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UNISANTA – FACULDADE DE ENGENHARIA INDUSTRIAL MECÂNICA 1

DISCIPLINA: 0457- TERMODINÂMICA APLICADA


NOTAS DE AULA
Prof. Antonio Santoro
AULA 01
Termodinâmica Aplicada
Referência:
1. Fundamentos de Termodinâmica – 6a. Edição
Van Wylen, Sonntag

1 - CONCEITOS FUNDAMENTAIS

1.1 - Sistema Termodinâmico

Sistema termodinâmico consiste em uma quantidade de matéria ou região para a qual nossa
atenção está voltada. Demarcamos um sistema termodinâmico em função daquilo que desejamos
calcular. Tudo que se situa fora do sistema termodinâmico é chamado MEIO ou VIZINHANÇA.

O sistema termodinâmico a ser estudado é demarcado através de uma FRONTEIRA ou


SUPERFÍCIE DE CONTROLE a qual pode ser móvel, fixa, real ou imaginária

Sistema Fechado - É o sistema termodinâmico no qual não há fluxo de massa através das
fronteiras que definem o sistema.

Volume de Controle - Ao contrário do sistema fechado, é o sistema termodinâmico no qual


ocorre fluxo de massa através da superfície de controle que definem o sistema.

Assim, dependendo da interação entre o sistema termodinâmico definido para estudo, e a


vizinhança, chamaremos a essa região de Sistema Fechado ( demarcado pela fronteira ) ou Vo-
lume de Controle ( demarcado pela superfície de controle) conforme se verifique as definições acima
citadas.

Exemplos de Sistema Fechado e Volume de Controle


A figura 1.1-1 é um sistema termodinâmico fechado, pois não há fluxo de massa através
das fronteiras do sistema, embora haja fluxo de calor.
A figura 1.1-2, por sua vez, constitui um volume de controle pois temos fluxo de massa atra-
vessando a superfície de controle do sistema.

Fig. 1.1-1 - Sistema fechado Fig. 1 .1-2 - Volume de controle


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Sistema Isolado - Dizemos que um sistema termodinâmico é isolado quando não existe qualquer in-
teração entre o sistema termodinâmico e a sua vizinhança, ou seja, através das fronteiras não ocorre
fluxo de calor, massa, trabalho etc. )

1.2 - Estado e Propriedades de uma Substância

Se considerarmos uma massa de água, reconhecemos que ela pode existir sob várias formas.
Se ela é inicialmente líquida pode-se tornar vapor após aquecida ou sólida quando resfriada. Assim
nos referimos às diferentes fases de uma substância: uma fase é definida como uma quantidade de
matéria totalmente homogênea; quando mais de uma fase está presente, as fases se acham separa-
das entre si por meio dos contornos das fases. Em cada fase a substância pode existir a várias pres-
sões e temperaturas ou, usando a terminologia da termodinâmica, em vários estados. O estado pode
ser identificado ou descrito por certas propriedades macroscópicas observáveis; algumas das mais
familiares são: temperatura, pressão, volume específico, etc. Cada uma das propriedades de uma
substância num dado estado tem somente um valor definido e essa propriedade tem sempre o
mesmo valor para um dado estado, independente da forma pela qual a substância chegou a ele. De
fato, uma propriedade pode ser definida como uma quantidade que depende do estado do sistema e
é independente do caminho (isto é, da história) pelo qual o sistema chegou ao estado considerado.
Inversamente, o estado é especificado ou descrito pelas propriedades.

Propriedades Termodinâmicas - As propriedades termodinâmicas podem ser divididas em


duas classes gerais, as intensivas e as extensivas.

Propriedade Extensiva - Chamamos de propriedade extensiva àquela que depende do ta-


manho (extensão) do sistema e/ou volume de controle. Assim, se subdividirmos um sistema em
várias partes (reais ou imaginárias) e se o valor de uma dada propriedade for igual à soma das pro-
priedades das partes, esta é uma variável extensiva. Por exemplo: Volume, Massa, etc.

Propriedade Intensiva - Ao contrário da propriedade extensiva, a propriedade intensiva, in-


depende do tamanho do sistema. Exemplo: Temperatura, Pressão etc.

Propriedade Específica - Uma propriedade específica de uma dada substância é obtida divi-
dindo-se uma propriedade extensiva pela massa da respectiva substância contida no sistema. Uma
propriedade específica é também uma propriedade intensiva do sistema. Exemplo de propriedade
específica:
V
Volume específico , v, v
m
U
Energia Interna específica, u, u
m

onde: m é a massa do sistema, V o respectivo volume e U é a energia interna total do sistema.


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1.3 - Mudança de Estado de um Sistema Termodinâmico

Quando qualquer propriedade do sistema é alterada, por exemplo; Pressão, Temperatura,


Massa, Volume, etc. dizemos que houve uma mudança de estado no sistema termodinâmico.

Processo - O caminho definido pela sucessão de estados através dos quais o sistema passa
é chamado processo.

Exemplos de processos:

- Processo Isobárico ( pressão constante )


- Processo Isotérmico ( temperatura constante )
- Processo Isocórico ( isométrico ) ( volume constante )
- Processo Isoentálpico ( entalpia constante )
- Processo Isoentrópico ( entropia constante )
- Processo Adiabático ( sem transferencia de calor )

Ciclo Termodinâmico - Quando um sistema ( substância ) , em um dado estado inicial, passa


por certo número de mudança de estados ou processos e finalmente retorna ao estado inicial, o sis-
tema executa um ciclo termodinâmico.
Deve ser feita uma distinção entre ciclo termodinâmico, descrito acima, e um ciclo mecâni-
co. Um motor de combustão interna de quatro tempos executa um ciclo mecânico a cada duas ro-
tações. Entretanto o fluido de trabalho não percorreu um ciclo termodinâmico dentro do motor,
uma vez que o ar e o combustível são queimados e transformados nos produtos de combustão, que
são descarregados para a atmosfera.

1.4 - Lei Zero da Termodinâmica

Quando dois corpos tem a mesma temperatura dizemos que estão em equilibrio térmico
entre si. Podemos definir a lei zero da termodinâmica como:

" Se dois corpos estão em equilibrio térmico com um terceiro eles estão em equilibrio tér-
mico entre si ".

A lei zero da termodinâmica define os medidores de temperatura, os TERMÔMETROS.

1.5 - Escalas de Temperatura

Para a maior parte das pessoas a temperatura é um conceito intuitivo baseado nas sensações
de "quente" e "frio" proveniente do tato. De acordo com a segunda lei da termodinâmica, a tempe-
ratura está relacionada com o calor ficando estabelecido que este, na ausência de outros efeitos, flui
do corpo de temperatura mais alta para o de temperatura mais baixa espontaneamente.
O funcionamento dos termômetros está baseada na lei zero da termodinâmica pois são co-
locados em contato com um corpo ou fluido do qual se deseja conhecer a temperatura até que este
entre em equilíbrio térmico com o respectivo corpo. A escala do aparelho foi construída comparan-
do-a com um termômetro padrão ou com pontos físicos fixos de determinadas substâncias.
Quatro escalas de temperatura são hoje usadas para se referir à temperatura, duas escalas
absolutas e duas escalas relativas; são elas respectivamente: Escala KELVIN ( K ) e RANKINE ( OR) e
escala Celsius ( OC) e Fahrenheit (OF). A Fig, 1.5-1 mostra as quatro escalas de temperatura e a rela-
ção entre elas.
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Figura 1.5-1 - As escalas de temperatura e sua correspondência

Tipos de Termômetros

- Termômetro de Mercúrio em vidro (expansão volumétrica)


- Termômetro de Alcool em vidro (expansão volumétrica)
- Termômetro de Par Bimetálico ( dilatação linear diferenciada )
- Termômetro de Termistores (variação da resistividade)
- Termômetro de Gás Perfeito (expansão volumétrica)
- Termômetro de Termopar (força eletromotriz)
- Pirômetro Ótico (cor da chama)
- etc.
Exemplo 1.5-1

Escreva a relação entre graus Celsius ( oC ) e Fahrenheit ( oF )

Solução - Considere-se a escala dos dois Termômetros, Celsius


e Fahrenheit como mostrado na figura

Interpolando linearmente as escalas entre a referência de gelo fun-


dente e a referência de vaporização da água temos:

O
C  0 O F  32 5
 
O
C  ( O F  32)
100  0 212  32 9
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1.6 - Pressão

Pressão, uma propriedade termodinâmica, é definida como sendo a relação entre uma força
e a área normal onde está sendo aplicada a força. A Fig. 1.6-1 ilustra a definição dada pela equação
1.6 -1

lim  FN
P ( 1.6 -1 )
A 
 A A
i

Figura 1.6-1 - Definição de Pressão

Escalas de Pressão

PRESSÃO TOTAL
Manômetro
PRESSÃO ATMOSFÉRICA

Manômetro de Vácuo

Barômetro
ZERO ABSOLUTO

Unidades de Pressão

N
Pascal, Pa = ,
m2
kgf
Quilograma - força por metro quadrado, =
m2
lbf lbf
Psig = , ( manométrica) Psia = ( absoluta )
in 2 in 2
bar = 105 Pascal

As pressões abaixo da pressão atmosférica e ligeiramente acima e as diferenças de pressão


(como por exemplo, ao longo de um tubo, medidas através de um orifício calibrado ) são obtidas fre-
quentemente com um manômetro em U que contém como fluido manométrico: água, mercúrio, Al-
cool, etc. como mostra a Fig. 1.6-2
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Figura 1.6-2 manômetro em U usado junto com um orifício calibrado

Pelos princípios da hidrostática podemos concluir que, para uma diferença de nível, L em
metros, em um manômetro em U, a diferença de pressão em Pascal é dada pela relação :
P   gL
onde g é a aceleração da gravidade,  é a densidade do fluido manométrico e L é a altura da coluna
de líquido.

OBS.
A pressão atmosférica padrão é definida como a pressão produzida por uma coluna de mer-
cúrio exatamente igual a 760 mm sendo a densidade do mercúrio de 13,5951 gm / cm 3 sob a acele-
ração da gravidade padrão de 9,8067 m / s2

uma atmosfera padrão = 760 mmHg = 14,6959 lbf / in2

Exemplo 1.6-1

Em uma análise para se obter o balanço térmico de um motor diesel é necessário medir-se a
vazão de ar admitido pelo motor. Um orifício calibrado é montado em uma caixa de entrada junto
com um manômetro em U na admissão do motor, como mostrado, esquematicamente na figura. A

vazão mássica do fluido escoando, m , está relacionada, em um orifício calibrado, pela seguinte ex-

pressão, m  A C D 2 P , onde P é a diferença de pressão no manômetro em U , em Pascal,
A é a área do orifício calibrado, em metros quadra-
dos, CD é o coeficiente de descarga do orifício, cujo
valor particular, para este caso é 0,59,  é a densi-
dade do fluido em escoamento. Determinar a va-
zão de ar para os dados mostrados na figura. (Con-
sidere a aceleração gravitacional local igual a 9,81
m/s2 , a densidade do ar como sendo,  = 1,2 kg/m3
e a densidade da água do manômetro igual a 1000
kg/m3 )

Solução

- Calculo da diferença de Pressão indicada no manômetro em, U


da teoria temos;
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P   g L  1000  9,81  0,260  2550,6 Pa

- Calculo da área do orifício calibrado. Dos dados da figura, temos

 d 2 314159
,  (0,045) 2
A   0,00159 m 2
4 4
- A vazão em massa de ar admitida pelo motor diesel, pela expressão será

 kg
m AR  0,00159  0,59 2  1,2  2.550,6  0,0734
s

Exercícios

1-1)- Um manômetro montado em um recipiente indica uma pressão de 1,25 MPa e um


barômetro local indica 96 kPa. Determinar a pressão interna absoluta do recipiente em: a) MPa ,
b) kgf / cm2, c) Psia e d) em milímetros de coluna de mercúrio.
OBS.: Adote para o mercúrio a densidade de 13,6 gm/cm3

1-2)- Um termômetro, de liquido em vidro, indica uma temperatura de 30 oC. Determine a


respectiva temperatura nas seguintes escalas: a) em graus Fahrenheit ( oF ) , b) em graus Rankine (
o
R ) e c) em Kelvin ( K ).

1-3)- Um manômetro contém um fluido com densidade de 816 kg/m3. A diferença de altu-
ra entre as duas colunas é 50 cm. Que diferença de pressão é indicada em kgf/cm2? Qual seria a
diferença de altura se a mesma diferencia de pressão fosse medida por um manômetro contendo
mercúrio ( adote densidade do mercúrio de 13,60 gm/cm3 )

1-4)- Um manômetro de mercúrio, usado para medir um vácuo, registra 731 mm Hg e o ba-
rômetro local registra 750 mm Hg. Determinar a pressão em kgf/cm 2 e em microns.

1-5)- O macaco hidráulico de uma oficina de automóveis tem um diâmetro de saída de 30 cm


e serve para levantar automóveis de até 2000 kg. Determine a pressão manométrica que deve ser
mantida no reservatório.
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2 - PROPRIEDADES DE UMA SUBSTÂNCIA PURA

2.1 - Substância Pura


Substância pura é aquela que tem composição química invariável e homogênea. Pode existir
em mais de uma fase, mas a sua composição química é a mesma em todas as fases. Assim água lí-
quida e vapor d'água ou uma mistura de gelo e água líquida são todas substância puras, pois cada fa-
se tem a mesma composição química. Por outro lado uma mistura de ar líquido e gasoso não é uma
substância pura, pois a composição química da fase líquida é diferente daquela da fase gasosa.
Neste trabalho daremos ênfase àquelas substâncias que podem ser chamadas de substância
simples compressíveis. Por isso entendemos que efeitos de superfície, magnéticos e elétricos, não
são significativos quando se trata com essas substâncias.
Equilíbrio de Fase Líquido - Vapor - Considere-se como sistema 1 kg de água contida no
conjunto êmbolo-cilindro como mostra a figura 2.1-1. Suponha que o peso do êmbolo e a pressão
atmosférica local mantenham a pressão do sistema em 1,014 bar e que a temperatura inicial da á-
gua seja de 15 OC. À medida que se transfere calor para a água a temperatura aumenta considera-
velmente e o volume específico aumenta ligeiramente (Fig. 2.1-1b ) enquanto a pressão permanece
constante.

Figura 2.1-1 - Representação da terminologia usada para uma substância pura à pressão, P e tempe-
ratura, T, onde Tsat é a temperatura de saturação na pressão de saturação, P.
Quando a água atinge 100 OC uma transferência adicional de calor implica em uma mudança
de fase como mostrado na Fig. 2.1-1b para a Fig. 2.1-1c, isto é, uma parte do líquido torna-se vapor
e, durante este processo a pressão permanecendo constante, a temperatura também permanecerá
constante nas a quantidade de vapor gerada aumenta consideravelmente ( aumentado o volume es-
pecífico ), como mostra a Fig. 2.1-1c. Quando a última porção de líquido tiver vaporizado (Fig. 2.1-
1d) uma adicional transferência de calor resulta em um aumento da temperatura e do volume espe-
cífico como mostrado na Fig. 2.1-1e e Fig. 2.1-1f

Temperatura de saturação - O termo designa a temperatura na qual se dá a vaporização de


uma substância pura a uma dada pressão. Essa pressão é chamada “pressão de saturação” para a
temperatura dada. Assim, para a água (estamos usando como exemplo a água para facilitar o enten-
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dimento da definição dada acima) a 100 oC, a pressão de saturação é de 1,014 bar, e para a água a
1,014 bar de pressão, a temperatura de saturação é de 100 oC. Para uma substância pura há uma re-
lação definida entre a pressão de saturação e a temperatura de saturação correspondente.
Líquido Saturado - Se uma substância se encontra como líquido à temperatura e pressão de
saturação diz-se que ela está no estado de líquido saturado, Fig.2.1-1b.
Líquido Subresfriado - Se a temperatura do líquido é menor que a temperatura de saturação
para a pressão existente, o líquido é chamado de líquido sub-resfriado ( significa que a temperatura
é mais baixa que a temperatura de saturação para a pressão dada), ou líquido comprimido, Fig. 2.1-
1a, (significando ser a pressão maior que a pressão de saturação para a temperatura dada).

Título ( x ) - Quando uma substância se encontra parte líquida e parte vapor, vapor úmido,
Fig. 2.1-1c, a relação entre a massa de vapor pela massa total, isto é, massa de líquido mais a massa
de vapor, é chamada título. Matematicamente:
mv mv
x  ( 2.1-1)
ml  mv mt
Vapor Saturado - Se uma substância se encontra completamente como vapor na temperatu-
ra de saturação, é chamada “vapor saturado”, Fig. 2.1-1d, e neste caso o título é igual a 1 ou 100%
pois a massa total (mt) é igual à massa de vapor (mv ), (freqüentemente usa-se o termo “vapor satu-
rado seco”)

Vapor Superaquecido - Quando o vapor está a uma temperatura maior que a temperatura
de saturação é chamado “vapor superaquecido” Fig. 2.1-1e. A pressão e a temperatura do vapor su-
peraquecido são propriedades independentes, e neste caso, a temperatura pode ser aumentada pa-
ra uma pressão constante. Em verdade, as substâncias que chamamos de gases são vapores altamen-
te superaquecidos.
A Fig. 2.1-1 retrata a terminologia que acabamos de definir para os diversos estados termo-
dinâmicos em que se pode encontrar uma substância pura.

Considerações importantes
1) Durante a mudança de fase de líquido-vapor à pressão constante, a temperatura se man-
tém constante; observamos assim a formação de patamares de mudança de fase em um diagrama
de propriedades no plano T x V ou P x V, como mostrado na Fig. 2.2-1. Quanto maior a pressão na
qual ocorre a mudança de Fase líquido-vapor maior será a temperatura.
2) A linha de líquido saturado é levemente inclinada em relação à vertical pelo efeito da dila-
tação volumétrica ( quanto maior a temperatura maior o volume ocupado pelo líquido), enquanto a
linha de vapor saturado é fortemente inclinada em sentido contrário devido à compressibilidade do
vapor. A Fig. 2.2-1b mostra o diagrama P -V no qual é fácil visualizar as linhas de temperatura cons-
tante e o ponto de inflexão da isoterma crítica
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Figura 2.2-1 diagrama T x V e Diagrama P x V

3) Aumentando-se a pressão observa-se no diagrama que as linhas de líquido saturado e va-


por saturado se encontram. O ponto de encontra dessas duas linhas define o chamado "Ponto Críti-
co". Pressões mais elevadas que a pressão do ponto crítico resultam em mudança de fase de líquido
para vapor superaquecido sem a formação de vapor úmido.

4) Como exemplo, o ponto crítico para a água, é:


Pcrítica = 22,09 MPa
Tcrítica = 374,14 OC
Vcritico = 0,003155 m3 / kg

Ponto Triplo - Corresponde ao estado no qual as três fases ( sólido, líquido e gasosa ) se en-
contram em equilíbrio. A Fig. 2.3-1 mostra o diagrama de fases (P x T) para a água. Para outras
substância o formato do diagrama é o mesmo.
Uma substância na fase vapor com pressão acima da pressão do ponto triplo muda de fase (
torna-se líquido ) ao ser resfriada até a temperatura correspondente na curva de pressão de vapor.
Resfriando o sistema ainda mais será atingida uma temperatura na qual o líquido irá se solidificar. Es-
te processo está indicada pela linha horizontal 123 na Fig. 2.3-1.

Para uma substância na fase sólida com pres-


são abaixo da pressão do ponto triplo ao ser aquecida
observe que, mantendo a pressão constante, será a-
tingida uma temperatura na qual ela passa da fase sóli-
da diretamente para a fase vapor, sem passar pela fase
líquida, como mostrado na Fig. 2.3-1 no processo
45.
Como exemplo a pressão e a temperatura do
ponto triplo para a água corresponde a 0,6113 kPa e
0,01 OC respectivamente.

Figura 2.3-1 Diagrama de fases para a


água ( sem escala )

2.2 - Propriedades Independentes das Substâncias Puras


Uma propriedade de uma substância é qualquer característica observável dessa substância.
Um número suficiente de propriedades termodinâmicas independentes constituem uma definição
completa do estado da substância.
As propriedades termodinâmicas mais comuns são: temperatura (T), pressão (P), e volume
específico ( v ) ou massa específica (  ). Alem destas propriedades termodinâmicas mais familiares, e
que são diretamente mensuráveis , existem outras propriedades termodinâmicas fundamentais u-
sadas na análise de transferência de calor, trabalho, energia, não mensuráveis diretamente, que
são: energia interna específica ( u ), entalpia específica ( h ) e entropia específica ( s ).

Energia Interna ( U ) - é a energia possuída pela matéria devido ao movimento e/ou forças
intermoleculares. Esta forma de energia pode ser decomposta em duas partes:
a - Energia cinética interna, a qual é devida à velocidade das moléculas e,
b - Energia potencial interna, a qual é devida às forças de atração que existem entre as molé-
culas. As mudanças na velocidade das moléculas são identificadas macroscopicamente pela alteração
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da temperatura da substância ( sistema), enquanto que as variações na posição são identificadas pela
mudança de fase da substância (sólido, liquido ou vapor )

Entalpia ( H ) - na análise térmica de alguns processos específicos, freqüentemente encon-


tramos certas combinações de propriedades termodinâmicas. Uma dessas combinações ocorre
quando temos um processo a pressão constante, resultando sempre uma combinação (U + PV). As-
sim considerou-se conveniente definir uma nova propriedade termodinâmica chamada “ENTALPIA”,
representada pela letra H, matematicamente;

H=U+PV (2.2-1)

ou a entalpia específica,

h=u+P (2.2-2)

Entropia ( S ) - Esta propriedade termodinâmica representa, segundo alguns autores, uma


medida da desordem molecular da substância ou, segundo outros, a medida da probabilidade de
ocorrência de um dado estado da substância. Matematicamente a definição de entropia é

  Q (2.2-3)
dS   
 T  reversivel

2.3 - Equações de Estado


Equação de estado de uma substância pura é uma relação matemática que correlaciona
pressão temperatura e volume específico para um sistema em equilíbrio termodinâmico. De uma
maneira geral podemos expressar de forma genérica essa relação na forma da Eq. (2.3-1)

f( P, v, T ) = 0 ( 2.3 -1 )

Existem inúmeras equações de estado, muitas delas desenvolvidas para relacionar as propri-
edades termodinâmicas para uma única substância , outras mais genéricas, por vezes bastante com-
plexas, com objetivo de relacionar as propriedades termodinâmicas de várias substâncias.
Uma das equações de estado mais conhecida e mais simples é aquela que relaciona as pro-
priedades termodinâmicas de pressão, volume específico e temperatura absoluta do gás ideal, que
é;
_
PT (2.3-2)
_
onde P, é a pressão absoluta ( manométrica + barométrica ),  , o volume molar específico, em
m3/kmol, a constante universal, que vale,  = 8,314 kJ/kmol-K, e T a temperatura absoluta, em
Kelvin. A Eq. (2.3-2) pode ser escrita de várias outras formas. Uma forma interessante é escreve-la
usando o volume específico e a constante particular do gás, como na Eq. (2.3-3)

P  RT (2.3-3)
onde  , é o volume específico do gás, em m /kg e R é a constante particular do gás. O valor de
3

R está relacionado à constante universal dos gases pela massa molecular da substância ( M ). Isto é:

R (2.3-4)
M
Como sabemos, a Eq. (2.3-2 ) ou (2.3-3) só representa satisfatoriamente gases reais a bai-
xas pressões. Para gases reais a pressões um pouco mais elevadas e gases poliatômicos os resultados
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obtidos com a equação do gás ideal não é satisfatório, sendo necessário, para gás real, lançar mão
de equações mais elaboradas.

