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BURKE, Peter. A Revolugao Francesa da historiografia: a Escola dos Annales (1929- 1989). S&o Paulo: Editora UNESP, 1991. A Terceira Geracao jmonto de uma terceira geragio tornou-se cada vez mais Gbvio nos anos que se seguiram a 1968. Em 1969, quando alguns jovens como André Burguitre ¢ Jacques Revel envolveram-se na administragio dos Annales; em 1972, quando Braudel aposentou-se da Presidéncia da VI Seco, ocupada, em seguida, por Jacques Le Gof, e-em 1975, quando a velha VI Segio desapareceu e Le Goff tornou-se 0 Presidente da reorganizada Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, sendo substituido, em 1977, por Francois Furet. Mais significativas, contudo, do que as tarefas administrativas foram as mudangas intelectuais ocorridas nos tltimos vinte anos. O problema esta em que € mais dificil tragar 0 perfil da terceira geragio do que das duas anteriores. Ninguém neste periodo dominou o grupo como o fizeram Febvre ¢ Braudel, Alguns comentadores chegaram mesmo a falar numa fragmentagao (Dosse, 1987). Deve-se admitir, pelo menos, que o policentrismo prevaleceu. Varios membros do grupo levaram mais adiante 0 projeto de Febvre, estendendo as fronteiras da historia de forma a permitir 2 incorporacdo da infancia, do sono, do corpo ¢, mesmo, do odor! Outros solaparam o projeto pelo retorno & hist6ria politica e 4 dos eventos. Alguns coatinuaram a praticar a historia quantitativa, outros reagiram contra ela. A terceira geragéo é a primeira a incluir mulheres, espe- ciolmente Christiane Klapisch, que trabalhou sobre a historia da familia na Toscana durante a Idade Média ¢ 0 Renascimento; Arlotte Farge, que estudou o mundo social das ruas de Paris no século XVII; Mona Ozouf, autora de um estudo muito conhecido sobre os festivais EE eee 1. Sobre 0 oder, ver Corbin, 1982, By ATERCHIRA SEN durante a Revulucdo Francesa; ¢ Michele Perrot, qué esercver sobre ‘historia do trabalho ¢ a bistéria de malker (Klapisch, 1981; Farge, 1987, Ozoul, 1976, Perrot, 1974), Os historiadores anteriores dos nates haviam sido criticados pelas feministas por deixarema mulker fora da hist6ria, ou mais exatamente, par tereim perdido a opor- tanidade de incorpors-ta a bistéria de manciza mais integral, j4 que haviam obviamente mencionado as mulheres de tempo em tempo, desde Marguerite de Navarre 35 chamadas brexas (Fauré, 1980, Stuard, 1981). Nesta geragdo, contudo, a critica torna-se cada ver mai¢ improcedente, Georges Duby ¢ Michéle Petrot, por exemplo, esto ‘empenhados em organizar uma histOria da mulher em vérios volumes, Esta geragio, por outro lado, é mais aberta a idéias vindas do exterfor, Muitos dos seus membros viveram um ano ou maais nos Estados Unides, em Princeton, Ithaca, Madison ou San Diego. Diferentemente de Braudel, falam eescrevem em inglés, Por diferentes i tese entre a tradi¢ie dos Annales & telectuais americanas~como a psico-hist6ria, a nova historia econdmica, a hist6ria da cultura popular, anteopologia simbélica, etc, Novas abordagens estZo ainda sendo exploradas por iadores identificados com 0 movimento dos Annaies, como este entard demonstrar. O centro de gravidade do pensamento Porém, nao esté mais em Paris, como seguramente esteve 0s anos 30 ¢60, Inovatoes semelhantes acontecem mais ou menos Simultaneamente em diferentes partes do globo. A historia das rmutheres, por exemplo, tem se desenvolvido nao s6 na Franga, mas também nos Estados Unidos, Gri-Bretanka, Holanda, Excandindvia, Alemanha Ocidental na Iidlia: A hist6ria geral das mutheres, planejada por Georges Duby ¢ Michele Perrot, estd sendo escrita nae ara uma editora francesa, mas para a Laterza. Hd