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Citar como:
Quico, Célia (2004) “Cross-Media em emergência em Portugal: o encontro entre a Televisão Digital Interactiva, as
Comunicações Móveis e a Internet”, in AAVV, Televisão Interactiva: Conteúdos, Aplicações e Desafios, Lisboa: Edições
Universitárias Lusófonas/ MEDIA Program.
ISBN: 9728296975
“Cross-Media em emergência em Portugal: o encontro entre a Televisão Digital
Interactiva, as Comunicações Móveis e a Internet”
Celia Quico
(celia.quico@netcabo.pt)
Gestora de Projectos de Televisão Interactiva e Multimedia (TV Cabo/ PT Multimedia)
Doutoranda em Ciências da Comunicação (Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas)
Palavras-Chave:
Cross-Media, Convergência dos Media, Televisão Digital e Interactiva, Comunicações Móveis.
Abstract:
Cross-Media em emergência em Portugal: tendo como ponto de partida o actual e futuro
desenvolvimento dos serviços digitais e interactivos da TV Cabo/ PT Multimedia, o principal objectivo
deste artigo é o de explorar a seguinte questão:
- assiste-se à emergência de estratégias de desenvolvimento de projectos Cross-Media em Portugal?
mais concretamente, podem ser considerados os novos produtos e serviços digitais e interactivos da
TV Cabo como uma primeira etapa da implementação de uma estratégia de desenvolvimento de
projectos Cross-Media?
Em conclusão, são apresentadas questões a serem objecto de investigação mais aprofundada
relacionadas com o desenvolvimento de projectos Cross-Media, bem como são sugeridas linhas de
orientação para empresas e outras entidades relacionadas com as indústrias da Comunicação em
Portugal.
2
0. Introdução
Cross-Media em emergência em Portugal: o encontro entre a televisão digital interactiva, as
comunicações móveis e a Internet. Tendo como ponto de partida o actual e futuro desenvolvimento dos
serviços digitais e interactivos da TV Cabo / PT Multimedia, o principal objectivo deste artigo é o de
explorar as seguintes questões:
- como se caracteriza o actual contexto das indústrias da Comunicação em Portugal? este
favorece a emergência de estratégias de desenvolvimento de projectos Cross-Media?
- como se caracteriza o actual consumo de Televisão, Telecomunicações Móveis e acesso à
Internet em Portugal? há grandes diferenças comparativamente com outros países da União
Europeia?
- estamos a assistir em Portugal à emergência de estratégias de desenvolvimento de projectos
Cross-Media? em particular, os novos serviços digitais e interactivos da TV Cabo podem ser
considerados como uma primeira etapa da implementação de uma estratégia concertada de
desenvolvimento de projectos Cross-Media?
3
4. Caracterização da oferta de Televisão Digital e Interactiva da TV Cabo até ao 1º semestre de 2003
5. Caso 1: programas “Vícios e Virtudes” e “Encontro Marcado” da SIC Mulher/ TV Cabo
6. Caso 2: portal para Telemóveis “TV Digital Mobile” da TV Cabo
7. Novos serviços e produtos digitais e interactivos da TV Cabo em finais de 2003 e 2004
8. Cross-Media em Portugal: linhas de orientação e questões finais
1
Obercom – Anuário da comunicação 2002-2003, Obercom – Observatório da Comunicação, 2003, pag. 10.
2
Obercom – Anuário da comunicação 2002-2003, Obercom – Observatório da Comunicação, 2003, pag. 68.
4
a ser adiado pelos operadores TMN, Vodafone e Optimus. A concorrência faz-se agora no negócio de
Internet de banda larga e nos serviços de mensagens e imagem no GPRS, enquanto não chega o UMTS.
Finalmente, no mercado de acessos à Internet, de referir a iniciativa da Media Capital, ao avançar no
domínio do acesso a conteúdos exclusivos pagos, a partir da ligação à rede via portal do grupo
(IOL.pt).