Exemplo 2.3-1

Considere o ar atmosférico como um gás ideal e determine o volume


específico e a densidade para a pressão atmosférica padrão na temperatura de
20 oC. ( adote a massa molecular do ar = 28,97 kg/kmol ,  = 8 314 J/ kmol-K )

Solução

Para a hipótese de gás ideal temos:


RT
P v  RT  v
P
A constante particular do gás é dada por:
 8314 J
R  R  Ra r  287
M 28,97 kg  K
logo, o volume específico será
,  20)
287 . (27315 m3
a) v  0,8303
101325 kg
A densidade é o inverso do volume específico, assim;
1 1 kg
b)    1,204
v 0,8303 m3

Exemplo 2.3-2
Um tanque cilíndrico vertical contém 4,0 kg de monóxido de carbono gás à
temperatura de -50 OC. O diâmetro interno do tanque é, D=0,2 m e o com-
primento, L=1,0 m. Determinar a pressão, em bar, exercida pelo gás usando:
o modelo de gás ideal
solução
Conhecemos: Tanque cilíndrico de dimensões conhecidas contendo 4,0 kg de monóxido de car-
bono, CO, a - 50 OC

Determinar: A pressão exercida pelo gás


Hipóteses:
1) Como mostrado na figura ao lado o
gá é adotado como sistema fechado
2) O sistema está em equilíbrio termodinâmico

Análise:
O volume molar específico do gás é necessário nos três modelos
requeridos, assim

 d2L 3,14159 .(0,2)2 .1


V   0,0314 m3
4 4
o volume molar específico será:
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_ 0,0314 m3 m3
  M  M( V m)  28( kmol )( )( kg )  0,2198
kg

4,0 kmol

A equação de estado para o gás ideal resulta

_ T (8314)( 50  27315


, ) bar
PT  P  _  ( 5 )  84,41 bar
 0,2198 10 Pa

Exercícios

2-1) - Determine o Volume molar de um gás ideal nas condições normais de temperatura e
pressão ( as condições normais de temperatura e pressão, CNTP, são 0 OC e 101325 Pascal, respec-
tivamente)

2-2) - Calcule a constante particular dos gases para o Oxigênio, Nitrogênio e para o ar seco.

2-3) - Um balão esférico tem raio de 3m. A pressão atmosférica local é de 1,0 kgf/cm 2 e a
temperatura é de 25 OC.
a) Calcular a massa e o numero de mols ( ou kmols ) de ar que o balão desloca
b) Se o balão estiver cheio com Hélio ( He) com pressão de 1,0 kgf/cm 2 e a temperatura for
O
de 25 C, qual o número de mols ( ou kmols) e a massa de hélio?

2-4) - Uma quantidade de ar está contida num cilindro vertical equipado com um êmbolo
sem atrito, como mostrado na figura. A área seccional interna do cilindro é de 450 cm 2 e o ar está
inicialmente a 2,0 kgf/cm2 de pressão e temperatura de 430 OC. O ar é então resfriado como resul-
tado da transferência de calor para o meio ambiente. (adote o ar como
gás ideal )
a) Qual a temperatura do ar no interior do cilindro quando o êm-
bolo atinge os limitadores, em OC
b) Se o resfriamento prosseguir até a temperatura atingir 21 OC
qual será a pressão no interior do cilindro.

2-5) - Considere 10 kg de vapor de água à temperatura de 400 OC no interior de um vaso de


pressão cujo volume é de 1,512 m3. Determine a pressão exercida pelo vapor nestas condições.
Compare os resultados com dados da tabela de propriedades superaquecidas para o vapor
de água.
2.4 - Tabelas de Propriedades Termodinâmicas

Existem tabelas de propriedades termodinâmicas para todos as substâncias de interesse em


engenharia. Essas tabelas são obtidas através das equações de estado, do tipo mostrado anterior-
mente. As tabelas de propriedades termodinâmicas estão divididas em três categorias de tabelas,
uma que relaciona as propriedades do líquido comprimido (ou líquido subresfriado), outra que rela-
ciona as propriedades de saturação (líquido saturado e vapor saturado) e as tabelas de vapor supe-
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raquecido. Em todas as tabelas as propriedades estão tabeladas em função da temperatura ou pres-
são e em função de ambas como pode ser visto nas tabelas a seguir. Para a região de liqui-
do+vapor, conhecido o título, x, as propriedades devem ser determinadas através das seguintes e-
quações:

u = uL + x( uv - uL ) (2.4-1)

h = hL + x( hv - h L ) (2.4-2)

v = vL + x( vv - vL ) (2.4-3)

s = sL + x( sv - sL ) (2.4-4)

As tabelas de (2.4-1) até (2.4-12) são exemplos de tabelas de propriedades termodinâmi-


cas de líquido comprimido, saturadas e superaquecidas de qualquer substância. Observe nessas ta-
belas que para condições de saturação basta conhecer apenas uma propriedade para obter as de-
mais, que pode ser temperatura ou pressão, propriedades diretamente mensuráveis. Para as condi-
ções de vapor superaquecido e líquido comprimido é necessário conhecer duas propriedades para
ser obter as demais. Nas tabelas de propriedades saturadas, aqui apresentadas, pode-se observar
que para temperatura de 0,0 oC e líquido saturado ( x = 0 ), o valor numérico de entalpia ( h ) é igual a
100,00 kcal/kg para os refrigerantes R-12, R-22, e R-717, sendo igual a 200,00 kJ/kg para o R-
134a, e a entropia (S), vale 1,000 para todas as tabelas dadas independente das unidades usadas.
Estes valores são adotados arbitrariamente como valores de referência e os demais valores de en-
talpia ( h) e entropia (S), são calculados em relação a esses valores de referência. Outros autores po-
dem construir tabelas dos mesmos refrigerantes com referências diferentes.
Assim, o valor numérico da entalpia ( h ), e entropia ( S ) em diferentes tabelas podem apre-
sentar valores completamente diferentes para o mesmo estado termodinâmico, sem contudo, modi-
ficar os resultados de nossas análises térmicas, bastando para tanto que se utilize dados de entalpia
e entropia de uma mesma tabela, ou de tabelas que tenham a mesma referência. Para dados retira-
dos de duas ou mais tabelas com referências diferentes estes devem ser devidamente corrigidos pa-
ra uma única referência.

Exemplo 2.4-1

a) Determine o volume específico, a energia interna específica, a entalpia


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específica, e a entropia específica para líquido e vapor saturado da água na
pressão de saturação de 2,5 MPa.
b) Determine o volume específico, a entalpia específica e a entropia es-
pecífica para a água com pressão de 10 bar e temperatura de 300 OC.

Solução
a) Água Saturada

Da tabela de propriedades da água saturada para P = 25 bar


temos a correspondente temperatura de saturação, T = 224 OC

As demais propriedades são:

Vl = 0,001973 m3/kg, VV = 0,0800 m3/kg


hl = 962,11 kJ/kg, hV = 2803,1 kJ/kg
Ul = 959,11 kJ/kg UV = 2603,1 kJ/kg
Sl = 2,5547 kJ/kg-K SV = 6,2575 kJ/kg-K

b) Água na pressão de 10 bar e Temperatura de 300 OC

Da tabela de propriedades saturadas para P = 10 bar temos


T = 179,9 OC. Logo, a água a 300 OC está superaquecida.

Da tabela de propriedades da água superaquecida (2.4-2) temos

VV = 0,2579 m3/kg
hV = 3051,2 kJ/kg
SV = 7,1229 kJ/kg-K
Exemplo 2.4-2

Considere um sistema composto de 2 kg de água no estado líquido à


temperatura de 80 OC e pressão de 50 bar. Determine o volume específico
e a entalpia para o sistema.
a) através da tabela de propriedades comprimidas da água
b) através da tabela de propriedades saturadas da água
c) comente os desvios dos valores obtidos pelas duas formas.

Solução

a) Da tabela (2.4-3 ) de líquido comprimido para a água a 50 bar e


temperatura de 80 OC temos; ( observe que a temperatura de satu-
ração correspondente à pressão de 50 bar é de 263,99 OC )

V = 0,0010268 m3 /kg e h = 338,85 kJ/kg


b) Como podemos observar, a tabela disponível para propriedades saturadas,
não tem a temperatura de 80 OC sendo necessário fazermos interpolações
lineares, que resulta em:

V = 0,0010291 m3 / kg e h= 334,91 kJ /kg


C) Os desvios da tabela de líquido comprimido em relação à de saturação são:
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0,0010268  0,0010291
  x 100   0,22%
0,0010268

338,85  334,91
h  x 100  116%
,
338,85
Comentários:

Pelos resultados, observamos ser insignificantes os desvios dos valores das propriedades ob-
tidas pela tabela correta ( liquido comprimido ) e na forma aproximada, como líquido saturado na
temperatura em que se encontra a substância sem levar em conta a pressão.(a pressão de saturação
a 80 OC é de 0,4739 bar, bem inferior aos 50 bar do líquido comprimido )
Concluímos assim que, as propriedades de líquido comprimido são aproximadamente iguais
às de líquido saturado na mesma temperatura para substâncias que podem ser admitidas como in-
compressíveis.( para qualquer substância incompressível )
Exemplo 2.4-3

Considere um cilindro de volume interno igual a 0,14 m3, contendo 10 kg de refrigerante R-


134a. O cilindro é usado para fins de reposição de refrigerante em sistemas de refrigeração. Em um
dado dia a temperatura ambiente é de 26 OC. Admita que o refrigerante dentro do cilindro está em
equilíbrio térmico com o meio ambiente e determine a massa de refrigerante no estado líquido e no
estado vapor no interior do cilindro.

Solução:

Conhecemos: tanque cilíndrico de dimensões conhecidas contendo 10 kg


de refrigerante R-134a em equilíbrio térmico a 26 OC
determinar: massa no estado líquido e massa no estado vapor

2) O sistema está em equilíbrio termo-


dinâmico Hipótese: 1) O gás no inte-
rior do cilindro é o sistema termodi-
Análise: nâmico fechado
Se no interior do cilindro tivermos de
fato as duas fases: líqui-
do+vapor, então o sistema está na condição de vapor úmido
e podemos determinar o título, x, da mistura.

O volume específico da mistura, pela definição de volume específico é:

V 0,140 m 3 m3
   0,014
m 10,0 kg kg

da equação (2.4-3) , que relaciona volume específico com título temos;

(  l )
  l  x ( v  l )  x 
( v  l )
da tabela de propriedades saturadas para o refrigerante R-134a
obtemos os valores de volume específico do líquido e do valor, que valem:
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3 3
 l  0,0008 m kg  v  0,0300 m kg
substituindo na equação do título , obtemos;

0,0140  0,0008
x  x  0,452
0,0300  0,0008
mv
da definição de título, em que, x  , obtemos
mt

m v  0,452 x 10,0 kg  m v  4,52 kg de vapor

pela conservação de massa

mt  mv  ml  ml  mt  mv  m l  10,0  4,52  m l  5,48 kg

Exemplo 2.4-4

Determine a densidade da amônia para a temperatura de 150 °F e pressão de 20 psi. Consulte as ta-
belas necessárias. Dado: MNH3 = 17,03 g/g-mol.
RESPOSTA:
Nessas condições de temperatura e pressão, os gases podem ser considerados ideais e assim:

 = (P.M) / (  T)

Amônia (NH3):

A 150,0 °F e 20 psi:

TC 
5
TF  32  TC  5  150  32  65,6 o C
9 9

TK  TC  273,15  TK  338,7 K

101.325 Pa 1 atm
P  20 psi  20 psi    1,36 atm
14,7 psi 101.325 Pa
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g
1,36 atm  17,03
g - mol
 NH3   0,833 g/L  0,833 kg/m 3
atm.L
0,08206  338,7 K
g - mol.K

2.5 - Diagrama de Propriedades Termodinâmicas

As propriedades termodinâmicas de uma substância, além de serem apresentadas através de


tabelas, são também apresentadas na forma gráfica, chamados de diagramas de propriedades ter-
modinâmicas. Estes diagramas podem ter por ordenada e abcissa respectivamente T x  ( tempera-
tura versus volume específico), P x h ( pressão versus entalpia específica), T x s ( temperatura versus
entropia específica ) ou ainda h x s ( entalpia específica versus entropia específica) O mais conheci-
do desses diagramas é o diagrama h x s conhecido como diagrama de Mollier.
Uma das vantagem do uso destes diagramas de propriedades é que eles apresentam numa
só figura as propriedades de líquido comprimido, do vapor úmido e do vapor superaquecido como
está mostrado esquematicamente nas figuras 2.5-1, 2.5-2 e 2.5-3.

Figura 2.5 - 1 - Diagrama Temperatura versus Entropia Específica

Esses diagramas são úteis tanto como meio de apresentar a relação entre as propriedades
termodinâmicas como porque possibilitam a visualização dos processos que ocorrem em parte do
equipamento sob análise ou no todo.
As três regiões características dos diagramas estão assim divididas:

a) A região à esquerda da linha de liquido saturado ( x=0 ) é a região de líquido comprimido


ou líquido sub-resfriado ( aqui estão os dados referentes às tabelas de líquido comprimido )
b) A região compreendida entre a linha de vapor saturado ( x=1 ) e a linha de líquido satura-
do ( x=0) é a região de vapor úmido. Nesta região, em geral os diagramas apresentam linhas de título
constante como esquematizadas nas figuras.
c) A região à direita da linha de vapor saturado seco ( x=1) é a região de vapor superaqueci-
do. ( nesta região estão os dados contidos nas tabelas de vapor superaquecido )
Dado o efeito de visualização, é aconselhável, na análise dos problemas termodinâmicos, re-
presentar esquematicamente os processos em um diagrama, pois a solução torna-se clara. Assim, o
completo domínio destes diagramas é essencial para o estudo dos processos térmicos.
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Figura 2.5 - 2 - Diagrama Entalpia Específica versus Entropia Específica

Figura 2.5 - 3 - Diagrama Pressão versus Entalpia Específica

As figuras 2.5-4 e 2.5-5 a do conjunto de ábacos, são diagramas de Mollier para a água. Dia-
gramas mais completos e diagramas T x s para a água podem ser encontrados na bibliografia citada.
Para o estudo de sistemas de refrigeração é mais conveniente apresentar as propriedades em dia-
gramas que tenham como ordenada a pressão absoluta e como abcissa a entalpia específica. A figu-
ra 2.5-6 do conjunto de ábacos é o diagrama para o refrigerante R-12, a Figura 2.5-7 é o diagrama
para o refrigerante R-22, a figura 2.5-8 é o diagrama para o refrigerante R-134a e a figura 2.5-9 é o
diagrama P x h para a amônia, que pela classificação da ASHRAE ( American Society of Heating, Re-
frigerating, and Air-Conditioning Engineers. ) é o refrigerante R-717.

Exemplo 2.5-1

Vapor de água inicialmente a 4,0 MPa e 300 oC ( estado 1) está contido em um conjunto
êmbolo - cilindro. A água é então resfriada a volume constante até sua temperatura alcançar
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200 oC ( estado 2). A seguir a água é comprimida isotermicamente até um estado onde a
pressão é de 2,5 MPa ( estado 3).
a) Determine o volume específico nos estados 1, 2 e 3, em m 3 / kg e o título no estado 2
se o estado 2 for de vapor úmido.
b) Localize os estados 1, 2 e 3 e esquematize os processos em um diagrama T- v e P- v.

Solução: - Hipóteses:
- O vapor de água é o nosso sistema termodinâmico
- Em cada estado o sistema está em equilíbrio termodinâmico
Conhecido:
O estado inicial P= 40 bar e T= 300 oC e os processos subseqüentes

a-1) da tabela de vapor saturado para a água na pressão de 40 bar a correspondente tem-
peratura de saturação é 250,4 oC. Assim a água a 40 bar e 300 oC está superaquecida. Da tabela
de vapor superaquecido temos v1 = 0,05884 m3/kg

a-2) Para determinarmos o estado 2 temos o volume específico que é igual ao volume es-
pecífico do estado 1, v2 = 0,05884 m3 /kg e a temperatura de 200 oC

da tabela de vapor saturado, para a temperatura de 200 oC, a respectiva pressão de satura-
ção é 15,54 bar. O volume específico do líquido saturado é, por interpolação, v 2L = 0,0011565
m3/kg e do vapor saturado seco, v2v = 0,1274 m3/kg. Como o volume específico do estado 2 está
entre o volume específico do líquido e do vapor saturado, então inferimos que o estado 2 é de va-
por úmido. Nos dois diagramas, o processo de 1 2 é indicado através de uma linha vertical desde
o estado 1 até o estado 2 cuja temperatura é de 200 oC e a pressão de 15,54 bar, na região de va-
por úmido.
a-3) O estado 3 cuja pressão é de 25 bar a temperatura é a mesma do estado 2, 200 oC.
Como a pressão, 25 bar é maior que a pressão de saturação correspondente podemos facilmente
inferir do diagrama T x v que o estado é de líquido saturado. O processo de 2  3 está indicado
nas figuras do item b).
a-4) O volume do estado 1 e 2 são iguais, e seu valor lido da tabela de vapor superaqueci-
do, é 0,05884 m3/kg. O volume específico do estado 3 deve ser obtido em uma tabela de líquido
comprimido, cujo valor é, v3 = 0,0011555 m3/kg ou de forma aproximada, de uma tabela de satu-
ração na temperatura de 200 oC, independentemente da pressão de saturação correspondente, que
é v3 = 0,0011565 m3/kg.
a-5) O título no estado 2 é obtido usando as relações matemáticas entre título e volume
específico, como já mostrado anteriormente, assim:
v  v 2L 0,05884  0,0011565
x2  2   0,457 ou 45,7 %
v 2 v  v 2L 0,1274  0,0011565

b ) Representação dos estados e dos processos nos planos T x v e P x v


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Exemplo 2.5-2

Em um equipamento de refrigeração industrial, cujo fluido de trabalho é a amônia, (R-717) o


dispositivo de expansão ( válvula de expansão termostática) reduz a pressão do refrigerante de
15,850 kgf/cm2 e líquido saturado (estado1) para a pressão de 1,940 kgf/cm2 e título, X = 0,212 (es-
tado 2). Determinar:
a) O volume específico, a temperatura e a entalpia específica no estado 1 e 2
b) Representar o processo de expansão na válvula nos diagramas h-s e P-h
c) A que processo ideal mais se aproxima o processo de expansão na válvula de expansão
termostática (isocórico, isotérmico, isentrópico, isentálpico, isobárico)

Solução:

a-1) da tabela de saturação para a amônia obtemos as propriedades do


líquido saturado na pressão de 15,850 kgf/cm2 ( estado 1)

T1= 40 0C, V1= 0,0017257 m3/kg, h1=145,53 kcal/kg, S1=1,1539 kcal/kg-K

a-2) As propriedades do estado 2 devem ser determinadas utilizando-se a


definição de título. Assim, para a pressão de 1,940 kgf/cm2 as proprie-
dades de líquido e vapor saturado são: T = - 20 oC

V2 = V2L + X2 ( V2V - V2L); V2L = 0,0015037 m3/kg, V2V = 0,6237 m3/kg

V2 = 0,0015037 + 0,212 (0,6237 - 0,0015037)  V2 = 0,1334 m3/kg

h2 = h2L + X2 (h2V - h2L); h2L= 78,17 kcal/kg, h2V = 395,67 kcal/kg

h2 = 78,17 + 0,212 (395,67 - 78,17 )  h2 = 145,48 kcal/kg

S2 = S2L + X2 ( S2V - S2L); S2L = 0,9173 kcal/kg-k, S2V = 2,1717 kcal/kg-K

S2 = 0,9173 + 0,212 (2,1717 - 0,9173)  S2 = 1,1832 kcal/kg-K


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b) Representação do processo e dos estados termodinâmicos 1 e 2

c) O processo ideal mais próximo é o processo ISENTÁLPICO. ( em qualquer processo de es-


trangulamento o processo ideal é o processo a entalpia constate, o fluido neste caso é acelerado,
de forma que, o tempo de contato entre o fluido e a superfície envolvente é extremamente peque-
no não havendo tempo suficiente para a troca de calor, então, h1  h2 ).

Uma turbina a valor pode ser operada em condições Exemplo 2.5-3


de carga parcial estrangulando-se o vapor que entra na tur-
bina através de uma válvula. ( o processo de estrangulamento é um processo isentálpico) . As condi-
ções do vapor de água na linha de alimentação são P1=10 bar e T1=300 OC. O vapor deixa a turbina
com pressão, P3 = 0,1 bar. Como hipótese simplificadora adotemos que a
turbina é uma máquina adiabática reversível. (processo de expansão isen-
trópico). Pede-se indicar os processos em um diagrama h x S e obter os
dados de h, s, x, T, para:
a) Turbina operando a plena carga
b) Turbina operando em carga parcial com pressão saindo da
válvula de estrangulamento (V.R.P), P2 = 5,0 bar

SOLUÇÃO - Valores lidos do próprio diagrama de MOLLIER ,


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portanto, valores aproximados.

