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Lucas da Silva

Mariano da Franca Alencar Neto


Waleska Martins Eloi
Organizadores

GESTÃO AMBIENTAL
MUNICIPAL

PROJETOS DE INTERVENÇÃO Vol. 3


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO MINISTÉRIO DO
INSTITUTO FEDERAL DESENVOLVIMENTO REGIONAL
DO CEARÁ AGENCIA NACIONAL DE ÁGUAS
Presidente da República Presidente da República
Jair Messias Bolsonaro Jair Messias Bolsonaro
Ministro da Educação Ministro do Desenvolvimento Regional
Ricardo Vélez Rodríguez Gustavo Henrique Rigodanzo
Canuto
Secretário de Educação Profissional e
Tecnológica Diretora-presidente Área
Alexandro Ferreira de Souza Administração
Christianne Dias
Reitor do Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia do Ceará Diretor de Hidrologia
Virgílio Augusto Sales Araripe Ney Maranhão
Pró-reitor de Ensino Diretor de Gestão
Reuber Saraiva Santiago Ricardo Andrade
Pró-reitor de Administração e Diretor de Planejamento
Planejamento Marcelo Cruz
Tássio Francisco Lofti Matos Diretor de Regulação
Pró-reitora de Extensão Oscar Cordeiro
Zandra Maria R. Mendes Dumaresq Superintendência de Administração,
Pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação Finanças e Gestão de Pessoas
e Inovação Luis André
José Wally Mendonça Menezes Superintendência de Apoio ao Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos
Pró-reitor de Gestão de Pessoas
Hídricos
Ivam Holanda de Souza
Humberto Gonçalves
Assessoria de Relações Internacionais
Superintendência de Fiscalização
Francisco Gutenberg Alan Vaz Lopes
Albuquerque Filho
Superintendência de Gestão da Rede
Diretoria de Assuntos Estudantis Hidrometeorológia
Ana Caroline Cabral Cristino Marcelo Medeiros
Diretoria de Gestão da Tecnologia da Superintendência de Implementação de
Informação Programas e Projetos
Carlos Maurício Jaborandy de Mattos Tibério Pinheiro
Diretoria de Educação a Distância Superintendência de Operações e
Márcio Daniel Damasceno dos Eventos Críticos
Santos Joaquim Gondim
Coordenação do curso Superintendência de Planejamento de
Lucas da Silva Recursos Hídricos
Waleska Martins Eloi Sergio Ayrimoraes
Superintendência de Regulação
Rodrigo Flecha
Superintendência de Tecnologia da
Informação
Sérgio Barbosa
Lucas da Silva
Mariano da Franca Alencar Neto
Waleska Martins Eloi
Organizadores

GESTÃO AMBIENTAL
MUNICIPAL

PROJETOS DE INTERVENÇÃO Vol. 3

Triunfal Gráfica e Editora


Assis - 2019
© Lucas da Silva; Mariano da Franca Alencar Neto;
Waleska Martins Eloi (Org.), 2019.

Os conteúdos a formatação de referências e as opiniões externadas nesta obra


são de responsabilidade exclusiva dos autores de cada texto.

Todos os direitos de publicação e divulgação em língua portuguesa


estão reservados à Instituto Federal do Ceará – IFCE, Agencia Nacional de
Águas - ANA, e aos organizadores da obra.
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.....................................................................9

APLICABILIDADE DA LEI 3.533/12 PARA


CONSERVAÇÃO E USO RACIONAL DA ÁGUA
EM BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC).....................................11
Vinícius Ferretti
Ana Paula Marques de Souza
Petrônio Emanuel Timbó Braga

COLETA E RECICLAGEM DE ÓLEOS


RESIDUAIS DE FRITURAS...................................................33
Ana Karla Carvalho Aragão de Faria
Gabrielen de Maria Gomes Dias
David Correia dos Anjos

CONTROLE MUNICIPAL DA EXPLOTAÇÃO DE


POÇOS E CARACTERIZAÇÃO DE LAGOAS DO
MUNICÍPIO DE AQUIRAZ/CE..............................................51
Thomaz Antônio Sidrim Carvalho
Fábio de Oliveira Matos

ESTUDO TÉCNICO PARA REGULAMENTAÇÃO


E REDEFINIÇÃO DA POLIGONAL APA DA
LAGOA DO SACO DO BARRO NO MUNICÍPIO
DE TABULEIRO DO NORTE-CE...........................................65
Maria Rovênia Bezerra Maia
Rickardo Léo Ramos Gomes (orientador)

MONITORAMENTO AMBIENTAL DO CORPO


HÍDRICO RECEPTOR DE EFLUENTE DO
ATERRO SANITÁRIO DE RIO BRANCO-ACRE ...............85
Aline Paiva Ramos Martins
Gabrielen de Maria Gomes Dias
David Correia dos Anjos
PLANO DE MANEJO DE UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO COMO FERRAMENTA PARA A
GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS..............................109
Débora Ferreira Magdaleno
Francisco Rafael Sousa Freitas

PLANOS DE SEGURANÇA PARA BARRAGENS


DE CONTENÇÃO DE CHEIAS EM ÁREAS
URBANAS: “ESTUDO DE CASO DA
BARRAGEM DO CÓRREGO BONSUCESSO EM
BELO HORIZONTE – MG”..................................................129
Ana Paula Fernandes Viana Furtado
Úrsula Kelli Caputo
Daniela Gutstein

POLÍTICAS E PROCESSOS PARA GESTÃO DA


SEGURANÇA DE GRANDES BARRAGENS EM
OPERAÇÃO DE USOS MÚLTIPLOS..................................153
Adriana Verchai de Lima Lobo
Efraim Martins de Araújo

PROJETO DE INTERVENÇÃO ADMINISTRATIVA


NO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DA
ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO MORRO
DO GAVIÃO EM CAMBORIÚ/SC.......................................173
Reginaldo Elzo Simas
Fernando Caixeta

PROPOSTA DE MODELO DE INTERVENÇÃO


EM PROCESSO EROSIVO NA REGIÃO
LINDEIRA À ZONA URBANA DE ALEXÂNIA – GO.......193
Joyce Costa Gomes de Santana
Pedro Phelipe Gonçalves Porto
PROPOSTA DE UM PLANO DE RECUPERAÇÃO
PARA A ÁREA DEGRADADA DO LIXÃO DA
CIDADE DE POÇO DANTAS-PB........................................219
Claudineide Baltazar da Silva
Antonio Jaldesmar da Costa
Jamilton Costa Pereira
Maria do Socorro Duarte Pinto
Francisco Régis Abreu Gomes

USO DE POLEIRO ARTIFICIAL DE AVES


NA REGENERAÇÃO NATURAL DE ÁREA
DEGRADADA NO MUNICÍPIO DE ÁGUA CLARA - MS.241
Cleide Regina Pinheiro Martins
Flávio Maria Leite Pinheiro

PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS EM


ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE....................255
Edson Dias Patrício
Mayara Carantino Costa
Francisco Rafael Sousa Freitas
APRESENTAÇÃO

A presente coleção é fruto dos trabalhos desenvolvidos


ao longo do curso de Especialização em Elaboração e Geren-
ciamento de Projetos para a Gestão Municipal em Recursos Hí-
dricos, ofertado pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e
Tecnologia do Ceará (IFCE), atendendo à solicitação da Agência
Nacional de Águas, que também financiou o projeto. O objetivo
do curso, que se encerra, estava em capacitar gestores, visando
à melhoria e eficiência dos projetos de intervenção implementa-
dos no âmbito municipal.
De abrangência nacional, o curso contou com aproxima-
damente seiscentos alunos em duas turmas sequenciadas, com
representantes de quase todos os Estados brasileiros, distribuí-
dos nas cinco Regiões do País, tendo o importante apoio dos Ins-
titutos Federais em Fortaleza, São Paulo, Florianópolis, Manaus
e Brasília – sempre com disponibilidade e presteza na cessão de
suas instalações e profissionais.
A seleção dos trabalhos de conclusão de curso, apresen-
tada aqui, materializa uma capacitação voltada para projetos em
recursos hídricos no âmbito na gestão municipal – alcançando
inevitavelmente o objetivo pretendido.
Como todo projeto de longa duração, esse curso deixou
marcas para além das disciplinas técnicas. Foi um curso transfor-
mador, não só pelo desafio técnico e pela dimensão geográfica de
nosso País, mas, sobretudo, pela existência de um patrimônio cul-
tural imenso, explicitado pelos diversos municípios representados
no curso. Com grande riqueza de costumes, esse contato engran-
deceu a todos nós, alunos, professores e apoiadores – conjunto
tão distinto e fragmentado de ideologias, hábitos e expectativas –
celebrando, nessa união, a unidade desse grande país que somos.
A coleção foi dividida conforme os temas abordados ao
longo da especialização em seus módulos didáticos e nomeada
Projetos de Intervenção, o que ressalta o compromisso com a
ação prática e com a qualificação das iniciativas municipais, no
que se refere ao trato hídrico e ambiental.
Os esforços dos envolvidos no processo de concretização
desse curso de Especialização de Gestão em Recursos Hídricos
resultaram em dez livros.
Além deste Vol. 3 - Gestão ambiental municipal, há
outros nove, cujos títulos estão dispostos na seguinte ordem:
Vol. 1 - Rede de distribuição e água subterrânea;
Vol. 2 - Planejamento ambiental;
Vol. 4 - Educação ambiental e recursos hídricos;
Vol. 5 - Planejamento e gestão de recursos hídricos;
Vol. 6 - Sistema de captação de água, hidrologia e drenagem;
Vol. 7 - Resíduos sólidos e proteção ambiental;
Vol. 8 - Reúso e reaproveitamento de água;
Vol. 9 - Sistema de tratamento esgoto doméstico;
Vol. 10 - Sistema de tratamento de água.
Esperamos que os trabalhos aqui expostos possam satis-
fazer as expectativas do leitor e, aproveitando a oportunidade,
agradecemos a ANA por idealizar essa iniciativa e, assim, nos
permitir fazer parte dessa empreitada. Agradecemos especial-
mente aos colegas de todos os Institutos Federais que acredita-
ram no curso e o fizeram acontecer.
Obrigado, especialmente, a cada um de nossos alunos, re-
presentados ou não nessa coleção, pela paciência e dedicação,
tão exigidos ao longo desse longo período.

10
APLICABILIDADE DA LEI 3.533/12 PARA
CONSERVAÇÃO E USO RACIONAL DA
ÁGUA EM BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC)

Vinícius Ferretti1
Ana Paula Marques de Souza2
Petrônio Emanuel Timbó Braga3

Resumo: A Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú (SC) atualmente


sofre com insegurança hídrica, uma vez que a demanda qualitativa
de água já não é factível de ser atendida no cenário atual e o limite
para atender a demanda quantitativa está entre os anos de 2024 e
2033. Como alternativa à melhoria neste cenário, a Lei Municipal
nº 3.533/2012 de Balneário Camboriú, município onde reside maior
parte da população usuária da bacia, institui, entre outros instrumen-
tos, o Programa Municipal de Conservação de Uso Racional da Água
e Reuso em Edificações, o qual propõe medidas para minimizar os
impactos gerados pelo aumento da demanda de água no município.
Este trabalho tem como objetivo avaliar a atual aplicabilidade desta
lei, propondo elementos mínimos para sua regulamentação e efetivo
cumprimento. A avaliação foi realizada através de questionamento
junto aos órgãos públicos responsáveis pela aprovação dos projetos
no município e com pesquisas junto à câmara de vereadores. Poste-
riormente foram levantadas referências a fim de melhor estruturar as
questões abordadas pela lei. A avaliação de técnicas relacionadas ao

1 Graduado em Engenharia Ambiental pela Universidade do Vale do Itajaí,


MBA em Construções Sustentáveis pela Universidade Cidade de São Pau-
lo, Especialista em Gestão Hídrica pelo IFCE, Engenheiro Ambiental do
Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina.
2 Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade Federal da Paraíba, Pro-
fessora do Curso de Direito da Universidade Estadual Vale do Acaraú e
Faculdade Luciano Feijão (Sobral, CE).
3 Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia/Fitotecnia pela
Universidade Federal do Ceará-UFC, Pós-doutorado no Departamento de
Biologia na Universidade de Évora-UEVORA/Portugal, Professor Asso-
ciado da Universidade Estadual Vale do Acaraú.
uso de equipamentos mais eficientes, e tecnologias de reuso de águas
pluviais, cinzas e de ar condicionado, se mostraram alternativas viá-
veis a serem exigidas às novas edificações, devendo ser incentivadas
na adequação das já existentes. Este trabalho elencou elementos téc-
nicos e de gestão para munir o poder público a regulamentar sobre
as questões relativas ao atendimento dos itens elencados pela lei, às
tecnologias aplicáveis às edificações, estrutura de implementação das
medidas propostas, análise e aprovação de projetos, fiscalização e
mecanismos de incentivo.
Palavras chave: Gestão da água; Reaproveitamento de água pluvial;
Reuso de águas cinza.

INTRODUÇÃO
A água, considerada um bem econômico, é indispensável
para a manutenção da vida. Possui influência direta na saúde,
bem-estar e segurança da população, sendo responsável por pro-
mover uma gama de serviços relacionados às atividades socioe-
conômicas (FERREIRA, 2005; ONU, 2015).
O aumento populacional vem exercendo grande pressão
sob o uso deste recurso natural, provocando impactos negati-
vos nos aspectos qualitativos e quantitativos em mananciais,
cursos d’água e aquíferos. Segundo projeções da ONU, a me-
nos que seja melhorada dramaticamente a gestão dos recursos
hídricos, até 2030 o planeta enfrentará um déficit de água de
40%. O Brasil, por exemplo, possui abundancia em água, porém
não a maneja de forma eficiente, portanto enfrenta dificuldades
de abastecimento em áreas de grande densidade populacional. A
necessidade de melhor gestão do recurso é eminente, sendo ne-
cessário pensar na sustentabilidade dos recursos hídricos através
de dois grandes focos: conservação e reuso (FIORI, FERNAN-
DES e PIZZO, 2006).

12
Para Ottoni e Ottoni (1999) um projeto de manejo hídrico
deve considerar como premissa importante a eficiência no con-
sumo de água, priorizando esta questão sob obras que objetivam
aumento de suprimento, que frequentemente é uma solução de
maior custo e apenas adia a crise da carência de água. Os autores
afirmaram que o aumento da eficiência no consumo é, em alguns
casos, a única solução viável, e indicaram como diretrizes para o
uso sustentável da água a implantação de programas de planeja-
mento e proteção do recurso.

JUSTIFICATIVA
O problema com a gestão da água também ocorre no sul
do Brasil, inclusive na Bacia do Rio Camboriú em Santa Cata-
rina, que abrange os municípios de Balneário Camboriú e Cam-
boriú, atingidos pela insegurança hídrica que assola a população
residente e flutuante da bacia.
Em um estudo realizado por Granemann (2011), foram
levantadas e calculadas as demandas quantitativas e qualitati-
vas de água ao longo da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú,
responsável pelo abastecimento dos municípios supracitados,
tendo como base as principais atividades econômicas e a de-
mografia local, considerando uma taxa de crescimento da popu-
lação flutuante de 1,5% ao ano. Com a disponibilidade hídrica
estabelecida pelos critérios das legislações federais e estaduais
para outorga de direito de uso de recursos hídricos catarinenses,
constatou-se que a demanda qualitativa já não é factível de ser
atendida no cenário atual, e o limite para atender a demanda
quantitativa está entre os anos de 2024 e 2033. Portanto, faz-se
necessária a adoção de medidas que possam, de maneira ime-
diata, proporcionar racionalização do recurso hídrico. Ademais,
não são poucos os casos que evidenciam o risco de escassez

13
de água na bacia, geralmente no período de veraneio, onde há
maior demanda. A mais recente ocorreu em dezembro de 2017,
atingindo os dois municípios que dependem do Rio Camboriú
(ÁGUAS DE CAMBORIÚ, 2017).
Partindo dos conceitos apresentados por Fiori, Fernandes
e Pizzo (2006) e Ottoni e Ottoni (1999), mecanismos gerenciais
que buscam a eficiência no uso da água são necessários para
redução do risco de escassez deste recurso. Estas ferramentas
devem ser implantadas em diversos setores usuários, inclusive
em edificações, foco deste trabalho.
Atualmente são poucas as exigências legais efetivas no que
diz respeito ao uso racional de água em edificações. Tendo em
vista a problemática quantitativa de água na Bacia do Rio Cam-
boriú, o crescente desenvolvimento do setor da construção civil
e a pressão exercida na máquina pública a respeito do saneamen-
to, faz-se necessária a adoção de políticas públicas, por meio de
mecanismos legais eficazes, que exijam da iniciativa privada o
uso de tecnologias mais eficientes na gestão de recursos hídricos.
A Lei Municipal nº 3.533/2012 foi elaborada com esta finalidade,
porém, contém um texto genérico e de difícil aplicação. Portanto,
torna-se fundamental avaliar as exigências do Poder Executivo
Municipal frente esta determinação legal, assim como de anali-
sar o potencial desta lei e de suas medidas no combate a essa pro-
blemática, sobretudo quantitativos, na Bacia do Rio Camboriú.

OBJETIVO
Avaliar a atual aplicabilidade da Lei Municipal nº
3.533/2012 por parte do Poder Executivo na aprovação de pro-
jetos de edificações em Balneário Camboriú (SC) e propor ele-
mentos para a regulamentação das ações voltadas à conservação,
uso racional e reuso de água previstos na lei.

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METODOLOGIA
A avaliação das medidas propostas pela Lei Municipal de
Balneário Camboriú nº 3.533/2012 foi realizada mediante ques-
tionário aplicado aos órgãos municipais responsáveis pela apro-
vação de projetos no município e secretarias associadas, quando
aplicável. Foram elencados os principais mecanismos legais ins-
tituídos e, a partir destes, realizado o questionamento quanto a
sua efetiva aplicação desde a criação da lei em 2012.
Esse questionário, desenvolvido através da plataforma
Google Formulários, foi encaminhado a um Arquiteto e Urba-
nista da Secretaria do Planejamento Urbano e a um Engenheiro
Civil da Empresa Municipal de Água e Saneamento - EMASA,
ambos profissionais concursados responsáveis pela aprovação
municipal de projetos hidrossanitários dentro de suas repar-
tições. À Secretaria da Educação foi enviado um e-mail com
questionamento exclusivo a respeito da execução do concurso
anual nas Escolas Municipais, previsto no art. 17 da lei.
Ademais, também foi efetuado um levantamento no site
da Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú (2018) com
a finalidade de evidenciar se houve outro encaminhamento do
Legislativo a respeito da referida lei.
Posteriormente foi realizado um levantamento de norma-
tivas, artigos e estudos referentes às alternativas de redução no
consumo de água potável, sobretudo visando o reuso de águas
pluviais, águas cinza e águas geradas a partir de condensado-
res de ar condicionado. Através dos embasamentos técnicos
levantados, foram elencados elementos que permitam garantir
efetividade às propostas de uso racional e conservação de água
nas edificações de Balneário Camboriú. Estes elementos ser-
vem para fundamentar a regulamentação da Lei nº 3.533/2012,
contemplando as ações previstas nela, sobretudo no que tange

15
à adaptação de antigas edificações e construção de novos em-
preendimentos no município.

ÁREA DE ESTUDO
O município de Balneário Camboriú, localizado no litoral
centro-norte de Santa Catarina, possui uma área total de 46,8
Km², com população estimada em 2017 de 135.268 habitantes
residentes e densidade demográfica de 2.337,67 habitantes por
quilômetro quadrado, a maior do estado (IBGE, 2018). Apresen-
ta a segunda maior verticalização do Brasil, sendo verticais 57%
dos domicílios ocupados, ficando atrás de Santos (SP) com 63%.
No município mais de 80% da procura por imóveis refere-se aos
verticais. (SINDUSCON, 2013).
Com relação aos recursos hídricos, o município é englo-
bado pela Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú que, com uma
área de drenagem de cerca de 200 km², abrange também o mu-
nicípio de Camboriú. No âmbito estadual está inserida na região
hidrográfica RH 7 - Vale do Itajaí e na esfera nacional está inse-
rido na Região Hidrográfica Atlântico Sul.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

AVALIAÇÃO DAS EXIGÊNCIAS DO PODER


EXECUTIVO NA APROVAÇÃO DE PROJETOS
DE EDIFÍCIOS EM BALNEÁRIO CAMBORIÚ
FRENTE A LEI MUNICIPAL Nº 3.533/2012
Diante das respostas obtidas através do questionário à
EMASA e à Secretaria do Planejamento Urbano foi possível ve-
rificar que ambas as repartições têm conhecimento parcial da lei,
porém os questionados revelaram que há carência de instruções
para sua efetiva aplicação.

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Evidenciou-se a falta de conhecimento das repartições a res-
peito da aplicação de alguns aspectos legais previstos na lei. Um
dos motivos pelo qual isso acontece é o fato de que a lei abrange
diversos setores, que vão desde a fiscalização e aprovação de pro-
jetos, à elaboração de concurso de unidades educacionais, além de
questões relacionadas à sensibilização da população no consumo
consciente de água. Porém, a lei não responsabiliza as repartições
do poder público pelas determinações elencadas, o que dificulta a
aplicação e o acompanhamento das medidas propostas.
Segundo as respostas, as medidas de adaptação das edi-
ficações já existentes são pouco exploradas, sendo exigidas so-
mente em casos pontuais de reforma, incluindo como medidas
exclusivas o reuso de água pluvial e a hidrometria individualiza-
da, quando tecnicamente viáveis. O único ponto da lei cobrado
nos projetos no que tange a reutilização, é a contenção e reuso
de água pluvial, questão esta também prevista no Plano Diretor
Municipal. Foi evidenciado que o principal encaminhamento ao
reuso limita-se a torneiras localizadas nas garagens e áreas co-
muns, utilizadas para limpeza e irrigação de jardim.
De modo geral, as respostas das duas repartições não apre-
sentaram discrepâncias entre si. Ao final da aplicação do formulá-
rio foi possível verificar que a Lei Municipal nº 3.533/2012 carece
de instruções para uma aplicação efetiva, sobretudo por meio de
regulamentação, além da falta de responsabilização na execução
das medidas propostas, demandas estas elencadas pelos servidores.
Já a Secretaria de Educação informou que o concurso anual
nas Escolas Municipais, previsto no art. 17, não é realizado na
Rede Municipal.
O levantamento efetuado no site da Câmara de Vereadores
de Balneário Camboriú demonstrou que houveram dois registros
após a aprovação da lei, Requerimento nº 0276/2013 e Indicação

17
nº 0856/2013, ambas as solicitações foram encaminhadas ao exe-
cutivo, questionando a respeito da aplicação da lei, solicitando pro-
vidências no sentido de complementar e dar vigência à mesma. Ao
que informaram os gabinetes dos vereadores não houve resposta do
executivo. Desta forma, é possível verificar a necessidade de sua
regulamentação, levantada tanto pela Câmara de Vereadores quan-
to pelos profissionais da EMASA e Sec. do Planejamento Urbano.

ELEMENTOS PARA REGULAMENTAÇÃO


DA LEI MUNICIPAL Nº 3.533/2012
Em consideração ao objetivo instituído por este instru-
mento legal e à necessidade de efetividade das ações previstas,
serão elencados elementos à regulamentação da lei de modo a
atingir o objetivo por ela proposto.

Adaptação das edificações já existentes


Tendo em vista que a adaptação das edificações já exis-
tentes sofre influência de questões relacionadas à viabilidade
econômica e técnica na implantação das medidas de conserva-
ção de água, a prioridade de medidas aplicáveis a estas devem
considerar as seguintes alternativas previstas na lei: substituição
de sistemas hidráulicos mais eficientes nas áreas comuns do edi-
fício e incentivo aos proprietários para adoção das mesmas me-
didas nas residências; instalação de hidrometria individualiza-
da; instalação de sistema de captação e reuso de águas pluviais;
instalação de sistema de reuso da água residual de sistemas de
refrigeração; e instalação de sistema de reuso de águas cinza.

Medidas aplicadas às novas edificações


Hammarlund e Josephson (1992) defendem a ideia de que
as decisões tomadas nas fases iniciais do empreendimento são

18
muito importantes, atribuindo-lhes a principal participação na
redução dos custos associados às adequações de projeto. Com
relação às novas edificações, seguindo sob esta ótica, a cobrança
por medidas sustentáveis se torna mais viável, uma vez que, ainda
em etapa conceitual de projeto, o custo de implantação destas é
inferior se comparado à adequação de uma edificação já existente.
Partindo desta prerrogativa e do atual contexto hídrico ao
qual o município está inserido, é coerente por parte do poder pú-
blico exigir a aplicação das medidas propostas nos art. 12 e 14
da lei nas novas edificações, garantindo a instalação de equipa-
mentos mais eficientes, o reuso de águas pluviais e cinza, além
de alternativa diversa, como a água gerada pelos sistemas de re-
frigeração. Baseado nas definições de tipologias e portes da Re-
solução Consema n º98/2017, a Tabela 1 sugere uma relação das
medidas aplicadas às novas construções, fazendo alusão também
às tipologias citadas no art. 19 da lei.
Às medidas consideradas de caráter voluntário, caberá ao
poder público desenvolver meios de incentivo para estimular
um maior número de adesão por parte dos empreendedores,
potencializando o impacto de redução no consumo de água
potável em Balneário Camboriú.
A reutilização de águas pluviais, por se tratar de uma me-
dida de baixo custo de implantação e operação, foi considerada
obrigatória na maioria dos empreendimentos. Já o reuso de águas
cinza foi considerado opcional para as tipologias de empreendi-
mento que possuem baixa taxa de geração da mesma, como edifí-
cios comerciais, postos de combustível e bares. O reuso de águas
do sistema de refrigeração foi considerado obrigatório nos locais
onde possuem maior geração, como edifícios comerciais, hotéis,
instituições de ensino, entre outros.

19
Tabela 1 – Sugestão de medidas a serem aplicadas aos novos empreen-

Medidas e usos
Reuso de água do sistema de
Reuso de água pluvial Reuso de águas cinza
refrigeração*
Tipologia de empreendimento Porte Na descarga de vasos sanitá-
Na descarga de
Irrigação de jardins, Irrigação de jardins, rios e mictórios, lavagem de
vasos sanitários e Na descarga de
lavagem de pisos e lavagem de pisos e roupa, e usos não potáveis em
mictórios, lavagem vasos sanitários e
veículos e usos não veículos e usos não áreas privadas
de roupa, e usos não mictórios em áreas
potáveis em áreas potáveis em áreas e/ou Irrigação de jardins, lava-
potáveis em áreas privadas e comuns.
comuns. comuns. gem de pisos e veículos e usos
privadas.
não potáveis em áreas comuns.
dimentos de Balneário Camboriú (SC).

Unidades habitacionais unifamiliares --- Voluntário Voluntário Voluntário Voluntário Voluntário


Condomínios de casa ou edifícios < 10 NH Voluntário Obrigatório Voluntário Voluntário Voluntário
residenciais ≥10 NH Obrigatório Obrigatório Obrigatório Obrigatório Voluntário
< 50 NL Obrigatório Obrigatório Voluntário Obrigatório Voluntário
Atividades de hotelaria
≥50 NL Obrigatório Obrigatório Obrigatório Obrigatório Obrigatório
Condomínios comerciais horizontais <2.000 AE Obrigatório Obrigatório Voluntário Voluntário Voluntário
ou verticais ≥2.000 AE Obrigatório Obrigatório Voluntário Voluntário Obrigatório
Postos de combustível, indústrias, <1.000 AE Obrigatório Obrigatório Voluntário Voluntário Voluntário
instituições de ensino, centro de even-
tos, bares e similares ≥1.000 AE Obrigatório** Obrigatório** Voluntário Voluntário Obrigatório**

20
* Exceto chiller
** Obrigatório para indústrias, instituições de ensino e
centro de eventos, sendo de caráter voluntário para o restante
NH = número de unidades habitacionais
NL = número de leitos
AE = área edificada: somatório das áreas ocupadas pelas
edificações existentes dentro da área útil do empreendimento
(m²)

Recomendações técnicas relacionadas aos projetos


As questões técnicas para reuso de águas estão relacio-
nadas principalmente aos sistemas de tratamento, que requerem
manutenção e operação frequente para garantir os padrões mí-
nimos de qualidade. A manutenção do sistema dependerá da sua
tipologia, no que tangue ao dimensionamento e equipamentos
utilizados. A municipalidade não deve determinar a tipologia
do sistema de tratamento, portanto as recomendações elencadas
aqui servem de diretrizes que poderão ser utilizadas na análise
dos projetos posteriormente apresentados, estas foram levanta-
das com base nos estudos levantados, nos manuais e normativas
vigentes e em elaboração.

Sistema de reuso de água pluvial


Como sugestão, e de acordo com as características levan-
tadas na NBR 15527/2007 e nos estudos de Annecchin (2005),
May (2009), Hagamann (2009) e Neto (2013), os autores reco-
mendam, de modo geral, tratamento composto por: dispositivo
para descarte de no mínimo 2mm iniciais da chuva; dispositivo
para descarte de detritos, que compreende sistema de gradea-
mento e/ou filtro para remoção dos sólidos grosseiros, como ga-
lhos e folhas; e sistema de desinfecção.

21
O projeto de dimensionamento e composição do sistema
deverá seguir a NBR 15527/2007. Recomenda-se a instalação de
um canal extravasor para encaminhamento do excedente capta-
do à rede de drenagem pluvial municipal. Para manutenção do
sistema, sugerem-se as ações elencadas na NBR 15527/2007.

Sistema de reuso de águas cinza


Como sugestão, com base na NBR 13969/97, na proposta
do 1º projeto da ABNT/CB-02 para uso de fontes alternativas de
água não potável em edificações, nos estudos de Fiori, Fernan-
des e Pizzo (2006), Bazzarella (2005) e May (2009), o sistema
de tratamento de água cinza clara, proveniente da mistura dos
usos de chuveiro, lavatório e máquina de lavar roupas, quando
optado pela tipologia biológica de tratamento, pode ser compos-
to por: unidade de equalização; sistema de tratamento biológico
anaeróbico; sistema de tratamento biológico aeróbico; e sistema
de desinfecção.
Esta composição é baseada principalmente nos estudos de
Bazzarella (2005) e May (2009). Existem disponíveis no merca-
do alternativas de sistemas que diferem desta tipologia, incluin-
do sistemas de tratamento físico-químico e sistemas mistos. A
tecnologia a ser implementada não necessariamente necessita
ser a utilizada nos experimentos dos estudos citados. Diversas
tipologias de sistemas são eficientes no tratamento de águas cin-
za, a regulamentação da lei deve fomentar o mercado de reuso
da água, promovendo a inovação tecnológica e uma maior gama
de opções no mercado, e não o restringir a uma única alternativa.
O uso de unidade de equalização se justifica para abater
picos de geração dos efluentes e promoção da homogeneização
do mesmo, também levando em conta a sazonalidade ocupacio-
nal dos edifícios do município. Recomenda-se tempo máximo

22
de detenção em tanques de equalização de 24h e nos reservató-
rios de abastecimento o período de estocagem da água tratada
inferior à 48h.
Recomenda-se instalação de canal extravasor para enca-
minhamento do excedente gerado e dispositivo de bypass com
vistas às situações de emergenciais e de manutenção. O dispo-
sitivo bypass e o canal extravasor preferencialmente devem ser
interligados na rede de coleta de esgoto municipal, caso não haja
rede no local do empreendimento devem ser ligados no sistema
de tratamento de efluentes (águas negra e cinza escuro). Em ne-
nhuma hipótese poderão ser interligados ao sistema de drena-
gem pluvial.

Sistema de reuso de água condensada de refrigeradores


Não foram encontrados estudos aplicados ao tratamento de
água condensada dos sistemas de refrigeração, porém Carvalho,
Cunha e Faria (2012), Fortes, Jardim e Fernandes (2015) e Lima
et al. (2015), indicam que a água gerada é de boa qualidade para
reuso, sendo recomendado um tratamento simples de filtração
e desinfecção prévios ao uso. Assim como no sistema de água
pluvial, recomendação canal extravasor para encaminhamento
do excedente captado à rede de drenagem pluvial municipal.

Recomendações técnicas gerais


O sistema predial de água não potável deve ser indepen-
dente do sistema predial de água potável, evitando contamina-
ções, recomendando-se que as tubulações tenham colorações
distintas umas das outras. Os reservatórios das águas devem pro-
ver dreno para limpeza, permitindo a manutenção do sistema e a
retirada de sedimentos. O efluente proveniente de retrolavagem
de filtros, caso existente, deverá ser prioritariamente recirculado

23
no sistema. Caso opte pelo descarte deverá receber disposição
final adequada de acordo com a legislação vigente, assim como
qualquer outro subproduto gerado pelos processos de tratamen-
to, como o lodo, por exemplo.
A tecnologia do sistema de tratamento a ser adotada deve
considerar as características da fonte alternativa, os usos preten-
didos, as vazões de projeto, área disponível para implantação,
condições de uso, operação e manutenção. Os componentes dos
materiais empregados no sistema não podem afetar a qualidade
da água, não podendo também ser de material translúcido. De-
vem-se levar em consideração os níveis de pressão aos quais
serão submetidos, limites de temperatura, agentes de degradação
e condições de exposição ao meio onde são instalados.
Há a necessidade de instalação de caixa de inspeção antes
da chegada do efluente ao sistema de tratamento e após a saída
dele, a fim de facilitar a coleta de amostras de efluente bruto e
tratado. Os pontos e torneiras que utilizam água reutilizada de-
verão ser devidamente identificados como “água não potável”.
Recomenda-se ainda que seja realizada periodicamente a
análise dos parâmetros físico-químico e microbiológicos, com
a finalidade de verificar se o tratamento das águas está sendo
realizado com a devida eficácia, comparando os resultados às
normas aplicáveis. Os parâmetros de água pluvial deverão aten-
der aos valores contidos na NBR 15527/2007 e os de água cinza
aos contidos na NBR 13696/1997, para seus devidos fins, ou
normativa mais atual, quando aplicável. Quanto à água prove-
niente de condensadores, recomenda-se que sejam utilizados os
parâmetros da NBR 15527/2007, uma vez que a característica da
água e a composição do sistema de tratamento se assemelham
mais com a pluvial. A verificação de outros parâmetros pode ser
exigida a critério do órgão fiscalizador.

24
Responsabilidades
Caberá ao poder público aprovar, autorizar e fiscalizar a
instalação e operação dos sistemas de tratamento e reuso de águas
não potáveis. O atual trâmite de projetos hidrossanitários percorre
no máximo três repartições, sendo elas: a Secretaria Municipal de
Planejamento Urbano, responsável pela aprovação do projeto e li-
cenciamento de obras do município; a EMASA, caso o projeto seja
referente a uma edificação acima de quatro pavimentos e/ou com
área construída superior a 500m²; e o Instituto do Meio Ambiente
de Santa Catarina, caso necessite de licenciamento ambiental nos
termos do Conselho Estadual do Meio Ambiente. Caberá a estes
órgãos analisar e avaliar os documentos protocolados pelo admi-
nistrado e concluir se o projeto proposto é viável ou não. Reco-
menda-se vistoria no local após a instalação dos equipamentos, a
fim de fiscalizar o atendimento aos projetos aprovados e, só assim,
autorizar a operação do sistema.
A responsabilidade pelos projetos e execução do sistema,
bem como de todas as informações e documentações protocola-
das nos órgãos, é compartilhada entre o empreendedor, projetis-
tas e responsáveis técnicos constantes das Anotações de Respon-
sabilidade Técnica (ART) juntadas aos autos.
O projeto apresentado aos órgãos fiscalizadores deverá ser
concebido por profissional legalmente habilitado, sendo emitida
pelo devido conselho de classe a ART para elaboração e execu-
ção do mesmo. Caso julgue necessário, o órgão responsável pela
fiscalização poderá exigir também ART de operação para as esta-
ções de tratamento e sistemas de distribuição. O projeto deve ser
desenvolvido a nível executivo e prover de memorial descritivo e
de cálculo, ser elaborado com fundamento em normas técnicas e
estudos científicos.

25
Caberá aos responsáveis pelo projeto e instalação dos
sistemas, elaborar manuais de uso, operação e manutenção dos
mesmos, em conformidade com a NBR 14037/2011, norma que
determina diretrizes para elaboração de manuais de uso, ope-
ração e manutenção das edificações. Os manuais deverão ser
ilustrativos e em linguagem acessível, facilitando a didática do
usuário. Após aprovação dos projetos e a instalação dos siste-
mas, a operação será de responsabilidade do proprietário adqui-
rente do imóvel ou da entidade gestora.
Por parte do poder público, deverá ser exigido atendimen-
to mínimo a documentações relativas aos projetos, bem como a
possibilidade de instituir condicionantes que garantam a plena
operação do sistema, como por exemplo, a frequência das aná-
lises dos efluentes. Cabe ao poder executivo a responsabilidade
de capacitação do corpo técnico de suas repartições, também
publicando diretrizes e instruções normativas acessíveis ao ad-
ministrado.

Prazos e medidas de incentivo


A Lei nº 3.533/2012 institui prazos para cumprimento das
medidas instituídas nos artigos 13 e 19. O primeiro é referente
à adequação das edificações já existentes, com prazo de 05 anos
a partir da publicação da lei. O segundo refere-se à apresenta-
ção de um Plano de Economia de Água por parte das indústrias,
comércio, hotéis, bares e similares, devendo ser apresentado no
prazo de um ano. Conforme levantado, a única medida propos-
ta às edificações existentes é relacionada às reformas, onde são
exigidas medidas com relação à hidrometria individualizada e
captação de águas pluviais.
A lei dá a prefeitura e empresas prestadoras de serviços
prazo de 180 dias a contar da sua publicação para tomar as pro-

26
vidências necessárias ao atendimento do disposto nela. Prazo
este que não foi cumprido pelo poder executivo, tampouco após
motivação do legislativo conforme verificado.
Fica sugerida, com a regulamentação da lei através de
decreto, a isenção de prazos para adequação das edificações
existentes. O que o regulamento deve prever, a fim de garantir
adesão dos proprietários e gestores dos empreendimentos, são
programas de incentivo à adoção das medidas. A iniciativa, par-
tindo da sociedade motivada, minimiza o uso de recurso público,
tanto pessoal quanto econômico, com fiscalizações ostensivas e
outras metodologias que na prática não garantem a efetivação
das medidas propostas na lei.
Uma forma de incentivar tanto a adequação das edifica-
ções já existentes, quanto a aplicação de medidas voluntárias
às novas edificações, é a isenção ou o desconto em impostos
municipais, taxas de análise de processos e outorgas onerosas.

CONCLUSÃO
A Lei Municipal nº 3.533/2012 possui instrumentos ca-
pazes de promover a redução no consumo de água potável em
edificações em Balneário Camboriú (SC), porém carece de regu-
lamentação para sua efetividade. A avaliação da aplicabilidade
da lei demonstrou que algumas determinações por ela impos-
tas são vagas, necessitando orientações, que deverá determinar
questões relativas ao atendimento dos itens nela elencados, às
tecnologias aplicáveis às edificações, análise e aprovação de
projetos, fiscalização e mecanismos de incentivo.
Tendo em vista a insegurança hídrica da Bacia Hidrográ-
fica do Rio Camboriú e as alternativas tecnológicas existentes,
cabe ao poder público propor medidas de incentivo à aplicação
de medidas de racionalização, considerando os elementos técni-

27
cos aqui levantados, com vistas a minimizar o impacto gerado
pelo crescente desenvolvimento do setor da construção civil e a
pressão exercida na máquina pública a respeito do saneamento.
A elaboração de um decreto regulamentando a lei, deter-
minando exigências, procedimentos e responsabilidades, garan-
tirá medidas de racionalização de água no município que pode-
rão formar um plano de ação em conjunto com outras estratégias
de conservação desenvolvidas na bacia. A exigência da iniciativa
privada ao uso de tecnologias mais eficientes na gestão de recursos
hídricos proporciona efeitos imediatos e reduzem possíveis inves-
timentos públicos com obras sanitárias que abrangem a captação,
o tratamento e a distribuição de água à demanda do município.
Fica, portanto, recomendada a regulamentação legal por
meio de decreto emitido pelo poder executivo municipal, preen-
chendo as lacunas existentes na Lei Municipal nº 3.533/2012
para que possa exercer sua função social através das questões
abordadas neste trabalho.

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31
COLETA E RECICLAGEM DE ÓLEOS
RESIDUAIS DE FRITURAS

Ana Karla Carvalho Aragão de Faria1


Gabrielen de Maria Gomes Dias 2
David Correia dos Anjos3

Resumo: O descarte do óleo de cozinha usado não deve ser feito dire-
tamente no ralo da pia, no vaso sanitário e nem com o lixo orgânico,
pois essa forma de destinação incorreta leva à contaminação dos ma-
nanciais aquáticos, do solo e da atmosfera. Assim, o presente projeto é
produto de um processo de planejamento compartilhado que tem como
protagonistas a Prefeitura Municipal de Palmas e a concessionária de
saneamento BRK Ambiental e visa à promoção e o fomento ao desen-
volvimento sustentável, envolvendo e incentivando toda a comunida-
de local para a prática do descarte correto do óleo usado de cozinha,
fomentando e viabilizando o descarte correto deste resíduo por meio
de parcerias com empresas e cooperativas e implantação de ponto de
entrega voluntária por todo o território da capital. A necessidade de se
criar um projeto de destinação ambientalmente correta desse resíduo
se dá pelo fato de ser um expressivo contaminante da rede de esgota-
mento sanitário, comprometendo todo o tratamento e, afetando ainda,
a integridade física e ambiental dos corpos hídricos. Assim, o projeto
Renova Palmas que está em fase de implementação, buscará em um
processo de melhoria contínua, ser um projeto de essencial importân-
cia para a capital, na busca pela sustentabilidade e consciência eco-
lógica, contribuindo por meio de suas atividades com a preservação
ambiental e, por conseguinte, com a qualidade de vida de todos os
cidadãos, fazendo com que Palmas avance na sustentabilidade local,

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para a Gestão Mu-


nicipal de Recursos Hídricos – IFCE, e-mail: anakarlaaragao@gmail.com
2 Dra. Professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira – UNILAB, e-mail: gabriellen@gmail.com
3 Dr. Professor da Universidade Estácio de Sá –ESTÁCIO,
e-mail: dav_correia@hotmail.com
garantindo um ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes
e futuras gerações.
Palavras chave: preservação ambiental, gordura, corpos hídricos,
efluente.

INTRODUÇÃO
Caracterizando o descarte incorreto do resíduo de óleo de
cozinha, uma problemática que envolve e preocupa os atuantes
da área de saneamento, meio ambiente e gestores municipais,
tem-se como alternativa reciclagem e a utilização deste resíduo
como matéria-prima para fabricação de novos produtos, sendo
que essa alternativa pode ser implantada por meio de projetos de
coleta seletiva e reciclagem de resíduos.
O óleo vegetal, quando em contato com a água nas redes
de esgoto, perde seu estado líquido e se torna um resíduo sólido.
Devido às suas características, torna-se inviável o seu descarte
na rede pública de esgoto ou corpos hídricos, podendo assim se
encaixar na definição de resíduos sólidos (DIAS, 2013).
De acordo com a NBR10.004/04 (ABNT, 2004), o óleo
de fritura pode ser classificado quanto à sua periculosidade em
Classe I - Perigoso, devido à sua característica de inflamabilidade.
Este resíduo pode ser usado como matéria prima para a
produção de glicerina, composição de tintas, produção de mas-
sas de vidraceiro, farinha básica para ração animal, geração de
energia elétrica e biodiesel. Desta forma, o óleo usado de cozi-
nha pode agregar valor econômico à cadeia produtiva e, ainda,
preservar o meio ambiente (REIS et al., 2007).
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela
Lei 12.305/2010, em seu art. 18 preconiza que a elaboração de um
Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos é con-
dição para que os municípios tenham acesso a recursos da União,

34
ou por ela controlados, destinados a empreendimentos e serviços
relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou
para serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de enti-
dades federais de crédito ou fomento para tal finalidade (BRASIL,
2010).

DESENVOLVIMENTO

JUSTIFICATIVA
Sendo assim, o Renova Palmas surge como um projeto
de recolhimento e incentivo à entrega de óleo de cozinha usado,
bem como fomento à sensibilização e educação ambiental re-
ferente ao descarte destes resíduos, indicando e esclarecendo à
população dos malefícios e impactos negativos que isso acarreta
ao meio e ao dia-a-dia do cidadão.
Segundo a SABESP, cada litro de óleo despejado no es-
goto tem capacidade para poluir cerca de vinte e cinco mil litros
de água (SABESP, 2016).
A presença de óleo nos rios cria uma barreira que dificulta
a entrada de luz e a oxigenação da água, comprometendo assim,
a base da cadeia alimentar aquática (BORTOLUZZI, 2011).
Os óleos e graxas são hidrocarbonetos como sabão, gor-
duras e óleos, quando em excesso podem interferir nos proces-
sos biológicos aeróbicos e anaeróbicos, ocasionando a eutrofi-
zação da água, e interferindo no tratamento de águas residuais,
como mencionado anteriormente, sendo impossível de ser usada
pela população e animais (BORTOLUZZI, 2011).
O projeto será desenvolvido pela Fundação Municipal de
Meio Ambiente, em parceria com a Concessionária de sanea-
mento do município de Palmas e Instituições sociais, além de

35
buscar empresas especializadas que produzam biodiesel utili-
zando o óleo de cozinha usado como matéria prima.

OBJETIVO
Fomentar e viabilizar o descarte correto do óleo de cozi-
nha usado com vistas à sensibilização quanto aos impactos que
esse resíduo causa ao meio ambiente interferindo na integridade
física, química e biológica dos recursos hídricos.

