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adden GEOCENTRO Analise do Desempenho Geotécnico da Barragem de Enrocamento com face de Concreto de Ita por meio da Aplicagao de Método de Elementos Finitos Kurt André Pereira Amann Centro Universitario FEI, So Bernardo do Campo, Brasil, kpereira@fei.edu Caique Roberto de Almeida Centro Universitério FEI, S40 Bernardo do Campo, Brasil, crdealme@gmail.com RESUMO: © presente artigo tem por objetivo efetuar andlises em termos de deformagdes na Barragem de Enrocamento com Face de Concreto (BEFC) de Ita com o intuito de avaliar o desempenho geomecanico de seu macigo de enrocamento em interagdo com lajes de conereto armado, As simulagdes efetuadas tomam por preceito a execugZo de modelos em anilise por etapas construtivas carregamento hidrostitico. Apresenta-se, com 0 intuito de subsidiar as simulagdes desenvolvidas, uma breve revisdo bibliogrifica responsavel por abordar aspectos basicos de projeto, bem como o comportamento mecinico de aterros de enrocamento. Destaca-se a utilizagdo do software ANSYS, fundamentado no Método dos Elementos Finitos, para 0 adequado desenvolvimento de estudos relacionados ao desempenho do sistema geotécnico-estrutural. PALAVRAS-CHAVE: BEFC, Ité, Desempenho Geomecanico, Elementos Finitos 1 INTRODUGAO ‘Ao longo da historia, © proceso de desenvolvimento do projeto de Barragens de Enrocamento com Face de Concreto evoluiu de um estigio essencialmente empirico, em que decisées técnicas cram tomadas a partir do aciimulo de experiéncia de profissionais da drea, para um cenério em que pesquisas mediante ensaios, analises numéricas e softwares de modelagem computacional passaram a constituir ferramentas fundamentais no sentido de se compor um s6lido projeto. Seguindo tal tendéncia, o presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados referentes & aplicagdo do Método de Elementos Finitos por meio do sofware ANSYS & Barragem de Enrocamento com Face de Conereto de Ita, haja vista o intuito de se simular 0 comportamento geomecdnico dos elementos geotéenicos e estruturais em andlise construtiva por etapas ¢ carregamento _hidrostatico, _inicialmente estudados por meio de premissas. tedricas GEOCENTRO 2017, Golinia/GO, Brasil. fundamentadas na Mecdnica dos Enrocamentos e em principios da Engenharia Geotéenica. ‘A justificativa acerca da escolha da Barragem de Enrocamento com Face de Conereto de Ité para aplicagdo de Método de Elementos Finitos consiste na interago entre dois importantes aspectos: a ocorréncia de trincas e infiltragdes na laje de concreto, com consequente percolaco no aterro, assim como a observago de recalques em. um macigo de enrocamento representative do modelo de zoneamento proposto em Cooke (1987). 2 GENERALIDADES 21 Del i¢do € elementos constitutivos Barragens de enrocamento com face de conereto sio definidas como elementos geotécnico- estruturais constituides por um macigo rochoso compactado em camadas em intera¢o com uma membrana de concreto armado (COOKE e SHERARD, 1987). De forma geral, Barragens de Enrocamento com Face de Conereto apresentam estrutura principal constituida por enrocamento zoneado e compactado, aja vista necessidade de resisténcia de solicitagdes provenientes do nivel do reservatorio, além de sua natural finalidade de atuar como barramento para a gua ou outro material, Por outro lado, este tipo de barragem & caracterizado pela existéncia de laje de concreto situada sobre 0 talude de montante, atuando como septo.impermedvel (COOKE e SHERARD, 1987). plinto, situado entre a fundagao e a laje de concreto da barragem, possui a fungio de controlar o fenémeno da percolaco, bem como 0s gradientes hidraulicos que se desenvolvem na fundagdo (BASSO, 2007). ‘A Figura | sintetiza graficamente os principais elementos constituintes de uma BEFC. Figura 1. Segao transversal tipica de uma BEFC (Fonte: Basso, 2007) 2.2 Zoneamento tipico Reconhecidos no meio técnico por constituirem, uma das mais importantes contribuigdes a concepgiio de BEFCs, os artigos publicados em 1987 por Cooke definiram as fungées ¢ requisitos de diferentes zonas de materiais no macigo de enrocamento de BEFCs. A Figura 3 retrata 0 zoneamento de uma BEFC: Figura 2. Zoncamento tipico de uma BEFC (Fonte: Autores, “adaptado de” Cooke, 1987) Legenda 1A — Solo impermedvel 1B — Random - Qualquer tipo de material impermedvel 2 — Transigio de rocha fina processada (filtro) GEOCENTRO 2017, Goiinia/GO, Brasil. 