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Musicoterapia: dos fazeres biomédicos aos saberes sociocomunitarios Music therapy: from biomedical to social community ‘Musicoterapia: de los haceres biomédicos a los saberes sociocomunitarios Andressa Dias Arndt Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianépolis, SC, Brasil Kitia Maheirie Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Floriandpolis, SC, Brasil Resumo Neste artigo apresentamos um panorama histérico dos aspectos tedricos e praticos da Musicoterapia, sobretudo os presentes nos cinco modelos mundialmente reconhecidos oficializados de atuagdo, a saber: a Metodologia Benenzon, 0 Método Nordofi-Robbins, 0 Método de Imagens Guiadas e Miisica, 0 Método de Musicoterapia Analitica ¢ 0 Modelo de Musicoterapia Behaviorista. Por meio de uma reflexdo tedrica que parte de uma selego integrativa de literatura, analisamos a predomindncia de modelos de atuagdo regidos por propostas clinicas e/ou biomédicas de teoria e pritica. Em seguida, apresentamos as especificidades ¢ a emergéncia de saberes e fazeres sociais comunitarios em Musicoterapia para, por fim, propormos alguns apontamentos te6rico-préticos no campo social e comunitério de atuagaio da Musicoterapia. Palavras-chave: Musicoterapia; social; comunitirio Abstract In this article we present a historical overview of the theoretical and practical aspects of Music Therapy, especially in the five world-renowned and officially recognized models of performance: Benenzon Methodology, Nordoff-Robbins Method, Guided Images and Music Method, Analytical Music Therapy and the Behaviorist Music Therapy Model, Through a Rev. Polis e Psig 2019; 9(1): 54 A.; Maheirie, K. theoretical reflection that starts from an integrative selection of literature, we analyze the predominance of actuation models governed by clinical and / or biomedical proposals of theory and practice. Next, we present the specificities of social and community knowledge and practices in M Therapy to finally propose some theoretical-practical notes in the social and community field of music therapy practice. Keywords: Music therapy; social; community. Resumen En este articulo presentamos un panorama histérico de los aspectos tedricos y practicos de la Musicoterapia, Sobre todo presente en los cinco modelos mundialmente reconocidos ¢ oficializados de actuacién, a saber: la Metodologia Benenzon, el Método Nordoff-Robbins, el Método de Imagenes Guiadas y Masica, el Método de Musicoterapia Analitica y el Modelo de Musicoterapia Behaviorista. Por medio de una reflexién teérica que parte de una seleccién integrativa de la literatura, analizamos el predominio de modelos de actuacién regidas por propuestas clinicas y/o biomédicas de la teoria ¢ préctica, A continuacién, presentamos las especificidades y la emergencia de saberes y haceres sociales y comunitarios en Musicoterapia para, por fin, proponer algunos apuntes tedrico-practicos en el campo social y comunitario de actuacién de la Musicoterapia, Palabras clave: Musicoterapia; social; comunitirio. Introdugio apontamos para literaturas que propdem um fazer musicoterépico em uma perspectiva Este artigo apresenta um cenério social © comunitéria. Partindo de um histérico de como a Musicoterapia se funda ‘ didlogo com a psicologia de base sécio- como campo de_—_cothecimento. 5 histérica, tragamos um paralelo entre a Apresentamos um panorama geral dos tipos ; . Pr P a Ps insergdo da Psicologia no campo das de experiéneiapritica ¢ modelos de Politicas Pablicas de Assisténcia Social ea abordagens mundialmente reconhecidas. , Musicoterapia para problematizar Problematizamos cariter integralmente desenhar apontamentos clinico e/ou biomédico de tais abordagens ¢ Rev. Polis e Psique, 2019; 9(1): 54 — 55 A.; Maheirie, K. para uma Musicoterapia de cunho social e comunitério. Assim, por fim, indicamos caminhos possiveis para teorizar a Musicoterapia em uma perspectiva social e comunitaria, partindo de publicagdes do campo da Musicoterapia e estabelecendo um didlogo com a psicologia de base sécio-histirica. Tal didlogo é eleito por tragarmos um paralelo entre os impasses enfrentados pela Psicologia em contexto social ¢ comunitétio, compreendendo que tal didlogo possa ser potente para o fortalecimento de uma construgdo teérica que balize a pritica da Musicoterapia Social ¢ Comunitaria, Método Neste artigo assumimos uma reflexo teérica em torno do tema de nosso interesse. Partimos de uma selegio integrativa de algumas publicagdes que se demoram em apresentar as propostas de modelos de atuagdo€ _teorizagio mundialmente _reconhecidos. = em Musicoterapia, Aproximamo-nos dos conceitos, termos, modos de construgio de conhecimento, teorias e agdes _narradas nessas publicagese, dessa forma, procuramos conhecer 0 que tem sido dito, feito © pensado