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E A GUERRA FRIA Leslie Bethell e lan Roxborough (ORGANIZADORES) WNL 2 A an? > Yee es a: Prime : ae Aron 9 sistema capitalista internacio- nal, a ponto de gerar as condigdes para 0 surgimento da Revolucao Soviética ¢ de possibilidades revoluciondrias na Alema- nha, Italia, Hungria, entre outros paises envolvidos na guerra. A Segunda Guerra teve, como um de seus desdobramentos, a Revolucao Chinesa ¢ a extensio do entao chamado “campo socialista” a praticamen- te toda a Europa Oriental, E, na América Latina, que efeitos teve desestruturagio? No primeiro pés- a reforma universitaria na Argen- © surgimento de governos com base dos partidos comunistas. Ja no derrota do Fixo foi propicia esso de extensio da demo- Fria € 0 fato de o no que, sem exa- de “patio trasei- . Foram passagei- ‘vit6ria das forcas demo- na guerra. Logo se polarizacao mundial, ria passou a ser sobrede- “essa polarizacao e no caso atina, 0 dito popular mexi- a ter vigencia: “tio longe de 40 perto dos Estados Unidos”. triunfo da Revolucdo Cubana — do “patio traseiro” — contribuiu 08 Estados Unidos reforcassem ‘de dominacao, de que o bloqueio ~ sobrevivente até hoje — foi a or expresso. Desde entio, mesmo © Guerra Fria nao possibilitou qi rs do continente se livrassem cle ante geografico, tornado fe. Por governos subservientes, i a politica de “alinhament,. Leslie Bethell Ian Roxborough (organizadores) A AMERICA LATINA ENTRE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E A GUERRA FRIA Tradugao: Gilson César Cardoso de Sousa UFMS/CPTL Biblioteca TRES LaGoAS - mS de Catalogagao na Publicagao (CIP) ira do Livro, SP, Brasil) ¢ Roxborough, Ian (organizadores) Janeiro: Paz ¢ Terra, 1996. % JN 85-219-0246-8 er 1830-1948 — RelagGes Exteriores i Bie Latina — Histéria ~ Século 20 I. Bethell, Leslie. II. Roxborough, lanTiculo CDD-980.033 Indices para catélogo sistemético 1, Europa: Século 18-20: Histéria 940.28 2, Séculos 18-20: Europa: Histéria 940.28 EDITORA PAZ E TERRA S.A. Rua do Triunfo, 177 1212-010 — Sao Paulo — SP Tel.: (011) 223-6522 Rua Dias Ferreira no 417 — Loja Parte _ Leslie Bethall & Senior Research Fellow do St. Antony’s Colle- es na Universidade de Oxford ¢ professor emérito de His- da América Latina da Universidade de Londres. _ editor da Cambridge History of Latin America. Tan Roxborough € professor de Sociologia ¢ Histéria na Uni- Versidade Estadual de Nova York, Stony Brook. Seu livro mais recente € Unions and Politics in Mexico. 305 Lista de colaboradores Andrew Barnard € Honorary Research Fellow do Instituto de Estudos Latino-americanos da Universidade de Londres. Leslie Bethell € Senior Research Fellow do St. Antony's College na Universidade de Oxford € professor emérito de Histéria da América Latina da Universidade de Londres. Steve Eliner € professor de Hist6ria da Universidade do Oriente de Puerto La Cruz, Venezuela. Mario Rapoport € professor de Histéria da Universidade de Buenos Aires Tan Roxborough € professor de Sociologia ¢ Histéria da Universidade Estadual de Nova York, Stony Brook. Laurence Whitehead € Official Fellow em Ciéncia Politica do Nuffield College, Oxford. Prefacio O presente livro origina-se do interesse de Leslie Bethell pela fragilidade hist6rica da instituigao democratica no Brasil, em particular a transig3o da ditadura de Getilio Vargas para uma forma limitada de democracia em 1945-1946, bem como da curiosidade de Ian Roxborough pelo modelo mexicano de sindicalismo com patrocfnio estatal, o que inclui também o in- teresse pelo chamado charrazo, a intervengao do Estado com a finalidade de apoiar uma lideranga sindical conservadora em 1948. Um historiador € 0 outro sociélogo, colegas académicos ¢ amigos, os dois descobriram h4 quase uma década que esta- vam interessados, de inicio por raz6es diferentes, na hist6ria da América Latina durante o perfodo entre o fim da Segunda Guerra Mundial ¢ 0 comego da Guerra Fria. Comparando 0 que sabfamos sobre 0 Brasil e o México, ¢ recorrendo a nosso conhecimento (limitado) de outros pafses latino-americanos nos anos 1944 a 1948, chegamos a conclusio de que, a despeito das