mais do que um ccatro de inovagdo—ou centro nealum. Nas paginas que se seguem, concentr maiores: a redescoberta da hi empregar métodos, qu ‘me-ci em trés temas lades, a tentativa de a historia cultural e, finalmente, a excluir um bom némera de trabalhos interessantes, especiales ° on a a a das mulheres por Farge, Klapisch, Perrot fa de evitar, contuda, que este capitulo seja tao fragmentado quanto dizem que é a escola los Annates. £ DO PORAO AO SOTAO hist6ria das mentalidades i ode Braud ‘Comovimos, nageragio de Braude asment s @ tras formas de histria euural 20 foram eanent reg as, contudo, situavam-se, marginal 4 es Ne rtante mudanga rrer dos anos 60 ¢ 70, porém, uma important ; teens oe inerério intelectual de alguns historiadores da base econdinica para a "superestraturat ot da "do prio a0 : . Por queso tra conti? mudanse de iateest, tou convent, fem pate um reagio conta Banc Com fo também, de outra parte, uma reagio mais ampla contra @ espécie de determinism. : . Foi realmente ua hstvior da gereqio Je Brauds! que despertou a atencio ptblica para a historia das mentalidades, a eum onal, pblicado em 1960. Philippe "Tam historiador domingo’, coma ele proprio se chanava, que wabalhava num nao de tos opi er a pesquisa bistGrica, devotando sou tempo de Ta ston Deng po omagts, args io assetara popes itativa (da m ira que rejeit 5 aaa ee eSuoe indusinal moderne). Sous introases reco mundo burecrétice-industrial moderno).. ses dein ji aleura, para as formas pel naranese para arelagio entre natureza oo mas Tusts una calla ve clasica fendmenos naturis tals como & infincia e amorte. ; Em seu esudo sobre a fais eas esclas durante o antigo regime, Acts defends qs 9 ia de infin, om mais evaamete ue o senlimento da ingincia, no existia na Idade ME ia, O po Geirio que chamamos de “criangas’ era visto, mais 0¥ menos, Teacdo contréria a tais métodos, quer tomem a forma de waa antropologia hist6rica, um retornc & politica ou o ressurgimento da arrativa. O prego a ser pago por esta deciséo &, infelizmente, ter de ria oan erro # obra ue wre Tani operon oe eto ¢ se ie a cer Dcoy Lasutntesdetersegs um fret ee es sei ate etme ten — SA BHCLILAckAgAO lade de sete anos ¢ quase que come uma miniataca Ainfincia, de acarde com Aids, bs foi deseoberta po que, : iis eram destinadas as criangas, como a ‘ara meninos, Cartas didrios do periodo docaments iodo docamentam 0 inter rescente dos adultos no corn vane tent Se ‘ Portammento das criangas, que tentavam, algumas vezes, reproduzir a fala ints rouse tania oe Baseouse também em 6 edo pov comum’, Pelo t colocar ainfancia no mapa rar centenas de estudas sobre a histéria da crianga oan © poriodos, ¢ chamar a stengao de Pediatras para a nova histéria * * sisloges siay, pelo nfo, foi umacontribuigdo de Aries histocico, Os anos foram dedicades a eto sobre a attudes focalizando de novo um fenémeno da natin ‘efeatado pela cultura, a cultura ocidental, e atendende 6 unr fence teclamo de Lucien Febvee, em 1941, "Nos nio possuimnos uma Antony amon Febre,1973, p29), Seu dlentado 2 gue, num panorama de seu desenvolvimento sob amma neg tonga duragio, quase mil anos, uma sequéncia de cinco ates, sue vio desde a"morte domada’ da baita Tdade Média, uma visio deliatdy {la mon na qual, subvertendo as préticas im (abu ¢ discutimos abertamente ianas, tratamos.a morte como 1 4. As critieas ais perinentesestdo om Se Sete uence etd om Hey G97), yp 183 Hon (170) sociais de diferengas*. ilippe Arits foi particularmente um desafio aos cos; um desafio ag qual alguns deles responderam atencio a0 papel dos valores © das "mentalidades” no “compartamento demogratico’; em outras palavras, pelo estudo da Familia, da