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O Protocolo PROFIBUS

O Profibus é um dos protocolos que fazem parte do grupo dos “fieldbuses” abertos e
independentes de fornecedores (não-proprietários), que permitem, portanto a integração
de equipamentos de diversos fabricantes em uma mesma rede. Estamos falando de
interoperabilidade e intercabiabilidade.

O primeiro quer dizer que, em uma rede fieldbus podem estar interligados equipamentos
de diversos fabricantes. Todos se comunicam perfeitamente bem, graças à padronização
do protocolo. Já o segundo quer dizer que, se eu tirar da minha rede um equipamento de
um fabricante (um transmissor de pressão, por exemplo) e colocar o mesmo
equipamento de um outro fabricante, este segundo equipamento vai ser capaz de realizar
as mesmas atividades que o primeiro.

A história do Profibus começou em 1987, na Alemanha, quando 21 companhias e


institutos uniram forças e criaram um projeto estratégico fieldbus. O objetivo era a
realização e estabilização de um barramento de campo bitserial, sendo o requisito
básico, a padronização da interface de dispositivo de campo [2].

Este protocolo começou seu avanço inicialmente na automação de manufatura e, desde


1995, na automação de processos (Profibus PA). O padrão Profibus atende às
exigências das normas IEC61158 e EN50170 e, conta com 3 tipos de tecnologias: DP,
PA e PROFINET. Segue abaixo uma descrição resumida de cada um desses três
protocolos:

• Profibus DP: Foi desenvolvido para operar com uma alta velocidade e conexão
de baixo custo, e é utilizado na comunicação entre sistemas de controle de
automação e seus respectivos I/O’s distribuídos no nível de dispositivo. Pode ser
usado para substituir a transmissão de sinal em 24 V em sistemas de automação
de manufatura assim como para a transmissão de sinais de 4 a 20 mA ou
HART® em sistemas de automação de processo [2].
• Profibus PA: Esta tecnologia define, em adição às definições padrões do
Profibus DP, os parâmetros e blocos de função para dispositivos de automação
de processo, tais como transmissores, válvulas e posicionadores [2]. O Profibus
PA possui uma característica adicional que é a transmissão intrinsecamente
segura, o que faz com que ele possa ser usado em áreas classificadas, ou seja,
ambientes onde existe o perigo de explosão. É indicado por controlar variáveis
digitais em linhas de produção seriada ou células integradas de manufatura.
Encontrado predominantemente nas indústrias de transformação [3].
• Profinet: Pode ser utilizado em aplicações em tempo real (rápidas) e em
aplicações onde o tempo não é crítico, por exemplo, na conversão para rede
Profibus DP [8].

Características Básicas

O Profibus é um sistema dito multimestre e permite a operação conjunta de


equipamentos ou controladores terminais de engenharia ou visualização, com seus
respectivos periféricos. Os Dispositivos Mestres determinam a comunicação de dados
em um barramento. Essa comunicação é realizada enquanto o dispositivo mestre possui
o direito de acesso ao barramento (token). O token é um mecanismo de arbitragem que
deve ser implementado para evitar possíveis colisões no barramento quando mais de
uma estação deseja transmitir uma mensagem [5].

Os mestres são chamados de estações ativas no barramento. Já os Dispositivos Escravos


são dispositivos de periferia como, válvulas, módulos de I/O, posicionadores,
transmissores etc. Esses periféricos não possuem direito de acesso ao barramento, e
somente enviam ou reconhecem alguma informação do mestre quando for solicitado.

Ver Figura 1:

Figura 1 – Esquema de comunicação Mono-Mestre

Figura 2 – Esquema de comunicação Multi-Mestre


Arquitetura de Redes Profibus

A arquitetura da rede Profibus é baseada em protocolo de rede que segue o modelo


ISO/OSI. No Profibus DP são utilizadas as camadas 1 e 2 e também a Interface do
Usuário. Já no Profibus PA e Profinet, além dessas, a camada 7 também é utilizada.
Essa arquitetura simplificada garante uma transmissão de dados eficiente e rápida.
Abaixo, segue uma breve descrição sobre cada camada:

• A camada 1 inclui o meio físico onde a mensagem é transportada, tipicamente


um cabo blindado de par trançado. Ela descreve a tecnologia de transmissão dos
dados, a pinagem dos conectores e os parâmetros técnicos e elétricos que devem
ser cumpridos [10]. É nesta camada que ocorre o transporte dos dados
representados por um conjunto serial de bits entre dois equipamentos terminais
[13], via um suporte de transmissão, que pode ser os meios físicos RS-485 ou
fibra ótica. A camada Física não interpreta os dados; ela somente passa os dados
para a Camada de Enlace[9].
• A camada 2 representa a camada de Enlace. É nessa camada que são formados
os telegramas de mensagem. Aqui é feito o controle de quando e por qual
caminho a mensagem irá trafega, a fim de evitar colisões entre dois ou mais
equipamentos que querem transmitir ao mesmo tempo.
• A camada 7 é quem faz a interface entre a máquina e o usuário. Acima da
camada 7 está a funcionalidade “real” do instrumento tal como medição,
atuação, controle ou a interface de operação de um configurador (BERGE,
2002).