diferengas de regime politico e dos va- riados niveis de desenvolvimento econémico ¢ social, havia impressionantes semelhangas na experiéncia de diversas, se nao da maioria das repitiblicas latino-americanas, ¢ de que um Periodo geralmente tido como critico na hist6ria de muitas ou- tras regides do mundo no século XX representava uma con- juntura mais significativa na hist6ria politica e social da Améri- fs ‘ fora até entio reconhecido. Lavon deste s6cu0 Te ago da América Latina na Se- pall aia tenha sido meramente perif€rica (pelo Guerre Men ilitares), ce apesar de a regillo nilo se reve- po to focal de conflito na Guerra Fria, a : a Pe sate ainda, o desfecho da conjuntura own Fe aucemainadoe na América Latina, como He hh Sein as pelo equilfbrio instivel das forgas flo apent | pottieat © a eeccss mas também pelo impacto do contexto internacion: al em répida transformagio, ‘Gomo Fellow no Woodrow Wilson International Center for Scholars em Washington, D. C., durante a primavera ¢ 0 verlio de 1987, Leslie Bethell niio s6 deu seguimento a sua pesquisa sobre & democratizagao brasileira ao final da Segunda Guerra Mundial como iniciou um novo projeto de andlise do papel da América Latina na ordem politica (¢ econdmica) in- ternacional pés-Segunda Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, Jan Roxborough continuava a investigar a histéria do sindica- Jismo mexicano na década de 1940, consultando material nos arquivos nacionais da Cidade do México, Londres ¢ Washing- ton, D. C. Tem artigo publicado no Joumal of Latin American Studies em feyereiro de 1988, “Latin America between the Second World War and the Cold War: Some Reflections on the 1945- 1948 Conjuncture”, apresentamos algumas idéias preliminares a respeito da conjuntura do pés-guerra na América Latina. Para boa parte dessa regido, a nosso ver, 0 perfodo que se sc guiu imediatamente ao pés-guerra podia ser dividido em duas fases: a primeira, coincidente com a vit6ria aliada na Segund# Guerra Mundial, caracterizou-se pela democratizagio, pe!* tendéncia 4 esquerda (comunista ou nio) ¢ por uma militinc* trabalhista sem precedentes; a segunda, contemporain infcio da Guerra Fria e completada em toda parte (exceto ™ Guatemala) por volta de 1948, ressentiu-se di reafirmagiio do controle do Estado sobre os sindicatos, ‘8 P! criglo ou repressio dos partidos comunistas ¢ da conten¢#? ou, em alguns casos, da inversio — do avango rumo a de mo a do afirmagao ° 12 5 idade, limitada embora, de geass aqevan ae ¢ politica na América ficativa mudanga : ed Sig vidévamos outros historiadores © 5 Ao mesmo oe com estudos de caso sobre a ease ta do pés-guerra de alguns paises latino- experiéncia pees ; volume que pla= smericanos (afora Brasil ¢ México) pare Wit i S star. Diversos ensaios foram apresenta los NUMA a. 1987, gragas ao fe Zacia organizada por nés em outubro de s 4 im apoio financeiro da Nuffield Foundation, no Instituto de Bstu- dos Latino-americanos da Universidade de Londres. Também i uum seminfrio sobre mudangas polfticas na América Latina entre a Segunda Guerra Mundial € a Guerra Fria, num ‘encontro da Associago de Estudos Latino-americanos ocorrido em New Orleans no més de margo de 1988, e uma conferéncia na London School of Economics (fevereiro de 1989), onde se comparou o impacto da Segunda Guerra Mundial sobre a Améri- ca Latina ao provocado pela Primeira Guerra Mundial. Por essa €poca entramos em contato com um niimero ainda maior de estudiosos de temas afins. Em dezembro de 1987 e dezembro de 1989, por exemplo, ambos parti de conferéncias sobre a América Latina da década de 1940 organizadas por David Rock na Universidade da Califérnia, Santa Barbara. Em margo de 1988 ¢ abril de 1989, Leslic Bet- hell participou de encontros sobre exportagio da democracia como tema das relagées Estados Unidos-América Latina no s€culo XX, encontros organizados por Abraham F. Lowenthal na Universidade da Calif6rnia do Sul, Los Angeles, ¢ contri- buiu com o capitulo “From the Second World War to the Cold War, 1944-54” para o volume (editado por Lowenthal) Expor- ting Democracy: The United States and Latin America (Baltimore. Johns Hopkins University Press, 1991). Ian Roxborough apre- sentou trabalhos numa conferéncia sobre os partidos comunis- tas da década de 1940 organizada por Gcoff Eley, da Universi- dade de Michigan, Ann Arbor, em novembro de 1989, ¢ em outs: sobre a Guerra Fria, organizada por Alan Hunter na Uni- versidade de Wisconsin, Madison, em outubro de 1991. Pe <== Uhl uma forma ou de outra, em eg ti bat testar nossas jdéias quanto 2 natureza © significagao i cra na América Latina. z do pés-gue oe ae een the Second World War and The Cold War (1944-1948), obra editada por Leslie Bethell ¢ Ian Roxbo- rough (Cambridge, Cambridge University Press, 1992), con- sistia em dois capitulos gerais sob a forma de uma Introdugio ‘¢ uma Conclusio, mais estudos de caso de onze pafses: Brasil, Chile, Argentina, Bolivia, Peru, Venezuela, México, Cuba, Ni- carégua, Costa Rica ¢ Guatemala. A tradugio brasileira do vo- lume ora publicado pela Editora Paz & Terra inclui os dois capitulos gerais ¢ seis estudos de caso: do Brasil, Argentina Chile, Bolfvia, Venezucla ¢ México. i 7 i Introdugiio A conjuntura do pés-guerra na América Latina Leslie Bethell ¢ lan Roxborough Os anos entre o fim da Segunda Guerra Mundial e 0 co- mego da Guerra Fria, isto & 1944-1945 a 1947-1948, constiuf- ram uma conjuntura critica da histéria do século XX da Euro- pa (oriental ¢ ocidental), Oriente Médio, [ndia, China, Sudeste Asiiitico ¢ Japio, Ao contnirio, embora ocorressem por essa €poca importantes mudangas politicas em diversos paises Jatino-americanos — a ascensio de Juan Domingo Peréa na Argentina, a cleigio de Juan José Arévalo na Guatemala, 0 fim do Estado Novo no Brasil, a tomada do poder pela Accién Demo- critica na Venezuela ¢ a guerra civil na Costa Rica, por exemplo —, 0 perfodo nio foi de modo geral considerado um divisor de aguas significativo na histéria da regio como um todo, em parte devido 20 relativo isolamento internacional da América Latina. Apesar de sua participagio na Segunda Guerra Mundial ter sido meramente periférica (pelo menos em termos militares) ¢ de nio constituir (pelo menos no comego) um ponto focal de conflito na Guerra Fria, os anos 1944-1948 ainda assim representaram uma etapa importante na histéria da América Latina do século XX. Cada uma das vinte reptiblicas latino-americanas tem sua prépria histéria nos anos imediatamente posteriores 4 Segunda Guerra Mundial. Nio obstante, a despeito de diferengas de regime politico, de niveis de desenvolvimento econdmico ¢ tanto dos grupos dominantes quan- V7 nas relagSes com os Esta- da regiio —, h& notérias s. como ppulares, bem com das Forgas POR ger hegemonico 9 spoder Meet, maioria dessas repaibli s rf Unidos “a experiencia d ‘ i semelhangas parte da América “atina, 0 perfodo imediaty ara grande BaF “gividido em duas fases. A primeira, ae pos-guer™ Poss, 1945 ou 1946 (dependendo do pais em, ve comers 1° ceremamente breve, caracterizou-se por ps distintos, mas jnter-relacionados: democratiza. 7 verda ¢ militincia trabalhista. Por todo 9 1 mobilizavam-se forgas populares, continents Ca" --s com niveis de participagdo relativamen. jguns movimentos ¢ partidos tas” chegaram ao poder, arti. des das classes médias urba. Ihadores (m da populagio ruraj) polftcas, sociais ¢ econdmicas. Mais notiveis tagens, se bem que limitadas, obtidas 3 querda marxista ortodoxa, © que quase sempre quet dizer partidos comunistas latino-americanos (so. mente o Chile ¢, em proporgio menor, a Argentina ¢ o Equs- dor tiveram partidos socialistas de alguma importincia). O pe. riodo que se seguiu imediatamente ao fim da Segunda Guerr Mundial assistiu também a uma onda de greves, a uma sindi- calizagio crescente ¢ ao clamor por maior independéncia sin- dical nos paises em que 0 movimento trabalhista era controla- do de perto pelo Estado. Em outros, a incorporagio da classe trabalhadora organizada 4 politica democritica fez-se pela pai- meira Vez. Na segunda fase, que comega em al, j 1945 e, de modo mais geral, em 1946 a ae sae geral,em ou 1947, completando-se q la a parte por volta de 1948 (com Avel excegie da Guatemala, onde 0 “salto” d ag aon lo pés-guerra durou