o aterramiento’ de seu antigo Ieifo, obra executada paralelamente a canatizagiio. Essa interyencio no curso do eérego tinha por iniuito. possibilitar o loteainento de 13 quarteitdes situados no Bairro Funcionirios ¢ adjacdicias, fato.que pode ser constatado a partir da Planta Geral da nova capital Nas décadas seguintes, 0 e6rrego do Acaba Mundo, da mesma forma que eérrego do Leitdo, passou a ser fonte de despejo dos esgotos tesidenciais em consequéncia da intensificagio do processo de adensamento, sendo empreendido © alargamento e cobertura d partir do ario de 1963, que ser abordado posteriormente. Atualmente, © ¢Grmego segue sob, as avenidas Uruguai ¢ Nossa, Senhora do Carmo ¢ em sequéncia ruas Griio Mogol,, Professor Morais e Avenida Afonso Pena desembocando:no ribeitdo Arrudas, na altura do Parque Municipal. © Acaba Mundo supostamente percorre 1.00 metros em canal aberto ¢ tem como afluentes os Cérregos Tha (Rui Assungiio e Venezuela) e Gentio (Riuas Odilon Braga, Francisco Deslandes € Ouitono), 32 READCHH — Revista Eetravica do Arai Pabicods Gad de Belo Horizonte, v.34, seeiroide 2016 -1SSN: 2987-8519 APceu Ribeiro Arrudas O ribeirdo Arrudas, cuja bacia abrange uma drea’® total de 20.600ha, dos quais 16:200 pertencem ao municipio de Belo Horizonte (atravessada por 37 quilémettos do ribeirao), tem suas nascentes localizadas nas vertentes. da Serra do Rola Moga, abrigando parte dos mananciais que fornecem Agua para o municipio de Belo Horizonte parte da regitio: metropolitana, desde a déeada de1910. O ribeiriio € formado a partir da confluéncia des céregos do Jatobi e do Barreiro, que se dé emi frente & Siderdrgica Mannesmann, Ambos os cérregos nascem na Serra do Rola Moga, na regido do Barreiro © percorrem alguns trechos em leita natural. Destaca-se ao longo do percurso, dos cérregas a poluigio de suas Aguas e a retificago € a canalizagao de diversos techos. Dentro desse contexto, vale salientar que grande parte da Cidade Industrial esta assentada na bacia do ribeirdo Arrudas @ de um dos seus principais affuerites, 0 cOrrego do Ferragem., Além disso, sua bacia abrange parte dos muniefpios de Contagem ¢ Sabard e-percorre 47 quilémetros, desde.o Rola Moga até o distrito de General Carneiro, onile desagua no rio das Velhas. ‘Transformagies ao longo das décadas; insergio e cobertura A ocupacio das vertentes do cérrego do Acaba Mundo ¢ parte das vertentes dos cémegos do Leitfo ¢ da Serra, referentes 3 zona urbana plinejada, contribufram para que 0 destino dos cursos d’fgua existentes dentro dos limites da nova eapital continuassem a ser procrastinados pelas administragdes municipais. Os cursos d’agiia continuavam a corer et eito natural, atravessando os fundos dos lotes € recebendo todo tipo de residuos, tanto domésticos quanto industriais (Figura 2). No periodo compreendido entre’ os ands dé 1897 ¢ 1920, 0 ereseimento urbano de. Belo Horizonte se deu de forma lenta, concentrade em grande parte na zona suburbana, onde haviath sido ctiadas as cinco colénias agéicolas visando 0 povoamento da zona suburbana, assim como 0 abastecimento de viveres da capital, As coldnias foram assentadas has yertentes de cinco e6rregos afluentes do tibeirdo Arrudas, os quais fazem parte 0s cérregos do Acaha Mundo ¢ Leito, e alguns dos seus afluentes. * pLAMBEL, Drenagem urbana na drea contr, pA 33 REAPCEH ~ Revita Eletdica uo Araui Pabicoda Gala de Beta Horizonte, v.94, seeiroide 2036 SSN: 2987-8519 ‘Legenda: A planta figura como um clemento-chave para a compreensia das profundas.rimudangas morfoligicas sofridas 149 mon zona planejada de Belo Horizonte, ‘Fonte: PANORAMA, 199) O cérrego do Acaba Mundo, que j4 atravessava uma por¢do considerdvel do bairro Funcionérios, evidenciava o adiamento da canalizagao por parte do Poder Priblico por quase trinta anos, iniciada ainda nos