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ao ADMINISTRAGAO DE CAIXA Objetivos do capitulo 1. Definir os motivos da procura da moeda e de sua relagio com a manutengao de um saldo de caixa pelas empresas. 2. Aborda a problemética da administracdo de caixa e as estratégias que podem ser usadas para seu melhor controle, 3. Desenvolver os principais modelos quantitativos de administracdo de cai- xa voltados a maximizar 0 retorno dos recursos disponiveis e a manter a liquidez. da empresa. 4. Mostrar como é elaborada uma projecao das necessidades de caixa. Este capitulo visa detalhar-os principais aspectos da administragdo de recursos de caixa de uma empresa e dedica também, em varias partes, especial atengio as peculiaridades do contexto brasileiro. Uma empresa _mantém recursos disponiveis principalmente para atenuar suas dificul- " dades financeiras em momentos de safdas de caixa imprevistas. 656 Cuno deAdminiciacto Financia» Assaf tine 0 investimentos em caixa, 30 mesmo tempo fem que oferecem retornos baixos, sdo tam- bém consideradas como investimentos de bai- x0 isco. IPORTARNTE wo caixaéum componen- te do capital de giro, conforme estudado no capitulo anterior. Existem custos e beneficios ‘em manter um saldo elevado dle caixa, assim como existern vantagens e prejulzos em man- ter um saldo baixo. © caixa tem, entre outros gastos, um custo de oportunidade. O dinheiro mantido poderia estar splicado em outros ativos que prometem melhores rendimentos. A falta de caixa, por seu lado, reduz ‘a capacidade imediata de pagamento da empresa Quanta inenor o caia, maior o risco da empresa am nfo pagar corretamente seus compromiss0s, prineipalmente os desembolsos imprevistos, Dinheiro em caixa oferece maior liquide a uma empresa, porém nao remunera 9 custo de oportunidade do investimento. Aplicagdes em ti- tales rendem juros, porém desviam recursos que poderiam estar aplicados na atividade produtiva da ‘empresa, muito mais rentével. A administragio do taixa procra um equilibri entre os custos e benef cios na definig&o do saldo de caixa a ser mantido. CO termo caixa, conforme é utilizado em varias partes deste capitulo, refere-se a dinheiro em ‘espécie mantido pela empresa em cofres pro- prios, recursos depositados em contas corren- tes bancérias a vista, e aplicagdes financeiras de liquidez imediata. O dinheiro guardado em cofre ou depositado ‘em bancos em contas avista representa valores que podem ser usados a qualquer momento ‘em pagamentos de diversas naturezas. ‘As aplicagdes financeiras so representadas geralmente por titulos publicos. Por terem 05 titulos publicos caracteristicas de liquidez imediata € risco minimo, eventuais posicdes nesses ativos financeiros so também consi- deradas como caixa. Aplicagbes financeiras de curto e de curtissi- mo prazo serdo estudadas em capitulos pos teriores, , Fluxos de Caixa Fluxos de caixa sfo os recursos que transitam (entram e saem) pelo caixa em determinado inter- valo de tempo. Nos fluxos de caixa so consideradas unica ‘mente as transagdes que repercutem sobre o caixa Por exemplo, a depreciagio, despesa dedutivel para cAleulo do resultado do exercicio, ndo exige qual- quer desembolso financeiro, Em outras palavras, no tem reflexo sobre 0 caixa 0 Fluxo de Caixa Liquido mede o resultado de caixa da empresa, sendo apurédo pela soma do resultado Hquido com as despesas nao desembol- sdveis, como depreciago, amortizacio e exaustio, ou seja: Fluxo de Caixa Liguido = Lucro Liquido + ‘Despesas Néio Desembolsdveis Para ilustrar, admita uma empresa que tenha apurado, ao final de determinado exercicio social, ‘08 seguintes resultados: Receitas de vendas: $ 180.000,00 Despesas operacionais desembolséveis: ($ 80.000,00) Despesa de depreciagéo: __($ 40.000,00) Despesas financeiras: ($ 22.000,00) Lucro Antes do IR: $ 38,000,00 Proviso para IR: ($ 12.920,00) Lucro Liquido: $- 25.080,00 © fluxo Iiquido de caixa atinge a: Fluxo Ltquido de Caixa = $ 25.080,00 + $ 40.000,00 = $ 65.080,00 25.1 Razées para uma empresa manter dinheiro disponivel em caixa A administrago de caixa visa, fundamental- mente, manter uma liquidez imediata necesséria ara suportar os desembolsos das atividades de luma empresa. Por nao apresentar retorno opera- cional atraente, 0 saldo de caixa ideal deveria ser © minimo possivel. Uma posigio extrema de caixa zero, no entanto, é invidvel na prética, jé que a empresa precisa normalmente manter certo nivel de caixa para, entre outras razées, fazer frente & incerteza associada a seu fluxo de recebimentos Pagamentos. Para que se compreendam com maior profun- didade as razdes que levam uma empresa a man- ter recursos de médxima liquidez em seus ativos, é interessante conhecer inicialmente as razées da rocura da moeda, passando-se posteriormente 20 estudo dos outros aspectos relativos & administra- lo de caixa Keynes identificou trés motivos que levam as empresas (eas pessoas também) a manter determi- nado nivel de caixa,* ideintficados como: precaugdo, transapao e especulagao, Motivo de Transacéo O motivo de transagao (ou negécio) & explicado pela necessidade que uma empresa apresenta de ‘anter dinheiro em caixa para efetuar os pagamen- tos oriundos de suas operacées normais. No ciclo de caixa descrito no capitulo anterior, as empresas consomem recursos e precisam, conseqiientemente, ‘manter certas reservas monetirias para suprir seus desembolsos operacionais e previstos. © nivel de caixa mantido por uma empresa para financiar esse perfodo de transigao influen- ciado principalmente pelas caracteristicas dos ne- {g6ci0s e pela extensio do ciclo operacional. Sazonalidade: por exemplo, 0 comércio varejis- ta costuma apresentar maiores saldos de caixa em determinadas épocas, normalmente final de ano, 1 KEYNES, J Maynard. Os motivos pslolégicos e empresarais para a lguidee. Inv A teoria geral do emprego, do juro e da oeda, Sio Paulo: Aas, 1982, Cap. 15. Adminsagio de Cia 657 que empresas sidenirgicas que convivem com férias coletivas das incuistrias consumidoras. Ciclo operacional: empresas com ciclo finance ro mais longo, como indiistria aeronéutica, costu- ‘mam apresentar necessidades de caixa maiores que aquelas de ciclo mais curto, tipicamente geradoras de caixa, como os setores de prestacao de servicos, por exemplo. IMPORTANTE » em verdade, a falta de sincronizagéo verificada entre os mementos dos recebimentos e dos vencimentos dos com- promissos é que determina a demanda por calta pelas empresas. Ao se admitir a certeza absoluta sobre 0s perfodos @ sobre os montan- tes