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PENSAMENTO FEMINISTA conceitos fundamentais Org. Heloisa Buarque de Hollanda Pad " ET enc) pene aie aN Peer) Peep ete colo) efor rev baer mente ect ore) Ce pe Lessee eee oS ei sapere) peer eee) Beate enero Las Le parte rca Pe peer cad beter rea RC nen Tau : cee oo Leone at fered le per Te Patricia Siveira de Farias Be cis: etd ‘Agencia Riff Se ice precy Cs eye Seen) fevers Pease iets tas i) Weed areentie Pee eee ard eo coe pane uu Peart ct. Pre ey Pea ‘LFeminismo, 2. Teoria feriniste. 2, identidade de género, 4. Mulheres are rere ete a ene oo Cee eee aoe ferret ee ea) Dc) LEP Oait ae} Produgdes e Empreendimentos Culturais Ltda. FSD! Saini) ce a til auc e eat : taut Eevee y existe hierarquia essao |NEGRA, E MULHER. Esforgo-me para ser a pessoa mais forte que '~ para viver a vida que me deram e para promover algum danca que leve a um futuro decente para esta terra e para os endo uma pessoa negra, lésbica, feminista, socialista, poe- luas criancas - uma delas, um garoto - e parte de um casal me Jembro a todo momento de que sou parte daquilo quea 1a de desviante, dificil, inferior, ou um escancarado “errado”. ‘em todos esses grupos, aprendi que a opressao ea intoleran- nte existem em diversas formas, tamanhos, cores e sexua- dentre aqueles de nés que temo mesmo objetivo de liberta- futuro possfvel para as nossas criancas, ndo pode existir uma e opressao. Eu aprendi que sexismo (a crenga na superiori- um sexo sobre todos os outros e, assim, seu direito de (a crenga na superioridade inerente de uma obre todas as outrase, assim, seu direito de dominar) vem, smo lugar que o racismo - a crenca na superioridade ine ca sobre todas as outras e, assim, seu direito de dominar. Ao aa comunidade negra comeca a falas "as "DEBT! eu e muitas pessoas negras de minha eas : de um tempo em nao costumava ee de minha identidade poss m a opressao de outra- Eu sei que meu povo nfo vai 235 es yer outro grupo que esteja tamke ssfio de qvald¥°" "ya verdade, a gente se a Sincsder stan ae peneficiar com a jreito de &*! - fi na busca pelo dir tudo aquill pelo ee quando neg® aos sas criangas: Criangas que P! aM. apreng, < 01 a dail guais par trabalhar umas com as outs, se Forum futuro so ent a lésbicas e homens gays sio x5 at edaqen male ee toddas as Pessoas negns Se de opressio se manifestem neste pais, pessoas wm potencial. E encorajar membros de grupos op. ‘uns contra os outros éum procedimento-padrio q, to estivermos divididos por causa de nossas iden ‘culares, nao temos como estar juntos em ages politicas efetivas Theres lésbicas, eu SOU negra; e entre as pessoas negras aque contra as pessoas negras éum problem, eeu e milhares de outras mulheres negras somos parte da comunidade lésbica. Qualquer ataque contra lésbicase gays 6 um problema para pessoas negras, porque milhares de lésbicase homens gays sfo negros. Nao existe hierarquia de opressio. ‘Nio éuma coincidéncia que a Lei de Protecdo da Familia (Family Protec. tion Act), que é violentamente antimulher e antinegra, também seja antigay, ‘Sendo uma pessoa negra, sei quem sao meus inimigos. E quandoa Ku Klux Klan move uma agdo judicial em Detroit para fazer o comité de educagio da cidade tirar das escols livros que ela acredita “fazerem apologia homes sexualidade”, sei que no posso me dar ao luxo d i Peet eas Nisin 10 luxo de lutar contra wma tinica een eas oe tenho como achar que estar livre da intoleranciaé grupo especifico. E nao tenho eae Geter fecaa thaws ; como escolher em que Indo elas estejam vindo para ae criminatérias, independente de que me derrubay nio iré demorar lerrubar, E quando elas aparecerem pat aque aparecam para derrubar vocé. Entre as mul eusoulésbica. Qualquer ati para lésbicas e gays, porqui INTERBACIAL BOOKS TiruLo 8 Foren “THERE SOE FOR CON. raDUco Der Re are te EAR or crveneson, warn MARLOTTE SH ‘MOREIRA, ‘COUNCIL OF INTERRACIAL NGS OF AUDA Lomb nan HT ERARY AGENCY, \ ESTA TRADUGKO FOI = ak VIGHT BY exons va raRTIR BO LIVRO Lm YOUR SISTER COE SITY PRESS, 1990, 2009, 236 1d ade, raga, classe egenero: mulheres ,definindo a diferenca Lorde DE PARTE DA HISTORIA da