sexualidade e, como desejava Febvre, da historia do amor. jesse desdobramento ¢ Jean-Louis Flandrin, cujos rogime francés direcionaram-se para questéies tais como a natureza da autoridade paterna, atitudes em relagio as criangas, a influéncia do ensino religioso sobre a semualidade ¢ sobre a vida emacional dos camponcsts (Flandrin, 1976). Os estudos nessa i er uma poate entre a historia rias(por exemplo, o Rabelais O livre de de Febvre) e a historia atitudes. es, alguns historiadores sempre iamente com os fenémenos cultureis. iador da geragao instncia da saccalizagéo, uma guerra saota para a conquista dos Jugares sagrados (Braudel, 1969, pp. 32,57). Mais recentemente, voltou a sua atenco para a peregrinacao, interpretada como uma busca do sagradoe um exemplo da "sensibilidade coletiva’ em relacdo a lugares de poder c6smico como Lurdes ou Rocamadour, Seu interesse pelos espacos sagrados inspirou alguns de scus discipulas a investigar as 4 Para um batzago imparcal das conteibuighes Ge Ars, ver MeManaers (1981), pemes, ‘os que asistiram a seus semindtios estavam Jean-Louis Plandrin, Domiigue ‘Mona Ozoufe Daniel Roche S vance orRAgO auidangas nos projetes arquitelénicos das igrejas ¢ © significado 10 dessas mudancas, Combina seu interesse pelos remas— como 0 sagrado—com uma grande preciséo ne iaventario ou na cartografia das (ditas} imagens miraculosas. Dupront tem trabathado, durante histéria da rcligido com a psicologta, sociologia e com a antropologia (Dupromt, 1962, 1965, 1974, 1987). A figura principal na psicologia histarica @ la Febvre foi 0 falecido Robert Mandrou (Joulard/Lecuir,1985). Logo apés a morte de Febvre, Mandrou encoutrou entre seus papéisum arquivo contendo otas sobre um livro nao escrito, que deveria ter sido a continuagao do Rabelais, sobre o nascimento da mentalidade moderna francesa Decidiu prosseguir a obra de seu mestre e publicou sua Tneroduction & ‘a France Moderne, com o subtivulo "Um ensaio em psicologia bisté= rica—-1500-1640", em que inclufa capitulos sobre satide, émogies mentalidades (Mandrou, 1961), Logo depois da publicagio desse lio, ovorreu a tuptura entre Braudel e Mandrou, Quaisquer que tenham sidoas razGes pessoais, a rupturase produziu nodecorrer de um debate sobre o futuro do movimento dos Anmaies. Nessa discusséo, Braudel defendexa inovagio, enquanto Mandrou preferia.a heranca de Febvre, © que ele chamava "o estilo original” (Annales premiare manidre), em que 2 psicologia hist6rica ou a historia das mentalidades desem- penhavam um papel importance. Mandrou prosceguiu em sue abordagem com a publicagio de ‘um livro sobre a cultura popular nos séculos XVUl e XVII e, de} com um estudo sobre Magistrats et sorciers en Prance au XVil * siécle ‘como subtitulo "Uma andlise de psicologiahistérica" (Mandrou, 1968). Ambos os temas, bruxaria e cultura popular, rapidamente atrairam, na Spoca, um interesse histérico crescente. Jean Delumeau, que iniciara a carreira como historiador socioeconémico, transferia suas preo- cupagées com a produgdo de alumem nos estados papais para os problemas da hist6ria da cultura. Sua primeira tentativa foi no sentido da Reforma ¢ da denominada "descristianizagio" da Europa, Mais recentements, Delumeau voltou-se para a psicologia historica, no sontido febvriano do termo, e escreveu uma ambiciosa historia do medo ¢ da culpa no Ocidente, discriminando "os medos da maioria (0 mar, fantasmas, pragas ¢ fome) dos medos da “cultura dominante" (sat, judeus, mulheres —principalmente feiticeiras).. analisado no capitulo anterior “eu va bi espremidos entre em estudo dos carToulosee usaandlieda esruuradeclases noiniiod snced moderna, Le Roy desereven o carnaval de Romans