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Direito Penal

Conceito de Direito Penal


O Direito Penal é o complexo de normas jurídicas que, em casa momento histórico,
enuncia, de forma geral e abstrata, os factos ou condutas humanas suscetíveis de pôr em
causa os valores jurídicos tidos por essenciais numa dada comunidade, e estabelecem as
sanções que lhe correspondem, ou seja, fazem corresponder a factos penalmente
relevantes (determinadas condutas/comportamentos proibidas ou impostas por lei) uma
determinada consequência jurídica desfavorável.

Direito Penal subjetivo - ius puniendi, deve ser compreendido como o direito de punir
do Estado.

Faculdade, poder que o Estado tem de definir quais os comportamentos humanos que
devem ser criminalizados, estabelecer os crimes, ameaçar os agentes que pratiquem
esses comportamentos com sanções e de aplicar sanções a quem viole as proibições
constantes nos crimes.

Direito penal objetivo – ius poenale - Materializa o poder punitivo do Estado, é o


próprio Direito Penal, ou seja, o conjunto de normas objetivas que cuidam e
regulamentam o ius puniendi.

Conjunto de normas e princípios jurídicos estabelecidos na lei, que tornam exequível a


sanção de quem pratique os crimes, disciplinam o exercício do ius puniendi (do direito
de punir), é o resultado da faculdade que o Estado tem de punir, ou seja, é o resultado
do ius puniendi.

Sanção penal é a consequência dada ao infrator de uma norma penal, após o devido
processo legal. A pena como uma modalidade de sanção, tem como objetivo a
retribuição do injusto, a reeducação ou a ressocialização/reintegração da pessoa na
sociedade. Sanção penal é gênero, sendo suas espécies: a pena (aplicada para os
imputáveis) e a medida de segurança (aplicada aos inimputáveis). Isto é, uma sanção
prevista em texto de lei para ser aplicada a quem tenha praticado um crime tendo por
finalidade a proteção de bens jurídicos e a reintegração do infrator na sociedade.

As principiais penas são:


a) Prisão - A pena de prisão tem um limite mínimo de um mês e um limite
máximo de 20 anos, podendo ir até aos 25 anos em determinados casos (art. 41º CP); O
limite da pena de prisão está previsto na Constituição da República Portuguesa (Art.
30.º, nº 1).

b) Multa - A pena de multa tem um limite mínimo de 10 dias e um limite


máximo de 360 dias (art. 47.º CP).

A par da pena existem outras reações, outras consequências penais tais como as
medidas de segurança (aplicadas a inimputáveis em razão de anomalia psíquica), ou
seja, existem indivíduos que não são capazes de culpa, isto é, não têm capacidade de
culpa.

Assim, aos imputáveis - aplicam-se penas.

Aos inimputáveis – aplicam-se medidas de segurança.

Distinção entre pena de prisão e pena de multa

Enquanto a pena de prisão é uma pena privativa da liberdade, em que o indivíduo é


encarcerado num determinado estabelecimento prisional onde cumpre a pena, vendo a
sua liberdade de movimentação coatada, a pena de multa é uma pena de natureza
essencialmente pecuniária, se o juiz condenar alguém pela prática de um crime com
uma pena de multa, no entanto se a mesma não for paga, esta prevista a possibilidade de
ser convertível em prisão (art. 49.º CP).

Finalidades das penas e medidas de segurança

Com a aplicação das penas e das medidas de segurança pretende-se a proteção de bens
jurídicos e a reinserção do agente na sociedade, vide n.º 1, do art.º 40.º do CP, quando
estabelece as finalidades das penas e das medidas de segurança – “Proteção de bens
jurídicos e reintegração do agente na sociedade”.

A pena pode, em caso algum, ultrapassar a medida da culpa. Por sua vez a medida de
segurança (medidas aplicadas aos inimputáveis) só pode ser aplicada se for
proporcionada à gravidade do facto e à perigosidade do agente.

São três as finalidades que podem ser prosseguidas com os fins imediatos das penas:
1. Uma ideia de retribuição - As penas servem para retribuir o mal a quem
praticou o mal. Apresenta a ideia de que as penas são um mal que se impõe a
alguém, por esse alguém ter praticado um crime, uma ideia de castigo. Escolhe-
se uma pena que corresponde a determinado facto, deve ter correspondência com
a proporcionalidade na responsabilidade do agente.
2. Ideia de prevenção, Toda a pena serve finalidades de natureza preventiva, que
podem ser:
 Uma prevenção Geral – A aplicação das penas pretende evitar que as
pessoas em geral não cometam crimes. O objetivo da pena é essencialmente
o objetivo de exercer uma influência na comunidade em geral. Revelar à
comunidade (ameaçar) que se cometer um crime fica sujeito a uma
determinada pena – pretendendo assim a prevenção da prática de crimes.
 Prevenção Especial - Tem uma ideia também de prevenção, mas a
prevenção já não é a prevenção geral, mas sim a prevenção do individuo,
ou seja, que a pessoa que é condenada a uma pena e que a tenha de cumprir
uma pena, não volte ela própria a cometer um crime, tem-se aqui uma
finalidade de prevenção especial. Evitar a reincidência.

Em suma: As finalidades na aplicação de uma pena residem fundamentalmente na tutela


de bens jurídicos e, na medida possível, na reinserção do agente na comunidade. Por
outro lado, a pena não pode ultrapassar, em caso algum, a medida da culpa.

Princípios fundamentais do Direito Penal


Princípio da legalidade – Art. 1.º CP
(nullum crimen sine lege e nulla poena sine lege) Não existe crime, nem pena sem Lei.
Impõe a exclusividade à lei a definição do que é crime, e a enunciação das respetivas
sanções, cabendo à lei e só à lei a responsabilidade de dizer o que merece tratamento
criminal, ou seja, o que é crime. Tem que existir uma lei anterior á prática de um facto
ilícito. Vide, Art.º 1.º, n.º 2 e 3 (princípio da legalidade)

 do CP; Art.º 29.º da CRP, Aplicação da lei criminal.


 art.º 30.º, n.º 5 do CRP - Limites das penas e das medidas de segurança.

O Direito Penal funda-se na Constituição da República Portuguesa (CRP). Na


Constituição encontram-se vários conjuntos de normas que estão relacionados
diretamente com o Direito Penal.
O nº 1 do art. 1.º do CP indica-nos que “só pode ser punido criminalmente o facto
descrito e declarado passível de pena por lei anterior ao momento da sua prática”.

Já o nº 3 do art. 1º do CP indica-nos também que “não é permitido o recurso à analogia


para qualificar um facto como crime (…)”.

Deste modo podemos afirmar que a lei proíbe a aplicação analógica, impedindo que se
aplique a lei penal a situações não previstas, isto é, a situações omissas.