teinpos da CCNC”? nos metros finais do curso Agua ames do Parque Municipal, Nese contexto, 0 municipio obrigava os proprictirios dos lotes atravessados pelo curso d’igua'a empreenderem a sua retificagao téferido trecho, uma medida no minimo singular, que jd evidenciava o destino do Icito natural & condugio pluvial. O vale do cérrego do Leitio permanecia com feigdes, tipicamente nurais, devido a reserva das terras do vale pard a expansio urbana das décadas seguintes, Vale ressaltar que, durante esse perfodo a Prefeitura se restringiu apenas a realizar a manutengdo das pontes sobre os cérregos, muitas delas feitas de madeira ‘oriunda dos antigos casardes do arraial” ¢ eventualmente a limpeza dos cursos d'dgua & das margens, 0 que sé suceden até o inicio. década de 1920, perfodé em que Belo ‘Horizonte deixou de’ ser uma capital exclusivamente administrativa para se tornar um polo de atragio no Estado, permitindo a primeira remodelacao espacial patrocinada pelo Poder Piblico Estadual, A segunda metade da década de 1920, caracterizou-se pelas inimeras obras de: canalizagao em Belo Horizonte, que jé apresentava uma populagdo superior a 0.000 * Rejatério, 1900, 0.30. ibid, 1900, p14. 34, REAPCEM ~ Revita Fetorica uo Argus Pablico da Cidade Bala Mevzonte, v3. seid de O16 BSN: 2357-8513 habitantes no. final de 1925, obras realizadas somente na bacia do ribeirdo Arrudas (Figura 3). No ano de 1926 assumiu a prefeitura 6 advogado Christiano Monteiro Machado, indieado pelo entio presidente do Estado AntOnio Carlos Ribeiro de Andrada, Essa escotha para a administragao da capital tinha finalidades especificas, 0 governador ptecisava de um homem ‘de sua confianga no controle da capital do Estado, pois desejava ser o préximo candidato na disputa part a Presidléncia da Reptblica em 1930. AniOnio Carlos vislumbrou em Belo Horizonte a oportunidade que precisava para se projetar nacionalmente e para isso ndio poupou esforgos, nem investimentos, para dar Continuidade 4 expanisio urbana ¢ a melhoria dos equipamentos ¢ setvigos piblicos necessdrios ao erescimento da cidade. Figura 3 — Retificago © candlizacao do ribeindo Arrudis ha Avenida do’ Contomno em 1928, Fonte: Arquivo Piiblico Mineiro No periodo compreendido entre 1925 ¢ 1930, o Estado intervin diretamente na administracao da capital, ja que esta nao apresentava recursos suficientes para arcar com a répida expansio urbana, Para tal, além do investimento realizado com recursos prprios, foram obtidos empréstimos junto ae Governo Federal, @ que contribuiu para a disseminagiio das obras por toda a capital. O Estado ndo s6 continuava a nomear os seus * Notas Cronoldgicas de Bella Horizonte p 207. 35 REAPCEH ~ Revita Eletdica uo Araui Pabicoda Gala de Beta Horizonte, v.94, seeiroide 2036 SSN: 2987-8519 APCpu prepostos para a administracdo municipal, mas. passava a interferir diretamente na consolidagdo do espago urbano. Dentro do plano de obras estava a canalizagdo das ‘iguas que corriam em leito natural pelis terras da Zona urbana planejada. Ness contexto, em menos de dez ‘anos os cdrregos do Leite do Acaba Mundo (Figura 4) e alguns dos seus afluentes, foram retificados, canalizados e mesmo, cobertos, com a justificativa do. controle das enchentes, do saneamento ¢ da regularizagiio da cidade planejada, permitindo um vultoso increment do erdrio. municipal a-partir da -venda dos lotes surgidos com o. aterramento do antigo leité dos cursos d°4gua. © conjunto de obras fazia parte do vultoso plano de embelezamento do vale do ribeiriio Arrudas, também retificado © canalizado no periodo. 