Você está na página 1de 9

A iniciação no candomblé não é uma coisa que se faça levianamente

sem observar as consequências provenientes de erros, caso o pai ou


mãe de santo não estejam preparados devidamente para isto.

Por que iniciar uma pessoa que não precisa ser iniciada? Só pelo
dinheiro? Tem muita gente fazendo isso sem nenhum escrúpulo. São os
mercenários de nossa religião que não tem o menor respeito pelo Orixá
que dirá pelas pessoas desavisadas que caem em suas mãos.

Sempre que for fazer uma consulta em qualquer casa de candomblé,


fique atento, não dê dinheiro algum sem antes confirmar em outros
lugares se é isso mesmo que estão dizendo. Se disserem que tem que
fazer um ebó, borí, ou iniciação, vá jogar em outros lugares para
confirmar a resposta do jogo, se for igual em pelo menos tres lugares
diferentes então faça. Caso contrário não faça nada, não gaste seu
dinheiro sem saber se é realmente necessário.

Muitas pessoas pensam que é só fazer o santo e já pode ser pai ou mãe
de santo, a coisa não é bem assim… não é porque a pessoa se iniciou,
que obrigatoriamente terá que abrir casa ao completar sua iniciação na
obrigação de sete anos.
Não são todos filhos de santo que tem cargo para ser um sacerdote. O
sacerdote já nasce com essa missão e em proporção seria 1 em cada
1000 que deveria se preparar para essa árdua tarefa.

O que está acontecendo no candomblé é uma distorção grave, quando


se pensa que todo iaô tem que abrir casa. Um absurdo. Muitos não tem
nem fibra e nem capacidade para ser um lider, abrem suas casas e
depois de um tempo despacham tudo no rio e vão para as igrejas de
crentes como se isso resolvesse o problema. E os culpados disso são
os pais e mães de santo que inventaram essa nova modalidade de
ganhar dinheiro, pois cada iaô que o incompetente for tirar, terá que
chamar o pai ou a mãe para raspar porque ele não sabe. Pois não
conviveu o tempo suficiente na roça para aprender o mínimo necessário
e já abriu uma casa.
Mesmo com pais ou mães de santo competentes, é preciso saber que
candomblé não se resume às festas de barracão, a festa é só a ponta
do iceberg, não é só chegar na hora da festa para dançar, candomblé
não é só isso.

O candomblé propriamente dito começa uma semana antes de cada


festa, com muita gente na casa lavando, passando, cozinhando,
limpando e enfeitando, quando você entra no barracão e vê as
bandeirinhas no teto da cor do Orixá que está sendo homenageado,
alguém teve que comprar, cortar e colar as bandeirinhas e colocá-las no
lugar para que o barracão fique bonito.

As anáguas, toalhas brancas, ojás precisam ser engomados e


passados, (detalhe na maioria das roças é no tanque por não ter
máquina de lavar, e se tiver não é usada porque gasta muita luz) isso
normalmente é feito pelas ekedis ou pessoas que moram na casa de
candomblé, mas, e as suas anáguas quem vai
engomar? Quem vai passar? É durante o período de abian que muita
gente vai
aprender a lavar suas roupas, engomar e passar para poder usar na
festa.
Se você não sabe lavar roupa ou nunca lavou vai ter que aprender ou
pagar para que alguém faça para você. Na maioria das vezes é do que
vivem as pessoas que moram dentro de uma casa de candomblé, lavam
e passam as roupas dos que não sabem ou não tem tempo para fazer.

Durante a semana diversas obrigações são feitas, de acordo com a


determinação do jogo de búzios, Exús, Eguns e os Orixás
homenageados. Os bichos tem que ser limpos por alguém e tratados,
pois, será servido uma parte para os Orixás e outra parte para todos os
presentes na festa. Você já limpou uma galinha, um pato, um pombo ou
um cabrito? Ah! tem dó?!!!, Tem nojo? ah bom!!! Então pode ir
pensando no assunto, na hora de tirar as penas todo mundo tem que
ajudar não importa cargo, é uma das coisas que os abians e iaôs podem
fazer.
Alguém precisa limpar a casa e deixar impecável para que ninguém saia
falando. Isso os abians e iaôs também podem fazer sem problemas, se
você nunca varreu sua casa, vai aprender a varrer barracão e quintal
que normalmente são enormes.
A comida precisa ser preparada e estar pronta antes de começar a festa
para que as pessoas que estavam no fogão possam tomar banho e se
arrumar para a dita festa.
Quando chegar num candomblé e notar algumas pessoas com cara de
cansadas e cochilando em alguma cadeira, não repare essa pessoa
deve estar com todos os ossos do corpo doendo de uma semana de
trabalho duro para que você possa ver uma festa bonita.

