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Capítulo

26
Broncoscopia na Unidade
de Terapia Intensiva
Elnara Márcia Negri
Mauro Roberto Tucci
Wilson Leite Pedreira Jr.

A broncoscopia é uma poderosa arma na UTI, prin- artificial reduz seu calibre, aumenta a resistência do sis-
cipalmente nos pacientes ventilados mecanicamente, tema e pode impedir uma ventilação adequada ou, ain-
tanto no diagnóstico quanto na terapêutica de patolo- da, levar a barotrauma por mecanismos diversos.
gias do aparelho respiratório.
Há muita discussão sobre o tamanho mínimo de
O número de indicações para abordagem endoscó- tubo endotraqueal que pode ser utilizado sem que haja
pica do aparelho respiratório cresce continuamente. comprometimento da ventilação2. Sabe-se que em pa-
Diversas novas técnicas, assim como a utilização de cientes não intubados o broncoscópio ocupa, aproxi-
melhorias nas técnicas consagradas, permitem um ren- madamente, 10% da área de secção transversa da
dimento progressivamente melhor nas patologias pul- traquéia. Quando utilizamos um broncoscópio com ca-
monares e de vias aéreas, tanto do ponto de vista da libre de 5,7 mm, este ocupa, aproximadamente, 40%
avaliação direta e da coleta de material para análise da área de um cânula 9 mm e 66% de um cânula 7 mm,
diagnóstica quanto como arsenal terapêutico.
comprometendo, portanto, a ventilação do paciente.
Na Tabela 26.1 resumimos as sugestões do consen-
TÉCNICA E CARACTERÍSTICAS DA so para estudo de pneumonia nosocomial relacionada
REALIZAÇÃO DE BRONCOSCOPIA EM ao ventilador mecânico3 e de outros autores para pre-
PACIENTES INTUBADOS SOB paro e monitorização do paciente ventilado mecanica-
VENTILAÇÃO MECÂNICA mente que será submetido à broncoscopia flexível.

INSERÇÃO DO APARELHO Alguns autores, baseados nos valores elevados de


resistência determinada pela presença do BF, sugerem
Inserindo-se o broncoscópio flexível (BF) na via um diâmetro mínimo de tubo endotraqueal (TET) a
aérea artificial (cânula orotraqueal ou de traqueosto- ser utilizado. No entanto, há anos temos broncoscópi-
mia), após a lubrificação do mesmo com spray anesté- os de diferentes diâmetros disponíveis (de cerca de 3
sico, o exame pode ser realizado com ventilação a 6,9 mm), o que nos impede de definir um diâmetro
intermitente (naqueles pacientes com melhor reserva de TET único. Por outro lado, conforme discutimos,
respiratória) ou concomitantemente através do uso de estudos recentes sobre mecanismos do barotrauma4
adaptadores1 (Fig. 26.1), que permitem adequada ve- não consideram o pico de pressão na via aérea, medi-
dação e suporte ventilatório. do proximal ao tubo traqueal, como fator relevante
A possibilidade de ventilar o paciente durante a associado a um maior risco de lesão pulmonar. As va-
broncoscopia reduz o risco de hipoxemia (e outras com- riáveis mais importantes seriam a hiperinsuflação pul-
plicações), aumenta o conforto do paciente e permite a monar e elevadas pressões alveolares (ambos
realização de exames com maior duração (Fig. 26.2). associados com a presença de PEEP intrínseca ou vo-
No entanto, a presença do broncoscópio na via aérea lume corrente elevado). Talvez por isto estudos mais

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Capítulo 26 209
Fig. 26.2 — Inserção do broncoscópio através do adaptador na cânula de
traqueostomia, permitindo a ventilação durante a realização do procedimento.

Tabela 26.1
Recomendações para Realização de Broncoscopia durante Ventilação
Mecânica (Utilizando-se Modo Volume Controlado)

ppFluxo inspiratório
nnFR (15-20 rpm)
Elevar alarme de pico de pressão
Observar volume corrente e Saturação de O2
FiO2 = 1
Sedação adequada com ou sem relaxante muscular de curta duração
Tubo: deve ter diâmetro de, no mínimo, 1,5 mm maior do que o endoscópio
Zerar ou reduzir a PEEP
Aspirar por curtos períodos
Afastar barotrauma com radiografia após exame
Adaptado de [Meduri, 1992, Dellinger, 1992 e Jolliet, 1992 (2,3,6)].

Fig. 26.1 — Adaptadores para cânula a ser utilizado durante a broncoscopia


em pacientes sob ventilação mecânica.
AJUSTE DO VENTILADOR E MONITORIZAÇÃO
DO PACIENTE

recentes recomendem que o broncoscópio deva ter Em relação à ventilação mecânica (VM), excluin-
calibre 1,5 a 2,5 mm menor do que a cânula traqueal do-se a padronização para o uso de fração inspirada de
empregada5. oxigênio (FIO2) de 1, durante a realização do procedi-
mento broncoscópico, não encontramos estudos refe-
Acreditamos que o uso de um broncoscópio com rentes à escolha do modo ventilatório (exemplo: volume
diâmetro 1,5 mm menor do que o tubo seja muito res- assistido/controlado (VAC), pressão controlada (PC)
trito, não só pela dificuldade de ventilarmos o paciente etc.) ou de diferentes ajustes do ventilador mecânico
(sendo seu uso adequado somente para exames de cur- (exemplo: volume corrente (VT), freqüência respirató-
ta duração, 60 a 120 segundos, como pode ser realiza- ria (FR), fluxo inspiratório (V’), relação entre tempo
do em alguns casos de coleta de material para inspiratório e expiratório (I:E) e pressão inspiratória)
diagnóstico de infecção associada ao ventilador mecâ- durante a realização da broncoscopia em pacientes ven-
nico), bem como pela dificuldade técnica do aparelho tilados mecanicamente. Portanto, muitas das recomen-
ser introduzido através da cânula. dações listadas na Tabela 1, apesar de serem difundidas
Em nossa prática clínica, certas vezes encontramos e aceitas, não têm qualquer suporte experimental.
dificuldade na passagem do aparelho de 5 mm através Os objetivos básicos da VM durante a broncosco-
de cânula orotraqueal de número 7,5, devido aos aco- pia são os mesmos de qualquer paciente em ventilação
tovelamentos que se fazem conforme a anatomia da via mecânica, portanto, conhecendo as alterações causadas
aérea do paciente, bem como pela presença de secre- pela introdução do broncoscópio no tubo endotraqueal,
ção ou sangue aderidos à superfície interna da cânula. entendemos que uma abordagem “intervencionista”

