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90 Nrcwous & ScHwanrz Teoria Gera! dos Sistemas Ludwig von Bertalanffy foi um biélogo proe- minente que comegou a ponderar se as leis que se aplicavam aos organismos biol6gicos podiam tam- bbém ser aplicadas a outras dreas, desde a mente Jhumana 2 ecosfera global. Ele desenvolveu um modelo que foi mal traduzido do alemio como ‘Teoria Geral dos Sistemas Gerais (TGS), a titima ppalavra do que ele imaginava ser 0 “ensino”, por- {que no é tanto uma teoria quanto uma abordagem, uma maneira de pensar ou um conjunto de suposi- ‘gBes que podem ser aplicadas a todas as classes de sistemas. (Davidson. 1983) Bertalanffy publicou muito e teve alguma in- fluéneia sobre todas as eiéncias sociais, mas, a0 contrério de Bateson. ndo estendeu 0 contato dire- to com 0s pioneiros da terapia familiar (embora Dick Averswald [1969] tenha ficado entusiasma- do pelas idéias de Bertalanffy e, por sua vez, influ- enciado bastante o pensamento de Minuchin). Além disso, como sei éiscutido mais adiante, Bertalanffy ‘a vida toda menosprezou o mecanismo e foi extre- rmamente critico da clbernética, aabordagem meca- nicista dos sistemas que, através de Bateson, pas- sou a dominar a erspia familias. Consequentemen- te, embora muitos conceitos da TGS parecam ter- se infiltrado na literatura a terspia familiar, a obra de Beralanffy raramente é citada e, quando nota- dda, é em geral descrita como sendo a mesma coisa ‘queacibernética (Bateson, 1971; Becvar & Becvar, 1988). Pane da obscuridade de Bertalanffy pode-se ever 20 fato de ele ter sido um generalista, difun- indo suas idéias sobre os campos da medicina, psiquiatria, psicologia, sociologia, histéria, educa~ G40, filosofiae biologia, ¢ também porque a TGS no € una teoria clara, com uma lista de hipdteses testaveis. Até 0 langamento da biografia completa de Bertalanffy, Uncommon Sense em 1983, de au- toria de Mark Davidson, no havia nenbuma visio geral ou resumo do seu trabalho volumoso que pudesse nos ajudar a reconhecer a imensidade da sua contibuigdo, Ao explicar Bertalanffy, nds nos baseamos muito no livro de Davidson eo recomen- darfamos a0 leiter. Davidson (1983) resumiu a de+ finigo de Bertalnffy de um sistema como: uma entdade mantida pela interagdo matua de suas partes, do tome ao cosmos, e incluindo exem- plos mundanos come 0 telefone, 0s correios ¢ os sistemas répidos de trinsito. Um sistema de Berilantfy pode serfisico como.um aparelho de TV, biolégico como um efo cocker spaniel, psical6gico ‘como uma personalidade, sociolégico como um sin- dicato de rabalhadores, ou simbslico como um con- junto de leis... Um sistema pode ser compost de sistemas menores e pode também ser parte de um sistema mais amplo, como um estado ou provincia, 4 composto de juristigBes menores também & pat- te de uma naglo, Consequentemente, a mesma enti= dade organizada pode ser encarada como um siste~ ‘ma ou como um subsistema, ependendo do foco de interesse do observadior. (p. 26) Bertallanfly foi pioneiro da idéia de que um sis- tema era mais que a soma de suas partes, no senti do de que um reldgio é mais que uma pilha de pe- gas de maquina ou uma pega de miisica é mais que lum monte de notas. Nio hi nada de misterioso nem. de mistico nesta afirmagio, apenas a idéia de que quando as coisas so organizadas dentro de um ppadriio, algo emerge do padriioe do relacionamen- todas partes dentro dele que ¢ maior ou diferent cdo mesmo modo como a agua emerge da interagio {do hidrogenio com o oxigénio, Assim, Bertalanffy transmitiu a importincia de se concentrar no pa- rio dos relacionamentos dentro de um sistema ou entre os sistemas, e no na substincia de suas par- tes, or estas razbes, Bertalanffy acreditava que a clncia tornou-se por demais reducionista em sua tendéncia para analisar os fendmenos fragmentan- do sistemas totais e estudando suas partes isolada- ‘mente, Enquanto acreditou que essa anilise tinha ‘um lugar nacigncia e