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UFC/FEAAC/DTE Microeconomia I Prof.

Henrique Félix Aula 04

FUNÇÃO UTILIDADE

Definição1
Uma função definida do Conjunto (ou espaço) de Consumo nos reais, 𝑈: 𝑋 → ℝ, é
chamada de função utilidade representando as relações de preferências se, para
∀ 𝒙, 𝒚 ∈ 𝑿 = ℝ𝒏+,
𝑼(𝒙) ≥ 𝑼(𝒚) ⟺ 𝒙 ≽ 𝒚
𝑼(𝒙) > 𝑼(𝒚) ⟺ 𝒙 ≻ 𝒚
𝑼(𝒙) = 𝑼(𝒚) ⟺ 𝒙 ∼ 𝒚

A principal consequência teórica desta definição é a eliminação da


cardinalização da utilidade. Ou seja, quaisquer números atribuídos às utilidades
das diferentes cestas pertencentes ao conjunto de consumo devem obedecer à
ordem de preferências do consumidor em relação a estas cestas. Assim,
magnitudes maiores devem ser atribuídas às cestas mais preferidas e menores às
menos preferidas.

Existência da Função Utilidade


Supondo-se que as preferências do consumidor são racionais (completas e
transitivas), contínuas e estritamente monotônicas, então, existe uma função
utilidade que as representa.

Observação: a descontinuidade das preferências lexicográficas implica que


não há uma função utilidade que as represente.

1 “Uma função utilidade 𝑈(𝑥) atribui um valor numérico para cada cesta do conjunto de consumo,
ordenando-os de acordo com as preferências do consumidor” (Mas Collel, 1995).
“Uma função utilidade é, simplesmente, uma forma conveniente de sumarizar as informações
contidas nas relações de preferência, nem mais nem menos” (Jehle/Reny, 2001).
Invariância da Função Utilidade
Se 𝑈(𝑥) é uma função utilidade que representa as preferências de um consumidor
no espaço ou conjunto de consumo, então, 𝑉(𝑥) também representará estas
mesmas preferências, se e somente se, 𝑉(𝑥) = 𝑓(𝑈(𝑥)), para todo x, onde 𝑓: ℝ →
ℝ, é uma função estritamente crescente no conjunto de valores assumidos por
𝑈(𝑥).
Diz-se que a função 𝑉(𝑥) é uma transformação monotônica crescente (ou
positiva) de 𝑈(𝑥) e, portanto, representa as mesmas preferências de 𝑈(𝑥).
Observe que:
(i) Se 𝑈(𝑥) e 𝑈(𝑦) representam preferências em relação às cestas x e y ∈ 𝑋 =
ℝ𝑛+ , então, é válido que 𝑈(𝑥) ≥ 𝑈(𝑦) ⟺ 𝑥 ≽ 𝑦.
(ii) Se 𝑉(𝑥) e 𝑉(𝑦) são transformações monotônicas crescentes de 𝑈(𝑥) e
𝑈(𝑦), respectivamente, então é valido que 𝑉(𝑥) ≥ 𝑉(𝑦) ⟺ 𝑈(𝑥) ≥ 𝑈(𝑦).
(iii) Mas, se 𝑉(𝑥) ≥ 𝑉(𝑦) ⟺ 𝑈(𝑥) ≥ 𝑈(𝑦) , então é válido que 𝑉(𝑥) e 𝑉(𝑦)
representam as mesmas preferências de 𝑈(𝑥) e 𝑈(𝑦).
O mesmo raciocínio pode ser usado para as preferências estrita ( ≻ ) e de
indiferença (∼).

Utilidade Marginal

A Utilidade Marginal de um bem i é a medida do acréscimo à utilidade total


decorrente do acréscimo de uma unidade na quantidade consumida deste bem i.
Dadas:
𝑥 = (𝑥1 , 𝑥2 ), cesta de consumo, 𝑥 ∈ 𝑋 = ℝ2+
𝑈(𝑥1 , 𝑥2 ), a função utilidade associada a esta cesta, então, define-se,
𝛥𝑈(𝑥1 ,𝑥2 ) 𝜕𝑈(𝑥1 ,𝑥2 )
𝑈𝑀𝑔1 = ou 𝑈𝑀𝑔1 = , a utilidade marginal do bem1;
𝛥𝑥1 𝜕𝑥1
𝛥𝑈(𝑥1 ,𝑥2 ) 𝜕𝑈(𝑥1 ,𝑥2 )
𝑈𝑀𝑔2 = ou 𝑈𝑀𝑔2 = , a utilidade marginal do bem 2.
𝛥𝑥2 𝜕𝑥2