dos fluxos de entradas e saldas de caixa, a demanda pelo dinheiro para fins de transa- ‘ao seria desnecesséria. No entanto, como a certeza total (sincronizagao perfeita) é prati- camente impossivel, devido ao ambiente de incerteza que normalmente envolve os ne- G6cios ¢ os naturais desajustes de mercado, a empresa devera sempre manter recursos ‘monetarios em caixa para sustentar suas ati vidades normais. O motivo de transacéo tem por finalidade cobrir as necessidades de caixa geradas pelos rnegécios normais da empresa, Motivo de Precaugao segundo motivo abordado por Keynes refe- re-se & precaugio. O motivo de transagio previu a presenga certa de dispéndios na atividade normal de uma empresa; a incerteza descrita estava asso- ciada as datas (momentos) e aos valores de seus Aluxos de caixa. ‘N&o obstante isso, é comum ocorrerem certas, despesas imprevistas e extraordindrias nos negécios empresariais (variagées inesperadas nas rendas ¢ nos precos de alguns fatores de produgio, insolvén- cia de clientes ¢ outras contingéncias), e, quanto maior for 0 saldo de caixa para enfrentar essas exi- 650 curse deAdminsagto Financeca = Assaf Lima géncias monetérias inesperadas, tanto maior serd 2 margem de seguranca de atuagao da empresa Desa maneira, o motivo-precaugio para a reten¢ao de ativos de maxima liquidez por uma empresa é Sustificado pela diferenga normalmente observada “entre 0s fluxos monetarios orgados € os reais. Fotas necessidades imprevistas de recursos va~ riam de empresa para empresa, Negécios com re- ceitas de vendas mais estaveis e previsiveis, como supermercades, por exemplo, podem necessitar de menores nfveis de caixa que outras com comporta- ‘mento mais volAtil. ‘metem altas valorizagBes em seus pregos. A renta- bilidade oferecida por essas aplicagBes vem assu~ mindo percentuais bem elevados, chegando, em diversos momentos, a exceder o retorno real sobre os ativos de muitas empresas. Diversas oportunidades de investimentos atra~ entes costumam surgir de forma nao prevista, sem dar tempo para a empresa buscar finan- ciamento no mercado. Estas oportunidades somente podem ser aproveitadas com caixa. Eo motivo de especulacio. © motivo de precaucdo visa manter caixa com co objetiva de atender a necessidades de paga- mentos eventuais e imprevistas. ‘Ac2sso ao financiamenta externo: 0 nivel de cai- x motivo-precaugao € fungao, natu- calmente, da flexibilidade que uma empresa apre- seria etm captar recursos nos exatos momentos de sues necessidades extraordindrias. A facilidade de ‘acesso imediato 20 crédito externo permite que ‘uma empresa trabalhe com maior taxa de retorno ‘em razio da menor necessidade de manter saldo em caixa pot precaucao, Mais uma vez, 0 grau de aversio ao risco em relago a uma eventual falta de recursos disponiveis é que ird conciliar 0 aspect de maior liquidez imediata ou retorno. exigido pel 9 de Espeeulagio Finalmente, 0 terceiro motivo citado refere-se a especulapGo. Por exemplo, 0 aproveitamento de oportunidades especulativas em relagio a certos itens néo monetérios (estoques, normalmente), desde que a empresa acredite numa valorizagio atraente de seus precos, pode justificar maiores in- vestimentos de caixa ‘Uma situago freqtiente de especulagao ocor- re no armazenamento de caixa para tirar proveito de certas aplicagées financeiras cujos rendimentos ‘apresentam-se atraentes para a empresa. Nos ilti- mos ands pOde-se observar uma grande demanda por dinheiro pelas empresas (e pessoas também), com o intuito de adquitirem certos ativos que pro- ‘Outros motives para manter caixa podem tam- ‘bém ser descritos, como a necessidade de saldo mé- dio junto a instituig6es financeiras concedentes de cxéditos, preferéncia pelo uso de recursos préprios fe, conseqiiente retengao de caixa, para financiar projetos de expansio, ¢ assim por diante. 25.2 Ciclo de caixa e controle de seu saldo Como objetivo de alcangar uma visio clara da ‘administragéo de caixa e das medidas que podem ser acionadas para um controle eficiente, é interes- sante estudar, com mais detalhes, o ciclo de caixa de uma empresa. capitulo anteri¢y definiu o cielo de cab como o periodo de tempo existente desde 0 desembolso inicial de despesas até 0 recebimento do produto da venda, Representa, em outras palavras, o tempo em que a empresa deve selecionar fontes de financia- ‘mento pata sustentar seu ciclo operacional. Para uma empresa industrial, por exemplo, ‘esse ciclo corresponde ao intervalo verificado en- tre o pagamento de matérias-primas (note-se que no é data de compra, pois a mesma poderd ocor- rer antes, se a aquisicao for efetuada a prazo) € 0 recebimento pela venda do produto elaborado (da ‘mesma forma, nao se refere ao momento da venda, e sim ao do efetivo recebimento). Se as compras necessérias e as vendas forem efetuadas totalmente a vista, 0 ciclo de caixa coin- lum més cidird exatamente com 0 ciclo operacional da em- presa, conforme estudado no Capitulo 24. A Figura 25.1 ilustra, de forma mais completa, o ciclo de caixa e o ciclo operacional de uma em- presa industrial Percebe-se na Figura 25.1 que a duragio do ciclo de caixa (cinco meses) é menor que a do ciclo operacional (sete meses) exatamente pelo prazo concedido pelos fornecedores de insumos basicos. Prazo Médio de Estocagem de Materias-primas 3,0 meses Prazo Médio de Fabricagao 10 mes Prazo Médio de Venda (Estocagem de Produtos Acabados) 1,0 mes Prazo Médio de Cobranga das Vendas a Prazo 2,0 meses Ciclo Operacional 7,0 meses" Prazo Médio de Pagamento a+ Fornecedores de Matérias-primas 2,0 meses Ciclo Financeiro (de Caixa) _5,0 meses Claro est4, também, que o prazo de pagamen- toa fornecedores poderia ser maior, excedendo in- clusive 0 perfodo de estocagem desses itens. Nes- Ciclo Operacional (sete meses) ——— ——uaororo—i‘~V Figura 25.1 Giclo operacional e financeiro completo. Aéminsuagiode aia 659 Estocagem Compra de de produtos matéria-prima Pagamento —Produgdo acabados Venda Recebimento Prazo de pagamento 2 rnecedores — estocagem Prazo de Prazo de estocagem Prazo de de produtos —_recebimento de matérias-primas producso. acabados de vendas a it tempo dois meses um més. um més dois meses Ciclo de caixa (cinco meses) (Necessidades de recursos) sa situagdo, o ciclo de caixa deveria iniciar-se na presenga dos primeiros dispéndios operacionais (normalmente, a partir da entrada das matérias- primas na produgao pela ocorréncia de pagamen- 08 205 fatores), Na ilustragao considerada, as necessidades de finaneiamento da empresa ocorrem desde 0 mo- ‘mento do pagamento das compras de insumos até 0 do recebimento das vendas realizadas, o que re- presenta seu ciclo de caixa. Para determinar o niimero de vezes que o caixa de uma empresa gira (se renova) num determinado periodo, basta dividir 12 pelo ciclo de caixa encon- trado.? Assim, para o exemplo considerado, 0 giro de caixa da empresa € igual a 2,4 ou 12 + 5, ou seja, 05 recursos alocados ao disponivel revezam-se 2,4 vezes no periodo (ano). A maximizagio do giro de caiva, que pode ser aleangada por uma gradativa reduao do ciclo de caixa, determina menores necessidades de recursos monetarios no disponivel. & uma medida de eficién- cia na administracéo de caixa de uma empresa. 