No Princípio da Tipicidade cujo decorre do princípio da legalidade, segundo o qual


cabe à lei e só a ela determinar quais os factos ou condutas que constituem crime e quais
os pressupostos que justificam a aplicação de uma pena ou medida de segurança.

Princípio da não retroatividade


O princípio da legalidade está obviamente associado a um princípio de não
retroatividade, na medida em que, exigindo a lei uma prévia definição dos conteúdos
com relevância criminal e das respetivas censuras, proclama necessariamente que a
previsão legal apenas se volva para situações futuras e nunca para situações passadas.

Proíbe o recurso à analogia - Um dos princípios é o da proibição de criação de direito


pela via da analógica ou similar, impede que, fora da lei formal e previamente em vigor,
se qualifique um facto como crime, se defina um estado de perigosidade ou determine
uma pena ou medida de segurança. Nos termos do n.º 3, do art.º 1.º do CP, o que a lei
proíbe a aplicação analógica, porque aqui se iria aplicar uma lei a situações não
previstas, ou seja, situações omissas, violando desta forma o princípio da legalidade.

A Constituição contém também um conjunto de normas que delimitam a aplicação no


tempo das leis penais (art. 29.º CRP):

 Art. 29º, nº 1 e 3 da CRP - Proíbe a retroatividade das leis penais


incriminadoras;
 Art. 29º, nº 4 da CRP - Impõe obrigatoriamente a retroatividade das leis penais
mais favoráveis ao agente;
 Art. 29º, nº 5 CRP - Consagra-se o princípio “ne bis in idem”, ou seja, o
princípio de que ninguém pode ser condenado mais do que uma vez pela prática
do mesmo facto.

Aplicação da lei penal no tempo- Arts 2º e 3º CP


O princípio da não retroatividade da lei penal vem consagrado expressamente no nº 1 do
art. 2.º do CP, significando não só que a ação que era impune no momento em que foi
praticada não pode ser considerada posteriormente punível, mas também que é
igualmente proibida uma agravação da pena vigente à data da prática do facto,
estendendo-se ainda a outras e ulteriores agravações da situação jurídica do agente.

É decisivo para a proibição da retroatividade a ideia de segurança jurídica, a que se


associa a razão, especificamente penal, de que não podem promulgar-se leis ad hoc,
facilmente influenciáveis pela comoção resultante da prática de um crime em concreto e
que, na maioria das vezes, analisadas com um distanciamento temporal suficiente, se
mostram excessivamente duras.

Por maioria de razão rege o princípio da retroatividade da lei penal mais favorável
quando o facto deixa de ser punível, daí o disposto no nº 2 do art.2º do CP. Quando a
lei, embora de conteúdo mais favorável, não descriminaliza aquela conduta, o nº 4 do
mesmo artigo declara que “é sempre aplicado o regime mais favorável ao agente”.

Aplicação da lei penal no espaço


Trata-se aqui do domínio do direito penal internacional, que tem por objeto determinar
os limites da competência legislativa e judiciária de cada Estado em face do fenómeno
da criminalidade internacional crescente, de precisar as modalidades de colaboração
interestadual na luta contra essa criminalidade, enfim de procurar a codificação e a
instituição de uma justiça penal internacional.

Existem cinco princípios essenciais: O princípio da territorialidade, que nos indica


que a lei penal portuguesa é aplicável a factos praticados em território português [art.
4.º, a) CP]; tendo como corolário o princípio do pavilhão, que afirma que a lei penal
portuguesa é aplicável aos factos praticados a bordo de navios ou aeronaves portuguesas
[art. 4.º, b) CP]. O princípio da territorialidade, é complementado por diversos outros
princípios consagrados no art.5º do CP. na al. a) do n.º 1 do referido artigo, consagra-se
o princípio da defesa dos interesses nacionais. Na verdade, há certos interesses
considerados tão importantes que a lei criminal pune a sua violação quaisquer que sejam
os agentes e onde quer que ela tenha tido lugar, indicando os preceitos onde se preveem
os tipos legais a considerar.

Já a al. c) do mesmo preceito consagra o princípio da aplicação universal da lei


penal. Com efeito, há interesses que, fazendo parte do património cultural da
Humanidade, devem ser sempre defendidos criminalmente, quem quer que seja o agente
e onde quer que se tenha praticado o facto que os viola, para que este princípio tenha
lugar é necessário que se verifiquem três condições: que o agente seja encontrado em
Portugal, que não possa ser extraditado, estarmos perante os crimes previstos na referida
alínea.

O princípio da culpabilidade, nulla pena sine culpa (não há crime sem culpa)
Segundo o qual toda a pena tem como suporte normativo uma culpa concreta. Conforme
o art.º 13.º do CP – Dolo e negligência, o art.º 40.º, nº 2 – Em caso algum a pena pode
ultrapassar a medida da culpa e o art.º 71.º. nº 1 – A determinação da medida da pena,
dentro dos limites definidos na lei é feita em função da culpa do agente.

O princípio da jurisdição: (nulla poena sine judicio)


Confere aos tribunais através dos juízes, e a eles em exclusivo, a competência para a
administração da justiça. (Conforme o art.º 202 da CRP).

O princípio da proporcionalidade

Ou da proibição do excesso da restrição da liberdade, apregoado aqui a adequação, a


necessidade e a proporcionalidade das sanções penais (artigo 18.º, da CRP e o art.º 40.º,
n.º 3 do CP).

O princípio da subsidiariedade

Significa que só se deve recorrer ao direito penal, como instrumento de tutela de bens
jurídicos, quando os outros meios de intervenção menos gravosos se mostrem
insuficientes.

Princípio da Intervenção Mínima (Art.º 18.º, n.º 2 da CRP)


O Direito Penal restringe Direitos Liberdades e Garantias, podendo etas restrições
apenas serem no estritamente necessário, quando os outros ramos do direito não
puderem titular aquele direito, ou seja, é um direito subsidiário como última ratio.
O Direito Penal tem de respeitar a proporcionalidade entre os factos praticados pelo
agente e a sanção. (Daí que dizemos que o princípio da intervenção mínima está sempre
ligado com o princípio da proporcionalidade e da subsidiariedade.

A estrutura da norma penal


A norma penal descreve um facto na sua circunstância (são os chamados elementos
típicos), ou seja, a norma penal descreve uma determinada situação de facto, em
abstrato, a que faz corresponder uma reação penal. Por exemplo: O artigo 131.º, do CP -
que diz “quem matar outrem” é a previsão descreve uma certa situação de facto, ou
seja, faz corresponder a uma certa situação de facto, típica; “Será punido com prisão de
8 a 16 anos” é a estatuição, corresponde a uma consequência jurídica, define o que
acontece a essa pessoa que comete esse determinado facto.