até 1954),# rganizada estava sob estreito controle Estado i & €m muitos casos, excluida da politica; os partide ovijos. Pela primeira vez al formistas ¢ “Progre: éxito as reivindi culando com nas ¢ dos trabal por mudangas talvez foram as van esse tempo pela es! io ainda istas passavam-se para a dircit#¢* tido, quando nio invertide. As! I8 ‘as populares, em especial a classe trabalhadora (mas, em al- ges Pasos, também a classe média urbana), a esquerda e avipria democracia amargaram uma hist6rica derrota na Amé- ‘ca Latina durante © perfodo que examinamos. Perdeu-se je « oportunidade, limitada embora, de realizar mudangas Ranticas e sociais significativas. eK ‘A situagdo de 1944 a 1948 na América Latina —e seu gesfecho, que teve amplas conseqiléncias para o desenvolvi- mento da regitio na segunda metade do século XX — s6 pode ser compreendida pelo exame do equilfbrio instével das forgas politicas domésticas de cada pafs. Entretanto, € também es- sencial explorar a complexa interagao entre as politicas domés- tica ¢ internacional ao fim da Segunda Guerra Mundial, quan- do uma nova ordem polftica — ¢ econdmica — internacional foi criada com base nos efeitos dessa guerra ¢, quase simulta- neamente, quando comecou a Guerra Fria. Aqui, o papel de- sempenhado direta ou indiretamente nos negécios latino- americanos pelos Estados Unidos é de particular relevanci No inicio de 1944, podia-se dizer que das vinte repdblicas lati- no-americanas apenas o Uruguai, o Chile c, menos convincen- temente, a Costa Rica ¢ a Colémbia tinham algum direito de considerar-se democracias representativas; seus governos eram civis ¢ haviam sido elcitos (embora com sufragio limitado ¢ pequena participagio politica); até certo ponto, permitia-se a disputa politica (apesar da debilidade do sistema partidério); e o império da lei, mais as liberdades civis basicas — liberdade de expressio, associagio, reuniio etc. —, cra ao menos formal- mente respeitado (posto que precérios as vezes). Desses qua- tro paises, s6 o Uruguai dispunha (desde antes da Primeira Guerra Mundial, com breve interrupgio na década de 1930) de um executivo eleito livre ¢ legitimamente pelo sufragio universal. A Argentina fora democrdtica por cerca de quinze anos antes de 1930, mas durante essa “década infame” sua democracia foi abalada e finalmente banida por um golpe mi- litar nacionalista em junho de 1943. O México revoluciondrio constitui um caso especial: foram eleitos presidentes (Lazaro Manuel Avila Camacho em 1940) sem di- 19 os pleitos, embora admitissem a dis ‘i a recleie value ela: byte tevulirabindelc ot eran ede itevoluciondrie Mexicano (PRM). A democra. poder, 0 Var nay passava, om large medida, de ret6rica, © cit ae lug continuou sendo a fonte principal de lege. propre Oise fim outras partes da América Latina predo. midis ee ev scanhamenie olighrquicos © muitas veze, 1 ee Je ditadiras militares ou apoiadas pelos my, peed Trenévulas, oulsas brutais, quase todas personalistas, Durante os tilimos dove meses da Segunda Guerra Mun. dial ¢ 0» primeiros doze do pOs-guerra, & democracia se conso. Jidou nos paises onde ja exisda em senudo Festrito, Na Costa IRica, em 1944, 0 presidente Rafael Angel Calderén Guardia, leita em 1940, entregou » poder a Teodoro Picado, também cle eleito (embora plo sem acusagbes de fraude ¢ intimida. gio), Na Colombia 0 presidente Alfonso Lépez, liberal, que fora eleito ern 1942 (também aqui as eleiges se fizeram com violencia ¢ fraude), renunciou em julbo de 1945 © foi substi. tuido por seu ministro das Relages Exteriores, Dr. Alberto Lleras Camargo. As eleigées presidenciais de 1946, em que um dos dois eandidatos liberais, Dr. Jorge Eliécer Gaitan, ten- tou pela primeira ver ampliar as bases populares do partido, foram vencidas pelo candidato conservador, Mariano Ospina Pérez, que liderou uma ehapa biparddaria, a Uniao Nacional, € assim pos termo — democraticamente — a dezesscis anos de governo liberal continuo, No Chile, em 1946, as urnas leva- ram ao poder Gabriel Gonzalez Videla, o terceiro presidente wee en eleito desde a formagio da Frente Po- pularem 1938, be Essen dois anos (meados