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REVISTA BRASILEIRA DE DIREITO CONSTITUCIONAL Tema Central: TEORIA CONSTITUCIONAL DO DIREITO Vol. 2 a7 JAN / JUN - 2006 ‘ARevista Brasileira de Direito Constitucional (RBDC) 6 uma publicagao semestral do Programa de Pés-Graduapdo Lato Sensu em Di Escola Superior de Direito Constitucional (ESD0) 6) ISSN 1678-9547 Espo [SAO PAULO] Ne7-VoL2 | p/409 | Janilun-2006 DIREITOS HUMANOS, IMPERIO DA LEI E SOCIALISMO EM 0 IMPERIO Dé LEI DE FRANZ NEUMANN HUMAN RIGHTS, RULE OF LAW AND Resumo: O texto expo arelagdo entre mpéro da rede 1938) rae Noonan, Deen, to The Rule of Law (1936), by Frarz Ne ights and socal hts, s text exposes the relations Detween the rule of aw, human right direitos humanos 9 it reoonseucts Neumann theoretical dia- Flats Kelsen and Max Weber and shows bow bourgeois law emancipate tendencies Key Words: Marxism, Critical Theory Revolaon, Hum Rights. Rule of Law, xismo e direito, ao contrério do que posse pafecer ao senso comum, problemaética © de partida avangando do smoeracia alemi (WALDENBERG, 1982), passando pelos escrtos de Antonio xxdes da Teoria Critica (SHEUERMANN, 1997; RODRIGUEZ, 2004) e pelo debate ccontemmpordneo - pretagonizado por pen- sadores como Norberto Bobbio (BOBBIO, 1991), Nicos Poulantzas (POULANTZAS, © Jiryen Habermas (HABERMAS, ncontraremos muito pouca con. 1998) cordéncia entre autores eteoras, ‘Trata-se de, uma, paisagem.variada, que, a despel vo burgués como mera pode ser ldo com mais suliloza, especialmente no que se refere & sua obra madura (ATIENZA, 1982:207 ¢ ss; GIANNOTTI, 2000: NOTTI, 20006:86 e ss). Engels também resseiou a importincia da lta pelo Esta- does 3, especialmente em sua introduglo ao texto de Marx, A futa de ‘oar Fein «Plat El de iss eS Po Fait Gt Vt. bard Rein icin Gi Reeuar oNasa Dt DracrinSRAP DIREITOS HUMANOS, PERID DA. SOCIALISM. 28 classes na Franca (1848: variedade do pensamento de antares coro Karl Renner, Otto Bauer © Mex Adler fi- em espantosa a nuséncia de estulos sobre sans obras! Pode-seimaginar que esta ausén ‘cos dia acusagdo de Lenin a Kaulsky © 8 sovinkéemocracia slemt (LENIN, 2005; 182; FETSCHE recom determina, aé hoje, ainterpretagzo das obras de todos aqueles que & aventu- raram a allrmar 9 gireito com Aeterminante para 2 Acusagbes acriticas tom {de analise dos pressupostos te \Gricos que permitriam colocar 0 direito Iisloriador do marxismo ‘Na base dessas divergéncias desses contrastes, geralmente bastante ésperos, historicemente este preconceite ds esquet- «dae relagdo a0 direito. Nosso objetivo & ‘mais modesto, Pretendo examinar © papel dos direitos humanosra obra O Inpério da os {ei (The Rule of Law), eseritx em 1937 por Franz Neumann? Tratese de um peque- ne tarefa de recuperar a refit ‘obra nos faz err que esta nib é uma tara espida de importincia. 0s direitos humanos ocupam lugee ceniral em O Jmpério da ie, especialmen- te no que dizrespeito a seu papel ns cons- ap alias a entalidade des direitos hy. manos para a emancipagio da sociedade, ‘Neumann pensa o direlo liberal burgués ‘como momenio necessério para 8 passs- ‘aem para o socialismo, além de element dostinado a pemanecer na sociedad futu- ds soviedade na diet do socialism 6, por isso mesmo, a manutengo de sua r conalidade € crucial Este texto pretende reproduzir a es- tna de andlise de O Jmpério da lei. 0 expor seu processo de formag0, Em a guns moinentos, procuraremes selacionar 6 calegorias