Este modelo pode ser visualizado na Figura 3:

Figura 3 – Modelo de Referência ISO/OSI aplicado à Rede Profibus [9]

Meios Físicos Utilizados

De acordo com [2], os meios físicos utilizados neste protocolo são:

• RS485: para uso universal, em especial em sistemas de automação da


manufatura. É utilizado em DP;
• IEC 61158-2: para aplicações em sistemas de automação em controle de
processo. É utilizado em PA;
• Fibra Ótica: para aplicações em sistemas que demandam grande imunidade à
interferências e grandes distâncias.

Bom, essa foi uma introdução sobre o protocolo Profibus como um todo. Para a
próxima parte vou escrever sobre uma das três vertentes: o Profibus DP.

De acordo com [1] a tecnologia DP foi desenvolvida para realizar transmissão de dados
em alta velocidade. Esta vertente do protocolo atua no nível 2 da pirâmide de
automação. Neste nível atuam os PCs e CLPs responsáveis pelo controle dos
equipamentos de campo que estão localizados no nível 1. Cada controlador (mestre)
pode controlar até 126 escravos.

É daí que surge a necessidade de se utilizar um protocolo que trabalhe com velocidades
altas. Se fosse o contrário o processo seria muito lento e isto poderia prejudicar o bom
andamento de um controle, onde algumas aplicações exigem um tempo de resposta
muitoooo baixo e a troca de informações precisa ser, praticamente, em tempo real.

As regras desta tecnologia são ditadas pela norma EN50170 [4].

Existem disponíveis no mercado diversos modelos de equipamentos mestres e escravos


com a tecnologia DP. Como visto na Parte I desta série, os equipamentos Mestres atuam
sobre os equipamentos Escravos. Os mestres DP controlam tanto escravos DP quanto
PA. Porém, neste último caso, a comunicação entre uma tecnologia e outra (no caso DP
e PA) é realizada através de um outro equipamento, denominado Coupler. Este
equipamento é responsável pela conversão do sinal DP em sinal PA e, vice-versa. Sem
este equipamento não é possível a comunicação entre estas duas tecnologias.

Os Mestres podem ser definidos de duas maneiras: Classe 1 e Classe 2. Os Mestres


classe 1 são os controladores que ficam responsáveis pelo controle dos escravos
continuamente, executando uma ordem definida de tarefas, que se repetem. Cada rede
possui um único mestre classe 1. Este mestre tem prioridade 1 com relação à “dar
ordens” para um escravo.

Já os Mestres classe 2 “entram em contato” com os escravos quando o operador precisa


fazer alguma configuração secundária, algo que seja importante, mas que não interfira
na comunicação entre os escravos e o Mestre classe 1.

A troca de mensagens entre Mestres e Escravos pode ser realizada de duas maneiras:
cíclica e acíclicamente. De acordo com [3] a troca de forma cíclica é dividida em três
fases: parametrização, configuração e transferência de dados. Durante as fases de
configuração e parametrização de um Escravo, sua configuração real é comparada com
a configuração projetada no Mestre classe 1. Somente se corresponderem é que o
Escravo passará para a fase de transmissão de dados. Assim, todos os parâmetros de
configuração, tais como tipo de dispositivo, formato e comprimento de dados, número
de entradas e saídas, etc. devem corresponder à configuração real. Estes testes
proporcionam ao usuário uma proteção confiável contra erros de parametrização. Além
da transmissão de dados, que é executada automaticamente pelo Mestre classe 1, uma
nova parametrização pode ser enviada a um Escravo sempre que necessário.
Na forma acíclica [3] é possível transmitir comandos de leitura e escrita, bem como
alarmes entre mestre e escravos, independente da comunicação cíclica de dados. Isto
permite, por exemplo, a utilização de um Terminal de Engenharia (Mestre classe 2) para
a otimização dos parâmetros de um dispositivo (escravo) ou para se obter o valor do
status de um dispositivo, sem perturbar a operação do sistema.