METODOLOGIA
O projeto será conduzido no município de Palmas (Coor-
denadas geográficas Latitude: -10.1689, Longitude: -48.3317
10°10′8″Sul, 48°19′54″ Oeste) onde realizaremos as seguintes
ações:

Parcerias e atores sociais


A Fundação de Meio Ambiente buscará parcerias para a
execução do projeto com a finalidade de se alcançar e envolver
o maior número de atores sociais nesta proposta.
Entendendo ser o maior agente envolvido e diretamente re-
lacionado ao impacto gerado pela falta do gerenciamento do resí-
duo em questão, busca-se firmar parceria prioritariamente com a
concessionária de saneamento do município, a BRK Ambiental.
A FMA buscará parceria também com empresa fabricante
de biodiesel para destinação de todo resíduo coletado e utiliza-
ção deste como matéria prima, contribuindo para a reciclagem e
destinação ambientalmente correta do óleo usado.
O Município contará como parceiro a Secretaria Munici-
pal de Saúde para contribuir com a divulgação e promoção do
projeto.

36
Instituições sociais da mesma forma serão alvos da busca
pela sociedade para atuar conjuntamente com o município como
fabricante de sabão e derivados, colaborando com os conceitos
de desenvolvimento social e ambiental.
Entrarão como parceiros e principais aliados para o suces-
so do projeto, os maiores geradores do resíduo que são: restau-
rantes, bares, buffets, feiras cobertas e lanchonetes. Os mesmos
receberão as bombonas para armazenamento e segregação do
óleo residual, que serão dispostas em suas cozinhas em local de
fácil utilização pelos responsáveis pela disposição do resíduo,
bem como pela responsável pelo recolhimento do mesmo.
Serão disponibilizados para a população, biocoletores fa-
bricados através de material reciclado para acondicionamento da
garrafa pet, proporcionando praticidade na disposição do óleo
residual. O biocoletor, possui um funil acoplado à parte supe-
rior facilitando o processo de limpeza que o processo tradicional
sem este instrumento exige, além de evitar que pequenas quanti-
dades de óleo sejam descartadas em pias e ralos.
Reitera-se que o biocoletor é fabricado para a utilização
de garrafa pet de 02 litros que será utilizada para acondiciona-
mento temporário do resíduo até a disposição nos pontos de
entrega voluntária. Os pontos serão equipados com bombonas
de até 200 litros que possuirá abertura superior acessível e em
forma de funil para o munícipe despejar o óleo, assim, a garra-
fa pet poderá ser reutilizada em sua residência para o armaze-
namento do mesmo.
Por fim, têm-se os parceiros que contribuirão com o pro-
jeto disponibilizando espaço para implantação de pontos de en-
trega voluntária (PEV), como as escolas e creches.

37
Pontos de coleta
O projeto visa disponibilizar pontos de coleta de óleo de
cozinha usado em locais estratégicos, de acordo com as ações
realizadas e os parceiros do projeto, tais como:
• Escolas e creches municipais: como forma de pro-
pagação e divulgação do programa, serão realizadas
ações de educação ambiental nas unidades educacio-
nais municipais, levando em consideração a facilida-
de de alcance de pais e mestres quando difundido o
conhecimento entre crianças e adolescentes;
• Supermercados: ponto estratégico onde há grande cir-
culação de pessoas;
• Restaurantes, buffets, bares e lanchonetes: por se tra-
tar dos maiores geradores do resíduo e se esperar que
sejam os grandes parceiros no projeto;
• Feiras cobertas: grandes geradores e potenciais par-
ceiros;
• Praias: Áreas de grande circulação de pessoas e pre-
sença de grandes geradores;
• Condomínios: potenciais parceiros e difusores da
causa proposta pelo programa;
• Hotéis: grandes geradores e potenciais parceiros.
Os pontos de entrega serão instalados nos locais supra-
citados, com uma estrutura fechada e lacrada com um mode-
lo ilustrativo e de fácil identificação, onde a população poderá
depositar o resíduo com o auxílio de uma garrafa pet, outrora
utilizada como recipiente de armazenamento do resíduo em suas
residências.
Os locais serão identificados com banners educativos ex-
plicando o projeto e como realizar o descarte.

38
Coleta e transporte
A coleta consistirá na retirada do resíduo por pessoas au-
torizadas, sendo transportadas até as cooperativas e/ou indús-
trias, em galões de maior capacidade em litros.
Essa coleta e transporte serão realizados pela Concessio-
nária BRK Ambiental semanalmente, a depender da necessidade
sendo previamente agendada.

Divulgação
O projeto contará com o apoio da concessionária de sa-
neamento de Palmas - BRK Ambiental, a qual atuará como a
principal parceira do projeto, tendo em vista o interesse da mes-
ma em diminuir ou mitigar o impacto que o descarte do óleo traz
à rede de esgotamento sanitário.
A concessionária participará efetivamente do processo de
divulgação e promoção do projeto, orientando sobre a importân-
cia da reciclagem do resíduo, e esclarecendo sobre os impactos
ambientais e sanitários que este pode ocasionar.
Além disso, a Fundação Municipal de Meio Ambiente
realizará eventos e oficinas de educação ambiental em escolas
e eventos turísticos da cidade, onde será apresentado o projeto,
orientando sobre os subprodutos que o óleo usado pode ser apro-
veitado como matéria prima, possibilitando à comunidade interes-
sada participar das oficinas na associação de produção de sabão.

Premiação e reconhecimento ambiental


O projeto Renova Palmas buscará formas de premiar e
reconhecer a pessoa física ou jurídica que aderir e promover o
projeto de coleta.

39
Empresas ou Instituições sociais que contribuírem com
a coleta, disponibilizando assim um espaço para disposição do
recipiente para segregação do óleo, ganharão um selo verde mu-
nicipal de Responsabilidade Socioambiental por reconhecimen-
to pela defesa, preservação e melhoria do ambiente, proporcio-
nando melhor qualidade de vida no município de Palmas.
Para que estes estabelecimentos sejam premiados, de-
verão participar e contribuir efetivamente do programa por no
mínimo 03 (três) meses.
Ressalta-se que ao aderir ao programa, a pessoa jurídica
deverá assinar um Termo de compromisso com a descrição de suas
responsabilidades como parceira e empresa atuante do programa.
Ainda, de acordo com a quantidade de resíduo doado,
a pessoa física e jurídica poderá contar com um desconto em
sua fatura mensal de água e esgoto, a partir da comprovação de
doação e calculado a partir de uma proporção a ser estipulada e
estudada junto à Companhia de Saneamento – BRK Ambiental.

RESULTADOS E IMPACTOS GERADOS


Os resultados e impactos esperados são:
• Adesão de 70% dos grandes geradores do resíduo
como restaurantes, lanchonetes, bares e rede hoteleira
ao projeto;
• Retirar no mínimo 50% do Óleo de Fritura residual
da rede de esgotamento sanitário e consequentemente
dos corpos hídricos;
• Criação de um incentivo em parceria com a Conces-
sionária responsável pela rede de saneamento do mu-
nicípio, por meio de desconto na conta de água e co-
leta de esgoto para o cidadão que aderir ao programa;

40
• Firmar parceria com empresa fabricante de biodiesel
para geração do biocombustível e possível retorno
deste para o município em até 06 meses;
• Alcançar 60% da comunidade escolar, divulgando e
implantando um ponto de entrega voluntária em cada
unidade, a fim de envolver não só a escola/creche
com também pais e alunos em até 12 meses após o
início do programa;
• Envolver 70% dos grandes geradores do comércio lo-
cal em até 12 meses após o início do programa;
• Instituir legislação específica que regulamente o pro-
grama Renova Palmas em até 03 meses após o início
do programa.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
As ações de intervenção estão descritas a seguir:

Ação 1: Educação ambiental


Serão executadas ações de educação ambiental, a fim de
sensibilizar a população quanto ao descarte correto do óleo de
cozinha usado.

Ação 2: Troca do óleo por mudas


Foram promovidas ações de incentivo ao plantio de árvo-
res no município, por meio da troca de óleo usado por mudas de
plantas frutíferas nativas do estado.

Ação 3: Parcerias com Instituições sociais


Serão promovidas também ações de doação do óleo usado
arrecadado pela FMA para instituições sociais, com uso na fabri-
cação de sabão e outros produtos.

41
Ação 04: Empresa fabricante de biodiesel
A Fundação de Meio Ambiente (FMA) buscará parceria
com empresas fabricantes de biodiesel, para coleta e destinação
final adequada do óleo de cozinha usado.

Ação 05: Incentivos e premiações


A FMA criará incentivos e premiações para pessoas jurí-
dicas e físicas que adotarem e promoverem o programa.

Ação 06: Regulamentação do programa


A FMA buscará instituir legislação específica que regula-
mente o programa Renova Palmas e demais programas de incen-
tivo à coleta seletiva.

ATORES ENVOLVIDOS
A Fundação de Meio Ambiente buscará parcerias para a
execução do programa com a finalidade de se alcançar e envol-
ver o maior número de atores sociais nesta proposta.
Entendendo ser o maior agente envolvido e diretamente
relacionado ao impacto gerado pela falta do gerenciamento do re-
síduo em questão, busca-se firmar parceria prioritariamente com
a concessionária de saneamento do município, a BRK Ambiental.
A FMA buscará parceria também com empresa fabricante
de biodiesel para destinação de todo resíduo coletado e utiliza-
ção deste como matéria prima, contribuindo para a reciclagem e
destinação ambientalmente correta do óleo usado.
O Município contará como parceiro a Secretaria Munici-
pal de Saúde para contribuir com a divulgação e promoção do
programa.

42
Entidades filantrópicas e cooperativas/associações da
mesma forma serão alvos da busca pela sociedade para atuar
conjuntamente com o município como fabricante de sabão e
derivados, colaborando com os conceitos de desenvolvimento
social e ambiental.
Os parceiros e principais aliados para o sucesso do pro-
grama serão os maiores geradores do resíduo que são: restau-
rantes, bares e lanchonetes. Os mesmos receberão as bombonas
para armazenamento e segregação do óleo residual.
Por fim, têm-se os parceiros que contribuirão com o pro-
grama disponibilizando espaço para implantação de pontos de
entrega voluntária – PEV, como as escolas e creches.

RECURSOS NECESSÁRIOS
O projeto Renova Palmas consiste em um programa reali-
zado por meio de parcerias, onde a Fundação de Meio Ambiente
como fundadora do projeto buscará parceiros que atuarão con-
forme as ações supracitadas, de forma que a Fundação não será
onerada e utilizará os recursos que a própria gerência de educa-
ção ambiental já utiliza em suas ações rotineiras, tais como:
• Materiais de expediente;
• Câmara fotográfica;
• Notebook;
• Datashow.

VIABILIDADE
O projeto possui expressiva viabilidade técnica por ser
uma proposta de destinação ambientalmente adequada, contri-
buindo para a sustentabilidade da cidade.
A viabilidade econômica e financeira é totalmente favorá-
vel, pois além de consistir em um programa simples, o municí-

43
pio irá contribuir financeiramente apenas nas ações de educação
ambiental onde serão utilizados os materiais de expediente ne-
cessários. Além disso, o município buscará uma possível per-
muta com a empresa fabricante de biodiesel por meio da troca
do resíduo por biocombustível (não na mesma proporção) para
abastecer a frota de veículos do município.

RISCOS E DIFICULDADES
O programa será desenvolvido pela Fundação Municipal
de Meio Ambiente, em parceria com associações e entidades fi-
lantrópicas produtoras de sabão, além de buscar empresas espe-
cializadas que produzam biodiesel utilizando o óleo de cozinha
usado como matéria prima. Neste sentido, o município poderá
encontrar dificuldades em encontrar uma empresa que esteja re-
gularizada e tenha o interesse de desenvolver esse trabalho em
conjunto com o poder público sem haver alguma forma de remu-
neração, que é o objetivo do programa.
A concessionária da mesma forma poderá buscar algu-
ma forma de remuneração pelo serviço prestado ao município ao
atuar nas atividades previstas no programa quais sejam na coleta
e transporte dos recipientes “bombonas” onde será acondiciona-
do o resíduo, desta forma, denota-se uma discrepância no que
tange aos objetivos da proposta.
No mesmo sentido, o programa prevê o financiamento por
parte da concessionária, de todas as “bombonas” e biocoletores
que serão distribuídos nos pontos estratégicos e disponibilizados
para a população, podendo ser também um gargalo para a par-
ceria da mesma.
Reitera-se, no entanto que se entende que a mesma deverá
ser o maior agente envolvido, isso porque o impacto gerado pela
falta do gerenciamento do resíduo em questão está diretamente

44
relacionado a ela, uma vez que o lançamento do óleo nas redes
e tubulações do sistema de esgotamento sanitário causa entupi-
mentos quando este se une a outros contaminantes e engrossa o
resíduo líquido, elevando os custos do tratamento de esgoto e
tratamento da água em captações a jusante.

CRONOGRAMA

Etapa da Pesquisa J F M A M J J A S O N D
Ano de 2018 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Construção do Projeto X X X

Busca de parcerias e
X X X X X X X
financiamento

Instituir e regulamentar
juridicamente o programa
X X X
Renova Palmas através de
Lei e Decreto Municipais

Definir/Instalar 40 pontos de
X X X
Coleta na cidade

Aquisição de 200 Bombonas X

Divulgação do programa:
X X X
Mídias sociais e TV

45
Etapa da Pesquisa J F M A M J J A S O N D
Ano de 2018 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Educação Ambiental:
Escolas, Universidades,
X X X X X X X X X X
Órgãos Municipais e Pontos
de coleta

Sensibilização da População
X X X X X X X X X X
por agentes de Saúde

Coleta do Óleo usado X X X X X X X X X X

Formalizar e fomentar
as parcerias com as X X X X X X X X X X
cooperativas e associações

Uso do Óleo para fins


X X X X X X X X X X
Sociais

Monitoramento - Gerar
dados semanais e mensais
X X X X X X X X X X
com o quantitativo de Litros
recolhidos

Expansão dos pontos de


X X X
coleta

Estabelecer procedimentos
de melhoria contínua no X X X X X X X X X X
programa

46
GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO
A gestão do projeto será feita por meio de relatórios técni-
cos, obtidos pela gerência de educação ambiental que coordena-
rá o projeto, em cada etapa do processo.
Reuniões periódicas serão realizadas para gerir, acompa-
nhar e avaliar o projeto por meio de planilhas para observação
de dados e resultados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Palmas é uma cidade rica em recursos hídricos, no en-
tanto necessita de ações de preservação e conservação de seus
mananciais a fim de se garantir um ambiente ecologicamente
equilibrado para as presentes e futuras gerações. Deste modo,
o projeto contribuirá para a diminuição dos impactos negativos
sobre os mesmos de forma a proporcionar uma saúde ambiental
e sanitária para o ambiente e comunidade local, gerando resulta-
dos também em um contexto global.
A preocupação com a preservação e conservação do meio
ambiente tem apresentado números crescentes de qualidade e
bem-estar social, sendo, portanto, um objetivo mundial a ser im-
plantado e difundido entre uma sociedade consciente e operante
nessas ações.
Um programa que busca um processo de melhoria contí-
nua requer os esforços de governantes preocupados e dispostos e
de uma sociedade participativa que contribua efetivamente para
o sucesso e o alcance de seus objetivos.
Deste modo, o Renova Palmas por meio da Fundação Mu-
nicipal de Meio Ambiente, não poupará esforços em buscar par-
ceiros e atores sociais para promover o programa e alcançar to-

47
dos os seus objetivos envolvendo prioritariamente, a população
local, fazendo com que Palmas avance na sustentabilidade local.

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sília (pp. 59-69). Brasília: Cidade Gráfica e Editora.

49
CONTROLE MUNICIPAL DA EXPLOTAÇÃO
DE POÇOS E CARACTERIZAÇÃO DE
LAGOAS DO MUNICÍPIO DE AQUIRAZ/CE

Thomaz Antônio Sidrim Carvalho1


Fábio de Oliveira Matos2

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo empreender uma


proposta de intervenção voltada para o controle geral das explota-
ções dos poços profundos públicos e registro das lagoas que formam
o sistema lacustre do município de Aquiraz. Para o empreendimen-
to da investigação, considerou-se que o sistema de abastecimento
de água para a população é diferenciado, conforme sua localização
no território. Assim, a criação de uma estrutura municipal de acom-
panhamento da condição destas estruturas hídricas possibilita um
controle de suas condições ao longo do ano. Tal processo pode ge-
rar criação de legislação especifica municipal expandindo o sistema
federal e estadual na Política de Recursos Hídricos para participa-
ção do município, com planejamento mais eficiente e com controle
quantitativo e qualitativo dos usos da água bem com a regulação
do direito de acesso e uso destes recursos. Espera-se que o controle
municipal possa, registrando suas coleções d’água, possa exercer
um controle e melhor distribuição dos recursos hídricos.
Palavras-chave: Chafarizes; Abastecimento de comunidades rurais;
Saneamento Básico.

INTRODUÇÃO
Os sistemas de abastecimento de água para a população
rural fora dos limites de aglomerações maiores na malha urbana

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para a Gestão


Municipal de Recursos Hídricos (IFCE).
E-mail: thomaz56sidrim@gmail.com
2 Professor Doutor da Universidade Federal do Ceará (UFC).
E-mail: fabiomatos@ufc.br
têm levado os municípios a adotarem sistemas de chafarizes ou
pequenos sistemas de distribuição para estas populações.
Tais sistemas apesar da vantagem de fornecer água de
imediato e aparentemente solucionar a situação de insegurança
hídrica, traz muitos problemas para a administração municipal
que em geral não detém em sua estrutura organização de manu-
tenção capaz de solucionar a contento as avarias e paralizações
dos sistemas.
Neste quadro, pela proliferação destas soluções baratas
em sua instalação, mas de alto custo em sua manutenção, não
possuindo governabilidade não conseguem dar ao usuário final
uma resposta rápida e eficiente.
No município de Aquiraz os poços que fazem pequenos
abastecimentos saíram de 107 (cento e sete) unidades em 2008,
para 263 (duzentos e oitenta e seis) em 2017. Um crescimento
de 167%. Esta política afasta as soluções mais duradouras e efi-
cazes de saneamento básico tendo como exemplo os sistemas de
abastecimento de água estruturados e gerenciados pelo Sistema
Integrado de Saneamento Rural (SISAR) ou até mesmo de in-
terferência pela concessionária Companhia de Água e Esgoto
do Ceará (CAGECE), tendo-se em vista que esta intervenção só
acontece em aglomerados populacionais acima de 1500 pessoas.
A proliferação de poços profundos sem o devido controle
de sua qualidade e de sua explotação tem acarretado o esvazia-
mento destes poços e de outros de pouca profundidade próximos
a estes inviabilizando assim o uso centenário destes recursos pe-
los moradores mais antigos. Esta diminuição da vazão provoca
também uma descaracterização dos equipamentos instalados na
execução do poço provocando queima por funcionamento a seco.
O Município de Aquiraz possui um subsolo rico em águas
subterrâneas pois abriga parte do aquífero Barreiras, sendo este

52
o principal ponto de explotação de poços profundos na região. A
referida localidade possui dois rios principais em seu território,
o Rio Pacoti, que percorre mais de nove municípios no estado do
Ceará, e o Rio Catu, que tem sua nascente no município de Hori-
zonte e logo entra no município de Aquiraz, ambos abastecidos,
no município, por um sistema lacustre de 34 lagoas. Estes sis-
temas também afetam e são afetados pela exploração de poços
tanto em sua periferia quanto em sua própria bacia hidráulica.

ANALISANDO A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO


São escassos os estudos no território de Aquiraz que per-
mita desenvolver o limite mínimo de distância entre poço e fos-
sa, ou entre poços profundos que leve em conta os diversos solos
do município. A titularidade dos serviços de saneamento bási-
co está consolidada na Constituição Federal, Art. 241 e na Lei
nº11.107 de 06 de abril de 2005, e não foram modificados pela
Medida Provisória nº844 de 2018.
Com esta titularidade de governança ao gestor municipal
este se vê obrigado a adotar soluções que atendam à demanda
da população e a princípio eficientes, mas que no seu uso pro-
longado, sistemático e não controlado podem vir a escassear os
recursos disponíveis ou mesmo inviabiliza-los. Assim, nos casos
de contaminação de poços deve ser realizada uma pesquisa rigo-
rosa da proximidade de elementos contaminantes como fossas
ou outras fontes poluidoras, realizando palestras direcionadas
aos usuários e suas comunidades.
Neste movimento de licenciamento dos recursos hídricos
no município propõe-se uma similaridade com o sistema de ou-
torga para recursos hídricos do Estado do Ceará, obedecendo aos
limites aplicáveis da lei federal e estadual. Aparentemente, com
os instrumentos jurídicos consolidados, não seria necessário um

53
novo para controle dos recursos hídricos, mas uma coordenação
municipal com um instrumento eficiente de controle terá sua apli-
cabilidade ampliada deverá atender e proporcionar ao município
um recurso a mais que aliado ao sistema de outorga para controle
tanto dos usos considerados sem impacto no plano geral de geren-
ciamento dos recursos hídricos quanto possibilitando um maior
rigor no uso e ocupação do solo.
O regime de outorgas implementado pela Secretaria de
Recursos Hídricos do Ceará através da Companhia de Gestão
dos Recursos Hídricos (COGERH), monitora eficientemente
as coleções de água do município que são outorgadas, mas não
todas e fica a lacuna para aqueles poços e ou lagoas que não
tenham cadastro.
No caso das coleções de lagoas, e de água subterrânea
o controle se dá apenas nos poços profundos e nestes com va-
zão acima de determinados índices, o que para localidades com
períodos de seca como o nordeste brasileiro se tornam cruciais
para que se possa garantir o acesso comum.
Os Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB)
também não estão atentos ao consumo difuso pois consideram
que os estabelecidos nas outorgas sejam suficientes para este
controle. Mas, a realidade é que estes consumos estão influen-
ciando as coleções de água em especial as subterrâneas até vinte
e cinco metros de profundidade. Acima de 40 metros, quando
não há artesianismo, nota-se que poços próximos com 10 até
20 metros tendem a secar, no último ano 2017 houve 98 (37%)
equipamentos trocados por rodar a seco e nove (3%) poços secos
que foram abandonados ou desativados no universo de 266.
Poços profundos estão secando, tanto pelo longo período
seco dos últimos seis anos quanto pelo seu uso excedente provo-

54
cando queima de motores e em alguns casos sendo abandonados
pois não apresentam vazão suficiente.

DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


A gestão de águas tem importância cada vez maior, pois
os movimentos antrópicos têm exacerbado o seu uso, provocan-
do variações tanto em sua quantidade quanto em sua qualidade,
forçando que a cada dia sua disponibilidade nestes dois aspectos
seja menor.
O território das Bacias Metropolitanas, parte dele em des-
taque na figura a seguir, onde o município de Aquiraz (ver Figu-
ra 1) está inserido, é ocupado predominantemente por substrato
cristalino, com exceção da faixa litorânea (cobertura sedimentar
e dunas) e das regiões aluvionares rentes aos cursos d’água.
Figura 1 – Localização do município de Aquiraz na Região Metropo-
litana de Planejamento De Fortaleza. Fonte: IPECE.

55
A precipitação média pluviométrica e o regime de chu-
vas bastante irregulares, com anos marcados por grandes chu-
vas e outros por secas, caracterizadas por uma pluviosidade
bem abaixo da média, característica do semiárido nordestino
brasileiro. Os índices pluviométricos estão sujeitos a variações
sazonais, com chuvas concentradas majoritariamente no pri-
meiro semestre. Dependendo da proximidade com o litoral e
do relevo, como se observa no Maciço de Baturité, a pluviome-
tria média pode chegar a 1.400mm (CPRM, 1998) .
O clima da região, no geral, apresenta-se homogêneo
e intimamente ligado ao regime pluviométrico, e com exce-
ção de localidades como a Serra de Guaramiranga e Batu-
rité, é considerado quente e estável, com elevadas taxas de
evaporação e insolação. Segundo a classificação de Koppen,
os climas encontrados são o tropical chuvoso (Aw’), tropical
chuvoso de monção (Amw’) e quente e semi-árido (BSw’h’).
(CPRM, 1998)
No caso de Aquiraz temos dois recursos hídricos impor-
tantes: o Rio Pacoti, que percorre mais de nove municípios na
região metropolitana de Fortaleza; e o rio Catú, que tem nas-
cente no município de Horizonte e logo entra no município de
Aquiraz. Além destes dois importantes recursos, o município é
rico em lagoas, com 34 ou mais, que quando sangram derivam
suas águas para os dois drenos principais, é rico também em seu
lençol subterrâneo tendo dunas e parte importante do aquífero
conhecido como Formação Barreiras.
A municipalidade só conhece suas coleções de água na
memória de seus funcionários ou moradores mais antigos, não
sistematizam esta informação e não tem um controle especifico
das lagoas, em especial aquelas que estão dentro das proprieda-
des particulares e não dão acesso à população, considerando-se

56
que em muitos casos estas lagoas são contribuintes importantes
do sistema hídrico do município.
Os poços profundos que já possuem outorga tem algum
tipo de controle, mas os poços de pouca profundidade, até 15-
20 metros, não tem nenhum tipo de atenção, embora sejam
importantes para o abastecimento difuso e suas vazões apesar
de pequenas podem influenciar bastante no estoque das aguas
subterrâneas, em especial no terreno onde predomina o subs-
trato rochoso, influenciam também na rede de esgoto publica
acrescentando vazão ao tratamento forçando a concessionária a
investir mais em um tratamento em que estava programado para
uma vazão menor.
A proposta é que o município agregue ao conhecimento de
seu departamento de recursos hídricos a sistematização do cadas-
tro dos poços profundos construídos pela administração pública
tanto em chafarizes, quanto em escolas, e com a catalogação de
suas coleções lacustres e o máximo possível a de explotação de
poços profundos privados outorgados ou não.

IDENTIFICAÇÃO
DO PROBLEMA
O uso de poços tubulares influencia o estoque de água
subterrânea e a captação aleatória de lagoas influencia direta-
mente no sistema hidrológico das coleções de água municipal.
Aliado a estes fatores a falta do saneamento básico com a cons-
trução aleatória de fossas compromete a qualidade destes aquí-
feros, sejam eles rasos ou profundos.

57
Tabela 1 – Densidade demográfica de Aquiraz nos períodos de 1991,
2000 e 2010. Fonte: IPECE (2013).
Aquiraz 1991 2000 2010
No de Habitantes 46.305 60.469 72.628
Densidade Demográfica 98,42 125,79 150,50

Apresentamos o quadro acima para ilustrar a evolução


populacional no período de 20 anos indicando assim que o mu-
nicípio tem uma tendência de urbanização.
Os distritos restantes, sete, não possuem abastecimento de
água tratada, segundo o PMSB de Aquiraz, o que torna o abasteci-
mento por poços praticamente a única solução hídrica do restante
do município, saliente-se ainda que toda a operação e manutenção
dos mais de 266 sistemas são de responsabilidade e cobertura ex-
clusiva do poder municipal.

JUSTIFICATIVA
Foram identificados neste período de seca prolongada o es-
gotamento de lagoas que não apresentavam o seu leito a mais de
30 anos e de poços rasos e profundos que foram abandonados por
não serem mais capazes de atender a demanda. Desta forma se
exige o controle sistemático destes para prevenir o esgotamento
prematuro destes recursos.

OBJETIVO
Esta proposta objetiva o controle geral das explotações dos
poços profundos públicos e registro das lagoas que formam o sis-
tema lacustre do município de Aquiraz. O controle dos poços será
realizado com a identificação de sua localização geográfica e ana-
lise da qualidade da água. O registro das lagoas com a localização
geográfica de seu acesso público e analise da qualidade de suas
águas para abastecimento humano.

58
RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS
Espera-se que o controle municipal possa, registrando suas
coleções d’água, possa exercer um controle e melhor distribuição
do recurso, atuando mais próximo à população e monitorando a
qualidade das águas direcionar para além da Secretaria de Meio
Ambiente, Urbanismo, Desenvolvimento Agrário e Recursos Hí-
dricos (SEMAD) de Aquiraz, às secretarias vinculadas, Secreta-
ria de Educação e Secretaria de Saúde do Município, para que as
ações de correção ou controle sejam implantadas de forma ime-
diata. Deverá também referenciar ao Plano de Saneamento Bási-
co a melhor forma de intervenção indicando à municipalidade as
prioridades para a concessionária de investimento de curto, médio
e longo prazo, utilizando ou não os recursos das lagoas.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
A municipalidade detém em seu cadastro de poços 263
unidades controladas pelo seu sistema de recursos hídricos, mas
todos sem anotações de vazão média, qualidade da água ou sa-
linidade, e trinta e quatro lagoas identificadas em seu território.
Propõe-se a criação de um cadastro especifico dos poços
profundos operados pela municipalidade com registro de:
1 - Localização do poço (referencial por coordenadas geo-
gráficas); qualidade bacteriológica das águas de consumo hu-
mano, determinações de pH, temperatura, cloro residual livre e
total e recuperação dos dados de construção dos poços. De acor-
do com as Portarias 518/2004 e 5/2017 do Ministério da Saúde.
2 - Localização do acesso público à lagoa (referencial
por coordenadas geográficas); Analises físico-química e bio-
lógica, e monitoramento do estado trófico das águas de con-
sumo humano.

59
ATORES ENVOLVIDOS
Os agentes públicos que estarão envolvidos no projeto
são: SEMAD, através de sua Coordenação de Recursos Hídri-
cos, e a Secretaria de Educação através de sua Diretoria de Pla-
nejamento. Deverá ser contratada consultoria qualificada para
captação de dados e análises laboratoriais para as análises de
água e elaborações dos relatórios solicitados.

RECURSOS NECESSÁRIOS
Serão necessários para sua execução:
1. Transporte em veículo leve, com cobertura das despe-
sas de deslocamento e combustível pelo projeto.
2. Vidraria para recolhimento das amostras
3. Contratação de laboratório de análises físico-química
e bacteriológica.
4. Pessoal treinado e habilitado para localização por
GPS das localidades e captação das amostras.
5. Pessoal técnico para tabulação e análise dos dados
produzidos. (dois técnicos nível médio e um enge-
nheiro/químico)

ORÇAMENTO
Para viabilidade desta proposta de estudos foi elaborado
um orçamento orientativo que estima os recursos necessários da
ordem de R$ 222.504,48 (duzentos e vinte e dois mil, quinhen-
tos e quatro reais e quarenta e oito centavos) orçados com base
nas tabelas de referência da SEINFRA 24 e SINAPI 07/18 e In-
sumos Próprios.

60
VIABILIDADE
O saneamento básico é uma das premissas da CF-1988, e
também está prevista na legislação ordinária como direito fun-
damental e de cidadania na Lei n.º11445/2007, portanto toda ati-
vidade que, como este projeto, venha fortalecer e atender a este
direito deverá ser acolhida pelos órgãos executores.

RISCOS E DIFICULDADES
A água sempre foi considerada um recurso natural infi-
nito, mas a atividade econômica e o crescimento populacional
cada vez maior têm impactado nossos recursos hídricos que são
na realidade finitos, os governos têm implantado a cobrança da
água como forma de limitar o uso do recurso hídrico. Qualquer
movimento neste sentido gera uma desconfiança e rejeição nas
populações que recebem água sem qualquer cobrança como é o
caso dos beneficiários no município de Aquiraz. A realização
deste estudo não tem esta pretensão, mas poderá gerar uma insa-
tisfação entre a população não permitindo o desenvolvimento da
atividade a que se propõe.

CRONOGRAMA
As atividades se desenvolverão por dois meses no perío-
do chuvoso e por mais dois meses no período seco (ver quadro
1). Desta forma deveremos identificar a influência do poço em
dois períodos diferenciados e com potencial de intervenção no
regime dinâmico dos poços. Portanto os 120 dias do cronograma
estarão distribuídos os primeiros 60 dias no período de chuvas e
os outros 60 dias no período seco.

61
Quadro 1 – Cronograma de trabalho.

Fonte: Elaborado pelos autores.

GESTÃO, ACOMPANHAMENTO
E AVALIAÇÃO
A gestão será realizada pelo município com a nomeação
de um Engenheiro Fiscal para coordenar e gerenciar as ativida-
des de forma que estas coletas e identificações sejam realizadas
em período hábil e o contrato gerido por um gestor de contrato
para as ações administrativas.

62
A avaliação final se dará em um fórum com a presença
dos técnicos das diversas entidades envolvidas para repasse dos
conhecimentos e recomendações realizadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O município de Aquiraz possui saneamento básico com
abastecimento de água e esgoto apenas no seu distrito SEDE, es-
tando desenvolvendo o saneamento com água e esgoto no bairro
de Porto das Dunas. Tem também abastecimento de água tratada
no distrito de Tapera e no Resort Aquiraz Riviera pela CAGECE.
Este sistema com toda a sua dimensão socio econômica
oneram e pesam em demasia na estrutura de gestão dos recursos
hídricos, assim a gestão tem que ser o mais eficaz possível e sua
atuação o mais urgente possível sempre.
Neste escopo é que pretendemos dar ao município uma
ferramenta de gestão que juntando ao conhecimento dos sistemas
de poços, sua localização e características possam agilizar seu
trabalho de manutenção corretiva e preventiva. Aliado ao trabalho
estaremos cadastrando pela primeira vez os recursos de seu
sistema lacustre que é responsável não somente beleza cênica,
mas também responsável pela recarga de seu lençol freático.

REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Outorga. Disponível em: <http://
www.mma.gov.br/agua/recursos-hidricos/outorga-federal>. Acesso em:
23 mar. 2018.

AQUIRAZ. Plano Municipal de Saneamento Básico: Água e Esgoto.


Publicado em 2017. Disponível em: <www.aquiraz.ce.gov.br/plano-muni-
cipal-saneamento/>. Acesso em: 13 set. 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR7229/83.


Associação Brasileira de Normas Técnicas. Instalação de fossas residen-
ciais. Brasília: ABNT, 1983.

63
BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37,
inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e con-
tratos da Administração Pública e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8666cons.htm>. Acesso
em: 13 set. 2018.

_________. Lei nº 11.445, de 05 de janeiro de 2007. Estabelece diretri-


zes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis Nº 6.766, de 19 de
dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho
de 1993, 8.987, de13 de fevereiro de1995; revoga a Lei nº 6.528, de 11
de maio de 1978; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm>. Acesso
em: 13 set. 2018.
__________. Portarias 518/2004 e 5/2017 do Ministério da Saúde. Dis-
ponível em: <bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/portaria_518_2004.
pdf>. Acesso em: 13 set. 2018.

CEARÁ. Decreto nº23067/94. Regulamenta o artigo 4° da Lei n° 11. 996,


de 24 de julho de 1992, na parte referente à outorga do direito de uso dos
recursos hídricos, cria o Sistema de Outorga para Uso da Água e dá outras
providências. Disponível em: <https://portal.cogerh.com.br/legislacao-es-
tadual/.../308-1994.html?...decreto-n... >. Acesso em 23 mar. 2018.

COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS. Programa


de Recenseamento de Fontes de Abastecimento por Água Subterrânea
no Estado do Ceará. Fortaleza: CPRM, 1998.

PROGÊNIO, M. F. et al. Análise da disposição de fossas em relação aos


poços domiciliares no Bairro Mutirão, localizado na área urbana de Alta-
mira – PA, nos meses setembro a dezembro de 2013, Revista Caribeña de
Ciencias Sociales (Diciembre 2016). Disponível em: <http://www.eumed.
net/rev/caribe/2016/12/fossas.html>. Acesso em: 23 set. 2018.

64
ESTUDO TÉCNICO PARA
REGULAMENTAÇÃO E REDEFINIÇÃO
DA POLIGONAL APA DA LAGOA DO
SACO DO BARRO NO MUNICÍPIO
DE TABULEIRO DO NORTE-CE.

Maria Rovênia Bezerra Maia


Rickardo Léo Ramos Gomes (orientador)

Resumo: Existem diferentes mecanismos de proteção dos recursos


hídricos, um deles é o instrumento de gestão da Política Nacional
de Meio Ambiente: a criação de espaços especialmente protegidos
do tipo Unidades de Conservação da Natureza que garante proteção
aos recursos naturais naquele espaço. Considerando as premissas da
sustentabilidade ambiental, o Município de Tabuleiro do Norte-CE
instituiu a Área de Proteção Ambiental da Lagoa do Saco do Bar-
ro, porém, essa proteção concedida pelo diploma legal da APA não
conseguiu seus objetivos. Nesse sentido, este projeto de intervenção
visa realizar um estudo técnico do tipo diagnóstico socioambiental da
área para subsidiar a regulamentação e delimitação de uma poligonal
apropriada e representativa da Área de Proteção Ambiental da Lagoa
do Saco do Barro. O projeto terá um custo total de R$ R$ 130.850,00.
Palavras-chave: Lagoa do Saco do Barro. Unidade de Conservação.
Área de Proteção Ambiental.

INTRODUÇÃO
A água tem sido um dos recursos ambientais mais afe-
tados pela degradação, de forma que atualmente o foco da sua
escassez está concentrado tanto no requisito quantidade, quanto
na qualidade.
A Lagoa do Saco do Barro é um exemplo de corpo hídrico
que sofre de desequilíbrio ecológico, constatando-se no seu en-
torno, graves impactos ambientais decorrentes da destruição da
mata ciliar, ocupação das áreas de APP, lançamento de efluentes
e funcionamento de um lixão. Esse manancial compõe o sistema
hídrico do município de Tabuleiro do Norte-CE, com boa capa-
cidade de acumulação e tem papel fundamental na drenagem do
município, pois se interliga com outros corpos hídricos, necessi-
tando, portanto, se garantir sua proteção.
Existem diferentes mecanismos de proteção dos recursos hí-
dricos, um deles é o instrumento de gestão da Política Nacional de
Meio Ambiente: a criação de espaços especialmente protegidos do
tipo Unidades de Conservação da Natureza que garante proteção aos
recursos naturais naquele espaço. (CABRAL, 2005). Considerando
essa premissa, o Município de Tabuleiro do Norte-CE, estabeleceu
no entorno da lagoa a Área de Proteção Ambiental da Lagoa do
Saco do Barro com objetivos de proteção do solo, das comunidades
bióticas nativas, dos remanescentes de mata nativa, bem como das
reservas hídricas municipais. Porém, essa proteção não se efetivou,
tanto por que houve falhas na definição da poligonal, quanto porque
que não houve implementação de fato do dispositivo legal, culmi-
nando com o total desconhecimento da população sobre este espaço.
Nessa perspectiva, considerando a importância da Lagoa do
Saco do Barro bem como a regulamentação e redefinição da po-
ligonal APA, este projeto visa realizar um estudo técnico do tipo
diagnóstico socioambiental da área, investigando as características
ambientais, sociais e culturais do local. Este tipo de estudo se torna
importante para prover aos órgãos ambientais, de controle e moni-
toramento hídrico, ao setor acadêmico e a sociedade em geral, in-
formações técnicas sobre a Área de proteção ambiental em estudo.

RECURSOS HÍDRICOS
A água é elemento indispensável à vida, e embora três
quartos da superfície da Terra sejam compostos por água, a maior

66
parte não está disponível para consumo humano, pois aproxima-
damente 97% é água salgada, encontrada nos oceanos e mares, e
2% geleiras inacessíveis, ou seja, apenas 1% de toda a água é doce
podendo ser utilizada para consumo do ser humano e dos animais.
E deste total 97% estão armazenados em fontes subterrâneas
(GONÇALVES, 2009).
O conflito pelo uso da água está concentrado nos dife-
rentes usos que a mesma pode proporcionar. (POLETO, 2014).
Muito se ouve falar da escassez hídrica, ou que a água está aca-
bando, e se não houver o devido cuidado, ela realmente se tor-
nará escassa. A questão da escassez hídrica, além de mudanças
climáticas que poderão advir, é a indissociabilidade entre a qua-
lidade e a quantidade. Ainda que haja a quantidade da água seja
a mesma ao longo do tempo, caso a qualidade seja comprome-
tida, os custos com tratamento podem se tornar tão altos que o
inviabilizem. Assim, a água se torna escassa pelo fator qualidade
e não pela quantidade disponível. (POLETO, 2014).
O Brasil é um país privilegiado no que diz respeito à
quantidade de água. Tem a maior reserva de água doce da Terra,
ou seja, 12% do total mundial. Sua distribuição, porém, não é
uniforme em todo o território nacional. Com tanta água no pla-
neta, parece absurdo discutir problema da escassez. Atualmente
essa problemática diz respeito, não só a quantidade, mas princi-
palmente no que concerne à qualidade.
Conforme Guerra e Cunha (2005) a degradação da qua-
lidade ambiental, principalmente a poluição das águas, decorre
da má gestão ambiental, da falta de planejamento territorial e
ordenamento do uso e ocupação do solo. Para Mota (2003) a
utilização múltipla dos recursos hídricos, pode ocasionar a mo-
dificação da sua qualidade e degradação dos mananciais.

67
Dentre os recursos naturais, um dos que apresenta os mais
variados, legítimos e correntes usos, é indubitavelmente a água
(TUCCI, 1993). A utilização cada vez maior dos recursos hídri-
cos, tem resultado não só na escassez, mas na degradação de sua
qualidade, e esse fator, é de extrema relevância, tendo em vista
seus usos múltiplos, ou seja, a água integra praticamente todas
as atividades humanas, tais como o abastecimento humano, in-
dustrial, irrigação, recreação, uso pastoril, preservação de fauna
e flora, geração de energia elétrica, transporte e afastamento de
despejos, além do uso estético (TUCCI, 2001).
O crescimento populacional e a industrialização, aliados
à má gestão do uso e ocupação do solo e a falta de infraestrutura
de saneamento básico são os principais fatores que promovem
da poluição hídrica no Brasil, de forma que é fundamental e ur-
gente o manejo das atividades desenvolvidas na bacia hidrográ-
fica. Dentre os principais danos ambientais provocados nos ma-
nanciais, podemos identificar como significativo, a destruição
das matas ciliares e do manancial como um todo.

FONTES DE POLUIÇÃO E IMPACTOS


AMBIENTAIS NOS CORPOS HÍDRICOS
A escassez da água, no que concerne à sua qualidade, de-
corre de diversos fatores ligados principalmente à ação antrópi-
ca, que resultam na poluição hídrica e na consequente inutiliza-
ção de corpos hídricos. A poluição hídrica pode ocorrer de forma
natural ou pela ação humana. Atualmente, a maior fonte de po-
luição dos corpos hídricos é o lançamento de esgotos domésti-
cos e despejos industriais. Esse tipo de degradação tem relação
direta com intensidade das atividades humanas. O rápido cres-
cimento populacional e os acelerados avanços no processo de

68
industrialização e urbanização das sociedades têm repercussões
sem precedentes sobre o ambiente humano (FUNASA, 2007).
Para Tsutiya (2003) os mananciais, de um modo geral,
vêm sofrendo degradações em suas bacias hidrográficas, prin-
cipalmente devido ao avanço da malha urbana com desenvolvi-
mento desordenado associado à carência de coleta e tratamento
de esgoto.
As medidas de controle devem ser tomadas tendo em vista
os aspectos de quantidade e qualidade, devem envolver a bacia hi-
drográfica como um todo, uma vez que o recurso hídrico depende
dos seus tributários e, consequentemente, das ações desenvolvi-
das em toda a bacia. Essas ações devem ser desenvolvidas tanto
termo de proteção quanto em recuperação das áreas degradadas,
especialmente as relacionadas aos corpos hídricos.

CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO
Tabuleiro do Norte é um município brasileiro situado a
leste do estado do Ceará, na divisa com o Rio Grande do Norte,
mais especificamente na mesorregião do Jaguaribe na microrre-
gião do baixo Jaguaribe, distando aproximadamente 220 km da
capital cearense.
Devido à localização da cidade entre estradas importantes
para o escoamento de produtos, a assistência aos caminhoneiros é
uma das fontes da economia local, na qual destaca-se o polo me-
talúrgico e mecânico — uma grande infraestrutura em metalurgia
e mecânica com especialização em caminhões. (IPECE, 2016).
Em 2014, tinha um PIB per capita de R$ 8.877,74. Na com-
paração com os demais municípios do estado, sua posição era de
50 de 184. Já na comparação com municípios do Brasil todo, sua
colocação era de 3852 de 5570. Em 2015, tinha 93.1% do seu or-
çamento proveniente de fontes externas. (IPECE, 2016).

69
Apresenta 24.2% de domicílios com esgotamento sani-
tário adequado, 92.8% de domicílios urbanos em vias públicas
com arborização e 2.4% de domicílios urbanos em vias públicas
com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavi-
mentação e meio-fio).
Quanto aos aspectos ambientais, verifica-se o município
apresenta um clima tropical quente semi-árido, com pluviosidade
média de 794,8 mm ao ano. Apresenta em seu relevo a Chapada
do Apodi, Planícies Aluviais e depressões sertanejas, com solos
aluviais, cambissolo, solos litólicos, podzólico vermelho-amarelo
e vertissolo. Em sua vegetação pode se observar a floresta
caducifólia espinhosa, caatinga arbustiva densa, caatinga arbustiva
aberta e floresta mista dicotillo-palmácea (IPECE, 2016).
Conforme o último Censo, o município possuía uma po-
pulação de 29.204 habitantes, com estimativa de 30378 pessoas
em 2016.
O Sistema de Abastecimento de água da cidade de Ta-
buleiro é operado pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará
– CAGECE. Conforme dados do IPECE sobre abastecimento de
água no município, em 2015 a taxa de cobertura d’água urbana
(%) era de 98,48% com 7.784 ligações reais, 7.619 ligações ati-
vas e um volume produzido 1.749.454m³. Conforme dados da
CAGECE em 2017 o número de ligações ativas é 7523, com
uma produção de aproximadamente 215 m³/h.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


O local de estudo trata-se do entorno da Lagoa do Saco do
Barro que foi instituída como Área de Proteção Ambiental em
2007. A área da APA compreende toda a faixa de territorial de do-
mínio da lagoa contendo 3,8km² de área, equivalente a 388 hectares
com um perímetro de 11.365m (TABULEIRO DO NORTE, 2007).

