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FACULDADE PIO DÉCIMO

CURSO DE PSICOLOGIA
ESTÁGIO ESPECÍFICO SUPERVISIONADO II
DOCENTE: Mônica Silva Silveira
DISCENTE: Layane Nascimento da Silva

FICHAMENTO

Fiorini, Héctor Juan. Teoria e técnica de psicoterapias. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

Capítulo 10: Tipos de intervenção verbal do terapeuta

Um inventário de intervenções verbais do terapeuta que são ferramentas nas psicoterapias


inclui necessariamente as seguintes:

1) Interrogar

É um dos recursos essenciais ao longo de todo o processo terapêutico, não só em seu


início. Em psicoterapia, perguntar é continuamente consultar a consciência do paciente; é também
sondar as limitações e distorções dessa consciência; é, ainda, transmitir um "estilo interrogativo",
um modo de se colocar diante dos fenômenos humanos com atitude investigadora.
No ato de pedir detalhes precisos sobre cada situação pode-se transmitir, além disso, um
respeito do terapeuta pelo caráter estritamente singular da experiência do paciente…
Nas psicoterapias: pelo contrário, é preciso trabalhar sobre as situações de realidade do
paciente, indagar a complexidade psicológica dessas situações, engastada justamente em muitos
de seus detalhes e matizes reais.
Simplesmente perguntando, dramatizando ou não, o terapeuta aciona vários estímulos de
mudança: um, primordial, é que exercita com o paciente uma constante ampliação do campo
perceptivo (reforço de uma das funções egóicas básicas): mais ainda, toda explicitação verbal
resgata fatos, relações, do mundo do implícito emocional.
Em psicoterapia, é essencial passar dos dados iniciais da experiência subjetiva à análise
minuciosa das situações.

2) Informar

Nas psicoterapias, é sumamente pertinente esclarecer ao paciente elementos de higiene


sexual, perspectivas da cultura adolescente atual ou da problemática social da mulher, bem como
explicar-lhe (pode ser útil incluir esquemas) certos aspectos de dinâmica dos conflitos. Essa
informação pode ser ampliada pela recomendação de leituras.
Proporcionar ou facilitar essa informação geral que demarca a problemática do paciente
desempenha um papel terapêutico específico: cria uma perspectiva a partir da qual os problemas
do paciente, com toda a sua singularidade, deixam de ser vistos como algo estritamente
individual que "só acontecem com ele".
Não informar, então (omissão técnica), constitui de fato um falseamento da ótica
psicossocial necessária à compreensão dos dinamismos psicológicos individuais e grupais
(distorção ideológica).

3) Confirmar ou retificar enunciados do paciente

Este tipo de intervenção é inerente ao exercício de um papel ativo do terapeuta nas


psicoterapias. A retificação permite ressaltar os escotomas do discurso, as limitações do campo da
consciência e o papel das defesas nesse estreitamento. Essas intervenções contribuem para
enriquecer esse campo.
A confirmação, por parte do terapeuta, de determinada maneira de o paciente se
compreender não tem, por certo, menor importância. Contribui para consolidar nele uma
confiança em seus próprios recursos egóicos; isso significa que toda ocasião em que o terapeuta
possa estar de acordo com a interpretação do paciente é oportuna para estimular seu potencial de
crescimento.
A capacidade do terapeuta de atuar de forma flexível com retificações e confirmações dos
enunciados do paciente é fundamental para criar um clima de equanimidade, característico de
uma relação “madura”.
4) Esclarecimentos

Estas intervenções visam conseguir desembaraçar o relato emaranhado do paciente a fim


de recortar seus elementos significativos. Esse emaranhado costuma esclarecer-se mediante uma
reformulação sintética do relato.
Essas intervenções no imediato preparam o campo para penetrar em seus aspectos
psicologicamente mais ricos e abrangentes, o que se fará mediante assinalamentos e
interpretações.
Em pacientes com funções egóicas enfraquecidas, concomitantemente afetadas por uma
delimitação precária do ego (ou seja, tendências ao sincretismo e à confusão), os esclarecimentos
desempenham durante grande parte do processo terapêutico o papel de instrumentos primordiais,
na medida em que estabelecem as premissas para que em algum momento outras intervenções, de
tipo interpretativo, por exemplo, possam ser ativamente elaboradas.

