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Ok - As Contações de Histórias Problematizadoras No Ensino de Astronomia No 2º Ano Do Ensino Fundamental
Ok - As Contações de Histórias Problematizadoras No Ensino de Astronomia No 2º Ano Do Ensino Fundamental
UBERLÂNDIA/MG
2013
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UBERLÂNDIA/MG
2013
MARIANA FERREIRA DE DEUS
BANCA EXAMINADORA
AGRADECIMENTOS
Ao Estêvão Luiz Pavanin Pereira, que em muitos momentos foi apoio para as
minhas angústias, convidando-me sempre a aprender, a tolerar e refletir sobre as minhas
experiências;
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................10
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................109
REFERÊNCIAS...............................................................................................113
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa se refere a uma proposta de trabalho que entra em contato direto
com as concepções prévias de alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental sobre
temas de cunho astronômico. O ensino de Astronomia tem sido uma área temática que
temos dedicado atenção por meio de estudos e pesquisas, sendo este trabalho parte de
um projeto maior (LONGHINI, 2010)1. Para tanto, realizamos contações de histórias a
fim de que elas levassem aos alunos a temática de maneira lúdica e estabelecessem
oportunidades para que as crianças expressassem seus conhecimentos.
As histórias foram criadas por nós, denominadas de histórias problematizadoras,
e foram contadas em forma de teatro de fantoche. O adjetivo “problematizadoras” se
relaciona diretamente com sua natureza, que é provocar nos alunos um tipo de
inquietação a respeito de um determinado tema. Os assuntos escolhidos para este
trabalho estão no campo da Astronomia, que é a área de conhecimentos sobre a qual o
GEEA (Grupo de Estudos sobre Educação em Astronomia) tem se debruçado, e do qual
fiz parte.
A Astronomia é a ciência que estuda os astros e, de uma maneira geral, os
fenômenos que os envolvem. É um campo de estudo das ciências naturais e seu ensino
se torna necessário, tendo em vista os objetivos especificados nos diferentes currículos
escolares do mundo inteiro (TIGNANELLI, 1998).
O ensino da Astronomia, que pode, no contexto escolar, ser abordado nas
disciplinas de Ciências e Geografia, no nível fundamental, e Física, no ensino médio,
tem se pautado, na maior parte das vezes, em atividades que pouco avançam além de
explanações teóricas; isso, quando há algum conteúdo desta área de conhecimento
presente na escolarização básica. Por outro lado, percebe-se que estes temas vão ao
encontro daquilo que os estudantes desejam, tendo em vista serem conteúdos que
despertam suas atenções e curiosidades, incentivando-os para o estudo, conforme revela
Albrecht (2008).
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“Era uma vez... um problema: investigação sobre o emprego de histórias problematizadoras no ensino e na
aprendizagem de Astronomia” (Edital FAPEMIG 01/2010). Esta pesquisa, coordenada pelo orientador deste trabalho,
investiga sobre a viabilidade do uso de um recurso pedagógico na Educação em Astronomia, tanto no que se refere
aos seus resultados na aprendizagem dos alunos, quanto na concepção de professores em relação ao seu uso.
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[…] “many of these changes are often occurring when most people, children and adults, are not outside observing
the sky. These challenges suggest that most children, especially urban children, have not learned how to accurately
describe apparent celestial motion. Development of such knowledge requires the opportunity for observation and
guidance from more experienced observers”.
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De acordo com Lopes (1999), a ciência tem se constituído sob o patamar de três
características. A primeira é de que ela é uma representação do real de maneira abstrata
e racional; a segunda é pelo fato de ela visar a objetos para descrevê-los e explicá-los;
por último, a ciência se preocupa com a verificação do fato científico dentro de uma
teoria específica.
Entretanto essa maneira de se produzir o conhecimento não admite o erro como
construtor e promotor de novas possibilidades. Assim como Lopes (1999) afirma, a
partir de seus estudos com base em Bachelard, a principal contribuição das maneiras de
se pensar a ciência hoje é levar em conta
Dessa forma, não devemos apenas validar o conhecimento, mas reconhecer que
o conhecimento científico só é possível de ser construído pela correção constante dos
erros. A ciência, portanto, não impõe uma universalidade dos conceitos, mas constrói
verdades provisórias coletivamente.
Diferentemente da maneira de pensar, que concebe o conhecimento científico
como verdades inquestionáveis, no decorrer da vida e no processo de sobrevivência,
nós, humanos, lidamos com outro tipo de conhecimento, que se relaciona
constantemente com o cotidiano. Porém, antes mesmo de compreendermos este tipo de
conhecimento, faz-se necessário entender em que a cotidianidade se diferencia de
acordo com as diversas maneiras de viver do homem, ou seja, a cotidianidade é
determinada pelas relações sociais que estabelecemos no ambiente em que estamos
inseridos (LOPES, 1999).
Os atos na vida cotidiana são organizados e repetitivos e, de maneira mecânica,
conduzimos a maior parte de nossas ações. Conforme aponta Lopes (1999), é
imprescindível essa automatização, pois
O mesmo autor afirma que esses conhecimentos possuem origens diversas, tais
como, “sensorial, emocional e afetiva e até mesmo moral, pois são construídos nas
relações mediadas pelos familiares, grupos de amizade ou por outros grupos
significativos, como a comunidade religiosa, por exemplo” (SCHROEDER, 2007, p.
298), resultando num conjunto de representações sobre a realidade, ou de suas visões de
mundo, construído, em sua maioria, mais por critérios de sobrevivência do que por
critérios racionais.
Há diversos termos semelhantes para designar as explicações previamente
concebidas pelos alunos. Langhi (2004) e Andrade, Neuberger e Araújo (2009), por
exemplo, as denominam de concepções alternativas; Scarinci e Pacca (2005) utilizam o
termo pré-concepções, Lopes (1999) os denomina de conhecimentos cotidianos e
Schroeder (2007) utiliza conceitos espontâneos. Além destes, podemos encontrar,
conforme Langhi (2011), termos como: “ideias ingênuas”, “conceitos intuitivos”,
“concepções prévias”, “preconceitos” e “ideias de senso comum”.
Scarinci e Pacca (2005) consideram que o processo de ensino e de aprendizagem
a partir dos conceitos prévios dos alunos proporciona grandes vantagens, pois
“evidencia incoerências na forma de pensar dos educandos e propicia o surgimento de
problemas significativos que os alunos tentarão resolver” (SCARINCI e PACCA, 2005,
p. 1). Os estudantes, ao se depararem com problemas por eles mesmos propostos, veem-
se desafiados e estimulados a buscar respostas.
De acordo com Schroeder (2007), há estudos, principalmente os relacionados ao
ensino de ciências, que apontam a manutenção desses conceitos prévios mesmo após o
longo período de escolarização dos estudantes. A problemática que se verifica é a
tentativa de professores ensinarem conceitos elaborados em conflito com os
conhecimentos espontâneos dos estudantes.
A discussão sobre os diferentes tipos de conhecimento, presentes dentro da
escola, se faz necessária, pois a temática abordada nesta pesquisa trata justamente da
modificação dos conhecimentos prévios dos alunos em conhecimentos mais próximos
aos científicos, tendo como foco os temas a respeito dos movimentos aparentes do Sol e
da Lua.
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[...] “el significado de la palabra, como hemos sostenido reiteradamente a lo largo de la investigación,
no es otra cosa que una generalización o un concepto. Generalización y significado de la palabra son en
essencia sinónimos. Toda generalización, toda formación de un concepto, representa el más específico,
más auténtico y más indudable acto de pensamiento”.
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não ocorre apenas por meio de um aparato biologicamente maduro, mas também pelas
relações mediadas que estabelecemos no decorrer da vida.
Ao falarmos do “entorno”, ou seja, o meio em que o indivíduo vive e estabelece
suas relações, tratamos de um assunto de suma importância para esta pesquisa, pois
procuramos compreender quais são os hábitos das crianças ao observarem o céu e a
influência que pais, professores e familiares exercem, para tanto, é pertinente esclarecer
que entendemos o entorno assim como Vygotsky (1935) o descreve.
Para o autor, o entorno tem a função de servir como fonte de desenvolvimento
da personalidade e dos traços humanos específicos, ou seja, é a fonte de
desenvolvimento no seu âmbito. É importante que fique claro que o “entorno” não é a
única condição determinante para o desenvolvimento infantil, no entanto influencia,
significativamente, este desenvolvimento.
A influência do entorno não depende só da natureza da situação e da cultura,
depende de como a criança, o homem se percebe nela, ao passo que o entorno é o
mesmo, mas o olhar que se tem a respeito dele é particular. As crianças, durante o seu
desenvolvimento, estão em constante processo de recriação e reinterpretação de
informações, conceitos e significações,
[...] isto significa que, neste sentido, o entorno constitui uma fonte de
todos os traços humanos específicos da criança, e que se a forma ideal
apropriada não está presente no entorno, deixará de desenvolver na
criança a atividade, a característica do traço correspondente.
(VYGOTSKY, 1935, p.21, tradução nossa4).
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[…] “esto significa que en este sentido el entorno constituye una fuente de todos los rasgos humanos
específicos del niño, y que si la forma ideal apropiada no esta presente en el entorno, dejará de
desarrollarse en el niño la actividad, la característica o el rasgo correspondiente” (VYGOTSKY, 1935,
p.21).
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tratam de fenômenos relacionados ao Sol e a Lua, que foram os temas por nós
abordados.
Piaget (1975), ao estudar o animismo, realizou entrevistas com crianças de
diferentes idades, buscando saber delas se o Sol e a Lua “nos seguem”, como,
aparentemente, veem isso ocorrer. Dentre as respostas obtidas, o autor as classificou em
três estágios. O primeiro, que compreende as crianças, em média, até 8 anos de idade,
demonstra que acreditam que o Sol e Lua as seguem, assim como exemplifica a fala de
uma das crianças, quando questionada a respeito do Sol se mover: “Sim, quando
caminhamos ele nos segue. Quando viramos, ele vira também” (PIAGET, 1975, p. 176).
Em um segundo estágio, a criança apresenta contradições em suas respostas,
pois, ao mesmo tempo em que afirma que o Sol a segue, diz que o astro fica imóvel, e,
para resolver tal impasse, ela se justifica com afirmações, tais como: “o Sol está imóvel,
mas seus raios nos seguem, ou o Sol permanece em seu lugar, mas girando de modo que
possa sempre nos olhar” (PIAGET, 1975, p. 175).
Por fim, Piaget (1975) descreve o último estágio, no qual a criança compreende
que o Sol e a Lua apenas parecem nos seguir, contudo isto, verdadeiramente, não
ocorre, tal como exemplifica o diálogo do autor com uma das crianças: “_O que faz o
sol quando você passeia? - Brilha. - Ele a segue? - Não, mas o vemos em todo lugar. -
Por quê? - Porque ele é muito grande” (PIAGET, 1975, p. 179). As crianças deste
estágio possuem idade em média de 10 a 11 anos.
O autor também salienta que há crianças que acreditam serem elas mesmas a
causa para o movimento dos astros, como se o Sol e a Lua fossem seres espontâneos,
que se locomovem por vontade própria. Além disso, crianças entre 7 e 8 anos de idade
justificam o movimento mediante explicações mecânicas, atribuindo a causa ao vento,
às nuvens e ao ar. Estas respostas são, para o autor, indícios do egocentrismo das
crianças, ao imaginarem que os astros se ocupam de nós e que tudo gravita ao redor do
homem.
Em relação à origem dos astros, Piaget (1975) descreve também três fases para
designar as respostas das crianças. Na primeira fase, os pequenos atribuem a origem do
Sol e da Lua à fabricação humana ou divina, tal como a criança afirma, quando
questionada acerca de onde vem a Lua: “- Do céu. - E como ela se fez? - Pequenininha.