Continuação do Exemplo 2.5-3 - Solução através das tabelas de propriedades.

caso a) - Neste caso, turbina operando a plena carga, significa que a válvula
controladora na entrada da turbina não opera ( é o mesmo que não existir )
estado 1, P1 = 10 bar e T1 = 300 oC como já sabemos, da solução
anterior, este é um estado de vapor superaquecido, assim da tabela de
vapor superaquecido, obtemos;

h1 = 3051,2 kJ / kg v1 = 0,2579 m3 /kg S1 = 7,1229 kJ /kg-K

Estado 3

Processo isentrópico do estado 1 ao estado 3, então, S 3 = S1 = 7,1229 kJ/kg-K


(da solução anterior, também sabemos que o estado 3 é de vapor úmido
( se não tivéssemos a solução gráfica direta no diagrama de Mollier, teríamos
que verificar esta condição ! ) e pressão de P3 = 0,1 bar . Assim obtemos das
tabelas de saturação os valores para vapor saturado e para líquido saturado,
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e com a equação que relaciona título com as demais propriedades na região
de vapor úmido podemos calcular o título pois sabemos o valor da entropia.
Assim;
hls = 191,83 kJ/kg, hvs = 2584,7 kJ/kg,
3
vls = 0,0010102 m /kg, vvs = 14,674 m3/kg
Sls = 0,6493 kJ/kg-K, Svs = 8,1502 kJ/kg-K

S 3  S ls 7,1229  0,6493
S3 = Sls + X3( Svs - Sls )  X 3    0,863 ou 86,3%
S vs  S ls 8,1502  0,6494
logo:
h3= 191,83 + 0,863 (2584,7 - 191,83) = 2 256,9 kJ/kg
v3 = 0,0010102 + 0,863 (14,674 - 0,0010102) = 12, 664 m3/kg

caso b)

Aqui, antes de ocorrer a expansão na turbina, ocorre o estrangula-


mento na válvula controladora da pressão de 10 bar para 5 bar. Como
o processo é isentálpico, a entalpia do estado 2 é igual à entalpia do
estado 1, e como sabemos, o estado 2 é de vapor superaquecido.
da tabela de vapor superaquecido para P2 = 5,0 bar e h2 = 3 051,2 kJ/kg,
interpolando na tabela, obtemos:

T2 = 293,6 oC , v2 = 0,5164 m3 /kg, S2 = 7,4344 kJ/kg-K

O estado 3, como sabemos da solução anterior , é de vapor úmido, o


procedimento para se obter os dados é o mesmo do item a)
resultando: para P3 = 0,1 bar e S3 = S2

X3 = 90,46 %, h3 = 2356,35 kJ/kg, v3 = 13,2738 m3/kg


Obs.

Assim, concluímos que a solução gráfica é bem mais rápida e significativa

Exercícios

2-6) Em que fase se encontra a água, contida em um recipiente de paredes rígidas, em que a
temperatura é de 100 oC e a pressão é de a) 10 MPa, b) 20 kPa.
Obs.: Use a tabela de propriedades saturadas para inferir a resposta.
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2-7) Em um gerador de vapor industrial a água entra com pressão de 10 bar e temperatura
o
de 150 C ( estado 1). A água sai desse gerador após receber calor em um processo isobárico à tem-
peratura de 250 oC, (estado 2). Pede-se:
a) em que fase se encontram os estados 1 e 2 ?
b) Represente esquematicamente o processo de aquecimento da água nos seguintes diagra-
mas de propriedades:
b-1) Coordenadas h x s ( Entalpia versus Entropia )
b-2) Coordenadas T x s ( Temperatura versus Entropia)
b-3) Coordenadas P x h ( Pressão versus Entalpia

2-8 ) Um tanque, cujo volume é de 0,053 m3, contém freon 12, (R-12) a 40 oC. O volume ini-
cial de líquido no tanque é igual ao volume de vapor. Uma quantidade adicional de Freon - 12 é for-
çada para dentro do tanque até que a massa total dentro do tanque atinja 45 kg. Pede-se;
a) Qual o volume final de líquido no tanque admitindo-se que a temperatura seja de 40 oC?
b) Que quantidade de massa foi adicionada ao tanque?

2-9) Em uma geladeira domestica, o condensador, que é um trocador de calor de convecção


natural, ( fica atrás da geladeira) é projetado para que o refrigerante sai deste no estado de líquido
saturado. Em particular, em uma geladeira domestica cujo refrigerante é o R-134a 0 condensador
apresenta problemas e o refrigerante sai com pressão de 1682,76 kPa e título de 0,15. Determinar;
a) A temperatura e o volume específico do refrigerante neste estado.
b) Esquematizar o processo de resfriamento do refrigerante se este foi resfriado isobarica-
mente da temperatura de 90 oC até o estado final, em um diagrama P-h ( Pressão - Entalpia)

2-10) O compressor de um sistema frigorífico deve sempre aspirar vapor superaquecido. De-
terminar as propriedades termodinâmicas do R-22 quando a pressão de sucção for de 2,0 kgf/cm2 e
estiver superaquecido de 15 oC

2-11) Determine as propriedades termodinâmicas do R-12 à pressão de 10 kgf/cm2 e tempe-


ratura de 34 oC. Em que região se encontra a substância?
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3 - CALOR E TRABALHO
Trabalho e calor são a essência da termodinâmica. Assim é fundamental que o estudante
de termodinâmica entenda claramente as duas definições tendo em vista que a análise correta de
muitos problemas térmicos dependem da distinção entre elas.

3.1 - Trabalho
Podemos definir o trabalho termodinâmico como: "Um sistema realiza trabalho se o único
efeito sobre o meio (tudo externo ao sistema) PUDER SER o levantamento de um peso."
Note-se que o levantamento de um peso é realmente uma força que age através de uma
distância. Observe também que nossa definição não afirma que um peso foi realmente levantado ou
que uma força agiu realmente através de uma dada distância, mas que o único efeito externo ao sis-
tema poderia ser o levantamento de um peso.
O trabalho realizado por um sistema é considerado positivo e o trabalho realizado sobre o
sistema é negativo. O símbolo W designa o trabalho
termodinâmico.
Em geral falaremos de trabalho como uma forma
de energia. Vamos ilustrar a definição de trabalho fazendo
uso de dois exemplos. Considere como sistema a bateria e
o motor elétrico delimitados pela fronteira como mostra-
dos na figura 3.1-1a , e façamos com que o motor acione
um ventilador. A pergunta que segue é a seguinte: O tra-
balho atravessará a fronteira do sistema neste caso? Para
responder a essa pergunta usando a definição de trabalho
termodinâmico dada anteriormente vamos substituir o
ventilador por um conjunto de polia e peso como mostra
a figura 3.1-1b. Com a rotação do motor um peso pode
ser levantado e o único efeito no meio é tão somente o
levantamento de um peso. Assim para o nosso sistema
original da Fig. 3.1-1a concluímos que o trabalho atra-
vessa a fronteira do sistema.
Agora, façamos com que o nosso sistema seja
constituído somente pela bateria como mostra a figura
3.1-2. Neste caso quem cruza a fronteira do sistema é a
energia elétricas da bateria. Constitui trabalho termodi-
nâmico a energia elétrica cruzando a fronteira do siste-
ma?. Sem dúvida, como o conjunto é o mesmo do caso
anterior, poderá ocorrer o levantamento de um peso, en-
tão energia elétrica cruzando a fronteira do sistema tam-
bém constitui trabalho como definido anteriormente.

Unidades de Trabalho - Como já foi observado,


consideramos trabalho realizado por um sistema, tal como o realizado por um gás em expansão con-
tra um êmbolo, como positivo, e o trabalho realizado sobre o sistema, tal como o realizado por um
êmbolo ao comprimir um gás, como negativo. Assim, trabalho negativo significa que energia é a-
crescentada ao sistema.
Nossa definição de trabalho envolve o levantamento de um peso, isto é, o produto de uma
unidade de força ( Newton) agindo através de uma distância ( metro). Essa unidade de trabalho no
sistema Internacional é chamada de Joule, ( J ).
1 J = 1N.m

definimos POTÊNCIA como trabalho por unidade de tempo, e a representamos por W . Assim
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 w
W
dt
a unidade de potência é Joule por segundo, denominada Watt ( W )
J
1W=1
s
Trabalho Realizado Devido ao Movimento de Fronteira de um Sistema Compressível Sim-
ples num Processo Quase-Estático - Já observamos que há várias maneiras pelas quais o trabalho
pode ser realizado sobre ou por um sistema. Elas incluem o trabalho realizado por um eixo rotativo,
trabalho elétrico e o trabalho realizado devido ao movimento da fronteira do sistema, tal como o e-
fetuado pelo movimento do êmbolo num cilindro. Neste curso vamos considerar com alguns deta-
lhes o trabalho realizado pelo movimento da fronteira do sistema compressível simples durante um
processo quase-estático.
Consideremos como sistema o gás contido num cilindro com êmbolo, como mostrado na Fig
3.1-3. Vamos tirar um dos pequenos pesos do êmbolo provocando um movimento para cima deste,
de uma distância dx. Podemos considerar este pequeno deslocamento de um processo quase-
estático e calcular o trabalho, W, realizado pelo siste-
ma durante este processo. A força total sobre o êmbolo
é P. A, onde P é a pressão do gás e A é a área do êm-
bolo. Portanto o trabalho W é:
 W  P Adx ( 3.1-1)
Porém, da Fig. 3.1-3 verificamos que A dx = dv, a varia-
ção do volume do gás devido ao deslocamento, dx, do
êmbolo logo:
 W  PdV ( 3.1-2)
Esse estado está representado no diagrama P x V como mostra a figura.

Figura 3.1-3 - Exemplo de traba-


lho efetuado pelo movimento de fron-
teira de um sistema num processo qua-
se-estático
No fim do processo, o êmbolo está na posição 2 e o estado correspondente do sistema é
mostrado pelo ponto 2 no diagrama P x V. Vamos admitir que essa compressão seja um processo
quase-estático e que, durante o processo, o sistema passe através dos estados mostrados pela linha
que liga os pontos 1 e 2 do diagrama P x V. A hipótese de um processo quase-estático, aqui, é essen-
cial, porque cada ponto da linha 1-2 representa um estado de-
finido e estes estados corresponderão aos estados reais do
sistema somente se o desvio do equilíbrio for infinitesimal. O
trabalho realizado sobre o gás durante este processo de com-
pressão pode ser determinado pela integração da Eq. 3.1-2, re-
sultando:

W2    W   P dV
2 2
1 ( 3.1-
1 1
3)
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O símbolo 1W2 deve ser interpretado como o trabalho realizado durante o processo, do estado 1 ao
estado 2. Pelo exame do diagrama P x V, é evidente que o trabalho realizado durante esse processo
é representado pela área sob a curva 1-2, ou seja a área, a-1-2-b-a. Neste exemplo, o volume dimi-
nuiu e a área a-1-2-b-a representa o trabalho realizado sobre o sistema ( trabalho negativo). Se o
processo tivesse ocorrido do estado 2 ao estado 1, pelo mesmo caminho, a mesma área representa-
ria o trabalho realizado pelo sistema ( trabalho positivo ). Uma nova
consideração do diagrama P x V, Fig. 3.1-5, conduz a uma outra con-
clusão importante. É possível ir do estado 1 ao estado 2 por caminhos
quase-estáticos muito diferentes, tais como A, B ou C. Como a área
sob a curva representa o trabalho para cada processo é evidente que
o trabalho envolvido em cada caso é uma função não somente dos es-
tados iniciais e finais do processo, mas também, do caminho que se
percorre ao ir de um estado a outro.
Por esta razão, o trabalho é chamado de função de linha, ou
em linguagem matemática, W é uma diferencial inexata .
Na determinação da integral da Eq. 3.1-3 devemos sempre
lembrar que estamos interessados na determinação da área situada sob a curva da Fig. 3.1-4. Relati-
vamente a este aspecto, identificamos duas classes de problemas:

1- A relação entre P e V é dada em termos de dados experimentais ou na forma gráfica ( co-


mo, por exemplo, o traço em um osciloscópio ) Neste caso podemos determinar a integral da Eq.
3.1-3 por integração gráfica ou numérica.
2- A relação entre P e V é tal que seja possível ajustar uma relação analítica entre eles, e
podemos então, fazer diretamente a integração.

Um exemplo comum desse segundo tipo de relação é o caso de um processo chamado poli-
trópico, no qual P V  cons tan te , através de todo o processo. O expoente "n" pode tomar
n

qualquer valor entre -  e +  dependendo do processo particular sob análise.

cons tan te P1V1n P2 V2n


PV  cons tan te  P1V  P2 V
n
1
n n
2  P  
Vn Vn Vn

Para esse tipo de processo, podemos integrar a Eq. 3.1-3, resultando em:

dV V  n1 cons tan te 1 n


 PdV  cons tan te
2 2 2
 cons tan te ( )  ( V2  V11 n ) 
1 1 Vn  n 1 1 1 n

P2 V2n V21 n  P1V1n V11 n P2 V2  P1V1



2
 PdV  ( 3.1-4)
1 n 1 1 n

Note-se que este resultado, Eq. 3.1-4, é válido para qualquer valor do expoente n, exceto n = 1. No
caso onde n = 1, tem-se;

PV = Constante = P1V1 = P2V2 , e portanto,

dV V2
 PdV  P1V1 
2 2
 P1 V1 ln (3.1-5)
1 1 V V1
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Deve-se observar que nas Eqs. 3.1-4 e 3.1-5 não dissemos que o trabalho é igual às expres-
sões dadas por aquelas equações. Aquelas expressões fornecem o valor de uma certa integral, ou
seja, um resultado matemático. Considerar ou não, que aquela integral corresponde ao trabalho
num dado processo, depende do resultado de uma análise termodinâmica do processo. É importante
manter separado o resultado matemático da análise termodinâmica, pois há muitos casos em que o
trabalho não é dado pelas Eqs. 3.1-4 ou 3.1-5. O processo politrópico conforme já descrito , expõe
uma relação funcional especial entre P e V durante um processo. Há muitas relações possíveis, al-
gumas das quais serão examinadas nos problemas apresentados no final deste capítulo.

Exemplo 3.1-1

Considere como sistema o gás contido no cilindro mostrado na


figura, provido de um êmbolo sobre o qual são colocados vários pesos
pequenos. A pressão inicial é de 200 kPa e o volume inicial do gás é de
0,04 m3.

a) Coloquemos um bico de Bunsen embaixo do cilindro e deixe-


mos que o volume do gás aumente para 0,1 m 3 , enquanto a pressão
permanece constante. Calcular o trabalho realizado pelo sistema durante esse processo.
como a pressão, neste caso é constante, concluímos pela Eq. 3.1- 3;

W2  P  dV  P( V2  V1 )
2
1  1W2  200 kPa x ( 0,1  0,04) m 3  12,0 kJ
1

b) Consideremos o mesmo sistema e as mesmas condições iniciais e finais, porém, ao mesmo


tempo que o bico de Bunsen está sob o cilindro e o êmbolo se levanta, removamos os pesos deste, de
tal maneira que durante o processo a temperatura se mantém constante.
Se admitirmos que o gás se comporta como gás ideal, então da Eq. 2.3.3, obtemos:
PV = mRT

e notamos que este processo é politrópico com o expoente n = 1, pois a massa, m, do sistema é cons-
tante, R é a constante do gás e sendo T constante, mRT = constante. Da nossa análise anterior, con-
cluímos que o trabalho é dado pela Eq. 3.1-5, Portanto:

V2 0,1
W2   PdV  P1 V1 ln
2
1  200 kPa x 0,04 m 3 x ln  7,33 kJ
1 V1 0,04

c) Consideremos o mesmo sistema porém, durante a troca de calor removamos os pesos de


tal maneira que a expressão PV 1,3 = constante descreva a relação entre a pressão e o volume du-
rante o processo. Novamente o volume final é 0,1 m3. Calcular o trabalho.

Esse processo é politrópico , no qual n = 1,3. Analisando o processo, concluímos novamente


que o trabalho é dado pela Eq. 3.1- 4, assim:

V1 1,3 0,04 1,3


P2  P1 (
)  200( )  60,77 kPa
V2 0,1
P2 V2  P1 V1 60,77 x 0,1  200 x 0,04
1W2  1 PdV 
2
  6,41 kJ
1  1,3 1  1,3

d) Consideremos o sistema e o estado inicial dados nos três primeiros exemplos, porém man-
tenhamos o êmbolo preso por meio de um pino, de modo que o volume permaneça constante. Além
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disso façamos com que o calor seja transferido do sistema para o meio até que a pressão caia a 100
kPa. Calcular o trabalho.
Como W = P.dV, para um processo quase-estático, o
trabalho é igual a zero porque, neste caso, não há variação do vo-
lume, isto é, dV=0.
O processo em cada um dos quatro exemplos está mostra-
do na Figura ao lado. O processo 1-2a é um processo a pressão
constante e a área 1-2a-f-e-1 representa o respectivo trabalho.
Analogamente, a linha 1-2-b representa o processo em que PV =
constante, a linha 1-2c representa o processo em que PV 1,3 =
constante e a linha 1-2d representa o processo a volume constan-
te. O estudante deve comparar as áreas relativas sob cada curva
com os resultados numéricos obtidos acima.
Exemplo 3.1-2

Um cilindro com êmbolo móvel, como mostrado na figura, con-


tém 3 kg d’água no estado de vapor úmido com título igual a 15 % e
pressão de 2,0 bars (estado 1 ). Esse sistema é aquecido à pressão
constante até se obter o título igual a 85 % ( estado 2 ). Pede-se:
a) Representar o processo em um diagrama P-V.
b) Calcular o trabalho realizado pelo vapor durante o processo.

Resposta a)

Resposta b)

Da definição de Trabalho termodinâmico devido ao movimen-


to de fronteira, e sendo a massa do sistema constante, temos:
2 2 2

1W2   PdV  P mdv  P. m dv  P. m.( v 2  v1 )


1 1 1
(1)
Assim, para calcularmos o 1 W2 precisamos determinar o valor do
volume específico 1 e 2.
Considerando a tabela de propriedades da água saturada para P=2,0 bar temos:
VL = 0,0010605 m3/kg VV = 0,8857 m3/kg
Da definição de título e da relação entre título e uma propriedade qualquer na região de vapor úmi-
do temos:
V = V L + X .( V V - V L )
V 1 = 0,0010605 + 0,15 ( 0,8857 - 0,0010605 )
V 1 = 0,133756 m3/kg

V 2 = 0,0010605 + 0,85 ( 0,8857 - 0,0010605)


V 2 = 0,7530 m3/kg

Substituindo na expressão do trabalho, Eq.(1) temos:

1 W2 = 2,0 . 105.3.(0,7530 - 0,133756 ) [ J ]

1 W2 = 3,715.105 [ J ] ou 1 W2 = 371,5 [ kJ ]
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Exemplo 3.1-3

Um cilindro com êmbolo móvel, como mostrado na figura,


contém 5 kg d’água no estado de vapor úmido com título igual a 20 % e
pressão de 5,0 bar (estado 1). Esse sistema é aquecido à pressão cons-
tante até se obter a temperatura de 200 OC (estado 2). Pede-se:
a) Representar o processo em um diagrama P- e h-s
b) Determinar o trabalho realizado pela substância de trabalho contra o
êmbolo, em kJ

Solução

b) O trabalho devido ao movimento de fronteira é:

W2   PdV
2
1 como P = constante, então
1

W2  m P  d   m P(  2   1 )
2
1 1

Da tabela de propriedades de saturação, para o estado 1, P1= 5,0 bar, obtemos:

Vls1 = 0,0010926 m3 /kg, Vvs1= 0,3749 m3 /kg

V1 = Vls1 + X1 ( Vvs1-Vls1) = 0,0010926 + 0,2 ( 0,3749 - 0,0010926)

V1 = 0,0759 m3 /kg

Da tabela de vapor superaquecido para P2 = 5,0 bar e T2 = 200 oC, obtemos

V2 = 0,4249 m3 / kg
Assim o trabalho entre o estado 1 e 2 resulta

10 5 m3
1 W2  5, 0 kg x 5, 0 kPa x ( 0,4249  0,0759)  872,5 kJ
10 3 kg
Sistemas que Envolvem Outras Formas de Realização de Trabalho
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Há sistemas que envolvem outras formas de trabalho, como por exemplo: sistemas que en-
volvem trabalho magnético e sistemas que envolvem trabalho elétrico. Também existem outros sis-
temas que envolvem trabalho devido ao movimento de fronteira; um fio esticado sujeito a uma força
e uma película superficial.
Deve-se observar também que há outras formas de trabalho que podem ser identificadas em
processos que não sejam quase-estáticos. Um exemplo disso é o trabalho realizado por forças de ci-
salhamento, num processo que envolve atrito num fluido viscoso, ou trabalho realizado por um eixo
rotativo que atravessa a fronteira do sistema.
A identificação do trabalho é um aspecto importante de muitos problemas termodinâmicos.
Já mencionamos que o trabalho só pode ser identificado nas fronteiras do sistema. Por exemplo,
consideremos a Fig 3.1-6 que mostra um gás separado do vácuo por uma membrana. Fazendo com
que a membrana se rompa, o gás encherá todo o volume. Desprezando-se qualquer trabalho associ-
ado com a ruptura da membrana, podemos indagar se há trabalho envolvido no processo. Se to-
marmos como nosso sistema o gás e o espaço evacuado, conclu-
ímos prontamente que não há trabalho envolvido, pois nenhum
trabalho é identificado na fronteira do sistema. Se, entretanto,
tomarmos o gás como sistema, teremos uma variação do volume
e poderemos ser induzidos a calcular o trabalho pela integral

 PdV
2

Entretanto este não é um processo quase-estático e, por-


tanto, o trabalho não pode ser calculado por aquela relação. Ao
contrário, como não há resistência na fronteira do sistema quan-
do o volume aumenta, concluímos que, para este sistema não há
trabalho envolvido.

Um outro exemplo pode ser citado com a ajuda da Fig.


3.1-7. Na Fig. 3.1-7a, o sistema consiste no recipiente mais o
gás. O trabalho atravessa a fronteira do sistema no ponto onde
a fronteira intercepta o eixo e pode ser associado como forças
de cisalhamento no eixo rotativo. Na Fig. 3.1-7b, o sistema inclui
o eixo e o peso, bem como o gás e o recipiente. Neste caso não
há trabalho atravessando a fronteira do sistema, quando o peso
se move para baixo. Como veremos mais adiante, podemos i-
dentificar uma variação de energia potencial dentro do sistema,
porém, isto não deve ser confundido com trabalho atravessando
a fronteira do sistema.

