Texto baseado em aulas da disciplina Direito Penal II lecionada pela professora Luciana Telles
Machado da Silva da UFMG
A culpabilidade deve recair sobre o fato individual e não sobre uma conduta de vida
individual (culpabilidade de caráter ou de autor).
Operando com a idéia de “livre-arbítrio”, Hans Welzel analisou o tema por três
critérios:
1) ANTROPOLÓGICO – Ele afirmou que o homem tem seu espírito vinculado aos
princípios da verdade, do sentido e do valor, e, conforme tais valores, deve dirigir-se
por meio de atos responsáveis. Isto o separaria do mundo animal.
2) CARACTERIOLÓGICO – Ele admitiu a possibilidade do controle dos impulsos
pelo próprio indivíduo.
3) CATEGORIAL – Ele entendeu que a possibilidade de o homem ter o domínio de
seus impulsos por meio de uma direção orientada no sentido - direção esta que pode
fazê-lo responsável pela falta de autodeterminação conforme ao sentido -, assenta-se
na “liberdade de vontade”.
Franz Von Liszt reduziu a ação a um processo causal provocado por um impulso
voluntário. E definiu a CULPABILIDADE como “a responsabilidade do autor pelo
ilícito que realizou”, como a “relação subjetiva entre o autor e o fato”. Essa relação
subjetiva, PSICOLÓGICA, nomeou a teoria.
Von Liszt sustentava um conteúdo material para a culpabilidade que residia “no
caráter associal do autor, cognoscível pelo ato praticado (conduta anti-social).”
Ernest Von Beling complementou tal teoria com sua Teoria do Tipo (1906). Ele que
desenvolveu o conceito de tipicidade. O tipo Belinguiano, porém, tem um caráter
meramente descritivo-objetivo, a mera descrição do aspecto externo da conduta, “por
sua simplicidade e facilidade de manejo na prática jurídica, teve forte poder de atração e
grande influência sobre juristas, juízes e advogados” (Francisco de Assis Toledo,
Princípios básicos).
Para Frank: “o estado normal das circunstâncias em que o autor atua” é elemento da
culpabilidade.
Mezger foi o grande difusor da Teoria Normativa nos países latinos, por ter seu
tratado traduzido para o espanhol.
Se alguém agisse com vontade e previsão, mas sem a consciência da ilicitude de sua
conduta, teria agido sem dolo e sem culpabilidade.
É fruto da doutrina finalista da ação, criada por Welzel e seguida por Maurach,
Kaufmann, Stratenwerth, Niese, Cerezo Mir e outros.
1º grau ) Responsabilidade pelo fato - desaprovação que surge da idéia de que o agente
se comportou “pior” do que os demais teriam se comportado.
Por este fundamento, poder-se-ia aplicar medida de segurança ao inimputável.
Crítica: A medida de segurança se fundamenta na periculosidade e não na
desaprovação.
Liga-se ao conceito social da ação, que procurou ser uma via intermediária entre o
causalismo e o finalismo.
Eb. Schimidt definiu ação como “uma conduta arbitrária para com o mundo social
externo”.
Apesar de ser posterior ao finalismo, essa corrente não teve muita acolhida,
inclusive no Brasil.
CRÍTICAS:
Por mais que Roxin seja claramente contra o Direito Penal Simbólico e
propugne a subsidiariedade do Direito Penal, críticos como Alessandro Baratta,
acreditam que possa ocorrer um reforço à concepção simbólica do delito e da pena e
que esta construção teórica apresenta vocação conservadora inclinada a legitimar o
status quo, em função de critérios de política criminal empregados.
Estas duas últimas, de matriz funcionalista, permitem sua constatação, mas não
importam automática e objetivamente necessidade de reprovação. Haveria que se
verificar a tolerância social em relação a elas. Aliás, o funcionalismo não se
preocupa com a responsabilidade pessoal, mas com o bom funcionamento do sistema.
I) IMPUTABILIDADE
II) POTENCIAL CONHECIMENTO DA ILICITUDE
III) EXIGIBILIDADA DE CONDUTA DIVERSA
I) IMPUTABILIDADE
Exemplo: art.64 do Código Penal Francês de 1810: “Não há crime nem delito,
quando o agente estiver em estado de demência ao tempo da ação”.
O Código do Império (1830), no Brasil, acolheu esse sistema: “ art.10 – Também não se
julgarão criminosos: § 2 – Os loucos de todo gênero, salvo se tiverem lucidos (sic)
intervallos e nelles comettem o crime”.