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210 Capítulo 26
(conforme discutiremos à frente) seria a mais adequa- INDICAÇÕES PARA BRONCOSCOPIA
da, principalmente em pacientes mais “graves”. Esta DIAGNÓSTICA
abordagem, no entanto, ainda não está definida.
As principais indicações para broncoscopia diag-
De modo prático, poderíamos sugerir, baseados nóstica nos pacientes em terapia intensiva podem ser
em estudo em simulador do sistema respiratório7, assim divididas:
quando utilizarmos o modo VAC, o ajuste do venti-
lador com FR maior que 10 e menor que 16 RPM,
com fluxos próximos a 1 L/s e com um VT mínimo INVESTIGAÇÃO DE PROCESSOS INFECCIOSOS
necessário para uma adequada ventilação alveolar. (PNEUMONIA)
No modo PC, de maneira semelhante, escolher uma
FR entre 10 e 16 RPM, relações I:E próximas a 1:3 1. Em pacientes ventilados mecanicamente (imunocom-
ou 1:2 e ajustar um valor de pressão inspiratória que petentes).
determine uma ventilação alveolar satisfatória para 2. Em imunossuprimidos.
demanda do paciente.
Qual dos dois modos empregar é uma opção que DIAGNÓSTICO DE PNEUMONIA ASSOCIADA À
depende das possibilidades do ventilador que está sen- VENTILAÇÃO MECÂNICA
do utilizado e da experiência da equipe da UTI com os
modos disponíveis. Cada modo ventilatório apresenta Para a abordagem diagnóstica das infecções pul-
vantagens e limitações. monares deve-se fazer uma diferenciação entre pacien-
• No modo VAC existe um controle efetivo do vo- tes imunocompetentes e imunossuprimidos. Tal
lume corrente, porém pode haver uma grande dispari- separação se faz necessária devido às diferentes carac-
dade entre a pressão proximal de via aérea (Pprox), que terísticas clínicas e de resposta imunológica entre os
é facilmente aferida, e a pressão alveolar, sendo esta dois grupos, acarretando prevalências diversas dos
última de difícil aferição com as técnicas disponíveis agentes infecciosos pulmonares moduladas de acordo
para a avaliação da mecânica respiratória à beira do leito, com o estado do sistema imune. Essa variabilidade vai
determinar uma abordagem broncoscópica individua-
• O modo PC tem a vantagem de limitar com segu- lizada a cada apresentação clínica9.
rança a pressão alveolar, que não irá ultrapassar o valor
da pressão inspiratória ajustada e, por isso, fornece um Atualmente muito se tem estudado sobre o diag-
menor risco de barotrauma; porém, a ventilação alveo- nóstico de pneumonia em pacientes ventilados me-
lar pode variar amplamente. canicamente. Estudos recentes mostram taxas de
mortalidade muito mais elevadas em pacientes subme-
Há um consenso sobre reduzir ou zerar a PEEP tidos à antibioticoterapia empírica, mesmo quando com-
durante a broncoscopia, no sentido de se evitar baro- parados a pacientes não tratados. Tal achado ainda é
trauma. No entanto, sabe-se que a PEEP evita o colapso mais evidente e grave nos pacientes em SARA. Alia-se
alveolar em pulmões doentes, reduzindo a possibilida- a isto a baixa especificidade das culturas qualitativas
de de barotrauma8 e, aparentemente, a PEEP pode re- de aspirado traqueal3,9,10. A antibioticoterapia indiscri-
duzir os efeitos adversos na oxigenação e na mecânica minada leva ao aumento da colonização, superinfecção
respiratória em pacientes em ventilação mecânica sub- e multirresistência9-12.
metidos à broncoscopia. Acreditamos que estudos con-
Ainda existem controvérsias, quanto ao impacto na
trolados sejam necessários para responder qual o melhor
mortalidade, do diagnóstico etiológico. Alguns estudos
ajuste da PEEP nessa situação.
mostraram-se céticos13-15, não tendo demonstrado me-
É importante salientar que, durante a realização lhor acurácia dos métodos broncoscópicos e melhor
do exame broncoscópico, a presença de um profissi- evolução com o diagnóstico etiológico. Por outro lado,
onal ao lado do ventilador para ajustá-lo conforme mais recentemente alguns estudos evidenciaram maior
necessário é altamente recomendável. O mesmo acurácia, melhor evolução, menor uso de antibioticote-
pode-se dizer em relação à sedação (se necessário rapia e impacto na mortalidade, com a utilização de
com utilização de relaxante muscular) para permitir métodos invasivos broncoscópicos16,17.
uma adequada ventilação do paciente e minimizar o As técnicas broncoscópicas para pesquisa de agen-
risco de barotrauma. tes bacterianos causadores de pneumonias devem con-
A utilização de ECG, oximetria e PA não invasi- siderar a presença de flora de bactérias das vias aéreas
va tornam o procedimento mais seguro, tendo-se em superiores (orofaringe, nariz) e inferiores (traquéia e
vista o maior controle do paciente, principalmente brônquios proximais), podendo levar à contaminação
em se tratando de casos com alto risco para instabili- do material coletado, ocasionando diagnósticos equi-
dade hemodinâmica. vocados (este é o principal motivo que torna as cultu-

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Capítulo 26 211
ras de orofaringe e de escarro não confiáveis). Portan- Na realização do LBA deve-se evitar ao máximo a
to, deve-se garantir que a broncoscopia seja realizada contaminação do canal de coleta, através de cuidados
com todo rigor de técnica, cada uma delas com algu- na aspiração de secreções (evitar aspiração prévia à
mas particularidades a serem respeitadas. coleta do LBA), no uso dos anestésicos tópicos, além
O lavado broncoalveolar (LBA) e o escovado dos cuidados na manipulação do material coletado, an-
protegido (EP) são as técnicas de escolha. O material tes do processamento laboratorial. A literatura, de uma
coletado deve ser submetido à análise por técnica labo- maneira geral, aceita limites para a cultura quantitativa
ratorial que permita a realização de culturas quantitati- do LBA, de 104 unidades formadoras de colônias por
vas, tornando possível a identificação da bactéria mL da solução (104 ufc/mL), confirmando o resultado
patogênica. positivo para identificação da bactéria patogênica3, 10,11.
Mais recentemente outros métodos para melhora do Num estudo mais recente realizado aqui no Brasil,
poder diagnóstico têm sido propostos, entre eles o cha- por Balthazar et al., a cultura quantitativa do LBA foi
mado mini-LBA e a aspiração traqueal distal. Tais méto- comparada à cultura do fragmento pulmonar pós-óbito
dos tentam aliar a facilidade de execução à melhor (realizado no mesmo segmento onde foi colhido o
acurácia diagnóstica e menor custo, porém apresentam LBA). Foi possível observar que o LBA permitiu isolar
também limitações e têm sido objeto de estudo de vários 92,5% dos microrganismos encontrados na biópsia e,
grupos12-17. Discute-se como principal limitação destes ainda, que usando um cut-off para celularidade de
métodos o fato de não se saber qual segmento está sendo 400.000 células/mL pode-se definir uma sensibilidade
lavado, o que teoricamente diminuiria sua especificida- de 90% e uma especificidade de 94,1% quando se usou
de em quadros radiológicos localizados. cultura quantitativa. Também é possível observar que a
análise do Gram e do número de leucócitos do LBA
O lavado broncoalveolar é um método seguro de podem ser de auxílio na avaliação do paciente com sus-
coleta bastante utilizado em nosso meio, de custo infe- peita de pneumonia associada à ventilação mecânica.
rior ao EP, fornecendo informações valiosas a respeito Mas ainda são necessários estudos de avaliação de
de processos infecciosos e até mesmo no diagnóstico mortalidade e custos.
diferencial de infiltrados pulmonares como, por exem-
plo, na hemorragia alveolar. Idealmente, para maior sensibilidade e especifici-
dade, a broncoscopia para pesquisa etiológica das
Para obtermos um resultado satisfatório, é neces- pneumonias nos pacientes ventilados mecanicamente
sário o retorno adequado do soro fisiológico infundi- deve ser realizada antes da introdução de qualquer
do (recuperação do fluido infundido). Pacientes esquema antibiótico empírico (ou até 12 horas após).
portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica, Entretanto, nos casos de falha terapêutica (que re-
obesidade, com derrame pleural extenso, tosse exces- presenta uma das melhores indicações para pesquisa
siva podem ter reduzida a quantidade do material cole- broncoscópica em pneumonias nosocomiais), estudo
tado, o que pode induzir o resultado falso-negativo, por do nosso grupo mostrou rendimento representativo do
recuperação inadequada de material de vias aéreas mais lavado broncoalveolar19.
centrais.
O Escovado Protegido (EP) utiliza uma escova re-
Para a solicitação de um LBA por suspeita de pneu- coberta por proteção de um cateter plástico, fechado
monia associada à ventilação mecânica, o paciente deve em sua extremidade com um “selo” (ágar, teflon etc)
apresentar pelo menos três dos seguintes critérios clí- que durante a coleta é expelido, evitando a contamina-
nicos3, 9,10: ção retrógrada. O EP, apesar de coletar uma quantidade
• presença de infiltrado radiológico novo ou piora do menor de secreção (menor sensibilidade), permite
já existente; uma menor taxa de falso-positivos (maior especificida-
de), sendo consideradas positivas as culturas com mais
• febre > 38º C;
de 103 ufc. Alguns estudos destacam os benefícios do
• leucocitose; EP que pode ser realizado em tempo mais curto que o
• secreção traqueal purulenta. LBA, diminuindo a chance de complicações em paci-
entes criticamente instáveis e permitindo o diagnóstico
Os pacientes são sedados e, se possível, curariza-
mesmo naqueles casos de retorno insatisfatório do LBA.
dos, para evitar a utilização de lidocaína tópica, devido a
seu efeito bacteriostático. A broncoscopia deve ser rea-
lizada com aparelho de calibre externo inferior a 5 mm DIAGNÓSTICO DA PNEUMONIA NOS
e canal de aspiração mínimo de 2,2 mm; utilizando-se IMUNOSSUPRIMIDOS EM TERAPIA INTENSIVA
uma primeira alíquota com 20 mL de água destilada
(para a cultura de Legionella) e duas alíquotas com 50 Nos pacientes imunossuprimidos o pulmão é um
mL de soro fisiológico, que são recuperadas com pres- órgão bastante acometido, principalmente por infecções
são de aspiração controlada (menor que 60 mmHg)11,18. oportunistas. Esse grupo de pacientes está dividido de