Se você é leigo no assunto, procure conhecer um pouco mais antes de


fazer qualquer coisa.]

1. Não deve se iniciar só porque acha bonito, porque gosta das roupas,
porque gosta do ritmo envolvente sem pensar nas responsabilidades e
consequências da iniciação.
2.Não se inicia para depois de um ano chegar a conclusão que não era
bem isso que se queria.
Quando você se inicia no candomblé você está criando um vínculo com
o seu Orixá, com a casa, com o pai ou mãe de santo, você passa a
fazer parte de uma comunidade, por isso deve escolher bem a casa.

3.Antes de qualquer coisa, acho que a pessoa precisa consultar vários


jogos
de búzios para saber se todas as respostas de jogo são iguais, não se
deve
confiar cegamente em ninguém.

4.Depois de consultar vários jogos já dá para saber se precisa


realmente ser
iniciado ou não, aí a pessoa precisa escolher a casa e o pai ou mãe de
santo que mais lhe inspire confiança, procurar saber quem são seus
ancestrais, em que casa ele foi feito, tudo isso para não ter surpresas e
aborrecimentos no futuro. Estou dizendo isto porque existem muitas
pessoas com casa aberta e nem são iniciados no candomblé e dizem
que são. Estou falando de Candomblé!!!

5.Uma pessoa que não foi iniciada, não pode iniciar outras pessoas,
porque
não recebeu o Axé de ninguém. E pelo que me consta ninguém pode
dar aquilo que não tem.

6.Mesmo que lhe digam que precisa ser iniciado (fazer o santo), tenha
calma e
não vá fazendo no primeiro lugar que lhe disseram, procure outros
lugares, se informe, o santo não vai te matar se você não fizer
imediatamente, se ele é seu Orixá ele quer o melhor para você.

7.Por isso mesmo existem os abians nas casas de candomblé, são


pessoas que
participam das festas e algumas obrigações na casa sem a
responsabilidade de ser um iniciado.
Para fazer parte do candomblé não pode ser preguiçoso, se está
pensando que vai chegar numa roça de candomblé e ficar encostado
olhando os outros trabalharem, esqueça, todos trabalham por igual em
pról da comunidade, se é uma casa prá todos os filhos, todos os filhos
tem que ajudar. E não é ao pai ou mãe de santo que estão ajudando.
Quando limpar a roça pense que alguém está fazendo a comida que
você vai comer e o que você está fazendo se reverterá em benefício de
todos e para que todos tenham um lugar agradável e limpo para ficar.

8.Durante o período de abian é que você aprende a dançar no barracão,


aprende as cantigas, convive com todos da roça e tem a possibilidade
de conhecer um por um, nesse período é que você vai descobrir se está
no lugar certo, caso não seja poderá ir para outra casa pois ainda não
tem vínculo nenhum com o pai ou mãe de santo e nem com a casa.

9.O Axé é transmitido do pai ou mãe de santo para o iniciado de


diversas formas, uma delas é na iniciação através do Adoshu que é
colocado na parte superior da cabeça, onde penetrará o Axé ali
depositado.
10.O Axé vai sendo transmitido aos poucos, através das rezas, cantigas,
banhos, boris, na feitura, na obrigação de 1 ano, 3 anos, (em algumas
nações tem a de 5 anos), 7 anos, 14 anos, 21 anos de santo, daí em
diante enquanto o pai ou mãe for vivo.

