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Memórias póstumas de brás cubas

A obra tem início com a declaração da morte de Brás Cubas, cujo narrador e
protagonista relata suas memórias depois de ter sido vítima de pneumonia.

Pertencente a uma família abastada do século XIX, Brás Cubas narra primeiramente
sua morte e enterro onde apareceram onze amigos.

Por conseguinte, ele relata diversos momentos de sua vida, desde eventos da sua
infância, adolescência e fase adulta.

Ainda no início da obra ele revela suas expectativas com o “emplastro”, um


medicamento que contém grande potencial de cura.

Durante sua infância Brás Cubas comenta sua relação com seu escravo, o negrinho
Prudêncio. Como um menino aristocrata, pertencente à classe alta, Brás Cubas
esboça a relação que tinha com o garoto desde suas brincadeiras e caprichos.

Nessa relação, podemos notar a superioridade de Brás que montava no negrinho.


Além disso, ele escreve sobre um amigo da escola Quincas Borba que, por fim,
torna-se um filósofo e desenvolve a teoria do humanitismo.

Quando jovem, conhece Marcela, uma prostituta de luxo por quem se apaixona.
Essa relação esteve baseada nos interesses, ainda que Cubas aponta que Marcela
o amou “durante quinze meses e onze contos de réis”.

Preocupado com o envolvimento que Brás tinha com Marcela, seu pai resolve que
seu filho deve estudar fora do país por um tempo.

Sendo assim, ele foi estudar em Coimbra, Portugal, onde se forma em Direito. De
volta ao Brasil, apaixona-se por Virgília, no entanto, ela acaba por se casar com
Lobo Neves. Isso porque ela pretendia ter mais status e resolve ficar com um
político de maior influência.

Ainda que desolado, o casal se encontra às escondidas numa casa alugada para
esse propósito. Nesse momento podemos notar a presença de Dona Plácida,
empregada de Virgília e que encobre todos os encontros da adúltera.

Por fim, Brás Cubas entra para a política e mesmo desenvolvendo um trabalho
medíocre essa posição lhe oferece certo “status”, num mundo onde a aparência era
o mais louvável.
Quincas Borba

"O livro começa quando Rubião já é um homem rico. Então, o narrador nos convida
a voltar no tempo para entender como o protagonista chegou até ali: “Deixemos
Rubião na sala de Botafogo, batendo com as borlas do chambre nos joelhos, e
cuidando na bela Sofia. Vem comigo, leitor; vamos vê-lo, meses antes, à cabeceira
do Quincas Borba”.

Assim, descobrimos que, em Barbacena, Rubião tentou casar sua irmã com o amigo
Quincas Borba, mas ela acabou morrendo. O professor, como único amigo de
Quincas Borba, cuidou do enfermo durante quase seis meses. Porém, Rubião tinha
um rival, o cão Quincas Borba, que também ocupava o coração do filósofo.

Com a morte do filósofo Quincas Borba, Rubião foi nomeado seu herdeiro universal.
Nesse ponto, a leitora e o leitor sagazes desconfiam da generosidade de Rubião ao
cuidar do amigo doente e rico. Porém, o testamento indicava uma condição para
que Rubião recebesse a herança, isto é, cuidar do cachorro Quincas Borba.

Rico, o protagonista se mudou para o Rio de Janeiro. No trem, ele conheceu um


desonesto casal: Sofia e Cristiano Palha. Durante a viagem, o ex-professor acabou
revelando ser um herdeiro. A partir de então, o casal iniciou uma forte amizade com
Rubião, e Sofia, com o aval de Palha, passou a seduzir o novo rico, com o intuito de
receber benefícios financeiros para o marido.

Assim, o narrador chega ao início do livro — quando Rubião está na sala de


Botafogo — e passa a narrar a partir do “mesmo lugar em que o deixamos sentado,
a olhar para longe, muito longe”. Então, apresenta os dois novos amigos do
protagonista: o vaidoso Carlos Maria e o bajulador Freitas. Além deles, Rubião faz
amizade também com o interesseiro Camacho.

No caminho do escritório de Camacho, Rubião, num impulso, salva a vida do


menino Deolindo. Seu ato de heroísmo acaba parando nas páginas de um jornal, o
Atalaia. Isso desperta a vaidade do protagonista, que se entrega à falsa modéstia,
pouco depois de conhecer Maria Benedita, a prima de Sofia.