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212 Capítulo 26
acordo com o tipo de imunossupressão que o acomete Os microrganismos mais prevalentes20 nos imunos-
primariamente. Podemos destacar a imunossupressão suprimidos apresentam o seguinte rendimento diagnós-
adquirida (Aids), a imunossupressão induzida quimi- tico pelos métodos de coleta broncoscópica:
camente nos transplantes (renais, de medula, coração,
• Pneumocystis carinii: ótimo rendimento, em tor-
fígado, pulmão), a imunossupressão induzida por doen-
no de 90% a 100% pelo LBA que é potencializado pela
ças (doenças linfoproliferativas, aplasia de medula,
BTB;
diabetes etc.). Apesar destas doenças terem caracterís-
ticas individuais bem marcadas, muitas observações • Mycobacterium tuberculosis: rendimento razoá-
podem ser generalizadas. vel pelo LBA22, (em torno de 60%). Associando-se a
Os pacientes imunossuprimidos muitas vezes apre- BTB, pode-se chegar de 75% a 80% de positividade;
sentam grave evolução, freqüentemente rápida, sendo • citomegalovírus: esse diagnóstico deve ser feito
necessários o acompanhamento em terapia intensiva e com cuidado em alguns grupos de imunossuprimidos,
o suporte ventilatório mecânico antes do diagnóstico sendo possível contaminação sem pneumopatia. No
etiológico definitivo. entanto, ressalta-se a boa positividade diagnóstica do
As pneumopatias que acometem o paciente imu- LBA em transplantados de medula (aproximadamente
nossuprimido na terapia intensiva, assim como fora dela, 70%), principalmente quando são analisados conjunta-
têm quadro clínico, laboratorial e radiológico, na mai- mente aos valores da antigenemia;
oria das vezes, inespecífico. Levando-se em considera- • infecções fúngicas: rendimento complementar da
ção que temos etiologias infecciosas diversas, doenças BTB e LBA com resultados semelhantes aos das mico-
inflamatórias e tumorais, muitas vezes com rápida evo- bacterioses (60% a 70%);
lução, o diagnóstico etiológico específico e precoce se
faz necessário e indispensável. • Legionela: destaca-se o papel do diagnóstico des-
te patógeno pelo LBA (coletado com técnica especial),
Os métodos broncoscópicos apoiados em suporte
principalmente podendo apresentar incidência aumen-
laboratorial adequado têm mostrado resultados diagnós-
tada no grupo do transplantados renais.
ticos de grande confiabilidade, sendo bem mais aceitos
mundialmente. Isto, associado a uma baixa morbidade, Também na análise do rendimento da broncosco-
mesmo sob ventilação mecânica, elegeram a broncos- pia nas pneumopatias do imunossuprimido, além da
copia como etapa obrigatória na investigação dos qua- técnica de realização do exame, é de fundamental im-
dros pulmonares dos imunossuprimidos: dispnéia portância o tratamento laboratorial dado ao material
progressiva e alteração da característica da expectora- coletado. A utilização de colorações específicas, imu-
ção (com ou sem alteração aos Raios X simples de tó- no-histoquímica e técnicas de biologia molecular au-
rax) ou, ainda, imagem tomográfica de pneumopatia, mentam para quase 100% o rendimento da broncoscopia
tornando necessária a abordagem diagnóstica6,20. na maioria das doenças pulmonares. Por outro lado, um
Nos pacientes fora da ventilação mecânica, a abor- material mal coletado e mal analisado é garantia de re-
dagem se faz através da biópsia transbrônquica (BTB), sultados falso-positivos e falso-negativos.
quando não houver contra-indicação (ver capítulo de
técnicas de coleta) e do lavado broncoalveolar, uma vez
que os seus resultados têm se mostrado aditivos, ou HEMOPTISE
mesmo algumas vezes exclusivos, de um ou outro mé- A hemoptise é abordada em outro capítulo especí-
todo (BTB nas pneumonites intersticiais linfocítica ou fico. Destacaremos aqui algumas características da he-
inespecífica, Kaposi; LBA em infecções bacterianas)20.
moptise em geral e particularizadas para o pacientes de
Deve-se ter em mente, porém, que até o momento terapia intensiva.
raramente se indica BTB nos pacientes sob ventilação
O paciente de UTI pode ter sangramentos esparsos
mecânica pelo risco de pneumotórax hipertensivo, sen-
e de pouca monta (pequenos laivos de sangue durante a
do realizado apenas o LBA. A biópsia transbrônquica
aspiração de secreções), sangramentos contínuos, ex-
no paciente ventilado mecanicamente deve ser realiza-
teriorizados pela cânula, causando maior preocupação,
da apenas quando as suspeitas diagnósticas forem pa-
ou, ainda, hemoptise maciça. Hemoptise maciça é defi-
tologias de alto rendimento do procedimento21. Nesse
caso a biópsia deve ser realizada fora do aparelho de nida como um sangramento das vias aéreas quantifica-
ventilação, sendo sugerida a compressão torácica. do entre 100 mL a 600 mL num período de 24 horas23.

