Você está na página 1de 9

SOCIEDADE PSICANALÍTICA DO PARANÁ

(PÓLO)

CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE

EDUARDO CRISTIANO VAINE CORDEIRO

CASOS CLÍNICOS

MARINGÁ

JULHO DE 2023
1 – “Falar de um Caso Clínico é falar do desejo de se relatar uma análise e procede
de uma contratransferência do analista, ou seja, as reações inconscientes do
analista à transferência de seu paciente. O caso clínico torna-se objeto de
pensamento e motivo de uma comunicação visando ao mesmo tempo o
reconhecimento, o estudo e a divulgação para auxílio às próximas gerações
psicanalíticas”. Explique esta frase destacando a contratransferência do analista e o
desejo de reconhecimento. (1,5)

Essa frase enfatiza a importância do relato de casos clínicos em psicanálise e


destaca dois problemas fundamentais: a contratransferência do analista e a
necessidade de aprovação.

1. Contratransferência do analista: A contratransferência refere-se aos sentimentos,


emoções e reações inconscientes experimentadas pelo analista em relação ao
paciente durante o processo de análise. É a reação emocional do analista ao
material fornecido pelo paciente e à dinâmica evolutiva da relação terapêutica.
Esses sentimentos podem ser positivos ou negativos e geralmente estão
relacionados às experiências pessoais do analista e questões não resolvidas. Ao
relatar casos clínicos, os analistas podem ver como seu próprio contra-metastático
impactou a análise do paciente, ajudando a entender melhor os processos de
metástase e contra-metastático que ocorrem durante o tratamento. Reconhecer e
compreender a contratransferência é importante para manter uma atitude neutra e
imparcial em relação aos pacientes e para uma análise mais eficaz.

2. Necessidade de aprovação: A necessidade de aprovação está relacionada à


motivação do analista para compartilhar casos clínicos. Ao relatar a análise, os
analistas buscam a aprovação da comunidade psicanalítica. Desejo de ser ouvido,
compreendido e reconhecido pelos pares e pela própria área. Ao disseminar
exemplos clínicos, os analistas esperam contribuir para o avanço do conhecimento
psicanalítico e para a formação da próxima geração de profissionais. Além disso, ao
compartilhar exemplos clínicos, os analistas são motivados por um interesse
genuíno em ajudar outras pessoas que estão treinando ou praticando psicanálise.
Estudar casos clínicos fornece informações valiosas sobre as complexidades da
mente humana, mecanismos psicológicos e desafios na prática clínica.

2
Dessa forma, a divulgação de exemplos clínicos contribui para o avanço da teoria e
da prática psicanalítica, beneficiando toda a comunidade psicanalítica.

2 – Relatar um Caso Clínico é relatar a escuta analítica. O que significa a expressão:


a escuta deve ser fundada no inconsciente do analisando? (1,5)

Relatar um caso clínico significa compartilhar a experiência e os detalhes do


processo de cuidado do paciente em análise. A frase "a escuta deve ser fundada no
inconsciente do analisado" remete a uma das premissas básicas da prática
psicanalítica: o papel central do inconsciente na compreensão e no manejo dos
conflitos e conteúdos mentais do paciente. Essa expressão enfatiza a necessidade
de o analista escutar com sensibilidade e atenção os aspectos inconscientes do
analisado. O inconsciente é uma parte importante da estrutura psicológica de um
indivíduo e contém desejos, memórias, fantasias e conteúdos reprimidos que muitas
vezes influenciam o comportamento e as emoções do paciente sem que o paciente
esteja totalmente ciente disso. A escuta baseada no inconsciente inclui vários
aspectos importantes.

1. Sensibilidade à livre associação: Durante a análise, os pacientes são encorajados


a expressar livremente seus pensamentos, sentimentos e memórias sem censura ou
julgamento. .

2. Identificação de padrões e repetições: Os analistas tentam identificar padrões e


repetições da fala e do comportamento do paciente.

3. Consciência da resistência: o inconsciente tende a resistir à exposição a


determinados conteúdos reprimidos, o que pode ser expresso em análise como
resistência por parte do paciente.

4. Interpretação do conteúdo inconsciente: Com base na escuta analítica, o analista


pode formular uma interpretação do conteúdo inconsciente que aparece durante a
análise.

Assim, a escuta a partir do inconsciente do analisado significa que o analista busca


compreender e explorar aspectos ocultos da mente do paciente, proporcionando
uma abordagem profunda e discreta para chegar à raiz do conflito e facilitar o
processo de autodescoberta e transformação individuo

3
3 – O caso clínico é a prática da Psicanálise que aprimorará o psicanalista. Explique.
(1,5)

Os casos clínicos desempenham um papel fundamental na prática psicanalítica.


Porque por meio dessa experiência clínica, os psicanalistas têm a oportunidade de
aprimorar suas habilidades e compreensão da teoria e das técnicas psicanalíticas.
Consideremos os principais aspectos em que os casos clínicos são essenciais para
a formação do psicanalista.

