Diabetes 2002

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ISSN 1517-6418

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IDF / SACA

Diabetes
Clínica
JORNAL MULTIDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

ANAD

2
DIAGNÓSTICO
Editorial: A volta do pré-diabetes (pg. 79)

EPIDEMIOLOGIA
Porque um consenso internacional
sobre o pé diabético ? (pg. 135)

NUTRIÇÃO
Diabetes e vitamina A (pg. 123)

PSICOLOGIA
Os grupos de sala de espera (pg. 129)

PRODUTOS E NOVIDADES
Accu-Chek Active (Roche Diagnostics),
MARÇO / ABRIL Groselha e Guaraná Diet Lowçucar (Lightsweet),
o Manuel de Educação em Diabetes (IEDE),
2002 VOL. 6, N 2 doces e sorvetes dietéticos (Ofner e Day by Diet) (pg. 104)

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3
OFTALMOLOGIA
Detecção das alterações oculares (pg. 201)

AMERICAN DIABETES ASSOCIATION


ANO 2002
Dislipidemia em adultos com diabetes (pg. 213)

INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION


Posição sobre as complicações do diabetes (pg. 217)

PRODUTOS E NOVIDADES
NovoRapid (NovoNordisk), Glucovance (Merck),
MAIO / JUNHO Ketchup Light, Mostarda Light e Refresco (Lowçucar),
o
2002 VOL. 6, N 3 Coberturas Diet (Blend) (pg. 179)

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Clínica
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4
EDUCAÇÃO
O diabetes na vida de crianças e adolescentes (pg. 274)

ODONTOLOGIA
Atendimento odontológico e transplantes de órgãos (pg.269)

INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION


Posição sobre a nutrição em diabetes (pg. 286)

FICHA PRÁTICA
Screening do pé diabético (pg. 293)

PRODUTOS E NOVIDADES
Gelatinas Stevia Plus, Pó para leito condensado light,
JULHO AGOSTO Pó para preparo de bolo light (Lowcucar),
o A1cNow (Metrika) Precision Link e SofTact (Abbott),
2002 VOL. 6, N 4 CardioChek (Polymer Technologies) (pg. 259)

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DIA MUNDIAL DE DIABETES 2002
Prevenção das complicações oculares (pg. 307)

NEUROPATIA PERIFÉRICA
DIABÉTICA
Tratamentos recentes (pg. 346)

ESTRESSE OXIDATIVO
Radicais livres e diabetes (pg. 355)

SÍNDROME PLURIMETABÓLICA
Análise comparativa entre grupos de São
Leopoldo e Canoas (pg. 362)

SETEMBRO / OUTUBRO EDUCAÇÃO FÍSICA


o Diabetes mellitus tipo 2 e exercício físico
2002 VOL. 6, N 5 aeróbico (pg. 375)

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ILOTROPINA

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Nova esperança na cura do diabetes (pg. 387)

NUTRIÇÃO
Terapia nutricional enteral
em pacientes diabéticos (pg. 429)

FITOTERAPIA
Avaliação do efeito hipoglicemiante
da pata-de-vaca (pg. 435)

ODONTOLOGIA
Diabetes mellitus e doença periodontal (pg. 440)

ESTUDOS DE CASO
• Programa educacionaal em mães
NOVEMBRO / DEZEMBRO e crianças diabéticas (pg. 445)
o • Auto-monitoração em paciente
2002 VOL. 6, N 6 diabética obesa (pg. 452)

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Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 04 (2000) 1

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Índice
(vol. 6 nº 1 - 2002) 1~76

EDITORIAL
Dia mundial da saúde 2002 – Agita Mundo, Fadlo Fraige Filho ......................................... 3
INFORMES DO DIABETES NO MUNDO .................................................................................................... 5

O DIABETES NA IMPRENSA ....................................................................................................................... 15

AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS .................................................................................. 18

PRODUTOS E NOVIDADES
Vaxigrip (Aventis Pasteur), Fitas Reagentes One Touch (Johnson & Johnson),
Coelhos e Ovos de Páscoa (Bom Regime), balas e sucos de frutas naturais Halter ......................................... 27

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ....................................................................................... 30

ARTIGOS ORIGINAIS
Outros aspectos do diabetes tipo 2: crianças e adolescentes, Adolfo Perez-Comas .......................................... 42

Avaliação da qualidade da assistência ao paciente diabético na América Latina,


Juan José Gagliardino, Marcelo de la Hera, Fernando Siri e grupo de investigação da Rede Qualidiab ..... 50

Diabetes mellitus, glicemia de jejum alterada e hipotiroidismo em idosos,


Iraci Lúcia Costa Oliveira, Leila Maria Batista Araújo, Ana Claúdia Couto-Silva,
Maria Zenaide Gonzaga, Maria Marcílio Rabelo ............................................................................................. 55

ATUALIZAÇÃO
Imunização: a importância da vacinação para o portador de diabetes,
Fadlo Fraige Filho, João Toniolo Neto, Rodrigo Gonçalves dos Reis ............................................................. 60

Resumo das III Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias e Diretriz de Prevenção


da Aterosclerose do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia ........................ 62

NOTÍCIAS DAS ASSOCIAÇÕES


Agita Mundo – Agitando para a saúde ............................................................................................................... 68

FICHAS PRÁTICAS
Os adoçantes ........................................................................................................................................................ 70

CALENDÁRIO DE EVENTOS ...................................................................................................................... 72

NORMAS DE PUBLICAÇÃO. ....................................................................................................................... 74

Aproveite e se inscreva no curso 2º Curso de capacitação e acompanhamento da


atividade física em diabetes - página 71
Diabetes Clínica
2 Diabetes Clínica 04 (2000)

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos
distúrbios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre
o conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associ-
adas. Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais
de reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relati-
vas à diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma
maneira rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.

Diabetes Clínica Dr. Nelson Rassi (GO) ATLANTICA EDITORA


Editor científico : Dr. Fadlo Fraige Filho, Dr. Orsine Valente (SP)
presidente da FENAD e ANAD, Enfermeira Paula Pascali (SP) Redação
Professor Titular de Endocrinologia Dra. Reine Marie Chaves (BA) Jean-Louis Peytavin
Faculdade de Medicina ABC Dr. Saulo Cavalcanti da Silva (MG) Av. Atlântica, 604 - 1102
Diretora comercial: Dr. Sérgio Atala Dib (SP) 22010-000 Rio de Janeiro - RJ
Lilian Fanny de Castilho tel/fax: (21) 2244-6471
Editor: Dr. Jean-Louis Peytavin, Apoios atlantica1@globo.com
faculdade de Medicina de Lyon (França) IDF - SACA - International Diabetes
Administração: Claudiane Benavenuto Federation South America Central America ISSN 1517-6428
SBD - Sociedade Brasileira de Diabetes © ATMC - Atlântica Editora Ltda
Conselho Consultivo FENAD - Federação Nacional de Associa- Av. São João, 56 sala 7
Psicóloga Ada Verônica da Silva Maciel (SP) ções de Diabéticos 12940-000 Atibaia – SP
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Dr. Airton Golberg (RS) cia ao Diabético Assinatura
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Dr. Arual Augusto da Costa (SP) Municipais de Saúde
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Educador Cláudio Cancelliéri (SP) Diabéticos (FENAD)
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Dr. Freddy Goldberg Eliaschewitz (SP) Diabético (ANAD)
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Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

EDITORIAL

Dia mundial da saúde 2002 – Agita Mundo

Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho

Durante a 54ª Assembléia Mundial da Saúde, a diretoria geral da


Organização Mundial de Saúde decidiu que o tema do Dia Mundial de Saúde
2002 será a promoção da atividade física e a nutrição saudável, sendo que o
slogan escolhido para a Campanha -Agita Mundo - será em homenagem ao
“Agita São Paulo”, programa que inspirou o tema do Dia Mundial de Saúde
deste ano.
Dia 07 de abril na cidade de São Paulo, ocorrerão as ações desse evento
mundial tendo sido escolhida como cidade foco das comemorações mundiais
pela Organização Mundial de Saúde.
Como sabemos o objetivo e a essência do programa “Agita São Paulo” é
promover a Saúde através da atividade física combatendo o sedentarismo
implicado no mundo moderno em que vivemos e nas principais doenças tais
como cardiovasculares e diabetes.
Esse maravilhoso programa, simples, objetivo e de baixíssimo custo
promove a saúde, incentivando a mudança nos hábitos diários através de
atividades musculares dentro do cotidiano de cada pessoa, para que o exercício,
mesmo que na sua mais simples forma, que é o caminhar, possa estar presente
no mínimo em 30 minutos diários, ainda que fracionados.
Assim também a pratica de trabalhos domésticos, como subir e descer
escadas, dançar e outros hábitos que envolvam atividade física muscular são
altamente benéficos para a saúde.
O programa “Agita São Paulo” instituído há 5 anos foi reconhecido pela
Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, Organização Mundial de Saúde como de referência na promoção da atividade
Coordenador e Editor Científico, física para a saúde, em todo o mundo, que decidiu adotar o tema “promoção
Diabetes Clínica da atividade física” para o Dia Mundial de Saúde / 2002.
Desta maneira a Organização Mundial de Saúde busca promover um debate
mundial de saúde sobre a mudança epidemiológica observada na evolução
de nível mundial de morbidade e sobre os fatores que fomentam esta tendência.
Em muitas partes do mundo as doenças não transmissíveis, como o diabetes,
se tornaram uma importante epidemia. Isto se deve ao sedentarismo,
alimentação errônea e inadequada, e conseqüente obesidade, fator este
preponderante no desencadear do diabetes e piora das condições
cardiovasculares.
Os países mais modernos e de melhores condições sócio econômicas estão
hoje com quase 40% da população com obesidade.
4 Editorial - Diabetes Clínica 01 (2002)

Continuação A Organização Mundial de Saúde estima que a inatividade física leva a


mais de 2 milhões de mortes por ano. 80% das cardiopatias coronarianas
prematuras se devem à falta de atividade física aliada à alimentação inadequada
e somada ao tabagismo.
Diversos estudos têm demonstrado que pequenas mudanças no estilo de
vida são suficientes para prevenir o desenvolvimento de quase 60% dos casos
de diabetes tipo 2.
A atividade física é uma maneira prática de se conseguir numerosas
vantagens para a saúde, além de diminuir e prevenir as doenças
cardiovasculares, diabetes e obesidade, favorece estilo de vida saudável, sem
tabagismo, melhorando a integração social do indivíduo na Comunidade, pois
conhecemos sobejamente a melhoria na sociabilidade, com o indivíduo
ocupando seu tempo e direcionando-o para hábitos saudáveis de vida ao invés
de atos ilícitos, criminalidade e uso de drogas.
A ANAD e a FENAD que são parceiras do Agita São Paulo desde o início
do programa homenageiam seus criadores: Prof. Dr. José da Silva Guedes,
D.D. Secretario de Estado da Saúde de São Paulo, e Dr. Victor K.R. Matsudo
pela dimensão e importância desse trabalho.
Conclamamos todos os federados da FENAD a realizarem ações de
atividade física e divulgação pelo Dia Mundial de Saúde e do Agita Mundo
em 07 de abril, pois o Brasil será o foco central desse movimento. Sabemos
todos nós, que trabalhamos com diabetes, da importância do exercício físico
no controle metabólico da doença, bem como na redução de peso, revertendo
também em benefício da saúde de nossos pacientes, e por esse motivo devemos
incluir em nossas programações de atividades educativas, ações de incentivo
ao exercício físico marcando o Dia Mundial de Saúde neste ano de 2002 –
Agita Mundo – Movie for Health.
Diabetes Clínica 01 (2002) 5

Informes do Diabetes no Mundo

Andres Mellén et al., American Farmacocinética e variabilidade intra-individual da insulina


Diabetes Association, 61st Scientific inalada em fumantes saudáveis e não-fumantes
Sessions, Philadelphia, Pennsylvania,
22 a 26 de junho 2001 Este estudo avaliou a farmacocinética (PK) da insulina inalada usando o
Insulin Diabetes Management System (IDMS) AERx em fumantes saudáveis
e não-fumantes. O IDMS AERx produz um aerossol de partículas de insulina
humana líquida. Em 2 dias consecutivos, 27 fumantes e 16 não-fumantes (18
homens/ 25 mulheres, idade média 26 anos, IMC 23 kg/m2) receberam doses
únicas de insulina inalada (33,75 U). Os resultados de PK para 36 pacientes
foram obtidos dos perfis da insulina plasmática exógena corrigidos pelo
peptídeo-C inicial. A absorção total de insulina (AUC 0-6h ) foi
significativamente maior no grupo fumantes, enquanto que o pico de
concentração foi maior e mais precoce neste grupo.

PK variável Não-fumantes (n=13) Fumantes (n=23) Ratio médio IC 95% Valor de p

AUC0-6h (um/l*h) 40,0 63,2 1,58 1,20; 2,08 0,0017


Cmax (mU/l) 13,9 42,0 3,02 1,94; 4,70 < 0,0001
Tmax (min) 53,9 31,5 -22,4 -34,2; -10,6 0,0003

Médias estimadas, ratios, intervalos de confiança (IC) e valores de p baseadas em ANOVA,


com resposta ajustada pelo sexo e período; tmax baseado em diferença média.

A variabilidade estimada intra-sujeito de AUC0-6h foi 13,5% e 16,5% para


não-fumantes e fumantes, respectivamente; as condições de teste foram
similares durante os dois dias para os não-fumantes.

Coeficiente de variação intra-individual (CV) (%)

N AUC0-6h IC 95% Cmax IC 95%

Não-fumantes 13 13,5 9,8; 22,6 26,0 18,6; 42,9


Fumantes 23 16,5 12,7; 23,6 23,8 18,3; 34,1

Nenhum problema de segurança foi reportado; os eventos adversos foram


mínimos. Nenhuma alteração ou diferença entre os grupos foi observada
durante o estudo na função pulmonar, sinais vitais ou valores laboratoriais.
A absorção da insulina inalada foi significativamente maior em fumantes,
com AUC0-6h e Cmax maiores e tmax menor. A variabilidade intra-individual
de AUC0-6h foi baixa em ambos não-fumantes e fumantes, em comparação
com dados anteriores.
6 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2002)

Earl S. Ford et al., American Journal Novos dados sobre a relação entre inflamação e diabetes
of Epidemiology 2002;155:57-71,
janeiro de 2002 Novos estudos comprovam a hipótese da relação entre marcadores da
inflamação, tais como proteína C-reativa, e desenvolvimento do diabetes tipo 2.
Este estudo avaliou 8.352 pacientes que participaram do National Health
and Nutrition Examination Survey Epidemiologic Follow-up Study.
Durante os 20 anos de acompanhamento, 878 pacientes desenvolveram
um diabetes. Os pesquisadores mostraram que os homens e mulheres com
taxas de leucócitos ³ 91.000 tinham respectivamente 33% e 68% mais
riscos de desenvolver diabetes do que os indivíduos com taxas de
leucócitos ≤ 57.000.
Homens e mulheres com taxa de sedimentação de eritrócitos ≥ 26 mm/
hora apresentavam respectivamente 85 e 83% mais riscos de desenvolver
diabetes do que os indivíduos com velocidade de sedimentação ≤ 5 mm/hora.
Entretanto, após ajustes, a velocidade de sedimentação não foi
significativamente relacionada à incidência do diabetes.
Os resultados deste estudo utilizando leucócitos e taxa de sedimentação,
que são os indicadores de inflamação os menos específicos, fornecem uma
prova limitada aos dados que sugerem que a inflamação poderia ter uma
influência na patogênese do diabetes, segundo os pesquisadores.
Outro grupo de pesquisa, dirigido por Tiejian Wu, da State University of
New York, Buffalo, estudou a associação entre os níveis de proteína C-reativa
e as taxas sangüíneas de jejum de insulina, glicose e HbA1c. Este estudo
incluiu 2466 homens e 2876 mulheres que participaram do Third National
Health and Nutrition Examination Survey. Todos os indivíduos eram não-
diabéticos, com idade ≥ 17 anos.
Em homens e mulheres, os níveis elevados de proteína C-reativa foram
associados com taxas elevadas de insulina e HbA1c. Níveis elevados de
proteína C- reativa foi relacionada à glicose elevada só em mulheres.
Em razão da natureza trandsversal do estudo, é impossível concluir que os
níveis elevados de proteína C-reativa sejam responsáveis da resistência à
insulina e intolerância à glicose, segundo os autores. É preciso estudos
prospectivos e randomizados.

Elbert S. Huang et al., Am J Med A diminuição da pressão sanguínea e dos lípides beneficia o
2001;111:633-642, dezembro de 2001 diabetes

Os resultados de uma recente meta-análise sugerem que a diminuição dos


níveis de lípides e pressão sanguínea em pacientes portadores de diabetes
tipo 2 resultam em benefícios cardiovasculares significativos.
Para quantificar os benefícios cardiovasculares da diminuição do colesterol,
pressão sanguínea e níveis de glicose em pacientes portadores de diabetes
mellitus tipo 2, os pesquisadores efetuaram um meta-análise sobre 18 estudos
randomizados e controlados em diabetes tipo 2 ou sub-grupos de diabetes.
Os estudos compararam os efeitos cardiovasculares de tratamento intensivo
dos níveis de fatores de risco em terapia padrão ou placebo.
A diminuição do colesterol (RR = 0,75) e da pressão sanguínea (RR =
0,73) produziram diminuições significativas das taxas de eventos cardíacos,
inclusive morte por doença arterial coronariana e infarto do miocárdio não
fatal. A diminuição da glicemia foi responsável de diminuições menores e
não significativas de eventos adversos (RR = 0,87).
Este modelo foi verificado em todos os estudos, segundo os pesquisadores.
Para o tratamento do colesterol e da pressão sanguínea, de 69 até 300 pessoa-
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2002) 7

ano de tratamento são necessários para a prevenção de um evento


cardiovascular, segundo os resultados desta meta-análise, que recomenda que
o manejo dos fatores de risco cardiovasculares seja rigorosamente apoiado.

EFA Sciences LLC, Norwood, A obesidade é uma doença inflamatória ?


Massachusetts, USA, Nutrition
2001;17(11-12):953-66, Obesidade poderia ser uma doença sistêmica inflamatória de baixo grau.
dezembro de 2001 Crianças e adultos obesos ou com sobrepeso apresentam níveis elevados de
proteína C-reativa, interleucina 6, fator de necrose tumoral-α, leptina, que
são também conhecidos como marcadores de inflamação associados a fatores
de risco cardiovascular e responsáveis de morte cardiovascular e não-
cardiovascular. Isso pode explicar o risco aumentado de diabetes, doença
cardíaca, e várias outras doenças no obeso. A interação complexa entre vários
neurotransmissores tais como dopamina, serotonina, neuropeptídeo Y, leptina,
acetilcolina, melanin-concentrating hormônio, ghrelin, óxido nítrico e
citocinas, insulina e receptores de insulina no cérebro determina e regula a
ingestão de alimentos.
O aleitamento maternal de mais de 12 meses é associado à diminuição da
incidência da obesidade. O leite materno é uma rica fonte de ácidos graxos
poli-insaturados (LCPUFAs) e o cérebro é especialmente rico nestes ácidos
graxos. Os LCPUFAs inibem a produção de citocinas pró-inflamatórias e
aumentam o número de receptores de insulina em vários tecidos, a ação da
insulina e de vários neurotransmissores. LCPUFAs podem aumentar as
proteínas morfogenéticas dos ossos, que participam na neurogenêse, e por
isso poderiam ter um papel importante no desenvolvimento e função do
cérebro. Isso resulta em um desequilíbrio na estrutura, função e feedback
loops entre vários neurotransmissores e os seus receptores, que a final são
responsáveis da diminuição do número de receptores de insulina e dopamina
no cérebro. A amamentação prolongada pode diminuir a prevalência da
obesidade. O exercício aumenta o tônus parasimpatetico, promove a anti-
inflamação, e aumenta os níveis de acetilcolina e dopamina no cérebro, eventos
que suprimem o apetite. Acetilcolina e insulina inibem a produção de citocinas
pro-inflamatórias e alimenta o feedback loop negativo pela inibição pós-
prandial da ingestão de alimentos, e em parte, pela regulação da ação da
leptina. Estatinas, agentes de ligação PPAR-γ, drogas anti-inflamatórias não-
esteróides, formulas por crianças suplementadas em LCPUFAs, bem como
os LCPUFAs, que suprimem a inflamação, podem ser úteis na obesidade.

Gregoire FM, Metabolex, Hayward, Diferenciação do adipócito: de fibroblasto à célula endócrina


California 94549, USA, Exp Biol Med
(Maywood) 2001;226(11):997-1002, Recentes avanços na biologia do tecido adiposo têm demonstrado que o
dezembro de 2001 tecido adiposo branco (White adipose tissue – WAT), tem um papel central
na regulação do balanço energético e age como um órgão secretório/endócrino
que participe em vários processos fisiológicos e patológicos. A desregulação
da massa do WAT causa obesidade e lipoatrofia, duas condições associadas
com patologias ameaçadas pela vida, inclusos doenças cardiovasculares e
diabetes. Alterações na massa WAT resultam de alterações no tamanho e/ou
do número dos adipócitos. Alteração do número de adipócitos é obtida após
uma interação complexa entre proliferação e diferenciação dos pré-adipócitos.
A diferenciação do adipócito ou adipogênese é um processo bem controlado
que foi bem estudado nos últimos 25 anos. Os sistemas de cultura de pré-
adipócitos in vitro que recapitulam a maioria dos aspectos críticos da formação
da célula adiposa permitiram uma dissecção meticulosa dos eventos celulares
8 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2002)

Continuação e moleculares envolvidos no processo de adipogênese. Os fatores de


transcrição PPAR-γ e CCAAT/enhancer binding protein-α têm um papel chave
na cascata transcricional complexa que ocorre durante a adipogênese. Sinais
hormonais e nutricionais afetam a diferenciação do adipócito de uma maneira
positiva ou negativa, e os componentes envolvidos nas interações célula-
célula ou célula-matriz são também essencial na regulação do processo de
diferenciação. Este conhecimento fornece a base para entender os mecanismos
fisiológicos e fisiopatológicos que explicam a formação do tecido adiposo e
para o desenvolvimento de novas terapias para o tratamento da obesidade e
das doenças associadas.

Longnecker MP et al., Environ Health Contaminantes do meio ambiente como fatores etiológicos para o
Perspect 2001;109 Suppl 6:871-6, diabetes
dezembro de 2001
Para ambos diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2, as taxas têm aumentado nos
Estados-Unidos e em qualquer parte do mundo; as taxas são muito variáveis
em função do pais, e os fatores genéticos participam em menos da metade do
novos casos. Essas observações sugerem que fatores do meio ambiente são
responsáveis do diabetes tipo 1 e tipo 2. Exposições ocupacionais foram
associadas com maior risco de desenvolvimento de diabetes. Em mais, dados
recentes sugerem que produtos tóxicos, outros que agentes infecciosos ou
exposições que estimulam a resposta imunológica, são associados à ocorrência
destas doenças. Revisamos os dados epidemiológicos sobre a relação entre
contaminantes do meio ambiente e diabetes tipo 1 e 2. Para o diabetes tipo 1,
ingestão elevada de nitratos, nitritos e produtos N-nitroso, bem como as
concentrações levadas de bifenilas policlorinatos têm sido associadas com
risco maior. Entretanto, os dados são limitados ou inconsistentes. No que diz
respeito ao diabetes tipo 2, dados sobre arsênico e 2,3,7,8-tetrachlorodibenzo-
dioxine sugere uma relação direta mais são conclusivos. Os dados ocupacionais
sugerem que mais dados sobre exposição a compostos tipo N-nitroso, arsênico,
dioxinas, talco a óleos de maquinas estariam úteis. Apesar do que os fatores
do meio ambiente outros do que os contaminantes são determinantes no
diabetes tipo 1 e 2, o papel etiológico de vários contaminantes e exposições
ocupacionais deve ser ainda estudado.

Brown RA, Walsh MF, Ren J Sexo e diabetes, influência sobre a função contrátil vascular e
Department of Biology, Morgan State miocárdica
University, Baltimore, Endocr Res
2001;27(4):399-408, Mulheres em pré-menopausa têm risco cardiovascular menor do que homens
novembro de 2001 ou mulheres em pós-menopausa. Entretanto, essa “vantagem” da mulher é
perdido em caso de diabetes, condição caracterizada por disfunção contrátil
cardíaca e vascular. Este estudo foi desenhado para comparar a influência do
diabetes sobre a função contrátil cardíaca e vascular entre os sexos. Foram
utilizados ratos adultos machos e fêmeas diabéticos após administração de
streptozotocina (55 mg/kg) durante 8 semanas. O desenvolvimento da tensão
foi examinado em anéis aórticos torácicos e músculos papilares do ventrículo
esquerdo. Vasoconstrição induzido por KCl, vasorelaxação dependente do
endotélio induzida por acetilcolina (Ach) ou independente do endotélio induzida
por nitroprussiato de sódio (SNP), duração e velocidade máxima da contração
miocárdica e duração da relaxação (TPT/RT90 e ± VT) foram similares entre
machos e fêmeas. Diabetes aumentou a vasoconstrição induzida por KCl com
doses baixas, diminuiu a vasorelaxação induzida por SNP e tinha pouco efeito
sobre a vaso-relaxação induzida por Ach em anéis aórticos nos dois sexos.
Diabetes prolongou TPT e RT90 nos dois sexos, e diminuiu ± VT em machos
más não em fêmeas. O aumento agudo em Ca++ extracelular (2,7 mM para 5,4
10 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2002)

mM) diminuiu TPT em miocárdio diabético nos dois sexos, mas não teve efeito
em outros índices miocárdicos mecânicos em grupos normais ou diabéticos,
qualquer seja o sexo. Em mais, a exposição aguda ao inibidor da ouabaína
Na+/K(+)-ATPase diminuiu TPT/RT90 e aumentou ± VT em miocárdio de
fêmeas normais, mas foi sem efeito no miocárdio do macho ou do diabético.
Em conclusão, os dados sugerem que, na vasculatura, não existe diferença entre
os sexos na disfunção contrátil induzida pelo diabetes, apesar do que existem
evidentes diferenças ligadas ao sexo no miocárdio.

Kljai K, Runje R. Medical Faculty, Níveis de selênio e glicogênio em pacientes diabéticos


University of Zagreb, Croatia.Biol
Trace Elem Res 2001 Dec;83(3):223-9, Selênio no plasma e glicogênio nos eritrócitos foram determinados em
dezembro de 2001 pacientes diabéticos divididos em 2 grupos, tipo 2 (n = 50) e tipo 1 (n = 31),
em função da etiopatogenia de seu diabetes. O selênio foi medido pelo método
de spectrometria de absorção atômica. Nível plasmática de selênio foi
estatística e significativamente diferente em pacientes portadores de diabetes
tipo 2 (59,23 ± 12.,2 microg/l) ou tipo 1 (58,23 ± 16,7 microg/l) em comparação
com o grupo controle de 62 indivíduos (64,2 ± 11,5 microg/l; p < 0,05). Não
foi observada diferença significativa nos níveis plasmáticos de selênio entre
os grupos de pacientes diabéticos tipo 1 e 2. Os níveis de glicogênio
eritrocitário foram de 2,0580 ± 1,326, 2,0380 ± 1,735, e 2,0036 ± 1,3537
microg/g Hb nos grupos placebo, diabetes tipo 2 e diabetes tipo 1,
respectivamente, sem diferenças significativas entre os grupos. A diminuição
dos níveis de selênio no plasma e eritrócitos de pacientes diabéticos sugere o
papel possível da glutationa peroxidase.

Adamson DJ et al., Imperial Cancer Diclofenac antagoniza sinal do PPAR-γγ


Research Fund Molecular
Pharmacology Unit, Biomedical Apesar do que drogas antiinflamatórias não esteróides (AINS) sejam usadas
Research Centre, Ninewells Hospital, como agentes quimiopreventivos do câncer, o mecanismo de ação é pouco
Dundee, Scotland, United Kingdom, conhecido porque os AINS têm ações independentes da ciclooxigenase.
Mol Pharmacol 2002;61(1):7-12, Pesquisamos um objetivo alternativo para os AINS, o peroxisome proliferator-
janeiro de 2002 activated receptor-γ (PPAR-γ), do qual a ativação diminui a proliferação da
célula neoplásica. Foi demonstrado que os AINS ativam este receptor, mas
só com concentrações elevadas. Neste estudo, investigamos a relação entre
diclofenac e PPAR-γ, usando um ensaio sobre o ácido cisparinarico e
estudamos o efeito do diclofenac sobre a trans-ativação de PPAR-γ em um
ensaio celular sobre COS-1. Inesperadamente, diclofenac ligou PPAR-γ nas
concentrações terapêuticas (K(i) = 700 nM), mas induziu uma ativação dupla
na concentração de 25 microM e antagonizou a trans-ativação do PPAR-γ
pela rosiglitazona. Este antagonismo foi vencido com o aumento das
concentrações de rosiglitazona, indicando que diclofenac é um agonista
parcial. Nenhum efeito do diclofenac foi observado sem receptor exógeno,
confirmando que ele está agindo através de um mecanismo específico do
PPAR-γ. Isso é a primeira descrição que um AINS pode antagonizar o PPAR-γ.
Em mais, isto é a primeira vez que foi demonstrado que um AINS pode
estabelecer uma ligação com este receptor em concentrações clinicamente
significativas. O papel fisiológico desses achados foi testado usando ensaios
de diferenciação do adipócito e proliferação de célula cancerosa. Diclofenac
diminuiu a diferenciação celular mediada pelo PPAR-γ em 60% e inibiu a
ação da rosiglitazona sobre uma linha de células de câncer da próstata, DU-
145, permitindo uma aumento em 3 vezes da proliferação. Este estudo mostra
que doses padrão de diclofenac podem ter interações farmacodinámicas com
a rosiglitazona e isso tem implicações terapêuticas, ambos no manuseio do
diabetes tipo 2 e no tratamento do câncer.
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2002) 11

Linda S. Geiss et al., American Journal Hipertensão afeta 71% dos diabéticos mas poucos deles recebem
of Preventive Medicine, tratamento adequado
janeiro de 2002
Dentre as pessoas portadoras de diabetes e hipertensão, 71% são conscientes
de seu pressão sanguínea elevada e 57% estão usando tratamento. Esses 2
números são mais elevados do que na população geral, mas os esforços de
tratamento e de prevenção não resultam em melhor controle, segundo este
estudo dos Centers for Disease Control and Prevention.
Dentre os pacientes portadores de diabetes usando medicamentos para o
controle da pressão sanguínea, 43% apresentam uma pressão inferior ao limite
recomendado pela pressão saudável. Isso é um pouco menos do que os 45%
dos não-diabéticos que têm a pressão sanguínea controlado por medicação.
20% dos portadores de diabetes e hipertensão não sabem ou não concordam
em baixar a pressão sanguínea. Esta discrepância entre tratamento e controle
da pressão sanguínea em ambos as populações é o resultado de vários fatores,
segundo o estudo, incluso acesso inadequado aos cuidados médicos e remédios,
tratamentos inapropriados ou ineficazes e falta de aderência do paciente ao
tratamento e às alterações no estilo de vida.
O estudo utilizou dados de 1507 indivíduos diabéticos do Third National
Health and Nutrition Examination Survey. A meta para a pressão sanguínea
saudável foi estabelecida em < 130/85 mm Hg, segundo as recomendações
específicas para diabéticos no relatório Joint National Commission on the
Detection, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure.
Pressão sanguínea acima de 130/85 mm Hg é considerada como um fator
de risco para a doença cardíaca dentre os diabéticos. Estudos anteriores têm
mostrado que a diminuição da pressão sanguínea diminui também o risco de
morte por doença cardiovascular.

Andreas Plagemann et al., Diabetes Amamentação maternal por mães diabéticas pode aumentar o
Care 2002;25:16-22, Janeiro de 2002 risco de obesidade

Dentre as crianças de mães diabéticas, os que foram alimentos por leite


materno durante a primeira semana de vida apresentam mais risco de sobrepeso
e de desenvolvimento de intolerância a glicose na infância. Este achado foi
observado em crianças de mães que apresentaram diabetes gestacional ou de
mães portadoras de diabetes tipo 1.
Estudos anteriores têm demonstrado que “programação intra-uterina” aumenta
o risco de obesidade e de tolerância à glicose alterada em crianças de mães
diabéticas. Mas o papel da amamentação nunca foi avaliado, segundo os autores.
Para a pesquisa, foram coletados os detalhes da alimentação de 112 crianças
de mães diabéticas durante os 7 primeiros dias de vida. No total, 83 mães
tinham diabetes tipo 1 e 29 diabetes gestacional, das quais 15 receberam
insulina. Todas as mães foram encorajadas pela amamentação, mas leite
materno de doadores foi também distribuído, quando necessário.
O volume de leite materno diabético ingerido no período neonatal foi
positivamente correlacionado com o risco de sobrepeso na infância (p < 0,001).
Também, o volume de leite materno diabético ingerido no período neonatal
foi positivamente correlacionado com o risco de tolerância à glicose alterada
(p = 0,03). Em comparação, o volume de consumo neonatal de leite de
doadores foi invertemente correlacionado com o sobrepeso e o risco de
tolerância à glicose alterada (p = 0,001 e p = 0,02, respectivamente).
Estudos a longo prazo são necessárias para observar o efeito de diferentes
tipos de nutrição neonatal em crianças de mães diabéticas. Entretanto, segundo
os autores, a alimentação através do leite materno deveria ser o tipo preferido
de nutrição, mesmo nesta população particular.
14 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 01 (2002)

David Edelman et al., Journal of Rastreamento oportunístico detecta um número significativo de


General Internal Medicine 2002; casos de diabetes desconhecidos
17:23-28, janeiro de 2002
O rastreamento oportunístico de pacientes para o diabetes, durante consulta
médica de rotina, pode ser um método eficaz e de baixo custo par descobrir
diabetes em pacientes que não têm a oportunidade de ser detectados. Os autores
deste estudo rastrearam 1253 pacientes que não foram diagnosticados como
diabéticos. No início, eles usaram HbA1c e a glicose plasmática de jejum dos
pacientes que apresentaram HbA1c ≥ 6,0%.
Dentre estes pacientes, 56 (4,5%) tinham um diabetes desconhecido. O
diagnóstico de diabetes foi associado com hipertensão (odds ratio 2,5, p =
0,004), peso > 120% ao peso ideal (odds ratio 2,2, p = 0,02) e um parente ou
gêmeo portador de diabetes (odds ratio 1,7, p = 0,06).
Os autores concluem que o teste em condições normais (não de jejum) é
importante no rastreamento oportunístico. “O lado negativo do teste de jejum
é que o paciente não é sempre de jejum. Mas existem benefícios significativos
deste situação. O teste em condições normais dá informação importante sobre
o grau do diabetes, e sabemos imediatamente o grau de emergência de
intervenção”, segundo os autores. “O estudo não comprova que o rastreamento
para o diabetes é uma intervenção eficaz e de baixo custo, mas nossos
resultados mostram que existe um espaço para a detecção do diabetes nos
centros médicos.”

Claudio Maffeis et al., Journal of Estudo mostra que crianças obesas têm risco de ser adultos
Clinical Endocrinology & Metabolism, obesos
janeiro 2002
Pesquisadores italianos mostraram que as crianças com sobrepeso têm mais
riscos de ser adultos com sobrepeso. Este novo estudo descobriu uma relação
protetiva entre a resistência à insulina e peso em meninas com sobrepeso que
têm peso normal na idade adulta. Participaram do estudo 215 crianças obesas
(120 meninos e 95 meninas), idade 8-12 anos, nas quais foi estudada a relação
entre obesidade da criança, resistência à insulina e ganho de peso a longo
prazo. 103 pacientes foram examinados após 14 anos por exames de
acompanhamento.
O estudo mostrou que 43% dos indivíduos obesos na infância eram ainda
obesos na idade adulta. Em mais, outros 29% dos indivíduos eram com
sobrepeso. “Podemos concluir que crianças obesas e com sobrepeso têm mais
riscos de ser adultos obesos”, disse Dr. Maffeis. “Estudos anteriores já
mostraram que adultos com sobrepeso têm risco aumentado de diabetes e
doenças cardiovasculares. Devemos encontrar meios para diminuir a
obesidade em crianças, se quisermos diminuir obesidade no futuro, bem como
as doenças associadas”.
Os pesquisadores descobriram também novas informações sobre a relação
entre a obesidade da criança, resistência à insulina e peso adulto em meninas.
Nas mulheres que participaram no estudo, a severidade da obesidade de criança
aumentou o risco de sobrepeso no adulto. Em mais, o estudo demonstrou que a
resistência à insulina, condição na qual o corpo não responde adequadamente à
insulina, era um fator de proteção contra a obesidade do adulto em meninas
com sobrepeso, mas não em meninos. “Um aumento de uma unidade no índice
da resistência à insulina diminui o risco de obesidade em 42% na idade adulta.
Esta relação deveria ser estudada em estudos maiores”, disse Dr. Maffeis.
Diabetes Clínica 01 (2002) 15

O Diabetes na Imprensa
Diabetes entre crianças obesas já preocupa
O ESTADO DE SÃO PAULO
27 de dezembro de 2001 Os efeitos do crescimento da obesidade entre crianças já começam a ser
notados nos serviços de saúde do País. Levantamento feito pelo Ambulatório
de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas de São Paulo revela que, das
49 crianças atendidas regularmente no serviço, 42 já apresentavam os
primeiros sinais para o desenvolvimento do diabetes tipo 2. “Corremos o
risco de ter um crescimento expressivo do número de diabéticos jovens, e,
com isso, também do número de enfartes ou outros problemas relacionados à
doença em pacientes cada vez mais moços”, alerta o chefe do Grupo de
Obesidade e Doenças metabólicas do HC, Alfredo Halpern. (...)
Além da maior propensão ao diabetes, em crianças obesas também é notado
o aparecimento de outros fatores de risco para problemas cardiovasculares.
Em um estudo feito com 103 crianças estudantes de escolas particulares de
São Paulo, constatou-se que 53% das obesas ou com sobrepeso apresentavam
taxas elevadas de colesterol.
O aumento da obesidade infantil é atribuído principalmente à mudança da
alimentação. “Diminuímos a ingestão de carboidratos e aumentamos o
consumo de gorduras”, diz Afredo Halpern. “Se voltássemos ao cardápio do
brasileiro, com arroz e feijão, bife e salada e abandonássemos os pratos
gordurosos, certamente esse quadro poderia ser modificado”.

JAHH= Obesos protestam por maior acesso à saúde pública


21 de janeiro de 2002 A luta contra a discriminação e pelo direito de receber tratamento médico
adequado marcou um protesto promovido pela Associação dos Obesos
Mórbidos do Brasil, na Praia de Ipanema, no Rio. Segundo os organizadores,
cerca de 500 obesos - com Índice de Massa Corporal (IMC), que é a relação
entre o peso e a altura, acima de 30 - juntaram-se para reivindicar a ampliação
do número de cirurgias de redução de estômago realizadas pelo Sistema Único
de Saúde (SUS). Mais de 3 mil pessoas aguardam na fila no Rio para se
submeter à operação. A associação calcula que existam 500 mil obesos
mórbidos no Brasil. Segundo a presidente da entidade, Márcia Brandão, são
poucos os hospitais municipais que realizam a cirurgia, apesar de uma lei
municipal sancionada pelo prefeito César Maia (PFL) em 2001 ter acrescido
cinco unidades à rede autorizada pelo SUS a operar os obesos.
Outra reclamação da associação é o fato de somente três seguradoras de saúde
cobrirem os custos da operação, que ficam em torno de R$ 25 mil em clínicas
particulares e R$ 3.200,00 quando pago pelo governo, segundo Márcia.
“É preciso cuidar também dos problemas decorrentes da obesidade, como
dificuldades cardíacas, articulares e circulatórias, hipertensão e diabetes,
fora o preconceito do dia-a-dia. Queremos o acompanhamento de
endocrinologistas e nutricionistas”, defende ela, ressaltando ainda que o
acompanhamento psicológico dos obesos deve ser contínuo.
Em 2001, aos 35 anos, Márcia teve o estômago reduzido em cirurgia paga pelo
SUS, e conseguiu reduzir o peso de 170 para 100 quilos - ela tem 1,66 metro. A
16 O Diabetes na Imprensa – Diabetes Clínica 01 (2002)

Continuação presidente da associação foi uma das doze pessoas beneficiadas pela operação
em 2001 no Rio. “Esse número é muito pequeno. A rede pública não está
preparada para tratar do problema. Havia 15 anos que não ia ao cinema porque
não cabia na poltrona e cheguei a ficar dois anos sem sair de casa, por vergonha
do meu corpo. Agora, minha vida mudou por completo”, contou.

Brasil faz doações de insulina à Argentina para aliviar a


Reuters Health emergência diabética
10 de janeiro de 2002
Duas cargas, contendo cada uma 275.000 doses de insulina, doadas prelo
governo do Brasil chegaram na Argentina para aliviar a crise do sistema de
saúde que afeta principalmente os 200.000 pacientes diabéticos do País. O
presidente Eduardo Duhalde declaro o estado de emergência de saúde em
razão das severa ruptura no fornecimento de várias drogas vitais e
equipamentos descartáveis. Fora do diabetes, o risco é também importante
para os pacientes tratados por câncer, AIDS ou transplante.
“O sistema de saúde da Argentina está agonizando” disse Dr. Ginés Gonzalez
García, ex-ministro da Saúde de Buenos-Aires. “O que está faltando é o
dinheiro, não as drogas. Nosso país tem a melhor industria farmacêutica da
América Latina. O problema é que o Estado e as companhias de seguro social
devem aproximadamente US$ 700 milhões à industria”.
Pacientes portadores de câncer ou de transplante reclamam que as farmácias
não querem aplicar o desconto de 100% acordado aos pensionistas e afiliados
aos sistemas de seguro privado.
Os farmacêuticos, do outro lado, dizem que os atacadistas estão atrasando a
entrega dos remédios porque não podem mais suportar a dívida de U$ 500
milhões de sistema de previdência social. “A maioria das farmácias argentinas
são perto da falência e têm perdido todo credito”, explica Daniel Alvarado,
presidente da Confederação Farmacêutica Argentina. “Precisamos receber
pelo menos U$ 100 milhões para relançar a maquina”.

Reuters Health Regime e exercício são melhores que remédios contra diabetes
6 de fevereiro de 2002 Um estudo divulgado na revista The New England Journal of Medicine afirma
que uma combinação de regime alimentar e exercícios físicos é mais eficaz
que os medicamentos no tratamento da forma mais comum de diabetes na
população norte-americana.
Os autores do estudo compararam o efeito de dois tratamentos do diabetes tipo
2 em 3.234 pessoas - de 25 a 85 anos - sujeitas à hiperglicemia: uma modificação
de seu modo de vida e um tratamento com metformina. Uma combinação de
regime com exercícios físicos, que cause uma perda de peso de 5 a 7%, permitiu
reduzir em 58% a incidência do diabetes nos participantes do estudo. O exercício
se limitava a uma marcha de 30 minutos, cinco dias por semana.
Os voluntários que seguiram um tratamento com metformina, um
medicamento que diminui o excesso de açúcar no sangue, viram diminuir a
incidência do diabetes em 31%. “Este estudo representa uma mensagem de
esperança para as pessoas que correm o risco de desenvolver diabetes do
tipo 2”, estimou o secretário de Saúde americano Tommy Thompson, que
financiou o estudo realizado pelo Grupo de Pesquisa do Programa de
Prevenção do Diabetes.
“Seguindo um regime moderado e duradouro e um programa de exercícios,
muitas pessoas com um ou vários fatores de risco de diabete do tipo 2 podem
deter a doença antes que se torne irreversível”, acrescentou Thompson. Cerca
de 20 milhões de norte-americanos sofrem de hiperglicemia, tornando-se
sujeitos a diabete e a enfermidades cardiovasculares.
18 Diabetes Clínica 01 (2002)

Avanços terapêuticos e tecnológicos


Philip Raskin et al., American Diabetes Insulina aspart é tão efetiva em infusão subcutânea continua
Association, 61st Scientific Sessions, como em aplicações diárias múltiplas em pacientes diabéticos
Philadelphia, Pennesylvania, 22 a 26 tipo 2
de junho 2001
A segurança e eficácia da administração do análogo da insulina de ação
rápida, insulina aspart (IAsp), em aplicação continua subcutânea (CSII) foi
comparada à aplicações diárias múltiplas (MDI) em um estudo multicêntrico,
aberto, randomizado, com grupo paralelo e duração de 24 semanas. 127
pacientes diabéticos tipo 2 tratados por insulina, sem experiência anterior da
bomba de insulina, foram randomizados para receber IAsp por CSII com
uma bomba externa ou por aplicação em tratamento MDI com NPH. Todos
os agentes hipoglicemiantes orais foram interrompidos. As doses de IAsp
foram aplicadas imediatamente antes das refeições. As características iniciais
foram similares entre os grupos (HbA1c 8,2 ± 1,4% para CSII e 8,0 1,2%
para MDI). No final do estudo, os dois grupos de tratamento mostraram
controle glicêmico similar (7,6 ± 1,2% para CSII, 7,5 ± 1,2 para MDI),
representando uma diminuição da HbA1c em relação ao início de 0,6 e 0,5%,
respectivamente. Os perfis da glicose sanguínea melhoraram a partir dos
valores iniciais nos dois grupos. Através deste estudo, o grupo CSII mostrou
uma tendência em direção de níveis menores de glicose sanguínea,
especialmente antes do café da manhã (139 ± 46 vs. 151 ± 43 mg/dl para
CSII e MDI, respectivamente, p = 0,058), e 90 minutos após o café da manhã
(167 ± 48 vs. 65 mg/dl para CSII e MDI, respectivamente, p = 0,019). A
avaliação da segurança (hipoglicemia e eventos adversos) foi comparável
nos dois grupos. O número médio de episódios hipoglicêmicos por indivíduo
e por mês foi similar nos dois grupos, 0,8 e 1,2 para CSII e MDI,
respectivamente. A incidência de obstruções foi baixa no grupo CSII e não
foi associada com hiperglicemia. Pacientes (82%) tratados no grupo CSII
reportaram uma ou menos obstrução durante as 4 semanas do ensaio. Em
conclusão, o diabetes tipo 2 pode ser tratado com segurança com bombas de
insulina externas. Em mais, IAsp foi seguro e eficaz em ambos tratamentos
MDI e CSII e foi compatível para o uso em bombas de infusão externas.

Philip Raskin et al., American Diabetes Terapia combinada repaglinida/rosiglitazona em diabetes tipo 2
Association, 61st Scientific Sessions,
Philadelphia, Pennsylvania, Este estudo clínico randomizado, multicêntrico, com grupo paralelo, aberto,
22 a 26 de junho 2001 com pacientes diabéticos tipo 2 comparou a eficácia e segurança da terapia
combinada repaglinida/rosiglitazona com as monoterapias repaglinida e
rosiglitazona, durante um periodo de tratamento de 24 semanas. Pacientes
tinham duração de diabetes ≥ 1 ano, idade > 18 anos e controle glicêmico
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2002) 19

Continuação inadequado (HbA1c > 7,0%) com tratamento anterior com metformina ou
sulfoniluréias (pelo menos com 50% da dose máxima). Após rastreamento, a
terapia anterior foi interrupta por 2 semanas, seguida por um período de 12
semanas de optimização e um período de 12 semanas de tratamento com as
dosagens ajustadas, medidas pela resposta glicêmica, nas doses especificadas
pelo fabricante. O primeiro resultado de eficácia foi a alteração da HbA1c do
início até a semana 24. A tabela seguinte mostra os resultados dos 124
primeiros pacientes.

REPG ROSI REPG + ROSI


Pacientes tratados, n 31 33 60
HbA1c inicial 9,4% 9,1% 9,2%
Total D/C, n (%) 12 (39) 16 (48) 8 (13)
D/C para AEs, n (%) 2 (6) 3 (9) 0
D/C para terapia ineficaz, n (%) 8 (26) 9 (27) 2 (3)
D/C descontinuado

As alterações médias dos valores de HbA1c no fim do tratamento foram -


0,25% para a repaglinida em monoterapia, -0,41% para o rosiglitazona e -
1,3% para a terapia combinada repaglinida/rosiglitazona. A terapia conjugada
produziu efeitos glicêmicos significativamente maiores (p 0,01) do que os
agentes em monoterapia. Estes achados concordam com estudos anteriores
sobre a repaglinida usada com sensibilizadores à insulina como metformina
ou troglitazona, que mostraram melhor controle glicêmico do que as
monoterapias.

Lois Jovanovic et al., American Terapia combinada repaglinida/pioglitazona em diabetes tipo 2


Diabetes Association, 61st Scientific
Sessions, Philadelphia, Pennsylvania, Este estudo clínico randomizado, multicêntrico, com grupo paralelo, aberto,
22 a 26 de junho 2001 com pacientes diabéticos tipo 2, comparou a eficácia e segurança da terapia
combinada repaglinida/pioglitazona com as monoterapias repaglinida e
pioglitazona, durante um período de tratamento de 24 semanas. Pacientes
tinham duração de diabetes ³ 1 ano, idade > 18 anos e controle glicêmico
inadequado (HbA1c > 7,0%) com tratamento anterior com metformina ou
sulfoniluréias (pelo menos com 50% da dose máxima). Após rastreamento, a
terapia anterior foi interrupta por 2 semanas, seguida por um período de 12
semanas de optimização e um período de 12 semanas de tratamento com as
dosagens ajustadas, medidas pela resposta glicêmica, nas doses especificadas
pelo fabricante. O primeiro resultado de eficácia foi a alteração da HbA1c do
início até a semana 24. A tabela seguinte mostra os resultados dos 131
primeiros pacientes.

REPG PIO REPG + PIO


Pacientes tratados, n 36 36 59
HbA1c inicial 9,3% 9,2% 9,6%
Total D/C, n (%) 13 (36) 19 (53) 8 (14)
D/C para AEs, n (%) 2 (6) 0 2 (3)
D/C para terapia ineficaz, n (%) 8 (22) 17 (47) 3 (5)
D/C discontinuado

As alterações médias dos valores de HbA1c no fim do tratamento foram -


1,7% para a terapia combinada repaglinida/pioglitazona, -0,11% para a
repaglinida em monoterapia, +0,25% para o pioglitazona. A terapia conjugada
produziu efeitos glicêmicos significativamente maiores (p < 0,01) do que os
20 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2002)

Continuação agentes em monoterapia. Estes achados concordam com estudos anteriores sobre
a repaglinida usada com sensibilizadores à insulina como metformina ou
troglitazona, que mostraram melhor controle glicêmico do que as monoterapias.

Kahn SE et al., J Clin Endocrinol Nateglinida e glyburide - Importância da fase de secreção


Metab 2001;86(12):5824-9, precoce de insulina para a tolerância à glicose endovenosa em
dezembro de 2001 portadores de diabetes tipo 2

A secreção de insulina é alterada em diabetes tipo 2 porque a resposta


precoce é essencialmente ausenta. A hipótese é que a perda da secreção precoce
de insulina é importante na deterioração da tolerância à glicose. Para
determinar se a estimulação da resposta insulínica precoce pode melhorar a
tolerância à glicose, foi administrado 1) 120 mg de nateglinida, agente
insulinotrôpico que estimula a secreção precoce de insulina; 2) 10 mg de
glyburide, que estimula as fases mas tardias da secreção de insulina; ou 3)
placebo em 21 indivíduos portadores de diabetes tipo 2 e randomizados (14
homens e 7 mulheres; idade 59,2 ± 2,1 anos; IMC 29,7 ± 1,0 kg/m2; glicose
plasmática de jejum 8,1 ± 0,1 mM). A função da célula b foi quantificada
como a área sob a curva (AUC) incremental para diferentes períodos de tempo
durante as 5 horas após a administração de glicose endovenosa, e a tolerância
à glicose como a eliminação constante de glicose (Kg) de 10 até 60 minutos.
A liberação de insulina começou imediatamente após a administração de
nateglinida, até mesmo antes a infusão de glicose, mas isso não foi observado
com a glyburide. Ambos nateglinida e glyburide estimularam a liberação de
insulina induzida pela glicose, quando comparada com placebo (AUC -15-
300 min: nateglinida 23,595 ± 11,212 pM/min, glyburide 54,556 ± 15,253
pM/min, placebo 10,242 ± 2,414 pM/min). Os perfis de liberação da insulina
demonstraram estimulação específica da liberação entre -15 e 30 min para
nateglinida, comparada com glyburide e entre 60 e 300 min para glyburide
comparada com nateglinida. Kg aumentou em 15% com nateglinida (0,87 ±
0,04%/min), mas não aumentou significativamente com glyburide (0,79 ±
0,04%/min), comparada com placebo (0,76 ± 0,04%/min). A estimulação da
liberação da insulina pela glyburide resultou em uma concentração mínima
de glicose menor com glyburide (3,8 ± 0,2 mM), comparada com nateglinida
(5,0 ± 0,2 mM) e placebo (5,9 ± 0,2 mM). Em conclusão, a estimulação da
fase precoce da secreção de insulina melhora a tolerância à glicose endovenosa,
enquanto que atrasá-la em 30 minutos resulta em uma taxa menor de
eliminação da glicose durante as primeiras duas horas após administração de
glicose endovenosa. A diferença na cinética da ação da nateglinida e da
glyburide é uma liberação continua de insulina com glyburide, apesar do que
os níveis de glicose tenham retornado ao nível inicial, resultando em uma
diminuição adicional dos níveis de glicose e um nadir menor.

Pratley RE, Foley JE, Dunning BE, Nateglinida, repaglinida e outros agentes insulinotrôpicos de
Novartis Pharmaceuticals Corporation, ação rápida: restauração da secreção precoce de insulina como
Curr Pharm Des 2001;7(14):1375-97, modelo fisiológico de melhora do controle glicêmico
setembro de 2001
A perda da secreção precoce da insulina aparece ser o evento crítico na
deterioração da tolerância à glicose durante o desenvolvimento do diabetes
tipo 2. Existe então uma razão forte para desenvolver novos agentes
antidiabéticos pelos quais o objetivo é a restauração ou a substituição da
secreção prandial precoce da insulina para diminuir as excursões da glicose
durante as refeições em pacientes diabéticos tipo 2. Estes novos agentes estão
22 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2002)

Continuação agora disponíveis (repaglinida e nateglinida) ou em desenvolvimento clínico


(KAD-1229 e BTS 67 582). Estudos pré-clínicos sugerem que cada um destes
novos agentes insulinotrôpicos dividem um mecanismo receptor/efetor comum
com as sulfoniluréias (SUs), mas que cada um pode ter características distintas
para diferenciá-los dos SUs e entre eles mesmo. Nateglinida e KAD-1229
estimulam claramente a secreção insulínica bifásica in vitro e in vivo e seus
efeitos são rapidamente reversíveis, enquanto que os efeitos da repaglinida e
BTS 67 582 são prolongados após a remoção dos meios de infusão in vitro ou
a clearance in vivo. Dados disponíveis de estudos em humanos indicam que
a farmacocinética da repaglinida e nateglinida são similares (são ambas
rapidamente absorvidas e eliminadas), mas, consistentemente com achados
em estudos animais, os efeitos insulinotrôpico e sobre a glicose da repaglinida
são mais lentos no início e mais prolongados do que a nateglinida. Foi
demonstrado que repaglinida e nateglinida são seguros e bem tolerados em
pacientes portadores de diabetes tipo 2 e produzem diminuições significativas
da HbA1c, em monoterapias ou combinadas com agentes de modo de ação
complementar (metformina e tiazolidinedionas). Estes novos agentes têm o
potencial de atingir a normoglicemia sem risco de hipoglicemia e por isso
são elementos importantes do armário terapêutico.

Reuters, 10 de janeiro de 2002 Nova molécula pode ajudar no tratamento de úlceras de pressão
e úlceras diabéticas

Uma equipe de pesquisa da Escócia está iniciando estudos clínicos com


uma nova molécula que tem o potencial para tratar as lesões tipo úlceras
diabéticas e lesões de pressão. Esta molécula, chamada migration stimulating
factor (MSF) tem a capacidade de iniciar o processo de cicatrização, segundo
os pesquisadores, Prof Seth Scor e Ana Schor.
Os estudos clínicos poderiam começar no prazo de 18 meses. O produto
poderia ser usado na forma de gel aplicado nas lesões sob um curativo ou em
conjunto com um transplante de pele artificial.
MSF estimula a angiogênese. A molécula é secreta por células fetais, o
que explicaria porque as crianças cicatrizam rapidamente, sem cicatriz
residual. Em adultos, esta molécula é presente só durante o processos de
cicatrização e, nas lesões com irrigação sangüínea alterada – como as úlceras
diabéticas – ela é geralmente ausenta. “No fundo da úlcera, não encontramos
o MSF. Por qualquer razão, ele não é presente nestas feridas que não
cicatrizam. A idéia é colocá-lo na lesão para iniciar o processo de
cicatrização”, explicou Seth Schor.

Diabetes Care 2002;25:89-94, Metformina é adequada para crianças diabéticas tipo 2


janeiro de 2002
Crianças portadoras de diabetes tipo 2 podem ser tratados com eficácia e
segurança com metformina. Metformina tem sido o medicamento o mais
prescrito para a tratamento do diabetes tipo 2 nos Estados Unidos. Entretanto,
apesar do que a incidência do diabetes tipo 2 tenha muito aumentado na última
década, a metformina nunca foi avaliada neste grupo. Conseqüentemente,
pesquisadores de San Diego (Califórnia), Pittsburgh (Pensilvánia), Princeton
(New Jersey) e Moscou (Rússia) desenharam um estudo controlado duplo-
cego e randomizado. Avaliaram eficácia e segurança da metformina na dose
de 1000 mg duas vezes/dia em 82 crianças com idade 10-16 anos durante 16
semanas de setembro 1998 e novembro 1999. Participaram do estudo crianças
diabéticos tipo 2 com glicose plasmática de jejum ≥ 7,00 mmol e ≤ 13,3
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2002) 23

Continuação mmol/l (HbA1c ≥ 7% peptídeo-C ≥ 0,5 µmol% (1,5 ng/ml)) e IMC > 50o
percentil para a idade.
O controle glicêmico mostrou uma melhora significativa com metformina.
A alteração media ajustada da glicose plasmático de jejum no início foi –2,4
mmol/l (-42,9 mg/dl) para metformina, comparada com + 1,2 mmol/l (+21,4
mg/dl) para o placebo (P < 0,001). O estudo mostrou também uma diminuição
significativa dos níveis de HbA1c entre os grupos metformina e placebo (7,5
vs. 8,6% respectivamente, P < 0,001).
Melhora da glicose plasmática de jejum ocorreu em todas as crianças
qualquer que seja o sexo ou a raça. Não foram observados impactos negativos
sobre o peso corporal ou o perfil lipídico, nem nenhum dos efeitos adversos
reportados em adultos tratados com metformina.

Janeiro de 2002 Comunicado de GlaxoSmithKline: A prescrição de rosiglitazona


(Avandia) não precisa mais de receituário especial nem retenção
da receita na farmácia

A rosiglitazona (Avandia) foi excluída da Portaria 344 do Ministério da


Saúde, conforme decisão da Agência nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), não mais havendo a necessidade de receituário especial carbonato,
nem retenção da receita na farmácia. A resolução da ANVISA ratifica a
segurança do produto (hoje utilizado por mais de 2,6 milhões de pacientes
em todo o mundo), e está também em consonância com as autoridades
regulatórias norte-americanas e européias. Avandia passa a ser o único
antidiabetogênico da classe das glitazonas a ser prescrito em receituário
comum. Avandia ganhou recentemente o Prêmio da Society for Medicines
Research 2001 (SMR), um dos mais consagrados e cobiçados prêmios de
pesquisa de medicamentos. A equipe de GlaxoSmithKline recebeu o
reconhecimento pela pesquisa que realizou, tendo esta conduzido ao
descobrimento de Avandia. O prêmio SMR é outorgado há cada dois anos e
reconhece avanços no campo das descobertas de novos medicamentos.
Avandia é diferente dos outros medicamentos, pois enfoca a resistência à
insulina, que é uma causa subjacente da enfermidade e um defeito fundamental
do diabetes tipo 2.

Uto Y, Teno S, Iwamoto Y, Omori Y, Melhora da tolerância à glicose pela nateglinida ocorre através
Takizawa T. Metabolism da estimulação da fase precoce da secreção da insulina
2002;51(1):20-24, janeiro de 2002
Nateglinida é um novo agente hipoglicemiante de ação curta, que aumenta a
secreção precoce de insulina e o total de insulina secretada. Entretanto, não é
claro o qual desses efeitos contribui mais para a diminuição da glicose plasmática
pós-prandial. Para esclarecer as ações farmacológicas da nateglinida,
investigamos as alterações dos níveis da glicose pós-prandial e da insulina
durante testes de refeições com ou sem nateglinida. Os indivíduos eram 10
pacientes recentemente diagnosticados ou não-tratados, todos portadores de
diabetes tipo 2. Após tratamento por dieta e exercício durante uma semana, a
nateglinida foi administrada (270 mg divididos em três doses por dia). Testes
de tolerância a refeição foram realizados no início, após a primeira dose (dia
1), após 7 dias de tratamento (dia 7), e depois do fim do tratamento (dia 8). A
glicose pós-prandial média de jejum era 146 ± 6 mg/dl (média ± DP) no início
e 130 ± 6 mg/dl no dia 7 (P = 0,0004). O nível de glicose pós-prandial de 2
horas era 226 ± 10 mg/dl no início, 145 ± 11 mg/dl no dia 1 (P = 0,0008), e 190
± 15 mg/dl no dia 8 (P = 0,08, início; P = 0,01, dia 7). O nível médio de insulina
de jejum era 5,4 ± 1,0 µU/ml no início e não se alterou significativamente
24 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2002)

Continuação durante o estudo. O nível de insulina pós-prandial a 30 minutos era 14,4 ± 1,9
µU/ml no início, 39,5 ± 4,5 µU/ml no dia 1 (P = 0,0004), e 23,6 ± 3,6 µU/ml no
dia 8 (P = 0,045, início; P = 0,010, dia 7). A insulina total, em termos de área
sob a curva (AUC.IRI), era 3,99 ± 0,7 x 10(3) µU/ml. min no início, 5,47 ± 0,8
µU/ml. min no dia 1 (P = 0,029), e 6,01 ± 1,9 µU/ml. min no dia 8 (P = 0,047
vs. início). A secreção da fase precoce da insulina, baseada na relação entre
delta IRI e delta PG (glicose pós-prandial), da fase de jejum até 30 minutos
após uma refeição era 0,15 ± 0,13 no início, 1,44 ± 0,26 no dia 1 (P = 0,0009)
e 0,26 ± 0,06 no dia 8 (P = 0,05 vs. dia 1). Após a interrupção da nateglinida, o
nível de glicose pós-prandial aumentou imediatamente. Apesar do que a secreção
precoce de insulina voltou ao nível do início, a secreção total de insulina ficou
em um nível elevado. Esses resultados sugerem que a secreção da insulina da
fase precoce contribui mais do que a secreção total de insulina para a melhora
da hiperglicemia pós-prandial em diabetes tipo 2.

Fevereiro de 2002 Comitê da FDA não aprova a terapia combinada pravastatina/


aspirina

Um comitê consultivo da Food and Drug Administration (FDA) votou


contra a aprovação do terapia combinada Pravachol (pravastatina) e aspirina
para o tratamento de pacientes com hipercolesterolemia que já apresentaram
uma ataque cardíaca ou outro evento cardíaco.
O laboratório Bristol-Myers pretende que a combinação pravastatina 40
mg e 81 mg de aspirina ou pravastatina 40 mg e aspirina 325 mg poderia
aumentar o número de pacientes tratados pelas duas terapias separadamente.
Para pacientes com colesterol elevado e evento cardíaco anterior, a American
Heart Association e o American College of Cardiology já recomendaram o
uso de uma estatina, como pravastatina, e aspirina para prevenir futuros
eventos.
Mas o comitê considerou que a adição de uma droga anti-plaquetária poderia
apresentar problemas de segurança. Alguns membros do comitê estimaram
que a aspirina ou qualquer outro agente anti-plaquetário, como clopidogrel,
não podem ser associados com outra droga. A conveniência da associação
não compensa os riscos (sangramentos) da aspirina.
O laboratório não fiz estudos prospectivos mas apresentou uma metanálise
de 5 estudos feitos para comprovar a eficácia da pravastatina. Os especialistas
concordam geralmente em aprovar que a associação é superior para a
prevenção de eventos futuros e da morte, mas estimam que não existe meio
para determinar a dose de aspirina usada ou outras informações sobre os
efeitos da aspirina.
O comitê acrescentou que os pacientes geralmente param o tratamento
com aspirina antes uma cirurgia cardíaca. Os que usam uma terapia combinada
deveriam trocar para outra estatina, o que pode ser uma dificuldade
suplementaria pelo paciente.

Fevereiro de 2002 Comitê da FDA nega indicação do irbesartan para a prevenção


da doença renal em pacientes diabéticos tipo 2

Um comitê consultivo da Food and Drug Administration (FDA) não


autorizou o uso adicional da droga antihipertensiva Avapro (irbesartan) de
Sanofi-Synthelabo, já autorizada para o tratamento da hipertensão, para a
prevenção da doença renal em pacientes diabéticos tipo 2.
Segundo membros do comitê, o laboratório mostro claramente o efeito da
26 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 01 (2002)

Continuação droga em um estudo, mas o período de seguimento foi curto demais, e os dois
estudos efetuados não foram significativos o suficiente para a aprovação.
Aproximadamente 40% do pacientes americanos diabéticos sofrem de uma
doença do rim, causada pela microangiopatia diabética. Irbesartan não previna
a doença renal ou a morte, mais diminui o risco de doença em 20% no estudo
submisso a FDA. Se a FDA não aprova esta indicação adicional, o irbesartan
ficará no mesmo ponto do que as outras drogas da classe, conhecida como a
dos bloqueadores do receptor da angiotensina 2.
Um estudo publicado no New England Journal of Medicine, setembro de
2001, mostrou que os pacientes diabéticos tratados com losartan (Hyzaar ou
Cozaar de Merck & Co) tinham uma risco de doença renal diminuído em
28%. As drogas da angiotensina 2 estão em competição com os inibidores da
enzima de conversão da angiotensina (ACE), remédios antihipertensivos, que
já foram aprovados para a redução da lesão renal em diabéticos tipo 1 e são
usados no tratamento do diabético tipo 2.
Diabetes Clínica 01 (2002) 27

Produtos e novidades
Vaxigrip: proteção contra gripe para os portadores de diabetes
A Aventis Pasteur, empresa líder mundial na produção de vacinas, já tem à
disposição a vacina contra gripe, Vaxigrip, adequada à realidade brasileira para
o ano de 2002. Primeiramente licenciada em 1968, hoje em dia Vaxigrip possui
registro em mais de 60 países. Sua experiência já ultrapassa 30 anos, sendo
aplicada anualmente em mais de 10 milhões de pessoas. No Brasil, é a vacina
pioneira contra gripe.
Sua composição é atualizada anualmente, com base nos dados epidemiológicos
coletados ao redor do mundo pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A
formulação específica para o ano 2002 já está nas clínicas de vacinação. É muito
importante lembrar que todos os portadores de diabetes devem receber uma dose
anual da vacina contra a gripe.

Fitas reagentes One Touch de Johnson & Johnson


A Johnson & Johnson Produtos Profissionais está trazendo para o Brasil as
fitas One Touch, que além de compatíveis com os monitores One Touch Basic
Plus, também são compatíveis com os aparelhos One Touch Basic, One Touch II
e One Touch Profile.
As fitas One Touch trazidas pela Johnson & Johnson Produtos Profissionais
para leitura em sangue total já são calibradas para leitura em plasma, informando
o resultado comparável ao resultado do laboratório.
Caso o consumidor possua um monitor One Touch de qualquer modelo com
algum tipo de defeito poderá estar contactando o Serviço de Apoio ao Cliente da
Johnson & Johnson Produtos Profissionais pelo telefone 0800 701 1389.

Leite Condensado Diet e Ovos de Páscoa de Bom Regime


A indústria alimentícia Bom Regime, sediada em Pinhais, região de Curitiba,
com a experiência de quem está há 13 anos produzindo alimentos diet, dirigidos
especialmente ao consumidor diabético, apresenta sua linha de produtos, composta
por geléias, biscoitos, chocolates e leite condensado. As geléias são elaboradas
com frutas de excelente qualidade, somadas a um blend de adoçantes, que lhes
garante sabor 100% natural, nas variedades de pêssego, damasco e ameixa. Os
chocolates, na forma de barra, bombons e ovos de Páscoa, são oferecidos
com recheio de nozes, castanhas de caju, crocante, amendoim e banana,
diferenciando-se no mercado por não conter sabor residual de
gordura nem de adoçante, fato alcançado
pelo emprego dos melhores ingredientes em
sua formulação, como é o caso da sucralose
como edulcorante. O leite condensado
pronto para consumo, pioneiro no mercado
nacional, destaca-se pela redução calórica
de 65% em relação ao normal, sem perder
o gosto e a consistência. Pode ser utilizado
em sobremesas, recheios, doces, sorvetes,
28 Produtos e Novidades – Diabetes Clínica 01 (2002)

Continuação coberturas e salada de frutas. Produtos aprovados pela ANAD. Todos os


produtos são preparados sob os mais rigorosos padrões de qualidade, sob
supervisão de uma farmacêutica e aprovados pelo Ministério da Saúde.
O Leite Condensado Diet Bom Regime (com selo de aprovação aa ANAD)
já vem pronto para o consumo, podendo ser utilizado em várias sobremesas,
docinhos de aniversário, sorvetes, coberturas ou mesmo consumido puro.

As tradicionais Balas Halter para o público diabético


A bala Halter é conhecida internacionalmente pela confiabilidade e
tradição de nosso produto. O uso de suco de frutas naturais e adoçante
isomalte garante a alta qualidade de seu sabor e isenção de
açucares prejudiciais aos diabéticos. Vendida em mais de 143
países e líder em vendas na categoria, a bala Halter seguramente
preenche todos os requisitos para satisfazer o consumidor
portador de diabetes. As balas Halter estão disponíveis em 10
sabores: Café, Menta, Ervas, Pêssego, Cereja, Melância,
Morango, Maça Verde, Limão e Abacaxi. As informações sobre
as balas halter são disponíveis por e-mail, ggimport@uol.com.br,
ou por telefone no (11) 3078-6844.
30 Diabetes Clínica 01 (2002)

Resumos de trabalhos e congressos


Simon Heller et al., American Diabetes Diminuição da hipoglicemia com insulina aspart: estudo duplo-
Association, 61st Scientific Sessions, cego, randomizado e transversal em pacientes diabéticos tipo 1
Philadelphia, Pennsylvania,
22 a 26 de junho 2001 Introdução: Estudos com análogos de insulina de ação curta oferecem
geralmente diminuições modestas da hipoglicemia. Entretanto, a maioria
dos estudos tem usado um desenho aberto e estudos cegos anteriores não
mostraram benefícios. Este estudo duplo-cego, randomizado, transversal,
comparou a insulina análoga aspart (IAsp) de ação rápida e a insulina
humana solúvel (HI), tendo em vista as taxas de eventos hipoglicêmicos
em um tratamento intensivo por infusão endovenosa.
Métodos: Após de um período de 6 semanas de observação, 155 pacientes
portadores de diabetes tipo 1 (38,7 ± 11,3 anos, IMC 24,9 ± 3,1 kg/m2,
HbA1c 7,8 ± 0,8%) foram randomizados simetricamente para 2 períodos
de tratamento de 16 semanas com IAsp ou HI, as duas sendo aplicadas 0-5
minutos antes as refeições. A insulina NPH foi dada como insulina basal
uma ou duas vezes/dia quando necessária, e as dosagens de insulina foram
regularmente ajustadas usando algoritmos predefinidos para manter um
controle glicêmico rigoroso. Os períodos de tratamento foram separadas
por um período de 4 semanas de eliminação.
Resultados: As taxas totais de eventos de hipoglicemia severa
(requerendo a intervenção de familiares), não foram significativamente
diferentes entre Iasp e HI (0,071 vs. 0,093 eventos/mês), mas episódios
noturnos de hipoglicemia grave (24h00-6h00) foram inferiores com IAsp
(0,017 vs. 0,056 eventos/mês, p < 0,005). Em mais, a taxa de episódios de
hipoglicemia leve foi reduzida com IAsp (2,98 vs. 3,19 eventos/mês, p <
0,005). HbA1c média no fim do tratamento era 7,7 ± 0,8% e 7,7 ± 0,9%,
para IAsp e HI, respectivamente.
Conclusões: Uma diminuição de 72% no risco de hipoglicemia noturna
severa foi observada com IAsp comparada com HI em pacientes
portadores de diabetes tipo 1 recebendo um tratamento intensivo de
insulina. Essa diminuição foi realizada com controle glicêmico mantido.
A maior redução da hipoglicemia noturna severa em pacientes bem
controlados é uma forte indicação para o uso de insulina aspart.

Kjeld Ermansen et al., American Insulina Aspart 30 bifásica melhora o controle glicêmico pós-
Diabetes Association, 61st Scientific prandial
Sessions, Philadelphia, Pennsylvania,
22 a 26 de junho 2001 Introdução: Insulina aspart bifásica 30 (BIAsp 30) é uma nova
formulação lowmix consistindo em insulina aspart (IAsp) 30% solúvel e
70% cristalizada em protamina. O controle glicêmico pós-prandial obtido
com IAsp 30 e com insulina humana padrão bifásica (BHI 30) foi
comparado, usando testes de refeições estritamente controlados.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 06 (2001) 31

Métodos: Neste estudo randomizado 50 pacientes portadores de diabetes


tipo 1 (35,7 ± 9,4 anos, IMC 24,0 ± 2,6 kg/m2, HbA1c 8,6 ± 1,1%) foram
observados durante 3 dias distintos, durante os quais os tratamentos seguintes
foram administrados em ordem randomizada: BIAsp 30 aplicada
imediatamente antes de um café da manhã padrão, BHI 30 aplicada 30 minutos
antes do café da manhã (BHI 30t-30), e BHI 30 aplicada imediatamente antes
do café da manhã (BHI 30t0). A dose foi 0,40 U/kg para os três tratamentos.
Nenhuma insulina intermediara ou de longa ação foi permitida nos 24 horas
antes do teste, e os níveis de glicose sanguínea pré-aplicação foram
estabilizados entre 5 e 8 mM por aplicação endovenosa noturna de insulina.
Resultados: Área sob a curva de glicose plasmática pós-prandial 4 horas
(AUC0-4h) ajustada foi reduzida por BIASp 30 em 23% em comparação com
BHI30t0 e em 9% em comparação com BHI 30t-30 (p = 0,013). A concentração
máxima de glicose plasmática (C max ) foi maior com BHI30 t0 quando
comparada com BIAsp 30 (16,5 ± 2,8 vs. 14,0 ± 2,4 mM, p < 0,0001), e o
tempo para atingir a concentração máxima de glicose plasmática (tmax) foi
aproximadamente 20 minutos menor com BIASp 30, independentemente do
momento das aplicação de BHI 30 (p 0,0001). Os níveis pré-teste médios de
glicose plasmáticos foram similares entre os grupos (6,7 para 6,9 mM). Os
resultados farmacocinéticos foram consistentes com os resultados acima:
AUC0-4h da insulina significativamente maior, Cmax maior e tmax menor foram
observados com BIAsp 30 quando comparada com BHI 30,
independentemente do período das aplicações de BHI 30.
Conclusões: Como efeito de uma infusão mais rápida de insulina no corrente
sanguíneo, o controle glicêmico pós-prandial foi mais efetivo com BIAsp
30 do que com BHI 30, sem consideração para o período das aplicações de
BHI 30.

Rosenblatt S; Miskin B; Glazer NB; O impacto da pioglitazona sobre o controle glicêmico e a


Prince MJ; Robertson KE, Irvine dislipidemia aterogênica em pacientes portadores de diabetes
Clinical Research Center, California, tipo 2
USA; Collective Name: Pioglitazone
026 Study Group Coron Artery Dis Introdução: Avaliar o controle glicêmico, efeitos sobre os lípides, e segurança
2001;12(5):413-23, agosto de 2001 da pioglitazona em pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2.
Desenho e métodos: Pacientes (n = 197) portadores de diabetes tipo 2,
com HbA1c ³ 8,0%. glicose plasmática de jejum (FGP) > 7,7 mmol/l (140
mg/dl), e peptídeo-C > 0,331 nmol/l (1 ng/ml) foram randomizados para
participar em um estudo multicêntrico duplo-cego de 23 semanas (27 sites) e
receberam placebo ou pioglitazona 30 mg, administrado uma vez ao dia em
monoterapia. Foi requerido a interrupção de todos as drogas antidiabéticos 6
semanas antes de iniciar o estudo. Os parâmetros de eficácia incluíram HbA1c,
glicose plasmática de jejum (FPG), peptídeo-C, insulina, triglicérides (Tg), e
colesterol total (TC), HDL-colesterol e LDL-colesterol. As taxas de eventos
adversos, os resultados laboratoriais e os exames físicos foram registrados.
Resultados: Comparada com placebo, pioglitazona diminuiu
significativamente (P = 0,0001) HbA1c (-1,37%), FPG (-3,19 mmol/l; -57.5
mg/dl), peptídeo-C de jejum (-0,076 ± 0,022 nmol/l) e insulina de jejum (-
11,88 ± 4,70 pmol/l). Pioglitazona diminuiu significativamente (P < 0,001) a
resistência à insulina (HOMA-IR; -12,4 ± 7,46%) e melhorou a função da
célula b (Homeostasis Model Assessment (HOMA-BCF); + 47,7 ± 11,58%).
Comparadas com placebo, as concentrações de Tg plasmáticos de jejum
diminuíram (-16,6%; P = 0,0178) e as concentrações de HDL-C aumentaram
(+12,6%; P = 0,0065) com pioglitazona em monoterapia. Alterações do
colesterol total e LDL-C não foram diferentes entre pioglitazona e placebo, e
32 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2002)

Continuação não foi observado hepatotoxicidade ou aumento induzido pela droga das
concentrações de ALT.
Conclusões: Pioglitazona melhora a resistência à insulina e o controle
glicêmico, bem com as triglicérides e HDL-colesterol, o que sugere que
pioglitazona pode diminuir o risco cardiovascular em pacientes portadores
de diabetes tipo 2.

Berber A et al., Servicio de Índices antropométricos no prognóstico do diabetes mellitus tipo


Endocrinologia del Hospital General 2, hipertensão e dislipidemia em uma população mexicana
de Mexico, Organo Descentralizado,
Mexico City, Mexico, Int J Obes Relat Objetivo: Determinar os valores de medidas antropométricas simples
Metab Disord 2001;25(12):1794-9, associadas à presença do diabetes tipo 2, hipertensão e dislipidemias e avaliar
dezembro de 2001 os valores limites para o prognóstico desses doenças crônicas em uma
população mexicana.
Desenho: Dados foram obtidos de estudos PRIT (Prevalence of
Cardiovascular Risk Factors in General Hospital Workers) de 1994 até 2000
ajustados para a estrutura da população mexicana global.
Material e métodos: Participaram 2426 homens e 5939 mulheres com idade
38,99 ± 7,11 e 39,11 ± 14,25 anos, respectivamente. A sensibilidade ajustada
e a especificidade de vários valores limites de IMC (índice de massa corporal),
WHR (relação cintura/quadril), WC (cintura) e WTH (relação cintura/altura)
para o prognóstico de diabetes mellitus tipo 2 (DM), hipertensão (HT) ou
dislipidemia foram avaliadas por análise ROC (receiver operating
characteristic curve). As relações para diabetes, hipertensão e dislipidemias
em indivíduos com vários valores de IMC, WHR, WC e WTH foram
calculadas. A análise de regressão logística múltipla foi utilizada para observar
a relação independente entre os índices antropométricos, idade e tabagismo,
e os odds ratio para essas condições crônicas.
Resultados: O IMC limite para o prognostico de DM, HT ou dislipidemia
variou de 25,2 para 26,6 kg/m2 em homens e mulheres. Os limites de WC foram
90 cm em homens e 85 cm em mulheres. O limite de WHR foi aproximadamente
0,90 em homens e 0,85 em mulheres, e o limite de WTH foi 52,5 em homens e
variou de 53 para 53,5 em mulheres. Os níveis de limite para WC, WHR e WTH
corresponderam aos pontos de inflexão das gráficos de relações. No caso do
IMC, foi encontrado um aumento significativo do risco de doenças crônicas com
níveis de IMC entre 22 e 23 em ambos os sexos. As análises de regressão logística
mostraram que só IMC e idade foram inclusas em todos os modelos bem como a
influência do tabagismo em DM e a dislipidemia em homens.
Conclusão: Apesar do que esses resultados não podem ser aplicados em
toda a população mexicana ou em outras populações hispânicas, eles
demonstram a necessidade de estudos similares com grandes amostras
randomizadas para determinar os níveis limites dessas doenças crônicas
em populações diferentes.

Leila MB Araújo, Rosalita Gusmão, Dislipidemia em mulheres obesas diabéticas, com glicemia de
Maria Zenaide Gonzaga, Ivanise Silva, jejum alterada e não diabéticas
Hospital Universitário da Universidade
Federal da Bahia, Salvador, Bahia, XIo Introdução: É freqüente a associação de obesidade, diabetes tipo 2,
Congresso ALAD, Montevidéu, dislipidemia, e maior morbi-mortalidade por doença cardiovascular. Diversos
Uruguai, 13 de novembro de 2001. estudos sugerem que a hiperglicemia pós-prandial e/ou intolerância a glicose
também contribuam. Neste estudo, comparamos a freqüência de distúrbios
lipídicos de 624 mulheres, consecutivamente admitidas em um ambulatório de
obesidade, antes de iniciar o tratamento.
34 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2002)

Continuação Material e métodos: As pacientes foram classificadas quanto à tolerância


a glicose pelo critério da American Diabetes Association (ADA) e para
dislipidemia pelo III National Cholesterol Education Program, para diabéticas.
Foram excluídas as pacientes com doenças crônicas, exceto as relacionadas
com a síndrome metabólica. A distribuição racial foi de 38% brancos, 38%
mulatos e 24% negros. Os níveis de glicose, colesterol total, HDL-colesterol
e triglicérides após jejum de 12h, foram determinados por método enzimático
e o LDL-colesterol foi calculado pela fórmula de Friedewald, excetuando
uma paciente com triglicérides de 410 mg%. Os grupos foram comparados
aplicando-se o teste de proporções do programa Epi-info, versão 6.0.

Resultados (médias ± DP e freqüências):


Obesas Glicose de jejum Obesas não P
diabéticas alterada diabéticas
n=55 N = 46 N = 523
Idade (anos) 41 ± 8 39 ± 13 35 ± 10 0,0002
IMC (kg/m2) 43 ± 7 42 ± 6 40 ± 6 0,001
% colesterol total (≥ 200 mg%) 53 * 56** 37 * / ** 0,003
% HDL-colesterol (< 50 mg%) 67 54 67 NS
% LDL-colesterol (≥ 100 mg%) 74 74 70 NS
% Triglicérides (≥ 150 mg%) 44 # 33 23 # 0,002
* OD vs. ObN p = 0,02 ; **GJA vs ObN p < 0,01; # OD vs ObN p < 0,001

Observamos que as freqüências de alterações lipídicas nas obesas com glicemia


de jejum alterada (GJA) foram similares às das obesas diabéticas (OD). As
freqüências de colesterol total e de triglicérides acima do desejado foram
significativamente maiores nas obesas diabéticas em relação às obesas com
glicemias normais (ObN). Estas freqüências elevadas de alterações lipídicas
contribuem para a maior morbi-mortalidade por doença cardiovascular em obesos,
devendo-se intervir precocemente, mesmo nos obesos com GJA e não diabéticos.

Ma L, Zhao S, Li J, Zhou Q, Gao M Interação da hipertensão e do diabetes na alteração da função


Chin, Department of Cardiology, endotelial
Second Affiliated Hospital, Hunan
Medical University, Changsha 410011, Objetivo: Investigar se a interação da hipertensão e do diabetes altera a
China Med J (Engl) 2001;114(6):563-7, função endotelial e causa uma disfunção do músculo liso.
junho de 2001 Métodos: Métodos não-invasivos foram usados para investigar pacientes
portadores de diabetes tipo 2 (DM2) (grupo 1), pacientes hipertensos (grupo
2), pacientes com diabetes e hipertensão (grupo 3), e grupo controle normal
(grupo 4), pelo estudo da artéria braquial sem evidência de formação de placa
de aterosclerose.
Resultados: Resultados mostraram que a vasodilatação dependente do
endotélio diminuiu significativamente no grupo 1 (5,74% ± 3,32%, P < 0,05),
grupo 2 (4,14% ± 2,93%, P < 0,01), e grupo 3 (2,78% ± 2,08%, P < 0,001)
quando comparados com o controle (9,45% ± 3,88%). A vasodilatação induzida
pela nitroglicerina (função músculo liso) no grupo 3 diminuiu significativamente
em comparação com o grupo controle (14,11% ± 4,63% vs. 23,53% ± 6,77%,
P < 0,001), más não foram observadas diferenças significativas na vasodilatação
induzida pela nitroglicerina entre os grupos 1, 2 e 4. Na análise univariate, a
resposta reduzida de vasodilatação à nitroglicerina foi associada com a
vasodilatação dependente do endotélio (r = 0,54, P < 0,001).
Conclusão: Nossos resultados indicam que a interação do DM2 e da
hipertensão agravam a disfunção endotelial e diminuem a função do
músculo liso.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2002) 35

Anderson PJ et al., Division of Análise de fator da síndrome metabólica: obesidade vs.


Clinical Pharmacology, The resistência à insulina como anormalidade central
Department of Medicine and
Therapeutics, The Chinese University Objetivos: Avaliar se existe uma anormalidade central contribuindo às
of Hong Kong, The Prince of Wales condições associadas à síndrome metabólica (MS), ou se uma anormalidade
Hospital, New Territories, Hong Kong está contribuindo em vários níveis.
SAR Int J Obes Relat Metab Disord Métodos: Foram recrutados 145 indivíduos chineses com idade 17-68 anos
2001;25(12):1782-8, dezembro de 2001 apresentando vários graus de sensibilidade à insulina (IS): 33 saudáveis, 59
portadores de diabetes mellitus tipo 2, 32 com hipertensão essencial e 21
com dislipidemia. IS foi avaliada pelo teste de sensibilidade à insulina usando
uma aplicação endovenosa de 0,1 U/kg de insulina. Pressão sanguínea,
medidas antropométricas e parâmetros bioquímicos associados à IS foram
também medidos. Análises de fatores (EFA) foram efetuadas no grupo total
de 145 indivíduos e nos 76 com tolerância normal à glicose.
Resultados: Em todos os 145 indivíduos, EFA definiu três fatores distintos
e independentes. Fator 1 foi interpretado com adiposidade geral e central, IS
alterada e intolerância à glicose. Fator 2 foi associado com hipertensão e
obesidade geral e central, embora que fator 3 foi significativamente relacionado
às concentrações baixas de HDL-colesterol e elevadas de triglicérides, em
menor proporção com cintura. Em pacientes com tolerância à glicose
diminuída, só 2 fatores foram identificados; fator 1 relacionado à IS alterada,
tolerância à glicose alterada, dislipidemia e adiposidade central e geral, e o
fator 2 relacionado à pressão sanguínea e adiposidade central e geral.
Conclusões: Esses modelos sugerem que o agrupamento de variáveis no
MS é o resultado de múltiplos fatores ligados pela adiposidade e não uma
etiologia única. Em mais, aumentos da pressão sanguínea são ligados à
obesidade em esses indivíduos chineses mais do que a IS alterada per se.

Flechtner-Mors M, Jenkinson CP, Alt Efeitos do acipimox sobre a taxa de lipólise no tecido adiposo
A, Adler G, Ditschuneit HH, subcutâneo de indivíduos obesos
Department of Internal Medicine,
University of Ulm, Germany, Diabetes Introdução: Acipimox é um agente hipolipemiante que diminui as
Metab Res Rev 2001;17(5):387-90, concentrações plasmáticas de triglicérides e de ácidos graxos não-esterificados.
setembro de 2001 Acipimox pode diminuir a síntese de triglicérides pela diminuição da
disponibilidade do ácido graxo não esterificado dos adipócitos, mas este efeito
não foi ainda demonstrado in vivo. A lipólise após tratamento de acipimox
foi examinada em tecido adiposo subcutâneo de indivíduos obesos mórbidos
com síndromes metabólicos associados.
Métodos: A técnica da microdiálise foi utilizada em tecido adiposo
subcutâneo de oito indivíduos hiperinsulínicos. Após tratamento com
acipimox, a concentração de glicerol foi determinada como índice de taxa de
lipólise. O fluxo sanguíneo foi avaliado pelo técnica de escapamento de etanol.
As taxas de liberação de glicerol a partir do tecido adiposo humano estimulado
por epinefrina foram também investigadas na presença de acipimox. Oito
indivíduos com idade e peso correspondentes foram escolhidos como grupo
controle.
Resultados: Com tratamento de acipimox, a liberação de glicerol diminuiu
no tecido adiposo subcutâneo e nenhum efeito foi observado no fluxo
sanguíneo. No tecido adiposo estimulado, acipimox não demonstrou efeito .
Conclusão: Neste estudo a liberação de glicerol do tecido adiposo foi inibida
pelo acipimox. A ação anti-lipolítica do agente pode diminuir as
concentrações plasmáticas elevadas de ácidos graxos livres em indivíduos
portadores de obesidade severa.
36 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01` (2002)

Richard S. Surwit et al., Duke O tratamento do estresse melhora o controle glicêmico a longo
University Medical Center, Durham, prazo em diabéticos tipo 2
North Carolina Diabetes Care
2002;25:30-34, janeiro de 2002 Objetivo: Existe uma evidência de conflito no que diz respeito a utilidade
do manejo do estresse no tratamento do diabetes. Os estudos que mostraram
o efeito terapêutico do manejo do estresse usaram uma terapia individual
dispendiosa em tempo. Infelizmente, o uso em larga escala desse tipo de
intervenção não é prático. O objetivo da pesquisa foi de determinar se um
programe de treinamento de grupo, de baixo custo, pode melhorar o
metabolismo da glicose em pacientes portadores de diabetes tipo 2 e determinar
se existe um grupo de pacientes que pode apresentar resultados positivos.
Desenho e métodos: Pacientes diabéticos tipo 2 foram randomizados para
participar de um programa de educação em diabetes de 5 sessões, com ou
sem manejo de estresse. Os participantes (n = 108) foram acompanhados
durante um ano, no qual testes de HbA1c e questionários avaliando estresse,
ansiedade e saúde psicológica foram realizados para avaliar os efeitos do
tratamento.
Resultados: O manejo do estresse foi associado à pequena (0,5%), más
significativa diminuição em HbA1c. A complacência com o tratamento
diminuiu com o tempo, mas de modo similar as tratamentos de manejo do
estresse administrados por outras razões. O caractere ansiedade (como medida
de diferenciação individual estável em pré-disposição à ansiedade) não
prognosticou uma resposta ao tratamento, mostrando que os pacientes muito
ansiosos não recebem mais benefício do treinamento.
Conclusões: Os resultados atuais indicam que um programa de manejo
grupal do estresse, com custo baixo, pode resultar em benefícios
clinicamente significativos para pacientes portadores de diabetes tipo 2.

Alice S. Ryan et al., Department of Terapia de reposição hormonal, sensibilidade à insulina e


Medicine, Division of Gerontology at obesidade abdominal em mulheres pós-menopausa
the University of Maryland School of
Medicine, Baltimore, Maryland Objetivo: O objetivo deste estudo foi determinar se a sensibilidade à insulina
Diabetes Care 2002, 25:127-133, difere entre mulheres pós-menopausa tratadas com estradiol, mulheres tratadas
janeiro de 2002 com reposição hormonal (TRH) com estrogênio e progesterona e mulheres
sem TRH e se as diferenças podem ser explicadas pelas diferenças na
adiposidade total e/ou abdominal e a gordura depositado no músculo.
Desenho e métodos: Estudamos 28 mulheres caucasianas, obesas,
sedentárias e na pós-menopausa. Mulheres tratadas com estrogênio oral (n =
6) foram agrupadas pela idade (57 ± 3 vs. 58 ± 2 anos), peso (87,9 ± 6,0 vs.
83,0 ± 3,9 kg), e IMC (33,9 ± 1,7 vs. 33,9 ± 1,9 kg/m2) com mulheres sem
TRH (n = 6). Oito mulheres tratadas com estrogênio mais progesterona foram
agrupadas com 8 outras mulheres sem TRH para idade (59 ± 2 vs. 60 ± 2 anos),
peso (82,8 ± 3,7 vs. 83,7 ± 4,1 kg), e IMC (30,7 ± 1,0 vs. 29,9 ± 1,3 kg/m2).
Resultados: VO 2max (capacidade aeróbica máxima), percentagem de
gordura, massa adiposa corporal total, e massa magra (fat-free mass – FFM)
foram similares entre os grupos. A gordura visceral, subcutânea abdominal,
diâmetro sagital e tecido magro não diferiram em função do status hormonal.
Uso basal de carboidratos e de gordura não foi diferente entre os grupos.
Glicose plasmática de jejum e insulina não foram alteradas pelo uso de
hormônio. Utilização de glicose (M) foi medida durante as últimas 30 minutos
de um clamp hiperglicêmico-euglicêmico de 3h (40 mU · m2 · min-1). As
mulheres pós-menopausa tratadas com estrogênio oral mostraram um M menor
do que as mulheres sem TRH (42,7 ± 4,0 vs. 61,7 ± 4,7 µmol · kgFFM · min-1,
38 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2002)

Continuação P < 0,05). M foi 26% menor em mulheres tratadas com estrogênio mais
progesterona (44,0 ± 3,5 vs. 59,7 ± 6,2 µmol · kgFFM · min-1, P < 0,05) do que
em mulheres sem TRH. M/I, quantidade de glicose metabolizada por unidade
de insulina plasmática (I), índice de sensibilidade à insulina, foi 36% menor
em mulheres tratadas com estrogênio em comparação com mulheres sem
TRH (P < 0,05) e 28% menor do que em mulheres tratadas com estrogênio
mais progesterona quando comparadas com mulheres sem TRH (P < 0,05).
Conclusões: Mulheres pós-menopaúsicas tratadas com estrogênio oral ou
combinação de estrogênio e TRH são mais insulino-resistentes do que as
mulheres sem TRH, mesmo quando as mulheres apresentam uma
adiposidade total e abdominal comparável.

Miyazaki Y et al., University of Texas Efeito da rosiglitazona sobre o metabolismo da glicose e ácidos
Health Science Center, Diabetes graxos não esterificados em pacientes diabéticos tipo 2
Division, San Antonio, Texas,
Diabetologia 2001;44: 2210-2219, Objetivos: Estudar os mecanismos pelos quais a rosiglitazona melhora o
dezembro de 2001 controle glicêmico em pacientes portadores de diabetes tipo 2.
Métodos: 29 pacientes tratados por dieta foram randomizados para receber
rosiglitazona, 8 mg/dia (n = 15), ou placebo (n = 14) durante 12 semanas.
Pacientes receberam 75 g OGTT e um clamp euglicêmico de insulina em 2
etapas (40 e 160 mU/m2.min) com glicose 3-3H. 14C palmitato e calorimetria
indireta.
Resultados: Após 12 semanas, a rosiglitazona diminuiu a glicose plasmática
de jejum (195 ± 11 to 150 ± 7 mg/dl, p < 0,01), a glicose plasmática média
durante OGTT (293 ± 12 para 236 ± 9 mg/dl, p < 0,01), e HbA1c (8,7 ± 0,4
para 7,4 ± 0,3 %, p < 0,01), sem alterações na concentração de insulina
plasmática. A produção endógena basal de glicose (EGP) diminuiu (3,3 ± 0,1
para 2,9 ± 0,1 mg/kg FFM. min, p < 0,05) e a taxa de clearance metabólica da
glicose do corpo total aumentou após rosiglitazona (primeira etapa do clamp:
2,8 ± 0,2 para 3.5 ± 0.2 ml/kg FFM. min, p < 0.01; segunda etapa do clamp: 6,7
± 0,6 para 9,2 ± 0,8, p < 0,05), apesar do aumento do peso corporal (86 +/- 4
para 90 +/- 4 kg, p < 0,01) e da massa adiposa (33 ± 3 para 37 ± 3 kg, p < 0,01).
Ácidos graxos não-esterificados plasmáticos de jejum (NEFA) (735 ± 52 para
579 ± 49 mEq/l, p < 0,01), média de NEFA durante OGTT (561 ± 33 para 424
± 35, p < 0,01), e turnover NEFA basal (18,3 ± 1,5 para 15,5 ± 1,2 mEq/kg FM.
min, p < 0,05) diminuíram após rosiglitazona. Alterações em EPG e glicose
plasmática de jejum durante OGTT correlatas com alterações em EGP basal (r
= 0,54; r = 0,58), primeiro EGP (r = 0,36; r = 0,41), primeiro MCR (r = -0,66;
r = -0,68), segundo MCR (r = -0,49; r = -0,54), NEFA plasmática de jejum (r =
0,53; r = 0,49), e NEFA durante OGTT (r = 0,66; r = 0,66).
Conclusão: Rosiglitazona aumenta a sensibilidade à insulina nos tecidos
hepáticos e periféricos (músculo) e diminui o turnover dos NEFA apesar
do aumento da massa adiposa corporal total. Esses resultados sugerem que
os benefícios da rosiglitazona sobre o controle glicêmico são mediados,
em parte, pelo efeito da droga sobre o metabolismo dos NEFA.

Jee-Young Oh et al., Division of Hormônios sexuais endogênicos e desenvolvimento de diabetes


Epidemiology, Department of Family tipo 2 em homens e mulheres idosos: Rancho Bernardo Study
and Preventive Medicine, University of
California, San Diego, California Objetivo: Determinar a associação prospectiva entre hormônios sexuais
Diabetes Care 2002;25:55-60, endogênicos e desenvolvimento do diabetes tipo 2 em homens e mulheres idosos.
Janeiro de 2002 Desenho e métodos: Um histórico medical padronizado, teste de tolerância
oral à glicose e medições plasmáticas de hormônios sexuais foram coletados
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2002) 39

Continuação em um grupo de homens e mulheres de 1984 até 1987. Após aproximadamente


8 anos (1992-1996), foi obtido e avaliado novo histórico medical dos
participantes, bem como teste de tolerância à glicose oral, níveis de insulina
de jejum e 2h e HOMA-IR (homeostasis model assessment for insulin
resistance). Este relatório foi baseado em 294 homens e 233 mulheres, idade
55-89 anos, que participaram das duas consultas e que não tinham diabetes,
como foi comprovado pelo histórico e pelo teste inicial de tolerância à glicose.
As mulheres não eram tratadas por reposição hormonal.
Resultados: Nas análises de correlação ajustadas com a idade, a testosterona
total foi e inverte e significativamente relacionada aos níveis da glicose de jejum
e pós-carga e insulina em homens, enquanto que testosterona e estradiol
biodisponíveis foram positiva e significativamente relacionadas à glicose de jejum
e pós-carga e insulina em mulheres (P < 0,05). Foi observada uma associação
significativa similar com a resistência à insulina (HOMA-IR) em análises não-
ajustadas e ajustadas (P < 0,05). 26 homens e 17 mulheres apresentaram um
diabetes novo. O odds ratio para os novos diabetes era 2,7 (95% IC 1,1–6,6) para
os homens no quartil mais baixo da testosterona total e 2,9 (1,1–8,4) para as
mulheres no quartil o mais elevado da testosterona biodisponível.
Conclusões: Níveis baixos de testosterona em homens e níveis elevados
de testosterona em mulheres prognosticam resistência à insulina e diabetes
tipo 2 em adultos idosos.

Nancy C. Dolan et al., Diabetes Care Doença arterial periférica, diabetes e função alterada das
2002;25:113-120, janeiro de 2002 extremidades inferiores

Objetivo: Caracterizar função e disfunção das extremidades dos membros


inferiores na doença arterial periférica (PAD) em pacientes portadores ou
não de diabetes.
Desenho e métodos: Neste estudo, 460 homens e mulheres portadores de
PAD (147 diabéticos) foram recrutados em três centros médicos. A avaliação
incluiu índice tornozelo braquial (ABI), escore de neuropatia, distância de
marcha de 6 minutos, velocidade de marcha, questionário de alteração de
marcha (escala 0-100 com 100 o melhor), e escore de performance resumido
(SPS) (escala 0-12, 12 o melhor).
Resultados: o ABI médio foi similar em pacientes PAD portadores ou não
de diabetes. Os pacientes PAD diabéticos eram mais jovens, com IMC maior,
e um escore de neuropatia pior, e tinham um número maior de comorbidades
cardiovasculares quando comparados com os indivíduos não diabéticos.
Participantes diabéticos tinham menos riscos de sintomas clássicos de
claudicação intermitente e mais riscos de dor da perna, começando as vezes
no repouso. Após ajuste para idade, os diabéticos tinham uma distância de
marcha média de 6 minutos menor (319 m vs. 358 m, P < 0,001), velocidade
de marcha menor (0,83 vs. 0,90 m/sec, P < 0,001), e SPS menor (7,3 vs. 8,6,
P < 0,001) que os indivíduos não diabéticos. Os pacientes com diabetes
controlado por dieta apresentaram resultados melhores do que os pacientes
tratados com drogas. Diferenças na função das extremidades inferiores entre
pacientes diabéticos e não diabéticos foram bastante diminuídas mais não
abolidas para SPS e velocidade de marcha após ajuste para o tipo de dor da
perna, escore neuropático e número de comorbidades cardiovasculares.
Conclusões: Pacientes portadores de PAD e diabetes apresentam função
das extremidades inferiores pior do que os que têm só PAD. Este diferença
está explicada pela neuropatia associada ao diabetes, diferenças em sintomas
da perna durante o exercício, e maior números de doença cardiovascular
em pacientes diabéticos.
40 Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2002)

Ron Y et al., J Gerontol A Biol Sci Med Efeito da acarbose sobre o tempo de transito colônico em
Sci. 2002 Feb 1;57(2):M111-114 pacientes diabéticos tipo 2
Introdução: Constipação é comum em pacientes idosos portadores de
diabetes; sua prevalência é estimada em 60% entre pacientes com
neuropatia diabética. Acarbose, inibidor da a-glicosidase, tem um papel
benéfico no controle do diabetes, mas um de seus efeitos adversos é a
diarréia. Este estudo avaliou a eficácia da acarbose na melhora da
constipação usando estudos de tempo de transito (TT) em pacientes idosos.
Métodos: 28 pacientes portadores de diabetes tipo 2 e constipação foram
recrutados para o estudo. TT foi medido por marcadores radioopacos e
foi calculado separadamente para os 4 segmentos do cólon (ascendente,
transverso, descendente e retossigmóide) e para o tempo de transito
colônico total (CTT). TT segmental e CTT foram avaliados em cada
paciente antes e após de uma semana e de novo após 4 semanas de
tratamento com acarbose.
Resultados: O CTT inicial médio medido em pacientes era 202 ± 136
horas. Após 4 semanas de tratamento com acarbose, o CTT inicial diminuiu
significativamente para 149 ± 107 horas e 161 ± 97 horas, respectivamente
(p < 0,002). Para cada segmento estudado, o TT foi menor, mas de modo
significativo só no cólon ascendente e transverso (p < 0,02 e p < 0,03,
respectivamente). O efeito da composição da dieta foi também examinado.
Resumos de Trabalhos e Congressos – Diabetes Clínica 01 (2002) 41

A quantidade de fibras consumidas foi correlato com o TT menor, enquanto


que a gordura tenha uma correlação negativa com TT.
Conclusões: Acarbose diminui o tempo de transito colônico extremamente
prolongado em diabéticos com constipação. O remédio pode ser útil para
aliviar a constipação nestes pacientes, em adição a seus efeitos benéficos
no controle do diabetes.

Diamantopoulos EJ et al., Int Angiol Efeitos clínicos e hemoreológicos da buflomedil em pacientes


2001;20(4):337-44, dezembro 2001 diabéticos com claudicação intermitente
Introdução: Alterações na reologia sangüínea já foram descritas em diabetes
mellitus. Buflomedil, substancia vaso-ativa com propriedades hemoreológicas,
foi muito utilizado no tratamento da claudicação intermitente. O objetivo deste
estudo foi de avaliar o efeito do buflomedil nos parâmetros clínicos e hemoreológicos
em indivíduos portadores de diabetes tipo 2 e claudicação intermitente.
Métodos: 40 pacientes foram randomizados para receber buflomedil via
oral ou placebo durante 6 meses em duplo-cego. Distancias de andamento do
início e absolutas foram avaliadas segundo um teste padrão. A deformidade
do eritrócito foi estimada usando uma técnica de filtração do sangue total.
Agregação plaquetária induzida por ADP e colágeno foi avaliada com um
registro de agregação. b-tromboglobulina e fator 4 plaquetário foram medidos
por radioimunoensaios. Todos os testes foram efetuados no início, três e seis
meses após o fim do tratamento.
Resultados: O aumento significativo da distância média de marcha inicial
ou absoluta foi atingido somente no grupo buflomedil. A agregação plaquetária
induzida por ADP ou colágeno foi significativamente diminuída no grupo
buflomedil, sem alterações significativas da deformidade eritrocitária e níveis
de b-tromboglobulina e fator 4 plaquetário. Entretanto, os níveis de b-
tromboglobulina aumentaram significativamente no grupo placebo.
Conclusões: Esses achados sugerem a eficácia do buflomedil em pacientes
diabéticos com claudicação intermitente. A inibição da agregação
plaquetária e a influência exercida pela droga sobre a atividade plaquetária
poderia ter um papel importante no efeito clínico em pacientes diabéticos.
42 Pérez-Comas A / Diabetes Clínica 01 (2002) 42~45
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 05 (2002) 42~45

PALESTRA E ENTREVISTA

Outros aspectos do diabetes tipo 2: crianças e adolescentes

Adolfo Pérez-Comas*
*Presidente da Internacional Diabetes Federation (IDF) – Região SACA (South America – Central America), endocrinologista e educador da Faculdade de
Medicina da Universidad de Ponde em Porto Rico, Assessor do Nacional Institute of Health dos Estados Unidos, assessor do Control Disease Center
(Atlanta - USA).

Diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes formada em Filadélfia, que alertava sobre os números
Fomos considerados como loucos, mas é um assunto de prevalência do diabetes tipo 2 em crianças.
que começamos investigar já há muitos anos na América Os tipos de diabetes que podemos encontrar na
latina. Hoje em dia, vivem no mundo 151 milhões população jovem são os seguintes:
portadores de diabetes. Este número vai crescer - Diabetes gestacional em adolescentes.
drasticamente no próximo quarto de século. Segundo a - Diabetes autossômico dominante, transmitido à
Organização Mundial da Saúde (OMS), a população de crianças pela mãe. Existe em percentagem baixa e
diabéticos será de 300 milhões em 2025. Mas esta somente em pessoas caucasianas.
previsão não toma em conta o fenômeno do diabetes - Diabetes tipo 2 presente em uma minoria.
tipo 2 em crianças e adolescentes. - Outros tipos de diabetes não auto-imunes, presentes
em populações distintas. Existe em algumas crianças de
O diabetes na população jovem raça afro-americana, mas não são tipicos.
Crianças e adolescentes podem desenvolver diabetes Esses tipos de diabetes estão aumentando e
desde o nascimento e em qualquer período da vida. As particularmente o diabetes tipo 2. Agora, doenças
pesquisas mostram que existe um aumento mundial do comuns em crianças são o câncer, diabetes e doenças
diabetes nesta população. Não só do diabetes tipo 1, que fibroquísticas do pâncreas.
é característico dessa idade, mas também do diabetes Em Porto Rico, temos uma taxa de 18,4%, o que é o
tipo 2. No final dos anos sessenta e no início dos anos maior índice da Caribe e provavelmente do continente
setenta, a idéia comum era que isso não pode acontecer, americano.
mas já existia alguns casos isolados. Na população de jovens, o período de início o mais
Em 1963, um grupo de científicos do Venezuela, entre característico para o diabetes tipo 1 é a idade de 10 a 14
eles o Dr. León Colina Bracho, publicou o resultado de anos. Existe um pico no período do nascimento, com
uma pesquisa sobre a presença do diabetes tipo 2 em um diabetes transitório ou continuo, e esse pico vai
crianças. Este trabalho não recebeu atenção, até que o diminuindo com a idade. Os especialistas conhecem bem
assunto começou preocupar os Estados Unidos em 1995. o problema do ponto de vista epidemiológico, mas no
Um estudo realizado em Arizona recolheu uma serie de que diz respeito a outras idades, não existem dados
casos. Na Declaração das Américas de 1996, foi editado específicos porque não há registros (a maioria dos
um documento especial com o Consenso da Associação estudos são realizados pela Universidade de Pittsburg).
Latino-americana de Diabetes (ALAD) sobre o manejo
do diabetes tipo 2, no qual foram incorporados dois O Terceiro Estudo Nacional de Saúde e Nutrição dos
capítulos: um sobre este tema e outro com o trabalho da Estados Unidos foi baseado em pesquisa realizada em
Dr a. Carmen Sáenz, endocrinologista de Porto Rico jovens. Mostrou um índice nacional de diabetes de 4,1
Pérez-Comas A / Diabetes Clínica 01 (2002) 42~45 43

por mil, em uma população com idade 12-19 anos. Se Sabemos que as chamadas “minorias” nos Estados
comparemos este número com o da fibrose quística do Unidos (os brancos caucasianos não hispanos, os
pâncreas, que é de 0,3 por mil, o resultado é uma africanos-americanos, os cubano-americanos, os méxico-
diferença drástica para o diabetes. americanos e os portorriquenhos), são as pessoas que
Para o período 1993-1994, existem dados sobre a têm mais risco de desenvolver um diabetes tipo 2. Os
incidência do diabetes em jovens. Em Porto Rico era de portorriquenhos e latino-americanos em geral estão mais
8,5%, e 3,8% em Bogotá, Colombia. Em inúmeros paises propensos a desenvolver a condição que chamamos
se desconhece o que está acontecendo. diabetes em crianças.
Neste momento, a maioria dos registros que eram Com relação ao diabetes tipo 2, está ocorrendo a fase
financiados em grande parte por instituições dos Estados clínica na qual uma pessoa pode estar cinco, seis ou sete
Unidos para o diabetes tipo 1 tem perdido os seus anos com a condição sem perceber que os níveis de
recursos de financiamento, porque agora, na América glicemia estão aumentando. A resistência à insulina
do Norte, o interesse se centraliza no diabetes tipo 2. (hiperinsulinemia) aparece muitos meses antes de ser
Entretanto, o Grupo de Estudo Latino Americano sobre diagnosticada. Isso influi nas futuras complicações do
o Diabetes na Criança e adolescente (GELADNA), diabetes em todos os níveis.
membro da Associação Latino Americana de Diabetes O que anteriormente ocorria na idade de 40 ou 50
(ALAD) e com representação em países como Equador, anos, agora manifesta-se em adolescentes, incluso em
Paraguai, Costa Rico, Colômbia, entre outros, está crianças de 8 e 9 anos, associado a algumas
coletando dados para conhecer o que está ocorrendo na características clínicas.
América Latina. Se estudamos a existência do diabetes em Chiapas,
Apesar deste esforço, é muito difícil obter dados México, observamos que a incidência é de 2 ou 3%.
científicos concretos de todas as Nações de forma Quando chegamos à fronteira, há uma incidência de 9
organizada. Sem dúvida nenhuma, a situações é hoje ou 10% e quando estas pessoas cruzam a fronteira e
consideravelmente melhor do que 10 ou 12 anos atrás. Se vivem nos Estados Unidos por 2 ou 3 anos, já a incidência
não existia este grupo, não teria nenhum dado desse tipo. está em 13 ou 14%.
É uma experiência natural pelo novo tipo de ambiente,
Como se manifesta o diabetes tipo 1 em crianças? a nova qualidade de vida, que os Índios Pima de México,
Se trata de fator ambiental produzido por um vírus. primos dos Índios Pima de Arizona também apresentam
Também pela alteração da dieta na infância como por uma taxa muito baixa de 3 ou 4% em México, mas com
exemplo o tipo de leite, a contaminação com nitrito ou uma taxa de mais do que 50% em certas faixas etárias
nitrato, incluso distintas substancias farmacêuticas que em Índios Pima de Arizona.
podem ser nocivas, e que podem ser responsáveis de
uma resposta auto-imune. Existem marcadores genéticos Muitos estudos e pouca informação
de tipo HLA que podem identificar as pessoas suscetíveis Há múltiplos investigações sobre retinopatia,
de desenvolver o diabetes. Muitas pessoas não vão ser nefropatia, estudos cientificamente bem preparados para
afetadas, porque não vai aparecer uma diminuição das chegar a conclusão que o diabetes pode ser controlado.
células β de forma estável. Em algumas pessoas pode Se gasta muito dinheiro nesses estudos, mas a mensagem
ocorrer que a perda das células β seja uma consequência não está chegando onde ela deve: até a pessoa portador
de uma resposta auto-imune, mas por que o diabetes de diabetes. Incluso em muitas Faculdades de Medicina,
aparece, tem que ter um déficit de função de pelo menos os estudantes desconhecem ainda os resultados destes
70 a 80% dessas células. Neste quadro já se manifeste a estudos. Com estes trabalhos, os pesquisadores estão
sintomatologia clínica, até chegar em uma estado de convencidos que é necessário o tratamento precoce
perda total, que chamamos diabetes tipo 1. adequado da pessoa com diabetes. Temos os melhores
Nos Estados Unidos há 123 mil jovens de menos de medicamentos, os melhores estudos científicos, os
20 anos portadores de diabetes. 15 a 45% dos novos casos melhores instrumentos, mas não conseguimos levar todo
não são de diabetes tipo 1. São crianças com uma classe isso até a prática diária.
de diabetes que anteriormente era considerado do adulto:
o do tipo 2. Como se origina o diabetes tipo 2 em crianças?
O diabetes da criança e adolescente compreende 30% Existem várias hipóteses sobre a etiologia do Diabetes
de novos casos nos Índios Americanos a partir dos 10 tipo 2 em crianças e adolescentes. Uma delas é o fator
anos de idade. De 1988 a 1996, o Serviço Nacional ambiental que poderia ter influência na etapa intra-
Indígena dos Estados Unidos, (Instituição que possui um uterina. Já há estudos que demonstram que crianças mal
grande número de estudos realizados em crianças com nutridas, de baixo peso de nascimento, apresentam
Diabetes nesta Nação) informou um incremento de 54% alterações do conteúdo do ADN. A consequência é que,
na prevalência do Diabetes em jovens entre 15 e 19 anos. a longo prazo, eles apresentam uma deficiência das
44 Pérez-Comas A / Diabetes Clínica 01 (2002) 42~45

células β, processo que pode se adicionar à inatividade Fig.2 - Aumento da prevalência do diabetes Tipo 2 em crianças e
física, má alimentação, além da presença no meio adolescentes em Cincinatti, Ohio
ambiente de tóxicos químicos, como o famoso agente
laranja que se utilizou no Vietnã. No que diz respeito a
este produto que foi criado, aprovado e produzido em
Porto Rico, o governo dos Estados Unidos determinou
no ano passado que ele foi a causa de diabetes em muitos
veteranos durante a Guerra do Vietnã. A herança joga
indiscutivelmente um papel fundamental nos dois tipos
de diabetes, os marcadores genéticos que conhecemos
no tipo 1 e a frequência de familiares afetados nas pessoas
com diabetes tipo 2. No tipo 1 muitas vezes não
encontramos nenhum familiar. No tipo 2, encontramos
pais, avós e primos. Isto indica uma herança que é
poligénica. Estas pessoas são caracterizadas
especificamente pela hiperinsulinemia, vão apresentar
também um processo de insulino-resistência: o nível da
insulina é bem mais elevado porque ela não está utilizada
nos tecidos periféricos.

Mais investigações sobre o diabetes tipo 2 na


população jovem
“Os aspectos diferentes do Diabetes tipo 2 em pessoas
de distintas raças”, é uma palestra das VI Jornadas de
FENADIABETES. Este é o título de um livro escrito Em distintas investigações realizadas em diferentes
em Porto Rico e preparado para os Estados Unidos. A populações dos Estados Unidos, se encontrou que há
pesquisa utilizada no texto postula que no âmbito variações na prevalência do Diabetes nos Índios Pima,
mundial se encontra um incremento na apresentação do nos Hispanos e em várias cidades. Por exemplo, observamos
Diabetes tipo 2 em pessoas menores de 20 anos. Isso é aproximadamente 40% dos novos casos de crianças
agora a grande preocupação nos centros de pesquisa. portadoras de diabetes tipo 2 na Carolina do Sul.
O Diabetes tipo 2 é um problema de saúde pública Estes números coincidem com o incremento do
nos Estados Unidos, Canadá, Hong Kong, Japão, Nova sobrepeso e da inatividade física no mundo. Há estudos
Zelândia, Austrália, Bangladesh e Líbia. Nos Índios Pima demonstrativos sobre a relação do sobrepeso e a
de Arizona, entre 1992 e 1996 a prevalência era de 22,3 manifestação do diabetes, não só nos adultos mas
por mil nas crianças e jovens de 10 a 14 anos de idade e também nas crianças com diabetes tipo 2.
de 50,9 por mil na população com idade entre 15 e 19 A revista New England Journal of Medicine publicou
anos. Em um estudo realizado no território dos Estados um estudo realizado na Finlândia com dois grupos de
Unidos se demonstrou a existência do diabetes em 4,1% pacientes obesos. A pesquisa se baseava no seguimento
o que, em comparação com outras doenças hereditárias, destas pessoas durante um período de 4 anos: um grupo
exige de pesquisar o que está ocorrendo na realidade com educação em Diabetes e exercícios e outro sem
com as crianças e adolescentes afetados. nenhum tipo de atenção. O resultado foi que no grupo
Por exemplo, no Japão, subiu de 7,3 (1976-1980) até que no se controlou, 23% desenvolveu diabetes tipo 2
12,1 por mil (1981 -1985) e até 13,9 (1991-1995). Neste em 4 anos. No grupo que recebeu alguma educação e
país há uma proporção de 7 a 1 do diabetes tipo 2 em um programa de exercícios, 11 % apresentou diabetes.
relação ao tipo 1 (este último é extremamente raro nas São fatos que todos conhecemos e todos suspeitamos,
crianças japoneses). Líbia, Bangladesh, aborígenes de mas nada foi documentado cientificamente.
Austrália e de Canadá mostram incrementos A idade média do diabetes tipo 2 nos Estados Unidos
significativos, em uma forma semelhante à doença está também entre 12 e 14 anos; o tipo 1 entre 10 e 14
observada nos Índios Pima. anos. Durante a adolescência, se sabe que há um aumento
Atualmente, nos Estados Unidos, de 8 a 45% das da secreção de hormônios sexuais e de crescimento que
crianças e jovens diabéticos recentemente diagnosticados estão relacionados com a insulino-resistência, que
não são do tipo 1. Os resultados variam de uma população diminui um pouco após este período de desenvolvimento.
a outra. Muitas vezes, estes números são subestimados Isso demonstra que os fatores hormonais durante o
porque estamos falando de estudos isolados e não de um desenvolvimento estão favorecendo um dos mecanismos
registro como na realidade foi feito com o diabetes tipo 1. (a insulino-resistência) para que ocorre o diabetes tipo 2.
Pérez-Comas A / Diabetes Clínica 01 (2002) 42~45 45

Há uma predominância de os que os Norte-americanos Fig.4 - Diabetes tipo 2 em adolescentes nos Estados Unidos.
chamam “Não em Europeus” (para não chamá-los de
minorias) que são os Africano-americanos, os Asiáticos,
os Hispanos e os Índios nativos americanos que vivem
nos Estados Unidos. Um número significativo deles
apresentam problemas lipídicos, albuminúria, apnéia do
sono, depressão, obesidade (em 85% das pessoas),
inatividade física, antecedentes familiares de diabetes tipo
2 (de 45 a 80% têm um dos pais com diabetes e pode
apresentar historia de diabetes em varias gerações). Isso
é um marcador a buscar nas crianças, mas na circunstancia
de diagnostico do diabetes tipo 2 em crianças, devemos
verificar se existe diabetes também nos pais, que
geralmente não têm conhecimento da doença.
De 70 a 100% dos pacientes têm um familiar de
primeiro ou segundo grau com diabetes tipo 2.
Frequentemente ocorre que o diabetes é diagnosticado
nos pais após ser encontrado na criança afetada. Jovens de Jovens
Existe a exposição ao diabetes durante a vida intra- 12 a 19 Pima de
uterina. As mães portadoras de diabetes gestacional anos 15 a 19
poderiam transmitir a condição aa filho. Esta pessoa anos
poderia desenvolver o diabetes tipo 2 durante a
adolescência. Os signos de insulino-resistência nos fazem
prestar mais atenção a procurar doenças como a acantose,
demonstra: é preciso passar à fase de intervenção, à de
que parece ser um marcador importante para identificar
um diagnóstico precoce e de tratamento adequado.
a hiperinsulinemia e os ovários poliquísticos.
33 % dos adolescentes com diabetes tipo 1 podem ter
Como tratar o diabetes tipo 2 em crianças e
diagnóstico de cetonúria e de 5 a 25% dos tipo 2
adolescentes?
apresentarão cetoacidose no início. Estes pacientes
Conhecemos as complicações do diabetes a longo
podem ter cetoacidose sem necessidade de associação
prazo, mas se o especialista passa mais tempo para busca-
com estresse, outra doença ou infecção.
las, as percentagens de portadores de complicações em
crianças e adolescentes cão aumentar drasticamente em
Como identificar um adolescente com diabetes tipo
um futuro próximo.
1 e tipo 2?
O tratamento, infelizmente, ainda é inadequado. O
Há ampla diferença geográfica na incidência do
protocolo varia consideravelmente de um lugar a outro.
Diabetes tipo 1 e tipo 2.
A maior parte dos medicamentos disponíveis para o
Há um pico de aparição entre 10 e 14 anos para o tipo
tratamento do diabetes tipo 2 não estão aprovados para
1 e entre os 12 e 14 anos para o tipo 2.
o uso nas crianças. Nos Estados Unidos, se um
Há uma variação estacional no tipo 1 (inverno, outono,
especialista usa um medicamento que não foi certificado
etc), que não existe no tipo 2.
adequado pelo FDA (Food and Drug Administration)
Há uma suscetibilidade genética, mas não é a mesma
ele pode ser processado. Se o paciente apresenta
para todos os tipos de diabetes.
complicações, o especialista automaticamente perde o
processo porque não respeitou as normas de aprovação
Diagnóstico precoce para evitar as complicações
do medicamento.
do diabetes tipo 2
Não só os remédios para a glicose, mas também os
É muito importante que a população seja alerta para
antilipídicos (incluso os medicamentos para a tensão
o diagnóstico precoce do diabetes tipo 2 em crianças.
arterial) não foram aprovados em estudos científicos para
Também para o tratamento adequado e imediato que
o uso em crianças. Às vezes, o tratamento é incorreto
permita evitar as conseqüências. Estudos têm
por desconhecimento dos especialistas da presença do
demonstrado que o diabetes pode prevenir-se de uma
diabetes nas crianças.
forma muito significativa.
É importante que seja avaliado o comportamento
diagnóstico e terapêutico quando o diabetes é detectado
em idades precoces. Existem múltiplos estudos que o
46 Gagliardino JJ et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 46~54
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 01 (2002) 46~54

Avaliação da qualidade da assistência


ao paciente diabético na América Latina

Juan José Gagliardino*, Marcelo da Hera*, Fernando Siri* e grupo de investigação da rede
QUALIDIAB

*Centro de Endocrinologia experimental e aplicada (Cenexa), Universidade nacional da Plata – Conselho nacional de investigações científicas e técnicas
(UNLP-CONICET), Centrro colaborador da organização Panamericana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPS/OMS), La Plata, Argentina

A Rede QUALIDIAB é formada pela Argentina (Juan José Gagliardino, CENEXA, UNLP-CONICET; Silvia Lapertosa,
Corrientes; Astrid Libman, Rosario, Santa Fé; Luis Olivares, Santa Rosa, La Pampa; Martin Rodriguez, Mendonza; Isaac
Sinay, Buenos Aires); Brasil (Adriana Costa e Forti, Cristina F Sampaio Façanha, Fortaleza); Chile (M. Cristina Escobar,
programa Saúde do Adulto, Ministério da Saúde, Santiago, e Glória Lopez, Santiago); Colômbia (Iván Dario Escobar Duque,
Santa Fé de Bogotá); França (Line Kleinebeil, Paris); Paraguai (Felicia Cañete e Gilda Benitez Rolandi, Asunção); Uruguai
(Ramiro Draper, Pando, Depto Canelones; Ladislao Baptista, Trinidad, Depto Flores, e Maria del Pilar Serra, Montevideo).

Resumo
Objetivo: Estabelecer um diagnóstico inicial da qualidade da assistência recebida por pacientes portadores de diabetes mellitus (DM), em
centros participantes da rede QUALIDIAB na América latina e no Caribe, e avaliar o uso potencial dessa informação bem como a importância
da expansão da rede QUALIDIAB.
Métodos: Foram analisados 13.513 registros fornecidos por entidades de atenção de setores públicos e privados de saúde e previdência Social
de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Paraguai e Uruguai (rede QUALIDIAB). Foram utilizados indicadores da qualidade da atenção baseados
em valores de referência internacionais, planilha de registro de parâmetros clínicos, bioquímicos e terapêuticos e taxa de uso de elementos
diagnósticos e terapêuticos, um programa para tratar os dados e outro para a análise estatística.
Resultados: O diabetes tinha uma duração < 5 anos em aproximadamente a metade das pessoas portadores de diabetes tipo 1 (DM1) e tipo 2
(DM2). 24% dos pacientes DM1 e 15% dos pacientes DM2 apresentavam glicemia < 4,4 mmol/l, e 41% dos DM1 e 57% dos DM2 tinham
glicemia > 7,7 mmol/l. A freqüência da associação do DM2 com outros fatores de risco cardiovasculares (FRCV) foi a seguinte: sobrepeso/
obesidade, 59%; hipertensão, 60%, colesterol total > 5,5 mmol/L, 53%; colesterol das lipoproteínas de alta densidade < 1 mmol/L, 32%;
triglicérides > 1,7 mmol/L, 45%; tabagismo 13%. 20% dos portadores de DM1 tinham um índice de massa corporal < 19 kg/m2 que provavelmente
reflete um controle metabólico deficiente e hipoinsulinização. A verificação sistemática dos indicadores do controle metabólico e a detecção
de FRCV e de complicações crônicas do DM foram deficientes em 3 até 75% dos casos. Segundo indicadores de educação terapêutica, só a
metade ou um quarto dos participantes poderia desempenhar um papel ativo e eficaz no controle e tratamento de seu DM. 50% dos portadores
de DM1 são tratados com combinação de insulinas (NPH + ação curta), administrada em dois aplicações diárias em 43% dos casos. 5 a 9% dos
pacientes recebem, respectivamente, 1 e > 3 aplicações diárias de insulina. 13% dos portadores de DM2 tratam seu enfermidade só com dieta
e 14% só com insulina. Entre os pacientes tratados com medicamentos, os hipoglicemiantes orais os mais utilizados em monoterapia foram as

Agradecemos o Prof. Dr. Juan José Gagliardino pela


autorização de tradução e publicação deste artigo,
já publicado na Rev Panam Salud Publica 2001;10(5).

Endereço para correspondência: Juan José Gagliardino, CENEXA (UNLP-CONICET), Facultad de Cinecias Médicas, UNLP, Calles 60 y 120, 1900 La Plata,
Argentina, Tel: +54 221 423 6712, Fax: +54 221 422 2081, E-mail: gagliardino@infovia.com.ar
Gagliardino JJ et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 46~54 47

sulfoniluréias (33%), seguidas pelas biguanidas (9%) e a administração combinada (14%). Menos da metade dos pacientes diabéticos recebem
uma farmacoterapia para tratar os FRCV associados. A frequência das complicações microangiopáticas e microangiopáticas aumenta com a
duração da doença, verificando-se os incrementos máximos na insuficiência renal e nas amputações (aproximadamente 7 vezes) e os menores
na neuropatia periférica (2 vezes) e os acidentes cérebro-vasculares (1,6 vez).
Conclusões: Estes resultados demonstram a necessidade de melhorar a qualidade da atenção aos pacientes diabéticos e que QUALIDIAB
pode ser o instrumento idôneo por isso na América Latina e Caribe. A ampliação da Rede QUALIDIAB contribuirá a estabelecer um diagnóstico
mais preciso da qualidade da atenção na Região e facilitará a implementação de intervenções destinadas a otimizá-la, melhorando assim a
qualidade de vida dos pacientes e diminuindo simultaneamente o custo socioeconômico da doença.
Palavras-chave: Diabetes, qualidade da atenção, sistemas de avaliação, rede QUALIDIAB, Declaração das Américas (DOTA), América
Latina.

Abstract
Objective: To make a preliminary diagnosis of the quality of care that individuals with diabetes mellitus (DM) received in participating centers
of the QUALIDIAB net-work in Latin America and the Caribbean, and to assess the potential usefulness of this information as well as the
importance of expanding the QUALIDIAB network.
Methods: A total of 13 513 patient records from the QUALIDIAB network were analyzed, from public and private health care entities and
from the Social Security systems of Argentina, Brazil, Chile, Colombia, Paraguay, and Uruguay. The study utilized: 1) quality-of-care indicators
based on international reference values, 2) patient information on clinical, biochemical, and therapeutic parameters and on the rate of use of
diagnostic and therapeutic materials, 3) a computer database program, and 4) a software program for statistical analysis.
Results: Among the patients studied, about half of them had suffered from diabetes for 5 years or less; this was true both for persons with type
1 diabetes (DM1) and for those with type 2 diabetes (DM2). Of the persons with DM1, 24% of them had a blood glucose level of < 4.4 mmol/
L; this was true for 15% of those with DM2. The pro-portion of persons with a blood glucose level of > 7.7 mmol/L was 41% among those with
DM1 and 57% among those with DM2. The frequencies of association between DM2 and other cardiovascular risk factors were: overweight/
obesity, 59%; hypertension, 60%; total cholesterol > 5.5 mmol/L, 53%; high-density lipoprotein cholesterol < 1 mmol/L, 32%; triglycerides >
1.7 mmol/L, 45%; and smoking, 13%. Of the people with DM1, 20% of them had a body mass index < 19 kg/m 2 , probably reflecting deficient
metabolic controle and inadequate insulin intake. The systematic checking of metabolic controle, other cardiovascular risk factors, and chronic
DM complications was inadequate in from 3% to 75% of the cases, depending on the specific aspect considered. According to various patient-
therapy-education indicators, only some one-quarter to one-half of the studied patients could play an active, effective role in DM controle and
treatment. Of the persons with DM1, 50% of them were treated with a mixed dose of insulin (NPH + regular insulin), administered in two daily
injections in 43% of the cases. Among the patients, 5% of them received one daily insulin injection, and 9% of them received three daily
insulin injections. Of the people with DM2, 13% of them treated it only with diet and 14% just with insulin. Among the patients receiving drug
treatment, the oral hypoglycemics most used in monotherapy were sulfonylureas (33%), biguanides (9%), and a combination of these two
(14%). Fewer than half of the people with diabetes received drug therapy for the associated cardiovascular risk factors. The frequency of
patients’ macroangiopathic and microangiopathic complications increased with the duration of their disease. Comparing patients who had had
diabetes for 5 years or less with those who had had the illness for more than 20 years, the frequency of renal insufficiency and of amputations
was around 7 times as great in the latter group; for peripheral neuropathy, it was 2 times as great, and for stroke 1.6 times as great.
Conclusions: These results show the need to improve the quality of care for diabetic patients in Latin America and the Caribbean, and that
QUALIDIAB could help do this. Expanding the QUALIDIAB network will help to more accurately diagnose the quality of that care in the
Americas, and it will facilitate interventions aimed at opti-mizing the care. This, in turn, will improve the quality of life of persons who suffer
from diabetes as well as diminish the socioeconomic costs of the disease.
Key-words: Diabetes, quality of care, assessment systems, QUALIDIAB network, Declaration of Americas (DOTA), Latin America.
48 Gagliardino JJ et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 46~54

O diabetes mellitus (DM) é uma doença de prevalência O Programa de Ação Europeu da Declaração de São
crescente que, frequentemente, é responsável de Vicente [13], cujo objetivo é melhorar tanto as condições
complicações de caractere invalidante, constituindo assim clínicas como sociais dos pacientes portadores de DM,
um problema de saúde serio e uma carga socioeconômica desenvolveu e implementou um modelo de controle da
pesada para a sociedade [1]. O DM afeta aproximadamente qualidade da atenção (DiabCare) [14]. A experiência
130 milhões de pessoas em todo o mundo e estima-se que lograda mediante sua implementação em vários países
este número chegará aproximadamente a 300 milhões no da Europa e América Latina levou o Comitê Executivo
ano 2025 [2]. Este aumento será significativo nos países da DOTA (Declaration of the Americas) [15] a
da América Latina, já que 80% dos anos perdidos de vida implementar na América Latina e Caribe um programa
por incapacidade causada pelo diabetes correspondem aos piloto de controle da qualidade da atenção às pessoas
países em desenvolvimento [3]. portadoras de DM (QUALIDIAB) similar ao DiabCare
Existem vários fatores que aumentam a morbi- europeu.
mortalidade desta doença: 1) Na maioria dos países, Sua estratégia foi promover o desenvolvimento de
aproximadamente 50% dos pacientes desconhecem sua uma rede de controle de qualidade (rede QUALIDIAB)
doença, e, por isso, não se tratam; 2) 20 a 30% dos entre vários centros de diferentes países, tratando de
pacientes que conhecem sua doença não fazem nenhum demonstrar a utilidade do uso de um registro coletivo e
tipo de tratamento [4,5], e 3) 68% dos casos de DM se de compartir a informação e sua análise.
diagnosticam de forma casual, geralmente após a A implementação de QUALIDIAB iniciou-se com um
manifestação clínica de alguma de suas complicações seminário teórico-prático intensivo em abril de 1999 (La
crônicas [5]. Portanto, aproximadamente dois terços da Plata, Argentina) para o treinamento dos representantes
população de portadores de DM têm o risco de apresentar dos países (futuras unidades), seguido da organização
complicações crônicas. de uma rede de recoleção dos dados. Atualmente, a rede
As complicações crônicas que constituem a causa a QUALIDIAB tem na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia,
mais importante da morbi-mortalidade e dos custos do Paraguai e Uruguai unidades que coletam informação
DM, podem diminuir de maneira significativa mediante de entidades de atenção de seus sub-setores públicos e
o controle adequado da glicemia e dos fatores de risco privados; dos centros subsidiários (Caribe [Bogotá,
cardiovascular (FRCV) associados [6, 7]. Convém Colômbia] e Sul [La Plata, Argentina]) e que concentram
mostrar que o custo do tratamento das complicações a informação de seus unidades tributarias; um centro
crônicas representa a metade dos custos de atenção do coordenador (Centro de Endocrinologia Experimental
DM, e que a outra metade se destina ao tratamento do e Aplicada; CENEXA, La Plata, Argentina) que
DM per se [8–10]. proporciona apoio técnico, registra e analisa a informação
A eficácia das estratégias de prevenção depende, pelo proveniente dos centros subsidiários, difunde os dados
menos em parte, da qualidade da atenção dispensada às da Região e promove o funcionamento da rede; e um
pessoas portadoras de DM. Portanto, a avaliação da centro Euro-Lat (Paris, França) que proporciona
qualidade desta atenção preocupa os pacientes e seus inovações técnicas, atuando também como assessor
familiares, os profissionais da saúde, as entidades de externo e ligação entre América Latina e Europa [16].
financiamento e as autoridades de saúde pública. Neste trabalho, apresentamos uma análise descritiva
O conceito de qualidade da atenção referido às pessoas preliminar e discutimos alguns dos resultados obtidos
portadoras de DM inclui três princípios básicos: pela rede QUALIDIAB. Seus objetivos foram:
1. Conhecimentos, capacidades e prática clínica para a) Definir as características de uma mostra de pessoas
o controle do DM, e suficiente motivação dos integrantes portadoras de DM atendidas em centros de saúde da rede;
da equipe de saúde. b) Estabelecer um diagnóstico preliminar da qualidade
2. Acesso do paciente à atenção, insulina, remédios da atenção que recebem essas pessoas, utilizando a
específicos, tiras reativas e outros elementos necessários informação registrada e o uso dos indicadores
para controle e tratamento. QUALIDIAB para definir estratégias, priorizar a
3. Motivação, aderência e participação ativa dos adjudicação de recursos e avaliar o impacto de qualquer
pacientes no controle e tratamento de seu doença. intervenção futura, e c) Analisar o potencial desta
Qualquer intento de melhorar a qualidade da atenção informação, e também a importância da expansão da rede
implica uma planificação adequada e um processo de QUALIDIAB na América Latina e Caribe.
avaliação objetiva capaz de medir o grau de êxito e
estabelecer uma retroalimentação eficaz que sustente os Material e métodos
logros e corrija possíveis erros. A avaliação da qualidade QUALIDIAB é um processo de avaliação dinâmico
da atenção foi efetuada a partir de estatísticas vitais, baseado no monitoramento e comparação regular e
registros médicos dos pacientes, informes dos profissionais periódica de indicadores que incluem:
da saúde e relatórios sobre os pacientes [11, 12]. • Indicadores de processos, como a porcentagem de
Gagliardino JJ et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 46~54 49

pacientes nos quais se verifica a proteinúria ou o auto- descritiva dos dados correspondentes a 13.513 registros
monitoramento da glicemia. de pacientes portadores de DM1 e DM2 provenientes
• Indicadores de resultados de aparição precoce: das unidades QUALIDIAB de Argentina, Brasil, Chile,
episódios de cetoacidose e hipoglicemia. Colômbia, Paraguai e Uruguai. Para esta análise,
• Indicadores de resultados de aparição intermediária: utilizou-se o StatQualidiab, programa desenvolvido em
glicemia de jejum, hemoglobina glicosilada (HbA1c), conjunto pelos centros colaboradores da OMS de La
lipidemia, proteinúria. Plata e Paris. StatQualidiab é um conjunto de macros o
• Indicadores de resultados de aparição tardia: rotinas programadas em Visual Basic for Applications
cegueira, neuropatia, amputação, enfarto de miocárdio. para Excel, que permite realizar uma análise estatística
dos dados registrados, reunir uma grande quantidade de
Os principais instrumentos empregados na rede indicadores de tipos diversos, calcular parâmetros gerais
QUALIDIAB são: de caracterização, estabelecer referências cruzadas e
• Os indicadores da qualidade da atenção, baseados desenhar gráficos. Para analisar o aumento da freqüência
em valores de referência propostos pela Associação das complicações em função da duração do diabetes
Europeu para o Estudo do Diabetes (European utilizou-se o teste chi quadrado (c2) para tendências.
Association for the study of Diabetes: EASD) [17, 18] e Respeitando o principio essencial pré-estabelecido de
a Associação Americana de Diabetes (American QUALIDIAB da confidencialidade do manejo público
Diabetes Association: ADA) [19]. da informação, os resultados se apresentam como a média
• A planilha de informação básica, na qual se registram dos valores em percentagens médios de todos os países
os parâmetros clínicos, bioquímicos, terapêuticos e a taxa participantes, acompanhada do intervalo das médias de
de uso de elementos diagnósticos e terapêuticos cada país, sem identificação da origem.
(prescrições anuais ou qualquer outra assistência médica,
análise laboratorial, tratamento farmacológico e Resultados
internações). A Tabela 1 mostra as características da população
• O programa informático (programa de integração analisada. Os valores extremos dos países mostram amplas
de dados e detecção de erros de procedimento). diferenças entre eles. A maioria dos pacientes portadores
• O programa de análise estatística descentralizado de DM1 estão na faixa etária de 16–35 anos, aqueles com
(StatQualidiab), recentemente incorporado. DM2 estão na faixa 36–45 anos. Em ambos os grupos, a
• A rede QUALIDIAB de controle de qualidade. duração do diabetes é, na maioria, inferior a 5 anos.
A utilização destes elementos permite, mediante Como pode se ver na Tabela 2, as pessoas portadoras
estudos transversais (independentes ou prospectivos), de DM1 têm em geral um melhor nível de controle
determinar a qualidade da atenção (absoluta ou metabólico segundo a glicemia de jejum do que aqueles
comparativa) que oferecem um ou mais centros de com DM2. De qualquer forma, a maioria dos pacientes
atenção a pacientes portadores de DM em uma área de ambos os grupos apresenta valores > 7,7 mmol/L.
determinada. Desta maneira, QUALIDIAB contribui ao Não tinha um estrito paralelismo entre os valores da
desenvolvimento de instrumentos e métodos para o glicemia de jejum e da HbA1c, fato atribuído em parte
melhoramento continuo da qualidade da atenção ao DM ao elevado número de “dados ausentes” registrado neste
e permite identificar também os melhores centros, seus parâmetro.
estratégias e enfoques. Tabela 1 – Características da população. Rede QUALIDIAB
Nesta etapa inicial foram incluídos seis países 2001*
(Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Paraguai e Uruguai) Diabetes tipo 1 Diabetes tipo 2
que foram eleitos tomando em conta elementos tais como (n = 1 229) (n = 12 284)
o número de habitantes, a experiência previa em registros Idade (anos)
clínico-metabólicos sistemáticos, a possibilidade de Dados ausentes 3 (0–5) 3 (1–6)
incorporar entidades ministeriais no projeto, capacidade < 16 18 (3–44) 0,3 (0–0,6)
em recrutar e recolher informação de vários centros, e 16–35 37(16–41) 2 (1–4)
36–55 20 (9–30) 28 (20–33)
conhecimento da prevalência do DM no país. Em cada 56–75 19 (3–47) 56 (53–59)
país, as unidades registraram informação de pacientes < 75 2 (0–7) 10 (8–16)
portadores de DM tipo 1 (DM1) e 2 (DM2) atendidos em Mulheres 49 (36–64) 61 (51–71)
centros especializados e não especializados em DM. Desta Duração do diabetes (anos)
maneira, pretende-se obter uma amostra a mais 0–5 46(26–71) 49 (36–70)
6–10 18 (7–24) 21 (15–25)
representativa possível da qualidade da atenção oferecida 11–20 21(13–30) 20 (12–29)
aos pacientes portadores de DM em cada sub-setor dos > 20 12 (1–29) 7 (2–12)
países participantes.
* Os números de cada coluna representam a média dos valores
Nesta oportunidade, apresentamos a primeira análise médios em percentagem nos diferentes países e, entre parênteses,
os valores extremes encontrados nos países da rede QUALIDIAB.
50 Gagliardino JJ et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 46~54

Tabela 2 – Grau de controle e metabólico (glicídios) - Rede Tabela 4 – Verificação do grau de controlee metabólico e da
QUALIDIAB 2001* presença de faotresde risco cardiovascular e de complicações -
Diabetes tipo 1 Diabetes tipo 2 Rede QUALIDIAB 2001*
(n = 1 229) (n = 12 284) Diabetes tipo 1 Diabetes tipo 2
(n = 1 229) (n = 12 284)
Glicemia (mmol/L)
1–4,4 26 (0–61) 15 (6–42) HbA1c 55 (17–81) 56 (11–81)
4,4–6,0 14 (0–21) 11 (0–26) Colesterol 70 (38–83) 80 (65–90)
6,0–7,7 12 (0–16) 17 (0–25) HDL-Colesterol 50 (17–71) 60 (14–84)
> 7,7 42 (1–64) 57 (28–83) Triglicérides 71 (33–100) 77 (58–100)
HbA1c (%) Creatinina 58 (49–72) 58 (7–73)
Dados ausentes 30 (17–68) 43 (0–83) Tensão arterial 89 (79–94) 97 (96–99)
< 6,5 12 (5–26) 7 (2–46) Microalbuminuria/proteinúria 32 (18–66) 25 (17–49)
6,5–8,0 16 (8–24) 16 (4–27) Retina 39 (7–76) 37 (4–71)
8,0–9,5 14 (5–20) 11 (4–20) Pés 72 (49–90) 79 (65–91)
> 9,5 28 (13–43) 13 (6–29)
* Os números de cada coluna representam a média dos valores
* Os números de cada coluna representam a média dos valores médios em percentagem nos diferentes países e, entre parênteses,
médios em percentagem nos diferentes países e, entre parênteses, os valores extremes encontrados nos países da rede QUALIDIAB.
os valores extremes encontrados nos países da rede QUALIDIAB.
A verificação sistemática de indicadores do grau de
controle metabólico e a detecção de FRCV e de
Tabela 3 – Associação com outros fatores de riso cardiovascular -
Rede QUALIDIAB 2001* complicações crônicas do DM (Tabela 4) em nenhum
Diabetes tipo 1 Diabetes tipo 2 caso chega a 100% da população. O déficit de sua
(n = 1 229) (n = 12 284) realização, representado pelo inverso (1 – x) do valor
expresso na Tabela 4, oscila entre 3% (controle da tensão
Idade (anos)
Índice de massa corporal (kg/m2) arterial em pacientes com DM2) e 75% (determinação
Dados ausentes 6 (0–13) 4 (0–8) da microalbuminuria no grupo com DM2). Importa
< 19 20 (4–43) 2 (1–3) destacar também que em mais do que a metade da
19–24 35 (19–45) 19 (9–27) população com DM1 o DM2 não se investigou a presença
24–26 13 (3–29) 16 (10–20)
26–30 11 (7–21) 27 (24–30)
de lesões retinianas.
> 30 14 (3–46) 32 (19–54) A avaliação da educação terapêutica dos pacientes
Hipertensão (mm Hg) portadores de DM se efetuou através de indicadores que
Dados ausentes 6 (0–11) 2 (0–4) mostram sua participação e sua capacidade de tomar
> 140/90 25 (7–47) 60 (52–64) decisões no que se refere ao controle e tratamento de
Colesterol total (mmol/L)
Dados ausentes 23 (0–62) 14 (0–35)
sua enfermidade (Tabela 5). Segundo o indicador
< 1,0 47 (22–66) 33 (25–40) considerado, só a metade ou o quarto dos participantes
> 5,5 30 (7–57) 53 (34–77) estariam em condições de desempenhar um papel ativo
HDL-Colesterol (mmol/L) e eficaz no controle e tratamento de sua doença, fato
Dados ausentes 36 (0–83) 33 (0–86) que mostra a deficiência de sua educação diabetológica.
> 1,1 19 (3–31) 19 (2–45)
< 1,0 34 (9–74) 32 (8–63) Também se verifica que muito poucos deles têm relação
Triglicérides (mmol/L) com alguma associação de grupo de pacientes diabéticos.
Dados ausentes 19 (0–67) 13 (0–40)
< 1,7 63 (50–84) 42 (25–66) Tabela 5 - Indicadores de educação terapêutica - Rede
> 1,7 19 (11–50) 45 (35–68) QUALIDIAB 2001*
Tabagismo 8 (5–14) 13 (7–17) Diabetes tipo 1 Diabetes tipo 2
* Os números de cada coluna representam a média dos valores (n = 1 229) (n = 12 284)
médios em percentagem nos diferentes países e, entre parênteses, Automonitoração glicemia/glicosuria 53 (21–72) 20 (1–39)
os valores extremes encontrados nos países da rede QUALIDIAB. Interpretação automonitoração 58 (19–78) 25 (4–46)
Cuidados dos pés 69 (51–84) 67 (48–89)
A associação com outros FRCV é freqüente no DM2 Prevenção/tratamento hipoglicemia 68 (53–76) 45 (30–65)
(Tabela 3). É de destacar a ausência de dados em muitos Membro de Associação de Diabéticos 29 (5–94) 21 (1–94)
casos, mesmo em aqueles fatores cuja detecção não * Os números de cada coluna representam a média dos valores
requere mais que sua avaliação clínica. Embora que em médios em percentagem nos diferentes países e, entre parênteses,
grau muito menor, também se registrou a presença de os valores extremes encontrados nos países da rede QUALIDIAB.
outros FRCV nos pacientes DM1, nos quais se destaca
A Tabela 6 mostra as formas de tratamento vigentes
o elevado número de casos com índice de massa corporal
na população QUALIDIAB. Novamente se registra um
< 19 kg/m 2 , que provavelmente reflete controle
número relativamente elevado de casos (13 a 15%) pelos
metabólico deficiente e hipoinsulinização.
quais falta informação. A metade dos pacientes é tratada
Gagliardino JJ et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 46~54 51

com combinação de insulinas (NPH + ação curta), Tabela 7. Tratamento de outros fatores de risco cardiovascular -
administradas em duas aplicações diárias em 43% dos Rede QUALIDIAB 2001*
casos. De outro lado, o emprego de insulinas misturadas Diabetes tipo 1 Diabetes tipo 2
é baixo (4%). 5 a 9% dos pacientes recebem, (n = 1 229) (n = 12 284)
respectivamente, 1 ou mais de 3 aplicações diárias de Hipertensão 14 (10–22) [25] 42 (20–48) [60]
insulina, sendo praticamente nula a utilização de bombas Dislipidemia 5 (4–11) [49] 16 (4–28) [66]
(colesterol ou triglicérides)
de infusão. Em comparação com as bombas de infusão,
o uso de canetas é relativamente freqüente (12%). Só * Os números de cada coluna representam a média dos valores
médios em percentagem nos diferentes países e, entre parênteses,
13% dos pacientes DM2 tratam sua doença com dieta os valores extremes encontrados nos países da rede QUALIDIAB.
em tratamento único, e 14% só com insulina. Os Entre colchetes, prevalência do fator de risco tratado na população
hipoglicemiantes orais os mais utilizados em estudada.
monoterapia são as sulfoniluréias (33%), seguidas em
menor proporção pelas biguanidas (9%); 14% dos Tabela 8. Frequência de complicações crônicas em função da
duração do diabetes. Rede QUALIDIAB. 2001*
pacientes utilizam combinações de ambos os tipos de
Duração do DM (anos)
fármacos. 0–5 6–10 11–20 > 20 P

Tabela 6 – Formas de tratamento - Rede QUALIDIAB 2001* Retinopatía 10 20 38 48 < 0,001


Diabetes tipo 1 Diabetes tipo 2 (proliferativa e não proliferativa)
(n = 1 229) (n = 12 284) Cegueira 1,7 2,8 3,2 6,7 < 0,001
Neuropatia periférica 21 29 37 42 < 0,001
dieta — 13 (4–29) Insuficiência renal 0,2 0,4 0,7 1,5 < 0,001
Sulfoniluréias — 33 (17–72) IAM (anterior + último ano) 1,5 1,8 4,3 6,7 < 0,001
Biguanidas — 9 (5–20) ACV (anterior + último ano) 2,1 3,5 2,9 3,3 < 0,001
Associação de hipoglicemiantes — 14 (0–33) Amputações 1,0 1,4 3,6 7,3 < 0,001
Insulina 14 (6–25) (anterior + último ano)
NPH 22 (9–42) 14 (3–23)
Rápida 0,3 (0–1,2) 0,4 (0–2) *Os números de cada coluna representam os valores médios em
Associação de insulinas 50 (9–79) 7 (1–20) percentagem. IAM: infarto agudo de miocardio. ACV: acidente
Solo mezclas fijas 4 (0–16) 1 (0–5) cerebrovascular.
Número de aplicações de insulina
1/dia 5 (0–14) 5 (2–7)
2/ dia 43 (9–79) 12 (3–23) diabéticos [20–25], QUALIDIAB é o primeiro projeto
3/ dia 16 (1–30) 1 (0–4) de medição de forma cooperativa e simultânea
> 3/ dia 9 (0–26) 1 (0–1,4)
Bomba 0,1 (0–0,4) — implementado em seis países da América Latina.
Caneta 12 (0–47) 2 (0–8) Nesta etapa inicial, QUALIDIAB privilegiou a
* Os números de cada coluna representam a média dos valores
promoção do registro estruturado de variáveis clínicas,
médios em percentagem nos diferentes países e, entre parênteses, metabólicas e terapêuticas para avaliar a qualidade da
os valores extremes encontrados nos países da rede QUALIDIAB. atenção aos pacientes portadores de DM Portanto, a
amostra obtida - a maior (13.513 pessoas) e a mais
A Tabela 7 mostra que só uma baixa proporção de uniforme registrada na Região - não é necessariamente
pessoas com hipertensão (14% dos 25% de hipertensos representativa. Entretanto, por seu tamanho, pela
DM1, e 42% dos 60% hipertensos DM2) recebem um homogeneidade dos critérios e registro de variáveis, e
tratamento específico. Algo similar ocorre com as pelo modelo de avaliação dos dados, seus resultados
dislipidemias. oferecem una visão preliminar e objetiva da qualidade
A Tabela 8 mostra a relação entre a frequência das da atenção dada aos diabéticos em nossa Região.
complicações microangiopáticas e macroangiopáticas o Os dados, expressos como a média dos valores
os anos de duração do diabetes. Em todos os casos, esta percentuais médios de cada país participante, mostram
frequência aumentou significativamente em função da em cada parâmetro registrado una amplia variação.
duração da doença, verificando-se os incrementos Entretanto, não todos os valores máximos ou mínimos
máximos na insuficiência renal e as amputações pertencem sistematicamente aos mesmos países, o que
(aproximadamente 7 vezes). Estes incrementos foram indica que em todos eles há aspectos que deveriam
menores no caso da neuropatia periférica (2 vezes) e melhorar e que é possível identificar estratégias de
dos acidentes cerebrovasculares (1,6 vez). atenção, analisá-las e transferi-las com relativa facilidade
de um país para outro, aproveitando a vizinhança e o
Discussão proximidade dos idiomas.
Embora que na última década muitas organizações De acordo com observações feitas em uma população
tenham medido a qualidade da atenção aos pacientes geral adulta [1, 26, 27], a maior proporção de casos de
52 Gagliardino JJ et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 46~54

nossa amostra corresponde a pessoas portadoras de DM2. facilidade ao uso de remédios do que às mudanças no
Também se confirma a freqüente associação de FRCV estilo de vida (dieta e atividade física), aumentando assim
com o DM2, pelos quais os sistemas de saúde estão e o custo do tratamento e submetendo o paciente ao risco
estarão afrontando na Região um aumento quase desnecessário dos efeitos secundários dos remédios [36].
“epidêmico” do DM [3] e da síndrome metabólico- Também é chamativa a baixa porcentagem de portadores
vascular [28]. de DM2 tratados con metformina e com insulina, apesar
Nossos resultados mostram uma população diabética dos benefícios demonstrados de seu emprego, em
com um controle metabólico e dos FRCV deficiente, com particular a primeira delas [37]. Pela implementação das
frequentes complicações microangiopáticas e medidas preventivas enunciadas neste artigo, podemos
macroangiopáticas. Comparando nossos dados com os esperar que a curto prazo as autoridades da saúde pública
obtidos em outras Regiões com um modelo de registro e privada esquecerão seus preconceitos no tratamento e
similar ao de QUALIDIAB, a percentagem de pacientes a recuperação das seqüelas invalidantes do DM,
com bom nível de controle metabólico e dos FRCV melhorando assim a eficácia de seus intervenções. Cabe
logrado nesta mostra é maior que o descrito na Ásia [26] agregar que inúmeros ajustes reclamados implicam baixa
e semelhante ao da França [29], embora que a aplicação inversão econômica e que existem provas objetivas de
de técnicas de avaliação do grau de controle metabólico que as estratégias preventivas têm uma melhor relação
e dos FRCV e a detecção de complicações sejam maiores custo-beneficio que as de recuperação e reabilitação [38].
que na Ásia [26] e menores que na França [29]. Existem em nossa Região provas de que a educação
Sendo dado que aproximadamente 50% de nossa dos médicos generalistas [39] e dos pacientes diabéticos
população tem DM de duração < 5 anos, o simples [40] é uma estratégia apropriada e eficaz para corrigir
envelhecimento deste grupo será responsável de um os erros detectados, diminuir os custos socioeconômicos
aumento do número de pacientes portadores de da doença e melhorar a qualidade de vida. Portanto, seria
complicações que exigirá uma maior e mais dispendiosa possível e esperado que as autoridades responsáveis da
atenção médica [25, 30]. O subdiagnóstico do DM e o saúde pública e privada da Região, com o apoio de
nível deficiente de controle glicêmico – organizações internacionais, promovem a educação
aproximadamente a metade dos pacientes tem glicemias diabetológica em todos os níveis, na qual deverá associar
> 7,7 mmol/L, por cima do valor limite para as se a promoção da acessibilidade da população diabética
complicações microvasculares e macrovasculares [31)] à atenção e aos medicamentos e insumos necessários
– e dos FRCV associados, potenciaram o incremento para seu controle e tratamento. Neste contexto, seria
das complicações crônicas e a demanda de atenção [8– razoável promover e incrementar a educação
10, 22, 23]. É então razoável prognosticar um incremento diabetológica ao nível da graduação e das residências
dos custos diretos ligados à aparição de complicações, o médicas. A implementação de qualquer estratégia de
que agravará a situação de aqueles países que já têm prevenção e tratamento do DM requere um instrumento
dificuldades para cobrir a atenção de sua população de avaliação que permita verificar seus resultados e
diabética. Frente a esta situação, de pouco serviria a introduzir os ajustes necessários para sustentar sus logros
avaliação de QUALIDIAB se não promove a e corrigir suas deficiências. Tal como está concebido,
implementação de intervenções e de ajustes capazes de QUALIDIAB é um processo interdisciplinar e
modificá-la. intersetorial que propõe unificar critérios para esta
Melhorar o cenário descrito não é uma utopia si se avaliação e empregar um sistema de registro de
considera que as complicações crônicas do DM podem indicadores que permite fazer diagnósticos de situação
ser prevenidas eficazmente mediante um controle apropriados para a tomada de decisões. Portanto,
adequado da hiperglicemia e dos FRCV associados à QUALIDIAB pode assumir o papel de instrumento
doença [6, 7]. Em nosso caso, isto implicaria corrigir as idôneo para verificar a qualidade da atenção aos
deficiências registradas melhorando o grau de controle portadores de DM na América Latina e Caribe.
glicêmico e dos FRCV (Tabelas 2 e 3), a realização dos A implementação de QUALIDIAB em grande escala
procedimentos de diagnóstico (Tabela 4), os permitiria aumentar e precisar os conhecimentos
conhecimentos dos pacientes a cerca de sua enfermidade apresentados neste trabalho á cerca da situação real das
(Tabela 5) e a qualidade e intensidade dos tratamentos pessoas diabéticas em nossa Região, definir a magnitude
administrados (Tabelas 6 e 7). No que diz respeito a este do problema e sua importância para a saúde pública e
último, cabe consignar que só una pequena proporção privada, conscientizando assim os responsáveis dos
de diabéticos controlam sua doença com dieta em poderes de decisão nos ditos subsetores. A detecção de
tratamento único (Tabela 6), contrastando com números problemas permitiria:
mais elevados descritos na literatura [32–35]. Isto indica a) Sua identificação precoce e a implementação de
que os médicos envolvidos em este estudo – e medidas para corrigi-los, planificar e tomar decisões
provavelmente seus pacientes - aderiram com mais adequadas;
Gagliardino JJ et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 46~54 53

b) Otimizar o uso de recursos, tanto humanos como 1997.


econômicos, e sua distribuição equilibrada em função 2. McCarty D, Zimmet P. Diabetes 1994 to 2010. Global
estimates and projections. Melbourne: International Diabetes
das necessidades detectadas; Institute; 1994.
c) Elaborar hipótese de trabalho sobre os problemas 3. The World Bank. World Development Report 1993: Investing
reais, tanto ao nível dos países como da Região. in Health. Cambridge: Oxford University Press; 1993.
Aplicando a recoleção de dados em amostras mais 4. Gagliardino JJ, Olivera E. The regions and their health care
representativas e incorporando peritos em diferentes systems: Latin America. In: Gruber W, Lander T, Leese B,
Songer T, Williams H (eds.). Economics of diabetes and
disciplinas relacionadas com a atenção e investigação diabetes care. A report of the Diabetes Health Economics
no campo do DM, QUALIDIAB facilitaria o Study Group. Bruselas: International Diabetes Federation-
desenvolvimento de projetos de investigação e World Health Organization; 1997. p 51–59
promoveria o trabalho em equipe e a cooperação entre 5. Gagliardino JJ, Olivera EM, Barragán HL, Hernández RE.
grupos locais, nacionais e latino-americanos. Diabetes mellitus e hipertensão arterial: aspectos clínicos e
epidemiológicos en la poblação da Plata. Medicina (B
A análise dos dados atuais e as conclusões obtidas Aires);1995;55: 421–430.
apoiam estas propostas. A implementação amplia da rede 6. The Diabetes Controle and Complications Trial Research
QUALIDIAB requere: Group: intensive diabetes treatment and complications in
a) Eliminar o temor do sistema de registro, IDDM. N Engl J Med 1993; 329:977–986.
reafirmando que seu objetivo primeiro e primordial é 7. UK Prospective Diabetes Study Group: Intensive blood-
glucose controle with sulphonilureas or in-sulin compared
analisar a problemática das pessoas diabéticas e não with conventional treatment and risk of complications in
sancionar ou castigar o prestador; patients with type 2 diabetes (UKPDS 33). Lancet
b) Garantir a confidencialidade permanente do manejo 1998;352:837–853.
da informação; 8. Selby JV, Ray GT, Zhang D, Colby CJ. Excess costs of
c) Inseri-la na rotina da atividade médica no setor medical care for patients with diabetes in a managed care
population. Diabetes Care 1997;20:1396–1402.
público (Ministérios e Secretarias de Saúde) e privado 9. Herman WH, Eastman RC. The effects of treatment on the
(entidades de financiamento); direct costs of diabetes. Diabetes Care 1998;21(Supl. 3):C19–
d) Proporcionar estímulos e recompensas (promoção C24.
acadêmica ou científica e compensação econômica); 10. Rubin RJ, Altman WM, Mendelson DN. Health care
e) Analisar periodicamente a informação recolhida e expenditures for people with diabetes mellitus, 1992. J Clin
Endocrinol Metab 1994;78: 809A–809F.
comunicá-la aos que efetuarão a tarefa de registro 11. Donabedian A. The definition of quality and approaches to its
individual, estabelecendo um mecanismo eficiente de assessment. Ann Arbor, MI: Health Administration Press;
retroalimentação e auto-ajuste. A incorporação de 1980.
QUALIDIAB às “Guías ALAD de diagnóstico, controle 12. Kenny SJ, Smith PJ, Goldschmid MG, Newman JM, Herman
e tratamento do Diabetes Mellitus tipo 2” [40] contribuirá WH. Survey of physician practice behaviors related to
diabetes mellitus in the U.S. Physician adherence to
seguramente a promover esta implementação. consensus recommendations. Diabetes Care 1993;16:1507–
Os resultados deste estudo indicam que a 1510.
implementação desta primeira etapa foi um sucesso, e 13. Krans HMJ, Porta M, Keen H (eds.). Diabetes care and
que, com os esforços de todos os integrantes da rede research in Europe: the St. Vincent Declaration action
QUALIDIAB e de outros diabetólogos e o apoio da programme. Copenhagen: World Health Organization-
International Diabetes Federation Europe, 1992 (document
DOTA, é possível identificar defeitos na qualidade da EUR/ICP/CLR055/3).
atenção aos pacientes diabéticos e implementar 14. Piwernetz K, Home PD, Staehr Johansen K, Kleinebreil L,
intervenções adequadas para melhorá-la. Ele permitirá Vermeij D, Storms GEMG, et al. DIABCARE Quality
melhorar a qualidade de vida dos pacientes, otimizar o Network in Europe. TELEMAT-ICS Project within the St.
uso dos recursos e diminuir o custo sócio-econômico da Vincent Declaration. Consensus Meeting. Diab Nutr Metab
1995;8: 243–249.
doença na Região. 15. Declaração de las Américas sobre la diabetes. Re-vista da
Associação Latinoamericana de Diabetes 1997;5:8–10.
Agradecimentos. O projeto Qualidiab está 16. Gagliardino JJ. Una iniciativa da DOTA para implementar el
patrocinado pela DOTA com fundos fornecidos por controle de qualidade de atenção (QUALIDIAB) en América
Becton Dickinson and Company, Eli Lilly and Company, Latina e el Caribe. Revista da Associação Latinoamericana de
Dia-betes 2000,8:26–35.
LifeScan Inc, Novo Nordisk, e Roche Diagnostics. 17. Alberti KGMM, Gries FA, Jervell J, Krans HMJ for the
European NIDDM Policy Group. A desktop guide for the
management of non-insulin- dependent diabetes mellitus
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Diabetes Health Economics Study Group. Bruselas: International Diabetes Federation European Region; 1998.
International Diabetes Federation-World Health Organization; 19. American Diabetes Association: Clinical Practice
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Diabetes 55

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 01 (2002) 55~59

ARTIGO ORIGINAL

Diabetes mellitus, glicemia de jejum alterada e hipotiroidismo em


indivíduos idosos
Iraci Lúcia Costa Oliveira*, Leila Maria Batista Araújo*, Ana Claúdia Couto-Silva**, Maria Zenaide
Gonzaga***, Maria Marcílio Rabelo****
*Professora Adjunto de Endocrinologia da Universidade Federal da Bahia, **Mestre em Medicina pela Universidade Federal da Bahia, ***Professora
Assistente de Endocrinologia da Universidade Federal da Bahia, ****Professora Livre Docente de Endocrinologia da Universidade Federal da Bahia

Resumo
A prevalência de diabetes mellitus em indivíduos idosos varia de 10 a 28%. Em Salvador, Bahia, avaliamos a freqüência de diabetes, glicemia
de jejum alterada e a associação com hipotiroidismo em 170 idosos voluntários, moradores de 3 asilos. A idade média ± DP dos idosos foi de
78,3 ± 6,8 anos (65 a 96 anos), 84,2% eram mulheres e nenhum deles era obeso. Observou-se que 22/170 (12,9%) eram diabéticos e 8 (4,7%)
tinham glicemia de jejum alterada. A glicemia de jejum dos diabéticos variou de 72 a 518 mg%: 54,5% < 140 mg%, 13,6% > 140 mg% e < 200
mg% e 31,9% >300 mg%. Quatre eram tratados apenas com dieta, dezesseis com sulfoniluréias e em dois, o hipoglicemiante não foi especificado.
Dezoito (82%) eram hipertensos. Hipotiroidismo primário foi observado em cinco (22%) dos diabéticos, três deles apresentavam hipotiroidismo
subclínico. Sugerimos que além da glicemia, investigação da função tiroidiana seja incluída na avaliação do idoso, mesmo assintomático.

Palavras-chave: diabetes mellitus; glicemia de jejum alterada; hipotiroidismo; idoso.

Abstract
The prevalence of diabetes mellitus in older individuals has been referred as 10 to 28%. In this workw We have studied the frequency of
diabetes mellitus, impaired fasting glucose and the association with hypothyroidism in 171170 old individuals who lived in three institutions
for elderly in Salvador, Bahia, who spontaneously agreed to be included. The mean age ± SD of this patients was 78,3 ± 6,8 years (65 to 96
years), 84.2% of women, and none of them were obese. Twenty seven (17.9%) had disturbance of carbohydrate metabolism: Fasting glycemia
was determined: 22/171170 (12.9%) were diabetics and 8 (4.7%) had impaired fasting glucose Only in two (9%) of them, diabetes diagnostic
was unknown. Eighty two percent were women. The fasting glycemia of the diabetic patients ranged from 72 to 518 mg%: 54.5% had glicemia
level < than 140 mg%, 13.6 % > then 140 and < then 200mg% and 31.9% > than 300mg%. Four (18%) of them were not on medication had
diabetes control on diet, 14 were using glybenclamide, 2 clorpropamide and in 2 the drug was not specified. Eighteen (82.5%) of them had
arterial hypertension. Primary hypothyroidism was observed in five (5/22 (22%)) diabetics and two three of them had franc hypothyroidism
and 3 subclinical hypothyroidism. In the group of impaired fasting glucose none subclinical hypothyroidism was observed. We suggestthat
besides not only gliycemia, but also investigation of thyroid function should be included in the evaluation of older individuals, even in non
symptomatic patients.

Key words: diabetes mellitus; impaired fasting glucose; hypothyroidism; older.