como um ‘0 imediato a criagécs do inconscient interprctou as convulsdes pro! porém, o prime’ |, ado podem deitar-se scvidentes que geralmente encontramoscm =n 1966, pp. 196,284). De intes’ (Le Roy Laduri Roy observa um aspect jgaria: a acasacao de qu orn fazendo um,né durante @ ceriméaia do ‘casamento, um ritual gue iaterpretou persuasivamente como uma castragio simbélica (Le Roy Laurie, 1978, cap. 3). Outros membros do grupo dos jam na mesma diregao, especialmente Alain Besangon, um especialista na Rassia do scale XIX, que escreveu um longo ensaio na revista sobre as possibilidades do que ele denominasa “hist picanaitics”, Tentou por em pica ¢ssas pssbilidades num estado sobre pas efihos. © estudo Foraizave dois t2ares, 1v4, o Terrtvel, e Pedo, o Grande, 0 primeiro matou set filho, ¢ 0 segundo condenou o seu & morte (Besangon, 1968, 1971), Lucien Febvre tomou emprestadas suas idéias sobre a psico- logia de Blondel ¢ Wallon. Besancon, Le Roy Ladurie e Delumeau tomaram suas idéias principalmente de Froud, dos freudianos ou neofreudianos. O estilo americano de psico-bist6ria, oreatado no sentido do estudo de individuos, finalmente encontron a psicologia hist6rica francesa, drigida no duas correntes nao se tenham f do estudo de grupos, embora as Io numa siatese. Ideologias e fmagindrio Social Contudo, a tendéncia principal iu numa dicegio diferente, Dbis dos tais destacodos tstoriadorss recrutados para a hist6ria das mentalidades, n0 inicio dos anos 60, foram 0s medievalistas Jacques Le Gofl ¢ Georges Duby. Le Goff, por lade Média’ (Le Go! Em seu estuclo sobre o probiema do aleismo no século XVI, Febvre havia analisado 0 que chamara de o “utuante" ou Timpreciso” sentido de tempo de um periodo em que as pessoas (requentemente desconheciam a prapria idade © medi pelosol (Febvre, 1942, pp, 393-9}. Le Goff sofisticouas generalizagies de Febvre, elas mesmas um pouco imprecisas, e discutiu 9 confito entre as concepgies do clero e as dos mercadores. Sua contribu al storia da entalidades, ov & io medion cme soe lenomina, foi realicada vinte anos depois com a publieagao do La naissanced Purgatoi ia das mudangas das sepresentacées da morte, Segundo Le Gol, o nascimento da fdcia de Purgatorio facia parte da “transiormagio do eristianismo feuds vendo conexdes entre as mudancas @ as socials. Ag esm0 tempo, insistia ma "mediagdo" de “estruturas mentais), de habitas de pensamento’, ou de “aparaios intelectuais", em outras palavras, de mentalidades, observando que, nos sézulos X11 ¢ XIII, gi fo ao tempo, expago e niimero, inclsiye 0 que cle chamaca do "iro conil da vida depois da 1 tse sobre economia rural do Ocidente medieval. Ambos os estudos seguen de Perto a tradigio estabelecida pelos livos de Block La socleté feadal ¢ Les caracteres originaus de UWistoireiurate francaise .Na década de-60, como seus interesses moveram-se gradualmente emi diregdo a historia das mentalidades, colaborou com Mandrou om sua histéna cultural da Franga. Posteriormente, foi além de Bloch e do estilo original dos Annates. laspirado om parte na teoria social aeomasvisia, preo- ‘cupou-te com a hist6ria das idcologias, da reproducio cultural e do imaginitio social, que procura combiat com a histiva das men. EE 6. Le Gott, 2981, 227 s. A frase (oi wali2ada come tale de um Tg Gor m2 io de um ensaio de uon de seus a oRe trés grupos, padres, cavaiciras ¢€ camponeses, isto é, 08 que rezam, os que guerreiam ¢ os que irabalham (ox lavram— 0 verbo latinio faborare E convenientemente ammbiguo). perfeitamente ciemte de que, como o grande 0 Georges Dumézil havia assinatado, essa con- cepgao de sociedade formada de trés grupos que exercem as trs fungdes bdsicas, est