2B — Transigdo de rocha fina processada, compactada em camadas de 30 a Sem 3A — Rocha mitida selecionada, compactada em camadas de 30 a 50cm 3B — Enrocamento compactado em camadas de 80a 100cm 3C — Enrocamento compactado em camadas de 150 a 200 cm 3D — Enrocamento somente langado ¢ opcional 2.3 Comportamento geomecénico Fundamentalmente, 0 comportamento mecdnico de macigos de enrocamento depende da quebra que ocorre entre os blocos e seus contatos, bem. como do rearranjo de materiais rochosos no interior do aterro, por conta do acréscimo de pressio interna, responsdvel por provocar erescimento proporcional dos valores de forga de contato entre as particulas, que tendem a superar a resistencia ao esmagamento de regi especificas dos blocos (Cruz et al., 2014). Vale destacar a existéncia de dois processos fisicos que ocorrem em BEFCs: A - Fluéncia: corresponde ao processo de acomodacio gradativa e progressiva dos blocos de rocha e suas particulas em razdo de alteragdes no arranjo estrutural do macigo. B_ - Colapso: fenémeno resultante do esmagamento das pontas rochosas, que tendem a perder resisténcia quando se encontram em estado submerso. Barragens de enrocamento com face de concreto apresentam duas fases distintas de solicitagdes. Primeiramente, observase que a construgdo da barragem impée carregamentos proprios ao aterro, em virtude do peso proveniente de camadas superiores sobre os materiais dispostos em regides inferiores em termos de cotas. Por outro lado, o enchimento do reservatorio ocasiona carregamento hidrostitico a ser transmitido pela laje de conereto. A Figura 3 exibe a seco deformada ao final da construgo de um macigo de enrocamento. Figura 3. Abaulamento da segdo do macigo ao final da construgdo (Fonte: Mori, 1999 ‘A Figura 4, por sua ver, ilustra o deslocamento do talude de montante em diregdo a jusante por conta do carregamento hidrostatico. Figura 4. Deflexio da face de montante por conta do enchimento do reservatério (Fonte: Mori, 1999) 3 CONSIDERAGOES PARA MODELAGEM Para validagio do modelo bidimensional em estado plano de deformagées, faz-se necessaria a consideragdo do corte da segdo da barragem em estudo, com imposigao de espessura de I metro, Através das condigdes de contomo, para atender a exigéncia de restrigio dos movimentos perpendiculares 4 seco, impede-se em toda a barragem os deslocamentos no eixo Z, rotagdes no eixo X e rotagdes no eixo Y. ‘Ao considerar a barragem apoiada_ em fundagdo rochosa, deve-se inibir os movimentos da base. Para isso, faz-se necessirio restringir todos os graus de liberdade dos nés localizados na cota inicial. 3.1 Modelagem por etapas construtivas Para que a obtengo dos deslocamentos em fase construtiva siga a simulago mais proxima da realidade, € necessiria a realizagio de cilculo incremental, sendo a modelagem realizada através de diversas etapas construtivas, ‘Algumas premissas so necessirias para validagio do modelo. Primeiramente, deve-se considerar que apenas uma espessura determinada seré construida, sendo que esta é a linica responsivel por aplicar carregamento no restante da estrutura no momento de sua construgao. Ao incrementar uma nova camada, as etapas previamente construidas tém seu peso desconsiderado, uma vez que estes ja agiram na estrutura gerando os deslocamentos obtidos durante seu alteamento. 