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Apela��o C�vel n. 2012.

086126-1, de Turvo
Relator: Desembargador Robson Luz Varella

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM


PAGAMENTO – CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO –
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA – RECURSO DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA RÉ.
AUSÊNCIA DE INSTRUMENTO DE MANDATO –
IRREGULARIDADE DE REPRESENTAÇÃO DA PARTE
APELANTE – INTIMAÇÃO DO ADVOGADO PARA
ACOSTAR A PROCURAÇÃO – OPORTUNIDADE PARA
SANEAMENTO DO VÍCIO DESCUMPRIDA –
NECESSIDADE, CONTUDO, DE INTIMAÇÃO PESSOAL DA
PARTE – PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA - JULGAMENTO CONVERTIDO EM DILIGÊNCIA.
Constatado o vício da ausência de instrumento de
mandato para a interposição do recurso de apelação, deve o
tribunal oportunizar o saneamento da representação da
parte, primeiramente determinando a intimação do
procurador, que caso não atendida, deve também ser
endereçada pessoalmente à parte, consoante jurisprudência
consolidada do Superior Tribunal de Justiça.
Verificando-se, no caso concreto, a intimação do patrono
para que regularizasse a representação processual, contudo
desatendida, deve-se determinar a conversão do julgamento
em diligência para possibilitar à parte que corrija a falha, pois
seu direito não pode ser prejudicado pela inércia do
advogado.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apela��o C�vel n.


2012.086126-1, da comarca de Turvo (Vara �nica), em que � apelante
Cooperativa de Cr�dito de Livre Admiss�o de Associados Sul Catarinense -
SICOOB CREDISULCA, e apelado Aguinaldo Eder Gomes:

A Segunda C�mara de Direito Comercial decidiu, por vota��o


un�nime, converter o julgamento em dilig �ncia para determinar a intima ��o
pessoal da apelante a fim de regularizar a representa ��o processual no prazo
de 10 (dez) dias, sob pena de n�o conhecimento do recurso. Custas legais.
O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pela Exma. Sra.
Desa. Rejane Andersen com voto, e dele participou o Exmo. Sr. Des. Dinart
Francisco Machado.
Florian�polis, 10 de setembro de 2013.

Robson Luz Varella


RELATOR

Gabinete Desembargador Robson Luz Varella


RELAT�RIO

A Cooperativa de Cr�dito de Livre Admiss�o de Associados Sul


Catarinense - Sicoob Credisulca apelou de senten�a do doutor juiz da Vara
�nica da comarca de Turvo que, em a��o de consigna��o em pagamento ,
movida contra a apelante por Aguinaldo Eder Gomes, julgou procedente o pedido
consignat�rio, para declarar extinto o contrato n. 19.027-2, e confirmou a medida
liminar que impediu a aliena��o do im�vel do autor a terceiros. Por fim,
condenou o r�u ao pagamento das custas processuais e dos honor �rios
advocat�cios, os quais foram fixados em R$ 500,00 (quinhentos reais) (fls. 89-
92).
Nas raz�es de insurg�ncia, a apelante sustentou que o autor
ajuizou a a��o de consigna��o para adimplir a mora, cuja cifra alcan �ou a
monta de R$ 22.980,42 (vinte e dois mil e novecentos e oitenta reais e quarenta e
dois centavos), o que n�o corresponde ao valor total da d �vida, conforme
pr�pria confiss�o do autor. Desta feita, n�o h � como concluir pelo
adimplemento integral da d�vida, mas apenas da mora, mormente porque o
apelado postulou a consigna��o tamb�m das parcelas vincendas at � o prazo
final do contrato. Sendo assim, era defeso ao magistrado proferir a senten �a
aqu�m do limite, porquanto n�o havia como declarar a extin ��o da
obriga��o se o valor consignado referia-se exclusivamente �s parcelas em
atraso, sendo acertada apenas a confirma ��o da tutela antecipada que
suspendeu o leil�o. Postulou, assim, o provimento do recurso para que seja
reformada a senten�a e n�o declarada extinta a rela ��o obrigacional havida
entre as partes (fls. 95-103).
Houve contrarraz�es, pelo desprovimento do recurso (fls. 108-114).
Ascendendo os autos a esta egr�gia Corte, determinou-se a
intima��o do subscritor do apelo para que regularizasse a representa ��o
processual, em dez dias, porquanto ausente sua procura ��o nos autos, sob
pena de n�o conhecimento do recurso (fl. 118). Contudo, o prazo fluiu in albis (fl.
Gabinete Desembargador Robson Luz Varella
121).
Este � o relat�rio.