70
A Lagoa do Saco do Barro compõe o sistema hídrico do mu-
nicípio de Tabuleiro do Norte-CE, sendo um manancial com capa-
cidade de acumulação e tem papel fundamental na drenagem do
município, pois se interliga com outros corpos hídricos. Historica-
mente verifica-se que nas décadas de 70 e 80 esse manancial servia
para lazer e abastecimento de comunidades próximas, porém, quan-
do da instalação de um lixão na sua margem na década de 90, esse
manancial caiu em desuso. O ambiente apresenta, além do corpo
hídrico, uma vegetação nativa arbóreo-arbustiva típica do bioma
caatinga com predominância de carnaubais que compõe uma paisa-
gem de elevada beleza, conforme se verifica nas imagens a seguir:
Figura 1 – Imagem aérea da lagoa.

Figura 2 – Vegetação do entorno da lagoa.

71
Figura 3 – Sangradouro da lagoa.

Figura 04 – Ambiente de grande beleza cênica.

A lagoa apresenta no seu entorno a presença de assen-


tamentos humanos, alguns inclusive com localização urbana
(Bairros Vila Macena e Bom Futuro) com atividades comerciais
e residenciais, e de comunidades rurais com atividades agrícolas
e criação de animais.

PROJETO DE INTERVENÇÃO

IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Uma das problemáticas ambientais encontradas no Mu-
nicípio de Tabuleiro do Norte-CE, diz respeito aos usos e ocu-
pações as margens de corpos hídricos, o que tem acarretado

72
significativa degradação, inutilização desses mananciais e até o
desaparecimento em alguns casos. Uma situação emblemática
é o caso da Lagoa do Saco do Barro que teve sua Área de Pre-
servação Permanente – APP danificada, principalmente em de-
corrência do funcionamento de um lixão entre os anos de 1989
e 2008, o que suprimiu parte da sua mata ciliar e provocou a
poluição das águas e a inutilização desse manancial. Em alguns
pontos a Área de Preservação Permanente-APP também foi ocu-
pada por residências e outras atividades.
Considerando que conforme a Política Nacional de Re-
cursos Hídricos, dada pela Lei Federal 9433/1997 a água é um
recurso natural limitado, bem de domínio público, devendo a
sua gestão ser descentralizada, proporcionar o uso múltiplo das
águas e estar integrada com a gestão ambiental, tendo a bacia
hidrográfica como unidade territorial para implementação da
política, a fim de assegurar à atual e às futuras gerações a neces-
sária disponibilidade, em padrões de qualidade adequados aos
respectivos usos.
Considerando a proteção necessária dos recursos hídricos
dada pela Lei 12621/2012 (Código Florestal) que estabelece a
Área de Preservação Permanente – APP como uma área protegi-
da, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambien-
tal de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna
e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações
humanas.
Considerando a Política Nacional de Meio Ambiente
(Lei Federal 6938/1981) que traz dentre os seus princípios,
ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,
considerando o meio ambiente como um patrimônio público a
ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o

73
uso coletivo; a racionalização do uso do solo, do subsolo, da
água e do ar; o planejamento e fiscalização do uso dos recursos
ambientais; a proteção dos ecossistemas, com a preservação
de áreas representativas; a recuperação de áreas degradadas;
a proteção de áreas ameaçadas de degradação e a educação
ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação
da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa
na defesa do meio ambiente, e que a criação de espaços terri-
toriais especialmente protegidos pelo Poder Público Federal,
Estadual e Municipal, tais como áreas de proteção ambiental,
de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas é ins-
trumento da política ambiental brasileira, pela qual se busca
assegurar a preservação, melhoria e recuperação da qualidade
ambiental propícia à vida, bem como, condições ao desenvol-
vimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional
e à proteção da dignidade da vida humana.
Considerando que conforme o Sistema Nacional de Uni-
dade de Conservação - SNUC dado pela Lei Federal 9985/2000,
a criação de espaços protegidos, objetiva dentre outras coisas,
contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de
ecossistemas naturais; promover a utilização dos princípios e
práticas de conservação da natureza no processo de desenvol-
vimento e proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos.
Considerando que a Área de Proteção Ambiental é uma
área dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais
especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-es-
tar das populações humanas, e tem como objetivos básicos pro-
teger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupa-
ção e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
Considerando a Lei Municipal n°954, de 20/12/2007 que
instituiu a Área de Proteção Ambiental -APA da Lagoa do Saco

74
do Barro, com objetivos de proteção do corpo hídrico, bem
como do solo, da biota, de suas matas ciliares e remanescentes
de vegetação nativa e do bem-estar das populações do entorno.
Considerando que nas bacias do baixo e médio Jaguaribe
existem poucos espaços protegidos, sendo necessária a criação
de novas unidades de conservação na região.
Considerando que a criação de uma unidade de conserva-
ção deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública
que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites
mais adequados para a unidade.
Considerando ainda a importância da gestão adequa-
da desses espaços especialmente protegidos para proteção dos
mananciais e considerando, sobretudo, que no entorno da lagoa
vem sendo desenvolvidas diversas atividades que impactam ne-
gativamente nesse recurso hídrico, faz se necessária a execução
de projeto que promova a delimitação e regulamentação da Área
de Proteção Ambiental, bem como o ordenamento das atividades
desenvolvidas nesse espaço e a conscientização da população
para a proteção da lagoa e dos demais atributos ambientais locais.

OBJETIVOS
O projeto terá por objetivo geral a elaboração de um es-
tudo técnico para subsidiar a regulamentação e delimitação da
Área de Proteção Ambiental da Lagoa do Saco do Barro, e com-
plementarmente os seguintes objetivos específicos:
• Diagnosticar as características ambientais no entorno
da Lagoa do Saco do Barro;
• Identificar áreas degradadas, possibilitando a recupe-
ração das mesmas;
• Elaborar de mapas georreferenciados das característi-
cas socioambientais do local.

75
RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS
Com a implantação do projeto espera-se obter os seguin-
tes resultados:
• Caracterização completa dos aspectos ambientais do
entorno da lagoa;
• Definição de uma poligonal apropriada e representa-
tiva para a APA;
• Banco de dados digital sobre a Unidade de Conser-
vação.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
Para a execução do projeto serão necessárias algumas
ações de intervenção:

Estabelecimento de parcerias:
O estabelecimento de parcerias deverá ser realizado pelo
executor do projeto (Secretaria de Meio Ambiente do Municí-
pio) no sentido de diminuir os custos do projeto e garantir uma
execução adequada, desta forma, esta etapa deve ser anterior a
encaminhamento para captação de recursos.

Divulgação do projeto:
A divulgação do projeto é um item fundamental para que
ocorra sucesso na execução, desta forma, é necessário se dar pu-
blicidade a todas as etapas do projeto que poderá ser feito atra-
vés do desenvolvimento de ações de educação ambiental através
da rádio comunitária e demais veículos de comunicação, bem
como nas escolas e comunidade local.

76
Diagnóstico socioambiental da área:
O diagnóstico socioambiental deverá ser realizado por pro-
fissionais habilitados sob a supervisão da Secretaria Municipal de
Meio Ambiente em toda área de entorno da lagoa objetivando se
caracterizar os problemas, potencialidades, categoria e limites mais
adequados para a Unidade de Conservação a ser regulamentada.

Sinalização da área e instalação de estruturas


Após a regulamentação da poligonal da Unidade de Con-
servação, se faz necessário a divulgação in loco da sua existência
com sinalização dos limites da poligonal, indicação das proibições
e das penalidades e placas de educação ambiental. Também é re-
comendável a instalação de estruturas mínimas para manutenção
da unidade de conservação, bem como a prática de atividades edu-
cacionais com o fito da preservação do ambiente. Para esta ação
poderá ser elaborado um de novo projeto de captação de recursos.

Reflorestamento de áreas desmatadas:


Após a realização do diagnóstico ambiental, se identifica-
das áreas de desmatadas, deverá ser realizado projetos de reflores-
tamento. Para esta ação poderá ser elaborado um de novo projeto
de captação de recursos.

Manutenção e acompanhamento do projeto:


A manutenção e o acompanhamento do projeto serão rea-
lizados pelo município através da Secretaria de Meio Ambiente.

ATORES ENVOLVIDOS
Para que o projeto seja executado será necessário o desen-
volvimento de parcerias, as quais são detalhadas a seguir:

77
• Instituição financiadora: promover o custeio financei-
ro do projeto;
• Poder Público Municipal: promover a execução e
manutenção do projeto já que área é uma unidade de
conservação municipal;
• Sociedade: agente colaborador na “fiscalização” da
área;
• Órgãos ambientais estadual e municipal; apoio técnico
durante toda o planejamento, a execução, avaliação e
medição do projeto;
• Sindicatos e associações: mobilização social com o
fito de contribuir na execução do projeto;
• Rádio comunitária: divulgação das ações do projeto.
• Instituições de ensino (escola, universidades): contri-
buir com o desenvolvimento de pesquisas no local,
promoção de debates sobre a temática, realização de
visitas técnicas;
• Proprietários de terrenos na área da APA: garantir o
acesso e promover manutenção do projeto em sua
propriedade.

RECURSOS NECESSÁRIOS
Para a execução do projeto serão necessários os seguintes
recursos:
Equipamentos: GPS, câmera fotográfica, microcomputa-
dor, veículo, material de coleta de água.
Mão de obra: equipe técnica habilitada na área ambiental
com especialidades na área florestal, fauna, solos, recursos hídri-
cos e geoprocessamento de dados.

78
ORÇAMENTO
Para a execução do projeto será necessário a contratação
de mão de obra técnica especializada e a compra de equipamen-
tos e veículos. O custo total estimado do projeto está disposto no
quadro abaixo, no qual R$ 130.850,00 representa o valor total a
ser investido, sendo R$ 66.050,00 contrapartida dos parceiros.
Tabela 1 – Orçamento do projeto.
Valor Valor
Ítem Descrição Unidade Quant.
unitário total

1 GPS Unidade 2 1200,0 2400,00

2 notebook Unidade 4 1900,0 7600,00

3 câmera fotográfica Unidade 2 500,0 1000,00

4 *análise física do solo amostra 35 30,0 1050,00

*análise físico-química
5 amostra 10 500,0 5000,00
de água

VIABILIDADE
Sobre a viabilidade técnica na execução do projeto, enten-
de-se que não há empecilhos técnicos na execução do mesmo,
uma vez que a área da APA é pequena tornando o diagnóstico am-
biental exequível. Também não será necessário o uso de equipa-
mentos caros. Quanto à mão de obra necessária, registra-se que há
uma grande disponibilidade de profissionais e empresas de con-
sultoria no mercado, aptos a realizar um trabalho de qualidade.
Do ponto de vista econômico-financeiro, o diagnóstico am-
biental da área e a implementação da APA será plenamente exe-
quível, uma vez que será escolhida a técnica menos custosa eco-
nomicamente e mais adequada ambientalmente. Também serão
estabelecidas parcerias no sentido de reduzir os custos de projeto.

79
RISCOS E DIFICULDADES
Todo projeto apresenta risco desde a sua concepção até
a seu encerramento. No caso de projetos de regulamentação de
unidades de conservação, os riscos são bem reduzidos, uma vez
que os ganhos na qualidade ambiental se sobrepõem a qualquer
fator negativo que surja durante a execução do projeto. Cabe a
inda ressaltar que a criação de espaços protegidos é instrumento
da Política Nacional de Meio Ambiente, tendo, portanto, todo
respaldo legal.
Em relação aos aspectos negativos que podem ocorrer,
apontam-se dificuldades no estabelecimento de parcerias, a acei-
tação e disponibilidade da população em contribuir no diagnós-
tico caso o projeto não seja bem divulgado.

CRONOGRAMA
As atividades do projeto serão desenvolvidas conforme o
cronograma abaixo
Quadro 02 – Cronograma de execução do projeto.

PERÍODO (em meses)


ETAPA
1º 2º 3º 4º 5º 6º

1. Planejamento X

2. Divulgação X

3. Diagnóstico socioambiental X

4. Coletas de água e solo X

5. Entrega do estudo X

6. Elaboração da minuta de lei e


X X
encerramento do projeto.

80
GESTÃO, ACOMPANHAMENTO
E AVALIAÇÃO
O acompanhamento do projeto será realizado pela Secre-
taria Estadual de Meio Ambiente, responsável pela gestão do
Sistema Estadual de Unidades de Conservação em parceria com
a Secretaria de Meio Ambiente do Município.

CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES
A partir das pesquisas realizadas, conclui-se que a prote-
ção e a gestão adequada dos recursos ambientais, especialmente
dos recursos hídricos, é uma demanda urgente e dever de todos,
uma vez que deles – recursos hídricos - depende a nossa sobre-
vivência. Conclui-se ainda que a gestão ambiental municipal é
muito precarizada, especialmente no que concerne à criação de
espaços protegidos que é um instrumento de fundamental im-
portância para manutenção da qualidade ambiental. Nessa pers-
pectiva, o desenvolvimento de projetos e a captação de recursos
se apresentam como uma alternativa viável para a superação de
dificuldades e para a implementação de boas ideias.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Federal 12.651/2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação
nativa; altera as Leis Nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de
dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis
nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a
Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras provi-
dências. DOU. BRASIL, 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em 03.05.2017.

_____. Lei Federal 9.985/2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II,
III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação da Natureza e dá outras providências.

81
_____. Lei Federal 9.433/1997. Institui a Política Nacional de Recursos
Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art.
1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990,
de 28 de dezembro de 1989. DOU. BRASIL, 1997. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm. Acesso em 10.05.2018.

_____. Lei Federal 6.938/1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio


Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. DOU. BRASIL, 1981. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em .05.2018.

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82
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TUCCI, C. E. M. (Org.). Hidrologia Ciência e Aplicação. Edição da


Universidade. Porto Alegre. EDUSP, 1993.

83
MONITORAMENTO AMBIENTAL DO
CORPO HÍDRICO RECEPTOR DE
EFLUENTE DO ATERRO SANITÁRIO
DE RIO BRANCO-ACRE
Aline Paiva Ramos Martins1
Gabrielen de Maria Gomes Dias2
David Correia dos Anjos3
Resumo: O corpo hídrico receptor configura-se como uma mi-
crobacia do Igarapé Quinoá, este afluente do Rio Acre, principal
fonte de abastecimento da capital acreana. O monitoramento rea-
lizado mensalmente em 2016 e 2017, analisou nove variáveis, e
constatou que 45,8% das amostras de DBO e 37,5% das amostras
de Nitrogênio Amoniacal estão em desconformidade com os pa-
drões de qualidade para águas doces de Classe 2, conforme Re-
solução CONAMA nº357/2005. Recomendamos a manutenção
desta proposta, complementada por um estudo de autodepuração
para avaliar a capacidade de suporte do manancial, gerando sub-
sídios para recomendar melhorias no Sistema de Tratamento de
Efluentes e manutenção dos padrões de qualidade do manancial.
Palavras-chave: Resíduos Sólidos. Microbacia do igarapé Quinoá.
Análise de Conformidade.

1 Tecnóloga em Gestão Ambiental (2006) pela União Educacional do Norte


(UNINORTE/Acre), Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Pro-
jetos para Gestão Municipal de Recursos Hídricos (2018) pelo Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e Agência
Nacional de Águas (ANA).
2 Agrônoma (2008) pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestrado
(2010) e Doutorado em Agronomia/Fitotecnia (2013), pela Universidade
Federal de Lavras (UFLA) e Pós-Doutorado em Agronomia pela Universi-
dade Federal de Lavras.
3 Agrônomo (2009) pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Msc. Ciên-
cia do Solo (2011) pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Doutorado
em Agronomia – Solos e Nutrição de Plantas (2015) pela Universidade
Federal do Ceará (UFC).
INTRODUÇÃO
O Ministério do Meio Ambiente (2011, p. 1) sugere que o
gerenciamento dos resíduos sólidos não dever ocorrer de forma
isolada, pois está diretamente vinculada à manutenção da quali-
dade das águas. Assim, é fundamental para a gestão dos recursos
hídricos analisar de forma integrada a gestão ambientalmente
adequada dos resíduos sólidos, em destaque neste, a gestão de
áreas de disposição final com vistas à manutenção da quantidade
e qualidade das águas.
No estado do Acre, apenas a capital, Rio Branco, possui
Aterro Sanitário para disposição final dos resíduos domiciliares
(ACRE, 2012. p. 113; BRASIL, 2010).Aconcepção do empreendi-
mento atende aos critérios de engenharia e a partir do licenciamen-
to ambiental é previsto o monitoramento das águas superficiais,
subterrâneas e a eficiência do tratamento dos líquidos percolados
(RIO BRANCO, 2007, p. 61; MARTINS, et al. 2013, p. 237).
O corpo hídrico receptor de efluente do Aterro Sanitário
de Rio Branco pertencente a bacia do Igarapé Quinoá, afluen-
te da margem direita da bacia do Rio Acre, este por sua vez é
o principal manancial de abastecimento hídrico do município
(RIO BRANCO, 2007, p. 30; ACRE, 2013, p. 99). Consideran-
do sua importância para a população, faz-se necessário moni-
torar as condições de qualidade do manancial, diante das pro-
váveis interferências do lançamento do efluente, oportunizando
um diagnóstico favorável para a adoção de medidas de proteção
aos recursos hídricos.

OBJETIVO GERAL
Monitorar a qualidade da água do corpo hídrico receptor
de efluente do Aterro Sanitário de Rio Branco-AC, microbacia

86
do Igarapé Quinoá, levantando as prováveis intervenções na
qualidade do manancial.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Realizar, no período de 2016 e 2017, diagnósticos
mensais das condições de qualidade corpo hídrico re-
ceptor, a partir da coleta de amostras representativas
para analisar os seguintes parâmetros de qualidade:
Turbidez, pH, Temperatura, Oxigênio Dissolvido,
Sólidos Dissolvidos Totais, Demanda Bioquímica de
Oxigênio, Nitrogênio Amoniacal, Fósforo Total e Co-
liformes Termotolerantes;
• Realizar uma análise de conformidade a partir da
observação dos resultados em comparação aos valo-
res máximos permissíveis estabelecido pela Resolu-
ção CONAMA Nº357/2005 e Resolução CONAMA
Nº430/2011;
• Indicar ações de intervenção no controle da melhoria
e monitoramento do corpo hídrico receptor.

METODOLOGIA
O corpo hídrico receptor surge na área de abrangência da
Unidade de Tratamento e Disposição Final de Resíduos Sólidos
(UTRE), no município de Rio Branco-Acre, este localiza-se a
uma latitude 09º 58’ 29’’ Sul e a uma longitude 67º 48’ 36’’Oes-
te, estando a uma altitude de 180 metros. A caracterização da
área foi baseada no Estudo de Impactos Ambientais (EIA) e pro-
jeto executivo da UTRE.
Para monitoramento do manancial, definiu-se três pontos
distintos de amostragem objetivando coletar amostras que ca-

87
racterizem as condições do corpo hídrico receptor ao receber o
efluente do Aterro Sanitário, conforme detalha a Tabela 1.
Tabela 1 – Localização geográfica dos pontos de coleta de amostras de
águas da microbacia do Igarapé Quinoá.

IDENTIFICAÇÃO LATITUDE LONGITUDE LOCALIZAÇÃO

67º 36’53.16’’
PONTO 01 10º 02’ 12.54’’Sul à Montante
Oeste

Zona de Mistura
67º 36’52.59’’
PONTO 02 10º 02’ 14.17’’Sul (ponto de lança-
Oeste
mento)

67º 36’51.74’’
PONTO 03 10º 02’ 18.33’’Sul à Jusante
Oeste

Fonte: Autora, 2016.


Seguindo a padronização de Rice et al. (2012) as amos-
tras foram coletadas e analisadas por laboratório particular, in-
vestigando as variáveis elencadas na Licença de Operação da
UTRE. Os resultados serão submetidos a análise de conformi-
dade aos limites de concentração fixados para corpos d’água de
Classe 2. A definição desta classe é respaldada pelo Art.42 da
Resolução CONAMA nº357/2005, que estabelece “enquanto
não forem aprovados os respectivos enquadramentos, as águas
doces serão classificadas Classe 2”, característica que abrange
o manancial monitorado (CONAMA, 2005, grifo nosso).
Para melhor interpretação do conjunto de dados de cada va-
riável, foram empregados cálculos estatísticos que possibilitarão
uma melhor avaliação dos resultados obtidos nas vinte e quatro
campanhas de amostragem realizadas nos anos de 2016 e 2017.

88
DESENVOLVIMENTO

DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS


SÓLIDOS EM SOLO
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2009, p. 42) o
lixão é a forma inadequada de dispor os resíduos sólidos urbanos
sobre o solo, considerando que não são empregados nenhuma
medida de proteção ao meio ambiente, como: impermeabiliza-
ção, sistemas de drenagem de lixiviados e de gases, sem cobertura
diária dos resíduos, e sem tratamento do chorume, e que por esses
motivos, causam impactos à saúde pública e ao meio ambiente.
O aterro controlado apresenta características de controle
preferíveis a de um lixão, porém continua a causar a poluição
ambiental, se mantendo muito inferior ao Aterro Sanitário. Nes-
se contexto, a Lei Nº 12.305, de 02 de agosto de 2010, que insti-
tui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), apresenta o
aterro sanitário como forma de disposição final ambientalmente
adequada dos resíduos sólidos urbanos.

GERAÇÃO E DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS


DOMICILIARES NO BRASIL E NO ACRE
O mais recente Diagnóstico do Manejo de Resíduos Só-
lidos estima que no ano de 2016 foram coletados 58,9 milhões
de toneladas de resíduos sólidos domiciliares e públicos no país,
sendo destinadas a 2.518 unidades de processamento por dispo-
sição final de resíduos em solo, onde destas, apenas 687 unida-
des são aterros sanitários (BRASIL, 2018, p. 129-130).
O Estado do Acre é situado na região norte do país, faz limi-
te com Peru, Bolívia, Amazonas e Rondônia. Possui 164.123,737
Km² de extensão e 22 municípios, com uma população estimada
de 829,619 mil habitantes (IBGE, 2018). Apenas o município de

89
Rio Branco possui aterro sanitário, ou seja, em 99% dos municí-
pios acreanos, o gerenciamento e o manejo dos resíduos sólidos
não estão estruturados, apresentando risco intenso, sobretudo por
causa da destinação inadequada dos resíduos sólidos, estando sus-
cetível contaminação dos recursos naturais e seus ecossistemas
(ACRE, 2012, p. 38-40).

IMPACTOS DO LANÇAMENTO DE
EFLUENTES EM CORPOS HÍDRICOS
Para Jordão e Pessôa (2014, p. 8) as principais fontes de
poluição dos corpos de água são: fontes naturais; água de áreas
agrícolas; água servidas ou de esgotos; e fontes diversas. Dentre
as fontes diversas, destacam às áreas de influência de aterros
sanitários:

[...] o lixiviado dos aterros sanitários de lixo urbano, ou


de recebimento de despejos perigosos, pode apresentar
uma contribuição de poluição tipicamente orgânica, no
primeiro caso, e tipicamente tóxica, no segundo. Este
tipo de poluição pode comprometer os aquíferos cor-
respondentes, por longos períodos, e os rios aos quais
são afluentes. (JORDÃO; PESSÔA, 2014, p. 10)

Quanto ao processo de decomposição biológica das cargas


orgânicas lançadas em corpos de água, os autores acrescentam
“[...] se dá às custas da depleção do oxigênio dissolvido no corpo
d’água, chegando eventualmente a condições de anaerobioses e
perda da vida aquática” (JORDÃO; PESSÔA, 2014, p. 12). Se-
gundo Braga et al. (2005, p. 83) o excesso de nutrientes, nitrogê-
nio e fósforo, acarretam prejuízos a determinados usos dos recur-
sos hídricos, pois são responsáveis pela proliferação acentuada de
algas, ocasionando a eutrofização acelerada de corpos de água.

90
Para Jordão e Pessôa (2014, p. 15) a contaminação dos
cursos hídricos por microrganismos patogênicos também con-
figura consequências indesejáveis não apenas de natureza de
saúde pública, mas também econômica, como: a maior incidên-
cia de doenças; o aumento da mortalidade infantil; a redução de
produtividade; a redução da vida média; o aumento de custos
hospitalares; e os incômodos próprios das doenças. Para Leme
(2010, p. 26) os principais efeitos causados pela poluição e con-
taminação nos recursos hídricos são:
1. redução do padrão de qualidade da água usada para
abastecimento da população, na irrigação, na indús-
tria, na criação de peixes e outros usos;
2. destruição da fauna e flora aquática, resultando na re-
dução do poder diluidor e autodepuração dos rios;
3. redução do potencial hidráulico e das atividades es-
portivas e de lazer;
4. redução do potencial de assentamentos urbanos e in-
dustriais;
5. perigo potencial à saúde pública, resultando no au-
mento das doenças veiculadas pela água; e
6. exigência de tratamento mais sofisticado e de custo
mais elevado para garantir o padrão de potabilidade
da água.

CLASSE DE QUALIDADE DOS CORPOS


DE ÁGUA: ASPECTO LEGAL
Instituída a partir dos fundamentos, objetivos e instru-
mentos previstos na Política Nacional de Recursos Hídricos, a
Resolução CONAMA nº357/2005 é um instrumento regulador
que “dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretri-
zes ambientais para seu enquadramento, bem como estabelece

91
as condições e padrões de lançamento de efluentes e dá outras
providências” (CONAMA, 2005; BRASIL, 1997).
Em função dos usos previstos, o CONAMA classifica os
corpos de água em treze classes, onde são fixados limites in-
dividuais para cada substância, que correspondem aos valores
máximos permissíveis (VMP) para cada parâmetro de qualidade
da água, e são estabelecidas pois, observando a desconformi-
dade no atendimento dos limites, o manancial poderá conferir
características capazes de causar interferências aos ecossistemas
aquáticos e os usos previstos (CONAMA, 2005).
Assim, cada classe estabelece um nível de qualidade que
deve ser alcançado ou mantido, em um seguimento do corpo de
água de acordo com os seus usos pretendidos, e essa qualidade
é estabelecida através de “padrões de qualidade” (CONAMA,
2005, grifo nosso). A referida resolução também apresenta “pa-
drões de lançamento de efluentes” em corpos hídricos, sendo alte-
rada e complementada pela Resolução CONAMA nº430, de 13 de
maio de 2011 (CONAMA, 2005 e 2011, grifo nosso).
Quanto aos padrões apresentados nas referidas resoluções,
Von Sperling (2017, p. 236) destaca que o padrão de lançamento
deve garantir simultaneamente o atendimento do padrão de qua-
lidade corpo hídrico. Nesta situação, o autor chama a atenção
para a ocorrência de duas situações:

(i) Caso o efluente satisfaça os padrões de lançamento,


mas não satisfaça os padrões do corpo hídrico receptor,
as características do lançamento deverão ser tais que,
necessariamente, atendam ao padrão do corpo receptor.
[...] o lançamento deverá ter características mais restri-
tivas do que expressa pelo padrão usual. [...]. Esta si-
tuação pode ocorrer no caso de corpos receptores com
baixa capacidade de assimilação e diluição.

92
(ii) Caso o efluente não satisfaça os padrões de lançamen-
to, mas satisfaça os padrões do corpo receptor, o órgão
ambiental poderá autorizar lançamentos com valores
acima dos padrões de lançamento dos padrões de lança-
mento. [...]. Essa situação pode ocorrer no caso de corpos
receptores com boa capacidade de assimilação e diluição.
(VON SPERLING, 2017, p. 236)

DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


Implantado em 2009, o aterro sanitário de Rio Branco (Fi-
gura 1A) está localizado na UTRE e atende as normas ambientais
e os critérios de engenharia que assim o definem (RIO BRAN-
CO, 2007, p. 64-71). Vinculado as células de aterro sanitário, o
Sistema de Tratamento de Efluente (Figura 1B) é responsável
pelo tratamento do chorume através de lagoas de estabilização
(lagoa anaeróbia, lagoa facultativa e lagoa de maturação), sendo
realizado o monitoramento mensal para verificação dos padrões
de lançamento do efluente (RIO BRANCO, 2008a, p. 33-35;
CONAMA, 2005, 2011).
Figura 1 – A: Células de aterro sanitário. B: Sistema de tratamento de
efluente (lagoas de estabilização).

Fonte: Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, 2016; Prefeitura Municipal


de Rio Branco, 2010.

93
Após o tratamento, os efluentes são lançados no corpo hí-
drico (Figura 2), que possui uma extensão de aproximadamen-
te 1900 metros até sua foz no Igarapé Quinoá (RIO BRANCO,
2007, p. 69-71). Da confluência dos dois mananciais até o Rio
Acre cumpre uma distância de 29,80 km (RIO BRANCO, 2007,
p. 30; RIO BRANCO, 2008b, p. 3). A microbacia hidrográfica
possui caráter de cabeceira e surgi na Área de Preservação Per-
manente (APP), onde registra-se a presença de treze nascentes
(RIO BRANCO, 2007, p. 134-136).
Figura 2 – Mapa dos recursos hídricos presentes na área da UTRE.

Fonte: RIO BRANCO, 2007; Google Earth, 2017.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
O monitoramento da microbacia do igarapé Quinoá apre-
sentam-se como Proposta de Intervenção, objetivando verificar
o atendimento dos padrões de qualidade, bem como ao atendi-
mento das condicionantes fixadas na Licença de Operação da
UTRE (CONAMA, 2005). Os resultados das variáveis investi-
gadas e respectiva análise da conformidade com as legislações
vigentes, são apresentados nos subitens a seguir.

94
TEMPERATURA
A variável física Temperatura possui padrão de qualidade
determinado pela Resolução nº430/2011, e constatou-se que as
séries anuais de monitoramento atendem ao limite estabelecido
pela norma, conforme detalha a Tabela 2.
Tabela 2 – Resultados do parâmetro de Temperatura analisados em
2016 e 2017 a partir de amostras de água do corpo hídrico receptor,
microbacia do Igarapé Quinoá.
Pontos de Amostragem
V.M.P
Mês UND. Águas Doce de À montante Zona de Mistura À jusante
Classe 2
2016 2017 2016 2017 2016 2017

Janeiro 26,40 25,50 26,20 25,30 25,80 25,00

Fevereiro 26,30 25,30 26,20 25,60 25,70 25,30

Março “deve ser 26,70 25,80 26,80 26,80 26,20 26,10


inferior a 40
Abril 26,10 25,60 25,90 25,60 25,60 25,30
ºC, sendo que
Maio a variação da 24,40 25,70 23,90 25,50 23,00 25,20
temperatura no
Junho 25,40 25,40 25,20 25,50 26,10 25,30
ºC corpo hídrico
Julho 23,80 25,40 23,00 24,40 24,00 24,00
receptor não
Agosto deverá exceder 23,60 22,30 23,40 22,00 24,50 21,60
a 3 ºC o limite
Setembro 23,70 24,60 23,40 24,40 24,80 23,80
da zona de
Outubro mistura” 25,70 25,40 25,70 25,70 26,80 25,30

Novembro 25,80 26,00 25,50 26,10 24,80 25,60

Dezembro 25,30 25,70 25,10 25,60 24,80 25,40

Fonte: Adaptado pela autora; Laboratório Quilab, 2016, 2017; CONAMA, 2011.

TURBIDEZ
Todas as amostras analisadas apresentam a variável Tur-
bidez (Tabela 3) de acordo com o padrão de qualidade, mesmo
ao consideramos os resultados do Ponto 3, registrado em no-

95
vembro e dezembro de 2017, que estão respaldados no Art. 13
da Resolução CONAMA nº 430/2011:

Art. 13. Na zona de mistura serão admitidas concentra-


ções de substâncias em desacordo com os padrões de
qualidade estabelecidos para o corpo receptor, desde que
não comprometam os usos previstos para os mesmos.
(CONAMA, 2011).

Tabela 3 – Resultados do parâmetro de Turbidez analisados em 2016 e


2017 a partir de amostras de água do corpo hídrico receptor, microbacia
do Igarapé Quinoá.
V.M.P Pontos de Amostragem
Águas
Mês UND. À montante Zona de Mistura À jusante
Doce de
Classe 2 2016 2017 2016 2017 2016 2017

Janeiro 21,00 21,20 35,00 65,30 23,00 28,60

Fevereiro 7,50 11,00 23,90 58,70 9,90 31,90

Março 8,30 14,30 31,12 61,10 16,90 26,40

Abril 7,92 9,10 48,80 26,90 37,74 14,70

Maio 8,80 12,30 39,60 32,10 20,10 17,00

Junho 8,60 13,10 33,00 36,20 23,10 24,30


ºC <100 UNT
Julho 7,70 12,10 45,00 22,00 34,00 14,50

Agosto 7,00 14,10 16,00 38,40 11,30 24,20

Setembro 5,90 16,50 26,30 32,10 9,70 19,90

Outubro 6,30 12,90 49,10 23,16 8,90 19,40

Novembro 16,30 10,70 58,20 140,00 20,40 53,10

Dezembro 14,28 13,90 68,30 138,00 27,25 98,90

Fonte: Adaptado pela autora; Laboratório Quilab, 2016, 2017; CONAMA, 2011.

SÓLIDOS DISSOLVIDOS TOTAIS


Os resultados de Sólidos Dissolvidos Totais demonstram
que as duas séries de monitoramento estão em conformidade

96
com o padrão de qualidade. Constatou-se resultados mais ele-
vados na zona de mistura, com a máxima de 287,10 mg/L em
novembro de 2017, todavia todos os resultados estão distantes
de infligirem a legislação (Tabela 4).
Tabela 4 – Resultados do parâmetro de Sólidos Dissolvidos Totais
analisados em 2016 e 2017 a partir de amostras de água do corpo
hídrico receptor, microbacia do Igarapé Quinoá.
V.M.P Pontos de Amostragem
Águas
Mês UND. À montante Zona de Mistura À jusante
Doce de
Classe 2 2016 2017 2016 2017 2016 2017

Janeiro 19,23 20,02 78,49 84,91 70,30 68,83

Fevereiro 11,53 33,99 29,05 205,40 26,15 139,50

Março 11,30 27,53 81,06 233,50 39,36 66,95

Abril 10,23 19,97 139,70 33,80 120,60 20,90

Maio 7,77 10,15 79,63 53,07 36,43 48,21

Junho 11,01 10,80 51,67 76,82 18,47 65,13


ºC 500 mg/L
Julho 15,46 9,25 76,65 69,32 26,68 27,53

Agosto 8,28 38,54 19,14 95,61 9,40 59,30

Setembro 8,47 20,20 12,43 89,80 16,32 39,10

Outubro 8,45 17,10 66,50 43,50 10,46 28,70

Novembro 18,81 14,91 85,49 287,10 73,45 84,59

Dezembro 16,14 23,30 126,50 146,10 98,39 95,10

Fonte: Adaptado pela autora; Laboratório Quilab, 2016, 2017; CONAMA, 2005.

OXIGÊNIO DISSOLVIDO (OD)


Em confronto com o limite estabelecido pelo CONAMA,
todas as amostras analisadas atendem satisfatoriamente ao pa-
drão de Oxigênio Dissolvido como parâmetro de qualidade, con-
forme comprovam os dados divulgados na Tabela 5.

97
Tabela 5 – Resultados do parâmetro de OD analisados em 2016 e 2017
a partir de amostras de água do corpo hídrico receptor, microbacia do
Igarapé Quinoá.
V.M.P Pontos de Amostragem
Águas
Mês UND. À montante Zona de Mistura À jusante
Doce de
Classe 2 2016 2017 2016 2017 2016 2017

Janeiro 8,10 9,00 5,10 5,20 6,90 8,50

Fevereiro 9,80 7,70 7,60 5,80 7,90 6,30

Março 5,00 7,00 7,00 5,50 5,00 6,90

Abril 5,00 8,10 5,00 6,90 5,00 7,30

Maio Em 8,60 9,30 7,50 6,70 7,80 7,50


qualquer
Junho 7,90 8,30 7,10 7,50 7,30 6,60
ºC amostra,
Julho 7,90 8,70 6,70 7,10 6,90 7,90
não inferior
Agosto a 5 mg/L O2 7,10 7,80 6,20 6,70 6,70 7,00

Setembro 11,30 7,80 10,30 6,70 10,40 7,30

Outubro 10,20 8,10 9,15 7,00 9,75 7,40

Novembro 9,40 8,30 8,10 5,90 8,30 6,00

Dezembro 9,70 8,00 7,80 6,30 8,60 6,90

Fonte: Adaptado pela autora; Laboratório Quilab, 2016, 2017; CONAMA,


2005.

DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO (DBO)


Os resultados de DBO em 2016 (Tabela 6) apontam des-
conformidade com a legislação, principalmente ao considerar-
mos os dados do Ponto 1 – à Montante e Ponto 3 – à Jusante,
onde 41,7% do conjunto de amostras estão fora do padrão. O
monitoramento de 2017 (Tabela 6) é ainda mais negativo, com
50% das amostras acima do limite permissível.

98
Tabela 6 – Resultados do parâmetro de DBO analisados em 2016 e
2017 a partir de amostras de água do corpo hídrico receptor, microba-
cia do Igarapé Quinoá.
V.M.P Pontos de Amostragem
Águas
Mês UND. À montante Zona de Mistura À jusante
Doce de
Classe 2 2016 2017 2016 2017 2016 2017

Janeiro 5,00 6,00 6,00 9,00 6,00 9,00

Fevereiro 3,00 3,00 5,00 7,00 4,00 6,00

Março 6,00 4,00 5,00 9,00 5,00 8,00

Abril 3,00 5,00 8,00 8,00 7,60 6,00

Maio 3,00 4,00 5,00 6,00 4,00 5,00

Junho até 5 3,00 5,00 6,00 9,00 6,00 7,00


ºC
Julho mg/L O2 3,00 5,00 6,00 7,00 4,00 6,00

Agosto 5,00 4,00 6,00 6,00 6,00 5,00

Setembro 6,00 6,00 8,00 8,00 7,00 7,00

Outubro 4,00 5,00 6,00 8,00 5,00 6,00

Novembro 5,00 7,00 7,00 28,00 6,00 14,00

Dezembro 6,00 4,00 8,00 7,00 7,00 5,00

Fonte: Adaptado pela autora; Laboratório Quilab, 2016, 2017; CONAMA,


2005.

POTENCIAL HIDROGENIÔNICO (PH)


E NITROGÊNIO AMONIACAL (N)
Os valores máximos permissíveis (VMP) que regem a pre-
sença de Nitrogênio Amoniacal são vinculados às condições do
pH, conforme no inciso II do Art. 14 da Resolução nº357/2005:
3,7 mg/L N, para pH ≤ 7,566
2,0 mg/L N, para 7,5 < pH ≤ 8,0
1,0 mg/L N, para 8,0 < pH ≤ 8,5
0,5 mg/L N, para pH > 8,5 (CONAMA, 2005)

99
Portanto, para melhor interpretação, os resultados de pH
e Nitrogênio Amoniacal serão apresentados em conjunto nas
Tabelas 7 e 8.
Quanto a variável física pH, as amostras devem apresentar
condições de pH de 6,0 a 9,0 para Classe 2 (CONAMA, 2005),
e conforme as Tabelas 7 e 8, os resultados das duas séries estão
dentro do padrão, com exceção de duas amostras em setembro
de 2016 (Tabela 7), que acusam fora da faixa limite, todavia nos
meses seguintes, o analítico mantém-se dentro das condições de
qualidade.
Tabela 7 – Resultados do parâmetro de pH e Nitrogênio Amoniacal em
2016 a partir de amostras de água do corpo hídrico receptor, microba-
cia do Igarapé Quinoá.
Pontos de Amostragem

2016 À montante Zona de Mistura À jusante

mg/L N pH V.M.P. mg/L N pH V.M.P. mg/L N pH V.M.P.

08 de janeiro 3,80 7,21 3,7 8,00 6,36 3,7 5,00 6,67 3,7

08 de fevereiro 4,00 7,82 2,0 12,00 7,23 3,7 4,00 7,55 2,0

03 de março 3,60 7,13 3,7 4,20 6,81 3,7 3,60 6,90 3,7

12 de abril 2,80 7,43 3,7 3,10 6,27 3,7 3,00 6,96 3,7

03 de maio 2,00 7,88 2,0 2,20 7,18 3,7 2,00 7,71 2,0

07 de junho 2,00 6,75 3,7 2,00 6,09 3,7 2,00 6,59 3,7

08 de julho 1,60 6,90 3,7 2,60 6,71 3,7 1,60 6,67 3,7

03 de agosto 1,60 8,72 0,5 2,00 8,54 0,5 1,50 8,60 0,5

09 de setembro 1,40 9,50 0,5 1,80 8,82 0,5 1,40 9,19 0,5

08 de outubro 1,40 7,93 2,0 1,40 7,16 3,7 1,40 7,71 2,0

09 de novembro 1,66 8,23 1,0 0,80 7,64 2,0 1,40 7,76 2,0

08 de dezembro 1,50 8,17 1,0 1,00 7,59 2,0 1,50 7,63 2,0

Fonte: Adaptado pela autora; Laboratório Quilab, 2016; CONAMA, 2005.

100
Os resultados da ocorrência de nitrogênio amoniacal em
2016 (Tabela 7) apontam 50% das amostras do Ponto 1 – à mon-
tante e 33,3% das amostra do Ponto 3 – à jusante com valores em
desacordo com o padrão de qualidade para Classe 2. O monito-
ramento desempenhado em 2017 (Tabela 8) também evidenciou
maior índice de desconformidade no Ponto 1 – à montante, onde
41,7% das amostras estão acima do VMP, enquanto apenas 25%
das amostras do Ponto 3 – à jusante estão acima do VMP.
Tabela 8 – Resultados do parâmetro de Nitrogênio Amoniacal em
2017 a partir de amostras de água do corpo hídrico receptor, microba-
cia do Igarapé Quinoá.
Pontos de Amostragem

2017 À montante Zona de Mistura À jusante


mg/L
mg/L N pH V.M.P. pH V.M.P. mg/L N pH V.M.P.
N

05 de janeiro 1,20 8,77 0,5 1,00 7,51 2,0 1,30 7,95 2,00

03 de fevereiro 2,00 7,31 3,7 2,50 6,80 3,7 2,00 7,20 3,70

09 de março 2,80 6,72 3,7 3,00 5,64 3,7 2,80 6,64 3,70

06 de abril 2,90 8,90 0,5 4,00 7,35 3,7 3,00 7,87 2,00

11 de maio 1,80 7,75 2,0 2,60 7,13 3,7 2,00 7,36 3,70

09 de junho 1,50 6,70 3,7 2,00 6,00 3,7 1,50 6,07 3,70

06 de julho 2,00 8,10 1,0 2,60 7,73 2,0 2,30 7,82 2,00

03 de agosto 1,20 7,92 2,0 1,80 6,80 3,7 1,30 7,10 3,70

06 de setembro 2,00 6,90 3,7 2,40 6,70 3,7 2,20 6,76 3,70

06 de outubro 1,90 8,34 1,0 2,00 7,90 2,0 3,10 8,10 2,00

23 de novembro 1,60 7,10 3,7 1,80 6,59 3,7 1,60 7,01 3,70

13 de dezembro  2,00 8,30 1,0 5,00 7,56 3,7 2,00 7,68 2,00

Fonte: Adaptado pela autora; Laboratório Quilab, 2017; CONAMA, 2005.

101
FÓSFORO TOTAL
Considerando as características da microbacia hidrográfi-
ca, adotou-se o limite de <0,050mg/L P para presença de Fósfo-
ro em corpos d’água de Classe 2, tributário de ambiente lênticos
(CONAMA, 2005). Durante o monitoramento, apenas em janei-
ro de 2016, no Ponto 2 – zona de mistura, a variável esteve fora
do padrão, todavia, nota-se sua redução em 90% ao conferir o
resultado do Ponto 3 – à jusante, e consecutivamente o atendi-
mento do padrão estabelecido pela norma Tabela 10.
Tabela 10 – Resultados do parâmetro de Fósforo Total analisados em
2016 e 2017 a partir de amostras de água do corpo hídrico receptor,
microbacia do Igarapé Quinoá.
Pontos de Amostragem
V.M.P
Zona de
Mês UND. Águas Doce de À montante À jusante
Mistura
Classe 2
2016 2017 2016 2017 2016 2017

Janeiro 0,04 0,00 0,40 0,00 0,04 0,00

Fevereiro 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Março 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00

Abril 0,00 0,00 0,01 0,01 0,00 0,00


até 0,050 mg/L,
Maio 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
em ambientes
Junho intermediário, e 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
ºC
Julho tributários 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
diretos de am-
Agosto 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
biente lênticos
Setembro 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Outubro 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Novembro 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Dezembro 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Fonte: Adaptado pela autora; Laboratório Quilab, 2016, 2017; CONAMA,


2005.

102
COLIFORMES TERMOTOLERANTES
A caracterização microbiológica realizada nos anos de
2016 e 2017 (Tabela 11), revelam que as amostram estão em
conformidade com o padrão definido para a Classe 2, não indi-
cando contaminação do manancial. De forma unânime, os resul-
tados no Ponto 1 – à montante, acusam valores mais reduzidos,
em detrimento ao do Ponto 2 – zona de mistura e Ponto 3 – à
jusante, sendo este sutilmente mais elevados, podendo indicar
influência do efluente lançado pelo empreendimento.
Tabela 11 – Resultados do parâmetro Coliformes Termotolerantes ana-
lisados em 2016 e 2017 a partir de amostras de água do corpo hídrico
receptor, microbacia do Igarapé Quinoá.
Pontos de Amostragem
V.M.P
Zona de
Mês UND. Águas Doce de À montante À jusante
Mistura
Classe 2
2016 2017 2016 2017 2016 2017

Janeiro 7,30 23,50 262,00 275,30 32,10 185,80

Fevereiro 6,30 16,30 235,00 198,10 29,10 141,70

Março < 1000 7,20 6,30 297,00 293,30 30,20 178,00


NMP/100ml,
Abril 10,50 42,20 182,90 285,10 29,10 199,30
em 80% ou
Maio mais de, pelo 4,10 35,90 218,70 250,40 93,30 153,20
menos, seis
Junho 5,20 52,10 198,90 292,40 78,90 195,60
ºC amostras
Julho 4,40 35,50 148,30 354,00 53,70 189,00
coletas durante
Agosto o período de 8,40 28,80 189,20 259,00 68,40 176,00
um ano, com
Setembro 19,40 58,58 218,70 365,40 112,60 272,00
frequência
Outubro bimestral 19,60 85,90 195,50 535,00 149,60 248,00

Novembro 19,50 31,80 190,00 721,50 146,00 454,10

Dezembro 28,27 42,20 394,50 652,00 250,40 341,00

Fonte: Adaptado pela autora; Laboratório Quilab, 2016, 2017; CONAMA,


2005.