1. Experiência prática: Os exemplos clínicos fornecem aos psicanalistas a


oportunidade de aplicar os conhecimentos teóricos adquiridos durante o treinamento
a situações reais de atendimento clínico. A prática clínica permite que os
psicanalistas estabeleçam relações terapêuticas apropriadas, conduzam sessões
analíticas e desenvolvam a capacidade de abordar questões levantadas pelos
pacientes.

2. Compreendendo a Complexidade Humana: Cada caso clínico é único e apresenta


uma história de vida, dinâmica psicológica e conflitos específicos. Dadas as
experiências e personalidades variadas de seus pacientes, os psicanalistas
aprendem a lidar com a complexidade humana e a considerar a singularidade de
cada indivíduo no decorrer do tratamento.

3. Desenvolver habilidades de escuta: Na prática clínica, os psicanalistas precisam


melhorar sua capacidade de ouvir atentamente seus pacientes. Ouvir com empatia
permite que os analistas captem nuances verbais e não verbais, identifiquem
padrões e resistências e compreendam o conteúdo inconsciente que emerge
durante a sessão.

4. Identificação de questões pessoais: Ao analisar casos clínicos, o psicanalista


pode se deparar com situações que o fazem questionar seus sentimentos, crenças e
reações pessoais. Esse processo de introspecção ajuda o analista a entender sua
própria dinâmica inconsciente e permite que ele trabalhe questões pessoais,
ajudando-o a melhorar suas habilidades analíticas.

5. Integração de teoria e prática: Os exemplos clínicos fornecem aos psicanalistas


uma oportunidade de integrar teoria e prática. A experiência adquirida no setting
terapêutico aprofunda a compreensão do analista sobre os conceitos psicanalíticos e
como eles se manifestam na realidade clínica.
4
6. Supervisão e intercâmbio com outros profissionais: Durante a apresentação e
discussão de casos clínicos em grupos de supervisão e de pesquisa, os
psicanalistas recebem feedback, orientações e insights de outros profissionais
experientes. Esse intercâmbio facilita o desenvolvimento profissional e enriquece a
carga teórica e clínica do analista. Em suma, os casos clínicos são uma
oportunidade valiosa para os psicanalistas avançarem profissionalmente, obterem
uma compreensão mais profunda da mente humana, aprimorarem suas habilidades
técnicas e emocionais e combinarem a teoria com a prática clínica. Por meio dessa
prática reflexiva e contínua, os psicanalistas buscam constantemente aprimorar e
aprofundar sua abordagem terapêutica.

4 – Quando se dá a chamada Cura Psicanalítica? (1,5)

"Cura psicanalítica" é um conceito complexo em psicanálise e não deve ser tomado


literalmente como "cura" como usado na medicina tradicional. O objetivo da
psicanálise não é livrar uma pessoa de todos os sintomas, mas promover a
autoconsciência, a autocompreensão e a resolução de conflitos psicológicos, a fim
de permitir que os pacientes lidem com seus sentimentos e emoções de maneira
mais saudável. A "cura psicanalítica" é alcançada quando o paciente passa por um
processo de profunda mudança psicológica, que geralmente inclui:

1. Reconhecimento inconsciente: À medida que a análise progride, os pacientes


tornam-se mais conscientes do conteúdo e desejos inconscientes, traumas
passados, fantasias reprimidas e padrões repetitivos de comportamento. Essa
consciência intensificada ajuda os indivíduos a obter uma maior compreensão das
causas de seus problemas emocionais e comportamentais.

2. Aceitação e Integração: O objetivo da análise é capacitar o paciente a aceitar e


integrar aspectos anteriormente desconhecidos ou negados de si mesmos. Ao
enfrentar aspectos dolorosos e difíceis de sua própria psique, os pacientes são
capazes de lidar com suas emoções e experiências de maneira mais saudável.

3. Alteração de nossa relação com o passado: Por meio do processo analítico, o


paciente pode reformular sua relação com o passado, influenciando assim suas
percepções e experiências do presente. Isso pode aliviar ou aliviar os sintomas que
o atormentavam anteriormente.

5
4. Autonomia e Responsabilidade: O objetivo da análise é permitir que os pacientes
desenvolvam maior autonomia emocional e assumam a responsabilidade por suas
próprias decisões e ações. Em vez de serem movidos por impulsos inconscientes,
os indivíduos podem tomar decisões mais conscientes e construtivas.

5. Desenvolvimento Pessoal: "Cura Psicanalítica" refere-se a um processo de


autodesenvolvimento no qual o paciente se torna mais autêntico e se conecta com
suas verdadeiras necessidades e aspirações. Isso leva a uma maior satisfação
pessoal e de relacionamento. É importante enfatizar que a duração do processo de
análise varia de pessoa para pessoa e nem todos os pacientes atingem um
verdadeiro estado "curado". Além disso, os resultados da análise variam de pessoa
para pessoa, dependendo de sua situação de vida e tipo de conflito psicológico. Em
última análise, a "cura psicanalítica" é um processo contínuo de crescimento,
autoconsciência e desenvolvimento pessoal, no qual o paciente, com a ajuda de um
analista, busca explorar seu mundo interior e alcançar maior equilíbrio emocional e
psicológico.