3 Dividese por 12 na hipétese de serem ealculados os vies prazos operacionals em bases mensss, Se os prazos de ciclo =. Uverem estabelecidos em diss, numerador da expressio Seré ‘onimera de dias do ano, 660 cusodeAdminiragfoRaancsva» Asaf Limo _ ‘EXEMPLO ILUSTRATIVO ~ Ciclo Operacional € Ciclo Finaneeiro ‘Uma empresa revela que o perfodo médio pon derado de pagamento a fornecedores de matérias- ‘primas e outros insumos, como méo-de-obra, é igual ‘228 dias. A empresa gira seus estoques cinco veres no ano, ¢ seus clientes pagam as duplicatas dentro eum prazo médio de 35 dias. Ciclo Operacional = Prazo Médio dos Es- toques + Prazo Mé- dio de Cobranga PME = 360 dias/5 = 72 dias Ciclo Operacional = 72 dias + 35 dias . = 107 dias O ciclo operacional indica o intervalo de tempo desde a aquisisco (pedido) das matérias-primas até «@ recebimento da venda do produto acabado. Na ilustragio, este prazo médio é de 107 dias. Ciclo de Caixa Cineneeiro) = Ciclo Operacional = Prax zo Médio de Pagamento 107 - 28 = 79 Ciclo de Caixa Este € 0 tempo que tarde desde 0 pagamento dos matérias-primas até o momento do recebimen- to das vendas, A empresa necessita de recursos em, seu ciclo de caixa para financiar seu ciclo opera- cional. a Retratégias de Controle do Saldo de Caixa ‘Annecessidade de manter um controle mais acurado na disponibilidade de uma empresa é de- terminada pelo objetivo de ajustar a manutencéo de um saldo de caixa que atenda aos motivos de transagdo, precauglo e especulacio mencionados anteriormente. ‘As medidas de controle que podem ser aciona- das para uma eficiente administracdo de caixa se- 140 discutidas com a classificagao em dois grup ‘medidas do caixa e medidas da empresa. ‘As medidas do caixa podem incluir maior di namizaco nos recebimentos de clientes, mediante ‘contatos com os bancos com que a empresa traba- Ihe, visando & agilizagio na liberagio dos cheques recebidos; emissio e entrega mais répida de titulos represehtativos das vendas a prazo (faturas e du- plicatas); melhor adequagio e controle das datas de recebimentos e pagamentos; maior controle no registro dos valores a receber, evitando-se, entre 0% tras conseqiiéncias, extravios de titulos ou preenchi- ‘mentos equivocados, 0s quais poderio retardar suas liquidagées ou dificuldades de localizagao ete. E interessante acrescentar, ainda, que a manu- tengo das contas correntes em muitos bancos po- derd trazer problemas, notadamente para as peque- nas e médias empresas com menor capacidade de geracfo de fundos, no atendimento das exigéncias de saldo médio (e outras formas de reciprocidade bancéria usualmente adotadas pelos bancos). Por sua vez, as medidas da empresa envolvem alteragbes diretas (e, muitas vezes, relevantes) nos ‘outros ativos circulantes. Por exemplo, uma dim: nuigio do prazo de produgio (com a introducao de técnicas e processos mais dinémicos e eficien tes) traria como conseqiiéncia de uma elevacio no giro de caixa, conforme visto, menor demanda pela moeda. Evidentemente, reduzindo-se o prazo de producio, os recursos so imobilizados por um tempo menor, o que determina uma antecipagio za realizagio dos produtos de venda (entradas de caixa). : De forma idéntica, uma retracio nos investi ‘mentos em estoques até um nivel que nao traga prejuizos as metas estabelecidas de producéo ou pperdas de vendas pode ser acionada como estratégia de diminuicSo de ciclo da empresa e, conseqtiente- ‘mente, do montante de caixa demandado, ‘Outra medida, ainda, seria rever @ politica de concessio de crédito adotada, Como esta influi normalmente no volume de vendas da empresa ¢, conseqiientemente, em sua lucratividade, alteracées que venham a se proceder deverio ser analisadas previamente com bastante tigor. Por exempto, uma seletividade maior nas decisées de concessio de créditos a clientes poderia, juintamente com uma possivel diminuigao de devedores insolventes, tra- zer retragdes economicamente desinteressantes a5, receitas da empresa. Da mesma forma, menores liberalidades nas cobrancas e redugées gerais nos prazos de venda produzem, muitas vezes, prejuizos maiores no mé- dio prazo. ’ Finalmente, & necessdrio ressaltar que uma administragao eficiente de caixa prevé, também, decisées de aplicagdes financeiras de recursos tem- porariamente inativos. Esta aplicago dos recursos tem por objetivo a redugéo do custo de oportuni- dade da manutengao de caixa. 2 25.2.1 Uso do float termo float refere-se a um montante de che- ques emitidos, mas que nao foi debitada (sacados) na conta corrente bancéria. Em outras palavras, float & 0 intervalo de tempo que vai desde a emis- sto do cheque até sua efetiva liquidagao financeira pelo banco. Evidentemente, o float de pagamentos pode sgerar receitas financeiras as empresas mediante a aplicago da quantia devida, pelo prazo em que 0 cheque permanecer em transito (até a efetiva liqui- dagao pelo banco) em operagées de curto prazo no mercado financeiro. Float sa recursos pagos pelo devedor mas que ainda nao foram recebidos (creditados) pelo credor do pagamento. Quanto maior 0 oat, mals elevado se apresenta o prazo de recebimento da empresa. No banco, o float € contado pelo intervalo entre 0 momento em que os recursos so de- positados eo momento em que eles so libe- rados 8 empresa credora 25.3 Saldo minimo de caixa Objetivo de manter um saldo minimo de caixa: 0 objetivo geral da manutengio de um saldo mini- mo de caixa & 0 de permitir que a empresa possa corretamente saldar seus compromissos programa- dos e manter, ainda, uma reserva de seguranca de Adminiragéa de Coie 661 forma a cobrir suas necessidades de pagamentos, imprevistos (nao programados). De forma idéntica, 0 caixa minimo deve tam- bém financiar a geralmente presente falea de sin- cronizagdo entre as entradas e saidas de fundos, ou ‘ej, as disponibilidades devem ser suficientes para processar