3.2. Pardmetros dos materiais A. disposigo dos enrocamentos na _ segao GEOCENTRO 2017, Goiinia/GO, Brasil. transversal, bem como seus _respectivos parimetros computados. em modelo computacional so sintetizados na Figura 5 Figura 5. Especificagdo dos materiais da BEFC de ITA. (Fonte: Autores “adaptado” de Souza, 2008) 3.3 Interface Em estudos que exprimem a interagio entre materiais de propriedades fisicas "bastante distintas, como o contato enrocamento-estrutura, verifica-se a necessidade de se utilizar elementos especiais para que se compatibilize deformagées eten: A ctiagdo de uma interface com elementos distintos dos materiais € sugerida em Cruz et al (2014) para representar o contato entre face de conereto e enrocamento. Deste modo, na modelagem realizada, criou-se uma interface com o elemento de barra (BEAM 188), com seco transversal de Ix] me mesmas condigées de contomo da fase de construgdo. O médulo de clasticidade utilizado, expressivamente menor do que o dos materiais de contato, foi de | MPa © coeficiente de Poisson de 0,3. ‘As barras sio elementos unidimensionais, portanto sua divisdo de elementos finitos é feita através de seus nds adjacentes e ao longo de sua extensdo, diferentemente das chapas. A barra sobrepés a linha diviséria entre o enrocamento ¢ a laje, dividindo com estes, os mesmos nés da malha estrutural. 4 RESULTADOS E DISCUSSOES 4.1 Deslocamentos verticais em anilise constrativa tinica e por etapas A fim de evidenciar an modelagem — computacional através de sobreposigo das camadas construtivas ini se a simulago do comportamento da barragem com apenas uma etapa de construgio. Os resultados, apesar de no condizentes com o desempenho real da barragem, foram utilizados com o intuito de se evidenciar a necessidade de modelagem por etapas construtivas similares as observadas em campo. A Figura 6 ilustra o modelo estrutural realizado através do ANSYS para uma camada construtiva, com discretizagao dos elementos finitos para cada trés metros, Le. Figura 6, Representagio da estrutura diseretizada © local de deslocamento maximo encontra-se na regio superior da barragem, com valor de - 5,77119 m, como mostrado na Figura 7. y Figura 7. Deslocamentos da estrutura para uma etapa construtiva. (m] © peculiar comportamento desta andlise se deve ao fato de que, ao simular-se a construgao de toda a barragem em apenas uma camada, os enrocamentos nfo —sio._-—compactados gradualmente, a0 tempo em que todo o carregamento proveniente do peso proprio da estrutura age em etapa tinica, A anilise seguinte considera a_ estrutura constr em sete etapas. A modelagem foi realizada com as mesmas condigdes de contomo € mesma discretizagao dos elementos finitos da anilise anterior. A Figura 8 ilustra os deslocamentos obtidos para a quarta etapa construtiva, que apresentou recalque maximo de 1,73821 m, o maior entre as camadas analisadas. Figura 8. Deslocamentos verticais da quarta etapa [mi] GEOCENTRO 2017, Goiinia/GO, Brasil. ‘A Figura 9 sintetiza os valores finais de deslocamentos obtidos a partir dos recalques por etapas construtivas, aplicando-se _cdlculo incremental dos deslocamentos nodais no centro da barragem, em sua diregao X (responsavel por apresentar maiores deformagGes). Verifica-se recalque maximo de 3,944 metros na regio central da barragem, onde atuam maiores niveis de tensdes de confinamento. Figura 9. Grifico deslocamento vertical (m) x altura ( A anilise desenvolvida em diferentes etapas construtivas revela, nas porgdes inferior e superior da barragem, valores de recalques significativamente relagio as demais alturas. Na base, isso ocorre pelo fato de que a fundag3o rochosa tende a apresentar reduzidos deslocamentos, enquanto no topo observa-se 0 estreitamento da segdo © menor peso aplicado. As etapas construtivas 5,6 e 7 apresentaram, respectivamente, méximos valores de recalques de 0,71339 m, 0,393904 m € 0,94829 m, o que evidencia 0 fato de que o alteamento das tiltimas etapas