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5 Menino de 6 anos com Queixas de dif; : le dif aprendizageme desatencao iculdade de Solicitacao da avaliacao Por queixa de dificuldade na compreensao geral das ativi- relatado que, durante a explicacdo geral que a professora dava aos © conseguia entender o que era solicitado, e sé compreendia as ir do momento em que a professora vinha até ele para explicar te. Além disso, Fernando apresentava comportamento agitado e ‘ava estar bastante desatento. Os pais informaram ainda que problemas em se socializar com colegas na escola anterior (edu- infantil), mas que, no momento da avaliagao, esse aspecto havia melho- rado um pouco. Dados sociodemograficos do paciente Nome: Fernando! Idade: 6 anos a Classe socioeconémica: renda entre meio € um saldrio minimo por pessoa da familia Sblica Escolaridade: frequentava 0 1° ano do Ensino Fundamental em escola pul Regiao de moradia: regiao metropolitana da capital do estado Pais: Claudio e Juliana Idade dos pais: 37 e 34 anos sietrati 5: a: tiva Ocupacdo dos pais: pai militar, mae auxiliar administra eas senvolvimento humano Caxos clinicos do pricoldgica © deseavol 76 / Avaling pice ¢ denen C) EF] (*) JEo©O® El ®) & Claudio Juliana Fernando Caroline Figura 5.1. Genograma da familia de Fernando. Fonte: Elaborada pelos autores, Dados da entrevista de anamnese* A gestacdo de Fernando foi de risco, uma vez que a mae tinha um mioma No Utero, e por isso até os trés meses nao sabia se a gestacdo poderia chegar ao final. Fernando nasceu prematuro, com 36 semanas, e, por esse motivo, tomou complemento alimentar junto a amamentagdo enquanto hospitalizado. Por indi- ca¢ao médica, a administragéo do complemento foi interrompida na oca alta hospitalar. A mae teve depresséo Pp6s-parto e, em razdo dos antidepressivos administrados desde 0 nascimento do menino, decidiu amamenté-lo até os 3 me ses de idade. Apesar da prematuridade, os marcos do desenvolvimento (como engatinhar, balbuciar, andar sem ajuda, adquirir o controle esfincteriano) foram alcancados conforme o periodo esperado. . Até 0 ingresso na Educago Infantil, aos 5 anos de idade, o paciente ndo t nha contato com outras criangas além da irma mais velha, Caroline, de 15 anos ee sos pees foi classificada como boa, porém a irma ae el de © ser tratado como o bebé da familia. O menino fo! —_ 2 Os fatos aqui descritos so da avaliacdy psiecic,:... uma compilagao das meméri js como bastante dependente. Havia fiscalizagao i intensa para tividades cotidianas, como se vestir, tomar banho ee © ir ao banheiro, © a s por cle, Fernando 0 no chao. ao lado sia na cama com a mae, € 0 pai dormia em um colch to, sete meses antes de realizar a avaliaca dorm No entan - © psicologica, Fernando i sou pscoterapia individual, ¢ vinha reeebendo incentivo da psicoterapeuta P i a — ara dormit sozinho em seu quarto. Além disso, com o Ingresso na terapia, a familia sinha trabalhando a relacdo de dependéncia, e, de acordo com os pais, Fernandes jambem nao estava querendo mais ser visto como o bebé da familia, Na Educagdo Infantil, as professoras relataram que seu comportamento era agitado. agressivo, desatento e “maleducado”. Por indicacdo da instituigdo, os pais procuraram atendimentos pediatrico, psicopedagégico, neuroldgico, fonoau- diologico ¢ psicoterapéutico. Em avaliagdo com médico neurologista, nao foi in- dicado tratamento, apenas recomendando observar o comportamento do menino na nova escola até os 5 anos € meio e, caso no houvesse mudangas, a familia deveria retornar para investigag6es adicionais. Fernando realizou duas consultas com psicopedagoga, que sugeriu a ocorréncia de um possivel transtorno do es- pectro autista. Contudo, a avaliagdo com fonoaudidloga nao constatou prejuizos nesse sentido. Com a mudanga de escola, os pais perceberam que a relagdo com os colegas melhorou. No entanto, o paciente apresentava dificuldades em entender expli- cagées e regras