Artigo recebido em 2 de fevereiro de 2002 – Aprovado em 15 de fevereiro de 2002

Endereço para correspondência: Profa. Dra. Leila Maria Batista Araújo, Av. Sete de Setembro 2417, apto 601, 40080-003 Salvador BA, Fax: (71) 247-8492,
E-mail: lmba@ufba.br
56 Oliveira ILC / Diabetes Clínica 01 (2002) 55~59

Introdução determinou-se a glicemia por método enzimático, em


A Organização das Nações Unidas define o período auto-analizsador. Foi também avaliada a função
de 1975 a 2025 como a “Era do Envelhecimento”, tiroidiana com determinações de T3, T4, T4 livre e TSH
considerando que o crescimento do grupo etário acima por radioimunoensaio com kits comerciais da Maiaclone.
de 65 anos é maior do que dos demais grupos. O Brasil Os idosos foram classificados, pelo critério da
deverá ocupar o 6o. lugar de gerontes no mundo até 2025. American Diabetes Association (ADA), [12] em
Pelo último censo do IBGE, 9% da população brasileira diabéticos, quando a glicemia de jejum foi maior ou igual
tem mais de 60 anos. do que a 126mg% (ou quando já sabiam ser diabéticos)
A freqüência de diabetes mellitus em indivíduos e em glicemia de jejum alterada, quando a glicemia em
idosos no mundo varia de 10 a 28% e vem aumentando jejum foi maior ou igual igual ou maior do que 110 mg%
nas últimas décadas, dado atribuindo-se em parte ao e menor do que 126 mg%.
aumento da expectativa da vida média [1-8]. A Foi considerado hipotiroidismo primário franco (por
freqüência de intolerância à glicose varia de 17,8 a falência da produção de hormônio tiroidiano pela
39,2% em homens com mais de 65 anos e de 19,1 a glândula) quando o TSH foi maior ou igual ou maior do
22,7% em mulheres da mesma idade [2,3,6,8]. Cerca que 5 mUI/ml com níveis de T3, T4, T4 livre baixos e
de 50 a 93% dos pacientes submetidos à pesquisa de hipotiroidismo subclínico quando o TSH maior ou igual
diabetes desconheciam ser portadores desta condição ou maior do a 5mUI /ml com níveis de T3, T4 e/ou T4
[6,7]. Esta prevalência também varia com o critério livre normais [13].
diagnóstico de diabetes utilizado, características dos As médias, os cálculos de percentuais de freqüência
grupos estudados quanto ao sexo, idade, freqüência de e teste de proporções foiram feitos com auxílio do
obesidade, e esta prevalência é ainda maior nos grupos programa Epi info, versão 6.0
étnicos de risco, ou sejam afro-americanos, méxico-
americanos, hispânicos entre outros e em idosos Resultados
hipertensos [9,10]. Características clínicas dos pacientes
Num estudo multicêntrico sobre prevalência de A idade média ± DP destes idosos foi de 78,3 ± 6,8
diabetes no Brasil, em indivíduos de 60 a 69 anos de anos, variou de 65 a 96 anos. Vinte e sete (15,8%) deles
ambos os sexos, foi observado uma prevalência de eram homens e 144 (84,2%) eram mulheres. Todos foram
17,4%, sendo que cerca de 46% desconheciam ter avaliados clinicamente por uma mesma endocrinologista
diabetes [11]. A freqüência de obesidade neste estudo (ILCO) e e nenhum deles era obeso. As queixas clínicas
foi de 11,5%. Em Salvador, Bahia, não encontramos mais comuns foram diminuição da memória (67%),
nenhum registro da prevalência de diabetes em idosos,. humor depressivo (60%), diminuição da audição (49%),
o que é o objetivo do presente trabalho. constipação (47%) e pele seca (44%). Nenhum deles
Assim, neste estudo avaliamos a freqüência de vinha em uso de hormônio tiroidiano.
diabetes em idosos de asilos de Salvador.
Diabetes mellitus e glicemia de jejum alterada
Casuística e métodos Trinta (17,9%) idosos tinham alteração do
Foram avaliados 171170 idosos, que espontaneamente metabolismo dos carboidratos: 22/171170 (12,9%) eram
concordaram em participar dea uma pesquisa sobre diabéticos e 8 (4,7%) tinham glicemia de jejum alterada.
disfunções metabólicas e tiroidianas em idosos. Estes Dos vinte e dois diabéticos, em apenas 2 (9%) este
indivíduos eram moradores de três asilos de Salvador- diagnóstico era desconhecido. Dos diabéticos, 4/22 (18%)
Bahia: Lar Franciscano, 11% dos pacientes, de nível foram do sexo masculino e 18/22 (82%) do sexo feminino.
sócio econômico bom Abrigo Salvador, 62% da amostra, A distribuição da faixa etária foi de quatro (18%) pacientes
de nível sócio econômico regular e Abrigo D. Pedro II, com menos de 70 anos, onze (50%) de 70 a 80 anos e sete
27% da amostra, de diferentes níveis nível sócio- (32%) com mais de 80 anos (Tabela 1).
econômicos pobre. Os idosos foram submetidos a uma
avaliação clinica com um dos autores (ILCO), a qual Tabela 1. Distribuição das freqüências de diabetes mellitus e
incluiundo um questionário para identificar sinais e glicemia de jejum alterada nos idosos estudados em relação a faixa
etária.
sintomas de disfunção tiroidiana, de doenças presentes
Anos 65 < 70 70< 75 75< 80 80* Total (%)
e uso de medicações. Cerca de 50% dos idosos eram
hipertensos e 20% vinham em uso de diurético, 13,5% Diabético 4 8 3 7 22 (12,9%)
de bloqueadores deos canais de cálcio, 7% de inibidor GJA* 1 2 2 3 08 (4,7%)
Normal 22 24 35 59 140 (82,4%)
dea enzima de conversão dea angiotensina, 6,4% de alfa- Total 27 (15,9%) 34 (20%) 40 (23,5%) 69 (40,5%) 170 (100%)
metildopa. Todos eles assinaram um consentimento com
* GJA= glicemia de jejum alterada
informações sobre o estudo.
Foi colhida uma amostra de soro em jejum e
Oliveira ILC / Diabetes Clínica 01 (2002) 55~59 57

A glicemia dos pacientes diabéticos variou de 72 a mulheres na mesma idade de 5,1 a 18,2% [135].
518 mg%, sendo que 12/22 (54,5%) tinham glicemia Na Finlândia, num estudo apenas em homens [3],
menor do que 140 mg%, 3/22 (13,6%) tinham glicemia submetidos ao teste de tolerância a à glicose oral mostrou
maior do que 140 mg% e menor do que 200 mg% e 7/22 que 30% dos homens deles eram diabéticos e 30%
(31,9%) tinham glicemia maior do que 300 mg%. Quatro apresentavam intolerância à glicose. Num outro estudo,
deles (18%) não estavam em uso de medicação, dois também finlandês, em 483 indivíduos de ambos os sexos,
dos quais porque desconheciam o diagnóstico de nos quais os que desconheciam ser diabéticos foram
diabetes, dois faziam porque controlavam a doença submetidos ao teste de tolerância à glicose oral, e a
apenas com dieta para diabéticos. e oOs demais faziam prevalência de diabetes mellitus pelo critério da WHO
uso de hipoglicemiantes orais (quatorze em uso de foi de 22% em homens e de 28% em mulheres, mas a
glibenclamida, dois em clorpropamida e em dois, o proporção maior de mulheres em relação aos homens só
hipoglicemiante não foi especificado). Dezoito deles foi significativa na faixa etária de 80 anos ou mais [5].
(82%) eram hipertensos: 07 deles não faziam uso de Para Hiltunen et al. [5], o risco das mulheres acima de
medicação hipotensora, três estavam em uso de diurético, 80 anos de desenvolver diabetes mellitus foi de 11,3 (95%
sendo um em associação com bloqueadores dos canais IC 1,6-79,5) comparado aos homens da mesma idade.
de cálcio, um com captopril e um com a alfa-metildopa. Num estudo de 1300 finlandeses de 65 a 74 anos [8],
Dos oito idosos com glicemia de jejum alterada, cinco baseado na história clínica e no teste de tolerância a
(62%) eram hipertensos: três dos quais em uso de glicose, a prevalência de diabetes recém-diagnosticado,
diurético, um deles em uso de associação de diurético de intoleranteância à glicose e de diabetes mellitus pelo
com alfa-metildopa e outro em uso de alfa-metildopa critério da OMS foram de 8,7%, 7% e 17,8%,
isoladamente. Todas eram do sexo feminino. respectivamente,em homens e 11,7%, 7,1% e 19,1% em
mulheres, enquanto que a freqüência de intolerância a
Associação de diabetes mellitus, glicemia de jejum glicose foi de 33,8% nos homens e de 37,9% em
alterada e hipotiroidismo primário mulheres. Neste estudo, 38 a 90%% dos pacientes
Foi observado hipotiroidismo primário em 28/112 apresentaram excesso de peso, com índice de massa
(25%) dos idosos com glicemia de jejum normais, seis corpórea maior do que 27 kg/m2. Observou-se que a
dos quais já tinham o diagnóstico prévio de disfunção presença de obesidade duplicou a prevalência de diabetes
tiroidiana, sendo que um tinha hipotiroidismo franco e mellitus e quando associada também à história familiar
vinte e sete hipotiroidismo subclínico. Cinco dos vinte e de diabetes, aumentou em três vezes estsa prevalência.
dois (22,7%) diabéticos apresentavam hipotiroidismo No presente estudo, mostramos freqüência de diabetes
primário, sendo que dois com apresentavam mellitus foi de 12,9%, e de glicemia de jejum alterada
hipotiroidismo franco e três com 3/15 (20%) de 4,7%. Este resultado pode estar relacionado aà
hipotiroidismo subclínico. Das oito idosas com glicemia inexistência de obesos na amostra. Num estudo
de jejum alterada, nenhuma apresentou hipotiroidismo multicêntrico em 2.196 idosos (65 a 95 anos) em
subclínico. A freqüência de hipotiroidismo primário nos ambulatórios de cardiologia e geriatria de instituições
pacientes sem diabetes ou glicemia de jejum alterada brasileiras, a freqüência de diabetes foi de 13% [16],
foi de 20,1%, sendo que, com exceção de um paciente semelhante ao nosso resultado. Cabrera e Jacob Filho
com hipotiroidismo, todos apresentavam hipotiroidismo [17] num estudo em 847 idosos ambulatoriais, com 60
subclínico. O teste de proporções não mostrou diferença anos ou mais, de ambos os sexos (66,8% eram homens),
significativa nestas freqüências.entre diabéticos e não observaram que, nos idosos não obesos, a freqüência de
diabéticos. diabetes mellitus foi de 13,6% nos homens e 11,6% nas
O nível de TSH nos pacientes com glicemia de jejum mulheres e, nos idosos obesos, foi de 18,2 % nos homens
normal e hipotiroidismo variou de 5 a 27,2 mUI/ml, e 26,9% nas mulheres. A freqüência de obesidade neste
enquanto que nos idosos com diabetes tipo 2 e estudo foi de 9,3% em homens e 23,8% em mulheres,
hipotiroidismo variou de 5 a 12,5 mUI/ml. A maioria dos estudosrefere mostra que a freqüência
de diabetes mellitus aumenta e a tolerância à glicose
diminui com o avançar da idade. Estima-se que a
Discussão glicemia de jejum aumente 1 mg% e a glicemia na
segunda hora do teste de tolerância a glicose aumente
Pelo critério da Organização Mundial da Saúde de 9 a 10 mg% por década [187], entretanto o critério
(OMS) [134], a prevalência de diabetes mellitus tem sido para diagnóstico de diabetes pela OMS ou ADA é o
estimada deentre 10 a 30% e de intolerância a glicose de mesmo para indivíduos de qualquer faixa etáriaidosos e
entre 13,8 a 39,2% [2-8]. Em estudos baseados em não idosos.
registros ou entrevistas, a freqüência de diabetes mellitus Num estudo recente, Resnick et al. [198], compararam
em homens de 60 anos ou mais foi de 7,2 a 8,4%, e para os critérios de diagnóstico de diabetes (OMS e ADA)
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em 2.844 indivíduos com 40 a 74 anos e observaram de 30,7% versus 7,7% em ingleses e em mulheres
que alguns pacientes diagnosticados como diabeétes icos asiáticas do sul de 24,0% versus 12,5% em inglesas [13].
pelo critério da OMS foram considerados normais pelo A prevalência de diabetes não diagnosticado varia de
critério do ADA e também o oposto. Sugeriram que 60 a 93% [3,8,10]. No estudo de Simmons [13], 93%
embora o critério do ADA subestime as alterações da dos asiáticos e 70% dos europeus desconheciam ser
hiperglicemia pós sobrecarga de glicose, parece ser portador de diabetes antes de se submeterem a triagem
efetivao em identificar indivíduos com perfis de risco com glicemia. No estudo de Tuomilehto [3], esta
de doença cardiovascular desfavoráveis e expostos a freqüência foi de 85%. Em contraste, no estudo de
hiperglicemia a longo prazo. Malerbi et al. [11], que incluiu indivíduos de 30 a 69
Observamos no presente estudo que ocorreu anos, esta freqüência foi de 46%. No nosso estudo,
associação de diabetes com hipotiroidismo primário em inexplicavelmente observamos baixa freqüência de
22% dos idosos. Existem poucas descrições a este diabetes desconhecido (13%).
respeito.A associação de diabetes e hipotiroidismo em Considerando a freqüente associação de diabetes e
idosos foi descrita por Flatau et al. [1920], que avaliaram hipotiroidismo em idosos, sugerimos que além da
1096 idosos de ambos os sexos, com idade de 65 a 92 glicemia de jejum, a investigação da função tiroidiana
anos, em 11 kibbutz do norte de Israel. Observaram seja incluída na avaliação do idoso, mesmo
prevalência de 12% de diabetes (critério da OMS) e de assintomático.
14% de hipotiroidismo, sendo que em 38% deles foi
considerado subclínico. Num estudo de 293 diabéticos Agradecimentos: A Aldenice V de Carvalho, Ivanise
tipo 2, hospitalizados pelo diabetes descontrolado ou Santana Silva e Eduardo Faustino de Oliveira,
recém-diagnosticado, de ambos os sexos, com idade funcionários do Laboratório de Endocrinologia do
variando de 40 a 93 anos, a freqüência de TSH ultra- HUPES, pelo auxílio na coleta das amostras,
sensível alterado foi de 31,4%, dos quais 24,2% tinham organização dos resultados e dosagens hormonais.
hipotiroidismo primário, 48,3% hipotiroidismo
subclínico (níveis de TSH alto, com T4 livre normal) e Referências
os demais foram considerados como hipertiroidismo
[21]. Interessante neste estudo, é que cerca de um terço 1. Meneilly GS, Tessier D. Diabetes in elderly. In Morley JE,
dos pacientes com hipo ou hipertiroidismo subclínico Vanden Berg L. Contemporary eEndocrinology:
Endocrinology of aging. Humana Press Inc., Totowa, NJ,
foram reavaliados dois meses após melhora do controle 2000:181-204.
metabólico e observou-se normalização das alterações 2. Agner E, Thorsteinsson P, Eriksen M. Impaired glucose
em quase todos. Num outro estudo, em 1310 diabéticos tolerance and diabetes mellitus in elderly subjects. Diabetes
ambulatoriais da Escócia, foi observado prevalência de Care 1982;5:600-604.
disfunção tiroidiana em 13,4% dos pacientes, sendo o 3. Tuomilehto J, Nissinen A, Kivelä S-L. Pekkanen J, Kaarsalo
E, Wolf E et al. Prevalence of diabetes mellitus in elderly men
risco maior nos pacientes mulheres com diabetes tipo 1 aged 65 to 84 years in eastern and western Finland.
[22]. Diabetologia 1986;29:611-615.
A prevalência de diabetes e intolerância a glicose em 4. Ohlson LO, Larsson B, Erikson H et al. Diabetes mellitus in
hipertensos é maior do que em normotensos. Em 805 Swedish middle-aged men: athe study of men born in 1913
idosos hipertensos acima de 65 anos na Finlândia [9], and 1923. Diabetologia 1987;30:386-93.
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aumentado de DM de 1,56 nos hipertensos quando Medicine 1993;11:241-49.
comparado aos normotensos, ajustado para idade, sexo, 6. Harris MI, Flegal KM, Cowie CC, Eberhardt MS, Goldstein
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freqüência de diabetes nos hipertensos em uso de beta- diabetes, impaired fasting glucose and impaired glucose
tolerance in US adults. Diabetes Care 1998;21:518-24.
bloqueador ou diuréticos foi de 12,9%, enquanto que 7. Harris MI. Undiagnosed NIDDM: clinical and public health
nos indivíduos normotensos foi de 4,3%. Num estudo issues. Diabetes Care 1998;21:518-24.
em 95 idosos hipertensos submetidos ao teste de 8. Mykkänen L, Laakso M, Uusitupa, Pyörälä K. Prevalence of
tolerância à glicose, a freqüência de diabetes não diabetes and glucose tolerance in elderly subjects and their
diagnosticado foi de 11,6% e de intolerância a glicose association with obesity and family history of diabetes.
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de 43,2% [10]. 9. Mykkänen L, Kuusisto J, Pyöräla, Laakso M, Haffner SM.
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determinados grupos étnicos. Num estudo comparativo elderly hypertensive subjects. Journal of Hypertension
entre europeus e asiáticos do sul com mais de 65 anos, 1994;12:1425-32.
nos quais foi determinada glicemia de jejum, e se acima 10. Johnson KC, Graney MJ, Applegate WB, Kitabichi AE,
Runyan JW, Shorr RI. Prevalence of undiagnosed non-
de 108 mg% submetidos ao teste de tolerância a à glicose, insulin-dependent diabetes mellitus and impaired glucose
foi observada nos homens asiáticos do sul prevalência
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e das Patologias Associadas

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ATUALIZAÇÃO

Imunização: a importância da vacinação para o portador de diabetes


Fadlo Fraige Filho*, João Toniolo Neto**, Rodrigo Gonçalves dos Reis***

*Endocrinologista, Presidente da FENAD e da ANAD e Professor Titular de Endocrinologia da Faculdade de Medicina ABC, **Geriatra, Professor adjunto
da disciplina de Geriatria da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, ***Farmacêutico, Gerente de Produtos Linha Adulto da
Aventis Pasteur.

A prevenção é de fundamental importância para a vacinação é uma importante intervenção de saúde pública
manutenção da qualidade de vida da população em geral, para a redução da morbidade e da mortalidade em
e para os portadores de doenças crônicas, em particular. decorrência de infecção especialmente entre indivíduos
Para os portadores de diabetes, por exemplo, evitar a com diabetes [6].
ocorrência das enfermidades, além de poupar o indivíduo Entretanto, apesar de todo o conhecimento científico
de sofrimento e desconforto inerentes às doenças, acumulado durante anos de experiência com o uso das
significa prevenir possíveis complicações e reduzir vacinas, muitas vezes estas são pouco utilizadas ou
substancialmente o risco de óbito [1,2]. Infecções por esquecidas por parte da população, inclusive pelos
vírus e bactérias descompensam o diabetes e indivíduos com diabetes, e – o mais preocupante – por
comprometem o tratamento, por isso, medidas boa parte dos profissionais da saúde [6,7]. Estudos
preventivas devem ser tomadas para evitar as realizados nos EUA mostram que a cobertura vacinal
conseqüências de infecções [3-5]. Ainda, além de todos contra gripe entre portadores de diabetes é de apenas
os benefícios para a saúde e para a qualidade de vida 40% e contra o pneumococo, somente 21% [6]. Neste
das pessoas, a prevenção possibilita reduzir as despesas ponto, é importante ressaltar que a vacinação contra gripe
com tratamento, visitas médicas, hospitalizações. e contra o pneumococo é oficialmente recomendada para
Dentre as medidas preventivas, destacam-se a portadores de diabetes, tanto por órgãos brasileiros como
alimentação equilibrada, exercícios físicos monitorados, internacionais [3,8,9]. Em função da necessidade e da
cuidados básicos com a saúde e com a higiene, o uso importância da imunização desses pacientes, o governo
adequado dos medicamentos, sem abusos e com o devido dos EUA realiza anualmente campanhas de prevenção e
acompanhamento, e o uso de agentes imunobiológicos conscientização dos diabéticos a respeito da necessidade
contra doenças infecto-contagiosas, como as vacinas. da vacinação contra influenza e contra o pneumococo,
A vacinação é um dos grandes avanços da área médica entre outros cuidados com a saúde [10]. Este exemplo
nos últimos tempos e é o meio mais eficaz e custo-efetivo poderia ser seguido pelas autoridades brasileiras, a fim
de prevenir doenças infecciosas. O grande impacto no de evitar as conseqüências do próprio diabetes e da
controle de várias infecções por meio de campanhas de associação com a ocorrência de infecções.
imunização está mais do que comprovado por exemplos Os portadores de diabetes representam cerca de 10%
como a erradicação da varíola, a eliminação da da população do Brasil, algo próximo a 1,6 milhões de
poliomielite do continente americano, entre outros. A pessoas, sendo que no grupo de pessoas com mais de 60

Endereço para correspondência: Rodrigo Gonçalves dos Reis, Rua do Rócio, 351, 10º andar – Vila Olímpia 04552-905 – São Paulo SP, Tel: (11) 3048-0443,
E-mail: rodrigo.dos-reis@aventis.com, Dr. João Toniolo Neto, Rua Helena, 218, cj. 96 – 9º andar – Vila Olímpia 04552-050 – São Paulo SP, Tel: (11) 3842-
5144, E-mail: jtn@dialdata.com.br.
Fraige Filho F et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 60~61 61

anos o índice de portadores de diabetes aumenta para Referências


expressivos 14% [7]. Essas pessoas, além das vacinas
comuns ao calendário corrente de vacinação, devem 1. Colquhoun AJ et al. Effectiveness of influenza vaccine in
receber também as vacinas contra gripe e contra o reducing hospital admissions in people with diabetes.
Epidemiol Infect 1997;119:335-41.
pneumococo [3,8,9]. 2. Sociedade Brasileira de Diabetes. Consenso Brasileiro sobre
Os números explicam claramente a necessidade de Diabetes. Diagnóstico e Classificação do Diabetes Mellitus e
prevenção dessas infecções. Os pacientes com diabetes Tratamento do Diabetes Mellitus Tipo 2. Versão Final e
mellitus têm seis vezes maior risco de hospitalização e Definitiva. Recomendações da Sociedade Brasileira de
três vezes maior risco de morte em decorrência de gripe Diabetes, Maio de 2000.
3. CDC. Prevention and Control of Influenza: recommendations
e de pneumonia [3,10]. Calcula-se que anualmente nos of the Advisory Committee on Immunization Practices
Estados Unidos entre 10 mil e 30 mil diabéticos morram (ACIP). MMWR 2001;50(RR-4).
em decorrência de complicações causadas por gripe ou 4. CDC. National Diabetes Fact Sheets. National estimates and
pneumonia [5]. Além disso, durante as epidemias de general information on diabetes in the United States. 1998.
gripe, a taxa de morte de diabéticos aumenta de 5% a http://www.cdc.gov
5. CDC. Flu shots can be a life preserver for people with
15% [10]. Os índices totais de mortalidade deste grupo diabetes, CDC says. 1998. www.cdc.gov
é de aproximadamente 12% em decorrência da gripe e 6. CDC. Influenza and Pneumococcal Vaccination Rates among
pode chegar até 36% em função de infecções Persons with Diabetes Mellitus – United States, 1997.
pneumocócicas (como pneumonia e septicemia) [11]. MMWR 1999;48(42):961-7.
Além das vacinas contra gripe e pneumocócica, os 7. Dados não publicados. Pesquisa realizada pela Secretaria de
Estado da Saúde de São Paulo, pela Aventis Pasteur e pelo
portadores de diabetes devem manter-se em dia com a Instituto DataFolha sobre a Campanha de Vacinação do
imunização contra outras infecções. Todos os indivíduos Idoso, 2001.
devem estar regularmente vacinados contra a 8. CDC. Prevention of Pneumococcal Disease:
poliomielite; a hepatite B; o sarampo, a caxumba, a recommendations of the Advisory Committee on
rubéola e a varicela (caso nunca tenham apresentado Immunization Practices (ACIP). MMWR 1997;46(RR-8).
9. Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo (CVE-
essas infecções); o tétano e a difteria; entre outras vacinas SP). Informe técnico. Campanha Nacional de Vacinação para
consagradas e que estão à disposição para a prevenção o Idoso 2000. Na Internet: ftp://ftp.cve.saude.sp.gov.br/
de doenças infecto-contagiosas. doc_tec/idoso%202000.pdf.
O portador de diabetes é um indivíduo que necessita 10. CDC. Diabetes Projects. Diabetes and Flu/Pneumococal
de cuidados e atenção e todos os profissionais envolvidos Campaign. Diabetes Public Health Resource 2001. http://
www.cdc.gov/diabetes/projects/aboutcampaign.htm.
com seu tratamento devem estar devidamente informados 11. National Coalition for Adult Immunization. Improving
sobre as atuais recomendações. Assim, é imprescindível Influenza and Pneumococcal Immunization rates among high-
que o profissional da saúde assuma seu papel de educador risk Adults. A Call to Action. Summary of a Roundtable
e exerça sua principal vocação que é preservar vidas, Hosted by The National Coalition for Adult Immunization
indicando as vacinas e incentivando seus pacientes a 1998. http://www.nfid.org/ncai/publications/roundtable/
manterem-se devidamente imunizados.
62 Santos RD et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 62~67
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 01 (2002) 62~67

ATUALIZAÇÃO

Resumo das III Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias e Diretriz de


Prevenção da Aterosclerose do Departamento de Aterosclerose da
Sociedade Brasileira de Cardiologia
Coordenador geral: Raul D. Santos, Vice Presidente do Departamento de Aterosclerose da SBC 2000-
2001, Coordenador das III Diretrizes Brasileiras Sobre Dislipidemias - Diretriz de Prevenção da
Aterosclerose; Comissão de Redação e de Divulgação: Sérgio D. Giannini (SP), Raul D. Santos (SP),
Francisco H. Fonseca (SP), Emílio H. Moriguchi (RS); Coordenadores I - Metabolismo lipídico: Raul C.
Maranhão (SP): II – Aterogênese: Protásio Lemos da Luz (SP); III – Determinações laboratoriais: José
Carlos Lima (BA); IV - Classificação das dislipidemias: Wilson Salgado Filho (SP); V - Lípides e
aterosclerose: aspectos epidemiológicos, clínicos e preventivos: Álvaro Avezum (SP) e Bruce Duncan
(RS); VI - Estratificação de risco e metas lipídicas para a prevenção da aterosclerose: Andréia A. Loures-
Vale (MG); VII - Mudança do estilo de vida: José Ernesto dos Santos (SP); VIII -Tratamento
medicamentoso das dislipidemias: Marcelo C. Bertolami (SP); IX - Dislipidemias em grupos especiais:
André A. Faludi (SP); X - Genética e dislipidemias: Francisco H. Fonseca (SP).

Agradecemos o Prof. Dr. Raul D. Santos pela autorização de reprodução dessas diretrizes, já publicadas em Arquivos
Brasileiros de Cardiologia, volume 77, sup 3, novembro de 2001. O texto completo das diretrizes é disponível no site
da Sociedade Brasileira de Cardiologia: www.cardiol.br Data final de elaboração da versão: 23 de agosto de 2001.

Participantes: Abel Pereira (SP), Abrahão Afiúne Neto (GO), Agnaldo David de Souza (BA), Alváro Avezum (SP), André A. Faludi (SP), Andrei C. Spósito (SP),
Andréia A. Loures-Vale (MG), Ana Maria Lottenberg (SP), Antonio Carlos P. Chagas (SP), Antônio de Pádua Mansur (SP), Armênio Guimarães (BA), Bruce
Duncan (RS), Bruno Caramelli (SP), Cleonice Carvalho Coelho Mota (MG), Carisi Polanczyk (RS), Carlos Scherr (RJ), Dikran Armaganijan (SP), Dante M. Giorgi
(SP), Éder Quintão (SP), Edgar P. de Mello (PE), Edna Nakandakare (SP), Egle Opie (SP), Eliane Cotta de Faria (SP), Eloisa Janovich (SP), Emílio Moriguchi
(RS), Francisco H. Fonseca (SP), Geraldo Picheth (PR), Giuseppe Dioguardi (SP), Guido Rosito (RS), Hermes Toros Xavier (SP), Ieda L. Lopes (SP), Ivana da Cruz
(RS), Jaqueline S. Issa (SP), Jayme Diament (SP), José Antônio F. Ramires (SP), José Carlos Basques (MG), José Carlos Lima (BA), José Carlos Nicolau (SP), José
Eduardo Krieger (SP), José Ernesto dos Santos (SP), José Jayme Galvão (SP), José Mendes Aldrighi (SP), José Paulo Novazzi (SP), Leonor Pinto de Almeida (SP),
Liliana Paula Bricarello (SP), Lísia Rabelo (BA), Luciana Uint (SP), Luiz Antônio Machado César (SP), Luis Carlos Bodanese (RS), Luiz Introcaso (DF), Maria
Cristina Izar (SP), Maria Eliane C. Magalhães (RJ), Maria Helena Catelli (MG), Mariléia Scartezini (PR), Marcelo C. Bertolami (SP), Marcus V. B. Malachias
(MG), Michel Batlouni (SP), Nabil Ghorayeb (SP), Nadine Clausell (RS), Neusa A. Forti (SP), Olavo Garcia F. Silva (PR), Otávio C. E. Gebara (SP), Otávio R.
Coelho (SP), Protásio Lemos da Luz (SP), Raul C. Maranhão (SP), Raul D. Santos (SP), Ricardo Stein (SC), Rosana Perim Costa (SP), Sérgio D. Giannini (SP),
Sérgio Kaiser (RJ), Sérgio Timerman (SP), Sílvia Ihara (SP), Tania Martinez (SP), Thales de Carvalho (SC), Wilson Salgado Filho (SP).

Descrição do método de coleta de evidências: Levantamento bibliográfico no MEDLINE e INDEX MEDICUS Latino Americano, Consulta às Diretrizes
Européias 1998 e Americanas 2001 e a Documentos de Consenso sobre Excesso de Peso e Tabagismo.
Santos RD et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 62~67 63

As recomendações deste documento seguem os seguintes Nota: as recomendações emitidas neste documento
critérios de evidência adotados pela Sociedade Brasileira de forma geral refletem as evidências de efetividade das
de Cardiologia: intervenções. Portanto, não incorpora, de forma
sistemática, análises de custo-efetividade. Desta forma,
Graus de recomendações este documento não deve ser encarado como um guia
A) Conclusiva e/ou unanimemente recomendado global absoluto para ser-viços preventivos em nível de
(sempre usar): conduta terapêutica conclusivamente útil saúde pública.
e segura; eficácia e segurança comprovadas (quase
sempre se requer níveis de evidência excelentes 1 ou 2). I - Classificação das dislipidemias
B) Recomendado como aceitável, mas com ressalvas A) Classificação laboratorial
(deve-se geralmente indicar): conduta aceitável e segura, Hipercolesterolemia isolada (aumento do colesterol
grande potencial de utilidade, mas ainda sem total-CT e ou LDL-colesterol LDL-C)
comprovação conclusiva (evidência menos sólida). Hipertrigliceridemia isolada (aumento dos
C) Recomendação indefinida (é inteiramente a critério triglicérides-TG)
individual, usar ou não): conduta para a qual não há Hiperlipidemia mista (aumento do CT e dos TG)
evidência segura, nem favorável, nem desfavorável, Diminuição isolada do HDL-colesterol (HDL-C) ou
quanto à eficácia e segurança (pode ser conduta associada a aumento dos TG ou LDL -C.
terapêutica tradicionalmente utilizada, sem comprovação
científica). Valores de referencia dos lípides para indivíduos >20 anos de idade
D) Conduta terapêutica não recomendada, embora Lípides Valores Categoria
possa, em alguns contextos de excepcionalidade ser CT <200 Ótimo
adotada (opção muito fraca, geralmente não indicar): 200-239 Limítrofe
evidência minimamente sugestiva de eficácia e ≥240 Alto
segurança, embora se divise algum potencial de utilidade LDL-C <100 Ótimo
100-129 Desejável
em algumas circunstâncias. 130-159 Limítrofe
E) Conclusiva e/ou unanimemente não-recomendado 160-189 Alto
(nunca usar): (Comissão de Cardiologia Baseada em ≥190 Muito alto
Evidências da Sociedade Brasileira de Cardiologia e HDL-C < 40 Baixo
>60 Alto
Associação Médica Brasileira – no prelo). TG < 150 Ótimo
150-200 Limítrofe
Níveis de evidência 200-499 Alto
Nível 1 - Evidência baseada em múltiplos estudos ≥500 Muito alto
randomizados, controlados, amplos, concordantes e com
poder estatístico adequado; preferencialmente com B) Classificação etiológica
revisão sistemática conclusiva. Dislipidemias primárias - origem genética
Nível 2 - Evidência baseada em poucos estudos Dislipidemias secundárias - Causadas por outras
randomizados, controlados, concordantes, de médio doenças ou uso de medicamentos: hipotireoidismo,
porte ou metanálise de vários estudos dessa natureza, diabetes mellitus (DM), síndrome nefrótica, insuficiência
pequenos (equivalendo a estudo de moderado porte). renal crônica, obesidade, alcoolismo, icterícia obstrutiva,
Nível 3 - > 1 estudo randomizado, controlado, de uso de doses altas de diuréticos, betabloqueadores,
ótima qualidade. corticosteróides, anabolizantes.
Nível 4 - > 1 estudo de coorte de alta qualidade
Nível 5 - > 1 estudo de caso-controle de alta qualidade II - Avaliação laboratorial das dislipidemias
Nível 6 - > 1 série de casos de alta qualidade - inclui O perfil lipídico é definido pelas determinações do
registros. CT, HDL-C, TG e, quando possível, do LDL-C* após
Nível 7 - Evidência apenas baseada em: extrapolações jejum de 12h a 14h.
de resultados coletados para outros propósitos (testar * Fórmula de Friedewald: LDL-C = CT – HDL-C –
outras hipóteses); conjecturas racionais, experimentos TG/5 (válida se TG <400mg/dL).
com animais, ou baseados em modelos mecanísticos de
fisiopatologia; conduta antiga, adotada em prática O perfil lipídico deverá ser realizado em indivíduos
comum; opiniões sem referência a estudos anteriores. com um estado metabólico estável, dieta habitual e peso
(Comissão de Cardiologia Baseada em Evidências da devem ser mantidos por pelo menos duas semanas antes
Sociedade Brasileira de Cardiologia e Associação da realização do exame. Levar em consideração que após
Médica Brasileira). qualquer doença ou cirurgia em geral, o perfil lipídico
do paciente poderá estar temporariamente
64 Santos RD et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 62~67

comprometido. Recomenda-se, portanto, aguardar pelo protetor devendo serdescontado um fator de risco
menos oito semanas para a determinação dos lípides da soma.
sangüíneos. Nenhuma atividade física vigorosa deve ser
realizada nas 24h que antecedem o exame. Realizar as A) Baixo risco: Risco absoluto de eventos < que 10%
dosagens seriadas sempre que possível no mesmo em 10 anos. Indivíduos com 1 FR (excetuando DM) além
laboratório para tentar minimizar o efeito da do colesterol (LDL-C >160mg/dL). Não é necessário o
variabilidade analítica. Evitar a ingesta de álcool nas 72h uso de escores de risco.
que antecederem a coleta do sangue. Recomendação: Meta LDL-C <130mg/dL, entretanto,
Grau de recomendação: B. Nível de evidência: 4. tolera-se LDL-C até 160mg/dL.
Perfil desejado: CT <200mg/dL, HDL-C >40mg/dL
Dosagem da homocisteína, Lp(a) e fatores e TG <150mg/dL.
hemostáticos Grau de recomendação: B. Nível de evidência: 2.
Não é recomendada a determinação rotineira da
homocisteína, Lp(a), fibrinogênio e outros fatores Recomendação
hemostáticos. Nível de LDL-C (mg/dL) Orientação Verificações
Grau de recomendação: C. Nível de evidência: 3. Até 159 MEV 6 meses*
160 - 190 MEV 3 meses*
Proteína C reativa de alta sensibilidade (PCR-as) >190 tratamento medicamentoso
*O tratamento medicamentoso nessa faixa de risco é opcional e
Recomendação deverá ser iniciado dependendo da intensidade dos FR: tabagismo
importante (>40 cigarros dia), história familiar importante, HDL-C
A proteína C reativa de alta sensibilidade (PCR-as) muito baixo.
poderá ser determinada no auxílio da estratificação do
risco de aterosclerose clínica. Indivíduos acima do 3 o
percentil de distribuição encontram-se sob risco relativo B) Médio risco: risco de evento >10% porém menor
maior de eventos do que os nos percentis 1 e 2. Nesses do que 20% em 10 anos.
indivíduos deve ser considerada mudança agressiva do Indivíduos com 2 FR (excetuando DM) além do
estilo de vida e controle dos fatores de risco presentes. colesterol (LDL-C >160mg/dL).
Grau de recomendação: B. Nível de evidência: 2.
Recomendação: Meta LDL <130mg/dL
III - Estratificação de risco e metas lipídicas de Grau de recomendação para o LDL-C: A. Nível de
tratamento para a aterosclerose evidência: 1.
Perfil desejado: CT <200 mg/dL, HDL-C > 40 mg/
Estratificação de risco dL e TG< 150 mg/dL.
O LDL-C é fator causal e independente de Grau de recomendação para os TG e HDL-C: B.
aterosclerose sobre o qual devemos agir para diminuir a Nível de evidência: 2.
morbi-mortalidade. A prevenção deve ser baseada no
risco absoluto de eventos coronarianos. Todos os O cálculo do risco absoluto de eventos poderá ser feito
indivíduos devem ser submetidos à mudança do estilo pelo uso do escore de risco de Framingham (ERF) que
de vida (MEV) - dieta, exercício, abstenção do fumo, avalia o risco de eventos coronarianos em 10 anos.
perda de peso.
Recomendação
Fatores de risco para aterosclerose que modificam as
Nível de LDL-C (mg/dL) Orientação Verificações
metas de LDL-C: Até 160 MEV 3 meses
• Fumo >160 tratamento medicamentoso
• Hipertensão arterial sistêmica (PA =ð140/
90mmHg) C) Alto risco: risco de evento >20% em 10 anos ou
• HDL-C* <40mg/dL >20% extrapolando-se a idade para os 60 anos de vida.
• Diabetes mellitus (diabéticos são considerados Indivíduos com > de 2 FR (excetuando DM) além do
como portadores de aterosclerose) colesterol (LDL-C >160mg/dL), principalmente homens
• Idade (≥45 anos para homens e ≥55 anos para com idade acima dos 55 anos e outros FR associados,
mulheres) diabéticos e portadores de doença aterosclerótica
• História familiar precoce de aterosclerose (parentes coronariana ou não (aneurisma de aorta, insuficiência
de primeiro grau <55 anos para homens e <65 anos vascular periférica ou doença cerebrovascular
para mulheres) sintomática). Portadores de síndromes genéticas, como
• *HDL-C >60mg/dL são considerados um fator
Santos RD et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 62~67 65

a hipercolesterolemia familiar e a hiperlipidemia familiar 240-279 2 1


combinada, também se encontram nesse grupo. O cálculo ≥280 3 3
do risco absoluto de eventos poderá ser feito pelo uso Passo 3
do escore de risco de Framingham. O ERF dá uma idéia HDL-C Homens Mulheres
do risco de eventos coronarianos em diabéticos, <35 2 5
entretanto, não é recomendado para se estabelecer a meta 35-44 1 2
lipídica, já que a mesma nesses indivíduos é LDL-C 45-49 0 1
50-59 0 0
<100mg/dL. Da mesma forma, o ERF não é indicado ≥60 -1 -3
para os indivíduos portadores de manifestações clínicas Passo 4
da aterosclerose ou dislipidemias de origem genética.
PAS PAD Homens Mulheres
< 120 < 80 0 -3
Recomendação: prevenção primária de alto risco e 120-129 80-84 0 0
prevenção secundária - meta: LDL <100mg/dl 130-139 85-89 1 0
Grau de recomendação para o LDL-C: A. 140-159 90-99 2 2
Nível de evidência: 1. ≥160 ≥100 3 3
Perfil desejado: CT <200mg/dL, HDL-C >40mg/dL Quando os valores da PAS e PAD discordarem usar o mais alto.
(HDL-C >45mg/dL em diabéticos) e TG <150mg/dL.
Passos 5 e 6
Recomendação para o CT: A. Nível de evidência: 2.
Grau de recomendação para o HDL-C e TG: B. Diabetes Homens Mulheres
Nível de evidência: 2. Sim 2 4
Não 0 0
Fumo
Recomendação Sim 2 2
Nível de LDL-C (mg/dL) Orientação Verificações Não 0 0
100-129* MEV 3 meses
≥130 tratamento medicamentoso imediato Passo 7 somar os pontos
*Recomendação: LDL-C entre 100 e 129mg/dL, nesses casos, não Idade+ CT+ HDL-C+ PAS ou PAD + DM + Fumo = total de
é obrigatório o início do tratamento medicamentoso imediato já pontos
nesses níveis. Se após três meses as metas não forem atingidas,
recomenda-se iniciar o tratamento medicamentoso.
Passo 8 veja o risco absoluto nas tabelas
Uso de escores de risco de Framingham como Homens Homens Risco de Mulheres Mulheres Risco de
ferramenta de auxílio na estratificação do risco de Pontos DAC em 10 anos % Pontos DAC em 10 anos %
eventos clínicos coronarianos <-1 2 ≤-2 1
0 3 -1 2
O ERF calcula o risco absoluto de eventos 1 3 0 2
coronarianos (morte, IAM e angina de peito) em 10 anos. 2 4 1 2
São atribuídos pontos para idade, pressão arterial sistólica 3 5 2 3
(PAS) e diastólica (PAD), CT, HDL-C, fumo (qualquer 4 7 3 3
cigarro no último mês) e presença ou não de DM. Após 5 8 4 4
6 10 5 4
o cálculo dos pontos deve-se consultar a tabela anexa 7 13 6 5
para ambos os sexos. 8 16 7 6
9 20 8 7
Passo 1 10 25 9 8
11 31 10 10
Idade Homens Mulheres 12 37 11 11
30-34 -1 -9 13 45 12 13
35-39 0 -4 ≥14 53 13 15
40-44 1 0 14 18
45-49 2 3 15 20
50-54 3 6 16 24
55-59 4 7 17 ≥27
60-64 5 8
65-69 6 8
70-74 7 8 Excesso de peso, obesidade e síndrome
plurimetabólica
Passo 2
O excesso de peso (índice de massa corpórea – IMC
Colesterol Total Homens Mulheres > 25kg/m2), principalmente acúmulo de gordura na
< 160 -3 -2 região abdominal, está associado a um maior risco de
160-199 0 0
200-239 1 1 doença aterosclerótica.
66 Santos RD et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 62~67

A medida da circunferência da cintura permite-nos utilizando-se as doses necessárias (lovastatina 20mg-


identificar portadores de obesidade androgênica. Risco 80mg, sinvastatina 10mg-80mg, pravastatina 20mg-
muito aumentado: medida de cintura >88cm mulheres e 40mg, fluvastatina 10mg-80mg, atorvastatina 10mg-
>102cm nos homens. 80mg, cerivastatina 0,2mg-0,8mg-retirada do mercado
em agosto de 2001 para avaliação de segurança). Uma
Recomendação: vez estabelecido o tratamento este deverá ser seguido
Nesses indivíduos, enfatizamos que a MEV que levem por tempo indeterminado. As vastatinas devem ser
à perda de peso, tais como exercício, dieta e, em casos suspensas caso haja aumento das aminotransferases >3
específicos, farmacoterapia é de extrema importância . vezes os valores normais, ou se houver dor muscular ou
Grau de recomendação: B. Nível de evidência: 2. aumento da creatinoquinase >10 vezes o valor normal.
Grau de recomendação: A. Nível de evidência: 1.
IV - Mudanças do estilo de vida (MEV)
B) Resinas de troca
A) Tratamento dietético A colestiramina nas doses 16g-24g/dia reduz o LDL-
Para a hipercolesterolemia recomenda-se dieta pobre C (15%-30%) e o risco de eventos coronarianos. É
em colesterol e gorduras saturadas. Para a fármaco de escolha em crianças e como adjuvante às
hipertrigliceridemia, os que apresentam vastatinas. Não deve ser usada na hipertrigliceridemia.
quilomicronemia, devem reduzir a in-gestão de gordura Grau de recomendação: A. Nível de evidência: 2.
total da dieta. Na hipertrigliceridemia secundária à
obesidade ou diabetes, recomenda-se, respectivamente, C) Fibratos
dieta hipocalórica, restrição de carboidratos e São indicados no tratamento da hipertrigliceridemia
compensação do DM. Abstenção do consumo de álcool endógena quando houver falha das MEV ou quando esta
é recomendada em todos os casos de dislipidemias. for muito elevada (>500mg/dL). Doses dos fibratos
Grau de recomendação: A. Nível de evidência: 2. (genfibrosila 600mg-1200mg, bezafibrato 600 mg/dia e
400mg da forma de subtração lenta, etofibrato 500mg/
Antioxidantes e álcool dia, fenofibrato micronisado- 200mg/dia, fenofibrato
Não se recomenda o uso destes alimentos para o 250mg/dia, ciprofibrato 100mg/dia). Têm papel na
tratamento das dislipidemias nem para a prevenção da prevenção da aterosclerose clínica em indivíduos com
aterosclerose. as características dos estudos de Helsinki e VA-HIT.
Grau de recomendação: D. Grau de Recomendação: A. Nível de evidência: 2.
Nível de evidência: 1 para suplementação com os
antioxidantes e 4 para o álcool. D) Ácido nicotínico
Na forma tradicional, utiliza-se a dose de 2g a 6g/dia
B) Exercício físico ajustada conforme o efeito ou a tolerância. O acipimox
Devem ser adotadas, com freqüência de três a seis dose 250mg até 3 vezes ao dia.
vezes por semana, sessões de em média, 40min de Grau de recomendação: B. Nível de evidência: 2.
atividade física aeróbia. A zona alvo do exercício aeróbio
deve ficar na faixa de 60% a 80% da freqüência cardíaca E) Ômega-3
máxima, observada em teste ergométrico, realizado na Os ômega-3 reduzem os TG. A dose mínima
vigência dos medicamentos de uso corrente. recomendada é de 4g/dia.
Grau de recomendação: B. Nível de evidência: 2. Grau de recomendação: B. Nível de evidência: 2.

C) Tabagismo F) Ácido acetil salicílico (AAS)


O tabagismo deve ser combatido de forma agressiva. O AAS nas doses acima de 100mg/dia deve ser
O tratamento do tabagismo passa por duas etapas: prescrito para indivíduos que se encontrem sob alto risco
abordagem cognitivo comportamental e farmacoterapia. de eventos cardiovasculares sem contra-indicação.
Grau de recomendação: A. Nível de evidência: 2. Indivíduos hipertensos devem ter a pressão controlada.
Grau de recomendação: A. Nível de evidência: 1.
V - Tratamento medicamentoso das dislipidemias
G) Inibidores da enzima de conversão (IECA)
A) Vastatinas ou estatinas ou inibidores da HMG- Os IECA devem ser prescritos para indivíduos em
CoA redutase prevenção secundária principalmente os que apresentem
São os medicamentos de escolha para se reduzir o disfunção ventricular esquerda ou para diabéticos que
LDL-C em adultos. Assim, para o tratamento adequado apresentem algum outro FR associado ou nefropatia.
devem ser atingidas as metas de LDL-C propostas, Grau de recomendação: B. Nível de evidência: 1.
Santos RD et al. / Diabetes Clínica 01 (2002) 62~67 67

H) Betabloqueadores (BB) B) Idosos (>70 anos)


Os BB devem ser prescritos para indivíduos que Nessa faixa etária, deve ser dada especial atenção ao
sofreram IAM principalmente os que apresentam afastamento de causas secundárias de dislipidemias. Os
disfunção ventricular. estudos de prevenção secundária com vastatinas mostram
Grau de recomendação: A. Nível de evidência: 1. alta eficácia nessa faixa etária.
Grau de recomendação: B. Nível de evidência: 2.
VI - Dislipidemias em grupos especiais
C) Mulheres no período climatérico pós-
A) Síndromes isquêmicas agudas (SIA) menopausal
O perfil lipídico deverá ser determinado em todos os Embora os estrogênios melhorem o perfil lipídico não
portadores de SIA preferencialmente nas primeiras 24h há indicação da terapia de reposição hormonal para a
após o evento. Após esse período o LDL-C diminui. As prevenção da aterosclerose.
vastatinas estão indicadas para os indivíduos no IAM Grau de recomendação C na prevenção primária.
ou angina instável se o LDL-C =ð130mg/dL. Para os Nível de evidência: 4.
com LDL-C 100mg/dL-129mg/dL o uso fica a critério Grau de recomendação D na prevenção secundária.
do médico e se LDL-C <100mg/dL não há indicação Nível de evidência: 2.
nesse momento. O LDL-C deverá ser reavaliado 2 meses
após o evento agudo e seguidas as recomendações da D) Mulheres 20-45 anos e homens 20-35 anos
prevenção secundária. A MEV devem ser enfatizadas em adultos jovens com
Grau de recomendação: B. Nível de evidência: 2. LDL =130. Entretanto, deve se considerar terapia
hipolipemiante para indivíduos com LDL-C entre
160mg/dL-189mg/dL, principalmente em fumantes.
Aqueles com LDL-C >190mg/dL devem receber terapia
hipolipemiante como os adultos mais velhos.
Grau de recomendação: B. Nível de evidência: 2.
68
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas
Diabetes Clínica 01 (2002) 68~69

Noticias das associações

Dia mundial da Saúde Agita Mundo – Agitando para a saúde


7 de abril de 2002
O sedentarismo está presente em mais de 70% da população brasileira e
do mundo. Recentes estudos apontam que o sedentarismo mata mais que a
obesidade, a hipertensão, o tabagismo, o diabetes e o colesterol alto. O
estilo de vida (falta de atividade física e alimentação não balanceada) é
responsável por 54% do risco de morte por infarto e 50% do risco de morte
por derrame cerebral que são as principais causas de morte na população
mundial. Mas além de levar a morte o sedentarismo custa caro: sabe-se que
não só nos países ricos, mas mesmo nós do terceiro mundo 70% dos gastos
com saúde são para cobrir custos das doenças originadas pelo sedentarismo
como diabetes, osteoporose, depressão, entre outras. O custo com o
tratamento médico devido a inatividade física pode variar entre 2,4% e 9%
do total dos custos médicos do setor da saúde.
Com este preocupante panorama e considerando que a mudança para um
estilo de vida ativo reduz em 40% o risco de morte por problemas
cardiovasculares, foi lançado oficialmente pela Secretaria de Estado de Saúde
de São Paulo, o programa Agita São Paulo, coordenado pelo Centre de
Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul –
CELAFISCS, com os objetivos de aumentar o nível de conhecimento sobre
os benefícios da atividade física para saúde e aumentar o nível de atividade
física da população.
O Agita São Paulo, que envolve 170 instituições parceiras governamentais
e não governamentais, adotou a nova mensagem de promoção da saúde que
preconiza que “todo cidadão deve realizar pelo menos 30 minutos de
atividade física, na maior parte dos dias da semana (se possível todos), de
intensidade moderada, realizada de forma contínua ou acumulada”, no
cotidiano em três ambientes básicos: nas atividades domésticas; no transporte
(ao trabalho ou à escola); e no lazer.
Após 5 anos de sucesso, o programa Agita São Paulo passou os limites
do Estado chegando a uma estratégia nacional com o Programa Agita Brasil,
com o apoio do Ministério da Saúde, e as fronteiras nacionais com o Agita
América. Por causa do sucesso do modelo do programa (reconhecido pela
Organização Mundial da Saúde como um modelo de promoção da saúde),
foi decidido pela diretora geral da OMS, Dr. Gro Harlem Brundtland, durante
a 54a Assembléia da Saúde, que o tema do Dia Mundial da Saúde de 2002
será a promoção da atividade física e a nutrição saudável, e que para tanto
o slogan da campanha será, inspirado no Agita São Paulo, “Agita Mundo”.
O foco do evento mundial do dia 7 de abril será a cidade de São Paulo.
Noticias das associações – Diabetes Clínica 01 (2002) 68~69 69

Continuação O objetivo de Agita Mundo será mobilizar no dia 7 de abril de 2002 de


forma global a população em uma grande caminhada para sensibilizar a adoção
de um estilo de vida ativo e de hábitos nutricionais saudáveis como forma de
manter a saúde. É esperado que cada país organize seu próprio evento no
maior número de cidades possíveis respeitando e aproveitando as diferenças
culturais como forma de promoção da mensagem de uma vida saudável. Cada
País será estimulado a enviar o relatório de atividades on-line no dia do evento
em um site específico do evento na Internet para termos simultaneamente o
impacto deste Dia no mundo todo. Por tanto você e sua cidade podem e devem
participar deste evento mundial já que as ações serão mundialmente
reconhecidas e incorporadas na home page do Agita Mundo:
www.agitamundo.org.br

Na cidade de São Paulo, cidade sede do evento que receberá os


representantes da organização Mundial da Saúde, será organizada uma
caminhada pelo programa Agita São Paulo no Parque do Ibirapuera com
uma grande concentração e realização de apresentações atísticas, culturais e
realização de atividades físicas e recreativas.

Informação – Agita Mundo


Tel/Fax: (11) 4229-8980/4229-9643
www.agitasp.com.br
www.agitamundo.org.br
E-mail: celafiscs@celafiscs.com.br

Secretário de Estado da Saúde de São Paulo: José da Silva Guedes


Centro de Estudos do laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul
(CELAFISCS): Victor K.R. Matsudo, Douglas Roque Andrade, Sandra M.M.
Marsudo. Reginaldo Andrade, Timóteo Araújo. Luís carlos Oliveira, Glaucia
F. Braggion
FICHA PRÁTICA
Diabetes Clínica 11
Os adoçantes
Os adoçantes dietéticos são produzidos a partir de edulcorantes, Sorbitol
substâncias naturais ou artificiais responsáveis pelo sabor doce. Eles Substância natural presente em algumas frutas, algas marinhas etc.
possuem um poder de adoçamento geralmente muito maior que o açúcar Tem o poder edulcorante igual ao da sacarose e similar ao da glicose,
de cana (açúcar comum) e são recomendados para dietas especiais como não sendo aconselhável a pacientes obesos e diabéticos mal
as de restrição (principalmente no diabetes) e de emagrecimento. controlados. Calórico, fornece 4 cal/g e ao ser absorvido se transforma
Sacarina em frutose no organismo. A frutose é transformada em glicose no
Primeira substância adoçante sintética a ser descoberta (1878), extraída fígado, mas como o processo é lento, não altera significativamente a
de um derivado do petróleo, o ácido ciclo hexano sulfâmico, tem poder glicemia. Não provoca cáries, não é tóxico e apresenta boa
adoçante 500 vezes maior do que a sacarose e é usada desde 1900. estabilidade. Resiste, sem perder seu potencial adoçante, a processos
Em altas concentrações deixa sabor residual amargo e metálico, e não de aquecimento, evaporação e cozimento.
é metabolizada pelo organismo. É de fácil solubilidade e estável em Doses acima de 20 a 30 g/dia produzem efeito diurético e acima de
altas temperaturas, podendo ser utilizado em preparações quentes. 30 a 70 g/dia causam diarréia. Em algumas pessoas esses efeitos
IDA (Ingestão Diária Aceitável): 5 mg/kg de peso corporal. ocorrem mesmo em doses baixas, como 10 g/dia. O sorbitol (assim
como o manitol e o xilitol) aumentam a perda de minerais pelo
Ciclamato organismo, principalmente o cálcio, podendo também provocar a
Descoberto em 1939, entrou no mercado a partir da década de 50. formação de cálculos.
Como a sacarina, é edulcorante artificial largamente usado no setor
alimentício, sendo aplicado em adoçantes de mesa, bebidas dietéticas, Manitol
geléias, sorvetes, gelatinas, etc. Com o menor poder adoçante, é 40 Tem valor calórico equivalente ao da sacarose (4 cal/g), poder edulcorante
vezes mais doce que a sacarose, não calórico e possui sabor agradável 70% superior e um sabor levemente adocicado e refrescante. Não produz
e semelhante ao açúcar refinado (apresentando um leve gosto residual). fermentação no organismo, mas provoca um significativo efeito laxativo
Absorve-se parcialmente no intestino, é eliminada pelos rins. Alguns quando ingerido em doses elevadas. Quando absorvido pelo organismo
indivíduos metabolizam uma pequena quantidade no intestino, pela estimula a secreção de insulina ao ser parcialmente convertido em glicose,
ação da flora intestinal. Não perde a doçura quando submetido a altas/ porém não causa hiperglicemia.
baixas temperaturas e meios ácidos. Sinergético quando combinado IDA: 50 a 150 mg/kg de peso corporal.
com outros adoçantes de baixas calorias como acesulfame K, Xilitol
aspartame, neoesperidina, sacarina e sucralose. Fornece 4 cal/g e sabor semelhante ao da sacarose, apresentando
IDA (Ingestão Diária Aceitável): 11 mg/kg de peso corporal. uma sensação refrescante na saliva, que aumenta quando associado
Aspartame ao aroma de menta. É considerado um dos melhores preventivos
Edulcorante artificial descoberto em 1965, É uma proteína adocicada contra cáries. Precaução: doses acima de 30 g/dia podem provocar
produzida a partir de dois aminoácidos encontrados normalmente nos diarréia quando consumido pela primeira vez. A OMS não
alimentos: fenilalanina e ácido aspártico. Possui sabor agradável e estabeleceu um limite para a IDA e o FDA (USA) indica o consumo
semelhante ao açúcar branco, só que com potencial adoçante 200 vezes na quantidade necessária para o adoçamento desejado.
maior, permitindo o uso de pequenas quantidades. Seu valor energético Frutose
corresponde a 4 cal/g. Muito usado pela indústria alimentícia, É um edulcorante natural, de sabor agradável e extraído das frutas e
principalmente nos refrigerantes diet. Sensível ao calor, perde o seu do mel. Contém 4 cal/g. Estudos recentes comprovam que a frutose,
poder de adoçamento em altas temperaturas. A doçura também poderá quando ingerida junto das refeições não altera a glicemia. Quando
diminuir quando muito tempo armazenado. É contra-indicado a submetida ao calor a frutose derrete, porém mantém o seu sabor. É
portadores de fenilcetonúria, uma doença genética rara que provoca o uma vez e meia mais doce que a sacarose, com poder de adoçamento
acúmulo da fenilalanina no organismo, causando retardo mental. 173 vezes maior. Excesso de frutose pode causar aumento de
IDA: 40 mg/kg de peso corporal. triglicerídeos e pessoas com problemas no metabolismo de llpipides
Acesulfame-k e gorduras devem evitar o consumo desse edulcorante. Estudos
Criado em 1960, é o adoçante sintético de maior resistência ao comprovam que o uso por tempo prolongado dificulta a absorção do
armazenamento prolongado e a diferentes temperaturas. O cobre, mineral importante na síntese da hemoglobina (responsável
Acesulfame-K é um sal de potássio sintético produzido a partir de pela pigmentação dos glóbulos vermelhos).
um ácido da família do ácido acético Adoça 130-200 vezes mais Lactose
que a sacarose, seu gosto doce é percebido de imediato e em grandes Açúcar extraído do leite muito usado como diluente nos adoçantes
doses deixa um leve sabor residual amargo. Pode ir ao fogo por ser de mesa. Fornece 4 cal/g e precisa da presença de insulina para ser
estável a altas temperaturas Não é calórico e nem metabolizado metabolizado no organismo. Seu potencial edulcorante é cerca de
pelo organismo. Pode ser usado como adoçante de mesa e numa 15 % maior que a sacarose.
infinidade de produtos. Embora seja rapidamente absorvida, 99 % Malto dextrina
da substância é eliminada em 24 horas pela urina, de forma inalterada. Açúcar extraído do milho, também muito usado como diluente nos
IDA: 15 mg/kg de peso corporal. adoçantes artificiais. Como a lactose, é insulino-dependente e tem 4
Steviosídeo cal/g, sendo cerca de 50% mais doce que a sacarose.
Descoberto em 1905 e muito difundida no Japão, extraído da Stevia Dextrose
rebaudiana, planta originária da Serra do Amambaí, na fronteira do Outro açúcar derivado do milho com ampla aplicação na indústria
Brasil com o Paraguai. Das suas folhas se extrai o steviosídeo, alimentícia. Sua doçura é cerca de 70% maior que a da sacarose.
edulcorante natural de sabor doce retardado com poder adoçante Possui 4 cal/g e também necessita insulina para sua metabolização.
300 vezes maior do que a sacarose. Tem boa estabilidade em altas
ou baixas temperaturas. Pode ser consumida sem nenhuma contra- Neohesperidina
indicação por qualquer pessoa. Não produz cáries, nem é calórica, É aproximadamente 400 ~ 600 vezes mais doce que a sacarose. Com
tóxica, fermentável ou metabolizada pelo organismo. relação ao aspartame e ao acesulfame-K, se misturados a
IDA: 5,5 mg/kg de peso corporal. neohesperidina, é muitas vezes (de 7 a 20 vezes) mais doce,
dependendo do alimento em que se emprega essas misturas. A
Sucralose neohesperidina é um flavonoide deidrochalcone. Enquanto a
Descoberta em 1976. Trata-se de um edulcorante sintético com poder neohesperidina não é encontrado em nenhuma substancia natural,
adoçante 600 vezes maior do que a sacarose. Não é calórico e possui estruturas relacionadas com os flavonoides e seus deidrochalcones
sabor agradável. Não é metabolizada pelo organismo, sendo eliminada correspondentes se encontram de forma natural em muitas plantas.
por completo em 24 horas pela urina. Estável a temperaturas altas e É metabolizada pela flora intestinal. A neohesperidina é tipicamente
baixas e em longos períodos de armazenamento. Pode ser usada como usado em combinação com outros adoçantes. A neohesperidina
adoçante de mesa, em formulações secas (como refrescos e sobremesas também tem propriedades redutoras dos sabores amargos.É estável
instantâneas), em aromatizantes, conservantes, temperos, molhos ao calor e pode ser usado então em alimentos que requerem
prontos, compotas, etc. Não produz cáries, além de reduzir a produção pasteurização ou processos de UHT. Não provoca caries e pode ser
de ácidos, responsáveis pela sua formação. usada em produtos para diabéticos.
IDA: 15 mg/kg de peso corporal. IDA: 0,5 mg/kg de peso corporal.
Cepafidia
2º Curso de capacitação para a prescrição e
acompanhamento da atividade física em diabetes
março a junho de 2002
(Datas 23 e 24 de março, 27 e 28 de abril, 25 e 26 de maio e 22 e 23 de junho)

Este curso tem o objetivo específico de fornecer informações e


construir o conhecimento com respeito aos métodos de aplicação
da Atividade Física na prevenção e tratamento do Diabetes, onde
serão abordados os seguintes temas: Epidemiologia, etiologia e
fisiopatologia; Complicações agudas, micro e macro-vasculares;
Terapêutica medicamentosa e nutricional; Avanços terapêuticos no
tratamento; Aspectos psicodinâmicos; Fisiologia do exercício;
Acompanhamento de adaptação do exercício frente às complicações
concomitantes; Noções de Educação terapêutica.

O curso tem carga horária de 48 horas, distribuídos em 4 finais de semana, um encontro


por mês e dividido em 02 módulos:

1º) Diabetes, da conceituação à atualização: aberto a todos os profissionais e estudantes


da saúde interessados no tema.
2º) Prescrição e acompanhamento da atividade física em Diabetes: exclusivo para médicos
e profissionais da Educação Física condicionado à audiência do primeiro módulo.

Duração: 48h (1 final de semana por mês durante 4 meses): sábado (8-12h/13-17h), domingo (8-12h)
Valor: R$ 120,00 (1º e 2º módulos); R$ 60,00 (1º módulo)
Pagamento: Os pagamentos deverão ser efetuados através de depósito, em nome da ANAD, Associação
Nacional de Assistência ao Diabético para o Banco Real / Agência 0985 / Conta: 636-3
Informações: ANAD (11) 5572-6559/5572-6704 ou diretamente com o Prof. Cláudio Cancellieri (11)
4816-2596, E-mail diabetes@ig.com.br ou anad@anad.org.br

Ficha de Inscrição
Nome ...................................................................................................................
Endereço ..............................................................................................................
Bairro ...................................................................................................................
CEP .............. Cidade ......................................................... Estado .......................
Profissão ..............................................................................................................
Estudante .............................................................................................................
Preencher ou copiar esta ficha de inscrição e enviá-la junto com o comprovante de depósito para:
ANAD – Associação Naional de Qssistência ao Diabético
Rua Eça de Queiroz, 198
Vila Mariana - 04011-031 São Paulo SP
Tel/Fax: (11) 5549-6704/5572-6559 - E-mail: anad@anad.org.br
72 Diabetes Clínica 06 (2001)

Calendário de Eventos
E-mail: info@endocrinology.org
Março de 2002 www.endocrinology.org
6 a 9 de março
5th International Symposium on Clinical Advances in 11 a 13 de abril
Osteoporosis XXIIIo Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de
Hawaii Convention Center, Honolulu, Hawaii São Paulo
Informações: National osteoporosis Foundation Local: Preventório Santa Clara
Tel: +1 202 223 2226 Av. Matheus da Costa Pinto, 2001 - Vl. Santa Cruz
E-mail: iso@nof.org Campos do Jordão - SP
Informações: Ascon Congressos
7 a 10 de março
8th International Conference - Diabetes & Obesity Tel: (17) 224.0507, Fax: (17) 224.4681
Ocho Rios, Jamaica 26 de abril – 1 de maio
Informações: Thornia Smith, University of the West Indies Transplant 2002
1-876-977-1749, Fax: 1-876-977-5233 Washington, DC
E-mail: udop@uwimona.edu.jm15 Tel: (888) 990 2787
E-mail: Tx2002@ahint.com
15 e 16 de março www.transplant2001.org
Congresso da 3ª Idade “Saber Viver”
Hospital da Lagoa, Rio de Janeiro
Informações e inscrições: Maio de 2002
(21) 2286-7798 / 2535-4903 / 2537-6380 4 a 7 de maio
5th International Diabetes Federation Western Pacific
20 a 22 de março
Region Congress
5º Congresso Português de Diabetes
Pequim, China
Vilamoura-Mariontel, Portugal
Tel: +86 10 6527-8803
Informações: K.I.T., a/c Sociedade Portuguesa de
Fax: +86 10 6512-3754
Diabetologia
E-mail: idfwpr@chinamed.com.cn
Tel: +351-213-504064
Fax: + 351-213-504024
E-mail: llouro@kit.de Junho de 2002
22 a 24 de março 12 a 15 de junho
XIo SINE - Simpósio Internacional de Neuroendocrinologia 6th International Symposium on Global Risk of Coronary
Hotel Glória, Rio de Janeiro Heart Disease and Stroke
Informações: JZ Congressos Florence, Itália
Tel: (21) 2286-2846, Fax: (21) 2537-9134 www.lorenzinifoundation.org
www.jz.com.br Tel/Fax: +39 02 2900 7018
E-mail: iede@jz.com.br 14 a 18 de junho
26 a 29 de março 62th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
Conferência panarábica sobre diabetes Association
Cairo, Egito San Francisco, Califórnia
Informações: Dr. A.M. Mohamed Informações: +1 800 232 3472
Tel: +20 122 131868, Fax: +20 122 723693 E-mail: meetings@diabetes.org
E-mail: mahmoud@arab-diabetes.com www.diabetes.org

Abril de 2002 19 a 22 de junho


8 a 11 de abril ENDO 2000: LXXXIV Reunião Anual
XXIo Reunion of British Endocrine Societies Informações: Beverly Glover, Endocrine Society
Harrogate, Inglaterra Tel: +1 301 941 0220
Informações: +44 1454 619 347 Fax: +1 301 941 0259
Diabetes Clínica 06 (2001) 73

27 a 29 de junho 17 a 21 de setembro
ENDORECIFE 2002 52nd Annual Obesity and Associated Conditions
Summerville Beach Resort - Porto de Galinhas - PE Symposium
Tel/Fax: (081) 3423-1300 Westin Copley Place, Boston, Massachusetts
E-mail: latache@assessor-pe.com.br Informações: The American Society of Bariatric Physicians
Tel: (303) 770 2526
Fax: (303) 779 4834
Julho de 2002 E-mail: bariatric@asbp.org
3 a 6 de julho www.asbp.org
2º Congreso Internacional de Salud reproductiva em
Diabetes Mellitus SAREDIA 2002 21 a 25 de setembro
Centro de convenciones de Guanajuato, México 25º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia
Informações: Dr Jacinto Lang Blue Tree Towers
E-mail: jlangp@infomed.sld.cu Brasília - DF
Informações: SBEM
Agosto de 2002 Tel: (21) 2507-5189 Fax: (21) 2221-7577 ramal 1193
E-mail: sbem.rj@openlink.com.br
7 a 11 de agosto
29th Annual Meeting e Educational Program American
Association of Diabetes Educators Outubro de 2002
Pennsylvania Convention Center, Philadelphia, 4 a 6 de outubro
Pennsylvania XXIV Congress of Endocrinology and metabolic diseases
Tel: (312) 424-2426 of Turkey
www.aadenet.org/annual.htm Istambul, Turquia
Informações: +90 312 310 5350
18 a 23 de agosto E-mail: president@semt.org.tr
XIXo International Congress of the Transplantation www.semt.org.tr
Society
Buenos Aires, Argentina 5 a 9 de outubro
Tel: 54 11 4381 1777 VIo International Congress on Endocrine Diseases
Fax: 54 11 4382 6703 Teheran, Irã
E-mail: info@transplantation2002.com Informações: +98 21 241 6282
E-mail: iced@erc-iran.com
24 a 29 de agosto www.erc-iran.com/iced
9th International Congress on Obesity
São Paulo, SP
Informações: www.abeso.org.br Fevereiro de 2003
Tel: (11) 3079-2298 3th International Symposium on Diabetes & Pregnancy
Fax: (11) 3079-4232 Geneva, Switzerland
Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500 Israel
Tel: 972 3 514 0014
Setembro de 2002 E-mail: conventions@kenes.com
1 a 5 de setembro
38th Annual Meeting European Association for the Study of
Diabetes / EASD 2002 Junho de 2003
Budapest, Hungria 14 a 17 de junho
Informações: Blaguss-Volánbusz Congress Bureau, POB 63th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
706, 1365 Budapest 5 - Hungria Association
Tel: +36 1 374 7030, 331 5627, Fax: 312 1582 New Orleans, Louisiana
E-mail: easd2002@congress.blavo.hu Informações: +1 800 232 3472
E-mail: meetings@diabetes.org
www.diabetes.org
74

Normas de publicação Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato


Excel/Word.
Diabetes Clínica Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas
(formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
A revista Diabetes Clínica é uma publicação com Power-Point, Excel, etc.
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas bibliográficas.
ao diabetes. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos
serão o de rigor metodológico científico, novidade,
Os artigos publicados em Diabetes Clínica poderão originalidade, concisão da exposição, assim como a
também ser publicados na versão eletrônica da revista qualidade literária do texto.
(Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-
ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela 3. Revisão
publicação na revista os autores já aceitem estas Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas
condições. relacionadas ao Diabetes, ao encargo do Comitê
A revista Diabetes Clínica assume o “estilo Vancouver” Científico, bem como remetida espontaneamente pelo
(Uniform requirements for manuscripts submitted to autor, cujo interesse e atualidade interessem a publicação
biomedical journals, N Engl J Med 1997;336(4):309- na revista.
315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
de Revistas Médicas, com as especificações que são dos artigos originais.
detalhadas a seguir. Ver o texto completo desses
Requisitos Uniformes em nosso site 4. Comunicação breve
www.atlanticaeditora.com.br (“Apresentação de artigo Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com
científico”) maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem
observações, resultados iniciais de estudos em curso, e
Os autores que desejarem colaborar em alguma das inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na
seções da revista podem enviar sua contribuição (em revista, com condições de argumentação mais extensa
arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que que na seção de cartas do leitor.
fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, Texto: Recomendamos que não seja superior a três
que será notificado ao autor. páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman)
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais
retorno de acordo com a circunstância, realizar como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
modificações nos textos recebidos; neste último caso não Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e
se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam
ao estilo literário. ser editados em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
1. Editorial bibliográficas.
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou
por um de seus membros. 5. Resumos
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e
A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao
(Times Roman) com todas as formatações de texto, tais cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de
como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não trabalhos de outros idiomas.
deve conter mais que dez referências.
6. Correspondência
2. Artigos originais Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
Serão considerados para publicação, aqueles não necessariamente haja relação com artigos publicados,
publicados anteriormente, tampouco remetidos a outras porém relacionados à linha editorial da revista.
publicações, que versem sobre investigação, clínica, Caso estejam relacionados a artigos anteriormente
diagnóstico, terapêutica e tratamento dentro das áreas publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho
definidas anteriormente. antes de se publicar a carta.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho especificações anteriores, bibliografia incluída, sem
12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, tabelas ou figuras.
itálico, sobre-escrito, etc.
75

PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)


Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
1. Normas gerais 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador para os estruturados), seguido da versão em inglês.
de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de formato A4, O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English - Objetivos do estudo.
Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais - Procedimentos básicos empregados (amostragem,
como negrito, itálico, sobrescrito, etc. metodologia, análise)
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada - Descobertas principais do estudo (dados concretos e
tabela junto a mesma. estatísticos)
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
especificações anteriores. novidade.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para tanto
desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. deverão utilizar os termos utilizados na lista de cabeçalhos de
1.4 As seções dos os artigos originais são estas: resumo, matérias médicas (Medical Subject Headings – MeSH do Index
introdução, material e métodos, resultados, discussão, Medicus ou, no caso de termos recentes que não figurem no
conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela MeSH, os termos atuais).
tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave
(key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio 5. Referências
de disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos As referências bibliográficas devem ser numeradas e
enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo
anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no as seguintes normas:
disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir
informação dos arquivos, tais como o processador de texto Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais
utilizado e outros programas e sistemas. de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do
livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo
2. Página de apresentação - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e
A primeira página do artigo apresentará as seguintes vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
informações:
- Título em português e inglês. Exemplo:
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos. 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
- Local de trabalho dos autores. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
respectivo endereço, Telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
paginação. iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido
aparelhos, etc. de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos,
páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter Zavala AV, Braver D. Semiologia do Pé – Prevenção e tratamento
participado do trabalho o suficiente para assumir a do pé diabético. Diabetes Clínica 2000; 4:137-144.
responsabilidade pública do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) Jean-Louis Peytavin
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão Atlantica Editora
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A Avenida Atlântica, 604/1102
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Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 02 (2002) 77

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Índice
(vol. 6 nº 2 - 2002) 77~152

Editorial
A volta do pré-diabetes, Fadlo Fraige Filho ............................................................................................................. 79

Informes do diabetes no mundo ................................................................................................................................. 81

O diabetes na imprensa ............................................................................................................................................... 92

Avanços terapêuticos e tecnológicos .......................................................................................................................... 96

PRODUTOS E NOVIDADES. .............................................................................................................................. 104


Accu-Chek Active (Roche Diagnostics), Groselha Diet e Guaraná Diet Lowçucar (Lightsweet), Manuel de
Educação em Diabetes (IEDE), doces e sorvetes dietéticos (Ofner), confeitaria sem açúcar (Day by Diet)

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS. ............................................................................................ 108

ARTIGOS ORIGINAIS E REVISÕES


A pirâmide alimentar e as porções alimentares em uma alimentação saudável, Sonia Tucunduva Philippi ........ 119

Relação entre estado de vitamina A e diabetes mellitus, Cristiane Barbosa Silva,


Rejane Andréa Ramalho, Cláudia Saunders ............................................................................................................ 123

Grupos de sala de espera com pacientes diabéticos, Miriam Burd, Márcia Rebelo Maia ..................................... 129

ATUALIZAÇÃO
Por que um consenso internacional sobre o pé diabético ? Hermelinda Cordeiro Pedrosa .................................. 135

Campanha de vacinação do idoso contra gripe e pneumococo e envolvimento dos profissionais da saúde,
Clélia Maria S. de S. Aranda*, Mírian M. de Moura**, Rodrigo G. dos Reis***, Glaucia N. R. Vespa**** ...................... 139

American Diabetes Association Ano 2002:


Implicações do United Kingdom Prospective Diabetes Study – UKPDS ............................................................... 143

FICHAS PRÁTICAS
Rastreamento e identificação do pé diabético .......................................................................................................... 147
CALENDÁRIO DE EVENTOS. ........................................................................................................................... 149
NORMAS DE PUBLICAÇÕES. ........................................................................................................................... 151
Diabetes Clínica
78 Diabetes Clínica 02 (2002)

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúr-
bios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o
conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas.
Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais de
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diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira
rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.

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79
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Editorial

A volta do pré-diabetes

Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho

O termo “pré-diabetes” foi abolido, quando da reclassificação do Diabetes


Mellitus e também após os novos critérios diagnósticos em 1997, pela
American Diabetes Association (ADA) e pela Organização Mundial de Saúde
(OMS). A amplitude de intervalo de diagnostico permitia que muitos
classificados como Pré desenvolvessem as complicações do Diabetes Mellitus,
mostrando assim não ser uma pré condição, porém fazendo parte da mesma.
A ADA acaba de publicar declaração da “Prevenção e Retardo do Diabetes
Mellitus tipo 2”, que reintroduz o termo “pré-diabetes” e é um guia para os
profissionais de saúde tratar os seus pacientes com pré-diabetes. Ao meu ver
aí está a diferença, pois estes pacientes não eram tratados ou negligenciados.
Quanto aos critérios de diagnostico a figura abaixo nos mostra que apenas foi
substituído a palavra “intolerante a glicose” por “pré-diabetes”, termo que
melhor define a alteração metabólica, inclusive para melhor compreensão
por parte dos portadores.
De acordo com o exposto, os 2
critérios diagnósticos servem
igualmente para definir a condição
do pré-diabetes. Deverão ser feitos
em todas as condições de suspeita
e fatores de risco para o
desenvolvimentos do Diabetes
Mellitus tipo 2. Os exames normais
Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, em suspeitos, deverão ser repetidos
Coordenador e Editor Científico, a cada 3 anos.
Diabetes Clínica Segundo pesquisas da ADA,
pessoas com pré-diabetes serão
beneficiadas com a alimentação GJP TTOG
adequada e atividade física. Glicemia Teste tolerância
O estudo recentemente termina- plasm.jejum oral a glicose
do Diabetes Prevention Program,
conclusivamente mostrou que pessoas com pré-diabetes podem prevenir o
desenvolvimento do Diabetes Mellitus tipo 2, fazendo modificações em suas
alimentações e aumentando o nível de atividade física, podendo retornar seus
níveis glicêmicos alterados para a faixa do normal.
O Diabetes Prevention Program (DPP), também mostrou que alguns
medicamentos podem retardar o desenvolvimento do diabetes, porém dietas
e exercícios são mais eficazes.
80 Editorial - Diabetes Clínica 02 (2002)

Continuação Tal qual o programa Agita São Paulo, de sucesso no Brasil, América Latina,
e no mundo todo, adotado pelo OMS, o DPP recomenda 30 minutos por dia
de atividade física moderada, que, associada a perda de 5 a 10% do peso
corpóreo, produz cerca de 58% de redução do aparecimento do Diabetes
Mellitus tipo 2 – DM2. Ressalte-se que, no grupo controle, em 3 anos de
seguimento, cerca de 11% ao ano de pessoas com pré-diabetes desenvolveram
DM 2.
Outros estudos mostraram que a grande maioria deste grupo desenvolve
também o DM 2 após 10 anos de evolução .
O portador de pré-diabetes tem maior risco de 50% de doença cardiovascular
comparado a pessoas normais, sendo este risco aumentado de 2 a 4 vezes para
o portador de DM 2. Lembramos que estes riscos são piorados por outros
fatores de risco como: tabagismo, hipertensão arterial, hipercolesterolemia,
que deverão ser corrigidos também no pré-diabético.
Embora não se recomendasse os testes para crianças com suspeitas de
Diabetes Mellitus tipo 2, parece que isto mudará após a publicação, no New
England Journal of Medicine, do estudo que mostra que 25% das crianças e
21% dos adolescentes com obesidade severa têm pré-diabetes.
Aos que pensam que tais observações ou recomendações não são tão
importantes, enganam-se, pois os Estudos de Prevalência de Diabetes Mellitus
do Ministério da Saúde feitos em 1988 e 1989, infelizmente desatualizados,
mostraram que para o igual número de diabéticos previstos no Brasil, tínhamos
igual número de intolerantes à glicose ou pré-diabéticos, como se redefine o
termo agora.
Do imenso universo desta condição, depreendemos a importância da busca
do diagnóstico e da modificação do estilo de vida daquele grupo de pacientes.
Diabetes Clínica 02 (2002) 81

Informes do Diabetes no Mundo

Metabolism Clinical & Experimental Consumo adequado de magnésio diminui o risco de doença
2002;50(12), janeiro de 2002 cardiovascular em diabéticos tipo 1

A deficiência em magnésio (Mg) encontrada em pacientes diabéticos tipo


1 aparece ligada à dieta, segundo pesquisas efetuadas na Dinamarca e nos
Estados-Unidos. Foi também encontrada nesta pesquisa uma associação entre
o aumento da taxa de magnésio e a diminuição das frações lipídicas
aterogênicas e absorção de glicose estimulada por diminuição de insulina.
Anteriormente, o déficit em magnésio em diabéticos tipo 1 tinha sido
relacionado ao desenvolvimento de doença cardiovascular. No estudo, os
pesquisadores testaram a hipótese de que os pacientes sofrem um déficit
dietético em magnésio. Foi também estudado se os fatores de risco para doença
cardiovascular poderiam diminuir com uma suplementação via oral de
magnésio a longo prazo. Os participantes incluíram 10 pacientes portadores de
diabetes tipo 1 e 5 indivíduos controle, que receberam uma suplementação em
magnésio (Mg).
O conteúdo do músculo em Mg, que diminuiu em 7% em pacientes
portadores de diabetes tipo 1, aumentou em 5% após 24 semanas de tratamento
via oral. Foi observada diminuição do colesterol plasmático total, LDL-
colesterol e apolipoproteína B após a suplementação em Mg. Depois de 24
semanas de tratamento, foi observada também diminuição da absorção de
insulina estimulada por glicose. Os pesquisadores estabeleceram que 80%
dos pacientes diabéticos recebem uma dose diária de Mg de menos de 90%
da dose recomendada.

Antti Jula et al., JAMA 2002; A redução dos lípides após tratamento com sinvastatina melhora
287:598-605, fevereiro de 2002 com dieta mediterrânea alterada

Dentre os homens com hipercolesterolemia, uma dieta tipo mediterrânea


melhora o tratamento com sinvastatina e controla o aumento dos níveis de
insulina de jejum, freqüente durante o uso da sinvastatina.
Durante este estudo randomizado, após um período de 4 a 6 semanas de
uso de placebo, 120 homens portadores de hipercolesterolemia, idade 35-64
anos, nunca tratados, receberam uma dieta normal ou um tratamento dietético.
Cada período de tratamento foi de 12 semanas. Os participantes de cada grupo
foram randomizados para receber 20 mg/dia de sinvastatina ou placebo.
O tratamento dietético diminuiu a ingestão de gorduras saturadas ou trans-
saturadas em 10%. Estas gorduras foram substituídas por gorduras mono e
82 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2002)

Continuação poli-insaturadas, ricas em ácidos graxos Omega-3. A dieta incluiu também


uma ingestão aumentada de frutas, legumes e fibras.
A alteração da dieta e a sinvastatina causou o efeito esperado sobre os
lípides plasmáticos e outros fatores. Por exemplo, com o tratamento dietético,
o colesterol total foi reduzido em 7,6% (p < 0,001), LDL colesterol em 10,8%
(p < 0,001), e insulina plasmática em 14,0% (p = 0,02). A sinvastatina em
tratamento único diminui o colesterol total em 20,8% e o LDL-colesterol em
29,7%, e aumenta a insulina plasmática em 13,2% (p = 0,005).
Os efeitos da dieta e da sinvastatina foram independentes e complementares,
segundo o estudo, concluindo que o tratamento dietético deveria ser enfatizado
em caso de tratamento por sinvastatina.

Nicholas L. Smith et al., Arch Intern Eventos cardiovasculares em adultos idosos prognosticados pelo
Med 2002;162:209-216, janeiro de teste de carga em glicose
2002
Comparados com os níveis de glicose de jejum, o nível de glicose pós-
carga de 2 horas é melhor para identificar os pacientes idosos que apresentam
um risco de evento cardiovascular. Este estudo foi realizado com uma coorte
de 4.014 adultos, idade de 65 anos, que participaram do Cardiovascular Health
Study. No início, estes adultos não eram tratados por diabetes e não tinham
histórico de infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral. Durante um
período médio de 8,5 anos de seguimento, foram observados 764 eventos
cardiovasculares, dos quais 359 infartos, 348 casos de incidentes
cerebrovasculares, e 117 óbitos por doença arterial coronariana (60 indivíduos
apresentaram ambos AVC e doença arterial coronariana).
Na análise dos resultados, o estudo mostrou que o nível de glicose de jejum
de 115 mg/dl era ligada a risco maior de evento cardiovascular (hazard ratio
1,66), em comparação com níveis < 115 mg/dl.
A análise dos níveis de glicose pós-carga de 2 horas ajustada para idade,
sexo e raça revelou que cada aumento de 10 mg/dl correspondia a um aumento
de 2% do risco de evento cardiovascular (hazard ratio 1,02). Com um nível
de glicose de 154 mg/dl 2h após carga, o hazard ratio para evento
cardiovascular foi de 1,54.
Em conclusão, a medição da glicose de 2h é pesada na rotina da prática
clínica, mas pode ter um papel para identificar adultos idosos com risco de
eventos cardiovasculares.

Nora Sarvetnick et al., J Clin Invest Papel do Coxsackie vírus B4 em diabetes descrito em modelo de rato
2002;109:79-87, fevereiro de 2002
Em experiências com ratos, os pesquisadores descobriram que coxsackie
vírus B4 (CB4) altera os tecidos, o que causa a liberação de antígenos de
ilhota seqüestrado. Este estimula as células T auto-reativas e resulta o início
do diabetes mellitus insulino-dependente.
Já foi anteriormente demonstrado, que CB4 é responsável por diabetes
mellitus insulino-dependente em ratos, e que isso é semelhante à última etapa
da progressão da doença em humanos. A resposta imune após a agressão
viral precipita o diabetes mellitus. Todavia, não se sabe ainda, se essa resposta
resulta da resposta imune aos antígenos liberados peles células alteradas do
pâncreas, ou se as células T respondem à resposta inflamatória.
A equipe tratou ratos que tinham um repertório de células T diabetogênicas
com streptozotocina (agente que altera as ilhotas) ou com poly IC (ácido
nucléico que ativa as células T, não especificamente).
Só o tratamento com streptozotocina resultou em diabetes mellitus,
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2002) 83

Continuação aproximando-se dos efeitos observados em infecção com CB4, Também, em


ratos tratados com streptozotocina, as células com antígenos ativaram
diretamente as células T auto-reativas, que induziram o diabetes. O papel
primário do CB4 na aparição do diabetes mellitus é a alteração tissular,
responsável da liberação e da apresentação do antígeno de ilhota seqüestrado.
Esses eventos estimulam as células T reativas e então inicia-se a doença.

Dieta ocidental ligada ao aumento de risco de diabetes tipo 2 em


Frank B. Hu et al., Ann Intern Med homens nos Estados Unidos
2002;136:201-209, fevereiro de 2002
Os homens que consumem dieta ocidental apresentam risco
significativamente elevado de desenvolvimento de diabetes tipo 2, segundo
estudo baseado em dados coletados em 42.504 homens, que participaram do
Health Professionals Follow-up Study. No início estes homens, idade 40-75
anos, não apresentavam diabetes, doença cardiovascular ou câncer.
Usando questionários de hábitos alimentares, os pesquisadores
identificaram dois modelos principais nos participantes. O primeiro era a dieta
ocidental com carne vermelha processada, batatas fritas, taxa elevada de
gordura, cereais refinadas, doces e sobremesas, e o segundo baseado em
legumes, frutas, peixes, frango e cereais integrais.
Foram documentados 1321 casos de diabetes tipo 2 durante os 12 anos de
estudos. A dieta ocidental foi associada com o risco aumentado de diabetes
tipo 2 (risco relativo 1,59, p < 0,001), enquanto que a segunda dieta foi
associada com um risco menor de diabetes tipo 2 (risco relativo para quintiles
maiores vs. menores 0,84).
O risco de diabetes tipo 2 é ainda significativamente mais elevado quando
a dieta ocidental é associada à inatividade física ou obesidade. O risco relativo
de desenvolvimento de diabetes foi de 1,96 para os indivíduos que apresentam
taxas baixas de atividade física e elevadas de dieta ocidental. Para homens
obesos (IMC > 30kg/m2 vs. IMC < 25 kg/m2), com taxa elevada de dieta
ocidental, o risco relativo de diabetes é de 11,2.
Obesidade é um fator de risco importante para o diabetes, mas, no balanço
energético para prevenir o ganho de peso, a supressão do modelo de dieta
ocidental pode diminuir significativamente o risco de diabetes tipo 2 em
homens.

Risco de obesidade menor em mulheres que praticaram esportes


Catherine M. Alfano et al., Prev Med na infância
2002;34:82-89.
As mulheres que participaram de equipes desportivas na infância ou
adolescência são mais ativas quando adultas, e apresentam menor risco de se
tornar obesas, segundo este estudo que entrevistou 209 mulheres afro-
americanas e 277 mulheres brancas, sobre as suas atividades desportivas na
infância como na idade adulta, e avaliou o IMC das participantes.
Os resultados mostram que as mulheres que têm um passado esportivo
apresentam IMC. As mesmas mulheres não têm dietas mais saudáveis de que
as que tinham uma infância menos ativa.
Segundo o pesquisadores, a promoção da atividade esportiva e atlética em
meninas – não necessariamente em esportes de competição tradicionais - pode
ser uma via para prevenir a obesidade.
84 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2002)

American Journal of Preventive Pressão sanguínea elevada em adultos portadores de diabetes


Medicine 2002; 22(1):42-48
Três quartos dos adultos diabéticos nos Estados Unidos, apresentam
hipertensão arterial, e, qualquer for idade, sexo, raça ou origem étnica, todos
podem beneficiar dos esforços de prevenção. Mas o controle, nos EUA, é
geralmente inadequado, segundo o National Center for Chronic Disease
Prevention and Health Promotion, Centers for Disease Control and
Prevention, Atlanta, Georgia. Esse estudo, realizado entre 1988 e 1994,
consistiu em entrevistas e exame físico, com aferição da pressão arterial. Os
participantes eram 1.507 adultos, idade 18 anos, portadores de diabetes.
Os pesquisadores estimaram a pressão sanguínea elevada dos participantes
(média ≥130/85 mmHg ou uso de tratamento antihipertensivo), sua
conscientização (diagnóstico anterior de hipertensão), o uso de drogas
antihipertensivas e o controle da pressão arterial (pressão sanguínea média <
130/85 mmHg). A partir desses dados, concluíram que 71% de todos os adultos
diabéticos americanos têm hipertensão arterial. A prevalência aumenta com a
idade nos dois sexos em mexicanos americanos, negros não-hispánicos e
brancos não-hispanicos. 71% das pessoas portadores de hipertensão eram
conscientes da sua condição e 57% eram tratados. Todavia, só 12%
apresentavam uma pressão sanguínea média < 130/85 mmHg e 45% < 140/
90 mmHg. O controle adequado da pressão sanguínea é mais comum em
pessoas idosas.

Relação entre doenças periodontais e diabetes


Soskolne WA, Klinger A, Department
of Periodontics, Hebrew University- As doenças periodontais são infecções do periodonto resultando na perda
Hadassah, Faculty of Dental Medicine, do suporte dos dentes. A associação entre diabetes mellitus e periodontite
Jerusalem, Israel, Ann Periodontol já foi muito discutida com conclusões conflitantes. Ambas as doenças têm
2001;6(1):91-8, incidência elevada na população geral (diabetes 1 a 6% e periodontite 14%),
dezembro de 2001 bem como vários fatores comuns na patogênese (ambas as doenças são
desordens polígenicas com grau de disfunção imune). De um lado, vários
relatórios reportam uma incidência maior de periodontite em diabéticos,
quando comparados com população saudável, embora que outros estudos
não conseguem demonstrar essa relação. Os estudos atuais observam uma
maior incidência e severidade da periodontite em pacientes diabéticos. A
análise dos dados do National Health and Nutrition Examination Survey
(NHANES) III confirma a incidência maior da periodontite em diabéticos
de que em não-diabéticos (17,3% versus 9%). A análise dos dados mostra
também que a prevalência do diabetes em pacientes com periodontite é o
dobro, de que em pacientes não portadores de periodontite (12,5% vs. 6,3%).
Essa diferença é estatisticamente significativa. A patogênese das duas
doenças é revisada com ênfase sobre os mecanismos comuns genéticos e
imunes. Duas hipóteses são discutidas. A primeira propõe uma relação causal
direta, na qual a hiperglicemia e hiperlipidemia do diabetes resultam em
alterações metabólicas, que podem exacerbar numa periodontite inflamatória
induzida por bactérias. A segunda hipótese propõe que uma combinação
fortuita de genes poderia resultar em um indivíduo que, sob influência de
vários fatores de stress do meio ambiente, poderia desenvolver periodontite,
diabetes ou os dois.
86 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2002)

Rahmouni K et al., Curr Hypertens Rep Efeitos cardiovasculares e simpáticos da leptina


2002;4(2):119-25, abril de 2002
Vários estudos mostraram a associação entre obesidade e hipertensão. Os
mecanismos fisiopatológicos da hipertensão relacionada à obesidade são
desconhecidos. Estudos clínicos e experimentais demonstraram que obesidade
é associada com atividade nervosa simpática aumentada. Além disso, a ativação
simpática nervosa parece ter uma participação substancial na hipertensão
associada à obesidade. Todavia, os fatores responsáveis para essa ativação
simpática não foram ainda identificados. A leptina é um hormônio do adipócito,
que promove a perda de peso pela diminuição do apetite e da ingestão
alimentar, e por aumento da despesa de energia através da estimulação
simpática do tecido adiposo marrom. A leptina também promove uma ativação
simpática no rim e glândulas adrenais, indicando que o aumento da atividade
nervosa simpática associada à obesidade, poderia ser uma consequência dos
efeitos simpáticos da leptina. Todavia, obesidade é associada com resistência
à leptina, desde que foram observados concentrações elevadas de leptina
circulante em indivíduos obesos. Evidências recentes indicam que essa
resistência à leptina poderia ser seletiva, com preservação dos efeitos
simpáticos, apesar da perda da ação metabólica da leptina. Isso sugere que
existem vias centrais divergentes nos efeitos metabólicos e simpáticos da
leptina. Vários neuropeptídeos apareceram como candidatos poderosos à
mediação da ação da leptina no sistema nervosos central, incluso o sistema da
melanocortina, neuropeptídeo Y e cortico-trophin releasing factor. Uma
compreensão detalhada da variedade e da complexidade dos circuitos neuronais
integrados e dos caminhos neuropeptidicos na ação da leptina, ajudaria na
compreensão da patogênese da obesidade e das patologias associadas.

Soliman A.T. et al., Concentrações de leptina plasmática em crianças diabéticas


Metabolism 2002 ;51(3):292-6, tipo 1: relação com IMC, dose de insulina e controle glicêmico
março de 2002
Apesar da obesidade ser uma característica freqüente do diabetes mellitus
tipo 2 (DM), inúmeros pacientes portadores de diabetes tipo 1 são predispostos
a IMC elevado. Foram coletadas as concentrações de leptina plasmática em
uma coorte de crianças (n = 55) portadores de diabetes tipo 1, bem como os
parâmetros antropométricos inclusos IMC, espessura da dobra de pele em
vários locais e circunferência do braço. Controle glicêmico foi avaliado pela
monitorização da glicose sanguínea antes das refeições. Foram também
coletadas HbA1c e as doses de insulina/kg/dia. Dieta e ingestão calórica (kg/
dia) foram avaliadas por nutricionista.
Em crianças recentemente diagnosticadas (n = 10), antes do início do
tratamento por insulina, a concentração de leptina circulante foi
significativamente menor (1,1 ± 0,8 ng/dl) vs. 5 dias após tratamento por insulina
(1,45 ± 0,7 ng/dl). A diminuição do nível de leptina aparece relacionada a
insulinopenia nesses pacientes. Em 45 crianças portadores de diabetes tipo 1
com 2 doses de insulina mista (NPH e regular) subcutânea antes do café da
manhã e jantar durante mais de 2 anos, a concentração de leptina plasmática foi
significativamente mais elevada (2,15 ± 1 ng/dl), quando comparada às crianças
saudáveis da mesma idade (1,3 ± 1 ng/dl). Crianças diabéticas foram separadas
em 2 grupos em função do nível de HbA1c; grupo 1 com HbA1c < 7,5% (menos
de que 2 DP acima da média da população saudável) (n = 29), e grupo 2 com
HbA1c > 7,5% (n = 16). Pacientes com nível de HbA1c maior (grupo 2)
apresentaram concentrações de leptina maiores (2,3 ± 0,8 ng/dl), IMC maior
(17,8 ± 1,7) e receberam doses/kg maiores de insulina (0,92 ± 0,2 U/kg/dia)
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2002) 87

Continuação quando comparados com grupo 1 (1,78 ± 0,8 ng/dl, 16,7 ± 1,5, e 0,59 ± 0,2 U/
kg/dia, respectivamente). Os pacientes do grupo 2 tinham uma maior incidência
de hipoglicemia tardia de manhã (9/29 vs. pacientes do grupo 1 (2/16). A análise
da ingestão alimentar mostrou que pacientes com HbA1c maior consumiram
mais calorias (73,5 ± 10.5 kcal/kg/dia) vs. pacientes com HbA1c menor (64,2 ±
8,7 kcal/kg/dia). Esses achados demonstram a natureza não-fisiológica da
aplicação de insulina mista duas vezes/dia. Para controlar o almoço (40 a 50%
da ingestão calórica total nos paises árabes) e prevenir a hiperglicemia da tarde,
existe uma tendência de aumentar as doses de NPH antes do café da manhã.
Isso induz uma hipoglicemia tardia de manhã, aumenta o apetite e a ingestão
calórica. Análise de regressão múltipla mostrou que as concentrações de leptina
circulante (variável dependente) foram melhor correlatas com a espessura média
da dobra de pele, IMC, e ingestão calórica/kg/dia (eles explicam juntos 65% da
variabilidade das concentrações em leptina). Aparece que a sobre-compensação
por insulina e aumento da ingestão calórica estimulam a síntese de gordura e,
conseqüentemente, o IMC. O aumento do apetite e do IMC contribui para
aumentar a secreção de leptina e explica as concentrações elevadas de leptina
em crianças diabéticas não-controladas (HbA1c elevada), que são sobre-
compensadas por insulina.

Rankinen T et al., Obes Res 2002 Mapa genético da obesidade humana: atualização 2001
Mar;10(3):196-243, março de 2002
Este relatório constitui a oitava edição do mapa genético da obesidade
humana, incorporando os resultados publicados desde outubro de 2001. Foram
revisados evidências de casos de obesidade em ratos e humanos causados por
mutações gênicas únicas, desordens mendelianas com obesidade nas
características clínicas, quantitative trait loci (QTLs) descobertos em scans
de genoma humano e em experiências de cruzamentos em vários modelos
animais, estudos de associação e ligação com genes candidatos e outros
marcadores. Os casos humanos de obesidade ligados a mutações de gene
único em 6 genes diferentes foram incorporados. 25 desordens mendelianas
com obesidade nas características clínicas foram mapeadas. O número de
QTLs diferentes reportados de modelos animais é de 165 atualmente. Ensaios
para relacionar variação seqüencial de DNA em genes específicos de fenótipos
de obesidade continuam crescer, com 174 estudos reportando associações
positivas em 58 genes candidatos. Finalmente, 59 loci foram relacionados a
indicadores de obesidade em scans genômicos e outros desenhos de ligação.
O mapa dos genes da obesidade mostra que os loci putativos relacionados
com fenótipos de obesidade, podem ser encontrados em todos os cromossomos,
exceto o cromossomo Y. Um total de 54 novos loci foi acrescido nos últimos
12 meses, e o número de genes, marcadores e regiões cromossômicas
associados ou relacionados à obesidade, é agora superior a 250.

Snyder RJ et al., Ostomy Wound Osteomielite em paciente diabético


Manage 2001;47(3):24-30, 32-41,
março de 2002 Na população diabética, ferimentos e infecções do pé são combinados, com
3 a 6 micro-organismos em média. Isso é um problema significativo no que diz
respeito ao protocolo de tratamento antibiótico. Inúmeros episódios resultam
em infecções dos ossos com conseqüentes alterações erosivas. Uma estratégia
multidisciplinar é requerida. Estudos mostraram que um protocolo de 6 semanas
de tratamento com antibióticos por via endovenosa, pode ser apropriado para
osteomielite; todavia, isso é controverso e nem sempre definitivo. Osteomielite
é uma doença que necessita de tratamento cirúrgico. Um equilíbrio sutil entre
90 Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2002)

Continuação tratamento medical e cirúrgico deve ser encontrado quando o necessita. A


duração do tratamento antibiótico pode ser reduzida consideravelmente após
intervenção cirúrgica. Em caso de infecção combinada com doença vascular
periférica severa, doença renal em estágio terminal, diabetes ou outros problemas
nos quais a cirurgia não é uma boa opção, os antibióticos a longo prazo podem
ser usados em complemento de tratamentos locais.

Armstrong D.G. Ostomy Wound Eficiência da cura do pé diabético


Manage 2001;47(4):28-32,
abril de 2001 A incidência das amputações das extremidades inferiores relacionadas ao
diabetes continua aumentar em todos os países. Só nos Estados Unidos o
custo do pé diabético é de US$ 2 bilhões e representa 2600 anos/pacientes de
hospitalização por ano. O governo e os planos de saúde falharam na
implementação de medidas preventivas. Apesar da literatura sobre o assunto
ainda ser rara, pesquisas recentes estabeleceram que um programa de cuidados
agressivos e ativos pode reduzir amputações das extremidades e melhorar
a qualidade e quantidade de vida dos pacientes portadores de diabetes.

Maiorana A., O’Driscoll G., Goodman Exercícios combinados aeróbicos e de resistência melhoram
C., Taylor R., Green D. Diabetes Res controle glicêmico e fitness em diabetes tipo 2
Clin Pract 2002 May;56(2):115-23
Foi investigado o efeito de um programa de treinamento de 8 semanas,
combinando exercícios de resistência e aeróbicos, sobre os índices de controle
glicêmico, fitness cardiorrespiratório, força muscular e composição corporal
em 16 pacientes (idade 52 ± 2 anos), portadores de diabetes tipo 2, utilizando
um protocolo prospectivo e randomizado. Frequência cardíaca de exercício
sub-máxima e foram significativamente menores após treinamento (P < 0,05),
embora o limiar ventilatório tenha aumentado (11,8 ± 0,7 vs 13,8 ± 0,6 ml.kg-
1min-1, P < 0,001). A força muscular aumentou com o treinamento (403 ± 30

para 456 ± 31 kg, P < 0,001), dobra de pele (148,7 ± 11,5 vs 141,1 ± 10,7 mm,
P < 0,05), porcentagem de gordura corporal (29,5 ± 1,0 vs 28,7 ± 1,1%, P <
0,05) e razão cintura/quadril (99,2 ± 1,5 vs. 97,9 ± 1,4%, P < 0,05) diminuíram
significativamente. Ao contrário, a captação de pico de oxigênio (P < 0,05) e
teste de duração de exercício (P < 0,001) aumentaram após treinamento,
embora aHbA1c (P < 0,05) e glicose sanguínea de jejum (P < 0,05) tenham
diminuído. O programa de exercício é um método efetivo de treinamento que
melhora a capacidade funcional, a massa corporal magra, a força e o controle
glicêmico em indivíduos portadores de diabetes tipo 2.

Wael K. Al-Delaimy et al., Harvard O ronco pode desenvolver diabetes


School of Public Health, Boston,
Massachusetts American Journal of As pessoas que roncam apresentam um risco aumentado de
Epidemiology 2002;155:387-393, desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2, de acordo com um estudo que
março de 2002. analisou os dados de 69.852 indivíduos do Nurses’ Health. As mulheres
participantes eram livres de diabetes, doença cardiovascular ou câncer. Elas
completaram questionário sobre os modelos de ronco. Os pesquisadores
acharam que 1957 mulheres desenvolveram diabetes tipo 2 durante os 10
anos de acompanhamento. Após ajuste para idade e IMC, eles acharam que,
quando comparados com não-roncadores, as pessoas que roncam
esporadicamente ou regularmente apresentam um risco maior de diabetes,
com risco relativo de 1,48 e 2,25, respectivamente (p < 0,0001).
Quando os dados foram ajustados em função do IMC, histórico de tabagismo,
historia familiar de diabetes, foi encontrada uma associação consistente entre
Informes do Diabetes no Mundo – Diabetes Clínica 02 (2002) 91

ronco e diabetes. Ajustes para outros fatores de risco de diabetes ou relacionados


ao sono só alteraram um pouco o risco. Alterações do estilo de vida, que diminui
os risco de ronco e diabetes, como atividade física, para de fumar, e perda de
peso, são recomendadas às pessoas que roncam,.O estudo, não descarta a
necessidade de intervenções cirúrgicas ou tratamentos locais.

Prof. Dr. Amélio F. de Godoy Matos, Comunicado da SBEM sobre a sibutramina


Presidente da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia, A SBEM, cumprindo seu papel de entidade que congrega os
23 de março de 2002 endocrinologistas brasileiros, com o intuito de evitar más informações e
alarmismo e contribuir para tranqüilizar a classe médica e seus pacientes,
quer anticipar o que vem ocorrendo em relação às notícias sobre a sibutramina.
O Ministério da Saúde da Itália resolveu suspender temporariamente a
comercialização, e não o registro, da sibutramina, para reavaliação mais
detalhada do medicamento.
O FDA e EMEA (entidade que regulamenta os medicamentos em todos os
países da Comunidade Européia) estão também revisando os estudos da
sibutramina, porém declaram que até o momento não há nada contra este
medicamento, desde que seguidas as recomendações médicas para o seu uso.
Os números que dispomos mostram que foram comunicados ao Ministério
da Saúde italiano dois casos fatais de pacientes que fizeram uso de sibutramina,
sem, entretanto haver nenhuma prova de que este medicamento tenha
contribuído direta ou indiretamente para estes eventos. Em todo o mondo, até
o momento, foram relatados 32 eventos fatais, num universo de 8,5 milhões
de pacientes que usaram ou usam a sibutramina desde seu lançamento em 199.
A obesidade, como todos sabem, está associada a doenças potencialmente
letais que, por si só, conduzem a um risco maior de mortalidade, como diabetes,
hipertensão, dislipidemia, etc.
Julgamos, portanto, que não há motivos para privarmos nossos pacientes
dos benefícios trazidos por uma perda de peso saudável, obtida com o auxílio
de medicamentos éticos. Nossa maior preocupação ainda é a incorrigível indús-
tria do emagrecimento inadequado, com suas fórmulas pretensamente mila-
grosas – estas, sim, impossíveis de obtermos uma real avaliação de seus riscos.
92 Diabetes Clínica 02 (2002)

O Diabetes na Imprensa
The Wall Street Journal Américas Cirurgia dá nova esperança aos diabéticos de livrar-se das
11 de abril de 2002 injeções de insulina

O primeiro grande avanço em décadas no tratamento da forma mais grave


de diabetes está bem próximo. Dois anos depois que pesquisadores revelaram
uma nova técnica para transplantar células de ilhotas de pâncreas, cerca de 80
diabéticos de longa data receberam transplantes em todo o mundo. O resultado
foi que mais de 70% deles estão hoje livres das inconveniências clássicas da
doença: não precisam mais de injeções ou bombas de insulina, nem perfurar
o dedo para testes.
Embora o transplante seja o avanço mais promissor no tratamento do
diabetes desde a insulina, há alguns riscos. Como em qualquer transplante de
órgão, o paciente depende de remédios anti-rejeição o resto da vida. Essa
supressão pode torná-lo incapaz de defender-se de infecções ou câncer.
A cirurgia, depois de anos de tentativas, foi feita com sucesso pela primeira
vez dois anos atrás. Na ocasião, sete pacientes foram operados pelo Prof. Dr.
James Shapiro, pesquisador britânico da Universidade de Edmonton, Alberta,
Canadá. Desde então, dezenas de transplantes de ilhotas foram feitos. Rodolfo
Alejandro, diretor do instituto de pesquisa do Diabetes da Universidade de
Miami, calcula que um transplante de ilhotas custaria entre US$ 150.000 e
175.000.
Segundo um estudo do Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, presidente da FENAD,
cerca de 13 milhões de brasileiros sofrem de diabetes e até 1,3 milhão de
pessoas têm o tipo 1. Segundo Fraige, médicos brasileiros pesquisam o
transplante, mas não há previsão de quando ele seja experimentado no País.
O Hospital Italiano de Buenos Aires faz três transplantes de ilhotas por ano
desde 1995 e recentemente adotou o protocolo criado em Alberta, diz o diretor
do programa, Pablo Argibay.

GAZETA MERCANTIL O vinho tinto em alta conta


25 de janeiro de 2002
A reputação do vinho tinto de ser um elixir para boa saúde pode ter origem
em sua capacidade de descomprimir os vasos sanguíneos. Um componente
do vinho tinto é capaz de bloquear o efeito da proteína que contrai os vasos,
chamada endotelina-1, relacionada aos distúrbios do coração e ao
endurecimento das artérias. Outros vinhos não demonstraram o mesmo efeito.
A experiência poderá levar os pesquisadores a entender melhor o “paradoxo
da França”. Os franceses possuem índices de doenças cardíacas mais baixos
do que pessoas de outros países industrializados do Ocidente, embora tenham
hábitos alimentares semelhantes. Os franceses bebem em média cinco vezes mais
vinho do que os britânicos e nove vezes mais do que os norte-americanos (...).
Os efeitos do vinho tinto sobre a endotelina parecem estar relacionados a
enzimas chamadas polifenol. Vinhos com a mais elevada quantidade de
94 O Diabetes na Imprensa - Diabetes Clínica 02 (2002)

polifenol, em geral, trabalham melhor para inibir a proteína vasoconstritiva


endotelina. Há uma significativa variação entre vinhos, mesmo entre os
produzidos com a mesma variedade de uvas em diferentes vinícolas. Uma
equipe de pesquisadores testou 23 tintos, 4 brancos, 1 rosado e 1 suco de uvas
vermelhas. Vinhos de uvas Cabernet Sauvignon parecem ter o mais potente
efeito. Suco de uvas vermelhas possui pequeno efeito e vinhos rosados e
brancos não inibem totalmente a endotelina. Companhias farmacêuticas já
vêem na endotelina uma meta para novos medicamentos.

GAZETA MERCANTIL Os triglicerídeos entram na berlinda


25 de janeiro de 2002
Não apenas o colesterol, agora também os triglicerídeos são apontados
como um novo fator de risco para os acidentes vasculares cerebrais, os
derrames, segunda pesquisa realizada Pelo Prof. David Tanne, do Centro
Médico de Sheba, Israel. Esta é a primeira vez que a alta concentração de
triglicerídeos é apresentada, de forma isolada, como um fator de risco para os
acidentes vasculares cerebrais.
No Brasil, há divergências em relação ao estudo. Para Aram Hamparsum
Mordjikian, cardiologista do Hospital Sírio Libanês, “o estudo é importante
porque mostra que os triglicerídeos isolados são fatores de risco de devem ser
tratados com os demais”. De acordo com Mordjikian, não adianta o paciente só
deixar de fumar, controlar a obesidade, o HDL e LDL colesterol. É preciso
prestar atenção no índice de triglicerídeos, pois está provado que ele sozinho é
um fator de risco independente. Já para o cardiologista Marcelo Chiara Bertolami,
do instituto Dante Pazzanese, embora o estudo seja uma novidade, ele é previsível
porque a doença é a mesma: as doenças das artérias coronarianas e cerebrais
são patologias da aterosclerose. Bertolami revela seu ceticismo quanto ao estudo
de Tanne: “Ao mesmo tempo que a pesquisa é a primeira mostrando os
triglicerídeos como fator de risco independente para o acidente vascular cerebral,
podem aparecer outros estudos que não mostram mais isso”. (...) Ele acrescenta
que é muito difícil afirmar que os triglicerídeos sejam um fator isolado de risco
porque ainda hoje há duvidas em relação a este tipo de gordura para doença do
coração. Estudos anteriores tentaram fazer ainda a relação do colesterol com o
acidente vascular cerebral, mas não tiveram sucesso. (...) As pessoas com taxa
elevada de triglicerídeos têm pressão alta, obesidade, resistência à insulina. Ou
seja, são pacientes que sofrem de síndrome metabólica, tipo de anomalia que
compõe outros fatores como tendência ao diabetes, problemas de coagulação,
HDL baixo. Por esse motivo Bertolami reforça a tese do que é difícil considerar
os triglicerídeos como fatores de risco independentes porque outras alterações
também ocorrem neste processo.

Estatinas, uma bênção para o coração

Os médicos aderiram em massa, na última década, ao uso de certas proteínas


chamadas estatinas na prevenção de doenças cardíacas. Em todo o mundo,
mais de 70 milhões de pessoas usam remédios com essas substancias. Sabia-
21 de novembro de 2001 se que as estatinas eram as mais potentes armas disponíveis para baixar o
nível do LDL-colesterol, porque atuam diretamente no fígado, órgão que
produz 70% de nosso colesterol. Também se mostram eficazes, em alta doses,
na diminuição das placas de gorduras das artérias, a aterosclerose. Um estudo
inglêsa realizado em 20 536 pacientes, durante 5 anos, concluiu que também
podem diminuir em 30% os riscos de infarto de derrame em quem não tem
O Diabetes na Imprensa - Diabetes Clínica 02 (2002) 95

Continuação colesterol alto, mas faz parte de outros grupos de risco, como diabéticos,
idosos e hipertensos. Com estas descobertas, 200 milhões de pessoas podem
passar a usar estatinas, segundo Rory Collins, principal coordenador do estudo.
É a aspirina do futuro. De acorda com suas estimativas, o uso regular do
medicamento por 10 milhões de diabéticos, idosos e hipertensos evitaria 50.000
mortes por ano. Essa proteína foi primeiro usada como antibiótico de baixo
impacto, para combater fungos, até que os médicos perceberam que entre
seus efeitos colaterais havia a diminuição do colesterol.

Quantidade de açúcar no sangue muda cor da íris

JAHH=
Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
descobriram que as alterações na taxa de açúcar no sangue se refletem na íris,
14 de março de 2002 causando diferenças de cor. O estudo abre espaço para o desenvolvimento de
um sistema de medição de glicemia pela região “colorida” do olho, o que
evitaria a perfuração do dedo feita pelos diabéticos para coleta de sangue. O
novo método surgiu de observações do professor Armando Albertazzi do
Departamento de Engenharia Mecânica e coordenador do Laboratório de
Metrologia Científica e Industrial da UFSC, que tem uma filha com a doença.

Agita Mundo reúne 5 mil pessoas em São Paulo

Mais de 750 eventos em todo o mundo ressaltando a importância da prática


regular de atividade física foram realizados o dia 7 de abril para comemorar o
Dia Mundial da Saúde. O tema deste ano, Agita Mundo/Move for Health, foi
O ESTADO DE SÃO PAULO inspirado em um programa iniciado em 1996 em São Caetano do Sul e no ano
8 de abril de 2002 seguinte adotado pela Secretaria de Saúde de São Paulo, “O lema é: faça pelo
menos 30 minutos de atividade física. Não precisa ser tudo de uma vez. Divida
em até 3 sesões de 10 minutos e em pouco tempo os resultados irão aparecer”,
ensina Victor Matsudo, um dos criadores do programa.
Em São Paulo, a celebração concentrou-se no parque Ibirapuera, ponto
final de 5 caminhadas e local escolhido para diversas apresentações sobre sos
benefícios dos exercícios.
O diretor da organização Mundial da Saúde (OMS), Derek Yach, que estava em
São Paulo acompanhando o evento, afirmou que pelo menos 2 milhões de mortes
por ano estão relacionadas ao sedentarismo segundo Yach, “ao favorecer a criação
de programas, ajudamos não só a melhorar o desempenho físico, mas também a
saúde mental, o que pode refletir até mesmo nos índices de violência das cidades”.
O secretário de Saúde do Estado, José da Silva Guedes, está convicto de que a lista
de benefícios é extensa. Guedes defende a criação de um programa permanente na
OMS para combate ao sedentarismo e afirma: “Além da redução dos gastos com
tratamento de doenças, teremos pessoas mais produtivas e bem-dispostas.”
96 Diabetes Clínica 02 (2002)

Avanços terapêuticos e tecnológicos

Christoph Hasslacher et al., American Segurança e eficácia da repaglinida em 281 pacientes diabéticos
Diabetes Association 61st Scientific tipo 2 com ou sem disfunção renal
Sessions, Philadelphia, Pennsylvania,
22 a 26 de junho de 2001 A segurança e eficácia do regulador da glicose prandial excretada pelo
fígado repaglinida foram avaliadas em 281 pacientes com diabetes tipo 2,
portadores ou não de diminuição da função renal, em um estudo multicêntrico,
aberto. Após um período de 6 semanas de testes, durante o qual os participantes
continuaram o tratamento antidiabético anterior, foi instaurado um período
de tratamento por repaglinida; nas semanas de 1 a 4 para titulação e 3 meses
de tratamento. Os pacientes foram classificados pela função renal baseada na
clearance da creatinina (CLcr): 151 com função renal normal (CLcr > 80 ml/
min), 64 com leve (CLcr: 60-80 ml/min), 44 com moderada (CLcr: 40-60 ml/
min), 12 com severa (CLcr: 30-40 ml/min) e 10 com extrema diminuição da
função renal (CLcr: 20-30 ml/min). 80% dos pacientes completaram o estudo.
O efeito da repaglinida sobre HbA1c, glicose plasmática de jejum, colesterol
total, HDL-colesterol e triglicérides não foi significativamente diferente entre
os grupos de disfunção renal. O controle glicêmico durante o tratamento por
repaglinida foi tão eficaz quanto o resultado dos tratamentos anteriores: HbA1c
não foi alterada nos grupos controle ou com diminuição leve ou moderada da
função renal, HbA1c aumentou (0,3 ± 0,1%) e diminuiu em 0,6 ± 0,5% nos
grupos com diminuição severa ou extrema da função renal, respectivamente.
Variações mínimas foram observadas nos perfis lipídicos. A dose final de
repaglinida foi menor em pacientes com diminuição severa ou extreme da
função renal, quando comparados a pacientes com função normal ou
moderadamente diminuída.
O perfil de segurança da repaglinida foi bom, independentemente da função
renal. O tipo e severidade dos eventos adversos foram semelhantes durante o
período de observação e os períodos de tratamento por repaglinida. O número
de pacientes com eventos adversos não foi significativamente relacionado ao
status renal. Durante o período de observação inicial, a porcentagem de
pacientes com episódios de hipoglicemia foi significativamente correlato com
a severidade da diminuição da função renal (p = 0,007), mas este modelo não
foi observado durante o tratamento por repaglinida (p = 0,074). Concluímos
que a repaglinida tem um bom perfil de segurança e eficácia em pacientes
diabéticos tipo 2 portadores de diminuição da função renal, e é uma escolha
de tratamento apropriada, mesmo para os pacientes com graus severos de
insuficiência renal.
98 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 02 (2002)

Sujata Jinagouda et al., American Terapia combinada em diabetes tipo 2: repaglinida/metformina


Diabetes Association 61st Scientific vs. gliburida/metformina
Sessions, Philadelphia, Pennsylvania,
22 a 26 de junho de 2001 No tratamento do diabetes mellitus tipo 2, é cada vez mais comum utilizar
combinações de um secretagogo de insulina e de um sensibilizador à insulina.
Os dados que se refere à segurança relativa de vários secretagogos durante
esse tipo de combinação são limitados. Um estudo multicêntrico, aberto, com
grupo paralelo de tratamento de 20 semanas, comparou a eficácia e segurança
de uma terapia combinada, utilizando repaglinida/metformina (n = 119) ou
gliburida/metformina (n = 129). Valores de HbA1c foram comparáveis no
rastreamento (7,9% em ambos os grupos), e no fim do estudo (6,7% para
repaglinida/metformina vs. 6,8% para gliburida/metformina), indicando que
os dois tratamentos conjugados têm uma eficácia comparável. Eventos
sintomáticos de hipoglicemia ocorreram com níveis maiores de glicose
sanguínea no grupo repaglinida/metformina (65 mg/dl), do que no grupo
gliburida/metformina (59 mg/dl). Quando os pacientes reportaram sintomas
de hipoglicemia, existia uma tendência em direção de uma porcentagem menor
de episódios (23%) com níveis de glicose sanguínea < 55 mg/dl no grupo
repaglinida/metformina (vs. 36% no grupo gliburida/metformina). Esses dados
sugerem que pacientes usando repaglinida podem adaptar-se a uma incidência
menor de glicose. Como a terapia combinada deve resultar em níveis de glicose
sanguínea inferiores aos da monoterapia, os sintomas de hipoglicemia,
ocorrendo com níveis de glicose maiores, podem representar uma vantagem
de segurança para repaglinida sobre os sulfoniluréias, quando esses
secretagogos são combinados com metformina.

Bruce Bode et al., American Diabetes Eficácia e segurança da insulina Aspart comparada com insulina
Association 61st Scientific Sessions, regular tamponada (velosulin) e insulina Lispro
Philadelphia, Pennsylvania,
22 a 26 de junho de 2001 A conveniência do análogo de insulina de ação rápida, insulina Aspart
(Iasp) em injeção de insulina subcutânea continua (CSII) foi avaliada em um
estudo multicêntrico, aberto, randomizado, com grupo paralelo, no qual 146
indivíduos adultos portadores de diabetes tipo 1 receberam Iasp, insulina
regular tamponada (BR), ou insulina lispro a partir de uma bomba externa
durante 16 semanas. Antes da randomização, todos os participantes receberam
4 semanas de tratamento com BR. Durante o período de tratamento os
participantes receberam bolo intravenoso, ou medicação do estudo, 30 minutos
antes as refeições (BR) ou imediatamente antes das refeições (Iasp ou lispro).
No início, HbA1c foi semelhante entre os grupos de tratamento (7,34% ±
0,71 para Iasp, 7,47% ± 0,78 para BR, 7,29% ± 0,66 para lispro). No fim do
estudo, o grupo tratado por Iasp manteve o controle glicêmico (HbA1c 7,36%
± 0,85) embora os grupos BR e lispro apresentassem uma leve deterioração
(não significativa) do controle glicêmico (HbA1c 7,63% ± 0,86 e 7,47% ±
0,90, respectivamente). A dose de insulina diária (total, bolo e basal) durante
o estudo não foi alterada em todos os grupo. No fim do estudo, os valores do
BG pós-prandial do grupo Iasp eram menores de que os do grupo BR e
semelhantes aos do grupo lispro. Todavia, eles foram significativamente
menores 90 minutos após o jantar no grupo Iasp do que nos grupos BR e
lispro (136 ± 56, 171 ± 63 e 164 ± 57 mg/dl, respectivamente; p = 0,019). A
incidência de obstruções nas bombas ou sets de infusão foi baixa em todos os
grupos; 76, 83 e 75% dos participantes dos grupos Iasp, BR e lispro,
respectivamente, apresentaram 1 ou menos obstrução durante as 4 semanas
de tratamento. Só uma pequena porcentagem de obstruções coincidiu com
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2002) 99

Continuação um episódio hiperglicêmico (9, 7 e 6% para Iasp, BR e lispro,


respectivamente). O número médio de episódios hipoglicêmicos por
participante e por mês foi semelhante, 3,7, 4,8 e 4,4 para Iasp, BR e lispro,
respectivamente. Conclusão: Iasp foi seguro e efetivo no CSII e é conveniente
para uso em bombas externas.

William Lynes et al., American A disfunção renal não afeta a farmacocinética da insulina
Diabetes Association 61st Scientific Aspart em diabete tipo 1
Sessions, Philadelphia, Pennsylvania,
22 a 26 de junho de 2001 Insulina Aspart (Iasp) tem uma substituição do ácido aspártico em prolina
na posição B28 da insulina humana, que resulta em absorção e início de
ação mais rápidas do que a insulina humana regular. O efeito de vários
graus de disfunção renal sobre os parâmetros farmacocinéticos da Iasp foram
estudados em pacientes diabéticos tipo 1. A disfunção renal foi baseada em
clearance da creatinina: normal > 80 ml/min; leve > 50 para 80 ml/min;
moderada > 30 para 50 ml/min; e severa < 30 ml/min, não requerendo
diálise. 18 pacientes homens e mulheres (6 saudáveis, 12 com diminuição
da função renal) de 18 anos, com valores de IMC de 19 e de 38 kg/m2
participaram desse estudo aberto de centro único. Os parâmetros
farmacocinéticos (AUC, Cmax, Tmax, CL/F, etc) foram avaliados nesses paci-
entes após cada administração subcutânea de uma dose de Iasp (0,1 U/kg).
Análise regressiva foi usada para determinar se os parâmetros
farmacocinéticos de Iasp foram linearmente correlatos a clearance da
creatinina. Para os parâmetros avaliados, o coeficiente de correlação (r) foi
< 0,14. Em conclusão, a avaliação global da farmacocinética e os parâmetros
de segurança sugerem que a absorção, distribuição e clearance da IAsp não
foram alteradas pela diminuição da função renal em indivíduos não
requerendo diálise, e que a segurança seria comparável em pacientes
diabéticos com vários graus de disfunção renal.

Charles Fox et al., American Diabetes Podem pacientes visualmente deficientes auto-administrar
Association 61st Scientific Sessions, suas doses corretas de insulina? Avaliação comparativa do
Philadelphia, Pennsylvania, sistema Innolet
22 a 26 de junho de 2001
A diminuição da acuidade visual pode reduzir a capacidade de auto-
administração de insulina. Innolet é um sistema de aplicação especificamente
desenhado para permitir a mais pacientes de auto-administrar insulina,
inclusos os com diminuição da acuidade visual. Este estudo randomizado
comparou capacidade dos pacientes em usar com sucesso Innolet (Novo
Nordisk), Humulin Pen (Eli Lilly) e uma seringa convencional. Os 86
pacientes (51 homens, 35 mulheres; idade media 69 anos) tinham uma
duração de diabetes de 5,9 anos (média). Todos os pacientes tinham
diminuição visual com acuidade visual (melhor olho) entre 20/40 e 20/200.
Nenhum paciente recebeu insulina anteriormente. A proporção de pacientes
capazes de ler corretamente, com 4 doses escolhidas após randomização
em cada sistema, era significativamente maior com Innolet (92% de que
com Humulin Pen (45%; p < 0,001) ou com seringa (61%; p < 0,001). Em
um teste de manipulação, 84% dos pacientes foram capazes, sem instrução
específica, de definir e administrar uma dose de 20 U com Innolet,
significativamente mais do que com Humulin Pen (41%, p < 0,001) ou
seringa (32%, p < 0,001). Após leitura das instruções dos fabricantes, os
pacientes foram requeridos para definir e administrar 3 doses escolhidas
por randomização com cada sistema. A taxa de sucesso com Innolet (80%)
100 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2002)

Continuação permaneceu maior de que com Humulin Pen (61%, p = 0,007) ou seringa
(27%, p < 0,001). Pacientes ainda incapazes de colocar 3 doses consecutivas
receberam instruções verbais e demonstração. Após um máximo de 5 minutos
de instrução 85 dos 86 pacientes (98,8%) foram capazes de definir e administrar
3 doses consecutivas com Innolet, de novo mais significativo do que com
Humulin Pen (84,9%), p = 0,001) ou seringa 63,5% p < 0,001). Após o teste,
87% dos pacientes exprimiram preferência para Innolet e 13% para Humulin
Pen (p < 0,001); nenhum paciente preferiu a seringa. Especificamente, 98%
dos pacientes consideraram a escala de números de Innolet mais fácil de ler,
e 91% consideraram que a aprendizagem é mais fácil. Em conclusão, os
sistemas de administração de insulina desenhados com objetivo especifico de
facilidade de leitura e simplicidade de uso, podem melhorar a capacidade de
pacientes com visão diminuída para definir e administrar a sua dose correta
de insulina.

Sergio A Dib, AC Lerario, Fadlo Glimepirida: Ausência de ganho de peso e redução da


Fraige Filho, Edgar Niclewicz, XIo hiperglicemia pós-prandial em pacientes com diabetes do tipo 2.
Congresso da Associação Latino
Americana de Diabetes (ALAD), O ganho de peso e a hiperglicemia pós-prandial são duas alterações que
Punta Del Este, Uruguay, ocorrem frequentemente e devem ser evitadas durante o tratamento do diabetes
11 a 15 de novembro de 2001 tipo 2 (DM2). O primeiro é um dos efeitos colaterais quando as sulfoniluréias
são utilizadas, com reflexo direto na piora da resistência à insulina. O segundo
tem sido considerado como um fator de risco, para o infarto do miocárdio e
mortalidade total no DM2. A glimepirida é uma nova sulfoniluréia de ação
prolongada que pode ser utilizada em dose única. O objetivo do presente
estudo foi analisar a glicemia pós-prandial e a variação ponderal em um estudo
de dose-resposta com essa nova sulfoniluréia. O estudo foi multicêntrico,
randomizado, duplo-cego, placebo-controlado, com grupos paralelos e
determinação da variação da dose de glimepirida nos pacientes sob titulação
forçada. Os pacientes elegíveis para o estudo tinham DM2 de acordo com os
critérios do NDDG, idade entre 40 e 75 anos, ambos os sexos, IMC entre 90
e 150% do peso ideal e glicemia de jejum abaixo de 180 mg/dl, com a sua
dose anterior de sulfoniluréia estabilizada nas últimas 8 semanas. Após um
período de 4 semanas de wash-out, um total de 158 pacientes foram
randomizados para receber placebo (n = 234) ou glimepirida 1 mg (n = 31), 2
mg (n = 33) e 4 mg (n = 33) uma vez ao dia durante 12 semanas. Os quatro
grupos estudados não apresentavam diferenças com relação aos dados
demográficos iniciais estudados, ou seja, idade, distribuição de sexo, raça,
peso e altura. A glicemia 2 horas após a refeição (G2PP) era semelhante nos
4 grupos estudados (placebo: 250 ± 44,2 mg/dl, glimepirida 1 mg: 257,4 ± 48
mg/dl; 2 mg: 251,9 ± 41,7 e 4 mg: 270,5 ± 46,6 mg/dl), durante a avaliação
basal. A porcentagem de redução da G2PP [100 x (G2PP basal – G2PP semana
12)/G2PP basal] foi maior (p < 0,05) nos grupos com droga ativa [1 mg:
12,6% 9-0,46 a 47,1 - mediana e variação), 2 mg: 17,2% (-43,7 a 46,4) e 4
mg: 20,8% (-8,7 a 60)] do que no placebo (-1,2% (-64,3 a 48,0)]. No grupo
com 4 mg, esta redução foi significativamente (p < 0,05) maior do que no
grupo com 1 mg, indicando um efeito dose-resposta. Também ocorreu uma
diminuição (p < 0,05) nos níveis de hemoglobina glicada e as porcentagens
de redução nesse parâmetro foram no grupo 1 mg: 3,2% (-34,3 a 28,9), 2 mg:
3,3% (-21,3 a 26,0), 4 mg: 6,4% (-18,8 a 29,3), um aumento ocorreu no grupo
placebo: -3,9% (-60,8 a 21,0). O IMC não mostrou variação significativa
entre o basal e a 12ª semana de tratamento, em nenhum dos grupos estudados.
Grupo placebo (27,8 ± 3,2 vs. 27,6 ± 3,1 kg/m2), 1 mg (27,9 ± 3,2 vs. 27,9 ±
3,2), 2 mg (28,5 ± 2,9 vs. 28,5 ± 2,7) e 4 mg (28,6 ± 3,1 vs. 28,7 ± 3,2). O
102 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2002)

Continuação nível de resistência à insulina (HOMA-R) e de função da célula β (HOMA β)


foram avaliados através dos pares de glicemia (mmol/l) e de insulinemia (IU/
ml) de jejum. O HOMA-R não se alterou e ocorreu uma melhora da função
da célula β (HOMA β) nos grupos com droga ativa: 1 mg 35,7 ± 22,8% vs.
46,1 ± 36,4%; 2 mg 37,7 ± 30,4% vs. 54,1 ± 27,7% e 4 mg 37,5 ± 23,9% vs.
74,0 ± 60,2% (p 0,05). Os resultados deste estudo mostram que em 12 semanas
a glimepirida, uma vez ao dia, foi efetiva em melhorar a função da célula b
(HOMA b) e o controle metabólico (redução nos níveis de hemoglobina glicada
e de glicemia pós-prandial), sem aumento no peso corporal. De modo que
esta nova sulfoniluréia possui o potencial de colaborar para a correção de
duas das alterações que estão associadas ao aumento da morbi-mortalidade
durante a história natural do DM2.

Matthias G. von Herrath et al., J Anticorpo inverte diabetes experimental sem comprometer a
Immunol 2002;168:933-941, função imune
Janeiro de 2002
Anticorpos Não-FcR-binding CD3, atualmente estudados para o tratamento
do diabetes tipo 1, não engloba a competência imune antiviral. Este estudo
utilizou um modelo em rato de diabetes auto-imune induzido por vírus. O
diabetes tipo 1 se desenvolve em 2 semanas após infecção por lymphocytic
choriomeningitis virus (LCMV). O LCMV, que infecta só as células b, é
considerado pelo sistema imunológico desses ratos transgênicos como um
auto-antígeno, e as células infectadas de ilhotas são destruídas pelas células T
especificas do antígeno. Os pesquisadores trataram grupos de 8 a 10 ratos
infectados por LCMV durante 5 dias com CD3-F(ab’)-2. Eles acharam que o
tratamento era mas efetivo durante uma fase pré-diabética claramente definida
e prevenia 100% do diabetes. Todavia, em uma fase mais tardia, quando a
maioria das células b eram destruídas, o tratamento foi responsável de uma
reversão do diabetes em 75% dos animais. Segundo os autores, essa é a primeira
observação da capacidade de um anticorpo de inverter uma doença estabelecida.
Após tratamento por CD3-F(ab’)-2, os ratos eram capazes, assim como os
ratos não tratados, de eliminar a infecção a LCMV, bem como as infecções
com vírus Pichinde e vaccinia. Estes achados, segundo os autores, confirmam
o valor potencial do uso de anticorpos non-FcR-binding para tratar pacientes
pré-diabéticos, recebedores de transplantes de ilhotas bem como os pacientes
com início recente de diabetes.

Christian W. Hamm et al., Circulation: A interrupção das estatinas pode ser responsável de um ressalto
Journal of the American Heart que aumenta o risco de morte
Association, 5 de março de 2002
Os pacientes portadores de doença cardíaca que interrompem o uso de drogas
anticolesterolemiantes quando são hospitalizados devido a dor torácica,
apresentam três vezes mais risco de morte ou acidente cardíaco do que os pacientes
que continuam o tratamento. Este estudo examinou os dados de 1616 pacientes
que participaram anteriormente do estudo clínico PRISM - Platelet Receptor
Inhibition in Ischemic Syndrome Management Study. O estudo comparou a
eficiência de 2 drogas anticoagulantes – tirofiban vs. heparina – em pacientes
portadores de doença arterial coronariana, hospitalizados com dor torácica aguda.
Quando admitidos no hospital, 465 pacientes eram tratados por estatinas
durante 6 meses. O tratamento foi relizado em 379 pacientes e interrompido em
86. Após de 30 dias, os pesquisadores examinaram as taxas de óbito e de
acidentes cardíacos não fatais. Os pacientes que persistiram no tratamento
apresentavam a metade do risco de óbito ou acidente cardíaco, do que as pessoas
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos – Diabetes Clínica 02 (2002) 103

Continuação nunca tratadas com estatinas. Os que interromperam o tratamento após hos-
pitalização, apresentaram 2,93 mais riscos do que os do primeiro grupo. Segundo
a equipe, a interrupção das estatinas é suficiente para explicar esse aumento de
óbitos e acidentes cardíacos. Uma semana após da hospitalização, comparados
com pacientes que persistiram na medicação, um número significativamente
maior de pacientes, que interromperam o tratamento, foram tratados por re-
estabelecimento do fluxo sangüíneo nas artérias coronarianas.
166 pacientes tratados com estatina após hospitalização apresentaram menos
óbitos e acidente cardíaco não fatal, do que os pacientes que nunca utilizaram
as estatinas. Foi comprovado que as estatinas são eficazes para diminuir o
risco de morte em pacientes com doença arterial coronariana estável. Todavia,
estudos anteriores excluíram pacientes que sofreram uma síndrome coronariana
aguda nos 3 a 6 meses anteriores.
Parece que a droga faz mais do que diminuir o colesterol. Ela diminui a
inflamação arterial, a capacidade das plaquetas de constituir um coágulo
sangüíneo e a proliferação de células de músculo liso nas artérias. Estatinas
também aumentam a liberação de oxido nítrico protetor das células,
constituindo as paredes internas das artérias do coração. Pesquisas em animais
mostram que a interrupção brutal do tratamento cone estatinas é responsável
por um fenômeno de ressalto. Além de voltar para o nível normal, o nível de
oxide nítrico diminui abaixo do normal.
Três drogas representam 94,5% do tratamento por estatinas (sinvastatina,
lovastatina e pravastatina). Todas as estatinas parecem fornecer um efeito
protetor semelhante, quando os pacientes são tratados pelo menos 6 meses
antes da hospitalização.

Adam B. Mayerson et al., Diabetes Efeitos da rosigitazona sobre a sensibilidade à insulina, lipólise e
51:797-802, março de 2002 conteúdo triglicerídico músculo-esquelético e hepático em
pacientes diabéticos tipo 2

Foi investigado o efeito do tratamento com rosiglitazona 3 meses (4mg/dia)


sobre a sensibilidade à insulina corpo inteiro e do adipócito periférico in vivo,
como avaliado por liberação de glicerol em microdiálise de gordura subcutânea
durante clamp hyperinsulinico-euglicêmico de 2 etapas (20 e 120 mU · m-2 · min-1),
em 9 pacientes portadores de diabetes tipo 2. Os efeitos da rosiglitazona sobre
os triglicérides do fígado e do músculo foram avaliados por spectroscopia de
ressonância nuclear. O tratamento com rosiglitazona resultou em melhora de
68% (P < 0,002) e 20% (P < 0,016) do metabolismo da glicose estimulada por
insulina, durante os clamps insulínicos de baixa e alta dosagem, respectivamente,
o que foi associado com diminuição aproximada de 40% na concentração de
ácido graxo plasmático (P < 0,05) e triglicérides hepáticos (P < 0,05). As
alterações foram associadas ao aumento de 39% dos lípides extra-miocelular
(P < 0,05) e o aumento em 52% da sensibilidade dos adipócitos periféricos aos
efeitos inibidores da insulina sobre a lipólise (P = 0,04). Em conclusão, esses
resultados confirmam a hipótese que as tiazolidinedionas estimulam a
sensibilidade à insulina em pacientes portadores de diabetes tipo 2, pela
promoção da sensibilidade à insulina no adipócito periférico, o que resulta em
concentrações menores de ácido graxo plasmático e redistribuição do lípide
intracelular dos órgãos sensíveis à insulina para os adipócitos periféricos.
104 Diabetes Clínica 02 (2002)

Produtos e novidades
Roche lança Accu-Chek Active, o monitor de glicose o mais
rápido
Em apenas 5 segundos, o monitor portátil Accu-Chek Active, desenvolvido
pela Roche Diagnostics, disponibiliza resultados precisos e análise detalhada
de nível de glicose no sangue. Accu-Check Activ é ideal para quem tem
diabetes e possui uma vida ativa, dinâmica e tem a necessidade de otimizar o
seu tempo.
Com apenas 2 microlitros de sangue – equivalente a uma pequena gota, o
Accu-Chek Active disponibiliza resultados precisos. O monitor possui
memória para o armazenamento de 200 resultados com data e hora, assim
como a média dos valores dos últimos 7 e 14 dias.
Os resultados armazenados na memória do monitor podem ser transferidos
facilmente para um computador através do interface por infravermelho.
Com design atraente, leve, discreto e tamanho ideal de bolso, o Accu-
Chek Active não se assemelha a um dispositivo médico e sim a mais um
aparelho eletrônica utilizado no dia-a-dia. Accu-Chek Active também é muito
fácil de usar: com uma função de liga e desliga automática, basta inserir a tira
de teste, colocar a amostra de sangue e aguardar o resultado.
Accu-Chek Active foi desenvolvido pela Roche Diagnostics, divisão
responsável pela fabricação de equipamento inovadores, produtos e serviços
para pacientes, médicos, hospitais e laboratórios.
106 Produtos e novidades - Diabetes Clínica 02 (2002)

Lightsweet: Groselha Diet e Guaraná Diet Lowçucar

A Lightsweet lançou mais dois produtos com a marca Lowçucar, trata-se


do Xarope Groselha Diet e Guaraná Diet. São duas deliciosas opções para
diabéticos, naturalistas e para quem leva uma vida saudável e consomem
produtos com baixo teor calórico. Os adoçantes utilizados na elaboração da
Groselha Diet e Guaraná Diet são aspartame, sacarina e ciclamato. Cada garrafa
de 900ml rende mais de 5 litros da bebida.

IEDE: Manual de Educação em Diabetes

O Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (Rio de Janeiro) lançou


a Manual de Educação em Diabetes, livro voltado aos multiprofissionais que
trabalham com diabetes que ensinam como ensinar. Apresenta técnicas
didático-pedagógicas para que esses multiprofissionais se tornem realmente
educadores em diabetes, num trabalho da mestre em educação Tânia Zagury.
O Manual visa apresentar um programa de ensino padrão, contendo os planos
de aulas básicas, a dinâmica de trabalho e instruções de acompanhamento de
cursos a serem ministrados em hospitais e/ou serviços que atendam pacientes
com Diabetes e seus familiares.
É uma ferramenta essencial na atuação junto ao paciente. Pode ser adquirido
no IEDE apenas por quem faz parte de um programa de educação. Procure na
divisão de Enfermagem com Tereza ou Rosa. Tel: (21) 2221-7577
Coordenador científico: Prof. Dr. Leão Zagury e equipe do IEDE.

Os doces de confeitaria sem açúcar de Day by Diet

Day by Diet comercializa uma linha de doces de confeitaria para quem não
pode ou não quer consumir açúcar. Sua variada linha de produtos inclui bolos,
tortas, doces, docinhos, cocadas, pé de moleque, leite condensado,
marshmallow e muitos outros produtos com muito sabor, poucas calorias e a
mais absoluta garantia de qualidade em produtos sem açúcar. Todas as
especialidades de Day by Diet podem se encontrar na ANAD.
Produtos e novidades - Diabetes Clínica 02 (2002) 107

Ofner: Linha de doces e sorvetes sem adição de açucares

A Doceira Ofner, há 50 anos na grande São Paulo, oferece agora uma linha
de doces e sorvetes sem adição de açucares, que foram substituídos por polioís,
maltodextrinas, concentrados protéicos de leite e também adicionados de fibras
solúveis. O “blend” de edulcorantes usados é de última geração (sucralose e
Acessulfame K). Assim o sabor dos produtos se torna tão bom quanto os seus
tradicionais similares normais e sem resíduos indesejáveis no palato. Esses
produtos também são reduzidos em calorias e benéficos ao sistema digestivo
por conter fibras solúveis prebióticas (3% de inulina).
O Mousse de Chocolate, a Cheese Cake, a Tortinha de Morango, a
Torta de Chocolate, e o Ecler de Chocolate têm redução de calorias
entre 30 e 43%, sendo os Sorvetes de Creme, Morango e Chocolate
reduzidos em calorias de 43 a 49%. Encontram-se nas lojas a
informação nutricional e composição de cada produto. Já o Chocolate
Dietético, em forma de ovo de páscoa ou tabletinhos, tem como
substituo do açúcar o maltitol e com edulcorante a sucralose.
108 Diabetes Clínica 02 (2002)

Resumos de trabalhos e congressos


LJ Franco e JSY Rocha, departamento O aumento das hospitalizações por diabetes na região de
de medicina social FMRP-USP, XIo Ribeirão Preto, no período 1988-97
Congresso da Associação Latino
Americana de Diabetes (ALAD), Introdução: As hospitalizações são responsáveis por 40% dos custos diretos
Punta Del Este, Uruguay, relacionados à assistência ao diabetes. Com o aumento da conscientização
11 a 15 de novembro de 2001 dos profissionais de saúde e das pessoas com diabetes sobre a importância do
bom controle metabólico na prevenção das complicações crônicas do diabetes,
o esperado é que ocorra uma diminuição na taxa de hospitalização devido ao
diabetes.
Objetivo: Analisar a tendência das hospitalizações por diabetes na região
de Ribeirão Preto, SP, no período 1988-97.
Casuística e métodos: A região de Ribeirão Preto está localizada no nordeste
do Estado de São Paulo e é um importante centro agro-industrial do Brasil,
com uma população de aproximadamente um milhão de pessoas. É considerada
uma das mais prósperas regiões do País, com uma renda per capita em torno
de U$ 5.000,00. Desde 1970 existe um registro coordenado pelo departamento
de Medicina Social, FMRP-USP, abrangendo todas as hospitalizações, públicas
e privadas, da região. Neste trabalho foram excluídas as hospitalizações de
recém-nascidos e as hospitalizações por diabetes foram consideradas apenas
quando o diabetes foi a principal razão para a hospitalização.
Resultados: No período de 1988 a 1997, o número de hospitalizações por
todas as causas aumentou 14,3% (de 128.181 para 146.460), com um
crescimento populacional de 20,6% (de 822.027 para 991.975 habitantes).
As hospitalizações por diabetes aumentaram 33,6% (de 1050 para 1403). As
causas associadas mais frequentes foram hipertensão arterial, doença
cardiovascular e infecção urinária. Do total de hospitalizações, 1304
envolveram procedimentos cirúrgicos, sendo 523 (40,1%) por amputações
de membros inferiores. Houve um excesso de hospitalizações por diabetes
para as mulheres (razão masculino/feminino em torno do 1,7 durante todo o
período). A taxa de letalidade se manteve constante, em torno de 4%. A duração
média da hospitalização variou de 6,0 dias em 1988 para 5,0 dias em 1997
para as mulheres e de 6,6 dias para 5,1 dias para os homens.
Discussão e conclusões: A taxa de hospitalização por diabetes foi maior do
que a para as hospitalizações por todas as causas e superior à taxa de crescimento
populacional. Apesar de ocorrer uma redução na duração media de permanência
no hospital, a hospitalização por diabetes continua aumentando sua contribuição
para o custo envolvido na assistência ao diabetes. Explicações para este fato
poderiam incluir, além de um aumento na prevalência, a maior esperança de
vida das pessoas com diabetes, geralmente com mau controle metabólico, dando
oportunidade para a manifestação das suas complicações crônicas.
110 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 02 (2002)

Wahid ST , Nag S, Bilous RW, Marshall Cobertura vacinal contra gripe e pneumococo em pacientes com
SM, Robinsin AC, Diabet Med diabetes no Reino Unido
2001;18:599-603
Objetivos: Documentar a cobertura vacinal contra gripe e contra o
pneumococo em pacientes portadores de diabetes atendidos por serviços
secundários na Região Norte do Reino Unido e investigar os fatores que
influenciam a adesão à vacinação.
Métodos: Portadores de diabetes atendidos pelo pronto-socorro em
Middlesbrough, Gateshead e Newcastle foram questionados de outubro de
1999 até março de 2000. Médicos questionaram sobre o status da vacinação
contra gripe e pneumococo utilizando um questionário padrão. Os dados
coletados incluem idade, ano em que foi diagnosticado o diabetes, duração
do diabetes, tipo de diabetes e a presença de alguma outra indicação
reconhecida para vacinação.
Resultados: 268 pacientes, 42% (113/268) com diabetes tipo 1, 34% (91/
268) com doença cardíaca isquêmica, 10% (26/268) com doença pulmonar
crônica (CPD) e 10% (27/268) com doença renal crônica, foram questionados.
35% (93/268) dos pacientes receberam a vacina contra gripe e pneumocócica,
24% (64/268) receberam apenas a vacina contra gripe, e nenhum paciente
recebeu somente a vacina pneumocócica. A maioria dos pacientes vacinados
recebeu a indicação sobre a vacinação contra gripe e contra pneumococo do seu
clínico geral (90% (142/157) e 87% (81/93), respectivamente). Um grande
número de pacientes não-vacinados não estavam cientes da necessidade da
vacinação contra a gripe e contra pneumococo (69% (76/175) e 91% (159/
175), respectivamente). Utilizando regressão lógica múltipla, nota-se um
aumento da cobertura vacinal em pacientes com doença pulmonar crônica, contra
gripe – odds ratio (OR) = 1,99 – 95% IC (1,07-14,12) ou pneumococo (OR =
3,77 – IC 1,69-21,76). Além disso, a cada ano acrescido na idade, a probabilidade
de receber a vacina contra a gripe aumenta em 22% (OR = 1,22 – IC 1,09-1,67)
e em 29% (OR= 1,29 (IC 1,07-1,72) para vacina pneumocócica.
Conclusões: As taxas de vacinação nesses pacientes diabéticos são
insatisfatórias. Os profissionais dos serviços secundários de saúde podem
aumentar essas taxas promovendo a discussão sobre o assunto durante as
consultas.

Miller CK, Edwards L, Kissling G, Educação nutricional melhora os resultados metabólicos em


Sanville L, Prev Med 2002;34(2):252- adultos idosos portadores de diabetes mellitus
259, fevereiro de 2002
Introdução: Alguns programas de educação em diabetes foram desenhados
especificamente para adultos idosos. Este estudo avaliou o impacto de uma
intervenção nutricional sobre a glicose sanguínea e os níveis de lipoproteínas
de adultos > 65 anos sem limitação funcionais, mas portadores de diabetes
tipo 2 < 1 ano.
Métodos: 98 indivíduos foram randomizados para os grupos experimental
e controle. O desenho do grupo controle pré-teste e pós-teste foi usado para
avaliar a intervenção. 92 indivíduos (94%) completaram o estudo. O programa
de 10 semanas incluiu princípios de tratamento da informação, teoria da
aprendizagem e teoria social cognitiva para entender as necessidades dos
adultos idosos. A análise de covariância comparou os resultados entre grupos.
O teste t comparou os resultados entre dos grupos.
Resultados: Os participantes ultrapassaram as recomendações para melhor
controle glicêmico no pré-teste. O grupo experimental apresentou melhora
maior na glicose plasmática de jejum (P = 0,05) e hemoglobina glicosilada (P
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 02 (2002) 111

Continuação < 0,01) do que o grupo controle. Mais participantes do grupo experimental do
que no grupo controle, significativamente, realizaram os objetivos do
tratamento para o colesterol total no pós-teste (P < 0,05).
Conclusões: Os adultos idosos portadores de diabetes precisam de educação
adicional para realizar o controle metabólico. Educação nutricional pode
melhorar o controle metabólico nesta coorte. A melhora dos resultados
metabólicos diminui a morbidade e mortalidade associadas ao diabetes.

Faria NA, Rieiro F, Lerario DD, Efeitos da sibutramina no tratamento da obesidade em pacientes
Kohlmann N, Ferreira SR, Zanella MT, com hipertensão arterial
Arq Bras Cardiol 2002;78(2):176-80,
fevereiro de 2002 Objetivo: Avaliar os efeitos da diminuição de peso com sibutramina 10 mg
ou placebo sobre a pressão arterial de 24 horas (monitorização ambulatória
da pressão sanguínea), a massa ventricular esquerda, e o tratamento
antihipertensivo em 86 pacientes obesos e hipertensos durante 6 meses.
Métodos: Os pacientes efetuaram ecocardiografia, monitorização da pressão
sanguínea ambulatória e medições do níveis de enzimas hepáticas antes e
depois de tratamento com sibutramina ou placebo.
Resultados: O grupo usando sibutramina apresentou maior perda de peso
do que o grupo placebo (6,7% versus 2,5%; p < 0,001), aumenta o da frequência
cardíaca (78,3 ± 7,3 para 82 ± 7,9 bpm; p = 0,02), e diminuição do índice de
massa ventricular esquerda/altura (105 ± 29,3 versus 96,6 ± 28,58 g/m; p =
0,002). Ambos os grupos mostraram aumentos semelhantes dos níveis de
fosfatase alcalina e ajustes comparáveis no tratamento antihipertensivo.
Todavia, a pressão sanguínea não foi alterada.
Conclusão: O uso da sibutramina foi responsável pela perda de peso e
diminuição da massa ventricular esquerda em pacientes obesos e hipertensos
,sem interferência com a pressão sanguínea ou com o tratamento
antihipertensivo.

Panz VR et al., Transplantation Efeito diabetogênico do tacrolimus em pacientes com


2002;73(4):587-90, fevereiro de 2002 transplantes de rim
Introdução: Diabetes mellitus (DM) é uma complicação do tratamento com
tacrolimus. Esse estudo avaliou a prevalência do diabetes em pacientes negros
e brancos de África do Sul, recebendo tacrolimus após transplante do rim e
fatores que poderiam identificar, antes do transplante, pacientes com risco de
desenvolvimento de DM.
Métodos: Amostras de sangue de jejum de 17 pacientes (11 negros, 6
brancos) foram analisados imediatamente em pré-transplante e em 1 e 3 meses
pós-transplante para glicose, HbA1c, insulina, peptídeo C, ácidos graxos livres,
lípides, uréia e creatinina. Resistência à insulina (RI) foi calculada utilizando
as fórmulas do homeostasis model assessment (HOMA) e quantitative insulin
sensitivity check index (QUICKI).
Resultados: 8 pacientes (47%) se tornaram diabéticos (6 negros 2 brancos),
e 9 pacientes (5 negros, 4 brancos) permaneceram não diabéticos. As
concentrações médias de glicose no grupo diabético foram significativamente
maiores após 1 meses (P = 0,03) e 3 meses (P = 0,01). O nível médio de
insulina aumentou a 3 meses (P = 0,01) como também HbA1c (P = 0,001).
As concentrações de peptídeo C não foram significativamente alteradas nos 2
grupos. Correlações significativas foram encontradas entre concentrações de
112 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 02 (2002)

Continuação glicose de jejum a 3 meses pós-transplante Homa inicial (r = 0,486; P =


0,048) e QUICKI inicial ( r = -0,582; P = 0,014).
Conclusões: Ocorrência de DM foi elevada e maior em pacientes negros.
RI foi o principal mecanismo envolvido, junto com a compensação
inadequada da célula β. Resistência à insulina pré-transplante é um fator
de prognóstico do desenvolvimento do DM após do transplante.

Schwarzer U et al., BJU Int Prevalência da doença de La Peyronie


2001;88(7):727-30, novembro de 2001
Objetivos: Determinar a prevalência da doença de La Peyronie, doença
localizada do tecido conjuntivo da túnica albugínea do pênis, cujos os sintomas
incluem placa palpável, ereções dolorosas e curva do pênis, em uma grande
amostra de homens alemães.
Pacientes e métodos: Um questionário padronizado foi enviado para 8.000
habitantes da cidade de Colônia (população: 1,5 milhões). A validade de 3
perguntas sobre o auto-diagnóstico de doença de La Peyronie foi anteriormente
avaliada em 158 homens saudáveis e 24 pacientes portadores confirmados de
doença de La Peyronie. Para otimizar a taxa de resposta, o questionário foi
enviado três vezes à todos os homens da amostra.
Resultados: A taxa de resposta após a terceira mala direta foi de 55,4%
(4.432 homens): 142 homens (3,2%, idade média 57,4 anos, DP 13,4)
reportaram a aparição de uma placa palpável, o que foi, segundo a precedente
avaliação, a pergunta mais sensível e o principal sintoma da doença. Em
homens com idade 30-39 anos, só 1,5% reportaram o endurecimento localizado
do pênis, comparados com 3,0% dos 40-49 anos e 50 a 59 nos, 4% dos 60-69
anos e 6,5% dos > 70 anos. A ocorrência de uma nova angulação foi reportada
por 119 dos 142 homens (84%) e a dor na ereção por 66 (46,5%). A combinação
dos 3 sintomas (placa, desvio e ereção dolorosa) foi reportada por 46 a 4432
respostas (1,04%), i.e. 32% dos 142 homens com endurecimento do pênis; 58
dos 142 homens (41%) reportaram uma disfunção erétil.
Conclusões: Este é o primeiro estudo baseado em comunidade de pesquisa da
prevalência da doença de La Peyronie. Utilizando questionário precedentemente
avaliado, a prevalência da doença de La Peyronie foi de 3,2% na amostra, o
que é maior do que os níveis encontrados em estudos anteriores. Uma
prevalência elevada comparável é reportada por diabetes e urolitíase, sugerindo
que esta doença ‘rara’ é mais freqüente do que se pensava anteriormente.

Rob M. van Dam et al., Department of Gordura e carne na dieta em relação com o risco de
Nutrition, Harvard School of Public diabetes tipo 2 em homens
Health, Boston, Massachusetts,
Diabetes Care 25:417-424, Objetivo: Investigar a relação do risco de diabetes tipo 2 com a gordura e
março de 2002 carne na alimentação
Desenho e métodos: Foram prospectivamente acompanhados 42.504
participantes homens do Health Professionals Follow-Up Study, idade 40-75
anos, livres de diabetes diagnosticado, doença cardiovascular e câncer em
1986. A dieta foi avaliada por questionário de frequência de alimentos e
atualizado em 1990 e 1994. Durante os 12 anos de seguimento, foram
diagnosticados 1321 casos de diabetes tipo 2.
Resultados: Ingestão de gordura total (RR multivariate para quintiles
extremos 1.27, IC 1,04–1,55, P = 0,02) e gordura saturada (1,34, 1,09–1,66,
P = 0,01) foi associada com risco maior de diabetes tipo 2. Todavia, essas
associações desapareceram após ajuste para IMC (gordura total RR 0,97, IC
114 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 02 (2002)

Continuação 0,79–1,18; gordura saturada 0,97, 0,79–1,20). Ingestão de ácido oléico, trans-
fat, gordura de longa cadeia n-3 e ácido alpha-linolénico não foi associada
com risco de diabetes após ajuste. Ácido linoléico foi associado com risco
menor de diabetes em homens com menos de 65 anos (RR 0,74, IC 0,60–
0,92, P = 0,01) e em homens com IMC <25 kg/m2 (0,53, 0,33–0,85, P =
0,006), mas não em homens idosos ou obesos. O consumo freqüente de carne
processada foi associado com risco maior de diabetes tipo 2 (RR 1,46, IC
1,14–1,86 para ≥ 5/semana vs. <1/mês, P <0,0001).
Conclusões: Consumo de gordura total e saturada foi associado com risco
maior de diabetes tipo 2, mas essas associações não são independentes do
IMC. Consumo freqüente de carne processada pode também aumentar o
risco de diabetes tipo 2.

Kirsten A. McAuley et al., Department Alterações intensivas do estilo de vida são necessárias para
of Human Nutrition, Otago University, melhorar a sensibilidade à insulina
Dunedin, New Zealand Diabetes Care
25, março de 2002 Objetivo: O tamanho da alteração do estilo de vida para melhorar a
sensibilidade à insulina não foi estabelecido. O estudo compara o efeito sobre
a sensibilidade à insulina, das recomendações atuais dietéticas e de atividade
física com intervenção especial em indivíduos normoglicêmicos e resistentes
à insulina.
Desenho e métodos: 77 homens e mulheres com glicemia normal
(determinada por clamp euglicêmico insulínico) e resistência à insulina foram
randomizados para grupo controle, com 1 e 2 programas combinados de dietas
e exercícios. Um grupo foi baseado em recomendações atuais e outro em
programa mais intensivo de dieta e exercício. A sensibilidade à insulina foi
medida por clamp insulínico euglicêmico, composição corporal foi avaliada
por absorciometria de raio X, e fitness aeróbico e antropométrico foi avaliado
antes e após o período de 4 meses da intervenção. Os dados de ingestão
alimentar de 4 dias foram coletados e foram medidos glicose de jejum, insulina
e lípides.
Resultados: Só o grupo com tratamento intensivo mostrou uma melhora
significativa na sensibilidade à insulina (aumento de 23% P = 0,006 vs. 9%
no outro grupo, P = 0,23). Isso foi associado a um aumento significativo do
fitness aeróbico (aumento de 11% no grupo intensivo P = 0,02 vs. 1% no
outro grupo, P = 0,94), e uma ingestão maior de fibras, mas sem diferença no
total reportado de gorduras saturadas.
Conclusões: As recomendações clínicas dietéticas e de atividade física,
mesmo quando rigorosamente implantadas, não aumentaram
significativamente a sensibilidade à insulina; todavia, um programa mais
intensivo alcança esse objetivo. O aumento do fitness aeróbico parece ser a
maior diferença entre os dois grupos, apesar de que a perda de peso e a
composição da dieta tinham também um papel importante na determinação
da sensibilidade à insulina.

Barbara Parker et al., Diabetes Care Efeito de uma dieta por perda de peso rica em proteínas e
25:425-430, março de 2002 gorduras mono-insaturadas sobre o controle glicêmico e os níveis
de lípides em diabetes tipo 2

Objetivo: Determinar o efeito de uma dieta de perda de peso com taxa


elevada de proteínas, com uma dieta de baixo teor de proteínas sobre o tecido
adiposo e magro, a glicose de jejum e pós-prandial, e concentrações de insulina.
Desenho e métodos: Substituir proteínas por carboidratos durante período
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 02 (2002) 115

Continuação de perda de peso e restrição energética, foi eficiente para preservar a massa
magra e melhorar a sensibilidade à insulina em indivíduos obesos, mas não
foi testado em indivíduos portadores de diabetes tipo 2. Comparamos a dieta
protéica (28% proteínas, 42% CHO, 28% gordura [8% ácidos graxos saturados,
12% ácidos graxos monoinsaturados, 5% ácidos graxo poli-insaturados]) com
a dieta de carboidratos (16% proteínas, 55% CHO, 26% gordura [8% ácidos
graxos saturados 11% ácidos graxos monoinsaturados, 5% ácidos graxo poli-
insaturados]) em 54 homens e mulheres obesos portadores de diabetes tipo 2
durante um período de 8 semanas de restrição energética (1,600 kcal) e 4
semanas de balanço energético. Composição corporal foi determinada por
absorciometria de raio X nas semanas 0 e 12.
Resultados: O objetivo de perda de peso de 5,2 ± 1,8 kg foi atingido
independentemente da composição da dieta. Todavia, mulheres com dieta
protéica perderam significativamente mais gordura total (5,3 vs. 2,8 kg, P =
0,009) e abdominal (1,3 vs. 0,7 kg, P = 0,006), quando comparadas a mulheres
com dieta de carboidratos, embora que, em homens, não foi observada a
diferença na perda de gordura entre as dietas (3,9 vs. 5,1 kg). A massa magra
total diminuiu em todos os pacientes independentemente da composição da
dieta. A diminuição do LDL-colesterol foi significativamente maior na dieta
rica em proteínas (5,7%) do que na dieta rica em carboidratos (2,7%) (P < 0,01).
Conclusões: Ambos os modelos dietéticos resultaram em melhora do perfil
de risco de doença cardiovascular como consequência da perda de peso.
Todavia, as maiores diminuições em gordura total e abdominal em mulheres
e maior diminuição do LDL colesterol nos dois sexos com a dieta protéica,
sugerem que essa dieta é uma escolha válida para a diminuição do risco de
doença cardiovascular em portadores de diabetes tipo 2.

Yoshinori Miyazaki et al., University of Efeito dose-resposta da pioglitazona sobre a sensibilidade à


Texas Health Science Center and Texas insulina e a secreção de insulina em diabetes tipo 2
Diabetes Institute, San Antonio, Texas,
Diabetes Care 25:517-523, Objetivo: Investigar os efeitos dose-resposta da pioglitazona sobre o controle
março de 2002 glicêmico, sensibilidade à insulina e secreção de insulina em pacientes
portadores de diabetes tipo 2.
Desenho e métodos: 58 pacientes diabéticos tipo 2 tratados por dieta (idade
54 ±1 anos; 34 homens e 24 mulheres; IMC 31,5 ± 0,6 kg/m2) foram
randomizados para receber placebo (n = 11) ou 7,5 mg (n = 13), 15 mg ( n=
12), 30 mg (n = 11), ou 45 mg (n = 11) de pioglitazona por dia durante 26
semanas. Antes e após das 26 semanas, foi efetuado um teste de tolerância
oral à glicose 75g (OGTT).
Resultados: Pacientes tratados com 7.5 ou 15 mg/dia de pioglitazona não
apresentaram alterações nas concentrações de glicose de jejum (FPG) ou de
insulina de jejum (FPI) durante o OGTT. Pacientes tratados com 30 ou 45
mg/dia de pioglitazona, respectivamente, apresentaram diminuições
significativas, comparadas com placebo, em HbA1c (∆ = -2,0 e -2,9%), FPG
(∆ = -66 e -97 mg/dl), e glicose plasmática média durante OGTT ( ∆ = -84 e
-107 mg/dl). A insulina plasmática de jejum diminuiu significativamente no
grupo de pioglitazona 45 mg/dia, mas a insulina plasmática média durante o
OGTT não foi alterada. O índice insulinogênico ( ∆[AUC] insulina/∆AUC
glicose) durante OGTT aumentou significativamente nos grupos 30 e 45 mg/
dia (0,13 ± 0,03 para 0,27 ± 0,05, P < 0,05). A partir do OGTT, foi construído
um índice (ISI) de sensibilidade à insulina do corpo inteiro bem correlato
com os resultados da técnica do clamp insulínico. O ISI corpo inteiro
[ISI=10,000 raiz quadrada de (FPG x FPI) x (PG x PI), onde PG e PI =
concentrações médias de glicose plasmática e de insulina durante OGTT]
116 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 02 (2002)

Continuação aumentou significativamente em pacientes tratados com 30 mg (1,8 ± 0,3


para 2,5 ± 0,3, P < 0,05) ou 45 mg (1,6 ± 0,2 para 2,7 ± 0,6, P < 0,05) por dia
de pioglitazona. No início, o ISI hepático [k/(FPG x FPI)[k/(FPG x FPI)],
aumentou em pacientes tratados com 30 mg (0,13 ± 0,02 para 0,21 ± 0,03, P
< 0,05) e 45 mg (0,11 ± 0,02 para 0,24 ± 0,06, P < 0,05) por dia de pioglitazona.
Correlações significativas entre a dose de pioglitazona e as alterações em
HbA1c (r=-0.58), FPG (r = -0,47), glicose pós-prandial durante OGTT (r = -
0,46), índice insulinogênico (r = 0,34), ISI hepático (r = 0,44), e ISI corpo
inteiro ( r= 0,36) foram observados.
Conclusões: Pioglitazona melhora o controle glicêmico através da
estimulação da função da célula β e melhora da sensibilidade à insulina
corpo-inteiro e hepática.

Masahiko Tsuchiya et al., Circulation Um único cigarro diminui rapidamente as concentrações


2002;105:1155-57, março de 2002 plasmáticas de nitratos, nitritos e anti-oxidantes

Introdução: Tabagismo é um fator de risco bem conhecido do


desenvolvimento de doenças cardiovasculares, apesar de que o mecanismo
envolvido não seja ainda completamente conhecido. A fumaça de cigarro
contém superóxido e outras espécies reativas ao oxigênio. Uma hipótese é
que alguns dos efeitos adversos do tabagismo seja a alteração oxidativa das
células endoteliais, o que resulta em insuficiência do oxide nítrico (NO).
Todavia, poucas informações são disponíveis sobre os efeitos agudos do tabaco
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 02 (2002) 117

Continuação nas concentrações plasmáticas do NO e antioxidantes. Medimos as alterações


em concentrações plasmáticas de nitratos e nitritos com índice de concentração
de NO, bem como as alterações nas concentrações dos mais importantes
antioxidantes plasmáticos (ácido ascórbico, cisteína, metionina, ácido úrico),
em fumantes após o consumo de um único cigarro.
Métodos e resultados: Um estudo randomizado cruzado dos efeitos de um
cigarro foi realizado em 20 fumantes. Fumar um cigarro placebo não induziu
alterações significativas em todos os parâmetros testados. Todavia, fumar um
único cigarro diminuiu significativamente as concentrações plasmática dos
nitratos e nitritos em 3,5 ± 1,5 e 3,4 ± 1,1 mmol/l, comparadas com
concentrações plasmáticas antes de fumar e placebo, respectivamente. As
concentrações de ácido ascórbico e outros antioxidantes foram também
significativamente menores após fumar um único cigarro. Esses parâmetros
voltaram para os níveis pré-experimentais 60 minutos após o fim do cigarro.
Conclusão: Esses achados indicam que fumar um único cigarro diminui
temporariamente as concentrações de nitratos, nitritos e antioxidantes no
plasma. Essas alterações transitórias podem contribuir à vasoconstrição
coronariana, que é habitualmente observada após um cigarro.

Lindblad U et al., Skaraborg Institute, NEPI Antidiabetes Study (NANSY): relações dose-efeito a curto
Skovde, Sweden Department of prazo da glimepirida em indivíduos com tolerância a glicose
Community Medicine, Lund University, diminuída
Malmo, Sweden The NEPI Foundation,
Malmo and Stockholm, Sweden Objetivo: NANSY é um estudo sueco randomizado, controlado por placebo,
Diabetes Obes Metab 2001;3(6):443- com 2x1112 participantes, homens e mulheres, com tolerância à glicose
51, dezembro de 2001 diminuída (IFG), cujo objetivo é de avaliar se o desenvolvimento do diabetes
tipo 2 pode ser reyardado por adição de sulfoniluréias na dieta e aumento de
atividade física. O estudo piloto foi efetuado para determinar a dose certa de
glimepirida em NANSY.
Métodos: Em ensaio duplo-cego 25 indivíduos IFG foram randomizados
para receber doses únicas e tratamento de um semana com 0 (placebo) 0,5,
1,0 ou 2,0 mg de glimepirida uma vez por dia. A dose certa foi avaliada pela
dosagem da glicose sanguínea durante teste de tolerância oral a glicose 75g
(OGTT), comparando glicose sanguínea de jejum, e a área sob a curva de
glicose (AUC), e pelo controle dos eventos hipoglicêmicos.
Resultados: Com doses únicas, existe uma relação clara dose-resposta para
a redução em AUC, com diferença estatisticamente significativa entre só
placebo (média 1981, IC 95% 1883-2078) e 2 mg glimepirida (média 1763,
95% CI 1665-1861). Todavia, após uma semana de tratamento, as únicas
diferenças significativas foram entre placebo (média 1934, 95% CI 1856-
2012) e 1 mg glimepirida (média 1714, 95% CI 1637-1792). Da mesma
maneira, as únicas diferenças estatísticas na glicose sanguínea de jejum no
dia 7 foram entre placebo (5,87 mmol/l, 95% CI 5.68-6,05 mmol/l) e 1 mg
glimepirida (5,42 mmol/l, 95% CI 5,21-5,62 mmol/l). A hipoglicemia química
foi comum, mas os sintomas de hipoglicemia foram raros e semelhantes entre
as doses ativas, e facilmente controlados pelos pacientes.
Conclusões: A curva dose-efeito do sulfoniluréia é regular por causa da
regulação dos receptores de sulfoniluréias durante a exposição crônica. O
achado pode ser também um fenômeno de ressalto, secundário a hipoglicemia
anterior. A dose certa determinada pelo estudo foi e 1 mg de glimepirida.
118 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 02 (2002)

Hermann LS et al., The Swedish Melhora glicêmica a longo prazo após adição de metformina à
Network for Pharmacoepidemiology, insulina em pacientes diabéticos tipo 2 obesos tratados por
Malmo, Sweden Department of Internal insulina
Medicine, Helsingborg, Sweden,
Diabetes Obes Metab 2001;3(6): Objetivo: Avaliar o efeito da adição de metformina à insulina em diabéticos
428-34, dezembro de 2001 tipo 2.
Métodos: Pacientes diabéticos tipo 2 obesos ou com sobrepeso tratados por
insulina pelo menos durante 1 ano, e com controle glicêmico inadequado HbA1c
> nível superior de referência + 2%), foram randomizados para participar em
estudo duplo-cego controlado por placebo. 37 pacientes foram tratados durante
12 meses por metformina (850 mg/dia) ou placebo em mais do que a insulina
usual, que foi estabilizada durante um período inicial de 3 meses.
Resultados: 2 pacientes abandonaram o estudo durante o período inicial.
Não existiam diferenças entre o grupo metformina (n = 16) e o grupo placebo
(n = 19) no início. Vários pacientes receberam aplicações múltiplas de insulina.
O controle metabólico melhorou com acréscimo de metformina. Alteração
média de HbA1c no início mostrou diferença altamente significativa entre os
grupos nos meses 3, 6, 9 e 12. Alteração média a 12 meses foi de -1,1 ± 0,7%
vs. + 0,3 ± 0,8% (p < 0,001) para HbA1c e -1,4 ± 2,1 mmol/l vs. + 0,6 ± 2,2
mmol/l (p = 0,025) para glicose plasmática de jejum. LDL-colesterol diminuiu
um pouco em 6 meses, mas não em 12 meses. Nenhuma alteração foi observada
na dose de insulina, pressão sanguínea, peso corporal, triglicérides, colesterol
total e HDL-colesterol, fibrinogênio, peptídeo C. A combinação de tratamento
foi bem tolerada, com os mesmos efeitos adversos de que no tratamento de
insulina, mas com um número maior de pacientes com diarréia.
Conclusão: Adição de metformina à insulina induziu e manteve uma
diminuição clinicamente significativa e consistente a longo prazo da
hiperglicemia em pacientes diabéticos obesos tratados por insulina.
Philippi ST / Diabetes Clínica 02 (2002) 119~122
Diabetes 119
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 02 (2002) 119~122

ARTIGO ORIGINAL

A pirâmide alimentar e as porções alimentares


em uma alimentação saudável
Food pyramid and servings in a healthy diet
Sonia Tucunduva Philippi

Professora Associada do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo

Resumo
Uma alimentação saudável é aquela planejada com alimentos de todos os tipos, de procedência conhecida, preparados de forma a preservar o valor
nutritivo e os aspectos sensoriais. Os alimentos devem ser qualitativa e quantitativamente adequados, consumidos em refeições/dia, visando a
satisfação das necessidades nutricionais e a promoção de uma vida saudável. O Ministério da Saúde - Anvisa - estabeleceu por meio das
Resoluções RDC 39 e 40 uma pirâmide de 2500kcal para subsidiar as informações nutricionais com valores de porções. Comparando-se com a
pirâmide de Philippi, que serviu de base para o desenvolvimento da pirâmide da Anvisa, constatou-se coincidência de porções e quilocalorias
(grupos do leite e leguminosas) e para os demais foram observados valores mais rígidos para atender a política de prevenção das doenças crônicas
não transmissíveis e obesidade. A pirâmide alimentar demonstrou ser uma ferramenta importante, não só para orientação nutricional como
também na definição da política de rotulagem de alimentos.
Palavras – chave: pirâmide alimentar, guia alimentar, rótulos de alimentos, grupos de alimentos, alimentação saudável.

Abstract
A healthy diet is planned with all kinds of food from good sources and prepared in a way to preserve the nutritional values and the sensorial
aspects. Food must be quantitative and qualitative suitable, consumed in meal/day, viewing to satisfy the nutritional necessities and to promote
a healthy way of life. The Ministry of Health - Anvisa - established with the Resolutions RDC 39 and 40, a pyramid of 2500 kcal to provide
the nutritional information with the values of each serving. Comparing with Philippi’s pyramid which was the basis to develop ANVISA’s
pyramid, it was verified a coincidence of servings and energy (groups of milk and beans). It was also verified harder values in order to attend the
policy of non- transmissible chronic disease and obesity’s prevention. The food pyramid showed to be an important tool, not only for nutritional
instruction, but also defining food labeling through a specific law.
Key –words: food pyramid, food guide, food labeling, food groups, healthy diet.