103
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O monitoramento ambiental do corpo hídrico receptor,
revelou alterações no padrão de qualidade da água da micro-
bacia do igarapé Quinoá, sendo possível tal desconformidade
estar vinculada ao não atendimento do padrão de lançamento
de efluente e/ou pela baixa capacidade de diluição natural do
manancial.
Tal situação é sustentada diante dos valores elevados de
DBO e Nitrogênio Amoniacal. Em relação ao parâmetro de DBO,
o maior percentual de desconformidade foi registrado na série
de 2017, no Ponto 3 (jusante), que constatou 75% das amostras
acima do limite aceitável, o que pode caracterizam uma poluição
tipicamente orgânica que afeta diretamente os usos preponde-
rantes, e as condições de vida aquática. Quanto ao parâmetro
Nitrogênio Amoniacal, destaca-se as maiores inconformidades
registras no posicionamento à montante do lançamento, o que
impõe a necessidade de investigar a existência de outras fontes
de lançamento na microbacia.
Com relação aos valores fora do padrão de DBO, con-
forme cita Von Sperling (2017, p. 188), o Art. 10 da Resolução
CONAMA nº 357/2005 dá a flexibilidade de que os limites desta
variável no corpo receptor (Classe 2 e 3) poderão ser elevados:

§ 1o Os limites de Demanda Bioquímica de Oxigênio


(DBO), estabelecidos para as águas doces de classes 2
e 3, poderão ser elevados, caso o estudo da capacida-
de de autodepuração do corpo receptor demonstre que
as concentrações mínimas de oxigênio dissolvido (OD)
previstas não serão desobedecidas, nas condições de
vazão de referência, com exceção da zona de mistura.
(CONAMA, 2005)

104
É pertinente recomendar a realização de um estudo de
autodepuração do corpo hídrico receptor. Este estudo pretende
avaliar a capacidade de suporte do manancial, delimitando a área
da zona de mistura e estimando as concentrações após a mesma.
Consequentemente o estudo será subsídio para recomendar me-
lhorias no Sistema de Tratamento de Efluentes, quanto a redução
do lançamento da matéria orgânica biodegradável, bem como na
redução de nutrientes, como o nitrogênio.
É essencial a manutenção desta Proposta de Intervenção,
como medida de controle ambiental que possui inter-relação com
a eficiência do tratamento do efluente e preservação da microba-
cia do igarapé Quinoá, garantindo a manutenção do equilíbrio da
comunidade aquática e os usos previstos para o manancial. No
entanto, para uma melhor caracterização quantitativa do corpo
hídrico, é essencial que a Proposta se estenda para avaliar outros
parâmetros de qualidade estabelecidos pela legislação.

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IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas: Estado do Acre.


Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ac/panorama> Acesso
em: 09 de maio de 2018.

107
PLANO DE MANEJO DE UNIDADES
DE CONSERVAÇÃO COMO
FERRAMENTA PARA A GESTÃO
DOS RECURSOS HÍDRICOS

Débora Ferreira Magdaleno1


Francisco Rafael Sousa Freitas2

Resumo: O município de Miracema vem sofrendo com a escassez de


água em função da estiagem dos últimos anos, em especial, durante o ano
hidrológico de 2016-2017. A criação de Unidades de Conservação-UCs
dentro dos limites do Município de Miracema em áreas de relevân-
cia ecológica, consiste em um mecanismo de grande relevância para
promover uma gestão integrada dos recursos ambientais, fortalecen-
do tanto as áreas protegidas quanto os recursos hídricos existentes. O
município em questão possui duas UCs criadas em locais de grande
relevância ecológica, sendo uma UC de proteção integral (Refúgio da
Vida Silvestre da Ventania – REVIS Ventania) e outra UC de uso sus-
tentável, funcionando como zona de amortecimento da primeira (Área
de Proteção Ambiental Miracema – APA Miracema). Entretanto, as re-
feridas UCs ainda não dispõem do seu Plano de Manejo, o que impede
a gestão adequada dessas áreas. Estre trabalho objetiva propor a ela-
boração do Plano de Manejo dessas Unidades de Conservação como
ferramenta para melhorar a gestão dos recursos hídricos, com ações
que visem amenizar os efeitos da estiagem na região.
Palavras-chave: Escassez Hídrica; Conservação Ambiental; Planeja-
mento Ambiental.

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos Para a Gestão


Municipal de Recursos Hídricos – IFCE.
e-mail: deboramagdaleno@gmail.com
2 Engenheiro Ambiental; Mestre em Engenharia Sanitária (LARHISA/
UFRN). Professor do Eixo Ambiente, Saúde e Segurança do IFCE Campus
de Sobral.
e-mail: rafael.freitas@ifce.edu.br
INTRODUÇÃO
A água, recurso natural de valor incalculável para a hu-
manidade, cria imensos desafios quando se observam situações
relacionadas à ocorrência de eventos extremos como secas e es-
tiagens. Eventos desse tipo geram conflitos e degradam substan-
cialmente a vida das populações (CPRM, 2017).
Na região da Bacia do Rio Paraíba do Sul, no Sudeste
do Brasil, onde a sub-bacia do rio Pomba está inserida, o ano
hidrológico tem início em outubro e finaliza em setembro, com
o período chuvoso ocorrendo de outubro a março, e o perío-
do seco ocorrendo de abril a setembro. No ano hidrológico de
2016-2017, assim como ocorreu em anos anteriores, foram re-
gistradas precipitações abaixo da média histórica, o que faz com
que as vazões dos rios na região da Bacia do Rio Paraíba do
Sul fiquem muito abaixo das vazões médias já registradas. Es-
sas condições podem acarretar problemas de escassez de água
para diversos segmentos econômicos, tais como, abastecimento
público e industrial, irrigação, geração de energia elétrica e na-
vegação (CPRM, 2017).
Diante desse cenário, ações a médio e a longo prazo, que
poderiam promover a recuperação e/ou a preservação e a conser-
vação de áreas de interesse ecológico, devem ser tomadas pelo
poder público a fim de atenuar e mitigar os efeitos da estiagem
presente e das estiagens futuras, aspirando uma melhoria na ges-
tão dos recursos hídricos.
De acordo com Art. 2º da Lei 9.985, de 18 de julho de
2000, Unidade de Conservação-UC consiste no espaço territo-
rial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicio-
nais, com características naturais relevantes, legalmente instituí-
do pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites

110
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se apli-
cam garantias adequadas de proteção.
A boa qualidade da água, com volume suficiente para
atender aos diversos usos da sociedade, constitui um dos princi-
pais serviços ambientais prestados por UC. Na América Latina,
os parques e as áreas protegidas foram criados, em grande parte,
com o objetivo de proteger os mananciais hídricos que abaste-
cem as populações (IBASE, 2006).
As UCs exercem, portanto, um papel muito importante e,
ao mesmo tempo, contribuem para difundir na sociedade a per-
cepção da água como bem público. Amplia-se, assim, a perspec-
tiva de direito dos cidadãos e das cidadãs com relação ao acesso
justo e equitativo a esse benefício ambiental, considerando-se o
equilíbrio entre as necessidades humanas e a proteção dos ecos-
sistemas. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza, instituído pela Lei 9.985, de 18 de julho de 2000, pre-
vê, entre seus objetivos, a necessidade de compatibilizar interes-
ses de manutenção e recuperação da diversidade biológica e dos
recursos hídricos (IBASE, 2006).
Criar e manter Unidades de Conservação nas áreas ur-
banas pode ser uma das medidas realizadas pelo poder público
para combater a escassez de água, uma vez que ela está associa-
da a vários fatores, como a carência de planejamento dos assen-
tamentos urbanos, os equívocos no manejo do uso do mineral, a
utilização de equipamentos urbanos de distribuição ineficientes
e responsáveis por desperdícios, atrelados a falta de educação
ambiental.
Sendo assim, a existência de UCs dentro e no entorno das
cidades ajudaria na estabilização do regime de precipitação de
chuvas e reteria água no subsolo e lençóis freáticos, já que o
desmatamento e a impermeabilização do solo fazem com que a

111
água da chuva chegue mais rápido aos cursos d’água e ao mar,
além de modificar o regime de precipitação.
Ressalta-se, ainda, a grande relevância do SNUC e a Po-
lítica Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei 9.433,
de 8 de janeiro de 1997, para uma gestão integrada que possa
fortalecer a esfera ambiental e hídrica, exigindo-se, cada vez
mais, dos gestores a implementação dos instrumentos previstos
nos dispositivos jurídicos capazes de fortalecer a gestão dessas
áreas. Para isso, necessita-se de diálogo constante, além de uma
visão integrada, que possa garantir a continuidade das ações
pensadas para a bacia hidrográfica e para a Unidade de Conser-
vação (PINA; FERREIRA, 2010).
A gestão e o manejo adequados de uma Unidade de Con-
servação devem estar embasados não só no conhecimento dos
elementos que conformam o espaço em questão, mas também
numa interpretação da interação desses elementos. Para tanto,
é essencial conhecer os ecossistemas, os processos naturais e as
interferências antrópicas positivas ou negativas que os influen-
ciam ou os definem, considerando os usos que o homem faz do
território, analisando os aspectos pretéritos e os impactos atuais
ou futuros, de forma a elaborar meios para conciliar o uso dos
espaços com os objetivos de criação da Unidade de Conservação
(ICMBio, s.d.).
Desta forma, o manejo de uma Unidade de Conservação
implica elaborar e compreender o conjunto de ações necessárias
para a gestão e uso sustentável dos recursos naturais em qual-
quer atividade no interior e em áreas do entorno dela, de modo
a conciliar, de maneira adequada e em espaços apropriados, os
diferentes tipos de usos com a conservação da biodiversidade
(ICMBio, s.d.).

112
De acordo com a Lei 9.985, de 18 de julho de 2000, que
institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Na-
tureza, o plano de manejo é definido como documento técnico
mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma
unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as
normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recur-
sos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas ne-
cessárias à gestão da unidade.
A referida Lei estabelece, ainda, em seu Art. 27, §1º, que
todas as unidades de conservação devem dispor de um Plano de
Manejo, que deve abranger a área da Unidade de Conservação,
sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluin-
do medidas com o fim de promover sua integração à vida econô-
mica social das comunidades vizinhas.
O município de Miracema promoveu, através do Decreto
Municipal nº 0261, de 15 dezembro de 2010, a criação de duas
Unidades de Conservação em uma área prioritária para proteção
dos recursos hídricos, uma vez que dentro dessa área encontram-
-se localizadas diversas nascentes, inclusive do principal curso
d’água do município, sendo uma de proteção integral (Refúgio
da Vida Silvestre da Ventania – REVIS Ventania) e outra de uso
sustentável, funcionando como zona de amortecimento da pri-
meira (Área de Proteção Ambiental Miracema – APA Miracema).
Apesar de terem sido criadas a mais de cinco anos, as UCs
citadas ainda não possuem seu plano de manejo elaborados, como
prevê a legislação, o que se torna um grande empecilho para que
o município possa promover a gestão adequada dessas áreas.
Nesse contexto, a elaboração do Plano de Manejo dessas
UCs é essencial para atender a legislação ambiental vigente e pro-
mover a gestão adequada da área, visando uma melhoria, de for-
ma geral, na gestão dos recursos hídricos, uma vez que essas UCs,

113
muitas vezes, compreendem áreas prioritárias, como nascentes e
cursos d’águas. Além disso, é primordial que o município dire-
cione, de forma adequada, os elementos a serem elencados pelo
Plano de Manejo no momento de contratação de empresa para ela-
borar tal estudo, uma vez que não possui corpo técnico ou infraes-
trutura necessários para promover sua elaboração internamente.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

JUSTIFICATIVA
Em função da estiagem no ano hidrológico de 2016-2017
na bacia do rio Pomba, o município de Miracema sofreu com a
escassez de água, evidenciada principalmente em nascentes e
cursos d’água que secaram. Um dos fatores que potencializam os
efeitos das estiagens é o fato da má gestão do uso do solo na região,
onde encontramos áreas prioritárias para manutenção dos recur-
sos hídricos, como nascentes, sem qualquer tipo de preservação
da vegetação nativa ou com ações que visem sua recuperação.
A criação de Unidades de Conservação, além da evidente
função de proteção da fauna e da flora, consiste em um meca-
nismo relevante para manutenção e recuperação, quantitativa e
qualitativa dos recursos hídricos.
Em Miracema, foram criadas duas Unidades de Conser-
vação, no ano de 2010, sendo uma de proteção integral (REVIS
Ventania) e outra de uso sustentável (APA Miracema), que funcio-
na como zona de amortecimento do REVIS, em áreas de grande
relevância para preservação dos recursos hídricos, uma vez que
englobam diversos cursos d’água e nascentes, dentre elas, a do
principal curso d’água do município, o Ribeirão Santo Antônio.
A região onde se localizam as referidas UCs foi, histori-
camente, ocupada por fazendeiros que promoveram o desma-

114
tamento de áreas para a implantação das atividades agrícolas,
principalmente, a pecuária. Nas últimas décadas, essa região
vem passando por um gradual processo de êxodo rural, o que fa-
voreceu a preservação dos remanescentes florestais. Entretanto,
as referidas UCs ainda não dispõem do seu Plano de Manejo, o
que impede a gestão adequada dessas áreas.
Assim, o fortalecimento de Unidades de Conservação no
âmbito municipal, através da elaboração de seu Plano de Ma-
nejo, mostra-se uma medida essencial para promover a gestão
adequada dessas UCs, buscando contribuir, de forma efetiva,
para a conservação dos recursos hídricos, uma vez que são áreas
onde estão localizadas diversas nascentes, inclusive a nascente
do mais importante curso de água do município de Miracema,
além de impedir qualquer processo de destruição da cobertu-
ra florestal existente e dos recursos ambientais da região, onde
existem importantes fragmentos da Mata Atlântica.

OBJETIVO
O objetivo principal do presente trabalho é propor a elabo-
ração do Plano de Manejo das Unidades de Conservação como
uma ferramenta para melhoria da gestão dos recursos hídricos
das UCs no município de Miracema/MG, inserido na bacia do
Rio Pomba.

ÁREA DE ESTUDO

Bacia do Rio Pomba


A bacia do rio Pomba possui uma área de 8643,6274 km² e
um perímetro de 1023,9931 km, abrangendo 35 municípios mi-
neiros e 3 municípios fluminenses. O principal rio da bacia é o rio
Pomba (Figura 1), que possui um comprimento de 324,1327 km.

115
Figura 1 – Bacia hidrográfica do rio Pomba.

Fonte: Autor, 2018.

A bacia do Rio Pomba pode ser classificada como grande,


por apresentar uma área superior a 100 km². Dessa forma, pode-
mos concluir que a intensidade da chuva nesta bacia pode variar
durante o decorrer do evento e ao longo de sua área, em função
de sua grande extensão.

Município de Miracema
O clima de Miracema, localizada no estado do Rio de
Janeiro, pertence ao grupo “AW” (classificação de Open) com
clima tropical megatérmico, chuvoso com inverno seco, apre-
sentando temperatura média mensal, variando de 18,7 0C, no
mês mais frio, e 29,4 0C, no mês mais quente. A precipitação
média anual é de 1227 mm (médias de dados registrados entre
os anos de 1999 e 2003), com chuvas concentradas nos meses
de outubro a março.
O principal curso d’água é o Ribeirão Santo Antônio, que
possui sua nascente localizada em uma Unidade de Conserva-
ção de uso sustentável (APA Miracema), que possui 6.629,45

116
hectares e funciona como zona de amortecimento de uma UC de
proteção integral (REVIS Ventania) com 2.175,67 hectares, de
acordo com seu ato de criação (Figura 2).
Figura 2 – Localização da Unidades de Conservação REVIS Ventania
e APA Miracema no município de Miracema/RJ.

Fonte: Autor, 2018).

As referidas UCs foram criadas através do Decreto Mu-


nicipal Nº 0261, de 15 de dezembro de 2010, sendo o REVIS
Ventania em sistema mosaico, em locais contendo vegetação na-
tiva em bom estado e fauna diversificada, muito provavelmente,
sítios arqueológicos e atividades econômicas interessantes sob o
ponto de vista da sustentabilidade local.
Em virtude de o município ter como atividade econômica
principal a pecuária, e a área onde as duas Unidades de Con-
servação estão inseridas ter sido utilizada para tal fim, contu-
do, tendo preservado suas construções históricas e suas matas, a
criação do Refúgio de Vida Silvestre da Ventania e da Área de
Proteção Ambiental Miracema visou proteger um dos últimos
remanescentes florestais do município, viabilizando investimen-
tos no turismo agroecológico e de aventura, visto que o local

117
já possui áreas utilizadas para vôo livre, caminhadas, ciclismo,
gastronomia e etc.

METODOLOGIA
A metodologia adotada consiste nas seguintes atividades:
• Utilização de um Sistema de Informações Geográfi-
cas (SIG) para obtenção de dados físicos da bacia do
rio Pomba;
• Levantamento de dados sobre a estiagem na bacia do
rio Pomba, junto aos Relatórios de Acompanhamento
da Estiagem na Região Sudeste do Brasil, na área de
atuação da Superintendência Regional de São Paulo
(SUREG/SP), publicados pelo Serviço Geológico do
Brasil (CPRM);
• Levantamento de dados de um pluviômetro instalado
no município de Miracema;
• Levantamento em campo de evidências nítidas de es-
cassez de água, através de corpos hídricos e nascentes
que secaram na zona urbana e rural do município de
Miracema com pontos georreferenciados;
• Revisão bibliográfica para promover a elaboração do
Termo de Referência para contratação de consultoria
especializada para elaboração do Plano de Manejo do
REVIS Ventania e APA Miracema.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


O Plano de Manejo irá funcionar como uma ferramenta
fundamental para direcionamento de ações que visem promover a
gestão de áreas relevantes, incluídas dentro das UCs em questão,

118
para preservação dos recursos hídricos no município, buscando
amenizar os efeitos das estiagens a longo prazo.
Tal estudo irá proporcionar o conhecimento dos ecossiste-
mas, os processos naturais e as interferências antrópicas positivas
ou negativas que os influenciam ou os definem, considerando os
usos que o homem faz do território, analisando os aspectos pre-
téritos e os impactos atuais ou futuros, de forma a elaborar meios
para conciliar o uso dos espaços com os objetivos de criação da
Unidade de Conservação.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
Inicialmente será realizada a contratação de uma consul-
toria especializada para elaboração do Plano de Manejo do RE-
VIS Ventania e APA Miracema, de forma que as ações propostas
seguirão o escopo descrito a seguir.
Divulgação para a população da importância da elabora-
ção do Plano de Manejo das UCs: Realização de um evento, em
que serão convidados representantes do poder público, da socie-
dade civil organizada, proprietários e moradores da área e técni-
cos atuantes em instituições públicas e privadas do município;
Formação do Conselho Gestor da UC: Nessa etapa é pos-
sível classificar as atividades da seguinte forma:
1. Consolidação do conselho gestor:
• Indicação de cidadãos miracemenses que represen-
tem a sociedade civil, o poder público e os proprietá-
rios rurais inseridos nas UCs, como convidados para
conformarem o Conselho Gestor,
• Realizar reuniões formais para a convocação das
pessoas vislumbradas até a conformação final do
Conselho Gestor.

119
2. Capacitação e definição das atribuições de todos os
integrantes:
• Definição de atribuições, responsabilidades e obriga-
ções dos membros do Conselho, em modelo de minu-
ta para ser inserida no Plano de Manejo;
• Realizar oficinas para treinamento dos membros do
Conselho Gestor.
Conformação da equipe técnica de apoio e manutenção
de parcerias.
1. Parceiras:
• Identificar organizações de apoio, como prefeituras,
instituições de ensino e pesquisa, organizações não-
governamentais, secretarias e outras, no âmbito
local, regional e nacional, que possam se envolver na
elaboração do Plano;
• Identificar a forma de contribuição e o papel das orga-
nizações de apoio e oficializar o envolvimento, espe-
cificando tarefas e prazos.
1. Equipe técnica:
• Indicar a equipe técnica do poder público, na esfe-
ra municipal, estadual e/ou federal, responsável por
acompanhar e auxiliar a elaboração do Plano de Ma-
nejo.
• A equipe técnica responsável deverá ser constituída
pelo coordenador do plano, que poderá indicar uma
ou mais pessoas para acompanhar os trabalhos.
Planejamento do trabalho e cronograma geral das
atividades:
1. Levantar a logística, os meios e as formas de apoio
que a equipe terá durante a realização dos trabalhos;

120
2. Identificar lacunas e definir o que será necessário fa-
zer, apontando cada atividade e o custo de sua reali-
zação;
3. Executar reunião para nivelamento das reuniões entre
todos os participantes dos trabalhos, incluindo expli-
cações da metodologia;
4. Com base nas informações dos proprietários na UC,
fazer a programação preliminar dos levantamentos de
campo.
Identificação das características socioambientais do
REVIS Ventania e sua zona de amortecimento (APA Miracema):
A equipe de elaboração do Plano de Manejo detalhará
como será feito o levantamento das características do REVIS
exigidas para este objetivo, realizando reuniões eventuais com
toda a equipe técnica envolvida, para apresentação de dados par-
ciais levantados, visando a melhoria e oportunidades de contri-
buição a partir de novas informações.
1. Análise ambiental da UC e seu entorno:
• Nesta atividade, deverão ser levantados dados es-
senciais sobre fatores abióticos e bióticos na área em
questão, que serão apresentados em forma de relató-
rios técnicos, elaborados por especialistas nas mais
diversas áreas de atuação pertinentes ao estudo, e, se
necessário, serão complementados por dados adicio-
nais, para produzir uma análise multidisciplinar e um
diagnóstico socioambiental da UC.
Levantamento de informações complementares e de
consulta.
1. Levantar e analisar a bibliografia existente sobre a
UC e seu entorno imediato, existentes com os pro-
prietários, em bibliotecas diversas, no IBAMA, no

121
órgão ambiental do Estado, nas universidades, junto
à comunidade científica em geral e junto à sociedade
civil organizada;
2. Proceder a uma análise das pesquisas e dos materiais
existentes sobre a UC, tais como materiais audiovi-
suais, fotografias, filmagens e outros, identificando a
possibilidade de aplicação dos resultados no manejo
da Unidade;
3. Contatar empresa especializada no fornecimento de
imagens de satélite;
4. Quando for o caso, elaborar a base cartográfica da
UC, propriedade e entorno, analisando os mapas que
porventura já tenham sido produzidos da área e atua-
lizar com a interpretação das fotos aéreas (se houver)
e imagens de satélite do ano de realização do trabalho.
Elaboração do Plano de Manejo:
Neste item, estão diretamente relacionados: planejamen-
to da UC; normas gerais de manejo; áreas estratégicas; planos
setoriais; planejamento estratégico para a execução de metas
definidas para a gestão da UC, a partir dos estudos realizados;
desenvolvimento de sistemas de monitoramento; avaliação.
• Zoneamento da Unidade de Conservação
Nessa atividade, deve-se estabelecer o zoneamento da UC
e de sua zona de amortecimento, os objetivos gerais e específi-
cos e atividades concernentes ao manejo de cada uma das zonas,
mediante projetos ou programas específicos.
• Elaboração de programas do plano de manejo:
Atividades e normas são as ações necessárias ao manejo,
ou seja, todas as atividades a serem desenvolvidas devem seguir
orientações e normas básicas, em acordo com programas perma-
nentes e temáticos

122
• Elaboração de projetos específicos do plano de mane-
jo e estratégias de monitoramento e avaliação:
Nesta atividade, ocorrerá a indicação preliminar de pro-
jetos específicos a serem inseridos no Plano de Manejo da UC.
• Finalização do processo de construção de banco de
dados
Será finalizado e apresentado o Banco de Dados contendo
as informações levantadas e consolidadas durante os trabalhos
de campo, essenciais para Plano de Manejo da UC.
Outras ações:
1. Confecção de placas informativas e sinalizadoras a
serem implantadas nas UCs e na área de acesso:
• INFORMATIVAS: placas com nome de locais, de
córregos, rios, distâncias, altitudes, etc.;
• SINALIZADORAS: placas com setas indicando di-
reções e desvios para os locais de interesse turístico e
ecológico em geral.
1. Definição da gestão da UC:
• Identificar e documentar os trabalhos rotineiros neces-
sários a UC como: planejamento, gestão de finanças,
monitoramento ambiental, fiscalização, prevenção e
combate a incêndios, educação ambiental, pesquisa,
envolvimento social, envolvimento empresarial, de-
senvolvimento econômico da zona de amortecimento.
• Identificar, propor e desenvolver ferramentas de
trabalho para a implementação da administração e
equipe da UC, que permitam a otimização de tra-
balhos rotineiros e trabalhos de parcerias na UC;
• Desenvolver capacitações durante a elaboração
do Plano de Manejo que possibilitem a ideal pre-

123
paração da equipe vinculada diretamente à admi-
nistração e às atividades da UC;
• Identificar produtos e serviços que possam forta-
lecer a gestão financeira para uma maior susten-
tabilidade econômica da UC;
• Propor atividades sustentáveis que poderão ser
desenvolvidas nas comunidades do entorno da
UC, trazendo retorno financeiro positivo, além
de melhorias sociais e ambientais, diminuindo as
pressões sobre a UC.
Apresentação do Plano de Manejo:
• Reunião técnica para validação e aprovação do docu-
mento final
Nessa atividade, ocorrerá a análise final e aprovação do
Plano de Manejo, junto a Comissão Técnica de Acompanhamen-
to e Avaliação, e posterior apresentação do documento a todos os
atores envolvidos no processo de elaboração do Plano de Manejo,
após a reunião de aprovação do Produto Final. Os contatos para
a reunião serão realizados, preferencialmente, pelo meio digital.
Serão realizadas, no mínimo, duas oficinas com pequenos
grupos, visando avaliar conceitos e identificar problemas, com
foco nos conhecimentos gerais sobre áreas protegidas e conteú-
dos, como: indicação de metodologias sobre os processos parti-
cipativos para a gestão de UCs e dos recursos naturais; discussão
das metodologias participativas, atividades do Conselho para
atuar na administração da UC e desafios para a implementação e
operacionalização do Conselho Gestor.

ATORES ENVOLVIDOS
• Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Miracema
(SEMMAM);

124
• Consultoria especializada contratada para elaborar o
Plano de Manejo;
• Comunidade local;
• Organizações não governamentais (ONGs).
Será necessária disponibilidade do corpo técnico atual da
Secretaria Municipal de Meio Ambiente para acompanhamento
das atividades da contratada, além da infraestrutura da Secreta-
ria Municipal de Meio Ambiente de Miracema, que disponibi-
lizará veículos, GPS, computadores e outros instrumentos úteis
durante a execução dos serviços.

CRONOGRAMA
A Tabela 1 apresenta o cronograma de elaboração do pla-
no de manejo das unidades de conservação, contemplando um
horizonte de 24 meses para a execução de 9 etapas.
Tabela 1 – Cronograma de elaboração do plano de manejo das unida-
des de conservação.
Mês 13 e 14

Mês 15 e 16

Mês 17 e 18

Mês 18 e 20

Mês 21 e 22

Mês 23 e 24
Mês 11 e 12
Mês 9 e 10

Cronograma de Ela-
Mês 1 e 2

Mês 3 e 4

Mês 5 e 6

Mês 7 e 8

boração do Plano de
Manejo

Divulgação para a po-


pulação da importância
                   
da elaboração do Plano
de Manejo das UCs

Formação do Conselho
Gestor da UC

Conformação da equi-
pe técnica de apoio e
manutenção de par-
cerias

125
Mês 13 e 14

Mês 15 e 16

Mês 17 e 18

Mês 18 e 20

Mês 21 e 22

Mês 23 e 24
Mês 11 e 12
Mês 9 e 10
Cronograma de Ela-

Mês 1 e 2

Mês 3 e 4

Mês 5 e 6

Mês 7 e 8
boração do Plano de
Manejo

Planejamento do traba-
lho e cronograma geral
das atividades

Identificação das carac-


terísticas socioambien-
tais do REVIS Ventania
e APA Miracema

Levantamento de infor-
mações complementa-
res e de consulta

Elaboração do Plano
de Manejo

Outras ações comple-


mentares

Apresentação do Plano
de Manejo

GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO


A gestão, acompanhamento e avaliação da prestação de
serviços, realizada pela consultoria especializada, será de res-
ponsabilidade da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de
Miracema (SEMMAM), através do acompanhamento, realiza-
do, principalmente, pelo corpo técnico do órgão em questão, de
suas atividades durante a elaboração do Plano.

126
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A criação de Unidades de Conservação dentro dos limites
do Município de Miracema em áreas de relevância ecológica,
consiste em um mecanismo de grande relevância para promo-
ver uma gestão integrada dos recursos ambientais, fortalecendo
tanto as áreas protegidas quanto os recursos hídricos existentes,
reduzindo os impactos da estiagem na região.
Desta forma torna-se essencial a elaboração do Plano de
Manejo dessas Unidades de Conservação para que de fato todas
as ações pertinentes sejam direcionadas para alcançar objetivos
para os quais foram criadas.
Salienta-se que devem ser encontradas estratégias para diri-
mir os possíveis obstáculos que venham surgir ao longo do proces-
so de captação de recurso financeiro para contratação da consul-
toria especializada para elaboração do Plano de Manejo das UCs.
Adiciona-se ainda que a ocorrência de conflitos devido o
manejo inadequado de áreas legais, como as Áreas de Preserva-
ção Permanente (APP) e Reserva Legal, pode gerar dificuldades
durante a elaboração do Plano de Manejo. Desta forma, a di-
vulgação e mobilização social deve ser eficiente, pois a incom-
preensão dos objetivos e da finalidade da UC pode gerar descon-
fianças dos moradores locais e proprietários, o que pode gerar
resistência da comunidade durante a elaboração do Plano de
Manejo, que deve ser feito de forma amplamente participativa.

REFERÊNCIAS
CPRM. Acompanhamento da estiagem na região Sudeste do Bra-
sil – Relatório 5 - Área de Atuação da Superintendência Regional da
CPRM de São Paulo. São Paulo, setembro/2017. Disponível em: https://
www.cprm.gov.br/sace/boletins/secas_estiagens/Relatorios/Sao_Pau-
lo/2017_005-20171025%20-%20115008.pdf. Acesso em: 23 jul. 2018.

127
IBASE. Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. Água: bem
público em unidades de conservação. Rio de Janeiro, 2016.Disponível
em:http://www.ibase.br/userimages/ap_ibase_agua_01c.pdf. Acesso em:
08 jan. 2018.

ICMBiO: Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade. Pla-


nos de Manejo Ministério do Meio Ambiente, s.d. Disponível em: http://
www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/planos-de-manejo.
Acesso em: 08 jan. 2018.

PINA, J. H. A; FERREIRA, V. O. A importância da relação entre o Sistema


Nacional de Unidades de Conservação e a Política Nacional de Recursos
Hídricos: possibilidades para uma gestão integrada. Associação dos Geó-
grafos Brasileiros. Porto Alegre, 2010.

128
PLANOS DE SEGURANÇA PARA
BARRAGENS DE CONTENÇÃO DE
CHEIAS EM ÁREAS URBANAS:
“ESTUDO DE CASO DA BARRAGEM
DO CÓRREGO BONSUCESSO EM
BELO HORIZONTE – MG”

Ana Paula Fernandes Viana Furtado1


Úrsula Kelli Caputo2
Daniela Gutstein3

Resumo: Em recentes projetos de drenagem urbana tem sido cada vez


mais aplicado o conceito de técnicas compensatórias, em contraponto
às soluções de evacuação rápida das águas pluviais. Nesse contexto, a
implantação de barragens e de outras estruturas para controle de inun-
dações passou a ser uma alternativa bastante utilizada em algumas re-
giões que enfrentam esses problemas. Há atualmente na cidade de Belo
Horizonte sete barragens de contenção de cheias implantadas pela Ad-
ministração Municipal com a finalidade de reduzir os riscos de inun-
dações. Estas barragens, por estarem localizadas em áreas densamente
povoadas, devem atender à “Política Nacional de Segurança de Barra-
gens”, que define nessas condições como obrigatória a apresentação e
implementação de Planos de Segurança de Barragens (PSB). O obje-
tivo principal deste trabalho é realizar uma avaliação quanto à aplica-
bilidade das diretrizes preconizadas pela Agência Nacional das Águas
(ANA) para as barragens por ela reguladas (barramentos em rios fede-
rais), em especial para as barragens de contenção de cheias em áreas
urbanas, normalmente implantadas em cursos d’água de dominialidade

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para a Gestão


Municipal de Recursos Hídricos – IFCE e Engenheira da Diretoria de Ges-
tão de Águas Urbanas – PBH - e-mail: anapaula.fvf@pbh.gov.br
2 Ma. Engenheira da Diretoria de Gestão de Águas Urbanas – PBH - e-mail:
ursulacaput@pbh.gov.br
3 Profa. Dra. da Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR) -
e-mail: danielag@utfpr.edu.br
estadual. O resultado esperado é a validação dessas diretrizes e a pro-
posição de outras complementares, para que o PSB possa, além de ga-
rantir maior segurança à população e ao meio ambiente, auxiliar a ges-
tão e o manejo das barragens de controles de cheias em áreas urbanas.
Palavras-Chave: Segurança, Barragens, Inundações, Controle de
Cheias.

INTRODUÇÃO
No Brasil, as inundações cada vez mais frequentes e de
maiores magnitudes, especialmente nas grandes cidades do país
construídas às margens de cursos d’água, indicam que os siste-
mas de drenagem não mais possuem capacidade de resposta aos
eventos extremos. Os usos de técnicas clássicas para ampliação
dos sistemas de drenagem, como canalizações e retificações dos
cursos d’água, associadas à crescente impermeabilização do
solo, potencializaram a capacidade de escoamento das estruturas
de drenagem e a consequente transferência dos problemas para
áreas de jusante.
Na contramão dessas técnicas, nos últimos anos tem sido
cada vez mais empregada a proposição do conceito dos siste-
mas compensatórios ou alternativos de drenagem urbana, que
se opõem ao conceito de evacuação rápida das águas pluviais e
baseiam-se no acúmulo das águas precipitadas, na diminuição
do volume de escoamento superficial, bem como no rearran-
jo temporal das vazões. Nesse contexto, a implementação de
barragens e de outros dispositivos para contenção de cheias
passou a ser desde então uma alternativa bastante utilizada
(CANHOLI, 1995).
Segundo Corsini (2012), no Brasil os reservatórios para
contenção de enchentes passaram a ser implantados na década
de 1990. Desde então, bacias de detenção, “piscinões” e barra-

130
gens têm sido utilizados com alguma frequência como alterna-
tiva para redução dos impactos das inundações e redução dos
riscos associados aos eventos chuvosos extremos.
Contudo, Silveira & Machado (2005) destacam que reser-
vatórios e barragens construídas a montante de centros urbanos,
ou em áreas densamente povoadas, representam um risco real
à população residente ao longo do curso d’água ou na área de
influência da possível inundação resultante de um rompimento
ou do vertimento de vazões superiores às que foram projetadas.

POLÍTICAS BRASILEIRAS DE
SEGURANÇA DE BARRAGENS.
No Brasil, o assunto segurança de barragens não possuía
até 2010 uma legislação específica. Os riscos relacionados às
barragens eram tratados, nas fases iniciais do empreendimento,
nos estudos de viabilidade e nos estudos normalmente exigidos
durante o processo de licenciamento ambiental (BIZAWU &
MOREIRA, 2017).
Essa questão tornou-se uma exigência legal por meio da
Lei Federal nº 12.334/ 2010 que estabeleceu a “Política Na-
cional de Segurança de Barragens (PNSB) ”. Esta lei aplica-se
a barragens destinadas à acumulação de água para quaisquer
usos, ou à disposição final ou temporária de rejeitos ou ain-
da à acumulação de resíduos industriais e define a Agência
Nacional de Águas (ANA) como instituição responsável por
fiscalizar a segurança de barragens de acumulação de água lo-
calizadas em rios de domínio da União para as quais emitiu
outorga, com exceção daquelas utilizadas para a geração de
energia elétrica. O Plano de Segurança de Barragem (PSB) é
um instrumento da Política Nacional de Segurança de barra-
gens, de natureza obrigatória para as barragens enquadradas no

131
art. 1º da referida legislação com as seguintes características:
i) altura do maciço, maior ou igual a 15m (quinze metros); ii)
capacidade do reservatório maior ou igual a 3.000.000 m³; iii)
reservatório com resíduos perigosos; iv) categoria de dano po-
tencial associado, médio ou alto.
No ano de 2012, o Conselho Nacional de Recursos Hí-
dricos (CNRH) publicou a Resolução nº 143 que estabelece
critérios gerais de classificação de barragens por categoria de
risco, dano potencial associado e pelo volume do reservatório,
em atendimento ao art. 7° da Lei n° 12.334/2010. A referida re-
solução estabelece que os órgãos fiscalizadores deveriam defi-
nir e regulamentar as diretrizes para segurança das barragens de
suas dominalidades.
Em 2017, a ANA regulamentou os dispositivos legais im-
putados aos órgãos fiscalizadores(conforme os artigos 8º, 9º, 10º
, 11º e 12º da Lei n° 12.334 de 20 de setembro de 2010) na sua
resolução ANA nº 236/2017, na qual constam orientações para
elaboração e implementação de PSB.
Em Minas Gerais, a responsabilidade de fiscalizar regu-
lamentar as barragens de acumulação de água em rios de domi-
nalidade estadual é do Instituto Mineiro de Águas (IGAM). No
início do ano de 2019 foi publicada a Lei Estadual nº 23.291
(MINAS GERAIS, 2019) que institui a Política Estadual de
Segurança de Barragens. Em 26 de fevereiro de 2019 o IGAM
publicou a Portaria nº 02 (IGAM, 2019) com regulamentação
da PNSB e de seus instrumentos no âmbito do estado de Minas
Gerais, com conteúdo e periodicidade dos PSB e critérios para
classificação das barragens, seguindo praticamente as diretrizes
definidas no âmbito federal.

132
Considerando-se que o PSB pode representar um importan-
te instrumento para atenuação e mitigação de riscos, este trabalho
se propõe a verificar a viabilidade de utilização das regulamen-
tações preconizadas pela Agência Nacional das Águas (ANA)
para as barragens de dominalidade federal, considerando suas
aplicações às barragens de contenção de cheias de áreas urbanas,
inseridas quase sempre em rios de dominalidade estadual. Para
isso, será realizado um estudo de caso com a utilização das
diretrizes dispostas na Resolução ANA nº 236/2017 e demais re-
soluções referenciadas pela mesma, considerando uma barragem
de controle de cheia da cidade de Belo Horizonte.

BARRAGENS DE CONTROLE DE
INUNDAÇÕES DE BELO HORIZONTE
Desde a implantação do Plano Diretor de Drenagem Ur-
bana de Belo Horizonte no ano 2000, as inundações vêm sendo
enfrentadas pelo poder público municipal com soluções estrutu-
rantes não convencionais. Nesse contexto, foram implementa-
das seis barragens de contenção de cheias pela Prefeitura Muni-
cipal de Belo Horizonte, sendo atribuídas à autarquia municipal
Superintendência de Desenvolvimento da Capital (SUDECAP)
a manutenção e operação desses dispositivos.
Essas barragens, em virtude do arranjo estrutural e fun-
cionamento esperado, demandam por instruções técnicas de
operação e manutenção, que assegurem não só a eficiência no
amortecimento de cheias, mas também garantam segurança à
população e ao meio ambiente.
Souza et. al (2014) recomendam a elaboração de Planos
de Segurança para essas Barragens em virtude dos danos po-
tenciais a elas associados, devido às suas localizações em áreas
densamente povoadas. Até a elaboração deste trabalho, havia em

133
Belo Horizonte somente um Plano de Segurança elaborado: PSB
do Conjunto de Barragens dos Córregos Olaria e Jatobá, que
ainda não foi implementado, visto que a obra se encontra par-
cialmente concluída, estando pendente a execução da Barragem
do Córrego Jatobá.
Das demais barragens de contenção de cheias existentes
em Belo Horizonte, a Barragem da Pampulha tem 20m de altura
e o maior volume de acumulação (9.500.000 m3) do município.
Em virtude da sua complexidade estrutural e operacional, a Ad-
ministração Municipal optou por viabilizar a contratação do PSB
e de consultoria especializada para realização de estudos comple-
mentares necessários para implementação do mesmo. Na sequên-
cia de importância, considerando altura e volume, encontra-se a
Barragem do Córrego Bonsucesso, escolhida para este estudo.

O Córrego Bonsucesso
A Bacia Hidrográfica do Córrego Bonsucesso, localiza-se
na porção sul do município de Belo Horizonte e nasce nas en-
costas da Serra do Curral, próximo à divisa com o município de
Nova Lima.
Diagnósticos elaborados pelo Plano Diretor de Drena-
gem nos anos 2000 identificaram, além de severos problemas
sanitário-ambientais na bacia, problemas críticos de inundações
localizados em trechos e seções fluviais do Córrego Bonsucesso
e afluentes. Por esse motivo, à época foi recomendada a diretriz
de intervenção nas porções a montante da bacia para viabilizar o
amortecimento dos hidrogramas de cheias, em virtude das limi-
tações hidráulicas de jusante.
A Bacia do Córrego Bonsucesso foi uma das contempladas
na 1ª Etapa do Programa DRENURBS: Programa de Recupera-
ção Ambiental e Saneamento dos Fundos de Vale e dos Córregos

134
em Leito Natural de Belo Horizonte e executou as seguintes in-
tervenções: i) Implantação de Barragem para Controle de Cheias;
ii) Tratamento do Fundo de Vale; iii) Criação de espaços de uso
social; iv) Remoção e desapropriação de famílias; v) Constru-
ção de conjuntos habitacionais para fins de reassentamento.
A Barragem do Córrego Bonsucesso foi construída entre
os anos de 2009 e 2011. O barramento foi executado no leito
do Córrego Olhos D’Água que é um afluente à margem direita
do Córrego Bonsucesso; um tributário do Ribeirão Arrudas que
deságua no Rio das Velhas, um afluente do Rio São Francisco.
Com a implantação da barragem foi conformado um vo-
lume de espera de 250.000 m3, capaz de amortecer as cheias do
Córrego Bonsucesso e diminuir a vazão a jusante. A barragem
está localizada a cerca de 2 km da nascente do Córrego Olhos
D’água, a aproximadamente 700 m da confluência com o Córre-
go Bonsucesso, à montante do Bairro Vila Bernadete e contígua
ao terreno da Belgo/Arcelor Mittal, às margens da BR 040/ Anel
Rodoviário, conforme indicado na FIGURA 1.
Figura 1 – Localização da Barragem do Córrego Bonsucesso (Fonte
Google Maps)

135
PLANO DE SEGURANÇA DA BARRAGEM
DO CÓRREGO BONSUCESSO
A seguir será apresentado um modelo resumido com con-
teúdo mínimo de cada um dos elementos do Plano de Segurança
da Barragem do Córrego Bonsucesso, considerando as diretri-
zes apresentadas no documento “Instruções para Elaboração
e Apresentação de Planos de Segurança de Barragens”, de
autoria da Agência Nacional das Águas (ANA, 2016) e que con-
templa orientações detalhadas para empreendedor na elaboração
e implementação do PSB.
VOLUMEI: Informações Gerais e Classificação da Barragem
Este volume deverá identificar os empreendedores, des-
crever e caracterizar o sistema e enquadrar o barramento em re-
lação à sua categoria de risco e dano potencial associado.

IDENTIFICAÇÃO DO EMPREENDEDOR
A Barragem do Córrego Bonsucesso foi implantada pela
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e entrou em plena opera-
ção no ano de 2011. A seguir é apresentada o QUADRO 1 com as
informações do empreendedor.
Quadro 1 – Dados do Empreendedor

Empreendedor: PBH

Prefeitura Municipal de
Razão Social:
Belo Horizonte

Figura Jurídica: Poder Público Municipal

Endereço: Av. Afonso Penna, nº1212


Endereço: - Centro, Belo Horizonte – MG
CEP: 30130-003

136
Quantidade de barragens implanta-
6 barragens
das pelo empreendedor

Responsável Legal: Alexandre Kalil*

Cargo: Prefeito

TEL: 156

*Prefeito eleito para exercer mandato entre os anos de 2017 a 2020.

DESCRIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA BARRAGEM


O Barramento do Córrego Bonsucesso (Figura 2) é cons-
tituído por um maciço de terra compactado de material silto-ar-
giloso. A crista da barragem está posicionada na elevação 968,0
m, com altura máxima de 23 m.
O sistema extravasor é composto por um vertedor ope-
racional e um vertedor de emergência. O vertedor operacional
é constituído por uma tomada d’água em galeria celular (2,0m
x 2,5m) com uma bacia de dissipação. A galeria foi dimensio-
nada para vazões associadas a chuvas com Tempo de Retorno
(TR) de 50 anos e verificada para vazões associadas a chuvas
com TR de 100 anos. O vertedor de emergência é constituído
por um canal retangular (15,0m x 4,0m - vertedor de superfí-
cie) em concreto estrutural, com soleira livre, posicionado na
ombreira esquerda. O vertedor de emergência foi dimensiona-
do para vazões associadas a chuvas com recorrências maiores
que 100 anos (PMP).
O sistema de instrumentação da Barragem do Córrego
Bonsucesso é composto por Piezômetros, Indicadores de Ní-
vel D’Água (INA), Marcos Superficiais (MS) e Medidor de
Vazão (MV).