de jogos. Nesses momentos, era necessdrio que recebesse uma explicacao individual para compreensao do que havia sido solicitado. Dados de observacao durante a avaliagao Durante o processo de avaliagdo, Fernando foi capaz de estabelecer vinculo com a avaliadora. Aceitou realizar todas as atividades solicitadas, ainda que, por vezes, a realizacao destas tenha sido dificultada pelo insistente desejo de brincar. Em alguns momentos, o paciente demonstrou ansiedade durante a execucao das tarefas propostas a fim de finalizé1as rapidamente, o que pode ter comprometido © seu desempenho. Planejamento da avaliagao O psicodiagnéstico de Fernando avaliou aspectos cognitivos € aaa sialmente, maior énfase estava sendo dada & investigagdo das questors an &m razao das dificuldades apresentadas por Fernando na escola para ore der as tarefas. Porém, no decorrer da avaliagao, foi se evidenciand? ee A 4a emocional bastante acentuada, que poderia estar interferindo dire to humano: Cason clinicos desenvolvimento hr 78 erie endizagem do menino. Dessa forma, além de py, 4 fungdes cognitivas, foram empregage os ¢ escalas psicometri s mane Mages 4 so diagnostica, das entrevistas com os pais ¢ do contato com 95 Profise do joge eaharn o paciente (psicoterapeuta € coordenadora Pedapcgic 7% Seem fandamentais para a compreensao do caso. le sug ese idade de apr dom agao da inteligencia ¢ de capac : as, Da mesma maneira, as infor, aa avalia Procedimentos Foram realizados nove encontros de avalia¢ao, com frequéncia sem, ‘0 5 anal e 4 9 de 60 minutos, além de entrevista de devolugao. tu. c raga Técnicas utilizadas Fontes fundamentais de informagao: + Entrevista de anamnese com os pais. + Contato telef6nico com a coordenadora pedagégica da escola do Paciente, + Contato telefénico com a psicoterapeuta do paciente. + Hora do Jogo Diagndstica. + Escala Wechsler de Inteligéncia para Criangas - WISC-1V (Rueda, Noronha, Sisto, Santos, & Castro, 2012). + Teste de Apercepcao Infantil: figuras de animais - CAT-A (Bellak & Abrams, 2010). + Inventario de Estilos Parentais - IEP (Gomide, 2011). Fontes complementares de informagao: Escala para avaliacdo de sintomas de TDAH e transtorno desafiador opositor - MTA SNAP-IV (Mattos, Serra-Pinheiro, Rohde, & Pinto, 2006). Resultados Avaliagao cognitiva ‘A avaliago do potencial intelectual foi realizada por meio da Escala Weeks Es de Inteligéncia para Criangas, quarta edigéo - WISCIV (Rueda et al., 2012). ie aos Cesltados, Fernando apresentou um potencial intelectual ore — es sndliae dos componentes especificos, demonstrou a oe Visuoespaciaie eg non? "aciocinio nao verbal, que envolve 0 uso de habil ane solver problemac ee oein® fluido, bem como na velocidade Psicomotore ee aie temas néo verbais. Por outro lado, apresentou um desvio para e nto pritico, any nice que avalia a compreensao verbal, que inclui o conheci e iN NENszO do vocabulétio e a formagdo de conceitos abstratos 2 Pa" erbais. Além disso, teve grande diffculdade alos ¥ ‘ esti engdo, concentragio © meméria oper, ‘Nas tarefas i acional, rao abaixo da media esperada para criangas d; que demandam ali ce C1 jue a ©Om resultados dois des pad la mesma idade os jo dos fl 4 Tabel 8 28 ona ‘i 508 visualizagaio dos res wtados, na Tabela 5, 1, sao ‘apresentadas a mera is na WISCIV, com a chissificagio correspondente para cada indice mi ice, qapela 5-1 resultados de Fernando no teste WISC-IV Soma dos Intervalo interpre Indices pontos QVindices Percentit conflanca ponderados 95% Fompreensao a Compre’ 20 80 5 76-89-10 Verbal owganizagao og 98 45 91-105 Média Perceptual Memoria -2DP 8 64 = Operacional 1 stk) Velocidade de Média 107 7 \-' Processamento ee co co cea) at 80 85 16 81-90 Média Nota’ Ql = Quociente intelectual: GIT = Quociente intelectual Total: DP = desvio padrao. Fernando apresentou uma discrepancia significativa em relagdo aos indices do teste. Assim, € possivel que 0 prejuizo evidenciado na capacidade de