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Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 Sumario Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (Parte 02).. Questdes Comentadas Lista de Questdes... Gabarito.... Ola, amigos do Estratégia Concursos, tudo bem? Na aula anterior, nés demos inicio ao estudo ireitos e deveres individuais e coletivos. Hoje, continuaremos a tratar desse tema que, como jé dissemos, é um dos mais cobrados em prova. Vocé verd que hé muitos detalhes a serem memorizados, por isso é importante resolver todos os exercicios da listal Nao deixe, também, de assistir aos videos do professor Ricardo Vale, ja disponiveis na sua érea do aluno! Depois de ler nosso material, resolver as questdes e assistir aos videos, ndo tem como no gabaritar a proval Que tal comecarmos nossos estudos? Um grande abraco, Nadia e Ricardo Para tirar duividas e ter acesso a dicas e contetidos gratuitos, acesse nossas redes si Instagram - Prof. Ricardo Vale: https://www.instagram.com/profricardovale, Instagram - Prof*. Nadia Carolina: https://www.instagram.com/nadiacarolstos, Canal do YouTube do do Vale: https://www.youtube.com/channel/UC32LIMyS96biplI715y2S9 Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital \www.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS (PARTE 02) Nosso estudo comega do ponto em que paramos na aula passada. Nela, haviamos estudado 0 art. 52, inciso até o art. 52, inciso XXXI. Ao inserir esse inciso no rol de direitos fundamentals, 0 constituinte destacou a importancia do direito do consumidor para os cidados. Essa importancia fica ainda mais evidente quando se verifica que no art. 170, V, CF/88 a defesa do consumidor foi elevada a condiggo de principio da ordem econdmica. O inciso XXXII é uma tipica norma de eficdcia limitada, uma vez que é necesséria a edi¢do de uma lei que determine a forma pela qual o Estado fard a defesa do consumidor. Essa lei jé existe: ¢ 0 Codigo de Defesa do Consumidor. Segundo o STF, as instituicdes financeiras também sao alcangadas pelo Cédigo de Defesa do Consum Cabe destacar que, no RE 636.331, o STF considerou que as normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convengées de Varsévia ede Montreal, tém prevaléncia em relacdo ao Cédigo de Defesa do Consumidor.? Assim, em caso de extravio de bagagem ocorrido em transporte internacional, sero aplicadas as normas de convengées internacionais (e nao 0 Cédigo de Defesa do Consumidor), XXXII - todos tém direito a receber dos érgaos publicos informacdes de seu interesse particular, ou de interesse col ou geral, que sero prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindivel & seguranca da } sociedade e do Estado; Essa norma traduz 0 direito & informacao que, combinado com o principio da publicidade, obriga a todos os érgios e entidades da AdministracSo Publica, direta e indireta (incluindo empresas ptiblicas e sociedades de economia mista), a dar conhecimento aos administrados da conduta interna de seus agentes. Com efeito, todos os cidadaos tém o direito de receber dos érgios puiblicos informagées de seu interesse particular ou de interesse coletivo ou geral. O principio da publicidade evidencia-se, assim, na forma de uma obrigacao de transparéncia. Todavia, os drgdos puiblicos néo precisam fornecer toda e qualquer informacao de que disponham. As informagées cujo sigilo seja imprescindivel a seguranca da sociedade e do Estado nao devem ser fornecidas. Também sSo imunes ao acesso as informacées pessoais, que esto protegidas pelo art. 5°, X, da CF/88 que * STF, ADIn® 2.591/0F, Rel. Min. Cezar Peluso. DJe: 18.12.2009 2 RE 636.331/RJ. Rel, Min. Gilmar Mendes. 25.05.2017 FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 dispde que “sto inviolaveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado 0 direito a indenizagao pelo dano material ou moral decorrente de sua violagdo”. A regulamentago do art. 5, inciso XXXIIl, ¢ feita pela Lei n? 12.527/2011, a conhecida Lei de Acesso & Informacao. £ ela que define o procedimento para a solicitac3o de informagées aos érgos e entidades piblicas, bem como os prazos @ as formas pelas quais 0 acesso @ informacao sera franqueado aos interessados. Em 2008, antes mesmo da Lei de Acesso & Informaco, 0 Municipio de S30 Paulo, buscando dar maior transparéncia publica, determinou a divulgagao na Internet da remuneragao de seus servidores. O caso foi levado ao STF, que entendeu que essas informacées (remuneraco bruta, cargos, funcdes, érgios de lota¢So) so de interesse coletivo ou geral, expondo-se, portanto, a divulgacao oficial. No entendimento da Corte, “nGo cabe, no caso, falar de intimidade ou de vida privada, pois os dados objeto da divulgagdo em causa dizem respeito a agentes publicos enquanto agentes publicos mesmos; ou, na linguagem da prépria Constituigdo, agentes estatais agindo ‘nessa qualidade’ (§ 62 do art. 37)? Ainda nessa linha de garantir 0 acesso & informacao, o STF determinou que fossem fornecidas a pesquisador documentos impressos € arquivos fonogréficos das sessdes piblicas e secretas realizadas pelo STM (Superior Tribunal Militar) durante o periodo dos governos militares. Para a Corte, o direito & informacio e a busca pelo conhecimento da verdade integram o patriménio juridico de todos os cidados, sendo um dever do Estado assegurar os meios para 0 exercicio desses direitos.* No caso de lesdo ao direito a informacdo, o remédio constitucional a ser usado pelo particular é 0 mandado de seguranca. Nao é 0 habeas data! Isso porque se busca garantir 0 acesso a informagGes de interesse particular do requerente, ou de interesse coletivo ou geral, e ndo aquelas referentes 8 sua pessoa (que seria ipdtese de cabimento de habeas data). (TRF 5a Regido — 2015) Deve ser resguardado o nome do servidor piblico na publicitagdo dos dados referentes a sua remuneraco, porquanto tal divulgag&o viola a proteco constitucional a intimidade. Comentarios: A divulgacao do nome e da remuneracao dos servidores puiblicos € de interesse coletivo ou geral e, portanto, 'do hé que se falar em violaco da intimidade. Questo errada STR, MS, 3.902 —AgR, Rel. Min, Ayres Britto. D/E de 03.10. 2011 “Rel 11949/R), Rel. Min. Cérmen Licia, 15.03.2017 FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 Titulares: pessoas fisicas ou juridicas, nacionais ou estrangeiras | Ambito de protegao: informacies de interesse particular ou de interesse coletivo ou geral DIREITO A. INFORMACAO ExcegGes: infor mages imprescindiveis & seguranca da sociedade ou do estado | Protegido via mandado de seguranca | XXIV ~ so a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) 0 direito de peticio aos Poderes Pui abuso de poder; 1s em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou b) a obtengdo de certidées em reparti¢des ptblicas, para defesa de direitos e [esclarecimento de situagdes de interesse pessoal; Esse dispositive constitucional prevé, em sua alinea “a”, 0 direito de peticdo e, na alinea “b’, o direito & obtengao de certiddes. Em ambos os casos, assegura-se o néo pagamento de taxas, por serem ambas as hipéteses essenciais a0 proprio exercicio da cidadania. Para facilitar a compreenséo, traduzirei em palavras simples o que é petigo e o que é certido. Peticdo é um pedido, uma reclamago ou um requerimento enderegado a uma autoridade publica. Trata-se de um instrumento de exercicio da cidadania, que permite a qualquer pessoa dirigir-se ao Poder Publico para reivindicar algum direito ou informacSo. Por esse motivo, o impetrante (autor da petico) pode fazer um pedido em favor de interesses préprios, coletivos, da sociedade como um todo, ou, até mesmo, de terceiros. No necessita de qualquer formalismo: apenas se exige que o pedido seja feito por documento escrito. Exemplo: um servidor puiblico pode, por meio de peticSo, pedir remoco para outra localidade, para tratar de sua satide. Jaa certidao é um atestado ou um ato que dé prova de um fato. Dentro da linguagem juridica, é uma cé auténtica feite por pessoa que tenha fé publica, de documento escrito registrado em um processo ou em um, livro. Exemplo: certido de nascimento. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital \www.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 £ muito comum que as bancas examinadoras tentem confun finalidades do direito de peticio e do direito de obter certidao. © candidato quanto as 1) 0 direito de peticao tem como finalidades a defesa de direitos e a defesa contra ilegalidade ou abuso de poder. 2) 0 direito & obtengao de certidées tem como finalidades a defesa de direitos e 0 esclarecimento de situagdes de interesse pessoal. Ele no serve para esclarecimento de interesse de terceiros. Como se v8, ambos servem para a defesa de direitos. Entretanto, a peticao também é usada contra ilegalidade ou abuso de poder, enquanto as certidées tém como segunda aplicacdo possivel o esclarecimento de situagdes de interesse pessoal. O direito de peti¢éo é um remédio administrative, que pode ter como destinatério qualquer drgi0 ou autoridade do Poder Puiblico, de qualquer um dos trés poderes (Executivo, Legislativo e Judiciério) ou até mesmo do Ministério Publico. Todas as pessoas fisicas (brasileiros ou estrangeiros) e pessoas juridicas s8o legitimadas para peticionar administrativamente aos Poderes Publicos. Por ser um remédio administrativo, isto é, de natureza ndo-jurisdicional, o direito de petic&o é exercido independentemente de advogado. Em outras palavras, nao obrigatéria a representacSo por advogado para que alguém possa peticionar aos Poderes Publicos. Nesse sentido, é importante deixar claro que o STF faz nitida distingo entre o direito de peticionar e 0 direito de postular em juizo.> © direito de postular em juizo, ao contrario do direito de petigdo, necesita, para ser exercido, de representaco por advogade, salvo em situacdes excepcionais (como é 0 caso do habeas corpus). Portanto, para 0 STF, nao é possivel, com base no direito de peticao, garantir a qualquer pessoa ajuizar acdo, sem a presenca de advogado. Com efeito, 0 ajuizamento de aco esté no campo do “direito de postular em juizo”, © que exige advogado. Quando se exerce 0 direito de peti¢ao ou, ainda, quando se solicita uma certido, hé uma garantia implic a receber uma resposta (no caso de peti¢ao) ou a obter a certid3o. Quando hé omiss3o do Poder Puiblico (falta de resposta a peticdo ou negativa ilegal da certido), o remédio constitucional adequado, a ser utilizado na via judicial, é 0 mandado de seguranca. Sobre o direito de certidéo, o STF ja se pronunciou da seguinte forma: 5 STF, Petico n® 762/BA Agh . Rel. Min. Sydney Sanches. Didrio da Justica 08.04.1904 FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 ‘0 direito & certidao traduz prerrogativa juridica, de extrac&o constitucional, destinada viabilizar, em favor do individuo ou de uma determinada coletividade (como a dos segurados do sistema de previdéncia social), a defesa (individual ou coletiva) de direitos ou © esclarecimento de situacdes, de tal modo que a injusta recusa estatal em fornecer certiddes, n&o obstante presentes os pressupostos legitimadores dessa pretensio, autorizara a utilizagdo de instrumentos processuais adequados, como 0 mandado de seguranca ou como a propria aco civil publica, esta, nos casos em que se configurar a existéncia de direitos ou interesses de carater transindividual, como os direitos difusos, os direitos coletivos e os direitos individuais homogéneos”®. As bancas examinadoras adoram dizer que o remédio constitucional destinado a proteger © direito de certidao € 0 habeas data. Isso esta errado! 