Exemplo 3.1-4

Considere o sistema mostrado na figura ao lado. O volume inicial do ar no interior do con-


junto êmbolo-cilindro é de 0,03 m3, neste estado a pressão interna é de 1,1 kgf/cm 2, suficiente pa-
ra contrabalançar a pressão atmosférica externa e o peso do êmbolo. A
mola toca o êmbolo mas não exerce qualquer força sobre o mesmo nesse
estado. O sistema ( ar) é então aquecido até que o volume do sistema se-
ja o dobro do volume inicial. A pressão final do sistema é de 3,5 kgf/cm 2
e, durante o processo a força de mola é proporcional ao deslocamento do
êmbolo a partir da posição inicial. Pede-se:
a) Mostrar o processo em um diagrama, P - v
UNISANTA – FACULDADE DE ENGENHARIA INDUSTRIAL MECÂNICA 33
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b) Considerando o ar como sistema, calcular o trabalho realizado pelo sistema

Solução: a)

W2   Pd V , e, sendo
2
b) sendo o trabalho 1
P = ( Patm + Pêmb + Pmola ), temos:
1

W2   ( Patm  Pemb  Pmolla ) d V


2
W2   ( Patm  Pemb ) d V   Pmola d V
2 2
1
ou 1
1 1 1

a pressão atmosférica + o peso do êmbolo é constante, e no sistema internacional vale

P êmb + P atm = 1,1 x 9,81 x 104 N/m2 = 10,791 x 104 Pa

logo, o trabalho correspondente será:

W2( atm )  10,791 dV  10,791x 10 4  2V1  V1   10,791 x 10 4 ( 2x 0,03  0,03)


2
1  W2 ( ATM )  3,2373 kJ
1
1

O trabalho devido à força de mola contra o êmbolo será

1W2   Pmola dV mas, Pmola = F( volume),


assim devemos determinar primeiro qual a função que relaciona a pressão devido à mola
com relação à variação do volume.
Entretanto, como  2PdV representa a área sob a curva, podemos resolver a integral calculando
1

diretamente a área sob a curva da figura a-2. Como sabemos, a área de um triângulo retângulo é
A= (b x h)/2, onde, para este caso, b= (V 2 - V1) = (0,06 - 0,03) = 0,03 m3, e
h= (P2 - P1) = (3,5-1,1)x 9,81x104 Pa = 23,544 x 104 Pa

0,03 x 23,544 x 104


logo, Wmola   3,5316 kJ
2

O trabalho total do processo, nada mais é que a soma dos dois trabalhos anteriores,
como mostra a área sob a curva na figura a-3, ou seja:

W2  Watm  Wmola  3,237  3,5316 


1 W2  6,7686 kJ
1

3-2 CALOR

A definição termodinâmica de calor é um tanto diferente da interpretação comum da pala-


vra. Portanto, é importante compreender claramente a definição de calor dada aqui, porque ela se
envolve em muitos problemas térmicos da engenharia.
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Prof. Antonio Santoro
Se um bloco de cobre quente for colocado em um béquer de água fria, sabemos, pela expe-
riência, que o bloco de cobre se resfria e a água se aquece até que o cobre e a água atinjam a mes-
ma temperatura. O que causa essa diminuição de temperatura do cobre e o aumento de temperatu-
ra da água? Dizemos que isto é resultado da transferência de energia do bloco de cobre à água. É
dessa transferência de energia que chegamos a uma definição de calor.
Calor é definido como sendo a forma de energia transferida, através da fronteira de um sis-
tema a uma dada temperatura, a um outro sistema (ou meio ), numa temperatura inferior, em vir-
tude da diferença de temperatura entre os dois sistemas. Isto é, o calor é transferido do sistema de
maior temperatura ao sistema de temperatura menor e a transferência de calor ocorre unicamente
devido à diferença de temperatura entre os dois sistemas. Um outro aspecto dessa definição de ca-
lor é que um corpo ou sistema nunca contém calor. Ou melhor, O calor só pode ser identificado
quando atravessa a fronteira. Assim o calor é um fenômeno transitório. Se considerarmos o bloco
quente de cobre como um sistema e a água fria do béquer como outro sistema reconhecemos que
originalmente nenhum sistema contém calor ( eles contêm energia, naturalmente). Quando o cobre
é colocado na água e os dois estão em comunicação térmica, o calor é transferido do cobre à água,
até que seja estabelecido o equilíbrio de temperatura. Nenhum sistema contém calor no fim do pro-
cesso. Infere-se, também, que o calor é identificado somente na fronteira do sistema, pois o calor é
definido como sendo a energia transferida através da fronteira do sistema.

Unidades de Calor - Conforme já discutimos, o calor, como o trabalho, é uma forma de transferên-
cia de energia para ou de um sistema. Portanto, as unidades de calor, ou sendo mais geral, para
qualquer outra forma de energia, são as mesmas do trabalho, ou pelo menos, são diretamente pro-
porcionais a ela. No sistema Internacional, SI, a unidade de calor ( e de qualquer outra forma de
energia ) é o Joule.
Calor para um sistema é considerado positivo e o calor transferido de um sistema é negativo.
O calor é normalmente representado pelo símbolo Q.
Um processo em que não há troca de calor ( Q = 0 ), é chamado de processo adiabático.
Do ponto de vista matemático o calor, como o trabalho, é uma função de linha e é reconhe-
cido como tendo uma diferencial inexata. Isto é, a quantidade de calor transferida quando o sistema
sofre uma mudança, do estado 1 para o estado 2, depende do caminho que o sistema percorre du-
rante a mudança de estado. Como o calor tem uma diferencial inexata, a diferencial é escrita Q.
Na integração escrevemos:

 Q 
2
1 Q2 ( 3.2-1)
1
em outras palavras, 1Q2 é o calor transferido durante um dado processo entre o estado 1 e o estado
2.
O calor transferido para um sistema na unidade de tempo, é chamado taxa de calor, e desig-

nado pelo símbolo Q , a respectiva unidade é o Watt ( W )

 Q
Q (3.2-2 )
dt

Comparação entre Calor e Trabalho - É evidente, a esta altura, que há muita semelhança entre ca-
lor e trabalho, que passaremos a resumir:

a) O calor e o trabalho são, ambos, fenômenos transitórios. Os sistemas nunca possuem calor
ou trabalho, porem qualquer um deles ou, ambos, atravessam a fronteira do sistema, quando o sis-
tema sofre uma mudança de estado.
UNISANTA – FACULDADE DE ENGENHARIA INDUSTRIAL MECÂNICA 35
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b) Tanto o calor como o trabalho são fenômenos de fronteira. Ambos são observados somen-
te nas fronteiras do sistema, e ambos representam energia atravessando a fronteira do sistema.

c) Tanto o calor como o trabalho são funções de linha e têm diferenciais inexatas.

Deve-se observar que na nossa convenção de sinais, +Q re-


presenta calor transferido ao sistema e, daí é energia acrescentada
ao sistema, e +W representa o trabalho realizado pelo sistema, que é
energia que sai do sistema. A Fig. 3.2-1 mostra a convenção de si-
nais que adotamos.

Um esclarecimento final pode ser útil para mostrar a di-


ferença entre calor e trabalho. A Fig. 3.2-2 mostra um gás contido
num recipiente rígido. Espiras de resistência elétrica são enroladas
ao redor do recipiente. Quando a corrente elétrica circula a-
través das espiras, a temperatura do gás aumenta. O que a-
travessa a fronteira do sistema, calor ou trabalho ?
Na Fig. 3.2-2a, consideramos somente o gás como
sistema. Neste caso a energia atravessa a fronteira do siste-
ma, porque a temperatura das paredes é superior à tempera-
tura do gás. Portanto, vemos que o calor atravessa a frontei-
ra do sistema.
Na Fig. 2.3-2b, o sistema inclui o recipiente e as resis-
tências elétricas. Neste caso a eletricidade atravessa a fron-
teira do sistema, e como anteriormente indicado, isto é tra-
balho.

Exercícios:

3-1) - Gás no interior de um conjunto cilindro - êmbolo sofre um processo de expansão de


forma que a relação entre pressão e volume é dada por PV n = constante. A pressão inicial é de 3,0
bar e o volume é de 0,1m3. O volume final do gás após a expansão é de 0,2 m3. Determinar o traba-
lho do sistema , em kJ se: a) n= 1,5 ; b) n=1,0 e c) n= 0.
Faça também, a representação dos processos no plano P - V.

3-2) - Um cilindro com êmbolo móvel contém 2,5 kg de vapor


d’água saturado à pressão de 10 kgf / cm2. Esse sistema é aquecido à
pressão constante até que a temperatura do vapor atinja 260 oC.
a) Calcular o trabalho realizado pelo vapor durante o processo.
b) Representar o processo em um diagrama P-V.

3-3) - O conjunto cilindro - êmbolo mostrado na figura, contém


0,1 kg de água saturada a 40 oC. O embolo tem uma área seccional de
400 cm2 e uma massa de 60 kg o qual repousa sobre os esbarros como mostrado na figura. O vo-
lume neste estado inicial é de 0,02 m3. A pressão atmosférica local é de 0,98 kgf/cm2 e a aceleração
da gravidade local é de 9,75 m/s2. Transfere-se calor para o sistema até
que o cilindro contenha vapor saturado seco. Pede-se:
a) Qual a temperatura da água na iminência do êmbolo deixar os
esbarros.
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b) Calcular o trabalho realizado pela água durante todo o processo.

3-4) - um balão inicialmente vazio, é inflado através de um tanque de ar comprimido. O vo-


lume final do balão é 5,0 m3. O barômetro registra 95 kPa. Considere o tanque o balão e a canaliza-
ção entre ambos como o sistema e determine o trabalho realizado no processo.

3-5) - O cilindro indicado na figura ao lado possui um êmbolo submetido à ação de uma mola
de modo que, quando o volume no cilindro for nulo, a mola está totalmente estendida. A força da
mola é proporcional ao deslocamento da mesma e o peso do êmbolo é
desprezível. O volume do cilindro é de 120 litros quando o êmbolo en-
contra o batente. O cilindro contém 4,0 kg de água, inicialmente a 350
kPa e título de 1% e que é aquecida até se tornar vapor saturado seco.
Mostre o processo num diagrama P x V e, determine:
a) A pressão final do sistema
b) o trabalho realizado pela água durante o processo.
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4 - PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA

A primeira lei da termodinâmica é comumente chamada de " lei da conservação da energi-


a". Nos cursos elementares de física, o estudo da conservação de energia dá ênfase às transforma-
ções de energia cinética e potencial e suas relações com o trabalho. Uma forma mais geral de con-
servação de energia inclui os efeitos de transferência de calor e a variação de energia interna.
Esta forma mais geral é chamada de " Primeira Lei da Termodinâmica ". Outras formas de
energia podem também serem incluídas, tais como: energia eletrostática, energia de campos magné-
ticos tensão superficial etc.
Energia é uma noção familiar, e já conhecemos a maioria dos detalhes sobre ela. Neste capí-
tulo vários aspectos importantes do conceito de energia são analisados alguns dos quais já foram vis-
tos no capítulo anterior. A idéia básica, aqui, é que a energia pode ser armazenada dentro de um sis-
tema, transformada de uma para outra forma de energia e transferida entre sistemas. Para o siste-
ma fechado a energia pode ser transferida através do trabalho e da transferência de calor. A quan-
tidade total de energia é conservada em todas transformações e transferências.

4-1 - Primeira Lei para Um Sistema Percorrendo Um Ciclo

A primeira lei da termodinâmica estabelece que, durante um processo cíclico qualquer, per-
corrido por um sistema, a integral cíclica (somatório sobre todo o ciclo), do calor é proporcional à in-
tegral cíclica do trabalho, matematicamente

 Q   W (4.1-1)
ou
Q   W
ciclo ciclo
(4.1-2)

A base de todas as leis da natureza é a evidência experimental, e isto é verdadeiro, também,


para a primeira lei da termodinâmica.
Toda a experiência efetuada até agora provou a veracidade direta ou indiretamente da pri-
meira lei. A primeira lei nunca foi contestada e tem sido satisfeita por muitas experiências físicas di-
ferentes.
Como discutido no capítulo 3 a unidade de calor e trabalho, para o sistema internacional, SI,
é o joule ou seus múltiplos. Outras unidades são freqüentemente usadas, tais como aquelas do sis-
tema prático inglês e do sistema prático métrico, respectivamente, BTU ( British thermal units ) e a
kcal ( quilocaloria)

1 kcal = 4,1868 kJ 1 BTU = 1,0553 kJ


1 kcal = 3,96744 BTU

1 kw = 860 kcal / h = 3 412 BTU / h


1 hp = 641,2 kcal / h = 2 545 BTU / h
Como exemplo de grandes sistemas industriais, que operam em um ciclo termodinâmico,
podemos citar as termoeléctricas a vapor e os sistemas de refrigeração. Estes dois sistemas são
projetados, operados e controlados através da análise termodinâmica, mais especificamente através
dos princípios da primeira lei da termodinâmica. A seguir, como motivação, são apresentados os es-
quemas desses dois sistemas.
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Figura 4.1-1a - Sistema termelétrico de uma central de geração elétrica

Figura 4.1-1b - Sistema de refrigeração por compressão de vapor

4-2 - Primeira Lei para Mudança de Estado de um Sistema

A Eq. 4.1-1 estabelece a primeira lei da termodinâmica para um sistema operando em um ci-
clo. Muitas vezes, entretanto, estamos mais interessados a respeito de um processo que em um ci-
clo. Assim é interessante obter uma expressão da primeira lei da termodinâmica para um processo.
Isto pode ser feito introduzindo-se uma nova propriedade, a energia total, a qual é representada pelo
símbolo E.
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Considere-se um sistema que percorre um ciclo, mu-
dando do estado 1 ao estado 2 pelo processo A e voltando do
estado 2 ao estado 1 pelo processo B. Este ciclo está mostrado
na Fig. 4.2-1. Da primeira lei da termodinâmica temos;

 Q   W
considerando os dois processo que constituem o ciclo separa-
damente obtemos;

 Q A   Q B   WA   WB
2 1 2 1

1 2 1 2

agora, consideremos outro ciclo, com o sistema mudando do estado 1 ao estado 2 pelo mesmo pro-
cesso A e voltando ao estado 1 pelo processo C como indicado na Fig 4.2-1. Para este ciclo podemos
escrever:

 Q A   Q C   WA   WC
2 1 2 1

1 2 1 2

Subtraindo a segunda destas equações da primeira, temos,

 Q   Q C   WB   WC
1 1 1 1

2 B 2 2 2
ou, reordenando

 (Q  W)B   (Q  W)C


1 1
( 4.2-1)
2 2

Visto que B e C representam caminhos arbitrários entre os estados 1 e 2 concluímos que a quanti-
dade ( Q - W ) é a mesma para qualquer processo entre o estado 1 e o estado 2. Em conseqüên-
cia, ( Q - W ) depende somente dos estados inicial e final não dependendo do caminho percorrido
entre os dois estados. Isto nos faz concluir que a quantidade, ( Q - W ), é uma função de ponto, e
portanto, é a diferencial exata de uma propriedade do sistema. Essa propriedade é a energia total
do sistema e é representada pelo símbolo E. Assim podemos escrever

Q  W  dE
ou,
Q  dE  W (4.2-2)

Observe-se que, sendo E uma propriedade, sua diferencial é escrita dE. Quando a Eq. 4.2-2 é inte-
grada, de um estado inicial 1 a um estado final 2, temos

1Q2 =
E 2 - E 1 + 1 W2 ( 4.2-3)
onde, 1Q2 é o calor transferido para o sistema durante o processo do estado 1 para o estado 2, E 1 e
E2 são os valores inicial e final da energia total do sistema e 1W2 é o trabalho efetuado pelo sistema
durante o processo.
O significado físico da propriedade E é o de representar toda a energia de um sistema em um
dado estado. Essa energia pode estar presente em uma multiplicidade de formas, tais como; energia
cinética, energia potencial, energia associada à estrutura do átomo, energia química, etc.
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No estudo da termodinâmica é conveniente considerar-se separadamente as energias cinéti-
ca e potencial, as demais formas de energia do sistema são agrupadas em uma única variável, já de-
finida, a energia interna, representada pelo símbolo U. Assim,

E = U + EC + EP ( 4.2-4)
sendo

1
EC  mV2 e EP  mgZ (4.2-5)
2

onde, m é a massa do sistema, V é a velocidade, g a aceleração gravitacional e Z a elevação em


relação ao referencial adotado para o sistema termodinâmico.
A razão para trabalhar separadamente é que a energia cinética, (EC), e a energia potencial,
(EP), estão associadas a um sistema de coordenadas que escolhemos, e podem ser determinadas pe-
los parâmetros macroscópicos de massa, velocidade e elevação. A energia interna U está associada
ao estado termodinâmico do sistema. Como cada uma das parcelas é uma função de ponto, pode-
mos escrever

dE = dU + d(EC) + d(EP) ( 4.2-6)

A primeira lei da termodinâmica para uma mudança de estado de um sistema pode, então, ser escri-
ta como;

Q  dU  d( EC)  d( EP )  W (4.2-7)

Três observações podem ser feitas relativa a essa equação:

1 - A energia total, E, realmente existe e podemos fazer uso desta para escrever a primeira
lei. Entretanto é mais conveniente, em termodinâmica, trabalhar separadamente com a energia in-
terna, U, a energia cinética, EC, e com a energia potencial EP.
2 - A equação 4.2-3 e 4.2-7 são de fato o enunciado da conservação de energia. A variação
líquida de energia do sistema é sempre igual à transferência líquida de energia através da fronteira
do sistema , na forma de calor e trabalho.

3 - A equação 4.2-3 e 4.2-7 somente podem fornecer as variações de energia interna, ener-
gia cinética e energia potencial. Não conseguimos nos informar sobre os valores absolutos dessas
quantidades através dessas equações. Se quisermos atribuir valores à energia interna, energia ciné-
tica e potencial, precisamos admitir estados de referência e atribuir valores às quantidades nesses
estados.
Exemplo 4.2-1

Um sistema inicialmente em repouso sofre um processo no qual recebe uma quantidade


de trabalho igual a 200 kJ. Durante o processo o sistema transfere para o meio ambiente uma
quantidade de calor igual a 30 kJ. Ao final do processo o sistema tem velocidade de 60 m/s e uma
elevação de 50 m. A massa do sistema é de 25 kg, e a aceleração gravitacional local é de 9,78 m/s 2.
Determine a variação de energia interna do sistema durante o processo, em kJ.
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Solução
Conhecemos: Um sistema de massa conhecida sofre um processo rece-
bendo uma quantidade de trabalho e transferindo uma quantidade de ca-
lor conhecidos. O sistema está inicialmente em repouso e no estado final
tem velocidade de 60 m/s e elevação de 50 m.

Obter: Determinar a variação de energia interna do sistema.

Hipótese: 1-O sistema sob análise é um sistema fechado, constituído da massa de 25 kg


2- No estado final o sistema está em equilíbrio ( velocidade uniforme)
análise: a primeira lei da termodinâmica ( balanço de energia) para o sistema fechado é
1 Q 2  E  1W2
ou 1 Q 2  U  EC  EP  1W2
a variação de energia cinética e potencial é:
1 1 m2
EC  m ( V22  V12 )  EC  ( 25 kg )( 602  02 ) 2  EC  45000 J
2 2 s
m
EP  mg( Z 2  Z 1 )  EP  25 ( kg ) 9,78 ( 2 )(50  0) m  EP  12 225 J
S
substituindo os valores numéricos na expressão da 1 a lei obtemos o valor de U,
U  1 Q 2  EC  EP  1W2  U  ( 30 kJ )  ( 45,0 kJ )  (12,225 kJ )  ( 200 kJ )
 U   87,225  200   112,775 kJ
Comentários:
1- O sinal positivo de U indica que a energia interna do sistema aumentou.
2- Deve-se observar cuidadosamente a conversão de unidades
3- O balanço de energia pode ser obtido pela seguinte planilha
Entradas Variações Internas Saídas
200 kJ (trabalho) 45,000 kJ (energia cinética) 30 kJ (calor transferido)
12,225 kJ (energia potencial)
112,775 kJ (energia interna)
200 kJ 170,000 kJ ( variação total ) 30 kJ

A entrada líquida de energia excede a saída líquida de energia em 170 kJ, e portanto, a ener-
gia interna do sistema aumentou.( a energia se conservou ! )
Exemplo 4.2-2

Considere 5 kg de vapor de água contida no interior do conjunto cilindro-pistão. O vapor


sofre uma expansão do estado 1 onde P = 5,0 bar e T=240 oC para o estado 2 onde P=1,5 bar e
T=200 oC. Durante o processo 80 kJ de calor é transferida para o vapor. Uma hélice é colocada no
interior do conjunto através de um eixo para homogeneizar o vapor, a qual transfere 18,5 kJ para
o sistema. O conjunto cilindro-pistão está em repouso. Determinar a quantidade de trabalho
transferido para o pistão durante o processo de expansão.

Solução: - Esquema do problema e o esquema gráfico da solução no plano P-V

hipótese:
1- o vapor é o sistema termodinâmica
fechado.
2- não há variação de energia cinética
e potencial.
Análise:
O balanço de energia para o
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sistema fechado resulta

1Q 2  U  EC  EP  1W2 , como dos dados do problema, EC  EP  0 , então;
1 Q 2  U  1W2 (1)
onde, 1W2  Whelice  Wpistao , substituindo na expressão (1)

Wpistao  1Q2  Whelice  m(u2  u1 ) (2)

Da tabela de propriedades superaquecidas do vapor de água obtemos para o estado 1 e 2

u1  2707,6 kJ , e u 2  2656,2 kJ

substituindo os valores numéricos na expressão (2 ) temos:

Wpistao  (80 kJ)  (18,5 kJ)  5,0 kg (2656,2  2707,6) kJ  Wpistao   355,5 kJ

Comentários:

1) O sinal positivo do trabalho indica que o sistema (vapor de água) realizou trabalho
sobre o meio ( pistão) quando o sistema sofreu a expansão
2) Em princípio, o trabalho do pistão poderia ser calculado através da expressão
 Pdv , Entretanto, não é possível utilizar tal equação uma vez que não se conhece
a função P= P(volume), mas tão somente, os estados inicial e final.

3) A tabulação do balanço de energia para o sistema, resulta:

Entradas Saídas

18,5 kJ ( trabalho devido à hélice) 355,5 kJ ( trabalho sobre o pistão )


80,0 kJ ( calor transferido para o sistema)

98,5 kJ 355,5 kJ

A saída total de energia, pelo balanço de energia, excede a energia de entrada, conse-
qüentemente a energia do sistema diminuiu da diferença, U= (98,5 - 355,5) = - 257 kJ

4.3 - PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA EM TERMOS DE FLUXO

Muitas vezes é vantajoso usar a primeira lei em termos de fluxo, expressando a taxa média
ou instantânea de energia que cruza a fronteira do sistema — como calor e trabalho — e a taxa de
variação de energia do sistema. Procedendo desse modo estamos nos afastando do ponto de vista
estritamente clássico, pois basicamente a termodinâmica clássica cuida de sistemas que estão em
equilíbrio e o tempo não é um parâmetro importante para sistemas que estão em equilíbrio. Entre-
tanto, incluiremos neste texto essas equações, em termos de fluxo, pois são desenvolvidas a partir
dos conceitos da termodinâmica clássica e são usadas em muitas aplicações da termodinâmica. Nes-
ta forma, a equação do primeiro princípio para o volume de controle encontra amplas aplicações na
termodinâmica, mecânica dos fluidos e transferência de calor.
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Consideremos um intervalo de tempo t, durante o qual uma quantidade de calor Q atra-
vessa a fronteira do sistema, um trabalho W é realizado pelo sistema, a variação de energia interna
é U, de energia cinética é (EC) e da energia potencial é (EP). Da primeira lei, podemos escrever

Q = U + EC = EP + W

dividindo por t teremos a taxa média de energia trocada, como calor e trabalho e de aumento de
energia do sistema.

