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ID: 90825480 24-01-2021 | P2 Âmbito: Interesse Geral Corte: 1 de 1

Estar bem
RALWEL/GETTY IMAGES
A braços com a pandemia de covid-19 vida familiar comporta, a par de mui-
desde março de 2020 e com um novo tas exigências, ganhos e benefícios
conÆnamento, muitas famílias estão coletivos e individuais. Entre esses,
já a “deitar contas à vida”. Os custos os laços de solidariedade (incluindo
de um novo conÆnamento são avul- aqueles intergeracionais) e o supor-
tados e não se resumem aos custos te instrumental e emocional que os
económicos. Nos últimos meses, so- membros da família frequentemente
maram-se as publicações que dão oferecem uns aos outros. Aqui ca-
conta do importante impacto nega- bem, entre outros, a partilha de re-
tivo da pandemia e do(s) conÆna- cursos, de tarefas, de responsabili-
mento(s) na economia mundial, no dades e de afetos. O estudo em curso
aprofundamento das desigualdades, no WJCR revelou que pessoas casa-
no emprego e nos rendimentos, nos das ou em união de facto eram aque-
sistemas de saúde e no acesso aos las que, por comparação às solteiras,
cuidados de saúde, no aumento da apresentavam melhor saúde mental,
mortalidade, na educação, na saúde maiores níveis de felicidade e meno-
mental e na vida familiar. Custos de res níveis de depressão, ansiedade e
uma crise sanitária global que afeta, stress.
necessariamente, mais severamente A este resultado não deverá ser
os mais vulneráveis. alheio o facto de os participantes
De um ponto de vista da vida fa- com melhor saúde mental serem os
miliar, é sabido que famílias e rela- do sexo feminino, em teletrabalho,
ções familiares estão sob forte pres- e com maiores níveis de suporte so-
são. Com o encerramento das esco- cial e resiliência. É que, curiosamen-
las e com o recurso ao teletrabalho te, são também os participantes ca-
ou à licença parental por parte de sados ou em união de facto aqueles
muitos pais (e casais), acrescem às que, por comparação aos solteiros,
preocupações com eventuais perdas reportaram maiores níveis de supor-
de rendimento e com a instabilidade te social e resiliência. Ou seja, apesar
laboral o aumento das responsabi- de a vida em casal e em família ser
lidades parentais e de supervisão difícil — especialmente em período
dos mais novos. A estas, somam-se de conÆnamento —, continua a ter as
ainda a manutenção ou mesmo o suas vantagens.
ampliar das responsabilidades de Como garantir, então, que conse-
cuidado informal de familiares mais guimos sobreviver em (e como) fa-
velhos e/ou doentes. As famílias es- mília a um novo conÆnamento? Em-
tão, assim, constrangidas e a braços bora não exista uma receita infalível,
com a difícil conciliação trabalho- deixam-se aqui algumas dicas de al-
família, o que as coloca sob forte gibeira que podem ajudar na gestão
pressão. das próximas semanas:
O projeto ADJUST2Quarentine, um — Organize o seu dia e crie rotinas
estudo de investigação longitudinal Çexíveis, mas consistentes;
em curso no William James Center — Partilhe tarefas e responsabili-
for Research (WJCR, ISPA — Instituto dades de forma a que todos coope-
Universitário), que reúne investiga- rem e tenham tempo de lazer;
dores de Portugal, Espanha e Itália, — Faça exercício físico;
dá conta do risco em que se encon- — Tenha uma alimentação e higie-
tram as famílias durante períodos de ne do sono saudáveis;
conÆnamento. Os 550 adultos por- — Cuide de si: reserve tempo para
tugueses que participaram na pri- estar só e fazer algo que lhe dê pra-
meira fase do estudo, que decorreu zer;
em abril e maio de 2020, reportam — Reserve tempo para atividades
que as relações interpessoais com de lazer e prazerosas em conjunto;
familiares e amigos são o aspeto da — Pratique o distanciamento físico,
sua vida mais severa e negativamen- mas não o social: fale com aqueles

É possível sobreviver te afetado por esta pandemia. Destes


participantes, 228 eram casados ou
viviam em união de facto e 477 vi-
viam em família. Destes, 97% repor-
de quem gosta por videochamada/
telefone;
— Cuide a comunicação: atente à
forma, à frequência e ao momento;

em (como) família
taram níveis de funcionamento fa- — Respire… e coloque-se “nos sa-
miliar global altamente problemáti- patos” do outro, antes de reagir;
cos e pouco saudáveis. Mais, 39% — Encoraje os seus Ælhos a falarem
daqueles que eram casados ou vi- sobre o que os preocupa e elogie-os

ao confinamento?
viam em união de facto reportaram sempre que se portarem bem;
mal-estar ou distress diádico (i.e., — Seja Çexível e desvalorize os pro-
conjugal) severos. Não é, pois, de es- blemas mais pequenos e menos im-
tranhar que as estatísticas nacionais portantes;
deem conta de um aumento signiÆ# — Tente manter-se otimista;
cativo do número de divórcios, por — Se se sente em baixo e/ou lhe é
Um estudo revelou que pessoas casadas ou em união de facto eram aquelas que, comparação ao período homólogo, muito difícil relacionar-se com o ou-
após o Æm do conÆnamento de abril tro, peça ajuda.
por comparação às solteiras, apresentavam melhor saúde mental, maiores níveis de e maio de 2020.
felicidade e menores níveis de depressão, ansiedade e stress Mas nem tudo são más notícias PhD, Investigadora do William
para as famílias e adultos portugue- James Center for Research,
Alexandra Ferreira-Valente ses casados ou em união de facto. A ISPA – Instituto Universitário

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