abstatas com as andlises conerelas para explicitar sua interdepen dénca, A Forma de exposigio d” O mpére dda fei seri mada como pressupost problematizado em outro lugar. No en to, podemos afar com sepuranea que & por Neumann logo em seu inicio (NEU- (MANN, 1986:11) O texto est divide em tes pat primeira, “Direitos hurnanos ¢ revol expe a relagdoentros das coocets pre- eve Brasiena de Dist Contain - 17-2006 1612 254 sente, em abstato, na apreseategio de O Império da. 0 compe das normas gersis”, esta mesma relacio seri examinads em um nivel mais baixo de absiraplo, a partir da descrigto do dieit ‘contemporineo i eserta de O Jmpério da ‘Seu ponio central ser o debate com a primeira versio da teoria pura do ircito de Hans Kelsen ¢ sues consegiéncia pare 8 solupio do “problema da aplicagdo das *,conforme 2 formulagio de normas gers ‘Neumann, sda, ainda com 8 fnalidade tiea que fiz a Max Weber, especialmente quanto ao conceito de materislizagzo do dircito. A putir da reelaboragto concreso da discusséo, masiraado como a tendéncia a emancipagto péide, segun- do Neumann, vir & conseigncie social, a despeito de nfo (er sido concretizada. A ides de evolug%o, que procuraremos reconstruir. Nesta pate, se importante mostrar que Neumana nunca io da estruturaessencial do direi- Rove Brasileira de DiveoCowsttaconl-N°7 Jann 2008- Vol? Jost Reonco Reowcinz do direito ma mudanga de fungdo dos di- reitosfundamentas, especialmente quanto 4 regula;do da propriedade privads, Neste ‘momento d exposiglo, a anlise dos con- ceitos em abstrato seri relacionada com @ Aiagnéstia do dieito da época, 1. Direitos humanos e revolugso ido, dando lugar is bburguesia, classe lagSo 8 soberania em que todos os homens foram considerados ‘Além disso, iia de que o Estado sobe- ‘ura fundamental insttucionaliza-se com seat teg,epuo New (DRAPER, 1977; LOWYY, 2002; ATIENZA, 1986), que ¢ pode deixar de ser mera ideologia cessiti para a emancipagaio? Antes de enfientar esta questi, é importante deixar claro que a posigio de Neumann tem como antecedentes imedis os Leonard Berstein, Karl Kauisky, além dos austo-marxistas, especialmente Ro- (egos) bom DIREITOS HUMANOS, MPERIO DALELE SOCIALISM, 255 jexdos, muito comodamente, coma io & eondligio 0 socialist, em- bora justifiquem esta mesma pesgto com argumentos muito diferentes, algans deles abandonando claramente qualquer preten- so revoluciondria (ATIENZA, 1983:8; estas afirmacies demandaria um exeme detalhado dos escritos de cada um deles, ‘arefa que no cabe neste espa. ‘Um breve paréntose: & interessante nolar que O Jpério da lei sfstase muito nnistre de Estado, além de aut 508 textos de intervengo, ap vio, sus obra capil, Do me: Karl Renner & representada no livro por que diz respeto & sua d necessidades politicas de conjuntua. 0 Inpério da tet figura a “bistrin propriamente dita com um proceso dia- (ego cxénico” pela andlise da formagao © do fncionamento do sistema capitalist, re- ‘construido a put de seu de to de vista des conc traprova do que estamos ‘elo de Neumann de esore Social da repibica de Weimar, evade adiante (SOLLNER, certamene, a andlise dos fio da meade, pergunte: [Neumann afirmar que Para responder a sgunte, Neumann efrma, como ja vimos, a fing revolucioniia do império da lei & f mosira como a estutura do dieito burgués pode ser voltada contra os jateresses da bburguesia. Vejams como isso e di. ‘A defesa da separag entre duas es beraniae liberdade em reay0 3 