086126-1, de Turvo Relator: Desembargador Robson Luz Varella
APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO – CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA – RECURSO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA RÉ. AUSÊNCIA DE INSTRUMENTO DE MANDATO – IRREGULARIDADE DE REPRESENTAÇÃO DA PARTE APELANTE – INTIMAÇÃO DO ADVOGADO PARA ACOSTAR A PROCURAÇÃO – OPORTUNIDADE PARA SANEAMENTO DO VÍCIO DESCUMPRIDA – NECESSIDADE, CONTUDO, DE INTIMAÇÃO PESSOAL DA PARTE – PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - JULGAMENTO CONVERTIDO EM DILIGÊNCIA. Constatado o vício da ausência de instrumento de mandato para a interposição do recurso de apelação, deve o tribunal oportunizar o saneamento da representação da parte, primeiramente determinando a intimação do procurador, que caso não atendida, deve também ser endereçada pessoalmente à parte, consoante jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça. Verificando-se, no caso concreto, a intimação do patrono para que regularizasse a representação processual, contudo desatendida, deve-se determinar a conversão do julgamento em diligência para possibilitar à parte que corrija a falha, pois seu direito não pode ser prejudicado pela inércia do advogado.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apela��o C�vel n.
2012.086126-1, da comarca de Turvo (Vara �nica), em que � apelante Cooperativa de Cr�dito de Livre Admiss�o de Associados Sul Catarinense - SICOOB CREDISULCA, e apelado Aguinaldo Eder Gomes:
A Segunda C�mara de Direito Comercial decidiu, por vota��o
un�nime, converter o julgamento em dilig �ncia para determinar a intima ��o pessoal da apelante a fim de regularizar a representa ��o processual no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de n�o conhecimento do recurso. Custas legais. O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pela Exma. Sra. Desa. Rejane Andersen com voto, e dele participou o Exmo. Sr. Des. Dinart Francisco Machado. Florian�polis, 10 de setembro de 2013.
Robson Luz Varella
RELATOR
Gabinete Desembargador Robson Luz Varella
RELAT�RIO
A Cooperativa de Cr�dito de Livre Admiss�o de Associados Sul
Catarinense - Sicoob Credisulca apelou de senten�a do doutor juiz da Vara �nica da comarca de Turvo que, em a��o de consigna��o em pagamento , movida contra a apelante por Aguinaldo Eder Gomes, julgou procedente o pedido consignat�rio, para declarar extinto o contrato n. 19.027-2, e confirmou a medida liminar que impediu a aliena��o do im�vel do autor a terceiros. Por fim, condenou o r�u ao pagamento das custas processuais e dos honor �rios advocat�cios, os quais foram fixados em R$ 500,00 (quinhentos reais) (fls. 89- 92). Nas raz�es de insurg�ncia, a apelante sustentou que o autor ajuizou a a��o de consigna��o para adimplir a mora, cuja cifra alcan �ou a monta de R$ 22.980,42 (vinte e dois mil e novecentos e oitenta reais e quarenta e dois centavos), o que n�o corresponde ao valor total da d �vida, conforme pr�pria confiss�o do autor. Desta feita, n�o h � como concluir pelo adimplemento integral da d�vida, mas apenas da mora, mormente porque o apelado postulou a consigna��o tamb�m das parcelas vincendas at � o prazo final do contrato. Sendo assim, era defeso ao magistrado proferir a senten �a aqu�m do limite, porquanto n�o havia como declarar a extin ��o da obriga��o se o valor consignado referia-se exclusivamente �s parcelas em atraso, sendo acertada apenas a confirma ��o da tutela antecipada que suspendeu o leil�o. Postulou, assim, o provimento do recurso para que seja reformada a senten�a e n�o declarada extinta a rela ��o obrigacional havida entre as partes (fls. 95-103). Houve contrarraz�es, pelo desprovimento do recurso (fls. 108-114). Ascendendo os autos a esta egr�gia Corte, determinou-se a intima��o do subscritor do apelo para que regularizasse a representa ��o processual, em dez dias, porquanto ausente sua procura ��o nos autos, sob pena de n�o conhecimento do recurso (fl. 118). Contudo, o prazo fluiu in albis (fl. Gabinete Desembargador Robson Luz Varella 121). Este � o relat�rio.