Na sequência, percebemos um envolvimento amoroso entre Carlos Maria e Sofia,


além de ficarmos sabendo da intenção de Palha em casar seu agora sócio Rubião
com Maria Benedita. Nesse ponto da história, a loucura do protagonista começa a
se manifestar. E quando alguns amigos, que têm o costume de jantar em sua casa,
vão apertar sua mão, “Rubião teve aqui um impulso inexplicável, — dar-lhes a mão
a beijar”.

No decorrer da narrativa, Maria Benedita, auxiliada por D. Fernanda, acaba se


casando com Carlos Maria. Daí em diante, a loucura de Rubião se acentua, e ele
passa a acreditar que é o imperador francês Luís Napoleão. Então, quando é
zombado na rua por algumas crianças, Rubião vivencia uma ironia do destino:
Um deles, muito menor que todos, apegava-se às calças de outro, taludo. Era já na
Rua da Ajuda. Rubião continuava a não ouvir nada; mas, de uma vez que ouviu,
supôs que eram aclamações, e fez uma cortesia de agradecimento. A surriada
aumentava. No meio do rumor, distinguiu-se a voz de uma mulher à porta de uma
colchoaria:

— Deolindo! vem para casa, Deolindo!

Deolindo, a criança que se agarrava às calças da outra mais velha, não obedeceu;
pode ser que nem ouvisse, tamanha era a grita, e tal a alegria do pequerrucho,
clamando com a vozinha miúda:

— Ó gira! ó gira!

A morte do protagonista também apresenta ironia, agora do narrador, que a relata


desta maneira:

Antes de principiar a agonia, que foi curta, pôs a coroa na cabeça, — uma coroa
que não era, ao menos, um chapéu velho ou uma bacia, onde os espectadores
palpassem a ilusão. Não, senhor, ele pegou em nada, levantou nada e cingiu nada;
só ele via a insígnia imperial, pesada de ouro, rútila de brilhantes e outras pedras
preciosas. O esforço que fizera para erguer meio corpo não durou muito; o corpo
caiu outra vez; o rosto conservou porventura uma expressão gloriosa.

— Guardem a minha coroa, murmurou. Ao vencedor...

A cara ficou séria, porque a morte é séria; dois minutos de agonia, um trejeito
horrível, e estava assinada a abdicação.

Dessa forma, o narrador menciona a abdicação do imperador francês como


metáfora para a morte de Rubião, membro da elite burguesa, com mania de
grandeza e a certeza de ser merecedor de sua fortuna. Tal atitude está de acordo
com a filosofia de Quincas Borba — o Humanitismo —, exemplificada por meio de
uma história fictícia sobre duas tribos que disputam um campo de batatas, o que dá
origem à memorável frase: “Ao vencedor, as batatas”."

Cesário Verde
Na poesia de Cesário Verde, alguns temas predominantes são o campo e a cidade.
Seu estilo era delicado, com emprego de artifícios impressionistas e uma
sensibilidade dificilmente vista no meio literário. A forma de expressão utilizada era
mais natural, pois o poeta evitava o lirismo clássico.

Antero de Quental
A poesia de Antero de Quental apresenta três fases: a das experiências juvenis, em
que coexistem diversas tendências; a da poesia militante, empenhada em agir como
“voz da revolução”, e a da poesia de tom metafísico, voltada para a expressão da
angústia de quem busca um sentido para a existência.

O primo basílio
A obra retrata a história do casal Jorge e Luísa, pertencentes à burguesia
portuguesa do século XIX. A trama passa-se em Lisboa, na capital portuguesa.

Jorge, marido de Luísa, vai viajar a trabalho e ela recebe a visita de seu primo
Basílio. Nesse ínterim, eles que já tiveram uma relação anterior, acabam por
consumar o desejo latente.

Vale notar que a relação de Jorge e Luísa estava mais baseada no interesse, uma
vez que, de fato, eles não viviam uma vida feliz juntos.

Jorge era um excelente marido que sempre estava preocupado em agradar sua bela
esposa. Lhe dava diversos presentes e sempre estava disposto a lhe oferecer
conforto.

Luísa era uma ávida leitora de romances e com a chegada de seu amor juvenil,
começa a nutrir e vislumbrar uma história de amor entre eles.