A utilização de protocolo de comunicação em uma aplicação depende das necessidades


da aplicação. Essas necessidades devem ser comparadas com as características que o
protocolo oferece. A utilização do protocolo adequado faz com que o projeto seja
realizado de forma mais simples e com economias. Veja abaixo, alguns exemplos de
aplicações onde pode ser utilizado o protocolo Profibus DP:

• Controle de Motores Inteligente (CCM Inteligente): Usado para realizar a


comunicação com uma rede de Inversores e Soft-Starters para acionamento de
motores;
• Manter o controle antigo analógico (4-20mA) levado através de estações
remotas, criando uma rede entre estas estações remotas;
• Como DP é uma rede rápida, pode ser aplicado em gateways DP/AS-I e DP/PA
concentrando a informação de instrumentos de redes mais lentas;
• Energia (acionamento em subestações);
• Manufatura (montadoras de autos, fábricas em geral);
• Mineração (CCMs e remotas);
• Controle de processos rápido (por ex. caldeira a gás);
• Entre outras.

Cada aplicação da rede Profibus é influenciada pela escolha do meio físico. Os


requisitos gerais, como alta confiabilidade de transmissão, grandes distâncias a serem
cobertas e alta velocidade de transmissão somam-se às exigências específicas de cada
área de automação do processo, como operação em áreas classificadas, transmissão de
dados e alimentação dos instrumentos diretamente pelo barramento de dados, entre
outras [4]. Devido a este fato, não é possível usar um único meio físico em todo o
processo. Sendo assim foram desenvolvidos 3 tipos físicos que atendem às várias
particularidades do sistema. São eles: RS-485, IEC61158-2 e Fibra Ótica. Segue abaixo
uma descrição resumida de cada um destes meios de transmissão:

• RS-485: para uso universal, em especial em sistemas de automação da


manufatura;
• IEC61158-2 ou Manchester Bus Powered (MBP): para aplicações em
sistemas de automação em controle e processos. Utilizado somente em rede PA;
• Fibra Ótica: para aplicações em sistemas que demandam grande imunidade à
interferência e grandes distâncias [3].

Vou dividir a explicação detalhada destes meios físicos em duas partes, começando pelo
RS-485. No post da próxima semana vou falar sobre as Fibras Óticas. O meio físico
IEC61158-2 é utilizado em PA, portanto será explicado em breve, no post sobre redes
PA.

RS-485
O RS-485 é o meio de transmissão mais utilizado no Profibus DP, pois apresenta como
características principais altas taxas de transmissão e instalação simples e barata. Este
meio físico usa como transporte dos dados um cabo de par trançado e blindado e
permite que até 32 estações sejam conectadas ao barramento. Porém, o uso de
repetidores é permitido, o que permite que uma rede se estenda a até 126 estações.

Os cabos usados nas instalações Profibus DP e recomendados pela norma EN 50170


[4], apresentam as seguintes características:

• Área do Condutor: maior que 0,34 mm²;


• Impedância: 135 a 165 Ohms;
• Capacitância: menor que 30 pF;
• Resistência Específica: 110 Ohms/km;
• Medida do Diâmetro do Cabo: 0,64 mm;

O comprimento máximo de cada lance de cabo na rede varia de acordo com a


velocidade de transmissão especificada para a rede, devendo ser totalizado considerando
eventuais derivações. No caso do Profibus DP, essas derivações devem ser evitadas para
baudrate maior ou igual a 3 Mbps [4]. Segue na Tabela 1 os comprimentos de segmento
baseados nas respectivas velocidades de transmissão e o máximo comprimento das
derivações.

Tabela 1 – Comprimento Máximo de Cabo por Segmento [9]

É importante ressaltar também que os cabos de comunicação da rede devem manter uma
certa distância de fontes que possam causar qualquer tipo de interferência no sinal.
Além de mantê-los separados, é aconselhável utilizar bandejamentos ou calhas
metálicas fechadas e aterradas, observando as distâncias conforme Tabela 2. 2. O ideal é
utilizar canaletas de alumínio, onde se tem a blindagem eletromagnética externa e
interna. O cruzamento entre os cabos deve ser feito em ângulo de 90º [5].
Tabela 2 – Distâncias Mínimas de Separação entre Cabeamentos [5]

De acordo com a [4], se um cabo par trançado blindado é utilizado, a blindagem deverá
ser aterrado em ambas as terminações do cabo via conexões de baixa impedância. Isto é
necessário para se alcançar uma razoável blindagem eletromagnética. É altamente
recomendável que a conexão entre o cabo blindado e o terra seja feito por uma canaleta
metálica e parafusos de fixação metálicos do conector.