para, entdo, langarmo-nos a0 novo, a um outro possivel (Ferreira, 2002). Re: lizamos uma explorago em Rev. Polis e Psigue, 2019; 9(1): 54 - toro dos dados _origindrios._ da Musicoterapia, objetivando perscrutar a presenga de uma teoria ou proposta pratica voltada para aspectos sociais e comunitérios neste campo. Para isso, _utilizamos referéncias consideradaspioneiras na compilacéo de trabalhos musicoterapéuticos, como, por exemplo, a obra de Gaston, publicada no Brasil em 1968 € a obra de Leining, publicada no Brasil em 1977. Construimos nosso cenario buscando exploratério “concentrar elementos. para uma_—_discussiio fundamentada que iré dar embasamento abrir caminho para outras buscas que visem um universo maior de autores, conceitos ¢ visdes” (Amdt, Cunha & Volpi, 2016, p. 389), Partindo do fato de que desde 2011 a Musicoterapia tem mais intensamente “ocupado lugar junto aos servigos vinculados ao Sistema Unico da Assisténcia Social (SUAS) no Brasil, marcamos a necessidade de uma teorizagio de base social comunitéria para fundamentar tais praticas. Elegemos utilizar publicagdes._ da Musicoterapia, consultadas por meio digital ‘ou impresso, como capitulos de livros, teses, dissertagdes e artigos cientificos, dos anos 2000 a 2015, utilizando como critério de inclusio a temética social e comunitéria em Musicoterapia, Os artigos por nés utilizados possuem acesso on-line livre A.; Maheirie, K. foram localizados por meio do buscador Google Académico Musicoterapia: panorama histérico ‘A. histéria da Musicoterapia encontra seu primeiro capitulo oficial no cendrio pés Segunda Guerra Mundial, quando experiéncias musicais foram sendo utilizadas por misicos, em hospitais de reabilitago, para entreter egressos que softiam emocionalmente ou mesmo que estavam em proceso de reabilitagdo fisica (Leinig, 1977; Chagas & Pedro 2008). O fato de que as atividad music is desenvolvidas apresentaram — mudangas positivas no quadro emocional ¢ fisico dos participantes chamou tengo dos médicos, despertando interesse ¢ iniciativa em westir em pesquisas ¢ praticas que pudessem solidificar as _experigneias, Segundo Chagas e Pedro (2008), as atividades musicais foram sistematizadas apés a Segunda Guerra Mundial, passando a se avaliar a necessidade de compor a0 perfil do miisico uma outra formagio: a de terapeuta, © primero ambiente de atuago & entdo, 0 contexto hospitalar, e sem que os. miisicos pudessem determinar © ponto de partida de tal fazer, os pioneiros que utilizaram a Musicoterapia ram enfermeiros, médicos e colaboradores de centros hospitalares que passaram a atuar Rev. Polis e Psigue, 2019; 9(1): 54 como musicoterapeutas. Em sua génese, a Musicoterapia utilizou a “misica como auxiliar no tratamento de afecgdes de dia natureza a, ortopédica neuropsiquica, com resultados significativos” (Leinig, 1977, p. 16). Com 0 objetivo maior de colaborar para os avangos da musica no campo da medicina, instrumentalizando e formando 0 profissional para um trabalho atrelado a area médica, em 1950 ocorre a criagdo da National Association for Music Therapy. A universidades partir dai, “muitas americanas instituiram, em seus departamentos musicais, cursos para treinamento de musicoterapeutas, em cooperagio com escolas médicas ¢ hospitais” (Leinig, 1977, p. 16). Ji se toma possivel observar que, no momento embrionario da Musicoterapia, quando pretende se fundar como campo de saber, ha uma marcante influéncia de um modelo biomédico atrelado a utilizagao da miisica para o alivio de sintomas, quando utilizada no tratamento de alguma patologia. Ou seja, sua construgdo epistemolégica esteve moldada por um tipo de pratica inspirada no modelo biomédico, em contexto hospitalar. Chegando ao Brasil na década de 1970, a Musicoterapia adentra 0 campo universitario como uma area de formagao em nivel superior, primeiramente como uma especializagao ofertada pela Faculdade A.; Maheirie, K. de Edueagao Musical do Parand, atual Universidade Estadual do Para (UNESPAR) Campus de Curitiba 1 — Faculdade de Artes do Parana (FAP) e, posteriormente, como curso de graduagio reconhecido pelo MEC em 1978, ofertado pelo Conservatério Brasileiro de Masica do Rio de Janeiro (Osclame, 2013) Em Tinhas gerais, a pritica da Musicoterapia se utiliza de alguns caminhos nomeados por Bruscia (2000) como “experiéneias musieais", a saber: a re- criago; improvisago; composigio experigneias receptivas. Cada tipo de experiéncia guarda diferentes objetivos & ramificagées, envolvendo diferentes técnicas, niveis e estruturas. E fato que, desde a primeira metade do século XX, a Musicoterapia vem se desenvolvendo. Suas bases epistemoldgicas € ontolégicas tem se ramificado, ampliando as possibilidades de teorizagio e pratica. Interessa-nos aqui uma aproximagao com as praticas e teorias em contexto comunitério e social. Ha na