MENORIDADE
O menor poderá praticar ato infracional análogo à conduta descrita como crime ou
contravenção penal (art. 103 da Lei 8069/90). Ele poderá se sujeitar a medidas de
proteção (art. 98 e 101 do ECA) se criança ou adolescente, ou a medidas sócio-
educativas (art. 102 do ECA), se adolescente.
A jurisprudência fala que apesar de a lei ter trazido apenas prazos mínimos (1 a 3
anos), os princípios da legalidade e igualdade impõem que a medida de segurança só
dure até o máximo de pena aplicada e substituída. Pela letra da lei, o prazo máximo de
cumprimento, também neste caso, seria indeterminado. No sentido da jurisprudência
dominante, que entende haver prazo máximo para o cumprimento dessa medida de
segurança que substituiu a pena em caso de culpabilidade diminuída, posiciona-se Luiz
Flávio Gomes (“Duração das Medidas de Segurança”). Contudo, há decisões também
em sentido contrário (de que não há prazo máximo de duração), mas são minoritárias.
A embriaguez por CASO FORTUITO (beber sem querer, por exemplo) ou FORÇA
MAIOR (ser obrigado a beber, por exemplo) tratadas no art. 28,§ 1º e § 2º do CP excluirá a
imputabilidade se for COMPLETA, determinando que o agente, no momento da ação ou
omissão, torne-se inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
Nelson Hungria via uma “vontade residual” no agente embriagado (um resíduo de
consciência e vontade que não lhe eliminaria a imputabilidade). No mesmo sentido,
Edmund Mezger, Giulio Battaglini.
Zaffaroni e Francisco de Assis Toledo consideram que deveria haver apenas punição
a título de culpa, se houver previsão legal disso, sob pena de haver responsabilidade penal
objetiva.
Basileu Garcia, Heleno Cláudio Fragoso, Alberto silva Franco, José Henrique
Pierangelli, Luiz Regis Prado, Damásio de Jesus entendem ser caso de responsabilidade
penal objetiva, incompatível com o princípio da culpabilidade.
Por ficção jurídica, presume-se (iuris tantum) que a lei é conhecida de todos.
ERRO DE PROIBIÇÃO
“ERRO DE DIREITO” e “ERRO DE FATO” são conceitos antigos que devem ser
abandonados, por não contemplarem situações como a falsa idéia sobre os limites da
legítima defesa.
O art. 21, parágrafo único do CP prevê que “considera-se evitável [pois houve um
dever de informar-se que foi descumprido] o erro se o agente atua ou se omite sem
consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir
essa consciência”. → ERRO DE PROIBIÇÃO.
O tratamento penal ao ERRO foi disputado por várias teorias que buscaram
discerni-lo e fundamentar seus efeitos práticos.
Mezger, na sua última fase, aderiu a essa corrente, acrescentando um tipo auxiliar de
“culpa jurídica”, pela falta de informação jurídica do autor ou pela relevância jurídica da
“cegueira jurídica” ou “inimizade ao Direito”. Mesmo se não se pudesse demonstrar o
potencial conhecimento da antijuridicidade por parte do criminoso habitual, por sua
indiferença aos valores do ordenamento jurídico, deveria ser punido por crime doloso.
Identificava-se a culpa, mas se punia como se fosse doloso o crime.
São duas:
Considera que o erro sobre a ilicitude do fato é SEMPRE erro de proibição. Desse
modo, o erro sobre as causas de justificação – DESCRIMINANTES PUTATIVAS – é erro
de proibição e exclui a culpabilidade se for inevitável.
Os efeitos do erro, com essa nova estrutura, dependerão do seu objeto. Se o erro
incidir sobre o ELEMENTO INTELECTUAL DO DOLO, o excluirá, chamando-se ERRO
DE TIPO, por recair sobre um dos elementos constitutivos do tipo penal. O dolo viciado
não atinge corretamente todos os elementos do tipo.
Como o Código Penal Alemão de 1871 não tratava das descriminantes putativas,
mas sim apenas do erro de fato, Merkel e Frank criaram a TEORIA DOS ELEMENTOS
NEGATIVOS DO TIPO, para subsumí-las (as descriminantes putativas) ao artigo que
tratava de erro de fato, objetivando o mesmo tratamento.
Jescheck critica esta teoria, afirmando ser muito improvável que, no momento
da ação, o autor pense na ausência de causas de justificação.