O cabo é conectado aos equipamentos através de conectores. Estes conectores são


disponibilizados com algumas variedades de classes de proteção e projetos mecânicos.
A escolha do melhor tipo de conector varia de acordo com a necessidade da instalação,
porém o mais recomendado pela norma é o conector Sub-D com 9 pinos. Os pinos 3, 5,
6 e 8 são sempre utilizados. Os demais pinos são opcionais. Estes conectores em geral
apresentam grau de proteção IP20¹ [5]. A Tabela 3 mostra a descrição dos pinos do
conector Sub-D com 9 pinos e na Figura 1 é mostrado um exemplo deste tipo de
conector.

Tabela 3 – Pinagem do Conector Sub-D com 9 Pinos [10]


Figura 1 – Pinagem do Conector Sub-D com 9 Pinos

Em áreas onde se exige um grau de proteção maior, são disponíveis os conectores do


tipo M12 com 5 pinos, que oferecem grau de proteção IP65/67² [5]. Veja na Figura 2 a
descrição dos pinos do conector M12.

NOTA:

1. O grau de proteção (IP) é a proteção oferecida por um invólucro, contra a


penetração de objetos sólidos (pó) e/ou penetração de água em partes
perigosas do circuito eletrônico (CEI/IEC 60529, 2001). O primeiro
dígito indica a proteção contra sólidos e o segundo a proteção contra
líquidos. Neste caso, o dígito 2 indica que o invólucro do conector
oferece proteção contra sólidos de diâmetro de até 50 mm e maior e o
dígito 0 indica que ele não é protegido contra a entrada de água.
2. No caso do grau de proteção IP65/67, o dígito 6 indica que o invólucro
do conector é totalmente protegigo contra sólidos. Já os dígitos 5 e 7
representam proteção contra jatos de água e imersão contínua em água,
respectivemente.

Figura 2 – Conector M12 com 5 Pinos [5]

Os conectores Sub-D com 9 Pinos apresentam em sua estrutura os terminadores de


barramento. Esses terminadores são indispensáveis e é necessário que sejam habilitados
dois terminadores no barramento, um no início e outro no fim de cada segmento. A
terminação ativa na posição incorreta faz com que, tanto o nível quanto a forma de onda
sejam degradados.
A ausência de terminadores nas extremidades do barramento pode causar erro na
transferência de dados, devido à reflexões no sinal que chega ao fim do barramento,
fazendo com que este sinal volte pela linha de dados e se sobreponha ao sinal que está
sendo enviado. Já o excesso de terminadores habilitados pode causar intermitência nos
dados transmitidos fazendo com que ocorram interrupções na comunicação. Na Figura 3
são apresentados os detalhes de uma conexão entre o cabo Profibus e um terminador e
na Figura 4 é mostrado um exemplo de uma rede Profibus utilizando-se repetidores e
terminadores.

Figura 3 – Exemplo de Cabo com Terminação [7]

Figura 4 – Exemplo de uma Rede com Terminadores de Barramento e Repetidores [6]

É importante ressaltar que a habilitação dos terminadores varia de acordo com a


topologia da rede. Analisando-se a Figura 4, pode-se concluir que:

• Segmentos 1 e 2: estes segmentos possuem uma topologia do tipo Barramento.


Neste caso, é necessário habilitar um terminador no início (no mestre) e um no
final deste barramento (último escravo do segmento). O último escravo deve
permanecer o tempo todo alimentado com no mínimo 9 V;
• Segmento 3: este segmento possui uma topologia do tipo Árvore. Neste caso, os
terminadores devem estar localizados no primeiro escravo (o mais à esquerda do
mestre) e no último (o mais distante).

Codificação dos dados

O RS-485 codifica dados utilizando a técnica Non-return Zero (NRZ). Este tipo de
codificação é a forma mais comum e mais utilizada para se transmitir sinais digitais, já
que ela usa dois níveis de tensão diferentes para os dois dígitos binários, ambos
diferentes da tensão nula [8]. De acordo com a norma EN50170, este método procura
assegurar que as transmissões ocorram somente quando sucessivos bits de dados
possuam valores iguais. Um exemplo deste tipo de codificação pode ser visualizado na
Figura 5.

Os dados codificados em NRZ são transmitidos por um cabo de par trançado. O bit “1”
representa uma tensão diferencial positiva constante entre os pinos 3 (RxD/TxD-P) e 8
(RxD/TxD-N) do conector e o bit “0” representa uma tensão diferencial negativa
constante. No RS-485 esses dados são transmitidos por dois condutores, denominados A
e B, que transmitem níveis de tensão iguais, porém com polaridades opostas (VA e VB).