11.O certo é permanecer na casa onde se foi iniciado, mas em


decorrência de muitos desentendimentos entre pais e filhos de santo
tem havido uma constante mudança de casa. Para os que não sabem…
você nunca vai ser tratado em outras casas, como na casa onde você
foi iniciado, existe uma diferença, ou seja (você não é do meu Axé),
pode ser muito bem camuflado mas que esse sentimento
existe, existe… Na primeira discussão você pode ouvir isso, não digo do
pai de santo, mas dos outros filhos da casa com certeza.
Depois da morte:
Quando um iniciado morre esse Axé depositado precisa ser retirado
antes do enterro através de uma outra cerimônia e dependendo do
tempo de iniciação a cerimônia do Axexê vária de 1 a 7 dias.
Então quando uma pessoa pretende se iniciar no candomblé, já deve
estar ciente que sua família terá que arcar com as despesas da
cerimônia do Axexê após sua morte, caso não tenha deixado dinheiro
para esse fim.
São cerimônias caríssimas tanto a iniciação como o Axexê, lógico que
as despesas terão que ser custeadas pelo iniciado ou por sua família.
Se você não tem o dinheiro o Orixá sabe disso e não vai pedir aquilo
que você não pode dar. Normalmente ele espera o tempo que for
necessário, desde que ele veja que você está guardando nem que seja
um centavo por mês.
O que acontece com mais frequência é a pessoa se iniciar (fazer o
santo) sem saber desses detalhes e só depois de alguns anos de feito é
que vai descobrir que quando morrer estará deixando um compromisso
para a família que muitas vezes nem sabe do que se trata.
Quando o iniciado não fez a obrigação de 7 anos ou seja ainda é um
iaô, na maioria das vezes nem é feito o axexê individual, só é feita a
primeira cerimônia, isso se a família permitir que se faça. E muitos,
mesmo tendo obrigação de 7 anos a família que não faz parte do
candomblé não permite que se faça as cerimônias necessárias.
Esse é um dos maiores problemas que os pais e mães de santo
enfrentam quando morre algum filho de santo, ter que fazer as
cerimônias e encontram obstáculos em virtude da família do filho de
santo não conhecer a religião e não permitir e nem arcar com as
despesas das mesmas.
Outro caso, esta semana recebi uma mensagem de uma pessoa que
tendo um parente falecido há uma semana, e que era feito no santo. Ele
não sabia o que fazer com os assentamentos que estavam em um
quarto dos fundos da casa onde mora. Segundo a pessoa, já tinha ido
procurar um pai de santo e este cobrou R$ 14.000,00 para ir despachar
os assentamentos, o triste é que a família não tem nenhum dinheiro. E
agora José?
A parte que se refere a casa de santo, o pais e mães de santo fazem,
jogam os búzios e o que for determinado será feito com relação ao Orixá
do filho de santo, será despachado ou ficará na casa. Para os filhos de
santo nessas situações são feitos axexês coletivos sem a ajuda da
família, cumprindo a obrigação da casa reverenciando todos os que já
morreram.
Quando o falecimento é de um pai ou mãe de santo é muito mais
complicado.
Todos os filhos da casa se reúnem e chamam um outro pai ou mãe de
santo mais velho que saiba fazer a cerimônia do axexê. Logicamente
esse pai ou mãe de santo cobrará por seus serviços. Normalmente os
pais de santo já deixam um dinheiro reservado para essa finalidade.
Caso não tenha deixado, as despesas com os materiais, bichos, bem
como o serviço do pai ou mãe de santo contratado terão que ser pagos
pelos filhos de santo da casa.
É uma cerimônia trabalhosa e cansativa que dura 7 dias e quem estiver
no primeiro dia não poderá sair da roça até que termine tudo. E não
termina por aí… tem o axexê de mês, de 3 meses, 6 meses, 1 ano e daí
por diante… Além disso, todos os filhos da casa terão que tirar a mão do
pai de santo falecido, seja com a pessoa que herdar a casa ou com
outro pai ou mãe de santo de sua escolha.
Por isso antes de pensar em fazer o santo, pense bem, mas pense
mesmo em tudo o que escrevi acima. Só se inicie no candomblé em
caso de extrema necessidade, deixo bem claro que esta é a minha
opinião.
Cada um deve saber onde amarrar seu burro, o ditado é velho mas
ainda é válido.
Jurema Oliveira da Oxum
Bibliografia Consultada:
A Morte do Pai-de-Santo:
Implicações e Dificuldades para a continuidade dos terreiros de
candomblé
Rita Amaral

Todas as reações:
3434

Há exatos 3 meses Oxum nasceu e eu renasci.