Após o procedimento não se deve utilizar PEEP A abordagem diagnóstica inicial do paciente de-
durante a ventilação mecânica. É indicada a biópsia penderá do grau de sangramento e de suas condições
sob radioscopia, ou na pior das hipóteses, com os clínicas.
Raios X no leito, já preparado para ser realizado e ana- As principais causas de hemoptise nos pacientes
lisado rapidamente. de terapia intensiva sofrem variações quanto à preva-

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Capítulo 26 213
lência, quando comparadas à população “normal”. Des- TRAUMA TORÁCICO
tacam-se as causas:
Podemos dividir a etiologia dos traumatismos to-
• infecto-inflamatórias; rácicos a serem abordados pela broncoscopia da seguin-
• neoplásicas; te maneira:
• discrasias sangüíneas;
• vasculites; Traumas extrínsecos
• trauma de mucosa; Em pacientes politraumatizados ou com traumatis-
• manipulação de vasos centrais. mo torácico, que são internados em UTI, muitas vezes é
imperativa a avaliação endoscópica das vias aéreas, na
A avaliação endoscópica pode servir tanto para fir-
pesquisa de sangramentos exteriorizados ou suspeita de
mar diagnóstico etiológico como para identificar a to-
solução de continuidade de traquéia ou brônquios.
pografia do foco de sangramento. A broncoscopia tem
como principal objetivo a localização e, se possível, o A ruptura das vias aéreas pode ocorrer principal-
isolamento do segmento sangrante, evitando, desta mente em situações de trauma torácico fechado. Ge-
maneira, a inundação pulmonar com sangue. ralmente são pacientes que após o trauma apresentam
grave comprometimento, necessitando de tratamento
A presença da ventilação artificial faz com que o
em terapia intensiva. A detecção e correção cirúrgica
sangramento possa causar dificuldades no manejo da precoce dessas lesões são de fundamental importân-
mecânica pulmonar. Por outro lado, a presença de cia para o sucesso na reconstrução e para uma boa
sangramento em pacientes com cânula induz com evolução. A broncoscopia é o procedimento de maior
grande freqüência a formação de rolhas hemáticas utilidade nestes pacientes e deve ser feita em todos os
que colocam em risco a vida do paciente, com gra- casos de trauma torácico. Ocasionalmente, a broncos-
ves quadros de insuficiência respiratória por obstru- copia pode não observar inicialmente a lesão devido à
ção mecânica. presença de edema e sangramento. Nesses casos, se a
Estudos têm demonstrado que, para um diagnós- suspeita persistir, deve-se repetir o procedimento após
tico mais preciso do local de sangramento, a bron- algumas horas. Nos de ferimentos torácicos por arma
coscopia deve ser realizada nas primeiras 24 horas. de fogo, a broncoscopia também pode ser útil tanto
Caso o sangramento já não seja mais ativo, pode-se para localizar lesões como para detecção e remoção
realizar a lavagem dos segmentos suspeitos com alí- de corpos estranhos (projéteis).
quotas de 20 mL de soro fisiológico, observando-se
a coloração de retorno do fluido sob aspiração com
Traumas intrínsecos
seringa24,25.
A arteriografia é o método diagnóstico de maior a. Durante a intubação.
utilidade, complementar à broncoscopia, na localiza- b. Pela ventilação mecânica.
ção do segmento sangrante. Como a maior parte dos
c. Lesão cronificada.
sangamentos maciços surge a partir da circulação brôn-
quica, a arteriografia brônquica deve preceder a arte- As condições inerentes aos pacientes sob terapia
riografia pulmonar, e muitas vezes pode-se observar intensiva, principalmente os sob ventilação mecânica,
enovelados de neoformação vascular que podem ser podem induzir a lesões traumáticas da mucosa e da es-
embolizados durante o procedimento, freqüentemente trutura das vias aéreas. Isto pode ocorrer durante o pro-
com resolução do quadro. cedimento de intubação, algumas vezes até o extremo
de perfurações iatrogênicas (onde a utilização do fio
A tomografia computadorizada de tórax também guia rígido pode causar graves lesões), ou, ainda, du-
deve ser considerada, podendo auxiliar no diagnóstico rante o ato cirúrgico, por exemplo, na realização de uma
de lesões como neoplasias cavitadas, abscessos, bron- traqueostomia. Os traumatismo e as lesões mais graves
quiectasias, micetomas, malformações arteriovenosas. em geral se localizam na parede membranosa posterior
A tomografia tem como desvantagem a necessidade de da traquéia. Sinais de sangramento pela cânula, pneu-
remoção do paciente instável para um local próprio para momediastino ou enfisema subcutâneo devem sugerir
a realização do exame. uma investigação broncoscópica imediata.
Uma vez que no paciente não ventilado mecanica- Outra possibilidade de traumatismo de vias aéreas
mente se aborda o sangramento de vias aéreas freqüen- seria o trauma pressórico causado pela ação repetida
temente com o uso de broncoscópios rígidos, no da ventilação sob pressão positiva ou ainda pela aspi-
paciente intubado se utiliza, com freqüência quase ab- ração repetida das vias aéreas com sondas, podendo
soluta, a fibroscopia através da cânula. levar a quadros de hemoptise, como abordado anterior-