de construg3o pouco influencia 0 deslocamento vertical da barragem, Esses resultados se devem ao fato de que os cnrocamentos das etapas anteriores ja obtiveram, consideravel grau de compactagiio, fendémeno que ocorre de forma menos acentuada a cada camada, Outro fator determinante & que os médulos de elasticidade dos enrocamentos ores conforme aumenta-se a altura da barragem, fazendo com que os materiais que compe as iiltimas camadas provoquem menor deformagao do macigo. menores em. 4.2. Deslocamentos horizontais na laje de conereto Os deslocamentos horizontais da estrutura, obtidos a partir das simulagdes anteriores 4 construgio da laje de concreto, se caracterizam por apresentar estreitamento na metade superior da barragem e alargamento na metade inferior. Este fato é ilustrado na Figura 10, onde observa- se a movimentago da estrutura conforme expectativa da Figura 3, que ilustra o fendmeno do abaulamento, © maior deslocamento obtido, nesta etapa construtiva (6* etapa) foi de 0,119648 ‘mo topo da barragem, kL Figura 10, Deslocamento horizontal por conta da cconstrugao da 6* camada [mi] A Figura 11 apresenta os deslocamentos horizontais desenvolvidos na face de montante com a construgio de cada etapa construtiva Observa-se que os deslocamentos horizontais méximos so obtidos apés a construgdo da 4* camada e apresentam valores na ordem de 0,50 m, Esta camada est entre as cotas 325,5 me 348,5 m. A partir desta camada, observa-se que os deslocamentos horizontais se reduzem em magnitude de mais de 50%. Isto pode ser jjustificado pelo fato de que, de forma geral, quanto mais espessa for a camada, mais suscetivel & ocorréncia de recalque ela estard. Figura 11, Deslocamentos Horizontais Face de Montante (nm) GEOCENTRO 2017, Gotinia/GO, Brasil ‘A Figura 12 apresenta o deslocamento final da face de montante antes e depois da construgdo da laje de concreto, Observa-se poucas alteragdes entre as duas fases. O efeito do abaulamento se preserva, como esperado. O n6 localizado na altura de 98m apresenta, em ambos os estagios, © maior deslocamento final (antes da construgao da laje: 0,6682m © depois de sua construgdo: 0,7003m). : 2 Figura 12. Deslocamento horizontal final na face de rmontante antes (diteita)¢ depois (esquerda) da construgio da laje de conereto A Figura 13 ilustra. os deslocamentos horizontais na laje de concreto e enrocamento da face de montante. Observa-se que os deslocamentos desenvolvidos na laje de concreto acompanham os recalques do macigo de enrocamento, Observa-se também que os deslocamentos causados por conta da construgdo da laje so menores. O maior deslocamento obtido nesta anilise foi de 3,50 em na altura de 90 m da barragem, Figura 13. Deslocamentos horizontais na laje de conereto ce enrocamento 4.3 Deslocamentos em etapa de enchimento do reservatério Durante a fase de enchimento, os movimentos que ocorrem na barragem devido a ago do carregamento hidrostatico tomam a barragem mais rigida, fazendo com que os médulos de elasticidade usados nesta etapa sejam diferentes dos que foram usados na fase de construgao. Em Cruz ef al, (2014) argumenta-se, a partir de dados provenientes do enchimento de diferentes BEFCs, que 0 médulo de elasticidade tende a aumentar de 2 a 3 vezes quando comparado aos valores de médulo de elasticidade usados na construgio da barragem. Smpregou-se, portanto, valores de médulo de clasticidade em etapa de carregamento hidrostitico 2,5 vezes superiores as estimativas de médulo de clasticidade empregados em cendrio de construgio por etapas. ‘A Figura 14 exibe os resultados obtidos para os deslocamentos combinados a partir dos eixos x y em etapa de carregamento hidrostitico. O maior valor de recalque registrado nesta etapa foi de 0,30851 1m. Figura 14, Destocamentos combinados eixos x e y [m) 5 CONSIDERACOES FINAIS A partir das revisdes bibliograficas e andlises computacionais efetuadas ao longo do presente