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T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL.

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T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.
Dr. Eduardo Goulart Pimenta
Professor Adjunto da Faculdade de Direito da UFMG e PUC/MG

Dr. Rodrigo Almeida Magalhães


Professor Associado da Faculdade de Direito da UFMG e PUC/MG

Dr. João Bosco Leopoldino da Fonseca


Professor Titular da Faculdade de Direito da UFMG

Dr. Marcelo Andrade Féres


Professor Associado da Faculdade de Direito da UFMG

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Direção editorial: Luciana de Castro Bastos

Diagramação e Capa: Daniel Carvalho e Igor Carvalho

A regra ortográfica usada foi prerrogativa do autor.

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Commons 4.0
https://br.creativecommons.org/

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Pereira, Michele Cristie (Org.)
Temas atuais de Direito diante de uma realidade mundial.  [livro eletrônico] /
Michele Cristie Pereira (Org.). - 1. ed. - Belo Horizonte
Editora Expert 2020
ISBN: 978-65-992633-3-0
268 páginas

Índices para catálogo sistemático: CDD-342.1


1. Direito Civil: Brasil 2. Direito I. Título.

Disponivel: http://experteditora.com.br

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ÍNDICE

CAPÍTULO 1

OS IMPACTOS DA PANDEMIA NAS RELAÇÕES DO


TRABALHO .........................................................14
Introdução............................................................... 14
O que é Coronavírus?............................................... 15
Medida Provisória 927............................................. 17
Análise do Supremo Tribunal Federal..................... 18
Implicações Às Empresas ........................................ 20
Considerações Finais .............................................. 22
Referências.............................................................. 23

CAPÍTULO 2

AVANÇOS TECNOLÓGICOS NO MUNDO JURÍDICO.


............................................................................26
Introdução............................................................... 26
Medidas tecnologias no Direito Societário.............. 27
Projeto Victor.......................................................... 30
Jurimetria................................................................ 32
Cadeia de Custódia.................................................. 35
Conclusão................................................................ 38

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Referências................................................................39

CAPÍTULO 3

COMPARAÇÃO DE LEIS TRABALHISTAS, DIREITO


CONSUMIDOR E SISTEMA PRISIONAL EM FACE
DAS PANDEMIAS DA GRIPE ESPANHOLA E DA
COVID-19.............................................................42
Introdução............................................................... 42
Breve relato da pandemia da gripe espanhola e da
pandemia do covid-19............................................. 43
Pandemia da gripe espanhola.................................. 43
Pandemia do covid-19............................................. 45
Leis trabalhistas na época da gripe espanhola x época
do covid-19.............................................................. 46
Leis existentes na gripe espanhola.......................... 46
Leis trabalhistas atuais em plena pandemia do
covid-19................................................................... 49
Regime especial de compensação de horas.............. 51
Lei do Consumidor na pandemia espanhola x
pandemia do covid-19............................................. 52
Como o consumidor era tratado na pandemia
espanhola................................................................ 52
O direito do consumidor em face da pandemia do
covid-19................................................................... 53

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Sistema prisional na pandemia espanhola e na
pandemia do covid-19............................................ 58
Conclusão................................................................ 60
Referências Bibliográficas........................................ 65

CAPÍTULO 4

O CUMPRIMENTO DE PENA EM TEMPOS DE


PANDEMIA .......................................................70
Introdução............................................................... 70
Regimes de Pena existentes no Código Penal Brasileiro
................................................................................ 72
Sistema Penitenciário Brasileiro.............................. 75
Impactos da doença Covid-19 no âmbito penitenciário
................................................................................ 80
Medidas Preventivas no Âmbito Penitenciário........ 84
Conclusão................................................................ 91
Referências.............................................................. 92

CAPÍTULO 5

O SERVIDOR PÚBLICO E A PROTEÇÃO


CONSTITUCIONAL EM TEMPO DE COVID-19.....96
Introdução............................................................... 96
Administração Pública............................................ 97

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SERVIDORES PÚBLICOS X CLT .............................. 98
Funcionários Públicos Eletivos...............................107
Funcionários Públicos Terceirizados......................108
Funcionários Públicos, Autarquias, Fundações
Públicas, Empresas Públicas e Sociedades de Economia
Mista  .....................................................................109
A Irredutibilidade do Salário e da Carga Horária do
Servidor Público Isento da Mp 936/20....................110
MP 936/20 e a Flexibilização de Direitos ...............114
Conclusão...............................................................121
Referências ............................................................123

CAPÍTULO 6

DIREITO DIGITAL E NORMAS JURÍDICAS: desafios


e avanços da tecnologia aplicada......................126
Introdução..............................................................126
Evolução Histórica do Direito Digital.....................128
Desafios direito digital............................................136
O que é o direito digital..........................................136
Caratecterísticas direito digital..............................136
Marco Civil da Internet lei (Nº 12.965/2014).........139
Privacidade.............................................................140
Neutralidade da rede..............................................140
Desdobramentos Jurídicos......................................141

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Dos Crimes.............................................................144
CONCLUSÃO..........................................................146
Referências.............................................................148

CAPÍTULO 7

COVID – 19 E A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM


ÉPOCA DE ISOLAMENTO SOCIAL.....................151
Introdução..............................................................151
Desenvolvimento....................................................152
Violência Contra a Mulher ....................................153
Violência Contra o Idoso .......................................156
Violência Contra a Criança ....................................157
VIOLÊNCIA CONTRA O HOMEM ..........................159
MEDIDAS DE DENUNCIAS E PROTEÇÃO...............159
Considerações Finais ............................................161
.Referências.............................................................162

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CAPÍTULO 8

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER


EM TEMPOS DE PANDEMIA...........................164
Introdução..............................................................164
COVID-19 ..............................................................165
Violência Doméstica...............................................167
Impacto da Covid-19 em Relação à Violência
Doméstica e no Âmbito Familiar............................171
Considerações Finais..............................................173
Referências.............................................................176

CAPÍTULO 9

ANÁLISE DA REDAÇÃO DA LEI 13.968/2019 E A


ALTERAÇÃO DO ARTIGO. 122 DO CÓDIGO PENAL
BRASILEIRO...................................................179
Introdução 179
Automutilação e Suicídio.......................................181
O Artigo 122 do Código Penal Brasileiro.................183
ALTERAÇÃO LEGISLATIVA APÓS 2019..................187
Considerações Finais..............................................191
Referências.............................................................193

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CAPÍTULO 10

COVID-19 E O SISTEMA CARCERÁRIO: entre a


Dignidade Humana e a Segurança Pública... 197
Introdução..............................................................197
A Dignidade do Cumprimento da Pena Em Tempos de
Pandemia................................................................198
O Atual Cenário do Sistema Carcerário Brasileiro..202
Normas Que Regulam o Sistema Carcerário Brasileiro
Neste Cenário.........................................................208
FLEXIBILIZAÇÕES NO CUMPRIMENTO DA PENA:
dignidade humana e segurança pública..................212
Conclusão...............................................................215
Referencias ............................................................216

CAPÍTULO 11

O NEOCONSTITUCIONALISMO E SEUS IMPACTOS


NOS TRÊS PODERES..........................................223
Introdução..............................................................223
Constitucionalismo................................................224
Neoconstitucionalismo e Sua Origem....................225
As Características Que Compõe o
Neoconstitucionalismo...........................................226
O Impacto do Neoconstitucionalismo nos Três
Poderes...................................................................228

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Os Impactos do Neoconstitucionalismo no Poder
Legislativo e Seus Efeitos Normativos....................228
Poder Judiciário e o Ativismo Judicial.....................230
Críticas a Subjetividade do Neoconstitucionalismo.232
A Adequação do Poder Executivo Aos Preceitos
Neoconstitucionalistas...........................................235
Considerações Finais..............................................236
Referências.............................................................237

CAPÍTULO 12

Economia brasileira: desenvolvimento e regresso,


decadência frente ao Covid-19 e seus reflexos nos
contratos de trabalho........................................241
Introdução..............................................................241
Histórico econômico brasileiro...............................242
Covid-19 e seu impacto econômico........................249
Rescisão e revisão contratual..................................253
Considerações finais...............................................257
Referências.............................................................259

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CAPÍTULO 1

OS IMPACTOS DA PANDEMIA NAS


RELAÇÕES DO TRABALHO

Naiatalle Cabral da Cunha

Introdução
O presente artigo trata sobre a relação de empregado e empregador
diante da pandemia causada pelo covid-19 e que assola não só o Brasil,
mas vários outros países do Planeta e, por isso, é chamado de pandemia.
Após a chegada do vírus ao Brasil, todas as relações ficaram
abaladas e foi necessária uma Medida Provisória para que regulamentasse
a situação dos trabalhadores ativos.
Para os empregados autônomos e ambulantes que não possuíam
um vínculo empregatício oficializado pela Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), mas que também ficaram impossibilitados de exercerem
o seu trabalho, o Governo brasileiro disponibilizou uma verba para que
pudessem se manter neste momento tão difícil.
Esse auxílio disponibilizado pelo Governo é chamado de “auxílio
emergencial” e contempla um valor de R$600,00 para aqueles que estão
desempregados ou impossibilitados de trabalhar e um valor de R$1.200,00
para aqueles que são considerados como “chefe do lar”.
Para essas pessoas que estão inativas do trabalho, foram tomadas
providências cabíveis e não há o que se questionar até o momento, pois
de acordo com o art 3° do Decreto nº 10.316, de 07 de abril de 2020, fica
concedido o valor de R$ 600,00 pelo período de três meses consecutivos

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a partir da data de vigência do Decreto supracitado.
Cabe a este artigo expor e analisar a situação daqueles que estão
com o contrato de trabalho ativo e/ou que permanecem trabalhando. Ou
seja, serão analisadas as medidas que as empresas e empregados devem
tomar para que o país não sofra ainda mais neste período pandêmico.

O que é Coronavírus?
O Coronavírus, também conhecido como covid-19, é um vírus
que causa infecção respiratória. No final do ano de 2019 foi descoberto
o início do Novo Coronavírus na China e, devido ao seu fácil e acelerado
contágio, foi se espalhando por vários países e continentes de forma
alastrante. A forma de contágio do vírus é por aproximação e toque à
pessoa infectada e/ou transmissoras do vírus em contato com pessoas não
infectadas que, apesar de no início ter se falado em um grupo de risco que
eram os idosos acima de 60 anos, hoje já não há mais esse grupo de risco,
pois há casos de mortes em jovens e adultos.
O Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de coronavírus
no Brasil no dia 26/02/2020 e, desde então, os casos só aumentaram. Em
junho/2020 o Brasil já ultrapassa a margem de 40 mil mortos por este
vírus, conforme o site Globo (G1. 2020). A fim de evitá-lo, a Organização
Mundial de Saúde (OMS) orienta que além do uso constante de máscaras
de proteção, uso excessivo de álcool e lavar as mãos periodicamente,
a forma mais assertiva e segura para evitar a propagação dos vírus é o
distanciamento social.
Para tanto, foi sancionada a Lei n° 13.979 no dia 06 de fevereiro
de 2020 com os seguintes artigos acerca do tema:
Art. 2º Para fins do disposto nesta Lei, considera-se:
I - isolamento: separação de pessoas doentes ou
contaminadas, ou de bagagens, meios de transporte, merca-

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dorias ou encomendas postais afetadas, de outros, de manei-
ra a evitar a contaminação ou a propagação do coronavírus;
e
II - quarentena: restrição de atividades ou separa-
ção de pessoas suspeitas de contaminação das pessoas que
não estejam doentes, ou de bagagens, contêineres, animais,
meios de transporte ou mercadorias suspeitos de contamina-
ção, de maneira a evitar a possível contaminação ou a pro-
pagação do coronavírus.
Art. 3º  Para enfrentamento da emergência de
saúde pública de importância internacional decorrente do
coronavírus, as autoridades poderão adotar, no âmbito
de suas competências, dentre outras, as seguintes medi-
das:                (Redação dada pela Medida Provisória nº 926,
de 2020).
I - isolamento;
II - quarentena;

Cada estado no Brasil adotou a melhor forma de distanciamento


social de acordo com a Lei supracitada. De acordo com o site Brasil de
Fato, alguns estados como: Ceará, Rio de Janeiro e Amapá, por exemplo,
decretaram o lockdown (confinamento geral) em pelo menos uma
cidade do estado. Algumas cidades da Bahia determinaram o horário de
recolher e diminuíram os fluxos de transporte público. Em Minas gerais,
por exemplo, algumas cidades estabeleceram multas para quem não
adotasse o uso correto e obrigatório de máscaras de proteção. Fato é que,
independente de como as cidades reagiram à pandemia, todas tiveram
prejuízos nos setores de comércio, transporte, varejistas e autônomos em
geral e todas as relações de emprego ficaram abaladas.

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Medida Provisória 927
A Medida Provisória 927 foi instaurada em 22 de março de 2020
pelo atual presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro. Essa medida
provisória tem como objetivo regulamentar as relações de trabalho nesse
período de pandemia e estado de calamidade pública.
Devido à necessidade do distanciamento social, os empregadores
tiveram que tomar medidas cautelares para que as empresas não falissem.
Para isso tiveram que reorganizar o quadro de funcionários e as medidas
mais utilizadas foram: suspensão de contrato, redução da jornada de
trabalho, antecipação de férias e adoção do teletrabalho como medida
para o afastamento social sem interferir nos negócios da empresa.
Entretanto, há a previsão de trabalho presencial para aquelas
atividades consideradas como essenciais para o país e para a população
em geral. Essas atividades essenciais foram determinadas no Decreto n°
10.282/2020 estabelecido pelo atual Presidente do país.

Art. 3º As medidas previstas na  Lei nº 13.979, de


2020,  deverão resguardar o exercício e o funcionamento dos
serviços públicos e atividades essenciais a que se refere o § 1º.

§ 1º São serviços públicos e atividades essenciais àqueles


indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da
comunidade, assim considerados aqueles que, se não atendidos,
colocam em perigo a sobrevivência, a saúde ou a segurança da
população

São exemplos de atividades essenciais que estão listados no


Decreto: Serviços de Transportes e Logística; Serviços de assistência à
saúde; Serviços de energia elétrica; Serviço funerário e outros supracitados
no Decreto.
No art. 29 da MP 927 fica determinado que a contaminação pelo

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covid-19 não será considerado doença ocupacional, exceto se comprovado
o nexo causal. Ou seja, não é doença do trabalho até que seja comprovado
que o empregador foi negligente e imprudente com os empregados que
estão trabalhando na linha de frente.
É de conhecimento de todos que o vírus pode ser contraído em
qualquer lugar, no supermercado, farmácia ou pela visita de um parente
contaminado. Mas, fato é que, estes trabalhadores estão diariamente ou
periodicamente colocando a vida em risco com o intuito de amenizar os
impactos causados pela pandemia. Ter que comprovar o nexo causal da
sua doença, seria um ato cruel e ofensivo com aqueles que estão colocando
a vida em risco pelo país.

Análise do Supremo Tribunal Federal


O STF, por sua vez, está entendendo que a contaminação pelo
coronavírus deve ser considerada como doença ocupacional e que cabe
ao empregador o ônus da prova. Por isso, o STF, por maioria dos votos,
suspendeu em decisão liminar a eficácia do art. 29 da MP 927. Ou seja,
não é mais necessário que o empregado comprove o nexo causal para que
seja caracterizado como acidente de trabalho.
É válido ressaltar que, independentemente, se o empregado
contraiu a doença em casa ou no trabalho, ainda assim o STF está
compreendendo que será uma doença ocupacional.
A doença ocupacional é caracterizada pelo exercício do trabalho e
está regulamentada pela Lei n° 8.213/91.

Art. 19.  Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercí-


cio do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico
ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso
VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturba-
ção funcional que cause a morte ou a perda ou redução, perma-

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nente ou temporária, da capacidade para o trabalho.  

§ 1º  A empresa é responsável pela adoção e uso das


medidas coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde
do trabalhador.

§ 2º  Constitui contravenção penal, punível com multa,


deixar a empresa de cumprir as normas de segurança e higiene
do trabalho.

Contudo, no artigo seguinte da mesma Lei relata outros tipos


de doenças ocupacionais. Em específico, no § 1° alínea “d” fala que
as doenças endêmicas são consideradas ocupacionais. A endemia são
infecções que atingem uma região específica e, às vezes, somente de
maneira sazonal. Neste caso, estamos em meio a uma pandemia, que é
uma infecção generalizada mundialmente e, por isso, também deve ser
considerada como doença ocupacional:
Art.  20.  Consideram-se acidente do trabalho, nos
termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas:
I - doença profissional, assim entendida a produzi-
da ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a
determinada atividade e constante da respectiva relação ela-
borada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;
II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida
ou desencadeada em função de condições especiais em que
o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente,
constante da relação mencionada no inciso I.
§ 1º Não são consideradas como doença do trabalho:
d) a doença endêmica adquirida por segurado ha-
bitante de região em que ela se desenvolva, salvo compro-
vação de que é resultante de exposição ou contato direto
determinado pela natureza do trabalho.

Ainda considerando a análise crítica do STF, seria viável rever à

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eficácia dos artigos 15 e 16 da mesma MP.
Art. 15.  Durante o estado de calamidade pública a
que se refere o art. 1º, fica suspensa a obrigatoriedade de
realização dos exames médicos ocupacionais, clínicos e
complementares, exceto dos exames demissionais.
§ 1º  Os exames a que se refere caput serão realizados
no prazo de sessenta dias, contado da data de encerramento
do estado de calamidade pública.
Art. 16.  Durante o estado de calamidade pública a
que se refere o art. 1º, fica suspensa a obrigatoriedade de
realização de treinamentos periódicos e eventuais dos atuais
empregados, previstos em normas regulamentadoras de se-
gurança e saúde no trabalho.
§ 1º  Os treinamentos de que trata o  caput  serão
realizados no prazo de noventa dias, contado da data de
encerramento do estado de calamidade pública.

É incoerente exigir dos empregadores para que tomem medidas


de segurança contra a proliferação do coronavírus, sendo que a própria
Medida Provisória descaracteriza a obrigatoriedade da realização de
exames periódicos até a data de encerramento do estado de calamidade
pública.

Implicações Às Empresas
Quando há um acidente de trabalho, o empregador ou um
terceiro responsável precisa abrir um Comunicado Acidente do Trabalho
(CAT). Este, por sua vez, tem a função de comunicar ao INSS que houve
um acidente de trabalho. Somente depois desse procedimento que o
empregado terá direito ao auxílio doença.
Os acidentes de trabalho, quando possuem afastamentos superiores

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há 15 dias, além desses primeiros 15 dias serem custeado pelo empregador,
também são quantificados e fomentam o índice do Fator Acidentário
Previdenciário (FAP), que é um valor que as empresas pagam destinadas
ao Seguro Acidente de Trabalho (SAT) e este valor serve para auxiliar o
empregado que está acidentado. Ou seja, quanto maior a quantidade de
acidentes registrados pelo empregador, maior será o índice de pagamento
do FAP (Brasil. 2020).
Dessa forma, o empregador fica diante de mais uma situação de
risco para o seu empreendimento. Pois, mesmo quando acabar o período
de pandemia, não poderá reduzir o quadro de empregados por um
determinado tempo a fim de reduzir gastos e tentar se reerguer novamente
no mercado.
Por esse motivo, a decisão do STF é considerada negativa ao olhar
de grande parte dos empregadores, pois além de possíveis indenizações
por morte e ter que manter o pagamento do FGTS durante todo o período
de afastamento, após o retorno o empregado ainda terá estabilidade/
garantia de emprego por 01 ano, de acordo com o art 118 da Lei 8.213/91:

Art. 118. O segurado que sofreu acidente do trabalho tem


garantida, pelo prazo mínimo de doze meses, a manutenção
do seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação do
auxílio-doença acidentário, independentemente de percep-
ção de auxílio-acidente.

Além disso, é perceptível que a situação da economia do país e,


principalmente dos empregadores menores, não está tão favorável quanto
estava previsto que seria. Segundo o jornal CNN Brasil, mais de 600 mil
pequenas empresas decretaram falência em abril desse ano e, no mesmo
jornal, consta uma pesquisa em que 30% dos empresários solicitaram
empréstimos junto aos Bancos.

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Considerações Finais
Mediante os fatos exposto acima, é possível notar os motivos da
MP 927 e, principalmente, do art. 29 terem repercutido tanto nos últimos
meses. Há quem diga que o artigo em discussão não poderia ter sido
suspenso, outros concordam plenamente com a decisão do Supremo e há
aqueles que entendem que o mais prudente seria aplicar o art. 29 somente
para os empregados que trabalham em clínicas e hospitais de saúde.
No caso desse último pensamento levantado, não seria o mais
prudente a ser feito devido à equidade entre os trabalhadores. Em outros
termos, se todos os trabalhadores citados no Decreto n° 10.282/2020 são
considerados como indispensáveis e como linha de frente do país, não
seria justo com os demais empregados que não fazem partem da área de
saúde, mas que estão citados no Decreto terem uma tratativa diferente do
que foi proposto. Fato é que estas pessoas estão colocando à sua vida e de
seus familiares em risco para que o país não sofra ainda mais os impactos
da pandemia.
Portanto, é considerável frisar a importância dos empregadores
adotarem e reforçarem ao máximo as medidas de segurança indicadas
pela OMS e que, se possível, é preferível que adotem as medidas de
teletrabalho. Pois, além de evitarem que mais pessoas sejam contaminadas,
caso algum trabalhador apresente uma doença que não seja identificado
motivo exato, o empregador deverá mostrar documentos que comprove
que agiu de maneira preventiva disponibilizando todos EPI’s necessários
para o funcionamento do trabalho em segurança.
Além disso, cabe ao Governo Brasileiro fiscalizar as empresas
ativas neste momento de pandemia e que o STF também analise os
artigos 15 e 16 da MP 927 e que exija que as empresas que mantiveram os
negócios ativos realizem os exames periódicos como forma de prevenção
da proliferação do vírus.

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Referências
BRASIL. Linha do tempo coronavírus. Disponível em:
<https://coronavirus.saude.gov.br/linha-do-tempo>. Acesso em:
20 mai. 2020

BRASIL. Medida provisória n°927, de 22 de março de 2020.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/Mpv/mpv927.htm> Acesso em: 06 jun.2020

BRASIL. Decreto Nº 10.316, de 07 de abril de 2020. Disponível


em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/
decreto/d10316.htm> Acesso em: 16 jun. 2020

BRASIL. Lei n° 13.979 no dia 06 de fevereiro de 2020. Disponível


em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/
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BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>
Acesso em: 16 jun.2020

BRASIL, CNN. Mais de 600 mil pequenas empresas fecharam


as portas com coronavírus. 09 abr. 2020. Disponível em: <https://www.
cnnbrasil.com.br/business/2020/04/09/mais-de-600-mil-pequenas-
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BRASIL. FAP: Resolução que estabelece mudanças no cálculo do
fator é publicada pelo DOU. 01 jun. 2017. Disponível em: <http://www.
previdencia.gov.br/2017/06/fap-resolucao-que-estabelece-mudancas-no-
calculo-do-fator-e-publicada-no-dou/> Acesso em: 15 jun. 2020

FATO, Brasil de. 11 estados brasileiros registram lockdown. 20 mai.


2020. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2020/05/20/
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GLOBO, G1. Mortes por coronavírus. 12 jun. 2020. Disponível


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brasil-tem-41901-mortes-por-coronavirus-mostra-consorcio-de-veiculos-
de-imprensa-pais-ultrapassa-reino-unido-e-e-o-2o-com-maior-no-de-
obitos-no-mundo.ghtml> Acesso em: 16 jun.2020

JURÍDICO, Âmbito. Covid-19 agora é doença ocupacional?


20 mai. 2020. Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/noticias/
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NOTÍCIAS, Senado. Para STF, covid-19 é doença ocupacional.


30 abr. 2020. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/
materias/2020/04/30/para-stf-covid-19-e-doenca-ocupacional-e-
auditores-poderao-autuar-empresas> Acesso em: 15 jun. 2020.

SAÚDE, Ministério da. Brasil confirma primeiro caso da


doença. 27 fev. 2020. Disponível em: <https://www.saude.gov.br/

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noticias/agencia-saude/46435-brasil-confirma-primeiro-caso-de-novo-
coronavirus > Acesso em: 20 mai.2020

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CAPÍTULO 2

AVANÇOS TECNOLÓGICOS NO
MUNDO JURÍDICO

Iago Cunha Araújo


Igor Souza do Espírito Santo
Letícia Queiroz
Ronaldo Felix Braga

Introdução
O ano é 2020, aos leitores de primeira viagem, aconselhamos uma
poltrona confortável e uma internet bem estável para que nada seja perdido
com o passar dos anos, lembrando que nosso objetivo não é abordar sobre
nenhum tipo de doença, mas foi devido a uma pandemia causada pelo
vírus SARS-CoV-2, que gerou uma grande aceleração tecnológica na
sociedade.
E devido as mudanças estarem presentes em vários locais, áreas
de atuação e até mesmo em mecanismos, o intuito desse projeto é mostrar
como o avanço está presente definitivamente em tudo, até mesmo em
institutos que se quer pensávamos que faltava algo a ser acrescentado.
Nosso objetivo é mostrar que sim, pode ser mudado, será mudado e é
melhor que você esteja preparado, pois o futuro já está presente.

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Medidas tecnologias no Direito
Societário

Está claro que a mudança não está por vir, ela já chegou, e não
apenas na Sociedade em que nossa população está inserida, mas as
Sociedades do Direito Societário também estão em constantes mudanças e
caberá ao advogado destas se informar e se atualizar para que a tecnologia
não deixe a sociedade obsoleta em alguns aspectos ou até mesmo para
evitar gastos exorbitantes e desnecessários.
Como ocorre por exemplo na realidade de empresas de grande
porte, que necessitam da constituição de uma assembleia que através do
poder deliberativo dos sócios, tomam as decisões que irão reger a empresa
e afetar a vida de todos os acionistas. Devido ao seu nível de grandeza,
pode acontecer dos seus respectivos sócios não residir no mesmo local que
a sede da empresa, e por isso necessitam de um alto custo de transporte
e estadia, apenas para o simples fato de assistir ou votar em determinado
assunto social.
Pelo fato de uma S/A ter o seu capital social dividido em várias
frações (quotas), temos a presença do acionista controlador que de modo
permanente detém a maioria de votos nas assembleias gerais e tem o poder
de eleger a maioria dos administradores da companhia, e os demais sócios
chegando alguns a ter apenas uma única ação investida nesta empresa,
são os chamados sócios minoritários, o exercício de poder deste, é bem
diferente do acionista controlador, pois em certas companhias o capital
é dividido em dois tipos de ações, preferenciais que dão ao seu detentor
algum direito extra no pagamento dos lucros distribuídos aos acionistas,
e existe as ações Ordinárias que dão direito ao voto nas assembleias da
empresa.
Com o exemplo de empresas com a magnitude da Petróleo Brasileiro

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S.A. (Petrobras), entende-se que para aquele sócio que só tem ações
preferenciais, fica inviável participar da assembleia, e consequentemente
poderá se sentir prejudicado por não assistir em primeira mão sobre o
futuro da sua própria empresa.
Como uma forma de socorro, temos várias plataformas seguras na
qual é possível que seja feita a reunião de forma ao vivo, e quase presencial,
ainda assim com quilômetros separando sócio e sociedade, mas utilizando
uma ferramenta tecnológica para encurtar essa distância. Como exemplo
o Zoom Meeting, Slack, Jitsi Meet que é uma plataforma acessível através
de qualquer browser, e até mesmo o Skype, ferramenta que sempre esteve
presente em nossa área de trabalho, ou seja, são ferramentas que tornam
o sócio que não tem direito ao voto mais participativo nas reuniões, até
mesmo para saber se pode continuar investindo neste seguimento, ou até
para a economia e conforto deste que tem apenas um voto em meio a mil
distribuídos.
Mas para aqueles que valorizam um contato mais próximo, existe
uma ferramenta mais avançada, que está em desenvolvimento que é
chamada de Square, criado pela ArgoDesing, uma companhia de design
presente nos Estados Unidos e Holanda. O conceito consiste em uma
janela artificial, criada a partir de uma tela de LCD que fica acoplada na
parede, mas a mágica está em quatro pequenas câmeras que ficam ocultas
trabalhando em conjunto para que as junções dessas imagens resultem
em um efeito 3D, ao invés de estar presente na tela apenas um quadro
dividido, como ocorre no Zoom Meeting.

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Acredita-se que agora você esteja pensando que as reuniões das
cenas de os Vingadores Ultimato compostas pelos heróis da Marvel em
formato de holograma não estão tão distantes.

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Projeto Victor
A Constituição da República de 1988 trouxe grandes avanços nas
mais diversas áreas da sociedade brasileira, e um deles foi a de que a Carta
Magna aborda dentro do seu texto matérias relacionadas praticamente a
todas as áreas jurídicas, trazendo então um rol enorme de direitos. Porém,
tal amplificação trouxe consigo também uma judicialização muito grande
das relações sociais, o que acarretou então em uma demanda expressiva
para o Poder Judiciário.
E essa demanda expressiva causou o congestionamento do Poder
Judiciário, como demonstra o Relatório do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) Justiça em Números de 2019, ano base 2018, em que no referido
ano havia um total de 78.691.031 ações pendentes de julgamento (CNJ,
2019, p. 04). Logo, com tal congestionamento o que se percebe é que o
Princípio da Razoável Duração do Processo não é respeitado, uma vez
que até o final do de 2018 havia mais de 78 milhões de ações no estoque
do Poder Judiciário.
Atualmente, a tecnologia está presente na rotina dos seres
humanos quase que ininterruptamente, e a Inteligência Artificial, que é
um resultado da tecnologia, ganhou forças nos últimos anos. Com isso,
com intuito de que o Princípio da Razoável Duração do Processo fosse
respeitado, no ano de 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) noticiou
na sua página principal que o projeto VICTOR iria ser desenvolvido
baseado na Inteligência Artificial e que na sua fase inicial VICTOR leria
“todos os recursos extraordinários que sobem para o STF e identificar
quais estão vinculados a determinados temas de repercussão geral.” (STF,
2018).
O que parece ser um passo simples é na verdade uma grande
evolução para o dos Ministros e Servidores do STF e consequentemente
para os brasileiros em geral que serão beneficiados pelo projeto. Segundo
o Ministro Dias Tofolli em uma notícia do site institucional do STF: “O

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trabalho que custaria ao servidor de um tribunal entre 40 minutos e uma
hora para fazer, o software faz em cinco segundos.” (STF, 2018).
É importante ressaltar que através da Emenda Constitucional nº
45/2004 foi incrementado o requisito de que os recursos extraordinários
possuíssem repercussão geral para que eles fossem analisados pelo
STF. Com isso, ficou entendido que após passar por um duplo grau de
jurisdição, somente seriam aceitos recursos que trouxessem relevância
social, política, econômica ou jurídica, fazendo então com que houvesse
uniformização da interpretação constitucional para um certo tema.
O projeto VICTOR, desenvolvido em parceria com a Universidade
de Brasília (UNB), tratará inicialmente os dados das repercussões gerais
para estruturação e preparação dos modelos de aprendizado da máquina.
Após isso, o projeto desenvolverá pesquisa dos possíveis algoritmos e
estratégias de treinamento, incluindo redes neurais artificiais para então
realizar a prototipação e treinamento dos algoritmos escolhidos. A próxima
etapa será a de preparação da rede de comunicação para classificação de
processos em tempo real. (FILHO; JUNQUILHO, 2018).
Conforme afirma Filho e Junquilho, os benefícios do projeto
VICTOR são consideráveis e pode inovar grandemente o Poder Judiciário
em um curto e médio prazo.
O projeto, tal como concebido, pode inovar de for-
ma significativa os procedimentos de análise da repercussão
geral no STF, com a entrega de instrumentos tecnológicos
que permitam à Corte não apenas a separação de peças ju-
rídicas importantes nos processos para a avaliação do tema
tratado em cada caso, mas que possibilitem, também, a agili-
zação dos trâmites e das técnicas que envolvem a verificação
dos requisitos constitucionais que permeiam o controle de
constitucionalidade difuso. (FILHO; JUNQUILHO, p. 11,
2018)

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Portanto, por ser um projeto pioneiro, este não somente ajudará
o STF, mas como também posteriormente todos os demais Tribunais
e também a Administração Pública em geral. Ademais, é importante
ressaltar que se trata de uma norma maneira do Direito e da Tecnologia
se relacionar, que beneficiará direta ou indiretamente todos os brasileiros,
conforme foi demonstrado neste tópico.
Por fim, é imprescindível que os advogados procurem se inteirar
de tal evolução para que a qualidade dos serviços já prestados não venham
deteriorar com essa relação mais próxima, que a cada dia se torna mais
íntima, que é a existente entre o Direito e Tecnologia.

Jurimetria
Atualmente em nossa sociedade tem havido grandes revoluções
tecnológicas, profissões que antes eram insubstituíveis hoje não são mais,
a inteligência artificial está tomando grande espaço na modernidade. No
âmbito jurídico não é diferente, a forma de se prestar e consumir serviços
também está em constante evolução. A instauração da Jurimetria em
escritórios contenciosos em massa são um dos exemplos que demonstram
que o Direito vem se adaptando às transformações tecnológicas.
A primeira referência ao termo foi do advogado americano Lee
Loevinger. Em 1949 ele conseguiu unir a estatística no âmbito jurídico
com o intuito de tornar o uso do Direito mais eficiente. Lee Loevinger
(1963), citado por Filipe Jaeger (2014, p.76) escreve o artigo “Jurimetrics:
the methodology of legal inquiry”, ele conceitua a jurimetria e afirma que

A Jurimetria se preocupa com questões como a aná-


lise quantitativa do comportamento judicial, a aplicação da
teoria da comunicação e da informação à expressão jurídica,
o uso da lógica matemática na lei, a recuperação de dados
legais por meios eletrônicos e mecânicos e a formulação de

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um cálculo.(LOEVINGER,1963, tradução nossa)

A ideia de Loevinger autor do artigo “Jurimetrics: the methodology


of legal inquiry” era de analisar as jurisprudências e tornar o uso do Direito
mais previsível e eficiente para a sociedade, ele defende que precisamos
estudar as decisões judiciais de forma empírica para que possamos
entender o comportamento do judiciário sobre determinado assunto.
Diante desse cenário, podemos conceituar que a jurimetria é
pactuada com o estudo da estatística de grande quantidade de observações.
Esta visa mensurar atos jurídicos apontando previsibilidade com alto
índice de precisão, podendo antecipar até como juízes e desembargadores
decidirão sobre determinado caso. O advogado Marcelo Guedes Nunes
elucida a jurimetria.
Para se entender o que é o direito real, temos de
utilizar ferramentas capazes de descrever como se dá, efeti-
vamente, a dissuasão prática dos processos em que há con-
flitos de interesses. A Jurimetria pode auxiliar o Direito a
entender melhor o que os cidadãos esperam das autoridades
e, assim, ajudar as autoridades a elaborar leis mais aderentes
à realidade social. Ao descrever a vida concreta do direi-
to, a Jurimetria se torna uma ferramenta fundamental para
desenvolver instituições jurídicas mais justas e capazes de
realizar as aspirações políticas da sociedade”, (GUEDES;
MARCELO,2016, p.200)

A jurisprudência é uma fonte do direito e a jurimetria analisa


introspectivamente os méritos de determinados processos e de determinadas
comarcas através da jurisprudência, transparecendo informações baseadas
na capturação de dados e fornecendo o possível resultado que o juiz irá
conceder, com uma margem de alto índice de precisão sobre determinado
caso. Com isso ajuda a parte litigante a conhecer as suas chances de obter
sucesso na demanda judicial, e também ajuda os advogados identificarem

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melhores argumentos jurídicos que se adequem no entendimento do
Magistrado.
Muitas pessoas do ramo jurídico reclamam que demanda tempo
para se encontrar uma jurisprudência, e que é difícil encontrar um padrão
de julgamento de um determinado juiz, mas com o avanço da tecnologia
aplicada ao Direito isso se torna muito mais acessível, prático e célere
para os operadores do âmbito jurídico.
Em um panorama do Poder Judiciário brasileiro o CNJ (Conselho
Nacional de Justiça) relatou em 2018, 78 milhões e 700 mil de processos
judiciais em trâmite nos 90 tribunais brasileiros e nos 27 estados da
Federação e foram proferidas somente 32 milhões e 400 mil de sentenças
terminativas. Nesse relatório segundo o CNJ (2019) “mesmo que não
houvesse ingresso de novas demandas e fosse mantida a produtividade
dos magistrados e dos servidores, seriam necessários aproximadamente 2
anos e 6 meses de trabalho para zerar o estoque.”
Além disso a maioria das demandas recebidas na Ouvidoria,
compõe-se de manifestações referentes à morosidade processual no Poder
Judiciário, que representou 54,42% (11.746) dos registros recebido.
E isso é extremamente problemático, o Poder Judiciário não consegue
acompanhar de forma efetiva as demandas das pessoas.
Para resolver esse problema é preciso de uma análise de dados em
massa para criar sumulas e jurisprudências que consiga atingir diversos
casos de uma só vez, pois muitos processos tem a mesma causa de pedir
a mesma fundamentação jurídica e fatos semelhantes. Portanto é possível
julgar alguns casos com um volume maior para “aliviar” um pouco os
tribunais diminuindo até o dissídio jurisprudencial que é a divergência
entre os tribunais. Seria extremamente viável a instalação da jurimetria,
até mesmo pra efetivar de vez o princípio da duração razoável do processo
e diminuir o incidente de demandas repetitivas uniformizando assim as
jurisprudências.

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Na prática a jurimetria funcionaria com essa análise de dados em
massa que se torna possível entender uma posição do Magistrado sobre
um determinado assunto, e com isso advogados antes de ajuizar uma
ação ou interpor algum recurso analisaria por meio de estatísticas qual
ato valeria mais a pena e quais as chances de obter êxito no processo.
Isso faria com que sua função fosse mais eficiente e com que acordos
extrajudiciais fosse feito de forma mais rotineira, diminuindo assim os
processos judiciais.
Segundo Vitor Saldanha (2020) “O uso da inteligência artificial
assegura a otimização do provisionamento para redução da contingência,
além de automatizar o cadastro de processos, eliminando erros humanos”
Afirma Vitor Saldanha chefe do departamento jurídico da Semantix.
Contudo a jurimetria ajudaria os tribunais com o chamado
“dissídio jurisprudencial” e ficaria uma decisão uniformizada sobre
cada entendimento, sobretudo ajudaria as partes litigantes entender qual
procedimento será adotado para ajuizar aquela demanda e qual realmente
é o entendimento do tribunal sobre aquele determinado caso.

Cadeia de Custódia
Sendo indicada no DECRETO LEI Nº 3.689/41, a cadeia de
custódia é detalhada como “o conjunto de todos os procedimentos utilizados
para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em
locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a
partir de seu reconhecimento até o descarte”, tendo fundamentado na
construção do seu instituto base principiológica, criando uma construção
de via de metodologia sistemática e formalizada de maneira que sejam
documentado as provas permitindo a sua analise e direito ao contraditório
em momentos distintos do processo penal.
Trazendo a importância do abarcamento desse instituto, segundo

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Gustavo Badaró (2017) usualmente a cadeia de custódia é remetida a
prova cientifica (comuns á perícia laboratorial) fato é que se deve ela
então ser aplicada á qualquer produção probatória de natureza real,
como ‘’elementos imateriais’’ de registro eletrônico exemplo transmissão
de e-mail, interceptação telefônica, fotografias e filmes digitais. Tendo
conjunto a isto no capitulo VI da Parte Especial do CP seção III e IV,
temos previstos os crimes contra a inviolabilidade, mais precisamente no
art. 154-A sobre a invasão de dispositivos informáticos com intuito de
‘’obter, adulterar ou destruir dados ou informações’’ (VADE MECUM
SARAIVA, 2019, P.452) podendo citar também outros crimes como
pornografia infantil e bullying.
Adriana Shimabukuro (2017) descreve sobre o desafio estar
em descobrir o criminoso cibernético quando o local do crime está no
ciberespaço, pois mesmo tendo a obrigatoriedade de os provedores
guardarem os registros das ações de seus usuários, por ter característica
de prova digital pode ser facilmente alterada. Em seu artigo publicado
sobre a função Hash ‘’é qualquer algoritmo que mapeie dados grandes e
de tamanho variável para pequenos dados de tamanho fixo’’(Pedro Pisa,
2012), ou seja, um método para rastrear informações já utilizadas por
autoridades como Polícia Federal. Fato é que mesmo com todo amparo
tecnológico para o combate de fraudes ou tipificações penais, os avanços
do mundo online se atualizam constantemente trazendo a necessidade
de equiparação técnica para os agentes que lidam para proteger nessa
batalha virtual. Adriana aborda um dos meios de prevenção aos ataques e
também fala sobre a inteligência artificial para tal equiparação, lembrando
da importância da educação virtual, para tornar então a tecnologia uma
possível aliada da lei
Não será mais suficiente localizar a evidência de um cri-
me. As novas ferramentas deverão criar novos padrões de pesqui-
sa em ambientes gigantescos de informação. Modelos alternativos
de análise deverão ser criados: a inteligência artificial poderá não
só analisar perfis criminosos e auxiliar na identificação destes, mas

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atuar na prevenção de crimes e na proteção de vítimas. (...) A edu-
cação será essencial: as crianças deverão saber usar a tecnologia
desde pequenas. Além disso, investimentos deverão ser feitos para
formar especialistas de segurança que possam atuar em situações
críticas. (ADRIANA SHIMABUKURO, 2017, p.29 e 30).

Sendo fundamental a produção de provas digitais para explicar


e caracterizar delitos em ambitos cibernéticos e outros, remete-se a
necessidade de atualização dos atuantes e responsáveis pela manutenção
da cadeia de custódia e da educação digital de desenvolvimento. Sendo as
provas o eixo principal do processo penal,
a finalidade da cadeia de custódia é assegurar a
idoneidade dos objetos e bens escolhidos pela perícia ou
apreendidos pela autoridade policial, a fim de evitar qual-
quer tipo de dúvida quanto à sua origem e caminho percor-
rido durante a investigação criminal e o respectivo processo
judicial (ESPÍNDULA, 2013, p. 187)

Sua manutenção então existe para atestar a ideia de ‘’mesmidade’’


garantindo então que alguém seja julgado pelo mesmo e não pelo seleto,
como é o caso de Odilaine Uglione que morreu em fevereiro de 2010 no
consultório do ex-marido por suicídio. Mesmo às divergências e problemáticas
do antigo relacionamento e os testemunhos de presentes do fato sobre sua
dinâmica, ficou decidido na época sua morte como suicídio, deixando uma
carta de despedida encontrada em sua bolsa.
O caso foi reaberto em 2015 e os questionamentos trazidos foram
sobre a grafia da carta e sobre a trajetória do disparo. A técnica utilizada
pela perícia foi de reconstrução facial em 3D. A partir de vestígios e
fotografias da cena documentados, foi realizada uma exumação do corpo
da vítima para uma possível reprodução da morte. O laudo grafotécnico
confirmou sobre a grafia ser de Odilaine, mas a comprovação do
crime veio com a técnica 3D que recriou a dinâmica do processo de
balística. No mesmo ano o caso foi arquivado por falta de elementos que

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descaracterizassem o suicídio.
As dificuldades do mundo tecnológico muitas das vezes num
passado que impediu a análise mais profunda de provas, portanto dá-se
a necessidade desse avanço para a cadeia de custódia e sua manutenção a
fim de proteção probatória.

Conclusão
Os avanços tecnológicos no mundo jurídico possuem diversos
explicações e questionamentos de posições distintas, mas certo é que toda
evolução a partir de um vírus trouxe uma certa ruptura de mundos. Se
você iniciou esta leitura em uma velocidade de rede, certo é que ao final
dela diversos avanços já ocorreram para uma evolução mínima de reflexo
amplo. Tecnologia!