Gabinete Desembargador Robson Luz Varella
VOTO
Cuida-se de apela��o c�vel interposta por Cooperativa de
Cr�dito de Livre Admiss�o de Associados Sul Catarinense - Sicoob Credisulca contra senten�a que, em a��o de consigna��o em pagamento, movida contra a apelante por Aguinaldo Eder Gomes, julgou procedente o pedido consignat�rio, para declarar extinto o contrato n. 19.027-2, e confirmou a medida liminar que impediu a aliena��o do im�vel do autor a terceiros. Desde logo, deve-se converter o julgamento em dilig �ncia. � que um dos pressupostos de constitui��o e desenvolvimento v�lido do processo consiste na regularidade de representa ��o das partes por procurador devidamente habilitado no feito (capacidade postulat �ria), visto que o advogado, n�o obstante seja considerado pela Constitui ��o "indispens �vel � administra��o da justi�a" (CRFB/1988, art. 133, 1 � parte), somente pode procurar em ju�zo fazendo prova de seu mandato, quando n �o for o caso de demanda em causa pr�pria. Com efeito, assim disp�e o art. 5�, caput, da Lei 8.906/1994, que institui o Estatuto da Advocacia e da OAB: Art. 5�. O advogado postula, em ju�zo ou fora dele, fazendo prova do mandato. [�] Tal determina��o legal corrobora a previs�o constante nos arts. 36, primeira parte, e 37 do C�digo de Processo Civil: Art. 36. A parte ser� representada em ju�zo por advogado legalmente habilitado. Ser-lhe-� l�cito, no entanto, postular em causa pr�pria, quando tiver habilita��o legal ou, n�o a tendo, no caso de falta de advogado no lugar ou recusa ou impedimento dos que houver. (sem grifos no original)
Art. 37. Sem instrumento de mandato, o advogado n�o ser�
admitido a procurar em ju�zo . Poder�, todavia, em nome da parte, intentar a��o, a fim de evitar decad�ncia ou prescri��o, bem como intervir, no processo, para praticar atos reputados urgentes. Nestes casos, o advogado se obrigar�, independentemente de cau��o, a exibir o instrumento de mandato no prazo de 15 (quinze) dias, prorrog�vel at� outros 15 (quinze), por despacho do juiz. Gabinete Desembargador Robson Luz Varella Par�grafo �nico. Os atos, n�o ratificados no prazo, ser�o havidos por inexistentes, respondendo o advogado por despesas e perdas e danos. (sem grifos no original) Constatado o v�cio da aus�ncia do instrumento de mandato, no caso para a interposi��o do recurso de apela ��o, deve-se possibilitar � parte a regulariza��o de sua representa��o processual, a fim de lhe oportunizar acostar ao feito o instrumento procurat �rio, na forma do artigo 13, caput, do C�digo de Processo Civil, verbis: Art. 13. Verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representa��o das partes, o juiz, suspendendo o processo, marcar� prazo razo�vel para ser sanado o defeito. [...] Com efeito, verifica-se no caso concreto que o subscritor das raz�es de apela��o, o advogado Eduardo Rovaris, OAB/SC n. 19.395 (fl. 102), n�o juntou procura��o aos autos. N �o obstante, assim que os autos ascenderam a esta Corte, determinou-se a intima ��o do apelante para regularizar a representa��o processual (fl. 72), o que n �o foi cumprido pela parte, conforme certificado pela Secretaria deste Tribunal (fl. 69). Entretanto, a oportuniza��o de corrigir um v �cio san �vel consagra tamb�m o princ�pio da instrumentalidade das formas e do resultado �til do processo, raz�o por que o n�o conhecimento do recurso deve ser precedido al�m do desatendimento da intima ��o do procurador, tamb �m da in�rcia da resposta pessoal da pessoal da parte, sem procurador habilitado nos autos, para que esta proceda � regulariza��o de sua representa ��o processual, conforme a jurisprud�ncia do Superior Tribunal de Justi �a: ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. IRREGULARIDADE DE REPRESENTA��O. NECESSIDADE DE INTIMA��O PESSOAL DA PARTE. ART. 13 DO CPC. PRECEDENTES. INCID�NCIA DA S�MULA 83/STJ. AGRAVO N�O PROVIDO. 1. Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justi�a, para declara��o de extin��o do processo ap�s a constata��o de incapacidade processual ou irregularidade na representa��o, � imprescind�vel a intima��o pessoal da parte para promover o saneamento do processo. 2. Agravo regimental n�o provido. (Agravo Regimental no Recurso Especial n. 1.324.558/AM, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. em 6/9/2012) (sem grifos no original)
RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. IRREGULARIDADE DE
Gabinete Desembargador Robson Luz Varella REPRESENTA��O PROCESSUAL. ATO PRATICADO POR ADVOGADO SUSPENSO TEMPORARIAMENTE DA OAB. NULIDADE SAN�VEL. EXTIN��O DO PROCESSO COM FUNDAMENTO NO ART. 267, IV, DO CPC. NECESSIDADE DE PR�VIA INTIMA��O DA PARTE PARA REGULARIZA��O. EXEGESE DOS ARTS. 13 E 36 DO CPC E DO ART. 4. � DA LEI N.� 8.906/94 (ESTATUTO DA OAB). - Embora o art. 4.� do Estatuto da OAB disponha que s�o nulos os atos praticados por pessoa n�o inscrita na OAB ou por advogado impedido, suspenso, licenciado ou que passar a exercer atividade incompat�vel com a advocacia; o defeito de representa��o processual n�o acarreta, de imediato, a nulidade absoluta do ato processual ou mesmo de todo o processo, porquanto tal defeito � san�vel nos termos dos arts. 13 e 36 do CPC. Primeiro, porque isso n�o compromete o ordenamento jur�dico; segundo, porque n�o prejudica nenhum interesse p�blico, nem o interesse da outra parte; e, terceiro, porque o direito da parte representada n�o pode ser prejudicado por esse tipo de falha do seu advogado. A nulidade s� advir� se, cabendo � parte reparar o defeito ou suprir a omiss�o, n�o o fizer no prazo marcado. - Se a parte comparece a ju�zo n�o representada por advogado habilitado, ou se este, no curso do processo, perde a capacidade postulat�ria (por impedimento, licen�a, suspens�o ou exclus�o da OAB), ou renuncia ao mandato, ou morre, o juiz deve, antes de extinguir o processo, sem resolu��o de m�rito, nos termos do art. 267, IV, do CPC, por irregularidade de representa��o processual, intimar a parte para que, no prazo por ele estipulado: (i) constitua novo patrono legalmente habilitado a procurar em ju�zo; ou (ii) j� havendo outro advogado legalmente habilitado, que este ratifique os atos praticados pelo procurador inabilitado. Recurso especial provido. (Recurso Especial n. 833.342/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. em 25/9/2006) (sem grifos no original) Veja-se que o n�o conhecimento do recurso deve ser precedido de um duplo desatendimento, ap�s a intima ��o pessoal da parte, o que ainda n�o foi determinada na esp�cie. Assim tamb�m s�o os precedentes desta Corte: APELA��O C�VEL. IRREGULARIDADE NA REPRESENTA��O PROCESSUAL. ADVOGADA SUBSCRITORA DAS RAZ�ES RECURSAIS QUE N�O EXIBIU O INSTRUMENTO DE MANDATO. CONVERS�O DO JULGAMENTO EM DILIG�NCIA. ARTIGOS 13 E 515, � 4�, AMBOS DO C�DIGO DE PROCESSO CIVIL. V�CIO QUE N�O FOI SANADO, TORNANDO O ATO INEXISTENTE. ARTIGO 37 DO C�DIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSO INTERPOSTO AP�S TRANSCORRIDO O PRAZO DE 15 (QUINZE) DIAS. ARTIGO 508 DO C�DIGO DE PROCESSO CIVIL. INTEMPESTIVIDADE BEM CARACTERIZADA. MAT�RIA DE ORDEM P�BLICA. N�O CONHECIMENTO DOS RECURSOS. 1. � inexistente o recurso interposto por advogado que n�o tem habilita��o nos autos e que deixa de sanar o v�cio, mesmo ap�s a concess�o de prazo para a
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regulariza��o da sua representa��o processual. 2. N�o se conhece do recurso interposto ap�s o prazo de 15 (quinze) dias. 3. O relator tem o dever de analisar toda a mat�ria relacionada ao ju�zo de admissibilidade do recurso, pois de ordem p�blica. (Apela��o C�vel n. 2012.013347-8, de Balne�rio Cambori�, rel. Des. J�nio Machado, j. 11/7/2013).
APELA��O C�VEL. A��O DE BUSCA E APREENS�O. CONTRATO
DE FINANCIMENTO PARA AQUISI��O DE BENS. IRREGULARIDADE DA REPRESENTA��O PROCESSUAL DO MUTU�RIO. PRESSUPOSTO DE CONSTITUI��O V�LIDA E REGULAR DO PROCESSO. NECESSIDADE DE REGULARIZA��O NOS TERMOS DO ART. 13 DO C�DIGO DE PROCESSO CIVIL. CONVERS�O DO JULGAMENTO EM DILIG�NCIA. (Apela��o C�vel n. 2007.052263-1, de Pomerode, rela. Desa. Rejane Andersen, j. 5/4/2010). Por esta raz�o, o julgamento deve ser convertido em dilig �ncia, conforme o teor dos artigos 515, � 4 �, do C �digo de Processo Civil, e 116 do Regimento Interno desta Corte, para determinar a intima ��o pessoal da parte apelante, a fim de que em 10 (dez) dias promova a regulariza ��o da representa��o processual, sob pena de n�o conhecimento do apelo. Este � o voto.