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Ritmo perfeito por Drikka Silva

Summary:
Um assalto na noite de São Paulo transforma as vidas de duas mulheres: Bruna, uma produtora
musical bem sucedida é a vítima, que tem seu carro e seus pertences roubados. Rafaela é uma
adolescente entrando no mundo do crime, porém dona de uma voz arrebatadora e uma
personalidade doce.

Quando a jovem tem uma crise de consciência e resolve fazer uma boa ação devolvendo o produto
do roubo, as portas para o estrelato como cantora se abrem, uma oportunidade única surge de onde
menos esperava.

Mas o caminho para sua carreira finalmente decolar é longo e tortuoso, Rafaela e sua dedicada
produtora, Bruna, passam a conviver diariamente, trazendo emoções dúbias e sentimentos novos
para ambas. Além da diferença de idades e do choque de mundos opostos, a produtora tem um
casamento feliz com uma atriz de renome, enquanto Rafa namora um marginal ciumento e tem
uma mãe alcoólatra e abusiva.

Conheça o dia-a-dia e os bastidores do surgimento de uma nova estrela musical e embarque num
romance repleto de nuances e obstáculos.

Com vocês, Lumia!

PS - História com romance com menor de idade. Se for sensivel ao tema, pule para a próxima
hehehehe

(sinopse mara feita por Cris Schwinden)

Categoria: Romances Characters: Original


Challenges:
Series: Nenhum
Capítulos: 24 Completa: Não Palavras: 79050 Leituras: 43977 Publicada: 27/07/2018 Atualizada:
29/09/2018

Notas:

Oi oi lindonas!!!

Essa história, como já informado no começo, relata o envolvimento de uma menor de idade com
uma maior. Tema que pra mim era um tabu, não gosto de escrever romances nessa vertente, mas
tomei como um desafio pessoal.

Ninguém morre, informação importante hehehehhehee


Postagens toda sexta e terça feira, (sim, já tenho uma grande quantidade caps prontos, e no word
já. Não teremos problemas com falhas nas postagens)

No mais, toda a história é ficcional com alguns nomes reais apenas como referências. 

Sejam bem vindas ao arduo caminho para o estrelato!

Previsão de 40 capitulos

1. Capitulo 1 - How soon is now? por Drikka Silva

2. Capitulo 2 - Rise up por Drikka Silva

3. Capitulo 3 - De quem é a culpa? por Drikka Silva

4. Capitulo 4 - Como nossos pais por Drikka Silva

5. Capitulo 5 - Sua cara por Drikka Silva

6. Capitulo 6 - Só os loucos sabem por Drikka Silva

7. Capitulo 7 - Águas de Março por Drikka Silva

8. Capitulo 8 - Pescador de Ilusões por Drikka Silva

9. Capitulo 9 - Ginga por Drikka Silva

10. Capitulo 10 - Medo Bobo por Drikka Silva

11. Capitulo 11 - Nada Sei por Drikka Silva

12. Capitulo 12 - One Of Us por Drikka Silva

13. Capitulo 13 - Ausência por Drikka Silva

14. Capitulo 14 - Big Bright World por Drikka Silva

15. Capitulo 15 - Move Your Body por Drikka Silva

16. Capitulo 16 - The Champion por Drikka Silva

17. Capitulo 17 - Rosas por Drikka Silva

18. Capitulo 18 - Próprias mentiras por Drikka Silva

19. Capitulo 19 - Ritmo Perfeito por Drikka Silva

20. Capitulo 20 - Indivisível por Drikka Silva

21. Capitulo 21 - With Every Heartbeat por Drikka Silva

22. Capitulo 22 - Dancing on my Own por Drikka Silva

23. Capitulo 23 - The Hills por Drikka Silva

24. Capitulo 24 - Smells Like Teen Spirit por Drikka Silva


Capitulo 1 - How soon is now? por Drikka Silva
 

         Bruna entrou na produtora e cumprimentou a recepcionista com um beijo no rosto, antes de seguir pelo corredor que levava ao estúdio. No
caminho, encontrou Victor, um dos seus assistentes e o abraçou entusiasmada, desejando bom dia. Deixou a bolsa de lona em um canto da sala de
som, ainda com o sorriso instalado no rosto. Cumprimentou Alana Medeiros, famosa cantora nacional e uma das principais estrelas da Spagnatto,
produtora e gravadora, que levava o nome de sua família, uma das principais do ramo musical.

         - Alana, minha querida! Me perdoe o atraso, mas peguei um trânsito infernal para chegar na produtora hoje.

         - Não se preocupe. Acabamos de chegar também – respondeu a cantora ao dar um beijo estalado em seu rosto.

         - Olá Thiago, Rodolfo – Bruna cumprimentou o empresário e marido da cantora, respectivamente. – Os meninos estão tratando vocês bem?
Querem uma água, um suco?

         - Já trouxeram para nós, obrigado – agradeceu Thiago. – Analisamos os samples que enviou ontem, são muito bons.

         - Vamos trabalhar junto com a letra que me passou, fazemos o arranjo do que queremos e já passaremos para o maestro fazer as orquestras. O
Dudu vai fazer os arranjos de cordas, o melhor nesse quesito. Ele vai arrebentar.

         - Vai ficar lindo isso! – Concordou Alana animada. – Vamos começar?

         - Com certeza!

         Bruna tirou o casaco de sarja, revelando seus braços tatuados, e deixou em um canto do estúdio antes de puxar o teclado para se sentar ao
instrumento. Começou a dedilhar as notas da música que entraria no próximo álbum de Alana. A cantora de vinte e seis anos era um expoente da
música nacional: seu primeiro disco havia ficado entre os mais tocados do ano anterior e sua agenda de shows vivia lotada. Thiago, seu empresário,
havia procurado Bruna Spagnatto para produzir o segundo álbum. Segundo suas palavras, somente ela poderia superar o sucesso que fora o
primeiro e era nisso que a produtora musical estava empenhada.

         Alana sentou-se ao seu lado e juntas começaram o trabalho. A voz da cantora acompanhou a melodia que Bruna apresentava. Corrigiram os
acordes finais e ajuste das letras para que ficasse perfeita. Depois de quatro horas, Bruna gravou a melodia no piano e, em seguida, Alana entrou no
estúdio enquanto a produtora acompanhava a gravação na mesa de som. Ao final de nove horas, a música já estava pronta. Despediu-se de Alana,
que saia para um show em Balneário Camboriú, e conferiu a música mais uma vez, antes de dar o seu próprio dia de trabalho encerrado. Pegou o
celular e conferiu algumas ligações e mensagens. A última recebida era a da esposa e a que mais lhe interessava. Isadora havia sido dispensada da
gravação que faria naquela noite, um problema qualquer com locação, e a esperava em casa. Sorriu para o aparelho, pegou a bolsa e se despediu das
poucas pessoas que ainda estavam no estúdio.

         - Demorou, Bruh – reclamou a ruiva que abria a porta.

         - Desculpa, linda, a Nove de julho está completamente parada. Saí tarde do estúdio também – respondeu Bruna ao puxar seu rosto para um
beijo em seus lábios.

         As mãos de Isadora envolveram o pescoço da produtora, enquanto a puxava para dentro do apartamento. Bruna deixou a bolsa cair no chão
para usar as mãos livres para envolver o corpo da mulher. Estava com Isadora há três anos, mas cada uma tinha sua própria casa, apesar de serem
casadas no papel. Tanto ela, como Isadora, curtia ter seu próprio espaço e o casamento moderno também contribuía para que não tivessem desgastes
desnecessários.

         - Como foi o dia com Alana? – perguntou a esposa puxando-a para a sala de jantar onde a mesa já estava posta para as duas.

         - Proveitoso. Finalizamos Razão, amanhã já mando para o maestro. Mais duas semanas e finalizamos o disco.

         - Que maravilha! Quer vinho?

         - Quero.

         Bruna deu mais um beijo na esposa e saiu até o lavabo para lavar as mãos e o rosto. De volta a sala, encontrou Isadora já com a garrafa nas
mãos, lutando contra o saca-rolhas.

         - O que aconteceu com a locação da gravação? Não seria uma gravação no estúdio? – perguntou, tirando o saca-rolhas da mão da mulher antes
que ela se machucasse.

         - Era para ser, mas o diretor inventou de gravar a externa primeiro. O local que haviam reservado não passou por uma vistoria, acho, sei lá. O
cenário do estúdio estava desmontado, enfim, perdemos um tempão hoje com indecisões. Não aguento mais essa novela.

         - Você está emendando muito trabalho. Devia considerar um tempo de férias.

         - E vou mesmo. Quero passar um tempo fora do país. Podíamos passar um ano em Londres.

         - Podemos. Eu tiro um tempo de descanso também, volto para o Brasil quando for necessário. É só me falar quando pretende dar essa pausa
para me programar e deixar tudo certo na gravadora.

         - Vamos ver isso para o próximo ano. Não farei mais novelas pelos próximos dois anos.

         - A emissora não pode te escalar?

         - Não. O Rafael pode indicar alguns testes, mas não sou obrigada a fazer – respondeu a ruiva ao pegar a taça que Bruna esticava na sua direção.
– Viu a matéria que saiu na revista Perfeição?

         - Não. Mandaram um exemplar para casa, mas nem cheguei a ver ainda.

         - Eu tenho uma aqui.

         Bruna deu um gole no vinho enquanto via a mulher ir até a sala adjacente. Admirou a ruiva que usava apenas um short branco e uma camiseta,
também branca, deixando de lado todo o lado glamoroso com a qual convivia. Era linda ao seu natural.
         - Veja – mostrou Isadora, se acomodando em seu colo. – Você ficou linda nessa foto.

         A revista mostrava uma foto das duas, tirada uma semana antes, no carnaval da Bahia. A legenda dizia: o carnaval da diversidade. Folheou para
encontrar a matéria e mais fotos de ambas, em momentos de carinho, no camarote onde haviam ficado.

         - Depois eu vou ler com calma – falou ao fechar a revista e dar um beijo em seus lábios. – Você já leu?

         - Li. Ficou ótima! Julia tem um excelente texto. De muito bom gosto.

         - Ela é uma excelente jornalista – concordou. – Assim que chegar em casa, eu leio.

         Isadora concordou com um beijo em seus lábios, antes de ir se acomodar em uma cadeira ao seu lado para jantarem. Isadora Maranes era uma
atriz conceituada no meio artístico. Já havia atuado em cinco filmes, quatro minisséries e sete novelas, além de especiais televisivos. Havia sido
descoberta em um curso de teatro, quando ainda contava com quinze anos. Ao longo de dezesseis anos construíra uma carreira sólida, consagrando-
se um ícone da nova geração de atores. Haviam se conhecido quando ela fora mestre de cerimônias no extinto Vídeo Music Brasil. Já admirava sua
beleza na tela, mas presenciar toda a sua espiritualidade era um privilégio. O novo encontro entre as duas aconteceu seis meses depois, quando a
atriz fora destaque no videoclipe de uma banda que produzia. Saíram sem revelar a ninguém e, somente depois de um ano, que confirmaram o
romance na mídia. Eram o casal queridinho da comunidade LGBT, mas sempre tentavam ao máximo manter a discrição na vida intima.

         Bruna saiu do apartamento da mulher quando o relógio já marcava duas e meia da manhã. Com o pouco trânsito chegaria no Morumbi, onde
morava, em dez minutos, quinze no máximo. Ao sair do portão do condomínio, levava um sorriso nos lábios e o cheiro de Isadora a entorpecendo.
Desviou os olhos da rua vazia para ligar o rádio, mas quando voltou a erguer os olhos para a direção, se assustou com a mulher que parecia ter
surgido do nada, colidindo com o veículo.

         O susto paralisou Bruna por alguns segundos, antes de tirar o cinto de segurança e sair apressada para socorre-la.

         - Moça, como você está? Consegue falar comigo? – perguntou com o coração disparado, ao se abaixar na sua frente.

         - Me desculpe! Não vi o carro – respondeu visivelmente nervosa ao se sentar.

         Bruna a encarou, enxergando suas feições através da luz do farol. Uma adolescente ainda. Não lhe daria mais que dezesseis anos.

         - Agora Rafa! – ecoou uma voz masculina às suas costas.

         Bruna não conseguiu precisar o que aconteceu em seguida. A garota se levantou de um pulo e correu para a porta do carona do seu carro,
enquanto um homem se sentava ao volante. Somente quando bateram as portas é que entendeu que havia caído em um assalto.

         Rafaela ficou olhando para a mulher a frente do carro, que ainda a encarava, enquanto o namorado saia de ré, para manobrar em seguida.

         - Carrão da porra! – comemorou Nicolas ao volante.

         - Bonito mesmo, né? Que carro é esse?

         - Um Jaguar XE.

         - Muito lindo – tornou a concordar. Não entendia nada de carros, ao contrário do namorado. Se limitava apenas a beleza que seus olhos viam.

         - Pega tudo o que achar de valor aí. Vamos dar um rolê e depois abandonar.

         - Não vai vender pros caras?

         - Esse não. Até chegar em São Mateus já vai ter um monte de cana atrás procurando. É muito visado.

         - E por que escolheu esse, então? – perguntou Rafaela sem entender a lógica daquilo.

         - Porque eu quero dirigir um Jaguar, ué – riu Nicolas. – Vai logo, meu! Pega tudo ai!

         Rafaela obedeceu e começou a juntar as coisas do porta luvas, revistou todo o painel, porta trecos e, depois, o banco traseiro. Juntou tudo de
valor que encontrou e colocou na própria bolsa que encontrou no banco. Quinze minutos mais tarde, abandonaram o veículo perto da cracolândia.

         - O que tem de valor ai?

         - Tem bastante dinheiro, dois celulares, computador. Achei até um tocador de k7.

         - Quem usa k7 hoje em dia? Esses ricos são todos esquisitos. Joga fora o que não prestar e vamos atrás de uma boa picada.

         Rafaela revirou os olhos e seguiu Nicolas pelo amontoado de pessoas que se drogavam e traficavam a céu aberto na cracolância. Assim que
chegaram no traficante que conheciam, deu parte do dinheiro roubado e pegou as drogas que embalaria a bebedeira até o dia seguinte.

                O sol já invadia a casa de alvenaria sem acabamentos, quando Rafaela acordou. Se livrou dos braços de Nicolas e seguiu para o banheiro.
Ajeitou os cabelos castanhos e encarou os olhos cinzentos e fundos por conta de toda a chapação que havia feito na madrugada anterior. Recolheu
suas coisas e a bolsa que haviam roubado, antes que o namorado acordasse e saiu para a rua de terra.

         A favela já estava movimentada aquele horário. Pegou o celular no bolso da calça jeans para descobrir que já era mais de onze horas da manhã.
Subiu o morro até cair em uma rua de asfalto e depois de dez minutos já estava de frente a casa que dividia com a mãe. Ajeitou a bolsa no ombro,
antes de abrir a porta.

         Dentro do pequeno espaço de dois cômodos, encontrou a mãe com uma lata de cerveja na mão e o ar abafado com fumaça de cigarro. Ia abrir a
boca para desejar bom dia quando enxergou um homem saindo do banheiro.

         - Quem é esse, mãe? – perguntou confusa, apesar de já saber a resposta: podia ser qualquer um.

         - Meu nome é Inácio – se apresentou o homem que já devia estar na casa dos cinquenta anos ou mais. – Bom dia.
         Rafaela nada respondeu. Olhou para a mãe que estava mais preocupada com o programa da Ana Maria Braga do que com o que acontecia
dentro da própria casa.

         - Eu estou indo, Simone – falou Inácio diante do silêncio de Rafaela. – Eu deixei o dinheiro do gás em cima da mesa. Tem uns trocados a mais
para comprar umas cervejas também. Se precisar de mais é só falar.

         - Você também, meu querido. Se quiser mais, já sabe o caminho – respondeu a mulher ao, finalmente, desgrudar os olhos da tela da televisão.

         Rafaela não conseguiu conter a careta de nojo ao ver o homem se debruçando sobre a mãe para dar um beijo nela. Não queria nem imaginar a
cena grotesca do que tinha acontecido ali, naquela noite. Torcia para que não tivesse sido na sua cama.

         - Trouxe o que da rua? – perguntou a mãe se virando para ela.

         - Nada. Não consegui fazer dinheiro – respondeu encarando a mãe.

         Simone era uma mulher de trinta e quatro anos. Havia tido Rafaela com dezoito anos, que jamais tivera contato com o pai. Por um tempo havia
trabalhado como doméstica para alimentar a filha, mas depois descobrira que era muito mais fácil ficar com os homens que conhecia nos forrós que
frequentava. Todos eles sempre estavam dispostos a pagar alguma conta sua, desde que estivesse disposta a dar uma noite de prazer a eles. Simone
nunca negava. Por toda a favela era conhecida como uma puta barata. Com trinta e quatro anos, já aparentava ter seus quarenta e cinco anos,
resultante de muito sexo, bebidas e cigarros. Rafaela crescera vendo um desfile de homens diferentes entrar na casa e quando completara treze
anos, a mãe também começou a oferece-la em troca de migalhas. Com quinze anos, decidira por um fim nos abusos ao se relacionar com os
traficantes do morro. Ninguém mais mexia com ela, porém estava sujeita a todo tipo de humilhação que os caras faziam-na passar. Prestes a
completar dezessete anos, não conhecia uma vida diferente daquela: sabia que estava condenada ao mesmo destino miserável da mãe.

         - E essa bolsa? – tornou a perguntar Simone.

         - Umas roupas que peguei emprestado com a Jéssica.

         Simone voltou os olhos para a televisão e Rafaela deu uma olhada na cozinha imunda antes de seguir para o outro cômodo. Com alivio, viu sua
cama arrumada, como havia deixado. Se sentou sobre ela e abriu a bolsa. Tirou o primeiro celular de dentro, um Iphone novo. Tentou a tela, mas
estava bloqueado com a foto de Isadora Maranes, atriz que fazia protagonista da novela das sete. O outro celular também estava bloqueado, mas a
foto do descanso era da mulher que havia assaltado, junto com a atriz. O rosto apresentou um tom de surpresa quando assimilou os fatos. Tinha
assaltado Bruna Spagnatto, importante produtora musical, casada com Isadora Maranes. Pegou o próprio celular e colocou na pesquisa. Em
segundos o rosto da mulher, que lhe olhara com tanta preocupação, apareceu, preenchendo a página. Deixou o celular de lado e pegou a carteira,
dessa vez conferindo os documentos, confirmando que realmente era Bruna Spagnatto.

         Rafaela terminou de conferir todo o conteúdo, deixando o computador por último. Nele não havia senha e conseguiu acessar os arquivos da
produtora musical. Havia vários arquivos que pareciam ser importantes, assim como os sites que havia deixado salvo. Sem o acesso da internet, não
conseguia acessa-los. Voltou os olhos para o conteúdo sobre a cama e pegou o tocador de k7. Havia uma inscrição atrás: “Com amor, vovô”.
Certamente devia ter um grande valor sentimental para Bruna. Abriu o compartimento e encontrou a fita que ela devia estar escutando. Pegou seus
fones de ouvido e colocou no aparelho para escutar a música. Conhecia, mas não sabia o nome do artista; era antiga, provavelmente anos oitenta.
Começou a acompanhar a letra em inglês, transformando em um embromation improvisado.

         - Quer calar a boca! – gritou Simone da cozinha. – Caralho, só fica cantando essas merdas, enchendo o saco! Vai comprar uma cerveja pra mim!

         Rafaela desligou o tocador e escondeu todo o conteúdo embaixo da cama para que a mãe não visse e voltou para a cozinha. Pegou o dinheiro
que Inácio havia deixado sobre a mesa e saiu de casa para comprar o gás, antes que a mãe gastasse com bebida e as deixassem sem condições de
cozinhar por mais dois dias.

*******

Musica que Rafaela escuta: The smiths – How soon is now? https://www.youtube.com/watch?v=M9EjE4qm7b8

Notas finais:

Oi hehehhehe

Bora pra mais uma???

Bjokasssss

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Capitulo 2 - Rise up por Drikka Silva
         Bruna não havia dormido naquela noite. Depois do assalto, tinha voltado para a casa da esposa e ligado para a polícia, fazendo a denuncia.
Estava nervosa por ter sido roubada, não pelos bens materiais envolvidos, mas por um único item dentro do veículo, o tocador de k7 que seu avô
havia lhe dado. O aparelho tinha um valor sentimental que dinheiro nenhum poderia pagar. Duas horas depois do assalto, haviam ligado da
delegacia, informando que o carro havia sido localizado. Pegou um dos carros da esposa e guiou até o local, uma rua decrépita no centro de São
Paulo, margeada por mendigos e drogados. A primeira coisa que fez foi abrir o porta luvas atrás do presente do avô, mas ele havia sumido, assim
como tudo o que tinha de valor ali dentro.

         - Nós vamos ter que reboca-lo até a delegacia, em seguida, já faremos a liberação – esclareceu o policial ao seu lado.

         - Tudo bem – concordou Bruna ao sair de dentro do veículo. – Até o final de hoje já será liberado?

         - Sim, antes do meio dia, acredito.

         - Obrigada, policial. Tenho que ir até a delegacia para fazer a liberação?

         - Sim. E, depois, a retirada no pátio.

         Bruna concordou com a cabeça e ficou observando o veículo ser guinchado. Já era nove horas da manhã quando todo o processo burocrático foi
finalizado. Pediu para que Victor fosse encontra-la e guiaram até a casa de Isadora deixar o seu carro, antes de irem para a produtora. Estava
totalmente atrasada no trabalho e teria que esticar até tarde para compensar parte da manhã. A banda que estava produzindo já estava no estúdio
ensaiando e Fernando, um dos seus funcionários, acompanhava o ensaio. Os cumprimentou antes de sentar à mesa de som e prestar atenção no que
estavam fazendo.

                O trabalho foi finalizado às nove horas da noite e saiu do estúdio, indo direto para a própria casa, visto que Isadora ia gravar até tarde e
precisava descansar. Entrou no espaço vazio e deixou suas coisas de lado, indo atrás de uma dose de Martini na pequena adega que mantinha no
escritório. Colocou a bebida na mesa e pegou um bloco de notas para anotar tudo o que havia perdido no notebook que fora levado com o carro.
Tinha quase tudo salvo na nuvem e e-mail, mas alguns itens haviam se perdido. Acessou o computador de mesa ao lado e verificou a conta bancária,
pelo menos não tinham conseguido fazer acesso. Mudou todas as senhas e entrou em contato com o banco, solicitando novos cartões.

         No dia seguinte, dedicou a manhã para pedir novos documentos e compra de celular e outro notebook. Suspirou fundo ao pensar em todos os
seus contatos. Segundo item de valor que havia perdido com o assalto: sua agenda. De volta a produtora, mandou mensagem para Isadora,
informando que já estava com o novo aparelho e pediu para que ela lhe enviasse os contatos que tinham em comum. Quase tudo voltava ao normal,
exceto pelo toca fitas do avô, que nunca mais veria na vida. Aquela tinha sido sua grande perda.

        

         Rafaela olhou para os aparelhos espalhados pela cama e pensou no que faria com aquilo tudo. Já tinha visto que os celulares e o computador
dariam uma boa grana, dava para se manter por um mês se vendesse aquelas coisas, mas o que a estava segurando era o aparelho de tocar k7. Sabia
que aquilo não tinha nenhum valor mais, a não ser para quem o pertencia. Não tinha nenhum presente assim que pudesse guardar, não havia
ganhado nada relevante para que pudesse se lembrar no futuro.

         Recolheu as coisas e voltou a colocar na bolsa. Se levantou e caminhou até a janela, olhando para o morro que estava parcialmente ensolarado.
Do lado onde a favela era maior, uma nuvem escondia o sol, já do outro, que dava acesso para o Rodoanel, estava brilhando sob o sol. Era uma
pequena contradição do que trazia dentro de si mesma. Queria vender as coisas e garantir uma grana, mas algo a impelia a devolver para Bruna
Spagnatto. Sabia onde era a produtora, pois tinha alguns cartões na bolsa. Talvez ela ficasse feliz em ter suas coisas de volta e a recompensasse de
alguma maneira. Ela não iria se lembrar do seu rosto, tudo havia acontecido no escuro e rápido demais para que ela pudesse gravar suas feições.
Poderia dizer que tinha encontrado a bolsa em algum lugar, sem o dinheiro, e tinha ido devolver. Por outro lado, tinha que considerar que Bruna
não lhe daria nenhuma recompensa por entregar suas coisas. Os aparelhos já estavam garantidos, sua generosidade, não.

                O fato é que estava mesmo era curiosa para conhecer a mulher que havia visto na internet. Sabia que não conseguiria conhecer Isadora
Maranes, mas era o mais próximo que chegaria de uma celebridade. Isso e o fato de ser uma gravadora. Sempre tivera curiosidade de saber como
eram feitas as músicas que tanto gostava. Pesquisava no Youtube, tinha uma ideia, mas queria muito ver um estúdio pessoalmente. Isso também
seria o mais próximo que chegaria perto de algum cantor: conhecer o espaço onde davam vida às suas composições.

         - Vai aonde, Rafa? – perguntou a mãe que estava rente ao fogão, preparando café.

         - Vou devolver as roupas da Jessica.

         - Você ainda nem usou.

         - Não me serviram – mentiu.

         - Vai voltar pra casa?

         - Você vai trazer algum dos seus machos pra cá?

         - Vou. Tenho que pagar a conta de luz, já que você não serve pra nada, só atrapalha.

         - Não vou te atrapalhar. Vou dormir no Nicolas.

         - Ele tá transando com a filha da Raquel também. Sabia disso? Você não é a única vadia na vida dele.

         - Sabia. Eu também estou transando com ela – respondeu encarando a mãe. Não entedia qual o prazer que ela sentia em magoa-la, mas há
muito aprendera a mascarar sua dor. – Algo mais?

         - Sapatão do inferno! Sai daqui!

         Rafaela não contestou, ajeitou a bolsa no ombro e saiu de casa. Pegou o caminho da casa de Nicolas para tirar aquela história a limpo. Assim
que entrou na casa, o encontrou jogando videogame com dois amigos.

         - E ai, minha gata! Bateu saudade?

         - Que porra é essa de você tá trepando com a Bianca?! – perguntou nervosa.
         - Olha como você fala, garota. Transo com quem eu quiser.

         - Você é um filho da puta! – gritou Rafaela jogando um copo que havia encontrado na mesa na sua direção.

         - E ai vadia? Perdeu a noção, foi? – perguntou se levantando. Rafaela percebeu seu erro tarde demais. – Eu transo com quem eu quero e você
transa com quem eu quero, certo?

         - Errado! Não sou sua puta!

         - Ah, filha de puta é puta. E ai? Vocês estão afim? – perguntou para os amigos que assistiam a cena.

         - Vai se fuder! – falou se virando para a porta. A mão de Nicolas em seu braço impediu que continuasse.

         - Errado também. Eu vou te foder, bem gostoso, do jeito que gosta. Os caras também.

         - Me solta, seu filho da puta! – gritou Rafaela ao perceber o tanto que ele estava drogado.

         - Para de ser cheia de frescura. Nem reclama quando me dá gostoso – rebateu Nicolas, ainda a segurando forte para enfiar a mão dentro da sua
calça jeans.

         - Cara, deixa ela – falou um dos amigos ao ver o tanto que Rafaela estava se debatendo para se livrar de Nicolas. – Outra hora.

         - Tá broxa, é? Essa vadia aqui é uma delícia rebolando, pedindo mais.

         - Imagino que sim, mas ela não tá afim agora. Deixa ela ir.

         - Some daqui, filha da puta! Vê se não aparece mais.

         Rafaela recolheu a bolsa que havia caído no chão e saiu correndo para a rua. Somente quando pegou a perua que a levaria até São Mateus é que
se permitiu sentir alguma coisa. Abaixou-se sobre o banco, enquanto abraçava a bolsa de lona e chorou baixo, para não chamar a atenção de
ninguém. Precisava se livrar daquele inferno. Precisava se livrar daquilo tudo. Secou o rosto depois de quinze minutos, sem conseguir aplacar a dor
que carregava no peito. Ao descer na avenida Mateo Bei, pensou por um momento no que fazer. A bolsa no ombro começava a pesar, o peso de tudo
o que já tinha feito até ali. Colocou Sia para tocar no celular e acenou para um ônibus que ia para Itaquera. Iria fazer a coisa certa pela primeira vez.

        

         Bruna estava no meio de uma reunião quando Camila, uma das recepcionistas, ligou no telefone da sala informando que tinha uma garota na
recepção, querendo vê-la. Pediu para que ela deixasse o telefone que retornaria depois. Desligou o telefone e voltou a se concentrar no cantor e sua
equipe presente. O telefone tocou mais uma vez, trazendo uma leve irritação.

         - Por favor, Camila, eu estou no meio de uma reunião.

         - Me desculpe, Bruna, mas a menina disse que está com suas coisas. Me disse que achou em uma lata de lixo ontem.

         - Eu já estou indo ai – falou para desligar em seguida. – Me desculpem, é alguma coisa relacionada ao assalto que sofri essa semana. Eu vou ver
do que se trata e já volto.

         - De boa – respondeu Lucca, o cantor. – Só não demora.

         Bruna concordou com uma piscadinha e saiu da sala caminhando para a recepção. Do corredor já enxergou a garota que esperava para vê-la. O
coração disparou ao ver que era a mesma menina do assalto. Antes de entrar no espaço, olhou ao redor para se certificar de que ela estava sozinha.

         - Oi – falou, ainda desconfiada, olhando para o segurança da produtora que captou seu receio.

         - Oi. Meu nome é Lumia, vim te devolver isso – falou Rafaela esticando a bolsa na sua direção. – Vi sua foto na tela e achei o cartão na carteira.
Já tinham tirado o dinheiro.

         - Acredito que sim – respondeu Bruna desconfiada. Andou até o balcão da recepção e despejou o conteúdo, encontrando o toca-fitas do avô. –
Obrigada por vir devolver. Deixe-me compensa-la por isso. Me acompanhe, por favor.

         Rafaela seguiu a mulher contendo uma leve felicidade. Não sairia de mãos vazias, no final das contas.

         - Espera aqui, já venho – pediu Bruna colocando-a dentro do estúdio de gravação. Assim que a garota passou, fechou a porta pelo lado de fora.

         Rafaela entrou no estúdio, olhando tudo ao redor encantada por estar num espaço como aquele. Quantos artistas já não tinham passado por ali,
gravando as músicas que escutava nas rádios e internet? Se sentou em uma cadeira, mas olhou desconfiada quando viu Bruna conversando com o
segurança que estava na porta.

         - O que está acontecendo? – perguntou ao se levantar.

         - Achou que eu não te reconheceria, Rafa? – falou Bruna acionando a comunicação com o estúdio. – Quem mais está aqui com você?

         - Não sei do que está falando – mentiu com o coração disparado. Foi até a porta e tentou abri-la, mas estava fechada por fora.

         - Não adianta mentir! Você e seu amigo, namorado, sei lá, me assaltaram! Eu reconheceria essa sua carinha até no escuro! Já chamei a polícia,
estão a caminho.

         - Não, por favor! – pediu andando até o vidro. – Por favor, eu não posso ir presa! Eu só vim te devolver suas coisas! O carro, a gente deixou lá na
Luz. Ele deve estar lá ainda!

         - Eu já recuperei tudo o que queria. Agora quem vai lidar com você é a polícia.

         Bruna saiu da sala sem escutar o que a garota tinha a dizer. Encontrou Victor no corredor e pediu que ele ficasse de olho nela, junto com o
segurança até a chegada da polícia. Tomou um copo de água para se acalmar, antes de voltar para a sala de reuniões. Tentou voltar a se concentrar,
mas estava completamente alheia, curiosa para saber o que se passava do lado de fora, se a viatura já havia chegado para tirar aquela delinquente
da sua produtora. Estava falando sobre forma de gravação do novo disco de Lucca quando Victor abriu a porta.
         - Você precisa ver isso!

         Bruna não contestou. Se levantou e seguiu seu assistente até o estúdio onde a garota era mantida. Victor acionou o botão de áudio na mesa de
som e logo uma voz melodiosa tomou conta da sala. Ficou observando a garota que estava sentada no chão, de costas para o vidro, cantando Trem
bala de Ana Vilela. Sua voz claramente mostrava que ela estava chorando ao mesmo tempo que externava seu medo na melodia. A garota arrumou o
cabelo, revelando o fone no ouvido. O silêncio, que certamente aconteceu na troca da música, foi quebrado com as fungadas que ela dava no nariz.
Esperou que ela começasse a próxima. Um arrepio correu por seu braço quando escutou a voz tímida cantando a introdução de Rise Up de Andra
Day. Ela não conseguiria cantar aquela música, poucas pessoas conseguiam.

         Bruna se encostou na mesa de som sentindo seu corpo inteiro se arrepiar, quando a garota chegou ao refrão. Ela errava algumas palavras da
música, criando uma língua que somente ela entendia, mas a potência da sua voz não era diminuída por isso. Acompanhava a melodia que tocava
nos seus fones de ouvido, sem desafinar.

         - Rafa – chamou ao acionar o botão de comunicação.

         Rafaela abraçou as pernas ao escutar seu nome. Estava apavorada com a ideia de ir para a cadeia, mesmo que já tivesse certeza de que aquilo
um dia aconteceria com ela. Secou o rosto inutilmente antes de virar para enxergar a folha de vidro e a mulher atrás dela. Se levantou e caminhou
para a porta, esperando ser aberta.

         - Tira os fones de ouvido e canta essa música de novo. Agora em pé, com o diafragma estendido.

         - Com o que?

         - Eu vou te dar uma base.

         Rafaela olhou para a mulher atrás do vidro sem entender nada. Esperou por um minuto enquanto ela conversava com um rapaz que se sentou
em um teclado, em seguida.

         - Eu não sei cantar essa música direito. Eu não sei falar inglês.

         - Canta do seu jeito – orientou Bruna.

         Rafaela engoliu em seco antes de ir para o microfone que Bruna indicava. Respirou fundo para controlar o medo que estava sentindo, e, em
segundos, o rapaz começou a tocar. Fechou os olhos para se recordar um pouco da música. Havia decorado a letra dela, mas já fazia muito tempo.

         Bruna voltou a encostar na mesa de som, enquanto a garota cantava a música. Olhou incrédula para a menina que segurava o celular com os
fones, ao lado do corpo, um jeans barato e uma camiseta puída. Uma delinquente juvenil com uma garganta de ouro.

         - Solta mais a voz – pediu Bruna acionando a comunicação novamente. – Respira pelo nariz, expande seus pulmões. Você consegue alcançar
uma nota mais alta.

         A garota concordou com um aceno e fez o que a mulher orientava. Era a única vez que cantaria para uma produtora musical, era a única vez
também que tinha a ilusão de cantar em um estúdio. Uma ultima música antes de ser presa. Não sabia como funcionava a cadeia, mas tinha certeza
que conheceria uma em breve e sabia que não teria acesso às músicas que tanto gostava.  

         Bruna olhou para Victor, balançando a cabeça em sentido negativo. A menina tinha uma qualidade vocal impressionante. Tinha certeza que ela
jamais tinha frequentado nenhuma aula de canto, mas possuía uma técnica natural, um dom. Desviou os olhos para a porta do corredor, por onde
dois policiais entravam. Voltou os olhos para a menina que a encarava através do vidro com lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

         - Me desculpe por tomar o tempo dos senhores – falou Bruna se adiantando para os policiais. – Foi uma tremenda confusão.

                Victor e o segurança olharam para ela sem entender nada. Bruna voltou a repetir que não tinha nada de errado, que se confundira, se
lamentando pelo inconveniente. Depois de tomar uma leve bronca, se despediu dos policiais e saiu do estúdio, sendo puxada por Victor.

         - O que você está fazendo?

         - Eu não posso deixar um talento desse se perder! Você escutou a voz dessa garota! É única.

         - Ela é uma ladra, Bruna! Te assaltou!

         - Eu não posso deixar ela ir para uma cadeia! Eu vou acabar com a vida dela se deixar isso acontecer!

         - Bom, você quem sabe.

         Bruna concordou com a cabeça e voltou para o estúdio ao lado de Victor. Olhou para a garota de grandes olhos cinzentos e assustados que a
encarava. Esperava, fervorosamente, não estar cometendo um erro.

*****

Músicas que Rafaela canta no estúdio: Rise up – Andra Day

https://www.youtube.com/watch?v=kNKu1uNBVkU&start_radio=1&list=RDMMkNKu1uNBVkU

Trem Bala – Ana Vilela

https://www.youtube.com/watch?v=sWhy1VcvvgY

Música que Rafaela escuta no ônibus: Sia – Alive

https://www.youtube.com/watch?v=t2NgsJrrAyM
Notas finais:

Oi oi lindonas! 

Obrigada por receberem essa nova história! Agradeço, de coração, o carinho!

Cap saiu adiantado pq amanhã não terei tempo de postar, mas será sempre terça e sexta hehehee

Bjokasssssssssssssssss

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Capitulo 3 - De quem é a culpa? por Drikka Silva
         Bruna voltou para o estúdio e encarou a menina dentro da sala acústica, que a olhava de volta, esperando que tomasse alguma atitude. Apertou
o botão de comunicação e segurou por um tempo, em uma ultima deliberação.

         - Rafa, eu vou te liberar, mas eu quero conversar com você. Me promete que não vai sair correndo?

         - Eu posso sair daqui? – perguntou Rafaela, secando o rosto.

         - Pode, é claro. Não posso te prender num estúdio, seria cárcere privado, mas eu realmente quero conversar com você. Me promete que não vai
sair correndo?

         - A polícia está lá fora, né?

         - Não. Eu os mandei embora.

         Rafaela assentiu, sem entender o que estava acontecendo. Viu quando a mulher foi até a porta e abriu dando-lhe passagem. Saiu desconfiada e
parou com uma certa distância, para manter sua segurança.

         - Meu nome é Bruna, como já sabe. Esse é o Victor, meu assistente aqui na gravadora – apresentou a produtora. – Eu estou no meio de uma
reunião agora, finalizando já, mas eu volto em poucos minutos. Você vai me esperar?

         - Eu não tenho o dinheiro mais, mas eu prometo que vou arrumar e te devolvo. Eram trezentos e cinquenta...

         - Eu não quero o dinheiro – cortou Bruna. – Eu quero conversar com você. Vai me esperar?

         - Espero – concordou Rafaela. – Obrigada por não me entregar para a polícia.

         Bruna anuiu com a cabeça e encarou Victor por alguns segundos antes de voltar a olhar para a garota a sua frente.

         - Victor vai arrumar uma água ou um suco para poder se acalmar, lave o rosto. Volto em meia hora, no máximo.

         Rafaela concordou com um aceno de cabeça e viu Bruna sorrir na sua direção, antes de sair do estúdio. Olhou para o rapaz que ainda estava ao
seu lado e que indicava a porta para saírem também. Seguiu-o pelo corredor até uma escada para o segundo piso. Victor indicou o banheiro para ela
e agradeceu antes de entrar e poder, enfim, respirar aliviada. Se sentou na privada e passou as mãos no cabelo, tentando controlar a tremedeira.
Olhou ao redor para conhecer o espaço: as paredes em um cinza claro com um piso bege, no canto, uma pia de mármore de parede a parede com
vasos de flores e uma pequena pilha de toalhas. Se levantou e seguiu até ela, se encarando no espelho à sua frente. Os olhos estavam vermelhos e,
depois de prender o cabelo, abriu a torneira e se abaixou sobre a cuba de vidro, para jogar água no rosto.

         Do lado de fora, Victor ainda a esperava. Indicou uma sala com um sofá e se sentou para esperar por Bruna. Com toda a certeza ela iria querer
que falasse sobre Nicolas e onde poderia encontra-lo. Estava decidida a entregar o endereço do, até então, namorado. Não iria segurar aquela bronca
sozinha.

         Passado dez minutos, uma mulher entrou com uma bandeja para ela. Enxergou água, suco e alguns pequenos pacotes de bolacha. Agradeceu
com um sorriso tímido para a mulher, que saiu em seguida, e pegou primeiro a água. Tomou metade da garrafa antes de dedicar atenção às
bolachas. Abriu o suco, constatando a fome que estava sentindo. Desde que havia saído de casa, horas antes, não havia comido nada e o estômago já
reclamava a falta de alimento. Estava no terceiro e ultimo pacote de bolachas quando a porta foi aberta e Bruna apareceu, acompanhada de Victor.

         - Oi Rafa – falou Bruna ao puxar uma cadeira de um canto da sala para posicionar na sua frente. Victor se sentou em uma poltrona na parede
contrária.

         - Me desculpe por ter te assaltado, eu não sabia quem você era até o momento em que vi a foto da sua mulher na tela do seu celular.

         - Seu namorado sabe quem eu sou? Conhece esse endereço?

         - Não, eu não contei pra ele. É um idiota! Não estamos mais juntos.

         - Há quanto tempo você comete assaltos? Esse comportamento é frequente?

         - Não, não é...

         - Eu preciso da verdade, Rafa. Aliás, Rafa é seu nome mesmo?

         - Sim. Rafaela. E não, não cometo assaltos assim. Aquele dia foi o terceiro que fiz com ele. Começamos a namorar tem três meses. Quando ele
não conseguia algum corre com os caras, ia com ele.

         - Quais outros crimes cometeu? Já foi presa alguma vez?

         - Não, eu nunca fui presa. Eu não sou uma criminosa, tá bom?! Eu fiz uma besteira e me arrependi, tanto que vim te devolver suas coisas. Eu já
posso ir? Se quiser eu te dou o endereço de onde o Nicolas mora.

         - Por que você começou a cantar no estúdio?

         - Eu tava com medo. Música me deixa mais calma.

         - E costuma cantar muito?

         - Não. Só quando estou sozinha. Geralmente minha mãe manda eu calar a boca.

         - Você já fez alguma aula de canto?

         - Eu sei que canto ruim. Me desculpe por ter cantado daquele jeito... Eu... Só me deixa ir embora – pediu já sentindo as lágrimas iminentes.

         - Não estou te recriminando, Rafa – contemporizou Bruna. – Eu gostei da sua voz. Apesar de ter cantando uma letra que não entendi, você
cantou bem.

         - Eu já tinha falado que não sei cantar em inglês. Eu não sei falar inglês.
         - Que idade você tem, Rafa?

         - Dezesseis. Daqui três meses faço dezessete. Dia vinte de Maio.

         - Você nunca pensou em entrar em algum concurso, tipo The voice ou Superstars?

         - Você está brincando comigo, né?

         - Por que brincaria?

         - Eu não tenho chance nenhuma no meio daquele pessoal. Sem contar que nunca poderia participar de um. Não tenho condições disso.

         - Posso te escutar mais uma vez? Sem pressão agora. Nada de policiais, medo.

         - Pra quê?

         - Quero conhecer sua voz.

         - Tá bom.

         - Canta alguma coisa nacional. O que gosta de ouvir da música brasileira?

         - Ah, tanta coisa – sorriu Rafaela. – Naiara Azevedo, Maiara e Maraisa, IZA, Anitta. Alguns rocks mais antigos. Gosto de tudo na música.

         - Escolhe uma. Qualquer uma.

         - Pode ser De quem é a culpa? Adoro essa.

         - Pode.

         - Aqui? Assim?

         - É. Só arruma sua postura. Estica sua coluna para que seu abdômen fique bem posicionado e sem pressão sobre o diafragma.

         Rafaela concordou com a cabeça e fechou os olhos para não ficar tão tímida ao cantar. Bruna se segurou ao máximo para não demonstrar
nenhuma reação enquanto a garota cantava a música. Se virou para Victor e deu um discreto sorriso, antes de voltar a encara-la. Se ela tivesse bons
profissionais auxiliando-a, poderia se tornar uma grande cantora. Tinha a idade certa para ser moldada para o estrelato.

         A música acabou e Rafaela abriu apenas um olho, com uma careta para enxergar Bruna a sua frente. A produtora não conseguiu mais segurar o
sorriso diante da brincadeira da garota.

         - Seguinte, Rafa, creio que sabe que sou uma produtora musical, sei reconhecer um talento quando estou na frente de um. Você já parou para
pensar que tem um dom? Que pode se tornar uma cantora de sucesso?

         - De vez em quando eu tenho esses delírios. Depois a realidade me dá alguns tapas na cara e acordo.

         - Por que?

         - Eu não tenho como me tornar cantora. Não tenho dinheiro pra isso. É tudo caro demais.

         - Sua família não te apoiaria?

         - Não tenho família. Tenho uma mãe que é quase um castigo.

         Bruna pensou, por um momento, nas palavras da garota. Era uma pena que um talento como o dela se perdesse. Ponderou suas possibilidades,
mas dada a primeira impressão que ela havia passado, roubando seu carro, não podia ter nenhum envolvimento.

         - Bom, caso tenha algum interesse no futuro, me procure. Ficarei feliz em te produzir.

         - Obrigada. Já posso ir?

         - Pode. Deixe seu telefone com a Camila na recepção, caso queira.

         Bruna levantou-se e se despediu da garota à sua frente. Ficou observando-a sair da sala acompanhada por Victor. Passou as mãos nos cabelos e
deu um longo suspiro. Era, realmente, uma pena. Pegou o celular no bolso e verificou sua agenda, saindo da sala. Iria trabalhar em algumas
melodias para outra letra que Alana tinha lhe enviado e no final do dia iria para o Rio, acompanhar uma gravação de Isadora durante o final de
semana.

        

         Rafaela passou direto pela recepção e saiu da produtora. Pensou, por um momento, em Bruna, nas suas palavras e no que tinha acontecido
naquele dia. Um leve vislumbre de um sonho. Deu alguns passos em direção ao caminho que a levaria até o metrô, mas mudou de ideia. Deu meia
volta, retornando para a produtora, e deixou o seu numero de telefone com a recepcionista, como Bruna havia orientado. Agradeceu com um sorriso
e voltou o caminho para o metrô. Não esperava que ela lhe ligasse, mas, talvez, pudesse surgir algum trabalho para ela.

         De volta a favela, entrou em casa e já encontrou a mãe se arrumando para sair. Deu uma desculpa qualquer por ter sumido o dia inteiro e
seguiu para um banho. Depois de meia hora, sentou-se sobre a cama e pegou o cartão de Bruna, que havia tirado da sua bolsa. Quem sabe um dia
não tivesse condições de pagar alguma coisa para se tornar uma cantora? Guardou o cartão no guarda-roupas e procurou alguma coisa para vestir.
Não iria sair naquela noite, estava sem pique nenhum para enfrentar trem e ônibus até qualquer lugar no centro e não estava disposta a ir nos
bailes da comunidade, evitando encontrar Nicolas.

                Já era meia noite quando a mãe voltou para casa acompanhada de outro homem. Aumentou o volume da televisão na cozinha quando os
gemidos começaram a tomar conta da casa, vindos do quarto. Suspirou com raiva e pegou a roupa que havia deixado no banheiro, se vestiu e saiu
para a rua atrás de alguma distração. Assim que chegou no baile funk, encontrou alguns amigos e logo uma latinha de cerveja foi colocada em sua
mão. Estava contando a uma amiga o que tinha acontecido durante o dia, quando viu Nicolas chegando de moto. Tentou se concentrar na conversa
com a amiga, mas Nicolas se aproximou, chamando-a.
         - O que você quer? Terminar de ser um babaca? – perguntou, nervosa.

         - Foi mal, gata. Tava zuado aquela hora. Nem sei o que falei.

         - Você foi um otário, isso que aconteceu. Me oferecendo como uma puta qualquer para os seus amigos.

         - Foi mal ai. Eu prometo que não vai repetir.

         - Que história é essa de você tá comendo a Bianca?

         - Não fico com a Bianca. Ficava antes do nosso lance.

         - Não acredito em você.  

         - Não vou te zuar, Rafa. Eu quero ficar com você. Vamos dar um rolê de moto? Podemos conversar melhor.

         Rafaela pensou por um minuto, antes de concordar e sair atrás de Nicolas. Subiram na moto e ele deu partida, saindo em seguida. Deram uma
volta por todo o morro antes de terminarem o trajeto na sua casa, na sua cama.

         Bruna deixou o corpo relaxar acariciando o corpo nu de Isadora sobre o seu. Afagou seus cabelos antes de beija-la demoradamente. A ruiva saiu
da cama e foi até o banheiro e, depois, o closet para pegar uma lingerie. A produtora fez o mesmo antes de voltar para a cama e se deitar ao lado da
esposa. Estavam no apartamento que Isadora possuía no Leblon.

         - Você me parece levemente distraída, Bruh – comentou Isadora ao acariciar seu rosto. – Algum problema no trabalho?

         - Problema não, mas aconteceu algo na produtora hoje. Lembra que eu te falei do assalto, da menina que se jogou na frente do carro para me
parar?

         - Sim. O que tem ela?

         - Foi na produtora devolver minhas coisas.

         - Meu Deus! Você chamou a polícia, não chamou?

         - Chamei. Prendi ela dentro do estúdio, mas aí a coisa ficou estranha. Ela começou a chorar para não ir presa, mas eu saí da sala e voltei para a
reunião com Lucca. Victor, que tinha ficado de olho na menina, veio me chamar. Ela estava cantando dentro do estúdio. Estava sentada no chão,
ainda chorava, mas a voz dela me chamou muito a atenção.

         - Você não permitiu que ela fosse presa – deduziu Isadora com um sorriso.

                - Não. Pedi que ela cantasse direito, dei um tempo para ela se acalmar na sala de espera. Pedi para cantar outra. Se ela tivesse um bom
acompanhamento, iria se tornar uma estrela de sucesso. Ela tem o dom.

         - Que idade tem essa garota?

         - Dezesseis anos.

         - Uma menina ainda.

         - Sim. Uma garota jovem, completamente perdida. Pelo visto não possui ninguém que a apoie, me parece que só tem a mãe. Não entrei em
detalhes.

         - Não pode fazer nada para ajudá-la?

         - Posso, mas é complicado se envolver, dado o fato de que ela me assaltou.

         - Isso é verdade. Não tem como ter confiança em uma adolescente problemática.

         - Exato. Deixei as portas da produtora aberta, caso ela decida no futuro.

         - Fez bem. Agora vamos dormir. Amanhã tenho que gravar cedo.

         - Vamos.

         Bruna deu um beijo demorado na esposa, antes de se acomodar na cama, com a ruiva em seus braços. Em minutos já escutou a respiração
profunda de Isadora, mas não conseguiu pegar no sono, lembrando de Rafaela e seu talento. Se pudesse produzir uma garota como ela, poderia
transforma-la em um novo ícone da cena pop nacional.

                Durante todo o sábado acompanhou Isadora na gravação de um comercial de uma marca de automóveis e a noite foram a uma festa de
aniversário promovida por um ator da novela que a esposa participava. Já era quase manhã quando voltaram para o apartamento. No domingo
foram a praia na parte da manhã e na parte da tarde, voaram de volta a São Paulo. Assim que entraram em sua casa, no Morumbi, Isadora tocou no
assunto que havia analisado durante os últimos dois dias.

         - Linda, vem aqui – chamou, apontando a cama para a morena.

         Bruna se sentou ao seu lado, tentando prever qual bronca levaria. Sempre que Isadora a chamava daquela forma, era porque o assunto era
sério.

         - O que eu fiz? – perguntou com uma careta.

         - Aquela menina que me falou, não acha que podemos fazer algo por ela?

         - Rafaela?

         - Sim. Talvez tenha um motivo de ela ter te assaltado aquela noite, ter cantado no seu estúdio enquanto esperava a polícia. Quantos artistas não
nascem assim, ao acaso?
         - Você acha que é uma boa ideia? Me preocupa as pessoas com quem ela anda, a história dela.

         - É esse povo maluco que faz arte. Com dezesseis anos, meu sonho era me tornar a atriz que sou hoje e me tornei Isadora Maranes porque
alguém acreditou em mim. Não seria o momento de acreditarmos em alguém? Eu pago todos os custos que tiver com ela...

                - A questão não é dinheiro, amor. Já começa por ela ter um namorado marginal, uma mãe que me soou como omissa. Sabe lá Deus outros
problemas que ela não tenha.

         - Você já nasceu em uma família abastada, amor, teve apoio, seu avô foi um grande produtor musical, mas para muitas pessoas, às vezes só falta
um direcionamento. Você foi uma privilegiada, eu não fui, mas venci. Ela pode não ser uma privilegiada também, mas pode vencer se tiver uma
oportunidade. Pensa com carinho?

         - Penso. Vou pensar com carinho. Prometo.

         Isadora concordou com um sorriso e se acomodou sobre o colo da esposa, beijando-a demoradamente. Bruna deixou o corpo cair sobre a cama,
puxando a mulher para se juntar a ela. De fato era uma privilegiada. Em todos os sentidos.

****************************

Marilia Mendonça – De quem é a culpa?

https://www.youtube.com/watch?v=5hnSlCygsTs

Notas finais:

Oi oi lindonas! 

Pergunta: vcs querem que coloquem o link das músicas antes ou depois do cap? Primeira vez que
estou colocando referências músicais e titia tá meio perdida hehehehe

Amores, me deixem saber o que estão achando do conto? To sentindo vcs bem mais econômicas
nesse hehhee se não estiver agradando, nada que não se resolva com uma bala perdida hehehe
(brincadeira)

Esperando feedback!

Bjokasssssssssss

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Capitulo 4 - Como nossos pais por Drikka Silva
         Bruna pegou o pedaço de papel que Camila esticava e olhou demoradamente para o número. A recepcionista saiu da sua sala e se virou para a
parede, pensando nas palavras de Isadora, no seu pedido. Tinha analisado todas as suas possibilidades durante três dias, antes de pedir o telefone
para Camila. Podia conhecer mais da problemática adolescente antes de fechar um contrato com ela. Talvez ela não fosse tão perdida quanto
imaginava, poderia ter uma saída para ela, caso se dedicasse a música. Fato é que Isadora tinha razão: não tinha como ter qualquer ideia da vida de
Rafaela se não lhe desse uma oportunidade.

         Virou-se para a mesa e esticou a mão para pegar o telefone fixo em seguida. Discou os números anotados e no terceiro toque, escutou a voz da
garota entrando na linha.

         - Oi Rafa, é a Bruna Spagnatto.

         - Ah, oi Bruna – cumprimentou a adolescente.

         - Eu quero conversar com você, pode vir até a produtora?

         - Conversar o quê? – perguntou desconfiada.

         - Se não for um problema, gostaria que fosse pessoalmente. Prometo que não terá nenhuma surpresa desagradável.

         - Tá bom. Quer que eu vá hoje?

         - Amanhã, às três horas da tarde.

         - Tá bom. Estarei ai.

         Bruna desligou o telefone e ficou olhando para o aparelho, diante da conversa rápida e simplória que havia tido com a garota. Tão típico de
adolescente, riu.

        

                Rafaela olhou para o celular com um sorriso enorme no rosto. O que será que Bruna queria com ela? Pensou, por um momento que ela
realmente estivesse afim de produzir um álbum seu, mas como faria isso? Pra quem venderia, onde se apresentaria? Jamais faria alguma
apresentação em pública, tinha uma vergonha absoluta só de imaginar a ideia. Por outro lado, não podia deixar de imaginar como seria, uma casa
de shows cheia, pessoas gritando seu nome, esperando para vê-la cantar. “Pelo menos sonhar não é pago”, pensou risonha.

         - Ta rindo sozinha por quê? – perguntou Simone ao entrar no quarto. – Tá ficando maluca agora também, é?

         - Não importa – respondeu ao deixar o celular de lado. – Amanhã eu preciso ir lá no centro. Me dá o dinheiro da passagem?

         - Vai fazer o que no centro?

         Rafaela pensou, por um momento, na resposta a dar para a mãe. Não fazia nem ideia do que ia conversar com Bruna, logo não podia dar uma
resposta para a pergunta da mãe.

         - Vou ver um emprego – mentiu.

         - Que emprego? Você só tem dezesseis anos. Ninguém te contrataria com essa idade. Só serve mesmo é para dar gasto.

         - Não custa tentar, né?

         - Não vai se meter com cafetão, hein?! É morte na certa.

         - Eu não vou me prostituir, mãe! Que absurdo!

         - Os caras seriam capazes de dar o salário deles para ter você.

                Rafaela coçou a testa antes de se aproximar da mãe e sentir o cheiro de álcool. Não podia argumentar com alguém que estava bêbado. Se
limitou a afastar-se e dar um sorriso na sua direção.

         - Eu não vou virar uma puta, ok? Você vai me arrumar o dinheiro para ir ver o emprego?

         - Eu vou ver o que consigo. Hoje vou fazer uma festinha mais completa com os rapazes que vai colocar os pisos no banheiro. É melhor que saia
de casa.

         Rafaela balançou a cabeça em sentido negativo, suspirando fundo. Para que a mãe a alertasse do que faria, era sinal de que ela mesma iria se
colocar em perigo.

         - Mãe... Não faz isso. Você não sabe o que esses caras podem fazer, se podem te trazer alguma doença. A gente pode conseguir se virar como todo
mundo, não pode?

         - Vai se fuder, Rafaela! Acha que vou lavar banheiro pros outros de novo? Se você não existisse, nada disso seria preciso! Você...

         - Quer saber? – explodiu Rafaela em um grito. – Vai se fuder!

         Rafaela saiu brava de casa e seguiu direto para a casa de Jessica, uma amiga que morava na mesma rua que a sua. Sentaram-se na calçada e
ficaram conversando sobre o colégio que Rafaela havia abandonado, meses antes.

         - Melhor você terminar, Rafa. Falta só dois anos. Pelo menos com o ensino médio completo, você consegue arrumar um emprego.

         - Emprego pra quê? Pra sustentar o vicio da minha mãe? To fora.

         - Você não pensa em fazer o mesmo que sua mãe, né? Sei lá, é tão zuado isso.

         - Lembra da mulher que te falei na sexta? A Bruna Spagnatto?


         - Sei. A produtora musical casada com a Isadora Maranes.

         - Isso. Ela me ligou hoje, pediu que eu fosse até a produtora amanhã para encontrá-la.

         - O que ela quer com você?

         - Não sei. Disse que quer conversar.

         - Você não acha estranho isso?

         - Se ela quisesse o endereço do Nicolas, era só ter me pedido, ou sei lá.

         - Ela pode mesmo ter gostado da sua voz, do jeito que cantou. Já imaginou? Rafaela Gomes, a maior cantora desse morro?

         Rafaela riu com a ideia da amiga.

         - Rafaela Gomes é um nome horroroso para uma artista. Que tal só Rafa?

         - Nada a ver. Tem que ter nome e sobrenome. Rafaela Gomes.

         - Rafa do Sabão – riu ao fazer menção ao nome do morro aonde morava.

