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Urbanização no

Brasil e
Êxodo Rural
Oi! Tudo bem? Como você está? Hoje, nosso estudo
vai ser voltado para as questões referentes ao êxodo
rural e suas relações com a urbanização do Brasil.
Nem preciso dizer que são temas muito
interessantes. Então, vamos lá!

Fonte:enciclopedia.itaucultural.org.br

Retirantes – Candido Portinari (1944)

O quadro: “Retirantes”, do pintor brasileiro Candido Portinari,


representa uma cena muito comum no cenário brasileiro entre
as décadas de 1940 a 1980, principalmente no Nordeste, onde
o êxodo rural foi intenso para as capitais regionais ou cidades
do Sudeste do país. Os retirantes eram os povos pobres e
sertanejos, que fugiam da miséria e da fome geradas pela seca,
em busca de maiores oportunidades nas cidades, que nem
sempre se concretizavam

Você conhece alguém da sua família ou alguma pessoa que veio de uma cidade do interior para morar
na capital, ou até mesmo da zona rural para qualquer cidade? Acredito que sim! Esse movimento de
deslocamento humano é conhecido como migrações ou fluxos migratórios, que podem ser causados
por inúmeras situações, principalmente por fatores econômicos, em que o indivíduo migrante o
realiza em busca de novas oportunidades de trabalho e melhoras nas condições de vida no ambiente
urbano. Em determinados momentos de nossa história, os movimentos migratórios, no sentido
campo/cidade, tornaram-se mais intensos, caracterizando o que chamamos de Êxodo Rural. O êxodo
rural apresentou seu maior fluxo a partir da Revolução Industrial, com a modernização e o
crescimento das cidades, resultando em vários problemas socioeconômicos e estruturais,
principalmente nos países pobres em desenvolvimentos e alguns emergentes.

No Brasil, e em outros países em desenvolvimento, o processo de industrialização efetiva ocorreu de


forma tardia, em comparação com a Europa. Consequentemente, esse atraso ocorreu também nos
fatores inerentes à urbanização nas questões estruturais e de planejamento das cidades. Desta
forma, na grande maioria dos centros urbanos dos países mais pobres, é bem comum a presença de

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uma série de problemas socioeconômicos e de infraestrutura nas cidades, evidenciando as
desigualdades sociais, a segregação espacial do ambiente urbano e uma série de problemáticas
dentro desse contexto, como o desemprego, a favelização e o aumento da violência urbana.

Na verdade, o êxodo rural no Brasil não é um fenômeno recente. Ocorreu inicialmente no século
XVIII, após a crise da economia açucareira no Nordeste Colonial e transferência de parte da população
para o interior das áreas auríferas, onde hoje se localiza o Estado de Minas Gerais. Entretanto, com o
início da industrialização efetiva do Brasil, a partir de 1920, e se intensificando durante os governos
de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubistchek, principalmente no Sudeste, essa região surge como a
fonte de atração para o fluxo migratório, em razão do seu rápido crescimento urbano e
desenvolvimento econômico, destoando de outras regiões do país, principalmente a Nordeste e
Norte. O Nordeste brasileiro, que já tinha, desde então, a segunda maior população do país e um
quadro de aprofundamento da pobreza, em decorrência de anos de abandono pela ausência de
projetos para o desenvolvimento econômico por parte do Governo Federal, somados com fortes
secas que atingiram a região, forçando um intenso êxodo rural do nordestino para as cidades, para
as capitais de seus Estados e, principalmente, para os crescentes centros urbanos do Sudeste.

Pau-de-arara transportando o sertanejo


Os paus-de-arara foram meios de
transportes que parte dos imigrantes
sertanejos utilizaram como fuga do
interior da região, em busca de
melhores oportunidades na cidade
grande. Esse meio de transporte
irregular e perigoso fez o trajeto de
milhares para as capitais estaduais do
Nordeste, e até mesmo para algumas
do Sudeste. O sertanejo, que fazia o
trajeto, utilizava parte de suas poucas
economias para pagamento da viagem.
Entretanto, muitos faziam o percurso a
pé para os centros urbanos de seus
Fonte:brasilnetnoticia.blogspot.com/
estados.
Fonte:gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/

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Você pode perceber, observando aos mapas acima, que as
migrações no Brasil variaram de intensidade e destino, conforme as
décadas. Note, também, que elas ocorreram em todas as regiões do
país, grande parte delas decorrentes do Êxodo Rural, com destino às
grandes cidades do Sudeste, no período de 1950 a 1990, em que
ocorreram fortes processos de industrialização e crescimento dos
centros urbanos.