Esses artigos da parte geral são uma série de princípios ou de preceitos que são
normalmente utilizados para complementar esses artigos da parte especial

Num caso destes, nós vamos pegar, por exemplo, no art.º 131.º do CP, mas admitindo
que o crime não foi consumado, não foi acabado, não chegou à morte (que é o caso
“normal” e típico descrito no art.º 131.º) nós temos que ir à parte geral e, então integrar
a previsão do art.º 131.º, e alargar essa previsão , com a definição da parte geral, do
que seja a tentativa e alterar a estatuição com o artigo da parte geral que diz que a
pena de tentativa é inferior á do crime consumado com X anos.

Esta estrutura de uma previsão que define um crime de uma estatuição que define
uma pena é particularmente óbvia e imediata em relação aos artigos da parte especial.
Em relação à parte geral, esses artigos vivem numa função de pretender alargar,
delimitar ou pormenorizar aqueles artigos da parte especial que têm esse tipo de
estrutura característica.
Estas normas da parte geral do CP, são consideradas normas penais incompletas porque
são normas que só têm sentido com complemento ou declaração dos pressupostos, da
definição típica ou da consequência jurídica de uma norma penal completa.

São normas complementares das normas penais.


Normas penais em branco
Por exemplo a norma do art.º 31.º do CP, (exclusão da ilicitude) contém os requisitos
do modelo de comportamento típico e a resposta da pena. LOGO NÃO É UMA
NORMA PENAL EM BRANCO.

Mas nem sempre as normas estão completas. Pode haver remissão para outra norma.
A norma que remete para outra norma é a chamada norma penal em branco.

Uma norma penal em branco tem a particularidade de descrever de forma


incompleta os pressupostos de punição de um crime (a norma sancionadora,
remetendo parte da sua concretização para outras fontes normativas.

Norma Penal em Branco quando uma norma penal remete aparte da concretização
da sua previsão para fontes normativas inferiores.

A Lei Penal em Branco é a norma que contém uma sanção para um pressuposto ou
um conjunto de pressupostos de punibilidade ou punição que não se encontram
expressos nessa lei, mas sim noutras de categoria hierárquica igual ou inferior à norma
penal em branco.

Concluindo: São aquelas que remetem para outras fontes normativas a definição dos
seus próprios pressupostos de aplicação, p.ex.: punem a posse de armas proibidas ou
violação das regras de construção, na medida em que remetem alguns elementos
constitutivos do crime para outras normas de valor hierarquicamente inferior-
regulamentos, prescrições das autoridades.

Lugar da prática do facto


Consagra-se, desta forma, a chamada teoria da ubiquidade, que resulta da conjugação
da teoria da atividade ou da ação (em que o lugar do crime é aquele em que o agente
realizou o processo executivo, isto é, a ação ou a omissão causal), com a teoria do
efeito (em que o lugar do crime é onde se produziu o resultado típico) e a teoria do
efeito intermédio (em que o lugar do crime é aquele em que a energia posta em
movimento pelo agente atinge o objeto ou alcança a vítima).
São suscetíveis as seguintes aplicações:
 No que se refere à ação, os lugares da comissão dos crimes de mera atividade
determinam-se unicamente pela ação típica e, nos crimes de resultado, pela ação
e pelo resultado;
 Nos crimes que supõem a prática de vários atos é suficiente a comissão de
qualquer um deles. Pelo contrário, nos casos de ato posterior também punido,
está sujeito ao poder punitivo local;
 Nos crimes de perigo abstrato é decisivo o lugar onde se comete a ação típica;
quanto ao crime continuado entende-se cometido em qualquer lugar onde se haja
cometido algum ato singular;
 O resultado típico é importante como ponto de conexão;
 Nos crimes de perigo concreto, o resultado é já a produção do perigo e nos
crimes de omissão imprópria será o momento da produção da lesão ou o da
colocação em perigo;
 A tentativa entende-se cometida em território nacional quando o autor tiver
atuado no estrangeiro, mas o resultado deveria produzir-se em território nacional
e inversamente;
 É suficiente para a co-autoria que um dos intervenientes tenha contribuído para o
facto em território nacional, nos casos de autoria imediata é aquele lugar em que
o autor mediato atua sobre o seu instrumento e ainda o lugar em que o
instrumento atua e, finalmente, o lugar em que o resultado se produz ou devia
produzir.

Classificação dos tipos de crime


Quanto ao tipo de agente- sujeito ativo
Crimes gerais ou comuns - São aqueles cuja norma típica abre com o termo “Quem”, o
que significa que sobre o qual não se exige qualquer qualidade no agente. São aqueles
que podem ser praticados por qualquer pessoa. Ex: art.º 131.º (homicídio), 135.º
(incitamento á ajuda ao suicídio, etc.)

Crimes específicos - São os crimes que só podem ser cometidos pelo agente que revista
uma certa qualidade, nomeadamente qualquer dever jurídico ou qualquer situação
juridicamente definida. Pressupõem como autores dos crimes apenas as pessoas que
têm uma qualidade exigida pelo próprio tipo. EX: art.º 386.º - Conceito de
funcionário.

Dividem-se em:

Crimes específicos em sentido próprio - Quando o crime só pode ter lugar em razão
da qualidade que o agente preencha. A própria ilicitude do facto depende da verificação
dessa qualidade do agente. É um crime que só pode ser praticado por aquelas pessoas e
mais nenhumas. EX: Art.º 370.º - Prevaricação de advogado ou solicitador. Art.º
369.º Denegação de justiça.

Crimes específicos em sentido impróprio - Neste crime a ilicitude não depende da


qualidade do agente, mas apenas o grau da ilicitude depende da qualidade do agente.
Ex: art.º 375 – Crime de peculato.

Segundo a relação causal entre a conduta e um certo evento


Crimes materiais ou de resultado - são aqueles que segundo o tipo da lei, pressupõem
a verificação de um certo resultado para se poder dizer que se consumou esse crime.
Assim, é indispensável para a consumação do crime material a ocorrência do resultado
prevista na lei penal.

Crimes formais ou de mera atividade – Aqui o crime não tem um resultado.


Consuma-se com o simples comportamento, a consumação ocorre com a simples ação
ou omissão.

Considera-se consumado independente do resultado naturalístico, isto é, não exige para


a consumação o resultado pretendido pelo agente ou autor. São, pois, aqueles em
relação aos quais a lei descreve uma ação e um resultado, mas a redação do dispositivo
legal deixa claro que o crime se consuma no momento da ação.