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214 Capítulo 26
mente. Este associado (ou facilitado) a infecções da tica broncoscópica). Além dos casos de suspeita de obs-
mucosa pode induzir lesões extensas de parede como trução, a broncoscopia está indicada nos casos de difi-
as traqueobronquites necrotizantes. culdade de extubação, avaliando-se calibre e trajeto das
vias aéreas, onde existe suspeita de estenose subglóti-
ca, traqueal ou quadros de malacia.
AVALIAÇÃO DE LESÕES TERMOQUÍMICAS
DASVIAS AÉREAS
OBSTRUÇÃO E ATELECTASIA
As lesões inalatórias pelo calor e aspiração de fu-
maça podem representar fatores de agravamento clíni- 1. Intubação seletiva.
co importantes nos pacientes expostos a incêndios26,27. 2. Complicações da intubação.
Todo paciente com queimaduras e suspeita de lesões
inalatórias deve ser submetido à broncoscopia26,27. 3. “Rolha” de secreção/sangue.
A avaliação broncoscópica visa ao estadiamento
da lesão termoquímica quanto à extensão e intensi- Intubação Seletiva
dade. Além de verificação da área e grau de acometi-
mento da lesão, deve-se investigar a presença de Uma das causas mais comuns para uma ventilação
material particulado carbonizado aderido à parede, inadequada é a intubação seletiva, ou seja, quando a
bem como lavar e remover todos os detritos (bron- extremidade distal do tubo se aloja em um brônquio,
coscopia terapêutica). geralmente o brônquio direito. Apesar da avaliação clí-
A broncoscopia tem grande importância em esta- nica (ausculta) e radiológica serem, geralmente, sufici-
belecer o prognóstico e a conduta nestes casos. Muitas entes para identificação da intubação seletiva, algumas
vezes recomendamos exames repetidos, em tempos pre- vezes é necessária a avaliação dinâmica endoscópica
determinados, pois existe mudança na evolução quanto para este diagnóstico, reposicionando a cânula no mes-
ao grau de comprometimento da mucosa brônquica. mo procedimento.
Durante os exames de controle na evolução dos
quadros de queimaduras de vias aéreas, podemos ob- Complicações da Intubação
servar também escaras nas paredes brônquicas que de-
vem ser removidas devido ao risco de obstruções ao São freqüentes os casos de IOT prolongada nos
fluxo aéreo. pacientes de UTI28,29. A presença da cânula no inte-
Em muitos casos pode haver edema intenso das rior da traquéia pode trazer muitos problemas, prin-
estruturas laríngeas, com necessidade de auxílio à intu- cipalmente se não forem usadas cânulas com cuffs
bação através da broncoscopia, procurando-se evitar a de baixa pressão e se a pressão do mesmo não for
traqueostosmia, que piora o prognóstico infeccioso des- monitorizada freqüentemente e mantida em níveis in-
tes pacientes. Este quadro grave de edema também pode feriores a 35 cm H2O (equivalente a 25 mmHg) para
ser visualizado em vias aéreas inferiores, com prognós- permitir um fluxo sangüíneo adequado às estruturas
tico reservado. traqueais. As complicações incluem: traqueomalácia,
estenoses (subglóticas e traqueais), fístulas traqueoe-
sofágicas etc. O tratamento dessas complicações é
AVALIAÇÃO DAS VIAS DE VENTILAÇÃO E DA bastante complicado e tende a se prolongar, trazen-
PERMEABILIDADE DE VIAS AÉREAS do sofrimentos adicionais ao paciente crítico. A bron-
coscopia, em geral, é solicitada quando de uma
A dificuldade para ventilação mecânica, progressi-
extubação sem sucesso com desconforto inspirató-
va, ou, principalmente, o episódio agudo podem colo-
rio, ou estridor laríngeo com a finalidade de estabe-
car em risco a vida do paciente de UTI. O aumento do
pico de pressão inspiratória necessária para manter um lecer o diagnóstico e o planejamento terapêutico (ver
determinado volume corrente, dificuldade no controle capítulo de terapêutica).
do tempo inspiratória e expiratório etc. podem ocorrer Tão importante é a avaliação de estenoses situa-
sem causa relacionada à patologia de base. das na extremidade distal da cânula orotraqueal ou de
Muitas vezes esta dificuldade está associada a uma traqueostomia (algumas vezes induzida por ela), ca-
causa obstrutiva (secreção, coágulos, estenoses etc.) racterizada por progressiva dificuldade de ventilação
tanto da cânula orotraqueal ou de traqueostomia, quan- e piora dos padrões respiratórios sem causa identifi-
to da própria árvore respiratória (traquéia, brônquios cada. O diagnóstico e o tratamento devem ser preci-
principais, lobares etc.). Nesses casos, é fundamental a sos e rápidos, tendo-se em vista que a evolução destes
avaliação broncoscópica para elucidação e determina- quadros pode ser fatal. A conduta terapêutica muitas
ção da conduta (sendo muitas vezes a própria terapêu- vezes é broncoscópica.

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Capítulo 26 215
Obstrução por Tampão de Secreção Através da análise do LBA, muitos avanços têm
(“Rolha”) ou Hemático (Sangue) sido atingidos no estudo da composição do surfactante
em diferentes situações clínicas31,32. Alguns estudos pro-
Talvez uma das maiores indicações de avaliação põem, inclusive, a administração do surfactante por via
broncoscópica em UTI seja o diagnóstico de suspeitas broncoscópica em certos casos.
de obstrução das vias aéreas propriamente ditas ou ar-
As interleucinas vêm sendo exaustivamente estu-
tificiais, por tampões ou rolhas de secreção ou de san-
dadas no LBA em pacientes sob ventilação mecânica.
gue. A pesquisa de alterações radiológicas, sugestivas
Muitos estudos compararam os achados no LBA com
de atelectasia ou hipoventilação localizada pode estar
dosagens séricas, validando e elucidando o equilíbrio
associada à obstrução de vias aéreas distais por secre-
entre as interleucinas nas inflamações pulmonares. Tais
ção. Este quadro é bastante prevalente em infecções
estudos auxiliam o entendimento da fisiopatologia da
respiratórias com grande produção de secreção em pa-
SDRA e de outras doenças, e têm colocado o LBA como
cientes com reflexo de tosse ineficaz ou dificultado, em
ferramenta de destaque na pesquisa clínica33-35.
UTI com assistência de enfermagem e de fisioterapia
respiratória ineficazes ou insuficientes.
Por outro lado, secreções e, principalmente, rolhas BRONCOSCOPIA TERAPÊUTICA NA
hemáticas (Figs. 26.3 e 26.4), podem ocluir progressi- UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
vamente a cânula orotraqueal ou de traqueostomia,
podendo agudamente levar à obstrução ao fluxo aéreo, As indicações para broncoscopia terapêutica na te-
devendo ser diagnosticada prontamente para conduta rapia intensiva têm continuamente sido ampliadas. Mui-
imediata (desobstrução, troca de cânula etc.). tas vezes o controle do paciente requer medidas
agressivas, porém com o menor grau de invasibilidade
A seqüência após o diagnóstico de obstrução e as possível, condições preenchidas pela endoscopia res-
indicações para broncoaspiração serão discutidas pos- piratória.
teriormente neste capítulo, na parte relativa à broncos-
copia terapêutica na UTI. Podemos assim resumir as indicações para bron-
coscopia terapêutica.

AVALIAÇÃO DE ATIVIDADE INFLAMATÓRIA


ATELECTASIA
Por ser um método de fácil realização e relativa-
mente de baixo risco, o LBA vem sendo cada vez mais Broncoaspiração
utilizado na avaliação do grau de inflamação pulmo-
nar, auxiliando no diferencial entre inflamação, fibrose A broncoaspiração orientada por broncoscopia é um
e infecção, tríade esta que desafia o intensivista diaria- procedimento bastante requisitado em unidades de te-
mente. Devido à dificuldade de obtenção de biópsia nos rapia intensiva6,36,37, sendo geralmente utilizada na
pacientes em ventilação mecânica e a todos os riscos manutenção da higiene das vias aéreas. Esse procedi-
que tal procedimento impõe, provavelmente o futuro mento, nos casos crônicos, pode, na maioria das vezes,
da capacidade diagnóstica nesses pacientes se encontre ser substituído com vantagens pela fisioterapia respira-
no aproveitamento máximo do LBA. tória adequada. Como discutido anteriormente, a ne-
cessidade do tratamento da obstrução das vias aéreas
A seguir serão apresentados alguns exemplos de
por secreção (assim como seu diagnóstico) não é fre-
análise avançada do LBA em pacientes sob ventilação
qüente em UTI onde exista trabalho de fisioterapia es-
mecânica.
pecializada, tendo, portanto, as funções preventiva e
K. Torii et al., em 199730, investigaram o possível terapêutica.
envolvimento de algumas metaloproteinases e de seus
inibidores no desenvolvimento da SDRA. Foram ana- A broncoaspiração por via endoscópica estaria in-
lisados os LBA de 17 pacientes em SDRA e oito volun- dicada em quadros agudos obstrutivos, em que houvesse
tários normais, e concluíram que há um aumento das impossibilidade de fisioterapia. São alguns exemplos
metaloproteinases no LBA dos pacientes com SDRA, dessa situação: o trauma torácico, onde a fisioterapia
o que pode contribuir para a instalação da síndrome. respiratória está prejudicada pelo acesso dificultado ao
paciente e também pela sua menor capacidade de cola-
Outros estudos semelhantes corroboram tais acha-
boração; no traumatismo de coluna e no pós-operatório
dos, indicando intensa atividade proteolítica nessa si-
imediato, principalmente de cirurgias torácicas.
tuação clínica. Por outro lado, outros estudos
demonstraram ainda a deposição de colágeno precoce- Outra indicação para a broncospiração seria no caso
mente na SDRA, o que nos leva a entender que nesta de a fisioterapia não ser suficiente para a desobstrução
síndrome, provavelmente, destruição e reparação teci- de vias aéreas, como em casos de “rolhas” organizadas
dual ocorrem em paralelo. com fibrina e rolhas hemáticas. Outra indicação seria

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216 Capítulo 26
em alguns casos de obstrução segmentar de brônquios localização do ponto a ser dilatado para a introdução
mais distais em doenças neuromusculares. da cânula e na prevenção de lesões da parede posterior
membranácea da traquéia.