Já para 2003, o Obercom estima um crescimento do total do sector da comunicação entre os
1,4% e os 2,5% face a 2002 (incluindo cabo e anúncios classificados), considerando que “a retoma de
Portugal poderá acompanhar os mercados europeu e norte-americano, onde se estima no ano corrente
um crescimento que poderá atingir os 2%”3. Para o Obercom, o aumento do preço de tabela da
publicidade, a estabilização do mercado das televisões privadas, os efeitos do Euro 2004 serão os
factores determinantes na recuperação do sector.
3
Obercom – Anuário da comunicação 2002-2003, Obercom – Observatório da Comunicação, 2003, pag. 10.
5
Tabela 3: Taxas de Penetração Internet nos Lares – União Europeia e Portugal
União Europeia (2002) 43%
Portugal (2002) 31%
Fonte: Eurobarometro 135 "Internet and the public at large", Novembro 2002
Disponível online em: http://europa.eu.int/comm/public_opinion/flash/fl135_en.pdf
4
UMIC – ”Iniciativa Nacional para a Banda Larga”, UMIC (documento aprovado em Conselho de Ministros de 26 de
Junho de 2003), 2003, pag. 16. Disponível online em:
http://www.umic.pcm.gov.pt/UMIC/CentrodeRecursos/Publicacoes/banda_larga_pdf.htm
5
INE - “Inquérito à Ocupação do Tempo Livre”, ed. Instituto Nacional de Estatística, 2001.
Disponível online em: http://www.ine.pt/prodserv/quadros/mostra_quadro.asp
6
ANACOM – “Redes de Distribuição por Cabo - 2º Trimestre de 2003”, ANACOM – relatório trimestral, 28 de Agosto de
2003. Disponível online em: http://www.anacom.pt/template12.jsp?categoryId=75170
6
Tabela 4: "Redes de Distribuição por Cabo - 2º Trimestre de 2003
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003*
Alojamentos fam. clássicos - milhares 4 475 4 547 4 622 4 714 4 821 4 821 5019 5019 5019
População nacional - milhares 9 921 9 934 9 957 9 980 9 998 10 023 10336 10336 10336
Aloj. cablados em % de alojamentos 8% 21% 32% 39% 47% 54% 60% 67% 68%
Assinantes cabo em % de alojamentos 1% 4% 8% 13% 16% 19% 22% 25% 26%
Assinantes cabo em % de aloj. cablados 15% 18% 26% 33% 34% 36% 37% 38% 38%
Assinantes cabo em % de população 1% 2% 4% 6% 8% 9% 11% 12% 13%
Assinantes DTH em % de alojamentos 0,60% 1,50% 2,70% 4,50% 5,80% 6,20%
Assinantes DTH em % de população 0,30% 0,70% 1,30% 2,20% 2,80% 3%
Fonte: ANACOM "Redes de Distribuição por Cabo - 2º Trim. 2003 / Evolução das taxas de penetração", Agosto 2003
Disponível online em: http://www.anacom.pt/template12.jsp?categoryId=75170
7
ANACOM – “Redes de Distribuição por Cabo - 2º Trimestre de 2003”, ANACOM – relatório trimestral, 28 de Agosto de
2003. Disponível online em: http://www.anacom.pt/template12.jsp?categoryId=75170
8
ANACOM – “Redes de Distribuição por Cabo - 2º Trimestre de 2003”, ANACOM – relatório trimestral, 28 de Agosto de
2003. Disponível online em: http://www.anacom.pt/template12.jsp?categoryId=75170
9
ANACOM – “Serviço Móvel Terrestre - 2º Trimestre de 2003”, ANACOM – relatório trimestral, 21 de Outubro de 2003.
Disponível online em: http://www.anacom.pt/template12.jsp?categoryId=31022
7
cartões pré-pagos, o que representa 78% do total de assinantes, sendo os restantes 1.900.200 assinantes
detentores de planos de assinatura.
Assinantes (milhares)
Nº de assinantes no final do trimestre 8.628,7
Detentores de Planos de Assinatura 1.902,3
Detentores de Cartões Pré-pagos 6.726,4
Quantidade de números portados até final do trimestre 13.503
Relativamente ao envio de mensagens escritas (SMS) originadas nas redes móveis, no segundo
trimestre de 2003 o número médio de mensagens por assinante foi de 64 mensagens, de acordo com a
ANACOM10.