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Referências
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the-future.html

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com/channel/UCekqeK2VRv9YHsKXknHZ1uA

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FEDERAL DA 3ª REGIÃO- https://www.trf3.jus.br/documentos/
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Ciberneticos/Cadernos_de_Estudos_n_1_Crimes_Ciberneticos.pdf

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LOPES JR, Aury; ROSA, Alexandre Morais de. A importância da


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MACHADO, Leonardo Marcondes. Pacote anti crime: cadeia


de custódia da prova penal. https://www.conjur.com.br/2019-dez-24/
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h t t p s : / / w w w . t e c h t u d o . c o m . b r /
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br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm#:~:text=DECRETO%2DLEI%20
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DE%201941.&text=C%C3%B3digo%20de%20Processo%20
Penal.&text=Par%C3%A1grafo%20%C3%BAnico.,n%C3%A3o%20
dispuserem%20de%20modo%20diverso.

RBS-RS:http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/caso-
bernardo-boldrini/noticia/2016/08/justica-arquiva-inquerito-
sobre-morte-da-mae-do-menino-bernardo.html

SLACK. https://slack.com/intl/pt-br/

STF. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. http://www.stf.


jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=380038

TOFFOLI, Dias. Justiça em Números: transparência e eficiência a


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https://www.migalhas.com.br/depeso/310015/justica-em-
numeros-transparencia-e-eficiencia-a-servico-do-cidadao

THE SQUARE.
https://www.youtube.com/watch?v=lS9D-43Q9aQ

ZABALA, Filipe Jaeger; SILVEIRA, Fabiano


Feijó. Jurimetria: Estatística Aplicada ao Direito.
https://core.ac.uk/download/pdf/79117757.pdf

ZOOM. https://zoom.us/pt-pt/meetings.html

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CAPÍTULO 3

COMPARAÇÃO DE LEIS
TRABALHISTAS, DIREITO
CONSUMIDOR E SISTEMA PRISIONAL
EM FACE DAS PANDEMIAS DA GRIPE
ESPANHOLA E DA COVID-19

Aloísio Nascimento Araújo


Cíntia Ferreira Bernardino
Edmar Donizetti Monteiro
Juarez da Costa Dias Júnior
Marcos Vinicius Martins Pereira

Introdução
Neste artigo científico tem como objetivo fazer uma comparação
entre a pandemia da gripe espanhola que se iniciou em 1918 e a pandemia
que estamos vivendo atualmente um século depois que é a do covid-19.
Esta comparação será no âmbito histórico e jurídico de como a
humanidade reagiu em fundamentações jurídicas em relação ao direito
do trabalho, direito do consumidor e no sistema prisional. É importante
salientar que enfatizaremos a situação ocorrida no Brasil em o que a
sociedade fez no passado e o que estamos fazendo agora, e se quais as
consequências que essas ações foram positivas ou negativas. Para se mais
claro, se de fato o povo tem obedecido as normas impostas de forma legal
pelas nossas autoridades, se as autoridades tem tomado atitudes que de
fato resolveram no passado e se resolverão agora no situação do covid-19.

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No Brasil existe uma situação que quase virou um dito popular,
que é: Existe lei que pega e lei que não pega. E isto virou parte da cultura
ou forma de agir do povo muito em conta por causa da falta de crédito que
os políticos não tem diante do povo brasileiro. Ai surge o questionamento
de que será que seja uma das causas da dificuldade de vencermos de forma
rápida a pandemia do covid-19, e se olharmos para trás a pandemia da
gripe espanhola teve 3 grandes ondas até ser de fato desaparecida.
Na comparação das duas pandemias poderemos trazer uma
conclusão se a sociedade brasileira mudou neste 100 anos de diferença
entre as pandemias tanto na forma de pensar como na forma de agir,
lembrando que em 1918 a sociedade brasileira era predominantemente
rural e hoje é predominantemente urbana.
Diante disto tudo tentaremos propor soluções jurídicas e porque
não sociais para que as gerações futuras tenham garantias através de leis
e fundamentações jurídicas para se resguardarem do caos, não só na área
da saúde como em desastres naturais que possam a vir experimentar,
coisas ruins que a nossa geração tem enfrentado e não temos seguranças
legais suficientes e das consequências sociais que temos sentido na pele.

Breve relato da pandemia da gripe espanhola e


da pandemia do covid-19

Pandemia da gripe espanhola


A gripe espanhola também conhecida como gripe de 1918 foi
uma pandemia causado pelo vírus influenza que devastou o mundo na
época. No período de janeiro de 1918 a dezembro de 1920 infectou cerca
de 500 milhões de pessoas que correspondia cerca de 25% da população
mundial.

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É importante levar em conta que a gripe espanhola teve impacto
negativo nos níveis de atividade econômica, emprego e renda nos países
europeus e nos Estados Unidos no curto prazo, mas há que considerar
que a economia europeia tinha sido vilipendiada pela guerra quando a
pandemia se inicia o que faz com que os efeitos econômicos das duas
crises – a provocada pela guerra e a gripe espanhola – se confundam em
1918 e 1919. Segundo André Cezar Médici em seu artigo Efeitos das
pandemias na economia da gripe espanhola ao covid-19 publicado no
portal www.sincovaga.com.br:

Embora os dados econômicos da época sejam es-


cassos, alguns estimam que o impacto negativo da gripe es-
panhola no PIB mundial foi de 6%, e no consumo agregado,
este impacto chegou a 8%. Cerca de doze países sofreram
desastres macroeconômicos baseados na queda do PIB e
oito sofreram desastres similares baseados na queda do con-
sumo. Isto tornaria a gripe espanhola o quarto evento com
maior impacto econômico negativo desde 1870. Os tres pri-
meiros foram a 2ª. guerra mundial, a grande depressão dos
anos 1930 e a 1ª. guerra mundial.

Neste mesmo artigo citado acima, André Cezar Médici nos


traz outro dado interessante que a maior taxa de mortalidade da gripe
espanhola se dava entre
as pessoas de 15 a 49 anos que representava a força ativa de
trabalho na época. Como consequência, porque também um mundo
vivia o fim da 1ª guerra mundial e os homens que eram a maioria dos
trabalhadores da época diminuíram e ai as mulheres foram de forma para
garantir sua sobrevivência e também da economia inseridas no mercado
de trabalho.
A estagnação econômica continuou em 1920, provavelmente por

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


44
efeitos da pandemia associados ao mercado de trabalho. Mas mesmo assim
há claras razões para pensar que a gripe espanhola teve menos impacto
econômico do que uma grande pandemia teria agora. Se, por um lado, a
reorganização da indústria trazida pela guerra gerava mais trabalho para
todos, apesar de certas indústrias sofrerem grandes perdas, por outro, a
elevada mortalidade de trabalhadores trazida pela gripe fez os salários
subirem para aqueles que sobreviveram.
Obviamente, a guerra já havia reduzido o comércio exterior e
rompido cadeias produtivas globais por um longo período de tempo. A
gripe espanhola se iniciou em 1918 e o fim da guerra teve um impacto
positivo no mercado de capitais, minimizando os efeitos negativos da
gripe que se iniciava ao final do conflito.
A euforia com o fim da guerra eclipsou eventuais preocupações
com a gripe espanhola entre os governos, a sociedade e os mercados.
Quando a onda final da gripe espanhola desapareceu em fevereiro de 1919,
o índice Dow Jones teve um aumento de 50%, que durou até novembro
de 1919. Se esse aumento ocorreu por causa do fim da guerra, do fim da
gripe ou das duas coisas é impossível saber, mas certamente havia algum
nível de confiança que pode alavancar a recuperação econômica.

Pandemia do covid-19
O covid-19 é uma pandemia do vírus sarscov-2 surgido na cidade
de Wuhan na China no ano de 2019, que no princípio de sua manifestação
não foi levado muito a sério pelos chineses, porém se mostrou em poucos
meses ser um vírus silencioso e mortal, a humanidade tem sentido os
profundos efeitos que este inimigo pode causar. Iremos a seguir fazer
alguns levantamentos dos efeitos na economia mundial.
A economia responde aos níveis de incerteza associados ao

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 45


comportamento dos mercados e agentes econômicos. Se existe algum
nível de previsibilidade, os investidores vão colocar recursos e apostar
nos mercados, fazendo com que uma onda de expectativas positivas possa
conduzir ao crescimento do produto. Mas se existem fatores que elevam o
nível de incerteza, os fatores econômicos revejam suas decisões e reduzem
seus níveis de investimento levando os mercados à crise e aumentando a
preferência por ativos líquidos.
Fica claro o elevado grau de incerteza gerado pelo Coronavírus
em 2020, comparado ao de outras pandemias anteriores da década
passada. Este choque de incerteza gerado pelo covid-19 tem criado
pânico nos mercados de capitais, desencadeando uma forte resposta do
sistema financeiro e dos Bancos Centrais, indicando que se os problemas
de liquidez persistirem e os problemas da economia real levarem a baixas
contábeis, escassez de investimentos e baixa formação de capital bruto,
crises no sistema financeiro poderão surgir, associadas a uma queda
prolongada nos níveis de emprego e produtividade.

Leis trabalhistas na época da gripe espanhola x


época do covid-19

Leis existentes na gripe espanhola


A legislação trabalhista brasileira é muito anterior à CLT e teve
início no final o século porque uma coisa é tratar uma lei de forma
individual e outra é tratar o direito do trabalho como uma ciência do
direito. A primeira lei com proteção de direitos trabalhistas foi promulgada
em 1891 que trazia a idade mínima para se trabalhar que era 12 anos e
como ciência veio a partir da ciração da CLT em 1943 pelo governo de
Getúlio Vargas. Em âmbito mundial em 1919 foi criado a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), como parte do tratado de Versalhes.
Como o Brasil era signatário do Tratado, que encerrou a Primeira Guerra

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46
Mundial, foi criada no mesmo ano a comissão de legislação social na
Câmara dos Deputados. As discussões resultaram em diversas leis
nacionais em defesa dos empregados nos anos seguintes, como o direito a
férias e estabilidade no emprego após 10 anos de trabalho.
Havia também leis estaduais e municipais que ordenavam as regras
trabalhistas nos Estados e municípios.
Em 1911, uma lei do prefeito Bento Ribeiro fixou o horário de
trabalho dos comerciários no Rio de Janeiro. Outro marco importante
para garantir os direitos dos trabalhadores foram as pressões exercidas
pelos sindicatos e as greves ocorridas no começo do século 20, como a
greve geral de 1917.
Havia uma mobilização sindical muito grande e impulsionada,
sobretudo, por imigrantes italianos. A legislação trabalhista também
é resultado de muita luta e atuação dos trabalhadores. Porém tinha um
problema, as leis existiam, mas nem sempre eram cumpridas,
pois havia muita retórica dos governantes, mas pouca vontade dos
empresários de que elas leis fossem cumpridas de fato.
A ausência de uma sistematização dos direitos trabalhistas na
época, pois os trabalhos eram tratados como contrato civil de prestação de
serviços e regidos pelo Código Civil de 1916, onde vivíamos no Brasil
a época do Estado Liberal de Direito onde as relações entram tratados
pelas partes e o governo tinha uma mínima intervenção. Como dado
Histórico temos as revoluções mexicanas e de da Alemanha, conhecida
com Weimar que foram os primeiros estados a entrarem no Estado
Social de Direito e por uma e suas consequências considerar os direitos
trabalhistas de forma governamental, ou seja, o governo que regularia as
relações de trabalho e não os particulares, que como já dizemos era o que
ocorria no Brasil nesta época. O Brasil só veio a reconhecer estes direitos
trabalhistas a partir de 1943 com a criação da CLT.
Na época da 1918 sequer existia um sistema de seguridade

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 47


social, a sociedade ainda vivia os efeitos negativas da revolução industrial
onde trabalhadores, que vinham de uma migração rural para a urbana
tinham de estar mais de 14 horas no trabalho e se desgastarem física e
emocionalmente e a expectativa de vida do brasileiro era de 50 anos,
ou seja, a pessoa trabalharia até morrer praticamente. vale ressaltar aqui
também que o fato da população brasileira era em sua grande maioria
rural, o modo de subsistência deles era na economia familiar, onde os
integrantes das famílias tinham seus pequenos pedaços de terra e os pais
e filhos que trabalhavam no cultivo dos produtos, então, não teria esta
relação de trabalho propriamente dito reconhecido. O trabalho existia no
comércio e nas poucas indústrias já existentes, porém era a minoria da
força de trabalho talvez por isso pouco influente na época da pandemia de
lutar pelos seus interesses.
Diante disso temos dois fatores que influenciaram na não criação
de dispositivos legais para proteção dos trabalhadores na época da gripe
espanhola, uma era o Estado Liberal de Direito vivido no Brasil à época e
o outro a pouca influência dos trabalhadores urbanos que representavam
uma minoria em relação ao estilo de vida do Brasil predominantemente
rural.
Por fim, listamos leis existentes na época da pandemia espanhola:
-Decreto 1.313, de 17/1/1891 – Trouxe dispositivos
que regulamentavam o trabalho de crianças nas fábricas do
Rio de Janeiro; entre eles, a idade mínima de 12 anos para
poder trabalhar.
-Decreto 979, de 6/1/1903 – Autorizava os traba-
lhadores da agricultura e da indústria rural a organizarem-se
em sindicatos para “estudo, custeio e defesa de seus interes-
ses”.
-Decreto 1.637, de 5/1/1907 – Autorizava a criação
de sindicatos de trabalhadores urbanos e sociedades coope-
rativas. O objetivo dos sindicatos era o mesmo do previsto
no decreto 979: defender o interesse de seus membros.

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-Lei municipal 1.350, de 31/10/1911, do Rio – Fi-
xava o horário de trabalho dos empregados do comércio no
Rio de Janeiro. As lojas que funcionassem por mais de 12
horas por dia deveriam ter dois turnos de empregados, e do-
mingo era “dia de repouso” dos funcionários.
-Decreto 3.724, de 15/1/1919 – Estabelecia a res-
ponsabilidade do empregador de indenizar o trabalhador ou
sua família, em caso de acidente de trabalho. A indenização
por morte era equivalente a três anos de salários da vítima.
O mesmo valor deveria ser pago em caso de invalidez per-
manente.
-Publicação: Diário Oficial da União - Seção 1 -
18/1/1919, Página 1013 (Publicação Original)

Leis trabalhistas atuais em plena pandemia do


covid-19

A Constituição Federal de 1988 em seu art. 7° mais especificamente


nos incisos VI, XIII e XXVI impossibilidade de redução salarial a redução
de jornada de trabalho, salvo por acordo ou convenção coletiva e também
os artigos 501 ao 504 da CLT dispõe sobre situações de força maior,
ou seja, situações onde o empregador não tem influência para situações
como a pandemia do covid-19 tem representado. Apesar da CF só aceitar
a redução de salários por acordos coletivos o art. 503 da CLT permite
a redução de 25% do salário, respeitando o salario mínimo, até que a
situação de força maior se finalize.
Com a nova Pandemia instaurada no mundo e atingindo de cheio
o mercado mundial e por consequência os trabalhadores, não deixando
outra alternativa ao governo brasileiro em senão editar algumas medidas
provisórias para amenizar a situação pandêmica, como A MPV 927,

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 49


que foi publicada em 22 de março de 2020, como parte das ações de
enfrentamento do coronavírus, tratando das mudanças trabalhistas que
devem ser adotadas para preservar empregos.
A medida reconhece o estado de calamidade pública e apresenta
alternativas para que os empregadores mantenham os contratos de
trabalho, além de estabelecer a prevalência do acordo individual escrito
sobre a lei trabalhista e convenções coletivas em casos específicos, como
o teletrabalho, por exemplo. Ou seja: vale o que for acordado entre
trabalhador e empresa, desde que o contrato respeite a Constituição.
Logo, a MP 927 é uma resposta à ameaça do desemprego que ronda
o país diante de uma pandemia, que levou à paralisação das atividades
econômicas devido à necessidade de distanciamento e isolamento social
para conter a transmissão do covid-19.
No final do mês de junho de 2020, o Brasil já contabilizava
mais de 50.000 mortes e mais de 1 milhão de pessoas atingidas pela
doença. Com a incerteza a respeito da evolução da curva epidêmica, a
MP 927 é mais uma medida para minimizar os impactos negativos da
crise e ajudar profissionais e empresários a superar esse período difícil.
O que muda? Desde a publicação da MP 927, a flexibilização da
lei trabalhista é válida em todo o território nacional:

1.Migração para o trabalho a distância, o teletraba-


lho.
2.Antecipação de férias individuais. Já o pagamento
de 1/3 de férias foi ainda mais estendido: poderá ser pago
até dezembro, no mesmo prazo do 13º salário.
3.Concessão de férias coletivas.
4.Suspensão de férias de profissionais da saúde e
serviços essenciais.

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50
5.Aproveitamento e antecipação de feriados.
6.Adiamento do recolhimento de FGTS.
7.Suspensão de exigências em segurança e saúde no
trabalho.

O único exame que permanece parcialmente obrigatório


é o demissional, que pode não ser feito caso o exame ocupacional tenha
sido feito em menos de 180 dias — o restante pode ser regularizado em
até 60 dias após o término da pandemia.

Regime especial de compensação de horas.


Revogação da suspensão de contratos na MPV 927
Logo após a publicação da MP 927 no Diário Oficial da União houve forte
reação ao artigo 18, que previa a suspensão do contrato de trabalho por
até quatro meses sem a obrigatoriedade de pagar o salário do profissional.
No caso, o empregador poderia direcionar o empregado para fazer
cursos de qualificação e, voluntariamente, pagar uma “ajuda compensatória
mensal”, com um valor acordado entre as partes.
Porém, diante das fortes críticas do Congresso e sociedade contra
essa determinação, o presidente Jair Bolsonaro anunciou a revogação do
artigo 18 um dia depois de publicar a Medida Provisória.
Assim, a MP 927 vigente não permite que contratos ou salários
sejam suspensos, como foi divulgado inicialmente, devido ao risco de
insegurança trabalhista.
Uma nova MP foi publicada no dia 01 de abril de 2020, a MP
936, regulamentando a redução de salários e jornadas e a suspensão do
contrato de trabalho.

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 51


Ela também traz uma segurança a mais na permanência do emprego
para o funcionário podendo então fazer uma redução proporcional dos
salários em forma proporcional com o governo complementando o
restante. Também a empresa poderá suspender o contrato de trabalho por
até dois períodos de 30 dias no estado de calamidade.
O STF em plenário manteve a eficácia da MP 936 autorizando a
redução da jornada de trabalho e do salário e da suspensão temporária
do contrato de trabalho sem a intervenção sindical nos acordos, ou seja,
empregador e empregado de forma individual definiriam a situação
protegida pela MP 936.

Lei do Consumidor na pandemia espanhola x


pandemia do covid-19

Como o consumidor era tratado na pandemia


espanhola
No Código Civil de 1916 que concerne às obrigações, encontra-
se uma “teoria geral das obrigações contratuais e extracontratuais”.
Devido ao caráter liberal do código por ser mais um produto do século
XIX do que do século XX não se previa a boa-fé nem a revisão
contratual por onerosidade excessiva, decorrente da modificação das
circunstâncias existentes no momento da celebração do negócio. entre
os contratos em espécie, sendo assim o contrato feito entre as partes.
A respeito da economia na época da gripe espanhola é importante
levar em conta que teve impacto negativo nos níveis de atividade
econômica, emprego e renda nos países europeus e nos Estados Unidos
no curto prazo, mas há que considerar que a economia europeia tinha sido
vilipendiada pela guerra quando a pandemia se inicia.

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


52
Embora os dados econômicos da época sejam escassos, alguns
estimam que o impacto negativo da gripe espanhola no PIB mundial foi
de 6%, e no consumo agregado, este impacto chegou a 8%. Cerca de doze
países sofreram desastres macroeconômicos baseados na queda do PIB e
oito sofreram desastres similares baseados na queda do consumo.

O direito do consumidor em face da pandemia


do covid-19
Na atual crise que vivenciamos em razão da pandemia instalada
pelo covid-19, tanto o legislador quanto o interprete estão se obrigando a
adequar os institutos do direito no intuito de conseguir compor de forma
harmônica os interesses de todos os grupos produtivos, para enfrentar da
melhor forma possível esse momento de instabilidade.
Comecemos a tratar dos contratos cativos de longa duração ou de
trato sucessivo, como os de planos de saúde e escolares, os quais devem
ser analisados de forma particular e individual, principalmente levando
em consideração as condições econômicas e sociais das partes afim de
ajustar as suas prestações/mensalidades ao caos financeiro provocado
pela Pandemia, que pode gerar perda de renda e emprego de ambos os
lados do negócio.
Os princípios da boa-fé objetiva e da justiça contratual devem ser
bastante utilizados nesse período na busca de melhores soluções para os
conflitos existentes nas mais diversas relações contratuais.
Veremos nesse período, inevitavelmente, um aumento
significativo do endividamento dos consumidores, fator que já tem certa
peculiaridade em nossa sociedade e certamente será agravado.
O artigo 478 do Código Civil traz à baila a teoria da imprevisão,
que permite a revisão de “contratos de execução continuada ou diferida,
se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa,

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 53


com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis”, podendo o devedor pedir a resolução
do contrato. Tal artigo se aplica a atual situação vivenciada em razão
da pandemia enfrentada no país. Ou seja, o momento que vivemos
pode e deve ser considerado como situação excepcional, em que as
consequências sociais e econômicas, bem como a restrição da liberdade,
inclusive contratual, não encontram paralelo na história recente do país.
O caso fortuito ou força maior (art. 393, parágrafo único) impedirá
também o cumprimento de diversos contratos, por conta das restrições
determinadas pelo poder público, em detrimento do impedimento do
funcionamento regular de algumas atividades econômicas.
A pandemia desencadeada pela covid-19 no ano de 2020
impactou de maneira inédita as relações regidas pelo Código de Defesa
do Consumidor de 1990. O equilíbrio contratual buscado pela legislação
consumerista foi afetado para ambos os lados, o do consumidor e o
do fornecedor. A pandemia produziu e continuará produzindo efeitos
econômicos profundos para empresas, colocando em risco a sua própria
existência.
Os Produtos e serviços passaram a ser oferecidos de maneiras
alternativas. A tecnologia ganhou um papel central e os bens que eram
entregues no ambiente off-line foram digitalizados. Passou-se a exigir de
fornecedores e consumidores flexibilidade, capacidade de negociação e
concessões mútuas. Nesse contexto, o Direito do Consumidor, usualmente
utilizado para reequilibrar forças e proteger o elo mais vulnerável da relação
jurídica, passa a ser visto como um instrumento para o estabelecimento
do equilíbrio entre fornecedores e consumidores. Pela primeira vez, os
dois polos da relação de consumo são vulneráveis e se torna necessária
uma releitura cuidadosa dos princípios fundamentais do direito contratual,
como a boa-fé objetiva e a função social dos contratos.
As consequências decorrentes dessas medidas vêm trazendo

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


54
imensos desafios às relações de consumo. Embora o Código de Defesa do
Consumidor possua dispositivos que buscam proteger o consumidor - parte
reconhecidamente mais fraca nas relações qualificadas como de consumo
- em cenários de incerteza e imprevisibilidade (como, por exemplo, o
art. 6º, inciso V, que estabelece como direito básico do consumidor
a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes), a
realidade é que não se pode desprezar a enorme proporção que os efeitos
decorrentes da pandemia vêm causando nessas relações, como também
o fato de que nem o consumidor, nem o fornecedor possuem qualquer
ingerência ou controle sobre um crise de tamanha magnitude.
O setor de turismo, visando a mitigação dos impactos econômicos
neste setor, a Senacon emitiu nota recomendando que as companhias
aéreas, hotéis e de agências de turismo permitam a remarcação das
viagens pelos consumidores sem custos adicionais. Mas também se
recomendou aos consumidores que haja com prudência, novamente
evitando pedidos de reembolso sem qualquer tentativa de remarcação da
viagem, considerando que “uma crise no setor hoteleiros e aviação poderá
trazer impactos futuros à economia.
No entanto, até o presente momento, apenas foi adotada a
MP nº 925, no dia 18 de março de 2020, a qual não aborda diretamente
os interesses das empresas de hotelaria, restringindo-se às companhias
aéreas. A MP, dentre outras medidas, estabelece que:
Art. 3º O prazo para o reembolso do valor relativo à compra de
passagens aéreas será de doze meses, observadas as regras do serviço
contratado e mantida a assistência material, nos termos da regulamentação
vigente.
1º Os consumidores ficarão isentos das penalidades contratuais,
por meio da aceitação de crédito para utilização no prazo de doze meses,
contado da data do voo contratado.

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 55


2º O disposto neste artigo aplica-se aos contratos de transporte
aéreo firmados até 31 de dezembro de 2020.
Após as restrições vivenciadas em nível mundial, com o
fechamento de fronteiras de diversos países, a queda no fluxo de viagens
poderá ainda acarretar enormes prejuízos tanto para os consumidores,
quanto para as empresas de turismo.
O Procon MG também como medida de instruir os consumidores
publicou uma Nota Técnica relacionada aos contratos das instituições
privadas de educação básica, vinculadas ao Sistema de Ensino do Estado
de Minas Gerais De acordo com o documento, as instituições devem
“conceder, aos seus consumidores, um desconto mínimo de 29,03% no
valor da mensalidade de março, relativo aos dias em que não houve a
prestação dos serviços, na forma contratada.
Para a educação infantil, o documento do Procon-MG recomenda
suspender o contrato até o término do período de isolamento social, em
razão da impossibilidade de prestar os serviços na forma não presencial,
situação que “deve ser levada em consideração pelo fornecedor ao
apresentar a sua proposta de revisão contratual”.
Um outro cenário que foi afetado também foram os locatários,
aprovado pelo Senado no dia 03 Projeto de Lei 1.179/2020, que suspende
temporariamente regras do Direito Privado enquanto durar a epidemia
do coronavírus no Brasil, proíbe, até 31 de dezembro de 2020, liminar
de despejo em ações ajuizadas a partir de 20 de março, data estabelecida
como marco inicial da pandemia no país.
Caso o locatário esteja com dificuldades de pagar a mensalidade,
a melhor opção é buscar alternativas com o locador, como descontos
progressivos e isenções temporárias, é importante que os locatários
apresentem documentos que comprovam suas dificuldades financeiras,
como comprovantes de redução de renda e carta de demissão. Se locador
e locatário não chegarem a um acordo, este pode ir à Justiça e pedir a

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


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suspensão ou redução do aluguel. Na petição inicial, o inquilino precisa
demonstrar que, em razão da pandemia, teve uma redução de seus ganhos
financeiros. E que isso gera um desequilíbrio no contrato no contrato
de locação e o impedimento de arcar momentaneamente com o valor
anteriormente ajustado.
O direito do consumidor, como exposto, parte da vulnerabilidade
do usuário para prover sua defesa dentro de determinado contexto de
mercado. Situações excepcionais como as aqui tratadas demonstram que
consumidor e fornecedor estão igualmente expostos à doença covid-19,
e a falta de proteção jurídica de um lado poderá gerar um crescimento
acelerado do número de infectados na outra ponta.
Assim, o Judiciário e os órgãos de proteção ao consumidor, vem
compreendendo a necessidade de que eventuais
cancelamentos e novos agendamentos, sejam realizados sem
abusividade ao consumidor, ao mesmo tempo em que os fornecedores
também possam não ser unicamente prejudicados.
Por essa razão, além de soluções jurídicas baseadas em normas
e princípios constitucionais, o que se faz necessário é a existência de
uma boa relação entre as partes, motivo pelo qual recomenda-se às
empresas do setor, a adoção de uma política emergencial centralizada na
resolução de conflitos extrajudiciais, por meio do investimento em canais
de negociação de contratos e uso de plataforma jurídica de mediação,
como forma de manter a fidelização de seus clientes, minimizando o
risco de um efeito devastador, pelo contingenciamento elevado diante
do acúmulo de demandas na esfera judicial.
Em contrapartida, o consumidor precisa, nesse momento, repensar
a forma de encarar os seus direitos, utilizando sempre os princípios da
boa-fé objetiva e da justiça contratual, buscando, em solidariedade com
a situação, alternativas amigáveis para os seus problemas, pois sabemos
que a recessão econômica que o país enfrentará trará como consequência

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o fechamento de muitas empresas desprotegidas ou despreparadas,
gerando assim aumento no índice de desemprego.

Sistema prisional na pandemia espanhola e na


pandemia do covid-19
Fato é que a pandemia da Gripe Espanhola que ocorreu no início
do século XX tem muitas semelhanças com esta atual pandemia em pleno
ano de 2019/2020, e uma das semelhanças é justamente a valorização
do sistema público de saúde, além de ter afetado pessoas reclusas de
liberdade, já que estão em ambientes completamente insalubres e na
grande maioria das vezes, superlotados.
A pandemia do Coronavírus, assim como a Gripe Espanhola
adquiriu um alcance mundial, com um impacto devastador.
Apesar de ter ocorrido em um contexto histórico, em que não havia
equipamentos de proteção individuais para os profissionais de saúde, as
pessoas morriam em geral em suas próprias residências e até mesmo não
ruas e ainda não se conhecia o material genético dos vírus, a epidemia de
gripe também gerou desorganização econômica e social, já que os portos,
o transporte e outros serviços públicos pararam de funcionar sem um
prazo para normalização.
Uma grande diferença entre essas duas pandemias é que em 1919
muitos governantes assessorados por médicos especialistas diziam que era
ineficaz decretar a quarentena e fechar fronteiras, já que a doença parecia
já estar fora de controle. Com isso, os governantes apenas tomavam
algumas medidas preventivas e divulgavam suas ações para tentar acalmar
os cidadãos.
Algo de grande importância durante a pandemia do covid-19 é
justamente sobre o impacto do vírus no sistema carcerário brasileiro,
já que com base nos dados do último Infopen (Levantamento Nacional

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de Informações Penitenciárias), o Brasil possui, hoje, cerca de 726 mil
pessoas em privação de liberdade, mas as vagas disponíveis somam
apenas 436 mil pessoas presas. Do total da população carcerária, cerca
de 250 mil já têm algum tipo de doença. Além disso, deve-se considerar
que o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de países que mais
mantém pessoas presas no mundo, ficando atrás apenas dos EUA e da
China.
O grande salto na taxa de encarceramento no Brasil entre os anos
2000 e 2016 foi de 157%, ou seja, em 2000 havia uma população de cerca
de 232 mil presos e hoje, 726 mil. Para mostrar o quão aprisionador é o
sistema de justiça criminal brasileiro, a população que potencialmente será
mais atingida pela covid-19 é negra e pobre. Para tanto, basta observar
que a população pressa é representada por 64% da população prisional
em 2016, segundo dados do último Infopen, isto é, o novo coronavírus
tem um poder destruidor no planeta, mas aqueles com menores condições
de se proteger do vírus fazem parte da população negra e pobre que,
certamente, será a mais afetada, assim como foi durante a Gripe Espanhola.
Vale ressaltar que os principais procedimentos para minimizar o
risco da rápida proliferação do coronavírus são justamente para evitar
aglomerações e contatos pessoais; higienizar as mãos e as superfícies que
as pessoas têm acesso; manter a ventilação dos ambientes; ter a disposição
o atendimento imediato daqueles que apresentam os sintomas e o seu
isolamento. Portanto, de um lado, tais orientações gerais que pressupõem
um perfil de pessoas com acesso aos bens de proteção e prevenção da
disseminação do vírus; do outro, as condições contrapostas em que se
encontram os presídios e penitenciárias, que favorecem o infeliz oposto
com consequências catastróficas.
Conclui-se que atual pandemia coloca em cheque a tradição de
aproveitamento político escravocrata histórica brasileira e de disputa entre
os poderes. Não somente torna explícita a vulnerabilidade de segmentos

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da população como pobres e negros, como também a disputa política
entre as diferentes esferas do poder sobre quem tem o direito de dizer qual
medida de proteção deverá ser adotada. Embora tenhamos um regime
de Estado Democrático de Direito no qual a Constituição de 1988 é a
maior expressão, que garante formalmente princípios republicanos, nossa
estrutura jurídica tradicionalmente não assegura a aplicação igualitária de
direitos a todos os cidadãos. As decisões a respeito da recomendação do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para agilizar a soltura de doentes
crônicos, idosos com mais de 60 anos, mulheres lactantes ou grávidas,
que não cometeram crime com violência, além de que essas medidas não
são acatadas por todos os juízes em todos os tribunais no Brasil, havendo
discrepâncias regionais, como sempre houve na história do Brasil.

Conclusão
Neste artigo podemos levantar situações semelhantes que as
gerações de brasileiros viveram no passado e estão vivendo agora. Então a
seguir traremos aqui ideias propositivas que a sociedade brasileira precisa
colocar em ação não só para transformar em leis, mas também de forma
cultural.
Nós, brasileiros, somos conhecidos culturalmente de deixarmos
tudo pra fazer na “última hora”, ou seja, agir depois que o problema
aconteceu e não de forma preventiva. Então em primeiro lugar é preciso
mudar esta cultura para não sermos “reféns” de dispositivos jurídicos
como a teoria da imprevisão ou estarmos a espera de Medidas Provisórias
para proteger algum tipo de direito.
No passado, na época da gripe espanhola, e muito menos ao
longo do tempo o governo nada fez de forma relevante do ponto de
vista legislativo para que hoje pudéssemos estar garantidos em algumas
situações que a sociedade tem sido penalizada em decorrência da

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covid-19. Devemos lembrar que após a gripe espanhola o mundo e o
Brasil sofreu vários desastre, como a 2 ª guerra mundial, outros tipos de
pestes e surtos de doenças de proporções mundiais, porém está pandemia
atual da covid-19 tem provado quão vulnerável é o ser humano. e por
conta desta vulnerabilidade devemos ter ações para nos proteger.
Quando olhamos para o Direito do trabalho encontramos na CLT
encontramos, como citamos, entre os artigos 501 ao 504 situações que
possam ocorrer em caso de força maior, mas pra ser franco somente a
possibilidade de diminuição de 25% dos salários do empregados a fim de
proteção dos empregos pela dificuldade de manutenção dos mesmos por
parte dos empregadores se mostrou muito pouco eficaz. Prova disso é que
o governo federal teve de lançar as medidas provisórias com finalidade,
por exemplo, de suspensão de empregos pelo período de 2 meses com
o governo bancando o salário até o limite da parcela teto do seguro
desemprego de aproximadamente de R$ 1.850,00 e se o trabalhador
ganhar mais o empregador tem de complementar o salário. Acontece que o
tempo que a pandemia tem durado se mostra também insuficiente esta
medida porque depois dos 2 meses de suspensão e a não possibilidade do
retorno em alguns setores como comercial, educacional e entretenimento
a situação dos empregadores se torna mais desesperadora, porque a
mesma medida garante estabilidade de emprego ao empregado que ficou
de suspensão. Na prática a quantidade de demissões como consequência
será muito maior do que as autoridades tem previsto, e não só isso como a
grande possibilidade de falência das empresas. Neste exemplo vimos aqui
uma de tantas consequências que a pandemia tem causado.
No Direito do consumidor na época da gripe espanhola como
vimos a relação de consumo era tratado pelo Código Civil de 1916, ou
seja, o acordo entre as partes é o que prevalece. Hoje em dia, o consumidor
tem um dispositivo legal próprio, o CDC, como também no dialogo pelas
fontes a proteção de todos os ramos do direito, porém ainda foi necessário
haver promulgação de Medidas Provisórias como a citada sobre o ramo

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 61


de aviação e isto acabou de nos mostrar o quanto ainda o consumidor e
vulnerável, mas também as empresas são dependentes do perfeito giro
virtuoso da economia, economia está que na época da gripe espanhola
tinham barreiras mundiais no comércio entre países e hoje a situação é
totalmente ao contrário. Os países têm uma relação comercial muito forte
e as barreiras econômicas praticamente não existem muito pelo contrário
o interesse de exportação dos países tem aumentado cada vez mais. Por
isso o que ocorre de negativo na China, no Japão, nos EUA tem uma
consequência negativa ou positiva aqui no Brasil. Mas o que isto tudo tem
haver com direito do consumidor? Tudo. Porque as grandes indústrias
necessitam do consumo para que as possam se manter no Mercado. Isto é
o que chamamos acima de giro virtuoso da economia.
Voltando a falar do CDC brasileiro vimos que o consumidor tem
uma certa proteção nas relações de consumo, acontece que ainda para o
homem médio brasileiro, para aquelas pessoas por condições econômicas
ou educacionais, o acesso a esta defesa é muito dificultado. O que
podemos presenciar, por exemplo, que os órgãos públicos fechados por
conta da pandemia, unidades do procon ficaram fechadas, até mesmo os
juizados de pequenas causas ainda estão sem funcionar, e este consumidor
necessitado de auxilio e orientação jurídica ficou desprotegido ficando
assim com o prejuízo de sua compra ou serviços que lhe foi prestado
de forma indevida. E para este tipo de situação e com a possibilidade
de teletrabalho que se mostrou eficaz em muitos setores, propomos
por exemplo, que em situações como está da pandemia os juizados de
pequenas causas e os procon venham a funcionar na impossibilidade de
atendimento presencial, adotem dispositivos de atendimento virtual para
que o consumidor tenha condições de terem seus direitos protegidos.
No sistema prisional, demos evocar aqui nesta conclusão a
dignidade da pessoa humana tão bem elucidada no nosso dispositivo
constitucional. O Brasil é um país que sofreu muito ao longo de sua
história, principalmente na época da ditadura familiar no que se refere à

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


62
proteção a vida a qualquer custo. Por isto a Constituição Federal de 1988
instaurou por definitivo o Estado Democrático de Direito em nossa nação.
E partindo deste paradigma devemos pensar na proteção à vida não só
nas pessoas que estão livres, mas também naqueles que falharam em seu
caminho e estão cumpridos penas pelos seus crimes cometidos. Nossa
nação não pode deixar estas pessoas de lado, abandonadas, reféns de uma
doença contagiosa que podem leva-los a morte, como também nem nós
que estamos disfrutando de nossa justa liberdade.
A questão é que a incoerência entre juízos nas ações de medidas
para proteger a vida de detentos no sistema prisional é que preocupa.
Alguns juízos não permitiram a soltura de presos em sues sistemas, e
outros juízos permitiram a progressão, enquanto o estado de calamidade
pública estiver valendo, de presos para prisão domiciliar, por exemplo.
Temos que deixar claro aqui que isto também gerou um certo
desconforto para a sociedade porque alguns destes presos liberados
são “famosos” estupradores, traficantes que pelo clamor social de sede
de justiça do brasileiro deveriam pegar prisão perpétua, ou até pena de
morte, coisas estas que o Direito Penal brasileiro não defende, porque a
ideia do nosso direito penal não é punir o condenado e sim reabilitá-lo
para viver em sociedade.
Acontece que alguns destes presos ao saírem para o cumprimento
de suas penas em prisão domiciliar já voltaram para ruas cometendo mais
crimes e causando também alguns assassinatos.
Como vimos o tratamento do sistema prisional é bastante
complexo e sem dúvida nenhuma impossível de agradar a todos em suas
resoluções de emergência, e como proposição deixamos aqui uma situação
a ser resolvida pelas autoridades políticas e judiciais, também porque as
estruturas físicas das cadeias e presídios está longe de estarem da forma
que o próprio ordenamento jurídico determina que eles estejam. Então,
pela impossibilidade do sistema público de gerir esta situação levantamos

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 63


aqui o porque não de o setor privado, ou até mesmo a parceria entre o
público e privado começarem a gerir o sistema prisional brasileiro para
que haja mais eficiência e eficácia tanto na área da estrutura das prisões
como também na saúde destes presos, afim de eles terem um cumprimento
de penas dignos e se sentido respeitados como seres humanos possam
se reabilitar com dignidade e não serem tratados muitas vezes que nem
animais abandonados de rua.
Para finalizar queremos trazer uma reflexão, que é de a sociedade
brasileira aprender e ensinar para as próximas gerações a viverem de
forma preventiva e não de forma como se diz no dito popular: “correr
atrás do prejuízo”. Somos um povo especial, vindo de várias misturas
raciais, carregando entre nós a misturas de várias culturas e, portanto não
podemos mais viver com a parte negativa destas culturas, mas sim com
as coisas positivas, como é o caso do povo japonês que se prepara para o
caos, para o desastre e consegue por sua eficiência e disciplina vencerem
as várias adversidades de forma rápida que o seu povo já viveu. Efim,
vamos vencer mais este problema e ficarmos de fato esperançosos para
dias melhores.

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


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T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 69


CAPÍTULO 4

O CUMPRIMENTO DE PENA EM
TEMPOS DE PANDEMIA

Angélica Floriano de Moura


Ludmilla Silva Souza
Marina Ferreira Lapa de Oliveira

Introdução
A pena, em síntese, é a mais importante das consequências
jurídicas do delito. Consiste na privação ou restrição de bens jurídicos,
com base na lei, imposta pelos órgãos jurisdicionais competentes ao
agente de uma infração penal. Sobre a sanção imposta pelo Estado ao
individuo infrator, GRECO afirma:

Definitivamente, o homem não nasceu para ficar pre-


so. A liberdade éuma característica fundamental do ser hu-
mano. A história da civilização demonstra, no entanto, que,
logo no início da criação, o homem se tornou perigoso para
seus semelhantes.(GRECO,2015, p.83)

No primeiro capítulo será tratado o dever que o Estado possui


de aplicar a pena, deve se ater aos princípios existentes na Constituição
Federal de 1988, pois esses protegem inclusive a dignidade da pessoa que
tenha cometido o ato ilícito. O Código Penal Brasileiro, Decreto-Lei Nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940, traz no art. 32 1as espécies de pena,
1 ART. 32. As penas são: I-privativas de liberdade; II-restritivas de direitos; III-de mul-
ta.

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


70
sendo elas as privativas de liberdade, restritivas de direito e multa. Nesse
sentido, este artigo abordará os regimes e seu tratamento em tempos de
pandemia
Já no segundo, o sistema penitenciário sofreu uma vasta mudança
de alguns séculos passados até os dias atuais. “As prisões, se é que isso
é possível afirmar, foram evoluindo ao longo dos anos. Na verdade, não
existe uma evolução retilínea, ou seja, um avanço contínuo” (GRECO,
2015).
No Terceiro, considerando as condições de salubridade dos
ambientes de cumprimentos de penas, cabe analisar o impacto ocorrido
no ano de 2020, considerando o surgimento mundial de uma pandemia,
causada pelo nominado popularmente coronavírus. Mas o foco neste
artigo será o Brasil, em especial, Minas Gerais. Cabendo destacar a
descrição e formas de sintomas desse vírus pela Organização Mundial de
Saúde – OMS.
A  covid-19  é uma doença causada pelo coronaví-
rus sars-cov-2, que apresenta um quadro clínico que varia
de infecções assintomáticas a quadros respiratórios graves.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a
maioria dos pacientes com COVID-19 (cerca de 80%) po-
dem ser assintomáticos e cerca de 20% dos casos podem
requerer atendimento hospitalar por apresentarem dificulda-
de respiratória e desses casos aproximadamente 5% podem
necessitar de suporte para o tratamento de insuficiência res-
piratória (suporte ventilatório).(SAÚDE, 2019)

Para realização do estudo, foram coletados dados da legislação


brasileira vigente, bem como foi realizada pesquisa, via correio
eletrônico, pelo portal de transparência de Minas Gerais - MG, por meio
da Controladoria Geral do Estado – CGE MG. Em comparação houve
consulta ao plano de contingência do Rio Grande do Sul.