- Ela se fez sozinha? - Não, por Papai do Céu. - Como? - Com suas mãos” (PIAGET,
1975, p. 213).
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No segundo estágio, os astros têm origem artificial, ou seja, são produzidos por
fatores externos, tais como as nuvens ou fumaça. Podemos ilustrar esta fase com o
seguinte diálogo entre pesquisador e uma das crianças: “- Como ele começou, o sol? -
Foi uma grande nuvem que o fez. - De onde vinha esta nuvem? - Da fumaça. - E esta
fumaça? - Das casas. - Como esta nuvem fez o sol? - Elas (as nuvens) colaram-se umas
nas outras até que ficaram redondas” (PIAGET, 1975, p. 221).
Por fim, o terceiro estágio indicado pelo autor caracteriza-se pelas respostas das
crianças que inventam uma origem natural para o Sol e a Lua ou aquelas que se recusam
a explicar, assim como exemplifica o diálogo: “- Como o sol começou? - Não sei. Não
se pode saber. - É verdade, você tem razão. Mas pode-se adivinhar. O sol sempre esteve
lá? - Não, foi a eletricidade que o fez aumentar cada vez mais. - Vinha de onde esta
eletricidade? - De debaixo da terra. Da água” (PIAGET, 1975, p. 224).
Com relação às fases da Lua, o mesmo autor encontra três estágios semelhantes
aos anteriores, que denomina como: artificialismo integral, artificialismo mitigado e
explicação natural. No primeiro, as crianças consideram as fases como luas que nascem.
Quanto ao segundo, há uma mistura de artificialismo e explicação natural, conforme
exemplifica o diálogo: “- A lua está sempre redonda? - Não. - Como ela é? - Crescente.
Ela foi muito usada. - Por quê? - Porque iluminou. - Como ela volta a ficar redonda? -
Porque é refeita. - Como? - Com o céu” (PIAGET, 1975, p. 227). No terceiro estágio, as
crianças consideram que a Lua pode ser divida por ela própria ou pelo vento, assim
como ilustram as falas: “Não há senão a metade. Foi o vento que a partiu” (PIAGET,
1975, p. 227) e “- Tem uma metade que vai de um lado e outra que vai do outro. - Por
quê? - Para indicar que tempo fará. - Como isto se dá? - Porque faz mais calor. Isto quer
dizer que fará mau tempo ou bom tempo. Ora, a lua age, assim, sozinha e também
conscientemente” (PIAGET, 1975, p. 228).
Em estudo desenvolvido por Klein (1982), o objetivo era ter acesso à
compreensão que os alunos de 2° série tinham a respeito da Terra e do Sol. As crianças
participantes desta pesquisa possuíam idade entre 7 e 8 anos, totalizando 24 alunos. A
autora pôde constatar que os estudantes, de maneira geral, acreditavam que não seria
possível observar o Sol durante a noite, tal como ilustra a seguinte resposta: “O Sol está
no outro lado da Terra à noite” (KLEIN, 1982, p. 103, tradução nossa5).
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“The sun is on the other side of the Earth at night”.
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“The Moon’s out – the Sun’s on the ground”.
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“It’s gone to a different country or planet”.
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“Hay tres soles que se mueven y como si nos persiguen se mueven. Em realidad veo uno, pero uno lo
veo allá, outro lo veo acá arriba y el otro lo veo allá”.
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“El Sol se mueve, se va, rompe su superficie y se convierte em Luna”.
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vinte alunos afirmaram que as fases são características intrínsecas da Lua; quatro
disseram que as fases não possuem causa definida; nove apenas informaram o nome das
fases; dois as associaram à influência de algum astro; oito afirmaram não saber o
porquê, e dois deram respostas diferentes ao que foi perguntado (ANDRADE,
ARAÚJO, NEUBERGER, 2009).
Os autores concluíram que há uma grave falha no ensino dos conteúdos
astronômicos, principalmente, os relacionados ao tema Lua, apontando, assim, para a
importância da pesquisa para o ensino de Astronomia e que as propostas curriculares da
EJA devem ser reorientadas.
O estudo de Plummer (2009) analisou a compreensão das crianças sobre o
movimento celeste aparente, entre os alunos da primeira, da terceira e oitava série,
totalizando 60 estudantes, sendo 20 de cada série. As crianças envolvidas nessa
pesquisa não haviam estudado Astronomia durante o ano letivo em que participaram da
pesquisa em questão.
Os dados foram coletados por meio de uma entrevista, que ocorreu em uma
pequena cúpula de planetário, para que as crianças expusessem suas ideias a partir de
como é visto o céu em sua perspectiva. Para tanto, utilizaram uma lanterna para
demonstrar o movimento aparente do Sol, da Lua e das estrelas.
Para as perguntas sobre a mudança sazonal no caminho do Sol, quase todos os
alunos da terceira série e da oitava série descreveram sua trajetória como a mesma no
verão e no inverno. Poucos alunos em cada nível sabiam que o Sol percorre um
caminho aparente menor no inverno e maior no verão.
Quando questionados a respeito do aspecto da Lua, a maioria dos alunos foi
capaz de desenhar, pelo menos, duas de suas fases, contudo apenas dois alunos da
oitava série não as desenharam ou descreveram. Dentre os estudantes da terceira série,
todos conseguiram desenhar duas fases precisas da Lua. Cinco alunos da primeira série
responderam à pergunta, entre os quais, dois descreveram apenas uma forma e as outras
três foram capazes de desenhar duas formas para a Lua, mas com algumas imprecisões,
ou seja, o desenho representava uma “meia lua”, ou uma lua crescente com uma linha
horizontal.
Uma das alunas da primeira série indicou a diferença da Lua para um céu real e
em contos de fadas, dizendo: “Pode ser de duas maneiras diferentes. Em um conto de
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fadas e real” (PLUMMER, 2009, p. 1592, tradução nossa10). Segundo a autora, essa
criança atua entre o domínio de dois conhecimentos, o cotidiano e o científico, pois,
para a aluna, a aparência da Lua está ligada a situações diferentes, a Lua no céu e em
um mundo de faz de conta, que não seguem as mesmas regras.
Em relação ao caminho aparente que a Lua descreve no céu, os alunos
demonstraram uma variedade de ideias. A maioria (55%) dos que frequentaram a
primeira série disse que a Lua sobe até o zênite, permanecendo lá durante toda a noite.
A resposta mais comum entre os educandos da terceira e oitava série foi que a Lua
descreve uma curva suave em todo o céu por meio do zênite. Enquanto dois da terceira
série e sete da oitava indicaram que a Lua está sempre no céu e nunca se põe. Dentre
estes, quatro crianças apontaram que a Lua se move. Uma das crianças afirmou que o
Sol e a Lua negociavam o seu surgimento, dizendo: “Eles estão negociando. O Sol vai
negociar com a Lua” (PLUMMER, 2009, p. 1593, tradução nossa11).
Segundo explica Plummer (2009), embora, em alguns temas, os alunos
apresentem um aumento na compreensão científica conforme as crianças menores
avançam na idade, esse entendimento não chega a ser totalmente científico. A mesma
autora verificou, também, que as crianças não possuem muitas oportunidades de
observar o céu, dado que os adultos nem sempre têm tempo ou interesse em realizar
observações diretas durante o dia ou à noite, ou que não dispõem de conhecimento
sobre os fenômenos celestes.
Neto e Furtado (2009) aplicaram uma história em quadrinhos, criada com o
objetivo de explicar as fases da Lua e a utilizaram, como meio didático, um modelo
tridimensional, construído com bolas de isopor para representar o sistema Sol-Terra-
Lua. Os participantes dessa pesquisa foram 48 alunos de duas turmas do 6° e 7° ano do
Ensino Fundamental. Nesse estudo, os autores constataram que todos os alunos
mostraram compreender que a Lua é vista da Terra devido à reflexão da luz solar.
Além disso, os alunos entenderam as fases da Lua como um ciclo, a formação da
Lua cheia e nova. Em relação às fases crescente e minguante, os alunos acharam, num
primeiro momento, que a parte não iluminada da Lua vai aumentando ou diminuindo,
mas, na verdade, isso se dá com a parte iluminada. Consequentemente, isto resultou
numa confusão entre as fases, além do mais, alguns alunos não associaram a mudança
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“It can be two different ways. In a fairy tale and real”.
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“And they’re trading. The Sun’s going to trade with the Moon”.
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da fase nova para fase cheia como sendo crescente, e da fase cheia para nova como
minguante.
Em estudo de Kallery (2011), a intenção foi testar uma intervenção, a fim de
familiarizar 104 crianças entre quatro e seis anos de idade com o conceito de
esfericidade da Terra e as causas do fenômeno do dia e da noite.
Noventa e dois por cento dos alunos responderam corretamente ao representar a
forma esférica e a cor amarela do Sol com massa de modelar. Aproximadamente, 89%
das crianças mostraram o movimento do planeta utilizando a massa de modelar, ao girar
a esfera azul (Terra) em torno da amarela (Sol).
Ao trabalharem com os participantes sobre o Sol, dando-lhes massa de modelar
para que representem o formato da estrela e o observá-lo através de filtros, puderam
perceber que as crianças se surpreenderam com o seu tamanho e cor, como exemplo, a
fala de um aluno que afirma: “Estou olhando para o Sol. Mas é realmente o Sol? Não
tem raios em torno dele e se parece com a lua” (KALLERY, 2011, p. 354, tradução
nossa12). Elas retrataram o Sol como branco e escuro (espaço circundante assim como
viram nos filtros) e empregaram palavras como círculo, esfera e bola para descrever a
forma do Sol, como o aluno que corrige o amigo ao chamar-lhe a atenção: “Você não
diz a coisa certa. É uma esfera” (KALLERY, 2011, p. 354, tradução nossa13).
Em relação ao fenômeno do dia e da noite, a autora descreveu que 13,2% dos
alunos deram explicações caracterizadas como “egocêntricas”, como exemplo: “a noite
chega para nós dormir” (KALLERY, 2011, p. 361, tradução nossa14), ou como
“irrelevantes”, tal como: “se não tivéssemos o dia e a noite, os astronautas não poderiam
ver o Sol” (KALLERY, 2011, p. 361, tradução nossa15).
Para a autora, os resultados de sua pesquisa apontaram que os conceitos e
acontecimentos astronômicos, tal como os fenômenos do dia e da noite, que são
considerados difíceis para as crianças, e podem ser mais acessíveis a partir do uso de
recursos e estratégias que despertem seu interesse e os motivem.
O estudo de Plummer, Waskoa e Slagleb (2011) também investigou as
explicações de estudantes para os movimentos do Sol e da Lua. Foram realizadas
entrevistas com 24 alunos com idade média de oito anos e nove meses.
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“I am looking at the sun. But is it really the sun? It doesn’t have rays around it and looks like the
moon”.
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“You don’t say it right. It is a sphere”.
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“The night comes for us to sleep”.
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“If we didn’t have day and night, astronauts wouldn’t go o see the sun”.
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As autoras puderam constatar que cerca da metade dos alunos sabiam que o Sol
e a Lua nascem e se põem no céu, poucos alunos foram capazes de fazer uma ligação
precisa entre o movimento aparente do Sol e dar uma explicação usando a rotação da
Terra. Alguns estudantes explicaram o movimento aparente do Sol em termos de
rotação da Terra, apesar de alguns deles não saberem o tempo exato para a rotação da
Terra. A outra metade de alunos deram as respostas em que o movimento aparente não
corresponde com a explanação sobre modelo heliocêntrico. Isto incluiu alguns alunos
que sugeriram que o movimento aparente do Sol para cima e para baixo foi causado por
uma combinação de rotação da Terra e o movimento real do Sol.
