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Articulancia espaco para ebulicao de ideias E agora José? Accrtise de credibilidade da Aprendizagem Remota no pais Parafraseando 0 mineiro Drummond: E agora José, que a Pandemia nao se foi, que as aulas nao retornaram e que os modelos adotados para suplementacao das aulas presenciais, comegam a ser questionados tanto em relacdo & sua eficiéncia, quanto & sua pertinéncia, nao mais pelos professores e Sindicatos, mas sim pelas associagGes de Pais e sociedade civil? E um dos, sendo o maior motivo de critica 4 Aprendizagem Remota ¢ justamente o fato dela poder ser contabilizada como carga horaria obrigatéria (portanto, como contetido lecionado), conforme aprovado pelo Parecer 05/2020 do Conselho Nacional de Educagao - CNE, aguardando homologacao. Segundo o grupo “Campanha Nacional pelo Direito 4 Educacao” (que ¢ uma rede de defesa do direito & educacao, reunindo organizagées e entidades nacionais ha 20 anos, com representantes em 24 unidades da federacao) é “Claro que a escola precisa sugerir atividades, promover debates sobre 0 momento que estamos vivendo, contextualizar, mas de forma complementar, que ndo conte como dia letivo e carga horaria obrigatéria” Enquanto isso... Minas Gerais se prepara para no préximo dia 11 de Maio dar inicio a um ambicioso modelo de ensino remoto — o Regime de Estudos nao-Presenciais - que contaré com Tele-Aulas (transmitidas pela Rede Minas), e um Projeto de Estudos Tutorado — PET (composto por apostilas), onde tanto uma quanto 0 outro serao contabilizados para o cumprimento da carga hordria exigida de 800 horas-aula, para os seus quase 1 milhdo e setecentos mil estudantes. Contudo esse entendimento nao é comum a todos os Estados, a Bahia (citada como inspiracao e referéncia na construcao do modelo de ensino mineiro), além do Distrito Federal, Mato Grosso, Espirito Santo ja esto trabalhando com o ensino nao-presencial, mas sem contabilizagao das horas. Ocorre que o CNE, ao considerar-se legalmente impedido de deliberar sobre a questdo da carga hordria (j4 que o Ministério da Educagao desde o inicio da Pandemia havia flexibilizado cumprimento dos 200 dias letivos), deixou a cargo das Redes ou Sistemas de Ensino locais a organizacao do trabalho de Aprendizagem Remota (uma das formas possiveis de atendimento aos alunos, além da reposi¢ao pés-pandemia) criando, a meu ver, um grande embaraco, e de difi solucao para Minas, por exemplo, ao definir as seguintes recomendagdes: “Previsio de formas de garantia de atendimento dos objetivos de aprendizagem para estudantes e/ou instituigdo de ensino que tenham dificuldades de realizaco de atividades pedagégicas nao presenciais;” (No caso de Minas Gerais, por exemplo, onde quase metade dos alunos nao terao acesso ao Regime de Estudos nao ~ Presenciais, como ser garantido esse atendimento?) “Garantir a sistematizacao e registro de todas as atividades pedagégicas nao presenciais, durante 0 tempo de confinamento, para fins de comprovacao e autorizagdo de composicao de carga horaria por meio das entidades competentes;” (Essa é uma questdo mais complexa ainda, pois, voltando ao modelo mineiro de Aprendizagem, como auditar ou garantir que as Tele-Aulas estao sendo assistidas, ‘ou que os PET's estao sendo acompanhados? E ainda que isso esteja acontecendo, como serd feita a avaliagéo desses alunos para assegurar que as atividades propostas atingiram os objetivos pedagdgicos previamente estabelecidos?) Além disso, questdes importantes como o atendimento a Educacao Infantil durante o isolamento, € aos Anos Iniciais (periodo de Alfabetizagao), ficaram condicionadas a um suporte pedagégico das Redes (virtual, ou através de material impresso) aos grupos familiares (pais e/ou responsaveis) que assumiriam o papel de tutores dessas criancas, tanto em um segmento quanto em outro. Para dar conta da formacao que esses pais nao possuem, o CNE sugere que eles fagam o curso online proposto pelo MEC, “Tempo de Aprender”, onde se trabalha a Literacia familiar, como forma de desenvolvimento das habilidades leitoras e cognitivas das criangas, com a ajuda de seus familiares. Mas ora, se o problema da Aprendizagem Remota (de forma geral no pais) ¢ justamente a falta de acesso das familias de baixa renda a uma banda larga de qualidade, que lhes garanta aos filhos o acompanhamento de atividades nao-presenciais, como se espera que essas mesmas familias (com baixa formagao escolar), facam um treinamento desse nivel, com alguma aprendizagem? Segundo ainda o CNE, todos os problemas advindos desse periodo de isolamento social deverdo ser tratados quando do retorno as aulas presenciais, através de um trabalho de acolhimento de alunos, pais e professores nas escolas, e da avaliacao diagnéstica das turmas para definicao do planejamento das atividades, desse ponto em diante, visto que o Conselho reconhece que nem todos terdo, conseguido acompanhar com aproveitamento os estudos feitos & distancia. Contudo, com relacao as provas e exames, fica valendo 0 contetido devidamente lecionado (ainda que a sugestao seja ater-se a0 essencial). Olha que situagdo interessante, a proposta é: faca o basico, como der para ser feito (mesmo sabendo que muitos ficardo de fora), mas compute esse tempo como dia letivo e contetido lecionado, que deverd ser usado como contetido previsto para as avaliacSes e exames oficiais. Realmente, os pais € entidades que se preocupam com a qualidade do ensino, tém motivos reais para sua indignagao ¢ questionamento sobre a validade desse modelo de “ensino”, adotado para suplementar as aulas presenciais nao dadas durante a Pandemia Entao percebo que, de fato, existiu um vicio, um erro de origem, quando se pensou em um sistema de acompanhamento nao-presencial dos alunos durante esse periodo de distanciamento social. A premissa deveria ter sido “O que ensinar” e “Por que ensinar’, onde ai sim faria todo o sentido discutir 0 “Como fazer”, e nao apenas o desenvolvimento de modelos suplementares de ensino para compensagio de horas-aula. Professora Angela Dalben, Secretaria Municipal de Educagao de Belo Horizonte coloca muito bem essa questao em entrevista concedida a um veiculo de comunicagao da Grande BH, dias atras onde ela diz: “A educagio a distancia tem sido justificativa para contar horas e descontar no retorno. Vejo essa situagao como preocupante, porque nao pode forgar uma situagao sem entender o lado do outro”. E esse outro é justamente o aluno que nao tem acesso as redes sociais e internet, as meninas que, segundo a UNESCO, devido as tarefas domésticas (inerentes ao género em condigées de baixa renda) teriam menos possibilidades de acompanhar os estudos remotos, do que os meninos. Esse grupo de estudantes (quando do retorno as aulas) estaria em condigdes desiguais de aprendizagem, em comparacao com aqueles que tiveram acesso e acompanharam todas as atividades, o que poderia se tornar um motivo para o aumento da defasagem idade-série, quando nao da evasdo escolar. Portanto, talvez.o mais sensato teria sido seguir 0 modelo adotado pela Secretaria de Educagao de Belo Horizonte, que optou por nao antecipar férias para compensar os dias parados, nem tampouco repassar orientag6es a distancia a seus quase 202 mil alunos. Segundo a Secretaria de Educacao: “Nossa preocupacao primeira foi acionar a rede de proteso a crianga e ao adolescente na parte nutricional”, e complementa “O que temos sao trabalhos importantes de videos para interagao com as familias, que falam de afetividade e da importancia de estimular a crianga. No caso dos maiores, uma sugestao de leitura ou de um filme que passaré na TV’. A Secretaria de Educagao de Belo Horizonte acredita que, com o fim do isolamento social, previsto para Junho, seja possivel compensar a carga hordria perdida. E enquanto isso... A Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais se prepara para iniciar em 11 de Maio seu “Regime de Atendimento nao-Presencial”, que j4 comeca com um déficit de cobertura estimado em quase metade dos alunos, mas isso nao é problema, nao é mesmo? Pois, conforme jé ouvi de alguns (¢ o proprio CNE ratifica esse raciocinio), o importante é atender & maioria, ou que for possivel. O que ficar “de fora”, na avaliagao diagnéstica se corrige, ndo é mesmo? O problema é que, quando se trata de Educagao, as coisas nao sao simples assim, e sé quem realmente viveu e conheceu a realidade das salas-de-aula (em especial da Rede Publica), é capaz. de entender que aquilo que esté se fazendo ¢ excluir da escola uma parcela consideravel de criangas e jovens, que ja trazem consigo déficitis e perdas cognitivas e de aprendizagem que (somadas a esse periodo sem acompanhamento) vao gerar isolamento e desinteresse pela continuidade dos estudos. Mas 0 que importa é que a “maioria” vai conseguir avancar para a série seguinte, mesmo que essa parcela significativa excluida do Sistema Educacional venha a se tornar (no futuro) parte do “Problema Social”, ndo é mesmo? Mas por que se preocupar com tudo isso? Se o que importa é que no préximo dia 11 de Maio esta previsto 0 inicio do arrojado modelo de ensino remoto de Minas, com uma carga horaria semanal de 20 horas-aula (além daquela a ser computada com os PET’s). Realmente um investimento ousado, ainda mais considerando-se tudo que aqui foi posto de questionavel sobre a forma como a Aprendizagem Remota tem sido trabalhada no Pais. Mas isso ¢ um mero detalhe, ndo é mesmo? E Agora José? E Agora Senhor Governador Romeu Zema? E Agora Senhores Deputados Estaduais da Base de Apoio do Governo? E Agora Senhores Deputados Estaduais da Bancada Oposicionista? E Agora Senhores Secretarios de Estado e Diretores de Autarquias? Até quando vocés continuarao de olhos fechados, fingindo que tudo anda bem na Educagio em Minas Gerais 2? Professor Sérgio Soares Blog no WordPress.com. WordPress.com.

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