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LAUDO PSICOLÓGICO

1 - Identificação:

Autor: Otávio Casemiro Lins


Interessado: Dr Nilton César Barbosa
Assunto: Avaliação Psicossocial

2 - Descrição da demanda:

A avaliação psicossocial foi realizada para cumprir um dos critérios de avaliação da


disciplina TAP I: Técnicas de Avaliação Psicológica I. Inicialmente, procedeu-se a coleta de
dados incluindo informações sobre o examinado, através de uma entrevista, bem como a
aplicação, correção e interpretação dos testes psicológicos: IFP II (Inventário Fatorial de
Personalidade) e o teste R-1 (teste não-verbal de inteligência). A seguir serão descritos os
procedimentos usados durante a coleta de informações, bem como a análise dos resultados,
conclusão e encaminhamento.

3 - Procedimentos:

Inicialmente foi realizada a entrevista inicial que, de acordo com Ocampo, Arzeno e
Piccolo (1999), é um procedimento semidirigido, pois o paciente tem a liberdade para expor
seus problemas começando por onde preferir e incluir o que desejar. O entrevistador intervém
a fim de assinalar alguns vetores quando o entrevistado não sabe como começar ou continuar,
assinalar situações de bloqueio ou paralisação por incremento da angústia para assegurar o
cumprimento dos objetivos da entrevista e indagar a cerca dos aspectos da conduta do
entrevistado que não foram relatados espontaneamente.
Os objetivos da entrevista, segundo acampo, Arzeno e Piccolo (1999) são: perceber a
primeira impressão que o paciente desperta no entrevistador e conferir se esta se mantém ao
longo de toda entrevista; considerar a verbalização no que diz respeito a quando, o que, como
e com que ritmo ocorre; estabelecer o grau de coerência ou discrepância entre tudo o que foi
dito, tudo que se pode captar durante a entrevista e também através da linguagem não verbal;
planejar a bateria de testes mais adequada quanto a elementos a serem utilizados, a seqüência
e o ritmo; estabelecer um bom rapport com o paciente; estar atento para as relações de
transferência e contra-transferência que surgirão no decorrer da entrevista.
Em seguida foi aplicado o teste IFP II (Inventário Fatorial de Personalidade), que é um
instrumento para avaliar aspectos psicológicos da personalidade, criado por Pasquali e Cols
em 1997, baseado na teoria das necessidades básicas formulada por Henry Murray. O teste
visa avaliar o indivíduo em treze necessidades, com objetivo de traçar o perfil de
personalidade, são avaliados os seguintes aspectos: assistência, intracepção, afago, autonomia,
deferência, afiliação, dominância, desempenho, exibição, agressão, ordem, persistência e
mudança, além de três fatores de segunda ordem, que são: necessidades afetivas, necessidade
de organização, necessidade de controle e oposição. Para se interpretar corretamente o perfil
de personalidade do sujeito, pode-se considerar agrupamentos de necessidades e o que cada
um dos fatores ou necessidades significa (DE ARAÚJO, 2004).
Posteriormente, foi utilizado o teste R-1 (Teste Não Verbal de Inteligência) para
analisar aspectos da inteligência em pessoas adultas, através da apresentação de 40 itens em
um caderno, em que o candidato deve escolher uma alternativa que acredita ser correta para
cada item. O teste foi criado por Rynaldo de Oliveira e publicado pela Vetor Editora em 1973.
O manual foi revisto e ampliado por Alves, em 2002, reeditado em 2009 e em 2018,
atualizou-se as tabelas normativas conforme determina a Resolução Nº09/2018 do CFP em
seus artigos 14 e 15. Sua construção teve como base o Teste de Matrizes Progressivas de
Raven (SILVA & ALVES, 2018). De acordo com Alchieri (2004), originalmente o R-1 mede
a capacidade de eduzir relações, ou seja, compreender ideias. A capacidade de identificar e
lidar com problemas depende simultaneamente de desenvolver uma compreensão de um todo,
para saber o que procurar nas partes e saber que partes discriminar do “ruído” do fundo para
ver o todo. Para resolver os itens do R1 é necessário entender a natureza dos problemas, isolar
os elementos relevantes e identificar as suas relações, o que indica que a percepção e o
raciocínio fazem parte do mesmo contínuo psicológico.