Por esta razão, é importante que a rede seja ligada com a polaridade correta. Embora os
sinais sejam opostos, um não é o retorno do outro, ou seja, não existe um loop de
corrente. Cada sinal tem seu retorno pela terra ou por um terceiro condutor de retorno,
entretanto, o sinal deve ser lido pelo receptor de forma diferencial sem referência a terra
ou ao condutor de retorno.

Figura 5 – Codificação NRZ

Pode-se notar na Figura 6 que este sinal trafega com fases invertidas nos condutores do
cabo enquanto o ruído trafega com mesma fase. Nos terminais de entrada do
amplificador diferencial, o sinal de comunicação chega em modo diferencial e o ruído
em modo comum, dá-se portanto a rejeição do ruído. Sendo assim, todo ruído que for
induzido no cabo, em geral de origem eletromagnética, será em sua maioria rejeitado.

Linhas de transmissao diferenciais utilizam como informação apenas a diferença de


potencial existente entre os dois condutores do par trançado, independente da diferença
de potencial que eles apresentam em relação ao referencial de tensão (comum ou terra).
Isto permite que múltiplos sistemas se comuniquem mesmo que uma referência de
potencial comum entre eles não seja estabelecida.

No entanto, os circuitos eletrônicos de transmissão e recepção podem ser danificados se


o par trançado apresentar um potencial excessivamente elevado em relação ao
referencial (comum ou terra).

Figura 6 – Exemplo de um Sinal Diferencial com Ruído

Considerando este tipo de sinal, segue um exemplo de um sinal típico na Figura 7. Tal
figura apresenta em sua parte superior a representação teórica da transmissão de um
byte Profibus diferencial enquanto que em sua parte inferior, é apresentado um caractere
real obtido a partir de um osciloscópio medido entre A e B. O byte da representação
teórica não corresponde ao byte da representação real.

Figura 7 – Caracter Profibus DP

Nota-se através da Figura 7 que um caractere da Camada Física Profibus DP possui 11


bits, sendo o primeiro denominado como Start bit, os 8 seguintes como bits de dados, o
décimo como bit de paridade (par) e o décimo primeiro e último como Stop bit. Cada
sequência de informação é apresentada nesta forma, e a mensagem como um todo é
reconstituída no destino final.
É isso aí pessoal. Aqui se encerra a explicação sobre o RS-485. Como falei
anteriormente, darei continuação ao tema dos meios físicos no próximo post, que tratará
sobre as Fibras Óticas

As fibras óticas podem ser utilizadas em aplicações onde existe alto índice de
interferência eletromagnética ou com o objetivo de se aumentar o comprimento máximo
do barramento, independente da velocidade de transmissão. É um meio físico
comumente utilizado em aplicações onde se utiliza tanto a tecnologia DP quanto
Profinet.

Figura 1 – Fibra Ótica

Um sistema de transmissão com fibra ótica consiste em três elementos: um dispositivo


que gera a luz, um dispositivo que detecta esta luz e um meio de transmissão por onde a
luz irá trafegar. No momento da transmissão dos dados, um pulso de luz indica bit 1 e a
ausência de luz, indica bit 0 (zero).

Este meio de transmissão pode trabalhar com uma velocidade de até 50 Tbps, porém,
para uso em redes industrias, esta velocidade é limitada em 1 Gbps, devido ao fato de
não ser possível converter sinais elétricos e óticos em uma velocidade maior [1].

Existem dois tipos de fibra ótica:

• Multimodo;
• Monomodo.

Veja abaixo a descrição de cada uma delas:

Multimodo
As fibras multimodo são utilizadas para cobrir distâncias médias, que variam entre 2 e 3
Km. O fator que limita a distância na utilização dessas fibras é a dispersão modal*. Elas
possuem núcleos maiores, de aproximadamente 62,5 micrômetro de diâmetro e,
transmitem luz infravermelha a partir de diodos emissores de luz (600 a 850
nanômetros). O comprimento de onda do infravermelho é de 850 a 1300 nanômetros.

De acordo com [4] as fibras multimodo são mais baratas e o núcleo mais espesso
demanda uma precisão menor nas conexões, o que torna a instalação mais simples, mas,
em compensação, a atenuação do sinal luminoso é muito maior. Isso acontece porque o
pequeno diâmetro do núcleo das fibras monomodo faz com que a luz se concentre em
um único feixe, que percorre todo o cabo com um número relativamente pequeno de
reflexões. O núcleo mais espesso das fibras multimodo, por sua vez, favorece a divisão
do sinal em vários feixes separados, que ricocheteiam dentro do cabo em pontos
diferentes, aumentando brutalmente a perda durante a transmissão.

