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MULTIPARENTALIDADE NO BRASIL: 

Conceito, causas e efeitos jurídicos. 

CONCEITO DE MULTIPARENTALIDADE 

A multiparentalidade esteve presente nas famílias brasileiras desde o Século XX.


Gradualmente, apresentaram-se cada vez mais as relações biológicas não-convencionais e
socioafetivas. O advogado Rodrigo da Cunha Pereira, define em entrevista para o Globo:

“[...] os casos mais comuns são os padrastos e madrastas que


também se tornam pais/mães pelo exercício das funções
paternas e maternas, ou em substituição a eles. A
multiparentalidade é comum, também, nas reproduções
medicamente assistidas[...]”.

Porquanto, a concepção de multiparentalidade se concretizou pelo Supremo Tribunal


Federal (STF), com a dupla paternidade por casais homoafetivos, em 2016. Logo, a ideia
também foi adotada para todos os casos em que ocorre a coexistência dos vínculos maternos
ou paternos exercidos por mais de uma pessoa.

AS CAUSAS DA PARENTALIDADE SOCIOAFETIVA NA SOCIEDADE BRASILEIRA

É consentido entre a sociedade brasileira as diversas consequências da estratificação


de um país com altas taxas de abandono afetivo parental. Atualmente, mais de 80 mil
crianças brasileiras crescem sem referência paterna e, segundo o IBGE, mais de 12 milhões
de famílias são estruturadas por mãe solo. Destas, mais de 57% vivem abaixo da linha da
pobreza.

Construir um país com paternidade apenas no papel, ou nem isso, traz consequências
sociológicas que só serão ressignificadas em um longo processo de reestruturação. A válvula
encontrada tem sido padrastos e madrastas que acabam por formar famílias socioafetivas
quando cumprem funções parentais e exercem substituição a eles. Felizmente, a
multiparentalidade tornou-se realidade jurídica, possibilitando a legitimação dessas relações.

O RECONHECIMENTO E OS EFEITOS JURÍDICOS DA MULTIPARENTALIDADE

A legitimação da parentalidade juridicamente garante parentesco, nome, obrigação


alimentar, guarda de filho menor, direito de visitas e direitos sucessórios. A advogada e
autora do livro “Os Elementos Caracterizadores da Multiparentalidade”, Emanuelle Araújo
Correia, explica:

“Assim, caberá aos pais socioafetivos tanto quanto os


biológicos, em relação aos filhos menores, dirigir-lhes a
criação e educação; tê-los em sua companhia e guarda;
conceder ou negar a eles consentimento para casar; nomear
tutor por testamento ou documento autêntico, representá-los,
até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após
essa idade, nos atos em que for parte.” (2017, p.80)
Logo, os pais devem contribuir por igual no sustento e educação, sem discriminação
biológica ou socioafetiva.

IMPORTÂNCIA DO RECONHECIMENTO JURÍDICO

A concretização dos laços afetivos traz segurança aos filhos e aos pais, que passam ter
pluralidade nas obrigações, já que todos terão de zelar pelo registrado nos moldes
constitucionais, visto que, independentemente de quem exerce a guarda fática, aplicam-se a
todos os deveres decorrentes, sendo extinta a possibilidade de suspensão do reconhecimento
parental juridicamente.

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