Insuflação
DILATAÇÃO ENDOSCÓPICA DE ESTENOSES
Os estudos que avaliam a eficácia da insuflação
broncoscópica para abordagem de atelectasias segmen- De uma maneira geral, a estenose traqueobrôn-
tares de resolução lenta são estudos não controlados e quica muitas vezes está relacionada com a própria
de difícil avaliação. A gênese destas atelectasias esta- intubação, sendo uma complicação da mesma. Para
ria relacionada com a quantidade e qualidade do sur- que a sintomatologia seja observada, ainda durante a
factante, que seria pouco afetada pela técnica de ventilação mecânica este processo deverá estar abai-
insuflação. Nos poucos casos onde o procedimento xo da extremidade distal da cânula orotraqueal ou de
poderia surtir efeito, deve-se ressaltar que os cuida- traqueostomia.
dos devem ser obedecidos: a insuflação segmentar Na maioria das vezes este quadro determina uma
deve ser realizada com a impactação do broncoscópio complicação grave que necessita resolução imediata,
em um segmento ou subsegmento, com pressão con- principalmente em se tratando de pacientes com insufi-
trolada e mantida de 20 mmHg a 30 mmHg, durante ciência de vários órgãos, muitas vezes instabilidade
um a dois minutos, evitando-se aumento da pressão e hemodinâmica, onde o procedimento cirúrgico é con-
risco de barotrauma. tra-indicado ou pelo menos deve ser postergado.
A conduta de escolha é a terapêutica broncoscópi-
INTUBAÇÃO ORIENTADA POR FIBROSCOPIA ca, que pode ser realizada à beira do leito, em caráter
(FIG. 26.5) de urgência. Os principais tipos de abordagem visam,
fundamentalmente, à dilatação e à manutenção da per-
A intubação orientada por broncocoscopia38 ou, ain- meabilidade das vias aéreas, podendo ser realizada atra-
da, a manipulação de cânulas orotraqueais nas unida- vés de:
des de terapia intensiva39 obedecem aos seguintes 1. dilatação com broncoscópio rígido;
grupos de indicações:
2. dilatação com válvulas (sondas) metálicas;
a. indicações prévias: onde existe suspeita de intu-
bação complicada pelo biótipo do paciente, por trauma 3. locação de cânulas (orotraqueal, traqueostomia ou
facial ou queimaduras, por impossibilidade de manipu- mesmo próteses) abaixo da estenose;
lação cervical (trauma de coluna), por problemas co- 4. ressecção endoscópica do segmento interno da este-
nhecidos de vias aéreas (estenoses, distorções, nose (mecânica, laser, eletrocautério etc.).
sinéquias) etc. Ainda existem indicações de auxílio
broncoscópico nos casos de intubação prévia difícil ou
em pacientes com baixa reserva respiratória, onde o HEMOPTISE
procedimento deve ser o menos traumático possível; Assim como a gênese da hemoptise é diferente no
b. indicações inesperadas: nos casos onde é feita paciente ventilado mecanicamente, a conduta terapêuti-
a tentativa de intubação usual com laringoscópio, sem ca também difere41. Enquanto a abordagem terapêutica
sucesso imediato, sendo necessária a orientação fibros- broncoscópica da hemoptise é realizada preferencial-
cópica com visualização direta das estruturas larínge- mente com tubo rígido (vide capítulo), no paciente de
as e traqueais. Essa indicação às vezes é dramática, terapia intensiva, pela condição respiratória do pacien-
pois, existindo a necessidade de assistência ventilató- te sob ventilação mecânica e pelos riscos de extubação,
ria onde o acesso imediato às vias aéreas pela larin- prefere-se a abordagem endoscópica, utilizando-se os
goscopia usual não é possível, ocorre uma urgência recursos da fibroscopia.
broncoscópica. Quando não existe disponibilidade Apesar de, em casos de hemoptise moderada, ser
imediata da orientação por fibroscopia, muitas vezes válida a tentativa de hemostasia através da injeção de
opta-se por traqueostomia; soro gelado ou soluções de substâncias vasoativas no
c. na locação de cânulas de duplo lúmen (sondas território sangrante, nas hemoptises maciças as princi-
de Carlens, Robertshaw etc.), sempre que se faz neces- pais técnicas visam, primariamente, à proteção dos ter-
sária ventilação pulmonar independente (padrões dife- ritórios não-sangrantes.
rentes para cada pulmão), bem como nas hemoptises As condutas importantes na hemoptise maciça fei-
maciças ou contínuas, etc.; tas pela fibrobroncoscopia são: intubação seletiva do
d. no auxílio à realização de traqueostomia percu- território não-sangrante (preferencialmente à esquer-
tânea realizada à beira do leito, sendo importante na da); a colocação de cateteres balonados ocluindo o ter-

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Capítulo 26 217
A B

Fig. 26.3 — Obstrução brônquica por coágulo (A) e por rolha de secreção (B).

A B

Fig. 26.4 — Rolhas de secreção mucóide espessa em árvore brônquica em paciente com doença pulmonar obstrutiva crônica.

ritório sangrante (Fogart); a colocação de cânulas de O lavado broncoalveolar pode ser utilizado como
duplo lúmen. arma terapêutica nas seguintes situações:
• proteinose alveolar: a lavagem broncoscópica dos
LAVADO BRONCOALVEOLAR TERAPÊUTICO alvéolos preenchidos pelo material proteináceo pode ser
realizada com volumes menores do que a técnica habi-
O lavado broncoalveolar (LBA) pode ser utilizado tual, com maior segurança e menor comprometimento
para retirada de substâncias das vias aéreas distais e do da função respiratória;
parênquima, ou, ainda, para aplicação de substâncias
nessas regiões42. Para cada uma das patologias que po- • asma brônquica: a utilização do LBA para remo-
dem se beneficiar do LBA terapêutico existe uma téc- ção de plugs mucosos distais tem se mostrado bastante
nica adequada, fugindo do objetivo deste capítulo o seu eficaz em alguns casos escolhidos de mal asmático, em
detalhamento. pacientes sob ventilação mecânica;

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218 Capítulo 26
A B C

Fig. 26.5 — Seqüência de auxílio à intubação orotraqueal através da broncofibroscopia (Adaptado de Oho e Amemya).