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 71


Assim, serão abordadas quais medidas estão sendo tomadas pelas
autoridades Mineiras na contenção da transmissão do vírussars-cov-2 que
causa a doença Covid-19 no sistema prisional de Minas Gerais – MG,
considerando consulta realizada pelo portal de transparência de MG e
legislação vigente.
Este artigo se caracteriza como de natureza descritiva, as estratégias
de pesquisa utilizadas foram: a pesquisa bibliográfica e a documental.
Martins e Theóphilo (2009) explicam que a pesquisa bibliográfica é uma
estratégia de pesquisa necessária para a condução de qualquer pesquisa
científica; já a pesquisa documental é característica dos estudos que
utilizam documentos como fonte de dados, informações e evidências,
sendo os documentos dos mais variados tipos. Quanto à abordagem do
problema, classifica-se como qualitativa.

Regimes de Pena existentes no Código Penal


Brasileiro
Em se tratando do conceito de pena, o autor Victor Eduardo Rios
Gonçalves traz o seguinte conceito: “Pena é a retribuição imposta pelo
Estado em razão da prática de uma infração penal e consiste na privação
ou restrição de bens jurídicos determinada pela lei, cuja finalidade é a
readaptação do condenado ao convívio social e a prevenção em relação
à prática de novas infrações penais.” (2018, p. 314). Fernando Capez
também caracteriza a pena como: “Sanção penal de caráter aflitivo,
imposta pelo Estado, em execução de uma sentença, ao culpado pela
prática de uma infração penal [...]” (2006, p. 357).
O Estado, possuindo o dever de aplicar a pena, deve se ater aos
princípios existentes na Constituição Federal de 1988, pois esses protegem
inclusive a dignidade da pessoa que tenha cometido o ato ilícito. O Código
Penal Brasileiro, Decreto-Lei Nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, traz

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


72
no art. 32 2as espécies de pena, sendo elas as privativas de liberdade,
restritivas de direito e multa.
O Código Penal divide as penas privativas de liberdade em duas,
reclusão e detenção, e que, ao serem aplicadas, o juiz definirá o regime
de cumprimento respeitando os critérios existentes no art.33 §2°, do CP3.
Quando se trata da pena de reclusão, esta deverá ser cumprida em regime
fechado, semiaberto ou aberto, já a de detenção somente nos regimes
semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência para o fechado
como diz o art. 33, caput, do CP.
Os regimes de cumprimento de pena se encontram nos arts. 34
4
a 36 , do Código Penal brasileiro, sendo o primeiro o regime fechado.
5

Este deverá ser aplicado ao condenado cuja pena seja superior a oito anos,
devendo ele trabalhar durante o dia e ficar isolado durante o período da
2 ART. 32. As penas são: I- privativas de liberdade; II- restritivas de direitos; III- de
multa.
3 ART. 33. A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou
aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transfe-
rência a regime fechado. §2º-As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em
forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e
ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: a) o condenado a pena
superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; b) o condenado
não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá,
desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto; c) o condenado não reincidente,
cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em
regime aberto.
4 ART.34. O condenado será submetido, no início do cumprimento da pena, a exame
criminológico de classificação para individualização da execução.§ 1º - O condenado fica
sujeito a trabalho no período diurno e a isolamento durante o repouso noturno. § 2º - O
trabalho será em comum dentro do estabelecimento, na conformidade das aptidões ou
ocupações anteriores do condenado, desde que compatíveis com a execução da pena.§
3º - O trabalho externo é admissível, no regime fechado, em serviços ou obras públicas.
5 ART.36. O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do
condenado. § 1º - O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, tra-
balhar, frequentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido
durante o período noturno e nos dias de folga.  § 2º - O condenado será transferido do
regime aberto, se praticar fato definido como crime doloso, se frustrar os fins da execu-
ção ou se, podendo, não pagar a multa cumulativamente aplicada.

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 73


noite, sendo permitido o trabalho externo somente em serviço ou obras
públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou
entidades privadas de acordo com o Art. 36 da Lei de Execução Penal.
O art. 356, do CP, trata-se da aplicação da norma do regime
fechado para o condenado que iniciar o cumprimento de pena em regime
semiaberto, ou seja, aquele que não seja reincidente e cuja pena seja
superior a quatro anos e inferior a oito. Neste regime, o condenado deverá
trabalhar durante o dia, em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento
similar e, há a possibilidade de trabalho externo e a frequência em cursos
profissionalizantes.
Sobre o regime fechado e semiaberto o Art. 126 da LEP7– Lei
de Execução Penal, n°. 7210 de 11 de Julho de 1984, diz o seguinte em
seu Art. 126 “o condenado que cumpre a pena em regime fechado ou
semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de
execução da pena”, sendo este um benefício ao apenado.
O art. 368, do CP, trata do regime aberto que é aplicado ao
condenado não reincidente, e com pena igual ou inferior a quatro
anos. De acordo com o caput do art.36, o regime aberto baseia-se na
autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado e um dos seus
principais objetivos é reinserir o condenado na sociedade. Em tal regime
o condenado deverá trabalhar fora do estabelecimento e, sem vigilância,
6 ART.35.  Aplica-se a norma do art. 34 deste Código, caput, ao condenado que inicie o
cumprimento da pena em regime semi-aberto.  § 1º - O condenado fica sujeito a trabalho
em comum durante o período diurno, em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento
similar. § 2º - O trabalho externo é admissível, bem como a frequência a cursos supletivos
profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior.
7 ART. 126, LEP 7.210/84. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou se-
miaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.
8 ART.36. O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do
condenado. § 1º - O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, tra-
balhar, frequentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido
durante o período noturno e nos dias de folga.  § 2º - O condenado será transferido do
regime aberto, se praticar fato definido como crime doloso, se frustrar os fins da execu-
ção ou se, podendo, não pagar a multa cumulativamente aplicada.

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


74
havendo também a frequência a cursos outro alguma outra atividade
que tenha sido autorizada, devendo-se manter recolhido somente no
período noturno e nos dias em que tenha folga. Neste caso o trabalho
não é uma possibilidade de remição, pois para se ter a progressão para o
regime aberto o condenado deve ter a possibilidade de trabalho imediata,
diferentemente dos demais regimes, mas, o §6º do Art. 126 da LEP (Lei
n°. 7210 de 11 de Julho de 1984) dispõe que:
§ 6º O condenado que cumpre pena em regime
aberto ou semiaberto e o que usufrui liberdade condicional
poderão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou
de educação profissional, parte do tempo de execução da
pena ou do período de prova, observado o disposto no in-
ciso I do § 1o deste artigo.(Incluído pela Lei nº 12.433, de
2011).

Assim, expõe-se que a possibilidade de remissão pela frequência


em curso de ensino regular promove a reinserção do condenado na
sociedade, cabendo analisar no próximo tópico o Sistema Penitenciário
Brasileiro, para melhor compreensão. 

Sistema Penitenciário Brasileiro


Em síntese, a pena é a mais importante das consequências jurídicas
do delito. Consiste na privação ou restrição de bens jurídicos, com base
na lei, imposta pelos órgãos jurisdicionais competentes ao agente de uma
infração penal. Sobre a sanção imposta pelo Estado ao individuo infrator,
GRECO afirma:
Definitivamente, o homem não nasceu para ficar
preso. A liberdade éuma característica fundamental do ser
humano. A história da civilização demonstra, no entanto,
que, logo no início da criação, o homem se tornou perigoso
para seus semelhantes.(GRECO,2015, p.83)

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 75


É de conhecimento geral que, esta penalidade é a consequência de
atos realizados por infratores,fundamentando teoria absolutaque a pena é
a compensação do mal causado pelo crime, conforme Greco:
A teoria da retribuição não encontra o sentido da
pena na perspectiva de algum fim socialmente útil, senão
em que mediante a imposição de um mal merecidamente
se retribui equilibra e expia a culpabilidade do autor pelo
fato cometido. Se fala aqui de uma teoria ‘absoluta’ por-
que para ela o fim da pena é independente, ‘desvinculado’
de seu feito social. A concepção da pena como retribuição
compensatória realmente já é conhecida desde a antiguida-
de e permanece viva na consciência dos profanos com uma
certanaturalidade: a pena deve ser justa e isso pressupõe que
se corresponda em sua duração e intensidade com gravidade
do delito, que o compense. (GRECO, 2011, p. 473)

A aplicação da pena é umprocedimento discricionário que vincula


ao juiz aplicar a pena de prisão de acordo com princípioda individualização
da penae a vedação do Bis in iden, onde ninguém será julgado duas vezes
pelo mesmo fato delituoso. Sobre o processo individualizadorNucci
dispõe:
“Individualização da pena tem o significado de ele-
ger a justa e adequação sanção penal, quanto ao montante,
ao perfil e aos efeitos pendentes sobre o sentenciado, tor-
nando-o único e distinto dos demais infratores, ainda que
co-autores ou mesmo corréus.” (NUCCI, 2005, p.31)

Após esta fase, o sujeito é encaminhado ao sistema penitenciário


mais próximo de sua família, onde cumprirá a pena de acordo com a
sentença obtida em julgamento.
O sistema penitenciário sofreu uma vasta mudança de alguns
séculos passados até os dias atuais. “As prisões, se é que isso é possível

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


76
afirmar, foram evoluindo ao longo dos anos. Na verdade, não existe uma
evolução retilínea, ou seja, um avanço contínuo”(GRECO, 2015). Por
volta do século XVIII, as penitenciárias adotavam como penas severas
as lesões corporais e a pena de morte, ou seja, baseavam-se nas penas
cruéis, conforme Greco (2015).
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Direitos Humanos, em cooperação com a International Bar
Association, em conclusão ao capítulo 2 do Manual de Di-
reitos Humanos para juízes, membros do Ministério Públi-
co e Advogados, estabeleceu uma série de comportamentos
que deveriam ser assumidos pelos Estados a fim de evitar a
tortura, bem como as penas ou tratamentos cruéis, desuma-
nos ou degradantes.
A primeira delas assevera que o Direito Internacio-
nal impõe aos Estados o dever jurídico de tomar medidas
eficazes nos três âmbitos de Poder Legislativo, Executivo e
Judiciário -, a fim de prevenir e evitar a prática da tortura,
bem como impedir qualquer pena ou tratamento cruel, de-
sumano ou degradante. (GRECO,2015,P.153)

Após esta época, por volta do século XIX, foram vedadas as penas
cruéis.
A Convenção contra a Tortura e outros tratamentos
ou penas r:ruéis, desumanos ou degradantes, determina, no
item 1, do art.2n, que os Estados deverão tomar medidas
legislativas, administrativas, judiciais· ou de outra natureza
com o intuito de impedir atos de tortura no território sob a
sua jurisdição, e, nos itens 2 e 3 do mesmo artigo, dispõe
que nenhuma circunstância excepcional, a exemplo do que
ocorre com a ameaça ou mesmo com o estado de guerra,
qualquer instabilidade política interna ou qualquer emergên-
cia pública, poderá ser invocada como justificativa para a
tortura. Da mesma forma, toda ordem de um funcionário
superior que determine a tortura de ,alguém será sempre

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 77


considerada ilegal, razão pela qual o inferior hierárquico
não poderá alegar qualquer justificativa em sua defesa. Toda
vez que houver a suspeita de tortura, conforme preceitua o
art. 12 da referida Convenção, o Estado deverá providenciar
uma investigação rápida e imparcial, visando a apurar se,
efetivamente, ocorreu, bem como a consequente punição de
seus executores. (GRECO, 2015, P.141)

Assim foi criado o princípio constitucional da Humanização,


em que a pena não passará da pessoa do condenado, conforme artigo 5º
XLV, CR/88, que diz “nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento
de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”, e que não
prejudique a integridade física e mental do detento.
Apesar de vedadas as penas cruéis, as penitenciárias brasileiras
se encontram em um cenário de precariedade. A superlotação é um fator
preocupante, aponta Agência Senado:

O sistema carcerário nacional só tem capacidade


para abrigar a metade dos atuais detentos. São menos de
400 mil vagas disponíveis e, como consequência, a superlo-
tação leva a situação insalubres e até desumanas. Em mui-
tos casos, presos recorrem ao Judiciário e são postos em
liberdade sob o argumento de que as prisões violam direitos
humanos básicos. (AGÊNCIA SENADO,2019)

Cabe ressaltar que, além da superlotação nos cárceres, outro


transtorno é a insalubridade do local,que é um direito constitucional de
todos,independente do tipo de regime prisional; fechado; aberto ou; semi-
aberto. Direito este taxativo na Constituição da República Federativa

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


78
do Brasil, em seu artigo 225;  “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para presentes e futuras gerações.”
(CR/88).
E, apesar de não ter uma legislação expressa que trate do meio
ambiente carcerário, deve-se respeitar a integridade física e moral de
todos que utilizam o cárcere. Em 2001, criou-se a lei 10.257, onde esta
tem o objetivo de regulamentar o art 182 9 CR/88, nos quais determina
normas de ordem pública e interesse social e prol da sociedade, no que
tange o meio ambiente.

Para todos os efeitos, esta lei, denominada Estatuto


da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse
social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do
bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos,
bem como do equilíbrio ambiental (BRASIL, 2001).
A arquitetura dos presídios, suas celas, seus espaços
de convívio, sua higiene, ventilação, limite de capacidade,
salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de
aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à
existência humana, entre outros, tudo pode contribuir para
um meio ambiente inadequado para o cumprimento da sua
reprimenda. (TRINDADE, 2017, p.10)

Portanto, com todas questões abordadas, os estabelecimentos


prisionais, devem precaver das condições dos estabelecimentos,
juntamente com o Estado, para evitar futuros problemas com a saúde dos
presos, e até mesmo mortes. E cabe ressaltar que condições insalubres
9 ART.182 CR/88. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder público
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 79


potencializam a contaminação de várias doenças, como o vírus sars-cov-2
causador da doença Covid-19.

Impactos da Doença Covid-19 no Âmbito


Penitenciário
Considerando as condições de salubridade dos ambientes de
cumprimentos de penas, cabe analisar o impacto ocorrido no ano de
2020, considerando o surgimento mundial de uma pandemia, causada
pelo nominado popularmente coronavírus. Mas o foco neste artigo será o
Brasil, em especial, Minas Gerais. Cabendo destacar a descrição e formas
de sintomas desse vírus pela Organização Mundial de Saúde – OMS.

A  covid-19  é uma doença causada pelo coronaví-


rus sars-cov-2, que apresenta um quadro clínico que varia
de infecções assintomáticas a quadros respiratórios graves.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a
maioria dos pacientes com COVID-19 (cerca de 80%) po-
dem ser assintomáticos e cerca de 20% dos casos podem
requerer atendimento hospitalar por apresentarem dificulda-
de respiratória e desses casos aproximadamente 5% podem
necessitar de suporte para o tratamento de insuficiência res-
piratória (suporte ventilatório).(SAÚDE, 2019)

As autoridades mundiais ainda não possuem total certeza de


todas as formas de transmissão de tal vírus. Pois, essa doença pode ser
transmitida de forma rápida, e de diversas maneiras, dentre elas; toque
do aperto de mão, gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro ou por meio
de objetos ou superfícies contaminadas.Como citado, seu contágio é de
extremo perigo, principalmente nas penitenciárias, onde há superlotação
de presos nas celas.

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


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A aglomeração nos presídios facilita o perigo de contágio desta
moléstia entre os detentos, não somente o contato com estes dentro
das celas, más também com as visitas. Em todo o país, foram adotadas
medidas para evitar essa propagação, medidas estas que restringiram
visitas, e adotaram o planode contingência. Dentre algumas medidas,
Raphael Luiz de Oliveira, Canal Ciências Criminais10, aponta:

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, os Magistra-


dos têm fixado hipóteses de concessão da prisão domiciliar
para presos que estejam em cumprimento de pena no regi-
me semiaberto, com trabalho externo autorizado e que não
tenham sido condenados por falta grave há menos de um
ano ou respondendo a processo administrativo disciplinar
pela suposta prática de falta grave, sendo que tal concessão
detém caráter emergencial e extraordinário.(TJ-MG)

Estas medidas foram adotadas com o intuito de, evitar a


propagação do perigo de contágio de moléstia grave, prevista no art. 131,
CP11, e dentre os crimes envolvidos o crime de lesão corporal, na qual
se trata em ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem, art.
129 §1º II12, quando a lesão corporal for de natureza grave se resultar
perigo de vida. Cabe ressaltar que, em caso de omissão da notificação da
doença, o médico que deixar de denunciar à autoridade pública doença
cuja notificação é compulsória, responderá com pena de detenção, de seis
meses a dois anos, e multa, conforme art 269 do Código Penal13.
10 Informação fornecida por Raphael Luiz de Oliveira, no Canal Ciências Criminais,
em Abril de 2020.
11 ART 131. Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena - reclusão, de um a quatro anos,
e multa.
12 ART 139. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de
três meses a um ano. §1º Se resulta: II- perigo de vida.
13 ART 269. Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notifica-
ção é compulsória: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.       

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 81


Considerando o alto índice de transmissibilidade do novo
coronavírus e o agravamento significativo do risco de contágio em
estabelecimentos prisionais e socioeducativos. Tendo em vista fatores
como a aglomeração de pessoas, a insalubridade dessas unidades, as
dificuldades para garantia da observância dos procedimentos mínimos
de higiene e isolamento rápido dos indivíduos sintomáticos, insuficiência
de equipes de saúde, entre outros, características inerentes ao “estado de
coisas inconstitucional” do sistema penitenciário brasileiro reconhecido
pelo Supremo Tribunal Federal na Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental nº347. 1.2.
O bem jurídico protegido neste artigo é a vida e a saúde da
pessoa humana. Busca-se proteger a incolumidade pessoal, ameaçadapela
conduta apta à produção do contágio (PRADO, 2017, P.131).
O perigo de contágio de moléstia grave consiste o dolo direto,
com o fim de transmitir moléstia grave. Entende-se por moléstia grave
aquelas que atingem gravemente a saúde, frustrando o funcionamento do
organismo. É indispensável que a moléstia seja aguda, crônica, curável ou
incurável, seja transmitida por contágio, crime previsto no art.13114, CP.
Este crime admite-se qualquer meio de execução, pois é
considerado delito de forma livre. Portanto, pode se executar de forma
direta, ou seja, com o contato direto com a vítima, ou de forma indireta,
mediante contatos com objetos contaminados pela moléstia. Sobre a
consumação Luiz Regis Prado afirma:
O momento consumativo ocorre com a pratica da
conduta capaz de transmitir a doença, independentemente
do efetivo contágio. Não é necessário que ocorra a transmis-
são da moléstia, bastando a realização de ato com o fim de
alcança-la (delito de mera conduta). Sobrevindo o contágio,
tem-se o exaurimento do crime. (PRADO, 2018, P. 132)
14 ART 131. Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena - reclusão, de um a quatro anos,
e multa.

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


82
O contagio implicará a criação de perigo comum, na qual atingirá
um número indeterminado de pessoas, como na propagação de epidemia.
O agente responsável pelos delitos responderá pelos crimes, previstos nos
artigos 131 e 26715, ou 268,16 do Código Penal, em concurso formal,
conforme art.7017, CP.
Portanto, esta contaminação dentro das celas, nas penitenciárias
brasileiras, não coloca somente a vida dos detentos em risco, mas sim de
todos aqueles que frequentam o estabelecimento, dentre eles os policiais
penais,os agentes penitenciários, as cozinheiras, a administração, dentre
outros.
Os Estados da federação são responsáveis pelas medidas
sanitárias preventivas dentro dos estabelecimentos. Se estes infringirem
determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou
propagação de doença contagiosa, terá como pena, a detenção de um mês
a um ano e multa. E a pena é aumentada de 1/3 se é funcionário da
saúde pública ou exerça profissão de médico, farmacêutico, dentista ou
enfermeiro (art. 268, CP).
A conduta típica prevista no artigo 268, consiste em
infringir, ou seja, quebrantar, transgredir, violar, desobede-
15 ART. 367. Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos: Pena
- reclusão, de dez a quinze anos.§ 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em
dobro. § 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta
morte, de dois a quatro anos.
16 ART. 268. Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução
ou propagação de doença contagiosa: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde
pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
17 ART.70. Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As pe-
nas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes
concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Vide art.69, CP.

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 83


cer. As determinações do poder público são leis, decretos,

regulamentos, portarias, emanados de autoridades com-


petentes, visando impedir a introdução ou propagação de
doença contagiosa, suscetível de transmitir-se por contato
mediato ou imediato. Tendo em vista os aspectos mencio-
nados e se tratando do artigo 268, do Código Penal, é neces-
sário que o agente tenha o dolo, o dolo genérico é suficiente.
Nesta normal penal em branco, não se admite a forma cul-
posa.(PRADO, 2018, P.608)

Assim, Prado (2018) expõe as determinações legais que podem


ser impostas pelo poder público com objetivo de impedir introdução ou
propagação de doença contagiosa com suscetibilidade de transmitir-se
por contato mediato ou imediato. Nesses casos, devendo haver dolo ou
dolo genérico, assim não admitindo forma culposa, pois não há objeto de
culpa na classificação da tipicidade.

Medidas Preventivas no Âmbito Penitenciário


O Estado Democrático de Direito traz consigo um princípio
orientador de todo o sistema jurídico, o da Dignidade da Pessoa Humana.
Tal princípio visa o ser humano como preocupação central, deste modo,
ele é inafastável do Direito Penal uma vez que o preso possui direitos que
visam, principalmente, a preservação da sua dignidade.
Nessa perspectiva, foram adotadas Medidas Preventivas que
preservem a saúde dos detentos e evitem a propagação do vírus. Embora
tenham sido aderidas diretamente no âmbito penitenciário, tais medidas
atingem de modo indireto a sociedade pois, entre as medidas encontram-
se aquelas que possibilitam a saída dos presos, como exemplo pode-se
citar a possibilidade de prisão domiciliar, oque pode gerar uma propagação
extra muros do presídio.

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


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Considerando que o art. 146-B, IV, LEP 7.210/8418prevê que
“O juiz poderá definir a fiscalização por meio da monitoração eletrônica
quando determinar a prisão domiciliar;”
Tal medida foi definida, em âmbito nacional, pela Recomendação
Nº 62, de 1 de Março de 2020, Art. 5º, lll e lV, 19que dispõe que esta
deve ser concedida aos condenados que estejam em cumprimento de
pena em regime aberto e semi-aberto, além disso serão definidas algumas
condições pelo juiz. O condenado deve ter um diagnóstico suspeito ou
mesmo confirmado da Covid-19, contudo, existem divergências no que
diz respeito à possibilidade de maior proliferação da doença com a soltura
de presidiários.
De acordo com o Depen (Departamento Penitenciário Nacional),
há uma estimativa de cerca de 30 mil presos soltos em razão da pandemia,
o que é motivo para gerar preocupação em algumas pessoas pois dentro
de suas residências podem existir pessoas do grupo de risco mas, por
outro lado, há no que se pensar nas condições oferecidas dentro das
penitenciárias, que envolvem questões como insalubridade, superlotação
e demais questões que serão abordadas neste artigo. Além da preocupação
com a saúde, no que se refere a soltura de presidiários como medida
preventiva, cabe analisar que tal procedimento requer uma maior
fiscalização com a monitoração eletrônica, deverá ser analisado se ela será
realmente eficiente ou não, já que o número de condenados soltos não se
trata de um número pequeno.
18 ART.146-B, LEP 7.210/84. O juiz poderá definir a fiscalização por meio da monito-
ração eletrônica quando: IV-  determinar a prisão domiciliar.
19 ART. 5º, RECOMENDAÇÃO Nº62. Recomendar aos magistrados com competência
sobre a execução penal que, com vistas à redução dos riscos epidemiológicos e em ob-
servância ao contexto local de disseminação do vírus, considerem as seguintes medidas:
III- concessão de prisão domiciliar em relação a todos as pessoas presas em cumprimen-
to de pena em regime aberto e semiaberto, mediante condições a serem definidas pelo
Juiz da execução; IV – colocação em prisão domiciliar de pessoa presa com diagnóstico
suspeito ou confirmado de Covid-19, mediante relatório da equipe de saúde, na ausência
de espaço de isolamento adequado no estabelecimento penal.

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 85


Para melhores esclarecimentos quanto às medidas de prevenção
contra contaminação dos indivíduos que estão cumprindo penas no
sistema prisional de Minas Gerais, foi realizada consulta, pelo sistema
Portal da Transparência de Minas Gerias, e houve retorno por meio da
Controladoria Geral do Estado – CGE.
Nesse sentido, a citada solicitação foi aberta indagando quais
medidas têm sido adotadas em relação aos cumprimentos de penas, bem
como em relação às visitações, com o objetivo de evitar o contágio e
demais medidas cabíveis. Por meio do Protocolo: 01451.000120/2020-
13, houve retorno em 25/05/2020 23:59:59, resposta por meio de
Correspondência eletrônica (e-mail).
Em relação às medidas adotadas quanto aos regimes de
cumprimento de penas, em especial, semiaberto, houve resposta de que as
medidas foram estabelecidas na Resolução SEJUSP nº51, de 19 de março
de 2020. Cabendo analisar art. 1º:
Art. 1º. Adotar, em todas as Unidades Prisionais do
estado de Minas Gerais, as providências de contingencia-
mento no Sistema Prisional correspondente ao Nível 3 da
matriz situacional, definida no Plano Estadual de Contingên-
cia para Emergência em Saúde Pública/Infecção Humana
pelo Sars-Cov-2 (Doença Pelo Coronavírus – Covid-2019),
conforme disposto na Resolução nº 51, de 19 de março de
2020 e descrito abaixo:
a. Suspender, de modo preventivo e até disposição
em contrário:
1. Todas as visitas sociais;
2. Os exames médicos periciais e internações para
cumprimento de medida de segurança, exceto aquelas em
caráter de urgência e mediante determinação judicial;
3. A entrada de itens de alimentação, remédios,
vestuário e higiene e limpezaencaminhados diretamente por

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


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familiares ou terceiros cadastrados, exceto aqueles enviados
via serviço postal;
4. Todas as escoltas de indivíduos privados de liber-
dade, exceto aquelasdemandadas por ordem judicial, emer-
gências de saúde, ou por determinação expressa da estrutura
central de Comando do Depen-MG;
5. Os atendimentos técnicos, exceto os atendimentos de
saúde;

6. As reuniões das Comissões Técnicas de Classificação-


-CTC; e

1. As reuniões dos Conselhos Disciplinares – CD.

2. Cursos profissionalizantes e educacionais;

3. Visitas íntimas e visitas assistidas;

4. Atividades laborais que exijam saída da unidade pri-


sional; e

5. Atividades de assistência religiosa.

b. Restringir, de modo preventivo e até disposição em


contrário:

1. A entrada de advogados, limitando-se a entrada ao pe-


ríodo de 10 às 12 horas, desde que não haja contato pessoal, e por
no máximo 20 (vinte) minutos por custodiado. (SEJUSP nº51,
de 19 de março de 2020)

Quanto às medidas adotadas nas visitações para evitar o contágio,


houve retorno de que “foram suspensas todas as visitas sociais nas
unidades prisionais de Minas Gerais, por meio da Resolução SEJUSP
nº 52, de 19 de março de 2020, sendo disponibilizadas as visitas virtuais
através de vídeo conferência”.
Por meio do citado art. 1º, evidencia-se a suspensão de visitas,
bem como restrição ao recebimento de alimentos e encomendas, assim

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 87


como restrição do horário de estrada de advogados, desde que sem
contato pessoal.
Em se tratando das medidas de segurança adotadas dentro dos
presídios de MG, a CGE MG indicou que “o Estado de Minas Gerais
iniciou uma predileção pelas Unidades Porta de Entrada, que se deu como
alternativa mais eficiente para potencializar os processos de observação e
triagem, enviados aos principais órgãos públicos do Poder Executivo e
Judiciário e que integram o rol de responsáveis por fiscalizar a Execução
Penal”.
Da mesma forma, o Estado do Rio Grande do Sul também
adotou plano de contingência dentro das penitenciárias. Com o intuito de
propor procedimentos e medidas para a prevenção e mitigação dos danos
causados pela Covid-19 no sistema prisional. O governo do Rio Grande
do Sul estabeleceu:
1. Adoção de área de triagem na entrada de todo estabe-
lecimento prisional.

Instalação de pedilúvios em todo estabelecimento


prisional.
2. Destinação de duas áreas de isolamento por estabele-
cimento ou, caso não seja possível, por região.

3. Criação de patrulha de desinfecção e conscientização.

4. Criação de tendas de atendimentos/isolamento.

5. Adequação das unidades básicas de saúde nos estabe-


lecimentos prisionais para atendimento emergencial.

6. Criação de tendas de segregação preventivas.

7. Criação de centrais de isolamento nos institutos pe-


nais.

8. Ocupação de prédios públicos.

9. Parceria com os municípios no tocante à rede de saú-


de, com a contribuição estratégica da FAMURS (Fe-

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


88
deração das Associações de Municípios do Rio Gran-
de do Sul) (GOVERNO RS, 2020)

Cabe ressaltar a produção de álcool em gel e máscaras de


proteção, conforme especificações da ANVISA, o gabinete garante a
disponibilização de EPIs para todas as regiões por meio da articulação
com as delegacias penitenciarias regionais e da centralização e gestão
das compras e do recebimento de doações pelas instituições parceiras
(Poder Judiciário Estadual, Poder Judiciário Federal, Instituto Cultural
de Floresta, entre outros). Outra medida é a revisão do plano de logística
de instalação de Tornozeleiras Eletrônicas com foco nas pessoas presas
liberadas em razão da resolução nº 62 do CNJ – Conselho Nacional de
Justiça, evitando a saída sem controle e fiscalização por parte do Estado.
Para evitar o contato pessoal, o Governo afirma:

A instalação tem sido realizada nos estabelecimentos


prisionais, diferente do protocola habitual, em que o preso
é liberado para a instalação na central de monitoramento
eletrônico em ate 48 horas, diminuindo, assim, o risco de
fuga. E também foram realizadas gestão junto a empresa
para aumento de estoque de equipamento a fim de que pu-
desse ser implementada a revisão do plano. Foram imple-
mentadas melhorias para o atendimento remoto da pessoa
presa, quando possível através de e-mails, mensagens e liga-
ções telefônicas, viabilizando a diminuição do contato entre
o monitorado e o servidor penitenciário. O atendimento pre-
sencial, quando inevitável, esta se dando com agendamento
e protocolo de higiene, além dos EPIs utilizados pelos servi-
dores. (GOVERNO RS, 2020)

Em se tratando das visitas, as quais são um direito do preso, houve a


disponibilização de canal virtual para a manutenção dos veículos externos
da pessoa presa. Neste aspecto, criaram-se visitas virtuais para manter a

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 89


proximidade da pessoa presa com seu circulo familiar e social, mesmo
diante da suspensão temporária das visitas, nos termos da NT01/2020.
Juntamente com o parlatório virtual, para manter o contato da pessoa presa
com seu advogado, o atendimento pode ser via equipamentos de áudio e
vídeo, que estão sendo doados pelo Poder Judiciário. A implementação
está sendo realizada de maneira gradual, de acordo com a estrutura física
de segurança de cada estabelecimento.

Ambas as medidas buscam superar as dificuldades im-


posta pela pandemia com alternativas efetivas destinadas a
mantes a socialização da pessoa presa, garantindo a perma-
nência de seus vínculos externos e o acesso ao seu advoga-
do, conforme previsão da Constituição Federal e da Lei da
Execução Penal. (GOVERNO RS,2020)

Portanto, cada Estado adquiriu medidas preventivas para


evitar a propagação da Covid-19 no âmbito penitenciário, como foi
citado anteriormente, são medidas alternativas, governamentais,
como exemplo a Portaria Conjunta nº 19/PR-TJMG/2020, as quais
deverão ser seguidas, caso contrário, responderão perante a lei.

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


90
Conclusão
Considerando a análise realizada quanto aos cumprimentos de
penas em sistemas prisionais em meio à pandemia gerada pelo vírus
sars-cov-2 causador da doença Covid-19. Foi observada a salubridade
nos ambientes de cumprimentos de penas e qual impacto gerado com o
vírus, bem como as medidas de segurança de saúde foram e estão sendo
adotadas pelo Governo Mineiro.
Medidas foram adotadas com o intuito de, evitar a propagação
do perigo de contágio de moléstia grave, prevista no art. 13120, CP, e
dentre os crimes envolvidos o crime de lesão corporal, na qual se trata
em ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem, art. 129 §1º II21,
quando a lesão corporal for de natureza grave se resultar perigo de vida.
Por meio dos resultados obtidos com a consulta realizada pelo
portal de Transparência de MGA, a CGE respondeu indicando Resolução
SEJUSP nº51, de 19 de março de 2020. O art. 1º desta resolução indicou
como medidas de contenção do vírus a suspensão de visitas, bem como
restrição ao recebimento de alimentos e encomendas, assim como restrição
do horário de estrada de advogados, desde que sem contato pessoal.
Desse modo, por meio desse artigo, entende-se que caberá uma
nova análise dos resultados das medidas de prevenção ao COVID-19 no
Estado de Minas Gerais, para que sejam verificados impactos do vírus
sars-cov-2 nos usuários do sistema prisional brasileiro, após a pandemia,
considerando que haverá novos cenários, bem como o desconhecimento
de todos possíveis impactos do vírus. Assim, poderá ser feita análise dos

20 ART. 131. Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena - reclusão, de um a quatro anos,
e multa.
21 ART 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:  Pena - detenção, de
três meses a um ano. §1º- Se resulta: IV- perigo de vida.

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resultados obtidos pelas autoridades mineiras com a utilização das citadas
medidas preventivas e corretivas ao contágio.

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A GAZETA. DEPEN ESTIMA QUE 30 MIL PRESOS
TENHAM SIDO LIBERADOS DURANTE PANDEMIA. A Gazeta,
2020. Disponível em: <https://www.agazeta.com.br/brasil/depen-estima-
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BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República


Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001: regulamenta os


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CÂMARA, Olga. Soltura de presidiários durante a pandemia:


Recomendação n. 62 do CNJ. Jus.com.br, 2020. Disponível em: <https://
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criminais lavam as mãos diante do novo coronavírus.Conjur - Consultor
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T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 95


CAPÍTULO 5

O SERVIDOR PÚBLICO E A PROTEÇÃO


CONSTITUCIONAL EM TEMPO DE
COVID-19
Leane Karla Silva Castro
Leonardo Davi Guedes
Oldemar Gonçalves Pinto Filho
Quéren Hapuque dos Santos Martins

Introdução
Com o objetivo de analisar a administração pública, nosso artigo
cita uma das principais peças fundamentais para prestar um serviço
público efetivo: o servidor público. E em meio a uma pandemia, iremos
expor as situações em que seus direitos podem ser colocados em xeque
devido a redução da prestação de serviço.
Iremos enaltecer os meios de defesa dos benefícios conquistados
pelos servidores por intermédio da Constituição Federal. Apesar de
estarmos tratando de pessoas físicas e trabalhadores, os servidores
públicos recebem uma tratativa diferenciada, na qual faz com que suas
benesses não sejam violadas ou até anuladas por MP’s.

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


96
Administração Pública
Citada no artigo 37 da Constituição Federal, a administração
pública é tratada como a gestão do Estado para satisfazer as necessidades
da sociedade, com um serviço público efetivo, obedecendo os princípios
da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Sua
organização é feita através da administração pública direta e indireta,
órgãos e agentes públicos.
A administração pública feita de forma direta é composta pelas
entidades políticas, que é a União, os estados, os municípios e o Distrito
Federal. A prestação é feita de forma centralizada, sendo voltada para as
áreas da educação, saúde e outros serviços essenciais.
A administração pública feita de forma indireta é composta por
autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas públicas.
É fruto da descentralização do poder das entidades políticas, onde se
cria novos entes dotados de personalidade jurídica própria para realizar
funções administrativas de competência da administração pública direta.
A transferência da execução do serviço público é feita por delegação ou
outorga. Por outorga o Estado transfere a titularidade do serviço da pessoa
política para a pessoa administrativa, que o faz em seu próprio nome.
Deve ser feita por lei e apenas outra lei poderá modifica-la ou retira-la.
Quando se delega o serviço, o Estado transfere somente sua execução,
geralmente temporária, fazendo com que a prestação seja feita em seu
próprio nome e sob sua responsabilidade, entretanto sob fiscalização do
Estado.
Os órgãos públicos são frutos das administrações públicas direta
e indireta, que foi desenvolvido para desconcentrar poder das entidades
políticas e administrativas como uma unidade de ação das funções
estatais. É exercido através de agentes que ocupam cargos públicos, que
são pessoas físicas que prestam todo tipo de serviço público. Devido aos
agentes serem pessoas físicas e prestarem serviços públicos, muito se

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 97


confunde, porém toda e qualquer ação feita pelos agentes e servidores
é atribuída a pessoa jurídica ao qual esteja ligada. Isso se trata da Teoria
do Órgão/Interpretação Volitiva, que esclarece a divisão que há entre a
pessoa física e jurídica que existe dentro das prestações de serviços do
Estado para a sociedade.

SERVIDORES PÚBLICOS X CLT


Os servidores públicos possuem particularidades definidas desde
as primeiras Constituições, 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e, por
fim, 1988. Com a instituição do Decreto-Lei Nº 5.452 de 1º de maio de
1943, que regulamenta a  Consolidação das Leis Trabalhistas, houve a
diferenciação do trabalhador celetista (CLT) dos funcionários públicos
federais, estaduais e municipais. A Constituição é a referência, por se
tratar de um conjunto de base de leis, normas e regras da República
Federativa do Brasil, para os estados e municípios criarem as leis que
regulam concursos públicos, direitos, vantagens e o regime jurídico dos
servidores.  
A Carta do Império, no período de monarquia no Brasil, sendo
a Constituição da época, tratava de forma ínfima o servidor público,
ao delimitar o cargo à Assembleia Geral, composta pela Câmara dos
Senadores e Câmara dos Deputados, em extinguir ou criar cargos públicos
e estabelecer os pagamentos. O chefe do executivo, o imperador, era
incumbido de prover os empregos políticos e civis, conforme “Art. 15. É
da atribuição da Assembleia Geral (...) XVI. Criar, ou suprimir Empregos
públicos, e estabelecer-lhes ordenados. (BRASIL, 1824, Art. 15).” 
A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (assim
chamada) de 16 de julho de 1934, sendo a primeira constituição do
país, trata no Título VII - Dos Funcionários Públicos. O capítulo II, Dos
Direitos e Das Garantias Individuais, no Título IV, destinou-se à criação

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98
da ordem econômica e social, passou-se a citar direitos e deveres dos
trabalhadores. Nesta Constituição, falava-se em estatuto dos servidores de
forma implícita, sem existir tal estatuto, declaradamente, com um regime
jurídico específico para o funcionalismo público, por se tratar da primeira
constituição, que rompia com a monarquia no Brasil. 
  Os servidores públicos eram orientados por normas contidas
no Capítulo II da CR/34. Anos depois, em 28 de outubro de 1939,
foi instituído o primeiro estatuto de servidores públicos, por meio do
Decreto-Lei 1713, em cumprimento a determinação contida no art. 170
da Constituição de 1934. Instituiu-se também a Justiça do Trabalho para
dirimir questões entre empregados e empregadores, conforme art. 122
CR/34. 
O Poder Legislativo votará o Estatuto dos Funcio-
nários Públicos, obedecendo às seguintes normas, desde já
em vigor. Para dirimir questões entre empregadores e em-
pregados, regidas pela legislação social, fica instituída a Jus-
tiça do Trabalho, à qual não se aplica o disposto no Capítulo
IV do Título I (BRASIL, Art. 170 e 122, 1934). 

O estatuto de servidores, instituído após a Constituição da


República de 1937, quando suscita no art. 156 que o Poder Legislativo
organizava o estatuto dos funcionários públicos, enquanto a CR/34
determinava em seu artigo 170 que o Poder Legislativo votaria o Estatuto
dos Funcionários Públicos, na CR/37, por sua vez, diz que o Legislativo
iria organizar, por isso a morosidade da concretização em 1939.  
As mudanças com relação aos funcionários públicos civis na
Constituição de 1937 não foram muitas em relação à CR/34. Entre as
mudanças, a mais marcante concerne à organização do Estatuto dos
Funcionários Públicos que passou a determinar os direitos e os deveres
destes trabalhadores.  

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 99


Em 1º de maio de 1943, o presidente Getúlio Vargas decretou
a Lei Nº 5.452 que entrou em vigor em 10 de novembro do mesmo
ano, que instituiu a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), com a
regulamentação efetiva dos artigos das Constituições anteriores e com
melhorias de benefícios inexistentes, como seguro desemprego, FGTS,
carteira assinada e vale transporte.    
Na linha das Constituições, outro fato que surgiu, a partir da
Constituição de 1946, foi a primeira vez que as palavras autarquia,
sociedade de economia mista e paraestatal foram mencionadas,
o que data o início das administrações públicas indiretas, sendo,
novamente citadas, no art. 163, § 2º, da Constituição de 1967 com a
afirmativa de que são regidas pelas normas aplicadas às empresas
privadas, inclusive quanto ao direito do trabalho e das obrigações.   

Às empresas privadas compete preferencialmente,


com o estímulo e apoio do Estado, organizar e explorar as
atividades econômicas.§ 2º - Na exploração, pelo Estado,
da atividade econômica, as empresas pública, as autarquias
e sociedades de economia mista reger-se-ão pelas normas
aplicáveis às empresas privadas, inclusive quanto ao direito
do trabalho e das obrigações (CAPÍTULO V Do Estado de
Sítio TÍTULO III Da Ordem Econômica e Social – BRA-
SIL, Artigo 163, 1967). 

  A Constituição de 1967, além de funcionários advindos de


concursos públicos, determinava que servidores contratados para obras,
funções de natureza técnicas e especializadas temporariamente, deviam
se aplicar à legislação trabalhista. 
  Os servidores contratados sem concurso público antes da
Constituição da República de 1988 possuíam direitos assegurados pela
Consolidação das Leis Trabalhistas, conforme entendimento do Tribunal

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


100
Superior do Trabalho (Súmula 362).    

O autor foi contratado pelo município de Goiânia,


pelo regime celetista, em 1984, para atuar como zelador.
Em 1990, o governo municipal editou a Lei Complementar
4/1990, que instituiu o Regime Jurídico Único para os ser-
vidores públicos municipais e, automaticamente, enquadrou
os servidores contratados pelo antigo regime no quadro pró-
prio da prefeitura, sem a realização de concurso público. Na
ação trabalhista, o servidor requereu a condenação do mu-
nicípio de Goiânia ao recolhimento integral da contribuição
fundiária referente ao período em que não foi recolhido. Ele
argumentou que, tendo sido admitido sem concurso público
em data anterior à CF/88 e com contrato regido pelo regime
celetista, a prefeitura não poderia ter suspendido o recolhi-
mento do FGTS. Sustentou ainda que não se aplica ao seu
caso a prescrição quinquenal trabalhista, mas, sim, a prescri-
ção trintenária, que é a prescrição relativa ao recolhimento
dos depósitos de FGTS, conforme o artigo 23, parágrafo 5º,
da lei que regulamentou o FGTS (Lei 8.036/90) e a Súmula
362 do TST 

Assim como na CR/67, a Constituição de 1988 determina em


seu art. 173 a sujeição do regime jurídico próprio das empresas privadas,
ou seja, regime celetista aplicado às autarquias, empresas públicas e
sociedades de economia mista. 

Ressalvados os casos previstos nesta Constituição,


a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só
será permitida quando necessária aos imperativos da segu-
rança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme
definidos em lei. II - a sujeição ao regime jurídico pró-
prio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 101


obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários (BRA-
SIL, 1988, Art. 173). 