Tabela 7: “Serviço Móvel Terrestre - 2º Trimestre de 2003,: Trafego de Dados” (em milhares)
10
ANACOM – “Serviço Móvel Terrestre - 2º Trimestre de 2003”, ANACOM – relatório trimestral, 21 de Outubro de
2003. Disponível online em: http://www.anacom.pt/template12.jsp?categoryId=31022
8
2.3. Serviço de Acesso à Internet
O número de clientes do serviço de acesso à Internet atingiu os 6.158 mil clientes no final do
segundo trimestre de 2003 em Portugal, o que representa uma taxa de penetração de cerca de 59,6%,
segundo a ANACOM - que calculou a taxa com base no total de clientes do serviço,
independentemente do tipo de acesso utilizado. Cerca de 93,9% do total de clientes utilizaram a
modalidade de acesso dial-up, enquanto que os restantes 6,1% acederam à Internet via banda larga (375
mil clientes) nas modalidades de acesso por cabo (modem por cabo) e ADSL, o que representa um
crescimento de cerca de 148,4% face ao mesmo período em 200211.
2003
1998 1999 2000 2001 2002
1ºTrim 2ºTrim
N.º de clientes/100 Hab. 1,7% 6,5% 21,1% 33,5% 50,0% 55,5% 59,6%
Relativamente à penetração de computadores pessoais e Internet nos lares, de acordo com dados
do Instituto Nacional de Estatística (INE), 28% dos lares portugueses possuem um PC e 16% dos lares
já têm o PC com acesso à Internet12.
Tabela 9: INE “Posse de computador e ligação à Internet nos agregados domésticos, 2002”
1995 1997 1999 2000 2001 2002
Penetração PC 11% 14% 21% 22% 24% 28%
Penetração Internet 5% 9% 13% 16%
11
ANACOM – “Serviços de Transmissão de Dados/ Serviço de Acesso à Internet - 2º Trimestre de 2003”, ANACOM –
relatório trimestral, 16 Setembro 2003. Disponível online em: http://www.icp.pt/template12.jsp?categoryId=6247
12
INE - “Posse de computador e ligação à Internet nos agregados domésticos, 2002”, Instituto Nacional de Estatística, 2002.
Disponível online em: http://www.ine.pt/index.htm
9
3. Evolução da Televisão Digital e Interactiva em Portugal
Em Junho de 2001, a TV Cabo tornou-se um dos primeiros operadores no mundo a lançar um
serviço de televisão digital interactiva, tendo sido o primeiro a nível mundial a oferecer a
funcionalidade de gravação de vídeo digital numa set-top box por cabo com bi-direccionalidade, com
base na plataforma Microsoft TV Advanced. Para além do pagamento de 150 Euros de entrada, os
clientes têm que desembolsar 15 Euros mensais pelo serviço e pelo aluguer da caixa, designada de
Smart Box.
Figura 1: Ecrã de Acolhimento dos Serviços Digitais e Interactivos da TV Cabo e Smart Box
10
Na altura, ficou determinado que a exploração comercial da plataforma de TDT deveria ter início até
31 de Agosto de 2002, excepto por razões de força maior.
De regresso à TV Cabo, durante 2001 e 2002, de forma a catalizar o desenvolvimento de
conteúdos e serviços de televisão interactiva, a empresa criou os programas Content Developer e
Solution Provider, que forneceram formação especializada e apoio técnico a empresas e outras
entidades. O programa Solution Provider chegou a involver cerca de 80 empresas e entidades
interessadas em desenvolver conteúdos para TV Interactiva e explorar novas oportunidades de negócio.
À primeira vista, Portugal parecia reunir todas as condições para se tornar um centro internacional de
inovação no campo da televisão interactiva, com um serviço abençoado por nada mais nada menos do
que pela Microsoft e com a plataforma de DTT prestes a ser lançada e que envolvia parceiros
tecnológicos como a Lockheed Martin.
