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PEQUENO E EMOTIVO ALBERT Waison, J.B., & Raynor, R. (1920). Conditioned emotional responses. Journal of Experimental Psychology, 3, 1-14. ‘Voce alguma vez se perguntou de onde & que vém suas emogdes? Se sim, voc’ no esti sozinho. A origem das emogiies tem fascinado os cientistas do comportamento ao Jongo da historia da Psicologia. Parte da evidéncia dessa fascinagiio pode ser cencontrada aqui, neste livro; cinco entre os quarenta artigos selecionados para ele estiio diretamente relacionados a respostas emocionais (Ver Schachter e Singer, 1962; Ekman Oster, 1979; Harlow, 1958; ¢ Seligman e Meier, 1967). O presente estudo, de Watson Raynor, sobre respostas emocionais condicionadas, constituiu uma demonstragio de pesquisa bastante poderosa quando foi publicada, mais de 70 anos aris, ¢ continua & exercer influéncia ainda hoje. Dificilmente vocé encontraré um livro-texto sobre Psicologia geral ou sobre aprendizagem e comportamento que nfo contenha um resumo dessas descobertas. ‘A importdincia hist6rica desse estudo & devida nfo apenas aos resultados de pesquisa, mas também ao novo territério psicolégico que ele descortinou, Se pudéssemos voltar ao infeio do século ¢ ter uma nogao do estado da Psicologia naquela época, verfamos que ela estava quase que completamente dominada pelo trabalho de Sigmund Freud (Vero texto sobre A. Freud). A concepgéo psicanalitica de Freud sobre 0 comportamento humano se baseava na idéia de que somos motivados por instintos inconscientes e por conflitos reprimidos na inféncia, Em termos Freudianos simplificados, 0 comportamento, e especificamente a emogio, é gerado internamente através de processos biologicos ¢ instintivos. Nos anos 20 comegou a tomar corpo um movimento na Psicologia, disseminado por Pavlov e Watson, e conhecido como comportamentalismo (behaviorismo). © ponto de vista comportamentalista era radicalmente oposto a escola psicanalitica e propunha que 0 comportamento & gerado fora da pessoa, por varios estimulos ambientais ou ituacionais. Assim, Watson teorizava, respostas emocionais existem porque somos condicionados a responder emocionalmente a certos estimulos do ambiente. Em outras palavras, nos aprendemos reagies emocionais. Watson acreditava, de fato, que todo ‘comportamento humano é um produto da aprendizagem e do condicionamento, como afirmou em seu famoso manifesto de 1913: Déem-me uma diizia de criangas sadias, bem formadas, ¢ meu proprio mundo especial onde eu possa crif-las, ¢ eu garanto tomar qualquer uma delas ao acaso ¢ treiné-la para se tornar qualquer tipo de especialista que eu possa selecionar - médico, advogado, artista, comerciante, ¢, sim, assaltante ¢ Ladraio (Watson, 1913) Esta era, naquela época, uma perspectiva extremamente revoluciondria. A maioria dos psicSlogos, assim como a opinifio pablica em geral, nfo estava pronta para aceitar essas novas idéias. Isto era especialmente verdadeiro para reagdes emocionais que, de alguma forma, pareciam ser geradas internamente, Por isso, Watson criou as eondigGes para demonstrar experimentalmente que as emogbes podem ser condicionadas. PROPOSIGOES TEORICAS ‘A hipétese de Watson era a de que se um estimulo que produz aulomaticamente uma reagiio emocional em uma pessoa (como 0 medo) ocorrer repetidamente ao mesmo tempo {que alguma outra coisa, a presenga de um rato, por exemplo, o rato ficard associado com ‘0 medo, no cérebro da pessoa, Em outras palavras, a pessoa poderd ficar condicionada a tec medo do rato, Ble afitmava que nds nfio nascemos com medo de ratos, mas que tals ‘meds sto aprendidos por condicionamento. Esta foi a base teérica para o mais famoso de seus experimentos, realizado com um sujeito chamado "pequeno Albert B." METODO E RESULTADOS sujeito Albert B. foi recrutado para esse estudo com a idade de 9 meses, em um hospital onde ele era criado como dri¥o, desde o nascimento, Os pesquisadores © a equipe do hospital consideravam-no muito sadio, tanto fisica quanto emocionalmente. Para verificar se Albert tinha medo de alguns estimulos, foram apresentados a ele um um. rato branco, um coelho, um macaco, um eachorro, mascaras com ¢ sem cabelos, € um ‘mago de algodio branco. As reagies de Albert a esses estimulos forum cuidadosamente ‘observadas, Ele se mostrou interessado em varios dos animais ¢ objetos ¢ tentava alcangé-los, ¢ até mesmo pegé-tos, mas nunca demonstrou o mais leve medo de qualquer um deles. Uma vez que nfio produziam medo, cles foram considerados "estimulos: ‘neutros". ‘A fase seguinte do experimento consitiu em determinar se era possivel produzir uma reagiio de mecdo em Albert, pela exposigio a um ruido intenso, Todas as