         As duas adolescentes riram enquanto assistiam a tarde cair, de forma amena. Se despediu da amiga quando ela informou que ia se arrumar
para ir para a escola. A ela, restou voltar para casa e tomar um banho demorado. Estava terminando de fazer a janta quando ouviu o nome da mãe
ser chamado. Pegou um prato de comida e foi para o sofá, para jantar enquanto assistia a novela. Não se deu ao trabalho de olhar para os homens
que entraram na sua casa e passaram direto para o quarto, orientados por Simone.

         - Por que sua filha não vem também? – perguntou uma das vozes.

         Rafaela perdeu totalmente o apetite só de imaginar a cena. Nem esperou para escutar a resposta da mãe. Se levantou do sofá e colocou o prato
na pia para sair em seguida.

         - O que você vai fazer hoje? – perguntou Nicolas, ao ver Rafaela sair da cama às dez da manhã. – Fica aí de boa.

         - Tenho um corre para fazer a tarde. Na hora que eu chegar eu mando mensagem.

         - Que corre é esse?

         - Nada importante. Vou ver um curso que falaram lá no centro, mas acho que não vai virar. Tem uma grana ai para pagar minha passagem?

         - To zerado, gata.

         Rafaela concordou com um aceno e saiu da casa de Nicolas depois de meia hora. De volta a casa, encontrou a mãe ainda dormindo. Por sua
sorte, nenhum dos caras com que ela estava na noite anterior, ainda estavam ali, mas a sua cama bagunçada informava que ela tinha passado alguns
limites. Com uma raiva incontrolada, avançou para brigar com a mãe, mas antes que pudesse dar o primeiro chacoalhão nela, enxergou o dinheiro
que algum deles havia deixado na cabeceira da sua cama. Pegou o dinheiro e contou cinquenta reais. Mais que suficiente para que pudesse ir até a
produtora aquela tarde.

         Bruna recebeu Paulo, um dos amigos mais próximos e também um produtor de renome no mercado. Ele já havia participado de programas de
televisão para escolher novos talentos e tinha sido responsável pelo lançamento de vários nomes no mercado musical. Não havia rivalidade entre os
dois, pelo contrário, se ajudavam sempre que um dos dois precisava de alguma orientação e era com isso que Bruna contava naquela tarde, queria
ouvir a opinião de outra pessoa a respeito de Rafaela, uma avaliação neutra. Por mais que tivesse confiança nos seus ouvidos, sabia que estava
sugestionada pela voz da adolescente.

         - Então você acha que essa garota pode ser uma nova estrela da cena pop? – perguntou Paulo, sentado em uma cadeira no estúdio.

                - Ela canta divinamente bem. É claro que precisa de alguns ajustes, algumas aulas de canto, mas eu a vejo como um diamante bruto. É
necessário lapida-la.

         - Vamos ver como ela se sai. Já era pra ter chegado, não?

         - Sim – suspirou Bruna ao olhar para o relógio que já marcava três e dez da tarde. Daria mais cinco minutos antes de ligar para o seu celular. –
Vamos esperar mais um pouco.

         Bruna ainda conversou com o amigo por mais um tempo até que a recepcionista informou que Rafaela havia chegado. Victor foi recepciona-la e
em pouco tempo a adolescente entrou no seu estúdio.

         - Oi Rafa – cumprimentou com um sorriso e um beijo em seu rosto. – Esse é o Paulo Lins, Paulo, essa é a Rafa.

         - Muito prazer em conhece-la, Rafa. Causou uma boa impressão na Bruna.

         - Oi. Eu conheço você. Torci contra sua equipe no programa All Stars. É um prazer te conhecer pessoalmente.

         - Já perdeu alguns pontos comigo – riu o produtor. – Me diga, qual seu estilo?

         - Como assim?

         - Qual o tipo de música que você gosta? Sertanejo, funk, pop?

         - Ah, eu gosto de tudo. Não tem um estilo que eu gosto mais.

         - Ok, isso deixa bastante possibilidades.


- Me fala o nome de uma cantora que você admira.
- Sandy. Acho a voz dela tão linda. Aquela do Kid abelha também.
- Paula Toller.
- Isso. Ivete Sangalo, nossa! Acho que todas – riu sem graça.
- Como vocês se conheceram? Você não me disse, Bruh.

         - Podemos pular essa parte – sorriu Bruna. – Quero que você me diga se estou iludida pelo canto da Pequena Sereia.

         - Oi?

         - O desenho, A pequena sereia.

         - Ah, claro – riu Paulo. – Bom, Rafaela, eu quero te escutar também. Podemos fazer isso de duas formas, à capela e com acompanhamento.

         - Por que estamos fazendo isso? – perguntou a garota desconfiada.

         - Porque a Bruna acha que encontrou um diamante. Eu desconfio que você não seja tão boa quanto ela diz ser. Me prove o contrário.

         - Eu... Eu...

         - Não consegue, não é?

         - Claro que consigo – respondeu Rafaela, desafiadora. – Pode ser qualquer uma?

         - Vamos começar por Sandy. Escolhe alguma das músicas dela. Entra no estúdio – pediu Bruna com um sorriso pelo desafio do amigo. – Quando
quiser.

         Rafaela entrou no estúdio e parou na frente do microfone, olhando para Bruna e Paulo a encarando através do vidro. Mais atrás estava Victor,
que acenou com a cabeça, transmitindo confiança. Foi um gesto simplório, mas que lhe deu coragem para fechar os olhos e cantar a primeira música
da Sandy que lhe veio à cabeça: A lenda.

         - Canta outra – pediu Paulo ao acionar a comunicação dentro do estúdio.

                Rafaela concordou com um aceno e escolheu outra música do vasto repertório da cantora que tanto gostava, Eu acho que pirei. Bruna
acompanhou com um sorriso no rosto e começou a dançar junto com Paulo e Victor, numa tentativa de soltar mais a garota do outro lado do vidro.
Rafaela abriu os olhos para enxergar o vidro e começou a sorrir ao ver o que seus expectadores faziam. Como um passe de mágica, se soltou no
estúdio, cantando a música, se divertindo com a canção. Terminou a letra e ficou esperando enquanto eles riam do outro lado.

         - Você já escutou Sandy cantando Elis Regina? – perguntou Paulo, voltando a se concentrar no propósito de estar ali.

         - Eu não sei. Acho que já.

         - Essa música – falou Bruna para cantar em seguida. – Como nossos pais.

         - Eu já ouvi, mas não conheço a letra.

         - Vou providenciar pra você – Victor anunciou, já saindo do estúdio.

         Bruna caminhou até a porta, entrando no estúdio com Paulo ao seu lado.

         - Você está se saindo bem, mas percebo que sempre fecha os olhos quando canta. É interessante se conseguir manter os olhos abertos para
acompanhar a reação da sua plateia, trocar energia com eles. Esse contato visual te conecta com quem estiver te assistindo – orientou Paulo. –
Comece a prestar atenção nisso, olhos abertos.

         - Vou tentar. É que me sinto mais confortável sem ver que estão me observando.

         - Use isso como um exercício.

                - Perceba também que conseguiu se soltar só quando viu que nós estávamos nos divertindo com a música, é isso que o Paulo explicou –
completou Bruna. – É isso que você tem que ter em mente: é arte do entretenimento, você também tem que se divertir com ela.

         - Certo.

         - Mantenha sua respiração concentrada na barriga. Quando você respira, você ergue os ombros, na chamada respiração torácica. É errado. Veja
a barriga da Bruna quando ela respira, é da mesma forma como os bebês. Respiração do abdômen, estufando a barriga.

                Rafaela olhou para a mulher a sua frente, que ficava de lado com a camiseta erguida para que pudesse ver o movimento da sua barriga.
Concordou com um aceno, mas também prestou atenção no dragão que ela tinha tatuado na lateral do corpo. Bruna abaixou a camiseta, depois de
alguns segundos ao perceber que a atenção da adolescente não estava totalmente na sua respiração.

         - Isso são algumas técnicas que você vai aprender com o tempo – sorriu para a garota. – Agora quero ver você arrasando com Elis. Não menos
que isso.

         Rafaela concordou com um aceno e pegou a folha que Victor esticava na sua direção. Bruna a chamou para fora da sala acústica e se sentaram
em algumas cadeiras, espalhadas no estúdio. Puxou o teclado para sua frente e começou a tocar e cantar a música para que Rafaela conhecesse a
melodia que esperava dela.

         A adolescente acompanhou, com a atenção totalmente voltada para o que a produtora fazia. Sua voz também era linda.

         - Por que não virou cantora? – perguntou sem conter sua curiosidade.

         - Prefiro ficar nos bastidores. Não gosto muito dos holofotes – respondeu Bruna. – Sua vez.

         Rafaela deu um sinal positivo com a cabeça e acompanhou a produtora enquanto a melodia de Como nossos pais tomava conta do estúdio.

         - Olha pra mim, Rafaela – pediu Paulo quando ela fechou os olhos.

         A adolescente obedeceu, sem cortar o canto, para enxerga-lo com um violão na mão acompanhando Bruna no teclado. Victor estava sentado
sobre um instrumento, que ela não sabia o nome, tocava com as mãos em uma espécie de tambor. Se empolgou com o acompanhamento e finalizou
olhando para os três.

         - Muito bom – assentiu Paulo, olhando para Rafaela e depois Bruna. – Eu gostaria de ficar te escutando a tarde inteira, Rafa, mas infelizmente
não posso. Foi um prazer imenso te conhecer. Espero te ver em breve novamente.

         Rafaela se despediu do produtor seguida de Victor. Bruna informou que ia acompanha-lo e voltaria em breve para o estúdio. Não conteve o
momento em que ficou sozinha com Victor.

         - Eu fui bem? O que você achou?

         - Você impressionou dois dos melhores produtores desse país. Bendita a hora que resolveu assaltar a Bruna.

         - Nem me lembre disso – riu a adolescente sem graça.

         Bruna saiu do estúdio e seguiu com Paulo até seu escritório, receber o feedback que havia solicitado.

         - E aí, o que achou? Estou colocando muita expectativa nela?

         - Só te digo uma coisa, Bruh, se você não lançar essa garota, eu lanço. Ela é incrível! Consegue imaginar o que ela conseguirá fazer quando tiver
a técnica adequada?

         - Consigo.

         - E ela é linda! Com um bom trato no visual, vai se tornar um ícone da música e de beleza.

         - Verdade, mas não é um lado que vou explorar nela, quero mostrar o seu talento.

         - Isso será automático. Não tem como você colocar ela em cima de um palco com o cabelo preso em um rabo de cavalo, jeans e camiseta.

         - Isso é – riu Bruna. – Bom, vamos ver como essa menina se sai. Espero que seja um investimento com bons retornos.

         - Você terá, com toda a certeza. Qualquer coisa, basta me chamar – disse Paulo levantando-se. – E de verdade, se não produzir ela, me diga, eu
produzo.

         - Obrigada cara!

         Bruna se despediu do amigo e voltou para o estúdio, onde Rafaela a esperava conversando com Victor. Assim que entrou, encontrou os dois aos
risos.

         - Bom, vamos continuar nós – anunciou ao olhar para o relógio. – Vamos até a minha sala, Rafa.

         A adolescente concordou sem falar nada. Saiu atrás da produtora até o final do corredor, em uma parte que nunca tinha ido. Entrou e se sentou
na poltrona que Bruna indicava.

         - Rafa, nosso assunto agora é um pouco mais sério. Eu falei de você para minha mulher, conversamos a seu respeito, esse fim de semana que
passou, e decidimos lhe dar uma oportunidade. Uma oportunidade. Minha pergunta é: o quanto está disposta a se doar para agarrar essa
oportunidade e se tornar uma cantora?

         - Nossa... Eu... Mas eu não tenho como...

         - Eu quero saber o quanto está disposta a se dedicar para fazer isso acontecer. O quanto você ama música.

         - Eu sou capaz de tudo, mas... Como seria feito isso? Eu nunca cantei em lugar nenhum, ninguém me conhece.     

                - Eu vou colocar os melhores profissionais para te ajudar naquilo que for necessário. Aulas de canto, comportamental. Só que tenho uma
pergunta e você tem que ser o mais sincera que conseguir. Se eu colocar seu rosto na mídia, vai aparecer alguém dizendo que já foi assaltado por
você?

         - Talvez – respondeu Rafaela com o coração disparado, sentindo sua chance lhe escapar por entre os dedos. – Como eu já tinha falado, assaltei
duas vezes antes com o Nicolas. Os carros estavam parados, mas pode ser que alguma imagem tenha sido gravada.

         - Da forma como fez comigo, encarando alguma de suas vítimas, roubando cara a cara, fez com alguém?

         - Não. Não tenho coragem.

         - Usa drogas?

         - De vez em quando. Usei quando te assaltei. Foi a ultima vez.

         Bruna olhou para a garota e deliberou por um longo minuto. Aquela seria sua decisão final.

         - Sua mãe terá que assinar o contrato com a Spagnatto, visto que ainda é adolescente. Faremos o contrato de produção de um álbum. De acordo
com a aprovação que tiver no mercado, conversaremos sobre futuro.

         - O que eu tenho que fazer? – perguntou Rafaela sem conter uma lágrima que escorria pela face.

         - Brilhe.

*******

Elis Regina – Como nossos pais

https://www.youtube.com/watch?v=2qqN4cEpPCw
 

Sandy e Junior – Eu acho que pirei

https://www.youtube.com/watch?v=Fuzaq4lZ7CY

Sandy e Junior – A lenda

https://www.youtube.com/watch?v=IUXwjFmUUxU       

Notas finais:

Oi oi lindonas!

Não vou matar ninguém, não se preocupem hehehehhe (mas caso mudem de ideia..... a sugestão
tá ai hehehehe)

Por diversas vezes eu falei que não meço aceite de histórias por comentários, (é algo que
realmente não tenho como base), mas vou pedir comentários nessa históra em especifico pq é um
terreno que eu pensei muito antes de me aventurar (colocar menor como protagonista) preciso
saber se estou sendo feliz ou infeliz na condução do romance. O feedback de vcs é muito
importante! 

Já conhecem meu bebês fisicos??? 

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Muitas bjokas em todas e até sexta!

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Capitulo 5 - Sua cara por Drikka Silva
         - Ei, calma – pediu Bruna se abaixando na frente de Rafaela. – Por enquanto temos apenas uma conversa e um longo trabalho pela frente. Não
significa que já vai entrar em um palco na semana seguinte, nem que vai encher o Credicard hall em uma apresentação.

         Rafaela concordou com a cabeça, sem segurança na sua própria voz. Não conteve o impulso de abraçar a mulher à sua frente: era a primeira
vez que alguém acreditava que era capaz de algo, além de se prostituir e roubar. O toque delicado no seu cabelo, numa tentativa de acalma-la, surtiu
efeito imediato: pela primeira vez se sentiu segura, uma sensação totalmente inédita a ela.

         Bruna deu um beijo nos cabelos de Rafaela, numa tentativa de acalma-la. Assim que a garota controlou o choro, se afastou para exergar seu
rosto. Secou suas lágrimas enquanto sorria na sua direção.

         - Eu vou te mostrar o caminho, vou te conduzir por todo ele, mas tudo, absolutamente tudo, dependerá de você, do quanto estará empenhada
em fazer sua carreira acontecer – esclareceu fazendo a adolescente se sentar novamente. Foi atrás de um copo de água enquanto assistia Rafaela se
controlar.

         - Eu não vou te decepcionar, Bruna. Obrigada pela oportunidade – respondeu Rafaela, por fim. – Só me diga o que eu tenho que fazer.

         - Eu vou entrar em contato com um amigo que é professor de canto. Quero outra avaliação profissional de sua voz, vamos trabalhar para que
melhore. Você já tem uma voz linda, mas acredito que consiga estender sua potência tanto para os graves quanto para agudos. Ele vai auxilia-la com
isso.

         - Eu não tenho como pagar um professor de canto. Eu...

         - A produtora vai custear tudo. A Spagnatto está investindo em você. Será nossa contratada.

         - E se eu não vender? Pode ser que as pessoas não gostem...

         - Digamos que estamos em um investimento de risco. Se a mídia e crítica te abraçar, vou ganhar muito dinheiro, caso contrário, perco. É como
investir em ações.

         - Tá bom.

         - Outra coisa, você terá que fazer aulas de inglês. É fundamental que saiba uma nova língua também. Tanto para cantar alguma música em
inglês quanto para estar preparada, caso o aceite seja também internacional.

         - Mas terá divulgação internacional também?

         - Não, mas há muitos brasileiros espalhados pelo mundo, assim como gringos que escutam música brasileira. Estar preparado para qualquer
surpresa é importante.

         - Certo.

         - Você dança?

         - Danço. Quer dizer.... Mais ou menos. Eu danço imitando as coreografias que vejo no Youtube.

         - Se sente confortavel para dançar pra mim agora?

         - Ai... Assim?

         - Sim. Finge que eu sou uma porta. Escolhe uma música – respondeu Bruna esticando o celular na sua direção, já aberto no spotify. – Escolhe
qualquer uma.

         - Isso eu posso fazer de olho fechado, não é?

         - Desde que não se arrebente em alguma poltrona – sorriu Bruna. – É só para que eu possa conhecer seus limites, saber o que consegue fazer
para conseguir desenhar um escopo a seguir.

         - Tá bom.

         Rafaela escolheu uma música de Anitta, que já havia dançado várias vezes nos bailes da favela. Bruna afastou a poltrona onde estava sentada
para que tivesse espaço e se sentou em um canto, para observa-la. Ficou mais confortavel para dançar com a letra de Sua cara quando a produtora
saiu da frente, mas sentia seus olhos analisando todo o seu corpo. Bruna ficou observando o tanto de sensualidade que a adolescente colocava na
coreografia. Não era algo proposital, era natural. Teve que se lembrar de que ela tinha apenas dezesseis anos: não podia trabalhar nenhum conteúdo
sensual, mas podia sim trabalhar músicas mais dançantes e contar com Rafaela para excelentes coreografias.

          - Ok – falou fazendo a garota parar de dançar. – Excelente. Já consigo vizualisar um videoclipe dançante, vários bailarinos te acompanhando.
Será um estouro!

          - Isso é tão surreal – sussurrou Rafaela. – Posso pegar água?

         - Claro. Bom, Rafa, eu vou começar a cuidar de tudo, até o final de semana já terei toda a estratégia desenhada. A única coisa que insisto: eu
estou contando com a sua dedicação. Vou movimentar bons profissionais para que você tenha a melhor assessoria possível, inclusive a minha. Saiba
que meu tempo e meu trabalho é caro e eu estou colocando à sua disposição. Quero seu total empenho como parte do meu pagamento.

         - Tá bom. Eu te garanto que vou dar o meu melhor.

         - É o que estou esperando. Quando sua mãe pode vir falar comigo?

         - Minha mãe?

         - Sim. Você é menor de idade. Temos que ter a aprovação dela.

         - Eu vou falar com ela – respondeu empolgada. – Quando puder.


         - Amanhã, às dez da manhã espero as duas aqui. Depois é só muito trabalho pela frente. E, mais importante que tudo, não conte a ninguém.

         - Fechado!

         Bruna se despediu da garota e a acompanhou até a recepção da produtora. Voltou para sua sala e se sentou atrás de sua mesa, para começar a
anotar todas as ideias que tinha tido a respeito de Rafaela e o que poderia ser feito. Primeiro passo foi entrar em contato com Gilson, professor de
canto e fonoaudilogo de artistas famosos, inclusive Alana. Conversou com ele durante cinco minutos, antes de deixar  acertado para levar Rafaela até
ele na segunda pela manhã. Desligou o telefone e olhou para a tela, apreciando a foto de Isadora, antes de discar para a esposa.

         - Oi meu amor – falou assim que escutou sua voz. – Ainda está gravando?

         - Sim. Acho que hoje vou até às dez da noite, no ritmo que está indo.

         - Eu vou pra casa, então. Quando sair do estúdio, vai direto pra lá.

         - Vou sim. Como foi com a Rafaela? Eu li a mensagem que me mandou, mas não consegui responder.

         - Paulo chegou a mesma conclusão que eu. Ela é ótima! Só falta alguns detalhes para torna-la uma artista, mas o dom está ali. Inclusive disse que
se eu não a lançar, ele lança.

         - E é claro que é você quem fará esse lançamento, não é?

         - Vou. Já confirmei com ela. Espero não estar cometendo um erro.

         - Não está. Espero que não. Pode contar comigo para o que precisar. Caso ela precise de alguma orientação de câmera, gravação, sei lá. O que
for, eu te auxilio. Agora eu tenho que voltar.

         - Ok, obrigada amor. Boa gravação.

         - Fala que me ama.

         - Eu te amo, muito, muito.

         - Até mais tarde, amor.

         Bruna desligou o celular e voltou a se concentrar na pequena lista que tinha feito a respeito de Rafaela. Era hora de começar a trabalhar.

         - Oi Victor – falou ao acionar a comunicação interna da produtora. – Antes de ir embora pode me passar os arquivos que os compositores me
enviaram? Quero que selecione aquelas que tem mais a cara da Rafa. Obrigada.

         Rafaela entrou na favela pisando em nuvens. Seguiu até a casa que dividia com a mãe e a encontrou cozinhando, rente ao fogão. Deixou o
celular sobre a mesa, antes de se virar a ela.

         - Oi mãe – falou se aproximando, ansiosa em contar a novidade. – Hoje eu fui...

         Rafaela não terminou de completar a frase. A mão da mãe acertou seu rosto em cheio, ao desferir um tapa em sua face.

         - Sua vagabunda! Você pegou o dinheiro que o Israel deixou pra mim, não pegou? Sua ladrona, filha da puta!

         A adolescente se afastou, com a mão no rosto, supresa pelo rompante da mãe. Tinha até esquecido que tinha pegado o dinheiro escondida.

         - Eu tinha um assunto para resolver no centro! Precisava do dinheiro da passagem, mas você como sempre estava bebada, jogada em uma
cama!

         - Você é uma desgraçada, Rafaela! Eu quero meu dinheiro de volta! Se vira pra arrumar!

         - Eu arrumo essa merda pra você! – respondeu brava, ainda alisando o rosto.

         - Que tanto anda fazendo no centro? Arrumou o quê por lá?

         - Eu fui ver uma mulher, a Bruna...

         - Vai ficar com essa história de sapatão mesmo?! Se você inventar de trazer uma mulher pra dentro dessa casa, eu te coloco pra fora, não penso
duas vezes!

         - Quer calar a boca, mãe! – gritou Rafaela irritada. – Melhor do que esses machos nojentos que você anda dando por ai! E não é assim. Não estou
encontrando uma mulher pra ficar com ela.

         - É o que então?

         - O nome dela é Bruna Spagnatto, ela é produtora musical, casada com aquela atriz da novela das sete, sabe? Ela quer me produzir, mas precisa
conversar com você porque ainda sou de menor. Preciso que você assine.

         - O quê? – riu Simone. – Ela é sapatão? Entendi.

         - O que uma coisa tem a ver com outra? – perguntou Rafaela genuinamente confusa.

         - Ela quer te comer, sua idiota. Se descolar alguma grana devia até deixar, sabia?

         Rafaela fechou os olhos e contou até dez para não mandar a mãe a merda. Precisava convencê-la de ir até a produtora na manhã seguinte.

         - Ela não quer me comer, mãe. Ela é casada com uma das mulheres mais bonitas da televisão. Nem teria sentido.

         - Se soubesse o tanto que esse povo é pervertido. Uma bucetinha novinha, quem não quer?
         - Mãe, para de ser baixa! Nem todo mundo é igual a você! A maioria das pessoas tem uma vida descente. Eu só quero que vá até a produtora
amanhã cedo, ela conversa com você e acabou.

         - Eu não vou pra lugar nenhum. Não vou perder meu tempo com besteiras!

         - Por favor, mãe! Eu arrumo a grana para irmos. Arrumo até os cinquenta reais que peguei cedo. Eu estou com o troco ainda. Só preciso que vá
comigo!

         - Não, Rafaela! E não me enche o saco com essas besteiras! Quanto a grana, você vai arrumar mesmo! Tem até amanhã para trazer de volta.

         - São oito horas da noite, mãe – suspirou Rafaela contendo a vontade de chorar de frustração. – Me promete que vai comigo e arrumo sua grana.

         - Eu não vou prometer nada! Quero meu dinheiro!

         - Que porra, mãe! Custa você agir como mãe somente uma vez? Será que não dá para não me odiar tanto e fazer algo por mim? É só ir até lá, o
resto eu dou um jeito, eu consigo...

         - Não! Chega! Não vou perder meu tempo com isso! Acha mesmo que vai sair de graça isso? Eu não vou pagar nada, seja lá o que for, e se não
está afim de abrir as pernas pra ela, é melhor me deixar em paz!

         Rafaela segurou os trezentos palavrões que vieram na ponta da sua lingua e entrou para o quarto, chutando tudo com raiva. Iria esperar até a
manhã seguinte. Quem sabe depois de uma noite de sono, a mãe reconsiderasse.

         Naquela noite, Simone não recebeu ninguém e Rafaela pode ficar dentro de casa, mas não conseguiu ter uma boa noite de sono. Às sete horas da
manhã já estava de pé, e tentou acordar a mãe para que pudessem ir até a produtora. O que se seguiu foi uma sequencia de brigas, já que Simone se
recusava, terminantemente, a ceder ao pedido da filha. Quando o relógio marcou oito e meia da manhã, a mãe saiu de casa, sem ceder aos apelos da
adolescente, que ficou jogada na cama em um choro convulsivo. Às nove da manhã, depois de conseguir se controlar, pegou o cartão de Bruna e
discou para a produtora.

         - Oi Rafa, bom dia – cumprimentou Bruna.

         - Eu não vou conseguir levar minha mãe – falou a garota sem conseguir segurar as lágrimas mais uma vez. – Me desculpa, eu tentei convencer
ela, mas ela não quer ir.

         - Mas por que ela não quer vir?

         - Não acredita que seja uma oportunidade real. Disse que não vai perder tempo indo até ai pra depois não ter dinheiro para pagar os custos.

         - Deixa eu falar com ela.

         - Ela não está aqui. Saiu pra fazer qualquer merda na rua.

         - Sua relação com ela é muito dificil?

         - Já te falei o que é. Não é uma mãe, é um castigo.

         Bruna pensou por um momento, apoiando o braço na mesa de som.

         - Eu não posso dar continuidade sem a aprovação dela.

         - Me desculpa por isso. Por ter tomado seu tempo.

         - Tenta falar com ela, se ela concordar em vir, mesmo que eu nao esteja aqui, o Victor estará. Ele pode passar a procuração para ela assinar e os
documentos necessários.

         - Ta bom.

         Rafaela desligou o celular e abraçou os joelhos, chorando baixinho. Por que Deus havia castigado ela tanto ao lhe dar uma mãe como Simone?

        

                Bruna passou a quinta e a sexta esperando um contato de Rafaela. Desde que havia conversado com a garota na terça anterior, havia
arquitetado toda a estratégia para começar a trabalha-la, mas não podia fazer nada sem a aprovação da mãe da garota. Pegou o celular e discou para
ela, novamente.

         - Oi Rafa. E sua mãe? Ainda se recusa a vir na produtora?

         - Não vai rolar, Bruna. Me desculpe.

         - Bom, o jeito será eu ir até ai, não é? A não ser que não queira mais se dedicar a música.

         - É o que eu mais quero!

         - Me passa o endereço, então.

         - Você vai vim aqui no morro?

         - É perigoso?

         - É. Eu vou te encontrar na saída do Rodoanel, assim os caras não vão mexer com você.

         - Tudo bem... – concordou Bruna devagar. – Me passa o endereço. Na hora do almoço eu dou um pulo ai.

         - Uma viagem – riu Rafaela antes de passar o endereço para a produtora.

         Bruna chegou no local onde Rafaela informou que a esperaria às duas da tarde. Cumprimentou a garota e foi seguindo pelo caminho que ela
indicava. Aonde estava se metendo?! Olhava espantada para o local, as casas decréptas, ruas mal asfaltadas. Nunca antes tinha entrado em um lugar
como aquele e ficou, realmente, assustada. Parecia que todos os rostos se viravam para o carro, mas logo desviavam. Não sabia se era por causa da
presença de Rafaela ou se já deduziam que devia ser roubado ou que ela fosse uma viciada. Parou o carro na frente da casa simplória, com um muro
sem revestimento e um portão de madeira. Rafaela desceu e ela fez o mesmo ao pegar a pasta de documentos que carregava. Olhou ao redor,
constatando que todos estavam olhando para ela.

                Dentro do quintal cimentado, seguiu Rafaela até a porta da frente. Entrou para encontrar a casa simples, mas bem arrumada. Certamente
Rafaela devia ter arrumado para recebê-la.

          - Mãe? – chamou Rafaela ao indicar a cadeira para Bruna.

         - O que você quer? – respondeu a voz abafada no quarto.

         - A Bruna está aqui. Como se recusou a ir até a produtora, ela veio falar com você – respondeu Rafaela antes de se virar para Bruna. – Quer uma
água?

         - Não, obrigada.

         Bruna esperou meio minuto até ver a mulher que saia do quarto. Controlou seu rosto ao máximo para não fazer uma careta para a mulher de
aparencia lástimavel que apareceu no pequeno acesso.

         - Eu já não falei que não vou autorizar nada? Por que perdeu seu tempo de vir até aqui?

         - Eu não vou cobrar nada de vocês. Estou investindo em uma possivel carreira para Rafaela – respondeu Bruna avaliando a mulher à sua frente.

         - Não vai cobrar, é? Sei que você curte mulher. Quer comer ela, é isso? Não precisa vir até aqui para me pedir. Se rolar uma grana, pode levar
ela pra você. Só me dá despesa mesmo.

         - Mãe! – exclamou Rafaela ao perder a cor. – Você bebeu? Porra, mãe!

         Bruna ficou sem ação, por alguns segundos, ao conhecer o que Rafaela devia passar todos os dias. Deu uma pigarreada antes de falar.

         - Me desculpe, mas eu tenho uma produtora conceituada no mercado. Não somos golpistas. Acredito realmente que sua filha tem um talento
único. Deixar isso passar é uma perda lastimavel. Estou produzindo Alana, Lucca...

         - O raio que o parta. Eu não vou assinar nada, agora sai da minha casa!

         - Mãe! Escuta pelo menos o que ela tem pra falar! – pediu Rafaela já nervosa.

         - E você, sua putinha, trate de arrumar dinheiro! Se não voltar com alguma grana, não vai dormir aqui!

                Rafaela mais uma vez segurou a vontade de xinga-la, por conta da presença de Bruna que estava visivelmente chocada pelo que havia
presenciado. Puxou a produtora para fora sem conseguir conter as lágrimas de raiva.

         - É esse inferno que vivo! Não tem como fugir disso. Eu sinto muito por ter perdido seu tempo de vir até aqui.

         - Vamos te emancipar – anunciou Bruna ao fita-la.

         - Vamos o quê? – perguntou Rafaela secando o rosto.

         - Vamos te emancipar. Entra no carro.

**********************

Anitta feat Pablo Vittar - Sua cara

https://www.youtube.com/watch?v=omzk3klIy0E

Notas finais:

Oi oi lindonas! 

Um cap um pouco mais tenso, mas válido neh? hehehe

Pra vocês que são de Sampa ou que estiverem por aqui,, no dia 26 de agosto,
temos um evento mara! 
O aniversário da Editora PEL, que coincide com o dia da visibilidade lébica e
aniversário de Paula Curi (idealizadora da PEL)  acontecerá na Alamenda
Franca, 1055, ali do lado da Augusta. Começa ao meio dia e vai até a hora em
que  acabar a breja!
 
Marque na agenda: dia 26/08 a partir das 12:00 hrs

Local: LeBurguer - Alamenda Franca, 1055 SP


 
Bjokassssssss

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Capitulo 6 - Só os loucos sabem por Drikka Silva
         - Como assim, me emancipar? – perguntou Rafaela ao colocar o cinto de segurança.

         - A emancipação permite que você antecipe os direitos e responsabilidades que são adquiridas somente com dezoito anos. Você pode assinar
contratos, casar, viajar sem pedir permissão para sua mãe. Permite que você também administre seus próprios bens sem a intervenção dela –
esclareceu Bruna ainda respirando fundo para conter a tremedeira do corpo.

         - E como isso é feito?

         - Em um cartório – respondeu a produtora ao colocar o cinto de segurança. – Mas pelo que pude perceber, talvez sua mãe não coopere. Vamos
no meu advogado para saber como funciona uma emancipação na justiça.

         - Mesmo se ela não assinar, eu posso continuar na produtora? – tornou a perguntar Rafaela com um fio de esperança.

         - Deve. Agora mais que nunca – assentiu Bruna ao ligar o carro e sair devagar. – Sua mãe é sempre assim?

         - Tem dias que é pior, mas não quero falar disso.

         - Está tudo bem – concordou Bruna ao pegar a mão da adolescente e dar um leve aperto. – Nós vamos resolver isso. Tudo pelos meios legais. Isso
não vai atrapalhar nossos planos, ok?

         - Ok – concordou Rafaela sorrindo para a produtora. Tinha que concordar com Victor: bendita a hora que tinha assaltado Bruna.

                Bruna parou o carro no estacionamento do prédio onde funcionava o escritório de advocacia usado pela produtora e por Isadora. Já tinha
ligado do caminho e marcado com Tanessa, advogada que a orientaria naquele caso. Assim que chegou no andar, uma assistente veio recepciona-las
e as guiou até uma sala de reuniões onde uma bela loira já as esperava.

         - Boa tarde, Bruna – cumprimentou a mulher ao lhe dar um abraço. – Rafaela, não é? Bem-vinda. Entrem, sentem-se.

         Rafaela concordou com um aceno, olhando ao redor para conhecer o lugar lindamente decorado. Não conteve a curiosidade de ir até o vidro
para enxergar a cidade do alto.

         - Que vista! – sorriu enquanto voltava para a mesa e se sentava ao lado de Bruna.

         - Lindo mesmo – concordou Tanessa. – Mesmo trabalhando aqui há dez anos, não consigo deixar de admirar essa paisagem. Mas me conte,
Bruna, como podemos ajuda-la?

         - Qual o procedimento devemos tomar para fazer a emancipação da Rafaela? – perguntou ao dispensar o celular sobre a mesa. – Eu preciso
produzir essa garota, mas a mãe dela é reticente quanto a assinatura dos documentos.

         - E vai fazer mesmo à revelia? – perguntou Tanessa tomando nota.

         - Sim.

         - Pode te trazer um problema. Ela pode entrar com algum tipo de processo, dizer que está induzindo a filha.

         - Provavelmente não o fará. Não quero entrar em detalhes, mas tenho quase certeza de que ela não irá em um cartório de livre e espontânea
vontade.

         - Pode ser feita a emancipação judicial, mas preciso saber desses detalhes. É onde mora o perigo, nos detalhes.

         Bruna olhou para Rafaela e deixou que ela tomasse a decisão. A adolescente entendeu o seu recado e deu ombros.

         - Minha mãe é uma bêbada. Nasci de uma gravidez indesejada e ela me culpa até hoje por ter estragado sua vida.

         - E seu pai?

         - Não o conheci. Não tem nem o nome dele no meu registro.

         - Já sofreu algum tipo de agressão ou violência por parte da sua mãe?

         Rafaela se calou por um momento. Não tinha porquê mentir e nem esconder nada. Se queria a confiança de Bruna, tinha que ser totalmente
transparente.

         - Sim. Algumas vezes. Ela... Ela não se controla.

         - Você tem que idade?

         - Dezesseis anos. Faço dezessete em Maio.

         - Certo. Você já sofreu algum tipo de abuso sexual dentro da sua casa com o consentimento da sua mãe?

                Rafaela deu um sorriso amarelo ao se lembrar de todos os caras que a mãe havia apresentado quando ainda tinha só treze anos. Não se
recordava dos rostos porque sempre fechava os olhos, torcendo para acabar rápido.

         - Você quer que eu saia? – perguntou Bruna ao perceber a hesitação de Rafaela. – É importante que fale tudo a Tanessa.

         - Não precisa – respondeu a adolescente que brincava com as pontas dos dedos. – Quando tinha treze anos, minha mãe levava uns caras lá pra
casa. Ela dizia que eu tinha que pagar a conta de luz. Quando entendi a situação, quando completei quinze anos, eu dei um basta.

         - Sua mãe não interferia em nada?

         - Às vezes ela me segurava quando tentava fugir – respondeu com o rosto queimando, sentindo uma lágrima escorrer até a boca.

         - Isso já é o suficiente, não é? – perguntou Bruna tensa.

         - Isso é crime, Bruna. Você ainda pode denuncia-la, Rafaela.


         - Eu só tenho ela. Se for presa ou se fizer alguma coisa, ela me põe pra fora e fico sem onde morar.

         - Um mal necessário – suspirou Bruna. – Você não tem mais nenhum familiar a quem recorrer?

         - Tenho um tio que mora em Minas. Meus avós já morreram.

                - Uma emancipação significa que ela não terá mais nenhuma obrigatoriedade de te sustentar – falou Tanessa preocupada. Não achava que
Bruna Spagnatto lhe traria um problema como aquele.

         - Acho que se eu falar isso, ela vai até concordar em ir no cartório.

         - Você pode explicar a ela que vai fazer o pedido para fechar o contrato com a Spagnatto, ela pode assinar uma procuração para nós e damos
entrada em todo o processo. Não precisa partir para um embate direto, uma vez que não tem como se sustentar agora.

         - Eu posso arrumar um emprego de meio período. Tem algumas empresas de telemarketing que contratam pessoas com dezesseis anos.

         - Você não terá tempo – suspirou Bruna. – Você pode esperar lá fora por um momento, Rafa?

         A adolescente concordou com um aceno e saiu da sala em seguida. Bruna se virou para Tanessa assim que a porta foi fechada.

         - Arrumei um problema, não foi?

         - Arrumou. Por mais que ela seja uma excelente cantora, creio que seja por isso que quer produzi-la, ela tem uma situação bem complicada.
Deixa-la com a mãe é certeza de novos abusos.

         - Ela já está indo pelo caminho errado. Conheci ela quando me assaltou – sorriu Bruna. – Depois ela foi na produtora me devolver as coisas, deu
um nome falso, mas eu a reconheci. A prendi dentro do estúdio e chamei a polícia. Antes que eles chegassem, ela começou a cantar, com medo, falou
que música a acalma, fiquei fascinada por sua voz. Ainda fiquei receosa, mas Isadora me convenceu a dar uma chance a ela. Agora eu me sinto
responsável por ela. Minha ideia, aos trinta e três anos, não é ter uma filha de dezesseis anos.

         - Você pode cancelar, esperar que ela complete dezoito anos. Durante esse período pode ir monitorando ela.

         - Eu vou perde-la se fizer isso. Se ver essa chance escapar por entre os dedos, ela vai se perder nas drogas e tudo o mais que vive.

         - A mãe dela trabalha com o quê?

         - Não faço ideia, quer dizer, faço, mas Rafa nunca me disse. Acho que ela se prostitui.

         - Você tem condições de sustentar ela. Se você acha que ela tem realmente esse potencial, você pode cuidar dela por um ano, até que comece a
ganhar seu próprio dinheiro com música.

         - Não é uma decisão apenas minha. Você me dá um tempo para conversar com Isadora?

         - Claro. Fique à vontade.

         Tanessa pegou suas anotações e saiu da sala. Do lado de fora encontrou Rafaela folheando uma revista.

         - Acabou aqui? – perguntou Rafaela ao deixar a revista de lado.

         - Ainda não. Bruna está fazendo uma ligação, logo eu volto para falar com ela – respondeu Tanessa sentando-se ao seu lado. – Vamos até a copa?
Estou louca por um café.

         - Vamos – concordou Rafaela sorrindo.

         Tanessa analisou a garota por um momento. Era um milagre que ela ainda conseguisse sorrir e sonhar.

         Bruna esperou a resposta da esposa, depois de narrar tudo o que já havia acontecido naquele longo e estranho dia. Se tomasse a decisão que
estava pensando, era um caminho sem volta.

         - Podemos fazer isso, Bruh. Meu apartamento do Jardins vive fechado. Só é usado quando tem alguma visita que não temos como acomodar em
nossas casas, ou seja, quase nunca – respondeu Isadora. – Que filha da puta essa mãe! Que tipo de monstro é esse?!

         - Do tipo que vai aparecer quando ela estiver nas paradas pedindo sua parte e ainda posando de vítima.

         - Não duvido. Esse tipo de urubu tem aos montes por aí – concordou Isadora. – Vamos ajudar essa menina. Mesmo que ela não vire a cantora de
sucesso que está projetando, posso trazê-la para trabalhar com o meu pessoal.

         - Eu posso arrumar algo na produtora também, backing vocal de algum cantor, mas eu sei que ela não vai precisar disso, não com a voz que
possui e com o direcionamento certo.

         - Estou confiando no seu tino. Tem minha aprovação, ok? Eu cedo meu apartamento pra ela, até que consiga alugar um.

         - Obrigada meu amor. Não esperava uma atitude diferente sua.

         - Só me dá um dia, vou pedir para as meninas tirarem minhas coisas mais pessoais de lá e amanhã a tarde te entrego a chave.

         - Eu posso alugar um apartamento pra ela, não precisa ser nada suntuoso.

                - Imagina! Pra que vai gastar com aluguel e móveis sendo que eu já tenho uma casa vazia? Não mesmo. Pode ficar descansada. Eu cedo o
apartamento.

         - Tenho que ver se ela concorda.

         - Ela seria louca se não concordasse. Quero conhece-la.

         - Você irá. Quando quiser.


         - Ok. Tenho que voltar para o trabalho agora. Mande um beijo pra ela por mim.

         - Mando. Te amo, linda.

         - Também te amo.

         Bruna desligou o telefone e ajeitou os fios negros e lisos atrás da orelha antes de se levantar e ir até a porta. Abriu para enxergar Tanessa e
Rafaela com xícaras de café em uma conversa animada.

         - Podemos continuar.

         Rafaela se levantou e levou a xícara com ela até a mesa que ocupara antes. Voltou a se sentar do lado de Bruna, com ansiedade para saber o
desfecho daquela conversa.

         - Bom, Rafaela, estive analisando algumas coisas, a situação como um todo. Há três possibilidades: tentamos convencer sua mãe a dar entrada
no seu pedido de emancipação em um cartório, sem ter que acionar a justiça. Fazemos sua emancipação com o pedido judicial, visto os abusos que
sofre ou podemos passar uma procuração para que ela assine e Tanessa cuida de todo o resto.

         - Acho que se tiver a procuração, ela assina. Ela nem vai saber o que está fazendo.

         - O melhor é que fazer tudo às claras para que a Spagnatto possa se proteger de algum processo futuro – falou Tanessa. – O ideal é que ela saiba
exatamente o que está fazendo, assim todas ficam asseguradas por lei.

         - É onde entra minha opção – falou Bruna se virando para Rafaela. – Eu posso te colocar em um apartamento, vou te pagar, mensalmente um
salário para que possa se manter.

         - Mas e se eu não virar essa cantora que está falando? Eu sei que você é profissional, é uma grande produtora, mas...

         - Sem, mas. Você vai se tornar uma excelente artista, se eu não acreditasse nisso, não estaria nessa sala com você. Não teríamos passado da
segunda audição com Paulo. Tire esse Se do seu vocabulário. Você vai fazer. Será uma grande cantora de sucesso.

         - É uma tremenda responsabilidade – sussurrou Rafaela fitando a xícara.

         - Chama-se emancipação – falou Tanessa ao olha-la. – É uma saída muito boa. Você vai responder por você mesma, sem precisar ficar pedindo
permissão. Poderá gerenciar sua vida financeira e profissional. Não dependerá de ninguém mais.

         - Vou depender da Spagnatto.

         - Você vai me pagar, fique despreocupada – riu Bruna. – Estou me empenhando para que possa fazer esse pagamento.

         Rafaela riu diante do comentário de Bruna. Encarou os olhos verdes por um segundo antes de desviar sua atenção para Tanessa.

         - Vamos fazer pela procuração então. Eu converso com ela, explico exatamente para que serve aquele documento e, se ela não me expulsar de
casa, continuamos como está.

         - Faremos isso, então. Eu já vou preparar o documento e você leva pra ela. Na segunda, se ela assinar, deixe na produtora e um motoboy irá
retirar.

         - Certo. Não, espera. Eu vou na produtora segunda? Eu já posso trazer direto aqui.

         - Se prepare mocinha! A partir de segunda terá muito trabalho pela frente.

         Rafaela não conteve mais o imenso sorriso que se instalou no rosto. Depois de uma semana de incertezas, finalmente tinha um futuro mais
claro.

         Bruna saiu do escritório de advocacia depois de quarenta minutos. Quando Rafaela fez menção de se despedir, apontou a porta do passageiro
do carro para que ela pudesse entrar.

         - Você tem dinheiro para voltar pra casa? – perguntou Bruna ao colocar o cinto de segurança.

         - Tenho – mentiu Rafaela. – Não precisa me deixar em um metrô. A estação da Consolação é aqui do lado.

         - Não vamos ir embora agora. Eu estou com fome e suspeito que também esteja.

         - Estou – concordou Rafaela com um sorriso. – Comeria um boi agora.

         - Acho que não consigo achar nenhum por aqui – riu Bruna. – Terá que se contentar com a culinária mexicana.

         - Até pedra – suspirou Rafaela. – Não vou te atrapalhar? Você não tem que fazer alguma coisa importante agora?

         - Tenho, me alimentar. Não quero fazer isso sozinha. Ah, minha esposa te mandou um beijo.

         - Isadora Maranes? – perguntou Rafaela surpresa. – Uau!

         - É. Sou casada com ela. Já sabe disso, não sabe?

         - Sei – riu Rafaela. – Que doidera isso!

         - Em breve vocês irão se conhecer. Agora ela está com a agenda apertada com a gravação da novela. Em breve acaba, aí ela terá mais tempo.

         - Nossa! Eu vou ter um treco!

         - Espero que não. Quero produzir seu álbum primeiro.

         - Obrigada, Bruna.

         - Você vai se sair bem, Rafa. Confio no seu potencial.


         - Não vai se arrepender, prometo.

         Bruna respondeu com uma piscadinha e voltou os olhos para o transito. Em dez minutos desceram na frente do restaurante mexicano que
gostava. Cumprimentou os funcionários que conhecia e se acomodaram em uma mesa. Pediu uma taça de vinho e bloqueou o pedido de Rafaela, que
também havia pedido um coquetel alcoólico.

         - Não senhora! Sucos, refrigerantes, coquetéis sem álcool. Não vai querer me complicar nessa altura do campeonato.

         - É uma droga ser menor de idade! – resmungou Rafaela em um tom brincalhão. Se decidiu por uma Coca-Cola.

         - Já pensou no seu nome artístico? – perguntou Bruna ao deixar o cardápio de lado.

         - Vixi, nem sei – riu Rafaela. – Não pode ser só Rafa?

         - Não. Temos que pensar em um nome mais trabalhado pra você. Me fala seu nome completo.

         - Rafaela Pereira Gomes.

         Bruna pensou por um momento no nome completo da garota. Não tinha como fazer uma junção para que soasse artístico.

         - Tem algum nome que gosta?

         - Nunca pensei nisso.

         - Rafa Gomes, Rafa Pereira, Rafaela Gomes, Rafaela Pereira...

         - Lumia.

         - Lumia, Lumia... Com vocês, Lumia! Gostei. Por quê Lumia?

         - Era o nome da minha avó. Erraram a grafia do nome dela, era pra ser Luzia e o cartório registrou como Lumia.

         Bruna suspendeu a conversa, encarando Rafaela enquanto o garçom servia as bebidas. Agradeceu e voltou a fitar a garota.

         - Lumia é um nome bonito. Não precisa nem de sobrenome.

         - Adoro esse nome. É minha única referência de família mesmo.

         - Vida longa à Lumia – falou Bruna ao levantar sua taça.

         - Vida longa à Lumia – concordou Rafaela com um sorriso.

         - Tenho um desafio, Lumia. Aquele microfone está aberto – falou Bruna apontando para o fundo do restaurante onde um homem tocava violão.
– Cante uma música.

         - Eu vou atrapalhar a apresentação do cara!

         - Você vai somar. Vamos.

         Rafaela sorriu ao ver Bruna se levantar e ainda deu um ultimo gole no seu refrigerante, antes de segui-la. A produtora cumprimentou o músico
e conversou com ele por alguns minutos, antes que ele se levantasse e entregasse o violão. A adolescente abriu um sorriso de surpresa ao ver a
morena tocando algumas notas depois de sentar na banqueta.

         - Conhece? – perguntou Bruna.

         - Conheço – respondeu a adolescente testando o microfone com a ponta do dedo indicador.

         Bruna voltou a dedilhar a introdução da música e indicou o inicio para que ela começasse a cantar.

Agora eu sei exatamente o que fazer


Bom recomeçar, poder contar com você
Pois eu me lembro de tudo irmão
Eu estava lá também
Um homem quando está em paz
Não quer guerra com ninguém
Eu segurei minhas lágrimas
Pois não queria demonstrar a emoção
Já que estava ali só pra observar
E aprender um pouco mais sobre a percepção
Eles dizem que é impossível encontrar o amor
Sem perder a razão
Mas pra quem tem pensamento forte
O impossível é só questão de opinião

E disso os loucos sabem


Só os loucos sabem
Disso os loucos sabem
Só os loucos sabem *

         Rafaela cantou a música sem tirar os olhos de Bruna, que a olhava com um sorriso permanente nos lábios. Seria eternamente grata a tudo o que
a produtora estava fazendo por ela. Até mesmo naqueles momentos de descontração. A música acabou e se assustou com os aplausos dos clientes
que estavam ali. Se virou para Bruna, rindo.
         - Sua primeira apresentação em público, Lumia. Passou com louvor.

**********

Charlie Brown Jr - Só os loucos sabem

https://www.youtube.com/watch?v=JRJj4z-prvM

Notas finais:

Oi oi lindonas!

Bora lá, vamos conversar sobre Simone.

Simone não é diferente de muitas mães que existem por ai, inclusive estudadas pela psiquiatria:
Sindrome da genitora tóxica  ou mães narcisistas. 

Essas mulheres tendem a ver a filha como um erro e não possuem nenhum sentimento materno
por elas, muitas vezes as enxergando como rivais (vide Branca de Neve) 

Segue abaixo alguns links de matérias que vale super a pena a leitura, 

"A mãe tóxica é uma mulher que atingiu a maternidade por caminhos pouco desejados, por
convenções, porque assim estava programado seu roteiro de vida, porque era isso que se
esperava delas. Renegar a maternidade ou simplesmente exercer o direito de não fazer parte dela
não era, e não é, algo aprovado pela sociedade.(...) Há diferentes formas de mães tóxicas, mas
todas incluem a culpa, a manipulação, a crítica cruel, a humilhação, a falta de empatia, o
egocentrismo puro. São mães que fazem saber a suas filhas que não estão à altura do que se
espera delas, invejam seus êxitos, desconfiam de sua necessidade de independência, rivalizam
com elas num patológico palco vital no qual a vítima nem sabe que o é.

A mãe que não ama despeja sua toxicidade de diferentes formas.


Há mães que invejam suas filhas e tentam anulá-las,"

https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/10/ciencia/1476097766_326006.html

https://superela.com/o-que-sao-maes-narcisistas

Como podem ver, infelizmente existe um embasamento para que Simone seja dessa forma.
Oremos por Rafaela! 

Bjokasssssssssss

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Á
Capitulo 7 - Águas de Março por Drikka Silva
         Rafaela chegou em casa quando o relógio já marcava onze horas da noite. Deixou a pasta com a procuração que Tanessa havia lhe dado em
cima da cama e olhou ao redor, tentando achar algum sinal da mãe. Pelo que pode perceber, ela havia saído, talvez para algum dos forros que ela
tanto curtia. Tomou um banho demorado enquanto a mente voltava para Bruna, em tudo o que a produtora estava fazendo por ela. Ainda tinham
ficado no restaurante por um longo tempo enquanto ela narrava algumas das coisas que já havia acontecido no estúdio de gravação e nos eventos
que ia com a esposa.

         Por um momento a mente imaginou como seria ter uma namorada como Bruna. Tinha beijado uma colega no colégio e havia detestado o beijo,
mas, com toda a certeza, o de Bruna devia ser bom. A contar que era casada com uma das mulheres mais bonitas do país, com certeza ela devia não
só beijar bem, mas fazer outras coisas também. Rafaela mordeu o lábio inferior e se encostou no travesseiro lembrando da produtora: os olhos
verdes intensos, inteligente. Sempre firme em suas decisões. Pegou o celular e colocou o nome de Bruna Spagnatto na pesquisa e abriu o site que
informava sua biografia. Nascida em quinze de Novembro de mil novecentos e oitenta e quatro, em uma família tradicional da música. Seu avô
havia produzido muitos nomes de peso nos anos sessenta, setenta e oitenta. O pai também havia trabalhado na produtora até o falecimento em um
acidente automobilístico em dois mil e cinco, restando a ela, a única filha com o dom da música, a produtora e todo o peso da tradição de produzir
somente os melhores.

         O tópico seguinte informava sobre sua vida pessoal: casada há três anos com Isadora Maranes, antes havia namorado várias mulheres, uma
mais linda que a outra. Na sua lista tinha modelos, cantoras e até um breve casamento de um ano com uma estilista, quando tinha vinte e três anos.
A foto que ilustrava a página era uma tirada dentro do estúdio, ela apoiada na mesa de som, com os braços tatuados à mostra. Linda, linda, linda.

         Rafaela deixou o celular de lado e abriu um sorriso: além de toda a sua biografia, ainda era gente boa. Sem dúvida alguma tivera muita sorte.
Tinha que focar no que era importante: Bruna Spagnatto era a pessoa que a conduziria para uma vida melhor, mais do que já havia sonhado. Tudo o
que tinha que fazer era se dedicar ao trabalho que teriam pela frente.

         O barulho na frente de casa tirou-a do seu devaneio. Foi abrir a porta para descobrir Nicolas, parado a sua frente.

         - O que foi, Nicolas? – perguntou com enfado.

         - Eu vi você andando com uma ricaça de carro aqui. Sua mãe me disse que você está trepando com ela, é verdade?

         - Não. Parece até que não conhece minha mãe – respondeu Rafaela dando espaço para que o namorado entrasse. – O que você quer aqui?

         - Quem é essa mulher, Rafa? Bruna o nome dela, não é?

         - É uma pessoa que está me ajudando a conseguir trabalho – respondeu com meia verdade. Não iria dizer o que estava fazendo realmente.

         - Com dezesseis anos e uma ricaça daquela? Aquele carro é o mesmo que assaltamos aquele dia, não é?

         - É claro que não!

         - Ela é o quê? Cafetina?

         - Por que, inferno, vocês acham que minha única vocação é abrir as pernas? – perguntou levemente irritada. – Eu sou bem mais do que você ou
minha mãe acham.

         - Se você estiver trepando com qualquer um por ai, eu te arrebento. Fica esperta!

         - Acabou a ameaça?

         - Vamos dar um rolê? To afim de colar lá no centro de novo, a gente pode fazer outro carro, andar com os caras lá.

         - Não, tô de boa. Vou aproveitar que minha mãe não está em casa e vou tentar dormir bem essa noite.

         - Sexta a noite? – estranhou Nicolas.

         - Sexta à noite – confirmou Rafaela.

         - Tô de olho em você – alertou Nicolas, mais uma vez, segurando seu rosto para beija-la.

         Rafaela não ofereceu resistência, mas se afastou em seguida. Viu o namorado ir embora e tornou a fechar a porta. Voltou para a cama e olhou
para o relógio já marcava meia noite e quinze. Deitou e colocou os fones de ouvido e depois acessou sua playlist no celular constatando que tinha
que arrumar novas músicas pra ele.

         Às quatro da manhã, o barulho da porta abrindo a despertou. Torceu em silêncio para que a mãe não tivesse levado nenhum homem para casa
aquela noite. Com alguns minutos de silêncio, constatou que suas preces haviam sido atendidas, porém o silêncio da mãe a incomodou. Levantou-se
e andou até a cozinha para encontra-la jogada no sofá, completamente bêbada. Se limitou a balançar a cabeça em sentido negativo. Fez menção de ir
deitar novamente, mas antes que o fizesse, pegou uma coberta e jogou sobre a mãe. Colocou uma bacia no chão, na direção da sua cabeça, caso ela
inventasse de passar mal, não iria emporcalhar a casa toda.

         No sábado, Rafaela acordou às nove da manhã. A mãe continuava jogada no sofá, roncando alto. Fez café e voltou para o quarto para pegar o
celular. Acessou a rede de wifi do vizinho e ficou assistindo vídeos no Youtube, principalmente sobre músicas nacionais mais antigas. Se lembrando
da música que havia cantado para Bruna, pesquisou Elis Regina. Um trecho, que classificou como favorito, não podia se encaixar melhor: “são as
águas de Março fechando o verão é a promessa de vida no teu coração”.   Março estava chegando ao fim e a promessa de um futuro parecia ser
alcançável.

         Rafaela estava quase decorando a letra quando escutou o barulho da mãe se levantando. Esperou por vários minutos até que ela apareceu no
quarto.

         - Faz tempo que chegou? – perguntou Simone indo se sentar na própria cama. Havia levado um copo de café e um cigarro nos dedos para o
desjejum.

         - Dormi em casa – respondeu Rafaela observando-a.

         - Achei que ia ficar com a sua namoradinha.


         - Não. A mulher, que você acha que é minha namorada, é casada. E muito bem casada.

         Simone deu ombros e jogou fumaça para o ar. Deixou o copo de lado e voltou a encarar a filha.

         - Onde você foi depois que saiu daqui, ontem?

         - Em um advogado com Bruna. Eu preciso da minha emancipação.

         - Precisa do quê?

         - Emancipação. Eu trouxe um documento que a advogada fez. Você assina, ela dá entrada no pedido e aí só tem que ir no cartório assinar.

         - O que é emancipação, garota?

         - Adiantar meus direitos de dezoito anos para que eu possa assinar o contrato com a Spagnatto.

         - Você vai mesmo levar essa história adiante? Você acredita que alguém dá alguma coisa de graça para outra assim?! Cresce, Rafaela! O mundo é
bem diferente do que imagina!

         Rafaela segurou a resposta rude que veio na ponta da língua. Se limitou a pegar a pasta e olhou para a mãe.

         - Eu vou aproveitar esse momento, enquanto ainda está sóbria. Eu conversei com a advogada da Bruna, contei a ela todos os abusos que me fez
passar dentro dessa casa, desde a violência que tem comigo, quanto os abusos que me fez passar, me entregando para os seus machos quando ainda
era pequena. Ela me disse para te denunciar em uma delegacia, mas eu não vou fazer isso...

         - Sua vadia...

         - Eu não terminei, mãe! Eu não vou te entregar em uma delegacia pelo simples fato de que não quero dor de cabeça na justiça com você e não
tenho tempo para isso. Porém eu preciso que vá até o cartório fazer a minha emancipação. Caso não faça isso de livre e espontânea vontade, vamos
entrar com o pedido judicial e, adivinha? Eu tenho que explicar para o juiz o porque você não é uma boa mãe. Com todos os detalhes.