pagamentos quando as entradas espera- das (recebimentos) néo se realizarem. Conforme ‘se comentou, esses valores em caixa so mantidos em espécie ou em titulos (aplicagbes financeiras) de liquide. imediata ‘A determinagio de um volume ideal de recur- sos monetérios a ser mantido em caixa é uma tarefa complexa, notadamente pelas razées apresentadas no inicio deste capitulo: demanda de moeda (ne- ‘g6cios, precaugio e especulacio) ‘Ao centrar-se no motivo negécios da empresa, o saldo de caixa é necessdrio em razao fundamen- talmente de as entradas e saidas ndo ocorrerem no ‘mesmo momento. Nessa situacao, pode-se imagi- nar operar com valores histéricos para 0 célculo do saldo mais apropriado de caixa. Por exemplo, ouve-se muitas vezes dizer que determinada empresa costuma manter em caixa dez, dias de seus desembolsos fixos mensais, determi- nando-se dai o saldo disponivel minimo mais ade- quado. Esse valor médio representa, em esséncia, 6 maior resultado liquido medido pela diferenca entre as entradas ¢ safdas operacionais de caixa comumente verificado em cada més. Apesar de se basear na prdpria expetiéncia da empresa, e mesmo que se trabalhe com fluxos em moeda constante, esse valor é uma estimativa subjetiva, ndo incorporando os demais aspectos do problema, principalmente os derivados da procura da moeda por precaugio e especulagéo. Jéas entradas ¢ saidas de caixa motivadas por decisées de investimento permanente, captagoes de longo prazo e outras que nao participam da gerén- cia didria do caixa no costumam ser regulates. Ou seja, o saldo do caixa nao é continuamente influen- ciado por essas decisées e ocorrem normalmente ‘em intervalos mais esporddicos e irregulares que €s apresentados no ciclo financeiro operacional. Eases fluxos devem ser mais bem relacionados com as polftieas financelras de longo prazo da empresa, de forma a serem incluidos na necessidade minima coperacional de caixa. 662. cura deAdminisvagtoFnencera = Assaf Lina So conhecidas diversas técnicas de apuragao do saldo minimo operacional de caixa de uma em- presa, até mesmo algumas com alto grau de sofist- cacio matemética. Um modelo de eéleulo bastante simples e adotado pelas empresas é 0 célculo do sal- do minimo de caixa a partir do ciclo financeiro. saldo de Caixa pele Ciclo Financeiro Um critério mais simples e bastante utilizado na prética baseia-se no ciclo de caixa (Financeiro) da empresa, determinando o saldo mininf com base na identidade: Desembolsas totais de caixa esperado ‘em determinado periodo Giro de eaixa no periodo Selio mitino Os desembolsos totais de caixa, conforme cita- umerador da expresso acima, represen- tam todos 08 dispéndios de caixa previstos no ciclo operacional da empresa no periodo. Por exempio, se os desembolsos anuais previs- tos de determinada empresa atingirem $ 3.600.000, ‘2 seu giro de caixa no mesmo perfodo for de quatro ‘vezes (ciclo de caixa = tés meses), a necessidade minima de caixa seré de: Saldo minimo _ $ 3.600.000,00 de caixa 4 $ 900.000,00 sse resultado quer dizer que, se a empresa manter win saldo minimo de $ 900.000,00 em seu caixa no perfodio, ela demonstra condigées finan- cairas sufictentes para saldar todos os seus gastos operacionais estimados para o periodo. Evidentemente, a prépria geracio de lucro a0 longo do exercicio, assim como rendimentos de ‘eventuais aplicagées financeiras do disponivel, po- dem levar a redugées desse valor. EXEMPLO ILUSTRATIVO ~ Saldo Minimo de Caixa _Admita que uma empresa consiga girar os seus estoques oito vezes no ano, e suas duplicatas a re- ceber em seis vezes no ano. O prazo médio de pa- gamento a seus fornecedores dle matérias-primas € outros insumos atinge’a 40 dias. ) Determinar 0 intervalo de tempo do ciclo opera- cional que a empresa necessita de recursos A necessidade de financiamento do ciclo ope- racional é determinada pelo seu ciclo financeiro, Quanto mais longo este ciclo, maior é a necessida- de de recursos. b) Determinar o ciclo operacional e 0 ciclo de eaixa da empresa Prazo Médio de Estocagem (PME) = = 360 dias/8 = 45 dias Prazo Médio de Cobranca (PMC) = = 360 dias/6 = 60 dias CICLO OPERACIONAL = 45 + 60 = 105 dias CICLO DE CAINA = (45 + 60) ~ 40 65 dias ©) Sendo de § 5.400.000 0s gastos com reflexos no caixa previstos para o ciclo operacional, deter minar o saldo minimo recomendado de caixa da empresa. SALDO MENIMO . DE CAIXA $ 5.400.000) 65 dine Sarda) SALDO MINIMO DE CAIXA = $ 975.000 Ociclo de caixa é de 65 dias, que corresponde um giro de caixa de: 360 dias/65 dias = 5,54 ve- 2es (aprox.). Logo, o saldo mfnimo de caixa pode também ser calculado pela expressio sugerida aci- ‘ma, ou seja: SALDO MiNIMO _ $ 5.400.000 = $8:400.000 _ 0 DE CAIXA zea 708 rs Comportamento do saldo minimo de caiva: 0s diversos custos identificados em cada fase do ciclo de caixa crescem agregativamente, nao se exigindo, em razio disso, a manutencao desse total de saldo de caixa logo no inicio do period. Da mesma forma, a sazonalidade tipica de produgdo e vendas da empresa do exereicio socal 1 i ; i i i F poderd levar a que este esteja superestimado em determinados momentos ¢ insuficiente em outros. En verdade, esse saldo minimo pode ser entendido como um valor que admite fltsco operacional uni- _ forme no exerciio No critério de caleulo do saldo minimo de cai- 1a, ndo se incorporou ainda a varidvel incerteza. Isto 4,0 caixa minimo necessério foi obtido sem levar em conta, como € tipico ocorrer, a incerteza e os tiseos associados aos fluxos financeiros operacionais Pde entradas e saidas. de notar também que, em condigdes de inflacao, o valor apurado deverd ser periodicamente corrigido em fungo da queda do poder de compra da moeda, Ajustes sugeridos no modelo: diante das criticas efetuadas 20 modelo de célculo do saido minimo de caixa, podem ser sugeridos alguns ajustes para stenuar as limitacées, tais como; + trabalhar com horizontés de tempo mais curtos na fixago do saldo minimo de cai- xa, Com isso, podem-se avaliar com maior freqiiéncia no exercicio os resultados efeti- vamente obtidos, ajustando-os a uma nova situagdo; + ao apresentar a empresa uma acentuada sazonalidade operacional, 0 giro de caixa e, conseqiientemente, seu saldo minimo podem ser obtidos para cada um desses intervalos tipicos. Procura-se, com isso, di- Iuir a dispersaé desses valores ao longo do tempo; + em contextos de inflagéo, principalmen- te quando 0s indices gerais de precos va- riam mais acentuadamente, é indispensdvel ‘que se trabalhe com resultados em moeda constante, obtendo-se, assim, maior