A 1ª vez que eu fui num terreiro de candomblé, senti um mundo de sensações... Não fazia ideia do que diziam
as cantigas em iorubá, mas meu coração disparava a cada verso entoado pelo Babalorixá. A emoção foi imensa
e virei cachoeira em lágrimas. Depois daquele dia, eu SENTI o que ERA A ANCESTRALIDADE.
Passei a frequentar a casa como visita, depois virei filha, e cá estou : iao de Oxum recém iniciada. Filha do
Babalorixá Dário de Ossain , que é filho do finado papai Flávio de Oxaguiã, filho de Íyá Nitinha de Oxum.
Somos da nação Ketu e descendemos do Ilê Asé Íyá Nassô Oka, mais conhecido como "Terreiro da Casa branca
do Engenho velho" na Bahia, fundado por 3 mulheres: Íyá Deta, Íya Kalá e Íyá Nassô. O 1º Terreiro fundado no
Brasil. Ser de Candomblé é resistir; reconhecer e reverenciar os ancestrais; buscar suas origens; se descolonizar
e resgatar as tradições africanas. Uma religião linda, intensa, visceral e de profunda grandeza. O mundo é
gigante e tem espaço para todas as religiões e filosofias de vida. E é fundamental que o respeito às diferenças
esteja presente nas relações. Agradeço com todo meu coração ao meu Babá, Babakekere, Ekeds, Ogans, meus
irmãos de asé, meu pai e mãe pequena pelo cuidado e carinho. Leco, Emília, Jojo e Barbara, meus irmãos de
barco, obrigada pelo companheirismo. Agradeço também o esforço dos meus familiares e amigos que foram na
minha saída e fizeram parte desse momento único na minha vida. Compartilho com vocês meu renascimento e
novo olhar pro mundo. Que Exú abra meus caminhos e que com seu movimento me ajude a comunicar sempre
o bem. Eu sou a doçura de Oxum e a força de Oyá. Carrego a mira de Oxossi, a garra de Ogum, a metamorfose
de Oxumarê, a cura de Obaluaiê, a vitalidade de Xangô, a risada da pomba-gira e a leveza do erê. Que Oxalá me
dê tranquilidade e paciência durante toda a minha jornada. Muito amor e asé. Ubuntu.

“dar de comer a cabeça” é, de facto, “fechar o corpo”, protegendo-o dos feitiços. Este ritual supõe a celebração de
uma aliança com o orixá porque é em cima da cabeça, no ori, que os orixás se apoderam do seu devoto” (2009,
p.143). Segue abaixo a descrição do Bori:
"Fazer Santo é uma decisão muito séria e exige convicção e
certeza absoluta.

Se você tem dúvida, por menor que seja, não faça. Não se deix
e iludir por expressões do tipo " se não fizer, você morre", " sua
vida vai melhorar", " o santo está pedindo sua cabeça", " Orixá
está te castigando porque quer sua feitura" e tantos outros
argumentos intimidatórios e falsos. Tudo isto é mentira. Orixá é
muito sublime e elevado para castigar ou maltratar um filho por
causa de iniciação! Então ouça um bom conselho, seja abiã pelo
maior tempo possível, avalie a casa, o zelador, a sua possível
família de Santo até concluir que chegou sua hora e que ali é
realmente seu lugar. Não se afobe, pois, a maioria das pessoas
que saem de suas casas originais ou da religião é porque
mergulharam de cabeça antes do tempo e se decepcionaram,
não com a religião, que é maravilhosa, mas com as pessoas.
Aliás, muitas destas pessoas, infelizmente, lhe veem como uma
fonte de renda, não como um irmão de fé, um filho de verdade.
Elas querem lhe apressar para pegarem o seu dinheiro o mais
rápido possível e transformar você numa fonte vitalícia de
receita. É triste, mas é esta a realidade. Os Bàbálòríxás e
Iyalorixas sérios - e são muitos- não usam deste argumentos,
eles são servos dos Orixás, sabem e acreditam que tudo tem
sua hora e, mais do que ninguém, Orixá sabe a hora certa do
seu filho."

Você também pode gostar