volucioniries. Permite que a burguesia se sfirme como porta-voz de intresses no ‘contemplacos pelo Estado se coloque na este Brae de iro Coston -07 da 2006 fol? 256 posigio do representante da nagdo (NEU- ce pelo estado, a classe burguesa desnuda 8 ilegitimidade de insttuigdes que server & apenas parte da sociedade, a saber, clero e a nagio ¢ cobra da democracia busguc- 3 0 cumprimenta de suas promessas. AO fazer este movimento, exaire 0 eoteeitS democraca, A solugdo para este impasse, ‘a0 menos & época em que o texto foi es- rita; momento de consolidago dos vii riado e sua pressto red a social ‘The concept of democracy is aban ddoned, when the masses, newly awakened and aroused to « politic ness during the period of ind world war, demand this democracy for jeados esejam fundados nos ine teresses proletéros, que incluem a aboli- ‘lo da propriedade privada dos meios de ‘rodugo, Por esta razo, Neumann pode ‘4 mota existéncia de normas do império da lidade, contribui para a desintegraeao do -starus quo de uma sociedade desigual.* ‘Num quadro de iniquidade em que 0 ‘roletariado, cada vez mais poderoso, dir- bre © qual 2 democracia se assenta. Se © estado ¢ 0 dircito devem findar-se na vontade eno desejo dos cidadaos & preciso ies para que Soja aceitévelairmar, racionalmente, que se esti sob uma demo craca, A roouse da bunguesin em acolher as revindicagdes do prolctariado choea-se fipntalmente com aracionaldage do impé- jamte tl recusa emanier ‘of democracy is accompanied by areversal in the system of in the philosophical sphere. The ra- ‘ot realizable because the increasingly ob- Revista Brat de Dita Contin -¥°7 Lent 2098-82 (artigo DIREITOS HUMANOS,IMFERIO DA LEI SOCIALISNO, 25) impossibility o Sing the process of socul ‘remains oly the charismatic j which «quando Newnan afirma que oi ral abre espago para a emancipaggo social ibral burgués (reup, 2002:99-100). A racionafidade intrinseca, usado apenas $e avorecer os interesses da fealo na introdugdo do live, &examinada fem conereto. final, nfo basta most, abstrato, que a forma dirt tem potercial revoluctonirio. & precise mostrar pore, em determinado momento bistérico, esta palavras, o que faz 0 dirito deixar scionar como mera ideologia de clas- ambiente adoq) Para a lua emancpatria? 2. 0 direico do eapitatismo competitive € 0 problema da aplicagfo éas normas erals problema da aplcagdo das normas A exiaténcia de direitos hermanos po- sitivados no &suficioni para deserever 0 renio do dlcito © do estado i- beral burgués. Ea ¢aponss a acta tarefi, Ta descrgto identiicar o potencial evoluio- ua €poca. Passo agora liberal burgués earacteri- pela preseaga de normas gerais que regulam em absrato © comportimento dt A igualdade peranre as nermas ge- ris aio € apenas formal, A forma divcito tion) Revista Basle de Dito Const A «on 2006 Web? 258 ccontém um elemento materi que the & eral aproibigio de etroagto. Uma norma, ger visa @ regular apenas casos futuros, no. passiveis de individuayao «pela ago realzada (NEUMANN, 1986:213,222), defendeu que a inretroat principio slienigena, nao aplicdvel A tradi- io de normas gerais cequivale a dizer que qus na esfera de liberdade individual precisa basearse nelas e deve se controlada por 6rgi0s dotados de poder pars a crif-las (NEUMANN, ann esclarece que virins tadigdes na discussto des Esta estrutura de normas geraisetrés poderes coloca a questi da aplicagio das ‘ormas no centro da discussio: tervengio ost