Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EncontroQuimicos Aaipripriocafinal
EncontroQuimicos Aaipripriocafinal
net/publication/320987496
CITATIONS READS
0 273
9 authors, including:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Marilena Emmi Araújo on 10 November 2017.
1
Universidade Federal do Pará/Faculdade de Engenharia Química/Laboratório de Simulação de Processos e
Termodinâmica Aplicada (UFPA/FEQ/TERM@)
2
Universidade Federal do Pará/Faculdade de Engenharia de Alimentos/Laboratório de Extração Supercrítica
(UFPA/FEA/LABEX)
1. INTRODUÇÃO
O açai é o fruto de cor tipo roxo escuro da palmeira Euterpe oleracea Mart., integrada no
hábito alimentar amazônico. Recentemente muitos estudos sugerem o seu uso como um possível
alimento funcional ou ingrediente alimentar devido à sua atividade antioxidante, explicada pelo alto
teor de compostos fenólicos, por exemplo, antocianinas, especialmente cianidina-3-glucósido e
cianidina-3-rutinosídeo, flavonas e ácidos fenólicos. As antocianinas constituem um grupo de
pigmentos que são importantes também na indústria alimentícia para a substituição de corantes
artificiais.Os constituintes fenólicos geralmente estão associados a propriedades promotoras da
saúde e à prevenção de doenças (Kang et al., 2012; Hogan et al., 2010; Kang et al., 2010).
Batista et al. (2016), submeteram amostras de polpa de açaí processadas por liofilização ao
processo de extração com dióxido de carbono supercrítico. Dentre os resultados destaca-se o estudo
das variáveis do processo (temperatura, pressão e densidade de solvente) que maximizam o
rendimento de extração do óleo de açaí, a quantificação do teor de antocianinas totais e do teor de
compostos fenólicos totais, além da avaliação do potencial alelopático dos extratos obtidos.
Conhecida popularmente no estado do Pará como priprioca, a espécie perene de nome
científico Cyperus articulatus L., é reproduzida por semente e alastrada por um extenso sistema de
rizomas. É uma planta de uso medicinal, onde seus rizomas são utilizados popularmente para o
tratamento de diversas doenças: dores de cabeça, dores estomacais, febres e malária. A cocção de
seus rizomas é comumente utilizada como anti-inflamatório. Nos últimos anos o óleo essencial de
priprioca, de aroma amadeirado, despertou o interesse das indústrias de perfumaria e cosméticos. Os
processos de extração do óleo essencial de priprioca mais comumente aplicados são hidrodestilação
ou por arraste a vapor. Os constituintes principais obtidos pro hidrodestilação foram: alfa-pineno,
beta-pineno, limoneno, alfa-copaeno e oxido de cariofileno (Zoghbi et al., 2006).
Os rizomas de priprioca quando submetidos a extração com dióxido de carbono supercrítico
apresentam um extrato constituído de uma mistura de óleo essencial e oleoresina e os compostos
percentualmente mais representativos de sua composição, obtidos a 300 bar e 40°C foram: alfa-
ciperona, corimboleno, santalol, trans-6-hidroxi-alfa-terpineol, óxido de cariofileno, transverbenol,
beta-selineno e cis-verbenona (Moura et al., 2009). Hatami et al. (2014) determinaram e avaliaram o
comportamento da cinética de extração do extrato de priprioca a pressões entre 100 e 300 bar e
temperaturas de 40 e 50°C através de um modelo de transferência de massa que consiste em
descrever a transferência de massa baseado no equilíbrio local entre o solvente e a matriz sólida,
determinando a constante de equilíbrio entre o sólido e a fase supercrítica através um método
teórico baseado no conceito de fugacidade
O processo de extração/separação com dióxido de carbono de extratos de matrizes sólidas
(folhas, sementes, polpas, tubérculos, etc.) é o processo supercrítico mais estudado na busca por
novos produtos naturais que possuam atividade biológica, de acordo com as inúmeras aplicações
descritas na literatura. O solvente supercrítico de maior aplicabilidade é o dióxido de carbono por
ser atóxico, de baixo custo e por apresentar condições críticas amenas (Tc= 31 ºC e Pc= 72,9 bar)
proporcionando temperaturas de processamento baixas, evitando portanto a degradação de produtos
de alto valor agregado, características de interesse para as áreas de alimentos, farmacêutica e de
cosméticos (Meireles, 2008; Pereira e Meireles, 2010; Farías-Camponanes et al., 2013;). Dentre as
variáveis determinantes do processo estão as propriedades cinéticas (curva de extração, vazão do
solvente, etc.) e o poder de solubilização do solvente que dependem das condições operacionais
(P,T), do material sólido e do tipo de solvente (Brunner, 1994).
