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(10) Processo de avaliacgado e processo de aprendizagem © titulo deste capitulo ja uma mensagem. Os professores aparece dizem que vio tratar da avaliacio e de imediato nic referéncla 8 prova ou a outras téenicasavaliativas; em seu lugar surge @ questio do processo de avaliagaa aliado a0 processo de aprendizagem. Como o leitorjépercebeu, todo olivro est votado para pro- cesso de aprendizagem de alunos do ensino superior, e esse mote iio poderia estar ausente quando se val discutir a avaiagao. ‘Com efeito, se os professores do ensino superior se dispusessem 4 fazer todas asalteracBes que defendem ao longo destas piginas, ‘modificando suas atlas, uilizando novastecnologias,selecionando conteitds significativos, desenvolvendo um relacionamento adulto ‘com a turma, pondo em pritica uma mediagio pedagogica, ¢ 20 final ndo alterassem aavaliagio, ou seja,continuassem fazendo uma avallaglo como em geral se faz nas insitugbes, em nade teriam ‘adiantado todas as mudancas, pois para aluno tudo continuaria sendo decidido nas provase todo trabalho inovador epartcipante durante o ano no teria tido nenhum outro valot. Fsse comport ‘mento seria 0 mesmo que colocar uma pi de cl sobre as inovagies pedagégicase mais uma ver perder a confianga dos alunos, Essa reflexio incial nio € exagerada nem descabida, uma vez ‘queoriscoémuitogrande, Oautordestelivzoiexaminow uma pes- ‘quisa de mestrado que procurava demonstrar a validade do uso de tecnologias de informacio e comunicagio para aprendizagem de alunos do curso de matemética, porém, em determinados resul- tados, inesperadamente a hipétese nlo se confirmava. Discutindo com a mestranda, ficou claro que o problema viera da néo ade- quagio do processo de avaliagio a todas as inovagdes que haviam. sido realizadas Fste capitulo seré desenvolvido em duas partes: processo de avaliagi (concetoe principios norteadores) tcnicas avaliatvas PROCESSO DE AVALIACKO: CONCEITO E PRINCIPIOS NORTEADORES Este item far leitorrfletir sobre o conceito de avaliagio que os professes tém. Em geral, ele fi formado com base em experiéncias escolares, nem Sempre gratificantes; mediante a observagio de como faziam os profesorese pela imitago daqueles que, para ns, melhor avallavam. Ecomo éesse conceito? [AV=P+N> A/R> JA: Avaliagdo = prova + nota Isso leva 0 aluno & aprovagio ou & reprovagio, Em qualquer situagio 0 aluno se sente julgado (JA) pelo professor, de cujos er: térios depende paca “passat” Se fosse perguntado aos alunos © que € avaliagio, seri que 4 resposta seria muito diferente da que foi apresentada ante- riormente? Acreditase que no. Ese fosse perguntado qual dos elementos constantes da expressio acima & 0 mais importante, hi divides de que a resposta seria a nota? Basta lembrar das atitudes dos alunos quando nao obtém a nota para passar: “Professor, 0 {que posso fazer para arredondar minha notae passar de ano? Um trabalhinho? Outra provat Uma nova série de exercicios?” Faz se «qualquer coisa para tirar a nota necessria para passar de ano, ‘Agora, se fosse feta a mesma pergunta 20s professores ~ “0 que vocé entende por avaliaglo? ~ a resposta seria diferente Aaquela dada pelos alunos? Alguns acham que sim. Um profes: Sor que, considerando-se 5 a nota minima para aprovasio, aprova alunos com nota 5.2 ou 5.4, €reprova com 4,8 ou 4,6, e se dispoe 4 discutir com 0 aluno porque foi 5,2 e mio 5.5, 48 ¢ nio 5, 4.6 € nio 5 esté demonstrando ao aluno que ele também se orienta pela nota. Eo que representa a nota para o professor? Mesmo que provenha das mais aperfeicoadas formulas para ealcular, a nota de acertos eerros que no representa sendo o cémputo ou indi ‘caluno teve em uma, duas, trés ou mais provas. Nada mais do que isso, E€0 que o professor valoriza. Caso contririo, professores que aprovam alunos com nota 53 € reprovam com 4,5 teriam dificuldades para responder & seguinte questio: qual a diferenga entre aprendizagem e com: peténcia para 0 exercicio da profissio, para a qual a disciplina minjstrada colabora, entre um aluno que trou note 4,5 outro que trou 5,3, tal ponto que um possa continuar