1926/1930 em grande parte da.zona nrbana planejada. Figura 4 - Conelusio do canal de edirege do» Acaba Mundo na Rua Professor Moraisem 1929. Fonte: Arquivo Pablico Mineiro: A partit de 1945, Belo Horizonte passou a. receber um notével. contingente populacional, atraidos pela criagio da Cidade Industrial em 1942 e:pelo fortalecimento do comércio e servigos, resultando no inicio do processo de metropolizagiio da capital mineira na década de 1950. Nesse contexte de consolidagio dos principais vetores de expansio, os cursos d"dgua que atrayessavam a zona urbana plancjada passaram_a serem vistos Como um entrave na urbe, pois a “dita” zona se tommava uma regio cada vez mais adensada ¢ verticalizada, ainda que 0s cursos d’égua jd estivessem encerrados em canais 36 REAPCEH ~ Revita Eletdica uo Araui Pabicoda Gala de Beta Horizonte, v.94, seeiroide 2036 SSN: 2987-8519 APcpu a céu aberto e inseridos na malha urbana da capital hd duas décadas, Nesse momento 0 asfalto, incorporado 4 doutrina rodoviarista passara a encabegar as polfticas urbanas do municipio, onde a populagie necessitaya de uma ininterrupta methoria da mobilidade, pois ndo havia mais lugar para os tios urbanos na paisagem (Figura 5). Aliado a isso vinha 0 problema da poluigao -hidrica que aumentava. ano apés ano, visto a impossibilidade dos emissarios de conduzirem todo 9 esgoto para fora da cidade planejada. Nesse sentido, 0s rios urbanos enitraram ém rota de eolisiio com a cidade, era questo de tempo i cobertura das aguas que coriam poluidas ¢ indesejudas pela iminente metrépole. primeiro curso d'égua a ser coberto na nova leva de canalizagtes foi o eémrego do Acaba Mundo, realizada entre os anos de 1963 e 1965 (Figura 6). Tal iniciativa do poder ptiblico foi direcionada para os demais cursos d'Agua a partir do: programa de reforma urbana Nova BH 66, langado pela gestio do prefeito Oswaldo Pieruccetti (1965-1966), responsivel por proporcionar as gestOes seguintes 0 empreendimento de iniimeras canalizagbes & coberturas por todo 0 municipio, como a realizada no cémego do Leitz entre os anos de 1970 e 1972 no trecho compreendido na zona planejada. Em pouco mais de dez anos todos os cursos digha que foram anteriormente canalizados a cu aberto foram cobertos, proporcionando uma suposta melhoria viéria para. o municipio e torniando-se oficialmente os receptores de grande parte dos esgotos gerados na Zona urbana planejada, Figura 5 ~ Asfultamento da Avenida dos Andradas em 1963. Fonte: Arquivo Pilblico da Cidade'de Belo Horizonte - FundoASCOM a7 REAPCEM ~ Revita Fetorica uo Argus Pablico da Cidade Bala Mevzonte, v3. seid de O16 BSN: 2357-8513 APCpu Figura 6 - Ampliagio da seeHo do canal do e6rrego da Acaba Mundo em 1963 na Rua Professor Marais. Fonte: Arquivo Piblico da Cidade de Belo Horizonte ~ Fando ASCOM Durante a notdvel reforma urbana, o ribeirfo Arrudas nao sofreria intervengdes significativas no seu enrso, No entanto, a partir da década de 1970, tendo em vista a intensificagdo dos transbordamentos associado ao alto grau de impermesbilizagio do Solo € © ininierrupto cescimento do tecido urbano, iniciuram-se os estudos para © alargamento ¢ 0 aprofundamento do seu leitonna zona urbana, a mesmo tempo em que © trecho suburbano do ribeittio passava por diversas intervengdes para possibilitar a abertura da Avenida Tereza Cristina e da via expressa Leste Oeste, iniciada no ano de 1976. E importante mencionar que o tibeirao j4 se configurava um grande condutor das Aguas pluviais e dos esgotos de uina poredo considerivel do municipio assentada em stia Dacia. ‘As obras. no ‘echo urbano canalizado seriam iniciadas no ano de 1981 ¢ interrompidas: poucos meses. mais tarde, contribuindo decisivamente pata a trégica enchente de 02 de janeiro de 1983, que destriin grande parte das obras realizadas, acarretando prejufzos niio x6 para o Poder Pablico, mas também para os comerciantes € para a popullacio ribeirinhha das regides leste oeste do municipio. 