4 - Análise:

A entrevista de anamnese possibilitou uma visão mais ampla do cliente. Por meio dela
percebeu-se que o avaliando é um jovem relativamente tímido, respondia as perguntas de
forma mais objetiva, sem prolongar muito as respostas e evitava olhar nos olhos do psicólogo
no momento da entrevista. Atualmente mora com os pais, tem duas irmãs que não moram
com ele. Estuda Psicologia na Universidade Federal de Jataí, cidade onde também mora. O
jovem sente uma forte insegurança relacionada ao seu futuro, pois acredita que não consegue
oferecer o melhor de si em suas atividades acadêmicas e tem muita dificuldade de
concentração nos estudos, relata que tudo se distrai muito facilmente ao realizar atividades, o
que acaba gerando uma frustração e desânimo para criar novos projetos, o ensino remoto tem
afetado bastante sua capacidade de concentração, pois como tudo é feito em casa acaba tem
dificuldades em organizar suas tarefas, já que está em sua zona de conforto, acredita que isto
piora sua vontade de estudar. Além disso, sente falta do contato social que foi inviabilizado
pela pandemia, com falta da rotina de antes, o isolamento afetou muito sua produtividade e
habilidades sociais.

Outra queixa recorrente do avaliando na entrevista foi sua baixa autoestima e


preocupação excessiva com a própria aparência, pois sente vergonha de exibir seu corpo até
mesmo em casa. Desde criança relata ter problemas de baixa autoestima, já que sofria
bullying dos colegas na escola. Atualmente tem uma preocupação excessiva com alimentação
e calorias dos alimentos, com um constante medo de ganhar peso e ficar acima do peso que
ele considera ideal.

Com a análise do teste IFP II, o examinando apresentou os seguintes resultados tendo
como referência os escores extremamente alto e extremamente fraco, que revela necessidades
extremas. Baseados nas tabelas de Normas por sexo, pode-se observar:

- Em Assistência, o analisando apresentou um escore “extremamente baixo”,


sugerindo pouca capacidade de oferecer suporte emocional para alguém, assim como consolar
alguém em momentos tristes e demonstrar piedade, compaixão ou ternura.

- Afiliação, obteve um escore “extremamente fraco”, o que pode sugerir baixa


confiança e boa vontade para com os outros. Além de não se apegar tanto a amigos e
demonstrar afetados a eles.

- Desempenho, obteve escore “extremamente baixo” o que demonstra muita


dificuldade em realizar tarefas difíceis que não domina. Além de baixa capacidade de
manipulação de objetos e pessoas e uma baixa independência.
- Agressão, apresentou escore “extremamente alto” demonstrando dificuldade de lidar
com a raiva e a irritação. Pode gostar de atacar, brigar ou se opor aos outros.

- Ordem, neste fator obteve um escore “extremamente baixo” o que pode significar
dificuldade de organização das coisas, manter a limpeza ou equilíbrio.

- Persistência, obteve escore “extremamente baixo” o que pode demonstrar baixa


tendência de iniciar e terminar trabalhos fáceis ou difíceis.

- Mudança, apresentou escore “extremamente baixo” pode significar baixa disposição


para mudar de rotina, não gosta de se aventurar em coisas novas, nem de novidades, nem
mudar de hábitos.

Em relação aos fatores de segunda ordem, pode-se observar os seguintes resultados:

- Necessidades afetivas, o analisando apresentou um escore “extremamente baixo”, o


que pode demonstrar baixa necessidade de apego afetivo e afeição a pessoas próximas, não
costuma oferecer proteção, suporte ou obediência. Também pode não sentir necessidade de
receber afeto, apoio ou proteção de pessoas próximas, pois é mais conduzido pela razão que
emoções.

- Necessidade de organização, obteve escore “extremamente baixo” o que significar


baixa ambição em realizar algo importante, não costuma persistir frente as dificuldades,
também tende a não trabalhar de forma tão organizada, nem se destacar pelo esforço.

- Necessidade de controle e oposição, apresentou um escore “extremamente alto”, o


que pode significar um desejo de ser notado pelas pessoas, exercer fascínio e obter certo
controle sobre o comportamento das pessoas. Pode apresentar certa agressividade diante de
ideias e resistência a coerção.

Com esses resultados, observa-se que o examinando apresenta baixa capacidade de


oferecer suporte emocional para os outros, mas ao mesmo tempo procura entender os motivos
dos próprios comportamentos e dos outros. Sente alguma necessidade de ser apoiado e
orientado por pessoas próximas. Também apresentou uma baixa confiança em si e
dificuldades em demonstrar afeto. Evidenciou no teste ter dificuldades em realizar tarefas
difíceis que não domina e também organizar suas atividades, além de baixa independência ao
realizar novas tarefas. Sente dificuldades em lidar com a raiva e a irritação em diversos
momentos. É alguém que não demonstra gostar de se aventurar em novas atividades, nem
mudanças bruscas de rotina, mas sente necessidade de liberdade e não gosta que imponham
tarefas. Tende a resistir a coerções e se comporta de forma mais agressiva diante de oposição
de ideias.

O examinando apresentou dificuldades principalmente em desempenho, o que pode


significar que tem dificuldade em executar suas tarefas com precisão, também baixas
capacidades de organização de suas tarefas cotidianas, o que acarreta em baixa tendência para
começar e terminar qualquer trabalho. Além de certa resistência para mudança de hábitos e
realizar novas atividades.