manter informagdes na memoria e manipuld-las durante o raciocinio para realizar uma tarefa tenha influenciado seu desempenho nas tarefas de inteligéncia. Nesse sen- tido, os problemas atencionais podem ter prejudicado outras habilidades, como © raciocinio verbal, que é associado a aprendizagem formal e impactado pela estimulagao da escola. A avaliacdo de atengdo também integrou, como fonte complementar, a esca- lt para avaliagao de sintomas de TDAH e transtorno desafiador opositor - MTA SNAPAV (Mattos et al., 2006), que foi respondida pelos pais ¢ pela escola. Os com- fortémentos hiperativos/impulsivos foram apontados pelos pas e pela escola com? tendo escoressignificativos. Contudo, a intensidade desses comportamentos fice Sticada como acima da média esperada apenas no ambiente escolar, 0 que a fe “lar telacionado ao seu desempenho académico. Em relagdo a aten¢a0, ee esse dificuldades evidentes, o mimero de sintomas nao foi suficiente para ee wait UM déficit. Tais resultados se encontram em consonancia com 9 POT Paciente durante a tealizagdo da avaliagao, pois mesmo colaborando oe ™S latefas, demonstrava comportamento impulsivo ¢ distraia-se facil ramen: Domne Came 6M dcovovotvemcnt: Be 80 veers comportamentais, afetivos ede jagao dos aspectos Pereonatiag, nvestigaydo sobre a dindmica do Aval afetiva envolveu al iagdo nay: Ses conflinvas Na analise do Teste Aav neira de tidar cot : rae eg Rellak & Abrams, 2010), obserVOU se que as ¢ fantil tntar ande foram marcados por conteudtos que desviavany si por Fernand gos nor tacionado & n te, Assim, para conseguit lida Fernando poderia fazer uso de Pacien ite de Aner Petey Meo foram Nificativg sme evowados por ctianyas da mesma idade, 6 que page resenga de conflites emocionais vivenciados como muity COM As situa ny situaye a estar int pelo pacie sruag Ses que the pie rita ansiedade. ; tratégias pouco Clabveada, do ponto de vista emocional, como a fuga da reatidade, pelo fato de oe internamente imaturo ¢ impotente Corroborando © fato de que Fernando ni estava conseguindo lidar com os contlitos emocionais que estava enfrentande, pode-se citar varios momentos da hora do jogo diagnostica, em que, por meig da brincadeira, ele tendia a direcionar seus enredos para finais tragicos, come acidentes ¢ mortes, demonstrando sua impoténcia para encontrar solugdes mais adaptativas para as situaydes de estresse, Além disso, evidenciou se que o meni no era pouco estimulado 4 autonomia e que nao tinha seu proprio espago. En tretanto, ¢ importante salientar que, aO MesMo tempo eM que parecia ter medo do processo de afastamento da figura materna, cle reivindicava essa distancia, configurando uma dindmica ambivalente. Esta ambivaléncia ¢ caracteristica de processos anteriores & fase de desenvolvimento em que o paciente deveria encontrar, podendo estar relacionada com sentimentos de temor em relagio ae ambiente intrusivo. A avaliagao afetiva ainda contou com um instrumento de avaliagdo das pritt cas parentais, que foram medidas por meio da autoavali dos pais de Fern do. Os resultados do Inventario de Estilos Parentais - IEP (Gomide, 2011) indica Fam que os pais do paciente apresentavam praticas de monitoria positiva. como estabelecimento de regras, 0 didlogo seguro, o acompanhamento ¢ a supervise das atividades, assim como de comportamento moral, associado & transmis de valores. Entretanto, comportamentos de monitoria negativa, como vigikincia¢ fi a ia estar ae cxageradas, foram elevados no manejo materno, 0 que poderia 0 estressante e gerando inseguranca no paciente. Conclusado AS conclusé, is paciente pares derivadas do psicodiagndstico foram expostas #08 ver do psicot6, vend entrevista de devolugao, juntamente com @ entrees oa aise, que deveria ser encaminhado a escola ¢ compartilnads ©S profissionais de sa \ ame 5, Menino de 6 anos com queixas de dificuldade de Aprendizagem ¢ serategio —QY ja que © pote telectual geral ¢ tivo: er das ao racioc