38 REAPCEH ~ Revita Eletdica uo Araui Pabicoda Gala de Beta Horizonte, v.94, seeiroide 2036 SSN: 2987-8519 APCpu Apés a grande enchente de 1983, responsavel pela destruigio de uma parte Significativa do -vale‘do Arrudas, tiveram continuidade as obras de canalizacdo baseadas nos estudos do PLAMBEL realizados na década anterior, estendendo para fora dos limites da Avenida do Contorno 0 mesmo método de canalizagio, priorizando. a remogiio € a urbanizagio das reas entio ocupadas por imiimeras’ favelas (Figura 7), removidas para dar lugar ap novo canal e as vias adjacentes. Figura 7 ~ Criangas na lama do gigantesco leito do ribcitio Arrudas ~ 1983 Legenda: Lama no leito do ribeirie Arrudas, proporcionado pelo turbjlhiio hidréulico da prande cenchente de 1983, Entre-os escombros ainda havia a esperanga de salvar 0 pouco que restava, AO fundo a fabrica de pregos Sao Lucas e 0 bairso do Santa Tereza. Fonte: PBH/Acervo Landelina Garcia, O vale do ribeirdo Arrudas na atualidade Nesse contexto de ininterruptas canalizagées, no alvorecer do século XX, mais precisimente no and de 2002, foi langado na capital mineira. o programa DRENURBS/NASCENTES, 0 qual visava promover a reinsergiio ou a integragao dos cursos d’4gua na paisagem urbana, além de proporcionar a sua despoluigo, 0 eontrole de sedimentos carregados para os fundos de vale ¢ a redugdo dos riscos de inundagio. O programa abrangia apenas os cursos d'dgua ainda encontrados em. leito natural, néo incluindo os ries urbanos ‘canalizados a céu aberto ou cobertos. Entretanto, 39 REAPCEH ~ Revita Eletdica uo Araui Pabicoda Gala de Beta Horizonte, v.94, seeiroide 2036 SSN: 2987-8519 APCpH inguestionavelmente era a sinslizagio de uma possivel quebra no paradigma das técnicas empreendidas ha quase um século. Apesar’ de toda a promogiio feita em. relago ao pioneiro programa, que priorizava a busca por Solugdes alternativas ao Método. de. canalizagfio dos cursos a’4gua, passados tr€s anos de Iangamento do programa, o poder piiblica iniciou as obras de cobertura do ribeirio Arrudas no trecho compreendido entre 9 Parque Municipal ea Rua Rio de Janeiro. Nese sentido, € comraditorio pensar que o programa DRENURBS/NASCENTES teve reconhecimento no cenério latino-americano a0 promover essa nova relagio dos rios urbanos com a cidade diante da obra sequencial realizada pelo poder piblico para tamponamento do ribeirio, Denontinado de Projeto Linha Verde, a obra realizada no Armudas tinha como objetivo principal o alargamento das pistas de rodagem pata promover a melhoria vidtia entre a regia centeal da capital ¢ © aeroporto de Confins. © projeto, justificado como um incremento para a melhotia vidiria eo embelezamento do vale do Arrudas a partit de uma nanireza controlada, refletia. mais uma vez 0 desprezo dos administradores priblicos sobre a questo da presenga dos:tios nha paisagem urbana, umia éontradigao que coroborava a forga dos agentes econdmicos € do lobby do_asfilto, do concreto e do, automével nos. meios politicos. Predominava, faesse sentido, a ideologia de que na cidade niio existem tios, apenas esgotos © a constante necessidade de inyestimentos pdblicos para melhoria da capacidade vidria de Belo Horizonte. Como continuidade dessa interyengao voltada &-methoria da capacidade vidria municipal que tem como foco o transporte individual, o Poder Piblico promoyeu nos amos Seguifites a exiensio do Boulevard Ammudas em diregio ao bairro do Calafate (Figura 8) paralelamente aconteciam as obras de retificagdo e eanalizagiio do ribeirdo no municipio de Contagem, onde se encontraya em seu leito natural, optando-se pela retificagdo parcial do curso ¢ a supressio da mata ciliar ¢ das vérzeas, levando. a0 desaparecimento de um dos tiltimos resquicios naturais existentes na sua bacia, 40 READCHH — Revista Eetravica do Arai Pabicods Gad de Belo Horizonte, v.34, seeiroide 2016 -1SSN: 2987-8519 APCpu Figueas 8 ¢ 9 0 tibeisfio Arrudas antes & depois do Boulovard na Aveniiia Tereza Cristina Legenda: O sbeirio Arradas antes (e5q.)