trabalho foi possivel concluir que 0 desenvolvimento de andlises numéricas baseadas em Método de Elementos Finitos constitui uma importante ferramenta para a adequada avaliagao do desempenho de projetos de Barragens de Enrocamento com Face de Concreto. Tendo por preceito de andlise a aplicagdo do método de elementos finitos por meio do sofiware ANSYS, conelui-se que a anilise geotécnica efetuada através de _etapas construtivas constitui modelo mais preciso GEOCENTRO 2017, Goiinia/GO, Brasil quando comparado & simulago baseada em etapa nica de carregamento. Desse modo, assinala-se a limitagio de andlises conduzidas com base na composig&o de BEFCs em etapa linica, visto que deformagdes _ excessivas desenvolvidas em modelo real so compensadas pela disposigao das camadas superiore: E notavel a concentragao de deslocamentos no cere da barragem, pois observa-se, de forma geral, o efvito de confinamento acentuado na zona central de macigos de enrocamento, Quanto aos deslocamentos causados pela construgao da laje de concreto, observa-se que estes séo pequenos e que acompanham a deformagio do enrocamento, tendo em vista caracteristica flexivel da laje de concreto. Convém citar que os valores de deslocamento obtidos em etapa de carregamento hidrostitico revelaram-se satisfatérios, haja vista. sua proximidade com relagdo aos valores medidos em campo. REFERENCIAS, Basso, R. V. (2007) Estudo tensdo-deformacito de um ‘enrocamento visando barragens de enrocamento ‘com face de concreto. Dissertagio de Mestrado - ‘Curso de Engenharia Civil, Engenharia Geotéenica, Universidade de Sao Paulo, So Paulo, 129 p. Cooke, IB. Sherard, JL. (1987); "Conerete-Face Rockfill Dam: Il. Design”, Jounal of Geotechnical Engineering, ASCE, Vol. 113, cruz, P.T.; Freitas, M.; Materén, B. (2014) Barragens de ‘enrocamento com face de concreto, Si Paulo Oficina de Texto 2014. Mori, R.T. Deformagies e trincas em barragens de ‘enrocamento com face de concreto. Simpésio sobre barragens de enrocamento com face de concreto, 2, 1999, Florianépolis, SC. CBDB, p. 47-60. Souza, K. S. (2008) Barragens de enrocamento com face de concreta: Andlise de tensées pelo método dos elementos finitos na fase construtiva por etapas. Dissertagdo de Mestrado - Curso de Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianépolis, 160 p. GEOCENTRO Analises da Ruptura em Trecho da BR-060 no Municipio de Alexania, Goids, e Condigdes Apés Seis Anos da Recuperagao Rideci Farias, D. Sc. UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasilia, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com Tiago Matias Lino, B. Se. Instituto de Ensino Superior Planalto (esPlan), Brasilia, Brasil, tiagoltmatias@gmail.com Haroldo Paranhos, M. Se. UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / lesPlan, Brasilia, Brasil, reforsolo@gmail.com Itamar de Souza Bezerra, M. Sc. Maceaferri, Goidinia, Brasil, itamar@maccaferri.com.br Ranieri Aratjo Farias Dias, Estudante de Engenharia, Universidade Federal do Para (UFPA), Belém, Brasil, ranierileislie@yahoo.com.br Alexsandra Maiberg Hausser, Estudante de Engenharia. UniCEUB, Brasilia, Brasil, alexsandramaiberg@hotmail.com RESUMO: O Rompimento da BR-060/GO ocorreu na divisa entre 0 Distrito Federal ¢ o estado de Gois, préximo A cidade de Alexinia/GO, km 24, dia 28 de dezembro de 2010. Em média, na rodovia passa cerca de 60 mil vefculos por dia. A regio é caracterizada por terreno acidentado com morros, vales ¢ baixadas, fatores estes que contribuiram para 0 ocortido, Também & cercada por diversos cursos d’agua. O deslizamento de terra resultou em uma cratera com cerca de 60 metros de comprimento ¢ 12 metros de profundidade, interditando completamente a via e 0 trifego de veiculos. As obras de recuperaso objetivaram a execugo dos dispositivos de drenagem superficial e subterrinea, servigos de contengio em gabido, pavimentagio e recuperagao ambiental, Assim sendo, este