Musicoterapia cinco métodos reconhecidos mundialmente, a saber: Metodologia Benenzon; Método Nordoff-Robbins; 3- Método de Imagens Guiadas e Miisica; 4- Método de Musicoterapia Analitica; e S- Modelo de Musicoterapia Behaviorista (Ruud, 1990; Chagas & Pedro, 2008). Rev. Polis e Psigue, 2019; 9(1): 54 Criado na década de 1960 pelo miisico médico psiquiatra argentino, com formagdo em psicandlise e téenicas do Rolando psicodram: Benenzon, Metodologia Benenzon propde que todo individuo possui uma identidade sonora singular e exclusiva, composta de sua heranga sonora fetal ¢ construida ao longo da vida, nomeada por Benenzon de ISO. Para Benenzon, 0 ISO pode ser: gestaltico, quando constituido de vivéncias sonoras inconscientes desde a concepgao; universal, com sonoridades inconscientes herdadas milenarmente, incluindo sons de batimento cardiaco, _respiragio, ete. independente da cultura, da historia e do contexto social; cultural, por meio de construidas a partir do nascimento; grupal, quando resultante de caracteris s étnicas, culturais, nacionais; complementar, a partir de vivéncias momentineas e temporais, geradas pelas mudangas rotineiras. (Benenzon, 1998; Chagas & Pedro, 2008). Uma das __caracteristicas que destacamos da proposta supracitada & que a teoria pressupde uma crenga de que sonoridades sio herdadas inconscientemente ao atravessar_ dos milénios. Outro aspecto relevante é que o autor posiciona a Musicoterapia como campo da medicina (Benenzon, 1998). © Modelo Nordoff-Robbins, também conhecido como Musicoterapia 58 A.; Maheirie, K. Criativa, foi eriado a partir dos trabalhos do misico compositor Paul Nordoff ¢ do misico educador Clive Robbins. Ambos, las de 1960 © 1970, se empenharam em realizar e divulgar nas di pesquisas no campo da Musicoterapia, dedicando-se a estudos com criangas portadoras de diferentes necessidades especiais, Centrada na utilizagio da improvisago, © modelo propde uma constante interago entre musicoterapeuta ¢ paciente nos processos criativos musicais. Utilizando-se da misica como linguagem, 0 objetivo ¢ sua pritica é envolver a crianga em uma experiéncia que a invista de agdes capazes de transpor os limites de seu quadro patolégico, A improvisagao clinica de Nordoff e Robbins é atenta a qualquer manifestagao sonora do paciente que possa ser inserida na trutura. e na forma musical criada espontaneamente, desde uma res; uma estereotipia, ou seja, qualquer manifestagdo da crianga & passivel de ser incorporada_ na improvisago musical, concedendo a crianga o lugar de criadora ativa, Segundo Ruud (1990, p. 72), * om, suas habilidades musicais e sua incomum sensibilidade dirigidas 4s reagSes musicais. espontineas da crianga, Nordoff conseguia trazer a crianga para uma situagdo musical, possivelmente inesquecivel a ela”. ‘Um dos conceitos pilares do modelo Nordoff-Robbins & a compreensio de que Rev. Polis e Psigue, 2019; 9(1): 54 — todo sujeito, independente de condigies historias ou fisicas, possui musicalidade. A musicalidade ¢ compreendida como a sensibilidade natural e inata & musica, nomeada por eles de “music child”, desenvolvida ao longo da vida pela nomeada “condition child”. Com a atuagio simultanca de dois musicoterapeutas, um a0 piano e outro em interagio direta com a ctiago, 0 método Nordofi-Robbins tem cursos de formacao em diferentes paises e, atualmente, no tem sido utilizado exclusivamente com criangas. (Chagas & Pedro, 2008). Nesse caso, encontramos uma proposta que certamente tem seu valor e consisténcia para além de uma pritica clinica, apesar de ter sido para essa abordagem configurada ¢ construida, Para pautar praticas em contexto social, no entanto, um modelo clinico nio se faz suficiente para se balizar as ages coletivas ¢ comunitirias. © Método de Imagens Guiadas Masica, originalmente nomeado como Guided Imagery and Music, abreviado e conhecido como Método GIM foi criado pela musicoterapeuta estadunidense Helen Bonny na década de 1970. Na época, Bonny realizava estudos que empregavam o uso da misica, LSD e outras drogas psicodélicas' para o tratamento de dependéncias quimicas € sofrimento emocional, devido a quadros de cancer terminal (Ruud, 1990). Apés a A.; Maheirie, K. proibigdo do uso das drogas para o tratamento, Bonny cria uma proposta terapéutica que investe na audigo musical m 0 uso de LSD ou outras drogas, inaugurando assim uma nova abordagem para a Musicoterapia, Sua proposta consiste na audigfo de um programa musical selecionado previamente, sobretudo de repertério erudito, com o intuito de induzir estados alterados. de consciéncia favorecendo a criagio de imagens. Helen Bonny inspira-se na Psicologia Humanista € Transpessoal, com influéncias tedricas de Carl Rogers, Abraham Maslow e Carl Jung. Segundo 0 método GIM, a misica exerce papel de coterapeuta e supostamente afeta corpo, mente e “espirito”, dicotomias adotadas e nomeadas pelo modelo. Para tal orientagioteérica, a miisica compreendida como sendo, em si, um meio potente para a chamada cura, por auxiliar 0 acesso de “estadosalterados_ de consciéneia” ¢ estruturar uma experigneia atemporal, uma vez que, segundo essa orientagdo, hé um acesso a estados alterados de consciéncia em que a passagem do tempo no se faz, necessariamente, em ordem cronolégica. © método é utilizado com piblico adulto e infantil e ndo é indicado para portadores de transtorno mental grave. Esse método leva o profissional a pressupor a existéncia de um suposto estado alterado de consciéncia, de uma dicotomia entre corpo, “mente” “espitito”, Rev. Polis e Psigue, 2019; 9(1): 54 investindo essa teoria de aspectos mistico- religiosos. Também encontramos a conotagao de “cura interior”, de um suposto a como detentora de forgas que induzem os sujeitos a0 acesso. de experiéncias “atemporais”. Essa proposta também nao investe em aspectos coletivos, pois scu foco se concentra em um tipo de pratica clinica, individualista e subjetivista. ‘A Musicoterapia Analitica, criada na década de 1970 pela musicoterapeuta britinica Mary Priestley, recebe inspiragio dos trabalhos de Carl Jung, Sigmund Freud e Melanie Klein. Por meio de improvisages musicais entre paciente musicoterapeuta, trabalhando com voz, siléncio, instrumentos musicais e/ou sons corporais, sua proposta utiliza a musica de forma analitica e simbélica. A musica & ferramenta criativa no acesso a contetidos inconscientes, possibilitando sua extemalizagio para posterior —anilise, caracterizando uma proposta individualista ¢ subjetivista de atuagio. (Chagas & Pedro, 2008). A estrutura da sesso ocorre com a identificagao de uma demanda emocional a ser trabalhada. Posteriormente ocorre a estrutura da improvisagZo musical, com a eleigio do que sera explorado, bem como o papel de cada um na construgio criativa. Em seguida, a partir do tema emocional definido incialmente, corre. =a A.; Maheirie, K. improvisagdo, O fechamento da sessio se com a verbalizagio sobre o material produzido na improvisagao. Por sua vez, 0 Modelo de Musicoterapia Behaviorista preocupa-se com a modificago do comportamento dos sujeitos com os quais trabalham. Dentre os pionciros dessa abordagem, estio Barrett, Madsen, Steele, Walker e Jorgenson que desenvolveram seus trabalhos, sobretudo, no final de década de 1960 € inicio da década de 1970 (Ruud, 1990). Seus pioneiros propdem pensar a misica como um elemento reforgador, ou seja, potente para modificagdo__comportamental, assumindo o pressuposto de que comporto humano & resultado dos _estimulos ambientais externos. Assim, —_ os. procedimentos adotados por musicoterapeutas behavioristas envolvem a recompensa para comportamentos adequados, 0 reforgo positive ou negativo imediato e, dentre seus objetivos esto, por exemplo, 0 controle de comportamentos agressivos ou estereotipados por parte de sujeitos com deficiéncia mental. Este modelo aposta no investimento em pesquisas empiricas elinicas, quantitativas mesuraveis, buscando distanciarese de uma atuagdo regida por aspectos intuitivos e abstratos por parte dos musicoterapeutas, mas presente em muitos relatos clinicos publicizados nos anos originarios da © na filosofia do profissio. Inspir Rev. Polis e Psigue, 2019; 9(1): 54 fisicalismo, proposta por Rudolf Camap seu Circulo, bem como na proposta filos6fica e tedrica John Locke (Ruud, 1990). Como apresentado acima, os modelos mundialmente reconhecidos sio criados entre as décadas de 1960 ¢ 1970 & todos so voltados a questées clinicas ¢ individuais. Nao encontramos_ propostas que pensem a construgio coletiva, que considerem 0 contexto social e cultural, rompendo com limites subjetivistas. Segundo Ruud, em termos priticos, nos discursos ¢ publicagdes do meio musicoterapéutico, “cruzamos_ com “musicoterapeutas behavioristas’, “musicoterapeutas analiticos’, “musicoterapeutas ctiativos’, “musicoterapeutas gestilticos’ I" (2006, p.01), Fica evidente que, no campo pratico, a variedade de aportes tedricos dos quais os musicoterapeutas fazem uso acaba desenhando um leque mais diversificado do que os estabelecidos e reconhecidos mundialmente, Em contexto brasileito, tal realidade apoia-se no fato de que a formagdo nos métodos de Musicoterapia reconhecidos mundialmente & _escassa, contribuindo para que os_ profissionais busquem especializagdes em outras dreas ¢ construam uma pritica particular de atuagao. A.; Maheirie, K. A Musicoterapia e 0 contexto social e comunitirio ‘A despeito de nao ser uma categoria profissional regulamentada, desde 2011, por meio da publicagio da Resolugio n°17 de 05 de Junho de 20117, a Musicoterapia marca seu lugar nas politicas piblicas da Assisténcia Social no Brasil. A Resolugdo reconhece a Musicoterapia como uma categoria que pode