Segundo a relação entre o próprio comportamento e o bem jurídico que é


protegido pela norma típica
Crimes de lesão ou crime de dano - são aqueles em que se verifica a efetiva lesão do
respetivo objeto jurídico, traduzida na destruição ou diminuição desse bem.
Crime de perigo são os crimes em que apenas se verifica o risco (o perigo) de produção
dessa lesão. Há aqui como que uma antecipação jurídica de bens para momentos
anteriores à sua efetiva lesão, em que o legislador acautela, punindo, não a agressão a
esses bens, mas, mais cedo ainda, o risco que certas condutas podem acarretar para tal
agressão. Por perigo entende-se a “potência de um fenómeno para ocasionar a perda ou
a diminuição de um bem, o sacrifício ou restrição de um interesse”, sendo, portanto, “o
dano provável”.
Divide-se em:

 Crime de perigo abstrato ou presumido - são os que têm como resultado de


conduta a possibilidade de um perigo de lesão de um bem jurídico não carece de
ser demonstrado ou provado, já que é presumido por lei.
 Crimes de perigo concreto - São aqueles em que no caso concreto existe uma
situação de perigo real provocada pela ação do agente e não apenas um risco
meramente abstrato.
 Crimes de omissão imprópria ou comissivos - apenas podem ser cometidos
por determinadas pessoas, a que se chamam garantes, e que por força da lei têm
não só a obrigação de impedir o resultado como o de vigilância em relação a
alguém.
 Crimes próprios de omissão ou omissivos próprios - são os crimes de mera
atividade ou conduta em que a lei pune a simples omissão.
 Crimes próprios ou de mão própria - São todos aqueles em que o tipo exige a
execução corporal do crime pela própria pessoa do agente e não se transmitem
as qualidades exigidas no tipo

Os crimes cometidos por meio de ação são os chamados crimes comissivos.


Omissão será a abstenção de atuar, isto é, o não fazer. Com a omissão viola-se a norma
jurídica, não fazendo o que a lei manda. Os crimes cometidos por omissão, são os
chamados crimes omissivos. Podem ser omissões puras ou omissões impuras.

Omissões puras, tem-se a responsabilidade jurídico-penal do agente, não porque ele


tenha atuado, mas precisamente porque omitiu uma conduta que lhe era exigível por lei.

Omissões impuras tem-se uma situação diferente. Aqui o agente é responsabilizado por
um determinado resultado que tem lugar não por sua ação, não porque ele tenha
diretamente adotado uma conduta típica descrita na lei, mas precisamente porque dá
origem a um resultado por uma inatividade sua, violando desta forma uma norma ou um
preceito de natureza proibitiva. É responsabilizado por um crime que pessoalmente o
obrigava a evitar a produção do resultado.

Podem resultar principalmente de três fontes: Diretamente da lei; Indiretamente da lei


ou do contrato; De situações de ingerência (intervenção).

Concluindo: Enquanto os crimes de omissão pura são os que consistem diretamente, pelo
próprio tipo legal, na violação de um comando; são os denominados “crimes de mera
omissão”, ou seja, são aqueles que pressupõem uma conduta negativa, o “non facere”,
os crimes de omissão impura não consistem na violação direta de um comando legal,
mas sim no levar a cabo, por remissão, a um resultado previsto num tipo que está
desenhado em termos de ação. são aqueles em que há uma violação de um dever legal
de atuar, isto é, o agente não atua de acordo com a exigência legal de determinada
conduta.

Crime e a sua estrutura


Crime em sentido formal
Toda a ação humana, voluntária, típica, ilícita e culposa, que o ordenamento jurídico
comina com uma pena. É a conduta que a norma penal descreve, ou seja, é crime, tudo
aquilo o legislador apontou como sendo.

Crime em sentido material


Todo o comportamento humano, voluntário, que lese ou coloque em perigo
determinados bens jurídicos penalmente protegidos, por serem considerados
fundamentais para a convivência social.
Crime em sentido analítico
É aquele que procura, sob um prisma jurídico, estabelecer os elementos estruturais do
crime. A vantagem desta teoria é propiciar uma correta e mais justa decisão sobre a
infração penal e do seu autor, fazendo com que o julgador ou intérprete desenvolva o
seu raciocínio por etapas.

Tem a vantagem de desdobrar o crime nos seus vários elementos. Esta definição opera
uma análise do crime: tipo, ilicitude e culpa. Tem a desvantagem – não acrescenta nada
quanto ao verdadeiro conteúdo do direito penal e seu objeto.
Assim: Sob esse ângulo, crime é constituído pelo facto típico e ilícito. Dessa maneira,
em primeiro lugar deve ser observada a tipicidade da conduta. A partir daí, é só
verificar se o autor foi ou não culpado pela sua prática. Para a existência da infração
penal, portanto, é preciso que o facto seja típico e ilícito e culposo.
A conduta, expressa de forma voluntária e consciente, será sempre, o ponto de partida
de toda a elaboração do direito criminal, expresso de forma ativa, de forma positiva,
atuando ou negativa, manifestada pela inatividade.
Podemos assim concluir que para que exista um crime, basta que haja um facto
típico e antijurídico. E para que se possa aplicar uma pena, é necessário que o facto,
além de típico e ilícito, seja também culpável.

Definição de crime é um facto voluntário, típico, ilícito, culposo e punível. Ou seja, é


constituído por uma ação ou conduta material, que preenche um tipo descrito na lei,
que tenha sido praticado culposamente e que seja lesivo de algum interesse
juridicamente protegido.
Estrutura do crime
Por conduta entende-se o comportamento humano, expresso de forma voluntária e
consciente, ativo ou negativo, que produz um resultado. Essa conduta foi realizada por
meio de uma ação ou por meio de uma omissão.
 Quando realizado por meio de uma ação estamos perante um facto positivo,
que o agente leve a cabo um ou mais movimentos corporais que conduzem à
produção do evento. É o comportamento minimamente consciente e livre.
 Quando realizado por meio de uma omissão, que se traduz numa abstenção de
atuar.
O resultado é, pois, a consequência da ação e tanto pode consistir num dano efetivo ou
na criação de um perigo.
Por tipicidade entende-se a adequação da conduta ao tipo, ou seja, “quando a conduta
de alguém encaixa exatamente na abstração plasmada na lei”
A ilicitude, é toda a conduta humana que é contrária ao estabelecido na lei criminal. Ou
seja, o ato é ilícito quando ofende ou coloca em perigo um bem jurídico tutelado por lei,
é a ação típica que não está justificada.
A culpabilidade é o elemento subjetivo do delito e consiste na relação que se estabelece
entre a vontade do agente em cometer o facto e a conduta que põe em prática essa
vontade, conduzindo à realização desse mesmo facto. Ou seja, corresponde a vontade do
agente de infringir o dever de agir ou não agir imposto por lei.

Elementos objetivos e subjetivos do tipo de crime


Se estivermos na presença de um comportamento dominado pela vontade, por ação, ou
por omissão, analisaremos se esse comportamento humano preenche ou não um tipo
legal de crime, ou seja, temos que ver se a ação preenche a tipicidade de um dos tipos
previstos na parte especial do Código penal ou em legislação penal complementar.