0 remédio constitucional que protege o direito de certido € o mandado de seguranca. © habeas data é utilizado, como estudaremos mais & frente, quando no se tem acesso a informagBes pessoais do impetrante ou quando se deseja retificé-las. Quando alguém solicita uma certidao, j4 tem acesso as informagSes; o que quer é apenas receber um documento formal do Poder Puiblico que ateste a veracidade das informacdes. Portanto, é incabivel 0 habeas data. PraCAR (TCE-PE — 2017) De acordo com a CF, somente estarao isentas do pagamento de taxa para obtencdo de certiddes em reperti¢ao publica para defesa de direitos as pessoas que comprovarem sua hipossuficién Comentérios: O direito a obtenco de certiddes em reparticSes puiblicos independe do pagamento de taxas. Trata-se de prerrogativa de todas as pessoas (e no apenas dos hipossuficientes!). Questo errada. RE STF 472.489/RS, Rel. Min. Celso de Mello, 13.11.2007. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 No Brasil, adota-se o sistema inglés de jurisdicdo, que é o sistema de jurisdi¢do una. Nesse modelo, somente © Poder Judiciario pode dizer 0 Direito de forma definitiva, isto é, somente as decisdes do Judiciario fazem coisa julgada material. Contrapondo-se a esse modelo, estd o sistema francés de jurisdi¢io (contencioso admit ), no qual tanto a Admit istraco quanto o Jud rio podem julgar com caréter definitivo. Oart. 52, XXXV, ao dizer que “a lei no excluird da apreciagdo do Poder Judiciério leséo ou ameaga a direito”, ilustra muito bem a adogdo do sistema inglés pelo Brasil. Trata-se do principio da inafastabilidade de ju 10, segundo o qual somente o Poder Judiciério poderé decidir uma lide em definitivo. E claro que isso i nao impede que o particular recorra administrativamente ao ter um direito seu violado: ele poderd fazé-lo, inclusive apresentando recursos administrativos, se for o caso. Entretanto, todas as decis6es administrativas esto sujeitas a controle judicial, mesmo aquelas das quais nao caiba recurso administrativo. Cabe destacar que quaisquer litigios, estejam eles concluidos ou pendentes de solucdo na esfera administrativa, podem ser levados ao Poder Judiciério, No ultimo caso (pendéncia de solucao administrativa), a decisdo administrativa restaré prejudicada. O processo administrativo, consequentemente, seré arquivado sem decisdo de mérito. Em razo do principio da inafastabilidade de jurisdic&o, também denominado de principio da universalidade de jurisdigo, nao existe no Brasil, como regra geral, a “jurisdicéo condicionada” ou “instancia administrativa de curso forcado”. Isso quer dizer que 0 acesso ao Poder Judiciério independe de processo administrativo prévio referente & mesma questo. 0 direito de aco no est condicionado a existéncia de procedimento administrativo anterior; uma vez que seu direito foi violado, o particular pode recorrer diretamente ao Poder Judiciério. Hé, todavia, algumas excecdes, nas quais a jurisdigao € condicionada, ou seja, somente é possivel acionar 0 Poder Judiciério depois de prévio requerimento admi a) habeas data: um requisito para que seja ajuizado o habeas data é a negativa ou omissao da Administragao Publica em relacdo a pedido administrativo de acesso a informagdes pessoais ou de retificaclo de dados. b) controvérsias desportivas: o art. 217, § 12, da CF/88, determina que “o Poder Judicidrio sé admitiré acées relativas @ disciplina e as competi¢ées desportivas apds esgotarem-se as insténcias da justica desportiva, regulada em lei.” ¢) reclamagao contra o descumprimento de Simula Vinculante pela Administracao Piblica: o art. 72, § 12, da Lei n® 11.417/2006, dispSe que “contra omissio ou ato da administracéo publica, o uso da reclamacéo sé serd admitido apés esgotamento das vias administrativas”. A reclamagio é ado utilizada para levar ao STF caso de descumprimento de enunciado de Stimula Vinculante (art. 103-A, §3¢). Segundo 0 STF, a reclamacdo esté situada no ambito do direito de peticao (e ndo no direito de aco); portanto, entende-se que sua natureza juridica no é a de um recurso, de uma aco e nem de um incidente processual.’ 7 STF, ADIn® 2.212/CE. Rel, Min, Ellen Gracie. DJ. 14.11.2003 FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 d) requerimento judicial de beneficio previdencidrio: antes de recorrer ao Poder Ju para que Ihe conceda um beneficio previdenciério, faz-se necessério o prévio requerimento administrative a0 INSS. Sem o prévio requerimento administrativo, n’io haverd interesse de agir do segurado. O art. 52, XXXV, da CF/88, representa verdadeira garantia de acesso ao Poder Judiciério, sendo um fundamento importante do Estado Democritico de Direito. Todavia, por mais relevante que seja, no se trata de uma gerantia absoluta: 0 direito de acesso ao Poder Judiciério deve ser exercido, pelos jurisdicionados, por meio das normas processuais que regem a matéria, no constituindo-se negativa de prestago jurisdicional e cerceamento de defesa a inadmisséo de recursos quando nao observados os procedimentos estatuidos nas normas instrumentais.* Com efeito, o art. 52, inciso XXXV no obsta que o legislador estipule regras para o ingresso do pleito na esfera jurisdicional, desde que obedecidos os principios da razoabilidade e da proporcionalidade. Quando este fixa formas, prazos e condigdes razoaveis, nao ofende a Inafastabilidade da Jurisdicao. Destaque-se que o principio da inafastabilidade de jurisdicao nao assegura a gratuidade universal no acesso aos tribunais, mas sim a garantia de que o Judicidrio se prestaré & defesa de todo e qualquer direito, ainda que contra os poderes puiblicos, independentemente das capacidades econdmicas das partes. E claro que se o valor da taxa judiciaria for muito elevado, isso poderé representar verdadeiro obstaculo a0 direito de aco. Nesse sentido, entende o STF que viola a garantia constitucional de acesso & jurisdicio a taxa judiciria calculada sem limite sobre o valor da causa (Stimula STF n? 667). Com efeito, ha que uma equivaléncia entre o valor da taxa judicidria e o custo da prestacdo jurisdicional; uma taxa judiciaria calculada sobre o valor da causa pode resultar em valores muito elevados, na hipétese de o valor da causa ser alto. Por isso, é razoavel que a taxa judicidria tenha um limite; assim, causas de valor muito elevado n3o resultar8o em taxas judiciérias desproporcionais ao custo da prestaco jurisdicional. A garantia de acesso ao Poder Judiciério é, como dissemos, um instrumento importante para a efetivaco do Estado democratico de direito. Dessa forma, o direito de acdo nao pode ser obstaculizado de maneira desarrazoada. Seguindo essa linha de raciocinio, o STF considerou que “é inconstitucional a exigéncia de depésito prévio como requisito de admissibilidade de acdo judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributdrio” ? (Simula Vinculante n® 28). Segundo a Corte, a necessidade do depésito prévio limitaria 0 proprio acesso a primeira instancia, podendo, em muitos casos, inviabilizar 0 direito de acéo. Outro ponto importante, relacionado a garantia de acesso 20 Poder Judicidrio, é sobre o duplo grau de jurisdicao, Elucidando 0 conceito, explica-se que o duplo grau de jurisdicdo é um reexame da matéria decidida em juizo, ou seja, trata-se de uma nova apreciacao jurisdicional (reexame) por um érgéo diverso e de hierarquia superior aquele que decidiu em primeira instancia. Segundo o STF, 0 duplo grau de jurisdicSo no consubstancia principio nem garantia constitucional, uma ver que s3o varias as previsBes, na prépria Lei Fundamental, do julgamento em instancia tinica ordinaria.”” STF, A.Rg. n° 152.676/PR. Rel. Min, Mauricio Correa. J 03.11.1985. ® stimula Vinculante n® 28: £ inconstitucional a exigéncia de depdsito prévio como requisito de admissibilidade de agiio judicial na qual se pretend discutir a exigibilidade de crédito tributario. 1 RHC 79785 RU; Aglg em Agl 209.954-1/SP, 04.12.1998. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 Em outras palavras, a Constituigo Federal de 1988 nao estabelece obrigatoriedade de duplo grau de jurisdigao. E de se ressaltar, todavia, que o duplo grau de jurisdicdo ¢ principio previsto na Convencio Americana de Direitos Humanos, que é um tratado de direitos humanos com hierarquia supralegal regularmente internalizado no ordenamento juridico brasileiro." Assim, parece-nos que a interpretaco mais adequada é a de que, embora o duplo grau de jurisdicao exista no ordenamento juridico brasileiro (em raz3o da incorporago ao direito doméstico da Convencao Americana de Direitos Humanos), nao se trata de um principio absoluto, eis que a Constituicéo estabelece varias excegdes a ele.” Nesse sentido, nao cabe recurso da decisio do Senado que julga o Presidente da Reptiblica por crime de responsabilidade; ou, ainda, ¢ irrecorrivel a decisio do STF que julge o Presidente 0 pariamentares nas infracdes penais comuns. XXXVI lei nao prejudicara o direito adquirido, o ato juridico perfeito e a coisa julgada; O direito adquirido, 0 ato juridico perfeito a coisa julgada so institutos que surgiram como instrumentos de seguranca juridica, impedindo que as leis retroagissem para prejudicar situacées juridicas consolidadas. Eles representam, portanto, a garantia da irretroatividade das leis, que, todavia, nao é absoluta. 0 Estado no é impedido de criar leis retroativas; estas sero permitidas, mas apenas se beneficiarem os ividuos, impondo-Ihes situag3o mais favorével do que a que existia sob a vigéncia da lei anterior. Segundo © STF, “o principio insculpido no inciso XXXVI do art. 52 da Constituigéio néo impede a edigéio, pelo Estado, de norma retroativa (lei ou decreto), em beneficio do particular”. AStimula STF n2 654 dispde o seguinte: “A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 52, XXXVI, da Constituicao da Republica, nao é invocdvel pela entidade estatal que a tenha editado.” ‘Vamos as explicagSes... Suponha que a Unio tenha editado uma lei retroativa concedendo um tratamento mais favordvel aos servidores ptiblicos do que o estabelecido pela lei anterior. Por ser benigna, a lei retroativa pode, sim, ser aplicada mesmo face ao direito adquirido. 1 art. 88, n®2, alineah, da Convenco Americana de Direitos Humanos dispde que toda pessoa tem “o direito de recorrer da sentenca para juiz ou tribunal superior’. © STF, 2# Turma, Al 601832 AgR/SP, Rel. Min, Joaquim Barbosa, Dle 02.04.2009. 49 STF, 32 Turma, RExtr, n? 184,099/DF, Rel. Min. Octavio Gallotti, RT) 165/327. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 ‘Agora vem a pergunta: poderd a Unido (que editou a lei retroativa) se arrepender do beneficio que concedeu aos seus servidores e alegar em juizo que a lei no é aplicdvel em razao do principio da irretroatividade das leis? No poderé, pois a garantia da irretroat que a tenha editado. idade da lei ndo wocdvel pela entidade estatal Vamos, agora, entender os conceitos de direito adquirido, ato juridico perfeito e coisa julgada. a) Direito adquirido é aquele que j se incorporou ao patriménio do particular, uma vez que jé foram cumpridos todos os requisitos aquisitivos exigidos pela lei entdo vigente. E 0 que ocorre se vocé cumprir todos 0s requisitos para se aposentar sob a vigéncia de uma lei X. Depois de cumpridas as condigdes de aposentadoria, mesmo que seja criada lei Y com requisitos mais gravosos, vocé tera direito adquirido a se aposentar. direito adquirido difere da “expectativa de direito”, que nao ¢ alcancada pela protecio do art. 52, inciso XXXVI. Suponha que a lei atual, ao dispor sobre os requisitos para aposentadoria, Ihe garanta © direito de se aposentar daqui a 5 anos. Hoje, vocé ainda no cumpre os requisitos necessérios para se aposentar; no entanto, daqui a 5 anos os terd todos reunidos. Caso amanhé seja editada uma nova lei, que imponha requisitos mais dificeis para a aposentadoria, fazendo com que vocé s6 possa se aposentar daqui a 10 anos, ela nao estara ferindo seu direito. Veja: vocé ainda néo tinha direito adquirido & aposentadoria (ainda no havia cumprido os requisitos necessérios para tanto), mas mera expectativa de direito. b) Ato juridico perfeito é aquele que retine todos os elementos constitutivos exigidos pela lei; é 0 ato ja consumado pela lel vigente ao tempo em que se efetuou."