Na análise do teste R-1, obteve-se o seguinte resultado:

Pontos: 28 Percentil: 20

Esse protocolo refere-se a um examinando do sexo masculino, com escolaridade nível


segundo grau e a tabela consultada foi a tabela 6 por nível de escolaridade. O percentil obtido
é classificado como médio inferior.

O examinando errou os itens 17, 20, 25, 26, 28, 29, 34, 36, 37, 38, 39 e 40.
Consultando-se a tabela 6, relativa à frequência de acertos por nível de escolaridade nível
segundo grau, observa-se que esses itens têm as seguintes porcentagens de acerto:

17-67,4 28-62,5 37-21,4

20-53,6 29-41,8 38-25,0

25-59,9 34-42,1 39-24,0

26-57,6 36-9,2 40-9,5


Por esses dados pode-se observar que os erros ocorreram, em geral, em itens com
porcentagem de acerto um pouco maior que 50% dos sujeitos com o mesmo nível de
escolaridade, mostrando certa coerência em relação à dificuldade dos itens em que errou.

Com esses dados pode-se concluir que o examinando apresenta uma inteligência
média inferior (P=20), em relação ao raciocínio edutivo. O que representa uma capacidade
mediana para identificar e lidar com problemas, com uma compreensão clara do
completamento de figuras concretas, visto que acertou todos os itens referentes a este
raciocínio (de 1 a 7), o que significa boa capacidade de discriminar o “ruído” do fundo para
ver o todo. Os itens que errou também demonstra dificuldade para a maioria dos pesquisados,
como os itens 36, 37, 38, 39 e 40, visto a baixa taxa de acerto para o nível de escolaridade
apresentado.

5 - Conclusão:

Atualmente, em relação ao aspecto social, o avaliando possui baixas habilidades


adaptativas para um jovem de 22 anos. Apresenta certa timidez para se comunicar, e está com
dificuldades para se adaptar ao ensino remoto, com isso sua capacidade de concentração e
foco nas tarefas está prejudicado. Se sente inseguro em diversos momentos e sua autoestima
está abalada. Sente baixa autoconfiança em diversas atividades e relações presentes em sua
vida. Também sente falta de ter mais contato com os amigos, pois com o isolamento social
sua vida social tem sido limitada a interações por celular, o que provoca certa carência afetiva
das pessoas próximas.
O ambiente familiar revela-se razoavelmente tranquilo. O avaliando possui um vínculo
forte com a mãe sendo que esta sempre o tratou bem, com carinho e proteção, contudo, a
relação com o pai é mais distante, pois apesar de morarem na mesma casa, praticamente não
conversam durante o dia. Com as irmãs, a relação é tranquila, não moram mais na mesma casa
e se veêm ocasionalmente apenas. Com a necessidade de ficar muito tempo em casa e estudar
de forma remota, isso acabou gerando estresse no avaliando, já que sente falta de sair mais
para se divertir e encontrar os amigos da faculdade.
No âmbito acadêmico, o avaliando tem se sentido prejudicado, diz não ter dificuldades
para ser aprovado nas disciplinas, mas sim, de se concentrar nas atividades e leituras que o
curso exige. Tem estado desanimado com essa nova forma de estudo em casa, a
impossibilidade de contato social e as dificuldades de fixar o conteúdo na memória, tem
provocado inseguranças em relação ao seu futuro profissional, o que tem gerado certa
ansiedade.
Conclui-se que, o avaliando tem investido muito de seu tempo lidando com suas
frustrações, passa mais tempo pensando no que deve fazer, no que fazendo de fato. Sente
principalmente, sua autoconfiança e autoestima abaladas, se sente culpado por não conseguir
realizar suas atividades da maneira que gostaria e se cobra muito por isso, também encontra
dificuldades em organizar sua rotina. Recomenda-se que inicie, assim que possível, um
tratamento psicoterapêutico para trabalhar as necessidades levantadas.

6- Referências

ALCHIERI, João Carlos; NORONHA, Ana Paula Porto; PRIMI, Ricardo. Guia de
referência: testes psicológicos comercializados no Brasil. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2004.

DE ARAÚJO, Robson Medeiros. Análise da estrutura fatorial do inventário fatorial de


personalidade—IFP. Universitas: Ciências da Saúde, v. 2, n. 1, p. 1-10, 2004.

OCAMPO, M. L. S.; ARZENO, M. E. G.; PICCOLO E. G. O processo psicodiagnóstico e


as técnicas projetivas. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

SILVA, Marlene Alves da; ALVES, Irai Cristina Boccato. Estudo normativo do R-1: Teste
não verbal de inteligência para uma região da Bahia-Brasil. Est. Inter. Psicol., Londrina , v.
9, n. 3, supl. 1, p. 38-53, dez. 2018.

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