Aqui, verificaremos se a ação é típica, isto é, se estão preenchidos os elementos


objetivos e subjetivos do tipo legal. Porque existem ações que são penalmente
relevantes, comportamentos dominados pela vontade, que não constituem crime.

Então, a ação típica, é aquela atuação humana que se subsume ao tipo normativo na
previsão dos elementos objetivos e subjetivos do tipo.
Elementos objetivos do tipo
 Agente, “Quem” - Pessoa que adotou uma conduta típica descrita num
determinado tipo legal de crime e que empreende a realização típica.
 Ação típica - A conduta. É um elemento objetivo do tipo legal que se encontra
descrita no tipo.
 Resultado - O resultado corresponde ao elemento da tipicidade.
 Relação da causalidade entre o comportamento e o evento – verifica-se se
um determinado resultado pode ser imputado a uma conduta do agente, se aquilo
que se verifica pode ser efetivamente considerado uma obra daquela atuação
típica do agente.

Elemento subjetivo do tipo


O Dolo, e se o dolo consiste na consciência e vontade de realizar os elementos objetivos
do tipo legal, a análise consistirá em verificar se o agente conhecia e queria matar
aquela pessoa, para assim se poder dizer que o agente atuou ou não dolosamente.

Pressupostos da punição
Ação e causalidade
O nexo de imputação é um elemento objetivo do tipo nos crimes matérias ou de
resultado, porque só nestes é que ocorre o resultado para imputar a uma conduta.

O art.º 131.º, do CP, não contém nenhum elemento escrito que determine a
obrigatoriedade de haver um resultado. Apenas tal é um evidente pressuposto, e é por
isso que se designa por elemento não escrito no tipo.

Devemos sempre por começar a verificar a imputação objetiva. Se a imputação objetiva


não se verificar a nossa análise termina porque aquele comportamento não cabe na
previsão da norma jurídica. Se estamos perante um crime de resultado, cabe à análise da
relação de causalidade. Esse crime, é o suporte da imputação objetiva. Só há crime se
tiver havido uma relação causa-efeito.
Podemos considerar que quando o crime exige para a sua consumação a produção de
um resultado material torna-se indispensável: que ele derive de um comportamento
humano e que entre a conduta e o resultado se estabeleça um nexo de causalidade.
Assim, para que possamos indiciar aquela conduta como crime, não basta analisar a
relação entre a conduta adotada pelo agente e o facto, ou seja, entre o autor e o objeto
jurídico da sua conduta, mas também, considerar a causa, ou seja, a relação existente
naquela conduta e as consequências ou resultados materiais dessa mesma conduta.
Verificada uma relação de causa/efeito e se for considerada essa relação jurídico
penalmente relevante, então vamos imputar objetivamente aquele resultado aquele
agente.
O legislador equipara, em princípio, a omissão à ação, desde que adequadas ao
resultado que delas possa advir; por outro lado, que se tomou opção pela teoria da
causalidade adequada ou da adequação, segundo a qual a causa de um determinado
evento é a que for mais adequada ou idónea para o produzir; e finalmente, que aquela
equiparação só não se verificará quando for outro o sentido da lei. Portanto para o
legislador omissão é ação, desde que o resultado se adeque à conduta (seja ela
comissiva ou omissiva), uma e outra têm a mesma relevância em Direito Penal.

Teoria da causalidade adequada


Essa adequação tem que ser determinada pelo julgador segundo um juízo referido
ao momento em que uma ação se realiza, como se a produção do resultado se não se
tivesse ainda verificado. Através de um juízo ex ante ou de Prognose Póstumo,
passados os acontecimentos, o juiz vai averiguar se para uma pessoa médio, colocada
nas mesmas circunstâncias de tempo e lugar, era ou não previsível o desenrolar dos
acontecimentos.

Tem que se:


 Atender às regras gerais da experiência comum aplicadas ao condicionalismo
concreto da situação, sem afastar as regras ou circunstâncias conhecidas
efetivamente pelo agente;
 Referir-se a todo o processo causal e não só ao evento, o que quer dizer que a
atuação de terceiro interrompa necessariamente o nexo causal, dado que essa
intervenção pode ser previsível. (EX: deixar a arma carregada em local onde se
trava uma acesa discussão).
 Tornar necessário que tenha sido violado o dever objetivo de cuidado,
sempre que se esteja perante condutas perigosas.

Mas é necessário ter ainda atenção ao preceituado no art.º 10.º, n.º 1, do CP, parte
final: “salvo se for outra a intenção da lei”.

Procurando concretizar tal salvaguarda, cremos que a mesma não se aplicará aos
crimes de execução livre nos quais o tipo legal se limita a descrever o resultado, a
mesma valoração criminal quer sejam cometidos por uma conduta ativa, quer por
uma conduta omissiva.
Daqui podemos concluir, de que nem todas as omissões de condutas suscetíveis de levar
à produção de um evento podem ser equiparadas à sua realização positiva ou ativa. Uma
omissão só será equiparada à ação quando a lei não contrariar essa equiparação.

O n.º 2, do art.º 10.º, do CP, também impõe uma limitação ou travão à equiparação
entre omissão e ação. Desdobra-se em duas exigências:

 A necessidade de um dever jurídico legal

A distinção entre a ação e a omissão tem grande importância, sendo ainda maior,
perante forma de conduta equivocas.

 Um dever que obrigue pessoalmente o omitente a evitar o resultado

Isto é, que se coloque numa posição de garante, sem, contudo, definir quando e em que
condições surge esse dever jurídico, se da lei, de um contrato etc.

Responsabilidade das pessoas singulares e coletivas


O art.º 11.º, do CP, consagra a regra da responsabilidade das pessoas singulares e
coletivas e, também, consagra o princípio da pessoalidade das penas. Só o homem
singularmente considerado pode, em regra ser sujeito ativo de uma infração criminal. Só
em casos excecionais se admite a punição de pessoas coletivas com pena de multa
(exemplo os delitos antieconómicos de grandes empresas).

Embora consagre uma responsabilidade autónoma e distinta (também direta), limita-a a


um catálogo circunscrito de crimes elencados e não em todas as áreas de incriminação
penal.
Atuação em nome de outrem
Consagra um alargamento da responsabilidade penal, admitindo a punibilidade pela
atuação em nome de outrem quando o agente agiu voluntariamente como titular de um
órgão de uma pessoa coletiva, sociedade ou mera associação de facto, ou em
representação legal ou voluntária de outrem.
Compreende-se que o ato é praticado no interesse coletivo quando a sua prática tem em
vista a realização dos objetivos socias da pessoa coletiva, já não quando se traduz num
benefício próprio do agente.
Culpabilidade
A culpa é o limite da pena. Isto quer dizer, que não basta, para haver responsabilização
jurídico-penal, a realização de um tipo de ilícito. Tem que se atender que aquela
realização possa ser censurada ao agente em razão da culpa.