fi too? fas relaciona , 7 jade. No entanto, verificou-se Penho do paciente 4m dentro da media um rebaixam a a eNtO NO racioe que apresenta relagdo significativa com a aprendizagem escol ae J Scolar formal. iiado poderia estar associado & dificuldade de Ferna estimulos externos, 0 que prejudicava seu desem dos sintomas de atengao e hiperatividade nio atende aos 1 A jagnosticas de transtorno de deficit de atencao ¢ hiperatividade (TDAH, entretantd, OS comportamentos impulsivos ¢ de desatengdo do Paciente pare- cam jnterferir em seu funcionamento em diferentes ambientes. Além disso, alientouse que esses comportamentos podiam ser um reflexo das questdes emocionais, aS quais incidiam na falta de envolvimento de Fernando na maior parte das tarefas. ; Em relagdo aos aspectos afetivos, o paciente evidenciou possuir sentimentos anbivalentes, pois, apesar de desejar mais privacidade e independéncia, demons- tava ter medo do processo de afastamento da mae. Nota-se que Fernando uti- lizava estratégias imaturas e desorganizadas para lidar com conflitos internos (como fuga e distorgao da realidade), demonstrando ter poucos recursos para a resolugio dessas questées. No ambiente familiar, o paciente eta pouco estimula- do & autonomia, processo de extrema importincia para o desenvolvimento de um maior repertorio para a resolugdo de problemas. O uso de vigildncia e fiscaliza- do exageradas pelos pais vinham gerando sentimentos de inseguranga ¢ incapa- ‘cidade, apesar de o menino ter condigGes de realizar atividades condizentes com sua faixa etaria. A partir disso, ressaltou-se a importancia e urgéncia de o menino ‘er liberdade, na medida de suas possibilidades, para ser auténomo e gerir de Maneita mais adaptativa seus conflitos. sa para aid pase 100 giirait POT 4 analiag30 ndo em nao se Penho na escola, Indicagdes terapéuticas we inivse aue as dificuldades apresentadas pelo pacienteparesiam == relating rsmente relacionadas a questdes emocionais, a quis oe me dicta £m seu comportamento impulsivo ¢ hiperativo, bem 0 ae 5 impor atencional. Tendo em vista os resultados da peer ee Risen ‘ancia da Manutengao do tratamento psicoterdpico aera que Ofuncgstd® abathadas as dificuldades na drea afetiva. Vale ress 0) 0 Malags mento dinamico e a estrutura de personalidade na ora om ee Dicom i Tealizada requeriam atengao e tinham prognostic eee tandem, 2° 4€88€ continuidade a0 acompanhamento psicaterspir Niet, 8S qu “Ma reavaliagdo no perfodo de um ano, de modo & # “st6es pontuadas. senvolvimento humano Cases clinicos opice ¢ de 82 vatiacho prcohoe - $e tico da avaliagao Entendimento crit aminhado pa > psicologica em r, ra 1p foi enc Fernando os na compreensao ne : ges aga ed nvelgencia por meio da WISC TY,» pac Em, rruadas em relayiio ao seu desempenho nas difen a normalmente nao € esperado. O reb; mentais <3 entes diserepancias ne ci Sa des avaliadas, 0 que : fe AAMEMO sige indice de Memoria Operacional em dois desvios padrio abaing qn no Indie . ec 0 r hem como a dificuldade do paciente em se concentrar, relatada pela ¢ em cor a ‘ervada durante os atendimentos, levantou inicialmente hipstese dia Scola op Bsa 5 80. Alem disso, tambem se delineou a necessidade de se examinar as questées afetivas em especial, a partir da observagdo da hora do jogo diagndstica. Na brincaden, Fernando tendia a direcionar seus enredos para finais trdgicos, como acidentes ¢ mortes. Partindo desses indicios, a exploragao dos aspectos emocionais poder, auxiliar a compreender se, em alguma medida, estes poderiam estar associados ao prejuizo cm sua capacidade de aprender e ao rebaixamento na atencao ¢ na concentracao observados na avaliagao cognitiva. A partir disso, optou-se por aplicar um teste projetivo, o CAT-A, que se mos trou extremamente util para o entendimento do caso. O teste envolve contar historias baseadas em imagens que evocam situagGes conflitivas do desenvol vimento emocional infantil, auxiliando na