5) Recapitulações

Tal como os esclarecimentos, essas intervenções estimulam o desenvolvimento de uma


capacidade de síntese. Em nosso meio, uma simples hipertrofia do trabalho "analítico" leva
muitos terapeutas a descuidar do momento sintético, tão essencial quanto o outro e complementar
dele.
… essa atividade de síntese é fundamental no processo terapêutico para produzir recortes
e "fechamentos" provisórios (degraus de uma escada rolante).
Sartre mostrou que a dialética do conhecimento opera por um movimento contínuo de
totalização-destotalização-retotalizações, movimento que visa a uma "autodefinição sintética
progressiva". As recapitulações, assim como as interpretações panorâmicas (diferenciadas das
microscópicas), são instrumentos essenciais desse processo.

6) Assinalamento

Estas intervenções, de uso constante nas psicoterapias, atuam estimulando no paciente o


desenvolvimento de um nova maneira de perceber a própria experiência.
Esses assinalamentos convidam a um acordo básico sobre os dados a serem interpretados,
dão a oportunidade de modificar esses dados, são o trabalho preliminar que alicerça as bases para
interpretar o sentido desses comportamentos. Nas psicoterapias, talvez constitua uma regra
técnica geral a conveniência de sempre assinalar antes de interpretar.
Cada assinalamento se transforma num verdadeiro teste global do momento por que passa
o paciente no processo terapêutico.

7)Interpretação

Particularmente nas psicoterapias de esclarecimento, a interpretação é um instrumento


primordial como agente de mudança: introduz uma racionalidade possível onde até então havia
dados soltos, desconexos, ilógicos ou contraditórios para a lógica habitual.
Costuma suscitar também a passagem do nível dos fatos para o das significações e para o
manejo singular que o sujeito faz dessas significações. Procura descobrir com o paciente o mundo
de suas motivações e seus sistemas internos de transformação destas ("mecanismos internos" do
indivíduo), bem como suas modalidades de expressão e os sistemas de interação que se
estabelecem, dadas certas peculiaridades de suas mensagens ("mecanismos grupais").
É importante recordar que toda interpretação é, do ponte de vista metodológico, uma
hipótese.Em princípio, nenhuma hipótese (até as interpretações mais básicas sobre a problemática
individual deum paciente) é passível de um fechamento que a dê como assentada na qualidade de
saber acabado.
Numa psicoterapia, é essencial que o conhecimento seja vivido como uma práxis, isto é,
como tarefa a ser realizada entre duas ou mais pessoas vinculadas numa relação de trabalho. O
caráter hipotético da interpretação também sobressai na construção de seu discurso. Formulações
que destaquem seu caráter condicional ("É provável que ... ", "Temos que ver, como uma
possibilidade, se ... ", "Uma idéia, para buscar mais dados e ver se é assim, seria que ... ", "Um
olhar possível sobre o problema consiste em pensar que ... ") sublinham claramente esse caráter.
Sua ausência tende visivelmente a obscurecê-lo.
As interpretações em psicoterapia devem cobrir um amplo espectro:
A) Proporcionar hipóteses sobre conflitos atuais na vida do paciente, isto é, sobre
motivações e defesas.
B) Reconstruir determinadas constelações históricas significativas (por exemplo, marcos
na evolução familiar).
C) Explicitar situações transferenciais significativas no processo.
D) Resgatar capacidades do paciente negadas ou não cultivadas.
E) Tomar compreensível o comporta mento dos outros em função de novos
comportamentos do paciente (ciclos de interação compreensíveis em termos comunicacionais).
F) Destacar as conseqüências que decorrerão de o paciente encontrar alternativas capazes
de substituir estereótip os pessoais ou grupais.