Veja Figura 2:

Figura 2 – Exemplo de fibra multimodo

As principais aplicações das fibras multimodo são as redes internas de computadores


(LANs) e demais aplicações de curta distância como as redes corporativas e Data
Centers [4].

Essas fibras podem ser divididas em dois modelos: Step Index e Graded Index.

De acordo com [3] as fibras do tipo Step Index possuem o índice de refração do núcleo
constante. A energia de um impulso luminoso vai distribuir-se por todos os modos.

Ver Figura 3:

Figura 3 – Modo de refração no Step Index

Já no Graded Index o índice de refração do núcleo tem uma variação parabólica. Esta
característica tem o efeito de aproximar os tempos de propagação dos vários modos,
reduzindo a dispersão modal. A largura de banda utilizável é superior à da fibra Step
Index.

Ver Figura 4:
Figura 4 – Modo de refração no Graded Index

Vantagens de se utilizar fibras multimodo:

• Devido ao tamanho grande do núcleo fica mais fácil o alinhamento, no caso de


emendas, conectores etc;
• Baixo custo.

Desvantagens de se utilizar fibras multimodo:

• Cobre distâncias menores e limitadas;


• Taxas de transmissão mais baixas.

Monomodo

As fibras monomodo são utilizadas para cobrirem distâncias longas, acima de 15 Km.
De acordo com [5], as fibras de modo simples têm núcleos pequenos, de
aproximadamente 9 micrómetros de diâmetro e, transmitem luz laser infravermelha
(comprimento de onda de 1300 a 1550 nanómetros). Neste tipo de fibras o diâmetro do
núcleo é tão pequeno que não há mais do que um modo de propagação. Logo, não existe
dispersão modal. A largura de banda utilizável é maior do que em qualquer dos tipos de
fibra multimodo. Veja Figura 5 e 6, para exemplos de fibra monomodo e modo de
refração da fibra monomodo, respectivemente.

Figura 5 – Exemplo de fibra monomodo

Figura 6 – Modo de refração da fibra monomodo

A aplicação das fibras monomodo vão desde sistemas de ultra-longa distância (~1000
km), como os sistemas submarinos e terrestres, assim como os sistemas de telefonia
regionais, acesso e serviços de TV a cabo (~100 km) [4].

De acordo com [4] as fibras monomodos podem ser divididas em três grupos: fibras
monomodo convencionais ITU-T G.652 (Standard Monomode Fiber – SMF), fibras de
dispersão deslocada ITU-T G.653 (Dispersion Shifted Fiber – DSF) e fibras de
dispersão deslocada não-nula ITU-T G.655 (Non Zero Dispersion Shifted Fiber –
NZDF).

Veja abaixo uma breve descrição de cada uma delas [4]:

- As fibras ITU-T G.652 foram as primeiras a serem construídas. Esses tipos de fibras
foram otimizadas para operarem na janela de 1310 nm. Para sinais nesse comprimento
de onda, as fibras convencionais apresentam dispersão nula e baixa atenuação.
Praticamente todos os sistemas de comunicações do início da década de 1980 possuíam
fontes que operavam nesse comprimento de onda. Esse tipo de fibra vem sendo
fabricado desde o início dos anos 80 e é o tipo de fibra monomodo mais instalada no
mundo inteiro. Apesar de estar otimizada para operação em 1310 nm, essa fibra também
permite a operação na janela de 1550 nm, quando a dispersão não é um fator limitante
para o sistema.

- No meio da década de 80, surgiram os primeiros amplificadores, a fibra dopada com


érbium (AFDEs). Esses amplificadores são capazes de amplificar sinais em torno de
1550 nm, coincidentemente a mesma região espectral onde as fibras apresentam a
menor atenuação possível. Por essa razão, foi interessante migrar a região de operação
dos sistemas de 1310 nm para a região de 1550 nm, onde os amplificadores poderiam
ser utilizados e como conseqüência os sistemas poderiam cobrir distâncias muito
maiores. Por esse motivo, foram desenvolvidas as fibras ITU-T G.653. Essas fibras
possuem dispersão nula na região de 1550 nm, i.e., um sinal com comprimento de onda
em 1550 nm propagando nessa fibra não sofrerá os efeitos da dispersão. Somando o
efeito nulo da dispersão, com o mínimo de atenuação e o uso dos AFDEs, os sistemas
baseados em fibras de dispersão deslocada puderam cobrir distâncias nunca antes
imaginadas.

