Gritos distantes sobrepunham-se ao retumbar metálico de ferro a embater em ferro.
Seria aquele grito sequer humano? Alva nunca ouvira ninguém gritar de tal maneira. Colunas de fumo cresciam elevadas sobre as labaredas que consumiam as choupanas de barro e palha, dificultando a respiração, mas iluminando a noite caliginosa. Os seus atacantes, todos eles humanos, todos eles da povoação próxima, matavam e destruíam com ódio nos seus olhos; munidos de forquilhas, foices e facas. Eram apenas agricultores. Alva aventurara-se na floresta em perseguição de um javali. Após o insucesso em capturar o esguio animal, regressou de mãos a abanar para a aldeia, esperando, com certeza, receber um sermão da anciã sobre caçar sozinha. Não estava à espera de se deparar com um massacre. Correu em direção às chamas de arco em mão, passando pelos corpos imóveis de amigos e camaradas. A casa da anciã era o seu objetivo, a sua segurança era imperativa. Lançou uma flecha contra o pescoço de um dos seus atacantes, dois outros surpreenderam- na, aparecendo por entre o fumo que os rodeava. Instintivamente, largou uma segunda flecha, desta vez acertando no ombro de um homem de barbas. Levou a mão à aljava em busca de mais flechas, mas haviam acabado. Maldito javali, pensou a elfa. O segundo humano, um homem alto de cabeça calva, armado com uma forquilha, gritou qualquer tipo de insulto antes avançar sobre Alva, desferindo um golpe frontal. A jovem baixou-se, frente ao ataque, desembainhando a espada da cintura, usando a arma élfica para decepar o cabo da forquilha, de seguida, desferiu um ataque transversal sobre o pescoço do calvo, atingindo a veia jugular. O homem caiu por terra, esvaindo-se em sangue. O de barbas, vendo-se livre da flecha alojada no ombro esquerdo, investiu com dois golpes da foice, desajeitados e demasiados extensivos. Alva deu um salto para trás, apanhou uma mão de terra e partiu ao ataque. A elfa rodopiou em volta dos ataques, procurando as costas do homem, mas o de barbas era mais ágil do que parecia, agarrando o cabelo dourado de Alva e elevando-a do chão. Ergueu a mão da foice quando a elfa lhe despejou a terra sobre a face. Cambaleando para trás, perdeu força na mão que imobilizava Alva, que aproveitou para o trespassar no peito com o sabre. Com um barulho seco, o de barbas caiu por terra.na A casa da anciã ficava no topo da aldeia, numa clareira de sobreiros, onde os divinos da comunidade comunicavam com a Natureza. Sempre fora um local pacífico onde se poderia ter um momento de reflexão. A própria fauna parecia estar ciente disso, tornando-se afável e companheira aos que na clareira meditavam. A casa da anciã, constuída a partir do que a Natureza providenciava, disfarçava-se perfeitamente com a floresta em sua volta. Era uma habitação de um único andar, protegida por um gentil telhado de palha em forma de cone; musgo e heras subiam os lados da choupana, acrescentando um toque orgâncico ao exterior. A fachada da casa possuía um alpendre adornado por uma cerca carvada à mão com padrões da fauna e flora encontrados na região. A entrada era concedida por duas grandes portas ovais decoradas por runas élficas que contavam a sabedoria do seu povo. A clareira estava em chamas. Alva apressou-se na corrida ao topo da colina