de 1944 a meados de 1946) tam- 7M presenciaram significatives movimentos rumo a democrs- cia em patses menos obviamente democraticos, mas nao fran- camente ditatoriais, No Equador, em maio de 1944, uma qual 4 Alianza Democritica Ecuatoriant socialistas, comunistas, conservadores desempenhou papel de destaque baniu o regime repressivo ¢ fraud” dae’ CNet ee a ee Jentamente eleito de Carlos Arroyo del Rio, der o Ider oposicionista José Marfa Vel xilio. No ano seguinte, uma Asser ; nega e confirmou Velasco na Coa Pulpode Raa, je dominara a politica cubana por mais de uma décady presidente desde 1940, permitiu cleigies livres em Pars 1944, vencidas por Ramén Grau San Martin, herdeiro da a jugdo popular de 1933-1934 ¢ candidato dos “Auténticos” ay oposigao. No Panam, em maio de 1945, clegeu-se uma i sembléia Constituinte que nomeou um presidente interino, Enrique A. Jiménez, apoiado por uma coalizio de grupos ope. sicionistas chefiados pelo Partido Renovador. No Peru houve pela primeira vez eleigoes livres em junho de 1945, com esma- gadora vit6ria de José Luis Bustamante y Rivero, da Frente Demoeratica Nacional (formada um ano antes), apoiada pela Alianza Popular Revolucionaria Americana (APRA) de Victor Radil Haya de Ia ‘Torre, 0 movimento politico peruano mais popular. (A APRA, exclufda da politica por mais de uma déca- da, fora legalizada um més antes do pleito c, em janciro de 1946, passou a integrar o gabincte de Bustamante.) Na Vene- quela, que ainda vivia as conscqiiéncias da longa ditadura de Juan Vicente Gémez (1908-1935), o presidente Isafas Medina Angarita, ao final da guerra, adotou uma politica de liberaliza- gio gradual em concerto com a Unién Popular (a frente legal do Partido Comunista Venezuclano), mas recusou-se a permi- tir cleigdes presidenciais diretas em 1946. A 18 de outubro de 1945, um golpe militar desfechado em nome da democracia € apoiado pela Accién Democratica (AD) de Romulo Betan- court depds a administragio Medina € promoveu a primeira experiéncia venezuelana com a democracia (1945-1948). Mes- mo no México o partido hegem6nico introduziu, em janeiro de 1946, eleigdes primarias de candidatos a cargos que no 0 de presidente.' Miguel Alemin, 0 candidato presidencial, pri- meiro nome civil ¢ de formagio universitéria do PRM, foi oe ido ¢ eleito 3 maneira tradicional, em julho. 1 hamar-se Partido Revoluciondrio Instituciona! ro de 1946. Ruindando ao po. > Ibarra, até entio al ve durante 0 mesmo perio. cativarnente das de ditaduras militares oy fo toaceene te Sele ie iin julho de 1944 um levante popu. vos de Jorge Ubico € promoveu a Juan José Axévalo, 0 professor “socia. vara do exflio na Argentina. No Bra. Vargas, no poder desde 1930, desmantelar 0 Estado Novo deus os primal de Fevereiro, anunciou que dentro de trég (1937-4 Sith a data das eleigdes presidenciais © parla : “ab 0 patroctnio do c6digo cleitoral de 28 de Bes se realizaram a 2 de dezembro — as py. nae ddemocriticas na histéria do pais. Na Ar- entina, os meses de maio € junho de 1945 presenciaram eeesurgimento da oposica liberal ao regime militar Nacionalis- ta de Edelmiro Farrell ¢ Juan Pern, ressurgimento que cul- 19 de setembro, numa gigantesca demonstra¢io rea. lizada por centenas de milhares de pessoas em Buenos Aires, a “Marcha pela Constituigio e Liberdade”, ¢ nos primeiros pas- 40s concretos rumo as eleigdes democraticas no ano seguinte (feverciro de 1946). Por fim, 0 governo militar nacionalista da Bolfvia, apoiado pelo Movimento Nacional Revolucionario (MNR) de Victor Paz Estenssoro, que se algara ao poder gra- gas a um golpe de Estado em dezembro de 1943, foi derruba- do em julho de 1946 por uma violenta revolta popular durante a qual foi linchado o presidente Gualberto Villarroel. A forga- motriz que estava por trés da revolta era a recém-formada coa- lizdo da dircita liberal com a esquerda marxista, a Frente De- mocritica Antifascista (FDA), que imediatamente prometeu eleigdes democrdticas para janciro de 1947. Assim, Gés foram os stibitos ¢ dramaticos avangos rumoa oe na = ee Latina ao final da Segunda oat Os anos 1944 ¢ 1945”, escreveu um colabo- rador do eter America