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Fala Seminario Unifesp
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Tudo isso não é novo. Todavia, hoje assiste-se ao recrudescimento acelerado das
piores mazelas da educação brasileira. Mesmo com a clareza dos “tempos de exceção” e
com as manifestações que eclodem na América Latina, observa-se, concomitantemente,
a prevalência do discurso de legitimação do desmantelamento de políticas públicas e
direitos sociais como reformas necessárias para ajuste do Estado; de criminalização das
lideranças políticas e dos movimentos sociais como promotores da discórdia em tempos
de crise; de escamoteamento das evidências da luta de classes pelo discurso da
meritocracia como caminho de construção de uma sociedade melhor. Dessa forma, no
atual momento, é imprescindível a construção de um movimento de crítica radical que
nos permita, de um lado, revelar a produção da barbárie em nossa sociedade e, de outro,
promover, por meio da crítica e da criação, o movimento de construção concreta de uma
visão de ser humano e de mundo centrada na emancipação (LANE, 2007).
Educação superior
A universidade pública – a contar pela sua qualidade e pelos seus efeitos regionais
e em âmbito nacional, e pelo que pode proporcionar diretamente para o desenvolvimento
da sociedade brasileira – custa pouco aos cofres públicos. Todavia, o atual governo parece
estar a procura de maneiras de se desvencilhar de quaisquer obrigações no que se refere
à garantia de investimentos nessa área. Nesse sentido, um projeto do atual governo,
denominado "Future-se", promete juntar uma série de ataques à Universidade Pública.
Trata-se da privatização das Universidades e Institutos Técnicos Federais e do fim do
tripé que tem sido a base do ensino superior público: ensino, pesquisa e extensão, que se
pretende substituir por uma ideia vaga de empreendedorismo. O projeto é em sua maior
parte obscuro e desconexo, e expressões como “gestão de riscos corporativos”,
“empreendedorismo”, “metas de desempenho”, “indicadores”, “rendimentos”, “retorno”,
“valor”, “preço de mercado”, “lucro”, “modelos de negócios”, apresentadas sem a menor
preocupação conceitual, ilustram a intenção privatista e o viés economicista e
mercadológico da proposta do atual governo. Em detrimento disso, não há menção de
termos como “conhecimento”, “sociedade”, “educação”, “ensino”, “extensão”, “ciência”
e “cultura”. Com isso se aprofunda de maneira acelerada a tendência à pseudoformação
também em nível superior, com a desconsideração e desinvestimento em ciências
humanas, que certamente não teriam como responder à lógica do "modelo de negócios".
O projeto Future-se foi formulado pelo atual MEC sem nenhum diálogo com a
comunidade acadêmica e com a sociedade. Pode-se listar alguns pontos graves da referida
proposta: o Future-se ignora o plano nacional de educação, não considerando a relação
da universidade pública com a sociedade e com outras áreas da educação, como a
formação de professores, por exemplo; nele, o Estado se retira como agente financiador
e deixa a cargo de obscuros interesses do mercado o montante para o funcionamento de
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Educação básica
suficiente para debater com profundidade todos esses elementos, é possível destacar: 1)
a consideração dos aspectos técnicos da educação como fins em si mesmos. 2) a extrema
adaptação a que submetemos os alunos; 3) uma situação de dependência das figuras de
autoridade que favorece a heteronomia em lugar da autonomia; 4) a hierarquização nas
relações escolares; 5) a valorização da competição em detrimento da cooperação; 6) a
naturalização e fetichização do “dom” ou do “talento”; e 7) a supressão de discussões
essenciais à formação dos indivíduos, como as de gênero, etnia, classe e diversidade.
Os alunos devem comparecer todos os dias na escola, com uma farda que custa
aproximadamente R$ 500,00. Ao mesmo tempo que o custo da farda já estabelece um
primeiro recorte de classe no público que frequentará a escola, há um projeto que visa
investir cerca de 10 milhões da verba destinada a educação pública, para a
disponibilização gratuita, tanto da farda diária, quanto das de gala e de formatura para os
alunos. As meninas devem prender os cabelos e não podem usar maquiagem ou pintar as
unhas. Os meninos devem usar um corte de cabelo militar, e não podem usar qualquer
tipo de tintura.
estão abaixo. Se há solidariedade entre os alunos com patentes mais baixas, estes ainda
são considerados superiores aos que foram expulsos.
No contexto apresentado, cabe ressaltar dois pontos que parecem ser centrais para
a psicologia. Primeiro, lembrar que existe uma luta histórica para a reinserção da
psicologia como disciplina nos currículos escolares, e que agora se encontra ainda mais
ameaçada, haja vista o tratamento dado nos últimos anos a outras disciplinas da área de
humanidades. Sua presença no currículo, especialmente uma psicologia voltada para a
questões da relação entre indivíduo e sociedade, e para a promoção da cidadania e dos
Direitos Humanos, representaria avanços que não apenas não são considerados, mas
também repudiados nas propostas do atual governo. Em segundo lugar, considerar o veto
integral do atual presidente da república ao PL 3688/2000, que dispõe sobre a
obrigatoriedade dos serviços de psicologia e serviço social na educação básica, alegando
inconstitucionalidade e contrariedade ao interesse público, pois a proposta cria despesas
e não indica os impactos orçamentários. Lembramos que no programa das escolas cívico-
militares, está previsto nos artigos 21 e 25 que o MEC prestará apoio financeiro para a
esfera estadual e municipal, para a inserção de oficiais e praças da polícia militar para
atuarem nas escolas. Em outras palavras, para o atual governo, psicólogos e assistentes
sociais não representam qualquer possibilidade de melhoria para o sistema educacional,
e para isso não há verba, mas na polícia militar e no exército pode-se investir, e dessa
forma suprir o que falta para o completo ajustamento dos jovens.
Referências