seus estudos € outro deva repeti-los? a 1 samcos mucso astro ‘© que esti filtando no conceto de avaliagio expresso nas att des tanto de alunos como de professores? Esti fllando o elemento ‘que fundamenta a avaliagio, que é a aprendizagem, Nem mesmo os alunos estio preocupados com aprender, pois 0 que Thesinteressa & ‘nota, Quanto aos professore,estiointeressados em que o aluno aprenda sua matéria, mas 0s instrumentos que utiliza para avaliar ni levam em conta 0 processo de aprendizagem, Por exemplo,sio provas ou trabalhos, em gerl, voltados para medlrinformagies que ‘os alunos disponham em determinado momento, em circunstancias de tensio, nervosismo, por vezes provocadas pelo proprio pros sor em alguns momentos durante o ano, Nem os demas aspectos importantes da aprendizagem, como competéncias, habilidades e attudes, slo avaliados, assim como 0 processo de desenvolvimento do aluno também nio é acompanhado. [Na verdade, as atividades na escola acontecem em dois movimentos paralelos ¢ nao integradas. Um é 0 das atividades desenvolvidas durante a maior parte do tempo nas aulas ou em atividades extraclasse: este tem pouco ou nenhum valor quando se trata de avaliagio, pois para nada € considerado. Outro é 0 movimento das provas, que acontece no menor espaco de tempo se for considerado 0 ano letivo, mas tem todo valor porque decide a aprovagio ou reprovagao. agora pergunta-se: em qual dos dois momentos ocorre o pro- «cesso deaprendizagem? Séno primeito? Séno segundo? Certamente nos dois momentos juntos, desde que estejam integrados isto é, que 4 avaliagdo acompanhe o processo de aprendizagem, valorizando todas as atividades realizadas durante o periodo letivo as tt avalativas sejam usadas para ajudar o aluno a aprender endo ape: nas para clasifit- Lo em stuacao de aprovagioe reprovacio, Por isso, a segui,reflete-se sobre o processo de avaliagio de aprendizagem ¢ de técnicas avaliativas. (© QUE SE ENTENDE POR PROCESSO DE AVALIACKO DE [APRENDIZAGEM EM UM CURSO SUPERIOR? [Na pritica dacem, seja pela cultura escolar, plas experiéncias pessoais ou pela tradicio dos cursos universitirios, a avaliago traz consigo a idea de nota, de poder, de aprovacio ou reprovacio, de autoridade, de clssificagio de alunos para os mais diversos fins, ‘Todos os professores querem que seus alunos aprendam, mas nem todos estio atentos a algumas caractersticas do processo de aprendizagem. Embora na teoria saibam que as pessoas si0 diferentes, nio sio homogéneas, que os ritmos de aprendiza- ‘gem variam de um para outro e até mesmo no préprio individuo, dependendo de uma série de citcunstincias, na verdade agem de forma contraditéria ao elaborar um plano para todo 0 grupo, sem Alexbilidade para ritmos diferentes entre os alunos, para situasSes de erro, para difculdades maiores na consecucio dos objetivos. Quando se dio conta dessas questdes,tratam-nas como probe. ‘mas que aparecern quando nio deviam e surgem para complicar asaividades docentes ou atrasar o programa, ‘A imagem que se tem de um processo de aprendizagem & semelhante a uma linha diagonal, em continua ascensio, com ‘movimento uniforme, sem obsticulas ou dificuldades, que se des tina ao infinite, Percebe-se que esse processo de aprendizagem & ascensional e continuo, mas sabe-se também que no se percorre tal caminho sem difculdades, sem idas vindas, e sim com muitos lertos ecorregoes, as vezes com cera lento ou de forma muito ripida. O movimento ascensional nao € uniforme e sem obstac los, Eo que mantém o professor nesse processo? O que incentiva, 4 ndo se desanimar nessas situagdes? O que o acompanks caminhada? E 0 processo de avaliago. Esta 6, com efit, a primeira grande caracteristica de um pro eso de avaliagdo: estar integrado ao proceso de aprendizagem vo ‘como elemento de incentivo e motivagao para ela, & também Primeira diferenga em nossa pritica: os professores no estio acostumados a ver a avaliagio como incentivo & aprendizagem, ‘mas como identificadora de resultados obtidos, A segunda caracteristica decorre da primeira: como 0 processo de avaliagdo poderd incentivar e motivar 0 processo de aprendiza gem? Pelo acompanhamento