con- fiabilidade no saldo de caixa necessério apurado ete. Orgamento de caixa: ressalte-se, diante do ex- posto, que a apuracéo do saldo minimo de caixa um processo bastante dindmico, envolvendo os varios fluxos financeiros de entradas e saidas. Essa caracteristica basica do caixa ¢ melhor identificada a0 se elaborar 0 orgamento de cajva, conforme sera estudado em itens posteriores deste capitulo. © orcamento de caixa, em outras palavras, permite que se proceda ao planejamento de caixa Aéminsvagio de aire 663 a um controle mais eficiente de seus saldos ne- cessérios, de maneira a acompanhar mais proxima- mente o nivel minimo de caixa demandando pela atividade da empresa. |EMPLO ILUSTRATIVO ~ Investimento no Ciclo de Caixa # Uma rede de lojas varejista tem vendas anuais de $ 50,0 milhdes. O custo da mercadoria vendida (CMV) equivale a 60% das vendas, ¢ as compras de fornecedores totalizam a $ 35,0 milhdes no ano. ‘As mercadorias ficam, em média, 60 dias esto- cadas a espera de serem vendidas, ¢ 0 prazo médio que a empresa paga a seus fornecedores ¢ outros insumos operacionais atinge a 30 dias. As vendas sto realizadas tendo um prazo médio de cobranca de 20 dias. Pede-se determinar 0 volume de recursos que se encontram investidas em seu ciclo operacional. Solugdo: CICLO DE CAIXA = (PME + PMC) ~ PMPF CICLO DE CAIKA = (60 + 20) - 30 = 50 dias Investimento em Estoques = (Compras Anuais X PME)/360 Investimentos em Estoques = (8 35,0 x 60/360 = $ 5,83 milhdes (+) Investimentos em Dupl. @ Receber = (CMV x PMC)/360 Inyestimentos em Dupl. a Receber = [(60% x $50) x 20]/360 = $ 1,67 milhdo (© Financiamento de Fornecedores (Compras Anuais x PMPF)/360 Financiamento de Fornecedores = (§ 35 x 30}/360 = $ 2,92 milhdes Investimento Operacional = $ 4,58 milhdes ‘As férmulas de célculo dos investimentos no ci- clo operacional foram estudadas no Capitulo 24. 664 Caso de Adminisacto neces = Asa Line 25.4 Modelos de administracio de caixa Os modelos de administragao de caixa visam fundamentalmente fornecer ao administrador fi nanceiro condigées mais cientificas para definir 0 nivel étimo de caixa cle uma empresa. So modelos importantes para um amplo entendimento do'com- portamento do caixa, porém ndo devem ser aplica- os sem restrigSes. Como todos os modelos te cos, constituem-se em simplificagées da realidade, incorporando os aspectos essenciis de uma decisio sobre o volume ides! de caixa da empresa. Nao hé pretensiio de se apresentar, mediante ‘05 modelos, resposta tinica e exata dos problemas de caixa, mas explicagdes que sejam importantes na identificacio e avaliagéo das principais variéveis que compéem o processo decisério. ‘A seguir, stio apresentados dois dos mais im- portantes modelos quantitativos de administragZo de caixa, Modelo do lote econémico (© modelo do lote econdmico, também conheci- » por modeio de Raumal, baseia-se no critério do ote econémico bastante utilizado na administragao de estoques, conforme serd desenvolvido no Capi- tulo 27.2 0 modelo bastante simples, ¢ admite que as entradas e saidas de caixa futuras podem ser previstas com certeza. Para o modelo os recursos de caixa so utili- zados até se esgotarem, sendo novamente repostos pela venda de titulos financeiros aplicados pela em- presa, formando uma seqtiéncia em forma dentada, conforme ilustrada na Figura 25.2. ‘0 modelo proposto por Baumol, em linhas ge~ rais, eferua uma andlise do custo associado A ma- nutengio de dinheiro em caixa, ou seja, o custo de oportunidade determinado pelos juros que a em- presa deixa de receber ao no aplicar esses recur- sos em titulos negocidveis, e do custo de obtengio Fo desenvolvimento desce modelo aperfeigoamentos pos teriores baseiam-se no trabalho original de: BAUMOL, William The transactions demand for cash: an inventory theoretic ap- proach, Quarterly Journal of Economics, Nov. 1952, do dinheiro pela conversio de titulos nego« em caixa. Caixa e aplicagdes em titulos: a manutencao de caixa em espécie proporciona & empresa liquidex necesséria para atender a comentada falta de sin- cronizagao entre recebimentos e pagamentos, em butindo, no entanto, um custo definido pela taxa de Jjuros dos titulos negocidveis que se deixou de rece- ber. As aplicagdes em titulos permitem & emprese auferir receitas financeiras sobre recursos ociosos, trazendo essas transacées, contudo, determinados custos explicitos e implicitos. Como funciona o modeto do Lote econémico: com base na ilustragio da Figura 25.2, admite-se que a empresa consegue manter dinheiro em caixa no periodo vendendo titulos negociaveis. Ela inicia com certa quantidade de dinheiro em caixa (defini- do por C na Figura 25.2) e, sempre que essa quan tia termina, a empresa vende titulos para repé-la integralmente. Essa operacao de venda de titulos se repete cada vez, que 0 caixa se esgota, devendo, por conseguinte, ocorrer certo ntimero de vezes no periodo considerado. caixa (8) Tempo Figura 25.2 Modelo de Baumol. Por exemplo, se 0 periodo definido na Figure 25.2:no eixo horizontal é um més, ocorrem trés de- ‘mandas por dinheiro no perfodo. Objetivo do modelo: 0 modelo visa essencial: mente determinar 0 valor de C, isto 6, 0 valor timo de transformacio de titulos em dinheiro, que leva ‘aminimizacio do total dos custos de oportunidade (manutengio) ¢ reposi¢ao (obtengao) no periode. Formulagées: isoladamente, os custos do sil: do de caixa nesse contexto sao apurados da forma seguinte: Custo de Obtengdo = b x T/C onde: b = custo fixo, expresso normalmente em $, identificado nas transagées (compra ou ‘venda) com titulos negocidveis. Exemplos: custos de transagio, controle, registro, custédia ete.; T= valor total de caixa (dinheiro) que se pre- vé utilizar em determinado periodo. & considerado por seu valor liquido, ou seja, pagamentos menos recebimentos; C= saldo monetério total de caixa (em $), conforme ilustrado na Figura 25.2. T/C = miimero de transagdes que se espera realizar no perfodo. Por exemplo, se ‘uma empresa estima pagamentos de $ 100,000 em curto periodo de tempo, e seu volume de caixa C for de $ 20.000, isso significa que ela deverd efetuar cin- co transagées (reposicées de dinheiro «em caixa) no period. ‘© custo de manutengio de caixa obtido de acordo com a seguinte expresso: Custo de Manutengio = i x C/2 onde: i = taxa de juros definida para os titulos ne- gociaveis no periodo considerado. Por de- finigdo, esse percentual ¢ fixo; E=€/2 saldo médio de caixa admitindo-se que seu volume se reduza no periodo a uma taxa constante. 