Affairs 1945, resenha anual editada pot » trouxeram talvez mais mudangas demo- latino-americanos do que em qualquet val” que regress 945, Get sil, em comegos de 1945 : ‘ \ciros passos par Hints espir mes mentares; de fato, maio, minou, 4 a ano desde a guermas de independéncia. Nenhum pals w- mow a diego oposta. De fato, em meados de 1946 08 dnicos Estados latino-americanos que nio se podiam declacar até cer- tw ponto populares ¢ democriticos em suas origens, se no em wes cram 0 Paraguai ¢ um punhado de repdblicas da América Central ¢ Caribe: El Salvador, Honduras, Nicarigua ¢ Repiblica Dominicana, Virias dessas ditaduras que sobrevive- tam 4 onda de democratizagio do pés-guerra foram abaladas se viram coagidas a pclo menos acenar com a liberali- zagio politica. Em El Salvador, em maio de 1944 — poucas semanas antes da queda de Ubico na Guatemala —, uma revolta popular aca- bou derrubando a ditadura do general Maximiliano Hernandez Martinez, que durava havia ueze anos; todavia, em outubro a campanha clcitoral foi paralisada ¢ restaurou-se a ditadura. Em Honduras houve também disuirbios no més de maio de 1944, porém de menor envergadura, que niio conseguiram derrubar “Tiburcio Carfas Andino. Mas na Nicarigua as demonstragies de junho de 1944 forgaram Anastasio Somoza, ditador desde 1937, anunciar em setembro — ¢ de novo em 1945 ¢ 1946 — que nilo disputaria a recicigio ao término de seu “mandato” em 1947. Somoza permitiu que Leonardo Argiicllo, seu concorrente em 1936, vencesse 0 pleito presidencial em fevereiro de 1947. (Quando, entretanto, Argiicllo deu mostras de independéncia ¢ preferiu trabalhar com a oposigio, Somoza resolveu depé-lo ¢ reafirmar seu poder pessoal; Argiicllo ocupou 0 cargo por apenas vinte ¢ sete dias em maio.) Mesmo Rafael Leénidas Trujillo, na ascendera ao poder em 1930 a oposigio tanto da classe trabalha~ dora quanto da esquerda (inclusive a comunista). Isso 0 obrigou a arquitetar uma abertura cuidadosamente controlada ao final da guerra ¢ a marcar para maio de 1947 cleigées um tanto mais li- res que as anteriores, mas que ele, é claro, venceu. No Paraguai, no verio de 1946, o general Higinio Morfnigo, “eleito” sem opo- r 1943, aboliu a censura a imprensa, suspendeu as proibi- “getorno a democracia” (sem contudo marcar 4 Gata para as um igdes)- 5 das mudangas polfticas na Amé. po niente se 1944, 1945 € 1946 foi a vit6ria rica Latina durante © 1, democracia sobre o fascismo) na Se. dos Aliados (POrrin'T 1. A despeito do poderio do Eixo, espe- err Wimanka, dos interesses na América Latina ¢, aver simpatias pr6-Fixo (€ pr6-fascismo) verifi eg em toda a regiao no final ds década de 1930 © comego Se 1Bad, loge depows de Peas! Hartior todos Se Estados lati- pence, com cxoegao do Chile (emporariamente) © dy Argentina (até margo de 1945), alinharam-se com os Estados Ba fceysackea ve lagbox com as pocécias GO ind; 40-fiy até 1945, declararam guerra. Pelo muitos deles, embora nao , menos formalmente ¢, m certos casos, com variados graus de cinismo ¢ realpolitik, escolheram o lado da liberdade e da de- mocracia. A propria guerra estreitara os lagos ja existentes — militares, econdmicos, politicos ¢ ideolégicos — entre a Amé- rica Latina (exceto, € claro, a Argentina) ¢ os Estados Unidos, Quando ficou dbvio que os Aliados venceriam a guerra —a derrota alema em Stalingrado, em feverciro de 1943, assinalou a mudanga da maré —, evidenciando-se a natureza da ordem politica ¢ econémica internacional que iria imperar no pés- guerra © a posigio hegemOnica dos Estados Unidos no seio dela, os grupos dominantes da América Latina, inclusive os militares, reconheceram a necessidade de fazer alguns ajustes politicos ¢ idcolégicos, além de concessGes. Houve também, ao término do conflito, considerivel pres- so interna por sistemas politicos mais abertos € democriticos arte das classes médias urbanas, dos intelectuais ¢ dos —e, nos paises mais desenvolvidos economicamen trabalhadora urbana. As reivindicagoes popula ia, durante ¢ apés a guerra, enraizavam-s¢ ™ liberal da polftica ¢ da cultura Jatino-americam’ bém produto da extraordinéria propagn™ y 4 América Latina, em