compreensao do mundo vivencial da crianca. A partir dos resultados do CAT-A, foi possivel perceber que 0: enredos desenvolvidos por Fernando desviavam significativamente dos come mente evocados por criangas da mesma idade. Além disso, o paciente nio apresentava coeréncia em sua linha de Ppensamentos, fazendo quebras bruscas da logica de raciocinio Para inserir elementos que nao tinham conexao com? realidade, Por exemplo, no primeiro cartéo, no qual aparecem uma galinhs ¢ eee © Paciente relatou estar vendo dez porquinhos. ou Gi “em que aparecem duas camas, uma menor com dois ursinhos dor © $6 € possivel ver um volume nas cobertas, Fernando ee Batinho, relatando: “ai o gato foi brincar com os outros TDAH, que precisaria ser mais bem investigada no decorrer da vali do ¢ outra em qu @ historia de um nhos. 4 ure Alo done dane OTT: € 0 Rato pulou e o cachorro bateu a cabect nome 7 eles tava dormindo. i ravam na felines pars ser Eles tavam na China, mor: A partir do le a historia ct Pelo paciente es SOrRANIzé.lo. As, aNsiedades ¢ da realidade. 'vantamento do Jo-os 00s J nica, foi possiv tavam sendo se sim, a mancira £OM 08 sentiment Esse funcionamen, # resultados do CATA ¢ relacionandoos * l evidenciar que conflitos emocionais VS. Mtidos de maneira muito intensa, a POM? T , ue 0 paciente encontrou para lidar 7 arse” os de imaturidade e impoténcia foi “desl to explica as distorgdes na sua percePo™ ossivel que isso impacte de mancira significativa na sua capacidad lade 26 p mundo. ¢€ P : ' Ao para a aprendizagem. iencional ¢ na disposh Por meio do relato da mae, evidenciou-se uma relago bastante simbidtica e com pouco estimulo 4 autonomia do paciente, que cra tratado como um bebé. ‘Alem de dormir na mesma cama que a mae, Fernando era intensamente fiscaliza- jo na cxecusao de atividades como se vestir, tomar banho ¢ ir ao banheiro, pare: cendo haver uma dificuldade da mae em deixar 0 menino realizé-las sozinho ou tom supervisdo minima, Aos 6 anos, ¢ importante que a crianga jé possa ter seu proprio espago ¢ que Sua individualidade seja promovida. Era possivel perceber que o paciente g staria de poder usufruir dessa “distancia sauddvel”, contudo, ele yivenciava uma dinamica ambivalente, pois, ao mesmo tempo, sentia-se inseguro ¢ desprotegido diante da possibilidade de afastamento da figura materna. Todos esses sentimentos deixavam o menino muito confuso e, portanto, era necessdrio desligar-se parcialmente da realidade, nao apreendendo as coisas ao seu redor € tendo muita dificuldade para manter uma légica nos pensamentos. Nessas condi¢des, embora os resultados da avaliagdo cognitiva sugerissem prejuizos na atengao, os critérios minimos para 0 diagnéstico de TDAH nao fo- ram atendidos. Além disso, considerando a intensidade da demanda emocional evidenciada nesse caso, esta parecia explicar grande parte da diminuigao na ca- pacidade de aprendizagem do paciente. Assim, ndo seria prudente realizar um diagnéstico antes de uma intervengao psicoterépica, que auxiliasse Fernando e sua familia no manejo das questées afetivas verificadas. Tema para reflexao: A avaliagGo de aspectos emocionais nas demandas de dificuldade de aprendizagem temos observado Em nossa pratica de atendimento clinico e de supervisdo, s, em. que os encaminhamentos de criangas para a avaliagao psicoldgica sio feito: Brande parte dos casos, pela escola. Possivelmente isso acontece porque, no am- biente escolar, sdo detectados os primeiros sinais de que a crianga pode nao estar bem. Entre as demandas mais frequentes, a queixa de dificuldade de aprendiza 8em se coloca como uma das mais comuns, sendo frequentemente solicitada pe- las fonte: i 5 acd + alicéncia, da atengdo e de outros es de encaminhamento a avaliagdo da inteligéncia, da a en fi , 2013). De fato, 0 Componentes cognitivos (Borsa, Oliveira, Yates, & Bandeira, 201° Papel da cognigao no desempenho escolar jé é bem descrito pela literatur®, We 2 coloca como preditora