do aprendic em todos os momentos de ‘seu processo de aprendizagem, sja quando cle se desenvolve muito ‘bem ealcangaos objtivs esperados para aque atividade proposta ‘seja quando no conseguiu realizar taefa,nfo.aconcluiu, ou até ‘cumpri, mas ndo atingiu o objetivo propostoe necessita de infor: ‘mages orientagOes que o ajudem a competar o que faltou,refizer ‘ atvidade solicitada ou ainda realizar outra atividade que o ajudea aprender 0 que precisa ssa informagio no poderd aparece depois e apenas em forma de nota, pois esta nao oferee as informagdescitadas anteriormente = deve surgir imediatamente e como informagao descritiva, escrita ‘ou oral, que permita 0 didlogo entre professor e aluno. Ao aluo, ‘para perceber 0 interesse do professor pela sua aprendizagem e nao ‘apenas por melhorar sua nota: ao professor, para escolher a melhor orientagao para aquele aluwo ou aquele grupo ‘Tata-se do feedback continuo, presente em todas as fases do processo de aprendizagem, ¢ nio apenas nos momentos espori- dicos de uma prova, seja ela mensal bimestal ou semestal, pois, ‘entre umas ¢ outras, muita coisa se aprendeu, outras ado, e mules estas no foram e nem serdo jamais recuperadas. Nao é preciso dar exemplo disso, os professores sio exemplos vivos. Com essa caracteristica, 0 processo de avaliagio ganha uma ddimensio diagndstica porque permite verficar se a aprendiza {gem esti sendo aleangada ou io, e o porqués uma dimensio prospectiva quando oferece informagées sobre o que fazer dali por diante para um continuo reiniciar do processo de aprendiza gem até atingir os objetivos finals; e uma dimensio de avaliag30 formativa enquanto acompanha o aprendiz durante todo 0 pro- cesso e em todos 0s momentas, Insiste-se em que o processo de avaliacio esti integrado 0 processo de aprendizagem. Este resulta da inter-relagio de, pelo menos, tres elementos: o aluno que procura adquirie aprendiza- gens; o professor, cujo papel é 0 de colaborar para que o aluno comsiga seu intento; eum plano de atividades que apresente con digdes bisicas e suficientes que permitam ao aprendiz atingit seu objetivo, Assim sendo, 0 processo de avaliagao que procura oferecer ele- ‘mentos para verificar se a aprendizagem esté se realizando ow nao deve conter em seu bojo uma andlise nao s6 do desempenho do aluo, mas também da atuasto do professor e da adequasio do plano aos objetivos propostos. Deve-se avaliaro desempenho do aluno, isto és ele tealiza ou doo que oi planejadoese realizaadequadaouinadequadamente. Tal afirmagio questiona 0 modo de ser de muitos professo ‘tes que, por sua experiencia, se dizer capazes de identifica logo ‘no inicio do curso, decorridas as primeiras semanas, os que “no ‘querem nada com nada’: E mediante essas primeiras impressoes rotulam seus alunos ¢ os clasificam definitivamente em uma ou noutra categoria, permitindo que essa classifcacao condicione dai paraa frente seu relacionamento com eles. E as consequéncias desses julgamentos a priori sio bem conhecidas: os slunas considerads bons ou sérios tém pratica- ‘mente gorantida sua aprovagao, porque até mesmo seus erros ou suas fltas serdo relevados, ¢ os considerados malandros ou que “no querer nada com nada” terio de lutar e muito contra uma reprovacio quase cert. A afirmagio questiona também outra atitude de professores (que afirmam ser capazes de jugar ao final do semestre ow do ano {quis alunos devem ser aprovados ou reprovados, analisando “no ‘conjunto’ de modo geral, seu aproveitamento do curso ministrado. ‘Quando se fala que o processo de avaliagdo deverd estar voltado ‘para o desempenho do aluno,quer-se dizer que ¢ importante acom- ‘panhar 0 desenvolvimento pelo desempenho concreto em cada uma das atvidades e procurar 0 maximo de objtividade para colabonar com a evolugdo dele em drecao aos objetivos Mais uma vez: nose trata deter uma dela geral sobre o alino para Ihe dar uma nota e, entdo, aprové-lo ou nio, Trata-se de sabe rem, o professor e 0 aliuno, se as atividades propostas foram bem executadas pelo aluno ese isso 0 ajudow de fato a crescere apren- er, Na segunda hip6tese, 0 que esse aluno, consideredo bom ou