0 modelo de Baumol preocupa-se fundamen- ‘talmente em conseguir um equilibrio entre os custos de obtencao @ os custos de manuten- do, de maneira a minimizar os custos totais de caixa, Desa forma, o nivel étimo de caixa (C*), ou seja, o que leva a uma minimizacio de seus custos totais, obtido pela soma dag duas identidades Adminisage de cain 665 de custos enunciados (obtengo ¢ manutencio), Telos Ao se derivar esta equagéo de custo, tem-se a expresso de célculo do custo minimo: EXEMPLO ILUSTRATIVO ~ Aplicagdes do Modelo de Baumol Admita que a necessidade de caixa de uma empresa, visando cobrir os pagamentos do préximo més, atinja a $ 400.000. O custo por transagéo estimado em $ 45, ¢ a taxa de juros de titulos ne- gocidveis esté fixada em 3,5%. Diante dessas informagées, podem ser calcu- lados: a) Volume Otimo de Transagdes: 2 2 ) Niimero de Reposicdes (Transagées) de Cai- xa no Periodo: $ 400.000, ae ansformagbes de titu- Fan OTT as ~ 125 tansformagoes de tle los negociveis em caixa no més ) Custo Total do Periodo (CT): $ 400.000 J (0.07 xs 2.07138) ore (sistas : CT = $ 561,25 + $ 1.122,50 = $ 1.683,70 665 CusodeAdminiragto Finenea = Asaf tine Algumas Limitagées do Modelo de Baumol Condigées de certeza: 0 modelo do lote econd- mico de Baumol apresenta limitagées, principal- mente ao admitir condigées de certeza na adminis- tragdio de caixa. Em verdade, 05 fluxos de caixa s6 ‘muito raramente sio totalmente previsiveis, deter- ‘minando na pratica que o administrador mantenha um saldo minimo de seguranca de caixa, Assim, a transferéncia de titulos negocidveis em dinheiro no ocorre quando 0 saldo de caixa chega a zero, con‘orme propée 0 modelo, mas em algum nivel anterior ao definido como mfnimo. ‘fara constante: ja variagiio do saldo de caixa nc ge da geralmente a uma tax constant, de acor- do com o modelo. As entradas sdo previstas para ‘uma data inicial do perfodo de estudo, convertidas em titulos negociaveis, e resgatadas a determinado custo toda vez que o caixa chegar a zero. Nao est previsto a nenhum tipo de variagSes no volume mo- netitio do caixa, Hipéteses restritivas s4o também admitidas nos fluxos de saidas de caixa, os quais se supdem ocorrer a um ritmo constante. Em suma, © ‘modelo de Baumol nao prevé variagBes para cima para baixo nos saldos de caixa motivadas por di- ferentes transagBes, Importdncia do modelo: 0 modelo, apesar de uuas premissas, explora importantes prineipios te- ricos bésicos da administracdo de caixa, servindo mais como um parmetro iil para a compreensAo do comportamento e avaliagao do saldo de caixa. Principalmente diante da realidade brasileira, € importante que o modelo de caixa de Baumol seja aplicado na suposigo de moeda constante e abranja ‘um periodo de planejamento mais curto. 25.4.1 Modelo de Miller e Orr ‘Omodelo de Miller e Orr & probabilistico e sua aplicagio é recomendada preferencialmente para ituacdes de incerteza dos fluxos de caixa. Para os ‘autores, as variagées nos valores de caixa de um periodo para outro so aleatdrias, e descrevem, quando as observacées so repetidas, uma distri buigio normal. Miller e Orr, a0 contrério-de Baumol, admi- tem que o saldo de caixa pode ser elevado ou dimi- nuido em fungSo de transagSes desconhecidas com antecedéncia. Com isso, s40 estabelecidos limites para as transferéncias de titulos negocidveis em caixa, e vice-versa. Ou seja, quando 0 saldo mone- trio de caixa atingir determinado volume (limite superior), os recursos s4o transferidos para titulos, mobilidrios, ocorrendo o inverso quando o limite inferior for atingido. £ interessante notar que a defini¢ao do limite inferior no modelo nao € tinica, podendo ser fixa- do em zero, ou em qualquer outro nivel desejado acima. © modelo de Miller e Orr objetiva, em es- séncia, célculo do valor étimo dos limites superior ¢ inferior, os quais dependem, basicamente, dos ‘custos fixos associados as transacées, dos custos de oportunidade e, ainda, da variagio esperada nos saldos de caixa. |AFigura 25.3 ilustra o processo de deciso ba- seado no modelo de Miller e Orr. TT MALLER, Merton H.; ORR, Daniel. A model ofthe demand for money by firms. Quarterly Journal of Eeonomics, Aug. 1966; "The demand for money by firms: extension and analytic results. Journal of Finance, Dec. 1968 Saldo de caixa ($) ° & Figura 25.3 Modelo de Miller e Orr Na Figura 25.3, sdo observadas alteragSes nos saldos de caixa da empresa ao longo de determina- do periodo de planejamento, sendo estabelecidos dois limites para seu controle; h (limite superior) € 0 (limite inferior), Limite méximo de caixa: no momento ¢, 0s re- cursos de caixa atingem seu ponto maximo (limite superior: h), devendo entio ocorrer a transferén- cia de (h—2) para a carteirade titulos negocidveis. Com isso, o saldo de caixa reduz-se para o nivel z, Note que z é 0 nivel timo de caixa, Limite minimo de caixa: quando o saldo de cai- xa atingir zero (limite minimo sugerido na Figura 25.3), conforme ocorre no momento t, sao resgata- dos 2 de titulos negociaveis, elevando-se 0 dinheiro em caixa para o nivel z, recompondo o equilibrio, Note que essas decisdes de compra e resga- te de titulos mobilirios so acionadas quando 0 saldo do dinheiro em caixa atingir os limites esta- belecidos. Enquanto se mantiver entre os limites, nenhuma decisio’é tomada, deixando-os oscilar normalmente. Conforme foi colocado, o objetivo basico do modelo de caixa de Miller e Orr é minimizar o cus- to esperado total das necessidades de caixa, o que é feito pela escolha dos limites étimos h (superior) ez (inferior). O valor étimo de z incorpora a varia- bilidade dos fluxos de caixa e os custos associados a sua gestio, sendo definido pela seguinte expres- sio de edleulo: - (eee 4xi Adminisagso de Caixa 667 Limite Superior Nivel de Retorno Tempo tb b= custo fixo de transagdes com titulos ne- gocidveis; varidncia dos saldos liquidos didrios de caixa; i = taxa de juros didria de titulos negocié- veils. Por sua vez, o valor étimo do limite superior (W) € definido simplesmente por 3z, isto é: A’ 3s. Ilustragao Pratica Para ilustrar uma aplicagéo pratica do modelo de Miller e Orr, admita que: b = $ 60,00; 0,20% ao dia; o?