No entanto, se 2001 foi um ano de grandes expectativas, já 2002 se pode caracterizar como
tendo sido um ano de impasse e mesmo de alguma decepção. Em Junho de 2001, a TV Cabo anunciava
que o objectivo era atingir os 100.000 clientes do serviço de televisão interactiva até ao final desse ano.
No entanto, viria a atingir apenas 2.500 clientes em Dezembro de 200113. Se do lado da angariação de
clientes a realidade ficou muito aquém das expectativas, também as previsões pecaram por excesso
relativamente à consolidação da indústria. O mesmo fenómeno que se verificou em Inglaterra ocorreu
em Portugal neste sector durante 2002, com empresas dedicadas ao desenvolvimento de soluções para
TV interactiva a fecharem portas ou serem obrigadas a despedir pessoal, bem como foram encerrados
departamentos que estavam dedicados a este tipo de desenvolvimento em diversas empresas. Assim,
depois de um período inicial de grande entusiasmo, em meados de 2002, os investimentos em televisão
interactiva começaram a decrescer de forma significativa. Reduzir custos e investimentos tornaram-se
prioridades máximas para o Grupo Portugal Telecom (PT) e em particular para a PT Multimedia, o
braço do audiovisual e multimedia da PT. Como resultado destas medidas de contenção de custos e
investimento, pela primeira vez em 2002 a TV Cabo deu lucro: 5,1 milhões de Euros de lucros
líquidos14.
13
Casa dos Bits, "Serviço interactivo da TV Cabo "descola" a partir de Janeiro", Tek Sapo.pt, 22 de Novembro de 2001.
Disponível em: http://tek.sapo.pt/4O0/293115.html
14
Peralta, Helena - “Multimedia ou multi-risco”, revista “Exame”, July 9th 2003, page 30-34.
11
Em Portugal, tal como em outros países onde foram lançados serviços de televisão interactiva,
depois de um período de grandes expectativas para as empresas envolvidas no sector, os operadores de
televisão aperceberam-se que os espectadores não estavam interessados em pagar por serviços
avançados de televisão interactiva disponíveis na sua oferta15. A reacção da TV Cabo foi a de diminuir
o investimento em serviços e caixas avançadas e fornecer caixas de baixa gama (low-end), menos
sofisticadas mas também menos onerosas. De igual forma, o fornecedor da plataforma de televisão
interactiva da TV Cabo - Microsoft – concentrou o seu esforço no desenvolvimento e comercialização
de produtos mais simples e de maior confiança16, colocando em stand-by a evolução da plataforma
Microsoft TV Advanced - talvez de forma permanente. Umas das consequências desta revisão de
estratégia foi a dispensa de 229 trabalhadores da unidade de televisão interactiva durante 200217.
Em Janeiro de 2003, a TV Cabo viria a anunciar que o serviço de TV Interactiva high-end tinha
8.000 clientes18, um número que corresponderia a 24.000 utilizadores únicos. Ao fazer este anúncio, a
empresa afirmou ainda que tinha ultrapassado os problemas de ordem técnica da fase experimental e
que era sua intenção iniciar a distribuição massiva dos seus serviços interactivos. A TV Cabo também
anunciou o lançamento de novos serviços e produtos de televisão interactiva, nomeadamente, de uma
versão low-end do serviço, que deveria arrancar em meados de 200319.
Por outro lado, em Março de 2003, após alguns adiamentos do início da comercialização do
serviço de TDT, o estabelecimento e exploração de uma plataforma de televisão digital terrestre sofreu
um sério revés, já que o Ministro da Economia decidiu revogar a licença concedida ao consórcio
PTDT, após emissão de um parecer favorável por parte da ANACOM20. O consórcio solicitou por duas
15
Shim, Richard – “Microsoft: Layoffs, changes in TV groups”, Cnet News.com, April 24, 2002. Disponível online em:
http://rss.com.com/2100-1040-891413.html
16
Ferranti, Marc and Blau, John – “Microsoft changes channel on TV plans”, IDG News Service, February 20 2003.