- As fibras NZDs podem ser encontradas comercialmente apresentando tanto dispersão


positiva ou negativa na região de 1550 nm e são uma evolução das fibras DS. Essas
fibras apresentam uma pequena dispersão suficiente para evitar os efeitos não lineares,
mas ainda pequena o suficiente para não causar penalidades no sistema pelo
alargamento dos pulsos.

Vantagens de se utilizar fibras monomodo:

• Distâncias maiores e ilimitadas;


• Taxas de transmissão muito altas.

Desvantagens de se utilizar fibras monomodo:

• Torna difícil o alinhamento devido ao núcleo ser muito pequeno;


• Alto custo.
Nota:
*Dispersão modal: são atrasos do sinal na fibra multimodo causado pelos diferentes
modos de propagação que a luz pode ter no núcleo.

E isso aí pessoal. Neste post se encerra a parte onde falei sobre os meios físicos
utilizados no Profibus DP. No próximo post vou falar um pouco mais sobre a Camada
de Enlace e os telegramas de mensagens

Camadas de Enlace e de Usuário

Neste item são descritos os aspectos da camada de enlace e de usuário. Outros detalhes
sobre este assunto poderão ser encontrados em [1].

A rede Profibus DP é uma rede do tipo multidrop, assíncrona, half duplex e utiliza a
comunicação do tipo passagem de token (Token Passing) e mestre-escravo. O
mecanismo de passagem de token permite a aplicação de múltiplos mestres em uma
mesma rede compartilhando o acesso. Somente o mestre pode iniciar a comunicação na
rede. Os escravos comunicam somente para responder requisições do mestre. A rede
Profibus DP permite a operação permanente com mais de um mestre, desde que
configurados individualmente e de maneira adequada nas restrições da norma.

O número máximo de estações em uma rede Profibus DP é 126. Assim, a faixa de


endereços disponível para uso vai de 0 a 125. Os endereços 126 e 127 são de uso
especial, sendo o 126 utilizado como valor padrão para estações não endereçadas
entrarem na comunicação e o endereço 127 (0x7F) reservado para comandos de
broadcast.

Para a comunicação entre cada estação, o protocolo define alguns telegramas. Cada
telegrama é formado por um conjunto de caracteres, no qual cada caractere é formado
por 11 bits, sendo apenas 8 deles utilizados como dado. Este é o padrão UART e os três
bits extras são utilizados para fornecer uma sinalização de início e fim de transmissão de
cada caractere (2 bits) e um bit de paridade par utilizado para conferição da integridade
da comunicação no receptor. A Figura 1 apresenta um exemplo deste caractere.

Figura 1 – Caractere Profibus DP

Nota-se que antes do bit de início, tem-se o estado de linha desocupada (IDLE) da
comunicação que é representado pelo nível de tensão 1. Antes de terminar a transmissão
do caractere (bit de fim), tem-se o bit de paridade. O receptor avalia a paridade a cada
byte recebido. Caso a paridade avaliada não tenha o mesmo valor que o bit de paridade,
o telegrama inteiro será descartado (não somente o caractere). Um telegrama é
constituído por um ou mais caracteres e não são permitidos períodos de linha
desocupada dentro da transmissão de um telegrama. Assim, o início de um telegrama
com mais de um caractere é exemplificado na Figura 2:

Figura 2 – Telegrama contendo os bytes 68H e 27H em sequência.


FONTE: [2]

Tipos e formato dos telegramas

Um telegrama é composto por 1 a 255 caracteres. Existem alguns tipos de telegramas


definidos por [1]. A diferenciação entre os tipos é realizada pelo cabeçalho do telegrama
(primeiro caractere), onde cada um dos tipos possui um valor diferente.

Os telegramas são especificados de acordo com a natureza do campo de dados:

• Telegramas de tamanho fixo sem campo de dados;


• Telegrama de resposta curta ou reconhecimento;
• Telegrama com campo de dados de tamanho variável;
• Telegrama de token.

A Tabela 1 apresenta um resumo dos tipos de telegramas e aplicações:


Tabela 1 – Tipos de Telegramas Profibus DP
FONTE: [2]

O tamanho máximo de um telegrama são 255 caracteres. O valor do LE (ou LEr) varia
de 0 a 249. O LE compreende a quantidade de bytes do campo DATA_UNIT além do
DA, SA e o FC. Portanto o tamanho máximo do campo DATA_UNIT é de 246 bytes. O
DATA_UNIT é a porção do telegrama destinada à carga útil de dados (payload).