8) Sugestões

Com essas intervenções, o terapeuta propõe ao paciente comportamentos alternativos,


orienta-o para experiências originais. Fundamentalmente, elas contêm um pensamen to
antecipatório (aspecto relevante dentro do conjunto de funções egóicas a ser exercitado em todo
tratamento), que facilita uma compreensão prévia à ação. A ação ulterior, caso seja
experimentada, poderá dar ocasião a confirmações, reajustes ou ampliações do insight prévio.
As sugestões em psicoterapia costumam (com exceção de situações agudas de crise)
inserir-se em desenvolvimentos do processo terapêutico com base nos outros tipos de
intervenção. São oportunas quando as condições do paciente para assumilas (redução da
ansiedade a níveis toleráveis, fortalecimento egóico) e as do vínculo interpessoal em jogo
atingiram um momento de sua evolução que as torna "férteis", receptivas a esse tipo de estímulo.

9) Intervenções diretivas

As intervenções diretivas que surgem em psicoterapia aludem, como se vê nestes


exemplos, tanto a necessidades próprias do processo terapêutico como a atitudes-chave a serem
evitadas ou ensaiadas fora da relação terapeuta-paciente. Antes convém examinar de que maneira
podem ser compreendidas as influências exercidas pelas intervenções diretivas. Há um nível de
ação no plano do ato em si mesmo expresso no conteúdo da intervenção.
Outro nível de ação está no ínsíght que se pode conseguir depois da ação. Fazer ou não
fazer algo que parecia "natural" transforma-se numa experiência original. Uma análise do sentido
de uma atitude prévia ou da nova (induzida), sua comparação minuciosa dão ocasião a uma
elaboração amiúde rica.
O que carece de justificação é levar ao campo mais amplo das psicoterapias o princípio de
evitar-dar-diretivas-em geral e pretender apoiar essa postura nos fundamentos teórico-técnicos
que respaldam esse critério no contexto do processo psicanalítico.

10) Operações de enquadre

Essas intervenções abrangem todas as especificações relativas à modalidade espacial e


temporal que a relação terapêutica terá de assumir: local das sessões, posição dos participantes
um em relação ao outro, duração e freqüência das sessões, ausências, honorários.
Uma distinção importante a ser feita é aquela entre as intervenções que estabelecem um
enquadre e outras nas quais se propõe um enquadre a reajustar e elaborar em conjunto com o
paciente. Se o que se pretende é cultivar as tendências passivas e regressivas do paciente e a
correlativa onipotência do terapeuta, não há dúvida de que a imposição do enquadre será o
método mais indicado.

11) Meta-intervenções

Designamos com esse termo todas as intervenções do te-rapeuta cujo objeto são suas
próprias intervenções. Podem ter por objetivo esclarecer o significado de determinada
intervenção ter sido feita nesse momento da sessão ou dessa etapa do tratamento.
Essa elucidação acerca da própria intervenção é fundamental, visto que a aprendizagem
essencial está nos métodos e não meramente nos produtos. Uma variante de meta-intervenção
consiste no
questionamento, por parte do terapeuta, de sua própria intervenção, assinalando o caráter
parcial de seus fundamentos ou o caráter ainda hipotético de alguma de suas premissas. E uma
terceira variante se acha na explicitação, pelo terapeuta, da ideologia subjacente a alguns
pressupostos de sua própria intervenção.
Uma visão de conjunto desse amplo espectro de intervenções

Se refletirmos sobre essa série de intervenções técnicas (que constituem boa parte da
"caixa de ferramentas" do terapeuta), salienta-se um primeiro aspecto: a amplitude de seu
espectro. Essa amplitude dá conta da variada gama de possibilidades abertas, em cada sessão,
para encontrar, com freqüência pelo método de tentativa-e-erro, as mais necessárias, as que
abrem o caminho para uma maior preparação.
O segundo aspecto a ser destacado é que, dada essa variedade de intervenções, não há
uma hierarquia no interior do conjunto que permita distinguir algumas como sendo mais
importantes do que outras para o processo terapêutico.
Por último, a possibilidade de distinguir com precisão os diversos tipos de intervenção
terapêutica abre um caminho para a investigação microscópica das técnicas.

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