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ISSN — 0553-8467 PESQUISAS ANTROPOLOGIA, N° 60 ‘ANO 2004 ARQUEOLOGIA NOS CERRADOS DO BRASIL CENTRAL SERRANOPOLIS III PEDRO IGNACIO SCHMITZ ANDRE OSORIO ROSA ANA LUISA VIETTI BITENCOURT Instituto Anchietano de Pesquisas — UNISINOS SAo Leopoldo — Rua Brasil, 725 — Rio Grande do Sul — Brasil INSTITUTO ANCHIETANO DE PESQUISAS — UNISINOS Rua Brasil, 725 — 93010-030 Sao Leopoldo, RS — BRASIL Caixa Postal 275 E-mail: anchieta@helios.unisinos.br Diretor: Pedro Ignacio Schmitz PESQUISAS PUBLICACOES DE PERMUTA INTERNACIONAL Diretor: Pedro Ignacio Schmitz, S.J. Comissao Editorial Artur Rabuske, S.J. — Coordenador de Historia Josef Hauser, S.J. — Coordenador para Zoologia Josafa Carlos de Siqueira, S.J. — Coordenador para Botanica Pedro Ignacio Schmitz, S.J. - Coordenador de Antropologia Conseltho Editorial Rafael Carbonell De Masi, S.J. Beatriz Vasconcelos Franzen Maria Gabriela Martin Avila Ana Luisa Vietti Bitencourt Bartomeu Melia Albano Backes Paulo Ginter Windisch PESQUISAS publica trabalhos de investigagao cientifica e documentos inéditos em lin- guas de uso corrente na ciéncia. Os autores sao os Unicos responsdveis pelas opinides emitidas nos trabalhos assinados. A publicagao de colaboragdes espontaneas depende da Comissao Editorial. Pesquisas aparece em 3 secgdes independentes: Antropologia, Historia, Botanica. PESQUISAS publishes original scientific contributions in current western languages. The autor is responsible for his (her) undersigned contribution. Publication of contributions not specially requested depends upon the redactorial staff. Pesquisas is divided into 3 independent series: Anthropology, History, Botany. Pesquisas / Instituto Anchietano de Pesquisas. - (2004). Sao Leopoldo: Unisinos, 2004. 286p. (Antropologia; n. 60) ISSN: 0553-8467. Ficha catalografica elaborada pela Biblioteca da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Pesquisas, Antropologia esté indexada em Ulrich’s International Periodicals Directory e CLASE, entre outras indexadoras. ISSN - 0553-8467 PESQUISAS ANTROPOLOGIA, N° 60 ANO 2004 ARQUEOLOGIA NOS CERRADOS DO BRASIL CENTRAL SERRANOPOLIS III PEDRO IGNACIO SCHMITZ ANDRE OSORIO ROSA ANA LUISA VIETTI BITENCOURT Instituto Anchietano de Pesquisas — UNISINOS Sao Leopoldo — Rua Brasil, 725 — Rio Grande do Sul — Brasil SUMARIO A pesquisa arqueoldégica em Serrandépolis e o presente volume — Pedro Ignacio Schmitz, Editor .........:eseseecseeeeee 7 Resumo.... 11 Abstract ... is 1. Os grupos de sitios — Pedro Ignacio Schmitz... 15 4.1 GrupoD. 15 Sitio GO-JA-03.... 19 Sitio GO-JA-03a. 44 Sitio GO-JA-26 54 Sitio GO-JA-04 62 Sitio GO-JA-25 65 Sitios GO-JA-27 e GO-JA-28.. 66 O Assentamento no Grupo D.... 68 1.2 Grupo A... 69 Sitio GO-JA-01.. 714 Sitio GO-JA-02 103 Sitio GO-JA-08.. 109 Sitio GO-JA-08a 112 Balango Final do Grupo A........ 112 1.3 Grupo B... 114 Sitio GO-JA-20 114 Sitio GO-JA-21.. 119 Sitio GO-JA-21a.. 122 Sitio GO-JA-22....... . 122 Sitio GO-JA-24 oe eseeseeee 127 1.4 Grupo C......... 129 Sitio GO-JA-05 129 Sitio GO-JA-111 130 Sitio GO-JA-112 135 Sitio GO-JA-113 137 1.5 Grupo E... oases 139 Sitio GO-JA-13..... 139 Sitio GO-JA-13¢ 141 147 147 Sitio GO-JA-12. 148 Sitio GO-JA-1 151 Sitio GO-JA-15 159 Sitio GO-JA-15a. 4.7 Balango Geral da Area... 164 A ocupagao da Fase Paranaiba . 165 A Fase Serrandpolis 165 AFase Jatai 166 O Tupiguarani 166 2. A industria litica — Pedro Ignacio Schmitz. 169 2.1 AMatéria-Prima 169 2.2 A Classificagao do Material =" mmerers “SAE 2.2.1 RESIGUOS...... eee 177 2.2.2 Instrumentos .. 182 2.3 A Comparag&o por Fases 190 3. Serranépolis e as areas vizinhas — Pedro Ignacio Schmitz . 211 4. Assentamentos pré-histéricos da regiao de Serrandpolis: analise dos restos faunisticos — André Osorio Rosa..... aves ODI 5. Analise dos sedimentos dos abrigos — Ana Luisa Vietti Bittencourt....... 265 A PESQUISA ARQUEOLOGICA EM SERRANOPOLIS E O PRESENTE VOLUME A pesquisa arqueolégica comegou em Serrandpolis em 1975, ocasido em que Binémino da Costa Lima indicou 4 equipe do Programa Arqueoldégico de Goias a existéncia de numerosos abrigos no vale do rio Verde, afluente do rio Pa- ranaiba, por sua vez formador do rio Parana. Em 1975 e 1976 procedeu-se ao levantamento e a prospecc¢ao dos sitios e adocumentac&o sistematica das pinturas e gravuras, num trabalho que tinha a in- tengao de ser exaustivo. Em 1978 e 1980 foi realizada uma escavagao de 40 m? no sitio GO-JA-01, que proporcionou uma visao mais ampla do assentamento que os anteriores cor- tes de 4 m2 serviu como base para a periodizagdo da area. Em 1982 houve uma volta a area para revisar os trabalhos anteriores e co- brir lacunas na informacdo. Nesta visita toda a area foi novamente percorrida, de forma sistematica, examinando todos os paredées, afloramentos rochosos e vos- sorocas dentro de uma area de 20 x 30 km da bacia do rio Verde, no municipio de Serrandpolis. Com isso mais alguns sitios foram localizados e visitados. Finalmente, em 1999, um derradeiro trabalho de campo foi realizado para estudar a evolugao holocénica dos sitios da area, repetir um corte que ficara in- completo no GO-JA-26 (corte II), realizar cortes em abrigo que parecia nao ter condi¢des de ocupa¢ao (GO-JA-03a: cortes | e Il) e no espago externo, bastante longe da area coberta, no sitio mais importante da regiéo (GO-JA-03, corte VII). Em 1975 e 1976, antes de restringirmos a pesquisa aos 600 km? atuais, fo- ram realizadas inspecgSes numa area de aproximadamente 100 x 200 km para ter uma idéia da fertilidade regional e do tipo de sitio presente. Foram visitas ao longo do rio Verde, do rio Claro e do rio Corrente, visitas nas quais foram localiza- dos esporddicos sitios pré-ceramicos e uma pequena quantidade de assenta- mentos ceramicos da tradigao Tupiguarani; um so da tradigaéo Una (GO-JA-31). Ameta a ser atingida na area selecionada passou a ser a forma de ocupa- go dos espacos cobertos. Para isso foi realizada a documentagao completa das pinturas e gravuras, foram feitos cortes estratigraficos na maior parte dos sitios, quer fossem grandes, médios ou pequenos e coletas superficiais no interior e no 8 exterior dos mesmos e nas vossorocas. Foi estudada a evolugao geolégica e am- biental, a compartimentag@o floristica e distribuigao dos sitios. Privilegiando o espaco onde estes sitios estao concentrados perdemos in- formacao sobre aqueles outros em que os mesmos sao menos visiveis e menos numerosos e prestando atengao principalmente nos espacgos cobertos vamos sentir falta daqueles que estariam escondidos debaixo da cobertura do cerrado ou dos campos. Com isso sobram tarefas para as proximas geragées de arqued- logos, se até l4 esses espacos nao tiverem sido completamente devastados. Aconcentragao num pequeno espago traz consigo também o risco de nao dispor de um horizonte suficientemente amplo que forme seu contexto. Este risco foi de certa maneira limitado com pesquisas semelhantes feitas, pela mesma equipe, no mesmo ambiente do planalto, num raio de 200 km, onde estao Caiap6- nia, GO (Schmitz e outros, 1986), Rio do Peixe, GO (Ribeiro, coord., 1989) e Alto Sucuriti, MS (Veroneze, 1994 e Beber, 1995). Os trabalhos feitos em Serrandpolis, de 1975 a 1982, e os principais dados resultantes foram publicados em Schmitz e outros (Serrandépolis !, 1989). As pin- turas e gravuras foram integralmente publicadas em Schmitz, Silva & Beber (Ser- ranopolis Il, 1997). O material litico esta depositado no IGPA, UCG, Goiania, em museus re- gionais e no Instituto Anchietano de Pesquisas, como se indica abaixo. No Institu- to Instituto Anchietano de Pesquisas encontram-se os seguintes materiais: GO-JA-01 — coleta de superficie do talude, do teto, da vossoroca e do abrigo me- nor 3; GO-JA-02 — as coletas de superficie e o corte |; GO-JA-03 — cortes IV e V; GO-JA-04 — coleta de superficie e corte |; GO-JA-8a — coleta de superficie; GO-JA-11* — coleta de superficie; GO-JA-13 — coleta de superficie; GO-JA-14 — cortes | e !