Conforme estudou até agora, você percebeu que o foco no êxodo rural, apresentado no texto, teve
como maior exemplo os imigrantes nordestinos que se deslocaram para outras regiões do país.
Entretanto, esse fenômeno ocorreu no Brasil todo em razão da mecanização do campo, onde os
tratores, colheitadeiras e outras máquinas substituíram a mão de obra do trabalhador rural,
forçando-o a procurar emprego tanto nas cidades, principalmente nas indústrias que surgiam, quanto
na construção civil da crescente urbanização. Esse fluxo migratório não se deu necessariamente
apenas para a região Sudeste do país. Ocorreram também êxodos rurais para a região Centro-Oeste,
em razão do processo de desenvolvimento dessa região a partir da construção de Brasília, quando
inúmeras pessoas de todo o Brasil se deslocaram para lá, e também pela expansão das fronteiras
agrícolas, que atraíram, principalmente, produtores rurais do Sul para a região. Somado a isso,
ocorreu, durante o Governo Militar (1964 a 1985), o projeto de incentivo de ocupação e
desenvolvimento da região Norte, atraindo milhares de brasileiros do campo para lá.
Analisando os gráficos

O êxodo rural ocorrido no Brasil fica bem


Fonte: diaadiaeducacao.pr.gov.br

claro, à medida que você realiza a leitura


dos gráficos.

Note o crescimento da população urbana


no período de 60 anos. Ela praticamente
quadruplicou, enquanto a população
rural se manteve estável ao longo dos
anos observados. O êxodo rural contribuiu
com quase 20% do processo de
urbanização das cidades, durante as
décadas de 1960 e 1970, conforme dados
apresentados pela Empresa Brasileira de
Pesquisas Agropecuária – EMBRAPA.
Fonte:resumoprovas.blogspot.com

No segundo gráfico, você acompanha a


evolução nas curvas. A população urbana
brasileira passou de 35%, em 1950, para
praticamente 85%, em 2010. Ao mesmo
tempo, a população rural caiu de 65% para
15%, no mesmo período.

O Sudeste é a região brasileira com maior


índice de urbanização, com 93%,
enquanto o Nordeste é o que apresenta
menor índice, com 73% da sua população
vivendo nas cidades, conforme dados de
2015 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE.

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Fonte: educa.ibge.gov.br
Note, no mapa, a evolução da concentração populacional no Brasil, de 1940 a 2010. Perceba que a
grande maioria da população se concentrou nas principais capitais brasileiras. Esse fator prova o
acelerado processo de urbanização sofrido pelo país.

O êxodo rural tem diminuído nas últimas décadas, em razão de melhores condições no campo e da
necessidade de trabalhadores rurais, pois apenas uma pequena parte dos produtores utiliza a
agricultura altamente mecanizada, estando essa tecnologia nas mãos dos grandes produtores ligados
à cadeia agroindustrial. Sendo assim, a maioria dos pequenos e médios produtores ainda utiliza a
mão de obra convencional, principalmente aqueles que praticam a agricultura familiar. Essas
situações favorecem fixação do homem no campo, diminuindo o fluxo migratório campo/cidade.

Eita!... Com a vinda de tanta gente do campo para as cidades, ao longo do


tempo, não é a toa que vemos tantos problemas urbanos nos grandes
centros: aglomeração de pessoas, infraestruturas deficientes, trânsito
caótico, falta de moradias e ocupações irregulares, favelização, serviços
públicos insatisfatórios, desemprego e aumento da criminalidade, dentre
outros... É muita bronca! Mas como se deu isso? Será que em todos os
lugares do Brasil, onde ocorreu um forte êxodo rural, a situação é a
mesma? É o que iremos ver agora!

Como você aprendeu no início deste fascículo, o Brasil teve um processo de urbanização atrelado à
industrialização tardia, que ocorreu de fato a partir do século passado. Esse atraso no
desenvolvimento econômico brasileiro trouxe problemas que se refletem até hoje. A urbanização
brasileira se deu de forma rápida para acompanhar o processo de industrialização e, com isso, a
estruturação urbana de suas grandes cidades se deu de forma desorganizada, diferente dos países
hoje desenvolvidos, que participaram ativamente das primeiras fases das Revoluções Industriais e
tiveram tempo e planejamento para adaptarem as suas cidades, de forma que atendessem o novo

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fluxo de pessoas que se dirigiam a elas em busca do trabalho nas indústrias, além de se adequarem
às demandas atreladas a moradias e à infraestrutura urbana. Logicamente, no início, esses países
passaram por inúmeros problemas, mas que foram em parte solucionados com planejamento e
grandes investimentos nas infraestruturas das cidades. Isso não se deu de forma satisfatória no Brasil!

