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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 5ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0026418-49.2013.8.07.0001

APELANTE(S) BRB BANCO DE BRASILIA S.A.

ELZA LUCIA DE JESUS PEREIRA,G&M COMERCIO DE TINTAS LTDA e


APELADO(S)
GERALDO MAGELA PEREIRA
Relatora Desembargadora ANA CANTARINO

Acórdão Nº 1726445

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. CÉDULA DE


CRÉDITO BANCÁRIO. LEI UNIFORME DE GENEBRA. APLICAÇÃO. PRESCRIÇÃO
TRIENAL. SUSPENSÃO. CONSUMAÇÃO. SENTENÇA MANTIDA.

1. Tratando-se de execução de título executivo extrajudicial lastreado em Cédula de Crédito Bancário,


aplica-se a prescrição trienal prevista no art. 70 da LUG, consoante determinação do art. 44 da Lei
10.931/04 c/c art. 206, §3º, VIII do Código Civil.

2. Nos termos do art. 921 do CPC, com a nova redação dada pela Lei n. 14.195/2021, a prescrição
intercorrente inicia-se com a intimação da primeira diligência infrutífera e suspende-se pelo prazo
máximo de um ano.

3. A simples formulação de requerimentos para novas diligências ou a reiteração daquelas já


realizadas, não suspende nem interrompe o prazo de prescrição intercorrente (Acórdão 1656137,
00121756520118070003, Relator: CARLOS PIRES SOARES NETO, 1ª Turma Cível, data de
julgamento: 25/1/2023, publicado no DJE: 8/2/2023. Pág.: Sem Página Cadastrada.).

4. Recurso conhecido e não provido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, ANA CANTARINO - Relatora, MARIA IVATÔNIA - 1º Vogal e
LUCIMEIRE MARIA DA SILVA - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora ANA
CANTARINO, em proferir a seguinte decisão: CONHECER. NEGAR PROVIMENTO AO
RECURSO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 13 de Julho de 2023

Desembargadora ANA CANTARINO


Presidente e Relatora

RELATÓRIO

Cuida-se de apelação interposta pelo exequente BANCO DE BRASÍLIA S/A contra a sentença Id
46385071 proferida nos autos da execução de título extrajudicial ajuizada em face de ELZA LÚCIA
DE JESUS PEREIRA e OUTROS, que julgou extinta a execução por reconhecimento da prescrição
intercorrente, com fundamento no artigo 924, inciso V, do CPC, sem condenação ao pagamento de
custas e honorários.

Em suas razões recursais (Id 46385073), a parte exequente sustenta que, no caso, deve ser observada a
prescrição quinquenal do direito material prevista no art. 206, § 5º, I, do Código Civil e, por
conseguinte, a prescrição intercorrente deve ocorrer no mesmo prazo.

Argumenta, outrossim, que não houve intimação para manifestação prévia, de modo que não há falar
no decurso de prazo prescricional intercorrente, pois o marco inicial é a intimação pessoal da parte para
dar andamento no feito.

Para a garantia de eventual recurso especial ou extraordinário, prequestiona toda a matéria arguida nas
razões de recurso.

Ao final, requer que o recurso seja conhecido e provido para cassar a sentença apelada, a fim de afastar
a prescrição intercorrente e determinar o regular andamento do feito na origem.

Preparo regular (Id 46385074).

Sem contrarrazões no Id 46385099.

É o relatório.

VOTOS

A Senhora Desembargadora ANA CANTARINO - Relatora

Presentes os pressupostos de admissibilidade recursais, conheço do apelo.


A matéria devolvida à análise pelo recurso do exequente repousa na verificação de ocorrência de
prescrição intercorrente.

Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald conceituam a prescrição intercorrente como sendo
aquela “verificada pela inércia continuada e ininterrupta do autor no processo já iniciado, durante um
tempo suficiente para a ocorrência da própria perda da pretensão” (in Curso de direito civil: parte
geral e LINDB, 13. ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo: Atlas, 2015 – pg. 636).

Assim, a prescrição intercorrente se verifica no curso do processo, por abandono de quem deduz a
pretensão ou a executa, durante um lapso correspondente ao próprio prazo prescricional, sempre que
sua inércia não puder ser suprida pelo julgador.

Nesse contexto, a prescrição da ação de execução de cédula de crédito bancário ocorre no prazo de
três anos, nos termos do artigo 44 da Lei nº 10.931/2004 e do artigo 70 da LUG (Decreto nº
57.663/1966), abaixo transcritos.

“Art. 44. Aplica-se às Cédulas de Crédito Bancário, no que não contrariar o disposto nesta Lei, a
legislação cambial, dispensado o protesto para garantir o direito de cobrança contra endossantes, seus
avalistas e terceiros garantidores.”

Lei Uniforme de Genebra, Art. 70:

“Todas as ações contra o aceitante relativas a letras prescrevem em três anos a contar do seu
vencimento. As ações do portador contra os endossantes e contra o sacador prescrevem num ano, a
contar da data do protesto feito em tempo útil, ou da data do vencimento, se se rata de letra que
contenha cláusula ‘sem despesas”. As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador
prescrevem em seis meses a contar do ia em que o endossante pagou a letra ou em que ele próprio foi
acionado.”

Acerca do tema, colha-se o entendimento do E. STJ:

“DIREITO CIVIL. AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO. CÉDULA DE


CRÉDITO BANCÁRIO. PRESCRIÇÃO TRIENAL.