Q U EC EP W
   
t t t t t

calculando o limite desses valores quando t tende para zero temos

Q 
lim  Q , fluxo instantâneo de calor
t  0 t

W 
lim  W , potência
t  0  t

U dU  ( EC) d( EC)  ( EP ) d( EP )
lim  , lim  , lim 
t  0 t dt t  0 t dt t  0 t dt

Portanto a primeira lei em termos de fluxo é

 dU d( EC) d( EP) 
Q   W (4.3-1)
dt dt dt

ou

 dE 
Q W (4.3-2)
dt

Exemplo 4.3-1

Durante a operação de carregamento de uma bateria, a corrente elétrica, I, é de 20 ampères, e a



tensão, , é de 12,8 Volts, A taxa de transferência de calor, Q , da bateria para o meio é de 10 W.
Qual a taxa de aumento de energia interna?

Solução

Como não há variação de energia cinética e potencial a equação do primeiro


princípio em termos de fluxo pode ser escrita na forma da Eq. 4.3-1
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 dU 
Q  W , onde, como sabemos a potência elétrica é dada por:
dt

W ele    i   12,8 x 20   256 W
portanto a variação de energia interna do sistema ( bateria) será:

dU  
 Q W   10W  ( 256 W)  246 J / s
dt

Do ponto de vista prático, é interessante escrever a equação 4.3-2 na forma de Somatório


para incluir os vários fluxos de calor e/ou trabalho que podem ocorrer no sistema.

 dE 
 1 Q2 
dt
  1 W2 (4.3-3)

A figura 4.3-1, mostra um sistema termodinâmi-


co sujeito às possíveis interações com o meio, a conven-

ção de sinais usados e o referencial. Na Fig 4.3-1,  Q +

significa calor liquido entrando no sistema,  W + signi-
fica somatório de trabalho liquido sendo realizado pelo
sistema sobre o meio. A direção indicada de calor e tra-
balho na Fig. 4.3-1 está em acordo com a posição dos
termos nas Eqs. 4.3-1, 4.3-2 e 4.3-3.

4.4 - Calor Específico a Pressão Constante e a Volume


Constante

Várias propriedades relacionadas à energia interna são importantes em termodinâmica. Uma


delas é a entalpia, que já foi definida no capítulo 2. Duas outras conhecidas como calor específico a
pressão constante, CP, e calor específico a volume constante, C, serão aqui consideradas.
Os calores específicos a pressão e a volume constante, são particularmente úteis para a ter-
modinâmica nos cálculos envolvendo o modelo de gás ideal.
As propriedades intensivas C e CP são definidas para substâncias puras e compressíveis
simples como sendo a derivada parcial das funções u(T,v) e h(T,P) respectivamente;
u
C   (4.4-1)
 T 

 h
CP   (4.4-2)
 T P
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onde os índices  e  representam respectivamente ( volume específico e pressão), variáveis fi-
xadas durante a derivação. Valores para Cv e Cp podem ser obtidos por mecanismos estatísticos u-
sando medidas espectroscópicas. Elas podem também ser determinadas macroscopicamente através
de medidas exatas das propriedades termodinâmicas.
As unidades macroscópicas de Cv e Cp, no sistema internacional, SI, são o kJ/kg-k ou kJ/kg -
o
C. Para unidades molares, kJ/ kmol-k.
Observe que na definição de Cv e Cp estão envolvidas somente propriedades termodinâmi-
cas, e portanto Cv e Cp são também propriedades termodinâmicas de uma substância.

Aproximações para Líquidos e Sólidos

Pode-se observar nas tabelas de propriedades saturadas e de líquido comprimido para a á-


gua que o volume específico do líquido varia muito pouco com a pressão e que a energia interna va-
ria principalmente com a temperatura. Este comportamento é exibido por qualquer substância na
fase líquida ou sólida.
Para simplificar avaliações envolvendo líquidos ou sólidos, freqüentemente adotamos a hipó-
tese, bastante razoável em termos de engenharia, que o volume específico do líquido é constante e a
energia interna como sendo somente função da temperatura. A substância assim idealizada é cha-
mada de incompressível.
Assim para uma substância na fase líquida ou sólida, que satisfaz o modelo de substância
incompressível a energia interna varia somente com a temperatura, e portanto, o calor específico a
volume constante será função somente da temperatura. Logo podemos escrever a Eq. 4.4-1 como
uma diferencial ordinária tendo em vista que Cv é função somente de uma variável, a temperatura.
du
C  (incompressível) ( 4.4-3)
dT

Pela definição anterior de entalpia, para qualquer substância, sabemos que ela é função da
energia interna, da pressão e do volume específico em qualquer fase, de acordo com a expressão:

h = u + Pv

Para substâncias modeladas como incompressíveis, o calor específico a pressão constante CP e a vo-
lume constante, Cv são iguais, Pode-se mostrar essa afirmação derivando a equação da entalpia
mantendo-se a pressão constante, resultando:

 h du dv
  P , sendo a substância incompressível a deri-
 T  P dT dT
vada dv = 0 , portanto

 h du
  (incompressível) (4.4-4)
 T  P dT

o lado esquerdo da igualdade é o calor específico a pressão constante, C P e o lado direito é o calor
específico a volume constante de uma substância incompressível, Cv. Assim;

C   CP  C , para sólidos e líquidos (4.4-5)


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O calor específico de alguns sólidos e líquidos são dados na tabela 4.4-1 a seguir.

Tabela 4.4-1 - Calor específico de alguns sólidos e líquidos a 25 OC

SÓLIDOS Cp kJ/kg-  LÍQUIDOS Cp 


K kg/m3 kJ/kg-K kg/m3
Alumínio 0,900 2700 Amônia 4,800 602
Cobre 0,386 8900 Etanol 2,456 783
Granito 1,017 2700 Freon - 12 0,977 1310
Grafite 0,711 2500 Mercúrio 0,139 13560
Ferro 0,450 7840 Metanol 2,550 787
Chumbo 0,128 11310 Óleo ( leve) 1,800 910
Borracha (macia) 1,840 1100 Água 4,184 997
Prata 0,235 10470
Estanho 0,217 5730
Madeira (maioria) 1,760 350-700
Para pequenos intervalos de variação de temperatura a variação do calor específico de um
líquido ou sólido em geral é desprezível e o calor específico nestes casos pode ser admitido constan-
te sem acarretar erros significativos. Resultado para a entalpia e a energia interna,

d h  CP  d T d u  C  d T
2 2
e
1 1

como Cp = Cv então,

dh  du, para líquidos e sólidos

Exemplo 4.4-1

Estimar o calor específico à pressão constante do vapor d'água a 6,0 MPa


e temperatura de 375 OC.

Solução:
Se considerarmos uma mudança de estado à pressão constante sobre um
pequeno intervalo de temperatura, que envolva a temperatura dada, a
Eq. 4.4-2 pode ser escrita como:

  h
CP    (1)
  T P

das tabelas de propriedades da água para vapor superaquecido na pressão


de 6,0 MPa, temos

para T = 350 OC h = 3043,0 kJ/kg


para T = 400 OC h = 3177,2 kJ/kg
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substituindo na expressão ( 1 ) temos;

3177,2  3043,0 134,2 kJ


CP    C P  2,684
400  350 50 kg  k

Obs. Foram usada as temperaturas de 350 OC e 400 OC por incluírem a temperatura de 375
O
C no intervalo, e por serem os valores tabelados mais próximos à temperatura de 375 OC
Exemplo 4.4-2

Uma barra de metal cuja massa é de 0,30 kg é removida de um forno à temperatura inicial
de 927 OC e imersa em um tanque contendo uma massa de 9,0 kg de água
com temperatura de 27 OC. Cada substância pode ser modelada como in-
compressível. Um valor apropriado para o calor específico da água é 4,184
kJ/kg-OC e do metal é 0,42 kJ/kg-K. O calor transferido do tanque para
o meio externo pode ser desprezado. Determinar a temperatura final de
equilíbrio do sistema.

Solução:

conhecido: uma barra de metal é colocada em imersão em um tanque com água

determinar: temperatura final de equilíbrio da água e do metal

hipóteses: 1- a barra de metal e a água no interior do tanque formam o sistema fechado


2- o sistema é termicamente isolado
3- não há variação de energia cinética e potencial
4- a água e a barra de metal serão modeladas cada uma como substâncias
incompressíveis com valores conhecidos de calor específico

A temperatura final de equilíbrio pode ser avaliada de um balanço de energia para


sistema fechado
1 Q 2  ( U 2  U 1 )  EC  EP 1W2

das hipóteses 2 e 3 resulta que, 1Q2 = EC = EP = 0. Como a energia interna é uma pro-
priedade extensiva, seu valor para todo o sistema é a soma dos valores da água e do metal. Assim
o balanço de energia fica:
U]agua  U]metal  0

considerando o metal e a água como incompressíveis podemos escrever as variações de


energia interna em função da temperatura e dos respectivos calores específicos, logo

m a C a ( Tf  Tia )  m m C m ( Tf  Tim )  0

onde Tf é a temperatura final de equilíbrio, Tia e Tim são as temperaturas iniciais da água
e metal respectivamente, resolvendo para Tf e substituindo os valores numéricos, temos:
m a Ca Tia  m mCm Tim
Tf 
m a Ca  m m Cm
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9,0( kg ) 4,184( kJ / kg  C) 27( C)  0,3( kg ) 0,42( kJ / kg  o C) 927( o C)
o o
Tf 
9,0( kg ) 4,184( kJ / kg  o C)  0,3( kg ) 0,42( kJ / kg  o C)

Tf  30 o C

como o sistema termodinâmico está em equilíbrio, esta é a temperatura


final da água e da barra de metal
Exemplo 4.4-3

Um conjunto êmbolo cilindro, como mostrado na figura, contém no


seu interior palha de aço em uma atmosfera de oxigênio puro. O peso do
êmbolo e a pressão externa mantém a pressão interna do conjunto constan-
te e igual a 1,0 bar. O ferro da palha de aço reage muito lentamente com o
oxigênio para formar Fe2O3. Calor é removido do sistema de modo a manter
a temperatura constante e igual a 25 OC. Para a reação de 2 mols de ferro,
2Fe + 1,5O2  Fe2O3, é necessário remover 831,08 kJ de calor. Adotando
como sistema o oxigênio e a palha de aço calcular: W e U para o processo.
Solução: Hipóteses:
1- O sistema (oxigênio + palha de aço) está em repouso
2-Tanto o Fe como o Fe2O3 são sólidos, podemos considera desprezível o volume ocupados por eles,
_
3- O oxigênio se comporta como gás ideal, portanto, P   T
Da hipótese 2 e 3, para a condição inicial e final do sistema podemos escrever:
_ _ _ _
P1 1  T1 , P2  2  T2 , entretanto,   nV , onde  é o volume molar, V é o volume total ocu-
pado pelo sistema ( volume do oxigênio), e " n " o número de mols do oxigênio
substituindo o volume molar e subtraindo a primeira da segunda equação temos:
P2 V2  P1V1  n 2  T2  n1 T1
da equação de reação química, para formar os dois mols de Fe2O3 são necessários 1,5 mols
de oxigênio. Observe que essa quantidade de oxigênio é consumida no processo para formar o Fe 2O3,
que é um sólido com volume desprezível comparado ao volume total do sistema.
P( V2  V1 )  ( n 2  n1 ) T
assim a variação do volume do sistema resulta: V  n T
P
a) O trabalho do sistema devido á variação do volume será
T
1W2  1 PdV  P 1dV  P V  Pn
2 2
 n T
P
1( kmols) J
 W2   1,5 ( mols) 8314 ( )( 25  27315
, )( K )
1
1000 ( mols) Kmols  K
 W2   3718,23 J   3,72 kJ
1

Trabalho negativo, significa que o êmbolo realizou trabalho sobre o sistema


b) Da primeira lei para o sistema temos
1 Q 2  U  EC  EP  1W2
, da 1a hipótese , EC = EP = 0
U  1 Q 2  1W2  (  831,08 kJ )  ( 3,72 kJ )   827,36 kJ
Onde o sinal negativo indica que houve uma diminuição da energia interna do sistema que
reflete a variação nas energias de ligação provocada pela reação química
Exercícios
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4-1) - Um tanque contendo um fluido é agitado por uma hélice co-


mo mostrado na figura. O trabalho aplicado à hélice é de 1280 kcal. O calor
transferido do tanque para o meio é de 378 kcal. Considerando o tanque e
o fluido como sistema, determinar a variação de energia interna do sistema,
em kJ.

4-2) - Considere um tanque contendo um volume de água de 400 litros à temperatura de


28,96 0C e na pressão atmosférica ao nível do mar ( 760 mmHg ). A água do tanque é aquecida a-
través de uma resistência elétrica até que sua temperatura atinja 45,81 0C. determine a quantida-
de de calor transferida para o sistema, em kcal.

4-3) - Considere um conjunto cilindro-êmbolo, como mostrado na figura. O


sistema contém 10 kg de água à temperatura de 36,16 O C e pressão absoluta de
1,5 bar. Calor é transferido para o sistema até se obter vapor saturado seco ( x=1).
Determinar a quantidade de calor transferida à água no processo, em kcal.

4.4) - A taxa de calor transferida de um motor elétrico, em funcionamento, para o ambiente



varia com o tempo conforme a expressão a seguir, Q   02(1  e  0,05t ) , onde, t é o tempo em se-

gundos, e a taxa de calor, Q , é em kJ. O eixo do motor tem rotação constante de  = 100 rad / s e
aplica, a uma carga externa, o torque de 18 N.m. O motor consome uma potência elétrica constante
de 2,0 kw. Obtenha uma expressão para a taxa de variação de energia total do motor ( dE / dt).

dE ( 0, 05 t )
Resposta,  0,2 . e
dt

4-5) - Um recipiente que tem um volume de 5 m3 contém 0,05 m3 de líquido saturado de


água e 4,95 m3 de vapor de água saturada, a 10 bar. Calor é transferido até que o recipiente conte-
nha somente vapor saturado seco. Determinar o calor transferido para o sistema.

4- 6) - Um coletor solar residencial possui uma área de 5,00 m2. A radiação solar média em
um dia de céu limpo é de 1000 W/m2 no plano do coletor
solar. O coletor solar aquece a água de um tanque termi-
camente isolado, o qual tem capacidade de 400,0 litros
como mostra a Figura. Entre o tanque e o coletor solar e-
xiste uma bomba que faz com que a água circule pelo cole-
tor com uma vazão de 0,020 l/s. Admitindo-se rendi-
mento térmico do coletor solar,  = 45% e que o trabalho
da bomba (potência ) é desprezível pede-se: Qual será a
temperatura da água no tanque ás 15 horas se ás 8 horas a temperatura no tanque era de 20C ?
( admita temperatura uniforme da água no tanque).

4.5 - Energia Interna, Entalpia e Calor Específico para Gás ideal


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Para gases que obedecem o modelo de gás ideal, a energia interna específica é função so-
mente da temperatura, como mostrou Joule através de uma experiência clássica da termodinâmica
em 1843. Assim , o calor específico a volume constante, Cv, definido pela Eq. 4.4-1 é função somente
da temperatura, e pode ser escrito como:
du
C  ( T)  (4.5-1)
dT
ou separando as variáveis, o valor da energia interna específica para o gás ideal fica:
du  C  ( T) dT (4.5-2)

integrando a Eq. 4.5-2 desde a temperatura T1 até T2 obtemos:

u(T2 )  u(T1 )   C (T) dT


T2
(4.5-3)
T1

A entalpia específica foi definida no capítulo 2 como:

h = u + Pv

Entretanto, para um gás ideal a equação de estado P-v-T, como já visto é:

P  RT
substituindo o valor do produto Pv na equação de definição da entalpia, temos;

h  u  RT ( 4.5-4)

A Eq. 4.5-4 mostra que no caso de gás ideal a entalpia específica também é função somente da tem-
peratura. Assim da Eq. 4.4-2 de definição do calor específico a pressão constante, resulta para o gás
ideal:

dh
C P (T )  (4.5-5)
dT
ou
d h  C P ( T) d T (4.5-6)

integrando a Eq. 4.5-6 desde a temperatura T1 até T2 obtemos;

h(T2 )  h(T1 )   Cp (T) dT


T2
(4.5-7)
T1

Uma relação importante entre os calores específicos dos gases ideais pode ser obtida, dife-
renciando a Eq. 4.5-4 em relação à temperatura

dh du
 R (4.5-8)
dT dT

substituindo o calor específico, obtemos:


Cp (T)  C (T)  R (4.5-9)
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ou na base molar
_ _
C P ( T)  C  ( T)   (4.5-10)

Assim os calores específicos para um gás ideal diferem apenas do valor da constante particular do
_ _
gás, como R é sempre positivo então, Cp > Cv . e conseqüentemente CP  C , Para um gás ideal o
expoente da transformação isoentrópica, k, ( PV k  cons tan te ), é função somente da temperatu-
ra, por definição

C P ( T)
k (4.5-11)
C  ( T)

Como Cp > Cv segue-se que k >1. Combinando a Eq. 4.5-9 com a Eq. 4.5-11 resulta
kR
C P ( T)  (4.5-12)
k 1

R
C  ( T)  (4.5-13)
k 1

Os calores específicos para gases que tem comportamento de gás ideal, necessitam de equações co-
mo função da temperatura. Uma dessas equações é a seguinte

_
CP
   T  T2  T3  T4 (4.5-14)

onde a tabela 4.5 -1 fornece valores de , , ,  e  para alguns gases na faixa de temperatura
de 300 a 1000 K. No limite quando a pressão tende para zero todos os gases tendem ao comporta-
mento de gás ideal.

_
Tabela 4.5 -1 variação de C P com a temperatura para alguns gases Ideais
Gás   x 103  x 106  x 109  x 1012

CO 3,710 -1,619 3,692 -2,032 0,240


CO2 2,401 8,735 -6,607 2,002 0,000
H2 3,057 2,677 -5,810 5,521 -1,812
H2O 4,070 -1,108 4,152 -2,964 0,807
O2 3,626 -1,878 7,055 -6,764 2,156
N2 3,675 -1,208 2,324 -0,632 -0,226
AR 3,653 -1,337 3,294 -1,913 0,2763
SO2 3,267 5,324 0,684 -5,281 2,559
CH4 3.826 -3,979 24,558 -22,733 6,963
C2H2 1,410 19,057 -24,501 16,391 -4,135
C2H4 1,426 11,383 7,989 -16,254 6,749
Gases
monoatômicos 2,5 0 0 0 0

Para gases monoatômicos, tais como He, Ne, Ar, C P é constante em uma grande faixa de tempe-
ratura sendo aproximadamente igual a 5 / 2.
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Exemplo 4.5-1

Determine a variação da entalpia específica , em kJ/kg para o vapor de água quando este
sofre um processo desde o estado 1 onde T1 = 400 K e P1 = 0,1 MPa até o estado 2 onde T2 = 900 K
e P2 = 0,5 MPa, por meio de:
a) tabelas de vapor superaquecido da água
b) por integração usando o modelo de gás ideal, com o calor específico dado
pela Eq. 4.5-14.
c) repita o item " a " e " b " para pressão final de 10 MPa.

Resposta:

a) Da tabela de vapor superaquecido temos h1 = 2730,5 kJ/kg


e h2 = 3762,2 kJ/kg , então;

h2 - h1= 1031,7 kJ/kg

_
b) Substituindo a expressão de C P , na Eq. 4.5-7 , temos

 T2
M T1
h 2  h1  (   T  T 2  T3  T 4 )dT
integrando,
     
h1  h1   ( T2  T1 )  ( T22  T12 )  ( T23  T23 )  ( T24  T24 )  ( T25  T15 )
M  2 3 4 5 

8,314 1108
, 4152
,
= {4,070(900  400)  3 [( 900)  ( 400) ] 
2 2
[(900)3  (400)3 ]
18,02 2(10) 3(10)6

2,964 0,807
 9 [(900)  ( 400) ] 
4 4
[(900)5  ( 400)5 ]}
4(10) 5(10)12

h 2  h1  1025,0 kJ / kg

A diferença percentual da variação de entalpia calculada pelos dois métodos


é de 0,65%, que é bem próxima do valor obtida através da tabela.

c) O valor de h1 é o mesmo do item a. Para pressão de 10 MPa e T= 900 K


obtemos, da tabela de vapor superaquecido por interpolação h3 = 3691,72 kJ/kg, logo

h3 - h1 = 961,19 kJ/kg

O valor a ser obtido através da integração será o mesmo do item b) pois o calor específico é fun-
ção somente da temperatura. Somente a pressão é diferente do caso anterior.
O valor obtido com o modelo de gás ideal, agora, resulta 7% maior que o valor obtido através da
tabela. Sem dúvida, os resultados do modelo de gás ideal para o item b) onde a pressão era de 0,5
MPa era esperado, pois como sabemos " todo gás tende a gás ideal quando a pressão tende para
zero "
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Para o caso da pressão de 10 MPa , que é 20 vezes maior, que o caso anterior um desvio mai-
or em relação ao valor correto era esperado.
4.6 - Conservação de Massa

Na seção anterior consideramos o primeiro princípio da termodinâmica para um sistema que


sofre uma mudança de estado. Um sistema já foi definido como tendo uma quantidade fixa de mas-
sa. Surge agora uma pergunta: variará a massa do sistema quando houver variação de energia do sis-
tema? Se isto acontecer, então a nossa definição de sistema como tendo uma quantidade fixa de
massa não mais será válida, quando variar a energia do sistema.
Da teoria da relatividade, sabemos que a massa e a energia estão relacionadas pela equação
bastante conhecida

E  mC2 (4.6-1)

onde C é a velocidade da luz, m a massa e E é a energia. Concluímos a partir dessa equação que a
massa de um sistema varia quando sua energia varia.
Calculemos a grandeza dessa variação de massa para um problema típico e determinemos se
essa variação é ou não significativa.
Consideremos um recipiente rígido que contém 1,0 kg de uma mistura estequiométrica de
um hidrocarboneto combustível ( por exemplo, gasolina, C8H18) e ar, que constitui o nosso sistema.
Do nosso conhecimento do processo de combustão, sabemos que após a realização desse processo,
será necessário transferir cerca de 2900 kJ de calor do sistema para o meio para que seja restabele-
cida a temperatura inicial do sistema. Do primeiro princípio

1 Q 2  U 2  U1  1W2

como, 1W2 = 0, e 1Q2 = - 2 900 kJ , concluímos que a energia interna do sistema decresceu de 2 900 kJ
durante o processo de troca de calor. Calculemos, agora, a diminuição de massa durante o processo,
utilizando a Eq. 4.6-1. A velocidade da luz é 2,9979x108 m/s. Portanto

2 900 000 (J) = m (kg) . (2,9979x108(m/s))2  m = 3,23 x10 -11 kg

Portanto, quando a energia do sistema varia de 2 900 kJ a redução de massa do sistema será de
2,23 x 10 -11 kg.

Uma variação de massa dessa ordem de grandeza não pode ser detectada pela balança analí-
tica de maior precisão. Certamente, uma variação relativa de massa dessa ordem de grandeza está
além da precisão requerida essencialmente para todos os cálculos da engenharia. Portanto se usar-
mos as leis de conservação de massa e energia como leis independentes não introduziremos erros
significativos na grande maioria dos problemas termodinâmicos, e nossa definição de sistema, tendo
uma massa fixa, pode ser usado mesmo que haja variação de energia do sistema.