No art. 37, da CR/88, se expressa com clareza os princípios


da administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e efetividade, princípios que não estavam explícitos
nas Constituições anteriores. A exemplo do princípio da impessoalidade,
todas as constituições se referiram a ele quando asseveraram quanto a
investidura dos cargos públicos:   

Constituição da República de 1934: “Art. 168 - Os


cargos públicos são acessíveis a todos os brasileiros, sem
distinção de sexo ou estado civil, observadas as condições
que a lei estatuir”. (TÍTULO VII Dos Funcionários Públicos
– CR/34).    
Constituição da República de 1937: Art. 122 - A
Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residen-
tes no País o direito à liberdade, à segurança individual e à
propriedade, nos termos seguintes: 3º) os cargos públicos
são igualmente acessíveis a todos os brasileiros, observadas
as condições de capacidade prescritas nas leis e regulamen-
tos (DOS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS) 
Constituição da República de 1946: Art 184 - Os
cargos públicos são acessíveis a todos os brasileiros, obser-
vados os requisitos que a lei estabelecer (TÍTULO VIII Dos
Funcionários Públicos). 
Constituição da República de 1967: Art 95 - Os car-
gos públicos são acessíveis a todos os brasileiros, preenchi-
dos os requisitos que a lei estabelecer (CAPÍTULO VII Do
Poder Executivo SEÇÃO VII Dos Funcionários Públicos) 
Constituição da República de 1988: Art. 37 - Art.
37. A administração pública direta e indireta de qualquer

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


102
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, im-
pessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (Capítulo
VII da Administração Pública Seção I Disposições Gerais
– grifo do autor) 

O art. 7° da CR/88 elenca os direitos de trabalhadores urbanos e


rurais, além de outros que visem a melhoria de sua condição social. Do I
ao XXXIV, trata-se desses direitos regulamentados pela CLT, Decreto-Lei
nº 5.452 de 1943. Esses são dos trabalhadores privados ou de autarquias,
empresas públicas e  sociedades de economia mista. No entanto, de 34
direitos citados, destaca-se 14 incisos inerentes ao funcionalismo público,
que são os artigos IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII,
XIX, XX, XXII e XXX, o que possibilita a lei estabelecer requisitos
diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir. 
Anteriormente, nas Constituições citadas, também não se falava
em recolhimento de previdência social, a Lei nº 8.213, de 24 de julho
de 1991 passou a tratar do recolhimento contributivo e solidário para
os funcionários privados (Instituto Nacional do Seguro Social – INSS).
Tratando o art. 40 da CR/88 também deste de recolhimento, porém,
distinto, sendo criado o regime próprio de previdência social.  

CR/88: Art. 40. O regime próprio de previdência


social dos servidores titulares de cargos efetivos terá caráter
contributivo e solidário, mediante contribuição do respec-
tivo ente federativo, de servidores ativos, de aposentados e
de pensionistas, observados critérios que preservem o equi-
líbrio financeiro e atuarial.     
Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991: Art. 1º A
Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim as-
segurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de ma-
nutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involun-

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 103


tário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares
e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economi-
camente. 
Art. 2º A Previdência Social rege-se pelos seguintes
princípios e objetivos: 
I - universalidade de participação nos planos previ-
denciários; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e
serviços às populações urbanas e rurais; 
III - seletividade e distributividade na prestação dos
benefícios; IV - cálculo dos benefícios considerando-se os
salários de contribuição corrigidos monetariamente; 
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios de for-
ma a preservar-lhes o poder aquisitivo; 
V - valor da renda mensal dos benefícios substitutos
do salário de contribuição ou do rendimento do trabalho do
segurado não inferior ao VI - previdência complementar fa-
cultativa, custeada por contribuição adicional; 
VII - caráter democrático e descentralizado da ges-
tão administrativa, com a participação do governo e da co-
munidade, em especial de trabalhadores em atividade, em-
pregadores e aposentados. 

Os servidores públicos efetivos são pessoas físicas que trabalham


nas repartições ou na administração pública e ingressam através de
concurso público. O concurso é obrigatório para aqueles que querem
trabalhar na administração pública. 

É uma forma isonômica de contratação porque dá oportunidade


a todas as pessoas que cumpram os requisitos previstos no edital de se
inscreverem e os mais aptos de serem chamados.  

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


104
As pessoas que se encontram na administração, por mais tempo
que esteja, será afastada, não se convalidando a situação de qualquer destas.
Essa pessoa não precisará devolver a remuneração que recebeu durante o
tempo de serviço. Como exemplo, em Minas Gerais, o governo editou a
Lei 100 como forma de estabilidade para funcionário contratados pelo
estado. Sendo caçada a lei pela Justiça, julgada como inconstitucional, em
desacordo com o que determina a Constituição sobre concurso público.  

A Lei Complementar 100/2007 efetivou 98 mil


contratados do Estado de Minas Gerais até 31 de dezembro
de 2006, que trabalhavam com vínculo precário em escolas
e universidades públicas, ocupando funções como profes-
sores, vigilantes e faxineiros. Porém, o Supremo Tribunal
Federal anulou a Lei por declará-la inconstitucional.
 

O concurso deve ser de prova ou provas e títulos, isso significa que


a contratação não será exclusivamente em análise de currículo, por isso
é uma forma isonômica, para evitar preferências. Quem presta concurso
para determinado cargo, não poderá exercer a função de outro cargo,
pois seria desvio de função, devendo exercer as funções exclusivas do
cargo para o qual prestou o concurso. As regras do concurso são afixadas
no edital, o edital é considerado a lei do concurso, o que impossibilita
expressar ou exigir além do que está previsto na lei.  
O que é um cargo público? É o conjunto de atribuições e
responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser
cometidas a um servidor. 
Este conceito está expresso na Lei 8.112 de 1990. 

Art. 3º Cargo público é o conjunto de atribuições e


responsabilidades previstas na estrutura organizacional que

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 105


devem ser cometidas a um servidor. 
 Parágrafo único.  Os cargos públicos, acessíveis a
todos os brasileiros, são criados por lei, com denominação
própria e vencimento pago pelos cofres públicos, para
provimento em caráter efetivo ou em comissão. (BRASIL,
Art. 3º, Parágrafo Único, Lei 8.112, 1990)

Apesar do parágrafo único dizer que os cargos são acessíveis a


todos os brasileiros, os estrangeiros podem também participar e assumir
o cargo público.    O que significa provimento de caráter efetivo? Os
aprovados em concurso público, após serem empossados, passarão por
estágio probatório, período de três que serão avaliados. Depois desses
anos, o servidor será considerado efetivo.   
Existem também cargos em comissão, aqueles de livre nomeação e
exoneração do administrador público, que são acessíveis a qualquer pessoa
o preenchimento. A exoneração, neste sentido, não é uma punição, mas
inerente ao cargo, uma vez que é apenas o desligamento do comissionado
da sua função pública. A exoneração pode existir pela determinação da
administração, quando se trata do comissionado, ou, também, a pedido
do servidor efetivo.  No caso, a demissão é a punição para ambos.   
Como esses cargos em comissão são de livre nomeação, as
autoridades nomeantes passaram a indicar para ocupar esses cargos
pessoas de sua própria família, ferindo o princípio da moralidade, ou seja,
esses cargos tornaram-se moedas de troca ou favor. Para evitar a afronta
ao princípio da moralidade, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula
Vinculante 13, para impedir a prática de nepotismo.  

A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente


em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


106
pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou as-
sessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de
confiança ou, ainda, de função gratificada na administração
pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com-
preendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola
a Constituição Federal (STF Súmula Vinculante)

Funcionários Públicos Eletivos


O servidor público poderá ser investido, sem prejuízo em sua
remuneração, no exercício de mandato eletivo. Sendo o candidato
funcionário público, receberá licença para exercer o mandato. Tal licença
é concedida com a possibilidade de afastamento ou não de suas funções,
de acordo com o cargo, conforme disposto no artigo 38 da Constituição
da República.
Ao servidor público da administração direta, autár-
quica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, apli-
cam-se as seguintes disposições:
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual
ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;
II - investido no mandato de Prefeito, será afasta-
do do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar
pela sua remuneração;
III -  investido no mandato de Vereador, havendo
compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu
cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do
cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada
a norma do inciso anterior;
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para
o exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será
contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção
por merecimento;

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 107


V - para efeito de benefício previdenciário, no caso
de afastamento, os valores serão determinados como se no
exercício estivesse. (Brasil, Art. 38, 1988).

Podemos citar como exemplos de mandatos eletivos o conselheiro


tutelar, a comissão de saúde, a comissão de segurança e o comissariado
de menores. Destes citados, somente o conselheiro tutelar é remunerado.
Por meio das eleições, em que todo cidadão a partir de dezoito
anos é obrigado a cumprir o seu papel na democracia brasileira, os cargos
eletivos são preenchidos por qualquer pessoa em consonância com as
diretrizes do edital eleitoral. São funções temporárias que, com data de
posse e de exoneração, podem durar de dois a oito anos.

Funcionários Públicos Terceirizados


Funcionários que exerçam função pública, ainda que por meio
de terceirização, equiparam-se à condição de servidor público para fins
de ação penal. A Lei nº 13.429/2017 permite a terceirização tanto na
esfera privada quanto na pública. A regra para a terceirização no Brasil
é admitida em atividade-meio, como vigilância, conservação e limpeza.
Terceirização é a contratação de serviços de uma empresa, entre
o tomador de serviços e a mão-de-obra, mediante o contrato de prestação
de serviços. A relação de emprego se faz entre o trabalhador e a empresa
prestadora de serviços e não diretamente com o contratante.
No serviço público, as empresas terceirizadas cumprem o papel
determinado na Lei 13.429/2017. No que diz respeito às atividades de
conservação, limpeza e vigilância, para fins de penalização, o Código
Penal, no artigo 327, considera os funcionários terceirizados, que prestam
serviço em repartições públicas, como funcionários públicos. Dentro
das condições, respondem criminalmente por seus atos, têm o dever de
cumprir as finalidades da administração pública.

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108
A 6ª Turma do STJ julgou improcedente um pedido de HC
de um jovem universitário que desacatou uma atendente do núcleo de
passaportes da polícia federal em Porto Alegre. Segundo decisão do STF,
a funcionária da empresa terceirizada é funcionária pública para fins de
penalidade como assegura o Código Penal.

Mas a 6ª Turma do STJ entendeu que, para efeito de


ações penais, a definição é mais ampla e elástica. O Código
Penal, no artigo 327, considera servidor público todo aque-
le que exerce função pública, mesmo que seja contratado,
mensalista, diarista, nomeado temporariamente ou até sem
remuneração. (HC 9602)

Funcionários Públicos, Autarquias, Fundações


Públicas, Empresas Públicas e Sociedades de
Economia Mista  
Empresas públicas trabalham com a descentralização do poder. É
a forma que a administração direta se organiza para atingir as finalidades
públicas ao distribuir competências. Os funcionários públicos que
compõem a administração são regidos pela mesma regra usada para
os funcionários de empresas privadas, segundo o artigo 173 da CR/88,
Emenda Constitucional 019/1998. No entanto, observamos que, destas
descentralizações, no contexto da administração indireta, são adotados os
mesmos critérios para os funcionários da administração direta.

§ 1º  A lei estabelecerá o estatuto jurídico da em-


presa pública, da sociedade de economia mista e de suas
subsidiárias que explorem atividade econômica de produção
ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dis-
pondo sobre:

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 109


I - sua função social e formas de fiscalização pelo
Estado e pela sociedade;
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empre-
sas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis,
comerciais, trabalhistas e tributários;
III - licitação e contratação de obras, serviços, com-
pras e alienações, observados os princípios da administração
pública;
IV - a constituição e o funcionamento dos conse-
lhos de administração e fiscal, com a participação de acio-
nistas minoritários;
V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a
responsabilidade dos administradores. (Emenda Constitu-
cional Nº 19, De 04 De Junho De 1998, Art.173).

A Irredutibilidade do Salário e da Carga


Horária do Servidor Público Isento da Mp
936/20
Com a pandemia do novo coronavirus, surgiram discussões em
torno da redução de salários e da carga horária de trabalho de servidores
públicos. A Medida Provisória  936 de 2020, publicada pelo Governo
Federal em 2 de abril, instituiu o Programa Emergencial de Manutenção do
Emprego e da Renda, mas não incluiu cargos comissionados, empregados
e servidores públicos (POSSÍDIO,2020). 
A discussão quanto a redução salarial de cargos do funcionalismo
público é antiga, como encontrado na Ação Direta de Inconstitucionalidade
2238. 

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


110
A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
2238 foi proposta em 2001 pelo PT, PCdoB e PSB e ques-
tiona alguns itens da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF),
como o parágrafo 2o do Artigo 23. O dispositivo possibilita
a redução de jornada com a adequação salarial, quando as
despesas com a folha de pessoal ultrapassam o limite pre-
visto na LRF, sendo uma medida opcional ao governo, e
ao Poder. Esse dispositivo foi suspenso por liminar do Su-
premo, concedida em pedido feito nesta ação. (PÚBLICA,
2019). 

Em meados do mês de fevereiro de 2020, data-se o início da


pandemia de Covid-19 no Brasil, com o retorno de brasileiros que viviam
em Wuhan, na China, ao país do  futebol. Três meses depois, 190 mil
pessoas foram infectadas com o vírus, espalhado em todos os continentes,
com a isenção da Antártida (SANARMED, 2020). 
Com isso, afetou-se a economia brasileira, uma vez que medias
preventivas, como  fechamento de comércios e isolamento social,
foram executadas, além do desequilíbrio no mercado internacional. Em
decorrência, a administração pública, constituída em parte por servidores
de carreira, que têm direito ao recebimento de salário, foi atingida. Esses
servidores são submetidos ao regime de direito público e possuem direitos
elencados na Constituição da República, em especial nos artigos 39 a 41. 
A Ação Direta de Inconstitucionalidade 2238 questionou
dispositivos da Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, que
estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade
na gestão fiscal e dá outras providências. 
A ADI defendia a redução de salários e da jornada de trabalho
de servidores públicos,  com o proporcional de vencimentos por horas
de efetivo serviço, no instante em que  a União, Estados e Municípios
atingissem o limite da folha de pagamento. Contudo, as regras divergem

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 111


da Constituição, segundo ministros do Supremo, como o presidente Dias
Toffoli, são contrárias à irredutibilidade salarial e discordam do artigo 169
da CR/88, que cita outras medidas em períodos que excedam gastos com
a administração pública.

O presidente Dias Toffoli propôs que se dê interpre-


tação conforme a Constituição no sentido de que a redução
de jornada e de vencimentos só pode ser aplicada após a
adoção das medidas exigidas pelo artigo 169, parágrafo 3º,
inciso I. A medida, segundo seu voto, alcançaria primei-
ramente os servidores não estáveis e, somente se persistis-
se a necessidade de adequação ao limite com despesas de
pessoal, seria aplicada ao servidor estável. (DIREITONET,
2020)

O servidor público é protegido pela Carta Magna, a exemplo,


só em situações mais enérgicas, de erro ou incompetências oriundas da
parte dele, em que não atendam aos requisitos estabelecidos em lei, que
poderá ser excluído da função ou cargo público. É possível aos servidores
públicos estáveis a perda do cargo, segundo a Constituição da República,
no artigo: 
São estáveis após três anos de efetivo exercício os
servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em
virtude de concurso público. §1º O servidor público estável
só perderá o cargo: 
I- em virtude de sentença judicial transitada em jul-
gado; II- mediante processo administrativo em que lhe seja
assegurada ampla defesa;  III- mediante procedimento de
avaliação periódica de desempenho, na forma de lei comple-
mentar, assegurada ampla defesa. (BRASIL, 1988, Art. 41). 

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


112
A Constituição prevê outras possibilidades para combater o excesso
de limites impostos por responsabilidade fiscal antes de atingir o servidor
público estável, uma  vez que é resguardado a estes que concorreram
ao cargo público, nomeados, democraticamente, em observância ao
princípio da impessoalidade, com a estabilidade após três anos de efetivo
serviço. A Carta Magna prevê que os cargos comissionados, as funções
de confiança e os servidores efetivos em estágio probatório devem ser
atingidos primeiro, conforme o art. 169, § 3o da CR/88. 

A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá
exceder os limites estabelecidos em lei complementar. 
§3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos
com base neste artigo, durante o prazo fixado na lei com-
plementar referida no caput, a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios adotarão as seguintes providências:
I- redução em pelo menos vinte por cento das despesas com
cargos em comissão e funções de confiança; II- exoneração
dos servidores não estáveis. (BRASIL, 1988, Art. 169). 

Portanto, a Medida Provisória 936/20 tratou da redução


proporcional de jornada de trabalho e de salário, mas não abrangeu os
servidores públicos, que têm o amparo constitucional de irredutibilidade
salarial. A Ação Direta de Inconstitucionalidade no 2238, também tratou
da redução salarial, porém tentou atingir os vencimentos dos servidores
públicos, sendo suspensa, em análise aos artigos da CR/88, lembrados
por  ministros do Supremo Tribunal Federal, que são os guardiões da
Constituição, no momento de apreciação do texto.

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 113


MP 936/20 e a Flexibilização de Direitos
Sabe-se que os impactos do COVID-19 não se restringiram a
saúde pública. A economia tem sido extremamente afetada, pois os danos
no âmbito trabalhista a afetam diretamente. Os impactos nas relações de
trabalho foram imediatos, visto que as medidas de isolamento, medidas
essas que são indispensáveis ao controle da transmissão do vírus, afetaram
imediatamente os trabalhadores informais, visto que estes geralmente
não possuem outra fonte de renda. Posteriormente, e sem delonga, os
prejuízos alcançaram também os trabalhadores formais, pois devido
ao súbito declínio no faturamento das empresas, ocorreram inúmeras
rescisões de contrato de trabalho, e gerou grande insegurança quanto a
subsistência dos empregos.
Em razão do presente estado de calamidade pública decorrente da
pandemia, e decretado pelo Decreto no 6, de 6 de março de 2020, sabendo
que os prejuízos serão inevitáveis e catastróficos, portanto, visando
ameniza-los, fez-se necessária a adoção de medidas para enfrentamento
do contexto atual. 
Para que a diferença entre o tratamento dos servidores públicos e
dos demais trabalhadores se torne mais nítida, iremos discorrer sobre a
MP 936/20, visto que a mesma afetou todos os trabalhadores regidos pela
CLT que trabalham em empresas privadas, os trabalhadores com contrato
intermitente e os domésticos, já os servidores públicos não foram afetados
pela referida medida. 
A Constituição Federal, Carta Magna do país, protege os
direitos já adquiridos através da Constituição, bem como das normas
infraconstitucionais, a fim de impedir que haja a ocorrência de um
retrocesso social, e em seu artigo 1o consagra os valores sociais do
trabalho, entre outros, como fundamento da República, tornando
indispensável a proteção dos direitos fundamentais dos trabalhadores,
visando garantir que estes direitos tenham eficácia. Da mesma maneira,

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


114
o Direito do Trabalho atua a fim de proteger o empregado dos riscos
existentes na atividade econômica, visto que é a parte hipossuficiente da
relação de emprego. 
É indiscutível o fato de que os direitos trabalhistas não podem ser
flexibilizados sem motivos plausíveis e fundamentados, devendo seguir
rigorosamente alguns princípios, como definido por Vólia Bomfim Cassar: 

“A flexibilização é possível e necessária, desde que


as normas por ela estabelecidas através da convenção ou
acordo coletivo como previsto na Constituição, ou na forma
que a lei determinar, sejam analisadas sobre duplo aspecto:
respeito à dignidade do ser humano que trabalha para a ma-
nutenção do emprego e redução de direitos apenas em casos
de comprovada necessidade econômica, quando destinada à
sobrevivência da empresa. (CASSAR, 2009, p. 43).” 

Ante o exposto, é facilmente perceptível a complexidade para a


adoção de medidas eficazes no cenário atual, visto que a Constituição
Federal e o Direito do Trabalho são rigorosos quanto a flexibilização de
direitos trabalhistas, todavia, o contexto atual exige uma atuação ágil,
tendo em vista que os danos causados pelo impacto do COVID-19 são
velozes e catastróficos, portanto, a delonga na adoção de medidas poderia
causar prejuízos irreversíveis. Há aqui então um conflito entre os direitos
individuais e os direitos coletivos. 
O referido conflito é facilmente perceptível, visto que o exercício
de determinados direitos fundamentais no momento entram em colisão
com outros direitos fundamentais, devido a isso, a fim de solucionar
esse conflito, se tornou indispensável a aplicação do Princípio da
Proporcionalidade, visto que somente através da observância deste, é
possível realizar uma ponderação de alguns direitos em prol de um bem

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 115


maior, para que dessa forma, seja possível encontrar a solução mais
apropriada no presente momento. 
O princípio da proporcionalidade possui 3 subprincípios que
devem ser observados: a Adequação, pois é através desta que se verifica
se a medida adotada é de fato a mais adequada para alcançar o bem maior
pretendido. Não menos importante, é a Exigibilidade, pois esta traz a
exigência de que a medida adotada seja extremamente necessária, e que
esta medida seja a que menos causará prejuízos para todos os envolvidos.
Por último, está a Proporcionalidade em Sentido Estrito, na qual é feita
uma real valoração, a fim de garantir que o sacrifício de determinados
direitos irá proteger direitos e interesses de maior relevância. Em suma, o
princípio da Proporcionalidade não visa excluir direitos, mas sim ponderá-
los para alcançar um bem maior no caso concreto. 
Havia uma urgência em adotar medidas para amenizar os impactos
da pandemia nas relações de trabalho, e devido a essa urgência, foi criada
a MP 936/20: 

com o objetivo de preservar o emprego e a renda,


garantir a continuidade das atividades empresariais, bem
como reduzir o impacto social diante da paralisação de ati-
vidades e restrição de mobilidade. - Exposição de motivos
MP 936/20, (PAULO ROBERTO NUNES GUEDES) 

A medida provisória 936/20 foi criada não para excluir direitos


trabalhistas, mas para aplica-los de maneira coerente com a realidade.
Houve a necessidade de flexibilizar as relações trabalhistas, a fim de
garantir a subsistência dos trabalhadores que estão em isolamento sem
que se tornasse necessária a ruptura dos vínculos empregatícios. 
Ante o exposto, é indiscutível que há uma imensa diferença

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


116
referente aos direitos dos funcionários públicos em relação aos direitos
dos demais trabalhadores, pois embora esses também sejam protegidos
pela legislação, o rigor na cautela, a fim de resguardar os direitos dos
funcionários públicos é extremante maior. Para evidenciar ainda mais essa
diferença, iremos discorrer acerca das medidas adotadas pela MP 936/20,
reiterando que tais medidas não abrangem os funcionários públicos. 
A primeira medida trazida pela MP 936/20 foi o Benefício
Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. É importante
ressaltarmos que este benefício não se trata do Auxílio Emergencial.
O Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda é
destinado aos trabalhadores que estão contidos nas situações de suspensão
temporária do contrato de trabalho ou redução temporária de jornada,
devido a pandemia do COVID-19. 
Visto que as medidas de isolamento afetaram drasticamente os
empregadores, a fim de evitar possíveis falências e demissões em massa,
a MP 936/20 trouxe a possibilidade de suspensão temporária do contrato
de trabalho. Tal suspensão deverá ser feita mediante acordo individual
entre o empregador e o empregado, e deverá ter duração máxima de
sessenta dias. 
Durante o estado de calamidade pública a que se
refere o art. 1o, o empregador poderá acordar a suspensão
temporária do contrato de trabalho de seus empregados, pelo
prazo máximo de sessenta dias, que poderá ser fracionado
em até dois períodos de trinta dias. - Art 8o MP 936/20 

Durante a suspensão é vedada prestação de serviços pelo


empregado, se isto ocorrer a suspensão será descaracterizada, e o
empregador deverá pagar imediatamente os encargos e será submetida as
devidas sanções. 
§ 4o Se durante o período de suspensão temporária
do contrato de trabalho o empregado mantiver as atividades
de trabalho, ainda que parcialmente, por meio de teletraba-

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 117


lho, trabalho remoto ou trabalho à distância, ficará descarac-
terizada a suspensão temporária do contrato de trabalho, e o
empregador estará sujeito: 
I - ao pagamento imediato da remuneração e dos
encargos sociais referentes a todo o período; 
II - às penalidades previstas na legislação em vigor;

III - às sanções previstas em convenção ou em acor-
do coletivo. 

O empregado que realizar acordo individual para a suspensão


temporária do contrato de trabalho não poderá ser demitido, e ao término
da suspensão o emprego terá a garantia provisória no emprego por período
igual ao da suspensão. 
Art. 10. Fica reconhecida a garantia provisória no emprego ao
empregado que receber o Benefício Emergencial de Preservação do
Emprego e da Renda, de que trata o art. 5o, em decorrência da redução da
jornada de trabalho e de salário ou da suspensão temporária do contrato
de trabalho de que trata esta Medida Provisória. 
II - após o restabelecimento da jornada de trabalho
e de salário ou do encerramento da suspensão temporária do
contrato de trabalho, por período equivalente ao acordado
para a redução ou a suspensão. 

O salário do empregado será pago em até 30 dias, e será pago pelo


Governo Federal, conforme previsto no art. 18, § §1° e 4°, vejamos.

§ 1o O benefício emergencial mensal será devido a


partir da data de publicação desta Medida Provisória e será

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


118
pago em até trinta dias. 
§ 4o Ato do Ministério da Economia disciplinará a
concessão e o pagamento do benefício emergencial de que
trata este artigo. 

O empregador deverá informar a realização do acordo ao


Ministério da Economia no prazo de 10 dias, conforme previsto no art.
5o, § 3o, inciso I desta MP. 

I - o empregador informará ao Ministério da Eco-


nomia a redução da jornada de trabalho e de salário ou a
suspensão temporária do contrato de trabalho, no prazo de
dez dias, contado da data da celebração do acordo; 

Quanto a redução temporária de jornada, poderá ser realizada a


redução proporcional da jornada de trabalho e do salário dos empregados
por até 90 dias. Na qual o governo irá pagar o restante do salário mediante
a utilização de parte do seguro-desemprego que o empregado teria direito. 
A redução de jornada e salário poderá ser realizada em 3
percentuais: 25%, 50% ou 70%, conforme previsto no inciso III do art.
7º da referida MP. 

III - redução da jornada de trabalho e de salário,


exclusivamente, nos seguintes percentuais: 
a) vinte e cinco por cento; 
b) cinquenta por cento; ou 
c) setenta por cento 

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 119


Se a redução for no percentual de vinte e cinco por cento, o
acordo poderá ser realizado com os empregados tanto individualmente
como coletivamente. Já a redução no percentual de cinquenta por cento
ou setenta por cento, só poderá ser realizada individualmente nos casos
em que o salário do empregado é de até três salários mínimos ou se tratar
de empregado com nível superior que receba mais que o dobro do teto
da Previdência (R$ 12.202,12), ou por todos os funcionários, mediante
acordo coletivo, conforme previsto no parágrafo único do inciso II do
art.12 da MP 936/20. 
Parágrafo único. Para os empregados não enqua-
drados no caput, as medidas previstas no art. 3o somente
poderão ser estabelecidas por convenção ou acordo coletivo,
ressalvada a redução de jornada de trabalho e de salário de
vinte e cinco por cento, prevista na alínea “a” do inciso III
do caput do art. 7o, que poderá ser  pactuada por acordo
individual. 

A proposta de redução deverá ser enviada ao empregado com dois


dias de antecedência, no mínimo, conforme previsto no inciso II do art.
7o da MP, “II - pactuação por acordo individual escrito entre empregador
e empregado, que será encaminhado ao empregado com antecedência de,
no mínimo, dois dias corridos;.” 
E deverá haver a garantia de estabilidade no emprego até o dobro
do período da redução, como prevê o art. 10, inciso II: 

Art. 10. Fica reconhecida a garantia provisória no


emprego ao empregado que receber o Benefício Emergen-
cial de Preservação do Emprego e da Renda, de que trata
o art. 5o, em decorrência da redução da jornada de traba-
lho e de salário ou da suspensão temporária do contrato de
trabalho de que trata esta Medida Provisória, nos seguintes

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


120
termos: 
II - após o restabelecimento da jornada de trabalho
e de salário ou do encerramento da suspensão temporária do
contrato de trabalho, por período equivalente ao acordado
para a redução ou a suspensão. 

A jornada de trabalho e de salário serão reestabelecidos quando


acabar o período de calamidade pública, quando houver o término do
período firmado no acordo ou quando o empregador decidir antecipar o
término da redução. 
Como já mencionado anteriormente, tais medidas não afetaram
os funcionários públicos, pois é vedada redução de salário, e tal vedação
encontra respaldo na Constituição Federal que já prevê a irredutibilidade
salarial dos servidores. 

Conclusão
Ante todo o exposto no decorrer do presente trabalho, entende-
se que os servidores públicos são detentores de privilégios. É importante
ressaltar que isso não significa que os demais trabalhadores não possuam
proteção dos seus devidos direitos, nem mesmo que tais direitos possam
ser retirados a qualquer momento, pois o Direito Trabalhista existe para
protegê-los e as medidas citadas foram adotadas a fim de garantir essa
proteção.
Todavia, o objetivo do trabalho é evidenciar a distinção na maneira
como esses direitos são protegidos, pois os dos demais trabalhadores,
ainda que devam obedecer aos critérios rigorosos para serem submetidos
às alterações temporárias, podem ser flexibilizados em determinadas
situações, a fim de que os mesmos tenham o menor prejuízo possível.
Já os direitos dos funcionários públicos não são submetidos a essa

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 121


flexibilização, não estão reféns de situações, devendo o Estado garantir
que, independentemente da situação enfrentada, os direitos destes não
sejam afetados.

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


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Referências

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Disponível em: https://jus.com.br/artigos/72072/direitos-fundamentais-
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POSSÍDIO, Cyntia. A medida provisória 936/20 e sua
aplicabilidade no âmbito da Ordem dos Advogados do Brasil e suas
seccionais. Migalhas. [S.I.] 2020. Disponível em: https://www.
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PÚBLICA. Servidores públicos poderão ter salário reduzido com


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SANARMED. Linha do tempo do Coronavírus no Brasil. [S.I]


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SENADO NOTÍCIAS. MP prevê novas regras para redução


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em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/04/02/mp-
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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Aplicação


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m ul a = 1 2 2 7 # : ~ : t e x t = S % C 3 % BA m ul a % 2 0 V i n c ul a n t e % 2 0
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0inidoneidade%20moral.) > Acesso em: 02 jul. 2020

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 125


CAPÍTULO 6

DIREITO DIGITAL E NORMAS


JURÍDICAS: DESAFIOS E AVANÇOS
DA TECNOLOGIA APLICADA

Laura Morato Fonseca


Milla Ingrid Andrade Souto.
Victor Bruno Rodrigues Lourenço

Introdução
O Direito sempre atuou em todas as relações de forma que organiza
e regulamenta assuntos de baixa e alta complexidade.  Contudo, diante
do volume massivo de dados, informações, da rápida transformação dos
conhecimentos, e de transformações contínuas em mercados, essa tarefa
tem exigido cada vez mais. Cabe ressaltar que não é possível optar por
não se atualizar.

Diante disso, o direito digital não é considerado um ramo
autônomo, mas podemos identificá-lo como uma releitura do Direito,
frente aos avanços na internet.
Por ser uma área recente, o Direito Digital não possui tantas leis
que o regulamente, nem tampouco decretos sobre este tema.
No primeiro capítulo, vamos tratar sobre a parte introdutória
do Direito Digital, e a importância de que sua aplicação seja de forma
harmônica e que não haja conduta lesivas. Importante mencionar que o
Direito Digital, inclusive, já chegou ao Superior Tribunal de Justiça, pois é
notório que à medida que a sociedade evolui, surge também às demandas

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126
no Poder Judiciário. Ademais disso, é essencial que se tenha uma devida
normatização, bem como estarem atentas às evoluções e revoluções do
Direito, para que tenhamos uma efetiva defesa da democracia.

No segundo capítulo, conceituaremos de forma abrangente
o Direito Digital, bem como suas principais características e as
regulamentações que já possuem aplicabilidade no mundo Digital,
inclusive a Lei nº 12.9654/2014 – Marco Civil, a qual teve como principal
objetivo estabelecer princípios, garantias, direitos e deveres inerentes ao
uso da Internet.

No terceiro capítulo, destrincharemos os desdobramentos
jurídicos diante do crescimento desenfreado a aplicação da tecnologia
nas empresas, de forma que seja possível obtermos agilidade, resoluções
rápidas e precisas aos conflitos. Neste mesmo capítulo, trataremos da Lei
Geral de Proteção de dados, a fim de que seja ratificada a padronização
para o efetivo processo de recolhimento e administração de dados,
gerando assim segurança jurídica nas relações e segurança dos usuários.
Podemos notar que sempre que nos deparamos com avanços,
principalmente benéficos, sempre existirá divergências, descobertas que
na maioria das vezes incertas ou até mesmo prejudiciais, pois sempre
haverá o outo lado da moeda, e por ser algo novo o Direito ainda não está
preparado para lidar com os conflitos, devida a defasagem de normatização
e sua efetiva aplicação, tendo em vista termos a visão de que a internet é
“terra de ninguém”.
Concluiremos este artigo, com a visão sedimentada de que a
Internet é um instrumento de grande importância e relevância no nosso
meio social e que terá uma forte influência nas relações Jurídicas como
um todo.
Operadores do Direito devem estar preparados para os desafios,
diante da enxurrada de informações e seus impactos e, principalmente
aos danos e responsabilizações que possam ser geradas comprometendo a

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 127


soberania do Estado.

Evolução Histórica do Direito Digital


O chamado Direito digital é considerado uma evolução do próprio
Direito, a qual traz consigo toda a bagagem de princípios e fundamentos do
ramo, inclusive os seus institutos que estão vigentes e possui aplicabilidade
hodiernamente. Hans Kelsen define Direito como “um conjunto de regras
que possui o tipo de unidade que entendemos por sistema”. (KELSEN,
Hans, 2002 p. 270)
Já Wilson Campos de Souza Batalha, afirma que Direito é:

Um conjunto de comandos, disciplinando a vida


externa e relacional dos homens, bilaterais, imperativo atri-
butiva, dotado de validade, eficácia e coercibilidade, que
tem o sentido de realizar os valores da justiça, segurança e
bem comum, em uma sociedade organizada”. (BATALHA,
Wilson de Souza Campos. Introdução ao Estudo do Direito.
Rio de Janeiro: Forense, 1986.).

E podemos finalizar os conceitos de Direito com ilustríssimo


doutrinador Miguel Reale, que afirma que o Direito é como uma “ordenação
heterônoma, coercível e bilateral atributiva das relações de convivência,
segundo uma integração normativa de fatos segundo valores”. (REALE,
Miguel. Lições preliminares de direito, 26ª edição revista, São Paulo:
Saraiva, 2002).
A partir do que foi dito, podemos dizer que o Direito é um
conjunto de normas jurídicas que visa ordenar as condutas humanas,
tutelando a vida de acordo com o crescimento e evolução da sociedade.
Não seria diferente com o Direito Digital.

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


128
O Direito digital como dito anteriormente é a evolução do próprio
direito e quando nos deparamos com mudanças tecnológicas podemos
observar o quanto à sociedade em si também muda os comportamentos,
logo, o direito também sofre alterações.
Existem diversas linhas doutrinárias a qual aduz que o Direito
Digital não é um ramo do direito como o Direito Penal, o Direito
Empresarial ou o Direito Civil. Convém destacar a guisa de ilustração que
de acordo com Marcelo de Camilo Tavares:

O Direito Digital possui todas as características


para ser considerada uma disciplina autônoma, justificando
a sua posição através de três argumentos: possui um obje-
to delimitado, qual seja a própria tecnologia, dividido em
duas partes, sendo a primeira o objeto mediato, ou seja, a
informação, e o segundo o objeto imediato, ou a tecnologia;
a existência de uma metodologia própria, a qual visa possi-
bilitar uma melhor compreensão dos problemas derivados
da constante utilização das novas tecnologias da informação
(informática) e da comunicação (telemática); tal tarefa se
realiza mediante o uso de um conjunto de conceitos e nor-
mas que possibilitam a resolução dos problemas emanados
da aplicação das novas tecnologias às atividades humanas;
a existência de fontes próprias, ou seja, fontes legislativas,
jurisprudenciais e doutrinárias; não havendo como negar a
existência dessas fontes no âmbito do Direito Digital; foi
justamente a existência de ditas fontes que possibilitaram,
em um grande número de países, principalmente os mais
desenvolvidos, a criação da disciplina do Direito Digital
nos meios acadêmicos. (ALVES, Marcelo de Camilo Tava-
res. Direito Digital. Goiânia, 2009. P. 9-10 disponível em:
http://aldeia3.computacao.net/greenstone/collect/trabalho/
import/Direito%20Digital.pdf. Acesso em 30.05.2020.)


São de extrema relevância os questionamentos referentes
à autonomia do Direito Digital em que pese se tratar de relações que

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 129


conseguimos enxergar que a todo o momento sua aplicabilidade tem se
tornado parte da vida de todas as pessoas e, ai mora a necessidade do
Direito regular tal aplicação.
É importante mencionar que recebemos e enviamos informações
o tempo todo e o pensamento do legislador de trinta ou quarenta anos
atrás não é o mesmo dos dias atuais, na medida em que a sociedade vai
evoluindo nosso ordenamento jurídico deve evoluir junto, pois como dito
anteriormente quando a sociedade muda o nosso Direito também muda.
Exemplo disso é nosso Código Penal de 1940, traz em seu tipo penal o
crime de estelionato que está configurado no Capítulo VI do Título II da
Parte Especial, descrito como “Do estelionato e outras fraudes”, no artigo
171, senão vejamos:
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
fraudulento. Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa,
de quinhentos mil réis a dez contos de réis.

Desde os tempos mais remotos é possível percebermos que


quanto mais a sociedade evolui, o homem usa de meios diversos para
obter benefícios. Não obstante o fato da regulação do Direito Digital como
ramo autônomo do Direito tutelar tal fato que pode ser praticado por um
ofensor que nem sequer esteja no mesmo território que o ofendido, tudo
isso graças à evolução desenfreada da tecnologia.
Não nos faltam exemplos para justificar a forte presença do Direito
Digital em nosso cotidiano, como por exemplo, o direito do consumidor,
ramo principio-lógico que nos faz sentir seguros juridicamente falando,
mas que ainda nos geram dúvidas em relações as compras on-line por
exemplo. Não obstante o fato de termos diversos outros exemplos, vários
casos já chegaram ao Superior Tribunal de Justiça em relação a temas
atinentes ao Direito Digital, pois na medida em que surgem vantagens

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


130
para a sociedade, surgem também demandas no nosso Poder Judiciário.

Vejamos exemplo:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


CUMULADA COM CONDENATÓRIA A OBRIGAÇÃO DE
FAZER. INTERNET. GOOGLE. ORKUT. CRIAÇÃO DE
PERFIL FALSAMENTE ATRIBUÍDO AO AUTOR. PROVE-
DOR DE HOSPEDAGEM. RESPONSABILIDADE OBJETI-
VA. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSU-
MIDOR. RESPONSABILIDADE INERENTE À NATUREZA
DA ATIVIDADE DESENVOLVIDA. NOMEAÇÃO À AUTO-
RIA. DEVER DO RÉU. DANOS MORAIS CONVERTIDOS
EM INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS DECORREN-
TES DA FALTA DE NOMEAÇÃO. RECURSO PROVIDO.
1 - O Google, responsável pelo site de relacionamen-
tos denominado Orkut, está sujeito ao Código de De-
fesa do Consumidor nas relações com seus usuários.
2 - O Orkut é um provedor de serviço de internet que se caracteri-
za pela hospedagem de páginas pessoais de usuários, possibilitan-
do a troca de mensagens e a criação de comunidades, que ganham
adeptos conforme interesses, ideias ou curiosidades comuns.
4 - O Google responde de forma objetiva pelo provedor de
hospedagem e pela confidencialidade dos dados dos seus usuá-
rios, mas não pelo conteúdo inserido em cada perfil individual.
5 - É impossível a retirada de conteúdo da rede sem a pro-
vocação da parte interessada, diante da inviabilidade técnica,
fática e jurídica de o provedor de hospedagem varrer seus ser-
vidores à procura de um determinado tipo de informação.
6 - A criação de perfil falsamente atribuído ao Autor so-
mente pode ser aferida pelo próprio ofendido, pois a efi-
ciência dos mecanismos de filtragem de conteúdo inseridos
no Orkut depende de indicação precisa da parte interessada.
7 - O Google possui meios adequados à identificação do usuário do
Orkut que pratique eventual ilegalidade, promovendo o eficiente ras-
treamento dos usuários infratores, impedindo, assim, o anonimato,
diligência razoável imputada a um provedor de conteúdo de internet.
8 - O Google detém o perfil do Orkut em nome alheio, já que a
propriedade da coisa (conteúdo do perfil) é do próprio usuário.
9 - Competia ao Google promo ver a nomeação à autoria do ver-
dadeiro criador do perfil ofensivo ao Autor. A omissão, existente
sentença de mérito, impõe ao Réu o dever indenizatório ao Autor.

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10 - Recurso não provido.   (TJMG  -  Apelação Cí-
vel   1.0024.10.045653-2/002, Relator(a): Des.(a) José Marcos
Vieira , 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 11/05/2011, pu-
blicação da súmula em 20/05/2011)

A lição de Patrícia Peck Pinheiro, sobre responsabilidade civil no


direito digital:

Considerando apenas a Internet, que é mídia e


veículo de comunicação, seu potencial de danos indiretos
é muito maior que de danos diretos, e a possibilidade de
causar prejuízo a outrem, mesmo que sem culpa, é real. Por
isso, a teoria do risco atende às questões virtuais e a so-
luciona de modo mais adequado devendo estar muito bem
associada à determinação legal de quem é o ônus da prova
em cada caso. (PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital.
3ª São Paulo: Editora Saraiva, 2009. 411 p.)

É indubitável que a tecnologia nos traz além de entretenimento,


o conforto e a facilidade que nos permite comunicações entre empresas
e pessoas de diversos lugares de todo o mundo. A ilustre mestra Patrícia
Peck em seu livro ”Direito Digital” diz ainda que a internet não é
simplesmente uma rede de computadores, mas uma rede de pessoas, e
como tal, está sujeita às leis vigentes nos países nos quais as pessoas se
encontram. Como toda e qualquer tecnologia, pode ser usada para o bem,
ou para o mal.
O maior desafio da evolução humana é a cultural. Pode se dizer
então que como instrumento de regulação de condutas, o Direito deve
refletir a realidade da sociedade, é o que defende Samuel Huntington
(Huntington, Samuel p. 28). Diante dessa assertiva, faz-se necessário a
normatização referente a território, ordenamentos, com o intuito basilar
de se gerar segurança jurídica nas relações e convivências humanas.

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Para Patrícia Peck Pinheiro, o Direito Digital não é algo novo,
mas sim um produto derivado da legislação atual, como qualquer lei
extravagante:

Não devemos achar, portanto, que o Direito Digi-


tal é totalmente novo. Ao contrário, tem ele sua guarida na
maioria dos princípios do Direito atual, além de aproveitar
a maior parte da legislação em vigor. A mudança está na
postura de quem a interpreta e faz sua aplicação. (...) O Di-
reito tem de partir do pressuposto de que já vivemos uma
sociedade globalizada. Seu grande desafio é ter perfeita ade-
quação em diferentes culturas, sendo necessário, por isso,
criar a flexibilidade de raciocínio, nunca as amarras de uma
legislação codificada que pode ficar obsoleta rapidamente.
(PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. 3ª Ed. São Pau-
lo: Saraiva, 2009. p. 35).