1. Conforme estabelece o art. 44 da Lei n. 10.931/2004, aplica-se às Cédulas de Crédito Bancário, no


que couber, a legislação cambial, de modo que se mostra de rigor a incidência do art. 70 da Lei
Uniforme de Genebra, que prevê o prazo prescricional de 3 (três) anos a contar do vencimento da
dívida. Precedentes.

2. Agravo interno a que se nega provimento.”

(AgInt no REsp 1675530/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA,
julgado em 26/02/2019, DJe 06/03/2019)

O artigo 921 do CPC regulamenta a prescrição intercorrente da seguinte forma:


“Art. 921. Suspende-se a execução:

(...)

III - quando o executado não possuir bens penhoráveis;

(...)

§ 1º Na hipótese do inciso III, o juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual
se suspenderá a prescrição.

§ 2º Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano sem que seja localizado o executado ou que sejam
encontrados bens penhoráveis, o juiz ordenará o arquivamento dos autos.

§ 3º Os autos serão desarquivados para prosseguimento da execução se a qualquer tempo forem


encontrados bens penhoráveis.

§ 4º Decorrido o prazo de que trata o § 1º sem manifestação do exequente, começa a correr o prazo de
prescrição intercorrente.

§ 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício, reconhecer a
prescrição de que trata o § 4º e extinguir o processo.”

Além disso, findo o prazo de um ano, sem a indicação de bens, a jurisprudência é pacífica no sentido
de que, o prazo prescricional começa a correr automaticamente, sendo prescindível a intimação do
credor para dar andamento ao feito.

In casu, após restarem infrutíferas as diligências para localização de bens do devedor, a decisão Id
46385053 suspendeu a execução e o curso do prazo prescricional, em 01/06/2017, a qual foi
disponibilizada no DJe dia 06/06/2017 – Id 46385054.

Já pelo despacho Id 46385068, escoado o prazo prescricional o exequente apelante foi intimado a
manifestar-se quanto à prescrição intercorrente, cumprindo a exigência do art. 921, § 5º, do CPC.

Verifica-se que o banco exequente não promoveu o andamento adequado do feito, mediante a
realização de diligências efetivas e eficazes que pudessem localizar bens da executada passíveis de
penhora por vários anos, uma vez que a mera formulação de requerimento para realização de
diligências que se mostraram infrutíferas a localizar bens do executada, para fins de penhora, não
suspende nem interrompe o prazo de prescrição intercorrente (AgInt no AREsp 1165108/SC, Rel.
Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/2/2020, DJe 28/2/2020) e (
REsp 1732716/MT, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
15/5/2018, DJe 2/8/2018).

Entendimento diverso implicaria a postergação indefinida da fluência do prazo prescricional, sem


possibilidade de satisfação do feito executivo, apenas sobrecarregando o Judiciário.

Conforme anteriormente informado, a suspensão da execução em razão da ausência de bens se


encerrou no dia 07/06/2018, tendo-se o termo inicial da prescrição no dia 08/06/2018 e o termo final
em 07/06/2021.

Entretanto, a Lei nº 14.010/2020 (Dispõe sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das
relações jurídicas de Direito Privado (RJET) no período da pandemia do coronavírus (Covid-19))
determinou, em seu artigo 3º, a suspensão de prazos no período de 10/06/2020 até 30/10/2020.
Nesse sentido:

“APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.


CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. NÃO LOCALIZAÇÃO DE BENS PENHORÁVEIS. PRAZO
PRESCRICIONAL DE TRÊS ANOS. ART. 44 DA LEI 10.931/2004 COMBINADO COM ART. 70
DA LUG. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INOCORRÊNCIA. SUSPENSÃO DO PRAZO
PRESCRICIONAL PREVISTA NA LEI 14.010/2020. APLICÁVEL. SENTENÇA CASSADA. 1.
Decorrido o prazo de suspensão processual de 1 (um) ano, previsto no art. 921, § 1º, do CPC, sem que
o exequente tenha promovido diligência apta a obter a satisfação da pretensão executiva, inicia-se o
prazo de prescrição intercorrente. 2.Prescreve em 3 (três) anos, contados do vencimento da última
parcela, a pretensão na ação de execução fundada em cédula de crédito bancário (art. 44 da Lei
10.931/2004 c/c art. 70 da LUG). 3. O art. 3º da Lei n. 14.010/2020 suspendeu os prazos
prescricionais no período de 12/06/2020 (data da publicação) a 30/10/2020, de maneira que, in casu,
deve ser computado, restituindo o prazo remanescente ao exequente. 4. Apelação conhecida e provida.

(Acórdão 1644875, 00288137120148070003, Relator: FÁBIO EDUARDO MARQUES, 5ª Turma


Cível, data de julgamento: 22/11/2022, publicado no DJE: 23/1/2023. Pág.: Sem Página Cadastrada.)”
g.n.

No caso, somando-se o prazo de suspensão determinado na Lei nº 14.010/2020 com o prazo de


prescrição da LUG, tem-se que o termo final do prazo de prescrição foi o dia 28/10/2021.

Diante disso, a sentença proferida no dia 25/02/2022 não merece reforma.

Ante o exposto, CONHEÇO do apelo e NEGO PROVIMENTO ao recurso.

É como voto.

A Senhora Desembargadora MARIA IVATÔNIA - 1º Vogal


Com o relator
A Senhora Desembargadora LUCIMEIRE MARIA DA SILVA - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECER. NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME.

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