• fibrose cística e bronquiectasia infectada, com lim- Tabela 26.2


peza e aplicação concomitante pelo LBA de antimicro- Prevalência de Complicações de Broncoscopia em UTI
biano tópico;
Série Número Complicações Mortalidade
• pneumonias aspirativas, buscando-se a retirada de Exames Maiores
de substâncias de baixo pH, derivadas da cavidade
Barrett1 446 2,7 % 0%
gástrica, responsáveis por lesão da mucosa das vias
aéreas e dos pulmões. Deve ser lembrado que esta Stevens2 297 3,7 % 0%
conduta deve ser extremamente precoce, nas primei- Olopade3 198 4% 0%
ras duas horas; Bellomo4 56 1,7 % 0%
• aspiração de fumaça particulada, principalmente Turner5 147 4,0 % 0%
em incêndios, onde, além do lavado broncoalveolar, é
Total 1144 3,3 % 0%
possível a lavagem das vias aéreas proximais, visando
a retirada das partículas carbonizadas; 1. (Barrett, 1978); 2. (Stevens et al., 1981); 3. (Olopade, Prakask, 1989);
4. (Bellomo et al., 1992); 5. (Turner et al., 1994).
• aplicação de surfactante em neonatos prematu-
ros. A utilização dessa substância e seus precursores
nos pacientes com Síndrome do Desconforto Respira- COMPLICAÇÕES — ESTUDOS EXPERIMENTAIS
tório do Adulto (SDRA) também tem sido feita em ca- Em pacientes intubados, a introdução do BF atra-
ráter experimental com resultados iniciais animadores. vés do tubo endotraqueal (TET) acarreta aumento na
resistência, que é dependente do grau de redução da
COMPLICAÇÕES luz da cânula. O aumento da resistência nas vias aéreas
irá determinar alterações ventilatórias que são depen-
Pacientes internados em UTI freqüentemente apre- dentes do modo ventilatório utilizado.
sentam distúrbios cardiorrespiratórios graves. Apesar Um estudo em modelo mecânico7 avaliou as alte-
de relatos iniciais43 informando sobre os riscos de hi- rações ventilatórias determinadas após introdução do
poxemia, arritmia e hipotensão, a broncoscopia flexí-
BF em diferentes diâmetros de cânulas orotraqueais nos
vel (BF) mostrou-se segura para ser realizada em
modos volume assistido/controlado (VAC) e pressão
pacientes críticos submetidos à ventilação (VM), in-
controlada (PC).
clusive na síndrome do desconforto respiratório agu-
do (SDRA)44. O modo VAC utiliza fluxo constante e objetiva
manter um mesmo volume corrente (VT) e fluxo (V‘)
independente da impedância do sistema respiratório;
PREVALÊNCIA DE COMPLICAÇÕES nesse caso, após introdução do BF houve variações
mínimas no VT e V‘, mas aumento expressivo do pico
Os estudos que analisam a morbidade e a mortali-
de pressão proximal (Pprox) e da PEEPi, além de grande
dade da BF em pacientes de UTI comprovam que é bem
gradiente entre o Pprox e a pressão alveolar (PAlv).
tolerada, apresentando algumas complicações (exem-
plo: hemoptise, arritmia, broncoespasmo e pneumotó- O modo PC fixa uma pressão inspiratória e um tem-
rax) e sem relatos de óbito na grande maioria dessas po de ciclagem, e os parâmetros VT e V‘ irão variar
séries (Tabela 26.2). conforme a situação. Neste modo de ventilação, a in-

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Capítulo 26 219
trodução do BF determina pequena variação no Pprox A elevação da PEEPi está associada à hipotensão
e redução importante do VT, do V‘, aumento da PEEPi e e ao barotrauma51. As variáveis mais críticas em de-
queda da PAlv terminar o grau de hiperinsuflação dinâmica (PEEPi)
são o volume minuto, a relação I:E (tempo expirató-
Nesse estudo, tanto o modo VAC quanto o modo
rio) e a gravidade da obstrução de vias aéreas51,52. Sen-
PC puderam ser utilizados com segurança (isto é, com
do assim, os melhores ajustes do ventilador são aqueles
volume minuto adequado, sem níveis elevados de
que fornecem um volume minuto adequado sem, en-
PEEPi e pressão alveolar) para a VM durante a bron- tretanto, elevar consideravelmente a PEEPi e a pres-
coscopia, desde que realizados ajustes adequados nos são alveolar.
parâmetros ventilatórios. Os melhores ajustes obtidos
por modelo matemático foram: no modo VAC, uso de
VT entre 7 a 9 mL/kg, utilizando-se fluxos de 0,6 a 1 L/s COMPLICAÇÕES — ESTUDOS CLÍNICOS
e com freqüência respiratória (FR) entre dez e 16 respi-
rações por minuto (RPM); no modo PC uso de pressão Vários autores estudaram os efeitos deletérios no
inspiratória entre 24 a 30 cmH2O, utilizando relações estado hemodinâmico e nas trocas gasosas de pacien-
I:E entre 1:3 e 1:2, e FR entre 10 e 16 RPM. tes submetidos à broncoscopia durante o suporte venti-
latório mecânico53-56. As complicações mais freqüentes
O excesso de pressão proximal isoladamente gera- são apresentadas na Tabela 26.3.
do não deve ser motivo de preocupação, pois a pressão
adicionada é dissipada através do tubo endotraqueal para
vencer a maior resistência determinada pelo broncos- Tabela 26.3
cópio49. No entanto, deve-se estar alerta para o fato de Complicações da Broncoscopia Flexível em UTI
que não se pode ter certeza da magnitude dos valores Hipoxemia
de pressão alveolar gerados a não ser que seja monito-
Hipoventilação/hipercapnia
rizada a PEEP intrínseca.
Redução da complacência e aumento da resistência do sistema
Estas pressões (a PEEP e o Pprox) são importantes respiratório
à medida que refletem a pressão transalveolar e a dis-
Arritmia
tensão alveolar, cuja elevação, segundo estudos expe-
rimentais, está associada a risco aumentado de Hipotensão
barotrauma. A distensão alveolar é determinada pela Infecção
pressão transalveolar, ou transpulmonar (PTP), grossei- Barotrauma (pneumotórax)
ramente igual à subtração: pressão alveolar menos pres-
Febre
são pleural. O pulmão normal atinge sua distensão
máxima quando a PTP alcança 30 a 35 cmH2O e as re- Sangramento
comendações atuais consistem em se evitar uma pres- Adaptado de (Silver; Balk, 1995)
são de platô (PPlat) maior que 35 cmH2O durante a VM
para reduzir o risco de barotrauma. Pressões de platô
maiores (40 a 45 cmH2O) poderiam ser utilizadas com Há um consenso entre os autores de que a broncos-
relativa segurança em pacientes muito obesos ou com copia flexível em pacientes ventilados mecanicamente
pressão intra-abdominal aumentada, já que a PTP seria determina alterações nas condições hemodinâmicas que
mantida dentro de limites aceitáveis. Causas comuns são bem toleradas, mesmo naqueles pacientes com in-
de diminuição da complacência tóraco-abdominal que suficiência respiratória e instabilidade cardiovascular
aumentam a PPlat para um mesmo VT incluem edema necessitando de altas frações inspiradas de O2 e de dro-
da parede torácica, obesidade, fibrose, escara de quei- gas vasoativas.
madura, coleções pleurais e distensão abdominal50. Algumas complicações merecem uma observação.
Nessas situações, as elevadas pressões pleurais ge- O sangramento está associado principalmente à reali-
radas pela expansão pulmonar contra um arcabouço zação de biópsia transbrônquica e, mais raramente, à
torácico rígido “neutralizam” as elevadas pressões al- coleta de material por escova protegida. O risco de san-
veolares, garantindo um estiramento alveolar próximo gramento e pneumotórax em pacientes sob ventilação
ao normal. mecânica fica ao redor de 5% e 10%, respectivamente.
Similarmente, apesar de pressões alveolares tão O risco de infecção era maior com o uso de BF não
elevadas quanto 200 cmH2O serem freqüentemente imersíveis57.
observadas em episódios de tosse, a ocorrência de ba- Após 1985, com a introdução dos endoscópios to-
rotrauma é relativamente rara, uma vez que a contração talmente imersíveis e com a adesão a protocolos inter-
da musculatura expiratória aumenta a pressão pleural, nacionais de desinfecção de material endoscópico, o
limitando a expansão e a distensão alveolar50. risco tem se tornado mínimo58.