A respeito da Lua, a maioria dos estudantes deram explicações ingênuas para o
movimento aparente desse astro. Alguns usaram uma descrição da órbita da Lua para
explicar uma definição exata de seu movimento aparente. Outros estudantes usaram a
rotação da Terra para explicar o movimento diário aparente da Lua, mas esses alunos
não acreditam que a Lua realmente se mova. Cinco desses alunos (21%) demonstraram
compreender que a Lua parece mover-se através do céu porque a Terra gira em outra
direção.
As autoras concluíram que muitos alunos acreditam que qualquer padrão de
movimento aparente de um objeto é causado pelo movimento real dos objetos. Em
geral, as crianças desse nível de escolaridade não compreenderam o tema com um nível
científico de precisão.
Quase todos os alunos do estudo foram, inicialmente, informados a respeito da
rotação da Terra por meio das autoras, mas a maioria dos alunos da terceira série não
fez a relação dos movimentos aparentes do Sol e da Lua com o movimento real da
Terra.
Em estudo elaborado por Darroz, Pérez, Rosa e Heineck (2012), os autores
apontaram alguns conhecimentos prévios expressos por alunos do 6° ano do Ensino
Fundamental de uma escola particular, ao participarem de um debate sobre a ocorrência
das fases da Lua. Os pesquisadores evidenciaram que 77% dos estudantes asseguraram
que as fases da Lua correspondem a diferentes formas com que o astro se apresenta no
céu, assim como exemplificam as falas: “[...] eu já vi a Lua redonda e meio redonda”
(DARROZ, PÉREZ, ROSA e HEINECK, 2012, p. 35) e “tem noites que a Lua fica bem
grande, assim, redonda, e noites que só se vê um pedacinho dela” (DARROZ, PÉREZ,
ROSA e HEINECK, 2012, p. 35).
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Além disso, puderam constatar que 84,6% dos alunos participantes conseguiram
relacionar as fases da Lua com o movimento relativo do astro em relação ao Sol e ao
planeta Terra, e 76,9% dos estudantes compreenderam as diferenças entre as formas
com que a Lua se apresenta.
O que pudemos verificar é que as diversas pesquisas analisadas, sobre os temas
Sol e Lua, demonstram que, apesar de se tratarem de amostras de alunos de diferentes
idades e países, as crianças constroem conceitos iniciais, representando hipóteses sobre
o mundo observado, apresentando tentativas de assimilar o mundo ao seu redor, e que,
durante o processo de pesquisa, os alunos manifestam diferentes níveis de compreensão
de determinado conceito científico.
Além disso, percebemos que, entre os alunos de menor faixa etária, de maneira
geral, há o predomínio das ideias ingênuas. Ainda explicam o caminho aparente do Sol
e da Lua a partir de uma diversidade de respostas que indicam diferentes tipos de
movimentos, e justificam a causa desses movimentos por meio de elementos externos
em função do vento ou das nuvens, e aqueles que, apesar de citarem o movimento do
planeta, não são capazes de explicar como ele ocorre.
Contudo os alunos de maior faixa etária, de maneira geral, começam a se
expressar por meio de exposições científicas e demonstram conhecer alguns
movimentos entre Sol-Terra-Lua, e sobre como ocorre as fases da Lua.
Tendo em vista que os alunos se baseiam, primeiramente, em suas concepções
prévias para explicar muitos dos fenômenos que envolvem nosso satélite natural, o
planeta Terra e o Sol, é possível perceber que, conquanto os estudantes apresentem um
aumento na compreensão científica e ampliem suas explicações para alguns temas, ao
passo que as crianças menores prosseguem na idade, este entendimento não chega a ser
totalmente científico.
No próximo capítulo, dedicamo-nos a esclarecer o que são as HP’s e quais foram
as bases teóricas que nos orientaram para a sua construção.
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[…]”learners are encouraged to learn through exploring, discovery and investigation”.
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O ato de contar histórias esteve presente na vida do ser humano desde muitos
séculos, segundo Dohme (2010, p. 7), [...] “a arte de contar histórias existiu sempre,
desde quando o homem começou a falar e articular as palavras”. Elas podem nos
proporcionar momentos agradáveis e de puro encantamento, e não é ao acaso que
percebemos sua marcante presença nas escolas, trazendo o lúdico para o aprendizado.
Conforme aponta a mesma autora, há vários motivos para se trabalhar com as
histórias: as crianças gostam, gera-se empatia entre professor e alunos, há diversidade
de temas, não há muita exigência de recursos materiais para sua aplicação. Além do
mais, segundo a autora, as histórias proporcionam às crianças o desenvolvimento do
caráter, do raciocínio, do senso crítico, da criatividade, disciplina e estimula a
imaginação.
As histórias levam à disciplina, pois indicam situações que levam a entender
que existe momento para tudo, por isso [...] “contribuirá com o aumento de sua
capacidade de concentração e para o desenvolvimento de uma atitude crítica em relação
ao seu comportamento e ao dos demais, ou seja: levará a uma disciplina consciente e
assumida pela própria criança” (DOHME, 2010, p. 20).
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De acordo com Jorge (2003), narrar é um ato cultural e atua diretamente nos
sentidos e no subjetivo de cada um, proporcionando aos indivíduos o conhecimento de
si mesmo, do outro e do mundo em que vive. A autora pondera, também, que os
indivíduos, por meio das narrativas, se expressam, pois
própria existência. Além disso, Andrews, Hull, e Donahue (2009) salientam que a
história facilita o aprendizado a partir de meios verbais ou linguísticos e ajuda na
construção mental de uma sequência de eventos que são promulgadas pelo aluno.
Nessa perspectiva, Silva (1998) apresenta três teses relacionadas ao ensino da
leitura nas escolas brasileiras, pelas quais nos mostra que a magia que a leitura nos
proporciona não é privilégio apenas das aulas de literatura, pois considera que todo
docente, independente da sua área de trabalho, é professor de leitura. Conforme o autor,
[...] “todo professor é um professor de leitura; a fantasia não é uma exclusividade das
aulas de literatura, e as sequências integradas de textos são pré-requisitos para a
formação do leitor” (SILVA, 1998, p. 121-122).
As histórias, sejam elas reais ou imaginárias, são potenciais fontes de
oportunidades de aprendizado para alunos de diferentes idades (HEWLLET, 2010). Mas
percebemos que tal fantasia vai se perdendo pouco a pouco, conforme o aluno avança
pelos anos escolares. Ele vê-se distante dos momentos lúdicos que lhe eram
proporcionados na Educação Infantil. Como destaca Silva que,
científicos, e pensando que aspectos do ensino por investigação podem ser empregados
em contações de histórias, naquilo que chamamos de histórias problematizadoras, a
questão central desta pesquisa foi: que conhecimentos de estudantes do 2° ano do
Ensino Fundamental, sobre o movimento aparente do Sol e da Lua, são modificados, ao
participarem das contações de histórias problematizadoras envolvendo tais temas?
A partir da questão, temos como objetivo central analisar a potencialidade das
histórias problematizadoras como um recurso pedagógico para o ensino e o
aprendizado de Astronomia, no que se refere ao trabalho com estudantes dos primeiros
anos escolares.
características relacionadas ao céu, que faz parte do ambiente em que vivemos e que
apresenta variados fenômenos.
Tendo em vista as questões éticas relacionadas às interações do pesquisador com
os sujeitos pesquisados e com a finalidade de preservar a identidade das crianças
participantes, optamos designá-las por pseudônimos, conservando o gênero e a idade.
Considerando a abordagem qualitativa, que acredita na participação ativa do
indivíduo no processo de produção de conhecimento, esta pesquisa possui como
preocupações centrais a compreensão do “mundo do sujeito, os significados que atribui
às suas experiências cotidianas, sua linguagem, suas produções culturais e suas formas
de interações sociais” (ANDRÉ, 2005, p. 47).
Após a delimitação do objeto de estudo, definição do caso e de estabelecidos os
contatos iniciais, definimos os procedimentos e instrumentos utilizados para a coleta de
dados. Utilizamos entrevistas semi-estruturadas, que foram feitas no início e ao final da
pesquisa (Apêndice A), respectivamente; e filmagens, que nos possibilitaram registrar a
fala dos alunos tanto durante as contações de histórias quanto em momentos em que
pedimos aos alunos que relatassem a respeito dos desenhos que produziram.
A entrevista inicial foi planejada com questões que tinham o intuito de fazer o
levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos a respeito do movimento aparente
do Sol e da Lua. Além disso, incluímos questões com o propósito de verificar se as
crianças têm o hábito de observar o céu.
A entrevista final, que possuía algumas questões além da inicial, foi realizada a
fim de conhecer que prováveis mudanças nos conhecimentos prévios dos alunos sobre a
temática abordada haviam ocorrido após o trabalho com as histórias problematizadoras.
Vale ressaltar que a etapa final se deu com um número menor de alunos, devido o
remanejamento de diversos deles para outras escolas.
Escolhemos as contações de histórias com o recurso do fantoche para que fosse
um momento agradável e de motivação para as crianças, por entendermos que na faixa
etária entre sete e oito anos elas se interessam por aspectos lúdicos e jogos de
imaginação (DOHME, 2010). Os fantoches utilizados durante as atividades foram feitos
a partir da técnica e passo-a-passo de criação, do fantoche denominado “Bocão”,
explicitada por Dohme (2010, p. 125), os quais pode ser visualizados na imagem 1:
50
de se encontrarem com ela mais uma vez e resolvem procurá-la; entretanto, ficam em
dúvida se a Lua estaria no mesmo lugar em que a viram pela última vez, horas antes.
Desta forma, o problema da história foi apresentado e discutido com as crianças sobre
a possibilidade, ou não, de observar o astro na mesma localização, presenciada duas
horas antes. Após a discussão, os alunos foram encaminhados, mais uma vez, para a
observação do céu.
Na parte anterior da história, demarcamos sua localização, e passado
aproximadamente duas horas, as crianças tiveram a oportunidade de perceber que o
astro já não se localizava mais na mesma posição. Mais uma vez, os alunos exibiram
suas ideias sobre o que observaram e descreveram suas respostas em forma de
desenhos e nos explicaram qual fora a explicação adotada.
Tendo em vista todas as etapas desta contação da História Problematizadora 2, o
quadro 2 ilustra a organização das atividades:
Quadro 3 - Eixo Temático 1– Contato dos alunos com o céu, segundo entrevistas inicial e final
SUB-EIXOS Tipos de Respostas
1.1.1. Sim
1.1. Hábitos de observar
1.1.2. Não
o céu
1.1.3. Pouco
1.2.1. Noite
1.2.2. Dia
1.2. Horário em que
1.2.3. Dia e noite
observa o céu
1.2.4. Não observam
1.2.5. Irrelevante
1.3. Possuir companhia 1.3.1. Sim
para observar o céu 1.3.2. Não
Fonte: a autora.
em: “o Sol gira em torno da Terra”, que caracterizam aqueles que acreditam que quem
realiza o movimento é o Sol ao redor do planeta; “a Terra se movimenta, ainda que com
imprecisões a respeito do movimento”, que indica as respostas que atribuem a causa do
movimento aparente do Sol ao movimento que a Terra realiza ao redor do mesmo.
Contudo, não explicam como esse movimento ocorre corretamente; “uso de explicações
a partir de elementos externos”, quando ainda atribuem a causa do movimento a fatores
externos, tal como o vento, por exemplo; e “não respondeu”, para aqueles que não
responderam.
localizam o Sol”, para os estudantes que apontaram a posição incorreta; “indeciso”, que
representa as crianças que apontavam em várias direções; e “não sabe”, que se refere
aqueles que não souberam responder e que não apontaram para nenhuma direção.