Rooue Roomz naturally does nol mean produce changes, tion of these words by {ed to the lnw” (NEUMANN, 1986: 224) © problema da aplicagdo € central para a descriggo do die Ea partir dele que poderetios compreen der como as mudangas no funcionamen- {fo das institugdes liberais abrem espago ‘questo da aplicasao, Neumann part da Hans Kel dda Teoria Pura do Direito (Reine Rechtlehe) de Kelsen publicads em 1934 (KELSEN, 2002) Na reconsinuglo de Neumann, Kel- iefo no € apenas subsungdo dos fatos &s normas gerais e, Na verdad, Kelsen ndo foi o primeino a constatar isso. A Teoria Pura co Direlio & tratada por Neumann como a melhor for- ‘mulaglo teGrica de um fenémeno que ja hava sido detectulo tanto pela escola do Gieito livre alema, quanto pelo realise americana © a escola francesa da live in- \erpretapdo (NEUMANN, 1986: 228 es) Neumann considera quenenhunia das leoris de seu tempo trata adequadamente a questio. Para avangar na solugio do problema, nosso autor toma os restliados ‘evista Bead Dito Conttcona -W°7 -Jenibun 2006-2 ign) DIREITOS HUMANOS,nMPino DALE 2 SOCIALISMO, 230 da teoria pura como pressupostes. £ verda- «de quo o juz ndo pratica apenas um ato de recon process does not recognition, i proving the obviows. © problems aparece em out lugat. ‘Kelsen afirma a natureza politica do to da iz, mas deseja manier a jrisdigio e legislasdo sem never elementos que permit teoricamente (NEUMANN, 198523 AA defesa de distinggo confunde-se com 1 defesa do impr fieagao entre clas equivele a desimigio do principio de retroagao. Legislar para 0 aso Concreo, ou sea, sem nevesidade de reportarse a normas germs, é legblar por excepto. Sem a gerantia da ietrotivida- se das leis, estan estabelecio um estado {de excepto permanente em que a soterania rio encontraia nenhuma resisténcia para sus ages, Ressiltese que o poder pode ser ganizapto. Grosso modo, as princiras regulam condutas e as segundas visam a ‘ssegurar 2 aplicago das conseqiéncias Juridicas previstas pelas norms de com- ‘Portamento,nlém de regularem a produto de no iicas (HART, 1986: LUMIA, 2008:55), A cada um om comresponde, absrato, e regular. Ambos podem ser combinades, eixemos isso mss claro comacons- ‘tupto de dusssituagSes-modelo. Nun, 0 Tal autorided StBio aplicador recebe competéncia para Julgar casos com amplo gras de discricio. i+ natiedade, conforme certa atribuiplo. de ‘ompetncia por normas de organizagdo, lg 0 caso coner correr a padres abstatos. Ne ie > _cador deve reportar-se, primordialmente, a s de comportamento que descrevern, iva e precsamente, virios compor. famentos pertnentes a deteminada eaps- ie de caso, Em amtas as situagées, © poder std submetido a normas gers e, portan- ‘6, vigor o impétio da lei. $6 hi estado de excepto quando nto hi norms a qual © poder deva reportarse. “A lei & a von fade do Fuhrer”: em uma sociedade gus 4 Sob esia norma, alo hi estado de di- 0. Muda a vontade do Fubret, mudam worms, sejam elas de organizagdo ou de comportamenio. A scberania achata ¢ suprime a esfera de lberdad e desapare- om os padres de medida que limitam o Poder, exceto aquees que ele mesmo cra, ‘de md contingentee precio Dizer que o poder soberano & com pletamenteitimitado no & preciso. Sempre hhaverd os linites decorrentes de significa. dose priticas culturameate consagradas. 8 sociedade esti livre delas. No m vontade, @ que faz arte da tradigda © 0 que dela deve ser ex

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