> Tome-se como exemplo um contrato celebrado hoje, na vigéncia de uma lei X. ¢) Coisa julgada compreende a decisdo ju jal da qual no cabe mais recurso. E importante destacar que, no art. 52, inciso XXXV, 0 vocébulo “lei” esté empregado em seus sentidos formal (fruto do Poder Legislativo) e material (qualquer norma juridica). Portanto, inclui emendas constitucionais, leis ordinarias, leis complementares, resolugdes, decretos legislativos e varias outras modalidades normativas. Nesse sentido, tem-se 0 entendimento do STF de que a vedacdo constante do inciso XXXVI se refere ao direito/lei, compreendendo qualquer ato da ordem normativa constante do art. 59 da Constituicéo.° Também é importante ressaltar que, segundo o STF, o principio do direito adquirido se aplica a todo e qualquer ato normative infraconstitucional, sem qualquer disting3o entre lei de direito puiblico ou de direito privado, ou entre lei de ordem publica e lei dispositiva. 7 ¥ MORAES, Alexandre de, Constituigdo do Brasil Interpretada e Legislagdo Constitucional, 92 edi¢30. Séo Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 241. Cf art. 68, 61°, da LINDB. STF, ADI 3.105-8/DF, 18.08.2004, “7RE 204967 RS, DJ 14-03-1997. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 cabe invocar direito adquirido. As Ha, todavia, certas situagdes nas quais adquirido frente a: a) Normas constitucionais origindrias. As normas que “nasceram” com a CF/88 podem revogar b) Mudanca do padréo da moeda. ¢) Criago ou aumento de tributos. d) Mudanga de regime estatutério. NAO HA DIREITO ADQUIRIDO CONTRA LIL- ninguém sera processado nem sentenciado senio pela autoridade competente; Contrariando um pouco a ordem em que estao dispostos na Constituico, analisaremos esses dois incisos em conjunto. Isso porque ambos traduzem 0 principio do “juizo natural” ou do “juiz natural’. Esse postulado garante ao individuo que suas aces no Poder Judiciério sero apreciadas por um juiz imparcial, o que é uma garantia indispensével 4 administracao da Justica em um Estado democratico de di O principio do juiz natural impede a criagdo de juizos de excegdo ou “ad hoc”, criados de maneira arbitraria, apés © acontecimento de um fato. Na histéria da humanidade, podemos apontar como exemplos de tribunais de exceco o Tribunal de Nuremberg e o Tribunal de Téquio, instituidos apés a Segunda Guerra Mundial; esses tribunais foram criados pelos “vencedores” (da guerra) para julgar os “vencidos” e, por isso, so t8o duramente criticados. © principio do juiz natural deve ser interpretado de forma ampla. Ele nao deve ser encarado apenas como uma vedacdo & criacdo de Tribunais ou juizos de excecdo; além disso, decorre desse principio a obrigacdo de respeito absoluto as regras objetivas de determinacao de competéncia, para que nao seja afetada a FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital \www.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 dependéncia e a imparcialidade do érgio julgador. #8 Todos os juizes e érgdos julgadores, em consequéncia, tém sua competéncia prevista constitucionalmente, de modo a assegurar a seguranca juridica. E importante que vocé saiba que o STF entende que esse principi Ju io ndo se limita aos drgios e juizes do Poder Segundo o Pretério Excelso, ele alcanca, também, os demais julgadores previstos pela Constituigaio, como 0 Senado Federal, por exemplo. Além disso, por sua natureza, o principio do juiz natural alcanga a todos: brasileiros e estrangeiros, pessoas fisicas e pessoas juridicas. Em um Estado democratico de direito, todos tém, afinal, o direito a um julgamento imparcial, neutro. XXXVI - é reconhecida a instituicéo do jari, com a organizacao que Ihe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votagdes; ¢) a soberania dos veredictos; d) a competéncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; Esse inciso deve ser memorizado. Geralmente é cobrado em sua literalidadel Decore cada uma dessas éum tribunal popular, composto por um juiz togado, que o preside, e vinte e cinco jurados, escolhidos dentre cidados do Municipio (Lei n° 11.689/08) e entre todas as classes sociais. Segundo a doutrina, é visto como uma prerrogativa do cidad&o, que deverd ser julgado pelos seus semelhantes."? 0 tribunal do juri possui competéncia para julgamento de crimes dolosos contra a vida, Crime doloso aquele em que o agente (quem pratica o crime) prevé o resultado lesivo de sua conduta e, mesmo assim, pratica a aco, produzindo o resultado. Exemplo: o marido descobre que a mulher o est traindo e, rencionalmente, atira nela e no amante, causando a morte dos dois. Trata-se de homicidio doloso, que é, sem duivida, um crime doloso contra a vida; 0 julgamento ser, portanto, da competéncia do tribunal do ji Sobre a competéncia do tribunal do juiri, destacamos, a seguir algumas jurisprudéncias que podem ser cobradas em prova: 8 MORAES, Alexandre de. Constituigdo do Brasil Interpretada e Legislao Constitucional, 9* edi¢o. Sio Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 245 ~ 246. ** MORAES, Alexandre de. Constitui¢do do Brasil Interpretada e Legisla¢do Constitucional, 9 edic3o. S30 Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 249-254. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 1) Acompeténcia constitucional do Tribunal do Juri (art. 5°, XXXVIII) ndo pode ser afastada por lei estadual, nem usurpada por vara criminal especializada, sendo vedada, ainda, a alteragio da forma de sua composigao, que deve ser definida em lei nacional. ”” No caso, o STF apreciou lei estadual que criava vara especializada para processar e julgar crimes praticados por organizagGes criminosas. Essa vara especializada julgaria, inclusive, 0 crimes dolosos contra a vida. Dessa forma, por invadir a competéncia do tribunal do juri, foi considerada inconstitucional. 2) A competéncia para o processo e julgamento de latrocinio é do juiz singular, e n’o do Tribunal do Juri (Stimula STF n® 603). © latrocinio € um crime complexo, no qual estéo presentes duas condutas: 0 roubo e 0 idio. Em outras palavras, 0 latrocinio é um roubo qualificado pela morte da vitima. lerado pela doutrina como um “crime contra 0 patriménio” (e n&o como “crime contra a vida’), ficando, por isso, afastada a competéncia do tribunal do juri. ‘A competéncia do tribunal do juiri para julgar 0s crimes dolosos contra a vida nao é absoluta. Isso porque no alcanga os detentores de foro especial por prerrogativa de funcao previsto na Constituico Federal. E caso, por exemplo, do Presidente da Reptiblica e dos membros do Congreso Nacional, que serao julgados pelo STF quando praticarem crimes comuns, ainda que dolosos contra a vida. Em outras palavras, o foro por prerrogativa de funcdo prevalece sobre a competéncia do tribunal do juri, desde que esse foro especial decorra diretamente da Constituicao Federal. A pergunta que se faz diante dessa ultima afirmacdo ¢ a seguinte: e quando o foro especial nao decorrer de previsdo da Constituic&o Federal, mas sim da Constituicéo Estadual? Para responder a esse questionamento, o STF editou a Stimula Vinculante n® 45, que assim dispde: “A competéncia constitucional do Tribunal do Juri prevalece sobre o foro por prerrogativa de functio estabelecido exclusivamente pela Constituigéo estadual”. 44 decidiu 0 STF, com base nesse entendimento, que vereadores que possuam foro por prerrogativa de fungo derivado de Constituico Estadual sero julgados pelo tribunal do juiri se cometerem crimes dolosos contra a vida". Isso se explica pelo fato de que a competéncia do tribunal do juiri prevalecera sobre o foro por prerrogativa de funcio estabelecido exclusivamente pela Constituicio Estadual. 2 STF, ADIn® 4414/AL, Rel, Min, Luiz Fux, Decisa0 31.05.2012 24-STF, HCn® 80.477/P1, Rel. Min. Néri da Silveira. Decis3o 31.10.2000 FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 A Con: defesa; 0 Federal estabelece, ainda, trés importantes principios para o tribunal do j ii) a soberania dos veredictos; ¢ il) 0 sigilo das votagées. aplenitude de A plenitude de defesa é uma variante do principio da ampla defesa e do contraditério (art. 58, LV), que permite ao acusado apresentar defesa contra aquilo que Ihe é imputado. Sua concretizaco pressupSe que 95 argumentos do réu tenham a mesma importéncia, no julgamento, que os do autor. Em consequéncia, nao devem existir prioridades na relacdo processual e deve o réu ter a possibilidade de usar todos os Instrumentos processuais na sua defesa. Também decorre da plenitude de defesa o fato de que os jurados sio das diferentes classes sociais. Segundo o STF, “implica prejuizo 4 defesa a manutencao do réu algemado na sesséo de julgamento do Tribunal do Jari, resultando 0 fato na insubsisténcia do veredicto condenatorio” ? No que se refere @ soberania dos veredictos, também assegurada ao tribunal do juiri pela Carta Magna, destaca-se que esta tem a finalidade de evitar que a decisio dos jurados seja modificada ou suprimida por decisio judicial. Entretanto, ndo se trata de um principio absoluto, sendo possivel a sua relativizagdo. A soberania dos veredictos n3o confere ao tribunal do de um poder incontrastavel 2 E possivel, sim, que existam recursos das decisées do tribunal do jtiri; nesse sentido, é possivel haver a reviso criminal ou mesmo 0 retorno dos autos ao jtiri, para novo julgamento.” Segundo o STF, a soberania dos veredictos do tribunal do juri nao exclui a recorribilidade de suas decisées, quando manifestamente contrétias & prova dos autos.” Assim, nesse caso, seré cabivel apelacdo contra decisdes do tribunal do juri. Por fim, cabe destacar que 0 STF entende que a competéncia do Tribunal do Juri, fixada no art. 5°, XXXVIII, “"d”, da CF/88, quanto ao julgamento de crimes dolosos contra a vida é passivel de ampliagao pelo legislador ordindrio.”* Isso significa que pode a lei determinar o julgamento de outros crimes pelo tribunal do jul. (MPE-RS ~ 2014) Lei ordinaria que amplie a competéncia do Tribunal do Juri nao ofende o art. 52, XXXVI, letra “d”, nem a cldusula pétrea do § 42 do art. 60, ambos da Constituicdo Federal. Comentérios: Segundo o STF, é possivel que lei ordinaria amplie a competéncia do ofensa a CF/88. Questo correta. i, ou seja, ndo hd qualquer 2 STF, HCn# 91.952, Rel. Min. Marco Aurélio. Decisio 19.12.2008. 2 STF, HC n® 70.193-1/RS, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 06.11.2006. % STF, HC 70.742-4/ Ri, Rel. Min. Carlos Velloso. DJ 30.06.2000. % StF, HC 70.742-4/ RJ, Rel. Min. Carlos Velloso. DJ 30.06.2000. HC 101542 SP, Dle-096, 28-05-2010. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 © art. 52, inciso XXXIX, da CF/88, estabelece um importante principio constitucional do direito penal: 0 principio da legalidade. Segundo o Prof. Cezar Roberto Bitencourt, “pelo principio da legalidade, elaboragao de normas incriminadoras é fun¢do exclusiva da lei, isto é, nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma penalidade criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorréncia deste fato exista uma lei definindo-o como crime e cominando-Ihe a sangao correspondente”. O principio da legalidade se desdobra em dois outros principios: 0 principio da reserva legal eo principio da anterioridade da lei penal. O principio da reserva legal determina que somente lei em sentido estrito (lei formal, editada pelo Poder Legislativo) podera definir crime e cominar penas. Nem mesmo medida proviséria poder definir um crime e cominar penas, eis que essa espécie normativa n3o pode tratar de direito penal (art.62, § 12, |, “b”). A exigéncia de que lei formal defina o que é crime e comine suas penas traz a garantia de se considerarem crime condutas aceitas pela sociedade como tais e de que essas condutas sejam punidas da maneira considerada justa por ela. Com isso, quem define o que é crime e as respectivas penas ¢ 0 povo, por meio de seus representantes no Poder Legislativo. Ja pensou se, por exemplo, o Presidente da Republica pudesse definir o que crime por medida provisdria? Qu até mesmo dobrar a pena de determinado /0? Teriamos uma ditadura, nao? por isso que o inciso XXXIX do art. 5° da CF/88 é tao importante! ‘As normas penais em branco so aquelas que tipificam a conduta criminosa, mas que dependem de complementacao em outra norma. Um exemplo de norma penal em branco 6 0 crime de contrabando, que consiste em “importar ou exportar mercadoria proibida” (art. 334-A, Cédigo Penal). ‘A definigao do crime de contrabando depende de uma complementagio, uma vez que 0 Cédigo Penal ndo define quais sdo as mercadorias proibidas. € a legisiac3o extrapenal que © far. Assim, o crime de contrabando é uma norma penal em branco. Para o estudo do Direito Constitucional, interessa-nos saber que a doutrina majoritaria jera que as normas penais em branco nao violam o principio da reserva legal. 