|; GO-JA-15 ~ corte I; GO-JA-15a — coleta de superficie; GO-JA-20 — co- leta de superficie e corte |; GO-JA-24 — coleta de superficie; GO-JA-30 — coleta de superficie; GO-JA-31 — coleta de superficie. No Instituto do Tropico Subumido, UCG, ficou depositado o material proveniente do corte Il do GO-JA-26. No museu de Jatai ficou depositado o material proveniente do corte VII do GO-JA-03. No museu de Serrandpolis ficou depositado o material proveniente do corte II do G0-JA-03a. Na Pousada das Araras ficou depositado o material proveniente do corte | do GO-JA-03a. Todos os outros materiais liticos encontram-se no IGPA da UCG, em Goiania. No Instituto Anchietano de Pesquisas encontram-se também a ceramica e os vestigios faunisticos e floristicos, com excegao da quadricula 20-1 da escavacéo do GO-JA-01, do corte VI do GO-JA-03 e do corte | do GO-JA-13c. A documentacao original completa das pesquisas de 1975 a 1982 foi depositada no IGPA € no Instituto Anchietano de Pesquisas. A documentacgao completa dos trabalhos de 1999 encontra-se no Instituto Anchietano de Pesquisas. O presente volume compée-se de cinco partes, escritas independente- mente: a primeira trata do assentamento na area e estuda os seis grupos em que se reunem os sitios; a segunda estuda a industria litica; a terceira faz a compara- cao da area de Serranopolis com as outras estudadas num raio de 200 Km; todas* elas foram escritas por Pedro Ignacio Schmitz, que coordenou todo o projeto; a 9 quarta parte retoma os restos de alimentagao, sob a responsabilidade do bidlogo André Osorio Rosa; a Quinta estuda os sedimentos provenientes da escavagao de trés abrigos com vistas a compreender a evolugao do ambiente holocénico da area e é assinada pela gedloga do Quaternario Ana Luisa Vietti Bitencourt. A elaboracao independente das partes pode criar alguma dificuldade na compreensao imediata de um texto porque a leitura talvez pressuponha informa- des que esto numa outra parte. Assim, as denominacées usadas para as clas- ses de material litico, na primeira parte que trata do assentamento, estao na parte que trata da industria litica, onde podem ser facilmente encontradas, caso houver duvidas. Nao foi possivel desenvolver o tema de outra forma. Ha outras duas observagoes importantes: A andlise do material litico foi continuada durante muitos anos, deslocan- do-se os pesquisadores para Goiania, onde se encontra a maior parte desses restos. S6 depois se ocuparam com o material guardado em Sao Leopoldo. A descontinuidade na analise produziu, em determinado momento, também uma descontinuidade na memoria, que resultou em diferengas nos intervalos estabe- lecidos para as classes de tamanho, que so foram percebidas no momento da re- dagAo final. Inicialmente o material era separado nas classes de “pequeno” 1,00a 5,00 cm; “grande” 5,01 a 10,00 cm; “ mais que grande" mais que 10,00 cm. Poste- riormente achou-se interessante incluir a classe “médio” 5,01 a 7,00 cm, passan- do a classe “grande” a ser de 7,01 a 10,00 cm. As amostras em que se usou 0 pri- meiro critério, esto convenientemente assinaladas nos respectivos lugares e a comparagao se torna possivel porque as bases da separacao sao iguais. O material recuperado nos cortes, quadriculas e coletas de superficie foi atribuido as trés fases identificadas nos abrigos: Paranaiba, Serrandpolis e Jatai. Estas fases apresentam diferengas nitidas entre elas em termos de material litico e restos de alimentos, muitas vezes também na composi¢ao, coloragao e consis- téncia dos sedimentos; seus limites foram claramente estabelecidos na escava- Gao do abrigo GO-JA-01, onde os materiais foram registrados individualmente em planilhas por camadas naturais, embora a remocao dos sedimentos tenha sido feita em niveis artificiais de 10 cm. Quando na primeira parte do texto, que trata do assentamento, apresentamos esses materiais por niveis artificiais de 10 cm, pode parecer que haja uma transic¢ao entre uma fase e outra, o que nao corres- ponde a realidade. A ilusao € provocada pelo fato de que as camadas naturais as vezes so inclinadas € o mesmo nivel artificial removeu o material de mais de uma fase (no GO-JA-01), ou porque em sitios com camadas menos definidas e mais expostas a agao da agua, o limite nao aparecia claramente durante a esca- vagao. No momento oportuno do texto procuramos fazer os necessarios esclare- cimentos. No presente volume sé reproduzimos aquelas informagées que considera- mos necessarias para a compreensao dos textos. Outros dados podem ser en- contrados em Serranépolis | (Schmitz e outros, 1989). 10 Antes de fechar esta introdugao ainda é preciso lembrar os nomes das se- guintes pessoas que colaboraram de forma significativa para a produgao deste volume. Marco Aurélio Nadal De Masi colaborou na andlise de todo o material litico depositado na Universidade Catdlica de Goids, desenhando a maior parte dos instrumentos clasificados. Juliana Ramanzini ajudou na classificagao do material depositado no Insti- tuto Anchietano de Pesquisas e organizou 0 banco de dados de todo o material li- tico. Jairo Henrique Rogge desenhou os instrumentos do material depositado no Instituto Anchietano de Pesquisas e reproduziu a nanquim os instrumentos que compéem as figuras 43 a 57. Fulvio Vinicius Amt organizou e digitalizou os mapas, plantas, croquis e de- mais ilustragdes do volume e prestou apoio geral na apresentacao do texto. Ainda é preciso registrar 0 apoio do CNPq, que vem mantendo a bolsa de produtividade em pesquisa do autor principal e bolsas de iniciagao cientifica para colaboradores juniores. As datas de C,,4, que fornecem a estrutura cronolégica da area, foram to- das patrocinadas pela Dra. Betty J. Maggers, Smithsonian Institution, Washing- ton, D.C. Pedro Ignacio Schmitz Editor RESUMO Serrandpolis, no sudoeste do Estado de Goids, 6 uma das areas arqueol6- gicas mais ricas e importantes do Brasil para o estudo da implantagao e transfor- mac&o das populagdes cagadoras do Holoceno. Localizada no Planalto Central, apresenta cobertura vegetal tipica do cerrado, altas temperaturas e duas esta- des anuais: a da chuva e a da seca. Numa superficie de 20 x 30 km e uma altitu- de entre 950 e 500m existem quarenta abrigos rochosos, formados no arenito Bo- tucatu, que apresentam espessas camadas arqueolégicas e paredes decoradas com pinturas e gravuras. Nos trabalhos arqueolégicos desenvolvidos de 1975 a 1982 e depois nova- mente em 1999, foram realizados cortes estratigraficos na maior parte dos sitios, tanto grandes, como pequenos e uma escavac4o, somando as intervengdes 125m’, Também foram copiadas as pinturas e gravuras e o ambiente foi estuda- do. Nao foram localizados sitios superficiais correspondentes a acampamentos a céu aberto. Os primeiros resultados gerais foram publicados por Schmitz e outros (1989), as pinturas e gravuras por Schmitz, Silva & Beber (1997). Os materiais estao depositados, em sua maior parte, no Instituto Goiano de Pré-historia e Antropologia, da Universidade Catélica de Goids; uma parte me- nor encontra-se no Instituto Anchietano de Pesquisas, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. O presente volume estuda a industria litica, a dieta alimentar, o assenta- mento nos abrigos e a evolugao holocénica nos Ultimos 11.000 anos. Através do tempo os abrigos foram ocupados por populagées cagadoras, cujos vestigios foram assim divididos: fase Paranaiba (tradigdo Itaparica), com aparente predominio de caga generalizada, de 11.000 a 8.500 anos A.P.; fase Serrandpolis (tradigao Serrandpolis), cagadores e coletores de moluscos terres- tres de 8.500 A.P. ao tempo de Cristo; fase Jatai (tradig&o Una), cultivadores inci- pientes com muita coleta vegetal, de 500 d.C. talvez até a chegada do coloniza- dor branco; em algum momento posterior usuarios da tradigao ceramica Tupigua- rani, estabelecidos em areas mais densamente florestadas préximas, passaram pelos abrigos, deixando alguns restos. Adiviséo das fases baseia-se nas caracteristicas do material arqueologico, mas € acompanhada e confirmada pela aparéncia e composigao dos sedimentos, que indicam o ambiente de cada uma delas. . Os abrigos se reunem em seis agrupamentos, junto ao curso alto de corre- gos que descem da chapada e confluem para 0 rio Verde, afluente do rio Paranai- 12 ba, um dos formadores do rio Parana. De acordo com suas caracteristicas fisicas individuais, os abrigos foram ocupados com maior ou menor intensidade. E, quando olhamos cada um dos agrupamentos, descobrimos que neles ha sitios principais (centrais) e secundarios (complementares). Comparando, ainda, os agrupamentos entre si, percebemos uns mais den- sa e continuamente ocupados, apresentando todas as fases e outros em que a ocupacao foi menos densa ou faltam fases. O estudo nos da uma idéia do sistema de assentamento no Planalto Cen- tral e mostra que Serrandpolis, entre todas as areas ali estudadas, é o mais denso e rico para esse tipo de estudo. ABSTRACT Serrandpolis, in the southwest of the federal state of Goids, is one of the richest and most important areas for the study of the installation and transformation of the hunters of the Holocene in Brazil. The vegetation is tropical savanna, the local temperature is high and the year is divided in a rainy and a dry season. Carved in local quartzite layers, there exist forthy rock shelters distributed over an area of 600 Kmz, at an altitude of 500 through 950m. The archaeological strata are dense and deep; the walls are painted and scraped. No open air sites were found. The interventions, in the years 1975 through 1982, and in 1999, comprehended stratigraphic cuts in many shelters of different amplitude and an excavation in the most representative site. The excavations sum up 125m?. The first general results were published by Schmitz et al (1989); the rock art by Schmitz, Silva & Beber (1997). The most part of the material was deposited and is available in the Instituto Goiano de Pré-historia e Antropologia, Goiania, a minor part in the Instituto Anchietano de Pesquisas, Sao Leopoldo The present volume studies the lithic industry, the food remains, the settlement pattern and the Holocenic evolution of the last eleven thousand years. The shelters were occupied by foraging peoples, whose vestiges can be divided in four phases: Paranaiba (Itaparica Lithic tradition) with a predominant hunting economy, 11.000 through 8.500 years BP; Serranépolis (Serrandpolis lithic tradition), hunters and collectors of terrestrial molluscs, 8.500 BP through AD; Jatai (Una ceramic tradition), incipient cultivators and vegetal collectors, 500 AD up to the European collonization; finally, at a more recent moment, people of the Tupiguarani ceramic tradition visited the shelters and abandoned some material. The division in phases, based on archaeological material, is confirmed by the differences in the sediments. The rock shelters form six groups, on the high courses of brooks, tributaries of the Verde river. The physical characteristics of the individual sites can be used to explicate why they are more or are less intensively occupied; to distinguish principal from complementary sites in each group; and why some groups are more continually settled, while others present only some of the four phases. The study gives a good idea of the settlement system of the Central Brazilian Highlands and makes clear that Serrandpolis is the densest and richest of the areas studied. Figura 1: Area de Serranépolis, com os grupos de sitios, 14 SITIOS ARQUEOLOGICOS DE SERRANOPOLIS, GO, BRASIL © Sitios Arqueolégicos ‘Adaptado de IBGE/Caras do Brest SE-227-8-1@SE-22-¥-B-l 17 do Grotao, que se vai tornando mais pantanoso na medida em que se aproxima do rio Verde, cheio de meandros. Os abrigos existem nos paredées, nas torres e nos blocos por causa da metamorfose do arenito, que pode formar camadas ou nédulos, as vezes cripto- cristalinos, as vezes com graos de areia identificaveis numa gama perfeita até o arenito friavel. Os paredées, que nao tém nticleos ou camadas metamérficas se esboroam ao recuar, sem deixar coberturas aproveitaveis. Os blocos vao entulhando o es- Paco junto aos paredées, formando um talude empinado de transposigao dificil e com pouco sedimento. GO-JA-04 e 25 esto diretamente no paredao, GO-JA-03 numa torre gran- de e alta, GO-JA-03a e 3b em blocos caidos dessa torre, GO-JA-27 e 28 num re- licto menor e GO-JA-26 em bloco mais recuado, jé perto do Grotao. Num diametro de menos de 2 km esta disponivel uma grande superficie coberta, em condigées de abrigar um grupo indigena de forma permanente, esta- cional ou temporaria e de Ihe proporcionar os recursos necessarios. No alto da chapada o cerrado rico em frutas, mas de agua escassa; nos recortes feitos pelos cOrregos entre as torres e os blocos, a formacao de grotdes com abundancia de agua, refugios, vegetagao diversificada. Nas nascentes dos cérregos e ao longo de seu leito, o surgimento de brejos com vegetacao caracteristica, excelente refu- gio de variados animais. Junto as torres e demais relictos de erosdo, geralmente perto dos sitios ha- bitados, sao freqientes locais de mineracao de arenito silicificado da melhor qua- lidade. Em outros a diferenga de temperatura provocou o desprendimento de mi- Ihares de fragmentos de arenito metamérfico, inicialmente simulando um lugar de mineracdo, mas logo reconhecidos como fragmentos naturais pela falta de bul- bos, de nucleos e outros indicadores de atividade humana. Na proximidade de alguns abrigos haveria terrenos capazes de sustentar cultivos, embora em geral o solo deva ser considerado muito pobre. O trabalho na area tinha por objetivo entender a forma de ocupagao reali- zada por sucessivas populagées, nos ultimos dez mil anos. Os trabalhos de cam- po foram executados por uma equipe interdisciplinar, nos meses de julho de 1975, 1976, 1982 e 1999. As estratégias usadas para isso foram as seguintes: 1. Localizagao do maior numero possivel de sitios, que representassem as diversas ocupacées. A busca estava restrita ao pareddo e ao espaco fronteiro a ele até o cérrego Grotao, nao tendo havido pesquisas na cha- pada por cima dele, nem nas areas planas que dao para o rio. A busca estava orientada igualmente para abrigos como para sitios a céu aberto. A amostra produzida é muito grande para esta primeira etapa, mas nao € possivel afirmar que ela seja completa porque o local esta coberto por cerrado denso e cerradao nas areas mais secas e por vegetacao palus- tre na beira do cérrego e espagos aplanados junto as nascentes. 18 2. A documentagao completa da arte rupestre, que esta publicada em Schmitz, Silva & Beber (1997). 3. Coletas superficiais nos abrigos GO-JA-03, 04 e 28 e vossorocas GO-JA-23 e 29. 4. Estudo da estratigrafia na vossoroca identificada como GO-JA-23 (Ver Schmitz e outros 1989:144-151). 5. Cortes estratigraficos nos abrigos. Foram 7 cortes estratigraficos no GO-JA-03, em diversas posigSes: encostado na parede, no meio do abrigo, sobre a linha de goteira e cinco metros para fora da linha de gotei- Ta, para ter uma idéia inicial da ocupagao do espago no abrigo maior e mais pintado. Foram 2 cortes estratigraficos numa pequena aba do blo- co caido GO-JA-03a, sem pinturas e com area muito reduzida, irregular e sem insolagao, para testar que tipo de ocupacao teria havido num es- Pago tao pouco favoravel. Foram 2 cortes no GO-JA-04, um abrigo muito grande, com pinturas e petroglifos localizados sé numa parte do sitio. No GO-JA-25 foi documentada a pintura e feito pequeno corte experimen- tal. No GO-JA-26, pequena aba na subida para o GO-JA-03, com diver- sas pinturas, foram feitos dois cortes. No GO-JA-27 s6 foram documen- tados os petroglifos porque nao havia sedimentos. No GO-JA-28 so foi documentada a pintura e recolhidas algumas lascas pequenas na linha de goteira. No GO-JA-03b, pequena aba com pinturas, descoberta em 1999, sé foram fotografadas as pinturas. 6. A topografia da area central onde estao os abrigos GO-JA-03, 03a, 3b e 26 € 0 estudo da evolugao holocénica a partir da estratigrafia dos cortes e outras camadas expostas na paisagem. Esse espaco foi ocupado, através dos milénios por populagées cujos res- tos foram identificados debaixo das seguintes denominagées culturais: + Tradigao Itaparica, fase Paranaiba, cujos restos materiais foram reco- nhecidos nos sitios GO-JA-03, 3a e 26 + Tradicgao Serranépolis, fase Serrandpolis, identificada nos mesmos sitios. + Tradigao ceramica Una, fase Jatai, identificada no GO-JA-03, 3a, 26. + Tradigao ceramica Tupiguarani, identificada na superficie do GO-JA-03 e 3a. O material do sitio GO-JA-04 nao é suficientemente caracteristico para ser incluido numa das fases e tradigdes. O material da vossoroca, identificado como GO-JA-23, foi arrastado de sua posigao original e redepositado num lugar aplanado, onde a vertente formou um pequeno alagado, donde seria novamente arrastado, aparecendo na confluéncia da vossoroca com o cérrego Grotéo (GO-JA-29). O material da outra vossoroca (s/n) parece arrastado diretamente de seu lugar de origem, na borda do paredao. fm ambas as vossorocas é possivel identificar pegas da fase Paranaiba (/es- mas). Os outros materiais sao insuficientemente diagndosticos para atribui-los a uma das fases identificadas para o lugar. Para o estudo feito sobre o sitio GO-JA-23 ver Schmitz e outros, 1989:144-150. 19 As pinturas e gravuras, de uma forma geral, pertencem ao estilo Serrano- polis. No sitio GO-JA-04 e no GO-JA-25 ha pinturas que lembram 0 estilo Caiapé- nia e no GO-JA-03 ha figuras que lembram a tradicdo Planalto, de Minas Gerais E possivel que elas também estejam ligadas a passagem humana diferente, es- pecialmente o de Caiaponia, que esta presente também no abrigo GO-JA-01. Ha grande diferenga na intensidade da ocupagao dos abrigos: Em todos os itens o GO-JA-03 sobressai entre os demais: ele nao é o maior em termos absolu- tos, mas o que tem melhores condicées de espace, visibilidade, insolagdo, venti- lagao, matéria-prima, razoaveis condigdes de acesso e proximidade de agua. GO-JA-04 6 o maior em superficie coberta, mas, por varias condigdes, mostra uma ocupagao pequena: pouco material nas camadas, poucas pinturas e gravu- ras e presenga de pinturas estranhas (Caiapénia). Ele nao tem boa insolagao, é superventilado, tem talude ingreme, esta mais longe da agua, em geral e também do corrego Grotéo. GO-JA-26 apresenta espago coberto muito pequeno, nao tem matéria-prima boa na proximidade, mas esta quase encostado em uma vertente, que vem da chapada e esta bem proximo do cérrego Grotao. Ele poderia ser a in- termediagao entre 0 GO-JA-03 e as fontes principais de agua, representadas pelo cérrego e 0 olho de agua, que nele desemboca. O GO-JA-25, sob todos os aspectos, parece um apéndice do