137
A Barragem do Córrego Bonsucesso é utilizada única e
exclusivamente para Regularização de Vazões e Amortecimento
de Cheias.
Figura 2 – Barramento e Vertedor de Emergência (Fonte: Acervo
DRENURBS/PBH)

ENQUADRAMENTO
Segundo a classificação proposta pela Resolução ANA
132/2016, a Barragem do Córrego Bonsucesso é classificada na
Categoria de Risco Baixa e Dano Potencial Associado Alto
e, portanto, enquadra-se na Classe A(maior complexidade).Em
virtude desse enquadramento, o PSB do Córrego Bonsucesso,
conforme Art. 4 da resolução ANA 236/2017, deverá conter
todos os elementos previstos na legislação vigente, inclusive o
Plano de Ações Emergenciais (PAE).

VOLUME II: DOCUMENTAÇÃO TÉCNICA


Neste volume deverá ser inserida toda a documentação da
barragem (licenças ambientais, projetos etc.). No acervo do Pro-

138
grama DRENURBS estão arquivados os documentos técnicos
da Barragem do Córrego Bonsucesso desde a etapa de projetos
até a execução de obras. Após análise minuciosa da documenta-
ção consultada, avaliou-se que a documentação técnica mínima
a ser apresentada no PSB do Córrego Bonsucesso deverá conter:

Projetos
• Barragem (Planta Geral, Seções Transversais e Dre-
nagem Interna);
• Instrumentação (Planta e Seções);
• Drenagem Superficial (Planta, Perfil e Detalhes);
• Proteção de Encostas e Proteção de Margens (Planta,
Perfil e Detalhes);
• Vertedores de Operação e Emergência (Plantas e
Perfis);
• “As Built”.

LICENÇA AMBIENTAL
A Licença de Implantação (LI) – Certificado de Licença
Ambiental n. º 0904/17 da Barragem do Córrego Bonsucesso –
foi obtida junto ao Conselho Municipal de Meio Ambiente de
Belo Horizonte (COMAM) por meio do Processo Administrati-
vo n. º 01-091.273/08-94: “Obras de Infraestrutura da Bacia do
Córrego Bonsucesso – Programa DRENURBS”, com validade
até 13 de dezembro de 2021.
Em virtude das obras previstas na bacia hidrográfica do
Córrego Bonsucesso não terem sido concluídas, ainda não foi
emitida Licença de Operação (LO). Quando emitida, esse docu-
mento deverá ser anexado ao PSB.

139
VOLUME III: PLANOS E PROCEDIMENTOS
Neste volume deverão estar apresentados os procedimen-
tos relativos à operação, monitoramento e manutenção da Bar-
ragem de Controle de Cheias do Córrego Bonsucesso que de-
verão conter diretrizes e informações hidrometeorológicas que
poderão alterar as regras operativas e os níveis de segurança do
barramento em situações normais de funcionamento. Uma vez
verificadas condições de risco, deverão ser seguidos os procedi-
mentos contidos no Plano de Ações Emergenciais (PAE).
O acervo técnico da Barragem do Córrego Bonsucesso
contempla um “Manual de Operação” elaborado em pela em-
presa DAM - Engenharia e Consultoria, datado de setembro de
2010, que é uma referência para operação da barragem.
As atividades de operação e manutenção dos dispositivos
públicos de controle de cheias na cidade de Belo Horizonte são
atribuições da SUDECAP.

PLANO DE OPERAÇÃO
As atividades rotineiras de operação da Barragem do Cór-
rego Bonsucesso deverão contemplar inspeções periódicas que
permitam averiguar o funcionamento do reservatório, da barra-
gem, dos canais, dos dispositivos extravasores e das bacias de
amortecimento. Para isso devem estar descritas as regras de ope-
ração de cada uma das estruturas para possibilitar a averiguação
das condições de funcionamento.

PLANO DE MONITORAMENTO
As atividades de monitoramento Barragem do Córrego
Bonsucesso deverão controlar a instrumentação instalada na
barragem que, em conjunto as inspeções periódicas de opera-

140
ção, permitirão averiguar as condições de segurança dessas es-
truturas. Em virtude das características da estrutura (barragem
de terra para controle de inundações), deverão ser realizados
monitoramentos hidrológicos e geotécnicos.

Monitoramento Hidrológico
A PBH possui desde 2011 um Sistema de Monitoramen-
to Hidrológico próprio composto por 42 estações. Na Bacia do
Bonsucesso, encontram-se instaladas 2 Estações Pluviométricas
operadas pela PBH que poderão fornecer os dados de chuvas.

Monitoramento Geotécnico e Geodésico


O monitoramento do maciço de terra da Barragem deverá
ser realizado por meio da leitura dos instrumentos instalados, de
forma a aferir as condições de estabilidade do maciço.
O monitoramento geodésico será realizado com auxílio
de estação total de alta precisão, na qual serão determinados os
recalques e deslocamentos horizontais, dos pinos superficiais
instalados na crista da barragem.

Plano de Manutenção
Nesta parte do Plano de Segurança deverão ser definidos
os procedimentos relativos à manutenção da Barragem do Cór-
rego Bonsucesso e orientações básicas para execução das ações
e serviços em situação normais de funcionamento. Em anexo
estão apresentadas propostas de Fichas de Inspeção, Ficha de
Monitoramento, bem como as de Ações de Manutenção para a
Barragem do Córrego Bonsucesso.

141
VOLUME IV: REGISTROS E CONTROLES
Neste volume deverão estar apresentados os registros e
controles de operação da barragem. Para a Barragem do Córrego
Bonsucesso deverão ser incluídos os relatórios emitidos men-
salmente pela Seção de Manutenção de Bacias de Detenção da
SUDECAP.

VOLUME V: REVISÕES PERIÓDICAS


Segundo a Seção II da Resolução ANA nº 236/2010, o
Plano de Segurança da Barragem do Córrego Bonsucesso, en-
quadrada na Classe A, deverá de ser revisado periodicamente a
cada 5 (cinco) anos.

VOLUME VI: PLANO DE AÇÕES


EMERGENCIAIS (PAE)
O Plano de Ações Emergenciais (PAE) deverá definir e
detalhar os critérios para caracterização das situações de emer-
gência e estabelecer medidas e procedimentos a serem adotados
nestas situações.

Delimitação da Área de Atuação


Uma das primeiras definições a serem apresentadas no
PAE é a delimitação da Zona de Autos salvamento (ZAS). Se-
gundo definição da ANA, a ZAS corresponde à área a jusan-
te da barragem, onde se considera não haver tempo suficiente
para uma intervenção das autoridades competentes em caso de
acidente. A ANA propõe como critério para definição da ZAS,
adotar a menor das seguintes distâncias: 10 km ou a distância
que corresponda a um tempo de chegada da onda de inundação
(tempo de pico) igual a 30 minutos.

142
Contudo, avalia-se que esses critérios podem não possibi-
litar uma delimitação adequada da ZAS de barragens implanta-
das em centros urbanos, nos quais as ondas de cheias possuem
tempos de pico muito curtos e, no caso de Belo Horizonte po-
dem ser inferiores a 10 minutos. Assim, recomenda-se que para
delimitação da ZAS da Barragem do Córrego Bonsucesso seja
realizado um modelo matemático que simule a ruptura da barra-
gem com delimitação da mancha de inundação.

Situações de Emergência, Ações


Esperadas e Atores Envolvidos
Além da delimitação da ZAS, o PAE deverá conter a clas-
sificação das situações de emergências, os níveis de resposta es-
perado, indicar ações preventivas, corretivas, emergenciais, de
controle, de combate e de contingenciamento e ainda correlacio-
nar tais atividades a cada um dos atores responsáveis. Em anexo
estão apresentadas propostas para Classificação das Situações de
Emergência, Níveis de Respostas e Ações Esperadas para o PAE
da Barragem do Córrego Bonsucesso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Avalia-se que a maioria das diretrizes nacionais definidas
pela Agência Nacional da Águas (ANA) pode auxiliar na elabo-
ração e implementação dos Planos de Segurança de Barragens
de Controle de Cheias localizadas em áreas urbanas. Especifica-
mente para a definição da Zona de Autossalvamento (ZAS), a ser
delimitada no Plano de Ações Emergenciais (PAE), algumas di-
retrizes específicas devem ser avaliadas, em virtude do compor-
tamento das cheias em áreas urbanas, cujos tempos e magnitudes
dos picos das inundações são bastante peculiares. Recomenda-

143
-se que no contexto urbano, a ZAS seja definida pela mancha de
inundação obtida a partir da simulação de ruptura da barragem.
O PSB contendo todos os elementos preconizados pela
ANA é uma importante ferramenta para gestão, operação e
segurança de barragens de controle de cheias em áreas urbanas
e as diretrizes estudadas da ANA podem ser adotadas nestas
situações, quando na falta de legislação específica. Entretanto,
para a regulamentação de uma forma geral que atenda as bacias
em áreas urbanas é necessário que outros estudos de caso sejam
conduzidos.

REFERÊNCIAS
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Brasília/DF, 2016. Disponível em: http://www2.ana.gov.br/Paginas/servi-
cos/cadastros/Barragens/ManualEmpreendedor.aspx. Acesso em: 21 jan.
2018.

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janeiro de 2017. Brasília/DF, 2017. Disponível em http://arquivos.ana.gov.
br/resolucoes/2017/236-2017.pdf. Acesso em: 28set. 2018.

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BIZAWU, Kiwonghi; MOREIRA, Renan Lúcio. Licenciamento Ambien-


tal e a Política Nacional de Segurança de Barragem Lei 12.334/2010. Re-
vista Jurídica, Curitiba, v. 03, n. 48, p. 271-298, 2017.

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Urbana. 300p. Tese de Doutorado (Engenharia) – Escola Politécnica -
USP, São Paulo/SP, 1995.

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vista Infraestrutura, Editora Pini, jul. 2012.

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Segurança de Barragens em Reservatórios de Controle de Cheias de Belo
Horizonte-MG, Classificação Conforme Lei Nº 12.334/2010. X Encontro
Nacional de Águas Urbanas, Porto Alegre – RS, Anais..., 2014.

ANEXOS

Proposta de Ficha de Inspeção


BARRAGEM DO CÓRREGO BONSUCESSO

Responsável pelo Preenchimento/Inspeção:

Cargo: Empresa/ Contrato:


Data: Hora: Condições Climáticas: ( ) Chuva ( ) Sol
A. RESERVATÓRIO
A.1 Área de Acumulação
Ocorrência/Anomalia/Magnitude
Item
NP
1 Erosões NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Escorregamentos
2 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
nas margens
3 Assoreamento NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Desmatamento das
4 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
margens
Falha ou deficiência
5 das proteções NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
superficiais
Canaletas, descidas
6 D’água quebradas NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
ou obstruídas
A.2 Canal de Aproximação (Sump)
Ocorrência/Anomalia/Magnitude
Item
NP
1 Assoreamento NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Danos no
2 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
Revestimento
A.3 Canal de Jusante

145
Ocorrência/Anomalia/Magnitude
Item
NP
1 Assoreamento NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G

Sinais de
2 movimentação da NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
estrutura/ Juntas

Deterioração da su-
3 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
perfície do concreto
Ferragem do
4 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
concreto exposta
Rachaduras ou
5 NA NE PV DS DI PC AU NI I P M G
trincas no concreto

OBS: Para cada elemento da barragem deverá se elaborada uma ficha (A: RE-
SERVATÓRIO; B: BARRAGEM; C: CANAIS DE JUSANTE etc) e para to-
dos seus componentes: (A1: Área de Acumulação, B2: Ombreiras etc)

Legenda
Situação:
NA - Este item Não é Aplicável;
NE - Anomalia Não Existente;
PV - Anomalia constatada pela Primeira Vez;
DS - Anomalia Desapareceu;
DI - Anomalia Diminuiu;
PC - Anomalia Permaneceu Constante;
AU - Anomalia Aumentou;
NI - Este item Não foi Inspecionado.

Magnitude:
I - Insignificante;
P - Pequena;
G - Grande;

Nível de Perigo da Anomalia (NP):


0 - não compromete a segurança da barragem;
1 - não compromete a segurança da barragem em curto prazo;
2 - risco à segurança da barragem;
3 - risco de ruptura, situação fora de controle:Acionar o PAE

146
Proposta de Ações de Manutenção para a Barragem do Córrego
Bonsucesso
ESTRUTURA AÇÃO PERIODICIDADE

- Capina e Remoção de
- Semestral;
Vegetação;
- Quando identificadas nas
- Tratamento de Erosões;
inspeções periódicas;
- Recomposição e Regulari-
Reservatório - Anualmente antes do
zação do Enrocamento;
e Áreas Adja- início do período chuvoso
- Limpeza e Desassorea-
centes ou quando identificado nas
mento;
inspeções periódicas;
- Manutenção e Recupera-
- Quando identificadas nas
ção dos Acessos (Portões e
inspeções periódicas;
Cercas)

- Anualmente antes do
- Limpeza e Desassorea- início do período chuvoso
mento; ou quando identificado nas
Canais
- Tratamento do Revestimen- inspeções periódicas;
to e Recuperação; - Quando identificado nas
inspeções periódicas;

- Capina e Remoção de - Semestral;


Vegetação; - Anualmente antes do
- Recomposição e Regulari- início do período chuvoso
zação do Enrocamento; ou quando identificado nas
- Limpeza e Desassorea- inspeções periódicas;
mento dos Dispositivos de - Anualmente antes do
Taludes e Om-
Drenagem Superficial; início do período chuvoso
breiras
- Recuperação e Tratamen- ou quando identificado nas
to do Revestimento dos inspeções periódicas;
Dispositivos de Drenagem - Quando identificado nas
Superficial; inspeções periódicas;
-Recuperação e Tratamento - Quando identificado nas
das Erosões inspeções periódicas;

- Semanalmente durante o
- Limpeza e Remoção de período chuvoso ou quan-
Grade de Re- Sólidos Grosseiros; do identificado nas inspe-
tenção - Recuperação e Tratamento ções periódicas;
do Gradeamento; - Quando identificado nas
inspeções periódicas;

147
ESTRUTURA AÇÃO PERIODICIDADE

- Anualmente antes do
- Limpeza e Desassorea-
início do período chuvoso
Extravasor mento;
ou quando identificado nas
Operacional - Recuperação, Tratamento
inspeções periódicas;
(Canal) do Revestimento e Paredes
- Quando identificado nas
de Concreto;
inspeções periódicas;

- Anualmente antes do
início do período chuvoso
- Limpeza e Desassorea-
ou quando identificado nas
mento;
Extravasor de inspeções periódicas;
- Recuperação, Tratamento
Emergência - Anualmente antes do
do Revestimento e Paredes
início do período chuvoso
de Concreto;
ou quando identificado nas
inspeções semanais;

- Semestral;
- Capina e Remoção de
- Quando identificadas nas
Vegetação;
inspeções periódicas;
- Tratamento de Erosões;
- Anualmente antes do
Bacias de - Limpeza e Desassorea-
início do período chuvoso
Amortecimento mento;
ou quando identificado nas
- Recuperação, Tratamento
inspeções periódicas;
do Revestimento e Paredes
- Quando identificado nas
de Concreto;
inspeções periódicas.

148
Proposta de Ficha de Monitoramento
BARRAGEM DO CÓRREGO BONSUCESSO

Responsável pelo Preenchimento:

Cargo: Empresa/ Contrato:

Condições Climáticas:
Data: Hora:
( ) Chuva ( ) Sol

PIEZÔMETROS (PZ) E INDICADORES DE Nível de Água (INA)

Altura
Cota de
do Leitura NA
PZ/ Insta- NA de NA de Emergên-
Tubo “H” “[CI-(H-
INA lação Alerta cia
“P” (m) -P)]”
(CI)
(m)

MARCOS SUPERFICIAIS (MS)

Recal-
Elev. que
Coord. Elev. Recal- Recal-
Anterior Calcu-
Coord. Ante- do PR que de que de
MS do PR lado
do PR rior do “Xa” Alerta Emerg.
“Xs” “(Xa-
PR (cm) (cm) (cm)
(cm) Xs)”
(cm)

MEDIDOR DE VAZÃO (MV)

Q.
Leitura do NA Q. Alerta
MV Vazão Calculada Emerg.
(m) (l/s)
(l/s)

149
Proposta de Classificação das Situações de Emergência
Nível de
Situação
Resposta

Incidente declarado com as seguintes características:


i) a situação prevista, mas estável ou que se desenvolvem
muito lentamente no tempo;
ii) a situação não prevista, que pode ser controlada pelo
Verde empreendedor mas não apresenta consequências nocivas
(Normal) no vale a jusante;
iii) a situação não prevista, que pode ser controlada pelo
empreendedor com a realização de estudos prévios para
a tomada de decisão, mas sem consequências nocivas no
vale a jusante.

Incidente que impõem um estado de atenção na barragem


e/ou no vale a jusante. As características principais são:
i) a situação não prevista, mas que tende a progredir lenta-
mente e permite a realização de estudos para apoio à toma-
da de decisão;
Amarelo ii) situação não prevista, mas que há possibilidade de con-
(Atenção) trole, desde que haja assistência especial de entidades
externas em médio prazo;
iii) situação prevista, cujos procedimentos adotados não
solucionaram os problemas e existe a possibilidade da situa-
ção se agravar e de se desenvolverem efeitos perigosos no
vale à jusante.

Incidente que impõem um estado de alerta geral na barra-


gem. As características principais deste nível de resposta são:
i) situação que tende a progredir rapidamente, podendo não
existir tempo disponível para a realização de estudos para
Laranja
apoio a tomada de decisão;
(Alerta)
ii) admite-se não ser possível controlar o acidente, tornando-
-se indispensável a intervenção de entidades externas;
iii) existe a possibilidade de a situação se agravar com a ocor-
rência de consequências muito graves no vale a jusante;

Vermelho
Situação de ruptura inevitável da barragem.
(Emergencial)

150
Proposta de Níveis de Respostas e Ações Esperadas - Barragem do
Córrego Bonsucesso.
Ocorrência Ex-
Cenários possíveis Nível de resposta
cepcional
Aumento excessivo do nível de
Verde
água no reservatório;
Cheias Acionamento do Operador de
Laranja
Emergência;
Galgamento; Laranja/ Vermelho
Obstrução ou Redução da
Capacidade do Extravasor Verde
Falha dos Órgãos Operacional;
Extravasores
Falha do Extravasor
Laranja/ Vermelho
de Emergência;
Galgamento. Laranja/ Vermelho

Verde/ Amarelo
(Período de Seca)
Impossibilidade de notificação/
alerta; Laranja/ Vermelho
Falha dos sis-
(Período de
temas de notifi-
Chuvas)
cação/ alerta ou
Falha da instru- Verde/ Amarelo
Dificuldades em avaliar a
mentação (Período de Seca)
situação da barragem;
Problemas com Laranja/ Vermelho
a instrumentação; (Período de
Chuvas)

Fendilhação, Infiltrações no corpo


da barragem e fundação;
Ressurgências no talude de Laranja/ Vermelho
jusante ou na inserção da
Anomalias Estru-
barragem na fundação.
turais no Corpo
da Barragem e Movimentações horizontais/ Laranja/ Vermelho
Estruturas verticais do maciço ou das juntas (Ver limites da
das estruturas; instrumentação)
Laranja/ Vermelho
Problemas no sistema de
(Ver limites da
drenagem interna.
instrumentação)

151
Ocorrência Ex-
Cenários possíveis Nível de resposta
cepcional

Geração de ondas anormais a


Amarelo
Deslizamentos de montante (sem galgamento);
Taludes ou En-
costas
Galgamento. Laranja/ Vermelho

Derrames de
substâncias peri-
Alteração da qualidade da água; Verde
gosas ou descar-
Poluição do ar ou do solo.
ga de materiais
poluentes

Possibilidade de danos que po-


Verde
dem afetar a funcionalidade da
Incêndios Flores- barragem;
tais
Possibilidade danos que podem
de afetar a segurança da Amarelo
barragem.

152
POLÍTICAS E PROCESSOS PARA
GESTÃO DA SEGURANÇA DE
GRANDES BARRAGENS EM
OPERAÇÃO DE USOS MÚLTIPLOS

Adriana Verchai de Lima Lobo


Efraim Martins de Araújo

Resumo: As empresas de saneamento do País, em sua maioria, são


empreendedores de barragens de usos múltiplos para abastecimento
de grandes cidades, porém muitas ou não aderiram a Política Nacional
de Segurança de Barragens que é relativamente nova no Brasil. Após
a Lei Federal nº 12.334 ser instituída em 2010, as empresas estão em
fase de contratação de serviços exigidos na nova legislação a exem-
plo do PAE- Plano de Ação de Emergência e da Revisão Periódica de
Segurança, bem como na fase de estruturação de equipes para além
de cumprir a legislação, assegurar as condições mínimas de manuten-
ção, operação e monitoramento de suas barragens. Apesar dos avan-
ços quanto à classificação e regularização de barragens, o conjunto
de 3.174 barragens já enquadradas na Lei ainda é uma fração do total
de 22.920 barragens identificadas. Para uma boa gestão de segurança
de uma barragem, é de suma importância que os empreendedores de
barragens realizem as inspeções formais, especiais e regulares, bem
como o monitoramento através da auscultação e elaborem a Revisão
Periódica de Segurança e o Plano de Ação de Emergência. De forma
a contribuir com os legisladores e também com os empreendedores,
este trabalho apresenta um caso de implantação da gestão de segu-
rança em um empreendedor de grandes barragens. Delinear políticas
e processos utilizados para a implementação da Gestão de Segurança
de Barragens em um empreendedor de barragens de usos múltiplos
para de abastecimento público, em operação.
Palavras chave: Conservação de solo e mananciais, barragens, reser-
vatórios, segurança de barragens, gestão de barragens usos múltiplos.
INTRODUÇÃO
As empresas de saneamento do País, em sua maioria, são
empreendedores de barragens de usos múltiplos para abaste-
cimento de grandes cidades, porém muitas ou não aderiram a
Política Nacional de Segurança de Barragens que é relativamen-
te nova no Brasil ou não possui em seu corpo técnico pessoal
capacitado para implantar e desenvolver a Política Interna de
Segurança de Barragens. Após a promulgação da Lei Federal
nº 12.334 ser instituída em 2010, as empresas estão em fase de
contratação de serviços exigidos na nova legislação a exemplo
do PAE- Plano de Ação de Emergência e da Revisão Periódica
de Segurança, bem como na fase de estruturação de equipes para
além de cumprir a legislação, assegurar as condições mínimas
de manutenção, operação e monitoramento de suas barragens.
De acordo com RSB216, publicado em janeiro de 2017, das
3.174 barragens enquadradas no PNSB, 2.246 são de usos múl-
tiplos, 437 hidrelétricas, 455 minerações e 36 para contenção de
resíduos industriais. As barragens de usos múltiplos correspon-
dem a 71% das barragens enquadradas no PNSB com empreen-
dedor identificado, em 31 de dezembro de 2016. Ainda segundo
dados deste relatório, houve um acréscimo na quantidade de bar-
ragens classificadas em relação ao último relatório, principal-
mente de usos múltiplos e contenção de rejeitos de mineração.
Apesar dos avanços quanto à classificação e regularização
de barragens, o conjunto de 3.174 barragens já enquadradas na
Lei ainda é uma fração do total de 22.920 barragens identifica-
das. Portanto, é grande o número de barragens sem identificação
do empreendedor, sem a autorização dos órgãos competentes, e
sem a avaliação quanto ao enquadramento na Lei. Das 22.920
barragens identificadas, 18.761 ainda não foram classificadas
quanto ao dano potencial, e 19.229 ainda não foram avaliadas

154
quanto à categoria de risco. Além disso, apenas 12.590 (ou 55%)
possuem algum tipo de ato de autorização (outorga, concessão,
autorização, licença, entre outros), estando, portanto regulariza-
das, (ANA ,2017).
Segundo Relatório de Segurança de Barragens, publicado
pela ANA (2017), dentre as barragens classificadas, verifica-se
que, no critério Categoria de Risco, a grande maioria das en-
quadradas como “alto” são as de usos múltiplos, pela grande
quantidade desse tipo de uso, com destaque para aquelas loca-
lizadas no Nordeste e algumas no Centro-Oeste. Cabe ressaltar
que a maioria das barragens classificadas está no Nordeste. No
critério Dano Potencial Associado, aquelas classificadas como
“alto”, são majoritariamente as barragens de geração de energia
hidrelétrica e também de usos múltiplos da água, especialmente
nas regiões Nordeste e Sudeste. As barragens de usinas hidre-
létricas estão localizadas em sua maioria no Sudeste, próximas
aos centros urbanos, afetando sua classificação quanto ao dano
potencial associado.
Esses números ainda devem sofrer alterações significati-
vas, quando o cadastro brasileiro de barragens estiver completo
com as 22.920 barragens classificadas.
Esta análise é feita quanto características técnicas, esta-
do de conservação e plano de segurança uma vez que o risco
“Alto”, de acordo com a classificação da Resolução CNRH nº
143 e 144 indica por exemplo, falta de responsável técnico, ou
falta de projeto, ou falta de equipe dedicada a segurança destas
barragens.
Menescal (2009) sintetizou a importância da atenção do
Estado à questão de segurança de barragens. A falha nos cuida-
dos necessários em consonância ao envelhecimento natural das
barragens necessita de imediata intervenção para a correção dos

155
riscos que podem acarretar diversos prejuízos à sociedade e ao
patrimônio nacional. Somente com um grande esforço de me-
lhoria da gestão da segurança, as barragens poderão atender às
necessidades da população, sem representarem fonte permanen-
te de riscos inaceitáveis.
Não é só do Estado o olhar atento sobre a questão de segu-
rança de barragens, é também de empreendedores privados, ou
do tipo economia mista, pois a Política Nacional de Segurança
de Barragens veio para cobrar ações necessárias de todos os em-
preendedores.
Menescal (2009) propõe que os planos de emergência de-
vem ser elaborados pelos proprietários em conjunto com órgãos
de defesa civil, com maior ou menor envolvimento do público,
conforme for a classificação de risco do empreendimento. Um
aspecto crucial para a sustentação do sistema, com que se de-
frontam todos os países, é o do financiamento da implementação
de medidas corretivas, quando se façam necessárias para enqua-
drar adequadamente o empreendimento na classificação de risco
que lhe corresponda. As Normas ISO 14.001, embora de adesão
voluntária, apresentam-se como interessante arcabouço para a
concepção de um sistema institucional de segurança integral de
barragens, independentemente de objetivos específicos de certi-
ficação do empreendimento. A ideia de “autofiscalização”, que
vem sendo proposta no âmbito da gestão ambiental, pode muito
bem ser aproveitada no âmbito da segurança de barragens, por
meio da adoção voluntária de normas próprias e observância da
legislação pelo empreendedor proprietário, credenciamento do
responsável técnico de cada empreendimento, durante toda a sua
vida útil, suplementado por auditorias independentes e apresen-
tação de relatórios periódicos (cada 2 ou 3 anos) à agência fis-
calizadora / licenciadora e ao público. A ideia de licenciamento,

156
quanto aos aspectos de segurança, renovável, nos mesmos mol-
des do (ou até mesmo casado com o) licenciamento ambiental de
operação, parece também promissora.

LEGISLAÇÃO SOBRE SEGURANÇA DE


BARRAGENS E AVANÇOS E MELHORIAS
No âmbito mundial, a preocupação com a segurança das
estruturas em geral é antiga e tem-se registros de legislações de
até 1780 A.C., como o Código de Hamurabi. Menescal em 2009
apresenta um extenso estudo dos modelos regulatórios sobre
gestão da segurança de barragens em diversos países.
No caso do Brasil ocorreram os seguintes acidentes com
barragens: Barragem de Orós – CE em 1960; Barragem de Eu-
clides da Cunha e Limoeiro – SP em 1977 (primeiro ocorreu o
rompimento da Barragem de Euclides da Cunha e depois, em
cascata, o da Barragem de Limoeiro); Barragem de Santa Hele-
na – BA em 1985; Barragem de Cataguases – MG em 2003;
Barragem de Algodões I – PI em 2009; e com a Barragem de
Fundão – MG em 2015.
Segundo Paniago (2018) ,o histórico de Segurança de Bar-
ragens no mundo remonta a diversas décadas atrás (em Portugal,
sua legislação em Segurança de Barragens é de 1990), contudo,
observou-se nas últimas décadas uma crescente preocupação a
respeito do tema segurança de barragens e a necessidade de uma
maior participação do Estado brasileiro.
É fato que as barragens são de grande importância para
o desenvolvimento de qualquer sociedade (armazenamento de
água para os diversos usos, regularização de vazão, geração de
energia, retenção de resíduos minerais e/ou industriais), contudo,
essas estruturas podem aumentar a exposição da sociedade a
níveis de riscos considerados relevantes.

157
Analisando de 2000 a 2016, identificam-se alguns eventos
significativos que acenderam o sinal de alerta para a sociedade
(RSB, 2017):
1. 2001, o acidente da mineração Rio Verde;
2. 2002, diversas ocorrências de pequeno porte;
3. 2003, o acidente com a barragem de resíduos indus-
triais em Cataguases, que, além dos impactos ambien-
tais, causou o desabastecimento de aproximadamente
600 mil habitantes por quase um mês;
4. 2004, o rompimento da Barragem de Camará, na Pa-
raíba, durante sua fase final de construção, causou co-
moção nacional;
5. 2009, destaca-se o rompimento de Algodões I, no
Piauí;
6. 2014, rompimento da Barragem B1 da Herculano Mi-
neração, em Minas Gerais; e
7. 2015, rompimento da Barragem do Fundão da Samar-
co Mineração S.A.
Ainda de acordo com Paniago (2018), em relação a le-
gislação, a inserção legal do Brasil na temática de Segurança
de Barragens se deu com a promulgação da Lei n. º 12.334 de
20 de setembro de 2010, onde os diversos órgãos fiscalizadores
foram inseridos no tema para executá-lo, como a Agência Na-
cional de Águas (ANA), a Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Re-
cursos Naturais Renováveis (IBAMA) e seus órgãos descentra-
lizados e a Agência Nacional de Mineração (ANM). Os citados
órgãos fiscalizadores, tiveram que, de acordo com obrigações
advindas da Lei 12.334/2010, criar Resoluções e Portarias com
o fim de regulamentar alguns artigos da citada Lei federal.

158
Em relação à legislação, temos a Lei Federal, passando
por sua regulamentação via Conselho Nacional de Recursos Hí-
dricos, regulamentações advindas dos órgãos fiscalizadores.
1. Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010;
2. Resolução CNRH nº 143/2012;
3. Resolução CNRH nº 144/2012;
4. Resolução Normativa ANEEL nº 696/2015;
5. Resolução ANA nº 236/2016;
6. Portaria ANM nº 70.389/2017;
Para Paniago (2018), Um ponto importante da Lei foi a
delimitação de quais estruturas estariam ou não dentro da PNSB.
Conforme dito anteriormente, para que uma barragem esteja
dentro da PNSB, ou seja, deve atender a Lei 12.334/2010 em
plenitude, ela deve apresentar pelo menos uma das seguintes ca-
racterísticas:
1. Altura do maciço, contada do ponto mais baixo da
fundação à crista, maior ou igual a 15m (quinze
metros);
2. Capacidade total do reservatório maior ou igual a
3.000.000m³ (três milhões de metros cúbicos);
3. Reservatório que contenha resíduos perigosos confor-
me normas técnicas aplicáveis;
4. Categoria de dano potencial associado (DPA), médio
ou alto, em termos econômicos, sociais, ambientais
ou de perda de vidas humanas, conforme definido no
art. 6o.
Para saber se a estrutura tem seu DPA médio ou alto,
deve-se aplicar o quadro de classificação descrito na Resolução
CNRH nº 143/2012 ou quadro de classificação aprimorado pelas
regulamentações dos órgãos fiscalizadores (caso da ANEEL e da
ANM) a qual, segundo a Lei nº 12.334, no Art. 7º, as barragens

159
serão classificadas pelos agentes fiscalizadores, por categoria
de risco, por dano potencial associado e pelo seu volume, com
base em critérios gerais estabelecidos pelo Conselho Nacional
de Recursos Hídricos (CNRH). A classificação por dano poten-
cial associado à barragem em alto, médio ou baixo será feita em
função do potencial de perdas de vidas humanas e dos impactos
econômicos, sociais e ambientais.
A metodologia proposta pelo CNRH de análise de risco
não considera vários riscos presentes na barragens como: lique-
fação, sismo, poropressões e subpressões elevadas, tensões lo-
cais elevadas, escorregamentos, perda de integridade do cutt-of,
detalhamento e construção inadequados, projeto inadequado
para o tipo de fundação, falta de projeto ou projeto não corres-
ponde com a realidade da obra, tratamento da fundação, falha
de operação, vandalismo, terrorismo, queda de aviões, falha de
monitoramento ou monitoramento inadequado, levantamento
socioeconômico e consequências de perdas de vidas e bens a
jusante, bem como dano ao meio ambiente, riscos toleráveis, im-
precisão dos modelos numéricos.
Além disso, é importante caracterizar as ações e a resposta
da estrutura. Em relação às ações, interessa analisar a influência
da água, através da medição das pressões intersticiais e das va-
zões e as ações dinâmicas resultantes de explosões e dos sismos,
se ocorrerem. Para a resposta da estrutura devem ser medidos os
deslocamentos, as tensões, as vazões e os efeitos sísmicos, não
se revelando estes últimos críticos no presente caso, em face da
fraca sismicidade do Brasil.
A análise do comportamento de uma estrutura implica a
comparação das grandezas físicas com valores de referência que
considerem, na medida do possível, os diversos fatores interve-
nientes no comportamento da barragem. A segurança estrutural

160
visa a tomada de ações para uma detecção atempada das ano-
malias, e correção de situações para se evitar a ocorrência de
consequências graves.

PROBABILIDADE E MODOS DE FALHA E RUPTURA


A probabilidade de ruptura de uma barragem pode ser
considerada baixa. Análises estatísticas realizadas por ICOLD
(1995) indicam uma frequência anual média de rupturas da or-
dem de 10-4, até aproximadamente o ano de 1950, e de 10-5, após
1950 até a atualidade. De acordo com ICOLD (1995), essa re-
dução se deve às melhorias nas técnicas de investigação e ao
maior conhecimento sobre os riscos. Entretanto, mesmo com a
baixa frequência de ocorrência desses eventos, Balbi & Vieira
(2010) ressaltam que eles devem ser evitados de todas as formas
possíveis e precisam ser analisados previamente, a fim de se pla-
nejarem as ações que possam atenuar os danos eventualmente
provocados.
Hughes et al. (2000) identificam o que eles definem por
perigos primários e seus respectivos mecanismos iniciadores.
Ainda ressaltam que a maior parte dos riscos e mecanismos é
facilmente identificável durante as atividades de monitoramento
e inspeções visuais. Os perigos primários classificados e alguns
exemplos de mecanismos iniciadores são:
• Externos: galgamento, erosão superficial, perda de
proteção superficial do talude, instabilidade de encos-
tas, sismos e cheias;
• Internos (estruturais da barragem): instabilidade de
massa, escorregamento, percolações elevadas, erosão
interna, deformações e recalques, liquefação, perda
de integridade do núcleo, efeitos de interface, poro-
pressões e subpressões elevadas, obstrução de drena-

161
gem, tensões locais elevadas, buracos de animais e
efeitos de crescimento de vegetação;
• Internos (fundações e ombreiras): instabilidade de
massa, escorregamento, erosão interna, deformações
e recalques, interface barragem/fundação, poropres-
sões elevadas, perda de integridade do cut-off, lique-
fação e cavidades;
• Estruturas auxiliares: instabilidade, tensões e fissu-
ras, deformações excessivas, poropressões, válvulas,
comportas e equipamentos de controle;
• Intrínsecos (projeto/construção): concepção, projeto,
detalhamento e construção inadequados;
• Efeitos de envelhecimento: deterioração de materiais
e componentes, desagregação de solos e rochas e efei-
tos térmicos;
• Operacional: falha de operação (erro humano), mo-
nitoramento e manutenção inadequados e bloqueio de
vertedouros;
• Induzidos: aviões e outros impactos, sismos artifi-
ciais, vandalismo e terrorismo.

IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO DE
SEGURANÇA DE BARRAGEM
Para iniciar a implantação da gestão da segurança das bar-
ragens o empreendedor deste estudo, utilizou-se das atividades
podem ser organizadas em componentes, da seguinte maneira:
• Incorporação no Sistema Normativo da empresa, o
documento intitulado Diretrizes para a Elaboração do
Plano de Segurança de Barragem – parte integrante
do trabalho desenvolvido pelo Comitê do Plano de
Segurança de Barragens instituído com a atribuição

162
de desenvolver a estrutura do Plano de Segurança de
Barragens – PSB, até o final de 2014, compondo suas
diretrizes.
• Organizou a documentação técnica, projetos As Built
• Cadastrou as barragens junto ao órgão fiscalizador, e
recebeu a sua classificação e enquadramento pelo ór-
gão fiscalizador.
• Preparou e estruturou equipes para manutenção, ope-
ração, monitoramento e controle das barragens que
opera. A gestão destas barragens visa garantir a segu-
rança do maciço, evitando acidentes,
• Melhorou as regras de operação, otimizando os re-
cursos hídricos, conhecer melhor as características
de cada barragem, preservar a qualidade de água dos
reservatórios para o abastecimento público de aproxi-
madamente 3 milhões de pessoas.
• Desenvolveu e executou rotinas de inspeções e moni-
toramento de segurança;
• Incluiu o rompimento do maciço como riscos na ma-
triz de riscos ambientais da ISO 14001.
• Entregou o Relatório com cronograma das ações para
o órgão fiscalizador
• Entregou o primeiro relatório de inspeção de seguran-
ça regular ao órgão fiscalizador;
• Está licitando serviços de Revisão Periódica de Segu-
rança e Plano de Ação de Emergência.
A responsabilidade por todos os aspectos relacionados à
segurança de barragens deve ser claramente definida: nomear e
manter equipe multidisciplinar e intersetorial responsável pela
operação, acompanhamento e manutenção das barragens. Para
atender a legislação vigente é primordial ao empreendedor ter

163
na sua estrutura, profissionais responsáveis por estes processos,
cujas atribuições são definidas por lei. Sendo assim, para im-
plantação do Plano de Segurança de Barragens é criar no or-
ganograma da empresa equipe responsável pela segurança das
barragens.
Alguns passos importantes a serem dados pelos empreen-
dedores para implantação da Gestão de Segurança de Barragens:
• Levantamento e acompanhamento da legislação vi-
gente;
• Criação de grupos de trabalho multidisciplinar para
implantar Diretrizes;
• Criação de sistema de registros de dados de operação,
manutenção e monitoramento;
• Levantamento de projetos e dados existentes;
• Reabilitação da instrumentação existente e tratamen-
to dos dados;
• Elaborar termos de referência para contratação de ser-
viços;
• Treinar equipes para leituras em campo,
• Aproximação com órgãos fiscalizadores, defesa civil
e sociedade.
• Treinar operadores dos órgãos hidráulicos.
• Elaborar Matriz de risco.
• Gestão de Riscos.
A partir do ano de 2012, os órgãos fiscalizadores, exe-
cutaram a identificação e cadastramento das barragens junto a
Agência Nacional de Águas (ANA), com altura do maciço su-
perior ou igual a 15 metros e volume do reservatório superior a
3.000.000 m3, concluídas ou em construção, visando permitir o
acompanhamento permanente e sistemático da situação de sua
segurança. Com este objetivo, órgãos da administração federal,

164
estaduais e municipais e agentes da iniciativa privada devem
participar do processo de cadastramento e avaliação da situação
das construções.
A Resolução 236/2017 da ANA, define que o empreen-
dedor das barragens obriga-se a prover recursos para a garan-
tia da segurança, bem como manter serviço especializado em
segurança de barragens, bem como a elaboração dos Planos de
Segurança das Barragens. O órgão fiscalizador tem como atri-
buição estabelecer o conteúdo mínimo dos planos de segurança,
sua periodicidade, qualificação equipe responsável e prazos de
acordo com o número de barragens.
Após o cadastro o órgão fiscalizador emitirá um docu-
mento enquadrando a barragem quanto Dano potencial Associa-
do e Risco, a partir desta classificação os órgãos fiscalizadores
solicitaram o conteúdo mínimo dos Planos de Segurança das
Barragens, de acordo com a Resolução nº 236/2017 da ANA, e
devem estabelecer prazos para que estes planos sejam entregues.
Para atender a legislação vigente é primordial criar na sua
estrutura, áreas e profissionais responsáveis por estes processos,
cujas atribuições são definidas por lei. O responsável técnico
pela elaboração do Plano de Segurança de Barragem deverá
ter registro no conselho Regional de engenharia e Agronomia-
-CREA, com atribuições profissionais para projeto ou constru-
ção ou operação e manutenção de barragens, compatíveis com
as definidas pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia-
-CONFEA.
Toda esta estrutura deve ser adaptada e/ou formada, pois
é de fundamental importância para execução destes planos de
segurança com entrega ao órgão fiscalizador anualmente, ge-
renciamento das atualizações anuais dos planos, leituras dos
instrumentos, contratações de serviços de manutenção civil e

165
eletromecânica, mas principalmente no que se refere a gestão
e responsabilidade técnica pela barragem, uma vez que o pro-
fissional responsável pelas inspeções e leituras e relatórios deve
recolher a ART, junto ao CREA. A gestão destas barragens visa
garantir a segurança do maciço, evitando acidentes, melhorar as
regras de operação, otimizando os recursos hídricos, conhecer
melhor as características de cada barragem, preservar a quali-
dade de água dos reservatórios para o abastecimento público e
outros usos.

ANÁLISE DE RISCOS
A adoção de uma política de gerenciamento de riscos é
extremamente aconselhável, seja ela uma NBR ISO 14001, ou
outra ferramenta, a qual inicia o processo com a identificação
dos riscos, posteriormente analisa suas consequências e elenca
medidas para minimizar os riscos. No caso de barragens e re-
servatórios para usos múltiplos, podemos elencar alguns riscos:
• Contaminação do rio e represa
• Falta de água no rio e na represa por estiagem
• Alteração da qualidade da água “in natura” no rio e
reservatório
• Lançamento de resíduos contaminantes em corpos de
água
• Rompimento do maciço da barragem
• Desmoronamento e erosão do talude
• Inundação de tomada de água, captação ou casa de
força
• Galgamento
• Interrupção de energia elétrica
• Falha de comunicação (dados) nos sistemas supervi-
sórios

166
• Contaminação intencional ou acidental de reser-
vatório
• Assoreamento de lago, rio e canal de adução
• Gestão inadequada de resíduos por terceiros
• Invasão de áreas de preservação.

CONCLUSÃO
Com a publicação da Resolução ANA nº 132/2016, de 24
de fevereiro de 2016, a Agência Nacional de Águas (ANA) esta-
beleceu critérios complementares de classificação de barragens
reguladas pela instituição no que diz respeito ao Dano Potencial
Associado (DPA). De acordo com a Política Nacional de Segu-
rança de Barragens, cabe à Agência fiscalizar as barragens para
acumulação de água em cursos d’água de domínio da União (in-
terestaduais e transfronteiriços).
Para as barragens reguladas pela ANA, os critérios de
classificação quanto ao Dano Potencial Associado passam a
contar com critérios complementares referentes aos impactos
ambiental e socioeconômico. Portanto, a Agência terá mais cri-
térios para definir impacto ambiental e impacto socioeconômico
do que os existentes na Resolução n 143/2012 do Conselho Na-
cional de Recursos Hídricos (CNRH), documento que estabele-
ce critérios gerais de classificação de barragens por categoria de
risco, dano potencial associado e pelo volume do reservatório.
O DPA continuará levando em consideração o somató-
rio de quatro fatores: volume total do reservatório, potencial de
perdas de vidas humanas, impacto ambiental e impacto socioe-
conômico. No caso da classificação de barragens, a Agência le-
vará em conta o que determina a Resolução ANA nº 132/2016 e
os critérios estabelecidos pela Resolução CNRH n 143/201A Lei
12.334/2010. Para tal, é importante que as duas classificações,

167
categoria de risco e dano potencial associado, sejam relaciona-
das, como na forma proposta pela ANA.
As contratações de estudos, inspeções, PAE relacionadas
as medidas de contingência nas barragens são muito importantes
porque podem diminuir diretamente as consequências dos danos
de um eventual acidente causado.
Além do não cumprimento de um aspecto legal e das pe-
nalidades previstas por lei, uma questão muito importante é a
possibilidade no caso de um acidente causado pelo mal funcio-
namento da barragem, o desabastecimento de uma cidade e do
potencial risco de perdas de vidas humanas, do impacto ambien-
tal e de recursos hídricos, das perdas econômicas.
A dificuldade de entender a legislação e adequar-se a ela,
levou o empreendedor a nomear comitê para estudar diretrizes
de implantação desta gestão de segurança, a aproximação com
os órgãos fiscalizadores foi fundamental para iniciar o processo
pois depende-se da legislação a ser publicada.
O acidente de Mariana-MG em 2015 veio a colaborar de
certa forma para mostrar aos empreendedores a importância da
segurança de barragens feita por profissionais capacitados.
A instrumentação de barragem é de grande importância
para a sociedade, uma vez que a sua aplicabilidade está na poten-
cialização da segurança da vida da comunidade a jusante, a qual
pode alertar antecipadamente problemas na barragem reduzin-
do danos potenciais associados por identificar antecipadamente
não conformidades com risco de levar a estrutura ao colapso. O
rompimento de uma barragem traz consequências graves para o
meio ambiente e ações emergenciais bem estruturadas podem
minimizar os danos causados por sinistros na barragem, a exem-
plo do acidente ocorrido em Minas Gerais em 2015 com o rom-
pimento da barragem de rejeitos de Fundão.