O boom da industrialização e o crescimento das cidades, ocorridos aqui de forma acelerada, somados
ao intenso êxodo rural, resultaram em problemas urbanos que refletem nos cotidianos das cidades
brasileiras até hoje. A chegada de imensa leva de imigrantes em busca de trabalho e de melhores
condições de vida em décadas anteriores e, consequentemente, sua fixação nos grandes centros
urbanos, principalmente nas capitais brasileiras, atreladas ao crescimento populacional ao longo do
tempo, produziram cidades inchadas e com problemas de infraestrutura para o atendimento das
demandas urbanas, aprofundando as desigualdades socioeconômicas. Delas, podemos destacar:

Aumento do desemprego e subemprego – Parte dos imigrantes


que chegam às cidades em busca de emprego e na perspectiva de
melhorar de vida nem sempre consegue isso. Muitos desses
imigrantes do campo não possuem, em muitos casos, experiência ou
qualificação profissional, não sendo aproveitados na dinâmica
econômica da cidade. Desta forma, lhes resta a procura de atividades
de subempregos para manutenção de sua vida, se sujeitando a
trabalhos não qualificados e a valores irrisórios, ou até mesmo, em
pior caso, somam-se ao grupo de desempregados ainda mais
vulneráveis socialmente. Essa situação se perpetua pelo crescimento
Fonte: averdade.org.br da população urbana.

Favelização – Resultado da falta de planejamento urbano e da


falta de programas de construção para moradias populares, gerando
altos déficits de unidades habitacionais para as populações mais
carentes, que buscam ocupar, na maioria das vezes, áreas irregulares
nas periferias das grandes cidades. Essas áreas são formadas em razão
do crescimento urbano rápido e desordenado. As favelas são os
retratos das desigualdades nas cidades e a prova do descaso dos
poderes públicos nas questões sociais, em países pobres e em
desenvolvimento. Nesses ambientes de extrema degradação e
pobreza, os serviços básicos são insuficientes ou, até mesmo,
ausentes. A ausência do poder público faz da favela uma zona onde as
questões socioeconômicas são as mais precárias, sendo sua
Fonte: geografia.hi7.co/ população vitimada por maiores índices de desemprego, de violência
e de criminalidade.

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Segregação Socioespacial – Esse fenômeno está intimamente
ligado ao processo de favelização nas cidades. Dá-se em
consequência da separação espacial da população por níveis
socioeconômicos, culturais, históricos e raciais. Nota-se a segregação
espacial também na formação de condomínios de luxo, que se tornam
ilhas de excelência e riqueza próximas aos subúrbios degradados.
Podemos reconhecer a segregação socioespacial nas cidades pelas
diferenças entre os bairros nobres e os dos subúrbios periféricos, em
comparação com a oferta de infraestrutura e de serviços públicos.
Fonte: linguagemgeografica.blogspot.com

Trânsito e Sistema de Transportes – O crescimento nas cidades


brasileiras, de forma descontrolada, não promoveu uma agenda
positiva em favor de uma melhor mobilidade urbana. O aumento
crescente na frota de veículos saturou as vias de transportes,
ocasionando constantes engarrafamentos que já não estão restritos
aos horários de pico. Mesmo com a abertura de novos corredores
viários, não foi suficiente para a mobilidade urbana, a qual também é
comprometida pelo péssimo serviço de transporte público, que não
consegue atender as necessidades de deslocamento da população.
Não ocorreram nas cidades brasileiras altos investimentos em
transportes de massa, como metrôs e trens, que pesar de serem
presentes em algumas cidades, não possuem uma malha extensa o
Fonte: chicodaboleia.com.
suficiente para o atendimento satisfatório de grande parte da
população.

Degradação Urbana – Muito presente nas grandes cidades


brasileiras, onde são encontrados espaços decadentes e
abandonados. Parte desse problema é resultado da falta de
fiscalização e da burocracia no setor público. Proprietários
abandonam seus imóveis por questões jurídicas ou financeiras,
deixando esses ambientes à degradação do tempo e vulneráveis a
ocupações irregulares, tornando-se, muitas vezes, em pontos de
tráfico de drogas ou de seus usuários. A pichação é um exemplo da
degradação urbana causadora da poluição visual. Um retrato da
decadência nas cidades é a presença de moradores de ruas, o que
evidencia a pobreza causada pela desigualdade nos grandes centros.
Nota-se que a degradação do ambiente urbano não está restrita
Fonte:br.pinterest.com apenas às áreas suburbanas, estando também muito presentes nas
áreas centrais, causando desvalorização imobiliária nas proximidades.