0 principio da anterioridade da lei penal, por sua vez, exige que a lei esteja em vigor no momento da pratica da infrago para que o crime exista. Em outras palavras, exige-se lei anterior para que uma conduta possa ser considerada como crime. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 Esse principio confere seguranga juridica as relagées sociais, ao determinar que um fato sé sera considerado crime se for cometido apés a entrada em vigor da lei incriminadora. Quer um exemplo? Se amanh’ for editada uma lei que considere crime beijar 0 namorado (ou namorada) no cinema, nenhum de nés sera preso. Sé poderd ser considerado culpado quem o fizer apés a entrada em vigor da lei. Aproveitemos, entéo, a liberdade de namorar, antes que tal lei seja editada! Mas no agora, é hora de estudar Direito Constitucional... Do principio da anterioridade da lei penal, deriva a irretroatividade da lei penal, que esta previsto no art. 5, XL, que estudaremos a seguir. XL-a lei penal nao retroagira, salvo para beneficiar o réu; Retroagir significa “voltar para tras”, “atingir o pasado”. Portanto, diz-se que retroatividade é a capacidade de atingir atos pretéritos; por sua vez, irretroatividade é a impossibilidade de atingi-los. E comum, também, em textos juridicos, encontrarmos as expresses “ex tunc” e “ex nunc”. “Ex tunc” é aquilo que tem retroatividade; “ex nunc” é 0 que ¢ irretroativo. Lembre-se de que quando vocé diz que "NUNCa” mais fara alguma coisa, esse desejo so valera daquele instante para frente, no é mesmo? Sinal de que fez algo no passado de que se arrepende, mas que no pode mudar. Jé o T de TUNC pode fazé-lo lembrar de uma maquina do TEMPO, atingindo tudo o que ficou para TRAS.. EX TUNC = Maquina do ‘tempo, atinge o que ficou para tras EX NUNC= Nunca mais, a partir de agora Depois dessa “viagem”, voltemos ao inciso XL. Ele traz o principio da irretroatividade da lei penal, que, conforme jé comentamos, deriva do principio da anterioridade da lei penal. Uma conduta somente seré caracterizada como crime se, no momento da sua ocorréncia, jé existia lei em vigor que a definia como tal. Portanto, em regra, a lei penal no atinge o passado. Imagine que hoje vocé beba uma garrafa de vodka no bar, conduta licita e n3o tipificada como crime. No entanto, daqui a uma semana, é editada uma nova lei que estabelece que “beber vodka” sera considerado crime. Pergunta-se: vocé podera ser penalizado por essa conduta? E claro que no, uma vez que a lei penal, em regra, nao atinge fatos pretéritos. Todavia, ¢ importante termos em mente que a lei penal podera, em certos casos, retroagir. Eo que se chama de retroatividade da lei penal benigna: a lei penal poderd retroagir, desde que para beneficiar o réu. Dizendo de outra forma, a “novatio legis in mellius” retroagira para beneficiar o réu. Hé um tipo especial de “novatio legis in mellius”, que é a conhecida “abolitio criminis”, assim considerada a lei que deixa de considerar como crime conduta que, antes, era tipificada como tal. Um exemplo seria a edicdo de uma lei que descriminalizasse 0 aborto. A “abolitio criminis", por ser benéfica ao réu, iré retroagir, FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 alcangando fatos pretéritos e evitando @ pu considerada criminosa, jo de pessoas que tenham cometide a conduta antes A lei penal favordvel ao réu, portanto, sempre retroagira para beneficié-lo, mesmo que tenha ocorrido trénsito em julgado de sua condenacdo. Por outro lado, a lei penal mais gravosa ao individuo (que aumenta a penalidade, ou passa a considerar determinado fato como crime) sé alcancaré fatos praticados apés sua vigéncia. E a irretroatividade da lei penal mais grave: a “novatio legis in pejus” no retroage. No que diz respeito & retroatividade da lei penal mais benigna, entende o Supremo que nao é possivel a combinacao de leis no tempo, pois caso se agisse dessa forma, estaria sendo criada uma terceira lei (“lex tertia”). De acordo com o Pretério Excelso, extrair alguns dispositivos, de forma isolada, de um diploma legal, © outro dispositivo de outro diploma legal implica alterar por completo o seu espirito normativo, criando um contetido diverso do previamente estabelecido pelo legislador””. XLI-"a"iei"puniré qualquer discriminacdo atentatoria dos direitos e liberdades fundamentai XLII - a pratica do racismo constitui crime inafiancavel e imprescritivel, sujeito 4 pena de ? reclusio, nos termos da lei; XLIII- a lei consideraré crimes inafiangaveis e insuscetiveis de graca ou anistia a pratica da tortura, 0 trafico ilicito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evité-los, se omitirem; Em todos esses dispositivos, é possivel perceber que o legislador constituinte ndo buscou outorgar direitos individuais, mas sim estabelecer normas que determinam a criminalizaco de certas condutas. * € 0 que a doutrina denomina “mandados de criminalizacao”, que caracterizam-se por serem normas direcionadas a0 legislador, o qual se vé limitado em sua liberdade de atuac3o. Segundo o Prof. Gilmar Mendes, os mandados de criminalizagao estabelecidos por esses dispositivos traduzem outra dimensao dos direitos fundamentais: a de que o Estado nao deve apenas observar as investidas do Poder Publico, mas também garantir os direitos fundamentais contra agressdo propiciada por terceiros.2? inciso XLI estabelece que “a lei punird qualquer discriminacGo atentatéria dos direitos e liberdades fundamentais”. Como € possivel observar, trata-se de norma de eficacia limitada, dependente, portanto, de PHC 98766 MG, Dle-040, 04-03-2010. % MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 6+ edic30. Fditora Saraiva, 2011, pp. 534-538 2% MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 6+ edica0. Editora Saraiva, 2011, pp. 534-538. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 um mandato de crimin complementagio legislative. Evidenci jzagdo que busca efetivar a protego dos direitos fundamentais. Na ADO 26, 0 STF reconheceu que houve omisséo inconstitucional por parte do Congresso Nacional ao deixar de editar lei criminalizando atos de homofobia e transfobia. Segundo a Corte, até que seja editada lei incriminadora, as condutas homofobicas e transfobicas deverdo ser tipificadas como crime de racismo. Cabe destacar que a represso penal a prética da homotransfobia nao restringe 0 exercicio da liberdade jiosa, de modo que lideres religiosos (pastores, sacerdotes, clérigos muculmanos, etc) poderdo externar livremente as convicgdes de suas doutrinas, desde que isso nao configure discurso de édio.? O inciso XLII, por sua vez, estabelece que “a pratica do racismo constitui crime inafiangdvel e imprescritivel, Sujeito & pena de recluséo, nos termos da lei”. E claro que ha muito a ser falado sobre o racismo; no entanto, ha dois pontos que séo muito cobrados em prova: a) O racismo € crime inafiangavel e imprescritivel. Imprescrit o é a extingdo de um direito que se dé 15s um prazo, devido a inércia do titular do direito em protegé-lo. No caso, ao dizer que o racismo € imprescritivel, o inciso XLII determina que este no deixara de ser punido mesmo com o decurso de longo tempo desde sua pratica e com a inércia (omiss0) do titular da aco durante todo esse periodo. Inafiangavel € 0 crime que nfo admite o pagamento de fianga (montante em dinheiro) para que o preso seja solto. b) 0 racismo é punivel com a pena de reclusdo. As bancas examinadoras vao tentar te confundir dizer que o racismo é punivel com detenco. Nao é! O racismo é punivel com recluséo, que é uma pena mais gravosa do que a detencao. Apenas para que vocé no fique viajando, qual a diferenga entre a pena de reclusio e a pena de detencdo? A diferenca entre elas est4 no regime de cumprimento de pena: na reclusio, inicia-se 0 ‘cumprimento da pena em regime fechado, semiaberto ou aberto; na detenc3o, o cumprimento da pena inicia-se em regime semiaberto ou aberto. O STF ja teve @ oportunidade de apreciar 0 alcance da expresso “‘racismo”. No caso concreto, bastante famoso por sinal, Siegfried Ellwanger, escritor e dono de livraria, havia sido condenado por ter escrito, editado e comercializado livros de conteido antissemita, fazendo apologia de ideias discriminatérias contra 0s judeus, A questdo que se impunha ao STF decidir era a seguinte: a discriminago contra os judeus seria ou nao crime de racismo? STF decidiu que a discriminacdo contra os judeus é, sim, considerada racismo e, portanto, trata-se de crime imprescritivel. Dessa forma, “escrever, editar, divulgar e comerciar livros ‘fazendo apologia de ideias preconceituosas e discriminatérias’ contra a comunidade judaica (Lei 7.716/1989, art, 20, na redacéo dada 3° ADO 26/DF. Rel. Min. Celso de Mello. Julgamento: 13.06.2019. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 pela Lei 8.081/1990) constitui crime de racismo sujeito as cléusulas de inafiancabilidade e imprescritibilidade (CE, art, 58, XLII)." Finalizando 0 comentario desse inciso, vale a pena mencionar o posicionamento do STF nesse mesmo julgamento, dispondo que “o preceito fundamental de liberdade de expressdo ndo consagra o direito a jincitagao ao racismo, dado que um direito individual néo pode constituir-se em salvaguarda de condutas ilicitas, como sucede com os delitos contra a honra. (...) A auséncia de prescricéo nos crimes de racismo Justifica-se como alerta grave para as geragées de hoje e de amanhé, para que se impeca a reinstauragéo de velhos e ultrapassados conceitos que a consciéncia juridica e histérica néo mais admitem.”= inciso XLIM, a seu turno, dispde sobre alguns crimes que so inafiangéveis e insuscetiveis de graca ou anistia. Bastante atencSo, pois a banca examinadora tentaré te confundir dizendo que esses crimes so imprescritiveis. N&o so! Qual o macete para nao confundir? Simples, guarde a frase mneménica seguinte: 3T + hediondos no t&m graca! 37? Sim, Tortura, Tréfico ilicito de entorpecentes e drogas afins e Terrorismo. Esses crimes, assim como os hediondos, so insuscetiveis de graca ou anistia. Isso significa que no podem ser perdoados pelo Presidente da Republica, nem ter suas penas modificadas para outras mais benignas. Além disso, assim como 0 crime de racismo e a aco de grupos armados contra 0 Estado democrético, so inafiangdveis. O inciso XLIV trata ainda de mais um crime: a agdo de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado democratico. Esse crime, assim como 0 racismo, sera inafiancavel e imprescritivel. Para que vocé nao erre esses detalhes na prova, fizemos o esquema abaixo! Sé uma observacao para facilitar: perceba que todos os crimes dos quais falamos so inafiancaveis; "3TH no tem graga”! diferenga mesmo esté em saber que o 3% STF, Pleno, HC 82.424-2/RS, Rel. origindrio Min. Moreira Alves, rel. p/ ac6rdo Min. Mauricio Corréa, Distio da Justica, Se¢30 |, 19.03.2004, p. 17 % STF, Pleno, HC 82.424-2/RS, Rel. originario Min, Moreira Alves, rel. p/ acordao Min. Mauricio Corréa, Dirio da Justica, Seg30 |, 19.03.2004, p. 17. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale ‘Aula ot IMPRESCRITIVEIS INAFIANCAVEIS INSUSCETIVEIS DE GRACA OU *RACISMO *RACISMO- ANISTIA acho DE GRUPOS. 3 3T ARMADOS, cIVIS. OU +HEDIONDOS +HEDIONDOS MILITARES, CONTRA A ORDEM CONSTITUCIONAL E O ESTADO DEMOCRATICO *aChO_ DE GRUPOS. ARMADOS, CIVIS_ (OU. MILITARES, CONTRA A. ORDEM CONSTITUCIONAL E O ESTADO DEMOCRATICO. | (T-MG — 2015) A tortura e a ago de grupos armados contra ordem constitucional so crimes inafiangaveis A tortura é um crime inafiangavel e insuscetivel de graca ou anistia. A CF/88 no determina que @ tortura seja imprescritivel. Questo errada. (Pott detengao. rime inafiangavel e imprescritivel, sujeito pena de CE — 2015) A prética do racismo constit Comentarios: Aprati XLV - nenhuma pena passaré da pessoa do condenado, podendo a obrigacdo de reparar 0 dano e a decretacio do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patri transferido; Esse dispositive consagra o principio da intranscendéncia das penas, também denominado pela doutrina de principio da intransmissibilidade das penas ou, ainda, personalizacao da pena.’ A Constituicao garante, por meio dessa norma, que a pena no passard da pessoa do condenado; em outras palavras, ninguém sofreré 0 efeitos penais da condenacdo de outra pessoa. ipio da incontagiabilidade da pena. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital \www.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 Suponha que Joo, pai de Liicia e Felipe, seja condenado a 5 anos de reclusio em virtude da pratica de um crime, Apés 2 meses na “cadeia”, Joo vem a falecer. Devido & intranscend&ncia das penas, ficard extinta a punibilidade. Licia e Felipe no sofrerao quaisquer efeitos penais da condenacao de Joao. No que diz respeito a obrigacdo de reparar o dano e & decretacdo do perdimento de bens, a légica é um pouco diferente, ainda que possamos afirmar que o principio da intranscendéncia das penas se aplica a essas situagdes. Suponha que Joo morre deixando uma divida de R$ 1.500.000,00 (obrigag3o de reparar dano). Ao mesmo tempo, deixa um patriménio de R$ 900.000,00 para seus sucessores (Liicia e Felipe). A obrigacao de reparar © dano ird se estender a Liicia e Felipe, mas apenas até o limite do patriménio transferido. Em outras palavras, 0 patriménio pessoal de Lucia e Felipe nao seré afetado; sera utilizado para o pagamento da divide © patriménio transferido (R$ 900.000,00). 0 restante da divida “morre” junto com Joao. ‘Assim, a obrigacdo de reparar o dano e a decretagao do perdimento de bens podem ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, mas apenas até 0 limite do valor do patriménio transferido. individualizago da pena e adotaré, entre outras, as seguintes: a) privagao ou restri¢ao da liberdade; b) perda de bens; ) multa; 4) prestacao social alternativa; on fvidualizacao da pena, que determina que a aplicaco da pena deve ajustar-se & situag3o de cada imputado, levando em considerac3o 0 grau de reprovabilidade (censurabilidade) de sua conduta e as caracterfsticas pessoais do infrator. Trata-se de principio que busca fazer com que a pena cumpra sua dupla finalidade: prevengdo e repressio.™ A Constituigo Federal prevé um rol ndo-exaustivo de penas que podem ser adotadas pelo legislador. So elas: i) a privagdo ou restri¢ao de liberdade; ii) a perda de bens; iii) multa; iv) prestago social alternativa; v) suspensdo ou interdi¢ao de direitos. Como se trata de um rol meramente exemplificativo, poderd a lei criar novos tipos de penalidade, desde que estas no estejam entre aquelas vedadas pelo art. 52, XLVII, da CF/88, que estudaremos na sequéncia. ™ MORAES, Alexandre de. Constitui¢do do Brasil Interpretada e Legislagdo Constitucional, 9* edic3o. S30 Paulo Editor Atlas: 2010, pp. 274-275. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 Ressaltamos mais uma vez que, ao estabelecer que “a lei regularé a individualizagdo da pena”, o constituinte determinou que a lei penal deveré considerar as caracteristicas pessoais do infrator. Dentre essas, podemos citar os antecedentes criminais, o fato de ser réu primario, etc. Nesse sentido, o STF considerou inconstitucional, por afronta ao principio da individualizaco da pena, a veda¢ao absoluta a progresséo de regime trazida pela Lei 8.072/1990, que trata dos crimes hediondos.* A referida lei estabelecia que a pena pelos crimes nela previstos seria integralmente cumprida em regime fechado, sendo vedada, assim, a progresséo de regime. Entendeu a Corte que, a0 no permitir que se considerem as particularidades de cada pessoa, sua capacidade de reintegracio social e esforcos de ressocializacao, o dispositivo torna indcua a garantia constitucional e, portanto, ¢ invalido (inconstitucional). Com base nesse entendimento, o STF editou a Stimula Vinculante n® 26: ‘Para efeito de progresséo de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, 0 juizo da execuco observard a inconstitucionalidade do art. 22 da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuizo de avaliar se o condenado preenche, ou no, 05 requisitos objetivos e subjetivos do beneficio, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realizacao de exame criminolégico.” XLVI - no haverd penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de carater perpétuo; ¢) de trabalhos forcados; 4) de banimento; Cart. 52, XLVII, estabeleceu um rol exaustivo de penas inaplicdveis no ordenamento juridico brasileiro. Trata- se de verdadeira garantia de humanidade atribuida aos sentenciados, impedindo que Ihes sejam aplicadas penas atentatérias a dignidade da pessoa humana.*® Com efeito, as penas devem ter um caréter preventivo € repressivo; elas nao podem ser vingativas. A pena de morte é, sem dtivida a mais gravosa, sendo admitida téo-somente na hipétese de guerra declarada. Evidencia-se, assim, que nem mesmo o direito a vida é absoluto; com efeito, dependendo do caso concreto, todos os direitos fundamentais podem ser relativizados. Como exemplo de aplicacao da pena de morte (que ocorreré por fuzilamento), temos a prética do crime de deserc3o em presenca de inimigo. 2 STF, HC n® 82.959/SP. Rel. Min, Marco Aurélio, Decisio 23.02.2006 > CUNHA JUNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 6 edico. Ed. luspodium, 2012. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 & ¥ (As bancas examinadoras adoram dizer que a pena de morte nao é admitida em nenhuma situagdo no ordenamento juridico brasileiro. A questo, ao dizer isso, est errada. A pena de morte pode, sim, ser aplicada, desde que na hipétese de guerra declarada, A pena de banimento, também inadmitida pela Constituigo Federal, consistia em impor 20 condenado a retirada do territério brasileiro por toda sua vida, bem como a perda da cidadania brasi it em verdadeira “expulsdo de nacionais”. Cabe destacar que a pena de banimento nao se confunde com a expulsio de estrangeiro do Brasil, plenamente admitida pelo nosso ordenamento juridico. No que concerne & pena de carater perpétuo, vale destacar o entendimento do STF de que o maximo penal legalmente exequivel, no ordenamento positivo nacional, é de 40 (quarenta) anos, a significar, portanto, que o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade nao pode ser superior a esse limite, imposto pelo art. 75, "caput", do Cédigo Penal”. (cmp — 2015) Em nenhuma circunstancia haverd penas crugis ou de morte, de carater perpétuo, de: trabalhos forgados e de banimento. Comentérios: Em caso de guerra declarada, admite-se a pena de morte. Questo errada. HC 84766 SP, Dle-074, 25-04-2008. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital \www.estrategiaconcursos.com.br Nai la Carolina, Ricardo Vale Aula 01 PENAS VEDADAS PENAS ADMITIDAS DE MORTE SALVO EM CASO DE GUERRE privagio ou RESTRIGKD DA UIBERDADE DE CARATER PERPETUO PERDA DE BENS DE TRABALHOS FORCADOS MULTA DE BANIMENTO PRESTACAO SOCIAL ALTERNATIVA cutis ‘SUSPENSAO OU INTERDICAO DE DIREITOS L- as presididrias sero asseguradas condicdes para que possam permanecer com seus filhos durante o periodo de amamentacao; a pena sera cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do jade e 0 sexo do apenado; assegurado aos presos o respeito & integridade fisica e moral; O inciso XLVIII determina que 2 execucao penal seja realizada de maneira individualizada, levando-se em consideraco a natureza do delito, a idade e 0 sexo do apenado. € com base nesse comando constitucional que as mulheres e os maiores de sessenta anos devem ser recolhidos a estabelecimentos préprios. O inciso XLIX, ao assegurar aos presos o respeito & integridade fisica e moral, busca garantir que os direitos fundamentais dos sentenciados sejam observados. claro, quando esta na prisdo, 0 individuo nao goza de todos os direitos fundamentais: ha alguns direitos fundamentais, como, por exemplo, a liberdade de locomogio (art. 52, XV) e a liberdade profissional (art. 52, XI) que sto incompativeis com sua condicéo de preso. CO inciso L, por sua vez, estabelece uma dupla garantia: ao mesmo tempo em que assegura As mes o direito & amamentacao e ao contato com o filho, permite que a crianca tenha acesso ao leite materno, alimento natural tao importante para o seu desenvolvimento. Segundo a doutrina, retirar do recém-nascido o direito de receber o leite materno poderia ser considerado uma espécie de “contagio” da pena aplicada a me, violando o principio da intranscendéncia das penas. *® Vamos continuar o estudo do art. 52, da Constituicao Federal. % MORAES, Alexandre de. Constitui¢do do Brasil Interpretada e Legislagdo Constitucional, 9 edic3o. S30 Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 285 FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 L- nenhum brasileiro seré extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalizagdo, ou de comprovado envolvimento em trafico ilicito de entorpecentes e drogas afins, na forma da | Ll - no seré concedida extradico de estrangeiro por crime politico ou de opiniao; A extradicdo € um instituto juridico destinado a promover a cooperacao penal entre Estados. Consiste no ato de entregar uma pessoa para outro Estado onde esta praticou crime, para que lé seja julgada ou punida. De forma mais técnica, a extradi¢a0 é “o ato pelo qual um Estado entrega a outro Estado individuo acusado de haver cometido crime de certa gravidade ou que jé se ache condenado por aquele, apds haver-se certificado de que os direitos humanos do extraditando seréo garantidos.”