Disponível online em: http://www.nwfusion.com/net.worker/news/2003/0220microchang.html
17
Hatton, Barry – “Interactive TV revolution gets off to a slow start”, The Associated press, published by Seattlepi.com,
October 14 2002. Disponível online em: http://seattlepi.nwsource.com/business/90983_msftinteractive14.shtml
18
Rodrigues, Sónia - "TV Interactiva Chegou a Oito Mil Lares em Ano e Meio", jornal "Público", 31 de Janeiro 2003.
19
Fonseca, Pedro - "Os Difíceis Caminhos da Inovação", supl. Computadores Jornal "Público", 2 de Fevereiro 2003.
20
ANACOM , “Revogação da licença da PDTP”, Março 2003. Disponível online em:
http://www.anacom.pt/template12.jsp?categoryId=61529
12
vezes o adiamento do lançamento comercial da operação, apresentando como justificação as
dificuldades técnicas relacionadas com a plataforma Multimedia Home Platform21.
Em resumo, o sector Português de televisão interactiva em 2003 está reduzido a um único
grande player – a TV Cabo – ainda sem competição por parte de outros operadores de televisão. Depois
de um período de grande entusiasmo por parte das empresas envolvida no sector, o serviço high-end da
TV Cabo enfrenta grandes dificuldades em impor-se e o seu futuro é incerto. Por outro lado, a TV Cabo
acabou por reconhecer que a sua oferta high-end não era adequada ao mercado e que a massificação da
televisão digital e interactiva será uma realidade em Portugal através de caixas de baixa gama.
21
Leite, B - "Governo autoriza adiamento da TDT até Fevereiro de 2003", Negócios.pt, 26 de Agosto 2002. Disponível
online em: http://www.negocios.pt/noticias/NoticiaDetalhe.asp?CdDoc=77793
13
Figura 2: Canal de Acolhimento dos Serviços Digitais e Interactivos da TV Cabo e Power Box
14
Figuras 3 e 4: Programa Interactivo “Vícios e Virtudes”, SIC Mulher
15
6. Caso 2: portal para telemóveis “TV Digital Mobile” da TV Cabo
Em Junho de 2003, a TV Cabo lançou a aplicação “TV Digital Mobile”,
desenvolvido para WAP – GPRS, que permite a interacção do telespectador com um conjunto de
serviços interactivos através do telemóvel, nomeadamente: aceder ao guia de programação dos
principais canais do pacote da TV Cabo, ver trailers de filmes, ver vídeos de notícias exibidas nos
canais generalistas, ver vídeos da principais jogadas dos desafions de futebol da Super Liga, agendar
alertas de programas, votar em sondagens e participar em fóruns, entre outras funcionalidades.
A aplicação “TV Digital Mobile” tem quatro áreas: Guia TV, Video-on-Demand, Programas
iTV e Vídeos. Os clientes da TMN com acesso permanente ao portal Inove acedem à aplicação “TV
Digital Mobile” através da categoria de Vídeos no ecrã principal do Inove.
16
número de clientes com telemóveis que incluam o portal Inove e, consequentemente, incentivar a
utilização da aplicação “TV Digital Mobile”.
Assim, verifica-se que a disponibilização de novos canais digitais e a interacção via SMS é o
foco das novas ofertas da TV Cabo. Desta forma, a empresa segue de perto receitas já testadas com
sucesso em outros mercados internacionais, sobretudo nos mercados Europeus. No caso particular da
interacção via SMS com a Televisão, nos últimos anos os operadores e canais de televisão passaram a
recorrer ao telemóvel como “canal de retorno” em alternativa ou em complemento às aplicações
disponíveis por intermédio de uma plataforma de televisão interactiva, tal como refere a analista de
novos media Ferhan Cook. Este fenómeno prevalece em países onde as plataformas de televisão digital
17
interactiva são de pouca relevância, como é o caso da Alemanha, Holanda, Finlândia e as Filipinas. A
interactividade por SMS dá a possibilidade aos operadores e canais de televisão de se relacionarem
com as audiências mais jovens, gerando receitas adicionais sem ter que fazer os avultados
investimentos necessários ao desenvolvimento de aplicações interactivas22. De notar os serviços mais
populares são a votação em sondagens, a participação em Chats-SMS e os jogos SMS-TV.