No sub-eixo 3.2 estão as respostas dadas pelos alunos quando perguntados sobre
a localização do Sol após duas horas. As respostas permitiram elaborar os seguintes
tipos de respostas: “mudou de lugar em relação à primeira resposta”, que indica que o
aluno apontou uma direção diferente, para a posição do Sol, daquela apresentada na
primeira pergunta, o que assinala que ele compreende que a posição do Sol varia no
decorrer do tempo; “continua no mesmo lugar em relação à primeira resposta”, que se
refere ao aluno que indicou com o dedo a posição do Sol igualmente à posição
apresentada na primeira pergunta o que mostra que, segundo tais alunos, a posição do
Sol se mantém a mesma após determinado tempo; e “indeciso”, designando os alunos
que não souberam indicar nenhuma direção.
A última questão feita aos alunos sobre o tema em questão solicitava deles a
localização do Sol em três momentos diversos do dia. Para tanto, foram oferecidas nove
figuras que representavam diferentes posições do astro no céu, para que pudessem
combiná-las e explicarem a localização do Sol no momento em que eles acordam;
quando vão até a escola, considerando que estudam no período vespertino; e a no
momento em que saem da escola. Ou seja, deveriam escolher apenas três figuras,
conforme o modelo representativo abaixo, e colocá-las de forma ordenada. Para cada
uma foi oferecida mais de uma cópia, para que pudessem compor suas respostas de
forma como quisessem, inclusive com imagens repetidas.
60
Imagem 2 - Figuras entregues aos alunos para reponderem a questão número três da entrevista a
respeito do Sol.
Quadro 5 - Eixo Temático 3 – Conhecimentos revelados segundo entrevistas inicial e final a respeito
do Sol
SUB-EIXOS Tipos de Respostas
3.1.1. Localizam o Sol
3.1. Localização 3.1.2. Não localizam o Sol
momentânea do Sol 3.1.3. Indeciso
3.1.4. Não sabe
3.2.1. O Sol muda de lugar
3.2. Localização do 3.2.2. O Sol permanece no mesmo lugar
Sol após duas horas 3.2.3. Indeciso
3.3.4. Não sabe
3.3.1. O Sol desloca-se apenas de um lado do horizonte
até o ponto central
3.3. Movimento
3.3.2. O Sol permanece em um mesmo lado do horizonte
aparente do Sol no
3.3.3. O Sol descreve uma trajetória sem uma ordem
céu
lógica
3.3.4. O Sol descreve uma trajetória sequencial
Fonte: a autora.
tarde; e “em diferentes períodos do dia (manhã, tarde e noite)”, para aquelas que
afirmaram que a Lua pode ser vista durante o dia, manhã ou tarde, e também durante a
noite.
Para o sub-eixo 4.4, quando os alunos foram questionados sobre como ocorre o
movimento aparente da Lua, levantamos os seguintes tipos de respostas: “uso de
explicações a partir de elementos externos”, para os alunos que acreditam que a Lua
muda de posição devido à influência de elementos tal como o vento, por exemplo; “a
Lua é personificada”, para designar as respostas que a caracterizam a partir de aspectos
humanos; “explicações imprecisas”, para designar os alunos que não demonstraram uma
resposta clara ao problema; “relaciona os movimentos Terra-Lua, porém com algumas
imprecisões”, para caracterizar as respostas dos alunos que tentaram explicar a causa do
movimento do astro devido ao movimento do mesmo e/ou do planeta, no entanto, não
souberam explicar com precisão de que maneira eles ocorrem. Em síntese, estes dados
são apresentados no quadro 6.
tratam sobre o conhecimento dos estudantes sobre as fases da Lua, em que horário
podemos observá-la no céu e sobre o movimento aparente que ela realiza.
A partir das respostas sobre o aspecto do nosso satélite natural, foi possível criar
tipos de respostas de acordo com o que os alunos indicavam em suas falas ou desenhos,
sendo eles: “descreve ou desenha apenas uma forma”, para as respostas que indicavam
para apenas uma aparência da Lua; “descreve ou desenha pelo menos duas fases”, para
os que demonstraram conhecer mais de uma fase; “confunde a Lua com outros
elementos do céu”, para designar as respostas que apresentaram confusões ao
apresentarem a Lua como sendo outros elementos tal como nuvens, por exemplo.
Em relação ao horário em que podemos observar a Lua, classificamos as
respostas com as seguintes categorias: “dia” para caracterizar as respostas daqueles que
disseram ver a Lua somente durante o dia, seja manhã ou tarde; “noite”, para aqueles
que afirmaram que o astro só é visível durante a noite; e “dia e noite”, para os que
acreditam que ela pode ser vista nos dois períodos.
Os tipos de respostas criados a partir da fala dos alunos para o sub-eixo 5.3,
quando foram questionados se a Lua muda de posição no céu, foram: “sim”, para
aqueles que acreditam que o astro se movimenta; “não”, para os que afirmaram que a
Lua se mantém no mesmo lugar. Para o sub-eixo 5.4, quando questionados acerca do
movimento aparente da Lua, os tipos são: “uso de explicações a partir de elementos
externos”, para os alunos que justificam que a Lua muda sua posição devido à
influência de outros elementos; “a Lua é personificada”, para designar as repostas que
dão vida própria ao astro; “não respondeu”, para designar os que não responderam; e
“relaciona os movimentos Terra-Lua, porém com algumas imprecisões”, que explicam a
mudança de posição da Lua a partir dos movimentos Terra-Lua, mas que não se
constituem como explicações completas para o fenômeno.
As perguntas que nos proporcionaram as respostas do sub-eixo 5.4. não foram
feitas na entrevista inicial, pois ainda não objetivávamos que os alunos explicassem
como o fenômeno ocorre, mas se eles percebiam ou não o movimento aparente de nosso
satélite natural.
64
Quadro 7 - Eixo Temático 5 – Conhecimentos revelados segundo entrevistas inicial e final sobre a
Lua
SUB-EIXOS Tipos de Respostas
5.1.1. Descreve ou desenha apenas uma forma
5.1.2. Descreve ou desenha pelo menos duas fases
5.1. Aspecto da Lua
5.1.3. Confunde a Lua com outros elementos do céu
5.1.4. Desenho com imprecisões
5.2.1. Dia
5.2. Em que horário
5.2.2. Noite
observa a Lua
5.2.3. Dia e noite
5.3.1. Sim
5.3. A Lua muda de
5.3.2. Não
posição no céu?
5.3.3. Permanece no mesmo lugar
5.4.1. Uso de explicações a partir de elementos
externos
5.4. Movimento 5.4.2. A Lua é personificada
aparente da Lua 5.4.3. Não respondeu
5.4.4. Relaciona os movimentos Terra-Lua, porém
com algumas imprecisões
Fonte: a autora.
65
Neste capítulo exibimos a discussão e análise das respostas dos alunos com base
nos Eixos Temáticos descritos no capítulo anterior. As explicações dos estudantes para
as problemáticas instauradas em cada parte das histórias problematizadoras 1 e 2 e para
os questionamentos durante as entrevistas estão dispostas de acordo com os “Tipos de
respostas”.
Tabela 1 - Eixo temático 1 – Contatos dos alunos com o céu segundo entrevistas inicial e final.
Respostas dos
Respostas dos
alunos para
SUB-EIXOS Tipos de respostas alunos para a
entrevista
entrevista final
inicial
1.1.1. Sim 20 (66,6%) 7 (53,84%)
1.1. Hábitos de
1.1.2. Não 5 (16,6%) 5 (38,46%)
observar o céu
1.1.3. Pouco 5 (16,6%) 1 (7,7%)
1.2.1. Noite 12 (40%) 4 (30,76%)
1.2.2. Dia 7 (23,3%) 4 (30,76%)
1.2. Horário em que
1.2.3. Dia e noite 6 (20%) 2 (15,38%)
observa o céu
1.2.4. Não observam 4 (13,3%) 3 (23,1%)
1.2.5. Irrelevante 1 (3,3%) 0 (0%)
1.3. Companhia para 1.3.1. Sim 9 (30%) 4 (30,76%)
observar o céu 1.3.2. Não 21 (70%) 9 (69,24%)
Total de participantes: 30 15
Fonte: a autora.
Paulo: Quando eu tô brincando. Quando a minha mãe fala pra eu ficar quieto, aí eu
vejo.
Fátima: Quando eu tô dormindo, aí minha mãe deixa a janela aberta e eu fico olhando
o céu.
Constatamos, nas respostas de alunos para a entrevista inicial, que doze crianças
observavam o céu durante a noite; sete durante a manhã; seis durante os dois períodos,
noite e manhã; quatro não observavam; e um irrelevante. Estas respostas foram
complementadas com respostas dos alunos sobre o que veem no céu. Os doze alunos
que disseram observar o céu noturno afirmaram ter visto a Lua, nuvens, estrelas,
pássaros e Deus. Em relação aos sete que observavam o céu durante a manhã, eles
viram o Sol e nuvens. Aqueles que afirmaram ver durante a noite e a manhã observaram
nuvens, estrelas, céu e passarinhos; apesar de quatro crianças afirmarem não
observarem o céu, disseram que já viram nuvens, Deus, avião, estrelas, Sol e a Lua.
Estes dados vão ao encontro com o que Tignanelli (1997) constata em sua pesquisa com
crianças de cinco e seis anos, as quais disseram ter visto os mesmo elementos que os
alunos desta pesquisa.
Além disso, verificamos que duas crianças afirmaram terem visto Deus,
enquanto Carolina garante que sua mãe observa o céu, justificando que isso ocorre
devido à crença que possui, pois diz: “Eu não olho muito não. Minha mãe que mostra o
céu pra mim, ela é evangélica”. Estes dados podem ser comparados aos de Albrecht
(2008), que percebeu que muitos alunos utilizam explicações a partir do enfoque
religioso. É importante destacar a observação do autor, pois percebemos que o céu é
entendido e visto de diferentes maneiras, seja do ponto de vista do astrônomo, do
astrólogo, da criança e do religioso.
Vygotsky (1935) já havia apontado para a importância do entorno na
constituição humana e que este é compreendido a partir de diferentes pontos de vista, ou
seja, cada um tem uma compreensão particular do que percebe ao seu redor. Assim, é
natural que as crianças relacionem o céu com a figura que constroem a respeito de Deus,
pois em diferentes religiões o céu é figurativamente ou até explicitamente representado
como a morada de Deus.
Enquanto na entrevista inicial os alunos citaram diversos elementos, tais como
pássaros, avião e Deus, durante a entrevista final, as respostas se limitaram aos astros,
pois tanto os alunos que disseram observar o céu durante o dia ou a noite, ou nos
respectivos horários, afirmaram terem visto nuvens, Sol, Lua, estrelas e estrela cadente,
em nenhum momento citaram objetos ou animais.
Acreditamos que isso ocorreu devido ao fato de os alunos já compreenderem
sobre o que nós pesquisadores tratávamos, pois durante as contações de Histórias
Problematizadoras abordamos, essencialmente, sobre o Sol e a Lua. Os alunos,
69
Sol
Fonte: a autora.
71
Este dado pode ser comparado ao que Kallery (2011) encontrou em sua
pesquisa, em que as crianças participantes utilizavam, para designar o Sol, diferentes
termos como círculo, redondo, esfera e bola. Apesar de nenhuma das crianças
envolvidas nesta pesquisa terem trazido o termo “esfera”, ideia que se aproxima de uma
melhor definição para a forma daquele astro, houve um aluno, Rodrigo, que afirmou ser
o Sol uma estrela. Segue abaixo seu desenho e sua fala com a pesquisadora:
Sol
Menino
Céu
Borboleta
a
Fonte: a autora.