* Ha casos bastante conhecidos, que podem exemplificar muito bem o que é a extradico. Se vocé é do nosso tempo, deve se lembrar do “Baldo Magico” (banda infantil muito conhecida nos anos 80). Um dos integrantes do “Bao Magico” era o Mike, que era filho de Ronald Biggs, inglés que realizou um assalto a um trem e, depois, fugiu para o Brasil. A Inglaterra pediu ao Brasil a extradico, sem obter sucesso. Um caso mais recente é 0 do italiano Cesare Battisti, acusado pela pratica de varios crimes na Itdlia. Cesare Battisti, apés viver um tempo na Franca, fugiu para o Brasil. A Itélia também solicitou a extradicao ao Brasil, também sem sucesso. Dados esses exemplos, voltemos ao tema... Ha 2 (dois) tipos de extradi¢ao: i) a extradi¢3o ativa; e ii) a extradico passiva. A extradicao ativa aconteceré quando 0 Brasil requerer a um outro Estado estrangeiro a entrega de um individuo para que aqui seja Julgado ou punido; por sua vez, a extradicao passiva ocorrera quando um Estado estrangeiro requerer ao Brasil que Ihe entregue um individuo. Iremos focar o nosso estudo, a partir de agora, na extradic&o passiva: quando um Estado solicita que o Brasil Ihe entregue um individuo. De inicio, vale destacar que a Constituigdo Federal traz, no art. 52, Lle Lil, algumas limitagdes importantes & extradigéo. O brasileiro nato (que é 0 brasileiro “de berco”, que recebeu sua nacionalidade ao nascer) nao poderd ser extraditado; trata-se de hipétese de vedacao absoluta & extradiciio. Baseia-se na ldgica de que o Estado deve proteger (acolher) os seus nacionais. * ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Publico, 17+ Ed, Sao Paulo: Saraiva, 2009, pp. 499-502 FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 Caso 0 brasileiro nato perca a sua nacionalidade pela aquisi¢3o voluntaria de outra nacionalidade, ele estaré sujeito extradigao. Perceba que, nesse caso, ele no se enquadra mais na condigao de brasileiro nato. Por sua vez, 0 brasileiro naturalizado (que é aquele que nasceu estrangeiro e se tornou brasileiro), poderd ser extraditado. No entanto, isso somente seré possivel em duas situacdes: a) no caso de crime comum, praticado antes da naturalizacdo. Perceba que existe, aqui, uma limitagao temporal. Se o crime comum tiver sido cometido apés a naturalizaco, o individuo néo poderé ser extraditado; a extradi¢ao somente sera possivel caso o crime seja anterior a aquisico da nacionalidade brasileira pelo individuo. b) em caso de comprovado envolvimento em trafico ilicito de entorpecentes e drogas afins. Nessa situagdo, no ha qualquer limite temporal. O envolvimento com tréfico ilicito de entorpecentes drogas afins dard ensejo & extradic&o quer ele tenha ocorrido antes ou apés a naturalizacSo. Vale ressaltar que as regras de extradicdo do brasileiro naturalizado também se aplicam ao portugués equiparado.° JAMAIS! Hipsteses de extradigao do brasileiro Cometimento de crime comum antes da naturalizagao NATURALIZADO Comprovado envolvimento em trafico ilicito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei Os estrangeiros podem ser extraditados com maior liberdade pelo Estado brasileiro, desde que cumpridos 05 requisitos legals para a extradicdo. Cabe destacar, todavia, que nao se admite a extradicdo de estrangeiro por crime politico ou de opinido. Essa é uma pratica usual nos ordenamentos constitucionais de outros paises e tem por objetivo proteger os individuos que forem vitimas de perseguicao politica. *° Portugués equiparado ¢ o portugues que, por ter residéncia permanente no Brasil, tera um tratamento diferenciado, possuindo os mesmos direitos dos brasileiros naturalizados. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital \www.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 A definigdo de um crime como sendo um delito politico é tarefa dificil e que compete ao Supremo Tribunal Federal. € no caso concreto que a Corte Suprema ird dizer se o crime pelo qual se pede a extradigao ¢ ou nao politico." Esse entendimento do STF é bastante importante porque permite resolver alguns problemas de ifcil soluco. € possivel que o Brasil extradite asilado politico? Pode um refugiado ser extraditado? Vamos aos poucos... © asilo politico, que é um dos princi nas relacdes internacionais (art. 42, X), consiste no acolhimento de estrangeiro por um Estado que nio seja o seu, em virtude de perseguicao politica por seu proprio pais ou por terceiro. Segundo o STF, nao ha incompatibilidade absoluta entre o instituto do asilo € © da extradigo passiva. Isso porque a Corte nao est vinculada ao jufzo formulado pelo Poder Executivo na concessio do asilo politico.’ Em outras palavras, mesmo que o Poder Executive conceda asilo politico a um estrangeiro, o STF podera, a posteriori, autorizar a extradicao. Quanto ao refiigio, trata-se de instituto mais geral do que o asilo politico, que sera reconhecide a individuo em razo de fundados temores de perseguico (por motivos de raca, religio, nacionalidade, grupo social ou opinides politicas). Apesar de a lei dispor que “o reconhecimento da condicéo de refugiado obstard 0 sequimento de qualquer pedido de extradi¢éo baseado nos fatos que fundamentaram a concessdo de refigio"®?, entende o STF que a deciséo administrativa que concede o reftigio no pode obstar, de modo absoluto e genérico, todo e qualquer pedido de extradicao apresentado a Corte Suprema."* No caso concreto, apreciava-se a extradicao de Cesare Battisti, a quem o Ministro da Justica havia concedido o status de refugiado, O STF, ao analisar 0 caso, concluiu pela ilegalidade do ato de concessao do refiigio. Agora que jé falamos sobre as limitagdes, vamos entender como funciona o processo de extradicao. A Lei da Migraco (Lei n? 13.445/2017) prevé trés etapas para a extradi¢ao passiva. A primeira é uma etapa administrativa, de responsabilidade do Poder Executivo. Nessa fase, o Estado requerente solicita a extradicSo ao Presidente da Republica por via diplomatica. Destaque-se que o pleito extradicional deverd ter como fundamento a existéncia de um tratado bilateral entre os dois Estados ou, caso este nao exista, uma promessa de reciprocidade (compromisso de acatar futuros pleitos). Sem um tratado ou promessa de reciprocidade, a extradicao nao seré efetivada, Ao receber o pleito extradicional, hé duas situacdes possi a) O Presidente podera indeferir a extradicao sem apreciacao do STF, 0 que se denomina recusa priméria. b) 0 Presidente poderé deferir a extradic3o, encaminhando a solicitacao ao STF, a0 qual caberé analisar a legalidade e a procedéncia do pedido (art. 102, |, “g”, CF). Nesse caso, passaremos a etapa Ext 615, Rel. Min, Paulo Brossard. DI. 05.12.1994, + Ext 524, Rel: Min. Celso de Mello, Julgamento: 31/10/1990, Oreo Julgador: Tribunal Pleno. Lei 9.474/97 — art. 33. “ Ext 1085, Rel. Min. Cezar Peluso, Dle 16.04.2010 FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 judi Segundo o STF, nem mesmo a concordancia do extraditando em retornar ao seu pais impede que a Corte analise 0 caso, uma vez tendo recebido comunicacao por parte do Poder Executivo®, Na etapa judiciéria, o STF iré anelisar a legalidade e a procedéncia do pedido de extradic&o. Um dos pressupostos da extradi¢io é a existéncia de um processo penal ou, pelo menos, de uma investigacdo criminal. Cabe destacar, todavia, que a extradico seré possivel tanto apés a condenagéo quanto durante o proceso. Ha necessidade, ainda, que exista 0 que a doutrina chama “dupla tipicidade”: a conduta que @ pessoa praticou deve ser crime tanto no Brasil quanto no Estado requerente. Quando 0 fato que motivar o pedido de extradicao nao for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente, nao sera concedida a extradicao. Ao analisar a extradicéo, o STF verifica se os direitos humanos do extraditando serao respeitados. Nesse sentido: a) Nao sera concedida a extradigio se o extraditando houver de responder, no Estado requerente, perante juizo ou tribunal de excecao. € 0 jé conhecido principio do “juiz natural”. b) Caso a pena para o crime seja a de morte, o Estado requerente deverd se comprometer a substitui- la por outra, restritiva de liberdade (comutacao da pena), exceto, claro, naquele unico caso em que pena de morte admitida no Brasil: guerra declarada. €) Caso a pena para o crime seja de carater perpétuo, o Estado requerente devera se comprometer & comutacao dessa pena em prisao de até 40 anos, que é 0 limite toleravel pela lei brasileira.” Por fim, hd outra etapa administrativa, em que o Presidente da Republica, na condigio de Chefe de Estado, entrega ou no o extraditando ao pais requerente. Novamente, hd duas situagdes possiveis: a) O STF nega a extradicao. Nesse caso, a decisdo ird vincular o Presidente da Reptblica, que ficaré impedido de entregar o extraditando. b) O STF autoriza a extradic&o. Essa deciséo nao vincula o Presidente da Reptiblica, que é a autoridade que detém a competéncia para decidir sobre a efetivacao da extradicao. Esse entendimento (o de que a autorizaco do STF no vincula o Presidente) ficou materializado no caso da extradigZo do italiano Cesare Battisti. Segundo a Corte, a tiltima palavra sobre a entrega ou ndo do extraditando cabe ao Presidente da Reptiblica, que tem liberdade para decidir sobre a efetivacio da extradigao, obedecidos os termos do tratado bilateral porventura existente entre o Brasil e o Estado requerente. A deciséo de efetivar a extradicao é, assim, um ato politico, de manifestacao da soberania, © Ext. 643, STF, Pleno, Rel. Min. Francisco Rezek, j. 19.12.1994, “© Ext 855, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 26-8-2004, Plenario, DJ de 12-7-2005. *7 Como Pacote Anticrime (Lei n® 13.964/2019), o tempo maximo de cumprimento de pena é de 40 anos. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 Faaticane (TJ-MG ~ 2015) O brasileiro naturalizado sera extraditado por envolvimento comprovado em trafico ilicito de entorpecentes e drogas afins, independente de ter sido praticado antes da naturalizacao. Comentérios: No caso de envolvimento comprovado em tréfico ilicito de entorpecentes e drogas afins, ndo hd qualquer limitacdo temporal & extradico de brasileiro naturalizado. Assim, nao interessa se 0 envolvimento ocorreu antes ou apés a naturalizacéo. Questo correta. O principio do devido processo legal (due process of law) é uma das garantias constitucionais mais amplas € relevantes®®; trata-se de um conjunto de praticas juridicas previstas na Constituiclo e na legislacdo infraconstitucional cuja finalidade é garantir a concretiza¢ao da justica. devido processual legal é garantia que concede dupla protecdo ao individuo: ele incide tanto no ambito formal (processual) quanto no ambito material. No ambito formal (processual), traduz-se na garantia de que as partes poder se valer de todos os meios, juridicos disponiveis para a defesa de seus interesses. Assim, derivam do “devido processo legal” o direito a0 contraditério e & ampla defesa, o direito de acesso a justica, o direito ao juiz natural, o direito a nao ser preso sendo por ordem judicial e o direito a nao ser processado e julgado com base em provas ilicitas. No ambito material (substantivo), por sua vez, 0 devido processo legal diz respeito a aplicaco do principio da proporcionalidade (também chamado de principio da razoabilidade ou da proibigdo de excesso). 0 respeito aos direitos fundamentais nao exige apenas que 0 processo seja regularmente instaurado; além disso, as decisées adotadas devem primar pela justica, equilibrio e pela proporcionalidade.*° E possivel afirmar, portanto, que o principio da proporcionalidade tem sua sede material no principio do devido processo legal, considerado em sua acepcdo substantiva, ndo simplesmente formal.®* Em outras palavras, 0 principio da proporcionalidade, que no esta expressamente previsto na Constitui¢o, tem como fundamento 0 devido processo legal substantivo (material). 48 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 6% edicdo. Editora Saraiva, 2011, pp. 592-594. ‘© MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 62 edicao. Editora Saraiva, 2011, pp. 592-594, 5 CUNHA JONIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucfonal. 6* edico. Ed. Juspodium, 2012, pp. 740 —742. 