A internet então sob o ponto de vista revolucionário, tem uma


forte influência sobre o Direito da Informação, fazendo com que juristas
e operadores do Direito estejam atentos às evoluções e a defesa da
democracia, a liberdade e a responsabilidade. Importante mencionar que a
disseminação desenfreada de dados favorece e, muito os comportamentos
fazendo com que as pessoas aprendem qualquer coisa a qualquer tempo,
sendo indiscutível a efetiva normatização e autonomia do Direito Digital
em nossa sociedade. as condutas humanas, tutelando a vida de acordo
com o crescimento e evolução da sociedade. Não seria diferente com o
Direito Digital.
O Direito digital como dito anteriormente é a evolução do próprio
direito e quando nos deparamos com mudanças tecnológicas podemos
observar o quanto à sociedade em si também muda os comportamentos,
logo, o direito também sofre alterações.
Existem diversas linhas doutrinárias a qual aduz que o Direito

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Digital não é um ramo do direito como o Direito Penal, o Direito
Empresarial ou o Direito Civil.

São de extrema relevância os questionamentos referentes
à autonomia do Direito Digital em que pese se tratar de relações que
conseguimos enxergar que a todo o momento sua aplicabilidade tem se
tornado parte da vida de todas as pessoas e, ai mora a necessidade do
Direito regular tal aplicação.
É importante mencionar que recebemos e enviamos informações
o tempo todo e o pensamento do legislador de trinta ou quarenta anos
atrás não é o mesmo dos dias atuais, na medida em que a sociedade vai
evoluindo nosso ordenamento jurídico deve evoluir junto, pois como dito
anteriormente quando a sociedade muda o nosso Direito também muda.
Exemplo disso é nosso Código Penal de 1940, traz em seu tipo penal o
crime de estelionato que está configurado no Capítulo VI do Título II da
Parte Especial, descrito como “Do estelionato e outras fraudes”, no artigo
171.
Desde os tempos mais remotos é possível percebermos que quanto
mais a sociedade evolui, o homem usa de meios diversos para obter
benefícios. Não obstante o fato da regulação do Direito Digital como
ramo autônomo do Direito tutelar tal fato que pode ser praticado por um
ofensor que nem sequer esteja no mesmo território que o ofendido, tudo
isso graças à evolução desenfreada da tecnologia.
Não nos faltam exemplos para justificar a forte presença do Direito
Digital em nosso cotidiano, como por exemplo, o direito do consumidor,
ramo principio-lógico que nos faz sentir seguros juridicamente falando,
mas que ainda nos geram dúvidas em relações as compras on-line por
exemplo. Não obstante o fato de termos diversos outros exemplos, vários
casos já chegaram ao Superior Tribunal de Justiça em relação a temas
atinentes ao Direito Digital, pois na medida em que surgem vantagens
para a sociedade, surgem também demandas no nosso Poder Judiciário.

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É indubitável que a tecnologia nos traz além de entretenimento,
o conforto e a facilidade que nos permite comunicações entre empresas
e pessoas de diversos lugares de todo o mundo. A ilustre mestra Patrícia
Peck em seu livro “Direito Digital” diz ainda que a internet não é
simplesmente uma rede de computadores, mas uma rede de pessoas, e
como tal, está sujeita às leis vigentes nos países nos quais as pessoas se
encontram. Como toda e qualquer tecnologia, pode ser usada para o bem,
ou para o mal.
O maior desafio da evolução humana é a cultural. Pode se dizer
então que como instrumento de regulação de condutas, o Direito deve
refletir a realidade da sociedade, é o que defende Samuel Huntington
(Huntington, Samuel p. 28). Diante dessa assertiva, faz-se necessário a
normatização referente a território, ordenamentos, com o intuito basilar
de se gerar segurança jurídica nas relações e convivências humanas.

A internet então sob o ponto de vista revolucionário, tem uma


forte influência sobre o Direito da Informação, fazendo com que juristas
e operadores do Direito estejam atentos às evoluções e a defesa da
democracia, a liberdade e a responsabilidade. Importante mencionar que a
disseminação desenfreada de dados favorece e, muito os comportamentos
fazendo com que as pessoas aprendem qualquer coisa a qualquer tempo,
sendo indiscutível a efetiva normatização e autonomia do Direito Digital
em nossa sociedade.

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Desafios direito digital.

O que é o direito digital.


O direito digital trata-se da própria evolução do direito
abrangendo todos os institutos e princípios fundamentais já vigentes e
que são aplicados ate hoje no nosso dia-a-dia. Pode se dizer então que
o direito digital não é considerado como um mundo separado, mas sim
uma realidade que não pode ser separada do “real”. Portanto, há uma
necessidade que o Direito como área do saber evolua para tutelar os
problemas e possibilidades trazidas pela comunicação em rede.

Caratecterísticas direito digital


O direito digital não deve ser caracterizado como um novo ramo
do direito, tal qual o direito penal, civil. Para Patricia Peck Pinheiro, “Não
existe um Direito da Internet, assim como não há um direito televisivo
ou um direito radiofônico. Há peculiaridades do veículo que devem ser
contempladas pelas várias áreas do Direito, mas não existe a necessidade
da criação de um Direito específico.” (2013, PG.38).
Atualmente no brasil não existe um tribunal especifico para julgar
delitos ou outras demandas geradas pela internet. Existem apenas núcleos
especializados ao combate a crime cibernéticos dentro da polícia civil.
O que pode-se observar é que as instituições brasileiras e do resto
do mundo vão se adaptando para resolver tais conflitos gerados pela
evolução do ambiente virtual conforme novos dilemas legais, Alguns
destes conflitos são resolvidos com novos diplomas legais, mas outros
acabam sendo levados aos tribunais superiores, que os julgam usando o
arcabouço jurídico já existente.
Patricia peck diz ainda que o direito digital pode ser caracterizado a

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


136
partir de 2 viés. O primeiro pode ser denominado de interpretativo que diz
respeito a aplicação das leis já existentes em casos conhecidos, mudando
apenas sua interpretação para o ambiente virtual. Tal caracteristica pode
ser exemplificada com o crime de estelionato que estar previsto no artigo
171 do código penal brasileiro.
Vale apena lembrar que tal crime descrito no código penal fala
sobre a ação cometida direta pelo transgressor, ou seja, conseguindo
uma vantagem ilícita sobre a vítima não tendo a necessidade de uso de
computadores para se consumir o delito, existem apenas uma diferença
entre o estelionato comum e o estelionato comentido no ambiente virtual,
tal diferença da-se no “modus operandi”, enquanto um acontece no mundo
físico o outro acontece no ambiente virtual com uso de computadores.
Para a doutrina majoritária o resultado deste ato acontece de forma
natural, e causando o resultado no mundo físico ligado através do nexo de
causalidade. O tribunal de justiça de Minas Gerais possui entendimento
favorável quanto a aplicação do crime de estelionato no ambiente virtual
Data de Julgamento:16/03/2011
Data da publicação da súmula:07/04/2011
Ementa:PENAL - CRIMES DEESTELIONATO-
FRAUDE NA COMPRA PELA INTERNET- MATÉRIA
FÁTICO-PROBATÓRIA - SUFICIÊNCIA DE PROVAS
DA AUTORIA - DELITO CARACTERIZADO - INO-
CORRÊNCIA DE FRAUDE CIVIL - TEORIA DA IM-
PUTAÇÃO OBJETIVA - PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO
SOCIAL - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - INAPLI-
CABILIDADE - RECURSO NÃO PROVIDO. Não se co-
gita da absolvição, por fragilidade de provas, se o agente
confessou o crime no inquérito em consonância com a prova
testemunhal, devendo-se privilegiar a confissão extrajudicial
em detrimento da retratação judicial isolada e inconsistente.
Pratica o crime de estelionato aquele que, fazendo-se pas-
sar por promitente comprador de bens anunciados em site
de venda pela Internet, falsifica email de comprovação do

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 137


pagamento para induzir a vítima a lhe enviar a mercadoria
pelos correios. O estelionato distingue-se da fraude civil,
porque naquele o agente se vale de artifício para iludir a
vítima, com o propósito de não honrar o compromisso assu-
mido. Inaplicável a Teoria da Imputação Objetiva à luz do
princípio da adequação social se o agente deu causa ao re-
sultado mediante a prática de ação desvaliosa (fraude) e cau-
sadora de perigo juridicamente desaprovado, qual seja dano
patrimonial às vítimas e descrédito à empresa fornecedora
de serviços comerciais via rede mundial de computadores.
A lesividade da conduta decorre não apenas do prejuízo ma-
terial, mas também pela utilização de fraude para iludir as
vítimas e induzi-las a erro, donde se pode extrair a periculo-
sidade dos agentes envolvidos em práticas deste jaez.
(TJMG - Apelação Criminal 1.0701.06.1486661-
/001 Relator(a):Des.(a) Júlio Cezar Guittierrez)

O segundo viés é o legislativo, ou seja, criações de novas leis


para regulamentar condutas que ocorrem no meio virtual, que pode ser
exemplificada com a LEI Nº 12.737, DE 30 DE NOVEMBRO DE 2012
conhecida como lei Carolina Dieckmann na qual alterou o Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal e trouxe a tipificação
criminal de delitos informático. Tal lei acrescentou o dispositivo 154-
A ao código penal criando um tipo penal que criminaliza a invasão de
dispositivos informático. Outro exemplo ainda mais significativo e a
lei Nº 12.965/2014 ( Marco Civil da Internet) que teve como objetivo
estabelecer princípios, garantias, deveres e direitos com o uso da internet.

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


138
Marco Civil da Internet lei (Nº 12.965/2014)
A ascensão da internet, sem qualquer regulamentação ou
experiência similar prévia como base, resultou em um ambiente com
enorme potencial econômico, porém, quase anárquico, onde não havia
regras ou aparente responsabilização dos envolvidos.
Nesse contexto, foi elaborado um projeto de lei propondo uma
definição e regulamentação de crimes cibernéticos que tem como objetivo
estabelecer direito, deveres, princípios e garantias a todos os usuários
de internet. A ideia inicial surgiu em 2007 com o objetivo de substituir
um projeto de lei que tipificava os cibercrimes, qual tal foi considerado
radical de mais, o professor Ronaldo lemos explicitou sua desaprovação
quanto à criminalização de crimes cibernéticos sem antes haver uma
regulamentação no âmbito civil. A lei 12.965/2014 trouxe em seu artigo
3º alguns príncipios essenciais dentre eles:
Liberdade de expressão, comunicação e manifestação de
pensamento.
A constituição federal prevê em seu artigo 5º IV a liberdade de
expressão ao estabelecer que “é livre a manifestação do pensamento,
sendo vedado o anonimato” da mesma maneira que o inciso XIV do
artigo 5º “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o
sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional” bem como
o artigo 220 que estabelece sobre a manifestação de pensamento. De
acordo com Paulo Gustavo Gonet Branco:
Toda opinião, convicção, comentário, avaliação ou julgamento
sobre qualquer assunto ou sobre qualquer pessoa, envolvendo tema de
interesse público, ou não, de importância e de valor, ou não — até porque
“diferenciar entre opiniões valiosas ou sem valor é uma contradição num
Estado baseado na concepção de uma democracia livre e pluralista”
(2014, pg. 403)

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O Marco Civil da internet visando proteger a liberdade de
expressão, reafirmou em seu artigo 3º como princípio da lei Nº
12.965/2014, e também considerada fundamento ao ser mencionada no
artigo 2º da referida lei como “ A disciplina do uso da internet no brasil
tem como fundamento o respeito a liberdade de expressão[...]”

Privacidade
Nos dias atuais estar cada vez mais difícil conseguir a proteção da
privacidade do indivíduo, isso ocorre porque grande parte da sociedade
tem seus dados vazados em redes mundiais, seja por livre espontânea
vontade, seja por condições ao uso da internet.

De acordo com Paulo Gustavo Gonet Branco “O direito à
privacidade, em sentido mais estrito, conduz à pretensão do indivíduo
de não ser foco da observação por terceiros, de não ter os seus assuntos,
informações pessoais e características particulares expostas a terceiros ou
ao público em geral. [...]” (2014, pg.423).
Assim como o direito a liberdade de expressão, a privacidade
estar assegurada pela constituição em seu artigo 5.º inciso X. O Marco
Civil da Internet também se preocupou com o direito à privacidade na
rede, e estabeleceu também como princípio conforme o artigo 3.º desta
mesma lei.

Neutralidade da rede
Este princípio tem como objetivo coibir ações abusivas praticadas
pelas empresas de telefonia e internet, que por muita das vezes limitam
seus usuários acesso a alguns sites ou serviços. Antes do Marco Civil
da Internet, empresas criavam vários critérios para a utilização de um
serviço, por exemplo, caso você consumidor de um determinado plano
de dados queira utilizar o facebook, seria necessário a compra de um

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


140
pacote adicional para tal finalidade. Um dos seus principais objetivos foi
proporcionar um tratamento igualitário entre os consumidores. Embora
não tenha sido recebido com grande felicidade pelas empresas, ainda mais
sobre aquelas que dominavam o mercado, a neutralidade de rede estimulou
também a competitividade, pois, a regulamentação assegura condições
similares na oferta de seus produtos, por fim dando oportunidade as
pequenas empresas.
As regulamentações da neutralidade auxiliam, por exemplo,
para evitar que a empresas de telefonia e/ou internet vendessem aos seus
consumidores apena pacotes de dados em que apenas os aplicativos de
suas parceiras comerciais pudessem ser acessados.

Desdobramentos Jurídicos

No tocante a sistematização social, as transformações que
ocorrem no meio político-social atingem as relações jurídicas de maneira
equivalente, uma vez que o Direito é parte principal desta sistematização.
Essa relação mútua de modificações, culmina no surgimento de novos
elementos que implicam no entendimento do Direito vigente. Neste
seguimento, o avanço da tecnologia pode trazer riscos aos princípios e
direitos que o ordenamento jurídico busca proteger.
No cenário atual, o crescimento desenfreado da aplicação da
tecnologia nas grandes empresas e plataformas digitais à medida que
proporcionam resoluções mais rápidas e precisas de seus conflitos bem
como a otimização de seus recursos, por vez, deixam a cautela e violam
determinados direitos de seus usuários. Em recente pesquisa realizada
pela empresa de segurança cibernética Kaspersky envolvendo violações
de dados referentes à pequenas empresas da América Latina, 43% destas
companhias sofreram violações de dados no ano anterior (2019). Este
mesmo estudo aponta que, em casos de danos a dados pessoas de usuários,
a empresa cuja violação foi realizada, pode estar sujeita a penalidades

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financeiras, tendo em vista à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD),que
entra em vigor ainda em 2020.
O percentual de empresas que são afetadas por violação de dados
cresce anualmente, sendo as grandes corporações as mais afetadas. No
ano de 2018, a Kaspersky apurou que 35% das pequenas empresas
haviam sido atingidas por esta infração e no ano posterior (2019), houve
um salto de 9%. Para que esses intempéries sejam evitados, é necessário
que essas empresas possuam um gerenciamento centralizado de segurança
de dados. Para tanto, a LGPD tem como objetivo principal assegurar a
privacidade dos dados de pessoas físicas que forem compartilhados com
as empresas.
A LGPD foi inspirada em uma normatização europeia, a
GDRP- General Protection Data Regulation- que entrou em vigor em
2018. A referida Lei foi ratificada para que houvesse uma determinada
padronização para o processo correto de recolhimento e administração de
dados, e quais as devidas penalizações caso ocorra o descumprimento e
/ou divulgação indevida de informações pessoais. Assim, a Lei 13.709,
é uma forma que busca robustecer as relações jurídicas e a segurança
do usuário no tratamento de seus dados pessoais, de maneira que a se
exija a defesa das relações de comércio e consumo. Nesta ocasião, através
da LGPD, dá-se a oportunidade para a livre concorrência e o impulso à
atividade econômica.
A Lei que procura padronizar o tratamento e armazenamento de
dados, bem como promover o desenvolvimento econômico e tecnológico,
estatuirá a regulamentação de toda e qualquer atividade que envolva
utilização de dados pessoais- inclusive meios digitais, de pessoa natural ou
jurídica, ao qual abrangerá o território nacional e também internacional
se estes dados estiverem lá localizados. A LGPD poderá ser aplicada
extraterritorialmente em casos específicos, quais sejam:
dados pessoais, objeto do tratamento, coletados em território

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142
nacional;
operação de tratamento de dados realizadas em território nacional,
ou;
a atividade de tratamento de dados tenha como objetivo o
oferecimento de bens ou serviços
Para tanto, muito se discute acerca da LGPD que serve para a
proteção de dados, mas o que seriam esses Dados Pessoais? O artigo
5º, I da referida Lei dispõe que dado pessoal é tudo aquilo relacionado
á pessoa natural que seja identificada ou identificável, ou seja, dados
pessoais são todas as maneiras possíveis de se identificar uma pessoa,-
dados genéticos, números, características, etc.
O inciso II do mesmo artigo, trouxe á tona outros tipos de dados
que podem ser protegidos pela Lei, como os dados sensíveis que tratam
de especificidades que podem se tornar discriminatórias e por assim
serem caracterizadas, necessitam de uma regulamentação e proteção
especial. A definição de dados sensíveis pela Lei é trazida como maneiras
de se identificar uma pessoa acerca da sua origem racial, aquilo que se
referem à saúde e orientação sexual, dado genético, entre outros, quando
associados a uma pessoa natural.
Para aqueles dados que se dirigem á pessoas que não possuem
sua capacidade civil plena, como crianças e adolescentes, a Lei dispõe
em seu artigo 14º, parágrafo 1º, que o tratamento dos mesmos deverá ser
procedido pelo consentimento de um dois pais ou representante legal, para
isso, deverá o controlador dispor de todos os meios possíveis para que se
verifique que este consentimento foi dado pelo responsável.(Brasil,2019)
A última forma de dado que a Lei protege, é o dado anonimizado.
Este, em específico, rege os dados aos quais não podem ser vinculados ao
titular, considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e disponíveis
na ocasião de seu tratamento, como dispõe o artigo 5º, III. (Brasil,2019)

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 143


No que tange as relações comerciais e de consumo, a LGPD
terá um impacto significativo nas empresas que se comprove a demanda
de coleta de dados, principalmente nas companhias em que a coleta e
manipulação de dados pessoais faz-se necessária para identificar o perfil
do usuário no que se refere à hábitos de consumo e relações de crédito.
Salvo em caso de interesse público, as empresas e varejistas não podem
trocar informações de usuários, a LGPD, então, regulariza situações de
tratamento de dados em que o particular precisa estar ciente em caso de
seus dados serem utilizados por terceiros.
A Lei também poderá ser aplicada em relações trabalhistas,
o empregador sendo detentor de determinados dados do empregado,
deverá estar atento ao que dispõe a Lei, sendo imputado responsabilidade
civil em caso de descumprimento. Em caso de terceirização de serviço,
o empregador deverá dispor de documento em que se comprove o
consentimento dos trabalhadores acerca da manipulação e tratamento dos
dados, especialmente em caso de transferência de dados aos tomadores de
serviço e especificando a finalidade e quais dados seriam transferidos.
Ademais, observados os aspectos sociais que fazem parte da
relação intrínseca com o Direito, bem como a evolução histórica, a
LGPD é um desdobramento jurídico do avanço da tecnologia que atinge
a sociedade como um todo. Portanto, essa nova Lei que entrará em vigor,
serve para empoderar o consumidor e a ele garantir respaldo em caso de
ocorrência de perdas e danos.

Dos Crimes
Em senso comum a internet é dita como terra de ninguém, onde
a Lei não atua e todos os crimes ali praticados podem não ter punição.
A realidade é que o Direito precisa moldar-se ao significativo avanço
da tecnologia e agir prontamente a fim de que se resolva os conflitos e
ocorrências que derivam deste avanço. Os cibercrimes são delitos que se

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


144
originam no meio da internet que foi criada para beneficiar a população
que em tempos modernos, precisa cada vez mais de informações rápidas,
mas, em contrapartida, podem esconder pessoas de má fé prontas para
cometer crimes.
A sociedade que era antiquada, agora é parte principal de uma
Revolução da Informática, e o Direito, quer proteja ou puna, precisa,
a passos curtos, encontrar um equilíbrio para solucionar os litígios que
surgem com o mau uso da internet. Este mau uso advém de diversas áreas,
principalmente sob a ótica penal. Segundo pesquisa da multinacional
Symantec, 54 crimes virtuais são cometidos a cada minuto do país, em
Belo Horizonte, as duas delegacias especializadas nessa nova modalidade
de crime, os inquéritos abertos ou diligências já ultrapassam o marco de
999.
A criminalidade que antes era vista nas grandes aglomerações,se
dissipa e ganha espaço no virtual. Este avanço negativo trouxe
conseqüências à sociedade que pressionaram o Estado a estipulação de
estratégias e medidas que buscassem proteger às vítimas de crimes dessa
proporção. No fim de Dezembro do ano de 2012, a então presidente da
República sancionou a Lei 12.737/2012 ou Lei Carolina Dieckmann,
depois da famosa atriz global ter sido surpreendida com suas fotos
íntimas expostas na internet. A atriz ainda foi chantageada pelos hackeres
para que fossem depositados cerca de R$ 10 mil reais para que essas fotos
não fossem divulgadas, o que acabou não ocorrendo.
Esta Lei foi responsável por alterar o artigo 154 do Código
Penal Brasileiro, que anteriormente era exclusiva a violação de segredo
profissional. Logo, criou-se o artigo 154-A, agora tipificado pelo Código
Penal, a invasão de dispositivo informático. Entretanto, embora a Lei seja
bem vista na teoria, possui certas singulares que impedem sua devida eficácia
processual. O Direito vigente já é conhecido por sua morosidade, existem
determinadas situações burocráticas que tardam ainda mais a resolução

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 145


de problemas da internet, como registros de IP (Internet Protocol).
Neste sentido, conforme dita o Marco Civil da internet, Lei
12.965/14, os provedores são obrigados a deter informações de acesso
pelo período de 6 meses, cabendo ao Judiciário o pedido de que sejam
armazenados por tempo superior, caso necessário e provando-se devida
relevância. Quando assim solicitada, a liberação dessas informações é
bastante demorada e pode até ser levada a brigas judiciais.
Embora o avanço da tecnologia tenha sido benéfico a sociedade,
a sua outra face também trouxe novos conflitos e litígios que o Direito
não estava preparado para lidar em virtude de não ter vivenciado cenário
parecido. Portanto, não existe proteção realmente efetiva para não se
tornar vítima de um cibercrime, tão somente um passo largo da norma
jurídica, como a Lei Carolina Dieckamann ou a do Marco Civil, que
busca penalizar quem pratica delito virtual.

CONCLUSÃO
A Era Digital trouxe grandes e importantes mudanças, e como
não poderia ser diferente, o Direito, como ciência que cuida das relações
jurídicas entre os sujeitos, precisa acompanhar estas transformações.
A Internet é um instrumento e um meio revolucionário
que, bem ou mal, terá influência em todo arcabolso Jurídico. Deve- se
portanto limitar e filtrar o avanço da Internet com o objetivo de manter
algum controle sob o crescente volume de informações que tranzitam
a todo momento pelo mundo, devendo sempre observar os direitos
fundamentais como a privacidade, a liberdade da informação e de
expressão e os autorais, sem confrotar o Estado de Direito.
Este trabalho teve como objetivo abordar os desafios em que se
encontra o Direito diante de uma avalanche de informatização e o impacto
que esta causa sobre os indivíduos, Estados e sua soberania, ameaçando

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


146
todo o arcabolço jurídico tradicional, tendo em vista que Internet não tem
fronteiras (terra sem lei).
Através deste trabalho, foi possível apresentar pistas para encontrar
a melhor forma de proteção aos direitos fundamentais, sem a necessidade
de comprometer a liberdade de informação e de expressão, resultando em
um ajuste dos princípios tecnológicos e jurídicos, sem, contudo, permitir
que a propagção de dados favoreça os crimes ciberneticos que possam
causar danos as pessoas ou ainda comprometer a soberania do Estado.
Por fim, o futuro da Internet e das novas tecnologias é incerto,
pois sua afirmação real como instrumento democrático será determinada
pela dosagem da facilidade do acesso em massa à grande rede, em
contrapartida à passividade e à dificuldade de acesso, o que reduziria a
rede a um círculo exclusivo de consumidores tecnológicos.

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Referências

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Direito. Rio de Janeiro: Forense, 1986

BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código


Penal. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940.

BRASIL. Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012. Tipificação


Penal de Delitos Informáticos. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12737.htm

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Disponível em.: https://fia.com.br/blog/direito-digital/. Acesso em: 23
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NAUATA, Felipe Macedo. Crimes Virtuais: Estelionato. Jus.
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PINHEIRO, Patricia Peck. Direito digital- 5a. Ed. São Paulo:


Saraiva, 2013

PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. 3ª Ed. São Paulo:


Saraiva, 2009

PINHEIRO, Patrícia Peck Direito Digital: em defesa do mundo


virtual. Fevereiro, 2009. Disponível em: http://www.ambito-juridico.
com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2901 .
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REALE, Miguel. Lições preliminares de direito, 26ª edição


revista, São Paulo: Saraiva, 2002).,

(TJMG - Apelação Criminal 1.0701.06.1486661-/001


Relator(a):Des.(a) Júlio Cezar Guittierrez Data de Julgamento:16/03/2011
Data da publicação da súmula:07/04/2011 )

(TJMG -  Apelação Cível  1.0024.10.045653-2/002, Relator(a):


Des.(a) José Marcos Vieira , 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
11/05/2011, publicação da súmula em 20/05/2011)

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ZANATTA, Leonarrdo. O DIREITO DIGITAL E AS
IMPLICAÇÕES CÍVEIS DECORRENTES DAS RELAÇÕES
VIRTUAIS. Disponível em: https://egov.ufsc.br/portal/sites/default/
files/o_direito_digital_e_as_implicacoes_civeis

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150
CAPÍTULO 7

COVID – 19 E A VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA EM ÉPOCA DE
ISOLAMENTO SOCIAL

Brenda Nunes Sampaio,


Gabriele Aline Duartes Mota,
Kátia Nair Martins Sobrinho,
Samara Carla Gonçalves.

Introdução
Neste artigo, trataremos sobre a violência doméstica em
meio à pandemia do Covid-19, situação está que chegou ao Brasil no mês
de fevereiro de 2020 e cresceu rapidamente obrigando a nós, brasileiros
a se adaptar para conseguirmos passar por esta crise, porém, algumas
situações do nosso cotidiano não foram possíveis mudar e atualmente
podemos observar uma retroação em conquistas que já tivemos, como
o crescimento da violência doméstica. Quando se tratamos de violência
doméstica não estamos apenas se referindo ao marido que violenta de
alguma forma sua esposa, mas também podemos situar o idoso que é
agredido por seu ente ou pessoa próxima, pela criança que é espancada
pelos pais ou até mesmo o homem que é agredido por sua companheira,
vale frisar que estas violências não precisam ser apenas físicas, elas
acontecem também de forma morais e psicológicas no Brasil temos a
lei 11.340/2006, conhecida como a lei Maria da Penha, na qual, regula

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 151


violência contra a mulher.
Diante da pandemia principalmente mulheres se encontram
vulnerais aos seus agressores, pois se encontram em distanciamento
social correndo risco de vida e distante do auxilio jurídico quanto a esta
situação. Para as pessoas de baixas condições básicas na qual a realidade
econômica estar ainda mais afetada diante a situação atual, é mais difícil
com o stress da pandemia, falta de necessidades básicas e outrem.
Atualmente o Estado permitiu que boletins de ocorrências
para violência doméstica possam ser feitos pela delegacia virtual, tal
medida que se deu por conta do covid-19 que consequentemente fez com
que o número da violência subisse. Antes estes tipos de ocorrência não
podiam ser feitos desta forma, apenas presencial, ou seja, vitima tinha
que ir até a delegacia de sua comarca para registrar a violência. Isso é
um passo para que as vitímas possam denunciar o agressor em quaisquer
circunstâncias e até mesmo para que não haja necessidade de despertar
desconfianças do autor. Vale frisar que esta nova regra atingem todos
os tipos de violências domésticas, sendo assim, não alcançando apenas
mulheres.

Desenvolvimento
Este artigo irá tratar da violência contra idosos, crianças,
mulheres e homens em que são vitimas. Mas, é necessário elucidar os
tipos de violências doméstica, que vão além da violência física. Desta
forma temos também, a violência psicóloga, sexual, patrimonial e moral.
Portanto, a violência física em que refere-se à conduta que
ofende a integridade e/ou a saúde corporal; A Violência moral, em que a
conduta configura calúnia, difamação ou injúria; A violência psicológica,
em que a conduta resulta um dano emocional à vítima, atingindo também
sua auto estima; A violência patrimonial, na qual a conduta do agressor

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


152
retém da vítima retém e/ou subtrai objetos, documentos pessoais, bens e
valores; E temos também, a violência sexual, na qual o agressor tem a
conduta de constranger a vítima a manter ou presenciar atos sexuais.
E devido a pandemia da COVID-19, com a restrição pelo
isolamento, tem crescido o número de todos os tipos de Violência contra
a vítima, em sua própria casa.

Violência Contra a Mulher


A lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha,
foi sancionada em 2006, após anos de luta de uma vítima, contra o seu
terrível agressor, na época, marido. Maria da Penha Maia Fernandes,
foi por diversas vezes agredida, durante seis anos, até chegar ao ponto
do agressor, deixá-la na cadeira de rodas, por conta de um tiro. Após 09
anos na tentativa de mudar as leis, Maria da Penha teve êxito, e mudou
completamente o cenário de agressores, na qual antes, os mesmos faziam
pagamento de cestas básicas e tinham sua liberdade de volta, continuando
assim as agressões. Com a lei 11.340/2006, vítimas, puderam ter mais
segurança e um estímulo maior, para denunciar os agressores, uma vez
que após a lei, as medidas seriam tomadas de forma mais séria.
Conforme descrito em seu ART 1°:

Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e


prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Vio-
lência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e
de outros tratados internacionais ratificados pela República
Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e es-

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tabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em
situação de violência doméstica e familiar.

Estamos vivendo em uma Pandemia, devido a COVID-19,


desta forma, é necessário alguns devidos cuidados, para que o vírus não
se propague em toda a população. Um dos maiores cuidados, é para que
ficamos em casa, e sair, somente por necessidade, com isso comércios
estão fechados, abrindo somente o que é de essencial para a sociedade,
ou seja, um isolamento social sendo está, a opção mais segura ao combate
do vírus.
Mas, em se tratando de um isolamento, nele, temos outros
problemas, em que há vítimas de diversos tipos de violência, neste artigo,
serão citados, os casos de violência doméstica contra a mulher, e que é
cada vez pior ficar em sua própria casa, para combater a COVID-19.
Sendo solução para um problema, mas gerando outro para quem sofre tal
violência. Em todo o país, foi possível observar que os casos de violência
doméstica contra a mulher, teve um aumento monstruoso, o que já era de
se prever pelos órgãos de proteção a mulher.
O ministério da Mulher, da Família e dos Direitos humanos
informou que a quarentena gerou um aumento de quase 9 no número de
ligações para o canal Ligue 180, que recebe denúncias de violência contra
a mulher: entre os dias 1º e 16 de Março, foram 3.045 ligações e 829
denúncias; já entre os dias 17 e 25 de Março, esses números saltaram para
3.303 e 978, respectivamente. Outras consequências da Pandemia, como
a falta de emprego, pode ter considerado que o estresse poderá ocasionar
de fato as violências. Lembrando que nada é motivo para qualquer tipo de
violência, mas seria uma desculpa pelos agressores.
Segundo a notícia do Jornal “O tempo – Betim”, Tereza,
de 27 anos, foi agredida pelo seu marido, antes da pandemia, a princípio
acreditou nas promessas do agressor de mudar, mas após ser decretado o

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154
Isolamento social, foi vítima de novas agressões, segundo ela, por motivos
fúteis, desta vez, pela falta de açúcar no café, conforme informado pela
própria vítima, o marido, ficou mais estressado após a pandemia.

“Essa foi a segunda vez que ele me bateu. Da pri-


meira, no fim do ano passado, estava alcoolizado e acreditei
na promessa de que isso nunca mais fosse acontecer. Mas,
nas primeiras semanas do isolamento social, ele começou
a ficar muito agressivo por coisas pequenas” ( Tereza, 27
anos, vítima de violência doméstica)

Além do Brasil a ONU divulgou que o Líbano e a Malásia viram


o numero de casos de violência domestica dobrarem em comparação a
cinco anos, esse crescimento subiu a dificuldade do país eles não disponha
de tantos profissionais para o numero de casos de violência e ate mesmo
do COVID-19.
Em relação à alguns países, de acordo com a ONU temos que
investir em divulgações online, que o sistema judiciário possa continuar
processando seus agressores, Também se recomendam arrumar abrigos
ondes as possíveis vitimas se sentem acolhidas em um lugar onde se
sentem protegidas. Assim, podemos notar a dificuldade de acessibilidade
da vitima em ir à uma delegacia fazer uma denuncia, após a pandemia,
se tornando um obstáculo. Desta forma, em nosso Estado, foi criado um
projeto de lei, na qual permite a denuncia ser feita virtualmente, na qual a
vítima poderá fazer o pedido da medida protetiva contra o agressor pela
internet, sem precisar sair de casa, o projeto desta lei está aguardando
sanção do Governador.
Outro meio de denuncia, permitindo uma maior acessibilidade
para a vítima, é o APP Mulher, na qual a vítima por meio deste, encontra
telefones e endereços mais próximo dela, para que não perca tempo em

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 155


concretizar a denuncia.
Além destes meios de denúncias, é importante salientar que as
unidades de atendimento, como delegacias da mulher, estão funcionando
24 horas para combater esse crime para que os responsáveis não fiquem
impunes. Vale salientar que ainda temos a lei Maria da penha que garante
proteção contra violência domestica.

Violência Contra o Idoso


Um assunto não tanto desconhecido, a violência contra o idoso está
por toda parte; E podemos citar agora, como o maior número de casos.
A violência doméstica, também está ligada à violência contra o idoso.
Devido a pandemia, os casos aumentam como nos outros anteriormente
citados.

Conforme descrito na Lei 10.741/2003 em que garante os direitos


dos idosos, em seu ART 99:

“Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde,


física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições de-
sumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cui-
dados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujei-
tando-o a trabalho excessivo ou inadequado:
Pena - detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e
multa.
§ 1o Se do fato resulta lesão corporal de natureza
grave:
Pena - reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 2o Se resulta a morte: Pena - reclusão de 4 (qua-

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156
tro) a 12 (doze) anos.”

Os idosos são pessoas que merecem sempre, todo nosso respeito


e cuidado. Pois são pessoas frágeis e muito das vezes carente de uma
companhia em que realmente lhe dê atenção. Filhos e netos estão em
casa, por ser um método mais seguro de toda dessa pandemia, referente
a COVID-19. Como nos outros casos, a falta de emprego, são as maiores
desculpas de todos os meios de violência. Podemos observar também,
que segundo o ministério da saúde, os idosos estão na zona de risco da
COVID-19, então, é necessário que eles fiquem em casa, se resguardando;
Não havendo outra alternativa, os idosos passam a maior parte do tempo,
com as pessoas próximas, entretanto, não tão próximas.

“O que temos visto nesta pandemia são discursos


que chamo de velhofóbicos se
generalizando. Políticos, empresários e até o pre-
sidente da República já disseram que não se pode deixar a
economia parar, e que os jovens têm que voltar a trabalhar,
pois os velhos vão morrer mais cedo ou mais tarde.”

Violência Contra a Criança


Temos também, as crianças, que são tão vulneráveis quanto os
idosos, e que também sofrem com a violência devido o Isolamento.
Mas, temos que colocar em pauta o Estatuto da criança e do adolescente
(8.069/90), e que garante os direitos e deveres dos mesmos. E em relação
à violência, temos o ART 98, que está descrito:

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“Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao
adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconheci-
dos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
- por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
- por falta, omissão ou abuso dos pais ou respon-
sável;
- em razão de sua conduta.

Devido a isso, está fechado escolas e creches, fazendo com que


a criança passe a maior parte do tempo, em casa e com seus pais e/ou
parentes. E podemos dizer, que a escola, é um principal intermediador de
tal violência, pois professores, diretores, podem notar o comportamento
da criança e pedir ajuda ao órgão competente, para que seja investigado
a vida da criança.
Isso irá acarretar sérios problemas em casa, pois a pais que deixam
seus filhos nas escolas, em horário integral, grande motivo, o fato do
trabalho; Mas, com o isolamento, a criança irá ficar durante todo tempo
em casa, e os próprios pais não estão preparados à isso.
Segundo o site “Agência Brasil”, em uma notícia recente, do dia
20/05/2020, o aumento da violência contra crianças de 02 até 17 anos,
poderá aumentar em até 32% durante a pandemia. Outro problema, é o
ensino da criança, pois pais e responsáveis muito das vezes, não sabem
lidar com a situação com o próprio filho, deixando assim, a cargo da
escola o ensino de qualidade.

O levantamento da ONG incluiu a revisão de indi-


cadores emergentes de violência contra crianças, como re-
latórios de aumento de violência doméstica, crescimento do
número de denúncias por telefone, informações dos escritó-
rios de campo e estimativas feitas com base em epidemias

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158
anteriores. No caso do Brasil, a projeção é de um aumento
de 18% no volume de denúncias de violência doméstica.
Esse aumento deve chegar a 75% no Chile, 50% no Líbano
e 21,5% nos Estados Unidos.

VIOLÊNCIA CONTRA O HOMEM


Difícil imaginar, mas sim homens também sofrem agressões de
suas parceiras tendo em vista que isso ocorra em uma proporção bem
menor que as mulheres, observamos os números de violência contra o
homem aumentarem de acordo com “folha de são Paulo“ o crescimento
de violência contra o homem cresceu em 16% e as orientações para evitar
esse tipo de abuso é de 27%. De acordo com a organização esse é o
numero mais alto em onze anos.

MEDIDAS DE DENUNCIAS E PROTEÇÃO


É de extrema importância lembrar que delegacias, mesmo com
a pandemia, estão abertas e preparadas para receber a vítima, órgãos de
segurança também destacam a importância de vizinhos e familiares na
qual sabem da situação da vítima, ou até mesmo houve algo de errado,
não existe em ligar imediatamente para polícia e realizar a denuncia, para
que seja feito as medidas protetivas. Pelo isolamento, é maior o caso em
que vítimas não possuem um meio de comunicação e existe a restrição
de sair de casa, portanto é de suma importância a participação de todos.
Importante ressaltar também que, recentemente, foi decretado por
Zema, a Lei 26.644/20, na qual a vítima das agressões, sendo mulher,
criança e o adolescente, idoso e pessoas com deficiência; Poderão realizar
o boletim de ocorrência por meio da delegacia virtual, bem como solicitar
o pedido de medida protetiva.

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Conforme disposto na lei:

Art. 1º O registro de ocorrência e o pedido de medi-


da protetiva de urgência relativos a ato de violência domés-
tica e familiar contra a mulher previstos na Lei Federal nº
11.340, de 7 de agosto de 2006, poderão ser feitos por meio
da Delegacia Virtual do Estado durante a vigência do estado
de calamidade pública em decorrência da pandemia de Co-
vid-19, causada pelo coronavírus, reconhecido pelo Decreto
nº 47.891, de 20 de março de 2020.
§ 1º Ao receber o registro de ocorrência a que se
refere o caput, o delegado de polícia, em cumprimento do
disposto no art. 12 da Lei Federal nº 11.340, de 2006, ou-
virá a ofendida preferencialmente por meio eletrônico ou
telefônico.
§ 2º Poderão também ser realizados por meio da
Delegacia Virtual do Estado, nos termos do caput, os regis-
tros de ocorrência relativos a ato de violência contra:
I - a criança e o adolescente, observado o disposto
na Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990;
II - o idoso, observado o disposto na Lei Federal nº
10.741, de 1º de outubro de 2003;
III - a pessoa com deficiência, observado o disposto
na Lei Federal nº 13.146, de 6 de julho de 2015.
Art. 2º O procedimento para atendimento das ví-
timas dos atos de violência a que se refere o art. 1º será
regulamentado pelo Poder Executivo.
Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua pu-
blicação.
Belo Horizonte, aos 22 de maio de 2020; 232º da
Inconfidência Mineira e 199º da Independência do Brasil.
ROMEU ZEMA NETO

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160
Considerações Finais
Infelizmente com este artigo podemos notar o grande aumento
de violência doméstica neste período de isolamento social para mulheres,
crianças, idosos e homens, onde vivem em um ambiente de violência,
podendo a situação se agravar em suas casas, pois o isolamento social
permite que a vitíma fique mais tempo e mais proximo do seu agressor.
Bila Sorj e uma socióloga, historiadora e professora titular da
Universidade Federal do Rio de Janeiro ela pontua que : “A quarentena é
essencial nesse momento, mas a dimensão de gênero da pandemia existe e
é real. Com a redução do convívio social e a proximidade com o agressor,
a tendência é que mais conflitos aconteçam por características da própria
crise: a existência do medo, da questão financeira, da experiência do
isolamento. Não só a mulher fica submetida a um ambiente de violência,
como também fica desamparada, sozinha, sem poder contar a alguém o
que está acontecendo.”
Portanto, a atuação da rede de enfrentamento contra violência
doméstica mesmo tendo algumas limitações, e essencial para poder
previnir e proteger não só mulheres, mas também todos aqueles que
estejam sendo agredidos, através de pressão psicologia, agressão verbal
ou agressão fisica, portanto a rede de enfretamento contra violência
doméstica deve ser considerada um serviço essencial em todo território
nacional. E é importante ressaltar para todos aqueles que são vitímas de
alguma violência doméstica denúnciar, pois o silêncio e o maior aliado do
seu agressor.

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Referências
https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/04/19/
violencia-fisica-esexual-contra-mulheres-aumenta-durante-isolamento-
social-provocado-pelocoronavirus.ghtml

https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2020/05/11/
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https://www.folhaonline.es/violencia-domestica-em-tempos-
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crescer-32-durantepandemia%3famp (CITAÇÃO CRIANÇA)

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


162
https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/perguntas-frequentes/quais-
sao-os-tipos-deviolencia-domestica.htm#.XshfrBhv8SH

https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/perguntas-frequentes/quais-
sao-os-tipos-deviolencia-domestica.htm#.XshfrBhv8SH

https://www.google.com/search?q=violencia+domestica+con-
tra+homens+na+pandemia&oq= violencia+domestica+contra+ho-
mens+na+pandemia&aqs=chrome..69i57.31300j0j7&sourceid=
chrome&ie=UTF-8

https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=395902

http://www.justificando.com/2020/03/30/violencia-domestica-e-
familiar-contra-mulher-em-tempos-de-isolamento-social/

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 163


CAPÍTULO 8

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER EM


TEMPOS DE PANDEMIA

Higor Luz Moreira da Silva


Luciana Felipe Prata
Tamara Talieni Pereira Silva
Vitor Aguiar Pio

Introdução
O presente artigo tem como objetivo trazer informações a cerca
do aumento significativo da violência doméstica em meio a COVID-19.
Inicialmente, é necessário adentrarmos nas definições e
entendermos que; o vírus que atualmente está assolando o mundo é
denominado Sars-Cov-2, e pode causar sérias infecções respiratórias.
Deste modo, foi necessário que todo o país entrasse em quarentena, a
fim de retardar a contaminação em massa da população e não superlotar
o sistema de saúde.
Ocorre, que com a mudança de rotina das pessoas, as quais, em
regra, conviviam dentro de casa, por um período de tempo mais curto,
do que o resultante do confinamento, surgere-se também, cada vez mais
conflitos nessa relação domiciliar.