conduziu a alguns avangos, 0 estudo do todo dos sistemas foi muito negligencia- do e ele incitou os cientistas a aprender a “pensar na interago” em vez de se esforgar para encontrar e estudar 0s elementos bisicos de um sistema, Aplicadas & terapia familiar, estas idéias — de ‘que um sistema familiar deveria ser visto como mais. do que apenas uma colegio de palavras, © que os terapeutas deveriam concentrar-se mais na interago entre os membros da familia do que nas qualidades individuais — tomaram-se os principios centrais, do campo. ‘Assim como os funcionalistas, Bertalanfly usou ‘a metifora de um organismo para os grupos so- clais, mas um organismo que era um sistema aber- to, interagindo continuamente com o seu ambien- | —— i i te. Os sistemas abertos, em contraste com os siste- ras fechados (que si0 no-vivos), sustentam-se ‘continuamentetrocando substincias — por exem- plo, ingerindo alimento e oxigénio e expelindo {idxido de carbono e esiduos de nitogénio—com ‘seu ambiente. ‘Uma diferenca da visio de Beralanffy dapers- pectiva furcionalista, sobre os organismos, conti- daneste conceto dos sistemas abertos, éa sua én- fase na importincia do relacionamento entre um organismo e o seu ambiente, que. é claro, inclui outros organismos, em vez de considerar 0s orgs nismos simplesmente como reazentes ao seu am- biente. Os mecanicistas nio reconheciam que 0s organismos no apenas reagem ao estimulo, mas que ativamenteiniciam esforgos cvativos para se destacar, ‘Na verdade, Bertalanffy fois vida toda um cru- ado contra a visio mecanicista dos sistemas vi- vos, partcularmente daqueles sistemas vivos cha- rmados pessoas. Ele acreditavaqve, 0 contrério das _maquinas, os organisms vivos é2monstrameqif- nalidade, _Lcapacdade dos organismos 2 ingirum deter tinado objetivo fina a pair de ierentescondigbes iniciais ede ditceres maneiss Em sistemas alo- vivos, estado final eos meias rs sechegara ele so ixados peas condighesirsss) lee ours bi ogo usavam ese temo pars enear a capaci dade voliada-paa-o-neror €2 Um organism para proteger ou resaurar sua intra. come na mbi- liaglo dos atcorpos do coro Ruano ¢ em sua capacidae para repararpelee exo. Davidson. 1983, p77) esse modo, 0s organismas vivos slo eriativa © espontaneaments ativos e podem usar muitos métodos para manter sua organizas%0, mas no so apenas motivados para manter 0 status quo. Como discutiremos mais adiante, a teapia familiar de- senvolveu-se a partir do conceito da homeostase, que éatendéncia de um sistema para se auto-regu- Tamentar de modo a manter um ambiente interno constante em resposta as mudancas no ambiente extemo. Este termo, inventado pelo fisiologista francés Claude Berard no século XIX para des- crever o regulamento de condigées como atempe- ratura corporal ou 0 nivel de agicar do sangue, descreve parte do comportamento dos organismos, ‘mas Bertalanffy acreditava que umaénfase exage- rada neste aspecto reativo ¢ homeosttico de um Teravia Fawiuiar 91. ‘organismo reduzia-o a0 nivel de uma méquina, Berialanffy escreveu que "Se [este] principio da manutengio homeostitica € encarado como uma regrade comportamento,o chamado individuo bem ajustado serd (efinido como] um rob6 bem lubri- ficado” (citado em Davidson, p. 104). “No sentido ‘da homeostase, Michelangelo deveria ter seguido © conselho de seu pai e entrado no negécio de britamento, Ele teria tido uma vida muito mais fe liz que aquela que levow pintando a Capela Sistina fem uma posigdo tdo desconfortavel” (citado em Davidson, p. 127). Como discutiremos mais adiante, a homeostase 6 um conceito mais central na cibernética, do que é © estudo de sistemas auto-reguladores como os termostatos, 05 sistemas endéerinos ou os misseis guiados, na TGS. A homeostase foi introduzida na terapia familiar por Don Jackson (1957), como uma maneira de explicar a tendéncia das familias a re- sistir 4 mudanga, Embora permanecesse um con-

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