Sendo considerados o móvel e o multimédia como os motores de crescimento do grupo Portugal
Telecom (PT), o seu CEO Miguel Horta e Costa observou numa entrevista à revista “Visão” que
tecnologias como os telefones móveis de terceira geração, o UMTS, a voz sobre Internet e a
proliferação dos hotspots em tecnologia Wi-Fi, vão ser “sinais de um novo mundo que está aí à
espera”23. O lançamento do UMTS no segundo semestre de 2004 e o investimento na digitalização da
rede de cabo são dois dos projectos estratégicos para a PT. Em particular, a grande aposta para o
próximo ano será o lançamento de caixas digitais de forma massiva, segundo Miguel Horta e Costa. O
responsável máximo da PT referiu ainda que a PT endereçou um pedido de propostas a fabricantes de
caixas digitais, tendo concorrido 13 empresas para fornecer a TV Cabo. Assim, à partida já no primeiro
semestre de 2004, a TV Cabo irá oferecer diversos modelos de caixas – desde os simples modelos que
só descodificam os canais, aos mais avançados com a possibilidade de gravar a programação24.
22
Cook, Ferham -"Show me the Money”, C21 Media Networks website, Janeiro 2003. Disponível online em:
http://www.c21media.net/features/feat_dtl.asp?id=5173&t=10&terms=interactive+tv&curpage=2
23
Camacho, Pedro – “A revolução é em 2004”, Visão nº 554, 16 Outubro 2003. Disponível online em:
http://www.visaoonline.pt/paginas/Conteudo.asp?CdConteudo=33131
24
Camacho, Pedro – A revolução é em 2004, Visão nº 554, 16 Outubro 2003. Disponível online em:
http://www.visaoonline.pt/paginas/Conteudo.asp?CdConteudo=33131
18
Media a serem objecto de investigação mais aprofundada, bem como em sugerir linhas de
orientação para empresas e outras entidades relacionadas com as indústrias da Comunicação em
Portugal.
Assim, sendo verdade que as empresas que actuam nas indústrias dos Media, Telecomunicações
e Tecnologias da Informação e Comunicação enfrentam um mercado cada vez mais competitivo e de
inovação mais acelerada, a expansão para novos sectores de actividade é decisiva para estas empresas.
Se por um lado os operadores de televisão por cabo competem com as empresas de telecomunicação na
oferta de serviço de acesso à Internet e serviços telefónicos, por outro lado os canais de televisão
associam-se a operadores de televisão por cabo ou a empresas de telecomunicações para produzir e
distribuir conteúdos audiovisuais e multimedia. Em resumo, a definição e implementação de estratégias
de desenvolvimento de produtos e serviços Cross-Media é inevitável por parte das principais empresas
das indústrias da Comunicação.
No entanto, para que a implementação de estratégias de desenvolvimento de projectos Cross-
Media seja uma realidade e um sucesso, algumas condições que devem estar presentes
necessariamente:
• Disponibilidade de conteúdos e serviços apelativos que respondam a necessidades reais dos
utilizadores;
• Educação dos utilizadores dos benefícios dos novos Media;
• Presença de uma extensa base instalada de aparelhos receptores;
• Partilha de receitas adequada entre as empresas;
• Promoção de standards que permitam a transferência de conteúdos e a comunicação entre
serviços.
As empresas de Media com sucesso serão as que compreenderem que o contexto mudou e que
os espectadores querem consumir Media de formas diferentes, afirmou o director de novos Media e
tecnologia da BBCi - Ashley Highfield na conferência Next MEDIA que decorreu em finais de 2003,
acrescentando que “a indústria da televisão está a começar a perceber que a imagem tradicional da
família reunida à volta do televisor está ultrapassada”. Ainda, Ashley Highfield defende que a “killer
combination” será o acesso à Internet em banda-larga com televisão digital e gravação de vídeo digital,
mais a possibilidade de partilhar o vídeo digital com outros pares, recorrendo ao mesmo modelo peer-
19
to-peer popularizado pelo serviço Napster. Para o responsável da BBCi, não interessa se esta solução
estará disponível através de um PC, como é o caso do Media Centre da Microsoft, ou através da nova
PlayStation da Sony ou ainda através uma set top box de qualquer operador de televisão – o importante
é que chegue ao utilizador uma oferta sem paralelo de conteúdos de vídeo, televisão, jogos e
multimedia25.