4.7 Conservação de Massa e o Volume de Controle


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Volume de controle é um espaço que nos interessa para um estudo ou análise particular, i-
gualmente como foi definido anteriormente para o sistema termodinâmico. O espaço é demarcado
pela superfície de controle, sendo esta uma superfície fecha-
da. Como para o sistema, o volume de controle pode ter uma
superfície de controle real ou imaginária, fixa ou móvel rígida
ou flexível. Entretanto a superfície deve ser determinada em
relação a algum sistema de coordenadas.
A massa bem como o calor e o trabalho podem atra-
vessar a superfície de controle, e a massa contida no interior
do volume de controle, bem como suas propriedades, podem
variar no tempo.
A Fig. 4.7-1 mostra o esquema de um volume de con-
trole com transferência de calor, trabalho de eixo, acumulação
de massa dentro do volume de controle e movimento de su-
perfície.

O princípio de conservação de massa para o volume Figura 4.7-1 diagrama esquemático


de controle é introduzido usando-se a Fig. 4.7-2, a qual mos- de um volume de controle
tra um sistema (linha contínua) constituído de uma quantida-
de fixa de matéria , m, que ocupa diferentes regiões no tempo " t " e no tempo " t+dt ". No seu inte-
rior temos o volume de controle, (delimitado pelas linhas descontínuas). No tempo " t " a quantidade
de massa dentro do sistema, m, sob consideração é a soma

m  mVC ( t )   me (4.7-1)

onde mVC(t) é a massa contida dentro do volume de controle e me é a massa dentro da pequena
região denominada " e " adjacente ao volume de controle como mostrado na Fig. 4.7-2a . Analise-
mos, agora, o que ocorre com a quantidade fixa de matéria " m " no decorrer do intervalo de tempo
dt

Figura 4.7-2 - Ilustração usada para desenvolver o princípio da conservação de massa


para o volume de controle a) tempo " t " b) tempo " t+dt "
No intervalo de tempo dt, toda massa na região " e " atravessa a superfície do volume de
controle, enquanto um pouco de massa , chamada de ms, inicialmente contida dentro do volume
de controle, sai para encher a região denominada " s " adjacente ao volume de controle como mos-
tra a Fig. 4.7-2b. No instante de tempo t+dt a quantidade de matéria sob consideração pode ser ex-
pressão pela equação:

m  mVC ( t  dt )  mS (4.7-2)
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Observe que as quantidades de massa nas regiões " e " e " s " não são necessariamente i-
guais e que, a quantidade de matéria dentro do volume de controle pode ter variado. Embora o sis-
tema sob consideração ocupe diferentes regiões no espaço em tempos diferentes, ele contém a
mesma quantidade de massa. Assim,

mVC ( t )   me  mVC ( t  dt )   ms

ou rearranjando,

mVC ( t  dt )  mVC ( t )   me   ms (4.7-3)

A Eq. 4.7-3 é uma " contabilidade " do balanço de massa, a qual afirma que a variação de
massa dentro do volume de controle durante o intervalo de tempo dt é igual à quantidade de massa
que entra menos a quantidade de massa que sai do volume de controle. A Eq. 4.7-3 pode ser expres-
sa na base de taxa. Primeiro dividindo-a por dt para obter:

mVC ( t  dt )  mVC ( t )  me  m s
  (4.7-4)
dt dt dt

O lado esquerdo desta equação é a taxa média no tempo da variação de massa dentro do vo-
lume de controle durante o intervalo de tempo dt. Os termos do lado direito, envolvendo a massa
que cruza a superfície de controle, são as taxas médias no tempo do fluxo mássico durante o mesmo
intervalo de tempo dt. A equação para a taxa instantânea de massa é obtida tomando-se o limite de
dt tendendo para zero na Eq. 4.7-4. No limite o volume de controle e o sistema coincidem. Assim, o
limite do termo do lado esquerdo da Eq. 4.7-4 é:

 m ( t  dt )  mVC ( t )  dmVC
lim VC 
dt 0  dt  dt

Onde, dmVC é a taxa de variação de massa dentro do volume de controle no tempo t. No mes-
dt
mo limite, quando dt tende para zero, os termos do lado direito da Eq. 4.7-4 tornam-se respectiva-
mente;

 me   ms 
lim  me , lim  ms
dt 0 dt dt 0 dt

 
Nesta expressão m e e m s , são as taxas instantâneas de escoamento de massa na entrada e saí-
da, respectivamente, no volume de controle. Em resumo a Eq. 4.7-4 quando dt  0 é,

dmVC  
 me  m s (4.7-5)
dt
Em geral podem existir várias localizações na superfície de controle através das quais a mas-
sa pode entrar ou sair. Assim, a Eq. 4.7-5 é reescrita introduzindo-se o somatório nos termos do lado
direito da equação, como na Eq. 4.7-6
dmVC  

dt
 m e
e   ms
s
( 4.7-6)
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A Eq. 4.7-6 constitui a expressão geral do balanço de massa para um volume de controle,
admitindo-se a hipótese de escoamento uniforme dos fluxos de massa na entrada e saída do volume
de controle.

Vamos considerar um outro aspecto do escoamento de massa através de uma superfície de


controle. Para simplificar, admitamos que um fluido esteja escoando uniformemente no interior de
um tubo ou duto como mostrado na Fig. 4.7-3.
Desejamos examinar o escoamento em termos de quantidade de massa que cruza a superfí-
cie, A durante o intervalo de tempo dt.
Conforme se observa na Fig. 4.7-3, o fluido se move de uma
distância dx durante esse intervalo, e portanto o volume de fluido
que cruza a superfície A é Adx. Conseqüentemente a massa que atra-
vessa a superfície A é dada por
Adx
dm  Figura 4.7-3 - escoamento

através de uma superfície
de controle estacionária
onde , é o volume específico do fluido, se agora, dividirmos ambos os membros dessa expressão
por dt e tomarmos o limite para dt 0, o resultado será

 AV
m (4.7-7)

Deve-se observar que este resultado, a Eq. 4.7-7, foi desenvolvido para uma superfície de controle
estacionária A, e que, tacitamente admitimos que o escoamento era normal à superfície e uniforme
através da superfície. Deve-se também considerar que a Eq. 4.7-7 se aplica a qualquer uma das vá-
rias correntes de escoamento que entra e sai do volume de controle , sujeito às hipóteses menciona-
das.
Exemplo 4.7-1
Ar está escoando no interior de um tubo de 0,2 m de diâmetro à velocidade
uniforme de 0,1 m/s. A temperatura e a pressão são 25 OC e 150 kPa.
Determinar o fluxo de massa .
Solução,

AV
Da equação m  , e usando o modelo de gás ideal para o ar, temos:

 T 8314 ( 25  27315
, ) m3
     0,5704
M P 28,97 150000 kg
 d 2 (0,2) 2
a área da seção transversal do tubo é: A   0,0314 m 2
4 4
portanto,
 0,0314 x 0,1
m  0,0055 kg / s
0,5704

4.8 - Primeira Lei da Termodinâmica para o Volume de Controle


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Já consideramos a primeira lei da termodinâmica para um sistema, que consiste numa quan-
tidade fixa de massa e mostramos que para um processo ela pode ser representada pela Eq. 4.2-3, is-
to é

 1Q2  E 2  E1   1W2 (4.2-3)

Vimos também que, dividindo por dt, ela pode ser escrita em termos de uma equação de fluxo médio
num intervalo de tempo dt, como na Eq. 4.8-1

Q 2 E 2  E1 W
 1
dt

dt
1 2
dt
(4.8-1)

A fim de escrever a primeira lei em termos de fluxo para um volume de controle, procede-
mos de modo análogo ao usado para deduzir a equação da conservação da massa em termos de flu-
xo. Na Fig. 4.8-1 vemos um sistema e um volume de controle. O sistema é formado por toda a mas-
sa inicialmente contida no volume de controle mais a massa me.
Consideremos as mudanças que ocorrem no sistema e volume de controle durante o interva-
lo de tempo dt. Durante esse intervalo de tempo, dt a massa me entra no volume de controle atra-
vés da área discreta Ae e a massa ms sai através da área discreta As. Em nossa análise admitiremos
que o incremento de massa me tem propriedades uniformes, o mesmo ocorrendo com ms. O tra-
balho total realizado pelo sistema durante o processo, W, é o associado às massas me e ms cru-
zando a superfície de controle, que é comumente chamado de trabalho de fluxo, e o trabalho Wv.c
que inclui todas as outras formas de trabalho, tais como as-
sociadas com eixo que atravessa a fronteira, forças de cisa-
lhamento, efeitos elétricos, magnéticos, ou superficiais, ex-
pansão ou contração do volume de controle. Uma quanti-
dade de calor, Q, atravessa a fronteira do sistema durante
dt.
Consideremos agora cada termo da primeira lei da
termodinâmica escrita para sistema e transformemo-lo nu-
ma forma equivalente, aplicável ao volume de controle. Con-
sideremos primeiramente o termo E2 - E1.

Seja Et = energia do volume de controle no instante


t
Et+ dt = a energia no volume de controle no instante
t+dt

Então
E1 = Et + eeme = a energia do sistema no instante t
E2 = Et+ dt + esms = a energia do sistema no instante t+dt

Portanto,
E2 - E1 = Et+ t + esms - Et - eeme = ( Et +t - Et) + (esms - eeme) (4-8-2)

O termo (esms - eeme) representa o fluxo de energia que a- Figura 4.8-1 Diagrama esquemático
travessa a superfície de controle durante o intervalo de tem- para a análise de um volume de
po, dt, associado às massas ms e me cruzando a superfície controle segundo a primeira lei mos-
de controle. trando calor, trabalho e massa atra-
Consideremos com maior detalhe o trabalho associa- vessando a superfície d e controle
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do às massas me e ms que cruzam a superfície de controle.
O trabalho é realizado pela força normal (normal à área A) que age sobre a me e ms
quando estas massas atravessam a superfície de controle. Essa força normal é igual ao produto da
tensão normal - n, pela área A. O trabalho realizado é:
-n A dl = - nV = - n m (4.8-3)

Uma análise completa da natureza da tensão normal, n, para fluidos reais, envolve a pressão estáti-
ca, e efeitos viscosos e está fora do objetivo deste texto. Admitiremos, neste texto, que a tensão
normal, n, num ponto é igual à pressão estática, P, e simplesmente notaremos que esta hipótese é
bastante razoável na maioria das aplicações e que conduz a resultados de boa precisão.
Com essa hipótese, o trabalho realizado sobre a massa me para introduzi-la no volume de
controle é Peeme e o trabalho realizado pela massa ms ao sair do volume de controle é Pssms.
Chamaremos a esses termos TRABALHO DE FLUXO. Na literatura encontramos muitos outros ter-
mos, como escoamento de energia, trabalho de introdução e trabalho de expulsão.
Então, o trabalho total realizado pelo sistema durante, dt, será;

W  Wv.c  ( Ps  s m s  Pe  e m e ) (4.8-4)

dividamos, agora, as Eq. 4.8-2 e 4.8-4 por dt e substituamos na primeira lei Eq. 4.8-1. Combi-
nando os termos e rearranjando,

Q me E  E t  m s Wv .c
 ( ee  Pe e )   t t  ( e s  Ps s )  (4.8-5)
dt dt  dt  dt dt

Cada um dos termos de fluxo dessa expressão pode ser rescrito na forma:

V2 V2
e  P  u  P   gZ  h   gZ (4.8-6)
2 2

Usando a definição de entalpia específica dada pela Eq. 2.2-2. Deve ser ressaltado que o a-
parecimento da combinação (u + P) sempre que há fluxo de massa através de uma superfície de
controle é a principal razão para se definir a propriedade entalpia. A sua introdução antecipada re-
lacionada com o processo a pressão constante, foi feita para facilitar o uso das tabelas de proprieda-
des termodinâmicas naquela altura.
Utilizando-se a Eq. 4.8-6 para as massas entrado e saindo do volume de controle, a Eq. 4.8-5
torna-se

Q me Ve2 E  E t  m s V2 Wv .c


 ( he   gZ e )   t t  ( hs  s  gZ s )  (4.8-7)
dt dt 2  dt  dt 2 dt

Para reduzir essa expressão a uma equação em termos de fluxo, consideremos o que acontece a ca-
da um dos termos da Eq. 4.8-7 quando dt tende para zero. Os termos de calor trocado e do traba-
lho tornam-se quantidades associadas à taxa de transferência, como no caso visto na seção 4.3. Ana-
logamente as duas quantidades de massa tornam-se fluxos de massa, como na seção 4.7 e o termo
de energia torna-se a taxa de variação de energia com o tempo, no volume de controle, de maneira
análoga ao termo de massa na equação da conservação de massa. Adicionalmente admitimos origi-
nalmente propriedades uniformes de massa me, que entra no volume de controle através da área
Ae e fizemos uma hipótese análoga relativamente a ms, que sai do volume de controle através da
área As. Em conseqüência, ao tomarmos os limites acima mencionados as hipótese se reduzem à
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restrição de propriedades uniformes ao longo das áreas Ae e As num dado instante. Naturalmente as
propriedades podem depender do tempo.
Ao se utilizar os valores limites para exprimir a equação do primeiro princípio para um volu-
me de controle em termos de fluxo, novamente incluímos os sinais de somatório nos termos de es-
coamento para considera a possibilidade de haver correntes de fluxo adicionais entrado ou saindo do
volume de controle e diversos pontos onde calor e trabalho são acrescidos ao volume de controle.
Portanto o resultado é:

  dE v.c  
Q v.c
  me (he  Ve2
2  gZ e ) 
dt
  m s ( hs  Vs2
2  gZ s )   W v.c (4.8-8)

que é, para nossa finalidade, a expressão geral da primeira lei da termodinâmica. Em outras palavras
essa equação diz que a taxa líquida de transferência de calor para o volume de controle, mais a taxa
de energia que entra no mesmo como resultado da transferência de massa, é igual à taxa de variação
da energia dentro do volume de controle mais a taxa de energia que sai deste como resultado da
transferência de massa, e mais a potência líquida associada a eixo, cisalhamento, efeitos elétricos e
outros fatores que já foram mencionados.
A Eq. 4.8-8 pode ser integrada ao longo do tempo total de um processo para se obter a varia-
ção total de energia que ocorre naquele período. Entretanto para se fazer isto é necessário o conhe-
cimento da dependência com o tempo dos vários fluxos de massa e dos estados das massas que en-
tram e saem do volume de controle.
Um outro ponto que deve ser observado é que se não houver fluxo de massa entrando ou sa-
indo do volume de controle, aqueles termos da Eq, 4.8-8 simplesmente desaparecem da Eq. 4.8-8,
que então se reduz à equação da primeira lei para sistema fechado, em termos de fluxo, já discutida
na seção 4.3, ou seja,

 dE 
Q  dt
 W (4.3-3)

Como a abordagem pelo volume de controle é mais geral, e se reduz à expressão usual da primeira
lei para um sistema quando não há fluxo de massa através da superfície de controle, usaremos como
expressão geral da 1a lei, a Eq, 4.8-8.

4.9 - O processo em Regime Permanente

Nossa primeira aplicação das equações de volume de controle será no desenvolvimento de


um modelo analítico adequado para operações em regime permanente de dispositivos como: Turbi-
nas, Compressores, Bocais, Caldeiras, Trocadores Calor etc. , ou seja, um grupo muito grande de
problemas de interesse na engenharia. Esse modelo não incluirá as fases transitória de entrada em
operação e parada de tais dispositivos, abordando apenas o período de tempo de operação estável.
Consideremos um certo conjunto de hipóteses ( além daquelas que levaram à equação da 1a
lei) que conduzem a um modelo razoável para esse tipo de processo, ao qual nos referimos como
processo em regime permanente.

1 - O volume de controle não se move em relação ao sistema de coordenadas.


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- Esta hipótese significa que todas as velocidades medidas em relação aquele sistema são
também velocidades relativas à superfície de controle, e não há trabalho associado com a aceleração
do volume de controle.

2 - Quanto à massa no volume de controle, o estado da mesma em cada ponto do volume de


controle não varia com o tempo.
- Esta hipótese requer que

d m v.c d E v.c
 0, e também, 0
dt dt

portanto, concluímos para o processo em regime permanente, que podemos escrever a equação da
continuidade, Eq. 4.7-4 como:

 
m  m s e
(4.9-1)

e a primeira lei da termodinâmica como:

   
Q v.c
  m e ( he 
Ve2
2  gZ e )   m s ( hs 
Vs2
2  gZ s )   WV.c (4.9-2)

3 - Quanto à massa que escoa através da superfície de controle, o fluxo de massa e o estado
dessa massa em cada área discreta de escoamento na superfície de controle não varia com o tempo.
As taxas na qual o calor e o trabalho cruzam a superfície de controle permanecem constantes. Isto
requer que cada quantidade nas Eq. 4.9-1 e Eq. 4.9-2 sejam invariáveis com o tempo, isto significa
que a aplicação das Eq. 4.9-1 e 4.9-2 à operação de tais dispositivos é independente do tempo.

Exemplo 4.9-1

Vapor de água a 0,5 MPa e 200 OC entra em um bocal termicamente isolado com uma veloci-
dade de 50 m/s, e sai à pressão de 0,15 MPa e à velocidade de 600 m/s. Determinar a temperatura
final do vapor se ele estiver superaquecido e o título se for saturado.

Solução

Hipóteses:
d E v.c
processo em regime permanente, 0
dt

volume de controle termicamente isolado,  não há transferência de calor pela superfície


de controle, Qv.c = 0, e do problema físico, W v.c= 0,
do esquema para o problema podemos adotar para os fluxos mássicos que (EP) e  (EP)s

Da 1a lei da termodinâmica, regime permanente resulta

Ve2 Vs2
he  2  hs  2

as velocidades de entrada e saída são conhecidas, a entalpia


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de entrada pode ser determinada da tabela de propriedades superaquecidas para o
vapor de água,  he = 2 855,4 kJ/kg. Assim substituindo os valores na 1a lei, temos

 Ve2  Vs2 
h s  he    
 2 

 50 2  600 2  2 2 1 kJ
hS  2855,4 (kJ / kg)    (m / s ) ( J )  2855,4 kJ / kg  (178,75)kJ / kg
 2  1000

h s  2 676,65 kJ / kg

Do diagrama de mollier para a água a Ps = 0,15 MPa e com hs = 2 676,65 kJ,


vemos que o estado 2 é de vapor úmido ( hvs = 2693,6 kJ/kg, hls = 467,11kJ/kg )

assim,
hs  h e ( 2676,65  467,11) 2209,54
X2     0,992 ou X 2  99,2 %
h vs  h ls ( 2693,6  467,11) 2226,49

A temperatura é obtida da tabela de propriedades saturadas, para Ps = 0,15 MPa


a temperatura é, Ts = 111,4 OC

Exemplo 4.9-2

O fluxo de massa que entra em uma turbina a Condi- Condi-


vapor d'água é de 1,5 kg/s e o calor transferido da ções ções
turbina para o meio é de 8,5 kW. São conhecidos os de Entra- de Saída
seguintes dados para o vapor de água que entra e sai da
da turbina: Determinar a potência fornecida pela Pressão 2,0 MPa 0,1 MPa
turbina. Temperatura 350 OC -----------
Título --------- 100 %
hipóteses:
Velocidade 50 m/s 200 m/s
O volume de controle é como na figura ao lado
dE v.c Plano de referên- 6m 3m
Regime permanente,  0, cia
dt
   aceleração da gravidade g= 9,8066 m/s2
 m e   ms  m
Modelo: Tabelas de Vapor d'água ou diagrama de Mollier

Análise: Primeira lei da termodinâmica

Solução
   
Ve2 Vs2
Q v.c  m( h e  2  gZ e )  m( h s  2  gZ s )  Wv. c (1)


Dos dados do problema, Q v . c  8 ,5 kW

Do diagrama de Mollier podemos ler os dados para


as condições de entrada e saída da turbina
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he = 3137,0 kJ/kg, Se = 6,95 kJ/kg-K
hs = 2675,5 kJ/kg, Ss = 7,36 kJ/kg-k

Calculo dos termos de energia cinética e potencial dos fluxos mássicos

Ve2 50 x 50 1 ( kJ ) 1( kJ )
 x  1,25 kJ / kg ; gZ e  9,8066 x 6 x  0,059 kJ / kg
2 2 1000 ( J ) 1000 ( J )
Vs2 200 x 200 1( kJ ) 1( kJ )
 x  20,0 kJ / kg ; gZ s  9,8066 x 3 x  0,029 kJ / kg
2 2 1000 ( J ) 1000 ( J )

Substituindo os valores numéricos na equação ( 1 ) temos



 8,5  15
, (3137  1,25  0,059)  15
, ( 2675,5  20,0  0,029)  Wv.c

 
portanto, W v .c  W T   8 ,5  4707 ,5  4043 ,3  655 ,7 kW

Pode-se fazer mais duas observações em relação a esse exemplo. Primeiro, em muitos problemas
de engenharia as variações de energia potencial ( EP), são insignificantes, quando comparadas com
as outras formas de energia. No exemplo acima a variação de energia potencial não afetou o resulta-
do de modo significativo. Na maioria dos problemas onde a variação de altura é pequena, os ter-
mos de energia potencial podem ser desprezados
Segundo, se as velocidades são pequenas, inferiores a cerca de 20m/s, em muitos casos a varia-
ção de energia cinética, (EC), também é insignificante quando comparado com os demais termos de
energia. Como é a variação de energia cinética que é importante na equação da 1 a lei os termos de
energia cinética podem ser comumente desprezados quando não houver grandes diferenças entre
a velocidade de entrada e saída do fluxo mássico no volume de controle. Assim em muitas aplica-
ções da 1a lei deve-se julgar quais valores podem ser desprezados.

Exemplo 4.9-3

Considere uma instalação motora a vapor simples como mostrada na figura abaixo.
Os dados na tabela referem-se a essa instalação.

Temperatura
Localização Pressão ou Título
Saída do gerador de va- 2,0 MPa 300 oC
por
Entrada da turbina 1,9 MPa 290 oC
Saída da turbina, entra-
da do condensador 15 kPa 90 %
Saída do condensador, Figura para o exemplo 5.5-4
entrada da bomba 14 kPa 45 oC
Trabalho da bomba = 4,0 kJ/ kg

Determinar as seguintes quantidades , por kg de fluido que escoa através da unidade.


1 - Calor trocado na linha de vapor entre o gerador de vapor e a turbina
2 - Trabalho da turbina
3 - Calor trocado no condensador
4 - Calor trocado no gerador de vapor.
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Existe evidente vantagem em indicar um número para os diversos pontos do ciclo. Por esse
motivo os índices e e s na equação da energia para um processo em regime permanente, são fre-
qüentemente substituídos por números apropriados, como na figura deste exemplo.
Como existem diversos volumes de controle a serem considerados na resolução deste pro-
blema, consolidemos até um certo grau, o nosso procedimento neste exemplo.