Europa ocidental nos condicionaa ver as ngas humanas segundo uma oposigao simplista: dominante/subor- nado, bom/mau, no alto/embaixo, superior/inferior. Em uma sociedade onde obom é definido em termos de lucro e nao em termos de necessidade mana, ha sempre um grupo de pessoas que, Por’ meio de uma opressao tematizada, 6 obrigado a se sentir supérfluo, a ocupar o lugar do infe- “desumanizado, Dentro dessa sociedade, esse grupo é composto Por sos e pessoas do Terceiro Mundo, trabalhadores, idosos e mulheres. “Como uma negra lésbica, feminista, socialista de 49 anos, mae de dois inclusive um menino, e membro de um casal interracial, em geral fazendo parte de algum grup definido como outro, pervertido, rior ou simplesmente errado. Em termos tradicionais, na socieda- mericana, so os membros de grupos oprimidos e coisificados que 2m se esforcar para conciliar a realidade de sua vidaea eee Lopressor. Para sobreviver, aqueles de nés para quem a opresss0 dle macf, sempre tiveram de Pere ericana quanto uma torta S vigilantes, sahece alinguagem e as atitudes do opresso® nee t-las certas vezes para ter ilusao de protesai (0. Semp! ie de comunicaco, aqueles de ege a necessidade de alguma esP ‘com nossa opressao nos cham $s0 conhecimento. Em outras palavras cla educagiio de professor Pcola. NOs, pessoas eget vessoas brancas acerca A€ NOs human, mn de educar 08 homens. As lésbicas e os homens, pas do heterossexual. Os opressores mantém sua posicg, : vabilidade por seus atos- Existe uma constante drenagem, eterinser mais bem wsada em redefinir a nés mesmos ¢ istas para modificaro presente © construir o futuro, a ee institucionalizada da diferenga é uma necessidade absolut, a mia baseada no lucro que precisa de forasteiros como supe. emma economia bss conomia, ods n6sfomos programados pay e édio as diferencas fhumanas e a lidar com essas diferen. dentre trés: ignoré-las e, se isso nAo for poss. s&o dominantes, 0U destruf-las se acharmo; rdinadas. Mas nao temos modelos para conviver com nossas es ‘guais, Em consequencia disso, essas diferencas tém sido ‘mal interpretadas € mal utilizadas a servico da separacao e da confusio, ‘Sem diivida, entre nds existem diferencas bem reais de raca, idadee tio nos separando e sim nossa recusa em. nero, Mas ndo sfo elas que es > Senet heceressasdiferengas e em examinar as distoreGes que resultan do fato de nomed-las de forma incorreta e aos seus efeitos sobre o com portamento ea expectativa humana. Racismo, a crenga na superioridade inata de uma raga sobre todas as outras e, assim, o direito a predominancia. Sexismo, a crenca na superio ridade inata de um sexo sobre o outro e, assim, 0 direito & predominanci Discriminagdo etdria. Heterossexismo. Elitismo. Classismo. £ tarefa da vida inteira para cada um de nés retirar essas distorgdes nossa vida ao mesmo tempo que reconhecemos, reivindicamos e defi ‘mos essas diferencas com base nas quais elas sao impostas. Pois todos responsdvel ilhos na ros. Eu 80 de meus fi que pode or imité-las se acharmos que nossa vida. Com muita frequéncia usamos a energia necessaria pore ce Danae be tenia onerous ‘etras insuperiveis ou que elas simplesmente nfo existem.Iss0 : ‘um isolamento voluntério, ou em vinculos falsos e traigoeiros. De 240 1m lugar; no limiar da conscténei a mética, pot meio da qual cada cone chamo de me esse nao sou eu”, Na América, essa norma eae do enintd® como branco, magro, macho, jovem, heterossexual, ae financedrament estavel. £ com essa norma mftica que as comet 7 poderente dentro da sociedade. Aqueles de nés que estamos fee poe ge podergraente dentfcaos uma manerapla qual sa tes, e supomos que essa éa causa bisica de toda opressio, on i afeeras tories em tore da dferens, algunas as lie. mos estar praticando. De modo geral, dentro do movie ce mulheres hoje, a8 mulheres brancas se concentram em sua phe _ tas ulheres e ignoram diferencas de raga, preferéncia sexual, classe eidade, Existe a falsa aparéncia de uma homogeneidade de experiéncia sobacapa da palavra irmandade que de fato no existe. piferenas de classe ndo reconhecidas privam as mulheres daenergia edo insight criativo umas das