         - É só ir até lá e me livro de você? – Simone recuou, diante da ameaça da filha.

         - Só isso. Eu vou ver com a Bruna até que horas vamos trabalhar na segunda e, depois que estiver livre, eu venho pra gente ir no cartório. Ou na
terça de manhã. Ai nem é preciso dar entrada nesse documento aqui.

         - Eu espero que essa mulher esteja disposta a te sustentar durante muito tempo!

         - Eu vou me sustentar por muito tempo. Pode ficar tranquila.

         - Me fala a verdade. Essa mulher, ela vai te arrumar casa, vai te dar dinheiro... O que ela vai fazer por você? O que você está fazendo em troca já
até imagino. É bem mais esperta do que imaginei. Arrumou alguém de grana para te bancar.

         - Eu já te falei o que ela vai fazer por mim e o que eu vou fazer por ela. Se não estivesse bêbada, se lembraria. Assina o documento – pediu ao
tirar a folha de dentro da pasta.        

         - Eu já disse que vou na merda do cartório! Não vou assinar isso!

                - Vai assinar sim, porque não confio na sua palavra e nem de que estará bem para ir no cartório. Como qualquer dessas duas coisas pode
acontecer, já fico garantida. É só assinar nessa linha.

         - Pega logo a caneta então. Não vou nem discutir com você. Quando quebrar a cara não vem me procurar.

         - Pode deixar.

         Rafaela assistiu, satisfeita, a mãe assinar a procuração aonde tinha indicado. Pegou o papel e voltou para a pasta. Tornou a se ajeitar na cama e
viu a mãe sair do quarto, com raiva. Sabia que seria o tempo de uma hora até que ela esquecesse daquilo.

        

         Bruna chegou em casa e encontrou Isadora falando no telefone. Se aproximou e deu um beijo no seu rosto e se afastou, indo para o quarto.
Tirou o casaco e depois a camiseta, jogando em um canto. A calça jeans recebeu sua atenção enquanto a mente voava para Rafaela e tudo o que
tinham vivido naquela sexta-feira. Estava preocupada com o fato de ela ter voltado para o lugar onde morava junto com a mãe que lhe soava como o
pior ser humano na terra naquele momento. Esperava, de fato, que a mulher resolvesse cooperar. Tinha tomado para si a responsabilidade sobre a
jovem e faria de tudo para que ela tivesse um futuro brilhante. Entrou no banheiro e depois o box para um banho demorado. Deixou a água escorrer
pelo seu corpo, enquanto a mente se mantinha concentrada em Rafaela. Tinha que tomar cuidado para não acabar se tornando tutora da
adolescente. O que tinha dito a Tanessa era verdade: não tinha pretensão de ter uma filha de dezesseis anos. Não queria nem um bebê, menos uma
adolescente.

         - E aí? Vai sair desse mundo da lua? – perguntou Isadora assustando-a.

         - Desculpa. Estou cansada. Tive um dia longo.

         - Imagino. Como foi com a Rafa?

         - Ela vai tentar fazer a mãe assinar uma procuração para Tanessa. Se ela conseguir, não teremos tanta dor de cabeça. A mãe só tem que ir até o
cartório assinar.

         - Se uma mulher como ela pode ser chamada de mãe, não é?

         - Não, não pode. Foi horrível escutar tudo o que Rafa falou sem poder fazer nada.

         - Não consigo nem imaginar isso. Mas tudo dará certo. Sempre tem uma saída.

                - Sim, sim. Na próxima semana finalizamos essa conversa de emancipação. Ou decidimos pelo caminho judicial ou Simone assina. Estou
torcendo pela segunda opção.
         - Vamos torcer por isso. Eu estava falando com Rafael agora. Ele recebeu um convite muito bom pra mim.

         - Um novo trabalho? – perguntou Bruna com um meio sorriso.

         - É. Não faz essa cara.

         - Não estou fazendo cara nenhuma.

         - Está sim, mas enfim, é sobre uma série original para a Netflix.

         - Uau! É um papel importante?

         - Protagonista em uma distopia. Ele vai me enviar o roteiro, já deve estar no meu e-mail.

         - Pra quando?

         - As gravações começam em quatro meses. Na Califórnia.

         - Califórnia?

         - Sim. É uma produção da Netflix com parceria de um estúdio americano. Pelo que entendi, será toda gravada em estúdio lá e com externas no
deserto de Mojave. Eu vou estudar toda a proposta esse fim de semana.

         - Me parece ser uma boa proposta. Deve avaliar com cuidado. Uma série é bem mais curta que novela.

         - É verdade. Sem contar que é Hollywood. Me abre portas internacionais.

         - Com toda a certeza. Você sabe que te apoio em tudo, mesmo quando me ilude de que vai tirar férias de gravações.

         - Eu não consigo parar – riu Isadora esticando uma toalha para Bruna. – Mas veja pelo lado positivo, você vai comigo, se tudo der certo.

         - Veremos. De qualquer forma, podemos nos ver sempre.

         - Sim. Se concordar com o roteiro, vou fazer um teste na próxima terça. Tenho que ir para Los Angeles na segunda.

         - Por que te escolheram, além de ser a melhor?

         - Porque sou latina e ruiva. Me parece que esse é o perfil que estão buscando. Viram alguns tapes meus e indicaram meu nome.

         - Acho que vou fazer algumas festas aqui. Aproveitar os momentos que ficarei sozinha – brincou Bruna, saindo do box.

         - Até acreditaria se não soubesse o tanto que ama sua própria vida.

         - Ui! Brava! – riu Bruna envolvendo a esposa em um beijo demorado. A mão de Isadora desceu para o seu bumbum, apertando-a. – Não faz isso...
Não vou responder por mim.

         - E quem disse que essa não é a intenção?

         Bruna sorriu contra os lábios da esposa e tirou o vestido que ela usava, fazendo cair aos seus pés. Pegou suas pernas e a ergueu o suficiente para
coloca-la sobre a pia de mármore do toucador. A boca deslizou por sua pele enquanto esquecia todos os problemas daquele dia.

         Durante todo o final de semana, Isadora ficou na casa da esposa, saindo apenas para um jantar com amigos. Depois de ter avaliado o roteiro que
lhe fora enviado por Rafael, seu empresário, decidira ir fazer o teste na Califórnia, durante a única pausa que teria nas gravações da novela, naquela
semana. Aproveitou todo o momento que pode junto a Bruna, que por mais que dissesse que estava tudo bem, parecia alheia, talvez com o problema
de Rafaela. Torcia, fervorosamente, para que conseguissem dar um direcionamento para a adolescente.

         Na segunda de manhã, se despediram e Bruna seguiu para a produtora. Naquela manhã iria levar Rafaela para Gilson e depois teria que voltar
para a produtora para dar início à pós-produção do álbum de Alana. Poderia pedir para Victor acompanhasse a adolescente, mas preferia fazer tudo
pessoalmente, para transmitir confiança à jovem.

         Assim que chegou na produtora, já encontrou Rafaela tomando café com Victor em uma animada conversa. Cumprimentou os dois e seguiu
para sua sala passar as demandas do dia. Victor apareceu depois de cinco minutos e juntos repassaram o trabalho. Finalizou depois de quarenta
minutos e saiu para encontrar Rafaela.

         - Está pronta? – perguntou ao entrar na sala de espera.

         - Pronta – concordou a adolescente levantando. – Tenho novidade! Falei com a minha mãe, ela assinou o documento que a Tanessa passou, mas
disse que vai no cartório comigo. Só tem que ver quando eu vou ter um tempo para ir com ela.

         - Do nada?

         - Ameacei denunciar ela.

         Bruna riu com a atitude da garota. O certo seria denunciar a mãe, mas entendia os receios de Rafaela.

         - Isso é ótimo! Quer dizer, o fato dela ter assinado. Nos poupa dor de cabeça.

         - Sim.

         - Eu vou te deixar com Gilson, um excelente profissional de canto, além de ser formado em fonoaudiologia. Ele é o cara que precisamos nesse
primeiro momento. Depois você volta para a produtora, quero experimentar algumas músicas porque, quando Gilson me liberar, quero gravar um
single seu.

         - Você não vai ficar lá comigo? – perguntou Rafaela na única informação captada na fala da produtora.

         - Não posso. Vou ficar um pouco, mas depois tenho que voltar para a produtora. Vou começar a trabalhar a pós-produção do álbum de Alana.
Mas não se preocupe, um carro vai busca-la quando finalizar com Gilson.
         - Tá bom.

         - Eu vou manter seus horários com Gilson toda manhã. Amanhã, como vai resolver isso com sua mãe, não vou deixar horário marcado, mas a
partir de quarta, você já pode ir direto encontra-lo.

         - Ta bom.

         - Como foi seu fim de semana?

         - Foi bom. Aprendi um monte de música – respondeu empolgada ao entrar no carro de Bruna.

         - E andou escutando o quê? – perguntou Bruna já imaginando que a resposta iria variar entre funk e sertanejo.

         - Elis Regina. Que cantora incrível que ela foi. As letras das músicas dela são tão diferentes!

         - Uau! Me surpreendeu! – exclamou ao sair com o carro para a avenida. – Ela teve excelentes compositores. Belchior, Chico Buarque. Canta uma
pra mim? A que mais gostou.

         - Águas de Março.

         - Essa música é de Tom Jobim. Muitas vezes associada a ela. Se lembra da letra?

                Rafaela não respondeu, ao contrário, sua voz invadiu o espaço enquanto ia batucando nas pernas acompanhando a música, gesto que não
passou despercebido pela produtora.

         - Sensacional – falou Bruna quando Rafaela terminou a canção. – Você toca algum instrumento?

         - Alguma coisa no violão. Eu aprendi quando tinha quatorze anos, mas sem violão não tive como continuar a tocar. Nem sei se ainda lembro.

         - É como andar de bicicleta. Não se esquece. Vamos ver isso no futuro. Uma coisa por vez.

         Bruna parou o carro, depois de vinte minutos, na frente de uma casa na zona sul. Desceu acompanhada de Rafaela e logo um homem apareceu
para recebe-las. A adolescente deu uns cinquenta anos a ele.

         - Bruna! Quanto tempo! – cumprimentou ao abraça-la.

         - Nem me fala! O trabalho está tomando todo o meu tempo.

         - E o restante Isadora, não é?

         - Com certeza! – confirmou a produtora com um riso. – Essa é a Rafaela.

         - Prazer em conhece-la, Rafaela! Então é a nova pupila de Bruna?

         - Sou? Acho que sim – riu a garota.

         - Vamos entrar.

         Bruna seguiu pelo corredor lateral ao lado de Rafaela e logo entraram em um estúdio caseiro. O homem indicou a poltrona para Bruna e pediu
que a garota ficasse em pé.

         - Bruna me pediu para fazermos um teste rápido agora, vamos ver o que consegue. Me deixe conhecer sua voz.

         Rafaela concordou com um aceno e escolheu uma música para cantar. Parou ao ver o gesto do homem à sua frente.

         - Vamos tentar algo que explore mais seu timbre.

         A adolescente não esperou que o professor passasse a música. Começou a cantar uma canção de Adele que adorava e que sabia a letra de cor e
salteado. Bruna não conseguiu segurar o sorriso ao ver a garota tentar se exibir com Hello, mas sua surpresa veio na forma confortável com que ela
cantava o refrão.

         - Um dom natural! – admirou Gilson quando Rafaela se calou.

         - Não é à toa que se tornou minha pupila. Ela tem uma variação de voz muito boa, mas acho que consegue esticar essa tessitura, que acredito
que esteja em um mezzo. Ela nunca cantou profissionalmente, logo não possui nenhuma técnica.

         - Quero ver o que consegue fazer. Vamos fazer alguns exercícios.

         Rafaela concordou com um aceno e assistiu o professor se sentar em um teclado no canto. Acompanhou as notas musicais que ele apresentava e
depois de dois minutos, Gilson parou e se virou para Bruna.

         - Ela é mezzo com conforto, mas com os exercícios certos chegaremos no soprano.

         - Confio em você. É o melhor nesse quesito – assentiu Bruna. – Eu tenho que voltar para a produtora. Quando terminar aqui, ligue para que o
carro venha busca-la. Aproveite Rafa, é sua chance, explore esse cara ao máximo!

         - Pode deixar – concordou feliz.

         Rafaela se despediu de Bruna e ficou esperando que Gilson fosse com ela até a saída. Em poucos minutos ele voltou para o estúdio.

         - Vamos começar? Preciso te transformar na nova voz desse país.

         A adolescente sorriu ao se levantar. O trabalho, enfim, começava.

********

 
Tom Jobim & Elis Regina – Águas de Março

https://www.youtube.com/watch?v=E1tOV7y94DY

Adele – Hello

https://www.youtube.com/watch?v=YQHsXMglC9A

Notas finais:

oi oi lindonas!!!

Amores, paz no coração hehehehehhee

Nem chegamos no décimo ainda e já estão sofrendo com Isadora, calma.. Muita calma nessa hora!
Rs

Prometo que serei boazinha com nossa querida ruiva, ok?! 

Bjokasssssssssssssssss

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Capitulo 8 - Pescador de Ilusões por Drikka Silva
         Rafaela passou a manhã inteira com Gilson, tendo sua primeira aula de canto. Nunca antes havia feito nenhum dos exercícios que ele havia
apresentado, mas para ela, não parecia fazer diferença nenhuma, contudo, seu professor parecia satisfeito com o resultado que tinham obtido.

         - Vamos finalizar por hoje – anunciou Gilson ao pegar o telefone e discar um número. Rafaela esperou, por meio minuto, vendo ele pedir para a
secretária ligar para a produtora. Assim que desligou, voltou seus olhos a ela. – Eu vou passar para Bruna o mesmo que vou te falar agora: você tem
uma voz linda, tem um dom natural que pode ser aprimorado e é isso que faremos aqui. Você ainda não vai perceber porque seus ouvidos ainda não
são apurados, mas só o aquecimento que fizemos das suas cordas vocais já deu uma diferença enorme. Toda vez que for cantar, repita esses
exercícios. Pense na sua garganta como os músculos de um jogador de futebol. Antes de entrar em campo, eles têm que se aquecer para não
prejudicar nenhum musculo, com as cordas vocais é a mesma coisa.

         - Certo. Vou fazer isso.

         - Você foi bem aplicada nessa aula, espero que continue assim nas outras. Se continuarmos nesse ritmo, em um mês já terá evoluído bastante.
Geralmente nas escolas, inclusive na minha, as aulas têm duração de uma hora, uma vez por semana. Hoje eu te passei material de um mês em três
horas. Faremos um intensivo do intensivo, à pedido de Bruna. Importantíssimo que treine tudo, repetidas vezes. Vá dormir chiando como uma
chaleira.

         Rafaela deu um riso com a fala do professor.

         - Pode deixar! Vou fazer isso.

         - Sua dicção é boa, não tem nenhum problema para nos preocuparmos. Com as aulas de canto, será natural que melhore nesse campo também.
Importante, evite massacrar sua voz. Nada de gritaria, nada de tomar coisas muito geladas para não prejudicar a garganta. Coma bastante maçã e
evite os alimentos que estão nessa lista, pois criam uma camada na garganta e você começa a pigarrear. Não faça isso. É uma agressão gratuita à sua
garganta.

         - Ok.

         - Bom, por hoje é isso. Bruna me disse que amanhã você não vem, mas te espero na quarta de manhã, às oito horas da manhã. Não se atrase.

         - Chegarei as sete e cinquenta da manhã.

         - Excelente!

         - Com licença, Gilson – pediu uma mulher aparecendo na porta. – O carro chegou.

         - Obrigado. Te encontro depois de amanhã, Rafaela.

         A adolescente se despediu do professor e sua secretária antes de sair para a rua, onde um carro a esperava. Cumprimentou o motorista e se
encostou no banco, pensando em como tudo era diferente pra ela. Desde as aulas que havia tido mais cedo, até o carro a esperando do lado de fora.
Deu um sorriso: estava se sentindo importante.

         O veículo parou na frente da produtora depois de quinze minutos. Desceu notando que o carro de Bruna não estava parado na frente, aonde
sempre ficava, indicando que ela não estava na produtora. Assim que entrou, Victor foi recebe-la.

         - Como foi as aulas? – perguntou o homem a quem Rafaela não dava mais que vinte e cinco anos.

         - Muito boa! Não sabia que tinha tantos exercícios para ser feito antes de cantar.

         - Tem sim. Bruna me pediu para treinarmos seus ouvidos até que ela retorne na parte da tarde. Já vamos dar uma olhada também em algumas
composições que são enviadas para a produtora. Temos que te trabalhar para começar a mostrar na mídia o quanto antes. Sugeri a ela um feat. Acho
que é a melhor forma do seu rosto entrar no mercado.

         - Tudo bem. Feat é quando se canta com outra pessoa?

         - Isso. Se conseguir, será foda! Agora é hora do almoço, vamos comer e na volta já começamos.

         - Eu vou esperar aqui...

         - Bruna me disse para te alimentar bem. Se possível arrumar um boi pra você. Não posso contrariar minha chefe. Vamos.

         A adolescente concordou com um riso e acompanhou o homem de volta a recepção. Junto a eles, mais três funcionários da Spagnatto.

         - Trabalha poucas pessoas aqui, né? Achei que era maior uma produtora.

         - Você só conhece aqui? – perguntou Camila, uma das recepcionistas.

         - E não é só aqui?

         - Aqui é onde Bruna fica a maior parte do tempo, quando tem algum artista que ela mesma quer produzir, mas a gravadora mesmo e toda a
parte de produção e marketing fica ali no Pacaembu. É gigante! Tem mais de cinquenta funcionários – explicou Victor.

         - Então...

         - Você sabe que a Spagnatto é grande, faz muito conteúdo. Bruna administra tudo, é a dona e a presidente da produtora e gravadora que herdou
quando o pai faleceu, mas ela não se envolve diretamente com a maioria dos processos. Tem pessoas muito qualificadas para fazer isso. Digamos que
aqui, só vem o crème de là crème. Só aqueles que ela mesma se dedica a fazer. É o reduto particular dela.

         - Eita! E eu vim direto aqui – riu Rafaela.

         - Quando eu falo que você teve sorte, você não acredita! Quantas pessoas que não tentam se aproximar de Bruna, entregar seu material? Quase
tudo chega filtrado a ela e entendo isso. Se ela fosse ouvir todos que mandam trabalho, não teria tempo de mais nada.

         - E você é o que dela?


         - Sou seu assistente. Geralmente faço todas as aprovações pra ela. Eu que a chamei para escutar você cantar.

         - Imaginei. Então eu tenho que te agradecer – riu Rafaela.

         - Me agradeça quando já estiver no topo. Para que Bruna Spagnatto se dedique tanto a você, é sinal de que ela está mesmo vendo muito talento.
Agarre essa chance como sua vida.

         - Estou fazendo isso – concordou Rafaela entrando do restaurante próximo a produtora. – Você não parece ser tão velho pra ter todo esse cargo.

         - Sou mais velho do que imagina. Tenho trinta e cinco anos.

         - Caraca! Nossa! Te dava uns vinte e cinco!

         - Já tenho uma filha de dez anos.

         - Nunca diria – falou Rafaela sentando-se a mesa escolhida pelo grupo. Logo um cardápio foi colocado em suas mãos.

         - Pode escolher o que quiser, viu? Não precisa ficar com frescura.

         - Pode deixar.

         Rafaela passou o almoço todo conhecendo um pouco mais da produtora e das pessoas que trabalhavam nela. Da mesma forma, foi alvo de
várias perguntas, mas algumas coisas da sua vida, decidiu não falar naquele momento. Todos os quatro funcionários salientavam o tanto que Bruna
era criteriosa e, fazer a sua própria produção, acompanhando passo a passo desde o início, era algo que nunca tinham visto da produtora.

         Rafaela passou a tarde no estúdio, enquanto Victor mostrava um jeito mais crítico de escutar música. A adolescente não viu o tempo passar
enquanto aprendia e gravava cada informação passada. Pegou um violão no canto do estúdio e tocou algumas notas, se lembrando do que havia
estudado no passado, com um antigo namorado. Tinha um bom ouvido para música e conseguia reproduzir, com facilidade, o que Victor lhe
passava. Quando já estava descontraída o suficiente, tocou uma música do Rappa, no modo simplificado, somente dois acordes, acompanhando com
voz.

“Se meus joelhos não doessem mais 


Diante de um bom motivo 
Que me traga fé, que me traga fé 
Se por alguns segundos eu observar 
E só observar 
A isca e o anzol, a isca e o anzol 
A isca e o anzol, a isca e o anzol 
Ainda assim estarei pronto pra comemorar 
Se eu me tornar menos faminto 
Que curioso, curioso 
O mar escuro, é, trará o medo lado a lado 
Com os corais mais coloridos 
Valeu a pena, ê ê
Valeu a pena, ê ê
Sou pescador de ilusões 
Sou pescador de ilusões”

         Rafaela terminou a música e se assustou com o barulho de palmas às suas costas. Se virou para enxergar Bruna, acompanhada de uma mulher
que nunca tinha visto antes.

         - Muito bom, Rafa – falou a produtora terminando de entrar no estúdio.

         - Era justamente isso que estava te explicando, Bruna – falou a mulher. – Será sucesso no Youtube!

         - É uma excelente estratégia de marketing – concordou a morena. - Juntando com um feat que o Victor me sugeriu de manhã, rapidamente será
reconhecida.

         Rafaela se virou para a produtora sem entender nada do que estavam falando.

         - Me desculpe – pediu a produtora com um sorriso. – Essa é Bianca, cuida de uma parte do marketing da produtora.

         - É um prazer te conhecer, Rafaela. Estava falando com Bruna de te lançar no youtube, fazendo gravações de covers, mas com uma roupagem
mais profissional. Podemos fazer o próprio estúdio como local de gravação – continuou Bianca animada, sem dar tempo de a adolescente responder.
– Consigo imaginar umas três câmeras: uma correndo para os músicos, outras duas pegando seus diferentes ângulos, alguns focos nesse olho lindo!
Que abuso, hein?! Cinzentos! Mas enfim, podemos lançar um vídeo por semana, toda sexta-feira às seis da tarde, horário que as pessoas mais
procuram conteúdo na internet. Contrataremos ups de conteúdos para que sempre apareça nas pesquisas no topo, como no Google, por exemplo.
Podemos fazer algo mais sisudo, outros com algumas decorações de luzes, jovem e dinâmico. Temos que mexer no seu visual também. Cabelos
negros. Acho que fica melhor com esse olho que possui. Esse castanho te deixa um pouco apagada. Tem que dar destaque, sabe? Se quer ser uma
diva, tem que se vestir como uma diva também. Roupas mais transadas. Conhece marcação de câmera? E dança? Sabe mexer esse corpinho?
Imagina cantando Indecente da Anitta com um macacão preto, um generoso decote e essa cinturinha de fora?! Um arraso!

         - Ela só tem dezesseis anos – lembrou Bruna. – Nada de decotes.

         - Ah verdade! Tira o decote.

         Bianca continuou andando pelo estúdio, falando sem parar. Rafaela achou estranho que Bruna não a interrompesse, pelo contrário, mantivesse
toda sua atenção na mulher. Ela tinha uma enxurrada de ideias e ia despejando, uma em cima da outra. Não estava acostumada com tanta energia
em uma pessoa só.
         - Ela é a melhor no quesito divulgação – falou Victor no seu ouvido ao perceber sua confusão.

         - Possui redes sociais?

         - Tenho Facebook.

         - Temos que fazer um Instagram, Twitter, uma página no Facebook para te divulgar. Seu site. Já tem que falar com Fabricio pra ele já começar.
Uma sessão de fotos para já começar a espalhar na web. Temos que te bombar em três meses. Posso fazer uma sugestão, Bruna? – perguntou Bianca
sem esperar a resposta. – Temos uma nova funcionária no grupo, a Carla. Ela pode cuidar de todas as redes sociais dela, respondendo comentários,
divulgando. Alguém focado totalmente na área de mídias e que fique ao lado dela sempre. Vou te dizer, Rafaela, não leia muitos comentários nas
redes sociais. É importante que tenha alguém para fazer um filtro.

         - Por mim, tudo ok – concordou a produtora.

         - Vamos mexer nisso então. Te mando um fluxograma de como tudo vai funcionar até amanhã à tarde. De cara já sugiro que mande-a para o
Jacques, para mudar totalmente o visual. Vamos fazer Lumia nascer de dentro dessa carcaça.

         Rafaela não pode deixar de rir do jeito despojado com a qual a Bianca encerrou seu monologo. Se virou para Bruna que a encarava divertida.

         - Já sentiu a energia dessa mulher, não é? – falou Bruna com um riso. – Vamos trabalhar da seguinte forma: Victor, monte uma banda para
acompanha-la nessas gravações. Contrate músicos desconhecidos e exclusivamente para ela, para que tenham tempo de ensaio, inclusive do que
vamos produzir. Você tem quarenta e oito horas para montar esse grupo. Bateria, baixo, teclado, o que achar necessário. Já veja também uma equipe
de filmagem para a próxima semana e peça para os meninos arrumarem o estúdio dos fundos para esse trabalho. Bianca, mande Carla para cá
amanhã pela manhã porque quero falar com ela antes de Rafaela. Vou falar com Amanda para já marcar um salão para você – continuou se virando
para Rafaela. – Acho que amanhã à tarde já seria uma boa. Depois que resolver seu compromisso pela manhã, venha para cá e já te levo lá. Paolo
pode fazer a sessão de fotos no final de semana. Podemos usar minha casa como locação.

                Rafaela se limitou a assistir enquanto os três discutiam o seu futuro. Não fazia menor ideia dos caminhos que estavam tomando, mas
concordava com o que falavam, quando pediam sua opinião.

         - Acho que é isso – falou Bruna depois de meia hora. – Finalizamos por hoje?

         - Por mim está fechado. Já te mando tudo desenhado amanhã – concordou Bianca.

         - Pra mim também. Já vou abrir uma seleção de músicos e já falo com Rodrigo.

         - Rafa, tudo de acordo?

         - Sim. Tudo certo.

         - Você vai pegar esse ritmo com o tempo, não se preocupe.

         Rafaela concordou com um aceno e depois de quinze minutos se despediu das pessoas na produtora para ir para casa. Foi o caminho todo
anestesiada pelo que havia sido discutido naquela tarde. Era coisa demais para sua cabeça, mas tentava encaixar tudo da melhor forma. O que não
podia fazer era deixar se levar pelo entusiasmo.

         Em casa encontrou a mãe com algum cara na cozinha, que nem conseguiu ver o rosto, pois saiu no mesmo instante que entrou. Foi para casa de
Jéssica e depois de fazer a amiga prometer, por duas vezes, não contar o que estava fazendo a ninguém, contou tudo o que estava acontecendo na
sua vida. Jessica ficou entusiasmada com a amiga e somente pediu para que ela não esquecesse da amizade que possuíam quando ficasse famosa.
Não tinha como Rafaela esquecer. Era a única amiga de verdade que possuía.

         Quando o relógio marcou onze horas da noite, voltou para casa e, desta vez, encontrou apenas a mãe jogada no sofá. A cumprimentou e seguiu
direto para o quarto. Tomou um banho demorado e depois seguiu para os armários e fogão atrás de comida.

         - Amanhã nós vamos no cartório, não se esqueça.

         Simone se limitou a olhar para a filha e depois voltar a atenção para a tevê. Não via a hora de se livrar daquele estorvo.

         Na manhã seguinte, Rafaela acordou a mãe às sete para que pudessem ir no cartório. Simone ainda tentou argumentar, mas ao ver a filha pegar
a procuração e fazer menção de sair, voltou atrás. Era melhor ter aquele trabalho naquele momento do que ter que responder na justiça o que já
havia feito. Depois de muita reclamação e duas horas, saíram do cartório e Rafaela não podia conter sua felicidade ao ter em mãos o documento que
permitiria continuar seu sonho.

         - Satisfeita? – perguntou Simone ao acender um cigarro.

         - Sim. Agora posso fazer meu trabalho. Não custava nada ter assinado com a Spagnatto sem precisar de nada disso.

         Simone olhou para o chão e deu um sorriso sarcástico.

                - Bom, senhorita emancipada, você não mora mais naquela casa. Agora que já pode responder legalmente por tudo e eu não tenho mais
nenhuma responsabilidade sobre você, pode cuidar da sua própria vida longe da minha.

         - Mãe...

         - Liberdade para você, liberdade para mim. Tire suas coisas de lá até amanhã a noite ou coloco fogo em tudo.

                Rafaela olhou para a mãe se afastando e não soube definir o que mais tinha doído: ser colocada para fora de casa ou o ódio que a mãe
claramente tinha dela.

********

O Rappa – Pescador de Ilusões

https://www.youtube.com/watch?v=43iERWI5ArY
Notas finais:

Oi oi lindonas!!!

Um bom final de semana a todas e nos vemos na terça!

Bjokasssssssssss

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Capitulo 9 - Ginga por Drikka Silva
 

         Rafaela chegou na produtora e cumprimentou Camila na recepção que já a informou de que Bruna estava esperando por ela no seu escritório.
Andou até a sala indicada e bateu na porta, antes de entrar.

         - Como foi lá? – perguntou Bruna depois de cumprimentar a adolescente.

         - Tudo certo. Minha mãe fez a minha emancipação – respondeu ao entregar a folha para a produtora. – Agora podemos fazer as coisas sem se
preocupar com ela.

         - Você parece triste – comentou Bruna, observadora. – Ela te falou alguma coisa?

         - Aquilo tudo que você viu, mas hoje a tarde ela já vai esquecer. Ela sempre esquece das coisas rápido demais.

         Bruna ficou encarando a garota por algum tempo, imaginando os tipos de palavrões que a mãe deveria ter despejado para ofendê-la.

         - O apartamento está livre, Rafa. Você fica nele, sabe que não tem problema, não é?

         - Eu sei, mas eu não quero deixar ela. Por mais que ela seja uma babaca a maior parte do tempo, ainda é minha mãe. Se tudo der certo, posso
tira-la dessa vida e pagar um tratamento pra ela largar a bebida, sei lá.

         Bruna sorriu para a garota na sua frente. Era incrível que ela ainda tivesse algum tipo de amor pela mãe. Não iria interferir no relacionamento
de amor e ódio que as duas pareciam ter. Só teria qualquer atitude se o comportamento da mãe prejudicasse sua carreira de algum modo.

         - Tudo bem. Bom, já vou enviar isso para o jurídico, vamos refazer seu contrato – falou Bruna pegando o telefone. Pouco tempo depois, uma
mulher que Rafaela não conhecia, entrou na sala. – Amanda, mande uma cópia desse documento para o Gerson para que possa ser refeito o contrato
com a Rafa, aliás, deixa eu apresenta-las: Rafa essa é a Amanda, minha assistente pessoal, essa é a Rafa.

         - Prazer em conhece-la. Não tinha te visto antes – respondeu a adolescente com um sorriso.

         - Estava de férias. Voltei ontem – respondeu a mulher se aproximando

para dar um beijo no seu rosto. – Seja bem-vinda a Spagnatto, Rafa.

         - Obrigada.

         - Está tudo certo no Jacques? – perguntou Bruna para Amanda.

         - Sim, está marcado para as duas da tarde.

         - Sem problemas. Obrigada, Amanda.

                A assistente de Bruna saiu da sala e Rafaela concentrou sua atenção na produtora. Ainda era onze horas da manhã. Teria que esperar um
tempo.

         - Enquanto não dá a hora de sairmos, vai para o estúdio treinar os ouvidos ou treinar os exercícios que Gilson te passou. Eu tenho uma reunião
daqui a pouco e assim que terminar nós vamos para o Jacques. Almoçamos pelo caminho.

         - Tá bom – concordou a jovem se levantando para sair em seguida.

         Bruna ficou assistindo Rafaela sair da sua sala e voltou sua atenção para o computador à sua frente, com alivio. Pelo menos uma parte havia
sido resolvida. Quinze minutos depois, seguiu com Victor para a sala de reuniões onde receberia o empresário de Lucca e dois advogados para
finalizar o contrato com a Spagnatto. Cumprimentou Matheus e finalizaram os pequenos detalhes que ainda haviam ficado pendentes. Quarenta
minutos depois o acompanhou para a saída. Parou ao ver Rafaela ensinando a coreografia de Ginga da IZA, para Camila e Amanda no corredor
oposto.

         - Que jovem animada – comentou Matheus com um riso. – Nova funcionária?

         - Cantora. Estou produzindo-a – respondeu ainda as observado.

         - E ela já colocou suas funcionárias para dançar.

         - Ela vai colocar o Brasil inteiro para dançar. Em breve.

         Bruna colocou as mãos no bolso da calça enquanto observava como Amanda e Camila estavam entretidas com Rafaela. Ela havia capturado a
atenção das duas a ponto de nem perceberem a presença do grupo.

         - Ela canta bem?

         - Muito bem. É uma artista que nem sabia que era artista. Tem uma voz de ouro. Tá ai! Ela e Lucca!

         - Uma parceria?

         - Sim. Eu vou colocar o rosto dela na mídia, quer melhor que uma parceria com Lucca?!

         Matheus ficou pensativo por um minuto enquanto as três mulheres davam a volta para enxerga-los. Todas ficaram sem graça ao ver as cinco
pessoas que as observavam.

         - Desculpe, Bruna – pediu Amanda com um sorriso sem graça.

         - Não tem problema.

         - É que a estamos na hora do almoço e...

         - Quem vê vocês se explicando assim, acham até que sou alguém que enche o saco. Vem aqui, Rafa.
          A adolescente concordou ressabiada. Iria levar uma bronca de graça.

         - Esse é Matheus Silveira, ele é empresário do Lucca. Já ouviu as músicas dele?

         - Uau! Já sim! São ótimas! Dá pra dançar muito! É um prazer te conhecer, Matheus.

         - O prazer é meu, Rafa.

         - Eu vou produzir o próximo álbum dele. Estávamos finalizando esse detalhe agora.

         - Bacana!

         - Já tem algo gravado dela? – perguntou Matheus ao encarar Bruna. – Pra você produzir do zero é porque deve ser muito boa!

         - Não tenho ainda. Estou fazendo uns últimos ajustes para começar a grava-la. Na próxima semana já terei conteúdo dela. E sim, ela é muito boa.

         - Posso te ouvir?

         Rafaela deu ombros ao olhar para Bruna.

         - Pode ser uma do Lucca mesmo? – perguntou, voltando-se para o empresário do cantor.

         - Sem problemas.

         - Vamos no estúdio – falou Bruna apontando para o final do corredor.

         Rafaela concordou e fez uma careta de risada para Camila antes de seguir Bruna e Matheus até o estúdio. De imediato, a produtora apontou a
sala acústica para a adolescente e fechou a porta depois de sua passagem. Foi até a mesa de som e acionou a comunicação.

         - No microfone da frente, Rafa.

         Bruna assistiu a garota se posicionar na frente do microfone indicado e começar a cantar a música escolhida. A produtora mudou os canais,
aumentando os graves, enquanto segurava um fone de ouvido na orelha. Quando encontrou o tom certo, o direcionou a Matheus.

         - Que voz! – exclamou o homem depois de meio minuto.

         - Agora crua – falou Bruna, desligando a mesa. Rafaela parou de cantar e a morena foi abrir a porta para entrar com Matheus. – Mais uma vez,
Rafa.

         A garota concordou e começou a cantar novamente. Já estava quase se acostumando com aquilo.

         - Já tem uma afinação própria – espantou o empresário.

         - Ainda tem pontos para melhorar, já estamos trabalhando nisso com Gilson.

         - Eu vou falar...

         - Opa! – interrompeu Bruna com um gesto de mão e um sorriso. – Vou te acompanhar até a recepção.

         - Claro, desculpe. Foi um prazer conhece-la, Rafa. Boa sorte na sua jornada.

         - Obrigada – agradeceu Rafaela sem entender, muito bem, o que tinha acontecido ali.

                Bruna piscou para a jovem e saiu do estúdio acompanhada de Matheus. Só voltou a tocar no assunto sobre a parceria quando já estavam
distantes do estúdio, onde Rafaela não a escutaria.

         - A voz dela e de Lucca fariam um encontro perfeito.

         - Concordo, mas está pensando exatamente em quê?

         - Um single. Original e remix. Rafa ainda não está pronta para um palco, tem um caminho a seguir, mas estamos trabalhando nisso. Comecei a
trabalha-la essa semana, efetivamente.

         - Eu vou conversar com Lucca. Não posso te dar nenhum posicionamento agora.

         - Ele me deve uma – respondeu Bruna com um sorriso. – Diga a ele que estou cobrando.

         - Pode deixar. Grave ela e me envie. Vou esperar.

         - Fechado.

         Bruna se despediu do empresário e voltou para o estúdio em seguida. Rafaela a esperava, enquanto dedilhava um teclado.

         - Rápida, como havia dito – falou a produtora, chamando sua atenção. – Vamos?

         - Vamos – concordou a adolescente. – Por que eu cantei praquele cara?

                - Você é novidade. Vou te apresentar a todos que forem influentes e que possam te ajudar de alguma forma – respondeu Bruna com meia
verdade. – Eu quero te fazer uma pergunta, mas sempre esqueço. Como estão seus estudos? Você não chegou a concluir, não é?

         - Não. Eu parei no segundo ano do médio.

         - Quanto tempo?

         - Esse ano fui só algumas vezes. Não tinha vontade de ir.

         - E, claro, sua mãe nunca falou nada a respeito disso.

         - Não. Achava até bom porque não tinha que gastar com livros e cadernos.
         - Ok. Você precisa voltar a estudar. Muitas pessoas irão te acompanhar e é interessante que tenha uma boa imagem a passar. Sem contar que
podemos ter problemas com a Vara da Infância, que só permite apresentações artísticas, desde que comprove o vínculo estudantil. Veja na escola
como está sua situação. Acredito que será melhor te colocar em algum colégio por aqui, algum com melhor infraestrutura para recebe-la.

         - Por causa do ensino?

         - Sim, o ensino em uma escola particular é melhor do que em uma pública, a maioria pelo menos, mas a minha real preocupação é que quando
seu rosto se tornar conhecido, você precisará de segurança.

         - Entendi – respondeu Rafaela entrando no carro de Bruna. – Eu vou passar lá quando tiver tempo. Acho que a secretária fica aberta até as sete
da noite.

         - Essa semana tiraremos um dia para ir mais cedo pra casa.

                Bruna desviou o assunto do colégio para a aula de canto que a adolescente tinha tido no dia anterior. Rafaela contou, em uma narrativa
empolgada, quase tudo o que Gilson tinha lhe passado no dia anterior. Bruna aproveitou para dar algumas dicas que ela mesma havia utilizado
quando fizera as mesmas aulas que a garota. O almoço transcorreu enquanto explicava sobre todo o processo de criação de um álbum e, no caso
dela, a criação de um artista. Bruna foi transparente ao relatar o cunho comercial envolvido: Rafaela tinha um talento único e estava trabalhando
para que ela se tornasse rentável.

         Exatamente às duas da tarde chegaram ao salão que Amanda havia marcado. Rafaela não conteve uma cara de deslumbre ao ver o espaço:
parecia ter saído de uma cena de novela. Paredes beges e marrons davam um tom sofisticado ao salão lindamente decorado com vasos de plantas e
poltronas de couro em branco. Bruna cumprimentou a mulher que a recebeu com um beijo no rosto. Ela e Isadora eram avidas frequentadoras
daquele lugar, além dos artistas que a produtora mandava, quando necessário.

         - A Carla já chegou? – perguntou Bruna para Marcos, profissional que cuidaria de Rafaela naquela tarde.

         - Sim. Ela está aqui na sala de espera tomando um café. Bom, vamos a essa garota linda! Jesus! Que olhos de diva são esses?!

         - Todo o restante tem que acompanhar essa beleza. Ela já é bonita, mas quero que fique linda no vídeo, do tipo que não tem como tirar os olhos.

         - Hipnotizante – concordou Marcos. – Uma funcionária sua disse para deixa-la morena. Alias, que mulher que fala aquela Bianca! Achei que já
estava com a escova na mão do outro lado da linha!

         Rafaela riu junto com Bruna. Concordava em numero e grau. Como Bianca falava!

         - Ela é excelente no que faz.

         - Eu acredito que sim, para estar na sua equipe! Vamos lá, Lumia, deixe-me vê-la.

         Rafaela andou atrás do homem, seguida por Bruna. Se sentou na cadeira indicada e soltou o cabelo. Marcos a rodou três vezes antes de voltar a
falar.

         - Essa pele é um nojo, não é?! Aposto que não usa nada.

         Rafaela respondeu com uma negativa de cabeça e um risinho no rosto.

         - Bandida! Morena, Bruna. Ela vai ficar perfeita como uma linda morena pra você babar por ela. Daqui cinco anos, quando tiver uns vinte e
cinco anos...

         - Ela tem dezesseis anos, Marcos – interrompeu Bruna com um riso. – Só babaria por ela daqui uns dez anos.

         - Mentira! Dezesseis anos? Aonde estão vendendo desse fermento? Quero um quilo, por favor!

         Rafaela deu um riso acompanhada por Bruna. Ia entrar na brincadeira quando uma funcionária se aproximou dos três, acompanhada de uma
ruiva de cabelos curtos.

         - Boa tarde gente – cumprimentou a desconhecida. – Lumia, prazer em conhece-la! Eu sou a Carla, sua best friend daqui pra frente.

         - Oi Carla – respondeu a garota confusa.

         - A Carla vai cuidar das suas redes sociais. Ela vai te acompanhar quase sempre, registrando alguns momentos, atualizando. O trabalho dela vai
começar mesmo na próxima semana.

         - Já comecei, Bruna. As páginas já estão prontas, como me solicitou de manhã, agora já vou tirar umas fotos lindas nesse espaço pra já começar a
adicionar no perfil. Três fotos por dia, alguns Stories.

         - Maravilha! Eu vou fazer minhas unhas, porque também sou filha de Deus, e volto para ficar com vocês aqui.

         - Lumia, vou mexer em você completamente. Tenho carta branca?

         - Só não quero cabelo curto. Acho que não combina comigo.

         - Longo! Mais longo que está agora. Uma Rapunzel!

                - Me surpreendam – pediu Bruna dando um passo para trás. Voltou para fitar Rafaela. – Fique descansada aqui. São todos excelentes
profissionais.

         - Pode deixar.

                Bruna deu uma piscadinha na direção de Rafaela e saiu para encontrar outro profissional que a aguardava. A adolescente ainda ficou
observando-a de longe por poucos segundos antes de ter sua atenção voltada para Carla e Marcos.

         - Agora nós e sem chefes por perto – comemorou Carla. – Temos tempo para tirar umas fotos do antes? – perguntou para Marcos. – Quero deixar
algumas coisas registradas porque pode ser útil no futuro.

         - Claro.
         Rafaela se levantou da cadeira e começou a tirar as fotos que Carla indicava. Em pouco tempo de conversa, descobriu que ela tinha vinte e três
anos e começara o trabalho na Spagnatto dois meses antes, cuidando das redes sociais da produtora. Tinha uma jovialidade que conquistou Rafaela
de imediato. Quinze minutos depois se sentou no lavatório e fechou os olhos quando a água morna alcançou sua cabeça. Naquele momento, Rafaela
dava espaço para que Lumia surgisse.

         Durante a hora seguinte, Marcos trabalhou no seu cabelo, fazendo o corte e o secando para receber o aplique. Carla ficou sentada em uma
poltrona ao seu lado, mostrando as páginas que havia criado e como iria divulga-la enquanto tirava uma foto ou outra, sempre atenta ao celular. Não
sabia o que garota estava fazendo tanto, pois não tinha ninguém ainda nas redes sociais que ela havia criado.

         Bruna voltou para o espaço aonde estavam uma hora depois. Percebeu que ela também tinha feito alguma coisa com o cabelo, mas não soube
determinar o que fora. Só enxergava que estava mais linda que antes. Nunca fora de achar uma mulher bonita, mas ela era tão diferente. Deu um
suspiro ao desviar os olhos da produtora que conversava com Carla. Sabia que devia parecer uma criança para ela. E talvez fosse mesmo. Uma
criança que começava a descobrir um mundo novo e mágico que Bruna lhe apresentava. A produtora saiu para resolver alguma coisa na rua e
informou que voltaria para busca-la quando terminassem. Marcos tratou de cobrir o espelho à sua frente.

         - A cara de surpresa é sempre a melhor – argumentou.

         Três horas depois, Marcos se afastou, com um sorriso satisfeito no rosto. Além do cabelo, havia feito a unha e uma maquiagem. Carla a olhava
com aprovação, mas estava louca mesmo era para ver o resultado. Quando o espelho foi liberado, não conseguiu esconder a cara de surpresa ao
enxergar seu reflexo. Levou a mão ao rosto, conferindo que era ela mesmo.

         - Essa não sou eu – falou com um riso. – Gente! Caramba!

                - Uau! Alguém coloca um microfone na mão dessa garota que ela está pronta para o palco! – brincou Marcos mexendo nos seus cabelos. –
Gostou?

         - Se eu gostei?! Tá brincando! Olha isso!

         - Você está linda! Arrasou, Marcos! Essa é Lumia, Brazellll! – falou Carla animada.

         Rafaela sorriu para os dois segurando a todo custo, uma lágrima de felicidade.

         - Se borrar essa maquiagem eu te mato! Preciso te entregar impecável para Bruna.

         Rafaela assentiu com a cabeça, sem confiar na própria voz. Depois de alguns minutos e já refeita do choque de se ver tão diferente, Carla se
animou em tirar várias fotos. Estava sentada em uma poltrona quando sentiu uma cabeça repousar no seu ombro. Se afastou com um leve susto
para ver Bruna. Sorriu para a produtora e voltou para o mesmo lugar, para que Carla tirasse a foto.

         - Deixa eu te ver – pediu Bruna ficando na sua frente. Se levantou para que ela pudesse ver o cabelo completo. – Você está linda, Lumia. Não é à
toa que eu aguento Bianca. Ela domina tudo!

         - Gostou? – perguntou Rafaela com um sorriso enorme no rosto.

- Você está incrível! Parece até outra pessoa. Obrigada pelo excelente trabalho, Marcos. Ainda verá essa garota muito por aqui.

- Estou esperando! Agora eu quero a foto. Isso vai valer ouro: o nascimento de Lumia.

Rafaela riu e tirou as fotos que o cabelereiro pediu. Bruna também tirou uma com ela antes de saírem do salão. A produtora apontou o
carro para que as três entrassem e seguiram para um restaurante. Já era quase dez da noite quando saíram do local.

- Aquele carro irá te levar pra casa – anunciou Bruna para Rafaela ao apontar um táxi à espera. – Amanhã, às oito com o Gilson, não se
esqueça.

- Estarei lá.

- Isso aqui são vouchers de táxi. É pra você ir hoje e voltar amanhã. Depois a Amanda vai pegar outros.

- Tá bom.

- Tenha uma boa noite, Rafa.

- Boa noite – respondeu a jovem, correspondendo o beijo no rosto de Bruna.

- Boa noite, Lumia. Eu te encontro na produtora amanhã à tarde – se despediu Carla.

Rafaela se afastou e entrou no taxi. Antes de sair ainda se virou para ver Bruna e Carla entrando no carro da produtora. Se virou para
frente e deu um suspiro profundo. O dia havia começado uma droga, com a mãe surtada, mas fechava om chave de ouro.

Na favela, desceu de frente de casa, entrou no quintal e tentou a porta que estava trancada. Pegou o celular para iluminar o espaço onde
sempre deixavam a chave, mas o que viu foi uma caixa com suas coisas. Era incrível como podia ir do céu ao inferno em segundos.

- Mãe! Abre aqui. Eu sei que está me escutando!

Rafaela ainda ficou um tempo chamando sem que ela respondesse. Desviou sua atenção da porta, quando Jessica passou na rua, ao lado da
mãe e viu sua tentativa de entrar em casa.

- Rafa? Nossa Rafa! Como você está diferente!

- Eh, mudei o visual por causa daquele assunto que te falei, mas parece que minha mãe não mudou em nada!

- O que aconteceu, Rafa? – perguntou Palmira, mãe de Jessica.

- Ela está com loucura de me expulsar de casa. Até colocou minhas coisas pra fora.

- Vamos lá pra casa. Está tarde, ai você me explica o que aconteceu.

- Ela vai abrir uma hora.


- Vocês vão brigar. Vem, vamos lá pra casa. Já é dez e meia da noite.

Rafaela concordou com um suspiro e pegou a caixa, sendo auxiliada por Palmira. Jessica seguiu atrás carregando uma mochila. Entrou na
casa da amiga e colocou a caixa no canto.

- Amanhã eu falo com ela quando voltar – falou passando a mão no cabelo. – Ela não pode me expulsar assim.

- O que está acontecendo, Rafa? – perguntou Palmira preocupada. – Você está tão diferente, toda produzida desse jeito, sua mãe te expulsou
de casa... O que você está fazendo que deixou ela tão irritada?

- Eu não estou me prostituindo, ok?

- Eu não disse isso. Só quero saber o que está fazendo.

- Conta pra ela, Rafa.

- Você sabe? – perguntou Palmira se virando para a filha.

- Sei. Não é nada de errado mesmo.

- Eu fui contratada por uma produtora. A mulher que veio aqui dias atrás, lembra dela?

- Sim. Num carrão branco.

- Isso. Enfim, ela tem uma produtora e me contratou para me produzir como cantora. Minha mãe foi contra e a Bruna teve a ideia de pedir a
emancipação. Fizemos hoje de manhã e agora ela está com essa loucura.

- E você confia nessa mulher, essa Bruna?

- Confio. Deixa eu mostrar ela. É famosa. Casada com aquela atriz que faz a Samanta na novela das sete.

- Isadora Maranes.

- Isso. Aqui, oh – falou esticando o celular com a foto da produtora ao lado da esposa. – É um trabalho sério, ela está investindo muito para
que eu tenha uma carreira como cantora porque acredita no meu potencial. E eu quero isso mais que tudo!

- Sua mãe pode tá com inveja – falou Jessica puxando uma cadeira. – De uma vida que ela não teve e que você pode ter.

- Jessica!

- A Jessica não está errada, não, dona Palmira. Ela sempre deixou claro o tanto que não gosta de mim, mas é minha mãe, ne? A gente não
escolhe.

- Bom, fica aqui essa noite, amanhã, mais cedo, você resolve isso.

- Eu tenho aula de canto cedo. Tenho que estar na zona sul às oito da manhã.

- Eita! Vai sair de madrugada.

- Eh, tenho que sair cedo!

- Tudo vai dar certo. Você arruma uma cama pra ela no seu quarto, filha?

- Arrumo – concordou Jessica animada. – Vamos, quero que me conte tudo o que está fazendo!

Rafaela agradeceu a Palmira por abriga-la naquela noite e seguiu a amiga para o quarto. Ainda ficaram conversando durante um longo
tempo, antes que se arrumasse para dormir. Tinha certeza que quando a mãe estivesse sóbria, ela reconsideraria sua permanência em casa.

**********

IZA - Ginga

https://www.youtube.com/watch?v=NcY80SPnvfE

Notas finais:

Oi oi lindonas!!!

Suplicio neh?! Alguém tem um bom conselho pra Rafa ai? 

Bjokassssssssssssss
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Capitulo 10 - Medo Bobo por Drikka Silva
         No dia seguinte, como havia prometido, às sete e quarenta, Rafaela já estava esperando para começar as suas aulas de canto. Gilson a recebeu
com o mesmo entusiasmo do primeiro dia e ficaram durante toda a manhã trabalhando no seu estúdio. Às onze horas, um carro estava à sua espera
para leva-la até a produtora. Assim que chegou no local, já identificou que Bruna não estava presente, visto que seu carro não estava no lugar de
costume. Entrou com uma leve decepção que logo foi substituída por empolgação, quando Victor foi recebe-la.

         - Temos um longo trabalho hoje, Lumia. Estou fazendo a seleção de músicos para fazermos os vídeos para o Youtube. Estou vendo material de
alguns que já trabalharam com a Spagnatto anteriormente. Nos adianta bastante. E parabéns. Você ficou linda com esse cabelo novo.

         - Obrigada – agradeceu com um sorriso. – O que eu tenho que fazer?

         - Vamos escutar essa galera. Amanhã, dependendo do que a Bruna disser, já faremos alguma gravação sua com uma banda na parte da tarde.

         - Show! – concordou animada. – A Bruna vem pra cá hoje?

         - Acho que não. Ela foi para uma reunião no Rio. Daqui a pouco a Carla chega e ela pediu um vídeo curto pra começar a espalhar nas redes.
Alguma coisa bem amadora mesmo, gravado com o celular. Já vai pensando na música.

         A adolescente concordou com um aceno e seguiu o homem para a sala onde estava alguns computadores. Victor puxou uma cadeira para que
ela pudesse se sentar ao seu lado e começaram a assistir os vídeos e ver o material. De cara, já gostou de um baterista que Victor havia pré-
selecionado.

         - Esse cara toca demais – falou Rafa admirada.

         - Essa mina – corrigiu Victor. – É a Mell Maia. Ela é excelente na bateria. Tinha uma banda há algum tempo atrás, Bruna até pensou em investir
nelas, mas havia muita disputa interna entre elas, não passavam uma energia boa. Guardei o material dela porque gostei da forma como ela conduz
a bateria.

         - Parece um garoto – riu Rafaela. – Gostei dela.

         - Vamos assistir mais três que separei.

         Rafaela passou a hora seguinte com Victor, analisando todo o material que ele lhe apresentava. Pararam para almoçar e depois retornaram na
parte da tarde. Carla já a esperava com a mesma empolgação do dia anterior e começou a acompanhar o trabalho que estava fazendo. No meio da
tarde, começou a aprender algumas dicas que a ruiva falava, como os melhores ângulos para tirar fotos para as redes sociais e gravação de Stories. O
dia já estava no fim quando gravou a música que ela havia pedido, um cover de Medo bobo de Maiara e Maraisa, acompanhada por uma base de
violão que Victor fazia. Carla pediu para repetir cinco vezes, antes de se dar por satisfeita. A noite já estava caindo quando, por fim, saiu da
produtora. Estava satisfeita pelo dia produtivo que havia tido, mas levemente decepcionada por não ter visto Bruna.

         De volta a favela, foi direto para a escola onde estudava. Naquele ano já estava como desistência e teria que refazer o segundo ano do ensino
médio desde o início. Deu um suspiro profundo ao pensar em retornar à escola. Era a parte chata de tudo o que estava acontecendo.

                Depois da escola, seguiu para casa. Esperava que a mãe estivesse mais receptível naquela noite. Estava quase alcançando a rua quando
encontrou com Nicolas sentado no meio de um grupo de amigos em uma calçada. Pensou, por um minuto, se devia falar com ele. O próprio
namorado que a chamou.

         - Rafa? – perguntou, confuso. – O que você fez? Tá diferente.

         - Mudei o cabelo – respondeu indo até a roda. – Tá fazendo o quê?

         - To de boa. Sumiu por quê?

         - To trampando num negócio aí. Depois a gente se fala.

         - Espera ai, espera ai – falou Nicolas ao sair da roda. Juntos caminharam alguns metros para longe dos amigos. – É aquela mulher ainda? To
sabendo que sua mãe te colocou para fora de casa.

         - Ela está com loucura, Nicolas. Isso foi ontem porque ela estava nervosa. Tenho certeza que nem lembra hoje.

         - Sei não. Andou falando pra todo mundo que você tá sendo bancada pela ricaça. Qual é Rafa? Ta me zuando mesmo? Virou puta de luxo?

         - Eu não to sendo bancada por ela. Vou fazer um trampo e ela está investindo nisso.

         - Assim? Mudando desse jeito? Se eu fitar que você está me zuando, Rafa, eu te estouro. Tá ligada, né?

         - Talvez esse seja o momento de darmos um tempo. Vou trabalhar pra caralho, não vou ter tempo...

         - Escuta aqui, sua vadia – falou nervoso ao pegar seu braço. – Se você está achando que vai terminar comigo assim, você tá enganada! Eu te
arrebento, Rafa, não to zuando!

         - Me solta! Eu não sou obrigada a ficar com você! Vai se fuder, Nicolas!

         - Eu te mato se descolar que você tá trepando com essa mulher. Fica esperta.

         - Oi Rafa – ouviu a voz de Jessica. – Tudo bem, amiga?

         - Tudo Jessi.

         - Tudo bem Nicolas?

         - Tudo certo. Fica esperta, Rafaela – alertou Nicolas mais uma vez antes de solta-la e se afastar.

         Rafaela suspirou fundo ao ver o garoto se afastar de volta ao grupo. Se virou para a amiga com um sorriso amarelo.

         - Obrigada por isso. Esse moleque é um babaca. Não sei aonde tava com a cabeça quando fiquei com ele.
         - Ele vai ficar te aporrinhando.

         - Não será por muito tempo. Logo ele encontra outra garota para encher o saco.

         - E como foi o seu dia hoje? Cantou muito?

         - Um pouco só. Escolhemos alguns músicos para a minha banda. Eu tenho uma banda! – riu empolgada, esquecendo-se automaticamente de
Nicolas. – Amanhã, talvez, grave com eles.

         - Que bacana, amiga! – falou Jessica, genuinamente feliz. – Quando você fizer seu primeiro show, quero estar lá, na primeira fila!

         - Ih, vai demorar. Bruna me disse que primeiro temos que trabalhar minha imagem, me divulgar primeiro antes de ter publico para um show.
Ela disse que vai me trabalhar online primeiro e depois que vai passar para o offline. A Bianca, que trabalha na produtora, que está coordenando
toda a estratégia de marketing, como ela diz. Tenho umas fotos aqui e um vídeo que fiz hoje.

                Rafaela esticou o celular para a amiga e mostrou as páginas onde apareciam suas imagens e o vídeo gravado horas antes, enquanto
caminhavam para casa. Parou na frente do portão e esperou que a amiga visse todo o vídeo.

         - Caraca, Rafa! Que incrível isso! Olha esse espaço!

         - É lindo! É lá na produtora. Essa aqui é no salão onde fui ontem. Aqui a Bruna, o Marcos, que fez meu cabelo. Essa é a Carla, ela que está
fazendo essas fotos e vídeo. O conteúdo, como ela diz. Esse é o Victor, trabalha na produtora também.

         - Espero que tudo dê certo, Rafa, to torcendo de verdade por você.

         - Acredito, amiga! Obrigada pelo apoio! É importante nesse momento.

         - Só não virar uma artista metida, viu?

         - Vou não.

         - Fala isso, mas quando se tornar conhecida, vai andar com uns dois seguranças, deixando todo mundo longe.

         Rafaela riu com a suposição da amiga.

         - Nem sei ainda se vou me tornar mesmo essa artista que todo mundo tá falando que vou virar. Vou me esforçar para que aconteça mesmo, a
Bruna acredita em mim. Não vou decepcionar ela.