Assim, para que possamos imputar o facto ao seu autor são necessárias 2 condições:
A liberdade de decisão – Que implica que o agente seja responsabilizado por ter
preferido a prática daquele facto ao controlo dos seus impulsos criminais, e prende-se
com as questões relacionadas com a imputabilidade, que é afastada em função da
idade e em razão de anomalia psíquica.
A decisão correta – o que pressupões que à liberdade de querer ande associada a
capacidade para os valores. A culpa pode assumir-se como dolo ou como negligência.

Dolo, art.14º, nº1, CP


O dolo como já dissemos, consiste na consciência e vontade, ou seja, no propósito de
praticar o facto descrito na lei penal.

Na estrutura do dolo podemos destacar dois elementos essenciais:

 Um elemento intelectual – traduzido na representação ou previsão pelo


agente do facto ilícito com todos os elementos integrantes e, por outro, à
consciência de que esse facto é censurável.
 Um elemento emocional ou volitivo – ou seja uma especial direção da
vontade, qual seja a de realização do facto ilícito previsto pelo agente, e que
pode dar lugar a diferentes tipos de dolo, como sejam:
a) Dolo direto – Em que o agente tem como fim, intenção, a realização do
facto criminoso, isto é, quer, deseja, o resultado da sua conduta.
b) Dolo necessário - agente, tendo porventura outro fim diferente, prevê o
facto criminoso como consequência necessária da sua conduta e, no
entanto, não se abstém da sua prática.
c) Dolo eventual - o agente ao atuar conforma-se com a possível realização do
facto criminoso como consequência da sua conduta. Este é uma figura
próxima da negligência consciente (art.15º, CP).
Negligência
Negligência – é a displicência, o relaxamento, a falta de atenção, a falta de cuidado, que
tem como consequência a lesão de um bem jurídico protegido por lei.

A negligência é um tipo especial de punibilidade que oferece uma estrutura própria


quer ao nível do ilícito quer ao nível da culpa.

O tipo objetivo de ilícito dos crimes materiais negligentes é constituído por três
elementos:

a) A violação de um dever objetivo de cuidado;


b) A possibilidade objetiva de prever o preenchimento do tipo;
c) E, a produção do resultado típico quando este surja como consequência da
criação ou potenciação pelo agente, de um risco proibido de ocorrência do
resultado.

A violação pelo agente do cuidado objetivamente devido é concretizada com apelo às


capacidades da sua observância pelo “homem médio”. A não observância do cuidado
importa que ela conduza a uma representação imperfeita ou a uma não representação da
realização do tipo. Para que exista culpa negligente necessário é ainda que o agente
possa, de acordo com as suas capacidades pessoais, cumprir o dever de cuidado a que se
encontra obrigado.

Na negligência consciente o agente representou como possível o resultado ocorrido,


mas confiou, não devendo confiar, que ele não se verificaria, na negligência
inconsciente, o agente infringe o dever de cuidado imposto pelas circunstâncias, não
pensando sequer na possibilidade do preenchimento do tipo pela sua conduta.
A negligência será consciente se não obstante aquela representação, o agente atua, mas
atua sem se conformar com a concretização desse evento que ele admite como possível.
Aqui o agente vê a possibilidade do perigo, mas atua não se conformando com a lesão,
não se conformando com a realização típica.

Na negligência inconsciente o agente infringe o dever de cuidado imposto pelas


circunstâncias, não pensando sequer na possibilidade do preenchimento do tipo pela sua
conduta.

Agravação da pena pelo resultado


Os crimes agravados pelo resultado podem ser definidos como “aqueles tipos legais de
crime cuja pena aplicável é agravada por causa da ocorrência de um determinado
resultado”, podendo este ser típico ou atípico. A caraterística fundamental é a existência
de um resultado, resultado esse que agrava a pena.
Podemos assinalar três particularidades nos crimes agravados pelo resultado, a
saber:
1. A presença de um crime fundamental;
2. Aa presença de um resultado agravante
3. E, a presença de uma peculiar agravação da pena que abranja o crime
fundamental e o resultado agravante e que, pela lógica, deva ultrapassar a que
teria lugar através do concurso de crimes.

Tem que estar sempre em causa um nexo de causalidade, ou seja, tem que existir um
nexo que conecte a conduta ao resultado agravante. Implica que “a conexão subjetiva
entre o agente e o resultado agravante” pode ser uma ligação em forma de negligência,
mas, também, em forma de dolo.

Circunstâncias exclusórias da responsabilidade criminal


Causas de exclusão da ilicitude
Para que um facto possa ser imputado ao agente exige-se simultaneamente que: o facto
seja típico, seja ilícito e culposo .
Só assim, não acontecerá quando existam circunstâncias que, nos termos da lei,
excluam a ilicitude do facto ou a culpa na sua produção.

a) Nos termos do art.º 31.º/1, do CP, de onde resulta como causa genérica de
exclusão, pela ordem jurídica considerada na sua totalidade. No nº2 do mesmo
artigo, faz-se uma enumeração exemplificativa, dessas principais causas de
exclusão da ilicitude:
 Legitima defesa, será, pois, a atuação de quem “usando moderadamente
dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a
direito seu ou de outrem”. São necessários os requisitos da agressão
(atual e ilícita) e a defesa (necessidade e intenção defensiva). A defesa
tem, também, requisito da necessidade, ou seja, pois é necessário que
que se defenda um interesse jurídico do agredido;
 Exercício de um direito, é integrado pelo “complexo de atos que o
titular do direito pratica para conseguir a satisfação de um interesse que
a lei tutela”. É necessária que a situação de perigo não tenha sido
voluntariamente criada pelo agente, que o interesse sacrificado seja
sensivelmente inferior ao interesse a preservar e que For
razoavelmente de impor ao lesado o sacrifício do seu interesse face á
natureza ou valor do interesse ameaçado;
 Cumprimento de um dever imposto por lei ou ordem legítima da
autoridade, esta causa de exclusão da ilicitude existe quando o agente, por
estar vinculado ao cumprimento de um dever decorrente de norma jurídica ou
de ordem legitima de autoridade competente, pratica um facto que se ajusta ao
tipo descrito na lei. Quando assim é, o facto não é ilícito por se encontrar
justificado;

 Consentimento do lesado, nesta situação, a exclusão da ilicitude do facto


resulta da circunstância de o agente ter atuado com autorização do titular do
interesse que a lei quis proteger. Art.º 31.º, nº 2, d), art.º 38.º - consentimento
e 39.º - consentimento presumido;
 Direito de necessidade;
 Conflito de deveres, é uma causa de exclusão da ilicitude prevista no art.º
36.º do CP. Tratam-se daquelas situações em que se torna lícito ao agente não
cumprir um dever, se o cumprir outro dever de categoria igual ou superior. O
agente por vezes, é confrontado com 2 ou mais deveres sem que a lei ou a
ordem jurídica lhe forneça um critério de escolha.
 Direito de resistência.