integrar as equipes de referéncia contribuindo nos atendimentos das especificidades dos servigos que integram o Sistema Unico de Assisténcia Social — SUAS. Esse documento reconhece © musicoterapeuta, 0 antropélogo, 0 economista doméstico, 0 pedagogo e 0 sociélogo como profissionais de nivel superior que tém formago e qualificagao para somarem com os servigos. ‘A presenga da Psicologia, por sua istencial se di de vez, no contexto socioa: modo mais sistemético a partir de 2004 com as novas diretrizes da Politica Nacional de Assisténcia Social (PNAS) e, ainda assim, & considerada uma entrada recente (Oliveira & Amorim, 2012), A Musicoterapia se coloca. em tempo bastante posterior, deixando sua histéria ainda mais incipiente no campo da Assisténcia Social Pela oportunidade de demanda aberta com a publicago da Resolucdo n° 17, 0 campo da Musicoterapia passa a se interessar ¢ se apropriar mais do contexto Rev. Polis e Psigue, 2019; 9(1): 54 dos servigos ¢ equipamentos vinculados 20 Sistema Unico de Assisténcia Social — SUAS. Mareamos que as propostas clini s teéricas e de atuagdo tém seu valor e que a busca por caminhos outros no se di por considerd-las subalternas ou datadas, mas porque o contexto comunitério apresenta demandas especificas que nos provocam a responder de lugares que problematizem as relagdes, a realidade social, os lagos comunititios, os vinculos grupais, as questdes culturais presentes em nossos campos de atuagdo, Portanto, interessa-nos uma aproximagio com autores que adotam uma perspectiva social e comunitaria na. Musicoterapia. Com intuito de construirmos um panorama de produgdes que se concentrem, em aspectos praticos ¢ tedricos de uma Musicoterapia Social e Comunititia, realizamos a selegdo, leitura e analise de produgdes que se demoram nesse tema, levando a algumas consideragdes. Inicialmente, cabe uma reflexdo em tomo da suposta premissa de que a Musicoterapia & necessariamente uma forma de terapia. Segundo Demkura, Alfonso, Isla, Abramovici e Morello (2007), ao tentarmos descolar a Musicoterapia do —fazer__—_clinico, encontramos um paradoxo, uma vez que 0 nome de nosso campo disciplinar remete a uma pritica clinica, ja que carrega 0 termo A.; Maheirie, K. terapia, Para isso, ao longo das reflexdes tecidas em rela 4 pritica comunitaria, 0 termo musicoterapia, _necessariamente, deveré ocupar lugar polissémico. Do contrario, corre-se 0 risco de tentar compreender de que modo se faz um. trabalho terapéutico/ clinico em uma petspectiva social, e no é esse 0 intuito das provocagées. Antes, atenta-se para a possibilidade que reside na inauguragdo de outras formas de se fazer e teorizar a Musicoterapia que ndo esteja atrelada aos modelos tradicionalmente postos. Demkura, Alfonso, Isla, Abramovici e Morello (2007b) assinalam diferentes modalidades de atuagdo da Musicoterapia em ambito comunitario. O| primeiro deles se configura como ato preventive, buscando reconhecer quais pontos apresentam isco. e, em contrapartida, investir nas potencialidades, Outra modalidade possivel, segundo os mesmos autores, & = quando. o musicoterapeuta se insere e se toma parte da comunidade € esta, por sua vez, assume concomitantemente o lugar de sujeito ¢ objeto da ago. Por fim, & apresentada uma terceira modalidade em que 0 musicoterapeuta é externo a comunidade e contribui com seu saber técnico, no sentido de desenvolver, junto a ela, estratégias que ampliem as agdes transformativas do contexto. Segundo os autores, de um modo. geral, uma atuagio comunitiria da Rev. Polis e Psigue, 2019; 9(1): 54 Musicoterapia reconhece 0 sujeito como participe do proceso de concepgao, execugaio e avaliagdo das intervengées. O aber do musicoterapeuta se da horizontalizado com os saberes da comunidade ¢ da equipe téenica com quem se atua Uma vez que as _construgdes epistemolégicas em tomo da Musicoterapia Social ¢ Comunitéria so ainda incipientes, este artigo nao se deteré em distingui-las. As anilises so construidas a partir de materiais advindos de ambas as propostas. Desde 1968 (Gaston, 1968), jd esto postas discusses em tomo da atuagdo nos centros de musicoterapia comunitarios. A utilizago do termo —-Musicoterapia Comunitéria, porém, esta atrelada a uma abordagem que discute a utilizago clinica da misica na comunidade, a partir da década de 1970 (Ruud, sd. Pavlicevie e Ansdell 200: ; Siccardi, 2008) que a utilizagZo de uma proposta nomeada como Musicoterapia Comunitaria pretende problematizar a pritica dos musicoterapeutas quando em Ambito comunititio, € nio necessariamente partindo de uma perspectiva clinica. A adogio do. termo-—-Musicoterapia ‘Comunitéria se di por uma modificago no conceito da praxis, colocando a comunidade como parceira no trabalho, nio m: trabalhando na comunidade, mas sim trabalhando com a comunidade. E fato que, A.; Maheirie, K. em alguns