         - Ela é uma grande produtora mesmo. Eu li as informações dela na internet. Como conheceu ela?

         - Por incrível que pareça, devo isso ao babaca do Nicolas.

         Rafaela se sentou na calçada, na frente da casa da amiga e narrou o que tinha feito. Jessica acompanhou a narrativa sem interrompê-la e sem
condena-la.    

         - Ainda bem que foi devolver as coisas dela. Se tivesse vendido os aparelhos por causa de uma grana rápida, não teria uma chance como essa.

         - É verdade. Bom, eu vou ver se minha mãe já parou de loucura. Tenho que dormir cedo porque amanhã tenho que estar cedo na aula de canto
de novo.

         - Qualquer coisa vai lá pra casa. Minha mãe já avisou que você fica lá em casa até sua mãe parar de frescura.

         - Obrigada amiga.

         Rafaela se despediu de Jessica e desceu algumas casas até parar na frente do portão de madeira. Respirou fundo e entrou. Caminhou devagar
para a porta da frente testou a fechadura. Com alivio a descobriu aberta. Dentro de casa, não encontrou a mãe na cozinha. Caminhou para o quarto e
entrou para enxerga-la ajoelhada na frente de um cara. Deu meia volta e saiu para o quintal, sem conter as lágrimas. Por que não tinha uma mãe
como todas as outras meninas que conhecia? Se acalmou depois de minutos e secou o rosto. Foi até a casa da amiga e pegou algumas roupas antes de
voltar. Ainda ficou sentada no quintal, ouvindo músicas, por mais uma hora, até que o homem aparecesse na porta.

         - Na próxima semana eu volto, Simone – se despediu com um beijo. – Quero você gostosa como hoje.

         Se a escuridão não estivesse ocultando Rafaela, veriam a cara de nojo que a garota fez ao escuta-lo. Assim que sumiu no portão, se levantou e
entrou na cozinha.

         - Oi mãe – falou ao vê-la ainda nua, rente a pia.

         - O que você está fazendo aqui? – perguntou Simone irritada. – Eu já coloquei suas coisas pra fora. Você já se colocou para fora.

         - Mãe, para de loucura! Poxa, custa agir como uma mãe normal?!

         - Sai daqui, Rafaela!

         - O que eu fiz pra você? Caralho! Eu não to fazendo nada de errado, pelo contrário, to fazendo algo descente que pode dar um futuro pra gente!
Por que você me odeia tanto?!

         - Algo descente que pode dar futuro?! Francamente, Rafaela! Acha mesmo que musica vai colocar comida num prato? Que vai pagar as contas
de casa? Eu fiz o que fiz para poder te criar, mesmo sendo um estorvo na minha vida e você não sabe nem ser agradecida!

         - Se eu fosse tão ingrata assim, não estaria aqui, nesse momento! O que você quer que eu faça? Que fique me prostituindo também? Isso não vai
me dar uma carreira, não vai me dar um futuro!

         - Ah tá! E você acha que ficar cantando vai te dar?! Nós somos pobres, Rafaela! Pobre não tem vez!

         - A Bruna...

         - Bruna... Bruna... Quando ela enjoar de te comer nem vai lembrar que existe mais!
         - Eu não estou transando com ela! Quantas vezes tenho que repetir isso?!

         - Não? Olha pra você! Até o cabelo já mudou! Unhas bem feitas!

         - Eu não vou discutir com você. Tenho que dormir porque tenho que sair cedo.

         - Eu vou esconder todo o meu dinheiro. Não vou te dar um real pra nada!

         - Não precisa. Eu tenho os vouchers de táxi que ela me deu para ir para a aula de canto amanhã – falou ao mostrar os tickets que Amanda tinha
lhe entregue aquela tarde. – Olha, ela está me assessorando em tudo.

         - Isso não vale nada – Simone pegou os papéis da mão da filha antes de dar um sorriso e rasga-los ao meio.

         - Mãe! O que você fez, mãe! – gritou Rafaela tentando fazer a mulher parar. – Que porra, mãe!

         O que sentiu, em seguida, foi a mão pesada da mãe a acertando em cheio. Se afastou, chorando, sem conseguir conter as lágrimas de ódio.

         - Se quer voltar para casa, pare com essa besteira e arrume dinheiro de verdade. Essa casa é minha, eu mando nela.

         - Eu não vou voltar. Pode ficar com essa merda pra você! – falou enquanto recolhia os pedaços dos vouchers. – Eu moro na rua, mas eu nunca
mais volto pra cá. Só escuta uma coisa, mãe, quando eu estiver no topo, não venha lembrar que sou sua filha!

         - Você nunca vai chegar a lugar nenhum!

         Rafaela não se deu ao trabalho de responder. Saiu da casa que até então ocupava e seguiu até a casa de Jéssica. Assim que a amiga abriu o
portão, se jogou em seus braços e chorou tudo o que estava guardado, toda a frustração que estava sentindo. Palmira apareceu para ver o que estava
acontecendo e a levou para dentro de casa. A adolescente conseguiu se acalmar depois de muitos minutos e relatou o que tinha acontecido.

         - Que situação, Rafa! Mas, olha, não se preocupe. Você pode ficar aqui. – falou Palmira acariciando sua cabeça. – Come, vai descansar porque
amanhã você tem que ir cedo para a aula, não é?

         - Ela rasgou os vouchers do táxi, não tenho como ir pra aula. Vou ter que arrumar dinheiro cedo e depois falar com a Bruna.

         - Eu te arrumo dinheiro. Você não vai faltar a aula por causa disso. Se ficar levando muito problema pra essa Bruna, ela pode acabar cancelando
esse contrato.

         - Obrigada, dona Palmira, assim que eu tiver alguma coisa eu te devolvo.

         - A gente dá um jeito aqui. Onde come um, come dois. Agora vai tomar um banho para jantar.

         Rafaela agradeceu com um aceno e fez menção de se afastar ao lado de Jéssica, mas a voz de Palmira fez ela parar.

         - Eu sei que Simone é sua mãe, mas está na hora de parar de insistir nela. Ela não vai mudar por tão cedo. Se concentre primeiro no que está
fazendo, depois vê o que pode fazer por ela.

         - Eu não tenho mãe, dona Palmira. Ela morreu essa noite.

         Palmira assentiu com a cabeça antes de ir esquentar o que tinha sobrado da janta. Não sabia bem como ajudar Rafaela, mas o que estivesse ao
seu alcance faria.

         Rafaela saiu do banho e comeu a refeição que Palmira já havia colocado em um prato para ela, antes de ir se deitar. Ainda ficou conversando
com Jéssica por algum tempo até que o sono a pegou. O relógio despertou às cinco da manhã e se levantou para ir para a aula de canto. Estava
terminando de se arrumar quando Palmira lhe entregou o dinheiro.

         - Tem dez reais a mais pra você comer. Não sei se...

         - Não precisa, dona Palmira, eu almoço com o pessoal da produtora, com a Bruna se ela estiver por lá.

         - Nunca se sabe. Se não usar, guarde para a volta.

         - Tá bom. Obrigada.

         Rafaela deu um abraço na mulher e saiu da casa, caminhando até o ponto de ônibus. O trajeto que faria em cinquenta minutos de carro, levou
duas horas e meia até chegar na casa onde Gilson a esperava. Estava atrasada em meia hora.

         - Desculpe o atraso – pediu de imediato. – O trânsito tava um inferno!


         - Não se preocupe! – falou Gilson com um sorriso. – Temos tempo. Não muito, mas temos. Peça o táxi para mais cedo um pouquinho da próxima
vez. É melhor pecar pelo excesso.

         Rafaela ia falar que tinha ido de ônibus e trem, mas mudou de ideia. Apenas concordou com um aceno e um sorriso.

         - Está certo.

         - Bom, vamos às aulas.

         Bruna desligou o computador com um sorriso no rosto. Depois da vídeo chamada com a esposa, sentia-se revigorada para começar o dia de
trabalho. Naquela manhã iria direto para o prédio onde ficava a gravadora e produtora no Pacaembu e só na parte da tarde iria até Pinheiros, onde
encontraria Rafaela. Havia ficado longe no dia anterior, mas Bianca e Victor tinham-na atualizado de todo o trabalho que haviam feito com a
adolescente.

                Durante toda a manhã se concentrou nos assuntos administrativos que requeriam sua atenção. Fabricio, seu diretor geral, a acompanhou
durante todo o tempo e só levantou o assunto, pelo qual esperava, na hora do almoço.

         - E essa menina, Bruna? Rafaela o nome dela, Lumia, artístico. Como está funcionando isso?

         - Demorou para me questionar sobre isso – falou com um suspiro. – A Spagnatto vai lança-la no mercado. Eu estou produzindo-a pessoalmente.
         - Acho que em todos esses anos, trabalhando com você, nunca te vi se dedicar totalmente a um artista que já não seja reconhecido.

         - Verdade. Eu tinha esquecido do que é essa emoção de pegar um rosto completamente desconhecido e lança-lo. Estou apostando muito nessa
garota, tenho certeza que ela terá um futuro brilhante.

         - Você está movimentando muitos profissionais para isso. Espero, realmente, que traga o retorno financeiro que está investindo.

         - Eu acredito que ela irá se tornar um ícone para o publico jovem. Ela tem carisma, é humilde para aprender. Pode ser moldada para o estrelato.

         - Eu vi o contrato dela. É emancipada, certo?

         - Sim.

- E ela tem estrutura psicológica para encarar tudo isso? Ela tem dezesseis anos. É uma adolescente.

         - Já entendi a sugestão. Vou pedir que ela fale com algum psicólogo – falou Bruna pensativa. De fato, Fabricio tinha razão. Rafaela precisaria de
um acompanhamento para não entrar em parafuso quando a fama e o dinheiro chegasse. Ainda mais com o histórico que possuía e que seu diretor
desconhecia. – Quem pode ver isso pra mim? Temos alguém dentre os funcionários que pode me auxiliar?

         - A Cris cuida do pessoal. Ela tem contato com a clinica que faz a avaliação admissional. Talvez possam dar alguma dica.

         - Alana se consultava ou se consulta com um psicólogo aqui em São Paulo. Acho que é até melhor que seja algum com conhecimento sobre a
loucura da vida de um artista.

         - Concordo. Você vai encontrar com Thiago por esses dias? – perguntou, se referindo ao empresário da cantora.

         - Amanhã. Eles irão na produtora para gravar a ultima música. Obrigada pelo alerta.

         - É importante cuidar desses detalhes. Já pensou nos profissionais que ficarão com ela?

         - Vamos empresariar nesse começo. Carla está auxiliando-a com as redes sociais e internet nesse primeiro momento, mas acho que ela pode se
tornar a assessora dela. Ela se formou ano passado em propaganda e marketing, tem o curso de comunicação digital. Tem vinte e três anos, jovem,
acompanha as tendências e o que está rolando nas redes. Pode crescer junto com Rafaela.

         - Carla foi um grande achado – concordou Fabricio. – E o offline?

         - Pensei no Kadu para cuidar disso quando ela estiver pronta para encarar um palco.

         - Você tem que começar a trabalhar isso o quanto antes. Quanto mais ela se apresentar em algum barzinho, mais ganha experiência.

         - Me dá um mês? Primeiro eu quero que ela se sinta confortável, comece a ter visibilidade nas redes, depois partimos para o off.

         - Você manda! E a banda que encontrou ontem? Vamos fazer o EP?

         O assunto se desviou para a reunião que tinha tido no dia anterior, no Rio de Janeiro. Depois de meia hora se despediu de Fabricio e seguiu para
a produtora. Entrou no local e cumprimentou Camila, antes de seguir para sua sala. Amanda estava finalizando os processos que tinha lhe enviado
pela manhã, por e-mail.

         - Rafaela está aqui?

         - No estúdio com Victor. Estão repassando algumas músicas para escolher uma para a gravação.

         - E os músicos?

         - Vão chegar daqui a pouco. Victor marcou com eles para as três da tarde.

         - Excelente.

         Bruna saiu da sala e seguiu até o estúdio onde Rafaela, Victor e Carla estavam escutando música. Já era nítida a cumplicidade que estavam
criando.

         - E ai, pessoal! Sentiram minha falta? – perguntou chamando a atenção dos três.

         - Oi Bruna! – cumprimentou Victor se adiantando para dar um beijo em seu rosto. – Como foi no Rio?

         - Temos mais trabalho – respondeu indo dar um beijo em Carla e depois Rafaela. – Como estamos por aqui?

         - Lumia separou dez músicas e temos quarenta minutos para decidir qual delas ela irá ensaiar com a banda.

         - Quais são? – perguntou ao puxar uma cadeira para se juntar ao grupo.

                Rafaela passou a relação de músicas que havia escolhido e, de cara, Bruna dispensou três que não eram adequadas ao seu tom de voz. A
adolescente tentou não demonstrar a satisfação que estava sentindo em ver a produtora, enquanto falava sobre o que curtia em cada música
escolhida. Ao fim de vinte minutos, escolheram a música e Victor saiu para receber o primeiro músico que havia chegado.

         - Bruna, eu tomei liberdade de fazer algo – anunciou Carla. – Eu liguei para a Bianca e pedi uma equipe de gravação para esse primeiro teste
dela. Acho que ficará bem interessante filmar isso. Teremos um bom material para ser usado mais pra frente.

         - Excelente. Você tem carta branca, Carla. Já estão vindo?

         - São três pessoas que estão vindo. Me mandaram mensagem informando que vão chegar quase em cima da hora por causa de um acidente que
teve na Rebouças.

         - Não tem problema. Podemos esperar um pouco. Pelo visto ficaremos até tarde aqui. Já vou pedir para Amanda providenciar refeição para
mais tarde. Tudo bem pra você, Rafa? Digo, não tem perigo de chegar tarde onde mora?

         Rafaela pensou, por um segundo, no que Palmira havia dito: “Se ficar levando muito problema pra essa Bruna, ela pode acabar cancelando esse
contrato”. Não iria falar que tinha que sair da produtora no máximo às nove da noite para que conseguisse pegar o ultimo ônibus para casa. Se o
fizesse, teria que explicar que a mãe a expulsara de casa e que tinha rasgado os vouchers que recebera.

         - Está tudo bem – respondeu com um sorriso. – Podemos ir até o horário que for necessário.

*******

Maiara e Maraisa – Medo Bobo

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Notas finais:

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Capitulo 11 - Nada Sei por Drikka Silva
         Bruna entrou na sala e olhou para os músicos reunidos, aguardando para falar com ela. Os cumprimentou, um a um, seguida de Rafaela, e
depois se sentou em sua habitual cadeira com a adolescente ao seu lado e Victor do outro.

                - Bom, vamos ao que interessa – falou ao pegar o papel à sua frente. – Rafael, vamos começar por você: está trabalhando com música no
momento?

         - Faço alguns freelas, tenho uma banda e trabalho em uma loja de aparelhos eletrônicos na Santa Efigênia.

         - Você trabalhou conosco em na sonorização de um comercial, certo?

         - Sim. Fiz a base de baixo.

         - Ok. Como anda a banda? Tocam em barzinhos?

         - Sim. Quase todo fim de semana.

         - Vinte e sete anos, certo?

         - Isso.

         - Obrigada Rafael. O próximo é Gustavo. A mesma coisa Gustavo. Está trabalhando com música?

         - Sou professor de guitarra, baixo e percussão. Trabalho em uma escola no Campos Elyseos. Tenho trinta anos.

         - Você trabalhou um tempo como percussionista para o Lucca, no começo de sua carreira, certo?

         - Sim. Fiz o trabalho do primeiro álbum.

         - Ok. Melanie, sua vez.

         - Só Mel. Tenho vinte e dois anos. Só estudo no momento. Estou concluindo faculdade de música. Bateria, guitarra, baixo, violão, percussão.

         - Mas o principal é bateria, certo?

         - Isso.

         - Você tinha uma banda formada apenas de garotas, chegaram a mandar material pra nós. Como está essa banda?

         - Não está. Rolou muita treta. To pensando em formar outra, sei lá.

         - Ok. Por último, Davi, percussão e guitarra. Tem vinte e quatro anos, não é?

         - Isso aí. Toco em barzinhos, não tenho nenhuma formação musical. Meu trabalho aqui na Spagnatto foi fazendo alguns solos para trilha sonora
de comercial.

         - Tem banda?

         - Tinha uma, mas o vocalista faleceu ano passado em um acidente de carro. Não teve clima pra arrumar outro, estamos ai, na correria.

         - Certo. Bom, o motivo do Victor ter entrado em contato com vocês ontem é a respeito dessa jovem, Lumia. Eu estou produzindo ela e estamos
fazendo a seleção de uma banda para ela. Dentre alguns materiais que foram analisados ontem, os de vocês foram selecionados.

         - Acho que não vi algo seu por aí – comentou Rafael.

         - Com certeza não viu – respondeu Bruna. – Estou produzindo ela do zero. Ainda vamos começar os trabalhos online e depois o offline. Nós
temos músicos que acompanham a Spagnatto, mas eu quero algo totalmente novo para ela, uma banda que seja exclusiva dela. Ela não vai começar
pequena, minha ideia é já fazer uma divulgação massiva, feats, singles bem elaborados para já ganhar espaço em um ano. É um projeto ousado, não
é o perfil da Spagnatto produtora fazer esse tipo de trabalho, mas eu, Bruna, tomei para mim essa missão.

         - Uau! Deve ter uma garganta poderosa – falou Gustavo.

         - Ela tem. Foi aprovada por Paulo Lins também. Só para que saibam o poder vocal dessa garota – riu Bruna. – Vamos fazer um som agora, quem
puder estender um pouco aqui, já trabalhamos algumas coisas. E claro, quem estiver disposto a entrar nesse projeto.

         - Tô dentro – anunciou Mel. 

         - Vamos ver o que rola – concordou Gustavo.

         Um a um, Rafaela viu os músicos concordarem com Bruna. Depois de mais alguns minutos de conversa sobre o que fariam naquela tarde, foram
para o estúdio que ficava na parte detrás da produtora. Victor já havia arrumado instrumentos para todos e começaram a fazer o teste de som
enquanto Carla e Amanda se dedicavam a maquia-la. A equipe de gravação chegou e montou os equipamentos para que pudessem registrar aquele
momento. Ao ver toda a movimentação dentro do estúdio, o tanto de pessoas envolvidas, pela primeira vez começou a, de fato, suar frio. Era muita
gente esperando que ela se saísse bem, incluindo Bruna que andava de um lado para o outro, analisando tudo junto com Victor. A tremedeira tomou
conta quando começaram a passar o som, ensaiando com os instrumentos.

         - Olá, Lumia! Meu nome é Catarina, vou acompanhar a sua filmagem – falou uma loira que viera junto com a equipe de gravação. – Depois nós
vamos fazer alguns testes de câmera para ver como se sai. Como você é toda linda, acho que não precisamos nos preocupar com o seu melhor
ângulo. Sua simetria é incrível!

         - Eu estou nervosa! – assumiu com um sorriso. – É a primeira vez que vejo tantas pessoas esperando que eu cante bem.

                - Você vai se sair bem. Sua voz é incrível e tenho certeza que esse nervosismo vai sumir na hora que ficar na frente daquele microfone –
tranquilizou Carla. – Quer que eu providencie algo pra você? Já pedi para trazerem uma garrafa de água para dar aquela hidratada na garganta.

         - Não, está tudo certo. Obrigada.


         - Lumia, como está com a sua “estréia”? – perguntou Bruna gesticulando o sinal de aspas com as mãos.

         - Espero não errar a letra da música – sorriu sem graça. – É muita gente envolvida, né?

         - Isso é só um teste com a banda. Quando for uma produção de verdade, será o triplo. É bom já ir se acostumando. Qualquer coisa que precisar é
só falar. Já vai aquecendo sua voz.

         - Bruna, me dá sua jaqueta – pediu Carla. – Vamos colocar nela e prender esse cabelo em um rabo de cavalo alto. Dá uma esticada nesse olho.
Vai ficar parecendo uma gata.

         - Vinte minutos – anunciou Bruna ao tirar o casaco. – Vinte minutos galera! Vamos começar a fazer isso rodar – gritou para o resto da equipe.

         Rafaela começou a fazer os exercícios que havia aprendido com Gilson enquanto a equipe presente fazia os últimos ajustes. Estava nervosa,
mas começou a relaxar com os olhos fechados enquanto Carla prendia seu cabelo.

         Bruna observava, de longe, a adolescente se concentrando. Ao vê-la no meio de todas as pessoas presentes, conseguia enxerga-la no camarim,
sendo preparada para um show. Victor deu o ok para começarem o trabalho e ficou olhando enquanto Rafaela ia até o local onde seu microfone
estava posicionado. Catarina, ao seu lado, indicava as câmeras e como funcionaria toda a gravação. A adolescente apenas concordava com a cabeça,
atenta a tudo o que ela falava. Antes de começarem, efetivamente, ela andou até cada um dos músicos e falou algo com eles. O sorriso que todos
apresentavam informava que ela devia ter dito algo bom.

         O primeiro teste foi interrompido antes de chegar ao refrão. A sintonia da banda não estava boa, o que já era de se esperar, visto que haviam se
conhecido naquela tarde. Na quinta tentativa conseguiram seguir com a música até o final, mas não estava satisfeita com o resultado. A voz de
Rafaela parecia apagada no meio dos instrumentos. Saiu do canto que ocupava e andou até a adolescente.

                - Você está nervosa e é extremamente natural que isso aconteça. Eu quero que se concentre em mim. Olhe para mim quando for cantar
novamente. Se lembre de como cantou divinamente bem naquele restaurante mexicano.

         - Tá bom.

         Bruna assentiu com uma piscadinha e saiu para detrás das câmeras. Mel deu o inicio e logo os acordes de Nada sei tomaram conta do estúdio.
Como havia pedido, Rafaela ficou olhando para ela enquanto cantava. Começou a se movimentar por trás das câmeras para que ela também se
movimentasse. Automaticamente começou a mexer a boca, acompanhando a letra sem que emitisse som. O gesto foi magico. Diante dos olhos de
todos os presentes, Lumia surgiu, grande, como Bruna havia projetado, acompanhando as câmeras. Assim que acabou a música, sorriu para todas as
pessoas que aplaudiam. Agradeceu, brincando no microfone, totalmente relaxada.

         Durante as duas horas seguinte, repassaram a música algumas vezes, com todos os seus movimentos sendo registrados. Bruna percebeu que ela
havia captado a atenção de todos, como um imã. Possuía uma simpatia única, brincalhona, solta, sendo apenas ela, uma adolescente curtindo
música. Uma artista.

         - Ela é incrível, Bruna – falou Amanda ao seu lado.

         - Se alguém ainda tinha algum receio da minha aposta, depois de hoje, ninguém mais vai duvidar.

         - Não mesmo. Ela não deixa a desejar em nada de artistas que já passaram por essa produtora desde que estou aqui. É simpática, escuta o que
todos tem a dizer.

         - Uma joia rara que literalmente caiu na minha frente – riu Bruna. – Victor, vamos fazer uma pausa, comer, depois continuamos.

         O assistente assentiu e fizeram o que Bruna havia dito. Amanda havia pedido que uma padaria próxima entregasse os lanches e juntos foram
para a sala de reuniões. Rafaela seguiu animada ao lado de Carla, conversando com todos a respeito das músicas que gostava e de sua jornada como
artista. Tinha consciência de que aquilo era apenas o primeiro ensaio, de que ainda tinha muito para aprender. Bruna estava satisfeita. Aquela tarde
e noite era a prova que precisava para continuar investindo na garota.

         O dia chegou ao final às dez e meia da noite. Se despediram das pessoas presentes e já deixaram acertado o ensaio do dia seguinte.

         - Amanhã, assim que chegar da aula de canto, você já vai para o estúdio para o ensaio. O pessoal da banda confirmou que estarão aqui às onze
da manhã – falou Bruna a Rafaela. – No sábado vamos fazer a sessão de fotos em casa. No domingo poderá descansar.

         - E precisa descansar disso? – perguntou risonha.

         - Precisa. Seu táxi chegou. Amanhã não vou te forçar tanto. Prometo.

         Rafaela concordou com um sorriso, mas a cabeça se concentrou na informação de que o táxi estava esperando por ela. Depois de uma tarde
como aquela não podia falar a Bruna o que sua mãe tinha feito. Apenas concordou com a cabeça e se despediu da produtora, caminhando para o
veículo. Assim que entrou, contou o resto do dinheiro que tinha. Não daria para quase nada.

         - Moço, me deixa ali na esquina. Eu esqueci um negócio – pediu para o taxista que apenas bufou nervoso, por perder a viagem.

         Rafaela pagou o pouco que havia dado e desceu. Assim que o carro se afastou, pensou no que faria. A estação de metrô de Pinheiros era ali perto
e decidiu que iria até a casa de Gilson e dormiria em algum lugar por lá. Já tinha visto que o bairro era tranquilo. Não teria problema em dormir na
rua. Não seria a primeira vez que aquilo aconteceria.

                Assim que saiu da estação de trem, no Santa Cruz, foi caminhando lentamente para o endereço de Gilson. Antes de chegar na rua de seu
professor, escolheu um canto em um comercio vazio e se sentou. Não iria ficar muito próxima para não correr o risco de que ele a visse. Mandou
mensagem para Jéssica, falando que não iria dormir em casa e, depois, colocou os fones de ouvido na orelha, torcendo para que a noite passasse
rápida.

        

Gilson estava satisfeito com o concerto que havia ido na Sala São Paulo. Falava isso a esposa quando virou na rua que daria acesso a sua
casa. O farol iluminou a calçada de uma farmácia e enxergou Rafaela com a cabeça encostada contra a porta de metal, com os olhos fechados.

- O que será que aconteceu? – se perguntou enquanto passava devagar.


Pensou em perguntar para a garota, mas tinha certeza que ela lhe inventaria alguma mentira. Tinha três filhos já adultos, sabia exatamente
como haviam sido na adolescência.

- Oi Bruna – falou assim que escutou a voz da produtora e amiga do outro lado da linha. – Desculpa ligar essa hora, mas como sei que está
cuidando da Rafaela pessoalmente, resolvi entrar em contato com você primeiro.

- Não tem problema, Gilson. Aconteceu alguma coisa?

- Era a pergunta que estava pensando em te fazer. Rafaela está aqui na rua próxima de casa, sentada na calçada. Claramente está esperando
a noite passar.

- Ela está o quê?! – exclamou Bruna sem acreditar nos seus ouvidos.

- Na rua. Eu estou voltando de um compromisso e a vi aqui perto.

- Gilson, coloca essa menina pra dentro, pelo amor de Cristo. Estou saindo de casa, em vinte minutos já chego para busca-la.

- Ela pode dormir aqui em casa, se for o caso, não sei o que aconteceu...

- De maneira nenhuma, não vou incomodá-lo. Chego em vinte minutos. Já estou até com a chave na mão.

- Tudo bem.

Gilson se despediu da produtora e caminhou na direção de onde tinha visto Rafaela. Ela continuava no mesmo lugar, só havia apoiado a
cabeça nos joelhos.

- Rafa.

Rafaela gelou ao ouvir seu nome sendo chamado. Levantou os olhos para dar de cara com Gilson ao seu lado.

- Ai caralho... – sussurrou ao passar a mão no rosto.

- O que aconteceu? Por que está aqui na rua?

- Não conta pra Bruna, por favor!

- Vamos lá pra casa, sair da rua.

- Eu... Eu já estou indo embora. To esperando meu namorado.

- Manda mensagem pra ele e fala que vai esperar lá em casa.

- Não precisa se incomodar, professor, eu...

- Vai mentir pra mim?

- Desculpa. Mas não conta pra Bruna não, por favor!

- Ela está vindo te buscar.

- Que droga! – resmungou se levantando, nervosa. – Ela vai me falar um monte! Capaz até de cancelar o contrato. Eu não posso perder essa
oportunidade...

- Ela ficou preocupada quando liguei, não vai fazer nada disso – contemporizou ao abraça-la. – Não precisa chorar. Vamos, lá em casa você
me conta, se quiser.

Rafaela assentiu com a cabeça e saiu ao lado do professor, sem conter o medo que havia tomado conta do seu corpo com a ciência de que
Bruna estava indo busca-la. Optou por não falar para o seu professor o que tinha acontecido, mas uma lágrima sempre rolava pela face ao pensar na
cara que Bruna faria. Depois de vinte minutos, escutou o carro parando na frente da casa. Gilson foi recebe-la e Rafaela abaixou a cabeça, chorando
baixinho de medo e vergonha.

- Rafa! O que você estava pensando, Rafa?! – perguntou Bruna nervosa ao entrar na sala.

- Eu não queria te incomodar com os meus problemas – respondeu ainda de cabeça baixa.

- Está tudo bem – amenizou a produtora ao ver suas lágrimas. – Vamos pra casa, no caminho você me conta o que aconteceu.

Rafaela concordou com um aceno e se despediu de Gilson, para sair para a rua. Entrou no carro da produtora e se abaixou sobre o banco.

- O que aconteceu, Rafa? Eu preciso que me conte para poder ajuda-la – falou Bruna acariciando seus cabelos.

- Eu... Minha mãe me expulsou de casa terça. Ai ontem eu fui lá pra conversar com ela, só que ela rasgou os vouchers que a Amanda me deu,
ai eu fiquei com medo de pedir outros. Eu não quero que cancele o contrato comigo por causa do tanto de problema que eu tenho...

- Que ideia, Rafaela! Pelo amor de Deus! Já tem três dias que você está na rua, é isso?

- A minha vizinha deixou eu ficar na casa dela. Só que hoje eu não tinha o dinheiro pra ir pra casa.

Bruna ficou sem saber se ria ou se dava uma bronca na adolescente do seu lado.

- Os vouchers, sem assinatura e rasgados, são apenas papéis sem valor algum. Era só ter falado com a Amanda e ela te daria outros –
suspirou ao puxar o rosto da adolescente para encarar seus olhos. – Nunca mais se coloque em risco dessa maneira. Amanhã vamos resolver isso.
Você vai para o apartamento que minha mulher cedeu. Já tinha lhe falado que ele está a sua disposição.

- Eu não quero ficar te trazendo tanto problema... Eu...

- Seus problemas, são problemas da produtora. Se tivesse me dito isso na terça, nada disso teria acontecido, não precisaria ficar na casa de
outra pessoa.
- Eu fiquei com medo.

- Me promete que não vai me esconder mais nada?

- Prometo.

- Coloca o cinto.

Bruna ainda balançou a cabeça em sentido negativo, com um meio sorriso nos lábios, antes de dar a partida no carro. Adolescentes!

O caminho até a casa da produtora foi rápido, pois não havia transito àquela hora da noite. Rafaela foi o caminho todo quieta,
envergonhada por ter sido pega no flagra por Gilson e Bruna. Os olhos ficaram concentrados na janela, mas ao entrar no bairro, onde a produtora
morava, começou a ficar impressionada com as casas que iam passando. O carro embicou em uma bela residência e não conseguiu manter seu voto
de silêncio.

- Você mora aqui? – perguntou espantada.

- Moro.

Rafaela apenas deu um assovio de admiração ao descer do veiculo. A casa parecia ter saído de um cenário de uma novela. Bruna a conduziu
para dentro e apontou o sofá para que ela se sentasse.

- Rafa, não precisa ficar com receio de me contar as coisas, ok. Você é uma contratada da Spagnatto, daqui um ano, dois no máximo, terá seu
próprio escritório ou algum escritório te assessorando. Antes que isso aconteça, você é responsabilidade nossa. Tudo o que se referir ao seu bem-
estar e conforto, nós vamos cuidar.

- Me desculpe por ter feito isso. Eu...

- Não precisa ficar com medo. Qualquer coisa, absolutamente tudo, pode me contar, ok?

- Tudo bem. Me desculpe mais uma vez.

- Que seja a primeira e última vez! No dia que fizer sua biografia ninguém vai acreditar nessas coisas – riu a produtora. – Vem, vou te
mostrar o quarto de hospedes. Toma um banho, vou ver o que tem de comer aqui. Faz tempo que não como em casa, não sei a Rute deixou algo.

- Eu to sem fome. Comi demais na produtora.

- Certeza?

- Absoluta.

- Então, vem.

Bruna subiu as escadas para o segundo piso com Rafaela a acompanhando. Indicou o quarto para a adolescente e saiu para o próprio
aposento para buscar alguma roupa de Isadora.

Rafaela fechou a porta e olhou ao redor, espantada com o espaço. Nunca antes tinha entrado em uma casa tão grande e tão bonita como
aquela. Seguiu até outra porta que descobriu ser o banheiro. Com um sorriso de orelha a orelha, enxergou uma banheira. Voltou para o quarto ao
escutar a batida na porta.

- Aqui tem umas roupas que são da Isadora, escolha uma que te sirva. No armário do banheiro tem toalhas.

- Obrigada! Eu posso usar a banheira?

- Pode. Vou te mostrar como funciona.

Bruna foi até o banheiro e mostrou para a adolescente o funcionamento da hidro.

- Quando chegar no limite ela para o enchimento sozinha. Não vai ficar a noite inteira dentro dessa banheira. Vá descansar um pouco
depois.

- Pode deixar – concordou Rafaela. – Obrigada Bruna.

A produtora deu uma piscadinha na sua direção e saiu do quarto em seguida. Rafaela abriu um sorriso satisfeita: iria dormir dentro da
agua.

***********

Kid Abelha – Nada Sei

https://www.youtube.com/watch?v=PZnAmfjzq68

Notas finais:

Oi oi lindonas!
Seguinte amores! A construção dessa história é um pouco mais demorada mesmo, ainda tem que
acontecer muita coisa para ter coerência do que virá, então vamos ter fé, ok?! hehehhee

Até sexta!

Bjokassssssssss

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Capitulo 12 - One Of Us por Drikka Silva
Bruna acordou com a claridade já invadindo sua janela. Tomou um banho rápido e se arrumou, para sair em seguida. O relógio já marcava seis e
meia da manhã. Bateu na porta do quarto que Rafaela ocupava e não obteve resposta. Bateu outra vez, antes de tentar a fechadura. Andou na
penumbra até a cama, para tocar seu braço, despertando-a.

         - Bom dia – cumprimentou assim que seus olhos se cruzaram. – Tem meia hora para se arrumar e descer para tomarmos café.

         - Bom dia. Eu já vou levantar.

                Bruna concordou com um aceno e saiu para o corredor, fechando a porta. Desceu as escadas para o piso inferior e entrou na cozinha
encontrando com Rute, funcionária que lhe acompanhava desde que sua mãe morava ali.

         - Bom dia, minha gata! – cumprimentou a mulher de meia idade com um beijo. – Coloca mais um lugar na mesa, por favor.

         - Isadora já voltou da viagem? – perguntou animada. – Coloco já!

         - Não – respondeu Bruna identificando uma chamada da esposa no celular. – É outra garota.

         Bruna saiu para a sala para atender a esposa e ficou conversando com ela durante vários minutos. Rute balançou a cabeça pesarosa. Era uma
pena que Bruna voltasse a ser o que era antes de conhecer Isadora, uma mulher que vivia com mulheres diferentes toda semana, sem nenhum
relacionamento. Estava terminando de colocar a mesa quando uma adolescente entrou na cozinha, acompanhada por Bruna. Não conseguiu
esconder a cara de surpresa ao vê-las juntas. Uma menina ainda!

         - Bom dia – cumprimentou Rafaela, timida.

         - Bom dia – respondeu, ainda sem acreditar que Bruna estivesse fazendo aquilo. – Bruna, vamos ali que quero te passar uma coisa.

         A produtora assentiu com a cabeça e seguiu a mulher até o quintal dos fundos. Parou assim que ela se virou, nervosa, para enxerga-la.

         - O que você está fazendo?!

                Bruna olhou para a mulher sem entender nada. Se limitou a fazer uma careta e dar ombros, indicando que não havia compreendido suas
palavras.

         - Ela é uma menina, Bruna!

         - Tem dezesseis anos.

         - Pelo amor de Deus! Acha que isso é normal?

         - Ela é excelente no que faz. É claro que...

         - Não me conta essa pouca vergonha! Seu pai deve estar se revirando no túmulo! A Isadora é uma mulher linda! Não merece isso!

         Bruna mostrou um rosto de surpresa ao entender o significado da indgnação de Rute. Não pode deixar de dar um riso.

         - Pelo amor de Deus, Rute! Acha que eu tenho alguma coisa com ela?! Ela é uma garota!

         - Mas você disse...

         - Ela é cantora, estou produzindo-a. É claro que não teria nada com ela! Primeiro porque sou casada, segundo ela é uma adolescente!

         - Ai que susto, Bruna! Achei que ia começar aquele desfile de mulher por aqui de novo!

         - O único desfile de mulher que acontece por aqui é de Isadora e seus diferentes personagens quando está passando texto – riu a produtora. –
Ah, o quarto de hospedes foi usado. Fala pra Suzana dar uma arrumada nele depois.

         Rute anuiu e saiu atrás da produtora, de volta a cozinha. Rafaela estava mexendo no celular, sem tocar na refeição posta à mesa.

         - Então, quer dizer que você é cantora? – perguntou Rute, simpática. – Ainda não vi seu rosto por aí.

         - Ainda não fui lançada – respondeu Rafaela ao deixar o celular de lado.

         - Eu tenho uma gravação do ensaio de ontem – falou Bruna ao pegar o celular. – Me dê a sua avaliação.

         Rute pegou o celular que Bruna esticava e deu play no vídeo. Ficou assistindo por um minuto inteiro antes de se virar para Rafaela.

         - Que voz, hein?!

         - Aprovada para a Spagnatto, senhora Rute?

         - Ah, sem dúvidas! Tem um sucesso nas mãos!

         - Obrigada – riu Rafaela, sem graça.

         - Tomem café, crianças! Se alimentem bem porque é a refeição mais importante do dia!

         Rafaela viu a mulher se afastar antes de olhar para a mesa posta. Pegou a garrafa de café e, depois, o leite.

         - Eu vou te deixar no Gilson, agora de manhã e na parte da tarde nos encontramos na produtora. Vou começar a gravar Alana de manhã, mas
acredito que não passaremos das quatro da tarde. Na hora em que terminar a gravação, você termina também o ensaio. Vamos buscar suas coisas e
pegar a chave do apartamento de Isadora na casa dela.

         - Ela não mora aqui, né?

         - Não. Tem um apartamento do Jardim Europa.


         - É diferente esse casamento de vocês – observou Rafaela ao dar um gole no leite.

         - É a melhor forma de ser casado hoje em dia. Cada uma tem seu espaço, ninguém invade os limites da outra.

         - Não precisa acordar com o bafo da manhã e nem lidar com TPM.

         Bruna riu com o comentário da adolescente.

         - De certa forma. Alguns inconvenientes são evitados.

         Rafaela passou a refeição inteira fazendo perguntas sobre Isadora. Não via a hora de poder, enfim, conhece-la. Bruna informou que a esposa
chegaria naquela noite dos Estados Unidos e, bem provável, que acompanharia sua sessão de fotos no dia seguinte.

         Exatamente às sete e meia da manhã, Rafaela e Bruna saíram em direção a casa de Gilson. Depois de deixar a adolescente na aula de canto,
seguiu para a produtora e resolveu as demandas da manhã antes que Alana chegasse com sua equipe.

         Rafaela chegou na produtora quando o relógio já marcava onze e quinze. Cumprimentou Camila na recepção e Carla, que já estava a sua espera.
Juntas caminharam para o estúdio onde tinha ensaiado no dia anterior e já deu de cara com os músicos conversando e passando som nos
instrumentos. Os cumprimentou e se juntou a eles, escutando o que lhe falavam sobre música, sendo acompanhados também de Fernando,
funcionário da produtora.

         Já haviam ensaiado várias vezes quando viu Bruna entrando no estúdio, acompanhada de um grupo. Ficou travada ao ver Alana, cantora que
tanto escutara, na sua frente.

         - Eu vou ter um treco – falou Rafaela, sem conseguir se mover do lugar.

         Alana percebeu o nervosismo da garota à sua frente e se adiantou para cumprimenta-la. A abraçou apertado, transmitindo confiança.

         - Então, você é Lumia – falou a cantora ao se afastar. – Que garota linda!

         - Obrigada! Cara, você é muito linda pessoalmente! Eu sempre escuto suas músicas! Você manda bem demais!

         - Obrigada, querida! Bruna me disse que você tem uma voz de ouro! Posso te ver em ação?

         - Claro! Eu não sei se consigo cantar algo com você aqui, mas eu vou tentar – concordou, feliz.

         - Vamos tentar.

         Rafaela assentiu com a cabeça e se virou para os músicos.

         - Sentiram a responsa, né?! Vamos fazer esse trem bonitinho.

         Bruna sorriu com o comentário da jovem e ficou assistindo enquanto ela pedia para tocarem a música que já haviam ensaiado no dia anterior.
Os acordes de Nada sei novamente ecoaram pelo estúdio enquanto Rafaela acompanhava, com um sorriso permanente nos lábios. No meio da
música, Alana se aproximou do microfone e começou a cantar junto com a adolescente, para terminarem com os aplausos dos presentes.

         - Elas fariam um feat lindo – falou Thiago no ouvido de Bruna. – Um single para ser hit do próximo verão.

         - Tenho certeza disso – concordou a produtora. – Eu faço, sem custo algum.

         - Vamos trabalhar para que isso aconteça.

         Bruna assentiu, satisfeita, e voltou a olhar para Alana que havia sacado o celular e tirava uma foto das duas. Carla também tirou foto das duas
para postar nas redes sociais.

         - Bruna, na próxima semana, na terça-feira vou fazer a minha festa de aniversário em uma balada no Rio. Estou contando com a presença de
vocês lá. Vou te mandar os detalhes no whatsapp.

         - Ficarei aguardando – concordou a produtora.

         - E você, Lumia, sucesso na sua jornada. Tenho certeza que ainda vamos nos encontrar no palco em vários festivais por aí.

         - Obrigada!

         Alana se despediu das pessoas no estúdio e saiu acompanhada de Bruna e sua equipe. Rafaela se virou, animada, para a banda e Carla.

         - Agora eu preciso de um copo de água com açúcar – riu ao mostrar a mão trêmula.

         Bruna voltou para o estúdio depois de quinze minutos. Dispensou a banda, dando por encerrado aquele dia.

         - Agora vamos resolver o nosso problema, Rafa. Vamos buscar suas coisas e depois te deixo no apartamento. As nove horas da noite Isadora
chega da viagem e vou me desligar do mundo até amanhã de manhã.

         - Não precisa fazer isso, Bruna. Eu vou até lá e te encontro no apartamento depois.

         - Não. Eu quero fazer isso. Quero garantir que não teremos nenhum problema.

         - Tudo bem.

         Rafaela saiu ao lado de Bruna e entraram no carro, em direção à zona leste. Depois de enfrentarem transito pesado na radial, conseguiram
chegar ao morro onde sempre morara. Apontou a casa de Palmira para que parasse na sua frente. Jessica estava no portão com outra garota e
pararam de conversar assim que viu a amiga.

         - Oi Rafa!

         - Oi Jessi! Essa é a Bruna, Bruna essa é minha amiga, Jessica.

         Bruna cumprimentou as duas garotas, antes que Rafaela retomasse a palavra.
         - Eu vim buscar minhas coisas.

         - Você vai pra onde?

         - Para um apartamento que a Bruna arrumou pra mim.

         - A produtora está cuidando para que não fique desamparada – corrigiu Bruna. – Não posso deixar minha futura estrela ao Deus dará.

         - Vem, entra – falou Jessica acenando para as duas. Caminhou até a porta da cozinha, antes de dar um grito, chamando pela mãe.

         - O que foi, filha? – perguntou Palmira aparecendo no corredor. – Ah, a famosa Bruna. Entra.

         Bruna concordou com um sorriso e tirou os óculos escuros antes de ir cumprimentar a mulher.

         - Então...

         - A produtora vai cuidar da Rafaela nesse momento. Vamos ceder um apartamento a ela e cuidar para que nada lhe falte.

         - Senta ai, dona Bruna – apontou Palmira. – Vocês duas, vão lá pra dentro arrumar as coisas.

         A produtora concordou com um aceno e se sentou no lugar indicado. Palmira começou a andar na cozinha atrás da garrafa de café e um copo.

         - Fiz agora a pouco, tá fresquinho.

         - Obrigada.

         - Rafaela é uma menina boa, dona Bruna. Não teve muita sorte com a mãe que teve, mas é uma menina boa. A senhora está sendo a salvação na
vida dela. Deus sabe o que aconteceria com ela se não tivesse aparecido.

         - Tive o desprazer de conhecer Simone. É uma mulher bem difícil.

         - Rafaela ia acabar se prostituindo igual a mãe ou pior, cair em uma cadeia com os marginais que andava por aqui.

         Bruna concordou. Tinha certeza daquilo.

         - Ela tem um talento incrível. Tem tudo para se tornar uma excelente artista da música.

         - Tem sim. Cuida bem dela. Ela não é minha filha, mas vi ela crescer aqui pela rua, brincando com a Jessica. Não deixa ela regredir, só crescer.

         - No que depender da Spagnatto, o céu será o limite para ela – falou Bruna com sinceridade. – Tomei para mim a responsabilidade de torna-la
grande e vou fazer isso.

         - Não se esquece que ela é uma menina ainda, sozinha nesse mundo, sem uma família para apoia-la.

         - Ela terá todo o apoio necessário, somos uma grande família. Mas, para que fique descansada, ela terá acompanhamento psicológico. É uma
grande virada que vai acontecer na vida dela. Uma hora ela vivia aqui, uma desconhecida, na outra estará com seu rosto espalhado por todo o Brasil.
Já começou a ter, na verdade.

         - É. Dinheiro e fama mexe com a cabeça das pessoas. Espero que isso não aconteça com ela.

         - Eu lido com muitos artistas. Já aprendi a ver esses indícios e posso lhe afirmar, Rafa já recebeu elogio de gente de peso e até agora só tem
mostrado uma humildade incrível.

         - É uma boa menina, como disse.

         Bruna terminou de tomar o café e logo Rafaela apareceu com Jessica no corredor. Ajudou as garotas a levarem suas poucas coisas para o carro e
acomodaram no porta malas. Se despediu de Palmira e Jessica e ficou esperando que a adolescente fizesse o mesmo.

         - Obrigada por tudo, dona Palmira – falou Rafaela com um sorriso. – Quando eu estiver ganhando muito dinheiro, eu tiro vocês daqui.

         - Que conversa menina! Cuida para que seja feliz, para que tenha um futuro de sucesso!

         - Ai amiga! Vou sentir sua falta! – falou Jessica dando um abraço apertado. – Não esquece da gente não, tá?!

         - E não é que é verdade?!

         Rafaela gelou ao escutar a voz da mãe às suas costas. Bruna olhou para a mulher e se virou para colocar os óculos escuros.

         - Me disseram que tá indo embora de mala e cuia. Eu que fui idiota mesmo. Acertou foi na loteria! Olha essas roupas, cabelo! Investindo alto!

         - Vamos, Bruna? – perguntou, ignorando a mulher.

         - Vamos – concordou a produtora aliviada.

         - Eu mando notícias, dona Palmira.

         - Vai, sua vadia! Não esquece do que eu te falei, quando essa daí enjoar de você, não vem me procurar!

         Rafaela entrou no carro e Bruna fez o mesmo do lado do motorista. Deu a partida e saiu deixando Simone falando sozinha. Depois de alguns
segundos de silêncio, se virou para a adolescente.

         - Tudo bem?

         - Foi ela quem pediu que fosse assim, né? – perguntou sem segurar uma lágrima. – Paciência. Não posso obrigar ninguém a gostar de mim.

         - Talvez, um dia, sua mãe reconsidere.

         - Eu não tenho mãe, Bruna. Ela morreu pra mim.


         Bruna apenas concordou com um aceno de cabeça e manteve sua atenção concentrada na direção. Rafaela apoiou a cabeça na janela enquanto
ia vendo o morro ficar para trás. Havia nascido e crescido ali, acreditara que nunca teria oportunidade de sair daquele lugar e agora, que finalmente
saia em busca de uma vida melhor, não podia deixar de sentir um bolo na garganta. Literalmente estava sozinha no mundo. Mesmo que já estivesse
antes, com a ausência de Simone como mãe, ainda tinha sua presença física. Não haveria boas lembranças para guardar com ela.

         - Onde é o colégio que estudava? – perguntou Bruna ao tocar sua mão. – Já vamos ver isso para que não precise voltar aqui por agora.

         - Na rua debaixo. É só descer aqui.

         Bruna virou o carro para o local indicado e em minutos já estavam na frente do colégio que Rafaela havia frequentado. Depois de uma espera
de vinte minutos, conseguiram o papel que permitiria uma nova matricula em outra escola. A noite já havia caído por completo, quando, por fim,
saíram em direção ao centro. A produtora ligou o rádio e colocou Joan Osbourne para tocar. Enquanto ia cantarolando One of us, prestou atenção na
garota tristonha ao seu lado. Durante todo o trajeto, Bruna manteve o assunto concentrado em produção musical e todo o trabalho que rolava nos
bastidores da música. Rafaela começou a ficar descontraída e depois de uma hora, já voltava a sorrir.

         Na casa de Isadora, entraram rapidamente para pegar as chaves do outro apartamento e, em seguida, saíram em direção à nova casa de Rafaela.
Bruna já entrou direto pela garagem, pois seu carro já estava autorizado a entrar ali. Não levou muitos minutos para que o veiculo fosse estacionado.
Bruna pegou um carrinho no canto e colocou as coisas de Rafaela dentro para depois irem para o elevador de serviço.

         - Bem-vinda ao seu novo lar – falou Bruna com um sorriso, ao abrir a porta.

         - Obrigada – respondeu a adolescente entrando na porta indicada.

         Bruna tirou as coisas do carrinho e colocou no canto da área de serviço, antes de deixa-lo no hall. Assim que fechou a porta, fiou observando
enquanto Rafaela olhava ao redor, admirada.

         - Caraca! Que lindo! Olha o tamanho dessa cozinha!

         - Vem conhecer o restante da casa.

         Rafaela saiu atrás de Bruna enquanto ela ia mostrando todos os ambientes. Duas salas principais compunham o ambiente, social, seguido da
sala de jantar. Em uma extremidade, a enorme varanda, e um escritório. No outro, o acesso que levava a mais uma sala privativa de tv e o corredor
para os quartos. Eram quatro no total, mas somente a suíte principal teve total atenção de Rafaela naquele momento: uma enorme cama estava
posicionada no centro do espaçoso aposento e um acesso guiava até o closet e banheiro. Comemorou, internamente, ao ver uma banheira parecida
com a que Bruna possuía.

         - Rafa, nesse fim de semana eu vou ter que te deixar sozinha aqui, mas na próxima já virá uma funcionária que será para dormir. Arrume suas
coisas, depois eu vou ver alguns detalhes, mas nesse primeiro momento eu não posso ficar muito com você aqui.

         - Não se preocupe, Bruna. To acostumada a ficar sozinha já – comentou prestando mais atenção na vista da cidade. – Que apartamento lindo!

         - Ele é muito bonito mesmo.

         - Por que a Isadora não mora aqui?

         - Ela morou durante um tempo, mas depois adquiriu o outro. Ela investe muito em imóveis.

         - To vendo.

         - Você vai ficar bem sozinha aqui?

         - Eu vou. Não se preocupe. De verdade.

         - Ok. Aqui tem dinheiro para pedir comida e para ir pra casa amanhã cedo. De táxi, ok.

         - Ta bom. Obrigada Bruna. Obrigada mesmo.

         - Obrigada nada! Você já está me pagando com seu esforço na música. Quero o dobro de dedicação.

         - Com certeza!

         - Bom, eu vou indo. Qualquer coisa, basta me ligar. Você só não vai encontrar comida aqui, mas de resto vá fuçando que você acha. Isadora
sempre mantem a casa abastecida com os itens básicos, caso tenha visitantes de fora.

         - Eu me viro. Obrigada.

         Rafaela não se conteve em dar um abraço apertado na produtora, em despedida. Assim que Bruna saiu, se virou para o imenso apartamento de
deu um sorriso de orelha a orelha. Tinha a noite inteira para explora-lo.

*************

Joan Osbourne – One Of Us

https://www.youtube.com/watch?v=QOw7EuiFz0k
Notas finais:

Até terça, lindonas! 


 

(agora, se tiver bastante comentário, sai no sábado a noite um extra. Vamos


brincar de troca hehehe)
 
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Bjokasssssssssssss

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Capitulo 13 - Ausência por Drikka Silva
         Bruna entrou em casa e já encontrou uma bolsa de Isadora sobre o sofá, indicando sua chegada. Ia subir as escadas quando viu Carol, assessora
da esposa, descendo para encontra-la.

         - Boa noite, Bruna – cumprimentou a mulher com um beijo em seu rosto. – Isadora está lhe esperando.

         - Já estou subindo. Está tudo bem?

         - Tudo em ordem. Cuide bem dela esse fim de semana. Na próxima, ela entra em uma frequência frenética de gravações.

         - Pode deixar!

         Bruna deu uma piscada na direção da mulher e subiu as escadas indo para o seu quarto. Assim que entrou, ouviu o barulho suave de música
que vinha do seu banheiro.

         - Oi minha linda – falou assim que viu a bela ruiva dentro da hidro, coberta por espuma.

         - Oi amor.

                Bruna tirou o celular do bolso da calça e a carteira antes de se aproximar e se debruçar sobre Isadora, buscando sua boca em um beijo
demorado. A ruiva logo a puxou para dentro da água e caiu sobre a mulher, espalhando agua pelo banheiro, sorrindo contra seus lábios.

         - Uau! Que saudade! – falou se afastando para tirar as peças molhadas e joga-las de lado.

         - Vem me mostrar o tamanho dessa saudade – convidou Isadora ao morder o lábio inferior.

         Bruna avançou sobre a mulher, deixando seus corpos se encontrarem dentro da água. A beijou, deixando sua boca correr para sua orelha e
depois pescoço.

         - Como é bom voltar pra casa – sussurrou Isadora ao sentir a mão de Bruna prendendo-a contra seu corpo. – Vamos sair da água. Quero te ter
inteira naquela cama.

         Bruna deu uma mordida no seu pescoço antes de sair da banheira e ajudar a esposa fazer o mesmo. Juntas entraram embaixo do jato de água
no chuveiro e depois caíram na cama, matando as saudades que sentiam dos dias que haviam ficado separadas. O relógio já marcava três da manhã
quando se renderam ao sono.

         No dia seguinte, Bruna acordou às nove da manhã. Se arrumou e deu um leve beijo nos lábios de Isadora, que ainda continuava dormindo
profundamente, antes de sair do quarto. No andar inferior, algumas pessoas já circulavam pelo espaço, analisando os melhores lugares onde
tirariam as fotos de Lumia. Cumprimentou a todos e foi para a sala privativa onde Bianca e Carla acompanhavam Rafaela, que era maquiada para a
sessão.

         - Bom dia, minhas lindas! – cumprimentou dando um beijo em cada pessoa presente. – Como estamos com a arrumação de tudo?

         - Não menos animada que você depois do retorno de Isadora – riu Bianca. – Já está quase tudo pronto. A Kelly está terminando essa maquiagem
bafo na Lumia e depois já vamos escolher as roupas para a primeira parte.

         - A foto da Alana já teve mais de duzentos e trinta e uma mil curtida no Instagram. Só com essa postagem, Lumia já tem mais de cinco k de
seguidores – anunciou Carla.

         - Você não contratou aquelas fazendas de likes, não é? – perguntou Bruna ao olhar para o Ipad que a ruiva lhe estendia.

         - Não. Mas ainda acho que é uma boa.

                - Vamos esperar mais uma semana. Isadora tem milhares de seguidores e vamos upar um vídeo de Lumia nas suas redes. Ainda quero
promover um encontro entre ela e Lucca na próxima semana, além da festa de aniversário de Alana. Vamos encontrar muita gente que vai mostrar
ela em suas redes.

         - Já saiu uma nota perguntando quem é Lumia. Quando subirmos o primeiro vídeo no youtube, já será sucesso de cara!

         - Estou contando com isso.

         Bruna devolveu o aparelho para Carla e seguiu até o canto onde Rafaela terminava de ser maquiada. Marcos rodava a garota, arrumando seus
cabelos.

         - Bom dia, Rafa! Uau! Você está linda!

         - Bom dia – respondeu a adolescente com um sorriso. – Muita coisa só por uma foto – riu.

         - É a foto! Alias, as fotos. Bianca está te deixando maluca?

         - A mim não, mas o resto do pessoal...

         Bruna riu diante da sinceridade da garota.

         - Daqui a pouco todos estarão com um parafuso a menos. Marcos, que trabalho primoroso!

                - Ainda vai ficar, querida! Quando soltar esses cachos, deixar esse volume bem definido, ai sim verá uma tremenda gata! Alguém terá que
colocar uma placa de menor de idade ao lado dela.

         Bruna riu diante da ideia.

         - Ok. Bom, eu vou tomar café da manhã, volto daqui a pouco para acompanhar as fotos. O fotografo, onde está?

         - Chamei o Paolo Bianco para as fotos, como pediu – anunciou Bianca parando ao seu lado. – Aliás, vem aqui que quero te mostrar os locais.
Pensei em fazer várias usando aquela área da piscina, mais algumas no seu escritório. Aquela mesa de jantar também ficaria top! No seu carro com a
porta aberta...
         Rafaela sorriu ao ver Bruna se afastar, arrastada por Bianca. Voltou os olhos para o espelho na sua frente, encarando seus olhos destacados com
a maquiagem feita por Kelly. Estava linda, não havia motivos para subestimar o que seu reflexo lhe dizia.

         Depois de vinte minutos, Marcos finalizou seu cabelo e colocou a primeira roupa escolhida por Bianca e a assistente do fotografo. Olhou para o
vestido floral com uma fenda na coxa e um decote discreto, deixando-a irreconhecível. Não se parecia em nada com a garota que estava acostumada
a ser, de jeans e camiseta, cabelos presos em um rabo de cavalo. Estava parecendo alguém sofisticada, uma artista de tv. Deu um discreto riso e
segurou o bolo que se formou na garganta. Era um artista. Tinha que começar a se enxergar como uma.

         Carla apareceu ao seu lado e juntas caminharam para fora da sala. Ainda não tinha muita segurança com o salto alto, mas Bianca havia lhe
garantido que não estava andando errado. Ajeitou o brinco na orelha, antes de entrar no espaço onde seriam tiradas as primeiras fotos.

         Bruna estava analisando os ângulos que Paolo lhe informava quando viu Rafaela aparecer acompanhada de Bianca, Carla e Milena, assistente
de Paolo. Não pode deixar de ficar admirando a transformação que havia acontecido com a garota à sua frente, por alguns minutos. Em nada
lembrava a adolescente que havia se jogado na frente do seu carro. Como produtora, sabia reconhecer quando havia algum talento escondido em
alguém, mas naquele momento teve que concordar com Paulo Lins: Lumia não seria apenas uma grande cantora de sucesso, seria também um ícone
de beleza.