entranhada na tradigao Indo-Européia¢ pode ser encontrada desde a antiga india & Glia dos tempos de César, Duby 1 como os medievatistas haviam feito antes, que essa imageat jrimar a exploragao dos camponeses por seus senbores, sugerindo que cada um desscs grupos serve a sociedade de mancira diversa. Sua analise, porém, nao para al. O que Ibe interesa € saber a razdo pela qual é reativada essa concepcio te da sociedade, de Wessex & Polinia, ¢ do nono século em através dé uma longa discussio do contexto s6cio-politice desse ressurgimento, especialmente na Franca, onde a imagem ressuscitou do século XI. Duby sugere que a ceativagao da imagem corresponde a uma nova necessidade, Numa época ée crise politica, como por exemplo na Franca do sécu'o XI, foi ums “arma” nas mos dos monarcas, que proclamavam concentrar em sa propria pessoa as trés fungées basicas, Latente na”mentalidade” da época, esse sist electual foi concretizado como ideologia com finalidades politicas. Edeotogia, observa Duby, nic é um reflexo passivo da sociedade, mas um projeto para agic sobre ela (Duby, 1978). ‘A concepcio de idéologia de Duby néo esta longe da de Louis Althusser, que a definiu, um dia, como "a relagio imagingria dos individuos com as condigées reais de sua existéncia’”. De maneira similar a de Duby, um especialista em séoulo XVI, Michel Vovelte, fez uma séria tentativa de fundir a bistOria das mentalidades coletivas, 4. Althusser, 1970. Duby, 1987, p09, confessa seu débito em relagio a Althusser. Ss ATEROHIRAGERAGAD Nao € tio surprecndente encontrar conteibuigé - mntribuigdes importantes 2 historia das mentalidades feitas por medievalistas come Di a his ‘ome Duby e Le ‘alteridade’, cotoca problemas que uma abordagem desse tipo auxilia resolver, Por outta lado, os tipos de fontes que restaram da [dade ‘Média ndo so menos aceicéveis para uma outra das novas abor da cultura, a historia Saesbondagess MW O’TERCEIRO NIVEL" DA HISTORIA SERIAL, A ist6ria das mentalidades nao foi marginalizada nos Arvates, em sua segunda geragio, apenas porque Braudel nd acla, Existiram pelo menos, duas outras razées mais importantes para ssa marginalizacgo. Em i lo menos pressupunha, que historia sociale coondmica era mais mmportante, uma fundamental, do que outros aspe a abordagem quan encontrava no est ides 0 mesmo tipo de a t mi sustentagdo oferecido pela estrutura socioeconémics. ” * Aabordagem quantitativa ouserial segue as linhas definidas por Chaunu, aum manifesto bastante conhecidoem favor do quedenomina Mostra a importincia do estudo das ics de documentos (no caso, inventétiospast mortem), na longa durago, afim db 4 ' »afim de mapear mudangas de atitudes € mesmo no gosto artistica (Febvre, 1973, p. 193-207). Observe-se, contudo, que Febvre nao oferecia a seus leitores estatisticas pred ‘ i desenvolvida para estudar a hist6ria da pratica religiosa, a histéria do livroe a historia da allabetizacé. Espraiou-sc, algum tempo depois, para outros dominios A idéia de uma historia da pratica religiosa francesa , ou de uma sociologia retcospectiva do catolicismo francés, baseada em pe easton: peyicasbot ate bees ATPACHIRAGERAGAO 9 1s da frequéacia A comunhdo, das vocacdes religiosas eie., remonta a Gabriel Le Bras, que publicou wm 1931 (Le Bras, 1931). Le Bras, um sacerdote ya de Febvre e Bloch em Estrasbut teologia, historia, legislagao e sociologia, uma escola de adores da Igreja © socisiogos da refigido, que estavam larmente preocupados com o qile chamavam de janizagao" da Franga do Binal do século XVIII em disnte, investigando a questio através de métodos quaatitativas, grande interesse Le Bras © seus seguidores nfo pertenceram ao grupo dos “Annales —cram geraimente padres & possufam seus proprios centros © rexistas, tais como a Revue de histoire de Uégtise de France. Contudo, © trabalho de Le Bras (vivamente acolhido por seu antigo colega trabalho a tese sobre a diocese de La Rochelle, nos séculos XVII ¢ XVIUL. & estraturada de mancira muito proxima de um dos estudos regiot assaciados aos Annales, ndo-se pela descrigdo geo- grdlica da diocese, passa pela discussio da situagdo religiosa ¢ finaliza e tendSncias de 1648 a 1724. A utilizagao dos lembra também as monografias regionais dos iscipulos de Braudel e Labrousse”. Por seu lado, a obra do circulo de Le Bras (como o de Ariés) inspirou alguns historiadores dos Annales quando se elevaram do porto a0 s6tdo. Estudos regionais mais recentes sobre Anjou, Provenga, Avignon ¢ Bretanha dedicaram-se mais fortemente & cultura do que seus predecessores, ¢, em particular, as atitudes diante da morte. Como escreveu Le Goff ao prefacio de um desses estudos, "a morte estd na moda® (Lebrun, 1971; Vovelle, 1973; Chiffoleau, 1980; Croix, 1983). (O mais original desses trabalhos ¢ ode Vovelle, Um historiador manista da Revolagio Francesa, “formado na escola de Ernest Labrousse’, como cle préprio di ie intcressou-se pelo problema da"descristianizagéo'. Sua idéia foi a de tentar mensurar esse proceso pelo estudo das atitudes diante da morte ¢ 0 além tal como sio Oe ee eee ee ee SrFepere seenhou o trabalho de Le Beas in Annales, 1943 (1973, 268-75). 9, Pézooas, 1962, Comparat com &abordagem de Marcilhacy, 1968. we vTeRranacrRagan reveladas nos testamentos, Q resultado, consubstanciado em doutoral, Toi um estudo da Provenga lendonensdo ey oe ratica de cerca de 30.000 testamentos. Onde bi anteriores haviam justaposto evidéncias quant mortalidade com evidéncias mais literdzias sobre as porte, Vovelle quis mensarar mudanges no peasamento © a9 ‘fatimento, Deu atengéo, por excmplo, As referencias feitasa protecdo santos pacroeiros; aoaimero de missas que o testador encomend: para a salvagdo de sua alma; aos azranjos feitos para os funerals o ‘mesmo ao peso das velas acendidas durante a ceriménia. ise ; 40" nos anos da Revolucéo Fr. i esponta aso mposiade cin poc fas pare de wnatendeacc ma angio, Pina de nota és mancira pele qual Voli: mapeia expansao das eas attudes da nobrera para com os arteaos campooescs, ds grandes cidades, como Aix Marselhac Toulon, através de pequenas ade, Barcelonette, por exempt, ara a pequenas ws Sua raumeatasiocra iustrada com uma grande quanidade de mapas, prot te bare et Dechrisanzation, alo do estudo de Vovele iziu uma certa sensagdo intelectual, graces particularmente ag acompanhado de um agudo senso das ieniads etitas. Foi esse livro oceania cae sabre a at (Corti do ied poca moderns utlvando metodo seselaates (Chauou, 19736)", O que Arts inhareaizando sorinho no camnpods ria da morte, em seu estilo deliberadamente impressionioty assim completedo por pesquisa coletivas © quan 10, Cowan, 2987, p. 92 admit ter fcado “pertuibado® coma tese de Vewelio 12 Para uma analise li ise Micida judiciosa desse corpo Ge obras, ver MeManners, 1961 ATIRCHIRAGRBACKO 81 Essa apropriagio da vida depois da morte por bistoriadores da 0 mais notavel excmplo da utilizaram de cialmente na histéria da alfabetizagao ¢ na hist6ria do Ocstudo da alfabetizagao € um outro campo da histéria cultural que conduz. & pesquisa cotetiva © & andlise estatistica. De fato, um director de escola francés levoua cabo pesquisas nessa drea, no perfodo da década de 1870, utilizando como fonte, assinaturas cm registros de casamento 0 que 0 levou a notar profundas diferengas aos virios departamentos, bem como o crescimento da alfabetizagio a partir do séeulo XVI Na década de 50, dois historisdores reanalisaram seus dados © apresentaram, sob @ forma de mapas cartogréficos, © dramatico contraste entre duas Francas, separadas por um Linha que ia deSt. Malo aGenebra. Na parte nordeste dessa linha, aalfabetizacdo cra relativamente clevada, enquanto na parte sudoeste era baixa (Fleury/Valmary, 1957). 