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cpu 330.14 _ OPAPEL DO SETOR PUBLICO NA ECONOMIA CAPITALISTA NELSON RANGEL~ RESUMO Este artigo procura mystrar as atividades do setor publico, enfatizando a interveneso econémica por parte do estado, na economia brasileira As fungées do setor piiblico, dentro de um sistema econdmico, variam de do com o regime politico existente no pais Nas economias socialistas 0 estado detém o controle dos fatores de produgSo, determina as atividades econémicas para atender os objetivos, previamente, estabelecidos. Nesse caso, o estado atua diretamente sobre a onomia. Nas economias capitalistas, os fatores de producao estéo sob o controle iniciativa privada, cada empresério organiza sua empresa de modo que icilmente possa alcancar seus objetivos. Evidentemente, neste caso, so outras as funcdes do governo Nossa andlise seré sobre a economia capitalista e, dentro desta, nos tringiremos, basicamente a economia brasileira ‘A grande depresséo econémica de 1929/1930 obrigou os economistas do ‘mundo capitalista, a estudos e pesquisas, no sentido de criar uma neva teor econdmica, que explicasse satisfatoriamente os acontecimentos da época. A esposta para muitas perguntas, sem duvida, veio com a publicactio da obra de ohn M, Keynes. Keynes enfatizava uma nova teoria, aceitando a presenca do estado na ;conomia em coexistencia com o setor privado, a fim de garantir a permanéncia das decisSes fundamentadas num mecanismo de mercado. no qual o capitalismo iberal ndo tem mais condigSes de preservar sua integridade. Até entéo, nada de concreto se havia escrito a esse respeito. Apos a publicacdo de Keynes, notouse ipagdo crescente do estado na economia. No Brasil a participacao do tado acentuou-se, apos a revolucdo de 1964. Toda publicacao nacional a esse espeito e, até mesmo, alguma estrangeira deixaram bem claro que apos a evalucio desenvoiveu-se o interesse. do governo brasileiro em controlar a onomia, Atualmente, a economia brasileira nfo pode mais ser chamada de economia capitalista. O que existe, aqui, é um capitalismo de estado, regime esse 'e pode ser considerado como uma combinagao do capitalisma e do socialismo. \cias Feandimicas, Administrativas e Contébeis. Prof. Titular do Dep, de Ci 239-41, 1988. 39 SINERGIA, Rio Grande, Nesta participacio, segundo alguns autores, 0 governo esta desrespeitan- do a prépria Constituicgo Brasileira, que, no artigo 163, estabelece em termos Gerais, a participacdo do setor publico na economia ‘Suplementar a iniciativa privada, isto 6, atuar em areas onde ndo fosse interessante, ou possivel a penetracio de particulares, seja por escassez de recursos, ou perspectivas de baixo rendimento.’” Evidentemente, esta nao € a posi¢ao do governo na economia brasileira, este controla setores vitais, tais como: bancos, companhias siderdrgicas, exploracdo e refinacdo de petrdleo, geracdo de energia elétrica, empresas de telecomunicacées, ¢ outras Na formacdo de estoque de capital, o estado & responsavel por 60% da investimento fixp nacional, acumulando energias que formardo seu ciescimento, cada vez mais acelerado. Ainda dispée o estado de outros meios poderosos para interferir no mercado, e no processo de tomadas de decisées econdmicas. Como maior produtor e maior consumidor nacional, sua politica de compra e venda passa a ter grande influéncia nas decisées tomadas pelas empresas particulares, que Produzem bens para o governo, ou usam insumos por esse produzidos. Muitos sao os fatores apresentados pelo setor para justificar sua crescente participacdo na economia brasileira, entre 0: quais destacamos os seguintes: a) Obras de infra-estrutura: so investimentos que exigem um consideravel volume de capital e, geraimente, nio oferecem um retorno compensatorio. Nao séo por isso atrativo para a iniciativa privada. b) Sequranga nacional: este fator justiticou a estatizaedo de empresas de energiaclétrica, telecomunica¢es, navegagdo, petrol iferas e outras. ¢) Desejo de industrializar, rapidamente, o pais: ¢ evidente que oxiste um interesse do governo em tornar o pais auto-suficiente, no menor prazo possivel. Para atingir este objetivo, o govern atua, diretamente, sobre a economia como empresério ou oferece condicSes vantajosas para a instalacdo no pais de empresas