168
As barragens de usos múltiplos possuem preocupação
quanto a qualidade e quantidade de água armazenada, bem como
com relação a controle de mexilhão dourado, ataque ao reser-
vatório, algas. Para uma boa gestão de segurança, é de suma
importância que os empreendedores de barragens realizem a sua
Revisão Periódica de Segurança. Para contratar equipe profis-
sional capacitada para realizar este trabalho é necessário que o
empreendedor possua equipe e/ou profissional qualificado e que
tenha a visão geral do estado atual da barragem ou das barra-
gens, a organização da documentação técnica, é primordial para
possibilitar os estudos necessários a serem realizados na Revi-
são Periódica, levando-se em conta as fases do empreendimento
desde a sua concepção, projeto, obra, operação e manutenção, a
equipe deve ser multidisciplinar.

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volume do reservatório, em atendimento ao art. 7° da Lei n° 12.334 de
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172
PROJETO DE INTERVENÇÃO
ADMINISTRATIVA NO PROCESSO
DE IMPLEMENTAÇÃO DA ÁREA DE
PROTEÇÃO AMBIENTAL DO MORRO
DO GAVIÃO EM CAMBORIÚ/SC

Reginaldo Elzo Simas


Fernando Caixeta

Resumo: O manancial que abastece os municípios de Camboriú e


Balneário Camboriú/SC, atende uma população média de 170.450
habitantes na baixa temporada e 485.000 habitantes na alta tempo-
rada. A crescente demanda e a baixa disponibilidade, estimularam
a criação da Área de Proteção Ambiental do Morro do Gavião na
cabeceira da bacia que abastece o manancial. Embora tenha sido
criada em 1999, está UC não se encontra estabelecida, justificando a
elaboração de um projeto de intervenção que possibilitará sua imple-
mentação. A execução deste projeto poderá contribuir com a preser-
vação do sistema natural de produção de água, proporcionando maior
segurança hídrica para os municípios abastecidos por este manancial.
Palavras chave: Manancial; Área de Proteção Ambiental; Segurança
hídrica.

Figura 1 - Delimitação política da Bacia Hidrográfica do Rio Cambo-


riú e Área de Proteção Ambiental do Morro do Gavião. Adaptado de
IBGE/EPAGRI com auxílio do Google Earth.
PROBLEMA
O manancial do Rio Camboriú abastece os municípios de
Camboriú e Balneário Camboriú, fornecendo uma vazão média
de 650 a 700 litros por segundo na baixa temporada, podendo che-
gar a 930 litros por segundo na alta temporada (EMASA, 2017).
Apesar da vazão captada para abastecimento público, o
limite Outorgado pela Portaria 096/2012 da Secretaria de Estado
de Desenvolvimento Econômico Sustentável para esta finalida-
de é de 700 litros por segundo. Entretanto, a EMASA (2017)
afirma que a Estação de Tratamento de Água encontra-se em ex-
pansão, possibilitando o acréscimo da capacidade de tratamento
em 570 litros por segundo, totalizando a captação de até 1500
litros por segundo.
Acrescente demanda dos recursos hídricos disponibilizados
por este manancial despertou o poder público a criar por meio da Lei
municipal nº 1343 (CAMBORIÚ, 1999), a APA do Morro do Ga-
vião, que tem como finalidade a proteção das principais nascentes
do Rio Camboriú.
Embora tenha sido criada em 1999, a APA do Morro do
Gavião não se encontra estabelecida, estando carente dos requi-
sitos básicos elencados pelo Sistema Nacional de Unidades de
Conservação - SNUC para a gestão adequada dos recursos natu-
rais existentes em seu domínio.

JUSTIFICATIVA
O município de Camboriú foi identificado no ATLAS
BRASIL da Agência Nacional de Águas – ANA (BRASIL,
2010), com a necessidade de investimentos para a proteção dos
mananciais de sistema de produção de água, fato que comprova
a criticidade do sistema hídrico da região.

174
Assim, a elaboração de um projeto de intervenção
que busca a implementação de uma APA, criada para prote-
ger as principais nascentes que abastecem o manancial, vem ao
encontro de uma demanda existente na região. Encaixando-se
neste cenário como uma medida mitigadora para a crescente de-
manda hídrica na bacia do Rio Camboriú.

OBJETIVO
Elaborar um projeto de intervenção no município de Cam-
boriú, de modo a possibilitar a implementação da APA do Morro
do Gavião, que irá contribuir com a preservação do sistema na-
tural de produção de água local e proporcionar maior segurança
hídrica para os municípios abastecidos pelo Rio Camboriú.

METODOLOGIA
O desenvolvimento do projeto de intervenção proposto
neste trabalho se deu por meio de consulta às Leis 9.985 (BRA-
SIL, 2000) e 8.666 (BRASIL, 1993), bem como, pela relação de
similaridade com outras unidades de conservação de uso susten-
tável existentes na região, sendo estas a APA da Costa Brava em
Balneário Camboriú, e a APA da Ponta do Araçá em Porto Belo.
Dessa forma, observou-se a necessidade de elaborar a mi-
nuta de um Decreto do Poder Executivo Municipal de Cambo-
riú, que cria o Conselho Gestor da APA do Morro do Gavião,
e estabelece a natureza do mesmo, bem como os órgãos que o
compõe. Além disso, existe a necessidade de propor um Regi-
mento Interno para este conselho, e elaborar um Termo de Refe-
rência para a contratação de mão-de-obra técnica especializada,
a fim de desenvolver os estudos necessários que irão embasar o
regramento da Unidade de Conservação.

175
REFERENCIAL TEÓRICO
O Ministério do Meio Ambiente - MMA (2018) define
Unidades de Conservação - UC como espaços territoriais com
características naturais relevantes, que têm a função de assegu-
rar a representatividade de amostras significativas e ecologica-
mente viáveis das diferentes populações, habitats e ecossiste-
mas, preservando o patrimônio biológico existente.
No Brasil, a fim de estabelecer critérios e normas para a
criação, implantação e gestão das unidades de conservação em
todo o território nacional, designou-se pela Lei 9.985 (BRASIL,
2000), o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC.
O SNUC divide as unidades de conservação em dois gru-
pos, sendo unidades de proteção integral, onde é permitido o
uso indireto dos recursos naturais (banho de cachoeira ou rio,
caminhada, prática de canoagem, escalada, pesquisa cientifica,
fotografias etc.), e unidades de conservação de uso sustentável,
onde é permitido o uso direto dos recursos naturais, ou seja,
aquele que envolve coleta e uso, comercial ou não, dos recursos
naturais.
Dentro do grupo das unidades de conservação de uso sus-
tentável, temos a categoria APA, que é definida pelo artigo 15 da
Lei 9.985 (BRASIL, 2000) como

“(...) áreas em geral extensas, com certo grau de ocupação


humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos
ou culturais especialmente importantes para a qualidade
de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem
como objetivos básicos proteger a diversidade biológica,
disciplinar o processo de ocupação e assegurar a
sustentabilidade do uso dos recursos naturais”.

176
Conforme a Lei 9.985 (BRASIL, 2000), o processo de
criação de uma unidade de conservação se dá por ato do Poder
Público, sendo que a maioria destas, por ato do poder executivo
(MMA, 2010).
Após o ato de criação de uma APA, o Decreto 4.340
(BRASIL, 2002) estabelece que seja instituído um Conselho
que será presidido pelo órgão responsável pela administração da
APA, e constituído por representantes dos órgãos públicos, de
organizações da sociedade civil e da população residente.
O Guia para gestores e conselheiros de Conselhos Gesto-
res de Unidades de Conservação Federais elaborado pelo Insti-
tuto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICM-
Bio (2014), indica que o Conselho é um fórum de discussão,
negociação e gestão da Unidade de Conservação, para tratar de
questões ambientais, sociais, econômicas, culturais e políticas,
podendo este possuir natureza consultiva ou deliberativa.
O conselho de natureza consultiva difere do conselho
de natureza deliberativa por emitir apenas manifestações sobre
assuntos relacionados à gestão da unidade de conservação, en-
quanto que o segundo possui autonomia em deliberar sobre as-
suntos relacionados à gestão da unidade de conservação, além
de emitir resoluções. (ICMBio, 2014).
Conforme o artigo 20 do Decreto 4.340 (BRASIL, 2002),
compete ao Conselho de unidade de conservação:
“I - Elaborar o seu regimento interno, no prazo de noven-
ta dias, contados da sua instalação;
II - Acompanhar a elaboração, implementação e revisão
do Plano de Manejo da unidade de conservação, quando cou-
ber, garantindo o seu caráter participativo;

177
III - Buscar a integração da unidade de conservação com
as demais unidades e espaços territoriais especialmente prote-
gidos e com o seu entorno;
IV - Esforçar-se para compatibilizar os interesses dos di-
versos segmentos sociais relacionados com a unidade;
V - Avaliar o orçamento da unidade e o relatório financei-
ro anual elaborado pelo órgão executor em relação aos objeti-
vos da unidade de conservação;
VI - Opinar, no caso de conselho consultivo, ou ratificar,
no caso de conselho deliberativo, a contratação e os disposi-
tivos do termo de parceria com OSCIP, na hipótese de gestão
compartilhada da unidade;
VII - Acompanhar a gestão por OSCIP e recomendar a res-
cisão do termo de parceria, quando constatada irregularidade;
VIII - Manifestar-se sobre obra ou atividade potencial-
mente causadora de impacto na unidade de conservação, em
sua zona de amortecimento, mosaicos ou corredores ecológicos;
IX - Propor diretrizes e ações para compatibilizar, inte-
grar e otimizar a relação com a população do entorno ou do
interior da unidade, conforme o caso. ”
Dentre as competências do Conselho gestor indicadas
pelo Decreto 4.340 (BRASIL, 2002), que irá implicar em maior
efetividade na gestão da Unidade de Conservação, está a elabo-
ração, implementação e revisão do Plano de Manejo garantindo
seu caráter participativo.
O Plano de Manejo consiste em um “documento técnico
mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma
unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as
normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos re-
cursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas
necessárias à gestão da unidade” (BRASIL, 2000).

178
Em função do Plano de Manejo se tratar de documento
técnico, sua elaboração requer mão-de-obra qualificada, sendo,
portanto, geralmente delegado por meio de contratação licitató-
ria para empresa tecnicamente habilitada, que realizará os estu-
dos necessários, onde os resultados obtidos são posteriormente
debatidos pelo Conselho Gestor, a fim de equilibrar os diferentes
fatores que influenciarão na gestão da Unidade de Conservação.
Para a contratação de serviços técnicos qualificados, de-
vem ser observados os regulamentos da Lei 8.666 (BRASIL,
1993), que institui as normas para licitações e contratos da Ad-
ministração Pública, devendo ser escolhida a modalidade licita-
tória mais viável para os cofres públicos.
Em suma, conforme Menezes (2009, apud IBAMA,
2001), implementar e administrar uma APA significa estabele-
cer um conjunto de ações políticas, administrativas e legislati-
vas, para que um novo contexto idealizado seja concretizado, de
modo que a Unidade de Conservação possa atingir o objetivo
pela qual foi criada.
Uma APA pode ser criada com distintos objetivos, e de-
vem ser observados aqueles pré-estabelecidos pelo SNUC. A
APA do Morro do Gavião, objeto de estudo no presente trabalho,
foi criada com o objetivo de “(...) proteção da nascente do Rio
Camboriú. ” (CAMBORIÚ, 1999).
Conforme a Lei 12.651 (BRASIL, 2012), nascente é de-
finida como “afloramento natural do lençol freático que apre-
senta perenidade e dá início a um curso d’água”, sendo consi-
derada Área de Preservação Permanente o raio de 50 metros do
seu entorno.
Segundo Palácio (2015, apud CASTRO, 2007), as Áreas
de Preservação Permanente de uma nascente auxiliam na prote-
ção da superfície do solo evitando a ocorrência de processos ero-

179
sivos, na criação de condições favoráveis à infiltração da água e
recarga do aquífero, e na redução da taxa de evapotranspiração.
Lima (2008), afirma que as Áreas de Preservação Perma-
nente quando não perturbadas, mantém uma boa condição de
funcionamento ecológico e hidrológico, levando a uma produ-
ção natural e estável de água de boa qualidade.
Kroeger et. al. (2017), diz que preservar e recuperar a
qualidade da água é um dos grandes desafios para muitas cida-
des em todo mundo. Sendo que o crescimento demográfico so-
mado à degradação dos mananciais resulta no aumento do custo
de tratamento da água.
Uma estimativa recente indica que em um terço das gran-
des cidades do mundo o custo por unidade de água tratada au-
mentou, em média, 50 por cento no último século. Isto se deve
à conversão de ambientes naturais em outros usos do solo, e ao
desenvolvimento urbano nas bacias que abastecem esses grandes
centros (KROEGER et. al., 2017 apud MCDONALD et al., 2016).

DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


A APA do Morro do Gavião está localizada na bacia hi-
drográfica do Rio Camboriú, sendo delimitada pelo artigo 1º da
Lei 1.343 (CAMBORIU, 1999) da seguinte forma: “(...) com-
preendida pela Serra do Camboriú, Serra do Brilhante, Serra
da Limeira e Serra do Gavião entre as altitudes máximas destas,
pertencentes ao Município de Camboriú até a altitude de 100
(cem) metros em relação ao nível do mar (...)”, “(...) A presente
área compreende as latitudes: 27º05` Sul e 27º10` Sul e a longi-
tude 48º45` Oeste, com uma área total de 26 Km²”.
A bacia hidrográfica do Rio Camboriú está localizada no
Estado de Santa Catarina, e abrange os municípios de Camboriú

180
e Balneário Camboriú. CIRAM (2017), afirma que sua área de
drenagem é de aproximadamente 199,80 Km², sendo o rio prin-
cipal que dá nome à bacia, com cerca de 32km de extensão, o
Rio Camboriú.
Conforme Urban (2008), o índice de oxigênio dissolvido,
turbidez, e fósforo encontrado no Rio Camboriú, permitem clas-
sificá-lo com base nos limites de qualidade estabelecidos pela
Resolução CONAMA 357/2005 como classe II. Assim, suas
águas serão aptas ao abastecimento para consumo humano após
passar por tratamento convencional.
Segundo o Centro de Informações de Recursos Am-
bientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina - CIRAM
(2017), a população fixa abastecida pelo manancial do Rio
Camboriú é de cerca de 170.450 habitantes. Santur (2013)
apresenta a estimativa de 353.680 e 275.123 turistas que vi-
sitaram Balneário Camboriú em janeiro e fevereiro de 2013
respectivamente. Assim, demanda média de população abaste-
cida pelo manancial do Rio Camboriú na alta temporada fica
entorno de 485.000 pessoas.
Quanto ao clima, Da Silva (2015, apud EPAGRI, 1999),
afirma que a região da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú pos-
sui clima classificado como subtropical úmido (Cfa), com verão
e inverno bem definidos e ocorrência de chuvas em todos os
meses do ano, com precipitação média anual é de 1600 mm.

PROJETO DE INTERVENÇÃO

IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Parte das águas que alimenta o manancial do Rio Cam-
boriú nasce no local denominado Morro do Gavião, onde o mu-
nicípio de Camboriú em 19 de novembro de 1999 instituiu por

181
meio da Lei nº 1343, a APA do Morro do Gavião, que tem como
finalidade a proteção das principais nascentes do Rio Camboriú.
Atualmente a APA do Morro do Gavião não está imple-
mentada, dando margem à exploração inadequada dessa região,
como, por exemplo, atividades agropastoris em Áreas de Preser-
vação Permanente, mineração, e formação de pequenos núcleos
urbanos informais.
Dessa forma, a problemática do presente projeto de inter-
venção, consiste no desenvolvimento das minutas dos atos ad-
ministrativos necessários para o estabelecimento desta UC nos
termos elencados no SNUC.

JUSTIFICATIVA
O Decreto 4.340 (BRASIL, 2002) que regulamenta o
SNUC, estabelece que as APA sejam dispostas de um Conselho
presidido pelo órgão responsável por sua administração, e cons-
tituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações
da sociedade civil e da população residente.
Além disso, o referido Decreto determina como compe-
tência do Conselho a elaboração de seu regimento interno e a
aprovação do plano de manejo, que é um documento técnico me-
diante o qual se estabelece o zoneamento e as normas que devem
presidir o uso da área protegida e o manejo dos recursos naturais.
Assim, o desenvolvimento da presente proposta de inter-
venção se justifica por estimular o estabelecimento e funciona-
mento desta UC, de modo a contribuir para a utilização racional
dos recursos naturais da região, bem como para a sustentabili-
dade do manancial que abastece as cidades de Camboriú e Bal-
neário Camboriú.

182
OBJETIVO

Objetivo geral
Possibilitar a implementação da APA do Morro do Gavião,
por meio da elaboração das minutas dos atos administrativos ne-
cessários para o estabelecimento desta Unidade de Conservação,
de modo que a partir de então, possam ser promulgadas as nor-
mas que devem presidir o uso da área protegida e o manejo dos
recursos naturais.

Objetivos específicos
1. Elaborar a minuta de um Decreto do Poder Executivo
Municipal de Camboriú, criando o Conselho Gestor
da APA do Morro do Gavião, estabelecendo sua natu-
reza, e os órgãos que o compõe;
2. Elaborar a minuta do regimento interno do conselho
gestor da APA do Morro do Gavião;
3. Desenvolver um termo de referência para a contrata-
ção de empresa habilitada, a fim de realizar o diag-
nóstico ambiental, social e econômico da APA, possi-
bilitando assim a elaboração do zoneamento e plano
de manejo participativo;

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


A execução do presente projeto de intervenção ocasionará
a implantação da APA do Morro do Gavião, que irá contribuir
com a preservação do sistema natural de produção de água local,
e abrandará os impactos da grande demanda hídrica oriunda dos
municípios abastecidos por este manancial.

183
AÇÕES DE INTERVENÇÃO
De posse das minutas dos atos administrativos, será pos-
sível que o Poder Executivo Municipal realize e estimule as se-
guintes ações:
1. Revisão da minuta do decreto que institui o Conselho
Gestor da APA;
2. Promulgação do decreto;
3. Mobilização do Conselho Gestor;
4. Aprovação do Regimento Interno do Conselho Gestor;
5. Início do processo licitatório para contratação de em-
presa especializada que irá elaborar o Plano de Ma-
nejo da APA;
6. Aprovação do Plano de Manejo pelo Conselho Gestor
de forma participativa.

ATORES ENVOLVIDOS
1. Poder Executivo Municipal;
2. Fundação Municipal de Meio Ambiente, FUCAM;
3. Sociedade civil (comunidade científica e organizações
não-governamentais ambientalistas com atuação com-
provada na região da unidade, população residente e
do entorno, população tradicional, proprietários de
imóveis no interior da unidade, trabalhadores e setor
privado atuantes na região e representantes do Comitê
de Bacia Hidrográfica);
4. Empresas participantes do processo licitatório;

RECURSOS NECESSÁRIOS
O principal recurso necessário para o desenvolvimento da
intervenção proposta será a mão-de-obra técnica qualificada, a

184
ser contratada por meio de processo licitatório para o desenvol-
vimento do plano de manejo contendo o diagnóstico ambiental e
o zoneamento da APA do Morro do Gavião.

ORÇAMENTO
O recurso financeiro para a execução da intervenção pro-
posta poderá ser originado de termos de ajustamento de conduta,
elaborados pelo Ministério Público de Santa Catarina - MPSC e
Ministério Público Federal - MPF, ou captação de recursos fede-
rais e estaduais destinados a conservação ambiental.

VIABILIDADE
A viabilidade da presente proposta fica evidenciada pelo
fato da APA do Morro do Gavião ter sido criada em 1999, sendo
necessária para sua efetiva execução a instituição de um con-
selho gestor, e a elaboração de um plano de manejo, conforme
determina o SNUC.
Além disso, a área compreendida pela APA do Morro do
Gavião, assim como outras áreas localizadas na cabeceira da ba-
cia do Rio Camboriú, é alvo de um programa conservacionista
denominado Projeto Produtor de Água do Rio Camboriú. O ob-
jetivo deste programa é desenvolver instrumentos para garantir
a conservação dos recursos hídricos na bacia, incentivando pro-
prietários rurais a adotarem práticas conservacionistas em suas
propriedades. Essas práticas envolvem a recuperação de áreas
degradadas, a conservação dos remanescentes florestais nativos,
o manejo adequado do solo e a conservação de estradas rurais
(EMASA, 2017).
EMASA (2017) acrescenta que por meio do Projeto Pro-
dutor de Água do Rio Camboriú, os proprietários que volun-
tariamente adotarem as práticas de conservação definidas nos

185
editais de convocação, serão recompensados com incentivos
financeiros.
Dessa forma, considerando o dever legal do poder público
em instituir a APA do Morro do Gavião nos termos do SNUC,
assim como a existência de um programa de pagamento por ser-
viços ambientais que incentivem as boas práticas ambientais na
região, acreditamos ser plenamente viável a aplicabilidade da
presente proposta de intervenção.

RISCOS E DIFICULDADES
Considerando a finalidade da implementação a APA do
Morro do Gavião, é possível destacar os seguintes riscos e difi-
culdades ao longo da execução do projeto proposto:
Riscos:
1. Desinteresse político do poder Executivo Municipal
em implementar a APA do Morro do Gavião;
2. Rejeição de parte da comunidade local;
3. Rejeição do setor de produção primário do Município
de Camboriú;
Dificuldades:
1. Instituir um Conselho Gestor paritário;
2. Conscientizar a comunidade local sobre a importân-
cia da existência de uma APA na região. (Educação
Ambiental);
3. Sincronizar a sociedade civil, entes públicos e comu-
nidade local para o bom funcionamento do conselho
gestor;
4. Obter recursos financeiros para contratação de equi-
pe técnica qualificada para elaboração do diagnóstico
ambiental, zoneamento e plano de manejo nos termos
da licitação proposta;

186
5. Obter mão-de-obra técnica qualificada para elabora-
ção do diagnóstico ambiental, zoneamento e plano de
manejo nos termos da licitação proposta;
6. Mediar o uso sustentável da UC e a Preservação Am-
biental. (Conflitos de interesses).

CRONOGRAMA
O cronograma para a implantação da intervenção propos-
ta dependerá do grau de comprometimento do Poder Executivo
Municipal de Camboriú com as ações a serem realizadas, haja
vista que se trata basicamente de promulgar o Decreto proposto
e instituir o conselho gestor nos termos da legislação vigente.
Quanto ao processo licitatório, estima-se como prazo para
o desenvolvimento das atividades previstas para execução dos
serviços, uma média de 180 dias, podendo ser prorrogado por
mais 180, caso haja justificativa fundamentada.
Dessa forma, propõe-se o seguinte cronograma para
o desenvolvimento da intervenção proposta:

187
Tabela 1 - Cronograma de ações para implementação da APA do Mor-
ro do Gavião.

Ações/Dias 30 30 60 60 180 180

Revisão do decreto X

Promulgação do decreto X

Mobilização do conselho X

Aprovação do regimento
X
interno pelo conselho

Processo licitatório do
X
plano de manejo

Aprovação do plano de
manejo pela comunidade/ X
conselho
Tempo total estimado
540
para implementação do
dias
projeto de intervenção

GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO


Caberá ao Conselho Gestor da APA do Morro do Gavião a
gestão, o acompanhamento, e a avaliação da implementação das
normas de uso dos recursos naturais e ocupação do solo, sendo
que a proposta de minuta do regimento interno do conselho re-
grará a sua forma de atuação.
Quanto à avaliação dos resultados obtidos com a implan-
tação da APA, deverá ser considerada a efetiva proteção das
principais nascentes do Rio Camboriú, e consequentemente do
manancial que abastece a população da região.

188
Igualmente, deve ser considerada a satisfação popular
como uma premissa fundamental, pois o grande objetivo das po-
líticas públicas são a promoção de saúde, conforto, bem-estar, e
satisfação do cidadão, sendo estes também ótimos indicadores
qualitativos a serem levantados em diferentes setores da socie-
dade de modo a mensurar o sucesso da execução do projeto.

CONCLUSÃO
O presente projeto de intervenção permite concluir que
sua execução contribuirá efetivamente para a solução do proble-
ma diagnosticado, possibilitando a instituição das normas que
devem presidir a utilização do solo e o manejo dos recursos na-
turais na APA do Morro do Gavião.
Além disso, a correta gestão desta Unidade de Conser-
vação possibilitará que seja alcançado o objetivo que motivou
sua criação, isto é, a proteção das principais nascentes do Rio
Camboriú, fato que irá contribuir com a preservação do sistema
natural de produção de água local, e mitigará os impactos da
grande demanda hídrica oriunda dos municípios abastecidos por
este manancial.

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tema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras
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artigos da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, que dispõe sobre o
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1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro
de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754,
de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de
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SUSTENTÁVEL. Portaria 096/2012, de 07 de dezembro de 2012. Diário
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de Mestrado - Universidade do Vale do Itajaí. Itajaí, 2008.

192
PROPOSTA DE MODELO DE
INTERVENÇÃO EM PROCESSO
EROSIVO NA REGIÃO LINDEIRA À
ZONA URBANA DE ALEXÂNIA – GO

Joyce Costa Gomes de Santana


Pedro Phelipe Gonçalves Porto

Resumo: O município de Alexânia fica entre duas importantes capi-


tais do Centro-Oeste, Brasília e Goiânia. O município se desenvolveu
bastante nos últimos anos e devido a sua posição estratégica existe um
potencial em se desenvolver ainda mais. Contudo, a vulnerabilidade
geológica assola o município e já é bem conhecida na esfera estadual
em virtude da alta susceptibilidade a processos erosivos oriundos das
características do solo, declividade e questões climáticas. Dos diver-
sos processos erosivos presentes no município, os mais preocupantes
são os que se apresentam dentro ou próximos do perímetro urbano,
chegando ao extremo de destruir completamente um bairro, logo,
fica evidente a necessidade de medidas para mitigação dos mesmos.
Nesse sentido, esse trabalho apresenta Projeto de Intervenção e seu
respectivo Termo de Referência para impedir a evolução de uma das
erosões na região lindeira à zona urbana do município, fazendo uma
correção da drenagem local, estabilização dos taludes e o plantio de
mudas e gramíneas. O trabalho é um projeto piloto e também tem o
intuito de incentivar novas ações de mitigação em outras localidades,
assim como trazer uma conscientização sobre esse tema que está pas-
sando desapercebido.
Palavras-chave: Processos Erosivos, Recuperação de Área
Degradada, Alexânia

INTRODUÇÃO
O ciclo hidrológico é um processo que vem moldando
nosso planeta por milhões de anos, ocorrendo lentamente através
da lixiviação e processos erosivos naturais. Isso não é diferente
nos dias de hoje, porém, as alterações que eram feitas na escala
de tempo geológica, hoje acontecem em poucos anos devido à
ação antrópica que acelera muito os processos erosivos. Essa
problemática é agravada pelo crescimento urbano desordenado.
Alexânia – GO é um município naturalmente vulnerável
à problemas com erosão, isso ocorre devido a características do
solo, declividade e clima da região. Com o desenvolvimento ur-
bano sem a infraestrutura básica a vulnerabilidade foi agravada.
A área de estudo se localiza em uma região lindeira à mancha
urbana, onde a falta de sistema de drenagem gera um aumento
significativo nos picos de vazão ocasionando um processo de
erosão local. Outro problema inerente a esse tópico é que os po-
luentes depositados no chão da cidade acabam sendo carreados
para o corpo hídricos à jusante afetando a qualidade e o curso
d’água bem como a poluição do solo local.
Conforme foi citado em um treinamento dado pela Defesa
Civil em fevereiro de 2018 na cidade Pirenópolis (GO), a erosão
é o principal problema natural que atinge a cidade de Alexânia.
Por ser esse município já devidamente identificado como sendo
de risco geológico haja vista seus acentuados processos erosivos e
evolução dos já existentes, achamos oportuno trazer proposta que
busque minimizar os efeitos dessa ação na natureza, em especial,
na área de estudo ora apresentada, dada sua importância social.
A área de estudo se localiza na cabeceira da bacia hidro-
gráfica, local cujas ações de poluição, dela advindas, comprome-
tem todo o curso do rio e, por consequência, afeta o uso do solo e
dos recursos hídricos das atividades exercidas nessa bacia. Dian-
te disso, propomos nesse trabalho de conclusão de curso estu-
dar e propor medidas que minimizem fatores erosivos na região
lindeira à zona urbana de Alexânia que pela falta de drenagem
causa o carreamento de sedimento ocasionando sérios danos à

194
natureza, em especial, processos de erosões nos emissários ou
pontos de escape.
Sendo assim, medidas relativamente simples e acessíveis,
como as propostas que suscitaremos no Projeto de Intervenção,
apenso a esse trabalho, podem evitar que processos erosivos se
desenvolvam ainda mais nessa área, como também em outras,
impedindo a continuidade do carreamento do solo e seus conse-
quentes impactos sobre a região, além de motivar outras inicia-
tivas de intervenção nas demais erosões presentes no município.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL
Propor modelo de projeto de intervenção para mitigar
processo erosivo na região lindeira à zona urbana do município
de Alexânia – GO.

Objetivos Específicos
• Caracterizar área de intervenção;
• Levantamento bibliográfico sobre o tema;
• Elaborar Proposta de Intervenção;
• Elaborar Termo de Referência;
• Orçar os custos para execução do projeto definindo
Termo de Referência para aquisição de serviços e/ou
materiais

METODOLOGIA
Para o planejamento de ações interventivas nas erosões
presentes na região lindeira à zona urbana de Alexânia, propo-
mos alguns procedimentos fundamentais para a execução do
plano, os quais foram divididos em quatro tópicos:

195
DIAGNÓSTICO
Objetivando definir a área de intervenção, foi realizada
uma reunião com o presidente da Associação dos Moradores e
Amigos de Alexânia (AMAA) onde foram apresentadas suges-
tões alternativas de qual/quais erosões poderiam ser trabalhadas.
Diante dos argumentos apresentados decidiu-se ter como objeto
de estudo, a erosão próxima a zona urbana de Alexânia, pelo fato
de ser de fácil acesso e ter um tamanho relativamente pequeno
em relação as demais, podendo o Projeto servir como piloto para
iniciativas da mesma natureza nas demais erosões, a localização
da área de estudo pode ser visualizada na Figura 1.
Figura 1 - Localização da Erosão

Fonte: Google Maps (2017)

196
ANÁLISE SITUACIONAL
Uma vez definida a área de intervenção partiu-se para
análise de impacto ambiental da referida erosão utilizando como
método de avaliação a rede de interações apresentada a seguir:
Figura 2 - Rede de interações de impacto ambiental

Fonte: Autor

LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
Para verificação das intervenções já realizadas nas ditas
erosões existentes em Alexânia foi realizado um levantamento
bibliográfico e documental nos acervos constantes em institui-
ções públicas municipais, estaduais e federais que trabalham
com a temática. Em sequência, foi realizada caracterização em
campo da área alvo da intervenção, com levantamento topográ-
fico, mapeamento da vegetação e do solo. Com essas configu-
rações foi montado o projeto de intervenção específico para o

197
local, seguindo as técnicas levantadas na bibliografia, em es-
pecial, as recomendadas no Manual de Recuperação de áreas
degradadas por erosão no meio rural feito pela EMBRAPA em
2012 (CHAVES et al., 2012).

PROJETO DE INTERVENÇÃO
Nessa etapa realiza-se o levantamento de campo para
identificação do problema, definição dos objetivos. Também
avalia-se os impactos esperados, elencando ações, indicando
atores e recursos necessários bem como atestando sua viabilida-
de técnica e sistemática de acompanhamento, monitoramento e
avaliação das ações.

Termo de Referência
Essa etapa referência a aquisição de serviços e/ou mate-
riais a serem adquiridos pelo Poder Público para perfeita exe-
cução do Projeto de Intervenção de acordo com os princípios e
diretrizes dispostos na legislação.

REFERENCIAL TEÓRICO

DRENAGEM URBANA
As águas pluviais urbanas normalmente têm destaque ne-
gativo na visibilidade da população por estarem associadas com
inundações e enxurradas. Problemas relacionados com as águas
da chuva acontecem na maioria das capitais brasileiras.
Costa 2013 assevera que um dos principais fatores que
causam esse problema é a questão da impermeabilização do solo
com a urbanização da cidade, fazendo com que grandes quanti-
dades de água se acumulem na superfície carecendo de sistemas
de drenagem que por sua vez acabam lançando grandes quanti-

198
dades de água dentro de um corpo receptor, carregando diversos
poluentes contidos na superfície urbana que são levados aos rios.
Outro grande problema é quando não há sistema de dre-
nagem vez que as águas superficiais acabam escoando de forma
desordenada e quando atingem regiões sem camada asfáltica car-
reiam partículas do solo, podendo iniciar um processo erosivo.
A Lei de Saneamento Básico Lei Nº 11.445 de 2007
(BRASIL, 2007), em seu artigo 3º , alínea d, coloca como esco-
po das atividades relacionadas à drenagem:

“drenagem e manejo das águas pluviais, limpeza e


fiscalização preventiva das respectivas redes urbanas:
conjunto de atividades, infraestruturas e instalações
operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de
transporte, detenção ou retenção para o amortecimento
de vazões de cheias, tratamento e disposição final das
águas pluviais drenadas nas áreas urbanas” (Redação
dada pela Lei No 13.308 de 2016)

Segundo a lei, “drenagem” deve ser tratada juntamente


com todo o restante do saneamento (abastecimento de água, es-
gotamento sanitário, e limpeza urbana e manejo de resíduos sóli-
dos). Todas essas questões são abordadas no Plano Municipal de
Saneamento Básico que deve ser elaborado por cada município.
Como é uma legislação relativamente recente, muito deles ainda
não se adequaram às regras, pois foram se desenvolvendo fora
das diretrizes do saneamento básico o que ocasiona má distribui-
ção do uso e ocupação nas cidades gerando uma infraestrutura
inadequada com serviços de saneamento deficientes. Na esfera
municipal, apesar de existir lei municipal que trata sobre o par-
celamento do solo, não há nenhum termo que trate sobre o tema
da drenagem ou processos erosivos.

199
As águas pluviais transportam sedimentos, considerados
o produto originado na erosão do solo devido a degradação de
partículas em decorrência da intensidade da chuva e posterior-
mente é carreado para o sistema de escoamento. Além da erosão
do solo, o carreamento de sedimentos causa o assoreamento dos
canais de drenagem, levando a uma diminuição da capacidade
de escoamento dos rios. (MERTEN e POLETO, 2006).
Segundo Tucci (2005), a quantidade e o tipo de sedimento
produzido variam de acordo com o desenvolvimento urbano e
pode ser dividida em quatro estágios: fase de pré-desenvolvimen-
to, onde o sedimento é produzido naturalmente pelas condições
naturais do ciclo hidrológico; a fase inicial onde o desenvolvi-
mento urbano começa a aparecer. Havendo uma alteração na co-
bertura da bacia, o solo fica desprotegido e assim aumenta a erosão
em períodos chuvosos passando para a fase intermediária onde há
uma grande movimentação de terra vinda de novas construções
e gerando uma parcela adicional aos resíduos carreados e, por
fim, a fase desenvolvida, onde a superfície urbana já está conso-
lidada e os resíduos carreados são de áreas não impermeabiliza-
das fazendo com que a produção de lixo urbano atinge seu ápice.

EROSÃO
A erosão do solo é o processo de desagregação e trans-
porte de partículas pela ação dos agentes erosivos, que podem
ser proveniente da água ou do vento. No caso da chuva, o pró-
prio impacto das gotas desmancha o solo e o torna livre para
ser carreado. Logo, os processos erosivos nas regiões tropicais
estão associados aos eventos climáticos, rocha, relevo e solo.
Contundo, a atividade humana é responsável pela intensifica-
ção desses processos conforme nos diz Carvalho e Diniz, 2007.

200
Conforme esse autores, a erosão de origem hídrica pode ser sub-
dividida em cinco categorias:
• Laminar: ocorre de maneira suave e uniforme pela su-
perfície do terreno;
• Sulco: corte de pouca profundidade no solo oriundo
da concentração de água;
• Ravina: é o estágio avançado do sulco, podendo gran-
de extensão e profundidade;
• Voçoroca (ou Boçoroca): último estágio da erosão,
quando a profundidade atinge o nível freático e ocor-
re uma participação ativa das águas subterrâneas;
• Pipping: erosão interna, evolui regressivamente for-
mando um tubo.
A erosão, seja qual for sua categoria, é um processo na-
tural, mas a ocupação humana do território dos quais: desmata-
mento, cultivo de terras, implantação de estradas, assentamento
e expansão das cidades, dentre outros; constitui o fator decisivo
da aceleração dos processos erosivos. No local onde ocorre a
erosão, acontece uma perda de nutrientes do solo. O ar e a água
ficam poluídos e ocorre o assoreamento dos rios e reservatórios
A erosão pode destruir a pavimentação e vias públicas,
sistemas de esgoto, rede elétrica e construções civis. Além de
tudo isso, há um grande risco de danos físicos e até mesmo mor-
te de pessoas e animais. Nas áreas urbanas, para evitar a evolu-
ção dos processos erosivos se deve manter o máximo possível
de vegetação e cobertura vegetal e não dispor resíduos sólidos e
líquidos no local erodido.
Na área agrícola, além das medidas citadas deve-se ado-
tar a utilização de curvas de nível, ou medidas similares. Em
estradas vicinais devem ser feitar saídas d’água e caixas de in-
filtração, e em rodovias deve haver um sistema de drenagem su-

201
perficial, e lançamento apropriado da água com a utilização de
dissipadores de energia, os taludes devem ser estabilizados com
vegetação (CARVALHO e DINIZ, 2007).
Pimentel et al. (1995) ainda afirma que a erosão do solo é
a maior ameaça à sustentabilidade e a capacidade de produção
agrícola. Essa perda de solo em níveis globais pode causar gran-
des impactos na produção de alimentos para a humanidade.
O referido autor ainda aponta que cerca de 10% de toda
energia utilizada na agricultura é para repor a quantidade de nu-
trientes perdida, uma das causas dessa perda é a erosão. Ainda
aduz que grandes custos na agricultura ocorrem para a reposi-
ção de água e nutrientes perdidos pela erosão, esses custos va-
riam de região para região. Além de diversos prejuízos causados
fora do local da erosão, como descontinuação do sistema de dre-
nagem, retirada de solo das estruturas de obras e pavimentos,
rompimento de barragens, eutrofização e assoreamento de rios
e lagos, perca de habitat natural entre outros; grandes prejuízos
financeiros podem ocorrer.
No caso de áreas de pastagem, a deterioração do solo cau-
sa uma queda na produtividade e capacidade de suporte. Nes-
se caso, aumenta a proporção do solo sem cobertura vegetal,
facilitando o processo erosivo e consequentemente a perda de
matéria orgânica e nutrientes do solo, representando o pior grau
de degradação da pastagem.

RECUPERAÇÃO DE ÁREA DEGRADADA – EROSÃO


O conceito de degradação ambiental é muito amplo e va-
ria de acordo com a doutrina adotada. No geral, a degradação
ambiental se caracteriza por modificações feitas nos ecossiste-
mas naturais, que alteram as características físicas, químicas e

202
biológicas de forma negativa comprometendo a capacidade de
regeneração natural (CHAVES et al., 2012).
A degradação dos solos está associada principalmente com
o manejo inadequado dos recursos naturais. Na zona rural isso
ocorre com a monocultura, uso indiscriminado de agroquímicos,
exposição do solo por desmatamento, queimadas, técnicas agrí-
colas equivocadas, excesso do tráfego de máquinas e animais.
Na zona urbana, os principais fatores que aceleram os processos
erosivos são: ocupação desordenada principalmente em áreas de
risco como encostas e margens dos rios, obras mal projetadas e
executadas, cortes e aterros sem sistemas de drenagem ou drena-
gem eficiente, impermeabilização do solo e edificações concen-
trando o fluxo do escoamento superficial (CHAVES et al., 2012).
Chaves et al. (2012) indica como deve ser feito o processo
de recuperação de áreas erodidas. O primeiro passo citado é o
isolamento da área, principalmente à montante. As atividades
que ocorrem no entorno devem ser avaliadas e talvez interrom-
pidas caso agravem a situação da erosão. O segundo passo é a
avaliação do nível de degradação que ocorre comparando o per-
fil da área afetada com o de áreas próximas. Se a área avaliada
apresentar um horizonte superficial menos profundo o processo
de degradação está ocorrendo.
Em caso de áreas muito extensas, é necessário fazer subdi-
visões considerando todas as características das subáreas (tipo de
drenagem, estágio do processo erosivo, textura e cor do solo, rele-
vo e vegetação) e aplicando medidas de controle específicas para
cada subárea. Ainda segundo o mesmo autor é necessário fazer
um ordenamento e dissipação da energia das águas superficiais.
Inicialmente deve-se conduzir de forma adequada o escoamento
superficial na área a montante, diminuindo sua velocidade e au-
mentando a infiltração.

203
O processo erosivo geralmente ocorre pela impermeabi-
lização em áreas impróprias, com sistema de drenagem mal di-
mensionado ou até mesmo sem sistema de drenagem, caminhos e
trilhas formadas pela passagem de máquinas e animais e até mes-
mo aplicação de água acima da capacidade de retenção do solo.
As técnicas indicadas por Chaves et al. (2012) para o or-
denamento do escoamento superficial é a construção de terraços
em desnível associados com canais de escoamento vegetado e
bacias de captação. Dependendo das características da região
a combinação de técnicas pode mudar. Quando não for possível
deter ou desviar o fluxo de água que escoa para as voçorocas, é
indicado o uso de técnicas que reduzam a velocidade do fluxo
como paliçadas e cordões vegetados. Existe uma série de crité-
rios para escolher o tipo de vegetação para os cordões vegeta-
dos, mas as comumente utilizadas são o Capim Vetiver, a Erva
Cidreira e o Capim Elefante.
Para permitir o plantio e estabelecimento de vegetação há
necessidade da estabilização de barrancos e taludes. Dependen-
do do tamanho da erosão, esse tipo de serviço pode ser feito ma-
nualmente com (enxada e enxadão) ou com máquinas. Também
destaca-se a importância de realizar esse trabalho no período
seco, para que se tenha a área pronta para plantio no início do
período chuvoso.
Como última parte de intervenção, Chaves et al. (2012)
recomenda que após todas as ações manuais e/ou mecânicas,
seja feita a reaplicação de restos vegetais no solo para incenti-
var a criação de uma cobertura vegetal e garantir a proteção do
solo. Aliado a essa abordagem, também deve ser feito o plantio
de leguminosas herbáceas e gramíneas de crescimento rápido.
Orienta-se a inclusão de espécies nativas para atrair animais dis-
persadores de sementes e impulsionar o processo.

204
Da mesma forma, pode ser considerada a utilização de
espécies de valor econômico no reflorestamento e o desenvolvi-
mento de sistema agroflorestal através de um acompanhamento
e monitoramento da área recuperada.

DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


A descrição da área pode ser encontrada no Diagnóstico
contido no Item 1.4 Metodologia.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
A erosão existente na região lindeira à zona urbana de Ale-
xânia, Estado de Goiás é bem antiga e o seu quadro só vem se
agravando com o passar dos anos o que nos leva a presumir que
em um futuro não muito distante a erosão venha a “engolir” a ve-
getação preservada e até mesmo comprometer as edificações mais
próximas. Aliada a essa problemática ainda poderá haver perca do
solo e o assoreamento dos corpos hídricos.
Processos erosivos similares são relatados por diversos lo-
cais do referido município. Em um levantamento realizado pela
prefeitura local em 2012, existiam diversos locais com o mesmo
problema (erosão), tendo sido feito um orçamento para recupera-
ção de erosões através de medidas estruturais e aterramento, ade-
mais dado o custo a ação não logrou êxito no que diz respeito a
sua implementação.
Desta forma, pretendemos com esse projeto de inter-
venção dar um passo importante no tocante a diminuição do
impacto ambiental nessa área evitando a evolução da dita ero-
são, bem como fomentar outras ações da mesma natureza nas

205
demais erosões presentes no município e em outros que se en-
contrem na mesma situação.

JUSTIFICATIVA
A erosão, fenômeno geológico natural, é um dos proble-
mas ambientais de maior complexidade. Apesar de se constitui
de um fenômeno natural, a intervenção do homem por meio da
urbanização e da agricultura tem influenciado na geologia e geo-
morfologia alterando assim a paisagem, fragilizando a segurança
física dos moradores e de seus bens imobiliários e prejudicando
as atividades econômicas que dependem quali-quantitativamen-
te do recurso hídrico.
Nessa área específica a erosão ameaça atingir um estabe-
lecimento de grande relevância social e cultural. Tendo em vista
a dimensão desse problema, medidas para a mitigação devem
ser tomadas com a máxima urgência, motivo o qual se estrutura
a proposta desse Projeto de Intervenção

OBJETIVOS

Geral
Fazer intervenções estruturais na erosão situada próxima
ao Colégio das Irmãs no município de Alexânia, GO, para di-
minuir o impacto da enxurrada e evitar a evolução do processo
erosivo.

Específicos
• Realizar levantamento topográfico para dimensiona-
mento de valas e bacias;
• Definir local para instalação de valas e bacias;
• Estabilizar taludes;

206
• Fazer plantio de mudas e plantas no local com o devi-
do acompanhamento e monitoramento.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


É esperado que o fluxo da enxurrada na região seja disci-
plinado e amortecido de maneira que não contribua para a evolu-
ção do quadro da erosão. Além disso, com a revegetação da área,
espera-se que haja um aumento na infiltração das águas pluviais
de forma a diminuir a quantidade de água escoada e o aumento
da rugosidade do terreno, abatendo a velocidade do escoamento
superficial. Com o cercamento e sinalização da área é esperada o
decréscimo do risco de acidentes na região. Com a contenção do
processo erosivo, o assoreamento e poluição dos corpos hídricos
à jusante será evitado.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
1. Levantamento topográfico para dimensionamento de
valas e bacias: Consiste em fazer um levantamento
planialtimétrico do local, gerando mapas e arquivos
digitais, que servirão de base para o dimensionamen-
to e eventuais consultas durante a execução. Esse tipo
de material também poderá ser utilizado como com-
parativo durante o monitoramento da região.
2. Definição do local para instalação de valas e bacias:
Com base nos dados primários coletados durante o le-
vantamento topográfico, será feito o dimensionamento
das obras de intervenção. O correto dimensionamen-
to é importante para garantir que a obra seja efetiva
e evite a evolução do processo erosivo. Do mesmo
modo, a definição de locais estratégicos para a cons-
trução de bacias de contenção se torna importante.