Artigo recebido em 20 de janeiro de 2002; aprovado em 1 de março de 2002

Endereço para correspondência: Av. Doutor Arnaldo, 715 – 01246-904 São Paulo – SP
Tel: (11)3066- 7705, E-mail: philippi@usp.br
PB Philippi ST / Diabetes Clínica 02 (2002) 119~122

Introdução As calorias totais do dia devem ser distribuídas nas


refeições da seguinte forma:
Uma alimentação saudável é aquela planejada com
alimentos de todos os tipos, de procedência conhecida, Café da manhã (entre 6 e 9 horas): 25% do VCT
de preferência naturais e preparados de forma a Lanche: 5% do VCT
preservar o valor nutritivo e os aspectos sensoriais. Os Almoço (entre 11 e 13 horas): 35% do VCT
alimentos devem ser qualitativa e quantitativamente Lanche: 5% do VCT
adequados, do hábito alimentar, consumidos em refeições Jantar (entre 19 e 21 horas): 25% do VCT
durante o dia, em ambientes “calmos”, visando a Lanche: 5% do VCT
satisfação das necessidades nutricionais, emocionais e
sociais, para promoção de uma qualidade de vida Ainda devem ser considerados os alimentos de acordo
saudável. com a fonte, ou seja, um alimento é fonte de um nutriente
O comportamento alimentar entendido como formas quando este está presente em no mínimo 5% das
de convívio com o alimento, constitui-se em “um conjunto recomendações para o indivíduo. Exemplo: DRI de Cálcio
de ações realizadas com relação ao alimento, que tem para uma mulher entre 19 e 30 anos é de 1000 mg. Ao
início com o momento da decisão, disponibilidade, modo consumir 100 g de leite integral (119mg de Ca) tem-se
de preparo, utensílios, horários e divisão da alimentação 11,9% da DRI[4], considerando-se, portanto, o leite um
nas refeições do dia, encerrando o processo com o alimento-fonte.
alimento sendo ingerido”[1]. As principais orientações sobre a alimentação saudável
Da mesma forma é importante o conceito de hábitos devem estar reunidas em um guia, que deve ser seguido
alimentares: “Preferências alimentares que fazem parte para se conseguir uma boa saúde.
da cultura de um povo. São estabelecidos na infância e O guia alimentar é um instrumento educativo, para
tornam-se comuns no decorrer da vida”[2]. Como orientação nutricional e alimentar que, baseado nas
exemplo tem-se o hábito de consumir arroz com feijão. recomendações nutricionais, nos hábitos e nos
A partir do conhecimento dos hábitos e comportamentos comportamentos alimentares informa os indivíduos sobre
alimentares do indivíduo é possível estabelecer uma a seleção, a forma, a quantidade e a distribuição de
alimentação adequada e saudável. alimentos.
Para o planejamento e avaliação da dieta é importante A “pirâmide” foi o ícone escolhido para representar o
o conhecimento do Valor Calórico Total (VCT) da guia alimentar. Apresenta variedade de alimentos,
alimentação no dia e a distribuição percentual dos quantidade certa de calorias e nutrientes necessários para
nutrientes. Para tanto devem ser observadas as manutenção do peso ideal, constituindo-se em guia flexível
recomendações em energia e nutrientes para cada idade e pessoal [5].
e sexo, de acordo com o peso, estatura e atividade física
que estão definidas no National Research Council (NRC- Metodologia
1989)[3] e na Dietary Reference Intakes (DRI-1997)[4].
A distribuição dos macronutrientes em função do VCT Para o desenvolvimento do guia alimentar foram esta-
deve ser: proteínas - 10 a 15%; carboidratos - 50 a 60% belecidas 3 dietas com 1600 kcal, 2200 kcal e 2800 kcal.
e lipídios - 20 a 30%. Para incluir os alimentos nos cardápios nas formas
Para atender as recomendações e distribuir o VCT “in natura”, preparações e industrializados, foram consi-
no dia, os alimentos devem ser oferecidos em refeições. derados o valor nutritivo e a forma de preparo dos
A refeição deve ser entendida como um grupo de alimentos e também por integrarem o hábito alimentar
alimentos consumidos em um determinado horário, que da família.
pela sua constituição, forma de preparo e tipo de alimento Os alimentos foram distribuídos na pirâmide em 8
constitui um momento característico do dia alimentar. Por grupos, de acordo com o nutriente que mais se destacou
exemplo, costuma-se almoçar às 12:00 horas e os na sua composição.
alimentos mais consumidos são: arroz, feijão, bife, salada.
Recomenda-se um mínimo de 3 refeições diárias (café Os grupos da pirâmide alimentar
da manhã, almoço e jantar), intercaladas com lanches, Os grupos da pirâmide alimentar foram definidos de
compondo um dia alimentar com 6 refeições. acordo com a importância e a presença na dieta:
Entende-se como preparação principal da refeição
arroz ou feijão e como acompanhamento qualquer tipo · Grupo do arroz, pão, massa, batata, mandioca:
de carne (frango, peixe ou bovina). As saladas com este grupo constituído por cereais, tubérculos e raízes,
verduras cruas e os legumes cozidos devem sempre fontes de carboidratos, contribui com a maior parte das
compor a refeição As sobremesas devem privilegiar, calorias da dieta.
sempre que possível, as frutas da época. · Grupo das verduras e legumes (hortaliças) e
Philippi ST / Diabetes Clínica 02 (2002) 119~122 121

grupo das frutas: estes grupos são fontes de vitaminas 1 tomate


e minerais. 3 colheres de sopa de abobrinha cozida
2 colheres de sopa de beterraba crua ralada
· Grupo das carnes e ovos: estes alimentos são 3 ramos de couve-flor cozida
fontes de proteínas, ferro e vitaminas. Inclui carnes de 3 rabanetes
2 colheres de sopa de vagem cozida
todas as naturezas e cortes: carne bovina, frango, peixes, 4 1/2 colheres de sopa de brócolis cozido
frutos do mar, fígado e outras.
FRUTAS: 1 porção = 35 kcal
· Grupo dos feijões: este grupo, constituído pelas 1/2 banana
leguminosas (feijão, soja, lentilha, ervilha), é fonte de 1/2 fatia de abacaxi
proteína vegetal. 1/2 copo de suco de laranja
1/2 maçã
· Grupo do leite, queijo e iogurte: formado pelo 9 morangos
leite e seus derivados constitui importante fonte de 1/2 manga
proteínas, cálcio e vitaminas. 1 fatia de melancia
1 fatia de melão
· Grupo dos óleos e gorduras: (fonte de gorduras) 1/2 pêra
e grupo dos açúcares e doces (fonte de carboidratos): 11 bagos de uva comum
estes alimentos devem ser consumidos com moderação. LEITE, IOGURTE E QUEIJO: 1 porção = 120 kcal
Encontram-se no topo e em todos os outros níveis da 1 xícara de leite
1 copo de iogurte
pirâmide, pois também estão presentes na composição e 1 fatia de queijo minas
na preparação dos alimentos. 1 1/2 colher de sopa de requeijão
2 colheres de sopa de leite em pó integral
Conceito de porção 2 1/2 colheres de sopa de molho branco com queijo
2 potes de queijo petit suisse de morango
Compondo o guia alimentar foram estabelecidas as CARNES E OVOS: 1 porção = 190 kcal
porções dos alimentos para cada um dos 8 grupos da 1 fatia de carne assada
1 filé de frango grelhado
pirâmide. Define-se “porção” como a quantidade de 1 ovo frito
alimento em sua forma usual de consumo, expressa em 5 colheres de sopa de carne moída refogada
medidas caseiras (xícaras, fatias,...), unidades ou na 10 unidades de camarão frito
forma de consumo (4 gomos de laranja, 1 fatia de mamão, 1 hambúrguer
4 unidades de biscoito). Esta quantidade é estabelecida 1 1/2 unidade de salsicha
11 fatias de salame
a partir das necessidades nutricionais e das dietas 2 colheres de sopa de atum enlatado
calculadas para cada grupo específico. 4 nuggets de frango
Para melhor entendimento, foram considerados FEIJÕES: 1 porção = 55 kcal
sempre os valores médios, obtidos através do software 4 colheres de sopa de feijão
“Virtual Nutri”[6]. 2 colheres de sopa de grão de bico
Os alimentos de um grupo não podem ser substituídos 2 colheres de lentilha ou soja
pelos de outros grupos. Todos os alimentos são 1 1/2 colher de sopa de feijão branco
importantes e todos são necessários. Por exemplo: 1
xícara de leite (120 kcal) equivale a 1 copo de iogurte Valor nutritivo nos rótulos dos alimentos
(120 kcal) ou 1 fatia de queijo minas (120 kcal) [6].
O Ministério da Saúde em 2001 definiu normas para
Exemplos de equivalentes de porção por grupo de alimento informar ao consumidor o valor nutritivo dos alimentos
embalados. Também estabeleceu, por meio da pirâmide
ARROZ: 1 porção = 150 kcal
1 pão francês
alimentar, os valores de referência para porções de
4 colheres de sopa de macarrão alimentos e bebidas embalados, para fins de rotulagem
4 colheres de sopa de arroz nutricional com a quantidade média do alimento que seria
4 biscoitos salgados usualmente consumida por pessoas sadias, maiores de
1 1/2 batata cozida cinco anos, em bom estado nutricional, em cada ocasião
1 1/3 colher de servir de batata frita (palito)
2 biscoitos recheados de consumo, para compor uma dieta saudável [7,8].
4 colheres de sopa de farinha de milho A pirâmide proposta pela Anvisa (tabela I) foi
2 fatias de pão de forma tradicional estabelecida em 2500 kcal com porções muito semelhantes
2 1/2 xícara de chá de pipoca com sal a Philippi e col. Os valores permaneceram iguais em
7 colheres de sopa de milho verde em conserva porções para o grupo do leite (3 porções/ dia – 120 kcal) e
VERDURAS E LEGUMES: 1 porção = 15 kcal das leguminosas (1 porção/dia – 55 kcal). Para o grupo do
15 folhas de alface açúcar foi definido o mesmo número de porções (1- 2
2 folhas de acelga
2 colheres de sopa de cenoura ralada porções/dia) com 110 kcal (Philippi e col.) e 80 kcal
PB Philippi ST / Diabetes Clínica 02 (2002) 119~122

(Anvisa). Para os grupos dos cereais, legumes e verduras, Tabela III - Informação nutricional de 125g (porção) de arroz
frutas, carnes e ovos e óleos foram estabelecidos de forma branco cozido (uma colher de sopa = 25g).
diferente, de acordo com os objetivos da Anvisa no tocante Valor Calórico 160 kcal 6%
Carboidratos 36g 10%
a prevenção no desenvolvimento do sobrepeso e das Proteínas 3g 6%
doenças crônicas não transmissíveis. Gorduras Totais 0g 0%
Ferro 1 mg 7%
Tabela I - Comparação entre a pirâmide Philippi et al. Sódio 0 mg 0%
e Anvisa, com relação aos grupos e porções de alimentos. * Quando for declarado
Pirâmide Philippi e col Pirâmide ANVISA Fonte: United States Department of Agriculture - USDA[9]
1600, 2200, 2800 kcal 2500 kcal
Cereais* 5 a 9 porções/dia 8 porções/dia
1 porção 150 kcal 150 kcal Conclusão
Legumes e Verduras 4 a 5 porções/dia 3 porções/dia
1 porção 15 kcal 15 kcal Os guias alimentares permitem:
Frutas 3 a 5 porções/dia 3 porções/dia • Planejar uma dieta saudável e culturalmente
1 porção 35 kcal 70 kcal aceitável, de acordo com a alimentação habitual;
Leite** 3 porções/dia 3 porções/dia • Corrigir os hábitos alimentares indesejáveis e reforçar
1 porção 120 kcal 120 kcal os desejáveis para a manutenção da saúde;
Carnes e ovos 1 porção/dia 2 porções/dia • Orientar o consumidor quanto a seleção de uma dieta
1 porção 120 kcal 130 kcal saudável de acordo com os recursos econômicos
Leguminosas*** 1 porção/dia 1 porção/dia disponíveis e quanto a leitura dos rótulos dos alimentos.
1 porção 55 kcal 55 kcal
Óleos 1-2 porções/dia 2 porções/dia O guia alimentar expresso por meio da pirâmide
1 porção 73 kcal 120 kcal alimentar é uma ferramenta para orientação nutricional
Açúcar 1-2 porções/dia 1-2 porções/dia individual e institucional que, foi utilizado para a definição
1 porção 110 kcal 80 kcal e implementação da política pública estabelecida pela
*Cereais ou Grupo do Arroz; **Leite ou Grupo do Leite, Queijo, Anvisa para os rótulos dos alimentos, visando um padrão
Iogurte; *** Leguminosas ou Grupo dos Feijões. saudável de alimentação.

Rotulagem nutricional obrigatória Referências

Ao se tomar como exemplo o arroz branco cozido, de 1. Philippi ST. Guia alimentar para o ano 2000. In: Angelis RC.
acordo com a rotulagem completa (tabela II) e simpli- Fome oculta: impacto para a população do Brasil. São Paulo:
Atheneu; 1999. p.160-76.
ficada (tabela III), os valores ficariam assim expressos: 2. Philippi ST. Hábitos Alimentares. Boletim Técnico 1. São
Arroz branco cozido (Valor de referência-125g) Paulo, Ed Centro de Estudos SILUS, 1992.
3. National Research Council [NRC]. Recommended Dietary
• Medida caseira (grama) - colher de sopa Allowances. 10th ed. Washington, (D.C): National Academy
• Peso médio por medida caseira em (gramas)- 25 g Press; 1989.
•Formas de apresentação das medidas caseiras. No 4. Institute of medicine. Dietary Reference Intakes [DRI] for
rótulo: 5 colheres de sopa. calcium, phosphorus, magnesium, vitamin D and fluoride.
Washington, (D.C): National Academy Press; 1997. p. 432.
Tabela II - Informação nutricional de 125g de arroz branco 5. Philippi ST, Ribeiro LC, Latterza AR, Cruz ATR. Pirâmide
cozido (uma colher de sopa = 25g). Quantidade por porção alimentar adaptada: guia para escolha dos alimentos. Rev
em %VD (valores diários de referência). Nutr1999; 12: 65-80.
6. Philippi ST, Szarfarc SC, Latterza AR. Virtual Nutri (software)
Valor Calórico 160 kcal 6% versão 1.0 for Windows. Departamento de Nutrição da
Carboidratos 36g 10% Faculdade de Saúde Pública/USP. São Paulo, 1996.
Proteínas 3g 6% 7. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução-RDC 39,
Gorduras Totais 0g 0% de 21.03.2001: Tabela de valores de referência para porções de
Gorduras Saturadas 0g 0% alimentos e bebidas embalados para fins de rotulagem
Colesterol 0 mg 0% nutricional Disponível em www.ANVISA.gov.br/legis/resol/
Fibra alimentar 0g 0% 3901rdc.htm
Cálcio quantidade não significativa 0% 8. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução-RDC 40,
Ferro 1 mg 7% de 21.03.2001: Rotulagem nutricional obrigatória de alimentos e
Sódio 0 mg 0% bebidas embalados. Disponível em: www.ANVISA.gov.br/legis/
Outros minerais* mg ou mg resol/40_01rdc.htm
Vitaminas * mg ou mg 9. Composition of Food. United States Department of
* Quando for declarado Agriculture [USDA]. 8th Washington, (D.C): U. S. Government
Fonte: United States Department of Agriculture – USDA[9] Printing Office; 1963.
Silva CB et al / Diabetes Clínica 02 (2002) 123~128
Diabetes 123
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 02 (2002) 123~128

REVISÃO

Relação entre estado de vitamina A e diabetes mellitus


Vitamin A status in diabetes mellitus
Cristiane Barbosa Silva*, Rejane Andréa Ramalho **, Cláudia Saunders***

*Mestranda em Nutrição Humana (Instituto de Nutrição, Universidade Federal do Rio de Janeiro – IN/UFRJ), Grupo de Pesquisa em Vitamina A
do IN/UFRJ, **Doutora em Ciências da Saúde Pública (FIOCRUZ). Departamento de Nutrição e Dietética, Grupo de Pesquisa em Vitamina A -
GPVA/IN/UFRJ, ***Doutoranda em Ciências da Saúde Pública (FIOCRUZ), Departamento de Nutrição e Dietética. GPVA/IN/UFRJ

Resumo
Várias observações sugerem que poderia haver uma associação entre hipovitaminose A e diabetes mellitus, dois importantes problemas de saúde
pública do mundo atual. A informação acerca do estado de vitamina A dos pacientes diabéticos é muito escassa e pouco consistente. Pacientes
com diabetes mellitus tipo 1 apresentariam baixos níveis de retinol circulante, de RBP (Retinol Binding Protein) e de TTR (transtiretina), e altos
níveis de retinol hepático, sugerindo uma deficiência no transporte da vitamina. Em indivíduos diabéticos tipo 2, os trabalhos são mais escassos
e contraditórios. Isto sugere a necessidade de dar mais atenção a estudos que permitam identificar possíveis distúrbios do metabolismo da
vitamina A no diabetes mellitus.
Palavras-chave: Vitamina A, retinol, diabetes mellitus

Abstract
Some observations have suggested a possible association between hypovitaminosis A and diabetes mellitus, two important public health
problems which potential interaction deserves further attention. There are few studies on the vitamin A status of diabetic patients. Most of the
observations in diabetes mellitus type I have found low levels of circulating retinol, retinol binding protein and transthyretin, while a high level
of liver vitamin A, suggesting an impairment in the mobilization of the vitamin. The results in diabetic type 2 patients are more rare and highly
contradictory. This suggests that there is a need for further research to identify possible disorders of vitamin A metabolism in diabetes mellitus.
Key-words: Vitamin A, retinol, diabetes mellitus

Artigo recebido em 2 de abril de 2002; aprovado em 10 de abril de 2002.

Endereço para correspondência: Rejane Andréa Ramalho,Rua Coração de Maria 72 Bl.


01/101, Méier 20775-050 Rio de Janeiro RJ, E-mail: aramalho@rionet.com.br
124 Silva CB et al / Diabetes Clínica 02 (2002) 123~128

Introdução intermediário. Apesar de gestantes, nutrizes, recém-


nascidos, lactentes e pré-escolares constituírem os grupos
O diabetes mellitus tem sido reconhecido por sua clássicos “de risco” para a hipovitaminose A, a literatura
importância epidemiológica ao lado de outras doenças aponta níveis séricos de vitamina A diminuídos em
crônicas, como as doenças cardiovasculares e câncer indivíduos portadores de doenças que envolvam a
[1], como um dos principais problemas de saúde do absorção de lipídios e também em distúrbios metabólicos,
homem na atualidade, tanto em termos do número de como doenças da glândula tireóide, do fígado, doença
pessoas afetadas, incapacitações, mortalidade prematura, renal e mais recentemente no diabetes mellitus [6-12].
como aos custos envolvidos no seu controle e no Sabe-se que a vitamina A exerce importante papel na
tratamento de suas complicações, que sobretudo manutenção da estrutura epitelial normal, onde as
comprometem a produtividade, qualidade de vida e membranas funcionam como uma verdadeira barreira
sobrevida dos indivíduos acometidos [2]. protetora contra a invasão e colonização por
Atualmente, o diabetes mellitus é considerado uma microorganismos patogênicos [7,12], atuando portanto no
síndrome, cuja forma mais prevalente é o diabetes mellitus combate às infecções, que se constituem uma das
tipo 2, que geralmente ocorre no adulto como resultado complicações freqüentemente encontradas nos diabéticos
de um déficit relativo de insulina em relação às e até mesmo encontram-se relacionadas aos aspectos
necessidades, estando freqüentemente associado ao etiológicos da doença [13,14]. Nenhuma carência
estado de insulino-resistência . nutricional apresenta maior sinergismo com doenças
Estima-se que 3 a 8% da população mundial seja infecciosas do que a hipovitaminose A [15]. Existem
portadora de diabetes mellitus e que a metade desse total evidências nos estudos em animais e humanos, que
desconheça a sua condição e, aproximadamente, um comprovam a importância da vitamina A na manutenção
quinto dos que a conhecem não realizam qualquer da imunocompetência, pois está envolvida em vários
tratamento [3,2,4]. Do total de casos encontrados, 90% mecanismos como resposta de anticorpos, células
são do tipo II, 5 a 10% do tipo I e 2% são do tipo mediadoras de citotoxicidade e produção de citoquininas,
secundário ou associado a outras síndromes [2,4]. onde todos esses processos encontram-se-ão
De um modo geral, a prevalência do diabetes mellitus prejudicados na deficiência de vitamina [16]..
vem aumentando nas últimas décadas, em quase todos Sabe-se também que os pacientes diabéticos são mais
os países. Vários fatores externos contribuem para o propensos a infecções, principalmente quando
desencadeamento da doença, como mudanças do estilo descompensados [17,18,13,19]. Atesta-se que a
de vida (sedentarismo, urbanização, modernização e hiperglicemia e a glicosúria facilitam a multiplicação de
novos hábitos alimentares) e aumento da expectativa de microorganismos e alguns trabalhos demonstraram
vida da população [2,4]. No Brasil, dados obtidos de alterações na atividade fagocitária dos neutrófilos,
inquéritos realizados em populações urbanas de 9 capitais especialmente na fase de descompensação da doença e
[2], na faixa etária de 30 a 69 anos, demonstraram uma na cetoacidose diabética [18,13]. Considera-se, portanto,
prevalência global de 7,6%, magnitude semelhante a de como de extrema relevância os estudos sobre a
países desenvolvidos. Além disso, mais da metade dos correlação entre as alterações metabólicas, complicações
diabéticos do Brasil não recebem assistência médica decorrentes e estado nutricional de vitamina A em
devido ao fato que muitos somente serão diagnosticados pacientes portadores de diabetes mellitus, como forma
quando apresentarem complicações crônicas da doença. de subsidiar a assistência aos pacientes diabéticos.
Em estudo realizado no Rio de Janeiro [1], a prevalência Com isso, o objetivo do presente estudo foi revisar os
de diabetes mellitus por idade foi de 1,7%, nos indivíduos conhecimentos disponíveis acerca da associação entre o
entre 30-39 anos, de 4,0%, entre 40-49 anos, 13,7%, entre diabetes mellitus e o estado nutricional de vitamina A,
50-59 anos e de 17,4% entre 60-69 anos. segundo os achados bibliográficos nas bases de dados
Assim como o diabetes mellitus, a hipovitaminose A, Medline e Lilacs dos últimos 15 anos.
tem sido considerada um importante problema de saúde
pública do homem atual [5], trazendo graves Diabetes mellitus e alteração no metabolismo de
repercussões para a saúde dos indivíduos afetados, vitamina A
diminuindo sua produtividade e aumentando
significativamente os gastos com o setor saúde, Estudos relacionando vitamina A e diabetes mellitus
decorrente do tratamento e das incapacitações associadas têm demonstrado níveis séricos diminuídos de retinol
às complicações [2]. [20,21,22,14,6] e de suas proteínas carreadoras [6,8,9,23],
A vitamina A participa de várias funções primordiais, RBP (Retinol Binding Protein) e TTR (transthyretin),
como na acuidade visual, proliferação e diferenciação além de estoques hepáticos elevados [22,14,24], o que
celular, atividade imunológica, ação antioxidante, além aponta para um prejuízo na mobilização deste nutriente a
de outras importantes etapas do metabolismo partir do fígado.
Silva CB et al / Diabetes Clínica 02 (2002) 123~128 125

Ratos diabéticos apresentaram níveis diminuídos de Efeitos da insulina e da suplementação com


vitamina A circulante, apesar de elevados estoques vitamina A e zinco no diabetes
hepáticos, o que também aponta para um prejuízo nos
mecanismos de transporte [5]. Basu et al. [6] relataram Relatos clássicos da literatura, ainda que em estudos
que diabéticos tipo 1 apresentavam aumento dos níveis experimentais, demonstraram uma retenção de vitamina
plasmáticos de éster de retinil e diminuição dos níveis A hepática, sendo influenciada diretamente pela insulina,
plasmáticos de retinol, assim como de RBP. Os autores causando, ainda, uma redução na mobilização hepática
sugeriram uma redução no estoque e na mobilização da desta vitamina [26,27]. Autores afirmaram também que,
vitamina A hepática, ou ainda, diminuição da conversão tanto o tipo quanto a forma de administração de insulina
de caroteno em retinol no intestino, e que sinais clínicos (tanto regular quanto periférica), aumentavam
de carotenemia e níveis séricos elevados de caroteno, significativamente a taxa de depleção de vitamina A do
comuns em pacientes diabéticos, seriam devido a uma fígado [11]. Krempf et al. [8] corroboram os achados da
possível interferência na conversão das formas pró- literatura ao relacionarem em seu trabalho a ação da
vitamínicas em retinol e, ainda, que a administração de insulina com os estoques hepáticos de vitamina A, em
insulina reduziria, não somente as reservas hepáticas, mas pacientes diabéticos tipo 1. Observaram que a insulina
a mobilização desta vitamina do fígado aos tecidos alvo. poderia reduzir não somente os estoques hepáticos, assim
Morinobu e Tamai [21] encontraram atividade como a liberação hepática da vitamina A nesses
significativamente menor da dioxigenase hepática, mas indivíduos, possivelmente, contribuindo, desta forma, para
não da intestinal, em ratos diabéticos comparados aos do baixas concentrações plasmáticas desta vitamina,
grupo controle, além de uma correlação negativa observadas no estudo. Outros autores [28,14] observaram
significativa com os níveis hepáticos de retinol, o que su- que o tratamento com insulina em ratos normalizou a
gere um distúrbio na secreção de retinol a partir do fígado disponibilidade da vitamina A, enquanto que a
e uma supressão da atividade da dioxigenase hepática, suplementação da vitamina não trouxe resultados.
provocado pelo aumento dos níveis hepáticos de retinol. A vitamina A e o zinco desempenham importantes
Níveis plasmáticos de RBP diminuídos também têm papéis na regulação da função imune. Muitos trabalhos
sido freqüentemente encontrados em pacientes diabéticos apontam prejuízos na disponibilidade metabólica tanto de
tipo 1 [6,8,9,23], o que sugere o aumento dos estoques vitamina A quanto do zinco decorrentes do diabetes
hepáticos de vitamina A, devido à diminuição da mellitus [29-32]. O zinco é importante para a síntese das
mobilização do estoque para sua circulação. Ratos com proteínas carreadoras de vitamina A interferindo nos
diabetes induzido por streptozotocina apresentaram níveis de RBP e cRBP, logo, sua deficiência pode
concentrações de RBP e TTR plasmáticas e hepáticas prejudicar o transporte desta vitamina. Níveis plasmáticos
significativamente menores, associadas a concentrações de retinol sérico diminuídos tem sido associados com
séricas de retinol diminuídas e níveis hepáticos deficiência de zinco. A suplementação de zinco com
aumentados, sugerindo que os níveis depletados de retinol vitamina A aumentou os níveis de RNA-m para RBP
sérico poderiam estar refletindo numa alteração do em ratos diabéticos, o que não ocorreu com a
metabolismo de suas proteínas transportadoras [23]. suplementação da vitamina A sozinha [31].
Porém, a verdadeira razão da diminuição das proteínas Apesar disto, outros estudos mostram que não houve
carreadoras no diabetes ainda não está bem elucidada. resposta à suplementação com zinco sozinho nem
Além de níveis diminuídos de retinol sérico e estoques combinado a vitamina A em ratos diabéticos [33]. Ratos
hepáticos aumentados, ratos diabéticos demonstraram diabéticos alimentados com dieta suplementada com
níveis diminuídos de 11-cis, retinal (componente da rodop- vitamina A sozinha ou combinada ao zinco, também não
sina) na retina, corroborando os achados a respeito do tiveram aumento dos níveis de retinol plasmático após
prejuízo no transporte de vitamina A a partir do fígado e esses tratamentos [14].
diminuição da disponibilidade metabólica da vitamina [14].
Além disso, é conhecido que o diabetes mellitus está Diabetes, vitamina A e processos metabólicos
associado ao aumento da absorção intestinal de lipídeos
[25,24]. Logo, sendo a vitamina A lipossolúvel, sua A vitamina A é estocada no fígado sob a forma de
absorção poderia estar aumentada na presença de éster de retinil, que são hidrolisados pela hidrolase de
diabetes [22]. Porém, um estudo in vitro mostrou que éster de retinil e carreada sob a forma de retinol livre,
não houve diferença na absorção de retinol a nível jejunal associada às proteínas transportadoras RBP e TTR, para
ou ileal entre animais diabéticos e os do grupo controle. os tecidos alvo.
Apesar das menores concentrações de retinol plasmático A transformação de ésteres de retinil em retinol livre
entre os diabéticos, isto não foi relacionado a nenhuma no fígado é regulada por dois mecanismos: um dependente
alteração no mecanismo de absorção intestinal desta de sais biliares (BSDREH) e um independente de sais
vitamina [24]. biliares (BSIREH). O mecanismo BSIREH está mais
126 Silva CB et al / Diabetes Clínica 02 (2002) 123~128

relacionado com a hidrólise dietética inicial, que se dá no concentrações de retinol (p = 0,05) e menor razão
intestino. Já o BSDREH possui uma atividade altamente vitamina A/colesterol (p = 0,02) frente às do grupo
específica nas células estreladas hepáticas, responsáveis controle. Além disso, foram verificadas relações entre
pelo estoque de vitamina A, logo, parecendo ser mais as variáveis retinol, RBP e indicadores aterogênicos
importante para as hidrólises posteriores ao estoque e à (RBP-LDLc c/ HDLc (p = 0,05); RBP-(VLDL + LDL)
liberação de vitamina A para os tecidos do que o c/ HDLc (p = 0,02). Crianças com HbA1c (hemoglobina
mecanismo dependente de sais biliares [34]. A estrutura glicosilada) > 8% demonstraram aumento dos indicadores
hepática e as funções biliares são freqüentemente aterogênicos e menores razões de vitamina A/colesterol
associadas ao diabetes. Ratos diabéticos possuem e vitamina A/triglicerídeos, do que as de bom controle
alterações signi-ficativas do fluxo biliar e das secreções glicêmico, o que sugere que um pobre controle glicêmico
biliares de bile, colesterol, fosfolipídeos, sódio, potássio, implica em maior risco aterogênico e de “deficiência
cloreto e bicarbonato. Logo, é possível que uma relativa” de vitamina A do que um bom controle do
modificação no metabolismo de sais biliares induzido pelo diabetes e uma suplementação desta vitamina poderia
diabetes possa estar contribuindo para um prejuízo na reduzir ou prevenir este risco aterogênico [20].
hidrólise de vitamina A [35]. Pacientes com pobre controle glicêmico possuem
Já Tuitoek et al. [24] concluiram ser improvável uma mais riscos de desenvolver doenças cardiovasculares,
diminuição da hidrólise hepática dos ésteres de retinil, já devido a prejuízos na atividade anti-oxidante [4º].
que os animais diabéticos deste estudo exibiram níveis Níveis plasmáticos das vitamina A, C, E e beta-
aumentados de retinol livre. Este aumento, acompanhado caroteno foram relacionados de forma significativa à
de níveis circulatórios diminuídos, vai de encontro aos doenças cardiovasculares [41].
achados que propõem um prejuízo na mobilização Estes dados são de grande importância, na medida
hepática de vitamina A, possivelmente devido à uma que o diabetes mellitus representa a sexta causa mais
síntese inadequada de RBP, que é freqüentemente freqüente dos diagnósticos primários de internação
observada em pacientes diabéticos [6,8,9]. hospitalar, contribuindo de forma significativa (30% a
É bem descrito na literatura que o diabetes está 50%) para outras causas como cardiopatia isquêmica,
associado ao aumento da excreção urinária de RBP insuficiência cardíaca, colecistopatias, acidente vascular
[1,29,25]. Relatos apontam para uma excreção urinária cerebral e hipertensão arterial [18]. Além disso, pacientes
de RBP aumentada em pacientes diabéticos tipo 1, e diabéticos representam cerca de 30% dos pacientes que
que não está relacionada simplesmente aos níveis de internam em Unidades Coronarianas Intensivas com dor
glicose sanguínea, mas reflexo de disfunção glomerular precordial. Logo, é de extrema relevância a elucidação
e tubular [29]. Em outro estudo, esta tendência foi vista da associação da vitamina A em outros etapas do
tanto em diabéticos tipo 1 quanto tipo 2 [36]. metabolismo sobretudo em indivíduos diabéticos.
Um estudo mediu a absorção intestinal de glicose e a Um pobre controle glicêmico pode ter como
atividade das amilases intestinal e pancreática em animais conseqüência clínica à cegueira, o que justifica o diabetes
com hipovitaminose A, diabéticos e com as duas mellitus se constituir na principal causa de retinopatias e
condições. Foi administrada uma dieta deficiente de cegueira adquirida [42]. A vitamina A exerce um papel
vitamina A aos animais, o que causou uma significativa essencial na visão, e sua deficiência também pode levar à
redução na digestão e absorção intestinal. Por outro lado, cegueira. Embora os mecanismos que levam a esta
a digestão e a absorção foram aumentadas nos diabéticos. conseqüência sejam diferentes nestas duas patologias, é
As duas condições juntas causaram diminuição destas razoável supor que uma superposição da carência de
funções absortiva e digestiva. Os achados sugeriram que vitamina A com o diabetes mellitus, possa vir a contribuir
a inibição da digestão e absorção observadas, quando para um agravamento desta complicação. Por outro lado, a
havia os estados combinados de diabetes mellitus e retinopatia, precipitada pelo diabetes, talvez possa intensificar
hipovitaminose A, possivelmente foi devida à dieta a presença da deficiência de vitamina A [22,14]. Logo, é
deficiente de vitamina A [37]. importante que o metabolismo da vitamina A seja mais bem
Alguns trabalhos também têm sugerido uma alteração esclarecido, para se obter um melhor entendimento da
na taxa de conversão de carotenóides à retinol em relação entre o diabetes e o metabolismo da vitamina A.
pacientes diabéticos [6,38]. Níveis diminuídos de retinol
sérico e níveis elevados de carotenóides foram Vitamina A e sua relação com o diabetes mellitus tipo 2
encontrados em diabéticos tipo 1 [39], tendo como A maioria dos trabalhos envolvendo diabetes mellitus
possíveis causas alterações do trato gastrointestinal e vitamina A estão relacionados ao tipo 1. Quanto ao
observadas nestes pacientes ou à alteração na conversão tipo 2, os trabalhos são mais escassos e controversos.
de carotenóides à retinol [38]. Grande parte delas aponta níveis elevados de retinol
Baena et al. [20] observaram concentrações de RBP nestes pacientes, porém outros possuem resultados
em crianças diabéticas tipo 1 maiores (p = 0,05), menores diferentes e contraditórios.
Silva CB et al / Diabetes Clínica 02 (2002) 123~128 127

Um estudo com pacientes idosos com diabetes mellitus indivíduos diabéticos com normoglicemia [53-55]. Além
tipo 2 encontrou concentrações plasmáticas signifi- disso, turnover protéico aumentado tem sido associado a
cativamente menores de retinol e carotenóides, quando pobre controle glicêmico em diabéticos tipo 2, o que explica
comparados com os de controle, e esta redução foi os altos níveis de RBP em pacientes com hiperglicemia.
independente das variáveis sexo, ingestão dietética e perfil A hiperglicemia pode estar promovendo a secreção de
lipídico [43]. Abahusain et al. [30] encontraram níveis de insulina nas células β com função parcial. A insulina
retinol normais, porém, concentrações de beta-caroteno exógena também pareceu aumentar a síntese de RBP.
significativamente menores (p = 0,02) nos diabéticos tipo A RBP foi bem menos saturada com retinol nos
2 quando comparados ao grupo controle. Também foram diabéticos tipo 2. Esperava-se RBP baixo devido à
encontradas concentrações de RBP sérica e urinária hiperzincúria, comum em diabético, e a deficiência de zinco
significativamente maiores nestes pacientes. Além disso, diminui a síntese e a liberação de RBP para a circulação.
observou-se uma correlação negativa entre glicose de jejum Concluiu-se que a hiperinsulinemia pode ser um fator de
e concentração sérica de β-caroteno [30]. Ao avaliar a proteção em termos de assegurar níveis plasmáticos de
capacidade total de anti-oxidantes plasmáticos em RBP e transporte de retinol para os tecidos alvo [46].
diabéticos tipo 2, Ceriello et al. [44] encontram níveis
significativamente reduzidos de vitamina A. Wako et al. Conclusão
[45] também encontraram níveis diminuídos de retinol em
diabéticos tipo 2, porém níveis elevados de éster de retinil, A hipovitaminose A e o diabetes mellitus figuram como
sugerindo um aumento dos estoques hepáticos de vitamina problemas de grande magnitude a nível de saúde pública,
A. Entretanto, outros estudos apontam níveis plasmáticos porém poucos estudos têm se preocupado em avaliar a
elevados de vitamina A em indivíduos com tipo 2 [46-48]. associação entre estas duas patologias. Logo, estudos
Tendo em vista que muitos pacientes diabéticos tipo 2 devem ser desenvolvidos abordando as duas situações
possuem dislipidemias associadas, outro estudo apontou conjuntamente, a fim de elucidar as interfaces entre o me-
que uma medicação para diminuir lipídeos depletaram tabolismo da vitamina A e as alterações metabólicas do
significativamente os níveis de retinol. Além disso, diabetes mellitus, e que possam subsidiar a assistência ao pa-
encontraram uma alta razão retinol/RBP, o que implica ciente diabético bem como melhorar sua qualidade de vida.
num excesso de retinol livre, possivelmente existindo em
diabéticos tipo 2 e que um metabolismo alternativo de Referências
retinol parece existir [49].
Salonen et al. [50], associou altos níveis séricos de 1. Oliveira JEP, Milech A, Franco LT. The Cooperative Group
α-tocoferol a riscos diminuídos de diabetes mellitus tipo 2. for the study of diabetes prevalence in Rio de Janeiro, Brazil.
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Outro estudo associou altas concentrações de α-tocoferol 2. Ministério da Saúde. Manual de Diabetes 1993. Brasília: MS.
e β-caroteno a um diminuição do risco de 3. Dutra de Oliveira JE, Carvalho da Cunha SF, Marchini JS. In:
desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2, apesar da A Desnutrição dos Pobres e dos Ricos. Dados sobre
associação com o β-caroteno ter sido mais fraca [51]. Alimentação no Brasil. São Paulo: Ed. Sarvier; 1996. p. 123.
4. Ministério da Saúde. Diabetes Mellitus: Guia básico para
Além disso, deve-se ressaltar que o diabetes mellitus diagnóstico e tratamento.Brasília: MS; 1996.
não controlado pode levar a uma série de patologias 5. Orchard TJ, Dorman JS, Laporte RE, Ferreu RE, Drash AL.
secundárias, como as doenças cardiovasculares [41,52], Host and environmental interactions in Diabetes mellitus. J
onde a vitamina A atua contra o processo de aterogênese, Chron Dis 1986; 39(12):979–99.
tanto como antioxidante, inibindo a oxidação do colesterol 6. Basu TK, Tze WJ, Leichter J. Serum vitamin A and retinol-
binding protein inpatients with insulin-dependent diabetes
associado a lipoproteína de baixa densidade (LDL– mellitus. Am J Clin Nutr 1989; 0:329–31.
colesterol), reduzindo assim a formação de células 7. Gerster H. Vitamin A – Functions, dietary requirements and
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integridade endotelial. 8. Krempf M, Ranganathan S, Ritz P, Morin M, Charbonnel B.
Plasma Vitamin A and E in Type 1 (Insulin – Dependent) and
Já Basualdo et al. [46] encontraram níveis elevados Type 2 (Non-Insulin-Dependent) Adult Diabetic patients.
de RBP em diabéticos tipo 2 e sugeriram que o estado Internat. J Vit Nutr Res 1991;61:38-42.
de insulino-resistência não inibe a síntese protéica 9. Martinoli L, Di Felice M, Seghieri G, Cuiti M, De Giorgio
hepática. A RBP foi encontrada em níveis elevados nos LA, Fazzini A, Gori R, Anichini R, Franconi F. Plasma retinol
diabéticos tipo 2, indicando que a insulina poderia estar and a- tocopherol concentrations in insulin-dependent diabetes
mellitus: Their relationship to microvascular complications.
exercendo um maior efeito na síntese de RBP, do que de Internat. J Vit Nutr Res 1993;63: 87–92.
albumina e TTR, já que a RBP possui uma meia-vida de 10. Ramalho RA. Análise do estado nutricional de vitamina A em
112 horas e a albumina e a TTR de 14 a 20 dias e 2 a 3 portadores de cardiopatias - Relato de casos. In: Anais do III
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Burd M, Maia MR / Diabetes Clínica 02 (2002) 129~134
Diabetes 129
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 02 (2002) 129~134

ARTIGO ORIGINAL

Grupos de sala de espera com pacientes diabéticos


Waiting room groups with diabetic patients
Miriam Burd, Márcia Rebelo Maia*

*Psicólogas, especialistas em Psicologia Médica pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Resumo
Trata-se de um trabalho realizado com 69 grupos de sala de espera no Ambulatório de Diabetes e Metabologia do Hospital Universitário Pedro
Ernesto (HUPE) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), no período de março 1997 a março 1998. Os pacientes e seus familiares
eram convidados a participar de grupos informativos e de suporte psicológico enquanto aguardavam as consultas. Participaram psicólogas,
médicos endocrinologistas, nutricionistas e enfermeiras. Os grupos eram semanais, com duração de 60 a 90 minutos e atenderam um total de 693
pacientes e seus acompanhantes, nos 12 meses de seu funcionamento. As tabelas e gráficos apontaram para o perfil das pessoas atendidas e os
assuntos mais discutidos. O grupo de sala de espera otimiza o tempo de espera pela consulta e transforma-o em espaço de reflexão sobre o
processo saúde-doença.
Palavras-chave: Diabetes mellitus, grupos, grupos de sala de espera, psicologia, equipe multidisciplinar.

Abstract
This study was done with 69 waiting-room groups at the Pedro Ernesto University Hospital (HUPE) Diabetes and Metabology Ambulatory
at Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) from March 1997 to March 1998. The patients and their families were invited to participate
in informative and support groups while they were awaiting their appointments. Psychologists, endocrinologist, nutritionists and nurses
participated. The groups got together once a week, taking from 60-90 minutes and reunited 693 people during its 12 months. The tables and
graphs showed people’s profile and the most discussed topics. The waiting-room group optimizes the waiting-time and changes it into time for
reflection about the health-illness-process.
Key-words: Diabetes mellitus, groups, waiting-room-group, psychology, multidisciplinary staff.

Artigo recebido em 30 de março de 2002; aprovado em 10 de abril de 2002.

Endereço para correspondência: Miriam Burd, Rua Bolívar, 23/501, Copacabana, 22061-020, Rio de Janeiro RJ.
Tel: (21) 22366521, E-mail: miriamburd@aol.com, Márcia Rebelo Maia, Rua Pinheiro da Cunha, 85/202,
Tijuca 20530-360, Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 22087582, E-mail: rebelomaia@domain.com.br
130 Burd M, Maia MR / Diabetes Clínica 02 (2002) 129~134

Introdução distorções e reações por parte de todos. Devemos


observar as diferentes maneiras de apresentação da
A utilização dos trabalhos com grupos, como forma comunicação, tanto as verbais, quanto as não-verbais
de incrementar e melhorar o tratamento médico, é usado (gestos, silêncios, choros, somatizações, etc).
há muito tempo na assistência aos doentes mentais e Para alguns autores, os trabalhos com grupos podem
orgânicos. ter objetivos terapêuticos ou não. Segundo Campos [6],
As pessoas, numa sala de espera, muitas vezes se os grupos terapêuticos podem ser divididos em grupos
reúnem sem que se forme um grupo. Isto se dá pelo de suporte e grupos de elaboração. Os grupos de sala de
grupamento, onde um conjunto de pessoas convive espera são grupos de suporte e têm como principal
compartilhando o mesmo espaço e guardam entre si uma finalidade o reforço ou a estruturação do self, a elevação
capacidade de inter-relacionamento e uma potencialidade da auto-estima e autoconfiança, e uma conscientização
de virem a se constituir como um grupo propriamente maior do indivíduo sobre si mesmo.
dito. Para Zimerman [1], essa passagem consiste na O suporte demanda ações atuais, intervenções
transformação de “interesses comuns” para de “interesse objetivas e resultados concretos. Se o grupo está reunido,
em comum”. como no nosso caso, em torno do diabetes, o tema central
Segundo Freud [2], o fator psicológico que une os é o diabetes e o que fazer com ele. Não se está buscando
membros de um grupo humano é a identificação, processo resolver conflitos, efetuar compreensões ou insights
psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma relacionados à vida da pessoa, mas identificar e saber
propriedade, um atributo do outro e se transforma total lidar com fatores que agem sobre aquela doença.
ou parcialmente, segundo o modelo desse outro. Esse Assim, os sintomas físicos trazidos são valorizados
momento transitório ou permanente, de grande como foco de atenção, ao contrário das intervenções
identificação dos membros de um grupo entre si, é elaborativas em que o sintoma serve de subsídio para a
chamado de coesão grupal e refere-se à ligação que os compreensão do conjunto. Os dados históricos só são
membros têm entre si e pelo próprio grupo. pertinentes se ligados à situação – foco do grupo.
Outro fator de grande importância para os grupos é o O terapeuta, num grupo de suporte, assume nitidamente
estabelecimento de vínculos entre os participantes. Para uma postura ativa, apoiando, informando, recomendando,
Pichon-Riviere [3], vínculo é uma estrutura dinâmica, em re-assegurando, expressando-se afetivamente. Busca
contínuo movimento, que engloba tanto o sujeito quanto sempre manter suas intervenções em torno da situação-
o objeto, originado pelas motivações psicológicas e que foco, na tentativa de ampliar-lhe a compreensão, através
determinam o grau de coesão dos indivíduos do grupo. de indagações ou reflexões e evita fazer interpretações.
Segundo Bion [4], o grupo possui mentalidade grupal Os grupos de elaboração têm como objetivo a
e cultura de grupo. A primeira, formada pela opinião, elaboração de conflitos, o auto-conhecimento, e a
vontade ou desejo unânimes do grupo em dado momento possibilidade de aprofundamento. Os grupos de suporte
e que o torna capaz de funcionar como uma unidade; e a têm como objetivo o fortalecimento e o reabastecimento.
segunda, uma estrutura adquirida pelo grupo e que o leva Os grupos de sala de espera são grupos terapêuticos
a realizar tarefas que se propõe e a organização adotada de suporte que, como diria Winnicott, citado por Mello
para realizá-las. Filho [7], funcionam como “espaço potencial-
Yalom [5] ressalta o poder potencial da terapia de grupo transacional”. As experiências de transicionalidade são
e diz que essas experiências são comuns, mas as de criadas entre cada paciente e o terapeuta. Essa área
coesão, que ofereçam apoio, que facilitem a auto- criada é onde vai se desenvolver a interação-terapia. Esse
reflexão, são cada vez mais raras em nossa sociedade. espaço intermedeia também a relação entre os pacientes,
Esse autor desenvolveu uma lista de 11 fatores onde se constitui numa ampla zona de troca de
terapêuticos que operam na psicoterapia de grupo. Esses informações e produções do grupo. Através das
mecanismos são fatores específicos comuns a todos os contribuições de um paciente ao processo terapêutico
grupos e que ajudam na mudança dos seus membros. de um outro, adicionando, colaborando com exemplos,
São eles: instilação de esperança, universalidade, confrontando-o, leva os membros do grupo a uma
oferecimento de informações, altruísmo, desenvolvimento “terapia-compartilhada de apoio” (holding), cria-se um
de técnicas de socialização, comportamento clima de relaxamento útil aos processos terapêuticos,
identificatório, catarse, reedição corretiva do grupo ocorre a comunicação significativa e é o terreno em
familiar, fatores existenciais, coesão grupal e comum das relações afetivas, diminuindo a distância
aprendizagem interpessoal. terapeuta-grupo.
Um fator de grande importância na dinâmica do campo Segundo Burd e Graça [8], “o grupo de sala de espera
grupal, segundo Zimerman [1], é a comunicação do grupo. é um espaço fundamental para que os diabéticos otimizem
É um bom campo de observação de como são transmitidas o tempo de espera pela consulta, transformando-o em
e recebidas as mensagens verbais, com as possíveis um espaço de reflexão sobre o processo saúde-doença”.
Burd M, Maia MR / Diabetes Clínica 02 (2002) 129~134 131

Metodologia • Continuar, em consulta-conjunta1 ou nos grupos de


elaboração, o desenvolvimento dos temas discutidos nos
1. Formação dos grupos de sala de espera grupos com os pacientes e/ou seus acompanhantes;
Esses grupos eram de curta duração (entre 60 e 90 • Indicar para o paciente e/ou acompanhante um
minutos), abrangem todas as pessoas que estejam na sala atendimento especial: individual, em grupo, de apoio
de espera do ambulatório, pois todas são convidadas a psicológico, de orientação (como as Associações de
participarem do grupo enquanto aguardam atendimento. Diabéticos) e outros.
Nem todas as pessoas aceitavam participar do grupo.
As que aceitavam, adotavam disposição circular. 3. Funcionamento dos grupos
Os grupos funcionavam sempre com duas psicólogas Os coordenadores (duas psicólogas e mais algum outro
em co-terapia [1], podendo contar com a equipe profissional da equipe) convidam os pacientes, que
multiprofissional do ambulatório, o que quase sempre aguardam atendimento, e seus familiares a participarem
acontecia. Os grupos eram semanais, heterogêneos do grupo de sala de espera. Era esclarecido que quando
quanto à idade e ao sexo, mas homogêneos quanto à chamados pela equipe (médicos, nutricionistas e
patologia (todos eram diabéticos tipo 1 ou 2 ou tinham enfermeiros) eles poderiam se retirar do grupo e
familiares diabéticos). retornariam, se assim desejassem, quando terminassem
O número de participantes era variável, pois como o a consulta. Aos que aceitassem participar era pedido que
grupo era aberto, o número de participantes mudava de ficassem dispostos em círculo.
semana para semana, mas em média participavam entre Os profissionais deste grupo se apresentavam e
10 e 12 pessoas. Quando era superior a 12, formavam- pediam que houvesse uma pequena apresentação dos
se dois grupos distintos e cada psicóloga ficava participantes do grupo (nome, a idade, se era paciente
responsável por coordenar e relatar o seu grupo. ou acompanhante e há quanto tempo era diabético - caso
A freqüência era semanal e geralmente começava às fosse paciente). Passava entre os presentes um caderno
9 horas da manhã, momento em que a maior parte dos de presença para que eles colocassem o nome, idade e o
pacientes já havia chegado para as consultas. Os que número de registro do hospital. Os profissionais
eram chamados para entrar, se retiravam do grupo e retomavam a palavra, explicavam os objetivos e que o
podiam retornar após as consultas, se assim desejassem. grupo de sala de espera era um espaço para falar sobre
Os grupos duravam entre 60 e 90 minutos, ou enquanto o diabetes e ressaltavam a forma de trabalho: pensar
havia interesse dos participantes. Nas quartas-feiras, os junto, como essencial para se vencer as dificuldades do
pacientes diabéticos tipo 1 (criança, adolescente, adulto diabetes .
jovem, gestante e acompanhantes) eram atendidos e nas A partir daí, começavam a tratar dos assuntos
segundas-feiras os tipo 2 (adultos, idosos e seus abordados espontaneamente pelos pacientes ou
acompanhantes). acompanhantes. Não se pretendia dar soluções imediatas
para os problemas trazidos, mas sim, demonstrar que a
2. Objetivos dos grupos de sala de espera eram: dificuldade de um geralmente era a de vários e reforçar
• Favorecer o holding da instituição para que os a parceria entre iguais.
pacientes se sentissem acolhidos por ela; Por sua brevidade, era necessário que os grupos
• Promover a interação entre os pacientes e a troca tivessem início, meio e fim. Desta forma, podemos concluir
de experiências, já que há pacientes em diferentes que cada grupo era único. O seu desenvolvimento e
estágios da doença crônica; composição eram singulares, pois os seus componentes,
• Diminuir a ansiedade causada pela espera da como pessoas individualizadas, eram quem determinavam
consulta; o que acontecia e como iria acontecer. O próprio grupo
• Proporcionar a verbalização de sentimentos como levantavam os assuntos que seriam abordados dentro das
angústia, raiva, impotência, etc, frente à doença crônica; suas necessidades e características.
• Estimular a troca de vivências; A técnica utilizada era o enfoque aqui-e-agora onde
• Propiciar o esclarecimento de dúvidas como dieta a experiência presente era o ponto de partida, uma vez
(quantidade, como fazer substituições), aplicação da que era comum a todos os membros do grupo. A
insulina, uso dos remédios, etc; experiência presente é direta, pessoal, imediata,
• Esclarecer para a equipe multiprofissional as compartilhada, apreciada e validada como base para
dificuldades enfrentadas pelos pacientes e, assim, orientar conceitos e conclusões pessoais a serem elaborados.
a conduta profissional; A postura da psicóloga coordenadora era ativa e
participante devido os objetivos traçados e,

1 Consulta-conjunta: Termo criado por Júlio de Mello Filho para designar o atendimento ao paciente, ao mesmo tempo, do médico e do profissional psi.
132 Burd M, Maia MR / Diabetes Clínica 02 (2002) 129~134

principalmente, pela brevidade do grupo. A linguagem A tabela a seguir corresponde aos assuntos discutidos,
utilizada era a mais próxima possível dos participantes e a quantidade de vezes que foram discutidos nos grupos e
não havia o caráter sigiloso dos assuntos tratados, pelo a sua porcentagem. A população deste grupo era
fato dos grupos serem realizados sem privacidade na sala composta por pacientes DM1 (crianças, adolescentes,
de espera, num espaço aberto e onde várias pessoas gestantes e adultos jovens), seus acompanhantes e alguns
estavam circulando. pacientes DM2 (embora este não fosse o dia, quarta-
feira, de suas consultas, sempre havia algum paciente
Resultados que buscava atendimento extra).

As estatísticas apresentadas são relativas aos grupos


realizados entre março 1997 e março 1998. Tabela II
Nos 30 grupos realizados com pacientes diabéticos tipo Sentimentos negativos em relação à doença 1 1%
1, realizados às quartas-feiras, foram atendidos 176 Postura ativa frente ao tratamento 2 1%
pacientes; Os 39 grupos realizados com diabéticos tipo 2 Dúvidas sobre os sintomas 3 2%
foram realizados às segundas-feiras e foram atendidos 310 Alteração da vida normal 3 2%
Criança diabética 4 3%
pacientes. No total, foram realizados 69 grupos onde também Adulto diabético 4 3%
foram atendidos 187 acompanhantes, que poderiam ser Hereditariedade 4 3%
familiares ou não, totalizando 673 pessoas atendidas em 12 Importância de tentar ter uma vida normal 4 3%
meses de trabalho. Esses dados foram registrados num livro Tempo de espera 4 3%
especial, que era passado entre as pessoas que estavam Fantasias de cura 4 3%
Aspectos institucionais 4 3%
nos grupos, e uma das psicólogas relatava o grupo, de forma Importância do apoio familiar 6 4%
mais fiel possível, como observadora. Esses papéis eram Diabetes gestacional (expectativa da remissão,
alternados, e combinados previamente. medo de dano ao bebê) 8 5%
Esses dados, quantitativos e qualitativos, foram trans- Adolescente diabético (rebeldia ao tratamento,
relação mãe-filho) 10 7%
formados em duas tabelas (tabela I e tabela II), e dois Aspectos emocionais 16 11%
gráficos em barras (gráfico 1 e gráfico 2). Esses instru- Complicações 18 12%
mentos serão utilizados para a discussão e conclusões. Dieta 24 16%
A tabela a seguir corresponde aos assuntos discutidos, Tratamento 27 18%
a quantidade de vezes que foram discutidos nos grupos e
a sua porcentagem. A população deste grupo era É importante observar o grande número de pessoas
composta por pacientes DM 2 (adultos e idosos) e seus atendidas (693) em 12 meses de trabalho. Durante este
acompanhantes. tempo ocorreram algumas repetições de freqüências
individuais aos grupos (145), quando os pacientes tiveram
Tabela I a oportunidade de participar mais de uma vez e, assim,
sedimentar esta forma de atendimento psicológico e de
Aumento da incidência do diabetes 2 1% orientação no ambulatório.
Aumento do número de informações na mídia 2 1%
Informações corretas 2 1% O fenômeno do “repetido comparecimento” ao grupo
Apoio familiar 2 1% demonstra a aprovação dos pacientes por este
Confiança em si mesmo 3 1% procedimento terapêutico e , ao mesmo tempo, o interesse
Diferenças pessoais 3 1% em participar.
Importância dos grupos de suporte 3 1% O gráfico 1 mostra a percentagem desta distribuição.
Sintomas 4 2%
Aspectos da doença 4 2% Assim, percebemos que DM2 corresponde a 47% da
Comportamentos saudáveis 6 3% população atendida, DM1 27%, os acompanhantes 15 %
Importância de se adotar postura ativa no tratamento 6 3% e os que não declararam 11%. É importante salientar que
Problemas institucionais (férias da equipe, cerca de 90% dos diabéticos pertencem ao tipo 2 [12].
troca de residentes, confiança no hospital) 6 3%
Tempo de Espera (insatisfação, preocupação) 6 3%
Algumas observações merecem considerações com
Importância da troca de experiências e/ou informações 7 3% relação aos assuntos discutidos nos grupos (tabelas I e II).
Hereditariedade 8 3,5% Foram discutidos mais assuntos nos grupos de DM2,
Preconceito com a doença 10 4,5% basicamente por dois motivos: o primeiro é que há um
Fatores emocionais 11 5% maior número de pacientes DM2 que DM1, como
Sentimentos quanto à doença 13 6%
Diagnóstico 15 7%
podemos observar nos gráficos; e, segundo, que foram
Insulina (dúvidas, fantasias, etc) 21 10% realizados mais grupos com DM2.
Complicações 24 11% Alguns assuntos foram específicos de cada grupo,
Dieta 29 13% como, por exemplo, o grupo de DM1 que discutiu assuntos
Tratamento 31 14% com crianças diabéticas, adolescentes diabéticos e
Burd M, Maia MR / Diabetes Clínica 02 (2002) 129~134 133

diabetes gestacional. Os grupos de


DM2 também tiveram temas
específicos como o medo de vir a tomar
insulina, a fantasia de que ela vicia, de
que é o último passo do diabetes (eles
fantasiam que quando começam a
tomar a insulina à morte está próxima).
Estes tipos de temores não são
encontrados nos pacientes DM1,
provavelmente, por todos iniciarem o
tratamento com a insulina.
Alguns assuntos foram discutidos
nos dois grupos e merecem a nossa
atenção como: o tempo de espera,
aspectos institucionais, dieta e
tratamento.
Os aspectos institucionais (férias da
equipe, troca dos residentes, confiança
na instituição) surgem nos grupos à
medida que eles acontecem. Apesar
de todos saberem da troca dos
134 Burd M, Maia MR / Diabetes Clínica 02 (2002) 129~134

médicos, por se tratar de um hospital escola, sempre há espaço são faladas, pelo clima de descontração, por
o “luto” pela perda deste médico e pela expectativa de confiança nos terapeutas e pelas propriedades das
como será o próximo. intervenções. Segundo Maia [9], “os pacientes se
Nos grupos com pacientes DM2 os temas mais despertam para a percepção da doença e descobrem
discutidos foram: Insulina (10%), complicações (11%), suas feridas narcísicas com a mesma”.
dieta (13%) e tratamento (14%). Percebemos que todos
estes assuntos, na verdade, são referentes ao tratamento Referências
do diabetes, e, se somados, totalizam 48% dos assuntos
discutidos. 1. Zimerman DE. Fundamentos Teóricos. In: Zimerman DE,
Nos grupos com pacientes DM1 os temas mais Osório LC et al. Como Trabalhamos com Grupos. Porto
Alegre: Artes Médicas;1997. p.23-31.
discutidos foram: Complicações (12%), dieta (16%) e 2. Freud S. Psicologia de Grupo e Análise do Ego (1921). Obras
tratamento (18%), que também são divisões do Completas. Edição Standard, Vol. XVII, Rio de Janeiro: Imago;
tratamento, e juntos totalizam 46% dos assuntos 1987. p.89-169.
discutidos. 3. Pichon-Riviere E. O Processo Grupal. São Paulo: Martins
A diferença entre os dois tipos de tratamento é Fontes;1982.
4. Bion WP. Experiências com Grupos: Os Fundamentos da
insignificante e demonstra que o tratamento é uma Psicoterapia de Grupo. Rio de Janeiro: Imago; 1970. p.185.
questão muito importante para o paciente diabético e que 5. Yalon ID. Vinogradov S. Manual de Psicoterapia de Grupo.
nunca está totalmente discutido, explicado ou assumido. Porto Alegre: Artes Médicas;1992. p.16-39.
Devendo, então, à equipe estar atenta a esta fonte de 6. Campos EP. Grupos de Suporte. In. Mello Filho J et.al.,
conhecimento da população atendida para melhor assistir Grupo e Corpo: Psicoterapia com Pacientes Somáticos. Porto
Alegre: Artes Médicas Sul; 2000. p.117-130.
às suas demandas. 7. Mello Filho J. O Ser e o Viver: uma visão da obra de
Winnicott. Porto Alegre: Artes Médicas; 1989. p.270.
Conclusões 8. Burd M. Graça L. As Abordagens Grupais no Diabetes. In.
Mello Filho, J. Grupo e Corpo: Psicoterapia com Pacientes
Os grupos de sala de espera são realizados num espaço Somáticos. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. p. 213-232.
9. Maia MR. Grupos de Sala de Espera Com Pacientes
de tempo percebido pelos pacientes como perdido e num Diabéticos. Monografia de Conclusão de Curso de
espaço físico não adequado a grupos. Mas é neste Especialização em Psicologia Médica pela Faculdade de
ambiente, aparentemente desfavorável, que as Ciências Médicas da Universidade do Rio de Janeiro RJ,
transferências são mais positivas propiciando o holding 1999.(Footnotes)
ao paciente e seus familiares (pela equipe e pela
instituição); diminuem a angústia pela espera e incentivam
a reflexão crítica sobre sua relação com o diabetes.
Após esta exposição podemos afirmar que o grupo de
sala de espera trata-se de um tipo de atendimento eficaz,
na media em que, de acordo com os seus objetivos,
sensibilizam e despertam os pacientes para os aspectos
psicológicos que envolvem o seu adoecimento, além de
atingir um grande número de pessoas.
A maior dificuldade no trabalho com grupos de sala
de espera é o caráter inesperado de cada grupo, por ser
realizado em um espaço aberto, sem privacidade, com
características informais e que a todo o momento estão
sujeitos a interrupções. Contudo, cabe ressaltar, que estas
características é que conferem ao grupo de sala de
espera o seu caráter singular.
O fato dos grupos não terem o caráter sigiloso é uma
das vantagens deste tipo de grupo, pois, assim, os
coordenadores podem dar continuidade, de forma eficaz
e específica às demandas iniciadas no grupo.
Concluindo, os grupos de sala de espera, que
aparentemente são vistos como de apoio e superficiais,
são grupos terapêuticos de grande importância que podem
nos mostrar que refletindo sobre a doença, e os vários
aspectos do tratamento e pela catarse, os pacientes dizem
coisas que dificilmente seriam expressas, mas que naquele
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Diabetes 135
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 02 (2002) 135~138

ATUALIZAÇÃO

Por que um consenso internacional sobre Pé Diabético ?


Hermelinda Cordeiro Pedrosa

Professora do Curso de Medicina – Escola Superior em Ciências da Saúde (Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde – Distrito
Federal), Grupo de Trabalho Internacional sobre Pé Diabético, (Representante no Brasil), Consultora do Ministério da Saúde, (Plano de
Reorganização da Assistência ao Diabetes e Hipertensão Arterial)

Introdução partes do mundo [7], porém, as diferenças no seu


manuseio, ditadas por influências meramente culturais e
sem bases científicas, maior ou menor disponibilidade de
O Diabetes Mellitus (DM) assumiu proporções recursos, falta de conhecimento ou informação adequada
epidêmicas, graças a sua ocorrência global, estimando- dos profissionais de saúde, além de não aplicação de
se em 300 milhões de pacientes diabéticos em 2025 [1]. educação terapêutica aos pacientes, traduzem as
Em nosso país, as estimativas são de aproximadamente diferenças ou inexistência de dados de ocorrência das
12 milhões de pessoas no mesmo período. Dentre as úlceras e amputações [8].
complicações crônicas da doença, o Pé Diabético Essa diversidade de condutas e de especialidades
constitui um quadro devastador e mutilante em envolvidas com os cuidados com o Pé Diabético resultou
decorrência das complicações das ulcerações: infecção em vários documentos terapêuticos em diversos países.
e amputação. O impacto do problema atinge o indivíduo, No entanto, carecem de uma visão consensual
a família e também o sistema de saúde, pelo significativo internacional. Nem sempre são construídos com base
custo requerido para o tratamento das úlceras nos pés e em evidências, ou não apresentam enfoque específico
das amputações, que pode atingir 5 milhões de dólares aos gestores de saúde [9]. Nesse aspecto, é fundamental
anuais [2, 3]. o repasse de dados epidemiológicos, destacando a
Diante da complexidade dos mecanismos envolvidos, morbidade da complicação [10], e econômicos [11], para
é crucial e obrigatória uma abordagem multidisciplinar, a promover sensibilização dos gestores ao problema e
ser efetuada em uma estrutura com uma boa organização assegurar a provisão de recursos necessários [9], como
básica, voltada principalmente para o seguimento no longo se verifica na tabela I. Depreende-se daí, a necessidade
prazo e educação continuada desses pacientes [4]. Tais de um documento aglutinador que possa influenciar, ou
aspectos têm demonstrado redução de 50% nas até mesmo iniciar, a condução de diretrizes com vistas à
amputações, concorrendo também para reduzir os custos abordagem uniforme, a política preventiva e organização
do sistema [5, 6]. de serviços interdisciplinares especializados (em nível
Evidentemente que, além do enfoque multiprofissional, terciário), atrelados àqueles de menor complexidade (em
faz-se necessário uniformizar as condutas. Os caminhos nível primário) configurando a tão necessária, posto que
que conduzem à ulceração são os mesmos em várias eficaz, referência e contra referência.

Endereço para correspondência: Profa Dr a Hermelinda Cordeiro Pedrosa, CIEPE


Centro de Investigação do Pé, SHLS 716 Centro Clínico Sul Torre II Salas 315/317/318 Asa Sul
Brasília – DF, Tel/Fax: (61) 345-5534, E- mail: pedrosahc@aol.com
136 Pedrosa HC / Diabetes Clínica 02 (2002) 135~138

Tabela I – O impacto econômico do Pé Diabético Holanda, que contou com a participação de representantes
de organizações internacionais. Várias revisões pelo
Custos: úlcera e amputação Seguimento
corpo editorial foram efetuadas, após discussão e análises
Primária* = US$ 7.000,00 Nível menor = US$ 43.000,00** do GTIPD para a confecção da versão final, a qual foi
Úlcera com amputação = US$ 24.000,00 selada após aprovação escrita por todos os membros do
Duração da hospitalização: Grupo de Trabalho.
30-40 dias1, 60-90 dias2 Nível maior = US$ 63.000**
Há três textos, com destinações aos gestores de saúde,
* sem evolução para amputação; ** dados da Suécia;
1 – média mundial, 2 – média no Centro de Pé Diabético do DF aos profissionais de saúde em geral e aos especialistas
Pé Diabético: um desafio para os gestores de sistemas
O documento intitulado Consenso Internacional sobre de saúde, Consenso Internacional sobre a Abordagem e
Pé Diabético apresenta-se, portanto, como uma proposta a Prevenção do Pé Diabético, As Diretrizes Práticas na
aglutinadora, que foi desenhada em 1996, na Inglaterra, Abordagem e Prevenção do Pé Diabético. O Consenso
após a Conferência de Malvern e desenvolvida por 45 contém 15 seções, inclusive um capítulo especial sobre
especialistas independentes (médicos generalistas, visão regional, contemplado com informações da Índia,
diabetologistas, enfermeiros, podiatras, quiropodistas, Brasil [12,13], Austrália e África do Sul. Vale salientar
ortopedistas, cirurgiões gerais e vasculares, representando que, a pedido do corpo editorial, uma das lâminas do
todos os continentes), que formaram o denominado Grupo Álbum Seriado “Vamos Pegar no Pé” [14] foi colocada
Internacional de Trabalho sobre Pé Diabético (GTIPD). em destaque, como exemplo de orientações de cuidados
O principal objetivo do trabalho elaborado pelo GTIPD é com os pés para os pacientes diabéticos. Evidentemente
a provisão de diretrizes para a abordagem e a prevenção que o conteúdo e as recomendações devem ser adequados
que reduzirão o impacto da doença do Pé Diabético, por e implementados segundo a realidade local. Para a
meio do cuidado da saúde com qualidade, levando-se em tradução brasileira, algumas particularidades foram
consideração os custos e os princípios da medicina, detalhadas em notas de rodapé, particularmente naquelas
baseada em evidência e com o aval de especialistas, com contingências destinadas especificamente a podiatras e
referência às estratégias de diagnóstico, terapia e ou quiropodistas, uma vez que não se dispõe desses
prevenção. As principais razões para a confecção de profissionais especializados em nosso país [15].
documento internacional estão listadas no quadro 1.
Apoio de organizações internacionais e nacionais à
Quadro 1 – Razões para um documento consensual sobre Pé implementação
Diabético
• Diferentes estratégias entre países e em um mesmo país Entidades como a Federação Internacional de Diabetes
• Padrão uniforme de tratamento inexistente (International Diabetes Federation – IDF), e
• Documentos disponíveis: conteúdo inconsistente e não Organização Mundial de Saúde (World Health
representativo
• Ausência de diretrizes destinadas aos gestores de saúde Organization – WHO), estão dando suporte à
implementação das Diretrizes Práticas, além da
O processo consensual Associação Americana de Diabetes (ADA – American
Diabetes Association) e Associação Européia para o
As informações utilizadas para a confecção do Estudo do Diabetes (EASD – European Association
documento resultam de um amplo trabalho de pesquisa, for the Study of Diabetes), constituindo um importante
baseado em evidências e opiniões de renomados e valioso endosso institucional e científico para a
especialistas independentes, de diferentes áreas e com implementação das Diretrizes Práticas, visando o
vasta experiência nos cuidados com pacientes com diagnóstico precoce dos pacientes em maior risco de
problemas nos pés. As bases dos textos estão ulceração, tratamento adequado e prevenção.
apresentadas no quadro 2. Em nosso país, a Sociedade Brasileira de Diabetes
(SBD), a Área Técnica de Diabetes e Hipertensão
Quadro 2 – Base do processo consensual Arterial do Ministério da Saúde, e a Coordenação do
• Análises de Cochrane Projeto Salvando o Pé Diabético da Secretaria de Estado
• Pesquisa da literatura de Saúde do Distrito Federal constituem o tripé básico
• Documentos consensuais preexistentes para a distribuição, divulgação e implementação dessas
• Opinião de especialistas ações. A Organização Panamericana de Saúde (OPAS)
e a Federação Nacional de Associações de Diabéticos
Houve, inicialmente, seleção de tópicos, objetivos e (FENAD) também fazem parte desse conjunto de
capítulos de especialistas que constituíram os textos instituições cujo respaldo é fundamental para o alcance
primários, seguindo-se uma revisão do corpo editorial e das metas.
uma análise crítica completa do GTIPD em reunião na
Pedrosa HC / Diabetes Clínica 02 (2002) 135~138 137

Processo consensual no Brasil: tradução Divulgação e implementação da versão brasileira


e publicação
O lançamento da versão brasileira (fig. 1) ocorreu
As principais tarefas dos membros representantes nos durante o XIII o Congresso Brasileiro de Diabetes,
países, que foram naturalmente os componentes do realizado em outubro de 2001, no Rio de Janeiro, graças
GITPD, foram as de: 1) Comunicar e apresentar o ao apoio da presidente do evento, Dra Marília de Brito
documento às instituições gestoras e científicas nacionais, Gomes, e da Comissão Organizadora composta pelos Drs
2) Obter recursos para a tradução no respectivo idioma, Adolpho Milech, José Egídio, Leão Zagury, Ingeborg
permitindo-se modificações para melhor adaptação à Laun, Isaac Benchimol, Neuza Braga Campos de Araújo
realidade local, sobretudo com base nas diferenças e Rogério Oliveira. À sessão solene compareceram o
culturais e sócio-econômicas, 3) Divulgar o documento, Prof. Nicholaas Schaper (Holanda), secretário científico
4) Implementar as Diretrizes Práticas (DP) nos serviços e membro do corpo editorial, as Dras Adriana Costa e
existentes e estimular a criação de novos, se possível já Forti e Marília de Brito Gomes, além dos Drs Domingos
com base nas DP. Malerbi e Ethel Spiechler. Na ocasião, o Prof Schaper
Os trabalhos para a execução dessas tarefas foram fez as considerações sobre a importância da solenidade
iniciados em junho de 1999, com a distribuição de e relatou todo o processo consensual até a publicação
exemplares na língua inglesa à Dra Laurenice Pereira Lima em 1999, em seu país. O primeiro exemplar foi entregue,
(Área Técnica de Diabetes), Sociedade Brasileira de especialmente, à Dra Laurenice Pereira Lima
Diabetes (Drs Jorge Luiz Gross, Adriana Costa e Forti, (representada por Maria Irene Magalhães, vice-
Antonio Roberto Chacra), Secretaria de Estado de Saúde presidente da FENAD para o Distrito Federal). A
do Distrito Federal (Drs José Nobre Formiga e Ana Cristina jornalista Cristina Dissat (SBD - Informed) e a Dra Júnia
Madeira, Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular (Drs Cordeiro, receberam exemplares representando o apoio
Cícero Lopes, Nelson de Luccia). Os trabalhos de da imprensa na divulgação cientifica e a primeira equipe
divulgação foram deflagrados com a publicação de matéria treinada pelo Projeto Salvando o Pé Diabético (em 1993),
no Jornal da SBD (1999), a pedido do Dr. Gross, seguindo- respectivamente. Atualmente, o processo de distribuição,
se Simpósio e Conferência durante o XII Congresso gratuito, está em andamento sob a coordenação da equipe
Brasileiro de Diabetes em Aracaju com a participação do Projeto Salvando o Pé Diabético e apoio da Área
dos Drs Andrew Boulton (UK) e Lawrence Harkless Técnica do Ministério da Saúde (DF). A divulgação para
(USA), graças ao importante apoio dos Drs Thomaz Cruz o envio de exemplares tem sido conduzida via o Jornal
e Raimundo Sotero. Workshops e apresentações foram da SBD, solicitando-se também o cadastramento para o
realizados em várias cidades (Brasília, São Paulo, Goiânia, Registro Nacional de Ambulatórios de Pé Diabético (fig.
Recife, Florianopólis) segundo o formato iniciado em 1992, 1). Exemplares do Consenso já foram enviados às
pelo Projeto Salvando o Pé Diabético do Distrito Federal sociedades científicas (SBEM-DF, SBEM-nacional,
[12]. Alguns países da América Latina receberam SBD, Vascular Periférica, Cirurgia do Pé), FENAD e
exemplares, durante o Congressos da IDF no México todas as Associações de Diabéticos do Brasil, OPAS.
(Argentina, Colombia, Uruguai, Paraguai, Peru, Venezuela),
Fig. 1 – Registro Nacional – Ambulatórios de Pé Diabético
a pedido do Corpo Editorial, com uma divulgação através
de folders, feita gentilmente pelo staff da Servier.
O trabalho de tradução integral do texto consensual ficou
ao encargo da tradutora e professora Ana Claudia Andrade,
enquanto a das DR, a revisão técnica e direção de
publicação com esta representante. A revisão linguística
foi efetuada pela professora Juliana Campos de Andrade,
mestranda da Universidade de Brasília. A revisão de
editoração e impressão foi realizada por Roberto Astorino,
com os trabalhos gráficos sob responsabilidade da
Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. A
catalogação na fonte foi feita pela bibliotecária Luciana
Cerqueira Brito, da Editora do Ministério da Saúde, cuja
equipe é comandada por Williams dos Santos Ferreira,
contando com o apoio irrestrito de Nelson Jorge Monalar.
Os recursos para a obra foram provenientes do convênio
1038/99, celebrado entre o Ministério da Saúde e a SES/ O cadastramento favorecerá o Registro Nacional e auxiliará a
DF, destacando-se a intervenção da Dra Laurenice Pereira conhecer os serviços implementados, em implantação, e onde há
necessidade de implantar, para auxiliar a implementação das
Lima e Celi Rodrigues Marques, respectivamente. Diretrizes Práticas no Brasil.
138 Pedrosa HC / Diabetes Clínica 02 (2002) 135~138

Figura 2 – Mapa de Ambulatórios de Pé Diabético (1992/2000) parecem não estar atrelados à busca da reabilitação [16].
Desse modo, amplia-se o trabalho iniciado pelo Projeto
Salvando o Pé Diabético [17], cujo trabalho de sensibilização
facilitará o alcance do grande desafio: levar a todos os
lugares do nosso país, um melhor conhecimento para a
abordagem do Pé Diabético. O desafio de salvar, cada
vez mais, pés de pacientes diabéticos de desfechos
mutilantes e devastadores, está, portanto, lançado.

Referências

1. King H, Aubert RE, Herman WH. Global burden of diabetes


1995-2025: prevalence, numerical estimates and projection.
Diabetes Care 1998;21:1414-1431
2. Ramsey SD, Newton K, Blough D, et al. Incidence, outcomes
and costs of foot ulcers in patients with diabetes. Diabetes
Care 1999;22-382-387
O processo de sensibilização do Projeto Salvando o Pé Diabético 3. Apelqvist J. Wound healing in diabetes:outcome and costs.
foi iniciado em 1992. Desde aquele período, vários ambulatórios Clin Podiatr Med Surg 1998;15-21-40
de Pé Diabético têm sido registrados,: 28 implementados, 7 em 4. Malone JM, Snyder M, Anderson G, Bernhard VM,
implementação. Holloway GA, Brent TJ. Prevention of amputation by
(Fonte: Área Técnica em Diabetes – Ministério da Saúde, 2000) diabetes education. Am J Surg 1989;158:520-523
5. Edmonds ME, Blundell MP, Morris ME, Thomas EM, Cotton
A recomendação expressa do GTIPD é proceder uma LT, Watkins PJ. Improved sruvival of the diabetic foot: the role
a distribuição seletiva, destinada prioritariamente aos of a specialised foot clinic. Q J Med 1986;60-763-71
6 Apelqvist J, Larsson J, Ragnarson Tennvall G, Persson V. Long
profissionais que implantaram ou estão implantando term costs of foot ulcers in diabetic patients in a multi-
serviços/ambulatórios de Pé Diabético, que serão disciplinary setting – na economic analysis of primary healing
oportunamente convidados a coordenar o processo em and healing with amputation. J Int Med 1994;235-463-471
seus estados/cidades, visando a coleta de dados e 7. Boulton AJM. The pathogenesis of diabetic foot problems: an
supervisão dos trabalhos de implementação das DP. Desse overview. Diabetic Med 1996;13 (suppl 1):S12-S16
8. Boulton AJM. The diabetic foot: a global view. Diabetes
modo, vislumbra-se uma ampliação do mapa de Pé Metab Res Rew 2000;16 (Suppl 1):S2-S5
Diabético no Brasil, cujo panorama, se deve, em parte ao 9. Apelqvist J, Bakker K, van Houtum WH, Nabuurs-Franssen
trabalho de sensibilização e treinamento conduzido pela MH, Shaper NC, on behalf of the International Working Group
equipe de Brasília (fig. 2), com o apoio do Ministério da on the Diabetic Foot. International Consensus and Practical
Saúde, OPAS e SBD, e consultoria do Dr Andrew Boulton. Guidelines on the management and prevention of the diabetic
foot. Diabetes Metab Res Ver 2000;16 (Suppl 1):S84-S92
10. Reiber G, Lipsky BA, Gibbons GN. The burden of the
Conclusão diabetic foot ulcer. Am J Surg 1998; (Suppl 2A):5-10
11. Curriel CJ. Morgan CL, Peters RS. The epidemiology and cost
O Consenso Internacional sobre Pé Diabético é o of inpatient care for peripheral vascular disease, infection,
resultado de um extenso trabalho de pesquisa, conduzido neuropathy and ulceration in Diabetes. Diabetes Care
a partir de dados baseados em evidências científicas. A 1998;21:42-45
12. Pedrosa HC, Nery ES, Sena FV, Novaes C, et al. O desafio do
confecção de um documento, sobre qualquer tema, projeto salvando o pé diabético. Boletim Centro BD 1998;4
mesmo quando elaborado mediante discussões e (19):1-10
levantamentos detalhados, nem sempre atinge total 13. Pedrosa HC, Novaes C, Sena FV, Silva F, Nery ES, Boulton
unanimidade. No entanto, empresta visibilidade, promove AJM, The educational impact of save the diabetic foot project
reuniões para discussões técnicas e científicas, endossa in Brazil – Proceedings of the International Symposium on the
Diabetic Foot, Noordwijkerhout, the Netherlands, 1999
iniciativas para criação de serviços, e auxilia a uniformizar 14. Pedrosa HC, Lima LP, et al. Álbum Seriado Vamos Pegar no
condutas. Embora seja sabido que alguns pontos, ainda, Pé – Publicação do Ministério da Saúde (isbn 85 334-0122 –1)
careçam de concordância, porque não estão totalmente 15. Grupo de Trabalho Internacional sobre Pé Diabético.
esclarecidos, o documento nos chega com uma aura de Consenso Internacional sobre Pé Diabético e Diretrizes
respeito, pela seriedade com que foi conduzido. Em nível Práticas. Versão brasileira. Publicação sob direção de Pedrosa
HC, Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, 2001
nacional, representa um trabalho onde o esforço para 16. Spiechler ERS, Spiechler D, Martins CSF, Franco LJ, Forti
suplantar as conhecidas dificuldades foi, antes de tudo, AC, et al. Diabetic lower extremity amputation in Rio de
impulsionado pelo entusiasmo que sempre está a mover Janeiro. Diabetologia 1998; 41:A279 (abstract)
as utopias dos que trabalham com diabetes. 17. Pedrosa HC, Macedo G, Ribeiro J. Abordagem clínica e
Os pacientes diabéticos brasileiros estão sendo ampu- terapêutica do Pé Diabético. Em: Vilar L (ed). Endocrinologia
Clínica 2a edição. Rio de Janeiro: MEDSI; 2001. 671-685.
tados sem avaliação adequada, em níveis cirúrgicos que
Aranda CMSS et al / Diabetes Clínica 02 (2002) 139~142
Diabetes 139
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 02 (2002) 139~142

ATUALIZAÇÃO

Campanha de vacinação do idoso contra gripe e pneumococo e


envolvimento dos profissionais da saúde
Clélia Maria S. de S. Aranda*, Mírian M. de Moura**, Rodrigo G. dos Reis***, Glaucia N. R. Vespa****
*Diretora Técnica da Divisão de Imunização do Centro de Vigilância Epidemiológica, Secretaria de Estado da Saúde, São Paulo,
**Superintendente do Fomento de Educação Sanitária e Imunização em Massa contra Doenças Transmissíveis (Fesima), Secretaria de Estado
da Saúde, São Paulo, ***Gerente de Produtos Linha Adulto da Aventis Pasteur, ****Diretora do Departamento Médico da Aventis Pasteur

Introdução Estudos realizados nos EUA, por exemplo, mostram


que a cobertura vacinal contra gripe entre portadores de
Recentemente foi realizada pela Secretaria de Estado diabetes é de apenas 40% e contra o pneumococo,
da Saúde de São Paulo uma pesquisas envolvendo 603 somente 21% [3]. Em função da necessidade e da
entrevistas representativas de todo estado, entre pessoas importância da imunização desses pacientes e dessa
com 61 anos ou mais. Foram 292 entrevistas na Grande baixa cobertura vacinal, o governo dos EUA realiza
São Paulo e 311 no interior do estado. A pesquisa ocorreu anualmente campanhas de prevenção e conscientização
entre os dias 15 e 22 de fevereiro de 2001 e a margem dos diabéticos a respeito da necessidade da vacinação
de erro dos resultados é de 4 pontos percentuais. A partir contra influenza e contra o pneumococo, entre outros
desses dados é possível extrair informações relevantes cuidados com a saúde [4].
que mostram os motivos de adesão e não-adesão à Outro estudo realizado na região norte do Reino Unido
Campanha, o perfil dos idosos do Estado de São Paulo, a indica cobertura de 35% para as vacinas contra gripe e
freqüência estimada de doenças de base, a pneumocócica, e revela a importância da indicação
conscientização da população em relação à importância médica para a vacinação (a maioria de portadores de
de tomar a vacina, entre outras informações. diabetes que foram vacinados recebeu esta
É importante lembrar as recomendações para a recomendação de seu clínico geral: 90% para a vacina
vacinação contra a gripe e contra o pneumococo [1,2]: contra gripe e 87% para a vacina pneumocócica) [5].
• Contra a gripe (influenza) devem ser vacinados: Os dados desta pesquisa brasileira precisam ser
diabéticos, pneumopatas, cardiopatas, renais crônicos, explorados para a conscientização tanto dos pacientes,
gestantes a partir do 2º trimestre de gravidez, indivíduos quanto da classe de profissionais da saúde envolvidos
maiores de 60 anos de idade, profissionais da saúde e com os cuidados aos portadores de diabetes de modo a
outras pessoas que possuam alguma outra condição de aumentar a porcentagem de pessoas vacinadas.
saúde que aumente o risco de complicações em
decorrência da gripe. Objetivos
• Contra o pneumococo devem receber a vacina: diabé-
ticos, asplênicos, pneumopatas, cardiopatas, portadores de • Valorizar a opinião dos cidadãos maiores de 60 anos,
HIV e maiores de 60 anos de idade, entre outros indivíduos. participantes ou não da campanha de vacinação.
Em função do risco de complicações e óbito em • Conhecer o perfil das pessoas que aderiram à
decorrência de infecções como a gripe e infecções campanha de vacinação em 2000, para melhor
pneumocócicas, é necessário atingir altas taxas de entendimento dos fatores de risco que afetam a
cobertura vacinal entre os portadores de fatores de risco, população maior de 60 anos de idade, como o diabetes.
como é o caso dos pacientes com diabetes. • Investigar os motivos de adesão e não-adesão e
140 Aranda CMSS et al / Diabetes Clínica 02 (2002) 139~142

realizar ações para aumentar a cobertura vacinal entre que este índice seja insatisfatório, principalmente devido
os indivíduos de maior risco. à falta de informação e de incentivo à vacinação.
• Verificar a intenção de adesão da campanha de 2001.
Adesão à Campanha – Vacinação Pneumocócica
Resultados
A adesão à vacinação pneumocócica durante a
Perfil do Idoso Campanha de 2000 mostra índices de apenas 11% na
população maior de 60 anos de idade.
Segundo os dados desta pesquisa, 55% do total de Considerando os indivíduos com fatores de risco, para
entrevistados avaliam que sua saúde é boa, sendo que os quais a vacina é distribuída nos postos de saúde, não só
63% costuma freqüentar serviço médico regularmente. durante a Campanha de Vacinação do Idoso, mas ao longo
14% dos entrevistados referem ser portadores de de todo o ano, o índice de adesão chegou a apenas 27%.
diabetes. Considerando que a incidência de diabetes tende Dentre os diabéticos, a cobertura atingiu 32%; entre
a aumentar com a idade, este dado condiz com a realidade cardiopatas, 27% e entre pneumopatas, 32%.
brasileira, onde se estima que em média 10% da população Outro dado importante revelado por esta pesquisa é
geral seja portadora da patologia. É importante ressaltar que apenas 29% dos idosos com fatores de risco, para
que muitas vezes considera-se que, para cada caso de os quais a vacinação está disponível gratuitamente nos
diabetes diagnosticado, há ainda um caso sem diagnóstico, postos de saúde, sabem disso. Isso indica um grande
o que eleva a estimativa de portadores a índices trabalho a ser realizado pelos profissionais de saúde, a
significativos. fim de aumentar a cobertura vacinal contra o pneumo-
Entre os demais fatores de risco, como cardiopatias e coco, incentivando seus pacientes a receberem a vacina.
pneumopatias, a pesquisa indicou uma referência dentre
os entrevistados de 26% e 9% respectivamente. Motivos para adesão
Considerando os 3 fatores de risco (diabetes,
cardiopatias e pneumopatias), chega-se a 49% dos Um dos dados mais relevantes nesta pesquisa foi o
maiores de 60 anos com pelo menos 1 fator de risco. fator que motivou o idoso a receber a vacinação,
especialmente levando em consideração que a vacina
Adesão à Campanha – Vacinação contra a Gripe era oferecida gratuitamente, e todos apresentavam
indicação precisa para vacinação contra gripe, em função
Segundo esta pesquisa, 64% dos idosos aderiram à da idade e ainda quase metade apresentava outro fator
Campanha de 2000, sendo este índice de 70% entre os de risco, como doença crônica. Segundo a pesquisa, 14%
maiores de 70 anos e de 52% entre os indivíduos de 61 a dos idosos apresentavam diabetes, 26% problemas
65 anos. É importante ressaltar que a taxa total de adesão cardíacos e 9% problemas pulmonares.
calculada pela pesquisa (64%) é idêntica ao dado Ainda assim, entre os que aderiram, os 3 principais
administrativo da Secretaria de Estado da Saúde de São incentivadores foram TV (32%); iniciativa própria (31%) e
Paulo, o que comprova a representatividade da amostra incentivo dos familiares (20%), que somados correspondem
e a fidedignidade dos dados. a 83% do total. A indicação dos médicos foi responsável
Os índices gerais da Campanha de Vacinação do por apenas 12%, enquanto o incentivo dos postos de saúde,
Idoso são considerados muito bons, sendo a Campanha somente 2%. Esses dados são ilustrados na fig. 1.
de Vacinação contra Gripe do Brasil uma das maiores 63% dos idosos vão regularmente ao médico e a posição
do gênero em todo o mundo. do profissional, neste caso, foi de não tocar no assunto (45%),
Uma informação importante e ao mesmo tempo recomendar a vacinação (14%), insistir na recomendação
alarmante é que o fato de ter plano de saúde ou visitar (2%) e desaconselhar a administração da vacina (1%).
regularmente o médico não influenciou este índice. Especificamente junto ao grupo de portadores de
Considerando as Campanhas de 1999 e 2000, observa- diabetes, a pesquisa revela que 85% vai regularmente
se que, entre a totalidade das pessoas com mais de 60 ao médico, e 61% dos médicos que atendem aos
anos, 44% aderiu a ambas as campanhas, 20% são novos portadores de diabetes não tocou no assunto, 17%
adeptos, 30% são resistentes e 6% abandonaram a recomendou a vacinação contra a gripe, 4% dos médicos
Campanha. Portanto, o total de adesão é de 64% da insistiu e 3% desaconselhou (fig. 2).
população com mais de 60 anos. Esses dados indicam a necessidade de trabalhar o
Entre o grupo de portadores de diabetes, o grau de conceito de vacinação contra gripe entre os médicos e
adesão à vacinação contra gripe foi de 69%, o que deve demais profissionais da saúde. Constata-se que a maior
ser considerado alto. Por outro lado, não há estimativa parte do público-alvo da pesquisa vai regularmente ao
da adesão à vacinação entre indivíduos com diabetes médico, e essas pessoas são mais susceptíveis às doenças
menores de 60 anos de idade. Apesar disso, imagina-se de base (diabetes, hipertensão, enfisema, problemas
Aranda CMSS et al / Diabetes Clínica 02 (2002) 139~142 141

Fig. 1- Principais motivos que incentivaram a adesão à (84% no grupo de diabéticos). Em linhas gerais, 92% dos
Campanha de vacinação do Idoso 2000. entrevistados consideram que o efeito da vacina contra a
gripe foi positivo. Destes, 58% consideram efeito positivo
porque não tiveram gripe, 14% porque não tiveram reação
e 12% acham que o organismo ficou mais resistente.
Com relação ao perfil de tolerabilidade da vacina, 90%
não relataram reações à vacina, os 10% que apontaram
reações logo após a vacinação indicaram, principalmente,
dor no corpo e braço dolorido. Os índices de reações
adversas conferem com os obtidos em trabalhos nacionais
e internacionais, e confirmam o excelente perfil de
segurança da vacina contra gripe[1,2,7,8].
É interessante notar, que 39% declaram que tiveram
“gripe” após a vacinação. Esse dado merece uma
avaliação, pois aqui se percebe que, de maneira geral, a
população não distingue gripe e resfriado. Caracterizada
por sintomas como febre, calafrios, tosse, espirros, dores
cardíacos, etc.) e as mais indicadas para tomar a vacina. de cabeça e dores no corpo, a gripe tem início súbito e se
Além disso, os benefícios da vacinação contra a gripe e propaga com rapidez, ameaçando o bem-estar da pessoa
da vacinação pneumocócica são consagrados na acometida. Diferentemente do resfriado, que também
literatura científica mundial e a própria OMS recomenda, apresenta sintomas respiratórios, porém de forma mais
expressamente, essas vacinas para pessoas acima de 60 branda e de curta duração, a gripe traz conseqüências
anos, como modo de preservar a qualidade de vida[1,2,6]. clínicas danosas ao organismo e interfere diretamente
É necessária conscientização para gerar uma mudança na rotina de vida das pessoas.
de atitude, a fim de assegurar a redução da morbi- Entre os relatos dos sintomas de gripe são apontados
mortalidade associada a doenças que podem ser um grande número de sintomas inespecíficos, sendo os
efetivamente prevenidas pela imunização. mais mencionados tosse, coriza e dores de cabeça. Isso
demonstra que a população em geral costuma generalizar
Efeitos da vacinação e denominar “gripe” qualquer tipo de manifestação, seja
ela de origem alérgica, viral ou até mesmo o quadro
Segundo os resultados obtidos, a população está prodrômico de uma infecção bacteriana. Apenas cerca
convencida da importância da vacinação contra gripe. de 7% reportaram febre, a principal característica da
Dentre os entrevistados, 95% dizem que o governo deve gripe e apenas 1-2% apresentaram febre e mais um
continuar a fazer a campanha de vacinação contra a gripe, sintoma como mialgia e/ou prostração. Portanto, avalia-
87% tem a informação de que a gripe pode ser uma doença se que a pessoa vacinada relaciona qualquer problema
grave em idosos, mesmo índice do que o do grupo de do trato respiratório com a gripe, o que não é correto
diabéticos, e 74% acreditam que a vacina evitará a doença uma vez que a gripe é devida única e exclusivamente à
infecção pelo vírus influenza e a vacina estimula uma
Fig. 2 - Comportamento dos médicos que atendem a resposta imune especifica contra este agente.
portadores de diabetes – apenas 17% indicou a vacinação
contra gripe.
Aproveitando as oportunidades para vacinação

Oferecer também a vacina dupla adulto (dT) durante


a realização da Campanha de Vacinação do Idoso é uma
estratégia bem sucedida e extremamente adequada. Essa
medida mostrou-se essencial para a redução de casos
dessas duas doenças na população. Dados do Centro de
Vigilância Epidemiológica de São Paulo indicam que o
número de casos de tétano entre os indivíduos maiores
de 60 anos foi reduzido de 50 casos no ano de 1995, para
apenas 10 casos no ano de 2000, graças aos esforços de
vacinação durante essas Campanhas. Isso mostra mais
uma vez que todas as oportunidades de vacinação devem
ser devidamente aproveitadas, com o objetivo de controlar
e reduzir a incidência das doenças.
142 Aranda CMSS et al / Diabetes Clínica 02 (2002) 139~142

Lembrando mais uma vez que o portador de diabetes Ações dirigidas aos profissionais da saúde são
é um indivíduo que apresenta maior risco de complicações necessárias, para garantir a manutenção das altas taxas
em decorrência de infecções, é necessário o incentivo de cobertura vacinal que o Brasil vem observando em
para a devida manutenção do calendário de vacinação, suas Campanhas de Vacinação dos Idosos nos últimos
com a aplicação dos reforços periódicos das vacinas, anos, e para a redução ainda maior da morbi-mortalidade
como é o caso das vacinas contra tétano e contra difteria. associada a infecções por agentes como o vírus influenza
e o pneumococo.
Ações realizadas para a Campanha de 2001 Quando comparadas a dados internacionais de países
desenvolvidos, as coberturas vacinais brasileiras contra
Os resultados dessa pesquisa de opinião foram gripe e contra o pneumococo entre os indivíduos maiores
apresentados aos Coordenadores da Campanha de de 60 anos podem ser consideradas satisfatórias [3,5].
Vacinação no Estado de São Paulo e foram levados em No entanto, ainda há muito trabalho a ser desenvolvido
consideração para a organização da Campanha do ano para que portadores de fatores de risco, como é o caso
2001, sendo duas as principais ações realizadas: de pessoas com diabetes, estejam devidamente imuniza-
• Conscientização dos provedores de saúde em relação dos e mantenham-se protegidos para evitar complicações,
à importância da vacinação para a população maior de reduzir o risco de óbito e melhorar a qualidade de vida.
60 anos de idade; Por exemplo, os dados do Reino Unido sobre fatores
• Informação, por meio da mídia (televisão, rádio e que incentivam a vacinação de diabéticos mostram que
mídia impressa) e de apresentações a respeito dos 90% dos pacientes buscaram a vacinação contra gripe,
benefícios proporcionados pela vacinação e dos possíveis em função da indicação do clínico geral [5]. Em contraste,
eventos adversos associados à vacina. no Brasil, 61% dos médicos que atendem a portadores de
A Campanha de 2001, originalmente programada para diabetes não tocou no assunto da imunização; apenas 17%
ocorrer entre 23 de abril e 4 de maio, foi estendida até o recomendou a vacinação e ainda 3% a desaconselharam.
dia 18 de maio em diversos municípios. Como resultado Não apenas os médicos, mas todos os profissionais
dessa Campanha, foram vacinados 2.241.059 indivíduos envolvidos com o tratamento e o acompanhamento de
maiores de 60 anos no Estado de São Paulo, o que portadores de diabetes, e mesmo os familiares, devem
corresponde a uma cobertura vacinal de 74,4%. 478 estar devidamente informados sobre as atuais
cidades ultrapassaram a cobertura de 70%. recomendações para vacinação. É imprescindível que o
O aumento do número total de doses aplicadas e da profissional da saúde assuma seu papel de educador e
cobertura vacinal atingida, ficou evidente nas 24 regiões exerça sua principal vocação que é preservar vidas,
do Estado, e também aumentou o número de municípios indicando as vacinas e incentivando seus pacientes a
com cobertura vacinal acima de 70%. manterem-se devidamente imunizados.
No Brasil, mais de 10,7 milhões de pessoas acima de
60 anos de idade foram vacinadas no ano de 2001, o que Referências
corresponde a uma cobertura vacinal de 82,1%.
1. CDC. Prevention and Control of Influenza: recommendations
Conclusões of the Advisory Committee on Immunization Practices
(ACIP). MMWR 2001; 50(RR-4).
2. CDC. Prevention of Pneumococcal Disease: recommendations
Os dados apresentados por essa pesquisa são muito of the Advisory Committee on Immunization Practices
importantes para o entendimento dos fatores que afetam (ACIP). MMWR 1997; 46(RR-8).
a Campanha de Vacinação dos Idosos, para a 3. CDC. Influenza and Pneumococcal Vaccination Rates Among
identificação do perfil do público-alvo da Campanha e Persons with Diabetes Mellitus – United States, 1997.
MMWR 1999; 48(42):961-7.
para o conhecimento da opinião da população a respeito 4. CDC. Diabetes Projects. Diabetes and Flu/Pneumococal
dessa importante iniciativa de saúde pública. Campaign. Diabetes Public Health Resource 2001. http://
Com base nas informações aqui reveladas, é possível www.cdc.gov/diabetes/projects/aboutcampaign.htm
identificar as reais necessidades de informação tanto por 5. Wahid ST, et al. Audit of influenza and pneumococcal
parte da classe médica quanto por parte da população, vaccination uptake in diabetic patients attending secondary
care in the Northern Region. Diabet. Med. 2001; 18:599-603.
além da realização de ações que visem à conscientização 6. World Health Organization (WHO). Weekly epidemiological
sobre a importância da vacinação contra gripe e record 2002; 35(75): 281-8.
antipneumocócica, além do aumento da cobertura vacinal 7. Toniolo-Neto et al. Safety of Simultaneous Pneumococcal and
contra essas enfermidades. Influenza Vaccination in Elderly Patients in Brazil. Drugs and
A maior conscientização da sociedade e também da Aging 1999; 15(Suppl1):43-45.
8. Spila-Alegiani, et al. Reactogenicity in the elderly of nine
classe médica sobre a importância da prevenção, commercial influenza vaccines: results from the Italian SVEVA
possibilita uma mudança de atitude a fim de garantir a study. Vaccine 1999; 17:1898-1904.
melhoria da qualidade de vida da população.
Atualização / Diabetes Clínica 02 (2002) 143~146
Diabetes 143
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 02 (2002) 143~146

ATUALIZAÇÃO

American Diabetes Association Ano 2002


Implicações do United Kingdom Prospective Diabetes Study - UKPDS

Nas últimas 3 décadas um número substancial de estudos plasmática em jejum de ~30 mg/dl (1,7 mmol/l). Uma
experimentais e estudos clínicos correlacionaram importante preocupação emanando do UGDP foi a
diretamente a hiperglicemia com o desenvolvimento de observação que o composto de sulfoniluréia (tolbutamida)
complicações diabéticas [1]. Alguns destes estudos e biguanida (fenformina), usado para reduzir a
também demonstraram que o tratamento que diminui a hiperglicemia, foi associado com a mortalidade
glicose sangüínea reduz o risco de retinopatia, nefropatia, cardiovascular aumentada. Persisti desde a publicação dos
e neuropatia diabéticas. São notáveis os resultados do dados do UGDP em 1970, que a suspeita de redução da
DCCT (Diabetes Control and Complications Trial) [2] glicose com agentes orais em pacientes com diabetes tipo
e a pesquisa semelhante porém menor, Stockholm 2 pode ser na verdade, ser prejudicial. O segundo estudo
Diabetes Intervention Study [3]. Estes estudos [5], controle no diabetes tipo 2 é conduzido em 110
mostraram que a redução da glicose sangüínea retarda o indivíduos japoneses magros e mostrou que injeções
início e lentifica a progressão das complicações múltiplas de insulina proporciona melhor controle glicêmico
microvasculares do diabetes tipo 1. As reduções de risco (HbA1c = 7,1%), em comparação com tratamento
para vários resultados variaram de 35 a 75%. Análises convencional (HbA1c = 9,4%), e reduz significativamente
secundárias nestes estudos mostraram fortes relações entre as complicações microvasculares do diabetes. A extensão
os riscos de desenvolver complicações e a exposição da redução de risco neste estudo japonês foi semelhante
glicêmica ao longo do tempo. Mais ainda, não havia um àquela do DCCT, sustentando assim a hipótese de que o
limiar de glicose discernível, i.e., havia uma redução controle glicêmico é importante em ambos os tipos de
contínua nas complicações quando os níveis glicêmicos se diabetes. O terceiro estudo no diabetes tipo 2 foi um estudo
aproximavam do limite normal. O controle glicêmico piloto que randomizou 153 homens para tratamento
melhorado foi também associado com a redução de eventos intensivo ou convencional [6]. Este estudo foi maior e mais
cardíacos no DCCT, mas a diferença não foi longo já relaizado em pacientes com diabetes tipo 2 [7-
estatisticamente significativa. Talvez, isto tenha ocorrido 10]. O UKPDS (United Kingdom Prospective Diabetes
porque a população estudada era de adultos jovens e por Study) recrutou 5102 pacientes com diagnóstico recente
isso o índice de eventos era muito baixo. Vários dos estudos de diabetes tipo 2 em 23 centros na Inglaterra, entre 1977
observacionais também apoiam uma correlação entre e 1991. Os pacientes foram acompanhados por uma média
controle glicêmico e complicações diabéticas nos pacientes de 10 anos para determinar: 1) Se o uso intensivo do
com diabetes tipo 2, mas até agora, houve apenas 3 estudos tratamento farmacológico para reduzir os níveis de glicose
controlados randomizados tentando testar o benefício da sangüínea resultaria em benefícios clínicos (i.e.,
redução da glicose sangüínea na incidência de complicações cardiovasculares e microvasculares
complicações. O primeiro destes estudos foi o UGDP reduzidas) e 2) Se o uso das várias sulfoniluréias, da
(University Group Diabetes Program), que não mostrou biguanida metformina, ou da insulina têm vantagens ou
benefício do controle glicêmico em pacientes diabéticos desvantagens terapêuticas específicas. Além disso, os
tipo 2 de início recente [4]. Porém, no UGDP, havia pacientes com diabetes tipo 2, que também eram
somente 200 indivíduos em cada grupo de tratamento, hipertensos, foram randomizados para controle da pressão
HbA1c não estava disponível como um método confiável arterial “estrito” ou “menos estrita”, para averiguar os bene-
para medição de glicemia crônica, e a diferença no controle fícios da redução da pressão arterial e para verificar se o uso
glicêmico entre o grupo mais intensivamente tratado e os do inibidor da ECA (captopril) ou β-bloqueador (atenolol)
outros grupos de tratamento foi somente o de glicose oferece vantagens ou desvantagens terapêuticas particulares.
144 Atualização / Diabetes Clínica 02 (2002) 143~146

Perguntas e respostas ambos os estudos, o tratamento intensivo para alcançar


a glicemia próxima do normal com qualquer esquema,
1 - Como foi conduzido o UKPDS? foi comparado com o tratamento convencional.

O esquema do UKPDS foi explícito e direcionado por 2 - Com o que contribuiu o UKPDS para nosso
protocolos pré-específicados com randomização entendimento da biologia das complicações
apropriada dos pacientes. Os testes clínicos e de diabéticas?
laboratório foram realizados por metodologias aceitas, e
todos os eventos de avaliação foram documentados Os resultados do UKPDS confirmam e prolongam a
satisfatoriamente. O grande número de pacientes e sua evidência anterior, sustentando a hipótese de que a
heterogeneidade demonstraram que os resultados se hiperglicemia e suas seqüelas são causas importantes
aplicariam à população americana de homens e mulheres nas complicações microvasculares do diabetes. O
com diabetes tipo 2. O UKPDS foi originalmente gradiente de risco no UKPDS para eventos micro-
esquematizado como um estudo clínico randomizado vasculares tardios foi semelhante ao visto no DCCT para
diretamente comparando os efeitos de um “programa de eventos micro-vasculares precoces. Isto indica que a
tratamento intensivo” com quatro monoterapias presença da hiperglicemia é um estado tóxico, ocorra
farmacológicas, versus um grupo de dieta controle, nas ele cedo ou tarde na vida, independente da causa
complicações cardiovasculares e microvasculares do subjacente. O UKPDS também demonstrou através de
diabetes tipo 2. As três principais monoterapias originais análise epidemiológica, que os eventos cardiovasculares
para a quais todos os pacientes foram randomizados foram consistentemente associados com hiperglicemia
foram clorpropamida, gliburida e insulina. No subgrupo de forma semelhante à relação entre as complicações
de indivíduos acima do peso, a metformina como microvasculares e hiperglicemia. Apesar disso, o UKPDS
monoterapia foi comparada com o grupo controle e com não provou definitivamente que o tratamento intensivo,
os outros três agentes farmacológicos. A primeira e que diminuiu os níveis de glicose sangüínea reduza o risco
principal questão do estudo foi se a redução da glicose de complicações cardiovasculares, em comparação com
sangüínea seria benéfica. Portanto, o objetivo do o tratamento convencional. Assim, o papel da
tratamento em todos os grupos de farmacoterapia hiperglicemia nas complicações cardiovasculares ainda
intensiva foi um nível de glicose plasmática em jejum não está claro.
(GPJ) < 6,0 mmol/l (108 mg/dl), e o objetivo do tratamento
no grupo controle dieta convencional foi um nível de FPG 3 - Qual o nível de controle da glicose e da
<15 mmol/l (270 mg/dl). Porém, tornou-se aparente que pressão arterial que os resultados do UKPDS
nenhuma das monoterapias farmacológicas foi capaz de sugerem que deva ser atingido nos pacientes
manter o objetivo do tratamento intensivo, e por isso a com diabetes tipo 2?
separação glicêmica adequada do grupo controle pode
estar comprometida. Assim, a combinação de tratamento Os níveis medianos de HbA1c alcançados tanto no
foi usada, misturando insulina e metformina com grupo tratado convencionalmente (7,9%) como no grupo
sulfoniluréias, com o cruzamento de pacientes em grupos tratado intensivamente (7,0%) são mais baixos do que a
de tratamento farmacológicos alternados. A principal atual mediana de HbA1c nos pacientes diabéticos tipo 2
comparação final de “intenção de tratamento” foi entre nos EUA (~8,5-9,0). Estas diferenças refletem o fato
tratamento intensivo, que agora incluiu todos os pacientes que os pacientes foram incluídos no UKPDS na ocasião
originalmente designados para insulina e sulfoniluréias, e do diagnóstico, enquanto que os níveis de HbA1c
o tratamento convencional, que incluiu todos os pacientes usualmente encontrados na população geral refletem o
originalmente randomizados para tratamento com dieta. diabetes de duração variável. Uma redução significativa
Deve ser também observado que o grupo dieta poderia nas complicações foi alcançada com tratamento intensivo,
igualmente não ser mantido puro. Quando os pacientes que diminuiu os níveis de HbA1c para uma média de
deste grupo excediam um nível GPJ de 15 mmol/l (270 7,0% em 10 anos, quando comparada com tratamento
mg/dl), eram também tratados com os mesmos agentes convencional que alcançou HbA1c médio de 7,9%. Além
farmacológicos usados nos outros grupos. Basicamente, disso, nas análises epidemiológicas, não houve evidência
80% dos pacientes no grupo dieta necessitaram um ou de qualquer limiar glicêmico acima de um nível de HbA1c
mais dos mesmos agentes farmacológicos, para o qual normal de 6,2%. Portanto, os resultados do UKPDS
este grupo serviria de controle. Assim, todos os efeitos indicam que o tratamento do diabetes tipo 2 inclua
de cada grupo de tratamento farmacológico foram esforços agressivos para diminuir os níveis de glicose
confundidos por cruzamento, tornando difícil discernir para o mais próximo do normal. Os resultados do estudo
efeitos de medicamentos específicos. A principal análise da pressão arterial no UKPDS também indicam que o
do UKPDS é idêntica à análise realizada no DCCT. Em tratamento agressivo, mesmo da hipertensão leve a
Atualização / Diabetes Clínica 02 (2002) 143~146 145

moderada, é benéfico. A pressão arterial deve ser mantida intensivo com metformina, tiveram redução de risco de
abaixo de 130/85 mmHg. eventos combinados de avaliação relacionados com
diabetes, óbitos relacionados com diabetes, óbitos de todas
4 - Quais são os riscos de um controle agressivo as causas, e infarto do miocárdio em comparação com
da glicose ou da pressão arterial? os pacientes tratados convencionalmente. Estes riscos
foram significativamente reduzidos em aproximadamente
No UKPDS, nos níveis glicêmicos alcançados, uma um terço (P < 0,0023-0,017). O benefício sobre a doença
pequena fração de pacientes tiveram um episódio maior cardiovascular está em contraste com a insuficiência do
de hipoglicemia independentemente do tratamento tratamento de insulina ou sulfoniluréias, em reduzir
farmacológico usado, e um paciente faleceu de eventos cardiovasculares quando comparado com
hipoglicemia entre os 27.000 pacientes-anos de tratamento pacientes obesos tratados convencionalmente. Esta
intensivo. Assim, o risco de hipoglicemia não deve diferença entre os medicamentos pode possivelmente
desencorajar o objetivo de alcançar níveis de HbA1c relacionar- se com a ausência de ganho de peso com
próximas do normal. O estudo UGDP levantou metformina e/ou algum efeito benéfico da metformina
preocupações de que o tratamento com sulfoniluréias na síndrome de resistência à insulina. Surpreen-
pode aumentar a ocorrência de eventos cardiovasculares dentemente, nenhuma diminuição significativa nas
ou óbito. Porém, o UKPDS não encontrou aumento nos complicações microvasculares foi observada com
índices de infarto do miocárdio ou óbitos relacionados tratamento intensivo com metformina ou com tratamento
com diabetes, quando os participantes tratados intensivo insulina/sulfoniluréia combinadas nos indivíduos
intensivamente com sulfoniluréias foram comparados com obesos. Esta inconsistência, ao lado dos cruzamentos de
aqueles tratados convencionalmente. Alguns, mas não medicamentos entre os grupos de tratamento e dos
todos os estudos observacionais anteriores sugeriram que números menores de pacientes nos subgrupos, cria
os níveis de insulina no plasma podem estar associados incerteza com relação ao efeito benéfico como um todo
com risco aumentado de doença cardiovascular. Porém, da metformina nos pacientes obesos. Mais tarde no
o UKPDS não mostrou aumento nos eventos estudo, 537 pacientes obesos e com peso normal
cardiovasculares ou na mortalidade em pacientes originalmente distribuídos para o tratamento com
designados para o tratamento com insulina. sulfoniluréia, que não conseguiram manter a glicose
sangüínea na faixa de objetivo designado, foram
5 - Que diferenças foram observadas entre as distribuídos aleatoriamente para continuar o tratamento
várias formas de tratamento intensivo? com sulfoniluréia isolada ou associada à metformina.
Neste sub-estudo, uma análise de intenção de tratamento
No estudo principal, não houve diferenças mostrou que o grupo alocado para tratamento com
significativas com relação a complicações diabéticas ou metformina/sulfoniluréia combinados, teve um aumento
eventos cardiovasculares adversos entre os tratamentos de 96% nos óbitos relacionados com diabetes (P < 0,039)
com insulina e com sulfoniluréias. O valor desta conclusão e um aumento de 60% nos óbitos por todas as causas (P
é de alguma forma atenuado pela freqüência com que os <0,041), em comparação com os pacientes distribuídos
cruzamentos e adições de medicamentos ocorreram, com para continuar as doses máximas das sulfoniluréias
o propósito de alcançar os objetivos de controle da glicose isoladamente. Porém, para manter o nível FPG < 15
sangüínea. Nenhum aumento de eventos cardiovasculares mmol/l (270 mg/dl) e os pacientes assintomáticos, a
ou óbito foi observado com insulina ou sulfoniluréias - metformina foi administrada em 25% dos pacientes
apesar do fato de que ambos os agentes induziram maior inicialmente randomizados para receber apenas
ganho de peso e maiores níveis de insulina no plasma do sulfoniluréia. Adicionalmente, a falta de um controle com
que no grupo convencional. Esta observação fornece uma placebo e a impossibilidade de empregar esquema cego
reafirmação adicional de que a insulina não pode ser neste sub-estudo também põem em dúvida a avaliação
considerada culpada pelos eventos ateroscleróticos e que destes efeitos prejudiciais.
as sulfoniluréias não podem ser responsabilizadas por
toxicidade cardiovascular letal. 7 - Quais foram os efeitos no controle da pressão
arterial?
6 - Quais foram o papel e o resultado do
tratamento com metformina no UKPDS? “O controle estrito da pressão arterial”, como
alcançado no UKPDS, reduziu significativamente os
O esquema UKPDS inicial incluiu o tratamento de riscos de todos os eventos cardiovasculares e
pacientes obesos com metformina, assim como com microvasculares, com reduções de risco variando de 24
outros tratamentos intensivos e tratamento convencional. a 56%. Uma redução de 21% observada no infarto do
Os pacientes inicialmente distribuídos para o tratamento miocárdio não foi significativa (P = 0,13). O tipo e número
146 Atualização / Diabetes Clínica 02 (2002) 143~146

de efeitos adversos visto com “controle de pressão 9 - Os resultados do UKPDS são alcançáveis para
arterial rígido” (média 144/82 mmHg) ou “controle de a maioria dos pacientes com diabetes?
pressão arterial menos rígido” (média 154/87 mmHg) não
foram diferentes daqueles geralmente relatados na Na teoria e na prática a resposta é sim. Apesar do
literatura. O UKPDS também comparou o tratamento UKPDS ter sido um ensaio clínico, os pacientes foram
antihipertensivo com um inibidor da ECA com β- incluídos e tratados em uma ampla variedade de clínicas da
bloqueador. Ambos os medicamentos foram quase igual- comunidade. Os profissionais conduziram o estudo,
mente eficazes na redução da pressão arterial, se bem direcionando o tratamento para o diabetes, mas o programa
que os pacientes com b-bloqueadores tiveram um controle não foi extraordinariamente sofisticado. Os pacientes
da pressão arterial um pouco melhor (uma melhora de 1 incluídos no UKPDS iniciaram com um nível de HbA1c de
mmHg sistólica e 2 mmHg diastólica). Nenhum 9,1%. O grupo de tratamento convencional alcançou em 10
medicamento foi superior ao outro em qualquer evento anos um nível de HbA1c de 7,9%, e o grupo tratado
medido, incluindo óbitos relacionados com o diabetes, intensivamente com agentes redutores da glicose alcançaram
infarto do miocárdio, e todos os critérios de avaliação um nível de HbA1c de 7,0%. Talvez a parte mais importante
microvasculares. Também não houve diferenças que levou ao sucesso terapêutico foi a persistência.
significativas na microalbuminúria ou proteinúria. Porém,
por causa da baixa prevalência de nefropatia na população Referências
estudada, não está claro se houve eventos suficientes
para observar um efeito preventivo de qualquer dos 1- Genuth S. A case for blood glucose control, Adv Int Med
medicamentos na progressão da nefropatia. Concluímos 40:573-623, 1995.
2- Diabetes Control and Complications Trial Research Group.The
que ambos os medicamentos usados para reduzir a effects of intensive treatment of diabetes on the development
hipertensão são igualmente eficazes e seguros, e and progression of long-term complications in insulin-
ambos podem ser usados com grande benefício para dependent diabetes mellitus, N Engl J Med, 329:977-986,
tratar hipertensão não complicada em pacientes com 1993.
diabetes tipo 2. 3- Reichard P, Nillsson BY, Rosenqvist V. The effect of long-term
intensified insulin treatment on the development of
microvascular complications of diabetes mellitus, N Engl J
8 - O controle rigoroso é contra-indicado em Med 329:304-309, 1993.
qualquer grupo de pacientes diabéticos tipo 2? 4- University Group Diabetes Program. A study of the effects of
hypoglycemic agents on vascular complications in patients
Os pacientes com diabetes tipo 2 são geralmente with adult-onset diabetes, Diabetes 19 (suppl 2):747-830,
1970.
diagnosticados na idade quando aumenta a probabilidade 5- Ohkubo Y, Kishikawa H, Araki E, Miyata T, Isami S,
de ter condições de comorbidade. Comorbidades Motoyoshi S, Kojima Y, Furuyoshi N, Shishiri M. Intensive
concorrentes tais como hipertensão e dislipidemia, podem insulin therapy prevents the progression of diabetes
levar os pacientes e médicos a enfatizar o tratamento de microvascular complications in Japanese patients with non-
um problema com relação ao outro. Na maioria dos casos, insulin- dependent diabetes mellitus: a randomized
prospective 6-year study, Diabetes Res Clin Pract 28:103-
porém, isto pode não ocorrer. Os resultados do UKPDS 117, 1995.
pelo menos sustentam a premissa de que atenção igual 6- Abraira C, Colwell J, Nuttal F, Sawin CT, Henderson W,
para diabetes e hipertensão pode ser conseguida. Comstock JP, Emanuele NV, Levin SR, Pacold I, Lee HS.
Pacientes diabéticos tipo 2 mais idosos têm expectativa Cardiovascular events and correlates in the Veterans Affairs
de vida mais curta a partir do diagnóstico do diabetes, Diabetes Feasibility Trial: Veterans Affairs Cooperative Study
on Glycemic Control and Complications in Type II Diabetes,
em virtude de suas idades e do risco ou presença de Arch Intern Med 157:181-188, 1997.
doença cardiovascular. Assim, os benefícios do controle 7- UK Prospective Diabetes Study Group. Intensive blood-
glicêmico que são percebidos com o tempo, podem ser pressure control with sulphonylureas or insulin compared
contrabalançados por ocorrência mais precoce de with conventional treatment and risk of complications in
eventos adversos de outras doenças. Mas considerando patients with type 2 diabetes (UKPDS 33), Lancet 352:837-
853, 1998.
que os pacientes no UKPDS entraram no estudo com 8- UK Prospective Diabetes Study Group. Effect of intensive
uma idade equivalente à média de idade do diagnóstico blood-glucose control with metformin on complications in
nos EUA, o tratamento vigoroso para prevenir as overweight patients with type 2 diabetes (UKPDS 34),
complicações do diabetes a partir do diagnóstico é Lancet 352:854-865, 1998.
claramente garantido pelos resultados do UKPDS. Além 9- UK Prospective Diabetes Study Group. Tight blood pressure
control and risk of macrovascular and microvascular
disso, o UKPDS confirmou que uma proporção complications in type 2 diabetes (UKPDS 38), BMJ 317:703-
substancial de pacientes recém-diagnosticados (~50%), 713, 1998.
já tiveram alguma evidência precoce de complicações 10- UK Prospective Diabetes Study Group. Efficacy of atenolol
diabéticas, e esse achado justifica um ímpeto ainda maior and captopril in reducing risk of both macrovascular and
para uma intervenção agressiva. microvascular complications in type 2 diabetes (UKPDS 39),
BMJ 317:713-720, 1998.
FICHA PRÁTICA
Diabetes Clínica 12
Rastreamento e identificação do Pé Diabético

A partir desse número, uma série de adendos adaptados do Consenso Internacional sobre Pé
Diabético e do Projeto Salvando o Pé Diabético, estarão disponibilizados para o uso profissional
dos leitores de Diabetes Clínica. Essa iniciativa coaduna-se com a proposta de divulgar estratégias
que possam contribuir para o rastreamento, avaliação, tratamento e prevenção do Pé Diabético
em nosso país. Os três temas destacados são: fatores de risco para a identificação do paciente em
maior risco de ulceração, a ficha de rastreamento, classificação e freqüência de seguimento segundo
o risco detectado (Prof. Dra. Hermelinda Pedrosa).

Identificação do paciente de alto risco*


1. Amputação e úlceras prévias
2. Falta de contato social
3. Educação terapêutica precária
4. Sensação protetora plantar alterada (monofilamento 10g)
5. Sensação vibratória alterada
6. Reflexo do tendão de Aquiles alterado
7. Calos
8. Deformidades nos pés
9. Calçados inadequados
10. Ausência/diminuição de pulsação nos pés
* Fatores de risco, em ordem de importância, que podem ser facil-
mente detectados através da história clínica e exame do paciente.

Screening do pé em risco
o Deformidade / proeminência óssea
o Úlcera
o Neuropatia
- Insensibilidade ao monofilamento Qualquer item presente:
- Insensibilidade ao diapasão
- Insensibilidade ao chumaço de algodão
o Pressão anormal, calo √ indica pé em risco
o Perda de mobilidade articular
o Pulsação no pé
(ulceração)
- Pulso tibial posterior ausente
- Pulso pedioso dorsal ausente √ exige uma intervenção
o Palidez à elevação, rubor postural
o Outros
- Úlcera prévia, amputação
o Calçado inadequado

Intervenção: o sim o não


Encaminhamento: ______________________________________
Classificação do risco e frequência de seguimento
categoria Risco Frequencia
0 Neuropatia ausente 1 vez por ano
1 Neuropatia presente 1 vez/6 meses
2 Neuropatia presente, 1 vez/3 meses
sinais de DVP ou deformidades
S3 Amputação úlcera prévia 1 vez/1-3 meses
7O CONGRESSO BRASILEIRO MULTIPROFISSIONAL
PB Philippi ST / Diabetes Clínica 02 (2002) 42~45

EM DIABETES
7ª EXPOSIÇÃO DE PRODUTOS E ALIMENTOS PARA PORTADORES DE DIABETES
26, 27 e 28 de julho de 2002
Local: Fundação Álvares Penteado (FECAP), Av. Liberdade, 532 – São Paulo SP
Informações: ANAD
Tel (11) 5572-6559/ 5549-6704
E-mail: anad@anad.org.br
Site: www.anad.org.br
Site congresso: www.anad.org.br/congres7.htm
Endereço: Rua Eça de Queiroz, 198 Vila Mariana, 04011-031 São Paulo SP

Formulário para o envio de resumos de Temas Livres


Os dados deste formulário deverão ser enviados por email, juntamente com seu trabalho anexo
* Favor preencher em letra de forma

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Instituição: .................................................................................... Fone:......................................................
Profissão: .......................................................................... Especialidade:...............................................
Apresentarei os trabalhos em forma de poster
Sim Não
Título dos trabalhos:

Os trabalhos de temas livres visam, acima de tudo, Não serão aceitos resumos via fax ou correio.
proporcionar aos profissionais de todas as Os resumos deverão ser enviados impre-
especialidades a oportunidade de apresentar sua terivelmente até a data limite de 30/05/2002.
contribuição na área de Diabetes mellitus. A elaboração e organização do tema livre deverão
Os temas livres deverão ser enviados à secretaria seguir o modelo contido no site do congresso
da ANAD sob a forma de resumo e serão www.anad.org.br/congres7.htm
selecionados para apresentação oral. Serão permitidos até 10 autores por trabalho.
Os temas livres deverão ser enviados por e-mail O primeiro autor deverá necessariamente estar
(anad@anad.org.br). inscrito no congresso.
Diabetes Clínica 02 (2001) 149

Calendário de Eventos
MAIO DE 2002 6 e 7 de julho
4th International Congress Diabetes in Ásia
3 a 5 de maio Hotel Hilton, Colombo, Sri Lanka
XVIo Encontro de Angiologia e Cirurgia Vascular de Rio de Janeiro Tel: 94 1 872951 Fax: 872952
Centro de Convenções do Colégio Brasileiro de Cirurgiões E-mail: dast@zitnet.lk
Informações: Trasso Comunicação e Assessoria
Tel: (21) 2521-6905 6 e 7 de julho
trasso@easyline.com.br 1o Encontro de podologia e atualização em Pé Diabético do
Hospital Brigadeiro
23 a 27 de maio Centro de Estudos do Hosp. Brigadeiro, São Paulo SP
17th Annual Southern Regional Conference on Diabetes Mellitus Av Brigadeiro Luiz Antônio, 2651
Boca Raton Resort and Club, Boca raton, Florida Tel: (11) 287-4042/287-3638
Informações: www.diabetes.org
26 a 28 de julho
30 de maio a 2 de junho 7o Congresso Brasileiro Multiprofissional em diabetes
Xo Encontro Brasileiro de Tireóide 7ª Exposição Nacional de produtos e alimentos para portadores de
Centro de Convenções de Ribeirão Preto – SP diabetes
Informações: Oxford Assessoria em Eventos Fundação Álvares Penteado – FECAP, São Paulo – SP
Tel: (16) 627-6326 Informações: ANAD (11) 5572-6559
E-mail: Oxford@oxfordeventos.com.br Fax: (11) 5549-6704
www.anad.org.br/congres7.htm
JUNHO DE 2002 E-mail: anad@anad.org.br
12 a 15 de junho
6th International Symposium on Global Risk of Coronary Heart AGOSTO DE 2002
Disease and Stroke 7 a 11 de agosto
Florence, Itália 29th Annual Meeting e Educational Program American Association
www.lorenzinifoundation.org of Diabetes Educators
Tel/Fax: +39 02 2900 7018 Pennsylvania Convention Center, Philadelphia, Pennsylvania
14 a 18 de junho Tel: (312) 424-2426
62th Annual Scientific Sessions American Diabetes Association www.aadenet.org/annual.htm
San Francisco, Califórnia 16 a 17 de agosto
Informações: +1 800 232 3472 5o SIMEP – Simpósio de Endocrinologia Pediátrica do Estado de
E-mail: meetings@diabetes.org / www.diabetes.org Rio de Janeiro
19 a 22 de junho Colégio Brasileiro de Cirurgiões
ENDO 2000: LXXXIV Reunião Anual Informações: (21) 2531-3313
Moscono Center, São Francisco, Califórnia 18 a 23 de agosto
Informações: Beverly Glover, Endocrine Society XIXo International Congress of the Transplantation Society
www.endo-society.org Buenos Aires, Argentina
Tel: +1 301 941 0220 Tel: 54 11 4381 1777
Fax: +1 301 941 0259 Fax: 54 11 4382 6703
27 a 29 de junho E-mail: info@transplantation2002.com
ENDORECIFE 2002 24 a 29 de agosto
Summerville Beach Resort - Porto de Galinhas - PE 9th International Congress on Obesity
Tel/Fax: (081) 3423-1300 Hotel Transamérica, São Paulo, SP
www.jz.com.br Informações: www.abeso.org.br
E-mail: latache@assessor-pe.com.br Tel: (11) 3079-2298
28 a 29 de junho Fax: (11) 3079-4232
IIo Congresso Catarinense de Endocrinologia e Metabologia 30 a 31 de agosto
Associação Catarinense de Medicina, SBEM-SC 9th International Congress on Obesity
Tel: (48)231-0326 Satellite Symposium – Obesity, Hormones and the Metabolic
www.acm.org.br/sbem-sc Syndrome
Hotel Glória, Rio de Janeiro – RJ
JULHO DE 2002 Informações (21) 2286-2846
www.jz.com.br
3 a 6 de julho
2º Congreso Internacional de Salud reproductiva em Diabetes
Mellitus SAREDIA 2002 SETEMBRO DE 2002
Centro de convenciones de Guanajuato, México 1 a 5 de setembro
Informações: Dr Jacinto Lang 38th Annual Meeting European Association for the Study of
E-mail: jlangp@infomed.sld.cu Diabetes
150 Diabetes Clínica 02 (2001)

EASD 2002 Ithaca Islet Club


Budapest, Hungria Sea crest Ocean Front Resort
Informações: Blaguss-Volánbusz Congress Bureau, POB 706, 1365 North Falmouth, Massachusetts
Budapest 5 - Hungria Informações: www.diabetes.org
Tel: +36 1 374 7030, 331 5627, Fax: 312 1582
E-mail: easd2002@congress.blavo.hu
FEVEREIRO DE 2003
7 a 11 de setembro 3th International Symposium on Diabetes & Pregnancy
5th International Congress of Neuroendocrinology Geneva, Switzerland
Bristol, Reino Unido Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500 Israel
Tel: +44 (0) 1454 642-211 Tel: 972 3 514 0014
www.bioscientifica.com/icn2002.htm E-mail: conventions@kenes.com
E-mail: icn2002@endocrinology.org
17 a 21 de setembro
52nd Annual Obesity and Associated Conditions Symposium
ABRIL DE 2003
Westin Copley Place, Boston, Massachusetts 26 a 30 de abril
Informações: The American Society of Bariatric Physicians 6th European Congress of Endocrinology
Tel: (303) 770 2526 Lyon, França
Fax: (303) 779 4834 Informações: W.M. Wiersinga
E-mail: bariatric@asbp.org Department of Endocrinology & Metabolism
www.asbp.org Academic Medical Center F5-171
Meibergdreef 9
18 a 21 de setembro
1105 AZ Amsterdam - The Netherlands
International Society for Pediatric and Adolescent Diabetes Meeting
Tel.: 31 20 566 6071
Graz, Austria
Fax: 31 20 691 7682
Informações: Prof. Dr. Martin Borkenstein,
w.m.wiersinga@amc.uva.nl
Tel: +43-316-385-2610
Fax: +43-316-385-3257
E-mail: martin.borkenstein@kfunigraz.ac.at MAIO DE 2003
www.ispad2002graz.at/ 29 de maio a 1 de junho
20 a 22 de setembro 12th European Congress on Obesity
MDRF-ADA PG Course Helsinki, Finland
Chennai, Índia Informações: Dr. Mikael Fogelholm
mvdsc@vsnl.com.or UKK Institute for Health Promotion Research, POB 30, 33501
drmohan@giasmd01.vsnl.net.in Tampere, Finland
21 a 25 de setembro Tel: + 358 3 2829 201
25º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia Fax: + 358 3 2829 559
Blue Tree Towers - Brasília - DF e-mail: mikael.fogelholm@uta.fi
Informações: SBEM
Tel: (21) 2507-5189 Fax: (21) 2221-7577 ramal 1193 JUNHO DE 2003
E-mail: sbem.rj@openlink.com.br
14 a 17 de junho
63th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
OUTUBRO DE 2002 Association
2 a 6 de outubro New Orleans, Louisiana - USA
6th International Congress of the Immunology of Diabetes Society Informações: +1 800 232 3472
and ADA Research Symposium E-mail: meetings@diabetes.org
Copper Mountain Resort www.diabetes.org
Copper Mountain, Colorado
Informações: www.diabetes.org AGOSTO DE 2003
4 a 6 de outubro 6 a 10 de agosto
XXIVo Congress of Endocrinology and metabolic diseases of Turkey 30th Annual Meeting of the American Association of Diabetes
Istambul, Turquia Educators
Informações: +90 312 310 5350 Salt Palace Convention Center, Salt Lake City, Utah
E-mail: president@semt.org.tr Tel: (312) 424 2426
www.semt.org.tr www.aadenet.org
5 a 9 de outubro 24 a 29 de agosto
VIo International Congress on Endocrine Diseases 18th Internacional Diabetes Federation Congress
Teheran, Irã Paris, França
Informações: +98 21 241 6282 Informações: Prof. Dr. Gerard Cathelineau, Hopital Saint-Louis,
E-mail: iced@erc-iran.com 1 avenue Claude Vellefaux, 75010 Paris, França
www.erc-iran.com/iced Tel : +33 1 4249 9697
24 a 27 de outubro www.idf.org
EASD Islet Study Group
Joint Meeting of the EASD Islet Study Group and the Boston-
Normas de publicação Diabetes Clínica 151

A revista Diabetes Clínica é uma publicação com 3. Revisão


periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas ao relacionadas ao Diabetes, ao encargo do Comitê Científico,
Diabetes. bem como remetida espontaneamente pelo autor, cujo interesse
e atualidade interessem a publicação na revista.
Os artigos publicados em Diabetes Clínica poderão também Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos
ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim artigos originais.
como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que
surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os 4. Comunicação breve
autores já aceitem estas condições. Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical observações, resultados iniciais de estudos em curso, e
journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista,
Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as com condições de argumentação mais extensa que na seção
especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo de cartas do leitor.
em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
na versão atualizada de outubro de 2001. com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções sobre-escrito, etc.
da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e
eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser
entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que editados em Power Point, Excel, etc
será notificado ao autor. Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno bibliográficas.
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo 5. Resumos
científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e
artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo
1. Editorial do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou idiomas.
por um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 6. Correspondência
em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais relacionados à linha editorial da revista.
que dez referências. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente
publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes
2. Artigos originais de se publicar a carta.
Serão considerados para publicação, aqueles não Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as
publicados anteriormente, tampouco remetidos a outras especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou
publicações, que versem sobre investigação, clínica, figuras.
diagnóstico, terapêutica e tratamento dentro das áreas definidas
anteriormente.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, 1. Normas gerais
sobre-escrito, etc. 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de
Excel/Word. formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto,
(formatos .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power- tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
Point, Excel, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências cada tabela junto à mesma.
bibliográficas. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão especificações anteriores.
o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas,
concisão da exposição, assim como a qualidade literária do e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e
texto. desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,
152
Normas de publicação Diabetes Clínica
introdução, material e métodos, resultados, discussão, 5. Agradecimentos
conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de
(key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do
de disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos artigo, antes as referências, em uma secção especial.
enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc)
anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no 6. Referências
disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir As referências bibliográficas devem seguir o estilo
informação dos arquivos, tais como o processador de texto Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências
utilizado e outros programas e sistemas. bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos
entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem
2. Página de apresentação no texto, seguindo as seguintes normas:
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais
- Título em português e inglês. de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo
e títulos acadêmicos. - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e
- Local de trabalho dos autores. vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail. Exemplo:
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques,
para paginação. 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
aparelhos, etc. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.

3. Autoria Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),


Todas as pessoas consignadas como autores devem ter letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
participado do trabalho o suficiente para assumir a Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
responsabilidade pública do seu conteúdo. seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de
O crédito como autor se baseará unicamente nas dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
contribuições essenciais que são: a) a concepção e ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a com o Index Medicus, na publicação “List of Journals Indexed
redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante in Index Medicus”.
de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão
que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente Exemplo:
as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S et al. Expression and
obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
participação como autor. A supervisão geral do grupo de in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
pesquisa também não é suficiente.
Agradecimentos
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
Na segunda página deverá conter um resumo (com no financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do
palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. artigo, antes as referências, em uma secção especial.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes
informações: Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, Jean-Louis Peytavin
metodologia, análise). Atlantica Editora
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e Rua Conde Lages, 27 - Glória
estatísticos). 20241-080 Rio de Janeiro RJ
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior Tel: (21) 2221 4164
novidade. E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-
chave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para
tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de cabeçalhos
de matérias médicas (Medical Subject Headings – MeSH do
Index Medicus ou, no caso de termos recentes que não figurem
no MeSH, os termos atuais).
Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 03 (2002) 153

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Índice
(vol. 6 nº 3 - 2002) 153~228

EDITORIAL
O mais completo evento em diabetes, 7º Congresso Brasileiro Multiprofissional em diabetes,
Fadlo Fraige Filho ........................................................................................................................................... 155

INFORMES DO DIABETES NO MUNDO ................................................................................................ 157

O DIABETES NA IMPRENSA .................................................................................................................... 166

AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS ................................................................................ 171

PRODUTOS E NOVIDADES
NovoRapid (NovoNordisk), Glucovance (Merck), Ketchup Light, Mostarda Light
e Refresco (Lowçucar), Coberturas Diet (Blend) ............................................................................................ 179

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ..................................................................................... 182

ARTIGO ORIGINAI
Avaliação da capacidade de médico não oftalmologista detectar alterações oculares causadas
pelo diabetes com oftalmoscópio direto, A.P.S. Rodrigues, M.E. Farah,
S. Mitne, A.A.B.M. Carneiro, J.P.D.N. Cardoso, P.H. Morales ..................................................................... 201

ATUALIZAÇÃO
Prevenção com órteses plantares e calçados especiais para pés de alto risco – diabético,
José Marcelo Carvalho, José Antonio Carvalho, ............................................................................................ 205

Esforços para imunização contra a gripe e contra o pneumococo devem continuar durante o inverno,
João Toniolo Neto ............................................................................................................................................. 208

O diabético e o vinho, Jorge Vasquez Netto .................................................................................................... 210

American Diabetes Association Ano 2002: Dislipidemia em adultos com diabetes .................................... 213

Recomendações da International Diabetes Federation: Posição sobre as complicações do diabetes .......... 217

CALENDÁRIO DE EVENTOS .................................................................................................................... 225

NORMAS DE PUBLICAÇÃO. ..................................................................................................................... 227


Diabetes Clínica
154 Diabetes Clínica 03 (2002)

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúr-
bios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o
conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas.
Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais de
reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à
diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira
rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.

Diabetes Clínica Dr. Nelson Rassi (GO) ATLANTICA EDITORA


Editor científico : Dr. Fadlo Fraige Filho, Dr. Orsine Valente (SP) Editor executivo
presidente da FENAD e ANAD, Professor Enfermeira Paula Pascali (SP) Dr. Jean-Louis Peytavin
Titular de Endocrinologia Faculdade de Dra. Reine Marie Chaves (BA) jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
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155
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Editorial

7º Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes

Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho

É com grande satisfação que iremos realizar o “7º Congresso Brasileiro


Multiprofissional em Diabetes” Edição 2002 em 26, 27 e 28 de julho. Iniciado
em 1991, o congesso foi uma iniciativa pioneira no mesmo dia e mês em que
a Organização Mundial de Saúde (OMS) e International Diabetes Federation
(IDF) marcavam o Dia Mundial do Diabetes. Já veio com o batismo da
coincidência de um futuro promissor. Com a abertura do congresso fomos o
primeiro a divulgar à nação em rede nacional de televisão a triste realidade do
Diabetes e de seus portadores no Brasil.
Desde então muito têm mudado. estamos estimulando e participando dessas
transformações graças ao apoio das Entidades de Diabetes e autoridades
governamentais, que iniciaram ações em parcerias, tais como as Campanhas
Nacionais da Fenad, iniciadas em 1998, quando assumimos sua presidência e
Em 2001, já se recomendava, além de ações educativas, ações de diagnóstico
precoce das complicações e as triagens Essas atividades motivaram o
engajamento do Ministério da Saúde na elaboração do Plano de Atenção ao
Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial, composto por capacitação
multiprofissional, detecção populacional, cadastramento de portadores e
distribuição de medicamentos orais (pois insulinas já eram distribuídas).
Muito se progrediu. Muito tem sido feito com o trabalho em parceria com
o Ministério da Saúde, com entidades como o SBD, SBC, FENAD, SBH,
entre outras.
As ações deste ano serão em torno da capacitação multiprofissional na
Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, rede pública. O atendimento aos portadores só será melhorado na medida em
Coordenador e Editor Científico, que todos os profissionais de saúde conheçam o Diabetes Mellitus. Pois é, já
Diabetes Clínica estamos fazendo isso há 11 anos!
O 7º Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes traz neste ano
o respaldo científico da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC, bem
como o início das apresentações de Temas Livres, que serão expostos em
“posters” e selecionados para apresentação oral. Também serão selecionados
para publicação na “Diabetes Clínica”, fazendo, assim, o elo entre o congresso
e a Educação Continuada.
Neste ano estaremos trazendo pela primeira vez convidados internacionais.
Já confirmada a presença do Prof. Dr. Arturo Rollas, da Harvard Medical
School e Joslin Clinic – USA, que nos brindará com palestras sobre o Programa
Educacional da Harvard, bem como sobre “Cetose e Cetoacidose: Avanços e
Conhecimentos”, assim como a importância do seu Diagnóstico Precoce. O
professor Prof. Rollas é naturalizado americano e fala nossa língua muito
bem, apesar do sotaque carregado.
156 Editorial - Diabetes Clínica 03 (2002)

Teremos também a presença do Prof. Dr. Juan José Gagliardino, um dos


Continuação
grandes mestres reconhecido mundialmente pelo seu trabalho em Educação,
que explanará sobre o modelo que aplica no centro Houssay em La Plata –
Argentina.
Também estará entre nós o Prof. Dr. Maurício Jadzinsky reconhecido na
comunidade internacional por seus trabalhos em neuropatia diabética. Nos
honrará com sua presença o Prof. Dr. Adolfo Peres Comas, da Chairman da
International Diabetes Federation – IDF – região SACA que falará sobre
“Currículo modelo para treinamento de educadores” e “Atuação da
International Diabetes Federation no mundo”.
Estarão presentes ainda os mais eminentes professores e médicos da
diabetologia e demais multiprofissionais relacionados com Diabetes no Brasil,
o congresso, que trará ainda todas as novidades e avanços do setor, é um
evento imperdível para todos os profissionais a área e afins.
Diabetes Clínica 03 (2002) 157

Informes do Diabetes no Mundo


Jan Solvig et al, American Diabetes O comprimento da agulha afeta a aplicação de insulina em
Association 61st Scientific Sessions, pacientes diabéticos normais e obesos
Philadelphia, Pennsylvania, 22 a 26 de
junho de 2001 Muitos pacientes diabéticos auto-administram a insulina com agulhas de 8
ou 12 mm na coxa ou no abdome. Estudos sugerem que 20-40% dos pacientes
que usam com intermitência agulhas de 12 mm, acabam fazendo injeções
intramusculares. A agulha de 6 mm Novofine foi desenvolvida para diminuir
esse risco, com deposito intracutâneo minimizado pelo uso de técnicas de
injeção apropriadas.
Um estudo aberto, randomizado, comparativo de fase IIIb foi realizado em
pacientes diabéticos obesos e com peso normal (40 diabetes tipo 1 e 8 diabetes
tipo 2). Nas duas consultas do estudo, os pacientes auto-administraram
aplicações de 4x100 µl em ar estéril (aproximadamente 10 unidades de insulina
U100), as duas na coxa e abdome, usando NovoPen 1,5 e agulhas Novofine 6
mm ou 12 mm. Foram usadas as seguintes técnicas de injeção: 90º em dobra
de pele, 90º direto, 40-60º em dobra de pele, e 40-60º direto. O deposito de ar
foi observado usando ultra-sonografia e classificado em função do local (intra-
cutâneo, sub-cutâneo e intramuscular).
384 injeções foram administradas. Combinando todas as técnicas de
aplicação, a freqüência das injeções feitas fora do tecido subcutâneo foi
significativamente menor com a agulha de 6 mm (8,5%), do que com a de 12
mm (15,7%, p < 0,05). Isso é a consequência da administração
significativamente menor em intramuscular com a agulha 6 mm (3,2%), em
comparação com a de 12 mm (15,7%, p = 0,001, qui-quadrado). Dentre as 4
técnicas testadas, a mais favorável com a agulha 6 mm foi a do ângulo de 90º,
com aplicação em dobra de pele, com 97,8% das injeções realizadas em tecido
subcutâneo. Usando a agulha 12 mm, a técnica mais eficiente foi o ângulo de
40-60º em dobra de pele, com 93,8% de sucesso. A técnica de injeção mais
segura envolve a agulha 6 mm e dobra de pele com ângulo de injeção de 90º.

Grossi SG, Ann Periodontol Tratamento da doença periodontal e controle do diabetes:


2001;6(1):138-45, dezembro de 2001 avaliação das evidências e previsão para o futuro da pesquisa
Evidência mostra uma resposta aumentada da citocina em diabetes tipo 2,
especialmente as citocinas pro-inflamatórias interleucina (IL)-1 β, IL-6, e tumor
necrosis factor (TNF)-a. Genética, idade e nutrição são sinais importantes desta
resposta aumentada, bem como infecções e inflamação, já reportado
recentemente. Elevação persistente de IL-1 β, IL-6, e TNF-α em diabetes, tem
efeito no fígado, estimula a liberação de proteínas em fase aguda, produz um
desregramento característico do metabolismo lipídico associado ao diabetes
tipo 2, e tem efeitos sobre as células β do pâncreas. TNF-α, inibidor da atividade
tirosina-quinase do receptor de insulina, foi implicado como fator etiológico
158 Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 03 (2002)

Continuação para a resistência à insulina. A evidência mostra que o aumento da citocina tem
um papel na fisiopatologia e anormalidades metabólicas associadas ao diabetes.
Periodontite é uma infecção duas vezes mais prevalente em diabéticos do que
em não-diabéticos. Porphyromonas gingivalis, um dos micro-organismos
responsável por esta infecção, pode invadir as células endoteliais e é um sinal
poderoso para a ativação dos monócitos e dos macrófagos. Quando instalado
no diabético, esta infecção crônica complica o controle do diabetes e aumenta a
ocorrência e severidade das complicações micro e macrovasculares. Ao contrario
do tratamento das infecções agudas, as modalidades do tratamento das infecções
crônicas são ainda discutidas. Evidências indicam que o tratamento mecânico
da infecção sub-gengival não resulta em eliminação completa da infecção
periodontal e, conseqüentemente, não tem efeito sobre o controle diabético
medido pela hemoglobina glicosilada. Do outro lado, o emprego de antibióticos
sistêmicos associados ao debridamento mecânico, resulta em diminuição de P.
gingivalis em níveis não detectáveis, numa redução concomitante da
hemoglobina glicosilada, independentemente do efeito hipoglicêmico das drogas
antidiabéticas ou da insulina. O tratamento da infecção periodontal crônica é
essencial no paciente diabético. Avaliação do status infeccioso do paciente
diabético é fundamental para tomar decisões apropriadas de tratamento.

Greenfield JR et al., J Clin Endocrinol Resistência à insulina, gordura intra-abdominal, fatores de risco
Metab 2002;87(3):1036-1040, março cardiovasculares e androgênios em jovens mulheres saudáveis
de 2002 diabéticas tipo 1

O aumento do risco cardiovascular em diabetes tipo 1 pode ser relacionado,


pelo menos em parte, à resistência à insulina. O objetivo deste estudo foi de
avaliar as relações entre a sensibilidade à insulina, gordura abdominal,
androgênios, lípides e pressão sanguínea em 10 mulheres pré-menopausa
portadoras de diabetes tipo 1 (média ± DP, hemoglobina A1c 8,1 ± 1,0%) e 10
controles não diabéticas cruzadas para IMC. Sensibilidade à insulina (taxa de
infusão de glicose durante clamp euglicêmico-hiperinsulinico) foi
significativamente menor no grupo diabetes tipo 1 do que em controle (49,3 ±
14,8 vs. 73,2 ± 21,6 mmol/min.kg massa de gordura livre, respectivamente, P =
0,01). Os 2 grupos foram semelhantes no que se refere a lípides, androgênios,
gasto de energia, atividade física, pressão sanguínea e gordura abdominal
(gordura intra-abdominal medida por tomografia numérica e gordura abdominal
central por absorciometria de raio X). Não foram observadas relações entre
taxa de infusão de glicose, adiposidade abdominal e níveis de androgênios em
indivíduos portadores de diabetes tipo 1, quando comparados com controles.
Os resultados demonstram resistência à insulina maior no grupo de mulheres
pré-menopausa portadoras de diabetes tipo 1 quando comparadas com controles
não diabéticas, sem relação com adiposidade abdominal, lípides ou androgênios.

Paresh Dandona et al., Journal of Insulina pode ajudar na prevenção da trombose vascular
Clinical Endocrinology and
Metabolism, março de 2002 Insulina pode interferir na cascata de reações responsáveis da formação de
coágulo e agregação plaquetária em acidentes cardíacos. Pode ainda ajudar a
prevenir a formação de coágulo e desenvolvimento de placa em pessoas com
risco de acidente cardíaco ou cerebrovascular. Os autores acharam que uma infusão
de insulina e glicose suprime um fator que regula os genes de duas proteínas pro-
inflamatórias eu promove a coagulação e a formação de coágulo em tecido
muscular liso dos vasos sanguíneos. “Demonstramos pela primeira vez que insulina
tem um efeito anti-inflamatório significativo sobre as paredes dos vasos sanguíneos
Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 03 (2002) 159

Continuação e agora temos a relação entre insulina e os mecanismos que reduzem os fatores de
coagulação”, segundo Paresh Dandona, principal autor do estudo.
Esses achados sugerem que insulina tem o potencial para prevenir a
trombose que é responsável pelo acidente cardíaco e cerebrovascular. Pode
também ser útil para tratar as pessoas desde a prevenção da coagulação até a
dissolução dos coágulos.
Esses resultados se acrescentam aos resultados do estudo Diabetes and
Insulin-Glucose Infusion in Acute Myocardial Infarction (DIGAMI), realizado
em Stockholm, Suécia, que mostrou que os pacientes diabéticos que sofreram
um ataque cardíaco e que receberam uma pequena dose de insulina e glicose,
melhoravam mais do que os pacientes que não receberam essa infusão.

L. Bokemark et al., Diabet Med 2002; Associação entre insulina, pro-peptídeos de insulina e
19(2): 144-151, fevereiro de 2002 aterosclerose subclínica
Níveis de pro-insulina plasmática de jejum, peptídeo-C e insulina RIA são
associados com a espessura da intima e média das artérias carótidas em homens
saudáveis de 58 anos. Essas associações são independentes de muitos fatores
de risco convencionais para aterosclerose, mas não são independentes do IMC,
segundo este estudo que incluiu 391 homens do Atherosclerosis and Insulin
Resistance study (AIR).
Medições da espessura da intima e média foram realizadas na artéria carótida
comum e no bulbo carotídeo por ultrasonografia. Níveis de insulina plasmática
de jejum e RIA, insulina específica (intacta), peptídeo-C, pró-insulina e
segmentos 32,33 de pró-insulina foram determinados.
A análise univariante mostrou que as concentrações plasmáticas de insulina
cross-reacting, insulina específica, pró-insulina, segmentos de pró-insulina
32,33, peptídeo-C, foram todos relacionados à espessura da íntima-média,
após ajuste para tabagismo, apoB, pressão sanguínea e triglicérides. Nenhuma
dessas associações permaneceu independente após ajuste para IMC.

Miric A., Lim M., Kahn B., Rozenthal Morbidade peri-operatória após artroplastia total do joelho em
T., Bombick D., Sculco T.P J Knee Surg pacientes obesos
2002;15(2):77-83, abril de 2002
Para estudar a relação entre peso do paciente e morbidade peri-operatória,
foram revisadas 512 artroplastias totais do joelho realizadas em 406 pacientes.
Foram registradas altura do paciente, peso, histórico médico, tempo de
hospitalização, reabilitação (em casa ou centro de reabilitação) e todas as
complicações. Altura e peso foram utilizados para calcular o IMC de cada
paciente. Exame de dados dos pacientes classificados por IMC estabeleceu
correlações positivas entre IMC e histórico cardíaco (p = 0,02), diabetes
mellitus (P = 0,006, hospitalização pós-operatória > 7 dias (P = 0,03), estadia
em centro de reabilitação (P = 0,02), além do risco de complicação pós-
operatória (P = 0,004). Análise estatística posterior mostrou que as maiores
diferenças nos dados dos pacientes, existem entre pacientes com IMC > 35 e
pacientes com IMC d” 35. Pacientes com IMC maior (> 35) tinham taxas
significativamente mais elevadas de complicações cardíacas (56% versus 33%,
P = 0,0001) e diabetes mellitus (10,5% versus 4,1%, P = 0,03) do que os
pacientes com IMC menor. Apesar de não exister diferença significativa nas
taxas de complicações específicas entre os 2 grupos, os pacientes do grupo
mais obeso experimentaram mais complicação única (38% versus 25%, P =
0,002) ou complicações múltiplas (9,3% versus 6,2%, P = 0,03) do que os
pacientes do grupo com IMC menor.
160 Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 03 (2002)

Arslanoglu I et al, J Pediatr Resposta de crianças e adolescentes diabéticos à vacinação


Endocrinol Metab 2002;15(4):389-95, padrão da hepatite B anti-HBs
abril de 2002
Pacientes portadores de diabetes tipo 1 apresentam uma taxa fraca de
resposta à vacinação contra a hepatite B (HB). Neste estudo, testamos esta
hipótese para o agenda da vacinação padrão. 99 pacientes (idade 10,8 ± 3,5
anos) foram vacinados contra HB 10pg/dose a 0, 1 e 6 meses), usando a
vacina sem antígeno pré-S2 (Engerix Bs). Foram analisadas a sero-conversão
e taxas de proteção após a administração das 3 doses, a relação dos anti-HBs
com os parâmetros clínicos, e comparados com os resultados do grupo saudável
controle (51 crianças, idade 9,7 ± 4,4 anos). A vacina utilizada tinha antígeno
pré-S2 (Genhevac B) em 23 crianças e Engerix B em 28; os dois tipos
apresentaram os mesmos resultados. A média geométrica do anti-HBs foi
322,9 vs. 1476,8 IU/l (não significativo). A taxa de sero-conversão foi de
96,9% vs. 100%, e a taxa de sero-proteção de 93,9% vs. 99% em grupos
diabéticos e controle, respectivamente. No grupo diabético, não tinha
correlação entre a taxa de anti-HBs e os parâmetros clínicos, fora da idade.
Concluímos que a agenda da vacinação padrão é menos efetiva, mas ainda é
eficiente em crianças e adolescentes portadores de diabetes mellitus tipo 1.

Easthope S.E, Jarvis B. Drugs Candesartan cilexetil: atualização de seu uso na hipertensão
2002;62(8):1253-87, maio de 2002 essencial
Candesartan cilexetil é convertido em candesartan, antagonista do receptor
da angiotensina 2, durante absorção no sistema digestivo. A ligação seletiva e
competitiva de candesartan com o receptor de angiotensina 2 tipo 1 (AT(1)
previne a ligação da angiotensina 2, mediador chave do sistema renina-
angiotensina. Diminuições significativas da pressão sanguínea sistólica e
diastólica foram obtidas com uma dose diária de 2 a 32 mg/dia em pacientes
portadores de hipertensão leve a moderada. Em estudos randomizados,
candesartan cilexetil 8 para 16 mg/dia foi pelo menos tão eficiente, quanto
dosagens terapêuticas de losartan ou outros antagonistas de receptor de
angiotensina 2. Em dosagem maior do que 32 mg/dia, candesartan cilexetil
demonstrou maior eficácia antihipertensiva do que losartan 50 ou 100 mg/
dia. Em estudos comparativos, candesartan cilexetil demonstrou eficácia
antihipertensiva semelhante ou maior quando comparado com enalapril,
hidroclorotiazida ou eficácia equivalente quando comparado com amlodipina.
A eficácia de candesartan cilexetil não é alterada por idade. A droga produz
diminuições significativas da pressão sanguínea em pacientes negros ou em
pacientes portadores de hipertensão severa. Estão em andamento estudos
clínicos de longo prazo, para avaliar os efeitos do tratamento com candesartan
cilexetil sobre a morbi-mortalidade cardiovascular. Regressão da hipertrofia
ventricular esquerda foi observada com candesartan cilexetil em pacientes
hipertensos. Além disso, a droga tem efeitos favoráveis sobre a função renal
em pacientes hipertensos portadores ou não de diabetes mellitus. A resistência
vascular renal e a excreção de albumina diminuíram após tratamento com
candesartan cilexetil. A homeostase da glicose e o metabolismo lipídico não
foram alterados pelo tratamento em pacientes portadores de diabetes tipo 2.
Candesartan cilexetil é bem tolerado e não é associado à tosse, efeito adverso
comum do tratamento inibidor da enzima de conversão da angiotensina. Uma
análise de estudos clínicos mostrou que o perfil de tolerabilidade de candesartan
cilexetil não é significativamente diferente do placebo. Eventos adversos não
são relacionados à dose e são geralmente de gravidade leve a moderada.
162 Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 03 (2002)

Continuação Conclusão: Candesartan cilexetil é um agente antihipertensivo eficiente


com perfil de tolerância semelhante ao placebo. Dados comparativos
indicam que candesartan cilexetil tem uma eficácia antihipertensiva
equivalente à das outras classes de agentes antihipertensivos e tem longa
duração de ação. Por isso, candesartan cilexetil é uma opção terapêutica
útil para o tratamento dos pacientes hipertensos.

Castells S. J Pediatr Endocrinol Manejo da hiperglicemia em crianças de minorias portadoras de


Metab 2002 Apr;15 Suppl 1:531-40, diabetes tipo 2
abril de 2002
Este artigo estuda o controle da hiperglicemia em crianças de minorias
portadoras de diabetes tipo 2. Nos últimos anos, a incidência de diabetes tipo
2 aumentou drasticamente em crianças e adolescentes de minorias. O manejo
intensivo de crianças portadoras de diabetes tipo 2 inclui exercícios, dieta,
terapia insulínica, agentes antidiabéticos orais (metformina) e conjugação
insulina-agente oral. Os resultados da eficácia das modalidades de tratamento
em 35 crianças afro-americanas são apresentados neste estudo. Os pacientes
são separados em 2 grupos, o primeiro tratado com dieta ou metformina (20
crianças) e o outro com insulina ou insulina e metformina (15 crianças). Todas
as crianças eram negativas, no que se refere aos anticorpos de ácido glutámico
descarboxilase. Concentrações de glicose plasmática e peptídeo-C foram
medidas a 0, 30, 60, 90 e 120 minutos após ingestão de uma refeição líquida
- Sustacal (7 ml/kg com máximo de 360 ml). O aumento de peptídeo-C (ACP),
em resposta à refeição, foi calculado pelo pico menos peptídeo-C. ACP foi
significativamente maior em crianças tratadas por dieta/metformina do que
em crianças tratadas por insulina/insulina e metformina (4,6 ± 1.9 vs. 21 ±
1,6, p < 0,01). HbA1c média, após um ano de acompanhamento, foi menor
em pacientes do grupo dieta/metformina do que em insulina/insulina e
metformina (7,0 ± 2,8 vs. 11,4 ± 3,7, p < 0,01). Nossos resultados indicam
que em crianças diabéticos tipo 2, a disfunção da célula β pancreática é maior
no grupo de crianças necessitando a terapia de insulina.

Saukkonen T et al. Acta Paediatr Doença celíaca em crianças e adolescentes diabéticos tipo 1
2002;91(3):297-302, maio de 2002
O objetivo deste estudo foi de avaliar se a doença celíaca afeta o crescimento,
o controle glicêmico, e o bem estar geral de crianças e adolescentes diabéticos
tipo 1. 18 indivíduoas receberam o diagnóstico de doença celíaca após
rastreamento. Foram analisados sintomas gastrintestinais, alteração no
crescimento e níveis de hemoglobina glicosilada (HbA1c), assim como o bem
estar antes e após o diagnóstico de doença celíaca. Foram observados em um
paciente, sintomas gastrintestinais e deterioração do crescimento anterior ao
diagnóstico de doença celíaca. Retrospectivamente, muitos pacientes
reportaram sintomas gastrintestinais de intensidade leve, resolvidos com dieta
livre de glúten. A introdução de uma dieta livre de glúten não tem um efeito
positivo sobre o controle glicêmico, mas foi associada com aumento do peso
(de 4,3 ± 18,1 to 8,2 ± 15,4% DP de população média, p = 0,02). Este
aumento de peso foi inversamente correlato com alteração em HbA1c (r = -
0,574, p = 0,02).
Conclusão: A doença celíaca é raramente associada a sintomas de mal
absorção em crianças e adolescentes diabéticos tipo 1. A introdução de
uma dieta livre de glúten pode ser associada ao excesso de ganho de peso.
Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 03 (2002) 163

Wong T.Y., Klein R. Curr Opin Êmbolos arteriolares retinais: epidemiologia e risco de acidente
Ophthalmol 2002;13(3):142-6, vascular cerebral
junho de 2002
Êmbolos arteriolares retinais podem ser encontrados em aproximadamente
1% dos adultos de mais de 40 anos. A frequência dos êmbolos retinais aumenta
com a idade e são mais comuns em homens de que em mulheres. Êmbolos
bilaterais são raros, mas êmbolos múltiplos são encontrados em um olho único
em um terço dos casos. Êmbolos retinais são associados com a presença de
placa arterial carótida, hipertensão, tabagismo, e, possivelmente, diabetes.
Existem poucos estudos no que se refere ao risco de acidente vascular cerebral
associado com êmbolos retinais. Dados disponíveis sugerem que êmbolos
retinais em pessoas assintomáticas são associados com risco maior de acidente
vascular cerebral e mortalidade por AVC, independentemente dos fatores de
riscos convencionais. Esses pacientes devem beneficiar de uma avaliação
cuidadosa para estabelecer o risco. Precisa ser determinado se é necessário
realizar exames de rotina, tipo ultra-som de carótida ou outras imagens
vasculares.

Bradshaw B. J Pediatr Endocrinol O papel da família nos cuidados do diabetes tipo 2 em crianças
Metab 2002;15 Suppl 1:547-5, de minorias
abril de 2002.
Este estudo comparou 2 grupos de crianças afro-americanas: grupo 1 (7
crianças), com controle familiar direto, onde um familiar participa ativamente
no tratamento do diabetes; e grupo 2 (5 crianças), sem controle direto de
familiar, participando de maneira inconsistente e ocasional no manejo do
tratamento. A hemoglobina glicosilada (HbA1c) foi medida no início e 1 ano
depois, por cromatografia líquida de alta performance. Resultados do estudo
indicam que a supervisão direta de crianças portadoras de diabetes tem um
efeito positivo sobre o controle glicêmico, resultando numa diminuição
estatisticamente significativa da HbA1c, quando comparados com o grupo de
crianças pouco controladas. Apesar de que muitos adolescentes reclamam
uma maior autonomia ou de pressões culturais, para assumir maiores
responsabilidades pessoais durante os anos de adolescência, o envolvimento
continuo da família no manejo do diabetes de pacientes adolescentes é
fortemente recomendado para obter bons resultados terapêuticos.
166 Diabetes Clínica 03 (2002)

O Diabetes na Imprensa
Pesquisadores americanos revelam: tecnologia engorda

Controles remotos para TV e ar-condicionado, iluminação eletrônica, nada


de sair do carro para abrir o portão da garagem. A conclusão não poderia ser
Época, 25 de maio de 2002 diferente: tecnologia engorda. “Mudanças tecnológicas elevaram o custo das
atividades físicas ao tornar o trabalho em residências e no mercado mais
sedentário. Elas reduziram também o custo das calorias ao tornar a produção
agrícola mais eficiente”, explicaram os economistas Darius Lakdawalla e
Tomas Philipson em um relatório publicado esta semana.
Os cientistas explicam que no passado - e em países em desenvolvimento
onde a economia ainda está muito baseada na agricultura - as pessoas eram de
fato pagas para fazerem exercícios; o tipo de emprego disponível para o
sustento envolvia atividades mais pesadas do que os cliques de mouse impostos
pelos avanços tecnológicos.
Com o tempo, os exercícios se tornaram bem mais caros. Qualquer pessoa
que tenta se matricular em uma academia sabe o quanto isso pode ser caro e
difícil: sair de casa e andar algumas quadras até chegar à academia pode ser
bem menos interessante do que ficar em uma sala com ar-condicionado vendo
um bom programa na TV.
Lakdawalla e Philipson observaram ainda que ineficiências na produção
alimentar tornaram a comida mais cara que no passado, o que faz com que
seja mais difícil comer bem atualmente. Como resultado, o índice de massa
corporal para os americanos da faixa etária dos 40 cresceu de 23 em 1963
para 27 em 1991. Ganho que, segundo os pesquisadores, equivale a um homem
de aproximadamente 1,80 ganhar 13 quilos. O Instituto Nacional de Saúde
dos EUA afirma que pessoas com índices entre 25 e 29.9 estão “acima do
peso”.
Entre as conclusões apresentadas pelo estudo, estão vários caminhos para
pesquisas futuras em relação ao combate à obesidade. Os pesquisadores
mencionam diretamente aos programas educacionais muito em evidência
atualmente: “Se as mudanças tecnológicas na produção são os reais fatores
que desencadeiam o ganho de peso, fornecer informação pode ser menos
importante do que dar incentivos”.
Os economistas indicam ainda que uma análise mais detalhada das
alterações na produção agrícola pode ser o próximo passo para aqueles que
querem entender o problema do ganho de peso relacionado à tecnologia. E
revelam também a importância de estudar a interação entre quantidade e
qualidade de alimentos, particularmente para entender a relação negativa entre
o rendimento e o ganho de peso proveniente de alimentos com alta
concentração de calorias cada vez mais baratas.
O Diabetes na Imprensa - Diabetes Clínica 03 (2002) 167

Britânicos descobrem o ‘hormônio da fome’

12 de março de 2002 Cientistas britânicos deram um passo para obter o controle terapêutico da
fome ao anunciar que isolaram um hormônio na corrente sanguínea que regula
o consumo de alimentos. O “hormônio da fome’’ foi batizado de grhelin,
palavra hindi (língua falada no norte da Índia) que significa crescimento, por
Alison Wren e Steve Bloom, pesquisadores do Imperial College e do
Hammersmith Hospital, em Londres. A maioria dos mecanismos de controle
do apetite reside no cérebro, o que dificulta o tratamento da obesidade e da
desnutrição. Segundo Alison Wren, a existência de um “hormônio da fome’’
- até então só detectado em animais - significa que ele pode ser o alvo de
medicamentos específicos. “As vantagens de uma terapia com remédios desse
tipo vão além dos casos de obesidade e permitem que também a perda perigosa
de apetite, como nos casos de câncer, sejam tratados’’, escreveu Steve Bloom.
“Nesses casos, os suplementos alimentares contendo o “hormônio da fome’’
ajudariam o paciente a se alimentar’’.
Há algum tempo, os pesquisadores sabiam que o hormônio encontrado na
circulação sanguínea estimulava o apetite em camundongos de laboratório.
Com a descoberta, constataram agora que o mesmo hormônio é responsável
pelo apetite excessivo de alguns indivíduos, que ingerem um terço a mais de
comida do que os outros.
Para comprovar a teoria, a dupla de cientistas promoveu um estudo com
cinco homens e quatro mulheres. Parte do grupo recebeu uma dose de grhelin
e o restante, placebo, e a todos foi dito que podiam comer o quanto quisessem.
Na semana seguinte, os que receberam o hormônio ganharam placebo, e vice-
versa. Os resultados revelaram que os voluntários que receberam o hormônio
consumiam em média 28% mais calorias do que os outros.
‘’Estávamos tentando imitar os níveis do hormônio da fome após um jejum
noturno e podemos ter exagerado um pouco’’, disse Wren, acrescentando que
outros estudos também mostraram diferenças significativas no consumo de
alimentos com doses menores de grhelin. Outros cientistas, no entanto,
manifestaram cautela em relação à eficácia de um possível tratamento para a
obesidade baseado na descoberta. Alguns lembraram o entusiasmo há alguns
anos com a leptina. Esta proteína, produzida pelas células de gordura, atua no
cérebro e regula o mecanismo que faz os indivíduos engordarem. A leptina
chegou a ser conhecida como o hormônio da obesidade, mesmo sem ter se
mostrado eficaz para curá-la.

Por que engordamos?

Os gordos e as gordas, como todo mundo sabe, converteram-se em párias


da sociedade moderna. Numa etapa da história ocidental em que se desfrutam
Época, 11 de fevereiro de 2002 grandes alegrias afetivas, namoros e casamentos, eles penam para levar uma
vida amorosa diversificada. São preteridos até por magros sem nenhum
carisma. A barriga proeminente virou sinônimo de desleixo e mancha a imagem
dos obesos até na carreira. Nos consultórios médicos, levam broncas e são
tratados como suicidas em potencial, diante das evidências de que o excesso
de peso provoca doenças e encurta a vida.
Pessoas que já foram magras e ganharam muito peso sentem a transformação
como uma perda dolorosa. Repetem a pergunta quando se olham no espelho:
“Por que engordei?” Muitos se imaginam portadores de uma fraqueza de
personalidade que estimula o espírito glutão e corrói o fôlego para as atividades
físicas. Essa idéia perde substância à medida que a ciência desbrava os
meandros do problema. A obesidade é produto de uma conspiração de fatores,
168 O Diabetes na Imprensa - Diabetes Clínica 03 (2002)

Continuação que inclui alguma predisposição genética, hábitos alimentares equivocados e


o sedentarismo estimulado por confortos da vida moderna.
A genética do metabolismo humano foi talhada com base nas necessidades
de nossos antepassados. Eles comiam menos e melhor. Também queimavam
mais energia, pois não havia automóveis, televisão nem internet para facilitar
a vida. A geração atual herdou o antigo perfil, mas tem hábitos que não
combinam com ele. É por isso que os médicos alertam com insistência sobre
a necessidade de uma reeducação alimentar conjugada com uma rotina de
exercícios físicos ao menos três vezes por semana. Há 32 milhões de brasileiros
acima do peso e estima-se que 200 mil morram todos os anos de doenças
ligadas ao problema, como diabetes, hipertensão e enfarte. “Os obesos mais
velhos – e também os mais pobres – só procuram um médico tarde, quando
surge algum problema, como dores no peito ou dificuldades de locomoção”,
diz o endocrinologista paulista Geraldo Medeiros Neto.
Curiosamente, fazer dietas com muita freqüência pode agravar a obesidade,
em vez de combatê-la. O organismo tem um ponto natural de equilíbrio, que
deflagra a fome na medida das necessidades energéticas. O mecanismo
funciona bem nas pessoas magras, mas nos gordos parece estar desligado.
Eles comem em quantidade exagerada e vão ganhando peso até chegar a um
ponto máximo. Com o tempo, o organismo passa a considerar normal esse
patamar alto. Se o indivíduo perde peso, sente-se em desequilíbrio e tenta
voltar ao que era antes. Esse é um dos fatores que fazem as pessoas engordar
assim que a dieta termina. Para destruir essa “memória”, é preciso manter-
se magro por pelo menos cinco anos após o regime. O “efeito sanfona”
provoca tantas oscilações no ponto de equilíbrio que o descontrole do peso
pode agravar-se.
Nos últimos anos, a medicina desvendou a origem genética da obesidade,
que tem algum papel nas agruras de 40% das pessoas com excesso de peso. Já
foram identificados pelo menos sete genes associados à doença. Descobriu-
se por que a obesidade se associa com freqüência ao diabetes. Em muitas
pessoas, os genes causadores das duas doenças coabitam numa mesma região
do DNA e provocam uma síndrome. Já se identificou até a silhueta do obeso
com propensão ao diabetes. Nos homens, caracteriza-se pela barriga muito
proeminente, em contraste com o resto do corpo, com pouca gordura. De
costas, nem parece gordo. Nas mulheres, o corpo tem o formato de maçã,
com a gordura concentrada no tronco e as pernas finas.
A obesidade ligada ao diabetes se equilibra num círculo vicioso. Uma
disfunção genética leva o pâncreas a produzir doses exageradas de insulina,
hormônio que quebra a glicose dos alimentos. O excesso de insulina no sangue
desencadeia a sensação de fome. O doente come e engorda ainda mais. “Uma
característica dessas pessoas é o pico de fome à noite, quando a insulina
atinge níveis elevados”, diz o endocrinologista Geraldo Medeiros Neto. No
fim do processo, o pâncreas esgota-se, pára de fabricar insulina e se instala o
diabetes.