Taxa Marginal de Substituição (TMS) e a Utilidade Marginal

A TMS é a medida da inclinação da curva de indiferença em qualquer ponto


(𝑥1 , 𝑥2 ). Ela mede o número de unidades do bem 2 que o consumidor sacrifica
para obter uma unidade adicional do bem 1, mantendo-se constante o nível de
utilidade.
Assim, seja uma função utilidade 𝑈(𝑥1 , 𝑥2 ) representando as preferencias do
consumidor no espaço bidimensional de consumo. Diferenciado-se totalmente,
tem-se,
𝜕𝑈(𝑥1 , 𝑥2 ) 𝜕𝑈(𝑥1 , 𝑥2 )
̅=
𝑑𝑈 𝑑𝑥1 + 𝑑𝑥2 = 0
𝜕𝑥1 𝜕𝑥2
𝜕𝑈(𝑥1 , 𝑥2 ) 𝜕𝑈(𝑥1 , 𝑥2 )
𝑑𝑥2 = − 𝑑𝑥1
𝜕𝑥2 𝜕𝑥1
𝒅𝒙𝟐 𝑼𝑴𝒈𝟏
𝑻𝑴𝑺𝟐,𝟏 = =−
𝒅𝒙𝟏 𝑼𝑴𝒈𝟐

Exemplos de Função Utilidade

1. Linear:
𝑼(𝒙𝟏 , 𝒙𝟐 ) = 𝒂𝒙𝟏 + 𝒃𝒙𝟐 , 𝒂, 𝒃 > 𝟎
(os bens 1 e 2 são substitutos perfeitos)
TMS = constante

2. Proporções Fixas (ou Leontief):


𝑼(𝒙𝟏 , 𝒙𝟐 ) = 𝒎𝒊𝒏{𝒂𝒙𝟏 , 𝒃𝒙𝟐 } , 𝒂, 𝒃 > 𝟎
(os bens 1 e 2 são complementares perfeitos)
Se 𝑎𝑥1 < 𝑏𝑥2 , a TMS→ +∞
Se 𝑎𝑥1 > 𝑏𝑥2 , a TMS= 0
Se 𝑎𝑥1 = 𝑏𝑥2 , a TMS não é definida
3. Cobb-Douglas:

𝑼(𝒙𝟏 , 𝒙𝟐 ) = 𝒙𝒂𝟏 𝒙𝒃𝟐 𝒂, 𝒃 > 𝟎


𝑎𝑥2
𝑇𝑀𝑆 = −
𝑏𝑥1

4. Quase-linear:
𝑈(𝑥1 , 𝑥2 ) = 𝑥1 + 𝑣(𝑥2 ) (quase linear em 𝑥1 )
1
𝑇𝑀𝑆 = −
𝑣′(𝑥2 )
𝑈(𝑥1 , 𝑥2 ) = 𝑣(𝑥1 ) + 𝑥2 (quase linear em 𝑥2 )
𝑇𝑀𝑆 = −𝑣′(𝑥1 )
5. Elasticidade de Substituição Constante (CES)
(Constant Elasticity of Substitution)

𝑈(𝑥1 , 𝑥2 ) = [𝑥1𝑎 + 𝑥2𝑎 ]1/𝑎 , 0 ≠ 𝑎 < 1


𝑥2 1−𝑎
𝑇𝑀𝑆 = − ( )
𝑥1

6. Elasticidade de Substituição Variável (VES)


(Variable Elasticity of Substitution)
𝑈(𝑥1 , 𝑥2 ) = 𝛾𝑥1𝛼 [𝑥2 + 𝛽𝑥1 ]1−𝛼 𝛾 > 0, 𝛽 > 0, 0 < 𝛼 < 1
∝1 𝑥2 (∝1 +∝2 )
𝑇𝑀𝑆 = − [( )+𝛽 ]
∝2 𝑥1 ∝2
7. Stone-Geary
𝑢(𝑥1 , 𝑥2 ) = (𝑥1 − 𝑠1 )𝛼1 . (𝑥2 − 𝑠2 )𝛼2 ,0 < 𝛼 < 1
𝑇𝑀𝑆 = 𝑐𝑎𝑙𝑐𝑢𝑙𝑎𝑟

Literatura:
VARIAN, Hal R. (2016) Cap. 4
VASCONCELLOS (2011) Cap. 4
RESENDE, José G. de L. (Notas de Aula 3)
JEHLE & RENY (2001)
EXERCÍCIOS PROPOSTOS

1. Resolva as “Questões de Revisão” do final do Capítulo 4 do Varian.


2. Suponha um consumidor de uma cesta (x, y) Є R+2 que encara uma função
1
utilidade dada por 𝑈(𝑥, 𝑦) = [𝑎𝑥 𝜃 + 𝑏𝑦 𝜃 ]𝜃 , 0 ≠ 𝜃 < 1.
Mostrar que:
(a) Quando  = 1 , as preferências tornam-se lineares;
(b) Quando  → 0 , as preferências tornam-se do tipo Cobb-Douglas
(c) Quando  → − , as preferências tornam-se do tipo Leontief

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