Juliana, a governante da casa de Luísa, nota o amor envolvido entre eles e começa
a fazer chantagem com sua patroa. Isso porque ela encontra algumas cartas que
revelam a paixão do jovem casal.

Com receio da sociedade, os amantes resolvem se encontrar esporadicamente num


lugar que chamam de “paraíso”.

Ainda que fosse um quarto muito simples, localizado nos subúrbios de Lisboa, foi ali
que diversas cenas da paixão entre eles foram consumadas.

No entanto, com o passar do tempo, Luísa começa a sentir que a paixão de Basílio
começa a diminuir. Mesmo assim, tenta convencer seu primo a ficar com ela.
Porém, ele resolve voltar para Paris.

Com o retorno de seu marido, Luísa começa a sofrer com as chantagens de sua
criada Juliana. Ela se apodera das cartas entre os amantes e pede uma alta quantia
de dinheiro para que seu segredo não seja revelado.

Assim, Juliana passa a ter uma vida mais abastada com presentes que são
oferecidos por Luísa.

Além disso, pela troca de papéis, posto que Luísa passa a fazer algumas tarefas
domésticas. Tudo isso acontecia sempre às escondidas de seu marido Jorge.
Com o tempo, Jorge acaba por notar uma diferença no trabalho realizado por
Juliana e resolve mandar a criada embora. Mas Juliana continua a chantagear Luísa
com seu segredo.

Sentindo-se coagida, Luísa resolve contar a Sebastião toda a história do adultério e


das chantagens que estavam sendo realizadas por Juliana. Mesmo chocado com a
história, ele resolve ajudá-la.

Assim, vai à casa de Luísa enquanto Juliana estava sozinha e a ameaça. Ela
resolve devolver as cartas ao amigo, mas morre pouco depois de desgosto. Afinal,
seu sonho de enriquecimento acabou naquele momento.

Por fim, Luísa adoece e num dia Jorge encontra uma carta de Basílio que revela
alguns momentos entre os amantes. Ao mostrar para a esposa, ela que ainda
estava adoecida, morre dias depois.

O crime do Padre Amaro


A obra tem como espaço a cidade de Leiria, em Portugal. José Miguéis, o pároco da
cidade faleceu. Com a chegada de um novo pároco, Amaro é recebido por uma das
famílias da cidade.

Na pensão da D. Joaneira, ele se envolve com a filha dela, a jovem beata de 24


anos: Amélia. Todavia, o noivo de Amélia, João Eduardo, começa a sentir ciúmes,
pois nos encontros que haviam na casa, a jovem e o Padre começavam a trocar
olhares.

Diante disso, João publica no jornal da cidade um comunicado intitulado “Os


modernos fariseus”. Ele escreve sobre as pretensões do padre Amaro de Cônego
Dias em relação a quebra do celibato.

Por fim, o noivo enciumado dá-lhe um soco. Desempregado, João Eduardo decide ir
para o Brasil.

Ao perceber a paixão que cada dia crescia mais, os amantes resolvem se encontrar
às escondidas. Com medo das pessoas descobrirem a relação, Amaro muda de
casa.

Todavia, o sentimento dele por Amélia era tão grande, que o leva a repensar sobre
sua vocação.

Com o envolvimento carnal deles, Amélia fica grávida do padre Amaro. Dona
Josefa, irmã do Cônego acompanha a jovem ao interior. A ideia central era fugir da
sociedade enquanto esperava o bebê nascer.
Quando a criança nasce, Amaro entrega o filho a uma família que tinha a fama de
matar os bebês. Nesse ínterim, o filho do casal some e desconfiam que esteja
morto.

Triste e incapaz de ficar longe de seu filho, Amélia falece. Após o ocorrido, Amaro
resolve deixar Leiria, mas não abandona sua profissão.

Noite de Almirante

O Conto Noite de Almirante, de Machado de Assis (1839–1908), apresenta a


história de Deolindo e Genoveva, uma paixão intensa que se estende por três
meses e é interrompida por uma viagem a trabalho de Deolindo, marujo, que terá de
passar dez meses afastado da sua ‘caboclinha de vinte anos’. Antes da viagem, os
dois fazem um juramento de fidelidade que envolve o nome do próprio Deus.

No retorno da viagem, os colegas de Deolindo brincam que agora este teria uma
noite de almirante (patente mais alta da marinha) com Genoveva. Deolindo então
vai à procura da amada, pronto a lembrar-lhe de que cumpriu o que jurara. Mas,
chegando à casa onde a moça morava, se depara com a velha Inácia, que anuncia
que Genoveva fugira de casa com um novo amor, José Diogo.