GO-JA-04 em cuja vizinhanga se encontra. O GO-JA-03a e 03b sao apéndices do GO-JA-03. GO-JA-27 e 28 parecem um es- Paco de periferia e suporte. Quando consideramos o assentamento da populagao no lugar somos obri- gados a somar todos esses pontos, buscando entender o papel e a fungao de cada uma das partes. O sitio GO-JA-03 O abrigo é muito aberto (80 m de extensdo) e de pouca profundidade (6 a 14 m) e cobre praticamente todo o lado leste e pequena porgao norte da base da torre (Figura 3). E formado pela inclinagado das camadas de arenito, em alguns pontos alta- mente silicificado, proporcionando, com isso, também excelente matéria-prima para a confeccao de artefatos. O teto é geralmente inclinado de fora para dentro, formando continuidade com a parede; desta maneira o sol penetra até o fundo na parte da manha; de tar- de rapidamente as sombras tomam conta. Devido a irregularidades na pare- de-teto formam-se compartimentos que dividem o lugar, sem o fechar e criam es- Pagos mais e menos abrigados. Aproximadamente na metade do paredao encontra-se uma plataforma ou patamar elevado, ao qual se tem acesso por uma rachadura interna, pela qual es- corre agua no tempo de chuva; ela formou, ali, pequeno cone de dejegao. O GO-JA-03 € 0 centro do assentamento na area e da sentido aos demais sitios. Ele se encontra na base da maior das duas torres que marcam o espaco e que tem uns 64 m de altura, restando isoladas na retaguarda do paredao por con- terem arenitos fortemente metamorfoseados. 20 Oe enbig “eloyiedns ep e}9/09 ep @ say09 sop ‘ojusWe|noupeNb op oBSeDIpU! e WOD 'E-¥I-O9 ODIB}oanbE ~ac0-vr-09 ecovroo > cao G2 01 WL 2 OL G9 99 ¥0 20 09 G6 99 HG ZS OS OF OP bY Zh OF OC OF He Zz OC GZ Gx WZ ze OZ Ho ri Zino wo w Wz OE SP aT aisle = ated £9) LS 9 ses eS sf ie Satyr ae 8 ol |e lsd an NAT HS ae z, TESS cs aia’ an fe 19 i + es SSS vores oo sek 4 *, SVUNLNId SAOYSVZMVIOT AX fe vive 2 * SS is SENS = i e ek Jn) SS svuigi00 30 VHN. = = = Had fibro FaANT-2 g I NONaN OavUIaG OG OYdaroud 3a HNN «ee NES AX. AX, AX, x uy o4uoseg) 21 Dentro do abrigo e na proximidade da linha de goteira existem blocos cai- dos pequenos e médios. Perto do centro do abrigo ha um bloco grande despren- dido do pared&o antes da chegada do Homem e que esta coberto de pinturas e gravuras. Na frente dele ha outros blocos de menor tamanho, que ajudavam a di- vidir 0 espaco inicial em duas alas, mas com o actmulo de sedimentos, esta divi- s&o ficou praticamente anulada. Hoje, 0 piso é plano, com excegao do lado esquerdo, onde é um pouco in- clinado para dentro, possibilitando a entrada da agua da encosta proxima, e do lado direito, onde é inclinado para fora e onde os sedimentos, expostos a chuva, devido a altura do teto, foram rebaixados. O talude, na extremidade esquerda de quem chega, é bastante inclinado e com grandes blocos caidos, entre os quais 0 do GO-JA-03a, suavizando depois em direcdo a pequena vertente que desce da chapada. No centro 0 piso do abrigo se prolonga bastante para além da linha de goteira, até a outra torre e, depois desce suavemente em diregdo ao GO-JA-26 e dai ao cérrego Grotdo. Na extremi- dade direita o terreno também é mais inclinado e com blocos caidos, entre os quais 0 do GO-JA-03b. Os blocos desprendidos formam um semi-circulo ao redor da torre e, em termos de ocupagao, complementam, com suas pequenas abas, o espaco coberto deste. Os sedimentos atingidos nos cortes sao formados por areias e materiais antropogénicos. A espessura das camadas na proximidade da parede pode nao atingir mais que 20 ou 30 cm (cortes | e II); ela vai aumentando em dire¢ao a linha de goteira, passando para 170 cmno corte V, 240 cm no corte IV, 350 cm no corte VII, que esta afastado uns 5 metros na frente da goteira. Considerando que o piso hoje sé tem pequena inclinagao da parede para o talude, percebe-se, claramente, como o mesmo se foi elevando; de inicio, o piso do abrigo e de sua parte fronteira eram mais inclinados do que o sao agora. O nivelamento progressivo é resultado de acumulagao holocénica. Por nao ser muito profundo, o abrigo é atingido, em sua maior parte, pelo respingo da chuva, hoje ainda mais por causa do corte de arvores que protegiam aentrada. Disso resulta que apenas contra a parede, em pontos mais defendidos, se tenham conservado materiais pereciveis, como milho, algoddo, restos de fru- tas, corda e folhas. Nos cortes externos (IV e VII), nem mesmo os ossos estéo conservados. As paredes do abrigo estao cobertas por pinturas (nas superficies mais li- sas e duras) e gravuras (nas superficies mais moles) (Ver Schmitz, Silva & Beber, 1997). No sitio foi realizada uma coleta superficial, por quadriculas de 4 m2, e sete cortes estratigraficos, que dao uma amostra do material, de sua distribuigao hori- zontal e vertical e da composigao das camadas ocupacionais. A Coleta de Superfic O abrigo foi todo quadriculado, em quadrados de 4 m2? eo material recolhi- do e plotado de acordo com esta rede. As letras das linhas E-W crescem da boca ie 22 do abrigo para o fundo e os numeros das linhas S-N da esquerda para a direita. (Ver figura 3). O material esta distribuido da seguinte maneira: C10/12 = 6 pegas. D16/18 = 7; D34/36 E1416 = 5; E 16/18 = 3; £18/20 = 15; E20/22 = 17; E22/24 = 3; E28/30 = 4; E38/40 = 30; £44/46 = 24; 7 fragmentos de ceramica Jatai, 2 Tupiguarani. F48/50 = 2; F50/52 = 3. G40/42 = 67; 4 fragmentos de ceramica Jatai. 156/58 = 2; 158/60 = 2; 1 fragmento de ceramica Jatai. J62/64 = 2; J64/66 = 27; J66/68 = 144; 16 fragmentos de ceramica Jatai, 6 Tupi- guarani K64/66 = 18; K66/68 =14; K68/70 = 3; K70/72 = 2; K72/74 =10; 1 fragmento de ce- ramica Jatai, 4 Tupiguarani. Sondagem 1: 2 fragmentos de ceramica Jatai, 1 Tupiguarani. Observando a planta vé-se que o material esta distribuido ao longo da pa- rede e que ele é mais denso nos lugares onde esta apresenta reentrancias, espe- cialmente no centro do abrigo e a direita de quem chega, que seriam os espacos mais abrigados, porque 0 teto inferior é, ali, mais largo e mais baixo. Tomando 0 material como um todo, temos os seguintes ntimeros (a classe de tamanho “médio” esta somada com a “grande”: + Fragmentos ceramicos da fase Jatai 31, da tradigao Tupiguarani 13. + Nucleos pequenos 18, grandes 36. Total 53 = 13,38% do total das pecas liticas. + Lascas pequenas 139, grandes 40, maiores que as grandes 3, estilhas 1. Total 183 = 46,21%. + Fragmentos pequenos 54, grandes 19, cdncavos pequenos 4. Total 77 = 19,44%, + Pecas transformadas pequenas 21, grandes 38, maiores que as grandes 2, em ponta 16, denticulados 3, com retoque ou uso 42. Talhadores 18, percutores 2, apoios 2. Total 83 = 20,95%. Chama ainda a atengao o numero crescido de pegas transformadas de ta- manho grande, nao comum nos cortes. As grandes categorias analiticas apre- sentam porcentagens bastante diferentes daquelas dos cortes. Isto nao resulta s0 do tipo de recuperacao do material, mas também de diferengas reais, onde se destaca o grande numero de talhadores. Do total das 396 pecas, 389 (98,23%) sao de quartzito, 6 (1,51%) de calce- d6nia, 1 (0,25%) de cristal de quartzo. O quartzito pode ser conseguido das paredes do abrigo e dos blocos cai- dos e a calced6nia subindo a chapada, onde ela se originou na decomposigao do basalto. O material foi atribuido a fase Jatai e contribuigdes imponderaveis da tradi- ¢ao Tupiguarani. 23 Corte! Ocorte 1, medindo 2 x 2 m, foi feito na quadricula J64-66, no lado direito do abrigo, num Angulo da parede, onde havia uma perturbacao e tinham aparecido ossos humanos. Este espaco é um dos mais abrigados e favoraveis de todo o si- tio e na superficie havia mais material do que em qualquer outro lugar. Na remo- ¢ao dos sedimentos o primeiro nivel foi de 5 cm, o nivel 2 e o nivel 3 de 10 cm cada um; o material foi peneirado em malha de 3 mm. O material apareceu até al- cangar uma camada de areia clara, estéril, que era a superficie da rocha em de- composi¢ao, dentro da qual o corte foi aprofundado até 2,40 m. Acamada arqueoldgica é arenosa, solta, de cor cinza, com raizes e abun- dante carvao, moluscos, cocos queimados, outros materiais organicos, ceramica € restos liticos. A rocha subjacente é predominantemente amarelada, em parte rosada ou vermelha e apresenta pequena inclinagao da parede em direcdo a boca do abrigo (Figura 4). Olhando o material verifica-se que ele esta misturado, ocorrendo lesmas desde a superficie e ceramica até a base. Por isso, todo ele, o da superficie e o dos trés niveis, foi somado. Foram recolhidos 88 fragmentos de ceramica Jatai e 4 de tradigao Tupi- guarani (estes na superficie). O material litico recuperado consta dos seguintes elementos (classe de ta- manho “médio” somada com “grande”): + Nucleos pequenos 21, grandes 9. Total 30 = 1.06% do total das pegas liti- cas. + Lascas pequenas 1.486, grandes 48, de reducdo 111, estilhas 855. Total 2.500 = 89,00%. « Fragmentos pequenos 208, grandes 15; céncavos pequenos 14. Total 237 = 843%. + 1 seixo e 1 prisma quebrado de basalto = 0,7%. + Pegas transformadas pequenas 17, grandes 12, em pontas 7, denticula- dos 1, obtusos e retocados 21. Talhadores 3, lesmas 7, objeto fusiforme 1. Total 40 = 1,42%. Do total de 2.809 pegas liticas, 2.634 (93,77%) sao de quartzito, 164 (5,83%) de calcedénia, 9 (0,32%) de basalto, 1 (0,03%) de arenito e 1 (0,03%) de outros materiais. A densidade proporcional por m3 de sedimento removido é alta, em média de 2.304 pecas. Nao foram estudados os restos faunisticos e floristicos. O material pode ter-se originado a partir das quatro etapas culturais regis- tradas para o local. 