207
3. Estabilização de taludes: Consiste em estabilizar os
taludes da voçoroca, no intuito de evitar desmoro-
namentos durante a execução do serviço. Essa etapa
será feita por máquinas e também seguirá um projeto
feito com base nos dados primários do levantamento
planialtimétrico.
4. Plantio de mudas e plantas no local com o devi-
do acompanhamento e monitoramento: Consiste no
plantio de mudas e plantas para garantir a cobertura
do solo, evitando assim perdas de solo e evolução do
processo erosivo, além de estabilizar as camadas infe-
riores do solo através do enraizamento da vegetação e
diminuir a velocidade do escoamento superficial pelo
aumento da rugosidade da superfície.

ATORES ENVOLVIDOS
A execução do serviço (citado no item anterior) será feita
pela empresa vencedora do certame. Ela definirá os responsáveis
por cada etapa da execução (motoristas, operadores, auxiliares e
técnicos responsáveis).
O acompanhamento da execução será feita prefeitura mu-
nicipal, através de um servidor escolhido no quadro técnico da
Secretaria Municipal de Obras, Secretaria Municipal de Meio
Ambiente ou Secretaria Municipal de Serviços Urbanos.

RECURSOS NECESSÁRIOS
Além dos recursos financeiros primordiais para a execu-
ção e manutenção da obra, serão necessários:
• Recursos Humanos internos da prefeitura para o
acompanhamento do serviço, na forma de um servi-

208
dos escolhido no quadro existente. Como mão de obra
fornecida por empresa vencedora do certame será ne-
cessária a contratação de operadores para maquinário,
um topógrafo e desenhista técnico para a elaboração
dos projetos.
• Maquinário e aquisição de mudas (de responsabilida-
de da empresa vencedora). Das máquinas necessárias
elencamos: escavadeira, moto niveladora, caminhão e
o material necessário para as medições topográficas.
Também será necessária a aquisição de até 50 mudas.

ORÇAMENTO
O Orçamento foi feito de acordo com a tabela de com-
posições Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e índices da
Construção Civil - SINAPI desonerada, onde é considerada toda
a mão de obra, materiais e maquinário para a realização do ser-
viço citado, o mês de referência utilizado foi março de 2018.
Levantamento topográfico, Dimensionamento de valas e
bacias e Definição do local das bacias:

Instalação de valas e bacias e Estabilização de taludes:

209
Plantio de mudas e plantas no local:

O valor total será de R$ 36.080,50.

VIABILIDADE
Mesmos com os riscos e prejuízos inerentes aos processos
erosivos, expressos no ítem anterior, atestamos a viabilidade dos
procedimentos ora apresentados nessa Proposta de intervenção
cujas ações atuarão de maneira a retardar a progressão da ero-
são na região já identificada vez que sem medidas preventivas
urgentes e eficazes em pouco tempo os prejuízos causados pela
dita erosão, em caráter mais avançado, causarão custos elevados.
Dessa feita, o projeto interventivo de cunho preventivo e
os custos para sua implementação são viáveis em exequibilidade
e razoabilidade financeira.

RISCOS E DIFICULDADES
Na execução da atividade, os principais riscos são de des-
moronamento e queda no interior da erosão. Esses riscos deverão
ser minimizados através do isolamento da área e da estabilização
dos taludes. Todas as atividades no entorno da região de risco
deverão ter o acesso controlado, ser supervisionadas e seguir os
padrões das Normas Regulamentadoras (NR) relacionadas com
a tipologia dessa atividade.
Em época chuvosa pode aumentar bastante os riscos ci-
tados, pois poderá deixar o solo mais escorregadio e menos es-

210
tável, portanto é recomendado fazer essas atividades em outras
estações do ano, exceto na quadra invernosa.

CRONOGRAMA

GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO


A gestão das ações ficará à cargo de empresa vencedora
no certame licitatório e a execução do serviço será acompanha-
da e avaliada pelas secretarias municipais de Meio Ambiente
(SMMA), de Obras Públicas (SMOP) e de Serviços Urbanos
(SMSU) , de modo a evitar que medidas ineficientes ou erradas
sejam tomadas.

TERMO DE REFERÊNCIA

OBJETO
Contratação de empresa especializada para o levantamen-
to topográfico, dimensionamento e execução de intervenção
para a mitigação de um processo erosivo.
O presente termo de referência tem como objeto a con-
tratação de serviços para mitigação de um processo erosivo em
região lindeira à zona urbana de Alexânia – GO de acordo com

211
o projeto básico, instruções e exigências estabelecidos pelos ór-
gãos ou entidades fiscalizadoras.

JUSTIFICATIVA
O problema de erosão é recorrente no município de Ale-
xânia – GO, logo, além dos riscos e prejuízos inerentes à ero-
sões, há uma grande preocupação entre os munícipes sobre o
assunto. Tendo em vista a dimensão do problema causado pela
erosão, medidas para a mitigação devem ser tomadas o que mo-
tivou a necessidade de elaboração e execução de um projeto de
intervenção piloto.
Nessa área específica a erosão ameaça atingir um estabe-
lecimento de grande relevância social e cultural. Tendo em vista
a dimensão desse problema, medidas para a mitigação devem
ser tomadas com a máxima urgência.
Ademais, atualmente a prefeitura não possui equipamen-
tos, mão de obra e quadro técnico necessário para a execução de
uma intervenção em processos erosivos, fazendo-se necessária a
contratação de empresa apta a prestar tal serviço ao município,
nos termos da Lei Federal nº. 8.666/93 e o projeto básico ora
apresentado.

DESCRIÇÃO DO OBJETO

Levantamento Topográfico
Consiste em fazer um levantamento planialtimétrico do
local, gerando mapas e arquivos digitais, que servirão de base
para o dimensionamento e eventuais consultas durante a exe-
cução. Esse tipo de material também poderá ser utilizado como
comparativo durante o monitoramento da região.

212
Dimensionamento e Definição dos
Locais de Implantação
Com base nos dados primários coletados durante o levan-
tamento topográfico, será feito o dimensionamento das obras
de intervenção. O correto dimensionamento é importante para
garantir que a obra seja efetiva e evite a evolução do processo
erosivo. Do mesmo modo, a definição de locais estratégicos para
a construção de bacias de contenção se torna importante.

Estabilização dos Taludes


Consiste em estabilizar os taludes da voçoroca, no intuito
de evitar desmoronamentos durante a execução do serviço. Essa
etapa será feita por máquinas e também seguirá um projeto feito
com base nos dados primários do levantamento planialtimétrico.

Plantio de Mudas
Consiste no plantio de mudas e plantas para garantir a co-
bertura do solo, evitando assim perdas de solo e evolução do
processo erosivo, além de estabilizar as camadas inferiores do
solo através do enraizamento da vegetação e diminuir a veloci-
dade do escoamento superficial pelo aumento da rugosidade da
superfície.

ESTIMATIVA DE CUSTOS
Levantamento topográfico, Dimensionamento de valas e
bacias e Definição do local das bacias:

213
Instalação de valas e bacias e Estabilização de taludes:

Plantio de mudas e plantas no local:

O valor total será de R$ 36.080,50.

CRITÉRIOS DE JULGAMENTO
O julgamento da proposta, deve levar em consideração a
proposta menor preço e técnica

PRAZO, LOCAL E CONDIÇÕES DE ENTREGA


O prazo total sugerido para o desenvolvimento das ativi-
dades previstas para execução dos serviços é de 120 dias con-
tados a partir da emissão da ordem de serviço. Os serviços de
campo serão executados no local do empreendimento

OBRIGAÇÃO DAS PARTES


São obrigações da Contratada:
• Deverá prover todo material necessário para a
execução do serviço.

214
• Deverá possuir mão de obra e quadro técnico neces-
sário para a execução do serviço.
• Deverá atender o previsto no cronograma e orçamento.
• Assumir a responsabilidade e garantir a eficiência do
serviço, podendo ser obrigada a refaze-lo caso o mes-
mo se apresente ineficiente.
• Responder pelas obrigações de natureza trabalhista,
tributária, previdenciária ou resultante de acidente de
trabalho, bem como pelas relacionadas a alimentação,
saúde, transporte, uniformes ou outros benefícios de
qualquer natureza decorrentes da relação em emprego
no âmbito da contratação
• O dimensionamento e a localizações das bacias de
contenção, assim como os projetos de estabilização e
plantio deverão ser submetidos à análise da Secretaria
Municipal de Meio Ambiente na forma de um Plano
de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), fican-
do a critério da secretaria a aprovação do mesmo.
São obrigações do ente público:
• Colocar à disposição do contratado os elementos e
informações necessários a execução deste termo de
referência;
• Aprovar as etapas de execução dos serviços pertinen-
tes, desde o planejamento até sua efetiva concretização;
• Acompanhar e fiscalizar o andamento dos serviços,
promovendo o acompanhamento e a fiscalização sob
os aspectos quantitativo e qualitativo;
• Impedir que terceiros executem os serviços objeto
deste termo de referência;

215
• Rejeitar qualquer serviço executado equivocadamen-
te ou em desacordo com as especificações constantes
deste termo de referência;

ACOMPANHAMENTO E FISCALIZAÇÃO
O acompanhamento e fiscalização além de ser uma das
responsabilidades da contratada através de uma equipe técnica
que assegure a necessária qualidade dos serviços prestados, de-
verá ser acompanhada e por representantes das secretarias de
obras, meio ambiente e serviços urbanos da prefeitura municipal
de Alexânia – GO.

PAGAMENTO
O pagamento será efetuado pelo ente público no fim da
execução de cada etapa, sendo essas calculadas a partir do valor
do contrato mediante apresentação de nota fiscal e do atesto dos
serviços efetivamente prestados.

SUBCONTRATAÇÃO
Para a execução dos serviços objeto deste termo de refe-
rência não é permitida subcontratação dos mesmos, por qualquer
forma, nem mesmo parcialmente.

SANÇÕES
No caso de inadimplemento de suas obrigações, a con-
tratada estará sujeita, sem prejuízo das sanções legais nas esferas
civil e criminal, as penalidades descritas no contrato de presta-
ção de serviços. Nenhuma sanção será aplicada sem garantia da
ampla defesa e contraditório, na forma da lei.

216
CONSIDERAÇÃO FINAIS
Esse trabalho objetivou apresentar uma alternativa para
abordagem do problema erosivo no município de Alexânia –
GO, problema esse que vem sido negligenciado pelas autorida-
des públicas. A adoção intencional de uma metodologia e ações
simplificadas trazem uma intervenção relativamente simples e
de fácil execução, indicando estratégias de mitigação e impedi-
mento da evolução dos processos erosivos na área supracitada
no corpo do Projeto.
Além de subsidiar ações de caráter preventivo e contri-
buir para a sustentabilidade ambiental o projeto ora apresentado,
com os devidos custos estimados via Termo de Referência, pode
ainda inspirar e servir de diretriz para futuras intervenções em
outras erosões no dito município e em outros, diminuindo os
impactos negativos das erosões, e finalmente servindo de ferra-
menta para a conscientização sobre essa problemática que passa
desapercebida.
Recomenda-se ao poder público a continuidade de ações
interventivas nas erosões que assolam Alexânia – GO, assim
como adoção de medidas preventivas e métodos de drenagem
que evitem outros processos erosivos, o município já perdeu
bastante devido a esses problemas e ainda tem muito a perder
caso essa problemática continue a ser ignorada.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Nº 11.445 de 05 de Janeiro de 2007. Estabelece diretrizes
nacionais para o saneamento básico. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm. Acesso em: 19 jun.
2018.

CARVALHO, J. Camapum; DINIZ, N. Costa. Cartilha Erosão. Brasília:


Geotecnia-UnB, 2007.

217
CHAVES, T. A. et al. Recuperação de áreas degradadas por erosão no
meio rural. Niterói, RJ: RioRural, 2012.

COSTA, M. E. Leite. Monitoramento e modelagem de águas de drenagem


urbana na baica do lago Paranoá. 2006. 203 f. Dissertação (Mestrado em
Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos) – Faculdade de Técnologia,
Universidade de Brasília, Distrito Federal.

DIAS-FILHO, M. Bernardino. Degradação de pastagens: o que é e como


evitar. 21. ed. Brasília: Embrapa, 2017.

MERTEN, G. Henrique; POLETO, Cristiano. Rede de Monitoramento e


coleta de Amostras. - In: Poleto, C. e Merten, G.H (organizadores). Qual-
idade dos sedimentos. ABRH. 397 p, 2006.
PIMENTEL, David. et al. (1995). Environmental and Economic Costs of
Soil Erosion and Conservation Benefits. Science v. 267, p. 1117 – 1123,
fev. 1995.
TUCCI, C. E. M. Gestão de águas pluviais urbanas. Brasília: Secretaria
Nacional de Saneamento Ambiental - Ministério das Cidades, 2005.

218
PROPOSTA DE UM PLANO DE
RECUPERAÇÃO PARA A ÁREA
DEGRADADA DO LIXÃO DA
CIDADE DE POÇO DANTAS-PB

Claudineide Baltazar da Silva1


Antonio Jaldesmar da Costa2
Jamilton Costa Pereira3
Maria do Socorro Duarte Pinto4
Francisco Régis Abreu Gomes5

Resumo: Objetivou-se com este estudo, propor a elaboração de um


plano de recuperação para a área degradado do lixão na Cidade de
Poço Dantas-PB. O mesmo expõe a realidade da disposição do lixo
a céu aberto na cidade de Poço Dantas-PB, seguido de uma proposta
com ações de intervenção para encerramento e reabilitação de área
degradada, em virtude de sua desativação para o funcionamento em
aterro sanitário municipal. Todavia a sua efetivação acontecerá por
um conjunto de profissionais de diferentes áreas técnicas, segun-
1 Mestra em Sistemas Agroindustriais (Gestão e Tecnologia Ambiental) –
CCTA/UFCG. Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para
a Gestão Municipal de Recursos Hídricos – IFCE, Campus de Fortaleza/CE.
E-mail: cbs.claudineide@yahoo.com.br.
2 Mestrando em Planejamento e Dinâmicas Territoriais no Semiárido
(PLANTIDES) – UERN, Campus de Pau dos Ferros/RN. Especialista em
Elaboração e Gerenciamento de Projetos Municipais para Gestão de Re-
cursos Hídricos – IFCE, Campus de Fortaleza/CE.
E-mail: jaldesmar_cdi@hotmail.com.
3 Mestre em Sistemas Agroindustriais (Ciência e Tecnologia Ambiental) –
CCTA/UFCG, Campus de Pombal/PB. Especialista em Elaboração e Ge-
renciamento de Projetos para a Gestão Municipal de Recursos Hídricos
– IFCE, Campus de Fortaleza/CE.
E-mail: jcp_jamiltoncosta@hotmail.com.
4 Mestre em Sistemas Agroindustriais (Ciência e Tecnologia Ambiental) –
CCTA/UFCG, Campus de Pombal/PB.
E-mail: socorropd@hotmail.com.
5 Prof. Orientador – IFCE Campus de Fortaleza/CE. Doutor em Engenharia
de Produção – UFMG. E-mail: regisgomes@ifce.edu.br.
do as medidas a serem implantadas. Consiste quanto aos procedi-
mentos metodológicos como uma pesquisa ação e estudo de campo
com uma abordagem qualitativa. Para a realização do mesmo foi
feito uma revisão bibliográfica por meio de informações obtidas
na literatura e legislações. Além da realização de visitas in loco,
entrevistas informais aos gestores do município, e moradores no
entorno da área em estudo. A pesquisa permitiu concluir que a men-
cionada área utilizada para disposição dos resíduos sólidos urbanos
vem passando por um acentuado processo de degradação ambiental.
Percebe-se que o município de Poço Dantas-PB apresenta dificul-
dades quanto a gestão dos resíduos sólidos urbanos, para tanto se
faz necessário medidas mitigadoras para que os impactos negativos
ao solo, recursos hídricos, ar atmosférico, flora, fauna e antrópi-
co entre outros sejam minimizados. Além do desenvolvimento de
ações e programas que instiguem a compostagem, reciclagem e a
coleta seletiva com o objetivo de proporcionar mais vida útil do
aterro sanitário ora projetado. A adoção de medidas de remediação
mitigadoras é de grande contribuição em um plano de recuperação
de área degradada.
Palavras-chave: Meio Ambiente. Resíduos Sólidos. Lixo.

INTRODUÇÃO
Durante muito tempo a palavra lixo foi utilizada como
sinônimo de resíduos sólidos. Entretanto há uma concepção di-
ferente, pois, os resíduos são reconhecidos como materiais que
podem ser reutilizados ou reciclados e, assim sendo, são deno-
minados também como um bem que é dotado de valor econô-
mico e que pode gerar renda. O lixo, por sua vez, representa os
materiais que são julgados como inúteis e sem possibilidades de
aproveitamento chamado então de rejeito.
A geração de resíduos é resultado das diversas atividades
antrópicas e naturais e a destinação corretada dos mesmos apre-
senta-se como um dos grandes desafios da contemporaneidade.

220
A atual conjuntura do país, no que se refere à problemática dos
Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), quanto a sua disposição é um
grande desafio. Isso não só nos grandes centros urbanos, mas
nos municípios de pequeno porte, como é o caso de Poço Dantas
- PB, onde o problema também existe.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) traz
como destaque a proibição da disposição desses resíduos direta-
mente no solo a exemplo da criação de lixões com o objetivo de
reduzir os impactos ao meio ambiente.
A cidade de Poço Dantas - PB encontra-se vulnerável a
prováveis impactos (negativos), tendo em vista que os seus resí-
duos sólidos são dispostos a céu aberto. Ante essa problemática,
o presente trabalho apresenta um diagnóstico detalhado sobre a
Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos (GRSU) no município e a
da área degradada do lixão da referida cidade, além de propor um
plano de intervenção com vistas à construção de um plano com
direções básicas, para encerramento, reabilitação e recuperação
da área, apontando possíveis soluções para melhorar esse quadro.
A proposta de elaboração do Plano de Recuperação de
Áreas Degradadas (PRAD) consiste em recuperar a área degra-
dada pela disposição dos RSU na zona urbana do município de
Poço Dantas/PB, após a o encerramento do lixão. Uma vez que
no munícipio se encontra com um projeto técnico executivo para
construção de um aterro sanitário, através de um convenio de nº
0259/2012 com a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA).
Para tanto, foram realizadas visitas de campos, consultas aos
órgãos municipais. Dessa forma, espera-se que com o desenvolvi-
mento desta proposta, venha fornecer subsídios para a construção
de projetos, planos e auxiliar nos processos de decisões relativos
às políticas para esse campo no município de Poço Dantas - PB.

221
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

JUSTIFICATIVA
Uma das grandes problemáticas mais inquietantes da atua-
lidade está relacionada à disposição final dos RSU em lixões, e
que vem ocorrendo na grande maioria das cidades brasileiras.
Podendo ser entendido como um problema de saúde pública ten-
do em vista, as consequências das doenças adquiridas por meio
de vetores e do derramamento do chorume e ainda por acarretar
a contaminação dos corpos d’água entre outros.
Apesar do município de Poço Dantas - PB proporcio-
nar o serviço de coleta domiciliar, o manejo dos RSU ainda
se depara com alguns desafios. Partido disso, o interesse pela
temática surgiu da inquietação a partir da minha experiência
enquanto gestora municipal no campo dos RSU, no referido
município, de modo específico nos anos de 2009 a 2012. Como
também, a partir dos resultados preliminares de um projeto de
pesquisa realizado enquanto estudante do curso de Pós-gradua-
ção em gestão ambiental da Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG), que buscou responder quais os impactos so-
cioambientais resultantes da disposição inadequada dos resí-
duos sólidos urbanos.
Considera-se de grande relevância colocar em discussão
essa temática, justifica-se ainda pela necessidade de se debater
o cenário socioambiental do munícipio. Uma vez que os RSU,
se gerenciados adequadamente, podem se tornar um meio de
sustentabilidade agregando valor econômica social e ambien-
tal, contribuindo assim de fato para a melhoria da qualidade de
vida das famílias, colaborando para a conservação e proteção do
dos corpos hídricos e possibilitando mudar um quadro crítico de
agressão ao meio ambiente.

222
O mesmo expõe a realidade da disposição do lixo a céu
aberto na cidade de Poço Dantas-PB, seguido de uma proposta
com ações de intervenção para encerramento e reabilitação de
área degradada, em virtude de sua desativação para o funciona-
mento em aterro sanitário municipal. Todavia a sua efetivação
acontecerá por um conjunto de profissionais de diferentes áreas
técnicas, segundo as medidas a serem implantadas.

OBJETIVO GERAL
• Propor a elaboração de um plano de recuperação
para a área degradado do lixão na Cidade de Poço
Dantas – PB.

METODOLOGIA

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
O presente trabalho consiste quanto aos procedimentos
metodológicos como uma pesquisa ação e estudo de campo com
uma abordagem qualitativa. Para a realização do mesmo foi fei-
to uma revisão bibliográfica por meio de informações obtidas na
literatura, foi utilizado também os dados do diagnóstico contidos
no Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
(PMGIRS) e subsídios do Projeto Técnico Executivo do aterro
sanitário do município de Poço Dantas-PB.
Além da realização de visitas in loco, entrevistas infor-
mais aos gestores do município, e moradores no entorno da área
em estudo o que possibilitou constatação dos problemas am-
bientais na área do lixão da cidade de Poço Dantas- PB.

223
PÚBLICO ALVO
Serão beneficiados do Projeto: a gestão municipal e as fa-
mílias do município de Poço Dantas- PB. Dessa forma o referido
Projeto deverá ser desenvolvido na sede do município de Poço
Dantas-PB, que conta com uma população de 977 habitantes
(IBGE, 2010). E ainda em uma área utilizada pelo o município
para a disposição dos seus resíduos. A mesma fica localizada na
zona urbana mais precisamente na Avenida Antônio Roberto da
Silva, nas imediações do estádio de futebol e de titularidade da
Prefeitura Municipal.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


O Município de Poço Dantas-PB está localizado na mi-
crorregião de Cajazeiras que compõe a mesorregião do Sertão
paraibano ocupando o extremo oeste do semiárido paraibano
com extensão de aproximadamente 97,251 km², a densidade de-
mográfica de 38,57 hab./Km².
Limita-se ao Sudoeste com o município do Bernardino
Batista, ao Sul com a cidade de Joca Claudino (antiga Santa-
rém), a Oeste com Icó no Ceará, a Norte e a Leste respectiva-
mente com Venha-Ver e Luis Gomes ambos no Estado do Rio
Grande do Norte. Ocupa uma área de 66,7 Km². Distante 483,10
km da Capital João Pessoa, via BR 230.
O município está inserido também na Sub-Bacia Hidrográ-
fica do Rio do Peixe que compõe a Bacia do Rio Piranhas no Alto
Sertão Paraibano, que tem sua nascente neste município, no lugar
denominado de “Bom Jesus” no Distrito de Tanques. Incluído na
área geográfica de abrangência do semiárido brasileiro.

224
Esta delimitação tem como critérios o índice pluviométrico, ari-
dez e o risco de seca, conforme pode-se observar a Figura 1.
Figura 1 - Localização do Município de Poço Dantas-PB

Fonte: AESA – Paraíba. Adaptado por PEREIRA et al, 2015.

O município de Poço Dantas-PB apresenta um Índice de


Desenvolvimento Humano Brasileiro (IDH) de 0,525, abaixo da
média da região. A população total do município é de 3.751 ha-
bitantes de acordo com o último censo (IBGE, 2010).

ASPECTOS GEOGRÁFICO
O município de Poço Dantas, teve sua origem no ramo da
agropecuária, nos anos de 1915. Era conhecida como uma região
de grande suporte forrageiro para rebanhos do Rio Grande do
Norte e Ceará e atraía inúmeros fazendeiros de outras regiões.
Foi rota da Coluna Prestes nos anos de 1926, passando pelo Sí-
tio Miuns vindos da região de São Miguel-RN com destino ao
município de Uiraúna.
A cidade de Poço Dantas possui aproximadamente 2.459
imóveis cadastrados, destes 656 possuem esgotamento sanitário e
abastecidos pela rede geral de água e 937 dispõem de serviço de

225
coleta de lixo, conforme informativo do Programa de Controle das
Doenças de Chagas – Secretaria de Saúde do Município (2015).

TOPOGRAFIA
O município de Poço Dantas-PB, está inserido na unida-
de geoambiental do sertão, que representa a paisagem típica do
semiárido nordestino, caracterizada por uma superfície de pedi-
planação bastante monótona, relevo predominantemente suave-
-ondulado, cortada por vales estreitos, com vertentes dissecadas,
elevações residuais, cristas e outeiros pontuam a linha do hori-
zonte. Esses relevos isolados testemunham os ciclos intensos de
erosão que atingiram parte do sertão nordestino.

CLIMA
O clima é do tipo Tropical Semi-Árido, com chuvas de
verão. O período chuvoso se inicia em novembro com término
em abril. A precipitação média anual é de 431,8mm. A tem-
peratura média anual oscila em torno de 27º C. Apresenta uma
vegetação do tipo caatinga arbórea (mata serrana).

FLORA
A vegetação predominante é a caatinga Hiperxerófila,
com trechos da Floresta Caducifólia. Os três estratos da vege-
tação, arbóreo, arbustivo e o herbáceo são constituídos por es-
pécies com longa história de adaptação ao calor e à seca. Várias
adaptações morfológicas, anatômicas ou fisiológicas se combi-
naram para permitir esta resistência.
A mais aparente é no aspecto morfológico onde na maio-
ria dos casos passaram por um processo de redução das folhas e
dos estômatos ou até mesmo transformação de folhas em espi-
nhos objetivando limitar as perdas por transpiração.

226
A cobertura vegetal tem predominância de plantas herbá-
ceas anuais e destacam-se: Alfazema braba, Amaranto de espi-
nho, Amendoim brabo, Anil, Beldroega, dentre outros.

FAUNA
Encontram-se ainda no município um expressivo número
de espécies da avifauna do Bioma Caatinga e, dentre eles en-
contram-se catalogados: Anu Branco, Anu preto, Asa Branca,
Bacurau, Beija Flor, sabiá e outros. Contudo, ela vem passando
por grandes transformações e perdas em virtude da ausência de
hábitat e da sua caça desenfreada.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


A área utilizada para disposição final dos RSU é de pro-
priedade do município de Poço Dantas-PB e fica localizado nas
proximidades da rodovia federal 434 ocupando uma área de
aproximadamente 0,3738 hectares. Apresenta as seguintes coor-
denadas geográficas: 6º 24`30.63´´ S, 38º 29º`46.42``O.
Na análise realizada foi possível verificar diversos im-
pactos (negativos) ambientais e bem como impactos sociais,
incidido no solo, no ar, na água, na fauna e flora, direta ou indi-
retamente relacionadas ao lixão, conforme pode-se observar a
Figura 2, o cenário atual qie se encontra o lixão.
Figura 2 - Cenário do lixão Poço Dantas- PB

Fonte: Dados do autor, 2015.

227
No que se refere à degradação é evidente que no lixão,
além dos gases gerados pela ausência de tratamento, também
acontece à queima desses materiais. Quanto aos recursos hídri-
cos, compreende-se que é inevitável a contaminação do lençol
freático nas áreas de influencias do lixão, bem como das águas
superficiais, uma vez que o chorume produzido no lixão não é
impermeabilizado. Já a fauna e a flora também são impactadas,
onde acontece a dispersão da fauna outros lugares e a destruição
da flora em todo espaço de utilização do lixão, seja pelo desma-
tamento como também pela contaminação dos poluentes.
Em síntese, os resultados mostraram apenas impactos
negativos, o que implica a realização das medidas mitigadoras
para a recomposição da área estudada. Contudo vale destacar
que embora o PRAD seja voltado apenas para os aspectos do
solo e vegetação, ele acaba afetando positivamente a água, o ar,
a fauna, e os seres humanos, pois possibilitam qualidade de vida
para a população.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO

ALTERNATIVAS PARA ENCERRAMENTO E


RECUPERAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA
Uma das metodologias utilizada para recuperação de
áreas é PRAD, que deverá reunir informações, diagnósticos, e
estudos que permitam a avaliação da degradação ou alteração
e a consequente definição de medidas adequadas à recuperação
da área, em conformidade com as especificações da Legislação
Federal (IBAMA, 2011).
Da mesma forma a PNMA em seu artigo 2°, afirma que a
finalidade do PRAD é, “[…] o retorno do sítio degradado a uma
forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido

228
para o uso do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do
meio ambiente” (BRASIL, 1981).
O PRAD é um extraordinário instrumento da gestão para
recuperação de áreas impactadas direcionado de modo especial
para os aspectos de solo e vegetação, mas também para a água,
o ar, a fauna, e os seres antrópicos, colaborando para a melho-
ria da qualidade de vida da população. Para efeitos da Instrução
Normativa do IBAMA considera-se:

I – área degradada: área impossibilitada de retornar por


uma trajetória natural, a um ecossistema que se asseme-
lhe a um estado conhecido antes, ou para outro estado
que poderia ser esperado; II – área alterada ou pertur-
bada: área que após o impacto ainda mantém meios de
regeneração biótica, ou seja, possui capacidade de re-
generação natural; III – recuperação: restituição de um
ecossistema ou de uma população silvestre degradada a
uma condição não degradada, que pode ser diferente de
sua condição original, conforme art. 2º, inciso XIII, da
Lei nº. 9.985, de 18 de julho de 2000; (IBAMA, 2011)

O fechamento de lixões é realizado muitas vezes através


do simples abandono a área. Mas é necessário um conjunto de
procedimentos quais sejam: remoção do local de origem onde
para outra área previamente preparada como um aterro sanitário
e realização de avaliação das condições da água subterrânea e do
solo. Sendo assim, são estratégias de recuperação: Identificação
dos fatores de deterioração; julgar o histórico de degradação;
identificar se existe potencial para regeneração natural; estimar
os recursos disponíveis e escolher a técnica mais apropriada.
Destacam-se algumas técnicas de remediação viáveis para
aérea mencionada, caso não seja constatada a contaminação, a

229
área deverá ser recuperada com solo natural e revegetação com
espécies nativas. Caso contrário, devem-se definir ações de ime-
diato visando o controle da contaminação e reabilitação da área.
Para o encerramento e recuperação do antigo lixão deverá
contemplar, no mínimo: Levantamento topográfico, investiga-
ção geológica, geotécnica e hidrogeológica; representação em
planta planialtimétrica, do uso do solo, das águas subterrâneas
e das águas superficiais, isolamento da área, retirada dos fatores
de degradação, eliminação seletiva ou desbaste de competido-
res, listagem de espécies a serem plantadas e plantio de mudas
de espécies nativas. Na Figura 3 é possível observar a planta
planialtimétrica da área de construção do aterro sanitário no mu-
nicípio de Poço Dantas-PB. Onde serão depositados os resíduos
da área urbana e dos Distritos do município.
Figura 3 - Planta planialtimétrica da área de construção do aterro

Fonte: Arquivos da Gestão Pública municipal de Poço Dantas, 2015.

Quanto às alternativas para recuperação da área degrada-


da por disposição dos resíduos, a Resolução CONAMA nº 420
em seu art. 23 da destaca as etapas que devem ser observadas no
gerenciamento de áreas contaminadas, quais sejam:

230
I - Identificação: etapa em que serão identificadas
áreas suspeitas de contaminação com base em avalia-
ção preliminar, e, para aquelas em que houver indícios
de contaminação, deve ser realizada uma investigação
confirmatória, as expensas do responsável, segundo
as normas técnicas ou procedimentos vigentes. II -
Diagnóstico: etapa que inclui a investigação detalhada
e avaliação de risco, as expensas do responsável, se-
gundo as normas técnicas ou procedimentos vigentes,
com objetivo de subsidiar a etapa de intervenção, após
a investigação confirmatória que tenha identificado
substâncias químicas em concentrações acima do valor
de investigação. III - Intervenção: etapa de execução
de ações de controle para a eliminação do perigo ou
redução, a níveis toleráveis, dos riscos identificados na
etapa de diagnóstico, bem como o monitoramento da
eficácia das ações executadas, considerando o uso atual
e futuro da área, segundo as normas técnicas ou proce-
dimentos vigentes (CONAMA, 2009).

Portanto, para recuperação da área do lixão aconselham-


-se: demarcação da área e encerramento da disposição dos re-
síduos no lixão; retirada do solo comprometido; avaliação dos
níveis de contaminação no ambiente. E como alternativas de
recuperação viável para a área de estudo, sugere-se: reflores-
tamento: que têm a função de contribuir para a manutenção e
conservação dos solos, resguardando os recursos hídricos, biodi-
versidade, entre outros; descontaminação do solo: com o uso de
técnicas de biorremediação; requalificação da área: por meio de
instalação de equipamentos comunitários ou área de recreação.
Enfim, o PRAD, quando elaborado deve ser protocolado
no IBAMA além de diversos documentos, destacando a anotação
de responsabilidade técnica – ART. Quanto ao processo de avalia-

231
ção e o monitoramento deve ser de três anos após sua implanta-
ção, podendo ser prorrogado por igual período (IBAMA, 2011).

ATORES ENVOLVIDOS
• Gestor público municipal;
• Secretários municipais;
• Representantes de instituições governamentais e não
governamentais;
• Agentes de limpeza urbana;
• Comunidade urbana e rural;

RECURSOS NECESSÁRIOS
• Recursos humanos: Gestor Ambiental; Engenheiro
Agrônomo e Técnico ambiental.
• Recursos materiais: Mudas; Esterco; Arame liso;
Estaca; Pá de bico; Mobilização da comunidade.

ORÇAMENTO

Quadro 1 - para execução do projeto de intervenção

RECURSOS UMANOS - I

Custo Unitário
Especificações Quant. Total (R$)
(R$)

Gestor Ambiental 1 5.000,00 5.000,00

Engenheiro Agrônomo 1 2.000,00 2.000,00

Técnico Ambiental 3 50,00 600,00

Subtotal A 7.600,00

232
RECURSOS MATERIAIS - II

Custo Unitário
Especificações Unid. Quant Total (R$)
(R$)

Mudas Unid. 800 4,00 3.200,00

Esterco Kg 200 0,50 100,00

Arame liso m 1560 0,28 468,00

Estaca Unid. 100 10,00 1.000,00

Pá de bico Unid. 6 20,00 120,00

Mobilização da Material
1000 1.000,00 1.000,00
comunidade grafico

Subtotal B 5.888,00

Total I +II 13.488,00

Fonte: Dados do autor, 2015

VIABILIDADE TÉCNICA,
ECONÔMICA E FINANCEIRA
A reparação do dano ambiental, na maioria dos casos,
é muito mais complica da tecnicamente e envolve muito mais
recursos financeiros do que a prevenção, isto é, do que os in-
vestimentos técnico-financeiros na gestão adequada de resíduos.
Uma vez que a recuperação de ecossistemas degradados é uma
atividade remota, contudo ainda se caracterizava como uma ati-
vidade sem entendimentos teóricos e pouco utilizados.

RISCOS E DIFICULDADES
As tecnologias de recuperação em áreas de lixões são de-
senvolvidas devido à necessidade de fechamento do lixão ou de
prolongamento da vida útil de aterros. Para tanto, Azevedo et al.
(2015) destacam ainda:

233
A primeira atividade para recuperar uma área é o isola-
mento, seguido da identificação da degradação existente
no local. Após este diagnóstico, são sugeridas medidas
de mitigação para diminuir o efeito dos impactos am-
bientais negativos, e com base na escolha do uso futuro
para área degradada, definem-se técnicas (físicas, quí-
micas e biológicas) para recuperação, buscando atender
a finalidade, e estabelecer aspectos econômicos, sociais
e ecológicos.

Inicialmente um projeto de recuperação exige-se o levan-


tamento das características naturais e sociais do ambiente. Dessa
forma os lixões exibem particularidades que dependem especial-
mente do tamanho de cada município e das caraterísticas dos
resíduos sólidos dispostos. Logo, a reabilitação ou recuperação
dessas áreas são processos com vários níveis de complexidade.
Caracterizando dessa forma como um dos grandes riscos e desa-
fios para os gestores públicos na atualidade.

CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

Quadro 2 - Cronograma de execução

2016 2017
Período
Atividades
Jun Jul ago set out nov dez Jan Fev

Elaboração da
X X X X X
proposta do projeto

Apresentação do
X
projeto

Apresentação do
X
projeto aos gestores

234
2016 2017
Período
Atividades
Jun Jul ago set out nov dez Jan Fev

Nomeação de
X
equipe técnica

Audiência pública
para discussão do X
projeto

Mobilização da
X X
comunidade

Formalização de
X X
parcerias

Início da elaboração
X
do PRAD

Fonte: Dados do autor, 2015

GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO


O Planejamento é um instrumento de trabalho muito
importante na gestão pública municipal. Pois trata-se de um
processo continuo e dinâmico. O mesmo possibilita a tomada de
decisões e o desenvolvimento de atividades com maior efeito.
Dessa forma é possível entender que a GRSU expõe muitos
desafios e que são merecedores de atenção dos gestores públicos.
Desse modo, o manejo dos RSU de uma cidade se faz necessário
gestão acompanhamento e avaliação por meio do envolvimento
de diversos atores, diversos órgãos do poder público municipal,
estadual e federal, agentes privados e a população em geral.
As ações de gestão para o manejo dos RSU têm como
finalidade a implementação da PNRS. A nova perspectiva pau-

235
tada pela referida Política traz consigo inúmeras novas respon-
sabilidades para todos os atores envolvidos com a gestão dos
resíduos sólidos nos municípios, inclusive para o município de
Poço Dantas-PB.
Segundo diagnóstico do PMGIRS de Poço Dantas, atual-
mente a equipe gerencial responsável pela GRSU na cidade de
Poço Dantas - PB é a Secretaria de Obras e Serviços Municipais.
Já a coleta dos RSU é administrada e executada pela Prefeitura
Municipal, por meio de serviço de limpeza urbana. Sendo reali-
zada em dias alternados (2ª, 4ª e 6ª feira) na sede da cidade e nos
distritos, em seguida é conduzido para o lixão. Dessa forma a
Figura 4 apresenta o perfil dos resíduos sólidos do município de
Poço Dantas- PB, extraída do PMGIRS do município.
Figura 4 - Perfil dos RSU da cidade de Poço Dantas-PB

Fonte: Realmix – GR, (2012).

De acordo com os dados das planilhas de sondagens do


estudo gravimétrico postos no PMGIRS de Poço Dantas, os
RSU que são depositados no lixão são compostos em média de
58,18% de matéria inerte e apenas 41,82% são compostos de
resíduos sólidos residenciais. No município é gerado mais 0,8t/
dia de RSD secos, em todo território, não é possível cumprir o
dever público com a universalização do manejo adequado destes
resíduos por meio de catadores, visto que não existem catadores
no município (POÇO DANTAS, 2012).

236
Os resíduos sólidos domiciliares secos são parte muito sig-
nificativa na geração de resíduos na cidade de Poço Dantas-PB,
diagnosticados como 35,42% do total coletado. Além do grande
percentual de geração eles representam um segmento de resíduos
muito valorizado e que atualmente movimenta toda uma cadeia
produtiva baseada na reciclagem.
A maior geração de resíduos úmidos se dá nos domicílios
sendo compreendo por 6,96%. Na cidade de Poço Dantas-PB
são cerca de 1.248 domicílios, segundo dados do IBGE no Cen-
so 2010. Outro fator a ser considerado no município e em demais
cidades da região é o reaproveitamento dos resíduos úmidos na
alimentação de animais.
Conforme dados colocados através do Plano de Gestão In-
tegrada dos Resíduos Sólidos (PMGIRS) do Estado da Paraíba,
91% dos municípios paraibanos dispõem seus resíduos de modo
inadequado em terreno a céu aberto (PARAIBA, 2015, p.61).
A probabilidade do município de Poço Dantas, assim como
os demais municípios brasileiros, é de acréscimo na geração de
resíduos sólidos, decorrente do aumento de anormalidades e difi-
culdade de destinação de resíduos em aterros. São problemas que
terão que ser resolvidos com brevidade, apesar de sua complexi-
dade, são exigências estabelecidas na legislação federal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa permitiu concluir que a mencionada área utili-
zada para disposição dos RSU vem passando por um acentuado
processo de degradação ambiental. Percebe-se que o município
de Poço Dantas - PB apresenta dificuldades quanto GRSU, para
tanto se faz necessário medidas mitigadoras para que os impac-
tos negativos ao solo, recursos hídricos, ar atmosférico, flora,
fauna e antrópico entre outros sejam minimizados. Além do de-

237
senvolvimento de ações e programas que instiguem a compos-
tagem, reciclagem e a coleta seletiva com o objetivo de propor-
cionar mais vida útil do aterro sanitário ora projetado. A adoção
de medidas de remediação mitigadoras é de grande valia para a
contribuição de um PRAD.
Considera-se dessa forma que esse estudo apresentou de-
terminadas limitações, uma vez que não foi possível expor uma
análise de alguns parâmetros a exemplo da análise da água no
lençol freático entre outros. Todavia a finalidade foi exibir os
passos indispensáveis para a preparação do PRAD. O mencio-
nado projeto é um norte, contudo deve ser complementado por
uma equipe de profissionais multidisciplinar, compreendendo os
custos e cronograma para prática das medidas de recuperação ou
reabilitação do espaço.
A proposta sugerida é viável, sendo assim, espera-se que
área utilizada para lixão volte às condições físicas, químicas e
biológicas. Além das técnicas sugeridas neste trabalho, é funda-
mental a sensibilização dos gestores municipais e da sociedade
de modo geral quanto à importância da construção e especial-
mente da implementação do PRAD.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 12.305 de 12 de agosto de 2010: Que estabelece a Políti-
ca Nacional de Resíduos Sólidos.Disponível em: <http//www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Aceso em: 01 jun.
2016.

________. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política


Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e
aplicação e dá outras providências. Disponível em: <www.planalto.gov.
br/ccivil/L6938.htm>. Acesso em: 12 out. 2016.

238
IBAMA. Instrução Normativa: 04/2011. Instituto Brasileiro dos Re-
cursos Naturais Renováveis. Disponível em: <www.diariosdasleis.com.
br.> Acesso em: 01. Ago. 2016.

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: Indicadores, popu-


lação e resultados do censo 2010. Disponível em: <http://www.cidades.
ibge.gov.br /xtras/perfil.php? lang=&codmun=251203&search= parai-
ba|poco-dantas>. Acesso em 01 de out. 2016.

PARAÍBA. Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Estado


da Paraíba; União,2015.

PEREIRA, et al. Análise do plano municipal de gestão integrada de


resíduos sólidos (pmgirs): Perspectiva da gestão pública quanto aos
impactos ambientais no município de Poço Dantas-PB. II Encontro In-
terdisciplinar da Paraíba, Sousa-PB, novembro de 2015.

POÇO DANTAS: Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos


Sólidos: RealmiX - Gerenciamento de Resíduos. Brasil. 2012.

RESOLUÇÃO CONAMA nº 420, de 28 de dezembro de 2009. Dispõe


sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quanto à
presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o ge-
renciamento ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias
em decorrência de atividades antrópicas. Publicado no DOU nº 249,
de 30/12/2009, págs. 81-84. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/
conama/legiabre.cfm?codlegi=620>. Acesso em: 13 de nov. de 2016.

239
USO DE POLEIRO ARTIFICIAL
DE AVES NA REGENERAÇÃO
NATURAL DE ÁREA DEGRADADA NO
MUNICÍPIO DE ÁGUA CLARA - MS

Cleide Regina Pinheiro Martins


Flávio Maria Leite Pinheiro

Resumo: O presente artigo visa analisar a experiência sobre a apli-


cação dos poleiros artificiais para pássaros na recuperação da mata ci-
liar para a proteção de mananciais, bem como analisar a importância
da recuperação da mata ciliar do Rio Verde e a vegetação em termos
de benefícios, proteção de mananciais e solo. A Usina Hidrelétrica São
Domingos entrou em funcionamento comercial, em Mato Grosso do Sul.
O empreendimento está localizado no Rio Verde, entre os municípios de
Água Clara e Ribas do Rio Pardo, Região Leste do Estado. A técnica de
poleiros artificiais de aves vem incrementar o número de propágulos le-
vados à área degradada por meio de animais dispersores, tais como aves
da região, que fazem uso dos poleiros e, com isso, elevar a probabilidade
de estabelecimento de plântulas. Identificação das espécies nos poleiros.
Retorno dos animais no seu habitat natural. A vegetação ciliar é essen-
cial para as espécies e para o equilíbrio do meio ambiente e, portanto,
deve ser uma preocupação de todos para preservar o meio ambiente.
Palavras-chave: Poleiro artificial. Aves. Regeneração natural.