         - Pode babar, Bruna! – falou Marcos ao parar ao seu lado. – Tá uma gata, não tá? Essa menina vai quebrar a banca por aí.

         - Aquela placa de dezesseis anos está por aí?

         Marcos riu antes de dar um tapa no seu braço.

         - Não tome juízo, não, viu?!

         - Ela ficou linda! Não é à toa que você é o melhor! – falou se afastando até o local onde Rafa conversava com Milena. – Você está linda, Lumia!
Incrível!

         - Obrigada – agradeceu com um sorriso. – Marcos fez um milagre!

         - Fez metade. A outra parte foi sua genética.

         - A placa de dezesseis anos, cadê? – tornou a brincar Marcos.

         - É, temos que colocar essa placa – concordou Bruna com um riso. – Tudo pronto para começarmos?

         - Deixa eu conhece-la primeiro – pediu Isadora da porta, ao escutar a esposa falando com Paolo Bianco.

         Rafaela se virou para dar de cara com Isadora Maranes, a atriz que sempre vira na tv e agora estava em pé, na sua frente.

         - Uau! Isadora Maranes! – exclamou feliz.

                - Caramba, amor! Você não tinha me dito que essa garota é tão linda desse jeito! – falou abraçando Rafaela. – É um prazer te conhecer
pessoalmente. Já ouvi muito seu nome. Rafaela, Lumia. Alias, bela escolha de nome. Lumia.

         - Obrigada! O prazer é meu de te conhecer! Sempre te vi na tv, nossa, é um sonho que esteja na minha frente!

         - Ainda vamos nos encontrar muito.

         - Com certeza! Obrigada por tudo o que está fazendo por mim. Sei que a principal iniciativa disso tudo partiu de você. Obrigada mesmo!

         - Me agradeça se tornando essa estrela que a Bruh está projetando em você.

         - Vou fazer. Prometo!

         - Então já vamos começar por hoje. Aproveite Paolo Bianco. Já fui fotografada por ele e o cara manda bem demais!

         - Pode deixar – concordou a adolescente, animada.

         Paolo indicou o lugar onde começariam a fotografar. Rafaela ainda ficou tímida com o tanto de pessoas que estavam presentes, mas começou a
se soltar, conforme concentrava sua atenção apenas no fotografo e no assistente que segurava um rebatedor ao seu lado. Depois de alguns cliques,
Isadora foi até a jovem mostrando a ela alguns truques de fotografia que havia aprendido ao longo de sua carreira. Bruna visualizou as fotos, que já
haviam sido tiradas, pelo computador que Milena manuseava em uma mesa, aprovando o trabalho do fotografo.

A equipe de iluminação já havia feito toda a montagem dos softboxes dentro do seu escritório, lugar onde seria tirada a nova leva de
fotografias. Rafaela voltou para a sala privativa, para fazer a troca de roupa acompanhada de Isadora e Carla. Kelly apareceu pouco depois para
mudar alguns detalhes da sua maquiagem e Marcos para mudar seu cabelo. Em meia hora, já estava com um estilo totalmente diferente do anterior.
A manhã passou rápida enquanto se via mudando de roupa, cabelo e cenário por mais quatro vezes. Quando o relógio marcou duas horas da tarde,
deram por encerrada a sessão de fotos.

- Acho que agora é hora de comermos, não é? Podemos ir no Barbacoa – chamou Bruna. – E não adianta correrem. Todo mundo tem que
comer.

- Adoraria, Bruna, mas tenho que ir para outro ensaio – falou Paolo depois de guardar seus equipamentos. – Só vou comer um lanche no
caminho com a equipe.

- Ficará me devendo.

- Eu estou dentro desde que pague a conta, chefe – falou Bianca parando ao seu lado. – To morrendo de fome!

- Eu te pago muito bem, sabia?

- E sei também que não é mão de vaca. Onde está Lumia?

- Acho que se trocando – respondeu olhando ao redor atrás de Isadora. – Viu a Isa?

- Saiu para o quintal. Foi atender o telefone.


         - Bom, se arrumem. Sairemos logo.

                Bruna saiu atrás da esposa, procurando-a no jardim dos fundos e, depois, no corredor. Encontrou-a encostada contra a parede falando ao
celular com um gigante sorriso. Pegou o telefone e abriu o bloco de notas, escrevendo sobre a ida até a churrascaria. A mulher assentiu com um
aceno, antes de voltar a se concentrar na ligação. A produtora voltou para dentro de casa já encontrando Rafaela vendo o ipad que Carla lhe
direcionava.

         - Quando eu vou poder ter acesso? – perguntou Rafaela, espantada pela quantidade de conteúdo e pessoas que já estavam nas suas redes.

         - Quando publicarmos seu primeiro vídeo – respondeu Bruna se sentando no braço do sofá ao seu lado. – Você passará a responder todos que
conseguir, mas antes a Carla irá fazer os filtros.

         - Essa preocupação com os filtros é por causa de pessoas que podem não gostar, é isso?

         - Pessoas que passam feedback depreciativo. Eu acredito que não terá muitos, mas sempre tem esses mal-amados que ficam online o tempo
todo.

         - Eu posso só ignorar.

         - Não é legal, Lumia. Primeiro você tem que ter confiança no seu trabalho, estrutura para não se deixar abalar por causa desses idiotas.

         - Entendi.

         - Mais pra frente você passa a ter acesso a tudo, pode até mudar a senha para que só você consiga postar coisas, mas, por ora, deixa tudo com a
Carla.

         - Tá bom – respondeu a adolescente dando ombros.

         A conversa se desviou, por vários minutos, sobre a sessão de fotos e o trabalho da semana seguinte. Bruna informou a Rafaela que iriam na
festa de aniversário de Alana e a adolescente não pode conter a alegria com a notícia. Não conseguia nem dimensionar o tanto de gente famosa que
conheceria.

         - Eu sei que é novidade, uma coisa totalmente diferente pra você, mas você também é uma celebridade em ascensão. Não vai inventar de chorar
por conhecer alguém lá – riu Bruna.

         - Prometo que vou me controlar.

         - Amor, vem aqui um pouco – chamou Isadora aparecendo na entrada da sala.

         Rafaela ficou observando o casal se afastar, de mãos dadas, até a entrada do escritório. De fato, formavam um belo casal. Voltou os olhos para
Carla que continuava a falar sobre seu trabalho de divulgação

         - Algum problema, linda? – perguntou Bruna depois de fechar a porta do escritório.

         - Não, pelo contrário, tenho uma excelente notícia! Fui aprovada para o papel da série!

         - Que maravilha! Parabéns, amor! – comemorou Bruna abraçando-a para beija-la em seguida. – Isso é ótimo!

         - Eu vou precisar da sua paciência um pouquinho.

         - Minha paciência? – repetiu a produtora, sem entender.

         - Assim que terminar a novela, vou para Los Angeles. Tenho que fazer laboratório. Depois já começam as gravações.

         - Em quanto tempo?

                - Final de Maio. Eu não vou pedir para vir comigo porque eu sei que não vai deixar a produtora de uma hora para outra, mas pode se
programar para o inverno.

         - Eu não posso te confirmar nada agora. Tem muita coisa rolando, mas eu vou ver o que posso fazer – respondeu Bruna se encostando contra a
mesa. – De qualquer forma, podemos nos ver sempre. Eu vou pra lá, você vem pra casa. Será quanto tempo de laboratório?

         - Se tudo correr conforme os planos, três meses, depois começam as gravações. Querem estrear em Maio do próximo ano.

         - Depois começa divulgação – falou Bruna passando a mão na cabeça.

         - Tira seu ano de férias? Podemos ficar juntas lá. Você tem bons profissionais na produtora que podem manter o trabalho sem sua presença.
Junta Fabricio e Bianca na mesma sala e terá uma copia sua.

         - Eles se matam – riu Bruna. – Daremos um jeito. Ninguém nunca me disse que seria fácil ser casada com uma atriz do seu gabarito.

         - Boba! Não vai conseguir me comprar com isso – riu Isadora beijando-a. – Tudo dará certo.

         - Vai sim – concordou Bruna envolvendo a cintura da esposa. – Você será um sucesso. Talvez até faça um ramo da produtora por lá. O maior
mercado de entretenimento do mundo.

         - E a Spagnatto se tornará um sucesso, da mesma forma como é aqui.

         Bruna concordou com uma piscadinha e deu um beijo demorado na esposa antes de saírem do escritório. Em minutos saíram em direção ao
restaurante que havia sugerido e o assunto correu livre a respeito do trabalho que haviam feito aquela manhã e os trabalhos de Isadora.

         Já era início da noite quando se despediram dos presentes, fazendo menção de ir para o apartamento de Isadora.

         - Rafa – chamou a atriz. – Eu tenho umas coisas no apartamento, várias coisas, na verdade. São roupas e outros itens que recebo das marcas,
mas não uso tudo, alguns não me servem ou que não tem a ver com o meu estilo. Você não quer ir conosco até lá para ver e escolher algumas peças
pra você? É tudo novo, algumas nem saíram da embalagem ainda.
         - É sério? – perguntou Rafaela desconfiada.

         - É. Quando seu rosto se tornar conhecido, vai receber esses mimos também.

         - Eu... Melhor ver em outro momento, né? Acho que vocês querem privacidade...

         - Não por isso, Rafa – falou Bruna com um sorriso. – Nós somos casadas. Temos muito tempo de privacidade.

         - Ah então eu quero! Claro!

         - Entra no carro – falou Isadora com um sorriso.

         Rafaela entrou no banco traseiro e durante todo o trajeto foi percebendo como Bruna era toda cheia de carinhos com a esposa, segurando sua
mão sempre que podia, conversando amenidades de um casal. Assim que chegaram no prédio, subiram até o apartamento de Isadora. A atriz logo
mostrou o escritório onde sua equipe armazenava as coisas para ela.

         - Chegou mais caixas essa semana – falou Isadora ao ver o espaço. – Não tinha tudo isso.

         - Caraca! Deve ser muito massa ganhar tudo isso!

         - É gostoso. Uma recompensa boa do trabalho. Tudo é enviado para o escritório do Rafael, meu empresário. Lá eles verificam se não é alguma
coisa muito estranha e me mandam.

         - Bom, senhoritas, vou deixa-las com os presentes e vou tomar um banho. Daqui a pouco eu volto.

         - Até mais – respondeu Isadora com um sorriso para a esposa.

         Rafaela ficou olhando enquanto Bruna dava um beijo nos lábios da ruiva ao seu lado para sair em seguida. Baixou os olhos e andou até as
caixas e sacolas, olhando por cima.

         - Essas daqui eu já vi. Isso aqui é um kit lindo de maquiagem da Channel. Eu recebi dois, dei um pra menina que trabalha comigo e ia ficar com
esse, mas geralmente tem maquiador e já tenho muita maquiagem no meu closet. Quer ficar com ele?

         - Caraca! Que lindo! Eu quero!

         - Esses daqui são sapatos. Eu fiz o comercial da marca e eles me mandaram a coleção inteira. Calça que numero?

         - Trinta e sete.

         - Mesmo que o meu. Eu particularmente não gostei de alguns modelos, mas tem outros lindos. Eu já separei os que eu quero, aí esses ficaram.
Escolhe o que mais lhe agradar – falou se sentando no tapete com a adolescente ao seu lado. – Ah, roupas! Tem mais no closet do quarto de hospedes.
Algumas coisas levei pra cima pra não ficar amontoando aqui. Acho que vai curtir algumas peças.

         - O natal chegou adiantado! – falou Rafaela sem conter sua alegria.

         - O que eu puder fazer por você, eu vou fazer, Rafa. A Bruna me contou sua história, é tocante. Mais do que isso, é incrível que não tenha se
perdido antes.

         - Não tive muita sorte até um mês atrás.

         - Você teve sorte mesmo de conhecer Bruna. Não é porque eu sou casada com ela que a admiro tanto. Na verdade, é sim – riu Isadora. – Ela é
linda por dentro e por fora.

         - Ela é incrível. Não quero decepciona-la, nem você.

         - Tenho certeza que não vai. Eu não quero que se sinta intimidada, nem nada parecido. O que precisar, pode contar comigo. Estou te adotando a
partir de hoje.

         - Obrigada Isadora. Por tudo.

         - Vem, vamos tirar uma foto e colocar no Insta. Todos meus seguidores irão conhecer minha nova pupila, a grande Lumia! Minha filhota de
dezesseis anos.

         Rafaela riu com o comentário da atriz e se posicionou ao seu lado para tirar a foto. Começaram a separar as coisas e Isadora providenciou duas
malas grandes para guardar o que havia separado. Outras, que nem havia escolhido, a ruiva colocou no meio. Bruna apareceu depois de quarenta
minutos e quando falou de ir embora, foi convencida por Isadora a ocupar o quarto de hospedes aquela noite. Sentou na beirada da cama e ficou
olhando para as coisas que havia ganhado, nunca antes tinha recebido tantos presentes de uma vez. Era uma sortuda, por tudo o que estava
acontecendo. Devia tudo ao casal no quarto ao lado. Jamais iria decepciona-las.

**********

Marilia Mendonça – Ausência

https://www.youtube.com/watch?v=wje4zcGgSqA&list=RDwje4zcGgSqA&start_radio=1

Notas finais:
Oi oi lindonas!!!

Então neh?! haahhahaaha 

"Pra um bom entendedor, meia ausência basta"

e com essa mensagem otimista me despeço! hehehe

Até Terça!

Um excelente final de semana a todas!

Bjokasssssssssssss

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Capitulo 14 - Big Bright World por Drikka Silva
No dia seguinte, Rafaela foi para o apartamento depois do almoço com Bruna e Isadora. Puxou as malas com os presentes da atriz para o closet e
colocou o celular para tocar músicas enquanto organizava tudo. Na parte da noite, ficou assistindo televisão até tarde, antes que o sono a pegasse.

         Na segunda, depois da aula de canto, seguiu para a produtora e encontrou a banda passando som. Ensaiou com eles durante um longo tempo,
antes que Bruna aparecesse, chamando-a para uma conversa.

         - Sente-se – falou Bruna ao apontar uma poltrona.

         A adolescente anuiu em silêncio, fazendo o solicitado.

         - Eu conversei com Thiago, semana passada. Thiago é empresário de Alana, e vi com ele sobre a clínica psicológica que ela frequentava. Eu
quero que faça um acompanhamento com eles. Passei lá de manhã para conhecer o espaço e me pareceu muito bom.

         - E, por qual motivo, eu tenho que ver um psicólogo?

         - Primeiro porque é adolescente – riu Bruna para descontrair a garota que havia ficado tensa. – Eu quero que tenha um acompanhamento
porque acho importante ser assistida por um profissional. Terapia ajuda muito no desenvolvimento e autoconhecimento. Eu fiz durante um tempo,
Isadora também. Não significa que tem algo de errado com você, não é isso, é justamente para que toda essa mudança que está acontecendo na sua
vida não seja um impacto que vá te desestabilizar.

         - Ainda não entendi.

         - Fama, dinheiro pode mexer com a cabeça das pessoas. No seu caso, uma hora você é uma garota que vive em situação de abuso psicológico
frequente com a sua mãe, na hora seguinte passa a ser querida por um país inteiro, pessoas te cercando a todo momento. Mas principalmente quero
que cuide para que sua infância traumática não se torne um peso ou algo do tipo.

         - Entendi. Uma precaução para que eu não saia pedindo cem toalhas brancas para o camarim.

         Bruna riu diante da suposição da garota.

         - Não sei o que fará com cem toalhas brancas, mas pode pedir. Eu quero que fique bem, corpo e mente.

         - Eu vou na clínica. É só dizer quando.

         - Na quarta a noite. Sete horas da noite. Dependendo da avaliação do profissional, já fica para toda quarta à noite.

         - E onde é?

         - Perto de onde mora. Eu vou pedir para que Amanda te passe o endereço certinho depois.

         - Ta bom.

         - Isadora te adorou – comentou a produtora ao mudar de assunto. – Disse que você é a filhota de dezesseis anos dela.

         - Isso te torna minha mãe de trinta e três anos? – perguntou com um riso.

         - Não mesmo! Não quero filhos. Ainda mais na sua idade, dão trabalho demais – falou Bruna acompanhando o riso.

                - Ela é uma pessoa incrível. Ainda nem acredito na sorte que tive de conhece-la. Sempre via ela toda glamurosa na tv e conhecer ela toda
descontraída, gente como a gente, sabe? Muito doido isso.

         - Ela é muito humilde. Pena que não vai acompanhar sua ascensão de perto. No final de Maio ela se muda, por um tempo, para a Califórnia.

         - Por que?

         - Vai gravar uma série. É só o tempo de terminar a novela e já vai de mudança para Los Angeles.

         - Que massa! Você que deve ta achando isso ruim, né?

         - Eu a apoio em suas decisões. É um papel grande, grandes profissionais de Hollywood. Abre outras portas para ela. Quero que ela cresça, deixe
sua marca no mundo.

         - É tão legal essa relação de vocês. Nunca tinha visto assim, tão de perto.

         - Duas mulheres juntas?

         - Também, mas eu digo a respeito dessa cumplicidade. Parece que se entendem só de olhar uma para a outra.

         - Temos uma excelente sintonia mesmo.

         - Uma vez eu beijei uma garota na escola. Não curti, não – riu a adolescente.

         - Você gosta de garotos. É normal que não tenha curtido.

         - Pode ser – respondeu evasiva.

         - Bom, era isso que queria falar contigo. Amanhã você não vai para a aula de canto. Quero que faça o ensaio pela manhã e às duas da tarde
iremos para o Rio. Na manhã da quarta já temos um voo de volta.

         - Beleza!

         - Já trás uma bolsa com as suas coisas quando vier pra cá. Daqui já iremos para o aeroporto. Nosso voo está marcado para as três e meia da
tarde.

         - Caraca! A gente vai só para o aniversário da Alana, né? – perguntou Rafaela se dando conta do motivo da viagem.
         - Sim.

         - Agora entendi o psicólogo. Que doido isso! Isadora vai com a gente?

         - Não. Ela tem gravação. A grande verdade é que estou indo por sua causa. Você precisa começar a ser vista nesses eventos. Ainda vamos ter
muitos desse tipo.

         - Eu vou curtir ser a penetra da festa!

         - Você não vai de penetra, lhe garanto – riu Bruna. – Eu sempre recebo esses convites. Evito muito ir, a não ser que seja importante para Isadora,
mas no geral prefiro ficar longe das câmeras. Vou sair um pouco das sombras para te acompanhar, mas será até o momento em que já tenha seus
próprios convites, ai poderá escolher quem levar. Por ora, terá que me aguentar.

         - Não vou achar ruim – falou Rafaela com um sorriso.

         - Era isso. Ah, a produtora já está providenciando a funcionária para o apartamento. Tem alguma preferência?

         - Alguém que aguente ver filmes comigo. E não reclame quando eu cantar.

         Bruna riu diante do pedido da garota.

         - Ok. Vamos dar preferência para uma mulher na casa dos seus trinta a quarenta anos, sem filhos, disponibilidade total.

         - Bruna, eu queria te perguntar uma coisa.

         - Pergunte.

         - Eu posso levar gente lá no apartamento?

         - Não sendo aquele seu ex namorado, tudo bem.

         - Não. Não quero mais saber daquele babaca.

         - Você usa algum método contraceptivo? Além de camisinhas?

         - Ai não! Não são garotos! – riu Rafaela. – Quero que a Jessica vá ficar algumas noites comigo. É bom ter ela por perto.

         - Pode sim. Sem problemas. Garotos também. Só não fique grávida por tão cedo, por favor! É tudo o que te peço.

         - Quando eu arrumar um namorado, volto com o anticoncepcional. Não quero ter filhos antes dos vinte e cinco.

         - Quando arrumar um namorado, que eu espero que não vá interferir no seu trabalho, você vai no ginecologista e ele vai te indicar o melhor
método.

         - Que papo estranho!

         - Concordo – falou Bruna para mudar de assunto em seguida. – Volta para o estúdio. Aproveite o restante do dia. Estou indo para a gravadora e
de lá já vou pra casa. Nos vemos amanhã cedo.

         - Pode deixar.

         Rafaela se despediu de Bruna e saiu para o corredor. Que ideia a dela de achar que ia arrumar algum garoto!

         O dia de ensaios foi finalizado às quatro e meia da tarde. Assim que entrou no apartamento, foi para o quarto e depois banheiro para um banho
demorado. Ao sair de volta ao aposento, olhou ao redor, o silencio absoluto que reinava e deu um suspiro, ligando a televisão. Por mais que sempre
ficasse rodeada de pessoas o dia todo, era estranho chegar em casa e encontrar apenas o silêncio. Pegou o celular e chamou Jessica para conversar
pelo whatsapp.

         Na manhã seguinte, separou três trocas de roupas e colocou dentro de uma bolsa grande que Isadora havia lhe dado. Pegou outras coisas que
julgou necessário e saiu para começar o dia que prometia ser longo.

                Na produtora, Gustavo, o guitarrista, já havia chegado e estava mexendo nos instrumentos, no estúdio. Se aproximou com um sorriso,
desejando com dia.

         - Bom dia, Lumia. Pronta para mais um dia?

         - Opa! Com certeza! Só que hoje não vamos até muito tarde.

         - To sabendo. Vai pro Rio mais tarde, não é?

         - É. Vou com Bruna.

         - Estava pensando, quer sair qualquer dia desses para beber alguma coisa?

         - Opa! Sair para beber? To dentro – falou Mel entrando no estúdio.

         - Quieta, batera – retrucou Gustavo ao olhar para a colega.

         - Podemos ir. Será divertido sair a banda toda.

         - Legal, a banda toda – repetiu o rapaz com um meio sorriso. – Será muito bom. Na quarta?

         - Não posso. Tenho um compromisso já. Podemos ver se todos podem na quinta.

         - Vamos ver – concordou Mel com um sorrisinho.

         Rafaela deu um sorriso cumplice para Mel e voltou sua atenção para Rafael e Davi que entravam no estudio. Com a banda reunida, retomaram
o ensaio, repassando a música que seria gravada na sexta.
         Extamente às duas da tarde, Rafaela se despediu da banda e saiu ao encontro de Bruna na sua sala. A morena havia passado a manhã toda
cuidando de assuntos na sede da Spagnatto e ainda não a tinha visto. Bateu na porta e em seguida ouviu sua voz, autorizando sua entrada.

         - Está pronta? – perguntou a produtora ao enxergar a garota a sua frente.

         - Prontissima – respondeu animada.

         - Saíremos em dez minutos. Só vou terminar de ajeitas as coisas aqui.

         Rafaela concordou com um aceno e saiu da sala de Bruna. Exatos vinte minutos depois, já saiam em direção ao aeroporto. Estava animada com
a viagem, mesmo que fosse tão curta. Nunca antes tinha ido para o Rio e, além de conhecer um novo estado, iria conhecer um monte de cantores que
havia escutado por toda a sua vida. No saguão, fizeram check-in e já seguiram para a sala de embarque. Ao entrar no avião, ficou ainda mais
animada, olhando ao redor para conhecer tudo. Era a primeira vez que entrava em um, e tudo era uma grande novidade.

         - Quanto tempo de viagem até lá?

         - Trinta minutos, trinta e cinco.

         - Só isso? – perguntou decepcionada.

         - Vai por mim, você vai enjoar de viver na ponte aerea – riu Bruna. – Assim que chegarmos, tem uma equipe que vai te arrumar para a festa.
Provavelmente vamos chegar no apartamento de Isadora umas cinco e meia, se o trânsito colaborar.

         - Isadora tem casa lá também?

         - Tem. Como disse, ela investe grande parte do que ganha em imóveis.

         - Entendi.

         Rafaela desviou sua atenção de Bruna, quando o avião começou a taxiar na pista. Durante os trinta e cinco minutos seguintes, ficou o tempo
todo olhando pela pequena janela, admirada por voar entre as nuvens e acima delas. Ao chegar no Rio, não conteve cutucar Bruna para ver o Cristo
Redentor. Somente quando o avião tocou o trem de pouso no chão, é que tomou um susto, pegando a mão da produtora em um puro reflexo.

         - Que susto! – falou baixinho, com um sorriso. – Desculpa!

         - Não precisa se desculpar – riu Bruna do jeito sem graça da adolescente. – Sua primeira vez, eu compreendo.

                Rafaela concordou com um aceno e, depois de quarenta minutos, já estavam em táxi, rumo ao Leblon. Durante o longo período dentro do
automóvel, Bruna foi mostrando a adolescente alguns pontos turísticos possíveis de serem vistos de dentro do carro. O ponto alto para Rafaela, foi
ver o mar e o morro dois irmãos ao fundo. Era uma das paisagens mais bonitas que já tinha visto, até então.

         Bruna cumprimentou o porteiro do prédio e subiram para o apartamento. Assim que entraram, Rafaela olhou ao redor encantada. Por mais que
já conhecesse dois apartamentos lindos de Isadora, aquele era tanto ou mais bonito que os outros.

         - Uau! Que incrível! – falou admirada ao parar de frente a grande folha de vidro que fechava a sacada. À frente, a imensidão do mar.

         - Lindo demais, não é? Adoro esse apartamento. Uma das melhores aquisições que ela fez.

         - Sensacional. Ela é uma mulher de bom gosto.

         - Concordo plenamente. Por isso que me escolheu – riu Bruna.

         - Palhaça! – reagiu Rafaela acompanhando o riso. – De certa forma. Você é uma pessoa bacana.

         - Não vem querer colocar panos quentes. Vai tomar um banho, logo o pessoal vai chegar para nos arrumar. Eu marquei para as seis, e com o
atraso por causa do trânsito, nem vamos ter tempo de comer direito. Será entre uma escovada de cabelo e outra.

         - Tá bom.

         - Eu vou pedir comida. O que prefere?

         - Um hambúrguer, batata frita e uma coca-cola estupidamente gelada.

         Bruna se limitou a olhar para a adolescente e assentir ao dar ombros.

         - Não?

         - Minha ideia era comida japonesa, chinesa, italiana...

         - Pode ser.

         - Vamos de hambúrguer. Já venha escolher o que quer.

         Rafaela concordou com um sorriso e se aproximou da produtora que pegava o celular para acessar um aplicativo. Escolheu um hambúrguer de
picanha e batatas fritas com bacon, além de um milk-shake e o refrigerante.

         - Que saudade dos meus dezesseis anos! – suspirou Bruna ao ver a liberdade que a garota tinha de comer um hambúrguer sem se preocupar
com o físico. – Vou de suco e salada. Quer mais alguma coisa?

         - Esse bolo – respondeu ao apontar a tela do celular.

         Bruna se limitou a rir e finalizou o pedido. Dois minutos depois, indicou o quarto que Rafaela ficaria naquela noite. A adolescente agradeceu
com um aceno e fechou a porta, indo para o banheiro em seguida. A produtora seguiu até o quarto principal e também seguiu para um banho, antes
que o pessoal chegasse.

         O cabelereiro e o maquiador chegaram às seis e dez da tarde e, cinco minutos depois, a refeição que havia pedido. Se sentou em uma cadeira na
sala de jantar e ficou olhando para Rafaela, na sala principal, que equilibrava o lanche com uma mão e o refrigerante com a outra, enquanto seu
cabelo era secado. “Uma adolescente” repetiu a si mesma.
         Terminou de comer e desviou a atenção para a porta que indicava a chegada de Cibele, que cuidava de uma parte dos negócios da Spagnatto no
Rio. Cumprimentou a mulher loira antes de indicar para que ela entrasse.

         - Como está Bruna?

         - Vou bem, obrigada. Trouxe o que pedi?

         - Está aqui – respondeu apontando para os cabides com capas. – Trouxe três opções.

         - Ótimo. Ali, Lumia – falou apontando para a adolescente.

         - Puxa, eu vi as fotos e o vídeo dela, mas não faz jus a sua beleza – Falou Cibele caminhando na direção da garota. – É um prazer te conhecer,
Lumia.

         - O prazer é meu – respondeu Rafaela colocando o refrigerante de lado para limpar a boca com um guardanapo. – Você é...

         - Cibele. Diretora do escritório da Spagnatto no Rio. Se precisar de qualquer coisa, pode falar comigo.

         - Obrigada.

         - Vou te mostrar as roupas que trouxe. Espero que a numeração seja a certa. Me disseram que você usa manequim trinta e oito.

         - Isso. Só que minhas calças ficam um pouco apertadas nas pernas e bunda.

         - Fica em pé um pouco – pediu Cibele.

         A adolescente obedeceu e ficou em pé, se virando quando de costas quando a loira pegou sua mão e a girou.

         - Pra que uma bunda desse tamanho?! Só pra esfregar na cara da sociedade? Um exagero, não é, Bruna?

                - Minha área é a música – respondeu a produtora desviando o olhar do corpo de Rafaela. – Em questões de medidas de corpo feminino só
conheço as de Isadora. Por palmo.

         - Descarada! – riu Cibele. – Bom, vamos continuar mexendo no seu cabelo, quando terminar de comer vão fazer as unhas, é isso? – perguntou
para a profissional que acompanhava.

         - Já ia começar a fazer as unhas dos pés.

         - Ah sim. Isadora me disse que seu armário de sapatos está à minha disposição para escolher um para você. Vamos ver a roupa e depois vou
escolher o que mais combinar. Com toda a certeza será uma sandália.

         - Tá bom.

         Rafaela voltou a se sentar na cadeira para que o cabelereiro continuasse a mexer em suas madeixas negras. Cibele pegou os cabides e abriu o
primeiro, revelando um vestido vermelho, curto e com um profundo decote.

         - Eu espero, sinceramente, que os outros não sejam assim – falou Bruna. – Ela tem dezesseis anos, Cibele!

         - Para de agir como a mãe dela, sua louca! Esse vestido ficaria perfeito nela! Não trouxe vestidos de poá e fita vermelha – respondeu Cibele. –
Vamos ao próximo. Temos esse conjunto de calça e cropped branco de musseline, deixando sua barriguinha de fora.

         - Ele é lindo! – exclamou a adolescente.

         - Por último, esse camisão. Essas pedrarias aqui na frente dão o tom de sofisticação.

         - Os três são lindos, mas prefiro o branco.

         - Excelente escolha. O cabelo pode ficar solto, não é? Ondas volumosas jogadas na frente, te deixa com cara de mulherão.

         - Cibele!

         - E uma chupeta, já que Bruna insiste tanto! Deixa eu te explicar uma coisa, chefa, Lumia não é uma garota que cresceu na mídia, não tem apelo
infantil porque ninguém conhece o rosto dela ainda. Quer dizer, não conhecia, logo, não trás essa carga de inocência. Você pode entender de música,
mas a apresentação dela, Bianca e eu cuidamos. Se quer alcançar adolescentes da idade dela até vinte e cinco e trinta anos, você deve coloca-la no
mesmo patamar. Se apresentar uma bonequinha ingênua, ninguém vai compra-la.

         - Essa abordagem está tranquila pra você, Lumia? – perguntou Bruna, resignada.

         - Inocência não é uma palavra que me define muito bem – riu a adolescente. – Já usei coisas bem menores do que esse vestido vermelho.

         - Sem vestido vermelho.

         - Eu quero o conjunto branco.

         - E eu quero o cabelo solto, volumoso, te dando cara de mulherão. Vou escolher a sandália.

         Bruna não pode deixar de rir para a funcionária que tomou o caminho do quarto principal para pegar uma sandália em seu closet. Meia hora
depois, ela mesma foi ser maquiada e depois foi trocar de roupa. O cabelereiro terminou de fazer o cabelo de Rafaela e a adolescente foi para o
quarto trocar de roupa, junto com Cibele e a maquiadora. Meia hora depois, voltou para a sala, já pronta.

         Bruna abriu um sorriso ao ver a adolescente aparecer na porta de acesso. Batia o pé com Cibele e Bianca em relação à Rafaela, mas eram duas
profissionais que sempre provavam seu talento, como naquele momento, quando Lumia novamente surgia como uma mulher linda. Garota linda,
corrigiu em seguida.

         - É por isso que aguento vocês! – falou com um sorriso. – Você está linda, Lumia!

         - Ela é muito linda! Tem que deixar isso fluir, Bruna, não pode ser tão super protetora dela.
         - Você e Bianca estão sempre esfregando na minha cara o quanto estou errada. Uma hora eu aprendo, prometo.

         Rafaela agradeceu aos profissionais que cuidaram do seu visual e Bruna os dispensou em seguida. Olhou para o relógio que já marcava dez e
meia da noite quando saíram em direção à festa. Cibele se despediu da produtora e da adolescente antes que entrassem no veiculo que já estava à
espera.

         - Nossa, se alguém me dissesse, dois meses atrás, que estaria indo para uma festa particular de Alana hoje, eu jamais acreditaria – falou Rafaela
depois de se acomodar no banco traseiro.

         - Por mais que esse aniversário tenha um cunho profissional para mim, ele significa diversão para você. Apenas se divirta ok?! Preciso mandar
boas fotos para Carla. Ela já está esperando.

         - Vou me divertir. Tentar não fazer nenhuma gafe.

         - Não vai. Estarei ao seu lado para garantir que não cometa. Importante, não falaremos com imprensa. Somente fotos.

         - Tá bom.

         Bruna deu uma piscadinha na direção de Rafaela antes de pegar o celular e ligar para Isadora. Depois de quinze minutos desligou, quando
chegaram na frente da boate onde a festa estava sendo realizada. Desceu ao lado da adolescente e seguiram para a entrada. Vários repórteres de
celebridades cobriam a entrada e muitos flashes se viraram a elas. Enlaçou a mão na cintura de Rafaela, guiando-a para a entrada. Era uma
surpresa, no meio artístico, que Bruna Spagnatto aparecesse em um evento como aquele, visto que a importante produtora era completamente
avessa a aparições em eventos sociais, mas o grande frisson foi Lumia, a lindíssima jovem que era a nova aposta da produtora, mantida em sigilo
absoluto.

         - Se prepare para entrar. Esse é seu novo mundo.

         Rafaela concordou com um aceno e respirou fundo. Estava pronta para conhecer mais uma parte daquele brilhante e novo mundo.

********

        

Gabarge – Big Bright World

https://www.youtube.com/watch?v=vvZlDa_pILU

Notas finais:

Oi oi lindonas!!! 

Bora orar por Isadora, ok?! hahahahaha

Até Sexta!

Bjokasssssssssss

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Capitulo 15 - Move Your Body por Drikka Silva
Rafaela entrou na festa e segurou a mão de Bruna, forte, tentando controlar a emoção que a tomou. Vários rostos que sempre vira na televisão, que
jamais tinha imaginado encontrar pessoalmente, estavam presentes. Começou a respirar fundo, tentando controlar algumas lágrimas de felicidade,
para não borrar sua maquiagem.

         - Respira – pediu Bruna abraçando-a para cochichar no seu ouvido. – Você é a nova promessa da Spagnatto e muitos aqui já sabem seu nome. Se
permita ficar emocionada, mas não vai sair tietando as pessoas. São todos seus colegas de profissão.

         - Eu vou conseguir – respondeu Rafaela respirando fundo. – Eu prometo que vou conseguir.

         - É só esse primeiro impacto. Depois você se acostuma.

         - Eu jamais vou me acostumar com isso!

         - Vai sim – respondeu Bruna se afastando para enxergar seus olhos. – Até o final da noite já terá se cansado de ser apresentada as pessoas.
Vamos?

         - Vamos.

         Rafaela aceitou o braço de Bruna e terminaram de entrar no espaço. Logo a produtora cumprimentou um cantor de uma dupla sertaneja que
era apaixonada. O cumprimentou, tentando conter a tremedeira. Bruna conversou com ele por alguns minutos, antes de ser abordada por uma
cantora. Rafaela conhecia poucas músicas dela, mas conhecia seu rosto de todas as polêmicas que ela havia se metido. A produtora pediu licença,
avançando pelo enorme salão, cumprimentando várias pessoas, apresentando-a. O sorriso estava congelado no rosto, enquanto se sentia
completamente intimidada com tantos talentos ao redor.

         - Você está muito tensa! – riu Bruna. – Vem, vamos dançar um pouco para se soltar, depois voltamos a fazer a social.

         - Alana não chegou ainda?

         - Ainda não. Daqui a pouco ela aparece.

         Rafaela concordou com um aceno e seguiu Bruna para a pista. O som que estava tocando era funk, música que escutara tantas vezes nos bailes
da favela. Começou a dançar mais timida, acompanhando Bruna que não dançava quase nada, mas quando o dj mudou a música, não conseguiu
mais se conter em uma dança timida. Um mc, que conhecia suas músicas de cor e salteado, começou a dançar com ela e se soltou na pista.

         Bruna observava de longe a adolescente se divertindo. Parecia que ela tinha se encontrado na pista de dança. Ficou conversando com algumas
pessoas, mas seus olhos estavam concentrados em Rafaela. A adolescente começou a fazer amizade na própria pista de dança, conversando com
várias pessoas, sendo apresentada pelo mc. Pode comprovar, mais uma vez, que a jovem tinha alguma espécie de imã que atraia as pessoas a ela.

         Desviou sua atenção de Rafaela quando Rodolfo, marido de Alana, apareceu ao seu lado. Começaram a conversar sobre a pós produção do
album da cantora e depois de quinze minutos voltou a olhar para a pista atrás da adolescente. O mc estava dançando com outra garota e não
enxergou ela em nenhum lugar. Quando fez menção de se misturar as pessoas para procura-la, enxergou a morena do outro lado da pista, tirando
foto junto com Nicole Lima, atriz da nova geração, destaque na emissora onde Isadora trabalhava. Abriu um sorriso, antes de atravessar a pista até o
local onde as duas estavam.

         - Bruna! – exclamou a jovem, se adiantando para dar um beijo em seu rosto. – Que bom que veio! Lumia me disse que Isadora não veio, não é?

         - Não, ela tem gravação até tarde.

         - Imagino. Final de novela é uma loucura! Manda um beijo pra ela quando a encontrar.

         - Mando sim!

         - Lumia, não se esquece de marcar na sua agenda, viu?! Estou contando com a sua presença lá.

         - Já está anotado aqui. Se Bruna não me der trabalho, eu vou sim.

         A produtora não pode deixar de olhar curiosa para as duas, sendo esclarecido em seguida por Nicole.

         - Minha festa de aniversário. Vou fazer uma festinha numa boate em São Paulo, já estou contando com sua presença e de Isadora tambem,
Bruna.

         - Obrigada pelo convite.

         - Agradeça indo.

         Bruna concordou com um sorriso e voltou a atenção para o dj que informava a chegada de Alana. A cantora entrou no salão recebendo os
cumprimentos dos presentes e Rafaela acompanhou com o olhar todos os movimentos da mulher que esbanjava simpatia. Depois de alguns minutos,
ela se aproximou para cumprimenta-las e seguiu para a mesa de som. Agradeceu a presença de todos e declarou o inicio da festa oficialmente.

         Rafaela voltou a fazer a social ao lado de Bruna, agora mais solta no meio dos artistas presentes. Depois de um tempo, se afastou da produtora,
indo para uma roda de pessoas, puxada por Nicole. Ficou participando da conversa, contente por estar em um lugar como aquele. Pararam a
conversa quando Alana subiu no palco para uma pequena apresentação.

         Bruna estava em um canto, conversando com Thiago sobre a parceria que queria fazer entre Alana e Lumia, quando a cantora começou a
chamar alguns artistas com quem já havia feito parcerias para cantar com ela. Sentiu o corpo gelar quando ela chamou Lumia ao palco.

         - Temos uma cantora maravilhosa presente hoje. Lumia é a nova aposta da Spagnatto e eu já a escutei cantar pessoalmente. Pensa numa voz!
Vem aqui, Lumia.

         Bruna olhou ao redor procurando por Rafaela e a enxergou ao longe, sendo incentivada por Nicole a subir no palco.

         - Ela não está pronta! – falou nervosa. – Thiago, Lumia não está pronta para cantar assim ainda! O que Alana está fazendo?!

         - Eu vou lá falar com ela.


         Bruna concordou com um aceno e saiu em direção à Rafaela, enquanto Thiago ia para o palco. Antes que qualquer um dos dois pudessem
chegar aos seus destinos, Rafaela subiu no palco.

         - Não faz isso, Rafa! – pediu baixinho.

                - Obrigada, Alana – falou a adolescente ao pegar o microfone que a cantora direcionava a ela. – Obrigada pelo convite, por essa festa
maravilhosa!

         - Gente, é sério, uma voz é uma voz e essa garota tem a voz! É um prazer poder apresenta-la a vocês. Lumia, gravem esse nome, viu?! Dá uma
palhinha à capela pra gente – pediu Alana.

         Bruna baixou a cabeça, com vontade absoluta de matar Rafaela, quando ela começou a cantar a introdução de Alive de Sia. Começou a ficar
boquiaberta, junto com as pessoas presentes, não pela sua qualidade vocal, que já conhecia, mas por ela cantar a música sem errar a letra. Com toda
a certeza ela devia ter decorado, uma vez que não sabia falar inglês.

         Começou a acompanhar baixinho, com um sorriso no rosto, enquanto assistia o espetáculo que Lumia fazia com sua voz, interagindo com Alana
e o público, que claramente estavam chocados com a competência da garota. Tinha confiança na aposta que estava fazendo na adolescente, mas cada
vez mais era surpreendida pelo tamanho do talento que até mesmo Rafaela desconhecia possuir. No meio da música a banda começou a acompanha-
la, transformando a apresentação em um show completo. Aplaudiu junto com os presentes enquanto Lumia recebia um abraço de Alana e era
convocada a cantar outra música, agora do repertório da cantora.

         - Eu te disse que ela é grande – falou Paulo Lins no seu ouvido. – E linda, carismática.

         - Oi Paulo! Nem vi que tinha vindo.

         - Acabei de chegar – respondeu o produtor. – Ainda bem que cheguei a tempo de ver esse espetáculo!

         - Ela só me surpreende! E eu achava que não conseguiria ficar mais surpresa.

         - Como você disse, um diamante bruto. Está lapidando ela com perfeição.

         - Eu não fiz quase nada ainda. Ela só começou aula de canto, semanas atrás e mudou o visual.

         - Você está dando confiança a ela. Muitas vezes só precisa de alguém que acredite que é capaz para que possa mostrar o seu melhor.

         - Verdade.

         Bruna voltou os olhos para o palco e Rafaela que se divertia com Alana na performance da música. Depois de alguns minutos ela agradeceu e
desceu do palco, dando um abraço em Nicole. Humilde, bonita e talentosa. Andou até a garota, acompanhada de Paulo.

         - Você sempre me surpreende! – falou com um sorriso. – Tem noção do que você fez aqui?

         - Ai, Bruna, desculpa! Eu fiquei sem saber o que fazer! Não te vi em lugar nenhum, aí a Nicole falou pra eu ir...

         - Você foi incrível, Rafa! Eu fiquei com medo quando subiu, mas você esfregou na minha cara que seu talento é maior do que eu consigo ver!
Você se transforma na frente de um microfone!

         - Não fiz errado?

         - Tá brincando! – falou Paulo. – Você foi ótima! Parabéns!

         - Obrigada!

         - Eu vou cumprimentar um pessoal por ai, até mais! – se despediu Paulo.

         Bruna esperou que ele tivesse se afastado, antes de voltar sua atenção para a adolescente.

         - Vem, vamos curtir a festa. Você resumiu meu trabalho em dez minutos em cima daquele palco.

                Rafaela aceitou a mão estendida de Bruna e saiu atrás da produtora até o bar. Pegou um coquetel sem álcool e voltaram para a pista, se
divertindo com o pocket show que Alana fazia. Muitos foram cumprimenta-las, impressionados com a voz de Lumia. Bruna aproveitou para fazer
seu networking: além de ter o nome Spagnatto envolvido na produção de Lumia, a garota tinha dado um show, mostrando que sua aposta era
certeira.

         Meia hora depois, o dj voltou às pick-ups colocando música eletrônica para tocar. Ficou próxima a adolescente, vendo ela dançar e interagir
com algumas pessoas. Conversou com vários amigos, mas seus olhos sempre voltavam para onde Rafaela estava. O mc voltou a dançar com ela e, por
um momento, ficou incomodada com a forma com que ele a abraçava.

         - Ficam bonitos juntos, não ficam? – perguntou Paulo parando ao seu lado, mais uma vez. – Um casal jovem, talentoso!

         - Ela tem dezesseis anos! Não tem idade para fazer casal com alguém – rebateu Bruna.

         - Ele tem dezenove. Francamente, Bruna! Acha que essa garotada é como nossa geração? Com quatorze anos já sabem mais do que nós.

                - Ela tem que se focar na carreira, não inventar de arrumar namoro por aí – respondeu, se virando para o produtor. – A vida dela já está
virando de cabeça para baixo! Um envolvimento com alguém da mídia não é a melhor coisa pra ela agora.

         - Então vai lá avisa-la disso – respondeu Paulo com um riso.

         Bruna se virou para enxergar Rafaela aos beijos com o garoto.

         - Eu não acredito nisso!

         - Bruna, relaxa! São dois adolescentes, solteiros, curtindo a festa! Para de ser super protetora dela!

         Não era a primeira pessoa que falava isso naquele dia. Suspirou fundo, talvez estivesse exagerando, de fato. Ficou observando enquanto Rafaela
se virava para ela com um sorriso no rosto.
         - Eu vou pegar uma bebida.

         Rafaela viu Bruna se afastar com uma cara de poucos amigos. Se virou para o cantor, que ainda mantinha as mãos em sua cintura e deu mais
um beijo em seus lábios, antes de pedir licença e se afastar para o lugar onde a produtora tinha ido. A encontrou com um copo de uísque na mão,
enquanto conversava com Paulo e Thiago.

         - Se divertindo horrores, não é, Lumia? – falou Thiago com um sorriso.

                - A festa está muito massa! – concordou a jovem. – Tudo bem, Bruna? – perguntou ainda enxergando a cara de poucos amigos que ela lhe
lançava.

         - Sim. Está tudo ótimo – a produtora tentou forçar um sorriso. – Que horas que já é? Temos que ir embora.

         - Já?! Agora que ficou bom!

         - A Bruna está com loucura! – riu Paulo.

         - Eu vou pegar um coquetel de saideira então – falou Rafaela indo para o lado do balcão.

                Paulo esperou que a adolescente já estivesse distante o suficiente, para ter sua voz encoberta pela música, e se inclinou para cochichar no
ouvido da produtora.

         - Espero que minha impressão de que está com ciúmes esteja errada.

         - Pelo amor de Deus, Paulo! Não tenho ciúmes nem de Isadora, vou ter ciúmes da Rafa?! Uma adolescente!

         - Ainda bem que estou enganado. Aproveite mais da festa. É a primeira vez que ela é vista. Não vai querer passar a má impressão de ser a
primeira a sair.

         Bruna concordou com um aceno e suspirou fundo, vendo o amigo se afastar. Olhou para Rafaela debruçada sobre o balcão, conversando com o
barman e deu um sorriso. Aquela era Lumia, encantando todo mundo.

         - Me vê mais um desse – pediu para o barman, parando ao lado da jovem.

         - Você não tá brava comigo, não, não é?

         - Não, claro que não. Aproveite a festa! Acho que o Mc está te esperando. Tenta evitar fotos com ele em redes sociais.  

         - É só uns beijos – respondeu Rafaela, despreocupada, pegando seu drinque. – Vamos para a pista um pouco?

         - Você já viu que sou uma porta.

         - Não é não. Só se mexer assim – falou movimentando o tronco para os lados. – Pronto! Já está dançando!

         Bruna riu e aceitou a mão que Rafaela estendia na sua direção, puxando-a para a pista de dança. O ritmo ainda ficou em músicas eletrônicas
antes de voltar para o funk. Se afastou alguns metros quando Nicole e outra cantora se juntaram a adolescente, fazendo as coreografias das músicas.
Se encostou contra uma pilastra e ficou observando-as de longe, enxergando novamente a sensualidade que Rafaela colocava na sua dança, nada
forçado, natural como sua facilidade em atrair pessoas a ela.

         Terminou de virar o uísque e pediu outra dose para o garçom que passava ao seu lado. Três minutos depois, já tinha outro copo cheio na mão.
Rafaela parou de dançar e olhou ao redor, claramente a procurando. Ficou encarando-a enquanto ela ia na sua direção, se mexendo com a música e
um sorriso nos lábios.

         - Vamos dançar contra a pilastra, então – riu Rafaela. – Como é avessa a dança! Nem parece que trabalha com música.

         - Faço música, não dança. Essa parte deixo para pessoas mais competentes que eu.

         - Essa música é ótima – falou Rafaela ao escutar as batidas de Move your body.

         - Sem dúvida! – concordou Bruna, agradecida por ter mudado o ritmo.

         - Vem, vamos nos mexer!

         Bruna terminou de virar o terceiro uísque e se aproximou da adolescente que colocava as duas mãos na sua cintura, a encarando com um
sorriso, fazendo ela se mexer com as batidas. Deixou que sua própria mão fosse para a cintura de Rafaela, aproximando os dois corpos. A garota
girou em seus braços enquanto refletia que a letra da música se encaixava completamente com a visão que tinha das costas de Rafaela: “Poetry in
your body, you got in every way” (poesia em seu corpo, você tem em todos os sentidos). Se afastou com um sorriso.

         - Vai se divertir com Nicole e o Mc. Daqui a pouco nós vamos embora.

         Rafaela deu ombros e voltou para a pista onde os novos conhecidos estavam dançando. Bruna se limitou a passar a mão no cabelo, antes de sair
para o bar atrás de outro uísque e depois o banheiro. Passou água gelada na nuca, encarando seus olhos no espelho. “Que merda foi essa?!” se
perguntou, ainda sentindo o coração disparado dentro do peito. Não imaginava que estava tão intolerante a bebida daquele jeito. Três uísques já a
tinham tirado do eixo.

         De volta ao salão, pegou uma garrafa de água e se juntou na roda onde Paulo estava. Evitou olhar para o lado onde Rafaela estava, mas foi
impossível não vê-la, novamente aos beijos com o Mc. Concentrou sua atenção na conversa sobre produção musical e depois de muito tempo, viu
Rafaela se aproximar.

         - Cansou de dançar? – perguntou com um sorriso.

         - Estou com os pés doendo! – assentiu a adolescente se sentando ao seu lado.

         - Daqui a pouco nós vamos embora. Descanse um pouco, antes de irmos nos despedir de Alana.

         Rafaela concordou com um aceno e pediu um coquetel para um garçom posicionado perto de onde estavam. Assim que ele chegou, tomou um
longo gole, escutando o que Bruna falava. Não entendia nada de produção musical e lhe parecia grego. Pegou o celular e acessou o Instagram. Depois
de colocar a hastag “Alana25anos” começou a ver as fotos. Abriu um imenso sorriso ao ver várias fotos suas, tanto com Bruna quanto Nicole e Alana.
Tinha até mesmo um curto vídeo no palco. Nas suas próprias redes já tinha também várias fotos daquela noite, quase todas tiradas por Bruna, que
nem tinha visto quando fora tirada. Chamou a produtora e Paulo, tirou uma foto e mandou para Carla que ainda estava online, à disposição, como
Bruna havia solicitado. Salvou algumas fotos e mandou para Jessica, mas como já era três da manhã, a amiga não as visualizou.

         - Vamos embora? – chamou Bruna. – Já vai dar quatro da manhã. Temos que dormir, pelo menos duas horas, antes de ir para o aeroporto.

         - Vamos.

         Rafaela começou se despedindo das pessoas que estavam do lado. Seguiu pelo salão se despedindo de todos com quem havia conversado, com
uma simpatia única, demonstrando que o seu social era forte. Bruna a acompanhou em voltas pelo salão e ainda teve que presenciar um ultimo beijo
entre a adolescente e o Mc, antes de finalmente saírem. Do lado de fora da boate, os repórteres estavam aguardando a saída das celebridades e as
lentes novamente se voltaram às duas.

         Bruna respirou aliviada quando entrou no carro. Tinham levado uma hora para sair da boate, desde que anunciara a partida. Foram o caminho
todo conversando sobre a festa, as pessoas que Rafaela havia conhecido. Teve a impressão de que a adolescente ainda estava ligada no duzentos e
vinte. Já era cinco da manhã quando, finalmente, chegaram no prédio.

         - Hora de descansar – falou Bruna assim que entraram no apartamento.

         - Estou precisando! Que noite!

         - Foi muito boa mesmo! Você foi excelente! Mandou muito bem!

         - Que horas o voo sai?

         - Temos que estar no aeroporto às dez da manhã. Nosso voo tá marcado para as dez e quarenta.

         - Quatro horas de sono – calculou Rafaela acompanhando a produtora em direção ao corredor que levava aos quartos.

         - Aproveite essas quatro horas de sono. Só vai descansar mesmo à noite, depois que chegar da clínica.

         - Tá bom.

         - Boa noite, Rafa!

         - Bruna – chamou a adolescente se aproximando para abraça-la apertado. – Obrigada. Foi a melhor noite da minha vida.

                Bruna se limitou a assentir com a cabeça enquanto recebia um beijo demorado no rosto. Se afastou e encarou a adolescente por poucos
segundos antes de dar uma piscada na sua direção e sair para o quarto. Entrou no aposento e seguiu direto para o banheiro, entrando em um banho
gelado.

**********

Sia – Move Your Body

https://www.youtube.com/watch?v=0GoGcVs6pbU

Sia – Alive

https://www.youtube.com/watch?v=t2NgsJrrAyM

Notas finais:

Oi.......

Fãs da Isadora, calma hahahaha Oremos!

Lindonas, um excelente feriado a todas e um bom final de semana!

Bjokassssssssssssss

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Capitulo 16 - The Champion por Drikka Silva
 

         Bruna acordou com o toque do celular despertando ao lado da cama. Esticou a mão para desliga-lo e ainda ficou rolando nos lençóis por alguns
minutos antes de se levantar e ir tomar um banho rápido. Depois de se arrumar, saiu para o corredor e parou na frente da porta do quarto de
Rafaela. Deu três batidas na madeira e esperou sua resposta. Bateu uma segunda vez e, mediante do silêncio da adolescente, testou a fechadura.

         - Rafa? – chamou no meio da penumbra, ao se aproximar da cama.

                Como não obteve resposta, foi até o interruptor, acendeu a luz e se virou para a cama para descobri-la vazia. A porta do banheiro aberta,
indicava que ela também não estava ali.

         Bruna rodou por todo o apartamento atrás de Rafaela, mas não a encontrou em lugar algum. A primeira providência foi ligar para o seu celular,
mas ele apenas chamou. O passo seguinte foi ligar para a portaria do prédio.

         - Bom dia, Eduardo – cumprimentou o porteiro. – É Bruna Spagnatto que está falando. A garota que esta comigo saiu do prédio?

         - Bom dia Bruna. Saiu, sim. Era umas sete e pouco da manhã quando falou comigo. Disse que estava uma excelente manhã para um banho de
mar.

         - Obrigada.

         Bruna desligou o aparelho e deu um suspiro de raiva. Seguiu para a varanda, para tentar localiza-la, mas não conseguiu, devido a altura. Olhou
para o relógio que já marcava oito e quarenta da manhã e saiu do apartamento. Caminhou rapidamente para o calçadão e a procurou até enxergar a
adolescente dentro do mar. Ficou olhando-a por alguns minutos antes de levantar a mão e acenar para que ela saísse da água.

         - O que deu em você?! – perguntou Bruna, não irritada, curiosa. – São nove horas da manhã! Essa água deve estar um gelo!

         - Está mesmo – concordou Rafaela tremendo de frio. – Mas é uma oportunidade única! Nem sei quando volto para o Rio de novo!

         - Talvez na próxima semana – riu Bruna. – Eu te falei que vai enjoar de ficar na ponte aérea. Vamos voltar pra cá em breve.

         - Melhor garantir! Eu vou pegar minhas coisas. Já está na hora de se arrumar, não é?

         - Sim! Onde deixou?

         - Ali, com aquele casal.

         Bruna ajeitou os óculos escuros no rosto, enquanto via Rafaela se afastar até o casal. Tentou concentrar a visão em um ponto a frente que não
fosse o corpo da jovem, revelado pelas pequenas peças de lingerie com a qual ela havia entrado no mar. A garota se abaixou ao lado do casal e
começou a conversar com eles enquanto se vestia. Depois de alguns minutos, se despediram e voltou para o seu lado.

         - Você tem facilidade em fazer amizades, não é?

         - Tenho. Acho que tenho – sorriu Rafaela. – Gosto de conversar com todo mundo.

         - Isso é muito bom. Assim conseguirá fazer amizade com as pessoas certas. Agora temos que ir.

         Bruna se virou para o lado do prédio e saiu caminhando, ao passo que Rafaela a acompanhou em silêncio. Assim que pararam na frente do
elevador, Bruna percebeu o quanto a adolescente tremelicava de frio. Deu um sorriso ao entrar no elevador ao seu lado e apertou o botão do andar
de Isadora. Antes que a porta pudesse se fechar, um grupo de moradores também entrou, desejando bom dia. Bruna se encostou contra o fundo do
elevador e Rafaela se posicionou na sua frente. Um ultimo morador entrou, fazendo com que a adolescente recuasse um ultimo passo, praticamente
se encostando contra seu corpo. Ainda tentou recuar um passo para o lado, mas estava espremida. 

         - Rafa...

         - Oi.

         - Nada.

         Bruna respirou fundo para conter as reações confusas que tomaram conta do seu corpo ao ver Rafaela tremendo na sua frente. Não se conteve
em passar os braços em torno do seu corpo, fazendo-a grudar contra ele.

         - Vou te esquentar.

         Rafaela deu um meio sorriso e relaxou contra a produtora, mordendo o lábio inferior. Logo o calor do corpo tomou conta seu, fazendo com que
seus tremeliques parassem. Por um segundo fugaz, fechou os olhos e curtiu a sensação proibida de estar nos braços de Bruna.

                O elevador parou o quinto andar e o grupo que o ocupava, desceu. Rafaela abriu os olhos, pensando que a produtora se afastaria, mas ao
contrário do que imaginou, a morena deu um discreto riso.

         - O que foi?

         - Seu cabelo está cheio de areia, aliás, você está me enchendo de areia!

         - Acho que estou te molhando também – respondeu Rafaela se afastando.

         - Molhou mesmo – concordou Bruna ao conferir a calça assim que o elevador parou no andar do apartamento. – Já entra e vai tomar um banho
rápido para que tenha tempo de um café da manhã. Sairemos em quarenta minutos.

         Rafaela concordou com um aceno e seguiu para o banheiro. A mente se concentrou em Bruna e no seu gesto dentro do elevador. Abriu um
sorriso ao recordar seu delicioso perfume tão próximo, do seu corpo perfeitamente encaixado no seu. Mordeu um lábio inferior, imaginando como
seria ficar com ela, sua boca no seu pescoço, suas mãos a acariciando inteira. As faces ruborizaram ao visualizar a cena: devia ser bom demais.