do desenvolvimento das habilidades em leitura, esr © Matematica (Cacramerer, Maddocks, Keith, & Reynolds, 2018: Rohde & Thome Son, 2007), No entanto, a pesquisa ¢ a prética clinica também no° alertam auc esempenho do estudante pode set influenciado por outras variévels, MALT 4 inclusive nas possibilidades de 0 aluno empregar Seu potencia| inte a) CAlidiano escolar (Andrade & Laros, 2007; Palermo, Silva, & Novellino, 2014). nvolvimento humano: Casos sc price € eservol¥im 84 usca delinear varidvel is a ea M a Telacao a ho académico, ¢ isso ros fornece algumas diregse, poe tendermos as dificuldades de iearemeeas E eneira mais ampla. Oe gen is, como presenga de psicopatol ogia, aixXa autoestima e estre disor rechos negativos relacionados & escola (Valentini & 1% tee eménder Mattine?, Aparicio, Arija, & Canals, 2014). Por exem 5 = crianga que apresenta sintomas depressivos pode vivenciar falta de interes realizar atividades, letargia, sensagao de cansago € capacidade diminuidg pensar ou se concentrar. E Possivel que a experiencia desses sintomas meta sua funcionalidade em diferentes areas da vida e leve a prejuizos 10 sea desempenho na escola, ainda que a crianga apresente um potencial intelectua, dentro do esperado para a idade. Nesse cenario, um dos maiores desafios para o profissional que realiza 5 psicodiagnéstico é diferenciar os casos nos quais existem demandas emocionas associadas ao baixo desempenho académico, de outros em que prevalecem ques tdes de ordem cognitiva ou neuroldgica. Dessa forma, a avaliagao da inteligéncia torna-se um aspecto central a ser considerado nos encaminhamentos relacions- dos a queixas de aprendizagem. Essa avaliagdo permite compreender em que me dida as fungGes cognitivas estao preservadas ou nao, para entao inferir a origem dos prejuizos. Assim, uma questdo importante a se observar é se os resultados da avaliagio Cognitiva so coerentes com 0 que se pode constatar sobre o paciente, avaliando 0s comportamentos nao verbais e a postura da crianga diante do teste. Para além dos escores apresentados pelo paciente, nosso olhar clinico torna-se fundamen! Para detectar fatores emocionais subjacentes, que precisam ser mais bem inv Ugados. Para exemplificar, é possivel citar algumas situagdes, como uma crian# oe —— fens da WISC-IV com “nao sei , obtendo um Sera desenvolvimenta a responder ou que ela ainda nio oe Pei ue podem estar rebaixando vdevemnpe faores Laie ae oa acrianst for muito critica cae ° esempenho do sujeito? Por exempl or diet que “nao sabe” nag aaa me “n se ela for bastante inibida cin mame Posta errada? E se ela ea icar medo ou vergonha de forn que 070? sei” possa estar lesmotivada ou deprimida, é possivel 4! : A literatura b géncia ¢ desempen! : Servi jae tale? crianga nem che, indo como um mecanismo de economia de enereit " siost @ ansiedade aa Pensar sobre a questo? E no caso de uma criani® "4 leria i maser” Actescentandy gar’ °Stat atrapalhando 0 processamento das informs ‘uma crianga seja crea Stuagao hipotética para reflexdo, vamos imei Xamento cognitivo im minhada para Psicodiagnéstico por suspeit® dew most Muito interativa na i ‘ante. Porém, no decorrer da avaliagao. ¢l8 “lacio com 0 avaliador, explore os brinquedos. ¢*¢2!"* raciocinio ¢ memoria, demonstre capacidade cm = inioe . b Para organizar a ae estruturada e para simbolizar. Diante de ocasiées como esa, ¢ prines : [patelsin D co sa, € preci en jwaliador, no minimo, ‘desconfic” da hipstese inicial advinda te nce. 10 enca- vinhament©: realizando a avaliagao cognitiva c interpretand m ; alé yod0 estender 0 olhar para além dos escores de inteligénc; si - . r vantod possibilidade de haver outros fatores que influencie: u 10 OS resultados de 1a, questionando-se mM naquele resul Por meio desses exemplos, queremos pontuar aqui que as impress6es di me lo ava- jiador sobre 0 funcionamento do paciente sdo tao importantes Para o entendi- mento do caso quanto o proprio resultado