Cigarro anula medicamentos


Um trabalho desenvolvido por pesquisadores do Texas Tech University
Health Sciences Center, nos Estados Unidos, veriricou que o cigarro piora as
disfunções renais provocadas pelo diabetes. O estudo, que acaba de ser
10 de abril de 2001 publicado pelo American Journal of Kidney Diseases, informa que o fumo
altera os efeitos da medicação no tratamento da nefropatia diabética, que causa
a insuficiência renal crônica. Nos pacientes fumantes avaliados, ficou
constatado que os efeitos da medicação eram praticamente nulos.
170 O Diabetes na Imprensa - Diabetes Clínica 03 (2002)

A educação infantil também deve incluir a alimentação


Antigamente, o sonho de toda mãe era ter um filho bem gordinho,
IstoÉ, 27 de maio de 2002 aparentemente bem alimentado. Hoje, porém, crianças muito gordinhas já
não são mais símbolo de saúde. “A obesidade infantil é um problema que tem
crescido muito no Brasil, e está ligada, principalmente, aos mais hábitos
alimentares que a criança encontra em casa”, alerta a nutricionista Carolina
Medero Rocha. “Se os pais não educam os filhos, desde cedo, para terem uma
boa alimentação, acabam criando adultos obesos, com diversos problemas de
saúde, como o colesterol alto, o diabetes e a hipertensão”. Em uma pesquisa
feita, recentemente, no Rio de Janeiro, com sete mil crianças, constatou-se
que cerca de 38% estavam acima do peso. “Isto é muito preocupante,
principalmente porque o fato de estarem acima do peso não significa nem que
estejam bem nutridas: elas podem estar consumindo gorduras demais e
proteínas ou vitaminas de menos, por exemplo”, observa a nutricionista. Ela
também explica que, para evitar a obesidade infantil, não há muito mistério:
“Os princípios da atividade física e da alimentação balanceada são os mesmos
para adultos e crianças, com a diferença de que, no caso das crianças, é
necessário dar uma especial atenção ao consumo de proteínas - fundamentais
na fase de crescimento. Por isso, a melhor forma de ensinar uma criança a se
alimentar bem é dar o exemplo”.
“A única forma de se evitar a má alimentação das crianças é garantindo
bons hábitos alimentares e um bom ambiente em casa”, garante a nutricionista
Carolina Medero Rocha. Segundo ela, muitas crianças simplesmente seguem
o exemplo dos pais, que consomem alimentos muito calóricos, ou engordam
para chamar a atenção da família. “O tratamento da obesidade de uma criança
sempre inclui o acompanhamento de toda a família. Porque, ainda que as
crianças, muitas vezes, prefiram alimentos doces ou fritos, no final das contas,
o domínio da situação é sempre dos pais”.
Alimentar bebês com uma dieta rica em carboidratos nas primeiras semanas
de vida pode causar alterações nas células do pâncreas produtoras de insulina
e levar à obesidade, conforme um estudo divulgado hoje. Pesquisadores da
Universidade de Buffalo, em Nova York, que fizeram experiências com ratos,
apresentaram os resultados de seus estudos no encontro de Biologia
Experimental que acontece em New Orleans, Geórgia.
“A descendência da primeira geração feminina alimentada com uma dieta
rica em carboidratos desenvolveu níveis elevados de insulina no sangue e
obesidade”, explicou Mulchand Patel, um dos cientistas da Universidade de
Buffalo. Patel, que considera esta “programação metabólica” hereditária,
afirma que o estudo oferece uma nova perspectiva a respeito da obesidade.
Na sua opinião, o tipo de alimentação dada aos bebês pode fazer uma
programação do metabolismo que, futuramente, favoreceria o aparecimento
de doenças como a obesidade e o diabetes, acrescentou. “A superalimentação
com uma fórmula infantil e a introdução antecipada de alimentos substitutos,
como cereais, frutas e sucos, que são ricos em carboidratos, podem ser os
culpados” do posterior desenvolvimento destas doenças, explicou o
pesquisador. A programação metabólica é uma nova disciplina que começou
a ser estudada em mães que apresentavam subnutrição. Este tipo de caso
resultou, muitas vezes, em crianças com um baixo peso e um risco maior de
contrair doenças crônicas na vida adulta. Alguns estudos demonstraram que a
má nutrição e a restrição calórica da gestante, antes ou depois do parto, geram
conseqüências a longo prazo para as crianças, como o aparecimento de doenças
na fase adulta de suas vidas. Com o novo estudo comprova-se que os filhotes
de ratos que receberam fórmula alimentar rica em carboidratos desenvolveram,
mais tarde, doenças relacionadas ao sobrepeso.
Diabetes Clínica 03 (2002) 171

Avanços terapêuticos e tecnológicos


Christoph Kapitza et al, American Insulina aspart bifásica fornece um bom controle metabólico,
Diabetes Association 61st Scientific mesmo quando aplicada em pós-prandial
Sessions, Philadelphia, Pennsylvania,
22 a 26 de junho de 2001 Foi comparado o efeito da administração pós-prandial de insulina aspart
bifásica 30 (BIAsp), com administração pré-prandial e prandial de BIAsp ou
insulina humana bifásica 70/30 (BHI), sobre as excursões da glicose após um
café da manhã padrão em 28 pacientes diabéticos tipo 2 (57,6 anos; 21 homens;
IMC 29±4 kg/m2; HbA1c 8,7±1,3% (média DP), em um estudo randomizado,
aberto e com 4 períodos cruzados. A BIAsp+15min pós-prandial foi comparada
com a BIAsp0min prandial, BHI0min e BHI-15min pré-prandial. As doses de
insulina foram escolhidas individualmente, mas permaneceram constantes
para cada paciente. A área sob a curva de glicose plasmática corrigida pela
linha base de 5 horas, mostrou valores significativamente menores com
BIAsp+15min, quando comparada com a BHI0min prandial (razão 0,95, IC 95%:
0,89 – 1,022; NS) e BHI-15min pré-prandial (razão 0,99, IC 95%: 0,93-1,05; NS).
Em conclusão, a administração pós-prandial de insulina aspart bifásica como
nova opção de tratamento oferece mais flexibilidade aos pacientes diabéticos de
tipo 2 e não diminui as concentrações pós-prandiais da glicose sanguínea.

Matthew Riddle et al., Portland, A resposta do peptídeo C à primeira dose e o risco de


Oregon, XIo Congresso da Associação hipoglicemia são menores com a glimepirida do que com a
Latino Americana de Diabetes gliburida
(ALAD), Punta Del Este, Uruguay, 11
a 15 de novembro de 2001 A glimepirida causa menos hipoglicemia do que a gliburida, mas as bases
fisiológicas para isso permanecem não elucidadas. Esse estudo testou se esses
agentes diferem na resposta à insulina e no efeito hipoglicêmico durante o jejum,
após uma dose inicial. 30 pacientes com diabetes tipo 2 (idade média de 59
anos, IMC 31 kg/m2) completaram um estudo duplo-cego, de ordem randômico
e cruzado. Todos apresentaram uma glicose plasmática de jejum (FPG) de 140-
200/mg/dl após a interrupção da sulfoniluréias anterior ou a terapia com
metformina por, pelo menos, 2 semanas. Cada paciente recebeu glimepirida 1
mg ou gliburida 2,5 mg, às 08h00 diariamente, por uma semana, e após duas
semanas sem a medicação, foram transferidos para o outro agente, de forma
cruzada. Os perfis de glicose e de peptídeo C foram medidos durante uma
extensão de 10 horas de jejum durante a noite no 1º dia e no 7º dia de cada
tratamento. Após 6 dias, os agentes reduziram igualmente a glicose plasmática
de jejum, de 182 para 156 (glimepirida) e de 181 para 152 mg/dl (gliburida).
Entretanto, no 1º dia o incremento médio no peptídeo C em 2 horas foi maior
(32% vs. 8%, p < 0,01) com a gliburida. No 7º dia ocorreu um pequeno aumento
no peptídeo C, mas a inclinação glicêmica média foi mais pronunciada (p <
0,001) e o nadir diminuiu (87 vs. 95 mg/dl, p < 0,001) com a gliburida. 10
pacientes (33%) com a gliburida apresentaram valores documentados de glicose
172 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 03 (2002)

Continuação 70 mg/dl vs. 2 pacientes com a glimepirida (p < 0,05). Conclusões: 1) A


glimepirida não apresenta o amplo efeito secretor de insulina de primeira dose
causada pela gliburida; 2) Um risco reduzido de hipoglicemia precoce torna a
glimepirida preferível em relação à gliburida como uma terapia inicial.

Sunaga Y et al., S Department of Os efeitos da mitiglinida (KAD-1229), nova droga antidiabética,


Cellular and Molecular Medicine, sobre os canais K(ATP) e secreção de insulina: comparação com
Graduate School of Medicine, Chiba sulfoniluréias e nateglinida
University, Chiba, Japan, Eur J
Pharmacol 2001 Nov 9;431(1):119-25, Mitiglinida (KAD-1229), nova droga antidiabética, estimula a secreção de
novembro de 2001 insulina pelo fechamento dos canais ATP-sensível K+ (K(ATP)) em células β
do pâncreas. Todavia, sua seletividade para os vários canais K(ATP) não é
conhecida. Neste estudo, foram investigados os efeitos da mitiglinida sobre
vários canais K(ATP) clonados (Kir6.2/SUR1, Kir6.2/SUR2A, e Kir6.2/
SUR2B) reconstituídos em células COS-1, e comparados com os efeitos da
nateglinida. A análise patch-clamp mostrou que a mitiglinida inibe o canal
Kir6.2/SUR1 em um modo dependente da dose, mas não inibe
significativamente os canais Kir6.2/SUR2A ou Kir6.2/SUR2B, mesmo com
doses elevadas (>10 microM). Nateglinida inibe os canais Kir6.2/SUR1 e
Kir6.2/SUR2B a 100 nM e inibe os canais Kir6.2/SUR2A em concentrações
elevadas (1 microM). Experiências com mitiglinida, nateglinida, e repaglinida
em SUR1 expresso em células COS-1 revelaram que elas inibem a ligação
[3H] glibenclamida a SUR1 (IC50 valores: mitiglinida, 280 nM; nateglinida,
8 microM; repaglinida, 1.6 microM), sugerindo que se dividem num site de
ligação de glibenclamida. As respostas insulínicas a glicose, mitiglinida,
tolbutamida, e glibenclamida em células MIN6 após tratamento crônico de
mitiglinida, nateglinida, ou repaglinida foram comparáveis às respostas após
tratamento com tolbutamida e glibenclamida. Esses resultados indicam que,
bem como os sulfoniluréias, mitiglinida é altamente específica do complexo
Kir6.2/SUR1, i.e. o canal da célula β do pâncreas K(ATP) e sugere que a
mitiglinida pode ser uma droga antidiabética clinicamente útil.

Holdiness M.R. Drugs Tratamento do eritrasma cutâneo


2002;62(8):1131-41, maio de 2002
Corynebacterium minutissimum é a bactéria responsável das erupções
cutâneas do eritrasma e é a causa mais comum de infecções interdigitais do
pé. É encontrada principalmente em áreas oclusas intertriginosas como axilas,
áreas infra-mamárias, espaços interdigitais dos pés, pregas interglútea e crural,
além de ser mais comum em pacientes diabéticos. Este organismo pode ser
isolado a partir de um local cutâneo com um dermatófito concorrente ou numa
infecção com Cândida albicans. O diagnóstico diferencial do eritrasma inclui
psoríase, dermatofitose, candidíase e intertrigo. Os métodos de diferenciação
incluem exame na luz de Wood e culturas bacterianas e micológicas.
Eritromicina 250 mg 4 vezes/dia durante 14 dias é o tratamento preferencial.
Podem também ser usados tetraciclinas e cloramfenicol; mas o uso de
cloramfenicol é limitado em razão do risco potencial de supressão da medula
óssea, responsável de neutropenia, agranulocitose e anemia aplástica. Demais
estudos são necessários, mas no futuro a claritromicina poderia ser uma droga
complementar. Em caso de fracasso terapêutico ou de envolvimento
intertriginoso, soluções tópicas como clindamicina, bálsamo de Whitfield,
bálsamo de fusidato sódico e preparações antibióticas, podem ser requeridas
para o tratamento e a prevenção. Existem estudos limitados sobre a eficácia
dessas medicações, entretanto, a eritromicina sistêmica demonstra taxas de
174 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 03 (2002)

Continuação cura de 100%. Comparada com tetraciclina, a eritromicina tem eficácia maior
em pacientes com lesões nas axilas e virilhas, além de eficácia semelhante
para as infecções interdigitais. Bálsamo de Whitfield tem uma eficácia
semelhante à eritromicina nas lesões axilares e virilhas, e é mais eficaz nas
áreas interdigitais, além de ser comparável com bálsamo de fusidato sódico
2% para o tratamento de todas estas áreas. Os efeitos adversos e interações
potenciais precisam ser avaliados.

Ristic S., Bates P.C., Martin J.M., Aceitabilidade da caneta de insulina reutilizável Humapen Ergo
Llewelyn J.A. Curr Med Res Opin por pacientes diabéticos tipo 1 e 2
2002;18(2):68-71, maio de 2002
Uma caneta de insulina reutilizável (Humapen Ergo) foi testada para
aceitabilidade do paciente e segurança em dois estudos multinacionais,
envolvendo 230 pacientes portadores de diabetes tipo 1 (27%) ou tipo 2(73%).
Antes dos estudos, todos os pacientes utilizaram outros modelos de canetas
de insulina. Durante os estudos de 5-7 semanas, a aceitabilidade de Humapen
Ergo foi avaliada por questionário enviado a cada paciente. Humapen Ergo
foi considerado fácil/muito fácil no que se refere à aprendizagem de uso (97%),
e fácil/muito fácil para uso. As características de Humapen Ergo foram
consideradas mais fácil/muito mais fácil quando comparadas com modelos
anteriormente utilizados; fácil de corrigir a dose (estudo 1/estudo 2: 89%/
93%), fácil de ler o número da dose (77%/61 %), fácil de traçar a cartuxa
(54%/68%). No final dos estudos, a maioria dos pacientes (60%/69%) declarou
que continuaram a usar Humapen Ergo. E a recomendaram a outros pacientes,
mesmo quando são satisfeitos com outras canetas utilizadas. Profissionais de
saúde avaliaram Humapen Ergo, seguindo os mesmos critérios dos pacientes,
e confirmaram que recomendaram Humapen Ergo por não gastar insulina
(80%) e pela leitura fácil das doses (74%). Humapen Ergo foi bem aceito por
pacientes e profissionais e é uma ferramenta importante para combater o trauma
e inconveniência associados à auto-injeção de insulina.

Ratner RE et al. Diabetes Technol Terapia complementar com o análogo da amilina, pramlintide,
Ther 2002;4(1):51-61, maio de 2002 melhora o peso e o controle glicêmico em pacientes diabéticos
tipo 2 tratados com insulina
O objetivo deste estudo foi de avaliar o efeito da substituição da amilina
do almoço, por pramlintide sobre o controle de peso da glicemia, a longo
prazo, em pacientes portadores de diabetes tipo 2. Este estudo de 52 semanas,
randomizado, controlado por placebo, multicêntrico, duplo-cego, em 538
pacientes diabéticos tipo 2 tratados por insulina, comparou a eficácia e
segurança de doses de 30, 75 ou 150 microgr de pramlintide, análogo sintético
do hormônio da célula β amilina, com placebo quando administrado por via
subcutânea 3 vezes ao dia com as principais refeições. A terapia com
pramlintide foi responsável por uma diminuição de 0,9% e 1,0%, do início
até a 13ª semana, nos grupos com dose de 75 e 150 microg., o que foi
significativo quando comparado com placebo (p = 0,0004 e p = 0,0002,
respectivamente). No grupo 150 microg, foi observada uma diminuição de
HbA1c de 0,6% do início até a 52ª semana (p = 0,0068 comparado ao placebo).
A maior diminuição em HbA1c com pramlintide foi obtida sem aumentos no
uso da insulina ou hipoglicemia severa, e foi acompanhada por uma diminuição
significativa (p < 0,05) do peso corporal em todos os grupos. Três vezes mais
pacientes do grupo 150 microg do que no grupo placebo, conseguiram
diminuição de HbA1c e do peso corporal do início até a 52ª semana (48%
versus 16%). O efeito adverso mais comum reportado com pramlintide foi a
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 03 (2002) 175

Continuação náusea, geralmente leve a moderada, e que sumiu pouco tempo depois do
início do tratamento. Os resultados deste estudo confirmam a segurança e
eficácia da pramlintide administrada 3 vezes ao dia com as principais refeições,
em conjunto com a terapia insulínica, para melhorar o controle do peso e da
glicemia, a longo prazo, em pacientes portadores de diabetes tipo 2.

Levien TL et al. Ann Pharmacother Insulina glargina: nova insulina basal


2002 Jun;36(6):1019-27, junho de
2002 Objetivo: Revisão das recomendações de farmacologia, farmacocinética,
dosagens, efeitos adversos, interações e eficácia clínica da insulina glargina.
Dados: Artigos originais e revisões sobre insulina glargina foram identificados
por pesquisa em Medline (1966 – julho de 2001), e resumos através do Institute
for Scientific Information Web of Science (1995 – julho de 2001) e a American
Diabetes Association. Todos os artigos e resumos de congressos foram avaliados
e todas informações relevantes foram inclusas nesta revisão.
Síntese: Insulina glargina é um análogo recombinante de insulina humana
de longa ação, administrada uma vez por dia como fonte de insulina em
pacientes portadores de diabetes tipo 1 ou 2. Alteração da estrutura básica da
insulina produziu uma nova insulina solúvel e com pH ácido, mas precipita
no tecido subcutâneo e é lentamente liberada a partir deste deposito. Insulina
glargina tem um início de ação mais lento do que a insulina NPH e uma
duração de ação maior, sem pico de atividade. A eficácia da administração
uma vez/dia de insulina glargina foi comparável a da insulina NPH
administrada uma ou duas vezes/dia, em conjunto com doses intermitente de
insulina regular ou insulina lispro em pacientes diabéticos tipo 1 ou 2, e em
conjunção com agentes antidiabéticos orais em pacientes diabéticos de tipo
2. Insulina glargina tem uma incidência de hipoglicemia ≥ a da insulina NPH,
com incidência reduzida da hipoglicemia noturna quando comparada com
insulina NPH.
Conclusões: Insulina glargina é um análogo de insulina de longa ação capaz
de fornecer uma proteção por insulina, quando administrada uma vez por
dia ao deitar. Seu perfil de atividade, sem pico acentuado, tem mais
semelhanças com a insulina basal do que outros intermediários – ou a
insulina de longa ação e aparece mais associada à menor incidência
diminuída de hipoglicemia, em particular a hipoglicemia noturna.
Fisiologicamente, insulina glargina fornece insulina basal, mas, para
inúmeros pacientes, a adição de uma insulina de ação rápida, como insulina
lispro, antes ou durante as refeições, precisará ser inclusa no tratamento
para conseguir um ótimo controle das concentrações da glicose sanguínea.

David E. Cummings et al., N Engl J Níveis de ghrelin ligados à regulação do peso corporal
Med 2002;346:1623-1630,1662-1663,
maio de 2002 O hormônio recentemente identificado ghrelin é associado com a regulação,
a longo prazo, do peso corporal e poderia ser um novo objetivo para o tratamento
da obesidade. Neste estudo, foram observados os níveis de 24 horas de ghrelin
em 13 pacientes obesos, antes e após um programa de perda de peso de 6 meses.
Foram avaliados os níveis de insulina, leptina e sensibilidade à insulina. Os
níveis de ghrelin foram também obtidos em 5 pacientes obesos tratados por
cirurgia gástrica, 5 pacientes obesos controle e 10 indivíduos saudáveis controle.
Os níveis endógenos de ghrelin aumentam antes de cada refeição e diminuem
após a refeição, o que é consistente com o papel do ghrelin como mediador da
fome durante a refeição. Em pacientes que perderam peso com dieta de baixa
176 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 03 (2002)

Continuação caloria, foi observado um aumento na produção de ghrelin, o que sugere que a
produção de ghrelin é também mediada pelo peso corporal. Dentre os pacientes
obesos, uma perda de peso de 17,4% induzida por dieta foi associada com um
aumento em 24% da área sob a curva do perfil de ghrelin de 24 horas (p =
0,006). A perda de peso, após cirurgia gástrica, foi associada com uma supressão
profunda de ghrelin e ausência de oscilações dos níveis de ghrelin durante as
refeições, o que sugere que alguma coisa no processo da cirurgia exclui a maioria
das células produtoras de ghrelin, que tem um contato direto com os nutrientes
enterais, tornando as células não produtivas.
Comparados com controles saudáveis, pacientes que perderam peso por
cirurgia gástrica, apresentam uma diminuição em 77% da área sob a curva de
24 horas do perfil de ghrelin, apesar desses pacientes terem uma perda de
peso de 36% (p < 0,001). Quando comparados com controles obesos, a área
sob a curva do perfil de ghrelin foi reduzido em 72% (p = 0,01).
Esses dados sugerem que antagonistas do ghrelin podem ser estudados para o
tratamento da obesidade. Mas, segundo a equipe, “até que esses antagonistas sejam
disponíveis, a cirurgia gástrica é um tratamento importante da obesidade severa. O
sucesso desta cirurgia pode resultar não só da restrição física do órgão digestivo,
mas também da supressão, induzida pela cirurgia, da capacidade do estômago,
agindo como uma glândula endócrina, de falar diretamente com o cérebro”.

Laurie Barclay et al, Digestive Disease Novas esperanças para a obesidade mórbida
Week Annual Meeting,
20 de maio de 2002. Um estudo apresentado no congresso, sugere que a cirurgia bariátrica é tão
segura em adolescentes como em adultos. Outro estudo indica que a balão
intra-gástrico pode ajudar para melhorar os resultados ou evidenciar a
necessidade da cirurgia em pacientes que não podem seguir o tratamento ou
os conselhos dietéticos.
De 32 adolescentes que foram tratados por cirurgia bariátrica em um período
de 20 anos, 3 receberam gastroplastia, 16 bypass gástrico, 3 bypass gástrico
distal e 10 bypass gástrico log-limb. Não ocorreu morte ou esvaziamentos
pós-operatórios. Complicações precoces incluíram 1 êmbolo pulmonar, 1
infecção severa, 4 pequenos problemas de ferimentos, 3 estenoses do estomago
que foram dilatadas por endoscopia, e 4 úlceras marginas que foram tratados
por supressão da acidez. Complicações tardias incluíram 1 obstrução do
intestino, 4 hérnias na incisão, e uma morte súbita 6 meses após a cirurgia. 2
pacientes precisaram uma nova cirurgia, 1 para desnutrição e 1 para perda de
pesa inadequada.
1 ano após tratamento cirúrgico, a maioria das comorbidades foram
resolvidas, na exceção de 2 casos de hipertensão, 2 casos de refluxo
gastresofágico e 7 doenças degenerativa articular. A melhora da imagem
corporal facilitou o casamento em 8 pacientes, a graduação em 5 e os resultados
escolares em 2.
Segundo os autores, a cirurgia bariátrica em adolescentes é segura e
associada com perda significativa de peso, correção das comorbidades, melhora
da imagem e socialização.
No segundo estudo de Feryal Ilkova et al., Istambul, Turquia, 17 pacientes,
idade 20-67 anos, receberam inserção endoscópica de um balão intra-gástrico.
Em 2 pacientes a perda de peso foi suficiente para autorizar a remoção do
balão após 3 meses, e, em outros pacientes, em 6 meses. Não foram observadas
complicações. O IMC médio diminui de 42,3 antes da cirurgia, para 33,81
após remoção do balão (P < 0,0001). O balão intra-gástrico é seguro e eficaz
como método não-invasivo de tratamento da obesidade mórbida e pode ser
indicado para pacientes que não respondem à dieta de tratamento médico.
178 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 03 (2002)

Petri S. Mattila et al, Diabetes Care Asma é inversamente associada ao risco de diabetes tipo 1
2002;25:865-868, maio de 2002
A predisposição a sintomas atópicos após exposição a antígenos inalados
pode proteger as crianças contra diabetes tipo 1. Os autores deste estudo
avaliaram a frequência da asma e atopia em 306 pacientes com diabetes na
infância, seus 506 irmãos não diabéticos e 406 controles.
Quando as crianças diabéticas são comparadas com controles, os pesquisadores
observaram uma associação inversa entre o risco de diabetes e asma (odds ratio =
0,49) e alergia a poeira de animal (odds ratio = 0,67). O risco era também inverso,
em grau menor, com alergia a pólen (odds ratio = 0,74).
Quando as crianças diabéticas foram comparadas com os irmãos não
diabéticos, o risco de diabetes foi inversamente associado com asma (odds
ratio = 0,54), mas não com alergia a poeira de animal (odds ratio = 0,99) ou
pólen (odds ratio = 0,88).
Isso sugere que os probandos e seus parentes não afetados, dividem um
patrimônio genético e/ou de meio ambiente que reduz o risco de
desenvolvimento de alergia a poeira de animal.

Ton J. Rabelink et al., Arterioscler Atorvastatina não melhora a vaso-reatividade em pacientes


Thromb Vasc Biol 2002;22:799-804, diabéticos tipo 2
maio de 2002
A diminuição intensiva dos lípides com atorvastatina não tem efeito sobre a
vasodilatação NO-dependente em pacientes diabéticos tipo 2. Os autores deste
estudo testaram a hipótese que o tratamento com atorvastatina teria um efeito
benéfico sobre a disponibilidade de NO em pacientes diabéticos tipo 2 e com
hiperlipidemia leve. Eles utilizaram a oclusão venosa por pletismografia para
examinar o efeito da diminuição dos lípides (4 semanas com atorvastatina 80
mg), sobre a reatividade dos vasos em 32 pacientes diabéticos tipo 2 e 21 controles.
Comparados com controle, os pacientes diabéticos tipo 2 apresentaram uma
vasodilatação NO-dependente induzida por serotonina significativamente
diminuída. A vasodilatação dependente do endotélio induzida por nitroprussiato
foi também diminuída em paciente diabéticos tipo 2, comparados com controle.
Apesar de que os pesquisadores observaram diminuições significativas em
colesterol total, LDL lipoproteínas e triglicérides, não tem efeitos aparentes
sobre a vasodilatação NO-dependente e endotélio-independente. Os autores
sugerem que outros fatores, como a hiperglicemia, podem ter um papel na
diminuição da vaso-reatividade em pacientes diabéticos tipo 2.

Marreiro D., Fisberg M., Cozzolino Status da Zinco nutritional em crianças e adolescentes obesos
S.M. Biol Trace Elem Res 2002 Estudos em animais e humanos mostraram que o metabolismo do zinco
May;86(2):107-22. (Zn) é alterado na obesidade. Este estudo avalia o status do Zn nutricional em
crianças e adolescentes obesas pela determinação de parâmetros e análises
bioquímicas de dietas. A pesquisa foi realizada em um grupo de crianças e
adolescentes obesos (n = 23) comparado com grupo controle (n = 21), com
idade entre 7 e 14 anos. A composição corporal foi avaliada por IMC,
impedância elétrica, e medidas de dobra de pele. Status de zinco nutricional
foi avaliado por determinação de Zn no plasma, eritrócito, urina de 24 horas,
por epectriofotometria atômica de absorção (lambda = 213.9 nm). As dietas
consumidas por ambos os grupos tinham concentrações marginais de zinco.
As concentrações de zinco no plasma e eritrócitos foram significativamente
menores no grupo obeso. A excreção urinária de zinco foi significativamente
maior no mesmo grupo. Os resultados permitiram concluir que o status do
zinco nutricional é alterado em indivíduos obesos.
Diabetes Clínica 03 (2002) 179

Produtos e novidades
Novo Nordisk lança NovoRapid (insulina aspart), novo análogo
da insulina de ação ultra-rápida
Novo Nordisk Farmacêutica do Brasil anuncia o lançamento de NovoRapid
(Insulina Aspart), novo análogo de insulina de ação ultra-rápida. Desde o dia
1o de junho de 2002, o novo medicamento pode ser encontrado nas principais
farmácias, lojas especializadas em produtos para diabetes, nas associações de
pacientes, e em todos os pontos de referência para a venda de insulina.
NovoRapid é um análogo de insulina humana obtido por tecnologia de
engenharia molecular. Através dessa técnica é feita uma modificação na
molécula da insulina com a troca de um aminoácido, de modo que a mesma é
rapidamente absorvida após injeção subcutânea. A insulina humana de ação
rápida (insulina regular) demora 30 minutos para iniciar a sua a
ação, enquanto para NovoRapid este tempo é de apenas 10
minutos. Isso permite que a aplicação seja feita imediatamente
antes ou após as refeições. Este é um benefício especialmente
importante para crianças, idosos ou adultos com hábitos
alimentares variáveis. Com NovoRapid, os pacientes terão mais
liberdade e segurança em seu tratamento. Outra vantagem de
NovoRapid é que estudos com até 3 anos mostraram que aqueles
que fizeram controle com essa nova insulina tiveram risco 72%
menor de apresentar hipoglicemia noturna grave, quando
comparados aos pacientes que usaram insulina humana regular.
Isso é explicado porque essa nova molécula tem ação mais rápida
e duração de efeito menor e, portanto, à noite, quando o paciente
está dormindo ela não diminui excessivamente a glicose no
sangue. NovoRapid é comer-cializado no Brasil em caixas com
5 cartuchos de 3,0 ml para uso nos sistemas de aplicação de
insulina - Innovo e Novopen 3 – podendo ser usado também nas
bombas de insulina.
180 Produtos e novidades - Diabetes Clínica 03 (2002)

Blend Coberturas lança coberturas diet para sobremesas e


confeitaria
A Blend cobertura comercializa uma serie de coberturas Diet para aplicação
em sorvetes, sundaes e produtos de confeitaria e panificação, todas para dietas
com restrição de sacarose e glicose. As três coberturas disponíveis são Diet
chocolate, Diet damasco e Diet goiaba, coloridas artificialmente. Os
edulcorantes utilizados são sorbitol, acessulfame-K e aspartame. As coberturas
Blend Diet contém alto teor de sólidos, com textura espessa, sem característica
de goma e sabor excelente. O alto teor de sólidos é obtido pela utilização de
polidextrose, polióis e proteínas de soro de leite modificadas de úykltima
geração, evitando assim o uso dfe mono e dissacarídeos. Desta forma o produto
pode ser consumido por diabéticos, ou indivíduos obrigados a dietas de
restrição de açucares. As coberturas Diet são disponíveis em frascos plásticos
de 320 g, condicionadas em caixas de 24 frascos, que devem ser conservadas
sob refrigeração depois de abertura.

Lowçucar lança KetChup Lowçucar Light, Mostarda Lowçucar


Light Sem Açúcar e o Refresco Light

Com o mesmo sabor dos tradicionais, o KetChup Lowçucar Light Sem


Açúcar e a Mostarda Lowçucar Light Sem Açúcar apresentam a grande
vantagem de não conter açúcar, podendo assim ser consumido também por
diabéticos. O KetChup Light Sem Açúcar e a Mostarda Lowçucar Light Sem
Açúcar ainda apresentam uma redução de 50% em suas calorias. A Mostarda
Lowçucar Light Sem Açúcar é o mais novo produto da linha de alimentos
Lowçucar.
A Lowçucar está lançando também o Refresco Magro Light, refresco em
pó que tem um sabor diferenciado mais próximo da fruta. Adoçado na medida
certa, com polpa de fruta.
O Refresco Magro Light é apresentado nos sabores limão e tangerina sem
açúcar, com redução de 84% das calorias. Apresentado em uma embalagem
familiar com pote de 220g que rende até 20 litros. O Refresco Light Steva
Plus, por sua qualidade, foi aprovado pela ANAD (Associação Nacional de
Assistência ao Diabético).
Para preparar o refresco, basta utilizar a colher medida que acompanha o
produto e fazer a quantidade desejada, dissolvendo o conteúdo da medida,
sendo o lado menor da colher em 200 ml de água, ou o lado maior da colher
em 1 litro de água fria ou gelada, mexa bem até que o pó dissolva por completo.
Se usar gelo, diminua proporcionalmente a quantidade de água utilizada. O
Refresco Magro Light já vem adoçado, é ideal como acompanhamento nas
refeições, nos lanches ou para matar a sede a qualquer hora do dia. Deve ser
consumido preferencialmente logo após o preparo, podendo ser conservado
na geladeira por no máximo 1 dia.
O Refresco Magro Light pode ser consumido por diabéticos, pessoas que
querem manter a forma física e também para consumidores que procuram
levar a vida mais saudável e dentro de uma alimentação equilibrada sem o
consumo de açúcar.
182 Diabetes Clínica 03 (2002)

Resumos de trabalhos e congressos


Lois Jovanovic et al, American Comparação de um análogo de insulina (insulina aspart) e
Diabetes Association 61st Scientific insulina humana regular com tratamento sem insulina em
Sessions, Philadelphia, Pennsylvania, diabetes gestacional
22 a 26 de junho de 2001
Introdução: A eficiência da insulina aspart (IAsp) foi comparada com a da
insulina humana regular (IReg) durante testes de refeições padrões em mulheres
portadoras de diabetes mellitus gestacional (DMG) necessitando insulina.
Método: Entre maio de 2000 e março de 2001, 10 mulheres com diabetes
gestacional diagnosticado, grávidas de 18-28 semanas, com controle glicêmico
inadequado com dieta, participaram de um teste de 3 refeições. No 1º dia,
nenhuma insulina foi usada. No 2º dia, IAsp e IReg foram usadas por
randomização e no 3º dia a outra insulina foi utilizada. Insulinas foram
administradas 5 minutos (IAsp) ou 30 minutos (IReg) antes do início da
refeição. Testes de refeições, com 20% da ingestão calórica diária ideal,
incluíram 40% de carboidr atos, 40% de gordura e 20% de proteínas. A glicose
plasmática foi medida 30 e 0 minutos antes da refeição, e 15, 30, 60, 90, 120,
180 e 240 minutos após o início da refeição.
Resultados: As concentrações da glicose plasmática pós-prandial de 3 e 4
horas foram significativamente menores com IAsp (73 e 67 mg/dl,
respectivamente) ou IReg (79 e 66 mg/dl) do que sem insulina (85 e 75 mg/
dl). O pico de glicose pós-prandial (PGP) ocorre a 60 minutos nos 3 testes de
refeições, e foi significativamente menor com IAsp do que sem insulina. Ao
contrário, com IReg, o pico de glicose não foi significativamente menor do
que sem insulina. Entretanto, a área sob a curva (AUC) de glicose de 3 e 4
horas foi significativamente menor para IAsp do que sem insulina. Para IReg
não foi significativamente diferente do que no teste sem insulina.

Sem insulina IReg Iasp

PGP 60 min (mmg/dl) 122 115 108*


AUC 3 h (mg.hr/dl) 37,2 36,5 6,4*
PGP 3 e 4 horas 85 - 75 79* - 66* 73* - 67*
*Significativamente diferente de “sem insulina” (p < 0,05).

Conclusão: Durante gravidez complicada por diabetes gestacional, ambos


os tipos de insulina foram eficazes para repor a glicose na linha base 3 ou
4 horas após a refeição. Entretanto, IAsp foi mais eficiente que a insulina
regular para diminuir o pico pós-prandial, e, em razão da AUC total menor,
diminuiu a exposição total do feto em desenvolvimento à glicose.
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002) 183

Niels Ejskjaer et al, American Estudo randomizado, cruzado, duplo-cego testando a


Diabetes Association 61st Scientific administração de insulina aspart pré-misturada três vezes/dia
Sessions, Philadelphia, Pennsylvania, em pacientes diabéticos tipo 2
22 a 26 de junho de 2001
Introdução: A insulina aspart bifásica (BIAsp) 50 e 70 (também conhecida
como mistura “média” e “elevada”) consiste em 50% e 70% de IAsp solúvel,
respectivamente, misturada com IAsp ligada à protamina. Este estudo testou
o conceito de administração de BIAsp 70, 3 vezes ao dia, em pacientes
portadores de diabetes tipo 2, e, além disso, se a troca da BIAsp 70 para a
BIAsp 50 no jantar poderia melhorar o controle glicêmico.
Desenho: O estudo comparou 2 tratamentos; BIAsp 70 administrada no
café da manhã e no almoço, e, no jantar, BiASp 70 (jan70) ou BIAsp 540
(jan50). 16 pacientes portadores de diabetes tipo 2 foram inclusos no estudo
(idade 59,3 ± 8,1 anos; IMC 27,7 ± 2,8 kg/m2). Durante um período inicial de
6 a 8 dias, os pacientes receberam insulina humana bifásica (BHI) 20 ou 30
(20 ou 30% de insulina humana de ação rápida, respectivamente), 2 vezes ao
dia. Os pacientes foram randomizados para 26-30 dias de jan70, seguidos de
26-30 dias de jan50, ou o contrário, de acordo com o desenho do estudo. A
dose total de insulina diária administrada durante cada período de tratamento
foi a mesma que na dose usada no final do período de preparação (linha base),
mas dividida em 3 porções. O controle glicêmico foi avaliado pela glicose
plasmática de jejum (8 horas), os perfis de glicose e de insulina de 24 horas,
medidos no início e após cada período de tratamento.
Resultados: Não foram observadas diferenças no nível de glicose de jejum
entre os dois tratamentos. A concentração média de glicose plasmática durante
o dia (8h00 – 22h00) foi menor após o tratamento jan70 do que na linha base
(diferença 1,6 mM, p < 0,05), mas nenhuma diferença foi observada após o
tratamento jan50 quando comparado com a linha base. A concentração média
de glicose plasmática à noite (22h00 – 8h00) não foi diferente após os dois
tratamentos, mas o nível de glicose plasmática de jejum foi maior em ambos
jan70 e jan50, quando comparados com a linha base (10,2, 10,7 e 7,8 mM,
respectivamente, p < 0,01).
Conclusões: Os resultados mostraram que o controle glicêmico diurno
melhorou com o tratamento jan70, quando comparado com a linha base.
Todavia, para um bom controle noturno, a dose do jantar precisa de ajuste
ou substituição por insulina pré-misturada, com proporção maior de insulina
de ação prolongada.

Baena RM et al., Department of Vitamina A, retinol binding proteína e lípides em diabetes


Biochemistry and Molecular Biology, mellitus tipo 1
University of Granada, Granada,
Spain. Eur J Clin Nutr 2002 Objetivo: Avaliar os efeitos do diabetes mellitus tipo 1 sobre os níveis
Jan;56(1):44-50 plasmáticos de vitamina A (retinol) e os níveis plasmáticos de retinol-binding
proteína (RBP) e suas relações com os indicadores de aterogênese.
Material e métodos: Foram recrutadas e randomizadas 47 crianças tratadas
na Unidade de Endocrinologia do Hospital Universitário de Granada. Elas
foram cruzadas com 16 crianças saudáveis da mesma idade. Os seguintes
parâmetros foram medidos em todos os pacientes: concentrações plasmáticas
de colesterol total, triglicérides, HDL, LDL e VLDL colesterol, níveis de
RBP, vitamina A plasmática e HbA1c.
Resultados: Foram encontradas em crianças diabéticas concentrações mais
elevadas de RBP (P = 0,05), níveis de retinol menores, e menor relação
vitamina A/colesterol do que no grupo controle; nenhuma diferença nos
184 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002)

indicadores de aterogênese foi encontrada. Existia uma correlação entre RBP


e vitamina A (P = 0,0001). Relações entre retinol, RBP e indicadores de
aterogênese foram demonstradas no grupo diabético (A-LDLc/HDLc (P =
0,01); A-(VLDL+LDL)c/HDLc (P = 0,007); RBP-LDLc/HDLc (P = 0,05);
RBP-(VLDL+LDL)c/HDLc (P = 0,02)), e uma relação inversa foi achada
entre ratio vitamina A/TG e HbA1c (P = 0,004). As crianças com HbA1c >
8% mostraram um aumento dos indicadores de aterogênese e menores relações
do que as crianças com melhor controle da doença.
Conclusões: As crianças diabéticas com controle metabólico diminuído
têm um maior risco de aterogênese e de deficiência relativa de vitamina A
de que as crianças com controle metabólico adequado. Foram encontradas
relações entre retinol e RBP com os indicadores de aterogênese. Os
resultados sugerem que os suplementos terapêuticos de vitamina A em
crianças diabéticas podem reduzir ou prevenir o risco aterogênico.

Winkler et al., Diabetes Res Clin Pract Sistema do tumor necrosis factor na resistência à insulina em
2002;56(2):93-99, maio de 2002 diabetes gestacional

Objetivo: Determinar o papel fisiopatológico do sistema do tumor necrosis


factor (TNF) na resistência à insulina em pacientes portadoras de diabetes
gestacional (GDM) e durante o período de gravidez normal.
Pacientes e métodos: Participaram 30 mulheres com GDM (16-39 semanas
de gestação), 35 mulheres grávidas saudáveis (15 no primeiro, 9 no segundo e
186 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002)

11 no terceiro trimestre) e 25 mulheres saudáveis não-grávidas. Foram medidos


TNF-α plasmática e seis receptores solúveis 1 e 2 (sTNFR-1 and -2).
Resultados: Em mulheres grávidas não-diabéticas no terceiro trimestre,
todas as medições foram significativamente maiores (P < 0,05 ou menos), do
que no primeiro trimestre ou em mulheres não grávidas (BMI 27,6 ± 4,1 (±
DP), 24,1 ± 2,6, 22,4 ± 2,4 kg/m2), TNF-a plasmático (4,6 ± 0,6, 4,1 ± 0,4, 4,1
± 0,4 ng/l), sTNFR-1 (2,7 ± 0,9, 2,0 ± 0,5, 2,0 ± 0,1 mg/l), sTNFR-2 (5,6 ±
2,6, 4,6 ± 2,1, 3,3 ± 0,2 mg/l), peptídeo C (3,1 ± 1,7, 1,1 ± 0,7, 1,1 ± 0,8 mg/
l), e razão peptídeo C/glicose sanguínea (0,6 ± 0,2, 0,2 ± 0,1, 0,2 ± 0,1 mg/
mmol). Em GDM, esses resultados são geralmente maiores do que em qualquer
subgrupo de mulheres grávidas saudáveis (IMC) (33,4 ± 6,4 kg/m2, TNF-a
(6,3 ± 0,6 mg/l), sTNFR-1 (3,0 ± 0,5 mg/l), sTNFR-2 (10,0 ± 6,9 mg/l, peptídeo
C 6,0 ± 2,7 mg/l, razão peptídeo C/glicose sanguínea: 1,2 ± 0,5 mg/mmol, P
< 0,01). Correlações lineares positivas significativas (P < 0,01) foram
encontradas em diabetes gestacional e mulheres não diabéticas entre TNF-a
plasmático, níveis de peptídeo C e IMC. Em mulheres com GBM, após análise
multivariate estudando a dependência do peptídeo C, só o IMC é significativo
(r2 = 0,67, P = 0,01).
Conclusão: Esta observação enfatizou o fator relacionado à obesidade na
resistência à insulina controlado por adipocitocinas, tal como a TNF-a e
seus receptores durante o período da gravidez normal e em caso de diabetes
gestacional.

Nielsen S et al., Medical Department Losartan altera a hiperfiltração glomerular e sensibilidade à


Endocrinology and Diabetes, Aarhus insulina em diabetes tipo 1
Kommunehospital, Aarhus, Denmark
Merck Research Laboratories, Objetivo: O efeito do antagonista do receptor da angiotensina II sobre a
Copenhagen, Denmark, Diabetes Obes hemodinâmica renal e o sistema de glicose mediado por insulina foi investigado
Metab 2001;3(6):463-71 em pacientes diabéticos tipo 1 normotensos, normoalbuminúricos, usando
dezembro de 2001 um desenho duplo-cego, controlado por placebo e cruzado.
Métodos: Foram medidos pressão sanguínea diurna, taxa de filtração
glomerular (GFR, determinada usando [125I]-iotalamato), fluxo plasmático
renal (RPF, determinado usando [131I]-hipuran) e taxa de excreção de
albumina urinária (UAE). Também foi realizado um clamp hiperinsulinico-
euglicêmico com calorimetria indireta em 9 pacientes (idade 30 ± 7 anos,
média ± DP), HbA1c (8,1 ± 1,1%), após administração durante 6 semanas de
losartan ou placebo.
Resultados: A pressão sanguínea diurna diminuiu significativamente após
losartan, quando comparado com placebo (122/70 ± 11/8 vs. 130/76 ± 12/6
mmHg, p < 0,05). Diminuição significativa em GFR (133 ± 23 vs. 140 ± 22
ml/min, p < 0,05) e fração de filtração (FF; GFR/RPF) (24,6 ± 3,5 vs. 26,2 ±
3,6%, p < 0,05) foi observada no grupo losartan vs. placebo. RPF e UAE não
foram alterados. As taxas de glicose isotopicamente determinadas foram
semelhantes após losartan ou placebo nos estágios iniciais (2,61 ± 0,53 vs.
2,98 ± 0,93 mg/kg/min) e após estimulação por insulina (6,84 ± 2.52 vs. 6,97
± 3,11 mg/kg/min). Todavia, a taxa de oxidação da glicose aumentou
significativamente após losartan vs. placebo no início (1,72 ± 0,34 vs. 1,33 ±
0,18, mg/kg/min, p < 0,01) e durante a estimulação por insulina (2,89 ± 0,75
vs. 2,40 ± 0,62 mg/kg/min, p < 0,03). Após losartan, diminui o consumo de
glicose não-oxidativa no início e após estimulação por insulina; todavia, isso
não é significativo. A produção de glicose endogênica e oxidação de lípides
não foram alteradas após tratamento e supressos durante hiperinsulinemia.
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002) 187

Controle glicêmico, colesterol total, HDL-colesterol e triglicérides foram


estáveis nos dois grupos.
Conclusões: Losartan diminui a pressão sanguínea, a hiperfiltração
glomerular e FF, além de melhorar a oxidação da glicose basal, estimulada
por insulina em pacientes diabéticos tipo 1 normotensos e
normoalbuminúricos.

Jonsson A et al., Department of Efeitos e níveis plasmáticos de glibenclamida e metabólitos ativos


Endocrinology, Lund University, em pacientes diabéticos tipo 2
Malmo University Hospital, Malmo
Diabetes Obes Metab 2001;3(6):403- Objetivo: Observar os efeitos dos níveis plasmáticos da glibenclamida (GB)
409, dezembro de 2001 e de seus metabólitos ativos em pacientes recebendo tratamento crônico de
GB com posologias diárias diferentes.
Material e métodos: 50 pacientes portadores de diabetes tipo 2 e tratamento
regular com GB (1,75-14,0 mg/dia). Amostras sanguíneas foram coletadas
imediatamente antes e 90 minutos após administração normal de GB. Café da
manhã padronizado foi distribuído 30 minutos após administração da droga.
Insulina plasmática e níveis de pro-insulina foram determinados por métodos
ELISA. Níveis plasmáticos da droga foram determinados por HPLC. O teste
de Fischer (coeficientes de correlação) e teste t de Student foram utilizados,
para comparar valores dentro do grupo e testes não paramétricos de Mann-
Whitney, para comparar níveis de dose baixos e elevados. Valor de p < 0,05
foi considerado significativo.
Resultados: Foram encontradas correlações significativas entre dose diária
de GB e, do outro lado, níveis de HbA1c (r = 0,55), Delta-insulina (r = - 0,59)
e Delta-proinsulina (r = - 0,52). Foram também achadas correlações
significativas entre duração do tratamento com GB e insulina (r = -0,40) e
secreção de pro-insulina (r = -0,34), e entre dose de GB e relação pro-insulina/
insulina (RPI) (r = 0,32 e 0,30). O RPI foi menor após administração de GB.
Conclusões: Os resultados indicam que, em pacientes com tratamento de
longo prazo, GB é capaz de estimular ambas as secreções de insulina e
pro-insulina; o efeito sobre a liberação de insulina é relativamente maior.
O efeito foi mais importante em pacientes recebendo doses baixas de GB,
seja em razão da menor diminuição da função da célula b nos pacientes
recebendo doses baixas, seja por causa da sensibilidade diminuída a
sulfoniluréia em os pacientes tratados com dosagem elevada. Em pacientes
recebendo uma dose diária de 10,5 mg ou mais, níveis de metabólitos
plasmáticos ativos foram demonstrados; os metabólitos podem contribuir
para a ocorrência de eventos hipoglicêmicos.

William C. Knowler et al., Diabetes Redução na incidência do diabetes tipo 2 após intervenção sobre
prevention Program Research Group, o estilo de vida ou metformina
New England Journal of Medicine,
2002;346(6):393-403, Introdução: Diabetes tipo 2 afeta aproximadamente 8% dos adultos dos
fevereiro de 2002 Estados Unidos. Alguns fatores de risco – concentrações elevadas de glicose
plasmática de jejum ou após teste de carga em glicose, sobrepeso, estilo de
vida sedentário – são potencialmente reversíveis. A hipótese é que a alteração
desses fatores com programa de intervenção no estilo de vida ou administração
de metformina, poderia prevenir ou adiar o desenvolvimento do diabetes.
Métodos: 3.234 indivíduos não diabéticos com concentrações de glicose
de jejum ou após teste de carga elevada foram randomizados para receber
placebo, metformina (850 mg duas vezes/dia) ou programa de alteração do
188 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002)

estilo de vida com objetivo de perda de peso de 7% e atividade física pelo


menos 150 minutes/semana. A idade média dos participantes era de 51 anos,
com IMC 34 kg/m2, 68% mulheres e 45% membros de grupos minoritários.
Resultados: O seguimento médio foi de 2,8 anos. A incidência do diabetes
foi 11,0, 7,8 e 4,8 casos por 100 pessoas/ano nos grupos placebo, metformina
e estilo de vida, respectivamente. A intervenção sobre o estilo de vida diminuiu
a incidência em 58% (IC 95% 17-43%), quando comparado com placebo; a
intervenção sobre o estilo de vida foi significativamente mais eficiente de
que a metformina. Para prevenir um caso de diabetes durante um período de
3 anos, 6,9 pessoas deveriam participar de um programa de alteração de estilo
de vida e 13,9 pessoas deveriam receber metformina.
Conclusões: Ambas alterações do estilo de vida e tratamento com
metformina diminuíram a incidência do diabetes em indivíduos com alto
risco. A intervenção sobre o estilo de vida foi mais eficiente de que a
metformina.

Farkas B et al., Br J Dermatol Tratamento da onicomicose da unha do dedo do pé por


2002;146(2):254-260, terbinafina (Lamisil) em pacientes diabéticos tipo 1 e tipo 2
fevereiro de 2002
Introdução: Diabetes Mellitus (DM) afeta aproximadamente 175 milhões
de pessoas no mundo inteiro. Estima-se que um terço desses pacientes
apresenta uma onicomicose da unha do dedo do pé.
Objetivos: Determinar a eficácia e segurança do tratamento com terbinafina
para a onicomicose da unha do dedo de pé em pacientes portadores de diabetes,
tratados por insulina e/ou agentes antidiabéticos orais. Observação especial
foi dirigida sobre as interações potenciais da droga com os agentes
antidiabéticos orais.
Métodos: Estudo multicêntrico, com pacientes portadores de diabetes tipo
1 e 2 e onicomicose da unha do dedo do pé. Eles foram tratados durantes 12
semanas com terbinafine via oral 250 mg ao dia e acompanhados durante 48
semanas. Em adição às investigações clínicas, micológicas e laboratoriais, os
níveis de glicose sanguínea foram monitorados.
Resultados: No fim do estudo (semana 48), a taxa de cura micológica era
de 73%. As taxas de cura clínica e completa (cura clínica + cura micológica)
foram de 57% e 48%, respectivamente. Não foram observadas diferenças
significativas entre os grupos de diabetes tipo 1 e tipo 2, no que se refere às
taxas de cura (p > 0,05). Nenhum evento hipoglicêmico foi reportado.
Conclusões: Com excelentes taxas de cura e bom perfil de tolerância,
terbinafina continua ser uma droga de referência para o tratamento da
onicomicose da unha do dedo de pé para o número crescente de diabéticos
tipo 2.

Stuhlinger MC et al., Division of Relação entre resistência à insulina e um inibidor endogênico da


Cardiovascular Medicine, Stanford sintase do óxido nítrico
University School of Medicine JAMA
2002;287(11):1420-1426, Contexto: Níveis crescentes de dimetilarginina assimétrica (ADMA) são
março de 2002 associados com disfunção endotelial e risco aumentado de doença
cardiovascular. Vários fatores de risco cardiovasculares são associados à
sensibilidade à insulina reduzida, mas concentrações elevadas de ADMA não
foram ainda completamente ligadas à síndrome metabólica.
Objetivo: Avaliar a relação entre sensibilidade à insulina e concentrações
plasmáticas de ADMA, e determinar se o tratamento farmacológico, que
190 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002)

Continuação aumenta a sensibilidade à insulina, poderia também influir sobre as


concentrações de ADMA.
Material e métodos: Estudo cruzado, com componente controlado, não
randomizado, de 64 voluntários saudáveis sem diabetes (42 mulheres, 22
homens; 48 com pressão arterial normal e 16 hipertensos), em centro médico,
entre outubro de 2000 e julho de 2001.
Intervenção: Rosiglitazona (4 mg/dia durante 4 semanas e 4 mg duas vezes
ao dia, durante 8 semanas), agente sensibilizador à insulina, foi dado a 7
pacientes resistentes à insulina e hipertensos. Esses pacientes foram observados
antes e após 12 semanas de tratamento. Foram coletados: sensibilidade à
insulina medida por teste de supressão de insulina, níveis plasmáticos de jejum
de LDL colesterol, triglicérides, HDL-colesterol, glicose, insulina e ADMA.
Resultados: As concentrações plasmáticas de ADMA foram positivamente
correlatas com diminuição do consumo de glicose, pelo sistema insulínico
em indivíduos não diabéticos normotensos (r = 0,73; P < 0,001). Consistente
com a síndrome metabólica, os níveis de ADMA foram positivamente
correlatos com os níveis de triglicérides de jejum (r = 0,52; P < 0,001), mas
não com os níveis de LDL-colesterol (r = 0,19; P = 0,20). Concentrações
plasmáticas de ADMA aumentaram em indivíduos resistentes à insulina,
independentemente da hipertensão. O tratamento farmacológico melhorou a
sensibilidade à insulina e diminuiu as concentrações médias de ADMA no
plasma de 1,50 (0,30) para 1,05 (0,33) mmol/l (p = 0,001).
Conclusão: Existe uma relação significativa entre a resistência à insulina e
as concentrações plasmáticas de ADMA. A intervenção farmacológica com
rosiglitazona melhorou a sensibilidade à insulina e reduziu os níveis de
ADMA. O aumento das concentrações de ADMA no plasma pode contribuir
à disfunção endotelial, observada em pacientes resistentes à insulina.

McSorley P.T., Bell P.M., Jacobsen Morbidade e mortalidade cardiovascular em pacientes diabéticos
L.V., Kristensen A., Lindholm A. Clin tratados com losartan: estudo comparativo com atenolol
Ther 2002;24(4):530-9, abril de 2002
Introdução: A mais conveniente droga para diminuir o risco de doença
cardiovascular em pacientes com hipertensão e diabetes é ainda mal definida.
Comparamos os efeitos de losartan e atenolol sobre a morbidade e mortalidade
em pacientes diabéticos.
Métodos: Como parte do estudo LIFE, os participantes deste estudo duplo-
cego, randomizado, com grupo paralelo – 1195 pacientes com diabetes,
hipertensão, sintomas de hipertrofia ventricular esquerda (LVH) no ECG –
receberam um tratamento com losartan ou atenolol. A idade média dos
pacientes era de 67 anos (DP 7 anos) e apresentavam uma pressão sanguínea
média de 177/96 mmHg (14/10), após período de placebo. Acompanhamos
os pacientes aproximadamente durante 4 anos (média 4-7 anos). Utilizamos a
análise regressiva de Cox, com o escore de risco de Framingham, como linha
base e os sintomas de LVH no eletrocardiograma, para comparar os efeitos
das drogas sobre a morbidade e mortalidade cardiovascular (morte
cardiovascular, acidente cerebrovascular, infarto do miocárdio).
Resultados: A pressão sanguínea média diminuiu para 146/79 mmHg (17/
11) no grupo losartan e para 148/79 mmHg (19/11) no grupo atenolol. Os
eventos ocorreram em 103 pacientes tratados por losartan (n = 586) e 139
pacientes tratados por atenolol (n = 609), com risco relativo 0,76 (IC 95%
0,58-0,98; p= -0,031). 38 e 61 pacientes dos grupos losartan e atenolol,
respectivamente, morreram de doença cardiovascular; 0,63 (0,42-0,95 p =
0,028). A mortalidade para todas as causas foi de 63 e 104 nos grupos losartan
e atenolol, respectivamente (0,61 (0,45-0,84), p = 0,002).
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002) 191

Continuação Conclusão: Losartan foi mais efetivo do que atenolol para diminuir a
morbidade e mortalidade cardiovascular, bem como a mortalidade para
todas as causas em pacientes com hipertensão, diabetes e LVH. Losartan
parece ter outros benefícios, além da redução da pressão sanguínea.

Lars H Lindholm et al., Lancet 2002; Insulina aspart bifásica duas vezes ao dia vs. Insulina humana
359: 1004-10, março de 2002 bifásica 30; estudo duplo-cego cruzado em adultos diabéticos tipo 2

Objetivo: O objetivo deste estudo foi de comparar a farmacocinética e a


farmaco-dinâmica da insulina aspart bifásica pré-misturada (BIAsp 30), com
a equivalente insulina humana pré-misturada bifásica (BHI 30), administrada
2 vezes ao dia, em pacientes portadores de diabetes tipo 2.
Métodos: Neste estudo randomizado, duplo-cego, cruzado, 13 pacientes (idade
média 64 anos, HbA1c média 7,7%, IMC médio 28,1 kg/m2), receberam duas
semanas de tratamento com BIAsp 30 e duas semanas com BHI 30, administrados
imediatamente antes do jantar e café da manhã. No final de cada período de duas
semanas de tratamento, a insulina plasmática de 24 horas e os perfis de glicose
foram determinados, usando testes imunológicos. Todos os dados de fármaco-
dinâmica e farmacocinética foram analisados, usando a análise de variância.
Resultados: A exposição à insulina diária total foi semelhante entre os
períodos de tratamento. A concentração de insulina total durante as 2 horas
após administração de BIAsp 30 foi 17% maior do que a da BHI 30 após
jantar e 44% maior após o café da manhã, todas diferenças estatisticamente
significativas. As concentrações máximas de insulina aspart plasmáticas após
BIAsp 30 foram significativamente maiores após jantar (18%) e café da manhã
(35%). O pico de concentração de insulina plasmática foi obtido uma hora
mais cedo, após o café da manhã e 45 minutos mais cedo, após o jantar no
grupo BIAsp 30; diferenças significativas só após o café da manhã. A excursão
média da glicose prandial diária foi significativamente menor para BIAsp 30
(16,2 mmol x h x L(-1)) do que para BHI 30 (17,9 mmol x h x L(-1)). As
excursões de glicose pós-prandial 4 horas foram significativamente menores
com BIAsp 30 do que com BHI 30, após jantar e café da manhã, mas foram
significativamente maior após almoço. As concentrações médias de 24 horas
e noturnas de glicose plasmática foram semelhantes, e ambas as insulinas
foram associadas a d” 7 eventos hipoglicêmicos menores.
Conclusões: A aplicação pré-refeição de BIAsp 30 em tratamento 2 vezes/
dia diminuiu significativamente as excursões de glicose pós-prandial. Este
efeito pode ser importante quando se procura o controle da glicose pós-
prandial.

Augustin A.J., Dick H.B., Koch F., Correlação do controle sanguíneo da glicose com metabólitos
Schmidt-Erfurth U. Eur J Ophthalmol oxidátivos em plasma e corpo vítreo em pacientes diabéticos
2002;12(2):94-101, abril de 2002
Objetivo: No diabetes, hiperglicemia e outros mecanismos causam a
produção de metabólitos oxidativos, que podem melhorar a produção de fatores
de crescimento e aumentar a atividade proliferativa. O controle estrito da
glicose sanguínea diminui a progressão da melhor retinopatia que do controle
padrão. Este estudo observou pacientes portadores de retinopatia diabética
para evidência de metabólitos oxidativos no plasma e no corpo vítreo,
correlacionando estes resultados com o controle da glicose sanguínea.
Métodos: O estudo incluiu 136 pacientes portadores de retinopatia diabética
proliferativa. Eles foram agrupados de acordo com o valor da hemoglobina
glicosilada dos últimos 9-12 meses. Pacientes com valores d” 10% (média.7%;
n = 64) foram considerados estritamente controlados, os com valores > 10%
192 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002)

Continuação (média 12,8%; n = 72) como controle padronizado. Os peróxidos lipídicos


foram determinados no plasma e corpo vítreo por 2 métodos. Quando presente,
a tração retinal com proliferação fibrovascular (>2 áreas de disco) foi
quantificada e serviu como indicador de atividade proliferativa.
Resultados: Pacientes com controle estrito da glicose sanguínea apresentaram
valores dos peróxidos lipídicos significativamente menores no plasma e no corpo
vítreo (p < 0.01) do que os com controle padrão. Esses últimos apresentaram
posteriormente taxas significativamente mais elevadas de proliferação fibrovascular
(50%) do que os pacientes com controle estrito (9. 7%).
Conlusão: O controle estrito da glicose sanguínea diminui as lesões
oxidativas nos tecidos sistêmicos e também no olho, e reduz a atividade
proliferativa. Os metabólitos oxidativos podem estimular a proliferação,
por aumento das quantidades de fatores de crescimento diferentes e
citocinas, tais como os fatores de crescimento vascular endotelial. Podemos
imaginar que, na hiperglicemia, o aumento relativo dos metabólitos
oxidativos contribui para ambas as lesões dos vasos retinianos e para a
atividade proliferativa mais acentuada na retinopatia diabética.

Cappelleri JC et al. Clin Ther Satisfação do tratamento em diabetes tipo 2: comparação em


2002;24(4):552-64, abril de 2002 insulina inalada e insulina subcutânea

Introdução: Em pacientes portadores de diabetes tipo 2, os dados publicados


sugerem que o controle glicêmico pode ser realizado com a mesma eficiência,
com um tratamento de insulina inalada (insulina intrapulmonar inalada pré-
194 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002)

Continuação prandial mais uma aplicação de insulina Ultralente ao deitar), ao invés de um


tratamento convencional, com 2 a 3 aplicações subcutâneas diárias de insulina.
É ainda desconhecido se a aplicação de insulina por inalação melhora a
satisfação do paciente.
Objetivo: Nosso objetivo foi de comparar a satisfação do paciente entre o
tratamento por inalação e o tratamento clássico.
Métodos: Estudo randomizado, controlado, aberto, com grupo paralelo de
12 semanas em pacientes portadores de diabetes tipo 2. Eles foram
randomizados para receber a insulina subcutânea (insulina misturada com 2
ou 3 aplicações diárias) ou insulina inalada (insulina inalada antes as refeições
e uma única aplicação de insulina Ultralente ao deitar). Alterações na
hemoglobina glicosilada (HBA1c), desde o início até a 12ª semana, foi o
primeiro resultado estudado. No início e na 12ª semana, os pacientes
completaram um questionário (Patient Satisfaction with Insulin Therapy
Questionnaire) com todos o parâmetros de satisfação.
Resultados: 51 pacientes (idade 35-65 anos) participaram do estudo. 26
recebendo insulina inalada e 25 insulina subcutânea. 47 pacientes (22 insulina
inalada, 25 subcutânea) completaram o questionário de satisfação. A
percentagem média de aumento de satisfação, com insulina inalada (31%;
95% IC, 14-50), foi significativamente maior (P < 0,05) do que com a insulina
subcutânea (13%; 95% IC, 7-19). Aumento da satisfação total foi correlata
com melhoras do controle glicêmico (r = 0,30; P < 0,05). Os dois tratamentos
permitiram uma diminuição da HbA1c de aproximadamente 0,7%. Apesar
do principal objetivo deste estudo ter sido a satisfação do paciente, os resultados
devem ser considerados como iniciais, já que foram observados os resultados
sobre a HbA1c e não a satisfação.
Conclusões: Administração de insulina inalada pode oferecer a primeira
alternativa prática e não-invasiva às injeções de insulina. Em pacientes
com diabetes tipo 2, a insulina inalada mais uma aplicação subcutânea no
deitar, oferece mais conforto, facilidade de uso, conveniência e uma
satisfação total maior, do que 2 ou 3 injeções diárias.

Heck A.M., Calis K.A., McDuffie J.R., Efeitos gastrintestinais adicionais com uso concomitante de
Carobene S.E., Yanovski J.A. Ann olestra e orlistat
Pharmacother 2002;36(6):1003-5,
junho de 2002 Objetivo: Caso de efeitos gastrintestinais adicionais e significativos com
uso concomitante de orlistat e lanche contendo olestra (óleo de substituição,
sem gordura).
Resumo do caso: Uma adolescente de 16 anos, afro-americana, portadora
de diabetes tipo 2, hipercolesterolemia e hipertensão, participou de um estudo
piloto para testar a segurança e eficácia de orlistat. Após duas semanas de
tratamento, a paciente chegou na clínica com sintomas de fezes gordurosas,
flatulência, dor abdominal e incontinência fecal. Após exame clínico,
constatou-se que ela consumia aproximadamente e diariamente 100 gramas
de batatas chips contendo olestra. A paciente eliminou olestra da dieta e voltou
para a clínica, com uma diminuição significativa dos efeitos gastrintestinais,
sem parar o tratamento com orlistat.
Discussão: Este é o primeiro caso publicado descrevendo efeitos
gastrintestinais após o uso concorrente de orlistat e olestra. Educação sobre
os efeitos gastrintestinais adicionais severos é importante para prevenir a
descontinuação prematura e desnecessária da terapia com orlistat. Atenção
para esta interação potencial é especialmente importante para pacientes que
desenvolvem doenças, nas quais os sintomas gastrintestinais podem resultar
em complicações significativas.
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002) 195

Conclusões: Esse caso ilustra a destreza gastrintestinal significativa que


pode ocorrer após consumo de olestra durante terapia com orlistat. Todos
os pacientes tratados com orlistat devem ser informados dessa interação
droga/alimento.

Chao M et al. Transplantation Melhora de diabetes induzido por streptozotocina em ratos,


2002;73(9):1454-1459, maio de 2002 usando células de ilhotas humanas derivadas de cultura in vitro
de longo prazo
Introdução: É difícil a manutenção, à longo prazo, do fenótipo das células
β in vitro. O objetivo deste estudo foi o de examinar um método in vitro, para
preservar a capacidade das células β humanas adultas de exprimir a insulina.
Avaliamos o uso a longo prazo de células de ilhotas cultivadas, para o
tratamento de ratos portadores de diabetes, induzido por streptozocina (SCID).
Métodos: Ilhotas humanas foram isoladas a partir de doadores cadavéricos.
As ilhotas foram cultivadas em ciclos repetidos durante 4 meses. Depois, as
células foram testadas in vitro por sua capacidade para exprimir insulina e
secretar insulina, em resposta à carga de glicose. Afinal, as células foram
transplantadas sob a cápsula do rim e no tecido renal em ratos SCID.
Resultados: Aproximadamente 3,6% das células de ilhotas cultivadas
expressaram insulina em 4 meses e isso foi confirmado pela microscopia
eletrônica. As células de ilhotas secretaram insulina em resposta à carga de
glicose de uma maneira dependente da dose. Após transplante, as células de
ilhotas se rediferenciaram e produziram >20% de células insulina positiva.
As células cultivadas durante 4 meses colocaram o nível de diabetes perto do
normal em ratos com diabetes moderado (7,25 mM ± 1,595 vs. 15,225 mM ±
2,55, P < 0,0025).
Conclusão: É possível preservar a capacidade das ilhotas humanas adultas
de exprimir a insulina em um período de 4 meses in vitro, e esta capacidade
foi significativamente melhorada por transplante em ratos SCID. O sistema
descrito será útil em estudos de proliferação e diferenciação de células b.

Holcombe J.H., Zalani S., Arora V.K., Comparação da insulina lispro com insulina humana regular
Mast C.J. Clin Ther 2002;24(4):629- para o tratamento do diabetes tipo 1 em adolescentes
38, abril de 2002
Introdução: Apesar de ter sido mostrado que a insulina lispro (insulina
LP) aumenta o controle da glicose sanguínea pós-prandial e diminui os
episódios de hipoglicemia em pacientes adultos diabéticos tipo 1, existem
poucos estudos clínicos sobre o seu uso em adolescentes.
Objetivo: Este estudo comparou os efeitos da insulina LP com os da insulina
regular humana (insulina R), sobre o controle da glicose sanguínea pós-prandial
e hipoglicemia em adolescentes diabéticos.
Métodos: Neste estudo cruzado, aberto, adolescentes de 9-18 anos que
atingiram o estádio II de puberdade de Tanner, foram randomizados para
receber Inulina LP imediatamente antes refeições ou insulina R 30 a 45 minutos
antes das refeições, em adição à insulina diária de ação intermediária. Após 4
meses, os pacientes receberam tratamento alternado. Perfis da glicose
sanguínea, taxa de hipoglicemia e HbA1c foram medidos no início e no final.
Resultados: 488 adolescentes participaram do estudo em 53 centros de
investigação em 15 países; 463 foram randomizados para o tratamento (228
insulina LP, 235 insulina R), e 457 completaram o estudo. Insulina LP
administrada antes do café da manhã resultou em níveis de glicose sanguínea
196 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002)

Continuação pós-prandiais de 2 horas (+/-SD), significativamente menores quando


comparados com insulina R (9,7 ± 4,0 mmol/L vs 10,6 ± 4,3 mmol/L,
respectivamente; P < 0,001). Insulina LP administrada antes do jantar resultou
em níveis de glicose sanguínea pós-prandiais de 2 horas (+/-SD),
significativamente menores quando comparados com insulina R (8,6 ± 3,5
mmol/L vs. 9,3 ± 3,7 mmol/L; P = 0,003). Nenhuma diferença foi observada
entre os tratamentos para os níveis de glicose sanguínea pós-prandiais de 2
horas após do almoço. Os valores médias de início de HbA1c foram
semelhantes entre os grupos, e nenhum diferença de HbA1c foi observado no
fim do estudo (insulina LP, 8,69% ± 1,52%; insulina R, 8,70% ± 1,65%). O
tratamento com insulina LP resultou em incidência significativamente menor
de episódios de hipoglicemia por paciente quando comparado com insulina R
(4,02 ± 4,5 vs. 4,37 ± 4,5, respectivamente; P = 0,023) e número
significativamente menor de episódios hipoglicêmicos entre meia-noite e 6:00
horas (1,0 ± 1,9 vs 1,7 ± 2,6; P < 0,001).
Conclusões: Em adolescentes diabéticos tipo 1, insulina LP melhora
significativamente o controle glicêmico pós-prandial e diminui os episódios
de hipoglicemia noturna, quando comparada com insulina R. Insulina LP
foi bem tolerada e eficiente como parte de um tratamento intensificado em
insulina nessa população de estudo.

Zuhri-Yafi M.I., Brosnan P.G., Hardin Tratamento do diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes
D.S. J Pediatr Endocrinol Metab
2002;15 Suppl 1:541-6, abril de 2002 Objetivo: Estudar as possíveis modalidades de tratamento de diabetes tipo
2 em crianças e adolescentes.
Desenho: Revisão dos dossiês médicos de 25 crianças e adolescentes
diabéticos tipo 2, comparando tratamentos e resultados. Os tratamentos mais
comuns foram insulina combinada com agente oral (metformina) ou
metformina em tratamento único. Foram avaliados HbA1c, peso corporal e
dose de insulina.
Pacientes: Era de 8 a 15 anos a idade dos pacientes no período do
diagnóstico. A razão mulher/homen era de 1,3;1. 60% dos pacientes eram
hispânicos. Todos os IMC estavam a cima do 85o percentil para idade e sexo.
92% dos pacientes eram portadores de acanthosis nigricans.
Resultados: Insulina era o tratamento único em 18 pacientes (72%), com
adição de metformina e supressão da insulina no retorno à euglicemia. Só 5
desses 18 pacientes, que começaram o tratamento de insulina, foram
completamente desmamados para a metformina em monoterapia e 3 desses
pacientes necessitaram o retorno ao tratamento de insulina, em razão da
inadequação do controle. Metformina não permitiu uma diminuição da dose
de insulina no grupo de tratamento conjugado. Metformina foi usada como
monoterapia em 7 pacientes (28%), mas 3 deles requereram mais tarde um
segundo agente hipoglicemiante oral. A alteração média em HbA1c no período
de estudo foi de -2,9% em pacientes com insulina em tratamento único, -
2,3% para os pacientes com insulina + metformina, e -4,4% em pacientes
com metformina em tratamento único. HbA1c aumenta após 2 anos de
tratamento. Poucos pacientes persistiram na perda de peso.
Conclusão: Metformina mostra ser um remédio eficiente para o tratamento
do diabetes tipo 2 em crianças, mas não parece ser uma monoterapia
suficiente a longo prazo, em nosso protocolo, pois necessita euglicemia
para interromper o tratamento insulínico. As estratégias de manejo do estilo
de vida para crianças portadores de diabetes tipo 2 será provavelmente tão
complexas quanto a dos adultos.
198 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002)

David E. Kelley et al. Diabetes Care Eficácia clínica de orlistat em pacientes diabéticos tipo 2 obesos
25:1033-1041, 2002, maio de 2002 ou com sobrepeso, tratados por insulina – Estudo controlado
randomizado de 1 ano

Objetivo: A perda de peso melhora o controle glicêmico, os perfis lipídicos


e a pressão sanguínea em pacientes diabéticos tipo 2. Entretanto, a perda de
peso a longo prazo é difícil para estes pacientes, notavelmente para os tratados
por insulina. O objetivo deste estudo foi de avaliar o efeito do orlistat, inibidor
da lípase gastrintestinal, sobre a perda de peso, o controle glicêmico e os
fatores de risco cardiovasculares em pacientes diabéticos tipo 2, obesos ou
com sobrepeso, tratados por insulina.
Desenho e métodos: Foi realizado um estudo multicêntrico de 1 ano,
randomizado, duplo-cego, controlado por placebo de orlistat (120 mg três
vezes/dia) ou placebo, associado a dieta reduzida em calorias em adultos obesos
ou com sobrepeso (IMC 28–40 kg/m2), portadores de diabetes tipo 2 tratados
por insulina em tratamento único ou associado a agentes orais, mas com
controle metabólico inadequado (HbA1c 7,5–12,0%). As medições incluíram
alterações no peso corporal, controle glicêmico, pressão sanguínea e lípides
plasmáticos.
Resultados: Após 1 ano, o grupo orlistat perdeu significativamente mais
peso (-3,89 ± 0,3% do peso corporal inicial, média ± DP) do que o grupo
placebo (-1,27 ± 0,3%, P < 0,001). O tratamento por orlistat, comparado com
placebo, produziu diminuições maiores em HbA1c (-0,62 ± 0,08 vs. -0,27 ±
0,08%, P = 0,002), glicose plasmática de jejum (-1,63 ± 0,3 vs. -1,08 ± 0,3
mmol/l, P = 0,02). Orlistat produziu também melhoras maiores do que placebo
em concentrações de colesterol plasmático total (P = 0,0002), LDL colesterol
(P = 0,001) e ratio LDL/HDL (P = 0,01).
Conclusões: A terapia por orlistat produz uma perda de peso clinicamente
significativa, com melhoras do controle glicêmico e dos fatores de risco
cardiovascular, em pacientes diabéticos tipo 2 obesos ou com sobrepeso e
com controle glicêmico insuficiente com insulinoterapia.

Harold E. Lebovitz et al. Diabetes Care Avaliação da função hepática em pacientes diabéticos tipo 2
25:815-821, maio de 2002 durante estudos clínicos – Evidência da ausência de disfunção
hepática com rosiglitazona

Objetivo: O tratamento por troglitazona foi associado à reação hepática


idiossincrática com insuficiência hepática e morte em alguns pacientes. Pode-
se questionar se todas as tiazolidinedionas ou agonistas do PPAR-γ
(peroxisomal proliferator–activated receptor-γ), são hepatotóxicos e se os
dados de estudos clínicos são adequados para detectar sinais de hepatoxicidade
potencialmente séria ligada a droga. O objetivo do estudo foi o de avaliar se a
toxicidade reportada por troglitazona é específica da molécula ou se existe
um efeito de classe das tiazolidinedionas, baseado em dados de enzimas
hepáticas coletados prospectivamente durante estudos clínicos de fase 2/3
com rosiglitazona, novo membro da classe das tiazolidinedionas
Desenho e métodos: Isso é uma análise da função hepática em pacientes
diabéticos tipo 2 em 13 estudos duplo-cego, e 9 estudos abertos do tratamento
por rosiglitazona realizados em centros dos EUA e da Europa. O estudo incluiu
mais de 6.000 pacientes, idade 30-80 anos, portadores de diabetes tipo 2. A
função hepática de cada paciente foi medida no início e foram excluídos dos
estudos os pacientes que apresentaram valores de ALT, AST ou fosfatase alcalina
2,5 vezes maiores do que os valores de referência. As principais medições foram
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002) 199

Continuação os níveis de enzimas hepáticas, que foram avaliadas no rastreamento, no início,


e a cada 4 semanas durante os 3 primeiros meses do tratamento e em intervalos
de 6 e 12 semanas. Os pacientes que, após tratamento, apresentaram um valor
de ALT maior do que 3 vezes o valor do limite superior de referência, foram
identificados e os dados detalhadamente examinados.
Resultados: No início, 5,5% dos pacientes portadores de diabetes tipo 2
(HbA1c média 8,5-9,0%) tinham valores de ALT plasmático entre 1,0 a 1,5
vezes o limite superior do intervalo de referência. Após terapia antidiabética, a
maioria destes pacientes (83%) apresentaram uma diminuição dos valores de
ALT. As percentagens de todos os pacientes tratados com valores de ALT >3
do limite superior ao intervalo de referência durante tratamentos duplo-cegos e
abertos foram as seguintes: tratamento por rosiglitazona 0,32%, tratamento por
placebo 0,17%, tratamento por sulfoniluréia/metformina ou insulina 0,40%.
As taxas respectivas de valores de ALT >3 do limite superior ao intervalo de
referência por 100 pessoas-ano de exposição foram 0,29, 0,59, e 0,64.
Conclusões: Nenhuma evidência de efeitos hepatotóxicos foi observada
em estudos que envolveram 5.006 pacientes tratados por rosiglitazona em
monoterapia ou tratamento associado em 5.508 pacientes-anos. Isso
concorda com os dados hepáticos de estudos clínicos por outro membro da
classe, a pioglitazona, e contrasta com os efeitos claramente hepatotóxicos
observados durante os estudos de troglitazona. Esses achados sugerem que
a toxicidade hepática observada com troglitazona não é um efeito de classe
das tiazolidinedionas. Os pacientes diabéticos tipo 2 inadequadamente
controlados podem apresentar aumentos do ALT plasmático, que diminuirão
com a melhora do controle glicêmico durante tratamento por rosiglitazona
ou outros agentes antidiabéticos.

Mehmood A. Khan et al. Diabetes Care Efeito da metformina em crianças diabéticas tipo 2 – Estudo
25:708-711, maio de 2002 randomizado controlado
Objetivo: Metformina é o agente antidiabético oral mais prescrito nos EUA
para adultos diabéticos tipo 2. A incidência do diabetes tipo 2 em crianças
tem aumentado drasticamente nos últimos 10 anos, mas a metformina nunca
foi formalmente estudada em crianças portadores de diabetes tipo 2.
Desenho e métodos: Esse estudo avaliou a segurança e eficácia da
metformina nas doses de 1000 mg 2 vezes/dia em 82 indivíduos, idade 10-16
anos, durante 16 semanas em estudo randomizado, duplo-cego e controlado
por placebo, de setembro de 1998 até novembro de 1999. Indivíduos portadores
de diabetes tipo 2, apresentaram os seguintes dados iniciais: níveis de glicose
plasmática de jejum (FGP) 7,0 and 13,3 mmol/l ( 126 e 240 mg/dl), HbA1c
7,0%, peptídeo-C estimulado 0,5 nmol/l ( 1,5 ng/ml), e IMC >50º percentil
para idade.
Resultados: A metformina melhorou significativamente o controle
glicêmico. Na última consulta duplo-cega, a alteração média ajustada da FGP
foi de -2,4 mmol/l (-42,9 mg/dl) para metformina, comparada com +1,2 mmol/
l (+21,4 mg/dl) para placebo (P < 0,001). Valores médias de HbA1c, ajustados
a partir dos níveis iniciais, foram também significativamente menores para
metformina comparada com placebo (7,5 vs. 8,6%, respectivamente; P <
0,001). Metformina não mostrou um impacto negativo sobre o peso corporal
ou o perfil lipídico. Eventos adversos foram semelhantes aos apresentados
por adultos tratados por metformina.
Conclusão: Metformina é segura e eficaz para o tratamento do diabetes
tipo 2 e em crianças.
200 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 03 (2002)

Kenneth Lee Jones et al. Diabetes Care Comparação prospectivo, randomizado dos efeitos metabólicos
25:89-94, janeiro de 2002 de pioglitazona ou rosiglitazona em pacientes diabéticos tipo 2
anteriormente tratados por troglitazona

Objetivo: Caracterizar as diferenças potenciais no controle glicêmico, nível


de lípides plasmáticos e peso em uma coorte de pacientes anteriormente
tratados com troglitazona (TROG), e agora tratados por pioglitazona ou
rosiglitazona.
Desenho e métodos: Após 2 semanas de eliminação de TROG, 186 pacientes
foram randomizados para receber pioglitazona (PIO) ou rosiglitazona (ROSI).
Peso, HbA1c e perfil de lípides plasmáticos foram coletados antes da alteração
de tratamento e após 4 meses de tratamento com PIO ou ROSI.
Resultados: Um total de 127 pacientes completou o estudo: 67 indivíduos
no grupo PIO (32 mulheres, 35 homens) e 60 indivíduos no grupo ROSI (33
mulheres, 27 homens). Não tinha diferença significativa entre os 2 grupos no
que se refere a sexo, idade, peso, perfil lipídico, HbA1c. Após 4 meses de
tratamento randomizado, nenhuma alteração de HbA1c foi notada, em
comparação com a linha base ou entre os 2 grupos. Ambos os grupos
experimentaram um aumento igual e significativo no peso de 2 kg em
comparação com a linha base. A terapia com tiazolidinediona e inibidor da
HMG-CoA redutase tinha efeito significativo e independente sobre o perfil
lipídico (P < 0,005). Melhoras significativas no perfil lipídico foram observadas
no grupo PIO (P < 0,01), mas não no grupo ROSI. Especificamente, o grupo
PIO apresentou uma diminuição media do colesterol total de 20 mg/dl.
Conclusões: Efeitos diferentes sobre o perfil lipídico foram observados,
após conversão randomizado do tratamento TROG para PIO ou ROSI,
apesar de efeitos semelhantes sobre o aumento de peso e o controle
glicêmico. A significação clínica dessas diferenças deve ser determinada
por estudos futuros.
Rodrigues APS et al / Diabetes Clínica 03 (2002) 201~204
Diabetes 201

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 03 (2002) 201~204

ARTIGO ORIGINAL

Avaliação da capacidade de médico não oftalmologista detectar alterações


oculares causadas pelo diabetes com oftalmoscópio direto
A.P.S. Rodrigues*, M.E. Farah**, S. Mitne*, A.A.B.M. Carneiro*, J.P.D.N. Cardoso*, P.H. Morales***

*Residente de oftalmologia da UNIFESP – Escola Paulista de Medicina, **Professor Adjunto do Departamento de Oftalmologia da UNIFESP – Escola
Paulista de Medicina, ***Pesquisador Associado da UNIFESP – Escola Paulista de Medicina, Trabalho realizado durante o “Mutirão do Olho Diabético”,
no Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, São Paulo -SP

Introdução

Diabetes mellitus é caracterizada por hiperglicemia


secundária à ausência ou diminuição da eficiência da
insulina endógena. Uma importante complicação é a
retinopatia diabética (RD) [1].
No estado de São Paulo, 9,7% da população
economicamente ativa (30 até 69 anos) é diabética [2].
Das complicações causadas pelo diabetes, a cegueira é
uma das mais temidas.

Figura 2

A prevenção da perda visual deve ser feita por meio


de diagnóstico e tratamento precoces [3].
Várias técnicas de exame para detectar retinopatia têm
sido estudadas, incluindo oftalmoscopia direta e indireta,
angiofluores-ceinografia e fotografia retiniana
esterioscópica e não esterios-cópica [4,5]. A oftalmoscopia
indireta (Fig.1), também chamada de mapeamento de
retina, realizada por médico treinado é o método mais
utilizado para o estadiamento da retinopatia diabética,
Figura 1 devido a sua capacidade diagnóstica e baixo custo [6,7,8].

Artigo recebido em 1 de maio de 2002; aprovado em 20 de maio de 2002.

Endereço para correspondência: Paulo Henrique Morales, Av. Paulista, 688/ 11a/ cj 14. Cep: 01310-100 - São Paulo, SP
202 Rodrigues APS et al / Diabetes Clínica 03 (2002) 201~204

Mas este exame é realizado apenas Tabela II: Capacidade do médico não oftamologista diferenciar RD não proliferativa e
por oftalmologistas. Clínicos, proliferativa por meio da oftalmoscopia diretas
endocrinologistas e outras espe-
cialidades que têm maior contato Oftalmologista (FOI)* Exame de olho de fundo
com os pacientes diabéticos não Residente Normal RNP RP Total
estão aptos a realizá-lo. (FOD)** leve moderada grave muito grave
O objetivo deste trabalho é Normal 31 4 4 1 0 1 41
avaliar a capacidade do médico RDNP 8 3 5 4 1 4 25
não oftalmologista detectar RDP 2 0 0 0 2 2 6
alterações oculares causadas pelo Total 41 7 9 5 3 7 72
diabetes, utilizando a oftalmos- * FOI- fundoscopia indireta / **FOD - fundoscopia direta
copia direta (Fig. 2) como um Teste de concordância Kappa, Coeficiente de concordância Kw = 0.385
primeiro exame de triagem. Z crítico= 3.625, p< 0.001 / Teste de McNemar X2 = 0.154

Métodos
Para avaliação de concordância entre os exames
O projeto “Olho Diabético”, iniciado em 1998, pelo realizados pelo médico residente e oftalmologista
Instituto da Visão da UNIFESP – Escola Paulista de treinado, em cada estádio da doença, foi utilizado o teste
Medicina, conta com pacientes diabéticos, que Kappa. A sistematicidade de discordância foi testada pelo
comparecem espontaneamente para o exame preventivo Qui-quadrado (X 2 } e McNemar. Sensibilidade e
da cegueira causada pela diabetes. Todos os pacientes especificidade foi calculada para cada estádio da doença,
preenchem uma ficha de identificação e respondem a usando o exame de oftalmologista treinado como padrão-
um questionário com as seguintes perguntas: quanto ouro.
tempo do diagnóstico de diabetes, medicação em uso, se
já foram submetidos a exame de fundo de olho com Resultados
dilatação pupilar e se a resposta for positiva, data do
último exame.Após isso, as suas pupilas são dilatadas Os dados descritivos referentes a sexo, idade,
com tropicamide 1% (Mydriacyl). medicação em uso e tempo de diagnóstico de diabetes,
Para o presente trabalho, 3 médicos do primeiro ano da encontram-se na Tabela I.
residência de oftalmologia, cursando o segundo mês do
curso, tiveram treinamento para realizar a oftalmoscopia
direta por um mês de antecedência. Utilizando Tabela I: Tabela descritiva dos pacientes avaliados
oftalmoscópio direto (Welch Allyn), examinaram e Número de pacientes (%)
classificaram a retinopatia diabética dos pacientes em 3 Sexo Feminino 34 (47,22)
categorias: normais, retinopatia diabética (RD) não Masculino 38 (52,77)
proliferativa e retinopatia diabética proliferativa. Cada
paciente era examinado por apenas um residente. Idade 0 – 25 anos 3 (4,16)
Retinopatia diabética não proliferativa foi definida 26 – 50 anos 11 (15,27)
>51 anos 42 (58,33)
pela presença de microaneurismas, hemorragias
Não disponível 16 (22,22)
intrarretinianas, exsudatos duros, manchas algodonosas
ou alterações da microvasculatura intra-retiniana Medicação Via oralInsulina 51 (70,83)
(IRMA). Retinopatia diabética proliferativa foi definida Dieta/Não usa medicação 16 (22,22)
pela presença de neovascularização, hemorragia vítrea 1 - 5 anos6 – 10 anos 14 (19.44)
ou proliferação fibrosa [9].
Sem conhecimento dos resultados do primeiro exame, 1 – 5 anos 22 (30.55)
um oftalmologista classificava a retinopatia diabética 6 – 10 anos 22 (30.55)
através da oftalmoscopia indireta (oftalmoscopio indireto 11 – 15 anos 10 (13,88)
Topcon). 16 – 20 anos 10 (13,88)
Foram examinados, aleatoriamente, 144 olhos de 72 21 – 25 anos 2 (2,77)
pacientes de um total de 830 pacientes, sendo que 40 >526 anos 1 (1,38)
pacientes (55,5%) nunca haviam realizado este tipo de Não disponível 5 (6,94)
exame e 25 pacientes (34,7%) haviam realizado em
período menor que 2 anos. A análise dos resultados foi Os achados oculares foram classificados como normais
baseada no olho com retinopatia mais avançada, quando (41 olhos) e como retinopatia (31 olhos) no exame
apresentava diagnóstico diferente nos 2 olhos. realizado pelo retinólogo. O resultado dos residentes
Rodrigues APS et al / Diabetes Clínica 03 (2002) 201~204 203

concordaram com o resultado dos retinólogos em 31 como método de diagnóstico [6,7,8].


olhos normais e 21 olhos com RD, apresentando, assim, Existe um menor consenso quanto ao método
uma sensibilidade de 67,74% e especificidade de 67,74%.. preferido para exame de rotina realizado por médicos
Estes resultados demonstram uma concordância não oftalmologistas [16]. Dentre os métodos diagnósticos
significativa entre os achados do residente e do médico de retinopatia, a oftalmoscopia direta é o método que o
oftalmologista (p < 0,001). Quando a retinopatia foi médico generalista tem maior acesso e o mais divulgado
subdividida em não proliferativa e proliferativa, o no nosso meio. Recentemente, um grupo europeu
diagnóstico coincidiu em 13 olhos com RD não concluiu que a oftalmoscopia direta, através da pupila
proliferativa e 2 olhos com RD proliferativa. dilatada, é um exame muito bom em pacientes com
Para o diagnóstico de RD não proliferativa, o exame de retinopatia diabética por ser barato, rápido e eficiente;
oftalmoscopia direta apresentou sensibilidade de 54,16% e mas deve ser feito por um observador treinado [17]. Uma
especificidade de 52,00%. Para o diagnóstico de RD vez que os médicos generalistas e endocrinologistas são
proliferativa o exame de oftalmoscopia direta apresentou os que mais têm contato com a população diabética,
sensibilidade de 28,57% e especificidade de 33,33%. fizemos um modelo para tentar mimetizar o que acontece
Em 10 casos considerados como normais pelo na prática. Os pacientes foram examinados por um
residente, apresentavam algum tipo de retinopatia, nove residente de oftalmologia (sem experiência em
casos com RD não proliferativa e 1 com retinopatia oftalmoscopia indireta), no início do seu treinamento de
proliferativa. Doze casos foram considerados como RD residência. Apesar disso, deve-se enfatizar que por terem
não proliferativa pelo residente, que discordaram do escolhido a especialidade de oftalmologia, apresentam
exame do oftalmologista, sendo 8 casos normais e 4 casos interesse na área maior que o médico generalista.
de RD proliferativa. Em relação aos diagnósticos Dos 72 olhos avaliados, 52 apresentaram concordância
discordantes de RD proliferativa dado pelo residente, 2 diagnóstica, sendo 31 casos normais e 21 casos com algum
casos eram normais e 2 casos apresentavam RD não grau de retinopatia, mostrando uma sensibilidade de 75,6%
proliferativa, (tabela II). e especificidade de 67,7%. Griffith et al. [18] demonstraram
uma sensibilidade de 100% e especificidade de 93% nos
Discussão exames realizados por médicos não especialistas. Neste
estudo, os médicos generalistas (com experiência de 1 a 3
A retinopatia diabética se não tratada, é uma doença anos) receberam uma atualização de 2 horas sobre
que pode levar a cegueira. Existem várias razões para retinopatia diabética por um retinólogo, incluindo avaliação
esta falha em detectar RD, entre elas a natureza de fotografias. Deve-se salientar, que não dá para se avaliar
assintomática em estágios relativamente avançados de o quanto uma atualização de 2 horas pode gerar impacto no
doença. Sabemos que 18% dos pacientes diabéticos tipo diagnóstico correto. Outro fator importante é que os médicos
1 e 31% do tipo 2 com RD proliferativa, não sabem sua tinham de 1 a 3 anos de experiência com pacientes
doença sistêmica [10]. As principais causas, na falha de diabéticos, diferente dos residentes do primeiro ano.
detectar retinopatia, seriam a não orientação dos pacientes Médicos endocrinologistas, possivelmente, apresentam uma
pelos médicos a respeito da RD, não informação quanto experiência bem maior na avaliação de retinopatia diabética,
a necessidade de exames periódicos, impossibilidade de que um médico não endocrinologista, por estarem mais em
realizar exames oftalmológicos e inexperiência dos contato com estes pacientes.
médico em detectar as alterações do fundo de olho, entre Dos casos que discordaram podemos dividir em 2
outras [11]. Brechner et al. [12] demonstraram que de grupos. O primeiro grupo, representado por 10 casos
todos os pacientes diagnosticados com diabetes, somente considerados como alterado pelo residente, mas que eram
49% fizeram exame de fundo de olho com pupila dilatada normais (8 casos com RD não proliferativa e 2 casos
no último ano. Segundo Witkin e Klein [13], 26% dos com RD proliferativa). O fato de encaminhar ao
pacientes com DM tipo 1 e 36% dos pacientes com DM especialista um paciente com suspeita de retinopatia que
tipo 2 nunca fizeram um exame de fundo de olho. Nossos não existe, não é tão preocupante quanto se ocorrer o
resultados demonstraram que em nossa comunidade estes inverso. O segundo grupo, também representado por 10
valores estão próximos. casos, tiveram diagnosticado pelo residente como de
Ainda não existe um consenso quanto ao método ideal fundo de olho normal, mas apresentavam algum tipo de
para a triagem de retinopatia. Muitos trabalhos comparam alteração: 4 casos de RD não proliferativa leve, 4 casos
os diversos métodos, tentado levar em conta o custo e de RD não proliferativa moderada, 1 caso de RD não
benefício de cada um deles. Para avaliar a progressão da proliferativa grave e 1 caso de retinopatia proliferativa.
doença, a fotografia retiniana esterioscópia é considerada Foram perdidos 2 casos que apresentavam uma condição
o padrão ouro em grandes estudos epidemiológicos ocular grave, apesar da tendência menor a erro.
[14,15]. Mas por motivos práticos, a oftalmoscopia indireta A oftalmoscopia direta, sob midríase, é capaz de
realizada por especialista bem treinado, tem sido usada avaliar até equador do olho, sendo assim a midríase um
204 Rodrigues APS et al / Diabetes Clínica 03 (2002) 201~204

fator importante para uma avaliação adequada do pólo for diabetics: the importance of physician-ophthalmologist
posterior [19]. Principalmente quando existe a collaboration in the prevention of blindness. Singapore Med J
1990; 31:26-9.
necessidade de se avaliar o comprometimento ocular 6. Burns-Cox CJ, Hart JC. Screening of diabetics for retinopathy
causado por uma doença sistêmica, que podem levar à by ophthalmic opticians. BMJ 1985; 290:1052-4
cegueira. No estudo de Griffith et al., os pacientes 7. Williams R, Nussey S, Humphry R, Thompson G. Assessment
submetidos à oftalmoscopia direta também tiveram suas of non-mydriatic fundus photography in detection of diabetic
pupilas dilatadas. Médicos não oftalmologistas raramente retinopathy. BMJ 1986; 293:1140-2.
dilatam pupila dos pacientes antes da fundoscopia, 8. Buxton MJ, Sculpher MJ, Ferguson BA, Humphreys JE,
Altman JF, Spiegelhalter DJ et al. Screening for treatable
mesmo quando os pacientes apresentam um alto risco diabetic retinopathy: comparison of different methods.
de retinopatia, sendo a principal razão para isso, o medo Diabetic Med 1991; 8:3781-7.
de precipitar um glaucoma agudo de ângulo fechado [20]. 9. LeeVS, Kingsley RM, Lee ET, Lu M, Russell D, Asal NR,
Mas vários estudos demonstram que o potencial risco Bradford RH Jr, Wilkinson CP. The diagnosis of diabetic
de desenvolver uma crise de glaucoma agudo é muito retinopathy. Ophthalmoscopy versus fundus photography.
Ophythalmology 1993 Oct; 100(10):1504-12.
baixo. E quando ocorrem, estão relacionados ao uso de 10. Klein R, Klein BEK, Moss SE, DeMets DL: The validity of a
colírio contendo fenilefrina. O benefício de um exame survey question to study diabetic retinopathy. Am J Epidemiol
sob midríase é muito maior [20]. 124:104-110, 1986
O exame de oftalmoscopia direta realizado por médico 11. Klein R. Eye-Care delivery for people with diabetes: Diabetes
não oftalmologista não se mostrou adequado para o Care 1994; 17(6):614-5
12. Brechner RJ, Cowie CC, Howie LJ, Herman WH, Will JC,
estadiamento da doença. Também não foi eficiente na Harris, MI: Ophthalmic examination among adults with
detecção de retinopatia diabética em campanhas. Mas diagnosed diabetes mellitus. JAMA 270:1714-1718, 1993
tem seu valor no uso diário por médicos não 13. Witkin SR, Klein R: Ophthalmologic care for persons with
oftalmologista, habilitados a realizar este exame, para o diabetes. JAMA 251:2534-2537,1984.
encaminhamento ao oftalmologista especializado, assim 14. Klein BEK, Davis MD, Segal P, et al. Diabetic retinopathy;
assessment of severity and progression. Ophthalmology 1984;
que qualquer alteração da retinopatia diabética for
91:10-7.
encontrada. 15. Palmberg P, Smith M, Waltman S, et al. The natural history of
retinopathy in insulin-dependent juveline-onset diabetes.
Ophthalmology 1981; 88:613-8.
Referências 16. Moss SE, Klein R, Kessler SD, Richie KA. Comparison
between ophthalmoscopy and fundus photography in
1. Gross JL, Nehme M. Detecção e tratamento das complicações determining severity of diabetic retinopathy. Ophthalmology
crônicas de diabetes mellitus: Consenso da Sociedade 1985; 92(1):62-7.
Brasileira de Diabetes e Conselho Brasileiro de Oftalmologia. 17. Retinopathy Working Party. A protocol for screening diabetic
Rev Assoc Med Bras 1999 Jul-Sep;45(3):279-84. retinopathy in Europe. Diabetic Med 1991; 8:26-7
2. Malerbi AD, Franco JL. Multicenter study of the prevalence of 18. Griffith SP, Freeman WL, Shaw CJ, Mitchell WH, Olden CR,
Diabetes Mellitus and impaired glucose tolerance in the urban Figgs LD, Kinyoun JL, Underwood DL, Will JC. Screening for
brazilian population aged 30-69 yr. Diabetes Care 1992, diabetic retinopathy in a clinical setting: a comparison of direct
15(11): 1509-1515 ophthalmoscopy by primary care physicians with fundus
3. American College of Physicians, American Diabetes photography. J Fam Pract. 1993 Jul; 37(1):49-56.
Association, and American Academy of Ophthalmology. 19. Klein R, Klein BEK, Hubbard LD, Meuer SM, Brothers RJ.
Screening guidelines for diabetic retinopathy. Ann Intern Med Diabetic retinopathy as detected using, a non-mydriatic camera
1992; 116:683-5. and standard fundus camera. Ophthalmology 1985;92:485-91.
4. Baker SB, Vallbona C, Campbell JV, Hamill MB, Goetz B, 20. Herman WH: Public health strategies: program development,
West MS. Diabetic eye disease detection by primary-care implementation, and evaluation. Inc Proc 8th Annual Centers
physicians. Diabetes Care 1990; 13-908-9. for Diasease Control Conference, Chicago, Il. Atlanta, GA,
5. Chew SF, Hart PM, Ang BC, Lima AS. Ophthalmic screening Centers for Diagnoses Control, 1985.
Carvalho JM et al / Diabetes Clínica 03 (2002) 205~207
Diabetes 205
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 03 (2002) 205~207

ATUALIZAÇÃO

Prevenção com órteses plantares e calçados especiais para


pés de alto risco – diabético
José Marcelo Carvalho*, José Antonio Carvalho**

**Fisioterapeuta-ortesista, **Ortesista-protesista, Diretores da Andbem Ortopedia, Centro de Prevenção do Pé Diabético, Campinas - SP

Introdução

O diabetes mellitus é uma doença crônica que afeta apropriados e instruções relacionadas aos cuidados dos
cerca de 16 milhões de pessoas nos Estados Unidos. pés, pode-se evitar qualquer ferimento nos pés.
Todos os dias são diagnosticados 2.200 novos casos com Na utilização das órteses plantares e calçados
uma estimativa de 780.000 novos casos por ano. especiais para diabéticos, é necessário ter o cuidado com
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a equalização das forças, das pressões nas diversas
espera-se que os casos de diabetes dobre nos próximos regiões dos pés e na interface ideal entre o piso e o pé,
25 anos de 135 milhões para perto de 300 milhões. para que os tecidos dos pés não sofram estresse de
O fato da incidência do diabetes estar aumentando e compressão e força de cisalhamento, que é de
de que 15% dos diabéticos desenvolvem úlceras fundamental importância para a prevenção das patologias
plantares, realça a necessidade de implementar nos pés diabéticos.
estratégias profiláticas e terapêuticas, principalmente com Devido a estes fatores internos e externos, devemos
órteses plantares e calçados especiais. ter conhecimento da matéria prima e dos modelos utiliza-
As ulcerações nos pés com seqüelas, como feridas dos na confecção das palmilhas e dos calçados especiais,
crônicas que não cicatrizam, as osteomielites e visando estabilidade, segurança, conforto, anatomia e
amputações, constituem uma das complicações na higiene aos pés diabéticos.
qualidade de vida dessas pessoas. Sabemos que em todo o mundo, a matéria prima utilizada
A maioria dessas lesões são acometidas pelas forças para a confecção das órteses plantares, são os materiais
geradas durante a marcha, como, por exemplo, as úlceras termomoldáveis em polietileno (Plastazote), com diferentes
na primeira articulação metatarsofalangiana, articulação densidades. A palmilha deverá ter contato total para
fundamental na marcha para a fase de impulso. Todos distribuir as pressões e diminuir as forças de cizalhamento
os pacientes diabéticos precisam ser educados para a uniformemente na região plantar. Este material possui
escolha dos calçados corretos e palmilhas para cada células fechadas que não absorvem calor e umidade, sendo
categoria de risco. Com o uso adequado desses calçados então: atóxicas, laváveis e anti-alérgicas, o que é necessário

Endereço para correspondência: José Antonio Carvalho, Av. Benjamin Constant, 475,
13010-140 Campinas SP, Tel: (19)3236 7093/7094
206 Carvalho JM et al / Diabetes Clínica 03 (2002) 205~207

nestes pés. As órteses plantares devem ser reavaliadas A principal recomendação clínica da American
periodicamente com especialistas, para sofrer reajustes a Diabetes Council on Foot Care são; os cuidados
fim de aliviar regiões com hiperpressões localizadas e profiláticos com os pés e identificar fatores de risco
realinha-lás para evitar compensações posturais. biomecânico.
Em relação aos calçados especiais, devemos nos Os profissionais da saúde já estão dando a devida
preocupar com a forma (hiperprofundo), material importância ao tratamento preventivo e terapêutico com
específico, forração interna (sem costura) e os solados as órteses plantares e os calçados especiais. Isto porque
oscilantes ou basculantes. Tudo vai depender da os estudos têm demostrado a importância da prescrição
classificação de risco em que o pé irá se encontrar. como prevenção tanto da recorrência da úlcera quanto
Existem calçados especiais para aquelas pessoas que da amputação.
possuem a patologia, mas não apresentam riscos nos pés, Em resumo, podemos enfatizar que o pé de alto risco
ou seja, sem lesões nos pés. - diabético necessita de uma abordagem interdisciplinar,
As órteses plantares e sandálias são indicadas para educação dos usuários e familiares, e que a prevenção é
uso pós-cirúrgico (uso temporário). Já as sandálias com o melhor caminho para a diminuição desses índices
“salto falso”, que reduzem as forças diretas e de alarmantes.
cizalhamento com solados basculantes, para o uso na Instruções básicas aos pacientes diabéticos:
fase de cicatrização. E os calçados hiperprofundos para 1. Não fumar
o uso preventivo e terapêutico.
2. Lavar e Inspecionar diariamente os pés
Quanto aos pés com deformidades fixas, é necessário
realizar um molde de gesso para a confecção das 3. Não andar descalço
palmilhas e dos calçados especiais. 4. Inspecionar diariamente o interior dos calçados
O objetivo das órteses plantares e dos calçados são: 5. Não deixar o pé de “molho” na água quente
· conforto e segurança 6. Não usar meias com remendas ou com costuras
· aliviar as áreas de excessiva pressão plantar 7. Não usar calçados sem meias
· reduzir o impacto 8. Cortar as unhas seguindo seus contornos
· reduzir o estresse de cisalhamento (orientação com seu médico ou podólogo especializado)
· estabilização e sustentação das deformidades 9. Usar calçados confortáveis (hiperprofundo)
· limitar os movimentos indesejáveis 10. Procurar os profissionais da saúde especializados

Calçado Sannabem preventivo e terapêutico.


Carvalho JM et al / Diabetes Clínica 03 (2002) 205~207 207

Sandália para cicatrização no ante-pé.

A palmilha ajuda à cicatrização da úlcera plantar.

Úlcera plantar

Úlcera plantar

Amputação dos dedos


208 Toniolo Neto J/ Diabetes Clínica 03 (2002) 208~209
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 03 (2002) 208~209

ATUALIZAÇÃO

Esforços para imunização contra a gripe e contra o


pneumococo devem continuar durante o inverno

João Toniolo Neto

Professor adjunto da disciplina de Geriatria da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina.

Sobre a imunização contra influenza

Apesar de freqüentemente apresentar a imagem de A melhor época para vacinação contra a gripe é
uma doença benigna, a gripe é uma doença grave que durante os meses de outono, no Brasil entre os meses de
mata milhares de pessoas todos os anos. Estima-se que março e maio. No entanto, segundo recente
10% a 20% da população mundial apresente pelo menos recomendação do CDC, os esforços para vacinação
um episódio de gripe anualmente. As epidemias de gripe devem continuar durante todo o inverno [1]. Para
durante o inverno são responsáveis por cerca de 20.000 aumentar a cobertura vacinal e o uso da vacina contra
mortes por ano nos EUA [1]. influenza, principalmente entre as pessoas que
Por ser o método primário e mais efetivo de prevenção apresentam maior risco e também entre os profissionais
contra a influenza e suas conseqüências, a vacinação de saúde, a vacinação deve prosseguir durante toda a
anual é recomendada oficialmente pelo Ministério da estação de influenza (inverno), enquanto houver
Saúde Brasileiro e pelo Centro de Controle de Doenças disponibilidade da vacina [1].
dos EUA (CDC) para todos os indivíduos que apresentem
maior risco de complicações em decorrência da infecção Sobre a imunização contra o pneumococo
(como portadores de diabetes, pneumopatias crônicas,
doenças cardiovasculares, infecção pelo HIV, entre O Streptococcus pneumoniae ou pneumococo é
outros) e também para seus familiares e outros contatos responsável por doenças invasivas (entre as quais
que possam lhes transmitir a doença [1,2]. A vacinação pneumonias, meningites, otites, sinusites, bacteriemia) e
também é recomendada para os profissionais da área de mortes, principalmente em crianças, adultos com doença
saúde, devido ao risco de transmissão da infecção a seus crônica e idosos no mundo inteiro [3]. Outro fator
pacientes [1]. Além disso, qualquer pessoa maior de 6 agravante das infecções pneumocócicas é a resistência da
meses de idade pode se beneficiar da vacinação, bactéria aos antibióticos, o que a torna ainda mais perigosa
reduzindo o risco de infecção [1]. e de difícil combate. Assim, o pneumococo provoca mais

Endereço para correspondência: Rua Helena, 218, cj. 96 – 9º andar – Vila Olímpia, 04552-050 –
São Paulo SP, Tel: (11) 3842-5144
Toniolo Neto J/ Diabetes Clínica 03 (2002) 208~209 209

mortes do que qualquer outra doença bacteriana Vacinar é salvar vidas


imunoprevenível, sendo que aproximadamente 50% destes
óbitos poderiam ser evitados pela vacinação [3]. Essas vacinas podem ser encontradas em Clínicas de
A vacina pneumocócica é a melhor maneira de Vacinação. Além disso, os postos de saúde oferecem a
prevenir as infecções causadas por esta bactéria [3]. A vacina contra influenza aos maiores de 60 anos de idade
imunização é oficialmente recomendada para pacientes durante a Campanha Anual de Vacinação do Idoso, e a
portadores de patologias de base (como diabetes, vacina pneumocócica àqueles que, além de idade superior
pneumopatias, cardiopatias, HIV, asplenia funcional ou a 60 anos, apresentem algum fator de risco adicional,
anatômica, doença renal crônica, entre outras) e para os como doença crônica, durante todo o ano [2].
maiores de 60 anos [3,4]. Além disso, a vacinação de Todas as oportunidades para vacinação devem ser
adultos maiores de 50 anos de idade também deve ser aproveitadas, a fim de garantir a proteção da população
considerada, uma vez que a partir dessa idade a contra o vírus influenza e contra as infecções
freqüência de doenças crônicas aumenta. pneumocócicas. Vacinar é proteger. Proteja seus
No caso da imunização com a vacina pneumocócica, pacientes contra a gripe e contra o pneumococo, e reduza
não há época específica considerada ideal. Os esforços o risco de complicações, hospitalização e óbito
para aumentar o uso da vacina devem continuar durante decorrentes dessas infecções.
todo o ano, e principalmente se intensificar durante o
inverno, aproveitando as oportunidades geradas pelas Referências
Campanhas de Imunização contra a Gripe e também o
aumento nos casos de infecções por vírus influenza. 1. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Prevention
and Control of Influenza: recomendations of the Advisory
Sobre a imunização simultânea contra a gripe e Committe on Imunization Practices (ACIP). MMWR
2002;51(RR-3).
contra o pneumococo 2. Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo (CVE-SP).
Informe técnico. Campanha Nacional de Vacinação para o
Uma vez que a maioria das indicações dessas vacinas Idoso. Na internet: ftp://ftp.cve.saude.sp.gov.br/doc_tec/
são coincidentes, a administração simultânea das vacinas informeidoso.pdf
contra gripe e pneumocócica é segura e adequada, 3. CDC. Prevention of Pneumococcal Disease: recommendations
of the Advisory Committee on Imunization Practices (ACIP).
conforme demonstrado por estudos clínicos brasileiros MMWR 1997;46(RR-8).
e internacionais [1,3,5-7]. 4. World Health Organization (WHO). Weekly epidemiological
A vacinação contra influenza deve ser anual, devido record 2002;35(75):281-8.
ao caráter mutante do vírus e também em função da 5. Toniolo-Neto et al. Safety of Simultaneous Pneumococcal and
duração da proteção induzida pela vacina, que é de cerca Influenza Vaccination in Elderly Patients in Brazil. Drugs and
Aging 1999;15(Suppl1):43-45
de 12 meses [1]. A vacina pneumocócica, por sua vez, 6. Grilli G, Fuiano L, Biasio LR, Pregliasco F, Plebani A,
induz proteção que dura de 5 a 10 anos [3]. Na maioria Leibovitz, Ugazio AG, Vacca F, Profeta ML. Simultaneous
dos casos, a administração de outra dose deve respeitar influenza and pneumococcal vaccination in elderly individuals.
um intervalo mínimo de 5 anos [3]. European J Epidemiol 1997;13:287-91.
Pozzilli P, Galle EAM, Visalli N, Baroni M, Crovari P, Frighi
V, Cavallo MG, Andreani D. The immune response to
influenza vaccination in diabetic patients. Diabetologia
1986;29:850-854.
210 Vasquez Netto J / Diabetes Clínica 03 (2002) 210~212
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 03 (2002) 210~212

ATUALIZAÇÃO

O diabético e o vinho

Jorge Vásquez Netto

Membro do Conselho Diretor da Associação Uruguaia de Diabéticos, vice-presidente da Comissão Técnica da Associação Uruguaia de Diabetes, membro do
Sindicato Médico do Uruguai, membro da Direção do Centro de Assistência do Sindicato Médico, assessor médico do governo departamental de Montevidéu

Pode um diabético beber vinho? Sim, ele pode. Mas A uva é formada por água em 80%, taninos em
consideramos importante que o indivíduo portador de aproximadamente 3%, materiais minerais (2 a 3%),
diabetes seja educado e bem informado sobre este assunto, colorantes, flavonóides, antocianos, matérias pépticas,
de tal maneira que ele tenha a maior liberdade de decisão etc, mais açucares, ácidos orgânicos livres, ácidos
e que ela seja tomada de forma cuidadosa e inteligente. orgânicos combinados, tudo o que se transforma no
É evidente que a bebida alcoólica faz parte da nossa processo de fermentação, sendo a principal
cultura e que seu consumo é um meio de socialização. O transformação a do açúcar em álcool com liberação de
paciente diabético deve ter um mínimo de conhecimentos gás carbônico.
sobre o vinho para poder responder às seguintes perguntas: Praticam-se dois tipos de fermentações alcoólicas, a
dos vinhos tintos por maceração (o grão de uva inteiro)
· O que é o vinho? durante todo o processo de fermentação, ou seja, até o
· Quais são as suas qualidades? consumo total do açúcar da uva, e a dos vinhos brancos
sem maceração, onde não se usa a casca e a fermentação
· O que é um vinho ecológico? é feita só com o suco da uva. Isso é a grande diferença
· Que ação ele tem sobre o diabético? entre as qualidades que apresentam todos os vinhos
tintos, que utilizam toda a riqueza da casca da uva e os
O que é o vinho? vinhos brancos, que fermentam sem a casca e sementes.
Posteriormente o vinho continua o seu processo de
O vinho é um líquido que se obtém do suco da uva, e, transformações naturais, através de leveduras secundárias
por efeitos de sua fermentação natural, transforma o e bactérias, onde se transformam o ácido málico da uva
açúcar desta fruta em álcool e outros componentes, por em ácido láctico (fermentação maloláctica) que contribui
ação das leveduras próprias da uva. à estabilidade dos vinhos, harmonizando aromas e sabores.

Endereço para correspondência: Jorge Vásquez Netto, Br. José Battle y Ordoñez 2223 Apto.
803, Montevidéu, Uruguai, Tel: +59 82- 487-1415
Vasquez Netto J / Diabetes Clínica 03 (2002) 210~212 211

Constituição do vinho Quantidade significativa do risco de mortalidade por causa


cardiovascular, em diabéticos ou não. Estes achados
Anidrido carbônico coincidem com um estudo multinacional realizado pela
Anidrido sulfuroso. Dose máxima 90 mg/l OMS - um estudo epidemiológico do Wisconsin - e com
Água; 70 a 80%
Álcool etílico 9º a 14º/litro
um estudo realizado em enfermeiras, o qual demonstrou
Álcoois superiores: 0,15% a 0,50% uma diminuição em quase 50% sobre o risco de
Etanol 0,005 a 0,5 mortalidade, em relação ao consumo moderado de álcool.
Ésteres 0,5 a 1,5 Observa-se que o álcool é capaz de diminuir a
Ácidos volátei 0,3 a 0,5g agregação plaquetária e de aumentar a atividade
Glicerol, taninos, materiais colorantes, menos de 1g/l
gomas e pectinas, sulfatos:
fibrinolítica, quando no aumento do colesterol associado
Cloruros: menos de 0,3 g/l a HDL e sub-frações. Os mecanismos propostos seriam
Fosfatos, etc. de maior eficiência ainda em pessoas diabéticas, nas quais
a dislipidemia e os transtornos da coagulação são
altamente prevalentes. Outro eixo a destacar é que a
Os vinhos ficam em repouso depois da fermentação hiperinsulinemia, comum em diabéticos, tem sido
por dois meses, de maneira que se estabelecem implicada como um importante fator de risco
naturalmente, esfriam-se posteriormente para maior cardiovascular. Esses estudos têm comprovado que o
decantação natural e, antes de engarrafá-los, filtram-se. consumo moderado de álcool determina uma diminuição
No caso de vinhos brancos e rosados, se procede o seu dos níveis plasmáticos de insulina.
engarrafamento ao mínimo quatro meses após a colheita. Em conclusão, os mais recentes trabalhos sobre o
Os vinhos tintos repousam mais tempo, mínimo de 6 assunto indicam que o consumo de álcool associa-se à
meses até 2 anos, em tonéis de carvalho de Nancy. uma diminuição do risco de doença coronariana em
pacientes diabéticos e não diabéticos. Os estudos
Quais são as qualidades do vinho? epidemiológicos demonstraram uma associação inversa
entre o consumo moderado de álcool e a incidência da
Pasteur dizia que o vinho é a mais sã e a mais higiênica patologia cardiovascular e mortalidade.
de todas as bebidas. A tradição conta que ele facilita a
digestão e a eliminação de resíduos, esquenta os sentidos, O que é um vinho ecológico?
alimenta o cérebro, destruí os maus humores, renova o
sangue e facilita a sua circulação. É um vinho onde o processo de elaboração parte da
O Dr. Lino Businco, professor da Universidade de uva tratada ecologicamente, sem uso de produtos
Roma, afirma que o vinho não é uma simples solução derivados e síntese química. Ou seja, sem fertilizantes
alcoólica produzida pela fermentação de açucares da uva. químicos, usando somente fertilizantes naturais de
Segundo ele, o vinho é uma mistura de substancias origem vegetal ou animal, sem utilização de fungicidas,
biológicas onde se reconhecem, fora da água, o álcool, a retornando ao sulfato de cobre e enxofre, sem herbicidas,
glicerina, vitaminas do grupo B, vitaminas C e elementos voltando ao trabalho da terra para evitar o pasto e as
minerais (potássio, sódio, cálcio, magnésio, fósforo, ervas daninhas. É como se trabalhava nos séculos
ferro, cobre, zinco, ácido tártrico, ácido láctico, etc). passados, de maneira a obter uvas naturais.
Os poligenóis, abundantes especialmente nos vinhos Este método é mais caro do que o cultivo moderno,
tintos, contem pigmentos antocianos, taninos, que têm por causa da mão de obra, vigor reduzido da planta por
propriedades bactericidas, vitamínicas, protetores dos uso de fertilizantes naturais, menor eficiência do controle
capilares e anticolesterol. das doenças da fruta, porque os sulfatos de cobre e de
Em maio de 1979, num trabalho publicado no The enxofre são agentes mais preventivos do que curativos.
Lancet, Saint-Leger, Cochrane et Moore estudaram a Mas o resultado é uma uva 100% natural, que realiza
relação entre taxa de mortalidade e consumo de vinho a fermentação de forma completa, sem deixar resíduos
em vários países desenvolvidos, e mostraram a estreita de açúcar, baixo teor de carboidratos, poucas calorias e
relação entre consumo e patologia cardiovascular: o outros dados, fazendo que este vinho seja aconselhável
maior consumo corresponde à menor taxa de morte por para os pacientes diabéticos.
causa cardiovascular. O Uruguai é o primeiro país da América que lançou a
Estudos posteriores verificaram esses achados, produção de um vinho ecológico certificado, pela
principalmente com o vinho tinto e, se é possível Sociedad Anônima Vitícola Uruguya Vinos de la Cruz,
comprovar, que o vinho aumenta as lipoproteínas de alta estabelecimento fundado em 1887. Esta empresa recebeu
densidade (HDL). a certificação de organismos nacionais e internacionais,
Um estudo prospectivo recente indica que o consumo como a SGS (Société Générale de Surveillance), com
leve a moderado de álcool associa-se à diminuição sede na Holanda e a SCPB, certificadora da Associação
212 Vasquez Netto J / Diabetes Clínica 03 (2002) 210~212

Rural do Uruguai. Existe ainda um informe do LATU, Afinal devemos recordar que o álcool pode esconder
onde certificá-se que os vinhos ecológicos não contém a os sintomas de hipoglicemia. Por isto é importante que
presença de frutose, glicose e sacarose, e por essa razão, um familiar conheça bem a condição do indivíduo
podem ser consumidos por pacientes diabéticos. portador de diabetes, especialmente quando ele participa
Existem 5 variedades de vinhos ecológicos: 3 de festas. Em caso de algum problema, é sempre
variedades de vinhos tintos (Malbec, Merlot e Pinot aconselhável fazer uma glicemia em urgência e agir em
Noir), uma variedade de vinho branco da uva Arribola consequência.
de origem francesa e uma variedade de vinho rosado da
uva Muscat de Hamburgo. Conclusões

Qual é a ação do vinho sobre o indivíduo portador O álcool faz parte de nossa cultura e não é proibido
de diabetes? para o paciente diabético, salvo contra-indicação
expressa. Deve se evitar os vinhos com alto teor de
Da mesma forma que existem hormônios e açucares e é preferível o consumo de vinhos ecológicos.
medicamentos que favorecem a hiperglicemia (glucagon, Recordamos que o vinho é uma bebida completa,
catecolaminas, glucocorticóides, diuréticos tiazídicos, diferenciada, variada, renovada, gratificante e pessoal.
etc), existem outros que são responsáveis por Sua historia, sua cultura e relação com o prazer
hipoglicemias (insulina, sulfoniluréias, álcool, etc). Por gastronômico são parte da humanidade e é velha como o
isso é muito importante que o diabético seja informado mundo.
sobre o assunto.
A ingestão de álcool inibe a neoglicogênese, mas não Bibliografia
a glicogênese, pois a hipoglicemia aparece quando os
depósitos de glicogênio são reduzidos, em consequência Barona de Infnate, Luzardo Alvarez A. Sociedad y Salud, 1ª
da falta de aporte de alimentos. Portanto, um indivíduo edição, Formas precisas Ed, Cali, Colômbia, 1991.
Bonifazio JL, Torres J. Diabetes. Libreria Média Editorial ,
portador de diabetes deve manter um registro cuidadoso Montevidéu, Uruguay, 1980.
de seus níveis de glicemia. É necessária uma atenção Farreras-Rozman, medicina Interna, Harcourt, Madrid, Espanha,
especial não só à quantidade ingerida, mas, sobretudo, à 2000.
qualidade da bebida. Existem vinhos com conteúdo Feria de Campanelle S. Estúdio de prevalência em diabetes, revista
elevado de açucares que não só provocam hiperglicemia, de la associación de diabéticos del Uruguay, nov 2001.
García de los Rios M. Diabetes mellitus. Clasificación y
como também aumentam o nível de triglicérides. Essas diagnóstico. 1º curso internationalde Diabetes mellitus,
duas complicações podem afetar a saúde e devem ser Universidad de la República, Facultad de medicina,
evitados. Por isso é inconveniente o consumo de vinhos Montevidéu, Uruguay, 1982
doces, e é aconselhado o consumo moderado de vinhos Goldschmidt de Arribeltz L. Importância de la activitad física em
certificados, de boa qualidade como os ecológicos, sendo el diabético, 1º curso international de Diabetes mellitus,
Universidad de la República, Facultad de medicina,
importante sempre comer alguma coisa antes e durante Montevidéu, Uruguay, 1982.
o consumo de vinho. Nunca se pode beber vinho com o Goldschmidt de Arribeltz L. Tratamiento de la diabetes, Revista
estomago vazio. Devemos também considerar que muitas Sala de Espera;1(9), Montevidéu, Uruguay
vezes o diabético ingere álcool em festas, o que implica Goldschmidt de Arribeltz L. Las Nuevas insulinas, revista de la
um aumento do gasto energético e do consumo de glicose, associación de diabéticos del Uruguay, nov 2001.
Goodman and Gilman, Bases de Farmacologia y terapêutica,
e por isso devera ingerir uma quantidade suficiente de Pergamon presse. 1996
carboidratos antes, durante e depois da atividade. Grau JM, Guardiã J, Net A. Medicina interna fundamental,
As recomendações da American Diabetes Association, Springer, Verlag Ibérica, Barcelona, Espanha, 1998
sobre o tema Diabetes e álcool, são as seguintes: Lorenzo JA, Pignataro F, Maldonado A. Diabetes y drogas. 1º
1 – Se não existe contra-indicações do fato de outras curso international de Diabetes mellitus, Universidad de la
República, Facultad de medicina, Montevidéu, Uruguay, 1982.
doenças e se existe um bom controle metabólico, Maggiolo J. Importância Del control metabólico de la diabetes
recomenda-se seguir de acordo com a população em mellitus. 1º curso international de Diabetes mellitus,
geral. Universidad de la República, Facultad de medicina,
2 – Nenhuma comida deve ser omitida do plano de Montevidéu, Uruguay, 1982.
alimentação em razão das calorias que o álcool pode
trazer, pois poderia precipitar a hipoglicemia.
Recomenda-se que se o álcool faz parte da alimentação
diária, as calorias trazidas pela bebida devem substituir
as calorias gordurosas.
3 – O consumo de álcool deve ser evitado em caso de
gravidez e em pacientes com histórico de abuso de álcool.
American Diabetes Association 2002 / Diabetes Clínica 03 (2002) 213~216
Diabetes 213

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 03 (2002) 213~216

ATUALIZAÇÃO

American Diabetes Associação Ano 2002


Dislipidemia em adultos com diabetes

Prevalência da dislipidemia no diabetes tipo 2 foram reportados em indivíduos com diabetes tipo 2, e
os resultados, de certa forma, contraditórios. No Multiple
O padrão mais comum da dislipidemia em pacientes Risk Factor Intervention Trial (MRFIT), o colesterol
diabéticos tipo 2 é a elevação dos triglicérides e a total, bem como o tabagismo e a pressão arterial, indicam
diminuição do colesterol HDL. Em geral a concentração o desenvolvimento de doença cardiovascular em
de colesterol LDL em pacientes diabéticos tipo 2 não é indivíduos diabéticos e não diabéticos, sugerindo que os
diferente à dos indivíduos não diabéticos. Os pacientes fatores de risco podem ser indicadores nos dois grupos.
diabéticos podem apresentar níveis elevados de colesterol Em um estudo finlandês, o aumento nos níveis dos
não-HDL (LDL e VLDL). Entretanto, os pacientes triglicérides e a diminuição nos níveis de colesterol HDL
diabéticos tipo 2 apresentam uma preponderância de (nem o colesterol LDL nem o colesterol não-HDL)
partículas de LDL menores e mais densas, mesmo se a indicaram DAC em indivíduos com diabetes tipo 2 bem
concentração absoluta de colesterol LDL não esteja definido. Entretanto, após ajuste para colesterol HDL,
elevada de forma significativa. Finalmente, o nível médio nem os triglicérides, nem os VLDL, prognosticaram a
de triglicérides em pacientes diabéticos tipo 2 é < 200 DAC. Em estudos de observação, o HDL pode ser o
mg/dl (2,30 mmol/l) e 85-95% dos pacientes apresentam melhor indicador de DAC em indivíduos com diabetes
níveis de triglicérides inferiores a 400 mg/dl (4,5 mmol/l). tipo 2, seguido pelo colesterol total e pelos triglicérides.
Como em indivíduos não diabéticos, os níveis lipídicos
podem ser afetados por fatores não relacionados à glicemia Estudos clínicos da redução de lipídios em
ou resistência à insulina, como por exemplo, a doença pacientes diabéticos
renal, o hipotireoidismo e a ocorrência freqüente de
distúrbios das lipoproteínas geneticamente determinados. Não foi realizado nenhum estudo clínico sobre os
Estes distúrbios genéticos podem contribuir para a efeitos dos hipolipemiantes na DAC, especificamente
hipertrigliceridemia severa observada em alguns pacientes em indivíduos diabéticos. Entretanto, vários estudos
com diabetes. Além disso, o consumo do álcool e clínicos incluíram um pequeno número de adultos com
estrogênio podem contribuir também para a diabetes tipo 2. No Scandinavian Simvastatin Survival
hipertrigliceridemia. Study, a simvastatina (inibidor da HMG CoA-redutase)
reduziu de forma significativa a incidência de DAC e a
Lipoproteínas como fatores de risco para a doença mortalidade total em indivíduos diabéticos com colesterol
arterial coronariana (DAC) LDL elevado e com DAC. No Cholesterol and Recurrent
Events (CARE), a pravastatina reduziu de forma
Relativamente poucos estudos prospectivos sobre significativa a incidência de DAC em indivíduos
lípides e lipoproteínas como prognosticadores de DAC, diabéticos com níveis médios de LDL e com DAC clínica
214 American Diabetes Association 2002 / Diabetes Clínica 03 (2002) 213~216

anterior. No Helsinski Heart Study, o genfibrozila alterações. O colesterol LDL pode diminuir
(derivado do ácido fíbrico) foi associado à redução de modestamente (em até 10-15%), alcan-çando um controle
DAC em indivíduos diabéticos sem incidência anterior glicêmico ideal. Com um melhor controle glicêmico pode-
de DAC (embora este resultado não tenha sido se também diminuir os níveis de triglicérides e alterar
estatisticamente significativo). No Veterans Affairs High favorávelmente na composição do LDL.
Density Intervention Trial (VA-HIT), genfibrozila foi
associado com diminuição em 24% dos eventos Objetivos do tratamento das lipoproteínas
cardiovasculares em pacientes diabéticos com doença
cardíaca pré-existente. As categorias de risco de DAC, de acordo com os
níveis de lipoproteína nos pacientes diabéticos tipo 2,
Modificação das lipoproteínas através da terapia são apresentadas na tabela 1. Devido as freqüentes
nutricional e da atividade física alterações no controle glicêmico em pacientes diabéticos
e seus efeitos nos níveis de lipoproteínas, os níveis de
A perda de peso e o aumento da atividade física levará LDL, HDL e colesterol total, bem como os níveis de
à redução dos triglicérides e ao aumento dos níveis de triglicérides, devem ser medidos anualmente em
colesterol HDL e também à modesta redução do pacientes adultos. Se os valores caírem a níveis de risco
colesterol LDL. Os pacientes diabéticos que estão acima mais baixo, a avaliação deve ser realizada a cada 2 anos.
do peso devem ser orientados para um tratamento Em crianças diabéticas, a avaliação das lipoproteínas
nutricional e aumento da atividade física. A quantidade deve ser considerada após os 2 anos de idade.
de gordura saturada na refeição deve ser reduzida. A
American Diabetes Association sugere um aumento nos Tabela 1 – Categoria de risco baseada nos níveis de
carboidratos ou gorduras monosaturadas para compensar lipoproteína em adultos com diabetes
a redução da gordura saturada. Alguns estudos (mas não
Risco Colesterol LDL Colesterol HDL Triglicérides
todos) sugerem que uma dieta com alto teor de gordura
monoinsaturada pode apresentar melhores efeitos
Alto >130 < 35 > 400
metabólicos, ao contrário de uma dieta com alto teor de
carboidratos. Limítrofe 100-129 35-45 200-399
A terapia nutricional reduz, em geral, 15-25 mg/dl do Baixo < 100 > 45 < 200
colesterol LDL (0,40-0,65 mmol/l). Desta forma, se o
colesterol LDL está 25 mg/dl (0,65 mmol/l) acima da Os dados são apresentados em miligramas por decilitro. Para as
mulheres, os valores de colesterol HDL devem ser aumentados em
meta, o médico pode adotar um tratamento farmacológico 10 mg/dl.
aliado a uma terapia comportamental, para pacientes com
alto risco (como pacientes diabéticos com infarto do Os níveis ideais de colesterol LDL para adultos com
miocárdio anterior e/ou outros fatores de risco de DAC). diabetes são de < 100 mg/dl (2,60 mmol/l), os de
Em outros pacientes, as intervenções no comportamento colesterol HDL são > 45 mg/dl (1,15 mmol/l) e os níveis
podem ser avaliadas em intervalos de seis semanas, com desejáveis de triglicérides são < 150 mg/dl (1,70 mmol/
avaliação do tratamento farmacológico entre 3 e 6 meses. l). Em mulheres que, pelo menos quando não diabéticas,
tendem a apresentar níveis de colesterol HDL mais altos
Modificação das lipoproteínas pelos agentes que os homens, é desejável que apresentem níveis de
hipoglicemiantes colesterol HDL superiores a 45 mg/dl [1,15 mmol/l].
Entretanto, é muito difícil elevar os níveis de colesterol
A melhora da glicemia geralmente reduz os níveis de HDL com medicamentos em pacientes diabéticos, uma
triglicérides. Em geral, os agentes hipoglicemiantes não vez que o agente mais eficaz na elevação do colesterol
alteram ou apresentam apenas um efeito modesto na HDL é o ácido nicotínico, que é relativamente contra-
elevação dos níveis de
HDL. Entretanto, a Tabela 2 – Decisões de tratamento baseadas no nível de colesterol LDL em adultos com diabetes
composição do HDL
pode mudar num sentido Terapia nutricional Tratamento medicamentoso
considerado antia- Nível inicial Meta do LD Nivel inicial Meta do LDL
terogênico. As tia-
Com CAD, DVC ou DVP ≥ 100 < 100 ≥ 100 < 100
zolidinedionas podem
aumentar os níveis de Sem CAD, DVC e DVP ≥ 100 <100 ≥ 130* < 100
HDL e LDL, mas não é Os dados são apresentados em miligramas por decilitro. *Para pacientes com LDLentre 100 e 129 mg/
conhecido o efeito a dl, várias estratégias de tratamento são possíveis, como terapia nutricional mais agressiva e tratamento
longo prazo dessas com estatinasdevem ser aumentados em 10 mg/dl.
American Diabetes Association 2002 / Diabetes Clínica 03 (2002) 213~216 215

indicado para pacientes diabéticos. Os fibratos podem indivíduos acentuadamente hipertrigliceridêmicos


elevar os níveis de colesterol HDL de forma significativa (triglicérides ≥ 300 mg/dl [3,40 mmol/l]). O aspecto
sem afetar o controle glicêmico. O tratamento fundamental é que o genfibrozila não deve ser iniciado
farmacológico deve ser iniciado depois de adotadas isoladamente em pacientes diabéticos, que apresentem
intervenções no comportamento. Entretanto, em níveis indesejáveis de triglicérides e colesterol LDL. O
pacientes com doença arterial coronariana clínica (DAC) fenofibrato, um derivado do ácido fíbrico recentemente
ou com níveis de colesterol LDL muito elevados (ou aprovado, pode apresentar um efeito maior na redução
seja, ≥ 200 mg/dl [5,15 mmol/l], o tratamento do LDL e pode ser útil para pacientes diabéticos com
farmacológico deve ser iniciado simultaneamente à hiperlipidemia associada. Embora o colesterol HDL,
terapia comportamental. como observado acima, seja um forte indicador de DAC,
Para pacientes diabéticos com DAC clínica e nível de é difícil elevar os níveis de colesterol HDL sem
colesterol LDL e ≥ 100 mg/dl (2,60 mmol/l) após terapia intervenção farmacológica. Os fibratos e o ácido
nutricional e hipoglicemiante, é recomendado o nicotínico, que é relativamente contra-indicado para
tratamento farmacológico. Para pacientes diabéticos sem pacientes diabéticos, podem aumentar de forma efetiva
incidência anterior de DAC, as atuais recomendações os níveis de colesterol LDL. As intervenções no
da ADA para o início do tratamento farmacológico são: comportamento (perda de peso, interrupção do
1) nível de colesterol LDL ≥ 130 mg/dl (3,35 mmol/l); tabagismo, aumento da atividade física) podem aumentar
2) meta de < 100 mg/dl (2,60 mmol/l) para o colesterol o colesterol HDL.
LDL (tabela 2). Estas recomendações baseiam-se, não
apenas na alta incidência de DAC em pacientes com Tabela 3 – Ordem de prioridades para o tratamento da
diabetes, mas também no maior índice de fatalidade. dislipidemia diabética em adultos
Como grande parte dos pacientes diabéticos morrem I. Redução do colesterol LDL
antes de chegar ao hospital, uma estratégia de prevenção,
Primeira escolha
baseada unicamente na prevenção secundária, não seria Inibidor da coenzima HMG A - redutase (estatina)
capaz de “salvar” um grande número destes pacientes. Segunda escolha
A tabela 3 mostra a ordem de prioridades para o Resina de ligação ao ácido biliar (resina) ou fenofibrato
tratamento das dislipidemias. O tratamento do colesterol II. Elevação do colesterol HDL
LDL é a primeira prioridade para a terapia farmacológica. Intervenções no comportamento, como por exemplo,
O tratamento inicial da hipertrigliceridemia é a perda de peso, aumento da atividade física e abandono
modificação no comportamento, com perda de peso, do tabagismo podem ser úteis
Controle glicêmico
aumento da atividade física e moderação no consumo Difícil, exceto com o ácido nicotínico, que é relativamente
de álcool. No caso da hipertrigliceridemia severa (e” 1000 contra-indicado, ou fibratos
mg/dl, 11,3 mmol/l), é necessária a restrição do consumo III.Redução dos triglicérides
de gordura (< 10% de calorias), associada ao tratamento A prioridade é o controle glicêmico
farmacológico, para reduzir o risco de pancreatite. O Derivado do ácido fíbrico (genfibrozila, fenofibrato)
aumento do controle glicêmico (facilitado pela As estatinas são moderadamente eficazes em doses
introdução de novos agentes hipoglicemiantes e pelo uso altas nos indivíduos hipertriglicerídicos que
mais freqüente de tratamentos associados) é também apresentem também um colesterol LDL alto.
muito eficaz para reduzir os níveis de triglicérides e deve IV.Hiperlipidemia combinada
ser amplamente empregado antes da introdução dos Primeira escolha
ácidos fíbricos. Após atingir um controle glicêmico ideal Aumento do controle glicêmico associado à dose
de estatina
(ou pelo menos atingir o melhor controle glicêmico Segunda escolha
possível), o médico pode considerar a adição de um ácido Aumento do controle glicêmico associado à estatina,
fíbrico. Na tabela 1, a decisão de iniciar o tratamento ao derivado do ácido fíbrico (genfibrozila,
medicamentoso depende da avaliação do médico, quando fenofibrato)
os níveis de triglicérides estejam entre 200 (2,30 mmol/ Terceira escolha
Aumento do controle glicêmico associado à resina,
l) e 400 mg/dl (4,50 mmol/l). Acima de 400 mg/dl (4,50 ao derivado do ácido fíbrico (genfibrozila,
mmol/l), deve-se considerar o tratamento farmacológico fenofibrato)
da trigliceridemia. Em contrapartida, um melhor controle Aumento do controle glicêmico associado à estatina,
glicêmico irá reduzir modestamente os níveis de ao ácido nicotínico (o controle glicêmico deve ser
colesterol LDL, e, portanto, em pacientes diabéticos com monitorado cuidadosamente).
altos níveis de colesterol LDL e glicose, pode-se iniciar
simultaneamente o tratamento com hipoglicemiantes e Em alguns casos, o tratamento associado pode ser
estatina. Em alguns estudos, doses mais altas de estatinas iniciado. Várias opções são apresentadas na tabela 3. A
são eficazes na redução dos níveis de triglicérides em combinação das estatinas com ácido nicotínico,
216 American Diabetes Association 2002 / Diabetes Clínica 03 (2002) 213~216

especialmente com genfibrozila ou fenofibrato, foi normal). Sua composição de lipoproteínas pode ser
associada a um aumento do risco de miosite, embora o anormal, mas os efeitos destas anormalidades em relação
risco de miosite clínica (em oposição aos níveis elevados à DAC são desconhecidos. Existem relativamente poucos
de fosfocinase de creatinina) pareça menor. A associação dados de observações sobre as lipoproteínas e a DAC, e
de estatinas com ácido nicotínico é extremamente eficaz não existem estudos clínicos relacionando as
na modificação da dislipidemia diabética (com os maiores lipoproteínas à DAC. Os pacientes diabéticos tipo 1, que
aumentos nos níveis de colesterol HDL), mas a apresentam níveis de colesterol LDL acima das metas
combinação pode agravar de forma significativa a recomendadas para pacientes diabéticos tipo 2 (tabela
hiperglicemia. Assim, esta associação deve ser usada com 2), devem ser submetidos a um tratamento eficaz. Para a
bastante cuidado: empregue doses baixas de ácido redução da DAC, a melhora do controle glicêmico pode
nicotínico (£ 2 g de ácido nicotínico por dia) com controle ser mais importante para os pacientes diabéticos tipo 1
freqüente dos níveis de glicose. do que para o do tipo 2.

Agentes redutores de lípides Conclusões

Geralmente, estão disponíveis um ou dois agentes em O tratamento intenso da dislipidemia diabética


cada classe, com exceção das estatinas em que existem reduzirá provavelmente o risco de DAC em pacientes
muitas opções. A escolha da estatina depende com diabetes. O tratamento inicial deve ser voltado para
principalmente da redução de LDL necessária para a redução dos níveis de LDL. A meta é reduzir as
alcançar a meta (< 100 mg/dl [2,60 mmol/l], o nível concentrações de LDL aos níveis recomendados para
inicial do LDL e a apreciação do médico. Deve-se pacientes com DAC pré-existente (£ 100 mg/dl [2,60
observar também que doses mais altas de estatinas podem mmol/l]). O nível inicial em que são recomendadas
ser moderadamente eficazes na redução dos níveis dos intervenções comportamentais é de um colesterol LDL
triglicérides (embora não necessariamente na elevação > 100 mg/dl (2,60 mmol/l). O tratamento inicial deve
dos níveis de HDL) e, assim, podem reduzir a ser o uso de estatina com adição de uma resina, caso seja
necessidade de tratamento associado. Com o uso de altas preciso para atingir a meta.
doses de estatinas, os níveis de LDL devem ser reduzidos Entretanto, os dados de estudos clínicos são limitados,
para 80 mg/dl (2,05 mmol/l) ou menos, e não existem especialmente em pacientes diabéticos sem doença
dados de segurança nestes níveis baixos de LDL. O uso cardiovascular. Na ausência de tais dados, devido à alta
de doses muito altas de estatina (simvastatina 80 mg ou mortalidade de pacientes diabéticos com o primeiro
atorvastatina 40 ou 80 mg) para tratar a infarto do miocárdio, é também indicado o tratamento
hipertrigliceridemia, deve restringir-se aos pacientes com intensivo da dislipidemia. Para pacientes sem DCV
níveis elevados de colesterol LDL, bem como, níveis anterior, a meta para o colesterol LDL é £ 100 mg/dl
elevados de triglicérides. Devem ser realizadas mudanças (2,60 mmol/l). O nível para iniciar o tratamento
no tratamento em intervalos de 4 a 6 semanas, farmacológico é ³ 130 mg/dl para o LDL (3,35 mmol/l).
dependendo dos resultados dos exames de controle. Para pacientes com LDLentre 100 e 129 mg/dl, várias
estratégias de tratamento são possíveis, como terapia
Considerações sobre o tratamento de adultos com nutricional mais agressiva e tratamento com estatinas.
diabetes tipo 1 O tratamento inicial da hipertrigliceridemia é a me-
lhora do controle glicêmico. A redução dos triglicérides
Os pacientes diabéticos tipo 1 submetidos a um bom pode ser alcançada com doses muito altas de estatinas
controle, tendem a apresentar níveis normais de (para indivíduos com triglicérides e LDL altos) ou
lipoproteínas (e algumas vezes níveis inferiores ao derivados de ácido fíbrico (genfibrozila ou fenofibrato).
Recomendações da International Diabetes Federation / Diabetes Clínica 03 (2002) 217~220
Diabetes 217

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 03 (2002) 217~220

ATUALIZAÇÃO

International Diabetes Federation:


Complicações do diabetes e educação

Introdução progressão de complicações crônicas, aumentou a inci-


dência da hipoglicemia, especialmente em diabéticos tipo
Diabetes mellitus condicionou a saúde de 110 milhões 1. Por essa razão, a hipoglicemia foi denunciada como o
de indivíduos nos anos 1990. Este número vai dobrar maior obstáculo para o bom controle do diabetes tipo 1.
para 221 milhões até 2010. A maioria desses indivíduos Complicações do diabetes têm um impacto sócio-
experimentarão complicações agudas e/ou a longo prazo econômico significativo, não só para o indivíduo
durante sua vida. Complicações crônicas do diabetes diabético, mas também para a nação e globalmente.
(microangiopatia, macroangiopatia e neuropatia) eram Estratégias de manejo privilegiam a prevenção, detecção
virtualmente desconhecidas até 10-20 anos após a precoce e tratamento apropriado do diabetes e de suas
descoberta da insulina em 1921. Desde então, indivíduos complicações, para diminuir a mórbida e mortalidade
portadores de diabetes têm uma esperança maior de vida, dos diabéticos.
mas devem enfrentar os problemas das complicações do As complicações agudas do diabetes incluem:
diabetes. Um grande desafio da pesquisa no manejo do · Cetoacidose em indivíduos portadores de diabetes
diabetes foi desenvolvido nas últimas décadas. Os tipo 1
resultados do Diabetes Controle and Complications
Trials (DCCT) em 1993 para os pacientes portadores de · Síndrome de hiperglicemia hiperosmolar em
diabetes tipo 1, o estudo Kumamoto em 1995 e o UK indivíduos portadores de diabetes tipo 2
Prospective Diabetes Study (UKPDS) em 1998, para as · Hipoglicemia em indivíduos portadores de diabetes
pessoas portadoras de diabetes tipo 2, alteraram tipo 1 ou tipo 2, tratados por insulina ou portadores de
profundamente a cura do diabetes. Mesmo que a duração diabetes tipo 2, tratados por sulfoniluréias ou
do diabetes seja um dos fatores de risco para o sulfoniluréias em associação com insulina.
desenvolvimento de complicações crônicas, esses As complicações crônicas do diabetes podem ser
estudos mostraram que alguns fatores de riscos, agrupadas em 4 tipos principais:
notavelmente a hiperglicemia e a hipertensão, aumentam · Microvascular: Nefropatia e retinopatia
o progresso e a gravidade das microangiopatias.
Complicações crônicas do diabetes estão destruindo · Macrovascular: Coração isquêmico; doença cérebro-
os indivíduos portadores de diabetes. Dirigir a sua vida vascular e doença vascular periférica
para evitar as complicações agudas do diabetes é também · Neuropatia : Periférica e autonômica
um desafio. A evidência do DCCT e do UKPDS, que a · A doença do pé diabético é habitualmente uma asso-
normoglicemia previne o desenvolvimento, ou adia a ciação de neuropatia e alterações macro e microvasculares.
218 Recomendações da International Diabetes Federation / Diabetes Clínica 03 (2002) 217~220

Prevalência das complicações crônicas do diabetes má adaptação do paciente ao tratamento prescrito é ainda
o maior obstáculo para o controle do diabetes e a
Indivíduos portadores de diabetes tipo 1 ou 2 são prevenção de suas complicações agudas e crônicas.
susceptíveis de complicações crônicas do diabetes. Existe A literatura identifica 4 fatores associados como boas
uma relação linear entre a duração do diabetes e as ferramentas de auto-cuidado:
complicações crônicas. Existe também uma relação linear · Características dos pacientes
entre a idade e o desenvolvimento de complicações
crônicas: o risco é maior no paciente mais velho. · Características da relação paciente-médico e sistema
Após 15 anos de diabetes, mais de 90% dos diabéticos de saúde
tipo 1 e 55-85% dos portadores do tipo 2, têm uma forma · Ausência de stress ligado à doença
qualquer de retinopatia diabética. Dentre os portadores · Características da rede e do contexto social.
de diabetes tipo 2, 21% tinham uma retinopatia na época
do diagnóstico. Características dos pacientes
30-40% dos pacientes diabéticos tipo 1 e 20-30% do
tipo 2, desenvolvem uma nefropatia diabética após 30 Caracteres pessoais, estilo de vida com problemas
anos de duração da doença. Quase 70% dos pacientes específicos ou stress, crenças pessoais, compreensão da
diabéticos apresentam um grau de lesão nervosa doença e estilo de aprendizagem, são indicadores dos
periférica, dos quais 25% têm sintomas suficientes para comportamentos de auto-cuidados em indivíduos
interferir nas atividades diárias. A neuropatia é presente portadores de doenças crônicas como o diabetes. Crenças
em 12% dos pacientes no momento do diagnóstico. sobre a saúde dos indivíduos e suas percepções da terapia
As taxas de mortalidade por doença arterial do diabetes podem facilitar ou inibir a adaptação ao
coronariana em pacientes diabéticos, são duas a três vezes tratamento e ao controle glicêmico. O desenvolvimento
maiores em homens e mulheres diabéticos, quando de ferramentas eficientes melhoram os auto-cuidados e o
comparados com populações não diabéticas. Para as controle metabólico, permitindo uma maior auto-estima
doenças vasculares cerebrais, os diabéticos apresentam e melhor eficácia no tratamento do diabetes. Estudos
também taxas de mortalidade 3 a 5 vezes maiores do demonstraram que a realização de mudanças em
que a população não diabética. comportamentos múltiplos, para diminuir o risco de
Os diabéticos têm um risco de amputação 15 vezes complicações em doenças, exige um nível elevado de cog-
maior do que os não-diabéticos, em razão da neuropatia nição, bem como a vontade de alterar o comportamento.
periférica e /ou da doença vascular.
Características da relação paciente-médico e
Papel da educação na prevenção das complicações sistema de saúde
diabéticas
Vários estudos documentam a importância das
A importância do papel da educação em diabetes no ferramentas de comunicação dos médicos e a sua
manejo do diabetes foi descrita pelo Dr EP Joslin a partir interação com os pacientes, como fatores determinantes
de 1920. Apesar de que inúmeros estudos mostraram da adaptação e satisfação com o tratamento. Os pacientes
melhoras do controle glicêmico com a educação em aderem muito mais ao tratamento quando o médico
diabetes, continua a prevalência das complicações. Uma fornece explicações claras e comentários positivos.
explicação possível: existe um gap entre o que os pacientes
diabéticos deveriam fazer para cuidar da sua doença e Ausência de stress ligado à doença
prevenir as complicações, comparado com o que eles
fazem realmente. Ultrapassar este gap pode ajudar Os indivíduos portadores de diabetes de grupos
entender que a educação em diabetes vai mais longe de socialmente e culturalmente desfavorecidos, tendo menos
que melhorar a informação e o auto-cuidado físico. acessos aos recursos de saúde, têm uma maior incidência
de complicações diabéticas e da taxa de mortalidade. Isso
Magnitude dos problemas de educação em diabetes resulta, em parte, da menor aceitação nas classes baixas, do
comportamento de prevenção e de manutenção da saúde.
O diabetes é uma doença crônica com graves Um exemplo é o tabagismo. A complacência do paciente
complicações, pela qual os indivíduos são responsáveis depende da sua cooperação e da compreensão da doença.
por 95% de seus próprios cuidados. Assim, é importante
que eles adquiram o conhecimento sobre as ferramentas Características da rede e do contexto social
de auto-cuidado para as decisões diárias A complexidade
no manejo do diabetes e sua integração na vida diária, O suporte social ou os obstáculos sociais ao
explicam a dificuldade da adaptação ao tratamento. A tratamento, têm profundos efeitos sobre a prevenção das
Recomendações da International Diabetes Federation / Diabetes Clínica 03 (2002) 217~220 219

complicações do diabetes tipo 1 ou 2. O controle crônico diabéticas. O UKPDS demonstrou a importância do


inadequado reflete mais do que a falta de informação; controle da pressão sanguínea para reduzir as
disfunção da família, falta de coesão familiar, complicações no diabetes tipo 2. Hipertensão também
adaptabilidade e conflitos, são associados à baixa tem um impacto significativo no pacientes diabético tipo
complacência do tratamento. 1. Hipertensão e tabagismo induzem um aumento
dramático do risco de complicações.
O sistema de saúde
Estratégias de manejo
1 – Em vários sistemas, os profissionais de saúde não
trabalham de acordo com os padrões recomendados. Por Prevenção, detecção precoce e tratamento são as três
exemplo, um ano após a difusão das recomendações da regras de ouro para a educação em diabetes.
retinopatia, muitos profissionais ainda não abriram
recomendações. No mesmo estudo, só 26% dos Prevenção
indivíduos portadores de diabetes reportaram que
receberam os cuidados completos, tais como são descritos ·Educação em diabetes deve estar disponível para
nas recomendações. Apesar da incidência da amputação todos os indivíduos portadores da doença. Em um estudo
dentre os diabéticos, os profissionais não promovem os realizado para identificar os fatores de risco para o
cuidados preventivos do pé. desenvolvimento, a longo prazo, das complicações
2 – Há um falta de informação fornecida aos diabéticas, foi observado que: aumenta o risco de
portadores de diabetes sobre a importância da detecção desenvolvimento de complicações, nos pacientes que não
precoce das complicações. A rastreamento anual das recebem nenhum tipo de educação (odds ratio, OR =
complicações diabéticas não é ainda uma prática padrão 4,1; IC 95% - 1,7-9,7).
para muitos profissionais de saúde. Estudo em 150
mulheres de baixa renda, reportou gaps significativos · Através do programas de intervenção, os indivíduos
em seu conhecimento sobre as complicações do olho, portadores de diabetes devem ser informados dos
correlatas ao diabetes e métodos para diminuir este risco. resultados do DCCT e UKPDS, o que permite a
No mesmo estudo, 75% dos pacientes não eram identificação dos fatores de risco e, assim, agir para
informados da necessidade de um rastreamento anual alterar o estilo de vida. Educação em diabetes deve
para a detecção de doença do olho com complicações incluir informação sobre a prevalência, fatores de risco,
diabéticas. Outro estudo, que identificou as causas do prevenção, modelos de tratamento e ferramentas de auto-
aumento significativo das hospitalizações para cuidado.
complicações diabéticas, indicou que 50% dos indivíduos · Estimular o indivíduo portador de diabetes em
portadores de diabetes nunca receberam educação de participar plenamente de seu próprio cuidado e tomar
auto-cuidado. decisões informadas. Uma avaliação de programa de
3 - Como consequência da insuficiência de pessoal estimulação com um grupo de portadores da doença é
formado e da falta de recursos, a maioria dos portadores eficiente para melhorar a auto-eficácia e diminuir a
de diabetes não são acompanhados em centros hemoglobina glicosilada.
especializados, especialmente nos países do terceiro - Quando um programa de educação em diabetes é
mundo. Um bom exemplo é um estudo realizado para desenhado de maneira apropriada no contexto de valores
avaliar o status do atendimento ao diabético na China, culturais, crenças, atitudes e estilo de vida para cada
onde existe mais de 20 milhões de pessoas com a doença. população, melhora o controle metabólico dos portadores
Neste estudo, a análise mostrou que os pacientes diabéticos da doença.
são hospitalizados no bairro ou na comunidade. Mesmo · Fatores que afetam as características de indivíduos
para os pacientes hospitalizados em centros especializados, portadores de diabetes devem ser considerados na
faltam médicos e enfermeiras treinados em diabetes. organização de programas educacionais, em razão da sua
Nutricionistas são quase ausentes da equipe de diabetes. influência na aceitabilidade da educação e controle
4 – Muitos profissionais de saúde, atuando em centros glicêmico.
de diabetes não especializados, não fornecem a devida
educação sobre a doença. As razões identificadas incluem · Indivíduos portadores de diabetes de grupos desfa-
negligência da necessidade de educação sobre a doença, vorecidos têm necessidades educacionais diferentes.
conhecimentos insuficientes sobre o manejo do diabetes Programas de educação devem ser estruturados para
e falta de tempo. incluir as suas necessidades específicas.
5 – Os programas tradicionais de educação em diabetes · Aumentar a atenção sobre a importância do controle
não enfatizam suficientemente a importância do controle da pressão sanguínea entre os indivíduos portadores de
da pressão sanguínea para a prevenção das complicações diabetes, contribui significativamente à prevenção das
220 Recomendações da International Diabetes Federation / Diabetes Clínica 03 (2002) 217~220

complicações da doença. O UKPDS e outros estudos com pacientes diabéticos. E deve ser enfatizada a
demonstraram que pacientes diabéticos, que têm um bom necessidade de seguir os modelos de cuidados.
controle de pressão sanguínea, apresentam menores taxas Diminuições da taxa de amputação entre 44 e 85% foram
de mortalidade (42% para acidente vascular cerebral e reportadas, após melhora devido à educação em cuidados
14% para doença arterial coronariana). No mesmo do pé.
estudo, foi indicado que o manejo multidisciplinar da
hipertensão é fortemente recomendado, porque resulta
· Colaboração do sistema público de saúde e
estratégias comunitárias, são outras estratégias utilizadas
no melhor controle da pressão sanguínea do que em
para a promoção da saúde na detecção precoce do
outros modelos.
diabetes e complicações. Difusão da informação deve
· Complicações agudas do diabetes podem ameaçar a incluir prevalência, fatores de risco, prevenção, detecção
vida, como a alteração do estado mental, a perda da precoce e modelos de tratamento.
consciência e, possivelmente, a morte. Prevenção,
conhecimento dos sintomas e modelos de ação, são Detecção precoce
tópicos importantes para ensinar em programas de
educação após diagnóstico. Familiares devem ser
incluídos no programa de educação.
· Todos os indivíduos portadores de diabetes tipo 1
após puberdade ou 5 anos pós diagnóstico, e todos os
· A eficiência da educação em diabetes deve ser portadores de diabetes tipo 2, devem ser informados
periodicamente reavaliada e revisada. sobre a necessidade de um programa de rastreamento
· Educação em diabetes deve ser um processo anual das complicações diabéticas.
estruturado e continuo. A revisão deve ocorrer em · Todas as mulheres portadoras de diabetes em idade
intervalos periódicos e novos resultados de pesquisas de gravidez, devem ser informadas do programa de
devem ser mostrados aos indivíduos portadores de rastreamento das complicações diabéticas antes da
diabetes. Vários estudos demonstram os benefícios a gravidez.
curto prazo da educação em diabetes. Entretanto, poucos
estudos foram realizados para observar a eficiência da Manejo das complicações
educação para manter um bom controle metabólico a
longo prazo. Tankova observou uma diminuição do
controle metabólico nos pacientes após um ano de
· Na presença de complicações, os pacientes devem
receber tratamento e educação apropriados. Após o
educação. Em estudo de acompanhamento de 6 anos de
tratamento e educação de 6 meses em 32 pacientes
106 pacientes diabéticos tipo 1, o controle glicêmico se
portadores de diabetes tipo 2 e doença cardíaca isquêmica
deteriorou após 3 anos de educação. Outro estudo sobre
crônica, o número de fatores de risco cardíaco diminuiu,
a avaliação da educação em diabetes após 3 anos,
a qualidade de vida e o controle metabólico melhoraram,
observou uma taxa de declínio entre 2 e 2,5 anos. Baseada
e HbA1c diminuiu de 11% para 8%.
nestes achados, a reeducação é absolutamente necessária
para manter os efeitos benéficos da educação e deve ser · Programas de reabilitação devem ser propostos aos
realizada em intervalos de 2 anos. pacientes debilitados pelas complicações do diabetes.
· Os cuidados do diabetes com programa familiar pode Conclusão
ajudar na adaptação ao tratamento. Entender o contexto
familiar de cuidados, crenças e organização ajudará Com a evidência dos estudos do DCCT e UKPDS sobre
bastante para melhorar os resultados nas intervenções a possível prevenção das complicações crônicas do
com o paciente e na família. diabetes, a educação em diabetes tem um papel muito
· Bons relacionamentos paciente-médico são importante para a prevenção e o manejo das complicações.
essenciais para melhorar a complacência ao tratamento Na ausência de programa de educação, as complicações
e o controle metabólico dos pacientes diabéticos. do diabetes não podem ser prevenidas. Realizar um
· Educação para atualizar os cuidados e o manejo do controle glicêmico ideal é um processo complexo,
diabetes deve estar disponível para os profissionais de envolvendo treinamento em auto-cuidados em diabetes,
saúde. Tópicos de discussão devem incluir prevenção, onde o doente é o primeiro quem decide e a equipe de
detecção precoce e manejo das complicações diabéticas, profissionais em saúde fornece suporte e recomendações
estratégias de mudanças das práticas atuais, ciência do apropriadas. Com melhor conhecimento da ciência do
comportamento e conhecimentos dos fatores culturais. comportamento e compreensão dos fatores culturais da
educação em diabetes, teremos melhores ferramentas para
· Recomendações e modelos de cuidados devem estar atingir nosso principal objetivo – melhorar a qualidade de
disponíveis para todos os profissionais que trabalham vida dos indivíduos portadores de diabetes.
Diabetes Clínica 03 (2002) 221

7º Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes


7ºExposição Nacional de Produtos e Alimentos para Diabéticos
Dias 26, 27 e 28 de Julho de 2002 - Fundação Alvares Penteado - FECAP - São Paulo - SP
DISTRIBUIÇÃO DOS SIMPÓSIOS POR SALA
Abertura solene: auditório Conde Honório Complicações do Diabetes Mellitus Tipo o real
Álvares Penteado, de 08:30 às 10:00 1 - Como monitorá-las Diabetes Mellitus na Infância: O ideal e
Transmissão simultânea nas salas do Novas Insulinas - Novas Perspectivas o Real
6º andar – bloco C Terapêuticas Diabetes Mellitus no Idoso: O Ideal e o
Cetoacidose Diabética - Experiência do Real
SEXTA, 26 DE JULHO DE 2002 Instituto da Criança -FMUSP Diabetes Mellitus na Gestação: O Ideal
Manhã de 10 às 12 horas e o Real
Simpósio 5 - Sala 332 Dietoterapia e Dificuldades: O Ideal e o
Simpósio 1 Educação em Diabetes Real
Diabetes Mellitus : Estado atual Aspectos Fundamentais da Educação em Dificuldade do Relacionamento Afetivo
Conferência de abertura: Resultados Diabetes Sexual
Atuais do Plano de Reorganização da A Comunicação na Educação em Diabetes
Atenção ao Diabetes Mellitus e Hiper- Recursos humanos na Educação em SÁBADO, 27 DE JULHO DE 2002
tensão Arterial do Ministério da Saúde Diabetes
Manhã de 8 às 12 horas
Do Presente para o Futuro : O impacto Adesão ao Tratamento: Estratégias -
do Diabetes Benefícios - Dificuldades Simpósio 10 - Auditório
Desvendando a Biologia Molecular da Projeto de Monitorização. Controle e Atualização em Terapia Nutricional do
Síndrome da Resistência à Insulina Avaliação de Doenças Crônicas Não Diabetes Mellitus
Transmissíveis – Importância da Terapia Nutricional na Síndrome
Simpósio 2 - Auditório Educação Continuada Metabólica
Aspectos Básicos da Terapia Nutricional Acompanhamento Nutricional e Controle
em Diabetes Mellitus Simpósio 6 - Sala 333
Diabetes - Diagnóstico e Acompanha- Metabólico Após Cirurgia Bariátrica
Conduta Nutricional Atual e Contagem
de Carboídratos mento Laboratorial Biologia Molecular na Prevenção e
O Paciente Diabético em Atividade Monitorização da Glicemia Tratamento do Diabetes Mellitus
Física - Como Evitar e Tratar a Controle de Qualidade Terapia Nutricional no Pré e Pós
Hipoglicemia Recursos Diagnósticos Atuais Transplante Simultâneo de Rim e
Orientação Nutricional em Situações Monitorização Laboratorial do Paciente Pâncreas
Diabético
Especiais Simpósio 11 - Sala 131
Importância Clínica do Controle
Terapia Nutricional da Gestante Diabética - Metabólico/Laboratorial Hiperglicemia Pós Prandial
Experiências de um Centro de Referência Atualização
Simpósio 7 - Sala 334 Hiperglicemia Pós Prandial. Sua Impor-
Simpósio 3 - Sala 131 Atuação da Enfermagem: Insulinoterapia tância e Implicações Clinicas
Dislipidemias e Diabetes Insulinas : Uma Abordagem Conceitual Nateglinida : Aspectos Atuais
Novas Interpretações dos Mecanismos Via e Locais de Aplicação: Facilitando a Apresentação do Projeto Navegator:
Fisiopatológicos Auto Aplicação Nateglinida , Metformina , Valsartan
Os Consensos Nacionais e Internacionais Workshop
sobre Dislipidemias: Implicações para Simpósio 12
Diabéticos Simpósio 8 - Sala 531 Repaglinida no Contrôle da
As Grandes Investigações Epidemio- Nefropatia Diabética e Hipertensão Hiperglicemia Pós Prandial: Dados
lógicas sobre Dislipidemias Arterial Atuais
Diagnóstico Labotatorial e Bases do Etiopatogenia da Hipertensão Arterial no Repaglinidas na Regulação da
Tratamento Clínico Paciente Diabético Hiperglicemia Pós Prandial: Dados
Prevenção da Doença Cardiovascular: História Natural da Nefropatia Diabética Atuais
Aspecto Clínico e Fisiopatológico no Paciente Hipertenso Discussão de Casos Alínicos
Relacionados ao Tratamento Dietético Tratamento Não Medicamentoso do
Paciente Hipertenso com Nefropatia Simpósio 13 - Sala 331
Simpósio 4 - Sala 331 Diabética Resistência à Insulina
Atualização em Diabetes Mellitus na Tratamento Medicamentoso do Paciente Resistência à Insulina Como Marcadora
Infância e Adolescência Hipertenso com Nefropatia Diabética de Risco Cardiovascular
Possibilidades Etiológicas - Novos Identificando Paciente de Risco. Quanto Métodos de Investigação da Resistência
Enfoques Mais Cedo Melhor à Insulina: Da Pesquisa à Prática Clínica
Diagnóstico e Tratamento Ambulatorial O conceito da Resistência à Insulina na
do Diabetes Mellitus Tipo 2 na Infância Simpósio 9 - Sala 532 Prática Médica
e Adolescência Dificuldades no Atendimento: O ideal e Rosiglitazona
222 Diabetes Clínica 03 (2002)

Simpósio 14 - Sala 332 Paradigma no Tratamento do Diabetes Tadalafil: Avanços no Tratamento da


Estratégias de Educação em Diabetes Mellitus Tipo 2 Disfunção Erétil
Mellitus : Experiência de Diferentes Análise Crítica dos Fármacos Atuais Cirurgia Vascular: Atuação e Resultados
Serviços Antiobesidade
Currículo Modelo Para Treinamento de Cirurgia Bariatrica em Obesos Mórbidos Simpósio 26 - Sala 531
Educadores - International Diabetes com Diabetes Mellitus Evolução dos Transplantes de Pâncreas
Federation Diferentes Tipos de Indicações e Contra-
Educação e Qualidade da Atenção de Simpósio 20 - Sala 131 Indicações - Estatísticas Mundiais
Pessoas com Diabetes - Cenexa - La Plata Recentes Avanços na Terapeutica Transplantes Isolados e Simultâneos -
- Argentina Insuliníca: Novos Esquemas Maior Experiência no Brasil
Programa de Educação do IEDE - Rio Insulinas de Ação Intermediária NPH : Programa de Transplante da UNIFESP-
de Janeiro - Brasil Uso Noturno - Multiplas Doses EPM
“The Harvard Diabetes Educational Insulinas de Ação Lenta (glargina) no Imunosupressão e Seguimentos dos
Program”- USA Diabetes Mellitus Tipo 1 e Tipo 2 Transplantados
CEDEBA : Modelo Estatal - Sec.de Insulina Lispro: 6 Anos Depois - Análise Transplantes de Ilhotas : Do Laboratório
Saúde do Estado da Bahia - Brasil Crítica a Clínica

Simpósio 15 - Sala 333 Simpósio 21 Simpósio 27 - Sala 531


Abordagem do Pé em Risco Lançamento : Insulina ASPART : Uma Atualização em Neuropatias Diabéticas
Fisiopatologia Escolha Para o Tratamento Intensivo do Diagnóstico Clínico das Polineuropatias
Avaliação Rastreamento e Classificação Diabetes Tipo 1 e 2 Somáticas e Autonômicas
Úlcera Neuropática - Atualização Apresentando a Insulina ASPART Como Avaliar o Resultado do Tratamento
Programa Detecção Manejo do Pé em Guia Prático Para o Tratamento da Polineuropatia Diabética
Risco Insulínico Intensivo Como Retardar a Progressão das
Consenso Internacional do Pé Diabético Polineuropatias do Diabetes
Simpósio 22 - Sala 331 Tratamento Sintomático das Neuropatias
Simpósio 16 - Sala 334 Pioglitazona Atualização Terapêutica. Da Somáticas
Atuação da Enfermagem : Monitorização Descoberta à Prática
Avaliação Crítica e Recentes Significado Clínico do PPAR Gama e
Alfa DOMINGO, 28 DE JULHO DE 2002
lançamentos Manhã de 8 às 12 horas
Avaliando o Diário : Principais Perfil de Segurança e Interação Médica
Orientações -Mentora
Efeitos Inibitórios da Pioglitazona no Simpósio 28 - Auditório
Experiência Prática Marketing, Comunicação e Tecnologia
Work shop Processo de Aterogenese
Discussão de Casos Clínicos - Uso da em Nutrição
Pioglitazona A Internet como Ferramenta de Trabalho
Simpósio 17 - Sala 531 do Nutricionista
Insuficiência Renal - Fase Terminal Informação Nutricional - Como Orientar
Nefropatia Diabética - Quadro Atual e Simpósio 23 - Sala 332
Intercorrências do Diabético Hospitalizado o Paciente Diabético
nos Últimos Anos O Diabético e Alimentação Fora de Casa
Insulinoterapia e Hipotensores na “Early Diagnosis of Ketosis in Clinical
Insuficiência Renal Practice” Ética na Comunicação em Nutrição
Nefropatia Diabética e Seu Manejo por “Ketosis and Ketoacidosis: Advances in Evolução dos Produtos Dietéticos no
Outras Especialidades Médicas our Understandig” Brasil
Transplante Renal e Diabetes Insulinoterapia nas Hospitalizações
Cirúrgicas e Infecciosas Simpósio 29 - Sala 131
Simpósio 18 - Sala 532 Nutrição Enteral e Parenteral: Quando e Diabetes Mellitus e Infecções Virais
Genética do Diabetes Mellitus Como Crônicas
Genética da Resistência Insulínica Alterações Metabólicas do Tratamento
Genética do Diabetes Mellitus Tipo 2 Simpósio 24 - Sala 333 Antiviral do HIV
Marcadores Imunogenéticos no Diabetes Terapeuticas no Pé Diabético Lipodistrofia e Diabetes no Contexto da
Mellitus Tipo1 Ulcera - Infecção: Como Abordar AIDS
Genética do Diabetes Mellitus Tipo 1 Alivio da Pressão Plantar Tratamento do Diabético HIV Positivo
Diabetes Monogênico Calçados Terapêuticos: Como Prescrever Alterações Metabólicas Decorrentes das
Valor da Propedêutica Vascular nas Hepatopatias
Tarde de 14 às 18 horas
Lesões do Calcanhar Tratamento do Diabético com Hepatopatia

Simpósio 19 - Auditório Simpósio 25 - Sala 334 Simpósio 30 - Sala 331


Diabesidade - O Elo Metabólico Diabetes: Gravidez - Hormonioterapia - Doenças Cardio Vascular no Diabetes
Fisiopatologia. Fatores Neuro Sexualidade O Diabetes e a Doença Coronária
Endocrinos Associados a Obesidade Assistência na Gravidez A Síndrome Plurimetabólica e a Doença
Apetite: Controle Hipotalâmico - Anticoncepção na Mulher com Diabetes Endotelial
Neurohormônios Hormonioterapia: Climatério e O Tratamento Invasivo da Doença
Tecido Adiposo : Novo Orgão Endocrino Menopausa Coronariana no Diabetes : Vantagens e
Hiperglicemia e Hiperinsulinemia Como Atualização em Disfunção Erétil Risco
Diabetes Clínica 03 (2002) 223

Avaliação Diagnóstica da Doença Diabético Simpósio 41 - Sala 333


Vascular Periférica no Paciente Diabético Interações Medicamentosas - “O cuidado A Abordagem Fisioterapêutica no
Tratamento Cirúrgico da Doença ao Prescrever” Diabetes Mellitus
Vascular Periférica no Paciente Diabético Tarde de 14 às 18 horas Fisioterapia em Diabetes
Reabilitação Fisioterapêutica do Pé
Simpósio 31 - Sala 332 Simpósio 37 - Auditório Diabético
Oftalmopatias Educação Nutricional em Diabetes Mellitus Reabilitação Fisioterapêutica com
Cuidados Especiais aos Pacientes Conceitos e Princípios Básicos de Orteses Plantares Termo Moldáveis
Diabéticos Educação Nutricional em Diabetes Combinação de Ultra Som e Atividade
Entendendo a Retinopatia Diabética Estratégias em Educação Nutricional no Física
Os Tratamentos da Retinopatia: Diabetes Intervenção Fisioterapêutica nas
Fundamentos e Perspectivas Work shop - Vivência de Oficinas de Amputações
Os Segredos Para a Prevenção Nutrição
Atendimento Público “Mutirão Olho Simpósio 42 - Sala 334
Diabético” Simpósio 37 - Auditório Atividade Paralela
Educação Nutricional em Diabetes Apresentação Oral de Temas Livres
Simpósio 32 - Sala 333 Mellitus (cada 15 min)
Terapia com Bomba de Infusão Conceitos e Princípios Básicos de
Uma Visão Crítica: Quem Pode Usar e Educação Nutricional em Diabetes Simpósio 43 - Sala 531
Porque ? Estratégias em Educação Nutricional no Exercício em Condições Especiais
Contagem de Carboidratos na Diabetes Controle Cardiovascular Durante o
Insulinoterapia Work shop - Vivência de Oficinas de Exercício na Neuropatia Autonômica
Work shop Nutrição Diabética
Exercício Físico, Diabetes e Dislipidemia
Simpósio 33 Simpósio 38 - Sala 131 Exercício Físico, Resistência Insulínica
Hipoglicemias Prevenção e Infecções em Diabetes e Obesidade
Diagnóstico e Tratamento das Imunização - Vacinas nos Portadores de Resposta Metabólica ao Exercício em
Hipoglicemias Não Diabética Diabetes Diabéticos com Glibenclamida ou
Abordagem das Diferentes Manifes- Acarbose - Prevenção do Diabetes - Metformina
tações das Hipoglicemias do Diabetes Melhoria do Controle Glicêmico O Exercício na Prevenção das Compli-
Mellitus Dermatopatias em Diabetes cações do Diabetes
Prevenção Farmacológica da Retinopatia
Simpósio 34 - Sala 334 Diabética Simpósio 44 - Sala 532
Reunião Fenad Infecção Urinária Crônica - Tratamento Avaliação Odontológica e Conduta
Apresentação das Associações e Prevenção Pacientes Diabéticos na 3ª Idade.
ID–Região SACA: Constituição e Abordagem Multidisciplinar.
Atuação Plano de Tratamento Odontológico ao
Discussão Simpósio 39 - Sala 331 Paciente Diabético
Planejamento de Atividades 2002 e 2003 Psicologia em Diabetes Cuidados Importantes nos Atendimento
– Dia Mundial do Diabetes 2002, Abordagem do Diabetes na Infância, a Pacientes Especiais com Diabetes
Vacinação em Idoso com Diabetes Adolescência, Adultos e Idosos Sucessos e Insucessos nas Cirurgias
Discussão A Experiência Emocional no Adoecer Orais em Pacientes Diabéticos
Diabético Urgências e Emergências Sistêmicas e
Simpósio 35 - Sala 531 Contribuição da Psicologia Para melhoria
Exercívios e Diabetes Mellitus Odontológicas em Pacientes Diabéticos
da Qualidade de Vida
Obesidade , Sedentarismo e Diabetes Aprendizagem da Autopercepção das
Exercício e Bomba de Infusão e Insulina Flutuações Glicemicas em Crianças
Avaliação e Prescrição Aplicação de Principios da Psicologia em
Exercício e Resistência à Insulina um Programa de Atividade Física da
Resposta Hormonal e Hemodinâmica do Psicologia em um Programa de Atividade
Exercício Física
Simpósio 36 - Sala 532 Simpósio 40 - Sala 332
Abordagem Odontológica do Paciente Terapias Complementares
Diabético Nutrientes Essenciais Ajudam a
Protocolo de Atendimento a Pacientes Controlar e a Diminuir as Complicações
Diabéticos no Diabetes
Abordagem Psicológica do Paciente Homeopatia no Diabetes: Uma Proposta
Diabético no Tratamento Odontológico Terapêutica Complementar
Manifestações Orais Importantes no Fitoterapia: Vegetais que Ajudam no
Paciente Diabético (Aspecto Clínico e Controle do Diabetes
Tratamento) Acupuntura e Diabetes
Exames Fundamentais Para o Planeja- Atuação da Podologia e seus Benefícios
mento do Tratamento do Paciente
7O CONGRESSO BRASILEIRO MULTIPROFISSIONAL
PB Philippi ST / Diabetes Clínica 02 (2002) 42~45

EM DIABETES
7ª EXPOSIÇÃO DE PRODUTOS E ALIMENTOS PARA PORTADORES DE DIABETES
26, 27 e 28 de julho de 2002
Local: Fundação Álvares Penteado (FECAP), Av. Liberdade, 532 – São Paulo SP
Informações: ANAD
Tel (11) 5572-6559/ 5549-6704
E-mail: anad@anad.org.br
Site: www.anad.org.br
Site congresso: www.anad.org.br/congres7.htm
Endereço: Rua Eça de Queiroz, 198 Vila Mariana, 04011-031 São Paulo SP

Formulário para o envio de resumos de Temas Livres


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Email: ......................................................................................................................................................
Instituição: .................................................................................... Fone:......................................................
Profissão: .......................................................................... Especialidade:...............................................
Apresentarei os trabalhos em forma de poster
Sim Não
Título dos trabalhos:

Os trabalhos de temas livres visam, acima de tudo, Não serão aceitos resumos via fax ou correio.
proporcionar aos profissionais de todas as Os resumos deverão ser enviados impre-
especialidades a oportunidade de apresentar sua terivelmente até a data limite de 30/05/2002.
contribuição na área de Diabetes mellitus. A elaboração e organização do tema livre deverão
Os temas livres deverão ser enviados à secretaria da seguir o modelo contido no site do congresso
ANAD sob a forma de resumo e serão selecionados www.anad.org.br/congres7.htm
para apresentação oral. Serão permitidos até 10 autores por trabalho.
Os temas livres deverão ser enviados por e-mail O primeiro autor deverá necessariamente estar
(anad@anad.org.br). inscrito no congresso.
Diabetes Clínica 03 (2002) 225

Calendário de Eventos
JUNHO DE 2002 16 a 18 de agosto
VIIIo Encontro gaúcho de diabetes
19 a 22 de junho AMRIGS, Porto Alegre
ENDO 2000: LXXXIV Reunião Anual Presidente: prof. Dr. Balduino Tschiedel
Moscono Center, São Francisco, Califórnia Informações: (51) 3330 1134
www.endo-society.org
Tel: +1 301 941 0220 18 a 23 de agosto
XIXo International Congress of the Transplantation Society
27 a 29 de junho Buenos Aires, Argentina
ENDORECIFE 2002 Tel: 54 11 4381 1777
Summerville Beach Resort - Porto de Galinhas - PE Fax: 54 11 4382 6703
Tel/Fax: (081) 3423-1300 E-mail: info@transplantation2002.com
www.jz.com.br / E-mail: latache@assessor-pe.com.br
24 a 29 de agosto
28 a 29 de junho 9th International Congress on Obesity
IIo Congresso Catarinense de Endocrinologia e Metabologia Hotel Transamérica, São Paulo, SP
Associação Catarinense de Medicina, SBEM-SC Informações: www.abeso.org.br
Tel: (48)231-0326 Tel: (11) 3079-2298
www.acm.org.br/sbem-sc Fax: (11) 3079-4232
24 a 29 de agosto
JULHO DE 2002 12th Annual Scientific Meeting of the Diabetic Neuropathy Study
3 a 6 de julho Group of the EASD (NEURODIAB)
2º Congreso Internacional de Salud reproductiva em Diabetes Balatonfüred, Lake Balaton, Hungria
Mellitus SAREDIA 2002 Tel:+49-211-33821
Centro de convenciones de Guanajuato, México E-mail: dan.ziegler@ddfi.uni-duesseldorf.de
Informações: Dr Jacinto Lang Website: www.neurodiab.org
E-mail: jlangp@infomed.sld.cu 30 a 31 de agosto
6 e 7 de julho 9th International Congress on Obesity
4th International Congress Diabetes in Ásia Satellite Symposium – Obesity, Hormones and the Metabolic
Hotel Hilton, Colombo, Sri Lanka Syndrome
Tel: 94 1 872951 Fax: 872952 Hotel Glória, Rio de Janeiro – RJ
E-mail: dast@zitnet.lk Informações (21) 2286-2846
6 e 7 de julho www.jz.com.br
1o Encontro de podologia e atualização em Pé Diabético do
Hospital Brigadeiro SETEMBRO DE 2002
Centro de Estudos do Hosp. Brigadeiro, São Paulo SP 1 a 5 de setembro
Av Brigadeiro Luiz Antônio, 2651 38th Annual Meeting European Association for the Study of Diabetes
Tel: (11) 287-4042/287-3638 EASD 2002
26 a 28 de julho Budapest, Hungria
7o Congresso Brasileiro Multiprofissional em diabetes Informações: Blaguss-Volánbusz Congress Bureau, POB 706,
7ª Exposição Nacional de produtos e alimentos para portadores de 1365 Budapest 5 - Hungria
diabetes Tel: +36 1 374 7030, 331 5627, Fax: 312 1582
Fundação Álvares Penteado – FECAP, São Paulo – SP E-mail: easd2002@congress.blavo.hu
Informações: ANAD (11) 5572-6559 7 a 11 de setembro
Fax: (11) 5549-6704 5th International Congress of Neuroendocrinology
www.anad.org.br/congres7.htm Bristol, Reino Unido
E-mail: anad@anad.org.br Tel: +44 (0) 1454 642-211
www.bioscientifica.com/icn2002.htm
AGOSTO DE 2002 17 a 21 de setembro
7 a 11 de agosto 52nd Annual Obesity and Associated Conditions Symposium
29th Annual Meeting e Educational Program American Association Westin Copley Place, Boston, Massachusetts
of Diabetes Educators Informações: The American Society of Bariatric Physicians
Pennsylvania Convention Center, Philadelphia, Pennsylvania Tel: (303) 770 2526
Tel: (312) 424-2426 Fax: (303) 779 4834
www.aadenet.org/annual.htm E-mail: bariatric@asbp.org / www.asbp.org
16 a 17 de agosto 18 a 21 de setembro
5o SIMEP – Simpósio de Endocrinologia Pediátrica do Estado de International Society for Pediatric and Adolescent Diabetes Meeting
Rio de Janeiro Graz, Austria
Colégio Brasileiro de Cirurgiões Informações: Prof. Dr. Martin Borkenstein,
Informações: (21) 2531-3313 Tel: +43-316-385-2610
226 Diabetes Clínica 03 (2002)

Fax: +43-316-385-3257 Io Simpósio interdisciplinar de apoio nutricional para enfermeiros,


E-mail: martin.borkenstein@kfunigraz.ac.at nutricionistas, psicólogos, professores de educação física e
www.ispad2002graz.at/ fisioterapeutas
20 a 22 de setembro Othon Palace Hotel, em Salvador – BA
MDRF-ADA PG Course Informações: ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia)
Chennai, Índia Tel: (17) 523 9732 e 523 3645
mvdsc@vsnl.com.or E-mail: abran.sp@ig.com.br
drmohan@giasmd01.vsnl.net.in
21 a 25 de setembro FEVEREIRO DE 2003
25º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia 3th International Symposium on Diabetes & Pregnancy
Blue Tree Towers - Brasília - DF Geneva, Switzerland
Informações: SBEM Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500 Israel
Tel: (21) 2507-5189 Fax: (21) 2221-7577 ramal 1193 Tel: 972 3 514 0014
E-mail: sbem.rj@openlink.com.br E-mail: conventions@kenes.com

OUTUBRO DE 2002 ABRIL DE 2003


2 a 5 de outubro
26 a 30 de abril
VIIIo European Symposium on Metabolism
6th European Congress of Endocrinology
The Metabolic Syndrome, Diabetes, Obesity and Hyperlipidemia
Lyon, França
Padova, Itália
Informações: W.M. Wiersinga
Tel: +39-049-8212154 or 8758166
Department of Endocrinology & Metabolism
gaetano.crepaldi@unipd.it
Academic Medical Center F5-171
2 a 6 de outubro Meibergdreef 9
6th International Congress of the Immunology of Diabetes Society 1105 AZ Amsterdam - The Netherlands
and ADA Research Symposium Tel.: 31 20 566 6071
Copper Mountain, Colorado Fax: 31 20 691 7682
Informações: www.diabetes.org w.m.wiersinga@amc.uva.nl
4 a 6 de outubro
XXIVo Congress of Endocrinology and metabolic diseases of
Turkey
MAIO DE 2003
Istambul, Turquia 29 de maio a 1 de junho
Informações: +90 312 310 5350 12th European Congress on Obesity
E-mail: president@semt.org.tr Helsinki, Finland
www.semt.org.tr Informações: Dr. Mikael Fogelholm
UKK Institute for Health Promotion Research, POB 30, 33501
5 a 9 de outubro
Tampere, Finland
VIo International Congress on Endocrine Diseases
Tel: + 358 3 2829 201
Teheran, Irã
Fax: + 358 3 2829 559
Informações: +98 21 241 6282
e-mail: mikael.fogelholm@uta.fi
E-mail: iced@erc-iran.com / www.erc-iran.com/iced
10 a 12 de outubro
25th International Symposium on Sports Sciences JUNHO DE 2003
Centro de Convenções Rebouças, São Paulo 14 a 17 de junho
Informações: CELAFISCS 63th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
(11) 4229 8980/4229-9643 Association
www.celafiscs.com.br New Orleans, Louisiana - USA
24 a 27 de outubro Informações: +1 800 232 3472
EASD Islet Study Group E-mail: meetings@diabetes.org
Joint Meeting of the EASD Islet Study Group and the Boston www.diabetes.org
Sea Crest Ocean Front Resort
North Falmouth, Massachusetts AGOSTO DE 2003
Informações: www.diabetes.org
6 a 10 de agosto
29 de outubro – 1 de novembro
30th Annual Meeting of the American Association of Diabetes
VIo Cuban Congress on Immunology of Diabetes
Educators
Hotel Neptuno-Tritón, Havana, Cuba
Salt Palace Convention Center, Salt Lake City, Utah
Informações: Dr. Rolando Suárez Pérez
Tel: (312) 424 2426
National Inst. of Endocrinology, Dep. of Immunology of Diabetes
www.aadenet.org
Havana 10400 Cuba
Tel: +53-7-327275 24 a 29 de agosto
e-mail: diabetes@infomed.sld.cu / inen@infomed.sld.cu 18th Internacional Diabetes Federation Congress
Paris, França
Informações: Prof. Dr. Gerard Cathelineau, Hopital Saint-Louis,
DEZEMBRO DE 2002 1 avenue Claude Vellefaux, 75010 Paris, França
5 a 7 de dezembro Tel : +33 1 4249 9697
VIIo Congresso Brasileiro de Nutrologia www.idf.org
Normas de publicação Diabetes Clínica 227

A revista Diabetes Clínica é uma publicação com relacionadas ao Diabetes, ao encargo do Comitê Científico,
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e bem como remetida espontaneamente pelo autor, cujo interesse
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas ao e atualidade interessem a publicação na revista.
Diabetes. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos
artigos originais.
Os artigos publicados em Diabetes Clínica poderão também
ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim 4. Comunicação breve
como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com
surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem
autores já aceitem estas condições. observações, resultados iniciais de estudos em curso, e
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical revista, com condições de argumentação mais extensa que na
journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado seção de cartas do leitor.
pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho
completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito,
International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), itálico, sobre-escrito, etc.
www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser
da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo editados em Power Point, Excel, etc
eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que bibliográficas.
será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou 5. Resumos
retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do
conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros
idiomas.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou 6. Correspondência
por um de seus membros. Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times relacionados à linha editorial da revista.
Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, Caso estejam relacionados a artigos anteriormente
itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes
que dez referências. de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as
2. Artigos originais especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas
Serão considerados para publicação, aqueles não publicados ou figuras.
anteriormente, tampouco remetidos a outras publicações, que
versem sobre investigação, clínica, diagnóstico, terapêutica e
tratamento dentro das áreas definidas anteriormente. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 1. Normas gerais
12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em
itálico, sobre-escrito, etc. processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times
Excel/Word. Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
(formatos .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power- 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para
Point, Excel, etc. cada tabela junto à mesma.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com
bibliográficas. as especificações anteriores.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas,
o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e
concisão da exposição, assim como a qualidade literária do desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
texto. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,
introdução, material e métodos, resultados, discussão,
3. Revisão conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave
228
Normas de publicação Diabetes Clínica
(key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio 5. Referências
de disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos As referências bibliográficas devem seguir o estilo
enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências
anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos
disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem
informação dos arquivos, tais como o processador de texto no texto, seguindo as seguintes normas:
utilizado e outros programas e sistemas.
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras
2. Página de apresentação iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor
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informações: grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora,
- Título em português e inglês. ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular final, ponto.
e títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores. Exemplo:
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail. 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
para paginação. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
3. Autoria Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de
participado do trabalho o suficiente para assumir a dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar
responsabilidade pública do seu conteúdo. maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados
O crédito como autor se baseará unicamente nas de acordo com o Index Medicus, na publicação “List of
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desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a
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de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S et al. Expression
que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente and localization of urokinase-type plasminogen activator
as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a
participação como autor. A supervisão geral do grupo de 6- Agradecimentos
pesquisa também não é suficiente. Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do
Na segunda página deverá conter um resumo (com no artigo, antes as referências, em uma secção especial.
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200
palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes
informações: Jean-Louis Peytavin
- Objetivos do estudo. Atlantica Editora
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, Rua Conde Lages, 27 - Glória
metodologia, análise). 20241-080 Rio de Janeiro RJ
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e Tel: (21) 2221 4164
estatísticos). E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-
chave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para
tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de
cabeçalhos de matérias médicas (Medical Subject Headings –
MeSH do Index Medicus ou, no caso de termos recentes que
não figurem no MeSH, os termos atuais).
Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 03 (2002) 229

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Índice
(vol. 6 nº 4 - 2002) 229~304

EDITORIAL
Diabetes Mellitus: o impacto do presente e as promessas do futuro
Fadlo Fraige Filho ........................................................................................................................................... 231

INFORMES DO DIABETES NO MUNDO ................................................................................................ 233

O DIABETES NA IMPRENSA .................................................................................................................... 243

AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS ................................................................................ 248

PRODUTOS E NOVIDADES
Gelatinas Stevia Plus, Pó para preparo de leito condensado light, Pó para preparo
de bolo light (Lowçucar), A1cNow (Metrika), Precision Link (Abbott) ...................................................... 259

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ..................................................................................... 262

ARTIGO ORIGINAIS
A importância do atendimento odontológico de pacientes submetidos a transplantes de órgãos
Alexandre Fraige .............................................................................................................................................. 269

Implicações do Diabetes Mellitus na vida de crianças e adolescentes: a opinião dos médicos,


mães e portadores, Ana Claudia T. Barros Kovacs, Fátima Elisabeth Denari ............................................. 274

Relação entre os níveis séricos da lipoproteina(a) e o controle glicêmico de pacientes diabéticos,


Cristina Ardenghi, Adroaldo Lunardelli, Aline Andrea da Cunha, Cristine dos Reis,
Jarbas Rodrigues de Oliveira .......................................................................................................................... 281

ATUALIZAÇÃO
Recomendações da International Diabetes Federation: Posição sobre alimentação e nutrição ................... 286

NOTÍCIAS DAS ASSOCIAÇÕES ............................................................................................................... 289

FICHA PRÁTICA
O pé diabético. .................................................................................................................................................. 293

PROGRAMA DO VII CONGRESSO MULTIPROFISSIONAL EM DIABETES. .............................. 297

CALENDÁRIO DE EVENTOS . .................................................................................................................. 301

NORMAS DE PUBLICAÇÃO . .................................................................................................................... 303


Diabetes Clínica
230 Diabetes Clínica 03 (2002)

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúr-
bios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o
conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas.
Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais de
reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à
diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira
rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.

