Você está na página 1de 5

LIVROS DA FUVEST

POEMAS ESCOLHIDOS – GREGÓRIO DE MATOS

Zeitgeist

CONTEXTO HISTÓRICO DO BARROCO:


Europa – século XVII
Agitações culturais e religiosas
FINAL DO RENASCIMENTO  Antropocentrismo, humanismo
REFORMA  Lutero e Calvino
CONTRARREFORMA  Inquisição, Ordens religiosas (Jesuítas)
Período marcado por ambiguidades, por contradições, momento de revisão de
crenças e valores
Pensadores/Artistas influentes do período: Lutero, Calvino, Francis Bacon, Luís
de Gongora y Argote, Miguel de Cervantes, Bernini, Caravaggio, Padre Antônio
Vieira, Gregório de Matos

CONTEXTO LITERÁRIO: BARROCO


Final do século XVII
BARROCO X CLASSICISMO
Conflito: religião X razão
Características:
 Cultismo/Gongorismo
 Conceptismo/Quevedismo
 Linguagem rebuscada
 Temática: antropocentrismo X teocentrismo
 Relações dicotômicas (de oposição)
 Uso extensivo de figuras de linguagem (metáforas, hipérboles,
personificação, antíteses, paradoxos, etc.)
 Estruturas/medidas poéticas clássicas (versos decassílabos, sonetos,
etc.)

CONTEXTO HISTÓRICO NACIONAL:


ECONOMIA:
Pacto Colonial
NORDESTE: decadência do açúcar
SUDESTE: auge da exploração de minérios (ouro, diamante)
POLÍTICA:
Governo Geral
Invasões estrangeiras - Holanda
Aumento de impostos
SOCIEDADE:
Desigual e segregada
Força política e social dos aristocratas
Sociedade de interesses (público e privado se mesclam) – Sérgio Buarque de
Holanda

GREGÓRIO DE MATOS: “BOCA DO INFERNO”


Estudou Direito na Universidade de Coimbra, trabalhou como Juiz em Portugal
– famoso pelas sentenças dadas em versos
Quando voltou para o Brasil, morou na Bahia (salvador e ficou reconhecido
pela incisiva crítica social que fazia
Foi exilado para Angola e quando pode retornar ao Brasil morou em Recife
Produziu poesia de caráter satírico, erótico, lírico e religioso

POEMAS ESCOLHIDOS:
1. POESIA DE CIRCUNSTÂNCIA:
SATÍRICA E ENCOMIÁSTICA
 Temas corriqueiros/cotidianos
 Crítica social
Sátira (fragmento)
2
Quem um cão revestido em padre,
por culpa da Santa Sé,
seja tão ousado que
contra um branco honrado ladre;
e que esta ousadia quadre
ao bispo, ao governador,
ao cortesão, ao senhor,
tendo naus no maranhão:
milagres do Brasil são. (...)

2. POESIA AMOROSA:
LÍRICA (sonetos italianos)
Soneto
Ó tu do meu amor fiel traslado 
Mariposa entre as chamas consumida, 
Pois se à força do ardor perdes a vida, 
A violência do fogo me há prostrado. 

Tu de amante o teu fim hás encontrado, 


Essa flama girando apetecida; 
Eu girando uma penha endurecida, 
No fogo que exalou, morro abrasado. 

Ambos, de firmes, anelando chamas, 


Tu a vida deixas, eu a morte imploro 
Nas constâncias iguais, iguais nas famas. 

Mas ai!, que a diferença entre nós choro;


Pois acabando tu ao fogo, que amas, 
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro.
ERÓTICO-IRÔNICA
Décima
Se Pica-Flor me chamais,
Pica-Flor aceito ser,
mas resta agora saber,
se no nome que me dais,
meteis a flor,
que guardais no passarinho melhor!
Se me dais este favor,
sendo só de mim o Pica,
e o mais vosso, claro fica,
que fico então Pica-Flor.

3. RELIGIOSA/ECLESIÁSTICA/SACRA:
SONETOS
 Homenagens a santos

Buscando a Cristo
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados


De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,


A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p’ra chamar-me.
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.

Tido como poeta do Barroco – apesar do conceito ser instituído somente no


século 20 para definir um período do século 17, como alerta o professor para
os vestibulandos –, Gregório de Matos passeava por dois tipos de poesia: lírica
e satírica. O primeiro, como explica Hansen, tem formas italianas, com sonetos
de 14 versos, e possui uma lírica amorosa ou religiosa. “A lírica amorosa surge
através da declaração de amor de um homem para uma dama, e traz a
descrição da beleza da mulher, imitando formas de outros poetas nesse
gênero, como Camões, Góngora, Quevedo e Petrarca.” Já a poesia lírica
religiosa “é um elogio aos santos da Igreja Católica, como a Virgem Maria, que
salva o poeta do pecado, e de Jesus Cristo, mas, principalmente, seu
sofrimento na cruz”, comenta Hansen.

“Esse corpus poético também tem muita poesia cômica na variante da sátira”,


ressalta, explicando que a sátira de Gregório de Matos evidencia a referência a
dois poetas romanos: Horácio (século 1 a.C.), quando se trata do ridículo, a
partir de brincadeiras e jogos de palavras, e Juvenal (século 1 da era cristã),
que se refere a vícios, agressões, obscenidades e até pornografia. Essa última,
segundo Hansen, trata dos pecados mortais, como a luxúria, a gula, a
corrupção, sempre com a ideia de sarcasmo.

https://jornal.usp.br/cultura/para-entender-a-poesia-de-gregorio-de-matos-e-
preciso-saber-quem-foi-ele/

Você também pode gostar