Causas de exclusão da culpabilidade

1. Por excesso de legítima defesa - Enquanto a legitima defesa afasta a ilicitude, o excesso
de legitima defesa atua no domínio da culpa a culpa.
No excesso de legitima defesa, verificam-se todos os pressupostos da legitima defesa,
designadamente a consciência dê que se está a ser agredido, etc., só que existe um
excesso dos meios.
A pessoa foi além do que parecia razoável para assegurar a defesa do bem que estava
em perigo, logo no art.º 33.º/1 refere que o comportamento é ilícito (fica excluída a
possibilidade de justificação, mas a pena pode ser especialmente atenuada).
2. Por estado de necessidade desculpante – A lei faz uma seleção, ou seja, só se verifica
quando o ato é praticado para afastar um perigo atual e não removível de outro modo,
que ameace a vida, a integridade física, a honra ou a liberdade do agente ou de terceiro.
A ação do agente deve ser em último recurso, é uma ação em estado de necessidade.
Deve existir um perigo atual – Tal como acontece no estado de necessidade justificante,
o perigo não pode ser abstrato, presumido. Tem que ser um perigo efetivo, não deve
haver outro meio para salvar o bem.
3. Por obediência indevida desculpante - Quando o ato resulta do cumprimento de uma
ordem por parte do funcionário, desconhecendo que esse cumprimento conduz à prática
de um crime. Não sendo isso evidente, porque sendo evidente, o erro que ele comete é
censurável, logo há culpa.

4. Erro sobre as circunstâncias do facto - Quando falamos em erro: não estamos numa
situação de ausência de conhecimento, mas sim de uma falsa realidade, um
conhecimento deformado, um conhecimento incorreto por erro sobre os elementos
de facto e de direito ou sobre proibições cujo conhecimento for indispensável para que
se possa tomar conhecimento da ilicitude do facto (art. 16.º).
Quando falte um dos elementos da estrutura do dolo este está automaticamente
afastado, porque se desde logo o agente desconhece determinada realidade, nunca a
poderia ter querido, logo não haverá dolo. Assim, as situações que desconhecemos ou
das quais temos um imperfeito conhecimento da realidade são situações de erro sobre
os elementos do facto típico. Art.º 16/1, do CP.
5. Falta de conhecimento da ilicitude não censurável - Por desconhecimento, não
censurável, de que o facto era ilícito (art. 17.º/1, CP

Formas do crime quanto às suas fases


Por um lado, figuras ligadas às várias etapas ou fases do crime:
 Atos preparatórios.

Os atos preparatórios são atos “equívocos, não concludentes, não são claros sobre a
finalidade da ação, mantendo-se dentro da esfera dos atos pessoais do sujeito ativo.

Os atos de execução “são unívocos, deixando perceber que se orientam para a


realização do tipo penal. Saem da esfera meramente pessoal do sujeito ativo e passam a
invadir a esfera do sujeito passivo”, entrado numa fase do inter criminis (o percurso na
realização do facto) que se inicia, com o primeiro movimento que caracterize a
realização da ação descrita no tipo.
Resulta então que tudo o que fica para trás e até à linha limite da mera resolução ou
cogitação será ato preparatório.

Segundo o art.º 21.º, do CP, esta regra de que a preparação de uma infração penal e os
actos em que se traduz. Em princípio, não devem ser puníveis como tais. Tal facto é
compreensível, uma vez que os actos preparatórios, não são descritos no tipo, só
justificando a sua punição quando estão em jogo bens jurídicos que sejam suporte à
natureza ou à própria compreensão de um Estado de Direito.

 Tentativa, caracteriza-se pela prática de algum ato de execução do crime, e em


princípio já é punível. Para que seja punível é necessário verificar os seguintes
passos:
a) Resolução – se existe vontade de realização do facto ilícito;
b) Se os atos de execução – Verificação do começo da execução desse facto, ou
seja, se foi preenchido pelo menos um dos elementos do ilícito, através de
atos exteriores à resolução que contenham um momento de ilicitude;
c) Não consumação – Interrupção do processo executivo do crime.

Tentativa inacabada- O agente na tentativa inacabada não chegou a cumprir todo o


processo de execução do crime. Art.º 22.º/1. A execução foi interrompida por
circunstâncias estranhas à vontade do agente.

Tentativa acabada- Quando o agente realizou todo o processo de execução, mas não se
verificou o resultado, devido a circunstâncias estranhas à sua vontade.

O art.º 22.º do CP diz-nos quando estamos perante uma tentativa de cometimento de um


crime, o artigo 23.º, diz-nos quando é que essa tentativa é punível. Pode ser:
Diretamente: Determinado que a tentativa é punível nos crimes mais graves (aqueles a
cuja consumação corresponde pena com limite máximo superior a 3 anos de prisão),
uma vez que em relação a eles basta o início de realização do facto para abalar o
sentimento coletivo de segurança jurídica.
Indiretamente: Quando se Admite que outras disposições venham a punir a tentativa,
por razões de prevenção geral, nos crimes de gravidade média, e naqueles que é grande
a tentação de cometê-los, quando a moldura penal é inferior a 3 anos, quando tal for
referido pelo legislador.
DESISTÊNCIA: (art.º 24.º, do CP)
O fundamento está em que a tentativa tem menor dignidade penal quando o próprio
agente suspende a execução abandonando o projeto que tinha em vista. O crime deixa
de ser punível quando o agente abandone/desiste da execução do delito. É relevante
quando o agente abandonar voluntariamente e espontaneamente a execução do crime,
impeça, voluntariamente e espontaneamente a consumação, Impeça a verificação do
resultado não compreendido no tipo e Faça um esforço sério para evitar a consumação
do crime ou o seu resultado.

 Crime consumado, é o estádio último do inter criminis. É para ele que a lei
reserva, e sem restrições, a plenitude da censura penal, a menos que se
verifique, no caso, qualquer circunstância impeditiva da ilicitude ou da culpa.

Por outro, realidades que têm a ver com os agentes do crime:

 Autoria:
 Simples.
 Comparticipada.
 Cumplicidade.

Autor de um facto criminoso, olhando em sentido amplo, é aquele que lhe dá causa ou
domina o processo da sua realização. É a pessoa que domina, na medida em que
desencadeia esse processo, na medida em que intervêm diretamente na sua execução, na
medida em que pode a todo o momento, pôr termo ou suspender a execução do crime. É
aquele que tem o domínio consciente do facto orientado para uma certa finalidade.