paises, tais propostas chegam ‘num momento bastante posterior, como no caso da Argentina em que a primeira apresentagao pblica de uma proposta de conceituagio para. Musicoterapia Comunitéria ocorreu em 2002 (Siccardi, 2008). Este fato, dentre outros, move a admitir que esse campo de saber tem “um, desenvolvimento relativamente novo no campo da Musicoterapia, consequentemente, muitas de suas praticas ainda io foram —_identificadas, contextualizadas ou mesmo desenvolvidas” (Bruscia, 2000, p. 239). Constata-se que, mesmo em publicagdes que se prestam a definir formas outras de se fazer Musicoterapia que no a ol ica tradicional, sua base epistemolégica & construida a partir de diferentes teorias. Para Bruscia (2000), a teoria que embasa uma pritica comunitaria na Musicoterapia & a Ecolégica ¢ a Sistémica. A area ecolégica de pritica da Musicoterapia adota uma perspectiva que considera todos os componentes do contexto comunitério na qual se insere. Segundo o autor, essa pritica envolve 0 ambiente cultural, familiar, social € de trabalho, ampliando a nogdo de sujeito por incluir tais aspectos e também por propor um trabalho coletivo em que as pessoas ndo sdo agrupadas por semelhanga, de queixa, patologia ou demanda. Antes, so grupos compostos por membros da comunidade, atravessados por diferentes Rev. Polis e Psigue, 2019; 9(1): 54 perfis. Além de “ultrapassar os limites das salas de tratamento, independentemente do setting, ela também se estende para além da relagdo client peuta para incluir diversas camadas de relagées entre o cliente ea comunidade [...]” (Bruscia, 2000, p. 239), Tal perspective conduz a uma proposta que compreenda a perspectiva comunitiria da Musicoterapia como preventiva, ligada promoso de satide atenta para o modo como os individuos estabelecem relagdo com o ambiente fisico. Diante de tais leituras, passamos a buscar um tipo de Musicoterapia que consiga se emancipar de tal forma de uma pritica individualista e que possa compreender 0 coletivo como uma multiplicidade de singularidades que se constituem em relagdo. Até o presente momento, a Musicoterapia de base social e comunitaria indica timidos passos na busca de conquista por se fundar como um espago que anseia 0 atravessamento de lugares legitimados para se assumir como um tipo possivel de pritica e teoria. Este tipo de Musicoterapia trabatha com 0 cotidiano das pessoas, ¢ regida pelo abandono de uma pratica individualista para investir na poténcia que reside no processo coletivo que (re)cria realidades, transforma, contextos (Demkura et al 2007a) e tensiona imperativos naturalizados que marcam uma parcela da populagio como endo A.; Maheirie, K. subalterna, Pretende, de igual modo, transpor 0 foco tradicional de paciente- terapeuta para a adogo de uma postura atenta a aspectos culturais ¢ sociais (Ruud, s.d.) © que invista em processos de emancipagdo de grupos subordinados. Com essa perspectiva, a Musicoterapia investida de provocagdes politicas ¢ passa a colocar como foco de trabatho um constante questionamento. em tomo de saberes dominantes ¢ de praticas instituidas, para trabalhar com a criagdo de formas inventivas de tensionamento no sensivel. Ou seja, nas formas como os sujeitos sio historicamente _vistos,ouvidos.—¢ compreendidos (Ranciére, 2009). ‘A partir dessa perspectiva, a musica torna-se mediadora na relacao entre sujeitos: comunidades e assim, uma poténcia para criagdo de espagos de partilha de valores artisticos e humanos (Ruud, s.4.). Até 0 momento, em nossas leituras, identificamos que os prineipios de uma pratica social e comunitéria envolvem a ampliagdo do contexto de trabalho para além do(s) sujeito(s) com os quais trabalhamos, abrangendo uma leitura que considera a cultura, a historia e reconhece que 0 vivido é da ordem da experiéncia, portanto, sempre processual, passivel de transformagées, Fica evidente que a delimitagio de um espago fisico ndo garante o tipo de pratica que ali se cria. Portanto, nfo se trata Rev. Polis e Psigue, 2019; 9(1): 54 de importar um modelo biomédico para dentro de contextos comunitirios categorizar a pratica como sendo dessa ordem. Nem, tampouco, 0 fato de uma atuago se dar dentro de um ambiente hospitalar impede que uma pritica em uma perspectiva social —ali_—ocorra, semelhantemente a0 contexto da Psicologia, Vale lembrar que “para uma atuagdo comprometida socialmente, nao basta somente deslocar priticas e modelos tedricos de outros contextos de atuagao do psicélogo para espagos comunitérios, ou mesmo, restringir a abrangéneia de sua atuago” (Senra & Guzzo, 2012, p. 296). A Musicoterapia de base social comunitéria, deve se preocupar com 0 modo como as relagdes so construidas, extrapolando os modelos biomédicos tradicionais de atuago, Sendo assim, essa Musicoterapia visa negar o lugar de saber hierarquizado, superiorizado em relagdo