O processo de extração supercrítica de matrizes sólidas apresentam dois tipos de curvas de
extração (Brunner, 1994; Sovova, 1994, Meireles, 2008). A primeira parte de ambas as curvas é
correspondente à etapa CER (período de taxa constante de extração), onde a superfície externa da
partícula está recoberta por uma camada de óleo e o solvente retira esta camada superficial num
processo de transferência de massa majoritariamente influenciada pelo efeito convectivo. A segunda
parte da curva representa a etapa FER (período de taxa decrescente de extração) caracterizado pelo
decréscimo da taxa de extração, na qual ambos os efeitos de convecção e difusão na fase sólida são
responsáveis pela determinação da taxa de extração A terceira fase que ocorre apenas na curva do
tipo I, corresponde ao período DC (controlado pela difusão), onde o soluto na superfície sólida sofre
exaustão; representando o fim do processo, onde a matriz sólida é esgotada e os fenômenos
difusivos da fase sólida são predominantes.
A curva do tipo I é característica de processos onde o sólido possui uma alta concentração
inicial de extrato. Na etapa CER, a transferência de massa é constante e controlada pela relação de
equilíbrio entre o extrato e fase fluida, e por uma baixa resistência externa a transferência de massa.
A curva do tipo II representa casos onde a concentração inicial de soluto na matriz sólida é
baixa, ou o soluto está inacessível ao solvente, neste caso, assim como na etapa FER da curva do
tipo I, a resistência interna a transferência de massa é dominante.
A análise das curvas globais de extração permite que se obtenham importantes informações
para o projeto do processo como o rendimento global, o tempo mínimo para um ciclo (batelada) e o
tempo ideal do processo, importantes para realizar também uma análise econômica. O período de
taxa de extração constante (CER) pode ser considerado como o tempo de extração (tCER) mínimo
para uma batelada e o período FER caracterizado pelo decréscimo da taxa de extração, onde pode
ser determinado o tempo ideal de extração para cada matriz sólida.
Este trabalho teve como objetivo realizar a análise das curvas globais de extração através da
determinação dos parâmetros cinéticos do processo de extração com CO2 supercrítico dos extratos
da polpa residual de açaí, a pressões de 200, 250 e 300 bar e a temperaturas de 40 e 50°C, e dos
rizomas de priprioca a pressões de 100, 200 e 300 bar e a temperaturas de 40 e 50°C.
2. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
𝑚𝑒𝑥𝑡 𝑄𝑠𝑜𝑙 𝑄 𝑄
𝑚𝑎𝑙𝑖𝑚
= 𝑏0 + 𝑏1 ∗ 𝑡 (
𝑚𝑎𝑙𝑖𝑚
) + 𝑏2 ∗ 𝐴𝐿1 ∗ (𝑚 𝑠𝑜𝑙 ) + 𝑏3 ∗ 𝐴𝐿2 ∗ (𝑚 𝑠𝑜𝑙 ) (1)
𝑎𝑙𝑖𝑚 𝑎𝑙𝑖𝑚
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Tabela 1: Parâmetros cinéticos para a extração com a polpa de açaí com o ajuste de três retas (q’=2,22x10-4
kg/s).