51 ALEXANDRINO, Marcelo & PAULO, Vicente. Direito Constitucional Descomplicado, 5* edicao. Ed. Método, 2010. pp. 172- 175, FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 indo-se em 3 (trés) © principio da proporcionalidade esté implicito no texto constitucional, subprincipios: a) Adequagao: a medida adotada pelo Poder Piiblico deverd estar apta para alcancar os objetivos almejados. b) Necessidade: a medida adotada pelo Poder Publico deveré ser indispensavel para alcancar 0 objetivo pretendido. Nenhuma outra medida menos gravosa seria eficaz para o ati objetivos. ©) Proporcionalidade em sentido estrito: a medida seré considerada legitima se os beneficios dela resultantes superarem os prejuizos. io da proporcionalidade como fundamento de varias de suas decisées, especialmente no que diz respeito ao controle de constitucionalidade de leis. Com efeito, leis de carater restritivo deverdo observar o principio da proporcionalidade. Segundo a Corte: ‘4.0 principio da proporcionalidade visa a inibir e a neutralizar 0 abuso do Poder Piblico ; no exercicio das funges que Ihe s3o inerentes, notadamente no desempenho de atividade ; de carater legislativo e regulamentar. Dentro dessa perspectiva, 0 postulado em questo, ! enquanto categoria fundamental de limitagdo dos excessos emanados do Estado, atua como verdadeiro parametro de afericlo da propria constitucionalidade material dos atos tatais” 22 0 principio da proporcionalidade tem uma dupla face: a proibicio de excesso e a proibicao de protecao deficiente. Assim, na tutela dos direitos fundamentais, nao se busca apenas coibir os excessos do Estado (proibigéo de excesso), mas também impor ao Estado um dever de protecio (proibicdo de protecdo deficiente). LV - aos litigantes, em proceso judicial ou administrativo, e aos acusados em geral séo assegurados o contraditério e ampla defesa, com os meios e recursos a el i As garantias do contraditério e da ampla defesa so corolarios do principio do devido proceso legal, isto é, dele decorrem diretamente. ‘A. ampla defesa compreende o direito que o individuo tem de trazer ao proceso todos os elementos Ii de que dispuser para provar a verdade, ou, até mesmo, de se calar ou se omitir caso isso Ihe seja benéfico (direito 4 ndo-autoincriminago). J4 o contraditério é 0 direito dado ao individuo de contradizer tudo que for levado ao processo pela parte contraria. Assegura, também, a igualdade das partes do processo, a0, equiparar o direito da acusaco com o da defesa.®* A ampla defesa e 0 contraditério so principios que se aplicam tanto aos processos judiciais quanto aos processos administrativos, sejam estes ultimos referentes @ aplicacéo de punicdes disciplinares ou & 2 STF, MS 1.320-9/0E, Rel, Min. Celso de Mello, D} 14.04.1999, 53 ALEXANDRINO, Marcelo & PAULO, Vicente. Direito Constitucional Descomplicado, 5# ediao. Ed. Método, 2010. pp. 176. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 restriclo de direitos em geral. © termo “litigantes” deve, portanto, ser compreendido na acepciio mais ampla possivel, nao se referindo somente aqueles que estejam envolvidos em um processo do qual resulte ‘ou possa resultar algum tipo de penalidade. Todavia, entende o STF que a ample defesa e o contraditério nao se aplicam na fase do inquérito policial ou civil. Por esse motivo, é nula a sentenca condenatéria proferida exclusivamente com base em fatos narrados no inquérito policial. O juiz pode usar as provas colhidas no inquérito para fundamentar sua decisdo; entretanto, por nao ter sido garantida a ampla defesa e o contraditério na fase do inquérito, as, provas nele obtidas no poderdo ser os tnicos elementos para motivar a decisfio judi O inquérito é fase pré-processual, de natureza administrativa, consistindo em um conjunto de diligéncias realizadas para a apurac3o de uma infracdo penal e sua autoria, a fim de que 0 tituler da aco penal (Ministério Piblico ou o ofendido) possa ingressar em juizo. Somente ai é que tera inicio a fase processual, com as garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditério devendo ser respeitadas. Cabe destacar que, apesar de a ampla defesa e o contraditério ndo serem garantias na fase do inquérito, 0 indiciado possui, mesmo nessa fase, certos direitos fundamentais que Ihe devem ser garantidos. Dentre eles, podemos citar o direito a ser assistido por um advogado, o de nao se autoincriminar e 0 de manter-se em siléncio.> Vejam bem: na fase do inquérito, o individuo pode ser assistido por advogado; todavia, no ¢ obrigatoria a assisténcia advocaticia nessa fase. £ com base nessa Idgica que o STF entende que nao ha ofensa ao contraditério e & ampla defesa quando do interrogatério realizado pela autoridade policial sem a presenca de advogado. Sobre os direitos do indiciado na fase do inquérito, o STF editou a Stimula Vinculante n® 14, muito cobrada em concursos publicos: direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, ja documentados em procedimento investigatério realizado por érgéo com competéncia de policia judicidria, digam respeito ao exercicio do direito de defesa”. Por meio dessa stimula, o STF garantiu a advogados 0 acesso a provas jé documentadas em autos de inquéritos policiais que envolvam seus clientes, inclusive os que tramitam em sigilo. Observe, entretanto, que a stimula somente se aplica a provas ja documentadas, nao atingindo demais diligéncias do inquérito, as quais 0 advogado nao tem direito a ter acesso prévio. Com isso, caso sinta necessidade, a autoridade policial esté autorizada a separar partes do inquérito. Também existe uma fase pré-processual que antecede os processos administrativos disciplinares: a Segundo o STF, na sindicancia preparatéria para a abertura do proceso administrativo disciplinar (PAD) nao é obrigatéria a obediéncia aos principios do contraditério e da ampla defesa. Esses ipios somente so exigidos no curso do processo administrativo disciplinar (PAD). % STF, RE 481.955 — AgR. Rel, Min Carmem Lacia. Die: 26.05.2011 5 STF, HC 82.354, Rel. Min. Sepilveda Pertence, Di 24.09.2004. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 Ressalta-se que a razdo disso é que a sindicdncia que precede a abertura do PAD, assim como o inquérito policial, caracteriza-se pela coleta de informacdes, que serio apuradas em fases futuras dentro de um proceso. Caso a sindicancia, entretanto, ndo resulte em abertura do PAD, mas se traduza em aplicacéo de penalidade (adverténcia, por exemplo)*, hd sim, necessidade de obedién defesa como requisito de validade da pena aplicada. ao contraditério e & ampla STF entende que, nos processos administrativos disciplinares, a ampla defesa e o contraditério podem ser validamente exercidos independentemente de advogado. Dessa forma, em um PAD instaurado para apurar infraco disciplinar praticada por servidor, nao é obrigatéria a presenga de advogado. Com base nesse entendimento, o STF editou a Stimula Vinculante n® 5: ‘A falta de defesa técnica por advogado no processo administrative a Constituigao.’ i Como forma de garantir 2 ampla defesa, é bastante comum que a legislaco preveja a existéncia de recursos administrativos. No entanto, em muitos casos, a apresentacdo de recursos exigia o depésito ou arrolamento prévio de dinheiros ou bens. Em outras palavras, para entrar com recurso administrativo, o interessado precisava ofertar certas garantias, o que, em n3o raras vezes, invi \diretamente, o exercicio do direito de recorrer. Para resolver esse problema, o STF editou a Stimula Vinculante n2 21: Dessa forma, seré inconstitucional qualquer lei ou ato normativo que estabeleca a necessidade de depésito ou arrolamento prévio de dinheiro ou bens como requisite de admissibilidade de recurso administrativo. ir depésito prévio como condiglo para se ajuizer, idade de crédito tributério.*” Foi editada, entéo, a Nessa mesma linha, o STF entende que nao se pode junto ao Poder Judiciério, acao para se discutir a exi Stmula Vinculante n® 28: ““E inconstitucional a exigéncia de depdsito prévio como requisito de admissibilidade de fo judicial a iscutir a exigibilidade de crédito tributério.” © Segundo o art. 145, da Lei n® 8.112/90, da sindicancia poderd resuttar: i) arquivamento do processo; i) aplicagdo de penalidade de adverténcia ou suspensdo de até 30 (trinta) dias; i) instauraedo de processo disciplinar.. ©” Na ADIN 1.0743, 0 STF considerou inconstitucional o art. 19, da Lei 8.870/94 que estabelecia que “as agdes judiciais, Inclusive cautelares, que tenham por objeto a discussdo de débito para com o INSS serdio, obrigatoriamente, precedidas do depésito preparatorio do valor do mesmo, monetariamente corrigido até a data de efetivacto, acrescido dos juros, mutta de mora e demais encargos” FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital \www.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 PraCAR (PC-DF — 2015) O advogado tem direito, no interesse de seu cliente, a ter acesso aos elementos de prova que, jé documentados em procedimento investigatério realizado pela policia, digam respeito ao exercicio do direito de defesa. Comentérios: Essa questdo esta baseada na SV n? 14. Questo correta. (PC-DF ~ 2015) Nao é inconstitucional a exigéncia de depésito ou arrolamento de bens para admissibilidade de recurso admi Comentérios: Essa questéo esta baseada na SV rrolamento de bens para admi 21, que considera inconstitucional a exigéncia de depésito ou LVI - so inadmissiveis, no processo, as provas obtidas por meios ilicitos; ‘as, que “E indubitavel que a prova ilicita, entre nés, no se reveste da necessdria idoneidade Juridica como meio de formacao do convencimento do julgador, razdo pela qual deve ser desprezada, ainda que em prejuizo da apuracéo da verdade, em prol do ideal maior de um proceso justo, condizente com o respeito devido a direitos e garantias fundamentais da pessoa humana, valor que se sobreleva, em muito, ao que é representado pelo interesse que tem a sociedade em uma eficaz repressao aos delitos.”** As provas ilicitas, assim consideradas aquelas obtidas com violacao ao direito material, deverao ser, portanto, expurgadas do processo; serao elas imprestaveis 4 formacao do convencimento do magistrado.*° Ha que se destacar, todavia, que a presenca de provas ilicitas ndo é suficiente para invalidar todo o processo, se nele existirem outras provas, licitas e autnomas (obtidas sem a necessidade dos elementos informativos revelados pela prova ilicita).® Uma vez que seja reconhecida a ilicitude de prova constante dos autos, esta © STF, Aco Penal, 307-3-DF. Rel. Min, Iimar Galvdo, DIU 13.10.1995 S* MORAES, Alexandre de. Constituigéo do Brasil Interpretada e Legisla¢o Constitucional, 9* edi¢So. Sio Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 324-332 © STE, HC 76.231/Rl, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ: 29.09.1995. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 deverd ser imediatamente desentranhada (retirada) do proceso. ® As outras provas, licitas e independentes da obtida ilicitamente, so mantidas, tendo continuidade o proceso. Vejamos, a seguir, importantes entendimentos do STF sobre a licitude/ilicitude de provas: 1) Eilicita a prova obtida por meio de interceptacdo telefénica sem autorizacao judicial. 2) Sao ilicitas as provas obtidas por meio de interceptacao telefdnica determinada a partir apenas de dentincia anénima, sem investiga¢3o preliminar. 3) Sao ilicitas as provas obtidas mediante gravacao de conversa informal do indiciado com advertido do seu direito ao silencio. 4) Sio ilicitas as provas obtidas mediante confissdo durante prisdo ilegal. Ora, se a priséo oi ilegal, todas as provas obtidas a partir dela também o sero. 5) € licita a prova obtida mediante gravaco telefénica feita por um dos interlocutores sem a autorizacao judicial, caso haja investida criminosa daquele que desconhece que a gravaco esté sendo feita. Nessa situaco, tem-se a legitima defesa. 6) € licita a prova obtida por gravac3o de conversa telefénica feita por um dos interlocutores, sem conhecimento do outro, quando ausente causa legal de sigilo ou de reserva da conversacao. 7) E licita a prova consistente em gravacao ambiental realizada por um dos interlocutores sem 0 conhecimento do outro. Muito conhecida na doutrina é a Teoria dos Frutos da Arvore Envenenada (“Fruits of the Poisonous Tree”), que se baseia na ideia de que uma érvore envenenada iré produzir frutos contaminados! Seguindo essa légica, uma prova contamina todas as outras que dela derivam. £ 0 que a doutrina denot itude © STF, Embargos de Declaraco em inquérito. Rel. Min, Néri da Silveira, 07.06.1996 © STF, HC 80.949, Rel. Min. Sepilveda Pertence. DJ 30.10.2001, © STE, RE 630.944 —AgR, Rel. Min, Ayres Brito. DJ 25.10.2011 © STE, RE 583.937-00-RG. Rel. Min. Cezar Peluso. DJ 19.11.2009, FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital \www.