multinacionais que, na maioria das vezes, vam concorrer de forma desleal com a iniciativa privada nacional, desestimulando-a. Quase inexpressiva é sua participa s80 na economia nacional. Isto, origina os chamados espacos vazios, que naturalmente séo ocupados pelo esiado. O setor piiblico, através dos diretores de empresas ptiblicas, argumenta que as medidas tomadas nio tém o objetivo de enfraquecer a iniciativa privada. A necessidade de solucionar problemas que a iniciativa privada nio tem condicées de resolvé-los determina esta situacdo. Alegam, ainda, que o setor piiblico oferece muitos incentives a iniciativa privada, principalmente sob a forma de empréstimos, Esses, porém, néo tem se desenvolvido pela falta de preparo do empresariado privado brasileiro. d) A expanséo dos servicos de utilidade publica: 6 basicamente um Problema de formagdo de capital fixe, em forma continua e crescente, para acompanhar o processo de industrializacio e urbanizacéo. Os problemas de financiamento, deste setor, complicam-se ainda mais em situagdo de nao concorréncia de mercado, pela tradicional rigidez (tabelamento) dos precos dos servicos de utilidade publica. Em clima de estabilidade. a operacio exige uma demanda continua e vultosa de recursos financeiros de longo prazo. 40 SINERGIA, Rio Grande, 2:39.41, 1988. "ermite realizar amortizagdes do capital correspondente is instelagdes existentes, manter a acumulacdo do capital para os programas de ampliacao Em situagdo de inflacio aberta, a impossibilidade de transferir, automaticamente, as elevagSes de custos operacionais tem agravado, dramatica mente, os problemas de financiamento das empresas, tanto em déficits de peracdo, quanto em termos de formacio de capital. A impossibilidade de levar a bo provisées para depreciagdes corretas em termos reais tem levado, tematicamente, todas as empresas de utilidade publica a um processo de scapitalizacdo e de obsoléncia, Essa uma das grandes responséveis pela ineficiéncia, que realimenta o déficit num verdadeiro eireule vicioso. Isso tem vado, ao longo dos anos, a uma progressiva transferéncia ao setor publico, do nus financeiro da manutengao e ampliacdo da capacidade produtiva, da maioria las empresas. Essa transferéncia tem sido acompanhada de uma mudanca de sropriedade, ou de controle do setor privado para o pilblico, que apenas presenta uma sobrecarga para o orcamento do governo. Deste modo, o setor publico responsavel pela expansio do capital social isico, que serve de suporte a todas as empresas, quer sejam privadas ou puiblicas, em sendo obrigado a encampar os déficits correntes de, quase, todas as grandes, nidades, que operam no setor Assim, varios avangos do estado foram justificados pela necessidade de reagir as crises internacionais, de controlar as deficiencias de escassez de capital, ‘ou pelo desejo de industrializar rapidamente o pais. Outras, baseadas em razées de seguranca nacional, que levavam ao desejo manter sob controle interno, certos setores de atividade, nao raro mesciados com fatores politicos, como campanhas nacionalistas ou psicoldgicas, como a lesconfianca quanto ao lucro, ao capital estrangeiro, & multinacionais e, ate, a “iniciativa privada nacional, As empresas brasileiras privadas tém sido subutifizadas ‘oul, simplesmente, impedidas de crescer, de se aprimorar tecnologicamente. A ‘azo para isso € que, intimeras vezes, os responsaveis pela administracao publica preferem importar os bens de servicos, que perfeitamente podem ser produzidos ‘aqui. Homens inovadores tém sido desestimulados e contidos por processos burocraticos estatizantes. A grande funcdo do setor publico, na economia capitalista, nao @ executar. & decidir ¢ promover a realizagdo do que pretende, contiatando, fisealizando e financiando. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS, DAHL. Robert A. A moderna anilise politica, Rio de Janeiro, Lidador, 1966. FURTADO, Celso. Um projeto para o Brasil. 6. ed. Rio de Janeiro, Saga, 1975. 'GUDIN. Eugenio. Andlise de problemas brasileiro. Rio de Janciro, Agir, 1965. KEYNES. Jolin M. Teoria Geral do Emprego do Juro e do Dinheiro. 2. ed. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1970. SINERGIA, Rio Grande, 2:39-41, 1988. 41

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