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Não podemos esquecer que outros fatores também se encontram presente na problemática urbana
das grandes cidades brasileiras, como as questões ambientais. A expansão das cidades impacta
diretamente na presença de áreas verdes, principalmente nas periferias; as ocupações intensificam a
impermeabilização dos solos, impedido a absorção das águas das chuvas, prejudicando seu
escoamento e gerando alagamentos que se intensificam ainda mais com a canalização de rios; e as
ocupações irregulares das moradias construídas em áreas de várzeas. Moradias irregulares em áreas
de morros também são problemas muito presentes nas periferias brasileiras, causando danos
materiais e mortes, todos os anos, por deslizamento das encostas.

Alagamento no Recife Ausência de áreas verdes Moradias em áreas de risco

Fonte:tvjornal.ne10.uol.com.br
Fonte:equipepear.blogspot.com
Fonte: vejasp.abril.com.br

Apesar de todos os problemas apresentados ao logo do estudo de hoje, a urbanização brasileira foi e
continua sendo importante para o desenvolvimento econômico do país. As cidades são dinâmicas e
nelas acontecem as principais relações financeiras, prestações de inúmeros serviços e
movimentações do mercado. O Brasil se destaca como sendo uma das principais economias do
mundo, possuindo um parque industrial diversificado e grande mercado consumidor.

As cidades, ao mesmo tempo, se caracterizam como a possibilidade de realização de sonhos, ao


mesmo tempo que apresentam seus desencantos e decepções para aqueles que não encontram nela
a efetivação de seus desejos. Entretanto, suas relações socioeconômicas e culturais, mesclando uma
miscelânea de interações, contrastam com inúmeras fascinações e problemas que deveriam merecer
maior atenção dos poderes públicos e suas instituições, na atenção de atender as demandas de uma
população cada vez mais crescente, concentrada e, infelizmente, caracterizada pelas desigualdades
sociais.

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Você imaginava que as questões da urbanização englobavam tantas
situações, possibilidades e problemas? Não? Pois é! Eu imaginava... Por
isso, esses estudos são importantes para que se possa entender a
dinâmica urbana. Após o conhecimento que você teve hoje, comece a
enxergar as contradições de sua cidade. Aponte os problemas e,
principalmente, cobre aos responsáveis: vereadores e prefeitos, que
são os mais próximos e responsáveis pelo gerenciamento das cidades.
Mas, preste atenção! Faça a sua parte! Conserve o patrimônio público,
não jogue lixo na rua e preserve o ambiente em que vive. E não
esqueça! A cidade também é sua... Hoje, ficamos por aqui, mas antes
não se esqueça de responder as questões! Valeu muito! Até mais.

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1)A intensa e acelerada urbanização brasileira resultou em sérios problemas sociais urbanos, entre os quais
podemos destacar:

a) Falta de infraestrutura, limitações das liberdades individuais e altas condições de vida nos centros urbanos.
b) Aumento do número de favelas e cortiços, falta de infraestrutura e todas as formas de violência.
c) Conflitos e violência urbana, luta pela posse da terra e acentuado êxodo rural.
d)Acentuado êxodo rural, mudanças no destino das correntes migratórias e aumento no número de favelas
e cortiços.
e) Luta pela posse da terra, falta de infraestrutura e altas condições de vida nos centros urbanos.

2) A urbanização dos países subdesenvolvidos constitui um fenômeno marcante da segunda metade do século
XX.As características desse fenômeno, na América Latina, expressas na paisagem urbana das metrópoles, são
decorrentes da

a)instalação de indústrias de bens de produção nos arredores das pequenas cidades e próximas às fontes de
matéria-prima.
b)industrialização tardia e da modernização das atividades agrícolas, conjugadas à concentração de pessoas
nas grandes cidades.
c)aglomeração humana e do aumento do poder aquisitivo da população, favorecidos pela expansão do
capital financeiro na economia.
d)inovação tecnológica e do aumento da produtividade das indústrias de bens de consumo, para suprirem
as necessidades da vida urbana.
e)implementação de parque industrial e da regulação, por meio do planejamento governamental, de
deslocamentos populacionais para as cidades.

3)“[…] Há algumas décadas, a pobreza no Brasil se concentrava no campo e em pequenas e médias cidades
desprovidas de iniciativas empresariais. Atualmente, ela se concentra em grandes cidades, onde se
acentuaram os contrastes sociais.” O texto apresenta uma das faces do processo de urbanização brasileiro.
Sobre esse processo, é correto afirmar que

a) promoveu a redução do comércio e dos serviços, devido à absorção de mão de obra no setor industrial.
b) se iniciou a partir de núcleos urbanos localizados nas áreas interioranas do país.
c) acentuou a elevação das taxas de natalidade, ao favorecer a concentração de pessoas nas cidades.
d) decorreu da industrialização e da modernização do campo, que acelerou a migração rural/urbana.

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