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 lade da por derivagio; pode-se dizer também que, nesse caso, haveré comunical ilicitas a todas aquelas que dela derivarem. itude das provas E importante destacar, porém, que a tao sé existéncia de prova reconhecidamente ilicita no processo ndo basta para que a condenacdo seja considerada nula, ou seja, a prova ilfcita ndo contamina todo o processo. Nesse sentido, segundo 0 STJ, “ndo se aplica a Teoria da Arvore dos Frutos Envenenados quando a prova considerada como ilicita é independente dos demais elementos de convic¢do coligidos nos autos, bastantes para fundamentar a condenagéio."® da presungdo de inocéncia, que tem por objetivo proteger a liberdade d frente ao poder de império do Estado. Somente a partir do transito em julgado (deciso da qual nao caiba mais nenhum recurso) de sentenca penal condenatéria ¢ que alguém poderd ser considerado culpado. E, afinal, o transito em julgado da sentenga que faz coisa julgada material. Da presungo de inocéncia, deriva a obrigatoriedade de que o énus da prova da pratica de um crime seja sempre do acusador. Assim, n&o se pode exigir que o acusado produza provas em seu favor; caberé & acusac3o provar, inequivocamente, a culpabilidade do acusado. A jurisprudéncia do STF considera que as prisdes cautelares (priséo preventiva, priséo em flagrante e priséo temporaria) so compativeis com o principio da presungdo de inocéncia. Assim, é plenamente possivel, no ordenamento juridico brasileiro, que alguém seja preso antes de sentenca penal condenatéria transitada em julgado. Em novembro de 2019, o STF adotou importantissima decisao relacionada ao principio da presuncao de jocncia, mudando sua jurisprudéncia sobre o tema. Nos ultimos anos, o STF vinha admitindo que, apés uma decisao condenatéria em segunda instancia, ja seria possivel a execucao provisoria da pena. Em outras ®qpR 2050810047450 DF, Rel. Var de Mello, j. 07.02.2008. FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 palavras, apés decisio de segunda instancia (acdrdéo penal condenatério), jé poderia ser determinada prisdo do condenado, ainda que cabiveis recurso especial (para 0 STJ) e recurso extraordinario (para o STF). Foi com base nesse entendimento, inclusive, que foi determinada a prisio do ex-Presidente Lula, apés decis%io condenatéria do TRF 42 Regio, antes do transito em julgado. Mas qual 0 novo entendimento do STF? Agora, o STF entende que a decisdo condenatéria em segunda instancia jé no mais permitird a execuc3o proviséria da pena. Se um individuo foi condenado em primeira instdncia e, em seguida, teve a condenacdo confirmada por um Tribunal (6rgao de natureza colegiada), ainda assim ele nao podera ser preso, pois sé possiveis o recurso especial (para o ST!) € o recurso extraordinario (para 0 STF). Em outras palavras, ainda no houve o transito em julgado da condenacao criminal e, portanto, o individuo deve ser presumido inocente. Dessa forma, o STF adotou o seguinte entendimento: ‘A execucdo proviséria da senten¢a penal condenatdria revela-se frontalmente | incompativel com o direito fundamental do réu de ser presumido inocente até que } sobrevenha o trénsito em julgade de sua condenagdo criminal” (ADC 43, 44 € 45) i A presuncdo de inocéncia também ja serviu de fundamento para outra importante jurisprudéncia, agora relacionada a concursos ptiblicos. Segundo o STF, “viola o principio constitucional da presuncao de inocéncia, previsto no art. 52, LXVIl, da CF, aexclustio de candidato de concurso piiblico que responde a inquérito ou a¢éo penal sem trénsito em julgado da sentenca condenatéria”.* Ora, se ainda no houve o transito em julgado da sentenga penal, 0 individuo no pode ser considerado culpado. Ao exclui-lo do concurso, a Administrag3o Publica agiu como se ele assim devesse ser considerado, o que viola a presunco de inocéncia. ja Civil-CE - 2015) h condenatéria, salvo o preso em flagrante delito. Comentarios: Pegadinhal Mesmo aquele que for preso em flagrante delito somente poderé ser considerado culpado apés transito em julgado de sentenca penal condenatéria. Questo errada. 6 STE, RE 550.135-AgR. Rel. Min, Ricardo Lewandowski, 20.05.2008, FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 = 0 civilmente ident hipoteses previstas em lei; Tem-se, aqui, norma constitucional de eficdcia con identificacdo criminal excepcional, esta jamais seria exigivel. pondo sobre os casos de © que ¢ identificago civil? € @ regra: carteira de identidade, de motorista, de trabalho... E a criminal? E a impressao digital (processo datiloscépico) e a fotografica, Aposto que vocé se lembrou daquelas cenas de filmes, em que o preso ¢ fotografado de frente e de perfil pela policia, né? Assim, lei pode prever, excepcionalmente, hipsteses de identificacao criminal mesmo quando 0 individuo 4 foi identificado civilmente. A Lei n® 12.037/2009 dispSe sobre os casos de identificacdo criminal do civilmente identificado. UX - serd admitida aco privada nos crimes de aco publica, se esta nao for intentada no 7 prazo legal; Como vocé sabe, em regra, é 0 Ministério Puiblico que provoca o Poder Judiciério nas aces penais publicas, de cujo exercicio é titular, com o fim de obter do Estado 0 julgamento de uma pretensio punitiva. Entretanto, em alguns casos, o particular poderé exercer essa prerrogativa, de maneira excepcional. Trata- se dos casos de acdo penal privada subsidiaria da publica, quando esta nao é intentada no prazo legal. Nesse tipo de aco, a titularidade da persecucao ci Publico. Entretanto, diante da omissdo deste, ela passou para o particular. Destaca-se, todavia, que nao é possivel aco penal privada subsididria da publica quando o Ministério Puiblico, amento do inquérito policial por falta de provas. Isso porque, nesse caso, no se LX - a lei s6 podera restringir @ publicidade dos atos processuais quando a defesa da itimidade ou o interesse social o exigirem: ‘A compreenso desse inciso é bastante simples. A regra é a publicidade dos atos processuais. A excecdo é a restriclo a essa publicidade, que sé poderd ser feita por lei e em 2 (duas hipéteses): defesa da intimidade ou interesse social. LXI- ninguém seré preso senao em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judi competente, salvo nos casos de transgressdo propriamente militar, definidos em lei; LXVI - ninguém serd levado & priséo ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade O direito & liberdade é uma regra prevista na Constituicio, que somente em situacdes excepcionais e taxativas poder ser violada. O inciso LXI do art. 5° da Constituig&o traz as hipéteses em que é possivel a FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital \www.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 a) em flagrante delito. Nesse caso, no haverd necessidade de ordem judicial. Nos termos do Cédigo de Processo Penal, qualquer do povo poderd e as autoridades policiais e seus agentes deverdo prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. b) em caso de transgresséo militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. Nesse caso, também é dispensada ordem judicial. ¢) por ordem de juiz, escrita e fundamentada. A deciséo judicial é necesséria para a decretacdo de prisdo cautelar ou para @ denegac3o de liberdade proviséri A priséo, por tudo o que j4 comentamos, tem natureza excepcional. Nesse sentido, o inciso LXVI dispde que sea lei admi a liberdade proviséria, com ou sem fianga, ninguém seré levado a prisdo ou nela mantido. Isso porque o direito 8 liberdade é um dos direitos humanos mais basicos e importantes. Flagrante delito Casos em que ¢ possivel a (CNMP ~ 2015) Ninguém seré levado & priséo ou nela mantido quando a lei admi desde que mediante pagamento de fianca. Comentérios: O art. 58, LXVI estabelece que “ninguém sera levado @ prisio ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade proviséria, com ou sem fianca”. Questo errada. a vi LXII- a prisio de qualquer pessoa e 0 local onde se encontre seréo comuni imediatamente ao juiz competente e familia do preso ou a pessoa por ele indicada; LXIII - 0 preso serd informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, { sendo-Ihe assegurada a assisténcia da familia e de advogado; LKIV - 0 preso tem direito a identificaco dos responsaveis por sua priséo ou por seu interrogatério pol Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital \www.estrategiaconcursos.com.br Nadia Carolina, Ricardo Vale Aula 01 Tixv-ap legal sera stamente relaxada pela autoridade ju Esses dispositivos enunciam os direitos do preso, que Ihe devem ser garantidos imediatamente quando de sua prisio. Nos termos do inciso LXIl, a priséo de qualquer pessoa e 0 local onde se encontre seréo comunicados imediatamente ao juiz competente e a familia do preso ou 4 pessoa por ele indicada. 0 objetivo é assegurar-Ihe a assisténcia familiar e permitir que o juiz analise a legalidade da prisdo, relaxando-a se tiver sido ilegal. Destaque-se que no ocorrer descumprimento do art. 52, LXll, se o preso, voluntariamente, no indica pessoa a ser comunicada de sua priséo.° O inciso LXII, por sua vez, consagra 0 direito ao siléncio (direito a ndo-autoincriminacao), que se baseia na ldgica de que ninguém pode ser obrigado a produzir provas contra si mesmo (“nemo tenetur se detegere”). O preso deveré ser informado sobre seu direito de permanecer em siléncio, assim como do fato de que o exercicio desse direito nao ird trazer-Ihe nenhum prejuizo. Em outras palavras, o silencio do réu no interrogatério no pode ser interpretado como se fosse uma confisso da pratica do crime. O direito ao siléncio esta presente quando 0 indiciado ou acusado presta depoimento ao Poder Judicisrio, a0 Poder Executivo ou ao Poder Legislativo (no émbito de CPI, por exemplo). Segundo 0 STF, 0 preso deve ser informado de seu direito ao siléncio, sob pena de nulidade absoluta de seu interrogatério. importa destacar ainda que, para o Supremo Tribunal Federal, o direito de permanecer em siléncio insere- se no alcance concreto da cldusula constitucional do devido processo legal. Nesse direito ao siléncio, est incluida, implicitamente, a prerrogativa processual de o acusado negar, ainda que falsamente, perante a autoridade policial ou judicidria, a prtica da infracdo penal. ® Essa garantia conferida ao acusado, entretanto, no Ihe permite mentir indiscriminadamente. No pode ele, com base nesse direito, criar situacdes que comprometam terceiros ou gerem obstaculos & apuraco dos fatos, impedindo que a Justica apure a verdade. O inciso LXIV, por sua vez, garante ao preso o direito de conhecer a identidade dos responsaveis por sua prisdo ou por seu interrogatério policial. 0 objetivo é evitar arbitrariedades da autoridade policial e de seus agentes que, uma ver tendo sido identificadas pelo preso, poderao ser responsabilizadas, a posteriori, no caso de ilegalidades ou abuso de poder. 44 0 inciso LXV determina que a prisdo ilegal ser imediatamente relaxada pela autoridade judiciéria. O relaxamento da prisdo é, portanto, um ato por meio do qual o juiz torna sem efeito a restrigo de liberdade. Trata-se, como se pode verificar, de uma protec3o aos individuos contra prises ilegais ou arbitrérias. Um entendimento importante do STF, relacionado ao respeito dos direitos do preso, é a Simula Vinculante n2 11, que trata do uso de algemas. "$6 € licito 0 uso de algemas em caso de resisténcia e de fundado receio de fuga ou de perigo a integridade fisica prépria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do © STF, HC 69,630, Rel. Min, Paulo Brossard. DI: 04.12.1992. ®STF, Primeira Turma, HC 68929 SP, Rel. Min. Celso de Mello, j. 22.10.1991, D) 28-08-1992 FQ Direito Constitucional p/ DEPEN (Agente de Execucao Federal) Com Videoaulas - Pés-Edital 8Y3 worw.estrategiaconcursos.com.br

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