outras. Recentemente, um grupo de traba- tho de uma revista feminina tomou a decis&o de publicar apenas prosa emum dos nimeros, dizendo que poesia era uma forma de arte menos .” ou “séria’, Entretanto, até mesmo a forma que nossa criativi- dade assume 6 geralmente uma questio de classe, De todas as formas de arte, a poesia éa mais econdmica. a mais secreta, a que exige menos trabalho fisico, menos material, € aquela que pode ser feita entre turnos, ~ noambulatério do hospital, no metré e em sobras de papel. Ao longo - dos iltimos anos, escrevendo um romance com umn orgamento apertado, -yima apreciar as enormes diferencas em termos de demanda material entre poesia e prosa. Ao revermos ‘nossa literatura, poesia foia vou mais _ importante dos pobres, dos trabalhadores e das mulheres de cor. Um apropriado pode ser uma necessidade para escrever hee 3? Quando falamos de una 5 precisamos nos dar conta do Se c: no material existent PAE prod de raion em ae (a4 etéria é outta di de relacio- s> ge negra, €0 silencio nio faré com que ela desa Srst0 pelas pressdes da impoténcia, a Pie cae ea ‘ecriangas negras normalmente se torna um padrao dentro de nos: unidades, um padrao pelo qual a masculinidade pode ser arr Gusexsesatos de 6dio contra a mulher quase nunca siodiscutidos co ~ crimes contra mulheres negras. ao: ‘como grupo, as mulheres de cor sio os trabalhadores que ganham enor salariona América, Somos os primeiros alvos de atc cea! agio forgados, aqui e no estrangeiro. Em certas partes da Africa, meni- nas ainda esto sendo costuradas entre as pernas para se conservarem déceis e para o prazer dos homens. Isso é conhecido como circunciséo feminina, e ndo é uma questo cultural, como insistia o falecido Jomo Kenyatta, mas sim um crime contra mulheres negras. ‘Aliteratura de mulheres negras esta cheia da dor de agressdes cons- tantes, nfo sé por parte de um patriarcado racista, mas também de homens negros. No entanto, a necessidade e a histéria de uma guerra - comum fizeram de nés, mulheres negras, particularmente vulneraveis “alsa acusagdo de que antissexista é 0 mesmo que antinegro. Enquanto "isso, 0 dio contra as mulheres como um recurso dos impotentes estd minando a forga das comunidades negras, ¢ nossas proprias vidas. O estupro est4 aumentando, comunicado ou nao, ¢ estupro no é sexuali- dade agressiva, 6 agresstio sexualizada. Como diz Kalamu ya Salaam, um escritor negro: “Enquanto existir a dominacio masculina, oestupro ind txistin $6 60m as mulheres se revoltando e os homens se conscientizan- do de sua responsabilidade em lutar contra 0 sexismo é que 0 estupro pode ser coletivamente detido.” __ Diferengas entre wags como mulheres negras também estzo sendoma) _ interpretadas e usadas ‘a nos separar tumas das outras. Como um ts logs i dientes de bica feminista negra, confortavel com os diversos ingre = 40 posso colocar a mim sta de fora. $6 entdo | todo a servico das lutas que ab; e m aso cont as, oude serem acusadas de lésbicas, leyoy os unhar contra si mesmas. Isso leyoy Mites i desespero e aoisol jangas destrutivas, € outras ao t of oe ‘di Tr mulheres brancas, o heterossexismo és — Na es identificagao com 0 patriarcado branco, uma rejeicg, resulta. + ao ,déncia entre mulheres que se identificam como m a ified women) que permite que 0 eu exista em vez de ser uss. 7 ico dos homens. As vezes isso reflete uma crenga ult ga ica protetora dos relacionamentos conser. as contra o qual todas as mulheres tém de lutar 7 que nos é ensinado desde que nascemos. Embora existam elementos dessas atitudes em todas as hd uma ressonancia especial de heterossexismo e homofobia entre as mulheres negras. Apesar do fato de a relagdo proxima entre mulheres ter uma longa e honrosa histéria nas comunidades africanas e afro-a- mericanas, e apesar da erudicio e das realizagdes de muitas mulheres negras que se identificam como mulheres nos campos politico, sociale cultural, as mulheres negras heterossexuais tendem a ignorar ou descon- siderar a existéncia e o trabalho das lésbicas negras. Parte dessa atitude nasceu de um terror compreensivel do ataque do homem negro dentro do estreito confinamento da sociedade