25 Corte Il Este corte foi feito numa parte central do abrigo, onde a cobertura é mais larga. Foi feito bastante perto da parede, junto 4 qual havia um certo adensamen- to do material de superficie, semelhante ao do corte |. O corte foi de 2x 2meos sedimentos removidos e peneirados como nos outros casos. A camada era pou- co espessa e com aproximadamente 20 cm alcangou a rocha, altamente intempe- rizada, de arenito claro, com marcas de afiagao na superficie. A camada arqueo- logica é arenosa, coloragdo cinza escuro a marrom escuro, sedimentos soltos, com restos animais e vegetais (3 sabugos de milho primitivo, restos de cocos, pa- Ihas e resinas). Devido a pouca espessura da camada o material foi tratado como um todo (Figura 4). Foram recuperados 51 fragmentos de ceramica Jatai e 11 de tradi¢éo Tu- piguarani. O material litico foi classificado da seguinte maneira (classe de tamanho “médio” somada com “grande”): + Lascas pequenas 66, grandes 12, estilhas 43. Total 121 = 55% do total da pegas liticas. + Fragmentos pequenos 58, grandes 39. Total 97 = 44,09%. + Pegas transformadas, 1 pequena e 1 grande, por retoque e uso direto. Total 2 = 0,90%. Chama atengao a grande quantidade de pegas grandes e poucas estilhas, em oposigao ao corte Ill, com grande numero de estilhas. Os dois cortes sao con- tiguos. O total das 220 pegas é de quartzito e muitos dos fragmentos devem provir de desprendimento natural do teto do abrigo. Tomando 0 numero como esté, teriamos 275 pegas por m3 de sedimentos removidos. Nao foi analisado 0 material faunistico e floristico. O material foi atribuido a fase Jatai, existindo na superficie também cera- mica Tupiguarani. Durante a maior parte da ocupagao do abrigo o espago do corte I! deveria sobressair como uma plataforma rochosa que foi nivelada com o resto e ocupada somente quando os sedimentos tinham crescido nos espa¢gos mais para a frente, em direc&o a linha de goteira. Corte Ill O corte Ill 6 a continuagao, em diregao a boca, do corte Il, tem a mesma medida e foi tratado da mesma forma (Figura 4). S6 foi possivel uma escavagao regular; com controle do material, dos quatro primeiros niveis. No limite com o corte Il, a partir do nivel 2, apareceu a rocha da base daquele corte e se péde ob- servar como ela se afundava rapidamente. A tentativa de chegar até a base das camadas foi frustrada pelo aparecimento de um estrato de areia branca, fina, flui- da quase como agua, que derrubava a parede, nao havendo nenhuma forma dé controlar o material. Supomos que este fino estrato provenha da decomposigao 26 do bloco arenoso que aparece na base do corte || e que recobriu ao menos parte da superficie, talvez até em conseqtléncia do pisoteio e manejo humano dessa superficie vizinha. O corte foi continuado até 88 cm de profundidade e depois rea- lizada uma sondagem de mais 50 cm para verificar a poténcia do sitio neste local. O material continuou aparecendo, mas ja sem controle. O perfil do corte !Il mostra a sucessao das camadas: 0-20 cm: camada arenosa com abundante matéria organica e carvao, cinza escu- ro, tendendo a marrom escuro. (Igual ao corte 2); 20-30 cm: areia com carvao, amarelada; 30-58 cm: camada arenosa com abundante matéria organica e carvao, cinza es- curo; 58-63 cm: camada amarelada semelhante 4 camada 2; 63-88 cm: igual a terceira camada. Por niveis o material litico recuperado apresenta os seguintes numeros: Nivel 1 = 200 pegas, 14 fragmentos de ceramica Jatai, 18 Tupiguarani Nivel 2 = 259, 24 fragmentos de ceramica Jatai. Nivel 3 ‘07, 2 fragmentos de ceramica Jatai. Nivel 4 = 720, 1 fragmento de ceramica Jatai, mais 1 no desmoronamento. Por m3 temos, proporcionalmente aos sedimentos removidos, na soma dos quatro niveis, 1.122 pegas recuperadas; nos dois primeiros 574; nos dois se- guintes 1.784. Classificado o material, pareceu estratégico separar o material dos niveis 1 e 2 dos niveis 3 e 4. Os niveis 1 e 2 correspondem a camada 1; os niveis 3 e 4 as camadas 2 e 3. Os dois primeiros niveis certamente pertencem a fase Jatai e neles, além de restos de cocos e resinas, foram encontrados 38 fragmentos de ceramica Jatai; no primeiro nivel também 18 fragmentos de ceramica da tradigao Tupiguarani Os niveis 3 e 4 provavelmente contém material das fases Serrandpolis e Paranaiba, mas nao claramente distinguivel. A partir do nivel 1 se percebem as covas de duas criangas (ver Schmitz e outros, 1989:89), sepultadas contra o bloco de rocha, que ai inflete e se afunda. O material litico dos niveis 1 e 2 6 o seguinte (classe de tamanho “médio” somada com “grande”): + Nucleos pequenos 8, grandes 3. Total 11 = 2,39% do total das pecas liticas. + Lascas pequenas 190, grandes 15, de redugao 9, estilhas 125. Total 339 = 73,85%. + Fragmentos pequenos 86, grandes 10. Total 96 = 20,91%. + Pecas transformadas pequenas 7, grandes 4, em ponta 1, por retoque ou uso 10. Foram encontrados ainda 2 fusiformes de arenito. Total 13 = 2,83%. Das 459 pegas 420 (91,50%) sao de quartzito, 21 (4,57%) de calcedénia, 5 (1,09%) de quartzo, 2 (0,43%) de basalto e 2 (0,43%) de arenito. O material litico dos niveis 3 e 4 é o seguinte (classe de tamanho “médio” somado com “grande”): 27 + Nucleos pequenos 2, grandes 3. Total 5 = 0,35% do total das peas liticas. + Lascas pequenas 478, grandes 30, de redugao 174, estilhas 587. Total 1.269 = 88,92%. + Fragmentos pequenos 142, grandes 9. Total 151 = 10,58%. + Lesmas 2 = 0,14%. Do total de 1.427 pecas, 1.417 (99,29%) sao de quartzito, 9 (0,63%) sao de calcedénia, 1 (0,07%) de basalto. Nao foi analisado o material faunistico e floristico. Na estratigrafia geral do sitio poderiamos esperar que o material fosse da fase Serrandpolis, mas o aparecimento das lascas de redugao e das /esmas su- gere que, de alguma forma, atingimos niveis da fase Paranaiba; na falta de con- trole estratigrafico nao podemos dizer quando e como. 10077] 90 80: 70 60. 50 40: 30. 20 10 ol Nicleos Lascas Fragmentos — Seixos_——Pegas trans. mSup /Jatai BC Vatai DC tlJatal GC Hil/Jatai CC Ill/Serranépolis+Paranaiba Grafica 1: GO-JA-03. Super cortes |, IN Ill: distribuigdo das categorias lticas pelas fases. | l — to b PEQUENO MEDIO GRANDE MAIORQUE REDUGAO ESTILHA MSUPERFICIE OCI GCI Grafico 2: GO-JA-03. Superficie, Corte |e Il: 0 tamanho dos residuos lascados, incluindo as pegas pouco trabalhadas, 28 Corte IV Devido ao pouco sucesso em alcangar a base nos cortes Ill e V, que foram realizados dentro da superficie abrigada, restou fazer um corte do lado de fora da linha de goteira e na proximidade de uma grande arvore, de modo que as raizes da mesma ajudassem a manter eretas as paredes. Para este efeito 0 corte tam- bém foi aumentado para 2,5 x 2,5 m. A remogao dos sedimentos foi feita como nos cortes anteriores, de 10 em 10 cm e passados por uma malha de 3 mm. O corte atingiu 2,40 m, profundidade em que encostou em blocos e solo estéril (Fi- gura 5). As camadas apresentam-se da seguinte maneira: 1. Areia com humus, folhas e raizes. Cor marrom. Consisténcia solta. 2. Areia com humus, folhas e raizes. Cor marrom com matizes cinza. Consisténcia solta. 3. Pacote de areia com lentes de carvao; raizes. Cor marrom, alternando com cinza. Consisténcia solta. 4. Areia, com fragmentos de arenito, algum carvao; poucas raizes. Cor marrom claro. Consisténcia mais compacta. 5. Areia com lentes de carvao; poucas raizes. Cor cinza escuro. Consis- téncia menor que 4. 6. Areia com fragmentos de arenito, pouco carvao; poucas raizes. Cor marrom acinzentado. Consisténcia compacta. 7. Areia com muito carvao esparso e em lentes. Cor cinza com matizes marrom. Consisténcia solta. Data 5.720 + 50 A.P. (SI-3109) para o ni- vel de 150-160 cm. 8. Areia com fragmentos de arenito e pouco carvao. Cor marrom. Consis- téncia mais compacta. 9. Areia com carvao. Cor cinza a marrom claro. Consisténcia solta. 