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Biologia Marinha

Da sublime evolução à quase extinção dos Cavalos


Marinhos

O ar cheira a sal e água. Ouve-se o rebentar das ondas. Pessoas andam de um lado
para o outro de forma calma. As suas vozes a ecoar com a canção do mar. Passa um barco
na direção do horizonte. Esta é a realidade das praias do Algarve durante o verão. Cada
vez há mais pessoas e consequentemente cada vez há menos cavalos-marinhos. Um
pequeno peixe cheio de peculiaridades e curiosidades. Um dos animais marinhos com
maior taxa de sucesso nas suas caçadas. Um peixinho único, e até um tanto quanto
cômico, esconde diversas adaptações biológicas. Algumas para não ser morto, outras para
apanhar comida. No entanto, nenhuma destas alterações o podia preparar para os seres
humanos. Isto é comprovado pela diminuição alarmante da população de cavalos marinhos
no Algarve.

“Ninguém me vinha perguntar «Você trabalha com


charrocos?»”

Jorge Palma é um nome que todos nós conhecemos, e que foi de extrema
importância para esta reportagem, no entanto não é quem estão a pensar. Doutor Jorge
Palma é um biólogo doutorado, pesquisador do Centro de Ciências do Mar da Universidade
do Algarve (CCMar) desde 2007 e há pelo menos quinze anos trabalha com cavalos
marinhos. A investigação do Doutor Jorge Palma é dividida em duas componentes, o
trabalho com populações selvagens de diversas espécies da Ria Formosa, e a componente
de animais em cativeiro. Foi nesta última que o Doutor começou a trabalhar com cavalos-
marinhos.
Outro nome importante para a elaboração desta reportagem foi Tiago Gomes,
biólogo do Centro de Ciência Viva do Algarve formado em biologia marinha e pescas. Tiago
Gomes trabalhou cerca de dez anos com aquários e manutenção de sistemas de suporte de
vida no Oceanário de Lisboa.
Figure 1: Cavalos Marinhos utilizam a cauda preênsil para se segurar em ervas

A cavalgar para a extinção.

Nos últimos anos a população de cavalos marinhos no Algarve tem vindo a diminuir
de forma preocupante.“Entre 2001 e 2021 houve uma redução de cerca de 90%”, diz Doutor
Jorge Palma. Este fenômeno é consequência de diversos fatores tais como o aumento da
poluição hídrica, o aumento da população, o aquecimento global, e por último mas não
menos importante a captura e venda ilegal da espécie. O aumento da população e da
poluição são como unha e carne, uma vez que estão intrinsecamente ligados. Com o
aumento da população haverá um maior consumo que por consequente irá gerar mais
dejetos e matéria descartável que inevitavelmente chega aos habitats de espécies.
O aquecimento global tem sido um dos temas mais mediáticos dos últimos anos, e
neste tema a sua presença também se sente. O aumento da temperatura das águas pode
não só prejudicar diretamente os cavalos marinhos como também as suas presas, assim
destruindo a cadeia alimentar e consequentemente todo o ecossistema. Além de haver
menos comida, os cavalos marinhos também são conhecidos por viver em florestas de
algas e outros tipos de plantas subaquáticas. Um aumento na temperatura média da água
levará à diminuição destas espécies vegetais, assim destruindo o habitat dos cavalos
marinhos e fazendo com que a espécie entre em declínio.
As culturas asiáticas, principalmente a chinesa e japonesa, valorizam bastante os
cavalos marinhos, tanto vivos como mortos e secos, uma vez que acreditam que estes
possuem propriedades curativas para problemas de natureza variada tais como o cancro do
cólon, a impotência e a fadiga. Em 2018, um quilo de cavalos marinhos era vendido por
cerca de 1.500 euros, no entanto, ao atingir o mercado asiático o seu valor aumentava em
cinco vezes.
Temos ainda as pescas por arrastão que além de capturarem diretamente os
cavalos-marinhos e por vezes as suas presas ainda danificam os habitats, por vezes de
forma irreparável.
Além de tudo o que já foi mencionado também temos os fatores sonoros que
perturbam os peixes como dito pelo Tiago Gomes, “Está-se a estudar agora mas não te
consigo dar de certeza mas é o barulho dos barcos influenciam os animais”.
Figure 2: Cavalos marinhos costumam viver em pradaria marinhas

“Os cavalos marinhos chamam a atenção para aquilo que


tem de ser a melhoria ambiental para todas as espécies”

“Os cavalos marinhos são quase uma espécie bandeira, é uma espécie que atrai a
atenção”, foi uma frase dita pelo Doutor Jorge Palma. Esta afirmação serve como um abre
olhos. Fala-se regularmente dos cavalos marinhos, mas esquecemo-nos que existem outras
espécies na Ria Formosa.
A preservação da natureza é um dever básico de todos os seres humanos. Tanto os
residentes do Algarve como os seus visitantes têm de se lembrar que as belas praias de
areia clara e água temperada não servem apenas para os nossos banhos de sol e fotos
para as redes sociais. Estes pequenos pedaços de paraíso são também o lar de inúmeras
espécies.
Talvez seja impossível reverter completamente o estrago causado pelas nossas
ações, no entanto temos de tentar. Nos anos mais recentes a população de cavalos
marinhos aumentou como se comprova pela afirmação “agora estamos com uns 60% de
crescimento em relação ao início do século”
Para assegurar que este aumento continue a crescer há diversas medidas a adotar.
Por exemplo diminuir a poluição, tanto hídrica como sonora, como podemos perceber pelas
declarações do Tiago Gomes “se calhar fazer a mudança para barcos elétricos no motor
elétrico são mais silenciosos talvez seja uma medida interessante”, “Das coisas mais
básicas que é sempre o lixo. Nunca se deixa lixo na praia”.
Outra medida para tentar combater esta destruição da fauna da Ria Formosa é fazer
com que as pessoas estejam melhor informadas sobre os limites impostos à pesca por
exemplo, como o Doutor Jorge Palma disse “o que acontece muitas vezes é que as
pessoas não sabem a origem daquilo que estão a comprar. e até podendo ter algum tipo de
interesse de conservação, mas eles depois que atuam a comprar um produto sem saber,
estão a contribuir para que acabem de agradar o ambiente e às vezes até matarem
diretamente. Mas é uma informação um bocado difícil de passar também, porque a maioria
das pessoas não tem conhecimento, enquanto consumidor, de qual é a espécie A, B, C ou
D, não vai saber que um peixe pequenito foi apanhado com uma rede mais pequena, uma
rede ilegal, que matou e degradou o ambiente”.
Figure 3: As crias de cavalos marinho são iguais aos progenitores, a única diferença é o tamanho, enquanto os
adultos têm por volta de 15 centímetros, as crias têm perto de 1 centímetro.

Reportagem realizada por:


Filipe Pires a80314
Diogo Pereira a72072

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