= 900, Utilizando-se as expressdes supra- apresen- tadas: 2 $ 272,60 hé = 3 x$ 272,60 = $ 817,80 Se 0 limite inferior for definido em zero, 2° e 1° sero 08 valores calculados na tiltima demonstra- io. Alternativamente, se definido em $ 100 0 limite inferior, entio: =" = $ 272,60 e h’ = $ 817,80. Diferencas entre os modelos de Baumol e Miller € Orr: 0s dois modelos de administragio de caixa apresentados diferenciam-se basicamente pelas expectativas dos saldos de caixa. © modelo pro- posto por Baumol pressupée condigdes de certeza 668. curso deAdminicragtoFnacera = Assaf tine nos fluxos de caixa, e 6 mais aplicével quando 0 planejamento for de curto prazo. Nesse horizonte de tempo, é maior a capacidade de previsio do ad- rministradot, Jd 0 modelo desenvolvido por Miller Orr admite uma natureza aleat6ria as transagées de caixa, ¢ seu uso é mais explorado em condigées de incerteza 25.5 Projegio de necessidades de ca ~ orgamento de caixa ‘A projegiio das necessidades de caixa seré de- senvolvida pelo levantamento de todas as entradas safdas de recursos previstas em determinado pe- riodo de tempo. A técnica do orgamento de caixa permite que se obtenha maior eficiéneia no con- trole de seu saldo, obtida mediante divisses de um periodo de planejamento maior em intervalos de tempo menores (em bases mensais, por exemplo) Isso permite acompanhar o nivel de caixa da em- presa e efetuar 0s ajustes devidos tio logo ocorram ‘0 eventuais desvios entre os valores previstos (or gados) ¢ os valores reais Evidentemente, sendo maior a incerteza de ‘uma empresa com relacio a seus fluxos financei- ros e ao comportamento da economia, é aconse- Ihdvel trabalhar com divisdes menores de tempo, tais como quinzenas ou semanas, por exemplo. Um modelo geral de elaborago da projecdo das neces- sidades de caixa é sugerido no Quadro 25.1. Quadro 25.1 Modelo geral de elaboraedo da projesto de necessidades de caixa Descricio dos fluxos Periodos Total @ ‘ ve a os |S} oe | eo | {Sone He | A, Saldo Inicial de Caixa 2. Fntvadas Previstas de Caixa C. Total das Entradas mais 0 Saldo inicial (A + 8) D, Saldas Previstas de Caixa E, Total das Saidas F. Saldo Liquido de Caixa (CE) G. Saldo Acumulado de Caixa # importante ressaltar, ainda, que a elaboracio de um modelo de projecio de caixa deve permiti, em tltima andlise, que a empresa possa antecipar-se a eventuais necessidades futuras de recursos (pro- gramando, desde j4, opgdes para captar os fundos carentes no mercado), como também melhor pro- sgramar suas aplicagSes com os excedentes de caixa que vierem a ser projetados. © orgamento (projecio) de caixa constitui um importante instrumento de controle da liquidez-e, em sua elaboragio, a empresa deve dedicar uma atengio permanente evitando ao méximo que sur- Jam, de forma inesperada, saldos insuficientes ou cexcessivos. Orcamento de caixa é um instrumento de projecio das entradas e saldas de caixa para um periodo futuro, Permite que se identifi- quem as necessidades de financiamento de curto prazo da empresa, assim como eventuais sobras de caixa para aplicagoes. — EXEMPLO PRATICO ‘A empresa deseja elaborar uma projecio de caixa para 0 primeiro semestre de XB. Para tanto, foram fornecidas as seguintes informagées referen- tes ao periodo: a) Saldo de caixa existente no inicio do semes- tte: $ 1.800. ) Vendas previstas: $ 17.000. Espera-se que 60% desses valores sejam recebidos no se- ‘mestre, permanecendo os 40% restantes no realizavel pata a liquidago no segundo semestre do ano. ©) As compras de estoque previstas para o pe- sfodo atingitao $ 6,000 e serdo totalmente agas no periodo de planejamento. 4) O total das despesas operacionais desem- bolsdveis atingiré $ 3.000 no semestre. €) Ao final de maio, a empresa deverd pagar $ 3.000 a titulo de despesas financeiras. £) No infcio de margo, esté previsto um au- ‘mento de capital mediante subscri¢do e in- tegralizagéo de novas agées no valor de $ 1.000. 8) No periodo (inicio de abril), ainda, a em- presa espera receber § 800 provenientes do realizdvel a curto prizo, Solucao: Projeedes de caixa 5 fluxos monetérios da empresa, previstos para o primeiro semestre de X8, so apresentados Quadro 25.2 Orgamento de caixa:para o semestre. Administragio de Caha 669 no Quadro 25.2. As projegées de caixa foram ela- boradas de acordo com as estimativas fornecidas pela empresa, saldo inicial de $ 1.800 corresponde ao va- lor que a empresa mantém em seu caixa no inicio do semestre (ou final do semestre imediatamente anterior) ‘Como somente 60% das vendas serio financei- ramente realizadas no periodo, as entradas de caixa provenientes dessas receitas atingem, portanto, $ 10.200 (60% x $ 17.000). Os demais valores do item A sio facilmente obtidos nas informacées for- necidas. Dessa maneira, o total dos ingressos pre- vistos de caixa da empresa, somados a0 saldo inicial para o primeiro semestre de XB, é de $ 13.800. As saidas previstas, por seu Indo, totalizam $ 12.000, o que resulta um saldo iquido previsto de caixa para o periodo considerado de $ 1.800. Pelos valores finais da projecio, pode-se obser- var que a empresa conseguiré manter, pelo menos em valores nominais, 0 mesmo nivel de caixa (S 1.800). Supondo-se que esse valor seja o minimo ‘deal estabelecido pela empresa, nao se prevé, em prinefpio, nenhum problema em sua liquidez ime- diata. Segundo os parmetros da empresa, o saldo liquido de $ 1.800 é suficiente para que ela possa conviver com as incertezas associadas aos fluxos, financeiros e falta de sincronizagio, normalmente verificadas entre os recebimentos e pagamentos, F _Desctigaio dos fluxes 12 semestre de X8 (S) ‘A Saldo inicial de caixa 1.800 B Entradas previstas de caixa Recebimento de vendas 10.200 ‘Aumento de capital por integralizagéo 1.000 Recebimento de realizavel a curto prazo 800 C~ Total das entradas mais 0 saldo inicial (A + 8) 13.800 D- Saidas prevstas de caixa Compras de estoques 6.000 Pagamento de despesas operacionais 3.000 Pagamento de despesas financeiras 3.000 E~ Total das saidas 12.000 F~ Saldo liquid de caixa (C~€) 1.800 670 cusodeAdminiragi anes Assaf Lina ‘Aspectos importantes do orgamento de caixa: niio obstante, dois aspectos devem ainda ser anali- ‘sados no orcamento de caixa, © primeito diz respeito as eventuais faltas de sintonia entre os momentos de ocorréncia dos rece- bimentos e pagamentos. Mesmo que apresente um saldo liquido satisfatério ao final do semestre, nada impede que a empresa possa enfrentar problemas de eaixa durante 0 semestre. Como foi observado anteriormente, uma sincronizagao perfeita entre os Flaxos de entrada e os de saida de caixa ¢ de dificil realizacio pratiea. para poder detectar eventuais desequilfbrios financeizos durante o periodo, ¢ importante que ‘a empresa divida sua projegto semestral em bases rensais, por exemplo (ou em perfodos menores de tempo, de acordo com suas necessidades). Outro ponto que merece ainda cuidadosa aten- ‘go diz respeito a influéncia da inflagao sobre os fluxos monetirios projetados. E sabido que o fen6- ‘meno inflacionério determina ganhos em alguns elementos e perdas em outros, No entanto, é prati- camente impossivel uma compensacio perfeita en- te esses resultados, ou seja, 0s ganhos produzidos pela inflagdo cobrirem exatamente as perdas infla ciondrias verificadas. Dessa forma, deve a empresa avaliar os resultados (ganhos ou perdas) inflacio- narios de cada um de seus elementos de caixa, de acordo com suas caracteristicas de formacéo, com a finalidade de estabelecer valores finais Ifquidos ‘expressos em moeda representativa do poder aqui sitivo da época. Definir os motivos da procura da moeda e de sua relacéo com a manutenco de um saldo de caixa pelas empresas. ‘A administracao de caixa visa, fundamentalmente, manter uma liquidez imediata ne- cesséria para suportar as atividades de uma empresa. Keynes identificou trés motivos que levam as empresas.