dos instrumentos padronizados, e que. observando nuances que remetem a uma demanda emocional, essa questio precisa ser mais bem investigada. Em uma avaliagdo dos aspectos afetivos ¢ da personalidade. o avaliador Pode contar com diversos recursos, como a hora de jogo diagnostica, testes projetivos e escalas psicométricas. Em um viés de avaliagdo psicanalitico, os jogos e as brincadeiras servem como formas de comunicar 0 que € inconsciente, permitindo a observag4o de padrées de relacao objetal, de fantasias de andlise de cura e doenga e de mecanismos de defesa, por meio da relacdo transferencial e dos enredos das brincadeiras (Krug & Bandeira, 2016). Assim, a observagdo desses fatores embasa a compreensdo do funcionamento do paciente, 4 medida que o profissional se coloca como ouvinte de sua experiéncia subjetiva. Um material util para auxiliar na ampliagao da escu- ta dos fendmenos observados na entrevista ltidica é um roteiro desenvolvido por Krug e Bandeira (2016), que propde uma padronizagao de critérios de observa- sao, o qual foi pensado a partir de um conjunto de questionamentos que o clinico deve fazer para si mesmo ou em supervisdo. Os testes projetivos também tém um papel importante na avaliagdo dos as- pectos emocionais. Eles permitem o acesso a informa¢oes que nao estdo no nivel consciente, auxiliando na compreensao do funcionamento do paciente sob um ponto de vista psicodinamico, complementando as informagées obtidas pela brin- cadeira e pelo modo de interagao da crianga. Desse modo, os dados fornecidos com 0 uso testes projetivos na avaliagao se referem a quest6es como a viséo do Paciente sobre si, a qualidade das relacdes interpessoais e dos vinculos, 9 uso de mecanismos de defesa, a adequacdo com a realidade e a dinamica Cd do Paciente. Ainda é possivel constatar informagées referentes a caracteristicas pst Copatolégicas do paciente e aspectos estruturais da personalidade. od ; As escalas psicométricas também podem ser ferramentas tteis no rastreio le diiculdades emocionais ¢ na avaliagdo de sintomas especticos. Tradicionaln®t {€, so escalas de auto ou heterorrelato, em que © paciente ou eres area Préximas, como pais e professores, indicam a presenga 0% ees ara minadas ‘Manifestagdes. Alguns exemplos de testes psicol6gicos fa Seen ‘®'Nso até o momento, conforme o Sistema de Avaliagao de Testes a Baptista de Depressao - versio infantojuveni, op © Inventario de Habilidades Sociais, p, (Satepsi), sao & Escal: ista, 2018) ¢ DEP-I (Baptista, + s laces an srtamento © Competéencha Académica para C ‘omporta creitas, Bandeira, & Del Prete, 2016). Outras escalas desenvolvidas e adapay q Fre isato brasileiro podem ser empregadas como fontes complement, las omnecns da demanda. Instrumentos de rastreio, como 9 Child Behar Checklist (CBCL), 0 Youth Self Report (YSR) ¢ Teacher Report Form cree compen o Sistema de Avaliagiio ASEBA - Achenbach System of Empircaty i sed Assessment (Achenbach & Rescorla, 2001), facilitam a coleta de informagie, gerais sobre criangas € adolescentes, a partir do relato de Pais, Professores ¢ do proprio paciente, no caso de adolescentes. E frequente que instrumentos de tas treio, como a CBCL, sejam empregados como procedimento padrao em triagens de servigos-escola, a fim de obter uma primeira impressdo sobre os Principais problemas apresentados pelo paciente (Borsa et al., 2013). E importante ressaltar que ainda que muitos desses instrumentos investiguem sintomas de psicopatologia, nem sempre os sintomas apresentados atenderio a critérios suficientes para configurar o diagndstico de um transtorno mental na. quele momento. Diferentes condigdes estressoras podem mobilizar a crianga, que ira reagir conforme seus recursos e 0 apoio social disponivel. Assim, tio importante quanto conhecer e saber diagnosticar quadros de psicopatologia ¢ compreender o desenvolvimento emocional normal na infancia e na adolescéncia, examinando também os aspectos