Três retas
T P 𝝆CO2 Rend. X0
tCER tFER MCER
(°C) (bar) (kg/m3) (%) (%) *YCER R2
(min) (min) (gext/min)
200 839,81 5,97 6,0 13 52 0,01667 0,00125 0,9974
40 250 879,48 7,64 8,0 37 89 0,06101 0,00457 0,9991
300 909,89 6,39 7,0 52 108 0,0417 0,00312 0,9986
200 784,29 6,47 7,0 12 67 0,11083 0,00831 0,9987
50 250 834,19 5,53 6,0 48 112 0,03652 0,00273 0,9948
300 870,43 7,82 8,0 16 48 0,1339 0,0100 0,9991
* Ycer (gext/gCO2)
Tabela 2: Distribuição do rendimento global (X0) nas etapas CER e FER para a extração com a polpa de açaí.
T P 𝝆CO2 Rend. X0 CER FER X0CER X0FER X0CER+X0FER
3
(°C) (bar) (kg/m ) (%) (%) (min) (min) (%) (%) (%)
200 839,81 5,97 6,0 13 39 17,67 50,33 68,0
40 250 879,48 7,64 8,0 37 52 61,12 23,0 84,12
300 909,89 6,39 7,0 52 56 65,0 19,71 74,12
200 784,29 6,47 7,0 12 55 42,57 30,43 73,0
50 250 834,19 5,53 6,0 48 64 60,5 21,44 81,94
300 870,43 7,82 8,0 16 32 57,12 25,25 82,37
A Tabela 3 apresenta os valores dos parâmetros cinéticos, tCER, tFER, MCER, YCER, para todas
as condições operacionais, determinados através dos pontos de encontro de três retas. A regressão
dos dados das curvas de extração com os rizomas de priprioca com o aplicativo spline de três retas
apresentou os melhores coeficientes de correlação (R2) para todas as condições operacionais
estudadas. A Tabela 4 apresenta os valores estimados do rendimento global X0 (massa
extraível/massa alimentação), determinados utilizando a equação 1 através da regressão com o
aplicativo spline de três retas.
De acordo com os resultados apresentados na tabela 3 verifica-se que o maior rendimento
(4,68%) da extração com os rizomas de priprioca foi obtido na maior pressão (300 bar) e maior
temperatura (50°C), com o mais curto período FER nesta temperatura, com a seguinte distribuição
percentual do rendimento global (X0), conforme a Tabela 4: 82,3%, maior percentual da etapa CER
de todas as condições operacionais e somente 7,29% na etapa FER.
Levando em consideração que a vazão de CO2 foi diferente para a maioria das condições
operacionais, o que representa um fator complicador para a análise do comportamento do
rendimento com as condições operacionais, destaca-se, com exceção a 200 bar, que: o período CER
aumentou com o aumento da pressão e com a diminuição da vazão a 40°C, apresentando o maior
período FER na maior pressão e a temperatura de 50°C; o período CER aumentou com o aumento
da pressão e da vazão com um comportamento inverso para o período FER. Os resultados da tabela
4 mostram que a distribuição percentual do rendimento global (X0), ocorreu principalmente na etapa
CER com baixos percentuais na etapa FER independente dos valores da vazão, caracterizando que o
aumento da densidade do CO2 foi o fator predominante nos rendimentos de extração.
Tabela 3: Parâmetros cinéticos para a extração com os rizomas de priprioca com o ajuste de três retas..
Três retas
T P 𝝆CO2 q’
Rend. X0
t t MCER
(°C) (bar) (kg/m3) (%) (%) CER FER
*YCER R2
(kg/s) (min ) (min ) (gext/min)
-4
100 628,61 5,1x10 2,85 2,9 22 72 0,08908 0,00251 0,9997
-4
40 200 839,81 4,61x10 4,02 4,1 35 68 0,07602 0,00274 0,9999
300 909,89 5,29x10-4 4,39 4,4 42 118 0,05847 0,00184 0,9990
100 384,33 2,71x10-4 1,90 1,92 29 146 0,01741 0,00107 0,9998
50 200 784,29 2,98x10-4 3,23 3,8 22 72 0,08908 0,00498 0,9997
-4
300 870,43 3,99x10 4,68 4,8 39 79 0,04638 0,00193 0,9996
* Ycer (gext/gCO2)
Tabela 4: Distribuição do rendimento global (X0) nas etapas CER e FER para a extração com os rizomas de
priprioca.