INTRODUÇÃO
A Usina Hidrelétrica São Domingos entrou em funciona-
mento comercial, em Mato Grosso do Sul no ano de 2013. O em-
preendimento está localizado no Rio Verde, entre os municípios
de Água Clara e Ribas do Rio Pardo, região leste do Estado. A
Usina se preocupa com a recuperação de matas ciliar, e alavanca
método ambiental com ênfase na experiência em técnicas de po-
leiro artificial para aves e regeneração natural do meio ambiental.
DESENVOLVIMENTO
A técnica de poleiro de aves é um desafio ligado ao meio
ambiente, utilizada na empresa destina-se a restaurar a área de-
gradada e consequentemente a recuperação das matas ciliares
que mantém vivo os rios onde produzem nossas águas. Execu-
tando ações a induzir a regeneração natural usando a técnicas de
poleiro de aves artificial e observação de aves.
A técnica implantada para a regeneração natural desem-
penhou acompanhamento nos poleiros artificiais, feitos de bam-
bu em forma de cruz imitando galhos de árvore que atraem as
aves que poussam nos poleiros, todos os poleiros enumerados
e registrados em planilhas os dados, registrados, confirmando
mais uma vez que as aves desempenhavam incremento quantita-
tivo de propágulos zoocóricos.
Através de planilhas de campo as características coleta-
das: data, horário, altura do poleiro, tipo de dispersão, espécies
de aves e medidas das plântulas e comparação das fotos desde o
inicio do processo, ajudou a confirmar que a regeneração natural
é um dos meios principais para restauração das áreas degradadas.
Portanto a recuperação de Mata Ciliar do Rio São Do-
mingos, ajuda na melhoria da qualidade do Rio Verde, Neste
contesto a respeito das águas entre as mais importantes funções
desempenhadas pelas florestas está à proteção e preservação
dos mananciais de água, recurso este, cada vez mais escasso.
(DIETZOLD; WENDEL, 2004).
Segundo a doutrina, “a floresta, quando em equilíbrio,
reduz ao mínimo a saída de nutrientes, do ecossistema. O solo
pode manter o mesmo nível de fertilidade ou até melhorá-lo ao
longo do tempo”. (SCANAVACA JUNIOR, 2012, p. 02). Nas
florestas, a água da chuva é interceptada pelas árvores, arma-
zena-se nas folhas mortas sobre o solo e lentamente esta água

242
se infiltra nos lençóis subterrâneos, abastecendo os mananciais.
Com a destruição florestal, toda essa dinâmica é comprometida.
Sem árvores, a energia da chuva desagrega e arrasta o solo
em processos de erosão, assoreando rios e provocando enchen-
tes; com a redução da infiltração de água no solo reduz-se drasti-
camente a produtividade dos mananciais. Portanto, destruir flo-
restas é destruir mananciais, comprometendo a disponibilidade
de água potável. (DIETZOLD; WENDEL, 2004).
Florestas nativas devem ter sua real importância reconhe-
cida. Precisam ser valorizadas como produtoras de água, além
de sua função na perpetuação da biodiversidade e do equilíbrio
ecológico. São essenciais para um desenvolvimento sustentável
em longo prazo, agregando produtividade ecossistêmica (água,
ar, biodiversidade, estabilidade geomorfologica). (DIETZOLD;
WENDEL, 2004).
Segundo a restauração ambiental é uma necessidade con-
temporânea prevista por lei (Espíndola , 2005), principalmente
em se tratando de áreas de preservação permanente, como as si-
tuadas ao longo de qualquer curso d’água (Brasil, 1965). A perda
da vegetação ciliar interfere na comunidade biótica terrestre e
aquática, na manutenção e conservação dos solos e na intercep-
ção da radiação solar, com alteração da estabilidade térmica dos
cursos de água, resultando em prejuízos socioambientais (Rodri-
gues e Leitão Filho, 2000; Sevegnani e Santos, 2000; Ferreira e
Dias, 2004). (TOMAZI , 2010, p. 126).
A mata ciliar é uma das formações vegetais mais impor-
tantes para a preservação da vida e da natureza. O próprio nome
já indica isso: assim como os cílios protegem nossos olhos, a
mata ciliar serve de proteção aos rios e córregos. No entanto a
mata ciliar exerce papel de interação, sendo parte fundamental
para o equilíbrio dos ecossistemas. (LIMA; ZAKIA, 2001).

243
As matas ciliares, também denominadas florestas ribeiri-
nhas, definidas por Rodrigues (2000) como “florestas ocorrentes
ao longo dos cursos d’água e no entorno das nascentes”, são de
vital importância na proteção de mananciais, controlando a che-
gada de nutrientes, sedimentos e a erosão das ribanceiras, atuam
na interceptação e absorção da radiação solar, contribuindo para
a estabilidade térmica da água, determinando assim as caracte-
rísticas físicas, químicas e biológicas dos cursos d’água. (DELI-
TTI, 1989). A mata ciliar funciona como um filtro ambiental, re-
tendo poluentes e sedimentos que chegariam aos cursos d água.
Funciona também como um obstáculo contra o assoreamento
dos rios, retendo a terra das margens para que ela não caia dentro
deles. Quando chove, a mata ciliar impede que uma quantidade
muito grande de água caia de uma só vez no rio, evitando assim
as enchentes. (LIMA; ZAKIA, 2001).
Do ponto de vista ecológico, as matas ciliares têm sido
consideradas como corredores extremamente importantes para o
movimento da fauna ao longo da paisagem, assim como para a
dispersão vegetal (LIMA; ZAKIA, 2001). Segundo David (2000).
Nesta área que já esta em processo de regeneração, usa-
remos a técnica de poleiros artificiais, esta técnica vem ga-
nhando espaço nas restaurações e resultados significativos fo-
ram obtidos por Espínola (2005); Bechara (2006); Três (2006).
Os poleiros secos são estruturas que imitam galhos secos de
plantas e atuam como estrutura de repouso, forrageamento e
caça para aves. (REIS ,2003).
Nas florestas tropicais, a forma mais frequente de disper-
são as sementes é através dos animais (zoocoria). Cerca de 60 a
90% das espécies vegetais da floresta são adaptadas a esse tipo
de transporte. (MORELLATO, 1992). Esse processo é mais ge-
neralista, ou seja, uma espécie que possui fruto zoocórico pode

244
atrair animais de espécies e tamanhos bastante distintos. Enten-
de-se como dispersão o transporte das sementes para um local
próximo ou distante da planta geradora destas sementes (planta-
-mãe). Esta distância pode variar de centímetros a quilômetros.
(HOWE; WESTLEY, 1986).
Neste sentido, um animal predador, ao perder uma semen-
te ou fruto, executa o papel de dispersor. O comportamento do
animal de transportar as sementes e então plantá-las em novos
ambientes é na recuperação das áreas degradadas um auxílio
fundamental e extremamente barato. (REIS , 1999).
Figura 1 - Vestígios de fezes dos pássaros em baixo dos poleiros.

Os poleiros de aves artificiais vêm através das aves e mor-


cegos, elevar a probabilidade de estabelecimento de plântulas
na área.
O monitoramento foi realizado com os seguintes trabalhos:
1. retirada das ervas daninhas em torno de cada poleiro,
fazendo o coroamento de cada um;
2. registros de fotos de cada poleiro;
3. registros de fotos dos pássaros da área;
4. registros de vestígios de fezes dos pássaros;
5. vestígios de plântulas em baixo de cada poleiro;
6. identificações de espécies de aves;
7. acompanhamentos de regeneração natural.

245
Para a elaboração de uma estratégia de recuperação de
áreas degradadas é necessário o conhecimento de como fun-
cionavam os ecossistemas antes da intervenção, da análise dos
impactos e compreensão da situação depois da degradação.
O conhecimento sobre a fitossociologia da vegetação anterior
ao dano e de seus fatores condicionantes permite inferir sobre
a capacidade de suporte do sistema biológico em relação aos
seus atributos ambientais. A identificação dos fatores limitantes
é fundamental para a mitigá-los de modo a resgatar a função
das plantas e o seu papel na construção dos solos. Assim, a me-
todologia de trabalho deve visar o rápido estabelecimento das
espécies com menor uso possível de insumos, objetivando a re-
tomada do processo natural de sucessão vegetal pelo ambiente
(VALCARCEL & SILVA, 1997).
Os desafios a serem vencidos nas experiências práticas in
loco devem estar voltados para a geração de condições favoráveis
à atração dos propágulos, podendo variar desde a implantação de
espécies de rápido crescimento até a utilização de restos de ár-
vores e troncos que funcionem como poleiros naturais em áreas
abertas, capazes de atrair aves ou morcegos GUEVARA. (1992).
Segundo MELO (1997), a utilização de abrigos artificiais
potencializam o recrutamento de sementes e constitui um dos
possíveis passos para se acelerar a sucessão vegetal em áreas
degradadas ou alteradas por ações antrópicas.
O aumento na chuva de sementes por si só, no entanto,
não garante o sucesso da regeneração. É preciso que as condi-
ções do substrato e o microclima sejam apropriados para o esta-
belecimento das sementes (MCCLANAHAM & WOLFE, 1993;
HOLL, 1998). Alguns fatores podem interfirir na regeneração
natural, e consequentemente, no sucesso da reabilitação de uma
área, como a acidez do substrato (SIQUEIRA, 2002), baixa fer-

246
tilidade (PARROTTA, 1993), competição com gramíneas agres-
sivas (NEPSTAD, 1991), depredação de sementes e plântulas
(MOUTINHO, 1998), seca sazonal (UHL, 1988), temperaturas
extremas e compactação do substrato (BUSCHBACHER, 1988
apud MIRITI, 1998).
O estabelecimento da cobertura vegetal arbórea e/ou
arbustiva produz efeito catalítico no processo de reabilitação,
pois elas promovem mudanças das condições microclimáticas,
aumentando a complexidade estrutural da vegetação e o desen-
volvimento das camadas de serapilheira e húmus, fazendo com
que aumente a chegada de sementes na área e a atratividade
dos agentes dispersores e, ao mesmo tempo, estas mudanças
geram condições propícias à germinação e desenvolvimento
das espécies (PARROTTA, 1997a).
A interação entre plantas e animais em florestas tropicais
é intensa, sendo determinante para a estruturação dos ecossiste-
mas, pois trata de relações fundamentais, tais como: polinização,
dispersão de sementes, herbívora e depredação (REIS & KA-
GEYAMA, 2001).
A dispersão de sementes é um processo que envolve desde
a separação das sementes da planta-mãe, mecanismos de trans-
porte até sua destinação final: pelo vento (anemocoria); água da
chuva ou um curso hídrico (hidrocória); animais (zoócora) ou
simplesmente destacada da planta através da força da gravida-
de (barocoria). Estas sementes podem permanecer na superfí-
cie do piso por um longo período, formando banco de sementes
(DARIO, 2005).
A dispersão é um dos fatores determinantes na distribui-
ção geográfica das plantas, pois ela determina o intercâmbio de
material genético dentro e fora das populações, acelera os pro-
cessos envolvidos na sucessão ecológica das florestas tropicais,

247
onde os agentes bióticos são os principais meios de chegada de
sementes as áreas perturbadas, principalmente nos ecossistemas
onde predominam espécies climáticas (REIS, 2003; INGLE,
2003; DARIO, 2004).
Os animais têm um papel ecológico a cumprir: trazem se-
mentes de diferentes locais, a portam matéria orgânica, aumen-
tam a biodiversidade local, propiciam estabilidade aos processos
ecológicos e conferem auto-sustentabilidade às atividades de re-
cuperação de áreas degradadas (VALCARCEL, 2000).
Figura 2 – Local Área Satélite Usina São Domingos e Rio São
Domingos

Figura 3 – Local da Área desmatada para Implantação experiência


com poleiro para aves.

248
Figura 4 – Galho natural conectado

Ave sábia laranjeira


Cleide Regina Pinheiro Martins

Figura 5 – Poleiro com aves ninchos

Pombo do Campo
Cleide Regina Pinheiro Martins

Figura 6 - Ave pousando nos poleiros artificial e espécie de sabiá.

249
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho analisou a influência dos poleiros artificial
de aves com a dispersão das sementes e os efeitos da disponibi-
lidade destes poleiros e a distância da fonte deles sobre a disper-
são de propágulos em uma área de reflorestamento. O trabalho
foi realizado no ambiente da Usina São Domingos – Município
de Água Clara - MS. Os poleiros são de madeira de bambu de,
4 e 5m de altura do solo, 6 pontos de Pousadas para os pássaros
foram colocados, dispostos em cruz.
Existem registrados na área, mais de 160 espécies de
aves. Conforme foto acima destes, foram observados pousando
nos poleiros, dos quais são frugívoras, granívoras, insetívoros,
Ovívoras e outros. Estes resultados mostram a importância das
aves mencionadas na dispersão de sementes em áreas alteradas
através do vento, fezes dos pássaros, transporte de sementes nos
bicos e nas asas.
Assim é a experiência com poleiros artificial de aves, que
foram utilizadas aqui na Usina Hidreletrica São Domingos com
resultados significativos. A aplicação prática da técnica irá ser-
vir como uma ferramenta para a descoberta de que é possível a
recuperação da vegetação da ciliar degradada num rio. Simples,
barato e aplicável.
Pode-se concluir, então, que:
1. houve efeito das varas, porque mais plantas de espé-
cies nativas nasceram.
2. houve efeito da distância da fonte de sementes, por-
que o número deles, era diferente em cada lugar.
3. frugívoras, granívoras, insetívoros, ovívoras e outro
são os dispersores principais da semente nas áreas
abertas ou alteradas.

250
PLANILHA DE CAMPO USADA PARA
COLETAR DOS DADOS

Figura 7 - Modelo de Planilha de Campo dados para a pesquisa


Hábito
Data Horário Altura do poleiro
alimentar
____/____/____ Início/término ( ) 3m ( ) granívora
I= ______T=_____ ( ) 4m ( ) frugívoras
( ) insetívora
( ) onívora
( ) Outro. Qual?
Vestígios
Medidas
Tipo de dispersão Espécie (ave) (embaixo do Obs:
(plântula)
poleiro)
( ) anemocórica ( ) com sementes Altura -
( ) zoocórica ( ) sem sementes Diâmetro -
( ) outra. Qual? ( ) Sem vestígios

A planilha acima foi usada para anotar os dados da quanti-


dade de horas que foram realizadas as observações de aves, atra-
vés de binóculos foram observadas as espécies de aves anotadas
nas planilhas; seus hábitos alimentar, se a ave se alimenta de gra-
nívora, frutívora, insetívora, onívora e outros hábitos. Cada polei-
ro tem um número é são anotados os vestígios em abaixo deles se
tem fezes ou não, se tem plantas nascendo e o tamanho das plântu-
las sua altura e diâmetro, também são anotados outras observação
como vestígios de como: fezes de animais ou pegadas de animais.
Planilha de Campo
Total de horas 50
Quantidade poleiros/3,4 metros 6
Hábitos alimentar O, P, I, PI, C, F,G, N, Cn
Tipo de dispersão Anemocórica e zoocórica
Espécie (ave) 20
Vestígios (embaixo do poleiro) Com sementes
Vestígios (embaixo do poleiro) Sem sementes
Vestígios (embaixo do poleiro) Sem vestígios

251
A planilha acima mostra que a pesquisa levou de 50 horas
em observação de aves, com a quantidade de 6 poleiros sendo
três poleiros de bambu (3) de três metros de altura, e (3) três po-
leiros de bambu de quatro metros de altura. O hábito alimentar
das aves são:
Granívora: Dieta alimentar principal é de sementes;
Frugívoras: Dieta alimentar principal é de frutos;
Insetívora: Dieta alimentar principal é de insetos;
Onívora: Diversas classes alimentícias não se restringem
se alimenta de carne ou vegetal.
Espécie (ave) 20 aves obeservadas. Como nome popular:
sábia laranjeira, pombo do campo, maria maria, anu preto,
piriquito verde, maria facheira, sanhaçu-de-fogo, andorinha-do-rio,
noivinha-branca, tesoura-do-brejo, bem-te-vi, joão-de-barro,
papagaio-galego, seriema, pica-pau-do-campo, beija-flor-tesoura,
joão-bobo, anu-coroca, gavião-preto, garça-branca-pequena,
tucanuçu, carcará, periquito-rei.
ANO 2017 Poleiro
janeiro 3
fevereiro 4
março 3
abril 4
maio 3
junho 4
julho 3
agosto 4
setembro 3
outubro 4
novembro 3
dezembro 4
Espécies de aves 125

Foram observados 125 aves pousando nos poleiros, sendo 20 espécies


diferentes.

252
REFERÊNCIAS
DELITTI, W. B. C. Ciclagem de nutrientes minerais em matas ciliares.
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gement, p. 1. 1993.

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para incrementar os processos sucessionais. Natureza & Conservação,
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RODRIGUES, R.R; LEITÃO, H.F. 2000. Mata Ciliar: Conservação e
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VALCARCEL, R.; SILVA, Z. S. A eficiência conservacionista de me-


didas de recuperação de áreas degradadas: proposta metodológica.
FLORESTA. 1988.

254
PAGAMENTO POR SERVIÇOS
AMBIENTAIS EM ÁREAS DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE

Edson Dias Patrício1


Mayara Carantino Costa2
Francisco Rafael Sousa Freitas3

Resumo: A expansão industrial e do agronegócio nas bacias hidro-


gráficas que compõe a macro Bacia Hidrográfica do Piracicaba, Capi-
vari e Jundiaí – BH PCJ vem exercendo forte pressão sobre as flores-
tas nativas, especialmente com a retirada da vegetação localizada nas
margens dos cursos d’água, nascentes e área de captação. A ausência
desta vegetação pode, a médio e longo prazo, diminuir a capacidade
de armazenamento da água na microbacia e consequentemente a va-
zão na estação seca, fato este que tem ocorrido na microbacia do Ri-
beirão dos Pereiras, localizada na área rural do município de Amparo,
SP. A referida microbacia, por sua vez, é composta predominante-
mente de minifúndios e intensa atividade agropecuária, com elevado
de déficit de mata ciliar (62%) nas APPs hídricas consolidadas. Como
estratégia de conservação dos recursos hídricos na microbacia do Ri-
beirão dos Pereiras, o projeto Pagamento por Serviços Ambientais
- PSA Mata Ciliar instituído no final de 2017 pelo governo do estado
de São Paulo demonstra ser a ferramenta e instrumento econômico
de incentivo para iniciar a revitalização da microbacia, ao remunerar
os pequenos produtores rurais que adotarem ações de curto prazo de
proteção da vegetação contra fatores de degradação, favorecendo a

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos Para a Gestão


Municipal de Recursos Hídricos – IFCE.
e-mail: edpatricio@saaeamparo.sp.gov.br
2 Engenheira Civil; Mestre e Doutora em Engenharia Civil (DEHA/UFC).
Professora do Eixo Ambiente, Saúde e Segurança do IFCE Campus de
Sobral. e-mail: mayara.carantino@ifce.edu.br
3 Engenheiro Ambiental; Mestre em Engenharia Sanitária (LARHISA/
UFRN). Professor do Eixo Ambiente, Saúde e Segurança do IFCE Campus
de Sobral. e-mail: rafael.freitas@ifce.edu.br
restauração ecológica de nascentes e matas ciliares. Desta forma, a
partir da implementação desta intervenção, espera-se aumentar a área
das APPs hídricas a ser protegida para recomposição da vegetação
nativa, a proteção dos fragmentos florestais remanescentes e conse-
quentemente aumentar a segurança hídrica das propriedades rurais,
proporcionando a sustentabilidade econômica e socioambiental da
agricultura familiar da microbacia.
Palavras-chave: Matas Ciliares; Microbacia Hidrográfica; Planeja-
mento Ambiental; Pagamento por Serviços Ambientais.

INTRODUÇÃO
As matas ciliares ou matas de galerias ou ripárias podem
ser conceituadas como aquelas que margeiam os corpos de água
(rios, lagos, reservatórios), constituindo-se em um ambiente he-
terogêneo, com grande número de espécies, tendo comumente
porte arbóreo ou arbustivo, servindo de habitat para vários ele-
mentos da fauna silvestre (GALVÃO, 2000; FIRMINO, 2003).
As matas ripárias representam uma barreira física entre o
ambiente terrestre e o aquático possuindo importância particular
na manutenção da qualidade e da quantidade de água, influencian-
do positivamente nas condições de superfície do solo permitindo
a estabilidade das margens, servindo como filtros, e contribuindo
para a diminuição do escoamento superficial e assim prevenindo
a ocorrência de erosões (VALENTE; GOMES, 2005). No que diz
respeito a função de filtro, a presença das matas ciliares propor-
ciona uma redução significativa na possibilidade de contamina-
ção da água, por produtos como agrotóxicos, garimpo, resíduos
agropecuários no geral, dentre muitos outros (FIRMINO, 2003).
Portanto, a conservação da vegetação nestas áreas é de
suma importância ecológica, social e econômica, tanto que vem
sendo objeto de proteção por instrumentos de comando e con-
trole, através de leis e regulamentos desde 1965 com o primeiro

256
código florestal (Lei nº 25 4.771/1965), alterado pela nova Lei
Florestal (Lei nº 12.651/2012), em reconhecimento a sua função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a esta-
bilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de
fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das popu-
lações humanas e que compõem as Áreas de Preservação Perma-
nente – APPs, delimitando uma faixa marginal mínima para sua
preservação e conservação, porém diferenciada quando tratar-se
das APPs de área rural consolidado.
Entretanto, a despeito da importância da preservação dessas
áreas, tem-se observado contínua e sistemática degradação das ma-
tas ciliares em diversas bacias hidrográficas do Brasil. A exemplo
pode-se citar a expansão industrial e do agronegócio nas bacias hi-
drográficas que compõem a macro Bacia Hidrográfica do Piraci-
caba, Capivari e Jundiaí – BH PCJ/SP que ao longo das últimas
décadas vem exercendo forte pressão sobre as florestas nativas, es-
pecialmente com a retirada da vegetação localizada nas margens
dos cursos d água, nascentes e área de captação, provocando a de-
gradação ambiental dos recursos hídricos (CBH PCJ, 2005).
Este cenário corrobora com a avaliação realizada por Ta-
vares (2016, p.130), para a microbacia do Ribeirão dos Pereiras,
inserida na sub-bacia do rio Camanducaia, localizada na área rural
do município de Amparo/SP, que em recente atualização do uso
do solo, verificou que ocorreu incremento de 40 para 43%, na
área de pastagens da microbacia; a área de vegetação nativa di-
minuiu em aproximadamente dois hectares, e que esta microbacia
encontra-se em estado crítico de déficit de 62% de mata ciliar nas
Áreas de Preservação Permanente - APPs hídricas consolidadas,
havendo a necessidade de recomposição mínima obrigatória, de
acordo com a legislação vigente no país, em todas as propriedades
com curso de água.

257
A ausência ou degradação da vegetação nativa que ocupa
as zonas ripárias, pode também, a médio e longo prazo, diminuir
a capacidade de armazenamento da água na microbacia e con-
sequentemente, a vazão na estação seca, além de comprometer
o desempenho de sua função hidrológica relacionados a quali-
dade de água, geração do escoamento direto em microbacias,
ciclagem de nutrientes e a interação direta com o ecossistema
aquático (LIMA; ZAKIA, 2000; LIMA, 2008).
As bacias hidrográficas do PCJ apresentaram um cenário
de crise hídrica nunca antes registrada, de 2013 a 2015, fazendo
com que a Agência Nacional de Águas – ANA e o Departamento
de Água e Esgoto do Estado São Paulo – DAEE/SP obrigassem,
através de instrumentos normativos, os municípios inseridos na
sub-bacia do Camanducaia a restringirem a captação de água em
20% para abastecimento e indústria, e em 30 % para a irrigação,
causando impactos socioeconômicos em toda região, afetando
principalmente o abastecimento público, a produção de alimen-
tos e o polo turístico do Circuito das Águas Paulista.
Neste sentido, o Plano Diretor para a Recomposição Flo-
restal visando à produção de água nas bacias hidrográficas do
PCJ, elaborado em 2005, apontou que um dos principais pro-
blemas para o aumento da produção de água estava atrelado
à ocupação em áreas que deveriam ser preservadas quanto a
nascentes e arredores de cursos d’água, as áreas de preservação
permanente – APP’s. Este documento constatou também que
a sub-bacia do rio Camanducaia apresentou, percentualmente,
maior número de microbacias prioritárias para as ações de re-
cuperação e conservação da cobertura florestal visando à pro-
dução de água, considerando o grau de prioridades muito alta e
alta (66%), em relação ao número total de microbacias da BH
– PCJ (CBH PCJ, 2005, p.107).

258
Uma alternativa eficiente para a difusão da proteção am-
biental de bacias hidrográficas, são os sistemas de Pagamento por
Serviços Ambientais - PSA de proteção dos recursos hídricos, que
vêm ao longo dos últimos anos sendo impulsionados por progra-
mas e políticas, tanto federal como estaduais e municipais, com
destaque ao Programa Produtor de Água, da Agência Nacional de
Águas – ANA (2012), que reconhece o papel de geração de servi-
ços ambientais desempenhado por produtores rurais no abatimen-
to de erosão e infiltração de água, à partir do desenvolvimento de
práticas de conservação do solo e de restauração florestal, sendo
referência para os esquemas de PSA-Água no país, com as devidas
adaptações locais e para cada arranjo institucional (MMA, 2011).
Na medida em que um ou mais proprietários e produ-
tores rurais adotam, voluntariamente, práticas e manejos con-
servacionistas com vistas à conservação de solo e água dentro
de um projeto ou programa de PSA, tornam-se provedores de
serviços ambientais e, embasado no princípio do “provedor-re-
cebedor”, permite-se que estes sejam remunerados pelo servi-
ço ambiental prestado, recompensando-se aqueles que, nesse
caso, contribuem para melhorar a disponibilidade quali-quan-
titativa de água (ANA, 2012).

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

JUSTIFICATIVA
A microbacia do Ribeirão dos Pereiras é composta pre-
dominantemente por minifúndios e pequenos produtores ru-
rais, com 70% da sua área destinada para algum tipo de produ-
ção agropecuária, tendo o cultivo de chuchu, café e avicultura
de corte como principais produções geradoras de renda (TA-
VARES, 2016; CATI, 2001). O município de Amparo - SP é o

259
principal produtor de chuchu do estado, principal produto que
movimenta a economia da microbacia do Ribeirão dos Pereiras
(TAVARES, 2016), o que demonstra a importância de serem
desenvolvidas ações visando a conservação dos recursos hídri-
cos para a sustentabilidade da agricultura familiar desenvolvi-
da no município e que podem ser fomentadas com outras ini-
ciativas, além dos esquemas de PSA, visando agregar valor ao
produto e atrair novos clientes e parceiros, através de um selo
ou rótulo ambiental, a fim de reconhecer o comprometimento
dos produtores rurais com as questões ambientais e a realiza-
ção de práticas conservacionistas e sustentáveis desenvolvidas
nas propriedades, contribuindo desta forma com a preservação
da mata ciliar e, fundamentalmente, com a melhoria da quali-
dade dos recursos hídricos.
Constata-se que há necessidade de recomposição da mata
ciliar em todas as propriedades com curso de água para garantir
o mínimo de proteção desses mananciais, sendo importante des-
tacar que cerca de 40% (19 ha) da mata ciliar a ser recomposta
está ocupada por pasto degradado e que a pecuária de gado de
corte compreende a produção menos significativa economica-
mente na microbacia, demonstrando que a recomposição dessas
áreas aparentemente não afetará significativamente a produção
dos proprietários (TAVARES, 2016, p.168).
Diante da constatação da degradação das matas ciliares
das APPs hídricas e tendência contínua de redução da disponibi-
lidade hídrica na microbacia do Ribeirão dos Pereiras, acentua-
da por eventos climáticos extremos, comprometendo a susten-
tabilidade socioeconômica e ambiental da agricultura familiar,
é proposto mobilizar e incentivar os pequenos proprietários e
produtores rurais da microbacia a participarem do Projeto PSA
Mata Ciliar, que estará remunerando aqueles proprietários e pro-

260
dutores rurais que adotarem ações de curto prazo necessárias
para a proteção de remanescentes florestais e para as áreas de
preservação permanente, com o objetivo de mantê-las livre de
fatores de degradação e ameaças, especialmente pela presença
de animais e o risco de incêndio, além de práticas que favoreçam
a regeneração natural da vegetação.

OBJETIVOS

Objetivo Geral
Apresentar um modelo de implementação do projeto Pa-
gamento por Serviços Ambientais (PSA Mata Ciliar) na micro-
bacia do Ribeirão dos Pereiras, no âmbito do Projeto de Desen-
volvimento Rural Sustentável – PDRS, da Secretaria de Estado
de Meio Ambiente – SMA/SP.

Objetivos Específicos
• Formar a Unidade de Gestão do Projeto - UGP Local
e mobilizar os produtores rurais para apresentação do
projeto;
• Identificar e selecionar as propriedades rurais loca-
lizadas na microbacia do Ribeirão dos Pereiras que
atendam aos requisitos de elegibilidade para partici-
pação no projeto;
• Promover a orientação participativa junto aos pro-
prietários e produtores rurais selecionados quanto
aos procedimentos para participação e execução das
ações de curto prazo no âmbito do projeto;
• Verificar as ações de curto prazo para proteção, adotadas
e executadas pelos proprietários rurais e remunerá-los;
• Divulgar os resultados da implantação do projeto.

261
ÁREA DE ESTUDO

Microbacia do Ribeirão dos Pereiras


A área de abrangência a serem executadas ações de curto
prazo para a proteção da vegetação nativa contra fatores de degra-
dação por pequenos proprietários e produtores rurais compreende
a microbacia do Ribeirão dos Pereiras e está localizada na Macro
Zona Rural de Proteção de Mananciais (MRPM) conforme o Pla-
no Diretor Municipal, a sudoeste do centro urbano do município
de Amparo, sendo este situado na porção nordeste do estado de
São Paulo, entre os meridianos 22° 43` S e 46° 43 W (Figura 1).
Figura 1 – Localização da microbacia do Ribeirão dos Pereiras no
município de Amparo/SP.

Fonte: Autor, 2018.

A microbacia do Ribeirão dos Pereiras, tributária do rio


Camanducaia, estende-se por aproximadamente 723 ha (hecta-
res) (TAVARES, 2016), e está inserida na sub-bacia do rio Ca-
manducaia, ambas pertencentes a macro Bacia Hidrográfica do
Piracicaba, Capivari, Jundiaí – BHPCJ/SP.

262
Em termos hidrográficos a sub-bacia do Camanducaia
possui área de 870,68 Km² no estado de São Paulo e 159,32
Km² no estado de Minas Gerais no total de 1.030,00 Km², repre-
sentando 8,2% da Bacia PCJ (IRRIGART, 2007).
O clima predominante é tropical de altitude, com tempe-
ratura média anual entre 18° e 22°C. A precipitação ocorre de
novembro a março (verão) e o período de estiagem de abril a
outubro (inverno) (AMPARO, 2010).
Alguns parâmetros hidrológicos possibilitam caracterizar
a microbacia do Ribeirão dos Pereiras, tais como:
• Comprimento do rio principal e secundários: Córrego
dos Pereiras, L total= 7.490 m ou 7,5 Km; Afluentes do
ribeirão dos Pereiras, L total= 22662 m ou 22,6 Km.
• Perímetro: 15.270 m ou 15,27 Km.
• Coeficiente de compacidade (Kc): Kc= 1,59; Permite
concluir que não é sujeita a grandes enchentes, apre-
sentando menor probabilidade de enchente.
• Fator Forma (Kf): Kf= 0,031. Permite concluir que
tende a ser alongada e não sujeita a enchentes.
• Densidade de drenagem (Dd): Dd= 3,14 Km/Km²;
Demonstra que apresenta drenagem muito boa.
Segundo o Plano Municipal de Desenvolvimento Rural
Sustentável 2010-2013 (AMPARO, 2010), o solo predominan-
te da área é do tipo podzólico vermelho amarelo orto (argiloso
vermelho amarelo) e latossolo amarelo, e diante essas caracte-
rísticas é necessário à utilização de práticas conservacionistas.
O município de Amparo está situado nos contrafortes
da Serra da Mantiqueira e apresenta um relevo caracterizado
pelo Planalto Atlântico, constituído por rochas cristalinas pré-
cambrianas, áreas acidentadas compostas por relevo montanhoso
e de morros, cujas altitudes chegam a superar 1.200 m e os

263
assoalhos de seus vales oscilam entre 750 m e 850 m (COBRAPE,
2011, p.96).
A cobertura vegetal predominante no município e na mi-
crobacia é composta de remanescentes de vegetação secundária
de Floresta Ambrófila Densa, Bioma da Mata Atlântica (CO-
BRAPE, 2011. p.179), e tem seu território inserido na Área de
Proteção Ambiental Piracicaba - Juqueri Mirim (Área II).
A população do município de Amparo, SP, é de 71.193 ha-
bitantes, sendo 56.883 (79%) na área urbana e 14.310 (21%) na
área rural (IBGE, 2017). A área urbana corresponde a 7,54 ha²
de uma área total do município 445,58 ha² (AMPARO, 2010).
As principais atividades de uso e ocupação do solo no
município de Amparo, SP, segundo o último levantamento cen-
sitário das unidades de produção agropecuária do Estado de
São Paulo (Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento,
CATI/IEA, Projeto LUPA), são: Pastagens com área de 21.250,3
ha; Eucalipto: 4.113,2 ha; Cana de Açúcar: 2.392,8 ha; Café:
2.028,0 ha; Milho: 1.305,7 ha; Laranja: 1.039,4 ha; Chuchu:
264,3 ha. No perímetro urbano esta concentrada as indústrias
do município.
A microbacia do Ribeirão dos Pereiras apresenta uma es-
trutura fundiária, identificada pela CATI (2001), composta de 64
proprietários rurais, com média do tamanho das propriedades de
12,6 ha, sendo a maior propriedade com 72,4 ha e a menor com
cerca de dois ha, sendo classificadas como pequenas proprie-
dades rurais2 (TAVARES, 2016, p.78). A estrutura fundiária da
microbacia reflete o uso e ocupação do espaço rural do municí-
pio, no qual 79,3% de suas unidades de produção agropecuária
– UPA3 possuem 50 hectares (AMPARO, 2010, p.33).
As principais produções geradoras de renda realizada na
microbacia são o cultivo de chuchu, café e avicultura de cor-

264
te, caracterizadas principalmente por minifúndios tecnificados,
com alta produção e comercialização direta (TAVARES, 2016).

METODOLOGIA
Visando reverter o quadro de degradação ambiental, a re-
vitalização da cobertura de vegetação nativa nas APPs hídricas
(margens dos cursos de água e nascentes), e contribuir com a
segurança hídrica nas propriedades rurais e sustentabilidade da
agricultura familiar na microbacia do Ribeirão dos Pereiras, o
desenvolvimento do presente trabalho propõe mobilizar, incen-
tivar e orientar os pequenos proprietários e produtores rurais
desta microbacia à participarem do Projeto Pagamento por Ser-
viços Ambientais – PSA Mata Ciliar, no âmbito do Projeto de
Desenvolvimento Rural Sustentável – PDRS, da Secretaria de
Estado de Meio Ambiente – SMA/SP, para serem remunerados
mediante adoção de ações de curto prazo de proteção da vege-
tação contra fatores de degradação, favorecendo a restauração
ecológica de nascentes, matas ciliares e remanescentes de vege-
tação nativa nas bacias formadoras de mananciais de água.
Será necessário formar uma Unidade de Gestão do Pro-
jeto - UGP Local, composta pelas principais instituições gover-
namentais, sociedade civil e órgão colegiado com atuação no
município, entre outras, a Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral - CATI e o Comitê da Bacia Hidrográfica do PCJ - CBH
PCJ, a fim de prestar apoio administrativo e cooperação técnica,
através de encontros de orientação participativa, junto aos pe-
quenos produtores rurais da microbacia para auxilia-los durante
as fases que compõe o projeto PSA Mata Ciliar, composto de:
Inscrição; Seleção; Adesão e Formalização; Valoração; Verifica-
ção do cumprimento do Termo de Compromisso e Remunera-
ção. As ações terão como principal referência e embasamento,

265
instrumentos legais instituídos pelas pastas de Meio Ambiente
e Agricultura do governo estadual, trabalhos técnicos e cientí-
ficos, estudo de caso e documentos técnicos que irão viabilizar
a implantação das ações no âmbito do projeto PSA Mata Ciliar.
Ao final das ações executadas e remuneração aos proprie-
tários rurais, será realizada a divulgação dos resultados obtidos
com o projeto PSA Mata Ciliar junto à sociedade amparense, em
especial, aos proprietários e produtores rurais do município, di-
fundindo os esquemas de Pagamentos por Serviços Ambientais.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


Como resultado da participação no projeto PSA Mata Ci-
liar e adoção das ações de curto prazo para a proteção da vegeta-
ção nativa contra fatores de degradação nas propriedades rurais
da microbacia do Ribeirão dos Pereiras, espera-se:
• Adesão do maior número de propriedades rurais ao
projeto;
• Aumentar a proteção das matas ciliares e da vegeta-
ção nativa na microbacia;
• Diminuir o déficit de 62% das matas ciliares nas APPs
de uso consolidado;
• Aumentar ao longo dos anos a segurança hídrica das
propriedades durante os períodos de estiagem;
• Aumentar o entendimento e os benefícios dos siste-
mas de Pagamento por Serviços Ambientais junto aos
proprietários rurais do município de Amparo, SP.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
Inicialmente, será realizada a articulação das principais
instituições do governo municipal e estadual com atuação no
município para formar a Unidade de Gestão do Projeto - UGP

266
Local, cabendo a esta dar apoio administrativo e cooperação
técnica durante as etapas do trabalho, onde cada instituição e
membro da UGP Local estabelecerão suas responsabilidades e
compromissos.
Como etapa seguinte e condição fundamental para o de-
senvolvimento do trabalho, será priorizado pela UGP Local a
mobilização dos proprietários e produtores rurais da microbacia
para incentivá-los a participar do projeto PSA Mata Ciliar.
A orientação participativa pretende, por meio de encontros
semanais (ou quinzenais) a serem realizados preferencialmente
na associação dos produtores rurais ou no bairro dos Pereiras,
através de uma linguagem simples e de fácil entendimento, pro-
mover a participação dos proprietários rurais nas tomadas de de-
cisões e orienta-los sobre os procedimentos exigidos durante as
fases de execução do projeto. Esta orientação participativa terá
como protagonista o departamento de meio ambiente do gover-
no municipal e a Casa da Agricultura de Amparo, com apoio
técnico de membros da UGP Local.
A participação no projeto PSA Mata Ciliar atenderá aos
procedimentos nas fases descritas a seguir:
1. Inscrição: apresentação da Manifestação de Interesse
pelo proprietário rural;
2. Seleção: de acordo com a avaliação do potencial de
regeneração natural e requisitos de elegibilidade;
3. Adesão e Formalização: participação no Projeto PSA
Mata Ciliar será através do Termo de Compromisso
a ser firmado entre o produtor rural e a UGP-Local;
4. Valoração: será definido de acordo com o Valor Cer-
ca, Valor Aceiro e o Valor Adubação Verde;
5. Verificação do cumprimento do Termo de Compro-
misso: ocorrerá através de vistorias à área após o pra-

267
zo de realização das ações ou comunicação do cum-
primento antecipado pelo produtor;
6. Remuneração: os pagamentos realizados ao produtor
rural serão efetuados após comprovação da realização
das ações previstas no Termo de Compromisso.

ATORES ENVOLVIDOS
O desenvolvimento do projeto contará com a participação
das principais instituições, nas áreas de meio ambiente e agricul-
tura, do governo municipal, estadual e entidades da sociedade
civil com atuação na região, que irão compor a Unidade de Ges-
tão do Projeto UGP- Local.
A UGP-Local terá como responsabilidade comum entre as
instituições parceiras, prestar apoio administrativo e cooperação
técnica durante as fases de execução do projeto, firmar o Termo
de Compromisso com os interessados ou beneficiários (peque-
nos proprietários rurais), verificar o cumprimento das condições
estabelecidas no Termo de Compromisso e realizar o pagamento
aos beneficiários pelos serviços ambientais.
Segue a descrição das instituições que irão compor a
UGP-Local e suas responsabilidades:
1. Secretaria Municipal de Meio Ambiente - Auxiliará
na mobilização dos proprietários e produtores rurais
da microbacia para adesão ao projeto e dará apoio lo-
gístico para as reuniões e os encontros da orientação
participativa com os produtores rurais interessados;
2. Coordenadoria Biodiversidade Recursos Naturais
(CBRN), Secretaria de Meio Ambiente do Estado de
São Paulo - Viabilizar o recurso financeiro para remu-
nerar os produtores rurais pelos serviços ambientais
executados e apoiará a UGP-Local quanto às questões

268
de ordem legal e normativas para o desenvolvimento
do projeto;
3. Casa da Agricultura de Amparo e Coordenadoria de
Assistência Técnica Integral – CATI – Disponibi-
lização de informações e dados socioeconômicos e
ambientais fundamentais para o desenvolvimento do
projeto, além de apoiar na mobilização dos proprietá-
rios rurais para aderirem ao projeto;
4. Fundação para Conservação e a Produção Florestal
do Estado de São Paulo - Apoiará técnica e adminis-
trativamente a execução de projetos e, em caráter su-
pletivo, aprovar o Plano de Ação;
5. Comitê de Bacia Hidrográfica dos Rios Piracicaba,
Capivari e Jundiaí (CBH-PCJ) - Auxiliará com a coo-
peração técnica à UGP-Local através da análise, es-
tudos, debates e aprovação de propostas referente à
bacia hidrográfica;
6. Sindicato Rural de Amparo - Contribuirá na mobiliza-
ção dos produtores rurais para aderirem ao projeto e
poderá disponibilizar suas instalações para reuniões,
encontros e eventos de divulgação dos resultados ob-
tidos com o projeto;
7. Associação dos Moradores e Agricultores do Bair-
ro dos Pereiras – Prestará apoio na mobilização dos
produtores rurais da microbacia e contribuirá com
informações socioeconômicas e ambientais sobre a
microbacia.

CRONOGRAMA
Na Tabela 1 é apresentado o cronograma de execução das
atividades definidas na proposta para um horizonte de 8 meses.

269
Tabela 1 – Cronograma de execução das atividades contempladas na
proposta de intervenção.

MÊS 1

MÊS 2

MÊS 3

MÊS 4

MÊS 5

MÊS 6

MÊS 7

MÊS 8
Atividade / Meses

Formação de parcerias e
               
mobilização dos interessados
Formação da UGP- Local e Gestão
               
do projeto
Apresentação do projeto para
pequenos produtores rurais
               
da microbacia do Ribeirão dos
Pereiras
Identificação e seleção das
propriedades rurais elegíveis para                
adesão ao projeto
Orientação participativa aos
produtores rurais para os
procedimentos de adesão ao                
projeto e de execução das ações
de proteção
Inscrição com entrega da
               
Manifestação de Interesse
Seleção dos interessados
               
considerados elegíveis
Elaboração, apresentação e
               
aprovação do Plano de Ação
Assinatura do Termo de
               
Compromisso
Execução das ações adotadas                
Verificação do cumprimento do
               
Termo de Compromisso
Remuneração                
Divulgação dos resultados e
benefícios alcançados pelo projeto
               
no núcleo rural dos Pereiras e/ou
no Sindicato Rural de Amparo

270
GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO
A UGP-Local realizará a gestão do projeto e envolverá
ações administrativas quanto aos procedimentos de participação
ao Projeto PSA Mata Ciliar, de acordo com os instrumentos nor-
mativos e regulamentares definidos pelas Secretarias de Meio
Ambiente e da Agricultura do estado de São Paulo, além da
cooperação técnica aos proprietários rurais na implantação das
ações de curto prazo a serem realizadas nas propriedades rurais.
As ações administrativas compreendem a inscrição dos
proprietários interessados, identificação e seleção das proprieda-
des rurais consideradas elegíveis, os procedimentos de adesão e
formalização por meio do Termo de Compromisso firmado com
os proprietários rurais, verificação das ações executadas e do
cumprimento das condições estabelecidas no Termo de Compro-
misso para, consequentemente, remunerar os proprietários rurais.
A cooperação técnica compreenderá dar assistência técni-
ca aos pequenos proprietários rurais na elaboração do Plano de
Ação e na implantação das ações definidas neste Plano de Ação.
O acompanhamento das ações administrativas e da coo-
peração técnica será realizado durante os encontros de orien-
tação participativa e nas reuniões da UGP-Local, tendo como
referência o Termo de Compromisso e o Plano de Ação.
A avaliação do projeto ocorrerá no primeiro momento
quanto ao número de proprietários interessados inscritos, sele-
cionados e que assinaram o Termo de Compromisso.
Durante o envolvimento dos proprietários rurais na orien-
tação participativa, será possível verificar o grau de interesse
e entendimento da proposta para adoção de ações de proteção
em suas propriedades rurais. Ao término das ações executadas
e verificação do cumprimento do Termo de Compromisso será

271
possível quantificar a área total com proteção contra ações de
degradação adicionadas na microbacia e comparar a situação
atual em relação a situação anterior.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente proposta visa demonstrar a viabilidade de exe-
cução na microbacia do Ribeirão dos Pereiras do Projeto PSA
Mata Ciliar, instituído no final de 2017 pelo governo estadual
de São Paulo, como uma das estratégias de conservação dos re-
cursos hídricos, tornando-o uma ferramenta e instrumento eco-
nômico de incentivo aos pequenos produtores rurais, para dar
início a um processo de revitalização da microbacia.
Estas medidas irão proporcionar no curto prazo, o aumen-
to nas áreas a serem protegidas para recomposição da vegetação
nativa das APPs hídricas e dos fragmentos florestais remanes-
centes, além de buscar a adequação das propriedades quanto ao
novo código florestal e consequentemente, aumentar a segurança
hídrica das propriedades rurais ao longo do tempo, contribuindo
com a sustentabilidade econômica e socioambiental da agricul-
tura familiar na microbacia, e também melhorar a qualidade de
vida dos pequenos produtores rurais.
Entretanto, estas ações são parte de estratégias de conser-
vação dos recursos hídricos a serem implementadas na micro-
bacia, devendo ser consideradas e associadas ações e práticas
conservacionistas de uso do solo visando, em especial, a quali-
dade dos recursos hídricos, como: sistemas de saneamento ru-
ral, conservação dos solos, conservação de estradas rurais, uso
consciente de agrotóxicos nas culturas, entre outras, que são
possíveis de serem incorporadas a outros benefícios de PSA e
que permitirão valorizar e reconhecer ainda mais os serviços

272
ambientais prestados pelos pequenos produtores rurais, ou seja,
como provedores de serviços ambientais.

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ção. Brasília: ANA, 2012. 84 p.: il.

AMPARO. Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável.


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feitura Municipal de Amparo, 2010.82p.

BRASIL. LEI nº 12651 de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção


da vegetação nativa; altera as Leis nº 6.938, de 31 de agosto de 1981,
9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006;
revoga as Leis nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril
de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e
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