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220 Capítulo 26
Alguns pacientes desenvolvem hipoxemia impor- sas contra-indicações absolutas, existe um grande nú-
tante e, às vezes, por período prolongado. Trouillet re- mero de situações clínicas onde o risco/benefício deve
lata queda de até 26% na PaO2 por até duas horas, além ser considerado.
de alterações na mecânica ventilatória56. Não está claro
se estes fatos se devem à ocorrência de shunt pulmonar
na área do lavado broncoalveolar (LBA) ou aos efeitos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
do LBA, inativando ou interferindo com o surfactante, 1. Shinnick JP, Johnston RF, Oslick T. Bronchoscopy during mecha-
ou mesmo às alterações na impedância do sistema res- nical ventilation using the fiberscope. Chest, 1974; 65:613-5.
piratório (broncoespasmo, edema pulmonar etc.) cau- 2. Dellinger RP, Bandi V. Fiberoptic bronchoscopy in the intensive
sadas pela liberação de mediadores inflamatórios, ou care unit. Crit Care Clin, 1992; 8:755-72.
ainda, à hipoventilação (redução do volume corrente), 3. Meduri GU, Chastre J. The standardization of bronchoscopic techni-
ques for ventilator-associated pneumonia. Chest, 1992; 102:557s-64s.
que, associada a uma redução da PEEP e utilização de 4. Gammon RB, Shin MS, Buchalter SE. Pulmonary barotrauma in
FIO2 de 1, pode determinar o desenvolvimento de co- mechanical ventilation: patterns and risk factors. Chest, 1992;
lapso alveolar. 102:568-72.
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Em relação à análise das trocas gasosas e da mecâ- ventilation. Chest, 1993; 104:1319-20.
nica ventilatória, há vários relatos com resultados con- 6. Jolliet P, Chevrolet JC. Bronchoscopy In The intensive care unit.
flitantes que talvez sejam conseqüentes a uma ventilação Intensive Care Med, 1992; 18:160-9.
inadequada no momento da realização do exame. Po- 7. Tucci MR. Broncoscopia durante Ventilação Mecânica. Estudo da
Mecânica Ventilatória em Simulador do Sistema Respiratório.. Tese
dem-se identificar, nos estudos sobre broncoscopia em
(Doutorado) - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo,
pacientes ventilados mecanicamente, duas abordagens 1999,162 p.
em relação aos ajustes no ventilador: uma abordagem 8. Marini JJ. Tidal Volume, peep, and barotrauma. An open and shut
“passiva” 54,56,59,60, na qual nenhum ou mínimos ajustes case? Chest, 1996; 109:302-4.
eram realizados no ventilador, e outra “intervencionis- 9. Allen RM, Dunn WF, Limper AH. Diagnosis of ventilator-associa-
ted pneumonia: the role of bronchoscopy. Mayo Clin Proc, 1994;
ta”5,53,61, objetivando manter o volume minuto e a oxi- 69:962.
genação e, ao mesmo tempo, reduzir a possibilidade de 10. Chastre J, Fagon JY, Lecso MB, Calvat S, Dombret MC, Rhaydah
barotrauma. AK et al. Evaluation of bronchoscopic techniques for the diagnosis
of nosocomial pneumonia. Am J Respir Crit Care Med, 1995;
Nos estudos em que foi utilizada uma ventilação 152:231-40.
mais “intervencionista”, às vezes procurando manter 11. Klech H, Hutter C. Clinical guidelines and indications for broncho-
os valores da PEEP, as alterações na mecânica e na tro- alveolar lavage (Bal): Report of the European Society of Pneumo-
ca gasosa não foram tão evidentes. logy Task Group on Bal Eur Respir J, 1990; 3: 937-74.
12. Bonten MJM, Gaillard CA, Wouters EFM. Problems in diagnosing
nosocomial pneumonia in mechanically ventilated patients: A Re-
view Crit Care Med, 1994; 22:1683.
CONTRA-INDICAÇÕES 13. Niederman MS, Torres A, Summer W. Invasive diagnostic testing
is not needed routinely to manage suspected ventilator-associated
Algumas contra-indicações absolutas (Tabela 26.4), pneumonia. Am J Respir Crit Care Med, 1994; 150:565.
como instabilidade cardiovascular grave (choque e ta- 14. Luna CM, Vujacich P, Niederman MS. Impact of BAL data on the
quiarritmia), são facilmente definidas. Outras, como a therapy and outcome of ventilator-associated pneumonia. Chest,
1997; 111: 676-685.
hipoxemia, são controversas, sendo usados desde valo- 15. Sanchez-Nieto JM, Torres A, Garcia-Cordoba F. Impact of invasive
res como pressão parcial de oxigênio no sangue arte- and noninvasive quantitative culture sampling on outcome of ven-
rial (PaO2) menor de 60 mmHg com FIO2 de 0,8 a tilator-associated pneumonia: a pilot study. Am J Respir Crit Care
PaO2 menor de 60 mmHg com FIO2 de 155. Além des- Med, 1998;157: 371-376.
16. Heyland DK, Cook DJ, Marshall J. The clinical utility of invasive
diagnostic techniques in the setting of ventilator-associated pneu-
monia. Chest, 1999; 115: 1076-1084
Tabela 26.4 17. Fagon JY, Chastre J, Wolff M, Gervais C, Parer-Aubas S, Stephan
Contra-indicações F et al. Invasive and noninvasive strategies for management of sus-
pected ventilator-associated pneumonia. A randomized trial. Ann
Absolutas Intern Med, 2000; 18:132:621-30.
Hipoxemia grave 18. Pedreira Jr WL. Lavado Broncoalveolar. In: Pereira CAC, Carva-
Instabilidade cardiovascular grave lho CRR, Nakatani J. Ed. Pneumologia: Atualização e Reciclagem.
Relativas São Paulo, Atheneu, 1996; p.45-50.
PaO2 < 70 mmHg com FIO2 > 0,7 19. Gomes JCP, Pedreira Jr WL, Araújo EMPA, Soriano FG; Negri EM,
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Arritmia instável
141:1582-98.
Pressão Arterial Média < 65 mmHg com uso de vasopressor
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Hipertensão intracraniana
Abramowitz JA et al. Transbronchial biopsy during mechanical ven-
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Capítulo 26 221
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