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231
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Editorial

Diabetes Mellitus: o impacto do presente e as promessas do futuro

Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho

A prevalência e a incidência desta doença vem aumentando de forma


assustadora e quase epidêmica, conforme próprias declarações da Organização
Mundial da Saúde e da Federação Internacional de Diabetes. O que têm
contribuído para tal fato é a atenção que a doença vem despertando, tanto nos
meios médicos quanto nos de saúde pública, impulsionando o diagnóstico
precoce, que há poucos anos atrás só era feito após o aparecimento de uma
das complicações graves e irreversíveis. A melhor compreensão das causas e
meios que levam às complicações, têm propiciado um melhor tratamento e,
conseqüentemente, o aumento da vida média dos portadores de diabetes,
aumentando, assim, o número de pessoas com diabetes. Com o envelhecimento
das populações, fruto das melhores condições de vida, de alimentação e de
assistência médica, o diabetes têm sua prevalência no Brasil e na maioria dos
países acima de 20% da população, cuja faixa etária está acima dos 60 anos,
chegando em países do oriente médio a ultrapassar os 30%.
Esta imensa porcentagem da população mundial portadores de diabetes,
leva a um impacto enorme na saúde pública, nos sistemas de assistência
médica, nos hospitais, nos planejamentos de custos no setor de saúde de todos
os governos, chegando a consumir cerca de 15 a 25% do total dos recursos
destinados à saúde.
O impacto também se verifica por ser a principal doença crônica, que
contribui com cerca de 40% da morbidade e mortalidade das doenças
cardiovasculares, que são as principais doenças que afetam o mundo de hoje.
Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, Assim sendo, podemos dizer que é a principal causa de internação, como
Coordenador e Editor Científico, etiologia, que levam ao enfarte, acidente vascular cerebral, tromboses e
Diabetes Clínica gangrenas de membros inferiores. Como se não bastasse, para piorar o quadro
das doenças provocadas por diabetes, atualmente é a primeira causa de cegueira
no mundo e a primeira causa de insuficiência renal em fase terminal. Além
dos altíssimos custos, também é extremamente angustiante a morbidade e
mortalidade em diabéticos.
Se no presente temos 150 milhões de portadores em todo mundo, as
previsões feitas pela Organização Mundial de Saúde e pela Federação
Internacional de Diabetes é de que no ano 2025 haverão cerca de 300 milhões
de pessoas com diabetes. Já se pode imaginar, pelo que temos hoje, como
será o impacto desta doença dentro de 23 anos. Importantes medidas devem e
terão que ser tomadas por todos profissionais de saúde, governo e autoridades
de saúde, entidades de profissionais de saúde, indústria farmacêutica e,
principalmente, em guias e diretrizes que deverão ser seguidas pelas duas
maiores entidades na área de diabetes, citadas acima.
232 Editorial - Diabetes Clínica 04 (2002)

Continuação Em abril deste ano, cerca de 160 países se reuniram com a Organização
Mundial de Saúde, para discutirem um grave problema, que é o envelhecimento
da população do planeta, pois no ano de 2050, mantendo-se as atuais projeções,
teremos triplicado o número de idosos, que passarão dos 600 milhões atuais
para 2 bilhões. No Brasil a situação será pior ainda, pois teremos triplicado o
número de idosos, passando dos atuais 5,1% para 14,5%.
O reconhecimento de tamanha importância, nos leva a uma corrida nas
pesquisas científicas, para desenvolvimento de novos medicamentos orais,
novas insulinas e a novos meios de aplicá-las. Assim, num futuro breve teremos
insulina inaladas, líquidas de absorção oral, insulinas em comprimidos, através
de tecnologia de proteção e modificação molecular, sistemas compactos,
como pequenas bombas implantáveis na pele ou no sub-cutâneo e adesivos
de liberação pré-programada.
Revolução nos aparelhos de medição de glicemia capilar, alternando os
locais de punção, saindo da ponta dos dedos para outros locais menos sensíveis,
sistemas automáticos à vácuo, glicosimetros acoplados a microcomputadores
tipo Palm, darão enormes possibilidades e infinitas informações, tão
necessárias para a integração de medicamentos, insulinas, tabelas e
constituições de alimentos, gastos energéticos através de exercício físico,
construções de gráficos de comportamento metabólico e inúmeras outras
funções na “palma da sua mão”. Por enquanto, o revolucionário Glucowatch
inicia suas vendas nos EUA.
Para os diabéticos tipo 1 em fase terminal de vida, acometidos da
insuficiência renal fase final, os transplantes de pâncreas e rins tem salvado
vidas e devolvendo os pacientes a quase uma vida normal.
Saindo dos laboratórios e passando para a prática clínica, os transplantes
de ilhotas do pâncreas iniciam-se com um futuro promissor, face à facilidade
dos implantes e por ser um procedimento menos invasivo, porém com grande
dificuldade técnica laboratorial e de custos.
Inicia-se pesquisas das células-troncos ou stem cells, que, sem dúvida
alguma, serão no futuro as substitutas das células β destruídas ou defeituosas
nos pacientes com diabetes. As primeiras pesquisas feitas em macacos foram
comunicadas recentemente no congresso da Endocrine Society (Sociedade
Americana de Endocrinologia), em junho deste ano.
A terapêutica genética, ainda num futuro indeterminado, será a resolução
do diabetes e de muitas outras doenças genéticas.
Se, de um lado, milhões de pessoas se tornarão diabéticas, a corrida científica
e de pesquisa estará minimizando o impacto desta temível doença. E, sem
dúvida alguma, estaremos caminhando para o seu controle, na busca definitiva
do ideal de todos que é a sua cura.
Diabetes Clínica 04 (2002) 233

Informes do Diabetes no Mundo


Bovier PA, Chamot E, Bouvier GM, Importância da percepção dos pacientes e da recomendação dos
Loutan L. Vaccine 2001;19(32):4760-7, clínicos no entendimento das oportunidades perdidas para
setembro de 2001 vacinação de adultos na Suíça

Nas últimas décadas, tremendos esforços foram feitos para fortalecer os


programas de imunização infantil. Contudo, o impacto da gripe (influenza) e
das infecções pneumocócicas permanecem ainda extremamente altos nos adultos
e idosos.
Foi conduzida uma pesquisa para identificar as características associadas
ao baixo uso de vacinas, recomendadas aos adultos usuários rotineiros de
serviços de cuidados primários de saúde na Suíça.
A vacinação contra o tétano foi reportada por 84% dos participantes da
pesquisa com idade entre 16 e 34 anos, e por apenas 42% dos participantes
maiores de 65 anos. Dos pacientes de alto risco (maiores de 65 anos ou com
histórico de diabetes, doença renal crônica, doença pulmonar ou cardíaca),
apenas 41% haviam recebido a vacina contra gripe (influenza) e 6% a vacina
pneumocócica. Comparados a pacientes de áreas de língua alemã e italiana
deste país, os pacientes da região de língua francesa relataram, com mais
freqüência haver recebido as vacinas contra influenza e contra o pneumococo,
em temporadas anteriores ou recebido recomendação médica recente para
vacinação contra a gripe. Porém, muitos haviam se recusado a receber esta
vacina anteriormente. As doenças, a área geográfica, a recomendação médica
para vacinação e a percepção do paciente sobre a necessidade da imunização,
estavam independentes e significativamente associadas com o status de
vacinação.
Embora a opinião do paciente seja um importante fator determinante da
cobertura vacinal nos adultos, a falta de incentivo da classe médica foi
responsável pela maioria das oportunidades perdidas para vacinação neste
estudo. A maior cobertura vacinal entre os pacientes da região de língua
francesa, sugere que campanhas de divulgação realizadas nesta área
aumentaram efetivamente o uso da vacina contra a gripe. Intervenções com o
objetivo de aumentar a cobertura vacinal nos adultos, devem ajudar os
provedores de saúde a incorporar a imunização na rotina de cuidados com a
saúde.

American Diabetes Association 62st Inflamação e diabetes


Scientific Sessions, San Francisco,
Califórnia, 14 a 18 de junho de 2002 Inflamação é o procedimento pelo qual o corpo responde normalmente a
ferimentos – enviando células sanguíneas especializadas para limpar a área e
destruir as células alteradas –, o que pode observar se na pele. Mas, quando o
234 Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 04 (2002)

Continuação sistema imune não funciona adequadamente, como na artrite rumatoide, o


processo inflamatório pode danificar os tecidos saudáveis, como as
articulações. Recentemente, pesquisadores estabeleceram que inflamação tem
um papel significativo em doenças anteriormente consideradas não
inflamatórias, tal como a doença arterial coronariana. Por isso, remédios como
a aspirina (usada por seus efeitos anti-agregante plaquetário) pode ter outros
benefícios, em razão de suas propriedades antiinflamatórias.
A ligação entre inflamação e doença, apareceu quando marcadores de
inflamação foram detectados em sangue de pacientes portadores de doença
cardiovascular e quando foi mostrado que esses marcadores poderiam ser
prognósticos de evento cardíaco. Níveis elevados dos mesmos marcadores
foram também encontrados em portadores de diabetes e em pessoas com risco
elevado de diabetes.
Um desses marcadores é a proteína C-reativa (CRP), que tem uma
concentração mais elevada em caso de doença cardíaca, diabetes ou obesidade.
Seria possível que substancias secretadas pela gordura em excesso estimulam
os marcadores de inflamação. Por isso a inflamação seria a ligação comum
para o desenvolvimento da resistência à insulina, diabetes e doença cardíaca.
Em um estudo do projeto ARIC (Atherosclerosis Risk in Communities),
10.000 pessoas não diabéticas foram acompanhadas durante 9 anos. Os
pesquisadores encontraram uma associação entre o desenvolvimento do
diabetes e a presença de marcadores de inflamação, especialmente ácido siálico.
Esses resultados foram confirmados em estudos independentes realizados no
Kuwait e em Hong Kong.
Além dos benefícios dos remédios antiinflamatórios, vários remédios já
usados por diabéticos têm efeitos antiinflamatórios. É o caso da rosiglitazona.
Que reduz os níveis de marcadores da inflamação e que poderia ser útil para
diminuir o risco de aterosclerose em diabéticos. É também o caso das estatinas,
utilizadas para diminuir as taxas elevadas de colesterol. As estatinas poderiam
ajudar no tratamento do diabetes e adiar a passagem para a terapia insulínica.

Priya Mohanty et al, American Evidência do potente efeito antiinflamatório da rosiglitazona em


Diabetes Association 62st Scientific pacientes obesos e diabéticos
Sessions, San Francisco, Califórnia,
14 a 18 de junho de 2002 Demonstramos recentemente o efeito antiinflamatório da rosiglitazona
(RSG) em pacientes obesos não-diabéticos. Foi investigada, agora, a ação
antiinflamatória da RSG em 11 pacientes obesos e diabéticos, que receberam
RSG 4 mg/dia durante 6 semanas. Amostras de plasma de jejum foram
coletadas a 0, 1, 2, 4, 6 e 12 semanas. O fator nuclear κB (NF-kappaB) binding
activity em células mononucleares (MNC), geração de reactive oxygen species
(ROS) pelos MNC, proteína-1 plasmática quimio-atraente de monócito (MCP-
1) e C-reativa proteína (CRP), foram medidas, bem como a reatividade arterial
braquial usando a dilatação pós-isquémica mediada pelo fluxo (FMD). As
concentrações de glicose plasmática diminuíram significativamente durante
o tratamento com RSG, de uma contração de 157 ± 16 mg/dl para 127 ± 9 mg/
dl na semana 6 (p < 0,05). A concentração de insulina também diminuiu
significativamente de 32,6 ± 4,6 mU/ml para 16,1 ± 2,2 mU/ml na semana 6
(p < 0,05). NF-κB binding activity em extrato nuclear de MNC diminuiu
significativamente ( p 0,02). Esta inibição foi significativa na semana 1 (77 ±
13% do nível basal) e continuou até a semana 6 (66 ± 10,6% do basal). Foi
observado uma diminuição significativa da produção de radicais oxigênio
(ROS) pelos MNC (p < 0,05), diminuindo para 94 ± 6% na semana 1 e para
66 ± 10% na semana 6. A rosiglitazona diminuiu a MCP-1 plasmática (75%
Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 04 (2002) 235

Continuação do nível basal, p < 0,05) e CRP (70% do basal, p < 0,05). No início FMD era
3,4 ± 1,2% e aumentou significativamente para 8,6 ± 1,9% (p < 0,05) na
semana 6. A vasodilatação endotelial independente induzido por nitroglicerina
também aumentou de 11,8 ± 1,4% no início para 16,7 ± 2,3% na semana 6 (p
< 0,05). Concluímos que a rosiglitazona exerce um efeito antiinflamatório ao
nível celular, molecular e plasmático. RSG também melhora a reatividade
vascular. Esses achados poderiam ter implicações sobre o mecanismo da
aterogênese a longo prazo em pacientes tratados por RSG.

Heart Protection Study, Clinical Trial Heart Protection Study: estudo controlado por placebo em 20.536
Service Unit and Epidemiological pacientes com risco elevado usando sinvastatina
Studies Unit, Radcliffe Infirmary,
Oxford, Lancet 2002; 360: 7-22, Introdução: Concentrações sanguíneas menores de LDL-colesterol são
6 de julho 2002 associadas, em populações ocidentais, com risco reduzido de doença
cardiovascular. Nessas populações, a diminuição do LDL-colesterol pode
diminuir o desenvolvimento de doenças vasculares, independentemente das
concentrações iniciais de colesterol.
Métodos: 20.536 adultos ingleses (idade 40-80 anos) portadores de doença
coronariana, outra doença arterial obstrutiva ou diabetes, foram randomizados
para receber 40 mg/dia de sinvastatina (complacência média: 85%) ou placebo
(uso médio de estatina fora do estudo: 17%). Foram analisadas as primeiras
ocorrências de eventos particulares e comparados todos os participantes
recebendo sinvastatina ou placebo. Essas comparações avaliam os efeitos de
aproximadamente dois terços dos participantes (85% menos 17%) tratado
com estatina durante o período programado de 5 anos. Os eventos registrados
foram mortalidade e eventos vasculares fatais e não-fatais, com avaliações
secundárias de câncer e outra morbidade maior.
Resultados: A mortalidade para qualquer causa foi significativamente
diminuída (1328 [12,9%] mortes entre os 10.269 tratados por sinvastatina
vs. 1507 [14,7%] entre os 10 267 tratados por placebo; p = 0,0003), devido
a uma diminuição altamente significativa da taxa de morte por doença
coronariana (587 [5,7%] vs. 707 [6,9%]; p = 0,0005), uma diminuição
significativa das outras mortes por causa vascular (194 [1,9%] vs. 230
[2,2%]; p = 0,07), e uma diminuição não-significativa das mortes de origem
não vascular (547 [5,3%] vs. 570 [5,6%]; p = 0,4). Foi observada uma
diminuição altamente significativa de 25% da taxa de infarto do miocárdio
não-fatal ou morte coronariana (898 [8,7%] vs 1212 [11,8%]; p < 0,0001), e
de acidente vascular cerebral fatal ou não-fatal (444 [4,3%] vs 585 [5,7%];
p < 0,0001), e de revascularização coronariana ou não-coronariana (939
[9,1%] vs 1205 [11,7%]; p < 0,0001). Para a primeira ocorrência de qualquer
um desses eventos vasculares, foi observada uma diminuição de 24% (SE
3; 95% IC 19-28) da taxa de evento (2033 [19,8%] vs. 2585 [25,2%]
indivíduos afetados; p < 0,0001). Durante o primeiro ano, a diminuição de
eventos vasculares não foi significativa, mas se tornou altamente significativa
durante os anos seguintes. A diminuição proporcional da taxa de evento foi
semelhante (e significativa) em cada subcategoria de participante estudada,
incluso: os sem doença coronariana diagnosticada que apresentavam doença
cérebro-vascular, que tinham uma doença arterial periférica, ou diabetes;
homens e, separadamente, mulheres; participantes com idade superior ou
não a 70 anos no início; e, também, participantes com nível de colesterol <
3,0 mmol/l (116 mg/dl), ou colesterol total < 5·0 mmol/l (193 mg/dl). Os
benefícios da sinvastatina se acrescentaram aos dos outros tratamentos
cardioprotetores. O risco anual de miopatia foi de 0,01%. Não foram
236 Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 04 (2002)

Continuação observados efeitos adversos sobre a incidência de cânceres ou hospitalizações


para qualquer causa não-vascular.
Conclusão: Adicionar sinvastatina a tratamentos existentes, produz
benefícios adicionais substanciais para um grande número de pacientes
com risco, independentemente das concentrações iniciais de colesterol.
Administração diária de 40 mg de sinvastatina diminuiu as taxas de infarto
do miocárdio, ou acidente vascular cerebral, em aproximadamente 25%.
Após ajuste por não complacência, este tipo de tratamento poderia
provavelmente reduzir essas taxas em até um terço. Dentre os vários tipos
de indivíduos estudados, 5 anos de sinvastatina pode prevenir em 70-100
pessoas por mil, a ocorrência de um evento cardiovascular grave
(provavelmente um tratamento mais longo traria mais benefícios).

David Pettit et al, American Diabetes Comparação de análogo de insulina, insulina aspart e insulina
Association 62st Scientific Sessions, humana regular com tratamento sem insulina em diabetes
San Francisco, Califórnia, gestacional
14 a 18 de junho de 2002
Insulina é recomendada para mulheres portadores da diabetes gestacional
incapazes de realizar o controle metabólico com dieta. Os análogos da insulina
de ação rápida oferecem o potencial para melhorar o controle da glicose pós-
prandial, mas a superioridade dessas preparações sobre a insulina regular não
foi estabelecida na gravidez. Insulina aspart e humana regular foram
comparadas durantes testes de refeições padronizados em mulheres portadoras
de diabetes gestacional necessitando de insulina. 15 mulheres com diabetes
diagnosticado nas semanas 18-28 de gestação, sem controle metabólico
adequada com dieta em tratamento único, realizaram um teste em três primeiras
refeições. No primeiro dia, nenhuma insulina exógena foi usada. No segundo
dia, insulina aspart ou regular foi usada após randomização, e no terceiro dia,
a outra insulina foi usada. Insulina aspart foi administrada 5 minutos e a regular
30 minutos antes do início da refeição. Os testes, que consistiram em 20% da
ingestão calórica diária, incluíram 40% de carboidratos, 20% de proteínas e
40% de gordura. A glicose plasmática foi medida 30 e 0 minutos antes da
refeição e 15, 30, 60, 90, 120, 180 e 240 minutos após a refeição. O pico da
glicose pós-prandial (PPG), que era de 60 minutos nos três testes, foi
significativamente menor com aspart e regular, do que sem insulina. Ao
contrário, a área sob a curva (AUC) da glicose de 3 e 4 horas, foram
significativamente menores com aspart do que sem insulina, mas não foram
muito diferentes entre insulina regular e sem insulina.

Tipo de insulina PPG vs. sem PG vs. sem insulina AUC vs. sem
(mg/dl) 60 min insulina 3 e 4 horas (mg.h/dl) 3 horas insulina

Sem 123 85 e 75 29,4


Regular 116 P = 0,034 80 e 67 P < 0,01 30,2 P = 0,997
Aspart 112 P < 0,001 72 e 66 P < 0,001 7,1 P < 0,02

Durante uma gravidez complicada por diabetes gestacional, ambos os tipos


de insulina foram eficientes para recolocar a glicose na linha base, 3 horas
após a refeição. Entretanto, aspart foi mais eficaz que a regular para diminuir
o pico pós-prandial e, em razão do AUC total menor, diminuiu a exposição à
glicose do feto. Maiores estudos serão necessários para avaliar o potencial, a
longo prazo, para o beneficio do filho.
238 Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 04 (2002)

Anoja S. Attele et al, Diabetes Efeitos antidiabéticos de extrato de Panax ginseng e identificação
2002;51(6):1851-1858, junho de 2002 de um componente efetivo

Avaliamos os efeitos antihiperglicêmicos e anti-obesidade de extrato de


Panax Ginseng e de seu maior componente, ginsenoside Re, em ratos obesos
e diabéticos C57BL/6J ob/ ob. Os animais receberam injeções intraperitoneais
diárias de extratos de Panax ginseng durante 12 dias. No dia 12, os ratos
tratados por 150mg/kg de extrato tornaram se normoglicêmicos (137 ± 6.7
mg/dl) e melhoraram significativamente a tolerância à glicose. A excursão
total de glicose durante o teste de glicose intraperitoneal de 2 horas diminuiu
em 4% (P < 0.01), comparado com os ratos tratados com placebo. A melhora
dos níveis da glicose sanguínea em ratos tratados por extrato, foi associada
com uma diminuição significativa dos níveis de insulina plasmática em ratos
alimentados e de jejum. A análise do clamp hiperinsulinemico-euglicêmico
revelou um aumento superior a 2 vezes da taxa de glicose estimulada por
glicose em ratos tratados (112 ± 19,1 vs. 52 ± 11,8 µmol · kg-1 · min-1 para o
grupo placebo, P < 0,01). Os ratos tratados também perderam peso (de 51,7 ±
1,9 g no dia 0 para 45,7 ± 1,2 no dia 12, P < 0,01), diminuíram a ingestão de
alimentos (P < 0,05), associada com aumento muito significativo da despesa
de energia (P < 0,01) e da temperatura corporal (P < 0,01). O tratamento
também diminuiu significativamente os níveis de colesterol plasmático. Outros
estudos mostraram que ginsenoside Re tem uma ação antihiperglicêmica. O
efeito antidiabético de ginsenoside Re não foi associado a alterações no peso
corporal, sugerindo que outras partes do extrato têm mecanismos
farmacológicos distintos sobre o metabolismo energético.

Gun Frisk et al, Diabetes Infecção a enterovírus ligada ao diabetes juvenil


2002;51:1964-1971, junho de 2002
A maioria das crianças recentemente diagnosticado como portadores de
diabetes tipo 1, têm RNA de enterovírus em suas células sanguíneas, sugerindo
que uma infecção viral pode contribuir no desenvolvimento do diabetes.
Evidências geográficas e epidemiológicas sugerem que fatores do meio
ambiente têm um papel na etiologia do diabetes tipo 1 em crianças. Infecção
a enterovírus já foi suspeitada a muito tempo no desenvolvimento do diabetes.
Os autores estudaram a ocorrência do RNA de enterovírus em células
sanguíneas periféricas mononucleares de 24 crianças com diabetes tipo 1
recentemente diagnosticado, 20 de seus irmãos e 24 crianças controle. RNA
de enterovírus foi detectado em 18 (75%) das crianças diabéticas, 12 dos 19
(63%) irmãos, mas só em 7 dos 24 (29%) controles. Segundo os autores,
esses resultados confirmam o envolvimento das infecções a enterovírus no
desenvolvimento do diabetes tipo 1. A análise revelou uma homologia com
vírus Coxsackie B e outros enterovírus.

Nelly Pitteloud et al, 84th annual Resistência à insulina associada a níveis baixos de testosterona
meeting of the Endocrine Society, San em homens
Francisco, 21 de junho de 2002
Segundo este estudo, homens resistentes à insulina têm também níveis
reduzidos de testosterona. A diminuição de secreção de testosterona pode ser
a consequência de alterações no eixo hipotálamo-hipofisário-gonádico e de
diminuições em sex-hormone binding globulin (SHBG).
Os autores pesquisaram se existe uma relação dose-resposta entre o aumento
Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 04 (2002) 239

Continuação da resistência à insulina e a secreção de testosterona em homens saudáveis. 11


homens saudáveis, idade 40-55 anos, efetuaram testes de testosterona e SHBG.
O IMC médio era 26, com intervalo 22,5 a 32,7, e o nível médio de testosterona
no início era de 558 ng/dl. O nível médio de SHBG era 27 nmol/l.
Os participantes fizeram um teste de tolerância à glicose de 75g via oral,
para fornecer um índice de sensibilidade à insulina do corpo inteiro (ISI),
baseado em níveis de glicose e insulina. O ISI foi de 11, com intervalo 5-15.
Num subgrupo de 8 indivíduos, os autores avaliaram a secreção de
testosterona e gonadotropina com amostras de sangue dos participantes cada
10 minutos durante 12 horas. Os esteróides sexuais e gonadotropinas dos
participantes foram inicialmente supressos por antagonista da gonadotropin-
releasing hormon (GnRH). Os participantes receberam aplicação endovenosa
de 750 mg/kg de GnRH, para os autores acessar a sensibilidade da hipófise.
Para avaliar a função da célula de Leydig, os participantes receberam um
teste de estimulação com HCG (Human Chorionic Gonadotropin), com injeção
intramuscular de 1000 UI. Os autores acharam que ISI é altamente correlato
com os níveis de SHBG (p < 0,05). A relação entre ISI e testosterona existe,
mas não é significativa (p = 0.09). ISI é altamente correlato com amplitude
do hormônio luteotrópico (p < 0.05), o que indica uma resposta da hipófise à
insulina. Na avaliação da resposta testicular, os pesquisadores observaram
uma correlação significativa entre ISI e a resposta da testosterona à
gonadotropina coriônica em 24 horas (p < 0.05). Segundo os autores, “é
importante encontrar um tratamento pra observar se a inversão da resistência
à insulina pode melhorar a secreção de testosterona. Os homens que apresentam
uma resistência à insulina devem ser encorajados a perder peso. Entretanto,
devemos também pesquisar se os agentes sensibilizadores à insulina podem
melhorar a secreção de testosterona.”

Neville Drasdo et al, Lancet A hypoxia retinal à noite contribui para a retinopatia diabética
2002;359:2251-2253, junho de 2002 (É melhor dormir com as luzes acesas ?)

Segundo este estudo, hipoxia durante horas de escuro aparecem contribuir


à retinopatia diabética, sugerindo que a iluminação noturna poderia atrasar o
desenvolvimento da doença. Outros estudos já tinham sugerido que a demanda
aumentada de oxigênio durante à adaptação à escuridão, associada à função
capilária diminuída, seria responsável pelo dano retinal observado em
diabéticos.
Os autores investigaram o efeito da inalação de oxigênio sobre a amplitude
dos potenciais oscilatórios, refletindo a função retinal, após adaptação à
escuridão, em 7 pacientes diabéticos e 8 controles.
Em diabéticos, a diminuição dos potenciais oscilatórios induzida pela
adaptação à escuridão foi restaurada em níveis normais durante a inalação de
oxigênio, mostrando que dimunuí a auto-regulação da circulação retinal. Os
potenciais oscilatórios em indivíduos controles não foram alterados pelo
oxigênio. Os autores mostraram também que as células amacrinas, situadas
entre as duas camas capilárias na retina central, onde a retinopatia diabética
começa, eram sujeitas à hipoxia. Esses achados sugerem que a luz durante a
noite poderia beneficiar o diabético. Segundo os autores, “a luz que passa
através das pálpebras é suficiente para suprimir a adaptação à escuridão. E
nossos resultados mostram que os pacientes diabéticos poderiam beneficiar
de um ciclo alterado de iluminação durante o sono, para diminuir o consumo
de oxigênio pela retina”. Mas, existem outros efeitos potenciais sobre as
funções do olho e os ritmos circadianos, necessitando maiores pesquisas, antes
de recomendar qualquer ao paciente.
242 Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 04 (2002)

Doggrell SA. Expert Opin Metformina e estilo de vida previnem o diabetes tipo 2:
Pharmacother 2002;3(7):1011-3, intervenção sobre o estilo de vida tem o efeito maior
julho de 2002
Diabetes mellitus está ocorrendo em proporções epidêmicas em vários
países. Em razão da eficácia limitada da profilaxia por remédios das
complicações diabéticas após instalação da doença, parece mais apropriado
pesquisar os métodos de prevenir o aperecimento do diabetes. Um estudo
recente do Diabetes Prevention Programme Research Group investigou se as
alterações do estilo de vida ou a metformina, eram eficazes para atrasar o
surgimento do diabetes em indivíduos com tolerância à glicose diminuída.
Os objetivos da intervenção intensiva sobre o estilo de vida, eram o de obter
e manter uma diminuição de peso de 7%, através de uma dieta de baixa caloria,
pouca gordura e a promoção de uma atividade física de intensidade moderada,
tal como uma caminhada de pelo menos 150 minutos/semana. A eficiência
da intervenção sobre o estilo de vida foi um sucesso, mas diminuiu com o
tempo. A metformina é responsável por uma perda de peso significativa, mas
inferior à intervenção sobre o estilo de vida. As duas terapias diminuíram a
glicose de jejum de uma maneira semelhante. O programa de estilo de vida
diminuiu mais a HbA1c do que a metformina. Tanto a intervenção intensiva
no estilo de vida quanto a metformina, diminuíram a incidência do diabetes,
mas o programa de estilo de vida tem o efeito maior.

Celafisc, São Caetano do Sul, SP, Tendência secular: diminuição dramática da força muscular
programa Agita São Paulo,
julho de 2002 Uma das preocupações da área de ciências do esporte e promoção da saúde,
tem sido o comportamento das variáveis de aptidão física dos escolares ligada
à saúde, por exemplo: peso, altura, adiposidade corporal, força muscular dos
braços e pernas.
Em 2000, analisamos as variáveis antropométricas em três décadas 1980,
1990, 2000. Este tipo de estudo recebe o nome de tendência secular (TS), que
pode ser positiva, negativa ou nula. Os dados são de escolares adolescentes
residentes no município de Ilhabela-SP, região de baixo nível sócio-econômico.
Participaram desse estudo 496 adolescentes na faixa etária de 10 a 15 anos,
sendo 276 do sexo feminino (11,74 ± 4,39 anos) e 220 do sexo masculino
(11,77 ± 1,64 anos). Foram mensuradas as variáveis antropométricas de: peso
corporal (kg); estatura (cm) e adiposidade corporal através da soma de sete
dobras cutâneas (bíceps, tríceps, subescapular, suprailíaca, axilar média,
abdominal, panturrilha). As variáveis neuromotoras mensuradas foram as de:
dinamometria manual direita e impulsão vertical sem auxílio dos braços.
Encontramos uma TS positiva na adiposidade corporal (masculina: 33,6%),
negativa para força de membros superiores (masculino: -35,5% e feminino: -
28,9%) e nula para a força de membros inferiores (masculina: 7,6% e feminino:
2,9%) e potência aeróbica (masculino: -6,9% e feminino: -5,3%)
Observamos que, com o passar dos anos a população adolescente está cada
vez mais gordinha e com uma diminuição dramática da força muscular. Esses
dados sugerem que uma intervenção no comportamento sedentário é
fundamental durante a fase da adolescência, para promover um melhor índice
de aptidão física, evitando o aumento da adiposidade corporal, melhorando
os níveis de força e potência aeróbica.
Diabetes Clínica 04 (2002) 243

O Diabetes na Imprensa

A pílula da voracidade

Um novo agente antivoracidade acaba de ser avaliado por pesquisadores


14 de julho de 2002 brasileiros e americanos; o topiramato, substância ativa de medicamentos
anticonvulsivantes usados para a epilepsia em crianças, que apresentou eficácia
em 70% dos casos de compulsão alimentar. A pesquisa pioneira foi feita este
ano pelo Instituto de psiquiatria da UFRJ e do instituto Estadual de Diabetes
e Endocrinologia (Iede), sob o comando do psiquiatra José Carlos Appolinário.
O transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP), nome nacional para
o binge eating disorder (ED), atinge 30% do total dos obesos, mas é muito
mais grave do que a noção leiga de compulsão, geralmente usada para definir
um ataque a uma barra de chocolate. A compulsão é uma orgia alimentar, que
pode acontecer com qualquer um, uma vez ou outra, mas a doença se
caracteriza por no mínimo dois episódios por semana dessa orgia, nos quais a
pessoa perde totalmente o controle e come, de uma vez e rapidamente,
geralmente escondido, à tarde ou à noite, por exemplo, um pacote de sucrilho,
com refrigerantes, depois pão, carnes, feijão e se sente mal. Se você costuma
exagerar num jantar e ainda repete todas as sobremesas, você não é um portador
de TCAP. Mas pode estar entre os 52% dos brasileiros que tentam emagrecer
e têm, de vez em quando, um episódio de binge eating, segundo o Dr. Walmir
Coutinho, endocrinologista e especialista da obesidade. (...) Walmir Coutinho
tem uma hipótese original sobre a origem emocional da gordura abdominal,
causada por depressão, estresse e compulsão: “Sabemos que a gordura
abdominal está associada à secreção do hormônio cortisol, produzido pelas
glândulas supra-renais, as glândulas do estresse. Logo, a depressão e o estresse,
aliados à compulsão, fazem com que a pessoa engorde mais na barriga.”Por
que é tão difícil emagrecer na adolescência?

JAHH=
Por que é tão difícil emagrecer na adolescência?

3 de julho de 2002 Aquela ‘barriguinha’ que aparece na adolescência pode ir muito além da
vaidade. Quem tem de 10 a 20 anos e vive brigando com a balança pode estar
com a saúde ameaçada. Diabetes, excesso de açúcar no sangue e colesterol
alto. Atenção! Isso não é mais ‘doença de velho’. Elas atacam cada vez mais
cedo. E é bom tomar cuidado, 25% dos adolescentes brasileiros estão acima
do peso. Mas, se emagrecer é fácil, difícil é manter o peso. O pediatra de
244 O Diabetes na Imprensa - Diabetes Clínica 04 (2002)

Continuação adolescentes (hebiatra), Mauro Fisberg, da Universidade Federal de São Paulo,


confirma a tese do ‘efeito sanfona’. Segundo ele, menos de 25% dos
adolescentes conseguem manter o peso depois que saem da dieta. “Na verdade,
eles não modificaram em nada o estilo de vida. A dieta não foi incorporada ao
cotidiano”. Uma pesquisa americana recente mostrou que os médicos do país
não sabem cuidar da obesidade infantil e juvenil. Depois de ouvir 940
profissionais, entre pediatras, enfermeiros pediátricos e nutricionistas, chegou-
se à conclusão de que os médicos não conseguem ajudar crianças e adolescentes
a perder peso. Entre os obstáculos apontados pelos profissionais estão a
insegurança e a falta de motivação do paciente e a intromissão ou omissão
dos pais. Dados nacionais indicam que 14% de crianças e adolescentes entre
6 e 14 anos de idade sofrem do problema. O percentual é quase o triplo do
registrado na década de 60. Hoje, um quarto da população norte-americana é
obesa. No Brasil, o número de adolescentes obesos dobrou, nos últimos 20
anos. E o vilão não é o fast-food, nem o refrigerante. “Não existe um único
vilão quando o assunto é obesidade. O problema é estrutural, é da sociedade.
246 O Diabetes na Imprensa - Diabetes Clínica 04 (2002)

Continuação As pessoas estão cada vez mais sedentárias e os hábitos alimentares mudaram
muito”, disse o pediatra. Quem pensa em ficar magrinho para aproveitar a
praia no verão pode ficar tranquilo - há tratamento. Nada de remédios e
inibidores de apetite, o paciente deve passar por um programa de reeducação
alimentar. “O programa deve atingir a família também. Não adianta pedir
para o adolescente mudar os hábitos alimentares, se os pais continuam fazendo
tudo errado”. Diversos estudos já demonstraram que, quanto mais tempo se
passa vendo televisão ou diante do computador, mais chances têm de se tornar
obeso. “O tempo que é gasto com essas atividades, poderia ser usado em
atividades físicas. Antigamente, as crianças e adolescentes jogavam futebol
nas ruas, soltavam pipas, brincavam de queimada. Hoje, as atividades físicas
são agendadas, programadas pelos pais”, disse Fisberg. Atenção redobrada
para quem come assistindo à televisão ou diante do computador. Pesquisadores
americanos descobriram que cada refeição feita diante da TV aumenta de 38
a 73 minutos o tempo total diário diante do aparelho. “Ajudar as famílias a
restringir a freqüência com que as crianças comem assistindo à TV pode
auxiliar na redução do tempo que os filhos passam diante da televisão e na
diminuição da obesidade”, disse o coordenador da pesquisa. Quanto maior a
faixa etária, mais tempo é gasto em frente à TV. “No Brasil, os adolescentes
passam, em média, cinco ou seis horas por dia na frente do aparelho”, disse
Fisberg.

GAZETA MERCANTIL Gordura não engorda


11 de julho de 2002
Os italianos não gostaram da capa da revista dominical do The New York
Times. Estampou na capa um bife com manteiga e mostrou que a cada dia
cresce o número de médicos norte-americanos que questionam a pirâmide
alimentar, recomendada durante as últimas décadas à população dos EUA,
em que a base são os carboidratos e o topo (que deve ser menos consumido),
as gorduras. Em vez de conduzir a uma vida mais sadia, a pirâmide seria a
causa da obesidade, que provoca nos Estados Unidos todos os anos a morte
de 280.000 pessoas. Os italianos responderam pelo Corriere della Sera: A
dieta mediterrânea, rica em massas e pobre em gordura animal, causa menos
cardiopatias, menos incidência de tumores e garante melhor forma física”.
Em tempo: o ovo também foi absolvido em pesquisa da Harvard School of
Public Health. Os maiores consumidores mundiais, Japão, Espanha e França,
são os que têm a mais baixa mortalidade por doença cardiovascular.

A era dos super-remédios


(...) Há ainda boas promessas para os diabéticos. O Exubera, da Aventis
Pharma e da Pfizer, é uma insulina inalável para tratamento de diabetes tipo 1
e 2. Ela substitui as injeções e age mais rapidamente no organismo. (...) Para
26 de abril de 2002 controlar a obesidade a última palavra continua a ser Xenical, primeiro remédio
a agir diretamente no intestino e que é capaz de reduzir a absorção de gordura
em até 30%. Mas existem dezenas de substâncias em estudos. A leptina é
uma das que estão em fase mais adiantada de pesquisa. Trata-se de um
hormônio produzido pelas células gordurosas que faz com que o apetite
diminua de forma acentuada. Os laboratórios também, estão estudando a
indicação de antidepressivos, como o Wellbutrin e o Zoloft, para quem quer
perder peso. E todos estão atrás de um remédio que acelere o metabolismo
dos gordinhos, fazendo-os queimar mais calorias.
248 Diabetes Clínica 04 (2002)

Avanços terapêuticos e tecnológicos


Meng H. Tan et al, 62th Scientific Pioglitazona melhora a dislipidemia aterogênica em pacientes
Sessions, American Diabetes portadores de diabetes tipo 2 nunca tratados com agentes
Association, San Francisco, California, hipoglicemiantes
14-18 de junho de 2002
Estudamos o efeito da pioglitazona sobre as taxas elevadas dos triglicérides
(TG), o nível diminuído de HDL-colesterol e o aumento das partículas de
LDL-colesterol em pacientes portadores de diabetes tipo 2 com, controle
glicêmico inadequado (HbA1c inicial = 7,52 ± 0,93% média ± DP) e
hipertrigliceridemia leve.
O estudo de 16 semanas, multicêntrico, randomizado, duplo-cego,
controlado por placebo, comparou os efeitos do placebo com PIO 30 ou 45
mg, em pacientes nunca tratados por agentes hipoglicemiantes (n = 297),
portadores de diabetes tipo 2. TG plasmáticos, HDL e LDL colesterol,
colesterol total e apolipoproteína B (ApoB) foram medidos. Foi calculado o
índice aterogênico do Plasma (AIP = log10[Tg/HDL-C]; inversamente
correlato com o tamanho das partículas de LDL). Foram incluídos pacientes
tratados ou não com drogas alterando os lípides. Valores inicias e finais foram
comparados. As alterações (média ± DP), na exceção de AIP (alteração
absoluta a partir do início), são reportadas na tabela.
Conclusão: Comparado com placebo, PIO 30 e 45 mg aumentaram HDL-
C e diminuíram TG, ApoB e AIP em pacientes portadores de diabetes tipo
2 com controle glicêmico insuficiente. Estes resultados sugerem que PIO
age positivamente sobre a dislipidemia aterogênica e pode reduzir o risco
cardiovascular em pacientes portadores de diabetes tipo 2.

Placebo (n= 96) PIO 30 mg (n= 91) PIO 45 mg (n= 95)

Tg (mmol/l) início 1,7 ± 0,1 1,9 ± 0,1 2,0 ± 0,1


Tg (%∆) 1,3 ± 4,0 -7,7 ± 4,3 -16,4 ± 4,2
HDL-C (mmol/l) início 1,2 ± 0,03 1,1 ± 0,03 1,1 ± 0,03
HDL-C (%∆) 8,8 ± 2,2 16,4 ± 2,4 19,5 ± 2,3
LDL-C (mmol/l) início 3,0 ± 0,08 3,0 ± 0,08 3,1 ± 0,08
LDL-C (%∆) 4,0 ± 2,6 6,2 ± 2,8 3,3 ± 2,7
TC (mmol/l) início 5,1 ± 0,09 5,2 ± 0,10 5,4 ± 0,10
TC (%∆) 2,2 ± 1,7 3,8 ± 1,9 0,6 ± 1,8
ApoB (mmol/l) início 1,03 ± 0,02 1,09 ± 0,03 1,10 ± 0,03
ApoB (%∆) 2,9 ± 2,0 0,9 ± 2,2 -4,8 ± 2,1
AIP (∆) -0,05 ± 0,02 -0,13 ± 0,02 -0,17 ± 0,02
250 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 04 (2002)

Malene Hollingdal et al, 62th Scientific A repaglinida aumenta a secreção de insulina na primeira fase e
Sessions, American Diabetes libera a insulina pulsátil de alta frequência em diabetes tipo 2
Association, San Francisco,
Califórnia, 14-18 de junho de 2002 A pulsatilidade da insulina basal de alta frequência e dependente da glicose
é perturbada em diabetes tipo 2. Este estudo foi realizado para entender a
influência possível de um secretagogo não-sulfoniluréia, a repaglinida, sobre
a pulsatilidade da insulina em diabetes tipo 2. Por isso, foram examinados 10
pacientes portadores de diabetes tipo 2 (idade 53,4 ± 8,9 anos, IMC 29,9 ±
3,7 kg/m2, HbA1c 7,0 ± 1,1%, média ± DP), em estudo controlado por placebo
e cruzado. Os participantes foram tratados com repaglinida (REP) 3-9 mg/dia
ou placebo durante 6 semanas, com dosagem ajustada semanalmente. No
final de cada período de tratamento a secreção da primeira fase da insulina
(15g de glicose endovenosa) foi medida. Secreção foi avaliada usando infusão
de bolo de glicose (6 mg/kg de peso corporal cada 10 minutos), por 60 minutos
durante (i) condições de linha base e (ii) 30 minutes após uma dose oral de
REP ou placebo 0,5 mg. Os resultados são dados como REP vs. placebo.
HbA1c apresenta uma tendência a diminuir (p = 0,075). AUCins durante a
primeira fase de teste de secreção de insulina aumentou durante repaglinida
(1578 ± 523 vs. 1139 ± 451 pM/l per 10 min, p < 0,05). Glicose produz uma
explosão de secreção de insulina com volume e amplitude aumentados durante
o tratamento de repaglinida (volume: 44,4 ± 6,0 vs. 31,4 ± 3,3 pmol.l-1pulso-
1, p < 0,05; amplitude 17,7 ± 2,4 vs. 12,6 ± 1,3 pmol.l-1min-1, p < 0,05),

embora a secreção basal de insulina fique inalterada. Após estimulação aguda,


a secreção de insulina basal aumenta significativamente (12,1 ± 1,5 vs. 9,0 ±
1,0 pmol.l-1pulso-1, p < 0,05), embora o volume e a amplitude da massa
explosiva de insulina aumente (p d” 0,071). A frequência e regularidade dos
pulsos de insulina durante a secreção não foram influenciados pela terapia
antidiabética.
Em conclusão, nos pacientes portadores de diabetes tipo 2, 6 semanas de
tratamento com o secretagogo de insulina repaglinida, aumenta a secreção de
primeira fase da insulina, além da massa e amplitude da explosão secretante
de insulina de alta frequência, após teste de glicose. Este sem alterar a
regularidade do processo de liberação da insulina.

Mohammed F. Saad et al, American Ragaglitazar melhora o perfil lipídico e o controle glicêmico em
Diabetes Association 62st Scientific diabetes tipo 2 hipertrigliceridemico
Sessions, San Francisco, Califórnia, 14
a 18 de junho de 2002 Ragaglitazar faz parte de uma nova classe de PPARg e a-agonistas, que
melhoram a sensibilidade à insulina e a dislipidemia diabética. Os efeitos
dose-resposta foram estudados em estudo de 12 semanas, duplo-cego, com
grupo paralelo, controlado por placebo em 177 pacientes hipertrigliceridemicos
(> 150 mg/dl), portadores de diabetes tipo 2 (idade 18-70 anos), randomizados
para receber ragaglitazar (0,1, 1, 4 ou 10 mg/dia), placebo, ou pioglitazona
(45 mg/dia). Os valores médios de início dos triglicérides (TG; média 244-
307 mg/dl) e glicose plasmática de jejum (FPG, média 170-216 mg/dl) foram
semelhantes para todos os grupos. A melhora do perfil lipídico de jejum
depende da dose.
Os perfis de segurança das doses de ragaglitazar 0,1 e 1 mg foram
semelhantes ao placebo. Nos grupos com doses mais elevadas ou pioglitazona,
foram encontrados efeitos adversos conhecidos dos agonistas de PPAR; edema,
ganho de peso e diminuições reversíveis dos números de eritrócitos e
leucócitos. Em resumo, ragaglitazar melhora significativamente o perfil
lipídico total e diminui significativamente a glicose sanguínea em pacientes
portadores de diabetes tipo 2.
252 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 04 (2002)

Continuação Ragaglitazar pioglitazona

0,1 mg 1 mg 4 mg 10 mg 45 mg
# pacientes 26 30 32 31 28
TG %∆ inicio -18 -45* -67* -56* -45*
HDL %∆ inicio 3 17* 28* 8 12
LDL %∆ inicio 10 -6 -14* -19* 11
CT %∆ inicio 3 -5 -17* -16* 0
FPG (mg/dl) %∆ inicio -32* -71* -97* -100* -66*
Ganho de peso (kg) 1 4* 7* 8* 3*

*P ≤ 0,05 vs. placebo, ∆ início: alteração em relação ao início (linha base).

Eberhard Standl et al, American Eficácia e segurança a longo prazo da insulina detemir em
Diabetes Association 62st Scientific pacientes portadores de diabetes tipo 1
Sessions, San Francisco, Califórnia, 14
a 18 de junho de 2002 Insulina detemir é um análogo de insulina solúvel com Ph neutro e um
perfil de ação previsível. Este estudo comparou a segurança e eficácia da
insulina detemir e da insulina NPH em adultos portadores de diabetes tipo 1.
Este estudo foi multicêntrico, multinacional, aberto, com grupo paralelo,
randomizado, com duração de 12 meses. 288 pacientes participaram do estudo
(154 com insulina detemir e 134 com insulina NPH; 184 homens e 104
mulheres; idade 41,6 (12,9) anos). 252 pacientes (134 insulina detemir e 118
insulina NPH) completaram o período de 12 meses de tratamento. O controle
glicêmico foi testado por HbA1c, perfis de glicose e glicose plasmática de
jejum após 12 meses de tratamento. Valores de HbA1c de 7,9% e 7,8% foram
encontrados para insulina detemir e NPH, respectivamente. Insulina detemir
mostrou uma tendência por risco menor de hipoglicemia à noite (risco relativo
(detemir/NPH) = 0,71, p = 0,067). Perda de peso de 0,3 kg foi observada no
grupo insulina detemir, e um ganho de peso de 1,4 kg foi encontrado no grupo
NPH, resultando em uma diferença significativa e clinicamente relevante entre
os grupos após 12 meses de tratamento (1,7 kg, p = 0,002). A proporção de
pacientes com efeitos adversos sérios durante 12 meses foi menor no grupo
detemir (9,1% vs. 13,4%).
Em conclusão, insulina detemir e NPH forneceram controle glicêmico
semelhante e perfis de segurança comparáveis após um ano de tratamento. O
desenvolvimento favorável do peso e a tendência a menor risco de hipoglicemia
noturna no grupo detemir, indicam o potencial promissor desse novo análogo
de insulina.

Michelle A. Baron et al, American Nateglinida diminui efetivamente HbA1c através de reduções da
Diabetes Association 62st Scientific glicose pós-prandial em pacientes portadores de diabetes tipo 2
Sessions, San Francisco, Califórnia, 14
a 18 de junho de 2002 O agente insulinotrôpico de ação rápida nateglinida (NAT) diminui a glicose
pós-prandial (PPG), atenuando as excursões da glicose pós-prandial. Este
estudo avaliou a capacidade de 120 mg de NAT para reduzir a HbA1c, através
de reduções de PPG em prática de consultório. Pacientes tinham diabetes tipo
2 inadequadamente controlado (HbA1c 7,0 – 9,5) por dieta (grupo 1) ou
metformina (MET) (grupo 2). A dose de MET não foi alterada durante as 12
semanas do estudo. Os parâmetros demográficos e glicêmicos dos participantes
(n – 141) são listados na tabela.
254 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 04 (2002)

Continuação Grupo 1 (58) Grupo 2 (83)

Idade (anos) 55,3 ± 11,9 54,1 ± 9,4


Sexo Mul/Hom. 30/28 40/43
IMC 33,8 ± 5,6 32,6 ± 6,4
HbA1c 8,2 ± 0,7 8,2 ± 0,7
Glicemia de jejum 157,6 ± 34,9 163,7 ± 38,8
PPG 2 horas 194,6 ± 60,8 209,1 ± 60,4

NAT diminuiu a PPG 2 horas pós-café da manhã e a glicose incremental


(PPG 2 horas – glicose de jejum) de uma maneira semelhantes no grupo 1 (44
± 54 mg/dl, 30 ± 44 mg/dl, p < 0,001) e grupo 2 (49 ± 76 mg/dl, 37 ± 50 mg/dl,
p < 0,001), resultando em diminuições de HbA1c em 1,1 ± 0,8% (p < 0,001) e
0,8 ± 0,9% respectivamente (p < 0,001). Foram observadas reduções
comparáveis e modestas da glicose de jejum, em ambos os grupos (15 ± 26 mg/
dl e 15 ± 38 mg/dl, respectivamente, p < 0,001). 78% dos pacientes do grupo 1
e 70% do grupo 2 responderam à terapia (diminuição da HbA1c em 0,5%). O
efeito adverso mais comum foi uma incidência baixa de sintomas leves de
hipoglicemia (10,3% e 4,8%). Hipoglicemia confirmada (glicose plasmática <
60 mg/dl) foi encontrada em 2,9% e 1,9% dos casos, respectivamente.
Este estudo demonstrou que o controle da glicose pós-prandial por
nateglinida é bem tolerado e resulta na diminuição significativa em HbA1c
no mundo real dos pacientes portadores de diabetes tipo 2.

Andrea Natali et al, American Diabetes Rosiglitazona melhora diretamente a função endotelial em
Association 62st Scientific Sessions, pacientes diabéticos tipo 2
San Francisco, Califórnia, 14 a 18 de
junho de 2002 Já foi afirmado que as tiazolidinedionas diminuem a aterogênese, mas a
evidência in vivo, independentemente do controle glicêmico, está faltando. Em
3 centros, 93 pacientes diabéticos tipo 2 receberam tratamento com rosiglitazona
(R) (4 mg/dia) ou metformina (M) (500 mg/dia) vs. placebo (PL). Foram medidos
a função endotelial (resposta [por pletismografia] do fluxo sangüíneo no
antebraço a infusões intra-arteriais de acetilcolina [Ach] e nitroprussiato de
sódio [SNP]) e sensibilidade à insulina (clamp euglicêmico [6,0 mM] de insulina
[40mU/min/m2]) no início (após 4 semanas de testes e eliminação), e, de novo,
em 16 semanas, num estudo duplo-cego e randomizado. As características do
início (idade, sexo, IMC e HbA1c) foram semelhantes nos 74 participantes que
completaram o estudo (PL = 22, M = 28, R = 24); comparações dos efeitos do
tratamento foram ajustados segundo o centro e os valores de início. Em relação
à PL, R e M diminuíram a glicose de jejum de maneira semelhante (média ±
DP: -2,3 ± 0,5 e -2,3 ± 0,5 nM, p < 0,0001 para ambos) e HbA1c (-1,2 ± 0,3 e
-1,6 ± 0,3, p < 0,0001 para ambos). Respostas vasculares a Ach e SNP foram
semelhantes nos três grupos no início. As curvas dose-resposta de SNP não
foram afetadas pelos tratamentos. Em contrato, a inclinação da curva dose-
resposta de Ach (unidades = ∆fluxo sanguíneo % per log de µg/min/dl de Ach)
melhorou com R (de 276 ± 36 para 385 ± 48, p < 0,05) e não se alterou com M
(de 317 ± 34 para 324 ± 36) ou com PL (de 240 ± 42 para 217 ± 56). Em relação
a PL e M, R aumentou a inclinação da curva de dose-resposta de Ach em 185
unidades (IC 95%: 54/315, p < 0,01) e 85 unidades (IC 95%: 30/200, p = 0,15).
Relativamente ao início (PL = 18,9, MK = 18,9, R = 21,7 µmol/min/kg), a
sensibilidade à insulina aumentou com R (+3,9 ± 1,7 µmol/min/kg, p < 0,05),
mas não com M (-0,6 ± 1,7 µmol/min/kg) ou PL (-1,2 ± 1,7 µmol/min/kg). Em
relação a PL e M, R aumentou a sensibilidade à insulina em 6,1 (IC 95%: 2,0/
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 04 (2002) 255

Continuação 10,1) e 5,5 (IC 95%: 1,7/9,4) µmol/min/kg (p < 0,06 para ambos). As alterações
induzidas por tratamento na vasodilatação dependente do endotélio (Ach), foram
independentes das alterações no controle glicêmico ou na sensibilidade à insulina.
Concluímos que no diabetes tipo 2, o tratamento com rosiglitazona tem um
efeito direto (independente do controle glicêmico e da ação da insulina) e positivo
sobre a função endotelial.

Robert Henry et al, American Diabetes Farmacocinética e farmacodinâmica da insulina pulmonária em


Association 62st Scientific Sessions, pacientes diabéticos jovens e idosos usando o AERx Insulin
San Francisco, Califórnia, 14 a 18 de Diabetes Management System
junho de 2002
O AERx Insulin Diabetes Management System (IDMS) libera um aerossol
de insulina líquida no fundo do pulmão por absorção sistêmica. A
farmacocinética e farmacodinâmica da insulina inalada pelo sistema AERx
foram comparadas em 27 jovens pacientes (18-45 anos) e 28 pacientes idosos
(> 65 anos) portadores de diabetes tipo 2. Uma inalação única de 6 unidades
AERx (comparáveis a 6 unidades subcutâneas) de insulina humana regular,
foi administrada usando um protótipo do sistema AERx a cada um dos
pacientes durante os dois dias do estudo. A farmacocinética da insulina
plasmática foi avaliada a partir de 20 amostras de sangue coletadas durante 6
horas. AUC(0-360 min) e Cmax foram comparáveis entre pacientes jovens e idosos.
Entretanto, o grupo idoso apresentou uma menor diminuição da glicose, como
indicado por AOC(0-360) (área sobre a curva). Insulina inalada foi bem tolerada.
Em conclusão, pacientes diabéticos tipo 2 jovens ou idosos apresentam perfis
farmacodinâmicos comparáveis, mas com menor diminuição da glicose em
pacientes idosos, após administração única de insulina usando o sistema AERx.

Jovens (n = 25) Idosos (n = 25) Valor de p

AUC(0-360) insulina (pM*min) 38055 (15121) 37892 (16835) 0,476


Cmax insulina (pM) 219 (108) 221 (104) 0,414
AOC(0-360) glicose (mg/dl*min) 16337 (7142) 12272 (6837) 0,011

Reuters, 25 de junho de 2002 FDA aprova teste cutâneo para colesterol

O primeiro teste cutâneo de colesterol foi aprovada pela administração


americana (Food and Drug Administration – FDA). O teste Cholesterol 1,2,3,
fabricado por IMI International Medical Innovations Inc., Toronto, Canadá,
análisa a quantidade de colesterol na pele usando a palma da mão. Este teste
não vai substituir os testes padrões, mas pode ajudar identificar pacientes com
doença cardíaca severa. Ele fornece uma informação complementa, que pode
ajudar o médico na hora de determinar o tratamento. Num estudo em 649
pacientes portadores de doença arterial coronariana diagnosticada, o teste
cutâneo, associada ao teste sanguíneo, ajudou identificar os pacientes que tinham
as obstruções mais perigosas. O teste não ajudou identificar os pacientes com
doença mais leve. Segunda a FDA, o teste fornece “4 a 15% mais informações
sobre o risco de doença arterial coronariana severa, em comparação com os
testes de colesterol sanguíneo e outros fatores de risco”.
O teste consiste em um aplicador tipo Band-Aid colocado na palma da
mão durante 3 minutos e o resultado aparece na tela de um leitor. O teste não
pode ser usado por pessoas que apresentam doenças cutâneas nas mãos, nem
após uso de loções ou cremes cutâneos.
256 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 04 (2002)

Paolo Pozzilli et al, American Diabetes Farmacocinética de spray de insulina oral vs. insulina regular e
Association 62st Scientific Sessions, insulina lispro em diabetes tipo 1
San Francisco, Califórnia,
14 a 18 de junho de 2002 A formulação de insulina oral consiste em insulina administrada por spray
aerossol com sistema RapidMist, rapidamente absorvida pela mucosa bucal e
região do orofaringe. Neste estudo comparamos os perfis farmacocinéticos
da insulina regular, insulina lispro e spray de insulina em pacientes portadores
de diabetes tipo 1.
15 pacientes diabéticos participaram (4 tratados com insulina lispro e 11
com insulina regular no período das refeições), idade 21-51 anos (idade média
33,5 anos), com duração média de diabetes de 6 anos e controle das valores
de HbA1c adequado (< 7%). Os pacientes foram acompanhadas durantes 2
dias consecutivos, a partir de uma refeição padrão e durante as 4 horas
seguintes. No dia 1, os pacientes foram tratados com a insulina habitual (regular
ou lispro) e no dia 2 a insulina subcutânea foi substituída por dose equivalente
de insulina oral em spray. Amostras de sangue foram coletadas a cada 30
minutos, durante 2 horas, para obter um total de 7 amostras para cada dia.
Foram medidos glicose sanguínea, insulina e peptídeo C.
A farmacocinética da insulina oral foi semelhante à da lispro, atingindo o
pico plasmático 30 minutos após administração (23,6 ± 22,8 mU/ml vs. 26,7
± 19,2 mU/ml, respectivamente), e os níveis mais baixos em 240 minutos
(10,4 ± 4,9 mU/ml vs. 12,9 ± 7,0 mU/ml). Como esperado, insulina regular
atingiu o pico e o estado funcional entre 30 e 120 minutos (valor do pico 29,6
± 12,9 mU/ml). Níveis da glicose sanguínea diminuíram após administração
de insulina, qualquer seja o tipo de insulina usada.
O spray de insulina oral é absorvido através da mucosa bucal com uma
farmacocinética semelhante à da insulina lispro. O seu uso em pacientes diabé-
ticos devem seguir as mesmas indicações que da insulina de ação ultra rápida.

Alan M. Smith et al, American Administração de insulina transdérmica através de microporos


Diabetes Association 62st Scientific
Sessions, San Francisco, Califórnia, Sem dor, livre de agulha, a infusão de insulina a através de patch
14 a 18 de junho de 2002 transdérmico é uma alternativa à administração subcutânea por bomba de
insulina ou administração de insulina de longa ação tipo NPH, Lente, Ultralente
ou Lantus. Um novo sistema de administração transdérmica, baseado sobre a
microporação termal, foi desenvolvido para permitir a administração
transdérmica de proteínas e peptídeos tipo insulina. O estudo de
farmacocinética foi realizado em 5 voluntários não-diabéticos para avaliar o
sistema de administração do patch de insulina, contendo uma formulação de
insulina lispro em um reservatório líquido do patch. Poros microscópios
superficiais foram criados na camada stratum corneum na pele do antebraço,
sobre uma superfície retangular (90 poros/cm2, 13 cm2), por processo de
microporação termal não doloroso. O reservatório foi completado com 1,3
ml de insulina lispro 100 U (Humalog) e aplicado sobre a superfície de
microporos durante 12 horas. Amostras de plasma foram coletadas a cada
hora, durante 14 horas e analisadas por método de radioimmunoensaio
especifico para insulina lispro (Linco Research, limite de detecção = 2,5 mU/
ml). Níveis de lispro mostraram uma administração constante durante as 12
horas de aplicação do patch. A curva média plasmática tinha um Cmax de 13,7
± 2,7 mU/ml (média DP) at TMax de 6 horas. Após remoção do patch, os
níveis plasmáticos voltaram ao nível basal em aproximadamente 2 horas. Em
média, os níveis plasmáticos de insulina lispro foram mantidos a cima de 5
mU/ml entre 1 e 12 horas. A área da curva média foi de 114 mU-hr/ml. A
administração de insulina foi realizada usando um patch transdérmico contendo
258 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 04 (2002)

Continuação uma formulação de insulina aprovada e não alterada, sem o uso de processo
químico, iontoforese ou ultra-som. Estudos estão em andamento para
desenvolver um patch de 24 horas, para fornecer um sistema de administração
de insulina conveniente para a população diabética, sem agulha e sem dor.

Fátima Bosch et al, J Clin Invest Transferência de gene insulin-like growth factor-1 para células de
2002;109:1153-1163, maio de 2002 ilhotas de pâncreas reverte o diabetes tipo 1 em ratos

A transferência de gene insulin-like growth factor-1 (IGF-1) para as células


β de um modelo de rato, conduz à regeneração de ilhotas pancreáticas e
restauração de estado não-diabético, segundo uma equipe de pesquisadores
da Universidade de Barcelona, Espanha. Ratos normais tratados com
streptozotocina desenvolvem uma taxa elevada de hiperglicemia,
hipoinsulinemia, perda de peso e morte. Os autores usaram essa técnica para
induzir diabetes em ratos transgênicos que produzem níveis elevados de IGF-
1 no pâncreas. Antes do tratamento com streptozotocina, os ratos trangênicos
eram semelhantes a ratos não-transgênicos, na exceção da concentração mais
elevada de IGF-1 nas ilhotas. Os ratos não-transgênicos desenvolveram níveis
de glicose sanguínea > 600 mg/ml, a insulina plasmática caiu, e morreram no
intervalo de 4 meses. Ao contrário, os ratos transgênicos exibiram uma taxa
de glicose sanguínea de 300 mg/dl durante 2 meses, quedepois se normalizou.
Os níveis de insulina ficaram normais e eles ganharam peso corporal, após
estabelecimento da normoglicemia.
Um segundo lote de ratos transgênicos reagiu de maneira mais severa ao
tratamento de streptozotocina, com o desenvolvimento de uma hiperglicemia
muito elevada, baixos níveis de insulina e aumento da ingestão de alimentos
e líquidos. De novo, esses efeitos foram revertidos após vários meses. O IGF-
1 parece proteger parcialmente as células β da apoptose.
Apesar de ser mais baixa em ratos não tratados por streptozotocina, a massa
celular β foi aproximadamente 7 vezes mais significativas. As células
produtoras de insulina eram mais presentes em ratos transgênicos tratados
por streptozotocina, em comparação com ratos não-transgênicos após 3 meses.
O estudo sugere que a destruição de células β poderia ser contra-atacada por
engenharia genética in vivo do pâncreas endócrino, para expressar os fatores
chave que induzem a replicação das células β.

27 de junho de 2002 European Drug Agency: os benefícios da sibutramina superam os riscos

A European Medicines Evaluation Agency (EMEA) declarou que os


benefícios da droga anti-obesidade sibutramina são maiores do que os riscos,
mas que vai continuar monitorar o produto, com novos estudos de segurança
e eficácia. A agência re-examinou a segurança da droga, após a suspensão
das vendas na Itália em março de 2002, após o relatório de 50 reações adversas,
inclusas 2 óbitos.
O laboratório Abbott mencionou 34 óbitos em março, dos quais 28 nos
Estados Unidos. Mas a empresa explicou que não existe evidência de relação
das mortes com a droga. 9 milhões de pacientes já experimentaram a droga
desde o seu lançamento em 1997. O laboratório confirma que a sibutramina
pode aumentar a pressão sanguínea em certos pacientes, e que é necessária o
monitoramento regular da pressão arterial. A sibutramina não pode ser
administrada sem precaução a pacientes com histórico de hipertensão, e não
pode ser prescrita para pacientes com hipertensão descontrolada ou
inadequadamente controlada.
Diabetes Clínica 04 (2002) 259

Produtos e novidades

Lowçucar lança as gelatinas Stevia Plus, o pó para preparo de


leito condensado light e o pó para preparo de bolo light

As gelatinas Lowçucar têm polpa de frutas, são adoçadas com Stevia Plus
Lowçucar e têm redução calórica de até 88%. As gelatinas light Stevia Plus
são uma sobremesa leve, ideal para pessoas que optam por uma alimentação
baseada em redução calórica, e isenta de açúcares, podendo ser consumidas
por todos, inclusive diabéticos. As gelatinas Lowçucar estão disponíveis em
embalagens de 14g e disponíveis nos sabores: abacaxi, cereja,
morango e uva.
O pó para preparo de leite condensado light, sem açúcar e
41% menos calorias é um produto com muito sabor e praticidade.
O leite condensado light lowçucar está disponível em práticas
embalagens de 200g.
O pó para preparo de bolo light, sem açúcar, facilita a sua
cozinha diet e light. O bolo light Lowçucar tem uma redução de
38% de calorias e 78% de gorduras em relação ao bolo comum.
O bolo light Lowçucar está disponível em uma prática
embalagem de 300g e no sabor de chocolate.

A1cNow de Metrika: teste imediato da HbA1c na


clínica ou em casa

A1cNow é o primeiro teste de uso único (descartável) para


monitorar a hemoglobina A1c (HbA1c). O teste precisa só de uma
gota de sangue, misturada com o líquido fornecido pelo sistema e
o resulta aparece na tela em exatamente 8 minutos. Aprovado pela
FDA, A1cNow é um teste simples e prático para avaliar o histórico
de cada paciente durante os últimos três meses. Este teste, praticado
durante a consulta, elimina a espera de testes de laboratórios, permite
conhecer imediatamente a complacência do paciente e os riscos
que ele está apresentando (a taxa de HbA1c é um excelente marcador
das complicações diabéticas quando o resultado está > 8%). Os
resultados fornecidos por A1cNow são comparáveis aos resultados
laboratoriais. A1cNow custa aproximadamente US$ 20,00.
260 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 04 (2002)

Precision Link: programa de management do paciente


O programa de computador Precision Link faz o dowload de todos os dados
de valores de glicose sanguínea, com data, a partir dos glicosimetros Precision
Xtra, Sof-Tact e Precision QID. Os dados podem, assim, ser analisados pelo
médico, ajudado pelas inúmeras ferramentas do programa (gráficos, estatísticas
de resultados).

SofTact: menos dor para monitorar a glicose


A vantagem do sistema SofTact (Medisense, Abbott) é que ele pode ser
usado em lugares com menos nervos do que os dedos, como por exemplo no
antebraço. Simplesmente colocado sobre a pele, ele aspira uma pequena gota
de sangue (2 a 3 µl), quase sem dor nenhuma e dá o resultado em 20 segundos.
SofTact pode guardar em memória até 450 resultados, que podem também
ser descarregados em computador, com programa especializado.

CardioChek: novo sistema de monitoramento do colesterol e da


glicose
Cardiochek é um novo sistema de monitoramento do sangue
total, para o controle do diabetes e do colesterol. Este sistema,
lançado por Polymer Technology Systems (indianápolis, Estados
Unidos), existe em duas versões: o CardioChek que faz o screening
da glicose e do colesterol, com resultados em um minuto, e o
CardioChek PA, de uso profissional, que permite a dosagem de
vários parâmetros, como glicose, cetonas, colesterol total, HDL
colesterol, triglicérides, lípides e creatinina.
262 Diabetes Clínica 04 (2002)

Resumos de trabalhos e congressos

Yoshinori Miyazaki et al, 62th Efeito da pioglitazona sobre o conteúdo de gordura do fígado e
Scientific Sessions, American Diabetes distribuição de gordura abdominal e sensibilidade à insulina em
Association, San Francisco, Califórnia, pacientes portadores de diabetes tipo 2
14-18 de junho de 2002
Os efeitos da pioglitazona (PIO) sobre a distribuição de gordura abdominal,
o conteúdo do fígado em gordura e a sensibilidade à insulina hepática e
periférica, foram examinados em 13 pacientes portadores de diabetes tipo 2
(M/F = 9/4, idade 52 ± 3 anos, IMC 29,0 ± 1,1 kg/m2), tratados com
sulfoniluréia ou dieta. Antes ou após o tratamento com PIO (45 mg/d) durante
16 semanas, a avaliação do diabetes tipo 2 incluiu: OGTT 75, clamp de insulina
euglicêmico (40 mU/m2.min) com 3H-glicose e medição da distribuição da
gordura abdominal, gordura hepática (espectroscopia próton), massa total de
gordura corporal (3H2O). PIO diminuiu a glicemia de jejum (179 ± 10 para
141 ± 10 mg/dl, p < 0,01), a glicose plasmática média durante OGTT (295 ±
13 para 233 ± 14 mg/dl, p < 0,01), HbA1c (8,6 ± 0,4 para 7,2 ± 0,5 mg/dl, p
< 0,01), sem alteração nos níveis de insulina. Antes do PIO, a gordura hepática
foi correlata positivamente com a supressão da produção de glicose endógena
(hepática) (sHGP) durante o clamp insulínico (r = 0,73, p < 0,01). A área de
gordura visceral (VF) (r = -0,70, p < 0,01) e a gordura subcutânea profunda (r
= -0,65, p < 0,05) foram inversamente correlatas à taxa da clearance metabólica
da glicose (MCR) durante o clamp insulínico. PIO melhorou sHGP (1,1 ± 0,1
para 0,6 ± 0,2 mg/kg FFM.min, p < 0,05), e a MCR estimulada por insulina
(3,5 ± 0,5 para 4,4 ± 0,4 ml/kg FFM.min, p < 0,05), apesar do aumento do
peso corporal e da massa adiposa (D = 3kg, p < 0,01). Após PIO, tanto a
gordura hepática (20 ± 4 para 13 ± 3%, p < 0,05) como a área de gordura
visceral (144 ± 13 para 131 ± 16 cm2, p < 0,05) diminuíram, embora a gordura
superficial (136 ± 24 para 155 ± 25 cm2) e subcutânea profunda (165 ± 23
para 187 ± 24 cm2) terem aumentado (ambos p < 0,01). Usando dados de PIO
pré/pós, a gordura subcutânea profunda (r = -0,41, p < 0,01) e área de gordura
visceral (r = -0,53, p < 0,01), foram correlatas com a MCR estimulada por
insulina. Após PIO, a diminuição da gordura hepática não foi correlata com a
melhora de sHGP durante o clamp insulínico.
Conclusão: Após PIO, uma alteração da distribuição de gordura, de
depósitos viscerais para subcutâneos foi associada com uma melhora da
sensibilidade à insulina e do controle glicêmico. Aumento da gordura
hepática é fortemente associada à resistência hepática à insulina antes PIO.
Após PIO, a gordura hepática diminuiu, mas a diminuição não foi correlata
com a melhora de sHGP. Tais fatores, adicionados à gordura hepática
diminuída, devem contribuir para a melhora de sHGP após PIO.

resumos.pmd 262 17/07/02, 15:20


Black
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 04 (2002) 263

Matthias Hertz et al, 62th Scientific Pioglitazona melhora o controle glicêmico em pacientes
Sessions, American Diabetes portadores de diabetes tipo 2 nunca tratados com agentes
Association, San Francisco, Califórnia, hipoglicemiantes
14-18 de junho de 2002
Pioglitazona (PIO) diminui significativamente HbA1c em pacientes
portadores de diabetes tipo 2 e controle glicêmico inadequado (HbA1c > 9,8%).
Este efeito não foi avaliado em grandes grupos de pacientes com valores de
HbA1c inicial menor e controle glicêmico sub-ótimo. Este estudo de 16
semanas, multicêntrico (42 centros), randomizado, duplo-cego, controlado
por placebo, comparou o efeito do placebo (PBO) com PIO 30 ou 45 mg/dia
em pacientes diabéticos nunca tratados com remédios (N = 297) e controle
glicêmico sub-ótimo (HbA1c = 7,52 ± 0,93%, média ± DP). HbA1c e a glicose
plasmática de jejum foram medidas; valores iniciais e finais foram comparados.
As alterações (média ± DP) são reportadas na tabela.

Placebo PIO 30 mg PIO 45 mg

HbA1c (%) (n = 96) (n = 95) (n = 96)


início 7,5 ± 0,1 7,5 ± 0,1 7,6 ± 0,1
D total -0,2 ± 0,1 -0,8 ± 0,1 -0,9 ± 0,1
D HbA1c inicial d” 7,5% -0,0 ± 0,1 (n = 60) -0,4 ± 0,1 (n = 56) -0,4 ± 0,1 (n = 52)
D HbA1c inicial > 7,5% -0,2 ± 0,1 (n = 36) -1,3 ± 0,1 (n = 39) -1,3 ± 0,1 (n = 44)
FPG (mmol/l)
início 8,8 ± 0,2 8,9 ± 0,2 8,6 ± 0,2
D total -0,1 ± 0,1 -1,4 ± 0,1 -1,6 ± 0,1
D HbA1c inicial d” 7,5% -0,1 ± 0,1 -1,0 ± 0,2 -1,1 ± 0,2
D HbA1c inicial > 7,5% -0,1 ± 0,3 -2,0 ± 0,2 -2,4 ± 0,2
Peso (kg)
início 86,4 ± 1,8 86,5 ± 1,6 84,4 ± 1,7
D do início -1,6 ± 0,3 -0,2 ± 0,4 -0,7 ± 0,4

Conclusão: Comparado com placebo, PIO 30 e 45 mg diminuíram


significativamente HbA1c e glicose plasmática de jejum em pacientes
portadores de diabetes tipo 2 e nunca tratados com agentes hipoglicemiantes.
Pacientes com controle insuficiente no início podem beneficiar de um
tratamento de PIO para atingir a meta de HbA1c < 7%.

Natalia N. Rudovitch et al, American Repaglinida melhora a secreção de insulina na primeira fase e a
Diabetes Association 62st Scientific sensibilidade à insulina em tratamento associado com
Sessions, San Francisco, Califórnia, metformina em diabetes tipo 2
14 a 18 de junho de 2002
Objetivos: O primeiro objetivo foi o de avaliar se repaglinida restaura/
melhora a resposta aguda da insulina à glicose (AIRgluc), assim como a segunda
fase de secreção de insulina em pacientes portadores de diabetes tipo 2. O
segundo objetivo foi o de avaliar o potencial hipoglicêmico da repaglinida
em clamp hiper e euglicêmico. Em terceiro lugar, avaliar os efeitos da
associação repaglinida e metformina sobre a sensibilidade à insulina.
Desenho e métodos: Estudo controlado por placebo, randomizado, cruzado,
aberto de 3 semanas em 11 pacientes portadores de diabetes tipo 2, que
receberam placebo ou repaglinida (1 mg antes as 3 principais refeições) em
associação com metformina (850 mg três vezes/dia). O AIRgluc e a segunda
fase de secreção da insulina foram determinadas por clamps hiperglicêmicos
(HC) (a 11,1 mmol/l). O índice da sensibilidade à insulina (ISI) e peptídeo-C,

resumos.pmd 263 17/07/02, 15:20


Black
264 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 04 (2002)

Continuação foram medidos por clamps hiperinsulinicos, euglicêmicos a 4,5 mmol/l.


Resultados: Ambos AIRgluc e a segunda fase de secreção da insulina (Ins
25-180 min) aumentaram significativamente em HC com repaglinida (AIRgluc
1,23 ± 0,4 vs. 0,73 ± 0,4 h*um/l, p < 0,01 e Ins (25-180 min) 95,8 ± 25,7 vs.
52 ± 16,5 h*um/l, p < 0,01). Quando a euglicemia de 4,5 mmol/l de glicose
foi realizada em clamp euglicêmico, a concentração de peptídeo-C diminuiu
as condições de hiperglicêmico para normoglicêmico, na presença de
repaglinida, mas ficou mais elevada do que após placebo (p < 0,05). O ISI
aumentou em 35% após 1 semana de terapia associada: repaglinida +
metformina (6,67 ± 1,8 vs. 4,96 ± 1,3 mg por kg*min/mU, p < 0,05).
Conclusões: Repaglinida aumentou a resposta de insulina em clamps
hiperglicêmicos, sem estimular a secreção de insulina na euglicemia.
Repaglinida melhora também o AIRgluc em pacientes portadores de diabetes
tipo 2. Associação repaglinida + metformina produz uma estimulação
significativa de ISI, quando comparada com metformina em tratamento
único, sugerindo um efeito sinérgico sobre a sensibilidade à insulina.

Lois Jovanovic et al, American Controle glicêmico pós-prandial é semelhante com administração
Diabetes Association 62st Scientific pré-prandial ou pós-prandial de insulina aspart em diabetes tipo 1
Sessions, San Francisco, Califórnia,
14 a 18 de junho de 2002
Nas situações da vida real, a dose de insulina do período da refeição não
pode ser exatamente calculada antes do final do consumo da refeição ou é
completada quando quantidade exata de carboidratos ingerida é conhecida.
Neste estudo cruzado, aberto e randomizado, o controle glicêmico pós-prandial,
quando a dose de insulina aspart é calculada e administrada em pré-prandial
(baseada na quantidade antecipada de carboidratos devendo ser consumidos),
foi comparado ao controle glicêmico pós-prandial, quando a insulina é
administrada em pós-prandial (dose baseada no consumo real de carboidratos).
O grupo de estudo foi formado por 20 pacientes portadores de diabetes tipo 1,
relativamente bem controlados (HbA1c 7,3 ± 0,2%), usando uma terapia
intensiva de insulina. Os participantes receberam refeições sem limites
especificados. A resposta glicêmica (AUC -15-240min foi 23014 ± 1892 vs.
29535 ± 2315 mg/dl/min, p < 0,05; administração pré-refeição vs. pós-refeição,
respectivamente), foi aproximadamente 25% menor, quando a insulina aspart
foi administrada antes que 15-20 min após a refeição. Mas em todos os casos
o controle glicêmico foi adequado. Em ambas ocasiões, os participantes
selecionaram quantidades semelhantes de calorias (644 ± 64 vs. 627 ± 44
kcal, pré vs. pós), embora a quantidade de calorias realmente consumidas,
tenha sido aproximadamente 10% menor nos dias de administração da insulina,
15-20 minutos após a refeição (630 ± 64 vs. 577 ± 47 kcal, pré vs. pós). Um
fato semelhante foi notado com o consumo de carboidratos (selecionado 74 ±
8 vs 72 ± 7 g. realmente consumido 72 ± 8 vs 67 ± 7g; pré vs. pós,
respectivamente). O nível global de saciedade reportado antes e após o almoço,
foi semelhante em ambos os dias de estudo. A dose de insulina selecionada
também foi semelhante em ambos os dias de estudo (5,8 ± 0,6 vs 6,7 ± 0,8 U;
pré vs. pós, respectivamente). A glicemia pós-prandial < 50 mg/dl ocorreu
em 3 participantes (15%), após administração pré-refeição e em 4 (21%) nas
aplicações pós-prandiais de insulina aspart.
Conclusão: Os dados apresentados ilustram a flexibilidade da dosagem da
insulina aspart no período da refeição, em pacientes bem informados sobre
os princípios da terapia intensiva de insulina e os benefícios da aplicação
pós-prandial na situação da vida real.

resumos.pmd 264 17/07/02, 15:20


Black
266 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 04 (2002)

Mark L Warren et al, American Experiência clínica com dosagem pós-prandial de Novolog 70/30
Diabetes Association 62st Scientific em pacientes idosos portadores de diabetes tipo 2
Sessions, San Francisco, Califórnia,
14 a 18 de junho de 2002 Conveniência da dosagem na refeição é uma das maiores vantagens de um
análogo de insulina e de sua formulação bifásica. Os análogos de ação rápida
têm sido usados em pós-prandial, em situações selecionadas com segurança e
eficácia aceitáveis. A segurança e eficácia da dosagem pós-prandial de Novolog
Mix 70/30 (formulação bifásica de insulina aspart contendo 30% de insulina
solúvel e 70% cristalizada em protamina), foram avaliadas neste estudo aberto,
cruzado, randomizado de 12 semanas. 91 paciente idosos (53 homens, idade
65 anos, média DP: 70,2 4,7 anos; IMC 32,0 4,5 kg/m2), portadores de diabetes
tipo 2 e previamente tratados com insulina misturada ou pré-misturada com
doses 70 U/dia. Foram tratados com aplicações pré-prandiais duas vezes/dia
de Novolog Mix 70/30, durante um período de 4 semanas. Os participantes
foram então randomizados para receber um tratamento de 4 semanas em pré
ou pós-prandial de Novolog Mix, 2 vezes/dia, e inversamente durante as 4
últimas semanas. O controle glicêmico global dos participantes ficou estável
durante o estudo (HbA1c 7,7% ± 1,1 vs. 7,6 ± 1,1% no início e a 12 semanas,
respectivamente). Administrações pré vs. pós-prandiais de Novolog Mix 70/
30, foram associadas às necessidades semelhantes de insulina diária e controle
glicêmico, como avaliado pelos testes auto-administrados de glicose (139 ±
43, 159 ± 66, 143 ± 59, 143 ± 60 mg/dl vs. 134 ± 35, 177 ± 61, 149 ± 65, 175
± 59 mg/dl; antes e 2 horas após café da manhã e antes e 2 horas após jantar
para pré vs. pós-prandiais aplicações, respectivamente). Os perfis de glicose
plasmático durante os testes de refeições também foram semelhantes (AUC0-
-1
240min 38,160 ± 15,288 vs. 43,680 ± 15,024 mg/dl/min , pré vs. pós-prandial,
respectivamente) no final de cada período de tratamento. Não foi notada
diferença no número de episódios hipoglicêmicos em todos os grupos de
tratamento (47 vs. 55 episódios durante período de tratamento pré vs. pós-
prandial).
Conclusão: Aplicações pós-prandiais de Novolog Mix 70/30 parecem ser
uma alternativa aceitável, quando comparadas com os horários padrões de
administração de insulina.

M. Roivainen et al Diabetologia Infecção a enterovírus em células β do pâncreas humano


2002;45(5):693-702, maio de 2002
Objetivos: A infecção direta das células β poderia explicar o efeito
diabetogênico dos enterovíruses. As células adultas humanas são susceptíveis
à infecção por enterovírus, o que resulta em diminuição da função celular ou
morte da célula (coxsackievíruses B3, B4, B5), ou ambos e até mesmo sem
efeito adverso aparente imediato (coxsackievírus A9). O estudo foi estendido
a sorotipos adicionais de enterovírus, inclusos vários ecovíruses, alguns deles
já clinicamente associados ao desenvolvimento de diabetes.
Métodos: Os padrões e consequências de infecções por enterovírus foram
investigados em ilhotas isolados adultos humanas cultivados. Infecção celular
foi avaliada por métodos imunocitoquímica. A função celular β foi estudada
por perfusão.
Resultados: Poliovírus tipo 1/Mahoney, coxsackievírus A13, parecovírus
humano 1 e vários ecovíruses (sorotipos 6, 7, 11), podem ser responsáveis
pela diminuição da função celular (p < 0,05) e morte da célula β. Ao contrário,
ecovírus serotipos 9 e 30 não são destrutivos. Entretanto, quando vários isolatos
de ecovírus 30 foram investigados, alguns deles mostraram-se mais destrutivos
que o protótipo correspondente. O que é verdade também, para ecovírus 9.

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Continuação Um vírus isolado de uma criança de 6 semanas portadora de diabetes tipo 1


agudo, foi funcionalmente mais destrutivo que os protótipos de echovirus 9.
Conclusão: Essas observações mostram que a capacidade do enterovírus
de diminuir a função da célula β ou matar as células, não é completamente
definida pelo sorotipo, mas por características ainda não definidas. Por
enquanto, qualquer sorotipo pode ser diabetogênico.

S. Makimattila et al, Diabetologia Marcadores da espessura da íntima-média em diabetes tipo 1


2002;45(5):711-8, maio de 2002
Objetivos: A hiperglicemia aponta para complicações cardiovasculares,
mas os dados sobre a doença cardiovascular são limitados. Pesquisamos para
os marcadores da espessura da íntima-média da artéria carótida em jovens
adultos portadores de diabetes tipo 1.
Métodos: Um total de 71 crianças (feminino/masculino = 34/37) foram
acompanhados após diagnóstico até 32 ± 1 anos, quando a duração do diabetes
atingiu 22 ± 1 anos. Os marcadores de risco cardiovascular (lípides, pressão
sanguínea, tabagismo, taxa de excreção de albumina urinária, exposição a
glicose (A(1c) meses), atividade física, consumo de álcool, histórico familiar),
foram avaliados na idade de 21 ± 1 anos para o primeiro exame, e a 32 ± 1
para os anos de seguimento. Durante o acompanhamento, a espessura da
íntima-média das artérias carótidas comum e interna e do bulbo da carótida
foram medidas usando ultra-som de alta resolução.
Resultados: Em análise univariate, idade, IMC, pressão sanguínea,
exposição à glicemia, histórico familiar positivo de diabetes tipo 2, hipertensão
e doença cardiovascular, foram marcadores da espessura da íntima-média.
Em análise multivariate, o histórico familiar de diabetes tipo 2 ou de
hipertensão prognosticou a espessura da íntima-média da artéria carótida, e o
período de tempo de exposição à glicemia é um marcador independente do
aumento da espessura do bulbo da carótida.
Conclusão: Históricos familiares positivos de diabetes tipo 2 e hipertensão
são marcadores independentes da espessura da íntima-média da artéria
carótida em pacientes portadores de diabetes tipo 1, e predispõem esses
pacientes à aterosclerose.

N. Ueno et al. Diabetologia Mosapride, novo agente sensibilizador à insulina


2002;45(6):792-7, junho de 2002
Objetivos: Pesquisamos o papel potencial da mosapride, agonista do
receptor 5HT-4, sobre o controle glicêmico de pacientes portadores de diabetes
tipo 2 sem neuropatia autonômica.
Métodos: 34 pacientes diabéticos tipo 2 foram randomizados para receber
mosapride (5 mg via oral 3 vezes/dia, n = 17), ou um placebo (n = 17), durante
uma semana (primeiro estudo). Alterações na glicose sanguínea e insulina
foram determinadas no início e após o teste de carga em glicose por via
endovenosa. A sensibilidade à insulina foi avaliada durante clamps
hiperinsulinico-normoglicêmicos e pela medição do número e a
autofosforilação dos receptores de insulina em eritrócitos dos pacientes (n=
9). 69 pacientes portadores de diabetes tipo 2 foram tratados por mosapride
ou placebo durante 8 semanas (segundo estudo).
Resultados: Mosapride diminuiu a glicose plasmática de jejum e as
concentrações de frutosamina (p < 0,05). Ele aumentou significativamente o
número (mosapride 3323 ± 518 vs. 4481 ± 786 [p < 0,05], controle 4227 ±

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268 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 04 (2002)

Continuação 761 vs. 3275 ± 554 per 300 microl de eritrócitos) e a autofosforilação dos
receptores de insulina (mosapride 3178 ± 444 vs 4043 ± 651 [p < 0,05], controle
3721 ± 729 vs. 3013 ± 511 receptor de insulina), bem como a utilização de
glicose (mosapride 4,92 ± 0,53 vs 5,88 ± 0,72 [ p < 0,05], controle 4,74 ± 0,65
vs. 4,70 ± 0,31 mg/kg.min). O tratamento com mosapride durante 8 semanas
diminuiu significativamente as concentrações de glicose de jejum (9,91 ±
0,34 vs. 8,51 ± 0,34 mmol/l, p < 0,05), insulina (53,2 ± 4,62 vs. 40,8 ± 5,52
pmol/l, p < 0,05) e HbA1c (8,61 ± 0,20% vs. 7,67 ± 0,19%, p < 0,01). A
analise por reverse transcriptase-polymerase chain reaction (RT-PCR)
demonstrou uma expressão específica dos receptores 5HT-4 no músculo, mas
não nos tecidos adiposos ou hepáticos.
Conclusão: Mosapride pode melhorar a ação da insulina no músculo e o
controle glicêmico em pacientes diabéticos tipo 2.

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Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 04 (2002) 269~273

ARTIGO ORIGINAL

A importância do atendimento odontológico de pacientes submetidos a


transplantes de órgãos
The importance of the odontologic attendance in organ transplanted patients

Alexandre Fraige

Cirurgião Dentista do Centro de Atendimento a Pacientes Especiais da Faculdade de Odontologia da USP, São Paulo

Resumo
A evolução da odontologia, como ciência, evidencia-se nos dias de hoje por uma maior preocupação do cirurgião-dentista em relação à saúde
global do paciente, através da sua integração com a medicina e a clínica no atendimento e avaliação de patologias sistêmicas que manifestam-
se na cavidade oral. Este artigo visa dar uma introdução e visão geral ao acadêmico e ao cirurgião dentista, no que tange a pesquisa de
protocolos de atendimento integrado em pacientes submetidos a transplante de medula óssea e órgãos, seu entendimento e uso na terapêutica
odontológica.

Palavras-chave: Ciclosporina, transplante de medula óssea, transplante de órgãos, hiperplasia gengival, protocolo de atendimento,
imunossupressão.

Abstract
The evolution of the dentistry, as science, is evidenced in the present days by a larger concern of the dentist in relation to the patient’s global
health, through its integration with the medicine and the clinic in the attendance and evaluation of systemic pathology that show in the oral
cavity. This study seeks to give an introduction and general vision to the academic and the dentist in the role they play in the research of
integrated attendance protocol in patients submitted to bone marrow and organ transplants, its understanding and use in the odontologic
therapeutic.

Key-words: Ciclosporin, bone marrow transplant, organ transplant, gingival hyperplasia, attendance protocols, immunosuppression.

Artigo recebido em 2 de maio de 2002; aprovado em 20 de junho de 2002

Endereço para correspondência: Dr. Alexandre Fraige, Rua Pedroso Alvarenga, 1255/cj83, Itaim, 04531-012 São Paulo SP, Tel: (11) 30796837,
E-mail: fraige@usp.br
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Introdução sendo infecções a segunda maior causa de mortalidade


nesta classe de pacientes.
Transplantes de órgãos são atualmente Infecção é por definição uma doença que ocorre na
procedimentos realizados em grande quantidade, dado presença de bactérias. A boca tem uma microbiota nativa,
a fatores como ao aumento de doações de órgãos, que constitui uma parte natural do ambiente oral e não
desenvolvimento e evoluções em técnicas cirúrgicas acarreta nenhum dano ou efeito colateral, desde que a
e engenharia de tecidos, mas principalmente, nos relação parasita–hospedeiro mantenha-se
avanços em terapias farmacológicas anti-rejeição [1]. imunológicamente equilibrada.
O advento da ciclosporina, em particular, foi o de Somacarrera et al. [3] citam ainda que apesar do
maior impacto em transplantes de órgãos, pois se trata protocolo apregoar a instrução profilática ao paciente
de uma droga imunossupressora seletiva que visa a sobre prevenção de infecções, condicionamento e
resposta de células T e com pouca ou nenhuma ação adequação do mesmo através de procedimentos que
na atividade células β [2]. visam a remoção de infecções, o desenvolvimento de
Este ensaio visa dar uma visão geral da realização de hiperplasia gengival acompanhada pela formação de
ambos procedimentos, complicações orais decorrentes pseudobolsas periodontais representa um grande risco
dos mesmos e como proceder com a conduta clínica para paciente imunossuprimidos, devido ao acumulo de
odontológica desses pacientes, tanto em situações pré- placa e conseqüente infecção periodontal .
transplante como pós-transplante. A hiperplasia gengival, segundo Türkmen et al. [4], é
O diagnóstico precoce e correto das complicações uma complicação freqüente em pacientes transplantados,
bucais é de fundamental importância para o sucesso do ocorrendo de 25 a 81% dos casos, sendo indicados como
tratamento global instituído. indutores precoces de tal afecção a combinação de
Neste contexto, a Odontologia exerce um ciclosporina e bloqueadores de canal de cálcio em casos
importante papel, devendo integrar-se ativamente à de transplante renal.
equipe multidisciplinar no tratamento dos pacientes Moreno et al. [2] citam como sendo a nefrotoxicidade
que serão submetidos ao transplante, atuando na e hepatotoxicidade como os mais severos efeitos
orientação e no tratamento das manifestações bucais colaterais da terapêutica imunossupressora com
em todas suas fases [3]. ciclosporina, e complementa que além de induzir a
No caso de transplantes de órgãos como rins, fígado, hiperplasia gengival, causa também alterações na
coração e pâncreas, a descoberta da ciclosporina reduziu dentinogênese em molar de rato, com neoformação de
drasticamente a morbidade e a mortalidade, associadas osteodentina e inibição da dentinogênese em pacientes
aos transplantes de órgãos. Esta droga constitui um humanos.
polipeptídio cíclico, contendo onze aminoácidos, que Carl et al. [6] citam a predisposição maior de pacientes
ocorre como um subproduto metabólico de um fungo do transplantados de órgãos em desenvolver lesões
solo. Testado como antibiótico, sua ação mais importante relacionadas com vírus Epstein-Barr (EBV), tais como
é a imunossupressora, em especial seus efeitos anti- Moléstia de Hodgkin, carcinoma nasofaríngeo e
linfociticos. No entanto, a ciclosporina, que trouxe leucoplasia pilosa oral, embora Seymour et al., [5]
considerável sucesso na área médica, traz consigo efeitos descrevam também a presença de viroses do grupo
colaterais indesejáveis como a nefrotoxidade e, na área Herpes, como o citomegalovirus (CMV) e o herpes
odontológica, a hiperplasia gengival, embora apresente simplex vírus (HSV), sendo o CMV presente através de
ausência de mielotoxicidade [4]. sorologia em 40 a 80 % dos adultos, sendo cerca de 75
Das lesões orais mais prevalentes em pacientes % dos pacientes transplantados positivos para sua
submetidos a transplante de órgãos, pode-se citar a sorologia.
candidíase, leucoplasia pilosa e atipias teciduais Moreno et al. [2] escrevem que a interessante
malignas, cabendo citar um aumento significante nas demonstração da evolução da hiperplasia gengival
porcentagens de indivíduos que desenvolvem Linfomas depende mais do tempo de administração do que
não-Hodgkin [5]. propriamente da dose.
Volpe et al. [1] descrevem a hiperplasia gengival
Revisão de literatura induzida pela ciclosporina, como sendo de aspecto
lobular, localizada ou generalizada, geralmente
No que se refer aos aspectos pertinentes ao assintomática e de patogenia relacionada com a interação
atendimento odontológico para pacientes submetidos a de fatores como controle de biofilme, nível de inflamação
transplante de órgãos, Somacarrera et al. [3], em gengival, dosagem e duração da terapia com ciclosporina,
publicação versando sobre planejamento e manuseio de sua concentração sérica e idade do paciente.
pacientes imunossuprimidos, citam a rejeição de órgãos Embora a pesquisa de manifestações orais, como a
como a primeira causa de mortalidade em transplantes, hiperplasia gengival em crianças transplantadas careça
270 Fraige A / Diabetes Clínica 04 (2002) 269~273

de maior investigação, Valentim et al. [7] descrevem a ciclosporina e prednisolona. Em transplante cardíaco,
maior prevalência da manifestação hiperplásica em as lesões mais freqüentes foram candidíase
indivíduos da faixa etária entre 5 e 17 anos, em pseudomembranosa em mucosa jugal e candidíase
detrimento de pacientes mais velhos, onde pondera que eritematosa em língua e palato, sendo o ensaio
fatores hormonais possam estar relacionados com esta imunohistoquimico da superfície epitelial da lesão de
maior prevalência. língua comprobatório da presença de EBV.
Segundo Douglas et al. [8], o cuidado odontológico a No caso de transplantes cardíacos, além da terapêutica
esses pacientes, deve abranger a erradicação total de imunossupressora, antifúngica e antiviral, a terapêutica
doenças orais ativas como requisito essencial pré- antibiótica e anticoagulante fazem-se presente visando
transplante. E quando o paciente apresenta uma boa saúde a não instalação de quadros de endocardite bacteriana e
oral e é capaz de manter a higiene bucal, são encorajados vasculopatias obstrutivas.
a permanecerem com os dentes. Entretanto, quando o
paciente apresenta extensa doença periodontal, elevado Proposição
índice de elementos cariados, lesões periapicais presentes
e mostraram-se pouco aderentes ao condicionamento Avaliação de abordagem e conduta no atendimento
odontológico pré-transplante, tem como indicação a odontológico de pacientes que se submeterão ao
exodontia total e restabelecimento protético total. transplante de órgãos, ressaltando a importância da
Seymour et al. [5] versam sobre as infecções orais de integração da especialidade odontológica na equipe
origem viral e/ou fúngica, especialmente a candidose médica de transplante.
orofaríngea, semelhante à apresentada por pacientes
imunossuprimidos pela manifestação do Imuno virus Discussão
humano (HIV).
Seymour et al. [5] também apresentam uma sinopse, O tratamento e condicionamento odontológico em
em que as lesões orais são subdivididas entre os tipos transplantes de órgãos deverá ser integrado em
de transplantes realizados e terapêutica protocolos de todos os transplantes de equipes médicas
imunossupressora sendo em transplante renal e hepático e cirúrgicas.
a prevalência de lesões leucoplásicas em bordo lateral Entende-se como protocolo as rotinas de avaliação clini-
de língua, com confirmação por biópsia, de presença ca e laboratorial, diagnóstico e tratamento de patologias
do EBV, sob terapêutica imunossupressora de concomitantes que possam estar presentes nos receptores.
Fraige A / Diabetes Clínica 04 (2002) 269~273 271

O gráfico acima que ilustra uma rotina na admissão e sua patologia de base possa apresentar, sempre em
condicionamento de paciente já selecionado para sintonia com equipe multidisciplinar.
transplante: Quanto a procedimentos, com atenção especial a
Ao ser admitido no centro hospitalar em que o protocolos de biossegurança em ambientes cirúrgicos, o
procedimento será realizado, o paciente com indicação C.D. é requisitado a retirar quaisquer focos infecciosos
de transplante passará por uma avaliação quanto à sua presentes na cavidade oral, bem como toda ou qualquer
saúde bucal, sendo o estado em que se encontra quando anormalidade que se apresente como interferência ao
do ato da avaliação, determinante da conduta terapêutica transplante em si.
a ser tomada. No caso de transplantes de órgão, este é feito quando
Para ilustrar a importância do condicionamento e existe a falência do órgão/orgãos, levando o paciente a
tratamento pré e pós-transplante, o gráfico mostra o uma situação de risco de vida e/ou complicações crônicas,
índice de sobrevida de pacientes transplantados de como em cardiopatias, nefropatias, hepatopatias e
medula óssea portadores e não portadores de infecção endocrinopatia.
herpética. O paciente, após achar doador compatível, é elegível
Levando em conta que existem manifestações orais para transplante e sofre o condicionamento odontológico.
mais agressivas que as de infecção herpética, o A ciclosporina em doses inferiores a 200 mg/dl não
prognóstico a médio e longo prazo de um paciente alcança níveis séricos desejáveis e suficientes para
portador de alguma patologia oral é reservado. promover seu efeito primário, e acima de 400 mg/dl já
Estes pacientes também podem evoluir, como começa a manifestar efeitos secundários indesejáveis.
manifestação secundária à terapia imunossupressora pré- Estes pacientes, segundo o protocolo geral, têm que
transplante, para complicações respiratórias como a passar por hemograma diário e biópsia semanal, para
pneumonia nosocomial que, através da xerostomia verificação de níveis séricos de ciclosporina e detectar
presente, associada a freqüentes hemorragias e queda do indícios de imuno rejeição.
pH bucal, levam à adesão de bacilos gram-negativos à Como conduta padrão, em caso de procedimento
mucosa oral e orofaringe, levando à uma colonização do odontológico invasivos, é preconizada a profilaxia
trato respiratório . antibiótica para endocardite bacteriana recomendada
Além disso, a instalação de infecções no período pós- pela American Heart Association, com exceção em
transplante é desfavorável, pois vai aumentar o período pacientes com doença renal terminal, pois tal conduta
pós-operatório do paciente, que se vê obrigado a pode ser danosa por favorecer proliferação fúngica e
submeter-se à terapia com antibióticos muito potentes, possível evolução para peritonite bacteriana, segundo
com efeitos colaterais exacerbados por sua Douglas et al. [8].
imunossupressão, tornando o prognóstico do transplante
sombrio, a médio e longo prazo. Protocolo para pacientes imunossuprimidos - Centro
A conduta para condicionamento pré-transplante de Atendimento a Pacientes Especiais – Faculdade
exige do C.D. (cirurgião-dentista) conhecimentos na de Odontologia da Universidade de São Paulo
área farmacológica e patologia sistêmica, para poder
adequar fármacos e seus efeitos adversos à terapia que Candidíase em focos isolados
o paciente está realizando, além das complicações que · Remoção mêcanica de placas.
272 Fraige A / Diabetes Clínica 04 (2002) 269~273

· Água Bicarbonatada - 1 colher de chá dissolvida em Dose adulto: Ingerir 1g (2 cp) 2 horas antes da
1 copo de água, 5 vezes ao dia por 14 dias. Reavaliação intervenção.
após 7 dias. Depois de 06 horas, ingerir metade da dose (1 cp).
· Miconazol - Daktarin gel oral - 4 vezes ao dia, por Dose pediátrica: (Criança abaixo de 30 kg) 20mg/kg
14 dias. Uso tópico. Reavaliação após 7 dias. de peso, 2 horas antes da consulta
Candidíase em area envolvida > que 20% com Metade da dose, 6 horas após.
progressão rápida.
Conclusão
· Nistatina - Micostatin suspensão - bochechar e
engolir 5ml, 4 vezes ao dia por 7 dias.
Dos vários pontos de vistas emanados da bibliografia,
Candidíase com envolvimento extenso, chegado em
existem a unanimidade da necessidade do atendimento
pilares amidalianos.
odontológico pré e pós-transplante, o uso de terapia
· Itraconazol - Sporanox cápsulas 100mg - 1 cápsula farmacológica adequada para cada tipo de paciente e,
ao dia, logo após a refeição, até o desaparecimento da principalmente, uma intervenção enérgica do C.D. No
lesão. A dose pode ser elevada à 1 cápsula 2 vezes ao dia. tocante do controle da higiene bucal e no ato de debelar
Leucoplasia pilosa infecções presentes, melhorando o prognóstico global
· Não tratar cirurgicamente do paciente transplantado, que pela imunossupressão,
· Aciclovir - Zovirax comprimido 200mg - 2 terão patologias de origem viral bacteriana e fúngicas
comprimidos 4 vezes ao dia até que as lesões exacerbadas.
desapareçam. No tocante aos procedimentos, eles não diferem dos
· Solução de podofilina 25% - 2 vezes ao dia até que encontrados na prática diária, mas sim no ambiente em
as lesões desapareçam. que são feitos, que é o ambiente hospitalar ou
ambulatorial com um enérgico controle de bio-segurança.
Protocolo para prevenção de endocardite
bacteriana do Setor de Odontologia INCOR-SP Referências

1. Volpe A, Domingues MG. Hiperplasia gengival induzida pela


· Uso de anestésico sem vasoconstritor (Xilocaína
ciclosporina: estudo clinico e histopatológico. RPG
2% sem vasoconstritor). 1997;4(2):133-40.
· Controle de pressão arterial antes de intervenção 2. Moreno RA, Dias RB. Riscos e benefícios no uso de
cruentas (PA mínima acima de 95 mm Hg, ciclosporina BBO 7(16):11-6
recomenda-se contato com o médico e cancelar 3. Somacarrera ML, Lucas M; Cuervas-Mons V; Hernandez G.
consulta). Oral care planning and handling of immunosuppressed heart,
liver, and kidney transplant patients. Spec Care Dentist
· Uso de profilaxia antibiótica antes de intervenção 1996;16(6):242-6.
cruentas (exodontias, periodontia, endodontia, uso de 4. Turkmen A, Ak G, Furuncuoglu Y, Akar U, Seyhun Y, Turk S,
matriz ou cunha). Deverá ser administrada da seguinte Carin M, Sever MS. Relationship between gingival hyperplasia
forma: and class II histocompatibility antigens in renal transplant
recipients. Nephron 2000;84(l):29-31.
· Amoxicilina - comprimidos - 500mg - via oral 5. Seymour RA, Thomason JM, Nolan A. Oral lesions in organ
Dose adulto: Ingerir 3g (6 cp) 1 hora antes da transplant patients. J Oral Pathol Med 1997;26(7):297-304.
intervenção. 6. Carl W. Local radiation and systemic chemotherapy:preventing
Depois de 6 horas, ingerir 1,5 g and managing the oral complications. J.A.D.A. in CD-ROM,
Dose pediátrica: 50mg/kg de peso, 1 hora antes da 119-123, março 1993.
intervenção. 7. Valentim C. Avaliação clinica da condição gengival e do índice
Metade da dose, 6 horas após. de carie em pacientes transplantados renais, submetidos a
terapia imunossupressora com ciclosporina, na faixa etária de 5
2ª Opção, também preconizada pela AHA: a 17 anos ; Universidade de São Paulo. Faculdade de
· Pen-ve-oral - comprimidos - 500.000 u.i. - Via oral Odontologia / Doutorado,1995.
8. Douglas LR, Douglass JB Sieck JO, Smith PJ. Oral
Dose adulto: Ingerir 2 mil u.i. ( 4 cp) 1 hora antes da
management of the patient with end-stage liver disease and the
intervenção. liver transplant patient. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral
Depois de 6 horas, ingerir metade da dose (2 cp). Radio 1998;86(l):55-64.
Dose pediátrica:(crianças abaixo de 30 kg): 67mg/kg 9. Silverman SJr. Atlas Colorido das Manifestações Bucais da
de peso, 1 hora antes da intervenção. AIDS – página 18, 1995.
Metade da dose, 6 horas após. 10. Carboni AMG. Estudo comparativo das manifestações bucais
entre pacientes diabéticos tipo1 e os pacientes diabéticos tipo
3ª Opção: Para pacientes alérgicos à penicilina: 2, Universidade de São Paulo. Faculdade de Odontologia /
· Eritromicina - comprimidos - 500mg - via oral Mestrado, 2001.
Kovacs ACTB, Denari FE / Diabetes Clínica 04 (2002) 274~280
Diabetes 273

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 04 (2002) 274~280

ARTIGO ORIGINAL

Implicações do Diabetes Mellitus na vida de crianças e adolescentes:


a opinião dos médicos, mães e portadores
Implications of Diabetes Mellitus in children's life and adolescents:
doctors, mothers and patients opinion

Ana Claudia T. Barros Kovacs*, Fátima Elisabeth Denari**

*Terapeuta Ocupacional, Mestre em Educação Especial, ** Mestre em Educação Especial, Doutora em Educação, Profa. Departamento
de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos - SP.

Resumo
O presente estudo teve por objetivos conhecer as implicações do Diabetes Mellitus na vida de crianças e adolescentes e conseqüentemente as
necessidades especiais surgidas em decorrência da patologia. Para tanto, entrevistou médicos endocrinologistas e pediatra, mães de portadores
de diabetes e os próprios diabéticos. Este estudo permitiu-nos conhecer as maiores implicações dessa doença crônica, bem como conhecer as
sugestões dos participantes para a resolução da problemática levantada, para que, num segundo momento, pudéssemos intervir propondo um
programa de ensino - educação em saúde -, afim de que diabéticos e seus familiares se tornassem mais conscientes do quadro clínico e aptos
para mudarem a conduta, até então utilizada no tratamento médico.

Palavras-chave: Diabetes mellitus, necessidades especiais, crianças, jovens.

Abstract
The objective of this research was to ivestigate the consequences of the Diabetes Mellitus in the life of the diabetic children and young person.
This study had the objective to discover wich aspects of the life of children and young patients of Diabetes Mellitus more damage by the
sickness and, consequently, the special needs appeared the diagnosis, which could be prevented, and their sugestions to change the situation.
Doctors, responsible for the diabetic treatement, diabetics persons and their mothers were interviewed in order to clarify these questions. This
study showed us the consequences of Diabetes Mellitus for children and young patients. Then, in other moment we’ll interview offering
apprenticeship and understanding about the Diabetes Mellitus, to change their conduct towards the medical treatment, looking for a better
quality of life to the patients.

Key-words: Diabetes Mellitus, special needs, children, young persons.

Artigo recebido em 10 dejunho de 2002; aprovado em 28 de junho de 2002.

Endereço para correspondência: Ana Claudia T. Barros Kovacs, Rua Helena, 218, cj. 96 – Vila
Olímpia, 04552-050 – São Paulo SP, Tel: (11) 3842-5144
274 Kovacs ACTB, Denari FE / Diabetes Clínica 04 (2002) 274~280

Introdução vem associada a um alto grau de ansiedade, surgindo


uma série de pensamentos temerosos no que se refere a
O diabetes mellitus tipo 1 é uma das doenças crônicas limitação que a doença traz em suas vidas, como ao
mais freqüentes na infância e é considerada por algumas prognóstico ameaçador de possíveis mutilações [13,14].
autores como a doença invisível, uma vez que suas A revelação do diagnóstico representa uma interrupção
manifestações na infância e adolescência não são no modo de existir do diabético, pois, juntamente com a
francamente perceptíveis [4,7,11]. Por ser o Diabetes doença crônica, vêm limitações de várias ordens, entre
Mellitus a segunda doença crônica mais comum nessa as quais, o cuidado com a alimentação [3].
população, provoca profundo impacto em sua vida e de As limitações de caráter social, tais como, não realizar
seus familiares [2]. viagens e passeios longos devido à rotina rigorosa do
Entende-se por doença crônica, aquela doença que regime de tratamento, geram sentimentos de angústia e
requer acompanhamento médico constante e tratamento tristeza, pois para estas pessoas, a vida, a partir da doença,
de controle, podendo ser minimizada ou persistir por toda passa a depender do tratamento, de horários e consultas
a vida do indivíduo e que está, constantemente, afastando médicas, levando-os a abrir mão de acompanhar os
a pessoa de suas rotinas diárias, devido à hospitalização, amigos e passear livremente [2,3].
realização de exames, acompanhamento médico, bem A criança ou o adolescente doente crônico é
como permanência em casa [15]. geralmente excluído ou poupado das brincadeiras de seus
As doenças crônicas são processos mórbidos de longa amigos, que receiam que algo de errado possa ocorrer
duração, das quais são incuráveis, levando, na maioria com ele. A restrição de tais atividades pode ser decorrente
das vezes, à dor, sofrimento, até a morte, e podem de limitações físicas ou por opção do doente crônico. Às
acometer indivíduos desde a sua infância [12]. vezes, o próprio tratamento provoca desânimo e
A doença crônica tem seu início, na maioria das vezes, indisposição, condição constantemente observada em
insidioso. Ela não é algo que se manifesta da noite para crianças diabéticas. O receio de se machucarem
o dia, aparecendo, na maioria das vezes, de forma lenta acidentalmente e apresentarem complicações, são
e imperceptível. Muitas vezes, aos sinais da doença, são motivos para preferirem não participar de jogos e esportes
atribuídas a outras causas, que não o real problema, que representassem risco [12, 14].
levando à demora do diagnóstico, já que os sintomas do Assim sendo, este estudo se propôs conhecer os
diabetes não são imediata nem totalmente visíveis [2,3,5]. aspectos do desenvolvimento de crianças e adolescentes
Alguns sinais e sintomas podem permanecer diabéticos, que encontravam-se mais prejudicados em
imperceptíveis por um longo período de tempo, até o virtude da doença crônica, na opinião dos médicos
surgimento de novos sintomas mais aparentes, que responsáveis pelo tratamento, dos familiares e diabéticos,
podem ocorrer repentinamente, muitas vezes, em e quais as sugestões apontadas para amenizar o problema.
decorrência de uma hiperglicemia, levando o paciente e/
ou familiares a recorrerem à internação hospitalar como Método
único meio de solucionar o problema [12]. Normalmente,
essa é a situação vivenciada pela família do diabético Este estudo, realizado no período de junho a outubro
tipo 1, quando este não percebe os sintomas comuns do de 1999, contou com a participação de cinco médicos
quadro clínico e a patologia surge de forma aguda, nas especialidades de Pediatria (01) e Endocrinologia
geralmente manifestada por cetoacidose, podendo levar (04), que atendem portadores de diabetes nos serviços
ao coma e a morte [1,8,17,21]. Tal fato deve-se à carência de saúde disponíveis no município de São Carlos
de informações da população em geral a respeito do (convênios particular e público), bem como cinco mães
quadro clínico do diabetes, bem como de outras e seus respectivos filhos portadores de Diabetes Mellitus.
patologias freqüentes na infância ou adolescência. Para tanto, foram utilizados material comum de
Geralmente, o aparecimento brusco de sintomas faz escritório (papel, caneta, etc) e equipamento eletro-
com que a família pense que algo grave pode estar eletrônico (gravador e fitas magnéticas), além de roteiros
acontecendo e procurem, imediatamente, uma resposta para entrevista dos participantes: médico, mães, crianças
para esta questão. Nesse período de busca de uma e adolescentes portadores de diabetes.
resposta, a criança ou jovem é submetido, na maioria A coleta dos dados foi realizada separadamente de
das vezes, a vários exames e consultas médicas, podendo acordo com o grupo de participantes. Médicos: Consulta
afastá-lo da escola, do grupo de amigos, desencadeando ao catálogo dos diferentes convênios particular e público
sentimentos de insegurança e medo, já que ainda não se e quadros funcionais dos serviços hospitalares e postos
tem uma resposta para o que se está buscando. de saúde cobertos pela Secretaria Municipal de Saúde
A descoberta da doença é uma fase em que o portador do município.
de diabetes sente que tudo mudou na sua vida, e que esta 1. Verificação dos médicos nas especialidades
não será mais a mesma. Essa nova realidade quase sempre mencionadas que atendiam à população-alvo.
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2. Agendamento e realização da entrevista no conscientização e aceitação por parte dos diabéticos, e


consultório médico do participante. em alguns casos, dos familiares. Os aspectos social e
Mães e diabéticos: educacional provavelmente sofrem maiores prejuízos
Após os dados para contatos iniciais (telefone ou pela carência de informações recebidas, cabendo aos
endereço) terem sido fornecidos pelos médicos durante especialistas a competência de supri-las; em caso
as entrevistas, os passos seguintes foram: negativo, desencadeiam alguns comportamentos
1. Contato por telefone, ou pessoalmente, para inadequados.
exposição breve dos objetivos da pesquisa e possível Segundo M1, os aspectos social e intelectual são os
participação da entrevista, que foi agendada, nos casos que sofrem maior prejuízo. O aspecto social foi
de resposta afirmativa. mencionado como grande prejudicado, no sentido de que
2. Realização da entrevista nas casas dos participantes. tais pessoas deixam de participar de passeios e festas
Os dados deste estudo foram analisados para não descuidarem da dieta alimentar. Esse dado
qualitativamente, a partir dos relatos dos participantes reforça descobertas de outros estudos, que constataram
transcritos das gravações em fitas magnéticas. que tanto o diabético quanto seus familiares preferem
deixar de freqüentar festas, com o objetivo de seguir
Resultados e Discussão rigorosamente a dieta e não se exporem a situações
delicadas, tais como, ingestão de doces, refrigerantes e
Optamos por apresentar as declarações dos frituras [12]. M1 acrescentou ainda que: “eles (pais) têm
participantes consideradas mais significativas. medo de uma hipo ou hiperglicemia, e não deixam o
Julgamos necessário abreviar os termos Médicos por filho participar de esporte, por exemplo natação, com
M, mães por Mãe, crianças por Cr e adolescentes por medo de o filho morrer nadando. Nas festas, as crianças
Ad, afim de facilitar a leitura dos dados. abusam e aumenta a glicemia”. Dessa forma, a vida
Anteriormente à análise das respostas dos partici- social do diabético e de sua família torna-se limitada, e
pantes, faz-se necessária uma caracterização dos mesmos. o círculo de amizades diminuído. Concordando com M1,
M2 declarou que o aspecto considerado mais prejudicado
1- Médicos foi o intelectual, apontando o mesmo motivo que M1,
ou seja, a falta de orientação dos médicos aos familiares
Por meio da tabela I, verificamos que a maioria dos e paciente, também entendido como aspecto educacional:
participantes são especialistas em Endocrinologia, que “é necessário orientação em como cuidar da doença”.
atendem um total de 44 diabéticos, crianças e jovens, M3 alertou para a carência de alimentação adequada e
por meio de convênios particular e público. necessária para o crescimento físico normal, prejudicando
A fase seguinte à caracterização, os participantes o processo natural de desenvolvimento, enfrentado por
responderam ao seguinte questionamento: Quais os tal população: “eles (crianças) não crescem muito, têm
aspectos da vida da criança ou jovem mais prejudicados problema com o controle, não exercendo o tratamento
em virtude da doença crônica? E ainda, quais as sugestões adequado”. As referências aos aspectos educacionais
de trabalhos a serem realizados para preencherem as feitas por M3, deram-se no sentido de que os diabéticos
possíveis lacunas que prejudicam a realização de um podem vir a ser obrigados a interromper os estudos para
tratamento médico satisfatório? cuidarem melhor da saúde, especialmente referindo-se
Pelos relatos dos participantes médicos, notamos que aos casos em que as taxas de glicemia encontravam-se
os aspectos considerados mais prejudicados em virtude descompensadas: “há falha no tratamento piorando o
do diabetes foram o social, o intelectual, o educacional, aspecto educacional, e abandonam os estudos” (M3).
além da necessidade de proceder a uma maior M4 ressaltou a falta de conscientização sobre o

Tabela I: Número de pacientes atendidos em Pediatria e Endocrinologia; diagnóstico e prognóstico.

M1 M2 M3 M4 M5

Especialidade Pediatria Endocrinologia Endocrinologia Endocrinologia Endocrinologia


No. de pacientes atendidos 2 (7-8 anos) 4 (8- 16 anos) 20 (7-16 anos) 3 (7- 16 anos) 15 (7- 16 anos)
Aspectos considerados Social e intelectual Intelectual e Físico e educacional Aceitação Minimizar o
orientação familiar conscientização sentimento de
discriminação
Sugestão de possíveis Trabalho multidisciplinar Orientação aos pais Trabalho Orientação ao Trabalho
multidisciplinar trabalhos multidisciplinar diabético e convivência
entre diabéticos
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diabetes e aceitação da patologia, vivenciada pela maioria necessidade de pertencer a um grupo, tarefa, típica da
de seus pacientes, que relutam em assumir sua condição adolescência e extremamente necessária à busca de um
de diabético, quase sempre infringindo as regras impostas modelo para a formação da identidade.
pelo tratamento. Segundo M4, tal comportamento ocorre Ao se referirem a um trabalho multidisciplinar, tais
na tentativa de evitar situações desagradáveis como médicos salientaram a necessidade de prestar assistência
caçoada e discriminação no meio em que vivem. ao diabético e sua família, em vários aspectos de suas
Conseqüentemente, relutam em aceitar os limites vidas, proporcionando espaço para a aprendizagem e
impostos pelo regime de tratamento, desconsiderando compreensão do quadro clínico, configurado como um
os cuidados necessários para o bom controle do diabetes, programa educacional voltado ao diabético e seus
como nos informa M4 “eles tem dificuldade em aceitar familiares. Além disso, haveria uma oportunidade de
a condição e não conseguem viver de bem com a doença” troca de informações entre os participantes que vivenciam
Provavelmente, tal fato ocorra pela carência de a mesma problemática. Compreendendo o quadro clínico
informações recebidas pelo diabético e seus familiares. do diabetes, estariam mais próximos de exercerem os
Na opinião de M5, o sentimento de discriminação cuidados exigidos pelo tratamento médico, tornando-se
presente em tal população é um fator que prejudica o conscientes e ativos nesse processo, pois é por meio da
tratamento médico, pelo fato do portador ver-se obrigado educação que pode haver mudança de atitude
a práticas incomuns e desencadeadoras de sentimento [4,18,19,20].
de comiseração, tais como, injetar insulina em meio a Nota-se por meio das declarações de alguns
uma festa ou não poder alimentar-se ou ingerir bebidas participantes que, ao referirem-se à problemática da
como os colegas, restringindo, assim, suas atividades aceitação da patologia, e conseqüentemente, da
sociais. Nesse aspecto, verificamos opiniões realização dos cuidados necessários para controle do
concordantes entre M1, M2 e M5. diabetes, encontra-se implícito o prejuízo do aspecto
De acordo com M5, não aceitando o diabetes, falta a emocional, que não deixaria de ser ressaltado em um
conscientização necessária para uma melhor qualidade trabalho de equipe.
de vida, condição típica da adolescência. Segundo este Conforme a literatura específica da área, a prática dos
participante, normalmente, nessa fase de vida, ocorrem cuidados e medidas terapêuticas, está, em grande parte,
transgressões comuns às regras impostas pela sociedade; nas mãos do seu portador e, em proporção menor, nas
neste caso, a transgressão se dá na forma de desafiar mãos da família [5,18]. Esclarecidos em relação às
pais e médico, desrespeitando as prescrições: “ocorrem formas de melhor conviver com o diabetes, família e
crises na transição para a puberdade. Em festas eles diabético podem exercer normalmente suas atividades
sentem-se discriminados pelo uso da insulina, e a rotineiras, sejam elas sociais, laborais, acadêmicas e
utilizam como uma arma” (M5). outras.
Questionados a respeito da natureza do trabalho que Portanto, dos aspectos apontados pelos participantes,
deveria ser realizado com os pacientes, conforme podemos concluir que o desenvolvimento dos diabéticos
ilustrado na tabela I, notamos que dos cinco médicos provavelmente não sofrerá prejuízo, caso lhes sejam
respondentes, três deles (M1, M3 e M5) mencionaram o fornecidas oportunidades de participação em programas
trabalho multidisciplinar. M1 referiu-se à equipe educacionais. É essencial entender os princípios do
multidisciplinar composta por Médico, Terapeuta tratamento para aplicá-los no seu dia-a-dia, pois aquele
Ocupacional, Psicólogo e Nutricionista; o participante que conhece bem sua doença poderá controlá-la para
M3 referiu-se ao Médico, Enfermeira, Terapeuta viver melhor. Ao tratar-se de crianças diabéticas, tal
Ocupacional, Psicólogo e Nutricionista; M5 entende que educação deve ser dirigida também aos seus pais ou
a equipe deveria abranger os profissionais da Medicina, responsáveis pelos cuidados diários e sua patologia
Enfermagem, Psicologia, Nutrição e Educação Física. [9,10,18].
Os outros dois participantes, M2 e M4 alertaram para a
necessidade de realização de um trabalho que priorizasse II- Participantes Mães
a conscientização e aceitação do diabético, como uma
das maneiras de conviver bem com a doença e realizar A respeito dos aspectos do desenvolvimento que, na
os cuidados necessários, mas não mencionaram quais opinião das mães sofreram algum prejuízo, a Mãe 1 relatou
profissionais estariam envolvidos em tal trabalho. O que todos foram prejudicados: “ela tem medo de passar
participante M5 discutiu a necessidade de proporcionar mal na escola, e a gente também, como em passeios, e até
aos diabéticos momentos de convivência mútua, pois, para ir ao sacolão da frente temos medo”. Tal declaração
assim, todos se sentiriam iguais, afastando, por alguns confirma o fato de que, mãe e criança evitam participar de
momentos, os sentimentos de inferioridade e diferença, atividades rotineiras restringindo, assim, seu convívio
já que essas atividades seriam realizadas por equipe social. A Mãe 2 mencionou a dificuldade em adequar a
multiprofissional. Isso reforçaria o sentimento e a dieta alimentar aos desejos do filho.
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Tabela II: Caracterização das mães participantes


Mãe 1 Mãe 2 Mãe 3 Mãe 4 Mãe 5
Idadem 33 32 37 41 46
Escolaridade 1º grau incompleto 2º grau incompleto Magistério 2º grau completo Universitário
Profissão Do lar Do lar Professora Telefonista Economista
Número de filhos 2 2 2 2 2
Renda familiar 1 6-8 9-10 9-10 Mais de 50
(salários mínimos*)
Estado civil Separada Casada Casada Divorciada Casada
Aspectos considerados Social, educacional, Alimentar Social Emocional Alimentar
alimentar.
Sugestão de possíveis Apoio financeiro, Maiores informações Maiores informações Apoio psicológico Apoio financeiro
medico e emocional sobre o quadro clínico sobre o quadro clínico à filha à crianças carentes
* o valor do salário mínimo vigente na época da pesquisa era de cento e treze reais.

A Mãe 3 relatou que, inicialmente, o aspecto social A Mãe 5 atentou para a problemática vivenciada por
sofreu prejuízo, já que sua filha foi discriminada pela crianças diabéticas carentes financeiramente, merecendo
escola (colegas e funcionários), que pensavam ser o mais atenção da sociedade e órgãos de saúde.
diabetes contagioso: “as crianças achavam que o Diante das declarações das participantes, evidencia-
diabetes pega...Ela passou mal na escola e fizeram ela se a necessidade de programas educacionais destinados
esperar lá fora até eu chegar”. ao diabético, familiares e sociedade, para melhor
A Mãe 4 declarou que sentiu prejudicado o aspecto exercerem os cuidados exigidos no tratamento médico,
emocional da filha, traduzido não só por rejeitar a bem como desmistificar alguns entendimentos, que
condição de diabética, mas também por tirar proveito de discriminam e excluem o portador da doença das
algumas situações, como ausentar-se mais da sala de aula atividades normalmente desempenhadas por seus pares
para urinar, geralmente sem necessidade: “...aproveitava não diabéticos.
do diabetes para ficar saindo da sala de aula”. A Mãe 5
sentiu necessidade apenas em adequar a dieta alimentar. Participantes crianças e adolescentes portadores de
As sugestões a respeito de trabalhos que pudessem Diabetes Mellitus tipo 1
melhorar a qualidade de vida do diabético, ocorreram
nos seguintes sentidos: Por meio dos relatos dos diabéticos, notamos que as
Mãe 1: necessidade de apoio financeiro, médico, alterações do cotidiano foram percebidas como sofridas,
emocional, “tudo em geral, apoio generalizado. Quando restringindo-se à ingestão de doces e aplicação diária de
falta algo em casa, prejudica a pessoa, ela não pode insulina. Outros, porém, declararam não perceber as
fazer nada por ser criança e ter problema”. Esta mãe restrições como necessárias em suas atividades sociais.
referiu-se aos 4 meses em que faltou energia em sua casa, Tal fato tende a ser encarado de melhor forma com o
por falta de pagamento, e que a criança mencionou desejo passar do tempo, ocorrendo superação do trauma da
de trabalhar para evitar tal situação, além da carência de doença e incorporação de tais cuidados à rotina diária.
alimentação, vestuário, e outros. Questionada a respeito de possível prejuízo em algum
Mães 2 e 3: relataram haver necessidade de maiores aspecto da vida em virtude do diabetes, Cr 1 notou
informações a respeito dos cuidados exigidos pelo quadro restrição de sua alimentação, atividade física e atividades
clínico. Mãe 2: “receber orientação”; Mãe 3: “a sociais: “não pode comer todo tipo de merenda
população tem que ser mais informada, e o próprio (referindo-se ao tempo em que freqüentava a escola),
diabético tem que ter muito mais informações, porque a não pode correr muito, só participo de algumas
maioria não tem....não tem aonde correr, aonde se brincadeiras....antes eu podia ir na casa de colegas fazer
apegar”. Tal relato aponta para a necessidade de maior a lição e brincar, e agora não posso porque minha mãe
divulgação do quadro clínico do diabetes e suas tem medo”. Cabe lembrar que tais proibições são
implicações, para não ocorrerem discriminações pela desnecessárias com destaque ao não correr, já que o
sociedade, além da carência de serviços direcionados para médico orienta a prática de atividade física, bem como o
tal clientela. A Mãe 3 acrescentou também que sente convívio com os colegas. A Cr 2 disse sentir muita
falta de maior oferta de produtos dietéticos na cidade, dificuldade em restringir a ingestão de doces, sorvetes,
além de preços mais acessíveis. A Mãe 4 relatou bolachas, como estava acostumado.
necessidade de apoio psicológico para a filha assumir a Ad 1 percebeu alteração no relacionamento com seus
condição de diabética e praticar os cuidados necessários. colegas, que a discriminaram inicialmente. O isolamento
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Tabela III: Caracterização dos participantes diabéticos.


Criança 1 (Cr1) Criança 2 (Cr2) Adolescente 1 (Ad 1) Adolescente 2 (Ad 2) Adolescente 3 (Ad 3)
Idade 11 9 14 15 16
Sexo Feminino Masculino Feminino Feminino Feminino
Escolaridade 4ª série * 3ª série 8ª série 8ª série 2º colegial
Tempo de diabetes 2 anos 1 ano 2 anos 6 anos 8 anos
Aspectos considerados Alimentar Alimentar Social, emocional Emocional Alimentar
mais prejudicados social, física
Sugestão de possíveis Conscientização Convívio social Convívio social Convívio social e Convívio social
do diabético, informação aos
familiares e recursos diabéticos,
familiares e sociedade
*esta participante interrompeu seus estudos no ano

ao qual se submete o doente crônico é esperado, uma quanto aos cuidados para com a patologia, uma vez que
vez que está tentando adaptar-se a nova condição de vida somente participando de “festas diet”é que ele exerceria
e tentando resgatar o respeito dos colegas, para não ser os cuidados necessários, hábito que não é colocado em
tratado de forma diferente [12,16]. prática em sua vida. Ad 1 declarou que: “em qualquer
Ad 2 também sentiu modificação no relacionamento lugar que eu vou, eu não conheço outra pessoa que tem
com os colegas, no sentido de se preocuparem mais em diabetes. Eu achava que teria que ter grupos de diabéticos,
adequar a alimentação às suas necessidades atualmente: para você se sentir como se todo mundo fosse igual e
“eles dão mais atenção, lembram de mim quando tem conversarem uns com os outros, como é a vida de um,
alguma festa” . A participante referiu-se à adequação da como é a vida do outro”. Tal participante enfatizou o
alimentação quando participa de festas com os colegas, sentimento de discriminação exercido pela sociedade, que
que se preocupam em oferecer alimentos dietéticos a ela. acarreta em sentimento de inferioridade por parte dos
A Ad 3 disse não ter sentido dificuldades, apenas adequou diabéticos, que não recebem o apoio de que necessitam.
sua dieta alimentar, o que parece não ter representado Ad 2, além de referir-se ao convívio com outros diabéticos,
sofrimentos. mencionou também: “dar mais assistência, por meio de
Solicitadas a sugerir trabalhos visando à melhor palestras, investindo mais, havendo discussão entre os
convivência com o diabetes, Cr 1 mencionou haver jovens” , relatando a necessidade de um programa
necessidade de maior controle sobre o diabetes: educacional capaz de desfazer suas dúvidas, quanto ao
“controlando o diabetes, aí fica normal”, fato que diabetes e assuntos relacionados à fase de vida em que se
implica sua conscientização, da família, e condições encontram, a adolescência. Ad 1 e Ad 2 acrescentaram
básicas para exercer tais cuidados (alimentação adequada, haver necessidade de maior assistência médica, referindo-
desde que existam meios para isso, disponibilidade de se a apoio médico e de serviços municipais, com promoção
insulina e informações gerais sobre cuidados com o de palestras para ampliar os conhecimentos não só de quem
diabetes para sentir-se melhor, evitando complicações). vivencia a doença mas também de demais pessoas
Cabe informar que a Cr 1, por depender da doação de interessadas.
insulina pelo posto de saúde, não encontra regularidade
quanto ao tipo fornecido: ora é bovina, ora humana, ora Conclusão
suína, prejudicando, assim, o controle da moléstia. Tal
atitude reflete a falta de consciência e de interesse pela Concluímos, por meio desta amostra, que existe
saúde por parte dos órgãos responsáveis, uma vez que, carência de programas educacionais dirigidos ao
conhecendo a necessidade de se manter o mesmo tipo diabético e seus familiares que, em conseqüência, têm
de insulina, oferecem outros, e posteriormente, em casos seu tratamento médico e qualidade de vida prejudicados,
de descompensações, recebem esse mesmo diabético implicando em diversas limitações desnecessárias,
com complicações agudas ou até mesmo crônicas. geradoras de angústias, preconceito e desigualdade.
Cr 2 relatou necessidade de participar de atividades Neste sentido, reforça-se a necessidade de programas
sociais não restritivas à alimentação e carência de convívio de prevenção primária, para diagnosticar casos novos,
entre diabéticos: “festas diet, projeto para os diabéticos, programas que tenham como alvo, não somente usuários
contato com outras crianças diabéticas”, o que foi de convênios particulares, mas também a maioria da
também relatado por Ad 1, 2 e 3. O relato da Cr 2, mais população dependente de serviços públicos (municipais
uma vez, reflete a falta de consciência e responsabilidade ou estaduais).
Kovacs ACTB, Denari FE / Diabetes Clínica 04 (2002) 274~280 279

Além da prevenção primária, sob responsabilidade do 8. Garcia RMR. Apresentação. Dr. Jornal em revista. Piracicaba/
município, há também a necessidade de prestar São Paulo, n. 18, março 2000.
9. Leavell HR, Clark EG. Medicina preventiva. São Paulo:
atendimento aos pacientes já diagnosticados, visando McGraw-Hill do Brasil, 1977.
prevenir o aparecimento das complicações crônicas do 10. Milech A. Aproveite ao máximo, com um mínimo de cuidados.
quadro clínico- prevenção secundária. Em um terceiro Jornal da Sociedade Brasileira de Diabetes. São Paulo, out
momento, deve-se exercer a prevenção terciária, com 2000.
vistas a reabilitar fisicamente alguns diabéticos, que 11. Norwood JW, Inlander CB. Entendendo a Diabetes: para a
educação do paciente. São Paulo: Júlio Louzada Publicações,
necessitem e colocá-los novamente no mercado de 2000.
trabalho. 12. Oliveira AGC. Convivendo com a doença crônica da criança: a
Concluído, este estudo serviu de base para a experiência da família. Tese (Doutorado) Escola de
elaboração de um programa de ensino-educação em Enfermagem da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1994,
saúde- a diabéticos e seus familiares, afim de melhor 141 f.
13. Piacentini MV. Diabetes: o impacto da notícia. Dr. Jornal em
informá-los sobre o quadro clínico, prognóstico do revista. Piracicaba/ São Paulo, n. 18, março 2000.
diabetes e medidas para melhorar sua qualidade de vida. 14. Santos RM. Impacto Psico-Emocional. 1999. Trabalho
Tal pesquisa será apresentada em outro momento. apresentado no 4o. Congresso Brasileiro Multiprofissional em
Diabetes, São Paulo, 3 e 4 de julho de 1999. Comunicação
Agradecimentos oral.
15. Zem SH. Caracterização da situação acadêmica de crianças
portadoras de doença crônica. Dissertação (Mestrado em
Agradecimentos à CAPES, que financiou este trabalho Educação Especial) Centro de Educação e Ciências Humanas,
durante 24 meses. Universidade Federal de São Carlos, 1992, 118 f.
16. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diabetes.
Referências Proposta básica para a assistência ao diabético no município.
<http://www.diabetes.org.br/Diabetes/cart miolo.htm> Acesso
em 16 out 2000.
1. Arduíno F. Atendimento ambulatorial interdisciplinar ao 17. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diabetes.
paciente diabético. Semina 1988; 9(3):158-167. Detecção e tratamento das complicações crônicas do Diabetes
2. Baptista MEC. Fenomenologia do existir do diabético. Tese mellitus. <http://www.diabetes.org.br/Diabetes/
(Doutorado em Psicologia e Pedagogia em Enfermagem) compcron.html> Acesso em 16 out 2000.
Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, 18. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diabetes.
Ribeirão Preto, 1992, 101 f. Educação é a melhor arma terapêutica. <http://
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de Enfermagem da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 19. JORNAL DIA A DIA: Tudo para o diabético. Programas de
1993, 144f. prevenção. Prevenção. <http://www.diadia.com.br/
4. Brasil. Ministério da Saúde. Manual de diabetes. 2. ed. rev. 07prevencao.htm> Acesso em 21 out 2000.
Brasília: CODEG, 1994. 20. JORNAL DIA A DIA: Tudo para o diabético. Programas de
5. Chacra AR. Visão otimista sobre diabetes. Dr. Jornal em revista. prevenção. Prevenção.<http://www.diadia.com.br/
Piracicaba/ São Paulo, n. 18, março 2000. 09prevencao.htm> Acesso em 21 out 2000.
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Sociedade Brasileira de Diabetes 2000;23 DIABÉTICO. Diabetes. Consenso Brasileiro de Conceitos e
7. Costa AA, Almeida Neto JS. Manual de Diabetes. 3. ed., São Condutas para o Diabetes Mellitus. <http://
Paulo: Sarvier, 1998. www.netcomp.com.br/anad/consenso.htm
280 Ardenghi C et al / Diabetes Clínica 04 (2002) 281~285
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 04 (2002) 281~285

ARTIGO ORIGINAL

Relação entre os níveis séricos da lipoproteina(a) e o controle glicêmico


de pacientes diabéticos
Relationship among the plasma levels of lipoprotein(a) and the glycemic
control of diabetic patients

Cristina Ardenghi*, Adroaldo Lunardelli**, Aline Andrea da Cunha**, Cristine dos Reis***,
Jarbas Rodrigues de Oliveira****

*Farmacêutica Bioquímica, especialista em Análises Clínicas, PUCRS, **Aluno do Curso de Graduação em Farmácia – Análises Clínicas, PUCRS,
***Aluno do Curso de Graduação em Farmácia – Farmácia Industrial, PUCRS, ****Professor Coordenador do Laboratório de Pesquisa em Biofísica,
Faculdade de Biociências, PUCRS. Trabalho Desenvolvido no Laboratório de Pesquisa em Biofísica, Departamento de Ciências Fisiológicas Faculdade de
Biociências, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Dissertação de Especialização, Laboratório de Pesquisa em Biofísica

Resumo
Tendo em vista a importância da doença cardiovascular (DC) em indivíduos com Diabetes Mellitus (DM), selecionamos pacientes com diagnóstico
prévio de DM com diferentes graus de controle glicêmico, conforme valor da hemoglobina glicosilada (HbA1c), e relacionamos com lipoproteína
(a) – Lp(a) –, colesterol total (CT) e a relação colesterol total/lipoproteína de alta densidade (CT/HDL). Os níveis de Lp(a) e CT não aumentaram
proporcionalmente à piora do controle glicêmico. No entanto a relação CT/HDL aumentou conforme se elevaram os níveis de HbA1c, com os
grupos 2 e 3 apresentando uma diferença significativa (p < 0,05) em relação ao grupo controle. Verificamos também que não houve correlação
entre a Lp(a) e a relação CT/HDL. Podemos concluir que a concentração sérica da Lp(a) não sofreu influência do controle glicêmico dos
pacientes diabéticos, não podendo ser associada, portanto, à alta incidência de DC em pacientes com DM. Ao contrário, a relação CT/HDL está
associada a um inadequado controle glicêmico e pode ser um alto indício para o desenvolvimento da DC em pacientes com DM.

Palavras-chave: Doença cardiovascular, Diabetes mellitus, Lipoproteína (a).

Artigo recebido em 5 de julho de 2002; aprovado em 12 de julho de 2002

Endereço para correspondência: Prof. Dr. Jarbas Rodrigues de Oliveira, PUCRS, Av. Ipiranga,
6681 – Pd. 12C/263 – 90619-900 Porto Alegre RS, Tel: +55 21 51 3320-3500, ramal 4147,
Fax: +55 21 51 33203568, E-mail: joliveira@pucrs.br
Ardenghi C et al / Diabetes Clínica 04 (2002) 281~285 281

Abstract
In view of the importance of the cardiovascular illness (DC) in individuals with Diabetes Mellitus (DM), we select patients with previous diagnosis
of DM with different degrees of glicemic control, as value of the glycosylated hemoglobin (HbA1c), and relate with lipoprotein (a) - Lp (a) -, total
cholesterol (CT) and the total/lipoprotein relation cholesterol of high density (CT/HDL). The levels of Lp (a) and CT had not increased proportionally
to the worsening of the glicemic control. However, the relation CT/HDL increased as had raised the levels of HbA1c, with groups 2 and 3
presenting a significant difference (p<0,05) in relation to the group have controlled. We also verify that it didn’t have correlation between the Lp(a)
and relation CT/HDL. We can conclude that the seric concentration of the Lp(a) did not suffer influence from the glicemic control of the diabetic
patients, not being able to be associated therefore, with the high incidence of DC in patients with DM. In contrast, relation CT/HDL is associated
with an inadequate glicemic control and can be one high indication for the development of the DC in patients with DM.

Key-words: Diabetes Mellitus, special needs, children, young persons.

Introdução apresentam níveis menores de Lp(a) no sangue. No


entanto, outros estudos não relatam este aumento da
O diabetes mellitus (DM) causa desenvolvimento concentração da Lp(a) e sim uma diminuição dos níveis
precoce da aterosclerose, o que, subseqüentemente, de Lp(a) em pacientes com DM tipo 2 [2,22]. Maser et
pode provocar infarto do miocárdio, lesões renais, al. [16] afirmam que não há uma relação entre Lp(a) e
acidentes vasculares cerebrais e outros distúrbios complicações em indivíduos com DM tipo 1 como
circulatórios [1,8]. retinopatia, infarto do miocárdio. Em dois outros estudos
Estudos relatam que 25% dos pacientes com infarto a melhora do controle glicêmico não altera os níveis de
agudo do miocárdio são portadores de DM, e comprovam Lp(a) [12,23].
que a incidência e a mortalidade por doenças Como os dados da literatura são conflitantes e tendo
cardiovasculares (DC) em pacientes com DM é maior em vista a importância da DC em indivíduos com DM,
que em pacientes não diabéticos [4,17,9,7]. O alto risco selecionamos pacientes com diagnóstico prévio de DM
de DC em indivíduos com DM é tão freqüente quanto em diferentes graus de controle glicêmico, conforme
em indivíduos não diabéticos com prévio infarto do valor da hemoglobina glicosilada (HbA1c), e
miocárdio [10]. relacionamos com a Lp(a), colesterol total (CT) e relação
O alto risco de DC está sendo associado a níveis colesterol total/colesterol HDL (CT/HDL), para
elevados de lipoproteína (a) – Lp(a) – no sangue [19]. A verificarmos a relação destas dosagens nos indivíduos
Lp(a) é formada pela lipoproteína de baixa densidade com DM.
(LDL) e uma glicoprotéina, a apolipoprotéina (a) –
Apo(a) –, que estão ligadas entre si por uma ponte de Materiais e métodos
dissulfito. A Apo(a) tem uma grande homologia
estrutural com o plasminogênio, o que lhe permite inibir Foram analisados dados de 82 pacientes (37 homens
de modo competitivo a ação do plasminogênio e, e 45 mulheres) que realizaram dosagens de HbA1c, CT,
eventualmente, desencadear efeitos aterogênicos e HDL, creatinina e Lp(a).
trombótico [4]. A Lp(a) inibe por competição a ligação A disfunção renal é um dos maiores determinante para
entre o plasminogênio e seu ativador tissular, dificultando o aumento da Lp(a) [5], portanto indivíduos com
sua transformação em plasmina, criando um estado pró- creatinina acima 1,2 mg/dl foram excluídos do estudo
trombótico que agrava a aterosclerose, uma vez que a para que as flutuações das concentrações de Lp(a) que
Lp(a) compromete a dissolução do coágulo em plasmina. porventura ocorressem, não derivassem de uma possível
No efeito aterogênico a Lp(a) migra do espaço insuficiência renal que se mostraria como interferente
intravascular para o sub-endotelial, alojando-se nas no estudo.
células espumosas. Além disto, por transportar muito As amostras analisadas foram divididas em quatro
colesterol, favorece a formação da placa de ateroma. grupos: um controle com indivíduos não diabéticos e 3
A Lp(a) tem sido correlacionada com a DM, grupos de pacientes diabéticos com diferentes níveis de
mostrando um aumento desta lipoproteína em pacientes hemoglobina glicosilada:
diabéticos, quando relacionados a indivíduos não Grupo controle – HbA1c de 5,3% a 6,5% (n = 15);
diabéticos [3]. Haffner et al. [11] relata que pacientes Grupo 1 – HbA1c de 6,6% a 8,9% (n = 23);
DM tipo 1 com uma melhora do controle glicêmico Grupo 2 – HbA1c de 9,0% a 11,7% (n = 24);
282 Ardenghi C et al / Diabetes Clínica 04 (2002) 281~285

Grupo 3 – HbA1c de 11,8% a 18,3% (n = 20). Discussão


Os pacientes foram selecionados a partir do
preenchimento de uma ficha de investigação, onde foram Estudos relatam que a elevação da HbA1c está
incluídos no estudo apenas aqueles que tomavam associado ao aumento de mortes em pacientes diabéticos
medicação hipoglicemiante, como hipoglicemiante oral com infarto agudo, no entanto, quando há normalização
ou insulina. dos níveis glicêmicos, uma redução das complicações
A análise estatística foi realizada pelo teste Oneway microvasculares e macrovasculares são encontradas.
ANOVA utilizando o programa SPSS for Windows, Assim comprova-se a importância do controle glicêmico
versão 9.0.1. na prevenção das DC em pacientes com DM [6,7].
Outro fator de risco associado à DC são níveis
Resultados elevados de Lp(a) no sangue [18,21]. A homologia da
Lp(a) com o plasminogênio tem sugerido que a mesma
É sabido que pacientes com DM apresentam DC. interfere com a ativação do plasminogênio e diminui a
Tentamos portanto correlacionar fatores de risco com o fibrinólise.
controle glicêmico. Na Fig. 1, observa-se que os níveis Como a Lp(a), outros marcadores bioquímicos têm
da Lipoproteína(a) sofrem significativas alterações com sido freqüentemente descritos na literatura como fatores
o aumento da hemoglobina glicosilada. de risco cardiovascular, sendo alvos de numerosos
Ao analisarmos o colesterol total total, um dos mais estudos clínicos. Alguns deles estão se estabelecendo
tradicionais fatores de risco, vimos que sua concentração como fatores de risco cardiovascular independentes,
sérica não se altera significativamente quando comparada principalmente por estarem relacionados aos
aos diferentes níveis sangüíneos de HbA1C (Fig. 2). componentes inflamatório e trombótico da doença
Entretanto, a relação CT/HDL mostrou-se aumentada aterosclerótica.
conforme a elevação dos níveis de HbA1c, como Em nosso estudo não foi encontrada associação entre
apresentado na Fig. 3. a piora do controle glicêmico e o aumento dos níveis de
Como não encontramos relação entre os níveis de Lp Lp(a), ao contrário de Haffner et al. [11] que encontrou
(a) e a piora do controle glicêmico dos pacientes boa relação entre a melhora do controle glicêmico e a
diabéticos, verificamos se poderia haver alguma relação diminuição dos níveis de Lp(a) em 12 pacientes com
entre a Lp (a) e a relação colesterol total/HDL. Como DM tipo 1. Em outro estudo do mesmo autor no entanto,
podemos ver na Fig. 4, não há boa correlação entre estes não foi encontrado a mesma associação em 12 pacientes
parâmetros, o que corrobora que os níveis de Lp (a) com DM tipo 2 [12]. Diante disso, a variabilidade dos
parecem ser um fator independente de risco coronariano. níveis de Lp(a) pode estar associada a fatores genéticos
A concentração de HDL colesterol (representado na [21], como já vem sendo estudado e não ao nível de
Fig. 5) mostra-se aumentada a medida em que tem-se glicose no sangue.
aumento da HbA1c, o que não ocorre com a fração do Hernández et al. [14] encontrou boa correlação entre
colesterol de baixa densidade – LDL – já que não a Lp(a) e colesterol LDL, indicando que as concentrações
apresenta diferença significativa nos grupos estudados, de Lp(a) no sangue de pacientes diabéticos são depen-
conforme Fig. 6. dentes do perfil lipídico do paciente. Encontrou, também,

Fig. 1 - Concentração de Lp (a) nos diferentes grupos de Fig. 2 - Concentração de colesterol total nos diferentes grupos
distintos valores de HbA1c. de distintos valores de HbA1c.
Ardenghi C et al / Diabetes Clínica 04 (2002) 281~285 283

que o colesterol LDL está aumentado em pacientes Fig. 4 - Correlação entre a relação colesterol total/HDL
diabéticos quando comparados a um grupo de pacientes e a Lp(a).
não diabéticos. Em nosso estudo verificamos que nem o
colesterol total e nem a fração LDL aumentaram
significativamente em pacientes diabéticos, sendo
independente do controle glicêmico.
No estudo populacional americano Physician’s Health
Study, em que foram avaliados marcadores tradicionais
de risco cardiovascular e novos marcadores que predizem
o risco de um futuro infarto agudo do miocárdio (IAM),
foi relatado que, em uma escala de zero a 6,0, a Lp(a)
ficou com índice 1,0 quanto ao risco de um futuro IAM,
enquanto que a relação CT/HDL obteve índice
aproximadamente igual a 3,0.
Em nosso trabalho, ao analisarmos a relação CT/HDL
dos grupos diabéticos, verificamos que os grupos 2 e 3,
onde existe um pobre controle glicêmico, a relação CT/
HDL foi significativamente mais elevada que no grupo
controle. Baixos níveis de HDL são associados com um Fig. 5 - Concentração de colesterol HDL nos diferentes grupos
de distintos valores de HbA1c. Os grupos assinalados com *
aumento do risco de DC e os altos níveis de HDL são apresentam diferença estatisticamente significativa em relação
associados a uma proteção às DC. Mesmo em pacientes ao grupo controle (P < 0,05).
com CT inferior a 200mg/dl, existe uma inversa
associação entre HDL e o risco de DC [20].
Podemos concluir com este trabalho, que a
concentração sérica da Lp(a) não sofreu influência do
controle glicêmico nos pacientes diabéticos, não
podemos portanto, associá-la a alta incidência de DC
em pacientes com DM. Ao contrário, a relação CT/HDL
está associada a um inadequado controle glicêmico e
pode ser um alto indício para o desenvolvimento da DC
em pacientes diabéticos. A falta de valor preditivo da
Lp(a) para DC em pacientes com DM foi corroborado
pela baixa correlação entre o aumento da relação CT/
HDL com os níveis da Lp(a) sérica (Fig. 4).