A segunda parte da história teve como objetivo que as crianças verificassem que
ocorre mudança na posição do Sol, no céu, no decorrer do tempo. No transcorrer da
primeira parte da história, ao observarmos o céu com as crianças, marcamos o ponto em
que o Sol estava naquele momento, usando elementos do entorno como referência. No
dia seguinte, no momento de observação, duas horas mais tarde do que no dia anterior
da segunda parte, retomamos este dado com os alunos, os quais perceberam que a
localização se diferenciava da do dia anterior.
73
B C
D
Fonte: a autora.
Pesquisadora: Como a borboleta vai entender, que o Sol mudou de lugar olhando seu
desenho?
Vivian: O Sol tava aqui ontem (aponta para o lado C) e hoje ele tá aqui (aponta para o
lado B).
Sol
B C
Fonte: a autora.
Tabela 3 - Eixo Temático 2 - Conhecimentos revelados durante o trabalho com a História Problematizadora 1.
SUB-EIXOS Tipos de Respostas Respostas dos Total de alunos
alunos participantes
2.2.1. Uso de explicações a partir 3 (10,8%)
de crença religiosa
2.2.2. Uso de explicações a partir 10 (35,7%)
2.2. Movimento de elementos externos 28
aparente do Sol 2.2.3. O Sol é animado
2.2.4. Explicações imprecisas 5 (17,8%)
2.2.5. Não sabe. 1 (3,5%)
9 (32,2%)
Fonte: a autora.
analisarmos estes dados, percebemos que as crianças empregam aspectos de suas vidas
cotidianas para explicarem o que acontece ao seu redor, neste caso, o movimento
aparente do Sol. Três crianças relacionaram a causa do movimento aparente do Sol com
suas crenças religiosas, assim como exemplificam as seguintes falas:
Mais uma vez, como foi discutido a respeito dos hábitos dos alunos de
observarem o céu, estes dados podem ser comparados aos de Albrecht (2008), que
ressaltou a utilização de explicações a partir do enfoque religioso, e mais uma vez
salientamos que o entorno, neste caso o céu, é entendido de diferentes formas, a partir
da compreensão particular de cada um (VYGOTSKY, 1935), inclusive do ponto de
vista religioso.
Além disso, percebemos que as crianças se utilizam de explicações a partir de
fatores externos, ou seja, dez alunos acreditam que o Sol se desloca devido ao vento ou
por interferência da Lua, conforme as falas exemplificam:
Tabela 4 - Eixo temático 2 - Conhecimentos revelados durante trabalho com a História Problematizadora 1.
SUB-EIXOS Tipos de respostas Respostas dos Total de alunos
alunos participantes
2.3.1. O Sol gira em torno da Terra 3 (14,3%)
2.3.2. A Terra se movimenta, ainda
2.3. Ideias gerais que com imprecisões a respeito do 13 (61,9%)
sobre o movimento movimento 21
aparente após 2.3.3. Uso de explicações a partir
instrução de elementos externos 2 (9,5%)
2.3.4. Não respondeu
3 (14,3%)
Fonte: a autora.
Após a construção dos desenhos e o registro da fala dos estudantes, foi possível
constatar que entre as 21 crianças presentes neste dia, treze afirmaram reconhecer que,
na verdade, não é o Sol quem descreve uma trajetória no céu, e sim o planeta que gira
em torno de seu eixo, assim como Vivian e Rodrigo disseram:
Vivian: Aprendi que o Sol não anda e nem tem perna, ele fica parado e o mundo passa
ao redor dele e ele começa a andar (refere-se ao movimento aparente do Sol).
Rodrigo: Ele (Sol) é muito quente e não dá pra olhar pra ele, só dá um pouquinho. Ele
só fica parado.
Pesquisadora: E por que nós o vimos em posições diferentes?
Rodrigo: Porque é a Terra que gira.
Tabela 5 - Eixo Temático 3 – Conhecimentos revelados segundo entrevista inicial e final sobre o Sol.
Respostas Respostas
dos alunos dos alunos
SUB-EIXOS Tipos de Respostas para para a
entrevista entrevista
inicial final
3.1.1. Localizam o Sol 10 (33,3%) 0 (0%)
3.1. Localização 3.1.2. Não localizam o Sol 15 (50%) 12 (92,3%)
momentânea do Sol 3.1.3. Indeciso 4 (13,4%) 0 (0%)
3.1.4. Não sabe 1 (3,3%) 1 (7,7%)
Total de participantes: 30 13
Fonte: a autora.
deste estudo, eles não sabiam apontar onde estava o astro, pois se tratou de uma resposta
baseada em mera sorte.
Tabela 6 - Eixo Temático 3 – Conhecimentos revelados segundo entrevista inicial e final sobre o Sol.
Respostas dos Respostas dos
SUB-EIXOS Tipos de Respostas alunos para alunos para a
entrevista inicial entrevista final
3.2.1. O Sol muda de lugar 23 (76,6%) 10 (76,9%)
3.2. Localização 3.2.2. O Sol permanece no 6 (20%) 2 (15,4%)
do Sol após duas mesmo lugar
horas 3.2.3. Indeciso 1 (3,3%) 0 (0%)
3.3.4. Não sabe 0 (0%) 1 (7,6%)
Total de participantes: 30 13
Fonte: a autora.
Algumas explicações ainda se basearam em efeitos externos, assim como ilustra as falas
abaixo:
Sara: É que o Sol vai prá lá (aponta com o dedo, fazendo um movimento de sul a
norte), porque vem a chuva e a chuva vem pra cá (aponta novamente para o lado norte).
Se não chover, o Sol fica no mesmo lugar.
Paulo: Ele (o Sol) vai atrás da Lua, esperando chegar... a Lua ir embora pra ele
aparecer.
Arthur: Todo lugar que eu vou, a Lua anda pra um lugar e pra onde eu vou o Sol está.
Vinícius: O vento empurrou ele (sopra com a boca). O vento, todo dia que eu vejo o
Sol, toda vez que tem um pouquinho de vento, eu acho que o vento é tão forte, tão forte,
que ele muda de lugar.
Isto nos demonstra que as crianças puderam, em sua minoria, ampliar a maneira
com que explicam a realidade. A fala de Luciano indica que o trabalho com as histórias
problematizadoras proporcionou esta informação ao dizer que se lembrava da
explicação dada pela pesquisadora.
A última questão feita aos alunos requeria deles a localização do Sol em três
momentos distintos do dia, no momento em que eles acordam; quando vão até a escola,
considerando que estudam no período vespertino; e no momento em que saem da
escola. Desta forma, obtivemos as seguintes respostas, conforme tabela 7:
Tabela 7 - Eixo Temático 3 – Conhecimentos revelados segundo entrevista inicial e final sobre o Sol.
Respostas dos Respostas dos
SUB-EIXOS Tipos de respostas alunos para alunos para a
entrevista inicial entrevista final
3.3.1. O Sol desloca-se de 6 (20%) 4 (30,8%)
um lado do horizonte até o
ponto central
3.3.2. O Sol permanece em 2 (6,6%) 1 (7,6%)
3.3. Movimento um mesmo lado do
aparente do Sol horizonte
no céu 3.3.3. O Sol descreve uma 10 (33,3%) 4 (30,8%)
trajetória sem uma ordem
lógica
3.3.4. O Sol descreve uma 12 (40%) 4 (30,8%)
trajetória sequencial
Total de participantes: 30 13
Fonte: a autora.
82
De acordo com a tabela, podemos verificar que a maior parte dos alunos não foi
capaz de desenhar mais de uma fase da Lua. Todos os treze desenhos enquadrados neste
tópico de análise apresentaram a Lua redonda e alguns alunos a descreveram como
cheia. Apenas três alunos desenharam, pelo menos, duas fases, que são a “Lua redonda”
ou cheia e a “meia Lua”, assim como exemplificam os desenhos e fala dos alunos:
Fonte: a autora.
84
Lua
Fonte: a autora.
Fonte: a autora.
Fonte: a autora.
86
Lua
linguante
Luas
Fonte: a autora.
Lua
brilhante da
história
Lua cheia
Meia Lua
Fonte: a autora.
distinguir a diferença entre as fases crescente e minguante, ou seja, eles acreditam ser a
mesma aparência.
Por conseguinte, em relação aos tipos de respostas “relaciona o aspecto da Lua
com as cores” e “personifica a Lua”, foi possível notar que dois alunos relacionaram as
formas da Lua com cores e outros dois a desenharam em forma humana. A primeira
parte da história faz uma analogia das fases da Lua com roupas, como se o astro as
trocasse a cada dia que o vemos no céu. Desta forma, acreditamos e levantamos a
hipótese de que os alunos que responderam a questão demonstrando que ora a Lua se
apresenta azul, por exemplo, ora amarela, podem não ter compreendido a analogia entre
forma e roupa e responderam no sentido literal, pois a personagem Lua descrevia sua
fase cheia como um vestido branco, redondo e brilhante. Arriscamos também afirmar
que estes estudantes ainda não haviam percebido que a Lua se apresenta com diferentes
aspectos no céu. Estes dados podem ser ilustrados a partir das falas e desenhos dos
estudantes em questão:
Fonte: a autora.
Fonte: a autora.
Além disso, percebemos que três alunos confundem a Lua com nuvem.
Conforme seus relatos, não há uma clara distinção entre o que é nuvem e Lua e até
mesmo demonstram que não sabem o que é a Lua, conforme ilustram os desenhos e
falas dos alunos:
90
Lua
Fonte: a autora.
Fonte: a autora.
91
Fonte: a autora.
é mais significativo do objeto tal como alguns desenharam a Lua cheia, outros a meia
Lua e alguns preferiram destacar as cores.
b) Sub-eixo 4.2. A Lua pode ser vista em que horário (antes da instrução)
Nossa hipótese era a de que a maior parte dos alunos acreditava que a Lua
poderia ser vista apenas durante o período da noite, entretanto, diante das informações
coletadas na segunda parte da contação de história, apenas dez alunos acreditam nesta
proposição. Podemos exemplificar com as seguintes falas e desenhos dos alunos:
93
Fonte: a autora.
Fonte: a autora.
94
Fonte: a autora.
Apesar de 43% dos alunos acreditarem que a Lua pode ser vista apenas durante
o período da noite, 52% afirmaram ser possível observá-la durante diferentes períodos.
Acreditamos que isto ocorre devido ao fato de que as crianças olham para o céu.
Conforme já discutimos, percebemos que a maioria das crianças olha para o céu, mas
que não o observa com o olhar criterioso de tentar entendê-lo, mas de fato o enxergam.
Deduzimos, portanto, que a percepção de um pouco mais da metade dos alunos sobre a
possibilidade de observarmos nosso satélite natural em diferentes momentos se dá pelo
fato de que olham para o céu, ou seja, de alguma forma, menos criteriosa, percebem a
Lua e reconhecem verdadeiramente que ela está visível em diferentes momentos.
c) Sub-eixo 4.3. A Lua pode ser vista em que horário (após instrução)
Pesquisadora: Pessoal, a Dona Lua disse que estava no céu ontem... (ocasião em que
não havia Lua visível).
Fátima: Não tava! Mentira!
Pesquisadora: Será que ela está mentindo pra gente?
Alunos: Tá!
Sara: Tia, ela não tava porque a nuvem tampa ela.
Vinícius: O Sol é tão forte, forte, que não deu pra ver. Ela tava no céu ontem.
Marina: Eu já vi uma Lua de dia, só que ela fica bem clarinha.
Tadeu: Eu também já.
Pesquisadora: Por que será que ela fica bem clarinha?