Deolindo decide procurar Genoveva e a encontra. Esta a recepciona com


naturalidade, como se faria com um velho amigo. O marujo afirma que sabia de
tudo. Ela não desmente. E ele retruca: “ — Mas a gente jura é para isso mesmo; é
para não gostar de mais ninguém…” Ainda esperançoso, entrega-lhe um par de
brincos que trouxera de presente. Mas as suas esperanças de reconciliação se
desfazem no decorrer da conversa. Em seguida, uma vizinha de Genoveva aparece
e, pouco depois, ele vai-se embora ameaçando matar-se.

Genoveva fala para a vizinha da ameaça feita, desdenhando: “Não se mata, não.
Deolindo é assim mesmo; diz as coisas, mas não faz”. Nota-se, nessa personagem
machadiana, traços de frieza e cinismo, afinal, quão amedrontadora não seria, para
o cidadão comum, uma ameaça de suicídio de outrem? Pergunta-se ainda: Quão
constante é o brasileiro? Na obra do grego Homero, Odisseia, por exemplo, a
personagem Penélope espera por vinte anos o seu amado Ulisses retornar da
Guerra de Troia…
Não, Deolindo não se mata. Antes, tem vergonha de admitir a realidade aos
colegas, optando pelo fingimento. Ele não vê que a única culpada na história é
Genoveva, e não por ter gostado de outro mas apenas por ter sido infiel.

Em Noite de Almirante, Machado de Assis oferece ao leitor uma trama passional


com personagens de perfis psicológicos contrastantes, que mostra os conflitos do
homem diante das circunstâncias do amor romântico.

Um Apólogo

Um apólogo (= alegoria onde animais e coisas falam) É uma pequena história de


vaidade e ciumeira que levam uma agulha e a linha a uma polêmica acalorada onde
cada uma procura mostrar sua superioridade em relação à outra, na função que
estão exercendo em fazendo Um vestido de baile para uma bela dama da nobreza
que deverá ir a um baile. Participam, na história, como figurantes, um alfinete e a
costureira. A agulha diz que a linha está cheia de si sem razão alguma. A linha
solicita que ela a deixe em paz e a agulha responde que falará quando lhe convier.
A linha lembra que a agulha não tem cabeça. Quando a agulha diz que ela é muito
mais importante porque é ela que vai na frente abrindo caminho, a linha responde
que os batedores do Imperador também vão à frente e portanto não são
importantes. A agulha se gaba de estar sempre entre os dedos da costureira e a
linha lembra que terminado o trabalho a agulha vai para a caixa de costura
enquanto ela, a linha, irá para o baile com o lindo vestido e sua dona. O alfinete
parece querer consolar a agulha e lhe diz que ele não abre caminho e onde o
colocam ele permanece. O autor termina com uma lição moral (?) : "Contei esta
história a um professor de melancolia, que então me disse, abanando a cabeça:
Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!"

A causa secreta

O conto nos apresenta o misterioso Fortunato, que, ao socorrer e posteriormente


cuidar do vizinho do médico Garcia, desperta a curiosidade deste pela dedicação
dispensada ao desconhecido e pelo posterior desprezo manifestado após a cura do
indivíduo. O tempo passa e Garcia e Fortunato se tornam amigos; a intimidade
aumenta e por insistência de Fortunato abrem um hospital. A dedicação de
Fortunato aos enfermos é total, especialmente aos que se encontram em pior
estado. Tudo isso impressiona e intriga sobremaneira Garcia, que não compreende
o paradoxo que é o amigo: se por um lado se entrega de corpo e alma aos que
sofrem, por outro é grosso e indiferente com os demais, inclusive com a esposa.

A intrigante causa secreta logo é desvendada por Garcia, que ao flagar o amigo se
deleitando ao torturar um rato que lhe levara um documento importante, mata a
charada: Fortunato tem enorme prazer em contemplar o sofrimento alheio; ele
sente, nas palavras de Garcia “Nem raiva, nem ódio, tão somente um vasto prazer,
quieto e profundo, como daria a outro a audição de uma bela sonata ou a vista de
uma estátua divina, alguma coisa parecida com a pura sensação estética.”
Os dois nunca falarão sobre o assunto. Em pouco tempo, a mulher de Fortunato é
visitada pela impiedosa tísica; adoece, definha e morre, assistida pelo incansável
marido que não derrama uma lágrima sequer.