¢ depois (dir.) do Boulevard na Avenida Tereza Cristina, no ano de 201 corrend a c&u aberto e na ano de 2073 ea canal caberto Fonte; Alessandro Borsagli, No contexto atual, mais precisamente no ano de 2015, a regitio Sudeste do pais esti atravessando por um perfodo de grave crise hhidtica, No caso de Belo Horizonte, ainda, que se vivenciem as consequéncias: da relagdo We negacio dos cursos d°fgua existentes para ampliagao constante da matha vidtia das cidades, os tios, inicialmente cogitados para o-abastecimento humano e proporcionddores de momentos de lazer e de balneabilidade, além de um importante elemento paisagistico na cidade, continuam a set ignorados pelo poder pablico © permanecem “invisiveis” aos olhos dos moradores locais. Os trios assumem nesse sentido, apenas a fungao de condugdo das Sguas pluviais € dos esgotas trazendo uma significativa economia para.o erdrio municipal, no que diz tespéito ao aumento da secao das redes existentes, Assim, diante das ininterruptas obras de canalizagio e cobertura, dos. rios associado @ impermeabilizago dos solos.é de se esperar transbordamentos cada, vez mais graves. nos ptéximos anos. Em contrapartida ax agGex de canalizagio ¢ tamponamento dos cursos. d’égua em Belo Horizonte, destacam-se. projetos voltados para © gerenciamento dos recursos hidricos da bacia do ribeito Amudas, baseatas na qualidade ambiental dos fundos de vale ¢ no controle da drenagem urbana™. Por meio do projeto da Operagiio Urbana Consorciada do vale do Arrudas € enfatizado que © sanecamento dos cursos d’agua existentes na area do projeto ainda em leito natural sero despoluidos a partir da execugio do plano, assim como os canais de drenagem — leia-se rids urbanos - tettio os esgotos tetirados das suas éguas. Conttido, no & mencionado no projeto’a possibilidade de teinsergzio das Aguas escondidas sob o sistema vidrio, ainda que sejam previstus agSes de educagdo ambiental dirigida as aL REAPCEH ~ Revita Eletdica uo Araui Pabicoda Gala de Beta Horizonte, v.94, seeiroide 2036 SSN: 2987-8519 rae APCat escolas, associagbes, postos de sade entre outros setores de releviincia, de modo a conscientizar a sociedade da importaneia de impedit 6 langamento dos ‘esgotos: nos corpos receptores, mas sem passar 0 conhecimento do que esses cursos representam para a cidade ¢ para a vida dos moradores. Assim, & preciso pensar em trabalhar a bacia do Arrudas como uma unidade de planejamento, em que a adoga de uma gestio coerente contribua para.a yiabilidade de se eStruturar um plano para a conservacilo dos ries em seus leitos naturais ¢ a reinseryao das figuas canalizadas na paisagem, a partir da despoluigio. ¢ da recuperagiio das ‘varzeas, matas € cubeceiras. Essay medidas silo fundamentais para o reconhecimento da importincia dos rios urhanos para os moradores, bem como, para o mieroclima © para minimizar a ocorténcia de enchentes e erises hidricas, probleméticas que tem assolado Belo Horizonte. Para um suposto controle da macrodrenagem, ainda sio sugeridas. pelo Poder PAblico a construgiio de diversas bacias de detengdo no municipio, destacando a bacia de. detengao do Calafate, a qual tem sua utilidade questiondvel, pois o projeto indica a construgio.em um local que nfo resolverd os, problemas existentes na porgio do canal construido & montane da regitio, onde os ‘riinsbardamentos. continuam em voga. O8 planos os projetos s idénticos. aos métodos e técnicas aplicadas no municipio ha quiise cein anos, niio havendo conhecimento por parte dos autores de projetos alternatives ao méwdo da canalizacio ¢ cobertura no Ambito oficial. Consideragies Finais Os rigs urbanos que atravessam a zona urbana planejada de Belo Horizonte faziam parte do cotidiano da cidade nas primeiras