Embora os campos de endereço suportem valores entre 0 e 255 (1 byte), somente os 7


bits menos significativos são utilizados efetivamente para o endereçamento das estações
(Figura 3), permitindo o endereçamento de até 127 estações (0 a 126). O endereço 127
conforme explicado anteriormente é reservado ao broadcast.
Figura 3 – Campos de endereço e uso do bit mais significativo como extensão.
FONTE: [2]

Bom pessoal,vocês viram neste post alguns detalhes sobre os telegramas de mensagens.
No próximo post, vou falar sobre como é o procedimento de transmissão desses
telegramas. Só para lembrar, tudo isto acontece dentro das camadas de Enlace e
Usuário.

Procedimentos de transmissão

Um ciclo de comunicação de um mestre com um conjunto de escravos é chamado ciclo


de mensagens. Este ciclo é interrompido somente para a transmissão de token e
mensagens de broadcast. Todas as estações devem monitorar todas as requisições. Uma
estação deve responder somente quando uma requisição estiver endereçada a ela. A
resposta deve ocorrer dentro de um tempo pré-definido (SlotTime) – este é o tempo que
o mestre aguarda a resposta, antes de enviar novamente a requisição para a mesma
estação.

Existem quatro modos de operação. Estes definem o comportamento em relação à


temporização e prioridade dentro de um ciclo de mensagens. As operações são as
seguintes:

1. Recepção e envio do Token;


2. Comunicação acíclica;
3. Comunicação cíclica ou polling;
4. Registro das estações.

O token é um tipo de mensagem que é transmitida entre os mestres e é utilizado com o


objetivo de um mestre transferir o acesso ao meio para outro mestre. Cada mestre acessa
o canal de comunicação no modo mestre-escravo. Ao fim do acesso, transmite uma
mensagem de token ao próximo mestre. Então, este comanda o canal e posteriormente
passa o token ao próximo mestre. Quando o último mestre termina de realizar os
comandos necessários aos escravos e aos outros mestres, ele passa o token novamente
ao primeiro mestre e o processo reinicia. A esse anel lógico dá-se o nome de Logical
Token Ring.

Uma rede que tem somente um único mestre resume sua operação na comunicação tipo
mestre-escravo e ao fim de cada ciclo o mestre passa o token para ele mesmo (pois é
único).

A manutenção da rede é uma obrigação de cada mestre. Assim, cada mestre deve ter o
conhecimento de todos os equipamentos (endereços) que estão presentes na rede e qual
sua natureza (mestre ou escravo). Após um conjunto de ciclos de comunicação, o mestre
consulta um novo endereço através de um comando dedicado à manutenção da rede. O
mestre aguarda o retorno da resposta do endereço consultado. Se houve resposta então
esse endereço é armazenado em uma lista para não ser mais consultado. Caso contrário,
considera-se que esse endereço é vago e o mestre após consultar os demais endereços
ainda continuará a testar este último. Um equipamento presente na rede (que responde a
comandos) é denominado operacional.
A lista de equipamentos da configuração que pertencem ao modo de comunicação
cíclica é passada ao controlador FDL (Field Device Link) pela camada de usuario. As
estações que não responderem durante a comunicação cíclica são classificadas como
não operacionais. Cada mestre mantém sua própria lista (configuração) de
equipamentos pertencentes à comunicação cíclica. Ao fim da comunicação cíclica,
prioritária, é realizada a comunicação acíclica e pelo menos um endereço não
operacional é consultado.

A comunicação cíclica é baseada em respostas imediatas dos escravos e mestres,


mantém prioridade sobre as mensagens acíclicas e são utilizadas para comunicação de
dados de controle do processo. As mensagens acíclicas são baseadas em consulta, isto é,
o mestre inicia a requisição e no próximo ciclo pergunta novamente para verificar se a
estação já tem a resposta. Em geral, são utilizadas para supervisão ou parametrização de
dados internos das estações.

Mensagens cíclicas e acíclicas, além da manutenção da rede devem ocorrer dentro de


um período configurado pela aplicação (Target Rotation Time – TTR).

O registro das estações é de responsabilidade de cada mestre da rede. O registro é


realizado através do comando Request FDL Status que é um telegrama do tipo SD1,
destinado à manutenção da rede.

É isso aí pessoas. Com este post, encerramos a parte que se refere ao Profibus DP. A
partir do próximo, vou começar a falar sobre o Profibus PA.

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