Todos os processos: em regime permanente


Modelo: Tabelas de vapor e/ou diagrama de Mollier para se obter as
propriedades de todos os estados numerados na figura

Como nada foi dito sobre as velocidades dos fluxos mássicos e suas posições,
as variações de energia cinética e potencial, são desprezadas, pelos
critérios discutidos no exemplo 5.5-2

As propriedades dos estados 1,2 e 3 podem ser lidos no diagrama de Mollier, assim:

h1 = 3023,5 kJ/kg S1 = 6,7664 kJ/kg-K


h2 = 3002,5 kJ/kg S2 = 6,7508 kJ/kg-K)
h3 =2361,8 kJ/kg S3 = 7,2831 kJ/kg-K

exemplo para interpolação linear de valores na tabela de propriedades (valor de S 3 )

Da tabela de propriedades superaquecidas


S P= 1,9, e T= 250 oC S P=1,9, e T = 300 oC

T=250 oC T=300 oC
S P S P
6,6066  1,8 6,8226  1,8
S1,9  1,9 S1,9  1,9
6,5453  2,0 6,7664  2,0

interpolando

S1,9  6,6066 1,9  1,8 S1,9  6,8226 1,9  1,8


 
6,6066  6,5453 1,8  2,0 6,8226  6,7664 1,8  2,0

,  18
(19 , ) (1,9  18
, )
S1,9  6,6066  ( 6,6066  6,5453) S1,9  6,8226  (6,8226  6,7664)
,  2,0)
(18 (1,8  2,0)

S1,9  6,57595 S1,9  6,79450

ST=290 oC e P = 1,9 MPa


S T

6,57595 250 ( valor obtido na interpolação acima)


S290 290
6,79450 300 ( valor obtido na interpolação acima)
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S 290  6,57595 290  250  290  250 


  S 290  6,57595  ( 6,79450  6,57595)  6,7508
6,79450  6,57595 300  290  300  250 

S 290  6,7508 kJ / kg  K

As propriedades do estado 4 devem ser lidas da tabela de propriedades comprimidas


ou de forma aproximada, da tabela de propriedades saturadas para a temperatura dada.
Assim
h4 = 188,5 kJ/kg S4 = 0,6387 kJ/kg-K

Procedimento para obter os resultados específicos perguntados no problema:

1 - Calor trocado na linha de vapor entre o gerador de vapor e a turbina

Aplicando-se a 1a lei por unidade de fluxo de massa temos



  Q2
Q 2  m( h2  h1 )   q 2  ( h2  h1 )  3002 ,5  3023 ,5   21,0 kJ / kg
1
1  1
m

2 - Trabalho da turbina

Aplicando-se a primeira lei à turbina para fluxo unitário, temos


   
QV.c  m h2  m h3  WV.c

Uma turbina é essencialmente uma máquina adiabática.


Por tanto é razoável desprezar o calor trocado com o meio ambiente. Assim,


W V .C
2 w3  
 ( h2  h3 )  ( 3002 ,5  2361,8 )  640 ,7 kJ / kg
m
3 - Calor trocado no condensador

Neste caso, não há trabalho, assim,



   Q V .C
Q V .c  m h3  m h 4  3 q 4  
 ( h 4  h3 )  ( 188 ,5  2361,8 )
m

3 q 4   2 173 ,3 kJ / kg

4 - Calor trocado no gerador de vapor.

Neste caso não há realização de trabalho, e a primeira lei fica


   Q V.C
Q V.C  m h 5  m h1  5 q1    ( h1  h 5 )
m

Na resolução, necessitamos do valor de h5, que pode ser obtido considerando um


volume de controle na bomba do sistema
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A primeira lei aplicada à bomba, com a hipótese de que o processo é adiabático, (Q=0 ),
não há transferência de calor da bomba para o meio ou vice-versa, resulta

h4 = h5 + 4w5 , portanto, h5 = h4 - 4W5  h5 = 188,5 - (- 4,0)


h5 = 192,5 kJ/kg

Assim para o gerador, obtemos:

5 q1  (3023,5  192,5)  2831 kJ / kg

A solução gráfica no diagrama de Mollier fica mais rápida, como mostrado


na figura abaixo

Exercícios

4-7) - Um chuveiro elétrico, cuja potência elétrica é de 4400 W , aquece a água da tempera-
tura de 20 OC até 35 OC. Determina o fluxo mássico de água que está sendo aquecido.

4-8) - Em um secador de cabelo, funcionando em regime permanente, a temperatura do ar


saindo é de 83 OC, a velocidade é de 9,1 m/s e a área da saída do ar é de 18,7 cm 2. O ar entra no se-
cador à temperatura de 25 OC, pressão de 1,0 bar e com velocidade de 3,7 m/s.
a) - Admitindo-se que o ar se comporta como gás ideal determinar a potência elétrica do se-
cador.
b) - Usando dados tabelados de entalpia para o ar determine a potência elétrica e comente
os dois resultados comparativamente (para T=295 K  h = 295,2 kJ/kg para T = 356 K  h = 356,5
kJ/kg )
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4-9) - Na Fig. 4-9 temos um coletor solar no qual está escoando 100
kg/h de água no estado líquido. A temperatura de entrada da água no coletor
é de 30 C. Se o fluxo de radiação solar que incide no coletor for de 500
kcal/h e o rendimento térmico do coletor,  = 40 determine a temperatu-
ra da água na saída do coletor. Admita que a pressão é constante e igual a
1,01325 bar.
Fig. 4-9 Coletor solar
plano residencial
4-10) - Na Fig. 4-10 está esquematizado um compressor aspirando
refrigerante, R-12, cujo título, X = 1.0 e a pressão é de 3,817 kgf/cm 2.
Admitindo-se um processo isoentrópico e sendo a pressão de descarga do
compressor de 9,80 kgf/cm2 determine a potência (taxa de trabalho),
que deve ser fornecida ao compressor se ele deslocar uma massa de
500 kg/h de refrigerante -12. Fig. 4-10 - Compressor
Alternativo

4-11) - Na Fig. 4-11 está esquematizado um tubo de um troca-


dor de calor de uma caldeira. Determinar o estado termodinâmico 2
quando for fornecido 1000 kcal/h de calor à água que escoa no tubo
entre o ponto 1 e 2. Considere que o fluxo de água no tubo é de 100
kg/h e que está escoando à pressão constante. As propriedades ter-
modinâmicas no estado 1 são T=100 C e o título, X=0.
Fig. 4-11 - Tubo de caldeira
recebendo calor
4-12)- Uma turbina a vapor pode ser operada em condições de
carga parcial através do estrangulamento do vapor que entra na turbina para uma pressão mais bai-
xa, como mostra a Fig. 4-12, (Em um processo de estrangulamento a entalpia de saída é igual a en-
talpia de entrada). As condições do vapor de água na linha de ali-
mentação são: P1 = 7,0 kgf/cm2 e 320 C. Na saída da turbina,
P3 = 0,07 kgf/cm2. Supondo que o processo na turbina seja adiabá-
tico reversível, calcular o trabalho produzido pela turbina quando
em plena carga, por kg de vapor passando na turbina, e a pressão
para a qual o vapor deverá ser estrangulado para produzir 75% do
trabalho de plena carga.
Fig. 4-12 - Turbina a vapor com
controle de capacidade

4-13) - Um tanque contém 45 kg de água na fase líquida inicialmente a 45 oC com uma entra-
da e uma saída com igual fluxo de massa como mostra a Fig.4-13. O fluxo mássico de água na entra-
da e saída é de 270 kg/h. A temperatura da água entran-
do no tanque é de 45 oC. Uma serpentina imersa dentro
da água no tanque remove da água 7,6 kW de calor. A
água é bem mistura por uma hélice de forma que pode-
mos considerar que a temperatura da água dentro do
tanque é uniforme. A potência introduzida na água pela
hélice é de 0,6 kW. A pressão da água entrando e saindo
pode ser considerada igual e constante. A variação de
energia cinética e potencial pode ser desprezada. Mos-
trar que a temperatura da água no tanque é dada por:
Figura. 4-13 Tanque com água no
estado líquido mostrando os dados
necessários ao exercício 4-13
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  
 Q  W  m


TT  T1   serp. he  lice
 1  e  MT
t

  
 


 m c PH2O 

construir o gráfico TT ( temperatura da água no tanque) função do tempo t, e calcular a temperatura


 
mínima da água no tanque.( sendo m  m agua , MT a massa de água no tanque.)

5 - SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA

O principal significado da 2a lei da termodinâmica é que ela estabelece a direção na qual o-


corre um determinado processo. Além disso, define o motor térmico, o refrigerador e a temperatura
termodinâmica.
Assim, por exemplo, uma xícara de café quente esfria em virtude da troca de calor com o
meio ambiente, mas o meio não pode ceder calor para a xícara.
A primeira lei, como vimos, não impõe a direção do processo, apenas estabelece que em um
processo cíclico o calor é igual ao trabalho.

5.1 - Algumas definições

Reservatório Térmico ( ou Fonte de Calor) - Chamamos de reservatório térmico qualquer sis-


tema que possa fornecer ou receber calor sem alterar sua temperatura. ( exemplos; oceano, atmos-
fera, combustíveis etc.)

Motor térmico (Máquina térmica) - Consideremos o sistema mostrado na figura 5.1-1. Seja
o sistema constituído pelo gás, e façamos que este sistema percorra um ciclo no qual primeiramente
realiza-se trabalho sobre o mesmo através das pás do agitador, mediante o abaixamento do peso e
completemos o ciclo transferindo calor para o meio ambiente.
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Figura 5.1-1 - sistema mostrando a restrição da segunda lei da termodinâmica


à direção do processo.

Da experiência sabemos que não podemos inverter o ciclo. Isto é, fornecer calor ao gás e fa-
zer com que ele levante o peso. Isto não contraria o primeiro princípio embora não seja possível.
Essa ilustração nos leva a considerar a máquina térmica. Com uma máquina térmica (ou mo-
tor térmico) é possível operar em um ciclo termodinâmico realizando um trabalho líquido positivo e
recebendo um calor líquido.
O conceito de motor térmico corresponde a um sistema ou instalação que opere segundo
um ciclo termodinâmico trocando calor com dois reservatórios térmicos (recebendo calor líquido) e
realizando trabalho mecânico. A figura 5.1-2 mostra o esquema de uma instalação a vapor, que fun-
ciona segundo o ciclo de Rankine e é uma das máquinas térmicas mais importantes do desenvolvi-
mento industrial.
O trabalho útil de uma máquina térmica como a da
Figura 5.2-1 pode ser obtido aplicando-se a primeira lei da
termodinâmica sobre todo o sistema como indicado na fi-
gura, ou seja

  
Q H  Q L  W util (5.1-1)


onde, trabalho útil ( W util
 ), é a diferença;

  
W util
  WT  WB (5.1-2)
Figura 5.1-2 - Esquema de uma máqui-
Rendimento Térmico - Para uma máquina térmica na
define-se um parâmetro chamado rendimento térmico, re- térmica operando em um ci-
presentado pelo símbolo, T , como: clo


Energia util W
T   util (5.1-3)
Energia Gasta Q H

Como mostra a Eq. 5.1-3 o rendimento térmico expressa o a-


proveitamento da máquina térmica ao transformar a energia térmica
para energia mecânica no eixo da turbina da Fig. 5.1-2
Na análise genérica dos motores térmicos faz-se uso do es-
quema mostrado na figura 5.1-3. O esquema da fig. 5.1-2 é específico Fig. 5.1-3 - Esquema genéri-
para o sistema operando segundo o ciclo de Rankine como dito ante- co
riormente. de um motor tér-
mico
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Observe-se que ao aplicarmos o balanço de energia no sistema definido pela fronteira na
Fig. 5.1-3, obtemos imediatamente o resultado da
Eq. 5.1-1.
O motor de combustão interna não opera
segundo um ciclo termodinâmico, como já foi dito.
Entretanto, os modelos termodinâmicos de motores
de combustão interna, com o objetivo de análise
térmica, trabalham com ar em um ciclo termodinâ-
mico. A Fig. 5.1-4 mostra o esquema de um ciclo
teórico padrão ar de motor de combustão interna.
A Fig.5.1-4a é o ciclo teórico para o motor por igni-
ção (motor Otto) e a Fig.5.1-4b é de um motor Die- Figura 5.1-4 - Ciclo padrão ar Otto e Diesel
sel.

Refrigerador ou Bomba de Calor - Consideremos um outro ciclo como mostra a Fig. 5.1-5, o
qual sabemos experimentalmente ser impossível na prática, embora
a 1a lei da termodinâmica não imponha qualquer restrição. Para es-
tes dois sistemas o calor pode ser transferido do sistema de alta
temperatura para o de baixa temperatura de forma espontânea, mas
o inverso não é possível de ocorrer.
Esse sistema nos leva a considerar uma outra máquina tér-
mica, também de grande importância industrial, — O refrigerador
ou a bomba de calor. O refrigerador ou a bomba de calor é um sis-
tema (ou instalação ) que opera segundo um ciclo termodinâmico Figura - 5.1-5 Esquema
recebendo trabalho ( potência) e transferindo calor da fonte fria (do da
reservatório de baixa temperatura) para a fonte quente ( troca espontânea de ca-
reservatório de alta temperatura). A Fig. 5.1-6 mostra o lor
esquema de um sistema de refrigeração ou bomba de calor
que opera por compressão de vapor (o mesmo sistema se-
rá um refrigerador se estivermos interessados no calor reti-
rado da fonte fria e será uma bomba de calor se nosso in-
teresse for o calor transferido à fonte quente).
Existem refrigeradores e bombas de calor operan-
do segundo outro princípio, entretanto nosso interesse a- Fig. 5.1-6 - Esquema de um refrigerador
qui é mostrar o refrigerador que recebe potência e transfe- ou
re calor da fonte fria para a fonte quente como mostrados bomba de calor por compressão de va-
no esquema da figura 5.1-6. por
Aplicando-se a primeira lei da termodinâmica
para o sistema demarcado na Fig. 5.1-6, temos;
Q L  (  Q H )   WC ou WC  Q H  Q L (5.1-4)

Para um refrigerador ou bomba de calor não se define o parâmetro rendimento mas um ou-
tro equivalente chamado de Coeficiente de eficácia, , Coeficiente de desempenho, ou Coeficiente
de Performance, COP, como segue


Energia util
  COP  (5.1-5)
Energia gasta

a equação 5.1-5 se aplicada ao refrigerador, fica:


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Q QL
(  COP )Re frigerador  L  (5.1-6)
WC Q H  QL

e para a bomba de calor, resulta

QH QH
(  COP )Bomba de Calor   (5.1-7)
WC Q H  Q L

Pode-se mostrar combinando a Eq. 5.1-6 com a Eq. 5.1-7 que:

(  COP)Bomba de Calor  (  COP)Re frigerador  1 (5.1-8)


5.2 - Enunciados da Segunda lei da Termodinâmica

Enunciado de Kelvin e Planck ( refere-se ao motor térmico) " É impossível a um motor térmi-
co operar trocando calor com uma única fonte de calor "
Este enunciado referente à máquina térmica nos diz que é impossível uma máquina térmica
com rendimento de 100 %, pois pela definição de rendimento térmico
QL
T  1
QH
o rendimento seria 100% se QL = 0, ( apenas uma fonte de calor ) ou se QH fosse infinito ( o que não
é possível ! ). Assim, uma máquina térmica tem que operar entre dois reservatórios térmicos — re-
cebendo calor, rejeitando uma parte do calor e realizando trabalho.

Enunciado de Clausius ( refere-se ao refrigerador ) " É impossível construir um dispositivo que


opere em um ciclo termodinâmico e que não produza outros efeitos além da passagem de calor da
fonte fria para a fonte quente "
Este enunciado está relacionado ao refrigerador ou bomba de calor e estabelece ser impos-
sível construir um refrigerador que opere sem receber energia (trabalho). Isto indica ser impossí-
vel um, coeficiente de eficácia ( COP) infinito.

Observações Relativas à Segunda Lei da Termodinâmica

a) Os dois enunciados são negativos - Assim não é possível uma demostração. Estes enunci-
ados são baseados na observação experimental e no fato de não terem sido refutados até os dias de
hoje.

b) Os dois enunciados são equivalentes

c) A terceira observação é que a segunda lei da termodinâmica tem sido enunciada como a
impossibilidade de construção de um " Moto-Perpétuo de Segunda Espécie "

Moto perpétuo de 1a espécie - Produziria trabalho do nada ou criaria massa e energia - vio-
a
laria a 1 lei da termodinâmica.

Moto perpétuo de 2a espécie - Violaria a segunda lei da termodinâmica ( rendimento


100% ou COP =  )
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Moto perpétuo de 3a espécie - Motor sem atrito, conseqüentemente se moveria indefinida-
mente mas não produziria trabalho

Processo Reversível - A pergunta que logicamente aparece é a seguinte: Sendo impossível


um motor térmico com rendimento 100% qual o máximo rendimento possível. O primeiro passo pa-
ra responder esta pergunta é definir um processo ideal chamado " Processo Reversível "

Definição - "Processo reversível para um sistema é aquele que tendo ocorrido pode ser inver-
tido sem deixar vestígios no sistema e no meio".

As causas mais comuns da irreversibilidade ( contrário de reversível) nos processos reais


são: ATRITO, EXPANSÃO NÃO RESISTIVA, TROCA DE CALOR COM DIFERENÇA FINITA DE
TEMPERATURA, MISTURA DE SUBSTÂNCIA DIFERENTES, EFEITO DE HISTERESE, PERDAS ELÉTRICAS
DO TIPO RI2, COMBUSTÃO, ETC.
Assim, para que um processo real se aproxime de um processo IDEAL REVERSÍVEL, ele deve
ser lento, sofrer transformações infinitesimais, equilíbrio contínuo, trocar calor com diferenças mí-
nimas de temperatura, mínimo de atrito, etc. Todos os processos reais são IRREVERSÍVEIS.
Quando todos os processos que compõem um ciclo são ditos reversíveis, o ciclo também se-
rá reversível.

5.3 - Ciclo de Carnot (ou Motor de Carnot )


( Engenheiro Francês Nicolas Leonard Sadi Carnot , 1796-1832)

O ciclo de Carnot ( ou motor de Carnot) é um ciclo ideal reversível ( Motor Térmico Ideal ),
composto de dois processos adiabáticos reversíveis e de dois processos isotérmicos reversíveis. O ci-
clo de Carnot independe da substância de trabalho, e qualquer que seja ela, tem sempre os mesmos
quatro processos reversíveis. O ciclo de Carnot está mostrado na Fig. 5.3-1, no plano T x S.

Figura 5.3-1 - O ciclo de Carnot e o esquema de uma máquina térmica

Existem dois teoremas importantes sobre o rendimento térmico do ciclo de Carnot:

1o Teorema - " É impossível construir um motor que opere entre dois reservatórios térmicos
e tenha rendimento térmico maior que um motor reversível (motor de Carnot) operando entre os
mesmos reservatórios "

2o Teorema - " Todos os motores que operam segundo um ciclo de Carnot, entre dois reser-
vatórios à mesma temperatura, têm o mesmo rendimento"
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Escala Termodinâmica de Temperatura - A lei zero da termodinâmica fornece a base para a
medida de temperatura, mas também que a escala termométrica deve ser definida em função da
substância e do dispositivo usado na medida. O mais conveniente seria uma escala de temperatura
independente de qualquer substância particular, a qual possa ser chamada de " Escala Absoluta de
Temperatura ".
Da segunda lei da termodinâmica vimos a definição do ciclo de Carnot, que só depende da
temperatura dos reservatórios térmicos, sendo independente da substância de trabalho. Assim, o
ciclo de Carnot fornece a base para a escala de temperatura que Chamaremos de " Escala Termodi-
nâmica de Temperatura".
Pode-se mostrar que o rendimento térmico do ciclo de Carnot é função somente da Tempe-
ratura, isto é;

WC Q H  Q L Q
T CARNOT    1  L   ( TL , TH ) (5.3-1)
QH QH QH

Existem inúmeras relações funcionais, (TL, TH), (TH é a temperatura da fonte quente e TL da
fonte fria), que satisfazem essa equação. A função escolhida originalmente, proposta por Lord Kel-
vin, para a escala termodinâmica de temperatura, é a relação

 QL  T
   L ( 5.3-2)
 QH  reversivel TH

As temperaturas TH e TL são em Kelvin. Com a Escala de Temperatura Absoluta definidas pe-


la equação 5.3-2 o rendimento térmico do ciclo de Carnot, resulta:

QL TL
 T CARNOT  1    T CARNOT  1  (5.3-3)
QH TH

A medida do rendimento térmico do ciclo de Carnot, todavia, não é uma maneira prática pa-
ra se abordar o problema de medida da temperatura termodinâmica. A abordagem real usada é
baseada no termômetro de gás ideal e num valor atribuído para o ponto triplo da água. Na Décima
conferência de Pesos e Medidas que foi realizada em 1954, atribui-se o valor de 273,16 K para a
temperatura do ponto triplo da água ( o ponto triplo da água é aproximadamente 0,01 OC acima do
ponto de fusão do gelo. O ponto de fusão do gelo é definido como sendo a temperatura de uma
mistura de gelo e água líquida à pressão de 1(uma) atmosfera, (101,325 kPa) de ar que está saturado
com vapor de água. [1]

Exemplo 5.3-1

Calcular o rendimento térmico de um motor de Carnot que opera entre 500 oC e 40 oC

Solução:

Como sabemos, o rendimento de um motor de Carnot é função somente


TL
de temperatura, ou seja  T CARNOT  1 
TH
onde,
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TH =(500 oC+273,15)=773,15 K e TL = (40 oC+273,15) = 313,15 K

31315
,
 T CARNOT  1   0,595 ou 59,5 %
77315
,

Exemplo 5.3-2

Calcular o coeficiente de eficácia,  ( ou coeficiente de desempenho ou COP)


de uma bomba de calor de Carnot que opera entre 0 oC e 45 oC

Solução:

Da definição do coeficiente de eficácia para uma bomba de calor, temos:

QH QH 1
 BOMBA de CALOR    (1)
WC QH  QL Q
1 L
QH
como se trata de uma máquina de Carnot, sabemos que

Q L TL

Q H TH
substituindo na equação (1) temos

1 TH
 BOMBA de CALOR  
T TH  TL
1 L
TH
substituindo os valores numéricos obtemos

(45  27315
, ) 318,15 318,15
 BOMBA de CALOR     7,07
[(45  27315
, )  (0  27315
, )] (318,15  27315
, ) 45

Obs. O valor do coeficiente de eficácia ( ou COP) de um refrigerador, (mesmo o sistema


real que funciona por compressão de vapor, a sua geladeira, por exemplo), é em geral,
maior que 1 ( um), enquanto o rendimento térmico de uma máquina térmica é sempre
menor que 1 ( um)

Exercícios

5.1)- Propõem-se aquecer uma residência durante o inverno usando uma bomba de calor. A
residência deve ser mantida a 20 OC. Estima-se que quando a temperatura do meio externo cai a -10
O
C a taxa de perda de calor da residência seja de 25 kW. Qual é a mínima potência necessária para
acionar essa unidade de bomba de calor ?
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5.2)- Um ciclo de refrigeração de Carnot opera em uma sala onde a temperatura é 20 OC. Ne-
cessita-se de uma taxa de transferência de calor do espaço refrigerado de 5 kW para manter a sua
temperatura a -30 OC Qual a potência do motor necessária para operar esse refrigerador

5.3)- Propõe-se construir um motor térmico para operar no oceano, num local onde a tem-
peratura na superfície é de 20 OC e a grande profundidade é de 5 OC. Qual é o rendimento térmico
máximo possível de tal motor .