         Rafaela balançou a cabeça, com a culpa surgindo de imediato, perante seus pensamentos. Era até errado pensar em qualquer coisa daquele tipo
com Bruna Spagnatto, esposa de Isadora, mulher que estava lhe dando tanto apoio. Com vergonha das próprias reações do corpo, terminou de tomar
o banho e saiu para se arrumar e depois encontrar com Bruna, que já havia trocado de roupa, para o café da manhã.

         Durante toda a volta para São Paulo, foram conversando sobre o que tinha acontecido na noite anterior. Estava completamente empolgada por
tudo o que estava vivendo e não conseguia esconder essa excitação em sua voz. Bruna orientou-a sobre o que fariam no restante daquela semana e
começo da outra. Por mais que para ela parecesse diversão, aquilo era trabalho, e ela tinha que se dedicar ao máximo.

         Chegaram na produtora com o relógio já marcando meio dia. Pensou que iria ensaiar o restante da tarde, mas Bruna tinha outros planos.

         - Eu preciso que vá até o banco para abrir uma conta. Amanda vai lhe passar os documentos necessários. Geralmente eu peço para vir um
funcionário até a produtora, mas como está com a tarde livre, já faz isso para já ficar certo.

         - Eu já preciso de uma conta?

         - Sim. Como vou te pagar? Você está trabalhando, nada mais justo que lhe pague, não é? Assim que abrir, já passe o numero para Amanda. Acho
que o dinheiro que deixei com você já acabou, não é?

         - Tenho alguma coisa ainda.

         - Amanda vai lhe entregar mais uma parte, considere um adiantamento. Depois será tudo transferido automaticamente.

- Tudo bem! Eu, realmente, não consigo ver isso como trabalho – sorriu Rafaela. – Tá bom, vou passar lá.

- A mulher que vai trabalhar pra você chama-se Viviane. Ela tem trinta e quatro anos e ficará no apartamento seis dias por semana. Sua
folga será todo domingo.

- Que legal! Quando eu vou conhecer ela?

- Começou o trabalho hoje de manhã. Assim que chegar lá, já vai encontrá-la.

- Como ela começou de manhã?

- Amanda foi recepciona-la, junto com Rute. Depois você conversa com ela, vê se tem alguma coisa que Rute deixou passar nas orientações.
Ela ainda está lá.

- Rute?

- Isso. E não esqueça da sua consulta hoje à noite. Amanda também irá lhe passar o endereço. Amanhã cedo, aula de canto, depois
produtora. Vamos gravar na parte da tarde.

- Nossa! Deu até um frio na barriga! Tão rápido!

- Você vai se sair bem. O quanto antes colocar seu rosto nas redes, melhor. Quero você na mídia o mais rápido possível.

- Tá bom.

- No sábado temos um show do Lucca no Credicard Hall. Quero que assista muitos shows e que vá analisando a postura dos artistas,
presença de palco. Vamos trabalhar isso, detalhadamente mais pra frente, mas é bom já ir se situando.

- Caraca! Lucca! Eu posso agarrar ele? – perguntou Rafaela ao fazer sinal de prece com as mãos na frente do corpo.

Bruna riu antes de responder.

- Nem em sonho! Vai pegar os documentos com Amanda, depois vamos almoçar e já te deixo no apartamento.

Rafaela concordou e saiu da sala em busca de Amanda. Depois de fazer o que Bruna havia orientado, saiu para almoçar com a produtora. O
relógio já marcava uma e meia da tarde quando pararam na garagem do prédio onde residia. Desceram em direção ao elevador e em poucos
minutos já estavam no apartamento.

- Oi Rute – cumprimentou Bruna. – Como estão as coisas por aqui?

- Tudo certo. Viviane é um amor de pessoa. Tenho certeza que Lumia e ela vão se entender bem.

- Espero que sim – falou Rafaela com um sorriso. – Como você está?

- Estou bem. Vou chama-la.

Bruna se sentou em uma poltrona e ficou esperando que a mulher aparecesse junto com Rute. Não demorou mais que três minutos para
que a funcionária voltasse junto com Viviane, uma loira de estatura baixa e cabelos presos em um rabo de cavalo. Se levantou para cumprimenta-la,
junto com Rafaela.

- É um prazer conhece-la, Viviane – falou ao esticar a mão.

- O prazer é meu, senhora Bruna.

         - Apenas Bruna, por favor. Esta é Rafaela, é desta garota que terá que tomar conta.

         - Ai Bruna! Até parece! – brincou. – To feliz em ter você aqui, Viviane, vamos fazer altas maratonas de séries!

         - Espero que tenha energia para aguenta-la – riu Bruna. – Ficou alguma coisa em duvida que meus funcionários não lhe passaram?

         - Não, está tudo certo. Obrigada pela oportunidade.

         - Bom, então estou indo. Caso tenha algum problema, meus telefones são esses – falou entregando um cartão. – Tem o numero da produtora ai e
o meu numero direto. Depois Rafaela passa o contato dela.

         - Pode deixar.

         - Vamos Rute? Vou passar em casa tomar um banho e depois tenho um compromisso.
         - Vamos. Fiquem bem meninas.

         Rafaela foi até a porta para abrir para a passagem de Bruna e Rute, antes de voltar sua atenção para Viviane que continuava parada no meio da
sala, esperando alguma ordem sua. Não fazia a mínima ideia do que falar a ela, já que nunca havia cogitado de que um dia teria uma empregada em
casa.

         - Bom, eu vou pegar umas coisas porque tenho que ir no banco agora a tarde, acho que Rute já lhe passou tudo, ne? Eu... eu nunca tive alguém
trabalhando em casa. Não sei bem como funciona.

         - Vamos nos adaptar – sorriu Viviane. – Rute já passou tudo sim, mas se tiver algo que queira que eu faça, é só falar.

         - Acho que agora nada. Já trouxe suas coisas?

         - Sim.

         - E almoçou?

         - Sim, fizemos comida. Já almoçou?

         - Já. Comi com Bruna antes de vim. Bom, vou deixar essa mochila no quarto, depois já vou sair. Fica à vontade, viu?!

         - Pode deixar.

         Rafaela seguiu para o quarto, acompanhada de Viviane. Observou que ela estava fazendo faxina no aposento e, depois de pegar uma bolsa
pequena e fazer a transferência da carteira com os documentos, pegou as folhas que Amanda havia lhe dado e saiu do apartamento. O banco
indicado era na Alamenda Santos e seguiu a pé. Vinte minutos depois já estava acomodada em uma cadeira, esperando para ser atendida, quando
uma funcionária se apresentou.

         - Meu nome é Gisele, você é Rafaela, certo?

         - Isso mesmo.

         - Venha comigo, por favor. Geralmente mandamos um funcionário até a Spagnatto, mas Bruna tem uma certa urgência dessa vez.

         - Sim. Eu moro aqui perto também. Nem precisa mandar um funcionário até lá.

         - Aceita uma água, café?

         - Água, por favor.

         A mulher assentiu e saiu para pegar a água. Jamais na vida tinha imaginado um tratamento tão diferenciado em um banco. A verdade é que
jamais havia imaginado nada do que estava acontecendo.

         - Trouxe os documentos que Amanda lhe deu?

         - Estão aqui.

                - Ótimo. Vamos fazer, em primeiro momento, uma conta corrente pessoal. Depois Amanda vai me mandar as informações do CNPJ para a
abertura da conta jurídica. Quando estiver tudo certo, um funcionário vai até você para que possa assinar os documentos.

         - São duas contas?

         - Sim. A conta de Lumia é separada da conta da Rafaela. Acredito que terá orientação da produtora quando estiver com o jurídico acertado, mas
já lhe digo, em todos os aspectos, é bom que separe Lumia da Rafaela.

         - Certo.

         - Eu vi seu vídeo cantando na festa da Alana. Que voz incrível você tem!

         - Você viu?!

         - Vi. Adoro Sia, a propósito.

         - Uma das melhores cantoras do mundo!

         Rafaela não viu o tempo passar com Gisele enquanto conversavam sobre música e finanças. Assinou os documentos que ela passou e depois de
vinte minutos estavam finalizando todo o processo.

         - Esse são meus números de contato. Se precisar de alguma coisa, basta entrar em contato comigo.

         - Você é minha gerente – concluiu Rafaela ao olhar o cartão.

         - Isso mesmo.

         A garota abriu um sorriso e se despediu da gerente para sair para a rua. Era mudança demais em pouco mais de um mês.

         Quando Bruna entrou no escritório da 2121, agência de publicidade, já era três e meia da tarde. Fabrício e Bianca já estavam aguardando para a
reunião.

         - Tudo bem, Bruna? – perguntou Bianca ao cumprimenta-la. – Que festa a de ontem! Lumia quebrou a banca! Estava lindíssima!

         - Olá Bianca. Ela foi incrível. Não aposto errado, sabe disso.

         - Não mesmo – concordou Fabrício ao cumprimenta-la. – E já vi que tem um interesse em especial na produção desse comercial.

         - Sim. Quero saber exatamente o que eles querem. Quero ver se é um bom encaixe para Rafaela.
         - Não é arriscado? Ela tem uma voz incrível, mas é um comercial de veiculação internacional.

         - Eu sei. Se vai rodar o mundo, vai rodar o Brasil. Todos irão conhecer a voz dela em horário nobre. Quer melhor?

         - Sacada de mestre, se der certo – falou Bianca pensativa. 

         - Amanda já chegou?

         - Está estacionando o carro.

         - Já avisa o Ramon que estamos prontos.

         Bianca se levantou para fazer o ordenado, enquanto Bruna ficou conversando com Fabrício sobre o trabalho na produtora. Minutos depois
Amanda se juntou a eles e logo foram encaminhados para a sala de reuniões.

         - Uau! Bruna Spagnatto em pessoa! Achei que era só uma música para um comercial – riu Ramon ao cumprimenta-la.

         - É a música. Vou fazer a produção dela.

         - Espero que isso não aumente o meu preço! Meu orçamento já está estourado!

         - Não comece a reclamar de dinheiro! Vou fazer com que sobre orçamento, não se preocupe.

                - Sentem-se. Essa é minha equipe que está ligado a essa conta. Michelle, responsável pela campanha, Ricardo, diretor de criação, Raquel,
diretora de arte. Bruna, Fabricio, Bianca e Amanda, da Spagnatto, responsáveis pela sonorização do comercial. Vocês vão esquecer os nomes uns dos
outros, então não vou ficar gastando tempo apresentando – riu. – Michelle, comece apresentando a campanha que ficou acertado no briefing com a
Lovatus.

                - Boa tarde, pessoal. Bom, o cliente comprou a ideia de fazer um comercial de três minutos e trinta segundos, no estilo de um videoclipe,
apresentando a música que vocês farão a produção, se o contrato for firmado. A ideia é que seja gravado no deserto do Atacama, uma voz feminina,
forte, cantando em um microfone e as modelos desfilando ao redor, apresentando os calçados.

         Bruna acompanhou as imagens computadorizadas que eram apresentadas na tela a frente. Rafaela tinha a voz forte e jovem, mas coloca-la na
frente de uma câmera, ainda era precoce.

         - Existe a possibilidade de não gravar a cantora?

         - Não. Ela será um dos pontos principais.

         Bruna trocou um olhar com Fabrício e depois com Bianca.

         - Vocês já possuem contrato com alguma cantora?

         - Tínhamos, mas foi cancelado porque ela vai fazer uma turnê na Europa e não coincidiu a agenda. É um dos problemas que vou entregar em
suas mãos. Preciso de uma cantora de renome para isso.

         - Qual o orçamento que tenho?

         - Trezentos.

         - Você quer uma new face baseado na OMB*, é isso? – perguntou Bruna com um riso. – Você me quebra desse jeito!

         - Me ajuda, Bruna!

         - Não, vamos falar sério. Você quer uma música, um artista e uma viagem ao Atacama, com minha equipe, por trezentos mil?

         - Você é difícil, hein, Bruna!

         - Posso te dar uma excelente artista com esse valor, mas não será ninguém de renome, ainda.

         - O cliente quer um nome conhecido do grande público – explicou Michelle. – Alguém que venha agregar a marca.

         - Então ele terá que colocar a mão no bolso. Só o cachê de um artista médio está rolando entre cento e cinquenta e duzentos mil. Qual o tempo
de veiculação? – perguntou Fabrício.

         - Quatro meses.  

         - Eis minha proposta – falou Bruna ao olhar para os contratantes. – Eu faço a música, entrego uma artista muito boa, mas não será ninguém
conhecido ainda. Isso sem mexer no valor do orçamento. Se insistirem em um rosto nacional, por esse valor, a Spagnatto está fora.

         - E quem é essa cantora?

         - Eu mando material dela pra vocês na segunda. Me falem da música. O que vocês esperam?

         A reunião correu em torno do que o cliente da agência queria de áudio no comercial. Bruna se concentrou nas informações que eram passadas,
mas uma preocupação apitava em sua cabeça: teria que preparar Rafaela em apenas um final de semana para que fosse apresentada ao cliente.

         Rafaela passou o restante da tarde no apartamento, conversando com Viviane para conhece-la melhor. Fazia pouco tempo que ela havia se
mudado do interior do Paraná para São Paulo. Morava com a mãe na zona leste de São Paulo, próximo de onde ela mesmo havia residido por tanto
tempo. A loira era simpática, e parecia entusiasmada com o novo trabalho. Por mais que o apartamento fosse grande, Rafaela não teria tempo para
sujá-lo inteiro e a permanência por seis dias semanalmente, ajudaria com que se programasse para não acumular trabalho.

         - Bom, eu vou me arrumar – anunciou Rafaela. – Eu tenho que ir para o consultório daqui a pouco.

         - Está com algum problema de saúde?


         - Não, Bruna quer que eu tenha um acompanhamento psicológico. É muita coisa que mudou na minha vida de uma hora para outra, minha
infância também não foi das mais legais para me dar suporte hoje. Aí tenho que conversar com um profissional para não entrar em parafuso,
segundo as palavras de Bruna.

         - É bom cuidar do corpo e mente. Que horas você volta? Já deixo o jantar preparado.

         - Umas oito e meia já estou de volta. Talvez até antes. O consultório é aqui perto.

         - Tá bom. Já vou deixar tudo pronto.

         Rafaela concordou com um aceno e saiu para o quarto, tomar um banho e depois se arrumar. Com meia hora saiu do apartamento em direção
ao consultório. Assim que chegou, foi recebida pelo psicólogo que faria sua avaliação.

         - Boa noite, Rafaela. Meu nome é Marcos, tudo bem com você?

         - Isso quem vai me dizer é você – riu a adolescente ao apertar a mão do homem à sua frente. Dava uns trinta e cinco anos a ele. Bem vestido,
barba bem aparada exibindo um cavanhaque estiloso. – Eu me sinto bem.

         - Já é um bom começo. Aceita uma água, café?

         - Não, obrigada.

         - Esse é meu consultório, fique a vontade para escolher um lugar para se sentar.

                Rafaela olhou ao redor e escolheu uma chaise long em um canto. Sempre havia achado chique as pessoas que ficavam deitadas no divã,
contando seus problemas na terapia.

         - Bruna me falou que teve uma mudança bem radical na sua vida. Está tendo ainda.

         - Sim, é verdade. Tipo, dois meses atrás nem sonharia que um dia estaria fazendo as coisas que estou fazendo hoje. Minha realidade era outra.

         - Me deixe conhece-la. Me conte tudo sobre você.

         Rafaela pensou por um minuto. Não fazia ideia de como começar a falar de si mesma.

         - É difícil isso – riu. – Falar da gente mesmo.

         - Me fala sua idade, onde morava.

         - Tenho dezesseis anos, morava em São Mateus com minha mãe. Tipo, a casa onde morava era do tamanho do banheiro que tenho hoje no
apartamento que a Bruna me arrumou. Essa semana estava com artistas que nunca sonhei em conhecer. É meio doido isso.

         - Pelo que entendi do que ela me passou, você está em uma fase de transição. Foi descoberta por uma produtora e agora está migrando para o
mundo artístico.

         - Isso. Eu... Não tive uma infância das melhores, quando cresci não melhorou em muita coisa. E agora tem essa reviravolta toda. Nem sei o que
pensar – riu, sem graça.

         - Vamos fazer um resumo da sua vida. Comece pela sua infância.

         Rafaela passou a hora seguinte narrando toda a sua vida, desde que se lembrava. Não viu o tempo passar enquanto relatava lembranças que
ainda pareciam frescas na memória. Quando chegaram ao final da hora, ficou acertado de voltar na próxima semana, no mesmo dia e horário. Saiu
do consultório com sensações ambíguas: ao mesmo tempo em que se sentia leve, uma pequena angustia a tomava, por externar uma pequena parte
do que já havia passado.

         Assim que chegou no apartamento, o jantar já estava pronto, como Viviane havia mencionado. Notou que a mesa estava posta apenas com um
prato.

         - Você já jantou? – perguntou a adolescente ao aparecer na porta da cozinha.

         - Vou jantar aqui.

         - Tá bom – concordou Rafaela indo até a sala de jantar. Pegou o prato e os talheres e os levou para a cozinha, colocando na mesa. Foi até as
panelas, sentindo o delicioso aroma.

         - O cheiro está bom! Estou morrendo de fome!

         Viviane sorriu ao ver a garota se servindo e indo se sentar a mesa. Pegou um prato e também se serviu, sentando-se ao lado da adolescente. Era
uma menina simples. Esperava que a fama não tirasse isso dela.

*OMB - Ordem dos Músicos do Brasil

*******

Carrie Underwood feat Ludacris – The Champion

https://www.youtube.com/watch?v=HgknAaKNaMM

 
Notas finais:

Oi oi lindonas!!!!

Quem quer cap na quarta???? 

Coloca o dedo aqui que já... Pera, não. 

Só comenta mesmo hehehehe

Bjokassssssssssssss

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Capitulo 17 - Rosas por Drikka Silva
         No final da manhã seguinte, Rafaela entrou na produtora, depois da aula de canto com Gilson. Cumprimentou as pessoas que agora faziam
parte do seu dia a dia e seguiu para o estúdio atrás de Bruna. Assim que entrou no espaço onde estava acostumada a ensaiar, viu a grande
quantidade de pessoas presentes, que arrumavam tudo para a gravação que fariam naquela tarde.

         - Oi Rafa! – cumprimentou a produtora, assim que a viu. – Preparada?

         - Acho que estou – pensou por um minuto antes de corrigir. – Acho que não.

         Bruna riu diante da resposta da garota e deu um abraço apertado.

         - Eu vou acompanhar absolutamente tudo, não se preocupe. Vou te orientar, corrigir o que for para ser corrigido, só seja você mesma. É um
ensaio com mais pessoas, só isso.

         - Tem bem mais pessoas que aquela primeira vez – observou Rafaela.

         - Sim, é uma gravação oficial. Uma gravação com a produção da Spagnatto, logo não será nada mediano.

         - Tá bom! To nervosa, mas vou me acalmar – respondeu a adolescente acariciando as costas de Bruna lentamente.

         - Você vai tirar de letra, Lumia! Seus ensaios foram ótimos, você sabe que manda bem – falou Carla ao se aproximar. – Larga Bruna e vamos te
arrumar.

                - Vão lá. Eu vou terminar de ver os últimos ajustes – respondeu Bruna tirando os braços do corpo da adolescente. – Eu não quero gravar
separado, quero que seja como um acústico, porém se não funcionar, vamos gravar primeiro a base e, depois, o vocal. Vamos experimentar tudo isso
agora a tarde.

         - Tá bom.

         Rafaela concordou com um aceno e saiu atrás da ruiva para o segundo piso da produtora. Na sala de reuniões, que fora transformada em um
camarim, encontrou um cabelereiro e maquiador. Bianca estava em um canto, conversando com uma mulher que ainda não conhecia.

         - Bom dia, Lumia! Vamos te preparar para a sua estreia oficial?! Empolgada?

         - Nervosa! – assumiu ao abraça-la. – Mas vamos lá, né?!

         - Sim! Essa é Patricia Miguelotti, ela é consultora de moda, conceituadíssima no ramo, veste várias celebridades, inclusive Isadora Maranes. Fará
todo o trabalho com você acerca de vestuário e afins.

         - É um prazer conhece-la, Lumia. Será um prazer lhe passar toda a orientação necessária para que seja a nova diva da música. Mesmo que tenha
uma voz belíssima, é importante cuidar também da aparência.

         - Tá bom.

         - Eu vi algumas fotos suas, mas conhecer seu biotipo pessoalmente me dá algumas ideias. Conversei com Bruna e vão começar com um cover de
uma MPB clássica, Ana carolina.

         - Sim! A música é linda!

         - Como será gravado com um formato menos sisudo, escolhi essa roupa para você em primeiro momento: essa calça com suspensórios, um top
cropped por baixo e essa bota mais street. Trouxe também esse vestido, bem maleável que dará um movimento belíssimo no vídeo, conforme dançar
com a música...

         Rafaela ficou olhando as roupas que a consultora lhe mostrava, nos cabides pendurados em um canto. Algumas achou feias, mas outras eram
lindas. Escolheu uma calça de couro falso e um top cropped dourado. Patrícia orientou que o cabelo fosse liso e a maquiagem com bom destaque de
câmera para os olhos. Se sentou na cadeira onde o cabelereiro e seu assistente a esperava e começaram a molhar para secar em seguida. O
maquiador foi o ultimo a se aproximar, enquanto Carla a rodeava, junto com Bianca. Assim que terminaram de arruma-la, uma hora depois, mais
uma vez se olhou no espelho, não se reconhecendo.

         - Agora essas pulseiras, o anel e esse brinco maravilhoso! – falou Patrícia ao entregar as peças. – Linda!

         - Linda mesmo! Você arrasa Patrícia! – exclamou Bianca ao seu lado. – Agora vamos lá, quero ver você brilhar!

         Rafaela saiu da sala e seguiu novamente para o estúdio. Assim que entrou, recebeu vários elogios, mas o sorriso de agradecimento foi maior
para Bruna. Um câmera começou a filma-la, antes mesmo do começo oficial.

         - É para o making of – explicou Carla.

         Rafaela sorriu para a câmera e tentou se concentrar no que era discutido. Bruna andava de um lado para o outro, rindo, testando o som junto
com a equipe, conversando com o diretor de vídeo. Tudo para a adolescente parecia uma grande baderna, mas a produtora, acostumada com aquele
clima, conduzia tudo com perfeição.

         Um fotografo que acompanhava a equipe de filmagem pediu que Rafaela posasse para alguns registros e a adolescente se soltou, fazendo as
mais variadas poses para que tudo fosse fotografado. Meia hora depois, a pedido de Bruna, começou a aquecer a voz, colocando em prática os
exercícios que Gilson havia lhe passado.

         - Pronta, Lumia? – perguntou Bruna, ao se aproximar do canto em que estava.

         - Pronta. Acho que pronta.

         - Eu estou confiante de que vai fazer um trabalho muito bom. Eu vou grava-la, além das filmagens, vou interromper algumas vezes, para fazer
algum tipo de correção, mas isso não significa que está fazendo algo errado, significa que pode fazer melhor, ok? Eu já gravei um bit essa manhã
para dar a base para você e os músicos, você vai escutar por esse ponto.

         - Eu tenho que usar isso na orelha, né? – perguntou a adolescente olhando para o pequeno aparelho na mão de Bruna.
         - Isso. Eu vou ficar posicionada na mesa de som, então qualquer coisa, é só acenar para o vidro, ok? – continuou Bruna, ajeitando o ponto na
orelha de Rafaela. – Está confortavel?

         - Tudo bem.

         - Arrasa garota! Esse é seu momento! Quero você confortável com essa gravação. Você sabe fazer, tem uma voz poderosa, ensaiou durante dias,
conhece a letra de cor e salteado, é só se soltar. Seja Lumia, nos ilumine!

         Rafaela assentiu enquanto Bruna continuava a encoraja-la com suas palavras. No final das recomendações, recebeu um abraço e um beijo no
rosto da produtora que seguiu para fora do estúdio, se posicionando na mesa de som. A morena acenou o começo da gravação e todos ficaram em
silêncio, capturando cada movimento seu. Se assustou quando Bruna falou em seu ouvido, sinalizando o tão aguardado inicio. 

                Gustavo deu o tom e Rafaela acompanhou, cantando Rosas, música que tanto gostava no repertório de Ana Carolina. Assim que a canção
terminou, se virou para a banda, grupo que estava se tornando amigos próximos. Sorriu em agradecimento, antes de se virar para enxergar Bruna,
do outro lado do vidro.

         - Excelente, Lumia! – exclamou a produtora. – Vamos mais uma vez. Quero que relaxe mais. Puxe mais para o contralto na primeira parte.
Quando chegar nessa parte, porque eu sou feita pro amor da cabeças aos pés, passe para o mezzo – explicou Bruna para cantarolar em seguida. –
Consegue? No refrão, vá para o mezzo soprano. Não chegaremos no soprano aqui, ok?

                Rafaela assentiu com a cabeça e repassou a parte que Bruna havia pedido sem a banda. Com o consentimento da produtora, os músicos
voltaram a companha-la.

         - Lumia – interrompeu Bruna mais uma vez. – Na música original, Ana puxa o final, esse agradar, tem que ter uma forte entonação. Vamos mais
uma vez. Voz de peito.

                A adolescente novamente assentiu e voltou a repetir a música. Bruna não interrompeu, mas pediu que ela repetisse outra vez. Na sétima
passagem, já estava mais solta, mas foi somente na nona vez que Bruna abriu um sorriso ao notar que a jovem tinha dado um toque seu à música, se
movimentando, alternando câmeras.

         Bruna pediu uma pausa e foram conferir o material já gravado. Rafaela se posicionou ao seu lado, enquanto virava uma garrafa de agua.

         - Vento. Está faltando vento – falou Bianca atrás das duas. – A gravação está linda, mas o vento, além de dar movimento no seu cabelo, vai fazer
você se movimentar mais.

         - Podemos tentar – concordou Bruna. – Temos ventiladores aqui?

         - Trouxemos – informou um membro da equipe de filmagem.

         Rafaela ainda descansou por mais alguns minutos enquanto colocavam os ventiladores no estúdio. Antes que pudessem voltar, Bruna testou o
áudio, para que não saísse ruídos na gravação. Somente meia hora depois, é que voltou para o estúdio.

                Bruna não precisou de mais de três tomadas para ter certeza que de Rafaela estava perfeita, completamente a vontade na pele de Lumia,
cantando tranquila, consciente de que tinha uma voz linda e sabia como usá-la. Já era sete horas da noite, quando deu por encerrado a gravação.

         - Ficou perfeito! Já vamos editar amanhã para que seja upado na parte da tarde. Você arrasou, Lumia!

         Rafaela abriu um enorme sorriso enquanto aplaudia junto com todos que estavam no estúdio. Não pode deixar de ficar emocionada com o
trabalho que haviam feito. Recebeu abraços carinhosos de toda a equipe e um aperto coletivo de toda a banda. Bruna apareceu por ultimo e se
desviou dos amigos para ir abraça-la. Nada daquilo estaria acontecendo se não fosse a confiança absurda que a produtora depositava nela. Era um
dia mágico, um dos primeiros que ainda teria pela frente. Tinha convicção daquilo.

                Naquela noite, saíram para comemorar em um barzinho. Estava se sentindo leve, acolhida e amada por aquelas pessoas. Era um novo
sentimento que nunca antes tinha provado, nem com a mãe nem com os vários caras com quem já havia se relacionado. Quando o relógio já
marcava meia noite, Isadora chegou com o segurança e sua assistente. Não pode deixar de ver o beijo apaixonado que Bruna deu em seus lábios,
antes que ela seguisse em sua direção.

         - Soube que arrasou hoje, Lumia! – cumprimentou a atriz dando-lhe um abraço apertado. – Você será maior do que já imaginou!

         - Obrigada, Isadora! Não conseguiria nada disso se não fosse por você,

por Bruna! – respondeu a garota correspondendo seu abraço. – Obrigada, de verdade!

                Isadora deu um beijo estalado no rosto de Rafaela antes de pedir uma garrafa de champanhe para brindarem. Com todos reunidos,
conversando alto e rindo, a adolescente se sentiu em paz. Entre amigos. Em casa.

        

         Na sexta feira de manhã, Rafaela fez um esforço hercúleo para não bocejar durante a aula de canto. Estava cansada da noitada do dia anterior,
que só havia se encerrado às duas da manhã, quando o barzinho encerrou o atendimento. Se manteve concentrada em uma garrafinha de água e na
luz do sol, que penetrava pela janela. Era o que conseguia fazer de melhor para não dormir.

         Na produtora, não encontrou Bruna. Ela estava no prédio do Pacaembu e só passaria ali a tarde, informação passada por Victor, assim que se
encontraram.

         - Mas hoje temos uma coisa especial – falou, empolgado. – Vamos começar a trabalhar em algumas músicas para fazer seu single. Bruna já
selecionou algumas coisas, vamos ver o que vai se encaixar melhor pra você. Na segunda-feira, vocês começam a ensaiar a música que farão cover
para o vídeo do Youtube. Já vão pensando em alguma.

         - Mas é um single já pra tocar em rádio? – perguntou Rafaela apreensiva.

         - Sim. Vocês já vão para o offline em três semanas. Importante que já tenham alguma música inédita. Mas a questão da “música de rádio” – falou
fazendo aspas – depende da aprovação que terá no mercado. Pode ser que não estoure logo de primeira. Vamos ver como será seu aceite. Bruna
possui muitos contatos, ela fará uso deles para que seja reconhecida o mais rápido possível.
         - E o feat?

         - Uma coisa por vez. Vamos tratar do assunto imediato. Temos trinta e cinco músicas já pré selecionadas e vamos escutar os trechos para já ir
selecionando aquelas que mais lhe agradar. Bruna já escutou todas de manhã, então já tem uma aprovação da produtora.

         - Bacana! Bom, vamos lá!

         Rafaela passou o restante da manhã com Victor, escutando trechos das músicas que já haviam sido selecionadas a ela. Fizeram uma pausa para
o almoço e depois, junto com os membros da banda, voltaram a escutar as composições. Aquela era uma grande novidade a Rafaela, dentre tantas
que estava vivenciando. Antes não fazia mínima ideia de como as músicas eram escolhidas para entrar em um repertório, mas conhecendo todo o
processo, ficou encantada. Já era quatro horas da tarde quando escolheram cinco músicas. Victor explicou que além do material enviado pelos
compositores, havia também a própria criação do artista, coisa que ela poderia fazer quando estivesse pronta. Outro ponto que conheceu naquela
tarde foi o fato de que algumas músicas já eram feitas pensando no cantor ou cantora que faria a interpretação. Quando se tornasse famosa, e se se
tornasse famosa, poderia ter compositores fazendo musicas exclusivamente para ela.

         Bruna chegou depois de meia hora e chamou todos para a sala de reunião. A produtora esperou ter a atenção de todos para começar a falar.

         - O vídeo está pronto. Vamos ver antes de ser upado. Carla vai subir às cinco e meia.

         - Ai! To ansiosa! Onde ele está? – perguntou Rafaela apreensiva.

         - Aqui – respondeu Bruna acessando o computador.

         Em menos de dois minutos, a tela da sala de reuniões acendeu e Rafaela assistiu, encantada, o efeito de introdução do vídeo. Lumia apareceu
escrito com uma letra cursiva, em preto, enquanto um fundo brilhoso em rosa dava o destaque. Mordeu o lábio inferior quando foi mudado para o
estúdio, mas começou com a imagem borrada, aos poucos se tornando nítida. Quando a música, de fato começou, ficou olhando abobalhada para a
televisão, e seu rosto que preenchia a tela. Os três minutos e cinquenta segundos seguintes, passou com a adolescente hipnotizada, sem acreditar de
fato que aquilo estava acontecendo. Quando terminou, abriu um sorriso emocionado, diante das palmas e comemoração dos colegas presentes.

         - O que achou, Lumia? – perguntou Bruna, depois de desligar a televisão.

         - Nossa... Nem sei o que falar! – riu. – Eu sei cantar!

         - Não. Eu sei cantar, Victor sabe cantar. Você arrasa! Coloca uma galera, de anos de estrada, no bolso.

         - Ficou demais! Sensacional! Nem parece que sou eu!

         - Você ainda está vendo com os olhos da Rafaela, é bom que sempre mantenha esse olhar, mas procure mesclar com o olhar da Lumia. A Lumia,
quero que olhe de forma crítica, o que pode mudar, o que pode melhorar. Sua lição de casa pra hoje, assista muito esse vídeo, eu vou mandar ele
para o seu celular, nada de acessar no Youtube, e estude sua postura.

         - Tá bom.

         - Assista vídeos de outros artistas também, shows ao vivo, e analise como eles se comportam, o que fazem no palco.

         - Pode deixar.

         - Isadora vai compartilhar um trecho no Instagram dela, assim como no Stories, Alana também vai compartilhar, além de vocês, é claro, e da
Spagnatto. Quero seu vídeo com mais de dez mil acessos amanhã cedo.

         - Eita! Será que consegue?

         - Só sua base de seguidores já dá quase isso, e não te ouviram “de verdade” ainda. Isadora tem uma média de trezentas mil curtidas por foto.
Alana, essa base também. Você já vai bombar no primeiro vídeo, tenha certeza disso.

         - Tomara!

                - Amanhã eu quero conversar com você, vai para minha casa, duas horas da tarde. Quero te passar uma coisa importante e se concordar,
Isadora vai nos auxiliar com algumas coisas. Não se atrase.

         - Certo.

         - E já leve roupa. De lá vamos no show do Lucca.

         - Uau! Levo, pode deixar! Espero não ter um treco!

         - Eu também espero!

         Bruna se despediu da adolescente e dos demais presentes e saiu para encontrar Isadora. Guiou até o local onde estava sendo gravado a novela e
se identificou na portaria da central de produções. Levou dois minutos para que sua entrada fosse autorizada e mais quinze, até o local onde a
esposa estava gravando. Cumprimentou parte das pessoas presentes e ficou olhando, de longe, Isadora completamente à vontade na pele de
Samantha, personagem que interpretava. Depois de terminar a cena, a ruiva a enxergou e seguiu até ela, depois de colocar um roupão por cima do
figurino da personagem.

         - Oi amor! Que surpresa boa você aqui! – falou ao dar um beijo nos seus lábios.

         - Cenas finais. Acha que vou perder?! Jamais!

         - É só uma parte. A cena final mesmo, será gravada na segunda.

         - Ainda tem que ficar aqui por muito tempo?

         - Só mais uma tomada, ai já podemos ir.

         - Vou te esperar aqui no canto.


         Isadora beijou a esposa, mais uma vez, antes de ir para junto do ator com quem contracenava e o diretor da cena. Bruna ficou admirando a
seriedade com a qual ela ouvia as orientações. Depois de alguns minutos, os atores voltaram às suas posições e Isadora retirou o roupão, revelando
Samantha mais uma vez. Bruna desviou os olhos para o chão, para não ver a cena de beijo que a esposa protagonizava. Sempre tivera o cuidado de
não assistir nenhuma cena de Isadora que contivesse beijo ou sexo.

         O relógio já marcava nove horas da noite, quando saíram da central de produções. Pararam em um restaurante para o jantar, antes de seguirem
sua casa.

         - Já está certo da Rafaela vir aqui amanhã? – perguntou Isadora ao sair do banheiro nua.

         - Sim, marquei para as duas da tarde, depois do almoço.

         - Eu vou pedir para Carol trazer algumas coisas do apartamento que quero dar a ela. Essa semana recebi dois celulares muito bons. Talvez ela
goste de algum.

         - Ela vai adorar, com toda a certeza. O que ela possui não é um top de linha – respondeu Bruna apreciando a esposa passar hidratante no corpo.
– Amanhã eu quero que a oriente em relação à marcação de câmera. Conforme ela se sair, vou pedir uma gravação para o domingo, com um Chroma
Key de fundo. Quero apresentar um bom material para o cliente na segunda.

         - Você sabe que isso vai lhe custar meus honorários, não é? – perguntou Isadora ao erguer uma ponta do edredom para se acomodar ao lado da
esposa na cama. – Melhor começar seu pagamento desde já.

         - É só me dizer a moeda.

         Bruna puxou a mulher para se encaixar em seu corpo, beijando-a demoradamente. A boca correu para o pescoço perfumado, antes de começar
a explora-la inteira.

***********

Ana Carolina – Rosas

https://www.youtube.com/watch?v=Ku_WjsBSPB0

Notas finais:

Oi oi lindonas!!!

Gostaram? "estreia de Lumia" hehehehe

Até sexta!!!!

Bjokasssssssssss

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Capitulo 18 - Próprias mentiras por Drikka Silva
                Rafaela chegou na estação da Consolação faltando cinco minutos para as sete da noite. Depois que saíra da produtora, havia mandado
mensagem para Jéssica, convidando-a para passar a noite no apartamento. Quinze minutos depois a amiga apareceu e a puxou para um abraço
apertado, antes de ir para a beirada da Paulista e chamar um UBER para leva-las até o apartamento.

         - Ai amiga! Parece que faz tanto tempo que saiu lá da rua!

         - Parece que vivi outra vida nesses dias que passaram! Tenho tanta coisa pra te contar!

         - Eu to acompanhando as fotos que estão saindo na net! Cara! Você foi pro aniversário da Alana! No Rio de Janeiro!
         - Foi uma noite mágica! Se eu te falar quem eu beijei, você não vai acreditar!

         - Quem?

         - Sabe aquele MC que canta Noite Caliente?

         - Mentira! Você não ficou com ele! Você tá inventando!


         - Fiquei! Foi uma noite sensacional!

         - Eu vi o tanto de gente famosa que você conheceu! Cara, você cantou com Alana!

         Rafaela falou a amiga tudo o que tinha feito nos dias que haviam passadas separadas. A viagem de dez minutos passou em questão de segundos
para as duas adolescentes. Assim que desceram na frente do prédio, a jovem cantora riu da cara de deslumbre que a amiga estava fazendo ao ver o
lugar onde estava morando. Tinha certeza que havia feito a mesma cara quando fora ali, com Bruna.

         - Aqui é o apartamento – falou ao abrir a porta.

         - Isso não é um apartamento, é uma mansão! Olha o tamanho disso!

         - É, tenho essa impressão também. Ainda vou ter um desses! Te garanto! Vem, quero te apresentar a Viviane, ela está trabalhando aqui e mora
aqui comigo.

         Jessica saiu atrás da amiga e entraram na cozinha, onde Viviane terminava o lanche para as adolescentes.

         - Vi, essa é a Jessi, minha amiga, essa é a Vivi, minha companheira de apê!

         - Oi – cumprimentou Jéssica com um sorriso. – Tudo bem?

         - Tudo certo. O lanche de vocês já está quase pronto. Quer que sirva na sala?

         - A gente pega aqui depois – respondeu Rafaela, descontraída. – Vem amiga, quero te mostrar meu primeiro vídeo!

         Rafaela e Jessica seguiram para o quarto e, durante o curto trajeto, foi mostrando todo apartamento a ela. Sentaram-se na cama e Rafaela pegou
o celular, para acessar o vídeo que Bruna havia lhe mandado.

         - Caramba, Rafa! Quem diria! Olha pra você, esse lugar! Tanta coisa boa acontecendo!

         - Nem me fala amiga! Ainda fico meio boba com tudo, parece que vou acordar a qualquer momento! Devo tanto à Bruna!

         - Ela é uma pessoa incrível, né?!

         - Demais! – suspirou Rafaela.

         - E esse suspiro é só pelo que ela ta fazendo por você, né?

         Rafaela apenas olhou para a amiga. Não era só aquilo, mas era tão errado, que nem conseguia imaginar nada sem que sentisse culpa.

         - Ai, não amiga! Não faz isso! Você não pode gostar dela! – falou Jéssica. – Ela é casada, tá fazendo tudo isso por você. Você só vai se lascar!

         - Eu não gosto dela! – respondeu Rafaela rapidamente. – Quer dizer, gosto, é uma pessoa tão bacana e generosa, mas não o gostar do tipo que tá
falando. Não seria capaz de ficar com ela!

         - Mas já cogitou, imaginou isso.

         - Já – concordou a adolescente com uma careta. – Sou uma idiota deslumbrada, né?!

         - É. Você tem que ter em mente de que ela é como se fosse sua chefe. Como minha mãe sempre fala, onde se ganha o pão, não se come a carne.

         - Eu não tenho coragem de fazer nada. Nem poderia. Isadora é tão legal, tem me ajudado tanto. Sem contar que Bruna me vê como uma criança.
Esquece isso, é só uma besteira da minha cabeça.

         - É, é só besteira mesmo! Daqui uns dias vai ter um monte de gatinho atrás de você, quando ficar famosona! Imagina o tanto de caras tops!

         - Vou pegar muito cara por ai! – riu Rafaela.

         - Já começou, né, vagabunda! Aquele Mc é tudo de bom!

         - E beija bem, viu?!

         Rafaela puxou a amiga para a cozinha, onde lancharam, e depois seguiram novamente para o quarto da adolescente, enquanto conversavam
sobre tudo. Jessica disse que Nicolas vivia perguntando dela, e Rafaela fez prometer que não contaria a ninguém do morro onde estava morando. Já
era noite alta, quando encheram a banheira e entraram na água, e quase manhã, quando finalmente foram dormir.

         O relógio despertou Rafaela às dez da manhã. Se virou para enxergar Jéssica adormecida, virada para os pés. A amiga tinha dito que iria dormir
no quarto de hospedes, mas insistiu para que ficasse ali com ela. Era bom ter sua companhia o tempo todo, depois de tantos dias separadas.

         Saiu da cama e seguiu para a sala, com o celular na mão. Acessou a agenda e ligou para Bruna.
         - Bom dia, Bruna – cumprimentou assim que escutou sua voz. – Não te acordei, não, né?

         - Não, já estou na rua resolvendo algumas questões. Tudo bem?

         - Tudo. Deixa eu te falar, a Jéssica dormiu aqui em casa e quero que ela fique o final de semana comigo. Eu posso levar ela comigo na sua casa
hoje à tarde? Se não puder, não tem problema, ela me espera aqui.

         - Sem problemas, Rafa. Ela pode ir com você.

         - Tá bom, obrigada Bruna.

        

         A produtora desligou o telefone e voltou sua atenção para as pessoas presentes na reunião que havia solicitado na sede da produtora. Depois de
uma hora, foi para casa e encontrou Isadora decorando texto. Era sua ultima semana de gravações e, ao mesmo tempo que estava feliz por ela, sabia
também que seriam os últimos dias juntas, antes da sua mudança.

         - Amor, eu estava pensando aqui, daqui dez dias é o aniversário da Rafa, não é? – perguntou Isadora depois de deixar as folhas de lado.

         - Sim, dia vinte.

         - O que acha de fazermos alguma coisa pra ela? Uma festinha aqui ou na produtora.

         - Pode ser. Eu peço para a Carla cuidar disso.

         - Ótimo! O que será que ela gostaria de ganhar de presente? Quero fazer algo bem especial pra ela, antes de viajar.

         - Você gosta mesmo dela, não é? – perguntou com uma pontada de culpa pelo que já havia sentido pela adolescente.

         - Já te disse, minha filhota adolescente – riu a atriz. – Sabe aquelas pessoas que você tem carinho gratuito? Acho que é isso. Tenho carinho
gratuito por ela.

         - Eu vou cuidar de tudo. Ela terá uma comemoração bacana.

         - Eu vou pensar num presente bacana pra ela. Alguma sugestão?

         - Vixi! Não faço ideia. Sei lá, um vídeo game?

         - Ela não é mais uma criança, amor. Se ela já tivesse dezoito, poderia dar um carro a ela. Acho que iria gostar.

         - Certamente, mas ela ainda não pode dirigir, vai fazer dezessete anos.

         - Vou pensar em algo.

         - Pense. Eu vou mexer nos arquivos que a 2121 me mandou, quero estar pronta para recebe-la mais tarde.

         - Ok.

         Isadora ficou olhando a esposa se afastar pelo corredor e voltou os olhos para o texto a sua frente, mas a mente se concentrou em Rafaela. O que
será que ela gostaria de ganhar de aniversário?

                Exatamente as duas da tarde, Rafaela desceu do carro, junto com Jéssica, na frente da casa da produtora. A amiga olhava tudo ao redor
encantada, enquanto esperava o portão ser aberto. Dentro da propriedade, atravessou o jardim até a porta da frente, onde Bruna já a esperava.

         - Oi Bruna – cumprimentou com um beijo no rosto.

         - Oi. Olá Jessica, seja bem-vinda!

         - Obrigada! Caraca! Que lugar lindo!

         - Obrigada! Vem, Isadora está no jardim do fundo. Vamos conversar lá também.

         - Isadora Maranes? – perguntou Jéssica entusiasmada. – É sério que ela está aqui?!

         - Sim.

         - Gente! Não acredito que vou conhecer Isadora Maranes!

         - Segura a onda, Jessi. Não vai me fazer passar vergonha! – ralhou Rafaela.

         Bruna se limitou a rir e seguiu na frente, sendo acompanhada pelas duas adolescentes, até o quintal dos fundos. Isadora estava sentada em uma
espreguiçadeira, à sombra, mas se levantou assim que as viu.

         - Rafa, minha linda! Como você está? – perguntou ao abraçar a jovem.

         - Vou bem e você?

         - Bem – respondeu voltando os olhos para a garota ao lado. Ela estava travada, olhando-a estática. Já tinha muitos anos desde que aprendera a
lidar com aquele tipo de reação. – Jessica, seu nome, não é? É um prazer conhece-la!

         - Caraca! Nossa! Nem acredito! A gente pode tirar uma foto?

         - Depois podemos tirar várias! Aceitam um suco?

         - Eu quero – respondeu Rafaela puxando a amiga, ainda abobalhada, olhando para Isadora. – Para de me fazer passar vergonha, Jessi!

         - Ai amiga! É Isadora Maranes!


         - Eu sei! Sossega o facho!

         Bruna riu e indicou as cadeiras para as adolescentes. Pegou o computador e o abriu, antes de puxar o assunto que havia levado Rafaela até sua
casa naquela tarde.

                - Rafa, eu tive uma reunião essa semana com uma agência de publicidade chamada 2121, parceiros da Spagnatto há alguns anos. Eles me
pediram a sonorização de um comercial para uma marca de sapatos, a Lovatus, uma música e um videoclipe. Quero que seja a cantora dessa música.

         - E como funciona isso?

         - Eles já me enviaram a letra e a base que querem, é um pop eletrônico. Talvez a única dificuldade que teremos é que a música é em inglês, mas
vou te auxiliar com isso. Tempo de veiculação de quatro meses. Temos que entregar o áudio em trinta dias e a gravação do comercial é em trinta e
cinco dias, no Atacama.

         - Onde é o Atacama?

         - É o deserto do Chile – respondeu Jéssica. – Se não tivesse faltado a aula, saberia.

         Rafaela se limitou a fazer uma careta para a amiga.

         - É isso mesmo – concordou Bruna, rindo. – Se concordar, vamos te trabalhar agora a tarde em algumas coisas básicas e amanhã faremos uma
gravação na produtora para mandar para o cliente na segunda. Esse material é para que eles possam te conhecer e conhecer o que a produtora está
propondo.

         - Tá bom. O que eu tenho que fazer?

         - Você já conhece, mais ou menos, como funciona a marcação das câmeras. Quero que aprenda com Isadora sobre a gravação com Chroma Key.

         - O que é gravação com Chroma Key?

         - Fundo verde – respondeu Jéssica mais uma vez. – Depois diz que sou eu que estou te envergonhando! Eles colocam aquilo e depois podem
editar como se estivesse no meio de um furacão. É muito foda!

         - É isso mesmo – concordou Bruna. – Mas não vamos te colocar no meio de um furacão, e sim, no deserto. Quero que já tenham uma visão
concreta do que faremos. Vou fazer de tudo para fechar esse contrato pra você.

         - Uau! Tomara que dê certo! – respondeu, empolgada.

         - O que vamos fazer é apresentar uma proposta, não significa que o contrato estará fechado. Eles precisam aprovar seu rosto, sua voz, o que a
produtora está propondo. Se aprovarem, o tempo que mencionei, começa a correr depois da data do fechamento do contrato.

         - Certo.

         - Eu quero que veja alguns vídeos que separei, existe um comercial da Via Marte, de dois mil e doze, que tem uma pegada bem similar ao que a
agência propôs ao cliente. Veja.

         Rafaela assentiu e viu Isadora se aproximando com os sucos, antes de voltar sua atenção para a tela do computador. Assistiu, em silêncio, por
cinco minutos.

         - Caraca! É muito massa!

         - A gravação será diferente, mas o conceito, é muito parecido. O ponto principal aqui é que você também entra em destaque.

         - Ok.

         - Bom, vamos trabalhar!

         - Vamos para a sala privativa – falou Isadora. – Vou te ensinar algumas coisas lá, principalmente como falar com as paredes!

         Rafaela sorriu e saiu atrás de Isadora, seguida por Jéssica e Bruna. Assim que entraram no cômodo, já notou que algumas poltronas haviam sido
afastadas para que pudessem ter espaço.

         - Arrasa, amiga! – falou Jéssica, desejando sorte.

         Rafaela deu um abraço na amiga antes de seguir Isadora para o espaço que ela indicava. Bruna ficou alguns minutos junto a elas, explicando o
que queria e, depois, se afastou para perto da outra adolescente. A produtora não pode deixar de perceber como Rafaela estava mais solta, por conta
da presença de Jéssica. Não estava se exibindo, e sim, mais confiante. Duas horas depois, julgou que poderia grava-la sem problemas.

         - Excelente, Rafa! Amanhã na produtora, às dez da manhã. Vamos passar o dia te gravando. Quero que decore a letra de Próprias Mentiras, da
Debora Blando.

         - Tá bom.

         - Trouxe sua roupa?

         - Ai! O show do Lucca! Nossa, esqueci, Bruna, desculpa!

         - Eu peço para o pessoal passar lá no apartamento para arrumar vocês. Pego vocês às nove da noite.

         - Tá bom!

         Rafaela e Jessica ainda ficaram na casa da produtora por vários minutos, antes de irem embora. Carol, assessora de Isadora, chegou com os
pacotes que a atriz havia pedido e entregou a jovem cantora. Rafa agradeceu entusiasmada, mas a pedido de Isadora, só iriam abrir quando chegasse
em casa. De volta ao apartamento, seguiram para o quarto da adolescente, extremamente curiosa para saber o que a atriz havia lhe dado.

         - Mano, olha esse celular! – exclamou ao pegar uma caixa de dentro do pacote. – Olha essas roupas! Tem até perfume!

         - Rafa, como você consegue lidar com isso? – perguntou Jéssica ao se sentar na beirada da cama.
         - Como assim?

         - Isadora Maranes te dando presentes, te ensinando um monte de coisas, cantando com Alana. Vamos no show do Lucca e vem gente te arrumar
pra isso! Tudo isso é muito doido!

         - É, não é? Eu ainda nem acredito que é verdade. As vezes acho que vou acordar.

         - Aquele mundo, o morro, tudo aquilo ficou pra trás. Você não pertence mais a ele.

         - Isso pode ser passageiro. Eu tenho consciência disso.

         - E se não for? Você sabe que é muito boa no que faz, se não fosse assim, uma produtora como a Spagnatto não estaria investindo tanto em você.
Você tem que ter consciência disso. Você vai longe, Rafa, eu pude ver isso hoje. Isso aqui é só o começo.

         - Tomara!

         - Eu tenho certeza!

         Às sete da noite, Rafaela recebeu os dois profissionais que iriam arruma-la para aquela noite. Duas horas depois, e já prontas, Bruna chegou
para busca-las. Isadora também estava presente e o pequeno grupo seguiu para a casa de espetáculos que estava recebendo o show de Lucca. Foram
conduzidas até a área onde ficariam e assistiram, extasiadas, a apresentação do cantor que Rafaela tanto gostava. Assim que foi finalizado, seguiram
para o camarim, cumprimenta-lo.

         Rafaela não conteve o enorme sorriso no rosto assim que viu o cantor. O cumprimentou, tentando não transparecer sua empolgação de tiete
naquele momento, mas estava louca para pular em seu pescoço e agarra-lo com força.

         - Lumia, é um prazer te conhecer – cumprimentou Lucca. – Eu vi seu vídeo, que talento, hein?!

         - Ela é muito boa, não é Lucca? – falou Bruna se aproximando. – Que show, cara, sensacional! A turnê está muito linda, parabéns!

         - Bruna! Obrigado! É bom ter você aqui!

         - Foi muito bom ter vindo!

         O cantor também cumprimentou Isadora e Jéssica, tirando fotos com todos, antes de voltar sua atenção para Bruna.

         - Matheus me passou sua proposta. Estou dentro. Vamos fazer o melhor hit do verão!

         - Esse é o espirito da coisa! – riu a produtora. – Eu não contei a ela ainda – finalizou se virando para Rafaela.

         - Contou o que?

         - Me permite? – pediu Lucca.

         - Claro!

         - Nós vamos fazer uma parceria, se concordar, é claro.

         - Nós... Nós vamos cantar, tipo, como eu fiz com Alana?

         - Single. Original e remix para ser veiculado em todas as mídias – esclareceu Bruna. – Eu vou acertar os detalhes com Matheus e depois já vamos
começar a trabalhar a música. Se tiver alguma coisa engavetada, Lucca, me mande. Já vou pensar na melodia.

         - Tenho alguma coisa, sim. Eu vou mandar pra você.

         Rafaela ainda estava estática sem, nem ao menos, saber como participar daquela conversa. Bruna que percebeu seu estado e passou um braço
por sua cintura, dando um discreto aperto, sorrindo pra ela.

         - Emocionada, Lumia?

         - Isso é um sonho! É sério isso?

         - Pode apostar que sim – respondeu Lucca. – Vamos fazer esse povo dançar!

         Rafaela não se conteve mais em segurar o abraço que queria dar no cantor.

          - Obrigada – sussurrou em seu ouvido.

         - Vamos fazer sua estrela brilhar, ok?

                O restante da noite passou para uma abobalhada Rafaela. Bruna explicou o trabalho que fariam e, depois, se despediram do cantor e sua
equipe. Seguiram para um restaurante, por recomendação de Isadora e somente quando o relógio marcou três horas da manhã, é que chegaram ao
prédio.

         - Não se esqueça, Lumia, na produtora às dez. E escute a música da Deborah Blando, não esquece – falou Bruna ao se despedir.

         - Estarei lá, pode deixar. Vou dormir escutando essa música!

         Rafaela desceu do carro e entrou no prédio, indo direto para o elevador com Jéssica ao seu lado. Não conteve a empolgação ao ficarem sozinhas.

         - Eu vou gravar com Lucca! – exclamou animada. – Jessi, eu vou cantar com Lucca!

*****

Debora Blando – Próprias Mentiras


https://www.youtube.com/watch?v=nZconYdpCZo

Comercial da Via Marte – 2012

Tephy Marcondes – User Your Power

https://www.youtube.com/watch?v=9-gLYg3WirM

Notas finais:

Oi oi lindonas!!!

Quem for de Sampa, Região do Vale, amanhã estarei na FLIM, das 19:00hrs até as 22:00hrs junto
com a Editora PEL. Deem uma passadinah por la :)

Super recomendo ver o video do comercial. Gosto bastante hehehehe

Bjokassssssssssssssssss

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Capitulo 19 - Ritmo Perfeito por Drikka Silva
         Rafaela e Jéssica chegaram na produtora no horário marcado por Bruna. Cumprimentou Victor e algumas pessoas que ela não conhecia, mas
que faziam parte da equipe que fariam o trabalho naquele dia.

         - Oi meninas – cumprimentou Bruna ao dar beijos no rosto de ambas. – Rafa, esse é o Fabricio, ele quem cuida de tudo pra mim em relação à
produtora. Meu braço direito e esquerdo. Ele é diretor da Spagnatto.

         - É um prazer conhece-la, Rafaela. Estava bem curioso para te encontrar pessoalmente. Já fazia algum tempo que Bruna não me sobrecarregava
tanto de trabalho para se dedicar a uma única artista.

         - Oi Fabricio, o prazer é meu de te conhecer. E me desculpe por “tomar a Bruna” – falou com um riso ao fazer sinal de aspas com os dedos.

         - Só te desculpo se trouxer uma renda em dobro do que estamos investindo.

         - Vou tentar, prometo!

                - Vai trazer bem mais do que estamos investindo – respondeu Bruna. – Não se preocupe. Vamos lá no estúdio, quero te mostrar o local de
gravação antes de ir se arrumar.

         Rafaela concordou com um aceno e saiu atrás de Bruna, puxando Jéssica ao seu lado. Bruna a guiou para o estúdio dos fundos, e enxergou a
quantidade de pessoas presentes, além das que já havia encontrado na entrada da produtora. Cumprimentou todos, antes de ver Carla chegando ao
espaço.

         - Bom dia, Lumia! Vamos fazer um vídeo top hoje!

         - Opa! Vamos fazer! – concordou a adolescente abraçando-a. – Essa é a Jéssica, minha amiga de infância.

         - Bem-vinda, Jéssica. O pessoal já está esperando para te arrumar.

         - Ela já vai subir – informou Bruna. – O seu lugar de gravação será aqui – explicou puxando Rafaela para o meio do estúdio, todo forrado em
verde. – Lembra das câmeras que Isadora falou que vai te filmar do alto? São essas. Por esse trilho vai correr uma câmera que vai te filmar em
trezentos e sessenta graus. Eles ainda estão terminando de montar tudo, e depois nós vamos gravar com o áudio original de Próprias mentiras. No
final do dia, vou gravar o áudio com a sua voz. Temos muito, muito trabalho hoje.

         - Vamos fazer! To preparada!

         - Isso ai! Vai se arrumar, começamos a gravação em quarenta minutos.

         Rafaela assentiu com um aceno e seguiu Carla para o andar superior. Bianca estava ali com duas mulheres e um rapaz, que iriam arruma-la.

         - Que bom que já chegou, Lumia! Vamos te produzir para a gravação. Já separei a roupa que vai usar hoje. Como vamos fazer uma produção
mais rustica, vai usar essa bota, esse short com esse colete e o top por baixo. O cabelo vai ficar bem selvagem também, uma caçadora! Esses são
Marina, cabelereira, JM maquiador e a Priscila que está nos auxiliando. Quer alguma coisa antes?

         - Não. Está tudo bem.

         - Maravilha! Bruna já falou com você? Já viu todo o estúdio? Gravou a letra da música? – perguntou a mulher sem tempo de resposta. – Você eu
não conheço – finalizou se virando para Jéssica.

         - É minha amiga Jéssica – respondeu Rafaela. – E sim, para todas as outras perguntas.

         - Maravilha! Então, já vamos te arrumar! Vou descer para falar com Bruna, acertar os últimos detalhes.