T P 𝝆CO2 Rend. X0 CER FER X0CER X0FER X0CER+X0FER
3
(°C) (bar) (kg/m ) (%) (%) (min) (min) (%) (%) (%)
100 628,61 2,85 2,9 22 50 80,34 11,72 92,06
40 200 839,81 4,02 4,1 35 33 74,63 18,54 93,17
300 909,89 4,39 4,4 42 76 66,82 18,18 85,0
100 384,33 1,90 1,92 29 117 59,89 35,93 95,82
50 200 784,29 3,23 3,8 22 50 81,05 11,84 92,89
300 870,43 4,68 4,8 39 40 82,30 7,29 89,59
4. CONCLUSÕES
Este trabalho teve como objetivo realizar a análise das curvas globais de extração através da
determinação dos parâmetros cinéticos do processo de extração com CO2 supercrítico dos extratos
da polpa residual de açaí, a pressões de 200, 250 e 300 bar e a temperaturas de 40 e 50°C, e dos
rizomas de priprioca a pressões de 100, 200 e 300 bar e a temperaturas de 40 e 50°C.
O maior rendimento (7,82%) de extração com a polpa do açaí foi obtido na maior pressão
(300 bar) e maior temperatura (50°C), com o mais curto período FER determinado, dentre todas as
condições operacionais estudadas, com a seguinte distribuição percentual do rendimento global
(X0): 57,12% no período CER e 25,25% no período FER, demonstrando a influência dominante da
convecção na extração.
O maior rendimento (4,68%) da extração com os rizomas de priprioca foi obtido na maior
pressão (300 bar) e maior temperatura (50°C), com o mais curto período FER nesta temperatura,
com a seguinte distribuição percentual do rendimento global (X0): 82,3%, maior percentual da etapa
CER de todas as condições operacionais e somente 7,29% na etapa FER.
Em geral, no período CER consegue-se extrair entre 50-90% do extrato total conforme é
sugerido na literatura para que a otimização do processo deve ser focado nesta fase.
5. REFERÊNCIAS
CARVALHO JR., R.N. Obtenção de Extrato de Alecrim (Rosmarinus officinalis) por Extração
Supercrítica: Determinação do Rendimento Global, de Parâmetros Cinéticos e de Equilíbrio e Outras
Variáveis do Processo. Tese (Doutorado em Engenharia de Alimentos). Universidade de Campinas, 2004.
KANG, J.; LI, Z.; TONG, W.; OU, B.; JENSEN, G.; SCHAUSS, A.G. & WU, S. Anti-oxidant
capacities of flavonoid compounds isolated from açaí pulp (Euterpe oleraceae Mart). Food
Chemistry, v.122, p. 610-617, 2010.
KANG, J.; THAKALI, K.M.; XIE, C.; KONDO, M.; TONG, Y.; OU, B.; JENSEN, G.; MEDINA,
M.B.; SCHAUSS, A.G. & WU, A. Bioactives of açaí (Euterpe precatoria Mart.) fruit pulp, superior
antioxidant and anti-inflammatory properties to Euterpe oleraceae Mart. Food Chemistry, v. 133,
p. 671-677, 2012.
MEIRELES, M.A.A. Extraction of Bioactive Compounds from Latin American Plants. In:
Martinez, J.L. (Ed.), Supercritical fluid extraction of nutraceutical and bioactive compounds, CRC
Press, Taylor & Francis Group, p. 243-274, 2008.
SOUZA, R. S. Extração da Semente de Bacuri (Platonia insignis) Obtida por Diferentes Processos e
Modelagem Matemática para a Descrição da Curva Global de Extração de Bacuri (Platonia insignis),
Priprioca (Cyperus articulata) e Açaí (Euterpe oleracea). Dissertação (Engenharia Química) -
Universidade Federal do Pará, 2014.
SOVOVÁ, H. Rate of the Vegetable Oil Extraction with Supercritical CO2: I. Modeling of
Extraction Curves. Chem. Engineering. Science, v.3, n. 49, p. 409 - 414, 1994.
ZETZL, C.; BRUNNER, G.; MEIRELES, M.A.A. Standardized low-cost batch SFE-Units for
university education and comparative research, 04/2003, in : Sixth International Symposium on
Supercritical Fluids, 1, Versailles, France, pp.577-581, 2003.