5.4)- Um inventor alega ter desenvolvido uma unidade de refrigeração que mantém o espaço
refrigerado a -10 OC, operando numa sala onde a temperatura é de 35 OC. e que tem um COP de 8,5.
Como você avalia a alegação de um COP de 8,5 ?

5.5)- Um determinado coletor solar produz uma temperatura máxima de 100 OC, a energia
coletada deve ser usada como fonte térmica num motor térmico. Qual é o máximo rendimento do
motor se ele opera num meio à temperatura de 10 OC ? O que aconteceria se o coletor fosse proje-
tado para focalizar e concentrar a energia solar de modo a produzir uma temperatura máxima de
300OC.

5.6)- Uma máquina cíclica é usada para transferir calor de um


reservatório térmico de alta temperatura para outro de baixa tempera-
tura conforme mostrado na figura. determinar se esta máquina, para os
valores de troca de energia mostrados na figura, é reversível, irreversí-
vel ou impossível.

5.7)- Uma bomba de calor deve ser usada para aquecer uma re-
sidência no inverno, e depois é colocada em operação reversa para res-
friar a residência no verão. A temperatura interna deve ser mantida a 20 OC no inverno e 25 OC no ve-
rão. A troca de calor, através das paredes e do teto é estimada em 2 400 kJ por hora e por grau de di-
ferença de temperatura entre o meio interno e externo da residência.
a) Se a temperatura externa no inverno é 0 OC qual é a mínima potência necessária para a-
cionar a bomba de calor ?
b) Se a potência fornecida é a mesma da parte a), qual é a máxima temperatura externa no
verão para a qual o interior da residência possa ser mantido a 25 OC ?

6- ENTROPIA

Em nossa análise da 1a lei da termodinâmica, inicialmente, a estabelecemos para um ciclo, e


a seguir definimos uma propriedade, A ENERGIA INTERNA, e com esta nova propriedade do sistema
pudemos utilizar a 1a lei da termodinâmica quantitativamente para um processo qualquer.
De modo semelhante estabelecemos a segunda lei para um ciclo (os dois enunciados, Kelvin -
Planck e Clausius como vimos se referem a um sistema operando em um ciclo termodinâmico) e
vamos agora verificar que ela conduz a uma outra propriedade que chamaremos ENTROPIA e será
representada pela letra "S".
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Energia e Entropia são conceitos abstratos idealizados para auxiliar na análise de sistemas
térmicos.
A TERMODINÂMICA PODE SER DEFINIDA COMO A CIÊNCIA DA ENERGIA E DA ENTROPIA.

6-1 A Desigualdade de Clausius

A desigualdade de Clausius nada mais é que uma conseqüência (corolário) da segunda lei da
termodinâmica.

Q
 T 0 (6.1-1)

Esta desigualdade vale para qualquer ciclo termodinâmico e pode ser facilmente mostrado
utilizando-se do ciclo reversível de Carnot.

Uma forma alternativa, e interessante, para escrever a desigualdade de Clausius é eliminar o


sinal de menor ou igual, (  ), introduzindo o conceito de produção de entropia interna de um sis-
tema, isto é:

  Q
  
T  FRONTEIRA
   ciclo (6.1-2)

onde  ciclo , a entropia produzida, é a medida do " tamanho " do efeito da irreversibilidade pre-
sente dentro do sistema operando sob um ciclo termodinâmico.

Os valores possíveis para  ciclo , são;

 ciclo = 0 para um ciclo reversível


 ciclo > 0 existem irreversibilidades internas ao ciclo (processo não reversível)
 ciclo < 0 impossível ( violaria a segunda lei da termodinâmica )

Exemplo 6.1-1
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Considere o ciclo simples de potência a va-
por, como mostrado na figura ao lado. Esse ciclo é
ligeiramente diferente do ciclo normal das instala-
ções a vapor, porque a bomba opera com uma mis-
tura de líquido e vapor em tal proporção que líquido
saturado (X=0) sai da bomba e entra na caldeira.
Admitamos que a pressão e o título nos vários pon-
tos do ciclo sejam os valores dados na figura. Per-
gunta-se: Essa máquina operando nesse ciclo satis-
faz a desigualdade de Clausius ?

Solução

Calculando-se o somatório do calor dividido


pela respectiva temperatura termodinâmica, temos:

Q   Q   Q
 T
  
 T  cald.
 
 T  cond.

como TCALD. e TCOND são constantes, teremos

Q 1 1 Q Q
 T

Tcald   Q cald 
Tcond   Q cond  cald  cond
Tcald Tcond

das tabelas de vapor, obtemos

qcald  h3  h2  493,9 kcal / kg, e T3  T2  164,2 o C

q cond  h1  h 4  110,2  563,7   453,5 kcal / kg ,


T4  T1  53,6 o C

portanto;

Q 493 ,9 453 ,5 kcal


 T
 
( 164 ,24  273 ,15 ) ( 53 ,6  273 ,15 )
  0 ,258
kg. K

Assim este ciclo satisfaz a desigualdade de Clausius, significando que não


viola a 2a lei da termodinâmica.

6.2 - Definição de Entropia , ( S )

Como já vimos anteriormente, uma dada quantidade é uma propriedade se, e somente se,
sua variação entre dois estados for independente do processo para ir de um para o outro estado.

Por definição, entropia é


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Q
ds  ( ) (6.2-1)
T INT.REV.
ou de forma integrada
2  Q 
S 2  S1     (6.2-2)
1  T 
INT. REV .

Nas Eqs. 6.2-1 e 6.2-2 o índice INT. REV significa que a definição de variação de entropia é para
um processo internamente reversível.
O ponto a ser observado aqui é que, como a entropia é uma propriedade, a variação de en-
tropia de uma substância, ao ir de um estado a outro, é a mesma para todos os processos tanto re-
versíveis como irreversíveis, entre estes dois estados. A Eq. 6.2-2 permite obter a variação de en-
tropia somente através de um caminho reversíveis. Entretanto, uma vez determinada, essa variação
será a mesma para qualquer processo entre esses estados.
Embora a Eq. 6.2-2 nos permita determinar a variação de entropia, ela não nos informa nada
a respeito dos valores absolutos de entropia. Entretanto, pela terceira lei da termodinâmica, que se-
rá discutida no curso de termodinâmica 2, conclui-se que pode ser atribuído o valor zero para a en-
tropia de um cristal perfeito à temperatura de zero absoluto. Disto resulta valores absolutos de en-
tropia importante quando estão envolvidas reações químicas. Quando não está envolvida nenhuma
mudança de composição, é bastante adequado atribuir valores de entropia em relação a uma refe-
rência arbitrariamente escolhida como foi feito para a energia interna e para a entalpia.

6.3 - Variação de entropia em processos reversíveis.

Tendo definido a propriedade entropia, S, vamos analisar agora o seu significado em alguns
processos reversíveis, principalmente aqueles do ciclo de Carnot. Posteriormente será verificado a
variação de entropia para um processo irreversível.
Considere como sistema o fluido de trabalho de um motor térmico que opera segundo o ci-
clo de Carnot. O primeiro processo é o de transferência isotérmica de calor do reservatório de alta
temperatura para o fluido de trabalho. Para esse processo podemos escrever:

2   Q
S2  S1    
1  T 
REV.

como este é um processo no qual a temperatura do fluido de trabalho permanece constante, resulta
da integração:
1 2 Q
S2  S1 
TH 1
Q  1 2
TH

Esse processo é mostrado na figura 6.3-1a e a área abaixo da linha 1-2-b-a-1 representa o calor trans-
ferido ao fluido de trabalho durante o processo .
O segundo processo do ciclo de Carnot é adiabático reversível. Da definição de entropia, te-
mos;
 Q 
dS    0
 T  REV
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é evidente que a entropia permanece constante em um processo adiabático (Q = 0) reversível (sem
atrito). O processo a entropia constante é chamado de processo isentrópico. A linha 2-3 representa
esse processo, que termina no estado 3 onde a temperatura do fluido de trabalho atinge o valor T L.
O terceiro processo é isotérmico reversível, no qual o calor é transferido do fluido de traba-
lho ao reservatório térmico de baixa temperatura. Para este processo podemos escrever:

2   Q Q
S4  S3      3 4
1  T  TL
REV

Como durante esse processo o calor trocado é negativo (sai do sistema) a entropia do fluido decres-
ce. Também como o processo final 4-1, que completa o ciclo é um processo adiabático reversível (i-
sentrópico) é evidente que a diminuição de entropia no processo 3-4 deve ser exatamente igual ao
aumento de entropia no processo 1-2. A área abaixo da linha 3-4, área 3-4-a-b-3, representa o calor
transferido do fluido de trabalho ao reservatório de baixa temperatura.

Como o trabalho líquido do ci-


clo é igual a troca líquida de calor (1a
lei), é evidente que a área 1-2-3-4-1
representa o trabalho líquido específi-
co do ciclo. O rendimento térmico do
ciclo pode também ser expresso em
função das áreas:

 1 2 3 41
area
Fig. 6.3-1a - O ciclo Motor de Fig. 6.3-1b - O ciclo do T  (6.3-1)
refri- 
area 1  2  b  a  1
Carnot no diagrama T x S gerador de Carnot no di-
agra- algumas afirmações efetuadas anterior-
ma T x S mente sobre rendimento térmico podem
ser agora compreendidas . Por exemplo,
com o aumento de TH, permanecendo TL constante, há aumento do rendimento térmico. Diminuindo
TL e ficando TH constante o rendimento térmico também aumenta. É também evidente que o rendi-
mento térmico se aproxima de 100 % quando a temperatura absoluta na qual o calor é rejeitado
tende para zero.
Se o ciclo for invertido, temos um refrigerador ou uma bomba de calor ; o ciclo de Carnot pa-
ra um refrigerador está mostrado na Fig. 6.3-1b. Observe que neste caso a entropia do fluido de tra-
balho aumenta à temperatura TL pois o calor é transferido ao fluido de trabalho e a entropia diminui
à temperatura TH devido a transferência de calor do fluido de trabalho.
Consideremos em seguida os processos reversíveis de troca de calor. Na realidade, estamos
interessados aqui, nos processos que são internamente reversíveis, isto é, processos que não envol-
vem irreversibilidades dentro da fronteira do sistema. Para tais processos, o calor transferido para o
sistema pode ser indicado como a área no diagrama temperatura-entropia. Por exemplo, conside-
remos a mudança de estado de liquido saturado para vapor saturado à pressão constante. Isto cor-
responde ao processo 1-2 no diagrama T x S da Fig. 6.3-2. ( observe que a temperatura aqui é a tem-
peratura absoluta), e a área 1-2-b-a-1 representa o calor trocado. Como este é um processo à pres-
são constante, o calor trocado por unidade de massa, é igual a h lv = (hvs - hls). Assim,

1 2  Q  1 2 q h
S 2  S1  S lv  1
  
m  T  REV m  T 1
Q  1 2  lv
T T
(6.3-2)
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Essa relação fornece uma indicação para o cálculo de Slv apresentado nas tabelas de propriedades sa-
turadas. Por exemplo, considere o vapor d'água saturado a 10 MPa. Das tabelas de vapor temos h lv
= 1317,1 kJ/kg e temperatura de 311,96 oC. Portando o valor de Slv será
1317 ,1
Slv   2 ,2510 kJ / kg. K
( 311,96  273 ,15 )

se for transferido calor ao vapor saturado, à pressão constante o vapor


é superaquecido ao longo da linha 2-3 para este processo podemos
escrever:

1 3
  Q   Tds
3
2 q3  (6.3-3)
m 2 2

Figura 6.3-2 - O processo no


Como T não é constante, a expressão acima não pode ser inte- diagrama T x S
grada, a menos que se conheça a relação entre temperatura e entro-
pia. Entretanto, verificamos que a área abaixo da linha 2-3, área 2-3-c-b-2 representa  Tds , e por-
3

tanto, representa o calor trocado durante esse processo reversível.


A conclusão importante a ser tirada aqui é que, para processo internamente reversível, a á-
rea abaixo da linha que indica o processo no diagrama temperatura -entropia representa a quantida-
de de calor trocado. Há muitas situações em que ocorrem processos essencialmente adiabáticos. Já
observamos que em tais casos , o processo ideal, que é um processo adiabático reversível, é isentró-
pico. Verificaremos, também nas seções posteriores, que pela comparação do processo real com o
processo ideal ou isentrópico, teremos uma base para definir a eficiência de determinada classe de
máquinas.

Exemplo 6.3-1

Consideremos um cilindro provido de um êmbolo contendo vapor saturado de freon-22 a -


10 oC. O vapor é comprimido segundo um processo adiabático reversível até a pressão de
15,63708 kgf/cm2. Determinar o trabalho por kg de vapor, nesse processo.
Solução
Sistema Freon - 22
Estado inicial: T1, vapor saturado - estado determinado
Estado final: P2 e processo adiabático reversível - estado conhecido
Modelo - tabelas ou diagrama de propriedades
Análise: 1a lei para sistema fechado
1 Q2  (E2  E1 )  1W2

Hipóteses: Volume de controle estacionário, então, EP = EC = 0,


assim, a 1a lei para massa unitária fica

1q 2 = u2 - u1 + 1w 2 , mas, 1q 2 = 0 (processo adiabático)

1w 2 = u1 - u2

e pela segunda lei - processo adiabático reversível S 2 = S1


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portanto conhecemos a entropia e a pressão no estado final o que é suficiente para determinar o
estado 2.

das tabelas de freon-22, temos;

estado 1 - vapor saturado a -10 oC  P1 = 3,6127 kgf/cm2

h1 = 148,173 kcal/kg, v1 = 0,0653 m3/kg, S1 = 1,18335 kcal/kg K

estado 2 P2 = 15,63708 kgf/cm2, S 2 = S1 = 1,18335 kcal/kg K

interpolando na tabela de vapor superaquecido, temos:

T2 = 64,3 oC, v2= 0,0177 m3/kg, h2 = 157,020 kcal/kg

u1 = h1 - P1v1 = 148,173 (4,1868) - [ (3,6127 x 9,81 x 104) x 0.0653] x 10-3


u1 = 620,37 - 23,14 = 597,23 kJ/kg

u2 = h2 - P2v2 = 157,020(4,1868) - [ 15,63708 x 9,81 x 104) x 0,0177] x 10-3


u2 = 657,41 - 27,15 = 630,26 kJ/kg

1 w2 = 597,23 - 630,26 = - 33,03 kJ/kg

6.4 - Duas Relações Termodinâmicas Importantes

Considere uma substância pura simples compressível, como sistema, sofrendo um processo
internamente reversível. Na ausência de outros efeitos de movimento e gravidade o balanço da 1 a
lei da termodinâmica na forma diferencial resulta:

 Q INT. REV
 dU    W INT. REV ( 6.4-1 )

por definição de entropia

  Q
dS      Q  TdS
 T  INT. REV
INT. REV

o trabalho de uma substância simples compressível é dado por

 W INT. REV
 PdV

substituindo estes dois valores na equação 6.4-1 obtemos a 1a relação procurada, chamada de equa-
ção " TdS "

TdS  dU  PdV ou Tds = du + Pd (6.4-2)

utilizando, agora, a definição da propriedade entalpia , onde

H  U  PV
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e diferenciando, obtemos:

dH  dU  PdV  VdP

substituindo o valor de dU dado pela Eq. 6.4-2, obtemos

dH  TdS  PdV  PdV  VdP


e, portanto

TdS  dH  VdP ou Tds = dh - dP (6.4-3)

Que é a segunda relação procura. As equações TdS, embora, obtidas a partir do processo
reversível são válidas para qualquer processo, uma vez que todos os termos da equação são com-
postos de propriedades termodinâmicas e portanto, não depende do caminho, e sim, somente dos
estados inicial e final.

Exemplo 6.4-1

Um exercício ilustrativo do uso das equações TdS, pode ser mostrado considerando a mu-
dança de estado de liquido saturado para vapor saturado a pressão constante
Solução:

sendo a pressão constante, da segunda equação TdS temos:

dh
ds  ou integrando,
T
h 2  h1
(s 2  s1 ) 
T

6.5- Variação de entropia de um sistema durante um processo irreversível

Considere um sistema que percorra os ciclos mostrados na Fig. 6.5-1. O ciclo constituído pe-
los processos A e B é reversível. Portanto, para um ciclo reversível podemos escrever:

Q 2  Q  1  Q 
 T
 
1  T 

A
 
2 T 
 0
B
(6.5-1)
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O ciclo constituído pelo processos reversível A e do processo irre-


versível C é um ciclo irreversível. Portanto, a desigualdade de
Clausius pode ser aplicada para este ciclo, resultando

  Q 2   Q 1   Q
Figura 6.5-1 Variação de en-
tropia
  T
  1    2 
 T A
 0
 T C
(6.5-2)

durante um processo irreversí-


vel
Subtraindo a segunda equação da primeira e rearranjando temos (
a 1a Eq. é igual a zero e a 2a é menor que zero, portanto a 1a é maior que a segunda ! )

  Q 1   Q
2  T  B 2  T  C
1
   (6.5-3)

Como o caminho B é reversível, e como a entropia é uma propriedade do sistema, então;


 Q
    dS B   dSC
1 1 1
 (6.5-4)
2 T B 2 2

portanto,

1   Q
 dS  
1

2 C 2 T 
 (6.5-5)
C

para o caso geral podemos, então escrever:

Q
dS  (6.5-6)
T
ou

Q
S 2  S1  
2
(6.5-7)
1 T

Nessas equações a igualdade vale para processo reversível e a desigualdade para processo irreversí-
vel.
Essa é uma das mais importantes equações da termodinâmica e é usada para desenvolver
vários conceitos e definições. Essencialmente, essa equação estabelece a influência da irreversibili-
dade sobre a entropia de um sistema. Assim se uma quantidade de calor Q é transferida para o sis-
tema à temperatura T segundo um processo reversível a variação de entropia será menor que se a
mesma quantidade de calor, Q, for transferido através de um processo irreversível.

A Eq. 6.5-7 é válida quando Q = 0, ou quando Q < 0 , ou mesmo quando Q > 0. Se Q


for negativo a entropia tenderá a decrescer devido à troca de calor. Entretanto, a influência das irre-
versibilidades é ainda no sentido de aumentar a entropia do sistema, e, do ponto de vista numérico,
absoluto, podemos ainda escrever para Q < 0, que
Q
dS 
T
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6.6 - Variação de Entropia de um Sólido ou Líquido

Já verificamos a variação de energia interna e de entalpia para sólidos e líquidas em seções


anteriores, e verificamos que, em geral, é possível expressar ambas as propriedades de maneira sim-
ples, em termos de calor específico.
Como sabemos o volume específico para um sólido ou líquido varia muito pouco ou quase
nada com a variação de pressão, assim da equação Tds, Eq. 6.4-2 podemos escrever para um sólido
ou líquido

du C
ds   dT (6.6-1)
T T

Ainda, como foi dito anteriormente, para muitos processos que envolvem um sólido ou líquido po-
demos admitir que o calor específico se mantém constante, e neste caso, a Eq. 6.6-1, pode ser inte-
grada, obtendo-se:

T2
S 2  S1  C ln (6.6-2)
T1

Se o calor específico não for constante, mas função da temperatura, T, a equação 6.6-1 pode
ser integrada para determinar o valor da variação de entropia.

Exemplo 6.6-1

Um quilograma de água líquida é aquecida de 20 a 90 oC. Calcular a variação de entropia


admitindo-se calor específico constante e comparar com o resultado obtido usando as tabelas de
vapor.

Solução:

Da tabela 4.3-3 seção 4.3 o calor específico para a água a 25 oC é 4,184 kJ/kg K

Assim da equação 6.6-2 temos

(90  27315
, )
S 2  S1  4,184 ln  0,8959 kJ / kg.K
(20  27315
, )

da tabela de liquido saturado a 20 oC, S1 = 0,2966 kJ/kg.k


para a temperatura de 90 oC, S 2 = 1,1925 kJ/kg.K

logo S2 - S1 = 1,1925 - 0,2966 = 0,8959 kJ/kg.k

essencialmente o mesmo.
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Exercícios

6 -1)- Considere um motor térmico de Carnot que opera entre os reservatórios térmicos a
1000 oC e a 0 oC e recebe 1 000 KJ de calor do reservatório térmico de alta temperatura.
a) Considerando o fluido de trabalho como sistema, mostrar o ciclo no diagrama T x S
b) Calcular o trabalho líquido e o rendimento térmico do ciclo
c) Calcular a variação de entropia do reservatório de alta e baixa temperatura.

6 -2)- Uma bomba de calor de Carnot utiliza freon -12 como fluido de trabalho. Calor é trans-
ferido do fluido de trabalho a 40 oC e durante este processo o freon -12 muda de vapor saturado
para líquido saturado. A transferência de calor para o freon -12 ocorre a 0 oC .
a) Mostrar este ciclo no diagrama T x S e P x h
b) Calcular o título no começo e fim dos processos isotérmicos
c) Determine o coeficiente de desempenho, COP, do ciclo

6 -3)- Um cilindro provido de um pistão sem atrito contém vapor de água a 300 oC e 2 MPa.
Nesse estado o volume do cilindro é de 100 litros. O vapor se expande realizando trabalho contra o
pistão até que a pressão final seja de 300 kPa. Qual é o trabalho realizado pelo vapor durante o pro-
cesso, admitindo-se que seja adiabático ?.

6 -4)- Água inicialmente como líquido saturado a 100 oC está contido dentro de um conjunto
cilindro pistão. A água sofre um processo isobárico passando a vapor saturado, durante o qual o pis-
tão se move livremente sem atrito dentro do cilindro. Se a mudança de estado causada pelo forne-
cimento de calor à água for internamente reversível, determine o trabalho e o calor transferido por
unidade de massa, em kJ / kg.

6 -5)- Refrigerante 134a é comprimido adiabaticamente em um compressor desde vapor sa-


turado a 0 oC até a pressão final de 0,2 MPa. Determine o mínimo trabalho teórico requerido por u-
nidade de massa de refrigerante 134a, em kJ/kg

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