ambientais, a dindmica familiar e a ocorréncia atual ou passada de eventos estressores (Castro & Levandowski, 2009). Ainda que os objetivos principais do psicodiagnéstico possam estar centrados na averiguacao de sintomas e de outros aspectos disfuncionais, entender os recur Sos ¢ as caracteristicas psicolégicas positivas do paciente pode fornecer diregies Para interveng6es € no estabelecimento do prognéstico. Entre as caracteristicas Positivas, podem-se citar habilidades socioemocionais, motivagdo, senso de com Peténcia ¢ pensamentos positivos sobre a capacidade de alcangar os objetives Planejados (Valentini & Laros, 2014). Desse modo, questées do estudante sobre nao se sentir capaz de acompanhar os contetidos de sala de aula, nao reconhed® a outer baixa persisténcia, podem comprometer set cee déncias que seen an 10 ou mais que a Presenga de Watonas. Eisen fui a acto negativo da baina iene es aNeis do individuo podem dimintt , gerando desfechos sea igéncia e da Presenga de sintomas de a mn tl 2016). Assim, ee favordveis durante a infancia a a pacien te, com a exploragdo nec eeressidade de uma compreensio global Jo Pi 40 do seu funcionamento em termos de forgas ¢ fra fim de delit ii ; wo ce orientar exces ndi®@868s terapéuticas mais adequadas ¢ fornecer subsidio® Ntar essas intervengées, 5, Menino de 6 anos com queixas de dificuldade de Consideracoes finais srrendvageme deutenein — BT 0 psicodiagnostico infantil demanda o dominio de diferentes éreas do conh s do conhe- cimento Pa 4 pensar a problems i ematic contextualizada, considerando, entre outros elementos, a complexat ée 3 rela. a sua realizagao ¢ convoca o psicélogo maneira gao entre caracteristicas individuais - cognitivas ¢ emocionais - ¢ o ambiente n gual acrianga est inserida. Em nossa experiéncia clinica, so comuns os pedides de avaliagio de dificuldades de aprendizagem focados na investigagao da inteli géncia e da atengao. Entretanto, & papel do psicdlogo levantar outras hipsteses sobre 0 que pode estar gerando os prejuizos escolares, em especial, quando estes nao sao plenamente explicados por déficits cognitivos. Assim, o entendimento sobre o desenvolvimento emocional deve ser considerado nos diversos encami- nhamentos, sendo avaliado o impacto das situagdes que desviam do esperado, assim como os motivos subjacentes a essas manifestagdes. No entanto, a investigagao de demandas emocionais é, muitas vezes, desafia- dora para o psicdlogo, se levarmos em conta que, de maneira geral, as técnicas utilizadas sao menos estruturadas e dependem muito do conhecimento e da experiéncia do avaliador para interpretélas. Nesse contexto, considerando que as questées de ordem afetiva sio mais sutis de serem observadas, e que nem sempre sua presenga resulta em uma classificagéo nosolégica, ndo é incomum que elas sejam negligenciadas, ou que recebam pouca importancia no contexto avaliativo. A compreensao dos aspectos afetivos exige, portanto, um olhar clini- co apurado e uma capacidade do psicélogo para trabalhar com a complexidade, integrando resultados com a percepgao que constréi do paciente e de seu am- biente. Nesse sentido, ressalta-se que, na medida em que conflitos emocionais podem impactar em grande escala a satide mental da crianga, sua identificagao fere A promogao da qualidade de vida ¢ intervengdo sao protetivos no que se re} dos pacientes. Referéncias Andrade, |. M.,& Laros, J. A. (2007). Fatores associados ao desempenho escolar: Estudo multinivel Teoria ¢ Pesquisa, 23(1), 33-41. de depressiio infanto-juvenil. Sio Paul iio Infantil (CATA) (Figuras de a Jo: Vetor Editora. ). Centro de Avaliagdo Psicol6- col6gico. Psicologia com dados do SAEB/2001. Psicologi Baptista, M. N. (2018). EBADEP+I] - Escala Baptista Bellak, L., & Abrams, D. M. (2010). Teste de Aperceps de instruyées (Vol. 1). Adaptagdo & populacao brasileira. Sao Paul Borsa, |. C., Oliveira, S. E. 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