A autoria de um crime pode ser vista sob duas vertentes:

 Autoria imediata ou material – aquela em que o agente executa o facto por si


mesmo, diretamente por suas próprias mãos (art.º 26.º, primeira parte);
 Autoria mediata, moral ou intelectual – aquela em que o agente pratica o facto
por intermédio de outra pessoa, o que significa a presença de duas pessoas na
prática do crime: o “homem de trás” (autor mediato) que realiza o ilícito como
próprio e o “homem da frente”, que é o executor ou intermediário, um
“instrumento humano”, isto é, deixando-o executar materialmente por outra
pessoa, sem, todavia, perder com isso o domínio do mesmo.

Coautoria ou comparticipação: Estaremos perante uma coautoria ou comparticipação


criminosa, quando o facto típico é compartilhado por uma pluralidade de agentes,
havendo conjugação de esforços no sentido da consumação do facto ou factos típicos,
ou seja, quando mais que um agente intervém no cometimento do crime ou crimes.

Assim na coautoria o agente toma parte direta na execução do facto e fá-lo por uma
de duas maneiras:

a) Por acordo entre todos os comparticipantes – acordo este que pode ser expresso
ou tácito; sempre se exigirá uma consciência e vontade na colaboração na
realização de um tipo legal de crime (juntamente com outro ou outros, tem que
assumir um carácter bilateral.
b) Por participação direta na execução do facto juntamente com outro ou outros .
Ou seja, necessidade de um exercício conjunto no domínio do facto, uma
contribuição objetiva para a sua realização, pese embora, possa não fazer parte
da execução.

Em resumo, no caso de ilicitude, na coautoria, a regra é a da comunicabilidade –


ilicitude na comparticipação. Ou seja, se a ilicitude ou grau de ilicitude do facto
dependerem de certas qualidades ou relações especiais do agente, basta que essas
qualidades ou relações se verifiquem em qualquer deles para que a pena respetiva seja
aplicável a todos os comparticipantes, exceto se a norma incriminadora comporte outro
sentido.

Cumplicidade: encontra-se prevista no art.º 27.º, do CP, e consiste numa atividade


extratípica acessória, de auxílio ou colaboração com o autor, como no fornecimento de
uma viatura, no empréstimo consciente de uma arma ou na vigilância dos arredores.
É cúmplice quem:

 Presta auxílio material ou moral à prática de um facto doloso cometido por


outrem: O critério para que se possa dizer que existe cumplicidade, é de que,
com ela, o facto do autor foi facilitado.
 Fazendo-o dolosamente e utilizando qualquer meio: O elemento subjetivo do
cúmplice tem que abranger o auxílio doloso e a prática principal do facto tem
que ser realizada por parte do autor, estando assim, excluída a possibilidade de
uma cumplicidade a título negligente.

E finalmente situações que dizem respeito ao número de crimes cometidos:

 Crime unitário.

Na maioria dos casos o agente atua sozinho levando a cabo uma única ação criminosa.

Nos crimes unitários temos uma singularidade de agente e unidade de ilícito.

 Concurso de crimes.

O agente na sua conduta, não preenche apenas um único ou o mesmo tipo de ilícito,
mas mais do que um tipo e/ou o mesmo tipo mais do que uma vez.

Assim, para que possamos saber, se se cometeu um só ilícito criminal ou mais do que
um, socorremo-nos do art.º 30.º, n.º 1, estabelece as seguintes regras:

a. Unidade de tipos preenchidos com a conduta – unidade de crimes;


b. Pluralidade de tipos preenchidos com a conduta – concurso de crimes;
c. Unidade de tipos preenchidos, nas pluralidades de vezes em que tal
aconteceu – concurso de crimes.
Podem ser:

1. Concurso legal, aparente ou impuro – em que a conduta do agente apenas


formalmente preenche vários tipos de crimes, mas, por via da interpretação,
conclui-se que o conteúdo dessa conduta é exclusiva e totalmente abrangido ou
absorvido por um só dos tipos violados, pelo que os outros tipos devem recuar,
não sendo considerados. (Ver Especialidade, Consumpção, Subsidiariedade e
Facto posterior não punível).
2. Concurso efetivo, verdadeiro ou puro – em que entre os tipos legais
preenchidos pela conduta do agente se não dá uma exclusão por via de qualquer
das regras, como acontece com o concurso ideal, aparecendo as diversas normas
aplicáveis como concorrentes na aplicação concreta (sendo a punição efetuada
de acordo com as prescrições constantes no n.º 1 a 4 do art. 77.º). Ou seja, há
concurso efetivo quando se comete mais que um crime, quer através da mesma
conduta, quer através de condutas diferentes. (Ver concurso ideal e real).

 Crime continuado

Verifica-se quando através de várias ações criminosas se repete o preenchimento do


mesmo tipo legal ou de tipos que protegem o mesmo bem jurídico, usando-se de um
procedimento que se reveste de uma certa uniformidade e aproveita um condicionalismo
exterior que propicia a repetição, fazendo assim diminuir consideravelmente a culpa do
agente. É o que consta do art. 30.º, n.º 2 do CP.

Tem como pressupostos a Realização plúrima do mesmo tipo de crime, a


Homogeneidade da forma de execução, a Unidade do dolo, a Lesão do mesmo bem
jurídico e a Persistência de uma “situação exterior”.

Distinção entre crime e infração contraordenacional.


CRIME CONTRAORDEAÇÃO
 contêm uma censura ética (culpa)  contraordenações contêm uma advertência
 A maior parte dos crimes só é punível a título social sem qualquer estigma ético-social.
 Uma contraordenação é uma infração
de dolo (intenção de praticar o facto); a
punível com uma sanção pecuniária
punibilidade a título de negligência deve estar denominada coima, que não é convertível
em prisão.
expressamente prevista na lei.
 A competência para o seu processamento
 Crime é o conjunto de pressupostos de que cabe a diversas entidades administrativas,
que procedem à instrução do processo e
depende a aplicação ao seu autor de uma pena
aplicação da coima (e, eventualmente, de
ou medida de segurança criminais. sanção acessória).
 Direito de Recurso aos tribunais. Os
 A aplicação é feita exclusivamente pelos
Tribunais são competentes para apreciar os
tribunais
recursos das decisões das entidades
administrativas que aplicam as coimas.

Ao Direito Criminal cabe proteger o mínimo ético essencial à vida em sociedade. Os


crimes contêm uma censura ética (culpa), enquanto as contraordenações contêm uma
advertência social sem qualquer estigma ético-social.
Contraordenações: Para além do comportamento violador de normas que é
considerado crime, também existem outros comportamentos violadores da lei a que é
dada menor relevância por serem considerados menos graves: São as
contraordenações, puníveis com coimas e processadas em entidades administrativas
com recurso para os Tribunais.

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