Tadeu: Por causa do Sol.
Heitor: Por que o Sol tava bem quente.
Pesquisadora: E o que vocês acham de irmos lá fora conferir de novo?
Alunos: Vamos!
Joaquim: Ela tá mentindo.
Fátima: Ahã! Ela é mentirosa!
Convidamos as crianças até o pátio para observarem o céu e encontrarem a Dona Lua.
Fonte: a autora.
Fonte: a autora.
99
Mesmo apesar da explicação dada aos alunos sobre o movimento dos astros,
algumas das crianças mantiveram suas crenças apontando que a causa do movimento
são as nuvens e o vento. Além disso, houve quatro alunos que explicaram que a Lua se
movimenta por vontade própria, atribuindo-lhe características humanas, assim como os
dados encontrados por Piaget (1975) e Vosniadou e Brewer (1990), tal como ilustram as
respostas:
Fonte: a autora.
Fonte: a autora.
Fonte: a autora.
Lua
Planeta
Fonte: a autora.
102
Fonte: a autora.
Tabela 11 - Eixo temático 5 – Conhecimentos revelados durante as entrevistas inicial e final sobre a Lua.
Respostas dos Respostas dos
SUB-EIXOS Tipos de Respostas alunos para alunos para
entrevista inicial entrevista final
5.1.1. Descreve ou desenha 24 (80%) 6 (46,2%)
apenas uma forma
5.1.2. Descreve ou desenha pelo 3 (10%) 6 (46,2%)
5.1. Aspecto
menos duas fases
da Lua
5.1.3. Confunde a Lua com 2 (6,6%) 1 (7,6%)
nuvem
5.1.4. Desenho com imprecisões 1 (3,4%) 0 (0%)
Total de alunos participantes: 30 13
Fonte: a autora.
Uma das possíveis respostas para o fato dos estudantes explicarem o formato da
Lua se utilizando de símbolos é em razão da utilização de seus conhecimentos prévios
para explicarem algo ainda desconhecido. Trata-se de um processo, que dirá método,
utilizado por crianças e adultos de explicarem o que ainda é inexplicável por meio
daquilo que já é de seu conhecimento.
Desta forma, para explicar o formato de “meia Lua”, o que ainda é
incompreensível para a maior parte das crianças; e para alguns adultos também, assim
como Andrade, Araújo e Neuberger (2009) constataram em sua pesquisa, os estudantes
buscam em sua memória figuras cuja referência lembra o formato de “meia Lua” como,
por exemplo, uma banana.
Outra possível explicação é a utilização pelos indivíduos de referências já vistas
em outras mídias, como televisão e cinema, onde se verificou a apresentação lúdica de
um assunto para explicar aquilo que ainda não faz parte de sua compreensão, como, por
exemplo: explicar que a lua é feita de queijo, pois o aluno viu em um desenho animado
tal representação visual.
Os dados presentes na tabela 11 demonstram que após a participação dos alunos
nas histórias problematizadoras, houve diminuição dos estudantes que percebiam o astro
de apenas uma forma e, consequentemente, aumento dos estudantes que passaram a
descrever a Lua com pelo menos duas fases. Visualiza-se, ainda, que o número de
desenhos com imprecisões zerou e houve diminuição dos participantes que relacionaram
o astro com nuvem. Desta forma, é possível inferir que houve um aumento na variedade
de respostas e na percepção, pelos alunos, que a Lua modifica sua aparência no céu.
Levantamos como hipótese que a maior parte dos educandos acreditava que o
astro só é visível durante a noite. Desta forma, os questionamos em qual horário é
possível observar a Lua. Os resultados obtidos estão elencados na tabela 12:
105
Tabela 12 - Eixo temático 5 – Conhecimentos revelados durante as entrevistas inicial e final sobre a Lua.
Respostas dos alunos Respostas dos alunos
SUB-EIXOS Tipos de Respostas para entrevista para entrevista final
inicial
5.2. Em que 5.2.1. Dia 6 (20%) 0 (0%)
horário observa a 5.2.2. Noite 22 (73,4%) 4 (30,7%)
Lua 5.2.3. Dia e noite 2 (6,6%) 9 (69,3%)
Total de alunos participantes: 30 13
Fonte: a autora.
Estes dados nos demonstram que a maior parte dos alunos, durante a entrevista
inicial, acreditava que a Lua só poderia ser observada durante a noite, diferentemente do
que ocorreu quando os educandos participaram da 2° e 3° partes da contação de História
Problematizadora 2: “Lico e suas descobertas sobre a Lua” e da entrevista final, em que
o número de alunos que ainda acreditavam nesta hipótese foi reduzido.
Desta forma, é imprescindível destacar que a mudança de ideias dos alunos a
respeito do tema foi significativa após participarem deste trabalho que tem como
recurso a observação do ambiente externo. Eles puderam observar e averiguar que suas
ideias iniciais estavam incorretas ao se depararem com a Lua visível durante o dia
também. Como pode ser notado, poucos alunos, quatro apenas, ainda mantiveram suas
opiniões sobre o nosso satélite natural ser visível apenas durante a noite, enquanto todo
o restante dos entrevistados relataram que isto também é possível durante os dois
períodos.
Entregamos aos alunos uma imagem de Lua num cenário urbano durante a noite
e os questionamos sobre onde estaria o astro naquela imagem duas horas mais tarde.
Para responderem esta questão, os estudantes apontaram com o dedo a possível posição
do nosso satélite natural, demonstrando o mesmo lugar em que permanecia na foto, para
indicar que não mudou de posição ou uma variedade de lugares apontados na foto para
apresentar sua alteração de seu arranjo no céu. Os dados obtidos podem ser visualizados
na tabela 13:
106
Tabela 13 - Eixo temático 5 – Conhecimentos revelados durante as entrevistas inicial e final sobre a Lua.
SUB-EIXOS Tipos de respostas Respostas dos Respostas dos
alunos para alunos para
entrevista inicial entrevista final
5.3.1. Sim 20 (66,6%) 11 (84,6%)
5.3. A Lua muda de
posição no céu? 5.3.2. Não 10 (33,4%) 2 (15,4%)
Conforme a tabela nos demonstra, a maior parte dos alunos, tanto na entrevista
inicial (66,6%) quanto na final (84,6%), acreditam que a Lua muda sua posição. Além
disso, verificamos notadamente o aumento desse número após o trabalho com as
histórias problematizadoras, as quais proporcionaram aos alunos a observação desse
astro e principalmente, a diferença de sua localização em diferentes momentos do dia.
Como visto anteriormente, os alunos foram questionados se observavam o céu. Os
dados obtidos demonstraram que a maioria dizia que observava, no entanto, analisando
suas justificativas, verificamos que eles não observavam os astros e seus fenômenos. Os
dados coletados no momento das entrevistas nos permitem concluir que os alunos
enxergam o céu e de alguma maneira percebem algumas mudanças, mas não o
analisam. Mesmo que este ato de observar o céu seja mínimo, tal fato demonstrou para
nós que ele pode trazer alguns conhecimentos prévios aos alunos e que o trabalho destas
ideias pode aproximar o aluno de explicações mais precisas sobre aquilo que enxergam,
tal como os conhecimentos científicos.
Tabela 14 - Eixo temático 5 – Conhecimentos revelados durante a entrevista final sobre a Lua.
Respostas dos
SUB-EIXOS Tipos de respostas alunos para
entrevista final
5.4.1. Uso de explicações a partir de 4 (30,7%)
elementos externos
5.4. Movimento 5.4.2. A Lua é personificada 5 (38,5%)
aparente da Lua 5.4.3. Não respondeu 2 (15,4%)
5.4.4. Relaciona os movimentos Terra-Lua, 2 (15,4%)
porém com algumas imprecisões
Total de alunos participantes: 13
Fonte: a autora.
Desde a entrevista inicial, é possível observar que a maior parte dos alunos já
havia percebido que a Lua nem sempre está no mesmo lugar que a vemos todos os dias.
Entretanto, mesmo após a instrução realizada ao final da última parte da contação de
história, obtivemos diferentes justificativas para este fenômeno. Ainda houve os alunos
que se utilizaram de justificativas, tais como a interferência do vento, e das nuvens na
mudança de posição da Lua e também aqueles que deram vida ao astro, o qual se
locomove pelo céu por vontade própria, assim como já apontamos não só para a Lua
como também para o Sol. As seguintes falas ilustram esta situação:
Como não era esperado, apenas dois educandos apoiaram suas respostas no
movimento dos astros, assim como ilustram suas falas:
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos dados nos permitiu observar que grande parte dos conhecimentos
revelados pelos alunos nesta pesquisa se assemelha aos dados apontados nas diferentes
pesquisas aqui referenciadas. Com exceção aos dados de Plummer (2009), que afirma
que as crianças pouco observam o céu, verificamos que a maior parte dos alunos
participantes das contações de história demonstrou o contrário.
Em síntese, podemos citar os conhecimentos que se equipararam aos das
pesquisas, os de: Tignanelli (1997) em que as crianças não observam apenas objetos de
natureza astronômica no céu, mas também objetos de naturezas biológicas,
atmosféricas, artificiais e fantásticos; Albrecth (2008) que destacam que os alunos se
utilizam de explicações a partir do enfoque religioso; Plummer (2009) ao afirmar que as
crianças não possuem companhia para observarem o céu; Kallery (2011), ao afirmar que
os educandos designam o Sol a partir de termos como círculo, esfera, redondo e bola;
Piaget (1975), em que os estudantes explicam o movimento do Sol e da Lua a partir de
elementos externos; ou como os de Sharp (1996) e Darroz, Pérez e Rosa (2011) que
demonstraram que os alunos utilizam termos comparativos para descrever o formato da
Lua.
Tivemos como propósito responder a seguinte pergunta: que conhecimentos de
estudantes do 2° ano do Ensino Fundamental, sobre o movimento aparente do Sol e da
Lua, são modificados, ao participarem das contações de histórias problematizadoras
envolvendo tais temas? Desta forma, entendemos que, ao final do trabalho, a maior
parte das crianças passou a perceber que: o Sol muda sua posição ao longo das horas; a
Lua apresenta diferentes aspectos, pode ser vista tanto durante o dia quanto durante a
noite, e descreve um movimento no céu.
Podemos inferir que estes conhecimentos, possivelmente, foram ampliados em
virtude de observações externas realizadas durante as contações de histórias, pois as
crianças puderam visualizar determinados fenômenos. Os dados aqui analisados não nos
permitem afirmar que as crianças modificaram seus conhecimentos prévios,
apresentados no início da pesquisa para conhecimentos científicos consolidados, mas
que foram transformados para uma nova forma de compreender a realidade e de
descrevê-la ainda a partir de termos cotidianos.
110
representam o espaço em primeiro plano, como por exemplo, o desenho do céu pode
chegar a tocar a terra, isto ocorre devido à falta de perspectiva, habilidade em
desenvolvimento nesta faixa etária. Por isso, se considerássemos apenas os desenhos
dos estudantes, as respostas aos problemas engendrados estariam incorretos. Durante a
análise da fala foi possível identificar o pensamento e a verbalização das crianças sobre
a temática discutida pelas histórias. Dentre as limitações deste estudo, podemos destacar
que o trabalho com as contações de histórias problematizadoras exigiram dos alunos
muitas produções gráficas, o que transpareceu por parte deles como algo cansativo de se
realizar.