5 – Explique o que é o Efeito Sujeito (2,5)

O “efeito sujeito” é um conceito psicológico e psicanalítico que se refere ao


fenômeno pelo qual pesquisadores e profissionais que realizam pesquisas e
intervenções terapêuticas podem inconscientemente influenciar os resultados e a
dinâmica dos processos com base em suas próprias características pessoais,
atitudes, expectativas e crenças. Em outras palavras, o “efeito sujeito” significa que o
comportamento, as reações e as reações de uma pessoa submetida a um teste ou
tratamento são influenciados pela presença ou pelas características do especialista
responsável pela pesquisa ou tratamento. Esse efeito pode ocorrer tanto na
pesquisa científica quanto na prática clínica, podendo se manifestar de diversas
formas. Na pesquisa científica, o "efeito do sujeito" pode levar a resultados
tendenciosos se os pesquisadores não tomarem as medidas adequadas para
minimizar seu impacto. Por exemplo, se os pesquisadores tiverem noções
preconcebidas sobre os resultados que desejam alcançar, eles podem
inadvertidamente influenciar o comportamento dos participantes ou influenciar os
dados. Em ambientes clínicos, o “efeito sujeito” pode ocorrer quando os terapeutas
projetam seus sentimentos, pensamentos e desejos em seus pacientes,
influenciando assim a dinâmica do tratamento. Por exemplo, se um terapeuta
6
desenvolve uma forte contratransferência para um paciente, isso pode influenciar a
abordagem terapêutica do terapeuta, levando a uma interpretação ou intervenção
inadequada. Na psicanálise, a noção de "efeito do sujeito" está intimamente
relacionada ao conceito de contratransferência, que descreve os sentimentos,
emoções e reações inconscientes do analista ao paciente. A contratransferência
pode fornecer informações importantes sobre os processos de transferência e
contratransferência em funcionamento nas relações terapêuticas e, portanto, são
úteis quando compreendidas e abordadas reflexivamente. Para minimizar o "efeito
sujeito" na pesquisa científica e na prática clínica, é importante que os profissionais
estejam cientes de suas próprias tendências e treinados para serem neutros,
imparciais e ponderados. Além disso, o acompanhamento clínico regular é essencial
na prática psicanalítica para que os terapeutas possam explorar suas próprias
respostas e entender melhor como elas afetam o processo terapêutico do paciente.

6 – Quando o Efeito Terapêutico é estabelecido? (1,5)

Um “efeito terapêutico” existe quando uma intervenção terapêutica melhora


significativamente a condição ou os sintomas de um paciente. Em outras palavras,
esta terapia tem resultados positivos e benéficos para a pessoa que recebe o
tratamento. O tempo exato de início do "efeito terapêutico" varia de paciente para
paciente e depende de vários fatores, incluindo:

1. Rapport e colaboração terapêutica: Construir uma relação de confiança e empatia


entre paciente e terapeuta é fundamental para o sucesso terapêutico. Pode levar
tempo para construir um relacionamento e uma ligação terapêutica, mas geralmente,
quanto mais forte e saudável for o relacionamento, mais rápidos serão os resultados
benéficos do tratamento.

2. Complexidade do problema: A gravidade e a complexidade dos problemas


emocionais ou psicológicos do paciente podem afetar o tempo necessário para que
os efeitos terapêuticos sejam observados. Casos mais simples e contextuais podem
mostrar uma melhora mais rápida do que problemas sérios ou de longa data.

3. Disponibilidade do paciente: O entusiasmo do paciente e a frequência de


participação nas sessões de tratamento também são fatores importantes na
determinação da eficácia do tratamento. Compromisso e consistência nas reuniões
contribuem para resultados mais positivos.
7
4. Abordagem do tratamento: O tipo de tratamento utilizado pode afetar o tempo até
o efeito terapêutico. Algumas abordagens terapêuticas podem se concentrar em
mudanças mais rápidas e superficiais, enquanto outras, como a psicanálise, podem
exigir processos mais profundos e longos.

5. Momentos de Insight e Compreensão: Em alguns casos, após um momento de


insight ou compreensão chave do paciente, 'benefícios terapêuticos' podem ser
notados quando o paciente ganha uma nova perspectiva sobre seu problema e é
capaz de fazer mudanças positivas em suas vidas. É importante enfatizar que a
terapia é um processo individual e não há regras rígidas e rápidas sobre quando um
"efeito terapêutico" é alcançado. Enquanto algumas pessoas notam melhora após
apenas algumas sessões, outras podem levar meses ou até anos para ver os
resultados desejados. O ritmo e a duração do tratamento são adaptados às
necessidades e características específicas de cada paciente, sempre priorizando a
saúde individual e o progresso ao longo do processo de tratamento.

8
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REGO, João. O Homem dos Lobos: reflexões sobre o fantasma em Freud. Texto
apresentado na III Jornada Freud Lacaniana . Recife, novembro de 1997

FIGUEIREDO, Ana Cristina/ MACHADO, Ondina Maria Rodrigues. O


DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE: DO FENÔMENO À ESTRUTURA. Ágora v. III n.
2 jul/dez 2000 65-86

Você também pode gostar