Gabinete Desembargador Robson Luz Varella


VOTO

Cuida-se de apela��o c�vel interposta por Cooperativa de


Cr�dito de Livre Admiss�o de Associados Sul Catarinense - Sicoob Credisulca
contra senten�a que, em a��o de consigna��o em pagamento, movida
contra a apelante por Aguinaldo Eder Gomes, julgou procedente o pedido
consignat�rio, para declarar extinto o contrato n. 19.027-2, e confirmou a medida
liminar que impediu a aliena��o do im�vel do autor a terceiros.
Desde logo, deve-se converter o julgamento em dilig �ncia.
� que um dos pressupostos de constitui��o e desenvolvimento
v�lido do processo consiste na regularidade de representa ��o das partes por
procurador devidamente habilitado no feito (capacidade postulat �ria), visto que o
advogado, n�o obstante seja considerado pela Constitui ��o "indispens �vel
� administra��o da justi�a" (CRFB/1988, art. 133, 1 � parte), somente pode
procurar em ju�zo fazendo prova de seu mandato, quando n �o for o caso de
demanda em causa pr�pria.
Com efeito, assim disp�e o art. 5�, caput, da Lei 8.906/1994, que
institui o Estatuto da Advocacia e da OAB:
Art. 5�. O advogado postula, em ju�zo ou fora dele, fazendo prova do
mandato.
[�]
Tal determina��o legal corrobora a previs�o constante nos arts.
36, primeira parte, e 37 do C�digo de Processo Civil:
Art. 36. A parte ser� representada em ju�zo por advogado
legalmente habilitado. Ser-lhe-� l�cito, no entanto, postular em causa
pr�pria, quando tiver habilita��o legal ou, n�o a tendo, no caso de falta de
advogado no lugar ou recusa ou impedimento dos que houver. (sem grifos no
original)

Art. 37. Sem instrumento de mandato, o advogado n�o ser�


admitido a procurar em ju�zo . Poder�, todavia, em nome da parte, intentar
a��o, a fim de evitar decad�ncia ou prescri��o, bem como intervir, no
processo, para praticar atos reputados urgentes. Nestes casos, o advogado se
obrigar�, independentemente de cau��o, a exibir o instrumento de mandato
no prazo de 15 (quinze) dias, prorrog�vel at� outros 15 (quinze), por
despacho do juiz.
Gabinete Desembargador Robson Luz Varella
Par�grafo �nico. Os atos, n�o ratificados no prazo, ser�o havidos
por inexistentes, respondendo o advogado por despesas e perdas e danos.
(sem grifos no original)
Constatado o v�cio da aus�ncia do instrumento de mandato, no
caso para a interposi��o do recurso de apela ��o, deve-se possibilitar �
parte a regulariza��o de sua representa��o processual, a fim de lhe
oportunizar acostar ao feito o instrumento procurat �rio, na forma do artigo 13,
caput, do C�digo de Processo Civil, verbis:
Art. 13. Verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da
representa��o das partes, o juiz, suspendendo o processo, marcar� prazo
razo�vel para ser sanado o defeito. [...]
Com efeito, verifica-se no caso concreto que o subscritor das
raz�es de apela��o, o advogado Eduardo Rovaris, OAB/SC n. 19.395 (fl.
102), n�o juntou procura��o aos autos. N �o obstante, assim que os autos
ascenderam a esta Corte, determinou-se a intima ��o do apelante para
regularizar a representa��o processual (fl. 72), o que n �o foi cumprido pela
parte, conforme certificado pela Secretaria deste Tribunal (fl. 69).
Entretanto, a oportuniza��o de corrigir um v �cio san �vel
consagra tamb�m o princ�pio da instrumentalidade das formas e do resultado
�til do processo, raz�o por que o n�o conhecimento do recurso deve ser
precedido al�m do desatendimento da intima ��o do procurador, tamb �m da
in�rcia da resposta pessoal da pessoal da parte, sem procurador habilitado nos
autos, para que esta proceda � regulariza��o de sua representa ��o
processual, conforme a jurisprud�ncia do Superior Tribunal de Justi �a:
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL. IRREGULARIDADE DE REPRESENTA��O.
NECESSIDADE DE INTIMA��O PESSOAL DA PARTE. ART. 13 DO CPC.
PRECEDENTES. INCID�NCIA DA S�MULA 83/STJ. AGRAVO N�O
PROVIDO. 1. Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justi�a,
para declara��o de extin��o do processo ap�s a constata��o de
incapacidade processual ou irregularidade na representa��o, �
imprescind�vel a intima��o pessoal da parte para promover o
saneamento do processo. 2. Agravo regimental n�o provido. (Agravo
Regimental no Recurso Especial n. 1.324.558/AM, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, j. em 6/9/2012) (sem grifos no original)

RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. IRREGULARIDADE DE


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REPRESENTA��O PROCESSUAL. ATO PRATICADO POR ADVOGADO
SUSPENSO TEMPORARIAMENTE DA OAB. NULIDADE SAN�VEL.
EXTIN��O DO PROCESSO COM FUNDAMENTO NO ART. 267, IV, DO CPC.
NECESSIDADE DE PR�VIA INTIMA��O DA PARTE PARA
REGULARIZA��O. EXEGESE DOS ARTS. 13 E 36 DO CPC E DO ART. 4. �
DA LEI N.� 8.906/94 (ESTATUTO DA OAB).
- Embora o art. 4.� do Estatuto da OAB disponha que s�o nulos os atos
praticados por pessoa n�o inscrita na OAB ou por advogado impedido,
suspenso, licenciado ou que passar a exercer atividade incompat�vel com a
advocacia; o defeito de representa��o processual n�o acarreta, de
imediato, a nulidade absoluta do ato processual ou mesmo de todo o
processo, porquanto tal defeito � san�vel nos termos dos arts. 13 e 36
do CPC. Primeiro, porque isso n�o compromete o ordenamento jur�dico;
segundo, porque n�o prejudica nenhum interesse p�blico, nem o interesse da
outra parte; e, terceiro, porque o direito da parte representada n�o pode ser
prejudicado por esse tipo de falha do seu advogado. A nulidade s� advir� se,
cabendo � parte reparar o defeito ou suprir a omiss�o, n�o o fizer no prazo
marcado.
- Se a parte comparece a ju�zo n�o representada por advogado
habilitado, ou se este, no curso do processo, perde a capacidade postulat�ria
(por impedimento, licen�a, suspens�o ou exclus�o da OAB), ou renuncia ao
mandato, ou morre, o juiz deve, antes de extinguir o processo, sem
resolu��o de m�rito, nos termos do art. 267, IV, do CPC, por
irregularidade de representa��o processual, intimar a parte para que, no
prazo por ele estipulado: (i) constitua novo patrono legalmente habilitado a
procurar em ju�zo; ou (ii) j� havendo outro advogado legalmente habilitado,
que este ratifique os atos praticados pelo procurador inabilitado.
Recurso especial provido. (Recurso Especial n. 833.342/RS, Rel. Min.
Nancy Andrighi, j. em 25/9/2006) (sem grifos no original)
Veja-se que o n�o conhecimento do recurso deve ser precedido de
um duplo desatendimento, ap�s a intima ��o pessoal da parte, o que ainda
n�o foi determinada na esp�cie.
Assim tamb�m s�o os precedentes desta Corte:
APELA��O C�VEL. IRREGULARIDADE NA REPRESENTA��O
PROCESSUAL. ADVOGADA SUBSCRITORA DAS RAZ�ES RECURSAIS
QUE N�O EXIBIU O INSTRUMENTO DE MANDATO. CONVERS�O DO
JULGAMENTO EM DILIG�NCIA. ARTIGOS 13 E 515, � 4�, AMBOS DO
C�DIGO DE PROCESSO CIVIL. V�CIO QUE N�O FOI SANADO,
TORNANDO O ATO INEXISTENTE. ARTIGO 37 DO C�DIGO DE PROCESSO
CIVIL. RECURSO INTERPOSTO AP�S TRANSCORRIDO O PRAZO DE 15
(QUINZE) DIAS. ARTIGO 508 DO C�DIGO DE PROCESSO CIVIL.
INTEMPESTIVIDADE BEM CARACTERIZADA. MAT�RIA DE ORDEM
P�BLICA. N�O CONHECIMENTO DOS RECURSOS. 1. � inexistente o
recurso interposto por advogado que n�o tem habilita��o nos autos e que
deixa de sanar o v�cio, mesmo ap�s a concess�o de prazo para a

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regulariza��o da sua representa��o processual. 2. N�o se conhece do
recurso interposto ap�s o prazo de 15 (quinze) dias. 3. O relator tem o dever
de analisar toda a mat�ria relacionada ao ju�zo de admissibilidade do recurso,
pois de ordem p�blica. (Apela��o C�vel n. 2012.013347-8, de Balne�rio
Cambori�, rel. Des. J�nio Machado, j. 11/7/2013).

APELA��O C�VEL. A��O DE BUSCA E APREENS�O. CONTRATO


DE FINANCIMENTO PARA AQUISI��O DE BENS. IRREGULARIDADE DA
REPRESENTA��O PROCESSUAL DO MUTU�RIO. PRESSUPOSTO DE
CONSTITUI��O V�LIDA E REGULAR DO PROCESSO. NECESSIDADE DE
REGULARIZA��O NOS TERMOS DO ART. 13 DO C�DIGO DE PROCESSO
CIVIL. CONVERS�O DO JULGAMENTO EM DILIG�NCIA. (Apela��o
C�vel n. 2007.052263-1, de Pomerode, rela. Desa. Rejane Andersen, j.
5/4/2010).
Por esta raz�o, o julgamento deve ser convertido em dilig �ncia,
conforme o teor dos artigos 515, � 4 �, do C �digo de Processo Civil, e 116 do
Regimento Interno desta Corte, para determinar a intima ��o pessoal da parte
apelante, a fim de que em 10 (dez) dias promova a regulariza ��o da
representa��o processual, sob pena de n�o conhecimento do apelo.
Este � o voto.

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