0 projeto mais importante nesse campo, iniciado na década de 70, foi levado a efeito na Ecole des Hautes Etudes, dirigido por Francois Furet—um discipulo de Ernest Labrousse, que havia trabalhado antes sobre a andlise quantitativa das estrururas socials — e Jacques Ozouf, O tema do projeto era a mudanga dos niveis de alfabctizagdo, na Franca do século XVI ao XIX (Furet ¢ Ozouf, 1977). (05 pesquisadores utilizaram fontes mais variadas, do recenseamento As estatisticas do exército sobre 0s conseritos, o que os habilitava antes ‘aafirmar do que a presumir a correlagao entre a habilidade de assinar © proprio nome a capacidade de ler € escrever, Confirmaram @ madicional diviséo entre duas Francas, mas sofisticaram a andlise estabelecendo distingbes dentro das regides. Entre outras conclusées interessantes, notaram que, 00 século XVII, a alfabetizacao cresceu ‘mais rapidamente entre as mulheres do que entre os homens. As pesquisas sobre a alfabetizagio foram acompanhadas de pesquisas sobre o que os franceses chamam de ‘a histéria do livra’. Pesquisas que néo se preocupavam com os grandes livros, mas com as tendéncias da sua prociugao e com os habitos de leitura dos diferentes sgeupos sociais (Roche/Chartier, 1974). estudo de cultura popular de Robert Mandrou, jf mencionado anteriormente, por exemplo, lidava OA TERCERA GERACAO tura de Cordel, a chamada "Biblioteca Azul! (Mandrou, 1964)". Tais livros, que custavam um ou dois sous, eram distribuidos, por mascates ¢ produzidos em geande parte por familias de impressores em Troyes, locaizada na regio Nordeste da Franca, onde taxa de alfabetizagao era elevada. Mandrou examinou cerca de 450 assinalando a importincia da leitura 120 Utulos), ues © mesmo romances de Coneluiu que essa era essencialmente uma ‘a de evasio’, lida especialmente pelos camponeses ¢ que revelava uma menialidade “conformista’. Estas duas dliimas conclusies foram contestadas por outros pesquisadores que trahalharara no mesmo assunto, ‘Ao mesmo tempo que Mandrou, a VI Sego langou um projeto de pesquisa coletiva sobre a histéria social do liveo no sécul XVII francés (Bolléme, 1965). figura-chave da historia do liv, porém, 6 ‘um outro colaborador de Febvre, Henri-Jean Martia, da Biblioteca Nacional. Martin colaborara com Febvre na elabaragao de um lovantamento geral da invengio expanséo da impressfo, L’Appariion du tre, 1938, Prosseguiu seu trabalho eseeevendo um rigoroso catuclo quantitativo sobre o comércio do livo eo piblico leitor do século XVIL francés, no qual analisava no somente as tendéncias da produgio do livro, mas também as mudancas no gosto dos diferentes grupos de Teitores, especificamente os magistrados do parlamento de Paris, tais como sao roveladas, em suas bibliotecas particulares, pela proporgo dos livros em diversas dreas (Martin, 1969), Dai em dante, Mastin diigiu um macigo trabalbo coletivo sobre a histéria do livro na Franca (Martin e Chartier, 1983-86), Um dos principais colaboradores nessas empresas coletivas, Daniel Roche, organizou um grupo de pesquisa préprio, em meadox dadécada de 70, para estudar a vida cotidiana do povo comum na Paris do século XVI No lio que se seguiu a pesquisa coletiva, Le peuple de Paris, um capitulo substancial foi dedicado 4 literatura popular,

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