Ressalta-se, ainda, que as pessoas ao se depararem com a
quarentena, apresentam grandes dificuldades em enfrentar o longo tempo
de confinamento, inclusive, ante as poucas opções de distração. Assim,
temos que após o início do confinamento imposto a sociedade, registrou-

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164
se um alarmante aumento dos índices relacionados a violência doméstica.
Destaca-se que a violência doméstica está prevista na Lei nº
11.340, de 7 de agosto de 2006, e tem por objetivo coibir os diversos atos
de violência que em sua maioria ocorrem contra a mulher, quais sejam;
violência psicológica, sexual, patrimonial ou moral.
Dito isto, em meio a esta pandemia que o país vem enfrentando,
foram trazidos a tona os assombrosos números de casos de violência
doméstica que cresceram durante a quarentena. Através da ministra
Damares Alves, do ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos
foram disponibilizadas diversos números a cerca do crescimento
significativo dos casos de violência doméstica após o início do
confinamento. É importante ressaltar, que mesmo após as inúmeras ações
do referido ministério e de algumas empresas privadas, com intuíto de
combater a violência doméstica, principalmente neste período pendêmico,
os números ainda crescem.

COVID-19
Intitulado como Sars-Cov-2, e popularmente chamado de
COVID-19, é um vírus da família coronavírus, que causam desde
infecções assintomáticas até quadros respiratórios graves.
Com seu primeiro caso confirmado em Wuhan na China, no
final do ano de 2019, o aumento da contaminação entre as pessoas
foi inevitavelmente rápido, fazendo com que rapidamente a OMS
(Organização Mundial de Saúde) reconhecesse o estado de emergência
do país. Não obstante, as crescentes notícias de contaminações em
diferentes lugares no mundo fizeram-se assustar ainda mais com a onda
de infectados e óbitos que decorreram da atuação do vírus.
Em fevereiro do presente ano, mais precisamente no dia 26 foi

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 165


confirmado pelo Ministério da Saúde o primeiro caso de coronavírus no
Brasil, fazendo assim com que o governo iniciasse várias tentativas de
diminuir e controlar a taxa de contágio entre a população. Mais tarde, em
17 de março Brasil tem a primeira morte e 234 casos da doença.
Com o passar dos dias e o aumento gradual dos casos confirmados
no Brasil, a principal autoridade competente, qual seja, o Ministério da
saúde informou que adotariam uma série de medidas de prevenção afim
de reduzir o dano ora esperado.
Em consequência da pouca importância dada pelos governantes, o
país começou enfrentar a fase de disseminação comunitária, que consiste
na possibilidade de qualquer pessoa adquirir o vírus no contato com a
comunidade, não precisando necessariamente que tenha alguém infectado
de fora do país. No entanto, através da Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de
2020 que trouxe as medidas de enfrentamento para a saúde pública, em
seu art. 2º, I e II e 3º,I e II a que se referem:

Art. 2º Para fins do disposto nesta Lei, considera-se:


I - isolamento: separação de pessoas doentes ou
contaminadas, ou de bagagens, meios de transporte, merca-
dorias ou encomendas postais afetadas, de outros, de manei-
ra a evitar a contaminação ou a propagação do coronavírus;
e
II - quarentena: restrição de atividades ou separa-
ção de pessoas suspeitas de contaminação das pessoas que
não estejam doentes, ou de bagagens, contêineres, animais,
meios de transporte ou mercadorias suspeitos de contamina-
ção, de maneira a evitar a possível contaminação ou a pro-
pagação do coronavírus.
Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saú-
de pública de importância internacional decorrente do co-
ronavírus, poderão ser adotadas, entre outras, as seguintes

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


166
medidas:
I - isolamento;
II - quarentena;

Não obstante, a portaria de nº 356, de 11 de março de 2020,


trouxe em seu art. 4º, §2º a seguinte decisão:
Art. 4º A medida de quarentena tem como objetivo
garantir a manutenção dos serviços de saúde em local certo
e determinado.
§ 2º A medida de quarentena será adotada pelo
prazo de até 40 (quarenta) dias, podendo se estender pelo
tempo necessário para reduzir a transmissão comunitária e
garantir a manutenção dos serviços de saúde no território.

A partir de então iniciou-se o período quarentena, sendo esta uma


principal ferramenta para o não contágio em massa da população, bem
como a superlotação da rede pública de saúde, e, em consequência disso
e também do distanciamento social, as pessoas começaram a ficar mais
tempo em casa, e principalmente aquelas que tiveram seus trabalhados
alterados para o regime remoto.
Entretanto, a necessidade de permanência em casa traz consigo
efeitos psicológicos um tanto quanto negativos nos indivíduos em geral,
como preocupações com seus empregos, perda da rotina habitual causando
tedio e frustrações, o medo de ser contaminado e etc.

Violência Doméstica
Diante de um cenário inédito mundial, os conflitos sociais foram
potencializados em número significativo, principalmente de violências
doméstica e familiar, que devem ser analisadas e estudadas com a intenção

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 167


de buscar medidas preventivas, protetivas, bem como resolutivas, com a
intenção de redução da violência.
É inaceitável que diante de várias conquistas de direitos sociais
das mulheres, direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição
da República, que os índices de violências continuem disparando. Certo
é que, mesmo diante do reconhecimento de direitos humanos de todos
os cidadãos, é importante que sempre seja ratificado em legislações e
políticas públicas a proteção às mulheres e todas as vitimas de violências
doméstica e familiar, pois trata-se de um ambiente no qual deva ser
construído a paz, a dignidade, a empatia e educação, para ser reaplicada
nas convivências sociais.
Importante ressaltar que há vários crimes tipificados no arcabouço
jurídico brasileiro, dentre elas previsto no Código Penal, destaca-se o
homicídio, o feminicídio, a lesão corporal, estupro, estupro de vulnerável,
dentre outros.
O conceito de violência doméstica e familiar pode ser extraído do
artigo 5º da Lei nº 11.340, de 07 de Agosto de 2006, conhecida como
Lei Maria da Penha, que retrata a crueldade contra a farmacêutica Maria
Penha Maia Fernandes, vítima de dupla tentativa de feminicídio por seu
ex-marido, vejamos a previsão legal:

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violên-


cia doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, so-
frimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou pa-
trimonial:             (Vide Lei complementar nº 150, de 2015)
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida
como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou
sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agrega-
das;

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168
II - no âmbito da família, compreendida como a co-
munidade formada por indivíduos que são ou se consideram
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por
vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o
agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, inde-
pendentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas
neste artigo independem de orientação sexual.

O artigo 7º da referida lei reconhece como forma de violência


doméstica e familiar, a violência física, psicológica, sexual, patrimonial e
moral, conforme veremos a seguir.
A violência física prevista no art. 7º, inciso I da Lei 11.340/06,
é conceituada do seguinte modo: “I - violência física, entendida como
qualquer conduta que ofenda a sua integridade ou saúde corporal”
(BRASIL, 2006).
A violência psicológica prevista no art. 7º, inciso II da Lei
11.340/06, é disposta da seguinte maneira:

II - a violência psicológica, entendida como qual-


quer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da
autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desen-
volvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento,
vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chanta-
gem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração
e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que
lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.

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A violência sexual prevista no art. 7º, inciso III da Lei 11.340/06,
é disposta da seguinte maneira:

III - a violência sexual, entendida como qualquer


conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a parti-
cipar de relação sexual não desejada, mediante intimidação,
ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comerciali-
zar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que
a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a
force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostitui-
ção, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação;
ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos;

A violência patrimonial prevista no art. 7º, inciso IV da Lei


11.340/06, é disposta da seguinte maneira:

IV - a violência patrimonial, entendida como qual-


quer conduta que configure retenção, subtração, destruição
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas ne-
cessidades;

E, por fim, a violência moral prevista no art. 7º, inciso V, dispõe:


“V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure
calúnia, difamação ou injúria”. (BRASIL, 2006)
Diante da construção legal ao longo dos anos, deve ser exigido do
Estado a busca constante na efetividade das aplicações das penalidades,
bem como a implementação de políticas públicas de resultado, garantindo

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170
a proteção devida as vítimas, garantindo-lhes a segurança, a saúde, a
dignidade, liberdade, dentre outros direitos.

Impacto da Covid-19 em Relação à Violência


Doméstica e no Âmbito Familiar
A casa deveria ser o porto seguro, porém, não é o que vislumbramos
em uma grande maioria de casos concretos, em regra, ao menos não para
a mulher. O confinamento forçado evidencia um aumento significativo de
casos de violência doméstica, tanto no Brasil como no resto do mundo.
Umas das causas apontadas e de maior coerência é o aumento da
convivência destas mulheres com os agressores.
De acordo com a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos, Damares Alves, em abril o Ligue 180, que é um serviço de
utilidade pública gratuita e confidencial oferecido pela secretaria nacional
de políticas para mulheres, registrou aumento de 35% no número de
denúncias de violência contra a mulher, o que não reflete a real situação
deste tipo de violência, já que por muita das vezes por medo e não
conhecer o disque 180 a vitima não consegue denunciar.
Já no Disque 100, segundo ela, caiu em 18% as denúncias
de violência contra crianças. A preocupação do governo é com a
subnotificação, pois a maioria da violência contra as crianças é descoberta
na escola ou creche, por exemplo, quando o cuidador está dando um banho
em alguma criança. Pelo fato dessas crianças não estarem na creche ou
escola, somente quando a pandemia passar é que nos aproximaremos da
real quantidade desses casos, ora apontados.
Casos de feminicídios registrados em Mato Grosso aumentaram
54% nos três primeiros meses deste ano. Consta que, entre janeiro e
março de 2020, 17 mulheres foram mortas por homens com os quais
tiveram algum relacionamento amoroso.

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 171


No isolamento cada vez mais mulheres estão em situação de
vulnerabilidade são vigiadas e controladas e até mesmo impedidas de
conversar com parentes e amigos, o que amplia a margem em relação a
manipulação psicológica por seus parceiros.
A masculinidade tóxica enraizada na sociedade se junta às
incertezas econômicas da pandemia e assim pioram a situação de quem
vive relacionamentos abusivos, ou seja, estes homens atacam quando se
sentem ameaçados em seus domínios, usam da misoginia e violência para
fortalecer seu ego.
Contudo, os problemas elencados aqui, tais como muitas outras
desigualdades que assolam mundialmente a sociedade, não são novidades
trazidas pela pandemia da COVID-19, porém, é notável que vivemos a
exacerbação de problemas que nos acompanham a tempos, reforçados
por modelos de pensamentos anacrônicos de origem de uma sociedade
patriarcal.
A luta contra o ditado popular “em briga de marido e mulher, não
se mete a colher” é um desafio à nossa sociedade, o silêncio frente casos
de violência doméstica está assassinando vidas e é uma das principais
causas de morte de muitas mulheres.
Portanto, para evitar impedimentos em acolher denuncias de
violência doméstica o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos
(MMFDH) criou novas plataformas digitais, disponíveis em Android e
iOS, funcionando como uma versão digital do “Ligue 180” e do “Disque
100”. As denúncias podem ser acompanhadas por fotos, vídeos e outros
documentos que ajudem a provar a situação. Vale ressaltar a importância
de realizar treinamentos com a equipe receptora dessas denuncias, com
o objetivo de prevenção, e identificação a fim de capacitar, aprimorar e
diminuir a morosidade do Estado.
A Magazine Luiza, de forma inovadora em sua plataforma
disponibilizou um botão permanente em prol da violência domestica para

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172
que se possa fazer denuncia de forma anônima sem qualquer risco, seja
quem for a pessoa pode utilizar quando se sentir ameaçada. A denúncia
será ouvida e investigada, empenhando-se assim em ajudar muitas
mulheres a reafirmar que aquele ditado de que “Em briga de marido e
mulher ninguém mete a colher” é ultrapassado, e, mais do que isso, muito
perigoso, devemos sim meter a colher e nos juntar contra a violência.
Tendo em vista, que as mulheres são a maioria da população
brasileira e compõem a maior parte da força de trabalho em saúde,
logo, elas têm papel fundamental na sociedade para a superação desta
pandemia e de suas graves consequências que virão sejam elas sanitárias,
econômicas e sociais, as mulheres devem ser cuidadas e amadas.

Considerações Finais
Resta claro e incontroverso que, latente, é o número de casos de
violência doméstica que ocorrem na sociedade brasileira e mundial, ante
à ainda existente perspectiva masculina de poder, domínio e posse sobre
a mulher.
Este problema social vem tentando ser enfrentado e combatido a
longos anos, por meio de políticas públicas, leis específicas, e trabalhos
sociais, para prevenção e acolhimento dos casos já ocorridos, ainda que
não demonstrem uma efetividade desejada. Ocorre que, em meio a batalha
diária das mulheres que sofrem essa violência, atualmente, na contramão
de todo esforço que é feito a fim de coibir, inibir, reduzir esses atos
violentos, vivemos um período pandêmico e de confinamento domiciliar,
onde as circunstâncias derivadas de um confinamento social imposto
aos indivíduos, resulta num propício ambiente, e facilita a ocorrência
da violência doméstica, e o pior, contribui de forma significativa para o
impedimento das denúncias, haja vista a aproximação diária dos casais
em suas casas, o que resulta em uma evidente subnotificação de casos.

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 173


Fato é, que, mais uma vez, a falta da educação qualificada, direito
constitucionalmente garantido aos cidadãos, como dever do Estado em
propicia-la, somada a ineficiência das políticas públicas implantadas por
este mesmo Estado, bem como as brechas legislativas, evidenciam a
carência da sociedade principalmente das mulheres, que são fisicamente,
mais vulneráveis em relação aos homens, em vislumbrarem a luz no fim
do túnel das consequências resultantes das ações de seus companheiros
frente a sua, perspectiva já ultrapassada de relacionamento e ignorância
no trato com sua parceira de vida.
Inconcebível, e inacreditável, que em um momento tão
doloroso para a sociedade mundial, onde famílias choram a perda de
seus entes queridos, em razão da COVID-19, governos tentam buscar
soluções acertadas para salvar as vidas de seus povos, os empregos dos
trabalhadores, as empresas que fazem parte do motor econômico de cada
país, ou seja, enfrentando juntamente com o combate a COVID-19,
um recesso econômico, tenhamos, ainda, que nos preocuparmos com o
aumento da violência doméstica, por razões de crescimento do convívio
diário familiar ante ao confinamento, eis que conforme a OMS, a principal
ferramenta de combate a COVID-19, continua sendo o distanciamento/
isolamento social, e é o que tem sido observado de fato, pelos resultados
de enfrentamento apresentados por países que adotaram medidas de
distanciamento/isolamento mais rigorosas.
O que podemos considerar, é que, já se falam em testes de
vacinas para a COVID-19, mas como uma previsão de aplicabilidade e
distribuição, ainda distante da real necessidade que assola a sociedade
mundial. Assim, esse distanciamento/isolamento social, ainda se mostra
como a ferramenta mais eficaz ao combate a COVID-19.
E, se vamos permanecer isolados/distanciados, mostra-se
prudente que o Estado busque fornecer, além daquelas comumentemente
já fornecidas, condições de convivência alternativas que se adequem a

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174
realidade pandêmica que vivenciamos atualmente, seja por meio de
políticas públicas mais efetivas, de educação com mais qualidade, seja por
meio de inovação ou adequação legislativa. Pois, ainda que a legislação
penal, seja considerada a última ratio no Direito brasileiro, e traga em
si, aspectos de ressocialização social, é também em conjunto com a
educação, uma das ferramentas mais poderosas a resguardar as mulheres
que vivenciam cotidianamente a violência doméstica, principalmente neste
período turbulento de pandemia. Observadas que essas ações tomadas
para este momento, podem ser estendidas a longo prazo para o contínuo
combate a violência doméstica.

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Referências
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para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do
§ 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código
Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/
l11340.htm>. Acesso em: 29 mai. 2020.

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surto de 2019. Disponível em: <http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-
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BRASIL. Portaria nº 356 de 11 de março de 2020. Dispõe sobre


a regulamentação e operacionalização do disposto na Lei nº 13.979, de
6 de fevereiro de 2020, que estabelece as medidas para enfrentamento
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do coronavírus (COVID-19). Disponível em: <http://www.in.gov.br/
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BACHEGA, Jessica. Morte de mulheres aumenta em 54% em 3
meses de 2020. 15 abr. 2020. Disponível em: <https://www.gazetadigital.
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teria ocorrido em novembro. 13 mar. 2020. Disponível em: <https://
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T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


178
CAPÍTULO 9

ANÁLISE DA REDAÇÃO DA LEI 13.968/2019 E


A ALTERAÇÃO DO ARTIGO. 122 DO CÓDIGO
PENAL BRASILEIRO

Ana Paula Batista


Carlos Roberto de Faria Mendes
Pamela Braz Moreira da Cruz
Warley Barbosa de Sousa

Introdução
Com o avanço da tecnologia e a chegada da era digital, temos a
internet como a principal e influenciadora e causadora do suicído, tornou-
se um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo.
Estima-se que a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio
no mundo no Brasil, são em média 32 suicídios por dia, sendo a quarta
causa que mais mata jovens no país. (CENTRO DE VALORIZAÇÃO
DA VIDA, 2017).
Atualmente, séries, jogos de desafios e grupos virtuais têm
disseminado a ideia de suicídio, fazendo com que crianças e jovens
estejam expostos à ação inescrupulosa dos cibercriminosos, que se
utilizam do ambiente virtual para prática de crimes e para disseminar
suas ideias psicopatas.
Considerando o expressivo número de suicídios, entre crianças

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 179


e adolescentes e cristalina a grande influência que as redes sociais e os
ambientes virtuais exercem sobre a vida desses jovens. Com as ocorrencias
se tornando cada vez mais recorrentes surgiu à necessidade de se fazer
um estudo aprofundado acerca do suicídio e sobre a forma com que esse
fenômeno social vem se espalhando no mundo.
Seguindo o entendimento de Bauman (2004, p. 114) é possível
notar que a sociedade contemporânea vem se constituindo com um triste
cenário marcado por intensas crises emocionais, ausência de valores,
grande individualismo e liquidez nas relações pessoais.
Atualmente as pessoas vivem num ambiente de intensa
competição, agressividade, insensibilidade, o que serve de estímulo
para que os transtornos emocionais se Desenvolvam. (CENTRO DE
VALORIZAÇÃO DA VIDA, 2017).
O ordenamento jurídico brasileiro não prevê punição ao suicídio,
entretanto, embora o Código Penal não preveja punição para o ato de tirar
ou atentar contra a própria vida, o suicídio é visto pelo Direito como um
ato imoral e socialmente danoso. Assim, “sendo a vida um bem público
indisponível, não há como afastar a criminalização da conduta daquele
que induz, instiga, auxilia alguém a suicidar-se”. (CAPEZ, 2014, p. 80).
Os novos meios de comunicação, em especial as redes sociais
como Facebook e Instagram, bem como os demais aplicativos com acesso
à internet como Messenger e Whatsapp, devido ao grande número de
participantes e o alcance que possuem, quando utilizados de maneira
criminosa, podem ter efeitos de potencial extremamente devastador.
As redes sociais dão uma facilidade de comunicação entre os
usuários, através de compartilhamento de dados e informações. As
pessoas sentem a necessidade de estarem conectadas, para mostrar, ver,
comentar, compartilhar tudo que esta acontecendo com ela e com os seus
seguidores e amigos, ditando assim, preferências, tendêncas os até mesmo
interesses.

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O caminho que as redes sociais direcionam, já tem uma importância
na reconfiguração da sociedade contemporânea. Todos os dias milhares
de pessoas recorrerem a ela com o intuito de, por apenas diversão, manter
contato com amigos e até mesmos conhecidos, pois é uma forma mais
acessível de comunicar e apenas olhar de maneira silenciosa alguma
informação de alguém, na qual lhe é conveniente.
Nesse sentido, pretende-se reprimir com mais rigor a prática do
crime de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio nos ambientes
virtuais, que em razão da velocidade das informações trocadas na rede,
tem representado um grande perigo ao qual todos estão expostos, em
especial, jovens e crianças.
A vigilância das redes sociais é uma pauta muito polêmica que
passa por uma linha tenua entre a preservação da privacidade das pessoas
e a censura.
O mundo obteve uma velocidade muito grande, onde todos vêem
todos, com uma esperança anciosa pelas novidades e o que isso lhe
acarretará de retorno.
Busca-se assim, dirimir os riscos de incidência e proliferação das
instigações praticadas através de jogos macabros e de inúmeras páginas e
grupos que estimulam o suicídio e a automutilação nos ambientes virtuais.

Automutilação e Suicídio
Falando sobre suicídio, um assunto tão atual, mas muitas vezes
não abordado. Uma situação que vem se agravando cada dia mais, devido
a inobservância de darmos prioridade a saúde mental da humanidade.
Em 10 de outubro de 2019, no dia Mundial da Saúde Mental, foi
publicando no site ONU News, que a cada 40 minutos uma pessoa morre
recorrente da pratica do suicídio. Onde 79% dos suicídios são em países

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de baixa e média renda, e em países de alta renda uma média de 11,5
casos por 100 mil habitantes.
O indivíduo que pratica do suicídio, geralmente não consegue
lidar com problemas cotidianos, podendo ser relacionadas com trabalho,
financias, ou ate mesmo falta de relacionamento familiar, desenvolvendo
um sentimento depressivo, se tornando um gatilho para a decisão
impulsiva, para resolver aquela dor real, onde pensam que a morte é a
única saída.
O suicídio está cada dia mais comum entre os adolescentes, que
não sabem lidar com o bullying que sofrem na escola, ou nas atividades de
convivências diárias, ou o Cyberbullying o crime mais atual, que envolve
desde ofensas a ameaças virtuais.
O que é muito comum, estes indivíduos buscarem ajuda na
internet, e acabarem encontrando grupos, sites, mensagens que induzam
a pessoa a praticar o que de fato já vem pensando. Neste momento entra
o art. 122 do Código Penal, pois ao individuo que pratica suicídio não
há punição, mesmo que sobreviva ao ato, pois nossa legislação entende
que tal punição serviria de reforça pra o suicídio, outra vertente é que o
individuo praticante é considerado vitima para o código penal e por isso
não pode ser punido.
Agora para terceiro que participa, induz ou instiga tal pratica cabeà
punição conforme artigo, neste momento a vitima que se encontra em
momento fragilizado, acaba se entregando a ideia do terceiro que diz dar
o apoio que ela necessita, e induz ou fomenta a pratica de suicídio. Muitas
das vezes a vitima deposita confiança naquele sujeito, isso ocorre muito
com as crianças e adolescentes, que acabam encontrando um “amigo” na
internet, onde compartilham suas historias, e naquele momento acabam
se entregando ao inimigo.
Na busca pela aceitação entre a sociedade, ou para tentar uma
socialização, acabam seguindo o que o outro dita.

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182
E foi devido aos avanços tecnológicos, que possibilitaram aos
criminosos um alcance maior a pratica dos seus atos, que ouve a necessidade
de mudança do artigo 122 do CP, que através da Lei 13.819, teve seu
texto alterado, o induzimento ao suicídio e incluindo a automutilação.
Essa alteração se vez necessária, devido ao surgimento do jogo
Baleia Azul no mês de abril de 2017, onde adolescente passavam por uma
pré analise, que era feita por um administrador, denominado instrutor
do jogo, para entrar em determinado grupo fechado em redes sociais e
whatsaps, e após o ingresso, os selecionados não poderiam voltar atrás
e deveriam cumprir uma lista com 50 tarefas, dentre as quais estavam:
corta-se com uma navalha, cortar os lábios, furar a mão com uma agulha
e por ultimo o suicídio.
O jogo espalhou rápido em todas as residencias do mundo, virou a
sensação entre jovens e adolescentes, principalmente pelo ultimo desavio
do jogo. O mesmo ganhou uma grande repercussão na mídia, por fazer
vitimas fatais, a brincadeira que parecia inofensivo trouxe um alerta aos
pais e responsáveis, sobre o perigo que rondam o espaço virtual.
Atualmente o jogo Baleia Azul saiu de moda, mas hora ou outra
aparecem outros jogos, que induzem a pratica similar.

O Artigo 122 do Código Penal Brasileiro


O artigo 122 do CP traz em seu texto um crime comum - onde
o sujeito passivo poder ser qualquer pessoa; monosubjetivo – permite a
pratica de apenas um sujeito; doloso - quando o agente que ou assume o
resultado morte ou o da lesão corporal de qualquer natureza; de forma
livre; simples - pois atinge dois bens jurídicos alternativamente: a vida
ou a integridade corporal; formal; de resultando instantâneo; comissivo -
decorre da ação positiva do agente em instigar, induzir ou auxiliar; de ação
múltipla - por ter três e justamente por ter três modalidades de realizar

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(instigar, induzir ou auxiliar), torna-o de ação múltipla.
Este delito, como diz Victor Eduardo Rios Gonçalves, “é conhecido
pela nomenclatura ‘participação em suicídio ou em automutilação’, porque
pune quem colabora com o suicídio ou a pratica de automutilação por parte
de terceiro”. Como já vimos o artigo 122 passou por uma reformulação,
devido aos crimes se atualizarem com a chegada da tecnologia digital,
mas estudaremos essa reformulação detalhadamente. Nosso ordenamento
jurídico não pune quem tenta suicídio, pois se acredita que a punição,
fomentaria ainda mais a sentimento suicida do individuo. Agora quem
pratica qualquer uma das modalidades deste artigo, será aplicada a pena
de acordo com cada caso.
Devemos saber que para ser caracterizado crime em qualquer
das modalidades, devera a vitima, de forma consciente e voluntária,
sem emprego de força ou ameaça, faça a supressão da própria vida.
Caso contrario, será qualificado como homicídio. Devemos saber o que
significa cada modalidade, sendo elas:
Instigar: quando a vitima já possui a intenção suicida e de
automutilação, mas o sujeito ativo reforça está ideia através de conversas,
vídeos pela internet, ou ate mesmo quando a vitima já esta com um copo
de veneno, e alguém do incentivo pra que ela realmente beba.
Induzir: quando o sujeito ativo faz nascer à ideia na vitima,
indicando maneiras e dando incentivo a cometê-los.
Auxilio: quando de maneira material, o sujeito ajuda a vitima a
conseguir a forma de concretizar o ato suicida. Devendo a ação de o
sujeito ser segundaria, ao evento morte ou automutilação e nunca sua
causa direta. E não menos importante, é necessário que o sujeito saiba da
intenção suicida ou de automutilação.
Como já vimos o sujeito passivo é qualquer pessoa, por se tratar
de crime comum, entretanto pode agravar a pena, caso o sujeito passivo

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for líder ou coordenado de ou de rede virtual, conforme §5º: “Aumenta-
se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de
rede virtual. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)”. O sujeito ativo,
nesse caso a vitima, poder ser qualquer pessoa, maior de 14 anos e que
possa entender o caráter do ato, ou que posso ainda, oferecer resistência.
Diverso, responderá por homicídio ou lesão corporal grave, conforme
disposto no § 6º e 7º:
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão
corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14
(quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental,
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por
qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente
pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código. (Incluído pela Lei
nº 13.968, de 2019).
7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra
menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio, nos
termos do art. 121 deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019).
Das penas, caso a vitima, sofre do agente o ato de instigação,
induzimento ou auxilio, mas não realiza ou não sofre lesão, ou sofre lesão
leve, configura-se caput do artigo 122, com pena de detenção de 6 meses
a 2 anos, igualmente aplicável, para atos de instigação, induzimento ou
auxilio a automutilação. Podendo ser duplicada conforme artigo: veja:
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se
ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Parágrafo único - A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qual-
quer causa, a capacidade de resistência.

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Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou
a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para
que o faça: (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019).
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
(Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019).

Caso a vitima sofra lesão corporal grave ou gravíssima, considera-


se qualificado, sendo pena de reclusão de 1 ano a 3 anos, nos termos do §
1º: “Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal
de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129
deste Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019).”.
Em virtude, do ato de instigar induzi ou auxiliar, a vitima morrer,
também será qualificado, entretanto deverá ser analisado, qual era realmente
a intenção do agente, se pretendia apenas incentivar um ato suicida, onde o
resultado do crime qualificado é doloso, ou se pretendia incentivar apenas
o ato de automutilação, o crime qualificado será preterdoloso. Quando se
tem dolo no antecedente e culpa ao resultado, ambos responderão pelo
§ 2º: “Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:
(Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)”. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6
(seis) anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019).
Após a Lei nº 13.698, de 2019 o artigo 122 foi alterado e foi
acrescentada em seu texto a automutilação, o que antes da lei, era excluída
a punição do agente de instigava, induzia ou auxiliava quando a vitima
não conluia o ato morte, ou ate mesmo quando da pratica sofresse apenas,
lesões leves. Sendo cabíveis de pena, mas com penas reduzidas, resultado
consumado em lesões corporais graves, gravíssimas e morte.

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ALTERAÇÃO LEGISLATIVA APÓS 2019
A redação dada pela lei 13.968/26 de Dezembro de 2019, veio
na esteira da lei 13.964 de 24 de Dezembro de 2019, (Conhecida como
pacote anticrime, Lei essa que aperfeiçoa a legislação penal e processual
penal). A redação da lei 13.968/19 é fruto de alguns projetos de leis (PL)
anteriores como: PL 8833/17, PL 4930/19 e PL 1670/10, que foram
apensados desde 2017 a atual lei. A intenção primaria da PL de 2017
que ensejou a nova redação, era da alteração do artigo 244 do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), incluindo o artigo 244-C à Lei nº 8.069,
de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), para
tipificar o crime de induzimento, instigação ou auxílio à automutilação de
criança ou adolescente, motivada pelo entendimento que o direito penal
tem que proteger criança e adolescente da conduta de instigação, auxílio,
induzimento e automutilação de forma mais abrupta. Essa discussão
originaria inicial foi deixada de lado e resolveu-se incrementar/alterar a
própria redação do artigo 122 do Código Penal.
Essa preocupação inicial de trazer um direito penal mais severo
quando a conduta é praticada contra criança e adolescente, foi trazida
para essa nova redação como forma de aumento de pena. Entre outras
razões pela qual se tornou necessária à alteração, estão a ineficiência do
direito penal atual (crime de resultado); dificuldade de demonstrar nexo-
causal; Cyberbullyng – bullyng feito pelas redes sociais e internet; Dados
estatísticos que evidenciam uma verdadeira epidemia e o Suicídio sendo
uma das principais causas de morte da sociedade contemporânea;
De crime eminentemente material, se converteu, por força da
Lei 13.968/19, em crime formal. Sendo o crime formal em sua redação
atual, surge possível polêmica quanto à tentativa. A consumação se dá
com o induzimento, instigação ou auxílio. Mas, obviamente, será viável
a tentativa, vez que se trata de conduta plurissubsistente, com o “iter
criminis” fracionável, sendo plenamente possível que alguém impeça o

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infrator de fornecer o auxílio à vítima.  Quanto aos verbos induzir ou
instigar, a tentativa somente se daria por escrito, como é regra nos crimes
formais.
Uma das características mais relevantes entre as mudanças, é a
dispensa de resultado para a caracterização do crime, deixando de ser um
crime de resultado especifico; pois basta a pratica de simples instigação,
induzimento, auxílio ao suicídio ou a automutilação para a consumação do
crime e a tipificação penal. Outra característica importante foi à inclusão
da tipificação da automutilação.
Pelos princípios vinculados do direito penal da Ofensividade (ou
Lesividade) e da Alteridade, não há crime sem ofensa ou exposição a
perigo de um bem jurídico. Segundo Nilo Batista, o principio da lesividade
“transporta para o terreno penal a questão geral da exterioridade e
alteridade do direito: ao contrário da moral, o direito coloca face a face,
pelo menos, dois sujeitos”. Com isso, Nilo complementa afirmando que “a
conduta puramente interna, ou puramente individual – seja pecaminosa,
imoral, escandalosa ou diferente – falta a lesividade que pode legitimar
a intervenção penal”. (p. 91). De acordo com Nilo Batista (2001, p. 92-
95), o princípio da Ofensividade possui quatro funções: a)
Proibir a incriminação de uma atitude interna, como ideias, convicções,
aspirações e desejos dos homens. Por esse fundamento não se punem a
cogitação e os atos preparatórios do crime.
b) Proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o
âmbito do próprio autor. Por esse fundamento não se punem a autolesão
e a tentativa de suicídio.
c) Proibir a incriminação de simples estados ou condições
existenciais. A pessoa deve ser punida pela prática de uma conduta
ofensiva a bem jurídico de terceiro. Com isso, afasta-se o Direito Penal
do autor, em que o agente é punido pelo que é, e não pelo que fez.
d) Proibir a incriminação de condutas desviadas que não causem

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188
dano ou perigo de dano a qualquer bem jurídico.
O Direito Penal não deve tutelar a moral, mas sim os bens
jurídicos mais relevantes para a sociedade. Trata-se do princípio da
exclusiva proteção dos bens jurídicos. Enquanto o principio da Alteridade
ou transcendência é consequência do princípio da ofensividade. A lesão
ou exposição a perigo deve ser dirigida a bem jurídico de terceiro, e não
a bem jurídico do próprio agente. Por isso a autolesão e a tentativa de
suicídio são impuníveis no Brasil. O suicídio e a automutilação em si,
não constituem ilícitos penais, mas a participação em tais atos sim. Pode
se observar que o legislador na redação do artigo 122 do código penal,
tornou crime a participação em fato não criminoso (participação em
suicídio ou automutilação).
“As condutas de induzir, instigar ou auxiliar outra
pessoa a cometer um crime – um homicídio, por exemplo-
-normalmente pressupõem que exista a figura do executor.
Assim, quando uma pessoa convence outra a matar a vitima,
o homicida e chamado de autor e quem a induziu a praticar
tal crime e chamada de partícipe. No artigo 122 do Código
Penal, todavia quem comete o ato suicida ou a automuti-
lação é considerado vitima, e não pode ser punido. Logo
quem induz, instiga ou auxilia outrem a cometer suicídio
ou automutilação é autor do delito e esse aspecto gera certa
confusão, já que o crime do art. 122 é também chamado
de participação em suicídio ou automutilação.” (GONÇAL-
VES: 2020: pág. 256).

Diante do exposto acima, as mudanças formais da norma do artigo


122 do Código Penalde forma bem objetiva e sucintaforam: O caput passou
a contemplar a expressão “automutilação”, trazendo pena de reclusão de 6
meses a 02 anos (mesmo não havendo resultados naturalísticos);
- No §1º traz a configuração tipificada no artigo 129,§§ 1º e 2º,
porém com reclusão de 1 a 3 anos, havendo lesão corporal de natureza

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grave ou gravíssima decorrentes da automutilação ou suicídio;
- O § 2º permanece com a previsibilidade anterior incluindo a
automutilação além do suicídio trazendo a pena de 2 a 6 anos caso haja a
consumação do suicídio;
- Duplicidade da pena no §3º em caso de motivação egoística,
incluindo “torpe e fútil” pela nova redação e em caso da vitima ser menor
ou ter a sua capacidade de resistência diminuída por qualquer causa;
- Pena aumentada em dobro no §4º em caso de a conduta ser
realizada por meio da rede de computadores, rede social ou transmitida
em tempo real (incluída pela redação da lei);
- Sendo o agente líder, coordenador de grupo ou de rede virtual,
aumento da pena em metadeprevisto pelo §5º (incluída pela nova redação);
- Tipificação no §6 deste artigo pelo artigo 129,§2º, na ocorrência
de lesão corporal gravíssima em menor de 14 anos ou em quem não tenha
o necessário discernimento para a prática do ato ou por qualquer causa
não pode oferecer resistência. (incluída pela redação);
- E no §7º a configuração na tipicidade dos termos do artigo 121,
CP no caso em que tenha o resultado morte pela pratica de automutilação
ou suicídio caracterizado pelo caput deste artigo, sendo a vitima menor
de 14 anos ou que não tenha o necessário discernimento para a prática
do ato ou por qualquer causa não pode oferecer resistência. (incluído pela
nova redação).

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Considerações Finais
Diante de um tema amplo e polêmico foi apresentado argumentos
que contrapõem a teoria que busca uma vigilância nas redes sociais.
O avanço da tecnologia, a grande presença da internet da vida das
pessoas de todo mundo, conecta cada vez mais as pessoas, onde as redes
socias unem o mundo todo. Facebook, Twitter, Instagram e outros fazem
com que os internautas fiquem conectados por muitas horas, em muitos
casos com atenção dedicada a essas plataformas. A atenção exclusiva aos
programas supracitados faz com que muitas pessoas busquem informação
e entretenimento nestas mídias, enfraquecendo cada vez mais as mídias
tradicionais, como televisões de canal aberto e jornais impressos, por
exemplo.
Existem políticas públicas e políticas de privacidade que buscam
conscientizar o usuário ao nível que estão expondo sua privacidade, mas
na maioria das vezes o próprio internauta ao criar um perfil nas redes
sociais, faz questão de expor para todo o mundo toda a sua vida particular.
O crescimento e fortalecimento dos controles através da informática traz
também mecanismos de controle do dinheiro de cada cidadão, como o
e-Social apresentado neste trabalho.
O acesso e facilidade constante das pessoas, permite com que cada
um também seja um potencial influenciador através das redes sociais.
Uma pessoa qualquer, mesmo anônima pode criar uma conta, produzir
conteúdo e influenciar milhares de pessoas no mundo todo, sem sequer
preocupar com a qualidade e/ou veracidade das informações produzidas.
Esse poder que pode estar na mão de qualquer um é a grande preocupação
das mídias tradicionais e políticos, porque um simples anônimo pode
simplesmente mudar os rumos de um país.
A vigilância das redes sociais é um assunto muito polêmico
que passa por uma linha tênue entre a preservação da privacidade das

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pessoas e a censura. Acreditamos que a melhor forma de vigilância é o
esclarecimento e a conscientização da população, porque não podemos
permitir que a livre manifestação de pensamento seja cerceada por
interesses particulares.
Em sintese a nova redação trouxe o elemento da automutilação
além do suicídio, e tipificou o induzimento, instigação e auxílio ainda
que seja inexistente o resultado naturalístico. Trouxe para a tipificação
a utilização de meios tecnológicos empregadospelo sujeito ativo, além
da previsão também que seja líder ou coordenador de grupo. Com a
nova alteração a notificação passou a ser compulsória (obrigatória) pelos
estabelecimentos de saúde em todos os casos que fizerem acolhimento
de vítimas de violência autoprovocada, incluindo tentativas de suicídio
e automutilação. Criou se também, a configuração de tipificação das
condutas em artigos específicos (como artigo 121 e 129 CP) diante dos
resultados de lesões graves e gravíssimas, sendo a vitima menor de 14
anos ou que não tenham o necessário discernimento para a prática do ato
ou por qualquer causa não pode oferecer resistência.

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Referências
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das pessoas. Disponível em: <https://medium.com/tend%C3%AAncias-
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Curitiba: Juruá Editora, 2003.  

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Curitiba: Juruá, 2003.

PLANALTO. LEI 13.968/2019 (lei ordinária) 26/12/2019 -


COMPLEMENTAR

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ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n. 5270, 5 dez. 2017.

SANTOS, Antônio Jeová. Dano moral na Internet. São Paulo:


Método, 2001.

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WALD, Arnold, Um novo direito para a nova economia: os


contratos eletrônicos e o Código Civil. In:Direito e Internet: relações
jurídicas na sociedade informatizada, Marco Aurelio Greco e IvesGandra
da Silva Martins (cords.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.

WIKIPÉDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation.


Conceito de Notícia Falsa.

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196
CAPÍTULO 10

COVID-19 E O SISTEMA CARCERÁRIO:


ENTRE A DIGNIDADE HUMANA E A
SEGURANÇA PÚBLICA

Ana Flávia Santos Silva


Carlos Dirceu Brant
Lyslen Vitória dos Santos Medeiros

Introdução
A Covid-19 é uma doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2,
advindo de uma família de vírus causadora de infecções respiratórias foi
descoberta no dia 31 de dezembro de 2019 após registros localizados na
China. (Ministério da Saúde, 2020)
Apresentando um quadro clínico que varia de infecções
respiratórias graves e quadros assintomáticos seus sintomas podem variar
de um simples resfriado até uma severa pneumonia. Sendo os sintomas
comuns tosse, febre, coriza, dores de garganta e dificuldades respiratórias.
Sua transmissão ocorre facilmente de uma pessoa para outra por meio de
aperto de mão, gotículas de saliva, espirro, catarro, tosse, ou até mesmo
objetos e superfícies contaminadas. (Ministério da Saúde, 2020)
Segundo o Ministério da saúde o primeiro registro do COVID-19
no Brasil ocorreu em 23 de janeiro de 2020 e já ultrapassa 51.000 óbitos
(Ministério da Saúde, 2020).
Com isso, os órgãos públicos são responsáveis pelas diretrizes
normativas para a sua contenção. No entanto, estas diretrizes não

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encontram ampla aplicação no sistema carcerário, já que há um conflito
entre o adequado para a saúde e a privação de liberdade.
Deste modo, no primeiro capitulo falaremos da dignidade do
cumprimento da pena em período de pandemia, onde é necessário a pratica
do distanciamento social entre outras medidas para evitar a proliferação
da Covid-19, atentando-se a dignidade do apenado no cumprimento da
pena imposta como prevê a constituição federal de 1988.
No segundo capitulo abordaremos o atual cenário do sistema
carcerário brasileiro, apontando suas problemáticas e consequências
para a saúde dos apenados em decorrência da pandemia e do descaso do
Estado.
No terceiro capitulo apresentaremos as normas que tem regulado
o sistema carcerário em tempos de pandemia e o que tem sido feito pelo
judiciário para zelar pela saúde dos presos e evitar a proliferação do vírus
nesse cenário.
No quarto capitulo abordaremos sobre as flexibilizações da pena
fazendo um paralelo entre dignidade humana e segurança pública e seus
efeitos no sistema carcerário.

A Dignidade do Cumprimento da Pena Em


Tempos de Pandemia
Tendo o Direito Penal a função de descrever as condutas que
são definidas como crime e prescrever penas para os que cometerem tais
condutas, há que se ressaltar a existência do princípio da dignidade da
pessoa humana como origem principal dos Direitos Humanos enumerados
em nossa Constituição. Tal princípio reflete de maneira forte em todos os
ramos do Direito, mas deve-se dar a devida importância a forma especial
como ele está diretamente ligado ao Direito Penal. A profundidade da

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abordagem do princípio da dignidade da pessoa humana à luz do Direito
Penal ocorre pela necessidade de se frenar o estado em seu poder de
punir, vedando punições degradantes e vexatórias ao apenado. E em
tempos, onde é necessária a prática do distanciamento social entre outras
medidas que devem ser tomadas para evitar a propagação do Covid-19
é necessário ater-se à dignidade do apenado no cumprimento da punição
que lhe foi imposta.
Fonte valorativa da Constituição Federal, ou seja, carregando
consigo o status de princípio e valor fonte de todo o sistema Constitucional,
o Princípio da Dignidade é um fundamento com importantíssimo
papel de destaque na hermenêutica constitucional, agregando para si a
qualidade de ser elemento hermenêutico jurídico e utilizado como base
da interpretação jurídica. Sua relação com os direitos fundamentais está
garantida na Constituição Federal de 1988 e na Declaração de Direitos
Humanos de 1948.
O princípio da dignidade da pessoa humana ganhou, no Brasil,
maior importância na sociedade a partir da promulgação da Constituição
Federal de 1988. Vale ressaltar que a dignidade não é algo que se pode
deduzir, presumir ou comprar, sendo ela algo inerente a cada ser humano,
com o Estado tendo o dever de garantir sua proteção e efetivação, o que
permite que cada cidadão possa construir um patrimônio moral capaz de
lhe garantir este princípio.
O inciso III do art. 5º da Constituição de 198811 se aplica a qualquer
pessoa que esteja dentro dos limites do território nacional, garantindo
ainda que nenhuma pessoa tenha sua dignidade atentada mediante
tratamento desumano ou degradante.
O inciso XLVII do mesmo artigo especifica as penas proibidas
no Brasil, sendo elas (a) Pena de morte; (b) Prisão perpétua, que
proíbe através de instrumento publicado no Art. 5 do Código Penal o
1 Art. 5º, III CF/88 – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano
ou degradante.