Artigo objetiva apresentar andlises das possiveis causas, mas também as solugdes adotadas para recuperagao do trecho avariado. PALAVRAS-CHAVE: BR 060, Alexania/GO, Estabilidade, Ruptura ¢ Recuperacdo. principal para recuperagdo do trecho inclui 1 INTRODUGAO. sistema de contengo em gabifio, associados a obras complementares com vistas & recuperagdo Este artigo objetiva apresentar anilises das do trecho para a liberagdo do trifego na vi possiveis causas do deslizamento, mas também, as solugdes adotadas para recuperagao do trecho que rompeu da BR-060/GO na divisa entre 0 2 LOCALIZACAO DO TRECHO Distrito Federal e 0 estado de Goids, proximo a AVARIADO cidade de Alexdnia/GO. Ademais das condigées atuais, seis anos apés o término da recuragio o_O trecho que sofreu ruptura localiza-se préximo trecho avariado. A solugio a divisa do Distrito Federal ¢ 0 estado de Gi proximo a cidade de Alexinia/GO. A regido é GEOCENTRO 2017, Gotinia/GO, Brasil. caracterizada por topografia acidentada e areas sujeitas a escoamento e cursos d’agua. A Figura 1 mostra o mapa geral de localizagdo da area onde ocorreu a ruptura, que fica préximo a 15 km da cidade de Alexania/GO. Figura I. Localizagdo do rompimento da BR 060/GO (NIT, 2011), © deslizamento de terra com uma cratera proximo de 60m de comprimento e 12 metros de profundidade, interditou a via eo trafego de veiculos na regio. O intenso periodo de chuvas seria a causa principal do deslizamento, felizmente sem vitimas, apesar da gravidade. As Figuras 2 a 4 mostram o trecho que rompeu. Figura 3, Trecho rompido da BR-060/GO (31/12/2010), GEOCENTRO 2017, Goiinia/GO, Brasil. Figuta 4. Trecho rompido da BR-060/GO (31/12/2010), Em fungao do ocorrido, desviou-se o transito em duas alternativas a0 motorista que partia do Distrito Federal a Goiania. Um pela BR-070, rumo a Cocalzinho, até a GO-414 © depois & BR-060, 0 que aumenta em 28 quilémetros. A outra opso era chegar & GO-010 por Luziania e seguir até Goidnia, Nesse caso, sio 50 quilémetros mais, elevando para 250 km a distincia entre Brasilia e Goidnia, A Figura 5 mostra os caminhos altemnativos para os motoriastas quando a interdigdo da BR-060. Figura 5. Caminhos altemnativos quando da interdigio da BR.060 (lomal Conreio Braziliense, 2011). 3 ANALISES DAS POSSIVEIS CAUSAS 3.1. Alto Indice Pluviométrico - Saturagio do Solo © periodo chuvoso na regido, com grande intensidade entre os meses de dezembro e janeiro, aumentou a saturago do solo, vindo a provocar processos erosivos, principalmente eroso intema, mas também elevagdo no valor da percolagdo © a consequente diminuigio da resisténcia do solo nos locais onde o regime de escoamento das éguas eram mais concentrados. ‘Ademais, a montante do corte realizado para instalagdo da rodovia, hd uma area consideravel em que houve a supressio da vegetagdo nativa, objetivando investimentos na agricultura_e pecuatia, Além da supressio de vegetagdo, verificou-se a instagdo de bacia no terreno para armazenamento de Agua que conciliada infiltragio ¢ escoamento provocaram ao possivel caminho preferencial de fluxo na massa de solo vindo ao aumento da saturagao do subsolo a rodovia, com a consequente instabilizagdo do macigo, A Figura 6 mostra 0 possivel fluxo no interior do macigo, € na Figura 7 apresenta-se uma vista da area com a bacia de infiltragio a montante do trecho da rodovia que softeu a ruptura, Figura 6, Possivel fluxo no interior do macigo (Lino, 2016), Figura 7. Bacia de infiltragdo a montante da rodovia (Lino, 2016), Apesar de alguns dados e caracteristicas inicias da obra, ndo se poderia dizer 0 que realmente tinha causado 0 rompimento da rodovia. Para isso, foram —_realizadas investigagées mais detalhadas da _regiao, conforme a seguir. 