Fig. 3 - Níveis da relação colesterol total/HDL nos diferentes


grupos de distintos valores de HbA1c. Os grupos assinalados
com * apresentam diferença estatisticamente significativa em Fig. 6 - Concentração de colesterol LDL nos diferentes grupos
relação ao grupo controle (P < 0,05). de distintos valores de HbA1c.
284 Ardenghi C et al / Diabetes Clínica 04 (2002) 281~285

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Glucobay®
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Composição: cada comprimido de Glucobay® contém 50 mg ou 100 mg de acarbose.
Indicações: como complemento da dieta para reduzir a taxa de glicose no sangue em pacientes portadores de diabetes melito do tipo 2.
Contra-indicações: hipersensibilidade ao medicamento, cetoacidose diabética ou cirrose. Doença intestinal inflamatória, ulceração do
cólon, obstrução intestinal parcial ou predisposição à obstrução intestinal. Doenças intestinais crônicas com disfunção da digestão ou da
absorção. Precauções: a glicose oral (dextrose), cuja absorção não é inibida por Glucobay®, deve ser usada no lugar da sacarose (açúcar
de cana) no tratamento de hipoglicemia leve ou moderada, quando associado a outros hipoglicemiantes orais e/ou insulina. GlucobayÒ
não deve ser administrado durante a gestação, uma vez que não há dados disponíveis sobre seu uso em mulheres grávidas. Também não
deve ser indicado a menores de 18 anos. Interação medicamentosa: certos medicamentos tendem a produzir hiperglicemia: tiazídicos
e outros diuréticos, corticosteróides, fenotiazinas, produtos tiroidianos e estrogênicos, anticoncepcionais orais, fenitoína, ácido nicotínico,
simpatomiméticos, bloqueadores dos canais de cálcio e isoniazida. Reações adversas: dores abdominais, diarréia e flatulência, que
apresentaram tendência à redução com o passar do tempo. Aumento das transaminases séricas que parece estar relacionado com a dose.
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para prevenir eventuais efeitos gastrintestinais, a dosagem inicial alternativa é 50 mg (um comprimido), no início do jantar, por via oral,
nas duas primeiras semanas . Nas semanas 3 e 4, aumentar a dose para 2 comprimidos por dia (no início do almoço e no início do jantar),
passando a 3 comprimidos ao dia a partir da 5ª semana (com a primeira porção das principais refeições – café da manhã, almoço e
jantar). A dosagem deve ser ajustada com base nos níveis de glicemia pós-prandial de uma hora e na tolerabilidade. A dose de manutenção
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Atualização / Diabetes Clínica 04 (2002) 286~288
Diabetes 285
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 04 (2002) 286~288

ATUALIZAÇÃO

International Diabetes Federation


Posição sobre alimentação e nutrição

A terapia nutricional é um componente essencial no Objetivos do manejo nutricional


sucesso do manejo do diabetes. As estratégias
nutricionais apropriadas devem ser adaptadas ao Objetivos devem incluir:
indivíduo portador de diabetes. A compreensão dos • Alívio dos sintomas primários do diabetes [2].
efeitos metabólicos dos carboidratos, proteínas, gorduras • Promoção da saúde global através da nutrição
e insulina, o papel do alimento na socialização, e a relação • Ajuda na manutenção de níveis de glicose sanguínea
entre alimento e comportamento são fatores críticos para • Encorajamento para manutenção de um peso
o manejo do diabetes. corporal saudável
O objetivo da intervenção nutricional em indivíduos • Prevenção e tratamento das complicações agudas
portadores de diabetes é fazer as pessoas capazes de do diabetes, como hipoglicemia e hiperglicemia [1-3]
atingir/manter um ótimo estado de saúde. Metas devem • Realização de um plano individualizado de cuidados
ser individualizadas e determinadas após avaliação do e registro do consumo diário
estado nutricional. • Minimização a longo prazo das complicações micro
e macrovasculares, que resultam em morbidade e
Avaliação nutricional diminuição da esperança de vida associadas a todos os
tipos de diabetes [2].
A avaliação nutricional determina o status nutricional
atual do indivíduo e as necessidades nutricionais baseadas Prescrição nutricional
nos objetivos do tratamento e no aceitável ou razoável
para o indivíduo [1]. Condições de saúde concomitantes Teorias atuais sobre o papel da nutrição em diabetes
devem ser avaliadas e consideradas em qualquer são agora estabelecidas após séculos de controvérsias.
avaliação nutricional. Devem ser considerados a presença A primeira prescrição dietética conhecida para portadores
de complicações, educação, estilo de vida ou outros de diabetes foi feita em 1.500 a.c. no Papyrus Ebers
parâmetros psicológicos ou sociais . Os planos de (Egito), onde sementes de trigo, frutas e cerveja doce
tratamento para indivíduos com diabetes recentemente foram prescritos para curar a abundância de urina. Desde
diagnosticado devem incluir uma avaliação nutricional o século XVII, as intervenções nutricionais prescritas
e um plano de cuidados nutricionais. aos diabéticos variaram muito, baseadas na proporção
PB Atualização / Diabetes Clínica 04 (2002) 286~288

de macronutrientes – carboidratos, proteínas e gordura Educação nutricional deve ser centralizada sobre as
– na dieta [4]. As controvérsias sobre a distribuição mais alterações do estilo de vida, considerando o tipo de
conveniente de macronutrientes para promover a diabetes, idade, refeições fora da casa, viagens e planos
euglicemia continuam nas recomendações nutricionais de refeições, consumo moderado de álcool e atividade
em todo o mundo [5]. A Diabetes Education Consu- física. Deve ser enfatizada a redução de peso, mas
ltative Section recomenda que todas as prescrições também o controle glicêmico e lipídico.
nutricionais sejam adaptadas às necessidades
comportamentais, emocionais e médicas do paciente. Os Nutrição e diabetes tipo 1
guidelines deverão ser constantemente adaptados para
respeitar as melhores evidências. Quando possível, o tratamento deve ser adaptado à
alimentação habitual de ao padrão de exercícios do
Planos de refeições indivíduo portador de diabetes. Comer para responder
ao tratamento de insulina não é recomendado.
O plano de refeição ideal para o portador de diabetes Após plano de refeições e ajuste dos alimentos e/ou
depende de vários fatores: insulina em resposta ao monitoramento da glicose
• Tipo de diabetes sanguínea, os resultados foram significativamente
• Estilo de vida associados à diminuição dos níveis de HbA1c durante o
• Presença de fatores de risco associados, inclusa a Diabetes Control and Complications Trial (DCCT [9].
obesidade Desde o DCCT e a maior disponibilidade de análogos
• Preferências pessoais de insulina em vários partes do mundo, as estratégias de
• Ausência/presença de complicações e objetivos do nutrição e educação para as pessoas portadoras de
tratamento nutricional. diabetes tipo 1 são mais flexíveis para melhor atender as
necessidades dos diabéticos que trabalham.
O papel do nutricionista é individualizar os Quando possível, a terapia insulínica deve ser
requerimentos nutricionais (energia, composição em integrada na alimentação e modelos de exercício
macronutrientes e micronutrientes, distribuição das habituais dos indivíduos portadores de diabetes [1].
refeições e lanches) e formular um guia dietético, Comer para evitar os picos de insulina não é
considerando as referências de cada indivíduo, recomendado. Quando disponível, o monitoramento
disponibilidade dos alimentos, necessidades do estilo de regular da glicose sanguínea é recomendada para ajudar
vida, inclusas as crenças alimentares [5]. Em países e a compreensão da relação entre alimento, tratamento e
áreas onde os nutricionistas não existem, os profissionais atividade; o monitoramento é um guia para o ajuste da
de saúde devem usar a informação disponível sobre insulina. Os modelos de manejo do diabetes variam em
nutrição e diabetes para desenvolver planos de refeições. função da idade dos indivíduos e devem ser adaptados a
cada estado da vida.
Nutrição e diabetes tipo 2
Estratégias e ferramentas educacionais
O diabetes mellitus tipo 2 representa 90% dos casos
de diabetes. Em alguns países, mais de que 80% dos O uso de planos pré-estabelecidos não é recomendado.
diabéticos são obesos [6]. Alcançar um peso corporal Os profissionais de saúde têm saber e ferramentas para
aceitável é o objetivo do manejo nutricional para a individualizar os planos. É recomendado que, após
maioria dessas pessoas. avaliação, um plano de refeições individualizado ou
As necessidades energéticas dos diabéticos são recomendações individualizadas sejam dados a cada
semelhantes às da população geral. Indivíduos com paciente. Na ausência de nutricionistas treinados,
sobrepeso devem aumentar o nível de atividade física recomendações gerais podem ser um início útil. Outras
e adaptar a ingestão energética para alcançar um peso técnicas de educação incluem o uso de modelos visuais
razoável. Os indivíduos com peso normal devem tentar para descrever e ensinar os conceitos básicos do
manter o peso [7]. Existem evidências para a redução equilíbrio alimentar, tamanho dos pratos, preparação e
de pesos em pessoas diabéticas com sobrepeso. compras em feiras ou supermercado.
Conseguir essa alteração comportamental é difícil, com
poucas evidências no que se refere ao sucesso das O papel da nutrição na prevenção do diabetes e no
estratégias [8]. É importante anotar que as melhoras manejo das complicações
metabólicas e glicêmicas são realizados, na maioria dos
casos, sem normalização do peso corporal. Objetivos A nutrição tem um papel importante no manejo de
modestos, mas razoáveis, podem produzir melhores várias complicações, especificamente a doença
resultados a longo prazo. cardiovascular, hipertensão e nefropatia. Os diabéticos
Atualização / Diabetes Clínica 04 (2002) 286~288 287

têm níveis de colesterol e triglicérides mais elevados de com a pessoa portador de diabetes. A complexidade da
que a população geral [10]. Depósitos permanentes de informação e a velocidade do processo de educação são
gordura nas artérias coronarianas podem ser responsáveis determinadas pelos objetivos do paciente e de sua
de obstruções, resultando em diminuição de energia para capacidade [13].
o coração, o que pode causar ataque cardíaca. Já foi
demonstrado que o LDL-colesterol pode causar uma Conclusão
lesão endotelial inicial, contribuindo para o evento
aterosclerótico. Outros fatores contribuem, tais como Nutrição é um fator essencial do manejo de ambos os
hipertensão, tabagismo e talvez disfunção hormonal [11]. tipos de diabetes. A melhora da nutrição resulta em
A isquemia renal é responsável do aumento da menos complicações. Quando possível, os portadores de
produção de renina, que age sobre um substrato da renina diabetes devem ser avaliados por profissional treinado e
para produzir a angiotensina 1; esta é responsável da registrado. Quando os profissionais não são disponíveis,
produção de angiotensina 2, a qual age diretamente sobre as mensagens nutricionais devem ser consistentes e
o vaso sanguíneo (vasoconstrição). Também estimula a individualizadas às necessidades do paciente e
área glomerular do córtex adrenal, o qual na sua vez distribuídas através de material de educação escrito.
aumenta a pressão sanguinea.
Em indivíduos portadores de diabetes, a doença
macrovascular é responsável de 75% de todos os óbitos, Referências
principalmente após doença cardiovascular [12].
Estratégias de nutrição incluem diminuição de gordura, 1. American Diabetes Association. Nutrition recommendations
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nutrição deve cuidar de duas questões principais: os 8. Wing R. Behavioural treatment of obesity – Its application to
aspectos psicossociais da alimentação e o processo da type 2 diabetes. Diabetes Care 1993;16(1).
alteração comportamental. 9. Delananty L, \Halford B. The role of diet behaviors in
achieving improved glycaemic control in intensively treated
Estratégias educacionais patients in the Diabetes Control and Complications Trial.
Diabetes Care 1993;16(1).
10. Nikkila EA, Httunmen JK, Ehnholm C. Postheparin plasma
Alterar os modelos alimentares é melhor realizado lipoprotein lipase and hepatic lipase in diabetes mellitus.
usando etapas pequenas, simples e personalizadas, Relationship to plasma triglyceride metabolism. Diabetes
desenhadas para alcançar metas específicas. As 1977;26:11-21
necessidades dos indivíduos necessitam uma avaliação 11. Golstein IL, Brown MS. The low-density lipoprotein pathway
cuidadosa por profissional treinado. Uma vez os objetivos and its relation to atherosclerosis, Annual review of
Biochemistry 1977;46:897-930.
aceitados, é essencial que a intervenção seja efetuada de 12. Marble A. Diabetologia 1976;12:193.
maneira apropriada. A capacidade de entender, as 13. Meltzer et al. Clinical practice guidelines for the management
técnicas e o material de ensino devem ser considerados. of diabetes in Canadá. Canadian Medical Association Journal
A educação nutricional é um processo continuo, dividido 1998;8(suppl):159.
288 Diabetes Clínica 04 (2002)

Notícias das Associações

Portaria nº 371/GM, de 04 de março de 2002

O Ministro de Estado da Saúde, no uso de suas atribuições, considerando:


as atribuições comuns da União, dos Estados e dos Municípios brasileiros,
na garantia da atenção aos problemas prioritários de saúde da população,
estabelecida na Lei 8.080, de 19/09/90;
a Política Nacional de Medicamentos aprovada por meio da Portaria nº
3916, de 15/11/98, que estabelece as diretrizes, prioridades e responsabilidades
da Assistência Farmacêutica para os gestores federal, estaduais e municipais,
do Sistema Único de Saúde;
o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes
Mellitus aprovado pela Portaria/GM n° 16, de 03/01/2002, que estabelece a
organização da assistência, prevenção e promoção à saúde, a vinculação dos
usuários à rede, a implementação de programa de educação permanente em
hipertensão arterial, diabetes mellitus e demais fatores de risco para doenças
cardiovasculares, resolve;
Art. 1o Instituir o Programa Nacional de Assistência Farmacêutica para
Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, parte integrante do Plano Nacional
de Reorganização da Atenção a Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus.
Parágrafo único. O referido Programa será financiado e desenvolvido de
maneira solidária e pactuada pela União, Estados e Municípios.
Art. 2o O Programa a que se refere o artigo anterior tem os seguintes
objetivos:
I - implantar o cadastramento dos portadores de hipertensão e diabetes
mediante a instituição do Cadastro Nacional de Portadores de Hipertensão e
Diabetes a ser proposto pela Secretaria de Políticas de Saúde do Ministério da
Saúde e pactuado na Comissão Intergestores Tripartite - CIT;
II - ofertar de maneira contínua para a rede básica de saúde os medicamentos
para hipertensão hidroclorotiazida 25 mg, propanolol 40 mg e captopril 25
mg e diabetes metformina 850 mg , glibenclamida 5mg e insulina definidos
e propostos pelo Ministério da Saúde, validados e pactuados pelo Comitê do
Plano Nacional de Reorganização da Atenção a Hipertensão Arterial e Diabetes
e pela CIT;
III - acompanhar e avaliar os impactos na morbi-mortalidade para estas
doenças decorrentes da implementação do Programa Nacional.
Art. 3 o - Para execução do Programa ficam definidas as seguintes
responsabilidades:
I - Do gestor federal:
Notícias das Associações - Diabetes Clínica 04 (2002) 289

Continuação a) elaboração e apresentação a CIT das diretrizes e das modalidades de


operacionalização do referido Programa;
b) aquisição e fornecimento aos municípios dos medicamentos
padronizados para tratamento da Hipertensão Arterial e do Diabetes Mellitus
de forma a contemplar todos os pacientes cadastrados.
c) desenvolvimento e disponibilização para os municípios de instrumento
que permita o cadastramento e acompanhamento dos portadores das doenças
especificadas;
d) coordenação nacional do Programa em conjunto com as Secretarias
Estaduais e Municipais de Saúde;
e) elaboração e manutenção da base nacional do Cadastro Nacional de
Portadores de Hipertensão Arterial e Diabetes;
f) acompanhamento e avaliação do Programa quanto ao custo benefício,
modelos de gestão, adesão e operacionalização local, impactos
epidemiológicos e assistenciais.
II - Das Secretarias Estaduais:
a) coordenação estadual do Programa mediante estratégias que
fortaleçam a gestão das políticas de prevenção e tratamento da hipertensão e
diabetes;
b) acompanhamento e assessoria aos municípios no processo de adesão
ao Programa Nacional particularmente quanto às ações de prevenção e controle
clínico destas doenças;
c) assessoria aos municípios na implementação local do Cadastro
Nacional de Portadores de Hipertensão e Diabetes;
d) consolidação e manutenção no nível estadual do Cadastro Nacional
de Portadores de Hipertensão Arterial e Diabetes;
III - Das Secretarias Municipais de Saúde:
a) implementação em nível local, com apoio das Secretarias Estaduais
de Saúde, do Cadastro Nacional de Portadores de Hipertensão Arterial e
Diabetes Mellitus;
b) cadastramento dos pacientes e manutenção do Cadastro Nacional
atualizado;
c) garantia de acesso ao tratamento clínico aos portadores destas doenças
na rede básica de saúde;
d) participação nos processos de capacitação dos profissionais da rede
básica para o acompanhamento clínico destas doenças;
e) implantação de outras ações de promoção de hábitos e estilos de vida
saudáveis voltados para a melhoria do controle clínico destas doenças.
Art. 4o Os recursos orçamentários de que trata a presente portaria correrão
por conta do orçamento do Ministério da Saúde, devendo onerar o programa
de trabalho 10.303.0005.4368.0001 – atendimento à população com
medicamentos e insumos estratégicos.
Art. 5º A Secretaria Executiva e a Secretaria de Políticas de Saúde adotarão
em conjunto as medidas necessárias para a operacionalização do Programa.
Art. 6º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

Barjas Negri
290 Notícias das Associações - Diabetes Clínica 04 (2002)

Portaria Conjunta N.º 02, de 05 de março de 2002


A Secretária Executiva, Substituta e o Secretário de Políticas de Saúde, no
uso de suas atribuições e considerando:
a implantação do Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial
e ao Diabetes Mellitus em curso no país e a Portaria/GM/MS nº 371 de 04/03/
02 que institui o Programa Nacional de Assistência Farmacêutica para
Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus;
a reorganização da atenção aos segmentos populacionais expostos aos
fatores de risco para hipertensão arterial e diabetes mellitus e aos portadores
dessas doenças;
a definição da NOAS – SUS 01/01, em seu Capítulo I, item 1.2, detalhado
no Anexo I da Portaria GM n.º 95/01, que atribui como responsabilidade dos
municípios em Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada, o cadastramento
de portadores de hipertensão arterial e de diabetes mellitus, assim como a
atividade correspondente de alimentação e análise dos sistemas de informação;
a necessidade de ferramenta que possibilite o cadastro e acompanhamento
dos casos confirmados de hipertensão arterial e de diabetes mellitus;
o conhecimento de parâmetros reais que garantam o fornecimento contínuo
dos medicamentos aos pacientes hipertensos e diabéticos de acordo com a
padronização do Ministério da Saúde;
o conhecimento do perfil demográfico, clínico e epidemiológico da
população atingida, possibilitando a implementação de estratégias de saúde
pública que alterem o quadro sanitário atual, resolvem:
Art. 1º Disponibilizar, no âmbito da atenção básica, instrumento de cadastro
e acompanhamento dos portadores de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus,
Sishiperdia, para utilização pelos municípios.
Art. 2º É de responsabilidade da Secretaria de Políticas de Saúde, o
acompanhamento das informações a partir do instrumento disponibilizado
em articulação com o Datasus, cabendo ainda o estabelecimento de rotinas
que garantam o fornecimento contínuo dos medicamentos padronizados a
todos os pacientes cadastrados no Sishiperdia.
Art. 3º O instrumento de gestão ora instituído, tem, entre as demais funções,
interface com a Secretaria Executiva, fornecendo arquivo de periodicidade
mensal que garantirá o conhecimento dos quantitativos de medicamentos
prescritos em cada município para todos os pacientes cadastrados e
acompanhados no âmbito da atenção básica.
Art. 4º Estabelecer, através do Sishiperdia, o processo de acompanhamento
pelo nível federal do quantitativo de portadores de hipertensão arterial e
diabetes mellitus cadastrados por município, de forma a garantir o envio dos
medicamentos, a capacidade assistencial e cobertura populacional destas
doenças no âmbito da atenção básica, de acordo com o previsto na NOAS –
SUS 01/02, para estas áreas estratégicas.
Art. 5º O gestor municipal para integrar o Programa Nacional de Assistência
Farmacêutica para Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus deverá assinar o
Termo de Adesão, responsabilizando-se por integrar o programa de assistência
farmacêutica, cadastrar e acompanhar os portadores dessas doenças, de forma
a assegurar aos pacientes cadastrados o recebimento dos medicamentos
padronizados prescritos.
Art. 6º O Termo de Adesão, Anexo a essa portaria, está disponível no site
da Secretaria de Políticas de Saúde, a quem cabe a responsabilidade da
publicação dos municípios que aderirem ao programa.
Art. 7º O Termo de Adesão do município deverá ser encaminhado à
Coordenação Nacional do Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão
Notícias das Associações - Diabetes Clínica 04 (2002) 291

Continuação Arterial e ao Diabetes Mellitus/Programa Nacional de Assistência


Farmacêutica para Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, pelo correio para
o endereço Esplanada dos Ministérios, Ministério da Saúde, Bloco G, 6º andar,
sala 630, Brasília, DF, CEP 70058-900, ou pelo fax – 0XX-61-2260434.
Art. 8º Os medicamentos a serem fornecidos aos pacientes cadastrados são
os descritos a seguir, definidos pelo Comitê Técnico Nacional do Plano de
Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus:
Captopril 25mg, Propranolol 40mg, Hidroclorotiazida 25mg, Glibenclamida
5mg, Metformina 850mg. e insulina
Art. 9º O Ministério da Saúde fornecerá, de forma gradual e obedecido o
cronograma de distribuição,a partir de maio de 2002, quantitativo dos
medicamentos necessários para o tratamento dos pacientes cadastrados pelos
municípios.
§ 1º De acordo com a população residente, os municípios deverão atingir
os percentuais de cadastramento conforme a tabela abaixo, após 180 dias da
publicação do termo de adesão no Diário Oficial.

População Residente Percentual de pacientes cadastrados

Até 30.000 habitantes 80%


De 30.001 até 100.000 habitantes 60%
De 100.001 até 500.000 habitantes 40%
De 500.001 e mais habitantes 30%

§ 2º No período de cento e vinte dias após a publicação do termo de adesão


o município deverá apresentar tendência crescente no número de pacientes
cadastrados no Sishiperdia, de forma a, em doze meses, atingir o total de
pacientes de acordo com o quantitativo informado no referido Termo.
§ 3º Os municípios que não cadastrarem o total de pacientes informados
após doze meses de sua adesão serão avaliados pelas Secretarias Estaduais de
Saúde que enviarão relatório conclusivo para a Coordenação Nacional do
Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes
Mellitus, sobre o cumprimento dos compromissos com a atenção à saúde nas
áreas estratégicas de Controle da Hipertensão Arterial e do Diabetes Mellitus.
Art. 10. O instrumento de cadastro e acompanhamento dos portadores de
Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, Sishiperdia, assim como o Termo
de Adesão, encontram-se disponíveis para download no endereço eletrônico
http://www.saude.gov.br/sps/areastecnicas/cnhd/dados/home.htm e na BBS/
MS, área de conferência 25, Hiperdia.
Parágrafo único. Os municípios que dispuserem de internet devem preencher
o Termo de Adesão no formulário disponibilizado no site indicado no caput
deste artigo, ficando sob a responsabilidade da Secretaria de Políticas de Saúde
a avaliação do processo de recebimento e certificação.
Art. 11. Esta portaria entra em vigor na data de sua publicação.

Silvandira de Fátima da Silva Paiva - Secretária Executiva, Substituta


FernandesCláudio Duarte da Fonseca - Secretário de Políticas de Saúde
FICHA PRÁTICA
Diabetes
292 Clínica 13 12
Pé Diabético

Nesta Ficha Prática, serão enfocados a condução da avaliação clínica e o uso de alguns instrumentos
necessários ao screening do Pé em Risco enfatizando-se: 1) o diagnóstico da neuropatia diabética
periférica e da doença vascular periférica; além 2) da classificação clínica do pé em risco. As
informações são baseadas, como antecipado em Diabetes Clínica [1], na versão brasileira do
Consenso Internacional sobre Pé Diabético e suas Diretrizes Práticas [2] e alguns relatos recentes
(Prof. Dra. Hermelinda Pedrosa).

Neuropatia Diabética Periférica

A Neuropatia Diabética Periférica (NDP) é, inquestionavelmente, uma das


complicações que apresenta maior complexidade diagnóstica, diante da
variabilidade de metodologia, podendo estar presente em 50% dos pacientes
com Diabetes Mellitus tipo 2. A definição contida no Consenso Internacional é
a das Diretrizes para o Diagnóstico e Abordagem Ambulatorial da Neuropatia
Diabética Periférica [3]: “Presença de sintomas e/ou sinais de disfunção dos
nervos periféricos em pessoas com diabetes, após exclusão de outras causas”
[3]. No entanto, vale destacar que o diagnóstico não deve se basear apenas nos
sintomas, pois muitas vezes a úlcera pode ser o dado de apresentação de NDP.
Dessa forma, o exame clínico é crucial. Os quadros 1 e 2 contém,
respectivamente, as descrições mais freqüentemente relatadas e as características
da dor neuropática, além das sensibilidades a serem investigadas, as fibras
envolvidas e os instrumentos necessários à investigação [4,5].

Quadro 1 – Sintomas e características da dor neuropática


Sintomas (dor)
Dor em queimação
Pontadas
Agulhadas
Parestesia
Sensações de frio e quente
Características: início em repouso, melhora ao caminhar,
exacerbação noturna.

Quadro 2 – Sinais sensitivos e motores, fibras nervosas envolvidas e instrumentos de


investigação clínica
Sinais – sensitivos e motores Fibras nervosas Instrumentos necessários
Sensibilidade vibratória Grossa, mielinizada Diapasão 128 Hz
Sensibilidade protetora plantar Grossa, mielinizada Monofilamento 10 g (5.07),
cor laranja
Sensibilidade ao frio Fina, mielinizada Cabo do diapasão 128Hz
Sensibilidade dolorosa Fina, não mielinizada Pino, palito
Sensibilidade tátil Fina, não mielinizada Chumaço de algodão
Reflexos aquileus Grossa, motora Martelo

Endereço para correspondência: Profa Dra Hermelinda Cordeiro Pedrosa – Docente da Escola Superior em Ciências da Saúde, Fundação de
Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde, SES/DF; Membro Representante no Brasil: Grupo de Trabalho Internacional sobre Pé Diabético,
Centro de Investigação do Pé - SHLS 716 Centro Clínico Sul Torre II Salas 315/317 – Asa Sul – 79390-700 Brasília, DF,
Telefax: (61)345-5534, E-mail: pedrosahc@aol.com
FICHA PRÁTICA
Diabetes Clínica 13
293

Pé Diabético

As figuras ilustram a demonstração da avaliação clínica das sensibilidades,


passíveis de alteração, na NDP.
Para efeito de screening do ‘pé em risco´, referente a NDP, são
recomendações das Diretrizes Práticas [2] a verificação básica das
sensibilidades vibratória, protetora plantar e táctil. Dos instrumentos, o
monofilamento de 10g (cor laranja do kit brasileiro – SORRI*) é considerado
o mais sensível, simples e de baixo custo.

O diapasão 128 Hz deve ser aplicado no esterno, cotovelo ou clavícula do paciente


para demonstração do estímulo. O paciente deve manter os olhos fechados e o instru-
mento aplicado na falange distal do halux. Repita a aplicação 2 vezes, com uma
simulação (sem vibração). Se o paciente responde corretamente às aplicações, a sensibi-
lidade vibratória está presente. Caso seja impossível testar no halux, a aplicação pode
ser efetuada no maléolo ou tuberosidade tibial. Encoraje o paciente durante o teste. Aplicação do diapasão 128 Hz

Aplicação do monofilamento de 10g

Não há consenso quanto aos locais e número de vezes para aplicação do


monofilamento de 10g. O Consenso Internacional recomenda os haluces, 1o e
5o metatarsos; a SBD (Consenso, 1999) recomenda além desseas áreas, os 3o
, 5o metatarsos e pododáctilos. O exame deve ser realizado em local calmo e o
paciente deve receber uma aplicação na mão para reconhecer o teste. Pede-se
para que feche os olhos e realiza-se a aplicação de modo randomizado nos
locais referidos acima. A força deve ser suficiente apenas para curvar o
monifilamento e a duração do contato do instrumento com a pele testada não
ultrapassa 2 segundos. Não aplique em úlceras, calos, cicatrizes, necroses e
evite deslizar o monofilamento. Pergunte ao paciente se ele sente a pressão e
onde está sentindo. Repita a aplicação 2 vezes no mesmo local, alternando
com uma simulação. A sensação protetora plantar está presente se o paciente
responde a duas perguntas corretamente. Procure encorajar o paciente durante
o teste. Qualquer área insensível indica risco de ulceração.

Locais de teste

* SORRI - Instituição Beneficiente localizada em Bauru


FICHA PRÁTICA
Diabetes
294 Clínica 13 12
Pé Diabético

Doença Vascular Periférica

A DVP, responsável pelas lesões resultantes da insuficiência artéria no contexto


da síndrome do Pé Diabético, emerge como um dos fatores mais importantes para
o desfecho evolutivo de uma úlcera [9]. A ateroesclerose acarreta isquemia, a
calcificação da camada média produz um conduto rígido que não invade o lúmen
arterial, mas interfere com medidas de pressão nos membros inferiores. O
componente microvascular, por sua vez, não deve ser encarado como um fator
diretamente envolvido nas lesões ulceradas [10]. O quadro 3 mostra as
características da DVP:

Quadro 3 – Características da doença vascular no Diabetes Mellitus


É mais freqüente
Acomete indivíduos jovens
Não há distinção entre os sexos
Progride rapidamente
A distribuição é multisegmentar e distal

Para o diagnóstico da DVP os seguintes passos devem ser seguidos [10], a


partir de uma avaliação anual:
· História clínica: claudicação intermitente ou dor isquêmica em repouso
(podem estar ausentes se há ND);
· Sinais: cianose, palidez à elevação, temperatura diminuída;
· Palpação dos pulsos arteriais pediosos e tibiais posteriores;
(registrar como ausente ou diminuídos, confirmando-se com outro observador)
· Testes não invasivos: pressão arterial sistólica, índice tornozelo/braço - ITB:
indicativo de isquemia < 0.9 > 1.15 **, pressão transcutânea de oxigênio.
Como os dados colhidos da história clínica e do próprio exame clínico
podem ser imprecisos, sugere-se a realização de testes não invasivos,
inicialmente, e na impossibilidade encaminhar a serviços especializados ou
diretamente à cirurgia vascular periférica [11]. O quadro 4 identifica esses
testes e respectivos pontos de corte de normalidade. Vale salientar que, tais
testes são aplicados em centros especializados multidisciplinares,

Quadro 4 – Testes não invasivos da doença vascular periférica:


critérios de normalidade
Pressão sistólica do tornozelo > 100 mmHg
Pressão sistólica do pododáctilo > 30 mmHg
Pressão transcutânea de oxigênio > 20 mmmHg

Outro aspecto importante, visando a sistematização dos achados e


encaminhamento adequado aos serviços especializados, é o uso da
Classificação de La Fontaine (quadro 5), que é bastante utilizada, com a
ressalva de alguma imprecisão em pacientes com isquemia periférica grave,
porém assintomáticos pela perda da sensibilidade devido a NDP.

** ITB - pressão arterial sistólica do tornozelo dividida pela do braço, em posição supin, valores abaixo de 0.9 requerem avaliação
mais detalhada e acima de 1.15 pode indicar calcificação arrterial.
FICHA PRÁTICA
Diabetes Clínica 13
295

Pé Diabético

Quadro 5 – Classificação de La Fontaine


Estágio 1: Doença oclusiva, assintomática
Estágio 2: Claudicação intermitente
Estágio 3: Doer em repouso
Estágio 4: Úlcera, gangrena

Referências:

1. Pedrosa HC. Por que um Consenso Internacional sobre Pé Diabético ? Diabetes Clínica
2002;6(2):135-138
2. Grupo de Trabalho Internacional sobre Pé Diabético. Consenso Internacional sobre Pé
Diabético. Pedrosa HC, Andrade AC (coord., trads.), SES/DF (ed.), 2001
3. Boulton SJM, Gries FA, Jervell JÁ. Guidelines for the diagnosis and outpatient
management of diabetic peripheral neuropathy. Diabetic Med 1998;15:508-514
4. Boulton AJM. The pathogenesis of diabetic foot problems: an overview. Diabetic Med
1996; 13 (suppl 1):S12-S16
5. Scott LV, Tesfaye S. Mensuração da neuropatia somática para a prática clínica e para os
estudos clínicos. Current Diabetes Reports Latin América 2002, 1:204-210
6. Abbot CA, Vileikyte L, Williamson S et al. Multicenter study of the incidence of and
predictive risk factors of diabetic neurophatic foot ulceration. Diabetes Care
1998;7:1071-1075
7. Armstrong DG, Lavery LA, Harkless LB. Who is at risk for diabetic ulceration ? Clin
Podiatr Med Surg 1998; 1:11-19
8. Kummar S, Fernando DJS, Veves A, Boulton AJM. Semmes-Weinstein monofilaments:
a simple, effective and inexpesnive screening device for identifying diabetic patients at
risk of foot ulceration. Diabets Res Clin Pract 1991;13:63-68
9. Second European Consensus Document on Chronic Critical Ischaemia. Eur J Vasc Surg
1992:6 (Suppl A)
10. Boyko EJ, Ahroni JH, Davignon D, Stensel V, Prigeen RL, Smith DG. Diagnostic
utility of the history an physical examination for peripheral vascular disease among
patients with diabetes mellitus. J Clin Epidemiol 1997;50(6):659-668
11. Apelqvist J, Castenfors J, Larsson J, Stentrom A, Agarth CD. Prognostic value of
systolic ankle and toe blood pressure levels in outcome of diabetic foot ulcer. Diabetes
Care 1989; 12:373-378
296 Diabetes Clínica 04 (2002)

7º Congresso Brasileiro Multiprofissional em Diabetes


7ºExposição Nacional de Produtos e Alimentos para Diabéticos
Dias 26, 27 e 28 de Julho de 2002 - Fundação Alvares Penteado - FECAP - São Paulo - SP
DISTRIBUIÇÃO DOS SIMPÓSIOS POR SALA
Abertura solene: auditório Conde Honório Complicações do Diabetes Mellitus Tipo o real
Álvares Penteado, de 08:30 às 10:00 1 - Como monitorá-las Diabetes Mellitus na Infância: O ideal e
Transmissão simultânea nas salas do Novas Insulinas - Novas Perspectivas o Real
6º andar – bloco C Terapêuticas Diabetes Mellitus no Idoso: O Ideal e o
Cetoacidose Diabética - Experiência do Real
SEXTA, 26 DE JULHO DE 2002 Instituto da Criança -FMUSP Diabetes Mellitus na Gestação: O Ideal
Manhã de 10 às 12 horas e o Real
Simpósio 5 - Sala 332 Dietoterapia e Dificuldades: O Ideal e o
Simpósio 1 Educação em Diabetes Real
Diabetes Mellitus : Estado atual Aspectos Fundamentais da Educação em Dificuldade do Relacionamento Afetivo
Conferência de abertura: Resultados Diabetes Sexual
Atuais do Plano de Reorganização da A Comunicação na Educação em Diabetes
Atenção ao Diabetes Mellitus e Hiper- Recursos humanos na Educação em SÁBADO, 27 DE JULHO DE 2002
tensão Arterial do Ministério da Saúde Diabetes
Manhã de 8 às 12 horas
Do Presente para o Futuro : O impacto Adesão ao Tratamento: Estratégias -
do Diabetes Benefícios - Dificuldades Simpósio 10 - Auditório
Desvendando a Biologia Molecular da Projeto de Monitorização. Controle e Atualização em Terapia Nutricional do
Síndrome da Resistência à Insulina Avaliação de Doenças Crônicas Não Diabetes Mellitus
Transmissíveis – Importância da Terapia Nutricional na Síndrome
Simpósio 2 - Auditório Educação Continuada Metabólica
Aspectos Básicos da Terapia Nutricional Acompanhamento Nutricional e Controle
em Diabetes Mellitus Simpósio 6 - Sala 333
Diabetes - Diagnóstico e Acompanha- Metabólico Após Cirurgia Bariátrica
Conduta Nutricional Atual e Contagem
de Carboídratos mento Laboratorial Biologia Molecular na Prevenção e
O Paciente Diabético em Atividade Monitorização da Glicemia Tratamento do Diabetes Mellitus
Física - Como Evitar e Tratar a Controle de Qualidade Terapia Nutricional no Pré e Pós
Hipoglicemia Recursos Diagnósticos Atuais Transplante Simultâneo de Rim e
Orientação Nutricional em Situações Monitorização Laboratorial do Paciente Pâncreas
Diabético
Especiais Simpósio 11 - Sala 131
Importância Clínica do Controle
Terapia Nutricional da Gestante Diabética - Metabólico/Laboratorial Hiperglicemia Pós Prandial
Experiências de um Centro de Referência Atualização
Simpósio 7 - Sala 334 Hiperglicemia Pós Prandial. Sua Impor-
Simpósio 3 - Sala 131 Atuação da Enfermagem: Insulinoterapia tância e Implicações Clinicas
Dislipidemias e Diabetes Insulinas : Uma Abordagem Conceitual Nateglinida : Aspectos Atuais
Novas Interpretações dos Mecanismos Via e Locais de Aplicação: Facilitando a Apresentação do Projeto Navegator:
Fisiopatológicos Auto Aplicação Nateglinida , Metformina , Valsartan
Os Consensos Nacionais e Internacionais Workshop
sobre Dislipidemias: Implicações para Simpósio 12
Diabéticos Simpósio 8 - Sala 531 Repaglinida no Contrôle da
As Grandes Investigações Epidemio- Nefropatia Diabética e Hipertensão Hiperglicemia Pós Prandial: Dados
lógicas sobre Dislipidemias Arterial Atuais
Diagnóstico Labotatorial e Bases do Etiopatogenia da Hipertensão Arterial no Repaglinidas na Regulação da
Tratamento Clínico Paciente Diabético Hiperglicemia Pós Prandial: Dados
Prevenção da Doença Cardiovascular: História Natural da Nefropatia Diabética Atuais
Aspecto Clínico e Fisiopatológico no Paciente Hipertenso Discussão de Casos Alínicos
Relacionados ao Tratamento Dietético Tratamento Não Medicamentoso do
Paciente Hipertenso com Nefropatia Simpósio 13 - Sala 331
Simpósio 4 - Sala 331 Diabética Resistência à Insulina
Atualização em Diabetes Mellitus na Tratamento Medicamentoso do Paciente Resistência à Insulina Como Marcadora
Infância e Adolescência Hipertenso com Nefropatia Diabética de Risco Cardiovascular
Possibilidades Etiológicas - Novos Identificando Paciente de Risco. Quanto Métodos de Investigação da Resistência
Enfoques Mais Cedo Melhor à Insulina: Da Pesquisa à Prática Clínica
Diagnóstico e Tratamento Ambulatorial O conceito da Resistência à Insulina na
do Diabetes Mellitus Tipo 2 na Infância Simpósio 9 - Sala 532 Prática Médica
e Adolescência Dificuldades no Atendimento: O ideal e Rosiglitazona
Diabetes Clínica 04 (2002) 297

Simpósio 14 - Sala 332 Paradigma no Tratamento do Diabetes Tadalafil: Avanços no Tratamento da


Estratégias de Educação em Diabetes Mellitus Tipo 2 Disfunção Erétil
Mellitus : Experiência de Diferentes Análise Crítica dos Fármacos Atuais Cirurgia Vascular: Atuação e Resultados
Serviços Antiobesidade
Currículo Modelo Para Treinamento de Cirurgia Bariatrica em Obesos Mórbidos Simpósio 26 - Sala 531
Educadores - International Diabetes com Diabetes Mellitus Evolução dos Transplantes de Pâncreas
Federation Diferentes Tipos de Indicações e Contra-
Educação e Qualidade da Atenção de Simpósio 20 - Sala 131 Indicações - Estatísticas Mundiais
Pessoas com Diabetes - Cenexa - La Plata Recentes Avanços na Terapeutica Transplantes Isolados e Simultâneos -
- Argentina Insuliníca: Novos Esquemas Maior Experiência no Brasil
Programa de Educação do IEDE - Rio Insulinas de Ação Intermediária NPH : Programa de Transplante da UNIFESP-
de Janeiro - Brasil Uso Noturno - Multiplas Doses EPM
“The Harvard Diabetes Educational Insulinas de Ação Lenta (glargina) no Imunosupressão e Seguimentos dos
Program”- USA Diabetes Mellitus Tipo 1 e Tipo 2 Transplantados
CEDEBA : Modelo Estatal - Sec.de Insulina Lispro: 6 Anos Depois - Análise Transplantes de Ilhotas : Do Laboratório
Saúde do Estado da Bahia - Brasil Crítica a Clínica

Simpósio 15 - Sala 333 Simpósio 21 Simpósio 27 - Sala 531


Abordagem do Pé em Risco Lançamento : Insulina ASPART : Uma Atualização em Neuropatias Diabéticas
Fisiopatologia Escolha Para o Tratamento Intensivo do Diagnóstico Clínico das Polineuropatias
Avaliação Rastreamento e Classificação Diabetes Tipo 1 e 2 Somáticas e Autonômicas
Úlcera Neuropática - Atualização Apresentando a Insulina ASPART Como Avaliar o Resultado do Tratamento
Programa Detecção Manejo do Pé em Guia Prático Para o Tratamento da Polineuropatia Diabética
Risco Insulínico Intensivo Como Retardar a Progressão das
Consenso Internacional do Pé Diabético Polineuropatias do Diabetes
Simpósio 22 - Sala 331 Tratamento Sintomático das Neuropatias
Simpósio 16 - Sala 334 Pioglitazona Atualização Terapêutica. Da Somáticas
Atuação da Enfermagem : Monitorização Descoberta à Prática
Avaliação Crítica e Recentes Significado Clínico do PPAR Gama e
Alfa DOMINGO, 28 DE JULHO DE 2002
lançamentos Manhã de 8 às 12 horas
Avaliando o Diário : Principais Perfil de Segurança e Interação Médica
Orientações -Mentora
Efeitos Inibitórios da Pioglitazona no Simpósio 28 - Auditório
Experiência Prática Marketing, Comunicação e Tecnologia
Work shop Processo de Aterogenese
Discussão de Casos Clínicos - Uso da em Nutrição
Pioglitazona A Internet como Ferramenta de Trabalho
Simpósio 17 - Sala 531 do Nutricionista
Insuficiência Renal - Fase Terminal Informação Nutricional - Como Orientar
Nefropatia Diabética - Quadro Atual e Simpósio 23 - Sala 332
Intercorrências do Diabético Hospitalizado o Paciente Diabético
nos Últimos Anos O Diabético e Alimentação Fora de Casa
Insulinoterapia e Hipotensores na “Early Diagnosis of Ketosis in Clinical
Insuficiência Renal Practice” Ética na Comunicação em Nutrição
Nefropatia Diabética e Seu Manejo por “Ketosis and Ketoacidosis: Advances in Evolução dos Produtos Dietéticos no
Outras Especialidades Médicas our Understandig” Brasil
Transplante Renal e Diabetes Insulinoterapia nas Hospitalizações
Cirúrgicas e Infecciosas Simpósio 29 - Sala 131
Simpósio 18 - Sala 532 Nutrição Enteral e Parenteral: Quando e Diabetes Mellitus e Infecções Virais
Genética do Diabetes Mellitus Como Crônicas
Genética da Resistência Insulínica Alterações Metabólicas do Tratamento
Genética do Diabetes Mellitus Tipo 2 Simpósio 24 - Sala 333 Antiviral do HIV
Marcadores Imunogenéticos no Diabetes Terapeuticas no Pé Diabético Lipodistrofia e Diabetes no Contexto da
Mellitus Tipo1 Ulcera - Infecção: Como Abordar AIDS
Genética do Diabetes Mellitus Tipo 1 Alivio da Pressão Plantar Tratamento do Diabético HIV Positivo
Diabetes Monogênico Calçados Terapêuticos: Como Prescrever Alterações Metabólicas Decorrentes das
Valor da Propedêutica Vascular nas Hepatopatias
Tarde de 14 às 18 horas
Lesões do Calcanhar Tratamento do Diabético com Hepatopatia

Simpósio 19 - Auditório Simpósio 25 - Sala 334 Simpósio 30 - Sala 331


Diabesidade - O Elo Metabólico Diabetes: Gravidez - Hormonioterapia - Doenças Cardio Vascular no Diabetes
Fisiopatologia. Fatores Neuro Sexualidade O Diabetes e a Doença Coronária
Endocrinos Associados a Obesidade Assistência na Gravidez A Síndrome Plurimetabólica e a Doença
Apetite: Controle Hipotalâmico - Anticoncepção na Mulher com Diabetes Endotelial
Neurohormônios Hormonioterapia: Climatério e O Tratamento Invasivo da Doença
Tecido Adiposo : Novo Orgão Endocrino Menopausa Coronariana no Diabetes : Vantagens e
Hiperglicemia e Hiperinsulinemia Como Atualização em Disfunção Erétil Risco
298 Diabetes Clínica 04 (2002)

Avaliação Diagnóstica da Doença Diabético Simpósio 41 - Sala 333


Vascular Periférica no Paciente Diabético Interações Medicamentosas - “O cuidado A Abordagem Fisioterapêutica no
Tratamento Cirúrgico da Doença ao Prescrever” Diabetes Mellitus
Vascular Periférica no Paciente Diabético Tarde de 14 às 18 horas Fisioterapia em Diabetes
Reabilitação Fisioterapêutica do Pé
Simpósio 31 - Sala 332 Simpósio 37 - Auditório Diabético
Oftalmopatias Educação Nutricional em Diabetes Reabilitação Fisioterapêutica com
Cuidados Especiais aos Pacientes Mellitus Orteses Plantares Termo Moldáveis
Diabéticos Conceitos e Princípios Básicos de Combinação de Ultra Som e Atividade
Entendendo a Retinopatia Diabética Educação Nutricional em Diabetes Física
Os Tratamentos da Retinopatia: Estratégias em Educação Nutricional no Intervenção Fisioterapêutica nas
Fundamentos e Perspectivas Diabetes Amputações
Os Segredos Para a Prevenção Work shop - Vivência de Oficinas de
Atendimento Público “Mutirão Olho Nutrição Simpósio 42 - Sala 334
Diabético” Atividade Paralela
Simpósio 37 - Auditório Apresentação Oral de Temas Livres
Simpósio 32 - Sala 333 Educação Nutricional em Diabetes (cada 15 min)
Terapia com Bomba de Infusão Mellitus
Uma Visão Crítica: Quem Pode Usar e Conceitos e Princípios Básicos de Simpósio 43 - Sala 531
Porque ? Educação Nutricional em Diabetes Exercício em Condições Especiais
Contagem de Carboidratos na Estratégias em Educação Nutricional no Controle Cardiovascular Durante o
Insulinoterapia Diabetes Exercício na Neuropatia Autonômica
Work shop Work shop - Vivência de Oficinas de Diabética
Nutrição Exercício Físico, Diabetes e Dislipidemia
Simpósio 33 Exercício Físico, Resistência Insulínica
Hipoglicemias Simpósio 38 - Sala 131 e Obesidade
Diagnóstico e Tratamento das Prevenção e Infecções em Diabetes Resposta Metabólica ao Exercício em
Hipoglicemias Não Diabética Imunização - Vacinas nos Portadores de Diabéticos com Glibenclamida ou
Abordagem das Diferentes Manifes- Diabetes Metformina
tações das Hipoglicemias do Diabetes Acarbose - Prevenção do Diabetes - O Exercício na Prevenção das Compli-
Mellitus Melhoria do Controle Glicêmico cações do Diabetes
Dermatopatias em Diabetes
Simpósio 34 - Sala 334 Prevenção Farmacológica da Retinopatia Simpósio 44 - Sala 532
Reunião Fenad Diabética Avaliação Odontológica e Conduta
Apresentação das Associações Infecção Urinária Crônica - Tratamento Pacientes Diabéticos na 3ª Idade.
ID–Região SACA: Constituição e e Prevenção Abordagem Multidisciplinar.
Atuação Plano de Tratamento Odontológico ao
Discussão Paciente Diabético
Planejamento de Atividades 2002 e 2003 Simpósio 39 - Sala 331 Cuidados Importantes nos Atendimento
– Dia Mundial do Diabetes 2002, Psicologia em Diabetes a Pacientes Especiais com Diabetes
Vacinação em Idoso com Diabetes Abordagem do Diabetes na Infância, Sucessos e Insucessos nas Cirurgias
Discussão Adolescência, Adultos e Idosos Orais em Pacientes Diabéticos
A Experiência Emocional no Adoecer Urgências e Emergências Sistêmicas e
Simpósio 35 - Sala 531 Diabético
Exercívios e Diabetes Mellitus Odontológicas em Pacientes Diabéticos
Contribuição da Psicologia Para melhoria
Obesidade , Sedentarismo e Diabetes da Qualidade de Vida
Exercício e Bomba de Infusão e Insulina Aprendizagem da Autopercepção das
Avaliação e Prescrição Flutuações Glicemicas em Crianças
Exercício e Resistência à Insulina Aplicação de Principios da Psicologia em
Resposta Hormonal e Hemodinâmica do um Programa de Atividade Física da
Exercício Psicologia em um Programa de Atividade
Física
Simpósio 36 - Sala 532
Abordagem Odontológica do Paciente Simpósio 40 - Sala 332
Diabético Terapias Complementares
Protocolo de Atendimento a Pacientes Nutrientes Essenciais Ajudam a
Diabéticos Controlar e a Diminuir as Complicações
Abordagem Psicológica do Paciente no Diabetes
Diabético no Tratamento Odontológico Homeopatia no Diabetes: Uma Proposta
Manifestações Orais Importantes no Terapêutica Complementar
Paciente Diabético (Aspecto Clínico e Fitoterapia: Vegetais que Ajudam no
Tratamento) Controle do Diabetes
Exames Fundamentais Para o Planeja- Acupuntura e Diabetes
mento do Tratamento do Paciente Atuação da Podologia e seus Benefícios
299

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300 Diabetes Clínica 04 (2002)

Calendário de Eventos
JULHO DE 2002 SETEMBRO DE 2002
26 a 28 de julho 1 a 5 de setembro
7o Congresso Brasileiro Multiprofissional em diabetes 38th Annual Meeting European Association for the Study of Diabetes
7ª Exposição Nacional de produtos e alimentos para portadores de EASD 2002
diabetes Budapest, Hungria
Fundação Álvares Penteado – FECAP, São Paulo – SP Informações: Blaguss-Volánbusz Congress Bureau, POB 706,
Informações: ANAD (11) 5572-6559 1365 Budapest 5 - Hungria
Fax: (11) 5549-6704 Tel: +36 1 374 7030, 331 5627, Fax: 312 1582
www.anad.org.br/congres7.htm E-mail: easd2002@congress.blavo.hu
E-mail: anad@anad.org.br 7 a 11 de setembro
5th International Congress of Neuroendocrinology
AGOSTO DE 2002 Bristol, Reino Unido
Tel: +44 (0) 1454 642-211
7 a 11 de agosto
www.bioscientifica.com/icn2002.htm
29th Annual Meeting e Educational Program American Association
of Diabetes Educators 17 a 21 de setembro
Pennsylvania Convention Center, Philadelphia, Pennsylvania 52nd Annual Obesity and Associated Conditions Symposium
Tel: (312) 424-2426 Westin Copley Place, Boston, Massachusetts
www.aadenet.org/annual.htm Informações: The American Society of Bariatric Physicians
Tel: (303) 770 2526
16 a 17 de agosto
Fax: (303) 779 4834
5o SIMEP – Simpósio de Endocrinologia Pediátrica do Estado de
E-mail: bariatric@asbp.org
Rio de Janeiro
www.asbp.org
Colégio Brasileiro de Cirurgiões
Informações: (21) 2531-3313 18 a 21 de setembro
International Society for Pediatric and Adolescent Diabetes Meeting
16 a 18 de agosto
Graz, Austria
VIIIo Encontro gaúcho de diabetes
Informações: Prof. Dr. Martin Borkenstein,
AMRIGS, Porto Alegre
Tel: +43-316-385-2610
Presidente: prof. Dr. Balduino Tschiedel
Fax: +43-316-385-3257
Informações: (51) 3330 1134
E-mail: martin.borkenstein@kfunigraz.ac.at
18 a 23 de agosto www.ispad2002graz.at/
XIXo International Congress of the Transplantation Society
20 a 22 de setembro
Buenos Aires, Argentina
MDRF-ADA PG Course
Tel: 54 11 4381 1777
Chennai, Índia
Fax: 54 11 4382 6703
mvdsc@vsnl.com.or
E-mail: info@transplantation2002.com
drmohan@giasmd01.vsnl.net.in
24 a 29 de agosto
21 a 25 de setembro
9th International Congress on Obesity
25º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia
Hotel Transamérica, São Paulo, SP
Blue Tree Towers - Brasília - DF
Informações: www.abeso.org.br
Informações: SBEM
Tel: (11) 3079-2298
Tel: (21) 2507-5189 Fax: (21) 2221-7577 ramal 1193
Fax: (11) 3079-4232
E-mail: sbem.rj@openlink.com.br
24 a 29 de agosto
26 a 29 de setembro
12th Annual Scientific Meeting of the Diabetic Neuropathy Study
IVo Expo – Qualidade de vida
Group of the EASD (NEURODIAB)
Centro de eventos São Luis,
Balatonfüred, Lake Balaton, Hungria
Rua Luiz Coelho, 340, São Paulo SP
Tel:+49-211-33821
Informações: (11) 3849-6438 ramal 24
E-mail: dan.ziegler@ddfi.uni-duesseldorf.de
Website: www.neurodiab.org
30 a 31 de agosto OUTUBRO DE 2002
9th International Congress on Obesity 2 a 5 de outubro
Satellite Symposium – Obesity, Hormones and the Metabolic VIIIo European Symposium on Metabolism
Syndrome The Metabolic Syndrome, Diabetes, Obesity and Hyperlipidemia
Hotel Glória, Rio de Janeiro – RJ Padova, Itália
Informações (21) 2286-2846 Tel: +39-049-8212154 or 8758166
www.jz.com.br gaetano.crepaldi@unipd.it
Diabetes Clínica 04 (2002) 301

2 a 6 de outubro Tel: 972 3 514 0014


6th International Congress of the Immunology of Diabetes Society E-mail: conventions@kenes.com
and ADA Research Symposium
Copper Mountain, Colorado
Informações: www.diabetes.org
ABRIL DE 2003
26 a 30 de abril
4 a 6 de outubro
6th European Congress of Endocrinology
XXIVo Congress of Endocrinology and metabolic diseases of Turkey
Lyon, França
Istambul, Turquia
Informações: W.M. Wiersinga
Informações: +90 312 310 5350
Department of Endocrinology & Metabolism
E-mail: president@semt.org.tr
Academic Medical Center F5-171
www.semt.org.tr
Meibergdreef 9
5 a 9 de outubro 1105 AZ Amsterdam - The Netherlands
VIo International Congress on Endocrine Diseases Tel.: 31 20 566 6071
Teheran, Irã Fax: 31 20 691 7682
Informações: +98 21 241 6282 w.m.wiersinga@amc.uva.nl
E-mail: iced@erc-iran.com
www.erc-iran.com/iced
10 a 12 de outubro
MAIO DE 2003
25th International Symposium on Sports Sciences 29 de maio a 1 de junho
Centro de Convenções Rebouças, São Paulo 12th European Congress on Obesity
Informações: CELAFISCS Helsinki, Finland
(11) 4229 8980/4229-9643 Informações: Dr. Mikael Fogelholm
www.celafiscs.com.br UKK Institute for Health Promotion Research,
POB 30, 33501 Tampere, Finland
24 a 27 de outubro
Tel: + 358 3 2829 201
EASD Islet Study Group
Fax: + 358 3 2829 559
Joint Meeting of the EASD Islet Study Group and the Boston
e-mail: mikael.fogelholm@uta.fi
Sea Crest Ocean Front Resort
North Falmouth, Massachusetts
Informações: www.diabetes.org JUNHO DE 2003
29 de outubro – 1 de novembro 14 a 17 de junho
VIo Cuban Congress on Immunology of Diabetes 63th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes
Hotel Neptuno-Tritón, Havana, Cuba Association
Informações: Dr. Rolando Suárez Pérez New Orleans, Louisiana - USA
National Inst. of Endocrinology, Dep. of Immunology of Diabetes Informações: +1 800 232 3472
Havana 10400 Cuba E-mail: meetings@diabetes.org
Tel: +53-7-327275 www.diabetes.org
e-mail: diabetes@infomed.sld.cu / inen@infomed.sld.cu
AGOSTO DE 2003
DEZEMBRO DE 2002 6 a 10 de agosto
5 a 7 de dezembro 30th Annual Meeting of the American Association of Diabetes
VIIo Congresso Brasileiro de Nutrologia Educators
Io Simpósio interdisciplinar de apoio nutricional para enfermeiros, Salt Palace Convention Center,
nutricionistas, psicólogos, professores de educação física e Salt Lake City, Utah
fisioterapeutas Tel: (312) 424 2426
Othon Palace Hotel, em Salvador – BA www.aadenet.org
Informações: ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia) 24 a 29 de agosto
Tel: (17) 523 9732 e 523 3645 18th Internacional Diabetes Federation Congress
E-mail: abran.sp@ig.com.br Paris, França
Informações: Prof. Dr. Gerard Cathelineau,
FEVEREIRO DE 2003 Hopital Saint-Louis,
1 avenue Claude Vellefaux, 75010
3th International Symposium on Diabetes & Pregnancy
Paris, França
Geneva, Switzerland
Tel : +33 1 4249 9697
Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500 Israel
www.idf.org
302
Normas de publicação Diabetes Clínica
A revista Diabetes Clínica é uma publicação com relacionadas ao Diabetes, ao encargo do Comitê Científico,
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e bem como remetida espontaneamente pelo autor, cujo interesse
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas ao e atualidade interessem a publicação na revista.
Diabetes. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos
artigos originais.
Os artigos publicados em Diabetes Clínica poderão também
ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim 4. Comunicação breve
como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com
surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem
autores já aceitem estas condições. observações, resultados iniciais de estudos em curso, e
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical revista, com condições de argumentação mais extensa que na
journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado seção de cartas do leitor.
pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho
completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito,
International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), itálico, sobre-escrito, etc.
www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser
da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo editados em Power Point, Excel, etc
eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que bibliográficas.
será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou 5. Resumos
retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do
conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros
idiomas.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou 6. Correspondência
por um de seus membros. Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times relacionados à linha editorial da revista.
Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, Caso estejam relacionados a artigos anteriormente
itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes
que dez referências. de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as
2. Artigos originais especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas
Serão considerados para publicação, aqueles não publicados ou figuras.
anteriormente, tampouco remetidos a outras publicações, que
versem sobre investigação, clínica, diagnóstico, terapêutica e
tratamento dentro das áreas definidas anteriormente. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 1. Normas gerais
12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em
itálico, sobre-escrito, etc. processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times
Excel/Word. Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
(formatos .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power- 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para
Point, Excel, etc. cada tabela junto à mesma.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com
bibliográficas. as especificações anteriores.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas,
o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e
concisão da exposição, assim como a qualidade literária do desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
texto. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,
introdução, material e métodos, resultados, discussão,
3. Revisão conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave
Normas de publicação Diabetes Clínica 303

(key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio


de disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos 5. Referências
enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) As referências bibliográficas devem seguir o estilo
anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências
disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos
informação dos arquivos, tais como o processador de texto entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem
utilizado e outros programas e sistemas. no texto, seguindo as seguintes normas:

2. Página de apresentação Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras


A primeira página do artigo apresentará as seguintes iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor
informações: do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em
- Título em português e inglês. grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora,
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e
e títulos acadêmicos. final, ponto.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o Exemplo:
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
para paginação. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
aparelhos, etc.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
3. Autoria letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
participado do trabalho o suficiente para assumir a seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de
responsabilidade pública do seu conteúdo. dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar
O crédito como autor se baseará unicamente nas maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados
contribuições essenciais que são: a) a concepção e de acordo com o Index Medicus, na publicação “List of
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a Journals Indexed in Index Medicus”.
redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante
de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão Exemplo:
que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S et al. Expression
as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na and localization of urokinase-type plasminogen activator
obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
participação como autor. A supervisão geral do grupo de
pesquisa também não é suficiente. 6- Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou
Na segunda página deverá conter um resumo (com no de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 artigo, antes as referências, em uma secção especial.
palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
informações:
- Objetivos do estudo. Jean-Louis Peytavin
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, Atlantica Editora
metodologia, análise). Rua Conde Lages, 27 - Glória
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e 20241-080 Rio de Janeiro RJ
estatísticos). Tel: (21) 2221 4164
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-
chave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para
tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de
cabeçalhos de matérias médicas (Medical Subject Headings –
MeSH do Index Medicus ou, no caso de termos recentes que
não figurem no MeSH, os termos atuais).
Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 03 (2002) 305

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Índice
(vol. 6 nº 5 - 2002) 305~384

EDITORIAL
Dia Mundial de Diabetes 2002: prevenção das complicações oculares
Fadlo Fraige Filho ............................................................................................................................................ 307

INFORMES DO DIABETES NO MUNDO. ............................................................................................... 310

O DIABETES NA IMPRENSA. .................................................................................................................... 318

AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS. ............................................................................... 327

PRODUTOS E NOVIDADES
Pó para preparo de bolo light, sorvete light e pudim light (Lowçucar), Ez-Vac, Penfine (Disetronic),
Micromat II (Bio-Rad Laboratories) ................................................................................................................ 338

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS. .................................................................................... 340

ARTIGOS ORIGINAIS E REVISÕES


Neuropatia periférica diabética: tratamentos recentes,
Rosalina de Paula Ferreira Cunha, Mirella Magalhães Tenório Brito,
Érica Maria Belo dos Prazeres, Nicodemos Teles de Pontes Filho ............................................................... 346

Radicais livres, estresse oxidativo e diabetes,


Débora Cristina Damasceno, Gustavo Tadeu Volpato,
Iracema de Mattos Paranhos Calderon, Marilza Vieira Cunha Rudge ......................................................... 355

Síndrome plurimetabólica: Análise comparativa entre grupos


de pacientes de São Leopoldo e Canoas, Amanda Mônica Lenz .................................................................... 362

A equipe de saúde e o auto-cuidado numa perspectiva interdisciplinar


em diabetes mellitus, hipertensão arterial e obesidade, Rita Batista Santos .................................................. 368

Diabetes mellitus tipo 2 e exercício físico aeróbico, Ana Paula Passos,


Jane Dullius, Luiz Guilherme Porto, Adriana Lofrano ................................................................................... 375

NORMAS DE PUBLICAÇÕES. ................................................................................................................... 382

CALENDÁRIO DE EVENTOS..................................................................................................................... 384


Diabetes Clínica
306 Diabetes Clínica 03 (2002)

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Diabetes Clínica é um jornal multidisciplinar sobre os aspectos médicos, psicológicos e sociais do diabetes e dos distúr-
bios associados. Para os especialistas Diabetes Clínica é um veículo de informação e formação continuada sobre o
conhecimento científico da doença, a atualidade da prática clínica no tratamento do diabetes e das patologias associadas.
Diabetes Clínica edita artigos científicos selecionados pelo editor científico, o conselho consultivo e profissionais de
reconhecido saber na área. O objetivo do jornal é favorecer a discussão interdisciplinar em todas as questões relativas à
diabetologia, bem como através de suas diferentes sessões idealizadas pelo editor científico, informar de uma maneira
rápida, atual e sintética os múltiplos aspectos dos estudos em diabetes.

Diabetes Clínica Dr. Orsine Valente (SP) ATLANTICA EDITORA


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307
Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Editorial

DIA MUNDIAL DE DIABETES 2002:


PREVENÇÃO DAS
COMPLICAÇÕES OCULARES

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE

Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho

O Dia Mundial de Diabetes foi criado em 1991,


como meio de aumentar a conscientização global
sobre o Diabetes. É uma oportunidade ideal para
dirigir a atenção do público para: causas, sintomas,
complicações e tratamento desta grave disfunção,
que está em constante aumento em todo o mundo.
Diante da perspectiva de que o número de pessoas
com Diabetes chegue a 300 milhões no ano de 2025,
o Prof. Sir George Alberti - presidente da IDF
(International Diabetes Federation), advertiu que “
o Diabetes poderia tornar-se a Aids do século XXI”,
em uma recente entrevista para os meios de
comunicação. É necessário melhorar a
conscientização sobre o Diabetes e o Dia Mundial
do Diabetes nos oferece a oportunidade de unir
nossas forças para fazer exatamente isso.
O Dia Mundial de Diabetes é a mais importante
campanha integral de informação sobre o Diabetes
no mundo, e nos relembra que a incidência do
Diabetes está aumentando e assim continuará, caso
não realizemos ações preventivas.
Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho,
Coordenador e Editor Científico, Quando é celebrado?
Diabetes Clínica
O Dia Mundial de Diabetes ocorre a cada ano em 14 de novembro.
Foi escolhida essa data por ser o aniversário de Frederick Banting,
que junto com Charles Best concebeu a idéia que os conduziu ao
descobrimento da insulina, em outubro de 1921.

Onde é celebrado?

Em todo o mundo, em mais de 140 países pelas associações membro


da IDF.
308 Editorial - Diabetes Clínica 04 (2002)

Continuação Como se celebra?

As Associações membro da IDF organizam uma grande variedade de


atividades em cada país, tais como projeto de rádio e TV, atividades esportivas,
caminhadas, exames de glicemia, reuniões e palestras públicas, cartazes,
folhetos, exposições, entrevistas, artigos em revistas e jornais, etc.

Há um tema especial?

Sim, a cada ano o Dia Mundial de Diabetes se concentra em torno de um


tema, escolhido para ser o centro de atenção.
Nos anos passados foram tratados os seguintes temas:
· Diabetes: direitos humanos;
· Diabetes: estilo de vida;
· Custos do Diabetes;
Desde 2001, iniciamos a tratar das complicações e o tema foi:
· 2001 - Diabetes e enfermidades cardiovasculares,
A partir deste ano, teremos os seguintes enfoques:
· 2002 - Os olhos e o Diabetes
· 2003 - Diabetes e doença renal
· 2004 - Diabetes e obesidade
· 2005 - Diabetes e cuidados da pele

Como começou?

Começou em 1991 em resposta a preocupação pelo aumento contínuo do


Diabetes em escala mundial.

O que significa o logotipo do Dia Mundial de Diabetes?

Em 1996, foi desenhado o logotipo definitivo e foi feito para marcar a data
com uma forte identificação global. O logotipo combina o equilíbrio e o
trabalho conjunto, além de estar baseado no conhecido símbolo do Yin e
Yang. Um cuidadoso equilíbrio entre insulina, medicação, alimentação e
exercício é essencial no tratamento.

Como se organiza?

A IDF, amparada pela OMS - Organização Mundial da Saúde, prepara


material que é distribuído entre as associações membro, o público em geral e
os meios de comunicação.
As associações usam o material para desenvolver suas campanhas locais
de maneira que melhor se adaptem às necessidades da comunicação de
Diabetes em cada país.

Tema de 2002

O tema do Dia Mundial do Diabetes para o triênio (2001 - 2003), se baseia


na redução do impacto das complicações do Diabetes. As complicações do
Diabetes podem representar uma pesada carga de impacto dramático sobre a
vida das pessoas com Diabetes e seus familiares, assim como sobre o setor
sanitário, os governos e a sociedade. O Dia Mundial do Diabetes 2001 foi
dedicado a Diabetes e doenças cardiovasculares. O de 2002 vai se priorizar
nas complicações oculares do Diabetes: “Teus olhos e o diabetes; não perca
309

Continuação os riscos de vista”. Em 2003 o Dia Mundial do Diabetes tratará do tema


Diabetes e enfermidade renal e em 2004 sobre Diabetes e obesidade.

Dia Mundial do Diabetes 2002 - Teus olhos e o Diabetes

O número de pessoas com Diabetes, em especial com Diabetes tipo 2, está


se expandindo rapidamente em todo o mundo, assim como o número de
complicações associadas à condição, tais como enfermidades cardiovasculares,
oculares, renais ou nervosas, úlceras e amputações.
A doença do olho ou retinopatia é a causa principal de cegueira e deficiências
visuais entre os adultos das sociedades desenvolvidas. Em torno de 2% das
pessoas com Diabetes ficarão cegas em 15 anos, e 10% desenvolvem
deficiências visuais graves. Embora a doença do olho não seja mortal, tem
um forte impacto sobre a qualidade de vida das pessoas com a perda de visão.
É possível prevenir as complicações do Diabetes através da combinação
de vida saudável, exercício físico e medicação. As complicações do olho
podem ser detectadas precocemente e evitar que causem mais danos à vista.
Sem dúvida, é frequente que uma pessoa desenvolva complicações oculares
durante anos, antes de notar alguma mudança em sua vista e decidir a examiná-
las.
Aproveitando a data do Dia Mundial do Diabetes 2002, todos devem refletir
sobre as vantagens de levar uma vida saudável, fazer exercício físico, não
fumar e consultar seu médico periodicamente, e também levar esta mensagem
para todas as pessoas em todos os lugares.
Os exames periódicos dos olhos ajudam a descobrir se já existe uma
complicação ocular em fase inicial e também a evitar, com isto, que as pessoas
fiquem cegas no futuro.
Esta também é a época ideal para que as associações de Diabetes e outras
pessoas com força política exerçam pressão sobre os governos.
A IDF nos pergunta se em nosso país há exames oculares previstos e se
estão acessíveis para todos. E se o tratamento a laser também está ao alcance
de todos. E nós aproveitamos este questionamento para informar os nomes
dos responsáveis e endereços em 26 estados do Brasil, do Mutirão do Olho
Diabético, que oferece atendimento, bem como o tratamento a laser para todos
que se inscreverem no programa.

Um evento mundial

O Dia Mundial do Diabetes é a única campanha global de conscientização.


Por essa razão a IDF pede às associações membros, que unam esforços e
envolvam tantas pessoas quanto seja possível, incluindo formadores de opinião,
políticos, educadores, profissionais de saúde, crianças, adultos e, logicamente,
pessoas com Diabetes. O Dia Mundial do Diabetes é uma oportunidade para
levar o entendimento sobre Diabetes para todas as pessoas.
Aquele que estiver lendo esta mensagem e quiser colaborar, entre em contato
com a FENAD, pelo telefone 5572-6559, através do e-mail
fenad@fenad.org.br ou ainda pelo correio: Rua Eça de Queiroz, 198, Vila
Mariana - São Paulo - SP, CEP 04-11-031.

Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho


Presidente
310 Diabetes Clínica 05 (2002)

Informes do Diabetes no Mundo


Gerald M. Reaven et al, J Am Coll Obesidade e resistência à insulina predizem independentemente
Cardiol 2002;40. risco cardiovascular

Pesquisadores da Stanford University reportam que obesidade e resistência à


insulina predizem risco de doença arterial coronariana (DAC). Adicionalmente,
a resistência à insulina em muitos graus de obesidade acentua o risco de DAC e
de diabetes tipo 2. Neste estudo, Gerald M. Reaven e colaboradores definiram
a relação entre índice de massa corporal (IMC) e resistência à insulina em 314
indivíduos saudáveis não diabéticos, normotensos. Adicionalmente, eles
examinaram a associação entre IMC e resistência à insulina e os fatores de
riscos para DAC.
Os pesquisadores determinaram a concentração da glicose plasmática em
equilíbrio dinâmico (steady-state) – SSPG, durante os últimos 30 dos 180
minutos de infusão de octreotíde, glicose e insulina, com o objetivo de quantificar
a resistência à insulina. Eles mediram 9 fatores de risco de DAC nos indivíduos,
incluindo idade, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica, colesterol
total, triglicerídeos, HDL-colesterol, LDL-colesterol e resposta insulínica à uma
ingestão de 75g de glicose oral. Existe uma significativa correlação entre IMC
e SSPG (p < 0,001). Eles acharam associações independentes significativas
entre IMC e SSPG e cada um dos 9 fatores de risco, porém notaram diferenças
marcantes em sua magnitude.
“Em análises múltiplas de regressão, a concentração de SSPG acrescentou
de moderado a substancial poder ao IMC, no que se refere ao prognóstico da
pressão arterial diastólica, HDL-colesterol, concentração de triglicerídeos e
respostas da glicose e da insulina,” explicam os pesquisadores.
O estudo mostrou que nem todos os indivíduos obesos ou com sobrepeso
são insulino-resistentes. E nem todos os insulino-resistentes são obesos ou com
sobrepeso. Portanto, muitos fatores de risco para doença cardiovascular estão
associados com a obesidade e são relacionados a presença de resistência à
insulina, e o maior efeito da adiposidade é aumentar a susceptibilidade para um
indivíduo ser insulino-resistente. As implicações são que os maiores esforços
na perda de peso devem estar direcionados para estes indivíduos que são ambos
com sobrepeso e insulino-resistentes, e que o risco cardiovascular associado
com resistência à insulina não está limitado a indivíduos com sobrepeso.

Edwin Fineberg et al, Diabetes Care Dieta com proteína vegetal não é melhor do que com proteína
2002;25:1277-1282,1474-1476. animal para o diabetes tipo 2

Uma dieta que apresenta somente proteína de origem vegetal não tem
vantagem sob uma dieta que contém proteína animal, para indivíduos
Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 05 (2002) 311

Continuação portadores de diabetes tipo 2 e com microalbuminúria. Neste estudo cruzado


randomizado, Edwin Fineberg e colaboradores da Indiana University School
of Medicine, Indianápolis, compararam uma dieta contendo exclusivamente
proteína vegetal com outra contendo, em sua maioria, proteínas animais, em
17 pacientes com diabetes tipo 2 e microalbuminúria.
Após os pacientes estarem em dieta por 6 semanas, os pesquisadores
descobriram que não há nenhuma diferença relacionada à dieta na taxa de
filtração glomerular, fluxo plasmático renal, taxa de excreção de albumina,
colesterol total, HDL-colesterol, área sob a curva (AUC) de triglicerídeos,
glicose e AUC de insulina, HbA1c, pressão sangüínea ou aminoácidos do
soro.
Ambas dietas foram associadas com diminuição do colesterol, melhora da
HbA1c e redução da pressão arterial diastólica. Não houve diferença dos efeitos
da dieta na função renal, com os pacientes tratados ou não com inibidores da
enzima conversora de angiotensina.
Dr. Fineberg e colaboradores concluíram que “parece não haver nenhuma
vantagem clara em recomendar proteína vegetal no lugar da animal, para
melhorar a função renal ou lipídica e os parâmetros glicêmicos em pessoas
com diabetes tipo 2 e microalbuminúria.”
Entretanto, há espaço para mais estudos, de acordo com editorialistas da
revista, Drs. Errol B. Marliss e Rejeanne Gougeon do McGill Nutrition and
Food Sciences, Montreal. “Nossa conclusão, no que diz respeito a este estudo,
é que nas altas ingestões de proteína de alta qualidade utilizada, não
apresentaram nenhuma vantagem em relação à dieta com proteína vegetal ou
de soja, e que o desafio, agora, é determinar se isso se aplica a baixas ingestões
e a fontes vegetais que tenham composições diferentes de aminoácidos e outros
nutrientes potencialmente ‘protetores’,” escreveram eles.

Controvérsias no tratamento de pacientes diabéticos com doença


Abdella NA, Med Princ Pract 2002;11 cardíaca coronariana
Suppl 2:69-74.
Existe uma epidemia global de diabetes tipo 2 e num futuro próximo ela
deverá estar associada a uma epidemia de doença cardiovascular. Com o risco
da população de diabéticos desenvolver doença cardiovascular, o tratamento
do diabetes passou a ter como alvo o controle glicêmico. Dois procedimentos
controversos no manejo de diabéticos com doença arterial coronariana (DAC)
são discutidos nesta revisão. Primeiramente, administração de insulina exógena
e o aumento do risco de doenças cardiovasculares e, em segundo lugar, o
efeito do tratamento com sulfoniluréia nos canais de potássio ATP dependente
e risco de isquêmia miocárdica. O consenso de opiniões é de que um alto
nível de insulina sérica circulante, não passa de um marcador do estado de
resistência à insulina e, portanto, não exerce um papel direto na patogênese
da arterioesclerose em pacientes diabéticos. Entretanto, em oposição a isto,
existem evidências para uma associação linear entre a piora do controle
glicêmico e o aumento do risco para doenças cardíacas coronarianas. Estudos
prospectivos no Reino Unido (United Kingdom Prospective Diabetes Study -
UKPDS), reportaram que um controle intenso da glicemia diminuiu o risco
de infarto do miocárdio em 16%. Os benefícios de um controle glicêmico
estreito confirmam o conceito teórico da hiperinsulinemia ser aterogênica.
Conhecimentos seguros sobre sulfoniluréias datam de 1970. O mecanismo
de ação das sulfoniluréias, através do fechamento de canais de potássio ATP
dependentes identificados nas células b pancreáticas, cardiomiócitos e células
312 Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 05 (2002)

Continuação de músculo liso vascular, causou grande discussão sobre sua segurança, devido
ao risco do desenvolvimento de isquemia do miocárdio. Breves episódios de
isquemia cardíaca levam o coração a ficar mais resistente a eventos isquêmicos
subseqüentes. Este fenômeno é chamado “precondicionamento isquêmico”.
A ativação de canais de potássio ATP dependente mimetiza completamente
este fenômeno; além disso, o bloqueio destes canais com algum dos compostos
a base de sulfoniluréia aboliu este efeito protetor. Portanto, o conceito de
seletividade dos compostos de sulfoniluréia emergiu e a escolha da droga
deve ser baseada neste fato. Todo composto deve ser estudado individualmente
quanto a eficácia e segurança, em referência aos pontos relevantes para o
diabetes tipo 2, i.e. morbidade e mortalidade cardiovascular.

Schneider JG et al, Am J Hypertens Elevação dos níveis plasmáticos de endotelina-1 no diabetes


2002;15(11):967-72. mellitus
Este estudo compara os níveis plasmáticos de endotelina-1 (ET-1) em
pacientes portadores de diabetes tipo 1 ou hipertensão, com controles
saudáveis, e investiga se os níveis de ET-1 estariam relacionados com o
controle glicêmico, parâmetros metabólicos e complicações vasculares. A
população estudada consistiu-se de 103 pacientes portadores de diabetes tipo
1, 124 pacientes diabéticos tipo 2, 35 pacientes hipertensos sem diabetes
mellitus e 99 controles. As concentrações plasmáticas de ET-1 foram
significativamente maiores em pacientes com diabetes tipo 1 (0,28 ± 0,34
fmol/ml, P = 0,001), diabetes tipo 2 (0,31 ± 0,32 fmol/ml, P < 0,0001) e
hipertensão (0,35 ± 0,26 fmol/ml, P <,0001), comparado aos controles (0,08
± 0,13 fmol/ml). Pacientes diabéticos fazendo uso de inibidores da enzima
conversora de angiotensina (ECA), tiveram níveis plasmáticos de ET-1
significativamente menores do que os pacientes que não faziam uso (0,22 ±
0,20 fmol/ml vs. 0,38 ± 0,39 fmol/ml, P = 0,029). Houve associações
significativas entre os níveis de ET-1 e idade (r = 0,38, P < 0,05) e pressão
arterial sistólica - PAS (r = 0,38, P < 0,05) em controles saudáveis. No diabetes
só foram encontradas associações não significativas entre os níveis de ET-1 e
idade ou complicações vasculares, além de uma fraca associação entre os
níveis plasmáticos de ET-1 e o controle glicêmico. Pacientes com diabetes ou
hipertensão têm níveis de ET-1 elevados, mas não exibem correlações positivas
entre os níveis de ET-1 e PAS, o que foi observado em controles saudáveis.
Níveis aumentados de ET-1 não induzem à hipertensão no diabetes, mas foram
menores em pacientes diabéticos, fazendo uso de inibidores da ECA
comparado aos que não fizeram uso. Não há associação significativa entre os
níveis de ET-1 e complicações vasculares. Esses achados sugerem que o nível
plasmático de ET-1 não é um marcador de disfunção endotelial, mas mudanças
nesses níveis podem preceder complicações vasculares associadas à
hipertensão e ao diabetes.

S. E. Fineberg et al, 38th European Resultados da monitorização de anticorpos para insulina


Association for the study of diabetes durante as fases II e III do estudo clínico de insulina inalada
(EASD) Annual Meeting, Budapest, (Exubera) em pacientes portadores de diabetes tipo 1 ou tipo 2
Hungria.

Introdução e objetivos: O desenvolvimento de anticorpos para insulina em


pacientes diabéticos é bem documentado. Os resultados das análises de
anticorpos dos estudos das fases II e III da insulina inalada em pó de ação
rápida (Exubera: INH), são aqui apresentados.
Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 05 (2002) 313

Continuação Materiais e métodos: Estudos de 3 ou 6 meses de duração avaliaram o uso


de INH em pacientes com diabetes tipo 1 (adultos, adolescentes e crianças de
idade 6-11 anos) ou tipo 2 (uso de insulina, fracasso no tratamento combinado
de agentes hipoglicemiantes orais, fracasso do tratamento por dieta e
exercícios). Foram utilizadas como comparativo, insulina subcutânea (SC)
convencional, intensiva ou OA. Os pacientes que completaram os estudos,
continuaram um outro estudo de segurança, não controlado a longo prazo,
usando INH como a única forma de insulina de curta duração. Um ensaio
semi-quantitativo com rádio ligantes realizado no Mayo Medical Laboratories,
foi usado para medir anticorpos da insulina, no início e no fim dos testes, com
os pais das crianças, e a cada 6 meses no estudo de extensão. Foi traçado um
gráfico com as variáveis clínicas chaves, versus o final do estudo e foi
encontrada a variação nos níveis de anticorpos.
Resultados: Pacientes tratados com insulina, tanto no diabetes tipo 1 ou 2,
experimentaram um aumento nos níveis de anticorpos para insulina, após o
uso de insulina SC de ação curta juntamente com INH. Os níveis de anticorpos
no tratamento com INH foram maiores do que o controle, no qual regimes de
insulina SC foram mantidos. Pacientes pediátricos com diabetes tipo 1
demonstraram ter média de níveis de anticorpos maior no ponto zero e no
ponto final do estudo, comparados com a coorte de paciente tipo 1 (~60%
>18 anos de idade). Pacientes com diabetes tipo 1 tiveram média de níveis de
anticorpos maior no ponto zero e no ponto final do estudo, do que aqueles
com diabetes tipo 2. O menor nível de anticorpos foi detectado em pacientes
tipo 2 com tratamento usual de insulina, que receberam INH além dos OAs [a
maioria (92%) apresentaram percentual de níveis de ligantes para anticorpos
para insulina < 10%]. Os dados correntes dos testes de extensão a longo prazo
mostram que o maior aumento na média dos níveis de anticorpos ocorreu nos
primeiros 3-6 meses de terapia com INH. Os pontos traçados e a análise de
regressão sugerem que os anticorpos para insulina não estão associados com
aumento de HbA1c, doses de insulina de curta e longa ação, ou taxa de
hipoglicemia (total ou severa). Também, não há nenhuma associação
consistente entre glicose plasmática de jejum, volume expiratório forçado 1
segundo (FEV1), ou capacidade de difusão de monóxido de carbono (DLCO).
Em adição, o grupo tratado com INH, não tem incidência maior de eventos
adversos alérgicos do que os grupos de comparação. Mais análises
exploratórias estão sendo planejadas para avaliar qualquer associação em
potencial com síndromes clínicas precedentes ou não, relacionadas à anticorpos
para insulina.
Conclusão: O tratamento com INH é associado com aumento dos níveis de
anticorpos para insulina. Entretanto, a análise dos dados sugere que anticorpos
para insulina não estão associados com HbA1c aumentado, doses de insulina,
taxas de hipoglicemia ou reações alérgicas. Essa conclusão está de acordo com
muitos outros estudos, que também mostraram não haver relação aparente entre
anticorpos para insulina e índices de controle metabólico ou segurança clínica.

Comparação clínica entre um método novo, não invasivo e um


H. O. Steinberg et al, 38th European convencional invasivo de determinação de glicose durante clamp
Association for the study of diabetes hiper e hipoglicêmico em estudos de várias etapas
(EASD) Annual Meeting, Budapest,
Hungria.
Introdução: A incidência do diabetes está aumentando em todo mundo.
Complicações microvasculares e possivelmente macrovasculares do diabetes,
podem ser prevenidas através de controle glicêmico estreito. Para atingir este
Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 05 (2002)

Continuação controle e evitar episódios hipoglicêmicos severos, são necessárias medições


múltiplas diárias da glicemia. Entretanto, a determinação convencional da
glicemia, requer laceração da pele que não é dolorosa, mas pode não ser aceita
em algumas situações. Logo, medições não invasivas de glicose podem se
tornar uma alternativa preferível, caso se comprove ser tão acurada quanto as
tecnologias invasivas atuais.
Métodos: Argose Inc. possui uma tecnologia de luz florescente que é usada
para coletar dados com sinal melhorado, retirando características interferentes
de um espectroscópio inteiramente novo. A Argose desenvolveu um sistema
capaz de detectar padrões espectrais na pele, que estão correlacionados à níveis
de glicose sangüínea. Para testar a capacidade do novo sistema, estudamos 7
indivíduos diabéticos tipo 1, durante estudos de clamp variável em duas
diferentes ocasiões. Os níveis de glicose foram medidos no leito, usando o
analisador de glicose Yellow Springs. Em cada estudo, os níveis de glicose
sangüínea foram randomizados, variando entre 60-600 mg/dl. Durante cada
estudo, os indivíduos atingiram níveis de estado de repouso nas faixas baixa
média e alta, por aproximadamente 35 minutos, antes de avançar para o
próximo nível pré-determinado. Valores de glicose não invasivos, foram
computados usando dados de cada indivíduo compilados, combinados aos
dados dos dois estudos com clamp variável de cada indivíduo.
Resultados: A acurácia da classificação de valores baixos, médios e altos
de glicose para todos os 7 indivíduos está descrita na tabela abaixo.
Diabetes Clínica 05 (2002) 317

O Diabetes na Imprensa

JAHH=
Rio distribui de graça remédio que reduz colesterol

1 de agosto de 2002 A Prefeitura do Rio, desde agosto, está distribuindo gratuitamente, para
cerca de 11.900 pacientes da rede municipal de saúde, o medicamento
Sinvastatina, que reduz a taxa de colesterol. O remédio está sendo distribuído
em 118 unidades da Secretaria Municipal de Saúde, onde os pacientes com
doença cardiovascular estão cadastrados.
A distribuição atende aqueles que já sofreram infarto do miocárdio, acidente
vascular encefálico e os portadores de safena e de angina do peito. Além de
receber o medicamento, eles passam por uma avaliação clínica. De acordo
com a Secretaria, a Sinvastatina também será incluída no programa Remédio
em Casa. Atualmente, o programa dá assistência a hipertensos e diabéticos,
que se tratam nas unidades municipais e estão com a taxa de colesterol
controlada.

Célula-tronco pode evitar gangrena e amputação


GAZETA MERCANTIL
12 de agosto de 2002 Estudo publicado no The Lancet, revela que o uso de células-tronco,
injetadas nos músculos do paciente, pode evitar a gangrena, amputações ou
até mesmo a dor nos pés ou pernas, provocada por deficiência de circulação.
Especialistas disseram que o método pode ser a solução para milhões de
pacientes em tudo o mundo, que sofrem com dores causadas por graves
problemas de circulação. Basicamente, o que a injeção de células-tronco faz
é promover a criação de novos vasos sanguíneos, que vão irrigar as regiões
afetadas. 45 voluntários participaram do estudo, todos com graves problemas
nas pernas. Cerca da metade tinha passado por intervenções cirúrgicas ou
sofrido gangrena e a maioria tem diabetes. Cerca de 80% dos pacientes tiveram
melhoras imediatas nas dores, o que foi considerado extremamente promissor.
Raios-X feitos antes e depois das aplicações, mostraram o crescimento de
novos vasos sanguíneos em 27 dos 45 pacientes. De 20 pacientes ameaçados
de amputação, 15 tiveram melhora imediata e estão livres da ameaça.
Especialistas que não participaram do estudo, como o Dr. Frank Selke, da
Escola de Medicina de Harvard, considera esta técnica muito importante:”Este
método pode trazer grandes conquistas. As células circulam e vão aonde são
necessárias”. O próximo passo do estudo vai se concentrar na oxigenação de
partes do coração e do cérebro. Os cientistas ainda não conseguiram descobrir
318 O Diabetes na Imprensa - Diabetes Clínica 05 (2002)

Continuação se as células-tronco se transformam em vasos ou se liberam substâncias que


permitem a criação dos mesmos.

Mais perto do coração

Sofrer do coração está cada vez mais comum. À parte as tormentas


IstoÉ, 19 de julho de 2002 sentimentais do mundo, o que tem preocupado a medicina é o número crescente
de portadores de alguma doença cardiovascular. Atualmente, elas provocam
a morte de 17 milhões de pessoas no planeta por ano – no Brasil, são mais de
300 mil mortes. E o índice global pode saltar para 25 milhões em 2020, segundo
a Organização Mundial de Saúde. É verdade que a ciência avança procurando
encontrar formas de tratar esses males, o que ajuda a diminuir a mortalidade.
O problema é que a humanidade atualmente, por vários motivos, está mais
exposta ao risco de ter uma complicação (entupimento das artérias, por
exemplo) do que tempos atrás. Com isso, os especialistas estimam que as
chances do órgão estar com o futuro comprometido vêm aumentando.
A razão disso está, em boa parte, no cotidiano. “A vida de hoje facilita o
aparecimento de enfermidades cardíacas. Ela é menos saudável”, afirma o
médico Juarez Ortiz, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Muitas pessoas não se alimentam bem, não se exercitam e adotam outros
hábitos ruins, como incluir o cigarro no dia-a-dia. Esses fatos estão
relacionados ao surgimento de diversas doenças. Entre elas, a obesidade, a
diabete e a hipertensão. Somadas, essas enfermidades representam perigo
enorme para o coração. Se houver casos de males cardiovasculares na família,
é mais um elemento – e este é muito importante – que depõe contra a saúde
do músculo cardíaco. Esses fatores de risco são conhecidos. Mas normalmente
apenas se presta atenção neles quando algum estrago já foi feito. O que ocorre
é que só se avaliam as condições do órgão quando se atinge a meia-idade. É
um erro, sublinha a American Heart Association (AHA), entidade que reúne
cardiologistas dos Estados Unidos e é considerada uma das melhores do mundo
no campo da prevenção.
Em julho, a entidade relançou sua cartilha preventiva, com atualizações
baseadas em estudos recentes e medidas criadas por especialistas de outras
áreas, como a Associação Americana de Diabete. Desde 1997, a AHA não
mexia nas recomendações. O lançamento de novas diretrizes é, na verdade,
um esforço para evitar que as doenças cardíacas sejam detectadas tarde demais
e continuem a avançar. O passo mais significativo nesse sentido é a orientação
de que a primeira avaliação da saúde do órgão seja feita aos 20 anos. “As
medidas estão mais abrangentes porque o número de casos não está
diminuindo. Não fazíamos a avaliação em quem é tão jovem, a não ser que
fosse filho de alguém com problemas”, comenta Ricardo Pavanello, do Hospital
do Coração, em São Paulo.
De acordo com as novas diretrizes da associação americana, nessa idade
devem-se fazer vários exames para saber como estão a pressão arterial, a taxa
de açúcar no sangue e os níveis de colesterol, entre outros dados. O médico
irá conferir o histórico de doenças cardiovasculares e o estilo de vida. Se
estiver tudo bem, a próxima visita pode ser feita dali a cinco anos. Se houver
mais de dois fatores de risco, é preciso cuidar melhor do coração. A checagem
deverá ser menos espaçada também. De dois em dois anos, sugere a AHA.
Para quem está na época de se dedicar a baladas e namoros, no entanto, pensar
na prevenção é raro. O estalo se dá mais em quem conhece de perto o
sofrimento do coração. Outro destaque da nova cartilha da AHA é a
recomendação de que, aos 40 anos, qualquer indivíduo passe por uma avaliação
mais específica (a ser repetida também a cada cinco anos ou mais
O Diabetes na Imprensa - Diabetes Clínica 05 (2002)

Continuação frequentemente se houver problemas). Por meio do cruzamento de diversas


informações, esse check-up determinará o risco da pessoa sofrer infarto nos
próximos dez anos. Os especialistas americanos consideram essa medida
praticamente obrigatória. “A tabela desse cálculo de risco é importante. Isso
porque muita gente pode ter fatores de risco e não apresentar sintomas”, diz
o cardiologista Antonio Carlos Chagas, do Instituto do Coração (Incor), de
São Paulo.
Em relação aos procedimentos rotineiros de check-up, foi valorizado um
item que pode parecer curioso. Além de conferir o Índice de Massa Corporal
(IMC), o médico deve conferir o tamanho da circunferência da cintura. “A
gordura que se acumula na barriga é a pior. Ela libera substâncias no sangue
que elevam o colesterol ruim (LDL) e diminuem o HDL (colesterol bom)”,
explica o cardiologista Raul Dias dos Santos, do Hospital Albert Einstein, de
São Paulo. Por isso, é possível estimar o perigo pelos centímetros da barriga.
E, de acordo com a SBC, pode-se também obter outro índice dividindo-se a
medida da cintura pela do quadril. No caso dos homens, o resultado deve ser
menor que 0,93 para ser considerado normal. Acima disso, há risco para
doenças cardíacas. No das mulheres, 0,83.
O fitness auxilia a controlar o peso. Para o especialista Mário Maranhão,
presidente da Federação Mundial de Cardiologia, os quilos a mais são tão
preocupantes quanto o tabagismo e o sedentarismo. “Há um bilhão de pessoas
obesas no mundo”, alerta. Ele calcula que no país 12% das mulheres estão
com sobrepeso (IMC superior a 25). Entre os brasileiros, 7% estão nessa
situação. Ou seja, deve-se investir no equilíbrio do cardápio para baixar esses
índices. Uma boa alimentação também é uma forma de prevenir o acúmulo
de colesterol ruim nas artérias, que facilita a formação de placas de gordura
nos vasos sanguíneos.

Supressão de genes em ratos evita obesidade


JAHH= Um grupo de pesquisadores identificou um gene nos ratos, cuja supressão
13 de agosto de 2002
permite aos animais ingerirem alimentos ricos em gordura sem o risco de
desenvolver diabetes, de acordo com um estudo que será publicado em agosto
nos Estados Unidos.
A pesquisa, relatada na revista da Academia Nacional de Ciência, sugere
que é possível produzir medicamentos capazes de evitar a obesidade e diabetes,
como explicou James Ntambi, professor da Universidade de Wisconsin em
Madison, que realizou o estudo.
O pesquisador e seus colegas constataram que a supressão nos ratos do
gene chamado SCD-1 pode impedir que os animais engordem. “A idéia é
fazê-los engordar, mas os ratos privados do gene SCD-1 não conseguem,
apesar de receber uma alimentação que contém cerca de 15% de gorduras”,
disse o professor Ntambi.
Este gene permite a produção de uma enzima chamada SCD, que é
necessária para que o organismo produza os principais ácidos gordurosos.
Com a ausência do gene SCD-1, o excesso de gordura alimentar pode ser
destruído pelo metabolismo.
“Temos uma prova bioquímica de que os ratos queimam os excessos de
gordura”, estimou o pesquisador. No entanto, a eliminação do gene SCD-1
tem certos efeitos secundários como problemas na pele e na visão, quando os
animais envelhecem. O equivalente do gene SCD-1 foi identificado
recentemente nos humanos e o grupo de pesquisadores dirigido por Ntambi
começou estudos sobre o funcionamento desse gene.
322 O Diabetes na Imprensa - Diabetes Clínica 05 (2002)

JAHH=
Faltam remédios para diabéticos em Natal

16 de agosto de 2002 O promotor de Saúde, Edevaldo Alves Barbosa, vai pedir a prisão do
secretário de Saúde do Município de Natal, Enildo Alves, se ele não
providenciar o suprimento de remédios, em especial para diabéticos, nos postos
da Prefeitura e em quantidade suficiente para atender a demanda de pacientes.
No primeiro semestre a Justiça julgou favorável liminar solicitada pelo
Ministério Público para o Município providenciar o fornecimento de insulina
e outros medicamentos nos postos de saúde. Edevaldo Barbosa constatou por
denúncias e em visitas aos postos que o secretário estava desrespeitando a
decisão liminar.
O juiz da 4ª Vara da Fazenda Pública, Cícero Martins de Macedo Filho,
deu prazo de 72 horas para que Enildo Alves abasteça as farmácias dos 65
postos de saúde com medicamentos.
A multa diária pelo descumprimento da liminar é de R$ 5 mil, a ser cobrada
no final do processo contra o Município. O promotor disse que não vai abrir
mão da multa para que seu efeito sirva de exemplo para quem tentar
desrespeitar as determinações judiciais.
Na ação civil pública contra o Município o juiz da 4ª Vara da Fazenda
Pública deferiu o pedido do Ministério Público para punir a Secretaria de
Saúde com multa por descumprimento de liminar e relata haver indícios de
desobediência (ou prevaricação) por parte do secretário de Saúde que poderá
ser responsabilizado criminalmente por isso, determinando abertura de
inquérito policial.
Edevaldo Barbosa fez inspeções nos postos de saúde de Nova Natal, Potengi,
Pajuçara, África (na Redinha), Maternidade das Quintas, além das denúncias
da própria população sobre as unidades de Pirangi e Nova Descoberta. Foi
constatado que a Secretaria de Saúde do Município quando envia a insulina
para diabéticos, o faz sempre em menor quantidade que o solicitado. Em
outros casos, o abastecimento não é feito colocando em risco a vida dos
pacientes que procuram atendimento no sistema de saúde pública.
Na documentação apresentada pelo promotor ao juiz, ele dá exemplo de
um posto que pediu 300 frascos de insulina humana NPH-100 injetável de
10ml mas que a Secretaria só enviou 15. Há casos que o medicamento é
enviado mas falta seringa. A Secretaria, disse o promotor, sequer tem um
cadastro dos pacientes especiais de diabetes e hipertensos.

Remédios para diabetes ficam retidos nos Correios no RN


Enquanto a população natalense não pode contar com os medicamentos de
diabetes da rede pública, por falha no abastecimento da Secretaria Municipal
22 de agosto de 2002
de Saúde, a burocracia impede que o problema seja amenizado. Desde o
primeiro semestre, um pacote com 10 mil comprimidos Daonil, usado no
controle da diabetes, está retido na sede dos Correios, no bairro de Nova
Descoberta.
A burocracia dos órgãos que envolvem o processo de importação e controle
sanitário dos medicamentos é o principal motivo da demora. De acordo com
a Receita Federal, se continuarem nos Correios, os medicamentos estão sujeitos
à chamada pena de “perdimento”, quando a mercadoria passa a pertencer à
União. Segundo informações do chefe da seção de Controle Aduaneiro da
Receita Federal, João Felipe Filho, a carga está nos Correios porque o
importador não conseguiu a autorização de importação dos medicamentos,
que é expedida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A coordenadora interina da Anvisa no RN, Márcia Leite de Oliveira,
O Diabetes na Imprensa - Diabetes Clínica 05 (2002)

Continuação explicou que as doações de medicamentos de outros países exigem uma série
de documentos do importador. Segundo ela, nesse caso, o único que falta é o
alvará sanitário, que é expedido pela Vigilância Sanitária do Município (Covisa).
Ela avalia se o local onde o medicamento ficará armazenado é adequado para
preservar as propriedades e a qualidade do produto. “Realmente não sei porque
a Covisa ainda não expediu este documento”.
O Daonil é apenas um dos tipos de medicamentos que integra os cinco
pacotes, no total de 10 mil compridos, doados pelo Instituto Internacional
MEDOR, organização não governamental formada por médicos e com sede na
Alemanha. Além da diabetes, no lote há também remédios ginecológicos,
oftalmológicos e dermatológicos. Os produtos foram doados ao padre Tiago
Theisen, da paróquia Santa Maria Mãe, na zona norte.
Há 22 anos o sacerdote recebe essa doação. Essa foi a primeira vez que
aconteceu o problema com a Receita Federal. “Falta medicamento na Secretaria
Municipal de Saúde e, ao mesmo tempo, a lei brasileira impede de chegar
remédios do exterior”, lamentou o padre Tiago.
Ele se mostrou irritado com a apreensão dos remédios e disse que não
solicitará mais doações da entidade internacional. “Não peço mais remédio e
também não vou mais lutar para a liberação desses remédios.” O sacerdote
disse que se os produtos ainda forem liberados, poderão ser doados até mesmo
à Secretaria Municipal de Saúde. “Nos anos anteriores eu doei à universidade
e ao abrigo de idosos”, disse o padre.

Os segredos da obesidade

Em agosto, cinco mil especialistas de várias nacionalidades vieram ao Brasil


para discutir as estratégias para vencer os quilos a mais em três eventos
internacionais de porte, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Por alguns dias, o
IstoÉ, 30 de agosto de 2002 País, onde cerca de 40% da população está acima do peso, foi o palco mundial
da luta contra a obesidade.
Muita coisa pode mudar a partir dessas reuniões, já que foram divulgados
avanços suficientes para reformular conceitos sobre obesidade. À luz das
descobertas, não dá mais para imaginar que o gordo com dificuldade de
emagrecer ou aquele que recupera peso após fazer um tremendo sacrifício
carece de disciplina. As pesquisas mostram que a fome e a vontade de comer
estão intimamente ligadas a aspectos genéticos e a hormônios, que agora
começam a ser mais conhecidos. “De doze substâncias presentes no corpo que
interferem nesses mecanismos, três têm papel importante: a grelina, a leptina
e o PYY3-36”, diz o endocrinologista Geraldo Medeiros, autor do livro O Gordo
absolvido e presidente do 9º Congresso Internacional de Obesidade, realizado
em São Paulo. Um dos mais investigados é a leptina, fabricada pelas células
gordurosas para provocar a satisfação do apetite. Um estudo, feito pelo cientista
brasileiro Júlio Licínio, da Universidade da Califórnia, mostrou a falta que a
substância faz. Ele tratou com doses de leptina dois irmãos e um primo de uma
família turca com problemas na fabricação da substância. Nenhum deles comia
exageradamente, mas todos tinham obesidade mórbida, a mais perigosa e
definida por Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40 (obtém-se esse
índice dividindo-se o peso pela altura ao quadrado). “Com o nível de leptina
restabelecido, emagreceram em dez meses, sem dieta”, conta Licínio.
A substância também faz parte de uma espécie de conspiração do corpo
para engordar ex-obesos. Quem defende a teoria é o cientista americano Rudolph
Leibel, da Universidade de Columbia. “A perda do tecido gorduroso, onde é
fabricada a leptina, faz cair a quantidade desse hormônio e também a queima
de energia”, explica Leibel. O resultado não é nada bom: como o mecanismo
325

Continuação que dá o sinal de saciedade está com defeito, come-se além do necessário até
sentir que chega. Por mecanismos como esse, está em curso mais uma mudança
na compreensão da gordura. “Ela é um tecido inteligente, que produz dezenas
de substâncias”, diz o endocrinologista Alfredo Halpern, presidente científico
do encontro de São Paulo. Outro hormônio associado ao apetite, a grelina
(fabricada no estômago para avisar o cérebro que é hora de comer) também
está envolvida nas sabotagens para impedir a perda de peso. Estudos mostram
que os ex-gorduchos apresentam duas a três vezes mais grelina do que as
pessoas que não fizeram dieta. Isso também não é bom, porque quantidades
maiores de grelina significam mais sensação de fome.
Há outras substâncias sendo esmiuçadas, entre elas a adiponectina e o
neuropeptídeo Y. “Elas nos ajudam a entender como é regulado o nosso
equilíbrio energético”, explica o endocrinologista Walmir Coutinho, um dos
organizadores do Simpósio Internacional em Obesidade, Hormônios e
Síndrome Metabólica, que aconteceu no Rio. Porém, o composto que mais
entusiasma os cientistas é o hormônio PYY3-36, fabricado no intestino após
as refeições. Em um estudo publicado em agosto na revista Nature,
pesquisadores injetaram a substância em voluntários e obtiveram resultados
impressionantes, como a redução de 35% do apetite durante 24 horas. “É
uma descoberta maravilhosa, mas ainda cumprirá várias etapas de testes até
trazer benefícios práticos”, pondera o médico Medeiros. Em busca de armas
mais eficazes, a ciência se debruça ainda sobre a genética. O canadense Claude
Bouchard, autoridade no assunto, sustenta que há alta probabilidade de que
pacientes com IMC superior a 33 tenham uma grande predisposição genética
para a obesidade. Até o momento, os especialistas não identificaram os genes
específicos para a doença, embora contabilizem 60 genes relacionados ao
mal.
326 Diabetes Clínica 05 (2002)

Avanços terapêuticos e tecnológicos

Jean-Louis Chiasson, Research Centre, Acarbose na prevenção do diabetes mellitus tipo 2: Resultados do
Centre Hospitalier de l’Université de estudo randomizado STOP-NIDDM
Montréal, Hôtel-Dieu, Department of
Medicine, University of Montreal, Introdução: O crescimento mundial do diabetes tipo 2, tornou a doença
Quebec, Canadá e The STOP-NIDDM, um grande problema de saúde pública. Nosso objetivo foi o de avaliar o efeito
Lancet 2002; 359: 2072-77, 15 de da acarbose para prevenir ou atrasar a conversão da intolerância à glicose
junho de 2002 (IGT) em diabetes tipo 2.
Métodos: Estudo multicêntrico, randomizado, controlado por placebo, no
qual os pacientes portadores de intolerância à glicose receberam acarbose
100 mg ou placebo 3 vezes ao dia. O primeiro prazo foi o desenvolvimento
de diabetes controlado por teste de tolerância oral à glicose (OGTT).
Resultados: 714 pacientes com IGT foram randomizados para receber
acarbose e 715 receberam placebo. 61 pacientes (4%) foram excluídos por
não apresentarem IGT ou dados de pós-randomização. 211 (31%) dos 682
pacientes do grupo acarbose e 130 (19%) dos 686 pacientes do grupo placebo,
interromperam o tratamento precocemente. 221 (32%) pacientes randomizados
por acarbose e 285 do grupo placebo desenvolveram diabetes.Acarbose
aumentou significativamente a reversão da intolerância à glicose para
tolerância normal à glicose (p < 0,0001). No final do estudo, o tratamento
com placebo durante 3 meses foi associado ao aumento da conversão da
intolerância à glicose em diabetes. Os efeitos adversos mais frequentes da
acarbose foram flatulência e diarréia.
Conclusão: Acarbose pode ser utilizada, como alternativa ou complemento
das alterações do estilo de vida, para prevenir o desenvolvimento do diabetes
tipo 2 em pacientes portadores de intolerância à glicose.

MS Kipnes et al, 38th Annual Meeting Eficácia e segurança do tratamento com sinvastatina em
of the European Association for the pacientes diabéticos tipo 2, tratados com tiazolidinedionas
Study of Diabetes, 1 a 5 de setembro de
2002, Budapest, Hungria Objetivos: A doença cardiovascular é a maior causa de morte entre os
pacientes portadores de diabetes tipo 2 (DM2). Com o objetivo mais agressivo
de diminuição do LDL-colesterol em pacientes diabéticos tipo 2, sugerido no
recente NCEP ATP III, o tratamento de inúmeros pacientes não está adaptado.
O tratamento com tiazolidinedionas melhora o controle glicêmico mas não
diminui as concentrações de LDL-colesterol. Avaliamos a eficácia e segurança
do tratamento com sinvastatina em pacientes diabéticos tipo 2 tratados com
tiazolidinedionas.
Continuação Material e métodos: Neste estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego,
controlado por placebo, paralelo, de 2 braços, pacientes diabéticos tipo 2 com
HbA1c ≤ 9,0% e LDL-C > 100 mg/dl (2,59 mmol/l), receberam rosiglitazona
ou pioglitazona (terapia complementar ou outro remédio antidiabético era
permitido) e foram classificados em função do tratamento e dose. Também
foram randomizados para sinvastatina 40 mg (n = 123) ou placebo (n = 130)
durante 24 semanas. Foram avaliados os efeitos da sinvastatina sobre LDL-C
e outros lípides.
Resultados: Sinvastatina foi responsável por uma diminuição significativa
(p < 0,001) dos níveis de LDL-C, quando comparada com placebo. Níveis
médios de LDL-C ficaram estáveis no grupo placebo, mas foram reduzidos
em 32% de 134 mg/dl (3,47 mmol/L) no início para 90 mg/dl (2,33 mmol/l)
na 24o semana, em pacientes tratados por sinvastatina. No que se refere ao
placebo, a sinvastatina foi responsável por diminuições significativas no
colesterol total, triglicérides, não-HDL-C e apoliprotéina B, e aumentos
significativos em HDL-C e apo A-I. O controle glicêmico (HbA1c), insulina
de jejum, creatinina quinase e níveis de transaminases hepáticas não foram
significativamente diferentes entre os 2 grupos.
Conclusão: Em pacientes diabéticos tratados por TZD em monoterapia ou
combinado com outro tratamento antidiabético, a sinvastatina 40 mg foi
bem tolerada e induziu melhoras significativas dos níveis plasmáticos de
LDL-C e outros parâmetros lipídicos. Entretanto, a sinvastatina é um
tratamento eficiente e bem tolerado da hiperlipidemia, quando usada em
combinação com TZD em pacientes portadores de diabetes tipo 2.

Efeito da sinvastatina no perfil lípides/lipoproteínas em pacientes diabéticos tratados


por TZD
Média+ (DP) % alteração a partir do início

Grupo N LDL-C TC non-HDL-C TG+ Apo B HDL-C Apo A-I


Placebo 123 2(1) 0(1) 0(1) -3(3) -2 (1) -1(1) -2 (1)
Sin
40 mg 119 -32 (2)** -24 (1)** -32 (2)** -19 (3)** -29 (1)** 4 (1)* 1 (1)*

*p<0,05, **p<0,001 relativo ao placebo

J. Herwig et al, 38thAnnual Meeting of Experiência com insulina glargina em crianças, jovens e
the European Association for the Study adolescentes diabéticos tipo 1: estudo prospectivo
of Diabetes, 1 a 5 de setembro de 2002,
Budapest, Hungria
Introdução e objetivos: Insulina glargina (Lantus) é um novo análogo de
insulina que fornece insulina basal durante 24 horas, sem pico pronunciado
de atividade. Estudos clínicos extensivos têm demonstrado a eficácia e
segurança da insulina glargina em adultos. Entretanto, existe menos experiência
de insulina glargina em pacientes pediátricos e, na Europa, a glargina ainda
não está aprovada para uso em pediatria. O objetivo desse estudo prospectivo,
foi observar o efeito da insulina glargina e da insulina NPH sobre o controle
metabólico e a qualidade de vida em pacientes pediátricos portadores de
diabetes tipo 1.
Material e métodos: Os pacientes (≥ 5 anos) receberam insulina prandial
(regular ou lispro), e insulina NPH uma, duas ou três vezes ao dia (62
pacientes), ou insulina glargina uma vez ao dia (67 pacientes), entre 6 horas
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 05 (2002) 329

Continuação da tarde e meia-noite. Pacientes dos grupos glargina e NPH foram tratados
durante 10,9 ± 8,6 e 11,7 ± 8,3 meses, respectivamente.
Resultados: Níveis de glicose aumentaram levemente nos grupos glargina
(linha base: 7,3 ± 1,0%, final: 7,7 ± 1,6%) e NPH (linha base: 7,6 ± 1,6%,
final: 7,9 ± 1,5%). A dosagem de insulina regular aumentou mais no grupo
NPH (linha base: 0,55 ± 0,26 IU/kg, final: 0,63 ± 0,19 IU/kg) do que no
grupo glargina (linha base: 0,61 ± 0,16 IU/kg, final: 0,62 ± 0,12 IU/kg). Existia
uma tendência para hipoglicemia sintomática menos importante no grupo
glargina, em comparação com NPH. A incidência da hipoglicemia severa foi
levemente menor no grupo glargina do que no grupo NPH (0,31 vs. 0,36
episódios/paciente/ano, respectivamente). A qualidade de vida percebida foi
melhor no grupo glargina. Nenhum dos pacientes, usando insulina glargina,
aceitaram voltar para as antigas preparações de insulina, porque preferiram
dormir e usar só uma aplicação.
Conclusões: Insulina glargina pode ser associada com menor risco de
hipoglicemia sintomática em pacientes pediátricos, notadamente a
hipoglicemia severa (grupo de adolescentes), e os pacientes preferiram a
insulina de longa ação glargina.

S. Shakuto et al, 38thAnnual Meeting of Efeito profilático da sulfoniluréia glimepirida sobre aterosclerose
the European Association for the Study
of Diabetes, 1 a 5 de setembro de 2002,
Budapest, Hungria Introdução e objetivos: A prevenção do desenvolvimento ou progressão
da aterosclerose é imperativo no tratamento de pacientes diabéticos. Esse
estudo examinou o efeito profilático potencial da glimepirida (Amaryl) sobre
a aterosclerose, em coelhos alimentados com colesterol, e investigou o
mecanismo de ação da glimepirida sobre a oxidação das células endoteliais
arteriais coronarianas mediada por LDL.
Material e métodos: Estudo 1 - Velhos coelhos de 10 semanas foram
randomizados em 4 grupos (8 por grupo, n = 32), e receberam uma dieta com
1% de colesterol durante 10 semanas. O grupo controle recebeu a dieta de
colesterol e os três outros grupos receberam glimepirida 0,1 mg/kg/dia,
glibenclamida 0,25 mg/kg/dia, ou gliclazida 4 mg/kg/dia. A dieta diária foi
restrita de 100g para todos os coelhos. Os níveis de lípides plasmáticos foram
medidos a cada 2 semanas. Após 10 semanas, aortas torácicas foram retiradas
e cobertas com óleo vermelho, e foi calculada a percentagem da superfície
com lesões. Foi realizada uma avaliação histológica das lesões óleo vermelha
positivas. Estudo 2 - Velhos coelhos de 12 semanas foram randomizados em
2 grupos; grupo controle (n=14) e grupo glimepirida 0,1 mg/kg (n=15). A
dieta foi semelhante à do primeiro estudo. Após 10 semanas, aortas torácicas
e fígados foram removidos e foram determinados os conteúdos em peróxidio
lipídico e lípides tissular. Estudo 3 - Células HCAE foram incubadas na
presença ou ausência de glimepirida, e foi avaliada a extensão da peroxidação
lipídica.
Resultados: Nos coelhos alimentados por colesterol do primeiro estudo,
foi observada uma acumulação de células ricas em lípides, nas áreas focais da
intima arterial. O tratamento com glimepirida determinou uma diminuição
significativa da percentagem observada das lesões ateroscleróticas óleo
vermelha positivas (controle: 57,5 ± 7,1% vs. glimepirida: 20,6 ± 4,8%, p <
0,01), sem alteração nos níveis de lípides plasmáticos. Resultados semelhantes
foram observados no estudo 2. Os resultados de glibenclamida e gliclazida
no primeiro estudo foram semelhantes aos do controle e um número
significativamente maior de lesões ateroscleróticos foi observada com glicazida
Continuação vs. glimepirida (p < 0,05). Foi observada uma diminuição significativa
nos conteúdos de lípides e peroxídios lipídicos nas aortas torácicas para
glimepirida (p < 0,001 vs. controle), sem alteração significativa no nível
de lípide hepático no estudo 2. Em contraste, glibenclamida e gliclazida
não conseguiram inibir a aterogênese. Em células HCAE, glimepirida (mas
não glibenclamida ou gliclazida) inibiu a modificação oxidativa do LDL,
dependendo da dosagem (IC50 = 8.8 x 10-7 M) sem citotoxicidade.
Conclusão: Estes achados sugerem que glimepirida pode prevenir o
desenvolvimento da aterogênese em um modelo aterosclerótico animal,
e que o mecanismo implicado pode ser a inibição da oxidação LDL
endotelial mediada células cell-mediated LDL oxidation.

C. Thivolet et al, 38thAnnual Meeting of Tratamento com misturas e insulina aspart bifásica melhora o
the European Association for the Study controle glicêmico em pacientes diabéticos
of Diabetes, 1 a 5 de setembro de 2002,
Budapest, Hungria Introdução e objetivos: Insulina aspart bifásica é uma mistura de
insulina aspart (IAsp) solúvel (de ação rápida) e de cristalizada em
protamina (ação intermediária). As formulações high-mix BIAsp 50 e
BIAsp 70 contêm 50 e 70% Iasp solúvel, respectivamente. Este estudo
investigou se a BIAsp 50 ou 70, comparadas com insulina humana
bifásica (BHI 30), melhoram o controle glicêmico em pacientes
portadores de diabetes.
Material e métodos: Um total de 657 pacientes portadores de diabetes
tipo 1 (184) ou tipo 2 (473), tratados com BIAsp três vezes ao dia (331)
ou BHI 30 duas vezes (326), foram incluídos nas análises de comparação.
As características demográficas no início (idade, sexo e IMC) e diabéticas
(duração do diabetes e HbA 1c ), foram comparáveis entre os grupos.
Pacientes do grupo BIAsp foram alocados para BIAsp, 50 quando seu
IMC era acima de 30 kg/m 2 ou para BIAsp 70 se era abaixo de 30 kg/m 2.
Para os dois tratamentos BIAsp, a dose diária total de insulina foi
aumentada em 10%, na dose diurna, e a BIAsp 30 foi permitida no jantar,
quando necessária. A eficácia foi avaliada por HbA 1c e parâmetros
derivados dos perfis da glicose sanguínea obtidos após 16 semanas de
tratamento.
Resultados: No grupo diabetes tipo 2, HbA1c foi menor com tratamento
BIAsp do que com BHI 30 (8,32 vs. 8,68%, p < 0,01). Isso foi confirmado
por achados de níveis menores de glicose sanguínea para BIAsp
comparada com BHI 30: glicose sanguínea média (9,05 vs. 10,0 mmol/
l, p < 0,01), média de aumento de glicose sanguínea prandial (1,52 vs.
3,21 mmol/l, p < 0,01). Também, os valores de glicose sanguínea
individual foram geralmente menores com BIAsp comparada com BHI
30, apesar de que a diferença estatisticamente significativa não foi
observada para os níveis pré-almoço e noturnos. Entretanto, o nível de
glicose sanguínea pré-café da manhã foi maior para BIAsp do que para
BHI 30 (em 1,21 mmol/l, p < 0,01), o que indica um melhor controle
noturno com BHI 30. No grupo tipo 1, menos parâmetros atingiram uma
diferença estatisticamente significativa, e o tratamento com BIAsp não
apareceu tão favorável quando comparado com BHI 30, do que no grupo
tipo 2. Para a população total, não foram observadas diferenças
significativas, no que se refere ao risco relativo de episódios
hipoglicêmicos entre BIAsp e BHI 30 (1,4, p = 0,57). Entretanto, o risco
relativo de episódios hipoglicêmicos menores foi de 1,56 (p < 0,01) para
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 05 (2002) 331

Continuação BIAsp comparada com BHI 30. Geralmente as taxas de episódios


hipoglicêmicos foram maiores para BIAsp do que para BHI 30, mas a
maioria dos episódios de hipoglicemia foram leves ou sintomáticos e
ocorreram durante o dia, o que permite ao paciente tomar medidas
apropriadas. Também, episódios hipoglicêmicos ocorreram com mais
freqüência no grupo tipo 1 do que no grupo tipo 2.
Conclusão: Tratamentos com insulina aspart bifásica high-mix mostrou
melhor controle glicêmico global, quando comparados com insulina humana
bifásica low-mix, apesar dos níveis maiores da glicose sanguínea de manhã.
Não foram observados diferenças no risco relativo de episódios
hipoglicêmicos severos, mas o risco relativo de episódios hipoglicêmicos
menores foi maior para BIAsp do que para BHI 30. Entretanto, a maioria
destes episódios hipoglicêmicos menores ocorreram durante o dia.

C. Weyer et al, 38thAnnual Meeting of Reposição de amilina durante refeição com pramlintide melhora
the European Association for the Study significativamente as excursões de glicose pós-prandial, quando
of Diabetes, 1 a 5 de setembro de 2002, adicionada à insulina regular e insulina lispro em pacientes
Budapest, Hungria diabéticos tipo 1

Introdução e objetivos: Pacientes diabéticos tipo 1 sempre manifestam


hiperglicemia pós-prandial, o que contribui insatisfatoriamente para o controle
total da glicemia (HbA1c). Apesar de análogos de insulina de ação rápida
limitarem excessivamente as excursões de glicose pós-prandial, eles não re-
estabelecem o controle normal da glicose pós-prandial. A amilina é um
hormônio secundário secretado pelas células β, que é normalmente co-
secretada juntamente à insulina em resposta às refeições, complementando
os efeitos da insulina na regulação da glicose durante a refeição, e é deficiente
em pacientes diabéticos tipo 1. Estudos anteriores demonstraram que injeções
durante à refeição de pramlintide (PRAM), um análogo sintético da amilina,
melhoram as excursões de glicose pós-prandial, quando adicionadas à insulina
regular (IR) em pacientes diabéticos tipo 1. No presente estudo, foi medido o
efeito de redução da glicose pós-prandial do pramlintide, quando adicionado
a RI ou insulina lispro (LIS), com ênfase especialmente na ótima dose-tempo.
Material e métodos: Em estudo randomizado, simples-cego, com controle
placebo, cruzado, 15 pacientes diabéticos tipo 1, tratados com IR [idade 40 ±
16,2, HbA1c 9,1 ± 1,3%, (média ± DP)] e 20 pacientes diabéticos tipo 1,
tratados com LIS [idade 41 ± 11,6, HbA1c 8,3 ± 1,2%] foram submetidos a
cinco testes consecutivos com mix de refeições (30% dos requerimentos
calóricos diários, 55%/15%/30% das kcal de carboidrato/proteína/gordura,
respectivamente). De forma randomizada, os voluntários receberam injeção
subcutânea de placebo (PBO) - 15 min, ou PRAM (60 µg) -15, 0, +15, e +30
min relativos à refeição, além da dose usual de IR ou LIS (injetada em –30 e
0 min, respectivamente). As concentrações de glicose plasmáticas foram
medidas antes, durante e 4 horas após a refeição.
Resultados: Quando injetado no 0 min, PRAM reduziu a excursão de glicose
pós-prandial por ~95% comparado com IR + PBO (incremento AUC: 13 ±
177 vs. 225 ± 232 mg hr/dl, p<0,05) e por ~75% comparado com LIS + PBO
(incremento AUC: 41 ± 171 vs. 172 ± 211 mg hr/dl, p< 0,05). Nos dois
exemplos, o aumento da glicose plasmática durante os primeiros 90 min após
a refeição, foi efetivamente prevenido (variação da linha de base para 90 min:
-13 vs. +94 mg/dl quando usado IR e –22 vs. +74 mg/dl quando usado com
LIS). Quando PRAM foi injetado em +15 ou +30 min, a AUC da glicose pós-
Continuação prandial também foi reduzida, porém numa menor extensão (~80% e 90% no
grupo IR e ~50% e 40% no grupo LIS, respectivamente). O tratamento com
pramlintide foi bem tolerado e nenhum evento adverso sério foi reportado.
Conclusão: A reposição de amilina através de injeção subcutânea de
pramlintide, imediatamente antes das refeições, melhora consideravelmente
as excursões de glicose pós-prandial em paciente portador de diabetes tipo
1, independentemente se o pramlintide é adicionado à insulina regular ou
ao análogo de insulina de ação rápida.

C. Levetan et al, 38thAnnual Meeting of Pramlintide durante 4 semanas diminui as excursões da glicose
the European Association for the Study em pacientes diabéticos tipo 1, tratados intensivamente com
of Diabetes, 1 a 5 de setembro de 2002, bombas de insulina
Budapest, Hungria
Introdução e objetivos: Excursões excessivas da glicose, incluindo picos
hiperglicêmicos e episódios de hipoglicemia, representam um problema maior
para pacientes portadores de diabetes tipo 1, mesmo para os intensivamente
tratados e com valores satisfatórios de HbA1c. Este estudo usou um sistema
de monitoração continua da glicose (Minimed), para avaliar o efeito da
pramlintide sobre as excursões da glicose em pacientes portadores de diabetes
tipo 1, intensivamente tratados com aplicação subcutânea continua de insulina.
Material e métodos: Neste estudo duplo cego, em dois centros, 24 pacientes
portadores de diabetes tipo 1 (42 ± 11 anos; HbA1c 8,2 ± 1,7%, média ± DP),
utilizando infusão continua de insulina subcutânea, receberam injeções pré-
prandiais de placebo (n = 6) ou 30 µg de pramlintide (n = 18) 3 vezes ao dia
durante 4 semanas. As doses de insulina pré-prandial foi inicialmente reduzida
de 10 para 20%. As concentrações da glicose intersticial foram medidas a
cada 5 minutos, durante 24 horas, utilizando a monitoração contínua da glicose
nas semanas 0 (início), 4 (tratamento) e 6 (pós-tratamento).
Resultados: No início, pacientes apresentaram excursões excessivas de
glicose, gastando em média 59% de um período de 24 horas, com valores da
glicose acima de 140 mg/dl, 13% abaixo de 80 mg/dl, e 28% com taxas
euglicêmicas (80 to 140 mg/dl). Após 4 semanas de pramlintide, o tempo
acima da euglicemia diminuiu para 48% e o tempo de euglicemia aumentou
de 32 para 37%. Essa alteração do intervalo hiperglicêmico para euglicemico,
ocorreu sem aumento significativo da hipoglicemia (15%), sem eventos
hipoglicêmicos severos, e com dose de insulina pré-prandial diminuídas em
aproximadamente 20%. Na semana 6 (pós-tratamento), o perfil da glicose de
24 horas voltou para os valores pré-tratamento.
Conclusão: Esses resultados indicam que, na estratégia para terapia intensiva
de insulina em pacientes portadores de diabetes tipo 1, a substituição da
amylin para pramlintide diminui as excursões excessivas da glicose, o que
pode ajudar o paciente atingir os objetivos de controle glicêmico.

P. Valensi et al, 38thAnnual Meeting of Efeito positivo do orlistat no controle de níveis de glicose
the European Association for the Study sanguínea em pacientes diabéticos tipo 2 obesos ou com
of Diabetes, 1 a 5 de setembro de 2002, sobrepeso
Budapest, Hungriá
Introdução e objetivos: A perda de peso é difícil de ser atingida e é
considerada como sendo de suma importância para a melhora dos níveis
sanguíneos de pacientes diabéticos tipo 2 (DM2) com sobrepeso. O objetivo
334 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 05 (2002)

Continuação deste estudo foi determinar o uso do orlistat para ajudar a perda de peso e os
parâmetros glicêmicos em pacientes com pouco controle dos níveis sanguíneos
de glicose.
Material e métodos: Este estudo multicêntrico, duplo-cego, incluiu 193
pacientes com sobrepeso e obesos (18-65 anos; IMC 28-40kg/m²) com DM2
(HbA1c 7-9%). Os pacientes foram tratados com metformina, sulfoniluréias,
ou ambos, numa dose estável, durante pelo menos 3 meses, porém foram
insuficientemente equilibrados. Os pacientes foram randomizados para o
tratamento com orlistat (ORL) 120 mg (n = 97) ou placebo (PL; n = 96),
juntamente com uma dieta com redução calórica moderada por 6 meses. As
análises foram conduzidas na população ITT (modelo ANCOVA) e os
resultados apresentados como médias SEM.
Resultados: Os dois grupos de pacientes foram comparáveis na linha de
base em se tratando dos parâmetros principais de IMC (média=33,7 ± 3.4 kg/
m²) e HbA1c (média = 7,7 ± 0,8%). Aos seis meses, a perda de peso foi maior
no grupo ORL comparado ao grupo PL (-3,9 ± 3,4% vs –1,3 ± 2,6%, p <
0,0001). A melhora dos níveis de HbA1c também foi maior no grupo ORL (-
0,54 ± 0,10% vs. –0,18 ± 0,09%; p < 0,002). A redução de ³ 1% em HbA1c foi
atingida em 33% dos pacientes tratados com ORL versus 21% dos pacientes
tratados com PL (p = 0,023) e uma redução de ³ 1,5% também foi atingida em
pacientes tratados com ORL (19% vs 4%; p < 0,001). O nível de 6.5% de
HbA1c em plasma marcado foi atingido por 36% dos pacientes tratados com
ORL. A melhora dos níveis de glicemia de jejum foi maior no grupo tratado
com ORL comparado com PL (-1,39 ± 0,22 mmol/l vs. –0,50 ± 0,24 mmol/l,
p < 0,0001). A dose oral de medicamento anti-diabético foi significativamente
mais reduzida nos pacientes tratados com ORL (10,3%) do que no PL (1,2%;
p < 0,002). Pacientes que perderam mais do que 5% do seu peso inicial em 3
meses, constituíram um subgrupo de resposta precoce (n = 24). Este subgrupo
atingiu uma perda de peso de –8,6 ± 3,1% e uma melhora de HbA1c de –1,27
± 0,17% em 6 meses.
Conclusões: Estes resultados demonstram que a adição do orlistat à terapia
convencional, mas insuficientemente ativa com antidiabéticos orais,
promovem melhora significativa no controle sanguíneo de pacientes
diabéticos tipo 2 obesos ou com sobrepeso. Mais interessantemente, 25%
dos pacientes tratados com ORL responderam precocemente e seus níveis
médios de HbA1c foram reduzidos em 1,27%.

P. Home, European Insulin Glargine Estudo multicêntrico randomizado de insulina glargina versus
Study Group, Newcastle upon Tyne, insulina NPH em pacientes portadores de diabetes tipo 1
United Kingdom, 38thAnnual Meeting
of the European Association for the Introdução e objetivos: Insulina glargina (Lantus) é um novo análogo da
Study of Diabetes, 1 a 5 de setembro de insulina humana que imita a secreção normal de insulina basal. O objetivo
2002, Budapest, Hungria deste estudo foi comparar a insulina glargina com a insulina NPH, para
suplementação de insulina basal em adultos portadores de diabetes tipo 1.
Material e métodos: Neste estudo multicêntrico, randomizado, aberto, 585
pessoas com diabetes tipo 1 (idade 17-77 anos) foram randomizadas para
receber uma vez ao dia (na hora de dormir) insulina glargina (n = 292), ou
uma ou duas vezes por dia insulina NPH (n = 147 e n = 146, respectivamente)
por 28 semanas. Para aquelas pessoas randomizadas com insulina NPH, a
escolha do tratamento de uma ou duas vezes ao dia, foi feita para que elas
permanecessem em regime similar ao usado no pré-estudo. Todos os indivíduos
continuaram com insulina humana regular prandial como no pré-estudo.
Resultados: Características das linhas base foram similares entre os
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 05 (2002) 335

Continuação indivíduos tratados com insulina glargina e insulina NPH. A média de idade
foi 39,2 anos, duração do diabetes 15,5 anos, e IMC 24,9 kg/m2. A linha base
para HbA1c foi 7,9 ± 1,2 e 8,0 ± 1,2%, e glicemia de jejum foi 9,3 ± 2,7 e 9,2
± 2,4 mmol/l (média ± DP) nos grupos de tratamento com insulina glargina e
insulina NPH, respectivamente. Não existiram diferenças significativas entre
os grupos de insulina glargina e insulina NPH na linha de base até o ponto
final na HbA1c (0,21 ± 0,05 e 0,10 ± 0,05%, respectivamente [média ± DP]).
A linha de base até o ponto final na glicemia de jejum também foi similar
entre os grupos tratados com insulina glargina e insulina NPH (–1,17 ± 0,12
e –0,89 ± 0,12 mmol/l). Entretanto, em pessoas que previamente tinham estado
em regime de insulina basal duas vezes ao dia, houve um decréscimo
clinicamente relevante da linha base até o ponto final na glicemia de jejum de
pacientes tratados com insulina glargina, comparado com os pacientes tratados
com insulina NPH (–1,42 ± 2,51 e –0,81 ± 1,92 mmol/l [média ± DP]). Não
houve diferença significativa entre os grupos tratados no que diz respeito ao
número de indivíduos relatando ≥ 1 episódio de hipoglicemia sintomática,
incluindo episódios severos e noturnos. Insulina glargina foi bem tolerada,
com uma taxa similar de lugares de injeção e eventos adversos sistêmicos
comparados à insulina NPH, e não houve diferença significativa entre os dois
grupos tratados com anticorpos para insulina.
Conclusão: Insulina glargina, administrada em uma dose única, subcutânea,
ao deitar, combinada à insulina humana regular prandial em pessoas
portadoras de diabetes tipo 1, promove um controle dos níveis glicêmicos
ao menos equivalente ao alcançado com insulina NPH com insulina
prandial, sem aumento do risco de hipoglicemia.
Diabetes Clínica 05 (2002) 337

Produtos e novidades

Lowçucar: Pó para preparo de bolo light, sorvete light e


pudim light

· O pó para preparo de bolo light Lowçucar permite fazer bolos sem


açúcar. Além de facilitar a vida, o bolo light Lowçucar tem uma redução de
38% de calorias e 78% de gorduras em relação ao bolo comum. O produto
está disponível em embalagem de 300g, no sabor chocolate, com as
seguintes formas: tipo bolo inglês (9x20cm), redondo com furo (18cm) e
retangular (20x25cm).
· O pó para preparo de sorvete light Lowçucar possui uma redução
calórica de 48% em relação ao sorvete com açúcar, além de ser isento de
açúcar em sua formulação. Este produto é adaptado para a produção em
grande escala, pois com apenas uma embalagem pode-se preparar 10
litros de sorvete. O pó para preparo de sorvete Lowçucar está disponível,
em embalagens de 1 kg, nos sabores chocolate, morango, coco e nata.
· Com apenas uma embalagem de pó para preparo de
pudim Lowçucar, pode-se fazer 28 porções de 100 g. O
pudim light
Lowçucar tem
uma redução
calórica de 50%
em relação ao
pudim com açúcar, além de
não conter açúcar em sua
formulação.

Ez-Vac para facilitar o uso de lugares alternativos de amostras


de sangue

Ez-Vac é um pequeno sistema, bastante simples, que permite escolher


lugares alternativos para pegar pequenas amostras de sangue, como, por
exemplo, no antebraço, evitando, assim, as picadas dolorosas na ponta dos
dedos. Basta aplicar Ez-Vac na pele do antebraço, apressar o pistão e liberar,
criando um vazio para atrair o sangue na pele. Assim, o uso de testes de tiras
reagentes é mais simples, a escolha de lugares de picadas é maior e a dor é
minimizada.
338 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 05 (2002)

Penfine: Nova geração de agulhas

As agulhas universais Penfine da Disetronic, de uso único, podem


ser utilizadas com a maioria das canetas e sistemas de administração
de insulina. Um simples clic permite inserir a agulha. O comprimento
da agulha, de 6 a 10 mm (diâmetro de 0,25 a 0,33 mm), permite aplicar
a insulina no lugar certo do tecido subcutâneo e sem risco.

Micromat II: Novo sistema de medição da hemoglobina


glicosilada de Bio-Rad Laboratories

O sistema fácil para medir a HbA1c do laboratório Bio-Rad, permite


conhecer imediatamente, durante a consulta do paciente, a taxa de hemoglobina
glicosilada. Este pequeno sistema, aprovado pelo National Glycohemoglobin
Standardization Program do Diabetes Control and Complications Trial
(DCCT), usa uma amostra de sangue de 10 ml e mostra o resultado na telinha,
5 minutos após o início do procedimento.
Diabetes Clínica 05 (2002) 339

Resumos de trabalhos e congressos


T. Konrad et al, Istitute foor Metabolic Impacto da pioglitazona sobre a resistência à insulina e a pressão
Research, Frankfurt, 38th Annual sanguínea em pacientes não diabéticos portadores de hipertensão
Meeting of the European Association arterial
for the Study of Diabetes, 1 a 5 de
setembro de 2002, Budapest, Hungria Introdução e objetivo: A resistência à insulina (IR) é uma anormalidade
complexa e precoce em pacientes hipertensivos, afetando a glicose, o
metabolismo dos lípides e a reatividade vascular. Foi demonstrado que a
pioglitazona, sensibilizador à insulina, diminui a resistência à insulina e,
conseqüentemente, melhora o controle glicêmico, bem como a dislipidemia
diabética em pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Os efeitos
de PIO sobre a resistência à insulina, pressão sanguínea e parâmetros
metabólicos, em pacientes não diabéticos portadores de hipertensão arterial,
não foram ainda estudados.
Material e métodos: 48 pacientes não diabéticos, portadores de hipertensão
arterial moderada, foram tratados em um estudo clínico de fase II randomizado,
monocêntrico, duplo cego, com PIO 45 mg (n = 23) ou com placebo (n = 25)
durante 16 semanas. Foram avaliados a glicose corpo inteiro derivada da
taxa de infusão da glicose (GIFR) no clamp euglicêmico-hiperinsulinemico,
aplicando o protocolo do European Group for the Study of Insulin Resistance
(EGIR), medições clássicas da pressão arterial e situação metabólica, incluído
um teste de tolerância oral à glicose de 75 g (OGTT).
Resultados:
Parâmetro Pioglitazona 45 mg Placebo alteração Valor de p
Antes Semana 16 Antes Semana 16 PIO P vs. BL vs. P

GIFR (mg/[min
x kg BW] 4,3 ± 2,1 5,5 ± 2,0 3,9 ± 1,7 4,3± 1,5 60,1 23,3 0,0002 0,022
HOMA IR 58,9 ± 63,4 36,4 ±21,0 56,4± 25,8 57,1 ± 31,8 -14,3 8,8 <0,001 0,001
AUC0-120
Glicose 17,0±3,7 15,3±2,9 17,1±4,0 18,0±2,7 -8,7 8,6 <0,001 <0,001
AUC0-120
Insulina 9,3 ± 5,9 5,2 ± 2,1 10,1 ± 5,5 9,7 ± 7,8 -37,4 -8,2 0,018 0,002
RR syst
(mm Hg) 141,9 ±11,8 135,2 ± 15,8 143,6 ± 17,5 140,6± 15,6 -4,4 -1,4 <0,001 0,275
RR diast
(mm Hg) 88,7 ± 8,2 80,8 ± 9,1 87,0 ±11,3 85,2 ± 10,0 -8,7 -1,4 0,001 0,016
Glicose
plasmatica de jejum
(mmol/l) 5,4 ± 0,8 5,1 ± 0,4 5,8 ± 0,7 5,7 ± 0,6 -4,1 -0,7 <0,001 0,002
Insulina
plasmática de jejum
(pmol/l) 90,2 ± 50,0 59,6 ± 32,0 87,2 ± 45,6 84,0 + 46,9 -25,9 -2,5 <0,001 0,004
peptídeo-C
plasmático de jejum
(nmol/l) 1,1 ± 0,4 0,9 ± 0,3 1,1 ± 0,5 1,1 ± 0,5 -11,3 5,0 0,002 0,036

Conclusão: PIO melhora a sensibilidade à insulina em pacientes não


diabéticos portadores de hipertensão arterial. Além disso, a melhora da
sensibilidade à insulina foi associada à melhora da pressão sanguinea nestes
pacientes.
340 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 05 (2002)

A Bélanger, Exubera Phase III Study Eficácia e segurança de insulina humana (Exubera) comparada à
Group, Department of Medicine, insulina subcutânea em pacientes diabéticos tipo 2
University of Montreal, Montreal, PQ,
Canadá, 38th Annual Meeting of the Objetivos: Apesar dos benefícios provados ao longo prazo do controle
European Association for the Study of glicêmico realizado por insulina, o tratamento por insulina em diabetes tipo 2
Diabetes, 1 a 5 de setembro de 2002, é muitas vezes atrasado, ou implantado inadequadamente, em pacientes
Budapest, Hungria apresentando níveis elevados de HbA1c. Este estudo investigou se um
tratamento por insulina, usando a liberação pulmonar de uma insulina em pó
seco de ação rápida (Exubera: INH), mais uma aplicação única de insulina
subcutânea de ação longa, pode fornecer um controle glicêmico semelhante
de um tratamento insulínico convencional em pacientes portadores de diabetes
tipo 2.
Material e métodos: Neste estudo multicêntrico de fase III, pacientes
diabéticos tipo 2 foram randomizados por tratamento de 6 meses, com seja,
INH antes das refeições mais uma dose ao deitar de Ultralente (INH; n =
149), ou 2 aplicações de insulina SC (regular/NPH insulina; n = 150). Doses
de INH foram liberadas em 1-2 inalações de 1 ou 3 mg antes das refeições. O
primeiro resultado pesquisado foi a alteração de HbA1c do início até o final
do estudo.
Resultados: HbA1c diminuiu igualmente nos 2 grupos (INH, -0,7%; SC, -
0,6%). A porcentagem de pacientes com HbA1c < 8% foi semelhante com
INH (76,2%) e SC (69,0%); melhora posterior no controle glicêmico (HbA1c
< 7,0%), foi observada significativamente mais em pacientes recebendo INH
(46,9%) do que SC (31,7%; IC: 1,24, 4,14]). A taxa global de hipoglicemia
(eventos/indivíduo-mês) foi um pouco menor no grupo INH (1,4) do que no
grupo SC (1,6), sem diferença significativa em eventos severos. Pacientes
tratados por INH desenvolveram anticorpos anti-insulínicos sem manifestações
clínicas relevantes. A frequência global e a natureza dos eventos adversos
foram comparáveis entre os grupos. A tosse foi encontrada com mais
frequência no grupo INH (21% vs 3%), tendo sido avaliada como leve a
moderada. Foi comparável (-0,015 L; IC: -0,063, 0,034) a diferença média
ajustada no volume expiratório em 1 segundo. A capacidade de difusão do
monóxido de carbono mostrou uma diferença (-0,808 ml/min/mmHg; IC: -
1.574, -0.043). A caracterização dessas alterações, incluído se uma diferença
dessa magnitude tem alguma significação clínica, estão em andamento. Os
pacientes declararam grandes melhoras na satisfação do tratamento com INH
quando comparado com SC (p < 0,0001).
Conclusão: Este estudo sugere que o tratamento com INH pode fornecer
uma terapia adequada para pacientes diabéticos tipo 2.

I. De Leeuw et al, 38thAnnual Meeting Menor risco de hipoglicemia noturna e de desenvolvimento


of the European Association for the favorável do peso em indivíduos diabéticos tipo 1, após 12 meses
Study of Diabetes, 1 a 5 de setembro de de tratamento com insulina detemir vs. insulina NPH
2002, Budapest, Hungria
Introdução e objetivos: Insulina detemir é o primeiro produto de uma nova
classe de análogos de insulina basal, solúvel, com pH neutro. Já foi
demonstrado que insulina detemir fornece níveis de glicose mais estáveis e
previsíveis, com menos variações intra-individuais do que a insulina NPH. O
objetivo deste estudo foi o de comparar a segurança, a longo prazo, incluído
o risco de hipoglicemia, bem como a eficácia da insulina detemir, após
tratamento de 12 meses.
Material e métodos: Este estudo multinacional, aberto, com grupo paralelo,
incluiu um período de tratamento randomizado de 6 meses, seguido por período
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 05 (2002) 341

Continuação de extensão de 6 meses. Pacientes portadores de diabetes tipo 1 foram


randomizados para receber insulina detemir ou NPH (2:1), em tratamento de
bolus de insulina 2 vezes ao dia, em combinação com insulina aspart de ação
rápida. Após 6 meses iniciais, 74% (216 com insulina detemir; 99 com NPH)
aceitaram continuar o estudo para 6 meses de extensão. Os grupos de
tratamento foram comparáveis com as seguintes características iniciais:
indivíduos caucasianos homens (53%) e mulheres (47%), idade: 40,3 (12,9)
anos (média ± DP); duração do diabetes 17,4 (9,9) anos; peso: 71,4 (11,3);
IMC: 24,5 (3,1); HbA1c: 8,13 (1,13)%.
Resultados: No total, 308 pacientes (212 com insulina detemir; 96 com
NPH) completaram o estudo total de 12 meses. O controle glicêmico foi
semelhante nos 2 grupos de tratamento após 12 meses, como medido por
HbA1c (insulina detemir: 7,53% vs. NPH: 7,59%), glicose plasmática de jejum
(insulina detemir: 10,7 vs. NPH: 10,8 mmol/l) e perfis da glicose sanguínea.
O risco de hipoglicemia noturna (23:00 - 06:00) foi 32% menor (p = 0,016)
em indivíduos tratados por insulina detemir do que com NPH, apesar de não
existir diferença significativa no risco global de hipoglicemia. O perfil de
evento adverso foi semelhante entre os 2 tratamentos; os eventos adversos
sérios foram esporádicos nos 2 grupos (5,6 % e 7,1% dos indivíduos com
insulina detemir e NPH, respectivamente). Exclusões devido a eventos
adversos, foram pouco frequentes (<1%) nos 2 grupos. Após 12 meses de
tratamento, o peso corporal médio (ajustado na linha base) foi
significativamente diferente nos 2 grupos de tratamento (insulina detemir:
71,5 kg; NPH: 72,8 kg; p < 0,001).
Conclusão: Insulina detemir forneceu uma diminuição significativa no risco
de hipoglicemia noturna em 12 meses, no mesmo nível de controle que o
NPH. Não foram observadas diferenças entre os perfis de segurança das 2
insulinas. A diferença no peso corporal médio em favor da insulina detemir
pode indicar uma vantagem clínica potencial para os pacientes.

J. M. Young et al, 38thAnnual Meeting Eficácia a longo prazo e segurança de vardenafil em homens
of the European Association for the diabéticos portadores de disfunção erétil
Study of Diabetes, 1 a 5 de setembro de
2002, Budapest, Hungriá Introdução e objetivos: Determinar a eficiência a longo prazo de vardenafil
para o tratamento da disfunção erétil em homens portadores de diabetes mellitus,
num estudo de 3 meses.
Material e métodos: Estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego com
10 ou 20 mg de vardenafil via oral, administrado quando necessário. Os pacientes
eram portadores de diabetes tipo 1 ou 2 e de disfunção erétil desde pelo menos
6 meses. Após 3 meses de terapia duplo-cego, os pacientes tratados por placebo,
foram tratados por vardenafil 10 ou 20 mg durante 3 meses adicionais.
Os pacientes recebendo vardenafil 10 ou 20 mg na randomização, foram
tratados durante 6 meses. As medições de eficácia incluíram escores de ereção
e taxas de sucesso na duração da ereção, a partir de diários de pacientes e
questionário global de avaliação sobre a melhora das ereções. Foram notados,
eventos adversos e descontinuidade do tratamento.
Resultados: Um total de 340 homens continuaram o tratamento durante a
sua fase de extensão; 55 homens tratados por placebo, pois foram convertidos
para vardenafil 10 mg, 51 homens tratados por placebo convertidos para
vardenafil 20 mg. 118 e 116 pacientes continuaram o tratamento com 10 e 20
mg, respectivamente, durante 6 meses. Um total de 328 pacientes foram
validados para análise de segurança e eficácia. Após 6 meses, homens tratados
com 20 mg melhoraram os escores de ereção (de 10,9 para 12,0), comparados
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 05 (2002)

aos 6,8 para 8,3, nos sujeitos tratados com 10 mg. Essas alterações foram
Continuação semelhantes para os pacientes anteriormente tratados por placebo ou por
vardenafil. Os homens anteriormente tratados por placebo, respondem
significativamente a vardenafil 10 ou 20 mg, com aumento da taxa de duração
da ereção durante o ato sexual. Os eventos adversos mais frequentes, em
pessoas tratadas durante 6 meses, foram a vasodilatação (11%) e a dor de
cabeça (10%), mas foram encontrados só durante os 3 primeiros meses, e
diminuíram bastante no período de extensão, com 3% para vasodilatação e
2% para dores de cabeça. Somente 9 pacientes pararam o tratamento por causa
dos eventos adversos, com 5 casos possivelmente ou provavelmente ligados
ao vardenafil.
Conclusão: Em homens diabéticos, vardenafil demonstrou eficácia e
segurança num período de tratamento de 6 meses, com 73% dos pacientes
relatando uma ereção melhorada com a dose de 20 mg.

Final n início 3 meses 6 meses

Placebo para 10 mg % manutenção 49 12,6 24,5 46,8


GAQ % 31 — 18 65

Placebo para 20 mg % manutenção 46 10,7 24,1 54,2


GAQ % 32 — 17 71

10 mg para 10 mg % manutenção 114 10,7 49,6 54,0


GAQ % 70 — 54 61

20 mg para 20 mg % manutenção 111 14, 57,0 61,4


GAQ % 79 — 69 73

C. G. Fanelli et al, 38thAnnual Meeting Farmacodinâmica da infusão subcutânea de insulina glargina


of the European Association for the após o primeiro dia, comparado com o sétimo dia, em
Study of Diabetes, 1 a 5 de setembro de administração diária única em pacientes portadores de diabetes
2002, Budapest, Hungria tipo 1

A farmacocinética (pK) e farmacodinâmica (pD) da administração


subcutânea (SC) do análogo de insulina de longa ação glargina em pacientes
diabéticos tipo 1 (DM1), foram avaliados somente após a primeira
administração SC. Entretanto, é possível que pK/pD da insulina glargina sejam
diferentes após vários dias de uso em diabetes tipo 1. Para estabelecer o pK/
pD da insulina glargina após 7 dias de uso, 20 pacientes portadores de diabetes
tipo 1, recebendo múltiplas doses diárias de lispro ou insulina NPH (idade 31
± 2 anos, duração do diabetes 11 ± 1 anos, HbA1c 7,1 ± 0,2%), foram estudados
com a técnica do clamp isoglicêmico, após administração SC de 0,3 U/kg de
insulina glargina em 2 ocasiões: depois da primeira administração de glargina
(dia 1) e após 7 dias (dia 7), de uma administração diária única ao deitar. Dez
pacientes foram randomizados para estudar a seqüência dia 1 – dia 7, outros
10 pacientes para estudar a seqüência dia 7 – dia 1 (no último grupo, após o
dia 7, teve um período de eliminação de 7 dias, pois NPH foi usada, e pacientes
estudados no dia 1). Pico da ação, fim e duração da ação foram definidos
como anteriormente descrito (Diabetes 49:2142.8, 200):
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 05 (2002) 343

Continuação Dia 1 Dia 7


Pico da ação (h) 1,5 ± 0,3 0,7 ± 0,2*
Fim da ação (h) 21,9 ± 3,2 23,8 ± 1,3*
Duração da ação (h) 20,5 ± 3,7 23,2 ± 1,3*

(*p < 0,05 vs. dia 1)

O perfil de ação, como indicado pelas taxas de administração de glicose no


clamp, foi mais plano no dia 7 vs. dia 1. As áreas sob a curva de infusão de
glicose foram um pouco maiores no dia 7, comparados com dia 1 (19,8 ± 1,9
vs. 17 ± 2,1 mg/dl/32 h) (p < 0,05). A variabilidade inter-individual, como
avaliada pelo desvio padrão das taxas de infusão da glicose, foi menor no dia
7 (0,5 ± 0,07 mg/kg/min) vs. dia 1 (0,9 ± 0,1 mg/kg/min) (p < 0,05).
Conclusões: É diferente o pD da insulina glargina após 1 e 7 dias. Apos 7
dias de administração de glargina, o pico de ação é mais precoce, a duração
de ação perto de 24 horas, o perfil de ação mais plano, a ação da insulina
maior, e a variabilidade inter-individual menor, quando comparados com a
primeira administração. Esses resultados podem ser explicados pelo tempo
requerido para o análogo de insulina de longa ação atingir o estado adequado
pK/pD.

M. Massi Benedetti et al, 38thAnnual Menor incidência de hipoglicemia noturna em pacientes


Meeting of the European Association diabéticos tipo 2, tratados com insulina glargina comparada com
for the Study of Diabetes, 1 a 5 de insulina NPH, administrada em tratamento combinado com
setembro de 2002, Budapest, Hungria agentes orais

Introdução e objetivos: Este estudo comparou a eficácia e segurança de


uma nova insulina de longa ação, insulina glargina (Lantus), com insulina
NPH, cada uma administrada com tratamento conjugado com drogas
antidiabéticas orais, em pacientes diabéticos tipo 2.
Material e métodos: Estudo multicêntrico, aberto, randomizado com 570
pacientes diabéticos tipo 2, anteriormente tratados com agentes orais ou
insulina mais agentes orais, idade 34-80 anos, tratados durante 52 semanas
com insulina glargina ou insulina NPH, administrada uma vez por dia ao
deitar. Agentes orais anteriores foram continuados durante o estudo.
Resultados: Foi observada uma diminuição clinicamente significativa dos
valores de GHb do início até o final do estudo com as duas drogas (insulina
glargina: -0,46%; insulina NPH: -0,38%; p = 0,415). Durante o período de
tratamento, os pacientes tratados por glargina e os pacientes tratados por NPH,
experimentaram níveis similares de hipoglicemia sintomática (41 vs. 35%, p
= 0,1788), usando o teste Cochran–Mantel–Haenszel. Um número
significativamente menor de pacientes tratados por glargina, reportaram pelo
menos um episódio de hipoglicemia noturna em comparação com pacientes
tratados por NPH (12 vs. 24%, p = 0,002). A incidência de eventos adversos
foi semelhante nos 2 tratamentos. No subgrupo de pacientes que não receberam
insulina anteriormente, menos pacientes do grupo glargina experimentaram
hipoglicemia noturna, do que no grupo NPH (10 vs. 24%, p = 0,0001). No
subgrupo de pacientes com sobrepeso (IMC >28 kg/m2), menos pacientes
experimentaram hipoglicemia noturna do que no grupo NPH (10 vs. 22%, p
= 0,0006).
344 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 05 (2002)

Continuação Conclusão: Este estudo demonstrou que insulina glargina é tão eficaz como
a NPH para controlar a glicemia em pacientes diabéticos tipo 2, e menos
pacientes experimentaram episódios de hipoglicemia sintomática,
particularmente em episódios noturnos.

R. A. Gerber et al, 38thAnnual Meeting Balanço da complacência, satisfação do paciente e melhora do


of the European Association for the controle glicêmico em pacientes portadores de diabetes tipo 1 e
Study of Diabetes, 1 a 5 de setembro de tipo 2: estudos a longo prazo com insulina inalada (Exubera)
2002, Budapest, Hungria

Introdução e objetivos: Dados de 3 estudos clínicos de 3 meses, sugerem


que terapia com insulina inalada (Exubera: INH) melhora a satisfação do
tratamento em pacientes portadores de diabetes. Esta melhora da satisfação é
correlata com melhora do controle glicêmico (HbA1c). É desconhecido se
este resultado somente é obtido após um ano de tratamento.
Material e métodos: Um tratamento de 1 ano foi proposto a pacientes
portadores de diabetes tipo 1 (n = 66) e tipo 2 (n = 47), que completaram
estudos separados de 3 meses, durante os quais receberam tratamento INH
pré-almoço (com aplicação de Ultralente ao deitar) ou tratamento convencional
de insulina subcutânea (2-3 aplicações/dia). Dados dos dois estudos foram
reunidos. Satisfação do paciente (global, conveniência, facilidade de uso,
conforto social) foi avaliada por questionário de 15 itens, durante o estudo
anterior (no ínicio e nos três meses), e no final do período de extensão de 1
ano. Porcentagens médias da alteração de satisfação foram calculadas, usando
modelos de análise de covariância com ajustes para HbA1c, IMC, glicose
plasmática de jejum, parâmetros demográficos.
Resultados de preferência: No fim do primeiro estudo, 82% dos 55 pacientes
recebendo INH, escolheram ficar com INH; 13% escolheram insulina SC e
5% pararam o tratamento. Dos 58 pacientes em tratamento SC no primeiro
estudo, 71% escolheram INH, 21% continuaram com SC e 8% pararam o
tratamento.
Resultados de satisfação: Do início até o fim do estudo de 1 ano, indivíduos
com INH apresentaram satisfação global maior do que os paciente com SC
(38,8% INH vs. 4,0% SC; p < 0,01), conveniência/facilidade de uso (42,4%
INH vs. –1,7% SC; p < 0,01) e conforto social (43,3% INH vs. 12,7% SC; p
= 0,11). Uma diminuição absoluta de 1% em HbA1c foi associada com melhora
da satisfação global (9,1%; r = -0.25; p < 0,01), conveniência/facilidade de
uso (9,9%; r = -0,25; p = 0,01) e conforto social (10,4%; r = -0,17; p = 0,07).
Conclusão: Estes dados sugerem que INH foi preferida sobre SC e resultou
em melhor satisfação do paciente no curto e longo prazo (pelo menos de
um ano). Melhorias na satisfação do paciente foram correlatas com
melhorias no controle glicêmico. Melhora da satisfação do paciente e
conveniência podem, na prática clínica, induzir uma melhor complacência
e aderência ao tratamento, como comprovado pela melhora dos níveis de
HbA1c.
Cunha RPF et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 346~354
Diabetes 345

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 05 (2002) 346~354

REVISÃO

Neuropatia periférica diabética: Tratamentos recentes


Peripheral diabetic neuropathy: Recent treatments

Rosalina de Paula Ferreira Cunha*, Mirella Magalhães Tenório Brito*, Érica Maria Belo dos Prazeres*,
Nicodemos Teles de Pontes Filho**

*Acadêmicas do 6° período do Curso de Fisioterapia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
**Professor do Departamento de Patologia- CCS/UFPE, pesquisador do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA-UFPE),
mestre em Anatomia Patológica e doutorando em Nutrição

Resumo
Esse estudo teve como objetivo contribuir para o melhor conhecimento da neuropatia periférica diabética e do papel da plasticidade neural na
regeneração dos nervos afetados e/ou no brotamento colateral dos axônios vizinhos intactos, o que diminuiria os sintomas, promovendo a
recuperação funcional. A metodologia foi a revisão de literatura, referente aos mecanismos fisiopatológicos, que contribuem para o
desenvolvimento da neuropatia periférica diabética e sua principal conseqüência, o pé diabético, e os tratamentos mais recentes. Concluído o
estudo foi possível observar que novos medicamentos e terapias promovem a plasticidade neural, estimulando a regeneração nervosa e o
brotamento colateral. A fisioterapia é essencial para os pacientes diabéticos com neuropatia periférica, não apenas no tratamento, mas também
na prevenção de futuras complicações, ajudando a reduzir os sintomas e melhorando a circulação sangüínea para os pés, diminuindo o risco de
desenvolver o pé diabético, causa importante de muitas amputações e incapacidades funcionais.

Palavras-chave: Neuropatia periférica diabética, pé diabético, plasticidade neural e fisioterapia.

Abstract
Aim of this study is to contribute for better knowledge of peripheral diabetic neuropathy and role of neural plasticity in affected nerves
regeneration and/or in the side sprouting of intacts neighbors axons, which would decrease symptoms, promoting the functional recovery. The
methodology was literature review, regarding to physiopathological mechanisms that contribute for peripheral diabetic neuropathy development
and its main consequence, the diabetic foot, and the more recent treatments. Concluded the study it was possible to observe that new medicines
and therapies promote the neural plasticity, stimulating the nervous regeneration and the side sprouting. The physical therapy is essential for
diabetic patients with peripheral neuropathy not only in the treatment, but also in prevention of future complications, helping to reduce symptoms
and improving blood circulation for the feet, which decrease the risk of developing diabetic foot, important cause of many amputations and
functional incapacities.

Key-words: Peripheral diabetic neuropathy, diabetic foot, neural plasticity and physical therapy.

Artigo recebido em 10 de abril de 2002; revisado em 10 de julho de 2002; aprovado em 30 de agosto de 2002.