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cumprimento de penas privativas por tempo superior a trinta anos; (c)
Pena de trabalhos forçados, garantindo que nenhum preso está obrigado
a trabalhar em serviços desgastantes e exaustivos; (d) Pena de banimento,
que garante que nenhum brasileiro, nato ou naturalizado, seja banido do

território nacional;(e) Pena de natureza cruel, repreendendo em atenção


ao princípio da dignidade da pessoa humana, a prática de crueldade
e desumanidade dos presos.
Apesar da vedação trazida pela legislação, na realidade os presos
seguem sendo submetidos a penas que ferem a dignidade humana.
Presídios super lotados, condições precárias e submissão a condições de
vida e subsistência precárias. São cidadãos que passam os dias amontoados
em números muito maiores que a capacidade do local onde estão
cumprindo suas respectivas penas. Sabemos que a Dignidade da pessoa
humana é algo que pertence a todos, sem qualquer tipo de restrição ou
preconceito. Sendo assim, o Estado tem o dever de dar o devido destaque
à proteção da dignidade da pessoa humana, adotando ao pé da letra o
fundamento constitucional da humanização da pena e dando a devida
importância à vedação de penas degradantes e vexatórias.
Em nível internacional, a primeira organização que se preocupou
em conceituar esses termos foi a Comissão Europeia de Direitos Humanos.
A tortura é ainda uma cláusula pétrea de nossa Constituição, ou seja, ainda
que haja qualquer reforma constitucional, a proibição da prática de tortura
jamais deve ser retirada de nossa legislação.
Essa vedação de penas degradantes se justifica pelas finalidades da
pena. A pena é o meio do Estado aplicar a lei à um ato considerado ilícito.
Luiz Regis Prado explica:
Em síntese: a justificativa da pena envolve a preven-
ção geral e especial, bem como a reafirmação da ordem ju-
rídica, sem exclusivismos. Não importa exatamente a ordem

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de sucessão ou de importância. O que se deve ficar patente
é que a pena é uma necessidade social - ultima ratio legis,
mas também indispensável para a real proteção de bens jurí-
dicos, missão primordial do Direito Penal. De igual modo,
deve ser a pena, sobre tudo em um Estado constitucional
e democrático, sempre justa, inarredavelmente adstrita à
culpabilidade (princípio e categoria dogmática) do autor do
fato punível. (...) O que resta claramente evidenciado numa
analise sobre a teoria da pena é que sua essência não pode
ser reduzida a um único ponto de vista, com exclusão pura
e simples dos outros, ou seja, seu fundamento contém reali-
dade altamente complexa
(PRADO, 2005, p. 567)

Existem basicamente 3 teorias que explicam essas finalidades.


Para a teoria absoluta, a pena é uma forma que o Estado possui de punir o
criminoso de acordo com sua conduta infratora. Haroldo Caetano e Silva
diz:
Pela teoria absoluta ou retributiva, a pena apresenta
a característica de retribuição, de ameaça de um mal contra o
autor de uma infração penal. A pena não tem outro propósito
que não seja o de recompensar o mal com outro mal. Logo,
objetivamente analisada, a pena na verdade não tem finalida-
de. É um fim em si mesma. (SILVA, 2002 p. 35)

A teoria relativa tem como principal objetivo a prevenção de novos


delitos, impedindo que o criminoso volte a agir. Haroldo Caetano e Silva
destaca:
Para a teoria relativa ou preventiva, a sanção penal
tem finalidade preventiva, no sentido de evitar a prática de
novas infrações. A prevenção terá então caráter geral, na
qual o fim intimidativo da pena dirige-se a todos os destina-
tários da lei penal, objetivando inibir as pessoas da prática

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criminosa; e caráter especial, visando o autor do delito, de
maneira que, afastado do meio livre, não torne a delinquir e
possa ser corrigido (SILVA, 2002,p.35)

Já a teoria mista é definida, por Haroldo Caetano e Silva, como


uma combinação entre as duas primeiras teorias:
Da combinação entre as duas primeiras teorias, sur-
ge a terceira: a teoria mista ou eclética. Para esta teoria, a
prevenção não exclui a retributividade da pena, mas se com-
pletam (...) (SILVA, 2002, p.36)

Logo, o apenado não perde nenhum direito mais, quais quer que
sejam, especialmente que afetem sua integridade física e saúde, garantindo
que, enquanto sob tutela do estado no decorrer do cumprimento de sua
pena, o infrator tenha direito aos cuidados do estado na prevenção de uma
possível contaminação pelo Covid-19.

O Atual Cenário do Sistema Carcerário


Brasileiro
O sistema penitenciário brasileiro tem como finalidade a
ressocialização, educação, orientação social e preparação para o
retorno a sociedade, em busca da interrupção do comportamento
reincidente. Porém com presídios em situações precárias e superlotadas
é praticamente impossível falar em políticas ressocializadoras, há uma
enorme discrepância entre nossa realidade prisional e o que indicado na
legislação.
O sistema carcerário apresenta diversos problemas como
por exemplo falta de acesso efetivo a justiça pública ou defensoria; a
morosidade da justiça em investigar e julgar os delitos; a reincidência;

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rebeliões, atentados e fugas são frequentes nas prisões, entrada de
materiais proibidos que dão apoio ao crime dentro e fora do sistema
carcerário; dentre outros. Nesse capitulo esmiuçaremos dois dos maiores
e complexos déficits do atual sistema carcerário, a superlotação e a saúde
que estão completamente precárias.
O sistema prisional brasileiro contém um número de presos
superior a quantidade de vagas que tem a oferecer. Segundo o Infopen de
2019, o Brasil possui atualmente uma população prisional de 773.151
pessoas privadas de liberdade, aumentando para 758.676 presos se
analisarmos também aqueles que estão presos em custódia.2 Tendo assim,
um déficit de quase 300 mil vagas. Se tratando do âmbito internacional o
Brasil tem a terceira maior população carcerária mundial, atrás somente
dos Estados Unidos e China, sendo que a população encarcerada é
constituída em sua maioria por jovens, negros, pobres e com escolaridade
baixa.
O sistema carcerário apresenta diversos problemas conforme
aponta Greco:
presos cumprem suas penas além do tempo que lhes
fora imposto pelos decretos condenatórios; benefícios legais
são postergados ,sob o falso argumento do acumulo de pro-
cessos pela justiça penal; condenados são jogados em celas
com outras pessoas sem que, para tanto, tenha sido levado
a efeito o necessário processo de classificação, a fim de os
separar de acordo com as infrações penais cometidas; os
condenados ás penas privativas de liberdade são colocados
em celas superlotadas,(...). (Greco, 2015, p.35)

2 BRASIL, Governo do. Dados sobre população carcerária do Brasil são atualiza-
dos. [S. l.], 17fev. 2020. Disponívelem:https://www.gov.br/pt-br/noticias/justica-e-se-
guranca/2020/02/dadossobre-populacao-carceraria-do-brasil-sao-atualizados. Acesso
em: 26 maio 2020.

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Uma cela fechada que contém um número superior que sua
capacidade, acarreta problemas como calor excessivo e falta de ventilação.
A falta de espaço gera a necessidade de que se revezem para dormir já que
não se tem possibilidade de todos os detentos repousarem ao mesmo tempo.
Além disso a superlotação das celas, suas insalubridades e precariedades
transformam as prisões em ambientes propícios a proliferação e contágios
de doenças.
Nesse cenário, encontramos o descumprimento do art. 85 da Lei
de Execução Penal3 que dispõe sobre a lotação do estabelecimento penal
que deve ser compatível com a sua estrutura e finalidade, estabelecendo
também que o cumprimento de pena segregatória se dê em cela individual
com área mínima de 6 metros quadrados, o que como é sabido por todos
não ocorre nos presídios nacionais.
A inexistência de infraestrutura e o completo descaso dos
governantes tem contribuído de forma expressiva para a infeliz
transformação dos presídios brasileiros em verdadeiras ‘’ escolas do
crime’’, se por um lado a intenção é de se evitar a reincidência, por
outro lado os maus tratos, falta de alimentação adequada, celas lotadas e
insalubres, acarretam em revolta.
Sendo assim, o artigo 5°, XLIX, da CF/1988, prevê que ‘’ é
assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral’’, no entanto
o Estado não tem cumprido de forma efetiva a execução da lei, afinal o
respeito a pessoa é algo primordial.
A lei de execução penal diz em seu artigo 88 que “o condenado
será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário
e lavatório”. E ainda completa como requisitos básicos das unidades
prisionais: a salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de
aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência
3 Art. 85 da Lei de Execução Penal - O estabelecimento penal deverá ter lotação compa-
tível com a sua estrutura e finalidade.

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humana; área mínima de 6m2 (seis metros quadrados).
Este é um dos artigos mais discordantes se comparado com a
realidade, tendo em vista que a realidade no sistema carcerário é outra.
A Constituição Federal em seu art. 225 dispõe que “todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.”
A Lei de Execução Penal dispõe no art.12 que “a assistência
material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de alimentação,
vestuário e instalações higiênicas.”
Nessa linha de raciocínio Trindade (2017) expressa:

O meio ambiente carcerário, portanto, é composto


por todos os elementos ligados ao cotidiano do preso, se-
jam eles naturais, como a qualidade do ar e da água, sejam
eles artificiais, como a infraestrutura das acomodações, dos
espaços comuns, a qualidade da alimentação, a existência
de acompanhamento psicológico e médico, possibilidade
de um trabalho digno para todos, estudo, convívio familiar,
lazer, entre outros, sendo este conjunto arquitetônico que
o compõe. Visto isso, conclui-se pela importância do am-
biente do cárcere para a ressocialização do preso, tendo em
vista que os direitos fundamentais previstos na Constituição
possuem como titulares aqueles que não os tenham perdido
ou não tenham sido suspensos por decisão judicial, isto é, o
direito de ir e vir e, nos casos dos presos definitivos, ainda a
suspensão dos direitos políticos.

Não é possível que uma cela superlotada cumpra o quesito de


salubridade do ambiente carcerário. Falta respeito com a dignidade da

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pessoa humana, pois o cenário que o sistema carcerário apresenta hoje é
humilhante.
Pesquisa levantada pelo CNJ sobre a infraestrutura dos
estabelecimentos penais aponta que, apenas 0,9% estão em condições
consideradas excelente, 10% considerada boa, 48,5% recebe condição
regular, 12,3% ruim e por fim 27,6% condições péssimas.4
A superlotação traz consigo o agravamento das más condições
de saúde dos presos. Como qualquer outra pessoa o apenado também
deverá contar com acompanhamento médico. O estabelecimento penal
deverá contar com uma equipe ou um número mínimo de profissionais
que regularmente zele pelas condições de saúde do apenado. Esse direito
é legalmente garantido constitucionalmente e pela Lei nº 7.210/1984.
Os apenados necessitam de um olhar diferenciado nesse quesito,
uma vez que o ambiente em que se encontram é propício à proliferação
de diversos tipos de enfermidades, epidemias e agentes patogênicos como
parasitas e bactérias.
Doenças infecciosas se espalham rapidamente entre as pessoas
privadas de liberdade, segundo dados do Infopen, em junho de 2019,
houve cerca de 8.638 casos de tuberculose, 7.742 casos de HIV, 5.449
casos de sífilis, além de 4.927 casos de outras comorbidades. Nesse
sentido Fernandes (2000) dispõe:

populações carcerárias em toda parte tendem a re-


querer mais assistência medica do que a população como um
todo. Não apenas os presídios mantem uma grande propor-
ção de pessoas como o risco de adoecer, como usuários de
drogas injetáveis, mas também o próprio ambiente prisional
4 JURÍDICO, Consultor. Menos de 1% dos presídios estão em excelente estado, diz
pesquisa do CNJ. [S. l.], 7 jun. 2017. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-
jun07/presidios-sao-excelentes-aponta-pesquisa-cnj. Acesso em: 1 jun. 2020.

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que contribui para a proliferação de doenças. (FERNAN-
DES,2000, p.210)

O autor Agnaldo Rogério Pires expressa ainda nesse sentido que:

Aqueles que já se encontram presos e no curso do


cumprimento de suas penas forem acometidos por doenças,
deverão receber tratamento adequado à cura da enfermida-
de, devendo contar com a visita diária de um médico até que
sua saúde seja restabelecida.

Vale ressaltar que a saúde mental do preso é tão importante quanto


a saúde física e também merece atenção, já que saúde é quando obtemos
um bem estar por completo estando bem mentalmente, socialmente e
fisicamente.
Ao não prestar a efetiva e gratuita assistência à saúde das pessoas
privadas de liberdade, o Estado desrespeita normas constitucionais, isto
porque o artigo 196 da Constituição Federal5 diz que a saúde é direito de
todos e é dever do Estado garanti-lo mediante política sociais e econômicas
em busca de reduzir o risco de doenças e demais agravos.
O indivíduo privado de liberdade tem o seu direito à liberdade
limitado pelo Estado, os demais direitos e garantias fundamentais não
podem ser suprimidos, a saúde é um exemplo.
Apesar da pluralidade de normas que norteiam a saúde do preso, o
Brasil segue como sempre, ignorando e violando estas normas.
5 Art. 196 da CF/88 - A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante
políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doenças e de outros agra-
vos e ao acesso universal e igualitário as ações e serviços para a sua promoção, proteção
e recuperação.

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É evidente, como bem sabemos que a realidade prisional brasileira
não comporta essas medidas. Atualmente o sistema carcerário não passa de
um grande amontoado de pessoas convivendo em condições sub-humanas,
vivendo a mercê da própria sorte, onde impera a lei do mais forte. O
Estado falha em garantir a integridade dos presos e para se protegerem,
os detentos se organizam em facções criminosas que intensifica sua força

por conta das degradantes condições de encarceramento. É das cadeias


que facções tem intensificado o planejamento e organizando crimes e
distribuição de drogas. Para garantir sua sobrevivência presos menos
perigosos, se submetem à hierarquia das facções presente nos presídios.
As rebeliões por sua vez também são frequentes, como as que marcaram
o país nos anos de 2017 e 2018.
Infelizmente o que se observa atualmente nas instituições
carcerárias é o completo descaso do poder púbico, não se pode negar que
o sistema carcerário não consegue cumprir o papel que lhe é destinado
por lei, isto é, reeducar para a ressocialização do preso.

Normas Que Regulam o Sistema Carcerário


Brasileiro Neste Cenário
Em 20 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) declarou que o surto do Covid-19 seria considerado uma
Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, sendo
definida posteriormente como uma pandemia, necessitando assim de
cuidados especiais para evitar o contágio. (OPAS, 2020)
Como consequência, o Ministério da Saúde, em 03 de fevereiro
de 2020, declarou, por meio da Portaria n°188, Emergência em Saúde
Pública de Importância Nacional (ESPIN) na tentativa de estabelecer
estratégias para a contenção da doença.

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Com a incidência da pandemia de COVID-19 no território
brasileiro foram necessárias normas que regularizassem também o sistema
carcerário neste cenário visando a prevenção da propagação do vírus e
infecção em massa das pessoas privadas de liberdade.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), seguindo as recomendações
da OMS e com base na ESPIN, publicou a Recomendação n° 62, no dia 17
de março de 2020, na qual recomenda aos tribunais e magistrados de todo
país que adotem meditas preventivas a fim de evitar a disseminação da
doença dentro do sistema prisional e socioeducativo.
Para o sistema prisional recomenda-se (a) reavaliação das
prisões provisórias tendo como prioridade aqueles que integram
o chamado grupo de risco, ou seja, que são considerados mais
vulneráveis como gestantes, lactantes, idosos, indígenas e pessoas
com deficiência ou que estejam presos em estabelecimentos
penais superlotados e/ou sem atendimento médico adequado;
(b) suspensão do dever de apresentação periódica ao juízo das pessoas em
liberdade provisória ou suspensão condicional do processo; (c) suspensão
das audiências de custódia por 90 dias; (d) máxima excepcionalidade de
novas ordens de prisão preventiva; (e) reavaliação das prisões preventivas
que tenham ultrapassado o prazo de 90 dias ou que sejam consequentes
de crimes de menor gravidade; (f) concessão de saída antecipada dos
regimes fechado e semiaberto nos termos estabelecidos pela Súmula
Vinculante n° 56 do Supremo Tribunal Federal6; (g) alinhamento do
cronograma de saídas temporárias ao plano de contingencia elaborado
pelo Poder Executivo; (h) concessão de prisão domiciliar para os presos
que se encontrem nos regimes aberto e semiaberto ou que apresentem
diagnóstico suspeito ou confirmado de Covid-19 em estabelecimentos
prisionais que não possuam local adequado para o seu isolamento; (i)
6 Súmula Vinculante n° 56 STF- A falta de estabelecimento penal adequado não autori-
za a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar,
nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.

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prisão domiciliar nos casos de dívidas alimentícias. (CNJ, 2020)
No caso do sistema socioeducativo é recomendado a aplicação
de medidas socioeducativas, preferencialmente, em ambiente aberto
e a revisão das decisões que determinam a internação provisória,
principalmente dos adolescentes que fazem parte do grupo de risco.
(CNJ, 2020)
Além disso, o CNJ orienta que sejam elaborados planos de
contingencia juntamente com o Executivo para que sejam realizadas
campanhas informativas sobre o Covid-19 dentro do estabelecimento
penal, aplicando assim medidas preventivas de higiene e triagem visando
impedir a proliferação do vírus. Quanto as regras de visitação recomendam-
se que os magistrados auxiliem os gestores competentes na organização
das visitas garantindo que sejam seguidos os protocolos de higiene e para
que não haja limitação do fornecimento de itens de necessidade básicas
trazidos pelos visitantes. (CNJ, 2020)
No dia 18 de março de 2020, o Ministério da Justiça e Segurança
Pública publicou a Portaria n° 135 que visa prevenir a disseminação do
vírus no âmbito prisional por meio da sugestão de medidas que devem
ser tomadas pelos gestores desses ambientes. Sendo sugerida (a) a
restrição da entrada de visitantes, inclusive de advogados. E, caso não
seja possível a restrição, que haja a limitação da entrada de um visitante
por preso a cada quinze dias, com o tempo de permanência da visita
limitado a duas horas, não sendo permitida a entrada de visitantes que
façam parte do grupo de risco; (b) separação imediata dos presos que
adentrem a unidade prisional por prisão em flagrante ou transferência;
(c) limitação ou suspensão das transferências ou recambiamentos;
(d) criação de áreas de isolamento para presos que apresentem sintomas
gripais e isolamento de presos maiores de sessenta anos ou que sejam
portadores de doenças crônicas; (e) aumento da duração do horário de
banho de sol; (f) suspensão das atividades que envolvam aglomerações

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210
entre os presos, como atividades educacionais, de trabalho ou religiosas;
(g) promoção de campanhas educacionais para a conscientização dos
meios de prevenção da doença e de meios e procedimentos para a limpeza
diária das celas; (h) realização de mutirões carcerários virtuais para análise
de benefícios pendentes e de progressões de regime de cumprimento das
penas; (i) suspensão das saídas temporárias. (DEPEN,2020)
Em Minas Gerais, o Governador do Estado declarou situação de
emergência em saúde pública no estado, por meio do Decreto NE n° 113,
de 12 de março de 2020 motivado pela rápida propagação do vírus.
Posteriormente, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG)
, publicou, no dia 16 de março de 2020, a Portaria Conjunta n° 19
conjuntamente com o Governador do Estado, o Corregedor Geral de
Justiça do Estado de Minas Gerais e o Secretário de Estado de Justiça
e Segurança Pública de Minas Gerais, na qual segue as recomendações
dadas pelo CNJ e pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
E assim, recomendando portanto (a) o encaminhamento para
prisão domiciliar dos presos condenados em regime aberto e semiaberto,
com exceção daqueles que respondem a processo por falta disciplinar
grave, e aos presos por dívidas alimentícias; (b) diminuição do fluxo de
pessoas dentro das unidades prisionais; (c) revisão de todas as prisões
cautelares; (d) reavaliação das prisões daqueles que são considerados
grupo de risco para eventual medida alternativa à prisão; (e) intimação
aos presos beneficiados pela Portaria, para atualizarem seus endereços e
para comparem as unidades prisionais mais próximas de suas residências
uma vez por mês; (f) dispensa do comparecimento obrigatório nos
fóruns e unidades do Presp e do Ceapa para justificação de atividades
por sessenta dias; (g) remanejamento de presos pela Secretária de Estado
de Justiça e Segurança Pública para 16 unidades de referência, que serão
uma espécie de triagem onde o preso ficara isolado de 15 a 30 dias, até
que seja remanejado para outra unidade prisional que seja mais perto

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de sua residência ou da comarca na qual seu processo esteja vinculado.
(TJMG, 2020)
Esses procedimentos também deverão ser aplicados nas
Associações de Proteção e Assistência aos Condenados - APAC´s e ao
complexo Público Privado – PPP, cabendo aos seus gestores permitirem
a utilização das instalações reservadas para o regime semiaberto para o
cumprimento de regime fechado, caso seja necessário. (TJMG, 2020)
Recentemente o Superior Tribunal de Justiça, concedeu habeas
corpus coletivo aos presos do regime aberto e semiaberto, em Minas Gerais,
que tiveram o seu trabalho interrompido pela pandemia permitindo que
cumpram a pena em prisão domiciliar. (STJ, 2020)

FLEXIBILIZAÇÕES NO CUMPRIMENTO DA
PENA: dignidade humana e segurança pública
A discussão sobre a flexibilização do cumprimento da pena
gera um questionamento sobre o que é mais preponderante para a
sociedade, tendo de um lado a preservação da saúde dos presos, ainda
que com riscos, observando o princípio da dignidade humana, e do outro a
manutenção da segurança pública.
Envolto pelo cenário pandêmico e pelos questionamentos que
abrangem a flexibilização, os Tribunais e magistrados brasileiros, a partir
da Recomendação n°62 do CNJ, passaram a adotar medidas preventivas
a fim de evitar a contaminação em massa daqueles que se encontram
privados de liberdade. Essas medidas flexibilizam o cumprimento da pena
visando diminuir a superlotação dos presídios e a circulação de pessoas
que poderiam propagar o vírus dentro do sistema prisional, já que este
é um ambiente propício para a proliferação do vírus por suas condições
precárias de higiene.
Em sua recomendação o CNJ ressalta a necessidade da manutenção

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212
da saúde das pessoas privadas de liberdade como um meio essencial para
garantir a preservação da saúde, não só dos presos, mas também dos
profissionais que atuam nas prisões e dos visitantes, pois a contaminação
em larga escala traria grandes impactos para toda a sociedade. (CNJ,
2020)
No âmbito da saúde esses impactos afetariam o sistema único
de saúde que ficaria totalmente sobrecarregado pelo alto índice de
contaminados vindos do sistema penitenciário e do resto da população.
Consequentemente, a segurança pública também seria fortemente
atingida, pois a contaminação em massa dentro das unidades prisionais
forçaria a tomada de medidas drásticas como a soltura de todos os presos
para evitar que ocorressem mortes em massa.
Para evitar essa situação foram adotadas medidas como a concessão
de prisão domiciliar para gestantes, lactantes, mães ou responsável por
criança até 12 anos ou pessoa com deficiência, idosos maiores de 70
anos e demais presos com doenças graves que se encontrem nos regimes
aberto e semiaberto, para presos que apresentem diagnóstico suspeito ou
confirmado de Covid-19, para aqueles que façam parte do grupo de risco
e para os presos nos casos de prisão por dívidas alimentícias, assim como
a concessão de saída antecipada para os condenados em regime fechado
e semiaberto que já teriam previstas a progressão de regime.
A reavaliação e a concessão da flexibilização da pena durante
a pandemia ocorre após criteriosa avaliação dos juízes das Varas de
Execução Penal dos estados e se aplicam aos presos que não foram
condenados por crimes violentos e que não estejam respondendo processo
disciplinar por falta grave, o que limita a flexibilização e impede que
presos perigosos retornem ao convívio social antes do tempo. Em alguns
casos os presos encaminhados para a prisão domiciliar serão monitorados
eletronicamente por meio de tornozeleiras.
Além disso a liberação dos presos que cumprem pena nos regimes

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semiaberto e aberto não trazem modificações para a segurança da
população, pois os mesmos já circulavam pela sociedade ao longo do dia
para irem ao trabalho, que é um requisito obrigatório nos dois regimes
prisionais, e apenas se recolhiam as unidades prisionais durante a noite e
aos finais de semana.
Após estudo realizado pelo CNJ em Alagoas, Ceará, Minas Gerais
e Rio Grande do Sul ficaram explícitos os efeitos da flexibilização do
cumprimento da pena no âmbito da segurança pública. Publicado no dia
22 de junho de 2020, o estudo que cruza os efeitos da Recomendação n° 62
com os índices de reentrada das pessoas liberadas em razão da pandemia
no sistema prisional demonstrou que menos de 2,5% dos liberados
voltaram a ser presos. (Torres,2020)
Segundo o estudo entre março e maio, 32,5 mil pessoas receberam
uma forma alternativa de cumprimento da pena representando cerca de
4% da população prisional do país. Em Minas Gerais 8.340 pessoas
privadas de liberdade receberam o benefício em virtude da pandemia e
apenas 2,24% destes reentraram no sistema prisional por terem cometido
novos crimes. O que demonstra que a flexibilização por meio de penas
alternativas para o cumprimento da pena, como prisão domiciliar e
monitoramento eletrônico, trazem efeitos positivos tanto para saúde
quanto para a segurança. (Torres, 2020)
Adotando essas medidas o Brasil se aproxima dos países que se
destacaram no combate à COVID-19 e também atentaram para a situação
de seus apenados. Este é o caso de Portugal, que estabeleceu através da
lei n. 9/2020, de 10 de abril, o regime excepcional de flexibilização da
execução das penas e do perdão no âmbito da pandemia de COVID-19.
Essa lei permite um perdão parcial de penas de até dois anos, um regime
especial de indulto, saídas administrativas extraordinárias de reclusos e
antecipação excepcional da liberdade condicional.
O objetivo visado com a implantação desta medida foi o de diminuir

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214
a lotação das cadeias do país, que já registrou casos de contaminação
da COVID19 em seus centros de detenção, e de acordo com números do
Ministério da Justiça Português, entre 1.700 e 2.000 presos podem ser
beneficiados e se afastarem da possibilidade de serem contaminados. Em
um país que, de acordo com registros de 2018, contava uma população
de pouco mais de 12.000 presos, isso representa uma proteção de uma
parcela considerável de sua população carcerária.
Conclusão
Em tempos onde os cuidados precisam ser redobrados para evitar
a contaminação pela Covid-19 e a sua proliferação, medidas protetivas
devem ser intensas também com a população carcerária do nosso país,
tendo em vista que convivemos atualmente com um sistema carcerário
que oferece aos apenados condições precárias e insalubres de vida e
coloca essas pessoas em risco constante principalmente durante este
momento pandêmico, no qual o distanciamento e o isolamento social são
essenciais.
Mudanças na legislação são um passo importante, mas ainda
há muito o que fazer. Superlotação e condições insalubres de higiene
são problemas que podem colaborar para a proliferação do Covid-19,
e devemos frisar também que além de colocar a população carcerária
em risco, policiais, agentes penitenciários e demais profissionais que se
expõem à esses ambientes em suas jornadas de trabalho também ficam
expostos ao risco de contaminação.
E levando em conta os mais de 1 milhão de casos já confirmados
no país, todo cuidado é essencial para tentar frear o avanço da pandemia
por aqui.
Busca-se mostrar como o sistema penal brasileiro, através de
mudanças e aplicações em sua legislação e apesar de todas as dificuldades
enfrentadas, tem buscado formas de proteger a dignidade humana de cada
preso em situação de cumprimento em nosso país. Mas observamos que

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ainda é preciso mais, até mesmo para que, quando esses dias findarem,
nosso sistema prisional possa oferecer condições melhores de vida para
essas pessoas, e que cada apenado possa viver de tal maneira que possam
buscar a ressocialização sem ter sua dignidade atentada.

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br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Confirmado regime-
domiciliar-para-presos-do-aberto-e-semiaberto-em-MG--presos-do-

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222
DFnao-conseguem-extensao.aspx. Acesso em: 22 de Junho de 2020.
CAPÍTULO 11

O NEOCONSTITUCIONALISMO E SEUS
IMPACTOS NOS TRÊS PODERES

Caio Augusto Duarte Faustino

Introdução

O presente artigo, tem como objetivo de apresentar as
características do constitucionalismo e também do neoconstitucionalismo,
apresentar ainda os impactos e as mudanças causadas pela efetivação
do neoconstitucionalismo nos poderes do Estado brasileiro. Tem-se
ainda como desígnio elucidar o cunho do neoconstitucionalismo nas
questões legislativas, como o impacto do mesmo na norma, nas questões
administrativas e como é a ação orçamentária para a aplicação do
neoconstitucionalismo no mesmo e por fim expor críticas ao modelo
judiciário, que, após mudanças constitucionais, trouxe consigo inúmeros
debates sobre a judicialização e o ativismo da suprema corte.
Esta pesquisa foi elaborada por métodos bibliográficos, afim
de levantar de forma fundamentada o proposto no tema e subtemas do
artigo. O mesmo tem como marco teórico os pensamentos e obras dos
autores Daniel Sarmento, Luís Roberto Barroso e Lenio Streck.

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Constitucionalismo
Primariamente, faz-se imperioso a exposição e explicação de
determinados conceitos constitucionais e interpretações doutrinárias
afim de fundamentar o pensamento e o problema de pesquisa e também
ponderar os argumentos a serem expostos sobre o mesmo.
Quando se trata do termo constitucionalismo, há uma miscelânea
quanto aos seus conceitos, pois ao longo da história se desenvolveu diversas
significâncias à cerca de seu termo. André Ramos Tavares, faz um análise
técnica e expõe em seu livro (Curso de Direito Constitucional, 2020) que
há quatro vertentes ideológica dó termo anteriormente citado, sendo a
primeira delas um movimento político-social com raízes históricas que
visa, a princípio, limitar o poder arbitrário, a segunda vertente é que o
constitucionalismo é identificado quando possui uma imposição, de forma
universalizada, da necessidade de uma carta mór escrita, sendo assim,
caracterizado pela imposição de regras previstas constitucionalmente, a
terceira vertente é exposta como o tratamento dos direitos sociais e suas
garantias positivamente previstas na letra da magna carta, e por fim, é
colocada a última vertente onde o constitucionalismo é colocado como
uma evolução histórica do constitucionalismo de um determinado Estado.

Com os fundamentos supra expostos, interpreta-se o
constitucionalismo como a necessidade de um Estado estar fundado nas
bases e diretrizes de uma constituição onde limita o poder de atuação do
Estado e estabelece como base social os direitos e as garantias fundamentais
refutado no pensamento e análise técnica de Barroso (2007).
No Brasil, o pensamento ideológico pós-positivista se fundou após
a promulgação da magna carta de 1988 em que à coloca como basilar e
subjugável a todo o ordenamento jurídico, vinculando diretamente sob
suas diretrizes e princípios os três poderes.

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224
Neoconstitucionalismo e Sua Origem
O Neoconstitucionalismo surge após a segunda guerra mundial na
Europa onde, até então, prevalecia a cultura que tratava a lei editada pelo
parlamento como fonte estrita, quase exclusiva do direito, às constituições
eram vistas programas políticos que inspiravam a atuação do legislador
(Daniel Sarmento,2009).
A segunda guerra deu espaço à mudança de paradigma que levou
as constituições à criarem e fortalecerem a jurisdição constitucional,
com mecanismos potentes em proteção dos direitos fundamentais
(Daniel Sarmento,2009). Com a derrota dos regimes totalitários, surgiu
a necessidade de criarem um rol de direitos e garantias fundamentais em
defesa do cidadão frente aos abusos e arbitrariedades do estado; sendo
intolerável que, em nome da vontade do legislador, tudo onde o Estado
exercesse sua atuação fosse legítimo (Eduardo Cambi,2008).

Segundo Barroso(2005), no modelo antigo, constituição não
passava de um documento essencialmente político, dependendo da
conformação do legislador e a discricionariedade do administrador, se
aprofundando no último quarto do século XX, tendo como característica
a subordinação da legalidade a uma constituição, onde a validade das leis
depende precipuamente da compatibilidade com a constituição; levando
ela a uma conjuntura superior nas discussões do ordenamento jurídico.
Além disso sob a constituição de 1988, o direito constitucional no
Brasil passou da desimportância ao centro do direito, houve o respeito à
lei maior de um país (Luís Roberto Barroso,2005).
Sobre a constituição 1988 preleciona Cambi (2008), que os já
muitos anos de sua criação, permitem uma construção paulatina de uma
importante cultura jurídica de valorização do sentimento constitucional.

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As Características Que Compõe o
Neoconstitucionalismo
Antes de tudo é preciso salientar que é habitual os diferentes
tipos de entendimento do neoconstitucionalismo entre as próprias
figuras autodenominadas de neoconstitucionalistas, como cita Pastor
e Dalmau(2019), se for feito a pergunta aos neoconstitucionalistas é
possível não obter nenhuma resposta igual, demostrando uma clara
incoerência, pelo menos no âmbito interno.

Segundo Sarmento(2009),não existia um único
neoconstitucionalismo, que corresponda a uma concepção clara e coesa,
mas sim diversas visões do fenômeno jurídico, e vai mais afundo alegando
que o neoconstitucionalismo responde a casos difíceis do direito, sendo
os casos fáceis solucionados pela própria norma. Por fim Streck(2011),
fala que o neoconstitucionalismo incorpora em si uma plêiade de autores
e posturas teóricas que nem sempre estão no mesmo sentido.
Algumas características do neoconstitucionalismo são citadas por
Barroso(2005), sendo algumas delas, a supremacia da constituição e a
presunção de constitucionalidade das normas e atos do poder público,
onde traz uma nova modalidade de interpretação jurídica, os valores,
os fins públicos e os comportamentos contemplados pela constituição o
que antes era tratado como subsunção, ou seja, a adequação da norma
expressa ao contexto fático, em suma a constituição irradia sua força
normativa em todas as normas do sistema, nesse aspecto é possível ver
que todos os ramos do direito infraconstitucional tiveram seus aspectos
tratados na constituição.
A outros autores que acrescentam diferentes características como,
por exemplo, Pastor e Dalmau (2019), onde expõe e esclarece que o
neoconstitucionalismo consiste em uma análise teórica do valor jurídico
da constituição e sua influência no resto do ordenamento; também aludi a
ideia de uma constituição, não só como limitador do poder político, mas

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226
como modelador estritamente centralizado e norteados da sociedade.
Na maneira de Martins (2017), o neoconstitucionalismo consiste
em uma reação ao positivismo, para este o direito restringe-se ao que está
positivado, claro uma das principais críticas a este modelo é que nem tudo
está positivado na norma.
Outra característica peculiar citada por Passador, Júnior (2019),
é a rematerialização constitucional, significa afirmar que as constituições
contemporâneas tendem a ser prolixas e analíticas, tratando temas não
essencialmente constitucionais, o que se refletir e aclarar sobre o atual
ordenamento, faz-se uma fundamentada concordância.
Segundo Castro(2019),antes de ser norma jurídica, a constituição
representa a estrutura social, forças políticas, instituições históricas de um
determinada sociedade, ainda segundo o autor existem outros fenômenos
interconectados ao neoconstitucionalismo, como a força normativa
dos princípios; rejeição ao formalismo jurídico e utilização de técnicas
mais elásticas como a ponderação; irradiação da constituição a todos os
ramos do direito, caberia também ao judiciário controlar a satisfação dos
resultados apresentados pelo estado.
Já Sarmento(2009),salienta que nesse contexto cresceu muito
a importância política do judiciário, pois com uma frequência cada
vez maior, questões polêmicas e relevantes para a sociedade passaram
a ser decididas pelos magistrados, e principalmente por cortes
constitucionais, aqui segundo o autor já enfrentamos um problema pois o
neoconstitucionalismo cedeu espaço a visões mais favoráveis ao ativismo
judicial em favor dos direitos constitucionais, fato esse que será abordado
no próximo tópico.

Em uma análise mais ampla Rodrigues(2019),diz que o
movimento uma conjuntura de atos e processos importantes dos quais
acabaram por uma mudança de noção e de interpretação constitucional e
de sua aplicação.

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Ainda segundo Netto Gomes (2017), segundo a perspectiva
neoconstitucionalistas, a constituição passa a ser o centro do sistema,
onde as leis e os poderes públicos, devem estar em conformidade com o
caráter axiológico e os valores da constituição.

Sob uma análise do citado, há uma falta unificação dos
neoconstitucionalistas sobre o entendimento do fenômeno, o que
leva também à uma ampla gama de características, tendo como sua
característica uma extensa interpretação da constituição, que desencadeia
em uma série de eventos, como o ativismo judicial. E há uma necessidade
da apresentação das diversas linhas ideológicas sobre o que é o novo
constitucionalismo, onde, é possível a associação entre todos os expostos
e ainda, possível à extração de características em que se apresentam tanto
nos Estados estrangeiros quanto no Estado em que nos encontramos.

O Impacto do Neoconstitucionalismo nos Três


Poderes
Claramente, a evolução ao neoconstitucionalismo carregou com
sigo enormes mudanças, como já citados introdutoriamente e no tópico
anterior, mudanças essas que impactou toda a organização, normatização
e princípios de fundamentação de todos os poderes. Com isso,
apresentaremos esses impactos e críticas embasadas nos marcos basilares
do novo constitucionalismo.

Os Impactos do Neoconstitucionalismo no
Poder Legislativo e Seus Efeitos Normativos
A cerca do poder legislativo em face ao neoconstitucionalismo,
é exposto sob o mesmo com inúmeras mudanças ao reflexo do que
apresentado anteriormente ao pós-positivismo. No período positivista,
as normas legislativas se fixavam desconectadas à submissão de uma lei

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228
mór e eram interpretadas de maneira estrita à letra da lei, não cabendo
qualquer aplicação de interpretação extensiva, analógica, sociológica,
histórica dentre as demais técnicas que hoje, estão estabelecidas como
hermenêutica. No período positivista, pode-se observar as falhas que a
interpretação estrita trazia ao ordenamento jurídico e também à aplicação
concreta das sanções previstas.

Com a evolução histórica no Brasil no período da
reconstitucionalização, a Carta trouxe um progresso do regime autoritário
da época à o que chamamos hoje de Estado democrático de Direito.
Conforme exposto introdutoriamente, a constituição vigente se voltou a
reflexão dos Direitos sociais e limitar o poder do Estado e tal princípio
espelhou no Poder Legislativo (Pedro Lenza, P.65, 2020).
À vista disso, o Legislativo reordenou e reformulou a escrita
da lei e seus princípios se adequando aos três princípios norteadores
da constituição citada, promovendo então a igualdade, fraternidade e
liberdade, descentralizando à visão do positivismo onde o legislativo
legislava visando apenas sob a perspectiva econômica e de ordem e não
sob a visão humanística de ressocialização, o que traria maior efetividade
e eficácia na diligência normativa e sua aplicação.
À perspectiva do neoconstitucionalismo onde prevê outras formas
de interpretação da norma, Barroso (2005) vê a interpretação tradicional
da constituição baseada na subsunção das normas, onde é comumente
utilizada para a resolução de inúmeras questões jurídicas colocadas
em pauta, expondo como diferencial a resolução de uma carência da
interpretação das normas jurídicas como supra citado, onde anteriormente
ao período pós-positivista não eram ajustadas para o desígnio resolutivo
de problemas relacionados à realização da vontade constitucional mas
salienta ainda que o neoconstitucionalismo não se trata da obrigatoriedade
de às questões jurídicas, mas sim um mecanismo de garantir interpretação
da norma sob a luz constitucional.

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Poder Judiciário e o Ativismo Judicial
Antes de falarmos de maneira mais específica, Barroso (2005),
fala de maneira geral que os debates em sua essência giram em torno
de tensões e superposições entre o constitucionalismo e a democracia,
salientando ainda que há divergências constantes entre os autores, sobre
o ponto que será tratado neste tópico e nos próximos em relação as
implicações do neoconstitucionalismo, o presente artigo busca analisar de
maneira técnica e objetiva esses fatos.
Introdutoriamente, o ativismo judicial se estabelece no preceito
de participação ativa e extensa do poder judiciário para a objetivação,
efetivação e eficácia de princípios sociais, constitucionalmente positivados
com previsão de interferência excepcional nos demais poderes.
Segundo a visão dos doutrinadores, é possível observar amplamente
o contexto, fundamentações e críticas estabelecidas, começando
por Streck (2011), mostra a necessidade do reconhecimento que as
características do neoconstitucionalismo ativamente produziram, como
condições patológicas, que no nosso contexto atual, acabam contribuindo
para corrupção do próprio texto da constituição, ainda segundo autor
defende-se um ponderação de valores e uma pretensa constitucionalização
do ordenamento a partir de jargões vazios de conteúdo.
Segundo Sarmento(2009), não se deve almejar retroceder ao
tempo em que os princípios não eram aplicados pelos juízes brasileiros,
mas sim buscar à aplicação dos princípios em situações adequadas, de
maneira racional e fundamentada, tal pensamento traz margem para
visões do ativismo judicial em defesa dos valores constitucionais, traz
também amplas restrições aos poderes do legislador em nome dos direitos
fundamentais e das minorias que possibilitavam suas fiscalizações por
juízes, expondo como o grande protagonista do neoconstitucionalismo
o juiz, e essa obsessão pelo poder judiciário leva uma determinada
desconsideração das outras instituições.

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


230
Em reflexo, a ascensão do judiciário e a importância dos casos
em que ele vem julgando, tem provocado uma enorme expansão de
discernimento e alimentado ainda mais o interesse da sociedade pelo
direito constitucional e principalmente pelo Supremo Tribunal Federal. É
raro as decisões da suprema corte não serem repercutidas nos veículos de
comunicações e mídias sociais e não serem o foco de debate até mesmo
pela sociedade. (Daniel Saemento,2009).
Em sentido oposto às visões dos autores citados anteriormente,
vem o posicionamento de Barroso(2011), que vê a judicialização da
constituição como um fato, já o ativismo uma escolha de um modo
proativo de interpretar a constituição expandindo o seu sentido e alcance,
ainda completa que Juízes não são eleitos, por isso, a de ser tomar cuidado
quando o judiciário toma decisões inequivocamente políticas.
Com base nos textos doutrinários anteriormente citados, é possível
estabelecer críticas em que se reflete nitidamente no contexto social da
atualidade. O ativismo social, consequência do neoconstitucionalismo, e
efetivamente previsto na ADPF Nº 45, nos traz a crítica da centralização e
intervenção unilateral nos demais poderes governamentais, o que traz uma
grande insegurança jurídica, pois, não só estão exercendo suas funções
atípicas afim da harmonização entre os mesmos, como estão interferindo
na esfera da autonomia regulada tanto do poder executivo, em que
suas ações estão sendo sumariamente impactadas, e também no poder
legislativo, em que a suprema corte tem exercido suas atividades, criando
interpretações além do texto legislativo prevendo aos seus resignados a
possibilidade da aplicação da forma exacerbada à extensividade da lei.
Tais atividades do poder legislativo de for proativa e intensa, tem
trago inúmeras críticas sobre a insegurança jurídica no ordenamento atual,
criticas essas que traz a luz a probabilidade dessa interferência citada,
onde muitos estão doutrinando sobre, prevendo até uma centralização
do poder, o que, sob análise, pode se observar diversos pontos presentes

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 231


na atualidade. Um dos principais pontos em que se pode observar é a
própria suprema corte ter normatizado sobre a possibilidade desses
ativismos pela ADPF Nº45, trazendo questionamentos sobre uma possível
centralização. O filosofo iluminista Montesquieu, traz uma reflexão sobre
o tema abordado, o que refuta ainda mais o pensamento e a crítica em
que se deve a incompletude da intervenção sumária e unilateral do poder
judiciário:
Tampouco existe liberdade se o poder de julgar não
for separado do poder legislativo e do executivo. Se estives-
se unido ao poder legislativo, o poder sobre a vida e a liber-
dade dos cidadãos seria arbitrário, pois o juiz seria legisla-
dor. Se estivesse unido ao poder executivo, o juiz poderia ter
a.força de um opressor.
Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o
mesmo corpo dós principais, ou dos nobres, ou do povo
exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de executar
as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as querelas
entre os particulares.
Barão de Montesquieu – Do Espírito das leis (1748)

Críticas a Subjetividade do
Neoconstitucionalismo
A obsessão com A interpretação da constituição tende a obscurecer
o papel de outras instituições, como o poder legislativo, executivo, e a
própria esfera pública. E esta nova racionalidade se espraia para diversos
ramos do direito, como civil, penal, administrativo, por exemplo, onde
cada vez mais a doutrina emprega normas e valores constitucionais para
reler os institutos tradicionais, sobre isso Daniel Sarmento(2009,p.15)
leciona:
A Constituição de 88 regulou uma grande quan-
tidade de assuntos –muitos deles de duvidosa dignidade

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


232
constitucional – subtraindo um vasto número de questões
do alcance do legislador. Ademais, ela hospedou em seu
texto inúmeros princípios vagos, mas dotados de forte carga
axiológica e poder de irradiação.