(e as pessoas também) a manter determinado nivel de caixa, 0 primeiro, definido como motivo-negécio (ou motivo-transacao), é explicado pela necessidade que uma empresa apresenta de manter dinheiro em caixa para efetuar os pagamentos oriundos de suas operacGes normais e certas. 0 segundo motivo abordado por Keynes refere-se a precaucéo. motivo-transa¢ao previu a presenca certa de dispéndios na atividade normal de uma empresa; a incerteza descrita estava associada as datas (momentos) e aos valores de seus fluxos de caixa. O terceiro motivo citado refere-se a especulacéo. 2. Aborda a problematica da administracdo de caixa e as estratégias que podem ser usadas para seu melhor controle, ‘Anecessidade de manter um controle mais acurado na disponibilidade de uma empre- sa é determinada pelo objetivo de ajustar a manutenco de um saldo de caixa que atenda aos motivos de transa¢do, precaucao e especulacdo mencionados anteriormente, sem que isso ocasione ao mesmo tempo uma ociosidade (inatividade) dos recursos. 'As medidas de controle que podem ser acionadas para uma eficiente administracSo de caixa sero discutidas com a classificacao em dois grupos: medidas de responsabili- dade e competéncia exclusiva do caixa e as determinadas por uma politica mais ampla da empresa. ‘As medidas de responsabilidad e competéncia exclusivas do caixa sdo as que podem ser implantadas sem que com isso haja interferéncias nos outros elementos do capital de giro. € interessante acrescentar, ainda, que a manutengo das contas correntes em muitos bancos poderd trazer problemas, notadamente para as pequenas e médias empresas com ‘menor capacidade de geracao de fundos, no atendimento das exigéncias de saldo médio {e outras formas de reciprocidade bancéria usualmente adotadas pelos bancos). Outra medida, ainda, seria rever a politica de concessao de crédito adotada. Como esta influi normalmente no volume de vendas da empresa e, conseqiientemente, em sua lucratividade, alteracées que venham a se proceder deverao ser analisadas previamente com bastante rigor. Finalmente, é necessério ressaltar que uma administrago eficiente de caixa prevé, também, decisbes de aplicacdes financeiras de recursos temporariamente inativos. G72 Caso de Adintragio Finances = Asaf etna 3. Desenvolver os principais modelos quantitativos de administracao de caixa voltados a maximizar 0 retorno dos recursos disponiveis e a manter a liqui- dez da empresa. 0s modelos de administracdo de calxa visa fundamentalmente fornecer a0 admi- nistrador financeiro condigdes mais clentficas para definiro nivel étimo de caixa de uma empresa, 0 modelo do lote econmico baseia-se em critério bastante utilizado na administra ao de estoques, servindo de base conceitual amplamente adotada para a administragao de caixa em condigdes de certeza, O modelo é preferencialmente aplicado em situacies de entradas periddicas de funds no caixa, e saidas constantes (continuas) de recursos modelo, em linhas gerais, efetua uma andlise do custo associado & manutencao de dinheiro em caixa, ou seja, 0 custo de oportunidade determinado pelos juros que a em- presa deixa de receber ao ndo aplicar esses recursos er ttulos negocidves, edo custo, de “obten¢o do dinheiro pela conversao de titulos negoctaveis em calxa. ‘A manutengao de caixa proporciona & empresa liquidez necesséria para atender 8co- entada falta de sincronizacio entre recebimentos e pagamentos, embutindo, no entanto, ‘um custo definido pela taxa de juros dos ttulos negociaveis que se deixou de receber. -AsaplicacBes em titulo permitem & empresa auferrrecetasfinanceiras sobre recursos ociosos,trazendo essas transa¢bes, contudo, determinados custos explicitos ¢ implicitos. 0 modelo de Miller e Orr & probabilistico e sua aplicagao recomendada preferen- cialmente para situagSes de incerteza dos fluxos de cava, Para os autores, a5 vatiagbes nos valores de caixa de um periodo para outro sao aleatérias, e descrevem, quando as ‘observacdes sao repetidas, uma distribuicao normal, Miller e Orr admitem que o saldo de caixa pode ser elevado ou diminuido em funcéo de transagies desconhecidas com ante- cedéncia. Com isso, s8o estabelecidos limites para as transferéncias de titulos negociaveis ‘em caixa, e vice-versa. Ou seja, quando o saldo monetario de caixa atingir determinado ‘volume (limite superior) os recursos sao transferidos para titulos mobilirios, ocorrendo 6 inverso quando o limite inferior for atingido. 4, Mostrar como é elaborada uma projecéo das necessidades de caixa. [A projecdo das necessidades de caixa pode ser desenvolvida pelo levantamento de todas as entradas e safdas de recursos previstas em determinado periodo de tempo. Pode-se obter mais eiciéncia no controle de seu saldo mediante divisdes de um pe- tfodo de planejamento maior em intervalos de tempo menores (em bases mensais, por exemplo). sso permite acompanhar 0 nivel de caixa da empresa e efetuar os ajustes devi- dos to logo ocorram os eventuais desvios entre os valores previstos (arcados) e os valores reais. Evidentemente, sendo maior a incerteza de uma empresa com relagao a seus fluxos financeiros e ao comportamento da economia, & aconselhavel trabalhar com divisBes me- ores de tempo, tais como quinzenas ou semanas, por exemplo. E importante ressaltar, ainda, que a elaboracao de. um modelo de projegao de caixa deve permit, em dltima andlise, que a empresa possa antecipar-se a eventuais necessida- des futuras de recursos (programando, desde ji, op¢bes para captar os fundos carentes no

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