Dentre os diferentes momentos das contações de histórias problematizadoras,
percebemos que a observação do ambiente externo e os momentos de instrução, ou seja,
de explicação sobre como os fenômenos de movimento aparente dos astros ocorrem, se
constituíram de maneiras diversas. O primeiro demonstrou afetar de maneira mais
efetiva a compreensão dos alunos. As contações de histórias problematizadoras se
mostram da melhor forma quando proporcionam aos alunos momentos em que é
possível saírem da sala e participarem de atividades direcionadas ao ambiente externo,
em que não só escutam e assimilam determinada informação, mas participam
ativamente e visualizam o que as histórias propõem apreender.
Acreditamos que o desempenho das histórias sem as observações poderia ser
afetado significativamente, tendo em vista que esta prática se constituiu como
diferencial para o ensino de conceitos abstratos e que muitas vezes são de difícil
compreensão por parte dos alunos, inclusive na faixa etária em questão. Verificou-se,
ainda, maior atenção e curiosidade dos alunos após a participação destes momentos.
Estas conclusões são possíveis de exemplificar quando verificamos que a
mudança de ideias dos alunos a respeito do horário em que a Lua pode ser vista no céu,
pois após participarem deste trabalho, eles puderam observar e constatar que suas ideias
iniciais estavam incorretas ao se depararem com a Lua visível durante o dia. Como pode
ser notado, poucos alunos, quatro apenas, ainda mantiveram suas opiniões sobre o nosso
satélite natural ser visível apenas durante a noite, enquanto todo o restante dos
entrevistados relataram que isto também é possível nos dois períodos.
Concluímos, portanto, por meio dos conhecimentos demonstrados pelos
estudantes, que trabalhar os movimentos aparentes do Sol e da Lua a partir das
contações histórias problematizadoras, ainda que se mostre como uma possibilidade,
revelou ser um caminho complexo.
112
REFERÊNCIAS
BIZZO, N. Graves erros de conceito em livros didáticos de ciência. Ciência Hoje, Rio
de Janeiro, v. 121, n. 21, p. 26-35. Jun. 1996.
HEWLLET, C. A ciência das histórias. In: FOREMAN, J.; HEWLETT, C.; RODEN, J.;
WARD, H. Ensino de ciências. Porto Alegre: Artmed, 2010.
KEOGH, B.; DOWNING, B.; MALONEY, J.; NAYLOR, S.; SIMÃO, S. Puppets
bringing stories to life in science. Primary Science Review, London, 92, 2006.
Disponível em: <http://www.puppetsproject.com/documents/psr-2006-puppets.pdf>.
Acesso em: 20 mar. 2012.
KLEIN, C. A. Children’s concepts of the Earth and the Sun: a cross cultural study.
International Journal of Science Education, London, v. 65, n.1, p. 95-107, 1982.
LINSINGEN, L. von. Alguns motivos para trazer a literatura infantil para a aula de
ciências. Ciência & Ensino, Campinas, v. 2, n. 2, p.1-8, jun. 2008. Disponível em:
<http://www.ige.unicamp.br/ojs/index.php/cienciaeensino/article/view/190/143>.
Acesso em: 21 mar. 2012.
LOWY, M. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista. São
Paulo: Cortez, 2010.
NEVES, M.C.D.; GARSENAI, L.R. O mago que veio do céu. Maringá: EDUEM,
1998.
TREVISAN, R. H. (et al). Uma estrela chamada Sol. Londrina: Eduel, 2009a.
TREVISAN, R. H. (et al). O que pensa a Via Láctea? Londrina: Eduel, 2012c.
118
THOMAZ, S.P. A história da sombra de João (como a luz solar incide sobre nosso
planeta). Belo Horizonte: Formato editorial, 2000.
Entrevista Inicial
Entrevista Final
Dados gerais:
1. Desenhe o Sol.
2. Neste momento você saberia me dizer onde o Sol está localizado? Aponte com o
dedo. (Obs: a criança estava sentada de frente para o lado leste)
3. E daqui a 2 horas? Onde ele estará? Aponte com o dedo.
4. Veja estas figuras. Coloque aqui a que você acha que mostra onde o Sol está no
céu logo pela manhã. Depois, a que representa a posição do Sol quando for por
volta do horário que você está chegando à escola. Por fim, coloque aqui aquela
que mostra onde está o Sol quando você está voltando para casa.
Exemplo de figuras:
4. Veja estas figuras (utilizamos uma figura de uma paisagem durante o dia e outra
durante a noite). Em qual delas você colocaria uma dessas luas (recortes de
papel no formato de Lua cheia e meia Lua)?
5. Depois de 7 dias com qual das imagens a Lua se parecerá?
6. E agora, lá fora. Você acha que é possível encontrá-la?
7. Veja esta foto da Lua que foi feita aqui em Uberlândia. Esta foto foi feita às 8h
da noite. Se eu voltar nesse lugar, na mesma noite, mas às 10h , onde estará a
Lua?
Parte I
Boa tarde pessoal! Meu nome é Lico e tenho uma história para contar a vocês.
Certo dia, decidi fazer um piquenique, mesmo que nenhum de meus colegas quisesse ir
comigo. Até convidei Sissi e Juca para irem também, afinal, estava um belo dia de
primavera.
A mãe de Sissi não havia deixado a menina ir, porque eu queria fazer o
piquenique num lugar um pouco longe de onde elas moravam. É que eu gosto daquele
lugar, pois é muito tranqüilo e bonito, além disso, quase ninguém conhecia as belezas
que tem por lá. O Juca também não pôde ir, pois bem naquele dia ele iria viajar com seu
primo para a fazenda de seus avós.
Então decidi que iria sozinho mesmo. Eu já tinha até comprado os lanches e o
suco para o passeio. Saí logo de manhãzinha para chegar logo ao bosque que eu tinha
descoberto. Lá tinham muitas árvores, com um belo gramado verdinho, onde podia me
deitar e ficar observando os pássaros que ali iam para bicar as frutas maduras.
Vi um beija-flor minúsculo que voava em torno das flores ali presentes, e
parecia que gostava muito do cheiro delas; vi um pica-pau que pulava de galho em
galho buscando insetos para matar sua fome; vi um besouro que subia lentamente pelo
tronco de uma jabuticabeira, e que parecia estar muito cansado, pois a subida era difícil
para ele...
Estava tranquilo e aproveitava meu tempo para observar cada detalhe daquele
bonito lugar que descobri. Deitado na grama verde, olhei para a copa das árvores, e
percebi um estranho objeto que piscava e fazia um movimento estranho. Então pensei:
- Que estranho! Será que é um vaga-lume? Mas eu nunca vi vaga-lume durante o
dia! Nem mesmo vi um que pisca com luz vermelha!
Além da luzinha vermelha que ele tinha, o estranho objeto também fazia um
movimento de vai e vem e um barulho que parecia um ventiladorzinho. Fiquei intrigado
com aquilo, pois nunca vi algo parecido. Se pelo menos Sissi e Juca estivessem comigo,
eu poderia perguntar a eles se conheciam aquele estranho ser. Achei que fosse ficar com
medo de estar ali sozinho, mas estranhamente, me senti muito tranqüilo.
O estranho objeto começou a girar e a descer da árvore. Comecei a perceber que
se tratava de uma borboleta, mas era diferente daquelas que conhecemos. Fiquei
123
impressionado com o brilho que ela tinha, e como ela girava rápido suas asas. Por isso,
parecia que ela piscava! A borboleta desceu, desceu, até que pousou sobre a grama
verde onde estava deitado. Fui me aproximando bem devagarzinho dela, com medo que
voasse. Mas ela não voou, e pude olhar bem de perto minha nova descoberta.
Para minha surpresa, ela tinha uma cabecinha bem redonda com dois olhinhos
que estavam fechados. Suas anteninhas pareciam de rádio, e faziam um barulhinho
como um bip bip....
Deitei-me na grama e olhei cada vez mais de perto aquele estranho animalzinho.
Quando ele estava com o rosto quase junto ao da estranha borboletinha, tomei um susto!
A borboleta começou a falar comigo. Era uma língua estranha e o som parecia vir de
suas anteninhas, que eram pequenas, mas muito potentes. Eu tentava entender o que ela
falava, mas não conseguia, ela dizia mais ou menos assim: Krim trio frau brim? Frau
brim?
- E eu perguntava assustado, o quê?
Ela começou a mexer suas antenas, para ajustar sua fala para a língua
portuguesa. Continuei vendo aquela estranha borboleta, que também não parava de
brilhar e girar as asas como um helicóptero. Estranho é que ela não abria os olhos. De
repente ela disse: porque aqui é tudo tão brilhante? Eu não consigo abrir meus olhos.
Respondi: aqui é brilhante e claro porque é dia. Se fosse noite, não teria tanto
brilho!
A borboletinha mexeu mais um pouco em suas antenas e voltou a falar: eu não
sei o que é esse negócio de dia que você falou. De onde eu venho nada atrapalha eu
abrir os meus olhos.
- E de onde você vem? Perguntei.
A borboletinha me disse que vinha de outro mundo, de um lugar muito bonito
chamado de Borbo... como é mesmo??? Ah... Borbotério! Além disso, disse que lá
também tem árvores para brincar, tem vento que carrega a gente e nos dá rodopio, tem
flores que podemos tocar com as antenas, mas lá ela consegue ver tudo, pois não tem
tanta luz como tem aqui! E me perguntou por que aqui brilhava tanto?
Respondi que já havia explicado, aqui é o planeta Terra, e nós estávamos durante
o dia! Mas ela insistia e perguntava o que tem nesse dia que o faz tão brilhante que ela
mal podia abrir olhos.
E vocês? O que responderiam para a borboleta? O brilha tanto?
124
Também expliquei que o Sol está no céu, mas a borboletinha parecia não
acreditar. Ela não sabia para que lado era esse tal de céu, pois no seu mundo, isso não
existe. Ela tentava abrir um pouquinho seus olhos para ver o que eu explicava. Cheguei
à conclusão que ela só entenderia sobre o brilho do sol e onde ela está, se eu mostrasse
isso à ela. E vocês? Sabem onde está o sol agora? Saberiam encontrá-lo? Vamos
procurá-lo?
Depois de ter mostrado o Sol para a borboletinha de outro mundo, disse que ia
dar um presente para ela. Como eu tinha levado meu caderno e meus lápis de cor, fiz
um belo desenho para ela, explicando o que é o Sol e onde ele está. Ela poderia levar
esse desenho para seu mundo, e explicar para as outras borboletas que vivem lá, porque
as coisas aqui são tão clarinhas durante o dia, e porque elas têm tanta dificuldade em
abrir seus olhos! E vocês? Vamos ajudar a fazer o desenho? O que você explicaria
nesse desenho?
125
Parte II
Fiquei aliviado de verificar que o Sol, realmente, não estava no mesmo lugar. Eu
não gostaria que a borboletinha pensasse que estivesse mentindo. Mas eu só não sabia
explicar porque o Sol mudava de lugar.
A borboletinha queria também que eu desenhasse isso em outra folha, que ela
também levaria para seu planeta. Suas amigas não iriam acreditar no que ela tinha
aprendido e visto por aqui. Seria ainda mais difícil ela conseguir levar duas folhas
consigo, mas ela se esforçaria muito; afinal, lá estavam as explicações sobre o Sol, seu
brilho e seu movimento pelo céu.
Parte III
Boa tarde pessoal! Vocês não se esqueceram da minha amiga borboletinha, não é
mesmo? Ela ficou muito feliz com os desenhos que vocês fizeram e me disse que vai
contar para suas amigas que aprendeu coisas interessantes sobre o planeta Terra, e o que
127
de mais diferente tinha por aqui, era esse tal de Sol, que tem tanto brilho, que seus olhos
mal conseguiam abrir.
Aliás, essa era uma curiosidade que ela tinha. De tanto brilho que tem o Sol,
ninguém consegue olhar para ele. E é verdade, pois quando olho para o Sol, meu olho se
fechava e dá até vontade de espirrar. O sol é muito brilhante até para os seres humanos.