Neste mesmo sentido, de maneira mais firme Streck (2011), revela


discordância com o princípio da ponderação dos valores constitucionais
promovidos pelo neoconstitucionalismo, alegando que ponderação e
discricionariedade são faces da mesma moeda, esta tese é reforçada pela
falta de critérios objetivos para análise ampla da constituição, pairando
uma certa subjetividade que gera insegurança jurídica. O autor diz que
há milhares de decisões e exemplos doutrinários fazendo menção à
ponderação, que é transformada em um álibi teórico para o exercício de
modos discricionarismos e axiologismos.
No modelo do novo constitucionalismo, a vontade do intérprete
possui um alargado âmbito de decisão, mas ele está limitado neste
âmbito por uma série de restrições valorativas (Ricardo Marcondes
Martins,2017). Nota-se quão amplo é um sistema decisório no método
neoconstitucionalismo.

Agora em relação aos críticos da ponderação, em razão de
sua irracionalidade, leva negação de que em certas circunstâncias, um
valor seja racionalmente mais importante que outro, neste sentido o
neoconstitucionalismo visa dar racionalidade à produção e à aplicação do
direito (Ricardo Marcondes Martins,2017).

Segundo Sarmento(2009), houve uma mudança radical na
aplicação dos princípios nas decisões judiciais, levando assim um ambiente
intelectual no Brasil que enaltece e valoriza as decisões principiológicas, e
não aprecia tanto aquelas calcadas em regras legais, esse contexto leva os
operadores do direito a invocar princípios muito vagos em suas decisões;
por fim ainda é importante lembrar que as regras são indispensáveis pois
geram segurança jurídica e maior previsibilidade para o seus destinatários.

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 233


Faz-se necessário campear a necessidade de quanto mais vaga a
letra da norma à ser aplicada, maior deve-se o intérprete argumentar,
no sentido de mostrar que a decisão adotada é a que melhor precede os
valores do ordenamento.
Outro problema grave à ser apontado é a tendência de emotividade
da metodologia jurídica, podendo acarretar maiores injustiças, pois
a possibilidade desta avaliação mais humanizada e benevolente da
norma, pode ser usada exclusivamente para os donos do poder e seus
apaziguados e posições mais duras aos grupos excluídos e marginalizados
(Daniel Sarmento,2009). Isso vai na contramão das características do
neoconstitucionalismo, sendo ela a defesa das minorias.
É nesse sentido que Sarmento (2009) chama à atenção para o
risco da metodologia do neoconstitucionalismo estar prosperando com
tanta fluidez, pois ela poderia ser usada para justificar mais do mesmo:
patrimonialismo e desigualdade.
Em sentido oposto, Martins (2017) acredita que o positivismo que
reduziu o direito à vontade da maioria, sendo que o novo constitucionalismo
trouxe a premissa, de que, existem questões éticas que nada têm a ver com
o pluralismo, e por isso não devem passar pela decisão da maioria.
Já Barroso(2005), ressalta que a democracia não se resume ao
princípio da maioria, nem ao governo destinados a ela, o processo político
pensado só para a maioria se move por interesses, há direitos das minorias
a serem respeitados, enquanto a lógica democrática se inspira em valores,
em muitas das vezes só restará o judiciário para preserva-los, em respeito
às minorias.
Em contraponto ao exposto, visando atingir a efetividade, eficácia
e a universalização das normas da Constituição, Cambi (2008) preleciona
que a nova interpretação não abandonou elementos clássicos (gramatical,
histórico, sistemático e teleológico), mas revitalizou à hermenêutica
jurídica elevando a teoria dos princípios sobre as regras, possibilitando

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


234
assim um meio-termo entre a vinculação e a flexibilidade.

A Adequação do Poder Executivo Aos Preceitos


Neoconstitucionalistas
Ao fazer uma análise histórica e documental dos textos e doutrinas,
dos princípios e características e ainda aluir uma crítica sobre o avanço,
a consequência e o marco nos direitos sociais, o neoconstitucionalismo
trouxe uma necessidade além dos poderes legislativos e judiciário ao
poder executivo.
Os princípios norteadores do direito neoconstitucional brasileiro
se manifesta no poder executivo de maneira aparentemente simples,
em letra, mas sua execução ainda trás uma extensa discussão entres os
representantes de tal poder.
A necessidade de aplicação de recursos em áreas sociais repercute
sua discussão até na atualidade, o neoconstitucionalismo no Brasil tem
como fundamento mór a promoção de igualdade, liberdade e fraternidade,
mas o que se pode observar é que a aplicação desses princípios no poder
executivo é deficiente.
A disponibilidade de recursos essenciais de educação, saúde,
segurança, mostram que mesmo uma norma constitucional regendo todos
os poderes de forma harmônica, ela não tem um efetivo conclusão em tal
poder. Com isso, é observado que comumente é publicado em periódicos
acadêmicos os impactos da inefetividade da norma constitucional no
setor de administração pública, como um estudo de caso, publicado por
representantes do Instituto Federal de Santa Catarina que mostram como
o corte de quase 8 bilhões de reais afetaram a educação, trazendo um
aumento significativo da evasão escolar (IFSC, 2019) . Outro TEXTO que
refuta ainda tal afirmação é o livro Os Sentidos da INTEGRALIDADE

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 235


na atenção e no cuidado à saúde (Roseni Pinheiro e Ruben Araujo de
Mattos, 2009), que aponta críticas ao poder executivo, descumprindo as
normas constitucionais.
O Estado neoliberal nos tem governado e dominado
nos últimos dez anos, e temos ciência do que tem sido sua
política de saúde: corte de verbas, desmonte do setor públi-
co, desvio de verbas destinadas à saúde para outros gastos
etc.

Com essas analises, é observável o efeito, ou a falta dele, no poder


executivo, observável ainda manobras do Estado na efetivação de tais.

Considerações Finais

Neste artigo, foi abordado os principais tópicos sobre o
constitucionalismo e neoconstitucionalismo, foi apresentado ainda os
impactos no atual sistema jurídico e administrativo. Com isso, podemos
concluir a analise apresentando as mudanças no poder legislativo, onde o
mesmo anteriormente ao neoconstitucionalismo, não se estabeleciam sob
uma submissão de normas e princípios norteadores de uma lei superior,
lei essa conhecida como Constituição.
Demais conclusões se dão no âmbito judicial do Estado, onde
observou-se no descrito texto, o desenvolvimento do ativismo judicial no
Estado, posteriormente à execução e instituição da lei mor, o que acarretou
em inúmeras críticas dentre os doutrinadores sobre a intervenção da
suprema corte do Estado e o abuso nas questões da qual reporta-se as
atividades de outros poderes, que não do judiciário.

Abordou-se ainda como o executivo se adequo e como se
adequará aos preceitos neoconstitucionais, expondo as irregularidades da
qual tal poder se apresenta, não conseguindo efetivar os preceitos básico
de existência e levantando ainda uma crítica sobre a eficácia e eficiência
das normas constitucionais à tal poder.

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236
O texto conclui-se, perfazendo fundamentalmente em analises e
revisões à obras afim de apontar tais alegações anteriormente citadas,
sugerindo ainda novas pesquisas.

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240
CAPÍTULO 12

ECONOMIA BRASILEIRA:
DESENVOLVIMENTO E REGRESSO,
DECADÊNCIA FRENTE AO COVID -19 E
SEUS REFLEXOS NOS CONTRATOS DE
TRABALHO

Sandy Lopes Martins Silva1

Introdução
O presente artigo tem por finalidade fazer uma análise detalhada
do governo de todos os Presidentes da República eleitos no Brasil desde o
fim da Ditadura Militar, no ano de 1985, com o início da Nova República,
até os dias atuais, destacando as taxas de inflação, mudanças de moedas,
planos econômicos que visavam a estabilização da economia brasileira,
dívida pública e outros adendos relacionados ao tema.
Similarmente, é observada a gerência do até então Presidente
da República, Jair Messias Bolsonaro, frente à pandemia global gerada
pelo vírus Covid-19 e consequentemente o impacto econômico nacional
causado por essa doença, considerada pelo Código Civil de 2002 como
uma situação de caso fortuito ou força maior. Não obstante, é salientado
o posicionamento da União como agente regulador do mercado, através
dos investimentos em saúde, flexibilização da quitação de impostos,
fornecimento de auxílio e de subsídios, e as consequências futuras dessas
medidas.
Não é abstruso o fato de que a rápida disseminação do Coronavírus
1 Graduanda em Direito pela FDCON. E-mail: sandymartinsilva@gmail.com

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 241


causou impacto direto nas relações trabalhistas, gerando a revisão
contratual, ou em casos mais extremos, a rescisão do contrato. Tendo
em vista esse tocante, o Governo Federal expediu a Medida Provisória
n° 927/2010 e a Medida Provisória n° 936/2020 com o propósito de
assegurar o empregado e também o empregador, possibilitando a
conservação da renda, ao passo de que impede a onerosidade excessiva
por parte do trabalhador.

Histórico econômico brasileiro


Durante mais de duas décadas, o Brasil se viu preso a um regime
militar que suprimiu o Estado de Direito e alicerçou um governo autoritário
que se ascendeu através de um golpe militar, em abril de 1964, privando
diversos direitos e promovendo grande repressão política. As políticas
econômicas realizadas durante esse período gerou grave distorção
econômica, aumentando as desigualdades sociais, tendo em vista que o
denominado “milagre econômico” induzia à concentração de riquezas.
Com a perda de adeptos e soterrado em uma crescente crise
econômica, o regime autoritário em questão ficou fragilizado, sendo
alvo de diversas manifestações civis, dentre as quais merece destaque o
movimento intitulado de “Diretas Já”, exigindo mudanças constitucionais,
dentre elas, o retorno das eleições presidenciais diretas, o que culminou
nas eleições de 1985, que mesmo submissa ao controle dos eleitores do
governo militar, possibilitou a vitória de seu opositor, Tancredo Neves,
que não chegou a assumir a presidência do Brasil, falecendo um dia antes
de sua posse, acarretando na tomada do cargo por seu vice, José Sarney.
A Nova República foi estabelecida com a posse de José Sarney
como Presidente do Brasil, findando, definitivamente, o período da
Ditadura Militar e culminando o sentimento de recomeço, onde o país
poderia enfim se reerguer. Fato é que, em 1985 o país encontrava-
se em uma grava crise econômica que se agravou no decorrer desse

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


242
governo, com inflação mensal superior a 10% no período da posse de
Sarney, disparando para 16% mensal em menos de um ano (LUNA,
KLEIN, 2016). Em busca de estabilizar a economia, o Plano Cruzado
foi implementado em 1986, consistindo em uma reforma monetária que
congelou os preços, inclusive das taxas cambiais, o que acarretou no
aumento da demanda, consequentemente gerando mais empregos, além
de aumentar os impostos e fazer a troca da moeda, que até então era o
Cruzeiro, para o Cruzado.
Embora esse plano tenha trazido bons resultados em curto
prazo, diminuindo significativamente a inflação, em longo prazo foi
extremamente prejudicial, com duração de pouco menos que um ano,
ao chegar ao fim, fez com que a inflação alcançasse níveis exorbitantes,
atingindo taxas de 80% mensais ao final do governo (LUNA, KLEIN,
2016). É importante ressaltar que outros planos foram colocados em
práticas, ainda no governo de Sarney, como o Plano Bresser, em 1987,
que, imediatamente, causou a desvalorização da moeda em 10% em
relação ao dólar, e o Plano Verão, em 1989, que, mais uma vez, alavancou
a taxa de juros e congelou os preços, além de oficializar o Cruzado Novo
como a moeda oficial do Brasil, levando o país, nesse ano, a uma inflação
anual 1972% (REIS, 2018). Em contrapartida, positivamente, o mandato
foi finalizado com um valor significativo de reservas no país, sendo pouco
mais que 07 bilhões de dólares, ademais, a dívida externa conservou-
se moderadamente estável, em aproximadamente 114 bilhões de dólares
(JORNAL DO BRASIL, 1990).
Em 1990, Fernando Collor de Mello, foi o primeiro presidente
eleito pelo voto direto, após o fim do regime militar. Seu governo foi
relativamente curto, pois embora tenha chegado ao poder por meio
do discurso contrário à corrupção, foi frequente a sua participação em
procedimentos corruptos, ademais, após ascender, governou de maneira
autoritária e desleal para com o povo, sofrendo, consequentemente, o
processo de impeachment.

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 243


Logo ao início do governo, Fernando implementou o Plano
Collor, que consistia, basicamente, em diversas reformas econômicas
que visavam a estabilização da hiperinflação. Entretanto, esse plano foi
extremamente radical e imoral, levando em consideração o adendo de que
uma das práticas do mesmo incidia na retenção dos depósitos realizados
na caderneta de poupança e na conta corrente dos brasileiros. Todavia,
porém, esse sequestro de bens, inicialmente, seria devolvido aos devidos
donos em um prazo de um ano e meio, com a devida correção de 6% ano
(REIS, 2018), fato é que essa devolução nunca ocorreu, acarretando uma
série de ajuizamentos de ações para que o valor retido fosse devolvido.
Outras medidas do plano anteriormente citado consistiam na
mudança da moeda, que novamente tornou a se chamar Cruzeiro; abertura
do mercado para a concorrência internacional, de modo que os demais
países realizassem investimento no Brasil, colocando então em prática as
ideias liberais que permeavam os discursos de Collor; além da privatização
da economia e dentre outros medidas. Novamente o país sofreu com a
tentativa falha de uma estratégia que causou o efeito rebote na economia,
tendo em vista que com o plano em questão não surgiram resultados
positivos, deslocando o valor da inflação que, em fevereiro do ano de
1991, estava em 21%, para 26% em janeiro de 1992, permanecendo esse
valor constante ao decorrer do ano (LUNA, KLEIN, 2016).
Ainda em 1992, Itamar Franco, vice-presidente de Collor, assume
a presidência, colocando em prática, no ano de 1993, a primeira etapa de
um dos maiores e bem sucedidos planos econômicos, com o intuito de
controlar a inflação e estabilizar a economia, o Plano Real que recebeu esse
nome devido à nova troca de moeda para o Real. O contexto econômico em
que esse plano foi desenvolvido tratava-se de um cenário de hiperinflação,
ou seja, quando a inflação, que pode ser definida como o aumento de
preços na economia, causando a desvalorização da moeda, acontece de
maneira exacerbada e descontrolada (ALBERGONI, 2015). Os preços
das mercadorias nesse período alcançavam valores surreais, sendo

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


244
reestabelecidos diariamente, atingindo a casa dos cinco dígitos, podendo
citar como exemplo, a margarina de 500g que era vendida pelo valor de
Cr$42.900,00 cruzeiros (REAL, 1993), o equivalente a R$0,01 centavos,
ou seja, nessa altura, R$1,00 real equivalia a Cr$2.750.000,00 cruzeiros
(LIGNOS, [20--?]), fazendo com que a inflação anual, em dezembro de
1992, alcançasse a porcentagem de 1.119,10% (INFLATION, [20--]).
O Plano Real colocava em prática medidas econômicas que
visavam conter os preços e retomar o crescimento econômico do Brasil,
de modo que a hiperinflação fosse contida. Basicamente, essa estratégia
foi dividida em três partes, que foram primordiais para o seu sucesso,
dentre elas pode-se citar o programa de ações imediatas, na qual buscava
o equilíbrio fiscal a fim de amortizar o déficit governamental através do
corte de gastos, ao mesmo tempo em que visava expandir as receitas
da União; a etapa de desindexação econômica, que ocorreu em 1994,
implantando a Unidade Real de Valor, estando essa relacionada com
o valor do dólar, onde os preços passariam a ser marcados pelo URV,
sendo convertidos à Cruzeiro Real, no momento do pagamento; e por fim,
quando o plano já estava fortalecido, todas as moedas foram convertidas
para o real, nesse contexto, para adquirir R$1,00 real eram necessários
CR$2.750,00 cruzeiros reais (REIS, 2018).
Em síntese, o Plano Real foi a salvação da economia brasileira,
conseguindo, através das medidas adotadas, reduzir drasticamente o valor
da inflação no país, fazendo com que o poder de compra dos indivíduos
fosse expandido, acarretando diretamente na demanda das mercadorias
e, consequentemente, no aumento dos empregos, tudo isso, diferente dos
outros planos, sem congelar os preços das mercadorias. A inflação que em
junho de 1994 alcançou 47,43%, em julho já estava abrandada em 6,84%,
e em setembro, por sua vez, encontrava-se aos 1,53% (INFLATION, [20-
-]).
Fernando Henrique Cardoso chega à presidência do Brasil em

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 245


janeiro de 1995, graças ao aumento de sua popularidade devido ao sucesso
do Plano Real, que foi planejado por ele enquanto compunha o Ministério
da Fazenda. Permanecendo oito anos na presidência, FHC tinha como
intuito adequar o país ao neoliberalismo, de forma tal que a intervenção
estatal fosse insignificante, privatizar diversas empresas governamentais,
além de reduzir alguns direitos trabalhistas. Positivamente, o seu governo
foi marcado pela inflação mais baixa constada pelo Índice de Preços ao
Consumidor (IPC), sendo constatada, ao final do ano de 2002, uma média
anual de 8,43% (INFLATION, [20--]), tendo sucesso em consolidar o
Plano Real previamente estabelecido, paralelamente, porém, a taxa de
desempregados incidiu de 4,4% para 7,2% e a dívida, que em 1994 estava
em 30% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) saltou para mais que
60% em 2002 (BACOCCINA, 2002).
Ademais, se faz primordial considerar o adendo de que diversas
crises externas e internas atrapalharam o crescimento econômico do
Brasil e abalaram o governo de Fernando, dentre elas pode-se citar a crise
elétrica que causou uma estagnação no crescimento econômico quando a
escassez de energia elétrica acarretou uma crise interna, fazendo com que
esse produto fosse racionalizado, impactando diretamente no crescimento
do PIB, que após ter alcançado o ápice, em 2000, com a porcentagem de
4,31%, caiu exponencialmente para 1,31% em 2001 (LUNA, KLEIN,
2016).
No ano de 2003, Luiz Inácio Lula da Silva torna-se Chefe do
Executivo, permanecendo no cargo por oito anos consecutivos, cumprindo
dois mandados e comprometendo a se dedicar às causas sociais, além
de dar continuidade aos projetos e acordos iniciados durante o governo
de Fernando Henrique Cardoso. Fato é que, seu primeiro mandado
foi marcado profundamente por priorizar a estabilidade econômica
conquistada no governo anterior, além de ampliar a meta de superávit
primário para 4,25% e estimular políticas monetárias e de contratação
fiscal que estabilizaram os mercados internacionais e locais (LUNA,

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


246
KLEIN, 2016).
O governo liderado por Lula alcançou grande prestígio ao reduzir
a inflação anual, tendo como a porcentagem mais baixa de seu governo o
valor de 3,1% em dezembro de 2006, diminuindo mais do que a metade
em relação à inflação do último ano de FHC como presidente, em 2002,
que atingiu o percentual de 12,5% nesse mesmo mês, contudo, ao final
da Era Lula, a inflação anual do ano de 2010 encontrava-se em média
5,04% (INFLATION, [20--]). Não obstante, nos primeiros quatro anos
de seu governo conseguiu abaixar relativamente o valor da taxa Selic para
13,25%, levando em consideração que a mesma apresentava uma taxa de
25% ao final do ano de 2002. Igualmente, se faz importante ressaltar o
avanço em relação ao superávit primário, que proporcionou uma maior
concentração de reservas no país, possibilitando que a dívida externa
fosse liquidada à metade, que até o período em questão se firmava como
o equivalente a 63% das exportações (LUNA, KLEIN, 2016).
Em oito anos de governo, Lula conseguiu que a economia
crescesse anualmente 4% (OLIVEIRA, 2019). De acordo com o Instituto
Brasileiro de Economia (IBRE) entre os anos de 2003 e 2008 a taxa de
desemprego diminuiu exponencialmente, os comércios foram alavancados
e a indústria se expandiu.
Em janeiro de 2011, Dilma Rousseff tornou-se a primeira
presidente mulher no Brasil, porém, alvo de um golpe machista firmado
pelas raízes do patriarcado, ou não, sofreu o processo de impeachment em
seu segundo mandato. Entretanto, o seu governo foi marcado pela queda
significativa do PIB do país, que se retraiu ao valor de 8,1%, marcando
um extenso período de recessão econômica (OLIVEIRA, 2019).
Entre os anos de 2011 e 2016, Dilma aumentou gradativamente
a taxa de juros, do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), sobre
as operações que aquisição de crédito pessoal e buscou conter os gatos
públicos, todavia, porém, sem estagnar os gastos decorrentes das políticas

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públicas. O crescimento econômico regressou com o passar dos anos,
enquanto em 2012 a economia apresentou crescimento de 0,9%, em
2014 esse percentual foi de apenas 0,1% (LUNA, KLEIN, 2016). De
acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ao
final do governo em questão, a taxa de desemprego cresceu um percentual
de aproximadamente 3%, encontrando-se em 8,20%, levando em
consideração o fato de que ao final da Era Lula a alíquota em questão era
de 5,30%. Ademais, é importante ressaltar que ao assumir o governo,
a inflação anual registrada em janeiro de 2011 era de 5,99%, porém,
ao deixar o cargo, em agosto de 2016, a mesma encontrava-se 8,97%
(INFLATION, [20--]).
Após o processo de impeachment, Michel Temer, vice-presidente
de Dilma Rousseff, tomou posse da presidência em 31 de agosto de 2016,
com o discurso que buscaria promover a volta do crescimento econômico
no país, entretanto, os resultados foram à saída da recessão rumo à
estagnação econômica, com um crescimento médio de 1% ao ano entre
o período de 2017 a 2019 (OLIVEIRA, 2019). O desemprego cresceu
exponencialmente, enquanto encontrava-se em 6,8% em 2014, menos de
três anos depois, posicionou-se em 12,7% (GOMES, 2018).
De acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional, a dívida
pública do Brasil alcançou o valor de R$3877 trilhões de reais ao fim
do ano de 2018, tendo aumentado cerca de 8,9% em relação ao ano de
2017 (MÁXIMO, 2019), percebendo-se a partir dos dados em questão,
o grande impacto gerado pela breve Era Temer. Não obstante, o governo
retratado foi marcado por diversas denúncias de corrupção que retornaram
com o sentimento de insegurança quanto ao futuro do país.

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248
Covid-19 e seu impacto econômico
Quando Jair Messias Bolsonaro assume o cargo da presidência
do Brasil, em janeiro de 2019, depara-se com um país com grande
contraste econômico. A inflação do ano anterior havia fechado com a
média de 3,66%, todavia, após o fim do primeiro ano de governo do atual
Presidente, a inflação anual encontrava-se em 3,74% (INFLATION, [20-
-]), reafirmando que as políticas econômicas colocadas em práticas até
o momento em questão adquiriram resultados significativos, ao manter
estável, em relação ao governo anterior, a taxa de inflação.
Não é possível, porém, realizar uma análise concreta do governo
de Bolsonaro como um todo, tendo em vista que o mesmo encontra-se,
atualmente, no segundo ano de seu mandato, e não obstante, deparou-
se frente ao obstáculo de uma pandemia mundial, onde é perceptível a
rápida disseminação do vírus Covid-19 no primeiro semestre do ano de
2020.
Tendo em vista que o Estado exerce o papel de regulamentar
o funcionamento do mercado, corrigindo as deturpações que surgirem
(ALBERGONI, 2015), se faz possível analisar as medidas tomadas pelo
Presidente da República mediante ao enfrentamento de emergência da
saúde pública, inclusive estabelecida através da Medida Provisória n°
926/2020, na Lei 13.979, de 06 de fevereiro de 2020.
Não é confidencial a grande quantidade de dinheiro público
utilizada pelo Governo Federal com intuito de fornecer uma melhor
infraestrutura institucional para atender os pacientes com suspeita de
Coronavírus, realizando diversos investimentos na área da saúde, dentre
eles pode-se citar, a disponibilização de 424.154.750,00 (quatrocentos
e vinte e quatro milhões, cento e cinquenta e quatro mil e setecentos e
cinquenta reais) para os Estados e Distrito Federal, sendo regulamentado
pela Portaria nº 395, de 16 de Março e devendo ser destinados ao
custeamento das ações de saúde que tenham relação com a prevenção e

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 249


enfrentamento do vírus em questão.
Não obstante, houve uma evidente flexibilização no tocante
ao modo de quitação dos impostos, haja vista que, de acordo com a
Secretária da Receita Federal, houve uma prorrogação de seis meses
para o adimplemento dos tributos referentes ao Simples Nacional das
empresas e Microempreendedores Individuais (MEI) (MARTELLO,
2020). Conjuntamente, se faz importante ressaltar o auxílio de R$600,00,
fornecido, inicialmente, por um período de três meses aos trabalhadores
autônomos, informais e de pequenos comércios, regulamentado pela
Lei 13.982 de 02 de abril de 2020. Visando manter estável a situação
econômica brasileira, ante o atual cenário, o Presidente Jair Bolsonaro
posicionou-se perante o descumprimento da meta fiscal proposta para o
ano de 2020, decisão essa que recebeu aprovação do Congresso Nacional,
através do Decreto Legislativo n° 06, de 2020.
Grande parte das medidas adotadas pelo atual governo trata-se
de decisões primordiais para alcançar o controle do Coronavírus, onde
é dada preferência à saúde e bem-estar dos cidadãos, que mesmo diante
dessas situações, não está deixando a população desamparada, fornecendo
auxílios e subsídios. Em curto prazo, essas medidas serão positivas, visto
que com a maioria da população em casa e apenas os serviços essenciais
funcionando, o modo de transmissão do Covid-19 torna-se relativamente
menor, ocasionando mais proteção aos indivíduos do grupo de risco.
Porém, certo é que, em longo prazo essas medidas gerarão um grande
abalo econômico, pois, principalmente com o descumprimento da meta
fiscal proposta para o presente ano, o governo gastará ainda mais dinheiro
público, devendo ser futuramente reposto, e com esse dever de reposição,
sobrará uma quantidade ainda menor de reserva para sanar a dívida
externa e para o investimento interno nas demais áreas.
A decisão do fornecimento do auxílio emergencial possui pontos
positivos e negativos, que serão analisados a seguir. Primeiramente, trata-

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


250
se de um ato válido, haja vista que com os comércios, que não compõem
o âmbito de serviços essenciais, fechados, os comerciantes em questão
terão a sua renda interrompida, com isso passariam a não consumir
como anteriormente, acarretando na diminuição da demanda, porém,
essa medida possibilita que os consumidores não parem de consumir,
permitindo que a economia continue a girar através da Lei de Oferta
e Demanda. Paralelamente, porém, esse valor é relativamente alto, se
levado em consideração o montante final, de acordo com a Instituição
Fiscal Independente (IFI), o auxílio emergencial fornecido pelo governo
federal, acarretará no gasto de aproximadamente R$154,4 bilhões de
reais (CASTRO, 2020), que poderiam ser destinados a investimentos nas
demais áreas que compõe a sociedade.
A atual expectativa é que ao final do ano de 2020, o Brasil encerre
com um déficit primário equivalente ao valor de R$419,2 bilhões de reais
(LARGHI, 2020), tendo em vista que o país não possui uma reserva no
valor do montante gasto para reduzir os impactos da pandemia. Um dos
meios para arrecadar todo o dinheiro utilizado para fazer os investimentos
trata-se da emissão de títulos públicos, através do Tesouro Direto, onde
os investidores, dentre eles pode-se citar os bancos, adquirem os ativos
em questão com o intuito de recebê-lo, no futuro, acrescentado de uma
taxa de juros, a taxa Selic. No cenário em questão, a União posiciona-se
como agente deficitário, possuindo uma dívida superior a sua receita, que
através dos títulos públicos realizam uma espécie de empréstimo com os
investidores, considerados agentes superavitários.
Uma segunda maneira de arrecadar tal quantia, já cogitada pelo
Ministro da Economia, Paulo Guedes, seria através da emissão de papel
moeda, porém, esse meio, muito provavelmente, levaria o país à inflação
devido à quantidade de moeda em circulação, que contrariaria a Teoria
Quantitativa da Moeda, que afirma que a quantidade da mesma que
circula em uma economia deve ser equivalente à quantidade de serviços
ou produtos disponíveis para aquisição (ALBERGONI, 2015).

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 251


Com o desequilíbrio causado entre a quantidade de moeda em
circulação e os produtos e serviços disponíveis, ocasionaria uma alta
na demanda, tendo em vista que os consumidores teriam acesso a uma
quantia de moeda manual, seja através do auxílio emergencial ou outro
meio, e as empresas, porém, teriam dificuldades em aumentar o ritmo de
produção em curto prazo, principalmente no atual período de quarentena
em que as atividades encontram-se reduzidas, restando como única saída
o aumento desenfreado dos preços.
O PIB do Brasil em 2019 cresceu apenas 1,1% (NERY, 2020), um
percentual relativamente baixo, levando em consideração a alavancagem
da economia durante o período Lula, que havia despertado em grande
parte dos cidadãos um sentimento de esperança para com a pátria. O
mês de abril de 2020 constatou uma inflação negativa de -0,31%, e em
perspectiva anual, um percentual de 2,40% (INFLATION, [20--]). Vale
destacar que, quando a inflação mensal apresenta-se negativa, embora gere
resultados positivos aos consumidores, que poderão consumir produtos
com preços abaixo da média, em contrapartida, pode gerar, em longo
prazo, resultados negativos à economia, tendo em vista que, de acordo
com o economista Guilherme Santos Mello, professor da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), esse fenômeno traz ao produtor a visão
de que não há demanda suficiente para o seu produto, causando então,
uma reação em cadeia, pois com a baixa da produção as empresas não
contratam e muitas das vezes demitem, fazendo com que o desemprego
aumente, influenciando para que a demanda diminua ainda mais, tendo
em vista que os indivíduos desempregados não terão renda para consumir,
acarretando então, em uma baixa de preços ainda maior.
De acordo com o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto
Almeida, a deficiência nas contas públicas brasileiras poderá alcançar o
valor de R$700 bilhões em 2020, e se adicionado à queda do Produto
Interno Bruto poderá fazer com que a dívida pública seja superior a 90%
do PIB (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2020). Segundo estimativa

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252
do Fundo Monetário Internacional (FMI), a retração desse indicador
econômico poderá chegar a 5,3% sendo o maior declínio desde 1990, no
governo de Collor, quando a redução chegou a 4,35% (LINDER, 2020).
O Brasil encontra-se em um contexto histórico cujas bases
políticas e econômicas apresentam-se fortemente abaladas, devido a
atual crise sanitária e o desequilíbrio presente dentro do próprio governo,
que pode ser percebido por meio das incessantes trocas de ministros,
escândalos envolvendo o Presidente Jair Bolsonaro e possíveis crimes
de responsabilidade praticados pelo mesmo, além do constante conflito
instaurado entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo. Ademais, é
importante ressaltar, que em 2020, o real foi a moeda que mais sofreu
com a desvalorização, perdendo aproximadamente 30% de seu valor
(LINDER, 2020), gerando então, grande temor, considerando de acordo
com diversas projeções, que caso o país adentre em crise, será a maior
recessão econômica brasileira, em um cenário cuja moeda estará fraca
e a taxas de juros e inflação alcançarão níveis exorbitantes, causando
grande decadência e regresso em relação aos poucos avanços alcançados
no decorrer dos anos.

Rescisão e revisão contratual


Tendo o primeiro caso registrado ao final do ano de 2019, o vírus
Covid-19 disseminou-se rapidamente em proporção global, chegando ao
Brasil em fevereiro de 2020 e em menos de quatro meses apresentava
número de mortes superior a mil em 24h devido à contaminação pelo
mesmo (SANAR, 2020). Mediante a pandemia sanitária presenciada, o
Governo Federal, por meio do Decreto Legislativo n° 6/2020, estabeleceu
o estado de calamidade pública até o dia 31 de dezembro do atual ano,
permitindo, dentre outras medidas, que a meta fiscal fosse excedida
para o devido enfrentamento do empecilho em questão. Fato é que, o
atual cenário vivenciado ocasionará diversas adaptações nas relações

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 253


trabalhistas e até mesmo a rescisão contratual, o que, evidentemente, já
está ocorrendo, entretanto, visando assegurar os direitos do trabalhador,
assim como do empregador, foi expedido a Medida Provisória 927/2020
e a Medida Provisória 936/2020.
A pandemia gerada pelo Coronavírus, influenciando na
determinação de isolamento social e quarentena, pode ser caracterizada,
de acordo com o parágrafo único do art. 393, do Código Civil de 2002,
um caso fortuito ou de força maior, ou seja, um evento imprevisível e
inevitável. Com a deliberação do afastamento social, diversos comércios
pararam de funcionar, mantendo apenas aqueles cujo serviço era essencial,
com isso, há uma significativa contração na produção e comercialização
de produtos e bens vistos como supérfluos e dispensáveis, fazendo com
que a receita de diversas empresas fosse restringida, sendo necessário o
corte de gastos, seja através revisão contratual, nos moldes do art. 421-A,
III, do Código Civil de 2002, ou em casos mais graves, a sua rescisão.
Através da Medida Provisória 927, de 22 de março de 2020, houve
a permissão de flexibilização contratual, fornecendo alternativas que
podem ser seguidas pelos empregadores de modo a preservar o emprego
e renda do funcionário diante do estado de calamidade pública. Uma das
medidas trata-se da possibilidade da antecipação de férias individuais, ou
concessão de férias coletivas, e o fato positivo dessa ação está relacionado
à redução de gastos com energia, água e demais despesas da empresa
decorrente do uso do imóvel, além de possibilitar um descanso prévio
enquanto a demanda por determinados produtos encontra-se baixa ou
inexistente, para no futuro, poder atender com o êxito o retorno da alta da
demanda, além de o empregador poder realizar a liquidação do adicional
de um terço das férias após a sua concessão.
Similarmente, outra possibilidade que merece atenção, trata-se do
teletrabalho, regulamentado pela Medida Provisória n° 927/2020, onde
de acordo com o art. 4°, o empregador poderá notificar o empregado, em

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254
um prazo mínimo de 48 horas, que o seu trabalho será realizado em sua
residência, como meio de impedir a proliferação do Covid-19. Entretanto,
vale destacar que caso adotado o regime de home office, o patrão pode
deixar de fornecer o vale transporte ao funcionário (GLOBO, 2020),
durante o período remoto, tendo em vista que não haverá deslocamento.
Ainda com intuito de resguardar o empregado, garantindo a sua
renda, e reduzir o impacto social decorrente da pandemia do Covid-19,
foi instituído, através da Medida Provisória 936, de 01 de abril de 2020,
o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda.
O planejamento em questão assegura os trabalhadores que têm a sua
jornada de trabalho e salário reduzidos, na mesma proporção, e os que,
temporariamente, têm os contratos de trabalhos suspensos.
O benefício emergencial, citado anteriormente, é pago ao
trabalhador em um prazo máximo de trinta dias, contados desde o início
da redução ou suspensão de contrato, todavia, porém, o empregador tem
um prazo máximo de dez dias, contados desde o acordo, para esclarecer
ao Ministério da Economia a medida adotada, onde a quantia a ser paga
será calculada através do valor mensal do seguro desemprego.
É importante ressaltar que, em casos extremos, vários setores
optam por rescindir o contrato de trabalho, seja pela necessidade de cortar
gastos ou até mesmo devido à extinção da loja ou empresa, e essa opção
é totalmente válida, pois o empregador usufrui do direito potestativo em
questão, porém, é necessário que seja realizado o pagamento das verbas
rescisórias e seguro-desemprego.
Em abril de 2020, o número de empresas que restringiram
a contratação de novos empregados gerou 860.503 vagas a menos no
mercado de trabalho. Ao todo, desde o início do ano, mais de cinco
mil vagas de empregos formais foram encerradas (GOUVEIA, 2020),
outrossim, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD), realizado pelo IBGE, o número de brasileiros desempregados

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 255


chega aos 12.900 milhões no primeiro semestre de 2020 (IBGE, 2020),
esse número torna-se preocupante, devido ao fato do desemprego atingir
diretamente a economia do país, influenciando na baixa demanda por
certos bens, que, consequentemente, acarreta na desaceleração da
produção, ocasionando ainda mais desemprego devido ao corte de gastos.
Levando em consideração que a Medida Provisória n° 927/2020
atinge diretamente o empregador e o empregado no que tange ao
direito potestativo e aos direitos trabalhistas, possibilitando uma revisão
contratual com o intuito de zelar pelo serviço, faturamento e a existência
do próprio comércio ou empresa, torna-se de extrema notabilidade a
análise de alguns pontos referentes às medidas permitidas no art. 3° da
Medida em questão.
Primeiramente, é preciso ter conhecimento que o art. 3° da
Medida Provisória n° 927/2020 traz consigo, em seus oito incisos,
medidas que podem ser adotadas pelo empregador frente ao empregado,
que são o teletrabalho, antecipação das férias individuais, concessão de
férias coletivas, antecipação dos feriados, banco de horas, suspensão
de exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho,
direcionamento do trabalhador para qualificação e, por fim, o diferimento
do recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS.
Dentre das possibilidades citadas anteriormente, é preciso erguer
algumas ponderações. Os patrões poderão, de acordo com o art. 4°,
§4°, inciso I, oferecer mediante regime de comodato os equipamentos
necessários para os empregadores que não o possuem, executarem o
seu devido trabalho, porém, é importante ressaltar que, de acordo com
o §3° desse mesmo artigo, caso o trabalhador tenha arcado com os
equipamentos necessários para garantir o cumprimento de seu trabalho,
deve ser reembolsado, com acordo com escrito, em um prazo máximo de
trinta dias contados desde o início do teletrabalho.
Em relação às férias, de acordo com os arts. 8° e 9°, respectivamente,

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256
da Medida Provisória em questão, os empregadores passaram a gozar do
direito de pagarem o adicional de um terço das férias concedidas durante
o estado de calamidade pública até a data de gratificação natalina, ou
seja, até o dia 20 de dezembro do presente ano, nos moldes do art. 1°
da Lei 4749, de 12 de agosto de 1965, além de terem a possibilidade de
realizar o pagamento das férias até o 5° dia útil subsequente à concessão
da mesma.
Por fim, em relação ao adendo do banco de horas, é preciso frisar
que de acordo como art. 14 dessa Medida Provisória, caso as atividades
da empresa venham a ser paralisadas no decorrer do estado de calamidade
pública, para que não ocorra a onerosidade excessiva do empregador,
tipificada nos arts. 478 e 479 do Código Civil de 2002, ao mesmo tempo
em que também não prejudique o empregado retirando o seu salário, o
trabalhador passará a dever horas ao seu patrão na proporção do tempo
que ficar sem trabalhar. O pagamento das horas deverá ser feito em um
prazo máximo de dezoito meses contados desde o fim da calamidade
pública, não devendo ultrapassar duas horas diárias.

Considerações finais
Em virtude dos dados trazidos foi possível perceber que durante os
trinta e cinco anos desde o fim da Ditadura Militar no Brasil a economia
se manteve instável em quase todos os governos presidenciais. O período
militar sustentou-se no país por quase vinte e um anos, causando grande
terror, suprimindo direitos e gerando desigualdades sociais, soterrando,
por fim, o Brasil em uma grave crise econômica, deixando como heranças
apenas grandes dívidas públicas e o sentimento de uma nação devastada.
Anteriormente à posse de Itamar Franco a inflação alcançava
níveis exorbitantes, fazendo com que os preços das mercadorias
fossem reestabelecido diversas vezes ao dia, gerando grande desespero
populacional e descredibilizando o país internacionalmente. Dentre todos

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os planos econômicos que visavam estabilizar a situação econômica do
Brasil, apenas um surgiu real efeito positivo, o chamado Plano Real,
instituído em 1993, no governo de Itamar, fazendo com que pouco tempo
após a sua implementação a inflação reduzisse exponencialmente.
Todavia, porém, embora durante os dois mandatos presidenciais
de Luiz Inácio Lula da Silva, a inflação anual tenha reduzido e a economia
tenha crescido significativamente, após a posse de Dilma Rousseff a
economia novamente entra em declínio, com regresso do crescimento
econômico e altas taxas de desemprego, após o seu impeachment, em seu
segundo mandato, a administração não foi diferente. Com Michel Temer
o país teve, novamente, grave aumento da inflação, as dívidas públicas se
elevaram e o Brasil deparou-se frente à estagnação econômica.
Mais uma vez a economia brasileira se vê ameaçada, dessa vez ante
a proliferação do vírus Covid-19, causando grande distorção econômica,
que aliada à crise política vivenciada, retorna com o sentimento de
incerteza e segurança no cidadão. Várias medidas estão sendo colocadas
em práticas pelo Governo Federal, visando assegurar a população, ao
mesmo tempo em que visa diminuir os impactos econômicos, certo é que
os subsídios, auxílios e investimentos, em curto prazo serão benéficos,
porém trarão graves consequências em longo prazo, e associado à rescisão
de vários contratos fará com que o consumo seja diminuído devido à
baixa demanda causada pelo desemprego, atingindo gravemente o cenário
econômico, que aliado à grande desvalorização do real poderá acarretar a
maior recessão econômica do Brasil.

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Referências
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queda de preços pode ser preocupante? Uol, São Paulo, 09 out, 2019.
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sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública
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nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, para dispor sobre parâmetros
adicionais de caracterização da situação de vulnerabilidade social para fins
de elegibilidade ao benefício de prestação continuada (BPC), e estabelece

T E MAS ATUA I S DE DI REI TO DI A NTE DE UM A REALIDADE M UN DIAL.


260
medidas excepcionais de proteção social a serem adotadas durante o
período de enfrentamento da emergência de saúde pública de importância
internacional decorrente do coronavírus (Covid-19) responsável pelo
surto de 2019, a que se refere a Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020.
Brasília, DF: Presidência da República, 2020. Disponível em: <http://
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2020, e da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do coronavírus (covid-19), e dá outras providências. Diário
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sobre medidas trabalhistas complementares para enfrentamento do estado
de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20
de março de 2020, e da emergência de saúde pública de importância

T E M AS AT UA I S D E DI REI TO DI A NTE DE UMA REA L I DADE M UNDIAL. 261


internacional decorrente do coronavírus (covid-19), de que trata a Lei
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Vade Mecum Saraiva. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva
com a colaboração de Livia Céspedes e Fabiana Dias da Rocha. 29a. ed.
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