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Carta Aberta - Repatriação Do Irritator
Carta Aberta - Repatriação Do Irritator
Assunto: Status legal de fósseis brasileiros nas coleções do Estado; repatriação do Irritator
challengeri
Na vossa resposta ao inquérito parlamentar do ano passado (Drs. 17/3222), VSa. justificou a
devolução do “Ubirajara”, baseado em, inter alia, as dúvidas concernentes à legalidade da
exportação, a proveniência incerta, o grande significado do holótipo para o Brasil (um fóssil
que representa uma nova espécie para a ciência), e o dano à reputação do Museu Estadual de
História Natural de Karlsruhe (SMNK), causado pela controvérsia. Gostaríamos de trazer ao
vosso conhecimento um caso que partilha de todas estas características. O Museu Estadual de
História Natural de Stuttgart (SMNS) possui nas suas coleções o holótipo de Irritator
challengeri (SMNS 58022), um dinossauro proveniente do território que atualmente é o
Brasil e que o museu adquiriu em 1991. Este é o único espécime conhecido e bem preservado
desta espécie e, assim, possui valor acadêmico, educacional e museográfico. Em maio de
2023, uma publicação científica que estudou o fóssil recebeu considerável retaliação
principalmente no que se refere à procedência ética e legal do fóssil. Isto acontece tendo
como plano de fundo uma tendência geral na Paleontologia e disciplinas aliadas de uma
maior sensibilidade a estas preocupações.
Apesar da grande visibilidade destes dois casos, o motivo da nossa preocupação é mais
amplo. As coleções públicas em Baden-Württemberg guardam milhares de fósseis do Brasil.
Isto nos preocupa na medida em que a lei Brasileira confere a propriedade dos fósseis à
Nação desde 1942, e proíbe a sua exportação permanente desde pelo menos 1990. Esta
designação de propriedade e restrição de exportação no mínimo levanta dúvidas sobre o
status legal dos fósseis nas coleções públicas de Baden-Würtemberg. Em relação ao
“Ubirajara”, V.S.ª tem reconhecido já que a repatriação dos fósseis pode ser justificada
quando essas dúvidas coincidem com incertezas sobre a proveniência de um espécime.
Gostaríamos de pedir para ir além da avaliação deste caso específico que V.S.ª fez em relação
ao “Ubirajara”. O caso do Irritator indica que não enfrentamos casos isolados, mas as
consequências de um padrão sistêmico. Por tanto, consideramos imperativo que o Ministério
efetue uma revisão sistemática da proveniência e da aquisição legal dos fósseis brasileiros nas
coleções do Estado, também à luz da legislação brasileira.
Estamos comprometidos a fazer com que a ciência da Paleontologia seja mais equitativa e
ética através de colaboração internacional e dos nossos trabalhos individuais, e receberíamos
de bom grado apoio ativo do Ministério nestes esforços. Isto aplica-se com força particular a
medidas que transcendem o nosso poder, mas que recaem no seu como ministra. Isto inclui,
principalmente, a restituição de fósseis que, como itens numa coleção pública, não podem ser
exportados sem uma autorização de acordo com o Ato de Proteção à Propriedade Cultural.
Dada a atenção e posterior controvérsia que recente estudo de Irritator challengeri atraiu, é a
nossa firme convicção que a repatriação deste espécime ao Brasil mandaria uma mensagem
importante —a mensagem de que as vozes dos nossos colegas brasileiros são ouvidas, que
estão sendo levados a sério, e que o Ministério está disposto a atuar da mesma maneira que o
fez quando cooperou com a Nigéria, os maori e os Hui Iwi Kuam‘o. Dado que outras
coleções públicas alemãs fora de Baden-Württember também possuem fósseis brasileiros, seu
seu estado tem a chance de estar na liderança de fazer o que é correto fazer.
Seu ministério tem provado que está disposto e é capaz de abordar injustiças passadas e
atuais através de colaboração. Hoje, nós chamamos VSa. a abordar a coleção paleontológica
com esta mentalidade cooperativa. Clarificar o status legal dos fósseis brasileiros nas
coleções do Estado e repatriar o Irritator challengeri são passos cruciais para o futuro da
Paleontologia a que aspiramos, e que não podemos alcançar sem a sua participação ativa.