De referir ainda os recentes estudos tornados públicos pela BBC, que revelaram existir quatro
novas e importantes tendências sociais que demonstram que a forma como consumimos televisão está a
mudar de forma irreversível. Daí que a BBC tenha começado a mudar os seus conteúdos e a procurar
esbater as fronteiras entre novos e “velhos” Media de maneira a que todos saiam beneficiados, como
referiu o director de novos Media e tecnologia da BBCi. Assim, há a assinalar as seguintes tendências
de fundo:
- as pessoas estão a assumir o controlo do seu consumo de Media,
- as pessoas querem cada vez mais participar e estar próximo dos Media,
- as pessoas consomem cada vez mais diversos Media em simultâneo,
- as pessoas querem partilhar conteúdos – vídeo, música, etc – com outros pares.
25
Highfield, Ashley – “Adventures in integrated content”, discurso na conferência Next MEDIA Charlottetown, Canada,
C21 web site, 27 de Outubro 2003. Disponível online em:
http://www.c21media.net/features/detail.asp?area=2&article=17945
20
• O telecomando e ao telemóvel irão convergir num só aparelho: irá o telecomando passar a
incluir algumas funcionalidades básicas do telemóvel ou será o telemóvel a agregar
funcionalidades do telecomando?
• Que tipos de serviços destinados a serem acedidos por telemóvel os utilizadores estão dispostos
a pagar? No caso particular dos utilizadores dos novos serviços TV Digital Mobile da TV Cabo,
quais os serviços que são privilegiados pelos utilizadores ? (ver televisão no telemóvel?
comprar filmes e eventos pay-per-view? aceder ao guia de Programação? receber um alerta
para ver um programa? etc)
• A possibilidade de aceder a conteúdos de televisão através de meios como o telemóvel e o PC é
percebida como vantajosa e útil pelos utilizadores?
Ainda que haja com certeza espaço para divergência, assistimos desde há alguns anos ao
fenómeno de convergência: de redes, de aparelhos e ainda de Media. A emergência de estratégias de
desenvolvimento de projectos Cross-Media é irreversível e inevitável. Como observou Andrew Curry,
director da empresa de consultadoria estratégica de marketing “The Henley Centre”, os responsáveis
pelos canais de televisão devem abandonar os seus modelos tradicionais de produção de programas e
deixar que a interactividade funcione a seu favor, ou então que se contentem a lentamente se tornarem
irrelevantes26.
Anytime, anywhere and any how - se na década de noventa o "conteúdo era rei", a tendência do
início do século XXI aponta para que o "rei” seja o contexto. O desenvolvimento de produtos e
serviços deve gravitar em torno do contexto, não da tecnologia ou dos conteúdos. Desta forma, é
necessário ter presente em todo o processo de desenvolvimento de um produto ou serviço Cross-media
as necessidades e preferências dos utilizadores, compreendendo o seu comportamento e motivações no
consumo de diferentes Media em diferentes contextos.
26
Gawlinski, Mark – Interactive Television Production, Focal Press, Março 2003, pag.247.
21
BIBLIOGRAFIA
ANACOM – “Redes de Distribuição por Cabo - 2º Trimestre de 2003”, ANACOM – relatório trimestral, 28 de Agosto de
2003. Disponível online em: http://www.anacom.pt/template12.jsp?categoryId=75170
ANACOM – “Serviço Móvel Terrestre - 2º Trimestre de 2003”, ANACOM – relatório trimestral, 21 de Outubro de 2003.
Disponível online em: http://www.anacom.pt/template12.jsp?categoryId=31022
ANACOM – “Serviços de Serviço de Acesso à Internet - 2º Trimestre de 2003”, ANACOM – relatório trimestral, 16
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de 2003), 2003, pag. 16. Disponível online em:
http://www.umic.pcm.gov.pt/UMIC/CentrodeRecursos/Publicacoes/banda_larga_pdf.htm
22