         Rafaela concordou com um aceno e viu Bianca sair da sala antes de se virar para Carla e Jéssica com um sorriso. A cabelereira a chamou para a
cadeira e Priscila começou a molhar seu cabelo, para ser secado em seguida.

         Quarenta minutos depois, desceu para o estúdio e recebeu orientações do diretor e de Bruna, enquanto mantinha gravada as dicas que Isadora
havia lhe dado no dia anterior. Colocou o ponto para escutar a música e seguiu para o meio do estúdio, observando as marcações no chão. Depois de
quinze minutos, Bruna deu o sinal para inicio da gravação.

                As três horas seguintes foram dedicadas a repassar a música inúmeras vezes, interrupções para ajustar sua postura, movimentação das
câmeras, ajeitar o cabelo e retoque da maquiagem. Fizeram uma pausa para o almoço e retomaram em seguida, fazendo mais três tomadas antes
que o diretor desse por encerrada a gravação. Rafaela agradeceu a todos junto com Bruna, antes de seguirem para o outro estúdio, para gravar o
áudio.

         - Eu achei que primeiro gravava o áudio e depois o clipe – comentou Jessica ao lado de Bruna.

         - E é realmente, mas hoje temos a questão de tempo. A edição dessa gravação é demorada e os meninos já vão começar de hoje, só farão a
inclusão do áudio amanhã.

         - Por causa dos efeitos? – perguntou a adolescente curiosa.

         - Isso. Você gosta desse mundo de produção?

         - Eu acho legal. Não entendo nada, mas é interessante de ver e aprender.

         - Bacana. Agora vamos gravar Lumia.

         Rafaela entrou no estúdio e Bruna passou a orientação do que queria da adolescente e em pouco tempo a melodia de Próprias Mentiras tomou
conta dos fones. Repassou a música algumas vezes enquanto Bruna mantinha atenção na mesa, orientando, extraindo o melhor que podia fazer com
a música.

         Já era noite quando o domingo de trabalho foi encerrado. As adolescentes se despediram da produtora e foram embora. Bruna voltou para o
estúdio, junto com Victor para fazer a pós produção. Somente quando o relógio marcou onze horas da noite é que deu seu próprio dia por encerrado.
         No dia seguinte, seguiu direto para a produtora, finalizou a música na parte da manhã e enviou para ser incluída no vídeo. Rafaela chegou da
aula de canto e foi ensaiar com a banda enquanto resolvia assuntos da produtora. No meio da tarde recebeu uma prévia do vídeo e assistiu
atentamente, prestando atenção no trabalho de edição e encaixe do áudio. Repassou por mais três vezes antes de anotar as partes que julgou
importante ser mudado. Colocou para tocar uma quinta vez, admirando Rafaela e o trabalho que havia feito. Ela já estava pronta para ser
apresentada. As outras coisas que precisava aprender para se tornar uma grande artista, viria com o tempo e lições que a própria exposição e critica
lhe daria.

         - Oi Lucca – cumprimentou o cantor que ligava em seu celular. – Alguma novidade?

         - Te mandei três arquivos de música para o feat com a Lumia. Veja se é o que espera para a produção da música e me diga o que acha. Se
concordar, pode ser qualquer uma delas.

         - Como está gravado?

         - Podrinho. Gravei no celular mesmo, tocando violão.

         - Tranquilo! Eu vou escutar, vou passar para Lumia e te dou um retorno.

         - Qualquer coisa é só me ligar ou para Matheus.

         - Obrigada, Lucca!

         Bruna desligou o telefone e acessou o email para encontrar os arquivos que Lucca havia enviado. Ouviu as músicas, antes de pegar o telefone
fixo e pedir para que Victor fosse até sua sala.

         - Oi chefe! – falou o homem ao entrar na sala.

         - Escute essas músicas – pediu Bruna colocando os áudios para tocar novamente.

         Victor se sentou na cadeira e ficou escutando atentamente enquanto Bruna enviava um email. Assim que acabou as músicas, a produtora se
virou para encara-lo.

         - Isso é do Lucca. Música nova?

         - Três músicas que ele compôs e sugeriu para o feat com a Rafaela. O que achou delas?

         - Dispensaria a última. Não explora tanto o timbre que ela tem.

         - Pensei a mesma coisa.

         - Põe de novo – pediu seu assistente.

         Bruna colocou o áudio para rodar mais uma vez e foi atrás de um copo com água. Sentou na ponta da mesa, prestando atenção, mais uma vez
nas músicas. Victor se encostou na cadeira, assim que as músicas acabaram.

         - Acho que a segunda é bem interessante. Daquelas composições que te mandei, nenhuma achou bacana?

         - Tem umas boas ali, mas é interessante usar uma composição do próprio Lucca – respondeu Bruna ao pegar o telefone novamente. – Camila,
pede para Rafaela vir até minha sala, por favor.

         - E o single dela? Escolhemos cinco músicas que já podemos trabalhar.

                - Eu gostei de Ritmo Perfeito. É uma música dançante, tem uma boa letra e melodia. Podemos deixa-la mais pop com algumas batidas
sequenciais.

         - Sim. Já até imagino ela no palco com dançarinas ao seu redor.

         - Chama a Vitória para gravar a letra. Vou trabalhar a melodia depois e passar para a banda.

         Bruna desviou os olhos para a porta ao escutar a batida e ver a cabeça de Rafaela aparecer na fresta.

         - Oi Bruna, me chamou?

         - Sim, vem aqui – pediu a produtora dando a volta na mesa para se sentar em sua cadeira novamente. Esperou Rafaela se acomodar antes de
retomar. – Quero que escute essas músicas.

         A adolescente anuiu e Bruna colocou os áudios para tocar. Ficou observando a adolescente pelos minutos seguintes, notando como ela já estava
mais concentrada ao escutar uma música, analisando de fato, tanto a melodia como a letra.

         - É o Lucca, não é? – perguntou Rafaela assim que terminou a primeira.

         - Sim.

         Rafaela concordou com a cabeça enquanto o outro áudio tomava conta da sala. Depois de alguns minutos, a garota voltou a falar.

         - São músicas lindas! A segunda é incrível!

         - O que essa música te faz sentir? O que achou da letra e da melodia?

         - É animada, passa uma mensagem positiva de vida, não sei. É contagiante.

         - Contagiante... palavra perfeita. Será seu single com Lucca.

         Rafaela ficou olhando para Bruna por um longo minuto, absorvendo as palavras da produtora. Se virou para Victor ao seu lado que a olhava
com um sorriso.

         - É sério?!
         - É sim – respondeu Bruna sorrindo, por causa do rosto abobalhado de Rafaela. – Eu vou gravar a voz com Vitória, uma cantora que faz as bases
para a produtora, depois eu quero que grave a letra. Vou marcar uma reunião com Lucca e Matheus para decidirmos como será feito.

         - Uau! Caraca! Que massa!

         - E seu single já está definido também. Vamos gravar primeiro Ritmo Perfeito. Já vamos começar a trabalhar nele nessa semana. Quero ter ele
definido antes do seu aniversário.

         - Está mesmo acontecendo – sussurrou Rafaela ainda atônita. – Nem acredito nisso!

         - Está. Você acessou o Youtube para ver o vídeo que upamos na sexta?

         - Não, você não deixou.

         - Uma garota obediente – sorriu Bruna. – Está com duzentos e vinte e cinco mil visualizações até essa manhã.

         - Caramba!

         - Muitas criticas positivas, poucos deslikes. Você está nascendo grande! Quero as melhores músicas para te lançar e essas duas que escolheu são
perfeitas.

         Rafaela não se conteve em dar um abraço apertado em Victor e depois em Bruna. Sua primeira música, a música que marcaria sua vida para
sempre. Tinha certeza que tudo seguiria num “Ritmo Perfeito”.

         Naquela tarde, Bruna explicou exatamente como fariam seu lançamento no mercado. Primeiro iriam divulgar nas redes sociais, um vídeo de
letra e em seguida, mandaria para as rádios. Com duas semanas depois de lançado, fariam o videoclipe oficial. Rafaela escutou atentamente cada
palavra da produtora, ainda anestesiada por estarem discutindo uma música sua. Quando Bruna a dispensou para ir para casa, foi o caminho todo
pensando em tudo que tinha mudado de maneira tão rápido em sua vida.

         - Vi! – chamou assim que entrou no apartamento. – Cadê você?

         - Oi Rafa! – respondeu a loira, aparecendo no acesso dos quartos.

         - Eu já tenho uma música – falou a adolescente animada, indo lhe dar um abraço. – Você acredita nisso?! Eu tenho uma música!

         - Uau! Parabéns! Já gravou?

         - Ainda não! Bruna falou que outra pessoa tem que gravar primeiro, ai ela faz melodia, ou é ao contrário, nem sei. Depois eu gravo a voz... Ai
não sei, alguma coisa do tipo, nem entendi direito!

         - Fico feliz por você! Logo estará estourada em todo o Brasil!

         - Que loucura isso! – falou escutando o telefone tocar na bolsa. Pegou o aparelho e identificou uma chamada da produtora. – Oi Bruna.

         - O vídeo ficou pronto, acabei de receber. Vou passar ai no apartamento para que possa ver, antes de mandar para a agência.

         - Tá bom. Ficou legal?

         - Ficou muito bom. Eu vou passar ai e pode conferir você mesma.

         - Tá bom, estou te esperando.

         Rafaela desligou o telefone e deu um sorriso para a tela, antes de voltar a fitar Viviane.

         - Bruna está vindo. Vou tomar um banho para recebe-la.

         A adolescente saiu animada para o quarto, sob o olhar atento de Viviane. Entrou em um banho rápido e colocou um vestido leve para receber a
produtora. Por último, escovou o cabelo e saiu para a cozinha atrás de alguma coisa para beber. Não demorou mais que quinze minutos até escutar a
campainha da porta. O sorriso já estava presente no rosto, antes mesmo de enxerga-la.

         - Oi Bruna.

         - Oi Rafa! Não vou perder tempo com rodeios, porque tenho que enviar para a agência. Prometi que receberiam o material hoje ainda.

         - Estou super curiosa! Quero ver como ficou. A gravação foi tão estranha.

         - Ficou ótima! Não se preocupe – respondeu Bruna seguindo a adolescente até a mesa da sala de jantar. Colocou o computador em cima do
tampo de vidro e abriu, para a acessar o arquivo em seguida. Rafaela puxou uma cadeira e se sentou ao seu lado, olhando para a tela. – Pronta?!

         - Ai Bruna! Para de suspense!

                A produtora sorriu enquanto colocava a gravação para rodar no computador. Rafaela assistiu, com um sorriso fixo no rosto, conferindo o
trabalho que haviam feito. Parecia mesmo que estava num deserto e não em um estúdio todo forrado de verde. Assim que finalizou, tomou a
iniciativa de dar o play outra vez, encantada com o que via na tela.

         - Ficou incrível! – falou, por fim. – Parece mesmo que estava no deserto!

         - Ficou muito bom! Se tivéssemos mais tempo e mais investimento nos efeitos, poderia ficar como um videoclipe mesmo.

         - E não é?

         - Não. Estou te apresentando para um cliente. Isso é apenas um material interno que não será divulgado.

         - Entendi. Quando vão dar a resposta?

                - Depende do contratante. Pode ser até o final de semana, ou o final da quinzena. Não vai demorar muito porque temos que fazer toda a
produção entre Junho e Julho para começarem a veiculação em final de Agosto, inicio de Setembro.
         - Demora, ne?! Ainda nem estamos no inverno e já estão fazendo a coleção da primavera.

         - Sim, o calendário é outro – respondeu Bruna. – Eu vou mandar isso aqui, só um minuto.

         Rafaela assentiu com a cabeça e ficou observando Bruna, concentrada na tela do computador. Deixou seus olhos correrem para as feições sérias
da produtora, depois os braços tatuados revelados parcialmente no casaco com a manga alçada até o cotovelo. Mordeu o lábio inferior ao se lembrar
do que havia pensando com ela, mas se arrependeu em seguida, levantando-se para ir tomar uma água e conter as faces que certamente haviam
ficado vermelhas.

         - Pronto – falou Bruna, desviando a atenção do computador. – Agora é só esperar.

         - Tomara que dê certo.

         - Se não der, temos várias outras coisas para fazer, não se preocupe. Mas, pela minha experiência, acredito que irão aprovar. Você tem carisma,
o vídeo ficou ótimo, o único empecilho é se insistirem em um rosto nacional, mas com o orçamento que estão colocando, é quase impossível.

         - O cachê é mais caro, né?

                - Sim. Seu cachê ainda é mais em conta porque não é um rosto conhecido do grande público. Daqui uns seis meses, menos até, já pula de
cinquenta para cem mil. É gradativo.

         - Meu cachê é de cinquenta mil? – perguntou Rafaela boquiaberta.

         - Não para uma apresentação, mas para um comercial de veiculação nacional por quatro meses, é.

         - Caralho!

         - Não se empolga. Pode não dar certo.

         - Vai dar certo!

                - Se o contrato for firmado, realmente, vou te passar todos os detalhes na assinatura com a agência. Por enquanto é uma conversa e uma
maneira de colocar seu rosto em rede nacional.

         - Já imaginou?! Eu num comercial no intervalo da novela das nove?!

         - Já e estou contando com isso – riu Bruna. – Vai fazer o quê, agora?

         - Nada. Ia treinar um pouco dos exercícios que o Gilson me passou e depois ia ver série.

         - Isadora vai gravar até as onze da noite hoje, uma externa noturna. Não quer sair para beber alguma coisa?

         - E eu vou poder beber alguma coisa?

         - Claro! Refrigerantes estão ai pra isso!

         - Palhaça! Eu vou me arrumar. Já volto.

         Bruna assentiu com uma piscadinha e ficou observando Rafaela se afastar, a barra do curto vestido floral dançando, solta, sobre suas coxas.
Desviou os olhos e se levantou para ir até a janela, enxergar a cidade que começava a se iluminar com o anoitecer. Desde a festa de aniversário de
Alana, começava a ver coisas em Rafaela que antes não via, como a maneira como ela sorria, o jeito como ela umedecia os lábios com a língua e
como ela lhe lançava olhares pensando não ser notada. Tinha certeza que era um encantamento por conta de tudo o que estava fazendo para lança-
la. Com outras artistas, como já havia acontecido no passado, sempre procurava apartar, mas não sentia vontade de se afastar, pelo contrário, queria
ficar mais tempo junto a ela, como naquele momento em que a convidava para uma bebida.

         Pensou, por um momento, onde poderia leva-la. Como era uma noite de segunda, optou pelo bar Skye no Hotel Unique, que tinha uma vista
espetacular para a cidade. Pegou o computador enquanto esperava a volta da adolescente e começou a ver alguns e-mails que haviam ficado
pendentes. Rafaela apareceu depois de quarenta minutos, usando uma calça preta, colada em seu corpo e uma blusinha branca, solta e com um
decote mais revelador que o normal. Sorriu em sua direção e fechou o computador, sem terminar de enviar o email que estava respondendo.

         - Vamos? – perguntou a garota, sorrindo. O batom vermelho destacava seus lábios com perfeição.

         - Claro – consentiu Bruna, deixando de lado sua avaliação. – Vou te levar em um bar deslumbrante. Ele fica no topo de um prédio e como o
tempo está ótimo, podemos aproveitar a vista do terraço.

         - Opa! Já gostei – riu Rafaela saindo do apartamento.

         Durante o trajeto, Bruna contou a adolescente algumas coisas sobre sua vida pessoal, o tempo que havia passado morando em Londres, durante
sua adolescência e algumas das viagens que já havia feito. Rafaela mantinha toda a atenção concentrada no que falava e isso a incentivava a
continuar contando algumas das coisas que já havia feito.

         Assim que chegaram ao hotel, seguiram para o lobby e depois o elevador. Uma hostess guiou-as até a mesa e deixou a carta de bebidas, antes de
sair.

         - Uau! Que lugar lindo! – exclamou Rafaela depois de se acomodarem. Observava, encantada, a piscina iluminada em tons de vermelho, assim
como todo o ambiente. Mesas de madeira com grandes guarda-sóis e a linda cidade de São Paulo a perder de vista.

         - Eu gosto bastante daqui. Já fazia um tempo que não vinha.

         - Por que?

         - Isadora não curte tanto quanto eu.

         - Como não gostar de um bar como esse?! É lindo!

         - Dependendo do dia e horário, aqui fica lotado demais. Só a fila do elevador leva uns quarenta minutos. Fique à vontade para escolher o que
quiser, ok?
         - Caramba! Nem parece.

         - Porque viemos na segunda e começo da noite.

         Rafaela assentiu e passou os olhos pelo cardápio de bebidas. Nunca havia provado nada do que estava ali, e optou por um chamado Basílico,
enquanto Bruna pediu um vinho. Ficaram durante um longo tempo conversando sobre as músicas que Rafaela gravaria antes que a produtora
desviasse o assunto para qualquer coisa que não fosse de cunho profissional.

         Na segunda taça de vinho, puxou Rafaela para o mirante, para observar a cidade. Ainda segurando sua mão, ficou mostrando para a jovem os
lugares possíveis ver do alto.

         - Tanta coisa para se descobrir em São Paulo – falou Rafaela com um sorriso, se virando para Bruna. – É incrível.

         - É sim. Eu amo essa cidade. Já pensei em mudar a produtora para o Rio, mas não consigo me ver longe daqui.

         - O Rio também é lindo!

         - Sim, mas prefiro ele mais a trabalho ou passeio. Só um minuto – pediu a produtora ao sentir seu celular vibrar. – Oi Ramon, o que achou? Sim,
ela é incrível, ok, fico no aguardo. Valeu cara!

         Bruna desviou os olhos para Rafaela que estava concentrada na vista da cidade, enquanto bebericava seu drink.

         - A agência de publicidade aprovou seu vídeo. Vão enviar para o cliente.

         - Isso é uma boa notícia, não é?

         - É sim, passamos por uma etapa!

                O sorriso de Rafaela se tornou maior ao abraçar Bruna, em um agradecimento. Deixou o abraço se prolongar enquanto deixava as mãos
correrem pelas costas da produtora em uma caricia. Sentiu as mãos de Bruna também passearem por suas costas e enfiou a cabeça em seu pescoço,
sentindo seu perfume, o mesmo que a tinha inebriado dentro do elevador, quase uma semana antes.

         - Vamos voltar pra mesa? – perguntou Bruna afastando o suficiente para fitar o rosto de Rafaela. Uma coisa era não querer se afastar, outra,
totalmente diferente, era dar brechas.

         Rafaela apenas concordou com a cabeça, sem desviar o olhar dos olhos verdes da produtora que perscrutavam seu rosto. Se adiantou e deu um
beijo demorado em seu rosto, antes de se afastar com um sorriso.

         - Quero mais um drinque desse!

***********

Anitta – Ritmo Perfeito

https://www.youtube.com/watch?v=aMWa2DLEcIw

Notas finais:

Lindonas, seguinte, eu amo vcs tá bom, não se esqueçam disso. E me prometam que continurão
lendo depois de sexta hehehehee pfvr <3 <3 <3

Bjokassssssssssssssssssss

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Capitulo 20 - Indivisível por Drikka Silva
Bruna se despediu de Rafaela e ficou observando-a caminhar até a portaria do prédio e entrar em seguida. Se encostou contra o banco e
fechou os olhos, para passar as mãos na cabeça em seguida. Voltou a olhar para a rua a frente e apoiou a mão esquerda no volante. Enxergou a
aliança dourada no anelar esquerdo e suspirou fundo, antes de se virar para a portaria mais uma vez. O que sua maldita mente estava pensando?
Era completamente arbitrário que Rafaela lhe despertasse algum desejo. Por mais que ela tivesse atrativos, visto que já tinha uma vida sexual ativa e
hormônios correndo loucamente pelo corpo, definindo seu físico de mulher, ainda era uma adolescente prestes a completar dezessete anos.

O celular vibrou com uma mensagem de Isadora. Olhou para a tela acesa por um tempo, ficou contemplando sua beleza, seus olhos intensos
a encarando, como se pudesse vê-la naquele momento. Abriu a mensagem e deu um sorriso ao ver o conteúdo: uma foto tirada na frente do espelho,
somente de calcinha e cobrindo os seios com um braço. “Já em casa”. Deixou o celular de lado e desviou os pensamentos de Rafaela, guiando para a
casa da esposa. Assim que chegou, encontrou a ruiva, deitada de bruços na cama, folheando alguns papéis. Usava somente a calcinha com a qual
tinha tirado a foto.

- Oi meu amor – cumprimentou Isadora com um sorriso.

Bruna se adiantou para beija-la, antes de se afastar para fitar seus olhos.

- Oi minha gostosa. Gosta de me provocar, não é?!

- Eu sabia que não demoraria nem meia hora para chegar aqui depois que visse a foto.

- Você sabe que sou tarada no seu corpo – respondeu Bruna tirando a camiseta. Beijou a esposa mais uma vez antes de subir na cama. A
ruiva continuava de costas e se sentou sobre suas pernas, acariciando seu bumbum e suas costas. Enfiou a mão direita por dentro da pequena peça e
apoiou a esquerda na cama se debruçando sobre o seu corpo. Os dedos correram para o sexo, em uma lenta masturbação enquanto a boca ia para
seu ombro e pescoço.

- Que delícia, amor – sussurrou Isadora ao empinar mais o bumbum para a esposa. – Adoro quando chega cheia de tesão assim.

- E como não chegar?!

Isadora gemeu mais alto quando a mão de Bruna, em seu sexo, se tornou mais exigente. A produtora se afastou para tirar o restante das
peças que ainda cobriam seus corpos e voltou para cima da esposa, agora completamente nuas. A atriz voltou a gemer com suas investidas em seu
sexo e a boca que deslizava nas suas costas. Bruna fez com que ela ficasse completamente empinada e deixou a boca ir para o seu bumbum e depois
o sexo. Fechou os olhos se concentrando no corpo da esposa, mas a mente, num momento fugaz, trouxe Rafaela para a cama. Era a jovem cantora
que rebolava na sua boca e pedia para gozar gostoso.

Se afastou para enxergar o espelho na frente da cama e Isadora com a tez ofegante a encarando. Voltou os olhos para o corpo da esposa e a
virou de frente a ela, para enxergar seus olhos.

- Algum problema? – perguntou Isadora com a respiração alterada.

- Nenhum. Eu te amo, muito, muito.

- Eu também te amo, minha linda.

Bruna deixou o corpo repousar sobre a esposa e beijou sua boca, demoradamente, antes de voltar a descer pelo seu corpo. Fechou os olhos
mais uma vez ao provar seu sexo, mas a mente, outra vez, trouxe Rafaela para o ato. Voltou a abrir os olhos, sem interromper o oral, e os ergueu
para enxergar Isadora a encarando com os olhos cheios de desejo. Deixou uma mão correr para o seu seio, ao passo que a outra enlaçava sua coxa.
Ao voltar a olhar para o rosto da esposa, enxergou Rafaela com os braços apoiados na cama, novamente rebolando na sua boca. Fechou os olhos para
que suas reações não a traíssem e se entregou à loucura do momento, intensificando suas chupadas, até senti-la gozando em sua boca.

Rafaela chegou à produtora e novamente viu que o carro de Bruna não estava no lugar costumeiro. Já faziam oito dias, desde que tinham
ido ao bar e, depois disso, a produtora havia sumido, concentrando seu trabalho na sede da Spagnatto. Durante esse tempo, Victor lhe acompanhava
em todo o trabalho, orientado por Bruna, que lhe passava as instruções por telefone. Haviam trabalhado a música Ritmo Perfeito, que já havia sido
gravada por Vitória, que seria seu primeiro single, assim como, ensaiado e gravado o segundo vídeo do Youtube sem a presença da produtora, além
de gravar a música que Lucca havia enviado, de forma amadora, apenas para que o cantor conhecesse sua interpretação da música. Não havia
sentido falta de nada no sentido profissional, pelo contrário, parecia que todos estavam mais empenhados ainda para que nada lhe faltasse, mas
tinha se acostumado com a presença de Bruna o tempo todo e, mesmo sabendo que um dia ela voltaria a se dedicar ao seu trabalho e a gravadora,
ainda assim era ruim não tê-la por perto sempre.

- Bom dia, Lumia! – cumprimentou Victor ao vê-la entrar no estúdio. – Como foram as aulas?

- Gilson me disse que essa semana é a última. Já está bom de aulas? Digo, tem dois meses que estudo com ele.

- Sim. Bruna pediu que você já pare as aulas para ser colocada outra aula no lugar. Você vai começar a ter aulas de idioma, além do ensaio
da nova música.

- Mas já estamos ensaiando junto com a outra...

- Ah não, ensaio de dança. Bruna vai te gravar hoje a tarde e já vamos passar para a coreografa que vai trabalhar a parte visual.

- Bruna vai vim pra cá? – perguntou Rafaela na única informação captada.

- Sim. Vamos gravar seu primeiro single, trabalhar a pós-produção e já mandar para as mídias. Já temos também definido o conceito do
videoclipe. Será gravado todo em um galpão, vários efeitos de luzes, uma balada, dançarinas te acompanhando. Vai ficar muito foda!

- Quando será gravado?

- Creio que no outro final de semana. Só temos que ver como se sai para pegar a coreografia.

- Não leva tempo para a coreografa fazer toda a coreografia?


- Uns três dias. Vamos no estúdio dos fundos, quero te apresentar suas backing-vocals. A partir da próxima música que vai pro Youtube, já
vai começar a trabalhar com elas.

- Que massa!

- E parabéns, hoje é seu aniversário, não é?

- Sim! Estou fazendo dezessete anos.

- Logo mais chega os dezoito.

- Não vejo a hora!

- Não se empolgue. Depois passa voando numa velocidade que vai desejar ter dezessete outra vez.

- Acho que não.

Rafaela saiu atrás de Victor, sem se atentar ao fato de que não havia mais ninguém circulando pela produtora. Assim que chegaram no
estúdio indicado, tudo estava escuro e se virou com uma cara desconfiada para Victor que se afastava até interruptor. Tomou um susto quando um
coro de “surpresa” tomou conta do lugar. Se virou para enxergar todos os presentes, amigos e colegas de trabalho que havia ganhado durante os três
meses que passara trabalhando ali. Abriu um enorme sorriso ao ver a banda, Bianca, Carla, Jéssica, os funcionários da produtora e, principalmente,
Bruna e Isadora.

- Vocês querem me matar do coração?! – exclamou feliz.

Não teve tempo de resposta, pois todos começaram a cantar parabéns. Amanda entrou no espaço, empurrando um carrinho com um bolo
em cima enquanto Victor colocava um colar florido no seu pescoço e um chapeuzinho de aniversário.

- Ai gente! Obrigada! – agradeceu quando conseguiu falar. – Vocês são incríveis! Jessi! – finalizou para ir agarrar a amiga de infância.

- Parabéns amiga!

- Caramba! Que bom ter você aqui!

- Minha linda! – falou Isadora se aproximando. – Parabéns! Sucesso na sua jornada! Espero que goste da surpresa!

- Eu amei! Vocês são demais!

- Parabéns, Rafa – falou Bruna se aproximando. – Muito sucesso!

Rafaela se desviou dos braços de Isadora para dar um abraço apertado em Bruna. Externou no abraço a falta que havia sentido dela
naqueles dias em que tinha passado afastada, assim como todo o agradecimento por estar ali, naquele dia. Se não fosse por ela, nada daquilo seria
possível.

- Obrigada, Bruna. Por tudo.

A produtora se afastou com uma piscadinha na sua direção, antes de voltar para o lado de Isadora e enlaçar a cintura da esposa. Ficou
assistindo enquanto Rafaela cumprimentava cada pessoa presente e recebia os presentes que lhe direcionavam, agradecendo entusiasmada. Tinha
decidido se afastar depois da noite em que havia idealizado a jovem em sua cama e não sua esposa. Havia tido sucesso: desde que tomara a decisão
de ficar longe, Rafaela não tinha mais invadido seus pensamentos. Por um lado, achava ótimo, mas do outro, o profissional, se sentia em dívida com
a jovem e era essa parte que estava falando mais alto. Ela era a madura e a pessoa esclarecida ali, tinha que se focar no que era importante, no
lançamento de Lumia, e deixar suas próprias sandices de lado.

A tarde passou animada enquanto todos se divertiam. Rafa se sentia leve, feliz por estar comemorando um aniversário pela primeira vez,
sem que fosse em algum baile funk, carregado de álcool. Quando o relógio marcou três horas da tarde, Isadora se despediu das pessoas e chamou
Rafaela para a sala da esposa.

- Bom, Rafa, você sabe que vou viajar, não é? Amanhã cedo vou para a Califórnia.

- Bruna tinha me falado. Vou sentir sua falta! Mesmo que a gente não se via muito, ainda se via, ne?

- Eu vou voltar sempre que puder. Quero que fique bem aqui, que continue se dedicando à musica, crescendo! Eu vou te mandar mensagem
quando já estiver com um numero de telefone lá. Vamos nos falar sempre.

- Te garanto que sempre vai receber noticias boas minhas.

- Eu espero que sim. Quero ver sua estrela brilhando, quero ver você grande!

- Farei de tudo para que isso aconteça – prometeu a jovem.

- Me dá um abraço? Vou acompanhar tudo de perto, mesmo que esteja distante. Saiba que gosto muito de você, minha filhotinha!

- Obrigada por tudo, Isadora, jamais vou decepciona-la e nunca vou esquecer tudo o que fez por mim.

Isadora deu um abraço demorado na adolescente, antes de esticar uma caixinha com o presente de aniversário.

- Quero que use sempre, e se lembre que mesmo distante, pode contar comigo para qualquer coisa.

Rafaela abriu a caixinha para encontrar um colar de ouro branco com um pingente com uma pedra solitária.

- Que lindo, Isadora!

- Isa. Me chama de Isa.

- Obrigada, Isa! É lindo!

- Seu primeiro diamante. Quero que brilhe tanto quanto ele.


Rafaela não conseguiu mais segurar o bolo que se formou em sua garganta e chorou ao abraçar Isadora apertado. Nunca poderia esquecer
tudo o que a atriz estava fazendo por ela.

Bruna entrou na sala e encontrou Rafaela abraçada com a esposa. Ficou em um canto enquanto escutava Isadora falar com Rafaela, lhe
encorajando com suas palavras. A adolescente apenas assentia com a cabeça, absorvendo suas palavras. Bruna foi para o lado das duas e deu um
beijo na cabeça de ambas, antes de ser puxada para o abraço.

- Bom, agora vamos colocá-lo, não é? – falou a atriz pegando a joia dentro da caixinha. Fez Rafaela se virar e colocou a peça no pescoço da
adolescente, que tentava conter as lágrimas. – Linda!

- Nossa! É lindo demais! – exclamou Rafaela.

- Agora vamos ao meu presente – falou Bruna ao dar a volta na mesa. Pegou uma caixa e direcionou para a adolescente.

- O que será? – conjecturou Rafaela ao receber com um sorriso.

- Seu segundo contrato. O primeiro foi comigo.

Rafaela olhou com uma cara estranha para Bruna e depois para Isadora. Abriu a caixa e encontrou um envelope por cima. O deixou de lado
e tirou as folhas que seda que guardavam uma bela sandália preta.

- Que linda, Bruna! Obrigada!

- O presente não é a sandália – respondeu Bruna com um sorriso.

- Olha o envelope – sugeriu Isadora.

Rafaela olhou para a ruiva e depois para Bruna. Pegou o envelope e abriu um sorriso enorme ao ver o logo da marca de calçados Lovatus e
abaixo a palavra contrato. Leu as primeiras linhas atônita.

- Eles aceitaram! Eles aceitaram que eu seja a cantora para o comercial!

- Começamos a trabalhar a música essa semana. Na quinta, para ser mais exata. Amanhã vou te gravar para o single e temos uma reunião
com Lucca e Matheus. Tem muito trabalho pela frente mocinha!

Rafaela deu a volta na mesa e deu um abraço apertado em Bruna, e um beijo demorado em seu rosto. Voltou a abraçar Isadora,
agradecendo ambas por tudo. Eram seus primeiros passos no mundo artístico.

        

Isadora se despediu da adolescente, seguida de Bruna. Iriam aproveitar os últimos momentos que tinham juntas, antes da sua viagem na
manhã seguinte. Foram direto para o apartamento e ficaram o tempo todo juntas, no quarto de hospedes enquanto a assessora da atriz, junto com
duas assistentes, organizava tudo o que levaria dali. Bruna iria recolher suas coisas pessoais ainda aquela semana.

- Vou sentir tanto sua falta – falou Bruna acariciando o corpo nu da esposa sobre o seu. – Mais do que imagina.

- Eu também vou sentir sua falta. Um ano passa rápido.

- Não vamos contar apenas um ano. Tenho certeza que assim que estrear já irão fechar contrato para mais uma temporada.

- Mas as gravações não serão grudadas uma na outra.

- Tem a divulgação, outros trabalhos que pode aparecer por lá e eu sei que não vai recusar. Não entenda isso como uma crítica, pelo
contrário, quero te ver grande, mas eu sei que esse é o momento em que eu tenho que deixar você ir.

- Meu lugar é aqui, com você. Eu posso ir, mas eu sempre vou voltar.

- Não vamos nos torturar antes do tempo. Saiba que tem meu apoio para tudo que fizer. Você vai longe, minha linda. E com o empresário
que tem, o céu é o limite pra você.

- Você está falando como se fosse uma despedida...

- É uma despedida. Momentânea, mas é uma despedida. Uma coisa é ficarmos separadas por dias, semanas, mas meses e com um continente
inteiro no meio, é um pouco mais complicado.

- Podia ter me falado isso antes de aceitar o papel.

- Mas você tinha que aceitar mesmo. Não pode deixar de fazer as coisas que quer, não ir em busca da carreira que sonha. Me sentiria
péssima se não aceitasse por minha causa. Eu sei que é seu sonho, seu objetivo. Lembra quando me confidenciou que queria protagonizar um filme
em Hollywood? É em busca disso que está indo, e quero que alcance, sem pensar em nada.

- Eu te amo.

- Eu também te amo, muito. E por te amar tanto assim que te digo, essa é a hora de deixar você partir. Você é extraordinária, Isa, um ser
humano ímpar, de um grande coração, generosa, uma mulher linda e talentosa. Você vai conseguir tudo o que deseja, e se eu não estiver ao seu lado,
pode ter certeza que estarei na primeira fila, na plateia.

- Você está... Você acha que vamos nos separar?

- Acho que você tem que se focar. Faça o seu trabalho da melhor maneira possível. Eu estarei aqui, te aplaudindo.

- Você não cogita em ir para a Califórnia, não é?

- Não posso. A produtora era o sonho do meu avô, sua vida, assim como foi a do meu pai, como é o sustento da minha mãe. Não posso deixar
na mão de terceiros. Não quero deixar na mão de terceiros. Ela também é minha vida. Quero deixa-la para o futuro, e quero fazer isso da melhor
maneira possível.
Isadora não conteve uma lágrima que inundava seus olhos. Se aproximou do rosto da esposa e deu um beijo demorado em seus lábios,
antes de abaixar a cabeça e encaixa-la no seu pescoço. O choro se tornou mais alto enquanto a agarrava com força. Entendia bem o que aquela
escolha significava: estava indo em busca de um sonho, um que cultivava desde criança, e agora que tinha essa oportunidade, teria que abrir mão de
algo, a mulher que havia preenchido seus últimos anos com amor e felicidade incontáveis. Jamais esqueceria Bruna, mas sabia que também não
podia pedir que ela abrisse mãos dos seus próprios sonhos para viver os seus. Não podia condiciona-las a encontros cinco vezes por ano. Tinha
noção de que faria testes nos estúdios de Hollywood, que iria atrás de novos papéis no mercado americano. Não era mais uma criança, sabia o que
aquela mudança significava.

- Eu te amo...

Bruna abraçou Isadora com força enquanto suas próprias lágrimas banhavam seu rosto. Havia pensado durante uma semana no que diria
naquele momento e era tão irreal que aquilo estivesse acontecendo, algo que julgou que nunca aconteceria, mas tinha que começar a ver sua vida
sem Isadora. A amava demais para prendê-la.

- Eu te amo...

Isadora se afastou para secar as lágrimas e fez o mesmo no rosto de Bruna, antes de puxa-la para um beijo cheio de carinho, externando no
ato, o sentimento dito em palavras. Se amaram com intensidade, uma despedida momentânea.

Passaram a noite inteira acordadas, conversando, rindo, chorando, se amando. Quando o sol despontou, Isadora se levantou para se
arrumar. Bruna tomou um banho e se vestiu, para encontrar a esposa sentada na beirada da cama.

- Quero te pedir duas coisas – falou Isadora secando as lágrimas. – Não vamos anunciar nada ainda. Pode não ser definitivo. Eu não quero
que seja definitivo. Por enquanto vamos manter como está.

- Não vou divulgar nada.

- Outra coisa, cuida da Rafaela. Ela pode ficar naquele apartamento o tempo que for. Mas não deixa ela de lado. Eu sei que está fazendo tudo
isso porque lhe pedi, e estou te pedindo novamente, só deixa ela quando ela já puder caminhar sozinha, com uma boa equipe e um bom empresário.

- Farei isso.

- Você foi a minha melhor parte nesses anos. Obrigada.

Bruna ajoelhou na frente da esposa sem conter novas lágrimas. A beijou demoradamente, sentindo o coração em pedaços. Se afastou e fitou
seus olhos, secando suas lágrimas.

- E você foi a minha. Eu sempre vou te amar. Você tem um lugar só seu no meu coração.

Isadora assentiu com a cabeça e deu outro beijo nos lábios de Bruna, antes de se ajoelhar no chão e a abraçar apertado. Se levantou e saiu
do quarto, antes que desistisse da mudança.

Bruna se esticou o suficiente para tocar a cama bagunçada, enquanto os soluços tomavam conta do aposento. Torcia para que Isadora
Maranes tivesse o melhor que a vida pudesse lhe proporcionar.

*************

Deborah Blando – Indivisível

https://www.youtube.com/watch?v=qJcBtMk3gKM

Notas finais:

Oi oi lindonas!

Fãs da Isadora, amo vcs hehehhee

Bjokasssssssssssssss

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Capitulo 21 - With Every Heartbeat por Drikka Silva
Bruna chegou na produtora e seguiu direto para sua sala, sem falar com os funcionários que encontrou pelo caminho. Depois da saída de
Isadora, ainda tinha passado parte da manhã, jogada nos lençóis, analisando se tinha agido corretamente, se de fato, era aquilo que queria. A ideia
de ficar sem Isadora não era, nem de longe, a melhor coisa do mundo, mas tinha consciência de que não podia prende-la. A amava demais para ser
egoísta a ponto de pedir que ela não fosse em busca dos seus sonhos, sua carreira internacional que tanto almejava. Como havia dito, na noite
anterior, ela teria sempre um lugar especial em seu coração, mas sabia que tinha que deixa-la partir.

- Victor, na minha sala, por favor.

Esperou por cinco minutos até ver o homem aparecendo na sua frente.

- Rafaela, onde está?

- Na sua última aula de canto. Chega daqui uns quarenta minutos.

- Já deixe o estúdio um preparado. Vou grava-la nele. Onde está o material que ensaiaram?

- Vou pegar, já volto.

Victor saiu da sala e fez uma careta para Amanda, que vinha pelo corredor.

- Se prepare, hoje ela está azeda!

- Não duvido! Com essa mudança de Isadora, não deve estar num dia dos melhores! Vamos enfrentar a fera!

Victor voltou depois de cinco minutos e repassou para a chefe o trabalho que havia realizado com Rafaela. Bruna escutou em silencio, antes
dispensa-lo. Olhou por um longo tempo para o teclado do computador a frente, antes de sair da sala, em direção ao banheiro no segundo andar.

Rafaela entrou na produtora e foi recebida por Victor. Estava animada pela primeira gravação que faria de uma música sua.

- Se prepara que hoje Bruna ta virada do avesso!

- Aconteceu alguma coisa?

- Isadora se mudou para os Estados Unidos hoje. Ela vai curtir uns três dias de bad.

- Verdade. Tinha esquecido. Deve ser bem ruim ficar longe de quem ama.

- Sim, mas tenho certeza que vão contornar o inconveniente. Preparada para gravar sua primeira música?

- Extremamente nervosa! Tomara que Bruna não brigue comigo!

- Ela não briga. Olha torto, mas não briga.

- Você vai ficar no estúdio também, não vai?

- Vou, não se preocupe. Tudo vai dar certo!

Rafaela assentiu com um aceno e seguiu para o estúdio que Victor havia lhe indicado. Carla já estava presente e deu um abraço da amiga,
antes de pegar uma garrafinha de água e se sentar em uma cadeira, treinando os exercícios de canto. Não demorou para que Bruna aparecesse,
desejando bom dia. A produtora usava óculos escuros para esconder seus olhos, mas tinha certeza que por baixo da armação, eles estavam
vermelhos de chorar. Não fazia a mínima ideia de como era se despedir que alguém que se ama, para ficar longe por meses, mas não achava que era
pra tanto. Ambas tinham dinheiro, podiam viajar para se verem quando quisessem.

Deixou as conjecturas de lado, observando Bruna trabalhar na mesa de som e depois puxar um teclado, para se sentar rente ao instrumento
em seguida.

- Vamos repassar o que ensaiou, quero te escutar crua, primeiro.

- Ok – assentiu Rafaela indo para o lado da produtora.

Logo Bruna começou a tocar a música que havia ensaiado durante os dias que haviam ficado longe. Começou a cantar, a partir do ponto
marcado, mas a velocidade da melodia que Bruna estava tocando, era diferente do que haviam ensaiado.

- Bruna, podemos aumentar um tom – falou Victor que também estava atento ao que a produtora fazia.

Bruna se afastou do teclado e passou as mãos no cabelo, antes de se virar para Victor.

- Onde está a gravação?

Victor se afastou para ir buscar o computador, ao passo que Rafaela e Carla trocaram um olhar.

- Você pode deixar eu e a Bruna sozinhas um pouco, Carla? – pediu Rafaela para a ruiva.

A jovem apenas concordou com um aceno, enquanto Bruna a encarava.

- Me desculpa, Rafa, eu estou um pouco aérea com a mudança da Isa.

- Normal que esteja. Eu pedi pra Carla sair porque quero conversar com você. Não precisamos fazer isso hoje. Vai curtir sua bad em casa,
amanhã podemos fazer essa gravação.

- Curtir minha bad?

- É. Está bem claro isso. Isadora só está viajando, Bruna. Não é o fim do mundo. Em um mês ela volta, ou você pode ir encontrar com ela.
- É o fim.

- Como se não estivesse acostumada com as viagens dela. Passa rapidinho! Você vai ver.

- Essa não é só uma viagem, é uma mudança. Em todos os sentidos.

- Não combina com você ser dramática desse jeito. Mulher, ela só foi trabalhar fora!

- Nós terminamos, Rafa.

Rafaela ficou em silêncio, absorvendo as palavras da produtora. Viu ela tirar os óculos escuros e secar uma lágrima que escorria pela face.

- Por que terminaram? Vocês fazem um casal tão lindo! Você está com a aliança! Vocês não brigam!

- Talvez isso seja o pior. Sabe aquela velha frase de “agendas inconciliáveis” que tantos artistas usam? É a minha vez de usá-la. Eu conheço a
mulher com quem casei, ela vai atrás de outros papéis lá, vai se concentrar na carreira internacional e eu quero que ela se concentre – suspirou
Bruna. – Você é jovem ainda, mas vai entender que um relacionamento em uma distância como essa, não é possível de manter.

- Mas... Vocês nem tentaram...

         - Eu a amo, Rafa, e por amá-la tanto, eu sei que não posso prendê-la. Não posso fazer com que ela desista de papéis por minha causa, ou que não
dê o seu melhor lá porque está pensando em mim, aqui.

         - Não é meio radical isso?

         - É. E é melhor assim. Conto com a sua discrição. Não conta pra ninguém o que acabei de te falar.

         - Não vou contar, até porque não acredito que seja definitivo.

         - Vamos te gravar.

         - Não. Vamos sair pra beber alguma coisa, almoçar, depois fazemos a gravação.

         Bruna balançou a cabeça com um meio sorriso, antes de se levantar e colocar os óculos escuros novamente. No corredor, encontraram Carla
parada ao lado de Victor. A produtora anunciou que iria almoçar com Rafaela e retomariam a gravação na parte da tarde.

         No restaurante escolhido por Bruna, Rafaela tentou manter uma conversa amena, tentando animar a produtora. A morena se concentrou em
duas taças de vinho, antes de começar a se sentir melhor. Ao final da refeição, já tinha melhorado o humor em quarenta por cento.

         De volta à produtora, Bruna informou que iriam passar a melodia de Ritmo Perfeito e depois iria começar a grava-la. Naquela mesma tarde,
ainda receberiam Lucca e Matheus para acertar os detalhes da parceria.

         - Pronta, Lumia? – perguntou Bruna, já sorrindo, ao se sentar no teclado novamente.

         - Pronta! – respondeu a adolescente animada.

         Bruna escutou a melodia mais uma vez antes de começar a tocar para que Rafaela cantasse. Interrompeu a primeira vez antes de chegar no
refrão, corrigindo sua voz.

         - Você pode colocar uma forte entonação aqui – falou Bruna para cantalorar em seguida. – Ligados no mesmo caminho, podemos dançar a noite
inteira... Podemos fazer esse tom mais forte, porque aqui vai entrar as batidas eletrônicas.

         - Certo.

         Rafaela repetiu mais uma vez, antes que Bruna interrompesse em outro ponto.

         - Voz de peito, Rafa. Esse é o momento de mostrar a todos a que veio. É nesse refrão que todos irão sentir os pelinhos dos braços se arrepiarem.

         A adolescente concordou mais uma vez, e fez como solicitado. Depois de cinco passagens, Bruna pediu que fosse para o estúdio e começaram, de
fato, a gravação.

                Durante as duas horas seguintes, Bruna se dedicou a gravar Rafaela, junto com Victor e Fernando, seu técnico de som. Colocou a base que
Vitória havia gravado para acompanhar a adolescente e o trabalho fluiu com rapidez. A jovem era dedicada, havia gravado tudo o que haviam lhe
passado durante os ensaios e as orientações de Bruna, antes de entrar no estúdio. Via, gravava e aprendia com a mente vivaz, aguçada e
concentrada. Rafaela era uma esponja e havia absorvido tudo que haviam lhe ensinado.

         - Muito bom! – falou Bruna ao escutar o que haviam gravado. – Você é incrível, Lumia!

         - Já deu? – perguntou a adolescente ao sair do aquário.

         - Sim. Por ora, sim. Amanhã, na parte da manhã, vou começar a trabalhar na pós produção, gravar a banda e as mixagens. Quero mandar para a
coreografa na sexta.

         - E o que eu vou fazer?

         - Na parte da manhã irá conhecer sua professora de inglês, a Camila. Ela vai até o apartamento às oito da manhã. Depois você vem para a
produtora para gravar a música que será upada na sexta. À noite vou na sua casa e vamos começar a trabalhar Rain que é a música para o comercial.

         - Massa!      

         - Bruna – chamou Amanda ao entrar no estúdio. – Lucca já chegou com a equipe.

         - Obrigada, Amanda. Quero que acompanhe a reunião, por favor. Victor também. Fernando, reúna tudo o que gravamos hoje, já compacta e
descarta as partes que não achar bacana. Vamos, Rafa? Sua primeira reunião de negócios.

         A adolescente apenas sorriu ao aceitar a mão estendida na sua direção. Sua primeira reunião de negócios.
         Bruna entrou na sala de reuniões e cumprimentou Lucca, Matheus e Nathalia, assessora do cantor. Rafaela fez o mesmo, antes de escolher uma
cadeira para se sentar com Amanda ao seu lado.

         - Bom, vamos tratar do novo hit do verão do próximo ano – falou Bruna ao dispensar o celular sobre a mesa.

         - Opa! Já quero gravar amanhã! – respondeu Lucca com um sorriso.

         - Não vejo a hora! – concordou Rafaela.

         - Como já havia lhe passado no e-mail, Matheus, curtimos Enquanto Estiver Aqui, música que acredito que explora bem a voz de ambos e dá uma
boa divisão no dueto. O que acha Lucca?

         - Eu gosto bastante dessa música. Compus ela quando voltava de um show em Manaus.

         - E fez um excelente trabalho! Como disse Lumia, é contagiante!

         Na hora seguinte, Rafaela assistiu Bruna, Matheus, Victor e Lucca discutirem como e quando seria gravada a música. Se concentrou em cada
palavra dita, aprendendo como funcionava a criação de um feat. Quando questionada, apenas concordava com o que Bruna já havia falado antes.

         - Na questão do direito autoral, Lucca permanece com a parte moral – falou Matheus. – Já o direito patrimonial fica divido entre as três partes.
Pode ser assim, Bruna?

         - Não vou cobrar para fazer essa música, pode ser divido entre os dois. Como representante da Rafaela, nesse momento em que ainda estamos
empresariando-a, é só o que pedimos.

         - Ok pra mim – respondeu Lucca.

         - O que isso quer dizer? – perguntou Rafaela perdida.

         - Que o Lucca aparece como compositor da música, isso são os direitos morais, mas não envolve financeiro. Já o patrimonial, que envolve o
financeiro, fica divido entre os dois, já que ambos serão os interpretes da música.

         - Acho que entendi.

         - Depois eu te explico tudo certo.

         Rafaela concordou com um aceno e ao final da reunião elegeram o escritório de advocacia da Spagnatto para cuidar do contrato. Se despediram
do cantor e sua equipe, deixando acertado para gravarem em quinze dias.

         - Já vamos escolher uma segunda música pra você – Bruna anunciou para Rafaela. – Assim que Ritmo Perfeito e Enquanto Estiver Aqui já forem
lançados, quero ter algo seu já pronto.

         - E será uma daquelas cinco que escolhemos?

         - Sim.

         - Bacana!

         - Por hoje finalizamos. Eu vou curtir minha bad em casa e você vai para o psicólogo, não se esqueça.

         - Fica bem, tá?! Logo você encontra sua ruiva de novo.

         Bruna sorriu para a adolescente e deu um abraço seguido de um beijo no seu rosto, antes de sair para sua sala, pegar suas coisas e depois o
carro. Passou em um barzinho e ficou bebendo lentamente, deixando a mente vagar nas lembranças de Isadora. Ao chegar em casa, cumprimentou
Rute e subiu para o quarto. No closet, várias coisas de Isadora ainda estavam ali, e como se fosse uma premonição, o celular tocou com uma
chamada internacional.

         - Oi meu amor.

         - Oi minha linda. Cheguei aqui.

         - Como foi a viagem?

         - Dolorosa. Pensei seriamente em comprar uma passagem de volta ao Brasil no aeroporto mesmo.

         - Você não é louca de fazer isso. Daqui dois dias começa o laboratório, não é?

         - Sim.

         Um longo silêncio tomou conta da ligação enquanto Bruna olhava ao redor do closet, vendo as coisas pessoais da esposa ainda ali, como se ela
fosse voltar a qualquer momento.

         - O que eu faço com suas coisas que estão aqui em casa?

         - Pede pra Rute embalar tudo e levar para o apartamento, se não quiser manter elas aí.

         - Não quero. E não digo isso por qualquer mágoa, mas sim porque vai me lembrar você o tempo todo.

         - Está certo, Bruna.

         - Linda, não fique chateada, só não quero ficar me lamentando toda vez que vier trocar de roupa.

         - Tudo bem. Eu... Eu entendo. Também não tenho um guarda-roupas seu aqui me acompanhando. Vê se a Rafaela não quer alguma coisa.

         - Não quero que ela também fique me lembrando você.

         - Uau... Está mesmo decidida...


         - Estou e peço que entenda meu lado.

         - Vou tentar. Vou vender o apartamento do Leblon e o do Jardim Europa para comprar um aqui. Quer ficar com algum dos dois? Ou os dois?

         - Não. Aquele apartamento do Rio deve estar valendo uns quarenta milhões. Não tenho dinheiro para isso.

         - Eu te vendo ele parcelado. Duas vezes.

         - Grande ajuda – riu Bruna. – Não, não vou ficar com ele.

         - Estou com saudade...

         - Eu também.

         - Tirou a aliança?

         - Não. Ela não vai sair do meu dedo. Nem contei a ninguém também. Quer dizer, falei pra Rafaela, mas ela torce para que voltemos o quanto
antes.

         - Ela é um doce. Tenho que desligar agora, daqui a pouco tenho uma reunião no estúdio com os atores.

         - Que horas é ai?

         - Quatro da tarde. São quatro horas de diferença do fuso.

         - Tá bom, linda. Faça um excelente trabalho.

         - Te amo.

         - Também te amo. Até mais.

         Bruna desligou o telefone e olhou ao redor uma ultima vez, antes de descer para a sala atrás de Rute. A encontrou em seu escritório, lendo um
livro.

         - Rute, amanhã você pede para Suzana embalar todas as coisas da Isadora que estão no meu quarto e na casa. Chama um carro e leve para o
apartamento que ela morava e já aproveita e pega minhas coisas lá.

         - Ue, mas... Ela não vai voltar?

         - Não – respondeu Bruna com convicção. – Eu vou deixar a chave na mesa da sala de jantar. Hoje vou ocupar o quarto de hospedes.

         - Sua mãe ligou. Disse que virá para o Brasil em breve.

         - Ela e o marido? – perguntou Bruna com uma careta.

         - Sim. Não faz essa cara, Bruna. Sua mãe é uma mulher jovem, linda, em plena forma. Tinha que refazer a vida mesmo.

         - Os filhos do Guilhermo também virão?

         - Não sei. Não entrei em detalhes. Acho que não. 

         Bruna apenas concordou com a cabeça e saiu do escritório, tomando o rumo do quarto novamente. Depois que o pai havia falecido, a mãe
arrumara um namorado italiano, um ano depois do ocorrido, e fora morar com ele em Milão. Sabia que ela estava voltando ao Brasil para vê-la, já
que desde que se mudara, poucas vezes tinha ido até a Itália para encontra-la. A ultima vez que a vira, fora no seu casamento há três anos, quando
ela viera para a cerimônia. Não tinha muita simpatia por Guilhermo: achava que ela tinha se envolvido rápido demais com outro homem, depois da
morte de seu pai.

                Deixou a mãe de lado e tomou um banho demorado, antes de pegar uma troca de roupas e ir para o quarto ao lado do seu. Tomou um
comprimido para dormir e deitou, torcendo para que fizesse efeito rápido.       

***********

Robyn with Kleeroup – With Every Heartbeat

https://www.youtube.com/watch?v=-ojHWQrm4UM

Notas finais:

Oi oi lindonas!

Eu não ia postar cap hoje, masssss Como vcs foram muito fofurinhas, eu postei hehehe

E tbm pq esqueci de avisar aqui no conto que era um cap adiantado e não extra. 

Até terça!

 
Bjokassssssssss

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Capitulo 22 - Dancing on my Own por Drikka Silva
Rafaela acordou com o celular tocando às sete horas da manhã. Enrolou na cama o quanto pode, antes de se levantar e ir tomar um banho.
Na cozinha, Viviane já a esperava com o café pronto.

- Bom dia, Vi – cumprimentou a adolescente, indo dar um beijo em seu rosto.

- Bom dia, Rafa. Vai sair agora de manhã?

- Não. Daqui a pouco vai chegar a professora de inglês. Vou começar a estudar em casa, pela manhã.

- E a escola? Você não terminou ainda, não é?

- Ainda não. Mas só posso voltar no segundo semestre agora. No final de julho vou voltar para a tortura!

- Não fala assim, é importante estudar.

- É, tenho que voltar ou não posso me apresentar. A Bruna me disse que se não tiver vinculo estudantil, a vara da infância, acho, não libera
shows.

- Você vai tirar de letra.

- Espero que sim – respondeu Rafaela ao escutar o interfone tocar. – Deve ser a professora.

A adolescente saiu da mesa e caminhou para atender o telefone. Liberou a entrada de Camila e seguiu para a sala, receber sua professora.
Poucos minutos depois, abriu a porta da sala para se deparar com uma bela morena.

- Oi Camila, entra.

- Rafaela, certo? É um prazer te conhecer.

- O prazer é meu. Fica à vontade. Onde prefere as aulas?

- Sua mesa é um bom lugar.

- Vamos ali na sala de jantar.

- Bruna me disse que você é totalmente crua com idiomas, certo?

- É. Eu sei acompanhar, decorar letras de músicas, mas não faço ideia do que significa, se não olhar para a tradução.

- Ok. Nós teremos aulas intensivas, a pedido de Bruna. Toda semana, três horas por dia. Durante esse tempo, só vou me comunicar com você
em inglês que é para já ter uma vivência do idioma. Nós faremos por método de associação e não de tradução. Você tem que entender o que estou
falando sem precisar dar uma pausa para traduzir na sua cabeça, antes de responder.

- Como isso funciona?

- Vou te mostrar.

Camila se acomodou em uma cadeira com a adolescente ao seu lado e tirou o notebook de dentro da bolsa, para liga-lo em seguida.
Enquanto a maquina trabalhava, a morena informou que já havia morado em Nova Iorque por dois anos, depois da formatura em pedagogia. Havia
recebido a certificação Toefl e ministrava aulas em uma escola na parte da noite. Durante o dia, se dedicava a alunos particulares, e por causa de
uma indicação de um amigo, sua clientela era bem seleta.

- Bom, veja – falou apontando uma imagem de chuva no computador. – Quando você olha para essa imagem, você sabe o que está
acontecendo. It’s raining. Não quero que traduza, você tem que olhar essa imagem e saber automaticamente o que aquilo significa.

- Certo.

- Repeat.

- It’s rain

- Repeat with me. It’s raining – repetiu Camila devagar.

- It’s raining.

- That’s it. Essas serão minhas ultimas palavras em português, a não ser quando for uma explicação muito ampla. Vamos começar?

- Vamos!

- Esse é seu material – falou Camila ao esticar uma apostila encadernada – Lesson one: Greetings!

Rafaela abriu a apostila e passou a prestar atenção em tudo o que sua professora lhe passava. Não viu as três horas passarem enquanto se
concentrava na aula.

- Você foi muito bem nessa primeira aula. Amanhã retomamos no mesmo horário.

- Você também vai passar relatório para Bruna?

- Vou. Ela me pediu posicionamento dos seus avanços.

- Tá bom.

- Escute muitas músicas em inglês, veja filmes e séries legendados, isso ajuda muito, tanto sua pronuncia como seu entendimento, mais pra
frente.