negra, onde o castigo para qual- quer demonstragao de autoafirmacao feminina ainda é ser acusada deser lésbica e, portanto, indigna da atengao ou do apoio dos poucos homens ‘negros. Mas em parte essa necessidade de rotular incorretamente e igno- rar as lésbicas negras vem de um medo muito real de que as mulheres negras que se identificam abertamente como nfo mais homens para se autodefinirem possa reordenar todo o nosso conceitode Dies de eunzeT2sW antesinsstiam que o lesbianismo era um ee ee vancas agora insistem que lésbicas negras i012 basicamente nig negra, que esto se juntando ao inimigo, (4° ingtas. Essas acusagSes, vindas das. é deira, serviram de uma compreensio profunda e| Para manter muitas lésbicas negras escondidas, PP impo! rgias como Ww! 246 ene oreo trabalho del M yes o trabalho delas tem sido i : ws fomo ocorre com a obra de meee geen ou deturpa- vne Hansberry. Entretanto, mulheres unidas eee tape tveram gum papel na forga das comuni Po area rane tias ee até as amazonas de Daomé, Sen Seem aivida nao sao lésbicas negras que est : seuprando criangas e avés ras ee ee ee por todo este pafs, assim como ocorreu em Boston na ee sgyp,em seguida aos assassinatos ndo elucidados de deena a ws ores jaas mulheres negras. —— Quais so os detalhes especfficos em nossa vida que podem ser exami- nados e mudados para ajudar a promover transformagées? Como redefi- ‘pimos diferenca para todas as mulheres? Nao sao nossas diferengas que ; ‘as mulheres, mas nossa reluténcia em reconhecer essas diferen- (aselidar de maneira eficaz com as distorsbes provocadas pelo fato de fgnorarmos e interpretarmos de modo errado essas diferencas. ‘Como um mecanismo de controle social, as mulheres foram encoraja- - dasa reconhecer apenas uma érea de diferenca humana como legitima, aquelas diferengas que existem entre mulheres e homens F aprendemos a tar coms diforengas coma urgencia de todos os subordinados oprimides _Talasnéstivemos de aprender a viver, rabalhar ou coexistircom homens apartir de nossos pais. dentificamos e negociamos essas diferencas, mes- mo quando essa jdentificagdo apenas prosseguiu com 0 ‘velho modelo dominante/subordinado do relacionamento hrumano; onde os oprimidos ttmde reconhecer a diferenga dos senhoresa fim de sobreviver: ‘Mas nossa sobrevivencia Futura depende de 105s capacidade em nos relacionar na igualdade. Como mulheres, precisamos desenraizar Pee erase ios de optenslo cuneate nT Dee _sequisermos ir além dos aspectos mais superficiais da mudans® iferen« cismo de mulheres brancas e a ho mofobia de suas is irmas. Mui- Fees cn reconhecer irene ene ee alk @ 5 mane} nee inferiores nem superiores, ° encontas 6 taro demos i identificar mulheres em de todas as is QAT 0s velhos modelos, nao importa 9 que 708 ee para imitar o progresso, ainda nos Seto ita nite orga mente alteradas das mesmas velhas trocag ata Geards édio, recriminagao, lamentagio e desconfiang,, cul (y atidos em nés velhos esquemas de expectayh ois vemos om Tyquras de opressio, e esses devem ser a} posta, velhas ramos as condi¢ées de vida que sio um, resulhady alte ures Porte 2 ferrarsentas do senboxjarnnieel do senhor. e - : praess Paulo Freire mostra tio bem em Pedagogia do OPrimido, «yey : mudanca revoluciondria nunca est simplesm, ear ae quais buscamos fugir, mas sim nae go do opressor que esta plantado no fundo de cada um de nés, ¢ Teed conhece as téticas do opressor, as relagées do opressor. Mudar significa crescer, e crescer pode ser doloroso. Mas aperfeigog smos nossa dentidade expondo o eu no trabalho e na luta ao lado daqueles que definimos como diferentes de nés, embora compartilhando os mes- mos objetivos. Tanto para mulheres negras quanto para brancas, velhas e ovens, Iésbicas e heterossexuais, isso pode significar novos caminhos para a nossa sobrevivéncia. 4 eres. los Nés escolhemos umas as outras eo limite das batalhas de umas e outras aguerraéa mesma se perdermos um dia o sangue das mulheres iré coagular sobre um planeta morto se vencermos_ ‘nao hé como saber buscamos além da histéria Porum novo e mais possfvel encontro.? 248

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