10. Areia com fragmentos de arenito. Cor amarelado ou marrom claro. Consisténcia solta. Data: 9.765 + 75 A-P. (SI-3110) para o nivel de 210-220 cm. Com excegao do carvao, nao apareceu material faunistico e floristico. Os materiais dos niveis foram agrupados em trés blocos: O primeiro reuniu os niveis 1 a5, correspondentes 4s camadas 1 a 3 do perfil, onde, na camada 3, aparecem as tipicas fogueiras da fase Jatai. O segundo, atribuido a fase Serrand- polis, reuniu os niveis 6 a 14, correspondentes as camadas 4 a 8, provindo a maior quantidade do material da mancha escura da camada 7. O terceiro, atribuido a fase Paranaiba, reuniu os niveis 15 a 24, que correspondem as camadas 9 e 10 do perfil; a camada 10 realmente é muito mais espessa do que esta indicado no desenho do perfil Niveis de escavaga4o com pouco material correspondem a camadas claras, de areia, com fragmentos de arenito, compactas, com pouco carvao, como sao as camadas 4, 6 e 8, que podem sugerir desocupac¢ao do lugar. "Al 2u09 op iwiod :€0-VP-O9 :G eINBLS 30 Os niveis 1 a 5 foram reunidos principalmente por causa do forte apareci- mento de ceramica. Neles foram recuperados 283 fragmentos ceramicos classifi- cados como da fase Jatai. No nivel 3 também foi recuperado um pequeno pingen- te de osso transformado num bonito prisma polido com uma perfuragao junto de uma das extremidades (Figura 56:9). Este conjunto vem sobreposto a uma cama- da (4) indicadora de pouca ou nenhuma ocupagao. Pegas por nivel: Nivel 1:31 pegas liticas, Nivel 2: 381 pegas, 19 fragmentos ceramicos, Nivel 3: 1.874 pecas, 130 fragmentos ceramicos, Nivel 4: 1.619 pegas, 99 fragmentos ceramicos, Nivel 5: 1.032 pecas, 35 fragmentos ceramicos. Total = 4.937 pegas liticas, 283 fragmentos ceramicos. O material litico consta das seguintes pecas: + Nucleos pequenos 117, médios 5, grandes 7, maiores que os grandes 1. Total 130 = 2,63% do total das pegas liticas. + Lascas pequenas 1.059, médias 22, grandes 14, estilhas 1.780. Total 2.875 = 58,23%. t + Fragmentos pequenos 1.627, médios 17, grandes 1, fragmentos cénca- vos pequenos 248, médios 17, grandes 3. Total 1.905 = 38,58%. + Pegas transformadas pequenas 11, médias 10, grandes 6, em 5 pontas, 4 denticulados, 14 retocados de outra forma, inclusive raspadores e ras- Padeiras, 4 com bordos naturais embotados. Total 27 = 0,54%. Do total de 4.937 pegas liticas, 4.883 (98,90%) sdo de quartzito, 54 (1,09%) sao de calcedénia. Tomando o volume de 3,125 m3 escavados temos, proporcionalmente, 1.580 pecas por m? de sedimentos removidos. Nesta fase ainda nao se fazem notar pegas maiores que as classificadas como grandes. Os niveis 6 a 14 sao aqueles que nao tém mais ceramica (com excecao do nivel 6, que ainda tem 3 fragmentos), nem possuem numero representativo de lascas de reducao, nem lesmas, que sAo indicadoras da fase Paranaiba. Supo- mos que estes niveis representam a fase Serranopolis. A camada 4 do perfil, que sugere um periodo de abandono, faz 0 limite entre esta e a fase Jatai. Quando os horticultores da fase Jatai chegaram, aparentemente o abrigo, ou 0 local do corte, estaria desabitado. Por niveis temos os seguintes numeros: Nivel 6: 952 pegas liticas, 3 fragmentos ceramicos, Nivel 7: 1.186 pecas, Nivel 8: 711 pecas, Nivel 9: 262 peas, Nivel 10: 168 pegas, Nivel 11: 408 pecas, 31 Nivel 12: 1.588 pecas, Nivel 13: 677 pecas, Nivel 14: 1.060 pegas. Total = 7.012 pegas liticas, 3 fragmentos ceramicos. Nestes niveis, além dos 3 fragmentos de ceramica, foram recuperados os seguintes elementos liticos: + Nucleos pequenos 131, médios 15, grandes 25 e maiores que os gran- des 16. Total 187 = 2,66% do total das pegas liticas. Lascas pequenas 2.217, médias 159, grandes 77, maiores que as gran- des 23, lascas de redugao 13, estilhas 1.957. Total 4.446 = 63,31%. Fragmentos pequenos 2.110, médios 56, grandes 30, maiores que as grandes 4, céncavos pequenos 90, médios 4, grandes 1. Total 2.295 = 32,68%. Pecas transformadas pequenas 27, médias 15, grandes 21, maiores que as grandes 9, em 10 pontas, 12 denticulados, 27 retocados varios, 23 com bordos embotados. Ainda 2 percutores, 15 talhadores, 1 /esma, 1 fu- siforme de arenito. Total 94 = 1,33%. Do total das 7.022 pecas, 6.622 (94,30%) sao de quartzito, 395 (5,62%) sao de calcedénia, 1 (0,01%) é de basalto, 1 (0,01%) é de arenito, 3 (0,04%) sao de outras matérias-primas. Tomando 0 total de 7.022 pecas e distribuindo-as pelos 5,625 m3 escava- dos, temos, em média, 1.248 pecas por m3 de sedimentos. Pecas com dimens6es maiores que as grandes sdo mais freqlentes que nos outros cortes e formam 0,74%: 52 pecas. Os niveis 15 a 24 sao aqueles que tém abundantes lascas de reducdo e lesmas e sao atribuidos a fase Paranaiba. Por niveis temos os seguintes numeros: Nivel 15: 1.916 pegas, Nivel 20: 10.978 pecas, Nivel 16: 5.836 pecas liticas, Nivel 21: 4.531 pegas, Nivel 17: 18.760 pegas, Nivel 22: 2.804 pecas, Nivel 18: 24.281 pecas, Nivel 23: 1.072 pegas, Nivel 19: 11.018 pecas, Nivel 24: 214 pecas Total = 81.624 pecas. A redugao progressiva do material nos niveis mais baixos pode ser atribui- da, em parte, a diminuicg&o do espago no corte provocada por um grande bloco ro- choso, cuja ponta esta registrada no perfil. Mas, por outro lado, a presenga desse bloco também poderia ser uma das razées do actimulo, ao seu redor, de muito material. Somando os materiais provenientes destes niveis temos os seguintes nu- meros: + NUcleos pequenos 384, médios 27, grandes 26, maiores que os grandes 29. Total 466 = 0,57% do total das pegas liticas. 32 Lascas pequenas 23.909, médias 458, grandes 181, maiores que as grandes 98, lascas de reducao 2.885, estilhas 40.463. Total 67.994 = 83,57%. Fragmentos pequenos 12.061, médios 155, grandes 30, maiores que os grandes 2, fragmentos céncavos pequenos 336, médios 11, grandes 2. Total 12.597 = 15,48%. Seixos 6 = 0,007%. Pecas transformadas pequenas 50, médias 61, grandes 38, maiores que as grandes 27, em 19 pontas, 19 denticulados, 95 retocados diver- sos, 43 com bordos embotados. Ainda 2 percutores, 4 pontas-de-proje- til, 12 talhadores, 1 fusiforme, 1 biface grande, 94 lesmas. Total 290 = 0,35%. Do total de 81.353 pegas analisadas, 80.415 (98,84%):sdo de quartzito, 938 (1,15%) so de calcedénia, 7 (0,008%) sao de basalto, 14 (0,01%) sao de ou- tras matérias-primas. Tomando 0 total de 81.353 pecas e dividindo-o pelos 6,25 m3 removidos temos 13.016 pegas em média por m3. Este numero nao representa a realidade porque a quantidade de pecas por nivel varia muito, mas é um elemento a mais para comparar com outros segmentos do mesmo corte, com outros cortes do mesmo sitio e cortes nos demais sitios. Entre os nucleos, ao lado dos pequenos, médios, grandes e maiores que os grandes, apareceu um, com aproximadamente 50 cm de diametro, muito usa- do, de quartzito. Entre as lascas, da mesma forma, algumas também s4o muito grandes, podendo alcangar 30 x 25 x 10 cm, indicando que retalhamento de gran- des blocos era ai realizado. 20 = i J a Nucleos Lascas Fragmentos_ ~— Seixos_-—Pegas trans. WMJatai DSerranépolis DParanaiba Grafico 3: GO-JA-03. Corte IV: distribuigao das categorias liticas pelas fases, 33 PEQUENO MEDIO GRANDE MAIORQUE REDUCAO ESTILHA MJetai DSerranépolis BParanaiba Grafico 4: GO-JA-03. Corte IV: 0 tamanho dos residuos lascados, incluindo as pegas pouco trabalhadas, pelas fases. No conjunto temos 156 pegas maiores que as grandes = 0,19%. Numeri- camente chamam atengao mas percentualmente sdo pouco representativas por causa das muitas lascas (67.994) e fragmentos (12.597). Do retalhamento de um Unico bloco de 50 cm de didmetro de matéria-prima boa, como a deste abrigo, po- dem resultar centenas de lascas e fragmentos. Por essa razao também a compa- taco entre lascas corticais e nao-corticais nao da conta de explicar 0 processo de produgao. O conjunto indica que no local era realizado o processo todo da produgao desde o retalhamento inicial, do qual resultam lascas e fragmentos corti- cais, semi-corticais e nao-corticais, até o acabamento e retoque das pecas que dao origem predominantemente a lascas, fragmentos e nucleos nao-corticais. Comparando as trés fases, no mesmo corte, temos uma densidade por m3 muito diferente: 1.580 pegas na fase Jatai, 1.248 pegas na fase Serranopoli 13.016 pegas na fase Paranaiba. Isto indica que houve muito maior atividade neste lugar no primeiro periodo de ocupagao do que nos dois posteriores. Como esta maior ou menor densidade de material poderia estar ligada a maior ou menor rapidez na deposicao de sedi- mentos nos periodos abrangidos, olhamos também os numeros absolutos e constatamos a mesma desproporgao. Na fase Paranaiba existe uma quantidade de pecas consideravelmente maior que na fase Serrandpolis e nessa maior que na Jatai. Também temos alguma diferenga no uso da calcedénia: 1,09% na primei- ra, 5,62% na segunda, 1,15% na terceira. Outras comparagées sao possiveis: Quando olhamos as porcentagens das grandes categorias analiticas ve- mos semelhanca entre a fase Jatai e a fase Serrandpolis e marcada diferenga da 34 fase Paranaiba, na qual decrescem os nucleos e os fragmentos e crescem pro- porcionalmente as lascas. Olhando os tamanhos nota-se um aumento das pecas médias, grandes e maiores que as grandes na fase Serrandpolis e a diminuicao das estilhas. As lascas de redugao nao aparecem na fase Jatai, sao poucas (0,29%) so- bre o