Missa do galo

Nogueira, o narrador, relembra uma noite da sua juventude e a conversa que teve
com uma mulher mais velha, Conceição. Aos dezessete anos, partiu de
Mangaratiba para o Rio de Janeiro, com o intuito de concluir os estudos
preparatórios. Ficou hospedado em casa de Meneses, que havia sido casado com
uma prima sua e esposado Conceição em segundas núpcias.

Todas as semanas, Meneses dizia ir ao teatro e cometia adultério, algo que todos
da casa sabiam: a sogra, Nogueira e até a própria mulher. O narrador, embora
estivesse já em período de férias escolares, optou por ficar no Rio de Janeiro
durante o Natal para assistir à missa do galo na Corte. Tendo combinado com um
vizinho que iria acordá-lo para irem juntos à missa, Nogueira fica esperando e lendo
na sala.

Nessa noite, Meneses tinha ido se encontrar com a amante e Conceição, acordada
naquele horário tardio, surgiu na sala e começou a conversar com o jovem. Falam
sobre diversos temas e Nogueira acaba perdendo a noção do tempo e esquecendo
da missa. A conversa termina quando o vizinho bate bruscamente no vidro da
janela, chamando o narrador e lembrando do seu compromisso.

A igreja do Diabo
A obra começa com o Diabo sentindo-se humilhado com o papel que desempenhou
ao longo dos séculos, e por isso tem a ideia de fundar uma igreja. Cinicamente, ele
visita Deus para falar sobre sua nova ideia.

No segundo capítulo, o Diabo diz a Deus que os homens apenas são virtuosos em
benefício próprio. Ele compara a ambiguidade dos homens a um manto de veludo
com franjas de algodão, pois ao mesmo tempo que procuram ser virtuosos
usufruem de pecados. Deus diz que essa ideia não é original, e manda o Diabo ir
embora, parecendo desacreditar que ele terá êxito.

O terceiro capítulo mostra o Diabo colocando sua ideia em prática. Ele prometia aos
fiéis prazeres e glórias, confessava que era o Diabo mas dizia que sua imagem
havia sido distorcida. Sua nova doutrina determinava que as virtudes aceitas
deveriam ser substituídas. Pecados como a soberba, a luxúria, a preguiça e a
avareza deveriam ser encorajadas, enquanto a solidariedade e o amor ao próximo
deveriam ser proibidos. A grande eloquência do Diabo permitiu que sua nova
religião se espalhasse rapidamente, e a doutrina propagou-se por todo o mundo.

No quarto capítulo, o Diabo percebeu que seus seguidores estavam praticando


furtivamente as boas ações que foram proibidas. Criminosos estavam se
confessando escondido, glutões faziam jejum em determinados dias sagrados e
ladrões devolviam parte do dinheiro. Ao visitar Deus para entender a causa de tal
fenômeno, Ele disse ao Diabo: “Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de
algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão.
Que queres tu? É a eterna contradição humana.”

Pai contra mãe


“Pai Contra Mãe” se passa no Rio de Janeiro, nos fins do Segundo Império. É
narrado em terceira pessoa, por um narrador onisciente e onipresente, que fala
com o leitor em um tom melancólico e muitas vezes irônico, para mostrar a dura
realidade dos escravos.

O conto inicia-se com uma explicação por parte do narrador acerca de algumas
atividades e produtos relacionado ao período da escravidão no Brasil,
principalmente aqueles que serviam para repressão e castigo de negros que
tentavam fugir, mostrando artefatos tenebrosos, como coleiras de ferro, máscaras
de ferro e outros utensílios de castigo físico.

O narrador também explica sobre um ofício muito famoso nessa época: o de


caçador de escravos fugidos, trabalho que era feito por aqueles que não
conseguiam encontrar sucesso em outras profissões.

Esse é o caso do protagonista da história, Cândido Neves, que depois de tentar


passar por todo o tipo de trabalho e falhar, resolve virar caçador de escravos.

Ele é apaixonado pela jovem Clara, e ambos desejam viver uma vida estável e
estabelecer uma família. Clara vivia com sua tia Mônica, a qual ajudava no ofício de
costureira, que logo avisou-os que eles não tinham recursos para ter uma criança e
que não conseguiriam mantê-la. Apesar disso, os dois decidem ter um filho, e Clara
engravida.