favor das instivuigoes a Unidos, do modelo econdmico norte-american cialmente de fato, das amp 24 NN ai Re a da i —e fi P 1orRr | | modo e do padrio de vida norte-americanos. Isso foi orques- } trado sobretudo pelo Nelson Rockefeller's Office of the Coor- { dinator of Inter-American Affairs (OCIAA). Ao fim da guerra, convém lembrar, a imprensa, 0 ridio © a indGstria cinemato- grifica da América Latina tinham sido invadidos por capitais norte-americanos. A democracia emergiu como simbolo maxi- mo, de ressonfncia quase universal. Assim, indiretamente, os Estados Unidos desempenharam sem diivida importante papel na democratizagio da América Latina ao fim da Segunda Guerra Mundial. A pressio norte- americana direfa em favor dessa democratizagio talvez no te- nha sido um fator decisive em muitos casos, mas certamente produziu os scus efeitos. A pedra angular da Politica da Boa Vizinhanga de Franklin D, Roosevelt fora a atitude de nio-in- tervengiio nos negécios internos das outras reptiblicas america- nas. Muitos dos artifices da politica externa dos Estados Uni- dos, mas nio todos, preferiam democracias a ditaduras, porém achavam dificil reconciliar 0 desejo de promover a democracia com 0 respeito ao principio da nao-intervengio. Em quaisquer casos os interesses econdmicos ¢ estratégicos dos Estados Uni- dos — a defesa do hemisfério ocidental contra 0s ataques ex- temos ou a subversio interna, o comércio com a América Latina € os investimentos norte-americanos na drea — vinham em pri- meiro lugar. No inicio da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos pretendiam sobretudo que os pafses latino-americanos ficassem do lado dos Aliados. Washington cooperou ativamente com todos os regimes estiveis ¢ amigos da América Latina, fos- sem democracias ou ditaduras, que se opunham as poténcias do Eixo. Indiretamente, por meio de créditos, importagdes a pregos favordveis aos produtores ¢ assisténcia militar Lend-Lease (Em- préstimo ¢ Arrendamento), isso contribuiu na verdade para man- no poder — alguns, como Trujillo na Repa- na Nicardgua, muito a contragosto. dos Estados Unidos na América Latina is de 70% de todos os recursos destinados a regio — era 0 (relativamente be- iro Getilio Vargas. a i -americanos, tanto em Was- Alguns funcionésios MOT na, sentiam-se perturbados hingron quanto 64 “it igdidades da politica dos Estados rosapten i> 1s ditaduras latino-americanas durante 4 uma guerra que afinal de contas estava sendo travada 173, Liberdades). Houve um: Freedoms (Quatro > ¢ uma em prol das ee entre governos, oposigdes © embaixadas complexa interas 1, por exemplo, durante 9 orte-americanas n& América Central ni Parece entretanto que nem em E! Salvador nem ano de 1944. Parce™ jos Unidos conseguiram desempenhar na Guatemala queda das duas mais antigas ditaduras um papel de eee wha também nenhuma prova de envolvi eeeass entices Unidos nas eleigdes democriticas de Cuba em junho de 1944. No México, 0 embaixador George S. Mes- “diplomata da democracia”, por algum. tempo fa- voreceu € promoveu auvamente a candidatura SH ministro das Relagdes Exteriores Ezequiel Padilla a Presidéncia, no inte- reese de uma escolha democritica mais ampla, da livre empre- tc e das boas relagdes com os Estados Unidos. Mas Padilla foi rapidamente posto de lado quando ficou claro, em 1945, que cstava sendo fomentada a candidatura de Migucl Alemin, 0 qual cra franco simpatizante dos Estados Unidos. Washington preferiu a manutengao do statu quo no México, na América Central e no Caribe ao longo de toda a guerra. Nao obstante, com o crescimento da oposi¢’o democriti- ca as ditaduras no final da guerra, e com a derrubada ou derro- ta de virios ditadores ou semiditadores, a politica norte-amei- cana comegou a mudar sutilmente. Washington acolheu com agrado o curso dos acontecimentos na Guatemala ao final de 1944, por exemplo, ¢ de pronto reconheceu a administragio ¢leita democraticamente. Em novembro de 1944, © istente de Estado, Adolf A. Berle, Jr., em circular Estados Unidos na América Latina, subli seu pafs se mostraria mais favoravelmente a “governos estabelecidos segundo 0 co" livremente expresso dos governados”. Na icana sobre os Problemas da Guert © sersmith, 0 ora da Paz (a Conferéncia de Chapulkepec), reslizeda na Cidade do México em feverciro-marge de IS45, os Estados Unidos Jevaram os paises latino-amencanes 2 declarar ums “fervorosa adesio 0s principios democricicos™. E durante o ano de 1945 Washington comegou a afastar-se mars abertamente, desapro- vando-os em cardter oficial, das dicaduras latino-americanas ¢ dos “governos desacreditados”.