Endereço para correspondência: Rosalina de Paula Ferreira Cunha, Rua Luís Guimarães, 296, Casa Forte, 52061-160, Recife-PE,
Tel: (81) 3441-2731, E-mail: rosalinacunha@hotmail.com.
346 Cunha RPF et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 346~354

Introdução muscular, se as fibras nervosas danificadas são motoras,


perda de sensibilidade, dor, dormência e sensações anormais,
Diabetes mellitus é uma doença caracterizada pela falta como formigamento, alfinetadas e queimação, se as fibras
absoluta ou relativa de insulina no organismo. Manifesta- nervosas atingidas são sensitivas, e disfunções nos órgãos
se devido a uma deficiente função secretora de insulina pelas internos, comandados pelo sistema nervoso autônomo, se
células β das ilhotas de Langerhans, situadas no pâncreas as fibras nervosas afetadas são pertencentes a esse sistema
e/ou a uma ação deficiente da insulina nos tecidos-alvo. A [1,2,4,5,6].
insulina facilita a penetração de glicose nas células de tecidos O risco de desenvolver a neuropatia é maior para
insulino-dependentes. No diabetes mellitus, este hormônio pacientes de idade avançada, fumantes, alcoólatras, com
é incapaz de exercer adequadamente sua função, logo as controle irregular da glicemia e aqueles que apresentam
células ficam impedidas de absorver a glicose, elevando os diabetes de longa duração [1,2,5].
níveis dessa substância no sangue e sua excreção urinária.
A poliúria (excesso de eliminação de urina), sede exagerada, Classificações da neuropatia periférica diabética
fome intensa, glicosúria (presença de glicose na urina), perda
de peso, cansaço, dificuldade de cicatrização e impotência A neuropatia periférica diabética pode ser:
sexual, são alguns dos sintomas desta doença [1,36,37]. Os
pacientes diabéticos podem ser classificados em dois grupos: - Sensorial ou sensitiva: Quando os nervos afetados são
aqueles que levam informações das sensações das várias
- Tipo 1 ou insulino-dependente: Os pacientes são partes do corpo para o sistema nervoso central. Esta é a
dependentes do uso terapêutico de insulina. Na maioria dos forma mais comum de neuropatia.
casos, o início da doença ocorre na infância ou na juventude. - Autonômica ou independente: Quando afeta os nervos
Sua etiologia abrange fatores genéticos e ambientais, como que controlam as atividades involuntárias do organismo.
viroses, respostas imunológicas anormais e auto-imunidade. Pode causar impotência sexual, hipotensão ortostática,
Geralmente, anticorpos contra células β ou contra insulina diarréia, bexiga neurogênica, a qual não se esvazia
são detectados no diagnóstico deste tipo de diabetes [1]. totalmente na micção e se torna alvo para repetidas
- Tipo 2 ou não-insulino-dependente: Embora os infecções, entre outras disfunções.
pacientes desse tipo passem eventualmente a ter que usar - Motora: Quando atinge os nervos que mandam os sinais
insulina para controle da glicose, não há dependência ao para os músculos a fim de que estes executem os
uso terapêutico desta substância. Os pacientes podem utilizar movimentos. Esta forma é muito rara.
medicamentos orais que induzem à secreção desse - Mononeuropatia: Quando só um nervo for lesado.
hormônio. O diabetes tipo 2 é característico da idade adulta. - Polineuropatia: Quando vários nervos forem
Com o envelhecimento, sua incidência é progressivamente danificados.
maior. Sua etiologia envolve múltiplos fatores, destacando- - Neuropatia assimétrica: Quando só um lado do corpo
se uma base genética, evidenciada pelo freqüente padrão é afetado.
familiar de ocorrência e fatores ambientais, como ingestão - Neuropatia simétrica: Quando os dois lados do corpo
excessiva de calorias, levando à obesidade [1]. são afetados.
Atualmente, grande parte da morbidade e da mortalidade - Neuropatia distal: Quando afeta os nervos que vão para
ligadas ao diabetes mellitus diz respeito às suas as mãos e pés.
complicações crônicas vasculares e neurológicas [1]. - Neuropatia proximal: Quando atinge os nervos que
Uma das piores complicações crônicas do diabetes é a vão para partes mais proximais do corpo, como a coxa
neuropatia periférica, pois causa dor intensa, desconforto, [1,2,5,6,7].
incapacidade física e, em alguns casos, a morte do paciente
[5]. A polineuropatia simétrica distal, em sua forma
predominantemente sensitiva, é a neuropatia diabética mais
Neuropatia periférica diabética comum. É causada pela lesão de fibras nervosas longas. O
acometimento pode ser das extremidades inferiores (“em
A neuropatia periférica diabética é um distúrbio no nervo bota”) ou das superiores (“em luva”) [2].
periférico, causado pelo diabetes e caracterizado por atrofia
e degeneração axonal e/ou por alterações na célula de Degeneração e regeneração das fibras nervosas
Schwann, provocando desmielinização em segmentos do periféricas nas neuropatias
axônio. Conseqüentemente, o transporte axonal é
prejudicado e a velocidade de condução nervosa é diminuída Geralmente, a degeneração das fibras nervosas periféricas
ou, se a lesão for mais grave, a transmissão do impulso se dá pelo processo designado degeneração walleriana, que
nervoso é interrompida. Os sintomas podem ser fraqueza é a conseqüência de uma lesão primitiva do neurônio.
Ela se desenvolve sobre a parte distal da fibra, que se
Cunha RPF et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 346~354 347

separou do corpo celular e proximalmente até o nodo de glioaxonal. Pode-se também observar lesões de axônios,
Ranvier acima da lesão. Está associada a uma nas quais é difícil saber se são conseqüências de lesões
degeneração do axônio e da bainha de mielina, sendo os das células de Schwann ou se traduzem a associação de
restos mielínicos fagocitados por macrófagos originados uma neuropatia axonal primitiva, com conseqüente
das células de Schwann. Recentemente, tem sido degeneração walleriana. Logo, não se tem como certo
sugerido que a degeneração walleriana seria a seqüela qual desses processos é primário ou secundário ao outro
de uma resposta inflamatória do sistema nervoso, ativada [1].
por uma lesão no axônio e mediada pela a produção de
citocinas pró-inflamatórias. As principais citocinas Patogênese
envolvidas seriam o fator de necrose tumoral alfa,
interleucina α-1 e interleucina β-1. Elas estimulariam Os mecanismos patogênicos que contribuem para o
irregularmente a proliferação de macrófagos, a remoção desenvolvimento da neuropatia periférica diabética
dos restos mielínicos, determinando a dor neuropática podem ser:
[1,2,3,4,9].
A regeneração se faz a partir do centro do axônio - Teoria metabólica do sorbitol–mio-inositol: A
afetado. É facilitada pela persistência de bainhas glicose é convertida em sorbitol nas células pela atividade
endoneurais e se segue de forma centrífuga, ficando a da enzima aldose reductase. Com a hiperglicemia
remielinização garantida pela proliferação das células provocada pelo diabetes, a quantidade de sorbitol
de Schwann, que ocorre no início da regeneração. Essas acumulada no interior da célula é grande. Esse acúmulo
células formam colunas que guiam o axônio em afeta a célula nervosa, pois diminui os níveis
regeneração para seu órgão-alvo. Durante este período, intracelulares de mio-inositol, limitando o metabolismo
elas fornecem material trófico (fator de crescimento intracelular. Por sua vez, a redução intracelular desta
neural). Depois da proliferação das células de Schwann, substância está associada à diminuição da atividade da
do coto proximal da fibra nervosa lesada, que está bomba de sódio e potássio, o que aumenta a concentração
conectada ao corpo celular, brota e cresce um de sódio e água no interior da célula. O acúmulo de sódio
prolongamento axonal por dentro do canal formado explica o bloqueio seletivo que ocorre no nodo de
pelas células de Schwann e bainha endoneural, até Ranvier, onde a atividade da bomba se concentra. O
encontrar seu órgão-alvo. Esse canal guia o axônio em edema localizado no nodo de Ranvier, provocado pelo
regeneração para que ele atinja o órgão-alvo correto. acúmulo de água e sódio intracelular, promove a
No caso de uma secção total de um nervo, as bainhas disjunção glioaxonal, uma das primeiras manifestações
endoneurais e outros envoltórios do nervo são lesados. da neuropatia diabética. Tudo isso influencia a velocidade
Nesse caso, o crescimento do axônio pode ocorrer ao de condução nervosa, tornando-a mais lenta [1].
longo de bainhas incorretas, inervando órgãos-alvos - Redução do fluxo sangüíneo endoneural e a isquemia
diferentes dos originais. Se o axônio afetado se do nervo: O espessamento da membrana basal capilar
degenerar por completo, inclusive o corpo celular, o provocado pela glicosilação de suas proteínas estruturais,
órgão-alvo privado de impulsos nervosos pode atrair as alterações da viscosidade sangüínea secundária à
ramificações colaterais dos axônios intactos vizinhos presença de proteínas glicosiladas circulantes, as
(brotamento colateral), para manter seu funcionamento agregações plaquetárias e a hiperplasia das células
através da reinervação. A remielinização pode ser endoteliais, resultam na oclusão do vaso causando a
prejudicada pela deposição de fibrina após lesão isquemia endoneural. A diminuição da tensão de
nervosa, pois ela atrapalha a síntese de proteínas oxigênio e do fluxo sangüíneo endoneural, lentifica a
mielínicas. Logo, a regulação da remoção da fibrina velocidade de condução nervosa [1].
pode ser um fator importante para remielinização, a qual - Glicosilação: O aumento da glicemia faz com que a
é um passo essencial para regeneração nervosa glicose se ligue às hemácias, modificando suas
funcional. As funções de condução da extremidade propriedades bioquímicas, conseqüentemente,
distal da fibra desaparecem alguns dias após a lesão do dificultando o fornecimento de oxigênio para as células,
nervo, reaparecendo com a regeneração e a velocidade às proteínas axonais de transporte, alterando a síntese da
de condução, inicialmente reduzida, e retorna bainha de mielina, às membranas celulares, interferindo
progressivamente ao seu valor inicial [1,2,3,4,8,10]. no funcionamento celular, às proteínas das paredes
Na neuropatia diabética ocorre o acometimento de vasculares, facilitando a aterosclerose pela diminuição
células de Schwann. O dano celular manifesta-se do efluxo de lipoproteínas, que se ligam às proteínas da
clinicamente pela lentificação das velocidades de matriz vascular, e a outras proteínas circulantes,
condução e, anatomicamente, por lesões de aumentando a viscosidade sangüínea [1].
desmielinização segmentar, de início no nodo de - Estresse oxidativo: Os radicais livres são produzidos
Ranvier, sendo caracterizada por uma disjunção pelo organismo como parte de sua defesa natural contra
348 Cunha RPF et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 346~354

as doenças e em conseqüência do seu metabolismo A metionina é um aminoácido importante na síntese de


normal. Radicais livres de oxigênio são espécies reativas muitas proteínas e alterações na sua formação afetam a
do oxigênio, que possuem um elétron instável na última produção de nutrientes, que são essenciais para o
camada de elétrons do átomo de oxigênio, que os tornam funcionamento dos sistemas nervoso, esquelético e
altamente instáveis. Logo, são capazes de reagir com cardiovascular. Níveis elevados de homocisteína no meio
qualquer substância ao seu redor. O estresse oxidativo intracelular inibem as reações de metilação, que está
ocorre quando o organismo produz uma grande envolvida na regeneração da metionina. Assim, o
quantidade de radicais livres, que não podem ser metabolismo desse aminoácido é alterado. Outro efeito
neutralizados pelos mecanismos fisiológicos enzimáticos da homocisteína é que ela interage com o receptor N-
antioxidantes. Na neuropatia periférica diabética, o Metil-D-Aspartato, causando um influxo excessivo de
estresse oxidativo é provocado pela hiperglicemia, e os cálcio e produção de radicais livres, resultando em
mecanismos celulares e extracelulares antioxidantes neurotoxicidade [11].
estão diminuídos. A conversão de glicose em sorbitol e - A deficiência de Acetil-L-Carnitina: A acumulação
subseqüentemente em frutose, resulta na diminuição dos de ácidos graxos de cadeia longa no nervo prejudica seu
depósitos de NADPH e NAD+ na célula nervosa, funcionamento, pois altera a integridade da membrana
tornando-a mais vulnerável ao ataque dos radicais livres mitocondrial, perturbando o metabolismo intracelular e
de oxigênio. Os radicais livres também lesam a camada a produção de energia da célula nervosa. Acetil-L-
endotelial dos vasos sangüíneos que nutrem as células Carnitina é um derivado da carnitina que promove a b-
nervosas. A interrupção desse fluxo sangüíneo induz a oxidação desses ácidos graxos no fígado. Logo, sua
produção de mais radicais livres de oxigênio, deficiência ajuda no acúmulo desses ácidos, contribuindo
aumentando ainda mais o estresse oxidativo e causando para as alterações no metabolismo da célula nervosa, na
lesão neuronal e axonal. Esse estresse também prejudica sua produção de energia e na condução do impulso
a ação dos fatores neurotróficos que ajudam na nervoso [12].
regeneração nervosa [7].
- Perda de sustentação neurotrófica: Os fatores Todos esses mecanismos formam a base para
neurotróficos são proteínas que promovem a pesquisas sobre medicamentos e terapias para o
sobrevivência, o desenvolvimento, a diferenciação e a tratamento dessa patologia.
regeneração do tecido nervoso. São produzidos pelas
células-alvo, ligando-se a receptores dos terminais Pé diabético
axônicos, sendo internalizado e transportado até o corpo
celular (transporte retrógrado), onde participa da Entende-se por “pé diabético”, um conjunto de
ativação metabólica neuronal. Na neuropatia periférica alterações associadas a anormalidades neurológicas e
diabética, há uma diminuição do tono neurotrófico vários graus de doença vascular periférica nos membros
decorrente de transtornos na síntese, secreção e resposta inferiores, freqüentemente complicado por infecções
de alguns fatores neurotróficos, como o fator de [1,16]. Os problemas mais comuns são ulcerações,
crescimento neuronal (FCN), indispensável para o infecções, deformações ou gangrenas (necrose ou morte
desenvolvimento normal dos neurônios e dos axônios. tissular, resultante de uma irrigação sangüínea deficiente
Em presença de hiperglicemia crônica, as respostas ou ausente), que podem levar, nos casos mais graves, às
neurotróficas apresentam diversas alterações que amputações de dedos, pé ou perna, nos quais se desenvolve
atingem o funcionamento neuroaxonal. Essas alterações osteomielite (inflamação e infecção no osso causada por
são: diminuição dos fatores de crescimento, disfunção organismos piogênicos), que não regride com o tratamento
no transporte retrógrado do FCN para o corpo celular, antibiótico [1,13,14]. O diabetes mellitus contribui para o
distúrbios nos mecanismos de transdução de sinais de desenvolvimento e progressão da osteomielite, devido às
resposta aos fatores de crescimento neuronal e complicações neurológicas e vasculares presentes nos
alterações na produção de FCN pelas células de pacientes [13]. Estima-se que 85% das amputações dos
Schwann [7]. membros inferiores relacionadas ao diabetes, são
- Diminuição dos níveis de óxido nítrico: precedidas de uma úlcera no pé e a prevalência dessa é de
Recentemente, pesquisadores têm observado que o 4 a 10% da população diabética [16].
excessivo metabolismo da glicose modifica a Três fatores principais são descritos como envolvidos
quantidade de óxido nítrico nos nervos. Nas pessoas no desenvolvimento dessas complicações nos pés dos
com diabetes, os baixos níveis de óxido nítrico, que é pacientes diabéticos: neuropatia periférica, diminuição da
um vasodilatador, podem levar a constrição dos vasos circulação sangüínea no membro inferior e baixa
que nutrem o nervo, promovendo a lesão nervosa. resistência às infecções:
- Hiperhomocisteinemia: A homocisteína é um - Neuropatia periférica: Como na neuropatia
metabólito intermediário do metabolismo da metionina. sensitiva a capacidade de detectar as sensações de calor,
Cunha RPF et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 346~354 349

frio e dor está diminuída ou até ausente, ferimentos diapedese dessas células é prejudicada. Logo, nos
ou queimaduras podem não ser percebidos por longo diabéticos, as infecções se desenvolvem mais
período de tempo, se tornando focos de ulcerações e, rapidamente, pois a resposta imune está diminuída [1].
posteriormente, infecções. A desnervação de
estruturas dermais causada pela neuropatia autonômica Aproximadamente 40 a 60% de todas as amputações
pode levar a redução da sudorese, o que possibilita a não traumáticas dos membros inferiores são realizadas
formação de fissuras na pele seca, predispondo-a a em pacientes diabéticos [16]. Os fatores de risco para a
infecções. Na neuropatia periférica motora, há amputação decorrente do pé diabético são: ausência da
fraqueza muscular, perda do tônus nas coxas, pernas sensação protetora devido à neuropatia, insuficiência
e pés e atrofia dos músculos intrínsecos do pé, devido arterial, deformidades nos pés, neuropatia autonômica,
ao acometimento dos nervos motores, podendo levar limitação da mobilidade da articulação, obesidade,
ao desenvolvimento de deformidades nos pés, como cicatrização prejudicada, controle inadequado da
o joanete. Essas deformidades promovem áreas focais glicemia, história de úlcera no pé ou amputação anterior,
de alta pressão, geralmente nas proeminências ósseas, idade avançada, diabetes de longa duração e
que associada a perda sensitiva pode favorecer a suscetibilidade a infecções [15]. As amputações afetam
ulceração [1,2,15,16]. tanto a saúde física quanto a psicossocial do paciente
- Diminuição da circulação sangüínea: A diabético pela incapacidade funcional que elas podem
hiperglicemia lesa a parede dos vasos, acelerando o proporcionar. Muitas delas poderiam ser evitadas
processo de aterosclerose nas artérias das através de cuidados especiais com os pés, como
extremidades inferiores, levando à doença vascular observar se há cortes, bolhas, unhas encravadas,
periférica, que pode causar dormência e dor na perna manchas vermelhas ou “pé de atleta”. Além disso, usar
ao caminhar, pois reduz o suprimento sangüíneo para sapatos confortáveis e controlar a glicemia, a fim de
o membro inferior, diminuindo a entrega de oxigênio impedir a formação e progressão de ulcerações e
e nutrientes. A doença vascular periférica pode afetar infecções [1,22]. Se qualquer um desses problemas
o sistema circulatório arterial venoso ou linfático, ocorrer, deve-se ir, imediatamente, ao médico [1]. É
bloqueando e dificultando a circulação sangüínea, que importante a intervenção de uma equipe
resulta em perda significativa da função no membro multidisciplinar, formada por diabetologistas,
atingido. A doença vascular arterioesclerótica crônica enfermeiras, radiologistas, cirurgiões vasculares,
ou arteriosclerose obliterante é a doença vascular ortopedistas, protéticos, outras especialidades médicas,
periférica mais comumente associada ao diabetes nutricionistas e fisioterapeutas, para tratar os pacientes
mellitus. Progressivamente, forma-se uma placa de com síndrome do pé diabético e reduzir o número de
ateroma, cuja a circulação vai se deteriorando, devido amputações [16-21,23,24].
ao estreitamento, fibrose e oclusão das artérias,
geralmente nos membros inferiores. Um dos sintomas Tratamento da neuropatia periférica diabética
desta doença é a claudicação intermitente,
caracterizada por dor intensa no membro inferior, que Atualmente, novos medicamentos e terapias estão
ocorre com a atividade, mas que cede com o repouso, sendo desenvolvidos com a finalidade de diminuir os
sendo resultado da inadequada irrigação sangüínea aos sintomas da neuropatia, como a dor, prevenir as
músculos em exercício. Com o desenvolvimento da complicações e estimular a regeneração dos nervos
doença, o fluxo arterial pode ficar tão prejudicado que afetados e o brotamento colateral dos axônios vizinhos,
ocorre dor mesmo em repouso. Nos estágios mais promovendo a recuperação funcional do paciente.
avançados, a diminuição do fluxo sangüíneo pode O estudo “Controle e Complicações do Diabetes”
causar uma isquemia prolongada, resultando em (Diabetes Control and Complications Trial - DCCT ),
necrose e ulceração do tecido, que pode ser agravada realizado nos Estados Unidos e Canadá, no período de
por invasão de agentes infecciosos. Outra 1983 a 1993, mostrou que mantendo a glicemia o mais
conseqüência do baixo fluxo é a interferência no normal possível reduz em 60% o risco de desenvolver
processo de cicatrização, que por ser lento, e aumenta a neuropatia diabética. Logo, o primeiro passo para
o risco de infecções [1,14,15,16]. prevenir e diminuir os sintomas e a velocidade de
- Baixa resistência às infecções: Quando a glicemia progressão desta patologia, é controlar os níveis
está acima do normal, os leucócitos apresentam glicêmicos limitando, assim, o estrago que a
deficiências na capacidade de defender o organismo hiperglicemia pode causar aos nervos.
contra a invasão de bactérias e outros No tratamento da neuropatia pode-se utilizar
microorganismos. Devido à hipoxia, causada pela analgésicos, como aspirina e codeína, antiinflamatórios
diminuição do fluxo sangüíneo periférico e ao contendo ibuprofeno, pomadas analgésicas e drogas que
espessamento da membrana basal dos vasos, a atuam na condução nervosa [1].
350 Cunha RPF et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 346~354

A atividade física regular ajuda no controle do diabetes pela diminuição da atividade nervosa fiquem mais fortes,
e melhora a saúde do paciente por: aumentar a as contraturas musculares podem ser reduzidas ou
sensibilidade da célula à insulina, logo uma menor prevenidas pelos exercícios de alongamento e técnicas
quantidade desse hormônio será necessária para que a de relaxamento [31,33].
glicose entre nas células (diminuindo a glicemia e, assim, Quando o paciente também possui doença vascular
pode reduzir a dose de insulina ou medicamentos orais); periférica, como a arteriosclerose obliterante, um
baixar a glicose no sangue porque os músculos a usam programa de exercícios, incluindo esteira ou bicicleta,
como energia; reduzir o risco de doença cardiovascular; irá aumentar a resistência para a marcha antes do
aumentar a capacidade cardiorespiratória; queimar surgimento da dor devido ao exercício (claudicação
calorias, o que ajuda no controle do peso; e elevar o ânimo intermitente). Os exercícios melhoram a eficácia de
e a auto-estima do paciente. Os exercícios devem ser utilização de oxigênio em músculos que estejam se
realizados regularmente, usando roupas, sapatos e meias exercitando, o que possibilita ao paciente caminhar
confortáveis. Deve-se fazer alongamento antes e depois distâncias maiores antes do início da dor. Logo, o
da atividade física. O programa de exercícios deve ser exercício leva à redução da claudicação, melhorando a
escolhido de acordo com a condição física do paciente. circulação sangüínea dos membros inferiores, o que
Deve-se testar a glicemia antes do exercício e fazer um também diminui o risco de desenvolver o pé diabético
lanche antes e depois da atividade física para evitar a [32].
hipoglicemia. E para prevenir a desidratação, é necessário A eletroterapia é uma das intervenções fisioterápicas
beber água antes, durante e após o exercício. Antes de que utiliza a aplicação de correntes elétricas de maneira
iniciar qualquer atividade física, faz-se necessário que o segura e eficaz, a fim de atingir resultados terapêuticos.
paciente vá ao médico, para que ele indique o tipo de A estimulação elétrica pode ser aplicada para aliviar a
exercício aeróbico (andar, andar de bicicleta ou nadar) dor através do TENS (estimulação nervosa elétrica
que pode ser feito e sua duração [25-29]. transcutânea), que é um aparelho que estimula as fibras
nervosas, através de eletrodos colocados sob a pele do
Tratamento fisioterápico paciente, com pequena quantidade de eletricidade e que,
por meio da teoria da comporta da dor e/ou a liberação
É a assistência e os serviços prestados pelo de opióides endógenos, promove a analgesia. Além
fisioterapeuta que combate e previne as deficiências, disso, o tratamento eletroterápico apresenta efeitos
limitações funcionais e as incapacidades por meio da bactericidas (eletrodo negativo sobre a ferida infectada)
elaboração, implementação e da modificação das e promove a cicatrização (eletrodo positivo sobre ela).
intervenções terapêuticas. Estas intervenções incluem, Logo, pode ser utilizado em úlceras infectadas, como
mas não se limitam, o exercício terapêutico; terapia as presentes no paciente com síndrome do pé diabético
manual; prescrição, fabricação e aplicação de dispositivos [34,35].
e equipamentos de assistência, de adaptação, de apoio e O ultra-som é um aparelho fisioterápico que emite
de proteção; técnicas para limpeza das vias aéreas; ondas ultra-sônicas, que promovem vários efeitos
emprego de agentes físicos e modalidades mecânicas e terapêuticos, como o aumento do fluxo sangüíneo,
eletroterapêuticas; além da educação dos pacientes para aumento da permeabilidade da membrana celular,
que alcancem a melhor qualidade de vida possível [30]. antiflogístico (pelo aumento das trocas metabólicas e
A fisioterapia é muito importante para os pacientes vasodilatação, uma maior quantidade de leucócitos,
diabéticos com neuropatia periférica, problemas anticorpos e eletrólitos chegam a área, melhorando a
circulatórios, fraqueza muscular, ulcerações e pé defesa), aumento do retorno venoso e linfático,
diabético, tanto no tratamento quanto na prevenção de facilitando a reabsorção de edemas e analgésico (pela
futuras complicações. O terapeuta estabelece um plano diminuição da excitabilidade das fibras nervosas
de tratamento de acordo com a necessidade de cada sensitivas, aumento da defesa, redução do edema e
paciente. Dentre as intervenções fisioterápicas que regeneração tecidual). Portanto, ele pode ser utilizado
podem ser realizadas no tratamento do paciente diabético nos pacientes diabéticos que necessitem desses efeitos
estão: reeducação postural, alongamento, exercícios [38].
terapêuticos, hidroterapia, treinamento de equilíbrio, O laser também é um aparelho aplicado na
exercícios com resistência e aeróbicos (esteiras e fisioterapia que emite ondas eletromagnéticas
bicicleta), eletroestimulação, ultra-som, laser, compostas por fótons que transportam energia. Assim,
treinamento do uso de próteses (na reeducação funcional quando se aplica raios laser no corpo humano, está
do paciente amputado), cuidados respiratórios, educação sendo introduzida naquela região uma certa quantidade
do paciente para o cuidado do pé diabético e programas de energia que irá produzir os efeitos terapêuticos. Dois
de exercícios para o paciente fazer em casa. Os exercícios tipos de laser de baixa potência são utilizados em
terapêuticos fazem com que os músculos enfraquecidos fisioterapia: laser de Hélio-Neônio (He-Ne) e laser de
Cunha RPF et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 346~354 351

Arsenieto de Gálio (As-Ga). O laser He-Ne é obtido a Tratamento médico


partir da estimulação de uma mistura desses gases e
possui maior efetividade em lesões superficiais, como Alguns dos tratamentos médicos mais recentes são:
dermatológicas ou em processo de cicatrização. O laser
As-Ga é obtido pela estimulação de um diodo - Inibidores da enzima aldose reductase: São drogas,
semicondutor, formado por cristais de Arsenieto de como o sorbinil, que impedem a conversão
Gálio e apresenta maior efetividade em lesões intraneuronal de glicose em sorbitol [1].
profundas, do tipo articular e muscular. O laser - Suplementação com antioxidantes: Os
apresenta efeitos terapêuticos que podem ser divididos antioxidantes são substâncias endógenas ou exógenas
em primários, como a liberação de substâncias pré- que possuem a propriedade de neutralizar a ação dos
formadas (histamina, serotonina e bradicinina que radicais livres, estabilizando-os e protegendo as células
aumentam a permeabilidade vascular), aumento da lise do estresse oxidativo. Alguns dos antioxidantes
de fibrina e da produção de ATP; e secundários, como utilizados são: Ácido alfa-lipóico que é um potente
estímulo à microcirculação (aumento do fluxo antioxidante, pois regenera, através de reações de oxi-
sangüíneo local) e estímulo ao trofismo celular (com o redução, outros antioxidantes, como vitaminas C e E.
aumento da disponibilidade de ATP, a atividade mitótica Ele previne e melhora as alterações na condução
é aumentada, o que proporciona aumento da nervosa e no fluxo sangüíneo endoneural. Além disso,
cicatrização e melhor trofismo dos tecidos). Esses ele reduz a peroxidação lipídica e aumenta a resposta
efeitos terapêuticos proporcionam: ação analgésica, da glicose à insulina. O zinco permite a diminuição da
antiinflamatória, anti-edematosa e cicatrizante. Desse peroxidação lipídica e da glicosilação. O selênio é um
modo, a laserterapia pode ser uma forma eficaz de cofator de uma enzima antioxidante, a glutationa
tratamento de úlceras, que variam de lesões superficiais peroxidase, logo ajuda na diminuição dos radicais
até as profundas, que comprometem a derme e as livres. A vitamina E reforça os efeitos da insulina,
estruturas subjacentes. As úlceras de origem vascular, previne o desenvolvimento das anormalidades
como a úlcera arteriosclerótica obliterante, são as mais estruturais na bainha de mielina das fibras nervosas,
suscetíveis ao laser, pois seus efeitos sobre os vasos e provocadas pelo diabetes e sua deficiência leva à
sobre a velocidade mitótica proporcionam a esse recurso diminuição da produção de colágeno, o que dificulta a
um grande poder terapêutico. No entanto, as úlceras cicatrização. A vitamina C que permite a regeneração
que apresentam focos de infecção bacteriana não podem da vitamina E e da glutationa, necessária para síntese
receber irradiação laser, pois pode promover a da enzima glutationa peroxidase. Além disso, a
multiplicação desses microorganismos. É aconselhável deficiência de vitamina C também leva à diminuição
realizar um procedimento de assepsia antes de sua da síntese de colágeno [7,36,41,42].
aplicação. Sua associação com eletroterapia e exercícios - Ácido gama-linolênico: É um precursor de ácidos
terapêuticos adequados pode ser importante para o gordurosos insaturados que são importantes na estrutura
sucesso do tratamento [39,40]. das membranas e como segundo mensageiro. Ele está
Os fisioterapeutas desempenham um papel presente em óleos terapêuticos e tem a capacidade de
fundamental na reabilitação de pacientes amputados, melhorar os déficits da condução nervosa e do fluxo
promovendo a independência na mobilidade no leito, sangüíneo endoneural. Sua eficácia é aumentada quando
cuidados pessoais e atividades de transferência, combinado ao ascorbato, formando o ácido gama-
mantendo ou recuperando a força do membro residual, linolênico ascorbil [43].
mantendo ou aumentando a força nos membros - Acetil-L-carnitina: Melhora e previne alterações
remanescentes, prevenindo o desenvolvimento das na velocidade de condução nervosa. Além disso,
contraturas articulares ou reduzindo qualquer contratura previne a redução da síntese e transporte axonal da
existente, orientando sobre os cuidados apropriados substância P, e promove a regeneração da fibra nervosa,
com o membro residual e treinando o uso de muletas, pois facilita as interações neurotróficas e mantém a
cadeiras de rodas ou próteses. Todo esse processo pode integridade da membrana funcional nervosa. Sua
proporcionar ao paciente retorno à atividade associação com o sorbinil reduz as mudanças
profissional, independência no lar e na comunidade, funcionais, estruturais e bioquímicas, causadas pela
levando-o a uma reintegração bem-sucedida à sociedade hiperglicemia na bainha de mielina, aumentando a
[14]. velocidade de condução nervosa, a largura da bainha e
Desse modo, a fisioterapia é essencial para o o número de fibras mielinizadas [44].
tratamento e prevenção das complicações diabéticas, - Inibidores da glicosilação: São drogas, como a
sendo de grande importância a participação do aminoguanidina, que previnem ou reduzem as
fisioterapeuta na equipe multidisciplinar que assiste o complicações microvasculares causadas pela
paciente diabético. glicosilação [45].
352 Cunha RPF et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 346~354

- Lamictal (lamotrigina): É uma droga usada para começar o tratamento, maior será a probabilidade de
tratar epilepsia que, em um estudo recente, foi revelada prevenir e tratar as complicações diabéticas. No entanto,
como redutora efetiva da dor da neuropatia diabética. poucos trabalhos ressaltam os benefícios que a
Quase metade dos pacientes da pesquisa tiveram redução fisioterapia pode proporcionar aos indivíduos com
de 50% da dor. Entretanto, estudos adicionais devem ser diabetes mellitus. Portanto, é necessário que pesquisas
realizados para estabelecer a dose mais efetiva de sejam realizadas com o objetivo de propor novos métodos
Lamictal, para aliviar a dor produzida pela neuropatia fisioterápicos capazes de promover a plasticidade neural,
diabética [46]. possibilitando, assim, a recuperação funcional do
- Estimulação da plasticidade neural: O sistema paciente portador de neuropatia periférica diabética.
nervoso apresenta a capacidade de se adaptar, recuperar
ou reorganizar funções alteradas por um processo Referências
patológico. Assim, quando é lesado pode, em alguns
casos, ter uma recuperação funcional eficiente. Essa 1. Vaisman M, Tendrich M. Diabetes Mellitus na prática clínica.
capacidade é denominada de plasticidade neural [2,8], Rio de Janeiro: Cultura Médica, 1994.
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que é representada pela regeneração dos nervos afetados Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
e/ou pelo brotamento colateral dos axônios vizinhos na 3. Ogard WK, Stockert BW. Neuropatias periféricas. In: Umphred
neuropatia periférica diabética [2]. Recentemente, DA: Fisioterapia Neurológica. São Paulo: Manole, 1994; p. 331-
estudos estão sendo realizados com a finalidade de 343.
produzir medicamentos e desenvolver terapias capazes 4. Strokes M. Cash: Neurologia para fisioterapeutas. São Paulo:
Premier, 2000.
de estimular a plasticidade neural. Entre eles estão: 5. Silva MM. Doenças dos nervos: Neuropatia periférica, 1998.
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crescimento neuronal: Esses fatores seriam excitados 6. Diabetic neuropathy: what can I do about it?. American Academy
(endógenos) ou adicionados (exógenos) ao corpo a fim of Family Physicians 2000.
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Disponível no site: www.diabetes-self-mgmt.com/
melhorando o crescimento e transporte axonal index.php?page=dir_art.
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recentes apontam para uma terapia genética, na qual ação terapêutica. Disponível no site: www.planeta.terra.com.br/
genes seriam introduzidos na célula nervosa a fim de saude/fisioajuda/neuroplasticidade.html.
produzir fatores de crescimento neuronal. Desse modo, 9. Shamash S, Reichert F, Rotshenker S. The cytokine network of
wallerian degeneration: tumor necrosis factor-alpha, interleukin-
as células nervosas voltariam a ter a capacidade de se 1alpha, and interleukin-1beta. J Neuroscience 2002;22(8): 3052-
proteger e se regenerar com maior facilidade [7]. 3060.
·Hormônios esteróides sexuais: Os hormônios sexuais 10. Akassoglou K, Yu WM, Akpinar P, Stricklands S. Fibrin inhibits
(progesterona, testosterona e seus metabólitos) peripheral nerve remyelination by regulating Schwann cell
estimulam a síntese de proteínas da mielina periférica. differentiation. Neuron 2002;33(6): 861-875.
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·Transplante de células do estroma da medula óssea: 12. Stevens MJ, Lattimer SA, Feldman EL, Helton ED, Millington
As células do estroma da medula óssea apresentam um DS, Sima AAF, Greene DA. Acetyl-L-Carnitine deficiency as a
grande potencial para se diferenciar em cartilagem, cause of altered nerve myo-inositol content, Na, K-ATPase
activity, and motor conduction velocity in the streptozotocin-
músculo, gordura e osso. Estudo recente verificou que é diabetic rat. Metabolism: Clinical and Experimental 1996;45/
possível a diferenciação destas células em células 7:865-872.
similares às de Schwann e capazes de promover a 13. Carek PJ, Dickerson LM, Sack JL. Diagnosis and management
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Desse modo, as células do estroma da medula óssea 14. O’Sullivan SB, Schmitz TJ. Fisioterapia: Avaliação e tratamento.
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podem se diferenciar em células capazes de ajudar a 15. Armstrong DG, Lavery LA. Diabetic foot ulcers: Prevention,
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periféricas. No entanto, estudos adicionais devem ser physicians, 1998.
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Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 05 (2002) 355~361

REVISÃO

Radicais livres, estresse oxidativo e diabetes


Free radicals, oxidative stress and diabetes

Débora Cristina Damasceno*, Gustavo Tadeu Volpato**,


Iracema de Mattos Paranhos Calderon***, Marilza Vieira Cunha Rudge***

*Professora
e Chefe da Disciplina de Embriologia Humana, Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA), Marília SP, Laboratório Experimental de
Obstetrícia, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, **Laboratório Experimental de Obstetrícia,
Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, ***Professora da Disciplina de Obstetrícia, Departamento de
Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP

Resumo
Os radicais livres (RL) são produzidos no organismo como produtos do metabolismo e como resultado da exposição à radiação e a alguns
poluentes ambientais. Pelo fato de serem altamente reativos, podem danificar componentes celulares e causar uma variedade de doenças. São
neutralizados no organismo por enzimas antioxidantes (superóxido dismutase, catalase e glutationa peroxidase) e antioxidantes derivados de
nutrientes como vitamina E, vitamina C, carotenos, flavonóides, glutationa e ácido úrico. Nos indivíduos saudáveis, existe delicado balanço
entre radicais livres e antioxidantes. Se houver desequilíbrio, a condição é denominada “estresse oxidativo”, situação em que são afetadas as
moléculas biológicas, incluindo lipídios, proteínas e carboidratos. Com aumento de RL, alguns tecidos podem ser mais susceptíveis que outros
à lesão, dependendo do equilíbrio existente entre a formação de RL e o sistema antioxidante. Estudos têm indicado danos oxidativos aumentados
e déficit no sistema antioxidante nos indivíduos portadores do diabetes mellitus tipo 1 e 2.

Palavras-chave: Estresse oxidativo, radicais livres, diabetes mellitus, sistema antioxidante.

Abstract
The free radicals (FR) are produced in the organism as products of the metabolism and as a result of the exhibition to the radiation and some
environmental pollutant. For the fact of the FR are highly reagents, they can damage cellular components and to cause several diseases. They
are neutralized in the organism by antioxidant enzymes (superoxide dismutase, catalase and glutathione peroxidase) and derived antioxidants
of nutrients as vitamin A, vitamin C, carotenes, flavonoids, glutathione and uric acid. In healthy individuals, delicate balance exists between
free radicals and antioxidants. If there is unbalance, the condition is named “oxidative stress”, which affects biological molecules, including
lipids, proteins and carbohydrates. With increased FR, some tissues can be more susceptible than others to the lesion, depending on the existent
balance between the formation of FR and the antioxidant system. Studies have indicated increased oxidative damages and deficit in the
antioxidant system in the individuals with diabetes mellitus type 1 and 2.

Key-words: Free radicals, oxidative stress, diabetes mellitus, antioxidant system.

Artigo recebido em 15 de agosto de 2002; aprovaddo em 30 de agosto de 2002.

Endereço para correspondência: Profa. Dra. Débora Cristina Damasceno, Disciplina de Embriologia Humana, Faculdade de Medicina de Marília
(FAMEMA), Av. Monte Carmelo, 800 – 17519-030 Marília SP, E-mail: decaito@bol.com.br
Damasceno DC et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 355~361 355

Introdução (O), formando composto estável na última camada L. O


átomo de O2 tem a seguinte distribuição de seus elétrons
A toxicidade do oxigênio e de seus produtos está sendo nas camadas eletrônicas:
cada vez mais associada à lesão celular, ocasionando
vários processos fisiopatológicos no organismo [1]. A Nível K 1s2 éê
lesão causada pelo oxigênio em todas as células do nosso Nível L 2 s2 2 p4 éê éê éé
corpo é chamada estresse oxidativo. Hoje, acredita-se
que este fenômeno cause mais de 60 doenças Subnível s Subnível p
degenerativas [2]. Existe o paradoxo da evolução entre
energia aeróbia e toxicidade, pois o mesmo oxigênio que No entanto, se ocorrer reação de redução do oxigênio
gera vida através da energia aeróbia, pode trazer a morte molecular (O2) no metabolismo normal, este ganhará um
pela produção de seus radicais livres [3]. Cerca de 95 a elétron, formando o radical superóxido (O-2), que terá
98% do oxigênio absorvido pelo processo da respiração número ímpar de elétrons no subnível p da última camada
produz energia, que é transportada na forma de ATP (L) e será considerado instável [5]. O O-2 será estudado
(adenosina trifosfato) e 2 a 5% do oxigênio, que não é para exemplificar a formação de radical livre e sua
aproveitado, sofre redução univalente dando origem aos configuração eletrônica é:
radicais livres [1].
Atualmente, tem sido muito focalizada a atenção ao Nível K 1s2 éê
papel dos radicais livres, a capacidade do sistema Nível L 2 s2 2 p5 éê éê éê é
antioxidante de defesa e as repercussões nas Nível L 2 s2 2 p4 éê éê é é
complicações diabéticas. Este artigo de revisão visa Nível K 1s2 éê
esclarecer o conceito de radical livre, resgatando os
conhecimentos prévios de Química; caracterizar os Subnível s Subnível p
sistemas antoxidantes endógenos e exógenos e,
resumidamente, estabelecer o envolvimento entre o A formação dos radicais livres ocorre por reações de
sistema antioxidante e as complicações diabéticas. óxido-redução, que cedem (reação de oxidação) ou
recebem (reação de redução) o elétron. Essas reações
Radicais livres ocorrem continuadamente, o que amplifica seu efeito
destrutivo e o processo só se encerra quando dois radicais
Radicais livres são, portanto, átomos ou moléculas livres se encontram, neutralizam-se e atingem a
que possuem um elétron despareado na sua órbita externa estabilidade. Os radicais livres atacam a matriz
[4], gerando um átomo ou molécula muito instável. Os extracelular, degradando o ácido hialurônico e o
elétrons não-pareados têm vida média curta e conferem colágeno. Podem danificar a membrana celular e atingir
alta reatividade aos radicais livres [3]. Para compreender organelas, tais como lisossomos e mitocôndrias. A rotura
melhor o conceito de radical livre é necessário considerar da membrana dos lisossomos libera enzimas lisossomais
a estrutura do átomo. As três partículas básicas, ou seja, que potencializam os danos celulares induzidos pelos
os prótons, os elétrons e os nêutrons estão agrupados em radicais livres. Como a membrana celular e a matriz
duas regiões distintas. Na região central, encontra-se o intracelular são estruturas vitais para a célula, não é
núcleo, composto pelo próton, que é uma partícula com surpreendente verificar que a lesão induzida por radicais
massa e carga positiva, e pelo nêutron, com massa e sem livres influencie na extensão dos processos das doenças
carga. A eletrosfera é a região em torno do núcleo, onde [1].
os elétrons, partícula praticamente sem massa e com
carga negativa, gravitam pela eletrosfera em camadas Radicais livres de oxigênio
eletrônicas determinadas por níveis de energia,
conhecidas pelas letras K, L, M, N, O, P, Q, que possuem O oxigênio é um elemento essencial para a
os subníveis energéticos s, p, d, f [5]. Os elétrons se sobrevivência dos seres aeróbios. A reação de redução
deslocam em torno do núcleo em movimento de do oxigênio na mitocôndria é tetravalente com ganho de
translação e, de rotação (spin), em torno do seu próprio 4 elétrons para formação de água (H2O) e produção de
eixo. A estabilidade dos elétrons pareados ocorre quando energia [1]. Cerca de 98% do oxigênio disponível é
possuem spin opostos, representados por vetores em reduzido totalmente com a formação de água. Porém,
sentido contrário éê[3]. durante o processo, são formados compostos
O oxigênio é composto por 2 átomos de um elemento intermediários como radicais superóxido (O - 2 ),
químico (O), com número atômico 8. Para formar o O2, hidroperoxila (HO2), hidroxila (OH) e peróxido de
os elétrons despareados do subnível p de um átomo de hidrogênio (H2O2), que são neutralizados com a entrada
oxigênio, pareiam-se com os elétrons do outro átomo dos elétrons.
356 Damasceno DC et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 355~361

Alguns radicais como H2O2 e HO2, derivados do 1) Pela reação de Fenton, o peróxido de hidrogênio
metabolismo do O2, não apresentam elétron despareado se combina diretamente com o íon ferroso (Fe++ ), que
na última camada eletrônica. Portanto, não são se reduz a íon férrico (Fe +++ ), produzindo duas
considerados radicais livres, por isso muitos autores hidroxilas.
preferem o termo ERMO para as “espécies reativas
derivadas do metabolismo de oxigênio” [6, 7, 8]. Fe++ + O2 → Fe+++ + O-2
2 O-2 + 2H+ → O2 + H 2 O2
Principais ermo Fe++ + H2O2 → Fe+++ + OH- + OH

RADICAL SUPERÓXIDO (O-2) - É o radical livre 2) Pela reação de Haber-Weiss, o peróxido de


produzido na cadeia respiratória pela primeira redução hidrogênio interage com o superóxido (que não foi
do O2, através do ganho de um único elétron. É instável dismutado pela enzima superóxido dismutase) com a
com vida média muito curta [3], ocorre em quase todas participação do íon férrico (Fe+++), originando oxigênio
as células e é produzido durante a ativação máxima de molecular e duas hidroxilas.
neutrófilos, monócitos, macrófagos e eosinófilos [8]. É
agente oxidante fraco, incapaz de causar peroxidação Fe+++ + O-2 → Fe++ + O2
lipídica [9, 10]. No entanto, possui potente capacidade Fe++ + H2O2 → Fe+++ + OH- + OH
de reduzir o ferro iônico e seus complexos protéicos. O- 2 + H 2 O 2 → O2 + OH- + OH-
Estudos têm demonstrado que o O-2 pode exercer sua
citotoxicidade, inativando enzimas específicas essenciais O excesso de Fe+++ , que catalisa a reação de Haber-
para a célula. Apesar dessas reações alterarem o equilíbrio Weiss, provoca acúmulo de ERMO, como o OH, uma
metabólico dos tecidos, o superóxido não é tóxico por vez que o ferro é o metal pesado mais abundante no
si, sendo sua maior toxicidade relacionada ao fato de organismo, e mais capacitado para catalisar as reações
produzir outros radicais livres mais citotóxicos e reativos de oxidação das moléculas [5].
que ele próprio [11]. Em meio aquoso, o radical O radical hidroxila é o radical livre de oxigênio mais
superóxido sofre dismutação espontânea ou enzimática instável e, portanto, mais reativo. Possui vida média
(superóxido dismutase), para produzir peróxido de curta e causa dano no próprio local onde é formado.
hidrogênio e oxigênio molecular [12]. Por exemplo, se o OH for gerado no DNA, nos
RADICAL HIDROPEROXILA (HO2) - É a forma fosfolipídios de membrana ou em certas proteínas,
protonada do radical superóxido, ou seja, possui poderá causar lesão celular [8].
hidrogênio. Tem maior facilidade para destruir
membranas biológicas, pois é mais reativo que o radical Etapas de ação dos radicais livres
superóxido [13].
PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO (H2O2) - O H2O2 não Todos os componentes celulares são susceptíveis à
tem elétron despareado na sua última camada. Portanto ação das ERMO, porém, a membrana, constituída em
não é considerado, por alguns pesquisadores, como grande parte por ácidos graxos poliinsaturados, é uma
radical livre de oxigênio. É molécula com alto poder das mais atingidas. A ação dos radicais livres pode ser
oxidante e solúvel em meio aquoso. O peróxido de dividida em três etapas: iniciação, propagação e término
hidrogênio pode ser formado tanto pela redução direta da reação:
de 2 elétrons de O2 na presença de prótons ou por ·Iniciação: as reações de peroxidação lipídica
dismutação de radical superóxido. O peróxido de (lipoperoxidação) começam pelos radicais livres,
hidrogênio é capaz de atravessar as camadas lipídicas e principalmente pelo radical hidroxila, com a retirada
reagir com metais de transição, tais como ferro ou cobre, de um átomo de hidrogênio (H) do ácido graxo
ou reagir com certas hemoproteínas e formar radicais poliinsaturado da membrana celular ou das organelas
livres, altamente reativos através da reação de Fenton celulares, com conseqüente formação de um radical
[14]. Além disso, tem sido sugerido que o H2O2 é capaz lipídico (L).
de produzir alterações cromossômicas, podendo romper ·Propagação: o L reage com o O2 resultando em
a coluna do ácido desoxirribonucléico (DNA) e, na LOO (radical peroxila), que, por sua vez, é capaz de
ausência de catalisadores, oxidar compostos sulfidrilas retirar um átomo de H de um ácido graxo adjacente,
(S-H) [3]. propagando a reação em cadeia da peroxidação lipídica,
RADICAL HIDROXILA (OH) – Quando o peróxido de resultando em grande alteração da estrutura da
hidrogênio não é neutralizado, interagirá com metais de membrana [10, 11].
transição (ferro ou cobre), originando o radical livre ·Término: esta seqüência pode ser interrompida
hidroxila. O papel dos metais na formação das ERMO é quando o radical livre formado se encontrar com outro
confirmado pelas reações de Fenton e de Haber-Weiss [5]. radical livre, levando à estabilização dos dois radicais,
Damasceno DC et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 355~361 357

pois os elétrons isolados pareiam-se na sua última Está presente nos organismos aeróbios e, na sua ausência,
camada. Outro mecanismo de término ocorre na não há crescimento aeróbio. São descritos quatro tipos de
presença de antioxidantes, que neutraliza a ação do SOD: a) cobre, zinco superóxido dismutase (Cu, Zn-SOD),
oxigênio livre [3]. b) manganês-superóxido dismutase (Mn-SOD), c)
superóxido dismutase extracelular e d) ferro-superóxido
A peroxidação lipídica causa perda da seletividade dismutase (Fe-SOD). Todas as 4 enzimas possuem função
na troca iônica, com destruição das bombas de Na/K e de dismutar o radical superóxido [3]. As concentrações de
de Ca/Mg e conseqüente liberação do conteúdo de SOD variam de tecido para tecido: grandes quantidades
organelas (enzimas lisossomais), além da formação de existem no fígado, baço e rim e, pequenas quantidades, no
produtos citotóxicos, levando à morte celular [15, 16]. coração, músculo esquelético e cérebro [8].
Lesões deste tipo no endotélio dos capilares e vênulas,
resultam em aumento da permeabilidade, com B - Catalase
extravasamento de plasma ou mesmo de eritrócitos [17].
Cada ERMO, após ter alterado determinada cadeia A catalase é uma metaloproteína que catalisa a formação
lipídica, ataca a cadeia vizinha sem perder seu poder de água e oxigênio, a partir de peróxido de hidrogênio,
destruidor na cadeia anterior. formado pela ação da SOD [21].

Sistema de defesa antioxidante 2 O-2 + 2H+ SOD O2 + H2O2

Estudos experimentais revelaram que células e 2 H2O2 CATALASE 2 H2O + O2


organismos necessitam de defesa contra os oxidantes,
sem comprometer a sobrevivência sob condições
aeróbias. Pelo fato de existirem vários agentes oxidantes, No seres humanos, está presente nos eritrócitos e em
também chamados de pró-oxidantes, o organismo tem quase todos os tecidos, mas existe em maior quantidade no
desenvolvido diferentes tipos de antioxidantes [18]. fígado, rim, baço [8], peroxissomos e mitocôndrias do
Antioxidantes são moléculas ou reações químicas que coração, provavelmente pelo metabolismo aeróbio intenso
protegem os sistemas biológicos contra os efeitos lesivos nesses órgãos e grande produção de radicais livres. É
de oxidação excessiva. Ou seja, protegem o corpo importante lembrar que o bom funcionamento da SOD deve
humano contra os danos causados por ERMO [19]. O ser simultâneo ao da catalase, porque se isto não ocorrer,
aparecimento do sistema antioxidante, está associado resultará acúmulo de grandes quantidades de peróxido de
com a evolução das espécies e somente sobrevivem os hidrogênio, que, por sua vez, poderá inativar a própria SOD
organismos que o desenvolvem. e outros sistemas enzimáticos celulares. Portanto, o sistema
A primeira linha de defesa contra o dano antioxidante deve funcionar em equilíbrio e de maneira
oxidativo são os antioxidantes endógenos enzimáticos: seqüencial, para impedir o acúmulo de radicais livres em
superóxido dismutase (SOD), catalase e glutationa qualquer etapa [9].
peroxidase (GSH-Px). Há também os antioxidantes não-
enzimáticos, que são lipossolúveis (tocoferóis, carotenos, C - Glutationa Peroxidase
quinonas e bilirrubinas) ou hidrossolúveis (ácido
ascórbico, ácido úrico e proteínas ligadas a metais) [8, A mais importante das peroxidases é a glutationa
20]. peroxidase (GSH-Px), enzima antioxidante que contém
selênio (Se) em seu sítio ativo. É responsável pela
Antioxidantes enzimáticos decomposição (redução) do peróxido de hidrogênio, usando
glutationa reduzida (GSH), como substrato doador de
A - Superóxido Dismutase (SOD) elétron, transformando-o em glutationa oxidada (GSSG)
[9].
SOD faz parte de um grupo de metaloenzimas, que
têm a função de proteger o organismo contra a toxicidade H2O2 + 2 GSH GSH-Px 2 H2O + GSSG
do ânion superóxido, como também protege o DNA de
lesões provocadas pela sobrecarga de Fe+++. Em meio A GSH-Px está presente no citosol e mitocôndrias. Estes
aquoso, a enzima SOD age sobre o radical superóxido locais também correspondem à presença de superóxido
para produzir oxigênio molecular e peróxido de dismutase, sugerindo uma ação seqüencial do sistema
hidrogênio. antioxidante para controlar a produção de ERMO
(superóxido e peróxido de hidrogênio), formada durante o
2 O-2 + 2H+ SOD O2 + H2O2 processo de produção de energia [3]. A GSH é considerada
um dos agentes mais importantes do sistema de defesa
358 Damasceno DC et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 355~361

antioxidante da célula, protegendo-a contra a lesão resultante F - Albumina


da exposição a agentes como íons ferro, radiação e luz
ultravioleta. Além disso, participa da detoxificação de A albumina, presente em grande quantidade no sangue
agentes químicos e da eliminação de produtos da [3], pode ligar-se aos íons cobre e impedir que estes
peroxidação lipídica. Uma vez oxidada, a GSSG é catalizem reações geradoras de ERMO [22].
convertida em GSH através da enzima glutationa redutase Todas essas substâncias antioxidantes enzimáticas e não-
(GSH-Rd) [5]. enzimáicas, podem ser quantificadas através de métodos
bioquímicos para aferição indireta de ERMO e,
GSSG + 2 H GSH-Rd 2 GSH conseqëntemente, do estresse oxidativo.

Sistema antioxidante e diabetes


Antioxidantes não-enzimáticos
Estudos têm indicado danos oxidativos aumentados e
A - Vitamina E (α-tocoferol) déficit no sistema antioxidante de defesa no diabetes mellitus
tipo 1 e 2. Considera-se que a hiperglicemia pode aumentar
O α-tocoferol, chamado de vitamina E, é o principal o estresse oxidativo e alterar o potencial oxidação-redução
antioxidante presente no interior das membranas celulares. da glutationa e, ao mesmo tempo, ERMO pode causar
Os fosfolipídios da mitocôndria, do retículo endoplasmático hiperglicemia. Por isso, tem sido demonstrado que o
e da membrana plasmática, possuem alta afinidade pelo oxigênio, defesas antioxidantes e o status de oxidação-
tocoferol pelo fato dele ser lipossolúvel, permitindo redução das células, devem ser considerados como
movimentação entre as camadas das membranas. Fornece fundamentais no diabetes e em toda a síndrome metabólica
átomos de hidrogênio do seu grupo hidroxila, para impedir [23].
a propagação da peroxidação lipídica nas membranas [22], Tanaka et al. [24], submeteram ilhotas pancreáticas a
transformando-o em radical livre, chamado tocoferila. O concentrações suprafisiológicas de glicose e verificaram
tocoferila migra para a superfície da membrana para ser alterações adversas na função das células beta (β), fenômeno
novamente transformado em tocoferol, pelo hidrogênio denominado toxicidade da glicose e que pode ter um papel
doado pelo ácido ascórbico [3]. patogênico secundário no diabetes tipo 2. Para certificar se
o estresse oxidativo crônico poderia estar envolvido nas
B - Carotenos funções das ilhotas, linhagens específicas de células-β
foram cultivas em meio contendo glicose com e sem a
Os carotenóides são pigmentos com atividade presença de antioxidantes. Foi verificado que, na presença
antioxidante semelhante ao tocoferol. de antioxidantes, não houve diminuição de RNAm de
insulina, da atividade do gene da insulina, do contéudo de
C - Bilirubinas insulina e da secreção de insulina induzida por glicose.
Concluíram, então, que o mecanismo de toxicidade da
As bilirrubinas podem inibir a peroxidação lipídica e glicose nas células-β poderia ser devido à exposição crônica
são tão efetivas como antioxidantes quanto o a-tocoferol. a ERMO, i.e., ao estresse oxidativo crônico.
Existe um número considerável de evidências clínicas e
D - Vitamina C (Ácido ascórbico) experimentais, sugerindo o envolvimento dos processos
oxidativos mediados por radicais livres na patogênese de
O ácido ascórbico é uma vitamina hidrossolúvel incapaz complicações diabéticas. Portanto, se o estado diabético está
de penetrar nas membranas. A vitamina C tem a propriedade associado com um aumento generalizado no estresse
de recuperar o tocoferila, produto intermediário da vitamina oxidativo tecidual, poderia ser refletido em alterações no
E, que caminha no exterior da membrana, conferindo-lhe sistema antioxidante de defesa tecidual [25].
capacidade de atuar novamente em reações oxidantes [22]. Sob condições normais, as três principais enzimas
Essa reação produz um radical que, por ação da glutationa antioxidantes (superóxido dismutase, catalase e glutationa
peroxidase, regenera o ácido ascórbico. Se não ocorrer a peroxidade) são responsáveis pela detoxificação de ERMO.
regeneração, o produto transformado perde-se Ratos Sprague-Dawley com diabetes induzido por
irreversivelmente [3]. streptozotocin, foram mortos após 8 semanas de
hiperglicemia não-tratada e os resultados foram
E - Ácido úrico (Urato) comparados com animais controle. Oito semanas de
hiperglicemia não-tratada resultou em aumento
Embora considerado apenas como produto final de significante de catalase na aorta, artéria ilíaca e artéria
descarte do metabolismo das purinas, possui propriedade femural, quando comparado ao controle. Não foram
antioxidante de radicais livres [22]. verificadas alterações na superóxido dismutase e na
Damasceno DC et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 355~361 359

glutationa peroxidase na aorta, artéria ilíaca e femural complicações diabéticas. Pacientes com diabetes podem
dos animais diabéticos. O aumento de catalase nos ser mais propenso ao estresse oxidativo, porque a
tecidos vasculares diabéticos, sugerem estresse oxidativo hiperglicemia depleta os antioxidantes naturais e facilita
aumentado devido à exposição crônica ao H2O2 in vivo. a produção de radicais livres. Diversas investigações
Isto mostra que, nos tecidos de animais diabéticos, as clínica e experimental têm sido realizadas, visando
enzimas antioxidantes têm sido encontradas aumentadas, estabelecer intervenções farmacológicas para diminuir
reduzidas ou inalteradas; comprovando que ocorrem ou prevenir as complicações diabéticas.
alterações consideráveis de um tecido para outro [26]. A ciência tem que caminhar muito nessas
Foi verificado que cérebros de ratos com diabetes, investigações. Isto porque os conhecimentos atuais
induzido por streptozotocin (STZ), após 72 horas, sugerem que: “ou a espécie humana encontra soluções
apresentaram níveis aumentados de SOD e de catalase, para deter esse processo ou será substituída por outra
mas nenhuma alteração na atividade de GPX. Por outro espécie mais resistente ao estresse oxidativo”.
lado, catalase aumentada, GPX reduzida e atividade de
SOD inalterada foi verificada um mês após a injeção de Referências
STZ. O tratamento com insulina reverteu estas alterações
em ambos os grupos de ratos. Por isso, se o diabetes 1. Bulkley GB. The role of oxygen free radicals in human disease
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Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 05 (2002) 362~367

ARTIGO ORIGINAL

Síndrome plurimetabólica: Análise comparativa entre grupos


de pacientes de São Leopoldo e Canoas - RS
Plurimetabolic syndrome: Comparative analysis between groups
of patients of São Leopoldo and Canoas - RS

Amanda Mônica Lenz

Acadêmica de Enfermagem, do 8º semestre, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), São Leopoldo - RS

Resumo
Esta monografia tem como objetivo: Analisar o grau de conhecimento da Síndrome Plurimetabólica dos pacientes atendidos em São Leopoldo,
no PIPAS (Programa Interdisciplinar de Promoção e Atenção à Saúde), na Associação de Diabéticos e Familiares de São Leopoldo e, em
Canoas, na Unidade Básica de Saúde Mathias Velho – Caçapava; analisar suas semelhanças e diferenças na metodologia de trabalho; comparar
o resultado da entrevista e dos níveis de pressão arterial e glicemia capilar medidos no momento da entrevista. Os dados foram analisados pelo
método estatístico e apresentados em forma de gráficos, comparando os resultados dos pacientes de São Leopoldo e de Canoas. Observou-se
que os indivíduos que possuem um acompanhamento interdisciplinar intensivo, mantêm suas patologias equilibradas, melhorando, assim, sua
qualidade de vida.

Palavras-chave: Síndrome plurimetabólica, diabetes mellitus.

Abstract
The aim of this study was to analyze the degree of knowledge of the Plurimetabolic Syndrome, in patients taken care in São Leopoldo PIPAS
(Programa Interdisciplinar de Promoção e Atenção à Saúde) and in the Association of Diabetic and Familiar of São Leopoldo and in Canoas
UBS Old Mathias - Caçapava; to analyze its similarities and differences in the work methodology; to compare results of interview and levels of
measured arterial pressure and capillary glicemia at the moment of the interview. The data had been analyzed by statistical method and
presented in form of graphs, comparing the results of patients in São Leopoldo group and in Canoas group. It was observed that the individuals
with intensive interdisciplinar accompanment, keep its balanced pathology, thus improving its quality of life.

Key-words: Plurimetabolic syndrome, diabetes mellitus.

Artigo recebido em 30 de agosto de 2002; aprovado em 15 de setembro de 2002

Endereço para correspondência: Amanda Mônica Lenz, Rua Liberdade, 1498, Igara 92020-240 Canoas - RS
Tel: (51) 477-2478, E-mail: 9810795@cirrus.unisinos.br.
362 Lenz AM / Diabetes Clínica 05 (2002) 362~367

Introdução bastante limitado, quando decorre da ação de um único


profissional. Esse fato talvez justifique o baixo índice
O termo Síndrome Plurimetabólica, conforme dados de sucesso e de adesão obtido, quando os cuidados aos
referidos por Hanefeld [3], tornou-se um de muitos pacientes são realizados por um único profissional de
usados na medicina. Pesquisadores e indústrias têm saúde, classicamente o médico.
prestado atenção para este grupo de patologias, que Objetivos múltiplos exigem diferentes abordagens e
podem ser diagnosticadas em 20 a 40% da população de a formação de uma equipe multiprofissional, que irá
meia-idade a idosos. A importância para o sistema proporcionar essa ação diferenciada.
público de saúde tornou-se claramente entendível. A obesidade, segundo Wong-ho et al. [8], é uma
Conforme este mesmo autor, a síndrome apresenta os condição crônica que aumenta a morbidade de muitas
seguintes sinônimos: Síndrome Metabólica Hormonal doenças e a mortalidade por todas as causas, sendo
(Bjorntorp); Síndrome X (Reaven); Síndrome de considerada um dos maiores fatores de risco para doença
Resistência à Insulina (DeFronzo e Haffner); arterial coronariana, além da associação com a
Hiperinsulinemia/ Resistência à Insulina (Standl e prevalência elevada de hipertensão arterial, diabetes
Zimmet). mellitus e dislipidemia. Evidências mostram correlação
Do ponto de vista da saúde pública, Lerário [5] diz entre hipertensão arterial em homens obesos com uma
que as doenças crônicas, especialmente as maior incidência de câncer renal.
cardiovasculares e o diabetes, vêm ganhando especial A assistência a pacientes com Síndrome
atenção, devido a sua prevalência, passando a serem Plurimetabólica, ainda é pouco praticada pelos
consideradas como o principal problema de saúde da profissionais da saúde, apesar de ser de alta relevância,
população, em função de seus elevados índices de visto que são muito sérios os problemas futuros que
mortalidade, morbidade e custos sociais que acarretam. esses pacientes desenvolvem sem a devida orientação.
Segundo Friedlander [2], o principal produto da Minha experiência acadêmica mostrou-me a
assistência em enfermagem será a educação e a necessidade e a importância do papel da enfermagem
orientação de clientes. na educação e na promoção da saúde dos pacientes com
Para Oliveira & Santos [7], o diabetes pode ser Síndrome Plurimetabólica, pois tornando-os
controlado, restaurando-se as concentrações sangüíneas conscientes do seu quadro clínico, ficam menos
da glicose. O controle, contudo, não é facilmente suscetíveis às complicações dessa síndrome, tais como:
conseguido. Para o ajuste excelente, os diabéticos e seus amputações, infarto, cegueira, trombose, aterosclerose,
familiares devem ser educados por profissionais de saúde, diminuindo também as internações hospitalares e
de modo que passem a entender a doença e a necessidade proporcionando uma melhor qualidade de vida.
do tratamento adequado, ficando aptos à nova disciplina O diabetes mellitus tipo 2 é um importante problema
de vida que lhes é sugerida dentro de suas novas de saúde pública, uma vez que é freqüente, está
necessidades. associado a complicações que comprometem a
A educação de pacientes pode ser definida como a produtividade, qualidade de vida e sobrevida dos
transmissão de informações, habilidades e atitudes, que indivíduos, além de envolver altos custos no seu
resultarão num ambiente necessário para se conseguir o tratamento e das suas complicações. Medidas de
desejado sucesso do tratamento. As metas de um prevenção do diabetes mellitus tipo 2, assim como das
programa educacional são de melhorar a saúde, a complicações, são eficazes em reduzir o impacto sobre
longevidade e a qualidade de vida dos pacientes, e não morbimortalidade destes pacientes.
para satisfazer o orgulho e a vaidade dos educadores. Tal impacto pode ser avaliado através de dados
O processo educacional começa quando o paciente obtidos de fontes do Ministério da Saúde [6],
recebe seu diagnóstico. Nesta ocasião deve ser informado levantamentos regionais e de outras associações:
sobre o que é o diabetes e como adaptar sua vida à Diabetes mellitus tipo 2, como diagnóstico primário
situação de ser diabético. As informações devem ser de internação hospitalar, aparece como a sexta causa
complementadas a cada visita, e o ingresso do novo mais freqüente e contribui de forma significativa (30 a
diabético em uma associação vai lhe facilitar a aquisição 50%) para outras causas, como cardiopatia isquêmica,
de conhecimentos através de contato com outros insuficiência cardíaca, colecistopatias, acidente vascular
pacientes diabéticos há mais tempo, mais experientes e cerebral e hipertensão arterial; pacientes diabéticos tipo
preferencialmente bem controlados. 2 representam cerca de 30% dos que se internam em
Segundo o III Consenso Brasileiro de Hipertensão Unidades Coronarianas Intensivas; diabetes é a
Arterial [4], a hipertensão arterial é multicausal e principal causa de amputações de membros inferiores;
multifatorial e não acarreta, na maioria das vezes, é também a principal causa de cegueira adquirida; cerca
qualquer sintoma aos pacientes. Por envolver orientações de 26% dos pacientes que ingressam em programas de
voltadas para vários objetivos, o sucesso dessas metas é diálise são diabéticos [1].
Lenz AM / Diabetes Clínica 05 (2002) 362~367 363

Metodologia 2. Idade
Foi perguntada a idade e checado com a data de
O estudo compreendeu o método descritivo nascimento. A idade foi dividida em faixas etárias. O grupo
comparativo. Foi realizado nos municípios de São São Leopoldo teve a população mais idosa, atingindo um
Leopoldo e Canoas. O grupo São Leopoldo é composto total de 32% dos pacientes na faixa etária de 71 anos ou
pelo PIPAS (Programa Interdisciplinar de Promoção e mais. No grupo Canoas, a faixa etária predominante ficou
Atenção à Saúde) e pela Associação de Diabéticos e entre 51 a 60 anos, com 30%.
Familiares de São Leopoldo. O grupo Canoas é formado
pela Unidade Básica de Saúde Mathias Velho - Caçapava. 3. Sexo
A população compreendia pacientes com diagnóstico O sexo feminino foi predominante. No grupo São
de pelo menos uma das patologias que causam a Síndrome Leopoldo, apesar do predomínio feminino, houve apenas
Plurimetabólica. uma diferença de 8% entre os sexos. No grupo Canoas, o
A amostra foi de 100 pacientes, sendo 50 do grupo São sexo feminino obteve 72%.
Leopoldo e 50 do grupo Canoas. A coleta de dados
procedeu-se de uma entrevista estruturada, na qual foram 4. Escolaridade
coletados dados quantitativos e procedida medição de Ambos os grupos apresentaram 12% de analfabetos.
pressão arterial e de glicemia capilar pós-prandial.A Houve predomínio do 1º grau incompleto, sendo 68% no
análise dos dados foi dada pelo método estatístico. grupo São Leopoldo e 72% no grupo Canoas. O grupo
Cada entrevistado assinou um termo de consentimento São Leopoldo apresentou 8% dos pacientes com nível
informado, na qual compreendia informações sobre a superior.
pesquisa, assim como a garantia do anonimato e
possibilidade de desistência do entrevistado. Os resultados 5. Atividade física
foram construídos a partir da análise e discussão dos dados. Foram analisadas a regularidade e a orientação. Foi
considerada atividade regular, aquela realizada no mínimo
três vezes por semana, com no mínimo 30 minutos de
Resultados duração. O grupo São Leopoldo, 72% possuem orientação
e 54% praticam atividades regulares. O grupo Canoas,
A pesquisa teve algumas variáveis, como: patologias, 78% não possuem orientação e 60% não praticam
idade, sexo, grau de instrução, atividade física, eliminação atividades regulares.
urinária, hereditariedade, complicações, uso de medicação,
acompanhamento de saúde, IMC, glicemia capilar, pressão 6. Dieta
arterial e a importância da enfermagem. A partir destas Foi questionado quanto ao seguimento de dieta, se
análises, foi obtido os seguintes resultados: possuem orientações e o número de refeições diárias. O

1. Patologias
Foram questio-
nados sobre a presença
das patologias que
compreendem a Sín-
drome Plurimetabó-
lica.Teve como resul-
tado: No grupo São
Leopoldo , 16%dos
pacientes apresen-
taram diabetes melli-
tus tipo 2 e hipertensão
arterial. O grupo Ca-
noas apresentou 18%
dos pacientes com
hipertensão arterial e
sedentarismo
(gráfico 1).

Obs: h.a. =hipertensão arterial sed= sedentarismo om= obesidade mórbida diab = diabetes mellitus
364 Lenz AM / Diabetes Clínica 05 (2002) 362~367

grupo São Leopoldo


apresentou: 60% dos
pacientes seguem
dieta, 56% receberam
orientação de nutri-
cionista e 88% fazem
4 a 6 refeições diárias.
O grupo Canoas apre-
sentou: 66% dos pa-
cientes não seguem
dieta, 60% não re-
ceberam nenhuma
orientação e 60% fa-
zem de 4 a 6 refeições
diárias.

7. Hereditariedade
Foi questionado
quanto à hereditarie-
dade das patologias da
Síndrome Plurimeta- 11. Índice de Massa Corpórea (IMC)
bólica, assim como das suas complicações. No grupo São No grupo São Leopoldo, 18% dos pacientes estavam
Leopoldo, 32% referiram ter casos de duas patologias. na faixa de 30 a 39 kg/m², o que representa o quadro de
No grupo Canoas, 32% referiram ter casos de três obesidade. E 2% apresentaram índice > 40 kg/m², o que
patologias. representa a obesidade mórbida. No grupo Canoas, 26%
estão na faixa de 30 a 39 kg/m², apresentando obesidade,
8. Complicações e 6% apresentando obesidade mórbida, quer dizer estão
O grupo São Leopoldo apresentou 20% de crise com IMC > 40 kg/m² (gráfico 3).
hipertensiva e 20% já tiveram mais de quatro
complicações. No grupo Canoas, houve o predomínio de 12. Níveis de glicemia capilar pós-prandiais
60% dos casos com crise hipertensiva e 14% apresentaram O grupo São Leopoldo apresentou: 36% dos seus
duas complicações. pacientes com glicemia entre 70 – 100 mg/dl, 10% entre
221 – 300 mg/dl e 6% com glicemia > 300 mg/dl. O
9. Uso de medicação grupo Canoas teve 40% dos pacientes apresentando
Foi considerado o uso de medicamento contínuo com glicemia na faixa de 101 – 140 mg/dl e 8% acima de 300
prescrição médica. No grupo São Leopoldo, 88% fazem mg/dl (gráfico 4).
uso de medicamento e o grupo Canoas, 96% usam
medicamento.

10. Acompanhamento de
saúde
O grupo São Leopoldo, 54%
dos pacientes são acompanhados
por médico, enfermeira e
nutricionista. No grupo Canoas,
88% dos pacientes afirmaram ter
acompanhamento somente do
médico. Um dado importante:
nenhum deles é acompanhado
por enfermeira (gráfico 2).
Lenz AM / Diabetes Clínica 05 (2002) 362~367 365

13. Níveis de pressão


arterial
Pressão sistólica: O grupo
São Leopoldo apresentou
74% dos pacientes, com
níveis entre 110 – 140 mmHg
e 4% acima de 180 mmHg. O
grupo Canoas apresentou,
74% dos seus pacientes com
níveis entre 110 – 140 mmHg.
Pressão diastólica: No
grupo São Leopoldo, 76%
apresentaram níveis entre 60
– 90 mmHg e 2% acima de
110 mmHg. O grupo Canoas
apresentou 70% dos seus
pacientes com níveis entre 60
– 90 mmHg e 4% acima de
110 mmHg.
haviam tomado medicamento anti-hipertensivo antes da
14. Importância da enfermagem entrevista.
Foi questionado se o paciente achava importante ou se Há uma importância da orientação quanto à atividade
gostaria de ter acompanhamento de enfermagem. No grupo física, visto que 60% dos pacientes do grupo Canoas
São Leopoldo, 96% afirmaram ser importante o afirmaram ser inexistente a prática de atividade física,
acompanhamento de enfermagem. No grupo Canoas, 90% sendo que 78% não possuem nenhuma orientação. Em
dos pacientes afirmaram ser importante e que gostariam relação a orientação-prática, no grupo São Leopoldo o
de ter acompanhamento de enfermagem. Nenhum deles, percentual de prática de atividade física é de 54% e há
possuem esse acompanhamento (gráfico 5). orientação em 72%.
A relação entre a orientação dietética e o seguimento
É indispensável registrar, que houve um caso de de dieta, conclui que há uma grande importância, visto
diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2, pois a paciente que no grupo São Leopoldo, 56% dos pacientes tem
apresentou o nível de glicemia capilar elevado, estava orientação com nutricionista e 60% seguem dieta. Já no
com 288 mg/dl. A paciente negou saber que era diabética, grupo Canoas, 66% não seguem dieta, pois 60% não
foi orientação a realizar uma avaliação médica. receberam nenhuma orientação.
Os níveis de glicemia capilar houve uma pequena Foi possível identificar que a crise hipertensiva é digna
porção que apresentou glicemia acima de 300 mg/dl, e de preocupação, devido ter ocorrido em 80% dos
que não deixa de ser um dado
relevante, visto que se man-
tiverem esses níveis, as pessoas
vão ter sérios prejuízos à sua
saúde, podendo levá-las ao
quadro de estado hiperosmolar.
No aspecto da pressão
arterial, os pacientes mostraram
mais controle, pois no grupo
São Leopoldo somente 4%
apresentaram pressão sistólica
acima de 180 mmHg e 2% com
pressão diastólica acima de 110
mmHg. No grupo Canoas
somente 4% dos pacientes
apresentaram pressão diastó-
lica acima de 110 mmHg.
Deve-se levar em conta, que os
pacientes, na sua maioria,
366 Lenz AM / Diabetes Clínica 05 (2002) 362~367

pacientes do grupo Canoas e somente em 20% no grupo tudo, a importância da consulta de enfermagem e do
São Leopoldo. Deveria haver uma melhor orientação profissional enfermeiro na área da saúde coletiva. Muita
sobre os fatores que elevam a pressão arterial, o uso coisa ainda pode ser feita, para melhorar a qualidade de
adequado da medicação, visto que todos os entrevistados vida da população e para termos melhores condições de
hipertensos fazem uso de medicação anti-hipertensiva. trabalho digno.

Conclusões Referências

Com o desenvolvimento desse trabalho, pode-se 1. Consenso Brasileiro de Diabetes, 2000.


concluir que a Síndrome Plurimetabólica é uma patologia Http: //www.diabetes.org.br
2 Friedlander MR. A Formação do enfermeiro nas próximas
típica de pessoas idosas. Desse modo, como as mulheres décadas. Âmbito Hospitalar. São Paulo, 1995;9:57-61.
possuem uma maior longevidade, tem-se um maior 3. Hanefeld M, Leonharat W. Das metabolische syndrom. Dt
número de pacientes do sexo feminino entrevistados. Gesundhwesen, 1981, 36.
Outro fator que deve ser destacado é o nível baixo de 4. III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial, 1998 em: http:/
escolaridade. /www.cardiol.br
5. Lerário AC. “Síndrome Plurimetabólica (Síndrome X)”.
No grupo Canoas foram constatados um maior número Atualização em Diabetes do tipo 2 para o clínico não-especialista.
de obesos e com obesidade mórbida, que são sedentários São Paulo, 1998, Fascículo 5.
e não seguem dietas. 6. Ministério da Saúde, Revista de Hipertensão & Diabetes.
Comparando os dois grupos, observa-se que os 2001;1(1).
indivíduos que possuem um acompanhamento 7. Oliveira RF, Santos AC Martins. A Educação dos Diabéticos.
Diabetes Clínica. 2000; 4(4): 299~306.
interdisciplinar intensivo, participam de Associação e 8. Wong-Ho et al. Obesity, Hypertension and the nisk of kidney
grupos, mantém sua patologia equilibrada com menores cancer in men. N. Eng. J. Med. 2000;343(18):1305 -11.
intercorrências, melhorando, assim, sua qualidade de
vida.
A atuação de uma equipe multidisciplinar na Síndrome
Plurimetabólica contribui para um melhor seguimento
do tratamento necessário. O grupo São Leopoldo nos
mostra que 54% dos pacientes são acompanhados por
médico, enfermeira e nutricionista. No grupo Canoas, o
acompanhamento médico está presente em 88% dos
casos, e o papel da enfermeira como educadora é
inexistente, visto que neste local há sobrecarga de
serviços e falta de funcionários, sendo difícil para a
enfermeira fazer a orientação necessária aos pacientes.
Um fato interessante foi que no grupo Canoas, 90%
dos entrevistados afirmaram ser importante o
acompanhamento de enfermagem, apesar de nenhum
deles ter esse acompanhamento. Isso mostra como essas
pessoas estão carentes de cuidados. A enfermeira entra
como uma profissional que pode desenvolver um melhor
acompanhamento, através das consultas de enfermagem,
mostrando o seu valor para o serviço de saúde,
monitorando melhor, motivando-os, diminuindo as suas
complicações dos pacientes. Melhor para os pacientes,
que ganham uma melhor qualidade de vida, e melhor
para o governo, que tem menos gastos com internações
e tratamentos prolongados.
Esse trabalho, que mostra um pouco as diferenças e
igualdades dos pacientes em ambos os grupos
pesquisados, reforça a necessidade de uma maior
conscientização dos profissionais de saúde, para que
possam promover uma melhor assistência aos pacientes,
valorizando cada vez mais a profissão. Quanto à
enfermagem, é ainda um campo pouco explorado, mas
com certeza é muito gratificante, pois valoriza, acima de
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Diabetes 367

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 05 (2002) 368~373

ARTIGO ORIGINAL

A equipe de saúde e o auto-cuidado numa perspectiva interdisciplinar


em diabetes mellitus, hipertensão arterial e obesidade
Selfcare and health team in a interdisciplinar perspective on diabetes
mellitus, arterial hypertension and obesity

Rita Batista Santos

Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro RJ

Resumo
O trabalho em equipe é desenvolvido para a organização de ações para a assistência aos servidores de uma universidade federal portadores de
diabetes mellitus. É descrita a ampliação para a atenção à saúde de sujeitos portadores de diabetes mellitus, para outros com hipertensão arterial
e obesidade, enfocando conceitos de doença crônica, auto-cuidado, equipe interdisciplinar e interdisciplinariedade. Sugere a abordagem, tanto
individual quanto grupal, voltada para os aspectos biológicos, sociais, culturais e psicossociais, enfocando a totalidade da situação de vida e
saúde e a participação ativa de todos os integrantes da equipe interdisciplinar e dos sujeitos naquelas ações, apontando conceitos teóricos de
doença crônica não transmissível, auto-cuidado, interdisciplinariedade e equipe interdisciplinar. O aumento progressivo dos atendimentos aos
servidores portadores de diabetes mellitus (DM) pelos profissionais da equipe, levou a uma diminuição das licenças médicas entre os anos de
1997 (50, 50%) e 1999 (sete 3,5%). No ano de 2000, as doenças associadas ao DM entre 55 servidores inscritos acusaram 54 (38,5%) casos de
doenças do aparelho circulatório e 8 casos (6,0%) de obesidade. Em 1999, foram atendidos 52 funcionários, e os dias de licença por DM
diminuíram para 1348 (redução de 16,49% em relação ao ano anterior). Em 2000, houve queda significativa (p < 0,01) para 763 dias de licença,
sendo atendidos regularmente 97 funcionários, passando o DM a ser a 8a causa de licença médica na universidade. Houve correlação inversa
(0,96) entre o número de pacientes atendidos no programa de DM da UFRJ e o número de dias de licença médica por DM (p < 0,01). Desse
modo, fez-se necessário ampliar a parceria já existente entre a unidade de ensino e a unidade pericial, para a educação em saúde de servidores
portadores dessas condições crônicas associadas em equipe interdisciplinar, obedecendo aos princípios e conceitos teóricos encarados como
um desafio e, ao mesmo tempo, uma necessidade e dificuldade enfrentada pelos profissionais que acreditam e perseguem este objetivo.

Palavras-chave: Equipe interdisicplinar, auto-cuidado, doenças crônicas.

Abstract
The work in team is developed for organization action for the assistance to diabetic servers of a federal university. Attention to diabetic
patients, or hipertensive or obeses is described, focusing concepts of chronic illness, selfcare, interdisciplinar team and interdisciplinarity. This
work suggests individual or grupal approach, directed towards biological, social, cultural and psicossociais aspects, focusing the totality of the

Artigo recebido em 30 de agosto de 2002; aprovado em 15 de setembro de 2002

Endereço para correspondência: Profª. Drª Rita Batista Santos, Escola de Enfermagem Anna Nery
Rua Afonso Cavalcanti, 275, Cidade Nova 20211-110 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21)2293-8048 ramal 118.
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life situation and health and active participation of all the integrant of interdisciplinar team and patients, being pointed theoretical concepts of
not transmissible chronic illness, selfcare, interdisciplinarity and interdisciplinar team. The gradual increase of care for diabetic people by the
professional team led to a reduction of medical licenses between years 1997 (50,5%) and 1999 (73,5%). On 2000, the illnesses associated to the
diabetes mellitus (DM) in 55 employees showed 54 (38,5%) cases of cardiovascular system illnesses and 8 cases (6,0%) of obesity. On 1999,
52 employees had been taken care, and the days of license for DM had diminished for 1348 (reduction of 16,49% in relation to the previous
year). On 2000 it had significant fall (p < 0,01) for 763 days of license, being regularly taken care of 97 employees, DM being the heighty
cause of medical license in the university. It had inverse correlation (0,96) between the number of patients in the DM program of the UFRJ and
the number of days of medical license for DM (p < 0,01). In this way, it was necessary to extend the existing partnership between the unit of
education and the skillful unit, for the education in health of theses employees with chronic conditions, associated in interdisciplinar team,
obeying the principles and faced theoretical concepts as a challenge and at the same time a necessity and difficulty faced for the professionals
who believe and pursue this objective.
Key-words: Team interdisicplinar team, selfcare, chronic illnesses.

Introdução A partir dos registros do setor de arquivo da DVST,


foi possível elaborar a tabela I.
O trabalho em equipe é importante para o Segundo o relatório anual, o total de atendimentos na
desenvolvimento e organização de ações, para a DVST no ano de 2000, foi de 10863. As consultas são
assistência aos servidores de uma universidade federal, realizadas, uma tarde por semana, em consultórios
portadores de diabetes mellitus, hipertensão arterial e separados e de forma individual, não sendo fornecidas
obesidade, e requer o uso de conceitos teóricos de doença medicações para o tratamento.
crônica não transmissível, auto-cuidado, Os pacientes atendidos são do tipo 2, em tratamento
interdisciplinariedade e equipe interdisciplinar. dietoterápico e/ou com drogas orais. Os pacientes do tipo
A instituição em tela é a maior universidade federal 1, tipo 2 em uso de insulina ou com complicações graves
do país, com, aproximadamente 12.054 funcionários do DM, são encaminhados para o HUCFF – UFRJ, desde
ativos, até o ano de 1998. O DM, até então, era a 4a que assim desejem.
maior causa de licenças médicas entre os seus A finalidade deste texto, é discutir a ampliação deste
funcionários, sendo responsável por 1.614 dias de licença programa e projeto de extensão em parceria de uma
médica, em 1998. unidade de ensino, com uma divisão pericial de uma
Em julho de 1996, iniciou-se um projeto de extensão, universidade pública, para melhoria da qualidade de vida
em parceria entre a Escola de Enfermagem e a Divisão e saúde dos seus servidores.
de Saúde do Trabalhador (DVST) da Universidade
Federal, com o atendimento pela enfermeira docente. Revisão crítica da literatura
A partir de outubro de 1998, houve o início das
consultas realizadas por um médico endocrinologista, As chamadas doenças crônicas não transmissíveis
uma tarde por semana. Em outubro de 1999, foi agregada repercutem na vida dos sujeitos portadores de várias
ao programa uma nutricionista. maneiras. São de suma importância para a população,

Tabela I - Número e percentual de atendimentos do LADIS, por tipo de consulta.


ANO 1997 1998 1999 2000
ATENDIMENTO N/% N/% N/% N/%
Consulta Médica 06 / 22,0 30 / 30,0 98 / 49,25 68 / 35,7
Perícia Médica -/- 20 / 20,0 68 / 34,0 11 / 5,7
Licença Médica 52 / 53,0 07 / 7,0 07 / 3,5 37 / 19,7
Palestra Educativa -/- 05 / 5,0 03 / 1,5 03 / 1,5
Consulta Enfermagem 27 / 25,0 41 / 38,0 22 / 11,5 36 / 18,9
Junta Médica -/- -/- 01 / 0,25 -/-
Consulta
Nutricional -/- -/- -/- 35 / 18,5
TOTAL 85 / 100 103 / 100 199 / 100 190 / 100,0
Santos RB / Diabetes Clínica 05 (2002) 368~373 369

possuindo um impacto social sério no que diz respeito à e objeto de estudo, incluindo aspectos de natureza
convivência do adulto moderno com os fatores de risco, biológica, intelectual, afetiva e estética. Isto inclui a
que potencializam sua magnitude traduzindo-se nas abordagem das diversas relações sociais (grupos, classe,
principais causas de óbito, como segue: 1) infarto agudo produção, socialização, práticas e relações no tempo e
do miocárdio representou a principal causa de óbito, espaço).
considerando-se os três dígitos do Código Internacional Configura-se num desafio para a compreensão e
de Doenças (CID), com taxa de mortalidade de 34,3 x explicitação da produção da existência e da prática social
10-5 habitantes; 2) a doença cerebrovascular aguda vêm relativa ao auto-cuidado dos sujeitos portadores,
concomitantemente com uma taxa de 34,3 x 10 -5 acentuando seu caráter dialético, de tecido de totalidade,
habitantes; 3) a insuficiência cardíaca, acompanha a como uma categoria concreta imperativa na construção
escala com taxa de 22,9 x 10-5 habitantes; 4) o DM se do conhecimento, explicitando suas múltiplas
configura como a quarta causa de óbitos com taxa de determinações e mediações históricas.
14,6 x 10-5 habitantes [1], registrando um aumento A interdisciplinariedade tem a ambição de transferir
contínuo como causa básica de óbito, causas estas métodos de uma disciplina à outra, não devendo ser
padronizadas por idade para todo o país, no período até confundida como uma simples justaposição passiva, não
então analisado, que foi de 1980 a 1994. interativa dos professores, profissionais, estudantes e
Camus [2] caracteriza uma doença crônica como a sujeitos portadores. Sua orientação e direção ultrapassam
manifestação ou presença de uma ou mais alterações as fronteiras disciplinares. Aprender a conhecer quer
patológicas não reversíveis, permanentes, com sinais e dizer respeito a ser capaz de estabelecer pontes entre os
sintomas, disfunção física e mental, que ocasionam diferentes saberes, entre esses saberes e suas significações
incapacidade residual, exigindo um controle periódico na vida cotidiana, entre esses saberes e as capacidades e
da saúde. potencialidades interiores. Ou seja, não é pela assimilação
O auto-cuidado dos portadores dessas condições de uma enorme massa de conhecimentos científicos que
crônicas associadas é expresso através de suas opiniões se tem acesso ao espírito científico, mas pela qualidade
e atitudes em relação à doença. Dessa forma, demonstram do que é ensinado. A hierarquia social arbitrária e
suas singularidades e representações. As suas visões de artificial é substituída pela cooperação e criatividade, a
mundo estão implícitas em todo o processo de construção competição pela igualdade de oportunidades, o tédio
dessa área de saber da saúde, desde a concepção do objeto causador da violência, do conflito, da desordem, da
de seu estudo, o sujeito e seu auto-cuidado, até o resultado abdicação moral e social, pela alegria da realização
da sua atuação e produção científica. pessoal. Em outras palavras, significa aprender a viver
Com efeito, o auto-cuidado é visto como uma junto, a conviver com normas compartilhadas e não
construção mais social do que biológica, porque recebe impostas, que levam o sujeito a tolerar as diferenças de
mais interferências de fatores ligados a convivência dos opinião, de cor de pele e de crenças, submeter-se às
sujeitos com o seu trabalho e seu meio ambiente social, exigências dos poderosos (profissionais), fingir escutar
que tanto modificam quanto podem ser transformados o outro, embora permanecendo convencido da justeza
em benefício das suas ações de auto-cuidado [3,4]. absoluta das próprias convicções. A interdisciplinariedade
A perspectiva teórica da interdisciplinariedade para é uma vocação do trabalho em equipe. É em primeiro lugar,
abordar o auto-cuidado e a educação dos sujeitos uma ação de transposição do saber posto na exterioridade
portadores de DM, é considerada aqui como a mais para as estruturas internas do indivíduo, constituindo o
adequada para dar conta das preocupações que conhecimento. É necessária para a mediação da
emergiram da prática da autora, junto aos sujeitos comunicação no trabalho de equipe, levando a compreensão,
portadores de DM, HAS e obesidade. construção e transposições sistemáticas, deslocamentos na
A interdisciplinariedade poder ser utilizada como realidade [6].
sinônimo de parceria. É objeto filosófico-científico
indispensável na abordagem do auto-cuidado do sujeito Metodologia
em trabalhos de equipe. Leva a uma reflexão sobre a
construção histórica daquele objeto, o auto-cuidado dos A ampliação de um projeto de pesquisa e extensão
sujeitos portadores, sua constituição e compreensão, de educação para o auto-cuidado de servidores
resultantes da tensão entre o sujeito pensante e as portadores de diabetes mellitus de uma universidade
condições objetivas em que está inserido [5]. pública, para atender a outros servidores portadores
Assim, a produção do conhecimento sobre o auto- de hipertensão arterial e de obesidade, com abordagem
cuidado está garantida, tendo em vista a exigência do tanto individual quanto grupal, voltada para os
trabalho em parceria. A interdisciplinariedade passa a aspectos biológicos, sociais, culturais e psicossociais,
ser uma necessidade para a produção e socialização enfocando a totalidade da situação de vida e saúde e a
daquele conhecimento, tendo o homem como seu sujeito participação ativa de todos os integrantes da equipe
370 Santos RB / Diabetes Clínica 05 (2002) 368~373

Tabela II – Número de licenças médicas e atendimentos, segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID9), na DVST.

CID9 Licença médica Atendimento


Transtornos mentais (290-319) 492 856
Doenças do sistema osteomuscular e do Tecido conjuntivo (710-739) 487 65
Classificação suplementar de fatores que
exercem influência sobre o estado de saúde e
de oportunidade de contato com serviços de saúde (V01-V82) 313 6865
Doenças do sistema circulatório 240 123
Lesões e envenenamentos (800-999) 147 22
Complicações da gravidez, do parto e do puerpério (630-676) 123 -
Doenças do aparelho respiratório (460-519) 98 09
Neoplasmas (140-239)8904
Doenças do sistema nervoso e dos órgãos dos sentidos (320-389) 88 26
Doenças das glândulas endócrinas da nutrição e
do metabolismo e transtornos imunitários (240-279) 64 98
Doenças da pele e do tecido celular subcutâneo (680-709) 58 10
Sintomas, sinais e afecções mal definidas (780-799) 55 58
Doenças do aparelho digestivo (520-579) 39 15
Doenças infecciosas (001-139) 38 02
Doenças do aparelho geniturinário 33 13
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos 07 02
Anomalias congênitas (740-759) 06 -
Classificação suplementar de causas externas de lesões
e de envenenamento (1800-1999) 04 -
Algumas afecções originadas no período perinatal (760-779) 01 -
TOTAL 2382 8168

interdisciplinar e dos sujeitos naquelas ações, com a sujeitos conheçam seu transtorno e que conserve um
adoção de alguns conceitos (doença crônica não controle adequado de sua doença, sem deteriorar sua
transmissível, auto-cuidado, interdisciplinariedade, qualidade de vida.
equipe interdisciplinar). A educação individual ou a educação grupal podem
Neste contexto, a participação ativa e constante ser utilizadas, dependendo dos recursos disponíveis e
(através de sessões educativas planejadas a intervalos do número de sujeitos para ensinar. Para a abordagem
regulares) dos sujeitos, é condição sine qua non para individual indicam duas a três sessões educativas com
o tratamento eficaz, pois asseguram que os mesmos os profissionais da equipe.
conservem o nível básico de conhecimentos e se A educação de grupos alcança resultados
atualize conforme as mudanças e recomendações magníficos, em virtude da dinâmica das atividades de
clínicas. A adaptação dos sujeitos ao tratamento, é grupo. Além disso, as sessões educativas grupais
importante para que possam gozar de uma vida plena, permitem que temas de interesse dos sujeitos, que
sem restrições, nem detrimentos para a saúde, a curto muitas vezes fogem ao alcance dos profissionais,
e em longo prazo. O conhecimento profundo das venham à tona. Outro dado importante é a troca de
razões para empreender as modificações necessárias experiências entre os membros do grupo, tornando as
nas suas atividades diárias, facilitam o cumprimento situações de convivência com a doença menos
das exigências impostas pela condição que a doença monótonas e ameaçadoras.
traz ao estilo de vida e hábitos pessoais de cada um. A comunicação à distância, pode ser utilizada para
Outros aspectos importantes são o apoio, o estímulo sujeitos com ocupações que exigem afastamento
e a motivação, fatores necessários para facilitar o constante para vários pontos geográficos, através do
processo de aprendizagem e o cumprimento dos telefone.
objetivos da educação para a saúde desses sujeitos. Deve-se identificar, além do nível de conhecimento,
As estratégias educativas devem permitir que os idéias, condição social e econômica dos sujeitos. Para
Santos RB / Diabetes Clínica 05 (2002) 368~373 371

a avaliação inicial do processo educativo propõe-se o objetivo de estudar caso a caso os sujeitos em relação
levantamento dos seguintes aspectos: idade, grau de ao auto-cuidado.
instrução, ocupação, avaliação da visão, audição, O trabalho em equipe interdisciplinar deve
aceitação de colegas e companheiros, grau de fortalecer os componentes de promoção*, prevenção
aderência, estilo de vida, o trabalho, a atividade atual, e auto-cuidado da saúde na docência, ensino e
a avaliação individual da capacidade de aprendizagem assistência, bem como a investigação em saúde
e aceitação de mudanças no estilo de vida, estabelecer complementar a assistência oferecida nos serviços,
prioridades junto ao doente e seu responsável ou com a finalidade de alcançar uma atenção em saúde
acompanhante, estabelecer uma relação entre o doente melhor e mais eficiente, promovendo maior qualidade
e a equipe interdisciplinar, escutar preocupações, de vida aos sujeitos envolvidos.
frustrações e atitudes que podem interferir no processo
educativo (mitos, tabus, preconceitos e verdades,
como Aids), planejar mudanças, ajustes e adaptações Resultados
à sua condição pessoal e de saúde. Fatores emocionais,
como o nível de ansiedade e angústia, a participação O número total de licenças médicas e atendimentos
da família, o nível econômico, influenciam na na DVST, segundo dados do setor de registro se
capacidade de aprendizagem. distribui conforme tabela II.
A diferença entre a educação para o auto-cuidado e As doenças das glândulas endócrinas da nutrição e do
a educação do cliente, diz respeito aos objetivos, papel metabolismo ocuparam a nona posição nas causa de
desempenhado pelos profissionais da equipe licença médica (64, 2,6%) e a quarta no número de
interdisciplinar e pelo cliente, pela filosofia adotada atendimentos (98, 1,19%), no ano de 2000. Dentre elas
e aspectos econômicos/financeiros/logísticos [7]. destacou-se o DM com 37 (57,8%) licenças médicas e
Para o trabalho em equipe interdisciplinar sugere- obesidade com 7 (10,9%) licenças médicas.
se reuniões entre esta e os sujeitos para: A tabela II resume os diagnósticos e o número total
acompanhamento e avaliação das atividades de pacientes ou atendimentos na classe de sujeitos
desenvolvidas e com caráter educativo; reuniões observados.
administrativas para organização, supervisão e As doenças do aparelho circulatório foram a quarta
avaliação da coordenação das atividades e aspectos causa de licenças médicas (240) e a terceira posição no
logísticos e gerenciais; e reuniões clínicas, com o número de atendimentos (124), no ano de 2000. Dentre

Tabela III – Doenças associadas ao DM entre 57 servidores atendidos no LADIS.

CID 10 N %
Doenças do aparelho circulatório (I10-I11-I21-I25-I50-I64-I65-I80-I85) 54 38,5
Doenças dos olhos e anexos (H00-H59-E10.3+) 10 7,0
Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E03-E07-E65-E66-E68) 8 6,0
Transtornos mentais e comportamentais devido ao uso do álcool (F10-F10.2-F20-F41.1-F40.2) 8 6,0
Abuso de drogas sem dependência (305.1/1) 6 4,0
Doenças do aparelho digestivo (K00- K62.9-K74.3-K77-K80-K93-) 14 10,0
Doenças do aparelho respiratório (J10-J18-J32-J44) 4 2,8
Algumas doenças infecciosas e parasitárias (A-41-A30-A26-L00) 4 3,5
Doenças do Sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (M00- M11- M50-M84.4-M86-M95.9-) 7 5,0
Doenças do aparelho geniturinário (N39.0-N48.4-N40-N07-E10.2+) 5 3,5
Diabetes mellitus (E10.5-210-E11.1-E11.4-E14-H28.0*) 5 3,5
Doenças do sistema nervoso (G20-G98.X) 4 2,8
Neoplasias (54.2) 5 3,5
Sintomas e sinais relativos a cognição, percepção do estado emocional e comportamental (R42) 1 0,7
Sintomas e sinais gerais (R51-R53) 1 0,7
Causas externas de morbidade e de mortalidade (V01-V09) 1 0,7
Traumatismo do abdome, do dorso, da coluna lombar e da pele (S31.1) 1 0,7
Doenças do Sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns transtornos imunidades (D65-D69) 1 0,7
TOTAL 216 100,0

*A promoção à saúde refere-se a ações conjugadas, utilizadas tanto na perspectiva objetiva quanto na perspectiva subjetiva, que visam a
melhoria das condições de vida e de saúde dos sujeitos. Já a prevenção refere-se ao conjunto de ações integralizadas que visam evitar a
doença e suas complicações [8].
372 Santos RB / Diabetes Clínica 05 (2002) 368~373

elas destaca-se a doença hipertensiva (cid i.10-i.11), com A humanização e melhoria da qualidade do
164 (69,5%) licenças médicas, seguida das varizes das atendimento nos serviços são outras metas ou finalidades
extremidades inferiores (cid i86.8), com 40 (17%) desses profissionais, que incomodados com as
licenças médicas, da flebite e tromboflebite (cid i.80), dificuldades, tanto de ordem pessoais quanto
com 36 (13,0%) licenças médicas e das varizes profissionais e institucionais, movimentam-se para sua
esofagianas com 1 (0,5%) licença médica. superação.
O aumento progressivo dos atendimentos dos Encorajar a busca de orientação, o desejo de melhorar
servidores portadores de diabetes mellitus (DM) pelos conhecimentos sobre os determinantes sociais da doença,
profissionais da equipe levou a uma diminuição das a auto-estima e autonomia, é fundamental nesse processo
licenças médicas entre os anos de 1997 (52, 50%) e 1999 de tomada de consciência sobre os direitos do sujeito à
(7, 3,5%) (ver tabela I). saúde.
No ano de 2000, as doenças associadas ao DM entre Somente quando o sujeito assumir suas
55 servidores inscritos, acusaram 54 (38,5%) casos de responsabilidades próprias em relação ao seu auto-
doenças do aparelho circulatório e 8 casos (6,0%) de cuidado na vida e no trabalho, a meta da equipe
obesidade. interdisciplinar se efetiva, alcançando uma nova realidade
Em 1999, foram atendidos 52 funcionários e os dias de saúde, apresentado a questão, seu prisma vivificado
de licença por DM diminuíram para 1348 (redução de no seu auto-cuidado, trabalho e saúde - mergulhando no
16,49% em relação ao ano anterior). mundo de significados e respeitando sua posição perante
Em 2000, houve queda significativa (p < 0,01) para tal fenômeno. A equipe interdisciplinar deve encorajar a
763 dias de licença, sendo atendidos regularmente 97 atitude autônoma do sujeito, apesar das resistências e
funcionários, passando o DM a ser a 8a causa de licença dificuldades pessoais e profissionais, tanto por parte
médica na universidade. destes quanto daqueles.
Houve correlação inversa (0,96) entre o número de
pacientes atendidos no programa de DM e o número de Referências
dias de licença médica por DM (p < 0,01).
Desse modo, estendeu-se os atendimentos para a 1. Lessa I. Doenças crônicas não transmissíveis. In: Lessa I. O
educação em saúde de servidores portadores dessas adulto brasileiro e as doenças da modernidade: epidemiologia
das doenças crônicas no Brasil. São Paulo: Hucitec/Abrasco.
condições crônicas associadas, desde abril de 2001. 1998. p. 29-42.
2. Camus L. Autocuidado de la salud en personas con problemas
Conclusão cronicos de salud. EPAS. 1999;número especial:94-108.
3. Caponi G. Texto Contexto Enferm. Florianópolis, 1997;6(2):51-
Trabalhar em equipe interdisciplinar, obedecendo aos 56.
4. Canada. Health Promotion and Programs Branch, Health Canada.
princípios e conceitos teóricos de doença crônica não Supporting self-care: the contribution of nurses and physicians.
transmissível, é um desafio e ao mesmo tempo uma Minister of Public works and Government Services Canada, 1977,
necessidade e dificuldade enfrentada pelos profissionais 126 p.
que acreditam e perseguem este objetivo. Fica claro que 5. Jantsch AP, Bianchetti (org.). Interdisciplinariedade: para além
a metodologia sugerida, apesar de ser flexível e aberta, da filosofia do sujeito. Petrópolis: Vozes, 1995. 204 p.
6. Universidade do amanhã. Em busca de uma evolução
necessita de sistematização por critérios a serem transdisciplinar da universidade: Projeto CIRET-UNESCO –
definidos de acordo com cada realidade e situação Síntese do documento por Basarab Nicolescu – Presidente do
vivificada. CIRET. Salvador: META – Revista Holística Transdisciplinar,
Entretanto, é possível defini-la como uma estratégia 1999:55-66.
de pesquisa em serviço, pois a participação ativa de todos 7. Hill L, Smith N. Self Care Nursing: promotion of health.
Copyright© by PrenticeHall Inc., Englewood Cliffs. New Jersey.
os envolvidos, sem dúvida gerará a necessidade de 1990. 447 p.
investigação e estudos no seu desenrolar. 8. Oliveira EM de, Carneiro F, Stori R. Gênero, saúde e trabalho: a
dimensão oculta. São Paulo: Brasiliense, 1993. 46 p.
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Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 05 (2002) 375~380

ARTIGO ORIGINAL

Diabetes mellitus tipo 2 e exercício físico aeróbico


Diabetes mellitus type 2 and aerobic exercise

Ana Paula Passos*, Jane Dullius**, Luiz Guilherme Porto***, Adriana Lofrano****

*Enfermeira e Professora de Educação Física do PROAFIDI, especialista em atividade física terapêutica, **Coordenadora do PROAFIDI, Professora
assistente de Educação Física na Universidade de Brasília, Doutoranda em Ciências da Saúde e Atividades Físicas Terapêuticas, **Professor especialista
em Treinamento Desportivo, Mestre em Ciências da Saúde, ****Médica especialista em endocrinologia e metabologia do Hospital Universitário de Brasília.
PROAFIDI: Programa Orientado de Atividades Físicas Para Diabéticos.

Resumo
O presente estudo demonstra o comportamento da glicose sangüínea em diabéticos tipo 2, que se submetem a execução de exercício físico
aeróbico com intensidade moderada, e de como esta resposta glicêmica aguda pode auxiliar no tratamento e controle da doença, sendo o
educador físico integrante da equipe multidisciplinar de atendimento do diabético, responsável pela orientação e acompanhamento da prática
benéfica e isenta de riscos. Pacientes do Hospital Universitário de Brasília foram submetidos a 20 sessões de atividade física aeróbica com
monitorização da glicemia capilar antes, durante e após a prática. Observou-se a diminuição do nível de glicose sangüínea durante a execução
do exercício, em resposta a maior utilização desse substrato neste período. A orientação do profissional de educação física permitiu que os
participantes realizassem a atividade com a intensidade necessária para obtenção de benefícios, sem alcançar níveis hipoglicêmicos.

Palavras-chave: exercício aeróbico, diabetes mellitus, educação física.

Abstract
This study shows the blood glucose behavior in type 2 diabetics individuals which were submitted to mild intensity aerobic exercises and how
this glicemic response can affect in the diabetes treatment and its control, having the physical education professional, a member of the team, as
responsible for the orientation and good practice of the exercise with no risks. Patients of the University Hospital of Brasilia were submitted to
20 sessions of aerobic activities having their capillary glicemy fully monitorized during the exercise practice. It was observed a decrease of
blood glucose levels during the exercise due to the response to its utilization in that period. Because of good orientation of the physical
education professional the participants were able to get exercised at ideal intensity rate resulting in a beneficial physical performance without
getting at any hypoglycemia levels.

Key-words: Diabetes mellitus, aerobic exercise, physical education.

Artigo recebido em 15 de setembro, aprovado em 30 de setembro de 2002

Endereço para correspondência: Ana Paula Passos, SRES quadra 8 bloco “M” casa 24, 70648-137 - Brasília DF, Tel: (61) 233 9395.
Passos AP et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 375~380 375

Introdução colchonetes, espelhos e outros equipamentos que também


contribuíram indiretamente na execução do programa.
O exercício físico vem sendo descrito, de uma maneira Em conformidade com a disponibilidade da sala e
geral, como uma conduta importante para a promoção disposição dos participantes, as atividades foram
da saúde e, conseqüentemente, para a melhora da realizadas no horário de 14:00 as 15:00, no período
qualidade de vida [1]. Com isso, a prática de atividades compreendido entre 31/05/00 e 14/07/00, totalizando
físicas tem se disseminado rapidamente na população. 20 sessões. No início e no final do programa, os alunos
No entanto, essa prática deve ser bem orientada para que, foram submetidos à consulta médica para exames
em diferentes condições, sejam minimizados os seus clínico e complementares (hemograma, glicemia de
riscos e aumentados os seus benefícios. jejum e pós-prandial, glicohemoglobina, uréia,
Muitos estudos têm abordado a atividade física, creatinina, ácido úrico, lipidograma, EAS, protenúria
relacionando-a de forma terapêutica a diversas condições de 24 horas, clearance de creatinina), incluindo também
patológicas do organismo. No diabetes mellitus, é fundoscopia, teste de esforço e avaliação
unânime a indicação do exercício físico como um dos antropométrica. Além do acompanhamento médico, os
pilares no tratamento da doença [2,3,4,5]. Mas o que se alunos também foram acompanhados pela nutricionista
observa na prática, é que a maioria dos programas de do Programa de Diabetes do hospital.
saúde voltados para diabéticos não têm um educador Os recursos materiais disponíveis permitiam a
físico como profissional integrante da equipe. Seria pela seleção de, no máximo, cinco participantes para a
falta de especialistas? Ou uma falta de reconhecimento aplicação do programa de forma adequada. Assim,
da equipe quanto à real necessidade da atividade física durante três reuniões consecutivas do Programa de
na terapêutica, sendo prescrita e supervisionada por um Diabetes do HUB, foi feita a busca de indivíduos com
profissional da área de educação física? disponibilidade para participar das atividades. O critério
O perfil epidemiológico do diabetes demonstra uma principal para integração no programa era ser portador
evolução rápida da doença [6], tendo seu caráter de de diabetes mellitus tipo 2 em acompanhamento médico,
morbimortalidade como alvo de investigações e com ou sem terapia medicamentosa associada, sendo
pesquisas. A evolução dos métodos de diagnósticos e o de fundamental importância a ausência de contra-
maior conhecimento da doença, promovem uma elevação indicações absoluta para a prática de exercícios físicos.
da expectativa de vida dos portadores, que, por outro Entre homens e mulheres de diferentes idades e
lado, tornam-se mais suscetíveis às conseqüências possíveis candidatos a participarem, apenas duas
degenerativas da doença. Vista como um reflexo do pessoas tiveram condições de comparecer às sessões
desenvolvimento econômico e social (modificação do determinadas.
estilo de vida), o diabetes torna-se cada vez mais As sessões foram pré-estabelecidas de acordo com
preocupante para a saúde pública, sendo importante as condições físicas de cada participante, respeitando o
considerar a estreita relação do tipo 2 com a obesidade, objetivo do estudo de verificar as variações glicêmicas
que também tem prevalência ligada a hábitos alimentares de um indivíduo diabético tipo 2, durante a realização
e sedentarismo[3,6]. de atividade física aeróbia. Houve monitorização da
Sendo o exercício um dos componentes fundamentais glicemia capilar e da pressão arterial antes, durante e
para a redução da glicose sangüínea e prevenção das após cada sessão. A freqüência cardíaca (FC) foi
complicações da doença, faz-se necessário o incentivo à monitorada durante toda a execução da aula, para
prática regular de atividades físicas, com supervisão de controle da intensidade dos exercícios.
educadores inseridos em um programa de atendimento Indivíduo 1 - Homem, 55 anos, DM há 8 anos, sem
ao indivíduo diabético [2,7]. uso de medicação. Relatava prática de exercícios físicos
Na tentativa de confirmar a importância da realização variados desde 1980, com ênfase para atividade aeróbia
da atividade física individualizada e supervisionada, este ( caminhada e natação) nos últimos cinco anos.
estudo foi desenvolvido com a aplicação prática de um Resultado de teste de esforço realizado em clínica: boa
programa de atividade física terapêutica, com o objetivo aptidão cardiorespiratória, freqüência cardíaca máxima
de observar as alterações glicêmicas ocorridas em (FCmáx) 166 bpm e capacidade aeróbica máxima
diabéticos tipo 2 não insulino-dependentes, quando (VO2máx) 36,97 ml (kg/min). O percentual de gordura
praticam exercícios aeróbicos. de 27,3 % e o índice de massa corporal (IMC) igual a
27.75, caracterizavam excesso de gordura.
Materiais e métodos O exercício aeróbio foi desenvolvido em esteira
ergométrica com intensidade de 70 a 80% da FCmax.
O programa de atividade física terapêutica foi Cada sessão teve duração de 60 minutos, assim
realizado na sala de reabilitação do Hospital Universitário distribuídos: 10’ de alongamento, 45’ de ergometria e
de Brasília - HUB, preparada com esteiras, bicicletas, 10’ de alongamento/ relaxamento.
376 Passos AP et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 375~380

Indivíduo 2 - Mulher, 38 anos, DM há dois meses, esfigmomanômetro aneróide da marca Tycos, pelo
fazendo uso de medicação hipoglicemiante método auscultatório com uso de manguito padrão. A
(Glucoformim) e hipotensora (Bloprees). Apresentava FCmáx foi determinada pelo teste de esforço aplicado
hipertensão arterial leve. Ao teste de esforço, aptidão por cardiologista em laboratório e calculada a zona-alvo
cardiorespiratória muito fraca, FCmáx 173bpm, VO2 de treinamento para cada participante. As avaliações de
máx 21.22ml. Percentual de gordura de 40.5% e IMC composição corporal do início e do final do programa,
igual a 32.5, caracterizando obesidade. Realizado foram realizadas com os mesmos instrumentos
exercício aeróbio em bicicleta ergométrica com (adipômetro, trena metálica e balança) e pelo mesmo
intensidade de 50 a 60% da FCmáx. A sessão era observador (a pesquisadora). O cálculo do percentual de
realizada em 45 minutos: 10’ alongamento, 25’ gordura foi feito baseado na mensuração das dobras
ergometria e 10’ alongamento/ relaxamento. A pressão cutâneas, aplicando-se a fórmula de Brozek [8].
arterial foi verificada a cada cinco minutos para controle
da sobrecarga para o aparelho cardiovascular. Resultados
Para controle da FC foram utilizados dois
frequencímetros da marca Polar. A glicemia capilar foi Foi aplicada análise estatística sobre a evolução dos
avaliada com um glicosímetro da marca Advantage, e a valores das glicemias individuais de cada participante
pressão arterial foi aferida com a utilização de ao longo das sessões, assim como às variações

Tabela I-A: Valores individuais das glicemias ( mg/dl ) e variações percentuais registradas em cada sessão

INDIVIDUO I
Sessão Glicemia 1 Glicemia 2 Glicemia 3 Var%1 Var%2 Var%3
1 109 93 99 -14.68 6.45 -9.17
2 94 93 94 -1.06 1.08 0.00
3 132 79 89 -40.15 12.66 -32.58
4 88 71 88 -19.32 23.94 0.00
5 113 80 104 -29.20 30.00 -7.96
6 102 70 84 -31.37 20.00 -17.65
7 95 87 96 -8.42 10.34 1.05
8 128 83 89 -35.16 7.23 -30.47
9 113 86 100 -23.89 16.28 -11.50
10 96 88 94 -8.33 6.82 -2.08
11 106 71 86 -33.02 21.13 -18.87
12 106 81 86 -23.58 6.17 -18.87
13 81 74 62 -8.64 -16.22 -23.46
14 109 79 97 -27.52 22.78 -11.01
15 110 98 104 -10.91 6.12 -5.45
16 141 81 105 -42.55 29.63 -25.53
17 100 75 90 -25.00 20.00 -10.00
18 152 92 101 -39.47 9.78 -33.45
19 84 75 84 -10.71 12.00 0.00
20 106 70 80 -33.96 14.29 -24.53
Glicemia 1 = repouso; Glicemia 2 = 30 min.; Glicemia 3 = 60min.
Var%1=varaiação percentual entre o valor da glicemia 2 em relação à glicemia 1
Var%2=varaiação percentual entre o valor da glicemia 3 em relação à glicemia 2
Var%3=varaiação percentual entre o valor da glicemia 3 em relação à glicemia 1
***= valores não medidos por ausência da aluna na sessão.
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percentuais entre os três momentos de medida. Para percentuais nos três momentos, encontram-se nas
esta análise, foi utilizada a estatística não pareada, em tabelas III-A e III-B.
função da distribuição anormal de alguns conjuntos de
dados de glicemia. Analisou-se comparativamente e de Discussão
forma pareada os valores nos três diferentes momentos:
repouso, meio e final da sessão, empregando-se análise O Programa de atividade física realizado conforme
de variância (teste de Kwskal – Wallis), com teste de a abordagem teórica citada, permitiu a verificação das
Student- Newman – Kwels, para individualizar as alterações dos níveis de glicose sangüínea, durante a
diferenças de grupo dois a dois [9,10]. Em todos os execução de uma atividade aeróbia em dois indivíduos
casos empregou-se nível de significância de 5%. diabéticos tipo 2. O aumento da utilização da glicose em
O valor absoluto das glicemias, bem como sua resposta ao exercício moderado ocasionando uma
variação percentual antes, durante e após cada sessão diminuição da glicemia, foi observado em todas as
de atividade física para os dois indivíduos estudados, sessões do programa. Conforme o esperado, a glicemia
estão ilustrados nas tabelas I-A e I-B. capilar, medida quando a intensidade do exercício
Os resultados da avaliação antropométrica realizada alcançava a zona-alvo de treinamento calculada para cada
antes de iniciar o programa e ao final do período deste indivíduo (glic 2), apresentou uma diminuição em relação
estudo estão na tabela II. ao nível inicial (glic 1), verificada antes de iniciar o
Finalmente, a análise estatística da evolução dos exercício. Ao final da sessão (glic 3), após o período de
valores das glicemias bem como as variações relaxamento, os níveis de glicose aumentavam

Tabela I-B: Valores individuais das glicemias ( mg/dl ) e variações percentuais registradas em cada sessão

INDIVIDUO I
Sessão Glicemia 1 Glicemia 2 Glicemia 3 Var%1 Var%2 Var%3
1 97 90 94 -7.22 4.44 -3.9
2 93 85 94 -8.60 10.59 1.08
3 *** *** *** *** *** ***
4 104 95 79 -8.65 -16.84 -24.04
5 0 *** *** *** *** ***
6 104 83 90 -20.19 8.43 -13.46
7 105 82 88 -21.90 7.32 -16.19
8 *** *** *** *** *** ***
9 80 98 90 22.5 -8.16 12.5
10 98 90 96 -8.16 6.67 -2.04
11 106 89 93 -16.04 4.49 -12.26
12 104 89 99 -14.42 11.24 -4.81
13 *** *** *** *** *** ***
14 98 86 90 -12.24 4.65 -8.16
15 *** *** *** *** *** ***
16 *** *** *** *** *** ***
17 93 91 93 -2.15 2.20 0.00
18 *** *** *** *** *** ***
19 115 100 101 -13.04 1.00 -12.17
20 *** *** *** *** *** ***
Glicemia 1 = repouso; Glicemia 2 = 30 min.; Glicemia 3 = 60min.
Var%1=varaiação percentual entre o valor da glicemia 2 em relação à glicemia 1
Var%2=varaiação percentual entre o valor da glicemia 3 em relação à glicemia 2
Var%3=varaiação percentual entre o valor da glicemia 3 em relação à glicemia 1
***= valores não medidos por ausência da aluna na sessão
378 Passos AP et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 375~380

discretamente mantendo-se, porém, dentro dos valores em relação aos níveis iniciais, antes de realizar a atividade
normais, mesmo quando o valor inicial (pré- exercício) física ( p < 0,05 para os dois indivíduos ). Isso ficou bem
caracterizava o aluno em condições de hiperglicemia. A evidenciado na resposta glicêmica do indivíduo 1, em
avaliação estatística do comportamento glicêmico que todas as variações foram estatisticamente
durante o exercício corroborou estes achados, conforme significativas. No caso 2, a redução da glicose 2 em
pode-se ver nas tabelas III-A e III-B. relação a glicose 1, também mostrou diferença estatística
O momento no qual a glicemia era medida durante a significativa. Entretanto, a menor diferença da variação
execução do exercício aeróbio, representava o período da glicemia durante o exercício em relação ao final da
de utilização de glicose e ácidos graxos livres na sessão ( glic 2 - glic 3 ), não apresentou significado
circulação, já utilizadas as reservas intramusculares de estatístico ( p > 0.05 ), podendo este fato ser atribuído
glicogênio durante a fase inicial do exercício. A maior ao menor condicionamento físico da aluna e, assim, a
necessidade de glicose sangüínea era balanceada com o menor duração da atividade.
aumento da produção hepática desse substrato. No Nos dois casos, pôde-se observar também uma
entanto, é possível que, caso a execução do exercício se pequena, porém significativa diminuição do IMC.
estendesse por um período mais longo, uma nova medida Acredita-se ser este um dos principais caminhos
da glicemia capilar demonstraria uma maior queda nesta favoráveis à prevenção de algumas das complicações da
concentração, podendo ocorrer hipoglicemia. A doença.
diminuição da glicemia durante o exercício é resultado Ressalta-se que, mesmo não fazendo parte do objetivo
da maior utilização periférica da glicose, em resposta ao principal do programa, os alunos tiveram a oportunidade
aumento a sensibilidade à insulina [11,12]. Esta resposta de serem alertados continuamente, quanto à importância
do organismo, esperada por até 48 horas após o exercício, da modificação do estilo de vida e à relevante atenção
foi observada no programa ao verificar que no término para as possíveis complicações da doença.
da sessão, os alunos tinham níveis glicêmicos diminuídos
Conclusão

O levantamento de informações em busca do melhor


Tabela II: Valores da avaliação antropométrica e mais adequado controle do diabetes se faz necessário,
Indivíduo I Indivíduo II através de estudos e pesquisas que beneficiem os
Medida Pré-teste Pós-teste Pre-teste Pós-teste profissionais de saúde em suas condutas em relação à
DC biciptal 8 6 27 24 doença e ao portador.
DC triciptal 12 10 33 28
A análise do comportamento da glicose sangüínea
durante a execução de exercícios aeróbicos, retrata como
DC sub-escapular 32 32 49 50
as alterações metabólicas, relacionadas com o consumo
DC abdominal 34 32 42 49 de glicose, beneficiam o tratamento do indivíduo
DC supra ilíaca 16 18 38 32 diabético tipo 2, quando tem sua atividade física prescrita
C escapular 121 117 123 123 de forma correta. Verifica-se que os benefícios da prática
C abdominal 96.5 93.5 97.2 95.5 de exercícios físicos são otimizados quando há uma
C braço direito 30 29 33 30.5
supervisão da modalidade, intensidade e duração,
considerando também que, como para qualquer pessoa,
C braço esquerdo 30 27 32 30
esta atividade deve ser regular e gradativa. Sendo o estado
C coxa direita 51 50 56.5 53.5 hipoglicêmico uma possibilidade real para o indivíduo
Coxa esquerda 50 48 57.5 56 diabético, o profissional de saúde deve estar atento para
C panturrilha dir. 40.5 39 38.5 37 alterações orgânicas que representam essa condição, e
C panturrilha esq. 39 38 39 37 orientar o paciente, redirecionando a prática de atividade
Altura 165 165 154 154
física de acordo com as necessidades.
Neste programa, reafirma-se a importância do
Peso 75.5 70.9 77.1 74.3
educador físico junto à equipe multiprofissional de
% gordura 27.3 27.1 40.5 39.1 atendimento ao diabético, onde busca de meios que
IMC 27.75 26.06 32.5 31.3 proporcionem qualidade de vida se faz presente através
DC= dobra cutânea – valores em mm de várias ações, inclusive o incentivo à prática de
Peso = valores em quilogramas atividade física com mínimos riscos e grandes benefícios.
C= circunferência – valores em cm
Altura = valores em cm
% gordura = percentual de gordura – fórmula de Brozek
IMC = índice de massa corporal – Kg/cm
Passos AP et al / Diabetes Clínica 05 (2002) 375~380 379

Tabela III-A: Comparação entre os valores das glicemias individuais no repouso ( glic 1 ), com 30min. ( glic 2 ) e após 60min. do
início da sessão ( glic 3 ).
Indivíduo I
glic 1 Glic 2 Var% Glic 2 Glic 3 Var%2 glic 1 Glic 3 Var%3
N 20 20 20 20 20 20 20 20 20
Média 108 81,3 -23,3 81,3 91,6 13 108,2 91,6 -14,1
DP 18,3 8,5 12,4 8,5 10,2 10,7 18,3 10,2 11,5
Ext Sup 152 98 -1,1 98 105 30 152 105 1,1
Qtl Sup 113 87,5 -10,8 87,5 99,5 20,6 113 99,5 -3,8
Mediana 106 80,5 -24,4 80,5 92 12,3 106 92 -11,3
Qtl Inf 95,5 74,5 -33,5 74,5 86 6,6 95,5 86 -24
Ext Inf 81 70 -42,6 70 62 -16,2 81 62 -33,6
p* <0,05 <0,05 <0,05
*teste de Student-Newman-Keuls
glic=glicemia; var =variação

Tabela III-B: Comparação entre os valores das glicemias individuais no repouso ( glic 1 ), com 30min. ( glic 2 ) e após 60min. do
início da sessão ( glic 3 ).
Indivíduo I
glic 1 Glic 2 Var% Glic 2 Glic 3 Var%2 glic 1 Glic 3 Var%3
N 12 12 12 12 12 12 12 12 12
Média 99,8 89,8 -9,2 89,8 92,3 3 99,8 92,3 -6,9
DP 8,8 5,6 11,4 5,6 5,7 8,1 8,8 5,7 9,6
Ext Sup 115 100 22,5 100 101 11,2 115 101 12,5
Qtl Sup 105 93 -7,7 93 95 7,9 104,5 95 -1
Mediana 101 89,5 -10,4 89,5 93 4,6 101 93 -6,5
Qtl Inf 95 85,5 -15,2 85,5 90 1,6 95 90 -12,9
Ext Inf 80 82 -21,9 82 79 -16,8 80 79 -24
p* <0,05 >0,05 <0,05
*teste de Student-Newman-Keuls
glic=glicemia; var =variação

Referências 7. Giacca A: Groenewoud Y; Isui E; Mc Clean P; Zinman B.


Glucose Production, Utilization and cycling in response to
1. Manson JE. Diabetes. In : Nieman DC. Exercício e Saúde. São moderate exercice in obese subject with type 2 diabetes and
Paulo: Manole Ltda; 1999. P 85-103. mild hyperglycemia. Diabetes 1998; 47: 1763-1770.
2. Martins DM; Duarte MFS. Efeito do exercício físico sobre o 8. Fox E L, Mathews D K. Exercício, composição corporal e
comportamento da glicemia em indivíduos diabéticos. controle ponderal. Bases Fisiológicas da Educação Física e dos
Atividade Física e Saúde 1998; 3: 32-44. desportos. 3º ed. São Paulo: Guanabra; 1986, 373-379.
3. Brunner e Suddarth. Avaliação e conduta de pacientes com 9. Downing D, Clark J. Métodos não paramétricos. Estatística
Diabetes Mellitus. Tracto de Enfrmagem médico-cirurgica. Rio aplicada. 3º ed. São Paulo: Saraiva; 1999. 367-380.
de Janeiro: Guanabara; 1993. 873- 915. 10. Marconi M A, Lakatos E M. Técnicas de Pesquisa. 4º ed. São
4. Forjaz CLM; Tinucci T; Alonso DO; Negrão CE. Exercício Paulo: Atlas; 1999. 158-220.
físico e diabete. Rev Soc Cardiol 1998; 5 981-987. 11. Shepherd P, Kahn BB. Glucose Transporters and Insulin
5. Guyton AC; Hall J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 9º edição. Action. New England Journal of Medicine 1999; 341:248-257.
Rio de Janeiro, Guanabara Koogan; 1996. 12. Estácio RO; Wolfe EE, Regensteiner J.G, Jeffer B, Havranek
6. Sociedade Brasileira de Diabetes. Consenso Brasileiro sobre EP, Savage S, et al. Effect of risk factors on exercise capacity
Diabetes. Diagnóstico e Classificação do Diabetes Mellitus e in NIDOM. Diabetes; 1996; 45p. 79-85.
Tratamento do Diabetes Mellitus tipo 2. 2000. 13. Malerb DA, Franco LJ. Diabetes Mellitus. Guia básico para
diagnóstico e tratamento. 2º edição. Brasília, Ministério da
Saúde; 1997. p11- 14.
380

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Normas de publicação Diabetes Clínica 381

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texto. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,
introdução, material e métodos, resultados, discussão,
3. Revisão conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave
382
Normas de publicação Diabetes Clínica
(key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de
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utilizado e outros programas e sistemas. As referências bibliográficas devem seguir o estilo
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- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras
e títulos acadêmicos. iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor
- Local de trabalho dos autores. do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora,
respectivo endereço, telefone e E-mail. ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e
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para paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, Exemplo:
aparelhos, etc.
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
3. Autoria Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
participado do trabalho o suficiente para assumir a
responsabilidade pública do seu conteúdo. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
O crédito como autor se baseará unicamente nas letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
contribuições essenciais que são: a) a concepção e Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de
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de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados
que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente de acordo com o Index Medicus, na publicação “List of
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obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a
participação como autor. A supervisão geral do grupo de Exemplo:
pesquisa também não é suficiente. Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S et al. Expression
and localization of urokinase-type plasminogen activator
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Na segunda página deverá conter um resumo (com no
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 6- Agradecimentos
palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou
informações: de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do
- Objetivos do estudo. artigo, antes as referências, em uma secção especial.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem,
metodologia, análise). Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos). Jean-Louis Peytavin
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior Atlantica Editora
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Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras- 20241-080 Rio de Janeiro RJ
chave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para Tel: (21) 2221 4164
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Errata
No artigo publicado no número 4 de Diabetes Clínica (julho/agosto de 2002, V6n4): Implicações do diabetes mellitus na vida de crianças e
adolescentes: a opinião dos médicos, mães e portadores, de Ana Claudia T. Barros Kovacs, Fátima Elisabeth Denari, foi impresso um
endereço errado dos autores. A correspondência deve ser enviado no endereço seguinte:
Ana Claudia T. B. Kovacs, Rua Dona Alexandrina, 1779/62, 13560-290 São Carlos - SP, E-mail: aclaudiakovacs@uol.com.br
Diabetes Clínica 05 (2002) 383

Calendário de Eventos
OUTUBRO DE 2002 Lyon, França
Informações: W.M. Wiersinga
10 a 12 de outubro Department of Endocrinology & Metabolism
25th International Symposium on Sports Sciences Academic Medical Center F5-171
Centro de Convenções Rebouças, São Paulo Meibergdreef 9
Informações: CELAFISCS 1105 AZ Amsterdam - The Netherlands
(11) 4229 8980/4229-9643 Tel.: 31 20 566 6071
www.celafiscs.com.br Fax: 31 20 691 7682
w.m.wiersinga@amc.uva.nl
24 a 27 de outubro
EASD Islet Study Group 17 a 21 de abril
Joint Meeting of the EASD Islet Study Group and the Boston-Ithaca Vo Congresso Brasileiro Pediátrico de Endocrinologia
Islet Club e matabologia
Sea Crest Ocean Front Resort Vo Cobrapem
North Falmouth, Massachusetts Mar Hotel, Recife, Pernaambuco
Informações: www.diabetes.org Presidente: Profa. Dra. Elcy Falcão
Informações: (81) 3423-1300
29 de outubro – 1 de novembro E-mail: andrealatache@assessor5-pe.com.br
VIo Cuban Congress on Immunology of Diabetes
Hotel Neptuno-Tritón, Havana, Cuba
Informações: Dr. Rolando Suárez Pérez MAIO DE 2003
National Institute of Endocrinology, Department of Immunology of
Diabetes 29 de maio a 1 de junho
Havana 10400 Cuba 12th European Congress on Obesity
Tel: +53-7-327275 Helsinki, Finland
Fax: +53-7-333417 Informações: Dr. Mikael Fogelholm
E-mail: diabetes@infomed.sld.cu / inen@infomed.sld.cu UKK Institute for Health Promotion Research, POB 30, 33501
Tampere, Finland
Tel: + 358 3 2829 201
Fax: + 358 3 2829 559
DEZEMBRO DE 2002 E-mail: mikael.fogelholm@uta.fi
5 a 7 de dezembro
VIIo Congresso Brasileiro de Nutrologia
Io Simpósio interdisciplinar de apoio nutricional para enfermeiros,
nutricionistas, psicólogos, professores de educação física e JUNHO DE 2003
fisioterapeutas 14 a 17 de junho
Othon Palace Hotel, em Salvador – BA 63th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes Association
Informações: ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia) New Orleans, Louisiana
Tel: (17) 523 9732 e 523 3645 Informações: +1 800 232 3472
E-mail: abran.sp@ig.com.br E-mail: meetings@diabetes.org
www.diabetes.org

FEVEREIRO DE 2003
3th International Symposium on Diabetes & Pregnancy AGOSTO DE 2003
Geneva, Switzerland 6 a 10 de agosto
Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500 Israel 30th Annual Meeting of the American Association of Diabetes
Tel: 972 3 514 0014 Educators
E-mail: conventions@kenes.com Salt Palace Convention Center, Salt Lake City, Utah
Tel: (312) 424 2426
www.aadenet.org
MARÇO DE 2003
19 a 22 de março 24 a 29 de agosto
PPARs: From basic science to cclinical appplications 18th Internacional Diabetes Federation Congress
Firenze, Italiá Paris, França
Tel: +39 02 2900 6267 Informações: Prof. Dr. Gerard Cathelineau, Hopital Saint-Louis, 1
E-mail: ppars@lorenzinifoundation.org avenue Claude Vellefaux, 75010 Paris, França
Tel : +33 1 4249 9697
www.idf.org
ABRIL DE 2003
26 a 30 de abril
6th European Congress of Endocrinology
Diabetes Clínica
Diabetes Clínica 03 (2002) 385

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS


Índice
(vol. 6 nº 6 - 2002) 385~462

EDITORIAL
Ilotropina: Nova esperança na cura do diabetes
Fadlo Fraige Filho ................................................................................................................................................................ 387

INFORMES DO DIABETES NO MUNDO. ................................................................................................................... 389

O DIABETES NA IMPRENSA. ........................................................................................................................................ 399

AVANÇOS TERAPÊUTICOS E TECNOLÓGICOS. ................................................................................................... 403

PRODUTOS E NOVIDADES
Contagem de carboidratos (Ateneu), suspiro light, mousse light e Culinária sem açúcar (Lowçucar), Resource Diabetic
(Novartis), paçocas (Day by Diet e Mary), balas Ricola e chocolates Stella (Aurora), Diabetic Line (Gienne) ........... 412

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS. ........................................................................................................ 415

ARTIGOS ORIGINAIS E REVISÕES


Estratificação do risco cardiovascular através de dados obtidos na pré-consulta
em pacientes diabéticos acompanhados num centro de referência,
Ana Elizabeth Pavin, André Zacoupeguy Lage, Livia Rocha, Renata Cristina Gatti,
Rossana Guinatto Seidenthal, Marcela Jamus Rodrigues,
Roberto Guimarães Alfieri, Valter Furlan ........................................................................................................................... 425

Terapia nutricional enteral (TNE) em pacientes diabéticos de um hospital universitário


no nordeste do Brasil, Maria Goretti Pessoa de A. Burgos, Geise Maria Silva Belo,
Silvia Alves da Silva, Ana Cristina de Freitas e Silva ........................................................................................................ 429

Avaliação do efeito hipoglicemiante de Bauhinia forficata no diabetes experimental,


Débora Cristina Damasceno, Gustavo Tadeu Volpato, Marilza Vieira Cunha Rudge,
Ana Luisa Marques Traballi, Cynthia Falbo da Silva, Marisa de Oliveira,
Iracema de Mattos Paranhos Calderon ............................................................................................................................... 435

Diabetes mellitus e doença periodontal – Revisão de literatura,


Juliana Yuri Kawamura, Marina H. C. Gallottini de Magalhães ...................................................................................... 440

ESTUDOS DE CASO
Aplicando um programa educacional em mães e crianças diabéticas,
frente à prática inadequada do tratamento médico, Ana Claudia T. Barros Kovacs ........................................................ 445

Efeitos do uso de registros de auto-monitoração no seguimento de regras nutricionais


por uma paciente diabética obesa, Eleonora Arnaud Pereira Ferreira, Mariene da Silva Casseb ................................. 452

NORMAS DE PUBLICAÇÕES. ....................................................................................................................................... 460

CALENDÁRIO DE EVENTOS. ....................................................................................................................................... 462


Diabetes Clínica
386 Diabetes Clínica 03 (2002)

JORNAL MULDISCIPLINAR DO DIABETES E DAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS

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Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Editorial

Ilotropina: Nova esperança na cura do diabetes

Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho

O Dr. Lawrence Rosemberg da Mc Gill University, USA, em 1980,


trabalhando em sua tese de doutoramento em desenvolvimento de modelos
animais, ao envolver o ducto pancreático, após dissecção, com película de
celofane, verificou uma evolução lenta da obstrução, que foi progressiva, ao
invés da obstrução aguda e necrose que se segue à simples interrupção
cirúrgica. Isto foi atribuído às características físicas do celofane. Observou-
se, também, a proliferação de células do ducto pancreático e outras células do
pâncreas, por esta técnica em hamster.
Seu interesse primário na pesquisa, na época, era de estudar o câncer
pancreático e não o diabetes.
O Dr. Rosemberg envolveu completamente com celofane, a cabeça do
pâncreas canino não dissecado, que resultou em obstrução, facilitando, assim,
a pesquisa num animal maior.
O Dr. Rosemberg e o Dr. Aaron Vinik, do Instituto de Pesquisa de Diabetes
da Escola Médica de Virgínia Oriental, USA, em pesquisa cooperativa,
prepararam um extrato pancreático cru, parcialmente purificado, obtido da
preparação de pâncreas envolto em película de celofane, denominado
ilotropina, que exibiu a habilidade de estimular a neoformação de ilhotas do
pâncreas, quando injetado em hamster normal.
A seguir, os esforços foram de isolar da ilotropina, o extrato de proteínas
pancreática, componente ativo da neoformação de ilhotas. Demonstraram que
a ilotropina poderia reverter o diabetes mellitus, provocado previamente pela
Prof. Dr. Fadlo Fraige Filho, injeção de estreptozotocina em hamster normais, com o procedimento da
Coordenador e Editor Científico, técnica de envoltório de celofane.
Diabetes Clínica Em 1997, identificaram o gene da INGAP (Islet Neogenesis Associated
Protein), finalmente identificado como agente responsável pela neogênese
das ilhotas.
Este trabalho, publicado no J. Clin Invest (1997;99(9):2100-2109), mostrou
a neogênese de ilhotas pancreáticas, através da técnica do envolvimento com
película de celofane do pâncreas do hamster adulto com diabetes, induzida
pela estreptozotocina, restaurando a normoglicêmia.
O trabalho mostrou ainda que o isolamento, seqüenciamento e localização
do novo gene, cujo produto protéico é um constituinte da ilotropina,
demonstrou a habilidade de um único peptídeo sintético correspondente à
região da “proteína associada a neogênese de ilhotas” – INGAP (Islet
Neogenesis Associated Protein), em estimular a proliferação celular no ducto
pancreático, de nova formação de ilhotas pancreáticas, in vitro.
388 Editorial - Diabetes Clínica 06 (2002)

Continuação Em face de que a expressão do INGAP foi constantemente achada


precocemente após a técnica da película da celofane, e estava ausente nos
animais controles, os dados sugerem que o INGAP possa estar envolvido
com o início de neogênese de ilhotas, em fase precoce da protodiferenciação
da proliferação celular.
Tratá-se, ao nosso ver, de mais uma esperança no campo da pesquisa que
possa trazer grandes benefícios na busca da cura desta doença, que já é uma
das mais prevalentes e principal causadora de mortalidade dentre todas as
doenças crônicas, neste século.
Desponta a técnica de transplante de ilhotas já em franco andamento, em
pesquisas clínicas no Canadá e no EUA. Porém com muitas limitações, tais
como número de doadores, procedimento de alta complexidade e custo, que é
a separação das ilhotas e seu preparo e sua pequena durabilidade face rápida
rejeição quando comparada ao transplante do pâncreas – rim órgão total.
Obviamente com a apuração das técnicas genéticas de transformação das
“stem cells” ou células-tronco em células pancreáticas produtoras de insulina,
podendo-se até “construir” novas ilhotas, teremos, no futuro, “bancos” de
ilhotas a serem implantadas nos pacientes com diabetes tipo 1 e,
provavelmente, nos do tipo 2 em falência pancreática, sempre considerando a
imunosupressão e seus riscos.
A luta continua: muitos esforços, muitas linhas de pesquisas, certo de que
um dia, oxalá não muito distante, chegaremos na cura do diabetes.
Diabetes Clínica 06 (2002) 389

Informes do Diabetes no Mundo


Gerald M. Reaven et al, J Am Coll Obesidade e resistência à insulina predizem independentemente
Cardiol 2002;40. risco cardiovascular

Pesquisadores da Stanford University reportam que obesidade e resistência à


insulina predizem risco de doença arterial coronariana (DAC). Adicionalmente,
a resistência à insulina em muitos graus de obesidade acentua o risco de DAC e
de diabetes tipo 2. Neste estudo, Gerald M. Reaven e colaboradores definiram
a relação entre índice de massa corporal (IMC) e resistência à insulina em 314
indivíduos saudáveis não diabéticos, normotensos. Adicionalmente, eles
examinaram a associação entre IMC e resistência à insulina e os fatores de
riscos para DAC.
Os pesquisadores determinaram a concentração da glicose plasmática em
equilíbrio dinâmico (steady-state) – SSPG, durante os últimos 30 dos 180
minutos de infusão de octreotíde, glicose e insulina, com o objetivo de quantificar
a resistência à insulina. Eles mediram 9 fatores de risco de DAC nos indivíduos,
incluindo idade, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica, colesterol
total, triglicerídeos, HDL-colesterol, LDL-colesterol e resposta insulínica à uma
ingestão de 75g de glicose oral. Existe uma significativa correlação entre IMC
e SSPG (p < 0,001). Eles acharam associações independentes significativas
entre IMC e SSPG e cada um dos 9 fatores de risco, porém notaram diferenças
marcantes em sua magnitude.
“Em análises múltiplas de regressão, a concentração de SSPG acrescentou
de moderado a substancial poder ao IMC, no que se refere ao prognóstico da
pressão arterial diastólica, HDL-colesterol, concentração de triglicerídeos e
respostas da glicose e da insulina,” explicam os pesquisadores.
O estudo mostrou que nem todos os indivíduos obesos ou com sobrepeso
são insulino-resistentes. E nem todos os insulino-resistentes são obesos ou com
sobrepeso. Portanto, muitos fatores de risco para doença cardiovascular estão
associados com a obesidade e são relacionados a presença de resistência à
insulina, e o maior efeito da adiposidade é aumentar a susceptibilidade para um
indivíduo ser insulino-resistente. As implicações são que os maiores esforços
na perda de peso devem estar direcionados para estes indivíduos que são ambos
com sobrepeso e insulino-resistentes, e que o risco cardiovascular associado
com resistência à insulina não está limitado a indivíduos com sobrepeso.

Edwin Fineberg et al, Diabetes Care Dieta com proteína vegetal não é melhor do que com proteína
2002;25:1277-1282,1474-1476. animal para o diabetes tipo 2

Uma dieta que apresenta somente proteína de origem vegetal não tem
vantagem sob uma dieta que contém proteína animal, para indivíduos
390 Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 06 (2002)

Continuação portadores de diabetes tipo 2 e com microalbuminúria. Neste estudo cruzado


randomizado, Edwin Fineberg e colaboradores da Indiana University School
of Medicine, Indianápolis, compararam uma dieta contendo exclusivamente
proteína vegetal com outra contendo, em sua maioria, proteínas animais, em
17 pacientes com diabetes tipo 2 e microalbuminúria.
Após os pacientes estarem em dieta por 6 semanas, os pesquisadores
descobriram que não há nenhuma diferença relacionada à dieta na taxa de
filtração glomerular, fluxo plasmático renal, taxa de excreção de albumina,
colesterol total, HDL-colesterol, área sob a curva (AUC) de triglicerídeos,
glicose e AUC de insulina, HbA1c, pressão sangüínea ou aminoácidos do
soro.
Ambas dietas foram associadas com diminuição do colesterol, melhora da
HbA1c e redução da pressão arterial diastólica. Não houve diferença dos efeitos
da dieta na função renal, com os pacientes tratados ou não com inibidores da
enzima conversora de angiotensina.
Dr. Fineberg e colaboradores concluíram que “parece não haver nenhuma
vantagem clara em recomendar proteína vegetal no lugar da animal, para
melhorar a função renal ou lipídica e os parâmetros glicêmicos em pessoas
com diabetes tipo 2 e microalbuminúria.”
Entretanto, há espaço para mais estudos, de acordo com editorialistas da
revista, Drs. Errol B. Marliss e Rejeanne Gougeon do McGill Nutrition and
Food Sciences, Montreal. “Nossa conclusão, no que diz respeito a este estudo,
é que nas altas ingestões de proteína de alta qualidade utilizada, não
apresentaram nenhuma vantagem em relação à dieta com proteína vegetal ou
de soja, e que o desafio, agora, é determinar se isso se aplica a baixas ingestões
e a fontes vegetais que tenham composições diferentes de aminoácidos e outros
nutrientes potencialmente ‘protetores’,” escreveram eles.

Abdella NA, Med Princ Pract 2002;11 Controvérsias no tratamento de pacientes diabéticos com doença
Suppl 2:69-74. cardíaca coronariana
Existe uma epidemia global de diabetes tipo 2 e num futuro próximo ela
deverá estar associada a uma epidemia de doença cardiovascular. Com o risco
da população de diabéticos desenvolver doença cardiovascular, o tratamento
do diabetes passou a ter como alvo o controle glicêmico. Dois procedimentos
controversos no manejo de diabéticos com doença arterial coronariana (DAC)
são discutidos nesta revisão. Primeiramente, administração de insulina exógena
e o aumento do risco de doenças cardiovasculares e, em segundo lugar, o
efeito do tratamento com sulfoniluréia nos canais de potássio ATP dependente
e risco de isquêmia miocárdica. O consenso de opiniões é de que um alto
nível de insulina sérica circulante, não passa de um marcador do estado de
resistência à insulina e, portanto, não exerce um papel direto na patogênese
da arterioesclerose em pacientes diabéticos. Entretanto, em oposição a isto,
existem evidências para uma associação linear entre a piora do controle
glicêmico e o aumento do risco para doenças cardíacas coronarianas. Estudos
prospectivos no Reino Unido (United Kingdom Prospective Diabetes Study -
UKPDS), reportaram que um controle intenso da glicemia diminuiu o risco
de infarto do miocárdio em 16%. Os benefícios de um controle glicêmico
estreito confirmam o conceito teórico da hiperinsulinemia ser aterogênica.
Conhecimentos seguros sobre sulfoniluréias datam de 1970. O mecanismo
de ação das sulfoniluréias, através do fechamento de canais de potássio ATP
dependentes identificados nas células b pancreáticas, cardiomiócitos e células
Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 06 (2002) 391

Continuação de músculo liso vascular, causou grande discussão sobre sua segurança, devido
ao risco do desenvolvimento de isquemia do miocárdio. Breves episódios de
isquemia cardíaca levam o coração a ficar mais resistente a eventos isquêmicos
subseqüentes. Este fenômeno é chamado “precondicionamento isquêmico”.
A ativação de canais de potássio ATP dependente mimetiza completamente
este fenômeno; além disso, o bloqueio destes canais com algum dos compostos
a base de sulfoniluréia aboliu este efeito protetor. Portanto, o conceito de
seletividade dos compostos de sulfoniluréia emergiu e a escolha da droga
deve ser baseada neste fato. Todo composto deve ser estudado individualmente
quanto a eficácia e segurança, em referência aos pontos relevantes para o
diabetes tipo 2, i.e. morbidade e mortalidade cardiovascular.

Schneider JG et al, Am J Hypertens Elevação dos níveis plasmáticos de endotelina-1 no diabetes


2002;15(11):967-72. mellitus
Este estudo compara os níveis plasmáticos de endotelina-1 (ET-1) em
pacientes portadores de diabetes tipo 1 ou hipertensão, com controles
saudáveis, e investiga se os níveis de ET-1 estariam relacionados com o
controle glicêmico, parâmetros metabólicos e complicações vasculares. A
população estudada consistiu-se de 103 pacientes portadores de diabetes tipo
1, 124 pacientes diabéticos tipo 2, 35 pacientes hipertensos sem diabetes
mellitus e 99 controles. As concentrações plasmáticas de ET-1 foram
significativamente maiores em pacientes com diabetes tipo 1 (0,28 ± 0,34
fmol/ml, P = 0,001), diabetes tipo 2 (0,31 ± 0,32 fmol/ml, P < 0,0001) e
hipertensão (0,35 ± 0,26 fmol/ml, P <,0001), comparado aos controles (0,08
± 0,13 fmol/ml). Pacientes diabéticos fazendo uso de inibidores da enzima
conversora de angiotensina (ECA), tiveram níveis plasmáticos de ET-1
significativamente menores do que os pacientes que não faziam uso (0,22 ±
0,20 fmol/ml vs. 0,38 ± 0,39 fmol/ml, P = 0,029). Houve associações
significativas entre os níveis de ET-1 e idade (r = 0,38, P < 0,05) e pressão
arterial sistólica - PAS (r = 0,38, P < 0,05) em controles saudáveis. No diabetes
só foram encontradas associações não significativas entre os níveis de ET-1 e
idade ou complicações vasculares, além de uma fraca associação entre os
níveis plasmáticos de ET-1 e o controle glicêmico. Pacientes com diabetes ou
hipertensão têm níveis de ET-1 elevados, mas não exibem correlações positivas
entre os níveis de ET-1 e PAS, o que foi observado em controles saudáveis.
Níveis aumentados de ET-1 não induzem à hipertensão no diabetes, mas foram
menores em pacientes diabéticos, fazendo uso de inibidores da ECA
comparado aos que não fizeram uso. Não há associação significativa entre os
níveis de ET-1 e complicações vasculares. Esses achados sugerem que o nível
plasmático de ET-1 não é um marcador de disfunção endotelial, mas mudanças
nesses níveis podem preceder complicações vasculares associadas à
hipertensão e ao diabetes.

S. E. Fineberg et al, 38th European Resultados da monitorização de anticorpos para insulina


Association for the study of diabetes durante as fases II e III do estudo clínico de insulina inalada
(EASD) Annual Meeting, Budapest, (Exubera) em pacientes portadores de diabetes tipo 1 ou tipo 2
Hungria.

Introdução e objetivos: O desenvolvimento de anticorpos para insulina em


pacientes diabéticos é bem documentado. Os resultados das análises de
anticorpos dos estudos das fases II e III da insulina inalada em pó de ação
rápida (Exubera: INH), são aqui apresentados.
392 Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 06 (2002)

Continuação Materiais e métodos: Estudos de 3 ou 6 meses de duração avaliaram o uso


de INH em pacientes com diabetes tipo 1 (adultos, adolescentes e crianças de
idade 6-11 anos) ou tipo 2 (uso de insulina, fracasso no tratamento combinado
de agentes hipoglicemiantes orais, fracasso do tratamento por dieta e
exercícios). Foram utilizadas como comparativo, insulina subcutânea (SC)
convencional, intensiva ou OA. Os pacientes que completaram os estudos,
continuaram um outro estudo de segurança, não controlado a longo prazo,
usando INH como a única forma de insulina de curta duração. Um ensaio
semi-quantitativo com rádio ligantes realizado no Mayo Medical Laboratories,
foi usado para medir anticorpos da insulina, no início e no fim dos testes, com
os pais das crianças, e a cada 6 meses no estudo de extensão. Foi traçado um
gráfico com as variáveis clínicas chaves, versus o final do estudo e foi
encontrada a variação nos níveis de anticorpos.
Resultados: Pacientes tratados com insulina, tanto no diabetes tipo 1 ou 2,
experimentaram um aumento nos níveis de anticorpos para insulina, após o
uso de insulina SC de ação curta juntamente com INH. Os níveis de anticorpos
no tratamento com INH foram maiores do que o controle, no qual regimes de
insulina SC foram mantidos. Pacientes pediátricos com diabetes tipo 1
demonstraram ter média de níveis de anticorpos maior no ponto zero e no
ponto final do estudo, comparados com a coorte de paciente tipo 1 (~60%
>18 anos de idade). Pacientes com diabetes tipo 1 tiveram média de níveis de
anticorpos maior no ponto zero e no ponto final do estudo, do que aqueles
com diabetes tipo 2. O menor nível de anticorpos foi detectado em pacientes
tipo 2 com tratamento usual de insulina, que receberam INH além dos OAs [a
maioria (92%) apresentaram percentual de níveis de ligantes para anticorpos
para insulina < 10%]. Os dados correntes dos testes de extensão a longo prazo
mostram que o maior aumento na média dos níveis de anticorpos ocorreu nos
primeiros 3-6 meses de terapia com INH. Os pontos traçados e a análise de
regressão sugerem que os anticorpos para insulina não estão associados com
aumento de HbA1c, doses de insulina de curta e longa ação, ou taxa de
hipoglicemia (total ou severa). Também, não há nenhuma associação
consistente entre glicose plasmática de jejum, volume expiratório forçado 1
segundo (FEV1), ou capacidade de difusão de monóxido de carbono (DLCO).
Em adição, o grupo tratado com INH, não tem incidência maior de eventos
adversos alérgicos do que os grupos de comparação. Mais análises
exploratórias estão sendo planejadas para avaliar qualquer associação em
potencial com síndromes clínicas precedentes ou não, relacionadas à anticorpos
para insulina.
Conclusão: O tratamento com INH é associado com aumento dos níveis de
anticorpos para insulina. Entretanto, a análise dos dados sugere que anticorpos
para insulina não estão associados com HbA1c aumentado, doses de insulina,
taxas de hipoglicemia ou reações alérgicas. Essa conclusão está de acordo com
muitos outros estudos, que também mostraram não haver relação aparente entre
anticorpos para insulina e índices de controle metabólico ou segurança clínica.

H. O. Steinberg et al, 38th European Comparação clínica entre um método novo, não invasivo e um
Association for the study of diabetes convencional invasivo de determinação de glicose durante clamp
(EASD) Annual Meeting, Budapest, hiper e hipoglicêmico em estudos de várias etapas
Hungria.

Introdução: A incidência do diabetes está aumentando em todo mundo.


Complicações microvasculares e possivelmente macrovasculares do diabetes,
podem ser prevenidas através de controle glicêmico estreito. Para atingir este
394 Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 06 (2002)

Continuação controle e evitar episódios hipoglicêmicos severos, são necessárias medições


múltiplas diárias da glicemia. Entretanto, a determinação convencional da
glicemia, requer laceração da pele que não é dolorosa, mas pode não ser aceita
em algumas situações. Logo, medições não invasivas de glicose podem se
tornar uma alternativa preferível, caso se comprove ser tão acurada quanto as
tecnologias invasivas atuais.
Métodos: Argose Inc. possui uma tecnologia de luz florescente que é usada
para coletar dados com sinal melhorado, retirando características interferentes
de um espectroscópio inteiramente novo. A Argose desenvolveu um sistema
capaz de detectar padrões espectrais na pele, que estão correlacionados à níveis
de glicose sangüínea. Para testar a capacidade do novo sistema, estudamos 7
indivíduos diabéticos tipo 1, durante estudos de clamp variável em duas
diferentes ocasiões. Os níveis de glicose foram medidos no leito, usando o
analisador de glicose Yellow Springs. Em cada estudo, os níveis de glicose
sangüínea foram randomizados, variando entre 60-600 mg/dl. Durante cada
estudo, os indivíduos atingiram níveis de estado de repouso nas faixas baixa
média e alta, por aproximadamente 35 minutos, antes de avançar para o
próximo nível pré-determinado. Valores de glicose não invasivos, foram
computados usando dados de cada indivíduo compilados, combinados aos
dados dos dois estudos com clamp variável de cada indivíduo.
Resultados: A acurácia da classificação de valores baixos, médios e altos
de glicose para todos os 7 indivíduos está descrita na tabela abaixo.

Glicose atual
Baixo Médio Alto
Baixo 115 2 5 94,2 %
Glicose computada Médio 0 153 5 96,8 %
Alto 3 0 145 98,0 %

(p < 0,001).

Conclusão: A tecnologia de fluorescência citada pode se tornar uma


alternativa promissora para os métodos convencionais para determinação
de glicose em pacientes diabéticos.

T. Koschinsky et al, 38th European Sítio alternativo de teste de glicose sangüínea está relacionado a
Association for the study of diabetes diferenças no fluxo sangüíneo no derme
(EASD) Annual Meeting, Budapest,
Hungria. Introdução e objetivos: A auto-monitorização da glicose sangüínea (GS),
por exemplo no antebraço, é uma alternativa atrativa e menos dolorosa do
que a realizada na ponta dos dedos. Mas, por razões desconhecidas, a GS do
antebraço está atrasando 34 minutos, quando comparado com a ponta dos
dedos, durante variações rápidas. As diferenças regionais da corrente sangüínea
podem contribuir para o aumento de tempo, e nós avaliamos corrente sanguínea
em diferentes sítios da pele relevantes, para auto-monitorização da GS durante
mudanças estáveis e rápidas dela. Adicionalmente, nós induzimos um aumento
no fluxo sangüíneo regional, através de fricção local e examinamos seus efeitos
nas diferenças de GS ocorridas durante sua rápida mudança.
Material e métodos: Foram avaliados 69 pacientes com diabetes mellitus
[homem: 49, idade: 18-64 (média:51), diabetes tipo 1/2: 29/40, duração do
diabetes: 2 sem - 48 anos (média: 10 anos), sem complicações microvasculares:
Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 06 (2002) 395

Continuação 27, retinopatias: 23, nefropatias: 18, neuropatias: 32]. O fluxo sangüíneo na
parte superior do derme (profundidade max. na pele: 2mm) foi medido com o
auxílio de um aparelho a laser laser-doppler imager (Moor Instruments, UK)
- 780 nm; 2 mW -, em sala de temperatura controlada (24,7 ± 0,2°C)
escaneando sucessivamente: pontas no segundo e quarto dedo, palma da mão,
antebraço antes e depois do procedimento de fricção e abdome. Em cada sítio
a média de fluxo foi calculada em Unidades-Perfusão (PU). Em 10 desses
pacientes, a GS capilar (Free Style Therasense) e fluxo sangüíneo foram
medidos paralelamente na ponta do dedo e antebraço, enquanto um aumento
rápido da GS (provocado por glicose oral) e um decréscimo (provocado por
insulina) foram induzidos por 3-4 horas. Foram fornecidos média ± DP.
Resultados: O fluxo no antebraço, antes da fricção (89 ± 27 PU), e abdome
(93 ± 20) foi de 4 a 6 vezes menor (p > 0,001) comparado com o fluxo na
ponta do dedo (508 ± 165) e na eminência tenar (389 ± 131). Não foi observada
nenhuma correlação significativa entre o fluxo regional e o tipo de diabetes,
duração ou presença de doença microvascular. A fricção aumenta o fluxo no
antebraço 1,8 vezes (p > 0,001) a 163 ± 75 PU. Esse aumento de fluxo induzido
resultou em decréscimo variável das diferenças de GS entre o antebraço e os
dedos durante as mudanças rápidas da GS. Essas mudanças rápidas não
afetaram o fluxo regional de forma relevante.
Conclusão: As diferenças regionais no fluxo sangüíneo no derme dos dedos
vs. antebraço ou abdome, são fatores biológicos relevantes e relativamente
estáveis para as diferenças da GS observadas, além das diminuições entre
as medidas feitas nos dedos e nos sítios alternativos.

R. M. Bergenstal et al, 38th European Uma avaliação de um sítio alternativo para monitorização de
Association for the study of diabetes glicose sanguínea - o impacto da atividade física e da preparação
(EASD) Annual Meeting, Budapest, do sítio
Hungria.
Introdução e objetivos: Um número cada vez maior de pacientes estão
realizando os testes em sítios alternativos para auto-monitorização da glicose
sangüínea, que é um componente essencial para o manejo intensivo do diabetes.
Este estudo avalia diferenças nas concentrações de glicose medidas com
amostras obtidas das pontas dos dedos, comparados com amostras do
antebraço, palma da mão e coxa, e avaliações do impacto da preparação do
sítio e de exercícios moderados nas diferentes concentrações de glicose
sangüínea medida.
Materiais e métodos: Este estudo incluiu 79 indivíduos (idade média 60
anos, IMC médio 31 kg/m2, 66% homens), portadores de diabetes tipo 2
(duração média 9 anos) que participaram de consulta clínica única, durante a
qual as concentrações de glicose sanguínea foram medidas com o uso de um
sistema de monitorização de glicose sangüínea, One Touch da LifeScan. Após
jejum de no mínimo 4 horas, as concentrações da glicose sangüínea do ponto
zero foram medidas duas vezes na ponta dos dedos, e uma vez na coxa, palma
da mão e cada antebraço. Subseqüentemente, duas amostras foram tiradas do
antebraço, com somente um dos sítios tendo sido preparado com vigorosa
fricção. Então, os indivíduos caminharam vigorosamente em esteira por 15
minutos, e a glicose sangüínea foi novamente medida em cada sítio. Testes
“t” variados foram realizados para comparar as concentrações de glicose
sangüínea entre os sítios a cada intervalo de tempo.
Resultados: Não houve diferença significativa em relação as concentrações
de glicose sangüínea nos sítios medidas a partir do ponto zero nas pontas
396 Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 06 (2002)

Continuação dedos, entre as medições no antebraço com ou sem fricção, e em relação à


braço direito vs. esquerdo. As diferenças nas concentrações de glicose
sanguínea medidas nos sítios alternativos em relação aos dedos, estão
apresentadas para ponto zero e após exercício.

Sítio Diferença
Tempo Referência Alternativo Média +/- DP (mg/dl) Valor de p %
Braço +7,5 ± 12,1 < 0,0001 +6,7%
Início Dedo Palma +6,0 ± 9,2 < 0,0001 +5,0%
Coxa +7,0 ± 16,7 0,0004 +6,5%
Braço +23,4 ± 20,1 < 0,0001 +19,7%
Pós-exercício Dedo Palma +8,7 ± 15,2 < 0,0001 +6,7%
Coxa +16,1 ± 22,4 < 0,0001 +15,2%

Conclusão: No ponto zero, apesar de não ser estatísticamente significativo,


as diferenças nas concentrações de glicose sanguínea entre os dedos e os
sítios alternativos são mínimas e, portanto, sem importância clínica. A
fricção vigorosa do sítio não parece afetar a acurácia da medida de
concentração de glicose sangüínea. As diferenças entre dedos e palma da
mão, braço e coxa são maiores após exercício, quando as concentrações de
glicose sanguínea estão menores, comparadas ao ponto zero. As
concentrações de glicose sanguínea medidas na palma da mão são as mais
próximas das medidas nas pontas dos dedos após exercício.
398 Informes do Diabetes no Mundo - Diabetes Clínica 06 (2002)

E. Cauza et al, 38th European Efeitos do treinamento de resistência no controle glicêmico no


Association for the study of diabetes diabetes mellitus tipo 2
(EASD) Annual Meeting, Budapest,
Hungria. Introdução e objetivos: Colesterol total elevado (CT), colesterol ligado à
lipoproteína de baixa densidade (LDL-C) e triglicerídeos (TG), presença de
diabetes e hipertensão estão associados a um aumento da incidência de
doença coronariana cardíaca. O treinamento de resistência aeróbica tem sido
eleito no tratamento do diabetes tipo 2 e tem apresentado efeito benéfico no
controle metabólico e na pressão sangüínea. Desde que o mais novo defeito
reconhecido no diabetes tipo 2 parece estar localizado no tecido muscular,
foi nosso objetivo testar os efeitos de um treinamento de resistência durante
4 meses nos lipídios séricos, pressão sangüínea e controle glicêmico desses
pacientes.
Métodos: 24 pacientes diabéticos (14 homens e 10 mulheres) com idade
média de 57,3 anos foram envolvidos no estudo. 13 indivíduos diabéticos
tipo 2 participaram de um programa de treinamento de resistência de 4 meses,
3 vezes por semana. O treinamento de resistência foi realizado em etapas, e
nas primeiras quatro semanas foram realizados três sets por grupo muscular
em séries de 10-15 repetições por set. Assim que a força melhorou, a
intensidade do programa foi aumentando progressivamente após 4, 8 e 12
semanas. Outros 11 pacientes diabéticos tipo 2 participaram de um programa
de treinamento de resistência aeróbica de 4 meses e serviram de grupo
controle. Esse grupo foi treinado progressivamente 3 vezes por semana (40-
90 min/semana) em bicicleta ergométrica. Os dois grupos estavam sob
supervisão de um instrutor de educação física. Após jejum noturno de um
mínimo de 12 horas, amostras sangüíneas foram retiradas e as concentrações
de CT,HDL-C, LDL-C, TG, valores de HbA1C e glicose sanguínea no jejum
(FBG) foram medidas no ponto zero e após 4 meses.
Resultados: Após o treinamento de 4 meses HbA1C diminuiu de 8,74 ±
0,49 (média ± DP) a 7,07 ± 0,24 mg/dl, p = 0,004, níveis médios de glicose
sanguínea de jejum (FBG) foram reduzidas de 219,46 ± 23,4 mg/dl para 144,76
± 10,46, p = 0,003. Também houve decréscimo significativo nos níveis de CT
(226 ± 9,47 vs. 193,46 ± 8,73 mg/dl, p = 0,001) e nos níveis de TG (265,38 ±
38,94 vs. 163 ± 23,63 mg/dl, p = 0,005). Os valores de LDL-C diminuíram
sensivelmente de 116,61 ± 16,23 para 111,0 ± 11,02 mg/dl, p = 0,6. Os níveis
de HDL-C aumentaram significativamente (39,23 ± 3,18 vs. 44,14 ± 1,84
mg/dl, p < 0,05). Diferenças significativas foram encontradas quando se
comparou pressão arterial sistólica -PAS - (138,07 ± 5,2 vs. 120,83 ± 5,7
mmHg, p = 0,03) e pressão arterial diastólica – PAD - (85,38 ± 1,81 vs. 75,83
± 2,8, p = 0,008). O grupo de exercício de resistência aeróbica mostrou
melhoras na diminuição da PAS (138,5 ± 6,6 vs. 118,5 ± 6,19, p = 0,04) e
PAD (86,5 ± 2,69 vs. 71,5 ± 2,98 mmHg, p = 0,003), mas não mostrou nenhum
efeito nos lipídios e no controle glicêmico.
Conclusão: Em nosso estudo, o treinamento longo levou a um decréscimo de
CT, LDL, TGL, BG, HbA1C e elevou os níveis de HDL em pacientes diabéticos
tipo 2, resultando em redução do perfil lipídico aterogênico. O treinamento de
força foi superior aos exercícios de resistência aeróbica em todos os parâmetros
metabólicos. Logo este treinamento deve exercer papel importante no tratamento
do diabetes tipo 2 e pode prevenir o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Diabetes Clínica 06 (2002) 399

O Diabetes na Imprensa
Globo News Cientistas descobrem substância em tabaco associada ao
mal de Alzheimer
30 de outubro de 2002
Cientistas do Instituto de Pesquisa Scripps, dos Estados Unidos,
descobriram uma substância química no tabaco que pode ser parcialmente
responsável por doenças como o câncer, mal de Alzheimer e pelo
envelhecimento acelerado. A substância, chamada nornicotina, está
naturalmente presente no tabaco, mas também é produzida quando a nicotina
é processada no corpo. Os cientistas descobriram que a nornicotina reage
com outras proteínas no corpo, provocando danos em suas funções. Eles
observaram ainda que a substância também reage com o esteróides comumente
receitados, como a cortisona, fazendo com que não se tornem seguros para
uso. De acordo com os pesquisadores, a nornicotina se junta aos esteróides e
alguns tipos de aminoácidos na superfície das proteínas. Esses esteróides e
proteínas alterados podem, então, interagir com outros tipos de substâncias
químicas do corpo, para formar uma variedade de compostos conhecidos em
inglês como advanced glycation endproducts (AGEs), associados em outros
estudos a inúmeras doenças, como diabetes, câncer e Alzheimer.
“Esses AGEs não existem naturalmente no corpo. Nosso organismo não
está preparado para eles”, afirmou o pesquisador Tobin Dickerson. Durante
o estudo, os pesquisadores descobriram que os fumantes apresentavam um
maior nível de proteínas modificadas pela nornicotina e AGEs do que os não
fumantes. Eles acreditam que a substância permaneça no sangue por mais
tempo do que a nicotina, que rapidamente desaparece quando a pessoa pára
de fumar. Eles acreditam que isso também pode explicar por que o fumo é um
vício. O principal autor do estudo, o cientista Kim Janda, afirmou que as
AGEs pareciam aumentar o índice de mutações nas células do corpo,
aumentando o risco de câncer. Elas também pareciam estimular a formação
de placas de proteína no cérebro, fator associado ao mal de Alzheimer.

Aliados no dia-a-dia: uma safra de drogas e aparelhos torna mais fácil


viver com o diabetes
O grande desafio de hoje é evitar a eclosão do diabetes tipo 2. A única receita
11 de novembro de 2002 para isso é controlar o peso e, principalmente, a concentração de gordura na faixa
do abdome, um traço genético associado à doença. Isso foi confirmado no ano
passado por duas pesquisas, coordenadas pelo governo dos EUA e pelo da Finlândia.
Envolveram 3.700 pacientes obesos e sedentários de 36 centros de estudos, que
O Diabetes na Imprensa - Diabetes Clínica 06 (2002) 402

foram acompanhados durante 4 anos. A probabilidade de desenvolver diabetes


diminuiu 58% no grupo que se engajou numa rotina de exercícios físicos e equilibrou
sua alimentação. Para os casos mais difíceis, outro tipo de droga tem se mostrado
eficaz. Em junho, uma pesquisa da Universidade de Montreal, no Canadá, indicou
que o remédio acarbose, chamado de Glucobay, reduziu de 20 a 36% a incidência
da doença. O medicamento diminui a absorção de carboidratos no intestino e,
conseqüentemente, a quantidade de glicose que chega à corrente sanguínea. Apesar
do efeito benéfico, os médicos alertam que as drogas são o último recurso para
quem não muda o estilo de vida de jeito nenhum. [...] Os diabéticos ganham armas
para reconquistar o prazer. Amparados por pesquisas recentes, os médicos passaram
a prescrever o Viagra aos pacientes. Complicações na circulação do sangue e no
sistema nervoso provocam impotência sexual em 28% dos portadores. O novo
remédio resolveu o problema em 70% dos casos. “Melhora até a disposição para
seguir com outras medidas de controle da doença”, diz João Roberto Sá, da USP.
Outra droga, o Levitra, com lançamento previsto para 2003, deve ter a mesma ação,
sem efeitos colaterais como enxaqueca. Ainda no campo do direito ao prazer, o
acesso universal ao chocolate ficou garantido com a chegada de opções de dietéticos
de marcas famosas. Uma delas, a Nestlé, lançou em 2001 tabletes e até ovo de
Páscoa sem açúcar. As vendas beiram os 15 milhões de unidades por ano. O diabético
precisa confiar quase cegamente no que diz o rótulo do produto. Afinal, uma dose
inesperada de glicose pode gerar uma crise séria. Essa confiança é fundamental
para quem precisa pedir suco sem açúcar, em qualquer restaurante.

O Estado de São Paulo Estudo revela que café pode evitar diabetes
08 de novembro de 2002
Boa notícia para quem gosta de um cafezinho. A xícara de café que ajuda milhões
de pessoas a despertar de manhã – e outras tantas xícaras durante o dia –, pode
reduzir o risco de diabetes, segundo um estudo de pesquisadores holandeses. Os
componentes do café parecem ajudar o corpo a metabolizar o açúcar, reduzindo,
assim, o risco de diabetes. “Este é o primeiro estudo que aparece com a idéia de que
o café poderia realmente ser benéfico para o diabetes tipo 2”, declarou Rob van
Dam, do departamento de Nutrição e Saúde da Universidade holandesa de Vrije,
em Amsterdã. Tanto filtrado como na forma de capuccino, com leite ou expresso, o
café contém minerais como magnésio, potássio e outros micronutrientes, que trazem
benefícios para a saúde. Van Dam e sua equipe não sabem qual dos componentes
do café está envolvido ou como eles agem contra o diabetes, mas quando eles
compararam o consumo de café com o risco de diabetes tipo 2, descobriram que
quanto mais as pessoas bebiam, mais o risco diminuía.
Indivíduos que bebiam 7 ou mais xícaras de café por dia, eram 50% menos
sujeitos a desenvolveram a doença. Menos xícaras por dia tinham menor impacto.
“Para a maioria das pessoas não é ruim beber quantidades moderadas de café”,
disse van Dam. Mas afirmou também que a descoberta, que será divulgada no
jornal médico The Lancet, e precisa ser confirmada em outros estudos, não significa
que as pessoas devam beber grandes quantidades de café todo dia.
Diabetes Clínica 06 (2002) 403

Avanços terapêuticos e tecnológicos


Sirtori CR, Galli C, Biomed Ácido graxo N-3 e diabetes
Pharmacother 2002;56(8):397-406.
Os ácidos graxos da série omêga-3 (ácidos graxos n-3) são componentes
bem estabelecidos da dieta, afetando os lipídios plasmáticos (principalmente
os triglicerídeos) e, também, os maiores parâmetros cardiovasculares, como
a arritmogênese. Em vista de seu peculiar papel metabólico, foi sugerido que
eles podem reduzir a tolerância à glicose em pacientes predispostos ao diabetes.
Por outro lado, a insulina é requerida para síntese endógena de ácidos graxos
n-3 de cadeia longa, a partir de seus precursores; o coração pode, portanto,
ser particularmente susceptível a sua depleção no diabetes. Esta revisão
examina estudos em grandes populações, realizados, particularmente, por este
grupo de pesquisa, avaliando o risco de desenvolvimento de intolerância à
glicose/diabetes em grandes séries de pacientes com condições predisponentes.
Enquanto o desenvolvimento do diabetes não foi acelerado em nenhum desses
estudos, houve, por outro lado, evidência clara de significativa atividade
hipotrigliceridêmica dos suplementos. Em tratamentos a longo prazo, também
houve tendência de significante redução de colesterolemia de lipoproteína de
baixa densidade (LDL), com efeitos positivos na lipoproteína de alta densidade
(HDL). Estas descobertas casam bem com indicativos de mudanças celulares
de melhora no manejo da glicose. Finalmente, pesquisa recente sugere uma
melhora na variabilidade da frequência cardíaca por ingestão de peixes em
pacientes coronarianos, que também fazem uso de ácidos graxos n-3 sob a
forma de ésteres etílicos, promovendo maior indicação para tais tratamentos
em pacientes diabéticos.

LaCivita KA, Villarreal G. Curr Med Diferenças no desempenho lipídico em pacientes tratados com
Res Opin 2002;18(6):363-70. rosiglitazona seguido por pioglitazona

Para comparar os efeitos da rosiglitazona e da pioglitazona nos níveis de


lipídios plasmáticos de pacientes na prática clínica, foram examinados 20
prontuários. Os pacientes foram tratados para diabetes tipo 2 por 3 ou mais
meses com rosiglitazona (4 mg b.i.d.) seguido, imediatamente, por 3 ou mais
meses de tratamento com pioglitazona (45mg uma vez ao dia). O controle
glicêmico foi excelente e essencialmente equivalente durante os dois
tratamentos. No ponto zero, a média dos níveis de HbA1c foi 7,6%, caiu para
6,6% e 6,3% no tratamento com rosiglitazona e pioglitazona, respectivamente.
Os níveis lipídicos entretanto, variaram com os dois tratamentos. Os níveis
de triglicerídeos aumentaram 13% no tratamento com rosiglitazona, mas
404 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 06 (2002)

Continuação caíram 14% a baixo dos níveis do ponto zero na terapia com
pioglitazona – uma redução total de 24% (p = 0,02). Rosiglitazona foi
associada com aumento significativo do colesterol ligado a lipoproteína
de baixa densidade (LDL-C) - 35%, p < 0,001 vs. ponto zero, e aumento
significativo no colesterol total (22%, p < 0,001 vs. ponto zero). Quando
a terapia de pioglitazona substituiu a de roziglitazona, LDL-C caiu 25%
(p < 0,001), e colesterol total caiu 19% (p < 0,001 entre os dois
tratamentos). Os níveis de HDL-C não variaram significativamente
durante os tratamentos. Ambas as drogas foram seguras e bem toleradas.
Um paciente recebendo rosiglitazona e outro recebendo pioglitazona
desenvolveram edema, que foi solucionado sem a descontinuação do
tratamento. Os níveis de enzimas hepáticas e pressão sangüínea não foram
afetados neste grupo de pacientes. Como pacientes portadores de diabetes
estão sob risco de doença arterial coronariana, os médicos devem
considerar o efeito de cada agente nos níveis lipídicos, quando
escolherem uma tiazolidinediona específica.

D. Dunger et al, 38th European Insulina glargina promove controle glicêmico efetivo a longo
Association for the study of diabetes prazo em crianças e adolescentes portadores de diabetes tipo 1
(EASD) Annual Meeting, Budapest. Introdução e objetivos: O objetivo deste estudo foi promover
evidências para eficácia e segurança da insulina glargina (Lantus) a longo
prazo, em crianças e adolescentes com diabetes tipo 1.
Materiais e métodos: Neste estudo multinacional, aberto, de extensão
não controlada, 143 crianças (57% masculinas, idade média 11,9 ± 2,5
anos, > 5 (entre 5–15) anos de idade, 31% pré-adolescentes) portadores
de diabetes tipo 1, foram tratadas com insulina glargina num estudo de
fase III anterior, recebendo dose única injetável de insulina glargina ao
deitar, e insulina regular humana antes das refeições, durante um período
de até 36 meses. Dados de eficácia a longo prazo e segurança estiveram
disponíveis para 129 e 143 pacientes, respectivamente.
Resultados: O nível do controle glicêmico (HbA 1c) estabelecido no
estudo anterior (ponto zero do estudo anterior 8,65%), foi mantido neste
estudo (no final 9%), embora a média tenha aumentado 0,35%. A insulina
glargina foi bem tolerada sem descobertas inesperadas em termo de
freqüência ou espectro de efeitos adversos. Foi de interesse particular a
redução na média de anticorpos para insulina glargina encontrados no
estudo anterior, que ficaram bem mais aparentes no estudo de extensão
(variação média –9,88% B/T). Eventos adversos severos, possivelmente
relacionados à medicação em estudo, apareceram em 8 pacientes (5,6%).
7 destes pacientes (4,9%), apresentaram hipoglicemia severa, que teve
freqüência menor do que no estudo anterior. Do ponto zero ao ponto
final, 44 pacientes tiveram número de anticorpos para E. coli aumentado;
nenhuma relação entre esses e outros efeitos adversos foi notada.
Hipoglicemia sintomática foi reportada em 14 pacientes (9,8%). Reações
no sítio de injeção foram reportadas em 10 paciente (7,0%). Em 2 deles,
as reações foram, possivelmente, relacionadas à medicação em estudo;
entretanto, as reações cessaram e a dose de insulina glargina foi
continuada e não modificada nos 10 pacientes.
Conclusão: Insulina glargina mantém controle glicêmico efetivo e é bem
tolerada durante exposição a longo prazo, em crianças e adolescentes
portadores de diabetes tipo 1.
406 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 06 (2002)

P. Modi et al, 38th European Spray de insulina oral (Oralin) para tratamento do diabetes tipo
Association for the study of diabetes 1 durante a refeição
(EASD) Annual Meeting, Budapest.
Introdução e objetivos: A melhora do controle da glicose no diabetes
mellitus é o maior desafio para quem necessita de injeções múltiplas diárias.
O RapidMist, um novo sistema de manejo do diabetes, que permite que a
insulina seja absorvida oralmente, pode promover melhora significativa no
controle da glicose pós-prandial sem injeção. Esse sistema é baseado numa
formulação aerosol líquida única (Oralin), que permite administrar diretamente
na boca uma dose de insulina precisa. O objetivo deste estudo foi avaliar a
eficácia do spray Oralin (20 puffs, sem NPH) em pacientes diabéticos tipo 1,
após refeição padrão na hora do café da manhã.
Materiais e métodos: Em estudo cruzado randomizado simples-cego, 30
pacientes diabéticos tipo 1 receberam spray de Oralin com sistema RapidMist
ou injeção s.c. (9 unidades), numa refeição de 360 kcal (Ensure líquido),
administrada imediatamente após 15 minutos.
Resultados: A tabela mostra glicose sérica e variações de insulina após a
dose de Oralin ou injeção s.c.
Conclusão: O spray de Oralin, na hora da refeição, controlou os níveis de
glicose de forma comparável à injeção s.c. de insulina. A ação do Oralin foi
mais rápida e atingiu pico (Tmax) em 30 min. O aumento das concentrações
de insulina no soro do grupo tratado com Oralin foi significativamente maior
comparado com injeção s.c.. A insulina absorvida oralmente (Oralin), provou
ser eficiente no controle da excursão de glicose, induzida por refeição em
diabéticos tipo 1.

Glicose (mg/dl) Glicose (mg/dl) Insulina (uU/ml) Insulina (uU/ml)


Tempo Oralin injeção s.c. Oralin injeção s.c.
0 min 102 103 34.1 37.3
30 min 92 99 125 67
60 min 145 181 67 56
120 min 218 229 55 57
240 min 171 140 55 61

L. Want et al, 38th European Tratamento com pranlintide por 4 semanas reduziu excursões de
Association for the study of diabetes glicose pós-prandial, glucagon e triglicerídeos em pacientes
(EASD) Annual Meeting. portadores de diabetes tipo 1, tratados intensivamente com
bombas de insulina

Introdução e objetivos: A amilina é um hormônio de células b, que


complementa os efeitos da insulina no controle da glicose pós-prandial e é
deficiente em pacientes com diabetes tipo 1. A reposição de amilina com
pranlintide durante a refeição, melhora as excursões de glicose pós-prandial,
quando adicionado a tratamentos de insulina regular. Este estudo avaliou o
efeito do pranlintide na glicose pós-prandial, glucagon e respostas de
triglicerídeos em pacientes diabéticos tipo 1, intensivamente tratados com
terapia de infusão subcutânea contínua de insulina.
Materiais e métodos: Em estudo duplo-cego, realizado em dois centros,
24 pacientes com diabetes tipo 1 (idade 42 ± 12 anos, HbA1c 8,2 ± 1.7%,
média ± DP), fazendo uso de terapia de infusão subcutânea contínua de insulina
lispro (n = 21) ou insulina regular (n = 3), foram randomizados para
Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 06 (2002) 407

Continuação receber injeções pré-prandiais de placebo (n = 6) ou 30 µg de pranlintide


(n = 18), 3 vezes ao dia por 4 semanas. As doses de insulina pré-prandial
foram inicialmente reduzidas entre 10 e 20% e se mantiveram 20% mais
baixas, após 4 semanas de tratamento. Na semana zero (ponto zero), 4
(durante a terapia), 6 (após a terapia), as concentrações de glicose
plasmática, glucagon, e triglicerídeos foram medidas por 3 horas após
refeição mista padronizada.
Resultados: Após 4 semanas com pranlintide, as excursões de glicose
pós-prandial foram reduzidas por mais de 80% (incremento AUC semana
4 vs. ponto zero: 26 ± 101 vs. 184 ± 195 mg·dl -1·h, p<0.05), e glucagon
pós-prandial foi reduzido por aproximadamente 90% (incremento AUC
semana 4 vs. Ponto zero: 7 ± 38 vs. 55 ± 44 pg·ml -1·h, p < 0,05). Na
semana 6 (após o tratamento), as respostas de glicose pós-prandial,
glucagon, e triglicerídeos foram revertidas aos valores pré-tratamento.
Conclusão: Estes resultados indicam que a reposição de aminila com
pranlintide, reduz marcantemente as excursões de glicose pós-prandial,
glucagon e triglicerídeos, em pacientes portadores de diabetes tipo 1
com terapia intensiva de insulina.

J. S. Skyler, 38th European Association Eficácia e segurança de insulina inalada (Exubera)


for the study of diabetes (EASD) comparada com terapia de insulina subcutânea em regime
Annual Meeting, Budapest, Hungria. intensivo de insulina em pacientes diabéticos tipo 1

Introdução e objetivos: Apesar de já ter demonstrado benefícios a


despeito do controle glicêmico estreito, a terapia intensiva de insulina
no diabetes tipo 1 tem demorado a conquistar aceitação na prática clínica.
O presente estudo investiga se o regime intensivo de insulina envolvendo
ação rápida, pó de insulina para inalação (Exubera: INH), pode promover
controle glicêmico similar ao do regime intensivo de insulina subcutânea
(SC).
Materiais e métodos: Em estudo multicêntrico de fase III, pacientes
com diabetes tipo 1 (idade 12-65), foram randomizados para tratamento
durante 6 meses, tanto com INH anterior às refeições, mais uma dose de
manhã e outra na hora de dormir de insulina NPH (n = 163), ou insulina
regular SC anterior às refeições, mais uma dose pela manhã e outra ao
deitar de insulina NPH (n = 165). As dose de INH foram administradas
em 1-2 inalações de 1 ou 3 mg. O ponto final de eficácia primária foi a
mudança no HbA 1c do ponto zero até a semana 24.
Resultados: A HbA 1c diminuiu de forma similar desde o ponto zero
em ambos grupos (INH, -0,3%; SC, -0,1%). Os níveis de glicose
plasmática de jejum diminuíram em torno de 35 mg/dl no grupo com
INH vs. um aumento de 4 mg/dl no grupo com SC (IC: -57,5, -21,6).
Houve decréscimo similar nos níveis de glicose pós-prandial, após 2
horas, nos dois grupos (-21 mg/dl vs. -14 mg/dl). Um percentual
comparável de pacientes com INH atingiu HbA 1c < 8% ou < 7% vs SC
(64,2% vs. 60,4% e 23,3% vs. 22,0%, respectivamente). A taxa de
hipoglicemia total (eventos/indivíduo-mês) no grupo com INH vs. grupo
com SC foi de 9,3 vs. 9,9 (IC: 0,91, 0,97) e a taxa de hipoglicemia severa
(eventos/100 indivíduos-mês) foi 6,5 vs. 3,3 (IC: 1,28, 3,12). Os pacientes
tratados com INH desenvolveram um número maior de anticorpos para
insulina no soro sem manifestações clínicas atribuídas. A freqüência e a
natureza dos eventos adversos foi comparável entre os grupos. Tosse foi
408 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 06 (2002)

Continuação vista mais freqüentemente no grupo com INH (25% vs. 7%) e considerada
leve a moderada, diminuindo em incidência e prevalência durante o
período estudado. A diferença média de tratamento ajustado para o
volume expiratório forçado em 1 segundo (FEV 1) foi similar (-0,043 L;
IC: -0,088, 0,003). Entretanto, a capacidade de difusão de monóxido de
carbono mostrou diferença (-0,819 ml/min/mmHg; IC: -1,491, -0,147).
A caracterização dessas mudanças, incluindo se a diferença da magnitude
apresentou alguma significância clínica, está em andamento. Os
indivíduos tiveram grandes melhoras na satisfação do tratamento com
INH comparado a SC (p < 0,0001).
Conclusão: Este estudo sugere que INH pode promover uma terapia
valiosa para pacientes com diabetes tipo 1.

S. V. Edelman et al, 38th European Sensor de glicose contínua com implante subcutâneo de
Association for the study of diabetes longa duração em pacientes com diabetes tipo 1
(EASD) Annual Meeting, Budapest,
Hungria. Introdução e objetivos: A realidade clínica de se obter valores de
glicose em “tempo real” irá permitir que pacientes diabéticos atinjam
glicemia normal, enquanto evitam hipo e hiperglicemia severa.
Materiais e métodos: Um novo sensor, implantável, de longa duração,
que monitoriza continuamente a glicose e transmite por ondas de rádio
os dados para um receptor portátil, foi testado durante 7 meses em
humanos. O pequeno e cilíndrico sensor foi implantado no tecido
subcutâneo sob anestesia local. O sensor eletroquímico usou um sistema
de três eletrodos cobertos com membranas próprias. O estudo de duas
fases examinou 25 pacientes com diabetes tipo 1: 19 na fase 1 e mais 6
na fase 2, na qual incorporou melhoras no desenho. Estudos Glucose
Tracking Studies (GTS) foram realizados entre os dias 49 e 96, através
do fornecimento de uma taxa de glicose oral e da obtenção de amostras
sangüíneas a cada 10-15 minutos através do SMBG (TheraSense),
HemoCue, e YSI. Depois que os pacientes atingiram uma taxa de 250
mg/dl, foi auto-administrada insulina lispro para baixar os níveis de
glicose. Os dados do sensor foram comparados com métodos de
referência de medição de glicose, através de regressão linear e análise
Clarke Error Grid.
Resultados: 5 indivíduos da fase I e todos os 6 da fase II, foram
determinados a ter sensores clinicamente funcionais. A média de valores-
R foi 0,94, com variação de 0,80-0,99, e 100% dos pontos ficaram nas
regiões A e B do grid Clarke. Em vários momentos, pediu-se aos
pacientes que realizassem 4-10 testes SMBG diários e que anotassem
em um livro recordatório. Os sensores detectaram padrões que os métodos
SMBG não foram capazes de revelar. Adicionalmente, os valores de pico
detectados diariamente pelo sensor foram 50 a 100 mg/dl maiores que
os reportados pelo SMBG, pois o SMBG falhou em captar os pontos
maiores de excursão. Quando os níveis de glicose detectados pelos
sensores excederam 210 mg/dl, o tempo máximo de detecção usando
SMBG variou entre 1,5 e 4 horas. Em alguns casos, 5 horas ou mais
passaram sem detecção.
Conclusão: Estes resultados documentam a utilidade potencial de um
sensor contínuo de glicose implantável, para detectar padrões da
glicose e excursões em pacientes com diabetes.
410 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 06 (2002)

Vivian A. Fonseca et al, Diabetes Care Sildenafil (Viagra) pode melhorar a função endotelial em
2002;25:1336-1339. diabéticos tipo 2

De acordo com achados recentes, em pacientes portadores diabetes tipo 2,


o tratamento com uma droga anti-impotência (Viagra), parece melhorar a
dilatação mediada pelo fluxo (FMD), além do índice de função endotelial
oxido nítrico dependente.
Segundo Vivian A. Fonseca e colaboradores, da Tulane University School
of Medicine em Nova Orleans, a função endotelial está alterada nos diabéticos
tipo 2. Existem trabalhos com o sildenafil, demonstrando melhora no
vasorelaxamento induzido por óxido nítrico, mas esses efeitos, na função
endotelial de diabéticos tipo 2, ainda não foram esclarecidos.
Os pesquisadores conduziram um estudo cruzado, com controle de placebo
com terapia de sildenafil, em 16 pacientes diabéticos tipo 2 com disfunção
erétil, mas sem evidência clínica de doença cardíaca. Os indivíduos receberam
25 mg de sildenafil ou placebo, e o FMD foi induzido através da oclusão da
artéria braqueal. 14 indivíduos completaram o estudo.
Anteriormente ao tratamento, a oclusão da artéria braqueal não produziu
aumento significativo do diâmetro arterial, ressalva a autora. Similarmente,
nenhum aumento significativo no diâmetro arterial foi notado, quando os testes
foram realizados com placebo.
Em contraste, com 1 hora de tratamento com sildenafil, um aumento de
15% do diâmetro da artéria braqueal foi notado durante os testes (p = 0,006).
Além disso, após 2 semanas de terapia com sildenafil, um aumento
significativo no diâmetro arterial ainda era aparente, quando os testes foram
realizados 24 horas após a dose mais recente (p = 0,003).
Os resultados indicam que o sildenafil melhora a função endotelial em
diabéticos tipo 2, “tanto agudamente como após uso prolongado”, lembram
os investigadores. E concluem que “o efeito benéfico da terapia prolongada
com sildenafil, pode ter implicações no manejo da disfunção erétil, assim
como em doenças cardiovasculares de pacientes diabéticos”.
412 Diabetes Clínica 05 (2002)

Produtos e novidades

Editora Atheneu: Contagem de carboidratos - Mais fácil que


contar até 3

A Editora Atheneu está lançando o livro sobre tratamento e controle do


diabetes, “Contagem de Carboidratos - Mais Fácil Que Contar até 3”, de autoria
da pesquisadora e nutricionista Líria Yuriko Wada, professora da Cadeira de
Nutrição Dietética da PUC de Campinas e graduada pela Faculdade de Higiene
e Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). No livro (126 págs.), a
autora chama a atenção sobre os diferentes tipos de diabetes mellitus, as formas
de tratamento e seu controle.Contagem de carboidratos - Mais fácil que contar
até 3, também enfoca como é feito o acompanhamento nutricional do diabético
e como deve ser praticado, além dos principais nutrientes e os tipos de
alimentos indicados. Dirigido para o público em geral e principalmente a
nutricionistas, nutrólogos, endocrinologistas e clínicos gerais, o livro apresenta
uma metodologia simples para a contagem de carboidratos e uma tabela de
fácil consulta e aplicação.