a populago com quem se trabalha. Os integrantes da comunidade_—_ so compreendidos como sujeitos de uma ago transformadora, A construg3o— do conhecimento ¢ a concepgao da pratica se di em uma construgo _dialégica, participativa, a partir da experiéneia das pessoas, de suas percepgdes, suas historias, suas produgdes. Essa Mut ‘oterapia_posiciona 0 fazer musical como experiéncia estética, colocada historicamente, em constante A.; Maheirie, K. movimento de (des)construgdo. Sendo assim, deve investir em agdes voltadas para o enfrentamento da vulnerabilidade social, atenta aos aspectos da cidadania, questdes sociais © investimento em processos emancipatérios como — meio para transformagGes da realidade (Guazina, et al, 2011). A. partir da psicologia sécio- hist6rica, encontramos uma proposta tedrica atenta is questdes sociais coletivas, sobretudo voltadas a0 contexto latino-americano, que se faz potente para dialogar e, assim, agregar propostas tedricas € priticas ao campo da Musicoterapia. Essa concepgio nega uma visio subjetivista © individualista assumindo a multiplicidade de singularidades presentes em um coletivo. Enquanto algumas teorias da Psicologia cenfatizam uma parte do psiquismo (scja o inconsciente, o comportamento, a cognigo ou qualquer outro), a psicologia sécio- histérica compreende 0 sujeito nao dicotémico, sem —rupturas, —_sendo concomitantemente razio_¢ emogio, subjetividade e objetividade (Sawaia, 2009). © sujeito é, portanto, compreendido como inserido em um contexto, em constante relagdo, em que cada um afetae é afetado, sendo determinado determinante do contexto. Nesta perspectiva de conhecimento, encontramos outra légica possivel para o pensar, o sentir e o agir. Rev. Polis e Psigue, 2019; 9(1): 54 Por envolver uma concepgao histérica e social do sujeito e da sociedade, a Psicologia Social de base sécio-histérica se faz uma perspectiva de conhecimento proficua, por meio de seus recursos teoricos. Partindo — de_inspiragao vigotskiana, assume que “as determinagdes sociais, embora constituintes da condigo humana, no destroem a singularidade, a liberdade ¢ a criago © que, portanto, 0 sujeito da necessidade estética, da criagdo e da liberdade no é subjugado, mas configurado socialmente”. (Sawaia & Maheirie, 2014). Com isso, essa perspectiva supera um modelo de Psicologia que separa o psiquismo de seu contexto sécio-histérico, im, a psicologia sécio-historica tora potente seu encontro com a Musicoterapia, no que se refere ao trabalho em contextos comunitirios (Sawaia, 2009; Sawaia & Maheirie, 2014). Completando nossa investigagio, diante das pesquisas realizadas no campo da Psicologia ¢ sua atuagdo nos servigos socioassistenciais (Andrade & Romagnoli, 2010), evidencia-se que a Psicologia carrega em sua histéria uma fase de questionamento de seu lugar, deparando-se com um campo novo que exige da profissio uma nova proposta que supere um modelo biomédico tradicional. Em se tratando do contexto de atuacio nos servigos e equipamentos vinculados ao SUAS, faz-se A.; Maheirie, K. necessério atentar para o fato de que a escuta e 0 acolhimento nao so sindnimos de uma terapéutica, nem tampouco estio restritas 4 Psicologia (Teixeira, 2010). © Ministério do Desenvolvimento Social ¢ Combate & Fome (MDS) bem como o Consetho Federal de Psicologia - CFP recomendam que priticas outras sejam. exercidas pelos psicélogos que nio a psicoterapia (Oliveira & Amorim, 2012). Sendo assim, & necessirio (re)eriar caminhos, teorias, téenicas assegurando uma pritica potente, quando em contexto socioassistencial. Para além de uma proposta clinica social, a Psicologia precisou apostar em uma atuagio que negasse o modelo modemo disciplinar para se inserir em outra firea de atuagio, com outros prineipios, que situassem 0 sujeito historicamente e em relago, _considerando 0 —_contexto comunitario. A Psicologia precisou construit uma historia de superagao de um, modelo individualist, subjetivista, para engajar-se como area comprometida com a transformagio social, exercendo uma pritica para além da escuta do sofrimento psiquico singular (Oliveira & Amorim, 2012), Alguns trabalhos, no entanto, apresentam pesquisas que demonstram que a Psicologia mantém uma presenga ainda expressiva de trabalhos clinicos por parte dos psicélogos no ambiente socioassistencial, especificamente no Rev. Polis e Psigue, 2019; 9(1): 54 CRAS (Yamamoto & Oliveira, 2010; Oliveira & Amorim, 2012). Tal realidade moveu e move A criagdo de novos caminhos téenicos ¢ teéricos para a Psicologia, De igual modo, a Musicoterapia necessariamente precisa investir na abertura de outros caminhos possiveis de atuacdo, solidificando suas pesquisas ¢ sua tcoria. Sendo assim, 0 modelo clinico tradicional da Musicoterapia nao pode ser transposto para o campo comunitério sem transformar- se, sem repensar a pritica ¢ reorganizar objetivos. A Musicoterapia_ Sociale Comunitiria se configura como um tipo de pritica que se insere para atuar com o cotidiano e no cotidiano da popula: quem se trabalha, Os espagos sonoros criados so formas de escutar as vozes de sujeitos até entdo considerados subalternos por posigdes hierarquicas eristalizadas. Ao subverter a légica dos que tém ou ndo sua voz validada, ha a possibilidade de que 0 homem comum fale do que Ihe é vivido, crie formas outras de se fazer ouvir, tensione o modo como é visto, escutado e sentido. De igual modo, aponte no coletivo, piblico efou comunitirio, novos possiveis, novos sentires, pensares, novos devires no campo politico. A Musicoterapia em = uma perspectiva comunitiria se inaugura num entre. Ela nao acontece no ambiente educacional formal, nao se d4 no campo do A.; Maheirie, K. espeticulo e também nao acontece no ambiente clinico, Ela se coloca no entre por nao ocupar um lugar iinico de saber, mas, a partir de cada ponto disciplinar, ela é capaz de se deslocar na diregdo de outros lugares disciplinares e se desidentificar em relagio ‘a cada um deles. Ela se coloca no entre, justamente, por seu potencial criative de inaugurar formas outras de ago, reflexdo e relagdo, j4 que uma perspectiva comunitiria envolve uma demanda por transformagies econdmicas ou estruturais de um contexto social, ampliando 0 acesso a direitos, mas, também, envolve uma aposta no aumento da poténcia de ser, existir e se expandir que reside no encontro (Spinoza, 1663/ 2013; Sawaia, 2001). Conclusio © trabalho realizado com misi pode ser potente quando se reconhece que nao hi como fragmentar 0 sujeito ou 0 coletivo e que, ao trabalhar a emocio, necessariamente, o intelecto esté em jogo. Quando se trabatha com misica em comunidade, no ceme desta pritica se encontra um investimento na capacidade criativa de agir, transformar e pensar de modos outros. Por isso, apontamos para um tipo de Musicoterapia comunitiria e social que ‘acontece em roda, coletivamente, para acolher a cada um como a qualquer um, para Rev. Polis e Psique, 2019; 9(1): 54 marear que a possibilidade criativa & comum a todos e que 0 fazer misica juntos pode desdobrar outros tipos de ages coletivas que ampliem o contexto para além do musical. Sugerimos que esse tipo de Musicoterapia deveria atentar ao contexto daquele que canta ou produz misica de alguma forma, a historia que ali se apresenta © se cria, preocupando-se com todos os estratos da esfera comunitaria dos sujeitos que ali se encontram, transcendendo um trabalho individualista. Fazer musica em comunidade é apostar que 0 engajamento coletivo supera uma formatagao individualista do social e, assim, pode transformé-lo. E compreender que ha ali cultura, misica, voz, sonoridade. E reconhecer que os modos de existir néo sido estaticos. A Musicoterapia Social ‘Comunitaria pode ser uma constante aposta no encontto como mais uma possibilidade para o aumento da poténcia de existir dos sujeitos, Pode assumir um tipo de pritica que nio teme o caos, que sustenta o barulho, que ndo pretende desconstruir © contexto que chega. Ela pode ser a propria possibilidade de criagdo de espagos, composigdes _instrumentais, —_vocais, corporais, ampliando 0 tempo para que aqueles que se aproximem —possam experimentar se fazer soar de um modo novo, criando relagdes por meios outros que 68 Amdt, A.; Maheirie, K. possam ir = muito além_— do. convencionalmente posto. Notas + Tratamento denominado originalmente como psychodelic peak psychotherapy (Ruud, 1990). 2 Disponivel em hitps://www,google.com.br/url?sa=t8eret= &q=Besro~sdsource-web&ed=1 &eved-Oa HUKEwjsroOJtvHRAhUJ4yYKHTiVAPO QF ggeMAA&url=bitp%3A%2F%2Fwww, nds.gov.br’42Fcenas%2Flegislacao%2Fres olucoes®%2Farquivos-2011%2Fenas-2011- 017-20-06- 2011.pdf%2F download&usg~AFO|CNHZ e7XGxMrfuNODG9DSpdZUMKLAqw&c ad=1ja Acesso em 02 de fevereiro de 2017. Referéncias Andrade, L. F. de, Romagnoli, R. C. (2010), O Psicélogo no CRAS: Uma Cartografia dos Territorios Subjetivos. Psicologia Ciéncia ¢ Profissdo, 604- 619. Amdt, A. D., Cunha, R., & Volpi, S. (2016). Aspectos da pratica musicoterapéutica: contexto social. Psicologia & Sociedade, 28(2), 387-395. Barcellos, L. R. (2012). Levantamento sobre o ‘Estado da Arte’ da Pesquisa em musicoterapia no Mundo. Palestra proferida no XIV Simpésio Brasileiro Rev. 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Doutoranda no Programa de Psicologia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na area de Psicologia Social ¢ Cultura, indressa.d.arndt(@gmail.com E-mai Katia Maheirie & professora titular na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no Departamento © no Programa de Pés-Graduagdo em Psicologia (PPGP). E-mail; maheirie@gmail.com lado em: 07/0201 ‘Aceito em: 09/09/18

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