* Quando se dispararam os pri- meiros Gros da Guerra Fria (por exemplo, no conflito com a Unido Soviética a propésito da democracia na Europa oriental, por ocasido da Conferéncia de Ministros das RelagSes Exterio- res em Londres, em setembro de 1945), havia um novo impe- rativo por tris do descjo dos Estados Unides de que seus alia- dos da América Latina fossem vistos como democriticos. Aos ditadores Jatino-americanos recusavam-se agora assisténcia fi- nanceira ¢ ajuda militac, Em dezembro de 1945, 0 Departa- mento de Estado rejeitou um pedido da Repdblica Dominica- na de exportagio de licengas para embarques de armas, com base no fato de “ser incapaz de verificar se os principios de- mocréticos haviam sido observados ali, na teoria ou na pritica”* Nao hd prova concreta de que os Estados Unidos desem- penharam papel significativo, por exemplo, na decisio de rea- lizar eleigées livres no Peru, em junho de 1945, ou no golpe militar que levou a Accién Democritica a0 poder na Venezuc- Ja, em outubro — embora ambos os episédios tenham sido muito bem acolhidos. Todavia os Estados Unidos sem divida intervieram diretamente — ¢ com algum grau de sucesso — para apoiar a democracia na Argentina ¢ no Brasil em 1945 ¢ no Paraguai ¢ na Bolivia cm 1946. A firme pressio norte-ame- ficana contra Assungio levou finalmente ao programa de de- junho-julho de 1946, em conseqiiéncia do de La Tribuna, o ditador paraguaio logo se iro de um gabinete democritico” ¢ abriu-se jar uma alianga entre a dircita ¢ a cs- s 1946 — ¢, aparentemente, abriu o taro ogee Tac lbohivaa’=-=\ teuolilerficth:epdta as Syashington. A missio dos embaixadores Spruille Braden ng intina ¢ Adolf Berle no Brasil € por demais conhecida par, Kine james detalhadamente aqui. Braden chegou a Bue. roal de maio, com a “idéia fixa” (segundo Sj, ‘baixador britinico) de que fora escolhide pela evar a democracia 4 Argentina. Tornou-se virtualmente 0 lider da oposigio ao regime militar, sobretudo 4 Perén, ¢ antes de partir no més de setembro, a fim de tornar. se secretirio-assistente de Estado, havia garantido um crono. grama para eleigdes livres em feverciro de 1946, além do reco. nhecimento de que 2 democracia era o “mandato histérico” gy Argentina. Nos primeiros nove meses de 1945, Berle nao Pre- ; cisou fazer nada mais do que encorajar discretamente Vargas 4 fiberalizar 0 Estado Novo. Seu famoso discurso em Petrépolis no final de setembro, quando 0 queremismo (mobilizacio popu. y Jar em favor da permanéncia de Vargas no poder) ameagava comprometer 0 processo de transigio para a democracia, ¢ sua silenciosa pressio apés 0 golpe militar contra Getilio, nos él mos dias de outubro, asseguraram as eleigdes de 2 de dezembro, jificativo que os esforgos mais persistentes dos Es- tados Unidos em favor da democracia na América Latina te- nham sido dirigidos para os pafses aos quais, por diversas razi- €s, 0 rétulo “fascista” podia ser mais prontamente, embora nio necessariantente com total convicgio, atribufdo: Paraguai, Br- sil, Bolivia ¢, sobretudo, Argentina. O fascismo, ¢ nio (ainda) o comunismo, era o principal inimigo da democracia — € dos interesses norte-americanos — na América Latina, ao fim d¢ Segunda Guerra Mundial. Vale notar que, ao longo de 1945, também de 1946 ¢ até da primeira metade de 1947), ios norte-americanos, em Washington ¢ 94 Amén- no se mostravam inquictos pelo fato de 0s acl desempenhando um papel procminente = da Grea. Ao contrério, a participagio ss ‘ bem-vinda, por exemplo, no Brasil, jal fase os Estados Unidos também nie que @ nos Aires, 0° David Kelly, em Providéncia para I al a iat fle a aa ail

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