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16 52 Gramaticas genéricas José Nuno Beiréo ‘Sempre que um problema de projeto se expressa melhor através de um sistema de solugdes, em vez de uma solugao formal tinica, justifica-se desenvolver um sistema de regras codificando 0 universo de solugdes em alternativa ao projeto tradicional. Uma gramatica da forma (STINY; GIPS, 1972) pode, entéo, ser utilizada para a codificagao da linguagem de formas que queremos desenvolver, estabelecendo as regras do modelo gerativo que produz 0 conjunto de solugdes admitido pela linguagem. Verifica-se que alguns problemas de projeto so recortentes em contextos variados, ‘exigindo abordagens semelhantes mas sensiveis a0 seu contexto espectfico. Pademos entéo desenvolver a gramatica em um nivel mais abstrato, criando uma metalinguagem capaz de lidar com esse universo de problemas. Tipicamente, tais problemas envolvem um dominio de formas e/ou conceitos associados a esse universo de problemas. Por exemplo, podemos querer desenvolver um sistema genérico para a resolugo de projetos de garrafas, tipos de edificios (habitagao, escritérios, etc.) ou planos urbanos. Diremos que, para cada um destes problemas-tipo, trabalhamos com um dominio de formas e conceitos espeeifico que devemos caracterizar. Temos entao de classificar os conceitos que caracterizam esse dominio. Para tal, recorremos a uma ontologia formal, onde especificaremos todos os subconceitos por meio de classes e subclasses de objetos, seus atributos e relagdes de dependéncia. Uma ontologia define, assim, as especificagées da conceituagiio de um dominio (GRUBER, 1993) Consideremos 0 dominio “garrafa" "Tipo de garrafa” e "forma’; por exemplo, sao classes principais. A classe “forma” pode ser decomposta em subclasses; por exemplo: “gargalo’, "pescogo’, “ombro’ "bojo" e "base" e a subclasse “bojo" pode ser ainda decomposta em mais subclasses; por exemplo: “formas geradoras;, “decoragao’ e assim por diante. Cada uma das classes possuiré atributos € pardmetros especificos com intervalos de variagdo dependentes de dimensées de base antropométrica. Do mesmo modo, as diferentes classes possuem também relagdes especificas entre si, que especificam a validade ou nao da combinagao de certas partes da garrafa. Como exemplo, se tomarmos duas subclasses de “tipo de garrafa’ - "garrafa de vinho” e "garrata de azeite” ~ podemos claramente entender que as suas relagdes com as subclasses da classe “gargalo” sero certamente distintas. Portanto, num sistema gerativo, as relagées de dependéncia expressas na ontologia determinam a permissao de procura ou nao objetos numa classe estabelecendo uma ordem semantica para a relagao entre as partes do dominio. Em uma gramatica, cada regra ou transformagao formal opera sobre um conjunto limitado de objetos pertencente a uma classe. A classe representa-se por um conjunto de formas (Fj) e simbolos (; (F,Si}. Os simbolos referem- ‘se a classes que identificam caracteristicas nio formais. Uma gramatica descreve ainda um conjunto identificavel de operagées de projeto em design de garrafas traduzido através de um conjunto de regras R que opera sobre o conjunto {F),Si} a partir de uma forma |. Uma gramatica genérica F que opera no dominio “garrafa” é constitulda pelo conjunto das subgraméticas [em que j representa a classe de objetos {F;,Si} da ontologia sendo as classes identificadas pelo indice j (1,2,3,4,.i)- A forma inicial li estabelece a comunicagao entre as gramaticas F pois so as tinicas formas nas diferentes gramaticas que podem pertencer a conjuntos de formas fora da classe a que a gramatica se refere. Podem ser de dois tipos: (1) Objetos que numa gramatica podem ser lidos como objetos iniciais; (2) Objetos resultantes da geracao produzida por outras gramaticas e que foram classificados como objetos iniciais da gramatica que consideramos. Cada gramatica assume a forma Fj={F,SiR,li} ‘onde uma regra R tem como formato genérico a forma AB onde B corresponde a transformagao t da ocorréncia num projeto C de uma forma A ou ‘qualquer transformacao euclidiana dessa forma h(A) a qual se substitui pela forma B de acordo com a equagdo B=(C-h(A))+t(h(A)). Na realidade, a transformagao seré paramétrica, aplicando-se a qualquer atribuigdio de pardmetros eligivel na ‘ontologia 4 forma A (STINY, 1980). © utilizador da gramatica genérica manipula varias opgdes na sua utilizagao: (1) ele ‘combina subgramiticas Fi; (2) escolhe e varia ‘08 parametros de entrada; (3) escolhe em cada subgramatica Fas formas iniciais li que possam existir como opgo. No final, obterd um sistema especifico de garrafas que constituird a sua linguagem de garrafas. Em Beirdo (2012), 0 leitor poderd encontrar definiges mais detalhadas para © caso de uma gramatica genérica aplicavel a0 dominio do desenho urbano. Nesta gramatica, «as definig6es baseiam-se em uma estrutura de design patterns (GAMMA ct al, 1995) desenvolvida recorrendo a gramiticas discu (DUARTE, 2001). Ver também (BEIRAO et al,, 2012) 7

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