3.2. Investigagao Geotéenica Além das inspegGes na area do sinistro, patiu-se GEOCENTRO 2017, Goiinia/GO, Brasil. também para a execugdo de sondagem tipo SPT a fim de se verificar as condigdes do sobsolo, lengol fredtico da regio, além de auxiliar nos estudos do projeto basico, De inicio foram trés furos de sondagem totalizando 45,35 (quarenta ¢ cinco metros € trinta e cinco centimetros). Tais _sondagens foram denominadas de SPT 01, SPT 02 e SPT 03, conforme indicagao da Figura 8, sendo o SPT 1 a margem do rodovia ¢ 0 SPT 02 ¢ SPT 03 no eixo de cada uma das pistas. Figura 8, Localizagdo dos furos de sondagem SPT (BR- (060, km 24), A Figura 9 mostra a execugdo da sondagem. SPT 01 4 margem da rodovia. Sea ae Figura 9, Vista de execusio da sondagem SPT 1 (BR- 060, km 24), Ao se considerar 0 tipo de solo encontrado, verificou-se tratar, predominantemente, de uma camada de aterro + material do corpo estradal com espessura variével de até trés_metros. Subjacente a esta camada, silte - argiloso a pouco argiloso/arenoso a pouco arenoso, varidvel até 3,0 metros de espessura. Em seguida, argila silto-arenosa / silte arenoso, pouco argiloso, O nivel d’4gua no SPT 01 encontrava-se a 10 1,50m da “boca” do furo. No SPT 02 a 6,10m, e no SPT 03 na profundidade de 7,15m. Diante disso, foi possivel estabelecer 0 possivel comportamento da linha fredtica no macigo. 4 ANALISES DE ESTABILIDADE DO TALUDE. As andlises de estabilidade foram subsidiadas com verificagSeslocais adicionadas a correlagdes com as sondagens SPT para escolha dos parimetros. As correlages foram embasadas nos trabalhos de Godoy (1972) apud Cintra et al. (2003) para o peso especifico. Para © Angulo de atrito foram utilizados quatro trabalhos, a saber, com a média dos valores obtidos: a) De Mello (1971) apud Schnaid (2000); b) Gibbs e Holtz (1957) apud Schnaid; c) Godoy (1983) apud Cintra et al. (2003); d) ‘Teixeira (1996) apud Cintra et al, (2003). Para a coesio foram adotados valores comuns para 0 tipo de solo local que variam de 0 kPa até 15 kPa, Para 0 solo seco foi adotado a coesio de 10 kPa. Para o solo saturado foi adotado a coesio 0 KPa. Na simulagio com o solo nao saturado trabalhou-se com 10 kPa para coesio, 30° para © fngulo de atrito e 17 kN/m’ para o peso especifico do solo. A Figura 10 mostra o fator de seguranga na estabilidade do talude igual a 1,454. Simulagdo feita com os dados empiricos do solo natural, valor este condizente com os critérios minimos de fatores de seguranca da NBR 11682/2003. ‘A. segunda simulagio de _estabilidade considerou 0 solo saturado, Para o solo saturado trabalhou-se com 0 (zero) kPa para coesio, permanecendo 30° para o angulo de atrito, apesar de ser menor, o que baixaria ainda mais © fator de seguranga, ¢ 17 kN/m’ para 0 peso especifico do solo. A Figura 11 mostra o fator de seguranga igual a 1,117. Nota-se a esperada redugdo do fator de seguranga com a coesio de 0 kPa, considerando o solo saturado, Apesar do fator de seguranga set maior que 1, no esté condizente com os critérios de seguranga da NBR 11682/2003. GEOCENTRO 2017, Goiinia/GO, Brasil. nse Figura 10. Andlise de estabilidade com o solo natural (Lino, 2016). (FS = 1,454). Figura 11, Andlise de estabilidade com o solo saturado (Lino, 2016). (FS = 1,117). 4 SOLUCOES PARA RECUPERACAO DO. TRECHO AVARIADO O projeto desenvolvido pelo DNIT trouxe uma série de soluges com drenagem superficial e subterrinea, contengio com —_gabido, pavimentagdo, mas também a_ recuperagdo ambiental da area afetada pelas obras. 4.1, Drenagem Superficial e Subterrinea A drenagem subterranea objetiva a retirada de Agua do macigo. No andamento das obras de escavagao ¢ remogao do solo saturado, uma das preocupagées era canalizar o fluxo de agua a ‘um destino adequado. Assi, foram executados sistemas de drenagem profunda - dreno profundo com manta geotéxtil, dreno sub- horizontal (DHP) e colch3o drenante. As Figuras 12 a 15 mostram parte da execugio da drenagem profunda, Jé na Figura 16 mostra-se parte da drenagem superficial com a obra finalizada. "

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