O erro de tipo permissivo não exclui o dolo do tipo incriminador, mas afasta a
culpabilidade dolosa, se for evitável, e igualmente a culposa, se for inevitável.
O erro de tipo permissivo evitável não produz crime culposo. O erro culposo é
distinto do crime culposo. No primeiro, o resultado é querido, não tendo sua
antijuridicidade sido captada com atenção. No crime culposo, o resultado nunca é
querido, decorrendo da imprevisão de sua ocorrência previsível ou de sua não evitação,
apesar de crer firmemente que o resultado não ocorreria (culpa consciente). Apenas se
adota uma cominação penal do tipo culposo (Jescheck).
No ERRO DE TIPO, importa que o objeto do erro faça parte da estrutura do tipo
penal (elementos descritivos e normativos).
Exemplo: alguém se apodera de coisa alheia, que erroneamente, considera sua (não
sabe que subtrai coisa alheia).
Exemplo: alguém acredita ter o direito de fazer justiça pela próprias mãos e se
apodera de coisa alheia.
Exemplo: Crê que seu dever não existe se houver risco pessoal (sendo que o
garantidor tem que enfrentar o risco pessoal), ou que depois de terminado plantão
médico, seu dever acabou → ERRO DE PROIBIÇÃO.
Uma outra questão interessante versando sobre erro de proibição é :O erro sobre os
elementos normativos do tipo seriam erros de tipo ou de proibição?
Há três orientações:
1.ª) seriam erros do tipo porque estão no tipo (Sanzo Brodt, Jair Leonardo Lopes).
2.ª) Roxin, Jescheck → varia conforme o caso. Em um tipo penal que contivesse o
elemento normativo “sem justa causa”, o agente pode sequer desconfiar que “não há justa
causa”, quando haveria erro de tipo, ou acreditar firme mas equivocadamente que “há justa
causa”.
A coação deverá ser moral (vis compulsiva) e não física (vis absoluta), a qual
importaria a própria falta de dolo (conduta). Não há, no caso de coação física, qualquer
escolha sobre a prática da conduta. Já na coação moral, há sempre uma escolha, difícil, mas
há uma escolha.
Exemplo de vis absoluta: coloca-se, à força, o dedo do coagido no gatilho de uma
arma de fogo, faz-se o movimento de disparo, puxando–lhe o dedo para trás e, com isso,
causa-se a morte a vítima. Não houve qualquer escolha do coagido.
Exemplo de vis compulsiva: alguém é obrigado a matar alguém, caso contrário, seu
filho será morto. Há um espaço de escolha mínimo, mas há. Diferencia-se do estado de
necessidade, já que, aqui, a coação é feita por uma pessoa, e não se trata, portanto, de
perigo. Para ser estado de necessidade o perigo teria que ser atual ou iminente. Aqui, o
mal grave e injusto prometido ao coagido só poderia ocorrer no futuro e poderia nem
ocorrer (não há iminência, nem atualidade). É diferente, também, da legítima defesa, em
que a reação se dirige contra o agressor.
No caso de coação resistível, o fato é típico, ilícito e culpável, mas poderá ser
aplicada a atenuante do art. 65, III, alínea c da 1ª parte do Código Penal.
II - Obediência Hierárquica
→ Deve haver uma relação de direito público (e não privado). Exemplo: Líder
religioso e seus fiéis.
→ A ordem não pode ser manifestamente ilegal, devendo ser apenas ilegal.
→ O cumpridor da ordem deve se ater aos limites da ordem, caso contrário haverá
excesso, para Luiz Régis Prado, mesmo não havendo expressa previsão legal. Para a
maioria, cai a excludente e o agente responde pelo crime praticado, sem a consideração do
excesso.
Só será punível o autor (autor mediato) da ordem (superior hierárquico), salvo
quando a ordem for manifestamente ilegal, quando responde também o inferior hierárquico,
podendo incidir a atenuante do art. 65, III, alínea c, CP.
1) TEORIA UNITÁRIA
2) TEORIA DIFERENCIDORA
JUSTIFICANTE→ o bem que se quer preservar é de valor superior àquele contra o qual se
dirige a conduta do agente. Nosso Código Penal só admitiu essa modalidade de estado de
necessidade.
Jescheck e Wessels (admite apenas em situações excepcionais) são contra tais causas
supralegais.
Exemplo: Alguém que mata uma pessoa que já matou três e jurou que o mataria
futuramente.