total das lascas na fase Serrandpolis, aumentam consideravelmente na fase Paranaiba (4,24% do total das lascas). As estilhas, sobre o total das pecas, sd0 36,05% na fase Jatai, 27,86% na Serranépolis, 49,73% na fase Paranaiba. O aumento das lascas de redug4o e das estilhas nesta fase esta ligado a uma outra tecnologia de produgao, cujo resultado sao as /esmas, os raspadores, as pon- tas-de-projétil e outras pecas preparadas e retocadas com muito maior cuidado e mintcia. Em alguns niveis da fase Paranaiba essas estilhas, geralmente lasqui- nhas, sao de tal maneira numerosas, que tornam quase impossivel a escavagao. As lesmas aparecem da seguinte maneira: inteiras 18 = 19,14%, fragmen- tos terminais 26 = 27,65%, fragmentos proximais 35 = 37,23%, fragmentos me- siais 15 = 15,95%. A quebra das lesmas pode nao resultar necessariamente de seu uso, mas também de acidentes de produgao. So na fase Paranaiba aparecem pontas-de-projétil, simples e muitas delas provavelmente quebradas na produgao. Corte V O corte V, de 2 x 2m, continua 0 corte III em diregao a linha de goteira, mas numa faixa paralela, de modo que os dois cortes se encontram so por um dos vér- tices. Corresponde, aproximadamente, as quadriculas 18-20B do quadriculado geral da superficie. , Aescavacao foi aprofundada até 1,80 m. Por causa dos blocos que vinham saindo, no lada interno do corte, obstruindo a continuagao (como se pode ver no perfil) e, novamente, daquele estrato de areia fina e fluida que ja tinhamos obser- vado nos cortes anteriores (Il e Ill), este teve de ser interrompido, sem alcangar a base. A parte mais profunda da camada 7 ja faz parte da fase Paranaiba (nivel 17), mas ainda nao é a base da ocupagao no local. As camadas observadas naquele momento foram assim discriminadas, de cima para baixo (ver figura 4): 1. Areia solta, cor cinza escuro. 2. Areia, cinza, carvao, cor cinza claro amarelado a cinza escuro. 3. Areia, carvao, cor cinza escuro 4. Areia, cinza, carvao, cor castanho claro. 5. Areia, cinza, carvao, cor castanho um pouco mais escuro. No bolsao, que pode ser resultante de uma toca de tatu, ha folhas secas. 6. Areia, pouca cinza, pouco carvao, cor castanho mais escuro para cinza. 7. Areia e carvao, cor cinza escuro. 8. Cinza, areia, carvao, cor cinza amarelado, intrusdes na camada Observando o perfil vé-se que as camadas superficiais sao relativamente horizontais, mas as seguintes se inclinam fortemente em direcdo a boca, o que 35 explica a presenga de ceramica até o nivel 5. A inclinagao das camadas do fundo do abrigo em diregao a frente do mesmo é provocada por igual inclinagdo da ro- cha de base e pela presenga de blocos; sua observagao é fundamental para se entender a ocupacgdo e sucessdo das camadas. Os niveis mais profundos ja correspondem, no corte, a um espaco conside- ravelmente reduzido por causa do aparecimento de blocos rochosos, que nao fo- ram removidos. Como por ocasiao da andlise do litico nao foram localizados todos os mate- tiais, mas s6 os dos niveis 1, 3, 6, 13, 15, 17, nos restringimos a sua andlise. Os restos de alimentos que foram recuperados até 0 nivel 18, sao repre- sentativos até o nivel 12, a partir do qual o espago escavado se tornou muito pe- queno. Ver capitulo correspondente. Aceramica vai até o nivel 5, embora predomine nos niveis 1, 2 e 3, indican- do que estas pertencem a fase Jatai; as fogueiras, na camada correspondente, sao caracteristicas da fase. O nivel 6 provavelmente ja é da fase Serranépolis. Os materiais recuperados por niveis: Nivel 1: 248 pecas liticas, mais 6 fragmentos de ceramica Jatai e 9 Tupiguarani. Nivel 3: 885 pegas liticas, mais 26 fragmentos de ceramica Jatai, Nivel 6: 1.438 pegas liticas, Nivel 13: 474, Nivel 15: 760, Nivel 17: 1.380, Total = 2.672 pegas. No nivel 2 apareceram 20 fragmentos de ceramica Jatai e 5 Tupiguarani. No nivel 4 apareceram 5 fragmentos de ceramica Jatai. No nivel 5 apareceram 3 fragmentos de ceramica Jatai e 1 Tupiguarani. Nos niveis 1, 3, 6 foram encontradas as seguintes pecas: Nucleos pequenos 4, grandes 2. Total 6 = 0,23%. Lascas pequenas 347, grandes 7, de redugdo 5, estilhas 1.894. Total 2.253 = 87,59%. Fragmentos pequenos 272, grandes 8, céncavos pequenos 13. Total 293 = 11,39%. Pecas transformadas pequenas 7, médias 5, grandes 6, em 1 ponta, 4 denticulados, 4 retocados, 9 bordos embotados. Talhadores 2. Total 20 = 0,78%. De 2.572 pecas, 2.565 (99,72%) sao de quartzito, 7 (0,27%) sao de calce- dénia. Por m teriamos, sobre estes numeros, em média, 2.143 pecas, mas se consideramos que 0 espago nos niveis inferiores foi bastante reduzido, devem ser mais. Nos niveis 13, 15 e 17 foram encontradas as seguintes pegas: + Nucleos pequenos 8, grandes 1. Total 9 = 0,34%. + Lascas pequenas 300, grandes 18, de reducao 314, estilhas 1.863. Total 2.495 = 95,44%. 36 + Fragmentos pequenos 81, grandes 20, céncavos pequenos 2. Total 103 94%. + Seixos 1 = 0,03%. + Pegas transformadas pequenas 2, grandes 3, em 1 ponta, 1 retocado, 3 com bordos embotados. Talhador 1. Total 6 = 0,23%. Do total das 2.614 pecas, 2.576 (98,54%) sao de quartzito, 37 (1,41%) de calcedénia, 1 (0,03%) de basalto. Por m3, em média, seriam 2.178 pecas. Devido ao progressivo aumento das lascas de reducgao provavelmente nestes niveis atingimos estratos da fase Paranaiba, embora nao tenhamos en- contrado nenhuma /esma; como as camadas sao bastante inclinadas podemos ter cortado, no mesmo nivel, estratos da fase Serrandépolis e da fase Paranaiba. Numa das camadas apareceu uma ponta de osso, romba, para ave. Corte VI No fundo do nicho, contra a parede, depois do corte II, em lugar onde o ma- terial esta bem preservado superficialmente, foi feito este corte de 1 x 1 m, que ti- nha como objetivo basico recuperar material perecivel, que ficou no IGPA e nao foi analisado. O nivel de 0-10 cm apresenta grande quantidade de restos alimentares ve- getais e animais. Entre os vegetais estao representados: caju, pequi, jatoba, gra- vata, amendoim, milho, outras sementes nao identificadas de gramineas (ar- 10z?), algodao. O nivel de 10-20 cm apresenta a mesma composic¢ao, com os restos de ali- mentos vegetais aparecendo em quantidade menor. No nivel de 20-30 nao ha mais restos de alimentos vegetais, razao por que nao se aprofundou o corte além deste nivel. O material foi tratado como um todo e atribuido a fase Jatai. Foram recolhidos 11 fragmentos de ceramica Jatai. Por niveis o material se distribui assim: Nivel 1 17 pegas liticas, Nivel 2 .300 pegas, Nivel 3 = 1.424 pegas. Total = 2.941 pecas. Nucleos pequenos 4, grandes 2. Total 6 = 0,20% do total das pegas liticas. Lascas pequenas 340, grandes 8, maiores que as grandes 9, de reduc¢ao 8, estilhas 2.198. Total 2.563 = 87,14%. Fragmentos pequenos 325, grandes 34, céncavos pequenos 5. Total 364 = 12,37%. Seixos 1 = 0,03% Pecas transformadas pequenas 6, grandes 1, em 2 pontas, 4 retocados, 1 bordo obtuso. Total 7 = 0,23%. Do total de 2.941 pecas, 2.931 (99,65%) sao de quartzito, 8 (0,27%) de cal- cedénia, 2 (0,06%) de basalto. 37 Por m3, em média, seriam 9.803 pegas, o que novamente indica grande in- tensidade contra a parede. Também foi recuperada uma lasca grande embrulhada numa folha e amar- rada com fina casca de raiz. Uma lasca pequena, retocada, apresenta pigmentos vermelhos. Corte VII O corte VII, de 2 x 2 m foi feito sobre a plataforma diante do abrigo, num lu- gar onde a mesma é bem larga, distando 10 m da parede e aproximadamente 5 m da linha de goteira. Esta area é bastante plana e, a partir do corte, comeca a cair suavemente. O corte foi aprofundado até 3,50 m, quando atingiu terreno esteril, com blocos de arenito. O perfil apresenta-se da seguinte maneira (Figura 6): 1. Camada arenosa, com presenga significativa de fragmentos de carvao e raizes. Coloragao cinza escuro. Estrutura porosa e friavel. 0-50 cm. 2. Camada arenosa, com muitas raizes e carvao. Coloracao acinzentada. 50-80 cm. 3. Camada arenosa, com presenca de raizes e carvao disseminado em toda a camada. Coloragao marrom acinzentado. 80-160 cm. 4. Camada arenosa, com raizes esparsas e alguns blocos pequenos de arenito. Coloragéo marrom. Consisténcia solta. Estrutura simples. 160-220 cm. 5. Camada arenosa, com concentragao de raizes e carvao espalhado ao longo da camada. Alguns blocos de arenito. Coloragao marrom escuro a acinzentado. Estrutura simples. 220-270 cm. 6. Camada arenosa, com presenga de blocos esparsos de arenito, raras raizes e fragmentos esparsos de carvao ao longo da camada. Coloragao marrom avermelhado, transigao da camada 5. 