décadas de existéncia da capital, Nesse momento, os ios erim reconhecidos como locais de sociabilidade, compartilhados pelos habitantes e importante referéncia na paisagem belorizontina. A partir da primeira temodelagio espacial da capital na década de 1920, os sios foram inseridos no tecido urbano e embelezados, dentro dos planos politicos almejados para a capital, nos quais os padroes estéticos das cidades-europeias ainda norteavam os trabathos dos engenheiros que acreditavam no canal attificial como a solugio para as enchentes ¢ para 0 sancamento das bacias. Era @ inicio da conversio da rica paisagem fluvial da regido em. paisagem urbana notavelmenté valorizada, diante do valor de mercado das terras antes atravessadas por eles. a2 REAPCEH ~ Revita Eletdica uo Araui Pabicoda Gala de Beta Horizonte, v.94, seeiroide 2036 SSN: 2987-8519 APCpH Apesar de‘ método ter se mostrado falho logo apés a inauguracio dos canais, eles vém sendo aplicados ininterruptamente, condicionado nao mais ao embelezamento, mas voltado, sobretudo, para o saneamento’¢ principalmente para a melhoria vidria, Contudo, 0 que'se Vé desde 0 inicio das intervengdes nas bacias & a pinta das enchentes, resultado da ocupagio das reas inundéveis dos, cursos d'dgua, do confinamento. dos cursos d’igua em um canal astificial, do alto gran de impermeabilizagio das vertentes ¢ a imposigi6 do transporte dos esgotos. Salvo alguns anos apés a canalizagio dos cérmegos do Acaba Mundo, ¢ do Leitio, quando os interceptores construidos ainda comportavam © volume de efluentes gerados nas bacias, 0 despejo dos esgotos in nazura nas 4guas dos. dois cursos d’4gua era ininterrupto, piorando consideravelmente apés 0 ano de 1945, ano em que tratamento ¢ qualidade de vida‘a partir do cuidado e do'respeito com os elementos naturais passaram a nao estar mais na paula das administragGes municipais, acentuado nos anos seguintes a partir da da capital, visando stender politica de alteragao profunda da estrutura ambiental fluvi a demanda automobilistica ¢ a0 meteado imobilidrio. Desde enti, a cidade vivencia a continua cobertura dos eétregas'¢ do ribeirfio Artudas que, assim como 08 seuss principais afluéntes décadas antes. vem desaparecenido da paisagem urbana para dar lugar a um questiondvel embelezamento de um vale que ficialmente nao figura mais como tal, deixando.de set percebido como um importante clemento-natural ¢ um obstdculo a ser tansposto pela preconizacdo do espaco, reflexos de, uma politica rodoviarista. instaurada em Belo Horizonte hd mais de meio século, desestimukindo qualquer ineentivo a criagio de dreas verdes, parques lineares ¢ mesmo de reais Bulevares, os quais poderiam ainda exercer o importante: papel de corredores verdes, irtadiados & partic do.vale do ribeirdio Arrudas. Apesar das politicas urbanas atuais valorizarem supostamente a insergiio dos cursos d’agua ndo canalizados na paisagem urbana, como um agente conereto que a compe, 08 rios urbarios eobertos, a0 que tudo indica, ainda passario décadas sob as vias © quarteirdes até que se adote uma politica de reinserg0 ou reabilitagao dos cursos @ Agua no espago urbano, onde o estudo do procesto dé erradicagtio das igus urbanas de Belo Horizonte seri prioritério para. a elaborngiio dé um plano que seja bem sucedido, no qual as Aguas urbanas serdo elementos chave para a requalificago urbana da bacia, 43 READCHH — Revista Eetravica do Arai Pabicods Gad de Belo Horizonte, v.34, seeiroide 2016 -1SSN: 2987-8519 APCBu Figura 9 — A jidrofobi piblica tas propagardas oficisis - 1971 Legenda: Solucdes se faziam urgentes numa cidade que crescia imprevisivelmente. O canal do Cértegs clo Leifao, ontrora poético, tomou-se um obsticulo. Fonte: Muscu Histérico Abilie Barreto REFERENCIAS BARRETO, Abilio. 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