Cândido passa a ter muito azar com sua caça, pois os escravos fugidos já
conheciam sua fama e havia muitos outros homens que estavam se tornando
caçadores. Assim, cada vez mais a situação financeira do casal vai piorando, ao
ponto de serem ameaçados de despejo por causa do aluguel atrasado.

Com isso, a tia Mônica aconselha-os a entregarem a criança à Roda dos


Enjeitados, local em casas de caridade que aceitava filhos indesejados. O casal
sempre foi contra a ideia, porém, quando Clara tem a criança (era um menino, o que
Cândido mais queria) e ambos se veem em uma situação financeira impossível,
decidem acatar a tia e levar a criança para lá.

Com muita relutância, Cândido leva a criança para a Roda dos Enjeitados, mas no
meio do caminho depara-se com a escrava Arminda, cuja captura poderia lhe
render uma boa quantia de dinheiro, que o faria poder manter o filho.

Apressadamente, deixa a criança em uma farmácia, cujo proprietário havia


conhecido na véspera, e parte em busca da escrava.

O final de “Pai Contra Mãe” é extremamente cruel: Cândido alcança a escrava e a


amarra. A moça revela que estava grávida e que tinha medo dos castigos físicos
que iria receber, mas mesmo assim, Cândido ignora seus apelos e em meio à luta
por libertar-se, a escrava acaba abortando.

Depois disso, Cândido entrega-a para seu dono, recebe o dinheiro da recompensa e
retorna para sua casa com o filho nos braços, sem nenhum peso na consciência
no fato da escrava ter abortado, pois de acordo com ele “nem todas as crianças
vingam...”

A escolha do título “Pai Contra Mãe” fica evidente aqui: Cândido, por precisar do
dinheiro da captura da escrava para manter seu filho (para ser um pai), acaba
negligenciando e confrontando a mulher grávida, fazendo-a perder seu filho (a mãe
perde para o pai no confronto).

Além disso, Machado mostra uma sociedade maquiavélica e capitalista, que


apenas vê os escravos como “coisas” desprovidas de qualquer humanidade, o
que pode ser comprovado pela falta de remorso de Cândido ao provocar o aborto da
escrava. Também podemos ver a ironia presente no nome do protagonista e de sua
esposa, que remetem à cor branca, muito simbólica nesse contexto de repressão
aos escravos africanos.

A cartomante

Uma paixão proibida

A história começa numa sexta-feira de novembro de 1869. Rita, angustiada com a


sua situação amorosa, resolve consultar, às escondidas, uma cartomante que serve
como uma espécie de oráculo. Apaixonada pelo amante Camilo, amigo de infância
do marido, Rita teme pelos relacionamentos correrem em paralelo. Camilo zomba
da atitude da amante porque não acredita em nenhuma superstição.

Rita, Vilela e Camilo eram bastante próximos, especialmente após a morte da mãe
de Camilo.

Rita e o marido viviam em Botafogo e, quando conseguia escapar da casa, ia


encontrar o amante às ocultas na Rua dos Barbonos.

Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de
passar as horas ao lado dela, era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas
principalmente era mulher e bonita. Odor di feminina: eis o que ele aspirava nela, e
em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a
teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; —
ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal.

Camilo se sentiu seduzido por Rita e, fato é, que se instalou um triângulo amoroso.
A ameaça das cartas anônimas

O problema surge quando Camilo recebe cartas anônimas de alguém que revela ter
conhecimento da relação extraconjugal. Camilo, sem saber como reagir, se afasta
de Vilela, que estranha o desaparecimento súbito do amigo.

Desesperado após receber um bilhete de Vilela convocando-o para um encontro em


sua casa, Camilo recupera as antigas crenças herdadas da mãe e, assim como
Rita, segue em busca da cartomante.

A reviravolta

Após a consulta, Camilo se acalma e vai, tranquilo, encontrar o amigo, crente que o
caso não havia sido descoberto.

O twist do conto se dá no último parágrafo quando se revela o final trágico do casal


de amantes. Ao adentrar na casa de Vilela, Camilo se depara com Rita
assassinada. Por fim, toma dois tiros do amigo de infância, também caindo morto no
chão.

Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para
uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao
fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela
gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.

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