270-300 cm. 7. Camada arenosa, com poucas raizes e fragmentos esparsos de carvao ao longo do corte. Na base, blocos frageis de rocha arenitica muito fria- vel. Coloragdo de base avermelhada. Consisténcia solta, estrutura sim- ples. 300-350 cm. As camadas mais profundas apresentam pequena inclinagao acompa- nhando o declive Nao havia indicadores tao claros, como nos outros cortes, para separar 0 material das trés fases e nossa divisdo teve de ser um pouco arbitraria. Dividimos 0 conjunto dos estratos em trés partes, contendo a primeira os niveis de 1 a 14, pre- sumivelmente da fase Jatai, caracterizados por terem pouco material; € possivel que os niveis 13 e 14 sejam 0 final da fase Serrandpolis e o nivel 12 um periodo de pouca ocupagao como também aparece no corte IV. Os niveis 15 a 24 foram atri- buidos a fase Serrandpolis. Os niveis 25 a 35 foram atribuidos a fase Paranaiba. No nivel 25 ainda nao ha lesmas, mas lascas retocadas como /esmas, gas- tas como /esmas e/ou com formato de /esmas. Por esta razao este nivel foi inclui- do no terceiro conjunto. 38 O final da fase Serrandpolis e 0 comego da Paranaiba apresentam maior numero relativo de pegas por nivel. E bem provavel que este pico responda ao pico observado no corte IV, entre os niveis 15 e 20, atribuidos a fase Paranaiba. Esta observagao reforga nossa dificuldade na separagao dos niveis por fases no corte VII. @ B = & w 2 zt 100 2 | oO 2 3 3 & 200 a wy 3 = < a = & 300 & wi 2 ing 350 0 50 4100cm Figura 6: GO-JA-03: perfil do corte VI 39 Os materiais desses niveis: Nivel 4: 1 pega. Nivel 8: 15 e trés fragmentos ceramicos, Nivel 2: 21, Nivel 9: 33, Nivel 3: 34, Nivel 10: 33, Nivel 4, Nivel 11:21 Nivel 5: 80 e um fragmento ceramico, Nivel 12: 0, Nivel 6: 51 e trés fragmentos ceramicos, Nivel 13: 9, Nivel 7: 78 e dois fragmentos ceramicos, Nivel 14: 5. Total: 415 pecas e nove fragmentos ceramicos Por m3, em média, 27,4 pecas. A andlise do material proporcionou os seguintes nimeros: Nucleos pequenos 55, médios 13, grandes 5, maiores que os grandes 6. Total 79 = 19,03%. Lascas pequenas 69, médias 6, grandes 5, maiores que as grandes 1, estilhas 132. Total 212 = 51,08%. Fragmentos pequenos 70, médios 10, grandes 2, maiores que os gran- des 1, céncavos pequenos 16, médios 5. Total 104 = 25,06%. + Seixos 2, nédulos de hematita 2, geodos 2. Total 6 = 1,44% Pegas transformadas pequenas 2, médias 5, grandes 2, maiores que as grandes 2, em 4 pontas, 2 denticulados, 4 retocados, 1 com gume embotado. 2 talhadores. Total 13 = 3,13%. Do total de 415 pecas, 407 (98,07% sao de quartzito, 5 (1,20%) de calce- dénia, 2 (0,48%) de hematita, 1 (0,24%) de basalto. O material do segundo bloco: Nivel 15: 44 pegas, Nivel 20: 87, Nivel 16: 160 Nivel 17: 52, Nivel 18: 2, Nivel 19: 47, Total: 2.788 pecas. Por m3, em média, 697 pecas. Analisado, o material proporcionou os seguintes numeros: + Nucleos pequenos 158, médios 73, grandes 26, maiores que os grandes 21. Total 278 = 9,97%. Lascas pequenas 244, médias 39, grandes 22, maiores que as grandes 15, lascas de reduc¢ao 2, estilhas 1.582. Total 1.904 = 68,29%, Fragmentos pequenos 415, médios 39, grandes 18, maiores que as grandes 4, céncavos pequenos 80, médios 12, grandes 2. Total 570 = 20,44%. Fragmentos de hematita 2, seixos 1. Total 3 = 0,10%. Pegas transformadas pequenas 4, médias 5, grandes 8, em 3 pontas, 5 denticulados, 5 retocados, 4 bordos obtusos. Mais 8 talhadores, 1 enxa- da, 2 percutores, 2 apoios de seixo, 2 apoios preparados, 1 /esma. Total 33 = 1,18%. 40 Do total das 2.788 pecas 2.747 (98,52%) sao de quartzito, 36 (1,29%) de calcedénia, 2 (0,07%) de hematita, 2 (0,07%) de basalto, 1 (0,03%) de arenito, Os materiais do terceiro bloco sao os seguintes: Nivel 25: 935 peas, Nivel 26: 809, Nivel 27: 543, Nivel 28: 327, Nivel 29: 245, Nivel 35: 203. Nivel 30: 288, Total: 4.216 pecas. Por m3, em média, 958 pecas. Aanalise do material proporcionou os seguintes numeros: Nucleos pequenos 170, médios 46, grandes 33, maiores que os grandes 27. Total 276 = 6,55% Lascas pequenas 776, médias 87, grandes 61, maiores que as grandes 18, de redugdo 14, estilhas 1.907. Total 2.863 = 67,99%. Fragmentos pequenos 839, médios 39, grandes 21, maiores que os grandes 17, céncavos pequenos 29, médios 2, grandes 1. Total 948 = 22,51%. Seixos 4 = 0,09%. Pegas transformadas pequenas 8, médias 12, grandes 28, maiores que as grandes 7,em9 pontas, 16 denticulados, 25 retocadas, bordos embo- tados 5. Mais 8 percutores, 4 apoios de seixo, 2 apoios preparados, 14 talhadores, 3 pontas-de-projetil, 34 lesmas. Total 120 = 2,85%. Do total das 4.211 peas, 4.193 (99,57%) sao de quartzito, 13 (0,30%) sao de calcedonia, 5 (0,12%) so de basalto. Ainda existem 5 nédulos de manganés nao contados. As lascas de reducao sao poucas. Numerosas sao as pegas maiores que as grandes. Os ntcleos sao abundantes e percentualmente numerosos. As pecas transformadas também. Com isso as lascas e os fragmentos 0 sao menos e man- tém as mesmas tendéncias que no corte IV, porém menos acentuadas. ‘As lesmas encontram-se no seguinte estado: 17 (50%) sao inteiras, 11 (32,35%) sao fragmentos terminais, 6 (17,64%) sao fragmentos proximais, mos- trando tendéncia de fratura diferente da observada no corte IV. Além do carvéo nao foram encontrados outros restos floristicos e faunisti- cos. au 100 90: 80: 70 60; 50: 30 20: 10 Nucleos Lascas Fragmentos = Seixos_-—_—Pegas trans. WMJatai DSerranépolis BParanaiba Gréfico 5: GO-JA-03, Corte Vil: distribuigdo das categorias liticas pelas fases. . I 9 ass PEQUENO MEDIO GRANDE MAIORQUE REDUCAO ESTILHA WJalai DSerranépolis DParanatba Gréfico 6: GO-JA-03. Corte Vil: o tamanho dos residuos lascados, inciuindo as pecas pouco trabalhadas, pelas fases, A Ocupagao do Abrigo Comparando o corte VII, cinco metros para a frente da linha de goteira, com 0 corte IV, sobre a linha de goteira, notamos algumas semelhangas, mas também diferengas. Tanto num corte, como no outro, as trés fases estao repre- sentadas, mas nao mais 0 Tupiguarani, cujos restos identificaveis estao na area abrigada. A fase Jatai tem, no corte IV, 4.937 pecas e 286 fragmentos ceramicos, contra 415 peas e 9 fragmentos ceramicos no corte VII, mostrando que ela se 42 expandiu pouco até ai ou, entao, de forma diferente. Sua ocupagao principal pa- rece estar dentro do abrigo e junto a linha de goteira. A fase Serrandpolis tem, no corte IV, 7.022 pegas liticas contra 2.788 no corte VII, mostrando uma desproporgao menor. No primeiro corte ela tem 94 pe- cas transformadas, entre as quais destacamos 15 talhadores e 2 percutores. No corte VII temos ainda 33 pegas trabalhadas, entre as quais 8 talhadores e 2 per- cutores e agora 4 apoios, sugerindo novo tipo de atividade. A fase Paranaiba tem, no corte IV, 81.353 pegas liticas contra 4.216 no corte VII, mostrando novamente grande desproporgao. No primeiro corte ela tem 290 pecas transformadas, entre as quais 2 percutores, 4 pontas-de-projetil e 94 lesmas, das quais s6 19% estao inteiras. No corte VII temos ainda 120 pegas transformadas, entre as quais 14 talhadores, 8 percutores, 6 apoios, 3 pon- tas-de-projétil, 34 Jesmas, das quais a metade so inteiras. No corte IV a porcentagem das pegas transformadas sobre o resto é de apenas 0,35%, mostrando que sao muito abundantes os refugos de lascamento, especialmente as lascas (83,57% do total). No corte VII a porcentagem das pecas transformadas é de 2,85% e a das lascas é de 67,99%. Nos materiais transformados notamos diferengas nas categorias analiti- cas. No corte VII aparecem talhadores e apoios que nao existiam no corte IV e au- mentam muito os percutores. Os apoios, que ja tinham aparecido na fase Serra- ndpolis, o aumento dos percutores e uma forte presenca de talhadores sugere que outras atividades, além das gerais, poderiam estar sendo desenvolvidas no espago em que esta o corte VII. O diferente estado de conservagao das lesmas também merece reflexao. No corte IV, a diferenca da fase Paranaiba para as outras duas nas porcen- tagens apresentadas pelos nucleos, as lascas, os fragmentos e os artefatos, ca- racteriza este lugar como de produgao de artefatos a partir de grandes blocos até © refinamento das lesmas e pontas-de-projetil, mais do que um lugar onde supor- tes ou pré-formas, ja previamente talhados, teriam sido refinados e usados. Neste sentido ele se separa bastante do corte VII. O corte IV, sobre a linha de goteira, apresenta, nas fases Jatai e Serrané- polis, densidades parecidas as do meio do abrigo, mas uma densidade totalmen- te desproporcional na fase Paranaiba. Isto sugere que na fase Jatai e Serranopo- lis este lugar teria uma utilizagéo parecida com a dos cortes Ill e V. Mas que na primeira ocupagao do abrigo (fase Paranaiba) este seria um lugar privilegiado, talvez porque no espago coberto proximo a rocha de base ainda estaria muito sa- liente. O corte Vil apresenta, nas trés fases, maior porcentagem de pegas médias, grandes e mais que grandes, que nos outros cortes do abrigo. Ja ocupa, nas trés fases um espaco periférico. Os cortes mostram também que 0 piso do abrigo evoluiu com o acumulo de sedimentos. Por ocasiao da primeira ocupagao, ao menos na parte do fundo atual, 0 piso era rochoso e saliente; a alguma distancia dai aprofundar-se-ia primeiro

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