- Pode deixar.
Rafaela se despediu da professora e seguiu para o quarto, trocar de roupa. Quando o relógio marcou onze e quarenta da manhã, já estava
na produtora e foi informada que Bruna estava gravando a banda, naquele momento. Seguiu para o estúdio e entrou em silêncio, enxergando-a
absorta na mesa de som, enquanto Mel estava dentro do aquário, tocando. Cumprimentou os colegas que estava ali, antes de observar a produtora
concentrada no que estava fazendo, usando os fones de ouvido. Naquele dia ela vestia um terninho preto, com uma camisa igualmente preta por
baixo e o cabelo preso em um coque. Estava descalça, mas enxergou o scarpin de salto alto ao lado. Não entendeu o motivo de ela estar tão elegante
daquele jeito, mas aprovou o visual de Bruna com um sorrisinho.

- Boa, Mel! Tá ótimo! Ficou sensacional!

Rafaela aproveitou a interrupção da produtora para se aproximar e dar um beijo em seu rosto.

- Já gravou o pessoal todo?

- Já. E como foi sua aula?

- Foi ótima! Camila é um amorzinho!

- Inteligentíssima! Aproveite-a ao máximo.

- Pode deixar. Já tenho que ir me arrumar?

- Agora não. Temos um almoço com a agência de publicidade 2121 e o representante da Lovatus. Vamos finalizar o seu contrato agora e na
parte da tarde gravamos.

- Por isso que está toda chiquetosa assim?

- De vez em quando tenho que me enfeitar um pouco para os contratantes – riu Bruna.

- Está linda – falou Rafaela com sinceridade.

- Obrigada – respondeu Bruna mantendo o sorriso no rosto. – Vamos sair em quinze minutos. Só vou repassar algumas demandas e já
vamos.

- Podia ter me falado desse almoço. Teria me arrumado melhor.

- Você não precisa disso. É a cantora, pode se vestir como quiser, já eu, desempenhando meu papel de executiva, preciso.

- Não vou sair toda largada do jeito que estou, com você toda arrumada desse jeito. Já volto – anunciou já saindo do estúdio.

Bruna ficou olhando a adolescente se afastar, com um sorriso nos lábios. Voltou sua atenção para a banda que aguardava mais alguma
ordem sua.

- Vão descansar agora, almoçar. Creio que volto com Rafaela em torno das duas horas, duas e meia da tarde. Depois disso, gravação.

Mel assentiu e saiu do estúdio, sem esperar os outros colegas. Já tinha alguns dias que estava ensaiando para falar com Rafaela e, depois de
ver o olhar que a cantora tinha lançado para Bruna, soube que tinha que se adiantar. Tomou o rumo das escadas, bateu na porta da sala de reuniões
e esperou ser aberta.

- Ah, entra Mel – falou Carla, ao colocar a cabeça na fresta aberta.

A baterista concordou com um aceno e entrou, para enxergar Rafaela terminando de colocar uma calça branca. Somente o sutiã cobria seus
seios.

- Oi Rafa, eu... Depois da gravação, você...

- O que foi, Mel? – perguntou Rafaela terminando de fechar a calça.

- Você me disse, uma vez, que aprendeu a tocar violão com um ex namorado seu. Estava pensando se não quer retomar essas aulas. Eu
posso te ensinar.

- Será ótimo! Eu quero sim. Podemos fazer isso depois que terminarmos os ensaios. Não hoje, porque Bruna vai lá pra casa direto daqui
para me mostrar a música do comercial.

- Claro, Bruna – concordou a baterista com um aceno. – Quando quiser.

A baterista fez menção de se afastar, mas foi detida pela voz de Rafaela.

- O que foi?

- Acha que esse top fica bom com essa jaqueta jeans? – perguntou Rafaela ao apontar as peças que havia pegado nos cabides de roupas que
fora separado para aquela tarde de gravação.

- Acho que você fica linda de qualquer jeito – respondeu Mel encarando Rafaela por um longo minuto, antes de sair da sala.

Rafaela baixou a peça de roupa e ficou olhando a porta se fechar. Trocou um olhar com Carla que a olhava de canto de olho e um meio
sorriso.

- Sua admiradora é bem direta.

- Não sei nem o que falar... – respondeu Rafaela. – Será que foi isso mesmo?

- Qual é Rafa? Não sabe quando um garoto tá afim de você?

- Garotos sim, mas ela...

- A mesma coisa. Ou você nunca percebeu que a Mel é lésbica?

- Claro que já, mas...


- Acho que sei bem o violão que ela quer tocar...

Rafaela deu um meio sorriso para Carla, antes de colocar o top e depois a jaqueta. Ajeitou os cabelos lisos e saiu da sala para encontrar a
produtora.

                O restaurante escolhido para a reunião, foi o Cantaloup, no Itaim Bibi. Assim que chegaram, uma hostess guiou-as até o local onde seus
acompanhantes já aguardavam. Das várias pessoas na mesa, Rafaela reconheceu apenas Fabricio e Bianca. Além dos conhecidos da Spagnatto, ainda
enxergou mais quatro homens.

         - Boa tarde – cumprimentou Bruna dando a volta na mesa, cumprimentando todos os ocupantes. Rafaela a seguiu no gesto, os saudando.

         - Então esta é a jovem Lumia – falou Ramon, sócio da 2121. – Você é linda e tem uma voz incrível! Parabéns!

         - Obrigada! – agradeceu Rafaela com um sorriso.

                - Bruna me convenceu a usá-la na campanha. Como sempre a Spagnatto sempre acertada em suas decisões. Não é à toa que escolhemos a
produtora para fazer nossa parceria – falou Eduardo, diretor de marketing da marca de calçados, ao olhar para Rafaela. – Seja bem-vinda a Lovatus.

         - Obrigada!

         - Bom, vamos pedir as bebidas e, depois, tratamos de negócios – falou Bruna ao acenar para o garçom próximo a mesa. – O que vai querer, Rafa?

         - Um suco de laranja.

                Bruna pediu as bebidas e concentrou sua atenção nos contratantes, conversando sobre a música que fariam e o desenvolvimento da
propaganda. Depois de alguns minutos fizeram o pedido e no final de duas horas, todos já estavam bem entrosados, incluindo Rafaela, a quem o
diretor da Lovatus só dispensava elogios.

         - Nós vamos começar a trabalhar a música hoje. Preciso mostrar algumas coisas a Rafaela. Creio que em quinze dias temos o áudio pronto.

         - Excelente! Já acertamos as modelos, serão cinco para a campanha. Gravação marcada para a primeira semana de Julho.

         - Tempo mais que suficiente – assentiu Bruna.

         De volta a produtora, passaram a tarde gravando Apenas Mais Uma de Amor, do Lulu Santos música que Rafaela havia escolhido e sempre que
escutava lhe remetia a Bruna. Apenas Davi lhe acompanhava com um violão e foi a primeira vez que a produtora não pediu que repassasse um
monte de vezes. Com duas passagens ela já pediu um tempo para conferir a gravação. Rafaela saiu do aquário e pegou uma garrafa de água indo se
juntar a morena. Ela havia soltado o cabelo, tirado o casaco do terno feminino e enrolado as mangas da camisa até os cotovelos revelando os braços
tatuados. O salto alto novamente estava jogado embaixo da mesa de som e Rafaela julgou que nunca a tinha visto tão linda, como naquele momento.

         Bruna terminou de ver a gravação pela segunda vez e olhou para a adolescente ao seu lado, que brincava com um anel em seus dedos e a
encarava, séria, quase hipnotizada.

         - O que achou, Lumia?

         A jovem cantora ainda ficou encarando-a, sem elaborar uma resposta.

         - Rafa? – insistiu Bruna.

         - Ah... Desculpe. Eu... Qual foi a pergunta?

         - O que achou da gravação?

         - Boa.

         - Você viu, de fato? Prestou atenção nos detalhes?

         - Desculpa! – pediu Rafaela com uma caretinha. – Viajei. Posso ver de novo?

         Bruna concordou com um meio sorriso e pediu para o diretor do vídeo soltar a gravação mais uma vez. Rafaela fez um esforço hercúleo para
manter sua atenção na pequena tela do computador à sua frente e não voltar a olhar para Bruna que conversava com o técnico de som e Victor.
Assim que terminou, se virou para a produtora.

         - Acho que podemos passar mais uma vez. Dá pra fazer melhor em uns pontos.

         - Ok – concordou Bruna. – Vamos mais uma vez.

         A produtora se aproximou da mesa de som, mais uma vez, enquanto Rafaela ia para dentro do estúdio. A adolescente se ajeitou na banqueta e
depois de alguns minutos autorizou novamente que voltassem a tocar e cantar. Bruna admirou Lumia enquanto ela voltava a entonar a canção com
força, paixão. Suspirou fundo e passou a mão no cabelo, antes de voltar a adotar a postura profissional, prestando atenção apenas na parte técnica.

         Já eram seis da tarde quando deu por encerrado a gravação daquele dia. Ainda conversou por um longo tempo com os profissionais que tinham
efetuado o trabalho daquela tarde, antes de começarem a se despedir. Rafaela foi trocar e voltou com a mesma roupa que havia usado durante o
almoço.

         - Rafa, eu falei de ir para sua casa hoje, mas acho melhor ir para minha casa. Lá tem minha sala de música com o piano e posso acompanha-la já
com melodia sem ter que levar algum instrumento daqui.

         - Tudo bem – concordou Rafaela. – Hoje é mais para aprender a letra, não é?

         - Isso mesmo. Eu pediria para outra pessoa te ensinar e orientar, mas quero acompanhar de perto essa produção. Quero garantir uma estreia
perfeita pra você.

         - Eu gosto de quando é você que acompanha as gravações e tudo o mais. Me sinto mais confortável – respondeu Rafaela com sinceridade.

         - Bom, então vamos. Amanhã à noite poderá descansar. Sei que estou te forçando bastante essa semana.
         - Amanhã eu vou ver com a Mel, ela vai me ensinar a tocar.

         - A Mel?

         - É, ela disse que pode me ensinar. Achei bacana, assim podemos gravar alguma coisa comigo só tocando.

         - Sim.

         Bruna olhou para a adolescente à sua frente e, depois, para a baterista que conversava com Gustavo mais afastados. Voltou a sorrir para Rafaela
e se despediu das pessoas ainda presentes na produtora, antes de saírem.

         Durante o caminho até a casa da produtora, foram conversando sobre a assinatura do contrato com a Lovatus que havia acontecido naquela
tarde e a gravação do terceiro vídeo do Youtube. Bruna informou que iria terminar sua música no dia seguinte e já iria passar para a coreografa. Na
próxima semana, iria intercalar as aulas de inglês com os ensaios da coreografia.

                Assim que chegaram na casa, Rafaela cumprimentou Rute, que fora recebe-las, e seguiu a produtora até a sala de som. Bruna pediu que a
adolescente ficasse à vontade e subiu para o quarto, deixar suas coisas. Enxergou seu closet com várias partes vazias e deu um suspiro, ao se lembrar
de Isadora. Antes de descer, olhou para o celular, se certificando de que a ruiva não havia lhe enviado mensagem durante todo o dia. Deixou o
celular carregando, antes de ir encontrar Rafaela.

         - Bom, vou te passar a música novamente e depois vamos fazer frase por frase, para aprender a letra.

         - Você toca todos esses instrumentos? – perguntou Rafaela depois de olhar ao redor várias vezes.

         - Sim. Desde criança meus brinquedos eram os instrumentos, na produtora.

         - Esse piano é lindo!

         - É um Steinway, uma das melhores marcas que existe.

         - Toca alguma coisa pra mim?

         - O que quer ouvir?

         - Não sei, algo que goste de tocar.

         Bruna sorriu para a adolescente e sentou-se no piano, testando algumas teclas. Começou a tocar, olhando para Rafaela que a observava com um
sorriso fixo no rosto. A jovem se apoiou no tampo do instrumento, prestando atenção na melodia.

         - Que bonito! – falou Rafaela quando a produtora se afastou das teclas. – É lindo!

         - Isso é Bach. É um dos compositores que mais gosto. Ele era genial.

         - Você chegou a estudar música?

         - Sim. Tenho formação clássica, aprendi negócios da música, além de cursos que fiz na Inglaterra e na França.

         - Você é incrível.

         Bruna deu um meio sorriso para a adolescente, antes de se levantar do instrumento e ir atrás de uma bebida na sala de estar. Voltou com um
copo de uísque para ela e Martini para Rafaela.

         - Vai me liberar bebida hoje?

         - Só por hoje. Acredito que ninguém vai me processar por dar uma dose de Martini pra você.

         - Acho que não – riu Rafaela ao pegar a taça rasa. Deu um gole na bebida, antes de deixa-la de lado. – Como você está?

         - Bem. Melhor que ontem – respondeu Bruna ao dar um longo gole na bebida. – Vamos começar.

         Rafaela concordou com um aceno e caminhou até a banqueta que Bruna apontava para que ela pudesse se sentar. A produtora sentou-se rente
a um teclado e deixou a bebida de lado, antes de começar a mexer no instrumento, procurando o acompanhamento que queria. Assim que o
encontrou, dedilhou algumas notas, se virando para a adolescente.

         - A letra está aqui – se esticou para pegar um papel no móvel próximo. – Quero que acompanhe, veja como é minha pronuncia, depois vamos
corrigindo para que fale as frases corretamente. Quero só que observe nesse primeiro momento.

         Rafaela concordou com um aceno e assistiu, enquanto Bruna tocava e cantava a música que seria trabalhada na propaganda. Fez um gesto de
palmas ao final e pediu que ela repetisse, pois não tinha acompanhado nada da letra, na folha que ela havia lhe dado. Bruna repetiu a música e só na
terceira vez é que conseguiu captar alguma coisa. Iam começar a trabalhar a letra quando Rute apareceu com uma tábua de frios e sucos. Bruna foi
atrás da garrafa de uísque e levou para a sala de instrumentos. Se serviu de mais uma dose, enquanto via Rafaela misturar o resto do Martini com o
suco.

         - Isso fica bom? – perguntou com uma careta.

         Rafaela terminou de misturar os líquidos com um riso.

         - Vamos descobrir.

         A produtora fez uma careta enquanto a adolescente provava sua mistura. Depois de aprovada, direcionou a ela.

         - Não. Não vou misturar bebidas – recusou Bruna. – Vou ficar só no uísque.

         Durante as duas horas seguintes, Bruna voltou a concentrar sua atenção no trabalho, mostrando a adolescente a pronuncia de cada frase da
música, corrigindo quando não saia como almejava, ditando o ritmo e a melodia que queria. Resolveu encerrar por aquela noite quando o relógio já
marcava dez horas.

         - Quero te ouvir cantar – pediu a produtora depois de virar seu quarto drinque. – Que música em inglês que sabe cantar?
         - Algumas – respondeu Rafaela acompanhando-a até o piano novamente. – Tem uma que adoro, não sei se sabe tocar. Se chama Dancing on my
own, mas na versão da Alicia Moffet.

         - Me apresenta – pediu Bruna.

         A adolescente pegou o celular e acessou o Youtube em busca da música que tanto gostava. A produtora escutou atentamente antes de buscar a
partitura no celular da adolescente. O apoiou no suporte e tocou duas vezes, antes de pedir que Rafaela a acompanhasse com voz.

         - Muito bom, Rafa – sorriu a produtora. – Como consegue pegar a letra assim? Só de ouvir?

         - E acompanhando a letra até decorar.

         - Vamos mais uma vez.

         Rafaela tirou a jaqueta e colocou de lado, ficando apenas com o top. Bruna tentou se controlar, mas não conseguir fazer com que seus olhos se
concentrassem no piano. Olhou para o rosto da adolescente que ajeitava o cabelo para trás e desceu pelo seu colo e depois busto, revelado
sensualmente pela pequena peça de renda que o cobria. Antes de voltar a tocar, passou a mão no cabelo, enquanto Rafaela se sentava ao seu lado.

         - Calor?

         - Muito.

         Bruna deu um meio sorriso enquanto continuava a dedilhar a música no piano.

         - Não devia brincar com fogo – respondeu, voltando os olhos para a adolescente.

         Num momento impensado, Rafaela avançou sobre a produtora, buscando seus lábios para um beijo. Bruna correspondeu, encaixando a mão
direita na sua nuca, enquanto a esquerda envolvia sua cintura juntando os corpos. As línguas se encontraram com sintonia, conhecendo-se,
explorando, colocando no ato todo o desejo alimentado durante dias.

         Bruna afastou o banco do piano, sem se desgrudar de Rafaela, e logo a adolescente subiu no seu colo, encaixando as pernas ao seu redor. As
mãos foram para a camisa da produtora, abrindo os botões com pressa, ansiosa em tocar sua pele. Tirou a peça, ainda encaixada dentro da calça, e
terminou de abri-la para se esfregar contra seu tronco. Bruna deixou a boca correr para o seu pescoço enquanto suas mãos percorriam todo o corpo
esguio, grudado no seu. Voltaram a se beijar, com a luxuria tomando conta do momento. As unhas de Rafaela percorreram a pele da produtora,
enquanto o ato se tornava mais intenso. A morena deixou as mãos irem para o botão e zíper calça da jovem, mas o barulho da porta se abrindo
abruptamente fez com que retornassem à realidade. Bruna se afastou ofegante, enquanto Rafaela saia do seu colo, ajeitando a calça e encarando
Rute que as olhava incrédula.

         - O que é isso, Bruna?!

         - O que foi, Rute? – perguntou a produtora, sem se virar, enquanto fechava os botões da camisa.

         - Eu... Depois nós conversamos. Chama um carro para levar a Rafaela para casa.

         Bruna passou as mãos no cabelo, antes de olhar para Rafaela que pegava a jaqueta largada ao lado.

         - Desculpa, Bruna... Eu... Eu não sei onde estava com a cabeça.

         - Isso não é certo. Sou sua produtora, tenho o dobro da sua idade, eu... Não podemos, ok?!

         - É claro que não podemos! Você é casada! Meu Deus! Eu traí a confiança da Isadora! O que eu fiz?! – falou nervosa, andando de um lado para o
outro.

         - Rafa, não por isso – falou a produtora ficando na frente da adolescente. – Já tinha lhe falado que nós terminamos...

         - Ai Bruna! Ontem! É claro que tem volta! Até de aliança você está!

         - Rafa, para. Não fique com isso na cabeça. Vamos esquecer esse momento, ok?! Bebemos demais, só isso. Me desculpe.

         - Não tem o que se desculpar. Eu vou chamar o carro.

         - Vou pedir pelo meu celular.

         Rafaela assentiu com a cabeça enquanto via a produtora sair da sala. Voltou a se sentar no banco do piano, antes de baixar a cabeça para apoiar
com as mãos. Tinha feito uma besteira, uma grande besteira, mas que besteira perfeita! Refletiu. Bruna tinha o melhor beijo que já havia provado na
vida.

*******************

Lulu Santos – Apenas Mais uma de Amor

https://www.youtube.com/watch?v=svUp8isgmes

Alicia Moffet – Dancing on my Own

https://www.youtube.com/watch?v=Gy08F7Cg8VI

Johann Sebastian Bach  

https://www.youtube.com/watch?v=cOrKeFUZSJ0&t=335s
Notas finais:

Oi

Tchau

Até sexta !

Bjokasssssssss

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Capitulo 23 - The Hills por Drikka Silva
Bruna viu o carro sair da frente da casa, levando Rafaela. Passou as duas mãos no cabelo, antes de ir para a sala de som, atrás do uísque.
Encheu o copo para virar em apenas dois goles e voltou a colocar mais bebida, fitando o banco do piano. Se sentou olhando para o instrumento. O
estava acontecendo com ela? O que estava pensando quando se deixou levar pelo beijo de Rafaela?!

- Então é isso? Você está traindo a Isadora com essa menina? – perguntou Rute aparecendo na porta.

- Você sabe que tenho um respeito gigante por você, Rute, mas não vou discutir minha vida pessoal nesse momento.

- Isadora não merece isso!

- Isadora e eu terminamos. Ela foi embora para outro país, foi atrás dos seus sonhos, não tinha como manter um relacionamento, não com
essa distância.

- Você já ficava com essa menina antes?

- Não. Foi... Foi a primeira vez.

- Já gostava dela?

- Sério, Rute?!

- Sério, Bruna! Não é porque você já é uma mulher de trinta e três anos que não vai me ouvir! Eu te vi crescer nessa casa, cuido de você
desde que tinha dois anos! Ela é uma adolescente, Bruna! Uma menina!

- Eu não vou discutir isso com você – respondeu Bruna encarando a mulher à sua frente. – Vou subir, tenha uma boa noite.

- Bruna! Bruna!

A produtora não cedeu aos apelos da mulher que ainda chamou seu nome mais uma vez. Pegou a garrafa de uísque e levou para o quarto,
junto com o copo e colocou na mesa de cabeceira, antes de ir até a janela, apreciando seu jardim. Não sabia responder as perguntas de Rute, não
sabia nem responder as próprias perguntas. Já tinha sentido tesão por Rafaela, antes de terminar o casamento, mas dai a ficar com ela na primeira
oportunidade, no momento em que era para estar curtindo a fossa do fim do relacionamento, era algo inconcebível. Se não tivessem sido
interrompidas por Rute, com toda certeza teria transado com a garota e, por mais estranho que lhe parecesse, o corpo fervia só de pensar na
adolescente encaixada no seu corpo.

Bruna balançou a cabeça em sentido negativo, enquanto terminava de tirar a camisa, mais uma vez. Jogou-a sobre a cama, antes de ir se
sentar analisando aqueles confusos sentimentos que tinha em relação à cantora. Não tinha nada contra diferença de idade, desde que as duas
pessoas estivessem na mesma sintonia, mas havia grandes problemas ali: primeiro, era bem mais velha que Rafaela, quase com idade para ser sua
mãe. Segundo, era sua produtora, o nível hierárquico poderia ser um problema, uma vez que Rafaela era uma contratada da Spagnatto. Terceiro e
mais importante: ela era menor de idade. Já evitava ficar com mulheres com menos de vinte e cinco anos, quando estava solteira, quem dirá com
uma adolescente! “Dezessete anos, Bruna! Ela só tem dezessete anos!” Teria que corrigir aquele mal-entendido no dia seguinte. Era sua
responsabilidade, como a pessoa mais velha e mais esclarecida a colocar a situação às claras para que não houvesse desentendimentos.

Rafaela entrou no apartamento com a sensação de estar pisando em nuvens. Que pegada era aquela de Bruna?! Mordeu o lábio com a nítida
sensação da boca da produtora na sua, o beijo perfeito, os corpos se movimentando no mesmo ritmo. Apertou as pernas, tentando conter a excitação
que ainda sentia ao se lembrar das mãos da morena no seu corpo, a acariciando inteira.

Seguiu direto para o quarto e se jogou na cama com o sorriso fixo no rosto. Bruna não era imune a ela. Não a via como uma criança, como
havia dito a Jéssica, dias antes, conseguia toca-la e deseja-la como mulher. A amiga havia dito que poderia se machucar, mas não era um desejo
unilateral. Se Bruna a enxergava como mulher, o que poderia dar errado?

A resposta da pergunta veio em seguida. Isadora. A culpa tomou conta de uma parte dos seus pensamentos. Ok, elas não estavam mais
juntas, mas nada impedia que voltassem, até porque, o termino era recente demais. Obvio também que a atriz jamais poderia saber que estava afim
da sua ex mulher. Ficaria puta se estivesse no lugar dela e, certamente, Isadora ficaria muito puta se soubesse que tinha ficado com Bruna, mas não
estava fazendo nada de errado, estava? Até onde sabia, a produtora estava solteira, logo, não estava traindo Isadora. Bom, pelo menos achava que
não.

Depois de muito conjecturar, Rafaela saiu da cama e seguiu para o banheiro, entrando em um banho quente e demorado. De volta a cama,
idealizou tudo o que não tinha acontecido naquela noite, o toque de Bruna no seu corpo sem que ninguém as atrapalhasse. A mão desceu para o
sexo, acompanhando seus pensamentos. Não demorou para que gozasse, com a visão do corpo de Bruna, suado, sobre o seu.

         Na manhã seguinte, depois da aula de inglês, foi para a produtora e encontrou a banda passando som. Bruna estava no estúdio, terminando de
trabalhar na sua música, informação passada por Camila.

         - Bom dia, pessoal – cumprimentou ao entrar no estúdio.

                Bruna lançou um olhar demorado para a jovem que ia dar um beijo em cada um. A adolescente também deu um beijo em seu rosto, se
afastando com um sorriso.

         - Camila me disse que estão terminando Ritmo Perfeito. Eu vou poder escutar ela quando terminarem?

         - Se quiser, já pode escutar – falou Bruna analisando Rafaela.

         - Ah eu quero! To louca pra ver como ficou!

         Bruna concordou com um aceno e colocou a música para tocar. Rafaela acompanhou, cantando baixinho, quase sem emitir som. Ao final da
canção, levantou a cabeça para os presentes.

         - Uau! Ficou linda! – exclamou, feliz.

         - Ficou muito boa mesmo. Já vou passar para a coreografa na parte da tarde. Daqui a pouco te mando ela.
         - E Enquanto Estiver Aqui?

         - Vou trabalhar a mixagem dela hoje a tarde. Depois Vitória irá gravar, vou passar para você e Lucca na próxima semana.

         - Vamos repassar a música do comercial novamente hoje à noite?

         - Vou passar a letra para Camila, ela vai te orientar com a pronuncia do inglês. Te mando o áudio para escutar junto. Vitor vai orienta-la na
próxima semana.

         - Ok – concordou Rafaela encarando Bruna. – O que vou fazer hoje?

         - Quero que ensaie com a banda. Já escolham a música para ser gravada na próxima semana.

         - Tudo bem. Vou lá com a banda.

         Bruna assistiu Rafaela sair do estúdio, antes de voltar sua atenção para a mesa de som e o computador no canto. Deu um suspiro velado, antes
de se concentrar no trabalho.

         Já era hora do almoço, quando Rafaela viu Bruna entrando no estúdio, onde conversava com os membros da banda, discutindo qual música
cantaria naquela semana para o vídeo do Youtube. A encarou por poucos segundos, antes de desviar o olhar para o chão.

         - Rafa, vamos conversar na minha sala – chamou Bruna.

         A adolescente concordou e saiu atrás da produtora. Assim que entraram na sala, Bruna indicou uma poltrona para que pudesse sentar e puxou
outra cadeira para ficarem próximas.

         - Rafa, sobre o que aconteceu ontem... Eu não quero que fique desentendimentos entre nós. Eu acabei de sair de um relacionamento, como sabe
bem, não estou procurando nada além de ficar sossegada e... Não quero que fique com uma impressão errada. Eu agi errado, eu não devia...

         - Eu não te forcei a me beijar, Bruna. Também não fui beijada contra minha vontade. Nós duas quisemos o que aconteceu.

         - Sim, eu... Não vou colocar a culpa na bebida, não vou prestar esse papel. Dizer que sou totalmente indiferente a você seria uma mentira, mas é
algo que não pode acontecer. Não é certo.

         - Por que?

         - Porque você é menor de idade! Tenho idade pra ser sua mãe! Eu não estava pensando direito, não sei o que deu em mim... Eu...

         - Eu sei bem o que deu em você: tesão. Foi isso que deu.

         - Eu sou sua produtora, Rafa. Não podemos confundir nada aqui, ok?!

         - Tudo bem, Bruna. Não sou mais uma criança e mesmo tendo dezessete anos, sei bem o que está acontecendo aqui.

         - E o que está acontecendo?

         - Você tem tesão por mim, mas tem medo.

         Bruna deu um sorriso, encarando a adolescente.

         - Não é medo. Eu sei bem os problemas que posso enfrentar com isso, que você pode enfrentar com isso. É onde conta a minha maturidade.
Vamos seguir como estava antes, como agiu hoje quando chegou. Como se nada tivesse acontecido.

         - Tudo bem – respondeu Rafaela se levantando. – Era só isso?

         - Sim.

         - Só tem uma coisa e isso você não pode me impedir de falar – falou Rafaela se aproximando da produtora para deixar os rostos próximos. – Sua
pegada é deliciosa e eu provei o melhor beijo da minha vida.

         Bruna sentiu o sexo reagir às palavras da adolescente enquanto assistia ela sair da sua sala. Passou a mão no rosto e fez menção de ir atrás de
um copo de uísque, mas parou no meio do caminho. Não ia se tornar uma alcoólatra naquela altura da vida. Saiu da produtora e guiou para um
restaurante em um bairro vizinho, sozinha. Ligou para Isadora, mas ela não podia falar naquele momento e disse que ligaria mais tarde. Deixou o
celular de lado e suspirou fundo. Teria que ser forte, visto que seu desejo por Rafaela estava bem claro para ambas.  

                Bruna pegou o celular novamente e discou para Paula, uma amiga dos tempos do colégio. Ela seria a pessoa certa para conversar naquele
momento.

         - Oi Paulinha!

         - Nossa, Bruna! Quanto tempo! Está tudo bem?

         - Mais ou menos. Como está sua agenda hoje? Estou precisando conversar.

         - Tenho mais dois pacientes agora de manhã, depois retomo as consultas às duas da tarde. Quer sair para almoçar?

         - Quero. Passo aí no consultório em quinze minutos.

         - Ok, estou te esperando.

         Bruna desligou o celular e pediu a conta, saindo em seguida. O caminho até o consultório da amiga foi rápido: deixou o carro no estacionamento
do prédio comercial e subiu para o andar onde funcionava a clinica de oftalmologia. Esperou por quinze minutos, até que Paula estivesse livre.

         - Tem um restaurante aqui perto muito bom. Podemos ir andando mesmo.

         - Tudo bem – concordou a produtora. – Como você está? O Fábio e as crianças?

         - Tudo bem, graças a Deus. Você que não parece estar com uma cara muito boa – observou Paula ao pegar a carteira. – O que aconteceu?
         - Isadora e eu nos separamos.

         - Puta merda! Por que?!

         - Na verdade a iniciativa de terminar partiu de mim, mas ela concordou comigo. Conversamos e vimos que não tinha como manter a relação.
Ela se mudou para a Califórnia na quarta. Vai gravar uma série.

         - Mas, Bruna... O mundo está globalizado, tem tantos recursos para poderem manter contato, sem contar que vocês podem se encontrar sempre
que quiserem. Vocês têm como bancar viagens tanto da parte dela, como da sua.

         - Você me conhece, Paulinha. Não sou de manter relacionamentos à distância.

         - Vai começar a piranhar de novo, não é? – riu Paula ao entrar no elevador. – Não quero ficar sendo apresentada a suas peguetes.

         - Acho que minha fase de vadiagem passou – respondeu Bruna acompanhando o riso. – Isadora tirou isso de mim.

         - Tá, mas o que mais está te afligindo? Te conheço o suficiente para saber que não é só isso. Aliás, antes que me responda, quero fazer um
comentário. Aquela cantora nova da Spagnatto é um arraso! Que voz incrível ela tem. Luzia, não é?

         - Lumia. E é isso que está me afligindo. Lumia.

         - Já está de olho nela?

         - Fiquei com ela ontem.

         - Porra, Bruna! A cama nem esfriou e já levou outra?!

         - Não transei com ela, foi só uns beijos. Rute interrompeu antes que fizesse uma besteira.

         - Ok, deixa eu entender. Você já era afim dela antes da Isadora viajar, não é? É impossível que não fosse, já que ela viajou na quarta e já pegou
outra na quinta.

         - Era. Não fiquei com ela enquanto estava com Isadora, mas sim, ela já mexia comigo antes.

         - Situação delicada. Mas o que impede de ficar com ela agora, já que terminou o casamento? Ainda quer voltar com a Isa?

         - Eu não posso ficar com ela, ela... Eu sou produtora dela.

         - Você já ficou com cantoras que estava produzindo antes. Pelo que sei, isso não é um problema.

         - Ela tem dezessete anos.

         - Caralho! Porra Bruna! Com tanta mulher no mundo, quer logo uma novinha?! Você não tem mais fôlego pra isso, que fique bem claro.

         - Vai se ferrar, Paula! – riu Bruna. – É claro que tenho!

         - Tem nada! Essa garota vai te dar um baile. Quando precisar destravar as costas, me procure. Eu a coloco no lugar de novo.

         - Idiota! Entende como isso é confuso?! Eu fiquei com uma adolescente e estou me sentindo uma idiota por conta disso, mas ao mesmo tempo...

         - Não vem me dizer que está se sentindo jovem, que eu esfrego sua cara no asfalto.

         - Ela é uma adolescente, Paula. Uma garota que nem pode entrar em um motel ainda.

         - Ok, vamos parar de zueira. Me conta, como aconteceu isso, desde o início.

         Bruna entrou no restaurante com a amiga e passou parte do tempo narrando tudo o que havia acontecido, desde que Rafaela aparecera na sua
vida, ao assalta-la, a festa de Alana, dias antes, quando tinha ficado com ciúmes do cantor que a adolescente beijou, o clima que havia rolado no
Skye, absolutamente tudo, até o dia anterior.

         - Que bela confusão, hein?! – falou Paula analisando a amiga a frente. – Essa menina está encantada com você por causa de tudo o que está
fazendo. Não acredito que ela goste realmente de você.

         - Eu sei. Também não acredito nisso. Ela pode gostar sim, pode me achar bacana, e está confundindo isso.

         - Meu conselho é se afastar. Mantenha o profissionalismo, continue orientando-a no que for necessário, até porque ela é uma excelente cantora,
mas não alimente mais essa fantasia. Logo você encontra outra mulher, ou volta com Isadora, sei lá. O termino de vocês é recente demais. Ela
também irá encontrar algum garoto ou garota de quem ela realmente goste e volta a te ver somente como uma parceira de trabalho.

         - E o que eu faço com o tesão e ciúmes que tenho dela?

         - Eu poderia falar pra você enfiar em um lugar pouco confortável, mas segundo minha mãe, não posso ter a boca tão suja. Você também está
encantada com ela, esse ar de juventude que ela te passa, a expectativa de todo esse lançamento. Aposto que se fosse uma cantora já famosa, você
não daria a mínima.

         - Tempo ao tempo – suspirou Bruna.

                - Nada melhor que isso. Você só se empolgou. Acabou de sair de um relacionamento, já estava cheia de tesão pela novinha, na primeira
oportunidade acabou se rendendo. Não se culpe por isso.

         - Não fique chamando-a de novinha. É estranho.

         - É mais estranho falar adolescente.

         - Rafaela, Rafa, Lumia.

         - Ok, vamos deixar a Rafaela de lado. O que aconteceu entre você e Isadora? Vocês sempre se deram tão bem! Como acabar um casamento desse
jeito só por causa de uma viagem?
         - Eu amo a Isadora, mas não posso segura-la. Não é apenas uma viagem, ela já está vendo de comprar um apartamento em Los Angeles, já está
certo de que vai ficar um ano fora, entre laboratório e gravações, depois vem divulgação. Se a série for sucesso, como acredito que será, podem
renovar para uma segunda temporada. Sem contar que Rafael vai encontrar outros papéis pra ela lá. Ele é um excelente empresário e tem uma boa
sintonia com ela. Ambos querem que a carreira internacional decole.

         - E você não cogita um relacionamento a distância, não é?

         - Não. Eu me conheço o suficiente para saber que não tenho estrutura para isso. Gosto de estar perto, de ver sempre, de participar, não de
assistir. Prefiro terminar agora, mantendo uma boa amizade e boas lembranças do que acabar fazendo uma besteira com a distância.

         - Tipo ficar com a novinha e trair Isadora.

         - Paula!

         - Ficar com Rafaela.

         - Ou outra, ou ganhar um chifre... Já ganhei chifres o suficiente para essa vida.

         - Aquela sua primeira mulher não conta. Era uma babaca de mão cheia. Quem perdeu foi ela.

         - Não vamos remexer em um arquivo morto.

         - Não. Mas voltando ao assunto inicial, você não acha que também não foi honesta com Isadora?

         - Acho. Mas não traí ela. Até a manhã da quarta, a única mulher que fiquei foi ela.

         - Há pontos de vista diferentes nessa questão. Eu ficaria muito brava se terminasse com você hoje e amanhã já estivesse beijando outra.

         - Mas terminei.

         - Tá, não vou entrar nessa questão agora. Esquece essa garota, ok?! Seja profissional, você é a adulta aqui, deixe tudo as claras e não fique mais
com ela.

         Bruna assentiu com a cabeça, olhando para a amiga a sua frente. Ela estava certa. Rafaela não podia mexer tanto com sua cabeça daquela
forma. Ela era a adulta ali, mais vivida, com mais experiência de vida. Iria tomar as rédeas da situação.

         De volta a produtora, seguiu para sua sala, deixar a bolsa e pegar o notebook, antes de ir para o estúdio. Antes de entrar, escutou a música que
saia dele, The Hills do The weeknd. Abriu um sorriso ao imaginar que deviam estar fazendo uma pausa no trabalho.

         Assim que entrou no espaço, Bruna enxergou Rafaela ensinando Carla a fazer uma dança extremamente sensual. As duas estavam entretidas
dentro do aquário e nem a viram chegar. A mente esqueceu tudo o que havia conversado com Paula ao ver que a jovem cantora ensinava uma
coreografia com cadeiras, um claro lap dance. Colocou o computador em cima da mesa e apoiou as mãos na beirada sem desgrudar os olhos de
Rafaela, que se mexia, rebolando lentamente abaixando-se na frente da cadeira, empinando todo o bumbum e jogando os cabelos longos e negros de
um lado para o outro. A mente traiçoeira a transportou para a cadeira vazia colocando-a como primeira e única expectadora da sensual
performance.

         - Oi Bruna, chegou agora? – perguntou Victor entrando no estúdio.

         Bruna acordou do seu estado de transe e se virou para o seu assistente.

         - Sim. O que vocês estão fazendo? Não era para estarem trabalhando? – perguntou vendo as duas garotas enxergando-a.

         - Já escolhemos a música do próximo vídeo. Davi e Gustavo precisavam ir no banco e os dispensei. Mel e Rafael estão no estúdio dos fundos,
estudando a música, e Rafaela está ajudando Carla com uma questão pessoal.

         - Questão pessoal? – perguntou Bruna com uma careta.

         - Oi chefa! – falou Carla ao sair do aquário. – Amanhã é aniversário do meu boy. Quero uma noite perfeita com ele. Você viu nossa performance?
Com uma lingerie preta vai ficar sensacional!

         Bruna havia imaginado a cena que Carla descrevia, mas a protagonista era outra.

         - Vamos voltar ao trabalho. Vou trabalhar alguns samples agora a tarde, já vou fazer a base de Rain.

         - É sexta-feira, Bruna, duas e meia da tarde. Relaxa, ok?!

         - Desculpa, Bruna – pediu Rafaela. – Estávamos esperando você chegar para saber se tem algo de imediato para fazer agora. Ai aproveitei para
ensinar a Carla como deixar o Felipe doido.

         - Está tudo bem. Eu... Quer saber? Vai todo mundo pra casa. Estão dispensados por hoje.

         - Eu vou pegar meu computador – anunciou Victor. – Tem algumas bases que...

         - Você também. Todos da produtora. Encerramos o expediente essa semana.

         Victor trocou um olhar com Carla e Rafaela, antes de voltar a olhar para a produtora que se sentava a mesa de som para apoiar o computador
em seguida. Deu ombros e acenou para que todos saíssem.

         Rafaela saiu do estúdio junto com os outros, que chegavam a conclusão de que Bruna devia estar virada novamente. Victor saiu pelo prédio,
dispensando todos os funcionários. Estava esperando Mel e Gustavo para saírem juntos, quando viu Bruna passar para sua sala.

         - Eu já encontro vocês. Vão ficar aqui no barzinho da esquina?

         - Sim.

         A adolescente concordou com um aceno e saiu atrás da produtora, até sua sala. Bateu na porta e logo escutou sua voz, autorizando sua entrada.

         - Algum problema, Bruna?


         - Não. Só quero ficar sozinha para trabalhar melhor os samples – respondeu a produtora desviando a atenção do celular brevemente.

         - Nós vamos no barzinho que tem aqui do lado. Se quiser, depois pode ir encontrar a gente.

         - Vamos ver – respondeu evasiva. – Descanse esse final de semana. Estamos trabalhando direto, quero que esteja bem para começar a nova
maratona na próxima semana.

         - Ok. Você também, tenta descansar.

         Rafaela deu a volta na mesa para dar um beijo no rosto da produtora. Bruna se levantou para se despedir da adolescente, tentando manter
distância do seu corpo, mas as mãos de Rafaela foram para a sua cintura, puxando-a contra seu corpo.

         - Rafa...

         - Relaxa, Bruna, só quero te dar um abraço. Fica bem, tá bom.

         A produtora concordou com um aceno, abraçando a garota a sua frente. Se afastou para fitar o rosto da cantora e o acarinhou lentamente,
encarando seus olhos.

         - Eu... Eu...

         Bruna não conseguiu concluir a frase. Uma batida na porta fez com que se afastasse abruptamente da adolescente, se encostando contra a mesa.

         - Entra – autorizou.

         - Oi chefa, todos da produtora já foram. Vai ficar por aqui ou já quer que feche tudo? – perguntou Victor ao colocar a cabeça na fresta.

         - Ainda vou ficar por aqui. Até segunda, Rafa.

         Rafaela anuiu e saiu da sala, junto com Victor. Bruna se limitou a dar um alto suspiro antes de ir atrás de uma bebida.

         “Se concentra, Bruna. Apenas se concentre” pensou.

*******

        

The weeknd – The Hills

https://www.youtube.com/watch?v=yzTuBuRdAyA

Notas finais:

oi oi lindonas!

Alguém dá um copo de água gelada pra Brna, pfvr? 

Até terça! 

Bjokassssssssss

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Capitulo 24 - Smells Like Teen Spirit por Drikka Silva
         Rafaela chegou no barzinho onde os amigos já estavam acomodados e pediu um suco de laranja. Tentou se entrosar na conversa, mas a mente
estava concentrada em Bruna, na reação que ela tinha tido e na clara vontade de manter distância. Por um momento se sentiu uma idiota por ter
deixado se levar pelo entusiasmo em ficar com Bruna, mas no minuto seguinte, tentava justificar a produtora: Não fazia ideia de qual seria sua
reação se estivesse no lugar dela, com um casamento recém terminado, claramente ainda amando a ex mulher. Até mesmo de sua parte: era errado
desejar Bruna, como desejava. Sentia como se estivesse traindo Isadora, e talvez estivesse de fato. Poderia estragar uma chance de reconciliação
entre elas e gostava demais da atriz para ser algum tipo de empecilho na sua vida. O que havia dito a ela era verdade; jamais faria algo para
decepciona-la e ficar com Bruna era uma declaração de traição.

         - Rafa – chamou Gustavo ao tocar seu braço. – Está tudo bem?

         - Tudo – suspirou. – To viajando em algumas coisas. O que foi?

         - Estamos vendo uma balada hoje. Topa?

         - Não. Vou pra casa. E eu não posso entrar na maioria das baladas por aí.

         - Putz, verdade! Você é nosso Minion.

         - Vai se ferrar, Gu! – revidou Rafaela com um sorriso. – Mel, sobre as aulas que falou, quando quiser começar, eu topo.

         - Tô de boa hoje, se quiser aproveitar...

         - Hum Rafa já vai aproveitar, é?! – zuou Victor. – Estou te fitando, viu, Rafa?!

         - Ai seu besta! Nada a ver! Vamos tocar violão.

         - Não dê ouvidos a eles – falou Mel com um sorriso. – Me arruma seu violão, Davi?

         - Só se passar um som pra gente, antes.

                Mel concordou com um sorriso e levantou para pegar o violão em um canto. Tirou do case e voltou a se sentar no mesmo lugar, testando
algumas cordas. Logo a melodia de Smells Like Teen Spirit tomou conta e Victor passou a cantar e batucar na mesa. Por um momento a mente de
Rafaela se desviou de Bruna e curtiu a tarde com os amigos, enquanto o violão era passado de mão em mão dos músicos.

         Já era sete da noite quando se despediram e seguiram para o local, perto da produtora, onde Mel havia deixado seu veículo. Antes de entrar no
carro, Rafaela viu Bruna saindo da produtora, carregando a bolsa ao lado enquanto conferia o celular. Ficou encarando a morena até que seus olhos
se cruzassem. Acenou em sua direção e abriu a porta do carro para se acomodar no banco do carona em seguida. Bruna ainda a encarava, enquanto
Mel fazia a manobra para sair devagar.

         - O que rola entre você e Bruna? – perguntou Mel, sem rodeios.

         - Entre a Bruna e eu? – repetiu a adolescente. – Nada.

         - Não nasci ontem, Rafa. Talvez os outros não tenham sacado, mas eu vejo como você olha pra ela.

         - Ela é casada.

         - E?

         - Como assim?! Ela... Isadora é uma mulher linda e uma pessoa incrível! Foi por causa dela que estamos fazendo esse trabalho hoje. Eu não...
Não tenho coragem de fazer qualquer coisa para quebrar a confiança que ela tem em mim, sem contar que Bruna me vê como... Sei lá, como, mas sei
que não é...

         - Não se explique tanto. Vocês já ficaram, não é?

         - Tá tão na cara assim?

         - Eu sei reconhecer uma sapa quando está cheia de tesão por outra.

         - Ela... Ela é uma mulher incrível, eu...

         - Ela é casada, Rafa. Cilada brava. Você vai sobrar nessa equação.

         Rafaela olhou para Mel que mantinha a atenção no trânsito. Não podia dizer a ela que Bruna já não era mais casada, visto que a produtora
havia pedido sigilo sobre o rompimento com Isadora. Suspirou fundo e tirou uma mecha de cabelo que caia sobre seu rosto, antes de voltar a fitar a
baterista.

         - Eu nunca fiquei com uma mulher. Não... Sempre tive namorados e ficantes.

         - Está abrindo uma exceção?

         - Eu não posso ficar com ela. Como falou, ela é casada.

         - Se concentra na sua carreira. Você pode se tornar uma das maiores cantoras do país. Tem que se focar nisso.

         - E o que foi aquilo ontem? – perguntou Rafaela com um sorrisinho para mudar de assunto.

         - Eu sendo sutil.

         - Discreta como uma placa de neon – riu a adolescente. – Eu... Não sei o que te dizer. Fiquei surpresa.

         - O fato de me chamar pra sua casa hoje, indica que não fiz um estrago tão grande.

         - Não, não fez. Como te falei, nunca fiquei com uma mulher antes...
         - Ficou com a Bruna.

         - Eu não fiquei com ela – mentiu. – É só uma besteira da minha cabeça.

         - Quer saber como é? – perguntou ao parar num farol.

         - Com você?

         - Serei sua professora, com maior prazer!

         - Eu não quero que fique estranha comigo depois. Você sabe que eu... Eu te vejo como uma amiga e...

         - Não quero namoro, Rafa. Pra ser bem sincera, to correndo de namoro. Podemos apenas ficar, sem compromisso.

         Rafaela sorriu para a garota ao seu lado, deliberando se ficava com ela ou não. Talvez outra mulher pudesse tirar o foco que tinha em Bruna.
Assim que Mel parou em um farol, se inclinou para o seu lado, acariciando seu rosto com uma mão. Encarou os olhos castanhos e deixou um dedo
correr para os seus lábios. Não tinha nada demais em dar uns beijos nela.

         - Só uma vez.

         Mel cortou os outros centímetros, aproximando o rosto para dar um beijo no canto da boca de Rafaela. A adolescente correspondeu tímida,
antes de buscar seus lábios. Lentamente se encontraram em uma exploração cuidadosa, precisa. Mel colocou uma mão no seu pescoço e depois nuca,
tornando o beijo mais intenso. As línguas se encontraram em um bailar ritmado, explorando-se pela primeira vez. Se afastaram quando o carro
detrás buzinou, indicando que o farol já havia aberto.

         Rafaela entrou no apartamento e logo sentiu as mãos de Mel na sua cintura e sua boca no seu pescoço. Deixou a bolsa cair no chão, enquanto a
baterista deixava o case com o violão escorregar pelo seu braço até o piso. As bocas se encontraram novamente e a adolescente a puxou em direção
ao seu quarto, sem se afastarem do contato. Viviane apareceu no acesso da cozinha, mas voltou no mesmo passo, ao ver Rafaela com a garota. As
duas mulheres terminaram o caminho até o aposento, para caírem na cama em seguida.

         - Precisamos de um banho – falou Rafaela com a voz ofegante.

         - O que quiser – concordou Mel, beijando seu pescoço e novamente a boca.

         Rafaela ainda se deixou levar por longos minutos antes de se levantar e puxar a musicista pela mão em direção ao banheiro. No caminho, a
cantora teve sua blusa tirada, assim como o botão e zíper da calça, abertos.

         - É rápido assim? – perguntou ao tirar a camiseta de Mel.

         - Não precisamos de rodeios.

         Em questão de segundos, se viu nua. Mel se afastou o suficiente para enxerga-la por inteiro, com um sorriso fixo no rosto. Com o tesão já nas
alturas, Rafaela a puxou de volta, para grudarem os corpos novamente, enquanto entravam no boxe.

         A água quente acompanhou os corpos que se uniram embaixo do jato do chuveiro. Rafaela se deixou guiar por Mel, por suas caricias, toques
ousados e beijos lascivos. A baterista a ensaboou inteira, acariciando seu corpo enquanto fazia isso, masturbando-a lentamente quando a mão
alcançou seu sexo. Rafaela gemeu com o toque da mulher em seu corpo, se dando conta do tempo que havia passado sem sexo: a ultima vez havia
sido com Nicolas, meses antes, e não havia sentido o prazer que provava agora com Mel, que acompanhava a água que enxaguava seu corpo com a
boca.

         Mel tirou Rafaela do jato de água e a encostou contra o azulejo, para se ajoelhar, em busca do seu sexo. A cantora apoiou uma perna em seu
ombro, enquanto a baterista passou a chupa-la. O gemido se tornou mais alto enquanto a exploração ficava mais intensa. Apoiou uma mão na sua
cabeça e fechou os olhos curtindo a deliciosa sensação. Se tornou melhor quando sentiu dedos penetrando-a e, em pouco tempo, se entregou a um
gozo intenso, chamando seu nome.

         Mel se levantou devagar beijando toda sua pele, enquanto ia retomando o ar. Os lábios novamente se encontraram, apressados, exigentes. O
chuveiro foi desligado, e logo as duas garotas alcançaram a cama, transando a maior parte da noite, antes de se renderem ao sono, exaustas.

         Rafaela acordou no dia seguinte e saiu da cama devagar, para não acordar Mel. Saiu do quarto e foi para a cozinha, atrás de Viviane.

         - Bom dia, Vi – cumprimentou, assim que viu a loira terminando de fazer o café.

         - Bom dia, Rafa. Acordou cedo hoje. Achei que iria até mais tarde.

         - Acho que é o costume. Eu estou com uma amiga aqui, pode fazer café a mais pra ela também?

         - Eu vi vocês ontem. Não acho que seja bem uma amizade – riu.

         - Você viu a gente?

         - Na hora que chegaram. Depois que foram para o quarto, fui ver a série sozinha.

         - Desculpa! Você ficou brava? A Mel é baterista da banda e...

         - A casa é sua, Rafa, por que ficaria brava? – perguntou Viviane com um sorriso. – Vocês ficam bonitinhas juntas.

         - Certeza?

         - Absoluta. Você tem dezessete anos, tem que curtir mesmo, está na idade para isso, principalmente se forem garotas solteiras, jovens e sem um
histórico tão grande nas costas. Você não tem idade para ficar arrumando problemas nesse sentido.

         Rafaela olhou para Viviane por um longo minuto. Ficou com receio de perguntar se ela se referia a Bruna, mas resolveu não questionar O
melhor era deixar quieto.

         - Está certa – concordou. – Pode ir para casa hoje. Já está tudo certo por aqui, não é?

         - Sim, a não ser que queira que faça algo.


         - Não, pode deixar. Eu me viro. Toma café e depois vai aproveitar o fim de semana com sua mãe.

         Viviane agradeceu e terminou de ajeitar o café para as duas garotas, antes de sair para o aposento, se arrumar para ir para casa. Rafa voltou
para o quarto e encontrou Mel encostada contra o travesseiro, mexendo no celular. Observou-a por um segundo, antes de se aproximar e subir na
cama, montando em seu colo.

         - Bom dia!

         - Bom dia – respondeu Mel dando um beijo em seus lábios. – Tudo bem?

         - Uhum. Fui ver nosso café. Já está pronto.

         - Já vou me vestir. Tem mais alguém na casa?

         - A Vivi. Ela trabalha aqui, mas já está indo pra casa.

         - Daqui a pouco tenho que ir embora.

         - Por que? Tem alguma coisa importante para fazer hoje?

         - Tenho.

         - Pena, mas tudo bem. E nossas aulas?

         - Podemos marcar para a próxima semana. Quando for melhor pra você.

         - Algum problema, Mel? Você está estranha – comentou ao sair do seu colo.

         - Eu vou ser bem sincera, Rafa, eu não vou ficar mais com você. Foi uma noite ótima, você é incrível, mas não vou ser mais sua “Bruna”.

         - Como assim?

         - Você me chamou de Bruna por três vezes.

         Rafaela a encarou por um longo minuto. Sim, Bruna havia aparecido na sua cabeça em alguns momentos, mas não havia feio aquilo, ou havia?

         - Eu não fiz isso.

                - Fez. Eu não falei nada, até porque estava doida de tesão por você, foi uma transa sem compromisso, mas mesmo numa transa sem
compromisso, é importante que me queira também e não outra pessoa.

         - Desculpa... Eu...

         - Não precisa ficar chateada. Eu sei como é isso, transar com alguém desejando outra pessoa no lugar. Já fiz isso algumas vezes.

         - Me desculpa mesmo, eu...

         - Ei, relaxa! Nada vai mudar entre a gente, ok?

         - Tá bom.

         - Você gosta mesmo da Bruna, né? Ela é casada, Rafa. Eu vi o carinho que a Isadora tem por você. Isso é uma furada tão grande!

         - Eu sei... Eu sou uma idiota!

         - Eu me preocupo com o fato de você fazer alguma besteira e colocar sua carreira a perder. Olha a chance que você está tendo para arriscar
tudo por conta de uma paixão!

         - Se eu te falar uma coisa, promete que não conta pra ninguém?

         - Prometo.

         - A Isadora e a Bruna se separaram. Com a mudança para os Estados Unidos, me parece que não quiseram manter o casamento com a distância.

         - Isadora se mudou na quarta, não foi?

         - Foi.

         - Cedo demais. Uma reconciliação pode acontecer a qualquer momento. Eu não quero te desencorajar, mas eu vi o modo como elas se tratam,
não se termina um casamento como o que elas tinham sem uma grande chance de reconciliação.

         - Eu fiquei com a Bruna na quinta. Foi só uns beijos, mas... Ai Mel! Desculpa! Eu não tenho com quem falar essas coisas! Eu nunca antes tinha
ficado com uma mulher, ai beijo a Bruna na quinta, transo com você na sexta, eu tô confusa!

         - A bicha é ligeira também, né?! Já ficou com outra!

         - Eu sei que estou entrando de gaiato nessa história, que elas podem se acertar, que se a Isadora descobrir tudo ela acaba comigo, mas é tão
automático, intenso.

         - Bom, vamos lá, é a primeira vez que acordo na cama de alguém depois de uma transa sensacional, e tenho que dar conselhos amorosos em
relação a uma terceira pessoa.

         - Não precisa fazer isso. Eu...

         - Quieta. Bom, continuando. Se a Bruna te beijou, é porque ela também sente algo. Pode ser tesão também, como eu senti, não leve a mal, mas
você é uma coisa! Porém o casamento delas também poderia não estar satisfatório. Quem ama mesmo não vê distância. Tem sapatão que atravessa o
Brasil por causa de mulher, muda para outro país. Principalmente elas que são ricas, podem se ver sempre que quiserem.
                - Elas se davam super bem. Eu fiquei junto delas algumas vezes, eu vi a forma como se tratavam, tanto que nem acredito ainda que se
separaram.

         - Muitas pessoas confundem comodismo com amor. Não duvido que se gostem, que cuidem uma da outra, que sintam tesão, mas é cômodo.
Agora aquele amor mesmo, que te faz perder o rumo, que te deixa sem chão, duvido que tinham.

         - Talvez elas gostassem dessa tranquilidade no casamento. Cada uma tinha seu espaço, confiança uma na outra.

         - Eu tenho esse espaço com minha mãe. Ela na casa dela e eu na minha. Quando eu tiver uma esposa, quero ela comigo, dividindo a cama, a
vida. Sempre achei esquisitíssimas essas pessoas que casam e continuam morando em casas separadas.

         - Elas gostavam, ué.

         - Mas ai é que tá, já moravam em casas separadas, qual o problema de manter um relacionamento à distância, se vendo uma vez por mês? Por
isso que digo, alguma coisa já estava errada.

         - Será?

         - Qual é, Rafa? Acha que a Bruna ia terminar um casamento com a mulher que ama e ter um pequeno estalo no dia seguinte: “olha! A Rafa é
linda e vou ficar com ela”. Certeza que ela já te olhava diferente. Como não percebi isso?! Eu vi interesse seu por ela, mas dela, ela sabe disfarçar
muito bem!

         - Mas como você disse, elas podem voltar a qualquer momento.

         - Depois de saber que a grande Bruna Spagnatto já está caidinha por você, acho mais complicado.

         - Ela não está caidinha por mim. Eu não sei o que está acontecendo! Ela me disse que não podemos ficar juntas porque é minha produtora, que é
mais velha.

         - São alguns obstáculos, mas não um grande problema. Ela é quantos anos mais velha que você?

         - Dezesseis. Tá com trinta e três anos.

         - Pra ela pode ser assustador ter a consciência de que está desejando uma novinha. Bruna é gaiatona! Já teve várias mulheres, dois casamentos,
isso pode ser uma novidade pra ela.

         - O que eu faço?

                - A resposta mais coerente? Mantenha distância. Se concentre na sua carreira, transe comigo. Agora a resposta mais realista, você não vai
conseguir se segurar mesmo então deixa rolar.

         Rafaela riu com as palavras de Mel. Sim, poderia deixar rolar, mas como faria isso?

         - Como eu faço isso? – verbalizou.

         - Me dá um ultimo beijo e eu te respondo.

         A adolescente abriu um sorriso e depois tirou o roupão, indo para o colo de Mel novamente.

         - Isso que eu chamo de amiga com benefícios! – brincou a baterista, antes de virar Rafaela na cama, buscando sua boca em um beijo.

         Durante todo o final de semana, Mel ficou com Rafaela no apartamento. Ensinou a adolescente alguns acordes no violão, assistiram filmes e
transaram. Ao se despedirem, na noite do domingo, firmaram a amizade, mantendo aquele final de semana apenas como uma boa lembrança a ser
guardada.

**********

Nirvana - Smells Like Teen Spirit

https://www.youtube.com/watch?v=hTWKbfoikeg

Notas finais:

Oi oi lindonas!

Oia eu igual a carnaval fora de época hehehhehee

Esse cap pode passar a impressão de "solto", mas não é. É bem importante para um desenrolar lá
na frente hehehhehe

Um bom final de semana a todas e agora sim, nos vemos na terça!

Bjokassssssssssssss
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