Lowçucar: Pó para preparo de suspiro light, mousse light e


culinária sem açúcar

O pó para preparo de suspiro light Lowçucar permite fazer bolos sem açúcar.
Além de facilitar a vida, o suspiro light Lowçucar tem uma redução de 27%
de calorias e não possui açúcar. O produto está disponível em embalagem de
200g.
O pó para preparo de mousse light Lowçucar possui uma redução calórica
de 35 a 40% em relação à mousse com açúcar, além de ser isento de açúcar
em sua formulação. O pó para preparo de mousse Lowçucar está disponível,
em embalagem de 200g, nos sabores chocolate e morango, suficiente para
fazer 12 porções de 100g. O mousse está pronto em 5 minutos, restando apenas
colocá-lo para gelar.
O TQ culinária sem açúcar, é mais um produto da Lowçucar útil para a
cozinha Diet e Light. TQ culinária é um substituto do açúcar, como agente de
corpo: tem também a função de conferir massa aos produtos doces sem açúcar.
Com estas vantagens o TQ culinária sem açúcar é um produto indispensável
em produtos diet ou light. O produto está disponível em embalagens de 500g.
414 Avanços Terapêuticos e Tecnológicos - Diabetes Clínica 05 (2002)

Novartis: Resource Diabetic


Resource Diabetic é um suplemento nutricional oral, líquido,
normocalórico, isento de lactose, desenvolvido para pacientes diabéticos,
apresentado em frascos de 237 ml, nos sabores chocolate, morango e baunilha.
Foi especialmente desenvolvido para complementar a alimentaçãao dos
pacientes diabéticos tipo 1 e 2.

Day by Diet e Mary: novas paçocas

Day by Diet e Mary lançaram novas paçocas


sem açúcar para os pacientes diabéticos. Estas
paçocas vêm em embalagem com 8 unidades de
20g e contém 100 calorias cada.

Aurora: balas Ricola e chocolates Stella

Há 70 anos, Emil Richterich estudava intensamente os efeitos terapêuticos


das ervas em variadas receitas. Foi quando criou sua primeira pastilha, que
combinava 13 ervas suíças e era indicada para combater tosse e dor de garganta.
Começava o sucesso da suíça Richterich & Co., que se tornou líder mundial
em pastilhas de ervas. As pastilhas Ricola utilizam em sua composição grande
número de ervas cultivadas organicamente nos Alpes suíços, com propriedades
terapêuticas clinicamente comprovadas. Entre elas encontram-se a orquídea,
o sabugueiro, a hortelã, a pimenta, o tomilho, a sálvia e a malva. As balas
Ricola são vendidas nas versões Tradicional ou Sugar Free para pacientes
diabéticos.
Aurora comercializa também a linha de chocolates Stella Premium Diet,
lançada há 25 anos. Este chocolate suíço e dietético se encontra em 4 sabores:
ao leite; leite com avelãs; chocolate branco com amêndoa e gianduia.

Gienne: sapatos especiais para pés de pacientes diabéticos

Projetados para conforto e proteção, os calçados Gienne têm mais altura e


largura que os calçados comuns. São leves e resistentes, absorvem impactos,
facilitando a locomoção. Confeccionados em couro natural vaqueta e neoprene,
reduzem as áreas de pressão devido ao acolchoamento interno, sem costuras
e com fecho de velcro para facilitar a regulagem, conforme gosto (opção com
cadarços). Possui altura interna especial para acomodar palmilhas de vários
tipos, evitando, também, demasiada movimentação dos metatarsos pela sola
tipo “rocker”. Tamanhos: 33 ao 44. Cores: preto, café, azul e branco.
Diabetes Clínica 06 (2002) 415

Resumos de trabalhos e congressos

CB Juhl et al, 38th European Influência de uma tiazolidinediona (roziglitazona) no


Association for the study of diabetes tratamento da função das células β no diabetes tipo 2: evidência
(EASD) Annual Meeting, Budapest, de uma habilidade aumentada da glicose para melhorar a
Hungria. pulsatilidade da insulina de alta freqüência

Introdução e objetivos: O diabetes tipo 2 é caracterizado por uma redução


da sensibilidade à insulina e por uma disfunção das células β. As
tiazolidinedionas possuem efeitos bem estabelecidos na sensibilidade à
insulina. Entretanto, o impacto na secreção de insulina é menos claro.
Conseqüentemente, este estudo pesquisou os efeitos potenciais de uma
tiazolidinediona (rosiglitazona) na ação das células β, realizado com vários
testes diferentes nas células β.
Materiais e métodos: 20 indivíduos diabéticos tipo 2 [idade 54 ± 9 anos
(média ± DP), IMC 31 ± 2 kg/m2, glicose plasmática de jejum 8,6 ± 1,5
mmol/l e HbA1c 6,9 ± 1,2%], foram randomizados para receber tanto
rosiglitazona (rosi) 4 mg duas vezes ao dia (n = 10) ou placebo (pla) (n =
10) durante 13 semanas, num estudo duplo-cego. No período anterior e
posterior ao tratamento, os pacientes sofreram teste de tolerância à glicose
intravenosa - IVGTT (0,3 g/kg), um clamp hiperglicêmico (15 mmol/l),
com estimulação de arginina (5 g) e avaliação da pulsatilidade basal e da
pulsatilidade da insulina provocada por glicose (6 mg/kg/min cada 10
minutos). Adicionalmente, foi realizado nas duas ocasiões, um clamp
hiperinsulinêmico euglicêmico.
Resultados: No grupo tratado com rosiglitazona, a glicose plasmática de
jejum foi significativamente reduzida (Pla: 8,2 ± 21 vs. 8,8 ± 2,6, Rosi: 8,6
± 7,1 vs. 7,1 ± 1,2 mmol/l, p < 0,01) e a sensibilidade à insulina foi aumentada
(valor média: Pla: 5,3 ± 1,8 vs. 5,4 ± 1,6, Rosi: 5,9 ± 2,2 vs. 7,4 ± 1,3 mg/
kg/min, p = 0,05). A primeira fase de secreção de insulina e a capacidade
secretória da insulina durante o clamp hiperglicêmico, incluindo estimulação
de arginina, não foi afetada pelo tratamento com rosiglitazona. A secreção
de insulina não estimulada diminuiu, devido a redução de ~30% da massa
de insulina secretória (p = 0,001) e de ~20% na fração pulsátil (p = 0,02). A
habilidade da infusão oscilatória de glicose para induzir a secreção pulsátil
de insulina foi aumentada e determinada por análise espectral (p = 0,05).
Conclusão: Três meses de tratamento com rosiglitazona em pacientes
diabéticos tipo 2 não exerceu nenhuma ação na capacidade secretória das
células β per se. Entretanto, uma melhora na pulsatilidade da insulina de
alta frequência induzida por glicose, após tratamento com rosiglitazona,
pode ser potencialmente benéfico, em termos da ação da insulina e indica
uma habilidade aumentada da sensibilidade, além da resposta das células
β a variações de glicose dentro da faixa fisiológica.
416 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 06 (2002)

E. Motz et al, 38th European Evidência para um efeito independente e cumulativo de


Association for the study of diabetes hipertrigliceridemia e hiperglicemia pós-prandial na
(EASD) Annual Meeting, Budapest, disfunção endotelial e na geração do estresse oxidativo.
Hungria. Efeitos do tratamento a curto e longo prazo com sinvastatina

Introdução e objetivos: A hipertrigliceridemia e a hiperglicemia pós-prandial


são consideradas fatores de risco para doença cardiovascular. Evidências
sugerem que a hipertrigliceridemia e a hiperglicemia induzem uma disfunção
endotelial, através de um estresse oxidativo: porém, o papel distinto desses
dois fatores é matéria de debate.
Materiais e métodos: 30 pacientes diabéticos tipo 2 e 20 saudáveis,
ingeriram 3 diferentes refeições: uma refeição com alto teor de gordura; uma
com 75g de glicose e outra com alto teor de gordura, acrescida de glicose.
Glicemia, triglicerídemia, nitrotirosina e função endotelial foram medidas
durante os testes. Subseqüentemente, os diabéticos tomaram sinvastatina
40mg/dia ou placebo por 12 semanas. Os três testes foram realizados
novamente no ponto zero, entre 3-6 dias após o início e no final de cada
estudo.
Resultados: A dieta com alto teor de gordura e a somente com glicose
produziram um decréscimo da função endotelial, além de um aumento na
nitrotirozina da 1a a 3a h em indivíduos saudáveis (p < 0,001 vs. ponto zero),
e da 1a a 4a h em pacientes diabéticos (p < 0,001 vs. ponto zero). A combinação
de alto teor de gordura e glicose produziu um decréscimo na dilatação mediada
pelo fluxo (FMD) e um aumento da NT (p < 0,001 vs. ponto zero), até mais
pronunciado do que quando cada nutriente foi ingerido separadamente (p <
0,01), ambos em indivíduos saudáveis e diabéticos. O tratamento com
sinvastatina a curto prazo não obteve efeito nos parâmetros lipídicos, mas
reduziu o efeito na função endotelial e na nitrotirozina, observadas durante
cada teste diferente. O tratamento a longo prazo com sinvastatina foi
acompanhado por um menor decréscimo de triglicerídeos pós-prandial, que
foi seguido por menores variações da função endotelial e da nitrotirozina
durante os testes.
Conclusão: Esse estudo mostra um efeito independente e cumulativo
da hipertrigliceridemia e a hiperglicemia na função endotelial, sugerindo
o estresse oxidativo como mediador de tal efeito. A sinvastatina mostra
um efeito benéfico no estresse oxidativo e na disfunção endotelial, o
qual pode ser descrito com um efeito direto, assim como a ação de
decréscimo lipídico da droga.

A. Gastaldelli et al, 38th European O efeito da rosiglitazona na gliconeogênese em pacientes com


Association for the study of diabetes diabetes tipo 2
(EASD) Annual Meeting, Budapest,
Hungria. Introdução e objetivos: Hiperglicemia diabética resulta de distúrbios na
ação da insulina no músculo esquelético e liberação excessiva de glicose
endógena (EGO), devido ao aumento da gliconeogênese (GNG).
Tiazolidinedionas (TZD) demonstraram melhorar o controle glicêmico e
aumentar a sensibilidade à insulina periférica. O tratamento crônico com TZD
está associado a um decréscimo na EGO, mas ainda não foi determinado se
este efeito é causado pelas variações na GNG ou glicogenólise.
Materiais e métodos: Foram estudados 21 pacientes diabéticos tipo 2
randomizados e tratados com dieta e uso de rosiglitazona - RSG, 8 mg/dia (n
= 3), ou placebo (n = 8) durante 12 semanas. No início e durante as 12 semanas,
foram medidos EGO (por infusão de glicose marcada com [3H]) e percentual
de GNG (através da técnica [2H]2O), após um jejum de 15 h. A sensibilidade
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 06 (2002) 417

Continuação à insulina periférica foi avaliada através de um clamp de insulina euglicêmica


em 2 etapas (40 e 160 mU/m2min).
Resultados: Após 12 semanas, RSG reduziu a glicose plasmática no jejum
(9,7 ± 0,7 a 7,4 ± 0,3 mmol/l, p < 0,001), HbA1c (8,7 ± 0,4 a 7,4 ± 0,3 %, p <
0,01) e ácidos graxos não esterificados (NEFA) plasmáticos no jejum (713 ±
48 a 598 ± 43 µEq/l, p < 0,01). A EGO de jejum caiu em torno de 13% de
18,5 ± 1,0 a 16,2 ± 0,6 µmol/kgFFM.min (p = 0,03). Quando houve contagem
simultânea da insulina plasmática no jejum (FPI), a RSG diminuiu
significativamente a resistência hepática à insulina (EGOxFPI) em torno de
59 ± 27 µmol/(kgFFM.min) x mU/l (p = 0,05). A taxa de depuração total de
glicose mediada por insulina aumentou após RSG (primeiro passo: 2,8 ± 0,2
a 3,5 ± 0,2 ml/kgFFM.min, p < 0,05; segundo passo: 6,7 ± 0,6 a 9,2 ± 0,9, p <
0,05), apesar do peso corporal ter aumentado (4,1 ± 0,8 kg, p < 0,01 vs. placebo)
e a massa gorda (3,4 ± 0,7kg, p < 0,01 vs. placebo). A GNG diminuiu no
grupo com RSG e aumentou no grupo com placebo, ambas em % GNG (de
64 ± 4% a 60 ± 4% vs. 68 ± 4% a 78 ± 6%, p = 0,05); nenhuma mudança
significativa foi encontrada na glicogenólise. Variações na glicose plasmática
de jejum foram positivamente correlacionadas com mudanças na EGO de
jejum em ambos os grupos (r = 0,9; r = 0,8; p < 0,001), assim como em toda
a pesquisa (r = 0,8; p < 0,0001).
Conclusão: A rosiglitazona aumenta a sensibilidade periférica à insulina e
diminui a liberação de glicose endógena, via inibição da gliconeogênese.

Thivolet C et al. Diabetes Metab Combinação de marcadores de autoanticorpos e risco de


2002;28:279-85. desenvolvimento de diabetes tipo 1: resultados de uma grande
coorte francesa de membros da mesma família

Introdução: O objetivo deste estudo foi caracterizar os parentes de alto


risco de progressão do diabetes e determinar se a taxa de progressão varia de
acordo com a idade, combinação específica de anticorpos e marcadores
genéticos de susceptibilidade.
Métodos: Pacientes diabéticos tipo 1, membros da mesma família, foram
examinados através de um extenso trabalho médico quanto a presença de
anticorpos específicos contra os constituintes das células b e alto risco de
alélos DQB1. Anticorpos para insulina, GAD e IA-2 assim como ICA, foram
examinados em 4.044 membros da mesma família, recrutados em um estudo
prospectivo extenso familiar na região Rhône-Alpes (GRADI study). Entre
eles, 3.951 parentes de primeiro grau não diabéticos foram testados numa
média de 2,2 ocasiões e acompanhados até aos 16 anos.
Resultados: A presença de anticorpos para GAD (3,6%), IA-2 (4,9%),
insulina (2,2%) e ICA em níveis iguais ou maiores que 20JDF unidades
(1,1%), foi notada na primeira determinação e a prevalência aumentou
entre os parentes ICA positivo vs. os ICA negativo. Todas as combinações
de marcadores resultaram em especificidades acima de 90%. O valor
preditivo positivo de anticorpos foi dependente do número positivo de
anticorpos. Combinação de anticorpos para GAD e IA-2 ou GAD e IAA,
tiveram maiores valores preditivos e sensíveis, do que os valores de ICA
acima de 20 JDF unidades. Positividade adicional do IAA aumentou o
valor preditivo, mas diminuiu a sensibilidade do procedimento de triagem.
Usando um ensaio de combi GAD/LA-2, aumentou a sensibilidade da
triagem em até 87,8%, mas reduziu o valor preditivo para 13,8%.
418 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 06 (2002)

Continuação Conclusão: Esta pesquisa confirma, numa extensa coorte francesa de


parentes de primeiro grau de pacientes diabéticos tipo 1, que
combinações de anticorpos para constituintes de células b podem
substituir ICA no primeiro procedimento de triagem. Nós reportamos
que o ensaio combi GAD/IA-2 é bem adequado para propósitos de
triagem. No entanto, o momento do aparecimento do diabetes em
parentes com anticorpos positivos parece ser mais heterogêneo do que
o que foi descrito. A importância de marcadores genéticos necessita de
mais avaliação.

K. Maedler et al, 38th European Produção de interleucina-1ββ em células β induzida por glicose
Association for the study of diabetes contribui para glicotoxicidade nas ilhotas pancreáticas humanas
(EASD) Annual Meeting, Budapest,
Hungria. Introdução e objetivos: No diabetes tipo 2, foi sugerido que a hiperglicemia
crônica pode deteriorar as células β pancreáticas, prejudicando a secreção de
insulina. A interleucina-1β (IL-1β) é uma citocina pró-inflamatória que age
durante o processo auto-imune do diabetes tipo 1. A IL-1β inibe a função da
célula β e promove apoptose induzida por Fas (Fas-triggered) em parte por
ativação do fator de transcrição NF-kappaB. Recentemente nós demonstramos
que um aumento nas concentrações de glicose também induz a expressão de
Fas e a apoptose de células β em ilhotas humanas. O objetivo do presente
estudo foi testar a hipótese de que a IL-1β pode mediar os efeitos deletérios
da glicose elevada nas células β em humanos.
Materiais e métodos: Cultura de ilhotas pancreáticas humanas foram
expostas por 4 dias em concentrações crescentes de glicose (5,5 a 33,3 mM)
e analisadas para apoptose e expressão de IL-1β. Secções de pâncreas humanos
obtidas de necropsia de rotina e pancreases de Psammomys obesus foram
expostas à IL-1β, através de imunohistoquímica e fluorescência em
hibridização “in sito”.
Resultados: A exposição in vitro das ilhotas de doadores de órgãos não
diabéticos a altos níveis de glicose, resultaram num aumento de 2,2 vezes da
IL-1β liberada na cultura de ilhotas a 33,3 mM em relação à glicose 5,5 mM
(p < 0,01), seguido por um aumento de 1,9 vezes na atividade do NF-kappaB
(p < 0,05), regulação do Fas, fragmentação do DNA (33,3 mM de glicose
induziram um aumento de 2,3 vezes nas células β, comparado à glicose a 5,5
mM; p < 0,001), e função diminuída da células b. O antagonista do receptor
de interleucina-1 IL-1Ra protegeu a cultura de células de ilhotas humanas
desses efeitos deletérios. As células β, propriamente ditas, foram identificadas
como fonte de glicose nas ilhotas induzida por IL-1β. In vivo, células β
produtoras de IL-1β foram observadas em secções pancreáticas de pacientes
diabéticos tipo 2, mas não nos indivíduos não diabéticos controle.
Similarmente, IL-1β foi induzido em células β do rato Psammomys obesus
durante o desenvolvimento do diabetes. O tratamento desses animais com
florizina normalizou a glicose plasmática e preveniu a expressão do IL-1β
em células β.
Conclusão: Essas descobertas implicam em um processo inflamatório da
patogênese da glicotoxicidade no diabetes tipo 2 e identifica a rota IL-1β/
NF-kappaB, como um alvo de preservação de massa de células β e da
função nessa condição.
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 06 (2002) 419

E. Brocco et al, 38th European Níveis baixos de HDL-colesterol mas não de triglicerídeos
Association for the study of diabetes elevados estão relacionados a espessamento da intima-media no
(EASD) Annual Meeting, Budapest. diabetes tipo 2 com diagnóstico recente

Introdução e objetivos: Uma estreita correlação entre níveis baixo de


HDL-colesterol (HDL-C) e aterosclerose precoce (espessamento da intima-
media), foi demonstrado em indivíduos não diabéticos. O objetivo deste
estudo foi avaliar em diabéticos tipo 2, recentemente diagnosticados
(T2DM), uma correlação entre níveis baixos de HDL-C e IMT.
Materiais e métodos: Foram avaliados 450 indivíduos, que desenvolveram
T2DM em 2001 e atendidos pela primeira vez no nosso serviço; eles foram
submetidos a: ecocolordoppler da carótida por Toshiba Corevision, com
capacidade linear de 5-8 MHz; colesterol total (CT), HDL-C, triglicerídeos
(TG), HbA1c com medição com técnicas padrão, cálculo do LDL colesterol
(LDL-C) (fórmula de Friedwald), medição da pressão sangüínea deitado,
cálculo do IMC.100 indivíduos, 53 homens e 47 mulheres, foram
selecionados baseados em: 40<idade<70 anos, IMT <1,3 mm em artéria
carótida comum e sem nenhuma lesão brusca nas artéria carótidas. Foi
considerado como critério de exclusão: fumantes, usuários de drogas
hipocolesterolêmicas ou inibidores da ECA ou de bloqueadores de canais
de cálcio.
Resultados: Foram divididos em dois grupos, seguindo os níveis de HDL-
C < 40 mg/dl (grupo G1) e 40 mg/dl (grupo G2). 51 indivíduos apresentaram
HDL-C < 40 mg/dl, e os grupos não diferiram significativamente na pressão
sangüínea (G1 148-22 vs. G2 146-19 mmHg sistólica, G1 88-11 vs. G2 86-
10 mmHg diastólica), CT (G1 240-41 vs. G2 229-38 mg/dl), LDL-C (G1
167-38 vs. G2 155-34 mg/dl), IMC (G1 30,2-4,4 vs. G2 29,3-3,4 %), HbA1c
(G1 8,41-1,56 vs. G2 8,12-1,2 %). Os grupos foram significativamente
diferentes em TG (G1 191-92 vs. G2 131-48 mg/dl, p < 0,0002), e IMT (G1
0,97-0,22 vs. G2 0,70-0,19 mm, p < 0,0001). A associação entre níveis de
HDL-C e IMT (correlação r = -0,55) foi encontrada, enquanto não estava
entre o IMT e outros parâmetros incluindo TG.
Conclusão: A pesquisa sugere um possível papel dos níveis baixos de
HDL-C, mas não de TG, com lesões arterioscleróticas recentes de carótida,
em indivíduos recentemente diagnosticados para diabetes tipo 2.

G. Magro et al, 38th European Resistência à insulina associada a reestenose em stent em


Association for the study of diabetes pacientes diabéticos tipo 2
(EASD) Annual Meeting, Budapest.
Introdução e objetivos: É sabido que pacientes diabéticos (pts) sofrem
freqüentemente de doenças cardiovasculares e raramente se recuperam, após
intervenções coronarianas percutâneas. O objetivo deste estudo foi avaliar o
grau de resistência à insulina e o controle da homeostase glicometabólica,
assim como o eixo somatotropina basal/IGF-1, potencialmente envolvidos
com doença arterial e proliferação neoíntima em pacientes diabéticos, após
colocação de stent coronariano (CS).
Materiais e métodos: Em 64 pts consecutivos diabéticos tipo 2 (48 homens/
16 mulheres), 6 meses após colocação de CS foram assim avaliados: 1)
resistência à insulina como constante para o desaparecimento da glicose
plasmática (kITT%), através de um teste curto de tolerância à insulina; 2)
níveis sangüíneos de colesterol total, HDL-colesterol, triglicerídeos, HBA1c,
microalbuminúria, GH, IGF-1. Os níveis de LDL-colesterol foram derivados
da fórmula de Friedwald.
420 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 06 (2002)

Continuação Resultados: A reestenose (R) foi observada em 35 pts (54,7%). Em análise


univariada R pts não diferiu dos pts sem reestenose (NR) em termos de idade,
IMC, sexo, história de infarto agudo do miocárdio (IAM) ou angina instável
(p = 0,3; p = 0,8; p = 0,6; p = 0,4; p = 0,3). O estudo bioquímico não revelou
nenhuma diferença no controle metabólico do estado diabético (glicemia basal,
HBA1c, e peptídeo C) e na performance lipídica. Um maior grau de resistência
à insulina foi revelado em ITT em pts R mais do que em pts NR (Kitt% 2,91
± 1,6%/min vs. 3,72 ± 1,4%/min p = 0,04, respectivamente). O hormônio do
crescimento (GH) basal, também aumentou em pts R vs. pts NR (1,33 ± 1,4
pg/ml vs. 0,67 ± 0,6 p = 0,03, respectivamente) - ver tabela.
Conclusão: Em conclusão, a resistência à insulina pode estar envolvida
com os mecanismos de R em stent, em pts diabéticos tipo 2, como um fator
independente de R com um controle estritamente metabólico. Um nível
maior de GH pode influenciar R através de um possível efeito proliferativo.
Características metabólicas expressas como média ± DP em pacientes diabéticos tipo 2
com (R) ou sem reestenose (NR)
Variáveis R (35pts) NR (29pts) P
Glicemia (mg/dl) 149,3 ± 73,9 124,1 ± 55,9 0,1
HbA1c (%) 6,1 ± 1,6 6,7 ± 1,6 0,1
Peptídeo C (ng/ml) 2,7 ± 1 2,5 ± 0,7 0,3
Kitt (%/min) 2,9 ± 1,6 3,7 ± 1,4 0,04
Microalbuminúria (mg/l) 88,5 ± 234,8 75,6 ± 182,0 0,8
Triglicerídeos (mg/dl) 119,4 ± 64,2 108,3 ± 60,2 0,5
Colesterol total (mg/dl) 207,8 ± 41,1 207,9 ± 35,1 0,4
HDL-Colesterol (mg/dl) 48,0 ± 8,5 41,9 ± 9,4 0,1
LDL Colesteroll(mg/dl) 134,5 ± 35,8 129,3 ± 32,5 0,5
GH (pg/ml) 1,3 ± 1,4 0,6 ± 0,6 0,03
IGF-1 (ng/ml) 193,4 ± 87,0 163,3 ± 65,4 0,2

M. Sacco et al, 38th European Prevenção de eventos cardiovasculares com baixa dose de
Association for the study of diabetes aspirina e vitamina E nos pacientes diabéticos tipo 2: resultados
(EASD) Annual Meeting, Budapest, do estudo de PPP
Hungria.
Introdução e objetivos: O Primary Prevention Project (PPP) foi desenhado
para testar se o tratamento crônico com aspirina (um tablete de 100 mg com
revestimento entérico de aspirina por dia) e vitamina E (uma cápsula de 300
mg de a-tocoferol por dia), reduz a freqüência de eventos cardiovasculares
(CV) fatais e não fatais, em pacientes com um ou mais fatores de risco.
Objetivamos investigar a eficácia dessas estratégias em um subgrupo de
pacientes com diabetes tipo 2.
Materiais e métodos: O PPP é um estudo multicêntrico, randomizado,
aberto, envolvendo pacientes ambulatoriais e clínicos gerais por toda a Itália.
O ponto final de eficácia primária foi a taxa cumulativa de morte
cardiovascular, infarto do miocárdio não fatal e parada cardíaca não fatal.
Eventos totais CV também foram considerados, incluindo angina de peito,
TIA, doença arterial periférica e procedimentos de revascularização.
Resultados: Dos 4.784 pacientes recrutados, 1.031 sofriam de diabetes.
As características dos pacientes foram as seguintes: 534 (51,8%) mulheres,
idade média 64 anos (DP 8), 59,5% com 3 ou mais fatores de risco, 60,4%
tratados com agentes antihipertensivos e 73% com agentes orais ou insulina,
33% obesos. Após um acompanhamento médio de 3 anos, o uso da aspirina
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 06 (2002) 421

Continuação foi associado a uma pequena, mas não significativa redução no ponto final
primário (RR = 0,94; IC 95% 0,68-1,30) e eventos CV totais (RR = 0,93; IC
95% 0,76-1,15). Similarmente, a vitamina E não mostrou nenhum efeito
primário no ponto final (RR = 1,06; IC 95% 0,79-1,43) e eventos CV totais
(RR = 0,91; IC 95% 0,74-1,13). Por outro lado, nos indivíduos não diabéticos
a terapia antiplaquetária diminuiu significativamente a freqüência de qualquer
evento cardiovascular (RR = 0,59; IC 95% 0,37-0,94), enquanto a vitamina E
não mostrou nenhum efeito. Os resultados de uma análise multivariada
mostraram que em paciente diabéticos o risco de eventos cardiovasculares
aumentou significativamente com a idade (HR = 1,03; IC 95% 1,00-1,06),
história familiar de infarto do miocárdio (HR = 2,1; IC 95% 1,2-3,7), níveis
de HbA1c (HR = 1,11; IC 95% 1,00-1,22), história passada ou atual de
tabagismo (HR = 1,95; IC 95% 1,3-2,9) e valores de pressão arterial sistólica
(HR = 1,03; IC 95% 1,01-1,04). Em contra partida, o risco de CV foi
inversamente relacionado aos níveis de pressão sanguínea diastólica (HR =
0,96; IC 95% 0,93-0,98).
Conclusão: Em conclusão, enquanto os indivíduos não diabéticos tipo 2 a
terapia antiplaquetária diminuiu substancialmente o risco de eventos CV,
em pacientes diabéticos tal efeito não foi significativo, provavelmente
devido a uma maior probabilidadede risco de CV. Nossa pesquisa também
mostrou o papel preditivo do controle metabólico e o efeito da pressão
sangüínea no risco de eventos cardiocerebrovasculares. Além disso, o efeito
da pressão sangüínea foi significativo na população diabética, mas não em
indivíduos não diabéticos.

T. Østergård et al, 38th European Melhora da sensibilidade à insulina, mas sem relação entre a
Association for the study of diabetes mudança da capacidade física e da sensibilidade à insulina, após
(EASD) Annual Meeting, Budapest. 10 semanas de exercício aeróbico em parentes de primeiro grau
saudáveis de pacientes diabéticos tipo 2

Introdução e objetivos: Resistência à insulina e redução da capacidade física


são características comuns em parentes de primeiro grau de pacientes
diabéticos tipo 2 (FDR). Uma forte correlação entre capacidade física
(VO2max) e sensibilidade à insulina é bem estabelecida em humanos, sendo
a atividade física um tratamento cardinal do diabetes tipo 2, podendo prevenir
o desenvolvimento de doenças. Como indivíduos saudáveis respondem de
forma heterogênea para os exercícios, nossa hipótese é que FDR é um grupo
que poderá responder diferencialmente com um programa de treinamento
padronizado.
Materiais e métodos: Um grupo saudável e com tolerância à glicose normal
FDR (n = 27) e um grupo controle marcado (C) sem história familiar de
diabetes (n = 18), efetuaram um programa de 10 semanas de exercícios
aeróbicos (ciclismo), 3 vezes por semana, com 70% do VO2max.
Resultados: No ponto zero o grupo FDR exibiu uma redução de insulina
estimulada por glicose captada – ISGU - (FDR: 5,9 ± 0,4 mg/kg/min vs. C:
8,0 ± 0,7 mg/kg/min; P < 0.05), mas não foram observadas diferenças
significativas em relação ao VO2max (FDR: 37,9 ± 1,3 ml/kg/min vs. C:
40,0 ± 1,3 ml/kg/min; P = NS). Em resposta ao programa de exercícios
VO2max aumentou significativamente em ambos os grupos (FDR: 43,2 ±
1,4 ml/kg/min; P < 0,001 e C: 46,5 ± 1,9 ml/kg/min; P < 0,01). Além disso,
um aumento significativo no ISGU foi visto no grupo FDR (6,5 ± 0,5 mg/
kg/min; P < 0,05) mas não no grupo controle (8,8 ± 0,8 mg/kg/min; P =
422 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 06 (2002)

Continuação 0,35). Entretanto, uma correlação significativa entre o aumento do ISGU e


o VO2max foi encontrada no grupo controle (R = 0,57, P < 0,05), apesar
disso não foi observada relação com o grupo de FDR (R = 0,07, P = 0,73).
As duas curvas foram testados por regressão linear e diferem
significativamente entre cada uma (P = 0,038).
Conclusão: Em conclusão, parentes de primeiro grau de diabéticos tipo
2 alcançaram um benefício individual na melhora da sensibilidade à
insulina com treinamento físico regular. Entretanto, a ausência de uma
correlação significativa entre o aumento do VO2max e o ISGU,
contrastando com a do grupo controle, pode indicar que a adaptação do
músculo esquelético local está dissociado da melhora no VO2max,
ocasionado pela melhora do aproveitamento da glicose.

B. Feldt-Rasmussen et al, 38th Melhora no transporte transvascular da lipoproteína de baixa


European Association for the study of densidade em pacientes com diabetes mellitus tipo 2
diabetes (EASD) Annual Meeting,
Budapest, Hungria. Introdução e objetivos: O risco aumentado de arteriosclerose em
pacientes diabéticos não pode ser explicado somente pelos fatores de risco
cardiovasculares convencionais. Nós sugerimos que o transporte
transvascular da lipoproteína pode aumentar em pacientes com diabetes,
possivelmente explicando o aumento no acúmulo dessa lipoproteína e então
da aterosclerose.
Materiais e métodos: Desenvolvemos um método de medição in vivo do
transporte transvascular da lipoproteína de baixa densidade (LDL) e
aplicamos em 16 pacientes com diabetes tipo 2 e 29 controles, selecionados
por idade e sexo. Um LDL autólogo, marcado com iodo-131 foi reinjetado
por via endovenosa em adição à albumina marcada com iodo-125 e taxas de
liberação fracionais foram calculadas como índice de transporte
transvascular.
Resultados: Ambos os parâmetros foram dispostos em distribuição normal
e estreitamente correlacionados (R2 = 0,69; P < 0,0001). O transporte
transvascular da LDL foi 5,4 ± 2,9 versus 4,1 ± 1,5 percentual/hora em
pacientes com diabetes versus controles (p < 0,05); valores equivalentes
para a albumina foram 6,5 ± 2,5 e 5,3 ± 1,6 percentual/hora (P < 0,05).
Conclusão: Essas diferenças, na sua maioria, não foi causada por expressão
alterada do receptor de LDL hepático, glicosilação do LDL no diabetes, ou
pelo pequeno tamanho da LDL no paciente diabético. Nós temos
demonstrado que o transporte transvascular da LDL pode aumentar em
pacientes com diabetes tipo 2 versus controles. Isto sugere que o fluxo da
lipoproteína na parede arterial pode aumentar em pacientes diabéticos tipo
2. Isto pode, pelo menos em parte, explicar o desenvolvimento acelerado
da arteriosclerose nestes pacientes.

G. Sartore et al, 38th European Ácidos graxos da dieta, lipoproteínas e resistência à insulina
Association for the study of diabetes
(EASD) Annual Meeting, Budapest, Introdução e objetivos: Os ácidos graxos consumidos na dieta estão
Hungria. associados com arteriosclerose independentemente do colesterol plasmático;
de fato entre populações com níveis de colesterol plasmático similares, aqueles
com dieta rica em ácidos graxos saturados têm uma alta incidência de doenças
cardiovasculares. Esta associação pode ser devido à um padrão aterogênico
da lipoproteína (que é um pequeno e denso LDL), ou a um aumento da
Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 06 (2002) 423

Continuação resistência à insulina (outro fator de risco cardiovascular). O objetivo deste


estudo foi analisar a relação entre dieta, lipoproteínas e resistência à insulina
em indivíduos diabéticos.
Materiais e métodos: Nós avaliamos a composição fosfolipídica dos ácidos
graxos plasmáticos (que representa ácidos graxos consumidos na dieta) por
gascromatografia gasosa, concentrações de lipoproteínas por método padrão,
propriedades físicas do LDL por gradientes de densidade de spin vertical,
através de ultracentrifugação, resistência à insulina por score de HOMA
(insulina plasmática de jejum X glicose plasmática de jejum/22,5) em 97
indivíduos diabéticos tipo 2, acompanhados por 4 anos.
Resultados: No ponto zero o percentual de ácidos graxos foi inversamente
relacionado a níveis de colesterol HDL (r = -0,23; p = 0,022), mas nem com
concentrações de LDL ou com a presença de LDL pequeno e denso. Em uma
análise de regressão múltipla a presença de LDL pequeno e denso foi
independentemente associada com triglicerídeos elevados (p < 0,0001) e baixa
concentração de HDL colesterol (p = 0,0192). Os ácidos graxos saturados
foram associados com um aumento da resistência à insulina (r = 0,34; p =
0,0073). Em uma análise de regressão múltipla ambos, IMC (p = 0,0185) e
ácidos graxos saturados (p=0.0346), foram independentemente relacionados
à resistência à insulina. Após 4 anos de acompanhamento nós não observamos
modificações significativas do IMC, LDL colesterol e triglicerídeos, apesar
de uma redução dos ácidos graxos saturados e do aumento dos níveis de HDL
colesterol terem sido vistos.
Conclusão: Em indivíduos diabético tipo 2: 1) uma dieta com ácidos graxos
saturados está associada à baixos níveis de HDL colesterol, mas isto não
influência nenhum nível de LDL nem sua aterogenicidade; 2) as
propriedades físicas do LDL são afetadas pelos triglicerídeos plasmáticos
e pelas concentrações de HDL; 3) ácidos graxos saturados da dieta estão
positivamente relacionados com resistência à insulina; 4) redução de ácidos
graxos saturados da dieta está associado com uma melhora nos níveis de
HDL colesterol.

A.Ceriello et al, 38th European Hiperglicemia pós-prandial e geração de disfunção endotelial e


Association for the study of diabetes estresse oxidativo
(EASD) Annual Meeting, Budapest,
Hungria. Introdução e objetivos: Recentemente muita atenção tem sido dada pela
possibilidade de que a hiperglicemia pós-prandial possa ser um fator de risco
cardiovascular no diabetes. A disfunção endotelial e o estresse oxidativo estão
envolvidos na patogênese das complicações do diabetes. Tem sido
demonstrado que hiperglicemia aguda induz à disfunção endotelial, enquanto
aumenta os níveis plasmáticos de nitrotirosina, um produto da ação do
peroxinitrito, que tem sido encontrado no plasma de indivíduos diabéticos. O
objetivo deste estudo foi avaliar se a hiperglicemia pós-prandial está
acompanhada de disfunção endotelial e geração de nitrotirosina e se, então, é
válido explorar a possibilidade direta do papel da hiperglicemia em tal
fenômeno.
Materiais e métodos: 23 pacientes foram recrutados para este estudo. Dois
testes diferentes foram realizados: uma refeição padrão precedida pela insulina
regular (0,15 U/kg peso corporal) ou insulina aspart (0,15 U/kg peso corporal),
com o objetivo de alcançar níveis diferentes de hiperglicemia pós-prandial.
No 0', e 1h, 2h, 4h, 6h após cada refeição, fpram medidos glicose sangüínea,
triglicerídeos, vasodilatação fluxo mediada da artéria braquial e nitrotirosina.
Resultados: Um aumento de nitrotirosina durante ambas as refeições,
424 Resumos de trabalhos e congressos - Diabetes Clínica 06 (2002)

Continuação enquanto houve um decréscimo na vasodilatação fluxo mediada (p < 0,01,


ANOVA para medidas repetidas). A administração de aspart reduziu
significativamente ambas as áreas sob a curva da glicemia (58,3 ± 17,6 vs.
68,1 ± 17,7 mmol/l; p < 0,04) e da nitrotirosina (3,60 ± 2,04 vs. 4,49 ± 2,06
mmol/l; p < 0,03), e aumentou a do FMD (34,1 ± 2,2 vs. 39,4 ± 2,9 %; p <
0,01), enquanto a área sob a curva dos triglicerídeos não foi afetada pelo
tratamento (8,2 ± 4,7 vs. 8,1 ± 4,4 mmol/l; p < 0,8).
Conclusão: Este estudo mostrou um efeito direto em pacientes diabéticos
da hiperglicemia pós-prandial em favorecer a produção de nitrotirosina e a
disfunção endotelial na fase pós-prandial.
Pavin AE et al / Diabetes Clínica 06 (2002) 425~428
Diabetes 425

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 06 (2002) 425~428

ARTIGO ORIGINAL

Estratificação do risco cardiovascular através de dados obtidos na pré


consulta em pacientes diabéticos acompanhados num centro de referência
Stratifying the cardiovascular risk trough data collected during pre
consultation in diabetic patients in a Reference Disease Management Center

Ana Elizabeth Pavin*, André Zacoupeguy Lage*, Livia Rocha*, Renata Cristina Gatti*, Rossana
Guinatto Seidenthal**, Marcela Jamus Rodrigues***, Roberto Guimarães Alfieri***, Valter Furlan****

* Endocrinologista Total Care Amil SP, **Enfermeira Total Care Amil SP,
***Cardiologista Total Care Amil SP, ****Coordenador Total Care Amil SP - Programa Amil de Excelência Médica -Total Care São Paulo SP

Resumo
Objetivo: Estratificação do risco de evento cardiovascular (ECV), através de dados obtidos na pré-consulta de enfermagem em pacientes
diabéticos tipo 2.
Metodologia: Levantamento dos dados obtidos na pré-consulta de pacientes diabéticos tipo 2, atendidos no Total Care, centro de referência
para tratamento de diabetes e cardiopatias no período de abril de 2001 a abril de 2002. Os dados incluíam: idade, sexo, índice de massa corpórea
(IMC), pressão arterial sistólica e diastólica (PAS e PAD), perfil lipídico, glicemia e tabagismo. Foi calculado o índice de Framinghan,
reconhecidamente preditor de eventos cardiovasculares nos próximos 10 anos.
Resultados: Foram analisados 679 prontuários. Desses, 112 (16,4%) relataram ECV prévio (angina: 7,1%; infarto: 33%; angioplastia: 13,3%;
revascularização miocárdica: 36,6%; AVC: 8,0% e outras: 0,8%). A M ± DP da idade, IMC, PAS, PAD, HDL, LDL, TG foi 60 ± 10anos; 31 ±
6,2 kg/m2; 144 ± 27,8 mmHg; 84,7 ± 14,6 mmHg; 39 ± 11,1 mg/dl; 114 ± 44 mg/dl e 250 ± 145 mg/dl, respectivamente. Tabagismo foi de
15,1%. 167 pacientes (24,5%) correspondiam à prevenção primária de baixo risco ECV (Framinghan < 10%). A M ± DP da idade, IMC, PAS,
PAD, HDL, LDL e TG foi: 40 ± 14,1 anos; 28.4 ± 7,4 kg/m2; 128,2 ± 22,3 mmHg; 82,9 ± 13,2 mmHg; 51,3 ± 14,6 mg/dl; 99,3 ± 35,1 mg/dl e
152 ± 97 mg/dl, respectivamente. Tabagismo foi referido por 16,1% dos pacientes. 207 pacientes (30,4%) correspondiam à prevenção primária
de risco ECV intermediário (10 a 20%). A M ± DP da idade, IMC, PAS, PAD, HDL, LDL e TG foi 56,2 ± 10 anos; 31,3 ± 6,9 kg/m2; 146,6 ±
24,2 mmHg; 88,9 ± 12,4 mmHg; 45,5 ± 13,7 mg/dl; 114,5 ± 34,5 mg/dl e 220,4 ± 118,1 mg/dl, respectivamente. Tabagismo estava presente em
10,5 %. Quanto à prevenção primária de alto risco CV (> 20%) tivemos 193 pacientes (28,4%) com média e desvio padrão para idade, IMC,
PAS, PAD, HDL, LDL e TG de 61,6 ± 8,6 anos; 30,3 ± 5,6 kg/m2; 160,4 ± 24,7 mmHg; 92,2 ± 16,2 mmHg; 39,3 ± 28 mg/dl; 131,9 ± 36,7mg/
dl e 279,4 ± 154,5 mg/dl, respectivamente. Tabagismo foi de 21,7%.

Artigo recebido em 20 de julho; aprovado em 15 de novembro de 2002.

Endereço para correspondência: Ana Elizabeth Pavin (Total Care), Av. Nações Unidas,11541 cj 31/32- Brooklin Novo 04578-000
São Paulo SP, Tel: (11)5504 3001.
426 Pavin AE et al / Diabetes Clínica 06 (2002) 425~428

Conclusão: A avaliação de parâmetros simples, que podem ser obtidos pela enfermagem antes da consulta, facilita o reconhecimento e a
estratificação quanto ao risco de ECV, fornecendo ferramentas mais adequadas para a condução do grande desafio, que é a prevenção da doença
cardiovascular no diabético.

Palavras-chave: Doença cardiovascular, diabetes.

Abstract
Objective: To stratify the cardiovascular event risk trough data collected during nurse staff pre consultation in type 2 diabetic patients in a
reference center.
Metodology: The data were collected of type 2 diabetic patients followed in the reference center for diabetic and cardiovacular affections (Total
Care) from April 2001 to April 2002. These data included:age, sex, body mass index (BMI), systolic and diastolic blood pressure (SBP, DBP),
lipid profile, capillary glucose and tabagism. The Framingham index were calculated, which is a well known predictor for cardiovascular
events for the next ten years.
Results: We analysed 679 files, among these 112 (16,4 %) had prior cardiovascular events (angina: 7,1%; heart attack: 33%; angioplastia:
13,3%; myocardial revascularization: 36,3%; stroke: 8,0% and others: 0,8%).The M ± DP for age, BMI, SBP, DBP, HDL, LDL, TG was 60 ±
10 years; 31 ± 6,2 kg/m2; 144 ± 27,8 mmHg; 84 ± 14,6 mmHg; 39 ± 11,1 mg/dl; 114 ± 44 mg/dl and 250±145 mg/dl, respectively. The incidence
of tabagism was 15,1%. A hundred and sixty seven patients (24,5%) correspond to primary prevention with low risk for cardiovascular events
(Framingham < 10%). The M ± DP for age, BMI, SBP, DBP, HDL, LDL, TG was 40 ± 14,1 years; 28,4 ± 7,4 kg/m2; 128,2 ± 22,3 mmHg; 82,9
± 13,2 mmHg; 51,3 ± 14,6 mg/dl; 99,3 ± 35,1 mg/dl; 152 ± 97 mg/dl, respectively. Tabagism was refered by 16,1% patients. Two hundred and
seven patients (30,4%) correspond to primary prevention with intermediate risk for cardiovascular events (Framingham 10% to 20%) .The M
± DP for age, BMI, SBP, DBP, HDL, LDL, TG was 56,2 ± 10 years; 31,3 ± 6,9 kg/m2; 146,6 ± 24,2 mmHg; 88,9 ± 12,4 mmHg; 45,5 ± 13,7 mg/
dl; 114,5 ± 34,5 mg/dl and 220 ± 118,1 mg/dl, respectively. Tabagism was accused in 10,5%. For primary prevention with high cardiovascular
risk (> 20%) , had 193 patients (28,4%) and the M ± DP for age, BMI, SBP, DBP, HDL, LDL,TG was 61,6 ± 8,6 years; 30,3 ± 5,6 kg/m2; 160,4
± 24,7 mmHg; 92,2 ± 16,2 mmHg; 39,3 ± 28 mg/dl; 279,4 ± 154,5 mg/dl, respectively. Tabagism rate was 21,7% in this group.
Conclusion: The evaluation of simple parameters, those can be obtained during nurse staff pre consultation facilitates the knowledge and the
stratification of the cardiovascular risk factors, giving tools for planning strategies in order to prevent cardiovascular diseases in diabetic
patients.

Key-words: Cardiovascular disease, diabetes.

Introdução Material e métodos

Diabetes mellitus tipo 2 é uma doença com alta 679 pacientes diabéticos, pela primeira vez
prevalência, com complicações graves e muitas vezes atendidos no período de abril de 2001 a abril de 2002,
fatais. As principais causas de mortalidade no diabetes foram submetidos a pré-consulta de enfermagem. A
mellitus tipo 2, são as complicações por eventos pré-consulta é realizada por auxiliar de enfermagem,
cardiovasculares – ECV [1,2,3]. Pacientes com diabetes devidamente treinado, que faz a aferição do peso,
apresentam 2 a 3 vezes mais eventos cardiovasculares altura, cálculo do índice de massa corpórea (IMC),
que indivíduos não diabéticos, e quando são realizadas pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD).
intervenções, como angioplastia ou a colocação de stent, O perfil lipídico e glicemia capilar é realizado através
tendem a apresentar um maior índice de reestenose [7]. do aparelho Colestech LDX. Com estes resultados,
Baseado nisto, o Total Care, um centro especializado em idade do paciente e pesquisa de tabagismo atual
diabetes e cardiopatias, desenvolveu um protocolo de obtém-se o índice de Framingham, reconhecido
estratificação do risco de ECV, através de dados obtidos preditor do risco de evento CV nos próximos 10 anos
na pré-consulta de enfermagem. [4,8].
Pavin AE et al / Diabetes Clínica 06 (2002) 425~428 427

Resultados conhecida, ou seja, o paciente diabético tipo 2


assintomático está classificado como sendo portador
Os pacientes foram estratificados de acordo com o de doença cardiovascular. A identificação intensiva
valor do índice de Framingham em Prevenção Primária dos fatores de risco é então justificada [1,5,6].
de baixo risco (Framingham < 10%), risco intermediário
(Framingham entre 10 e 20%) e alto risco (Framingham Fatores associados ao aumento da mortalidade
>20%) [4]. cardiovascular em diabéticos
A média ± DP dos dados obtidos é mostrada na Tabela
I. Dos pacientes atendidos, 400 (58,8%) tinham risco Nos diabéticos, a aterosclerose progride mais
cardiovascular de intermediário a alto, sendo que os rapidamente, é mais extensa em um mesmo vaso e
pacientes de alto risco (28,4%) eram de idade mais compromete uma maior quantidade de vasos.
avançada, com média da PA mais alta e perfil lipídico Pacientes diabéticos apresentam com mais freqüência
mais alterado. fatores de risco associados como tabagismo,
Tabela I - Características dos pacientes diabéticos - Prevenção primária. hipertensão e dislipidemia [2,3]. Além
disso, estes fatores estão usualmente
Prevenção primária associados entre si e a outros especí-
I.Framingham < 10% 10 a 20% >20% ficos do diabetes, como resistência
N º Pacientes 167(24,5%) 207(30,4%) 193(28,4%) insulínica, disfunção endotelial e
Idade (anos) 40 ± 14,1 56,2 ± 10 61,6 ± 8,6 microalbuminúria. Estudo simunohisto-
IMC (kg/m2) 28,4 ± 7,4 31,3 ± 6,9 30,3 ± 5,6 químicos em artérias de pacientes
PAS (mmHg) 128,2 ± 22,3 146,6 ± 24,2 160,4 ± 24,7 diabéticos, demonstraram um maior
PAD (mmHg) 82,9 ± 13,2 88,9 ± 12,4 92,2 ± 16,2 componente inflamatório do que em não
HDL (mg/dl) 51,3 ± 14,6 45,5 ± 13,7 39,3 ± 28 diabéticos [1].
LDL (mg/dl) 99,3 ± 35,1 114,5 ± 34,5 131,9 ± 36,7 Estudos recentes de meta-análise,
TG (mg/dl) 152 ± 97 220,4 ± 118,1 279,4 ± 154,5 mostram que níveis de glicemia
Tabagismo (%) 16,1 10,5 21,7 plasmática de jejum maior que 75 mg/
dl, já constituem um fator de risco
independente para a doença cardio-
vascular. Estas observações explicam
112 pacientes já apresentavam evento cardiovascular porque no estudo United Kingdom Prospective
prévio, sendo que a maior parte com revascularização Diabetes Study (UKPDS), cerca de 18% dos pacientes
miocárdica (49,9%). A porcentagem de tabagismo atual já apresentavam evidencias de doença cardiovascular
foi de 15% e correspondiam à Prevenção Secundária, ao diagnóstico de diabetes [7]. Diversos estudos
como mostram o gráfico 1 e a tabela II. epidemiológicos demonstraram de forma consistente,
que valores de glicose 2 horas após o Teste Oral de
Discussão Tolerância à Glicose (OTTG) entre 140 mg/dl e maior
ou igual a 200 mg/dl, associavam-se ao aumento de
A mortalidade por doença cardiovascular é maior em mortalidade geral por eventos cardiovasculares [3].
pessoas com diabetes mellitus [1,2,3]. Devido a este fato, A obtenção do índice de Framingham, que pode ser
as recomendações atuais são para que os diabéticos sejam facilmente calculado, baseado nos dados obtidos junto
estratificados na mesma categoria reservada para ao paciente, tem sido validada em estudos
indivíduos portadores de doença cardiovascular fundamentados em amostras populacionais nas últimas
Tabela II - Características dos pacientes diabéticos em 2 décadas [4,8]. Ele permite o cálculo do risco de
Prevenção Secundária. eventos cardiovasculares futuros e facilita a
identificação dos fatores de risco para sua mudança.
Prevenção primária O risco baseado no índice de Framingham varia com
N º Pacientes 112 (16,4%) a idade, sexo e fatores de risco, mas é sempre 40%
Idade (anos) 60 ± 10 mais alto em diabéticos quando comparado às pessoas
IMC (kg/m2) 31 ± 6,2 sem esta patologia.
PAS (mmHg) 144 ± 27,8 O conhecimento destes dados, obtidos na pré-
PAD (mmHg) 84,7 ± 14,6 consulta de enfermagem, permite ao médico, já na sua
HDL (mg/dl) 39 ± 11,1 primeira consulta, instituir a conduta necessária para
LDL (mg/dl) 114 ± 44 a redução dos fatores de risco.
TG (mg/dl) 250 ± 145
Tabagismo (%) 15,1
428 Pavin AE et al / Diabetes Clínica 06 (2002) 425~428

Gráfico I - Prevenção secundária (valores em %) Referências

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obtidos pela enfermagem antes da consulta, facilita o glucose control with sulphonylureas or insulin compared with
conventional treatment and risk of complications in patients with
reconhecimento e a estratificação quanto ao risco ECV, type 2 diabetes (UKPDS 33). Lancet 1988;352:837-853.
fornecendo ferramentas mais adequadas para a condução 8. Mahoney L, Trudy L, Stanford W, ThompsonBH, Lauer RM.
do grande desafio, que é a prevenção do evento Usefulness of the Framingham Risk Score and Body Mass Index
cardiovascular no diabético. to predict early Coronary artery calcium in young adults
(Muscatine Study). American Journal of Cardiology
2001;88(5):509-515.
Burgos MGPA et al / Diabetes Clínica 06 (2002) 429~434
Diabetes 429

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 06 (2002) 429~434

ARTIGO ORIGINAL

Terapia nutricional enteral (TNE) em pacientes diabéticos


de um hospital universitário no nordeste do Brasil
Enteral nutrition therapy on diabetic patients from
an university hospital in the northeast of Brazil

Maria Goretti Pessoa de A. Burgos*, Geise Maria Silva Belo**, Silvia Alves da Silva ***,
Ana Cristina de Freitas e Silva***

*Nutricionista, especialista em Nutrição Parenteral e Enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral-SBNPE, Doutoranda em Bases
Experimentais da Nutrição, Nutricionista do Ambulatório de Nutrição em Diabetes do Hospital das Clínicas (HC), Departamento de Nutrição/Universidade
Federal de Pernambuco (DN/UFPE), **Nutricionista, especialista em Nutrição Clínica, mestranda em Bases Experimentais da Nutrição, Departamento de
Nutrição/Universidade Federal de Pernambuco (DN/UFPE), Nutricionista do Hospital da Restauração de Pernambuco,
***Acadêmicas do Curso de Graduação em Nutrição, Estagiárias do Ambulatório de Nutrição em Diabetes, Departamento de Nutrição/Universidade
Federal de Pernambuco (DN/UFPE)

Resumo
O objetivo do estudo foi traçar o perfil da TNE em diabéticos internados em hospital universitário. Trata-se de estudo retrospectivo, através de
coleta de dados em prontuários e protocolos do Serviço de Nutrição. A amostra foi constituída de 130 pacientes, >60 anos, com predominância
do sexo masculino. Dentre as patologias associadas ao diabetes, as neoplasias foram as mais prevalentes (17%). O tipo de dieta mais administrada
foi a industrializada reconstituída (64%), caracterizada como hipoglicídica, hiperprotéica, normolipídica, contendo fibras, com valor calórico
variando entre 1000-2000 kcal, proteínas entre 41-60g e volume por horário de 200ml. O período médio de TNE foi de 7 dias, com 22% de
óbitos pela doença de base, sendo mais utilizada na UTI (32%) e cirurgia geral (17%). A utilização da TNE em diabéticos foi de curto prazo,
com utilização predominante de dietas industrializadas reconstituídas, dentro das recomendações atuais da ADA 2000, conseguindo bons
resultados clínicos.

Palavras-chave: Diabetes, nutrição enteral, dietoterapia.

Artigo recebido em 20 de julho, aprovado em 15 de agosto de 2002.

Endereço para correspondência: Profa Maria Goretti P. de A. Burgos, Av. Domingos Ferreira, 3121/101 Boa Viagem 51020-031 Recife PE,
Tel/Fax: (81) 33269228, E-mail: gburgos@hotlink.com.br
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Abstract
The aim of the study was to trace de profile of enteral nutrition therapy when applied to diabetic patients interned at the university hospital. The
study was carried out in retrospect and the data collected from dossiers and protocols of the Nutrition Department. The sample was of 130
patients, mainly male and over 60 years old. Amongst the most common pathologies associated to diabetes the most prevalent was cancers
(17%). The kind of diet most frequently administered was ou industrialized reconstituted (64%), characterized as low carbohydrate, high
protein, normal fat, containing fiber, with caloric levels of about 1000-2000 kcal, protein levels of around 41-60g and volume of around 200ml.
The average period of the enteral therapy was of 7 days for each patient, with 22% of deaths from the original disease, being that it was mainly
used at the Intensive Unit Care (32%) and General Surgery Unit (17%). The use of the enteral therapy in diabetic patients was short term and
predominantly it was used industrialized reconstituted diet, following up to date recommendations for diabetic patients (ADA, 2000), with
positive clinical results.

Key-words: Diabetes, enteral nutrition, diet therapy.

Introdução metabólico adequado [5], prevenindo ou retardando as


complicações da doença [6,3]. É um composto líquido,
O diabetes mellitus é uma das mais freqüentes balanceado em proteínas, carboidratos, gorduras,
síndromes metabólicas encontrada em nossos hospitais vitaminas, oligoelementos e micronutrientes,
[1]; possui etiologia múltipla, decorrente da falta de administrada através de sondas orogástricas (recém
insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer nascidos), nasogástricas, enterais e estomias (Vigilância
adequadamente seus efeitos. Caracteriza-se por Sanitária, portaria 165 de 12/10/1988).
hiperglicemia crônica com distúrbios do metabolismo Visando alcançar os objetivos estabelecidos pela
dos carboidratos, proteínas e lipídeos [2]. American Diabetes Association (ADA), a TNE ajuda a
Esta síndrome é hoje um dos maiores problemas de manter a glicemia em níveis normais ou próximos do
saúde pública do Brasil devido à sua freqüência, normal, favorece a ingestão calórica adequada, para
atingindo mais de 5 milhões de pessoas em todo o país, manter ou alcançar o peso desejável e atingir níveis
com prevalência similar entre os sexos e lembrando que ótimos de lipídeos plasmáticos, reduzindo os riscos
a metade dos portadores desconhece a doença; está cardiovasculares e complicações agudas e crônicas do
associada a complicações que comprometem a diabetes [7].
produtividade, qualidade de vida e sobrevida de seus As recomendações nutricionais atuais da ADA para a
portadores, além de envolver altos custos no seu terapia nutricional oral também podem ser empregadas
tratamento e das suas complicações. O diabetes mellitus em TNE, estabelecendo que a quantidade de proteína da
contribui para o aumento considerável da morbidade e dieta deve estar entre 10-20% das calorias totais, e os
mortalidade, que podem ser reduzidos com diagnóstico 80-90% restantes sejam distribuídos entre carboidratos
e tratamento precoces [2,3]. e lipídeos para completar as necessidades energéticas,
Estima-se que um quarto ou mais dos pacientes sendo <10% das calorias provenientes de gordura
críticos tem, provavelmente, intolerância aos carboidratos saturada, <10% de gorduras polinsaturadas e as 60-70%
ou a própria diabetes, podendo ser pré-existente ou das calorias remanescentes, devam ser de ácidos graxos
secundária ao stress da doença [4]. A literatura aponta a monoinsaturados (MUFA) e carboidratos. Propiciando
doença como a 6o causa mais comum de internações que a dieta seja individualizada de acordo com o perfil
hospitalares, 4o causa de morte no mundo, contribuindo lipídico, peso e normalização da glicemia.
de forma significativa para o risco de doenças Metas importantes da terapia nutricional do diabético
cardiovasculares, colecistopatias, acidente vascular hospitalizado são: evitar os extremos de hipoglicemia e
cerebral e hipertensão arterial, além de ser a principal hiperglicemia ou glicosúria, promover o balanço
causa de amputações de membros inferiores e cegueira nitrogenado positivo, otimizar o controle do diabetes e
adquirida [2]. Os pacientes diabéticos estão mais manter a glicemia entre 120-200mg [8,9]. A nutrição
vulneráveis a adquirir infecções, especialmente nos casos enteral é tratamento de primeira escolha para os
de descompensação da doença [3]. diabéticos que necessitam de algum tipo de terapia
A nutrição enteral é uma terapia fundamental na nutricional; é recomendada em relação à parenteral por
assistência hospitalar para se obter e manter o estado ter um menor custo, ausência de risco de complicações
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com cateter, menor chance de hiperglicemia, além de A amostra foi constituída de 130 pacientes diabéticos
ser mais fisiológica e favorecer o trofismo intestinal [10]. tipo 2 internados no HC/UFPE, correspondendo a 22%
Uma atenção deve ser dada a seleção de macronutrientes dos pacientas hospitalizados em uso de TNE no período,
administrados, visando otimizar a glicose sanguínea e o com idade superior a 60 anos, sendo 53% dos pacientes
perfil lipídico [11]. do sexo masculino.
O consenso entre a ADA e a Associação Européia As patologias associadas ao diabetes mais prevalentes
para Estudo do Diabetes (EASD), é que as dietas enterais foram as neoplasias (17%), a insuficiência renal (15%)
devem conter maior conteúdo de MUFA e fibras solúveis e as doenças neurológicas (9%), ilustradas na Tabela I.
para o controle da glicemia, com menor proporção de Porém, o maior percentual de pacientes não apresentou
ácidos graxo saturados e polinsaturados e moderação dos outras patologias associadas.
carboidratos, visando melhorar o perfil lipídico e reduzir O percentual das dietas enterais administradas durante
o uso de drogas [12,13]. Dentre as fórmulas disponíveis todo o período do estudo está ilustrado na figura I. Assim,
comercialmente, encontramos fibras de várias fontes, percebemos que as dietas padronizadas reconstituídas
sendo as mais indicadas a goma-guar, os corresponderam a 64%, dietas mistas (módulos +
frutooligossacarídeos e a pectina ou a mistura destas. O produtos de proteínas lácteas) corresponderam a 25% e
polissacarídeo de soja também é muito encontrado em as dietas modulares a 11%.
formulações enterais, embora o seu percentual de fibras
insolúveis seja elevado, com Hemicelulose entre 30-59% Fig. 1- Tipos de dietas administradas aos pacientes
e Celulose entre 10-16% [14]. diabéticos do HC/UFPE, quanto a composição de
Em diabéticos existem alterações qualitativas e nutrientes.
quantitativas no metabolismo dos lipídeos, que
contribuem para doenças cardíacas isquêmicas. Os
MUFA podem influenciar de forma benéfica o fator de
risco cardiovascular, podendo substituir as gorduras
saturadas, em detrimento aos ácidos graxos
polinsaturados e carboidratos [15].

Metodologia

O estudo foi de caráter retrospectivo, realizado através


de coleta de dados em prontuários dos pacientes e protocolos
do Serviço de Nutrição do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Pernambuco – HC/UFPE,
realizado durante o período de janeiro a dezembro de 2001. O valor calórico destas dietas está ilustrado na figura
Foram analisadas as dietas enterais utilizadas pelos pacientes 2, com maior número de dietas entre 1000-2000 kcal/
diabéticos, suas características em relação à composição dia em 51%. O teor de proteínas totais ficou entre 41-
de nutrientes, tipo de dietas administradas, total calórico- 60g em 30% das dietas, com uso de quantidades menores
protéico, via de administração, período médio de utilização em casos de insuficiência renal (figura 3).
da TNE e as clínicas que mais a utilizaram.

Tabela I – Patologias associadas ao diabetes nos pacientes estudados. Fig. 2 - Total calórico das dietas administradas aos
Amputações de membros inferiores 3 2% pacientes diabéticos do HC/UFPE.
Insuficiência cardio-respiratória 3 2%
Hipertensão arterial sistêmica 3 2%
SIDA 3 2%
Transplante renal 5 4%
Insuficiência cardíaca 5 4%
Doença inflamatória intestinal 8 6%
Doença pulmonar obstrutiva crônica 9 7%
Doença hepática crônica 9 7%
Doenças neurológicas 12 10%
Insuficiência renal 21 16%
Neoplasias 22 17%
Sem patologia associada 27 21%
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Fig. 3 - Total de proteínas das dietas administradas aos Tabela II – Clínicas que administraram a TNE aos pacientes
diabéticos do HC/UFPE. diabéticos do HC/UFPE.
Ortopedia 4 3%
Neurologia 4 3%
Traumatologia 6 4,5%
Doenças infecciosas e parasitárias 6 4,5%
Nefrologia 6 4,5%
Clínica médica especializada 8 6,5%
Cirurgia vascular 14 11%
Clínica médica não especializada 21 16%
Cirurgia geral 22 17%
UTI 39 30%

e hemorragia digestiva alta [16]. As intervenções


nutricionais também estão na dependência do estado
O volume por horário mais utilizado foi de 200ml, nutricional [17], principalmente relacionada com a perda
com administração em 7 fases (figura 4). de peso recente. A tabela 3 ilustra as indicações de TNE
As características das dietas utilizadas foram fórmulas em diabéticos hospitalizados.
do tipo padrão, hipercalóricas, hipoglicídicas,
hiperprotéicas, normolipídicas, isentas de sacarose, com Tabela III – Indicações para utilização de TNE em diabéticos.
maltodextrina, contendo fibras (50% solúveis e 50% Perda de peso recente Stress Intervenção
insolúveis) e distribuição normal de macronutrientes <10% Pequeno a Fluidos e
frente ao VCT. O período médio de suporte nutricional moderado eletrólitos
enteral foi de 7 dias (2-14 dias) por paciente, com 22% por 7-10 dias
de óbitos decorrentes da patologia de base. As clínicas
que mais administraram a TNE foram a UTI (32%) e a 10-20% Moderado Fluidos, eletrólitos
cirurgia geral (17%) - tabela II, sendo a via de a severo e Nutrição
administração nasogástrica a mais prevalente em 91% (Trauma, Injúria Enteral (NE)
dos casos. cefálica, queimaduras
severa ou sepse)
Fig. 4 - Volume das dietas enterais administradas aos
pacientes diabéticos do HC/UFPE.
>20% Todos os tipos TNE

A nossa pesquisa observou que as dietas


industrializadas padrão reconstituídas, foram as mais
utilizadas no tratamento dos pacientes diabéticos em
TNE. Estas dietas poliméricas, com proteínas integrais
favorecem o esvaziamento gástrico, o que é benéfico
nestes casos, devido às alterações gastrointestinais que
estes estão sujeitos, em cerca de 30-70% dos casos. As
alterações mais freqüentes são a gastroparesia, obstipação
Discussão intestinal e diarréia [10].
Estudos têm mostrado vantagens no uso de dietas
Estudos comprovam que a indicação de nutrição enterais específicas para diabéticos. Fórmulas
enteral em pacientes diabéticos é similar a pacientes não especializadas, com elevado teor de fibras, podem
diabéticos, ou seja, aqueles com trato gastrointestinal melhorar o controle glicêmico e não acarretam risco ao
funcionante, que não querem, não podem ou não devem metabolismo das lipoproteínas [18,19,20,21]. Embora o
ser alimentados por via oral. Em relação às contra aumento da viscosidade possa limitar a sua utilização
indicações, também são as mesmas de indivíduos não por sonda [22]. A recomendação da ADA para o uso de
diabéticos, como íleo adinâmico, obstruções intestinais fibras é em torno de 20-35g dia. As fibras solúveis
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influenciam no valor do índice glicêmico da fórmula aceitação das dietas enterais foi boa, com um período
dietética, evitando ou minimizando os picos médio de administração de 7 dias, conseguindo bons
hiperglicêmicos pós-prandiais e colaborando, desta resultados clínicos e reduzindo o tempo de permanência
forma, para o controle da glicemia [10]. Levando-se em hospitalar e o custo leito/dia.
consideração, que teores acima destes, poderão reduzir
a biodisponibilidade de nutrientes, tais como magnésio,
cálcio, ferro e zinco [14]. Conclusão
As dietas mais administradas, foram as
normocalóricas de 1000-2000 kcal/dia com teor protéico A utilização da TNE nos diabéticos estudados foi de
entre 41-60g e percentual lipídico em torno de 30% das curto prazo, com utilização predominante de dietas
calorias diárias totais. Entretanto, alguns autores industrializadas completas, dentro das recomendações
consideram que o controle metabólico será melhor com atuais da ADA, contribuindo, assim, para uma rápida
um percentual lipídico maior, com maior teor de ácidos recuperação e alta hospitalar.
graxos monoinsaturados e uma maior restrição de O sucesso da terapia nutricional enteral vai depender
carboidratos [4,13]. da situação catabólica do paciente, das condições
Estudos realizados com diabéticos utilizando metabólicas e das reservas disponíveis. Cabe ao
dietas enterais especiais, contendo 50% do total calórico nutricionista, o conhecimento fundamentado de cada
na forma de gorduras, principalmente ácidos graxos formulação enteral disponível para selecionar
monoinsaturados e alto teor de fibra, apresentaram adequadamente a melhor dieta para o seu paciente.
resultados de resposta glicêmica e insulinêmica menores
que com dietas ricas em proteínas [19,23]. Por outro lado,
outros pesquisadores referiram efeitos similares entre Referências
dietas ricas em lipídeos e as de formulação padrão [24].
Observando-se que o uso de dietas ricas em gorduras 1. Sanz París A Diabetes and nutrition. Nutr Hosp 2000;15(1):58-
para pacientes com gastroparesia, podem piorar os 68.
2. Sociedade Brasileira de Diabetes. Consenso brasileiro sobre
sintomas [25]. diabetes: diagnóstico e classificação do diabetes mellitus e
Em relação ao tipo de sondas, as nasogástricas foram tratamento do diabetes mellitus tipo 2, 2002, http://
as mais prevalentes, o que possibilitou o uso de volumes www.diabetes.org.br/consenso/index.html.
maiores de dietas por horário de administração (200 a 3. Frans MJ. Terapia clínica nutricional no diabetes melito e
300ml), maior liberdade na escolha dos nutrientes e hipoglicemia de origem não diabética. In: Mahan LK, Escott-
stump S. Krause: Alimentos, nutrição e dietoterapia. 10o ed. São
utilização de módulos de nutrientes, para atingir as Paulo: Roca 2002:718-53.
necessidades de alguns pacientes específicos. Sendo 4. Wright J. Total parenteral nutrition and enteral nutrition in
importante salientar, que a osmolaridade das dietas foi diabetes. Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2000;3(1):5-10.
minimizada através da redução da velocidade de 5. Viggiano CE. Novas abordagens de terapias nutricionais em DM
gotejamento em nível entérico. A utilização de bomba 2001, http://www.bdbomdia.com/ed_63/artigo_01.html
6. Lewis G. Advances in the study of lipids and diabetes 1999,
de infusão para a provisão contínua de nutrientes em http://www.diabetes.org/am99/AbstractSearch.asp
sondas nasoenterais, é recomendada como forma de 7. American Diabetes Association. Nutrition recommendations and
evitar os picos hiperglicêmicos [26]. No entanto, no principles for people with diabetes mellitus. Diabetes Care
grupo estudado, a única forma de administração das 2000;23(1):43-46
dietas foi o gravitacional intermitente, para as sondas 8. MacMahon MM, Rizza RA. Nutrtion support in hospitalized with
diabetes mellitus. Mayo Clin Proc 1996;71(6):589-94.
nasogástricas, nasoenterais e gastrostomias, não sendo 9. MacMahon MM, Hurley DL. Enteral nutrition and diabetes
observado intercorrências devido a este método de mellitus. In: Rombeau JL. Clinical nutrition, enteral and tube
administração. Fato explicado, provavelmente, pelo feeding. 3nd ed. Philadelphia: WB Saunders Company 1997:461-
pequeno número de pacientes fazendo uso de sonda em 75.
posição entérica, sendo a mesma utilizada apenas em 10. Silva MLT, Borges VC, Waitzberg DL. Insuficiência pancreática:
Diabetes Mellitus. In: Nutrição oral, enteral e parenteral na prática
casos especiais, como tumor gástrico, cirurgias do clínica. 3o ed. São Paulo, Editora Atheneu 2000:1229-41.
pâncreas e estômago, além de gastroparesia diabética 11. Coulston AM. Enteral nutrition in the patients with diabetes
[25,27]. mellitus. Curr Opin Clin Metab Care 2000;3(1):11-5.
A maior parte dos pacientes do estudo apresentavam 12. Borges DC, Dudha A. The dietian‘s perpective: nutrition care
patologias diversas associadas ao diabetes mellitus, que for patients with diabetes requiring support. Clinical Nutrition
1998;17(2):57-59.
necessitavam de condutas específicas quanto a proporção 13. Furst P. Consensus statment. Clinical Nutrition 1998;17(2):63-
e qualidade dos nutrientes [28]. Durante toda a pesquisa, 65.
a dietoterapia foi realizada por profissional especializado, 14. Taper LJ, Milan RS, McCallister MS, Baven PE, Thye FW.
sendo cada paciente avaliado de forma individualizada, Mineral retention in young men cosuming soy-fiber-augmented
para se obter o melhor resultado em menor tempo. A liquid -formula diets. Am J Clin Nutr 1988;48:305-11.
434 Burgos MGPA et al / Diabetes Clínica 06 (2002) 429~434

15. Sanz París A, Gamboa RA, Uson JP, Celaya Péres S. New dietetic enteral formula in patients with type 1 diabetes. Am J Med
recommendations in diabetes mellitus: the implications in enteral 1989;87(2)178-82.
nutrition. Nutr Hosp 1995;10(3):143-51. 22. Coulston AM. Clinical experience with modified enteral formulas
16. Block AS, Charles M. Suporte nutricional enteral e parenteral. for patients with diabetes. Clinical Nutrition 1998;17(2):46-56.
In: Mahan LK, Escott-stump S. Krause: Alimentos, nutrição e 23. Celaya S, Sanz A, Homs C, Luque P, de la Ordem P, Civeira E,
dietoterapia. 10o ed. São Paulo: Roca 2002:448-65. Elosegui L. Experience with an enteral diet with fiber and a hight
17. MacMahon MM, Rizza RA. Diabetes mellitus. In: Zaloga GP. fat content in ICU patients with glucose intolerance. Nutr Hosp
Nutrition in critical care. St. Louis: Mosby 1994:801-29. 1992;7(4):260-69.
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after simulated tube feeding with a low-carbohydrate, hight-fat
Damasceno DC et al / Diabetes Clínica 06 (2002) 435~439
Diabetes 435

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 06 (2002) 435~439

ARTIGO ORIGINAL

Avaliação do efeito hipoglicemiante de Bauhinia forficata


no diabetes experimental
Evaluation of the hypoglycemic activity of Bauhinia forficata
on experimental diabetes

Débora Cristina Damasceno*, Gustavo Tadeu Volpato**, Marilza Vieira Cunha Rudge**
Ana Luisa Marques Traballi***, Cynthia Falbo da Silva***, Marisa de Oliveira***, Iracema de Mattos
Paranhos Calderon****

*Professora e Chefe da Disciplina de Embriologia Humana, Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA), Marília SP, Laboratório Experimental de
Obstetrícia, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, **Laboratório Experimental de Obstetrícia,
Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, *** Acadêmico do Curso de Medicina, Faculdade de Medicina de
Marília (FAMEMA), Marília, SP ***Professora da Disciplina de Obstetrícia, Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Medicina de
Botucatu, UNESP

Resumo
Objetivo: Investigar se o extrato alcoólico das folhas de Bauhinia forficata (Pata-de-vaca), amplamente comercializado em farmácias de
produtos naturais com finalidade hipoglicemiante, realmente apresenta este efeito quando testado em animais de laboratório.
Material e método: Ratos Wistar receberam injeção intravenosa de uma droga b-citotóxica (streptozotocin – STZ), na dose de 40mg/kg de peso
corpóreo para obter o estado diabético. Os animais foram divididos aleatoriamente em 3 grupos: diabético-controle que recebeu v.o. (gavage),
água destilada (C, n = 8); diabéticos tratados com o extrato alcoólico da planta na dose de 6,3 mL/kg (DT1, n = 9) e 12,6 ml/kg de peso corporal
(DT2, n = 8).
Resultados e conclusão: Nas doses testadas, o extrato alcoólico de B. forficata não reduziu a fome excessiva, poliúria e a hiperglicemia, mas
reduziu a polidipsia dos animais. A ausência do efeito poderia ser atribuída à qualidade duvidosa do material botânico e porque os produtos
comercializados em farmácia de produtos naturais são, geralmente, desprovidos de controle de qualidade exigidos normalmente para os produtos
farmacêuticos. Sugere-se que outros fatores possam explicar a ausência desse efeito hipoglicemiante, dentre eles o período de tratamento
insuficiente para obtenção do resultado esperado, além do fato do extrato alcoólico de B. forficata ser benéfico para tratamento do diabetes
humano tipo 2. Mais estudos farmacológicos e químicos deveriam ser realizados, para evidenciar o mecanismo responsável pelo efeito
hipoglicêmico obtido popularmente.

Palavras-chave: Diabetes mellitus, bauhinia forficata, pata-de-vaca, planta medicinal, streptozotocin, rato.

Artigo recebido em 15 de agosto, aprovado em 15 de outubro de 2002.

Endereço para correspondência: Profa. Dra. Débora Cristina Damasceno, Disciplina de Embriologia Humana, Faculdade de Medicina de Marília
(FAMEMA), Av. Monte Carmelo, 800 – 17519-030 Marília SP, E-mail: decaito@bol.com.br
436 Damasceno DC et al / Diabetes Clínica 06 (2002) 435~439

Abstract
Objective: To investigate if the alcoholic extract of the Bauhinia forficata (Paw-of-cow) leaves, widely purchased in drugstores, really present
hypoglycemic effect in rat. Material and methods: Diabetes was induced in Wistar rats using streptozotocin (40 mg/kg). Animals were randomly
divided in 3 groups: diabetic-control given orally (gavage) using distilled water (C, n = 8); diabetics treated with the alcoholic extract of the
plant in the dose of 6.3mL/kg (DT1, n = 9) and 12.6 mL/kg of corporal weight (DT2, n=8).
Results and conclusion: In the tested doses, the alcoholic B. forficata extract did not reduce the hyperfagia, polyuria and hyperglycemia, but it
reduced the polydipsia. The absence of extract effect could be attributed to the doubtful quality of the botanical material and due to unprovided
quality control of the products purchased in manipulation drugstore, which are usually demanded for the pharmaceutical products. It is suggested
that other factors may explain the absence of hypoglycemic effect, such as period of insufficient treatment to obtain of the expected result and
the fact of to be useful in the treatment of the human type 2 diabetes. Further pharmacological and chemical studies should be accomplished to
evidence the responsible mechanism by the hypoglycemic effect popularly obtained.

Key-words: Diabetes mellitus, bauhinia forficata, paw-of-cow, medicinal plant, streptozotocin, rat.

Introdução dos primeiros estudos sobre a ação hipoglicemiante de


Bauhinia forficata foi relizado em 1929 [10]. Estudo
O uso de princípios naturais, como terapia alternativa, clínico realizado com pacientes normais ou portadores
é muito difundido em países onde grande porcentagem de diabetes tipo 2, não revelou efeito hipoglicemiante
da população não tem acesso à assistência médica [1]. A das infusões preparadas com as folhas de Myrcia uniflora
automedicação com plantas medicinais chega a substituir e B. forficata [11]. Volpato et al. [12], administrando
terapias em enfermidades graves, especialmente nos extrato das folhas de Bauhinia forficata em ratas prenhes
países em desenvolvimento [2]. O alto custo dos diabéticas, não verificaram diminuição da glicemia
medicamentos para controle do diabetes, torna estes materna, mas observaram melhora na performance
produtos inacessíveis para a população dos países do reprodutiva delas. Volpato [13] demonstrou que o extrato
terceiro mundo, que busca, na medicina tradicional, a aquoso das folhas de B. forficata, reduziu alguns tipos
última oportunidade através do uso de plantas de malformações fetais em ratos expostos ao ambiente
hipoglicemiantes e antidiabéticas [3]. Diabetes mellitus diabético materno. Damasceno [14] sugeriu que esta
é uma desordem crônica que altera o metabolismo de influência positiva na redução de malformações fetais,
carboidratos, gorduras e proteínas. É caracterizada pela estaria associada à presença de substâncias no extrato
elevação crônica da glicemia de jejum e/ou pós-prandial, aquoso de B. forficata, que estimulariam o aumento da
devido ao defeito absoluto ou relativo da produção de atividade da enzima antioxidante, glutationa reduzida
insulina ou à redução de seu efeito [4]. Existem dois (GSH), que protegeria o embrião/feto, durante seu
tipos principais de diabetes (tipo 1 e 2). O diabetes tipo desenvolvimento contra o estresse oxidativo ocasionado
1 ocorre por deficiência absoluta de insulina. É pela hiperglicemia.
caracterizado por três sinais: polifagia (fome excessiva), Devido ao uso indiscriminado de extratos de plantas
polidipsia (sede excessiva) e poliúria (micção excessiva). pela população, o objetivo deste trabalho foi investigar
O diabetes tipo 2 ocorre devido à discreta redução nos se o extrato alcoólico das folhas de Bauhinia forficata
níveis de insulina no sangue, por comprometimento da (pata-de-vaca), o qual é muito comercializado em
liberação de insulina, à insulino-resistência ou à redução farmácias de produtos naturais para obtenção do efeito
no número de receptores para insulina [5,6]. hipoglicemiante, realmente apresenta este efeito, quando
No Brasil, tem sido relatado que o chá das folhas de testado em ratos com diabetes induzido por
Bauhinia forficata pode amenizar o estado diabético [7]. streptozotocin.
Diversas plantas são utilizadas pela população, por
possuir atividade hipoglicêmica ou antidiabética, dentre Método
elas a pata-de-vaca [7,8], pertencente à família
Leguminoseae. Até o presente momento, não se tem idéia Protocolo: A seqüência experimental foi dividida em
do tipo de princípio ativo responsável pela ação 3 períodos: de adaptação, diabetogênese e de tratamento,
farmacológica das espécies de Bauhinia. Admite-se que modificada do modelo experimental de Calderon [15],
B. forficata é constituída genericamente por alcalóides, para estudo do binômio diabetes e prenhez em ratas.
flavonóides, mucilagem, óleo essencial e tanino [9]. Um Durante o período de adaptação, ratos Wistar (em torno
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de 250g) permaneceram no Laboratório Experimental Grupos experimentais: Os animais foram tratados


de Embriologia da Faculdade de Medicina de Marília - diariamente por via oral (gavage) e foram distribuídos
FAMEMA, durante 7 dias, em gaiolas de polietileno, aleatoriamente em 3 grupos experimentais: Diabético
forradas com maravalha, com capacidade máxima de 5 Controle (DC, n=8), ratos diabéticos que receberam água
animais, sob condições controladas (21° ± 4°C, destilada com volume similar aos grupos tratados com
fotoperíodo de 12 horas). Água e ração foram oferecidas extrato alcoólico da planta; Diabético Tratado 1 (DT1,
“ad libitum”. Após o período de adaptação, os ratos foram n=9): ratos diabéticos que receberam o extrato alcoólico
sorteados para compor os grupos experimentais. das folhas de B. forficata na dose de 6,3 mL/kg de peso
Após o período de adaptação, o diabetes foi induzido corporal; Diabético Tratado 2 (DT2, n=8): ratos
através de injeção intravenosa - veia da cauda de diabéticos que receberam o extrato alcoólico das folhas
streptozotocin (SIGMA Chemical Company, St. Louis, de B. forficata na dose de 12,6 mL/kg de peso corporal.
MO) - diluída em tampão citrato (0,01M), pH 6,0, na Análise Estatística: Para comparação entre os
dose de 40 mg/kg de peso corpóreo [15]. A observação consumos de água e de ração, bem como do peso do
de ingestão excessiva de água (polidipsia) e de ração corpo dos animais, foi utilizada a Análise de Variância,
(polifagia), associada à perda ou manutenção do peso, seguido do teste estatístico de Tukey [18]. Foi
alterações no comportamento e aspecto dos animais, considerado como nível de significância estatística, o
como irritabilidade, dor à manipulação, turgor diminuído limite de 5% (p<0,05).
da pele e pêlos eriçados, foram interpretados como
indícios de hiperglicemia, desde o primeiro até o 8° dia Resultados
após a injeção da droga. O aumento no grau de umidade
da forração das gaiolas, acompanhado de odor “orgânico” O peso médio dos ratos diabéticos, tratados com o
doce acentuado, que traduz excesso de diurese dos extrato alcoólico de B. forficata, não apresentou diferença
animais, também foram parâmetros indicativos de estatística (p>0,05) ao longo do experimento em relação
hiperglicemia, mimetizando o estado de diabetes mellitus ao grupo diabético controle (fig. 1A). Os animais
tipo 1 [15]. diabéticos induzidos pela droga beta-citotóxica (STZ),
Além da presença dos dados clínicos acima descritos, apresentaram elevado nível de glicose sangüínea,
foi determinada a glicemia, colhendo-se uma gota de independente do tratamento com o extrato. Não houve
sangue por punção com agulha na parte distal da cauda interferência do tratamento com o extrato no controle
do rato. Quando os níveis glicêmicos foram iguais ou glicêmico dos ratos portadoras de diabete (fig. 1B).
superiores a 200 mg/dl, iniciou-se o período de Os ratos dos grupos DT1 e DT2, consumiram
tratamento [13,14,15,16]. Após o período de quantidades semelhantes de ração comparadas ao grupo
diabetogênese, os animais foram distribuídos controle (fig. 1C). Os animais do grupo DT2 tiveram
aleatoriamente em gaiolas individuais, para compor os redução do consumo de água, a partir do 8º dia de
grupos experimentais e iniciou-se a fase de tratamento tratamento, quando comparado com os outros grupos
com duração máxima de 13 dias. experimentais (fig. 1D).
O extrato alcoólico das folhas de Bauhinia forficata
foi adquirido em farmácia de manipulação, na cidade de Discussão
Marília (SP), Brasil. As doses utilizadas para o tratamento,
foram de 5 a 10 vezes maiores que a prescrita no O diabetes mellitus tipo 1, ocorre pela falta ou não
medicamento para a população, tendo em vista que existe de produção de insulina pelas células β pancreáticas,
relato de que os ratos, geralmente, apresentam maior sendo que os sintomas apresentados pelos pacientes/
resistência aos agentes químicos que o homem [17]. animais, em geral, são mais abruptos. O diabete tipo 1
Para avaliação indireta da toxicidade, os ratos foram pode estar relacionado a um fator genético específico,
pesados em dias alternados, para controle de ganho de incluindo uma condição imunológica que envolve
peso e observados quanto ao comportamento, ingestão antígenos. A insulina, por si só, pode apresentar
hídrica e de ração. Nas manhãs do 0, 7o e 14o dia do propriedades antigênicas e estimular a liberação de
experimento, os níveis de glicemia foram monitorados por anticorpos que, por sua vez, podem tornar a insulina
leitura de glicofita (Blood Glucose Monitoring Teste Strips menos eficiente [19]. É uma síndrome de enorme
Ultra + HDI Home Diagnostics, Inc., Flórida), contendo importância, pois afeta cerca de 7% da população
sangue obtido por punção da parte distal da cauda do rato. mundial. No Brasil, existem mais de 5 milhões de
Esta fita foi introduzida em glicosímetro específico (Blood portadores de diabetes, dos quais metade desconhece o
Glucose Monitoring Meter Ultra +), expressando os diagnóstico. A doença acomete igualmente homens e
valores da glicemia em miligramas por decilitro (mg/dL). mulheres, aumentando de modo considerável em
No 14º dia, os ratos foram mortos, através de relação à idade, semelhante a dos países desenvolvidos
aprofundamento do plano anestésico. [20].
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O uso de plantas para o tratamento do diabetes tem que acarreta como conseqüência o aparecimento do
sido largamente relatado pela medicina popular, mas estado diabético, característico ao diabetes tipo 1 [21].
alguns de seus efeitos benéficos não têm sido Outra hipótese seria que o período de tratamento (13
confirmados em animais de laboratório. No modelo dias), tenha sido insuficiente para causar alterações
experimental desenvolvido, as 2 doses do extrato metabólicas importantes ou para amenizar as
alcoólico de B. forficata, obtido comercialmente, não complicações ocasionadas pelo estado diabético.
apresentaram efeito hipoglicemiante. O tratamento com A validade das propriedades farmacológicas dos
o extrato da planta não controlou a fome e a micção extratos vegetais, depende estritamente das informações
excessivas dos animais. Apesar dos animais tratados com detalhadas e precisas sobre o material botânico
a maior dose, apresentarem diminuição no consumo de (identificação da espécie, lugar e época de coleta,
água, após o 8o dia de tratamento. A avaliação ponderal armazenamento e outros fatores). Estas informações,
dos ratos, foi utilizada como parâmetro indireto para geralmente, são omitidas no caso de material botânico
avaliação da toxicidade do extrato. Os ratos, comercializado, tornando os produtos desprovidos de
independente do tratamento, não apresentaram perda de controle de qualidade, normalmente exigido para os
peso corpóreo, sugerindo que o extrato não ocasionou produtos farmacêuticos [22].
toxicidade. Esses resultados negativos corroboram com O segundo aspecto refere-se à forma de preparação
os obtidos por nossa equipe, quando o extrato aquoso dos extratos. Inúmeros fatores físico-químicos, como
das folhas de Bauhinia forficata foi testado em ratas solubilidade, tipo de solvente, pH do meio, temperatura,
prenhes [12,13,14]. É possível que um dos fatores para luz e outros, podem influenciar muito as propriedades
explicar a ausência do efeito hipoglicêmico neste químicas e farmacológicas dos princípios ativos,
trabalho, esteja relacionado ao fato do extrato alcoólico presentes nos extratos vegetais, causando a perda destes
de B. forficata ser benéfico no tratamento do diabetes princípios [23].
humano tipo 2. Visto que o streptozotocin (STZ) é uma O terceiro aspecto refere-se à quantidade utilizada. A
droga beta (β)-citotóxica, utilizada experimentalmente, falta de efeitos poderia ser, também, devido à baixa

Fig. 1 - Peso corporal (A), glicemia (B), consumo de ração (C) e consumo de água (D) dos animais diabéticos-controle
(DC), diabéticos tratados com extrato alcoólico das folhas de Bauhinia forficata nas doses de 6,3 ml/kg (DT1) e 12,6 ml/
kg de peso corporal (DT2) (* p<0.05).
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concentração dos princípios ativos presentes no extrato 7. Corrêa MP. Dicionário de Plantas Úteis do Brasil. Ministério da
comercializado. Agricultura. IBDF 1984:375-378.
8. Almeida ER. Plantas Medicinais Brasileiras, Conhecimentos
Em função de todos os fatores envolvidos, os efeitos Populares e Científicos. São Paulo. Editora Hemus Ltda 1993.
biológicos produzidos por uma mesma espécie vegetal 9. Oliveira F, Saito ML. Alguns vegetais brasileiros empregados
podem ser diferentes, mostrando que somente a no tratamento da diabetes. Rev Bras Farmacogn 1986;1:58-68.
identificação botânica, não é suficiente para garantir a 10. Juliane C. Ação hipoglicemiante de unha-de-vaca. Rev Med
atividade medicinal de uma planta. A indicação do uso Pharm Chim Phys 1929;2:165-9.
11. Russo EMK, Reichelt AAJ, De-Sá JR. Clinical trial of Myrcia
de plantas medicinais para o tratamento do diabetes ou uniflora and Bauhinia forficata leaf extracts in normal and diabetic
outras patologias, não é para substituir produtos sintéticos patients. Braz J Med Biol Res 1990;23:11-20.
já registrados e comercializados. Seria um caminho para 12. Volpato GT, Damasceno DC, Calderon IMP, Rudge MVC. Estudo
aumentar a opção terapêutica, a fim de oferecer do extrato de Bauhinia forficata L. sobre o diabete em ratas
medicamentos equivalentes, talvez mais acessíveis, prenhes. Rev Bras Pl Med 1999;2:49-55.
13. Volpato GT. Repercussões maternas, reprodutivas e perinatais
visando ampliar sua ação, sempre obedecendo os do tratamento com o extrato aquoso de folhas de Bauhinia
preceitos éticos, que regem o emprego de substâncias forficata (pata-de-vaca) na prenhez de ratas não-diabéticas e
químicas na espécie humana [2]. diabéticas (Dissertação - Mestrado em Obstetrícia). Botucatu:
Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista – Unesp
Conclusão 2001:85.
14. Damasceno DC. Tratamento de ratas diabéticas prenhes com
extrato aquoso de Bauhinia forficata (pata-de-vaca):
O extrato alcoólico das folhas de B. forficata, obtido Repercussões materno-fetais (Tese – Doutorado em Obstetrícia).
comercialmente em farmácia de produtos naturais, não Botucatu: Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista
apresentou efeito hipoglicemiante nos ratos com diabetes – Unesp 2000:97.
induzido por streptozotocin, nas doses testadas. Porém 15. Calderon IMP. Modelo experimental em ratas para estudo do
binômio diabetes e gravidez. (Dissertação - Mestrado em Bases
diminuiu o consumo de água, sugerindo que a planta Gerais da Cirurgia Experimental). Botucatu: Faculdade de
talvez possa reduzir a sede excessiva. Portanto, é possível Medicina, Universidade Estadual Paulista – Unesp 1988:124.
que alguns tratamentos tradicionais para diabetes, possam 16. Damasceno DC, Volpato GT, Calderon IMP, Rudge MVC.
criar uma sensação de bem-estar sem, necessariamente, Oxidative stress and diabetes in pregnant rats. Anim Reprod Sci
reduzir a hiperglicemia. Sugere-se que diversos fatores 2002:235-44.
17. Lemonica IP, Embriofetotoxicidade. In: Oga S. Fundamentos de
possam explicar a ausência do efeito hipoglicemiante, Toxicologia. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan 1996:89-94.
dentre eles o período de tratamento insuficiente para 18. Berquó ES, Souza JMP, Gotlick SLD. Bioestatística. São Paulo:
obtenção do resultado esperado e o fato do extrato Editora Pedagógica Universitária 1981.
alcoólico de B. forficata ser benéfico no tratamento do 19. Krall PL. Manual do Diabete de Jolin. São Paulo. Livraria Roca
diabetes mellitus humano tipo 2. Mais estudos 1983:2-108.
20. Sociedade Brasileira de Diabetes. Consenso brasileiro de
farmacológicos e químicos devem ser realizados, para conceitos e condutas para o Diabetes mellitus. São Paulo:
evidenciar o mecanismo responsável pelo efeito Sociedade Brasileira de Diabetes 1995:2079-101.
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Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 06 (2002) 440~444

REVISÃO

Diabetes mellitus e doença periodontal – Revisão de literatura


Diabetes mellitus and periodontal disease – Literature review

Juliana Yuri Kawamura*, Marina H. C. Gallottini de Magalhães**

*Aluna de Mestrado da Área de Patologia Bucal da FOUSP, ** Professora Associada da Disciplina de Patologia Bucal da FOUSP
e Coordenadora do Centro de Atendimento a Pacientes Especiais da FOUSP (CAPE)

Resumo
A doença periodontal (DP) é considerada uma das complicações do diabetes mellitus. Sendo assim, diversos fatores relacionados ao diabetes
podem influenciar a progressão e agressividade da doença periodontal, tais como: tipo de diabetes, idade, duração do diabetes, controle
metabólico, microbiota periodontal, alterações vasculares, alteração no metabolismo do colágeno, relação com HLA e resposta inflamatória. A
proposta deste trabalho foi realizar uma revisão de literatura a fim de mostrar a influência e importância do diabetes como fator modificador de
doença periodontal. Concluímos que a doença periodontal no paciente diabético é modificada pela idade, duração, controle metabólico, alterações
vasculares, alteração no metabolismo do colágeno e resposta inflamatória, sendo que o tipo de diabetes, HLA e microbiota periodontal não
parecem ter influencia significativa.

Palavras-chave: Diabetes mellitus, doença periodontal, controle metabólico, imunologia.

Abstract
Periodontal disease (PD) is considered one of the diabetes mellitus (DM) complications. So, many factors relationed to DM can influence the
progression and severity of PD, such as: type of diabetes, patient’s age, duration of diabetes, metabolic control, periodontal pathogens, vascular
changes, alteration in collagen metabolism, relation with HLA and inflammatory response. The purpose of this review was to show the
influence and importance of diabetes as modified factor of PD. We concluded that PD in diabetic patient is modified by patient’s age, duration
of diabetes, metabolic control, vascular changes, alteration in collagen metabolism and inflammatory response. However, type of diabetes,
HLA and periodontal pathogens do not have significative influence.

Key-words: Diabetes mellitus, periodontal disease, metabolic control, imunology

Artigo recebido em 20 de setembro; aprovado em 15 de outubro de 2002.

Endereço para correspondência: Juliana Yuri Kawamura, Rua Domingos Ricci, 18 apto 22, 09550-080 São Caetano do Sul SP, Tel: (11) 42212306.
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Introdução estar relacionadas com a gravidade da doença


periodontal. Abordaremos, com finalidade didática,
O diabetes mellitus (DM) é uma doença metabólica separadamente os seguintes fatores: tipo de diabetes,
crônica que tem como principal fator de risco a idade do paciente, duração do diabetes, controle
hereditariedade. Caracteriza-se por hiperglicemia [1] em metabólico, microbiota periodontal, alterações no
resposta a uma insuficiência total ou relativa de insulina, metabolismo do colágeno, relação com HLA, alterações
devido a uma baixa produção pelo pâncreas, ou por vasculares e resposta inflamatória.
carência de resposta dos tecidos periféricos a ela [2,3,4].
Classicamente, o diabetes é classificado em duas Tipo de diabetes
entidades clínicas baseadas em sua etiologia: tipo 1 ou
insulino dependente e tipo 2 ou não insulino dependente Revisando a literatura no que diz respeito à associação
[5]. Todavia, um paciente diabético tipo 2 pode, em entre diabetes mellitus e doença periodontal, pode-se
alguma fase de sua doença, necessitar de insulina exógena observar que indivíduos diabéticos, tipo 1 e 2, têm uma
para seu controle metabólico. maior prevalência de doença periodontal, quando
Conforme aumenta a duração do diabetes, uma série comparados com indivíduos não diabéticos. Dentro da
de complicações sistêmicas podem surgir. As cinco população de diabéticos tipo 1 e 2, a gengivite é uma
complicações clássicas do diabetes são: microangiopatia, manifestação bucal muito freqüente, contudo a
neuropatia, nefropatia, doenças macrovasculares e periodontite é mais comum em pacientes diabéticos tipo
demora na cicatrização de feridas [1,6,7]. A OMS incluiu, 2 [16,17,18,19].
em 1993, a doença periodontal como a sexta complicação Porém, quando a duração do diabetes é semelhante, o
clássica do diabético. tipo de diabetes parece não afetar a extensão da doença
Além da doença periodontal, diversas manifestações periodontal, ainda que o diabetes do tipo 1 desenvolva a
orais têm sido descritas nestes pacientes, tais como: doença mais cedo e mais facilmente [8,11].
xerostomia, ulcerações bucais e tumefação de glândulas
salivares. Todavia, a de maior prevalência é a doença Idade
periodontal – DP [8]. O diabetes dobra ou triplica o risco
de desenvolvimento de periodontite [3,9,10]. Comparando vários estudos que relacionam diabetes
O risco aumentado da periodontite em pacientes e doença periodontal, observa-se uma concordância entre
diabéticos está associada a múltiplos fatores, como idade os autores que há mais doença periodontal na população
do paciente, controle metabólico, tempo de duração do diabética com o aumento da idade. Com o passar dos
diabetes [10,11], à presença de placa bacteriana/cálculo anos, o efeito da idade pode passar a ser mais significante
[5,12,13]. do que o próprio diabetes [20]. Alguns autores [21,27]
O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de observaram que embora indivíduos diabéticos tenham
literatura sobre os diversos fatores relacionados, ou não, maiores índices de DP, quando comparados com
ao diabetes, que podem atuar como modificadores da indivíduos não diabéticos de mesma faixa etária, essa
doença periodontal. diferença não foi significante em pacientes com mais de
55 anos de idade, ainda que indivíduos diabéticos
Revisão da literatura apresentam periodontite mais cedo que indivíduos não
diabéticos.
A patogenia da periodontite associada ao diabetes Com relação aos indivíduos diabéticos do tipo 1, não
mellitus é multifatorial. Vários estudos têm mencionado há diferença na incidência de bolsas periodontais até os
os seguintes mecanismos para explicar a maior 34 anos, quando esses indivíduos são comparados com
suscetibilidade de indivíduos diabéticos à periodontite: indivíduos não diabéticos. Acima desta idade, contudo,
1) microangiopatia; 2) alterações no fluido crevicular pacientes diabéticos têm muito mais sextantes com bolsas
gengival; 3) alterações no metabolismo do colágeno; 4) profundas. Este fato leva a supor que por volta dos 35
alterações imunológicas; 5) alterações na microbiota anos, se inicia uma rápida destruição do periodonto, em
subgengival; 6) hereditariedade. Portanto, as alterações pacientes diabéticos [16].
nos tecidos periodontais podem diminuir a resistência
do diabético às infecções, como por exemplo à doença Duração do diabetes
periodontal, embora a presença da placa bacteriana seja
fundamental para o desencadeamento da doença O diabetes de longa duração modifica o estado clínico
periodontal, assim como ocorre em qualquer paciente dos tecidos periodontais e aumenta a perda clínica de
[1,14,15]. inserção dos ligamentos periodontais [14]. Além disso,
Assim, inúmeras variáveis, tanto locais quanto diversos autores observaram que pacientes diabéticos há
sistêmicas, presentes nos indivíduos diabéticos, podem mais de 10 anos, têm mais perda de estruturas
442 Kawamura JY et al / Diabetes Clínica 06 (2002) 440~444

periodontais do que aqueles com diabetes há menos de diabéticos. O grande problema é que a colagenase
10 anos, indicando que a duração da doença é um fator degrada a elastina e o colágeno teciduais e, portanto, leva
importante no desenvolvimento de DP [5,11,22,23,24]. o periodonto à destruição [37].
Outro fator importante é o acúmulo de AGEs
(produtos finais da glicolização avançada), que são Alterações vasculares
compostos derivados da glicose, formados em quadros
de hiperglicemia crônica, que se acumulam nos tecidos De acordo com vários autores, alterações capilares
e plasma de diabéticos, e parece afetar a migração e em arteríolas e vênulas são notadas no tecido gengival
atividade fagocitária de células mono e inflamado de pacientes diabéticos. Aumento na espessura
polimorfonucleares, resultando em estabelecimento de da membrana basal em até 4 vezes, fendas na membrana
maior quantidade de microbiota subgengival patogênica basal, inchaço do endotélio, lúmen vascular obliterado,
[12]. pobre diferenciação entre as membranas elásticas interna
e externa são alterações comumente relatadas. O grande
Controle metabólico problema é que estas alterações impedem a difusão de
oxigênio e eliminação de resíduos metabólicos,
Indivíduos inadequadamente controlados, apresentam resultando em desequilíbrio fisiológico e aumento na
maior perda de inserção e de osso alveolar do que agressividade da doença periodontal
indivíduos com diabetes bem controlado [11,25,26,28], [20,43,38,39,40,41,42].
tendo sido relatado suscetibilidade 4 vezes maior de
indivíduos diabéticos em desenvolver doença periodontal Associação com HLA
progressiva, quando comparados com indivíduos não
diabéticos [29]. Sendo assim, o estado de saúde A função do HLA, antígenos leucocitários humanos,
periodontal parece estar relacionado com o bom controle é formar complexos com peptídeos, para que os
metabólico do diabetes, indicando melhor resistência do receptores de antígenos de linfócitos T possam
tecido conjuntivo periodontal e osso alveolar, reduzindo reconhecê-los e desencadear uma resposta imunológica.
a incidência e severidade da DP [30]. Além disso, Cada indivíduo herda múltiplos genes que codificam para
pacientes com diabetes mal controlado têm níveis de proteínas HLA. Desta forma, indivíduos exibem
células plasmocitárias elevados, decréscimo na densidade diferenças na sua capacidade de resistir a doenças
de fibras colágenas, células endoteliais edemaciadas e infecciosas. Além dos alelos HLA desempenharem
proliferadas, ou seja, alterações celulares e de tecido algum papel na suscetibilidade do indivíduo a doenças
conjuntivo indicativas de catabolismo aumentado em infecciosas, como por exemplo a doença periodontal,
relação ao anabolismo [31]. vários distúrbios imunológicos, como o diabetes mellitus
do tipo 1, ocorrem com freqüência significativamente
Microbiota periodontal maior entre pessoas que possuem alelos HLA
particulares, do que em indivíduos que não exibem estes
Analisando os trabalhos que estudaram a microbiota alelos [44]. Todavia, estudos que examinaram a
periodontal em pacientes diabéticos, observa-se que não efetividade da resposta imunológica frente a
há um consenso entre os autores no que diz respeito a periodontopatógenos em pacientes diabéticos tipo 1, de
prevalência de periodontopatógenos nestes indivíduos, acordo com os alelos HLA presentes, não encontraram
demonstrando que a microbiota não é específica nos relação da baixa efetividade da resposta imunológica com
diabéticos. Os periodontopatógenos encontrados em cada o tipo de HLA presente [45,46].
pesquisa são muitas vezes distintos e não diferentes dos
encontrados em DP de pacientes não diabéticos [5,32,33]. Resposta inflamatória

Alterações no metabolismo do colágeno Vários autores [36,47,48,49] estudaram a associação


entre diabetes mellitus, quimiotaxia de neutrófilos e
Diversos autores observaram que o colágeno gengival periodontite. Observaram diminuição na quimiotaxia de
é reduzido em diabéticos em decorrência de um aumento neutrófilos, principalmente em diabéticos mal
na atividade colagenolítica, prejuízo na produção de controlados, a qual pode contribuir para a agressividade
componentes de matriz óssea, diminuição da síntese de da doença periodontal nestes pacientes. Além da
colágeno pelos fibroblastos gengivais e do ligamento diminuição da função neutrofílica, outras alterações da
periodontal, mesmo em diabéticos sem infecção resposta inflamatória foram encontradas, como: linfócitos
[34,35,36]. Além disso, o diabetes aumenta a atividade T anormais com decréscimo da relação CD4/CD8 ao
da colagenase no tecido gengival em 4 a 6 vezes, e em longo do tempo [50], aumento quantitativo de células de
12 vezes na pele, quando comparado com pacientes não Langerhans [4], alteração no fenótipo, quimiotaxia, e na
Kawamura JY et al / Diabetes Clínica 06 (2002) 440~444 443

taxa de fagocitose de macrófagos [6,7], aumento nos Localized agressive periodontitis in a patient with type 1 diabetes
níveis de IgG e IgA [13]. mellitus: a case report. J Periodontol 2001;72(9):1265-1270.
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Conclusão Crevicular fluid elastase levels in relation to periodontitis and
metabolic control of diabetes. J Periodontol Res 2001;36(6):169-
Frente a análise dos diversos trabalhos que relacionam 174.
o diabetes mellitus com a doença periodontal, podemos 19. Carboni AMG. Estudo comparativo das manifestações bucais
concluir que fatores como idade, duração, controle entre os pacientes diabéticos tipo 1 e os pacientes diabéticos tipo
2. 2001. 114 f. Tese (Mestrado em Patologia Bucal) – Faculdade
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Kovacs ACTB / Diabetes Clínica 06 (2002) 445~451
Diabetes 445

Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 06 (2002) 445~451

ESTUDO DE CASO

Aplicando um programa educacional em mães e crianças diabéticas,


frente à prática inadequada do tratamento médico
Applying an educacional program for mothers and diabetics person in
consequency of inadequate pratic medical treatement

Ana Claudia T. Barros Kovacs

Terapeuta ocupacional, mestre em educação especial, pesquisadora na Universidade Federal de São Carlos, SP - Trabalho apresentado no 7o Congresso
Brasileiro Multiprofissional em Diabetes Mellitus, julho de 2002, São Paulo - SP

Resumo
O presente estudo teve por objetivo, elaborar e aplicar um programa de ensino em duas mães e crianças diabéticas, que apresentaram carência
e/ou ausência de informações, a respeito do quadro clínico do diabetes mellitus, como fator prejudicial ao bom controle da moléstia, acarretando
a precipitação das complicações do diabetes. Os resultados do estudo, indicaram que os participantes tiveram seus conhecimentos ampliados,
estando, portanto, conscientizados e aptos a mudarem a conduta adotada até o presente momento no tratamento médico, visando uma melhor
qualidade de vida.

Palavras-chave: Diabetes mellitus, prevenção, educação e saúde.

Abstract
This study had the objectives to elaborate and apply an educacional program to two diabetic mothers and kids who had few knowledge about
DM and consequently more chances to develop chronicle complications. The results of this study indicated that the participants had their
knowledge improved, changing their conduct towards the medical treatment, looking for a better quality of life.

Key-words: Diabetes mellitus, prevention, education and health.

Artigo recebido em 15 de agosto, aprovado em 15 de outubro de 2002.

Endereço para correspondência: Rua Dona Alexandrina, 1779/62, Centro 13560-290 São Carlos SP, Tel (16) 2705112, E-mail: aclaudiakovacs@uol.com.br
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Prevenir para limitar incapacidades pessoas já diagnosticadas como diabéticas e tem como
objetivos: procurar sua remissão quando possível;
O controle do diabetes somente é alcançado quando prevenir o aparecimento de complicações agudas e
há mudanças de comportamento e estilo de vida. Assim crônicas; retardar a progressão da doença [12].
sendo, o diabético precisa conhecer a doença e Quando o defeito e a invalidez se tiverem fixado, pode-
desenvolver habilidades necessárias no seu dia a dia, além se implantar a prevenção terciária através da reabilitação,
do seu compromisso pessoal, na realização dos seus auto- que tem por objetivo prevenir a incapacidade total,
cuidados adequados, que podem ser conseguidos através recolocando o indivíduo afetado em uma posição útil na
de programas educacionais. sociedade, com a máxima utilização de sua capacidade
O diabetes é, hoje em dia, um problema de saúde restante [6]. A prevenção terciária tem como objetivo
pública de grande importância, que exige a máxima prevenir as complicações crônicas do diabetes [7].
atenção para o estabelecimento de programas de Tendo em vista o papel fundamental que o portador
prevenção e controle. Para tanto, os conhecimentos de diabetes exerce sobre o controle da moléstia, a
atualizados a respeito dos aspectos genéticos, proposta de educação do diabético já havia sido alertada
fisiopatológicos e fatores ambientais, dirigem a uma em 1980, pois é de extrema importância que o paciente
intervenção preventiva [7]. entenda os princípios do tratamento para, assim, aplicá-
O diabetes mellitus vem sendo reconhecido los dia a dia, uma vez que o tratamento permanece em
como sério problema de saúde em quase todos os países, grande parte nas mãos do paciente, sendo que, em
uma vez que: é uma patologia que necessita de controle condições de igualdade, viverão mais aqueles que
metabólico por toda a vida; está freqüentemente conhecerem melhor sua doença, praticando os cuidados
associado ao surgimento de complicações agudas e necessários exigidos por ela [1].
crônicas, especialmente quando não é realizado Ao referir-se à criança diabética, os pais ou pessoas
tratamento adequado; tem elevada prevalência e atinge responsáveis por ela devem receber as instruções dos
todas as faixas etárias; modifica a qualidade e expectativa cuidados necessários, pois o futuro do diabetes tipo 1
de vida; pode levar a incapacidade física permanente por depende, em grande parte, de orientação e educação dos
amputação de membros inferiores e cegueira; é causa pais e da criança quanto à sua moléstia [1]. Desta forma,
freqüente de mortes prematuras em decorrência de “não é possível dissociar o controle adequado do
insuficiência renal, doenças cardio e cérebro-vasculares, diabetes mellitus da conscientização e educação dos
etc; afeta o sistema nervoso, causando neuropatias portadores da doença” [5].
periférica e autonômica; o diabetes gestacional é De modo a prevenir condições incapacitantes, que
responsável por alta morbidade e mortalidade materno- poderão levar à exclusão escolar e social, o objetivo mais
fetal [8,13]. importante da educação do diabético é o de faze-lo mudar
O quadro clínico do diabetes é considerado um dos a atitude internamente, tornando-o ativo no controle da
mais importantes problemas mundiais de saúde da doença [1]. Tal educação faz-se necessária, pois o
atualidade, em virtude do número de pessoas afetadas, controle do diabetes será prejudicado se o paciente não
pela incapacitação, mortalidade prematura, bem como for instruído sobre os princípios em que é fundamentado
dos custos elevados no seu controle e tratamento de suas o tratamento [2]. Assim sendo, “não basta apenas dar
complicações [12]. O diabetes mellitus vem assumindo comprimidos ou injetar insulina nos pacientes. É também
proporções bastante preocupantes, em função do número preciso educar o doente” [4]. Por meio dessa educação,
de pacientes, bem como da freqüência de complicações os diabéticos tornam-se livres e autônomos, uma vez que
graves que acometem tal população, quando o quadro conseguem administrar bem sua doença e, assim, essa
clínico não é tratado adequadamente [10]. educação consegue integrá-los na sociedade em que
Para tanto, são propostos alguns níveis de atenção em vivem, uma vez que a mesma constitui um dos pilares
saúde, a fim de reverter tal quadro, são eles: prevenção do tratamento do diabetes mellitus [3].
primária, secundária e terciária. A prevenção primária Certamente o diabetes requer do seu portador
detecta e atua sobre fatores ambientais, sócio-econômicos conhecimento e empenho pessoal para seu controle. O
e de suscetibilidade genética, estratégia destinada a diabético precisa entender os mecanismos da doença, as
pessoas que apresentam um maior risco à suscetibilidade condições que alteram a glicemia, as orientações
para o desenvolvimento do diabetes mellitus [7]. dietéticas, o perfil das ações terapêuticas das várias
Prevenção secundária, significa diagnóstico e insulinas, para que, assim, possa estar seguro e assumir
tratamento precoce, cuja principal finalidade consiste em o controle da doença. Com isso, a educação ao paciente
evitar recidivas em pacientes com episódios de remissões diabético torna-se vital para o controle da doença, pois é
e o avanço das enfermidades em pessoas que estão por meio de um processo contínuo e dinâmico que o
afetadas irreversivelmente [7]. Este nível de prevenção, diabético incorpora tais conhecimentos necessários à sua
constitui-se de um conjunto de medidas destinadas a sobrevivência. A educação ao diabético não se limita à
Kovacs ACTB / Diabetes Clínica 06 (2002) 445~451 447

leitura de cartilhas educativas, mas necessita do seu básicos de cada temática, conteúdos importantes no
empenho em aprender cada vez mais e, principalmente, tratamento diário do diabetes (anexo 1);
colocar em prática os conhecimentos adquiridos. - Gravação dos encontros em fitas magnéticas;
Por ser o diabetes uma doença crônica que - Elaboração de um programa de ensino (anexo 2)
acompanha o indivíduo por toda vida, é importante para o diabético e seu cuidador. Foram programados 7
ressaltar que a força de vontade, motivação pessoal e encontros (6 temáticos e 1 de revisão geral), com duração
disciplina são requisitos fundamentais para seu controle. média de 60 min, organizados semanalmente para as
A disposição do paciente e sua anuência ao tratamento díades mãe-filho, em grupo.
são mecanismos essenciais para se obter controle e
evitar complicações agudas. Tal processo é alcançado O programa de ensino foi planejado sob a forma de
por meio de ações educativas, que objetivam encontros-temáticos, contendo cada tema objetivos de
responsabilizar o paciente e sua família pelo tratamento, ensino específicos, extraídos dos dados obtidos de um
proporcionando-lhes espaço de aprendizagem sobre a estudo anterior, que salientaram a ausência ou
doença e seu controle. O trabalho educacional também insuficiência de informações a respeito do diabetes,
é fundamental para se atender às dificuldades de situação que pode comprometer o desenvolvimento
aceitação da doença e do tratamento, a fim de favorecer futuro. Essas informações correspondem à caracterização
a auto-aceitação e estimular a independência, para se da patologia, ao diagnóstico, ao prognóstico, ao
alcançar um controle metabólico adequado e, tratamento, formas de prevenção das complicações
consequentemente, uma melhor qualidade de vida ao agudas e crônicas e cuidados gerais sobre o diabetes.
diabético e sua família.
A partir dessas reflexões e de um estudo Aplicação do pós-teste
anterior, que apontou carência e insuficiência de
informações de portadores de diabetes e seus familiares, - Follow-up: Dois meses após o término da aplicação
prejudicando o bom controle da patologia, essa pesquisa do programa de ensino, foram reaplicados os pré-testes
proporcionou um espaço de esclarecimento dos de cada encontro, visando analisar a assimilação dos
principais aspectos do tratamento do diabetes mellitus, conteúdos abordados. Tais dados foram submetidos à
a fim de propiciar melhor qualidade de vida e melhor análise qualitativa, e a aplicação do follow-up ocorreu
prognóstico aos diabéticos. na casa dos participantes.

Método Cabe informar que, após o término da aplicação do


programa de ensino, foi entregue aos participantes uma
Participantes apostila ilustrativa, elaborada pela pesquisadora,
contendo informações essenciais ao tratamento do
Participaram deste estudo 2 crianças, com suas diabetes mellitus. A apostila permitiu também que o
respectivas mães. A Cr 1 é do sexo feminino, 11 anos e desempenho da maioria dos participantes, nos diferentes
2 anos de diabetes; a Cr 2, 9 anos, 1 ano de diabetes e temas, fosse superior em relação ao pré e pós-testes.
do sexo masculino. A participante Mãe 1, 33 anos, do
lar; a Mãe 2, 32 anos, do lar. As idades dos participantes Procedimento para análise dos dados
referem-se ao ano de 1999, ano da coleta de dados da
presente pesquisa. A análise dos conteúdos das respostas dos
participantes foi efetuada em uma abordagem qualitativa.
Instrumentos e materiais
Resultados e discussão
Foram utilizados materiais comuns de escritório,
equipamentos eletro-eletrônicos (retroprojetor, Serão apresentadas a seguir, as respostas dos
gravador, fitas cassetes, computador), lâminas para participantes frente a diferentes questões contidas nas
projeção, material didático (apostilas, folders) e roteiros temáticas abordadas. Optou-se por esta forma de
pré e pós-teste a cada encontro (anexo 1). apresentação, a fim de ilustrar dados de várias temáticas.

Procedimento para a coleta dos dados Unidade 2 - tratamento do diabetes parte 1: insulina

A coleta dos dados foi realizada da seguinte forma: O quadro I, apresenta as respostas dos participantes
- Aplicação dos pré-testes: os participantes da relacionadas aos fatores responsáveis pela necessidade de
pesquisa foram questionados a respeito de conteúdos aumento da dosagem de insulina no tratamento médico.
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Quadro I - Fatores que intensificam a necessidade da insulina.

Questão 5: Quais os fatores que aumentam a necessidade do uso de insulina?


Respondentes Pré-teste Pós-teste “Follow up”
Mãe 1 Referiu-se a 1 fator Referiu-se a 1 fator Referiu-se a 2 fatores
Criança 1 Referiu-se a 1 fator Referiu-se a 3 fatores Referiu-se a 4 fatores
Mãe 2 Referiu-se a 1 fator Referiu-se a 6 fatores Referiu-se a 3 fatores
Criança 2 Referiu-se a 1 fator Referiu-se a 1 fator Referiu-se a 3 fatores

Os participantes forneceram as seguintes respostas: Unidade 3 - tratamento do diabetes parte 2: dieta


Mãe 1 respondeu, no pré e pós-teste, que tal necessidade alimentar
é decorrente do aumento da glicemia no sangue,
mencionando apenas um fator. No follow-up, ela O quadro II apresenta as declarações dos participantes
mencionou 2 deles: “comer muito e muito exercício”, a respeito dos alimentos que devem compor a dieta
sendo que este último está incorreto, já que tal condição é alimentar do diabético.
decorrente da pequena quantidade de exercício físico. A Em relação aos grupos alimentares prescritos na dieta
Cr 1 respondeu, inicialmente, que o aumento da do diabético, a Mãe 1 foi muito breve em sua resposta,
necessidade da insulina é decorrente do aumento da agrupando em uma mesma categoria alimentos
glicemia, já no pós-teste, ela relacionou a alimentação e pertencentes a diferentes grupos, exemplo: “em parte de
atividade física como influenciadores nas taxas de glicose sal, ele (médico) fala de tudo, a única coisa que ele fala
sangüínea. No follow-up, esta participante recordou-se não é para ter o controle”. Segundo ela, o médico
apenas dos principais fatores, além de outros: “comer responsável pelo tratamento da saúde da filha, orienta as
muito, pouco exercício, infecções e gravidez”. quantidades exatas dos alimentos que podem ser
A Mãe 2, num primeiro momento (pré-teste), ingeridos ( por exemplo: 1 colher de arroz), porém através
relacionou a alimentação como fator que interfere na desta declaração, têm-se a impressão de que o médico
glicemia e provoca a alteração de sua dosagem diária. Já não menciona as quantidades específicas dos alimentos.
em outro momento (pós-teste), mencionou 6 fatores que No momento de pós-teste, ela acrescenta alguns grupos
aumentam a necessidade de insulina: “aumento de peso, alimentares: “frutas, feijão, arroz, carnes”, mencionando
falta de exercício físico, gravidez, ...queimadura, infecções, vitamina, carboidratos e proteína, respectivamente. No
febre”. No follow-up, a participante recordou-se de poucos follow-up, ela mencionou 3 grupos: proteína, vitamina e
fatores: “ganho de peso, falta de exercício, comer em carboidrato, referindo-se aos alimentos ingeridos, sem
excesso”, ainda que tenha mencionado 2 dos 3 principais nomeá-los como pertencentes aos respectivos grupos. A
fatores. A Cr 2 mencionou apenas um fator em cada Cr 1 acrescentou em seu pós-teste um grupo alimentar
resposta pré-teste: “ ...se eu comer muito doce”, e 2 no que não havia citado no pré-teste: “vitaminas,
pós-teste: “quando o diabetes aumenta muito, quando faz carboidratos e proteínas”, acrescentando mais 2 no
mais exercício”. Esta última colocação é incorreta, já que follow-up: “carboidratos, vitaminas, proteínas, sais
a diminuição da atividade física é que requer o aumento minerais e gordura”.
da dosagem de insulina. No follow-up, o participante A Mãe 2 acrescentou 2 grupos alimentares em seu
relacionou os três fatores principais: “quando aumenta pós-teste, pois havia se referido apenas uma categoria:
seu diabetes, comer muito e fazer menos exercício”. “vitaminas, carboidratos e proteínas”, acrescentando
Quadro II - Alimentos prescritos na dieta alimentar.

Questão 2: Que tipos de alimentos devem fazer parte da dieta alimentar ?


Respondentes Pré-teste Pós-teste Follow up

Mãe 1 Incorreta Mencionou 3 Mencionou 3


grupos alimentares grupos alimentares
Criança 1 Mencionou 2 Mencionou 3 Mencionou 5
grupos alimentares grupos alimentares grupos alimentares
Mãe 2 Mencionou Mencionou 3 Mencionou 5
1 grupo alimentar grupos alimentares grupos alimentares
Criança 2 Mencionou 3 Mencionou 3 Mencionou 3
grupos alimentares grupos alimentares grupos alimentares
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mais 2 deles: “carboidratos, vitaminas, proteínas, natação e futebol”. Diferentemente da Cr 2, citou 1 no


gorduras e sais minerais”. A Cr 2 citou 3 grupos pré-teste e 5 no pós-teste: “futebol, voley, basquete,
alimentares nos pré e pós-testes, alterando um deles: handball e natação”. No momento do follow-up, ela
“vitaminas, carboidratos e proteínas”, mantendo-os no respondeu: “futebol, voley, basquete e corrida”.
follow-up.
Unidade 6 - Cuidados com o diabetes no ambiente
Unidade 4: tratamento do diabetes parte 3: atividade escolar
física
O quadro IV apresenta as declarações dos participantes
O quadro III, apresenta as respostas dos participantes frente a necessidade de exercer alguns cuidados com o
quanto aos tipos de exercícios físicos indicados à eles. diabetes, durante a permanência na escola.
Em relação a prática de atividade física, a Mãe 1

Quadro III - Exercícios físicos indicados ao diabético. As respostas dos participantes foram:
a Mãe 1 forneceu a mesma resposta nos
Questão 2: Quais exercícios físicos são indicados/permitidos para o diabético? dois primeiros momentos: “não comer
Respondentes Pré-teste Pós-teste Follow up
doce e não exagerar no exercício”,
acrescentando no follow-up
Mãe 1 Mencionou Mencionou Mencionou
1 tipo 1 tipo 1 tipo
informações como: “fazer os exercícios
até as horas que precisar, não fazer a
Criança 1 Não soube Mencionou Mencionou
2 tipos 4 tipos mais, nem a menos e controlar a
alimentação”. A Cr 1 acrescentou
Mãe 2 Mencionou Mencionou Mencionou
3 tipos 3 tipos 4 tipos dados à sua resposta no pós-teste
dizendo: “saber o que come e fazer
Criança 2 Mencionou Mencionou Mencionou
1 tipo 5 tipos 4 tipos pouco exercício, só o de costume”,
completando-a no follow-up: “na
escola, os professores, funcionários e
colegas tem que estar sabendo que sou
mencionou apenas 1 no pré-teste e, também, no pós-teste. diabética, não deixar de tomar os lanches na hora certa,
Mas neste último, acrescentou informações quanto ao participar de todas as atividades recreativas, esportivas
ritmo do exercício: “correr, começar com calma e parar e escolares com moderação”.
devagar”. No follow—up, ela recordou-se de apenas um A Mãe 2 citou dois cuidados no pré-teste e 3 no
tipo: “correr”. Já a Cr 1, inicialmente não soube pós, que são: “não se machucar nas brincadeiras, não
responder à questão, mencionando posteriormente (pós- comer doce, não exceder nos exercícios”, recordando-
teste) 2 tipos: “... andar e nadar”. No follow-up, ela se, no entanto, no follow-up apenas: “deixar a
respondeu: “andar, pedalar, nadar, jogar basquete”. professora e mais pessoas avisadas que é diabético,
A Mãe 2 mencionou 3 tipos nos dois momentos, não exceder nos exercícios”. A Cr 2, por sua vez,
alterando um no pós-teste: “caminhada, natação e manteve a mesma resposta nos dois primeiros
aeróbica”. No follow-up, ela recordou-se de 4, que momentos dizendo: “não se machucar, não fazer muita
constituem-se em: “caminhada, andar de bicicleta, atividade física, não se alimentar incorretamente”,
declarando no follow-up: “não
cair, não se machucar, se
Quadro IV - Cuidados com o diabetes no ambiente escolar. alimentar, avisar colegas”.
Questão 1: Quais os cuidados que devem ser tomados na escola? Conclusões
Respondentes Pré-teste Pós-teste Follow up
O presente estudo tentou
Mãe 1 Mencionou Mencionou Mencionou esclarecer, por meio de
2 cuidados 2 cuidados 3 cuidados palestras referentes às
Criança 1 Mencionou Mencionou Mencionou temáticas que envolvem o
1 cuidado 2 cuidados 3 cuidados diabetes mellitus, que as
Mãe 2 Mencionou Mencionou Mencionou seqüelas decorrentes do mal
2 cuidados 3 cuidados 2 cuidados controle da patologia podem
Criança 2 Mencionou Mencionou Mencionou acarretar danos de várias
3 cuidados 3 cuidados 4 cuidados ordens à vida do diabético.
450 Kovacs ACTB / Diabetes Clínica 06 (2002) 445~451

Oferecer educação à diabéticos e seus cuidadores 8. Guia de Vigilância Epidemiológica. Diabetes. Diabetes Mellitus.
propiciou, também, que se formassem multiplicadores <http://www.fns.gov.br/pub/GVE/GVE0505A.htm> Acesso em
21 out 2000.
do conhecimento adquirido, já que eles possuem contato 9. Sociedade brasileira de diabetes. Diabetes. Proposta básica para
com outros diabéticos ou familiares dos mesmos, a assistência ao diabético no município. <http://
generalizando, assim, o conteúdo aprendido, uma vez www.diabetes.org.br/Diabetes/cart miolo.htm> Acesso em 16 out
que tal programa não pôde atender e beneficiar uma 2000.
parcela maior da população, que também sofre pela falta 10. Sociedade brasileira de diabetes. Diabetes. Detecção e tratamento
das complicações crônicas do Diabetes mellitus. <http://
ou insuficiência de informações a respeito do quadro www.diabetes.org.br/Diabetes/compcron.html> Acesso em 16
clínico do diabetes mellitus. out 2000.
Analisando os resultados deste estudo, notamos que, 11. Sociedade brasileira de diabetes. Diabetes. Educação é a melhor
em cada palestra, pelo menos um membro de cada díade arma terapêutica. <http://www.diabetes.org.br/publicacoes/j23/
atingiu as expectativas estimadas, demonstrando j23mat5.html> Acesso em 16 out 2000.
12. Associação Nacional de Assistência ao Diabético. Diabetes.
aquisição de conhecimentos necessários para a Consenso Brasileiro de Conceitos e Condutas para o Diabetes
conscientização de se realizar um tratamento médico Mellitus. <http://www.netcomp.com.br/anad/consenso.htm>
adequado. Acesso em 18 out 2000.
Conhecendo as formas de prevenir o aparecimento 13. Declaração das Américas sobre Diabetes. Diabetes. Preâmbulo
das complicações crônicas, o diabético e seus familiares, <http://www.nib.unicamp/saca-brasil/declaracao.htm> Acesso
em 21 out 2000.
poderão evitar situações perigosas e/ou danosas
causadoras de seqüelas, às vezes irreversíveis, que
colocarão o portador em condições de risco. Tais
ANEXO 1
condições, por sua vez, poderão acarretar outros como:
limitação, isolamento e afastamento das atividades Programa de Ensino
normais, como por exemplo ir à escola, trabalhar, passear O planejamento de ensino abordou os seguintes temas:
e praticar esportes. UNIDADE 1
Portanto, há necessidade das pessoas entenderem que ASPECTOS GERAIS DO DIABETES: Definições; Tipos de
a saúde deve ser uma prioridade e que o portador da diabetes; Tipo I: sinais e sintomas, fatores de risco, causas, estágios
doença, especialmente o doente crônico, pode interferir de desenvolvimento da doença, formas de diagnóstico, prevalência,
no seu próprio futuro, mudando o curso natural da etc.
doença, controlando-a e prevenindo as complicações UNIDADE 2
crônicas, o que só será possível se a essas pessoas TRATAMENTO DO DIABETES PARTE I: INSULINA: Definição;
(doentes crônicos), forem oferecidos programas de Função; Fatores que aumentam e diminuem a necessidade de insulina;
prevenção primária, que detectam novos casos e Locais e técnicas de aplicação; formas de armazenamento; Doses e
promovam a saúde; de prevenção secundária, que horários recomendados.
previnam o aparecimento de seqüelas, limitando uma UNIDADE 3
possível invalidez; e de prevenção terciária, que reabilite TRATAMENTO DO DIABETES PARTE II: DIETA: Papel da
a pessoa portadora de uma doença crônica. alimentação no controle do diabetes; Grupos alimentares essenciais;
Possíveis combinações alimentares.
Agradecimentos UNIDADE 4
À CAPES que financiou esta pesquisa por 24 meses. TRATAMENTO DO DIABETESPARTE III: ATIVIDADE FÍSICA:
Função da atividade física no controle do diabetes; Benefícios da
Referências prática regular de exercícios físicos; Cuidados que devem ser tomados
pelos diabéticos; Quantidade e horários apropriados para a aplicação
1. Anjos MN. Diabetes da criança ao adulto. 2. ed., Rio de Janeiro: da insulina;
Cultura Médica, 1980. UNIDADE 5
2. Brasil. Ministério da Saúde. Manual de diabetes 2. ed. rev. COMPLICAÇÕES AGUDAS - HIPOGLICEMIA E
Brasília: CODEG, 1994.
3. Chacra AR. Visão otimista sobre diabetes. Dr. Jornal em revista. HIPERGLICEMIA: Definição; Sinais e sintomas; Fatores
Piracicaba/ São Paulo 2000(18). desencadeantes; Medidas de prevenção; Tratamento.
4. Corrêa LG. Educação é a melhor arma terapêutica. Jornal da COMPLICAÇÕES CRÔNICAS:
Sociedade Brasileira de Diabetes. São Paulo 2000(23). Órgãos comumente afetados;Formas de prevenção; Cuidados
5. Garcia RMR. Apresentação. Dr. Jornal em revista. Piracicaba/ especiais com os pés.
São Paulo 2000(18).
6. Leavell HR, Clark EG. Medicina preventiva. São Paulo: UNIDADE 6
McGraw-Hill do Brasil, 1977. CUIDADOS PARA COM O DIABETES NO AMBIENTE
7. Sociedad Andaluza de Medicina de Família e Comunitária. ESCOLAR: A importância do controle adequado (alimentação e
Prevenção Prevención <http://www.cica.es/aliens/samtyc/> atividade física); Prevenção da hipoglicemia; A importância da
Acesso em 16 nov 1999 . socialização; Prevenção e medidas de controle das complicações
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agudas.BRINCADEIRAS: Cuidados necessários quanto a ANEXO 2


alimentação e exercícios físicos; e integridade física (não se pré-teste
machucar); Prevenção e formas de controle das complicações agudas; Unidade 4: Tratamento do diabetes- Parte III: Atividade física como
Socialização. SITUAÇÕES ESPECIAIS: PASSEIOS, VIAGENS E auxílio no controle do diabetes
FESTAS DE ANIVERSÁRIO: Como adaptar o controle do diabetes - Quais os benefícios da prática regular de exercícios físicos?
em situações especiais; Prevenção e controle das complicações - Quais exercícios físicos são indicados/permitidos para o diabético?
agudas; Socialização. - Quais os cuidados necessários para sentir-se bem durante e depois
UNIDADE 7 das atividades físicas?
REVISÃO GERAL: Rever os principais cuidados para o bom controle - Quantas vezes por semana e qual a quantidade de exercício físico
do diabetes; formas de prevenção das complicações; esclarecer são permitidos?
possíveis dúvidas que restarem.
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Diabetes
Clínica
Jornal Multidisciplinar do Diabetes
e das Patologias Associadas

Diabetes Clínica 06 (2002) 452~459

ESTUDO DE CASO

Efeitos do uso de registros de auto-monitoração no seguimento


de regras nutricionais por uma paciente diabética obesa
Self-monitoring registers on the follow-up of nutritional rules
by an obese diabetic pacient

Eleonora Arnaud Pereira Ferreira*, Mariene da Silva Casseb**

**Doutorado em Psicologia pela Universidade de Brasília, Professora Adjunto IV, Supervisora do Estágio em Psicologia da Saúde no curso de Psicologia da
Universidade Federal do Pará, Coordenadora do Projeto Comportamento e Saúde: integração de ensino, pesquisa e extensão em saúde e desenvolvimento
humano, **Aluna concluinte do curso de Formação de Psicólogo, Bolsista do PROINT/UFPA, Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza,
Universidade Federal do Pará

Resumo
Esta pesquisa procurou investigar, por meio de estudo de caso, os efeitos do uso de registros de auto-monitoração no seguimento de regras
nutricionais por uma paciente diabética obesa. Foram realizadas 26 entrevistas, sendo 19 gravadas em ambiente domiciliar e 7 em ambulatório,
com o objetivo de treinar a paciente em auto-monitoração de seu comportamento alimentar. A análise dos resultados foi feita a partir da
identificação de 3 categorias e 7 subcategorias, descritivas do comportamento alimentar da participante, referentes ao seguimento das regras
nutricionais. Observou-se aumento na freqüência de comportamentos de adesão à dieta, estabilidade na glicemia, estabilidade no peso e
instalação de atividade física leve. Os resultados são discutidos, considerando-se os custos e ganhos para a paciente na aderência ao tratamento
e a relevância do treino em auto-monitoração no seguimento de regras nutricionais.

Palavras-chave: Diabetes, obesidade, auto-monitoração, aderência ao tratamento

Abstract
This research sought to investigate, by means of case study, the effects of the use of self-monitoring registers on the follow-up of nutritional
rules by an obese diabetic pacient. 26 interviews were carried out, having 19 of which been recorded at the patient’s home and 7 in the hospital,
aiming at the patient’s training on self-monitoring of her eating-wise behavior. The analysis of results was accomplished from the start point of
identification of 3 categories and 7 sub-categories, all descriptive of the participant’s eating-wise behavior, regarding the follow-up of nutritional
rules. It was observed an increase on the frequency of adherence behavior as to the diet, glicemy stabilization, weight stabilization and start-up
of light physical activities. The results are discussed taking into consideration the costs and gains for the patient who binds to the treatment and
the relevance of the training on self-monitoring as to the follow-up of nutritional rules.

Key-words: Diabetes, obesity, self-monitoring, adherence to treatment

Artigo recebido em 30 de agosto e aprovado em 15 de outubro de 2002.

Endereço para correspondência: Eleonora Arnaud Pereira Ferreira, BR316, km 2, Condomínio City Park, casa 5 Atalaia 67013-070 Belém Pará, Tel: (91)
235 3902 / 091 9986 8696, E-mail: eleonora@ufpa.br casseb4@yahoo.com.br
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Introdução funcional do comportamento torna-se possível definir


ações e procedimentos – tanto pela equipe profissional
A obesidade é uma doença crônica definida por um quanto pelo paciente – que serão mais adequados para
aumento excessivo do tecido adiposo no organismo, se chegar ao controle do peso.
em nível comprometedor à saúde e à qualidade de vida De acordo com a Análise do Comportamento, as
do indivíduo, e pode ser identificada através do Índice mudanças ocorrem por meio de aproximações
de Massa Corpórea (IMC), dividindo-se o peso pela sucessivas, a partir de comportamentos adequados que
altura ao quadrado; resultados acima de 30 são o paciente já apresenta, até que ele amplie seu repertório
identificados como obesidade. Atualmente, a obesidade comportamental, analisando as contingências que o
é avaliada como um problema de saúde pública e sabe- mantém, tornando-o cada vez mais adequado [7].
se que suas causas são resultantes de uma complexa Estudos sugerem que procedimentos de auto-
interação de variáveis biológicas, comportamentais, monitoração têm sido eficazes na construção de
cognitivas, familiares, culturais e econômicas, que comportamentos de adesão ao tratamento por portadores
influenciam seu desenvolvimento e manutenção [1]. É de doenças crônicas. Auto-monitoração refere-se a
provável que anualmente na América Latina, 200 mil observações que o paciente faz do próprio
pessoas morram de doenças relacionadas à obesidade comportamento, através do registro de suas ações e dos
e, dentre elas, está o diabetes mellitus - DM [2]. A fatores que afetam o seu tratamento e,
prevalência de DM é maior em pessoas com IMC acima conseqüentemente, a sua saúde [8].
de 28, aumentando em dobro o risco de aparecimento A psicologia da saúde com enfoque comportamental,
na obesidade. Dados estatísticos mostram que 80% das tem aplicado os princípios da análise do comportamento
pessoas portadoras de DM tipo 2 ou não-insulino para auxiliar na prevenção, no diagnóstico, no
dependente são obesas [2]. Deste modo, o paciente tratamento e na reabilitação do paciente. A psicologia
diabético deve manter uma alimentação adequada, pois da saúde vem crescendo nos últimos 50 anos, mas seu
o controle glicêmico tem ligação direta com o campo de trabalho tornou-se mais significativo na
seguimento da dieta prescrita pelo profissional [3]. última década, provavelmente em decorrência de uma
Entretanto, a dieta tem sido apontada como a maior concepção moderna de saúde e doença proposta pela
dificuldade para os portadores de DM na adesão ao área médica, que sentia necessidade de um profissional,
tratamento. Fatores como regras extensas e complexas, que atribuísse uma atenção especial a aspectos
baixa assertividade, e dificuldade em discriminar níveis psicológicos do paciente para complementar o
glicêmicos por meio de sintomas, podem estar tratamento [9]. Neste sentido, o enfoque do trabalho
associados à baixa adesão à dieta e, conseqüentemente, do psicólogo na saúde é analisar contingências, ou seja,
ao tratamento [4]. os eventos antecedentes ao comportamento, o
Pesquisas sugerem que o comportamento alimentar comportamento em si e os eventos conseqüentes, que
seja analisado como aprendido e que sua reeducação mantém a doença e os que promovem a saúde; assim, a
seja feita através de técnicas de autocontrole [5]. Assim, intervenção psicológica precisa ser ajustada às
os tratamentos de controle do peso devem, necessidades e peculiaridades da pessoa doente e sua
primeiramente, desenvolver uma análise funcional realidade [10]. Esse ajustamento pode se dar através da
individualizada para cada paciente, na qual sejam investigação da linha de base do comportamento do
investigados fatores associados à ingestão alimentar, paciente referente à doença, para que se possa avaliar
destacando a importância da identificação das variáveis se existem e quais são os comportamentos adequados
ambientais [1,4]. Define-se análise funcional como a que o mesmo apresenta e, assim, promover a
identificação das contingências externas ao organismo, generalização para outros comportamentos saudáveis
das quais seu comportamento é função [6]. A vantagem de forma gradativa para que o paciente observe cada
do programa de autocontrole do comportamento ganho obtido.
alimentar é permitir ao indivíduo ser sujeito do próprio A obesidade e o DM são doenças crônicas cujo
controle, ou seja, manter o controle do próprio tratamento exige do paciente o seguimento de regras
comportamento e ser capaz de voltar ao tratamento complexas referentes à alimentação, atividade física e
sempre que for necessário, a partir da análise dos ganhos uso de medicação, as quais muitas vezes dificultam a
obtidos durante o programa [5]. O autocontrole do adesão ao tratamento, devido às mudanças que em geral
comportamento alimentar pode ser obtido com o uso o paciente precisa estabelecer na sua rotina. Baseado
de procedimentos de auto-monitoração, envolvendo nos princípios da análise do comportamento, este estudo
protocolos de registro do comportamento alimentar. investigou os efeitos do uso de auto-monitoração no
Neste caso, o uso de princípios da Análise do seguimento de regras nutricionais por uma paciente
Comportamento mostra-se útil em estudos que diabética obesa do Programa Multiprofissional de
priorizam a intervenção, pois através da análise Atenção ao Portador de Diabetes do Hospital
454 Ferreira EAP et al / Diabetes Clínica 06 (2002) 452~459

Universitário Bettina Ferro de Souza, da Universidade aos dias do intervalo entre as entrevistas; a participante
Federal do Pará, na cidade de Belém. deveria marcar com um X as refeições realizadas, segundo
as orientações do serviço de nutrição.
Método
Procedimento
Participante
Foram realizadas 26 entrevistas gravadas em áudio,
Uma paciente do sexo feminino, 67 anos de idade, sendo 7 no ambulatório do hospital e 19 em ambiente
ensino fundamental incompleto, diagnóstico de DM domiciliar. As entrevistas realizadas no hospital tinham
tipo 2 há 10 anos, obesidade classe I, artrose, como objetivo a intervenção clínica, para investigação
proeminência óssea nas vértebras, fazendo uso de anti- de fatores psicológicos que pudessem estar
inflamatório hormonal e hipoglicemiante oral, inscrita influenciando o comportamento alimentar da paciente,
no Programa Multiprofissional de Atenção ao Portador bem como dificuldades em outras áreas de sua vida
de Diabetes do Hospital Universitário Bettina Ferro (social, financeira, afetiva, etc.). As entrevistas em
de Souza e apresentando dificuldades no seguimento ambiente domiciliar foram realizadas em dias alternados
das instruções fornecidas pelo Serviço de Nutrição. durante as fases 2 e 3, semanalmente durante a fase 4,
quinzenalmente no início da fase 5, e mensalmente no
Instrumentos utilizados final desta fase.
Fase 1: Seleção da participante – Nesta fase foi
(a) Roteiro de entrevista: Usado para coleta de dados realizada a entrevista com o Serviço de Nutrição para
sobre as características sócio-demográficas da apresentação dos objetivos do estudo e orientação sobre
paciente, seus conhecimentos em relação ao diabetes o encaminhamento da paciente ao Serviço de
e história de obesidade; Psicologia; análise do prontuário para verificação do
(b) Registro de auto-monitoração semanal da estado clínico; entrevista com a paciente no hospital
alimentação: Usado para verificação da linha de base seguindo o Roteiro de Entrevista e obtenção do
do comportamento alimentar da paciente. Protocolo consentimento informado da paciente para sua
composto por 6 colunas correspondentes a 6 dias de participação no estudo, de acordo com a Resolução 196,
uma semana, nas quais a participante deveria anotar CNS-1996.
os alimentos ingeridos em cada refeição/dia. O Fase 2: Identificação da linha de base de
primeiro registro era feito em parceria com a comportamentos de seguimento de regras pela
pesquisadora durante entrevista realizada no participante – Nesta fase foi verificada a linha de base
ambulatório; de comportamentos alimentares adequados da paciente,
(c) Registro diário da alimentação: Usado para treino por meio do Registro de Auto-monitoração Semanal
de auto-monitoração da alimentação pela participante. da Alimentação; solicitação da descrição das regras
Protocolo contendo colunas correspondentes ao nutricionais pela paciente para verificação do seu
horário da refeição, tipo de alimento e quantidade entendimento sobre as mesmas; instrução sobre o
ingerida, incluindo o registro da ingestão de alimentos preenchimento do Registro Diário da Alimentação e
entre as principais refeições; eram entregues à paciente sua posterior análise.
tantos protocolos quantos fossem os dias Fase 3: Treino de registro de comportamentos de
correspondentes aos intervalos entre as entrevistas; seguimento de regras nutricionais – Nesta fase foi
(d) Registro de planejamento diário da alimentação: realizada a análise do preenchimento do Registro Diário
Usado para planejar previamente a alimentação diária da Alimentação; a comparação do registro com a regra
da paciente. Protocolo contendo colunas para o nutricional; o planejamento das refeições com a
registro do planejamento das refeições do dia seguinte; paciente; a instrução sobre o preenchimento do Registro
coluna para o registro das refeições realizadas de Planejamento Diário da Alimentação.
incluindo a descrição de horário, qualidade e Fase 4: Treino no registro de auto-monitoração com
quantidade do alimento ingerido, e coluna para planejamento – Nesta fase foram realizados
avaliação da correspondência entre o planejado e o planejamentos das refeições diárias; comparação dos
executado, além do contexto em que as refeições registros com a regra nutricional; análise da execução
ocorreram. do planejamento; análise do contexto em que as
(e) Registro simples de manutenção das regras refeições eram realizadas e análise do Registro Diário
nutricionais: Usado para a paciente avaliar se estava da Alimentação, referente ao dia anterior à visita. Ao
seguindo as regras nutricionais e mantendo final desta fase foram fornecidas instruções sobre o
comportamentos alimentares adequados. Protocolo com preenchimento do Registro Simples de Manutenção das
colunas correspondendo às refeições/dia, em número igual Regras Nutricionais.
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Fase 5: Acompanhamento dos registros de auto- Serviço de Nutrição. Estes resultados indicam que na
monitoração com análise funcional dos resultados fase 2, ou de Linha de Base, a paciente descreveu as
alcançados – Nesta fase foi realizada a análise funcional regras nutricionais em discordância com as regras
do comportamento alimentar com a paciente, a partir fornecidas pelo Serviço de Nutrição, o que
do Registro Simples de Manutenção das Regras provavelmente contribuía para a emissão de
Nutricionais até alçar o critério mínimo de 50% das comportamentos alimentares inadequados, caracteri-
refeições diárias, realizadas segundo as regras zando seu comportamento como de não adesão à dieta.
nutricionais. Também era solicitado à paciente que A tabela II apresenta os resultados dos registros
preenchesse o Registro Diário da Alimentação, realizados durante a fase 20 (linha de Base) e a fase 3
referente ao dia anterior à visita para análise da (treino de registro). Foram identificadas três categorias
manutenção da adesão às regras. descritivas do comportamento alimentar da paciente:
Fase 6: Avaliação dos resultados alcançados – Nesta EA: refeições executadas com adesão; EN: refeições
fase foi realizada a entrevista final e análise funcional executadas sem adesão; NE: refeições não executadas.
com a paciente, sobre os resultados positivos obtidos Observa-se que na fase 2, o percentual de refeições
com a manutenção de comportamentos alimentares executadas com adesão (33,4%) foi inferior ao
adequados e com a generalização destes para outros percentual de refeições executadas sem adesão (40%).
comportamentos de adesão ao tratamento, apresentados Considerando-se que refeições não executadas
pela paciente. correspondem à condição de não seguimento das
instruções do tratamento, o índice de não adesão da
Resultados paciente, durante a linha de base, equivale a 66,6% das
refeições realizadas.
A tabela I mostra a comparação entre a descrição De acordo com os registros da paciente, durante a
das regras feita pela paciente e as regras fornecidas pelo linha de base, as refeições onde ocorriam maior adesão

Tabela I - Comparação entre as regras nutricionais fornecidas pela nutrição e a descrição destas pela paciente.

Refeições Regras fornecidas Regras descritas pela paciente


Desjejum 2 colheres de leite desnatado “três torradas ou cinco
1 pão careca bolachas cream cracker”.
1 colher de chá rasa de margarina.

Lanche 1 2 porções de fruta ou· “um suco de fruta


1 copo pequeno de suco ou ou uma fruta”
2 biscoitos cream cracker.

Almoço 4 colheres de arroz “Três colheres de arroz ou


1 colher rasa de farinha macarrão; Peixe ou
½ bife de carne carne grelhada”
1 porção de fruta
1 colher de óleo
(evitar fritura)

Lanche 2 2 porções de fruta ou “O mesmo do lanche da manhã”


1 copo de suco ou
2 biscoitos cream cracker

Jantar 4 colheres de arroz “Jantar comida leve,


4 colheres de frango desfiado ou não me encharcar de
2 pedaços pequenos de carne carne vermelha”
1 colher de óleo
(evitar fritura)

Ceia Chá ou Não descreveu


1 copo pequeno de leite desnatado.
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Tabela II – Auto-monitoração e seguimento das regras Refeições executadas sem adesão


nutricionais durante as fases 2 e 3.
Fase 2: Fase 3:
PA.EN: refeições planejadas com adesão, mas
linha de base treino de registro executadas sem adesão; PD.EN: refeições planejadas e
executadas sem adesão; NP.EN: refeições não planejadas,
Refeições EA EN NE EA EN NE mas executadas sem adesão;
Desjejum 0 4 1 1 3 0
Lanche 1 2 1 2 1 1 2 Refeições não executadas:
Almoço 1 4 0 1 3 0
PA.NE: refeições planejadas, mas não executadas.
Lanche 2 3 0 2 1 2 1
Na fase 4, a paciente preencheu dezessete registros do
Jantar 3 2 0 3 1 0 Planejamento Diário da Alimentação, o que permitiu a
Ceia 1 1 3 2 0 2 análise de 102 refeições. De acordo com os registros
Total 10 12 8 9 10 5 analisados, a paciente executou com adesão 59% das
% 33,4 40 26,6 37 42 21 refeições, contra 28% de refeições executadas sem adesão
e 13% de refeições não executadas. Estes resultados
à dieta eram o lanche 2 e o jantar. O desjejum e o almoço sugerem aumento na adesão às instruções do Serviço de
foram as refeições registradas como de mais difícil Nutrição, a partir do uso de registros de auto-monitoração,
adesão. com o planejamento das refeições, ao serem comparados
Os resultados obtidos na fase 3 são semelhantes aos aos resultados obtidos nas fases 2 e 3, com destaque para
obtidos na fase 2, identificando-se uma discreta redução a redução do número de refeições não realizadas.
nas refeições não executadas. O jantar permaneceu como a refeição mais
A Tabela III apresenta os resultados do treino de auto- freqüentemente realizada com adesão, seguido pelo
monitoração com planejamento correspondente à fase 4 almoço e pelo lanche 2, enquanto o desjejum continuou
do estudo, no qual foram identificadas 7 subcategorias como a refeição de menor adesão e a ceia como a de maior
referentes ao planejamento, das quais, 3 fazem parte das omissão.
refeições executadas com adesão, 3 fazem parte das Durante as entrevistas, os comportamentos de adesão
refeições executadas sem adesão e uma faz parte das às regras nutricionais eram reforçados positivamente e
refeições não executadas. analisados com a paciente, com o objetivo de fazê-la
identificar as variáveis que estavam controlando seu
comportamento alimentar, a fim de orientar o planejamento
Refeições executadas com adesão posterior.
A tabela IV apresenta os resultados obtidos durante a
PA.EA: refeições planejadas com adesão e executadas fase 5, referentes à auto-monitoração de manutenção, na
com adesão; PD.EA: refeições planejadas em qual também foram analisadas 102 refeições. A análise
discordância com a regra, mas executadas com adesão; dos registros indicou que a paciente passou a utilizar-se
NP.EA: refeições não-planejadas, mas executadas com de duas categorias de refeições: EA - refeições executadas
adesão; com adesão; e NE - refeições não executadas.

Tabela III – Auto-monitoração e seguimento das regras nutricionais durante a fase 4.


Fase 4: registros de auto-monitoração com planejamento

Com adesão Sem adesão Não executadas

Refeições PA.EA PD.EA NP.EA Σ PA.EN PD.EN NP.EN Σ PA.NE Σ


Desjejum 1 1 0 2 7 6 2 15 0 0
Lanche 1 5 0 0 5 3 0 3 6 6 6
Almoço 14 0 1 15 1 0 1 2 0 0
Lanche 2 12 0 2 14 2 0 0 2 1 1
Jantar 14 0 2 16 1 0 0 1 0 0
Ceia 7 0 1 8 0 0 2 2 7 7
Total 53 1 6 60 14 6 8 28 14 14
% 52 1 6 59 13 6 9 28 13 13
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a fase 5, atividade física leve que incluía a caminhada


Tabela IV – Auto-monitoração e seguimento de regras
nutricionais durante a fase 5. lenta até a feira situada a duas quadras de sua casa, ou a
caminhada até a escola onde seu sobrinho estudava, a
Fase 5: Registros de Manutenção três quadras de sua casa; além de aumento no número de
Refeições EA NE
visitas a parentes e amigos e retorno às atividades no
Grupo de Terceira Idade.
Desjejum 15 2
O quadro II apresenta alguns relatos da paciente
Lanche 1 9 8 referentes ao planejamento e à execução das refeições,
Almoço 16 1 além das mudanças ocorridas durante as fases do
Lanche 2 13 4 procedimento.
Jantar 17 0 Pode-se observar no quadro II, que a paciente não
Ceia 9 8
apresentava comportamentos de adesão no que se refere
ao planejamento, durante as fases iniciais deste estudo.
Total 79 23
Estes comportamentos são instalados a partir da fase 4,
% 77,5 22,5 na auto-monitoração com planejamento, mantendo-se
durante a fase 5, na auto-monitoração de manutenção.
Em comparação com os registros das fases anteriores, No quadro II, observa-se a instalação de atividade
permanece maior adesão no jantar, almoço e lanche 2, física leve e a suspensão da medicação, segundo relatos
havendo melhora na adesão no desjejum. Analisando-se da paciente, que foram confirmados com a análise de
os valores apresentados na tabela IV, pode-se verificar seu prontuário. Pode-se observar também a dificuldade
que a paciente obteve ganhos em termos de aumento das dela em aceitar a retirada do hipoglicemiante oral. Isto,
refeições executadas, com adesão em relação à provavelmente, deve-se ao reforçamento obtido com o
quantidade de refeições executadas, durante a linha de uso da medicação pelos efeitos imediatos que ela oferece
base. Os resultados também sugerem que não houve – isto é, controle da glicemia sem a mudança imediata
mudanças significativas no fracionamento das refeições de hábitos. Na análise funcional realizada com a paciente
durante a fase de manutenção, uma vez que a paciente durante a fase 6, sobre os resultados obtidos com a adesão
permaneceu executando a ceia e o lanche 1 com baixa ao tratamento, foi dada orientação sobre a segurança da
freqüência. suspensão da medicação, fazendo-se uma avaliação sobre
Os efeitos do uso de registros de auto-monitoração a competência médica e sobre todos os ganhos que a
também foram observados com a estabilização do peso paciente obteve com a construção e ampliação de
corporal da paciente em 84 kg, a estabilização da taxa comportamentos alimentares adequados e hábitos mais
de normoglicemia, inclusive com a suspensão do uso de saudáveis.
hipoglicemiante oral pela médica do programa, conforme
exposto no quadro I. Discussão
O quadro I demonstra que no início do estudo a
paciente já apresentava uma taxa de glicose Os resultados deste estudo sugerem que o uso de
correspondente a um estado de normoglicemia; no registros de auto-monitoração do comportamento
entanto, é importante notar que a paciente necessitava alimentar, melhorou a adesão da paciente ao seguimento
usar hipoglicemiante oral para manter a taxa de glicose das regras nutricionais, confirmando a literatura [8]. O
dentro do padrão de normalidade. Com o uso da auto- procedimento utilizado, baseado na Análise do
monitoração do comportamento alimentar, a paciente Comportamento Aplicada, foi de grande relevância,
conseguiu manter a taxa normal da glicose sem fazer permitindo a introdução do treino de auto-monitoração,
uso de medicação. de acordo com as características individuais e com a
Houve uma pequena redução no peso corporal, se realidade da paciente, conforme vem sugerindo a
comparado ao peso inicial da paciente na pesquisa. Isto literatura [1,10].
provavelmente se deve ao fato de que a paciente fazia O estudo demonstrou que a paciente apresentou
uso de anti-inflamatório hormonal com componentes inúmeros ganhos para sua saúde, a partir do uso da auto-
corticóides, para tratamento de artrose, o que dificulta a monitoração de comportamentos alimentares, com
redução do peso. No entanto, a paciente iniciou, durante aumento significativo na execução de refeições

Quadro I - Glicemia e peso da paciente no decorrer do estudo.


Datas 30/08/01 15/09/01 25/09/01 29/09/01 03/10/01 08/10/01 17/0/01 05/12/01
Glicemia 92mg/dl 129mg/dl 120mg/dl 91mg/dl 95mg/dl 112mg/dl 99mg/dl 105mg/dl
Peso 86kg 86kg 85,900kg 85,900kg 85,850kg 85,650kg 85,450kg 84,900kg
458 Ferreira EAP et al / Diabetes Clínica 06 (2002) 452~459

Quadro II - Relatos da paciente referentes ao planejamento e à execução de refeições, atividade física e uso de medicamento.
Relatos da paciente
Planejamento “A minha comida é assim: bem pouquinha; não gosto de me encharcar”...
das refeições “ Não, eu não planejo o que eu vou comer...”
“...É difícil, por que às vezes não tem nem o que comer, como que vai planejar?”
“...eu tenho comprado a comida um dia antes e vejo o que eu vou comer; isso quando dá né...”
“é, quando a gente planeja, as coisas saem direito; assim é com a alimentação”
“Agora esse lanche e essa ceia eu fico trocando; quando eu faço um, não faço outro; já é muita comida.”

Execução “...só faço esse lanche da manhã quando acordo cedo.”


das refeições ”Eu nunca fui de comer muito, várias vezes no dia...”
”Tá difícil eu fazer esse café assim com pão e não sei o que mais..”
”...é difícil eu fazer esse lanche antes do almoço porque eu já tomo café tarde...”
”..me sinto mal quando fico sem comer, parece que vai dando uma tontura...”
”...é, eu tenho me sentido melhor. Tô comendo melhor, direito.’
”Não deu pra comer o frango, mas aí eu comi peixe igual como tava dizendo no frango”(mesma quantidade).
”É, agora eu não fico mais tonta; porque antes eu ficava sem comer...”
”Eu não sinto fome de noite, aí às vezes eu faço a ceia quando eu não fiz o lanche, ou da manhã, ou da tarde”

Atividade Física “Lá em casa todas nós somos gordas. Eu já pesei 96 quilos”.
”Olha, eu até me sinto mais leve, eu fico menos cansada”.
”Já vou lá na padaria, que é no final da rua; devagar, mas não me sinto mal. Antes eu nem ía!”
”Levo o R. Pro colégio, volto, vou na feirinha comprar o almoço; tudo devagar por causa da coluna”.

Uso de “Eu tenho pavor que o meu diabetes chegue a trezentos e lá vai.... Deus me livre!!”
medicamento ”Eu já pedi, mas a médica disse que não vai mais me dar o remédio porque eu não preciso mais...”
”Eu tenho medo de ficar sem o remédio, mas a doutora disse: ‘a senhora não precisa porque a senhora se cuida’.
Aí eu tô sem o remédio”

adequadas, durante a fase de acompanhamento (fase 5), obteve ganhos para a sua saúde a partir da introdução
apesar de não ter apresentado aumento no fracionamento gradativa das regras, com a análise dos benefícios obtidos
de suas refeições diárias . com a melhora na adesão ao tratamento, de acordo com
No início do estudo, a rotina da paciente não permitia a linha de base que a paciente já apresentava [4,7]. A
o fracionamento das refeições, tal como prescrito pelo paciente aprendeu a reconhecer as contingências que
Serviço de Nutrição, visto que costumava acordar em favoreciam a emissão de comportamentos alimentares
horário próximo do almoço, optando por apenas fazer o inadequados e passou a reformulá-las, planejando
desjejum, suprimindo o lanche 1. Neste sentido, a refeições mais adequadas através de registros de auto-
paciente procurava adequar suas refeições aos horários monitoração.
da sua rotina e a execução de um lanche entre o desjejum O uso de procedimentos de auto-monitoração produz
e o almoço se tornaria mais prejudicial do que não fazê- benefícios, mas não é sinônimo de 100% de adesão, pois
lo, considerando o tempo menor que 3 horas entre as o paciente pode abandonar o tratamento, ou parte dele,
refeições. Entretanto, no final da fase 4, após o treino de em determinadas situações. No entanto, a literatura
registro com uso de análise funcional, a paciente passou mostra que a auto-monitoração favorece a adesão ao
a mudar seus hábitos, começando a executar o lanche 1 tratamento, permitindo que o paciente avalie os ganhos
de forma mais adequada, apresentando maior freqüência obtidos e retorne ao tratamento sempre que haja
na fase 5. Isto corrobora a necessidade de se avaliar as necessidade [1,5].
idiossincrasias de cada paciente para o estabelecimento O planejamento das refeições constitui-se uma parte
do tratamento, a fim de que este não se torne oneroso e importante na aplicação de procedimentos de auto-
dificulte a adesão do paciente, tal como proposto pela monitoração para adesão ao tratamento. Ao utilizar
literatura [1,10]. registros de auto-monitoração, a paciente pôde aprender
Os resultados confirmam a literatura, que destaca a sobre relações funcionais, tornando-se capaz de
importância da auto-monitoração na adesão ao tratamento identificar variáveis que estavam controlando seu
de doenças crônicas, considerando-se que a paciente comportamento de auto-cuidado, aumentando a
Ferreira EAP et al / Diabetes Clínica 06 (2002) 452~459 459

probabilidade de melhorar a adesão ao tratamento. Os indiretamente no comportamento de adesão ao


relatos da paciente, no início deste estudo, indicavam tratamento, no sentido de identificar e minimizar estas
déficits em comportamentos de planejar a alimentação, variáveis para a obtenção de resultados positivos. Para
pois a paciente decidia quais seriam suas refeições que os ganhos sejam mantidos, torna-se necessário,
durante o dia, no momento da compra dos alimentos, também, que o paciente receba apoio da rede social e de
dependendo do que fosse possível ser comprado, uma equipe multiprofissional.
alegando dificuldades financeiras, o que favorecia o
consumo de alimentos inadequados e menos saudáveis. Agradecimentos
A partir de orientações para resolução de problemas e
do planejamento prévio das refeições, a paciente passou Agradecimentos à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-
a optar por alimentos mais adequados e a controlar Graduação da Universidade Federal do Pará e à equipe
melhor a quantidade de alimentos ingeridos. Neste do Programa Multiprofissional de Atenção ao Portador
sentido, a situação financeira se mostra como uma de Diabetes do Hospital Universitário Bettina Ferro de
variável que exerce influência direta sobre o Souza, pela ajuda neste trabalho de conclusão de curso
comportamento alimentar. Fatores econômicos, como de graduação em Psicologia, realizado com apoio do
baixa renda financeira, má administração do dinheiro, Programa Integrado de Ensino, Pesquisa e Extensão da
déficit na análise de custo na escolha dos alimentos a Universidade Federal do Pará/2001-2002.
serem comprados, favorecia o consumo de alimentos
inadequados, levando à baixa adesão à dieta. O Referências
planejamento das refeições permitiu a análise prévia das
contingências estabelecidas e a reformulação destas, de 1. Duchesne M. Tratamento cognitivo-comportamental da
maneira que produziram o comportamento alimentar obesidade. In: Halpern, Matos, Suplicy, Mancini e Zanella,
editores. Obesidade. São Paulo:Lemos Editorial 1998.
adequado de acordo a realidade e possibilidades da 2. Coutinho W. La obesidade como factor de riesgo de enfermidades
paciente. y condiciones asociadas. In: Consenso Latino Americano em
Os resultados obtidos nesta pesquisa também sugerem Obesidade. Obtido em maio de 1999. Disponível na internet via
que, além de considerar as idiossincrasias do paciente, a www.abeso.org.br/consenso.br
aplicação do treino de auto-monitoração deve ser 3. Zagury L, Zagury T, Guidacci G. Diabetes sem medo: orientação
para diabéticos e seus familiares. Rio de Janeiro, RJ: Rocco 1998.
estabelecida de forma gradual, utilizando-se princípios 4. Ferreira EAP. Adesão ao tratamento em portadores de diabetes:
de modelagem de comportamentos adequados, através efeitos de um treino em análise de contingências sobre
dos registros com diferentes níveis de complexidade, a comportamentos de autocuidado. Tese de Doutorado. Brasília:
serem preenchidos pelo paciente, iniciando o treino com UnB 2001.
registros simples para que ele não sinta dificuldades e se 5. Heller DCL, Kerbauy RR. Redução de peso: identificação de
variáveis e elaboração de procedimentos com uma população de
familiarize com a auto-monitoração, motivando-se para baixa renda e escolaridade. Rev Bras Terapia Comportamental e
o tratamento. Posteriormente pode-se introduzir registros Cognitiva 2000;2:31-52.
mais complexos, que exigem detalhamentos específicos 6. Skinner BF. Ciência e comportamento humano. São Paulo, SP:
do comportamento alimentar, permitindo ao paciente Martins Fontes 1998.
analisar as contingências que controlam seu 7. Goldiamond I. Toward a constructional approach to social
problems: Ethical and constitutional issues raised by applied
comportamento, a instalação de autocontrole e, behavior analysis. Behaviorism 1975;2:1-84.
conseqüentemente, a minimização ou até extinção de 8. McCann BS, Bovbjerg VE. Promoting dietary change. In:
comportamentos prejudiciais à saúde e à adesão ao Schumaker SA et all, editores. The handbook of health behavior
tratamento [4,5]. Quando o paciente se tornar capaz de change. New York: Springer Publishing Company 1998:166-188.
analisar contingências e exercer o autocontrole, volta-se 9. Amaral VAR. Novos desafios na formação do psicólogo na área
da saúde. In: Kerbauy RR, editor. Comportamento e saúde:
a introduzir registros simples, em que ele possa avaliar explorando alternativas. Santo André; SP: ArtBytes 1999:3-9.
os ganhos em manter comportamentos alimentares 10. Guimarães SS. Psicologia da saúde e doenças crônicas. In:
adequados. Os resultados deste estudo também ressaltam Kerbauy RR, editor. Comportamento e saúde: explorando
a importância da intervenção clínica, concomitante à alternativas. Santo André, SP: ArtBytes 1999:22-45.
implementação do procedimento, visto que fatores
psicológicos e outras dificuldades influenciam direta ou
460
Normas de publicação Diabetes Clínica
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Normas de publicação Diabetes Clínica 461

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para paginação.
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aparelhos, etc.
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
3. Autoria Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
participado do trabalho o suficiente para assumir a
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as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na Journals Indexed in Index Medicus”.
obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a
participação como autor. A supervisão geral do grupo de Exemplo:
pesquisa também não é suficiente. Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S et al. Expression
and localization of urokinase-type plasminogen activator
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Na segunda página deverá conter um resumo (com no
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 6- Agradecimentos
palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou
informações: de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do
- Objetivos do estudo. artigo, antes as referências, em uma secção especial.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem,
metodologia, análise). Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos). Jean-Louis Peytavin
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior Atlantica Editora
novidade. Rua Conde Lages, 27 - Glória
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras- 20241-080 Rio de Janeiro RJ
chave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para Tel: (21) 2221 4164
E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
462 Diabetes Clínica 06 (2002)

Calendário de Eventos
FEVEREIRO DE 2003 JUNHO DE 2003
3th International Symposium on Diabetes & Pregnancy 14 a 17 de junho
Geneva, Switzerland 63th Annual Scientific Sessions of the American Diabetes Association
Informações: PO Box 50006 Tel Aviv 61500 Israel New Orleans, Louisiana
Tel: 972 3 514 0014 Informações: +1 800 232 3472
E-mail: conventions@kenes.com E-mail: meetings@diabetes.org
www.diabetes.org

MARÇO DE 2003
19 a 22 de março AGOSTO DE 2003
PPARs: From basic science to cclinical appplications 6 a 10 de agosto
Firenze, Italiá 30th Annual Meeting of the American Association of Diabetes
Tel: +39 02 2900 6267 Educators
E-mail: ppars@lorenzinifoundation.org Salt Palace Convention Center, Salt Lake City, Utah
Tel: (312) 424 2426
www.aadenet.org
ABRIL DE 2003
26 a 30 de abril 24 a 29 de agosto
6th European Congress of Endocrinology 18th Internacional Diabetes Federation Congress
Lyon, França Paris, França
Informações: W.M. Wiersinga Informações: Prof. Dr. Gerard Cathelineau, Hopital Saint-Louis, 1
Department of Endocrinology & Metabolism avenue Claude Vellefaux, 75010 Paris, França
Academic Medical Center F5-171 Tel : +33 1 4249 9697
Meibergdreef 9 www.idf.org
1105 AZ Amsterdam - The Netherlands
Tel.: 31 20 566 6071
Fax: 31 20 691 7682 SETEMBRODE 2004
w.m.wiersinga@amc.uva.nl
5 a 9 de setembro
40th Annual Meeting of th European Association for the Study of
17 a 21 de abril Diabetes
Vo Congresso Brasileiro Pediátrico de Endocrinologia Munich, Alemanha
e matabologia
www.easd.org
Vo Cobrapem
Mar Hotel, Recife, Pernaambuco Informações: easd@uni-duesseldoorf.de
Presidente: Profa. Dra. Elcy Falcão
Informações: (81) 3423-1300
E-mail: andrealatache@assessor5-pe.com.br

MAIO DE 2003
14 a 18 de maio
12th annual meeting and clinical congress of the American
Association of Clinical Endocrinologists (AACE)
San Diego, California
informações: The AACE
E-mail: info@aace.com
Site: http://www.aace.com

29 de maio a 1 de junho
12th European Congress on Obesity
Helsinki, Finland
Informações: Dr. Mikael Fogelholm
UKK Institute for Health Promotion Research, POB 30, 33501
Tampere, Finland
Tel: + 358 3 2829 201
Fax: + 358 3 2829 559
E-mail: mikael.fogelholm@uta.fi

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