Por isso não devemos olhar para ele, vocês sabiam?
Mas, por conta disso, a borboletinha tinha uma última dúvida: se ninguém
consegue olhar para o Sol, como nós sabemos o formato dele? Seria quadrado como
uma caixa? Seria comprido como uma salsicha? Seria redondo como uma laranja?
Como é o Sol? E vocês? Como acham que é o sol?
A borboletinha não poderia ir embora sem compreender isso, pois saberia que
suas colegas iriam perguntar a ela. Mas como ela iria responder isso, se ela não
conseguia nem abrir os olhos direito? Eu também sei que não podemos olhar para o Sol,
porque ele é muito brilhante e seu brilho também faz mal para seus olhos.
Como vamos responder isso para a borboletinha? Como ela poderia olhar
para o Sol sem fazer mal aos seus olhos? Vocês saberiam como ajudar Lico?
Vocês não sabem o que aconteceu, me lembrei que meu tio Valdo, um famoso
cientista da cidade, tem poderosos óculos para observar o Sol. Só quem tem aqueles
óculos especiais é que podem olhar para o Sol sem ser afetado por seu brilho.
A borboletinha resolveu esperar e fui correndo até a casa do meu tio buscar os
óculos. A borboletinha ficou ali sentada esperando. A borboletinha já estava desistindo
e pensando em ir embora por causa da minha demora. Quando estava acelerando suas
asas para ir embora, ela me ouviu gritando para que esperasse.
Finalmente ela veria o formato do Sol sem o brilho que tanto mal fazia aos seus
olhos e ao de todo mundo. Assim, coloquei cuidadosamente os óculos na borboletinha,
pois seu rostinho era muito pequeno! E então, a borboletinha pôde olhar para o Sol. E
sabe o que ela viu? E vocês? O que acham que ela viu? Vamos ver também?
Pausa para observação: As crianças vão até o pátio para observarem onde o
Sol com óculos específico para este tipo de atividade, com o intuito de verificar sua
forma. Assim que todas as crianças o observarem, retornam novamente para o desfecho
da história.
128
Narrador: O menino Lico era um garoto muito esperto e atencioso. Ele gostava
de passear e em seus passeios ele conversava com as plantas, ouvia o canto dos
pássaros, brincava com os outros animais e desenhava no chão as nuvens que via no
céu. Um dia, Lico sentou-se debaixo de uma linda árvore e lá ficou escutando o canto
dos pássaros e leve ruído que vinha de um pequeno riacho que passava ali perto. O
menino foi sentindo sono...
Lico: _Hum, que lugar agradável, até me deu um soninho!
Narrador: e aos poucos adormeceu, ali mesmo sobre a verde grama. Lico
dormiu tranquilamente... e teve um sonho muito interessante. Ele sonhou que estava
passeando à noite pelo campo, conversando com os pequenos grilos e brincando de
esconder com a joaninha. De repente, ele ouviu uma suave voz, parecida com algodão,
que lhe chamou:
Dona Lua: _Lico! Ei, Lico! Olhe aqui para mim!
Narrador: Lico procurava por todos os lados e não encontrava quem estava lhe
chamando.
Lico: _ Que voz é essa? Quem está me chamando?
Narrador: A voz ainda mais macia, continuou a lhe convidar:
Dona Lua: _Ei, sou eu, Lico! Aqui em cima! A Dona Lua!
Narrador: Lico olhou para cima e viu que era a Lua que estava querendo
conversar com ele. Ela estava redondinha e brilhante, bem no alto do céu.
Lico então lhe falou:
Lico: _Oi, Dona Lua! Como a senhora está bonita toda vestida de branco!
Dona Lua: _Muito obrigada, Lico! Esta é minha roupa mais brilhante! Uma vez
a cada 29 dias eu uso esta roupa, que me deixa redondinha e luminosa!
Lico: _Mas se esta roupa é tão bonita, por que a senhora só a usa uma vez a cada
29 dias?
Dona Lua: _É porque a cada dia eu uso uma roupa diferente! Eu só volto a usar
esta de novo daqui a 29 dias! Esta é a mais bonita e brilhante, mas tenho outras
130
também! É só você me procurar todo dia no céu e verá que eu estou sempre trocando de
roupa!
Narrador: Lico ficou pensando como eram as outras roupas da Dona Lua. E
então ele pergunta:
Lico: _Você poderia me contar como são seus outros vestidos, Dona Lua?
Narrador: Ela ia começar a explicar para o garoto, quando de repente, Lico
acorda. É que uma gota de água caiu sobre seus olhos.
Estava começando a chover e o menino teria que voltar correndo para sua casa. Mas
Lico ficou muito curioso para saber como a Lua se veste a cada dia que aparece no céu.
Lico: _Gente, que sonho interessante! Como será que a Dona Lua se veste a
cada dia que aparece no céu? Agora preciso correr se não vou me molhar todo, tchau
turminha!
Era sexta-feira. O aniversário de Lico! Foi muito divertido. Tinha bolo e balões.
Lico ganhou muitos presentes. Naquele dia, o Senhor Sol estava brilhante, clareando
toda a cidade e aquecendo a todos que moravam ali. Lico ficou admirado pela paisagem,
achou maravilhoso o brilho do Senhor Sol, as nuvens estavam tão branquinhas que se
igualavam ao algodão doce e o céu tinha um radiante azul.
Entretanto, Lico ficou lembrando de seu último sonho, em que a Dona Lua
conversava com ele sobre seu lindo vestido, branquinho e redondinho.
_ Onde estará a Dona Lua? - Lico perguntou ao seu amigo Manoel.
Manoel ficou pensando.
_ Ora amigo Lico, que tolice, ainda é dia e o Senhor Sol brilha lá fora. – disse
Manoel.
_ Mas porque você diz isso Manoel? – disse Lico.
131
Muito tristes Lico e Manoel voltaram para casa. Sentaram-se na escada da frente
e se perguntaram:
_ Será que a noite demora chegar? Quanto tempo precisaremos esperar
para ver nossa amiga? Será preciso esperar a noite chegar para vermos a Dona
Lua?
Então Lico e Manoel voltaram para dentro para aguardar a noite chegar e
confirmar se a Dona Lua apareceria para encontrá-los.
Naquele dia, Lico e Manoel, esperaram o anoitecer para encontrar com Dona
Lua. Assim, logo que Dona Lua despontou seu primeiro sorriso no céu estrelado, Lico
logo lhe perguntou.
Lico: Amiga Lua, por onde andou? Estávamos lhe procurando.
D. Lua: Ora Lico, vocês não me viram? Estava aqui o tempo todo.
Manoel: Como assim? Estava aqui onde?
D. Lua: Aqui no céu, estava aqui o tempo todo.
133
Lico: Dona Lua, não brinque com agente, estamos falando sério, procuramos
por você em toda parte.
Manoel: Mas isso está muito mal contado, ela não estava no céu! Até as
crianças nos ajudaram a procurar. Procuramos pela escola, pelo pátio, pela quadra, nas
árvores e não vimos você Dona Lua. Não é verdade turma?
D. Lua: Em que horário vocês me procuraram?
Lico: A procuramos no dia do meu aniversário, quando o senhor sol estava
radiante no céu. Estávamos com saudades e gostaríamos muito de revê-la, mas como
não a encontramos, então resolvemos esperar a noite chegar para vê-la, pois você
aparece só a noite não é mesmo?
D. Lua: Aaaah! Agora entendi porque não me encontraram... Vou explicar a
vocês o que aconteceu. Às vezes o Senhor Sol brilha tão forte no céu, que não é possível
me ver, mas observem com atenção e vão até lá fora e olhem o céu, eu estarei lá.
Lico: Acho que a Dona Lua está brincando com agente, nós procuramos tanto e
não a encontramos.
D. Lua: Vocês que sabem meninos, estou falando a verdade. Mas agora preciso
ir.
Manoel: Aonde vai Dona Lua? Nem conversamos direito...
D. Lua: Ora Manoel, eu preciso andar. Nunca paro no céu, tenho muito que
fazer, por isso tenho que ir. Tchau meninos!
Lico: Gente a Dona Lua estava muito estranha, ela nos disse que está no céu
durante o dia. Será verdade mesmo?
Manoel: Não sei não, acho que ela não está no céu.
Lico: Mas o que estamos esperando Manoel, só tem um jeito de descobrir,
vamos procurá-la!
D. Lua: Olá pessoal! Então me encontraram no céu? – diz a Dona Lua para a
turma.
135
D. Lua: Vocês são muito espertos e muito atentos. Vocês acharam que andei
muito ou pouco no céu?
D. Lua: Sabe que toda essa correria me deixou cansada...
Lico: Oi Dona Lua, você está aí.
D. Lua: Estou sim Lico.
Lico: Nossa você está a todo o momento em um lugar diferente, é por isso que é
difícil de encontrá-la. Passamos o dia todo te procurando e com sucesso a vimos duas
vezes.
D. Lua: O meu trabalho Lico, não me deixa parar nunca. Corro pelo céu e viajo
pelo mundo todo, conhecendo os diversos lugares do nosso amigo Planeta Terra. Mas já
está na hora e tenho que ir, não posso demorar. Tchau Lico, tchau Manoel, tchau
turminha! Encontro vocês lá no céu!
Lico e Manoel: Tchau Dona Lua!
Manoel: Iiiiii... – reclama Manoel.
Lico: O que foi amigo, aconteceu alguma coisa? – pergunta Lico.
Manoel: Ora Lico, esquecemos de perguntar a nossa amiga qual é a sua
profissão e porque corre tanto. – diz Manoel.
Lico: Nossa é mesmo! Mas essa pergunta ficará para outra história, pois nós
também precisamos ir embora a mamãe já está chamando. Tchau pessoal!
Manoel: Tchau turminha!
Prezados pais,
Seu filho está sendo convidado para participar da pesquisa Contação de Histórias
Problematizadoras para o ensino de Astronomia a crianças dos primeiros anos do Ensino
Fundamental, sob a responsabilidade da pesquisadora Mariana Ferreira de Deus.
Nesta pesquisa buscamos entender que conhecimentos os estudantes, do 2° ano do
Ensino Fundamental, revelam possuir sobre os movimentos aparentes do Sol e da Lua e em que
eles são modificados a partir das contações de histórias problematizadoras.
A participação de seu filho (a) será no trabalho de pesquisa realizado no 1º semestre de
2012, a partir das atividades de contação de histórias. Para isso, solicito dos senhores a
autorização para a utilização de colocações orais, escritas e desenhos feitos por seu (a) filho (a)
durante o trabalho pedagógico.
Após a transcrição das gravações para a pesquisa elas serão desgravadas.
Em nenhum momento seu filho será identificado. Os resultados da pesquisa serão
publicados e ainda assim a sua identidade será preservada.
Você não terá nenhum gasto e ganho financeiro por participar na pesquisa.
Não haverá nenhum risco físico ou moral.
Você é livre para parar de participar a qualquer momento sem nenhum prejuízo para o
senhor ou seu filho.
Uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ficará com o senhor(a).
Qualquer dúvida a respeito da pesquisa o senhor poderá entrar em contato com:
Pesquisadora responsável: Mariana Ferreira de Deus, cujo contato poderá ser estabelecido no
mesmo endereço apresentado abaixo:
End. Comercial: FACULDADE DE EDUCAÇÃO. Av. João Naves de Ávila, 2121, bloco G,
Campus Sta. Mônica – Uberlândia, MG, CEP 38.408-100.
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Assinatura da pesquisadora
Eu aceito participar do projeto citado acima, voluntariamente, após ter sido devidamente
esclarecido.
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Nome do(a) participante
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Assinatura