Insatisfeitos com dificuldades para empreender e trabalhar aqui, saída de
brasileiros altamente qualificados tem se intensificado - em um movimento que difere do ocorrido nos anos 80 Um novo fenômeno está ocorrendo no Brasil: a fuga de pessoas qualificadas com elevado capital gerencial e empreendedor para outros países, em particular para os EUA. Trata-se da saída do país de empreendedores e gestores com elevado nível de conhecimentos e experiências no gerenciamento de empresas. Isso já ocorre há tempos, mas no último ano vem se intensificando. Esse movimento, em elevada escala, de fuga de empreendedores é novo. Não se trata da fuga de mão de obra pouco qualificada, como ocorreu nos anos 80. Ou, ainda, da fuga de “cérebros” que começou nos anos 70 e segue até hoje, na qual cientistas brasileiros iam ao exterior se especializar e não retornavam ao país por não terem aqui oportunidades de desenvolver adequadamente seu trabalho. Ou, então, da fuga mais recente de capitais financeiros de pessoas de classe média alta que estão preocupadas com a crise atual e possíveis mudanças políticas e estão investindo suas reservas em outros países. Um dos casos antigos mais famosos dessa saída é o de Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil e um dos mais ricos do mundo, com fortuna estimada em US$ 25 bilhões. É um dos proprietários da AmBev, maior cervejaria do mundo, das Lojas Americanas, do Burger King e da Heinz. Filho de imigrantes suíços empreendedores, saiu do Brasil no início dos anos 2000. Aparentemente, resolveu sair do país por problemas pessoais, quando parecia não ter condições de garantir a segurança da família, mais especificamente em 1999, quando o carro que levava seus filhos mais novos foi alvejado por tiros e salvo pela blindagem e pela elevada habilidade do motorista e dos seguranças. A partir daí, pareceu decidir concentrar seus esforços como empresário e gestor fora do Brasil. Morando na Suíça e avesso a publicidade pessoal, segue acumulando fortunas, adquirindo e gerenciando empresas dos mais diferentes setores. Mas há inúmeros outros casos menos paradigmáticos e mais anônimos que tive a oportunidade de conhecer recentemente. O primeiro é um empresário médio da construção civil originário do Nordeste. Na última década, teve a oportunidade de expandir seus negócios para o Sul e mesmo para outros países. Embora o setor governamental não fosse o seu maior negócio, ele se disse cansado de precisar lidar com situações de ter de pagar propinas para “sobreviver”, de conviver com fiscais corruptos e com políticos achacadores batendo em sua porta em vésperas de eleições. Seu momento de ruptura teria vindo da oportunidade de realizar uma obra no Sul da Flórida para uma empresa brasileira que já era seu cliente no Brasil. O construtor teria então ficado surpreso com a facilidade de condições de lá para realizar negócios. Percebendo a facilidade de ser aceito como cidadão e empresário nos EUA e de ter sua família em situação de maior segurança e conforto, decidiu instalar-se por lá e gradualmente desfazer de seu investimento no Brasil. Pandemia acelera fuga de cérebros do Brasil https://jornalggn.com.br/noticia/pandemia-acelera-fuga-de-cerebros-do-brasil/ Com advento do home office, empresas estrangeiras contratam pesquisadores e profissionais para trabalhar no país e receber em moeda estrangeira Jornal GGN – A pandemia de covid-19 e a estagnação da economia brasileira aceleraram a fuga de mão de obra altamente especializada do Brasil, deixando o país com poucas chances de competir com o que é oferecido por Estados Unidos, Canadá e Europa. E com a expansão do home office, o profissional sequer precisa sair do Brasil para trabalhar no exterior – e recebe em moeda estrangeira, exatamente no momento em que o real sofreu uma forte desvalorização. Por conta disso, não existe produtividade que aumente quando um país qualifica a mão de obra, mas não consegue continuar competitivo para mantê-la. A preocupação esse cenário foi externada por Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, parque tecnológico do Recife com 1500 vagas abertas sem conseguir preencher. “Se o trabalho remoto ficar permanente, isso vai pôr o mercado de tecnologia em risco no Brasil. Não tem como competir com a Alemanha. Um desenvolvedor de software em São Paulo ganha meio salário mínimo alemão”, diz Lucena, em entrevista ao jornal O Globo. Entre outros motivos citados para citar o país, estão a falta de recursos para a manutenção de laboratórios e a política. “O pesquisador se pergunta: será que o que vou pesquisar vai provocar grupos conservadores radicais que podem me perseguir nas redes sociais? Se ele tem condições, sai do país”, diz Ana Maria Carneiro, professora da Unicamp.