mat, deverd fazer para aprender 0 que he foi propost. Deve-se avaliar o desempenho do professor, Nio se trata de cer- 1s tipos de avaliagao de professores que sio realizados no final de semestre ou de ano, quando instituigies ouvem os alunos com 0 objetivo de decidir sobre a continuidade do contrato do professor Também nfo se trata daquelasavaliagbes dos professores por oca do final da matéria, masantes de dar as notas, querendo ouvie, como educador. Essa (6s alunos sobre sua disciplina e sua atu situagio € constrangedora para os alunos, Refere-se a uma situagio de avaliacio do deserapenho do pro fessor dentro do processo de aprendizagem. Isso quer dizer que ‘© professor deve buscar informagbes com a clase sobre as agdes, atitudes e comportamentos que ele tem perante os alnos indi vidualmente ou em grupos e que estio colaborando ou nio para © processo de aprendizagem. A avaliacio nio é para saber se 0 professor ébonzinh™ se & “legal” se“bate-papo na hora do inter- val’ se € simpatico, se “topa brincadeiras” etc. A avaliacdo deve Incidir sobre as ages que o professor vem realizando em classe fou fora dela, a8 quais judam ou nio os alunos em seu processo de aprendizagem, Essa & a informagio de que o professor precisa para refletie sabre como melhorar sua colaboracio como docente. Com efeito, muitos casos de nio aprendizagem se explicam rio por um desempenho inadequado do aluno, mas por falta de preparasio do professor, sua improvisacio, falta de plane) ‘mento e de flexibilidade na aplicagio de um plano, textos muito longos e em grande quantidede ou muito complexos, desconhe cimento ou nio aplicacio de téenicas pedagigicas adequadas aos ‘objetivos propostos, Por isso, hi necessidade de avaliar as agBes do professor. Sugeremse avaliagBes duas vezes em cada semestre, com um intervalo de mais ou menos dois meses entre elas, de forma que as sugesties de mudanga possam ser viabilizadas ainda naquele Pode-se organizar uma téenica em que os grupos se mistu- rem duas vezes, na auséncia do professor, para que tenham maior liberdade de expressio ese sintam mais vontade, Nao interessa 20 professor saber “quem disse o qué” sobre suas ages, mas quais, informages podem ser tazidas para ajudé-lo 2 melhorar seu desempenho perante aquele grupo especific. Com essasinforma .0es, dialoga-se com os alunos para verifcar 0 que € possivel € necesstio ser alterado. Deve-se avaliar a adequasao do plano estabelecdo. Mesmo quando o plano do curso ¢ feito com os alunos, suaimplementagio pode trazer diiculdades, por exemplo, com as téenicas escolhi das, textos seleconados, organiragio das atividades, contetdo proposto, processo de avaliagio insttuido de fato, cronograma ‘estabelecido, Quando fates como esses e outros semelhantes se sueedem, o nio aproveitamento no processo de aprendizagem por parte dos alunos acontece, nio por responsabiidade ou alguma deficéncia do aluno, mas por questoes do préprio programa, que necesita de urgente modificacio, Sugere-se, assim como se fez com a avaliagao de desempenho do professor, que durante o semestre se proceda a uma aval do programa a cada dois meses, ouvindo os alunos ¢ com cles debatendo sobre como 0 programa esti favorecendo a aprendiza gem ou as dificuldades que ele vem apresentando para verficar as possiveis mudangas necessirias ainda para aquelaturma, Essa observacao & cabivel porque muitos professoresfazem tal avaliagio 20 final do semestre ou do ano, calhenda informagies para planejar a disciplina para o préximo ano. A atitude élowvavel 0 riseo que se corre € que as observagdes feitas por uma turma podem nao valer para outra jd que os grupos so muito diferentes. Daia necessidade de usarasinformagbes para alteracbes possivels, nas atividades com a mesma turma que as apresentou, (© processo continuo de avaliagdo deveré contar com a hetero a autoavaliagao. Heteroavaliagio quando se recebem informa Bes de outras pessoas que colaboram para o desenvolvimento do processo de aprendizagem, Estas podem ser o proprio professor, (0s colegas de turma em atividades coletivas, profissionais ou expe-

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