pessoas, ¢ as eriangas em especial, exibem reagées de medo a ruidos sibitos ¢ intensos. Uma vez {que niio 6 necessrio aprendizagem para que esta reagdo ovorra, o ruldo intenso & considerado um "estimulo incondicionado", Nesse estudo, um dos experimentadores bateu com um martelo sobre uma barra de ago de aproximadamente um metro de comprimento, localizada atrés de Albert. Esse ruido 0 assustou e amedrontou e 0 fz chorar. ‘Agora 0 cendio estava pronto para testar a idéia de que a emogdo de medo podia ser condicionada em Albert. O verdadeiro teste de condicionamento nao foi feito até que aa crianga estivesse com 11 meses de idade. Os experimentadores hesitaram em criar exporimentalmente reagdes de medo na crianga, mas finalmente decidiram ir em frente (com base no raciocinio que seré discutido em conjunto com outras questbes éticas 0 envolvidas nesse estudo, no final deste capitulo). 1 Quando 0 experimento teve inicio, os pesquisadores submeteram Albert 2 simultaneamente ao ruido forte e & apresentagao do rato branco. De inicio, Albert estava interessado no rato ¢ tentava pegé+lo. Quando ele fazia isso, a barra de ago era malhada, ‘9 que assustava ¢ amendrontava Albert. Esse processo foi repetido trés vezes. Uma semana mais tarde, o mesmo procedimento foi novamente realizado. Depois de um total do sete emparelhamentos entre 0 ruldo € 0 rato, o rato foi apresentado sozinho, sem 0 ruido, Como vocé ja deve ter advinhado, Albert reagiu com extremo medo do rato, Ele ‘comegou a chorar, virou-se para o lado oposto, rolou sobre seu corpo ¢ comegou a ‘engatinhar para longe t8o depressa que os experimentadores tiveram que correr para seguté-lo, antes que ele caisse da borda da mesa. A resposta de medo tinha sido m condicionada a um objeto que nao havia produzido medo hé menos de uma semana alas. Os pesquisadores queriam determinar, entto, se o medo aprendido se transferitia para outros objetos, Em termos psicolégicos, essa transferéncia é designada como generalizagao". Se Albert mostrasse meda de outros objetos semethantes, entio seria possivel dizer que o comportamenio aprendido havia se generalizado. Na semana seguinte Albert foi novamente submetido ao teste e, novamente, mostrou medo do rato. Entio, para fazer o teste de generalizagii, foi apresentado a ele um objeto semelhante a0 rato (um coelho branco), Nas proprias palavras dos autores: "Respostas negativas ocorreram imediatamente. Ele se afastou do animal o méximo que pode, choramingou ¢ entio cain em Kigrimas, Quando 0 eoelho foi colocado em contato com ele, ele enterrou ‘© rosto no colchiio, ento se colocou de quatro e engatinhou para longe, chorando.” (p.6). 1 preciso lembrar que Albert nao mostrara medo do coelho antes do condicionamento ¢, também, que ele ndo foi submetido a condicionamento com o coetho, especificamente. Ao longo daquele mesmo dia foram apresentados ao pequeno Albert um cachorre ‘um casaco branco de peles, um pacote de algodtio, e a cabega do proprio Watson, com seus cabelos brancos. Ble reagiu com medo a todos esses itens. Um dos testes de peneralizago mais conhecidos ¢ que deu a essa pesquisa famosa uma mé fama, ocorreu quando Watson apresentou a Albert uma méscara de Papai Noel. A reagiio? Sim, foi de medo! Cinco dias depois Albert foi novamente submetido aos testes. A sequéncia de apresentagées nesse dia esti sumariada na Tabela 1. Um outro aspecto das reagdes emocionais que Watson queria explorar eta se a emogio aprendida seria transferida de uma situagdo para outra, Se as respostas ‘emocionais de Albert a esses varios animais ¢ objetos ocorressem apenas na situagéo ‘experimental e em nchuma outta, « significdncia das descobertas seria enormemente reduzida, Para testar esse aspecto, mais tarde, naquele mesmo dia em que foram realizados os testes resumidos na Tabela 1, Albert foi levado para uma sala completamente diferente, mais iluminada e com mais pessoas presentes. Nessa nova situagiio, as reagdes de Albert ao rato ¢ a0 coctho foram, ainds, claramente de medo, embora um pouco menos intensas. O teste final que Watson e Raynor queriam realizar consistia em verificar se as respostas emocionais reeém-aprendidas por Albert persistiriam ao longo do tempo, Mas Albert tinha sido adotado e deveria deixar 6 hospital em pouco tempo. Assim, todos os testes foram interrompidos por um perfodo de 31 dias, No final desse periodo, foram novamente apresentados a ele a méscara de Papai Noel, o casaco de peles branco, 0 rato, ‘ocociho ¢0 cachorro. Depois de um més, Albert ainda se mostrava amedrontado com todos esses objetos. Watson e seus colaboradores tinham planejado tentar "recondicionar" Albert ¢

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